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Índice
INTRODUÇÃO.......................................................................................................6
O QUE É INCORPORAÇÃO?...................................................................................8
COMO OUVIR AS ENTIDADES NO SEU DIA A DIA................................................11
NÃO EXISTE DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO ONLINE.......................................13
QUANDO EU FINALMENTE SEREI CAPAZ DE INCORPORAR?...............................15
O ACONSELHAMENTO COM AS ENTIDADES SUBSTITUI UMA TERAPIA COM UM
PSICOLÓGICO?...................................................................................................17
SOMOS INSTRUMENTOS IMPERFEITOS..............................................................19
POR MAIS VELHO QUE SEJA NA RELIGIÃO, AINDA NÃO VIU TUDO.....................21
“NÃO CONSIGO ME ENTREGAR À INCORPORAÇÃO. O QUE DEVO FAZER?”........23
QUANTO TEMPO LEVA O DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO?...............................25
A PRECE NOS APROXIMA DA ESPIRITUALIDADE.................................................27
A UMBANDA PROMOVE A REFORMA ÍNTIMA?.....................................................29
PRATIQUE A UMBANDA COM CALMA..................................................................32
POR QUE O MÉDIUM SE SENTE TÃO DESLOCADO NO MUNDO?.........................34
NÃO PERCA A CONEXÃO COM AXÉ....................................................................36
O MÉDIUM NÃO É UM SIMPLES APARELHO.........................................................37
NÃO CONFUNDA ANSIEDADE, SÍNDROME DO PÂNICO E DEPRESSÃO COM
ATAQUE ESPIRITUAL...........................................................................................39
O OBJETIVO NÃO É ANULAR SUA CONSCIÊNCIA, MAS AMPLIÁ-LA......................41
A ESPIRITUALIDADE NÃO É VIVENCIADA APENAS NOS TEMPLOS RELIGIOSOS. .43
QUANDO O MÉDIUM DEIXA DE CUMPRIR SUA MISSÃO, UM LONGO
INVESTIMENTO SE PERDE..................................................................................45
COLABORE COM SUA CASA...............................................................................47
NUNCA É TARDE DEMAIS PARA DESENVOLVER A MEDIUNIDADE.......................49
QUAL É O SIGNIFICADO DAS LÁGRIMAS NA UMBANDA?....................................51
INCORPORAÇÃO NÃO É TUDO NA UMBANDA.....................................................53
QUAL É A ESSÊNCIA DE EXU?............................................................................55
NÃO CRITIQUE A INCORPORAÇÃO ALHEIA.........................................................57
O VENTO QUE ESPALHA AS SEMENTES HÁ DE TE LEVAR LONGE.......................60
MEDIUNIDADE NÃO É DOENÇA..........................................................................63

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COMO ESTUDAR A UMBANDA DENTRO DO TERREIRO.......................................65
É POSSÍVEL APRENDER A TER FÉ?.....................................................................67
AS TRÊS FASES DO MÉDIUM NOVO NO TERREIRO.............................................68
COMO SE CONCENTRAR MELHOR NO ESPIRITUAL.............................................71
A FORÇA DA UMBANDA ESTÁ NA SUA SIMPLICIDADE........................................73
SER MÉDIUM É MUITO MAIS DO QUE INCORPORAR...........................................75
DICAS PARA MÉDIUNS INICIANTES.....................................................................77
OS TRÊS PASSOS DA TRANSFORMAÇÃO INTERIOR............................................80
OS DIFERENTES TIPOS DE MEDIUNIDADE..........................................................83
A CONEXÃO DIRETA COM DEUS E OS ORIXÁS...................................................85
A VAIDADE MATA AS SUAS GRAÇAS...................................................................87
VOCÊ PODE SE TORNAR UM ANCESTRAL...........................................................89
O SILÊNCIO É PONTO DE PARTIDA PARA CONQUISTAR TODAS AS OUTRAS
COISAS..............................................................................................................91
A UMBANDA ESTÁ AONDE NOSSO AMOR ALCANÇA...........................................93
SUA MEDIUNIDADE NÃO PRECISA SER EXTRAORDINÁRIA.................................95
É POSSÍVEL PRATICAR A UMBANDA DENTRO DE CASA?....................................97
O QUE É O ANIMISMO?.......................................................................................99
QUANDO ESTIVER NO TERREIRO, PROCURE SENTIR MAIS E PENSAR MENOS. 102
EXISTE UMA MISSÃO ESPIRITUAL?...................................................................104
INCORPORAÇÃO SERVE APENAS PARA DESCARREGAR?..................................106
COMO CONHECER A HISTÓRIA DA ENTIDADE QUE TRABALHA COM VOCÊ......108
O QUE É NECESSÁRIO PARA ABRIR O SEU TERREIRO......................................110
A EDUCAÇÃO DO ANIMISMO............................................................................113
A INCORPORAÇÃO EXIGE FÉ............................................................................115
INSEGURANÇA: O MAIOR INIMIGO DOS MÉDIUNS INICIANTES.........................117
O DESENVOLVIMENTO NUNCA ACABA.............................................................120
TODAS AS PESSOAS SÃO MÉDIUNS?................................................................122
A MEDIUNIDADE NÃO PODE SER PADRONIZADA.............................................125
QUANDO VOCÊ FALTA À GIRA, OUTROS TRABALHAM DOBRADO NO SEU LUGAR
........................................................................................................................128
ESTOU INCORPORANDO FORA DO TERREIRO. O QUE FAZER PARA ME
PROTEGER?”....................................................................................................130

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COMO NOS APROXIMARMOS DOS GUIAS E PROTETORES................................132
A HUMILDADE É A MAIOR PROTEÇÃO DO MÉDIUM..........................................134
APRENDA A DESINCORPORAR CORRETAMENTE...............................................136
COMO MELHORAR A CONCENTRAÇÃO DURANTE A INCORPORAÇÃO...............138
COMO MANTER SUA ENERGIA LIMPA...............................................................140
É POSSÍVEL TRANSMITIR PERFEITAMENTE AS MENSAGENS DOS GUIAS
ESPIRITUAIS ?..................................................................................................142
A ENTIDADE FALOU QUE EU SOU MÉDIUM. E AGORA?.....................................144
QUEM É O RESPONSÁVEL PELO DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO?..................146
COMO NOSSA VIBRAÇÃO INTERNA INFLUENCIA O DESENVOLVIMENTO
MEDIÚNICO......................................................................................................147
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO NO DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO..................149
COMO A MEDITAÇÃO PODE AUXILIAR EM NOSSO DESENVOLVIMENTO
MEDIÚNICO......................................................................................................151
QUAL É A IMPORTÂNCIA DA PRECE PARA O DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO? 153
É POSSÍVEL ACELERAR O MEU DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO?....................154
COMO LIDAR COM A SENSIBILIDADE AFLORADA.............................................155
O COMPROMISSO DE ESTAR BEM PREPARADO PARA A GIRA...........................158
10 EQUÍVOCOS COMUNS NO DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL........................160
A CONSCIÊNCIA DURANTE A INCORPORAÇÃO É UMA BENÇÃO!.......................163
QUANDO O MÉDIUM TEM MEDO DE IR PARA O ATENDIMENTO........................166
SALVE A FORÇA DO SEU ORI............................................................................168
QUAL É A QUALIDADE DA ENERGIA QUE VOCÊ ESTÁ DOANDO?......................171
COMO LIDAR COM A CONSCIÊNCIA DURANTE A INCORPORAÇÃO....................174
O MÉDIUM PODE SER CHAMADO PARA TRABALHAR A QUALQUER MOMENTO 176
NÃO FIQUE RECLAMANDO DA VIDA ANTES DA GIRA COMEÇAR......................178
A MEDITAÇÃO É BENÉFICA PARA O DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO..............180
SE EU NÃO DESENVOLVER A MEDIUNIDADE, MINHA VIDA VAI PARA TRÁS?.....182
NÃO TENHA PRESSA COM O SEU DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO.................184
DESCOBRINDO O NOME DOS GUIAS QUE TE ACOMPANHAM...........................186
VOCÊ NÃO PRECISA PROVAR QUE ESTÁ INCORPORADO..................................189
A MEDIUNIDADE É UM CASTIGO OU É UMA DÁDIVA?.......................................191
NÃO IMITE A INCORPORAÇÃO DOS OUTROS....................................................193

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O QUE É A MEDIUNIDADE?...............................................................................195
DEIXE A ENERGIA FLUIR...................................................................................197
QUANDO A HUMILDADE TORNA-SE VAIDADE...................................................200
O DESENVOLVIMENTO NA UMBANDA PARA OS QUE NÃO SÃO MÉDIUNS DE
INCORPORAÇÃO...............................................................................................203
Carrego uma mágoa muito profunda, mas não consigo me libertar dela. Isto
significa que nunca vou evoluir espiritualmente?...........................................205
O DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO É, ANTES DE TUDO, UM DESENVOLVIMENTO
DE SI MESMO...................................................................................................207
POR QUE É NECESSÁRIO PASSAR PELO DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO?......209
O MÉDIUM NÃO É SUPERIOR AOS OUTROS......................................................211
PODE O PAI/MÃE DE SANTO MUDAR AS ENTIDADES DE SEUS FILHOS?...........213
É URGENTE DESCOBRIR QUEM SÃO OS SEUS PAIS DE CABEÇA?.....................215
NÃO FIQUE DEPENDENTE DO TERREIRO*........................................................217
FASCINAÇÃO: A MAIS PERIGOSA FORMA DE OBSESSÃO..................................219
É NECESSÁRIO OFERENDAR REGULARMENTE TODAS AS ENTIDADES E ORIXÁS?
........................................................................................................................221
O QUE O MÉDIUM SENTE QUANDO DURANTE A INCORPORAÇÃO?..................223
A IMPORTÂNCIA DE PARTICIPAR ATIVAMENTE DO RITUAL DE ABERTURA.........225
O APRENDIZADO ACONTECE NO CHÃO DO TERREIRO!...................................227
PRECISAMOS DE VOCÊ BEM, MEU FILHO!........................................................229
A MATURIDADE ESPIRITUAL SE ENCONTRA NA COMPAIXÃO............................232
PRÁTICAS ESPIRITUAIS DOMICILIARES UMBANDISTAS*....................................234
VOCÊ PODE SAIR A QUALQUER MOMENTO DA UMBANDA E DO TERREIRO.....238
ANTES DE TUDO, SEU COMPROMISSO É COM OS GUIAS.................................241
ENTIDADE NÃO É MULETA................................................................................244
ONDE ESTÁ A FORÇA DA ENTIDADE? O QUE TORNA UM MÉDIUM FORTE?......246
EU NÃO TENHO UMA MEDIUNIDADE FORTE.....................................................248
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................250

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INTRODUÇÃO

Quando dei o meus primeiros passos na Umbanda, há mais de uma década, fui
tomado por uma imensa sede de conhecimento. Devorava todo tipo de
informação que encontrava, em livros, vídeos, artigos e outros. Por um longo
período, encantei-me por completo pela religião; era o assunto mais comum a
sair da minha boca. Possuía alguns amigos, que também iniciavam esta
jornada, com os quais só sabíamos conversar sobre todo este universo
maravilho que mergulhávamos.

Com o tempo, os interesses se acalmaram. Ingressei na corrente do terreiro, o


qual até hoje participo, camboneei, desenvolvi, tornei-me um dos médiuns de
incorporação da casa. Porém, um sentimento permaneceu: a de que ainda
faltam livros que tratam com simplicidade sobre a mediunidade na perspectiva
da Umbanda. Até hoje, quando me pedem recomendações de leitura, tenho
dificuldade em apontar boas obras: faço ressalvas, peço para “filtrarem” o que
leem, explico sobre a diversidade presente em nossa religião.

E após alguns anos de terreiro, percebi-me tomado por um fortíssimo impulso


para escrever. A escrita me acompanha desde a infância; fui alfabetizado pela
minha própria mãe, então uma precarizada trabalhadora doméstica, antes de
entrar na escola, pois ela perdera a paciência comigo: toda vez que via alguma
palavra, perguntava para ela o que estava escrito. No entanto, escrever sobre
espiritualidade me era uma experiência diferente: comecei timidamente a
publicar de forma anônima nos grupos do facebook; posteriormente me assumi
e criei a minha página: Umbanda com Simplicidade.

Desde pequeno, escuto uma voz me orientar e me ensinar nos momentos


chaves da minha vida. Olhava para as nuvens e elas pareciam tomar formas
que me instruíam; observava as folhas das árvores, escutava o som dos rios,
encantava-me o movimento das ondas do mar: tudo parecia cheio de
sabedoria, um tesouro disponível a quem para ele se abrisse. Anos depois, eu

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entenderia que Pai Guiné, guia de frente de minha coroa mediúnica, já se fazia
presente na minha vida. E ao meu impulso de escrever se somou outro: o de
compartilhar todo aquele conhecimento, de não deixá-lo guardado apenas para
mim.

O nome “Umbanda com Simplicidade” foi escolhido para expressar minha visão
particular da nossa religião. Um caminho espiritual que não está preocupado
em se mostrar, em ostentar, em querer ser melhor do que outros. Mais
importante do que rituais e elementos elaborados, que tentam nos prometer
prosperidade, saúde e relacionamentos felizes, aprendi com as entidades a ver
a Umbanda como um processo de espiritualização interior, que nos enriquece
de sabedoria. Aqui, não há nenhum conhecimento secreto a ser compartilhado,
nenhuma fórmula mágica, mas reflexões simples sobre ser um médium de
terreiro.

Neste ebook, reuni alguns do textos que publiquei ao longo dos últimos anos
com o foco na mediunidade. Eles foram revistos e atualizados. Eu espero que
eles possam ser de muito valia para todos vocês. É um arquivo gratuito, então
sintam-se à vontade para compartilhar com que desejar. E faço as mesmas
considerações anteriores: filtre tudo o que ler, não aceite nenhuma verdade
como absoluta. Cada terreiro possui o seu jeito particular de ser, então
compare tudo com a sua própria experiência concreta. E, em caso de dúvidas,
converse com seu dirigente.

Caso deseje entrar em contato, ou acompanhar os novos textos, estou nas


redes sociais como @umbandacomsimplicidade,

um saravá a todos!

Diego Paiva Pimentel,


Campo Grande, 13 de Agosto de 2023.

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O QUE É INCORPORAÇÃO?

Já fazia alguns anos que José não entrava naquela casa, que conhecia muito
bem. Não por algum tipo de mágoa ou rancor; era mais o que ele considerava falta
de tempo. Era conhecido por Pai José, um experiente sacerdote, e estava a visitar
sua antiga mãe de santo, ainda mais velha do que ele. Poderia já ter seu bem-
sucedido terreiro, com seus filhos e consulentes, mas quando pisava naquele
quintal, sentia-se menino outra vez.

Mãe Aninha, apesar da avançada idade, e dos passos lentos, apresentava-se


cheia de vigor. Sua fisionomia era serena, mas o olhar, severo e acolhedor. Ao vê-
la, José pede sua bênção e pergunta de sua saúde. O objetivo de sua visita era
saber como ela estava e se necessitava de alguma coisa. Porém, outro motivo o
impulsara, sem entender exatamente do que se tratava.

- Como anda o seu buraco, meu filho? – Era assim que ela chamava o terreiro de
José; tinha um vocabulário próprio para os assuntos da religião.

- Está tudo indo bem, minha mãe. De vez em quando alguém dá trabalho... você
sabe, o de sempre, fofoca, ciúmes, vaidades... mas a casa está firme, a corrente
está crescendo, os consulentes saindo melhor a cada gira. – Era verdade o que
José dizia. Nunca houve tantos médiuns comprometidos como naquele período e
recebera relatos de grandes graças alcançadas pelos frequentadores.

- Então por que você está com estes olhos todos tão chochos?
José, por um instante, ficou sem palavras. Mãe Aninha sempre foi direta nos
assuntos, tal como flecha certeira. Não importava quem recebia, ela sempre
transformava o encontro num momento de aconselhamento.

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- Eu... eu não sei... o terreiro está melhor do que nunca, mas não tenho mais
sentido vontade de voltar para lá. É como se todo dia fosse a mesma coisa, tudo
automático, os mesmos problemas, as mesmas lamúrias, nada muda. Sinto que
estou preso nesta vida e já não sei mais se gosto dela...

Quando deu por si, suas palavras tinham desabado. Ninguém conseguia guardar
palavras diante de Mãe Aninha. “Para de esconder este chororô”, ela repetia para
quem tentava se segurar. Mais uma vez, José se sentiu menino na casa, a ter suas
inseguranças acolhidas pela sacerdotisa.

- Acho que você ainda não entendeu, meu filho...


- O que não entendi, minha mãe?
- Você ainda não entendeu o que é incorporação. Acha que é só receber espírito
para ajudar os outros?

José, ou melhor Pai José, tinha sua casa aberta há 40 anos. Seus primeiros filhos
já tinham aberto seus terreiros, era convidado ocasionalmente para dar palestras,
e apesar do seu orgulho tocado no momento, notou que ainda tinha o que
aprender sobre mediunidade com sua antiga mãe de santo.

- Incorporação, meu filho, precisa de brilho nos olhos. Não é algo que faz porque é
obrigado a fazer. Você não pode deixar sua paixão morrer, mas deixou, e agora
terá que correr atrás dela. Mais do que palavras e energias, você tem que
transmitir àqueles que te buscam este calor, este encanto pelo o que faz.

José observou Mãe Aninha mudar seu tom de voz e o reconheceu. Era Exu Veludo
a falar por ela. E naquele momento, recordou com nostalgia os puxões de orelha
que recebia dele.

- Incorporação é um encontro, de você para você mesmo, daquilo que habita sua
alma e pode melhorar este mundo, torná-lo mais colorido. Um encontro, também,

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com aqueles valorosos seres que já se foram na matéria, mas que se unem no
presente através do seu corpo.

- Incorporação é uma corrente, laços que se constroem, em que cada elo no tempo
forma um canal, na qual o conhecimento dos antigos pode fluir para os mais
novos. Conhecimento adquirido nas duras experiências que tiveram. É sabedoria
viva e em ação, diferente daquelas palavras mortas em livros empoeirados.

- Incorporação é o amor dos ancestrais, que nem a morte conseguiu afastá-los


deste mundo, e que por este amor curam, aconselham, abrem caminhos e
promovem sorrisos na vida dos seus filhos.

- Incorporação é energia divina, é axé, que transborda no médium, e que ele a


distribui aos consulentes. É poder, oferecidos pelos guias, sustentados pelos
fundamentos, capaz de transformar realidades e vidas.

- Incorporação é um abraço da espiritualidade que conforta seu coração nos


momentos de desespero. É ter uma palavra acolhedora para aqueles que sofrem.
Como agora eu a tenho para você.

Em lágrimas, José agradeceu e se despediu da sua mãe espiritual. Mais uma vez,
a vida lhe mostrou o quanto ainda precisa aprender. Foi embora disposto, ele havia
reencontrado sua paixão pelo terreiro.

Saravá a todos!

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COMO OUVIR AS ENTIDADES NO SEU DIA A DIA

Nunca estamos realmente só. Por onde quer que nossos caminhos nos levem, os
guias estão sempre a nos zelar. Diariamente, suas companhias são uma constante
em nossa vida. E nos momentos importantes, orientam-nos em nossos passos.
Por esta razão, é fundamental aprender a ouvir suas mensagens.

O bom médium deve aprender a conversar com as entidades mesmo quando não
estiver incorporado. Não podemos depender deste mecanismo e nem das giras
para se conectar com o Alto. E qualquer pessoa pode promover este contato,
desde que se empenhe para isso.

A principal forma de comunicação com a espiritualidade é a intuição. Ela é mais


elevada e o mais universal tipo de mediunidade, a qual está disponível para todos.
Trata-se de uma transmissão direta de informação de um espírito para outro. É
instantânea, e com frequência você receberá apenas a ideia pura, sem palavras,
que posteriormente será revestida pelo seu vocabulário e processada pela sua
mente.

Entretanto, para que você escute com clareza as mensagens, é preciso


desenvolver sua atenção para com ela. Exercitar essa faculdade. É como se fosse
um músculo, quanto mais você o usa, mais forte se torna.

Imagine que você se encontre no centro de uma movimentada cidade. Há


vendedores ambulantes anunciando seus produtos. Veículos passando, buzinas,
motoristas nervosos. Muitas pessoas em circulação. O ruído é imenso, e no meio
desse turbilhão de sons, uma pessoa calma ao seu lado diz suavemente o melhor
conselho da sua vida. Ele não grita. Assim são os pensamentos de sua mente.

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Desse modo, com o objetivo de que você consiga ouvir seus guias no dia a dia,
cultive o silêncio mental. Claro que você não vai calar a mente totalmente; contudo,
quanto mais tranquilo o seu interior, mais fácil é a comunicação.

Recomendamos, para isso, o exercício da meditação. Ela potencializará todo esse


processo. É simples: basta sentar-se confortavelmente num local livre de ruídos e
interrupções. Depois, preste atenção nos seus pensamentos. Em algum momento,
sua mente divagará. Tudo bem, é natural. Quando perceber que o aconteceu,
retorne sua atenção para os pensamentos. Comece praticando apenas 3 minutos
por dia e, gradualmente, vá aumentando este período para 15 minutos.

De início, terá dificuldade em discernir o que é seu e o que é das entidades. Não
se preocupe, isto é normal. Realmente ainda não conseguirá diferenciar. O mais
importante, no momento, será avaliar se a mensagem é boa ou não. Tudo o que
vem da espiritualidade estimula bons pensamentos, paz, harmonia, coragem, fé,
atitudes corretas. Se a orientação recebida caminha nesse sentido, siga-a de
coração.

Saravá a todos!

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NÃO EXISTE DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO ONLINE

Vivemos um período que o óbvio precisa ser repetido frequentemente. O mau


caratismo se espalha de maneira descancarada. E a Umbanda não escapa disso.
É com tristeza que observamos a crescente oferta de cursos online e à distância
que prometem o desenvolvimento mediúnico. Já vamos adiantar nossa conclusão:
isto não é possível, trata-se apenas de uma artimanha para pegar o seu dinheiro.

Para realizar o desenvolver sua mediunidade, não bastam técnicas de meditação,


visualização, invocação e evocação. Não se trata de colocar uma gira gravada ou
em live, concentrar e deixar vir o que for. Estes exercícios, além de promover a
explosão de animismos e ilusões, tornam os que apresentam maior sensibilidade
vulneráveis a ataques espirituais. Se baixar um kiumba, quem é que vai te ajudar?
É fundamental o olhar dos mais velhos, para segurança e direção.

A Umbanda acontece dentro do terreiro, no interior de uma comunidade de axé.


Ela é uma atividade coletiva. Por mais que sejam muitos os problemas de convívio,
precisamos aprender a lidar com eles. Fazem parte de nosso aprendizado. É no
contato com as outras pessoas que você colocará em práticas os valores e
princípios que aprendeu com a espiritualidade.

Estes cursos oferecem uma falsa oferta de poder, de uma relação individualista
com as entidades, tendência que é contra-axé. E resulta no rompimento dos laços
de ancestralidade, que são fundamentos indispensáveis da nossa religião. A
mediunidade se desenvolve no contexto de uma corrente, numa egregóra, o qual é
sustentada pelos assentamentos do terreiro, pela força coletiva de seus membros,
no canto, palmas, sentimentos invocado, e direcionada pela experiência e axé
do/da sacerdote.

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O desenvolvimento acontece a partir de um processo contínuo e gradual de
sucessivas aproximações das entidades, as quais, gira após giras, envolverão o
corpo de seus cavalos e darão forma a ele. Isto acontece por intermédio do axé
presente em abundância dentro do terreiro, convocado pela coletividade de forma
ritualizada. Porém, é um processo muito delicado, cheio de altos e baixos,
inseguranças e exageros, êxtases e intensos desconfortos.

Para que tudo ocorra da melhor forma possível, é preciso o cuidado presencial e
próximo de alguém experiente, conhecedor desses complexos mecanismos, e
familiarizado de longa data com a incorporação.

Mediunidade não é brincadeira, desenvolvimento não é mercadoria.

Saravá a todos!

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QUANDO EU FINALMENTE SEREI CAPAZ DE
INCORPORAR?

Já fazia quase 10 anos que Giovana trabalhava naquele terreiro. 9 anos, 5 meses
e 23 dias, para ser mais exato, ela sabia de cor a conta. Era cambone, auxiliava os
guias e os consulentes nos muitos atendimentos que presenciava.

Todos a estimavam. Seu conhecimento era grande, sua experiência era produto de
longos anos no chão do terreiro. Sabia como realizar todos os rituais realizados na
casa. Em caso de dúvida, era a ela que recorriam. Quando algo inesperado
acontecia na gira, conseguia lidar muito bem com a situação. E sempre possuía
uma palavra de orientação a quem procurava sua ajuda. Até mesmo os médiuns
mais velhos pediam seus conselhos.

Porém, ninguém sabia que Giovana carregava uma grande tristeza no coração.
Apesar de tantos anos e tanta dedicação, nunca conseguira incorporar. Ela já teria
desistido de sua mediunidade, mas as entidades do terreiro sempre lhe diziam que
ela era uma grande médium, que deveria ser paciente, pois chegaria o dia em que
conheceria os guias que a acompanham.

Com o tempo, o desânimo foi ganhando força. Já não tinha mais tanto prazer em
servir à espiritualidade. A repetição a entediava, as atividades pareciam sem
sentido e a ideia de sair da religião se tornou frequente. Naquele dia, ela estava
decidida que seria sua última gira no terreiro. Pediria agô às entidades, diria a mãe
de Santo que precisava de um tempo para se cuidar.

Foi uma noite incomum. Primeiramente, muitos médiuns anunciaram que estariam
ausentes. A dirigente adoeceu, os trabalhos seriam abertos pelo pai pequeno. A
consulência estava lotada. Quando olhou para as pessoas que buscavam

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atendimento, teve um péssimo pressentimento. Sentiu que alguma coisa negativa
sondava aquele lugar.

Poucas horas após a abertura, sua intuição se confirmou. Subitamente, alguns


indivíduos que aguardavam o momento do seu passe caíram no chão e
começaram a se contorcer. Era um clara manifestação de espíritos obsessores. Os
médiuns de atendimento, por outro lado, estavam ocupados com casos igualmente
difíceis. Giovana não teve alternativa a não ser ela mesma agir.

No momento em que se aproximou dos kiumbas, soube o que falar. Não pensava
nas palavras, apenas as soltava à medida que fluíam em sua mente. Ao mesmo
tempo, estendia as palmas das mãos em direção aos consulentes caídos. Sentia
um calor passando pelo seu corpo da cabeça às pontas dos dedos. E, dessa
maneira, conseguiu normalizar o andamento da cerimônia da noite.

Mais tarde, próximo do encerramento, um dos pretos pediu para conversar com
ela. Disse-lhe “minha filha, em todas estas luas que trabalhou aqui, sua
mediunidade sempre foi uma das mais fortes desta casa. Moça não precisa fazer
girador para fazer caridade. Seus guias estão contigo e você tem transmitido suas
palavras para todos que buscam seus conselhos. O axé deles está em você,
minha filha. Já os conhece há tempo que até esqueceu o que é viver sem as
bênçãos dele".

Giovana compreendeu. Na próxima gira, ela seria vista mais uma vez naquele
abençoado terreiro, com forças renovadas. Seria perceptível a alegria que ela
irradiava naquele trabalho. Nunca mais pensara em abandonar a querida
Umbanda. Estava decidida a exercer sua missão enquanto sua matéria
suportasse.

Saravá a todos!

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O ACONSELHAMENTO COM AS ENTIDADES
SUBSTITUI UMA TERAPIA COM UM PSICOLÓGICO?

Não. São dois tipos de tratamentos diferente; um espiritual, outro mental e


emocional. Embora a consulta com os guias seja benéfica para a mente e o
coração, não exclui a ida a um profissional quando há necessidade. Isso não
impede, entretanto, que busquemos auxílio das duas partes, porque elas se
complementam.

Para início de conversa, o tempo é diferente. Numa gira de Umbanda, você não
tem todo o tempo do mundo. Após seu atendimento, há outros aguardando.
Mesmo que haja poucos consulentes naquele dia, em geral, uma sessão de
terapia possui uma duração maior do que uma consulta com um guia. Isto é
importante, porque há situações de nosso mundo interior que exigem um cuidado
que não combina com a pressa.

O método também não é o mesmo. Uma entidade se usará dos passes,


descarregos, ervas, rezas, banhos, firmezas entre outras ferramentas para te
auxiliar. O psicólogo, por outro lado, utiliza-se, principalmente, do diálogo como
forma de atuação, a partir dos conceitos e teorias aprendidos em sua formação.
Ambas as abordagens são salutares e eficazes. Não é nosso objetivo aqui não é
dizer que uma é melhor do que outra.

O ser humano é um campo complexo e vasto. Somos perpassados pelas


dimensões social, biológica, mental, emocional, energética e espiritual da vida. É
na harmonia entre esses pilares que a saúde e bem estar é possível. Nesse
sentido, é importante ressaltar que a atuação da entidade e do terapeuta se dá em
aspectos diferentes do indivíduo. Não se contradizem; ao contrário, um fortalece o
outro.

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Há assuntos delicados que exigem muita sensibilidade. Traumas, memórias
dolorosas, a dor do abandono, do abuso, da traição. A frustração com a vida, a
desesperança, o desejo da morte. São sentimentos que pedem uma atenção
individualizada, um profundo mergulho no próprio interior, mas sob a coordenação
e acompanhamento de um terapeuta.

Não estamos afirmando que os guias nada podem fazer nesses casos. Eles
ajudam e muito, mas de acordo com a ótica e forma de atividade da
espiritualidade. Uma entidade não passará meses apenas ouvindo o consulente
falar sobre suas dores. Ela realizará um diagnóstico de sua condição espiritual,
identificará os bloqueios energéticos e desequilíbrios. Promoverá o descarrego, o
alinhamento dos chacras, a elevação vibratória daquele que necessita. E
prescreverá alguns banhos, firmezas ou preceitos para fortalecimento de sua aura.

Todos podem se beneficiar com o atendimento psicológico. Não é apenas para


casos graves de depressão, como muitos pensam. Também não é somente para
tratar traumas e fobias. A terapia auxilia no desenvolvimento do autoconhecimento,
na organização de si e dos sentimentos. Mostra-nos, também, onde nos
autossabotamos e como lidar com essa atitude. Tudo isso contribui em grande
escala para nossa evolução espiritual.

Lamentavelmente, tantos em nosso país não possuem acesso aos necessários


tratamentos profissionais. Os terreiros de Umbanda, por muitos anos, têm suprido
o deficit em nosso sistema público de saúde. Faz parte de nossa missão, uma vez
que nossa religião acolhe a todos, principalmente os mais humildes. Porém, num
mundo atual, isso não deveria acontecer, porquanto nosso foco é o
desenvolvimento espiritual de nossa comunidade.

Saravá a todos!

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SOMOS INSTRUMENTOS IMPERFEITOS

A mediunidade não é exata como desejamos acreditar. Mais do que se imagina, o


médium erra e interfere nas comunicações. Ele não é um canal transparente da
espiritualidade. Seu ser como um todo modula as mensagens recebidas. E por
mais velho que possa ser na religião, ninguém está isento disso. Somos falhos, é
uma característica comum do mundo manifestado.

No entanto, apesar de nossa imperfeição, a caridade é possível. Aconselhamentos


são realizados, o passe limpa e energiza, a gira fortalece o médium e consulente.
O alcance das bênçãos não pressupõe a inexistência de defeitos, e sim um
coração disposto a ajudar o próximo e razoável preparo. Damos o nosso melhor no
momento, e este melhor é o suficiente para os guias exercerem seus trabalhos.

Não criemos a expectativa de querermos médiuns sem defeitos. Não haverá uma
força externa a plenamente dominar sua matéria, eliminando a possibilidade de
interferência. O médium não é um robô com controle remoto, mas um ser vivo com
sua história, visão de mundo, princípios, valores, emoções, desejos, pensamentos,
medos e inseguranças. Tudo o que ele é, em algum grau, marca o processo
mediúnico.

E é por causa desta imperfeição nossa que se faz tão necessária a sólida
preparação e aprofundado estudo, para que eles possam suprir nossas falhas.
Sem isso, ele se torna vazio, vulnerável às armadilhas do seu ego e do baixo
astral. Não por acaso é muito recomendado o abandono da pressa e ansiedade: o
médium vai para o atendimento quando estiver realmente pronto.

O conhecimento e a experiência, contudo, não são suficientes. Cabe a ele buscar


seu crescimento moral e pessoal. É preciso cultivar nossa riqueza interna, para
que ela seja bem aproveitada pela espiritualidade superior em benefício de todos

19
os filhos de fé. Sejamos luz no mundo, a fim de que esta mesma luz possa iluminar
os caminhos daqueles que aspiram por ela.

A Umbanda é uma religião. Seu propósito é nos reconectar com o Criador. Não
precisamos de manifestações físicas ostensivas, mais preocupadas em provar a
veracidade da suposta incorporação do que exercer a caridade. O objetivo não é
ser o médium mais forte, mais raiz, mais firme, mais inquestionável, como tanto
observamos as pessoas as buscarem. E sim, levar de alguma forma esperança e
consolo para aqueles que buscam nos terreiros.

Saravá a todos!

20
POR MAIS VELHO QUE SEJA NA RELIGIÃO, AINDA
NÃO VIU TUDO

A espiritualidade é muito maior do que conhecemos, ainda que muito você tenha
estudado. Somos eternos aprendizes, num desenvolvimento sem fim.
Repetidamente, surpreendemo-nos pelas experiências que o contato mediúnico
nos proporciona. Por esta razão, em nossa caminhada no terreiro, faz-se
necessário a atitude de humildade e mente aberta.

Aquele que acredita saber tudo se fecha para novos saberes e permite ser tomado
pela arrogância. Entra num estado de ignorância intelectual, que reduz todo fluir da
vida aos mesmos modelos prontos. Contudo, o mundo espiritual não é tão definido
e sistematizado como tantos são levados a crer. A vida se rebela às classificações
preestabelecidas.

Uma das características principais dos caminhos espirituais é o mistério, aquilo


que resiste a todo entendimento e racionalização. Não podemos esquecer que a
capacidade de nossa razão compreender o divino é limitada. Estamos distantes,
nos degraus da vida, ao saber pleno. Apenas quando nosso estágio vibratório
autorizar, acessaremos o absoluto.

Um caso que ilustra esta situação é quando um guia declara um nome


desconhecido. Alguns, tomados por uma certa soberba devido aos seus muitos
anos de Umbanda, por nunca terem ouvido sobre aquela entidade, já acusam de
animismo e mistificação. Esta postura, contudo, nada mais é do que uma tentativa
infeliz de reduzir toda a amplitude do astral à experiência individual da pessoa.

Pequeno é o nosso conhecimento diante da imensidão dos inúmeros planos de


existência. E a nossa própria religião é rica em diversidade, esta é uma das
características que a faz tão bela. Não é porque aprendemos os rituais e atividades

21
de uma maneira que todos precisam agir igualmente. Para cada tipo de
consciência, um modo de proceder adequado.

Esteja receptivo ao novo, somente terá a se beneficiar com isso. Embora


mantemos firmes nossa fidelidade aos fundamentos da Umbanda, entenda que ela
não é tão fechada como imagina. O exercício da caridade, eventualmente, pode
exigir ir além do que está habituado. Portanto, aceite, você não sabe tudo.
Ninguém sabe, e está tudo bem.

Quando compreendemos essa verdade, percebe-se o quão maravilhoso é o nosso


caminho. Se o degraus iniciais já nos trouxeram tantas graças, quanto mais incrível
será o continuar da jornada. Não foi nessa vida que começamos nosso
aprendizado, também não será nela que o terminaremos.

Saravá a todos!

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“NÃO CONSIGO ME ENTREGAR À INCORPORAÇÃO. O
QUE DEVO FAZER?”

Este questionamento sintetiza muito dos conflitos internos que os médiuns


enfrentam no início de sua caminhada no terreiro. Com frequência, idealizam um
estado de total confiança, onde suas emoções e corpos seriam magicamente
guiados por uma força externa. No entanto, raramente os ideais correspondem à
realidade concreta da vida.

Muito mais comum, é a forte presença de dúvidas, insegurança, medo, receio de


ser julgado e a persistente pergunta: “sou eu ou a entidade”. Tal é a força destas
angústias que tantos desistem deste lindo caminho por não conseguirem lidar com
estes sentimentos. E nesta contradição entre expectativa e resultado, estabelece-
se um estado de desarmonia. Não por acaso ele flerta com o pensamento de
desistir.

É preciso aceitar a incorporação em sua realidade. A vida não nos dá certezas


absolutas; ao contrário, habitamos um mundo em constante impermanência. Este
é um dos significados da fé: persistir apesar de todas as dúvidas e inseguranças,
doar-se ainda que você não possua provas incontestáveis.

Foi-se o período em que a mediunidade acontecia de maneira integralmente


mecânica. O médium não fica sob total controle da entidade, sua mente não se
cala, ele vê e observa tudo o acontece. Pode, a qualquer momento, intervir na
manifestação. E dificilmente suas lembranças se apagarão. Tudo bem que assim
seja, a caridade poderá ser realizada igualmente.

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O que dá força à incorporação não é a inconsciência, e nem qualquer movimento
físico ou trejeito. O mais importante é um bom coração, disposto a ajudar o
próximo, aliado a um bom preparo. E somente o tempo e a paciência são capazes
de assegurar uma sólida preparação, não adianta forçar.

A fé e a entrega à incorporação cresce gradualmente em nosso coração. Ela segue


o seu próprio ritmo. Em vez de lutar contra você mesmo, aceite aquilo que lhe é
natural. Trabalhe a partir da energia que receber, por mais que a percepção seja
sutil. Será suficiente para promover as graças que necessita. A maturidade
mediúnica se constrói através do seu exercício, portanto, viva cada etapa da sua
caminhada integralmente, sem se preocupar com o que virá.

Saravá a todos!

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QUANTO TEMPO LEVA O DESENVOLVIMENTO
MEDIÚNICO?

O desenvolvimento é diferente para cada pessoa. O ritmo e o tempo não são o


mesmo. Ninguém sente e vive a mediunidade da mesma forma que o outro. Por
este motivo, não é possível dar um número exato de quanto tempo levará o
desenvolvimento mediúnico. Entenda que é um processo personalizado.

Em geral, o desenvolvimento é lento e exige muita paciência. É importante que


seja assim, visto que o atendimento ao público é uma enorme responsabilidade.
Pessoas com os mais diferentes problemas passam pelas entidades, algumas
situações muito graves, e uma orientação incorreta pode ser nefasta.

O médium em desenvolvimento deve procurar manter uma postura de humildade.


Infelizmente, muitos permitem a arrogância crescer no coração, clamando aos
quatro ventos que já estão “prontos” e desenvolvidos. E quando o dirigente ou guia
espiritual pede para aguardar mais um pouco, ele sai em busca de um novo
terreiro, onde permite os médiuns darem consultas sem muito critério.

Não se deve buscar acelerar o desenvolvimento. Os mais novos precisam


aprender a deixar as coisas acontecerem naturalmente. Lamentavelmente, vemos
muitos, movidos pela pressa e ansiedade, buscarem fora do terreiro práticas cada
vez mais estranhas. Mas vou deixar algo bem claro: não existe banho, firmeza,
trabalho, meditação, técnica ou magia que faça alguma etapa ser pulada.
Repetimos: siga o seu ritmo natural, e tenha paciência.

E há também o outro lado da moeda. Médiuns que estão há anos e anos no


desenvolvimento, e que já possuem a autorização para participar do atendimento,
mas devido insegurança e outras razões insistem em permanecer no
desenvolvimento. Lembrem-se que a mediunidade é um compromisso sério. Não

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se incorpora apenas para sentir uma energia diferente e agradável, entidade não é
sabão para você deixar vir só para te limpar. Se o Pai/Mãe de Santo disse que
você já está pronto para dar consultas, confie. Tenha fé nos seus guias e na sua
própria capacidade.

O tempo é importante para que o médium possa trabalhar, dentro de si, outros
assuntos não resolvidos. O desenvolvimento mediúnico é, antes de tudo, um
desenvolvimento interno. É um mergulho profundo na sua alma, conhecendo as
emoções, memórias, pensamentos e sentimentos que ali habitam. E, é claro,
purificando e curando tudo o que ali encontra. Nem sempre este processo é fácil, o
que pedirá muita paciência do médium iniciante.

Não fique opinando sobre a mediunidade alheia, nem pressionando ninguém da


casa para ir para o atendimento ou iniciar seu desenvolvimento. Isso somente cria
mais ansiedade no médium novato. Deixe cada um levar o seu tempo natural.
Cabe somente ao Pai/Mãe de Santo ou o guia chefe da casa determinar quando
alguém está pronto para dar consultas.

Por fim, lembre-se de que o desenvolvimento nunca para de fato. Mesmo que
esteja na Umbanda desde criança, mesmo que trabalhe com seus guias há mais
de 50 anos, ainda assim há bastante para aprender. Muitas coisas o médium novo
somente irá compreender quando passar para o atendimento. E outras lições os
médiuns experimentados descobrirão apenas nas próximas vidas. Por este motivo,
humildade sempre. Diante dos guias e da espiritualidade superior, somos todos
aprendizes.

Saravá a todos!

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A PRECE NOS APROXIMA DA ESPIRITUALIDADE

Nunca podemos esquecer o poder de uma simples prece. Ela é o nosso primeiro e
último contato com a espiritualidade. Pouco adianta oferecer os mais diversos
elementos, decorar inúmeros rituais e procedimentos, utilizar as brilhantes pedras
e contas, e esquecer de orar.

Quando nos dirigimos ao Pai Maior através da oração, nos aproximamos de suas
vibrações. Gradualmente, cresce a comunhão com Deus. E, por meio sua graça,
nossas trevas interiores são transmutadas em luz divina.

