1) O livro discute a formação do território brasileiro através da relação entre geografia e história, compreendendo o território como resultado das ações culturais, políticas e econômicas das sociedades ao longo do tempo.
2) Aborda temas como a relação entre marxismo e geografia, a constituição dos estados ibero-americanos, o processo de colonização portuguesa e a formação territorial brasileira recente.
3) Analisa conceitos como território usado e fundos territoriais para caracterizar o território
1) O livro discute a formação do território brasileiro através da relação entre geografia e história, compreendendo o território como resultado das ações culturais, políticas e econômicas das sociedades ao longo do tempo.
2) Aborda temas como a relação entre marxismo e geografia, a constituição dos estados ibero-americanos, o processo de colonização portuguesa e a formação territorial brasileira recente.
3) Analisa conceitos como território usado e fundos territoriais para caracterizar o território
1) O livro discute a formação do território brasileiro através da relação entre geografia e história, compreendendo o território como resultado das ações culturais, políticas e econômicas das sociedades ao longo do tempo.
2) Aborda temas como a relação entre marxismo e geografia, a constituição dos estados ibero-americanos, o processo de colonização portuguesa e a formação territorial brasileira recente.
3) Analisa conceitos como território usado e fundos territoriais para caracterizar o território
MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia histórica do Brasil:
capitalismo, território e peri eria. São Paulo: Annablume, 2011. (Coleção Geografia e Adjacências). 15 p. ISBN 9 8-85-391- 0215-0 LucieNe Pereira carris cardoso 1
Lançado em 2011, o livro Geografia histórica do Brasil: capitalismo,
território e peri eria foi elaborado pelo geógrafo e cientista social Anto- nio Carlos Robert Moraes, professor titular do Departamento de Geogra- fia e coordenador do aboratório de Geografia Política da niversidade de São Paulo. As ideias expostas discutem e aprofundam teorizaç es pro- postas em dois livros anteriores: Ideologias geogr ficas. spa o, c lt ra e pol tica no Brasil (1988) e erritório e história no Brasil (200 ). O fio condutor da sua investigação incide na formação do território brasileiro através da relação basilar entre a geografia e a história respectivamente. Nesta lógica, o território é compreendido como um resultado das aç es culturais, políticas e econ micas empreendidas pelas sociedades ao longo dos tempos. Reunindo nove ensaios originalmente escritos para circuns- t ncias e ocasi es acadêmicas diversas, o autor discute nesta colet nea a relação entre o marxismo e a geografia, a constituição dos Estados ibero- -americanos, o processo de instalação da colonização lusitana, bem como a formação territorial brasileira recente e o panorama da geografia na- cional. Completam este rol temático, um exame crítico sobre a polêmica e a controvérsia ue envolvem a globalização, o pós-modernismo e o neoliberalismo.
Inaugura a colet nea um capítulo dedicado ao exame da espaciali-
dade do modo de produção capitalista. Norteado pela categoria de modo de produção como recurso interpretativo da teoria da história, Moraes demonstra como a abordagem geográfica possibilita a compreensão de determinados aspectos do capitalismo em conjunturas espaciais diferen-
1 – Doutora em História Política pela niversidade do Estado do Rio de Janeiro – Pós-
-doutoranda do aboratório de Geografia Política da niversidade de São Paulo.E-mail: lucienecarris hotmail.com
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ciadas, o ue ele define por geografia histórica do capitalismo”. Neste
sentido, revela como as relaç es do capitalismo e do capital com a su- perfície terrestre são paradoxalmente opostas e complementares. Desta forma, distingue duas possibilidades de análise, a forma capitalista de valorização do espaço e a valorização capitalista do espaço. Se por um lado, o sistema capitalista submete todos os espaços possíveis no globo terrestre, por outro, o capital elege lugares específicos para sua aplicação e sua fixação. A sua investigação privilegia, ainda, as características das relaç es capitalistas, em especial, o conceito de via de desenvolvimento e os seus desdobramentos.
Em seguida, tomando como referência os estudos pós-coloniais de
estudiosos do porte de Ed ard Said, de Benedict Anderson e de Wal- ter Mignolo, o autor aborda o surgimento dos Estados ibero-americanos. Constata ue os processos de independência no Novo Mundo inserem- -se na história-mundo. Observa ue a emancipação das ex-col nias foi realizada sem o rompimento com a ideia de civilização ue sustentava a dominação colonial. Não por acaso, a sistematização da geografia mo- derna desponta dessa relação, articulando a narrativa colonial e a tese da superioridade ocidental. Portanto, a afirmação das nacionalidades ame- ricanas submete-se à atuação dos Estados, diferentemente dos proces- sos de independência na sia e na frica ue dispunham de um arsenal ideológico do nacionalismo e de soberania popular para impulsionar suas aç es. m outro ponto interessante abordado refere-se ao estudo da histó- ria da geografia nacional. A singularidade da realidade brasileira permite uma reflexão sobre a geografia e o seu desenvolvimento como ciência nacional, um vez ue a implantação e o desenvolvimento deste campo do conhecimento está diretamente atrelada à evolução política do país, do ue propriamente com o desenvolvimento da história desta disciplina em escala mundial.
