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A Bíblia foi escrita pela Igreja Católica

Romana?

Padre Paulo Ricardo.

O padre Paulo Ricardo (foto acima) disse em rede nacional aos


telespectadores de uma TV católica que “a Bíblia foi feita por
católicos e para católicos”. Mas será que isso é verdade?
Obviamente, não, por várias razões. Vejamos.

Em primeiro lugar, afirmar que a Bíblia foi escrita por


católicos equivale a afirmar que a Antigo Testamente foi escrito
por católicos. Mas quando o Antigo Testamento foi escrito, o
Catolicismo Romano nem sequer existia! Davi, os profetas e os
demais homens inspirados pelo Espírito Santo que escreveram o
Antigo Testamento não eram católicos; eram judeus. Eles não iam
à missa na igreja (em vez disso, iam ao templo judaico), não
guardavam o domingo (guardavam o sábado, pois eram judeus),
não acreditavam que tinham uma “Mãe celeste” (Maria), não
acreditavam em purgatório e não acreditavam em praticamente
nada que a Igreja Católica Romana ensina. Também não estavam
debaixo da autoridade de um papa. Portanto, a Igreja Católica
Romana não nos deu o Antigo Testamento.

Em segundo lugar, a Igreja Católica Romana também não nos


deu o Novo Testamento, porque o Novo Testamento foi
totalmente escrito no século I d.C. quando o Catolicismo Romano
nem existia! A Igreja Católica Romana se estabeleceu no início do
século VII d.C. sob a liderança do primeiro homem a ser chamado
universalmente de “papa”, Bonifácio III. Leia mais sobre a origem
do Catolicismo aqui: A origem e história do Catolicismo. É isso o
que a história nos mostra. Portanto, a Igreja Católica Romana não
tem dois mil anos de história. Desse modo, a Igreja Católica
Romana não pode ter escrito o Novo Testamento uma vez que
nem sequer existia no período em que o Novo Testamento foi
escrito.

Em terceiro lugar, se a Igreja católica escreveu a Bíblia, por que


não colocou na Bíblia textos que embasassem as suas doutrinas e
práticas ou por que não tirou da Bíblia tudo aquilo que condena as
suas doutrinas e práticas? A Bíblia diz muita coisa que é contrária
ao Catolicismo Romano. Por exemplo, Jesus disse para não fazer
rezas repetitivas como os pagãos (Veja Mateus 6:7-8), mas é
exatamente isso que os católicos fazem ao rezar sempre as suas
rezas decoradas, como “Ave-Maria” e outras. Além disso, Jesus
disse para não chamar o líder espiritual de pai (Veja Mateus 23:9),
mas os católicos fazem isso ao chamar o seu líder local de padre e
o seu líder universal de papa. Tanto a palavra “padre” quanto a
palavra “papa” significam pai. Jesus disse para não exaltar Maria
(Veja Lucas 11:27-28 e veja também o nosso artigo Devemos dar a
Maria algum tratamento especial?), mas os católicos a exaltam.

Em quarto lugar, os católicos insistem em dizer que devemos à


Igreja Romana a conservação da Bíblia. Mas outras igrejas não
administradas por Roma também tiveram função relevante na
preservação e cópia dos manuscritos bíblicos, como a Ortodoxa e a
Copta. Portanto, se a Igreja de Roma é a “verdadeira Igreja de
Cristo” porque alguns católicos romanos ajudaram na preservação
e cópia dos manuscritos bíblicos, então a Igreja Ortodoxa e a
Copta também seriam a “verdadeira Igreja de Cristo”, porque elas
fizeram o mesmo. Mas essas igrejas ensinam várias doutrinas
contrárias à Igreja Romana, e nenhum católico romano crê que
elas sejam a verdadeira Igreja de Cristo. Portanto, esse argumento
não prova nada.

Em quinto lugar, se ajudar na preservação de manuscritos


provasse mesmo que uma determinada religião é a verdadeira,
então deveríamos antes de tudo voltar ao Judaísmo, pois 2/3 das
Escrituras (o Antigo Testamento) foi preservado por judeus na
antiguidade, e se não fosse pelas suas cópias não teríamos o que
chamamos de “Antigo Testamento” hoje. Não teríamos nem
mesmo o Novo Testamento, pois o Novo Testamento dependo do
Antigo Testamento, uma vez que se baseia sobre as profecias do
Antigo Testamento sobre o Messias Jesus. Apesar disso, os
apologistas católicos arrogantes desprezam completamente o
papel exercido na preservação de manuscritos bíblicos por judeus
e ortodoxos, atribuindo todo crédito somente à Igreja Católica
Romana, e automaticamente a elevando ao patamar de “única
Igreja de Cristo” em detrimento de todas as demais.

Em sexto lugar, a Igreja Católica Romana ter ajudado na


preservação da Bíblia é muito diferente de ter escrito a Bíblia.
Como vimos, a Bíblia também foi preservada por outras religiões e
nem por isso essas outras religiões escreveram a Bíblia!

Por fim, cabe lembrar que ainda que o papel desempenhado pela
Igreja Católica Romana ao impedir o acesso à Bíblia pelo povo
comum em língua vernácula (língua vernácula é a língua própria
de um povo) foi muito maior do que o papel positivo
desempenhado com a cópia de manuscritos. O Concílio de Tolosa
(1229) mostra como os líderes católicos tratavam com desprezo,
ódio e perseguição aqueles que buscavam a leitura da Bíblia:

“Proibimos os leigos de possuírem o Velho e o Novo Testamento.


