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AUTOS

. E DILIGÊNCIAS
DE INQUIRIÇÃO
CONTRIBUIÇÃO PARA A HISTÓRIA
DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
NO SÉCULO XVII

FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN


Joaquim Ferreira Gomes é Professor
Catedrático da Universidade de Coim-
bra. Ao longo da sua vida acadé-
mica, ocupou-se de três áreas do
saber: Filosofia, Pedagogia e Histó-
ria, áreas em que publicou alguns
livros.

a Biblioteca Nacional de Lisboa,


ob a cota COO 8846, ·guarda-se um
longo manuscrito dos "Autos e di-
ligências de inquirição ... " da "visita
da reformação" que, de 1619 a 1624,
D. Francisco de Meneses fez à Uni-
versidade de Coimbra.
Esse Manuscrito, que agora se
publica, é, como escreveu, em 1937,
o Prof. Doutor Manuel Lopes de
Almeida, "um documento inestimá-
vel para o conhecimento da vida e
costumes académicos na primeira
metade do século XVII", documento
"que bem merecia ser publicado na
íntegra ... ".
AUTOS
E DILIGÊNCIAS
DE INQUIRIÇÃO
CONTRIBUIÇÃO PARA A HISTÓRIA
DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
NO SÉCULO XVII
· AUTOS
E DILIGÊNCIAS
DE INQUIRIÇÃO
CONTRIBUIÇÃO PARA A HISTÓRIA
DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
NO SÉCULO XVII

Prefácio, Introdução e Transcrição


por
JOAQUIM FERREIRA GOMES

FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN


Esta edição reproduz o Cód. 8846
dos Reservados da Biblioteca Nacional de Lisboa

Resen,ados todos os direitos Je harmonia com a lei


Edição da
FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN
Av . de Berna I Lisboa
1989
PREFÁCIO

«Habent sua fata libelli», escreveu, há mil e setecentos anos, Terenciano


Muuru. « Us livrus têm u suu história», poderemos nús traduzir.
Se é ver.dade que todos os livros têm a sua história, o que agora se
publica, nesse aspecto, dificilmente ficará atrás de qualquer outro. É, efectiva-
mente, longa (e, por vezes, dolorosa) a história deste livro, desde o momento em
que, no dia 2 de Maio de 1619, começou a ser escrito «nas casas da Universi-
dade» até ao dia de hoje, em que, finalmente, vê a luz do dia em letra de forma.
Poucos dias depois de, em 1624, haverem terminado os «Autos e diligên-
cias de inquirição ... », o Códice teria sido levado para o Mosteiro de Santa
Cruz, onde teria estado fechado a sete chaves até à extinção das Ordens Reli-
giosas, em meados da terceira década do século XIX, altura em que teria sido
levado para a Biblioteca Nacional. Aí o leu Teófilo Braga, nos finais do século
passado. Aí, a meu pedido, foi microfilmado, há alguns anos. Para mais fácil
leitura, foi o filme, posteriormente, «revelado». Feita a leitura, escrevi-lhe uma
Introdução que foi dactilografada na primeira metade de Julho de 1986. De
então até hoje (veja-se a data deste Prefácio .. .), passou algum «tempo», que
não foi um tempo vazio, mas um tempo cheio de «acontecimentos» muito signi-
ficativos e verdadeiramente «históricos». Abstenho-me, por razões de dignidade
moral, de contar aqui, neste momento, esses «acontecimentos» que, verdadei-
ramente, são históricos.

O Manuscrito que agora se publica em letra de forma é indiscutivelmente


um documento de valor inestimável para o estudo dos costumes, das mentali-
dades e das ideias no Portugal do primeiro quartel do século XVII. O facto de
e/(' rlncrC'\'er e descnhrir ns «muitns e preiudiciais vícins». de que então enfer-
maria a Universidade, de modo algum podia ser motivo ou pretexto para deixar
que ele ucubusse pur ser devuruJu pelus vermes nu Hibliutecu Nuciunul (unJe,
aliás, neste momento, se encontra em estado de boa conservação).

7
Porque a História não é Apologia e porque um documento nem é bom
nem é mau, mas é simplesmente um documento e porque a História se faz com
documentos, publica-se agora este documento. E publica-se no momento em
que a Universidade Portuguesa comemora os seus setecentos anos de vida.
As Instituições, como os indivíduos, devem assumir-se tais quais são, com
as suas virtudes e os seus vícios, com as suas qualidades e os seus defeitos, com
as suas grandezas e as suas pequenezas. Aceitar-se tal como se é é uma atitude
de dignidade moral. Contar a História tal como ela se passou é uma atitude de
seriedade científica. Moral e ciência devem, neste caso (como, aliás, em outras
situações), dar-se as mãos.

Cumpre-me deixar aqui uma palavra de sincero agradecimento e de muito


apreço ao Dr. João Manuel Saraiva de Carvalho, pela valiosa ajuda que me
deu na leitura do Manuscrito, e ao Prof Doutor Luís Manuel Soares dos Reis
Torga/, pelas sugestões amigas com que me acompanhou.
Uma palavra de sincero agradecimento e de muito apreço merece também
o Dr. Joaquim Tomás Miguel Pereira velo árduo e meticuloso trabalho de
elaborar o Índice Antroponímico e o Índice Toponímico - Índices que muito
valorizam esta obra.

Na pessoa do Prof Doutor António de Arruda Ferrer Correia, Reitor


honorário da Universidade de Coimbra, agradeço à benemérita Fundação
Calouste Gulbenkian por haver editado esta obra.

