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Os Rosa-Cruzes: A História de Uma das Mais Célebres

Sociedades Secretas do Mundo


Por Charles River Editors

O Templo da Rosa-Cruz
(Theophilus Schweighart Constantine, 1618)
Sobre a Charles River Editors

A Charles River Editors é uma editora especializada em publicação


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disponíveis para ouvir as suas opiniões, por isso encorajamos o leitor a
partilhar os seus pensamentos e a aguardar com expectativa a publicação
semanal de títulos entusiasmantes.
Introdução

Fama Fraternitatis Rosae Crucis,


originalmente publicado em 1614
Os Rosa-Cruzes
“Nem mesmo o maior mestre pode desviar-se um passo que seja do seu
pupilo; em si deve experimentar todos os estágios da consciência em
desenvolvimento. Pelo que não aprenderá aquilo para o qual não esteja
preparado.” – Provérbio do Antigo Egito, presente no Templo de Luxor
“A própria palavra 'secretismo' repugna numa sociedade aberta e livre; e
nós, como povo, opomo-nos, inerente e historicamente, a sociedades
secretas, a juramentos secretos, e a procedimentos secretos.” – Presidente
John F. Kennedy
Para muitos, a busca pelos segredos e verdades do Universo será,
porventura, uma tarefa impossível de completar. Mais importante ainda,
este abrangente tema comporta uma miríade infinita de questões. Uns
dizem que o segredo da vida é o sucesso. Outros, que consiste em
conquistar os medos mais profundos. Embora algumas pessoas não se
preocupem sequer ao ponto de avançarem respostas, outras supõem que o
verdadeiro significado da existência se encontra, única e exclusivamente,
ao seu próprio alcance.
Nos primórdios da Era Comum, a Europa assistiu a uma súbita
manifestação de seitas e organizações gnósticas e místicas, cada qual
promovendo a sua senda particular rumo ao esclarecimento. Os conflitos
nascidos no seio da Igreja Católica e de outras comunidades cristãs
contribuíram simplesmente para fomentar uma onda crescente de
dissidentes. No século XVII, a curiosidade dos Parisienses foi aguçada por
uma destas irmandades heterodoxas – porventura a mais prestigiada dentre
todas as escolas secretas. Trata-se da Fraternidade da Rosa-Cruz, uma
ordem rosacrucianista fundada por Christian Rosenkreutz.
Tal como outros tementes à opressão estatal, os Rosa-Cruzes foram
necessariamente obrigados a operar na clandestinidade, e a emergência de
sociedades secretas sempre foi uma das facetas civilizacionais mais
fascinantes, sendo um fenómeno tão antigo quanto a própria Humanidade.
Inclusivamente séculos após a formação destas irmandades, algumas
mantêm a sua celebridade, tais como a dos Cavaleiros Templários, um
grupo de guerreiros couraçados que originalmente se instalaram na Terra
Santa. A Skull and Bones[1] e a Franco-Maçonaria são outros nomes
notórios; e, de todas as incontáveis sociedades secretas que, desde os
primórdios da civilização, nasceram e morreram, poucas terão igualado a
fama dos Illuminati.
Tal como os Illuminati, os Rosa-Cruzes são uma ordem lendária sobre a
qual se discorreu em milhares de livros, artigos, documentários, filmes,
canções, memes, etc. São um alvo preferencial dos apreciadores de
conspirações, assim como os pretensos mestres das mensagens simbólicas
subliminares. Independentemente da veracidade de certas teses
conspiratórias, é inegável o impacto profundo causado pelo grupo ao longo
dos últimos séculos. Mesmo aqueles que não descortinam qualquer
inconveniência na história dos Rosa-Cruzes, reconhecem a importância do
fascínio suscitado pela irmandade. Sem qualquer dúvida, o
Rosacrucianismo tem, desde sempre, estado envolvido numa atmosfera de
trama e suspeição um pouco por todo o mundo - uma tendência que se vem
perpetuando até hoje.
A obra Os Rosa-Cruzes: A História de Uma das Mais Célebres
Sociedades Secretas do Mundo examina a verdadeira história da influente
ordem e das inúmeras conspirações que ainda hoje acossam a irmandade.
Além de conter fotografias alusivas a pessoas, lugares e eventos
relevantes, providenciará ao leitor um conhecimento único acerca do
Rosacrucianismo.
Os Rosa-Cruzes: A História de Uma das Mais Célebres Sociedades
Secretas do Mundo
Sobre a Charles River Editors
Introdução
Manifestos e Mania
O Renascimento
Christian Rosenkreutz
A Fraternidade da Rosa-Cruz
Um Casamento, um Funeral, e um Recomeço”
Dispersão e Guerra dos Clones
Onde Estão Agora?
Recursos Online
Bibliografia
Livros Gratuitos da Charles River Editors
Livros com Desconto da Charles River Editors
Manifestos e Mania
“Nenhuma existência terrena, independentemente da riqueza da sua
experiência, seria capaz de abarcar a totalidade do conhecimento, por isso
a Natureza decreta retornos intermitentes à Terra, após intervalos de
repouso, em nome da conclusão da tarefa.” – Max Heindel, excerto da obra
The Rosicrucian Cosmo-Conception[2]
«Qual o significado da Vida?» Embora esta dúbia questão se tenha
vulgarizado ao ponto de ser quase um cliché, a verdade é que todos
acabam, mais tarde ou mais cedo, por ser assaltados por ela. Para alguns, a
sua resposta é subjetiva; porém, outros acreditam estar arraigada em
comunidades influentes e esotéricas, ou à disposição dos descendentes de
entidades divinas ou de antepassados grandiosos.
Desde os primórdios da Civilização, os humanos têm procurado esta
sabedoria oculta. Supunha-se que as respostas a todas as perguntas
existenciais somente poderiam ser obtidas através de uma forma
derradeira de “Consciência Suprema”. À luz desta convicção, nasceram os
mistérios antigos.
Muito tentaram aceder a este profundo, mas sagrado veículo de
conhecimento, designado como “ta mysteria” ou, em Português, “os
mistérios”. Estes mistérios eram doutrinas e técnicas confidenciais,
empregadas tendo em vista o alcance da cobiçada fonte de Consciência
Suprema. Fundavam-se escolas e irmandades com o objetivo de promover
a educação a respeito destes ensinamentos secretos, sendo que as melhores
se encontravam radicadas em nações antigas, tais como Roma, Grécia,
Índia, Egito e Pérsia.
Os discípulos eram instruídos por um grupo seleto de indivíduos
designados por “hierofantes”, isto é, sacerdotes que haviam atravessado
todos os estágios de iniciação. Os hierofantes eram não apenas
especialistas no ramo da sabedoria oculta, como tinham igualmente
completado todos os níveis dos mistérios. Além da responsabilidade de
transmissão dos mistérios aos seus alunos, os hierofantes deveriam
igualmente ser versados em análise, investigação, fenómenos
astronómicos, matemática e engenharia. Ademais, eram profissionais de
saúde habilitados, dotados de treino médico e, por vezes, cirúrgico.
A dedicação aos planos de ensino elaborados pelos hierofantes, assim
como ao aperfeiçoamento das técnicas secretas, poderia garantir a
transição para níveis subsequentes no âmbito dos mistérios. Somente os
mais dedicados, perseverantes e leais integravam o rol de alunos de
excelência, uma vez que os mistérios eram preciosos e poderiam ser
facilmente pervertidos na eventualidade de caírem em mãos erradas.
Assim, estas escolas tornaram-se sociedades fechadas de elite, operando
exclusivamente em segredo.
Os Egípcios Antigos terão sido os pioneiros das escolas de mistérios. Os
historiadores do ocultismo creem que os hierofantes egípcios originais
poderão ter sido dissidentes da ilha perdida de Atlântida. Os Egípcio-
Atlantes terão levado consigo os sagrados ensinamentos de Atlântida, o
que terá contribuído para instituir as fundações da civilização, cultura,
ciência e tecnologia do Egito, cujas inovações são frequentemente
aclamadas como vanguardistas.
Há quem suspeite que estes hierofantes manobrassem inúmeros faraós
egípcios, os quais seriam os alunos prediletos de certas escolas de
mistérios. Algumas teses extravagantes têm surgido a respeito destas
academias clandestinas. Uma admite a possibilidade de o seu primeiro
sacerdote ter sido Osíris, divindade esverdeada que regia a morte, o
submundo e o além-túmulo.
Alguns supõem que Osíris terá sido um “astronauta” proveniente das
Plêiades, um aglomerado estelar aberto situado na constelação de Touro.
Reza a lenda que o viajante terá sido enviado à Terra para organizar as
tribos “bárbaras” do Antigo Egito. Em todo o caso, e deuses extraterrestres
à parte, a maioria dos historiadores concorda que os textos presentes na
generalidade das escolas de mistérios terão sido transmitidos desde
períodos porventura pré-históricos.
O primeiro iniciado conhecido das escolas de mistérios do Egito é
simplesmente chamado de “Toth” e, pelos Gregos, de “Hermes”. Foi Toth
quem primeiramente concebeu um sistema de magia plenamente
compreensível. Foi igualmente pioneiro na demanda por sabedoria antiga.
Para os Gregos, somente Hermes, deus do comércio e patrono dos
viajantes, gozava do poder de iniciar novos membros e de aprovar a
conclusão bem-sucedida de ciclos de estudos. Mais tarde, as escolas de
mistérios da Grécia começaram a referir-se-lhe como “Hermes
Trismegisto” ou “Hermes Três Vezes Grande”, atribuindo-lhe a autoria de
pelo menos 42 obras alusivas aos mistérios e a outras ciências esotéricas.
Os discípulos dos mistérios egípcios sabiam que a sua educação não
seria de todo um processo fácil. Pelo contrário, implicaria disciplina e
uma contínua exercitação do corpo, da mente e da alma. Em conformidade
com os mistérios egípcios, “a vontade, a intuição e o intelecto” deveriam
ser devidamente aperfeiçoados antes que cada um pudesse conquistar o
acesso aos segredos do Universo. Somente pelo domínio “do corpo, da
mente e da alma” seria possível mirar além da morte imperscrutável e
obter um vislumbre do além-túmulo.
No que concerne à cultura Greco-Romana, as agremiações religiosas
públicas, denominadas pelos historiadores como “cultos”, veneravam
deidades mitológicas. Eventualmente, a Política viu-se obrigada a intervir,
devido à ocorrência de conflitos ideológicos e cerimoniais. Foi em tal
contexto de desordem que se desenvolveram os mistérios greco-romanos.
Estes assentavam, essencialmente, sobre divindades ou antepassados
reverenciados. Umbilicalmente ligados aos mystíria da Grécia, estes
mistérios, à semelhança das doutrinas egípcias, consistiam em segredos
revelados exclusivamente a membros dispostos a não divulgarem jamais
os seus conteúdos. Os desobedientes eram punidos ou permanentemente
banidos. Os discípulos eram selecionados entre o escol da sociedade. As
cerimónias de iniciação, somente abertas a estes indivíduos, duravam
entre um punhado de dias a uma série de meses. Longe de serem
glamorosas, consistiam num rol de testes de compromisso e incluíam
vigílias e jejuns severos.
Os Mistérios de Elêusis, sediados em Elêusis, perto de Atenas,
consistiam seguramente nos ritos iniciáticos mais populares da Grécia
Antiga. Prestavam culto a Deméter, deusa das colheitas e da agricultura,
assim como a Perséfone, filha de Zeus e Deméter, e esposa de Hades. As
Eleusínias giravam em torno do mito de Perséfone, cuja narrativa era
dividida em três estágios: descida, busca e ascensão, sendo a última etapa
simbolizada pela reunião de Perséfone com sua progenitora após fuga do
Submundo.