Proibimos ainda mais severamente que estes livros sejam
possuídos no vernáculo popular. As casas, os mais humildes
lugares de esconderijo, e mesmo os retiros subterrâneos de
homens condenados por possuírem as Escrituras devem ser
inteiramente destruídos. Tais homens devem ser perseguidos e 
caçados nas florestas e cavernas, e qualquer que os abrigar será
severamente punido.” (Concil. Tolosanum, Papa Gregório IX,
Anno Chr. 1229, Canons 14:2)

O papa Clemente XI condenou as seguintes proposições:

“70. Útil e necessário é em todo tempo, em todo lugar e para todo


gênero de pessoas estudar e conhecer o espírito, a piedade e os
mistérios da Sagrada Escritura.
81. A obscuridade santa da Palavra de Deus não é para os leigos
razão de dispensar-se da sua leitura.
82. O dia do Senhor deve ser santificado pelos cristãos com
piedosas leituras e, sobretudo, das Sagradas Escrituras. É coisa
danosa querer retrair os cristãos desta leitura.
83. É ilusão querer convencer-se de que o conhecimento dos
mistérios da religião não devem comunicar-se às mulheres pela
leitura dos Livros Sagrados.
84. Arrebatar das mãos dos cristãos o Novo Testamento ou
mantê-lo fechado, tirando-lhes o modo de entendê-lo, é fechar-
lhes a boca de Cristo.
86. Arrebatar ao povo simples este consolo de unir a sua voz à voz
de toda a Igreja, é uso contrário à prática apostólica e à intenção
de Deus.”
(Denzinger #1429-1434, 1436, 8 de Setembro de 1713)

Repetimos: O que foi dito acima foi CONDENADO pelo papa


Clemente XI. A Igreja Católica Romana proibiu a tradução e a
leitura da Bíblia, mantendo o povo por séculos nas trevas da
ignorância. E como se tudo isso não bastasse, até hoje não
incentiva os seus fiéis a ler e estudar a Bíblia. Isso porque se lerem
a Bíblia deixarão de ser católicos ao ver que todas as principais
doutrinas católicas não têm base bíblica. Clique aqui para ver a
refutação a várias doutrinas católicas.

A origem e história do Catolicismo

Mateus 16:18 registra a primeira vez que a palavra “igreja” é


introduzida no Novo Testamento. Jesus disse: “E eu lhe digo que
você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as
portas do Hades não poderão vencê-la”. A palavra “igreja”, do
grego ekklesia, era geralmente usada pelos gregos para se referir a
uma assembleia política (confira Atos 19:41). Este termo é usado
pela primeira vez para descrever os seguidores de Cristo em
Mateus 16:18.

Quando Jesus falou de Sua igreja neste versículo, declarou três


coisas muito importantes. Primeiro, Jesus disse:
“[Eu] edificarei a minha igreja”. O tempo futuro do verbo indica
que a igreja ainda não estava estabelecida. Não existia naquele
tempo. Segundo, Jesus disse: “[Eu] edificarei”, indicando que o
próprio Cristo estabeleceria a igreja e seria o seu
fundamento. Terceiro, Jesus disse: “Minha igreja”, indicando que
a Igreja pertenceria a Ele.

Observe novamente a declaração de Jesus a Pedro: “E também


digo que você é Pedro, e sobre esta rocha edificarei a minha igreja”
(Mateus 16:18). Usando dois termos gregos – petros e petra – o
Novo Testamento deixa claro que essa “rocha” (petra) seria o
fundamento sobre o qual Jesus edificaria Sua igreja. Mas a que ou
a quem essa “rocha” se refere? Mateus nos diz que Jesus
perguntou a seus discípulos quem eles pensavam que ele
era. “Simão Pedro respondeu e disse: ‘Você é o Cristo, o Filho do
Deus vivo’” (Mateus 16:16). Por causa dessa declaração, Jesus fez
a declaração mencionada acima (Mateus 16:18). Portanto, isso
pode significar apenas uma coisa: Jesus iria construir Sua igreja
na confissão que Pedro havia feito a respeito dele. Em outras
palavras, “Você é o Cristo, o Filho do Deus vivo” seria o
fundamento sobre o qual a igreja deveria ser construída. Jesus
prometeu a Pedro que ele seria a pessoa abençoada a abrir as
portas do cristianismo (ou a igreja), mas Pedro (petros) não seria
a rocha (petra) da igreja.

Embora esses versículos em Mateus 16 não nos deem o início da


primeira igreja, eles nos dão uma previsão exata de sua origem,
incluindo o seguinte:

1. Esta igreja ainda não tinha sido construída na época em que Jesus
estava falando (v. 18).
2. Esta igreja seria construída por Cristo, que também seria seu
fundamento (v. 18).
3. Esta igreja pertenceria a Cristo (v. 18).
4. Esta igreja seria construída com a confissão de que Jesus é o
Cristo, o Filho de Deus (v. 16,18).
5. Pedro abriria (simbolicamente) as portas desta igreja (v. 19).

Então, quando essas coisas aconteceram e quando a primeira


igreja surgiu?
“Os que aceitaram a mensagem foram batizados, e naquele dia
houve um acréscimo de cerca de três mil pessoas.” (Atos 2:41)

Esse versículo, registrado por Lucas, nos diz o resultado do


sermão Pedro e dos outros apóstolos pregados no Pentecostes. A
Bíblia diz que os apóstolos haviam ficado em Jerusalém após a
ascensão de Jesus, aguardando a promessa do Pai (isto é, a
chegada do Espírito Santo; cf. Atos 1: 4,12; 2: 1). Quando o
Espírito Santo foi enviado, os apóstolos começaram a falar em
diferentes idiomas (Atos 2:4-11). Muitas pessoas creram, mas
também houve quem zombou (Atos 2:13). Então, Pedro, com os
outros apóstolos, levantou a voz e pregou aos que estavam
ouvindo (Atos 2:14). Depois de mostrar evidências convincentes
da veracidade da messianidade de Jesus, Pedro declarou:
“Portanto, que todo Israel fique certo disto: Este Jesus, a quem
vocês crucificaram, Deus o fez Senhor e Cristo” (Atos 2:36).