Chão do Bispo - Coimbra, 11 de Maio de 1989

JOAQUIM FERREIRA ÜOMES

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INTRODUÇÃO

Os conflitos do século XVII e a Universidade

Todos os historiadores que 'se têm debruçado sobre o século XVJI assina-
lam o seu carácter marcadamente crítico e conflitivo ('). A conflitos bélicos, a
nível internacional, que revelam a luta dos grandes blocos pelo domínio euro-
peu, pelas zonas atlânticas da África e da América e ainda pelo controlo do
comércio da Índia, vêm juntar-se conflitos internos, resultantes sobretudo das
fomes cíclicas que se verificaram durante a centúria e tiveram como expressão
mais característica a luta contra a fiscalidade, cada vez mais pesada. Os confli-
tos sociais são, no fundo, a nota mais saliente desta época de transição
- conflitos camponeses e urbanos, nos quais se movimentam ardilosamente a
aristocracia tradicional, ciosa da manutenção dos seus direitos e privilégios, e
que, assim, ora se opõe ora se alinha em relação ao poder do Estado, os «letra-
dos», ligados à burocracia central ou participantes do poder local e regional, e
sectores da burguesia económica e financista que, a pouco e pouco, vão
tomando consciência da sua força e procuram, por isso, integrar-se nos meca-
nismos do poder. O Estado, em pleno tempo da formação e desenvolvimento,
vem, pela sua acção, criar, ele próprio, situações de carácter conflitivo, que
depois procura extinguir de forma repressiva ou através do seu controlo efec-
tivo. Visando a «organização» e o financiamento para as suas iniciativas, actua
no seio das instituições e das comunidades através dos seus «funcionários», nem
sempre aceites. A «ordem» e, tanto quanto possível, a «unidade» é o objectivo
que se propõe atingir. Assim também, frente aos debates ideológicos, que se

( ) Ver, por exemplo, R0LAND M0 USN IF.R, U!S XV/'' 1:'/ XV I/" siecles, vol. IV da Histoirc
1

Générale des Civilisations, dirigida por MAURICF. CR0UZET, Paris, P.U .F., 1967, sobretudo o
livro li; JOSÉ ANT0NI0 MARAVALL, Estado moderno y mentalidad social, 2 vols., Madrid .
Revista de Ocidente, 1972, especialmente o vol. li, parte li , e La cultura dei Barroco, 2." edição.
Madrid, Ariel, 1980.

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acenderam sobretudo nas áreas da Reforma, procurava erguer a força da sua
linha oficial. Daí que as lutas contra a « heterodoxia» se tenham revestido, no
século XVII, de uma particular importância. Se, na França, era uma máxima
«un roi, une foi, une foi», o mesmo se passava nos outros países, ainda que as
concretizações tenham sido, obviamente, muito diferentes.
O Barroco, com a sua sensibilidade de artifício e de «sensualidade», é a
estética própria deste século conflitivo. Ele é também, porém, no dizer de
Maravall, uma cultura «dirigida» e «conservadora» (1).
Não é possível, pois, esquecer esta complexa realidade quando nos propo-
mos analisar a sociedade portuguesa do século XVII ou alguns dos seus ·
aspectos.
Depois da crise social e política que se desencadeou após meados do século
XVI e que culminou com Alcácer Quibir e com a «união pessoal» ibérica,
verificou-se um clima de recuperação social que haveria de dar os seus frutos
quando, na terceira e quarta década de Seiscentos, a Espanha começou a perder
peso no xadrez político europeu. Essa recuperação não significou, porém, antes
pelo contrário, a neutralização dos conflitos. Clero e nobreza tradicionais e
«letrados», ocupando ou não o aparelho de Estado, envolviam-se nas lutas pelo
poder, enquanto os sectores populares, mais ou menos desenquadrados, se
movimentavam em revoltas inconsequentes (2).
Os cristãos-novos, a nossa burguesia por excelência, aproveitando a neces-
sidade que o Estado tinha dos seus capitais, procuravam, a todo o custo, adqui-
rir um estatuto de «cidadania» que, por sua vez, fazia aguçar a repressão anti-
-judaica, quer judicial, quer ideológica. Assim, instituições como a Universi-
dade, onde tinham ascendido à cátedra cristãos-novos, foram palco de lutas
entre grupos sociais etnicamente distintos ou supostamente diferentes. A crise
cultural do tempo - em que se perdera a criatividade humanística e se estiolava
a Escolástica - facilitaria o desenvolvimento desses conflitos e da situação geral

( ) Josf: ANTONIO MARAVALL, La cultura dei &rroco, p. 129 e ss.


1

(2) Sobre as revoltas populares portuguesas da primeira metade do século XVII, escreveu
António de Oliveira valiosos estudos, cuja leitura se aconselha: « Um documento sobre as altera-
ções de 1637», in Revista Portuguesa de História, tomo XI, vol. II, Coimbra, 1968, pp. 277-303;
«O levantamento popular de Arcozelo em 1635», in Revista Portuguesa de História, tomo XVII,
vol. II, Coimbra, 1977, pp. 1-17; « Levantamentos populares no arcebispado de Braga», in Bra-
cara Augusta, vol. XXXIV, tomo II, fase. 78(91), Julho-Dezembro de 1980, pp. 419-446; «Motim
dos estudantes de Coimbra contra os cristãos-novos em 1630», in Biblos, vol. LVil, Coimbra,
1981, pp. 597-627; «O atentado contra Miguel de Vasconcelos em 1634», in O Instituto, vols.
CXL-CXLI, Coimbra, 1980-81, pp. 7-37; «Levantamentos populares no Algarve em 1637-1638.
A repressão», in Revista Portuguesa de História, tomo XX, Coimbra, 1983, pp. 1-92; «Contesta-
ção fiscal em 1629 : as reacções de Lamego e Porto», in Revista de História das Ideias, vol. 6,
Coimbra, 1984, pp. 259-300.