Uma placa votiva representando parte dos Mistérios de Elêusis


Uma representação de Deméter a abençoar Metanira que, ajoelhada,
lhe consagra três espigas de trigo (um símbolo recorrente dos
mistérios)
Com recurso a trabalhos coetâneos de pintura, cerâmica, etc., alguns
arqueólogos foram capazes de encapsular a essência dos desígnios da
maioria das escolas de mistérios greco-romanas. Diversos trabalhos
artísticos procuravam retratar visões e invocações do além-túmulo, o qual
acarretaria recompensas somente para aqueles que soubessem procurá-las.
Certos historiadores sugerem que tais imagens seriam desencadeadas pela
utilização de antigas drogas psicadélicas, incluindo kykeon. Esta bebida
grega fermentada, composta por água, cevada e plantas medicinais, seria
igualmente polvilhada de alucinogénios.
Não tardou até que novas correntes de pensamento começassem a
desenvolver-se em busca da Consciência Suprema. Um exemplo primitivo
a este respeito é o do Gnosticismo, alegadamente originado ao longo do
século II no seio da Igreja Cristã. The Gnosis Archive[3] descreve o
fenómeno como “o conhecimento da transcendência por meio de métodos
internos e intuitivos.” Não se tratava de uma escola de mistérios
propriamente dita, mas de uma “experiência religiosa” inspirada nas
narrativas míticas e poéticas d’Os Evangelhos Gnósticos. Estes mitos não
se assumiam como simples contos ficcionais, representando ao invés
verdades específicas veiculadas através de poemas, cujo objetivo era o de
ilustrarem as doutrinas da transcendência do Gnosticismo.
Para os Gnósticos, o mundo seria imperfeito e encontrar-se-ia
impregnado de ininterruptos ciclos de dor, sofrimento e infelicidade. Ao
passo que, segundo a doutrina cristã, Adão e Eva haviam condenado a
Humanidade, os Gnósticos imputavam a responsabilidade ao Criador.
Consequentemente, o Gnosticismo foi rotulado de “herético” por Cristãos
inamovíveis.
O sistema de crenças do Gnosticismo é assaz complexo e multifacetado,
embora assente sobretudo na rejeição plena do “Kósmos”, ou mundo
material, conforme criado pelo Demiurgo. O supremo ente divino,
conhecido como “Sofía”[4] por uns, e, por outros, como “Lógos”[5], ao
fraternizar com o Demiurgo, teria propiciado a corrupção do mundo. A
única salvação consistiria em almejar o “mundo superior” por via da
meditação, do existencialismo, e do conhecimento esotérico da Gnose.
Somente dessa forma poderia o indivíduo redimir o espírito humano.
Adicionalmente, existe o método da Cabala, um tipo de misticismo
Judaico que se dedica à analise e interpretação das Escrituras. O Kabbalah
Centre descreve a tradição como um “vetusto paradigma existencial”. As
questões alusivas ao amor, à saúde ou às aspirações laborais serão
redutíveis a uma mesma “raiz”, a qual deverá ser nutrida com recurso aos
preceitos cabalísticos. Por via dos ensinamentos da Cabala, um dado
indivíduo poderá aspirar a uma “realização plena”, independentemente do
seu estatuto socioeconómico, sexo, etnia ou religião.
Uma outra fascinante escola de pensamento revolve em torno da
Alquimia, que continua a ser recordada pela sua qualidade sublime. A
Alquimia, considerada por uns como ciência oculta e por outros como
verdadeira precursora do estudo da Química, resume-se ao tema da
transmutação da matéria. Terá principiado no Antigo Egito, derivando da
palavra “khem”, referente ao fértil e escuro solo do Delta do Nilo. Este
termo viria a sofrer inúmeras metamorfoses às mãos de incontáveis
estudiosos.
Os alquimistas Gregos idealizavam a matéria como sendo constituída
por 4 elementos fundamentais: fogo, terra, ar e água. Os monges taoistas
Chineses aprofundaram o estudo alquímico com o estabelecimento de um
“elixir externo” (Waidan) e de um “elixir interno” (Neidan). A alquimia
exterior concernia à mistura de minerais, plantas e outras substâncias
aplicadas na promoção da longevidade. A alquimia interior, pelo contrário,
atendia à prática de exercícios tais como o “Qigong”, tendo em vista a
manipulação das forças presentes no interior do corpo material.
Posteriormente, os alquimistas Árabes transportaram esse ramo do saber
até Espanha, a partir de onde se difundiu por toda a Europa. Foi então que
tanto os alquimistas Árabes como os Ocidentais se convenceram de que o
ouro seria o mais puro e “perfeito” de todos os metais. Entretanto, outros
alquimistas dedicaram-se à busca pela “Pedra Filosofal”, uma substância
lendária capaz de transformar quaisquer metais básicos (não preciosos) em
ouro. Do outro lado do mundo, os alquimistas Chineses procuravam com
afinco pelo “Elixir da Imortalidade”.
Séculos depois, uma escola secreta distinta das demais surgiria das
sombras: o Rosacrucianismo. Além de inspirar um legado imorredoiro, a
misteriosa história das suas origens foi-nos legada por meio de estranhos
folhetos, representando por isso um dos maiores enigmas da Civilização.
Ao longo de gerações, o relato dos primórdios do Rosacrucianismo tem
sido transmitido oralmente. Segundo Rosa-Cruzes modernos, a história da
irmandade é rastreável às escolas de mistérios do Antigo Egito. Os
membros originais da ordem pré-rosacrucianista reuniam-se em templos
secretos, os mais sagrados dos quais seriam as Pirâmides de Gizé. Os
historiadores do Rosacrucianismo acreditam que estas pirâmides não terão
servido, originalmente, para a preservação dos cadáveres de faraós, mas
como pontos de encontro para os Rosa-Cruzes primitivos.
O Faraó Tutemés III, cujo reinado se estendeu de 1479 a 1425 a. C.,
instituiu uma das primeiras escolas de esoterismo do mundo, cujo corpo
de crenças é o que mais intimamente se associa aos preceitos do
Rosacrucianismo moderno. Mais tarde, um conjunto de filósofos,
incluindo Tales e Pitágoras, um dos primeiros matemáticos da História,
assim como Plotino, desbravou o Mediterrâneo rumo ao Egito. Aí, terão
sido admitidos na irmandade.
Por volta do século VIII, um intelectual Francês, Arnaud, terá
alegadamente introduzido esta série de ensinamentos místicos na Europa,
onde as suas crípticas mensagens se disseminaram através de fórmulas
alquímicas, bailias trovadorescas, doutrinas cabalísticas e outras
expressões literárias e artísticas europeias.
Com a imiscuição da ciência alquímica na Europa, vários intelectuais do
Ocidente tomaram a liberdade de integrarem o movimento. Tais nomes
incluíram o filósofo Inglês e frade Franciscano, Roger Bacon; o escrivão
Francês, Nicolas Flamel; e o médico e teólogo Suíço-Alemão, Paracelso.
Ao passo que certos alquimistas rosa-cruzes se investiram na
transmutação de metais, outros dedicaram-se à “transmutação da
personalidade”.
Ao longo dos séculos subsequentes, uma opressão despótica e
intimidatória remeteu os Rosa-Cruzistas à clandestinidade. Não tiveram
escolha senão ocultarem-se sob o manto de pseudónimos. Em todo o caso,
os Rosa-Cruzes não terão dissolvido as suas operações furtivas,
continuando a prosperar nas sombras.
O Renascimento
“Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem
(V.I.T.R.I.O.L.): Visita o Interior da Terra; por Retificação, Encontrarás a
Pedra Oculta.” – Basilius Valentinus
A ressurgência do Rosacrucianismo, ao longo do século XVII, foi
estimulada pelo Renascimento. Em finais do século XIV, eruditos Italianos
contribuíram para a dissolução da denominada Idade Média através da
inauguração da Renascença Italiana. No século XV, a Península Itálica
encontrava-se dividida em distintas cidades-estado regidas pelos seus
próprios governantes. A cidade de Florença, capital da antiga República
Florentina, foi uma das primeiras capitais bancárias da Europa, e uma das
metrópoles mais prósperas e populosas de todo o continente. Na qualidade
de patronos, chusmas de Florentinos abastados financiaram intelectuais,
fomentando o exponencial desenvolvimento criativo da república.
Como consequência, uma ocupação inteiramente nova erigiu-se perante
os Europeus. Em vez de se dedicarem a atividades tradicionais ou
monásticas, os intelectuais começaram a palmilhar a Europa, estudando
ruínas de cidades antigas e analisando literatura greco-romana. Esta
pioneira busca por conhecimento propiciou uma série inovadora de
invenções e desenvolvimentos nos campos científico, tecnológico e
artístico.
O mais grandioso dentre estes formidáveis intelectuais do Renascimento
foi Leonardo da Vinci, um artista respeitado e conhecido por encher blocos
de notas com projetos de submarinos, aeroplanos, dispositivos flutuantes e
outras espetaculares invenções primitivas. O cientista Italiano, Galileu
Galilei, desempenhou igualmente um papel fundamental na Revolução
Científica, ao corroborar a tese de Copérnico segundo a qual a Terra e
outros corpos celestes orbitariam em torno do Sol, invalidando assim o
popular geocentrismo.
Retrato de Leonardo da Vinci,
da autoria de Francesco Melzi
Galileu Galilei
O movimento renascentista não tardou a ramificar-se ao longo do
continente europeu, penetrando em França no século XV. O Renascimento
Francês assistiu à exploração do “Novo Mundo” por parte de Jacques
Cartier e Giovanni da Verrazano, suposto primeiro Europeu a explorar a
costa atlântica da América do Norte entre a Flórida e Nova Brunswick.
Concomitantemente, procedeu-se à exploração de ideias e quadros
filosóficos de inspiração humanista, assim como ao desenvolvimento de
inovadoras técnicas agrícolas e artísticas.
Além disso, a invasão francesa de Itália, no término do século XV,
permitiu aos Franceses o acesso às expressões artísticas vanguardistas dos
Italianos. Da Vinci foi posteriormente recebido por Francisco I de França e
presenteado pela Casa Real com uma esplêndida moradia, tendo em vista a
dedicação plena aos seus projetos. Da Vinci levou então 3 pinturas consigo
para França: A Virgem e o Menino com Santa Ana, Mona Lisa e São João
Batista, as quais podem ser ainda contempladas no Museu do Louvre.
Outros artistas europeus foram igualmente convidados a residir em
França, o que permitiu o fomento, a renovação, e o florescimento da
cultura francesa.

Francisco I de França
Foi durante a Renascença Francesa que ressurgiu o interesse no Rosa-
Cruzismo. Entre 1614 e 1616, foram publicados três manifestos anónimos:
Fama Fraternitatis (“A Fama da Fraternidade”); Confessio Fraternitatis
(“A Confissão da Fraternidade”); Chymische Hochzeit Christiani
Rosencreutz (“Núpcias Alquímicas de Christian Rozenkreuz”). Embora os
seus respetivos autores não tenham sido creditados, os historiadores creem
que os manifestos terão sido escritos pelos Representantes do Colégio da
Rosa-Cruz, nomeadamente por aqueles que pertenciam ao nuclear
“Círculo de Tubinga”. Os membros deste proeminente círculo incluíam o
teólogo Johann Valentin Andreae, o advogado Tobias Hess, e ainda o autor
e teólogo luterano Johann Arndt (todos eles Alemães), entre muitos outros.
Um intrigante excerto de um dos manifestos diz: “Falamos-te por
parábolas, porém de bom grado te indicaremos a explicação correta,
simples e engenhosa... assim como o conhecimento de todos os segredos.”