O relato de Lucas leva nossas mentes de volta às palavras de


Jesus. Jesus havia predito que Pedro abriria as portas da igreja e
que a igreja seria construída em sua confissão (Mateus 16:16-
18). Em Atos 2:36, Pedro não apenas abriu as portas do
cristianismo, mas também confessou mais uma vez que Jesus era
o Senhor e o Cristo (isto é, a pedra sobre a qual a igreja seria
construída). Portanto, foi neste exato dia que as palavras de Jesus
foram cumpridas. Atos 2:41 indica que aqueles que creram “foram
batizados, e naquele dia houve um acréscimo de cerca de três mil
pessoas”. A pergunta então se torna: “Para o que foram
adicionadas as pessoas que creram e foram batizadas?” O
versículo 47 nos dá a resposta: “E o Senhor lhes acrescentava [à
igreja] todos os dias os que iam sendo salvos”. Este é o primeiro
texto bíblico que fala da igreja como existindo; é neste exato
momento das Escrituras que a presença da primeira igreja é
notada. Pedro abriu as portas da igreja através da pregação da
Palavra no dia de Pentecostes. Ele confessou mais uma vez a
divindade de Jesus. E o Senhor havia acrescentado à Sua igreja as
pessoas que obedeciam.

Qual igreja, então, é a igreja mais antiga? Obviamente, é a igreja


que Cristo construiu em Atos 2. Mas que igreja era essa? Este foi o
começo da Igreja Católica, como ensina o Catolicismo? Note que
Cristo disse que iria construir Sua igreja (Mateus 16:18), não a
Igreja Católica.
“Saúdem uns aos outros com beijo santo. Todas as igrejas de
Cristo enviam-lhes saudações.” (Romanos 16:16)

Embora houvesse várias congregações que louvavam a Deus em


muitas partes do mundo quando o apóstolo Paulo escreveu sua
carta aos romanos, ainda havia uma característica única sobre
elas: todas elas pertenciam a Cristo (ou seja, eram
igrejas de Cristo), pois Cristo disse que Ele edificaria a Sua
igreja. Portanto, todos eles honrosamente tinham o nome de seu
Fundador – Cristo.

Atos 2 nos informa que a igreja de Cristo foi estabelecida em


Jerusalém no dia de Pentecostes (30 d.C.). Tinha um fundamento
único: Jesus Cristo (1 Coríntios 3:11). Cristo, não Pedro, era a
pedra angular da igreja, como o próprio Pedro reconheceu em 1
Pedro 2:4-8. A igreja era composta por um grupo de crentes que
receberam o título de “cristãos” (não “católicos”) pela autoridade
divina (Atos 11:26; cf. Isaías 62: 2). Eles formaram o único corpo
de Cristo (Efésios 1:22-23; 4:4). A igreja também era considerada
a noiva de Cristo (2 Coríntios 11:2; Efésios 5:24; Apocalipse
19:7). Cristo era sua autoridade e sua cabeça (Colossenses
1:18); não tinha cabeça terrena. Em sua organização, divisões
humanas foram condenadas (confira 1 Coríntios 1:10-13). Essa foi
a maravilhosa e divina instituição que Deus estabeleceu na Terra
– a igreja de Seu Filho, a igreja de Cristo.

ORIGEM DO CATOLICISMO

Se a Igreja Católica não é a igreja mais antiga, como e quando se


tornou uma entidade histórica? Quando a igreja do Senhor
começou em Atos 2, ela cresceu rapidamente. De acordo com Atos
2:41, cerca de 3.000 pessoas creram na pregação de Pedro e dos
outros apóstolos e foram batizadas. Atos 4:4 nos diz que logo
depois o número de crentes era de pelo menos 5.000, e Atos 6:7
nos informa que “crescia rapidamente o número de discípulos em
Jerusalém”.

No começo, o governo romano considerava os cristãos uma das


várias seitas judaicas insignificantes. O livro de Atos conclui
observando que, mesmo sob custódia romana, Paulo continuou
pregando e ensinando “abertamente e sem impedimento algum”
(Atos 28:31). Os romanos subestimaram o poder e a influência do
Cristianismo, permitindo que as oportunidades da igreja
crescessem em seus primeiros anos (Atos 18:12-16; 23:23-29). No
entanto, sempre houve grande oposição dos líderes judeus
ortodoxos da época, que perseguiam os apóstolos e outros cristãos
(por exemplo, Atos 4:1-3,18; 5:17-18; 9:1-2,22-24; 13:45,50; 17:4-
5,13; 21:27-31; 23:12-22).

Embora a perseguição fosse um flagelo terrível para os cristãos,


eles foram avisados e sabiam como deveriam reagir. Jesus havia
advertido Seus discípulos em diferentes ocasiões sobre as
perseguições vindouras por causa de Seu nome (Mateus 10:22). O
Senhor lhes disse que eles seriam perseguidos da mesma maneira
que Ele foi perseguido (João 15:19-20). De fato, a perseguição dos
judeus se tornou realidade logo após o início da igreja (Atos
8:1). Por causa de sua hipocrisia e ignorância das Escrituras, os
judeus de coração duro odiavam a mensagem do Evangelho (Atos
7).

Jesus também havia aconselhado Seus discípulos a fugir para


outras cidades quando eram perseguidos (Mateus 10:23). Ele
queria que eles não apenas buscassem segurança, mas também
que pregassem o Evangelho em outros lugares. A princípio, os
cristãos não queriam deixar a segurança de suas pátrias, mas a
perseguição forçou sua partida (Atos 8:1; 11:19; etc.). À medida
que se dispersavam, os cristãos começaram a obedecer à Grande
Comissão dada pelo Senhor para “ir pelo mundo todo e pregar o
evangelho a todas as pessoas”, anunciando a chegada do reino dos
céus (Marcos 16:15; Mateus 28:19; confira Atos 8:4; 14: 4-7; etc.).

