Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
anca
bas
fl.
as Micropolíticas
Katia Canton
Katia Canton é PhD em artes interdis-
ciplinares pela Universidade de Nova
Yorke livre-docente em teoria e crítica
de arte pela Escola de Comunicações
e Artes da Universidade de São Pau-
lo (ECA-USP). É professora do Museu
de Arte Contemporânea (MAC-USP),
curadora de arte e autora de vários
livros para crianças e adultos.
Da Política
as Micropolíticas
Katia Canton
Digitized by the Internet Archive
in 2023 with funding from
Kahle/Austin Foundation
https://archive.org/details/dapoliticaasmicr0000cant
Da Política
as Micropoliíticas
Katia Canton
Contemporânea
Arte
da
Temas
.
wmfmartinsfontes
SÃO PAULO 2009
Copyright O 2009, Editora WMF Martins Fontes Ltda.,
São Paulo, para a presente edição.
Coordenação editorial
Todotipo Editorial
Preparação do original
Cláudia Cantarin
Revisão gráfica
Danilo Nikolaidis e Cássia Land
Projeto gráfico
Noris Lima
Produção gráfica
Geraldo Alves
Paginação
Noris Lima e Thiago Nunes
Canton, Katia
Da política às micropolíticas / Katia Canton. - São Paulo :
Editora WMF Martins Fontes, 2009. —
(Coleção temas da arte contemporânea]
ISBN 978-85-7827-228-9
09-11921 CDD-709
09
O projeto desta Coleção Temas da Arte Contemporânea
é resultado de uma pesquisa realizada na condição de
professora e curadora do Museu de Arte Contemporã-
nea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) desde
meados dos anos 1990, quando passei a acompanhar
consistentemente o que os artistas que surgiam bus-
cavam como assuntos para emoldurar sua produção.
Também devo muitos instrumentos de pesquisa aos
anos de prática como crítica de arte, jornalista e cria-
dora de textos, poemas e imagens para Livros infantis e
juvenis, muitas vezes realizados em parcerias com vá-
rios desses artistas.
10
O volume inicial, Do moderno ao contemporâneo, pode
ser lido como uma introdução à coleção, preparando as
bases dos volumes seguintes: Narrativas enviesadas;
Tempo e memória; Corpo, identidade e erotismo; Espa-
co e lugar; Da política às micropolíticas.
Um pano de fundo
KK
se tratando de arte, é necessário prestar atenção nos
sinais dos tempos e em seus significados.
12
parece esmiuçar o funcionamento dos processos da vida,
desafiando-os, criando para novas possibilidades. A arte
pede um olhar curioso, livre de 'pré-conceitos”, mas re-
pleto de atenção.
Er O ADS que 0, 1a (O
” a | 66 ob ISA o ira)
= = e— na] Em 4 o a,
Ed Ps O d A EfiaA
Pq RE CMmMat oa
ls Ás Ca De O:
= = li = — pes
E ne
Micropolíticas e arte contemporânea
15
Em suma, o livro propõe compartilhar com o leitor um
panorama em que a arte contemporânea espelha e re-
flete atitudes sociopoliticas diretamente relacionadas
com questões da realidade.
16
Entrevista com Jaime Spitzcovsky
18
zado, em que a ideologia seria menos importante - a eco-
nomia estaria acima de tudo. Mas isso não aconteceu.
19
lim é a volta de uma narrativa hegemônica, uma meta-
narrativa, e essa grande narrativa seria o terrorismo,
como expressão máxima de renegociação do mundo.
Como você vê isso?
Não seise o terrorismo seria uma metanarrativa. De fato
trata-se de um fenômeno fundamental dentro do contex-
to do século XXI. Obviamente, o 11 de setembro é prova
disso. Eu vejo o terrorismo como um importante fator de
questionamento do status quo, que mostra a existência
de setores que questionam uma série de elementos das
sociedades ocidentais, ou particularmente as socieda-
des que os Estados Unidos simbolizam ou exemplificam.