Por esta razão, é muito importante que a prece seja realizada diariamente,
especialmente no momento de acordar e antes de dormir. Não subestime sua
enorme capacidade de transformar nossa vida, tanto por dentro quanto por fora.

Cada vez que uma oração é realizada, é como se uma luz fosse acesa no seu
espírito e no ambiente onde de encontra. Isto é capaz de mudar a vibração de
qualquer lugar. E cria uma aura de proteção para todos os que ali frequentam.

A prece está acessível a qualquer um. Não exige nenhum segredo, nenhum ritual,
nenhum elemento. Basta se conectar às forças superiores. Expressar, com suas
próprias palavras, o que sente e entregar tudo nas mãos da espiritualidade.

Quando, por algum motivo, não consegue fazer uma prece livre, até mesmo as
rezas decoradas possuem o seu valor. O importante é sintonizar, dentro do
coração, com as vibrações superiores. Pense nisso como um longo tratamento,
uma espécie de transfusão de energia, capaz de nos curar de todas as mazelas da
alma.

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A oração praticada com regularidade indica compromisso real e sincero com a
espiritualidade. É o nosso alimento espiritual, que a cada nos torna mais próximo
de nossos guias, Orixás e Olorum. Tenha certeza que fará grande diferença em
sua vida.

Saravá a todos!

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A UMBANDA PROMOVE A REFORMA ÍNTIMA?

Muitos umbandistas acreditam que a reforma íntima é apenas assunto para nossos
irmãos do espiritismo. Antes, interessam-se mais em descobrir o nome das
entidades, Orixás de cabeças, aprender rituais, abrir caminhos, desenvolver
mediunidade. Há uma busca maior por "poderes mágicos” do que a transformação
interior. Perdem, neste processo, uma característica fundamental de todo caminho
espiritual: o melhoramento de caráter.

Toda vitória, quando não acompanhada de crescimento pessoal, deixa de cumprir


o seu propósito. É por essa razão que os guias não atendem seus pedidos quando
não há merecimento para isso. Você pode até ir em outro local e pagar um trabalho
para “sumir" com seus problemas. Se não aprender a lição, eles reaparecem
posteriormente com uma nova face.

E o que seria esse tão falado merecimento? Não estamos aqui a defender um
suposto sistema meritocrático no Astral. Trata-se apenas do entendimento da
necessidade da evolução contínua. Se aspiramos alcançar nossos sonhos,
devemos ser os primeiros a nos esforçar por conquistá-los. As dificuldades que
enfrentamos, desse ponto de vista, são excelentes professoras, cujos
ensinamentos extraem o que há de melhor em nós.

A Umbanda, entretanto, não adota a ideia de pecado, nem incentiva o sentimento


de culpa. Ela promove a reforma íntima por outra via. Seu foco está no
fortalecimento do indivíduo e sua integração na comunidade religiosa. Por meio
dos passes, aconselhamentos, preceitos, banhos, iniciações e o próprio

29
amadurecimento mediúnico, o neófito desenvolve os potenciais de sua alma e
equilibra seus pensamentos e emoções. Além disso, o insere dentro das relações
sociais do terreiro, onde será responsável coletivamente pela sua manutenção.

Cuidado com a busca fútil de conhecimento sobre magias e rituais. Poder sem
uma base moral sólida é receita fácil para perdição. Aquilo que fascina a visão nem
sempre traz um resultado positivo. Mais importante do que realizar "milagres",
numa ânsia desnecessária em provar a força da entidade, é cultivar no coração os
valores que a espiritualidade nos ensina. Umbanda não é balcão de negócios, ou
barganha com os guias, nem lâmpada mágica para satisfazer nossos desejos
materiais. Antes de tudo, é uma religião que nos reconecta ao Criador.

Toda entidade, ao se manifestar em um médium, deixa nele uma parte dos valores
que representa. Por meio de sua vibração, seu cavalo é capaz de internalizar seus
ensinamentos, superando o vazio conhecimento intelectual. O preto velho, por
exemplo, “planta”, no campo astral de seu filho, um pouco de sua paciência,
generosidade, mansuetude. O caboclo, sua força, garra, ânimo; o baiano, sua
alegria e flexibilidade, e assim por diante. Cabe ao umbandista, contudo, alimentar
essa semente.

No mesmo sentido, quando nos relacionamos com os Orixás, e trazemos seu axé
para nosso ser, incorporamos seus atributos divinos. Afinal, o verdadeiro
significado da palavra “incorporação” é “o processo de colocar algo dentro de
nosso corpo". Não o nosso corpo físico, e sim o espiritual. Aprender com Ogum, a
força e disciplina, Oxum, o amor próprio, Oxalá, a paz e a fé, Xangô, a sabedoria e
retidão, e muito mais. Por meio do culto a estas forças divinas, entramos em
contato com energias divinas de Olorum, o qual o maior milagre é a nossa própria
transmutação.

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Há, ainda, mais uma curiosa forma pelo qual a reforma íntima acontece na
Umbanda. A espiritualidade possui um jeito sábio de direcionar o consulente ao
médium que está lidando com uma dificuldade semelhante. Dessa maneira, ao
mesmo tempo que o guia aconselha aquele que busca seu auxílio, orienta também
o seu cavalo. Entenda, no terreiro, nada acontece por acaso.

Saravá a todos!

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PRATIQUE A UMBANDA COM CALMA

Com a Umbanda, criamos uma relação que se pretende que dure a vida inteira. E
para que possamos manter esta vivência por longo anos, é preciso ir com calma.
Você não aguentará ser intenso para sempre; por esta razão, modere o quanto
você se doa.

Quando se começa a frequentar o terreiro, muitos são tomados por um encanto e


empolgação desenfreada. Pensam e falam sobre a Umbanda o tempo todo,
assistem horas e horas de vídeos na internet, saem lendo tudo o que encontra por
aí sobre o assunto. Alguns até mesmo abrem mão de importantes compromissos
para se dedicarem mais. O interesse por se aprofundar, por si só, não tem nada de
negativo, ao contrário, gera um envolvimento muito benéfico. Porém, quando a
intensidade é exagerada, ela não se mantém por muito tempo.

Quando a empolgação inicial diminuir – o que acontece naturalmente com


qualquer coisa que fazemos – você começará a reparar em alguns pontos que te
incomodam ou desagradam: o que também é natural, afinal, nenhum local é
perfeito, e cada pessoa possui a sua opinião particular de como conduzir o terreiro.
É neste momento que o desânimo pode surgir, e você também questionará se este
é o caminho que realmente deseja. Infelizmente, nem todos persistem depois
desta fase.

Ao longo da sua vida, você vivenciará diferentes fases. E alguns períodos, a


espiritualidade estará proeminente. Mas em outros momentos, outros assuntos
poderão exigir mais sua atenção, você terá que diminuir um pouco a intensidade
que se doa ao terreiro. Se, por exemplo, por alguma situação você for obrigado a
trabalhar no mesmo dia e horário da gira, não faltará ao serviço. Tudo isso é
natural, faz parte do processo. A Umbanda não existe para nos prender, nos
prejudicar; as entidades compreendem cada ciclo que passamos.

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É preciso criar uma relação equilibrada com o terreiro e a Umbanda. Você pode até
aguentar a intensidade máxima por alguns meses, ou mesmo 1 ou 2 anos, mas
será que aguentaria este ritmo por 20 ou 30 anos? Como eu falei, é algo que se
pretende para toda a vida – embora, é claro, você pode seguir outros caminhos se
algum momento sentir que não te preenche mais. Por esta razão, vá com calma,
percorra esta caminho maravilhoso sem pressa nenhuma. Não esgote todas as
suas energias, não se desgaste rapidamente. O devagar carrega uma força
enorme.

Saravá a todos!

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POR QUE O MÉDIUM SE SENTE TÃO DESLOCADO NO
MUNDO?

Em uma sociedade onde tantos se movem primordialmente em busca de prazeres


e bens materiais, é esperado que aquele que possui o sentido aguçado para os
planos sutis sinta-se um estranho. Causa espanto quem procura cultivar os valores
espirituais. Portanto, mais do que natural será o médium se sentir deslocado neste
mundo.

Há uma frase de Krishnamurti que sintetiza perfeitamente esta condição: “Não é


sinal de saúde estar bem ajustado a uma sociedade profundamente doente”. Se
você é o “esquisito” da família, trabalho ou outro tipo de grupo social, tudo bem.
Pior seria caso apenas seguisse as tendências fúteis do momento.

Quando você é capaz de sentir o que os outros não sentem, ouvir o que os seus
próximos não escutam e doar o que as massas não recebem, certamente será
rotulado como “anormal". Mas o tempo te ensinará a lidar com cada situação dessa
natureza. No futuro, não mais se incomodará. Saberá agradecer pelos dons que
carrega.

Algumas vezes, este “desajuste" leva o médium a se questionar se está no


caminho certo, se não era mais feliz quando vivia sob as asas da ignorância.
Contudo, ele pode se apoiar no fato de que suas ações possuem um sentido, uma
direção de crescimento pessoal e espiritual. Sua energia não é gasta apenas em
trabalho e lazer, o médium cumpre um propósito e missão, realizando-se em suas
atividades.

Muitos de nós nem mesmo somos originários deste planeta. Nosso coração se dói
por saudades de um mundo que não lembramos mais. Outros, tiveram
experiências anteriores em povos tão livres e solidários que não se reconhecem

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nesta sociedade competitiva. Pessoas que dão mais valor a sorrisos e abraços
sinceros do que uma farta carteira.

“O meu reino não é deste mundo”, ensinou o Cristo. É na essência espiritual que o
médium encontra sua satisfação e alegria. Ele não se deixa ser guiado pelo o que
é fugaz, pouca importância dá às intrigas e melindres ao seu redor; umas vez que
sabe que acima de todos os conflitos da matéria há uma verdade maior. Seus
tesouros estão em outro plano.

Saiba, médium, que não está sozinho. Há outros como você neste planeta de
provas e expiações. E, a cada dia, reunimo-nos e nos organizamos. Você
encontrará os que compreendem o que se passa contigo; será acolhido e poderá
acolher. Chegará a conclusão de que não há nada de errado em você; ao
contrário, é sua alma expressa a nova era que se aproxima da Terra.

Saravá a todos!

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NÃO PERCA A CONEXÃO COM AXÉ

Lembremos que a Umbanda não é vivenciada apenas dentro dos terreiros. Somos
seus filhos todos os dias. Os guias e protetores permanecem a nos acompanhar. E
estão dispostos a nos instruir, nos amparar, nos abençoar. Para isso, é preciso
estar receptivo, no seu coração, a eles.

Procure se lembrar da espiritualidade ao longo de seus dias da semana. Cultive,


diariamente, uma boa relação com o Alto. Exercite sua fé, alimente sua alma com o
que é positivo. Deixe, todos os dias, que ela faça uma pequena ou grande
mudança em sua vida. É devagarinho que nos aproximamos dos Orixás; pouco
adianta postergar tudo somente para o momento da gira.

Cuide de sua alma. Não deixe que a distância se crie entre você e aqueles que te
acompanham. Valorize a conexão que construiu e fortaleça este contato. Pratique
a prece, o diálogo e a comunhão com a espiritualidade. Tome regularmente seus
banhos de erva e realize as firmezas para o anjo da guarda.

Não é suficiente apenas receber os ensinamentos do Astral. É preciso colocá-los


em prática. E nos conflitos e adversidades que cada dia nos traz conseguimos
exercitá-los. A cada escolha definimos quem nós somos, mostramos o quanto
permitimos a Umbanda nos amadurecer.

Saravá a todos!

36
O MÉDIUM NÃO É UM SIMPLES APARELHO

O ritual de Umbanda tem como um dos seus eixos principais o exercício da


mediunidade. Nos terreiros, sua expressão mais comum é por meio da
incorporação. Por ela, somos presenteados pela incrível oportunidade de
conversarmos diretamente com os mentores das elevadas esferas espirituais,
receber conselhos e orientações, além de todo trabalho energético através do
passe e descarrego.

No entanto, mais do que se costuma admitir, os médiuns possuem uma larga


influência no trabalho das entidades, a variar dependendo do seu preparo e
concentração. Toda mensagem, invariavelmente, passa por ele antes de ser
expresso aos consulentes. Isto implica, antes de tudo, sua enorme
responsabilidade frente ao compromisso que assumiu.

E isto é válido mesmo para os que se dizem inconscientes – se é que realmente


ainda existam tais médiuns -, uma vez que não se lembrar de nada não significa
que não possa de alguma forma ter influenciado o atendimento.

O médium não é um simples aparelho capaz de reproduzir mecanicamente as


mensagens que vêm do alto. Ele tem a sua história, visão de mundo, valores,
conhecimentos e doutrinas particulares. E quando o guia transmite suas ideias em
seus atendimentos, ela assume as formas mentais que encontra no seu “cavalo".

Com o desenvolvimento, o tempo e a experiência, o médium aprende a tornar-se


passivo. Silenciando e aquietando o seu interior, ele permite que o guia assuma à
frente. É um longo exercício e intensa batalha interna, até que chega o dia em que
ele entende que precisa simplesmente confiar e se entregar. No entanto, o médium
nunca se anula complemente. Ele sempre está lá, presente, dando forma às
palavras que são transmitidas.

37
É preciso reforçar constantemente isso. São muitos os médiuns que se
desesperam com a ilusão de que haverá o momento em que suas mentes sofrerão
um apagão e depois disso não existirá mais nada a se preocupar. Vou repetir:
durante a incorporação, o médium nunca deixa de estar presente. E, por esta
razão, exige-se dele preparo e responsabilidade.

Os guias são forças sutis. Mesmo os Exus e Pombagiras, que costumamos dizer
que apresentam energias mais densas, estão em um nível vibratório muito maior
que o nosso. Segue-se que, para que haja um acoplamento mediúnico, é preciso
que o próprio médium busque elevar sua vibração e tornar sua energia mais sutil.

A mediunidade exige alguns sacrifícios pessoais. Mais vale, em algumas situações,


calar-se diante do convite ao conflito do que perder a firme sintonia com seus guias
e protetores. Eliminar as brigas, discussões, pensamentos negativos, rancores,
palavras de baixa vibração. Todas essas práticas nos afastam da espiritualidade e,
tenha certeza, interferem no seu processo de incorporação.

Lembre-se de que através de sua mediunidade, virão pessoas se consultar com


todos os tipos de problemas, alguns, muito graves. É uma enorme
responsabilidade. Se você assumiu este compromisso, tem o dever de estar o
mais preparado possível no dia da gira. Esta é a sua única tarefa, uma vez que
quem exerce a caridade é o guia e não médium.

Acima de tudo, o médium deve buscar o seu desenvolvimento moral. O coração


que vibra amor impulsiona a todos para mais próximo do Pai Maior. E essa é a
nossa missão. Quanto mais elevados os pensamentos, e mais puros os
sentimentos e tanto mais compromissado nos colocamos com a prática da
Umbanda, mais perfeita é a sintonia para com nossos guias e protetores.

Saravá a todos!

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NÃO CONFUNDA ANSIEDADE, SÍNDROME DO PÂNICO
E DEPRESSÃO COM ATAQUE ESPIRITUAL

A depressão é uma enfermidade e deve ser encarada como tal. Não é falta de
espiritualidade, nem mediunidade reprimida. Tampouco basta força de vontade ou
encontros sociais para curá-la. Sua causa, em muitas situações, é orgânica. Por
esta razão, devemos adotar uma séria e lúcida atitude em relação a ela.

Ela pode se originar de desequilíbrios bioquímicos do corpo, algum evento


doloroso da vida, frustrações excessivas, incapacidade de lidar com o presente. No
entanto, para muitas pessoas, ela simplesmente chega sem avisar, sem que
possamos identificar uma razão para ela.

E enquanto umbandistas, devemos buscar mais informações sobre essas


enfermidades. Porque são tantos atualmente que buscam nossos terreiro na
esperança de superarem esta difícil realidade. A depressão, ansiedade e síndrome
do pânico estão presentes em todas os grupos e camadas sociais. Para que
possamos realizar nossa missão maior, o exercício da caridade, é preciso estar
preparado a elas.

Não criemos ilusões: o tratamento espiritual pode ajudar muito, porém não substitui
o acompanhamento médico e terapêutico. Da mesma forma que se alguém
quebrar a perna ou um braço, não vamos tentar resolver apenas com um passe ou
banho de ervas. Será preciso orientar o consulente a procurar um especialista.

Para muitas pessoas, os remédios são o melhor caminho para se curarem. O


terreiro não deve desencorajá-las de se usarem da medição prescrita. Além de
constituir grave irresponsabilidade, corre o risco de ser processado civil e
penalmente. A depressão é uma perigosa doença, cujo sintomas podem levar à
morte por suicídio. Em razão disso, não nos baseemos em achismos.

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Não estou a dizer que a Umbanda nada pode fazer por esses consulentes. Ao
contrário, seu benefício é imenso. Ela é capaz de libertar qualquer alma da
escuridão de sua mente. As giras promovem a saúde em todos os sentidos.
Equilibra suas emoções, fortalece seu amor próprio, disciplina sua percepção,
molda seus pensamentos, quebra o ciclo de negatividades, coloca o indivíduo
regularmente em contato com vibrações elevadas.

Entretanto, vamos abandonar o discurso que toda depressão é apenas fruto de


uma obsessão. Não será apenas um trabalho que solucionará o problema do
consulente. É preciso um longo, duradouro, e consistente tratamento para isso.
Estas enfermidades mentais são parte das provações que estes indivíduos
precisam lidar. Uma longa transformação há de se operar, como a lagarta, ao se
acasular, preparando-se para se metamorfosear em borboleta.

Portanto, orientemos corretamente nossos consulentes. Ansiedade, depressão e


síndrome do pânico são doenças como qualquer outra. Façamos nossa parte, mas
também aconselhemos o acompanhamento profissional. A ciência e a religião não
se opõe verdadeiramente, ambas são criações divinas à serviço da humanidade.
Sejamos conscientes dos nossos potenciais e também de nossos limites.

Saravá a todos!

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O OBJETIVO NÃO É ANULAR SUA CONSCIÊNCIA, MAS
AMPLIÁ-LA

São muitos médium iniciantes que alimentam a expectativa de que sua mente
sofrerá um apagão e que seu corpo estará totalmente sob o controle de uma força
externa. Veem a ausência de consciência durante a incorporação como um sinal
de maturidade mediúnica. Esta atitude, porém, apresenta muitos equívocos.

A realidade atual da mediunidade nos terreiros é a consciência, por mais que ainda
encontramos resistência a essa ideia. O bom médium não é aquele de que nada
se lembra, ou que menos vê ou menos escuta. E sim, quem se impede de interferir
negativamente na manifestação da entidade. E para isso, é preciso que ele
desenvolva sua percepção a fim de que saiba discernir o que é seu e o que é do
guia.

A espiritualidade deseja que aprendamos com cada pessoa que cruza em nosso
caminho. Ela tem um jeito especial de encaminhar cada um para onde é
necessário. Todo consulente leva uma valiosa lição para o médium. Ao mesmo
tempo que o guia orienta este que pediu seu auxílio, doutrina também o seu
cavalo. E, desse modo, ambos crescem e evoluem.

O ofício umbandista requer lucidez de seus praticantes. Devemos estar ciente de


tudo o que acontece e assegurar que sejam observados os princípios e
fundamentos de nossa religião. A clareza mental é importante para que seus
objetivos sejam cumpridos. Não podemos “dormir no ponto”, a disciplina é
fundamental para que tudo ocorra bem.

Somos responsáveis por tudo o que acontece durante os atendimentos. Não dá


para o médium agir além do bom senso e depois alegar que foi o guia. Não somos
marionetes nas mãos das entidades. A autovigilância é peça essencial no bom

41
funcionamento do terreiro; até mesmo para você se proteger de uma possível
interferência do baixo astral.

É natural da sua mente pensar, observar, julgar. Não se frustre por ela não se
calar, não se digladie. Aceite como você é e use suas características a seu favor.
Não queira a anular a si mesmo, mas sim expresse todo o seu potencial. A
inconsciência não é um requisito para que o guia trabalhe e faça muitas bênçãos.

Permita que a Umbanda expanda sua consciência até que ela alcance todo o
Universo. Deixe que ela rompa os véus da ilusão e mostre a essência espiritual da
existência. Busque, por meio de suas práticas e rituais, compreender sua
verdadeira natureza. E que pelo exercício da caridade você possa realizar sua
alma, concretizando a missão para a qual você veio ao mundo.

Saravá a todos!

42
A ESPIRITUALIDADE NÃO É VIVENCIADA APENAS NOS
TEMPLOS RELIGIOSOS

Embora os templos sagrados, os quais os terreiros são um exemplos, sejam locais


importante para conexão e desenvolvimento da vida religiosa, não podemos limitar
nossa consciência espiritual à somente esses espaços. Nossa existência como um
todo se constitui numa complexa escola da alma, a qual exige nosso constante
aprendizado.

Todas as situações são ricas experiências pedagógicas para nosso espírito. Seja
na família, no trabalho, nos relacionamentos, na saúde, encaramos duras lições
para nosso ser. A vida martela com força; a evolução é uma lei, dela não se pode
fugir. Ou você a busca conscientemente, ou é arrastado por ela.

São nessas dificuldades de cada dia que podemos por em prática os


ensinamentos da espiritualidade. Nada melhor para aprender a paciência do que
uma pessoa que se atenta contra ela. No mesmo sentido, o melhor professor da fé
é uma situação difícil aparentemente sem saída. Da mesma forma, como por o
amor em prática senão com alguém que desperta o nosso juiz interno?

Nós somos seres em construção, a qual ainda não conhecemos nossa versão
aperfeiçoada. E é no meio desse mundão que ela pode nascer. Não basta ser
espiritual somente nos momentos de culto e louvação; é necessário que a cada dia
manifestemos a luz divina que há em nosso espírito. Especialmente quando as
coisas não vão como desejamos.

Nossas reações diante das adversidades mostram quem realmente somos. É


quando estamos em desconforto que podemos expressar nossa força. É maduro
espiritualmente aquele que, em vez de explodir emocionalmente, sabe agir com

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calma e confiança. A serenidade mental representa um avançado estágio
espiritual.

Toda a natureza emana, em abundância, elevadas vibrações. Quando nos abrimos


a ela, permitimos que seu axé flua em nossa vida e promova suas muitas bênçãos.
Em cada canto deste planeta, é possível entrar em comunhão com as forças
sagradas. Nossa alma é um templo divino. Alimentemos nossa essência com o
aquilo que favorecer sua iluminação. E todo o restante virá no momento certo.

Saravá a todos!

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QUANDO O MÉDIUM DEIXA DE CUMPRIR SUA MISSÃO,
UM LONGO INVESTIMENTO SE PERDE

A Umbanda se constitui numa ampla organização, onde se articulam encarnados e


desencarnados. Ela está firmada no Astral, mas possui uma profunda atuação no
plano material. E os médiuns, membros fundamentais deste trabalho coordenado,
são a ponta final desta intrincada cadeia de atividades.

Para que seja possível o exercício mediúnico, longa preparação é realizada. Com
frequência, a ligação entre o médium e seus guias é estabelecida ao decorrer de
sucessivas encarnações em conjunto. Experiências específicas foram necessárias
para que seu corpo espiritual se tornasse sensível às diferentes vibrações.

Muitos foram recrutados entre as fileiras dos obsessores e kiumbas. Outros foram
resgatados de densas zonas do Umbral. Passaram pela conversão, tratamento,
evangelização. Alguns até mesmo frequentaram escolas espirituais. E quando
estiveram prontos, receberam a permissão de reencarnar.

A mediunidade é um compromisso firmado antes de sua encarnação. Você a


aceitou. E para que a praticasse, foram realizadas as devidas preparações. O seu
programa de vida foi desenhado para que seus caminhos te levassem a conhecê-
la e vivenciá-la. É nela que você encontra as respostas para aspirações que há
tanto tempo sonda sua alma.

O médium é um espírito em aprendizado, o qual aspira por redenção. Raro são os


missionários; a maior parcela encontra neste dom um caminho para se acertar com
o passado. A mediunidade, para tanto, se apresenta como uma face da graça
divina, que o permitiu retornar à carne para continuar seu progresso.

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Por esta razão, se ele recusa esta missão que lhe é oferecida, abre mão de muitas
bênçãos que lhe foram planejadas. Fique claro, não digo que a mediunidade é uma
condição para que sua vida seja próspera e feliz. Possuímos nosso livre arbítrio, e
existem outros caminhos tão maravilhosos quanto ela. Ainda que exista um
programa de vida, nosso destino não está determinado. Nossas escolhas podem
alterá-lo.

No entanto, é importante que ele desenvolva o espiritual de alguma forma e


pratique a caridade. Não foi por acaso que ele nasceu médium. E mesmo que siga
por outras searas, continuará possuindo as características que acompanham seu
dom. Ele é portador de uma sensibilidade maior do que o das outras pessoas.
Deve, portanto, sempre cuidar de sua energia.

A mediunidade é um presente da espiritualidade. Sejamos gratos por ela. Aquele


se permite ser um canal de luz, consolo e orientação se torna um elo na grande
obra de Deus. Isto é razão suficiente para nos alegrarmos e nos encantarmos pelo
o que recebemos. É certo que nem tudo são flores; seus espinhos, resultados de
nossas imperfeições, exigem muito de nós. Entretanto, a vida espiritual é capaz de
dar sentido a todas as lágrimas e sorrisos.

Saravá a todos!

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COLABORE COM SUA CASA

Desde o momento que você entrar no terreiro, procure ser útil. Não tome a postura
arrogante de achar que faz muito apenas por incorporar. Trabalho ali é o que não
falta. Nem que seja molhar uma planta. Você não está lá à toa. Seja disciplinado. E
trabalhe, trabalhe, trabalhe.

O espaço físico precisa ser preparado não somente espiritualmente, mas também
materialmente. Se você não contribuir com sua manutenção, outra pessoa terá que
fazer no seu lugar. Do que adianta encher a boca de vaidade se você chega em
cima da hora de iniciar os trabalhos? Não tem coragem nem de passar uma
vassoura para ajudar.

Isto também é fazer caridade. E tenha certeza que a espiritualidade vê tudo.


Lembre-se de quando você incorpora, quem faz toda as atividades é o guia, e não
você. Sua tarefa é apenas estar preparado e concentrado para atuação da
entidade. Mas quando você se dispõe a colaborar na limpeza do seu terreiro, ou
prestar ali qualquer outra atividade de cunho mais material, é você diretamente
quem exerce essa caridade.

Há muitas maneiras de ser útil. Vai de acordo com o terreiro precisa e das suas
habilidades. Só não existem justificativas para nada contribuir.

Este é também um excelente método para você exercitar sua humildade, que é a
maior proteção que um médium pode ter. Não importa o cargo que possui no
terreiro, disponha-se a se doar um pouco pela casa que diz tanto amar. Isto fará
um bem enorme para sua alma.

Saravá a todos

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NUNCA É TARDE DEMAIS PARA DESENVOLVER A
MEDIUNIDADE

A mediunidade pode eclodir em diferentes fases da vida. Algumas pessoas a


manifestam na infância, a maioria na juventude e outros na terceira idade. Ainda
que você já esteja vivenciando a velhice, pode muito bem iniciar o seu
desenvolvimento. Nunca é tarde demais para aprender, crescer e expandir sua
consciência.

Entenda, não foi nesta vida atual que você começou sua caminhada, e também
não será nela que terminará. Séculos serão necessários até que você alcance um
estágio verdadeiramente elevado de evolução. Portanto, não ignore os apelos do
seu coração. Siga este caminho sem hesitação.

Tudo que surge em nosso caminho vem na hora certa, quando estamos
preparados para tal. Seus passos são guiados pela espiritualidade para que
encontre o que tiver que conhecer. Se não fosse para você se aprofundar na
religião neste momento, nem mesmo a teria conhecido agora.

Ao longo de nossa vida inteira, experimentamos uma sucessão de acontecimentos


cujo objetivo é o amadurecimento de nosso espírito. Muitos, infelizmente,
acreditam que este processo se realiza apenas no miolo de nossa existência. Na
infância, apenas brincadeiras e aventuras. Quando idosos, apenas o descanso. E,
desta maneira, adiam sua evolução. O aprendizado na matéria é contínuo, do
nascimento ao desencarne.

É claro que alguns cuidados são importantes. A entidade não vai rodar e saltar no
chão como se seu cavalo tivesse a mesma capacidade física de um jovem no auge
de suas forças. Ela saberá se adaptar aos limites de seu corpo. Porém, isto não

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impedirá de promover grandes bênçãos. Afinal, o objetivo da incorporação não é
fazer grandes movimentos, e sim praticar a caridade.

Saravá a todos!

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QUAL É O SIGNIFICADO DAS LÁGRIMAS NA
UMBANDA?

Não é raro observarmos alguns processos espirituais na Umbanda resultarem em


lágrimas. Quantas vezes nos deparamos com algumas incorporações iniciarem ou
se encerrarem com o choro de seus médiuns. Como tudo o que está presente em
nossa religião, existe uma razão para esse fato. É o que vamos tratar neste texto.

Em primeiro lugar, podemos afirmar que elas são consequências de uma grande
emoção. É uma sensação maravilhosa receber a energias das entidades. Alguns
transes são tão intensos que o corpo reage com as lágrimas. Não é sinal de
tristeza ou angústia, muito pelo contrário; expressam a gratidão e a alegria do
médium de trabalhar nessas bandas.

O choro é também uma forma de limpeza emocional. Quando os sentimentos se


acumulam de uma maneira que não é saudável podem se somatizarem em
enfermidades e desequilíbrios diversos. É importante, para nosso próprio bem
estar, que saibamos manter o coração leve. As entidades, através das lágrimas,
auxiliam nesse processo. Produzem a catarse, esvaziando nossa alma de tudo que
nos aflige.

É comum, durante a manifestação da linha das águas, a presença do choro. Trata-


se de uma reação natural a essa vibração tão maravilhosa. Além disso, o fluídos
do sal e do líquido emanados pelas lágrimas são manipulados pelas falangeiras
em nosso benefício. A água é uma poderosa condutora de energia, capaz tanto de
agregar quando de eliminar as mais amplas vibrações.

O choro é indicativo de algo interno que transbordou. São águas pessoais que
correm como os rios. É uma expressão da força de Oxum e Yemanjá que vibram
em nosso ser. Por este motivo, não tenha vergonha ou receio das lágrimas. Aquilo

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que lhe é próprio te faz bem. Aceite o suave colo das Yabás. Repouse ali seu
coração e se permita, mais uma vez, renovar-se.

Saravá a todos!

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INCORPORAÇÃO NÃO É TUDO NA UMBANDA

Quando se é novo terreiro, observamos uma enorme pressa para incorporar. O


novato deseja conhecer, os mais rápido possível, todas as linhas, seus nomes,
formas de trabalhar, Orixás regentes.

Há também, com frequência, uma ânsia para se provar e ser reconhecido: mostrar
que é capaz de receber várias entidades, que elas têm “força”, que ele é um
médium poderoso com uma grande missão. Ânsia que, em alguns casos, resulta
em animismos e exageros, que mais mascaram a própria insegurança do que
confirmam alguma coisa.

Porém, à medida que ele vai amadurecendo dentro do terreiro passa a entender,
ou deveria entender, que estas coisas não são tão importantes. Nós não estamos
lá para provar nada para ninguém e a mediunidade não é uma competição. O
médium aprende, por exemplo, que mais valioso do que ter recebido uma entidade
diferente é uma palavra de sabedoria que escutou.

Entenda, mais cedo ou mais tarde, você conhecerá as entidades com quem
trabalha, os Orixás mais próximos, será confirmado, participará dos atendimentos,
alguns até mesmo abrirão suas próprias casas. E o que vem depois? É gira após
gira, consulente após consulente, trabalho árduo e desgastante. Em que você
apoiará seu fazer espiritual?

A repetição levará muitos a desistirem, quando esgotados as “novidades” que eles


insistem em trazer. Para que se tenha uma relação duradoura com a Umbanda que
se sustente ao longo de uma vida, é preciso olhar para ela de uma forma bem
além da incorporação, ela precisa participar intimamente dos sentidos que você
deu à sua vida.

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No terreiro, reconstruímos nosso mundo, afirmamos o modo único que carregamos
de olhar para a realidade. A gira é fonte de sabedoria, alegria, valiosas
experiências e memórias, direção. Nossa espiritualidade é produtora de saúde,
laços firmes, caminhos abertos, axé e realização.

Portanto, quando estiver no terreiro, olhe para toda a riqueza ao redor. Dê valor,
principalmente, ao que escuta dos mais velhos e das entidades. Saiba agradecer o
puxão de orelho recebido, o simples abraço de um guia, o bem que você contribuiu
mais do que o giro acrobático ou brado retumbante. Sinta mais, afirme menos.

Saravá a todos!

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QUAL É A ESSÊNCIA DE EXU?

Às vezes, durante as giras de Exu e Pombagira, eu paro brevemente e sou


invadido com uma sensação de estranhamento por tudo o que observo. Fico a me
perguntar sobre qual é a essência desta poderosa linha de trabalho. Não tenho
respostas definitivas para esta questão, mas gostaria de compartilhar algumas
reflexões.

Será o que o Exu se define por apresentar uma voz grossa? Alguns possuem esta
característica, mas não é essa essência.

Seria então longas e barulhentas gargalhadas? Embora também seja uma prática
comum, e com fundamento quando realizado com propósito, também não é a
essência de Exu.

O Exu, então, é aquele que rosna e usa as mãos em garras? Isto até pode
acontecer, mas também não define esta linha. E os exageros são problemáticos,
afinal, Exu não é bixo.

Será, por outro lado, que Exu é aquele que fala palavrão e gosta de “causar” em
todo trabalho? Não precisa nem comentar, com frequência há mais animismo do
que entidade nesses casos.

Ou então existe algo de sombrio, pesado ou perigoso nesta linha? Não, essa
concepção deriva mais de um senso comum que direta ou indiretamente ainda
demoniza os Exus. Eles são entidades, isto é, gente desencarnada.

Talvez eles sejam aqueles que podemos recorrer quando estamos com algum
problema material ou desafeto? Exu nos ajuda em algumas questões, mas ele não
é o nosso serviçal, muito menos capanga. Longe de ser a essência.

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Estas palavras não são para criticar os outros, uma vez que cada entidade é única.
Porém, é importante tomar cuidado para repetir uma expressão estereotipada dos
Exus e Pombagiras. Saiamos da superfície, busquemos profundidade.

Qual é a essência de Exu? Não sei responder, e provavelmente ninguém o possa.


Porém, esses estranhamentos me mostram o que definitivamente ele não é.

Posso, contudo, compartilhar minha experiência. Exu é companheiro, aquele que


me está próximo nos momentos de dor e alegria. Protetor, ao meu lado quando o
apuro também está presente. Professor, trazendo os ensinamentos e saberes
ancestrais da espiritualidade. Mestre, puxando a minha orelha quando erro,
corrigindo, mostrando a conduta certa. E guia, indo na frente para abrir meus
caminhos e apontá-lo para mim.

Laroye Exu!

Saravá a todos!

55
NÃO CRITIQUE A INCORPORAÇÃO ALHEIA

A mediunidade é diferente para cada pessoa. Cada um sente, vibra e expressa o


axé de seus guias de uma maneira única, individual, própria para cada um. Por
este motivo, não é correto você criticar o seu irmão pela forma como ele recebe as
suas entidades.

Há algo estranho em um terreiro quando todos os guias se apresentam da mesma


forma. Se todos os caboclos mancam do mesmo jeito, ou se todos os Exus
obrigatoriamente gargalham da mesma maneira, ou se todos os pretos velhos
caminham igualmente, alguma coisa não está certa. Até mesmo nos movimentos
do passe encontramos largas diferenças.

É saudável que cada médium e cada entidade tenham o seu próprio jeito de
trabalhar, desde que esteja dentro do fundamento e dos parâmetros do que é
correto. Dentro de uma mesma árvore, nenhuma folha é igual a outra. Existem
vários tipos de consciência, cada uma com as suas necessidades específicas. O
que ajuda uma pessoa, muitas vezes não é tão efetivo com outra. É por isso que
os consulentes podem sentir afinidade com algumas entidades, mas não com
outras.

Claro que há os exageros. Mas dentro do fundamento e do bom senso, cabe a


cada um manifestar aquilo que lhe é natural. É papel do Pai/Mãe de Santo, e
somente e exclusivamente dele, avaliar se alguém está incorporando corretamente
ou não.

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Mas se você realmente acredita que há algum médium mistificando, ou de alguma
maneira não agindo corretamente, não espalhe isso aos quatro ventos! Comunique
ao seu Pai/Mãe de Santo suas suspeitas e a ninguém mais. Ele saberá como
proceder. E se for necessário, o dirigente conversará no particular com o médium.

Quando você critica a incorporação de um médium, você interfere em seu


processo de desenvolvimento. O médium iniciante apresenta, atualmente, uma
enorme insegurança. É difícil para ele tomar a coragem de receber seus guias na
frente dos outros, visto que teme ser julgado pelos irmãos de corrente. E quando o
julgamento acontece, quando descobre que foi alvo de comentários maliciosos, ele
trava. Suas dificuldades aumentam em grande proporção. E não são poucos os
que desistem por este motivo.

Lembre-se que você será julgado por todos os seus atos. A justiça de Xangô não
falha.

Nenhum guia é melhor que o outro. A espiritualidade trabalha em conjunto. Não


existe isso de entidade mais “forte". Não há uma forma certa de se incorporar. A
espiritualidade é livre. O importante é cumprir sua missão, que é a prática da
caridade. Mais importante do que a forma de trabalhar do guia é o merecimento de
cada um. É ele que determinará se você alcançará suas graças ou não.

A fofoca é um perigo dentro do terreiro e deve ser combatida. Ela é um hábito que,
infelizmente, está profundamente arraigado na cultura de nossa sociedade. São
muitos os grupos que giram em torno, basicamente, da maledicência. E é muito
nefasta quando realizada nas casas de Umbanda. Antes de tudo, ele revela o
baixo caráter de quem a pratica. E, em segundo lugar, a fofoca enfraquece a

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corrente. Quando a fraternidade entre os irmãos de corrente está ameaçada, abre-
se brechas para atuação do astral negativo.

A espiritualidade é livre. Entenda que se você aprendeu as coisas de um jeito, não


significa que todo mundo deve fazer igual. Nem todo caboclo precisa bater no
peito, nem todo preto velho precisa encurvar, nem toda criança precisa pedir doce.
Isto não é a essência da Umbanda. São apenas alguns trejeitos comuns, que
ajudam a caracterizar algumas linhas de trabalho. Mas a nossa religião vai muito
além disso.

Saravá a todos!

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O VENTO QUE ESPALHA AS SEMENTES HÁ DE TE
LEVAR LONGE

José não sabia qual era o seu caminho. Não foi por falta de tentativa. Desde sua
puberdade se aventurava entre as muitas filosofias. Por mais que insistisse, nada
preenchia o imenso vazio que o afogava. E não pouca foram os ocasiões em que
simplesmente desistiu de tudo e aceitou a banalidade do mundo. Porém, seu
coração não permitia essa atitude por muito tempo. A sede por sentido era
insaciável.

Descuidado com a materialidade, sua vida financeira era limitada. Sua família o
julgava desatento demais com o que consideravam mais importante. Para quê
tanto estudo se não conseguia um bom emprego, ouvia com frequência. José até
se esforçava para agradá-los, no entanto, não conseguia despertar interesse no
seu trabalho.

Muitos anos se passaram sem que experimentasse a paixão e o entusiasmo nos


seus dias. O vazio se tornara angústia e a angústia o adoeceu. Com muita
dificuldade encontrava forças para qualquer atividade. Os dias iam e vinham,
enquanto José habitava os duros e tristes labirintos de sua mente. O pensamento
era uma prisão, porém se habituara a ela. Foi neste período que a morte o
seduziu. Decidira que na próxima manhã o sofrimento acabaria.

Naquele noite, o sono foi profundo, consolado pelo iminente fim de seus tormentos.
Os sonhos foram intensos, dotados de um ar de realidade que nunca perceberá
anteriormente. Ele se viu dentro de uma mata, o céu estava vivo e pulsante.
Estrelas desconhecidas brilhavam no firmamento. Uma pequena fogueira trazia
aconchego e segurança. À sua volta, estendiam fileiras e fileiras de homens e
mulheres altivas, sérios e serenos, formando um círculo. E José estava no centro
dele.

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Eles entoavam uma energizante canção, numa linguagem que não compreendia.
Estranhava suas vestimentas, que remetia-lhe às figuras do livro de história do
Brasil. Apesar disso, algo lhe dizia que estava em casa. Tudo era incrivelmente
familiar. “Nenhum curumin nosso é abandonado aos lobos, meu filho", dizia uma
acolhedora voz em sua cabeça.

A cada momento, o canto coletivo ganhava força e vigor, sendo acompanho de


belos e disciplinados movimentos. Subitamente, José sentiu algo mudar dentro de
si. Seu corpo transformava-se, assumindo, também, a forma de um valente nativo
daquela região. E sem saber como, ele percebeu-se executando todos os passos
daquela complexa dança.

E mais uma vez, ouviu aquela firme voz. “Este mundo não é torto, curumin. Para
cada um há o seu lugar. Você é filho da mata que nos alimenta, dos rios que
nutrem esta lugar, do solo que sustenta nosso ser. O vento que espalha nossas
sementes há de te levar longe. Esta força também é sua, meu filho. Confie nela;
ela não te abandonará". As lágrimas irromperam como uma barragem superada e
José acordou. Ainda sentia o doce perfume daquele sonho.

De certa forma, nada mudou na sua vida. O vazio no coração continuava a


perturbá-lo. Seu grito era alto demais para ser ignorado. Porém, depois daquele
dia, sentia no seu interior um calor que o confortava. E sempre que pensava em se
ferir, lembrava daquelas firmes palavras, que instigavam seu espírito. O que elas
significavam? Por que ele foi chamado de filho da mata, do rio e da terra? Quem
eram aquelas pessoas?