Como resultado de seus esforços mundiais para ensinar e do


ciúme dos judeus em muitos dos lugares para onde os cristãos
viajaram, o Cristianismo ganhou não apenas interesse religioso,
mas também atenção política. O governo romano começou a
prestar mais atenção a essa “nova religião”, que frequentemente
era acusada de ser problemática e blasfema em relação ao governo
(confira Atos 17:6-9; 19:23-27).

Suetônio, historiador romano, parece confirmar esse fato,


escrevendo o seguinte sobre Cláudio César: “Como os judeus, por
instigação de Chrestus [Cristo], estivessem constantemente
provocando distúrbios, ele [Cláudio] os expulsou de Roma” (Vida
de Cláudio, 25.4. Extraído de: MACDOWELL, Josh, Evidências
que exigem um veredito, Cadeia, 1992, p.106). Claramente, na
época do imperador Cláudio (41-54 d.C.), os esforços para
intimidar e desacreditar os cristãos já era um assunto sério (veja
Atos 18:2). Quando Cláudio morreu, o infame Nero assumiu o
poder. Ele sonhava em construir uma Roma magnífica para
satisfazer seus próprios prazeres. Muitos historiadores acreditam
que Nero foi responsável pelo grande incêndio que consumiu
Roma em 64 d.C. e matou muitos de seus habitantes. Muitos de
seus contemporâneos também acreditavam que Nero era
responsável. Para suprimir esses rumores, Nero injustamente
acusou os cristãos pelo crime e os puniu de maneiras
inacreditavelmente horríveis. Suas ações encorajaram o ódio
contra os cristãos. Os cristãos nunca tiveram a aprovação do
Império Romano, mas Nero foi o primeiro imperador a instigar
uma intensa perseguição contra eles. E essa perseguição intensa e
excessiva continuou por séculos.

Mas havia um perigo ainda pior que a própria perseguição: a


apostasia. Em Seu ministério terrestre, Jesus ensinou Seus
discípulos a viver pela verdade, a ensinar a verdade e até a morrer
pela verdade. A verdade de Sua Palavra (João 17:17) era um
tesouro inestimável. Jesus sabia que após a sua ascensão, a
verdade seria contestada e muitos se afastariam dela. Em uma
ocasião, Jesus advertiu Seus discípulos: “Cuidado com os falsos
profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por
dentro são lobos devoradores” (Mateus 7:15). Paulo confirmou o
que Jesus disse quando escreveu: “Sei que, depois da minha
partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão
o rebanho” (Atos 20:29). O apóstolo João escreveu sobre o
cumprimento da profecia de Jesus como uma realidade presente
(1 João 4:1). A apostasia que Jesus previu existia e muitos já
haviam deixado a fé (veja 2 Timóteo 4:10).

No entanto, a influência dos apóstolos ainda era forte e eles


guardavam a pureza da verdade. Muitos dos escritos apostólicos
do Novo Testamento foram direcionados para corrigir falsos
ensinamentos, defender a fé e alertar os novos cristãos das
perigosas doutrinas teológicas que surgiriam (confira Gálatas 1:6-
10; 1 Timóteo 4:1-3; 1 Pedro 3:15; 1 João). Para ordenar algumas
coisas que faltavam em algumas congregações e defender “a fé
uma vez por todas confiada aos santos” (Judas 1:3), Deus ordenou
(através dos apóstolos) que uma pluralidade de presbíteros
(também chamados “bispos” ”ou“ pastores ”- Atos 20:17,28; Tito
1:5,7; 1 Pedro 5:1-4) fossem designados em cada congregação da
igreja (Tito 1:5-9; confira Filipenses 1:1; 1 Timóteo 3:1-7). Os
anciãos estavam encarregados de guiar e alimentar o rebanho do
Senhor (Atos 20:28).

Após a morte dos apóstolos (que não deixaram sucessores


apostólicos), os presbíteros, juntamente com os diáconos,
evangelistas e mestres, assumiram total responsabilidade de
defender a fé. Muitos deles foram instruídos diretamente pelos
apóstolos e, portanto, eram uma parte fundamental do
desenvolvimento espiritual da igreja. [NOTA : Alguns desses
homens às vezes são chamados de “pais da igreja” ou “pais
apostólicos”.] Em seu livro O Reino Eterno, FW Mattox escreveu:

“Durante os primeiros cinquenta anos após a morte do apóstolo


João, a igreja lutou para manter a pureza apostólica. A literatura
deste período, escrita por homens que são comumente chamados
de ‘Pais Apostólicos’ e ‘Apologistas’, mostra claramente os
esforços feitos para manter o padrão do Novo Testamento e as
tendências que mais tarde trouxeram apostasia” (Mattox,
F.W. The Eternal Kingdom. Delight, AR: Gospel Light, 1961, p.
107).

Embora monumentais, muitos dos esforços desses primeiros


apologistas para unificar a igreja foram baseados erroneamente na
mera racionalidade humana. Pouco a pouco, novas ideias
começaram a ser aceitas, o que instigou mudanças na igreja. A
primeira mudança principal teve a ver com a organização da
igreja, especificamente com a autoridade dos presbíteros. Como
observamos, nos primeiros dias da igreja, cada congregação tinha
uma pluralidade de presbíteros que simultaneamente
a vigiavam. No entanto, muitos começaram a considerar um
ancião como superior aos outros e, por fim, somente ele recebeu o
título de “bispo”. Disputas e disputas pelo poder começaram. Mais
tarde, os “bispos” começaram a presidir individualmente várias
congregações em uma cidade, que eles chamaram de “diocese”
(Latourette, Kenneth S. Christianity through the Ages. New York:
Harper & Row, 1965, p. 67).
Uma das pessoas que se esforçou para unificar a igreja sob apenas
um homem (ou seja, “o bispo”) foi Inácio de Antioquia. Em sua
carta aos efésios, ele escreveu:

“Pois, se neste breve espaço de tempo, desfrutei de tanta


comunhão com seu bispo – não quero dizer de mero ser humano,
mas de natureza espiritual – quanto mais considero você feliz por
estar tão unida a ele como a Igreja é a Jesus Cristo, e como Jesus
Cristo é ao Pai, para que todas as coisas concordem em união! …
Sejamos cuidadosos, então, para não nos colocarmos em oposição
ao bispo, a fim de que possamos estar sujeitos a Deus”
(ROBERTS, Alexander and DONALDSON, James. Ante-Nicene
Fathers: The Apostolic Fathers with Justin Martyr and Irenaeus.
Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1973, 1:51).

