Você está na página 1de 21

SÓ É POSSÍVEL FILOSOFAR EM ALEMÃO?

PREMISSA

A COLONIALIDADE É
O LADO OBSCURO
(THE DARK SIDE)
DA MODERNIDADE.
SISTEMA MUDIAL MODERNO
WALLERSTEIN

Século XVI - surgimento de uma economia-mundo européia (uma inovação sem


precedentes)

Baseado na: divisão internacional do trabalho + aparelho burocrático de Estado

Fomentado pelo desenvolvimento agrícola, não apenas, ou principalmente pelo comércio.


MEDITERRÂNEO COMO
CENTRO DO MUNDO
Hegel

“As três partes do mundo mantêm entre si, portanto,


uma relação essencial e constituem uma totalidade
(Totalität).[Mas] O mar Mediterrâneo é o elemento de
união entre eles, e isso o converte no centro de toda
a História Universal. ... O Mediterrâneo é o eixo da
História Universal ” (Palestras, 210, em Dussel 1993)

Glissant

“Historicamente, o movimento giratório e giratório


das culturas que viveram em suas margens fizeram
do Mediterrâneo um mar concentrador. Em toda a
sua volta, os contactos e conflitos entre cidades e
grupos étnicos foram aos poucos conduzindo à
realidade do Império (isto é, um mar interior dos
romanos) e ao conceito de Um ” (Glissant, 2008, 81.)

MAPA TO - ELABORADO PELO BISPO ISIDORO DE SEVILLA


IMAGINÁRIO COLONIAL
Século 16 - O circuito atlântico

[...] O surgimento de um novo circuito comercial, que seria o alicerce da economia e da dominação ocidentais,
caminha junto com uma reticulação do imaginário racial, cujas consequências ainda estão vivas. Duas ideias se
tornaram centrais nessa rearticulação: “pureza de sangue” e direitos do povo ”Mignolo (p.27)

Século 19 - Biopolítica

“O que estamos tratando nessa nova tecnologia de poder não é exatamente a sociedade (ou pelo menos não o
corpo social, como definido pelos juristas), nem é o corpo individual. É um novo corpo, um corpo múltiplo, um
corpo com tantas cabeças que, embora possam não ser infinitas em número, não podem necessariamente ser
contadas. A biopolítica lida com a população, com a população como um problema político, como um
problema ao mesmo tempo científico e político, como um problema biológico e como um problema de poder
”. M. Foucault (1976: 245)
IMAGINÁRIO COLONIAL
Uma ideia de mundo compartilhada e ancorada:

Cultura francesa (pós revolução);

Economia “inglesa” - capitalismo, sobretudo no circuito Veneza-Holanda-Inglaterra; que se


expande…

no que Mignolo descreve como Imaginário Atlântico.


COLONIALIDADE DO PODER
MIGNOLO RETOMANDO QUIJANO

“1. Classificação e reclassificação do planeta - o conceito de “cultura” torna-se crucial para essa
tarefa de classificar e reclassificar. -> Ou seja, cultura alemã, grega etc, é a cultura da filosofia. A
cultura anglófona é desenvolvida.. A cultura árabe é .. A cultura latina é…

2. Uma estrutura funcional institucional para articular e administrar tais classificações (aparato
de Estado, universidades, igreja, etc.) -> ex: academia organizada a partir de uma lógica colonial.

3. A definição de espaços adequados para esses objetivos. -> “colonização” dos espaços. Ex:
Área de preservação ambiental x área urbana onde se vive.

4. Uma perspectiva epistemológica para articular o sentido e o perfil da nova matriz de poder e
a partir da qual canalizar a nova produção de conhecimento.” -> O conhecimento colonial
corresponde a uma estrutura de poder.
GNOSE E GNOSEOLOGIA
WALTER MIGNOLO

Epistemologia (baseada na filosofia grega) x Gnose (saberes não Europeus)


DIFERENÇA COLONIAL
Transformação de diferenças em valores.

línguas e culturas européias > línguas e culturas do restante do mundo

cultura escrita > cultura oral

pensamento europeu (filosofia) > saberes indígenas/africanos

português > “pretuguês”

filosofia alemã > pensamento africano

uso de talheres > comer com as mãos

A diferença colonial dá corpo às hierarquias coloniais.


DIFERENÇA COLONIAL
CABELO FEIO X CABELO BONITO
PENSAMENTO COLONIAL
“o procedimento ‘normal’ na epistemologia moderna para des-localizar conceitos e desprendê-lo de
suas histórias locais” (2000b, p. 41).

> Logo, o procedimento “decolonial” está ligado a uma genealogia das ideias, a um retorno às origens
“locais” dos projetos globais de conhecimento.
PENSAMENTO DE FRONTEIRA

Pensamento fronteiriço se refere a: “os momentos em que o imaginário do sistema mundo moderno
racha” (2000b, p. 23).

-> Ou seja, é um pensamento que acontece no encontro. Ex: pensamento chicano; cultura brasileira em
geral (ex: “pretuguês”).
PENSAMENTO DE FRONTEIRA

O pensamento da fronteira ainda está dentro do imaginário do sistema mundial moderno,


mas foi reprimido” (23).

-> Ou seja, é preciso olhar para as margens, para aqueles que são combatidos, reprimidos,
para o que não tem espaço nas universidades, por ex.
ANÁLISE DE CONJUNTURA EM TUPI
"O professor Eduardo Navarro […] da USP,
especialista em tupi antigo e em literatura
do Brasil colonial, pesquisou documentos
escritos arquivados na Real Biblioteca de
Haia, na Holanda, que detalham disputas
entre portugueses e holandeses que
contaram com a presença de indígenas de
ambos os lados, no episódio que ficou
conhecido como Insurreição Pernambucana
(1645-1654)”
“[…]Aprende-se muito nesta aula de História
que o professor Simas nos oferece em
Umbandas: Uma história do Brasil.
Aprendemos sobre os primeiros registros
fonográficos da palavra umbanda,
conhecemos a origem dos nossos patuás e
qual a diferença entre eles e os amuletos.
Entendemos a origem de nossos rituais de
encantamento da vida, seja o que fazemos no
ano-novo ou no carnaval. E nos damos conta
de que, quer pratiquemos ou não seus ritos,
quer cultuemos ou não as suas entidades,
somos, como brasileiros, parte da história
multifacetada das umbandas.” Sinopse de
Umbandas - Livraria Travessa
Pensar a cidade como terreiro é confrontar
uma noção assentada na epistemologia
européia (cidade/pólis) com uma noção afro-
brasileira (terreiro).

É emblemático também que Simas o faça


partindo do estádio-símbolo do Rio de Janeiro
e do Brasil.

Ou seja, trata-se de uma subversão


propriamente “decolonial”. Uma subversão no
olhar. Ou, como diz Mignolo “da rigidez das
fronteiras epistêmicas e territoriais
estabelecidas e controladas pela
colonialidade do poder”.

Você também pode gostar