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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: A ECONOMIA COLONIAL E O DEBATE HISTORIOGRÁFICO
PROFESSOR: LUIZ FERNANDO SARAIVA

LARISSA DOS SANTOS JACINTHO SOUZA

RESUMO DOS TEXTOS DA UNIDADE I

NITERÓI, RJ
26/11/2021
A História Econômica do Brasil parte de circunstâncias históricas que reunidas em um
conjunto desembocaram na evolução de uma sociedade. Esta evolução toma rumos a partir de
transformações político-econômicas, políticas-religiosas e sociais em um continente que irá
buscar as soluções de suas demandas fora das suas fronteiras geográficas. No presente
trabalho será apresentado um resumo em torno da interpretação da História Econômica do
Brasil em relação ao fato histórico da colonização, reunindo os principais argumentos de
quatro autores em suas respectivas obras referentes ao tema, sendo eles Roberto Simonsen,
Caio Prado Júnior, Fernando A. Novais e Celso Furtado. Pretende-se aqui observar a
metodologia de escrita historiográfica dos autores, apresentar suas teorias, agrupar os pontos
de semelhança argumentativa e destacar as questões em que convergem quanto à formação
econômica brasileira. Desde já é importante salientar que a via interpretativa dos autores
quanto a formação econômica do país se faz através de levantamento historiográfico mesmo
que alguns desses escritores não sejam historiadores através de formação acadêmica, além
disso é interessante evidenciar que é através das obras de tais autores que se introduz o estudo
da História do Brasil com finalidades que intercedem de acordo com a necessidade da
sociedade brasileira e as aspirações políticas que se formavam. Desta forma, esta síntese se
inicia a partir do livro “Estrutura e dinâmica do antigo sistema colonial (séculos
XVI-XVIII)”, de Fernando A. Novais para assim, desenvolver os posteriores autores. Tal
ordem de abordagem deve-se ao carácter mais abrangente e finalizador de ideias da obra.

Sistema Colonial

Fernando A. Novais1 Utiliza uma escrita sucinta, clara, auto-explicativa de fácil


compreensão, é interessante ressaltar o caráter intervencionista do historiador que ao decorrer
do texto está constantemente advertindo o leitor para os detalhes que devem ser inseridos na
análise histórica. O autor muito se utiliza dos dados e argumentos levantados por seus
antecessores, Caio Prado Júnior, Celso Furtado e R. Simonsen. Para ele, o sistema colonial é
o conjunto particular das relações políticas entre dois elementos: as metrópoles
(administradoras) e suas respectivas colônias (administradas), em um período específico da
história da colonização, localizado entre a Época Moderna, o Renascimento e a Revolução
Francesa. Assim, ele insere sua primeira intervenção sinalizando que é importante
compreender que nem todo processo colonizador é traçado dentro das características mais
frequentes, expondo que há diversas relações de colonização na qual se aplicam de acordo
1
A NOVAIS, Fernando. Estrutura e Dinâmica do Antigo Sistema Colonial. Cap. 1, 2 e 3.
com as circunstâncias de cada metrópole. O autor entende o desenvolvimento do sistema
colonial como a base da economia mercantilista que se organizava. Segundo Novais, a
colonização significava a produção de mercadorias para as metrópoles europeias nas terras
descobertas, em que as atividades econômicas visavam o caminho do desenvolvimento do
capitalismo europeu.

Sentido da colonização

Para Fernando A. Novais, o sistema colonial mercantilista é o aspecto latente das


colonizações europeias, que se estende nos séculos XVI, XVII e XVIII. Assim, ele discorre
sobre a formação do Pacto Colonial, que na compreensão do historiador os doutrinadores
mercantis estavam escrevendo dentro dos interesses particulares de suas nações. O que o
autor propõe é uma observação crítica entre as teorias da colonização e a legislação
ultramarina em comparação com a prática da colonização adotada pelos governos
metropolitanos. Assim, para Novais, o sentido da colonização deve-se à nova ordem
político-econômica mercantilista, na qual o mercantilismo visava o desenvolvimento
financeiro nacional. Disso advém políticas de estimulação demográfica, como meios de
ampliação das forças de trabalho e empecilhos a elevação dos níveis salariais. É no contexto
da exploração ultramarina monopolista que o autor identifica a iniciação da colonização, e
comercialização dos produtos produzidos nas colônias americanas. A participação de capitais
e recursos estrangeiros, seguida pela difusão dos lucros mercantis no oriente e a concorrência
pelos produtos, rompia o monopólio da oferta que Portugal almejava, sinalizando como
salvação para a acumulação de capital, a exploração e comercialização dos produtos das
colônias americanas.