Sua resposta veio somente 3 anos depois. Foi convidado a participar de um “culto"
de uma religião fundada há pouco tempo, o qual supostamente se comunicavam
espíritos de índios, negros e crianças. Estava cético, porém as memórias daquele

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sonho permaneciam vivas. Bastou pisar no chão batido daquele humilde templo.
Sentiu que finalmente encontrara o seu lugar.

José, que se descobriu filho de Oxóssi e Oxum, ali se firmou e desenvolveu. Foi
reconhecido um grande médium, capaz de compreender o coração alheio como
ninguém. Quando a mãe de Santo daquele terreiro desencarnara, abriu sua própria
casa. Dela, surgiram muitos outras, os quais consolaram as lágrimas de tantos e
tantos filhos. Foi próximo aos seus últimos dias, refletindo sobre tudo o que vivera,
que compreendeu todo o significado daquele sonho. O vento realmente o levou
muito longe.

Saravá a todos!

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MEDIUNIDADE NÃO É DOENÇA

Com frequência, os jovens escutam que é preciso desenvolver a mediunidade.


Como se fosse a chave para solucionar os seus problemas, é oferecido a
oportunidade de trabalhar no terreiro. Isto quando a mediunidade não é apontada
como a causa de enfermidades como depressão, ansiedade e síndrome do pânico.
Embora o amadurecimento mediúnico seja benéfico a todos, vamos entender com
calma qual é a real necessidade.

É errôneo acreditar que problemas financeiros, amorosos e de saúde são devidos


a mediunidade não desenvolvida. No mesmo sentido, ingressar numa corrente
mediúnica apenas para remediar estes males é desvirtuar as finalidade sagradas
desse dom divino. A mediunidade é uma benção na nossa vida, quando utilizada
para elevação individual e coletiva, e não uma doença espiritual.

É dito, contudo, que em toda ilusão há um pingo de verdade. Vamos aos fatos. O
que subjaz a toda esta concepção é o estado de desequilíbrio que muitos médiuns
apresentam quando começam sua jornada na espiritualidade. Por ainda serem
inexperientes em suas sensibilidades, são especialmente vulneráveis às diferentes
energias. Seu emocional oscila; quando em baixas vibrações, tornam-se alvos
fáceis de obsessores. Resulta, nisso, desânimo, apatia, melancolia, cansaço sem
aparente motivação.

Quando ele recebe seus primeiros passes, sente como se fosse liberto de um
grande peso, uma sensação de ter tomado banho pela primeira vez. Isto se deve
ao fato de o guia afastar densas cargas de seu campo astral. Os chacras são
harmonizados, o equilíbrio é reestabelecido; logo, com forças renovadas, o bem
estar aparece em seus dias. Entretanto, estas boas vibrações naturalmente se
dissipam e mais uma vez o médium novato é compelido a procurar o terreiro.

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Um período que não é curto passará até que a serenidade interna nele se
estabeleça. Como um portão velho e enferrujado que com dificuldades realiza o
movimento de abrir e fechar, o iniciante pouco domínio exerce sobre suas
faculdades naturais. Em geral, está mais aberto do que deveria. Se há uma
enfermidade, não é a mediunidade em si, mas a falta de controle diante dela.

Por estas razões, o desenvolvimento mediúnico é benefício para qualquer um. Ele
age como um tratamento espiritual promovedor de equilíbrio, clareza mental e bem
estar. No entanto, e aqui está o cerne desta elucidação, não é o único método
disponível para sanar estas dificuldades do espírito. Cada religião e cada escola
espiritual representa um caminho diferente, todos são válidos. O importante é que
você cuide de sua alma, de suas emoções e pensamentos; mantenha sua energia
limpa.

Ninguém é obrigado a desenvolver a mediunidade, deixemos claro. Somente o


desejo sincero de auxiliar o próximo deve motivar a escolha de maravilhoso
caminho. Há muitas formas e métodos diferentes para vivenciar a realidade do
espírito. Não importa qual decidir, será respeitado o seu livre arbítrio, uma vez que
ele é uma lei suprema. As bênçãos do divino não estão limitadas aos rótulos das
religiões.

O objetivo da mediunidade é a prática da caridade. Fonte de aconselhamentos,


ensinamentos diversos e boas vibrações, é dádiva de Deus para a humanidade. É
com este propósito abnegado que devemos buscá-la, e não à espera de benesses
diversas. Para que o que o bom flua incessantemente na sua vida, uma reforma
interna há de acontecer. O processo é longo, duro e demorado. Seu fruto, todavia,
é digno de todo esforço.

Saravá a todos!

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COMO ESTUDAR A UMBANDA DENTRO DO TERREIRO

O primeiro, e o mais importante, local para aprender sobre a Umbanda é no chão


do próprio terreiro. Não há livro, texto, curso ou vídeo que substitua a experiência
direta. Há saberes que não são possíveis de serem transmitidas por meio das
palavras; somente sentindo o axé. Não negligencie este aspecto, ele é
fundamental.

É no terreiro, também, que temos o privilégio de ouvir os mais velhos. Muitos


podem nem saber ler e escrever, porém carregam imenso conhecimento e
sabedoria. Não importa quanta informação você tenha acumulado na mente, nada
supera a vivência de 20, 30, 40 anos na religião. Seja humilde; escute mais, fale
menos. Esteja atento às sutis formas em que o ensinamento é dado.
Originalmente, era apenas desta maneira que se aprendia sobre Umbanda.

Durante as giras somos mais uma vez agraciados, uma vez que recebemos a
maravilhosa oportunidade de conversarmos com as entidades. Elas possuem
muito a ensinar, e com boa vontade ensinam para aqueles que têm ouvidos para
ouvir. Novamente, a humildade é essencial. Esteja sempre pronto à servir, a ouvir,
mesmo que seja um suave puxão de orelha. Cada guia porta valiosas lições para
distribuir.

E tão importante quanto os anteriores são os ensinamentos de seu Pai/Mãe de


Santo. Ainda que em sua casa não haja um momento separado para o estudo
sistematizado da Umbanda, os conhecimentos estão sendo passado dos dirigentes
para os filhos de santo. Por esta razão, procure desenvolver uma boa relação com
o/a sacerdote. Siga suas orientações. Quando você se deparar com a diversidade
de doutrinas e tradições presentes em nossa religião, será ele a tirar suas dúvidas.

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Envolva-se com as atividades do templo religioso. Ajude com o que puder. Não
seja aquela pessoa que chega em cima da hora e é a primeira a ir embora. Não vá
à gira apenas para incorporar. Com frequência, por exemplo, num momento
simples de limpeza coletiva do terreiro muitas lições são dadas. A Umbanda é
muito mais do que as manifestações mediúnicas. Há conhecimentos que somente
aqueles que são ativos no axé têm acesso.

Outro aspecto relevante deste processo de aprendizado dentro do terreiro é o


desenvolvimento mediúnico. Mais do que vibrar o axé dos guias e orixás, é um
período de se aprofundar no autoconhecimento. Você amplia sua percepção das
diferentes energias, ganha mais confiança sobre seu dom, sente-se mais seguro
de si mesmo. Um momento especial em que suas sombras emergem e te
encaram. O resultado é um sólido amadurecimento espiritual.

Muitas e muitas giras você vivenciará. Diante do Congá, amplas histórias se


desenrolarão. Você conhecerá todo tipo de pessoa e as mais diferentes
expressões da dor humana. O terreiro acolherá cada um que buscar o seu
consolo. Não haverá julgamento, pedras não serão jogadas. Serão recebidos de
braços abertos. E esta será a mais valiosa lição que a Umbanda lhe oferecerá: a
capacidade de amar indiscriminadamente.

Saravá a todos!

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É POSSÍVEL APRENDER A TER FÉ?

Fé não é uma informação que nós colocamos para dentro do cérebro. Nem é uma
habilidade que treinamos nossa mente. Fé é confiança. Como começamos a
confiar em alguém? Primeiro precisamos conhecê-lo. E depois conviver com ele
por um tempo. Não é uma questão de escolha.

A fé é como uma árvore que se cultiva. No começo é uma semente. Todo mundo
possui esta semente. Primeiro plantamos. Ela fica escondida debaixo da terra por
um tempo, mas todo dia procuramos nutri-la com água e luz. Passam-se dias e
parece que nada mudou. De repente nasce um brotinho. Ele é frágil, precisa ser
protegido. Água na medida certa, luz na quantidade certa. Passa outro tempo, é
um arbusto. Já resiste muitas situações, mas ainda é vulnerável aos ventos da
vida. O cuidado continua. Mais uma vez o tempo passa, vira uma árvore. Suas
raízes são profundas, não precisa mais ser regada todo dia. Não é qualquer
tempestade que pode derrubá-la. Seus frutos nutrem outras pessoas, suas
sementes germinam em outros campos. Debaixo de sua copa, muitos se abrigam.
Torna-se um refúgio para muitas pessoas. As sementes que ela produziu começam
a brotar e o ciclo continua.

Enquanto não se firma a fé de dentro do coração, você pode exercitá-la


racionalmente. Isto é, há ainda muitas dúvidas e incertezas, a insegurança bate na
porta, mas você não desiste. Dá uma passo à frente, mesmo que não tenha todas
as respostas. Decide seguir os conselhos e orientações, não deixa de fazer suas
preces, buscar se observar e manter a energia limpa. Até que chegue o dia que
você perceba que a fé está aí dentro de você, naturalmente, firme e resistente.

Saravá a todos!

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AS TRÊS FASES DO MÉDIUM NOVO NO TERREIRO

Eu já assisti esta história muitas e muitas vezes. Alertei tantos, mas poucos
escutaram. Espero que, com o presente texto, algumas pessoas possam
compreender o processo natural que ocorre. Infelizmente, observamos os novatos
desistirem do maravilhoso caminho que é a mediunidade prematuramente. Nem
mesmo aguardam o momento em que possam entender o que é de fato carregar
esse dom.

Quando ele inicia na Umbanda, tudo para ele é maravilhoso. Acredita que o terreiro
é perfeito, todos ali são pessoas maduras, evoluídas e que se dão muito bem uns
com os outros. Para ele, os médiuns são infalíveis e o Pai/Mãe de Santo,
inquestionável, quase um deus.

A religião se torna o assunto principal de suas conversas. Onde vai ele dá um jeito
do papo ir para este lado. Na sua ânsia de conhecimento, consome os diversos
livros, vídeos, textos, lives. Se olhar os grupos de whats app, metade é de
Umbanda. Isso sem contar os grupos do facebook, blogs, páginas.

Não vê a hora do dia da gira. Já planeja tudo o que perguntar para o guia.
Questiona-se a cada passe: será que é hoje que vou incorporar? Ou então: será o
guia vai rodar ou bradar? Porém, a sua maior expectativa é descobrir o nome deles
e de seus Pais de cabeça.

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Assim é a fase inicial do médium: ansioso, faminto por conhecimento,
deslumbrado, ingênuo. E apesar disso, ainda não têm noção do quanto precisam
aprender e quão longa é a caminhada. Como ensina Pai Guiné “este mundo é
grande, meu filho. Ainda tem muito caminhador para fazer”.

No entanto, o tempo passa e o médium novo no terreiro começa a perceber que as


coisas não são tão boas como pensava. Nota os grupos de fofoca, as panelinhas,
os desentendimentos entre os irmãos. As palavras das entidades já não lhe soa
tão verdadeiras, procura, a cada consulta, encontrar indícios de animismo.
Reconhece que o/a dirigentes não são intocáveis. Se pudesse, ele mudaria muito
do que acontece ali dentro. Essa é a segunda fase.

Com ela, vem a dúvida, o desânimo, o desejo de desistir da Umbanda. Em tudo ele
vê defeito e sabe o que cada um deveria fazer. Já não sabe se ali é o seu lugar, se
escolheu o caminho correto. Indaga-se se este não é o motivo pelos problemas
que enfrenta. Passa a frequentar outros lugares: talvez encontre alguém que
realmente possa satisfazer os seus anseios.

É neste momento que médium precisa entender que nenhum terreiro é perfeito,
nenhuma pessoa é à prova de falhas. Os templos são feitas de pessoas, com suas
qualidades e defeitos. Estamos aqui todos em evolução, em contínuo aprendizado.
Você pode até mudar de casa, ir para outra religião, mas também encontrará o que
discorda, o que desagrada. Portanto, se não há alguma atitude que fuja aos
princípios éticos e morais, é melhor que você persista. Desta maneira, alcançará o
estágio seguinte.

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A terceira fase é a aceitação. É quando o médium iniciante, que já não é mais tão
novo, compreende que ele não está no terreiro pelas pessoas, e sim para servir à
espiritualidade que ali habita. Ele não se preocupa em agradar ou desagradar
ninguém, não participa dos grupos de afinidade, não se interessa pela últimas
fofocas. Sabe que seu foco está na relação entre ele e os guias e Orixás. Seu
papel é praticar a caridade, e nada mais.

Com este ideal em mente, ele se reveste com uma imensa força. Nada abala seu
propósito, nenhuma intriga ou melindre é capaz de desviá-lo de sua missão.
Embora entenda que o terreiro não é perfeito, assim como ele mesmo, tolera o que
não pode mudar. Seu guia é voz que toca seu coração, não as palavras venenosas
de alguns. Por esta razão, ele pode repousar tranquilamente, uma vez que cumpre
os ensinamentos transmitidos pelo Alto.

Saravá a todos!

69
COMO SE CONCENTRAR MELHOR NO ESPIRITUAL

Este é um questionamento frequente entre os médiuns iniciantes. Com frequência,


escutam a famosa frase “firma a cabeça, meu filho”. Porém, como que exatamente
fazemos isso? Embora não tenho uma fórmula pronta ou solução mágica, tentarei
neste texto tentarei tecer algumas orientações sobre este assunto.

Em primeiro lugar, entendam que é da natureza da mente pensar. Nosso cérebro é


um dos órgãos mais ativos do corpo físico. Mesmo velhos monges experimentados
na meditação ainda encontram pensamentos soltos em sua consciência. Não será
possível anular completamente o seu mental. No entanto, a partir do treino e
maturidade, conseguimos alcançar um estado de maior silêncio interno.

Não adianta brigar contra os próprios pensamentos. Se tentar forçar o silêncio,


será criado tensão interna e, logo em seguida, desgaste natural. A ideia chave é
deixar fluir. Solte os pensamentos, emoções e impulsos. Que eles venham, tragam
suas mensagens e depois vão embora. Permita que as imagens mentais se
formem e se dissipem. Porém, não os acompanhem. Não seja arrastado por eles.

De início, você se distrairá. Até mesmo durante os processos de incorporação


poderá se perceber com a atenção voltada para outros assuntos. Isto é normal,
não se preocupe. Tudo o que você necessita é retornar para o estado de
concentração. O exercício é o caminho, os músculos mentais são fortalecidos com
a prática. Aceite suas limitações de hoje. O tempo firmará as bases para o controle
dos pensamentos.

Separe um momento do seu dia para acalmar a mente. Cultive o silêncio. Torne-se
familiar com ele. Se o seu interior insiste em falar, é porque há algo nele para ser
ouvido. Caso contrário, ele se mostrará no momento que desejará dormir, como
inquietação e preocupação. É quando a cabeça acalma que com mais facilidade

70
escuta os guias que te acompanham. Sua voz é suave e sutil, os ruídos na
consciência se intrometem na comunicação.

Todo dia busque a espiritualidade. Não se lembre dela apenas dentro do terreiro ou
nos momentos de aflição. Zele que pelos laços que te conectam com o Alto.
Permita que suas vibrações sejam comuns em sua vida. Desta maneira, será
operada uma mudança de sintonia em você. Sua consciência se habituará com o
que é elevado, afastando toda perturbação do dia-a-dia.

Nossos guias sempre nos orientam. Entretanto, perdido no seu turbilhão interno,
você não capta a informação. Uma das maiores forças que um indivíduo pode
carregar é poder ser inspirado pela espiritualidade. Grandes obras ele realiza desta
maneira. Está à nossa disposição esta bênção divina. Basta encontrar no silêncio
sua essência maior. Será suficiente para que a concentração venha naturalmente.

Saravá a todos!

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A FORÇA DA UMBANDA ESTÁ NA SUA SIMPLICIDADE

A Umbanda é uma religião simples. E nisso está a sua força. Ela nunca precisou
de muita coisa para fazer o seu axé girar. Sua missão é uma só: levar luz a quem
precisa. E há muita beleza nisso.

Ela tem o poder de transformar vidas. Para isso, basta ter fé e entregar os seus
caminhos à espiritualidade. É preciso desapegar-se do excesso de elementos
materiais: firmezas em exagero, oferendas em exageros, entregas em exageros.
Muitas vezes, para alcançar nossas graças, basta uma oração.

O objetivo da Umbanda não é realizar os nossos desejos materiais. Antes disso, é


uma oportunidade presenteada pela espiritualidade para que possamos nos
conectar com nossa essência divina. Ser regido por um Orixá, muito mais do que
apresentar alguns traços de personalidade, significa reverenciar este pedaço de
Deus que vibra em nós.

Na Umbanda, mais do que ficar pendurados nas paredes, os santos falam


conosco. Somos levados a conhecer a nossa verdadeira ancestralidade. Não há
nada mais valioso que ouvir o conselho do guia, que sabe olhar para o fundo de
nossa alma e dizer o que ali trava o nosso caminho. Suas palavras são como
flecha certeira que aponta o nosso bom caminho.

Não é preciso muito para fazer as coisas acontecerem. Há força na simplicidade


dos ritos. A espiritualidade não está preocupada com a aparência nem com a
quantidade de elementos materiais, mas tão somente no sentimento depositado
em cada atividade realizada no terreiro. Tudo que é praticado com carinho e
dedicação, visando o bem coletivo, é levado em alta conta.

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A essência da Umbanda é a humildade. Nós não comparecemos em seus
trabalhos para nos afirmar melhor que ninguém. Abandonem toda rivalidade com
seus irmãos. Parem de olhar para o outro. Atenham-se aquilo que é
verdadeiramente a missão de nossa maravilhosa religião: a manifestação do
espírito para a caridade.

Mais do que qualquer um, os guias manifestam a simplicidade que faz parte de
nossa religião. Eles só precisam de um espaço para fazer o trabalho deles. Não se
preocupam com homenagens, presentes, adulações, visto que já venceram os
interesses mundanos há muito tempo. O bom médium, para eles, é aquele que se
dispõe a ser instrumento para o bem do próximo.

Muitos esquecem das lições básicas da Umbanda. Ela é uma religião e, como
tal, auxilia-nos a nos aproximar novamente de Deus. O desenvolvimento da
espiritualidade, a reforma moral de cada um, a procura de mais conhecimentos
deveriam ser o nosso dia a dia. Vamos buscar entrar em comunhão com os
guias e Orixás. Não pelos aspectos exteriores, mas dentro do nosso próprio
coração.

Saravá a todos!

73
SER MÉDIUM É MUITO MAIS DO QUE INCORPORAR

Erra aquele que pensa que faz muito apenas por ir na gira e incorporar. Ser
médium de terreiro vai muito além disso. O terreiro, sustentado coletivamente
pelos seus frequentadores, exige uma postura responsável. É preciso se dedicar a
alimentar seu axé, manter seus fundamentos, e transmitir seus valores e
ensinamentos. O bom “cavalo” é aquele que sabe ser exemplo e mantém a postura
dentro e fora do espaço sagrado.

Mais do que receber algumas entidades, é contribuir para uma comunidade de axé
e atuar com responsabilidade. Do que adianta falar de amor e caridade no terreiro
e depois agir perversamente? Não basta apresentar um discurso bonito. É na
prática que mostramos que realmente aprendemos com nossa religião. Caso faça
besteiras por aí, trará o julgamento não apenas para você, mas também para sua
casa e a Umbanda como um todo.

Lembre-se de que o terreiro possui outras obrigações além da mediunidade. Ajudar


na limpeza e manutenção física, contribuir financeiramente, participar dos eventos
– se houverem -, cambonear, entre outras coisas. Se procurar, encontrará alguma
coisa precisando de uma atenção. Claro que todos nós temos nossas limitações e
compromissos pessoais. Porém, dentro da nossa capacidade, vamos nos doar ao
sagrado.

Por esta razão, tente chegar mais cedo no terreiro, dentro das suas condições
pessoais. Grande preparação é necessária para que a gira aconteça. Não importa
se possui cargo ou longo tempo, qualquer um pode por a mão na massa. Essa é
também uma maneira de se conectar com o sagrado. Mais do que se aventurar em
buscar cursos de magias, firmezas, pontos riscados, eu te aconselho: experimente
a vassoura e o rodo. Eles serão melhores professores e mestres dos segredos de

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nossa religião; você criará uma relação pessoal com ela que não pode ser
encontrada em nenhum outro lugar.

Saravá a todos!

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DICAS PARA MÉDIUNS INICIANTES

1) Não tenha pressa


O desenvolvimento é lento. Não será um processo de apenas algumas semanas
ou meses, alguns anos podem ser necessários. Quanto mais tempo você levar,
mais firmeza adquirirá. O tempo resolverá a maioria dos seus problemas e
dúvidas.

2) Escute os mais velhos


Eles já percorreram esta estrada em que você ainda está nos primeiros passos. Já
experimentaram e superaram muitos dos problemas que você vivencia hoje. Há
saberes que não estão registrados nos livros e nos conteúdos da internet. Os
ouvidos abertos e olhos atentos te trarão muita sabedoria. É principalmente no
chão do terreiro que você aprenderá sobre Umbanda.

3) Estude
Há muito conhecimento disponível para você; basta a disposição de buscá-lo. Não
faça apenas porque viu os outros fazerem, procure entender o porquê de cada
prática. Existem muitas informações por aí, tome a sua própria experiência no
terreiro como referência. Leia, escute, assista, pergunte, observe, vá atrás do
conhecimento.

4) Não se compare com os outros


A mediunidade é um processo único para cada pessoa. Ninguém sente e se
movimenta da mesma forma. Essa é uma das belezas da nossa religião. Algumas
incorporações são mais simples e suaves, outras cheias de movimentos e trejeitos,
mas todas são sagradas. Há quem rapidamente será direcionado ao atendimento,
outros podem esperar muitos anos, porém nenhuma mediunidade é melhor do que
outra.

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5) Aceite sua mediunidade como ela é.
É normal você ver e escutar tudo durante a incorporação, é natural você lembrar
de quase tudo o que se passou. Não crie a expectativa de que em algum momento
você sofrerá um apagão e seu corpo será tomado plenamente por uma força
externa, não é assim que a coisa funciona. Boa parte dos médiuns são
conscientes, e não há nada de errado nisso. O importante é você se entregar. Não
importa a característica da sua mediunidade, ela é capaz de se conectar ao divino
e ajudar ao outros.

6) Você não precisa saber o nome das entidades agora


Elas se apresentarão quando considerarem que você está pronto para isto. Podem
se identificar em sonhos, visões, pela intuição, guia chefe. Contudo, a maior
confirmação será realizada quando expressarem seu nome através da sua própria
boca. Lembre, o tempo trará todas as respostas. Apenas continue seu
desenvolvimento e na hora certa conhecerá cada um.

7) Quando descobrir o nome das entidades, não pesquise na internet sobre elas
Não adianta você procurar sobre as histórias dela, características, jeito de
trabalhar, regência, ponto riscado. Cada entidade é única e possui sua própria
individualidade. Deixe que ela ensine sobre ela mesma, natural e gradualmente.
Buscar fora só favorecerá o animismo.

8) Mantenha a simplicidade e naturalidade


Você não precisa encher o pescoço de guias, usar capas e tridentes, bradar
extremamente alto, rodar mais que pião, incorporar 300 entidades. Não dependa
de elementos externos para provar que está incorporado, a firmeza vem de dentro.
O simples e sutil têm muita força.

9) Mantenha uma boa relação com o/a sacerdote


É ele a quem recorrerá se precisar de algum auxílio, é ele quem orientará seu
desenvolvimento mediúnico e responderá suas dúvidas. Antes de pesquisar na

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internet, pergunte para ele. Todo mestre ensina de boa vontade quando vê o aluno
cheio de disposição para aprender.

10) Desenvolva sua vida como um todo


A incorporação é apenas um reflexo do contexto maior em que está inserida.
Cultive o seu próprio bem estar, e sua espiritualidade crescerá como
consequência. Cuide do seu corpo físico, da sua saúde mental e emocional, crie
boas relações interpessoais, empenhe-se pela sua vida material. Não vamos nos
terreiros apenas para receber as entidades e sim para nos amadurecermos
integralmente.

Saravá a todos!

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OS TRÊS PASSOS DA TRANSFORMAÇÃO INTERIOR

O primeiro passo é o autoconhecimento. É o momento em que você se observa e


percebe que algo precisa mudar. Hábitos nefastos que estão prejudicando sua
vida. Padrões de comportamento autodestrutivos. Sombras da alma que produzem
desequilíbrios no seu caminho. É necessário, para tanto, um olhar sincero sobre
quem você é.

Enquanto insistir na teimosia, dificilmente sairá do lugar. Aceite os sinais que a vida
lhe mostra, ou verá eles se tornarem cada dia mais intensos. Negar pode te trazer
um conforto temporário, mas em breve a aflição volta a bater à porta. Note o que
cada situação que enfrenta diz sobre você.

Pare de dar atenção aos outros e se volte para você mesmo. Eles são apenas um
reflexo do que habita o seu interior. Culpá-los pelos seus problemas não fará
nenhuma mudança em sua vida. Não perca tempo apontando o dedo. Descubra,
dentro de você, o que precisa se transformar para que seus caminhos fluam
positivamente.

É realmente difícil para alguns aceitarem a responsabilidade que possuímos sobre


os eventos de nossa vida. É verdade que boa parte do que é nossa realidade atual
não escolhemos conscientemente. Contudo, lembre-se de que impera em todos os
planos a lei de causa e efeito. Esta vida não é a nossa primeira encarnação. E tudo
o que semearmos inevitavelmente colheremos. Portanto, plante aquilo que é bom,
para que lá na frente seus frutos sejam benéficos para você e seus próximos.

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O segundo passo é o autoenfrentamento. Esta é a fase mais difícil. É quando você
percebe que o seu maior inimigo é você mesmo e precisa reunir todas as suas
forças para sobressair frente às sombras da sua alma. Momento de por em prática
sua vontade e não se deixar ser levado pelos sentimentos desequilibrados. Não é
fácil, não é agradável, porém necessário.

Os humanos são criaturas de hábitos, padrões de comportamento enrijecidos e


que exigem grande esforço para mudá-los. Quem já largou um vício sabe a imensa
dificuldade que ele constitui. No entanto, enquanto você se permite ser dominado
por eles, não consegue plenamente direcionar sua vida para onde deseja. Falta-lhe
o completo controle de si mesmo. A batalha pode parecer longa, mas a vitória é
possível.

Haja o que houver, seja paciente com você mesmo. Provavelmente cairá muitas
vezes até chegar onde sonha. Abrace seu lado sombra assim como seu lado luz. A
polaridade é característica do mundo em que vivemos. E é somente no passo à
passo, o andar tranquilo e sereno, que conquistamos a vitória. O importante é
sempre levantar novamente, e reiniciar o seu empenho.

A vontade pede para ser fortalecida. E para isso, a melhor recomendação é colocá-
la em movimento. Se a apatia nos vence, algo de nós se perde entre os muitos
possíveis. Quando não alimentada, a sua força se atrofia. Por esta razão, busque
energia nos seus recursos internos e externos. Renove-se nas orações, na fé, no
amparo de seus guias, na confiança que dias melhores te aguardam.

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O terceiro passo é a naturalização. É o estágio que o comportamento desejado por
você não precisa mais ser forçado. A força de vontade pode ser direcionada para
outros fins, uma vez que seus desejos, emoções e aspirações estão apontando
para o mesmo norte. Você pode saborear a vitória, enquanto se prepara para
novas batalhas, visto que se acertou com um aspecto do seu.

Para chegar a este, basta persistir, dia após dia, até que o que é elevado se torne
natural para o seu ser. Leve consigo a convicção de que não está sozinho e nem
desamparado. O Pai Maior a todos cuidam.

Saravá a todos!

81
OS DIFERENTES TIPOS DE MEDIUNIDADE

Engana-se quem acredita que na Umbanda somente se usa da incorporação.


Nela, todos podem contribuir, independente de quais dons possuem. Existem
muitos e muitos tipos de mediunidade, mas falaremos neste texto apenas dos mais
comuns.

a) intuição. É a forma de mediunidade mais universal, presente em todos os seres


humanos. Trata-se da comunicação direta de espírito para espírito, sem a
intermediação de palavras ou imagens.

b) Audiência. Capacidade de ouvir os outros planos e os seres que neles habitam.


É importante compreender que ela existe um graus variados. Há quem escute a
comunicação como se fosse um ruído externo, e os outros que a mensagem é
“ouvida" na mente.

c) Vidência. Capacidade de ver os outros planos e os seres que neles habitam. Da


mesma forma que a audiência, existe em vários graus. Há quem veja os espíritos e
não consegue distingui-los das pessoas encarnadas. Outros vêem vultos ou não
reconhecem os detalhes. E existe quem receba apenas imagens mentais.

d) Psicografia. Capacidade de permitir que os espíritos escrevam com suas mãos


e braços. Está classificada em três grupos. Os mecânicos, que sentem as mãos e
braços se moverem independente de sua vontade, podendo até mesmo reproduzir
a caligrafia do espírito. Os intuitivos, em que as palavras são ditadas em sua
mente e o médium escreve com sua própria vontade. E os semi-mecânicos, em
que têm suas mãos movidas independentes de sua vontade, ao mesmo tempo que
ouvem as palavras em suas mentes.

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e) Psicofonia. Capacidade de emprestar sua voz ao espírito. É diferente da
incorporação, uma vez que na psicofonia somente a voz é manipulada pela
entidade.

f) Incorporação. Trata-se de um acoplamento de chacras, em que o corpo como


um todo é mediunizado. É a forma de mediunidade mais comum na Umbanda. Ela
permite não somente que o espírito transmite sua mensagem, como faça uso
livremente de movimentos corporais e doe e manipule fluídos
espirituais/energéticos.

g) Mediunidade de cura. Capacidade de doar fluídos magnéticos salutares que


promovem curas e alívio de enfermidades.

h) Médium de transporte. É aquele que é capaz de manifestar obsessores de


outras pessoas, bem como “puxar” para si cargas pesadas, realizando profundo
descarrego.

Saravá a todos!

83
A CONEXÃO DIRETA COM DEUS E OS ORIXÁS

Todos nós somos capacitados a se comunicar diretamente com Deus e os Orixás,


não importa onde estivermos. O pensamento e a prece podem percorrer grandes
distâncias. Por esta razão, não dependa de intermediários para exercer sua fé. A
prática espiritual está disponível para nós em qualquer contexto.

O seu interior é um universo vasto, onde habitam as mais diferentes forças. Ali
estão presentes as energias divinas, assim como sombras profundas. Explore seu
mundo interno, isto também é exercer a espiritualidade. Como estava escrito em
um famoso templo grego “Conhece-te a ti mesmo e conhecerá os Deuses e o
universo".

Em todos nós, existe uma centelha divina. Isto é, uma pequena “partícula” de
Deus, o qual forma nossa essência e que chamamos, na Umbanda, de “Ori". No
entanto, essa mesma essência tem sua luz bloqueada pelas muitas manifestações
do ego. E é através de nossa constante espiritualização que podemos permitir um
maior expressão de nosso Eu divino.

Por este motivo, não crie uma relação de dependência com o terreiro e os templos.
Por mais maravilhosa que seja a energia de lá, lembre-se de que as vibrações
elevadas estão sempre a nos acompanhar. Nossos guias e protetores nunca nos
abandonam. Basta uma prece e a mente serena para sentir o calor de seus
abraços.

Onde houver a oportunidade de praticar o amor, será possível vivenciar a


espiritualidade. Nem que seja doando um pensamento bom para uma pessoa. Não
se apegue a elementos materiais, como o altar, por exemplo, para se conectar com
o divino. A comunicação elevada é de espírito para espírito, sem mediadores. Até
mesmo as palavras são dispensáveis para este contato.

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Perceba a condição privilegiada que possui, homem. Não é à toa que está escrito
que fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Não há nada neste mundo
que possa te impedir de se comunicar com seu Pai e Mãe maior. Não deixe o
contexto atual limitar sua fé. As forças dos Orixás estão presentes em abundância
na Natureza e tudo quanto você observa é natureza também.

A Umbanda é muito mais do incorporar, receber passe, ir para a gira. Não pense
que tudo isso é necessário para você se sentir bem. São realmente muito
salutares, porém, não sendo possível ir para o terreiro, encontre outras maneiras
de abrir o seu coração para a espiritualidade. Abra espaço para o poder ilimitado
da espiritualidade. Não há barreiras que possam separar-te de suas origens.

Conecte-se diretamente a Deus. Você pode fazê-lo. Permita o axé dos Orixás te
abençoar, onde quer que você esteja. Deixe que estas vibrações divinas façam um
belo trabalho em sua vida. Quanto mais você se aproxima do divino, mais você se
torna luz por onde caminhar.

Saravá a todos

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A VAIDADE MATA AS SUAS GRAÇAS

Grande preparação exige-se para realizar a gira. É preciso montar o terreiro,


assentar os fundamentos, ativá-los, organizar seu espaço físico, formar o corpo
mediúnico. Muitas vezes, para que o médium esteja pronto para o atendimento,
passa-se anos vivenciando longas orientações, aconselhamentos,
desenvolvimentos e estudos.

A vida mediúnica pede muitos sacrifícios pessoais. Para que a caridade aconteça,
estabelece-se uma ampla e intricada coordenação, tanto na parte material, entre
os encarnados, quanto da parte espiritual, entre as entidades da Umbanda. O
médium de incorporação é o elo final de uma complexa organização, e grande é a
sua responsabilidade.

Não são poucas as provações que ele precisa enfrentar para estar presente no
terreiro. Por esta razão, quando o médium exerce sua missão com dedicação e
disciplina, grande crédito ele arroja para si frente a espiritualidade. Ele acumula
tesouros no Céu, como nos ensinou Jesus.

No entanto, a caridade é deturpada quando realizada com alguma finalidade


diversa. E nesse texto, não falo somente daqueles que enriquecem por meio do
exercício da mediunidade, o que por si só é grave crime espiritual. Refiro-me
àqueles que enchem o coração de soberba e vaidade por causa de suas
atividades no terreiro.

A caridade verdadeira é desinteressada. Quando o médium estufa o peito para de


alguma forma se sentir melhor do que outro, é quase como se ele pegasse todas
as boas ações que praticou e jogasse no lixo.

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A vaidade corrompe o médium. Eu já presenciei excelentes trabalhadores que
muito me admiravam aos poucos deixarem o orgulho crescer no coração. Foi triste
observar tudo isso, os comportamentos foram se tornando cada dia mais
estranhos, tudo para ter a atenção para si. Até que um dia a espiritualidade
encontrou uma maneira de afastá-los do terreiro.

Você pode ter muitos anos de Umbanda, pode trabalhar no terreiro desde que é
pequeno, pode conhecer todos os fundamentos e ter lido todos os livros sobre a
religião, mas se você não tiver humildade, não aprendeu nada. É verdade. A
Umbanda é simplicidade e humildade.

O médium não é mais evoluído que os outros, nem mais adiantado. Ele é uma
pessoa em aprendizado e evolução como qualquer outra. O desenvolvimento mais
importante é o desenvolvimento moral, sem ele tudo se distorce em sua essência.

Por esta razão, saiba silenciar. Guarde a todo trabalho que realizou para você
mesmo. Não queira ser observado ajudando alguém, não faça propagandas da
própria imagem. Os guias de Umbanda trabalham na anonimidade, é por isto que
não revelam seus verdadeiros nomes, apenas o de sua falange. Pense sempre
consigo: “eu ainda não sei tudo. Todo mundo tem alguma coisa para me ensinar.
Estou sempre em desenvolvimento”.

A quem muito é dado muito será cobrado.

Saravá a todos!

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VOCÊ PODE SE TORNAR UM ANCESTRAL

A Umbanda é uma religião a ser vivenciada numa coletividade. O terreiro não é


apenas um local para incorporar, consultar com as entidades, fazer magias. Mais
do que uma relação individual entre você e a espiritualidade, aprendemos nosso
valor dentro de uma comunidade e que temos muita capacidade de contribuir para
com ela. Aqueles que se dedicam ao grupo material e espiritual em que estão
inseridos poderão, quando desencarnados, se transformarem num ancestral que
continuarão a zelar por ele.

É preciso aprender a envelhecer com qualidade. Se você exige reverência e


submissão apenas por estar há mais tempo no terreiro, ainda não entendeu o
sentido da nossa religião. O objetivo não é alimentar o nosso ego e vaidade. Os
mais velhos têm uma responsabilidade a cumprir: eles são as referências para os
que estão chegando; devem ensinar, nas palavras e ações, a viver com sabedoria.
É partir deles que o axé é distribuído.

Não queira se transformar num kiumba. Quem cresce com excesso de amargura,
rancor, raiva, vaidade; quem deseja ver o próximo cair e sofrer; quem alimenta o
sentimento de vingança e persegue os outros... boa coisa não será. E para isto,
nem desencarnado precisa estar. Lamentavelmente, são tantos, em vida, que
agem como verdadeiros obsessores e se perdem em dimensões trevosas.

Claro, há quem esteja passando por graves dificuldades, realizando tratamentos,


iniciando sua jornada, e, no momento, precisam focar neles mesmos. Porém, à
medida em que se fortalecem, podem se voltar um pouco para o que está ao se
redor. Afinal, a caridade é um dos melhores métodos de se desenvolver em todos
os sentidos.

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Dessa maneira, ainda vivo, você pode se tornar uma pessoa que contribui para a
comunidade. Seja estudando e transmitindo conhecimento, acolhendo e
protegendo, ajudando materialmente a casa, sendo um médium e/ou cambone
dedicado, agindo pelo exemplo, até mesmo limpando o terreiro, entre várias outras
formas de auxiliar. A espiritualidade mostrará o caminho, mesmo que seja uma
pequenina contribuição, será de grande valor.

Saravá a todos!

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O SILÊNCIO É PONTO DE PARTIDA PARA CONQUISTAR
TODAS AS OUTRAS COISAS

Maria estava pronta para receber seu passe. Já estava naquele banco há pelo
menos duas horas enquanto aguardava ser chamava. Tinha na ponta da língua
tudo o que ia falar: o emprego que não ia bem, a mulher que conheceu e não
estava certa se ela queria algo sério, a saúde da sua sobrinha, a família que vivia
em briga. Começava a ficar impaciente pelo tempo, era gira de preto velho e tudo
ia mais lento.

Enquanto aguardava, refletia sobre sua vida. Por que sofria tanto? Nada parecia
dar certo. Não importava o quanto se esforçasse, sempre aparecia algum
problema. E não aguentava mais estar sozinha, por que só se envolvia com gente
desinteressada? Não era por falta de magia, toda semana ao menos uma firmeza
era feita... seus pensamentos, tão agitados, eram apenas atrapalhados pelas
conversas com outros consulentes e olhadas na redes sociais.

Finalmente, foi chamada. Rapidamente sentou no banco diante do preto velho e


estava prestes a expressar todas as suas lamúrias. Entretanto, Pai Guiné apenas
estendeu as mãos do cavalo sobre sua testa, e iniciou os gestos típicos do passe.
Maria, a princípio, teve dificuldade de relaxar, pois estava ansiosa para contar os
seus problemas para entidade, mas pouco a pouco foi envolvida naquela energia
maravilhosa.

O guia espiritual não apressou os seus movimentos. Descarregava e energizava


lentamente cada centro de força, ao mesmo tempo que cantava numa voz baixa e
suave. Maria relaxou, e fazia muito tempo que não sabia o que era relaxar. A calma
e tranquilidade tomou conta de seu ser. E seus pensamentos, aquietaram por um
momento. Lágrimas caíram, seu coração estava leve e um sorriso apareceu.

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“Minha filha”, disse Pai Guiné, “faz quanto tempo que você não sente o que é
silêncio? É disso que você está precisando. As outras coisas vão vir no seu tempo,
mas não deixe de, todos os dias, tirar um momento para você. Um momento seu,
para se cuidar, para respirar devagarinho, para soltar o coração e permitir que os
pensamentos vão embora. Isto vai te dar saúde, alegria, paz, é o ponto de partida
para conquistar todas as outras. Silêncio, minha filha. Silêncio.”

E em silêncio, Maria agradeceu e voltou para sua casa. Não recebera ainda todas
as respostas que buscara, mas havia muito o que aprender.

Saravá a todos!

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A UMBANDA ESTÁ AONDE NOSSO AMOR ALCANÇA*

*Texto escrito no início da pandemia

Ainda que os terreiros encontram-se hoje fechados devido a pandemia, a


Umbanda continua a trabalhar por nós. A espiritualidade não é praticada
apenas dentro dos templos. Mais do que tudo isso, ganha força no interior de
nossos corações. Nossa religião não é somente incorporação, e sim comunhão
profunda com a natureza e nossos irmãos espirituais.

É compreensível as saudades das giras, todos nós a sentimos. É com muita


emoção que lembramos da batida do tambor, o cheiro da defumação, o brado
das entidades, o axé dos Orixás. Porém, passamos por um intenso processo
coletivo de transformações. Mais do que lamentarmos a situação global,
aproveitemos estes acontecimentos para ampliarmos nossas maneiras de
vivenciar o espiritual.

A Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade. Manifestação não só


dos maravilhosos guias e protetores, como também do nosso próprio espírito.
Caridade não apenas para nossos queridos consulentes, mas ainda, para os
próximos e nós mesmos. Portanto, questione: até aonde é possível, nas suas
condições atuais, exercer esta manifestação do espírito para a caridade? Ali,
você poderá vivenciar nossa religião.