E como combater o terrorismo? A meu ver, basicamente,
por meio de dois aspectos. O primeiro deles é a dissemi-
nação da democracia. Esse é um dos grandes desafios
do século XXI: quanto mais democracia, mais debilita-
dos estarão os grupos radicais. O segundo é combater
também os desequilíbrios e as injustiças no plano social
e no plano econômico.
20
estão na pauta da política, tanto nacional como inter-
nacional. Como você vê isso?
Fazer política hoje já não é mais como fazer política nos
anos que marcaram o século XX. As ideologias entraram
em crise, os partidos entraram em crise, então agora as
pessoas procuram formas alternativas de fazer política
e também de expressar seus pontos de vista. Os artis-
tas, em vez de defenderem suas posições políticas no
âmbito partidário, vão canalizar para suas atuações ar-
tísticas a vontade de expressar seus pontos de vista. Ou
seja, eles encontram na atuação artística um espaço no
qual talvez se sintam mais à vontade do que nos partidos
políticos, os quais estão enfrentando uma crise, não só
no Brasil como no mundo, reflexo da crise das ideolo-
gias clássicas, e também do sistema político.
21
Micropolíticas e globalização
22
tração das instituições modernas nos acontecimen-
tos da vida cotidiana. Não apenas a comunidade local,
mas as características íntimas da vida pessoal e do
eu tornam-se interligadas a relações de indefinida ex-
tensão no tempo e no espaço. Estamos todos presos
às experiências do cotidiano, cujos resultados, em um
sentido genérico, são tão abertos quanto aqueles que
afetam a humanidade como um todo (p. 77).
23
Entrevista com Peter Pál Pelbart
FERAS
A
24
Pois o exercício de poder está por toda parte, seja dos pais
em relação aos filhos, seja dos médicos em relação aos
pacientes, dos psiquiatras em relação aos loucos, da tec-
nologia em relação a todos, enfim, há exercício de poder
por toda parte, mesmo naqueles campos considerados
neutros ou científicos. Talvez seja isso que alguns chamam
de microfísica do poder, ou dimensão molecular da políti-
ca, ou, então, da micropolítica.
25
povo, existem muitos povos, muitas minorias, muitos
devires, que atravessam aquilo que se chama hoje de
multidão - esse conjunto muito heterogêneo, com pes-
soas diferentes, com seus afetos, suas inteligências,
seus agrupamentos diversos.
Enquanto nos anos 1960 e 1970 o inimigo político era
claro, estava relacionado à ditadura, hoje, no Brasil,
essa questão está muito mais diluída, os contornos es-
tão mais esparsos e os artistas têm se unido nos cha-
mados coletivos. Eles surgem em formações variadas,
abordando questões cotidianas e articulando o espaço
público, e o que têm em comum é transformar artistas
em agentes políticos, que cada vez mais quebram a dis-
tância entre arte e cotidiano.
26
conotação política, hoje a traz, da mesma forma que o
que era político perdeu sua força, diz Ulrich Beck.
27
litar, artistas produziam obras de forte caráter político,
em sua maioria de cunho figurativo. Não raro elas estam-
pavam imagens marcantes, exibindo sangue, caveiras,
bananas, ossos, na tentativa de criar metáforas para uma
situação de violência, impunidade, despotismo, ausência
de liberdade, práticas de tortura e nonsense.
28
ambígua. É aí que eu resisto. Estou interessado em
arte que seja política, que lide com essas questões,
mas que não precise vir com um slogan ou uma posi-
ção não contraditória. Isso porque eu acredito que po-
sições não ambíguas e não contraditórias são sempre
falsas, são sempre mentiras e representam sempre
um autoritarismo velado.
29
Bastidores, 1997.
30
Entrevista com Rosana Paulino
RE Rg so
Para início de conversa, transcrevo um texto escrito
pela própria artista em seu blog, no ano de 1997. Apesar
de ter se passado mais de uma década, ele permanece
consistente com o percurso da obra de Rosana.