Desta forma Roberto Simonsen2 identifica em sua análise, similarmente o mesmo sentido,
acumulação de riquezas e capitais para a rápida ascensão da monarquia portuguesa como uma
potência. O autor se difere no desenvolvimento argumentativo da questão, no entanto ao
findar a leitura, se torna perceptível que ambos possuem uma mesma compreensão, que
tratadas de perspectivas variadas, por fim se completam. Enquanto Fernando Novais se
apropria de um caráter um tanto intervencionista, Simonsen coopera com um trabalho mais
expositivo, o autor reuniu um alto número de citações em seu livro e parte delas para seu
argumento, ou às vezes faz o caminho inverso. Para Roberto Simonsen, os precedentes
históricos da colonização portuguesa se enquadram nas transformações internas da nação de
2
SIMONSEN, Roberto C. História econômica do Brasil: 1500-1820. Cap. 2
ordem política e religiosa. As crises no campo e o crescente êxodo das populações para as
cidades causaram grandes prejuízos na agricultura portuguesa. As disputas de sucessão pelo
trono de Portugal, as mudanças políticas administrativas adotadas no governo de D. João I de
redistribuição de propriedades e honrarias, conquistas de novos territórios estratégicos para o
favorecimento da navegação, as expedições e descobertas, dentre outros, foram medidas
utilizadas para a rápida acumulação de riquezas e lucros. Na teoria do autor visava-se o
monopólio português. E para isso o objetivo seguido era o predomínio lusitano sobre o
comércio marítimo. Fernando A. Novais identifica a introdução do pensamento colonizador
na expansão marítima, Roberto Simonsen percebe esta política desde o momento em que D.
João I, conquista o trono portugues.

De acordo com Caio Prado Júnior3, todo evento histórico carrega com sigo um conjunto de
acontecimentos, circunstâncias, transformações internas ou de estrutura, e outros fatores
circunvizinhos que reunidos apresentam uma relação ou correlação. Esta relação compõem o
sentido da evolução de um povo. Para ele, uma análise verídica deve ser feita através do
exame rígido e detalhista deste conjunto. Nisto diferencia-se a metodologia histórica do autor
tendo em vista a abordagem de Fernando A. Novais. Todavia, ora se aproxima, ora se
distancia do método de Roberto Simonsen. No livro autor faz um apanhado dos
acontecimentos históricos das relações internacionais entre os países europeus, das
transformações político-econômicas, das revoluções político-religiosas e sociais, não para
expor uma reunião de ideias, mas para que esta apresentação de conjuntos históricos ao
desemboca no evento final da análise, seja na integra a verificação do seu método
argumentativo, expondo através da sua abordagem que os eventos são reflexos de um
conjunto de fatos correlatos. Caio Prado Júnior propõe a análise dos fatos, mas não se
aprofunda neles, nota-se uma diferença para Simonsen, que possui uma abordagem mais
profunda e isolada nos acontecimentos.

Quanto à colonização brasileira, o autor não descarta a importância do seu estudo, contudo,
salienta a importância da análise do sentido da colonização. Caio Prado Júnior propõe uma
metodologia histórica interpretativa, que sendo feitas as devidas indagações aos
acontecimentos estes possam explicar porque a Terra de Santa Cruz foi colonizada e desta
forma compreender a forma evolutiva do Brasil. No conjunto explicativo de Caio Prado

3
JÚNIOR, Caio Prado. Formação do Brasil contemporâneo. Cap. Sentido da Colonização.
Júnior, a expansão marítima dos países europeus é o primeiro passo para esta colonização,
que já foi precedida por transformações internas no continente. Na metade do século XV, os
portugueses traçaram o plano de contornar a África, a fim de descobrir uma nova rota para o
comércio com as Índias Orientais, assim novos territórios foram descobertos. Para o autor, a
era dos descobrimentos é um capítulo do conjunto da história do comércio europeu.