Andreae
Arndt
A princípio, estas publicações foram maioritariamente desdenhadas, e as
autoridades negligenciaram-nas a pretexto de serem embustes. Não
obstante, as sementes da curiosidade haviam sido plantadas, e, num
instante, brotou uma série de artigos, livros, folhetos e até obras de ficção,
dedicada ao debate da irmandade de “alquimistas e sábios” investidos na
mudança do curso cultural e científico da Europa. Os autores europeus
exploraram o fascínio do público e, em 1620, mais de quatrocentos
trabalhados tinham sido publicados a respeito do tema.
Christian Rosenkreutz
“O que pensais, adoráveis pessoas, e quão afetadas vos achais, sabendo e
compreendendo que assumimos, sincera e plenamente, seguir Cristo,
condenar o Papa, ser devotos à verdadeira Filosofia, conduzir uma vida
Cristã, e, todos os dias, pedir, rogar e convidar que muitos outros se unam
à nossa Fraternidade, sobre a qual a mesma Luz de Deus igualmente se
derrama?” - Confessio Fraternitatis
Numa manhã de 1623, ao saírem de suas casas, os Parisienses
amontoaram-se ao redor de duas estranhas notícias que haviam sido
publicadas na noite anterior. A primeira referia: “Nós, os Representantes
do Colégio Superior da Rosa-Cruz... demonstramos e ensinamos, sem
recurso a livros ou títulos honoríficos, como falar todos os dialetos
naturais dos países em que nos encontramos, por forma a que os nossos
semelhantes possam afastar-se do erro. Aquele que pretender conhecer-nos
somente a título de curiosidade jamais nos contactará, mas se a sua
inclinação o impelir seriamente a procurar a nossa irmandade, nós,
aferidores de intenções, mostrar-lhe-emos a verdade das nossas
promessas, se bem que não daremos a conhecer o nosso ponto de encontro
nesta cidade, uma vez que os pensamentos subjacentes à vontade genuína
o conduzirão até nós, e nos conduzirão até ele...”
As curiosas brochuras reuniam os eventos da aventurosa história do
fundador da ordem, e, ao longo do tempo, os seus autores foram
gradualmente aguçando o apetite dos leitores, publicando os conteúdos a
trechos. A princípio, o protagonista foi unicamente designado como
“Irmão C.R.C.”. Somente mais tarde foi o seu nome revelado aos leitores:
Christian Rosenkreutz.
Uma representação coetânea do Irmão C.R.C.
A data de nascimento de Christian continua a gerar controvérsia. Embora
os manifestos a estabeleçam no ano de 1378, este não encaixa na pretensa
cronologia dos acontecimentos da sua vida. Em todo o caso, a
generalidade dos historiadores concorda que a sua família terá vivido
sensivelmente entre os séculos XIII e XIV, nomeadamente durante o
apogeu da Cruzada Albigense. Este período de conflito, que se prolongou
por duas décadas, foi desencadeado pelo Papa Inocêncio III, na esperança
de eliminar a heresia do Catarismo, um movimento revivalista gnóstico
que floresceu na Europa Meridional entre os séculos XII e XIV.
O Sul de França e os povoados que o circundavam eram frequentemente
fustigados por fogos florestais, o que se agravou em consequência da
Cruzada Albigense, uma vez que diversas aldeias e cidades caíram em
desordem. Entretanto, mais a norte, na Floresta da Turíngia, o decrépito
castelo de Germelshausen celebrou o nascimento do seu mais recente
rebento, Christian. O evento providenciou um repouso curto, mas
necessário, face aos tumultos que decorriam além das muralhas do castelo.
Os Germelshausens eram de nobre estirpe, porém contínuas perseguições e
escolhas equívocas redundaram na depauperação dos seus recursos. Além
disso, os Germelshausens eram célebres Cátaros e místicos imbuídos de
crenças herméticas, razão pela qual se apresentavam como um alvo
preferencial da opressão religiosa.
A infância de Christian foi tudo menos branda. Quando tinha cinco anos,
Konrad von Marburg, um sacerdote que trabalhava diretamente com o
Papa, sentenciou os Germelshausens à morte. Pela calada da noite, os
portões do castelo foram abertos de par em par, e os soldados de Marburg,
irrompendo furiosamente, incendiaram o lugar. Felizmente para Christian,
um monge Albigense introduziu-se no castelo chamejante e encontrou o
rapaz choroso. Colocando a criança aos ombros, o monge contornou as
labaredas e escapou do castelo, imiscuindo-se na noite. A restante família
de Christian sucumbiu ao fogo.
O monge levou Christian para um mosteiro isolado, no qual residia em
conjunto com uma comunidade de monges Albigenses. Transportou então
a criança soluçante até ao seu cubículo e enxugou o seu rosto. Logo que o
pequeno sossegou, não tardou até que o monge vislumbrasse o tremendo
potencial do brilhante rapazito. Durante os anos ulteriores, Christian viveu
entre os monges, estudando Alemão e Latim.
Christian viveu grande parte da sua adolescência como eremita. Com
quinze anos, e após uma década rotineira como devoto e copista, começou
a pretender explorar o mundo. Confessou os seus sentimentos a um restrito
grupo de amigos, um quarteto de monges sensivelmente da sua idade; é
referido o nome de apenas um deles – chamado “Pastor P.A.L.”. Os cinco
monges partilhavam o sonho de conquistarem o mundo exterior em busca
de sabedoria divina, a qual acreditavam poder ser alcançada no Oriente.
Um punhado de semanas mais tarde, Christian decidiu ser fiel à sua
palavra. Certa manhã, Christian e o Pastor P. arrumaram os seus pertences
e partiram numa demanda por sapiência. Os seus companheiros e
superiores deles se despediram desde os portões do mosteiro, convencidos
de que o par se lançara numa peregrinação até à Basílica do Santo
Sepulcro, em Jerusalém.
Na verdade, o duo errante ignorava o seu destino, sabendo apenas que
seguiria para Leste. Foi precisamente esta carência de planeamento que
conduziu à pronta interrupção da sua jornada. Poucas semanas após o
início do empreendimento, ao alcançarem Chipre, o Pastor P. adoeceu e
sucumbiu inesperadamente. Christian encheu-se de desgosto, contudo não
se deteve. Decidiu então dar continuidade ao seu cometimento. Agora que
se encontrava sozinho, formulou um plano à altura e definiu a cidade
islâmica de Damasco como meta. Isto implicaria abandonar a “familiar”
ilha cristã de Chipre e aventurar-se em “terra de infiéis”, razão pela qual
sabia ter de passar despercebido. Envergando uma tradicional túnica árabe
e envolvendo a sua cabeça num turbante, insinuou-se na célebre
metrópole.
A visita de Christian a Damasco foi tudo menos oportuna. A cidade era
governada pelos sultões Mamelucos que regiam o Egito, a Síria, e parte da
Península Arábica. Todos os intelectuais e eruditos de Damasco e das
povoações cercanas haviam fugido ou sido expulsos, após os Mamelucos
terem procedido à obliteração de dezenas e dezenas de universidades,
bibliotecas, e demais instituições difusoras de conhecimento. Entretanto,
terríveis desastres naturais assolaram o Médio Oriente. Houve relatos de
uma grave sequência de terramotos na Síria, assim como de uma alegada
chuva de escorpiões na Mesopotâmia. Isto resultou na disseminação de
rumores infundados a respeito do fim do mundo. Os residentes da cidade
de Damasco temiam constantemente a chegada de invasores.
Christian tentou evitar a sua estadia em Damasco, mas ficou doente e
desnutrido, quedando sem recursos na metrópole. Gerindo as
circunstâncias, embrenhou-se nas entranhas da cidade, travando amizade
com uma comunidade oculta de sábios e intelectuais. Estes homens
eruditos apreciaram a madura inteligência do jovem e receberem-no no
seu círculo. Quando convidaram Christian a consultar as suas
aparentemente intermináveis bibliotecas, o ávido adolescente tirou
prontamente partido da oportunidade. Além de estudar dialetos árabes,
Christian devorou integralmente todos os manuscritos. Leu livros de
filosofia árabe, incluindo A Alquimia da Felicidade, do autor sunita
oriundo da Pérsia, Muhammad-al Ghazālī. Alargou os seus horizontes e
familiarizou-se com a filosofia judaica, através de O Guia dos Perplexos,
composto pelo rabino Moisés Maimónides. Meditou sobre as obras
esclarecidas do estudioso persa, Omar Caiam, analisando os seus poemas e
os seus trabalhos sobre Matemática.
Christian parecia emanar um carisma natural, não tardando a gozar de
uma considerável reputação junto dos eruditos de Damasco. Recebeu
tutelagem privada por parte dos alunos do célebre cientista e matemático,
Nasir al-Din, aprendendo sobre astronomia e as “ciências harmónicas
universais”. Mais tarde, Christian foi abordado por sábios sufis, os quais
lhe inculcaram a importância da meditação com recurso ao Masnavi, um
extenso poema munido de histórias alusivas ao Corão e de métodos
referentes ao fortalecimento da ligação com Alá.
Meses depois, Christian deixou Damasco e retomou a sua jornada ao
longo do Médio Oriente. Primeiro, fez escala em Jerusalém, tal como
prometera aos superiores Albigenses, mas em vez de visitar o túmulo de
Cristo, Christian embrenhou-se na Filosofia Árabe. Poucas semanas após o
seu 16.º aniversário, Christian chegou à cidade de “Damcar”. Contudo, não
há registos que comprovem que Damcar, cujo nome significa “mosteiro na
areia”, alguma vez tenha existido. Os historiadores do Rosacrucianismo
insistem que se tratará simplesmente de um nome fictício, adotado para
ocultar a localização de uma das primeiras bases futuras dos Rosa-Cruzes.
Christian viveu em Damcar durante 3 anos, rodeado pelos intelectuais da
povoação. Christian não só dedicou o seu tempo a melhorar as suas
competências no domínio da Língua Árabe, como entrou igualmente em
contacto com um livro secreto. Esta obra abençoada era somente
conhecida por “M.”, supostamente contendo literatura alusiva aos
segredos do Universo.
Quanto ao mais, Christian investiu-se na tradução de obras, de Árabe
para Latim, e no estudo conjunto com vários médicos. Estes médicos
iniciaram-no no mundo da Medicina, tanto convencional como alternativa.
Esta mescla de educação médica incluía métodos de cura sufistas (com
recurso a plantas medicinais), técnicas primitivas de acupuntura,
exercícios respiratórios com vista ao restabelecimento espiritual, e
práticas meditativas, assegurando um acesso puro ao “Poder Espiritual
Divino” de Alá.
Com pouco mais de 20 anos, Christian resolveu fazer-se novamente à
estrada. Em primeiro lugar, regressou ao Egito, onde se familiarizou com
certos ramos científicos, como a Zoologia ou a Botânica, antes de se
encaminhar para Fez, em Marrocos. Fez, denominada “a cidade das 600
fontes chistosas”, albergava um fervilhante centro de filosofia, misticismo
e ocultismo. Era onde residiam Abu-Abdallah, um dos mais eminentes
alquimistas; Ali-ash-Shabramallishi, um venerável sábio, versado em
magia e astrologia; Abdallah al Iskari, um mestre das ciências ocultas.
Christian acreditava que Fez seria terreno fértil para a aquisição de
sabedoria divina, e mergulhou fundo e com avidez no lago de
conhecimento que se estendia a seus pés. Durante meses, obstinou-se no
estudo de obras acerca da adivinhação, dos mistérios, e de outras doutrinas
heterodoxas.
Após anos de ininterrupta formação mística e escolástica, Christian
decidiu ser hora de regressar a casa, levando consigo os variados e
sumarentos frutos do seu trabalho. Christian embarcou num navio,