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de desordem institucional. A nova regulamentação da Universidade, com os
Estatutos filipinos de 1597, e as intenções de « reforma», procuradas pelo
Estado, terão assim de se explicar também em função dessas lutas sociais e dos
objectivos «ordenadores» que então norteavam a acção política.
A Devassa à Universidade de Coimbra, cujo texto vamos publicar, não
poderá ser entendida sem ser enquadrada nesse complexo mundo de conflitos
que encheram a primeira metade do século XVII. Não é, porém, nossa intenção
proceder a uma análise da complexidade do seu contexto e das suas coordena-
das. Limitar-nos-emos a apresentar alguns dados «positivos» que possam ajudar
o investigador, a partir da leitura da Devassa, a fazer uma interpretação em
profundidade.

O « Reformador» e as suas funções segundo os Estatutos da Universidade

Trata o presente livro dos «Autos e diligências de inquirição», ou seja, da


Devassa ou Sindicância feita à Universidade de Coimbra, de 1619 a 1624, por
D. Francisco de Meneses, na qualidade de Reformador.
O primeiro Visitador da Universidade de Coimbra foi Baltazar de Faria,
nomeado por D. João III, por Alvará de 11 de Outubro de 1555 (1). Desde
então até 1834, a mesma Universidade foi inspeccionada e reformada por 29
Visitadores e Reformadores (2).
Se, nem sempre, do exercício daqueles cargos, resultou algo de verdadei-
ramente importante para a vida da instituição universitária, em alguns casos a
acção dos Visitadores e dos Reformadores foi decisiva. Basta lembrar a
Reforma que o Marquês de Pombal, na qualidade de Visitador, impôs à Uni-
versidade e que D . Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho, na quali-
dade de Reformador, procurou executar.
O presente documento ocupa-se da actividade de um Reformador que
actuou na Universidade mais de 150 anos antes de o Marquês de Pombal o
fazer, como Visitador. Se, em 1772, o Marquês-Visitador teve em mente sobre-
tudo «fundam a Universidade do futuro, em 1619, D. Francisco de Meneses,
numa sociedade de conflitos e perante uma instituição em crise, aparecia como
o garante da «ordem», procurando fazer cumprir os Estatutos.

(1) MÁRIO BRANDÃO, Documentos de D. João Ili, vol. IV, Coimbra, Por Ordem da Uni-
versidade, 1941, p. 261.
(2) ANTÓNIO DE VASCONCELOS, Relação dos Reformadores e Visitadores da Universidade,
in Escritos Vários relativos à Universidade Dionisiana, vol. II, Coimbra, Coimbra Editora, 1941,
pp. 29-34.

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Dado que o primeiro Visitador da Universidade foi nomeado em 1555, é
natural que os Estatutos de 1559 contenham um capítulo (o capítulo 137, que é
o último capítulo daqueles &tatutos) com o Regimento do Visitador e
Reformador.
Segundo esse Regimento, El-Rei mandaria um Visitador e Reformador à
Universidade de «de três em três anos, ou quando lhe a Universidade mandar
pedir, ou [a] Sua Alteza parecer que convém»(').
Era missão do Visitador e Reformador inquirir «se o Reitor, Cancelário,
lentes, oficiais e pessoas privilegiadas da Universidade servem seus cargos e lêem
suas cadeiras e cumprem com suas obrigações conforme ao que os Estatutos
dispõem em cada um deles ... » (2). Além disso, devia inquirir a respeito de todas
as mais coisas «que tocarem ao comum regimento da Universidade e à boa
recadação das rendas dela ... » ( 3).
Também os &tatutos de 1591 (impressos em 1593), no Título II do Livro
11. se ocupam Do Reformador e do que a seu ofício pertence e do Visitador
trienal.
No presente estudo, faremos referência apenas aos &tatutos de 1597 e à
Reformação de 1612, uma vez que vamos ocupar-nos de uma Reformação que
teve o seu início em 1619.
No§ 8 do Título I do Livro II dos &tatutos de 1597, que trata do Protec-
tor da Universidade, que era o Rei, lê-se: « Mandarei Reformador à Universi-
dade, quando mo ela pedir ou me parecer que convém, e Visitador, cada três
anos. Porém, oferecendo-se coisa por que pareça que a Universidade tem neces-
sidade de ser reformada ou visitada, em todo ou em parte, sem ela mo pedir e
antes do dito tempo ordinário, mandarei fazer a tal reformação ou visitação e
acrescentar os capítulos dela como melhor for para bem da Universidade; no
que lhe encarrego que me faça todas as lembranças necessárias».
O Título II do Livro 11 dos mesmos &tatutos trata Do Reformador e do
que a seu of'ício pertence e do Visitador trienal. Aí se determinava: «O Refor-
mador que eu mandar reformar a Universidade será Prelado ou pessoa grave e
de muita confiança. experiência. zelo e letras, que possa bem cumprir com as
obrigações de cargo tão importante, e o mandarei nos tempos e pela ordem
dada no Título precedente, § VIII. E, enquanto estiver servindo na Universidade
o dito cargo, precederá ao Reitor e Cancelário nas procissões, autos, conselhos
e quaisquer outros ajuntamentos. E trabalhará de fazer a dita reformação o
melhor e mais breve que puder. E será escrivão dela a pessoa que lhe nomear.
E o que pertence a seu ofício é o seguinte:

( 1) Estatwvs ela Universicladt' ele Coi111hra (1559). cap. 137 : edição de SERAFIM L EITE.
Coimbra. Por Ordem da Universidade. 196J. p. JS7.
el Oh. ât., p. JS7 .
( ') Oh. cit.. pp. JS7-JS8 .