“Todos os esforços se orientam então no sentido de encontrar uma passagem, cuja existência
se admitiu a priori.” (Caio Prado Júnior. 1963). De acordo com o autor, os demais governos
europeus que se introduziram na exploração marítima também caminhavam em busca de
rotas para o comércio com as Índias Orientais. No qual a princípio a América era um
obstáculo no caminho. Desta forma a América não compunha na opinião do autor um
território proveitoso para a colonização com fins mercantis que se almejava. Nisto o autor
distinguiu as colônias das zonas temperadas e as colônias das zonas tropicais ou subtropicais.
Para o autor a colonização das áreas temperadas deve-se às circunstâncias de guerras
político-religiosas em que enfrentava as nações europeias, e que priorizaram as áreas
temperadas em função de maior semelhança com o clima natural europeu. Segundo fator que
impulsiona esta emigração é a transformação econômica interna na Inglaterra, no decorrer do
século XVI, que consiste na deslocação em massa dos campos agrícolas para pastagens de
carneiros, que deveriam fornecer a lã das indústrias têxteis inglesas desta nova fase
econômica. As colônias das áreas temperadas afluem em uma nova forma de colonização. Os
colonos destas áreas construíram um novo mundo, no entanto nos moldes da sociedade
europeia em que eles não encontravam mais, em função de guerras político-religiosas ou
transformações econômicas.

Desta forma, a colonização das zonas tropicais ou subtropicais se dá por circunstâncias


diferentes. Em contrapartida, o clima tropical das colônias americanas proporcionava às
nações europeias produtos em que no continente eram raros, principalmente os cultiváveis
que eram escassos em função do clima europeu. Nisto deve-se o interesse europeu na
colonização das áreas tropicais e subtropicais, visando a comercialização destes produtos. Por
fim, conclui-se o argumento do autor, as colônias de povoamento se diferem das colônias de
exploração em sentidos básicos. As colônias de povoamento se formaram em extensão, um
modelo de vida europeia fora da Europa. As colônias de exploração, em especial o Brasil, se
dá em caráter totalmente comercial, voltado para o exterior, para o enriquecimento da
metrópole.
Assim como Caio Prado Júnior, Celso Furtado4 também discorre a partir do caso das colônias
de povoamento, no capítulo cinco de seu livro analisado. O autor indica a ocupação destas
colônias nas Antilhas e na América do Norte, como estratégias políticas da França, Holanda e
Inglaterra. Segundo ele, estas potências se instalaram nas ilhas caribenhas para o povoamento
com objetivos militares, primordialmente os ingleses e franceses que estavam interessados
em um “assalto em larga escala” aos territórios portugueses e espanhóis. No argumento do
autor as colônias da América do Norte foram grandes prejuízos para as metrópoles, devido a
falta de produtos na terra comercializáveis na Europa, clima que não era proveitoso para a
maior parte dos produtos agrícolas.

Regime Colonial

Fernando A. Novais identifica, que no desenvolvimento econômico moderno em um dado


momento a comercialização de produtos que estavam estabelecidos seria superada pela
comercialização dos mecanismos necessários para a produção. O autor chama a fase que
pretende a esta evolução da economia comercial de “Exclusivo” pois compreendia a
pretensão de acumulação monopolizada de lucros da monarquia. O autor cita alguns métodos
de Portugal e Espanha para controlar a exploração estrangeira em suas colônias. As
concessões e licenças, que envolviam interesses particulares do governo. A comercialização
de produtos Português era debilitada, então a monarquia recorria aos capitais estrangeiros,
dos flandres. Desta forma, o autor define como estratégias políticas as medidas portuguesas e
espanholas de livre comércio na fase inicial das colônias, para estimular a entrada de recursos
e capitais, enquanto enfrentavam dificuldades financeiras as conceções moviam o sistema
colonial. Tais licenças e concessões não incluíam o comércio em África e eram limitadas.
Ademais, é interessante notar que as concessões feitas pelo governo lusitano organizam o
sistema de exploração ultramarina.