Onde o nosso amor alcança a Umbanda estará presente, independente da


forma como assumir. Os ritos que conhecemos atualmente são apenas
expressões do princípio universal de amar o próximo como a nós mesmos. E,
aceitando ou não, todos precisaremos nos adaptar aos tempos atuais. Onde
nós estivermos é possível praticar a Umbanda.

Os guias permanecem a nos acompanhar. Eles não estão em quarentena em

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Aruanda. Se nos aprofundarmos em nosso interior, escutaremos a suave voz
desses amados companheiros espirituais. Os trânsitos e encontros podem estar
limitados no mundo material, porém não existem barreiras no plano espiritual.
Um pensamento, uma prece é capaz de percorrer galáxias em um instante.

Não há distância longa para o amor. Somente o coração fechado possui o poder
de diminuir o seu alcance. Porém, o mundo dá suas voltas e nos seus muitos
giros todas as resistências haverão de se abalar. Como disse um controverso
pensador: “tudo o que é sólido se desmancha no ar". Ainda que muito demore,
todos conhecerão o caminho da luz.

Volte-se para o seu interior. Ali habitam todas as forças da natureza. A alma é
tão vasta quanto o universo, visto que ela abriga uma centelha divina, um
pequenino pedaço de nosso Criador. Nos recônditos do inconsciente abrigam-
se as mais diferentes sombras, responsáveis por tantos infortúnios em nossas
vida. É seu papel investigar e curar todos estes nós emocionais.

A Umbanda mora em seu coração. Nele, é possível sentir sua força sem
intermediários. Basta apenas se abrir a ela. Seja onde for que os seus
caminhos te levem, você não estará desamparado. Manifeste o seu espírito
para a caridade e estará cumprindo a missão dessa maravilhosa religião.

Saravá a todos!

93
SUA MEDIUNIDADE NÃO PRECISA SER
EXTRAORDINÁRIA

Para ser um bom trabalhador de Umbanda, você não precisa ser capaz de fazer
adivinhações, realizar curas milagrosas, resolver todos os problemas do
consulente. Não há necessidade de feitos incríveis e superpoderes. Com
frequência, basta que você esteja presente e se entregue à espiritualidade. O
objetivo não é demonstrar, nem se provar, ou expressar força. Estamos,
coletivamente, a cultuar e buscar o sagrado.

Infelizmente, em muitos terreiros se espalhou a ideia equivocada do “médium


mais forte”. Há uma crença de que somente ele poderia resolver os seus
problemas. Não é raro também que associem esta ideia àqueles que possuem
uma incorporação supostamente inconsciente, mais ostensiva, com mais
movimentos e sacolejos. O que resulta, em alguns casos, numa verdadeira
teatralização das manifestações.

Alguns médiuns apresentam um mediunidade simples e está tudo bem nisso.


Eles promoverão o passe, transmitirão a mensagem que precisa, sem
acrescentar ou exagerar nada. Não tentarão passar a imagem de “o incrível”.
Estarão ali apenas para cumprir seus compromissos, não desejam atenção ou
ser admirados. E se você reparar bem, são estes os mais disciplinados do
terreiros, que não faltam por besteira, e participam de outras atividades, como
a limpeza do espaço.

Não se cobre ser mais do que você é. A mediunidade é processo natural, de


dentro para fora, não adianta forçar. Trabalhe a partir do que recebeu, será

94
suficiente para prestar sua caridade. A energia da gira é uma construção
coletiva. Se bênçãos serão alcançadas, depende do axé do terreiro como um
todo e do próprio consulente. Em vez de ser as “estrelas” da casa, seja um dos
seus pilares, sustentando constantemente seus trabalhos.

Saravá a todos!

95
É POSSÍVEL PRATICAR A UMBANDA DENTRO DE
CASA?

Cresce a cada dia a busca por uma Umbanda que possa ser exercida no interior
da própria residência. Observo tantos abandonando a experiência do terreiro
em prol de ritos e atividades realizadas individualmente. Embora há quem o
faça por falta de um local na cidade em que mora, a grande maioria,
infelizmente, apenas foge dos problemas de convívio e hierarquia. Não por
acaso também se multiplicam os cursos que vendam saberes que vão na
mesma direção.

Mas é possível praticar a nossa religião desta forma? Não se engane, a


Umbanda é religião coletiva, a ser vivenciada numa comunidade de axé. É
dentro do terreiro que ela acontece primordialmente, com todas as suas
contradições, hierarquia, regras, melindres e conflitos. Aprender a lidar com
essas características faz parte do desenvolvimento espiritual.

Porém, tampouco nossa espiritualidade se limita somente aos dias de gira.


Uma das razões para participarmos das cerimônias é para nos empoderarmos
de axé, conhecimentos, valores, direções que levaremos para nossa casa,
nossa família, nosso dia a dia. Fortalecemos nossa caminhada para caminhar
bem, com saúde, alegria, abundância. Não adianta ser uma pessoa dentro do
terreiro e outra totalmente fora dele.

Neste sentido, podemos afirmar que algumas coisas podem ser feitas dentro
de casa, mas num caráter complementar-supletivo ao terreiro, sem jamais
substituí-lo. Alguns exemplos comuns: preces, firmezas, cuidar do altar pessoal,
estudar, conversar mentalmente com as entidades, meditar, banho de ervas,
defumação, cantar pontos, e o que mais você receber de orientação dos guias.
Todas estas atividades são muito benéficas.

96
Quanto à incorporação dentro da sua residência, evite. Uma casa é muito
diferente do terreiro. Ele tem suas firmezas, proteções, assentamentos, congá,
tronqueira e, principalmente, uma corrente mediúnica e o/a sacerdote à frente,
experiente e preparado. Não há problema grave que não possa esperar até a
próxima gira. E em caso de necessidade, procure o/a dirigente, não faça
aventuras, você poderá piorar a situação.

Entenda, o trabalho da entidade não se apoia apenas na força do seu médium


e dela mesma, mas na coletividade em que estão inseridos. Isto porque o axé é
construído e cultivado em grupo. Se você incorporar fora do terreiro, será
muito diferente do que está acostumado, visto que o guia não terá à sua
disposição os mesmos recursos, não estará constituída a egrégora necessária
para ele trabalhar com todo seu poder.

Umbanda é magia, ela lida com energia o tempo todo. Porém, é preciso ter o
conhecimento correto de como trabalhar com estas energias. E isto se aprende
apenas com estudo, escuta dos mais velhos e das entidades, e o tempo bem
vivido no chão do terreiro. Se não tiver recebido os fundamentos, não se
aventure. Seja mais humilde e aceite suas limitações. Mediunidade não é
doença, não vai acontecer nada de mal se ficar sem incorporar por um período.

Saravá a todos!

97
O QUE É O ANIMISMO?

O animismo é um fenômeno natural nos processos mediúnicos. Ele consiste na


interferência do médium nas comunicações espirituais. Por mais experiente e
preparado que ele seja, sempre haverá uma parcela de suas próprias ideias e
pontos de vista em qualquer atividade mediúnica. Em vez de negar e condenar
este fato, é preciso compreendê-lo e ser franco acerca da realidade dos
contatos entre os encarnados e desencarnados.

É diferente da mistificação, o qual refere-se àquele que intencionalmente finge


que está mediunizado. Enquanto o animismo é inevitável, ainda que com o
desenvolvimento e amadurecimento do médium seja minimizado, a
mistificação se trata de mau caráter e enganação. O primeiro caso é
compreensível e esperado, o segundo deve ser combatido.

Não é apenas característica da mediunidade consciente o animismo. Ser


consciente ou não apenas se refere se o “cavalo" lembra do que houve durante
a incorporação. Mesmo o médium inconsciente interfere em algum grau nos
atos e palavras da entidade. É inevitável, é inerente aos próprios mecanismos
das comunicações com o mundo espiritual.

As palavras dos guias são revestidas pelo vocabulário do médium. Toda ação é
intermediada pelo seu mental. Não é à toa que é chamado de “médium”: é o
mediador entre o plano físico e o plano astral. Ele não é um simples aparelho
capaz de reproduzir mecanicamente as mensagens dos guias e protetores, mas
uma individualidade própria, dotada de valores, pontos de vista, ideias e
conhecimentos particulares.

No entanto, o animismo não é tão negativo como as pessoas pensam. Ele é


necessário até certo ponto, principalmente entre os iniciantes. Quando o

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novato recebe as vibrações dos guias, com frequência ele não sabe como
expressar toda energia que sente, por mais forte que ele sinta. A confusão o
domina. No entanto, ele consegue superar este impasse usando os arquétipos,
trejeitos e características definidoras que internalizou. Nesta situação, o
animismo serve como referência que auxilia o médium iniciante a manifestar
as entidades.

Com o tempo, ele vai se familiarizando com as energias dos guias com quem
ele trabalha. A conexão se aprimora. E ele aprende a controlar sua
interferência na comunicação. No entanto, o animismo nunca deixará de estar
presente de alguma forma. Pode ser abrandado, porém nunca eliminado,
mesmo após anos de experiência. É por isso que dizemos que o
desenvolvimento nunca acaba, sempre é possível aperfeiçoar nossas
incorporações.

O médium necessita estar sempre vigilante, a fim de minimizar qualquer


prejuízo durante os processos mediúnicos. É fundamental que ele desenvolva
um profundo autoconhecimento, para que saiba distinguir quando é suas
próprias ideias que estão falando. Ele precisa reconhecer seus próprios
preconceitos e ideais, sem jamais permitir que eles sobressaiam.

Não raro, a espiritualidade pode encaminhar um consulente em que você


possua aversão ou antipatia, seja pelos seus pontos de vista, seja pelos seus
pedidos particulares, com o objetivo de que você possa aprender que a
Umbanda está ali para ajudar a todos.

Reforçamos a necessidade do médium se preparar espiritual e


intelectualmente. Quando mais elevada sua vibração no dia da gira, mais
estreita será sua relação com as entidades, permitindo comunicações com
menos interferência. Quanto mais ele estudar, com mais precisão poderá
transmitir as mensagens dos guias e protetores.

É preciso que abandonemos a arrogância de acreditarmos que somos médiuns

99
perfeitos. Não existe isso, não importa quanto anos de terreiro possua, ou
mesmo se já é Pai/Mãe de Santo. Sejamos humildes e aceitemos que, muitas
vezes, interferimos sim na incorporação. Mas claro, sempre nos esforçando
para sermos um instrumento afiado nas mãos dos guias e protetores.

A espiritualidade é sábia e conhece as nossas limitações. Ela sabe a


capacidade de cada um e, da melhor forma possível, age a fim de superar os
obstáculos. O objetivo principal, lembremos, é a caridade, isto é, que o
atendimento seja benéfico ao consulente, dentro do nosso melhor. Por esta
razão, não se inquiete tanto com o animismo, não permita que este assunto te
perturbe. Apenas deixe a incorporação fluir, com naturalidade, equilíbrio e bom
senso.

Saravá a todos!

100
QUANDO ESTIVER NO TERREIRO, PROCURE SENTIR
MAIS E PENSAR MENOS

A Umbanda é uma religião a ser vivenciada com o corpo inteiro. Não se trata de
aceitar verdades e doutrinas, nem compreender leis e mecanismos espirituais. Não
basta ler livros e fazer cursos para entendê-la, é preciso conhecê-la com o
coração. Sua essência reside numa experiência plural que toca nossa alma de
forma profunda.

Foi o Caboclo 7 Flechas quem primeiro me orientou a “sentir mais, pensar menos”.
Muitos médiuns iniciantes, confusos diante dos fenômenos novos para eles,
tentam racionalizar demais o processo. Porém, por mais que estudemos, a
espiritualidade é mistério. Nem tudo será compreendido. Há de se entregar e
confiar.

A cabeça, quando tem pensamentos em excesso, trava as manifestações. Deixada


solta, ela se enche de dúvidas e inibe o novato. O que é natural de início, pode
tornar-se um problema, caso ele não aprenda a se permitir. O desenvolvimento é,
entre muitas facetas, a renúncia do monopólio da razão. A maturidade vem quando
há a livre expressão do que sente.

A mediunidade não pode ser padronizada. Por vezes, recebemos uma energia que
não assume nenhuma forma que conhecemos anteriormente. Ou incorporamos
uma entidade sem entender porque ele veio. Ou mesmos somos intuídos a tomar
atitudes por motivos desconhecidos. Não compreendemos o porquê, apenas
deixamos fluir o que sentimos.

Assim é na vida. Não temos todas as respostas. Certezas são uma ilusão e a fé é
um ingrediente essencial do nosso caminhar. Isto não significa que vamos

101
abandonar o raciocínio e o discernimento lógico, eles fundamentais. Porém
levemos em consideração também o que o emocional tem a nos dizer. Ele está
sempre a nos comunicar e sinalizar quando algo não vai bem. O sentimento é um
conselheiro sábio.

Saravá a todos!

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EXISTE UMA MISSÃO ESPIRITUAL?

Um característica presente em nossa cultura é a busca daquilo que chamamos


de missão. Muitos dirigem-se aos terreiro na esperança de receber alguma luz
neste assunto. São muitos e muitos o que se sentem completamente perdidos
na vida. E mesmo aqueles que estão bem materialmente, notam um crescente
vazio interior, como se a vida estivesse perdendo sua cor.

É quando se intensificam as perguntas: qual é o meu propósito neste vida?


Para que eu nasci? Qual é o sentido de tudo o que eu passo? Pai Guiné, nestes
casos, mostra-me uma alma que anseia ardentemente por novas experiências.
O banal não mais lhe satisfaz. Como resultado, a angústia se instala com
frequência, ainda que não entendam o motivo. Alguns encarnados
mergulharam tão profundamente na escuridão que poderíamos dizer que estão
presos no Umbral, até que possam ser resgatados pelas forças internas e
externas.

Valores como a riqueza, o poder, a satisfação de desejos estão desgastados. Há


uma sede de sentido, significado, realização. Não por acaso, multiplicam-se
diariamente aqueles que tem se voltado para o espiritual. Afinal, é o que
muitas doutrinas dizem: todos temos uma missão para cumprir. Antes mesmo
de encarnarmos isto já teria sido definido.

E neste movimento, iniciam uma procura interminável. Uma desgastante busca


por algo que unifique todas as nossas experiências sob o mesmo signo, e que
preencha um suposto vazio. O que leva tantos a vivenciarem as mais
diferentes situações, na esperança de achar aquilo que fará sua vida toda fazer
sentindo.

Entretanto, destino, tal como foi descrito anteriormente, não existe. Seu
propósito não é algo definido externamente, previamente traçado por alguma

103
hierarquia espiritual, a ser encontrado em algum lugar. Antes, missão é o
propósito que nós mesmo construímos, ao longo dos nossos dias. É uma
escolha deliberada, de dentro para fora, que materializa por meio de nossas
ações quem nós somos a cada momento.

Estamos mais uma vez diante de uma situação que se cobra algo da entidade
que ela não pode oferecer. Eles oferecem caminhos, perspectivas,
possibilidades. Porém, tenha consciência de que são apenas caminhos, com
suas dores e alegrias, e não passos traçados que você obrigatoriamente deve
passar. Não importa a direção que escolher, sempre haverá muitos desafios
pela frente.

Não há uma missão, e sim vários núcleos de experiência, os valores que tocam
seu coração. Nosso caminhar não está pré-determinado, desenhado, planejado
em cada detalhe. E que bom que as coisas s ão dessa maneira. Esta
perspectiva em aberto traz empolgação para nossos passos e nos ensina a
encarar a vida como uma maravilhosa aventura.

Saravá a todos!

104
INCORPORAÇÃO SERVE APENAS PARA
DESCARREGAR?

As pessoas buscam os terreiros pelos mais diversos motivos. Entre elas,


identificamos quem frequenta as giras de Umbanda com o intuito único de
incorporar para descarregar. Acreditam serem portadores de uma necessidade
específica: precisam, de tempos em tempos, receber as entidades, caso contrário,
se tornarão pesados, passarão mal, haverá muitas brigas, os caminhos se
fecharão, a doença se instalará. Ou seja, tratam a mediunidade como doença, e os
guias como vassoura e sabão.

Tal atitude revela uma crença equivocada. Nós médiuns não somos frágeis dessa
maneira. Embora o desequilíbrio mediúnico possa trazer problemas para nossa
vida, a mediunidade é, antes de tudo, fonte de inúmeras bênçãos para todos nós.
Encarar a incorporação apenas como um instrumento de descarrego é limitá-la,
reduzi-la ao utilitarismo, é fechar-se às todas as coisas incríveis que o terreiro
promove.

A incorporação é um amplo, profundo, e intenso processo de espiritualização. Ela


descarrega sim, e não somos contra ao transe dos consulentes. Isto sempre fez
parte do dia a dia dos terreiros, e é um dos recursos utilizados pelas entidades
para seu tratamento espiritual. Porém, ela é muito mais do que limpeza:
aprendizado, inserção numa comunidade, desenvolvimento espiritual, comunhão
com uma comunidade, abertura de caminhos, exercício da caridade.

O mais lamentável nesta situação descrita é que o médium que busca a


incorporação apenas como um forma de limpeza perde um dos seus mais incríveis
aspectos: a possibilidade de comunicação estreita com as entidades. Os guias,
como diz a palavra, são guias espirituais. Mestres da alma, eles nos conhecem

105
melhor do que nós mesmos. Durante o transe, é possível uma conversa mais
fluída. Quem tem ouvidos para ouvir, poderá aprender muitos, absorver suas
experiências e lições, receber orientações precisas.

Incorporar, na raiz do termo, significa trazer para dentro do corpo. O que você está
internalizando da mediunidade? A entidade é muito mais do que uma energia que
traz uma sensação agradável. Ela é portadora de axé, sabedoria, vitalidade,
valores, segurança, força para nossa vida. E você, quando bem firmado, será
aquele que distribuirá estes mesmos atributos para todo o terreiro.

A mediunidade não é movimento voltado apenas para si. Embora, no início, o


novato procura se cuidar, seus frutos, ao contrário, devem ser direcionados para
toda a coletividade. Sem isto, ela perde seu sentido. O médium, por esta razão,
necessita buscar se empoderar de conhecimento, sabedoria, axé, espiritualidade e
dever. A incorporação enriquece e fortalece nossa vida em todos os sentidos. Olhe
para a Umbanda em sua imensidão, abra o coração para tudo o que ela pode te
oferecer.

Saravá a todos!

106
COMO CONHECER A HISTÓRIA DA ENTIDADE QUE
TRABALHA COM VOCÊ

Diariamente, recebo perguntas sobre a história de uma entidade em específico.


A resposta é sempre a mesma: não existe uma história única para cada guia.
Usando a mesma nomenclatura, são muitos os trabalhadores que se
apresentam no terreiro. Por exemplo, são centenas de Caboclo 7 Flechas e de
Exu Tiriri. Cada um deles teve suas as próprias vivências. E para conhecê-las, é
preciso deixar que as próprias entidades as contem, quando elas mesmas
quiserem contar.

Estas perguntas revelam uma outra atitude problemática. Considerar que a


internet é o local para se aprender sobre isto. Infelizmente, se você buscar no
Google sobre uma entidade, apenas encontrará histórias fantasiosas. Embora
muitos assuntos possam ser transmitidos virtualmente, outros, devem ser
adquiridos no próprio terreiro, a partir de sua experiência pessoal. Na dúvida, a
sua referência do certo ou errado não deve ser uma rede social, e sim os mais
velhos, as próprias entidades, o seu pai/mãe de santo.

Muitos intuem um nome original para a entidade, e como nunca ouviram falar,
questionam a própria intuição, depois saem em busca na internet de
informações para confirmar o que intuíram. Isto é grave, pois este tipo de
informação deve ser aprendida na vivência dentro do terreiro. E produz dois
sérios problemas: primeiro, o apagamento da diversidade de nomes de
entidades, pois tudo o que é muito diferente é descartado. Segundo, a
intensificação do animismo, uma vez que o médium tenta reproduzir as
características que coletou na internet, em vez de deixar o guia se expressar
como ele realmente deseja.

Se você deseja conhecer o nome, a história, os Orixás que regem, o jeito de


trabalhar de cada entidade, sua personalidade, primeiro você precisa ingressar

107
na corrente de um terreiro. Desenvolva sua mediunidade, levando o tempo que
precisar, e deixe que o próprio guia espiritual se apresente na hora certa. Eles
mesmos contarão suas histórias, quando considerarem que é o momento certo.

Saravá a todos!

108
O QUE É NECESSÁRIO PARA ABRIR O SEU TERREIRO

Com frequência, recebemos a notícia de que uma nova pessoa se aventurou a


abrir a sua própria casa de santo. Alguns, observamos, infelizmente, sem as
mínimas condições pessoais e materiais para esta missão. A responsabilidade é
muito grande, a carga de obrigações, enorme. Antes de realizar este
empreendimento, é preciso que você tenha noção do que você precisa e do
que ele vai exigir. Dirigir um terreiro é uma atividade muito difícil, e quanto
mais preparado estiver, menos extenuante será.

Em primeiro lugar, pergunte-se por qual razão você deseja abrir um terreiro.
Você pode ter as suas razões pessoais, mas que não seja apenas para
alimentar sua vaidade, porque brigou com seu pai/mãe de santo, ou para poder
mandar à vontade nos outros. Terreiro é coisa séria para gente séria, como
ensina o Caboclo Mirim. Se seus objetivos não estão alinhados aos da
espiritualidade, nem começa. Continue frequentando seu terreiro de origem
até atingir a maturidade necessária.

O requisito mais importante para aquele que aspira ao sacerdócio é


experiência, vivência dentro do chão do terreiro. Ainda que tenha
conhecimento teórico, fez algum curso, leu muitos livros, estudou bastante; há
lições imprescindíveis que se realizam somente no dia a dia de cada gira.
Aprendizados que ocorrem quando situações inesperadas surgem. Não é com
um, dois, cinco anos que você poderá sair abrindo casa. É ainda uma criança
nos fundamentos da religião. Não existe uma quantidade de tempo específica,
eu recomendo, contudo, um mínimo de 10 anos dentro da corrente.

Somado a isto, um outro fator é exigido. Experiência e maturidade pessoal, que


você tenha uma idade suficiente. Uma pessoa nos seus vinte e poucos anos
terá muita dificuldade de lidar com os diversos problemas de convívio entre os
filhos de santo. E ele precisa, efetivamente, agir como um pai e mãe. Os

109
diferentes conflitos, desgastes, querelas entre as pessoas representam os
maiores desafios para qualquer sacerdote. E não se aprende a resolvê-los em
livros ou cursos.

O dirigente, da mesma forma, precisa possuir um vasto conhecimento sobre a


Umbanda e seus fundamentos. Entender como se faz congás, tronqueiras,
assentamentos, firmezas, oferendas, obrigações, amassis, entre outros. Deve
conhecer sobre os Orixás, a nossa história, a curimba, os pontos cantados e
riscados, a corrente. Além disso, é preciso que entenda sobre a mediunidade,
seus diferentes tipos, e, principalmente, como desenvolvê-la.

No mesmo sentido, o pai/mãe de santo deve ter sua mediunidade desenvolvida


e amadurecida. Não há como alguém que mal aprendeu a incorporar chefiar
uma casa. Ainda que a Umbanda se use de diferentes tipos de mediunidade, e
muitas vezes o sacerdote precisa saber como agir desincorporado, a
incorporação continua um dos pilares centrais de nossos rituais. Ela é a nossa
principal forma de comunicação com as entidades, verdadeiros dirigentes de
todos os trabalhos. É preciso já ser experiente no transe mediúnico para ser
capaz de iniciar outros.

Há, também, exigências materiais para se abrir o terreiro. Um local físico para
realizá-lo, uma maneira de mantê-lo financeiramente, um grupo de pessoas
dispostas a acompanhá-los, perspectiva de legalizá-lo. Não é prudente alugar
um espaço de alto valor se a corrente não for capaz de arcar com seu aluguel.
A tendência é que, de início, venham poucos consulentes, você ainda não
poderá contar com suas doações, e, por este motivo, dependerá
principalmente das mensalidades dos médiuns.

Por fim, o sacerdote precisa de muita paciência e amor para lidar com as
pessoas. Deverá adotar, efetivamente, a postura de pai ou mãe. A
responsabilidade não é fácil; às vezes você abre mão dos seus próprios
momentos para socorrer um filho. Está disposto a acordar de madrugada para
ir na casa de uma pessoa que está passando mal e incorporou um kiumba?

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Resguardar-se no fim de semana para realizar um trabalho na residência de um
consulente? Meter-se num conflito que invariavelmente te envolveram? Esses
apenas alguns exemplos de situações que acontecem.

Apesar de tudo isto, vamos reforçar que os dirigentes não estão sozinhos.
Quando é comprometido com a espiritualidade, ela também é comprometida
com ele e com o terreiro. A benção e o auxílio das entidades estarão presentes
em todas as atividades. E encontrará muitos filhos dedicados, que ajudarão
nesta caminhada. no fim do dia, o sentimento é de gratidão, por mais que
tenha te exigido.

Portanto, avalie bem antes de abrir o seu terreiro. Prepare-se corretamente.


Mesmo que o “guia tenha mandado”, eles compreendem melhor do que nós o
momento certo para cada coisa. Claro que no passado muitos abriram seus
terreiros sem terem nenhuma preparação, somente na fé, mas os tempos são
outros. Precisamos de umbandistas e sacerdotes capacitados a exercer com
excelência suas responsabilidades. Não basta o “mais ou menos”, o “de
qualquer jeito”, e sim o melhor que pudermos oferecer aos consulentes e à
espiritualidade.

Saravá a todos!

111
A EDUCAÇÃO DO ANIMISMO

Em toda incorporação, há a presença do médium. Por mais experiente e


preparado que ele seja, em algum grau influenciará nos atendimentos. Sua
personalidade, valores, visão de mundo, e saberes pessoais “vazam” durante a
comunicação. É o que chamamos de animismo. Ele é diferente da mistificação,
quando a pessoa conscientemente finge que está em transe mediúnico.

O animismo é natural. Embora, com o desenvolvimento mediúnico, esforçamo-


nos para minimizar nossa interferência, ele é inevitável. Em algum momento,
será possível identificar a marca do próprio médium nas ações da entidade.
Ainda que seja um médium inconsciente – se é que seja mesmo inconsciente –
nunca será 100% o guia espiritual. E talvez por medo, insegurança, ou receio, o
médium tende a estar mais presente do que ele quer admitir.

Esta realidade não impede que o trabalho espiritual aconteça, que curas,
aberturas de caminho, libertações, descarregos, desobsessões, quebras de
demandas, entre outras bênçãos, sejam realizadas plenamente. Apenas é uma
característica do exercício concreto da mediunidade.

Perante isto, ressaltamos a importância da boa preparação. Em vez de


pretender que não há nenhum traço de interferência – objetivo impossível –,
cabe a educação de seu animismo. Para que quando a influência do médium
estiver presente, esta seja a mais positiva possível. O que somente se realizará
com sólidos pilares: o estudo, o suficiente tempo no desenvolvimento, a
constante orientação do/da dirigente e do mais velhos e o aprendizado direto
com as entidades.

O desenvolvimento mediúnico é sem fim. A todo momento estamos recebendo


novas lições. E aquele que se acredita sabedor de todos os fundamentos não
demora muito para a própria espiritualidade relembrá-lo de que ele é apenas

112
um iniciante. Por esta razão, a comunidade de terreiro deve estar sempre
ensinando e trocando saberes. É preciso resgatar os momentos de escuta,
quando todos, em círculo, permitiam os mais velhos e os guias espirituais
compartilharem seus conhecimentos.

Dessa maneira, nossa alma – o animus – origem do fenômeno que


denominamos animismo, poderá se firmar em bases sólidas, sustentados pelos
fundamentos ancestrais de nossa religião. E devido a esta mesma formação,
ela será capaz de dar respostas aos problemas atuais de nossa comunidade de
axé. Como sempre reforço, o desenvolvimento é muito mais do que apenas
incorporar algumas entidades.

Saravá a todos!

113
A INCORPORAÇÃO EXIGE FÉ

Os médiuns mais novos deixam-se perturbar pelos meandros da consciência


durante a incorporação. Uma das mais tortuosas questões é se a entidade
realmente está ali presente. “Sou eu ou o guia?” é a pergunta clássica. É
preciso entender, entretanto, que por mais forte que você sinta a energia, faz-
se necessário fé na própria incorporação.

A entidade não virá de tal maneira que você tenha certeza absoluta na
realidade do mundo espiritual. Ela não te faria bem se assim agisse. Quanto
mais nos é permitido ver e sentir, quanto mais provas da espiritualidade nos
são concedidas, mais nos é cobrado. E tendo o privilégio destes
conhecimentos, e ainda assim atuando de forma incorreta, o peso de suas
ações seria muito maior. Com mais rigor seria executada a lei causas e
consequências.

As pessoas têm resistências para crer. Mesmo que Deus descesse do céu numa
carruagem de fogo, duvidariam da realidade do fenômeno. No mesmo sentido,
não importa o que a entidade faz ou deixa de fazer, os questionamentos do
médium iniciante persistem. Para que a confiança e a segurança se estabeleça,
é necessário uma certa intimidade com os guias que somente o tempo é capaz
de construir.

Nos tempos atuais, a tendência é que as incorporações sejam cada vez mais
conscientes, por determinação da própria espiritualidade. Não basta mais ser
um receptáculo passivo nos mecanismos energéticos do terreiro, é desejo de
nossos guias que aprendamos e evoluamos junto com eles. Por esta razão,
você realmente verá e observará tudo e precisará crer no que sente.

A entidade não precisa ser bruta, nem agressiva, nem violenta para se mostrar
presente. Ela pode vir de forma suave e harmônica. Há força no sutil. Como me
ensinou um caboclo há muito tempo: “não use a incorporação para preencher

114
sua falta de fé. A incorporação não é um choque elétrico que quanto mais
tremer seu corpo mais forte e real é”.

Ensina-nos os espíritos que quanto mais adiantado é um guia, mais leve e sutil
é sua energia. E, por este mesmo motivo, menos influência consegue exercer
diretamente sobre a matéria. Quando uma entidade deseja manifestar-se, ela
precisa rebaixar-se vibratoriamente, o que lhe exige intenso esforço. Cabe ao
médium, por outro lado, facilitar este processo, elevando ele mesmo sua
vibração

Não fique preocupado com o que deve fazer ou não durante a incorporação. É
a própria entidade que é responsável por fazer ela acontecer. Você é somente
seu “cavalo", aquele cujo mental deve ser domado para que seu axé e sua
sabedoria possam ser transmitidas para quem precisa. Porém, confie no que
está sentindo. Dê vazão aos movimentos, não trave, não bloqueie as ações dos
guias.

A fé, de um lado, pode ser vista como sentimento que naturalmente cresce
dentro do coração. Basta apenas alimentá-la, com orações, bons pensamentos
e boas atitudes. Por outro lado, a fé também é uma questão de escolha. Tome a
decisão de crer, deixe que isto guie os seus passos. Quando você vive
coerentemente de acordo com os princípios e ensinamentos da
espiritualidade, você se aproxima de Orum, a morada dos Orixás.

Saravá a todos!

115
INSEGURANÇA: O MAIOR INIMIGO DOS MÉDIUNS
INICIANTES

Infelizmente, são muitos os que interrompem o desenvolvimento mediúnico


devido a enorme quantidade de dúvidas e insegurança. O início da vida
mediúnica do neófito é, habitualmente, muito difícil. O medo, a hesitação, a
confusão e a ansiedade o perturbam. E não são poucos os momentos em que
ele pensa em simplesmente desistir de tudo.

Por esta razão, é muito importante que os dirigentes estejam preparados para
lidar com a insegurança mediúnica. Não é um sentimento à toa, mas um
assunto muito sério. A boa continuidade da Umbanda depende de uma boa
formação dos médiuns iniciantes. Eles precisam de acolhimento e de muita
orientação.

Médium iniciante, entenda que não há problema nenhum em errar, no


momento. É por isso que você está em desenvolvimento. Para aprender e
lapidar suas capacidades mediúnicas.

O desenvolvimento acontece de forma natural. Deixe o tempo amadurecer


suas percepções. Não há motivo para pressa, o caminho é longo. Mesmo
quando você começar a participar do atendimento, você continuará em
desenvolvimento. Na hora certa, a espiritualidade traz o que for preciso para
você.

Para combater o medo, busque o conhecimento. E atualmente, mais do que


nunca, a informação está disponível. Existem tantos livros, blogs, grupos,
canais, sites, cursos falando sobre Umbanda e espiritualidade. Tudo isso vai
enriquecer a sua visão e trazer luz para algumas dúvidas e inseguranças. Mais
do que isso, busque aproximar-se dos dirigentes e mais velhos de sua casa.
Escute-os, eles têm muito a lhe ensinar.

116
Saiba que você não precisa entender tudo. Para muitas perguntas, não haverá
respostas. É preciso ter fé nos guias. A espiritualidade é sábia e sabe o que faz.
Deixe que ela conduza a sua caminhada no grande universo da mediunidade.
Entregue-se aos guias e Orixás.

É normal sentir-se perdido no início da caminhada. Para muitos, o compromisso


com o desenvolvimento mediúnico acontece num momento em que a vida
encontra-se em desequilíbrio e crise. Uma verdadeira turbulência. Como uma
tempestade que passou e deixou tudo de cabeça para baixo. Como se a vida
insistisse: é hora de fazer algumas mudanças.

O desenvolvimento mediúnico mexe com as nossas energias mais profundas.


Faz uma verdadeira faxina emocional. Muita coisa que você mantém escondida
há muito tempo passa a se manifestar. E não há mais para onde fugir. É preciso
forjar um novo eu; abandonar os velhos hábitos que somente nos atrasam e
viver de acordo com os valores que a espiritualidade nos ensina. E este
processo pode ser muito difícil.

O que podemos dizer é que com o tempo vai ficando mais fácil. As dúvidas vão
embora. E você passa a sentir segurança nos seus guias e na sua mediunidade.
Mas para isto, você não pode desistir. Deve persistir apesar de toda
insegurança que sentir. Lembre-se de que você não está sozinho nesta
caminhada, possui as entidades ao seu lado, seu dirigente e irmãos de
corrente.

O desenvolvimento aprofunda a sintonia entre você e as entidades que te


acompanham. Trabalha no sentindo de apurar sua capacidade e perceber os
níveis mais sutis da realidade. E, simultaneamente, condiciona-te a aprender a
confiar sua matéria ao guia.

Mas para isto não podemos esquecer a velha lição: reforma íntima. Para
receber com mais qualidade as energias elevadas dos guias e Orixás, é preciso
elevar nossa própria vibração também. E isto é feito buscando uma conduta

117
correta, vivendo verdadeiramente a humildade, a simplicidade, o amor e a
caridade.

Não fique preocupado com o que os outros vão pensar de sua incorporação.
Você não está ali para agradar ninguém. A mediunidade é uma relação íntima e
pessoal com seus guias. Não adianta ficar se comparando. Cada um possui seu
processo particular. Se alguém pode lhe dizer alguma coisa é seu sacerdote, e
assim ele fará se for necessário. Do contrário, apenas ignore o olhar das outras
pessoas.

Não fique se torturando, questionando-se se é você ou o seu guia. Os dois


estão presentes. Você apenas permite a entidade tomar a frente, confiar nela.
Não espere que você simplesmente terá um apagão e ficar inconsciente como
uma espécie de prova de que está realmente ocorrendo a incorporação. Não é
assim que funciona. A consciência na incorporação tem seus benefícios.
Apenas deixa fluir o que sentir.

Não se apegue a sinais exteriores. Você não precisa tremer, suar, gritar,
entortar para confirmar que a entidade está ali. Mantenha os pés no chão. A
espiritualidade é invisível aos olhos, mas sentida no coração. O objetivo não é a
autoafirmação, mas o exercício da caridade a todos que procuram.

Saravá a todos!

118
O DESENVOLVIMENTO NUNCA ACABA

O desenvolvimento mediúnico dura a vida toda. Há sempre alguma coisa nova


para aprender. A espiritualidade é imensa em sua extensão e profundidade. Por
esta razão, jamais tenha a pretensão e arrogância de crer que já sabe tudo e
estar plenamente desenvolvido.

Diante do Pai Maior, somos todos espíritos em evolução. Mesmo os elevados


guias que nos acompanham continuam a expandir seus conhecimentos. O
nosso desenvolvimento se iniciou muito antes de assumirmos esta encarnação
atual e há ainda de se prolongar por muitas vidas.

Aquele que deseja crescer na espiritualidade precisa se manter aberto a novas


lições. Não importa se é cambone, iniciado, pai ou mãe de santo, todos ainda
estão em desenvolvimento. Por mais anos de terreiro que possua, você não
sabe tudo. E tenha certeza de que se te faltar a humildade necessária, a vida
encontrará uma forma de mostrar que há ainda muito para você aprender.

O mundo espiritual é infinito em seus saberes. A nossa caminhada é longa e


muito distante de qualquer fim. Nosso planeta, por maior que seja aos nossos
olhos, é apenas mais um entre tantos outros mundos O nosso espírito há,
ainda, de perambular pelas extensões do universo. Como pode alguém, diante
de nossa pequenez, crer que já não há mais nada para aprender?

Mesmo após a coroação e a liberação para o atendimento, novas entidades


podem se apresentar. E se você não manter a mente aberta, poderá nunca
sentir aquela energia que está disposta a te abençoar. Por vezes, um guia que
te acompanha encerra suas atividades contigo, e novas entidades assumem a
frente de trabalho. Em outros casos, uma pessoa antiga no axé pode iniciar o
desenvolvimento de uma linha com a qual ele nunca trabalhou. As situações
são inúmeras.

119
Ainda que você tenha vivenciado a Umbanda desde a infância, e conheça todos
os fundamentos do seu terreiro, se não possuir humildade, significa que nada
aprendeu. A experiência e o saber acumulado não lhe autoriza a se sentir mais
do que os outros. Pense nos pretos velhos, adiantados e elevados mestres
espirituais, que se dispõem a vestir formas simples e com simples palavras nos
orientar.

A espiritualidade nunca para de nos surpreender. Em sua essência, vibra o


mistério, inacessível às nossas limitadas mentes. Há muitos saberes que ainda
não estamos preparados para receber, mas que no seu devido tempo nos
serão disponibilizados. Para isso, dependerá de nossa evolução individual e
coletiva.

Saravá a todos!

120
TODAS AS PESSOAS SÃO MÉDIUNS?

A mediunidade é uma faculdade do espírito humano. Isto significa,


primeiramente que ela está disponível para todos, em menor ou maior grau.
Porém, atente-se que há vários tipos de mediunidade, algumas mais
ostensivas, outras mais sutis. Nem todo mundo, contudo, será médium de
incorporação.

Algumas vezes, em uma oração, há uma expressão da mediunidade,


potencializando os efeitos da prece. Em outros, em uma palavra amiga, em um
conselho dado, pode estar presente um bom espírito orientando as palavras.
Músicos, artistas, médicos, terapeutas, entre tantos outros exemplos, também
podem ser inspirados pela espiritualidade para fazer um bom uso de suas
atividades.

O tipo mais comum e universal de mediunidade é a intuição. É a comunicação


imediata e direta com o alto, e que com frequência ocorre sem nenhuma
palavra. Apenas a informação ou ideia transmitida instantaneamente. Quem
nunca subitamente sentiu para não ir em algum lugar? Ou não tomar
determinado caminho, ou mesmo se precaver em relação a uma pessoa, e no
final a sensação mostrou-se verdadeira.

Entretanto, uma coisa é possuir um germe, uma semente de mediunidade.


Outra é exercê-la regular e sistematicamente em um espaço sagrado. Para que
haja segurança e confiança, é necessário preparo e amadurecimento na fé. É
esta uma das razões pela qual sempre é orientado o desenvolvimento
mediúnico junto a uma coletividade.

Mesmo a intuição, que é uma comunicação mais simples com a espiritualidade,


exige treino e discernimento. É preciso a experiência para bem distinguir se o
pensamento vem do seu inconsciente ou do plano astral. E mesmo entre os
espíritos há grandes diferenças: nem todos querem nosso bem.

121
Da mesma maneira que os diferentes canais mediúnicos são usados na
expansão da obra do bem na Terra, podem ser cooptados pelas forças
negativas. Nunca é demais repetir: vigiar e orar. É o exemplo de quando você
sente o impulso para alguma ação incorreta, para não deixar “barato" o que o
outro fez, para pedir “satisfação” e iniciar um conflito com aquela pessoa. São
nestes momentos que o baixo astral tenta nos influenciar para o caminho
incorreto.

Existem muitos tipos de mediunidade e cada pessoa apresenta os dons que lhe
são naturais. E fique tranquilo, a vida colocará no seu caminho os meios e
oportunidades para que você tome conhecimento de suas capacidades. Porém,
será uma decisão sua optar por levar o espiritual à frente ou se a deixará de
lado.

Compreenda que não foi à toa que você nasceu médium. Esta vida que possui
hoje não é a primeira e nem sua última e muitas voltas o mundo deu para que
o sua alma se tornasse sensível ao mundo invisível. Para a maioria das
pessoas, a mediunidade é uma redenção em relação às suas encarnações
anteriores.

O médium não é nenhum “eleito", “escolhido” ou “messias", porém uma


pessoa normal como qualquer outra. Ele não é mais evoluído do que os outros.
Seu dom não lhe dá nenhum privilégio diante da espiritualidade e deve, como
toda pessoa, empenhar-se pela sua evolução.

Os bons espíritos estão, constantemente, ensinando-nos e orientando-os ao


bom caminho. Cabe a todos ampliar suas percepções para que possa estar
sempre receptivo à sabedoria que vem do alto. Para isso, é essencial se
dedicar ao melhoramento interno. O desenvolvimento da alma amplia os
potenciais mediúnico. Não para meramente satisfazer nossa curiosidade banal.
Mais do que isso, para que possamos ser instrumento do divino por onde
caminharmos.