Essa nova estrutura (ou seja, um bispo com autoridade sobre os


outros) começou como um chamado para defender a verdade, mas
causou uma mudança tão grande no padrão divino que,
em 150 d.C., o governo de muitas congregações locais diferia
completamente da organização simples descrita no Novo
Testamento. Essa mudança “inocente” na organização da igreja foi
a semente que precedeu a germinação do movimento católico
muitos anos depois.

Com o tempo, os bispos que exerceram autoridade em certas


regiões começaram a se reunir para discutir assuntos que
interessavam a todos eles. Eventualmente, essas reuniões se
tornaram concílios onde credos e novas ideias foram declaradas
formalmente vinculativas para todos os cristãos, e alegados
hereges foram condenados.

Constantino, imperador de Roma, reuniu o primeiro desses


concílios, o Concílio de Nicéia em 325 d.C. Na época de seu
reinado, a população cristã havia crescido tremendamente. Apesar
da constante perseguição e da crescente apostasia, muitos cristãos
permaneceram fiéis a Deus e sua influência estava aumentando. A
fé, influência e coragem desses cristãos (que levaram muitos a
morrer por amor à verdade) eram óbvias para o imperador
romano Constantino no século IV. Pensa-se que o cristianismo
seja, de certa forma, uma ameaça potencial ao Império se ele
continuar a crescer. Portanto, havia apenas duas opções: (1) tentar
erradicar o cristianismo do Império, aumentando a oposição a ele
(uma tática que havia falhado por quase três séculos) ou (2)
“seguir o fluxo” para que o cristianismo ajudasse a unificar e
fortalecer o Império. Constantino decidiu não apenas parar a
perseguição contra o cristianismo, mas promovê-lo. Para ajudar a
igreja, Constantino ordenou que 50 cópias escritas à mão da Bíblia
fossem produzidas e ele colocou alguns cristãos em altas posições
em seu governo (MILLER, Jule e Texas Stevens. Visualized Bible
Study Series: History of the Lord’s Church. Houston, TX: Gospel
Services; 1969, 5:48,51). Além disso, ele restaurou os locais de
culto para os cristãos sem exigir pagamento (ver “O Édito de
Milão”: URL: http://home.inreach.com/bstanley/edict.htm).

Sob a direção de Constantino, mais mudanças foram feitas –


especialmente na organização da igreja. Como o fim da
perseguição era algo que os cristãos consideravam impossível e
como o favoritismo do governo parecia ainda menos viável,
muitos cristãos se deixaram influenciar pelo governo a ponto de se
desviarem cada vez mais da verdade. Sob a influência de
Constantino, uma nova organização eclesiástica começou a se
desenvolver, modelada após a organização do governo
romano. Embora o “cristianismo” tenha prosperado sob sua
influência, é irônico que o próprio Constantino não fosse
cristão. No entanto, pouco antes de sua morte – e certamente com
a esperança de que seus pecados fossem removidos – ele
concordou em ser batizado pela causa cristã (ver Hutchinson, Paul
and Winfred Garrison, 20 Centuries of Christianity. New York:
Harcourt, Brace and Co, 1959, p. 146).

Embora o catolicismo não tenha realmente existido durante o


tempo de Constantino, certamente sua influência e seu legado
foram pedras fundamentais sobre as quais o catolicismo logo
construiu seu poder. À medida que a igreja obtinha benefícios do
governo, tornou-se cada vez mais semelhante ao governo e se
afastou do padrão divino. No século VII d.C., muitos cristãos,
aceitando o modelo do governo romano, instalaram um homem, o
papa, em Roma, para exercer poder eclesiástico universal. De
acordo com o modelo de conselheiros do imperador romano, um
grupo de cardeais foi escolhido para assessor do papa. De acordo
com o modelo dos governadores romanos, os bispos foram
nomeados sobre as dioceses. E, de acordo com o modelo do
Império Romano Universal (isto é, católico), uma nova igreja, a
Igreja Católica Romana, foi estabelecida. Consequentemente, a
Igreja Católica Romana foi estabelecida no início do século VII
d.C., sob a liderança do primeiro homem a ser chamado
universalmente de “papa”, Bonifácio III.

Uma nova igreja nasceu, uma igreja completamente diferente da


igreja estabelecida por Cristo. Enquanto a igreja de Cristo nasceu
em Jerusalém (Atos 1:12; 2:1; etc.), essa igreja nasceu em Roma.
Enquanto a igreja de Cristo nasceu com poder espiritual (Atos
2:2-4), essa igreja nasceu com poder político e militar. Enquanto a
igreja de Cristo nasceu sob a autoridade de apenas uma cabeça
divina (Colossenses 1:18), essa igreja nasceu sob a autoridade de
uma cabeça humana – o papa. Essa nova igreja logo invadiu a
Terra com suas novas doutrinas.