Roberto Simonsen5 também discorre a partir da mesma política metodológica de concessões e


licenças, de forma bem semelhante a Fernando Novais, o autor ainda diferencia o sistema
colonial, do feudalismo, dentre os principais fatores o autor defende, que o fito principal do
colonialismo era a acumulação de capitais diferentemente do feudalismo em que consistia no
sustento de um padrão de vida através da divisão profissional e social. No capítulo quatro do
livro analisado o autor apresenta os direitos e deveres dos donatários e colonos que se

4
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Cap. 5.
5
SIMONSEN, Roberto C. História econômica do Brasil: 1500-1820. Cap. 4
instalaram no Brasil, expondo os favores, poderes e limites que eram oferecidos. Segundo o
autor, com exceção dos artigos privilegiados da Coroa, os donatários e colonos podiam
desfrutar de livre comércio a partir da produção da terra.

Após a instalação das colônias, este sistema de concessões gradativamente recebe limitações,
fechando-se assim os lucros exclusivos para a coroa portuguesa. Nisto consiste a Constituição
da Companhia das Índias Orientais, na qual garantia a exclusividade das operações mercantis
no Oriente a Portugal. As proibições na exploração feita por Portugal em suas colônias
causaram tensões entre as monarquias, o que na teoria de Fernando A. Novais, influência um
comercio ilegal, e a introdução do contrabando. O historiador discorre que no século XVII, os
ingleses e franceses se estabeleceram nas Antilhas, montando sistemas econômicos
concorrentes e incentivando o tráfico de contrabando nas índias de Castela. Por volta da
metade do século XVII, a exploração ultramarina pelos distintos estados europeus estava
difundida e assim a concorrência e situações de tensões se instalam num regime comercial
colonial internacional. Para o autor, as concessões e licenças no sistema colonial, seguindo a
linha de raciocínio que ele estabelece de interpretação da Época Moderna, antecipam os
mecanismos do regime de exploração colonial e estabelecem uma rede comercial
internacional mais lucrativa.

Além disso, segundo Celso Furtado, inicialmente a Espanha concentrou-se em extrair metais
preciosos das suas terras americanas. Com a pressão dos demais países europeus, a metrópole
fortificou a defesa de seus territórios. A política do Estado espanhol se direcionava a
transformar as colônias em sistemas econômicos confiáveis e que rendessem um excedente
líquido, que seria transportado para a metrópole. Tal meta seria efetivamente alcançada se
não fora a alguns fatores como: o poder econômico de governo cresceu juntamente com os
gastos públicos, ou gastos privados subsidiados pelo governo, o que causou um déficit na
balança instalado pela inflação; e a desorganização no intercâmbio de carregamento das
colônias para a metrópole ou o caminho no inverso. Esses fatores provocaram a decadência
das colônias espanholas. A partir disso, Celso Furtado dedica a decadência da economia
espanhola a um dos motivos de êxito das colônias portuguesas, caso contrário, no argumento
do autor as colônias espanholas teriam dominado o comércio ultramarino acima da Coroa
portuguesa.

Disputa Comercial
A concorrência é um aspecto importante neste regime no qual a partir do destaque comercial
das monarquias, Fernando A. Novais dedica extrema importância nas relações internacionais
e no sentido da colonização. Durante a expansão marítima iniciada em 1497, o aparato
político-militar organizado por Portugal, empreendeu a expulsão dos muçulmanos e italianos,
para que a concorrência mercantil fosse baixa, visando o alto lucro, ou seja a mobilização de
recursos, no alvo que era as Índias Orientais.