transportando sacolas repletas de manuscritos, raras poções medicinais, e
gaiolas com estranhos animais árabes. Semanas depois, o barco europeu
atracou na costa de Espanha. Christian localizou e reuniu-se com os
Alumbrados[6], uma sociedade secreta que praticava uma versão mística do
Cristianismo em Espanha. Presenteou-os e, como de costume, conquistou-
os com o seu encanto e eloquência. Por seu turno, a irmandade cristã
conferiu-lhe proteção e introduziu-o no estudo do Hermetismo e do
Neoplatonismo. Além disso, ambas as partes uniram esforços na busca
pela fabulosa Pedra Filosofal. Infelizmente, as suas pesquisas não
produziram resultados, e os Alumbrados foram gradualmente
desvanecendo até à extinção.
Sem os seus camaradas, Christian achou-se novamente sozinho, embora
permanecesse determinado em educar os intelectuais europeus com o
conhecimento de que há muito careciam. Para seu desapontamento, foi
ridicularizado em todas as instituições de ensino às quais se dirigiu. Foi
então que Christian compreendeu que a sabedoria era exclusiva de alguns;
somente por via da fé, da devoção e da paciência poderia a sapiência
permear os corações daqueles que a buscassem. Com o seu orgulho ferido
mas inabalável, Christian recolheu-se na Alemanha e construiu uma
modesta habitação no topo de uma tímida colina. Ao longo dos cinco anos
ulteriores, dedicou-se inteiramente a estudar, e ainda ao mapeamento da
sua nova missão.
Após aturada ponderação, concluiu que a sua irmandade deveria ser
restrita, não admitindo mais do que oito membros. Assim que finalizou o
seu projeto, Christian emergiu da reclusão e lançou-se pela Europa em
busca dos seus oito eleitos. Deteve-se em França, onde testemunhou a
perseguição aos místicos. Entre os condenados contava-se Marguerite
Porete, cujo livro, O Espelho das Almas Simples, foi vilipendiado pelos
seus conteúdos profundamente místicos. Rejeitando obedecer aos
preceitos da Inquisição, foi morta na fogueira pela sua heresia.
Tendo constatado a dureza e a brutalidade sofridas pelos heterodoxos,
Christian compreendeu que teria de passar despercebido, abandonando
assim a França e regressando ao mosteiro na Turíngia, onde se reuniu com
três dos monges que mais prezava. Em conjunto, os quatro fundaram a
“Fraternidade da Rosa-Cruz”, a primeira ordem oficial do movimento
rosacrucianista. Os irmãos examinaram o livro de “M.” e codificaram um
conjunto de cifras para a irmandade. Logo que concluíram os primeiros
documentos, erigiram um templo com claustro, ao qual chamaram “Igreja
do Espírito Santo”. Nos anos subsequentes, o grupo expandiu-se para
integrar oito membros, tal como Christian antecipara. Segundo certas
fontes, alguns eram do sexo feminino; e todos solteiros, castos e
constrangidos a um voto celibatário.
Com o venerável octeto então completo, tornou-se possível uma atuação
mais eficiente. Sob a zelosa direção de Christian, os seus companheiros
elaboraram os restantes documentos da ordem, incluindo diretrizes e
declarações de princípios, erigindo ademais um novo ponto de encontro,
conhecido como “Casa do Espírito Santo”. Ernst Kurtzahn, um gnóstico
residente em Hamburgo, exclamou: “A suposta 'casa' do Espírito Santo é
um engano premeditado... Pois terá sido o próprio 'Espírito Santo' a juntar
a irmandade! 'Em Espírito e em Verdade, devereis reunir-vos', segundo o
preceito de Cristo.”
Após o estabelecimento da Casa do Espírito Santo, Christian concluiu
um manuscrito impregnado com as suas doutrinas filosóficas, de
importância basilar para os símbolos e cifras dos Rosa-Cruzes, contendo
igualmente secções de profundo conhecimento médico e científico que
adquirira ao longo dos anos. Christian utilizou este documento para
fecundar as mentes dos seus novos seguidores. Apesar de contemplar com
orgulho a sua promissora irmandade, sabia que o seu desígnio jamais se
cumpriria se o grupo permanecesse em reclusão.
A Fraternidade da Rosa-Cruz
“Quando a rosa e a cruz se unem, consuma-se o casamento alquímico e o
drama termina. Emergimos então da História e acedemos à Eternidade.” –
Robert Anton Wilson, autor Americano
Por esta altura, os quatro companheiros originais de Christian eram os
mais esclarecidos da irmandade, razão pela qual foram incumbidos de uma
missão. Christian ordenou-lhes que se espalhassem pelo mundo e se
instalassem em nações distantes. Em seguida, deveriam encontrar e
instruir indivíduos, preferencialmente estudiosos, merecedores da sua
causa. Teriam ainda de se embrenhar nessas sociedades estrangeiras e
reportar quaisquer inconsistências nos ensinamentos do Rosacrucianismo.
Antes de darem início à sua tarefa, os irmãos juraram defender seis dos
preceitos de Christian. Em primeiro lugar, deveriam curar doentes
gratuitamente. Em segundo lugar, deveriam passar despercebidos; e, não
tendo recebido uniformes, teriam de trajar consoante os respetivos
costumes locais. Terceiro: deveriam reunir-se anualmente na Alemanha,
nomeadamente na Igreja do Espírito Santo. Quarto: antes de falecerem,
deveriam escolher os seus sucessores. Quinto: deveriam adotar as iniciais
“R.C.” como insígnia e autointitular-se Rosa-Cruzes daí em diante. Por
fim, e mais importantemente, a fraternidade deveria permanecer vedada ao
público durante pelo menos um século.
Outras orientações eram detalhadas no manual rosa-cruz. A primeira
consistia na defesa da virtude do altruísmo, que Christian supunha ser a
mais difícil de praticar. Compreendia que nem mesmo os homens mais
nobres e puros são perfeitamente generosos, porém acreditava que, após a
conclusão dos ensinamentos rosacrucianistas, se obteria a sabedoria
necessária para a promoção desta virtude.
Outra regra essencial consistia na renúncia à soberba. O
empreendimento em causa assentava na discrição e no anonimato,
pressupondo igualmente humildade. A vaidade deveria ser evitada a todo o
custo. Os discípulos teriam de comer frugalmente, abdicar dos seus bens
materiais, e exercitar uma vida de modéstia.
Assumia igualmente um papel significativo a virtude da castidade, cujo
voto era, à época, tido em altíssima conta pelos membros da generalidade
das ordens religiosas. No entanto, os historiadores atuais questionam a
disciplina dos Rosa-Cruzes relativamente a esta regra, tendo em conta que
vários pensadores celebrados, tais como Platão ou Sócrates, tiveram
amantes. Supõe-se que, ao invés, esta lei da castidade seria apenas uma
medida preventiva, formulada com o intuito de mitigar os desejos carnais.
Christian escolheu o símbolo da rosa-cruz como insígnia da sua
irmandade. Esta divisa viria a sofrer inúmeras modificações ao longo do
desenvolvimento do Rosacrucianismo. Uma versão deste emblema
consiste, simplesmente, numa rosa vermelha alojada ao centro de uma
cruz. Uma outra, ligeiramente distinta, ostenta uma coroa cintilante em
lugar da rosa. Outra ainda mostra uma espada em posição vertical,
semelhante a uma cruz, com uma rosa incrustada na empunhadura.
A Rosa-Cruz associada a Christian
Cada alteração foi acompanhada de um significado próprio e distintivo.
A versão original representa o divino místico sob a forma da rosa,
alcançável unicamente por via do sofrimento mortal, simbolizado pela
cruz. Semelhantemente, os mortais divinos devem submeter-se ao
sofrimento e às agruras da vida antes de receberem a “Coroa do
Conhecimento”. Por fim, a “Espada do Espírito” deve ser utilizada na
“Batalha da Vida”, caso existia a pretensão de se ser recompensado com
sabedoria divina.
Os cronistas do Rosacrucianismo sugerem a existência de um
significado ainda mais profundo subjacente à insígnia. Para os Rosa-
Cruzes, a cruz representaria um molde da figura humana, e a rosa ao
centro simbolizaria a alma. Em rigor, a alma individualmente tomada,
achando-se em permanente evolução, e mudando de recetáculo carnal em
recetáculo carnal ao longo de gerações de reincarnação. Em conjunto, a
rosa e a cruz significariam a “dualidade da humanidade”. Segundo a
tradição rosacrucianista, as reincarnações cessariam assim que fosse
alcançado um estado de “perfeição”.
De acordo com os antigos folhetos rosa-cruzistas, conhecidos por
“monografias”, a ordem dividia-se em duas categorias: a Classe Neófita e
a Classe do Templo, comportando um total de 12 graus. Os ensinamentos
enfatizavam as “Leis Divinas” do Universo, ao invés da conceção cristã de
Deus. Visavam o aperfeiçoamento dos discípulos no domínio da alquimia
espiritual, ensinando-os as corrigirem as “insuficiências da natureza
humana”.
Sob a direção de Christian, os aspirantes a iniciados eram sobretudo
procurados por recrutadores rosa-cruzes. Certos indivíduos, ouvindo
rumores a respeito da organização, procuravam igualmente localizar a
igreja e aderir à irmandade, o que, por si só, não era propriamente simples.
Na eventualidade de os candidatos intrometidos conseguirem encontrar o
templo, eram submetidos a um processo de examinação, por meio do qual
deveriam convencer os superiores rosacrucianistas da dignidade do seu
alistamento.
Ao serem aceites, os iniciados obtinham seguidamente acesso ao
“Átrio”, ou câmara de receção, da igreja. Aí, eram adicionalmente
observados e indagados por um outro grupo de distintos Rosa-Cruzes.
Recebiam lições preliminares e a sua capacidade de cumprimento de
ordens era colocada à prova. As aulas proporcionavam aos neófitos uma
breve visão dos conceitos rosa-cruzistas mais elementares, e
particularmente sobre o tema da dualidade humana. Os Rosa-Cruzes criam
que, acima dos tradicionais cinco sentidos, se encontraria um sexto, de
índole psíquica, que necessitaria de ser estimulado. Os iniciados
realizavam igualmente exercício físico, tendo em vista a aprimoração das
suas faculdades corporais. Certas noções rosacrucianistas eram-lhes
apresentadas, tais como: “Natureza Ilusória do Espaço e do Tempo”,
“Telepatia” ou “Cura Energética Metafísica”, e aprendiam ainda algumas
técnicas de meditação. A passagem ao primeiro nível estava dependente da
conclusão bem-sucedida destas aulas introdutórias.
Os Neófitos recém-chegados eram encarregados do completamento de
três etapas, conhecidas como “Átrios”. O Primeiro Átrio consistia na
revisão das lições preliminares, assim como na aquisição de
conhecimentos relativos a conceitos fundamentais. Os iniciados
exploravam a ciência da composição e dos padrões de vibração da matéria,
veículo para a compreensão da consciência e da criação mental, assim
como do efeito da própria ciência sobre o mundo. Este trecho continha
disciplinas como: “Poder do Pensamento”, “Projeção da Consciência e
Telepatia” e, por fim, “Lei dos Três Pontos”.
A Lei dos Três Pontos ensinava aos Neófitos que, individualmente
tomada, uma força não produziria quaisquer resultados. Contacto e
equilíbrio seriam igualmente necessários, formando assim a tríade que
inspira o nome da lei. O símbolo triangular há muito fora adotado pelos
místicos do Antigo Egito. Quando invertido, o triângulo representaria as
divinas criações universais. Por seu turno, voltado para cima, o triângulo
significaria o mundo material. Os iniciados aprendiam a aplicar a regra na
resolução de conflitos e de problemas quotidianos.