31
Dentro desse pensar, faz parte do meu fazer artístico
apropriar-me de objetos do cotidiano ou elementos
pouco valorizados para produzir meus trabalhos. Obje-
tos banais, sem importância. Utilizar-me de objetos do
domínio quase exclusivo das mulheres. Utilizar-me de
tecidos e linhas. Linhas que modificam o sentido, cos-
turando novos significados, transformando um objeto
banal, ridículo, alterando-o, tornando-o um elemento
de violência, de repressão. O fio que torce, puxa, modi-
fica o formato do rosto, produzindo bocas que não gri-
tam, dando nós na garganta. Olhos costurados, fecha-
dos para o mundo e, principalmente, para sua condição
no mundo.
32
lher, sobre as questões da minha origem, gravadas na
cor da minha pele, na forma dos meus cabelos. Gritar,
mesmo que por outras bocas estampadas no tecido ou
outros nomes na parede. Este tem sido meu fazer, meu
desafio, minha busca.
(Disponível em: http://rosanapaulino.blogspot.com.
Acesso em: 5 nov. 2009.)
33
pessoal, de uma obra que traz a questão política, mas
não de maneira tão “escancarada”, eu acho que consigo
preservar esse sentido. Assim, a obra pode ser lida da-
qui a vinte, trinta anos sem que a pessoa precise voltar
no tempo e rever todo um contexto da época. Porque o
que está sendo tratado aqui em termos de política são
questões que extrapolam partidos e são inerentes à
condição humana.
34
O mercado da sedução parece inesgotável e mexe com
essa insatisfação constante do ser humano. Hoje se
fala muito de distúrbios alimentares - bulimia, anore-
xia, entre outros - gerados pela demanda desse tipo de
mercado, por essa expectativa de um corpo de Barbie
em mulheres adultas.
Acho que está na hora de nos questionarmos e pen-
sarmos se compactuamos com essa situação ou não.
A questão do corpo humano sempre me fascinou, esse
massacre do corpo, de colocá-lo, principalmente o fe-
minino, em um padrão inatingível, falso, doentio, sem-
pre me chamou muito a atenção. Em meu trabalho re-
tirei imagens de mulheres de um editorial de moda e
contrapus com imagens de morte. Acabei fazendo uma
série, como um memento mori feminino. É também uma
maneira mais brincalhona de falar do assunto. Retiro
aquela carga pesada que o memento moritinha na Idade
Média, pois trato a questão de maneira bem-humorada,
porque no fundo nós podemos modificar essa situação.
35
cessos são necessários inúmeros documentos. Tem na
obra uma crítica à burocracia, como se o carimbo fosse
garantir a honestidade de alguém.
36
escravizavam, davam os filhos para serem alimentados
pelo leite dessas mulheres, geralmente negras, e elas,
ao criá-los, passavam, além do leite, seus valores, na
fala, na pele. Veja como é louca essa história!
37
Paredes pinturas (da série), 2003. Vila das Torres, Curitiba.
38
Sobre Mônica Nador
[RD
39
por outro lado, não posso fazer arte sem levar essas es-
truturas em consideração”, afirma a artista.
40
pública, na cidade de Coração de Maria, na Bahia, já com a
ajuda da comunidade, além de um clube em Nilo Peçanha,
no mesmo estado. Nesta última obra, utilizou motivos res-
gatados do repertório local, como máscaras e figuras de
boi, ligados ao grupo de percussão folclórico da cidade.
41
Clube), com o objetivo de criar novas padronagens para as
paredes e estampas para panos, camisetas e papéis.