Para Fernando A. Novais, o “mecanismo básico do regime comercial” que era eixo do
sistema colonial da era mercantilista, era “O “exclusivo” metropolitano do comercial
colonial” que resume-se na “reserva do mercado das colônias para a metrópole”, isto é, para
a burguesia comercial metropolitana. Este é o mecanismo fundamental, gerador de lucros
excedentes, lucros coloniais ancilares”. Desta forma obtendo exclusividade na compra e
venda dos produtos, os comerciantes do colonialismo mercantil disponibilizavam de grande
oferta, e altos lucros. Promovendo assim, a transferência de lucros para a metrópole, e
concentrando capitais na classe empresária ligada ao comércio ultramarino.

Fernando Novais identifica uma problemática no “Exclusivo”: os grupos empresariais de


comércio colonial ao possuírem o exclusivismo na taxação de preços dos produtos,
transferiram a renda da população metropolitana para eles mesmos, ou seja, para os próprios
grupos do comércio colonial mercantil empresarial. Concentrando-se os lucros em uma classe
privilegiada. Consequentemente dificulta-se então a acumulação de lucros da monarquia. Por
fim, o autor analisa que o Antigo Sistema Colonial, em pleno funcionamento, compõe o
mecanismo de acumulação de capitais primitivos no enquadramento de desenvolvimento do
capitalismo mercantil.

Além dos outros fatores, Roberto Simonsen afirma que a concorrência e frequentes
expedições de outras nações europeias em torno da Terra de Santa Cruz, contribuíram para
que Portugal decidisse de vez ocupar a terra. De acordo com Celso Furtado, as disputas por
territórios nas américas compõem um fator primordial. Foi mediante a isso que a Espanha,
estrategicamente, teve de ceder partes de seu território, conferidos pelo Tratado de
Tordesilhas, em troca de resguardar seus espaços de extração. A partir disso também, se deve
a ocupação de alguns territórios como Cuba, em que colônias de povoamento foram criadas
para a defesa e abastecimento, das áreas de produção e extração. Em sua compreensão, este
fator impulsionou Portugal a ocupar definitivamente o Brasil, que para o autor é uma
empresa/colônia simplesmente espoliativa e extrativa, no qual o principal interesse era a
acumulação de capitais contínuo a sustentação econômica da metrópole europeia.

Por conseguinte, para Celso Furtado a guerra entre Holanda e Espanha causou reflexos
diretos na colônia portuguesa, levando em consideração a união de Portugal e Espanha neste
período. Salienta-se que no começo do século XVII, os holandeses controlavam o comércio
europeu e distribuíam açúcar pelo continente. Esta luta pelo controle do açúcar rompe com o
sistema cooperativo entre estes países e a Holanda constitui uma indústria concorrente de alto
nível na região do Caribe. Desta forma o monopólio sobre a produção do açúcar da Coroa
portuguesa e o controle que os grupos financeiros holandeses exerciam sobre o comércio na
Europa declina. Com a crescente difusão do comércio do açúcar, o valor do produto e as
exportações sofrem quedas, em suma, a renda real que se apoia sobre este comércio também
começa a cair. Em virtude disto, no argumento do autor o monopólio sobre a comercialização
do açúcar era um fator de grande importância para a economia portuguesa.

Escravidão, Raças e o Trabalho forçado.

Para Roberto Simonsen6, aos olhos dos portugueses a grande ilha brasileira parecia-lhes que
daria muito proveito, no entanto a implantação de uma colônia demandaria de numerosa
mão-de-obra. O autor argumenta que a população europeia era pouca, que estava envolvida
em demasiadas revoluções comerciais, agrárias, religiosas, de governos e os trabalhadores
europeus já estavam habituados ao clima do continente. Além disso, Portugal estava
despovoando-se com as expansões marítimas e guerras no ultramar. Desta forma, levando em
consideração os gastos que demandaria a montagem do comércio nas terras brasileiras, “só o
trabalho forçado proporcionaria tal garantia” (Roberto Simonsen, 1944). Na teoria de
Simonsen os indígenas do Brasil possuíam mentalidade primitiva, não eram civilizados, eram
preguiçosos e mal organizados para o trabalho, fracos fisicamente e viviam como canibais. O
autor chama a escravidão dos nativos brasileiros de “Escravidão vermelha”, e apresenta a
catequização jesuíta como um mecanismo favorável que solucionou os levantes na América
espanhola e possibilitou sobre proposta de Colombo, o regime de “repartimiento” e da
“encommienda”, desta maneira na perspectiva do autor os ameríndios das primeiras
colonizações espanholas estavam mais evoluídos do que os indígenas brasileiros. Para Caio
Prado Júnior o clima, a natureza e a hostilidade dos nativos, não eram favoráveis à ocupação