No Segundo Átrio, os Neófitos, que então entendiam a conexão entre
mente e matéria, começavam a abordar o nexo entre mente e corpo físico.
Aprendiam que pensamentos perversos poderiam conduzir ao
desenvolvimento de doenças, e davam início à prática dos métodos de cura
prescritos pelos Rosa-Cruzes. Estreavam ainda a domação dos seus
poderes físicos e psíquicos. Este átrio compunha-se de temas como:
“Origem das Doenças”, “Perceção da Aura” e “Mística Arte da
Respiração”.
O último Átrio consistia no acesso ao mundo místico. Agora que os
iniciados se encontravam mais recetivos e sintonizados com as suas
faculdades psíquicas, podiam começar a estimular a sua intuição e demais
capacidades criativas. Estavam igualmente equipados com conhecimentos
elementares a respeito da reincarnação e do karma. Durante
aproximadamente três meses, os iniciados estudavam tópicos como “Os
Grandes Movimentos Religiosos”, “O Bem, o Mal e o Livre-Arbítrio” ou
“A Natureza da Alma”.
A conclusão do último nível do Átrio voltava os Neófitos de Christian na
direção do seu passo seguinte. Como forma de celebração do seu
progresso, decorria uma cerimónia iniciática mais complexa. Por fim, os
Neófitos eram admitidos na Classe do Templo. Os nove passos
subsequentes eram conhecidos como “Graus do Templo”.
Mais uma vez, os primeiros três graus consistiam na revisão do currículo
atinente à Classe dos Neófitos. O quarto grau introduzia os membros à
“Ontologia Rosa-Cruz”, ou seja, ao estudo do Ser e da sua relação com os
Poderes Divinos. Os companheiros de Christian ministravam
gratuitamente cursos sobre simbologia, o tempo e o espaço, e
manifestações de arquitetura sacra. Ao longo do quinto grau, que se
prolongava por cerca de três meses, os estudantes analisavam os trabalhos
de filósofos clássicos, tais como Aristóteles, Tales ou Sólon.
Um busto de Aristóteles
Em conformidade com a evolução dos graus, os membros recebiam uma
educação e um treino mais elaborados nos domínios da meditação e da
purificação espiritual. A cada estágio se desvelava um novo mistério.
Concluído o sétimo grau, os membros encontravam-se devidamente
instruídos no âmbito da projeção da consciência, possuindo perícia no
domínio da perceção de auras e de “sons místicos”. Terminado o oitavo,
estavam familiarizados com todos os tópicos alusivos à imortalidade, os
quais incluíam lições como “Memórias de Incarnações Passadas” ou
“Mistério do Nascimento e da Morte”. Por fim, completado o nono grau,
os Rosa-Cruzes atingiam o mais elevado estado de iluminação,
conhecendo de cor e salteado os mistérios derradeiros. Entre os temas da
última etapa, contavam-se: “Alquimia Mental”, “Regeneração Mística” e
“Harmonia com a Consciência Cósmica”.
O Princípio do Secretismo do Rosacrucianismo consistia num juramento
prestado em todas as cerimónias iniciáticas. Os Rosa-Cruzes não só
prometiam lealdade eterna, como se responsabilizavam pela manutenção
do público coscuvilheiro à parte das suas preciosas sessões. Como tal, na
sua maioria, os Rosacrucianistas levavam os seus segredos para o túmulo.
Eram proibidos de revelar a configuração das cerimónias iniciáticas, o que
incluía não mencionar passagens recitadas por Mestres ou Ministros.
Jamais deveriam partilhar com estranhos “cumprimentos, senhas,
saudações ou sinais de reconhecimento” próprios da ordem.
Ao longo da totalidade do processo, era evidente a importância conferida
ao anonimato da sociedade. Antes ainda de acederem ao Átrio, os
iniciados eram obrigados a prestar e a assinar um juramento que dizia:
“Perante o Sinal da Cruz, prometo, por minha honra, não revelar a
ninguém... os sinais, segredos ou palavras que possa aprender antes,
durante ou depois da conclusão do Primeiro Grau.”
Quando os Rosa-Cruzes primeiramente tentaram contactar com o
público, os seus admiradores externos compilaram um rol de mecanismos
de identificação de membros da organização secreta. Os Rosacrucianistas
celebrizaram-se pelo cultivo da paciência, da bondade e da modéstia.
Sendo gentis e aprumados, ansiavam contudo pela Verdade, sabendo por
isso exatamente quando deviam remeter-se ao silêncio. Talvez o traço
mais distintivo dos Rosa-Cruzes fosse a sua inigualável lealdade.
Um Casamento, um Funeral, e um Recomeço”
“Hoje, hoje, hoje celebra-se o casamento do Rei. Se estiverdes vivos
para o presenciarem, escolhidos por Deus para vosso júbilo, podereis
trepar o monte onde três templos se erguem e testemunhar o evento por
vós mesmos... Perjurai para vosso prejuízo; caso sejais iluminados, cuidai-
vos!” – Excerto d’As Núpcias Alquímicas de Christian Rosenkreutz
A obra As Núpcias Alquímicas de Christian Rosenkreutz ilustra o
caminho do fundador da irmandade rumo ao esclarecimento por via de
uma demanda espiritual composta de sete etapas. Embora a narrativa tenha
sido originalmente publicada em 1616, os eventos relatados terão ocorrido
150 anos antes. O livro divide-se em sete capítulos, cada qual
representando um dos sete dias da profundamente transformadora, não
obstante inacreditável, jornada que se prolongou por uma semana. E
assim, aos 81 anos de idade, Christian deu início à sua empresa espiritual.
Uns dias antes da manhã de Páscoa, uma “donzela alada” visitou
Christian nos seus aposentos. Este abismou-se ante a aparição, esfregando
os olhos em descrença. A mulher envergava um fabuloso vestido azul com
estrelas doiradas dispostas sobre o sedoso tecido, e as suas asas
ostentavam inúmeros olhos penetrantes. Esta visão seria uma projeção da
anima de Christian, isto é, da sua faceta feminina inconsciente. Christian,
emudecido pela avantesma, pôde apenas anuir timidamente com a cabeça
enquanto a dama o informava a respeito da jornada espiritual que o
aguardava.
Nessa noite, Christian teve um pesadelo polvilhado de temas místicos e
cabalísticos. No seu sonho, Christian achava-se encarcerado no interior de
uma terrível torre pejada de prisioneiros lamentosos e agrilhoados. Os
presos desesperados representariam Malkuth, a décima sefirá da “Árvore
da Vida” cabalística. Um homem idoso, delgado e de cabelos de prata,
acercou-se dos reclusos, ostentando o nome de “Padre Chokmah” (termo
hebraico que significa graça e benevolência). Chokmah anunciou que a
única esperança de salvamento dos encarcerados consistiria em agarrarem-
se a uma corda que penderia da janela. E, tal como Chokmah previra, uma
vetusta mulher chamada “Binah”, ou “A Mãe Universal”, lançou um
extensíssimo cordão umbilical até à única abertura da torre. No seu
desespero, Christian segurou o cordão e, num ápice, escapou rumo à
liberdade.
Christian despertou na manhã seguinte, arquejante e transpirando em
bica, e descobriu um convite aos pés da sua cama. Tratava-se de uma
invitação para o matrimónio real, embora não se encontrassem
discriminadas as coordenadas do respetivo castelo. Compreendendo tratar-
se da incitação à sua demanda, reuniu os seus pertences e partiu rumo ao
casamento. Christian vagabundeou até deparar com uma encruzilhada de
quatro caminhos. Perdido e desorientado, estava prestes a desistir, quando
avistou uma pomba branca e se deixou encantar pelo belo pássaro. A
pomba seria uma representação cristã da “expressão feminina do Espírito
Santo”. Segundos depois, surgiu um corvo com penas negras como a noite,
simbolizando a “transformação alquímica”. A ave preta começou a
perseguir a pomba branca, e Christian lançou-se no encalço de ambas,
dirigindo-se pelo caminho acertado.
Christian não tardou a alcançar o primeiro pórtico, onde desenrolou o
seu convite. Após examinar o documento, o responsável pelo portal
apartou-se e indicou-lhe um trilho sinuoso que conduzia ao pórtico
seguinte. O caminho era alumiado por lanternas acesas por outra jovem
deslumbrante. Tal como a aparição, trajava de azul.
O percurso até ao segundo pórtico não apresentou quaisquer obstáculos,
porém as luzes começaram a vacilar logo que Christian entreviu o castelo
ao fundo do caminho. Precipitou-se em direção ao castelo antes que a
escuridão noturna o devorasse. Sem o seu conhecimento, foi seguido pela
donzela, que segurava uma lanterna. Com a ajuda da estranha senhora,
Christian deslizou num ápice ao longo das portas. À medida que estas se
foram cerrando à sua passagem, a extremidade inferior do seu casaco
começou a esgarçar. Este pequeno pormenor serviu para recordar Christian
da necessidade de não se agarrar a bens materiais, pois que seriam
impedimentos à iluminação espiritual. A sua guia acabou por guardar as
chaves, garantindo que mais ninguém entraria sem o seu consentimento.
Seguro no interior do castelo, Christian encontrou outra donzela,
conhecida simplesmente como “A Virgem”. Necessitou de confirmar a
identidade de ambas as mulheres, uma vez que tanto a Virgem como a
moça da lanterna se aparentavam como gémeas, cuja única distinção
residia no facto de a Virgem envergar uma “luzidia vestimenta de brancura
nívea que cintilava com ouro puro”. Somente depois Christian
compreendeu que as duas senhoras eram a mesma pessoa.
Ao cabo do terceiro dia, Christian, a par de outros convidados do
casamento, foi novamente saudado pela Virgem. Esta usava então um leve
vestido vermelho cingido por um cós de cor branca, e a sua cabeça era
ornada por uma grinalda. Estas coroas, conhecidas por “láureas”,
simbolizavam a vitória; além disso, as folhas de louro eram comummente
mascadas tendo em vista a indução de “visões proféticas”. Os convivas
foram conduzidos a outra câmara do castelo, onde decorreu uma cerimónia
de “pesagem de almas”. A Virgem testou então o carácter de todos os
indivíduos, submetendo-os a seis tarefas. Tratou-se de um momento
profundamente decisivo. Aqueles que concluíram o teste com êxito foram
presenteados com um admirável casaco vermelho e um laurel, ao passo
que os malsucedidos foram prontamente algemados e forçados a
carregarem o “peso” das suas conspurcadas virtudes, das suas indiscrições
e dos seus delitos morais. Quando o dia findou, Christian aceitou
tranquilamente a sua indumentária encarnada e a sua coroa de louros.
Acercou-se da Virgem e, pela primeira vez, perguntou-lhe como se
chamava. O seu nome era Alchimia.
O quarto dia da demanda correspondeu ao da consumação do casamento
real. Os convidados da cerimónia foram ordenados a envergar vestimentas
especialmente fornecidas por Alchimia. Tratavam-se de garbosos
agasalhos confecionados em lã doirada, em cujas costas se achava gravada
a seguinte inscrição: “A luz da Lua brilhará como a luz do Sol, e a luz do
Sol brilhará sete vezes mais”. Assim que Christian vestiu o seu casaco, “o
Rei e Rainha soberanos” convocaram os convidados ao salão real. Anuindo
complacentemente, estes dirigiram-se ao resplandecente salão, provido de
um extravagante mobiliário e munido de paredes áureas e marchetadas de
cintilantes pedras preciosas. Os mantos da rainha eram de tal modo
garridos, que Christian e os seus companheiros ficaram momentaneamente
cegos.
Embasbacado, Christian logo compreendeu que não se encontravam
sozinhos. Existiam três pares de tronos junto de cada uma das quatro
paredes da divisão, repousando em cada qual o seu respetivo casal de