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1. Inquirirá como vivem o Reitor e lentes, estudantes e oficiais e mais
pessoas da Universidade ; e o Reitor se cumpre o regimento do seu cargo e, em
geral, os Estatutos e, em especial, aqueles que lhe mando guardar particular-
mente, como é no Livro IV, Títul'O I, § Outrossim proverá ... e, no mesmo Livro
IV, Título IV in principio adjinem , e no Livro I, Título XIII, § Qualquer dos
Colégios in fine e em outros lugares destes Estatutos, que o Reformador procu-
rará saber, passando-os primeiro; e inquirirá como lêem os lentes e cumprem
suas obrigações; e os oficiais como servem seus ofícios e guardam os regimentos
que estes Estatutos lhes dão ; e fará tudo o mais que abaixo se diz no§ VI.
2. Achando que, em sua pessoa, o Reitor não dá o exemplo que deve ou
não cumpre com a obrigação de seu ofício, ou não guarda seu regimento no
geral ou especial, fará disto auto pelo escrivão do seu cargo e mo trará e apre-
sentará para nisso prover como me parecer serviço de Deus e bem da Universi-
dade. E todas as mais pessoas, lentes e estudantes e oficiais e quaisquer outros
privilegiados, que achar culpados ou negligentes em seus costumes, castigará
como lhe parecer justiça; e parecendo-lhe que os lentes devem ser privados ou
suspensos de suas cadeiras por mais de um ano, mo fará a saber antes de o
executar. Porém, se, em tais casos, estes Estatutos derem pena ordinária, essa
somente dará, guardando a forma deles.
3. Informar-se-á e inquirirá se o Cancelário faz bem seu ofício e cumpre as
obrigações, conforme aos Estatutos, e fará nisso todas as diligências, de que me
dará conta, para mandar prover como convém a tal cargo.
4. Visitará as Escolas Menores, que ora regem os religiosos da Companhia
de Jesus, vendo e examinando se os lentes delas cumprem suas obrigações, e do
que achar me avisará, para eu prover como me parecer serviço de Deus e bem
da Universidade. E assim visitará mais os Colégios da Universidade, conforme
ao regimento e provisões minhas que para isso levar.
5. Saberá da arrecadação das rendas, dívidas, foros, pensões da Universi-
dade e de todas as mais coisas que são de comum regimento dela, e se cada um
dos Conselhos e Congregações cumpre o que, por estes Estatutos, são obrigados
a fazer e, não o tendo cumprido, o que se puder emendar, emendará logo; e,
não podendo ser, dará ordem com que ao diante se cumpra; e os culpados
castigará com penas pecuniárias para a fábrica da Capela e confraria, e nas
mais que lhe parecer.
6. O Reitor será obrigado, no princípio do último ano do seu tempo,
fazer-me saber como tem entrado nele, lembrando-me que é tempo de se visitar
a Universidade, sob pena posta ao Vice-Reitor no Título IV deste Livro§ final;
e tanto que eu o assim souber, mandarei uma pessoa de autoridade com título
de Visitador que inquirirá como vivem o Reitor, lentes, estudantes, oficiais e
mais pessoas privilegiadas da Universidade, e como cada um deles cumpre suas

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obrigações e serve seu ofício e lê sua cadeira; e se nisso satisfazem com os
Estatutos; e, assim, inquirirá se o dito Reitor e Deputados cumpriram o regi-
mento da fazenda e o que lhes particularmente é encarregado, se arrecadaram
as dívidas, se emprestaram dinheiro da Universidade, se há lentes ou oficiais que
lhe devam ou tenham rendas dela; e esta mesma diligência fará o dito Visitador
sobre os mais Conselhos e Congregações que a Universidade tem por seus Esta-
tutos e saberá se cumprem as obrigações deles.
7. O Visitador que assim, com este nome, for enviado, levará somente
poderes para se informar e trazer-me os autos e diligências que fizer em todos
os casos acima apontados, para mandar o que for meu serviço; e não precederá
ao Reitor, nem ao Cancelário; e, querendo ele ser presente nas procissões ou
autos públicos, o Reitor lhe dará lugar e assento, acima de todos os lentes, logo
junto de si e lhe fará aquela honra e gasalhado que se deve ao cargo que leva.
8. Ao Reformador e Visitador mandarei determinar o tempo em que hão-
de começar e acabar a reformação ou visitação e o tempo do Visitador não
passará de três meses e o do Reformador ficará em meu alvedrio; e, dentro nele,
levará cada um de ordenado o que, por cada dia, lhe mandar taxar e a Univer-
sidade lhe não dará cousa alguma mais, salvo casas em que esteja no dito
tempo, sob pena de o pagar de sua casa quem lho mandar dar, e o Contador o
não levará em conta; e, nos ditos tempos limitados da reformação e visitação,
levarão nos autos das Escolas as mesmas propinas que leva o Reitor, e, antes de
entrarem a servir, receberão juramento conforme ao Título X deste livro».
Por sua vez, a Reformação de 1612 determinava: «Pela importância do
negócio e necessidade que há de a Universidade ser visitada cada três anos,
como pelos Estatutos se ordena, mando que precisa e inviolavelmente se cum-
pra; e que, com efeito, se mande Visitador, cada três anos, à dita Universidade;
e, com ele, um Contador, que reveja as contas e proveja os livros. E o Yisitador
verá todos os mandados e despesas, se são conforme aos Estatutos; e, achando
que o não são, fará restituir tudo ... »(§ 162).