122
Saravá a todos!

123
A MEDIUNIDADE NÃO PODE SER PADRONIZADA

A espiritualidade é livre, embora organizada. Ela não segue os padrões e


conceitos por nós estabelecidos. Simplesmente é, e no seu movimento criativo
estabelece formas novas que surpreendem nossas experiências. É como na
natureza, múltipla e plural em sua existência, mas capaz de formar um todo
equilibrado.

Há muitas expressões diferentes da mediunidades, algumas das quais ainda


nem sequer conhecemos. Na Umbanda, o acoplamento de chacras conhecido
como incorporação predomina; no entanto, não é o único presente. A
clarividência, a clariaudiência, a psicografia, o transporte, entre outros, tornam-
se a cada dia mais comuns.

E muitos médiuns, alguns já maduros nos atendimentos, sentem que ainda não
conheceram tudo o que têm a oferecer. Insiste uma sensação de que há mais a
explorar nos potenciais da alma. Entretanto, como falta a referência e o
entendimento, tantos deixam de buscar o que ainda habita nos caminhos do
espírito.

Existe um processo natural de desenvolvimento de nossas percepções


mediúnicas. O terreiro é o espaço na qual este processo pode acontecer, e
também o lugar em que a mediunidade é exercida com segurança e propósito:
a caridade ao próximo. E cabe a ele permitir e possibilitar que o médium
floresça todas os seus dons.

No entanto, há um problema quando a espiritualidade natural do iniciante é


tolhida, principalmente se ele é forçado a se encaixar em padrões
preestabelecidos.

A Umbanda é uma religião aberta e sua estrutura, flexível. É um dos motivos


pela qual vemos tantas diferenças entre os terreiros. De uma forma ou de

124
outra, ela sempre se adapta ao Pai de Santo. Em suas origens, distanciou-se do
cientificismo da mesa branca; ao mesmo tempo, reelaborou o culto africanos
aos Orixás em novas bases, estabelecendo um fundamento único. Bebeu dos
saberes de tantos povos diferentes, sem jamais perder sua identidade. Em sua
simplicidade, assim nos ensinou o Caboclo das 7 Encruzilhadas “com os que
sabem mais, aprenderemos; aos que sabem menos, ensinaremos; e a ninguém
viraremos as costas, pois esta é a vontade do Pai.

Não é possível regular a manifestação do espírito. Não existe um movimento


que todo caboclo é obrigado a realizar, nem um jeito de andar que todo preto
velho deve portar, muito menos uma personalidade idêntica para todos os exus
e pombagiras. Nenhuma pessoa é igual a outra, mesmo entre os
desencarnados.

Claro, os excessos e exageros devem ser lapidados. Ser fiel à sua expressão
peculiar de mediunidade não significa fazer o que quiser no terreiro, não é
carta branca para criar bagunça e se aparecer. Tudo na Umbanda possui
propósito: a caridade. Sem este norte, o resto se perde.

No entanto, mesmo para os médiuns maduros, haverá momentos em que


sentirão uma energia e não saberão defini-la e nem entendê-la. Somente
perceberão uma força positiva buscando se manifestar. E para que possam
receber e distribuir suas bênçãos, será necessário estar receptivo ao que é
desconhecido. Isto porque existem espíritos que trabalham na Umbanda que
não portam nenhum de seus arquétipos. Não são caboclos, nem preto velhos,
nem crianças, Exus, ou Pombagiras, malandros, boiadeiros, baianos, ou mesmo
marinheiros, são apenas trabalhadores da luz.

A espiritualidade é muito maior que nós. Não podemos jamais alimentar a


arrogância de acreditar que a conhecemos plenamente. Como nos disse um
velho sábio: “o que está em cima, é como está embaixo; o que está embaixo, é
como está cima". Da mesma maneira que a diversidade é enorme em nosso
planeta, visto que é um dos seus princípios formativos, também o é no mundo

125
espiritual. Por este motivo, adotemos, sempre, a postura de aprendiz: ouvir
mais, falar mesmos. Deixemos que o espíritos nos ensinem.

Saravá a todos!

126
QUANDO VOCÊ FALTA À GIRA, OUTROS TRABALHAM
DOBRADO NO SEU LUGAR

Ser médium de Umbanda exige compromisso e disciplina. Se pediu para


ingressar na corrente mediúnica de um terreiro, o mínimo que é pedido de você
é que frequente assiduamente as giras da casa. E caso as entidades que te
acompanham já estejam liberadas para o atendimento, a responsabilidade é
ainda maior.

A não ser que passe por um problema urgente e inadiável de saúde, família ou
trabalho, não há razão para deixar de ir. Estar cansado ou desanimado não é
justificativa. Esteja atento, são muitas as almas que desejam te afastar da obra
caritativa. Se você der ouvido para as sugestões negativas que são sopradas
em seus pensamentos, poderá se afundar nas trevas.

Larga de desculpas! O atendimento aos consulentes é a essência maior de


todos os rituais de Umbanda. Pouco vale você fazer firmezas, participar de
trabalhos externos, giras fechadas, festas de Orixás ou entidades, se, no final,
você não vai no momento mais importante: a sessão pública de atendimento
para todos.

A Umbanda não se pratica isolada numa caverna ou no alto de uma montanha.


Entenda, não estamos afirmando que não há valia se dirigir aos sítios naturais.
O contato com a natureza é uma dádiva para todo umbandista. No entanto,
embora esses locais possuem seu axé e possam até facilitar a conexão com o
sagrado, todo rito deve ser atrelado, de alguma maneira, à prática da caridade.
Nós nos fortalecemos para melhor auxiliar o próximo.

Uma pessoa ausente impacta a rotina dos trabalhos, mesmo um cambone.


Muitos consulentes aguardam ansiosamente para conversar com as entidades
que se manifestam em seu aparelho. Alguns estão em tratamento com elas;
ainda que possam se consultar com os outros guias da casa, não será a mesma

127
coisa do que aquela entidade que já conhece e já está realizando um trabalho.
Além disso, a gira tende a terminar muito mais tarde, desgastando todo o
corpo mediúnico.

Não deixe de ir no terreiro por problemas de convivência com outros irmãos de


corrente. Você não está ali para agradar ninguém, nem para ser amigo de todo
mundo, mas cumprir a responsabilidade espiritual que aceitou. Infelizmente,
em qualquer grupo social existem as “panelinhas", os melindres, as fofocas. Se
mudar de terreiro, encontrará as mesmas situações com rostos diferentes.
Então, de uma forma ou de outra, precisará aprender a lidar com isso.

E se algum assunto te incomoda no terreiro, converse sobre isso com o seu Pai/
Mãe de Santo. Não se ausente apenas para “protestar”. Seu compromisso
maior ali é com os guias e com os consulentes. Existe a hora certa para tudo.
Durante a gira não é melhor momento para se discutir alguns assuntos. Honre
sua missão e deixe as entidades trabalharem. E quando chegar a oportunidade,
exponha com clareza e maturidade, para o dirigente da casa, o que você
acredita que não está correto.

Pequenos imprevistos acontecem no dia de trabalho. Sempre surgem pequenos


problemas para irritá-los, ou pessoas de mau humor querendo brigar com você.
Tome cuidado, com frequência é fruto do astral negativo com o intuito de te
afastar do dia da gira.

Umbanda é compromisso, responsabilidade, disciplina e seriedade. Estar


presente no terreiro é uma obrigação de todos os que aceitaram esta missão.
Afinal, foi você quem pediu para participar da corrente mediúnica. Se deseja
que a espiritualidade abençoe seus caminhos, não troque a gira por uma
cervejinha; seja, primeiramente, fiel aos guias que te acompanham.

Saravá a todos!

128
ESTOU INCORPORANDO FORA DO TERREIRO. O QUE
FAZER PARA ME PROTEGER?”

A primeira ideia que você deve por em mente é que, se você não estiver dentro
do terreiro, não incorpore. Em casa ou qualquer outro local fora do templo
religioso não estão presentes as condições adequadas para o transe
mediúnico. Não há a devida segurança, ainda que você tenha firmezas e
tronqueira na sua residência.

Não dê passagem para a entidade, mesmo que sinta ela perto. Sim, você pode
bloquear a manifestação. A matéria é sua, você controla ela, por mais forte que
seja a vibração. Os guias não virão contra sua vontade, não incorporarão à
força. O bom médium sabe abrir e fechar o seu campo no momento correto.
Seu corpo é sagrado, não dê cabeça para qualquer um, de qualquer jeito.

Caso encare alguma situação que exija intervenção espiritual, há outras formas
de resolver além da incorporação. Ninguém morrerá se tiver que esperar
alguns dias até a próxima gira. Você pode fazer uma oração, acender uma vela,
orientar um banho de ervas, ministrar um passe desincorporado, intuir uma
mensagem, entre tantos outros recursos. Apenas não se exponha às diferentes
cargas energéticas.

Se sentir algo diferente, não desespere. Perceber uma vibração não quer dizer
que uma entidade deseja se manifestar. Algumas vezes ela só quer mostrar
que está perto, deixar uma mensagem, reforçar que não está sozinho. Faz
parte da vida mediúnica entrar em contato diariamente com as energias.
Converse com o guia, diga que você não deseja ceder sua matéria, que não é a
hora e nem o local para trabalhar.

Persistindo os sintomas, procure um terreiro. Se não há na sua cidade, peça


que os guias te encaminhem para um. Será necessário disciplinar a sua
mediunidade, em geral através do desenvolvimento. Ainda que não queira

129
seguir este caminho, é importante passar por este processo para que adquira
mais autodomínio. Incorporação é algo muito sério, a ser praticado dentro de
uma coletividade e seguindo um ritual consagrado. Como diz o ponto, a
Umbanda tem fundamento, é preciso preparar.

Saravá a todos!

130
COMO NOS APROXIMARMOS DOS GUIAS E
PROTETORES

Um dos passos mais importante do desenvolvimento mediúnico consiste em


nos aproximarmos, gradualmente, dos guias e protetores que nos
acompanham. Este contato com a espiritualidade nos mantém sintonizado com
o que há de mais elevado no plano astral. E para isso, não se faz necessário
grandes movimentos, ritos ou elementos. O simples é suficiente.

Os guias são almas adiantadas que assumem o papel de nos orientar e nos
auxiliar em nosso programa de vida na Terra. Cada pessoa possui aqueles que
a acompanham no astral. Alguns atuam para impulsionar a evolução pessoal
do seu protegido, outras vinculam-se à suas atividades (por exemplo, um
médico é acompanhado por espíritos dessa mesma área de trabalho) e, no
caso dos médiuns, há entidades associadas à missão espiritual do indivíduo.

Nem todos os guias se manifestam pela mecânica da incorporação. Algumas


presenças são sutis, e para que você possa receber melhor seus ensinamentos,
é necessário que você eleve sua vibração até eles. Por esta razão, esforcemo-
nos para nos tornarmos, a cada dia, mais próximos de suas energias.

Primeiramente, é preciso nos atentar que somos umbandistas 24 horas por dia,
e não somente nos momentos de gira. São muitos os que nem sequer dedicam
um pensamento para espiritualidade no intervalo de um dia de trabalho para
outro. Esta, por outro lado, não esquece de seus filhos, e não os deixa
desacompanhados tempo algum.

Por esta razão, procure, ao longo do seu dia, lembrar das entidades da
Umbanda e seus ensinamentos, aplicando-os sinceramente na sua vida. É
necessário, neste ponto, certo equilíbrio: nem o fanatismo, aquela pessoa que
só pensa e fala sobre o mesmo assunto o tempo todo; nem o outro extremo
oposto, aquele que age como se não tivesse uma vida espiritual para cuidar.

131
É importante, diariamente, separar um momento para se comunicar com o
Alto. E para isso, basta uma simples prece. Com esta prática, você habituará
sua mente a conviver com as energias superiores. Foque mais em agradecer
do que pedir. E depois, escute. Os guias falam conosco por meio dos
pensamentos. A intuição é a voz da espiritualidade.

Os falangeiros da Umbanda são espíritos de alta evolução, de larga sabedoria e


conhecimento. É uma honra para todo médium a possibilidade de aprender
diretamente destes mestres espirituais. Não foi à toa que encarnamos com
esta missão. Portanto, façamos bom proveito de oportunidade única de
acelerar nossa evolução. Empenhe-se em se aproximar de entidades
maravilhosas e tenha certeza que isso valerá mais do que qualquer ouro Terra.

Saravá a todos

132
A HUMILDADE É A MAIOR PROTEÇÃO DO MÉDIUM

A chave para evitar problemas espirituais está na humildade, porque a vaidade


e o orgulho são as principais razões da queda dos médiuns. É neste ponto que
os obsessores procuram agir para afastar alguém da obra do bem. Um tom de
voz que incomoda, o olhar um pouco diferente, a insuficiente reverência.
Quando deseja, de alguma forma, ser tratado de forma especial ou maior do
que outro, a pessoa se perde.

E nisso, vem os exageros, os trejeitos excessivos, as incorporações forçadas. A


insegurança é mascarada por manifestações exteriores para tentar provar sem
sucesso que é mais do que o outro. Aquele que se apresenta pequeno na Terra
mostra-se grande no mundo espiritual. Mas não falo da falsa modéstia e sim da
sincera e natural convicção de que todos somos iguais diante do Pai.

Ainda que você ocupe um cargo no terreiro, tenham muitos anos no axé, ou
mesmo seja seu dirigente, não é melhor e nem mais evoluído do que os outros
membros da corrente mediúnica. Apenas aumenta a responsabilidade, o dever
e as obrigações. É claro que o respeito deve estar presente, mas para todos os
filhos da casa.

As entidades são os maiores exemplos dessa humildade.

Toda vez que você está diante de uma situação adversa, em que o seu orgulho
é colocado à prova, encare tudo como uma ótima oportunidade de exercitar a
humildade. Em vez de dar vazão ao ego e aos sentimentos negativos, expresse
o que há de melhor em sua alma. Mais importante do que estar certo é manter
o coração alinhado com os guias e Orixás.

É preciso força e coragem para manter viva a humildade diante do mundo. Não
é sinal de fraqueza não rebater as provocações alheias, muito pelo contrário.

133
Somente uma alma amadurecida é capaz de sustentar sua serenidade em meio
a tantos conflitos da vida cotidiana.

A vaidade, infelizmente, leva muitos médiuns a esquecerem seu propósito


dentro do terreiro. Ali é um espaço para a prática da caridade e nada a mais. A
mediunidade é um dom sagrado, utilizá-la para satisfazer desejos mundanos é
grave crime espiritual.

Quando alguém encher o coração de soberba e orgulho e incorpora mais com a


intenção de impressionar os próximos do que auxiliá-los, ele se desfaz de suas
graças. É como se pegasse todas as coisas boas que exerceu e jogasse no lixo.

Para se conquistar a verdadeira humildade, é preciso tornar-se simples. Isto é,


possuir um coração leve, livre do desejo de se engrandecer diante do outro. A
maior riqueza é aquela que acumulamos no espírito. Foi isso o que as
entidades de Umbanda realizaram para alçarem a condição de guias
espirituais, instrumentos do Deus na Terra.

Cada terreiro e doutrina possui os fundamentos que assegurem a proteção


mediúnica. Preceitos, guias, banhos, firmezas entre outros elementos
ritualísticos. São muitos importantes, por isto siga cuidadosamente as
orientações do seu Pai/Mãe de Santo. No entanto, quando a humildade está
ausente, grande brecha é instalada pela qual a negatividade pode agir.

Por este motivo, observe-se mais. Verifique se sua conduta no terreiro e na vida
é adequada. Freie seus impulsos negativos. Quando sua alma estiver mais
próxima dos guias e Orixás, poderá, então, começar a compreender seus
sentidos mais profundos.

Saravá a todos!

134
APRENDA A DESINCORPORAR CORRETAMENTE

Muitos desconhecem a importância do processo de desincorporação, que é tão


fundamental quanto à incorporação. Os médiuns mais maduros sabem que, em
geral, neste momento a sensação energética é mais intensa do que o do início
do transe. Por este motivo, é necessário realizá-lo corretamente, para que,
quando a gira se encerrar, saia melhor do que quando entrou no terreiro.

Durante todo o processo mediúnico, a entidade promove descarregos nos


consulentes, no ambiente e no seu próprio cavalo. Algumas energias ela
dissipa instantaneamente; outras, contudo, deixa acumuladas no médium para
levá-la embora com sua subida. O mesmo acontece com eventuais obsessores
que foram retirados durante o trabalho. Uns são encaminhados no próprio
passe, outros ficam ligados até o final. É na desincorporação que toda carga
negativa será definitivamente afastada.

O primeiro ponto a observar é permitir que o guia espiritual desacople sem


pressa. Deixe que ela faça o movimento que precisar, não force o seu fim. O
mecanismo é delicado e ele precisa assegurar que seu aparelho esteja bem.
Caso sinta outra entidade, dê passagem. Há uma razão para sua vinda: em
alguns casos a espiritualidade se utiliza de uma segunda incorporação para
realizar um descarrego mais profundo ou deixar uma energia específica.
Apenas não crie dependência psicológica disso.

Se mesmo após toda a desincorporação não estiver bem, procure o/a sacerdote
ou outro médium mais experiente. Não vá embora do terreiro caso se sinta
mal, não tenha receio de pedir ajuda, ainda que seja um dos mais velhos. É
preciso comunicar seus desconfortos, e não esperar que outros adivinhem o
que acontece contigo. Você não desejará lidar com isto na sua casa, sem o
devido apoio.

135
Nos contatos com o mundo espiritual, quando abrimos um portal, devemos
fechá-lo corretamente. Não por acaso a gira possui ritual de abertura e de
fechamento. Com a mediunidade não é diferente. Existe o local e hora certa
para que seu campo esteja aberto ao astral. Desincorporar corretamente é
uma maneira de mantermos nossas defesas energéticas ativadas.

Saravá a todos!

136
COMO MELHORAR A CONCENTRAÇÃO DURANTE A
INCORPORAÇÃO

Sendo a grande maioria dos médiuns conscientes ou semiconscientes, é


natural que suas mentes estejam bastante ativas durante todo o processo. De
fato, os pensamentos serão muitos, a distração é fácil, as dúvidas e
inseguranças se manifestam e há momentos que você não saberá lidar com
tudo isso. Ainda mais por vivermos em uma sociedade em que poucos
ensinamentos recebemos sobre como lidar com nosso mundo interno. Por este
motivo, não se julgue, não se critique, é normal o que passa. A função do seu
mental é justamente pensar.

Não adianta forçar a concentração, e nem calar os pensamentos com rispidez.


Isto apenas fará eles retornarem com mais força. Aprenda, ao contrário, a
apenas observá-los, deixando-os irem embora. Para isto, você pode apoiar sua
concentração em algum objeto específico. Você escolhe. Pode ser sua
respiração, o som dos atabaques, o cheiro da defumação, a energia que sente.
Encontre aquilo que funciona melhor para você.

De início, você encontrará grande dificuldade para manter esta concentração.


Uma hora ou outro, sua mente divagará, você será arrastado por ela. Quando
notar, estará a pensar em assuntos sem nenhuma relação com onde está.
Neste momento, novamente reforço, não se critique. Apenas retorne
gentilmente sua atenção para o seu ponto de apoio. Quanto vezes forem
necessárias, e elas acontecerão, repita este o processo. Com o tempo,
gradualmente, a calmaria interna se estabelece.

Durante todo o processo da incorporação, aproveite a grande oportunidade de


conversar com a entidade. Deixe que as palavras se aproximem. Pergunte, e
ouça a resposta no silêncio. O diálogo acontece naturalmente. Para isso, não

137
precisa forçar. Basta entrar num estado receptivo, atento ao que se passa no
seu interior. Importantes orientações são passadas neste períodos, mensagem
que te fortalecem e te capacitam a mudar sua vida.

Saravá a todos!

138
COMO MANTER SUA ENERGIA LIMPA

Em primeiro lugar, procure não sujá-la. Os pensamentos negativos, mágoas,


rancores, desejo de vingança, ódio, condutas imorais e destrutivas prejudicam
o seu campo áurico. Tudo aquilo que se atenta contra seu próprio bem estar e
do próximo vai de encontra às leis divinas, o que aproxima você de vibrações
densas. Lembre-se, também, de que as palavras possuem poder: tudo o que
expressa afeta o ambiente ao seu redor, o qual, em algum momento,
retornará.

Nesse sentido, cultive uma aguda percepção de seu interior. Daquela famosa
frase “vigiar e orar”, aprofunde-se na observação de si mesmo, e não perca de
vista nem mesmo as mudanças mais sutis. Quando sentir que algum
pensamento ou sentimento negativo inicia a ganhar força, corte-o de imediato.
Não permita que ele te arraste para um estado de perturbação. Quando o mal
é pequeno, é mais fácil eliminá-lo. Contudo, se ela finca suas raízes, exige um
esforço muito maior para resolvê-lo.

Caso você esteja em um momento inicial do desenvolvimento mediúnico, é


provável que ainda se sinta vulnerável às diferentes energias das pessoas e
ambientes. Nesta situação, recomendamos, na medida do possível, o
afastamento de pessoas e lugares pesados, que você sabe que a presença
deles não lhe é benéfica. Haverá o momento em que conseguirá se proteger,
fechando seus canais mediúnicos quando necessário; até lá, mantenha-se
reservado. Seu equilíbrio é prioridade.

Quando a negatividade persiste por um longo tempo, arrisca-se que nossa aura
energética se desgaste, estabelece-se uma condição de fadiga e fraqueza
vibratória. Recomenda-se, para o devido reestabelecimento fluídico, o contato
com a natureza. Visitar matas, rios, cachoeiras, mares e outras regiões
preservadas. Ausente a possibilidade de ida a estes locais, pode-se também

139
realizar algumas atividades mais simples: andar descalço na terra, abraçar
uma árvore, receber a luz do Sol.

Por fim, lembremos das clássicas atividades espirituais, eficientes para limpeza
e elevação de sua vibração: preces, meditações, banho de ervas, firmeza de
anjo de guarda, defumações, receber um passe. Elas são o “arroz e feijão” da
prática umbandista e promovem a manutenção diária de sua energia. Na
dúvida, comece por eles.

Saravá a todos!

140
É POSSÍVEL TRANSMITIR PERFEITAMENTE AS
MENSAGENS DOS GUIAS ESPIRITUAIS ?

Por mais experientes que possamos ser na mediunidade, somos todos


instrumentos imperfeitos da espiritualidade. Em um ou outro momento,
interferimos nas comunicações, ainda que não seja nossa intenção. O próprio
fato de estarmos no plano físico sinaliza que há barreiras nas mensagens. No
planeta Terra, considerado um local de provas e expiações, não há ninguém
sem falhas.

Esta característica compartilhada pelos médiuns não inviabiliza a prática da


caridade. Ainda que possamos apontar muitos problemas, as graças
acontecem. Não podemos sustentar a ilusão de que somos inquestionáveis.
Nunca foi este o objetivo. Precisamos encarar nossa condição com franqueza e
aprendermos a lidar com a incorporação em sua realidade. E isto implica
aceitarmos o grande peso de nossa influência sobre os atendimentos.

O animismo, isto é, a influência de nosso ser sobre os processos mediúnico, é


um fato natural. Ele não pode ser anulado completamente, por mais ostensivos
e maduros que possamos ser. Esta é uma das razões pelas quais podemos
encontrar tantas semelhanças entre entidades que trabalham com o mesmo
“cavalo": há algo dele presente em cada incorporação, toda manifestação
compartilha a sua “marca" pessoal.

Todavia, através do estudo, autoconhecimento, uma formação sólida e


suficiente experiência, podemos contornar o nosso impacto durante os
processos mediúnicos. Com responsabilidade, aprendemos a administrar o
peso do nosso eu nas mensagens transmitidas, para que chegue ao consulente

141
a orientação mais fiel possível. Nós dedicamos o nosso melhor, e apesar de
que este “melhor” não seja perfeito, a caridade é concretizada em toda
cerimônia.

Saravá a todos!

142
A ENTIDADE FALOU QUE EU SOU MÉDIUM. E AGORA?

Esta situação é muito mais comum do que se imagina. A pessoa está apenas
conhecendo a religião, nas suas primeiras giras, quando ouve da boca de um
guia que possui mediunidade. Alguns duvidam, nunca sentiram nada. Outros se
desesperam, temem a incorporação e as mudanças que sua vida sofrerão. E
ainda há aqueles que se empolgam, crentes que são missionários portadores
de superpoderes. Entretanto, a realidade é muito mais simples.

Em primeiro lugar, sua vida não mudará completamente de um dia para outro.
Se possui algum dom, já o carrega há muito tempo. O terreiro apenas irá
despertá-lo, naturalmente, ao entrar em contato com as diferentes energias.
Por este motivo, não se desespere. Seu cotidiano continuará o mesmo. As
transformações virão, mas tudo no seu tempo.

Todas as pessoas são médiuns em algum grau, embora alguns possuem uma
mediunidade mais ostensivas do que outras. Principalmente entre os mais
jovens, é comum manifestações após alguns atendimentos com os guias.
Porém, se você vai seguir este caminho, é uma escolha totalmente sua. Poderá
ter uma vida feliz e bem sucedida não importa o que decidir. É o amor ao
trabalho espiritual que deverá te motivar a ir adiante. Não se engane, você não
terá superpoderes.

O seu próximo passo é continuar frequentando o terreiro. O desenvolvimento


mediúnico acontece lá dentro. Receba os passes, siga as orientações
recebidas, exponha todas as suas dúvidas, esteja disposto a aprender e
internalizar as lições. Ser médium é muito mais do que incorporar as entidades,
é um processo contínuo de aprimoramento da alma. E quando seu coração
estiver pronto, peça para fazer parte da casa.

É preciso muita paciência durante todo o processo. O ritmo é em marcha lenta,


e é bom que seja dessa forma. O nome das entidades, dos Orixás, o

143
atendimento virão no momento certo, quando você estiver pronto. Deixe seu
coração aberto para os guias, seja humilde, escute os mais velhos e se
disponha a ajudar o terreiro como for possível. A mediunidade é apenas um
aspecto de toda vida espiritual. Este ofício sagrado exige muita disciplina,
responsabilidade, renúncia. Entretanto, retribui-nos com satisfação que
manifesta num plano mais sutil.

Saravá a todos!

144
QUEM É O RESPONSÁVEL PELO DESENVOLVIMENTO
MEDIÚNICO?

São as próprias entidades a coordenarem todo os complexos mecanismos da


incorporação mediúnica. Ao médium, por outro lado, cabe aprender a entrar
em um estado de receptividade às vibrações dos guias e, ainda, adquirir a
confiança e segurança para permitir que a energia se expresse em sua
naturalidade.

Este pensamento implica em você não se preocupar em como se comportará


no momento da incorporação. Se o guia rodará ou não, se soltará uma
gargalhada, baterá no peito, se curvará as costas, entre outros movimentos e
trejeitos, não é uma decisão a ser realizada pelo médium. Seu papel é apenas
deixar fluir, sem resistências, as manifestações espirituais. Esqueça, por ora, os
detalhes.

Quem realiza o desenvolvimento mediúnico é a própria espiritualidade. Nós


somos o polo mais passivo desta relação, embora não nos anulemos por
completo.

Somente é válido sua interferência quando perceber a intenção por parte da


entidade de realizar algum excesso. Caso note que a energia presente não é a
que está habituada, e sente que ela deseja realizar algo que vá contra as
regras do terreiro, ou mesmo contra o bom senso e o princípio da caridade, é
legítimo que você a interrompa. Ainda que deixamos os guias tomarem a frente
nos processos mediúnicos, somos responsáveis por tudo o que acontecer.

Saravá a todos!

145
COMO NOSSA VIBRAÇÃO INTERNA INFLUENCIA O
DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO

Apesar de estarmos encarnados, nossa essência é espiritual. Irradiamos, a


cada momento, energias em todas as direções. A depender do que pensamos,
sentimos, falamos e agimos, a qualidade de nossa vibração pode se tornar
mais densa ou sutil.

Impera no plano espiritual a lei de sintonia. Os semelhantes se reúnem e se


atraem. Formam laços de afinidades. E com o médium esta faculdade se
intensifica: tal como uma frequência de rádio ou televisão, ele se conecta com
seres e forças afins com seu estado interior.

Por esta razão, se você deseja se aproximar de guias, protetores e Orixás,


cuide de sua energia. Procure elevar sua vibração o quanto for possível. Vigie
ininterruptamente o seu caráter. Domine sua mente e coração. E que de sua
boca saia somente o que é luz. Dessa forma, será muito mais fácil entrar em
contato com o Alto.

Na incorporação, há um duplo movimento etérico: de um lado, a entidade


precisa rebaixar seu campo vibratório para se tornar perceptível ao cavalo,
indo ao encontro da matéria; de outro lado, o médium busca expandir sua aura
para alcançar o guia. Essa é um dos motivos pela qual o desenvolvimento
mediúnico pode levar bastante tempo: muitos ajustes são necessários. Caso o
iniciante esteja com uma energia muito baixa e densa, encontrará dificuldade
em realizar o acoplamento mediúnico.

146
Note, igualmente, que a mediunidade funciona para os “dois lados". Caso o
sensitivo se conecte apenas ao que é denso e pesado, tornar-se-á um
intermediário do baixo astral. Em vez de a mediunidade ser uma bênção para
ele, encontrará nela uma fonte de tormentos, uma vez que estará sob
influência de obsessores.

Saravá a todos!

147
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO NO DESENVOLVIMENTO
MEDIÚNICO

A Umbanda não é uma religião estática. Ao longo de seus longos anos


apresentou diversas transformações. Ela cresce, expande-se, renova-se,
reafirma seus fundamentos em novas expressões, ainda que não perca de vista
sua essência. O que antigamente era transmitido oralmente, dos mais velhos
aos mais novos, hoje é difundido por um estudo mais sistematizado.

O conhecimento possibilita a compreensão das práticas espirituais realizadas


no terreiro. Aprendemos não simplesmente porque assim nos foi dito, ou visto
que os mais antigos procederam da mesma forma, e sim porquanto há
entendimento das atividades realizadas. Mais do que seguirmos cegamente os
líderes, aceitamos a lógica subjacente a tudo o que vivenciamos no terreiro.

O novato não está no terreiro apenas para fazer o que for lhe mandado. Ele
aspira por aprendizado, entendimento, crescimento pessoal. Não basta apenas
“jogá-lo" no meio da gira, e sim fazer um acompanhamento de sua vida
espiritual. E neste ponto, o estudo regular é um dos passos mais importantes.
Quando se oferece um ambiente próprio para acolher e ensinar, o
desenvolvimento mediúnico adquire bases sólidas.

Atualmente, os processos mediúnicos se caracterizam pela exacerbada


consciência. Não apenas os mais novos lembram e observam tudo o que
acontece durante a incorporação, como também mantêm o controle parcial
sobre seus corpos. E através do estudo, somado ao autoconhecimento e sólido
acompanhamento, que o médium aprende a lidar com a sua vivaz mente.

O médium não é um simples aparelho, uma marionete plenamente controlada


pelos guias. Ao contrário, as palavras e movimentos são mediados pelo seu
mental, o qual pode interferir a qualquer momento. Por esta razão, a fim de

148
que se assegure um saudável exercício da mediunidade, é fundamental que o
médium busque o conhecimento.

Não basta que a entidade realize o atendimento, é preciso que seu “cavalo”
evolua junto. Não podemos nos acomodar na espiritualidade, mas buscar nós
mesmos nos aprimorar enquanto instrumentos afiados do Alto. E para alcançar
este objetivo, o saber é fundamental. Podemos repetir nossas tradições, mas
sem a pesquisa constante repetiremos igualmente nossos erros.

O nosso acelerado cotidiano, com frequência, afasta-nos de nossos guias e


protetores em meio a um mar de preocupações da matéria, o qual nos conduz
até mesmo a esquecer da vida espiritual. O estudo regular realimenta nossas
lembranças de que há um plano além de todas as nossas batalhas neste
mundo. Ele cria um mais um momento para no conectar com o astral superior.

Por mais que a entidade já possua imenso saber, seu cavalo deve também
evoluir junto com sua vivência na religião. Nada, no terreiro, acontece sem
razão de ser e o estudo é a chave que permite a compressão de cada rito ou
atividade.

Com o seu amadurecimento espiritual, o médium cria uma relação de parceria


com as entidades que o acompanham. O ponto central deixa de ser interferir
ou não na incorporação, mas como melhor ajudar aquele que pede auxílio. E
nesta fase, é fundamental que ele desenvolva uma ampla consciência. Se, por
exemplo, falta-lhe alguma ideia ou palavra que o guia deseja transmitir, a
comunicação se torna imprecisa.

Saravá a todos!

149
COMO A MEDITAÇÃO PODE AUXILIAR EM NOSSO
DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO

Diariamente, somos bombardeados pelos mais diferentes tipos de pensamento.


Para tantos, parece que a cabeça possui vida própria, além de nosso controle.
E no momento da incorporação e de outros processos mediúnicos, esta
vivacidade interna atrapalha em menor ou maior grau. A meditação não nos
dá superpoderes, como muitos acreditam. Não é este o objetivo. Ela nos ajuda
em algo muito mais importante: disciplinar a mente. E isto não é pouca coisa.

A meditação amplia nossa percepção e afia nossos sentidos. Ensina-nos a


discernir o que é ruído de nossa mente daquilo que veio de fora; ela fortalece
nossa concentração. Quando nossa mente está serena e tranquila, tal como um
calmo lago, é que conseguimos refletir com fidelidade as mensagens dos guias
e Orixás. Será com dificuldade que a entidade passará suas orientações se, no
momento da gira, sua consciência estiver ocupada com assuntos sem
nenhuma relação com o trabalho espiritual.

Aprendemos também com o exercício da meditação a passividade. É um


estado mental em que permitimos receber e transmitir as mensagens e
energias do Alto. Para alcançar o objetivo de deixar a entidade vir e se
manifestar em sua plenitude, faz-se necessário estar receptivo a suas
vibrações. Caso a mente esteja agitada e acelerada, o médium poderá
encontrar dificuldades para sentir seus guias, ao ponto de alguns até bloquear
sua passagem.

Por meio de sua prática regular, desenvolvemos nosso autoconhecimento.


Aprofundamo-nos nos meandros de nossa consciência e encaramos o que ali
habita. Ela nos mostra nossos hábitos mentais, padrões de autossabotagem,
fixações, memórias dolorosas. A meditação apresenta as sombras internas de
nosso ser e nos lembra a necessidade de superá-las. Todos esses processos

150
caminham para maior entrosamento entre você e a espiritualidade, facilitando
as experiências mediúnicas.

COMO MEDITAR?

Existem muitas técnicas diferentes de meditação, e você pode se ater com a


que mais se identificar. O mais importante é a prática regular, capaz de
produzir benefícios duradouros ao longo do tempo. A mais simples, e que
recomendamos neste texto, é a observação de seus pensamentos.

Para isto, prepare um local agradável, de preferência fresco e bem arejado,


protegido de ruídos e interrupções externas. Escolha um momento em que
ninguém te atrapalhará. Sente-se numa posição confortável, com as costas
eretas. Evite deitar-se, porque pode te induzir ao sono. De início, 5 minutos por
dia será suficiente para criar o hábito. Gradualmente, com a experiência, você
aumentará o tempo de prática.

Quando tudo estiver pronto, comece a meditação. Procure assistir o que se


passa com sua mente, sem se envolver com ela. Os pensamentos virão um
após o outro, apenas os deixe irem. Eventualmente, você divagará, é normal.
Retorne sua atenção para o seu mundo interno e continue seu exercício, até se
encerrar o tempo proposto.

É possível que encontre muitas dificuldades. É natural, como se você estivesse


treinando um músculo. Precisa fortalecer pouco a pouco a sua disciplina
mental. Não alimente a expectativa de horas e horas de silêncio interior
ininterruptas. Você já está habituado à tagarelice da mente. Levará muito
tempo para descondicioná-la.

Saravá a todos!

151
QUAL É A IMPORTÂNCIA DA PRECE PARA O
DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO?

A oração nos aproxima dos guias e protetores, é o canal mais simples e


universal de comunicação. Ela é a primeira e última etapa em qualquer vida
espiritual. Está disponível a todos e promove inúmeros benefícios em nossa
vida. Se deseja realmente se aprofundar na mediunidade, não deixe de realizar
suas rezas diariamente.

Toda vez que é feita a prece, uma luz, do ponto de vista espiritual, acende-se.
As vibrações elevadas se firmam e acumulam; a escuridão se afasta. Ela
provoca um poderoso efeito descarregador e energizador, e fortalece nossa
conexão com o Alto. A oração transforma seu praticante e o ambiente à sua
volta.

É especialmente recomendado rezar ao acordar e antes de dormir, dois


momentos chaves em nosso dia. Alguns poucos minutos dedicados ao sagrado,
logo de manhã, é capaz de mudar todo o seu dia. Dá-lhe força, proteção e
clareza para tudo o que tiver enfrentar. Da mesma forma, a prece que
antecede o sono direciona sua alma para boas regiões do Astral durante seu
desdobramento. Torna-te mais receptivo às instruções dos guias e te prepara,
caso necessário, para participar da atividades da espiritualidade.

A oração pode ser tanto decorada quanto espontânea, ou uma mistura dos
dois. A forma que tocar seu coração com mais força é a mais válida. Procure
não focar sua prece apenas em pedidos materiais. Agradeça, louve, solicite
proteção, sabedoria e orientação. Reze pelos próximos. Aspire por mais força,
clareza, paciência e amor na sua vida. Seja um trabalhador da luz, e não
alguém que busque espiritualidade para satisfazer anseios da matéria.

Saravá a todos!

152
É POSSÍVEL ACELERAR O MEU DESENVOLVIMENTO
MEDIÚNICO?

Não tenha pressa no seu processo particular. Ele não pode ser forçado. Deixe
que sua mediunidade se amadureça gradualmente e no final perceberá que
terá sido bem melhor ter agido assim. Como é dito, a fruta que se come verde
te faz mal. Não tente pular etapas, você pode tropeçar no caminho.

Mais do que a capacidade de incorporar, o desenvolvimento mediúnico é um


desenvolvimento de você mesmo. O que está oculto em seu ser emergirá à
superfície da consciência e será exigido que você encare suas sombras. E não
é tão fácil passar por tudo isso. Você precisará de coragem, franqueza contigo
mesmo e disposição para mudar. Toda essa jornada pessoal leva tempo.

Não confie em rituais, magias, trabalhos, banhos, cursos e iniciações que


prometam o rápido amadurecimento de sua mediunidade. Com frequência, há
um interesse financeiro motivando essas atividades e pouco eficácia real.
Somente o tempo é capaz de te oferecer bases firmes, sólidas e seguras, as
quais serão necessárias em seu exercício umbandista.

O que você pode realizar, de maneira simples e efetiva, são algumas práticas
espirituais presentes na Umbanda e na espiritualidade universal. A prece, a
firmeza para o anjo de guarda, o banho de ervas regular, a meditação e o
estudo são muito benéficos. Não para que você apresse o seu
desenvolvimento, e sim para que que eleve sua vibração e se aproxime dos
guias e Orixás.

Saravá a todos!

153
COMO LIDAR COM A SENSIBILIDADE AFLORADA

Entre os umbandistas, em especial os médiuns iniciantes, observamos muitos


sofrerem as consequências de uma sensibilidade aflorada. É a condição
daqueles que, ao entrarem em contato com pessoas ou ambiente negativos,
absorvem as vibrações nefastas deles. São os chamados médiuns “esponjas".

E, por esta mesma razão, experimentam uma série de desconfortos, como


angústia, aperto no coração, desânimo, tristeza, cansaço, um peso nas costas,
entre outros. Alguns, em casos mais extremos, até mesmo tomam para si as
dores dos outros.

Não se engane, isto não é saudável e nem positivo. A mediunidade, quando em


equilíbrio e direcionada para o bem, traz coisas boas para seus portadores.
Esta sensibilidade desenfreada é, antes de tudo, uma desarmonia que pode e
deve ser tratada.

A primeira e fundamental maneira de ajustar sua sensibilidade é ir no terreiro.


Lá, recebendo seus passes, seguindo as orientações das entidades e do
pai/mãe de santo, suas energias vão sendo purificadas e equilibradas, no seu
devido tempo.

Nem todos possuem a necessidade de desenvolver a mediunidade.


Observarmos em tantos lugares isto ser receitado como a solução de todos os
problemas. Muitas vezes, basta o fortalecimento espiritual do consulente, a fim
de que ele não esteja mais tão vulnerável às diferentes vibrações.

Além disso, há outras ferramentas que podem te auxiliar. Umas das mais
importantes é proteger o umbigo. Ali está localizado o chacra umbilical, que é
um dos mais afetados por esta sensibilidade aflorada. Em tantos casos, é
através deste centro de força que as negatividades das pessoas e ambientes

154
em contato são absorvidas. Por este motivo, é comum os “esponjas”
desenvolverem problemas estomacais.

É importante, da mesma maneira, fortalecer sua conexão com seu anjo de


guarda. É ele a primeira e a última proteção. Quando estamos sintonizados
com sua força, dificilmente alguma vibração negativa encontra espaço para
atuar. Há muitas maneiras de realizar esta aproximação, e, delas, a mais
simples e fundamental é a prece. Busque, diariamente, o contato com aqueles
que te guiam, e verá muitas áreas de sua vida melhorarem.

Por mais que você deseje ajudar alguma pessoa, jamais alimente o sentimento
de dó e pena. Ele abre portas para o mal do outro acesse seu campo espiritual.
Contribua sim com o próximo, mas ciente de que cada um possui o seu
processo pessoal e ninguém foi esquecido pelo Pai Maior. Se está passando por
alguma dificuldade, há algum aprendizado ali para ele. Agradeça a
oportunidade de auxiliá-lo, faça sua parte, mas depois coloque tudo nas mãos
de Oxalá.