42
É interessante lembrar que euachava que meutrabalho
dentro do circuito estava “sobrando”. Aquelas pessoas
já não precisavam do momento de fruição do belo, di-
ferentemente das pessoas da periferia. Então, em cada
momento, o trabalho promove estados de consciên-
cia diferentes, não é? Lá, a boa e velha fruição estética;
aqui, outras fichas, relacionadas fortemente a toda a
tradição da história da arte. Mas eu insisto em obser-
var como é difícil Lidar com outros paradigmas! Como
é necessária mesmo a elaboração acadêmica para a
aceitação/entendimento de uma ação que se dá pela
urgência da realidade, antes de qualquer justificativa
intelectual. Digo isso inclusive de meu próprio proces-
so, pois só depois de autorizada pelo Douglas Crimp é
que pude atuar no que realmente me incomodava... e
fazendo arte, que é o que eu gosto e sei fazer.
(Transcrito no texto “As paredes pinturas de
Mônica Nador”, In: CANTON, Katia & PESSOA,
Fernando (org.) Sentidos e arte contemporânea.
Vitória: Vale, 2007. p. 4.)
43
Reconstruindo sonhos,
da série Mãos bordadas (Amélia), 2004.
Entrevista com Beth Moysés
Ea o de a
Desde meados dos anos 1990, a artista Beth Moysés tem
utilizado o vestido de noiva como matéria-prima para dis-
cutir e ampliar questões sobre o desejo, o amor, a con-
dição feminina e a violência doméstica. Numa conversa
comigo, em seu ateliê, em 2008, a artista respondeu às
perguntas:
45
paredes e que contamina a vida das outras pessoas. À vio-
lência não fica retida dentro de casa, ela sai para as ruas,
contamina a todos e acaba influenciando o social.
46
sição seguinte eu forrei o chão da Galeria Thomas Cohn
com eles. As pessoas podiam caminhar descalças sobre
os vestidos. Naquele momento, a realidade estava muito
mais presente. Depois desse trabalho vieram as perfor-
mances na rua. Em meu percurso, é como se, naquele
momento, esses vestidos vazios fossem preenchidos por
corpos de mulheres vivas.
47
com a autoestima muito baixa. Participou da caminha-
da, voltou para casa, arrumou as malas e foi embo-
ra! Então, acho que essa coisa do coletivo, essa força
conjunta, acabou fazendo com que ela se fortalecesse
e tomasse uma atitude.
48
está pronto, elas tiram as luvas, como se descascas-
sem a pele antiga e começassem uma vida nova.
49
Pelotão de fuzilamento, 2005.
50
Entrevista com Pazé
51
o mataram, fiquei comovido, assim como muita gente.
Rapidamente, foram encontrados os “culpados”: um
grupo de oito ou nove meninos de 17, 18 anos, e o caso
foi considerado solucionado”, embora com denúncias
de que eles não eram os mandantes do crime.
Nesse momento, eu me lembrei de um acontecimento
que vivenciei na minha infância, na época da ditadura
militar: meu pai era muito amigo do Hélio Bicudo. Num
fim de semana, o Hélio ligou para o meu pai e disse
que haviam entrado na casa dele e que tinham roubado
uma série de documentos. Fui então até a casa dele
com meu pai.
Lá havia uma porta pantográfica que dividia os quartos
do restante da casa, pois ele tinha muitos filhos, essa
porta era uma proteção (na época ele fazia as investi-
gações sobre o Esquadrão da Morte). A tal porta havia
sido arrombada. E eu lembro que o Hélio falou para o
meu pai que era interessante só terem sido encontra-
das digitais de crianças, e eles ironizaram aquilo.
Na hora eu não entendi, mas pouco tempo depois
percebi que aquilo não poderia ter sido feito por uma
criança. Uma criança não poderia arrombar uma por-
ta como aquela. Então, passados mais de trinta anos,
52
esse crime do Celso Daniel me remeteu a essa histó-
ria, pois também um crime político foi tratado de ma-
neira infantilizada.
Celso Daniel deu uma entrevista para um jornal, três
dias antes de sua morte, na qual dizia que era inconce-
bívelo Brasil continuar com juros tão altos, resultando
no dinheiro caro, na concentração de riqueza. Era um
homem que estava envolvido, certamente, era alguém
que foi lutar por isso e acabou sendo morto.