6
SIMONSEN, Roberto C. História econômica do Brasil: 1500-1820. Cap. 6
americana. Ele compreendeu que o clima tropical e a vida livre na natureza cooperavam para
a hostilidade dos nativos.

Quando a utilização da mão-de-obra escrava africana nas colônias Roberto Simonsen alega
que tal discussão é incabível levando em consideração o debate que foi escolhido para sua
análise. Resumidamente o autor argumenta que, “Tampouco nós poderemos deter sobre o
sistema de resgate adotado na África, em que os régulos vendiam aos portugueses seus
cativos de guerra ou os próprios membros de sua tribo, assim como sobre as guerras de
apresamento que o tráfico estimulava” (183). Assim, na visão do autor as guerras internas
entre as sociedades africanas que formavam escravos no oriente, a existência de um sistema
escravista já difundido e a pré-adaptação destes povos a plantação de culturas favoráveis a
comercialização é um aspecto latente explicativo para a escravização dos mesmos. Para Caio
Prado Júnior, no sistema colonial o homem europeu não viria como trabalhador físico em um
clima tão difícil, mas como dirigente da produção, quando dispunha de condições financeiras
e gente que trabalhasse para ele. No entanto, existiam os casos daqueles que que vivam como
trabalhadores escravos temporários, como deportados, menores abandonados, vendidos pelos
pais ou confiados a tutores, a modo de servir até a maioridade, este caso se finalizaria com a
introdução de escravos indígenas ou negros importados da África. Neste caso de escravos
temporários europeus não se encaixam as colônias espanholas e portuguesas.

Mediante Roberto Simonsen, a evolução do trabalho nos engenhos, a mão-de-obra indígena


já não era mais qualificada. As capitanias do norte eram mais favoráveis a produção do
açúcar, portanto nestas era utilizada a mão-de-obra escrava africana, já nas capitanias do sul,
a terra não era própria para o cultivo e a plantação era para o consumo, desta forma a
mão-de-obra utilizada era a indígena. O autor defende que em função do escravo africano ter
mais qualificação para o trabalho pesado, este excedia o valor do escravo indígena. É
interessante notar que referente a escravidão de negros africanos e indígenas Roberto
Simonsen muito se baseia em Gilberto Freire. Portanto é interessante notar que os quatros
livros trabalhados possuem graus de proximidade teórica, no entanto cada um destes autores
chegou até sua teoria final por argumentos diferenciados. Esta primeira escola de História
Econômica do Brasil, inaugurou a partir do conjunto de acontecimentos do século passado, o
estudo da história nacional, e assim como Celso Furtado dedica na introdução do seu texto,
estas obras podem ser tomadas como uma introdução à história econômica do Brasil para o
leitor iniciante, estudantes universitários e estudiosos sobre esta temática.
Biografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 24 ed. São Paulo, Editora Nacional,
1991. Parte 1, p. 7-48.

JÚNIOR, Caio Prado. Formação do Brasil contemporâneo. Editora brasiliense, 1963. KLEIN,
Herbert S. O tráfico de escravos no Atlântico. São Paulo: FUNPEC editora, 2004. Caps.
Sentido da Colonização, Raça, Vida Social e Política.

A NOVAIS, Fernando. Estrutura e Dinâmica do Antigo Sistema Colonial (Séculos


XVI-XVIII). 7. ed. - São Paulo: Brasiliense; Campinas, SP: UNICAMP. IE, 2007. (30 Anos
de Economia - UNICAMP, 11). Cap. 1, 2 e 3.

SIMONSEN, Roberto C. História econômica do Brasil: 1500-1820. 2005. Cap. 2,4,5 e 6.

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