Deixe de se ver como frágil e vulnerável. E não o fique afirmando para os


outros. Lembre-se que de que há guias e protetores contigo. Se sentir que está
absorvendo alguma energia de outra pessoa, pense que este fluído espiritual
não te pertence. Peça para a espiritualidade encaminhar cada vibração e
presença negativa ao seu devido lugar. E, ainda, você pode imaginar que há
um campo de força ao seu redor impedindo qualquer mal de chegar a você.

O médium é uma pequena luz no meio das trevas. Por este motivo, espíritos
das mais diversas ordens são atraídos por ele, o que exige sempre o cuidado
contra possíveis obsessões. Algumas almas não lhe desejam mal, apenas
procuram de alguma maneira aliviar seus sofrimentos, porém acabam por
prejudicar-lhe igualmente.

Revise seus padrões de pensamento e comportamento. A negatividade torna-


se presente no momento em que é estabelecida sintonia com o que há dentro

155
de você. Enquanto preencher-se com pessimismo, reclamação, desejo de
vingança, inveja, mágoas e rancores, haverá ligação com energias de baixa
vibração. Como toda religião, a Umbanda preza pela reforma pessoal de cada
um.

E, por fim, se constatar que foi tomado por energias negativa, ou desconfia que
há alguma possibilidade de obsessão, vá tomar um passe. O terreiro é nosso
refúgio. Ninguém está isento de passar por algum problema espiritual. Antes
tenha a humildade de pedir ajuda quando necessário, do que caminhar por aí
totalmente carregado.

A sensibilidade aflorada, após tratamento e desenvolvimento, evolui para uma


percepção aguçada da realidade. O famoso “sexto sentido”, em que o médium
é capaz notar diversas informações acerca das pessoas, dos ambiente e do
plano astral. Mas como todo e qualquer dom, o objetivo não é satisfazer nosso
ego, mas usar nossas habilidades em benefício do próximo. Isto é, realizar a
manifestação do espírito para a caridade.

Saravá a todos!

156
O COMPROMISSO DE ESTAR BEM PREPARADO PARA
A GIRA

O dia de gira é especial para o médium. E é seu dever se preparar para este
grande momento. Por esta razão, cabe a ele observar uma série de restrições e
práticas com o objetivo de sintonizar-se com a espiritualidade que o
acompanha. Mediunidade é um assunto muito sério e, se esta foi aceita, que a
exerça com dedicação!

Todos já conhecemos os preceitos físicos. Existe uma variação de casa para


casa, porém, em geral, constituem em 24 horas antes do trabalho abster de
alimentar-se de carne, ingerir bebidas alcoólicas e ter relações sexuais. São
atividades básicas e qualquer um pode cumpri-las sem o menor problema.

Além disso, há os preceitos mentais e espirituais. No tempo que antecede a


gira, precisamos evitar brigas, discussões, discórdias, pensamentos e
sentimentos negativos. Desde o início do dia, é importante buscarmos
fortalecer a sintonia com nossos guias e protetores. Não permita que nenhuma
situação adversa abale o seu equilíbrio mental e emocional.

O momento do trabalho é um tempo sagrado a qual devemos reverência e


respeito. Não é de qualquer jeito que nos dirigimos ao terreiro, mas exige-se
que nos entreguemos de corpo e alma. E tudo o que te afasta da
espiritualidade deve ser evitado.

Lembre-se de que a Umbanda centraliza-se no auxílio espiritual àqueles que


buscam seu axé. Pessoas de todos os tipos com os mais diferentes problemas
passam pelo atendimento. Algumas, que já tentaram de tudo e estão a um fio
de desistir de tudo. Portanto, entenda, a responsabilidade é muito grande.

Não queira correr o risco de dar uma orientação incorreta porque você não se
preparou corretamente e não atingiu uma boa sintonia com as entidades que

157
se manifestam através de sua mediunidade. Você será cobrado por isso. A
mediunidade pede devoção e dedicação. É um compromisso que você assumiu
antes de encarnar e que na vida material você renovou ao ingressar na
corrente mediúnica do terreiro.

O médium de Umbanda deve manter a autovigilância 24 horas por dia. Os


obsessores conhecem as suas fraquezas e nelas atuarão quando você baixar a
guarda. Principalmente em dia de gira é quando surge uma situação que tenta
nos tirar a tranquilidade e equilíbrio. Ninguém está invulnerável às artimanhas
das trevas, por esta razão esteja sempre atento ao que acontece no seu
interior e ao seu redor.

A nossas maiores proteções são a humildade, a disciplina e a disposição para


fazer o bem. Enquanto você manter-se firme nesses valores, ficará em
equilíbrio. Além disso, cada casa e cada doutrina possui as suas regras e
procedimentos preparatórios para a gira. Siga com sinceridade as orientações
do seu Pai ou Mãe de Santo. Há uma razão para cada rito e elemento. Por mais
experiente que seja no axé da Umbanda, tenha a humildade de seguir os
preceitos como todos os outros.

Saravá a todos!

158
10 EQUÍVOCOS COMUNS NO DESENVOLVIMENTO
ESPIRITUAL

1) Achar-se mais evoluído do que os outros


Diante do Pai Maior, todos somos pequeninos. E não há ninguém neste planeta
que não possui largas lições morais para interiorizar. Por mais que acumulemos
conhecimentos e experiências espirituais, a caminhada espiritual é longa. Se
você acredita que está em nível de evolução maior do que os outros significa
que te falta ainda muitos conhecimentos.

2) Dar lição de moral para todo mundo


Você conhece aquela pessoa que não perde uma oportunidade para dizer ao
outro o que é certo e errado? E, ao mesmo tempo, não é capaz de seguir os
próprios conselhos. Para bem alicerçar o desenvolvimento espiritual, é preciso
olhar menos para o próximo e aprofundar-se no auto conhecimento. Há
momentos sim em que é benéfico compartilhar nossa visão sobre as boas
virtudes, mas quando solicitado.

3) Acreditar que tenha a solução para todos os problemas dos outros


Cada pessoa é única e possui o seu processo particular. O que é bom para nós,
nem sempre é bom para o outro. Se alguém lhe pede um conselho, uma
orientação, tudo bem, vamos buscar ajudar de acordo com nosso
conhecimento e experiência. No entanto, é muito diferente se dirigir para outra
pessoa e dizer tudo o que supostamente ele deveria fazer.

4) Apresentar-se como o messias


A caridade está a disposição de todos, dos mais simples aos de melhores
condições. Os ensinamentos de Deus não se expressam através de apenas
poucos “escolhidos”, mas por meio de todo aquele que cultiva no coração o
desejo sincero de auxiliar o próximo. Aqueles que verdadeiramente possuem a
condição de mestres espirituais não se apresentam como tal. Antes, portam

159
como uma de suas principais características a profunda humildade diante de
todos.

5) Pensar que possui superpoderes


Somos todos humanos e limitados perante muitas situações da vida. Embora
algumas pessoas possuem algumas habilidades específicas, ninguém de fato
pode realizar algo que fuja às leis da natureza. Os “milagres” são apenas
manipulações vibracionais segundo mecanismos que desconhecemos. Aqueles
que receberam algum dom devem colocá-lo em benefício do próximo, e não
usá-lo para se envaidecer. Afinal, a quem muito é dado muito será cobrado.

6) Acreditar que está sempre certo


Todos estão sujeitos ao erro, caso contrário você não estaria encarnado. Melhor
do que armar-se com justificativas superficiais, é aceitar e aprender com o
equívoco. Esta é uma das marcas daqueles que desejam sinceramente evoluir.
Cuidado com a arrogância, ela pode te afundar.

7) Acreditar que sabe tudo


O universo é infinito em seus saberes. Mesmos os guias que trabalham conosco
não detêm o conhecimento absoluto. Somente o Criador é onisciente. E quem
sabe se comportar como aprendiz aprende algo novo a cada dia. Já os falam
como se tudo entendesse mostram que ainda não aprenderam nada. Em tudo
há um ensinamento, mas para recebê-lo é preciso dispor-se a ouvir.

8) Agir como se tudo fosse espiritual


Não é porque tropeçou em alguma pedra que existe algum obsessor no seu
caminho. A espiritualidade é, de fato, presente em nossa vida, porém a vida
material também. Tudo precisa do devido equilíbrio. Alguns fatos são
simplesmente acontecimentos fortuitos, sem nenhuma grande causa por trás.

9) Julgar a forma dos outros cultuar Deus


O contato com Deus é uma relação íntima e pessoal. Não há maneira melhor
ou pior de se comunicar com ele. Se as religiões são muitas, é porque cada

160
uma serve a tipos específicos de consciência. E isso é maravilhoso. O Pai Maior,
em seu imenso amor, permite muitos caminhos e nomes para se aproximar de
suas energias divinas. E antes de julgarmos o próximo, busquemos fortalecer
nossa relação com o Criador.

10) Tentar passar a imagem que é invulnerável a tudo


Por mais experiente que você seja nos caminhos da espiritualidade, se não
vigiar a sua conduta, seus pensamentos e sentimentos, poderá passar por
adversidades no campo espiritual. O cuidado é necessário para todos. Mesmo o
melhor dos soldados quando vai para batalha precisa de sua armadura.
Em vista disso, procure sempre estar bem preparado para as suas atividades
espirituais. A maior proteção é a humildade!

Saravá a todos!

161
A CONSCIÊNCIA DURANTE A INCORPORAÇÃO É UMA
BENÇÃO!

O objetivo da incorporação não é perder o controle de si mesmo. Menos


consciência não é sinônimo de mais força mediúnica. Não é pela perda de
memória que se assegura a veracidade da comunicação. Muito pelo contrário:
a mediunidade consciente é uma enorme bênção para os seus portadores.

O transe mediúnico não é um choque elétrico que quanto mais tremer mais
forte é. No entanto, são muitos os que abandonam este caminho devido à
insegurança, porquanto não compreendem e/ou não aceitam a naturalidade de
suas mediunidades. Outros tentam esconder essa insegurança através de
excessivos movimentos, giros, gritos, roupas extravagantes, sotaques forçados
e outros elementos exteriores.

A mediunidade exige nossa fé. Entregar-se à espiritualidade superior. Ela pede


por confiança em nós mesmos e nas entidades que nos acompanham. A
Umbanda é humildade e simplicidade. Devemos saber apenas expressar aquilo
que é natural de nosso desenvolvimento mediúnico, sem aumentar nem
diminuir nada.

O objetivo não é apagar a própria consciência, mas sim não interferir no


atendimento da entidade. São duas coisas bem diferentes. E o
desenvolvimento mediúnico, quando bem realizado, sem pressa e com a
devida orientação, ensina a não interferir. A lucidez durante a incorporação é
um fato muito positivo.

“Sou eu ou o guia?” Os dois. Você sempre estará presente. Seja médium


consciente ou médium inconsciente, somos responsáveis por tudo o que
acontece durante a incorporação. Você aprende a desenvolver uma parceria
com sua entidade, permitindo ela estar à frente a maior parte do tempo, mas,

162
eventualmente, dando sua contribuição. Não há nenhum problema nisso,
porém reforçamos, mais uma vez, a necessidade do estudo constante.

Estes médiuns têm a maravilhosa oportunidade de aprender com seus guias


durante os atendimentos. A espiritualidade é sábia e nada faz por acaso.
Muitos dos problemas que os consulentes enfrentam também passam os
médiuns. E a entidade, ao mesmo tempo que ajuda um, orienta também o seu
cavalo.

Isto contribui para acelerar a evolução deste médium. A mediunidade


consciente exige muito estudo e comprometimento, uma vez que as entidades
se utilizam do conhecimento do colaborador para transmitir suas mensagens.
Como diz o ponto, a Umbanda tem fundamento, é preciso se preparar.

O médium consciente não depende da incorporação para comunicar-se com


seus guias. Para tanto, utiliza-se de sua intuição. Após amadurecer-se no
autoconhecimento, ele desenvolve a capacidade de discernir os pensamentos
e ideias que provêm de sua alma e os que provêm de fora.

A mediunidade consciente é a tendência do presente. Muitas comunicações, de


diferentes autores espirituais, afirmam que não se encarnam mais médiuns
inconscientes. No entanto, cria-se, em alguns lugares, a falsa expectativa de
que a entidade fará um apagão na mente da pessoa e que ele estará
plenamente sob controle do guia. Isso gera apenas dúvida, insegurança,
frustração, e até mesmo mentira de alguns médiuns.

É importante assumir a mediunidade consciente, com todas as suas


características. A nossa missão é ajudar o próximo, e não se provar perante
alguém. Foi-se o tempo que os guias permitam-se ser colocados à prova. Hoje,
aqueles que deseja receber suas graças, precisa ter um mínimo de fé.

Não fique se comparando com as outras pessoas. A mediunidade é experiência


pessoal, cada um tem a sua trajetória particular. Ninguém sente as vibrações

163
exatamente igual ao outro. E o processo de desenvolvimento espiritual e
mediúnico é único para cada pessoa. Você perde tempo quando tenta forçar
sua naturalidade assemelhar-se à manifestação dos outros médiuns. Aceite a
mediunidade que carrega com alegria e gratidão e, dessa maneira, aceitará
todo poder e força que ela traz.

A energia não precisa vir de forma bruta e agressiva. O suave e o sutil têm
força. Trabalhe a partir da vibração que receber. Apenas concentre-se no que
sentir e deixe tudo fluir em sua naturalidade. Por mais tempo de Umbanda que
possua, o desenvolvimento nunca acaba. Sempre há o que aprender. E quanto
mais buscamos nossa elevação moral, mais firme é a nossa sintonia com
nossos guias e protetores.

A mediunidade consciente não é inferior à mediunidade inconsciente, o


contrário também não é verdadeiro. O importante é que as pessoas que são
atendidas pelos guias destes médiuns saiam do terreiro melhor do que
entraram. Para isto, e esta orientação é válido para todos os tipos de
mediunidade, é importante estar preparando mental e emocionalmente. É o
coração disposto à caridade que faz um bom médium.

Saravá a todos!

164
QUANDO O MÉDIUM TEM MEDO DE IR PARA O
ATENDIMENTO

Chega um momento na vida do médium em desenvolvimento em que ele


percebe se aproximar o dia em que suas entidades serão liberadas para darem
consultas. Isto gera uma ansiedade natural diante da enorme responsabilidade
que assumirá. No entanto, embora esse sentimento seja natural, há alguns que
sentem verdadeiro medo e “fogem” desta tarefa iminente.

A essência da Umbanda está no aconselhamento. Este é o objetivo de


exercitarmos nossa mediunidade, o seu caminho natural. Ainda que o
desenvolvimento seja benéfico para o equilíbrio e bem estar do neófito; se não
estiver atrelado à prática da caridade, algo importante se perde. Em algum
momento, precisará dar a cara à tapa.

Cada pessoa possui o seu ritmo natural. Não existe uma duração padrão para o
desenvolvimento mediúnico. Alguns precisam de mais tempo, outros de
menos, isto faz parte da religião. Em geral, observamos mais a pressa dos
iniciantes. Porém, há aqueles que, ao contrário, adiam o máximo possível. A
hora certa já passou, e ainda evitam ir para o atendimento.

Cabe principalmente ao sacerdote, mais do que o próprio médium, avaliar


quem já está razoavelmente preparado para prestar consultas. Se não o
desejar de forma alguma, sempre pode negar. Mas não o faça por medo ou
insegurança. Lembre-se de que você não está sozinho, são as próprias
entidades que estarão à frente de todo o trabalho espiritual. Tenha fé nos que
te acompanham.

Confie e deixe as coisas fluírem. Os guias saberão lidar com cada situação.
Entenda que eles não necessitam resolver todos os problemas dos consulentes,
nem adivinhar toda a vida deles, falar por mais de meia hora, ou mesmo usar

165
palavras bonitas. Cada um recebe o que lhe é importante no momento; seja
um simples passe e pedido de mais preces, ou orientações mais complexas.

De fato, o desenvolvimento continua mesmo após ser liberado para os


atendimentos. Somente ali você começará a compreender o que realmente é a
mediunidade e o seu propósito. Há lições que não podem ser transmitidas em
palavras, somente vivenciadas na pele. O médium maduro somente se forma
após anos e anos de experiência.

Saravá a todos!

166
SALVE A FORÇA DO SEU ORI

A gira estava prestes a encerrar, os médiuns desincorporavam um após o


outro, quando um dos mais novos caiu no chão, tomado por alguma presença
negativa. Imediatamente, os caboclos foram em seu auxílio, a curimba iniciou
um ponto de descarrego, mas foram ambos interrompidos pelo guia chefe da
casa.

“Ele deve sair dessa situação por conta própria”, explicou seu Flecha Dourada.

Não era a primeira vez que João era dominado por algum obsessor. A cena
tornara-se tão comum que os cambones, no fim dos trabalhos, perguntavam-se
quando ela ia ocorrer. E sempre se passava da mesma forma: ele se sacudia no
chão, as mãos em garra, rosnava, gargalhava, ameaçava, dizia que jamais
abandonaria aquele cavalo, porque ele lhe devia bastante. As entidades
ministravam passes, orientavam e doutrinavam, e depois de muitos
transtornos João conseguia voltar a si.

E por mais que os mentores da casa orientassem a firmeza e a elevação, tudo


se repetia nos próximos trabalhos.

Diante desse caso, Flecha Dourada se dirigiu ao médium caído e lhe disse:
“Meu filho, você precisa encontrar as suas próprias forças no seu interior.
Enquanto depender de algum auxílio externo para se levantar, continuará
vulnerável aos ataques das trevas. Por mais que confie nos guias que te
acompanham, é necessário que você acredite em você mesmo”.

De início, ele não aceitou os conselhos do caboclo. Sentiu-se desamparado pelo


terreiro, assim como sempre se sentiu deixado à mercê na sua vida por
aqueles que lhe eram próximos. Neste momento, a sintonia com a entidade
negativada se fortaleceu, e os sacudimentos e rosnados intensificaram. De sua
boca, escutou-se uma voz grave e rasgada:

167
“Você sempre agiu como vítima, João. Mas foi você mesmo quem nos
abandonou. Confiamos nossa vida em ti, mas quando precisamos da sua ajuda,
você nos deixou para morrer. E por isso hoje faço te sofrer, para que entenda
uma pequena parte de tudo o que passamos".

Antes que o médium entendesse toda a informação passada, Flecha Dourada


interveio:
“Não importa, meu filho, quem você foi ou o que fez. Hoje você trabalha nessa
casa de caridade e está disposto a fazer o bem. Com o tempo, você se acertará
com o passado. Por mais que tenha errado, há luz em você. Abandone toda
culpa e toda revolta, deixa essa luz falar mais alta”.

João se debateu, se contorceu, tanto fisicamente, quanto emocionalmente. De


um lado, as palavras de Flecha Dourada traziam conforto e esperança, por
outro, o deixava ainda mais nervoso. Sentia um ódio imenso vindo do obsessor,
mas sabia que este sentimento de alguma maneira ressoava em seu coração.
Mais uma vez, sentia-se abandonado por aqueles deviam-lhe ajudar. Afinal,
porque o caboclo não permitia que ele recebesse um simples passe?

E João, ou a entidade trevosa que se manifestara, ou quem sabe os dois,


gritaram. Começavam a perceber que alguma coisa na forma que viviam não
estava correta. Talvez algo precisasse mudar... foi então que compreenderam...
ainda que vivenciaram tantas situações dolorosas, eles eram responsáveis por
fazer surgir a própria felicidade.

João entendeu. Notou como cada experiência de sua vida o direcionou para
mais próximo da espiritualidade e Deus, e que ele nunca esteve realmente
sozinho. Havia sempre uma presença sutil que lhe intuía como superar tantas
atribulações. E apesar de que muitas dificuldades permaneceram, hoje ele
tinha propósito e direção.

168
João levantou e, tomado de emoção, abraçou seu Flecha Dourada. Tentou dizer
um agradecimento, mas sua voz escapou-lhe. O caboclo apenas assentiu, de
maneira a mostrar que ele sabia o que estava nos seus pensamentos. Palavras
não eram necessárias. O caboclo bradou, e para a toda corrente, assim bradou:

- SALVE A FORÇA DO SEU ORI!

Seria ainda necessário que João enfrentasse muitos desafios no campo da


espiritualidade. Mas com o devido tempo tudo se normalizou, até ele se tornar
um médium maduro, afiado instrumento dos guias e Orixás, pela qual muitos
filhos receberiam a suas graças.

Saravá a todos!

169
QUAL É A QUALIDADE DA ENERGIA QUE VOCÊ ESTÁ
DOANDO?

A Umbanda é uma religião que lida com diferentes vibrações. Todos os


elementos do ritual, seja os pontos cantados, seja as imagens no peji, a
organização do espaço, as ervas utilizadas, entre outros, contribuem para
formar as energias necessárias para o bom atendimento dos consulentes.

Durante o passe mediúnico, há uma união entre a energia vital do médium


com as vibrações das espiritualidade, as quais são manipulas pelos guias para
o benefício daquele que busca ajuda. Dessa forma, por exemplo, para os que
estão sentindo-se fracos e deprimidos, pode ser ministrado a força de Ogum;
aos que carregam o coração cheio de mágoas, pode ser necessário a energia
das águas; a outros que estão balançando muito na caminhada, pode receber
as vibrações de Xangô. São exemplos, mas é o próprio guia, com sua visão
espiritual, que possui o conhecimento do que o consulente está precisando no
momento.

Por esta razão, é muito importante que o médium se prepare para o momento
do trabalho. Já conhecemos os preceitos básicos a serem observados, como
evitar o consumo de carnes, bebidas alcoólicas e relações sexuais antes da
gira. Não podem ser ignorados. Têm como objetivo de não permitir que o
campo vibracional do médium esteja carregado de energias densas e esteja
preparado para a gira.

No entanto, além desses preceitos materiais, e mais importantes ainda, há os


preceitos mentais, emocionais e espirituais. Como você poderá enviar boas
energias para os consulentes se, no momento da incorporação, estiver
vibrando ódio, vingança, melindre, intriga, maledicência e outros sentimentos
negativos? É necessário estar sintonizado espiritualmente para um bom
acoplamento mediúnico. No entanto, quando nosso coração e nossa mente

170
está preenchido de negatividade, cria-se uma distância vibratória entre nós e
nossos guias.

É claro que as entidades procuram sempre contornar esta situação para


realizar um bom atendimento aos consulentes. Antes de se efetivar o
acoplamento em si, limpam e harmonizam, na medida do possível, o campo do
médium, a fim de liberar os canais energéticos que permitem a livre circulação
dos fluídos espirituais. Entretanto, quanto mais pesado o nosso nível vibratório,
mais difícil será a nossa incorporação e mais difícil manter a sintonia.

Por esta razão, para um bom desempenho mediúnico, nada melhor que o
desenvolvimento moral do médium. A boa e velha reforma íntima. Isto é mais
importante que qualquer firmeza que se possa realizar. Claro que ninguém é
perfeito e todos os temos nossos defeitos e problemas. Mas é importante
buscar, sem cessar, a nossa elevação espiritual.

Tenha um especial cuidado com a vaidade. Este é o maior inimigo dos médiuns.
Lembre-se sempre de que a Umbanda é humildade e simplicidade. Nosso
objetivo no terreiro é, acima de tudo, exercer a caridade ao próximo. E não
provar nossa força perante ninguém. Não estamos ali para disputar quem
incorpora mais entidades, quem está mais firme, quem dança mais bonito,
quem brada mais alto, quem roda mais veloz, quem usa as roupas as mais
elaboradas.

Algumas vezes, passamos por dificuldades na vida. Isto é normal e natural,


visto que encarnamos aqui na Terra para aprender com as lições da vida. Há,
da mesma forma, os momentos em que temos alguma desarmonia com um
irmão. Não podemos permitir, contudo, que essas situações nos abalem a
ponto de interferir em nossas comunicações mediúnicas. É preciso desenvolver
a atitude, ao entrar no terreiro, de deixar todos os problemas e
desentendimentos para fora. Esta atitude vai assegurar que você mantenha
sua mente na direção certa, para que tenha boas energias durante o momento
da incorporação.

171
É justamente para limpar o nosso campo energético que o desenvolvimento
espiritual e mediúnico começa a mexer com seu passado. Coisas há muito
tempo guardadas em seu coração passam a se manifestar para que você possa
resolvê-las. Exige-se que você enfrente as suas próprias sombras. E, nesse
sentindo, sua alma vai ganhando luz e leveza.

Quanto mais você se aproxima da espiritualidade, e permite as vibrações


elevadas crescerem em seu coração, mais elevada torna-se a qualidade dos
fluídos que doará à espiritualidade, para que ela possa auxiliar aqueles que
buscam o auxílio do terreiro. Para isso, faz-se necessário bons pensamentos,
uma conduta correta e, principalmente, amor no coração.

Saravá a todos!

172
COMO LIDAR COM A CONSCIÊNCIA DURANTE A
INCORPORAÇÃO

A consciência é, atualmente, uma das mais frequentes razões de dúvida e


confusão entre os médiuns iniciantes. Muitos ainda alimentam a ilusão de que
um dia sofrerão um apagão e de que seu corpo estará totalmente dominado
pela entidade. E quando passam pelas primeiras experiências na mediunidade,
em que apesar do que sentem no momento, observam e escutam a tudo,
acreditam que alguma coisa está errada.

O primeiro ponto é entender que não há nenhum problema com a consciência.


Ela não é negativa, ao contrário, quando trabalhada com responsabilidade,
torna-se fonte de grande aprendizado para o médium. É normal da mente
pensar, observar, raciocinar. Ela, naturalmente, resiste ao controle. Para que se
aprenda a manter-se passivo diante das atividades da entidade, exige-se treino
e tempo. Veja bem, se existe o desenvolvimento mediúnico, é por um bom
motivo.

Quando se é novo no caminho da mediunidade, você ainda possui a liberdade


de errar. Não tema, neste período, dar vazão aos impulsos que sente. O seu
discernimento está a amadurecer, e por esta razão possui a dificuldade de
distinguir o que é seu e o que é da entidade. Deixe fluir, com tranquilidade e
bom senso. Você está ali para aprender, não precisa provar nada.

Na fase de desenvolvimento mediúnico, você sente o impulso para algum


movimento ou palavra, percebe que o guia deseja passar alguma coisa. Você
age, neste momento, como um intermediário, uma espécie de tradutor dos
comandos mentais da entidade. No entanto, isto é temporário. Com o
amadurecimento de sua mediunidade, o processo será instantâneo. Não
haverá mais intermediação, a entidade fará o que precisa e pronto.

173
É importante não permitir a insegurança e o medo travar a sua manifestação.
Não bloqueie os movimentos e nem palavras. Mesmo que alguns equívocos
sejam cometidos, a experiência será necessária para você desenvolver os laços
com os guias. Confie, caso precise de algum pequeno ajuste, o dirigente te
orientará tranquilamente.

Aprofunde-se no autoconhecimento. Conheça o que habita sua alma, os


sentimentos, pensamentos, memórias, medos e desejos ali guardados. Este
entendimento de si mesmo te fornecerá as bases para distinguir o que é da
entidade e o que é apenas uma projeção dos seus próprios valores.

Não se apegue à movimentos corporais, nem trejeitos, nem paramentos. O


importante é o que sente. Se a energia é leve e suave, tudo bem. Há força no
sutil. O guia não precisa fazer seu corpo tremer por inteiro para você acreditar
que ele está presente. A fé é fundamental neste processo.

Saiba, o médium não é um simples aparelho. Tudo o que ele é, de alguma


maneira, estará presente na incorporação. Mesmo para aqueles que se
consideram inconscientes. Lembrar do que houve durante o exercício da
mediunidade não é nenhum mal, apenas a maneira como a espiritualidade
superior decidiu manifestar-se nos tempos atuais.

A espiritualidade é sábia, para tudo o que faz, possui um bom motivo. Não foi
você quem escolheu o tipo de mediunidade que hoje carrega, mas sim as altas
hierarquias do mundo espiritual. Se você descobriu-se médium consciente ou
mesmo médium semiconsciente, agradeça. Ela será uma bênção na sua vida.
Para que a caridade aconteça, é secundário se você lembra ou não do
aconteceu durante o momento da incorporação. Basta o bom caráter e o
coração disposto ao bem. O restante, no momento correto aparecerá em seu
caminho.

Saravá a todos!

174
O MÉDIUM PODE SER CHAMADO PARA TRABALHAR A
QUALQUER MOMENTO

É o terreiro o local de atuação do médium umbandista, através de sua


incorporação. Devido às complexidades e perigos envolvidos no trato com o
plano astral, para garantir a segurança e firmeza de todos, são realizados
assentamentos, formado uma corrente, seguido um ritual preestabelecido.
Entretanto, há inúmeras situações em que ele é convidado, de alguma forma, a
prestar apoio espiritual fora do templo religioso.

Quando você menos espera, surge uma pessoa com problemas diversos,
carente de ouvidos, orientações, direção, um pouco de luz e esperança. E pode
acontecer em qualquer lugar: na fila de um supermercado, em sua residência,
entre amigos, no trabalho, caminhando na rua. De uma maneira ou outra, a
espiritualidade nos direciona quem precisa deste conforto. Bem como o
contrário: nos momentos de necessidade, somos guiados para a pessoa certa.

Por esta razão, devemos estar sempre prontos para servir. É claro que há casos
mais graves que a única coisa que podemos fazer é pedir que aguarde a
próxima gira. Contudo, se mantivermos a sintonia com nossos guias e
protetores, seremos capazes de intuir as palavras corretas para aquele que
está à nossa frente. Muitos já o praticam inconscientemente: de repente,
percebem-se oferecendo conselhos intensos e significativos.

Todavia, o médium precisa ser cauteloso para não tomar para si as cargas e
dores do outro. Passe sua mensagem de forma gentil, mas firme, sem se
envolver emocionalmente, sem alimentar o sentimento de dó, sem criar
relações de dependência. Se você permitir, algumas pessoas te transformarão
numa lixeira energética, despejando sobre seu ser todas as suas vibrações
pesadas. Não é este o seu papel, e sim auxiliá-lo a se erguer e andar com as
próprias pernas.

175
Nesta vida, nenhum encontro é por acaso. Há eventos que somente
compreenderemos a razão meses ou anos depois. Tenha fé no processo: os
seus passos são conduzidos para que você possa cumprir sua missão. E, por
fim, confie em seu próprio potencial para transmitir palavras de luz e
encorajamento. Às vezes um sorriso é suficiente para mudar o dia de uma
pessoa.

Saravá a todos!

176
NÃO FIQUE RECLAMANDO DA VIDA ANTES DA GIRA
COMEÇAR

É comum, dentro do terreiro, nos dias de trabalhos, encontrarmos pessoas


próximas e queridas que há muito tempo não víamos. Afinal, há grandes
amizades que, devido as correrias do cotidiano, infelizmente apenas
conseguimos ver naquele local. É também natural, nestes encontros, o desejo
de pôr o papo em dia, saber as novidades, verificar se o amigo está bem.
Entretanto, surge um grande problema quando os diálogos se centralizam em
reclamações e lamúrias, em especial nos minutos que antecedem o início dos
rituais.

Devemos dar mais atenção ao conteúdo e a qualidade de conversas dentro do


terreiro. Não podemos esquecer que ele é um espaço sagrado e que o objetivo
maior é a cerimônia espiritual. Embora não seja necessário eliminar todo tipo
de diálogo, e dificilmente isto seria possível, há que se atentar para o que e
quando é dito. Se deseja liberdade e tempo para falar à vontade, combine algo
em outro lugar.

Antes de matar as saudades dos seus colegas, verifique se não há alguma


tarefa a ser realizada. Em geral, existem muitas e toda contribuição é mais do
que bem vinda, é necessária. Se os seus diálogos estão a atrapalhar sua
participação nos cuidados do terreiro, há algo errado. De preferência, chegue
bem cedo no templo religioso para que possa primeiro cumprir todas as suas
obrigações.

Como é dito, as palavras têm poder, produzem energias, estabelecem sintonias


com outros seres e forças que estão no plano astral. As reclamações e lamúrias
carregam uma grande capacidade de rebaixar sua vibração. Elas colocam você
num estado de perturbação que dificultará posteriormente sua concentração e
percepção das entidades. Opte, quando possível, por diálogos leves, elevados,
que transmitam harmonia e bem estar.

177
Em especial, esteja atento aos minutos que antecedem o início do ritual. Após
ter contribuído nas tarefas e saudado os assentamentos da casa, recolha-se.
Entre em um estado de silêncio interno e externo. Afaste-se das pessoas e
conversas e apenas sinta a energia ao seu redor. A espiritualidade já se faz
presente, as bênçãos estão sendo distribuídas. É o momento de se entregar e
se abrir a todas as maravilhas que acontecerão neste trabalho espiritual.
Alegre-se, mais uma gira está começando.

Saravá a todos!

178
A MEDITAÇÃO É BENÉFICA PARA O
DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO

A meditação é uma prática milenar presente em diferentes povos. Existem


várias formas de meditar, a mais simples consiste em apenas sentar
confortavelmente e escutar seus pensamentos, direcionando sua atenção para
você mesmo. Parece uma atividade simples, mas é capaz de transformar você
e sua vida profundamente.

São muitos os seus benefícios, vamos focar hoje com relação a mediunidade. O
primeiro ponto a lembrar é que a meditação desenvolve a concentração,
condição fundamental para uma prática mediúnica sadia. É a mente tranquila e
serena que permite a comunicação. Como que a entidade vai passar a sua
mensagem se você ainda está pensando no que aconteceu hoje no trabalho?

Para receber as vibrações do guia com harmonia, é preciso permitir que essa
vibração trabalhe. Quando há agitação, ansiedade, estresse, próprios do dia a
dia, essa conexão é dificultada. O exercício constante da meditação acalma os
pensamentos, relaxa nosso corpo, eleva nosso pensamento, favorecendo o
estado de passividade.

A meditação é um ótimo momento para entrarmos em contato com nossos


guias e protetores. Ali, nossa intuição está afiada. E quanto mais você a
pratica, mais fácil se torna essa comunicação.

Nesse momento de meditação, há, também, um processo de limpeza


emocional. Muitas coisas que deixamos há muito tempo guardadas em nosso
coração, sem realmente resolver, começam vir à tona. Mergulhamos em nós
mesmos. Descobrimos duras e profundas verdades sobre nós. Mas no final,
vale a pena, pois nos libertamos de um grande peso do passado. Para um bom
desempenho da mediunidade, é importante um médium limpo. Não adianta
fugir, o desenvolvimento mediúnico faz acontecer este mesmo processo.

179
Quanto mais nossa energia se aproxima de nossos guias e protetores,
avançando em nossa caminhada espiritual, mais sintonia há entre nós e as
entidades. Dessa forma, a mediunidade se realiza de forma tranquila e natural.
A meditação vem a somar nisso, uma vez que amplia nossa consciência e nos
conecta ao Pai Maior.

Saravá a todos!

180
SE EU NÃO DESENVOLVER A MEDIUNIDADE, MINHA
VIDA VAI PARA TRÁS?

Não. Esta é uma ideia bastante equivocada. A Umbanda, e a espiritualidade


como um todo, não obriga ninguém a ser médium. O livre arbítrio é uma lei
maior, contra a qual nenhuma entidade do Astral superior se atenta. Você é
muito bem capaz de ter uma vida feliz e saudável ainda que não siga nenhuma
religião. O mais importante não é o rótulo externo, mas aquilo que habita seu
coração.

Entenda que mesmo que não desenvolva sua mediunidade, não deixa de
apresentar uma sensibilidade mais aflorada do que as outras pessoas. E
precisa, de alguma maneira, cuidar da sua energia e de sua vida espiritual. Há
muitos métodos e caminhos diferentes para isso. A Umbanda é só mais um
deles, embora esteja firmada em um sólido fundamento que há décadas
promove muitas bênçãos.

O médium não desenvolvido é vulnerável às diferentes energias. Com


facilidade, toma para si as cargas que não são dele. E para que ele possa
caminhar com equilíbrio, precisa aprender a lidar com essa característica sua.
Bons pensamentos, sentimentos saudáveis, emoções elevadas e uma conduta
correta são as principais ferramentas. Além disso, regularmente, deve renovar
suas energias.

SE EU DESENVOLVER A MEDIUNIDADE, MINHA VIDA VAI MELHORAR?

Há muitos aspectos a serem considerados nesta questão. Antes de tudo,


entenda que o objetivo da prática espiritual não é o nosso enriquecimento
material. Se você está com esta expectativa, sinto lhe informar que já começou
errado. Embora a mediunidade, por nos melhorar como pessoa em todos os
sentidos, possa resultar indiretamente no equilíbrio e desenvolvimento da vida
financeira, não é essa sua meta principal.

181
Ela favorece nosso fortalecimento e crescimento pessoal e, com isso, atuamos
melhor em todas as áreas de nosso caminho. À medida em que habituamos
nossos chakras às vibrações salutares da espiritualidade, apuramos nossos
sentidos para captar as informações e orientações do Alto, e nos inserimos
numa atividade regular de assistência ao próximo, nosso ser interno evolui e
firma sua morada nos planos mais elevadas.

Com o amadurecimento mediúnico, nossas emoções, pensamentos e desejos


encontram equilíbrio. Nosso raciocínio é mais claro e nos tornamos receptivos
às intuições e inspirações dos guias que nossos acompanham. A partir disso,
nossas ações são direcionadas para onde há bênçãos para nós e àqueles que
cruzam nosso caminho.

Saravá a todos!

182
NÃO TENHA PRESSA COM O SEU DESENVOLVIMENTO
MEDIÚNICO

Cada pessoa possui o seu próprio tempo para ficar no desenvolvimento


mediúnico. Alguns demoram apenas alguns meses, outros precisam de anos,
uma vez que ninguém é igual ao outro. Vivemos processos diferentes e
caminhamos sob ritmos diversos. É bom que seja assim. A mediunidade deve
florescer de dentro para fora, de acordo com a naturalidade de cada pessoa.
Forçá-la a um padrão externo pode provocar um resultado negativo.

Nenhuma etapa deve ser pulada. É um bom sinal que este processo seja lento,
visto que o atendimento prestado pelas entidades é uma enorme e séria
responsabilidade. Se o médium não estiver bem preparado, algo desastroso
poderá surgir. Entenda, pessoas com problemas mais variados buscam os
terreiros. Há quem está por um fio para desistir de tudo. Por este motivo, o
dirigente deve se assegurar que aquele médium está apto para cumprir seu
dever.

Compreenda: não existe técnica, ritual, magia, curso, iniciação ou banho que
acelere seu desenvolvimento mediúnico. Atalhos não existem nesta
caminhada. Levará o tempo que for necessário, ainda que precise de anos.
Lamentavelmente, observamos muitos investirem altas quantias por
procedimentos que não dão o retorno prometido. Nada substitui o natural
amadurecimento espiritual que acontece dentro do terreiro.

Por esta razão, não tenha a arrogância de afirmar “eu estou pronto”. Cabe ao
sacerdote e guia chefe o verificar. Quando for o momento certo, será chamado
ao atendimento, e você estará fortalecido e preparado para a prática. A falta
de paciência e humildade, contudo, têm induzido muitos a procurarem outros
espaços com critérios duvidosos. A consequência nem sempre é positiva.

183
Cada etapa necessita ser vivida integralmente. Em vez de olhar lá na frente e
tentar imaginar como seu seria sua mediunidade em exercício, volte-se para o
presente. Cada momento traz profundas e valiosas lições. Aproveite
especialmente o serviço como cambone, não há oportunidade melhor para
aprender na prática sobre nossa religião.

A mediunidade não é uma corrida, mas uma longa caminhada. Em realidade, o


desenvolvimento nunca acaba. Sempre há novos aprendizados à nossa espera
Como numa escola, em que você somente avança para o grau seguinte quando
completa o atual, permita que cada degrau do desenvolvimento mediúnico te
transforme. Portanto, como ensinam nossos queridos preto velhos, paciência.
Deixe que cada coisa chegue no momento certo.

Saravá a todos!

184
DESCOBRINDO O NOME DOS GUIAS QUE TE
ACOMPANHAM

Você já deve ter ouvido esta expressão, mas é preciso sempre reforçar: na hora
certa você saberá o nome dos guias que te acompanham. Não há outro
segredo, nem nenhum truque que possa acelerar o processo. O
amadurecimento da mediunidade segue um ritmo natural; não tente forçá-lo.
Quando você estiver pronto, o nome virá.

Ele pode ser recebido por muitas formas diferentes: algumas vezes em sonho,
outros por intuição, ou mesmo, durante a incorporação, ele conta a qual
falange pertence, entre outros casos. Mas cada revelação guarda uma história
especial, a qual alegrará suas memórias.

O nome é revelado num processo de dentro para fora. Não acredite muito
quando uma pessoa externa apontar quem são as entidades que se
manifestam em sua mediunidade. Serão elas mesmas a se apresentarem para
você, no momento que elas assim desejarem. Isto porque o conhecimento do
nome indica uma fase mais madura do desenvolvimento mediúnico.

Há situações em que o médium já passou da hora de aprender o nome dos


guias. Contudo, em sua insegurança, ele bloqueia esta informação. Mais uma
vez, será necessário o tempo até que ele adquira a confiança para assumir
quem são estas entidades.

O nome não é algo banal. É um código que indica a linha de trabalho e


regência vibracional pela qual atua o falangeiro. Exemplo: Caboclo Flecha

185
Dourada. O termo “caboclo" nos informa seu arquétipo e linha de trabalho,
“Flecha” representa a força de Oxóssi e “Dourada" de Oxum. Isto já nos dá
algumas pistas das energias trabalhadas por esta entidade.

Outro exemplo “Exu Tranca-Ruas das Pedreiras”. O termo “Exu" fala sobre sua
condição de guardião, “Tranca-Ruas" sua atuação nos caminhos (associado à
força de Ogum) e “das Pedreiras” mostra-nos que esta entidade cruza
vibracionalmente com Xangô. Lembre-se de que estes são exemplos; tratando-
se sobre a espiritualidade, não podemos generalizar.