A reposição da legalidade - a Devassa e os Estatutos

D. Francisco de Meneses, inquisidor ordinário da Inquisição da cidade e


arcebispado de Lisboa e seu distrito, foi nomeado Reformador da Universidade
de Coimbra por Provisão régia, escrita em Lisboa em 15 de Novembro de 1618,
devendo concluir a reformação «dentro de seis meses» e exercendo juntamente
o cargo de Reitor ( I).

(1) Um traslado desta Provisão pode ler-se infra fls. 2v., 3 e 3v. ARQUIVO DA UNIVERSI-
DADE DE COIMBRA, Registo das Provisões, Tomo 1, fls. 429v.

14
Foi nomeado escrivão da reformação, por Provisão régia, feita em Lisboa
em 6 de Março de 1619, o licenciado Agostinho de Aguiar de Figueiroa, Juiz
de Fora de Viana, para servir por quatro meses, «se, dentro neles, não vier
[documento] por mim assinado»(').
Antes de D. Francisco de Meneses, havia exercido o cargo de Visitador
D. Martim Afonso Mexia, Bispo de Lamego e eleito da Diocese de Coimbra,
que fora nomeado em 17 de Outubro de 1615, sendo Reitor D. João Couti-
nho(2). Foi escrivão dessa visitação Martim de Carvalho Vilas-Boas (3), de que
falaremos adiante.
Foi dado conhecimento da Provisão régia que nomeava D. Francisco de
Meneses Reformador e Reitor ao Claustro Universitário, em 18 de Fevereiro de
1619, pelo Vice-Reitor Frei Egídio da Apresentação que a mandou cumprir e
registar( 4 ). Era então Secretário da Universidade Rui de Albuquerque( 5).
Em 2 de Maio de 1619, «nas casas da Universidade e sólita morada do Dr.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor dela», mostrou aquele Prelado,
diante de várias testemunhas, a Provisão régia de 15 de Novembro de 1618 que
o nomeava para aqueles cargos. Por sua vez, Agostinho de Aguiar de Figueiroa
mostrou a Provisão régia de 6 de Março de 1619 que o nomeava secretário da
reformação e, logo ali, na presença do Reformador-Reitor e das referidas teste-
munhas, sobre os Santos Evangelhos jurou, segundo ele próprio escreveu, «de
fazer o que sou obrigado e de guardar sempre o segredo que convém à visita e
mais coisas que tocarem à dita reformação, e, por nenhum caso ou via, directe
nec indirecte, o descobrir em seu prejuízo, e de não receber dádivas, peitas, nem
empréstimos dos Lentes, Doutores, oficiais da Universidade, estudantes e privi-
legiados dela, e de não consentir que meus criados o façam»( 6) .
Mostradas, assim, as duas Provisões e feito o referido juramento, começou
o Reformador-Reitor, logo nesse dia 2 de Maio de 1619, a chamar perante si
testemunhas para fazer a inspecção ou «devassa» (7), de que o longo manuscrito
que temos presente constitui, como se lê no seu título, os «Autos e diligências de
inquirição» ( 8).

( 1) Um traslado desta Provisão pode ler-se infra, 11s. 3v., 4 e 4v. A. U.C., Registo das

PrcJl'isões. Torno L 11. 430.


(1) Ver. infra. 11. 144v. Ver também ANTÓNIO DE VASCONCELOS, ob. cit., p. 31.
(') Ver. infra. 11. 145.
(~) Ver 11. 3.
C) Ver 11. 4v.
(") Ver 11s. 1 e lv.
(7) Ver 11. 4v.
(~) Ver 11. 1.
O referido Manuscrito. que se encontra na Biblioteca Nacional de Lisboa, sob a cota COD
8846. e se compõe de 568 fólios (o que. contando o recto e o verso, dá mais de 1100 folhas), foi
aproveitado por Teófilo Braga. já no fim do século passado, na sua História da Universidade de

15
Durante os vários anos por que se prolongou a reformação, D. Francisco
de Meneses inquiriu cerca de 300 pessoas, entre lentes, opositores, doutores,
clérigos, estudantes, oficiais da Universidade e civis (1 ).
Os inquéritos parecem revelar o estado de decadência em que, nos começos
do século XVII, se encontrava a Universidade Portuguesa, situação, aliás, parti-
lhada, naquela época, pela maioria das Universidades estrangeiras, mas que em
Coimbra talvez fosse mais acentuada. Surge-nos, porém, a dúvida de saber até
que ponto será legítimo aceitar pacificamente os resultados de tais inqu~rito~.
E muito provável, com efeito, que ao menos algumas das acusações dos mqm-
ridos derivassem da própria situação conflitiva em que vivia a Universidade,
situação que estimulava a vingánça e o desejo de atacar certos sectores sociais e
certas pessoas. Limitamo-nos a levantar o problema, convictos como estamos
de que uma resposta conclusiva exigirá análises aprofundadas.
A leitura atenta do manuscrito que agora se publica mostra a intenção
clara do Poder de repor a legalidade. Não admira, por isso, que, como veremos
já de seguida, as acusações encontrem sempre paralelo nos vários artigos dos
Estatutos da Universidade.
Comecemos pela Capela, não só porque é essa a ordem dos Estatutos, mas
também porque a Universidade Portuguesa do século XVII era ainda, funda-
mentalmente, uma instituição eclesiástica.
Alguns dos inquiridos disseram que os ornamentos e paramentos da
Capela da Universidade nem sempre eram bem tratados e, por vezes, eram