O terceiro texto examina a instalação da colonização lusitana e a
geopolítica adotada pela metrópole, uma combinação da ocupação e da fundação de n cleos de assentamentos no território, a exemplo das fei- torias e das capitanias. Entende ue o Brasil, en uanto uma construção
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portuguesa do desconhecido território no Novo Mundo, abarcava o po-
voamento e a exploração. O domínio da faixa litor nea constituía, no seu entendimento, a diretriz da lógica geopolítica portuguesa, uma vez ue lá se estabelecia tais centros de assentamentos, de onde partiam movimen- tos de exploração e de povoamento. Contudo, o autor adverte ue não deve se caracterizar o período colonial como conjunto homogêneo, tal como é apresentado comumente em estudos variados. Salienta, ainda, a necessidade de se observar as singularidades do processo colonial em sua fase inicial. Para ele, esta etapa corresponde a um momento diferenciado e singular diverso do período da nião Ibérica (1580-1 0) e da consoli- dação da soberania portuguesa da segunda metade do século X III. Em síntese, o autor destaca ue o movimento de instalação do colonizador envolveu a con uista efetiva e a ocupação do solo, no ual o estabeleci- mento de n cleos de assentamento consistia a marca do período.
Já no texto seguinte, Moraes coteja o território, a região e a for-
mação colonial na América atina. Demonstra como a geografia é um elemento essencial para análise da particularidade histórica dos países latino-americanos. Constata ue a colonização, como um processo de expansão colonial, é uma relação sociedade-espaço, marcada pela con- uista, domínio e exploração econ mica dos recursos existentes. Neste sentido, a geografia histórica pode ser apreendida como um caminho de reconstituição do processo de formação dos territórios, visto ue a ex- pansão espacial corresponde ao primeiro objeto deste campo disciplinar, en uanto ue a consolidação do domínio territorial representa o seu coro- lário. Compreende-se, portanto, o território como uma área de exercício de poder, um espaço ualificado pela dominação política comportando várias regi es, esta ltimas definidas como espaços econ micos de ocu- pação efetiva. O território brasileiro constitui um legado do passado co- lonial e ue pode ser caracterizado através das noç es de território usado e de fundos territoriais. Para uma melhor definição de tais conceitos, o autor prop e: (...) o território colonial como área de soberania formal (de administração) de uma metrópole o território usado como as áreas efetivamente propriamente apropriadas para colonização (os encraves e
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regi es) e os fundos territoriais, o ue restam como reservas para a ex-
pansão futura da ação colonizadora” (p. ).
No uinto capítulo, as ideologias geográficas na história brasilei-
ra constituem o objeto de sua análise. O autor sublinha como a ênfase expansionista norteia a história territorial do país desde suas origens. A visão territorialista concebe o Brasil como um espaço e não como uma sociedade. A argumentação geográfica fornece a justificativa da identi- dade e da unidade política, à medida ue o processo de colonização en- volve uma relação sociedade-espaço. No caso brasileiro, a instalação do colonizador engendrou o território colonial como elemento de unidade do Brasil. Com a emancipação política em 1822, o projeto estatal nacional adotado pela então nação recém-independente era em sua essência terri- torial, o ue proporcionava um elemento de ligação entre as elites regio- nais, justificando a concentração do poder do Estado imperial. A visão territorialista consagrava a ideia de país a construir”, na ual reduzia o papel da população a um instrumento de edificação do país. Incorporava- -se nesse processo as ideias de sertão, em seguida, a de moderno e de modernização. Seja como for, o Estado assumia o papel de construtor da nação, a partir da associação entre as ideologias geográficas e as políticas territoriais. Para comprovar tal premissa, Moraes coteja as sucessivas po- líticas governamentais brasileiras ao longo do século XX.
No capítulo seguinte desta colet nea, Antonio Carlos Robert Moraes
discorre sobre a ideia de sertão. Demonstra como tal conceito difere das noç es usuais de habitat”, ambiente”, região” e território” dissemi- nados no campo geográfico. O sertão apresenta-se como uma condição atribuída a variados e diferentes lugares. Corresponde a uma materialida- de simbólica, uma ideologia geográfica. Definir um determinado espaço como sertão” implica projetar sua valorização para uma futura forma de ocupação e de exploração. Concebe-se, assim, um espaço para uma possí- vel expansão futura da economia e de domínio político. De acordo com a perspectiva da globalização, o sertão pode ainda ser identificado como os lugares não integrados aos fluxos internacionais, bem como depositários do patrim nio natural e da biodiversidade do planeta.