No entanto, uma ameaça inesperada para esse tipo de


cristianismo se aproximava rapidamente do Oriente: o Islã. Com
Maomé como líder, a religião do Islã se originou em 622 d.C. e se
espalhou de forma agressiva. Menos de 25 anos desde o início da
“Hegira” (isto é, a fuga de Maomé de Meca), os seguidores de
Maomé haviam assumido o controle do Egito, Palestina, Pérsia e
Síria (Mattox, F.W. The Eternal Kingdom. Delight, AR: Gospel
Light, 1961, p. 173). Com sede de conquista, essa religião
ameaçava converter o mundo inteiro às suas crenças. Logo a
ameaça ao catolicismo tornou-se cada vez mais óbvia. Muitos
católicos em nações conquistadas haviam se convertido ao Islã por
medo; o avanço dessa doutrina sobre a influência romana e sua
religião oficial parecia inevitável. A religião romana e a unidade da
nação que dependia dela entrariam em colapso em breve se algo
não fosse feito rapidamente. Assim, os conflitos entre católicos e
muçulmanos deram origem às infames cruzadas.

As Cruzadas (de 1096 a 1270) foram expedições militares que


começaram como um “voto solene” de recuperar os “lugares
sagrados” na Palestina das mãos dos muçulmanos. Em novembro
de 1095, o Papa Urbano II incentivou as massas a lutarem juntas
contra os turcos islâmicos seljúcidas que invadiram o Império
Bizantino e submeteram católicos gregos, sírios e armênios. Ele
também queria ampliar seu poder político e religioso. Para
incentivar os católicos a se envolverem em uma guerra sangrenta
em “nome de Deus”, o papa ofereceu perdão dos pecados, cuidar
das terras pertencentes aos cruzados e a perspectiva de saque (ver
Hitchens, Marilynn and Heidi Roupp. How to Prepare for SAT:
World History. Hauppauge, NY: Barron’s Educational Series,
2001, p. 186).

Embora multidões de pessoas tenham respondido ao chamado


para se juntar às Cruzadas, elas falharam em alcançar o objetivo
inicial de recuperar as Terras Sagradas. Depois de muitos anos de
luta e muitas vidas perdidas, as Terras Sagradas ainda estavam em
mãos muçulmanas. No entanto, as Cruzadas melhoraram o
relacionamento entre as nações católicas e pararam o avanço dos
turcos na Europa.

Logo após as cruzadas, novas ideologias, que o catolicismo


considerava heresias, ameaçaram a Igreja Católica. Multidões de
pessoas, lideradas por líderes religiosos implacáveis, executaram
aquelas consideradas hereges sem processo judicial. A
necessidade de regulamentação judicial referente à heresia, a
preocupação católica com o crescimento de novas ideias
revolucionárias e o desejo de aumentar o poder da Igreja Católica
deram origem a outra onda de derramamento de sangue
paradoxalmente conhecida na história como “Santa” Inquisição.

A Inquisição é descrita geralmente como a instituição judicial


criada na Idade Média para lidar com os inimigos da religião do
estado (isto é, o catolicismo). Havia três tipos de inquisições:

1. A Inquisição Episcopal foi estabelecida pelo Papa Lúcio III em


1184. Foi supervisionada e administrada pelos bispos locais. Uma
vez estabelecidas as doutrinas ortodoxas, qualquer desvio delas
seria investigado e estudado pelo bispo da respectiva diocese. Se o
“crime” fosse confirmado, seria punido, principalmente por
penitências canônicas (ver Chami, Pablo A. “Origin of the
Inquisition”.
URL: http://www.pachami.com/Inquisicion/Origen.html, 1999).
2. A Inquisição Pontifícia foi criada pelo Papa Gregório IX em 1231
(ver Schmandt, Raymond H. The World Book Encyclopedia.
Chicago, IL: World Book, 1988, 10: 277). Esse tipo de inquisição
foi confiado à ordem dominicana, que respondeu apenas ao
pontífice. Foi introduzido na França em 1233, em Aragão em 1238
e na Itália em 1254 (Mattox, F.W. The Eternal Kingdom. Delight,
AR: Gospel Light, 1961, pp. 214-215). Os inquisidores iam ao local
da suposta heresia e, com a ajuda das autoridades, pediam aos
hereges que se apresentassem voluntariamente perante o tribunal.
O público também foi incentivado a denunciar hereges; qualquer
um poderia acusar alguém de heresia. O acusado era forçado a
confessar sua “heresia” sem oportunidade de confrontar seus
acusadores ou se defender. Uma longa prisão aguardava o
“herege” que negava as acusações. Sua prisão seria interrompida
por numerosas sessões de tortura até que ele confessasse sua
“heresia”. Se ele continuasse se recusando a confessar, seria
entregue às autoridades civis que administravam a pena de morte
ao “herege obstinado”.
3. A Inquisição Espanhola é considerada a mais terrível de todas.
Começou em 1478 com a aprovação do Papa Sisto IV, e durou até
1834 (ver “Inquisition”. The New Encyclopædia Britannica.
London: Encyclopædia Britannica, 1997, 6:328). Esse tribunal era
diferente da Inquisição Pontifícia porque o inquisidor foi
nomeado pelo rei e não pelo papa, de modo que o inquisidor se
tornou um servo do estado e não da igreja (ver Chami, Pablo A.
“The Spanish Inquisition” [“La Inquisición en España”], [On-
line], URL: http://pachami.com/Inquisicion/Espa.htm, 1999).
Algumas das principais razões para esta inquisição foram: 1) A
“ameaça” judaica – Nos séculos 14 e 15, a Europa foi devastada
por graves crises econômicas. Muitas pragas e epidemias
contribuíram para essa situação. Por causa de suas rígidas
práticas de higiene, os judeus na Europa sobreviveram a essas
epidemias e pragas. Enquanto os europeus caíram em desespero e
pobreza, a maioria dos judeus manteve seu status econômico.
Essa situação produziu muitos protestos contra os judeus e
aumentou a avareza política e religiosa e o confisco da riqueza
judaica. Forçados a desistir de suas atividades econômicas, e
sendo pressionados por padres fanáticos, muitos judeus se
converteram à religião católica no início do século XV. Muitos
católicos ficaram com inveja do progresso financeiro contínuo e
da posição social desses judeus e os acusaram de conversão
artificial e insincera (ver Domínguez, Antonio O. “The Jewish
Problem” [“El Problema Judío”], [On-
line], URL: http://www.vallenajerilla.com/berceo/florilegio/inqui
sicion/problema judio.htm.) 2) A necessidade de unidade no
reino – a Espanha estava unida politicamente sob os “reis
católicos”, Fernando de Aragão e Isabel de Castela, mas ainda
havia ideologias religiosas diferentes no país. Na esperança de
unificar seu país religiosamente, os reis pediram permissão ao
papa para “purificar” seu reino de ideologias não-católicas por
meio da Inquisição (ver Chami, Pablo A. “The Spanish
Inquisition” [“La Inquisición en España”], [On-
line], URL: http://pachami.com/Inquisicion/Espa.htm, 1999).