monarcas. Sem proferirem uma única palavra, os reis e rainhas ergueram-
se em uníssono e removeram os seus trajes brancos, substituindo-os por
mantos negros.
A confusão dos convidados transformou-se em horror, assim que os reis
e rainhas marcharam até junto do algoz que os esperava a um canto da
sala. Um a um, os monarcas foram degolados perante os presentes. Assim
que o último elemento real foi executado, o carrasco, um homem sem
rosto que vestia um capote preto, voltou o machado para si.
Alchimia atravessou a multidão de convidados atemorizados e varreu
gentilmente os restos mortais para dentro de caixões separados. Declarou
aos convivas: “Estas vidas repousam agora em vossas mãos; se me
seguirdes, vereis estas mortes originarem muitas vidas.” Alchimia
realizou uma vigília em memória dos cadáveres reais, simbolização do
fomento dos renascimentos vindouros. Mais tarde, nessa mesma noite,
chegaram sete magníficas embarcações, dentro das quais as urnas foram
depositadas.
No dia seguinte, Christian passeou vivamente ao redor do castelo. Foi
então que deparou com o mausoléu de Vénus, a deusa do amor e da
fertilidade. Nele penetrando, prontamente compreendeu tratar-se não de
um mero sepulcro, mas de um depósito de tesouros. Ao explorar o
monumento, Christian descobriu uma porta de cobre soterrada, que
atravessou com hesitação, alcançando inadvertidamente as alcovas de
Vénus. A divindade desnuda jazia sobre uma cama, e Christian, no seu
embevecimento, achou-a tão deslumbrante que questionou a sua
existência.
Recuperando a presença de espírito, Christian voltou-se e abandonou
lestamente o mausoléu. Alchimia, trajando de negro, novamente o saudou
perto do castelo, a partir de onde os convidados foram encaminhados até à
floresta, onde decorreu uma cerimónia fúnebre em honra dos monarcas.
Aí, os convidados ajudaram a sepultar caixões inanes, encafuando essas
arcas simbólicas numa gruta distante. Foi então erguida uma bandeira
estampada com uma fénix dourado-alaranjada. Era o símbolo da
ressurreição.
Em seguida, os convidados matrimoniais foram conduzidos até uma
embarcação, porventura uma daquelas em que os ataúdes haviam sido
guardados na noite anterior. Alcançaram mais tarde a Torre do Olimpo,
uma estrutura alquímica de pedra que se elevava por sete andares. O
acesso a cada piso pressupunha que Christian e os seus companheiros
realizassem uma série de estranhos trabalhos. Uma das primeiras tarefas
envolveu a transmutação dos cadáveres reais em ovos. Os ovos foram
então incubados e acabaram por eclodir. Uma das aves foi posteriormente
morta e queimada. As cinzas do galináceo sacrificado foram depositadas
em vasos e carregadas até ao piso seguinte.
Os convidados começaram a evidenciar destreza na execução das
missões, mas, a meio da demanda, Alchimia prestou-lhes nova visita e
repreendeu-os com um demorado sermão. Logo perceberam que, sob as
suas mordazes palavras, residiam pistas sobre como chegarem ao último
andar. Quando enfim atingiram o piso final, os convidados engendraram
dois pequenos seres, um rapaz e uma rapariga. As crianças
alquimicamente criadas consumiram o sangue de um outro pássaro
sacrificial, dando lugar a um novo casal real.
Christian regressou mais tarde ao castelo e foi oficialmente designado
como pai dos novos monarcas. Foi nomeado “Cavaleiro da Pedra
Dourada”. Pela mesma altura, Christian reconheceu, com remorsos, ter
cobiçado o corpo despido de Vénus. Esta admissão de culpa favoreceu-o,
pois que demonstrou o vigor do seu caráter. A indulgente Alchimia
enterneceu-se e permitiu-lhe continuar a servir os outros. Por fim, a
demanda concluiu-se.
Pouco se sabe a respeito dos últimos anos de vida de Christian. Os seus
discípulos declaravam que Christian continuara a inspirar os demais,
incluindo Johann Tauler. Tauler, um notável teólogo da sua época, foi
celebremente exposto ao misticismo por um sujeito anónimo. Alguns
dizem que este estranho terá sido o próprio Christian Rosenkreutz.
Um retrato coetâneo de Tauler
Crê-se que Christian terá tido conhecimento da iminência da sua morte,
tendo reunido seis dos seus companheiros mais íntimos, por forma a que,
com antecedência, estes pudessem preparar a sua sepultura. Em todo o
caso, nem mesmo os irmãos que ajudaram Christian a erigir o seu sepulcro
ficaram a saber a sua verdadeira idade ou a causa do seu falecimento. O
homem acabou finalmente por perecer, constando que terá vivido até aos
106 anos.
Exatamente 120 anos depois, um Rosa-Cruz responsável por renovações
na Igreja do Espírito Santo encontrou fortuitamente o túmulo de Christian.
No seu interior, o anónimo Rosacrucianista achou uma tabuinha presa a
um dos lados por um grande prego, na qual se encontravam redigidos os
nomes dos integrantes originais da ordem. Ao despregar a tábua, o falso
reboco adjacente sucumbiu, revelando uma entrada secreta. Na porta,
estava gravada uma mensagem enigmática. Tendo sido descodificada,
declarava: “Dentro de 120 anos, manifestar-me-ei.”
Na manhã seguinte, um grupo de Rosa-Cruzes arrombou a porta cerrada,
que conduzia a uma cripta com sete cantos e paredes. Sob o altar de bronze
postado ao centro, jazia o corpo de Christian. A cena era surreal: Christian
estaria morto há mais de um século, porém o seu cadáver intacto
aparentava ter sido depositado recentemente. Mais impressionante ainda
era o inexplicável raio de luz que penetrava por uma fresta no teto. Os
Rosa-Cruzes continuaram a esquadrinhar a câmara, concluindo que as sete
paredes em seu redor eram, na verdade, outras tantas portas. Estas
guardavam documentos rosacrucianistas inestimáveis, e um pergaminho
achado na sepultura de Christian continha o anúncio do segundo advento
dos Rosa-Cruzes. O trecho final do documento dizia: “Em conformidade
com a vontade do Pai CRC, o Fama[7] foi escrito em cinco línguas e
enviado para os sábios e eruditos da Europa... Todos os que gozarem de
uma alma honesta... são convidados a comunicar com os Irmãos, vendo
certamente os seus apelos serem atendidos... Concomitantemente, avisam-
se os egoístas e os enganadores que somente miséria e tristeza se abaterão
sobre aqueles que tentarem descobrir a Fraternidade sem a posse de um
coração transparente e uma mente pura.”
Dispersão e Guerra dos Clones
“Não existe nada mais inspirador, mais permeado de paz, felicidade,
saúde, alegria e contentamento do que o desenvolvimento da natureza
espiritual.” – Harvey Spencer Lewis
O furor rosa-cruz que inundou a Europa acabou por cobrir o continente
de uma inebriante vaga de entusiasmo. Ao passo que muitos etiquetaram a
ordem de herética e os seus seguidores de vigaristas, outros defenderam
vigorosamente a irmandade. Os Rosa-Cruzes colheram admiradores em
Inglaterra, e o médico Robert Fludd, seguidor de Paracelso, elaborou
inúmeros artigos em defesa acérrima da ordem. Outros autores, tais como
John Heydon ou o célebre alquimista Thomas Vaughan, traduziram e
criaram dezenas de obras originais inspiradas no Rosacrucianismo.
A imparável onda de fervor rosa-cruzista propagou-se mais tarde a
outros continentes. A publicação de folhetos e, posteriormente, centenas
de livros fecundou uma nova geração de sociedades secretas. Muitas
destas incipientes sociedades secretas viviam por pouco tempo, devendo-
se precisamente a sua efemeridade ao facto de não preservarem o seu
secretismo.
Entretanto, à medida que se difundia a popularidade da ciência
alquímica, verificou-se uma crescente determinação do público em
descobrir as genuínas identidades dos Rosa-Cruzes de Rosenkreutz.
Supostamente, alguns dos curiosos seriam intelectuais proeminentes que,
sabendo da existência da ordem, não a conheciam ao pormenor, desejando
compreender aprofundadamente os ensinamentos que propalava. Um dos
primeiros a procurar a irmandade foi René Descartes, filósofo e
matemático Francês que desempenhou um papel basilar na Revolução
Científica. A fundação da geometria analítica é usualmente atribuída a
Descartes, que terá percorrido a Europa, nomeadamente a Alemanha e os
Países Baixos, sem no entanto obter quaisquer respostas. Cabisbaixo,
regressou a França e reconheceu não ter descoberto vestígios dos Rosa-
Cruzes. A inabalável clandestinidade dos membros da irmandade teria
deixado Christian orgulhoso.
Descartes
Ao longo dos séculos subsequentes, mais e mais pensadores célebres
foram acusados de se associarem aos Rosa-Cruzes. Um destes alegados
Rosa-Cruzistas foi Bento de Espinosa, um racionalista e infame crítico da
Bíblia oriundo da Holanda. Quando Espinosa foi excomungado da
comunidade Judaica, achou conforto na sua incipiente amizade com um
par de Rosa-Cruzes. O primeiro dos contactos de Espinosa era Gottfried
Wilhelm Leibniz, que, numa das suas cartas, revelou ter sido, em tempos,
secretário de um templo rosa-cruz anónimo. Espinosa tornou-se
igualmente próximo de Johann Friedrich Schweitzer, conhecido por
“Helvécio”. Espinosa jurou ter visto, certa vez, o próprio transformar 6
onças[8] de chumbo em ouro, num ato de “transmutação alquímica”.
Espinosa
Os Rosa-Cruzes terão igualmente impactado significativamente os
trabalhos de Sir Isaac Newton, modelando em grande medida as suas
conceções filosóficas e alquímicas. À data da sua morte, em 1727, a sua
biblioteca pessoal incluía 169 livros sobre diversos temas alquímicos,
sendo um dos quais uma versão em Inglês d’A Fama e Confissão da
Fraternidade da R.C. Aqueles que folhearam o exemplar detido por
Newton descobriram páginas recheadas de anotações do próprio, efetuadas
tanto nas margens como nas entrelinhas.
Vezes sem conta, houve quem procurasse descobrir a identidade dos
Rosa-Cruzes originais, desaguando irremediavelmente em becos sem
saída. Naturalmente, muitos foram vergados pelo desgaste do insucesso.
Outros tomaram a responsabilidade de instituírem as suas próprias seitas,
denominando-as como rosa-cruzistas. Na sua maioria, estas ordens
fundaram-se sobre princípios rosa-cruzes tradicionais, porém os atuais
Rosacrucianistas, alegando descender da irmandade primitiva, renegam-
nas por serem “inautênticas”.
Os grupos ulteriores podem ser classificados em três categorias: os
Rosa-Cruzes Esotéricos Cristãos; os Rosa-Cruzes Maçónicos; e, por fim,
os Rosa-Cruzes Iniciáticos. Arthur Edward Waite, nascido nos Estados
Unidos e estudioso do misticismo, acreditava que uma das primeiras
cópias do Rosacrucianismo surgira antes do frenesim popular. Tratar-se-ia
de uma ramificação alemã, com sede em Nuremberga e fundada em 1586
– uma seita Esotérica Cristã intitulada de Militia Crucifera Evangelica. O
grupo ter-se-á reunido ocasionalmente em lugares confidenciais, tendo as
respetivas durações e minudências dos eventos sido registadas no livro de
Simon Studion, Naometria. Embora a MCE tenha declarado que a
fundação da irmandade pretendera sobretudo atrair antigos Cavaleiros
Templários, Waite asseverou com insistência: “Evidentemente... [a MCE]
foi um desenvolvimento ou transfiguração da seita estabelecida por Simon
Studion”. Pela mesma altura, Henrichus Neuhuseus elaborou um folheto
em Latim acerca dos Rosa-Cruzes e declarou que se teriam espalhado pela
Índia, contudo o seu trabalho passou despercebido até ao século XIX.