Coimhra (Tomo li, 1895, p. 515 e ss.), onde lhe dá o título de Devassa à Universidade de
Coimhra.
Manuel Lopes d 'Almeida considerou aquele «largo inquérito» «um documento inestimá-
vel para o conhecimento da vida e costumes académicos da primeira metade do século XVII»,
documento «que bem merecia ser publicado na íntegra ... » (MÁRIO BRANDÃO e M. LOPES
n'ALMF.IDA, A Universidade de Coimbra. Esboço da sua História, Coimbra, Parte 11, p. 26).
O Códice está numerado seguidamente até à fl . 497, havendo, porém, um salto da fl. 470v.
para a fl. 473 e estando cm branco, tanto no rosto como no verso, a fls. 473v. a 497v. Além disso,
na sua parte final, o Códice é constituído por vários «apensos», quase sempre com numeração
própria.
Como a « leitura» do Manuscrito foi feita através de um microfilme, transformado em
fotocópias, e como o cotejo com o Códice original só foi feito numa fase bastante avançada do
trabalho, acontece que, devido às folhas em branco, a nossa numeração nem sempre coincide
com a do Códice.
Como esta obra se destina a leitores do nosso tempo, desdobrámos as abreviaturas e actua-
lizá mos a ortografia e a pontuação, mantendo, no entanto, as palavras da época, algumas das
quais já se não encontram nos Dicionários actuais.
1
( ) Convém lembrar aqui que, logo no começo da reformação, o Dr. António Homem,

lente de Prima de Cânones, e Martim de Carvalho Vilas-Boas, Vice-Conservador da Universi-


dade. intentaram «suspeições» contra o Reformador (Ver.f/s. J/5-J/óv.).

16
mesmo emprestados e até alugados ( 1), o que era contra as disposições dos Bta-
tutos que determinavam: o Tesoureiro da Capela «terá a Capela, no verão,
limpa e aguada; no inverno, mui bem varrida e juncada, duas vezes no ano;
uma, véspera de Todos os Santos; outra, véspera de Natal. Alimpará e concer-
tará os altares com frontais convenientes ao tempo ... Os ornamentos terá lim-
pos, dobrados, metidos em caixões decentes e os assoalhará a seus tempos;
e fará que as mais coisas estejam em boa ordem, concerto e limpeza» (livro I,
Título IV, § 2). «Não poderá o Tesoureiro emprestar ornamentos, nem outra
coisa alguma do serviço da capela; nem o Reitor lhe poderá dar licença para
fazer tal empréstimo; e todas as vezes que o Tesoureiro for compreendido em
fazer tais empréstimos, pagará por cada uma seiscentos réis, todos para a
fábrica, e esta pena pagará por cada uma peça que emprestar; e o Reitor lha
não poderá remitir, sob pena de, em consciência, a dever pagar por ele~ e, não
cumprindo as mais coisas acima apontadas, o Reitor (se logo puder ser) proverá
nisso e castigará o Tesoureiro, com parecer do lente de Prima em Teologia; e,
não podendo ser, ficará para a visitação anual...» (livro I, Título IV. § 7).

Alguns capelães da Capela da Universidade não estudavam ou até nem


sequer se matriculavam {2), o que também era contra os Btatutos que dispu-
nham que os treze capelães deviam ser todos sacerdotes, estudantes e aprovados
para ouvir uma das Faculdades: «Será obrigado cada um dos ditos capelães ...
a ouvir uma das Faculdades e, não o fazendo, serão admoestados e, se forem
revéis, serão privados da tal capelania .. » (Livro !, Título II. § 4).

Pelo menos desde há nove anos, nem o Reitor nem o Vice-Reitor haviam
mandado pôr éditos na porta das Escolas a lembrar aos estudantes a obrigação
que tinham de se confessar, nem os Mestres haviam feito essa lemhrança aos
estudantes('). Ora, nesse domínio, os Btatutos eram bem explícitos: «Todos os
estudantes, além da obrigação da Páscoa de Ressurreição, se confessarão três
vezes ao ano, scilicet, pelas festas de Todos os Santos, Natal e Pentecostes.
E para isto haver efeito, o Reitor terá particular cuidado, oito dias antes de
cada uma das ditas festas, de mandar fazer esta notificação pelos bedéis nas
lições da Prima e Véspera; e os Mestres, além desta notificação, lho lembrarão
nas ditas lições e o Reitor no Conselho. Aos quais encomendo muito que, com
seu exemplo, e com se confessarem nos tais tempos, como verdadeiros Mestres,
façam caminho a seus discípulos; e assim o confio e espero do dito Reitor e

1
( ) Ver íls. IOv .. 200, 243v., 304 e 331.
e) Ver íls. 262, 303v. e 304.
(') Veríls. 10v.e35v.