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O sétimo capítulo apresenta um uadro do processo de formação do
território, investiga as especificidades da expansão territorial desde perío- do colonial, relacionando com as políticas territoriais estatais. Constata ue atualmente o movimento da con uista territorial no Brasil permanece ainda inconcluso, já ue ainda persistem espaços poucos explorados no Centro-Oeste e na Amaz nia, os chamados fundos territoriais”. ogo em seguida, es uadrinha a transformação do Brasil de uma denominação car- tográfica genérica na imaginação geográfica europeia desde tempos re- motos para uma entidade geopolítica aut noma no século XIX. Neste pe- ríodo, conhecer, con uistar, explorar e integrar o território preponderava no discurso ideológico dominante. Nos países de herança colonial, a geo- grafia e a história se aglutinaram na construção ideológica das identidades nacionais. No caso brasileiro, esta herança foi assumida com seu esto ue de espaços e de recursos, legitimando a ordem político-institucional no segundo reinado e na Rep blica. Adverte ue nas ltimas duas décadas, a globalização e o localismo articularam-se no discurso hegem nico do imaginário geopolítico brasileiro, promovendo a desregulamentação de determinadas atividades e a privatização de empresas estatais, reformu- lando o modelo tradicional de nacional-desenvolvimentismo. O território e os seus recursos naturais foram redimensionados, disseminando a ideia de in meras vantagens comparativas, a exemplo da disponibilidade ter- ritorial com esto ues minerais variáveis, fontes renováveis de recursos e solo agriculturável. evando-se em consideração a conjuntura de crise mundial, depois de examinar criticamente o processo, o autor recomenda a necessidade da formulação de um projeto nacional imbuído de uma visão estratégica do território e das tendências de conformação territorial.
O panorama teórico da geografia nacional foi objeto de estudo no
capítulo subse uente. Moraes reflete sobre a diversidade e o ecletismo de orientaç es metodológicas e teóricas, além disso, uestiona a importação de teorias e a sua propagação em território nacional de maneira acrítica. Revela-se como um texto crítico de combate político, no ual o autor assinala determinadas contradiç es inerentes às teorias geográficas pós- -modernistas. Observa como a din mica da economia-mundo capitalis-
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ta manifesta-se diferentemente no centro e no mundo periférico. Na sua
concepção, a condição periférica confere aos países pós-coloniais, por exemplo, uma dupla ligação, uma vivência simult nea com a modernida- de e com as relaç es societárias pré-modernas. Desta maneira, se para os teóricos pós-modernos determinadas obras publicadas anteriormente não elucidam a realidade contempor nea, tampouco as teorias emanadas pelo centro explicam o mundo o periférico. No seu entendimento, emerge uma geografia pós-moderna despolitizada, mas ao mesmo tempo cosmopolita e localista, ue sustenta a ilusão da superação do passado e o surgimento de mundo inteiramente novo. Mais adiante, ressalta a emergência de um conjunto de tendências ue defendem formas pré-modernas de sociabili- dades nos países periféricos. Tal pré-modernismo preconiza uma percep- ção agrarista da realidade brasileira calcada no culto da tradição e da vida tradicional, por outro lado, também desprovida de avaliação historiográ- fica de seu papel na história no ltimo século. Ademais, Moraes rejeita a concepção do capitalismo como uma realidade congelada, a-histórica, sem movimento interno e sem renovação”. De igual modo, demonstra como a ren ncia ao papel do Estado e o aspecto localista estabelecem um diálogo paradoxal entre o elogio da pré-modernidade e os pós-modernos.
Encerra a colet nea uma apreciação sobre o papel do Estado e a di-
luição do conceito de escala nacional nos estudos de geografia contempo- r nea. Neste caso, são elencadas três teorias ue se tornaram hegem ni- cas nos ltimos trinta anos: a globalização, o neoliberalismo e a perspec- tiva pós-moderna. Antonio Carlos Robert Moraes ressalta a fragilidade do discurso disseminado sobre um mundo sem diferenciaç es ou barreiras, entendido ainda como um processo irreversível, uma fatalidade histórica, atrelada a uma doutrina econ mica ue defende a autorregulamentação do mercado e a intervenção mínima do Estado. As primeiras duas cor- rentes ideológicas, a globalização e o neoliberalismo, preconizam a ideia de uma aldeia global, anunciando o fim das fronteiras, ao lado da des- montagem do aparato estatal. Apesar de elaborada pelo pensamento he- terodoxo da es uerda, a perspectiva pós-moderna constitui, ao seu ver, a mais difícil de aventar e de debater, uma vez ue seus objetos e interesses
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não se apresentariam tão claramente. Tal entendimento baseia-se na su-
peração do projeto moderno e o fim de determinadas categorias até então existentes, a exemplo das ideologias, das naç es e dos territórios. Deste modo, as chamadas geografias pós-modernas proclamam a existência de apenas duas escalas, a global e a local. Em conse uência, caberia pensar em projetos ue abrangessem o planeta unido ou em cada local com suas especificidades, ignorando as particularidades e as contradiç es existen- tes. Todavia, a recente crise financeira na nião Europeia e a intervenção estatal nessa conjuntura reafirmou a persistência dos interesses nacionais e das territorialidades estatais, ao lado da retomada de temas tradicionais como nacionalidade, jurisdição e soberania.
Texto apresentado em novembro/2012. Aprovado para publicação
em dezembro/2012.
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