Waite
Entre os finais do século XVIII e os princípios do século XIX, surgiram
duas ilustres seitas do Rosacrucianismo Maçónico: a Ordem de Cavaleiros
Beneficentes da Cidade Santa (ou Rito Escocês Retificado) e o Rito
Escocês Antigo e Aceite da Franco-Maçonaria, ambas sediadas em
França. A influência rosa-cruz nestas ordens é especialmente evidente no
nome atribuído ao 18.º grau da segunda: “Cavaleiro da Rosa-Cruz”.
Alegadamente, alguns dos membros destas seitas maçónicas terão sido o
Conde de St. Germain e Martinez de Pasqually, fundador do Martinismo,
outra escola mística e esotérica Cristã.

Uma peça de joalharia referente ao


“18° Cavaleiro da Rosa-Cruz”
O Conde de St. Germain
Em meados do século XVIII, manifestou-se um outro grupo de renome
no seio das seitas rosa-cruzes maçónicas. A saber: Fraternidade Dourada
da Rosa-Cruz, fundada por um Rosacrucianista alemão, de seu nome
Hermann Fichtuld, e dedicada particularmente ao estudo da alquimia.
Todo o iniciado desta seita devia obrigatoriamente ser Grão-Mestre da
Maçonaria. Frederico Guilherme II, Rei da Prússia, terá sido um dos seus
supostos integrantes.
Rei Frederico Guilherme II da Prússia
Entre as irmandades de Rosa-Cruzes Iniciáticos, contava-se a Ordem
Hermética da Aurora Dourada, inaugurada em 1887 pelo Dr. William
Wynn Westcott, médico-legista Inglês. Os seus seguidores afirmam que
Westcott terá recebido um antigo manuscrito no seu laboratório em
Londres, redigido numa tinta esbatida de cor acastanhada. O manuscrito,
cujo embrulho não estaria assinado, conteria reflexões acerca dos dogmas
de Rosenkreutz, levando alguns a acreditar que pudesse ter sido elaborado
por um dos companheiros do fundador da ordem. Em todo o caso, Westcott
ter-se-á inspirado no manuscrito para erigir a sua própria fraternidade.
Esta centrava-se numa mescla de princípios cabalísticos e maçónicos,
regendo-se por um complexo sistema de ritos cerimoniais desenvolvidos a
partir do documento. Diz-se que o ocultista Aleister Crowley terá sido um
dos sectários de Westcott.
Westcott
Crowley
Um ano depois, dois estudiosos Franceses, Stanislas de Guaita e Gérard
Encausse (“Papus”), criaram a Ordem Cabalística da Rosa-Cruz. Ao que
parece, esta irmandade teria alguns dos ritos mais extravagantes, incluindo
mantos cerimoniais em conjunto com um sistema hierárquico
relativamente abstruso. As suas cerimónias iniciáticas têm sido
amplamente censuradas ao longo dos anos, uma vez que admitiam práticas
ostensivamente avessas à tradição rosa-cruzista.
Outro exemplo a este respeito é a prolixa Ordem do Templo e do Graal e
da Católica Rosa-Cruz, uma seita iniciática e esotérica cristã fundada por
Joséphin Péladan. Na sua juventude, Péladan, cujos progenitores
integravam a Ordem Cabalística da Rosa-Cruz, discordou grandemente
das convicções de seus pais e deles se afastou. Apesar de desligado da
OCRC, Péladan aplicou o mesmo espírito de celebração às cerimónias
iniciáticas da sua própria irmandade. Mais tarde, procurou revolucionar a
Arte Francesa. Numa tentativa de veicular as suas ideias sobre misticismo
e espiritualidade através da expressão artística, Péladan instituiu o Salão
da Rosa-Cruz, uma exposição anual composta por bizarros artistas
Franceses que comungavam da sua visão.

Péladan
Publicidade ao Salão da Rosa-Cruz
Porventura um dos maiores êxitos do movimento rosa-cruz teve lugar
nos Estados Unidos. Os Rosa-Cruzistas modernos afirmam que Francis
Bacon, intelectual Inglês e autor da obra The New Atlantis[9], foi
responsável pela inauguração da campanha da fraternidade na América. O
seu livro, célebre entre os Rosacrucianistas, terá incluído um plano
dedicado a instruir a ordem a levar o Rosacrucianismo até aos Estados
Unidos, tendo um grupo de Rosa-Cruzes sido reunido precisamente para o
efeito. Em 1694, estes partiram numa pequena e robusta embarcação, de
seu nome Sarah Maria, e, capitaneados por um rosa-cruz Alemão,
Johannes Kelpius, singraram até à América.