17
lentes. O qual não admitirá estudante algum à prova de curso, ou cursos, para
terem os actos, sem primeiro lhe mostrarem, por assinados de seus confessores,
que têm inteiramente cumprido com o que se contém neste Título» (livro Ili,
Título Ili). A Reformação de 1612 insiste no mesmo tema: «... ordeno que,
quinze dias antes de Todos os Santos, Natal e Pentecostes, em que os estudan-
tes são obrigados, por Estatuto, a confessar-se, se ponha édito nas portas das
Escolas, em que se lhes lembre esta obrigação, ou os bedéis, pelos Gerais, lhes
façam esta lembrança» (§ 63).

Depois destes aspectos de carácter tipicamente religioso, apontemos, sem a


preocupação de os hierarqui_zar, alguns dos muitos vícios que as inquirições
mostraram existirem na Universidade.
O Secretário da Universidade, Rui de Albuquerque, levava I vintém aos
estudantes pela matrícula ( 1), o que era frontalmente contra o disposto nos Esta-
tutos que determinavam que todos os estudantes deveriam matricular-se em
cada ano, devendo o Secretário fazer o assento «e pagarão cada um pelo tal
assento dez réis» (livro Ili, Título I e Livro II. Título XXXIII,§ 27). Por sua
vez, a Reformação de 1612 estabelecia: «E cada um dos ditos estudantes pagará
ao Secretário, que os matricular, dez réis somente, como o Estatuto dispõe.
E os Visitadores e Reformadores perguntarão particularmente por isso.
E, achando que o Secretário leva mais dos ditos dez réis, lhe farão restituir para
a Confraria tudo o mais que tiver levado; e o haverão por suspenso, por seis
meses. E não haverão por bastante desculpa não pedir o Secretário mais que os
ditos dez réis; porque, ainda que lhe dêem mais graciosamente, o não poderá
aceitar, sob as mesmas penas»(§ 58).
O mesmo Secretário aceitava dinheiro, presentes, peitas ou dádivas para
«dar» a alguns estudantes «tempo» que lhes faltava para se poderem formar ou
para poderem «provar cursos» que não tinham (2). Para mostrar que, proce-
dendo assim, o Secretário estava a infringir os Estatutos, basta lembrar o jura-
mento que ele fizera no momento da sua tomada de posse: « ... nem receberei

( ) Ver íls. 6, 6v., 7, 8v., IOv., 15, 17v., 22, 23v., 25, 27, 28, 35, 38, 42, 50, 51, 52, 52v., 53v.,
1

54, 54v., 58, 59v., 62v., 63v., 64v., 65, 67v., 68, 68v., 72, 73, 74, 75, 76, 77v., 86v., 95v., IOOv.,
102v., 108, 110, 122v., 127, 128v., 133v., 136, 139v., 140, 148, 150, 15lv., 154v., 164v., 169, 170,
171v., 172v., 174v., 175v., 179, 182v., 187v., 192v., 200v., 279v. e 287.
(2) Ver íls. 6v., 8, 8v., 9, 16v., 17, 21v. 22, 25, 27, 27v., 42, 50, 51, 64, 68, 71v., 72v., 73, 73v.,
77, 80, 83, 83v., 86, 92v., 93, 93v., 94, 94v., 95v., 100, 101 , 102, 102v., 110, l 18v., 140, 142, 142 v.,
151, 151v., 165, 171, 174, 175, 181, 182, 187v., 190, 195v., 196, 200v., 201, 201v., 202,235, 235v.,
236v., 240v., 241, 241v., 244, 244v., 246, 259v., 263, 267, 279, 280, 282, 283v., 286, 286v., 287, 289,
293v., 305, 324v., 325, 326, 326v., 327., 328, 328v., 336v., 337v., 347v., 348, 348v., 349, 349v., 351,
352, 352v., 356v., 357, 358v., 359, 389, 389v., 408, 408, 408v. e 409.

18
dádivas, nem peitas, nem empréstimos dos oficiais, ministros, rendeiros ou pes-
soas que o pretendam ser, nem de súbditos da Universidade, nem consentirei
que meus criados o façam ... » (livro li, Título XIV).
Acerca da «prova dos cursos», os Estatutos determinavam, além de outras
coisas, o seguinte: «O Secretário não matriculará nas Faculdades de Teologia
ou Medicina pessoa alguma que não seja Licenciado em Artes ou Bacharel,
com certidão de como ouviu todo o curso. E quando a matrícula houver de ser
em Direito Canónico ou Civil e a tal pessoa vier novamente começar seu
estudo, o dito Secretário o não assentará na matrícula, sem trazer certidão do
principal, de como foi examinado. E se algum, sem a dita certidão, ouvir
Direito nas Escolas Maiores, ou venham das Escolas Menores ou de fora da
cidade, todo o tempo que assim cursar e ouvir lhe não aproveitará, nem será
contado em curso, nem ele havido por estudante, nem gozará dos privilégios da
Universidade. E o Conservador e Meirinho, a instância do Reitor, ou do dito
Principal, prenderão quaisquer estudantes, de qualquer qualidade que sejam,
que, sem o dito exame e certidão, ouvirem Direito ... » (livro Ili, Título I, § 2).
«Todos os estudantes serão obrigados a provar seus cursos até o fim de
cada um ano e começarão as provas desde o princípio do mês de Junho em
diante e, passado o dito tempo sem provarem os cursos, não lhe será admitida
prova alguma depois . . . e a prova se fará ao menos por dois estudantes condis-
cípulos da mesma Faculdade ... » (livro Ili, Título l § 4).
«O Reitor não admitirá prova de curso sem primeiro ver o livro da matrí-
cula; e do dia em que nele estiver escrito o estudante, com quinze dias antes, se
começará a contar o curso» (livro Ili, Título l § 5).
« E, outrossim, não admitirá estudante algum à prova de curso, sem mos-
trar assinado dos confessores .. . » (livro 1/l Título l § 7).
«Todas as provas dos cursos se farão diante do Reitor com o Secretário ... »
(livro Ili, Título I, § 8). _
«O curso, em cada um ano, será, pelo menos, de oito meses, e aqui hão-de
chegar as provas; porém, se alguns escolares cursarem, em algum ano, seis
meses, serão admitidos a os provar e poderão suprir a falta dos dois meses com
o tempo de diante somente ... » (livro Ili, Título l § 9).