Dentro da uma mesma falange, há milhares de espíritos trabalhando sob o


mesmo nome. Se, por exemplo, você trabalha com o Caboclo Pena Azul e no
seu terreiro há outro médium que também manifesta Pena Azul, não significa
que são os mesmos espíritos. Apenas que são companheiros de falange. Por
esta razão, não fique procurando histórias na internet. Elas não correspondem
ao guias que te acompanham. Cada espírito possui a sua, e se for do seu
merecimento, eles mesmos te contarão.

E quando finalmente chegar o momento em que você tomar conhecimento das


falanges que trabalham por meio da sua mediunidade, não se envaideça. Não
deixe esta informação fazer seu ego crescer. Apenas honre-as com seu caráter
e dedicação à espiritualidade. Nenhum guia é melhor do que outro. As graças
vêm não do nome da entidade, mas do preparo do médium e merecimento do
consulente.

Apesar dessas considerações, não se fique tão ansioso para descobrir o nome
das entidades. Elas não estão preocupadas com isto. Estes são apenas
símbolos, e não seus nomes verdadeiros. Os guias trabalham na anonimidade.
Somente em raríssimos casos, quando se desenvolveu uma forte ligação e

186
intimidade com seus mentores, é que é permitido conhecer como realmente
são chamados.

O objetivo da Umbanda é a caridade. E para isto, todo o astral superior estará


disponível, não importa como você o denominar. Se existir sincera disposição
para a prática do bem, a espiritualidade se fará presente. O resto, virá com o
tempo.

Saravá a todos!

187
VOCÊ NÃO PRECISA PROVAR QUE ESTÁ
INCORPORADO

A insegurança leva alguns médiuns a “forçarem a barra". Movidos pelo medo


do julgamento alheio, interferem na incorporação e aumentam os trejeitos do
guia. É o caso de quando observamos aquele sotaque forçado, o giro excessivo,
a risada exagerada. Entendam, não é preciso provar nada para ninguém. A
entidade veio para fazer a caridade, não para receber aprovação dos olhares
dos outros.

Cada médium manifesta os guias de uma maneira bem particular. Alguns


apresentam mais trejeitos, com sotaque, andar, e movimentos mais
característicos do arquétipo da entidade. Enquanto outros nem tanto, sua
presença é menos marcante e sua manifestação mais sutil. E não há nenhum
problema nisso.

Para que a entidade faça sua caridade, ela não precisa disso. O passe, o
descarrego, a cura, a abertura de caminhos, entre outros, dependem mais de
uma manipulação energética do que como a entidade se apresenta. Estas
bênçãos da espiritualidade se originam da união entre a vibração do guia com
o do médium, irradiado na força dos Orixás, sustentado pelos assentamentos
do terreiro.

Os trejeitos auxiliam a caracterizar a linha de trabalho do guia, sendo fiel aos


arquétipos que representam. Muitas vezes, a entidade utilizam-se de um
desses elementos mais pela falta de fé do consulente do que por real
necessidade.

Um exemplo é o conhecimento da tecnologia moderna. O guia, um espírito


muito mais elevado que nós, cujo conhecimento ultrapassa em muito o nosso,
sabe muito bem o que é um carro, um computador, um celular. Mas se ele diz

188
algumas dessas palavras, gera-se falta de fé e, com isso, fecha-se às boas
energias da entidade.

É por estas razões que sempre reforçarmos: apenas deixe a incorporação fluir
em sua naturalidade. Você não precisa fazer careta para mostrar que a
entidade está ali presente. Apenas relaxe seu campo mental, cesse as
resistências da mente e sinta o que a entidade quer passar. Com o tempo, isto
será instantâneo, e em vez de ficar se perguntando se é o guia ou você, você
apenas se observará dando liberdade ao falangeiro.

Lamentavelmente, ainda sobrevivem em alguns terreiros provas físicas de


incorporação. Testes como andar na brasa, comer vidro, queimar a pele, entre
outra cenas absurdas. Ao nosso ver, são práticas desnecessárias e
incompatíveis com nosso momento atual. Em tempos que os processos
mediúnicos são cada vez mais conscientes (e não há nenhum problema nisso),
dificilmente eles passarão com sucesso nessas provas.

O guia mostra-se presente não com atos físicos, nem movimentos corporais,
nem sotaques forçados. E sim com orientações verdadeiras, energia elevada,
respeito à hierarquia e muita sabedoria. A verdade da Umbanda encontra-se no
espírito. E aqueles que a ela se abrirem, conhecerão seu significado.

Saravá a todos!

189
A MEDIUNIDADE É UM CASTIGO OU É UMA DÁDIVA?

A mediunidade é uma benção de Deus com o objetivo de auxiliar a evolução da


Terra. Ela jamais pode ser considerado um castigo, mas um presente divino à
humanidade.

Aqueles que desejam prosseguir neste caminho iluminado, devem fazê-lo por
amor. Não há nada que obrigue o desenvolvimento da mediunidade, embora
seus benefícios para o nosso espírito sejam muitos.

O médium, em geral, é um indivíduo portador de largos débitos cármicos, tanto


dessa vida, quanto principalmente das anteriores. E encontra no exercício da
caridade um meio para acertar-se com as leis da vida.

Quando ele ainda não encontrou seu caminho junto à espiritualidade, é


provável que ele passe por muitos processos de perturbação. Uma vez que
encontra-se em desequilíbrio, energias e entidades diversas tentam tirar
proveito.

O mundo espiritual é regido pela lei de sintonias e o médium que vibra no


negativo pode encarar o seu dom como uma fonte de problemas. Mas isto
acontece somente porque ele atraiu para si, através de seus pensamentos,
sentimentos e ações, vibrações prejudiciais.

Para que equilibre sua vida, é preciso alinhar-se com a luz. Isto não significa,
necessariamente, desenvolver a mediunidade, e sim cuidar do espírito. Não
adianta alimentar rancores, mágoas, desejo de vingança, atitudes desonestas e
depois culpar a mediunidade pelas dificuldades que construiu na sua vida

Porém, se você deseja aprofundar-se na mediunidade, com boa vontade e


disposição para se transformar, tenha certeza que seus caminhos serão

190
abençoados. Não estou falando aqui de benesses materiais, este não é
objetivo, embora algumas vezes podemos ser agraciados com isso. Refiro-me à
maravilhosa oportunidade, diária, de vivenciar curas, limpezas,
transformações, libertações, aberturas de caminhos, entre tantas outras
experiências incríveis. Mais do que isso, ela permite a iluminação da alma.

Não há nada mais realizador do que sentimento de gratidão à espiritualidade


por mais uma gira de trabalho. E depois dormir refletindo o quão magnífica é a
presença da Umbanda em nossa vida. Então dizemos sim, a mediunidade é
uma enorme dádiva em nossa vida.

Saravá a todos!

191
NÃO IMITE A INCORPORAÇÃO DOS OUTROS

Cada médium é único, assim como cada guia trabalha de uma forma particular.
Embora todos possuem o mesmo objetivo, que é a prática da caridade, as
entidades usam-se de métodos e abordagens diferentes para alcançar o bem
estar do consulente. E isto é um fato muito positivo, uma vez que as pessoas
também não são iguais umas às outras. O que é bom para mim não
necessariamente é bom para o próximo.

Parte do desenvolvimento mediúnico é este processo pessoal de


autodescoberta, aprender como é a naturalidade de suas próprias
manifestações mediúnicas. É muito importante, neste período, não se
preocupar com os trejeitos exteriores. Se a entidade que trabalha com você irá
girar ou não, bater no peito ou não, gritar ou não, entre outras características,
você descobrirá gradualmente, no tempo correto.

Se você forçar a sua incorporação para que ela fique semelhante a de outro
médium, você perderá aquilo que é único de sua mediunidade. Você nega
aquilo que lhe é natural e impede que os guias trabalhem como desejam.
Como sempre repito, apenas deixe fluir a energia que sentir.

Um dos hábitos mais nefastos que um médium iniciante pode adquirir é


comparar-se com seus irmãos de corrente. Por mais que você possa admirar as
entidades de um médium, entenda que sua mediunidade não é igual a dele.
Cada pessoa possui a sua próprio processo, e nenhuma forma de trabalhar é
melhor do que outra. Perante o Pai, somos todos pequeninos.

É como na natureza. A diversidade de plantas e animais é necessária para a


manutenção do meio ambiente. Tire uma espécie, e o desequilíbrio é
estabelecido. Da mesma forma é no terreiro. Se ali somente trabalha-se com as
forças de Ogum, como ficarão os consulentes que precisam das vibrações de
Oxóssi? Se houve apenas guias sérios e de poucas palavras, onde encontrarão

192
respostas aqueles que buscam explicações mais aprofundadas? Veja, tudo tem
a sua necessidade e tempo correto.

Por esta razão, não tente ser como o outros. Os guias que se manifestam
através de sua mediunidade são poderosos. Tenha certeza, quando for o
momento de você participar do atendimento, a própria espiritualidade
encaminhará aqueles que precisam destes guias para receberem suas graças.

As incorporações não são padronizadas. Mesmo quando os guias apresentam


os mesmos nomes, cada um vem do seu jeito. Não existe isso de que se for
Caboclo tal então precisa rodar, mas se for Exu tal somente se manifesta
encurvado e com as mãos para trás. Cada um é cada um.

Médiuns iniciantes, saibam confiar no que sentem. Este é um dos alicerces


fundamentais do bom desenvolvimento mediúnico. Pode acontecer alguns
excessos no caminho, mas para isto estarão os dirigentes do seu terreiro para
lhe orientar.

O objetivo principal, devemos sempre reforçar, é o exercício da caridade. Esta é


a essência da Umbanda. E para que isso ocorra, cabe aos médiuns assumirem
suas próprias características, permitir que os guias trabalhem como desejam.
Isto é, fazer aquilo que é natural.

Saravá a todos!

193
O QUE É A MEDIUNIDADE?

Para entendermos a mediunidade, precisamos partir do pressuposto que existe


algo além da matéria. Mais do que carne e osso, somos, em essência, espírito.
E nossa realidade é intrinsecamente permeada pelo plano espiritual, onde
habitam os mais diferentes seres e energias.

A mediunidade é uma faculdade natural do espírito humano, a qual permite a


comunicação e percepção de seres e energias de outros planos além da
matéria. Nas palavras de Allan Kardec “todo aquele que sente em um grau
qualquer influência dos espíritos é, por esse fato, médium”.

O médium é um portal, um canal de comunicação entre o plano espiritual e o


plano material. Sua responsabilidade é enorme.

Todos são médiuns, mas em graus e tipos diferentes. A mediunidade mais


comum e universal é a de intuição, a qual atua numa comunicação
pensamento a pensamento.

A mediunidade não é exclusiva de nossa religião. Há muitos relatos na História


de sua prática milenar. E mesmo em outros cultos onde não se utiliza
claramente dela, os bons espíritos estão presente, promovendo curas,
desobsessões, descarregos e transformações de vida.

São muitos os tipos de mediunidade. E nenhum médium é igual ao outro. Cada


um sente, vibra e expressa de uma forma única. Mas todas as formas de
mediunidade, de alguma maneira, podem ser utilizadas no exercício da
caridade. Na Umbanda, a forma mais largamente utilizada é a de incorporação,
que se realiza através do acoplamento de chakras, o qual o guia toma o
controle parcial da mente e corpo do médium.

194
A mediunidade está presente em todas as classes sociais. Ela não faz nenhum
tipo de diferenciação. Sua finalidade maior é o auxílio ao próximo, bem como o
desenvolvimento espiritual da humanidade. Ela é dada por Deus, e por
ninguém pode ser tirada.

A qualidade das comunicações dependerá do estágio vibratório do médium,


que, seguindo os hábitos de pensamento e sentimento deste, pode ser positivo
ou negativo. Atraímos aquilo que somos. Por esta razão, reforçamos mais uma
vez a necessidade do vigiar e orar.

A mediunidade é um assunto muito sério. Não deve ser buscada apenas por
curiosidade, nem levada na brincadeira. É uma das ferramentas utilizada pelas
elevadas hierarquias espirituais para atuação em nosso planeta. Cabe a seus
portadores fazerem jus à responsabilidade assumida. E a todos nós darmos
graças ao Pai por mais esta expressão de sua misericórdia divina.

Saravá a todos!

195
DEIXE A ENERGIA FLUIR

Uma dos principais desafios do médium iniciante é desenvolver a


autoconfiança necessária para deixar os guias trabalharem livremente.
Naturalmente, há uma larga insegurança no neófito, receio de errar e intenso
medo de ser julgado pelos seus irmãos de corrente. E por esta razão, é comum
ele travar a manifestação das entidades.

A mediunidade torna-se madura quando o novato aprende a deixar a energia


fluir em sua naturalidade. No entanto, muitos ficam aguardando um momento
no futuro em que sofrerão um apagão e sentirão o corpo ser totalmente
dominado pelo guia. A verdade é que isto nunca acontecerá. A incorporação
não é possessão.

A insegurança é a maior inimiga dos médiuns iniciantes. É comum ter medo de


errar na fase inicial de suas incorporações. Afinal, é momento de aprendizado.
É comum, neste período, você sentir que é mais você presente do que o guia. A
comunhão e firmeza ainda estão sendo construídas. E para isso é exigido um
longo processo.

O animismo ali será normal. Vamos pensar, ninguém nasce habituado a ceder
parte de suas funções motoras a outro espirito. É esperado uma certa
resistência do corpo e da mente aos mecanismos da mediunidade. É devido a
estas razões que existe o desenvolvimento mediúnico.

Saiba que em qualquer momento da sua vida espiritual a fé será necessária. Fé


tanto na espiritualidade quanto em você mesmo. Não espere que os guias
venham de tal maneira que você possa ter certeza na existência da vida
futura. Não queira ver para crer. Porque imagine o tamanho do karma que você
arranjaria para si ao, diante da plena confirmação da existência da
espiritualidade, mesmo assim continuar cometendo os seus erros espirituais.

196
Trabalhe a partir da energia que recebeu, mesmo que seja sutil. Por mais que
sinta apenas uma vibração, saiba direcioná-la para o seu bem e do próximo. A
caridade está disponível a todos, nem que seja por meio de uma oração.

Não se apoie em fenômenos materiais para assegurar sua segurança no


processo mediúnico. A incorporação não é um choque elétrico que quanto mais
você tremer mais real e mais forte é. Os guias não violentam nossa matéria,
mas vêm na suavidade (embora algumas energias possam ser realmente muito
intensas).

Você é um médium, isto é, um intermediário entre o plano astral e o plano


material. Seu papel é captar as energias, mensagens, ideias e conhecimentos
do mundo sutil e transmiti-los ao nosso mundo. É um instrumento da
espiritualidade para a prática da caridade. E para isso, deve se entregar e
deixar os guias trabalharem.

Com o exercício e o desenvolvimento da mediunidade, desenvolve-se também


o seu discernimento. Você saberá diferenciar aquilo que provém do Alto daquilo
que é fruto dos seus próprios pensamentos. Haverá uma verdadeira sintonia
com as entidades que trabalham com você. Em vez de ficar se perguntando se
é você ou o guia, terá a confiança em simplesmente deixar fluir. Você se
observará falando o que não esperava e essas palavras ressoarem no coração
daqueles que buscam o auxílio dos trabalhadores da Umbanda. Não há algo
mais gratificante do que trabalhar por esta maravilhosa religião.

Mas para chegar nesse ponto, duas palavras são importantes, sempre ditas
pelos próprios guias:

Primeiro, coragem. Enfrente toda insegurança, todo medo de errar e de ser


julgado. Você não está ali para agradar ninguém, mas sim para servir à
espiritualidade no exercício do bem ao próximo. Deixe fluir o que sente,
permita as entidades se manifestarem em sua naturalidade. E se porventura
você cometer algum equívoco, tudo bem, você está em desenvolvimento.

197
E por fim, paciência. Essa é uma lição sempre reforçada pelos guias, certo?
Somente o tempo trará confiança e maturidade na sua mediunidade. Paciência.
Respeitando seu ritmo neste processo. Quando você estiver pronto para o
atendimento, você saberá, assim como aqueles que dirigem a sua casa. Não
vai ser nessa encarnação que você aprenderá tudo o que a espiritualidade tem
a lhe ensinar.

Saravá a todos!

198
QUANDO A HUMILDADE TORNA-SE VAIDADE

Quando, em 1908, estavam todos reunidos em torno da mesa branca, Zélio de


Moraes interrompeu o início da sessão mediúnica e disse “falta uma flor nessa
mesa”. Neste momento, levantou-se e foi buscá-la no jardim mais próximo.
Isto, entre outras coisas, representava uma das principais características da
Umbanda: o uso de símbolos, elementos materiais, ritos e a manipulação das
energias da natureza.

Infelizmente, são muitos os que se utilizam de suas manifestações mediúnicas


para projetar, nos guias, suas emoções, como a vaidade, o orgulho, a
insegurança, o medo.

Alguns partem para o exagero. Roupas excessivas, movimentos e brados


extremos, incorporações sucessivas, oferendas desnecessárias, entre outros.
Neste texto, quero falar do outro lado da moeda, que embora mais raro,
também acontece. Aquele que, tentando passar uma imagem de total
humildade e simplicidade, nega o uso de qualquer elemento material e não
permite que seus guias expressem trejeito algum.

É o caso de quando, por exemplo, o guia deseja utilizar-se de um charuto para


realizar seu trabalho e seu cavalo diz “minhas entidades não precisam disso,
basta o passe". Ou quando o Pai de Santo recomenda um banho, e o mesmo
médium responde “para mim basta uma boa oração”. Há outros, ainda, que no
momento da incorporação, a entidade deseja fazer um giro e soltar um belo
brado, mas na sua arrogância o médium corta o movimento, uma vez que ele
acredita estar isento da necessidade de qualquer movimento.

199
Não estamos falando aqui dos médiuns iniciantes, a qual ainda estão
aprendendo a confiar em suas mediunidades e deixar a incorporação
simplesmente fluir. Mas daqueles que tolham suas manifestações
deliberadamente.

O importante é seguir aquilo que lhe é natural. Se o caboclo que trabalha com
você realmente não deseja girar e nem gritar, tudo bem. Mas se intenciona
manifestar-se dessa maneira, deixe fluir. Permita-o vir do seu jeito. Não o
controle para passar uma falsa imagem de humildade e simplicidade. Aqueles
que são mais experientes no terreiro perceberão a diferença. É claro, toda
incorporação deve acontecer dentro dos parâmetros do equilíbrio e bom senso.

Não acredite estar acima dos demais. Todo mundo, pelo menos alguma hora,
pode precisar de um bom banho de ervas, uma vela, uma oferenda, usar uma
guia de proteção. Se o guia ou o Pai de Santo orientou-lhe algumas dessas
práticas, é porque há um bom motivo, porque vai lhe fazer bem. Quando você
recusa-se a seguir algumas dessas recomendações, você nega uma benção da
espiritualidade.

Realmente, o pensamento positivo, a oração, a fé, a conduta correta são as


melhores proteções para qualquer pessoa. No entanto, ninguém consegue
manter-se o tempo todo positivo e com a energia elevada. Afinal, estamos
ainda em aprendizado. Se encarnou na Terra, é porque ainda carrega largos
débitos morais. Nossas emoções estão em constante oscilação, e, em algum
momento, qualquer pessoa vai vibrar para o negativo. Os elementos da
Umbanda tem o objetivo de ajudar a reestabelecer o nosso equilíbrio.

200
Cabe a cada um a constante vigilância de seus próprios atos. Ao ler este texto,
não pense em seu irmão de corrente. Procure, antes, observar se alguma
atitude sua não se enquadra em algumas das situações descritas. Está tudo
bem, estamos na Umbanda para aprender.

O caminho correto está sempre nos princípios equilíbrio, da necessidade e da


naturalidade. Não podemos nem utilizar algum elemento só por usar, ou
simplesmente por achar bonito, nem tampouco deixarmos de realizar alguma
atividade necessária para criar uma falsa imagem de superioridade. Deixemos
os guias trabalharem, sem tirar e nem acrescentar nada.

Saravá a todos!

201
O DESENVOLVIMENTO NA UMBANDA PARA OS QUE
NÃO SÃO MÉDIUNS DE INCORPORAÇÃO

Será que que os cambones e os atabaqueiros não passam por algum tipo de
desenvolvimento na religião também? Ou apenas os médiuns de incorporação
recebem necessitam de atenção pelos sacerdotes da casa? Vamos entender
um pouco mais estas questões.

É claro que, ao rigor da palavra, todo mundo é médium em algum grau.


Qualquer pessoa, à sua maneira, consegue se comunicar com a
espiritualidade. No entanto, nem todos serão encaminhados para o
desenvolvimento mediúnico e posteriormente atendimento. Alguns,
respeitando a naturalidade de suas sensibilidades, permanecerão na percussão
ou atuarão como cambones.

Enfatizemos que estas são tarefas muito honradas; aqueles que servem as
entidades não são menores do que os outros membros da corrente. Sem eles, a
gira não é possível. Embora alguns exercem temporariamente a função de
cambone Efuturamente se dedicarão à incorporação, muitos desempenharão
estes papéis por toda a vida. E não há nenhum problema nisso.

Mais do que apenas serem apenas “jogados” para dentro do terreiro, é


importante compreender que eles também passam por um rico processo de
desenvolvimento e amadurecimento dentro da religião. Com o tempo e
experiência, eles desenvolverão sua própria história dentro do axé, e
contribuirão para a caridade tanto quanto qualquer outro médium.

O cambone, auxiliar direto das entidades, descobre que é um médium de


sustentação. Ainda que não atue incorporação, contribui na doação de energias
e sustentação da corrente. Não é raro, também, alguma entidade pedir que ele
se posicione atrás do consulente: não apenas para evitar que ele o assistido

202
caia no chão, mas também fechar um “circuito”. As vibrações saem do guia,
passam pelo consulente, chega ao cambone, e de lá retorna para a entidade.

Ele aprende mais do que qualquer outro no terreiro. Servindo os falangeiros,


traduzindo suas orientações, ele ouve da boca de cada um. Sabe muito sobre
as ervas, firmezas, o modo como cada guia trabalha. Já escutou tantos
problemas e dificuldades, mas também variadas maneiras de resolvê-los. E
chega um nível de conexão tão grande com as entidades que auxilia que com
frequência ela não precisa dizer nada e o cambone já sabe o que buscar ou
fazer.

Por outro lado, o atabaqueiro desenvolve uma grande sensibilidade para a


energia do momento. Consegue, com destreza, identificar qual linha está a se
manifestar e qual o ponto cantado necessário. Com seu toque e canto, é capaz
de modificar toda a vibração do ambiente, e até mesmo quebrar densos
campos de força.

A Umbanda não é somente incorporação. Ela é uma religião inclusiva, onde


todos podem nela se apoiar, amadurecer, desenvolver suas potencialidades e
contribuir. A caridade não está restrita apenas aos médiuns ostensivos; cabe ao
terreiro encaixar cada um onde melhor atua. Se soubermos aproveitarmos o
que é natural em cada um, bons frutos colheremos.

Saravá a todos!

203
Carrego uma mágoa muito profunda, mas não consigo
me libertar dela. Isto significa que nunca vou evoluir
espiritualmente?

Resposta:
“Oxalá meu Pai
Tem Pena de nós
Tem dó
Se a volta do mundo é grande
Seu poder é maior"

Quando sentir que te faltas forças, que já fez de tudo, mas mesmo assim o
problema persiste, entrega tudo nas mãos de Oxalá. Ele sabe o que faz. Confie
na espiritualidade, e deixe ela agir no tempo dela.

Você diz que apesar de todas as tentativas não consegue se libertar de uma
mágoa profunda que te perturba há anos. Está tudo bem. Não se culpe. Não
acredite que isto será suficiente para atrasar toda a sua evolução.

Todos nós somos aparelhos imperfeitos. São muitos os vícios de cada um. E
apesar disso, trabalhamos. Como me ensinou um caboclo, a espiritualidade
escolhe galhos tortos para serem seus emissários. Porque na medida em que
prestam a caridade ao próximo, salvam a si mesmos.

Uma árvore, antes de se tornar grande e formosa, quando ainda está em um


tamanho médio, já começa a dar os seus frutos. Então, vá em busca da sua
evolução apesar do sentimento que carrega. Chegará o momento em que a
espiritualidade te dará as ferramentas necessárias para superá-lo. Mas até lá,
não fique parada na sua caminhada espiritual.

204
Nem tudo temos as condições de resolver hoje. É de pouco em pouco que
ajeitamos a vida. Tudo possui sua hora para acontecer. Mas saiba de uma
coisa, se você está na Umbanda, já está no lugar certo. A Umbanda é cura, é
alegria, é libertação, é caminhos.

Saravá a todos!

205
O DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO É, ANTES DE
TUDO, UM DESENVOLVIMENTO DE SI MESMO

Quando passamos a frequentar a Umbanda, iniciamos um processo de


profunda transformação interior. E, ao decorrer do desenvolvimento mediúnico,
estas mudanças intensificam-se.

As vibrações elevadas dos guias mexem com nossas energias. Aquilo que está
oculto manifesta-se. E as questões que há tanto tempo tentamos fugir, mais
uma vez dá sua cara.

Mágoas guardadas, sentimentos reprimidos, hábitos negativos, pensamentos


acumulados vêm à tona. Isto porque o desenvolvimento mediúnico desenrola
uma verdadeira limpeza interior. Antes de participar das consultas, os guias
preparam seus aparelhos.

De uma maneira ou de outra, você terá que lidar com suas sombras interiores.
Enfrentar as trevas que habitam seu ser. Muitas vezes, é doloroso, difícil, mas
necessário. Pense bem, como poderá o guia orientar o perdão, quando seu
próprio cavalo guarda profundos rancores?

Com o desenvolvimento, firma-se no médium não somente as vibrações dos


guias e Orixás, mas também as valores que a espiritualidade nos ensina. É o
momento de desenvolver a paciência, a humildade, a simplicidade, a
reverência ao sagrado.

Por este motivo, aquele que deseja passar bem por este período, deve
apresentar uma constante disposição para se transformar. Encarnar a boa
vontade para ouvir os conselhos e orientações dos guias e colocá-los em
prática na própria vida.

206
É quando assume-se responsabilidades. Você não é mais consulente, não pode
mais comparecer no terreiro apenas para receber, deve também fazer sua
parte. Contribuir para que o axé aconteça. E buscar integrar-se ao seu terreiro.
Há muitas formas de ajudar.

O desenvolvimento mediúnico também será o momento de expandir os seus


conhecimentos. Para isso, está a disposição uma infinidade de textos, livros,
vídeos, páginas, entre outros. Mas principalmente o saber virá através da
própria experiência no chão do terreiro. É preciso ouvir com humildade,
observar tudo o que o que lhe cabe, e estar próximo dos seus mais velhos.

Entenda, Umbanda não é somente incorporação, mas desenvolvimento pessoal


em todos os sentidos. O amadurecimento da mediunidade exige um
amadurecimento de si mesmo. Mergulhar no seu interior, aprofundar-se no
autoconhecimento. Realizar a tão falada reforma íntima, para que você possa
ser um instrumento afiado da espiritualidade para a prática do bem.

Saravá a todos!

207
POR QUE É NECESSÁRIO PASSAR PELO
DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO?

Ninguém nasce pronto. Tal como uma árvore, que antes de oferecer largos
frutos precisa ser semente, assim é nossa mediunidade. Para que possamos
nos colocar à serviço do próximo, devemos primeiro estar preparados. A
responsabilidade é grande, e por este motivo existe o desenvolvimento
mediúnico.

No momento da incorporação, há uma união de sua energia com a energia da


entidade, por meio do acoplamento dos chakras. Para que isto ocorra, o guia
precisa rebaixar-se vibratoriamente, enquanto o médium busca elevar-se.
Lembre, os guias, devido seu adiantamento moral, possuem uma vibração
sutil. Quando há o encontro da energia do médium e entidade, quando vibram
em frequências análogas, a incorporação é possível.

Em nossos corpos astrais estão presentes centros de forças, popularmente


chamados de chakras, responsáveis, entre outras coisas, pelas trocas de
energias entre a pessoa e o que está ao seu redor. É por meio desses centros
que o guia é capaz de tomar o controle do médium. No entanto, nem sempre
estes centros funcionam corretamente.

Pensamento negativos, emoções descontroladas, excessos de todo tipo,


comportamentos equivocados e até mesmo uma palavra indevida podem gerar
sujeiras espirituais, cargas negativas, que se acumulam ao longo do tempo.
Essas cargas atrapalham a boa circulação de energia no campo astral do
médium.

Quando o guia se aproxima do médium, assumindo comando dos seus centros


de forças, e encontra seus canais de energias bloqueados por cargas e sujeiras
espirituais, sua atuação é limitada. Isto porque suas vibrações não conseguem
circular com fluidez no campo energético do médium.

208
Feitos essas considerações, podemos explicar a importância do
desenvolvimento espiritual. Quando os guias fazem suas primeiras
aproximações, o campo espiritual do médium ainda está muito cheio de cargas
negativas e sujeiras espirituais. A energia não circula fluidamente. E nisso, cria-
se muitos desequilíbrios e obstáculos.

Em alguns casos, no início, o médium sente uma energia bem suave e leve, e
com o tempo as sensações vão se intensificando. Ele aprende a expandir suas
percepções e confiar naquilo que vibra. Até chegar o dia em que ele
simplesmente se entrega, e a entidade consegue chegar plenamente.

Outras situações, no início, o médium sente uma energia muito forte, com
muitos sacolejos, que o desequilibra e até mesmo o derruba no chão. Isto por
causa dos bloqueios causados pelas cargas negativas que impedem as
energias de fluírem harmoniosamente. Neste caso, o iniciante vai aprendendo
a controlar a vibração do guia, para que ele venha de forma equilibrada.

De uma forma ou de outra, o iniciante precisa passar pelo desenvolvimento


mediúnico para que os seus centros de força se harmonizem e a vibração das
entidades possam movimentar-se salutarmente em seu corpo astral. A cargas
negativas devem sem eliminadas e os bloqueios dissolvidos. A fim disso, é
necessário de um bom tempo em contato com as energias elevadas dos guias.

Para bem receber as falanges de Umbanda, a mente, coração e espírito


precisam estar limpos. E por esta razão é tão importante a chamada reforma
íntima. Enquanto os pensamentos e sentimentos estiverem vibrando no
negativo, haverá dificuldades para que a incorporação aconteça plenamente.
Dessa maneira, é importante que o médium iniciante entenda que o
desenvolvimento mediúnico é, antes de tudo, um desenvolvimento de si
mesmo.

Saravá a todos!

209
O MÉDIUM NÃO É SUPERIOR AOS OUTROS

Por vezes, tendemos a depositar nos médiuns uma imagem de seres elevados,
invulneráveis, fortalezas impenetráveis a qualquer infortúnio. Espera-se que
ele esteja imune a qualquer dificuldade da vida; caso contrário, muitos
colocarão em xeque a “força” dos guias que lhe acompanham. Contudo, esta
visão, claramente equivocada, apaga a humanidade compartilhada dos cavalos
de Umbanda: ele é uma pessoa normal como qualquer outra, sujeito aos
problemas e imperfeições da vida.

Ser médium não concede nenhum privilégio ao seu portador. Ele deve, da
mesma forma que os demais, dispender seu tempo e trabalho para conquistar
suas aspirações da vida. Pode, também, ficar doente, perder o emprego,
enfrentar conflitos no seu relacionamento, estar confuso na vida, sentir medo.
Afinal, se estamos encarnados neste planeta é porque há ainda muitos
aprendizados para realizarmos.

É triste quando o próprio médium assume esta falsa postura de


invulnerabilidade a tudo. O custo emocional e físico exigido para sustentar esta
máscara é enorme. Hora ou outra, a realidade o lembrará de que é ainda um
filhote diante das leis do Universo; situações aparecerão em que será exigido a
humildade para pedir ajuda. Neste mundo, ninguém é totalmente
independente.

Somos todos imperfeitos, e está tudo bem nisso. Reconhecer suas próprias
fraquezas e fragilidades é parte do processo de evolução espiritual. Quem não
encara suas sombras fica para trás. Médium firme não é aquele incapaz de
errar; e sim aquele que não deixar escapar as oportunidades de
desenvolvimento espiritual. Uma das melhores estratégias de proteção é
conhecer seus pontos fracos: é ali que você poderá ser atacado.

210
O médium é mais visado pelas organizações trevosas, visto que atua como
ponta final das falanges do espaço. Com frequência, são observados e
estudados por meses e anos para que seja identificado suas brechas
emocionais. Todo mundo possui várias delas. E quando ele menos espera,
táticas astutas são colocadas em ação. Até que o médium perceba as
movimentações muitos transtornos já terão acontecido.

É por este motivo que trabalhamos em grupo; sob supervisão dos maiorais do
Astral, apoiamo-nos um no outro, formando uma corrente. Se um cai, os outros
o erguem. Até mesmo os Pais e Mães de Santo podem precisar de auxílio
externo. A força da coletividade é quem é capaz de criar, captar, canalizar o
axé e distribui-lo para a toda a comunidade. A Umbanda não se pratica
individualmente, ao contrário, é exercida em comunhão com os irmãos.

Como podemos evitar todas estas situações? Aceitando que não somos seres
tão imaculados como gostaríamos. Se não nos cuidarmos, se não vigiarmos e
orarmos, se nos isolarmos do agrupamento religioso, poderemos sofrer as
consequências de nossas imprudências. A perfeição é um ideal que não se
encontra na realidade; exigi-la, além de inalcançável, leva a muito sofrimento.
Enfim, reforçamos, a maior proteção do médium é a humildade.

Saravá a todos!

211
PODE O PAI/MÃE DE SANTO MUDAR AS ENTIDADES
DE SEUS FILHOS?

Esta é uma dúvida, infelizmente, mais comum do que se imagina. Enquanto


para muitos pode ser óbvia a resposta negativa, ainda somos relatados de
tantos dirigentes que se declaram com mais poder do que realmente possuem.
Faz-se necessário, novamente, rogarmos mais humildade e lucidez daqueles
que são responsáveis pelos terreiros.

Nenhum sacerdote é capaz de alterar qualquer guia espiritual com quem seus
filhos trabalham, não importa há quantos anos esteja na religião. As entidades
que cada médium manifestará é definido antes mesmo de ele encarnar, de
acordo com sua missão e afinidade vibratória.

Esta relação que temos com nossos mentores não é algo que possa ser trocado
como se escolhesse uma vestimenta. Em alguns casos, foi construída ao longo
de várias encarnações em comum, criando uma grande proximidade. Os
processos mediúnicos exigem uma comunhão de valores, visão de mundo e
energia pessoal. Não é algo simples incorporar uma entidade que não é de sua
coroa.

Lamentavelmente, movidos por ciúmes ou vaidades, muitos sacerdotes se


inquietam quando um de seus filhos diz trabalhar com as mesmas entidades
que recebe. Deseja que apenas ele, por exemplo, incorpore aquele exu com
nome pomposo. E nesse movimento inventa este falso poder de mudar os
guias dos outros.

É muito raro haver alguma mudança das entidades que um médium trabalha. E
em todas as situações possíveis, sempre parte da própria espiritualidade. Ou o
guia tinha uma missão temporária com aquele filho, por exemplo apenas
presente para o seu desenvolvimento mediúnico, ou ele decidiu reencarnar, ou

212
precisou se afastar devido as más escolhas de seu protegido. Mas nunca por
determinação de outro encarnado.

O que cabe ao Pai/Mãe de Santo é referente ao calendário de giras, estabelecer


qual será a linha de trabalho do dia. Isto é, se será caboclo, ou preto velho, ou
esquerda, e assim por diante. Porém, se o médium incorporará, por exemplo,
Caboclo Pena Branca, ou 7 Flechas, não está nas mãos do dirigente. É a partir
do desenvolvimento mediúnico, num processo natural, que falangeiros se
apresentarão.

Saravá a todos!

213
É URGENTE DESCOBRIR QUEM SÃO OS SEUS PAIS DE
CABEÇA?

É uma característica comum dos novos umbandistas a ansiedade para


descobrir quem são seus pais de Cabeça. Não é raro alguém nas redes sociais
questionar como conhecer os Orixás que regem sua coroa. As respostas
recebidas são as mais diversas possíveis, o que resulta em mais dúvida e
insegurança.

A pressa e ansiedade, em qualquer caminho espiritual, não traz bons frutos.


Para tudo, há de passar por um processo natural, um ritmo intrínseco onde as
etapas não podem ser puladas. Se for para você guardar apenas uma
informação deste texto, que seja esta: deixe que seus Pais de Cabeça se
apresentem na hora certa, quando você estiver pronto.

Se você tentar forçar uma resposta, não ficará satisfeita com ela, não importa
quão consagrada seja a fonte dela. Procurará um outro lugar, um outro método
ou oráculo, ouvirá um nome diferente e, no final, estará ainda mais confuso. Se
não for o momento correto, não sentirá, no coração, a segurança que afasta
toda incerteza.

Além disso, sua vida não mudará quando encontrar o nome. Somos filhos de
todos os Orixás, todos somos zelados por algum amigo espiritual.
Independente de quem seja os seus Orixás de Frente ou Adjunto, eles estarão
dispostos a nos abençoar e proteger. E, compreenda, ainda que a Umbanda
cultue sim estas divindades, seu foco está nos guias espirituais.

A descoberta dos nomes, seja das entidades que te acompanham, seja dos
seus pais de cabeça, é o resultado de um profundo amadurecimento espiritual.
O processo é longo, difícil, doloroso; possui seus momentos de crise e
insegurança, porém, seu legado é o encontro com sua essência espiritual.

214
Não tenha pressa, mesmo que demore anos. Isto não é o mais importante
agora. Apenas viva, a cada momento, de acordo com os ensinamentos que
recebeu da espiritualidade. Permita que o sagrado se expresse na sua vida e te
transforme. Quando chegar a hora, você saberá, haverá confirmações, você
ouvirá os nomes e sentirá ressoar dentro de você.

Saravá a todos!

215
NÃO FIQUE DEPENDENTE DO TERREIRO*
* Texto escrito durante a pandemia

A pandemia criou uma situação inédita para tantos de nós: o afastamento


obrigatório do terreiro, a suspensão indesejada das cerimônias. Embora tenha
sido uma medida necessária, é lamentável para todos esta distância. A
saudades é grande, o desejo da volta à normalidade predomina; contudo,
devemos evitar a atitude de que sem participarmos das giras não ficaremos
bem.

As entidades desejam que seus filhos sejam pessoas fortes, firmes, maduras,
capazes de andar com as próprias pernas. Por mais que eles se dispõem a nos
aconselhar, descarregar, equilibrar nosso campo astral, não agem para tornar
estas práticas uma necessidade. Se nos ensinam e orientam, é justamente
para aprendermos a nos manter em um estado de harmonia. Não basta ir no
terreiro se limpar, é preciso não contaminar suas energias novamente após sair
de lá.

A espiritualidade vai muito além dos templos religiosos. Eles são importantes,
possuem o seu papel, porém é no dia a dia que podemos vivenciar o sagrado.
Nas relações com as outras pessoas, no autocuidado, na busca pela
melhoramento interno, na observância de seus compromissos estão exemplos
em que podemos exercer nossos valores espirituais.

Preces, banhos, firmezas, meditação, cânticos, estudos, assistência ao próximo


são alguns exemplos de atividades que podem ser praticadas na sua residência
ou onde se sentir à vontade. Infelizmente, há muitos que tratam as entidades
como se fossem “bucha e sabão”: acreditam que somente conseguirão
descarregar as densas vibrações com o recurso da incorporação.

Você não precisa se consultar com os guias toda vez que for tomar uma
decisão. Desenvolva, também, o seu próprio discernimento, sua habilidade

216
para avaliar uma situação e qual a melhor estratégia para lidar com ela. A
espiritualidade se manifesta para nos instruir acerca da vida espiritual; é até
possível que auxiliam com alguma coisa material, porém este não é o foco.

Por fim, se você é médium não significa que é vulnerável a todo tipo de energia
das pessoas e ambiente. Este sensibilidade descontrolada é sinal de que ainda
precisa amadurecer sua mediunidade. O cavalo experiente não é frágil desse
modo; ao contrário, sabe bem se proteger e se portar neste mundo tão
contraditório. Ele aprendeu a entrar e sair de qualquer lugar.

Saravá a todos!

217
FASCINAÇÃO: A MAIS PERIGOSA FORMA DE
OBSESSÃO

A fascinação acontece quando um obsessor se passa como um guia espiritual,


iludindo o médium. Ela é tão perigosa porque se sustenta na vaidade e na
insegurança do cavalo. E ninguém dela está imune, mesmo os mais
experientes. Seu processo de libertação é difícil, demorado, doloroso; exige
humildade e verdadeira disposição para mudar.

De início, o obsessor estuda sua “vítima”, investiga seus pontos fracos, elabora
uma estratégia de persuasão. Ele não irá atacar seu alvo na “força bruta",
porém emulará características que encantam o médium e alimentam o seu
ego.

Um exemplo é quando o seu verdadeiro guia se manifesta de uma forma


simples. Ele não roda como o novato gostaria, não grita, não faz nenhum
movimento extravagante, não expressa nenhum trejeito que causa admiração
aos outros. E o médium, sentindo-se menor perante os irmãos de corrente,
visto que acredita que sua mediunidade está sendo questionada, frustra-se
com as entidades que o acompanha.

É quando as organizações trevosas encontram a oportunidade para se


aproximar. Por sintonia vibratória, o kiumba consegue se manifestar no lugar
da entidade, imitando suas características. No entanto, e nisso está sua
astúcia, ele passa a dar vazão a todos os movimentos que a vaidade do
médium espera. Observamos, neste caso, os rodopios exagerados, gritos,
sacolejos em excessos, tudo aquilo que impressiona os sentidos. É o
encantamento, a fascinação pelo obsessor.