Então nesta instalação temos uma fotografia da flo-
resta sem fim. Essa foi a última visão que o Celso Da-
niel teve. Ele foi alvejado pelas costas, por isso na frente
desta fotografia tem os soldadinhos, que remetem a uma
visão infantilizada. Eles pertencem às histórias de contos
de fadas. O revólver é representado pelos próprios de-
dos, eles estão uniformizados. Eles são mecânicos, então
levantam os dedos e “dão um tiro”. Assim, o observador,
o visitante, olha a paisagem, entre a fotografia e os solda-
dinhos, e Leva um tiro pelas costas.
53
Floresta sem fim, 2005.
54
Até que ponto você acha que o artista tem esse papel, ou
até que ponto pode gerar com uma obra uma discussão
numa esfera mais ampla?
Eu parto do princípio de que todos nós somos políticos,
seja executando uma ação, brigando, ou discutindo algo.
Se nos calarmos, estaremos de alguma maneira agindo
em concordância. Não há ninguém que não esteja inseri-
do nesse contexto.
55
Entrevista com Eduardo Srur
|
CS CT O
Nascido em São Paulo, em 1974, Eduardo Srur se tornou
referência como um artista que realiza intervenções ur-
banas com a potência de mobilizar o espectador.
Desde 2004, ano de seu Acampamento dos anjos, até
2008, com a instalação Pets, com garrafas PETs gigan-
tes instaladas às margens do rio Tietê, o artista tem
focado sua produção nas questões ambientais, éticas e
arquitetônicas da cidade de São Paulo. Vejamos o que
ele tem a dizer.
Caiaques, 2006.
Rio Pinheiros, São Paulo.
57
Quando foi que você fez essa ocupação?
Foi em 2004, e a ideia de usar barracas é de proteção.
Consegui transformar essa ideia de proteção individual
em algo maior, coletivo. Eu tive várias aberturas e uma
ampliação muito forte no sentido de ele se tornar políti-
co. Às pessoas viam menos o lado de proteção e mais o
lado de como eu estava fazendo uma provocação sobre
a questão de fazer um acampamento de anjos em um
hospital público que não estava em atividade. Isso ge-
rou, para mim, uma ideia de como o meu trabalho teria
uma capacidade de ser político e de ter uma força maior
nesse sentido.
58
Eusébio Matoso. Eu fiz uma composição com as peças, e
a chuva com os dejetos e o Lixo da cidade a foram trans-
formando. Nas últimas semanas formou-se um mapa de
lixo entre as peças, que estavam aglomeradas. A ideia
também era fazer uma obra onde falta o ser humano, fal-
ta a consciência de preservação, de cuidado com o meio
ambiente. Todas as minhas obras cada vez mais pensam
numa mensagem direta para o espectador. Tenho uma
preocupação de desenvolver um produto democrático
com o qual todos são atingidos.
O Acampamento dos anjos teve um desdobramento para
levar essa instalação para fora do país. Montei algumas
barracas na Alemanha e na França também.
59
questão do que é público e do que é privado. O outdooré
privado, mas está em um espaço público, e eu, como públi-
co, por que não posso interferir nessas publicidades, que
me dão imagens que eu não quero ver?
O trabalho exige do artista velocidade mas às vezes é ne-
cessário pedir autorizações. Nesse caso atuei sem auto-
rização, porque eu modifiquei o conteúdo dos outdoors.
Eu ataquei a imagem deles, afinal, ninguém pergunta se
pode pôr propaganda na sua rua, então da mesma forma
eu os ataquei. Esse vídeo é curioso porque anuncia o que
a Prefeitura passou a fazer com a Lei da Cidade Limpa,
entrando de sola nos anunciantes que fazem mídia exte-
rior; hoje não temos mais mídia na cidade.