Essas foram algumas das razões da cruel Inquisição Espanhola.


Com o tempo, este tribunal brutal se dedicou à perseguição de
muçulmanos, supostas bruxas e apoiadores do protestantismo.

Embora as inquisições anteriores fossem cruéis, a Inquisição


Espanhola foi planejada para aterrorizar até o mais vil criminoso.
Seus instrumentos de tortura eram ainda mais inovadores e
desumanos do que os de épocas anteriores. Os tratamentos de
tortura incluíram, mas não se limitaram a: (1) luxação das
articulações do corpo; (2) mutilação das cavidades vaginais, anais
e orais interiores; (3) remoção de línguas, mamilos, orelhas, nariz,
genitais e intestinos; (4) quebra de pernas, braços, dedos e pés; (5)
achatamento de juntas, unhas e cabeças; (6) serrar corpos ao
meio; (7) perfuração de pele e ossos; (8) rasgar a pele da face,
abdômen, costas, extremidades e seios paranasais; e (9)
alongamento das extremidades do corpo (ver Rodriguez, Ana
(2007). “Inquisition: Torture Instruments, ‘a Cultural Shock’ for
the Audience” [“Inquisición: Instrumentos de Tortura, ‘Sacudida
Cultural’ para el Espectador”], La Jornada, March 9, [On-
line], URL: http://www.jornada.unam.mx/2007/01/09/index.ph
p?section=cultura& ;article=a04n1cul).

Embora o catolicismo queira negar seu passado, a história fala


alto sobre as atrocidades cometidas em nome da fé católica. O
catolicismo pode tentar se esconder atrás das injustiças cometidas
por outros grupos religiosos, mas a verdade é que tudo isso é
claramente contrário à mensagem do Evangelho de Jesus. Não há
dúvida de que as Cruzadas e Inquisições foram importantes no
desenvolvimento e crescimento da Igreja Católica em um mundo
que não queria se conformar com esse tipo de religião.

Papas como Paulo III, Paulo IV, Sisto IV, Pio IX, entre outros,


autorizaram, promoveram, incitaram e reforçaram a “Santa”
Inquisição, da qual o papa João Paulo II (1978-2005) se
envergonhou e pediu perdão diante do mundo, em 15 de junho
2004. Ele fez seu apelo em uma carta lida durante uma entrevista
coletiva convocada para o lançamento de um livro sobre a
Inquisição. Ele repetiu uma frase de um documento de 2000, no
qual, pela primeira vez, o papa pediu perdão pelos “erros
cometidos a serviço da verdade por meio do uso de métodos que
não têm relação com a palavra do Senhor” (“João Paulo 2º pede
desculpas pela Inquisição”. Jornal Folha de S. Paulo.
URL: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u73742.s
html, 15/06/2004. Acesso em 11/01/2018).

CATOLICISMO EM TEMPOS RECENTES

No passado, a Igreja Católica usava métodos violentos para


destruir a oposição a seus ensinamentos e práticas. Hoje, sem
tortura, tribunais e matança, o catolicismo parece passivo diante
do crescimento de outras religiões.

O início do século XVI adicionou novo combustível ao fogo da


Inquisição. Noventa e cinco razões para isso foram pregadas na
porta do edifício da Igreja Católica em Wittenberg, Alemanha.
Quem foi o responsável? Um homem: Martinho Lutero. Embora
alguns homens antes dele tenham tentado acender o fogo da
reforma (por exemplo, John Wycliffe, John Hus, etc.), o
movimento da Reforma foi ineficaz até Lutero.

Martinho Lutero nasceu em Eisleben, Saxônia, Alemanha, em


1483. Ele era filho de um mineiro pobre e pagou seus estudos na
Universidade de Erfurt com esmolas que coletava. Em 1505, ele
ficou mais interessado na salvação de sua alma e na busca da paz
espiritual do que no estudo da lei. Ele entrou no mosteiro
agostiniano em Erfurt, onde se tornou um monge devoto, mas
espiritualmente perturbado. Em 1508, Lutero chegou à conclusão
de que alguns ensinamentos e organização da Igreja Católica eram
completamente diferentes dos do Novo Testamento. A
imoralidade do clero em Roma, a irreverência em relação aos
sacramentos por seus próprios defensores e a avareza daqueles
que coletaram indulgências e outras penalidades colocaram
Martinho Lutero em rota de colisão com a Igreja Católica. Em
1517, suas 95 teses perturbaram o mundo católico, a ponto de, em
1520, o papa ter criado uma bula pedindo a Lutero que desistisse
de seus ensinamentos ou fosse excomungado. No entanto, ele não
sucumbiu a essa ameaça e continuou a espalhar sua fé e
ensinamentos (ver ver Mattox, F.W. The Eternal
Kingdom. Delight, AR: Gospel Light, 1961, pp. 243-261; Pelikan,
Jaroslav. “Luther, Martin”, The World Book Encyclopedia.
Chicago, IL: World Book, 1988, 12:531-533). Outros, como Ulrico
Zuínglio (1484-1531) na Suíça e João Calvino (1509-1564) na
França e Genebra, Suíça, também contribuíram muito para a
Reforma e o desenvolvimento das religiões protestantes.