E por que as verdadeiras entidades permitem que isto aconteça? Por respeito
ao livre arbítrio. Nós não tomamos decisões apenas pelo o que verbalizamos
conscientemente, nossa própria vibração interna é uma forma de escolha. Se

218
optamos por dar mais importância ao que é somente aparência, a
espiritualidade não interferirá. Muitos avisos serão dados, entretanto, cabe ao
médium ouvi-los ou não.

Com o tempo, o comportamento do obsidiado fica cada vez mais estranho, as


supostas entidades não agem como se espera de guias espirituais, suas
palavras não transmitem luz e sabedoria, e constata-se que suas ações são
mais para chamar a atenção do que para elevação espiritual. Os irmãos e o
Pai/Mãe de Santo percebem que há algo errado, tentam orientar, porém,
infelizmente, dificilmente o convencerão a mudar. Isto porque é muito difícil
para ele admitir que aquela entidade que ele tanto admira é, em realidade, um
obsessor.

Em alguns casos, o sacerdote precisa afastá-lo da corrente. Em outros, eles


mesmo sai da casa, em busca de outro terreiro que aceita qualquer coisa. O
pior é quando o médium, crente que é portador de uma grande mediunidade e
que todos o invejam, decidir abrir o seu próprio espaço. Não apenas ele está se
perdendo, como levará outros consigo; tão grande é o carma que acumulará
que necessitará de outras encarnações para pagá-lo.

A fascinação, desta forma, transforma sua vítima em uma marionete das


organizações trevosas. Embora a solução seja difícil, não é impossível. Exige,
mais do que tudo, grande humildade do médium, que é a maior proteção que
ele pode ter. Deve estar sempre atento, vigilante quanto às inseguranças de
sua subjetividade. Que ele não se esqueça que o objetivo do trabalho espiritual
não é a autoafirmação, e sim o exercício da caridade para com o próximo.

Saravá a todos!

219
É NECESSÁRIO OFERENDAR REGULARMENTE TODAS
AS ENTIDADES E ORIXÁS?

Observamos, em larga escala, uma corrente de umbandistas que centralizam


toda sua prática espiritual em torno de oferendas aos guias e Orixás. Entre
eles, alguns até mesmo se “viciaram” nestes ritos, ao ponto de somente
conseguirem se conectar com o sagrado se presentearem algum elemento
material. Embora concordamos que as firmezas e ofertas possuam o seu
fundamento, não são condições essenciais para recebermos as graças do Alto.
Mais importante, é o bom coração, disposto a se melhorar como pessoa e ser
instrumento da espiritualidade.

Vamos compreender, primeiro, que as entidades e os Orixás não precisam das


oferendas. Eles não comem, não fumam, não bebem; não necessitam de nada
do plano físico. São utilizados, em realidade, somente as energias de cada
elemento depositado. Energias que serão manipuladas, potencializadas e
direcionadas em benefícios do próprio filho. Somos nós, em momentos
específicos, que recorremos às firmezas e ofertas para reestabelecer algum
equilíbrio.

Por esta razão, não recomendamos oferendar os guias e os Orixás sem nenhum
critério, nem nenhum motivo. Não é algo a ser feito aleatoriamente, nem por
mero capricho, mas uma atividade sagrada, fundamentada na lei de Umbanda.
Deixe para que os próprios guias, quando julgarem necessário, orientem que
seja realizado alguma firmeza ou oferenda. Lembre-se de que tudo, na religião,
é energia, possui uma razão de ser. A vela, oração e copo de água e fé já são
suficientes para mais de 90% dos casos.

Além disso, não busque receitas na internet de oferendas, ritos, firmezas. Não
é o local apropriado para este tipo de aprendizado. Para cada caso individual,
elementos e procedimentos diferentes podem ser orientados. Deixe que no
próprio terreiro onde foi prescrito a oferta lhe seja dito como realizá-la. Não

220
saia de lá sem compreender exatamente como deve agir. Se for pedir
orientação na internet, receberá tanta informação diferente e divergente que
ficará ainda mais confuso.

E quando for ofertar, que seja feito no silencioso respeito. Você não está ali
para ostentar, nem demonstrar quão abundante são os elementos depositados,
muito menos para tirar fotos para receber curtidas nas redes sociais. Está a
fortalecer uma relação íntima e particular entre você e aqueles que te
acompanham. Não há porque expor para meio mundo. Saiba, a vaidade
corrompe o propósito de qualquer rito, interfere em grande medida nas
energias oferecidas.

Os falangeiros de Umbanda não aceitam barganhas. Se crê que basta doar


bebidas e fumos para que todos os seus desejos materiais sejam realizados,
está bastante enganado. O terreiro não é um balcão de serviços, as entidades
não são seus serviçais. É preciso, antes de tudo, merecimento para qualquer
conquista na vida. Afinal, eles são guias espirituais, no sentido amplo da
palavra: aproximam-se de nós para ensinar, orientar, doutrinar, guiar-nos em
nosso processo evolutivo.

Saravá a todos!

221
O QUE O MÉDIUM SENTE QUANDO DURANTE A
INCORPORAÇÃO?

Esta é uma pergunta e curiosidade que muitos médiuns iniciantes e


consulentes possuem, que os levam a imaginarem sensações muito diferentes
da realidade. Contudo, é difícil definirmos o que exatamente o médium sente
durante o processo da incorporação, visto que é uma experiência muito
particular de cada pessoa. Nenhuma manifestação é igual a outra.
Aão, como também aqueles que performam um simples movimento e já é
suficiente. São apenas formas de se apresentar diferente, não significa que um
seja melhor do que outro. Cada guia sabe como ele realiza o acoplamento dos
chakras.

O médium, também, não experimenta sempre as mesmas sensações. A


depender da variação natural de um dia para outro, seu grau de concentração
e entrega, a correta preparação ou não e a linha de trabalho da gira, o que ele
sente muda. E ao longo da mesma sessão mediúnica, a energia não se
mantém estática. Hora mais presente e intenso, em especial quando incorpora
e desincorpora, hora a entidade está mais distante, apenas irradiando sua
vibração. O médium não suportaria a carga máxima por muito tempo.

Antes da momento específico da incorporação, o guia se mostra presente. São


os sinais de aproximação, que o médium aprende a identificar em seu
desenvolvimento. E, como na outras situações, estes sinais são diferentes de
pessoa para pessoa. Alguns sentem um calor na mãos ou pés; em outros, ao
contrário, as extremidades esfriam. O coração pode bater mais forte, um peso
nas costas, bem como receber uma sensação de paz, força, confiança.

Todavia, em seu amadurecimento, é preciso que ele aprenda a não depender


destes fenômenos físicos para crer que a entidade está ali. Alguns pensam,
equivocadamente, que a mediunidade é como um choque elétrico, quanto
mais tremer o corpo, mais forte e real é. A energia da espiritualidade é sutil, e

222
cabe a nós ampliar nossa percepção para o que é sutil antes de esperar que
eles se rebaixem a nós.

Saravá a todos!

223
A IMPORTÂNCIA DE PARTICIPAR ATIVAMENTE DO
RITUAL DE ABERTURA

A Umbanda se fundamenta na ancestral ciência espiritual, cujo objetivo é


assegurar que o axé se faça presente e circule em abundância para a graça de
todos. Nenhum rito, elemento ou atividade está ali à toa, toda orientação
possui sua razão de ser. E com o ritual de abertura não é diferente.

O início dos trabalhos é um importantíssimo. Não pode ser feito de qualquer


jeito. É o momento em que são invocadas e evocadas as energias dos Orixás e
das entidades, abre-se os portais para a dimensão astral e prepara o ambiente
para a manifestação dos guias e protetores. E todos podem contribuir para que
ele seja executado da melhor forma possível.

O primeiro ponto a ser observado pela corrente são os pontos cantados. É


dever de todos aprender as letras, soltar a voz e bater palmas. Além de auxiliar
na formação da egrégora da gira, a música é capaz de promover inúmeras
bençãos aos participantes. Descarregos, sintonização, quebra de campos
negativos, curas podem ocorrer quando se abre o coração para o ritmo dos
atabaques.

Lembre-se de que pensamento é energia. Por esta razão, exerça a sua


concentração durante toda a gira, em especial no ritual de abertura. Ali não é
momento para alimentar suas preocupações materiais, planejar o dia seguinte,
evocar mágoas e rancores, criticar e julgar internamente os outros. Ao
contrário, deixe-se envolver pelas elevadas vibrações do terreiro.

Você perceberá, no momento de sua incorporação, como será mais fácil


receber as boas energias. Isto porque você terá construído uma sólida sintonia
com a espiritualidade, potencializando todos os processos mediúnicos. Ao
passo que você se doa para a realização dos trabalhos, em contrapartida é
abençoado pelos guias e Orixás.

224
Estas orientações também se aplicam aos consulentes. Eles também podem
contribuir no ritual de abertura. Os cantos, palmas, bons pensamentos e
sentimentos elevam e multiplicam as boas vibrações da gira. E da mesma
forma, a participação ativa os auxiliam a se conectar com as entidades. No
momento de seu passe, tudo fluirá melhor.

Saravá a todos!

225
O APRENDIZADO ACONTECE NO CHÃO DO TERREIRO!

Atualmente, o desenvolvimento mediúnico é um dos assuntos que mais causa


dúvidas e insegurança entre aqueles que iniciam a caminhada na Umbanda.
Infelizmente, não é em todo terreiro em que há um estudo direcionado para
dar orientações devidas ao médium iniciante.

A fase inicial da mediunidade costuma ser um tanto conturbada. Estão


presentes, em geral, muita pressa, ansiedade, incerteza. Ao mesmo tempo em
que o novato possui uma enorme vontade de aprender sobre a religião, por
outro lado sente-se muito perdido, tanto espiritualmente quanto na sua vida
como um todo.

E quando não há no terreiro alguém que lhe ensine o que ele precisa aprender,
ele começa a procurar fora. Procura textos, livros, vídeos, cursos. E aí mora o
perigo: há muita coisa diferente na internet. E o médium iniciante ainda não
adquiriu a experiência e vivência necessárias para ter um bom discernimento
entre tanta informação.

Não quero, com este texto, desestimular ninguém a buscar o conhecimento.


Até porque, é este o propósito maior deste livro. No entanto, não se pode
deixar de ressaltar que o maior aprendizado se dá no chão do próprio terreiro.
É ele que te dará as condições para lidar com toda a multiplicidade de opiniões
presentes na Umbanda.

Saiba procurar o dirigente do terreiro que frequenta em qualquer momento de


confusão. Não espere ele ir atrás de você perguntar se possui alguma dúvida.
Caso algum assunto não lhe esteja claro, busque os mais velhos e peça suas
respostas. Eles têm a obrigação de ensinar.

Está na hora dos pais de Santo compreenderem que a geração atual não aceita
mais a ignorância. Não há mais espaço para o simples “é assim porque foi

226
assim que aprendi". Tudo tem o seu propósito, e precisamos explicar os
fundamentos de nossa religião. Se isto não for feito, você estará deixando os
seus filhos de santo vulneráveis à desorientação.

Busque sim o conhecimento, e bastante, ele existe para nos impulsionar a


evoluir. E seja você mesmo um transmissor dos saberes. Há muita gente
carente de informação. E a ignorância tem levado muitos a acreditarem em
absurdos. Mas não esqueça das suas raízes. Nada substitui a experiência direta
e concreta. É no terreiro que a Umbanda é praticada.

Saravá a todos!

227
PRECISAMOS DE VOCÊ BEM, MEU FILHO!

João estava prestes a desabar no chão duro da fazenda. Seu corpo não
aguentava mais cortar cana. O Sol brilhava com força, as horas de trabalho
acumulavam mais do que se podia imaginar. Ele sabia, contudo, que se
parasse para descansar seria terrivelmente punido pelo capataz.

Já sentira o chicote antes, precisou de mais de uma semana para conseguir


dormir novamente. Havia tentado roubar um pouco de alimento para o menino
Tonho. Ele estava fraco e doente, o Senhor decidira que não valia a pena salvá-
lo. João, entretanto, encontrara as ervas corretas, trouxe o pão para ele, mas
foi descoberto no caminho de volta.

Grande foi a dor do açoite, maior ainda foi a satisfação por ter auxiliado o
pequeno garoto. No entanto, neste momento, seus braços e pernas davam
seus últimos sinais de energia. A vista escureceu, a cabeça ficou zonza, ele
cambaleou e caiu para trás. Foi quando escutou pela primeira vez aquela voz:

-Não desista, meu filho. Eles precisam de você inteiro. Se apanhar de novo seu
corpo não suportará. Fique tranquilo, dividirei esta carga contigo.

Sem compreender muito bem, João achou forças para levantar e continuar seu
trabalho. Felizmente, ninguém percebera sua queda. Não teve muito tempo
para pensar no que ocorreu, apenas notou uma certa familiaridade no que
escutara.

Somente muitos anos depois, tornou a captar aquela voz suave. Era mais
maduro, seu primogênito alcançara a idade para ser iniciado no culto de seus
ancestrais. Longos preparativos eram realizados, riscos foram tomados para
que seus rituais não fossem percebidos pelos donos da Casa Grande.

228
Neste período recebeu um dos maiores açoites da sua vida: soube por uma das
amas de leite que seu filho fora vendido para outra fazenda. Seria levado
embora no mesmo dia. Nem mesmo pretendiam lhe avisar!

João se encheu de ódio. Estava decidido a fazer alguma coisa, ainda que
desencarnasse no processo. Mais uma vez, ouvira aquela suave voz:
-Meu filho, não entregue sua vida dessa forma. Você não poderá com eles
sozinho. Confia em Zambi, ele cuidará de seu pequeno. Precisamos de você
bem.

No entanto, ele já havia perdido sua razão. Pegou seu punhal e correu em
direção aos senhores. Já não se tratava mais de resgatar alguém. Estava ciente
que não havia chances para isso. Apenas desejava que eles sofressem a
mesma dor que agitava seu coração.

Naquela noite João viria a falecer. Levaria consigo outros irmãos de cativeiro,
capangas dali. Por mais habilidade que tivesse com a lâmina, por mais que a
ira lhe desse força, não era capaz de competir com a pólvora. Não chegou
perto do senhor, não salvou seu menino. O sangue derramado, contudo, foi
abundante.
***
Acordou em um estado de perturbação. João reconhecia que não estava mais
entre os “vivos”. Por muitos anos vagou pela crosta terrestre, em busca de
causar dor para aqueles que lhe prejudicaram. Séculos se passaram para que
os sentimentos pudessem se enfraquecer. Fazia algum tempo que começava a
perceber que suas ações não tinham sentido. Porém, não sabia mais como
proceder.
- Deixe que Zambi guie seus passos, meu filho. Ele ainda tem um plano para
você. Precisa retornar à matéria e completar a sua missão. Ainda não cumpriu
toda sua tarefa.

229
Ele simplesmente acatou o que a voz lhe dizia. Naquele momento, aceitaria
qualquer coisa que afastasse aquele vazio de sua existência. Não possuía mais
nenhuma perspectiva.

João se tornara Alexandre. Fora uma criança difícil para os pais, de explosivo
temperamento. Formara família cedo, com duras batalhas amadureceu e se
consagrou Sacerdote de Umbanda. Ele nunca se esquecera de sua primeira
experiência de receber seu guia de frente, Pai José. Suaves palavras formaram-
se em seus lábios:

-Finalmente, meu filho. Esperei por muito tempo por este dia. Hoje finalmente
poderá começar a cumprir sua missão. Muitos virão ao seu encontro, eles
precisarão que você esteja preparado para guiá-los. Você não pode perder-se
mais uma vez, pois eles dependem de seu equilíbrio para que possam também
florescer.

Por algum motivo que desconhecia, a voz daquele preto velho era muito
familiar para Alexandre.

Saravá a todos!

230
A MATURIDADE ESPIRITUAL SE ENCONTRA NA
COMPAIXÃO

A compaixão começa no não julgamento. Em vez de concluirmos


precipitadamente o que seria melhor para outro, colocamo-nos no lugar dele.
Abandonamos qualquer pretensão de superioridade. Buscamos ver o mundo
através dos seus olhos e compreender o que motivou suas ações. Isto é a
empatia.

É diferente da pena também. Não vê o próximo como coitado nem vítima. Não
o coloca em um patamar inferior. Entende que cada um possui o seu processo
particular e pessoal. Antes, procura contribuir da melhor forma possível, da
maneira que estiver disponível no momento. A compaixão exige a ação. E isto
sem esperar gratidão, reconhecimento ou plateia.

É preciso, também, confiar na capacidade do próximo em levantar-se por conta


própria. Nós estenderemos as mãos se assim pudermos, porém caberá a ele
também fazer o esforço para sair do chão. Não podemos interferir em seu livre
arbítrio, nem forçar suas ações para uma direção. Mesmo que acreditamos que
ele não esteja tomando as decisões corretas. Você pode até aconselhá-lo, caso
seja escutado, porém não constrangê-lo a fazer o que você acha melhor para
ele.

Deus ampara a todos nós. Ninguém foi esquecido. Tudo há uma razão, um
propósito. Para cada um, há um caminho, uma resposta, uma solução. Por este
motivo, limpe seu coração de toda preocupação. A compaixão consiste
também na fé de que, após cumprirmos nossa parte, o restante se resolverá. A
espiritualidade pede a entrega.

O individualismo dificulta o desenvolvimento da compaixão. É sinal de


amadurecimento espiritual quando deixamos de olhar apenas para os nossos
próprios interesses. Para além do egoísmo, da indiferença e da superficialidade,

231
quando assumimos que todos estamos de alguma forma interligados, e
procuramos servir o próximo com amor e humildade, é quando existe evolução
espiritual. E isto é mais importante que qualquer poder, riqueza ou
conhecimento.

No entanto, não podemos se perder no meio do processo. Como ensinou o


Cristo, amar o próximo como a si mesmo. Sem o cuidado consigo mesmo, sem
a autovalorização, dificilmente conseguiremos ajudar alguém. Se há o benefício
de um sob o prejuízo de outro, fica caracterizado um condição de vampirismo,
e esta situação é contraevolutiva.

Ao crescermos na compaixão, nos desenvolvemos para além dos interesses


mundanos. E esta, nos níveis mais elevados, não se restringe à nossa família e
círculo de amigos. É muito mais fácil praticar a caridade com aqueles que nos
são caros ou que de alguma forma nos fazem bem. Porém, o verdadeiro
exercício de caridade está em prestar auxílio para os que são desconhecidos ou
os que não fazem o bem que gostaríamos. É claro, fazendo a ressalva do
parágrafo anterior, de não nos perdermos no processo.

A compaixão pode ser exercida cotidianamente. Sempre é possível ser útil.


Todo dia, há oportunidade de auxiliar uma pessoa, nem que seja apenas com
uma oração. A vida nos traz uma sucessão de situações nos quais podemos
exercer os valores que a espiritualidade nos ensina.

Este exercício maravilhoso de colocarmo-nos no lugar do outro e, de alguma


forma, procurar auxiliá-lo, preenche nossa vida de sentido. Fora da
espiritualidade, vivemos apenas um ciclo desvirtuoso. Por meio da compaixão,
aprendemos a aceitar nossa condição humana, com seus potenciais e
limitações. E, dessa maneira, criamos as condições de um novo eu, apesar de
qualquer erro que tenhamos cometido, em bases mais elevadas.

Saravá a todos!

232
PRÁTICAS ESPIRITUAIS DOMICILIARES
UMBANDISTAS*
*Texto escrito durante a pandemia

Desde que tomamos a iniciativa de escrever sobre a Umbanda, adotamos


como princípio não prescrever nenhuma atividade ou rito pela internet. Sempre
defendemos que são orientações que devem ser dadas dentro do terreiro. No
entanto, vivenciamos hoje uma situação nova, impossibilitados, em grande
parte do território brasileiro, de realizar giras e sem uma previsão real de
retorno.

Por este motivo, neste texto ensinaremos algumas práticas que podem
exercidas por quaisquer pessoas. São simples, já amplamente conhecidas, mas
se executadas com regularidade farão grande diferenças na vida espiritual.
Lembrem-se de que nada substitui a orientação do Pai/Mãe de Santo ou de
alguma entidade incorporada.

1) Prece: A oração é a prática espiritual mais simples e universal, porém muito


poderosa. Está disponível a todos, não importa a condição física, social ou
espiritual. Você pode tanto se dirigir a Deus de forma diferenciada, quanto para
algum guia, linha, anjo de guarda ou Orixá. Pode usar tanto uma reza decorada
ou as próprias palavras (o que é mais recomendado). Apenas a prece é
suficiente, porém, é possível também acompanhá-la por uma vela e copo de
água. Um bom conselho é organizar os seus dias da semana para que
diariamente você reze para alguns Orixás e linhas de trabalho em específico.

2) Cantos devocionais: os pontos são rezas cantadas. A música sagrada possui


o poder de tocar nosso coração e nos aproximar das vibrações elevadas.
Entretanto, saiba cantar com respeito e reverência; jamais banalize os pontos.
Há o momento certo para tudo.

233
3) Banho de ervas: a natureza é rica em axé. Nas folhas, estão armazenadas as
energias sagradas dos Orixás. Quando banhamos nossos corpos com o uso das
ervas, limpamos, harmonizamos e energizamos nossos corpos astrais. Há
plantas que podem ser usadas por qualquer pessoa, em especial as de Oxalá,
como o boldo e manjericão. Recomendamos o banho 1 vez por semana.

4) Meditação: existem muitas maneiras e técnicas de meditação. A mais


simples consiste na observação dos seus próprios pensamentos ou se
concentrar na respiração. Ela acalma a mente, limpa os sentimentos, amplia os
sentidos espirituais. É o momento próprio para receber as intuições da
espiritualidade. Além disso, há a possibilidade de você mentalizar alguma
entidade ou Orixá, trazendo sua energia para próximo do seu campo
vibracional. Pense nas matas, nos rios e cachoeiras, no mar, nas estradas, nas
grandes pedreiras, nos campos abertos e lagos profundos, nos campos santos
e nos fortes ventos. Mentalize o brado dos caboclos, a risada dos Exus e
Pombagiras, o cachimbo dos Preto Velhos, a alegria das crianças e assim por
diante. Apenas não incorpore dentro de casa!

5) Banho energizado: quando for se banhar, antes de entrar debaixo do


chuveiro, peça para que Mãe Yemanjá e Mãe Oxum abençoe aquelas águas que
caem. Depois, durante o banho, imagine que não somente as sujeiras físicas
estão sendo levadas embora, como também qualquer carga emocional, mental
ou espiritual são limpas pela força sagrada das águas. Mentalize que seu corpo
astral é iluminado por uma luz azul que harmoniza e melhora todas as áreas da
sua vida. E quando finalizar este pequeno rito, agradeça.

6) Água fluidificada: pegue um copo de água, segure com suas duas mãos e
faça uma prece. Peça para que este líquido seja abençoado e promova saúde,
bem estar, sabedoria e equilíbrio em sua vida. Você pode, também, se dirigir a
algum Orixá, pedindo que ele energize a água com seu axé. Assim, se precisa
de saúde, ore a Obaluaye; força de vontade e caminhos abertos, Ogum;
equilíbrio emocional e família fortalecida, Yemanjá; prosperidade e

234
conhecimento, Oxóssi; sabedoria e firmeza, Xangô; autoamor e fertilidade (não
somente física), Oxum; transformação e força, Iansã; paz e elevação, Oxalá.

7) Converse com os guias: a forma mais universal de mediunidade é a intuição.


Com ela, você pode se comunicar, a qualquer momento, com os diferentes
planos da realidade e com os seres que os habitam. Entre nós e as entidades
que nos acompanham, há uma relação especial de afinidade vibratória que
facilita o contato. Para isso, é necessário elevar sua vibração, acalmar a mente
e observar os seus pensamentos. Faça perguntas e deixe, naturalmente, a
resposta chegar a você. De início, você terá dificuldade de discernir o que é
fruto do seu inconsciente e o que é originário da espiritualidade. Por este
motivo, apenas julgue se a ideia intuída é boa ou não, sábia ou não, benéfica
ou não.

8) Sono consciente: o momento antes de dormir é muito importante. Faça uma


prece, deixe as preocupações de lado, mentalize coisas boas. Coloque-se à
disposição da espiritualidade para auxiliar seu trabalho no plano astral. Peça
que seu anjo da guarda o acompanhe. Você pode, também, umedecer,
levemente, com azeite de oliva o ponto entre os seus olhos, sua nuca e
umbigo. Preste atenção nos seus sonhos, ao acordar; eles, muitas vezes,
portam orientações dos seus guias e respostas de seus questionamentos.

9) Cuide de seu corpo físico: ele é nossa responsabilidade, seu desequilíbrio


acarreta prejuízos para nossa mente, emoções e alma. Embora não seja
possível, para a maioria das pessoas atualmente, sair na rua, existem vários
exercícios possíveis de praticar em casa. Um corpo saudável estimula ânimo,
disposição, bom humor, alegria em nossas vidas. Além disso, busque se
alimentar com tudo o que vem da terra. Seus dias só tendem a melhorar com
estas práticas.

10) Estudo: o conhecimento é o alimento da mente. Toda saber novo amplia


sua consciência. A nossa evolução espiritual também é desenvolvimento da
razão. O entendimento fortalece a fé e direciona nossas atividades espirituais.

235
Quando estudamos constantemente a realidade do plano astral, mantemos
nossa mente conectada com os assuntos do espírito. Há muitas opções
diferentes para aprender.

Há muitas outras práticas espirituais, porém estas descritas já são suficientes.


Você não precisa exercer todas de uma vez, não se sobrecarregue. Pratique o
que você sente mais à vontade. São simples, mas capazes de transformar uma
pessoa.

Saravá a todos!

236
VOCÊ PODE SAIR A QUALQUER MOMENTO DA
UMBANDA E DO TERREIRO

A Umbanda não prende ninguém. O livre arbítrio é lei espiritual, de máxima


vigência. A quem contra ele se atentar, estará indo contra a justiça de Xangô. E
somente um motivo deve justificar a sua permanência na Umbanda: o amor
por esta maravilhosa religião.

Se ela te faz bem, permite que você cresça como pessoa, auxilie o próximo e
aproxime-se de Deus, então ela está cumprindo a sua missão. Seja grato a este
caminho maravilhoso que os Orixás te presentearam, e contribua com seu
trabalho.

No entanto, se você sente que a Umbanda não é o seu caminho, por que
continua nesta estrada? Será a força do hábito, receio de desagradar alguns,
ou mesmo o medo que te prende? Questione-se e reflita. Saiba, a nossa
religião é um caminho de luz e não obriga ninguém a segui-la.

Não há nenhuma consequência negativa em deixar de praticar a Umbanda ou


sair de seu Terreiro. Sua vida não irá para trás. O que atrasa a vida é a
negatividade, o ódio, o rancor, o medo, a intriga, a reclamação, o pensamento
negativo, a maledicência entre tantos outros hábitos de baixa vibração. Por
outro lado, o bom pensamento, a fraternidade, o bom coração, a humildade, a
prática da caridade, entre outros, elevam a nossa vida. E isto depende de você,
e não da religião ou terreiro que frequenta.

O importante é você continuar cuidando do seu espírito, não importa que


caminho seguir. Mesmo que saia do lugar que frequenta, mesmo que siga por
outros caminhos espirituais, você não deixa de ser médium. Por esta razão,
deve manter sempre a vigilância e a oração, e fortalecer seu equilíbrio mental
e emocional.

237
Na Umbanda, temos os passes, os descarregos, banhos, defumações, e outras
práticas que auxiliam a manter nossa energia limpa e elevada. Se decidir sair
da Umbanda, apenas deverá manter-se atento a sua energia e encontrar o que
ajuda a deixá-la “formosa", como dizem os guias.

A Umbanda não faz proselitismo, não realiza campanhas para atrair


seguidores, nem ameaças para vida após a morte aos que não desejam seguir
o seu caminho. Ela valoriza a liberdade. Os guias não preocupam-se com
rótulos, os Orixás expressam as forças da natureza em sua plenitude e
liberdade.

Não deixe o medo te subordinar a ninguém. Lamentavelmente, encontramos


relatos de sacerdotes que prendem seus “filhos" sob ameaças, dizendo que a
vida irá andar para trás, ou que farão algum trabalho, ou que não encontrarão
outro lugar melhor. Isto quando não apossam-se dos objetos sagrados de cada
filhos, como suas guias, quartinhas e outros, e uns até mesmo creem poderem
prender os guias daquele que deseja sair da casa.

Não acreditem em nada disso. Está nas suas próprias mãos fazer sua vida
crescer e prosperar. São ameaças movidas pelo orgulho e pela vaidade. Ou
pela ganância, pois uns, infelizmente, contrariando as sagradas leis da
Umbanda, cobram altos valores de seus “filhos" por trabalhos desnecessários.

Ninguém é capaz de prender os guias de ninguém, eles não são propriedades


do seu terreiro, nem de seu pai/mãe de Santo, para que ele possa tirá-los de
você a seu bel prazer. Os guias estão muito acima de todos nós, inalcançáveis
às nossas pequenas mãos terrenas. O único que pode afastá-los é você
mesmo, caso tenha condutas incorretas ou tente tirar algum proveito de sua
mediunidade. E mesmo assim, nunca te abandonam completamente,
buscando, a todo momento, conduzi-lo a caminhos virtuosos.

E quanto a suas guias, quartinhas e outros objetos sagrados, se o seu ex


pai/mãe de santo recusa-se a devolvê-los, não se preocupe. Você poderá

238
sacralizar novos objetos posteriormente. Quando encontrar uma nova casa
para trabalhar, explique a situação para seu novo sacerdote, e ele saberá te
orientar a como proceder. E se ainda houver qualquer ligação energética entre
você e os antigos apetrechos, seus guias saberão desfazer. Não há distância,
nem paredes e nem portas fechadas para eles.

Siga um caminho virtuoso, pratique a caridade, tenha uma conduta correta,


seja humilde, e a espiritualidade estará sempre a zelar por você e a te
abençoar. Seja qual for o terreiro, religião, ou caminho espiritual que tocar o
seu coração. Deus está em todos os lugares. Busque aproximar-se dele, e todas
as outras coisas lhe serão acrescentadas.

Saravá a todos!

239
ANTES DE TUDO, SEU COMPROMISSO É COM OS
GUIAS

A mediunidade é uma missão que foi firmada no astral antes mesmo de você
encarnar, é um compromisso seu com a espiritualidade superior. Não é à toa
que você nasceu médium, não foi para agradar ninguém e nem para receber a
aprovação alheia.

O principal motivo hoje da saída das pessoas dos terreiros em que se


encontram é problemas de relacionamento com outras pessoas, seja com o Pai
de Santo ou alguém da hierarquia, seja com os irmãos da corrente.

Dentro da mesma casa, há filhos das mais diferentes convicções. Formam-se


grupos de acordo com as afinidades de cada um, as infelizes “panelinhas". E,
lamentavelmente, um grupo rivaliza com o outro. Somado a isso, há muita
vaidade, ego, ciúmes, fofocas, desejo de diferenciação dos outros.

E quando o médium encontra toda esta situação, desanima-se com o terreiro, e


muitas vezes, com a Umbanda como um todo. Ele esquece que não está ali
pelas pessoas, mas para cumprir seu compromisso com os guias.

A missão da Umbanda é a prática da caridade, e somente esta. Embora no


convívio regular com os outros médiuns formamos laços de amizade, passando
até mesmo a considerar alguns como familiares, o objetivo não é que todos
sejam seu amigo. Estamos ali para auxiliar o próximo.

240
No entanto, para que uma casa esteja fortalecida, para assegurar que a
corrente esteja firme, é preciso união. A fim de obter isso, não é necessário que
todos gostem uns dos outros a tal ponto de chamarem-se de melhores amigos,
mas o respeito deve fazer-se presente.

Os médiuns fiquem sempre cientes que o terreiro é um lugar sagrado, e por


isso, deixem as diferenças de lado durante o ritual. Vençam o próprio ego e
saibam trabalhar como uma equipe, uma corrente forte. Lembrem-se de que
vocês estão numa religião para evoluir espiritualmente.

Há casos, infelizmente, em que são necessárias medidas mais duras diante de


algumas situações inadequadas no terreiro. Mas isto cabe ao dirigente da casa
averiguar. Caso você identifique alguma atitude que considere incorreta, conte
ao Sacerdote de sua casa. Não inicie discussões, nem espalhe fofocas, muito
menos interrompa sua caminhada na Umbanda. Lembre-se de que Xangô é
justo.

A longo prazo, as picuinhas, intrigas e melindres causam mais sofrimento do


que manter a postura de humildade e simplicidade. Estamos todos em
aprendizado espiritual. Em qualquer agrupamento humano que frequentemos,
seja no trabalho, família, política, escola ou outros locais religiosos,
encontramos problemas semelhantes.

A postura mais efetiva é ser o exemplo. Ter uma postura correta e disciplinada.
As palavras pouco poder têm de mudar os outros. Quando você aponta o dedo
para o defeitos alheio, a tendência é que a pessoa se feche e fique na
defensiva. Mas se esta pessoa te vê como um modelo de conduta correta e
disciplinada, ela sente-se inspirada.

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Todo mundo sabe as lições básicas: não falar mal dos outros, não espalhar
fofocas, não julgar os irmãos. E, principalmente, abandonar a arrogância.
Ninguém é dono da verdade. A humildade e simplicidade são as melhores
respostas para qualquer situação.

Quando você por os pés no terreiro, chame para sua mente o motivo de você
estar ali. Não é pelos outros, mas pelos guias que te acompanham, pelo
compromisso que você firmou com a espiritualidade, pela missão divina que a
Umbanda é portadora.

Saravá a todos

242
ENTIDADE NÃO É MULETA

Por vezes, as entidades são bombardeadas por questões fúteis e de pouca


relevância. Em outras ocasiões, um mesmo consulente não toma nenhuma
decisão sem antes se consultar com um guia. E há, ainda, aqueles que pouco
agem na expectativa que a espiritualidade suprirá qualquer falta. As pessoas
acabam por confundirem o motivo real para a gira acontecer.

A espiritualidade quer que andemos com as próprias pernas. O propósito maior


da religião é a nossa evolução individual e coletiva. É preciso desenvolver a
capacidade de tomar decisões por conta própria, ainda que você erre algumas
vezes. As falhas e tropeços fazem parte do nosso aprendizado. É a partir deles
que nosso discernimento amadurece.

Não podemos nos tornar dependentes do terreiro. Por mais maravilhosas que
sejam as giras, não é saudável a mentalidade de que não vamos ficar bem se
não nos aconselharmos com as entidades. Não é isso que a Umbanda quer de
nós. E sim filhos fortes, autônomos e independentes, que participam por amor
e não falsa necessidade.

Quando nos dirigirmos a uma entidade, que seja com o máximo de seriedade e
reverência. Eles não vieram para responder nossas questões fúteis. Não espere
que os guias te apontarão cada caminho. Se deseja respostas, precisa correr
atrás delas. Existindo a possibilidade de você obter determinado resultado a
partir do próprio esforço, por que recorrer ao espiritual?

Você também possui a sua própria força, basta despertá-la. Assim como as
entidades, é um espírito eterno em constante evolução, centelha divina, onde
habita um pequeno fragmento de Deus. Na essência de sua consciência, vibra
as forças cósmicas do Orixás, a qual te impulsionam sempre ao seu próprio
crescimento, em todas as direções.

243
Por este motivo, saiba pensar com a própria cabeça, agir com os próprios
braços, andar com as próprias pernas, e assuma a responsabilidade sobre a
própria vida. Não delegue a outro, ainda que sejam um elevado falangeiro, o
compromisso de fazer de você uma pessoa feliz e vitoriosa.

Apoie-se, sim, nos ensinamentos e valores que a espiritualidade nos deixou.


Sustente-se nas lições de humildade, amor, caridade, disciplina, dedicação, e
tantos outros que as entidades nos ensinam diariamente. Eles serão a luz a nos
afastar da dúvida e insegurança.

Um guia espiritual é aquele que orienta, que ensina, que protege, que
aconselha. Como o próprio nome diz, sua missão é nos guiar durante nossa
jornada, não nos carregar nas costas. Eles não vão fazer sumir todos os
problemas da nossa vida, nem tomar nenhuma decisão que cabe a nós realizar.
Se agissem desta maneira, estariam a nos causar muitos males, uma vez o
objetivo principal de encarnamos é a evolução.

É claro que você pode pedir auxílio e orientação para as entidades. Mas não se
esqueça de fazer a sua parte. Coloque o seu esforço em movimento e seja o
seu principal aliado. Não transfira para os guias a responsabilidade de
assegurar de que tudo vá bem na sua vida. Isto é, antes de tudo, sua tarefa.

Saravá a todos!

244
ONDE ESTÁ A FORÇA DA ENTIDADE? O QUE TORNA
UM MÉDIUM FORTE?

Meus irmãos, vamos rever os nossos conceitos.

A força não está em ter vários caboclos, exus, preto-velhos. Ao contrário, isto é
um indício de vaidade.

A força não está em incorporar a qualquer hora, em qualquer lugar. Ao


contrário, isto é sinal de mediunidade desequilibrada.

A força não está em incorporar várias entidades numa mesma gira. Ao


contrário, isto é um sinal de falta de firmeza.

A força não está em usar roupas extravagantes, luxuosas, supercoloridas,


apetrechos, acessórios, entre outros. Ao contrário, isto indica superficialidade.

A força não está no grito mais alto, no giro maia rápido, nos movimentos mais
extravagantes. Ao contrário, isto demonstra animismo.

A força não está em beber litros e litros de álcool, falar palavrão, nem no
sotaque mais puxado. Seu excesso indica muita coisa errada.

A força também não está em ter lido todos os livros, falar palavras difíceis,
fazer todos os cursos de Umbanda. Isto pode muito bem ser sinal de presunção
e arrogância.

A verdadeira força está num médium bem preparado, sintonizado com seus
guias e protetores. Está, principalmente, num bom bom coração, disposto a
fazer a caridade. A Umbanda é humildade, simplicidade, amor, caridade.

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Cada casa tem o seu fundamento, e isto deve ser respeitado. No entanto,
quando a aparência se torna mais importante que a espiritualidade, é preciso
pedir que se respeite a Umbanda.

Saravá a todos!

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EU NÃO TENHO UMA MEDIUNIDADE FORTE

Eu não tenho uma mediunidade forte, nunca nem cheguei perto disso. Não sou
daquelas pessoas que os outros olham e dizem “esse daí tá incorporado de
verdade”. Ao contrário, não sou o médium mais popular.

Também não diria que minhas incorporações são bonitas. Os movimentos,


tanto na chegada quanto na ida, são simples e comuns. E rápidas, mal dá para
cantar os pontos. Não porque acelero, é só o meu jeito mesmo.

Quando passam com as entidades que trabalho, elas não adivinham toda a
vida da pessoa. Não prometem solução certeira, não respondem se o
relacionamento vai dar certo ou não.

O milagre, coisa mais rara de se ver. Melhor falar em tratamento, que é lento,
exige muito do consulente, com seus altos e baixos. Se preciso, os guias
orientam procurar médico, cuidar da saúde, movimentar o corpo.

Seria eu um médium sábio? Mais difícil ainda de afirmar. Durante os


atendimentos, tantas vezes escuto situações que não tenho ideia em como
ajudar. Ainda bem que são as entidades a responder.

Passo por dificuldades na vida como qualquer pessoa. Às vezes as contas


apertam, há conflitos nos relacionamentos, a gripe me pega. Fico triste,
desanimado e confuso, forço-me a sair da cama.

Minha fé também não é inabalável. Há momentos que duvido, que quero


desistir, fico inseguro com as minhas escolhas, questiono o sagrado. Há dias
que vamos no terreiro mais por hábito do que por vontade legítima.

Não tenho todas as respostas, estou longe de saber tudo. Assusta-me quando
alguém pede orientações que impactarão toda a vida dela, assim como me

247
assusta quando alguém deposita em mim e na minha mediunidade a
esperança de mudarem sua vida.

Por que realizo essas confissões? Tenho refletido em como nossa religião perde
quando cria um ideal de médium “forte e firme”. Aquele que teria uma
mediunidade inquestionável, totalmente confiável, capaz de assegurar a
solução dos nossos problemas e dar respostas às nossas angústias.

Entretanto, quando observo a realidade dos terreiros, não é isso o que eu


encontro. E sim, médiuns que enfrentam os mesmos conflitos que eu, mas
buscam mascará-la através dessa roupagem de “médium forte”.

É preciso humanizar nossa relação com o sagrado, numa abertura e


honestidade com nossos sentimentos. Não são as entidades que cobram esse
ideal de “médium forte”, mas os próprios irmãos de corrente e consulente.
Resgatemos um desenvolvimento espiritual que não se baseie no olhar do
outro, mas antes, num verdadeiro crescimento interior.

Saravá a todos!

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Eu não sou o dono da verdade, você não precisa aceitar nenhuma informação lida
nesse livro. A Umbanda está mais no sentir do que no pensar, mais na prática do
que na teoria. É o no próprio terreiro que você conhecerá a essência da nossa
religião.

No decorrer dos anos, minhas ideias foram se amadurecendo, alguns concepções


mudaram, minha escrita já não é a mesma. No entanto, optei por manter a
integridade dos textos, para que cada pessoa tire as lições que melhor aproveitar.
Como me ensinou um grande mestre: o que for bom, pega para você; o que não
for, deixa lá mesmo.

Para que o conhecimento se transmute em sabedoria, ele não deve se limitar à


mente. Os saberes de terreiro devem ser trazidas para o corpo inteiro, devorados
como uma nutritiva e gostosa refeição. Viva os ensinamentos da espiritualidade,
caso contrário, serão apenas mais uma informação neste mundo contraditório.

Saravá a todos!

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