60
Consegui a autorização da Prefeitura e do Departa-
mento do Patrimônio Histórico [DPH) para ocupar os
monumentos da cidade de São Paulo, como o Borba
Gato, o Duque de Caxias, o Monumento as Bandeiras.
Foram dezesseis esculturas. Esse projeto fala do des-
caso à memória e à cidade.
61
Entrevista sobre o grupo Veinzz
4 (g
4
[6]
141
ts (cgk 44
]
(5 0
4
-rja '
=, A
14 “
Z
[e]1) Cs
— áL f [49]
cÊ “
14 ; tfy f Ç
,
:
à
“ Q
4
[a +
(o
4 a 4=
[em
r [49]
j í ea/ [44] [6 3 = ud q res h [64] ay
: r [2] [2] “ Cs
; f5 r e (ar)€ q é £ [99]
) d A 4 4 4 )
2 [7] Fa)
£ (tg
s)
“fi vw (g ; 4 4 [4
4
q pr (Q
q A) ] (4) é [45] 74] Ed o Çpu (4 f h 4) am '
; 4
/ f r
)
w 4 “y
[67]
: ab) r
E,
(ao) SE k — /
uyod 24A [46]
4
Q = [o]mnsLa o43 O 7 — +.
fo+ Mr
t
«T
)1
k
4 4
yo “y É ,
:
a Vo hr j [40 L fj H" (a)Ns P F
[44] / [49] í p 14 [49]
" a ps tf é y
,
' ) / : ”
fÉ ç é ou
6.) á (3[69] -é..4 [44] a) / (3 [0]€
, a é per [40] [744]
=L bina
w qys f
n / 5 4 ) » ” 4 j d
Da
uy 4)
Rr,
£ [44]
” j
f É
4
b-Í o “f2. q OfO
Pa)
;
a[4 Õ[4 / Pd í
;
q é/ r ; é
44 A
A *[
4
” Oo FR 4 (3
4:
a)
La pa
,
a ts pr
4 A 4
re; f T é"4 É ay
;
/ ; 4Las
[4
Y4
5 ps
Ls fO k ç f DA 03 E 43A - > [7]”
4
9]
q €) a k Aupd
z ,
d Q Tt f Ç opr [| "4 y
y)
“
E Ú v y
7 o” do S4 f , £LTE Ao
4
y 7 4 “fy
1 4
J 4
ss [49]Any)
ix ta qxé r A “9 bra hi(
D) a v ' y póA)
4 5 a” j [ao
4 j
(g /4 ps O ; ,a
;
[a a rt,
3 nf
k, o
)
polis
V) > —o í A e: fi = É / faqs
A qy m4) A k -
j 4
dás
f
fr
pel
f 24 A Ay as
Am í r AE É O o - Pa) fi)“fi o A, a é /
DA q a s. a 5 ay 5 (€ c pbn vw 6ç
4 1 : |
1») s)
4 4 g ; » dd y “4 j
(3 o Es
à - as x
fi o Rvá / p € bl )Vas) 13 Fm f * Fa) —o rr4 [44]S ., A y É p Do y Us 63
4 ) : f sr Á ,
4.
7: 5 2, ; ; yu 9o br! cO4 éq E - f do 5 ogty
;
o ( Fr[4H
4 A + j
ss
p mr uvy ;» r éç A / ; q x 4 ; 154h) [M) pf q a +y é , o)
ps E Po A
“4
-A/;ay
-mo) ; S - )
daL 5 o) /
ú 5)
y : pra/“ É ; ( q Ú a v
f [4
.nal 1
7 4 hr " j4 pal
A + 7?4
r;
f
neA
É
j y » gts upt
s3[ao
q
/
s j O(3
b, çe44
£É [4
/fi|
“
-
,S h Ú
y
”yb já p
f
y= ; poé p : 2 E á É É rrp Q
4
tador vive dentro disso um próprio estranhamento em re-
lação ao que é loucura, ao que é sanidade, ao que é cena,
ao que é vida. Há um embaralhamento de fronteiras.