Várias condições ajudaram o progresso da Reforma no século


XVI: (1) O Renascimento – Esse movimento cultural estimulou
a liberdade intelectual e despertou o estudo entusiasmado das
Escrituras na Europa. Muitas pessoas começaram a perceber a
diferença entre o catolicismo e o cristianismo do Novo
Testamento. (2) Corrupção da hierarquia na Igreja
Católica – o dinheiro comprou direitos e privilégios e a
imoralidade corrompia até mesmo o clero católico. A
inconsistência entre fé e prática tornou-se notória. (3) Apoio
dos soberanos seculares à oposição à hierarquia
católica – Nessa época, a Igreja Católica possuía um terço da
terra da Europa Ocidental. Reis e governantes estavam ansiosos
por possuir esta terra, bem como outras propriedades que a igreja
havia tomado por si mesma. (4) O advento da imprensa –
Lutero e outros usaram a imprensa para espalhar suas ideias e as
Escrituras por toda a Alemanha e outros países (ver Mattox,
F.W. The Eternal Kingdom. Delight, AR: Gospel Light, 1961, pp.
239-246). Em 1542, o protestantismo se espalhou por muitos
lugares e chegou a penetrar na Itália com suas doutrinas. Por
causa de seu medo dessa nova rebelião ideológica, o Papa Paulo
III incitou o público e os líderes da igreja a retornarem aos níveis
severos da Inquisição. Apesar disso, o protestantismo floresceu.

A Igreja Católica havia encontrado um grande inimigo que


aparentemente não tinha a menor intenção de ceder. No entanto,
o “Santo Ofício” da Inquisição continuou o trabalho durante os
séculos seguintes e se expandiu para as colônias da Espanha no
Novo Mundo. O tribunal da Inquisição tinha jurisdição sobre
outros tribunais organizados em colônias latino-americanas.
Nessas colônias, a Inquisição não atingiu o mesmo nível
vergonhoso que alcançou na Europa, uma vez que os nativos
estavam apenas começando a aprender a religião católica e ainda
não entendiam todos os dogmas católicos. Mas o pobre exemplo
de “bondade” mostrado nas nações conquistadas não pôde apagar
a crueldade inerente ao tribunal “santo”.
Em 1808, José Bonaparte (irmão de Napoleão) assinou um
decreto que encerra o “Santo Ofício”, mas foi somente em 1834
que o edito final de sua abolição foi publicado (ver O’Malley, John
W. “Inquisition”, Encarta Encyclopedia 2002. Redmond, WA:
Microsoft Corporation, 2001; “Inquisition”. The New
Encyclopædia Britannica. London: Encyclopædia Britannica,
1997, p. 6: 328). Tendo seu braço político, militar e social
quebrado, a única coisa que restava para a Igreja Católica era
aceitar o que parecia ser o fim de sua ditadura.

Em nítido contraste com seu passado, a Igreja Católica tornou-se


progressivamente mais tolerante com outras religiões, apesar de
sua oposição pública e verbal. Essa tolerância levou a uma mistura
de catolicismo com religiões evangélicas, como luteranismo,
pentecostalismo etc., resultando em sérias repercussões para o
catolicismo em todo o mundo. Essa situação mostra claramente
que esse tipo de religião não se baseia na Bíblia, mas em
preferências religiosas. Ninguém pode dizer com certeza o que a
Igreja Católica se tornará ou aceitará no futuro, mas a história
mostra vividamente suas crenças e práticas passadas.

Devemos dar a Maria algum tratamento


especial?

Católicos dizem que nós devemos tratar Maria de forma especial


por ela ter sido a mãe de Jesus. Mas se devêssemos mesmo tratar
Maria de forma especial, Jesus teria dito isso claramente quando
teve oportunidade para fazê-lo, mas não disse. Em Lucas 11,
vemos que “quando Jesus dizia estas coisas, uma mulher da
multidão exclamou: ‘Feliz é a mulher que te deu à luz e te
amamentou’” (Lucas 11:27). Jesus estava pregando e uma mulher
teve o mesmo pensamento católico: “Hum, Jesus é um Homem
maravilhoso. Logo, sua mãe deve ser alguém realmente muito
especial, pois o pôs no mundo”. Jesus teve a oportunidade perfeita
para exaltar Maria como sua mãe e colocá-la em um papel de
destaque na nossa salvação; Ele poderia até ordenar que todos nós
a venerássemos. Mas veja a resposta que Ele deu: “Ele respondeu:
‘Antes, felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e lhe
obedecem’” (Lucas 11:28). Ele declarou que qualquer que ouvisse
a palavra de Deus e a obedecesse seria mais feliz que Maria,
aquela que o pôs no mundo. Se em qualquer momento houve uma
oportunidade para Jesus ter ensinado que Maria merecia alguma
honra especial, certamente seria aqui. Mas Ele disse justamente o
contrário.

Embora Maria tenha sido uma mulher fiel a Deus, bendita entre
as mulheres (Lucas 1:42) e, com toda certeza, bem-aventurada
(Lucas 1:48), Jesus disse que o maior ser humano da Terra foi
aquele que preparou o Seu caminho (João Batista), e não aquela
que o deu à luz. E, apesar disso, o menor no Reino de Deus é
maior do que ele: “Eu lhes digo que entre os que nasceram de
mulher não há ninguém maior do que João; todavia, o menor no
Reino de Deus é maior do que ele” (Lucas 7:28).

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