Bacon
Os colonos rosa-cruzistas alcançaram Filadélfia, onde estabeleceram a
sua primeira base. À medida que o movimento foi prosperando, os Rosa-
Cruzes colaboraram com eruditos locais, tendo em vista o fomento da
cultura e da tecnologia americanas. Alguns dos Pais Fundadores dos
Estados Unidos, nomeadamente Thomas Jefferson, Thomas Paine ou
Benjamin Franklin, terão integrado ou, pelo menos, “conectado
intimamente” com o Rosacrucianismo Americano.
O impacto do Rosacrucianismo decaiu ao longo do século seguinte e
permaneceu praticamente dormente durante o século XIX. Em todo o caso,
o movimento foi prosperando na Europa, continuando ativo na Alemanha,
em França, na Suíça e na Rússia, entre outras nações. Assim que o século
XX principiou, os Rosa-Cruzes decidiram ser hora de um renascimento na
América.
Em 1909, um instruído homem de negócios Americano, Harvey Spencer
Lewis, viajou até França, presumivelmente por motivos comerciais, tendo
sido seduzido pelos Rosa-Cruzes. Consta que estes Rosa-Cruzistas seriam
descendentes espirituais do próprio Christian Rosenkreutz. Lewis foi
aceite na respetiva ordem e, mais tarde, incumbido da tarefa de reanimar o
interesse pelo Rosacrucianismo nos Estados Unidos.
Seis anos depois, Lewis regressou a Nova Iorque e ressuscitou a
irmandade sob um nome distinto: Antiquus Mysticusque Ordo Rosæ
Crucis, ou, em Português: Antiga e Mística Ordem da Rosa-Cruz. Em
1927, a fraternidade, outra seita iniciática, mudou-se para São José,
Califórnia. A sede da AMORC subsiste, tendo o nome de Rosicrucian
Park[10]. Ocupa todo um quarteirão da cidade, ostenta jardins
maravilhosos, e alberga um conjunto de arquitetura Mourisca e Médio-
Oriental. Alguns creem que os preceitos da AMORC estarão
umbilicalmente conectados à original “tradição rosacrucianista”, embora
outros discordem. Tal como a primitiva fraternidade, a AMORC possui um
currículo estruturado em 12 graus e adere a inúmeras prescrições presentes
nos manifestos rosa-cruzistas do século XVII. As lojas da AMORC têm
pululado por todo o país. Atendendo aos interiores de inspiração egípcia
dos atuais estabelecimentos, podemos imaginar a sumptuosidade outrora
presente nas cerimónias da irmandade.
Lewis
Onde Estão Agora?
“Salutem punctis trianguli! (Saudações aos vértices do triângulo!)” –
Código de Vida Rosa-Cruz
Com o advento do século XXI, os Rosa-Cruzes de todo o mundo
procuraram freneticamente alimentar a chama do seu movimento, na
esperança de salvaguardarem a sua sobrevivência. A Antiga e Mística
Ordem da Rosa-Cruz, que, a nível planetário, continua a ser a seita
rosacrucianista multinacional de maior envergadura (contando com mais
de 80 000 membros), tem continuamente procurado honrar essa tarefa.
Anualmente, a AMORC organiza reuniões e eventos massivos em cidades
do mundo inteiro, tais como congressos rosa-cruzistas regionais e
internacionais.
Assim que a pujança do movimento começou a estagnar, os responsáveis
da irmandade compreenderam a necessidade urgente de implementarem
modificações e de elaborarem um processo de modernização. Na
Convenção Mundial da AMORC, sucedida em setembro de 2001, na
Suécia, o Imperador Rosa-Cruz, Christian Bernard, natural de França,
apresentou um manifesto revisto à congregação. Chamou-o de Positio
Fraternitatis Rosae Crucis[11]. Em vez de se concentrar numa audiência
composta exclusivamente por intelectuais, a AMORC voltou, pela primeira
vez, a sua atenção para o público. A ordem enunciou a sua posição coletiva
a respeito da política mundial e de eventos correntes, proferindo
igualmente prognósticos relativamente a perigos futuros. Na ótica da
irmandade, o mundo encontra-se num estado de perturbação e apresenta
prioridades invertidas, concedendo particular ênfase ao materialismo.
No manifesto, existia uma secção anexa dedicada à visão de futuro ideal
dos Rosa-Cruzes, convenientemente denominada “Utopia
Rosacrucianista”. A ordem pediu que o mundo se elevasse conjuntamente
como uma unidade indivisível, abraçando o humanismo e a
espiritualidade. Por forma a serem aprovados pela fraternidade, os
políticos deveriam adotar uma postura altruísta e comprometida com o
bem-estar dos cidadãos; os homens de negócios, ou “economistas”,
deveriam zelar pela gestão financeira de todas as nações; os cientistas,
sedentos de conhecimento e preceitos lógicos, deveriam aplicar
semelhante fervor à espiritualidade; os médicos, incumbidos da saúde
física dos seus pacientes, deveriam igualmente satisfazer as suas
necessidades espirituais. A pobreza e os constrangimentos
socioeconómicos deveriam tornar-se obsoletos. A Natureza deveria ser o
templo do Povo. De acordo com a ordem, o único caminho rumo à paz
mundial consiste na elaboração de “um governo global composto por
líderes de todas as nações, investidos no bem-estar da Humanidade.”
Novas gerações de Rosa-Cruzes têm procurado reorientar e introduzir
subtis melhoramentos nas crenças seculares da irmandade. Em particular,
empreendeu-se uma modificação na sua adorada insígnia, a rosa-cruz.
Uma versão moderna, surgida recentemente, é denominada por “Rosa-
Cruz Fálica Modificada”. Conforme o nome sugere, consiste numa cruz,
contudo o seu trecho superior contém um círculo, lembrando o símbolo
feminino de Vénus (♀). Uma outra versão estilizada do emblema ostenta
um círculo em cada um dos quatro segmentos da cruz. Alegadamente, a
insígnia aprimorada representa a “dualidade sexual do universo
manifestado”, isto é, a conexão entre as forças femininas e masculinas da
Natureza.
Além disso, vários Rosa-Cruzes modernos vêm apresentando
abreviamentos e alterações no seio das doutrinas rosacrucianistas. William
Walker Atkinson, cujo pseudónimo era “Magnus Incognito”, foi um destes
Rosacrucianistas. Nos Estados Unidos, e particularmente no princípio do
século XX, a sua exaustiva obra, The Secret Doctrine of the
Rosicrucians[12], voou das prateleiras e foi entesourada por aficionados do
Rosacrucianismo. O livro apresenta aos leitores um conjunto de
referências ao número “7”, algarismo que assume notório significado para
a fraternidade. Fala em 7 “Princípios Cósmicos”, que, segundo os Rosa-
Cruzes, governam o Cosmos; nestes, incluem-se o “Princípio da Lei e da
Ordem”, o “Princípio da Ciclicidade”, e o “Princípio do Sexo”. Refere
ainda a existência de 7 “Planos de Consciência” – o “Plano dos
Elementos”, o “Plano dos Minerais”, o “Plano das Plantas”, entre outros.
As teorias da conspiração são uma das maldições que inevitavelmente
surgem associadas à celebridade. Conforme costuma suceder, aqueles que
são suspeitos ou acusados de serem Rosa-Cruzistas são igualmente
indivíduos afamados. Algumas pessoas veem simbolismo rosa-cruz
presente em praticamente todos os aspetos da cultura clássica ou popular...
Um destes pretensos Rosa-Cruzes terá sido o próprio William
Shakespeare. Frances Yates, autora da obra The Occult Philosophy in the
Elizabethan Age[13], insistia que muitas das obras-primas de Shakespeare,
incluindo A Tempestade, Rei Lear e Hamlet, se encontravam impregnadas
de temas ocultistas e rosacrucianistas. Um monólogo presente em A
Tempestade, pronunciado pelo protagonista, Próspero, “o legítimo Duque
de Milão”, é citado como prova. Próspero fala da sua visão a respeito do
futuro da Humanidade, aludindo a uma espécie de “iluminação”
aparentemente povoada de temas rosa-cruzistas.
Houve até quem sugerisse a natureza fraudulenta de Shakespeare. Um
dos primeiros retratos do autor foi impresso em 1623, no First Folio[14],
uma coleção de obras de Shakespeare. A imagem em causa, conhecida
como Gravura de Droeshout, tem sido continuamente analisada ao longo
dos anos. Certos teóricos da conspiração apontam o dedo ao rosto céreo e
estranhamente largo de Shakespeare; alegam que poderá tratar-se de uma
máscara. Contudo, os historiadores rejeitam esta tese e explicam a gravura
em função das preferências estilísticas do seu autor. Além disso, numa
época desprovida de câmaras de alta definição, nem sempre seria fácil
gravar imagens adequadamente.
A Gravura de Droeshout
Em 1640, John Benson publicou Poemas, da autoria de Shakespeare,
recorrendo a uma versão espelhada do mesmo retrato, a cuja imagem
foram adicionados um raminho de acácia e uma luva. Semelhantes
acrescentos, constituindo célebres símbolos maçónicos, suscitaram várias
suspeitas. Alguns admitiram a possibilidade de Shakespeare ter pertencido
a uma seita de Rosa-Cruzes.
Francis Bacon, conforme mencionado anteriormente, é outro nome
amiúde referido em conspirações rosa-cruzistas. A ligação de Bacon aos
Rosa-Cruzes e aos Franco-Maçons tem sido, ao longo dos séculos,
averiguada em inúmeros livros e demais trabalhos literários. Uma das
mais bizarras histórias a este respeito revolve em torno da possibilidade de
Bacon ter fingido a sua própria morte. Em princípios do século XVII,
Bacon tornou-se insolvente. O autor debatia-se com uma dívida colossal,
pretensamente acumulada à custa de se ter dedicado a escrever obras para
os Rosa-Cruzes, os Franco-Maçons, e outros grupos clandestinos.
Procurando esquivar-se à dívida que o atormentava, terá convencido toda a
gente, incluindo os seus familiares, da sua própria morte por pneumonia,
em 1626. Diz-se inclusivamente que Bacon terá comparecido ao seu
próprio funeral. Tendo, mais tarde, usado vários disfarces e atravessado
despercebidamente a França, a Polónia, a Alemanha, e outras regiões da
Europa. Graças à sua proximidade com os Rosa-Cruzes, terá conseguido
viver no anonimato durante décadas, atingindo inclusivamente a idade de
109 anos.
Poucas são as celebridades modernas que escapam incólumes à paranoia
rosacrucianista. Os teóricos da conspiração instam o público a descortinar
o pretenso significado simbólico subjacente a filmes, canções, e redes
sociais. Por exemplo, aludem a um agoirento símbolo dos Rosa-Cruzes: a
seta; particularmente quando voltada para sul, a seta é uma variação do
acarinhado triângulo rosa-cruzista. Inúmeros políticos e personalidades
têm, supostamente, sido fotografados a exibirem a seta dos Rosa-Cruzes.
Nomeadamente, dispondo os braços e as mãos em posição triangular. Os
teóricos da conspiração têm mencionado os nomes de Dick Cheney, ex-
Vice-Presidente dos EUA; Hillary e Bill Clinton; e Scott Bakula,
protagonista da série televisiva Quantum Leap.
À lista de pretensos Rosa-Cruzistas é igualmente adicionado o nome de
Elvis Presley, que, além disso, costuma ser associado a teorias da
conspiração. Alguns insinuam que os seus trajes garridos seriam
confecionados não apenas tendo em vista a cativação das massas, mas
também a comunicação de mensagens subliminares. Outros sugerem que
Presley, tal e qual um Cientologista, fora incumbido de recrutar novos
membros para a irmandade rosa-cruz. Alegadamente, diversas fotografias
de Presley estarão inundadas de sugestões a este respeito. Numa imagem
em particular, Presley é visto com duas cruzes – a da Ordem dos
Templários e a Rosa-Cruz Fálica Modificada. Outras fotografias mostram
Elvis envergando rosas nas lapelas dos seus casacos. Há quem admita que
Presley possa ter falsificado a sua própria morte. Em vez de ter falecido na
sua mansão, ter-se-á escondido do público. Tendo, ademais, sido
substituído por um impostor durante os seus últimos anos de vida. Alguns
historiadores têm desmascarado estas teses, referindo que os entusiastas
de Elvis se recusam simplesmente a aceitar o aumento de peso
protagonizado pelo seu ídolo pouco antes da sua morte.
Fundadores de empresas colossais, particularmente do ramo automóvel,
têm sido igualmente acusados de serem descendentes da fraternidade.
Neste caso, por causa de um outro símbolo, enraizado no Antigo Egito: o
sol alado. Diversas empresas terão incorporado versões desta insígnia nos
seus logótipos. Nomeadamente: Bentley, Chrysler, Harley Davidson e
Aston Martin.
Em todo o caso, poucos acreditam que tais personalidades possam estar
conectadas aos Rosa-Cruzes; ao fim e ao cabo, a tradicional
clandestinidade da ordem não coincide com semelhante grau de exposição
pública.
Um dos rumores mais desconcertantes acerca dos Rosa-Cruzes gira em
torno do conhecimento detido pela fraternidade. Alguns acreditam que a
ordem possui segredos não apenas concernentes ao futuro, mas
potencialmente capazes de destruírem a Humanidade. Uma destas
“verdades” poderá supostamente ser achada nos arquivos secretos da
AMORC, tendo sido providenciada pelo Imperador Rosa-Cruz, Christian
Bernard. Diz-se que Bernard sabe o que realmente sucedeu à cidade
perdida de Atlântida. Segundo a célebre lenda, Atlântida albergaria uma
sociedade futurista e altamente sofisticada, no seio da qual viveria um
grupo de respeitados Sábios Supremos, dotados da mais elevada forma de
sapiência. Os sábios teriam identificado as “correntes” e fontes
energéticas do planeta, e construído algumas estruturas sagradas
suscetíveis de controlarem tais correntes. Estas estruturas melhorariam as
colheitas e preveniriam desastres naturais, podendo ainda hoje ser
encontradas, sendo uma das quais a famosa Stonehenge.
De acordo com a mesma linha de raciocínio, a primeira pirâmide do
mundo teria sido construída em Atlântida, funcionando como coração da
cidade e como ponto de convergência de todas as forças do Universo.
Assim que outras pirâmides começaram a ser indiscriminadamente
erigidas ao redor do mundo, as forças do Universo ter-se-ão
desequilibrado, provocando uma catástrofe. O mundo estremeceu.
Asteroides caíram do céu. Edifícios colapsaram. Enfim, Atlântida foi
submergida e desapareceu para todo o sempre.
Para cúmulo, os sábios proviriam de um planeta distante, tendo sido
enviados com o objetivo de vergarem a Humanidade. Quando Atlântida
soçobrou, alguns sábios ter-se-ão instalado no Egito, ao passo que outros
terão retornado ao seu planeta. Um dos alienígenas incumbidos de
permanecerem na Terra e terminarem a sua missão seria o próprio
Christian Rosenkreutz e, como diz o ditado, «o resto é história», pelo
menos de acordo com as teorias da conspiração...
A ascensão da Internet tem somente contribuído para a proliferação de
hipóteses ainda mais estranhas. Contudo, conspirações à parte, têm sido
publicados relatos da autoria de alegados ex-Rosa-Cruzes. A obra The
Prisoner of San Jose: How I Escaped from Rosicrucian Mind Control[15],
editada em março de 2008 e escrita por Pierre S. Freeman, é um livro de
memórias alusivo às experiências do autor enquanto membro da AMORC.
Segundo Freeman, a ordem recorre a sinistras técnicas de controlo mental,
tendo em vista a manutenção da lealdade dos seus seguidores. Tais táticas
incluem induções hipnóticas, tais como outros métodos suscetíveis de
causarem danos morais permanentes. Numa carta aberta a Christian
Bernard, Freeman censurou a irmandade pelas suas práticas negligentes e
perniciosas, entre as quais incluiu o recurso a “poderes ocultos com o
intuito de apropriação indevida da consciência alheia” e “magia negra com
o objetivo de controlo de líderes mundiais”, apontando ainda o exercício
ilegal da medicina.
Outro alegado ex-membro da fraternidade, desta feita com uma história
bastante mais aterradora, é somente conhecido pelo nome de “Alice”.
Alice escreveu o seu relato num fórum público, tendo divulgado
pormenores escabrosos acerca dos seus familiares rosa-cruzistas. Para
começar, demonstravam um sigilo desnecessário, além de venerarem uma
série de bruxas, feiticeiros e demónios. Pior ainda: os seus parentes não só
eram uns perfeitos “falhados”, como teriam recorrido a atos de abuso e
incesto por forma a obrigarem familiares e amigos a aderirem à
irmandade.
O charme da fraternidade permanece vivo. Mas serão os Rosa-Cruzes
genuínos? Ou porventura uma mera intrujice? O editor-chefe da
Newsweek, James Ellis, acusou a ordem de ser uma “falsa sociedade
secreta”. No mesmo artigo, declara que, segundo estudiosos modernos, a
irmandade somente terá “existido no papel”. Até hoje, apenas os
manifestos do século XVII constituem vestígios materiais da existência da
ordem, resumindo-se o grosso dos seus conteúdos a uma série de parábolas
poéticas.
Seja como for, é inegável que o legado rosacrucianista, tendo gerado um
efeito em cadeia ao redor do mundo, permanece vivo e de boa saúde.
Recursos Online
Outros livros acerca dos Rosa-Cruzes na Amazon
Bibliografia
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Ancient Mystical Order Rosae Crucis. The Rosicrucian Order - English
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[1]
Literalmente: Caveira e Ossos. (N. do T.)
[2]
Literalmente: A Cosmovisão Rosa-Cruz. (N. do T.)
[3]
Literalmente: O Arquivo do Gnosticismo. (N. do T.)
[4]
Sabedoria. (N. do T.)
[5]
Razão. (N. do T.)
[6]
Literalmente: Iluminados. (N. do T.)
[7]
Fama Fraternitatis Rosae Crucis. (N. do T.)
[8]
170 gramas. (N. do T.)
[9]
Literalmente: A Nova Atlântida. (N. do T.)
[10]
Literalmente: Parque Rosa-Cruz. (N. do T.)
[11]
Literalmente: Posicionamento da Fraternidade Rosa-Cruz. (N. do T.)
[12]
Literalmente: A Doutrina Secreta dos Rosa-Cruzes. (N. do T.)
[13]
Literalmente: A Filosofia Oculta no Período Isabelino. (N. do T.)
[14]
Literalmente: Primeiro Fólio. (N. do T.)
[15]
Literalmente: O Prisioneiro de São José: Como Escapei à Lavagem Cerebral dos Rosa-
Cruzes. (N. do T.)

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