64
rio. E um imperador deve ter coisas mais importantes
a fazer do que cuidar de coisas etéreas. [...)]
No entanto, resulta que o Império capitalista não é nada
indiferente a essa dimensão subjetiva, eu ousaria afir-
mar até o contrário, que é nisso que ele se assenta pri-
mordialmente. Como poderia ele manter-se caso não
capturasse o desejo de milhões de pessoas? Como con-
seguiria mobilizar tanta gente caso não plugasse o sonho
das multidões à sua megamáquina produtiva e midiática
planetária? Como se expandiíria se não vendesse a todos
a promessa de um modo de vida, suscitando em todos
um desejo? Pois é um fato: hoje o que compramos cada
vez mais são maneiras de ver e de sentir, de pensar e de
perceber, de morar e de vestir, ou seja, consumimos for-
mas de vída. E mesmo quando nos referimos apenas aos
estratos mais carentes da população, ainda assim essa
tendência é crescente. Na verdade, através dos fluxos de
imagem, de informação, de conhecimento e de serviços
que nos chegam ou que acessamos, consumimos tone-
ladas de subjetividade e somos mobilizados nos recôndi-
tos de nossa subjetividade.
(Disponível em: www.cedest.info/peter.pdf.
Acesso em: 3 nov. 2009.)
65
Pélbart discute como os fluxos de imagem, informação,
conhecimento e serviços produzem e transmitem, na so-
ciedade contemporânea, toneladas de subjetividade”. E
argumenta sobre quais seriam as possibilidades de pro-
duzir subjetividades singulares:
66
para o mundo. Que sejam eles sentidos enviesados, tur-
buientos ou meditativos, corpóreos ou etéreos. Que seja a
arte ancorada em políticas cotidianas, tal qual na produção
de artistas como Rosana Paulino, Beth Moysés, Mônica
Nador, Pazé, Eduardo Srur, ou que seja ela apenas plena
da vibração que brota de um sentir estético, sensorial. De
qualquer modo, que através da arte seja mantida nossa
capacidade de estranhamento e de uma afetividade que
não desiste da vida.
67
Sugestões de leitura
Ret
AGAMBEM, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano
e a vida nua. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002.
68
— . A terceira via: reflexões sobre o impasse político
atual e o futuro da social-democracia.
Trad. Maria Luiza X. de A. Borges.
Rio de Janeiro: Record, 2000.
69
Obras reproduzidas neste livro
FE
pi
Capa
Beth Moysés, Memória do afeto - Madri, 2002.
Performance.
Página 30
Rosana Paulino, Bastidores, 1997. Imagem transferida sobre
tecido, costura e bastidor de madeira. 30 cm (diâmetro).
Galeria Virgílio.
Página 38
Mônica Nador. Paredes pinturas (da série), 2003. Muro de escola,
Vila das Torres, Curitiba. Foto de Lucília Guimarães.
Cortesia Galeria Vermelho.
Página 44
Beth Moysés, Reconstruindo sonhos, série
Mãos bordadas (Amélia), 2004.
Performance. Foto da artista.
Página 50
Pazé, Pelotão de fuzilamento, 2005.
Poliuretano, alumínio, motor. 40x 110 x 20 cm.
Cortesia Casa Triângulo.
Página 54
Pazé, Floresta sem fim, 2005. Fotografia, paisagem e soldadinhos.
Página 56
Eduardo Srur, Caiaques, 2006. Rio Pinheiros, São Paulo.
Intervenção urbana. Foto: Eduardo Nicolau.
EO
Coleção Temas da Arte Contemporânea
Do moderno ao contemporâneo
Narrativas enviesadas
Tempo e memória
Corpo, identidade e erotismo
Espaço e lugar
Da política às micropolíticas
, . d EPI O a 44 A *
o o By Bd ANA CBO
VIA LON VAVA Mer E 4
SONIC AGA) 3