O Secretário da Universidade nem sempre assistia à tiragem dos «pontos»


e aos actos e nem sempre lavrava os termos dos actos ( 1) , infringindo assim, não
apenas os Estatutos (livro li, Título XXXl/l § 3), mas sobretudo a Reforma-
ção de 1612 que determinava: «.. . hei por bem ordenar que o Secretário e o

(1) Ver íls. 6v., 17v., 36, 59v., 85v., 95v. , 142v., 164, 164v., 167, 187, 200v., 261 , 262v. , 263,
279, 279v., 304v. e 305.

19
Bedel das Faculdades de Leis e Cânones estejam presentes quando se der o
ponto aos que hão-de ter actos de bacharéis e formados, assim como se usa nos
pontos de licenciado. Porque, de faltarem os ditos dois oficiais quando se dão
os pontos, se seguem alguns inconvenientes»(§ 126).

A acreditar no testemunho de alguns inquiridos, o Vice-Conservador da


Universidade, Martim de Carvalho Vilas-Boas, era grosseiro, caloteiro, venal,
devasso, e, em geral, não cumpria os seus deveres('}. O seu modo de proceder
era, pois, contra os Estatutos. Basta, para o comprovar, citar o Juramento que
o Conservador fazia aquando da sua tomada de posse: « ... este ofício de Con-
servador, que me é encomendado, servirei bem e fielmente, guardando em tudo
o serviço de Deus e de El-Rei nosso Senhor, a honra e proveito, liberdade,
privilégios, estatutos e bons costumes da Universidade, e às partes seus direitos,
tirando todo o ódio, amor, graça e favor, e, quanto em mim for, procurarei,
com toda a diligência, o proveito dela ... Não receberei dádivas, nem peitas,
nem consentirei que os meus criados as tomem . .. » (Livro ll Titulo XIV)(2).
Os três Bedéis da Universidade, mas, de modo mais notório, o de Cânones
e Leis e o de Medicina (3), eram «corruptos», não marcando as faltas dos lentes
e dos estudantes, aceitando dinheiro e outros presentes, ou para permitirem aos
estudantes e graduandos que trocassem as «sortes» para os actos, ou para marca-
rem a data dos actos, ou para assinalarem no livro, por meio de qualquer sinal,
o «ponto» que o aluno desejava que lhe saísse, ou pondo a correr a areia do
relógio antes do tempo, ou ainda não dando «troco» das dem,lSias do dinheiro
que lhes era entregue, a título de propinas, pelos estudantes que faziam seus
actos( 4). Entretanto, os Estatutos estipulavam formalmente: «Cada um dos
bedéis terá grande cuidado de visitar, cada dia pela manhã e à tarde, no tempo
das lições, os lentes da sua Faculdade e apontar as faltas de cada um, em um
livro ... » (Livro ll Título XLVIII,§ 1).
«O bedel de cada uma das Faculdades chamará à Congregação dela os
Lentes e Doutores ... »(§ 12).

(1) Ver fls. 111, 11 lv. , 112, l 12v., 113, l 13v., 114, l 14v., 115, l 15v., 116, l 16v., 117, l 17v.,
128, 145v., 250, 280, 297, 297v., 299v., 300, 300v. e 309.
(2) Sobre os deveres do Conservador, ver os Estatutos, Livro li, Título XXVII.
(3) «Haverá na Universidade três Bedéis: um de Teologia, outro de Cânones e Leis, e outro
de Medicina, Artes e Latinidade ... » (Estatutos, Livro li, Título Ili e Título XLVIII). Aquando
da reformação de 1619, esses cargos eram ocupados, respectivamente, por Bartolomeu Fernandes,
Gaspar de Sampaio e Gaspar de Seixas.
( 4 ) Ver íls. 7, 7v., 9v., 10, 17, 17v., 24, 29, 31, 31v., 32, 34v., 35, 35v., 36, 37, 42, 48v., 49, 85,

85v., l 19v., 120, 142v., 143, 143v., 146v., 147, 148v., 151v., 152, 156, 165v., 166, 167v., 169v., 170,
170v., 171 , 172, 172v., 180, 183, 184,187,200, 256, 256v., 261,267, 293v., 294, 304v., 305v., 367v.,
368, 368v., 369, 369v., 377v., 378, 380, 380v., 381, 383v., 384,388, 388v. e 401v.

20
«Terá cada um deles [bedéis] um rol, em que estarão escritos todos os
estudantes de suas Faculdades, com declaração do tempo em que cada um
começou a estudar e os anos que tem do estudo, para que se saiba se tem tempo
bastante para responder e arguir nos actos de exercícios que ordinariamente
hão-de fazer e a ordem que, entre si, hão-de guardar. E avisará disso ao Reitor
para os constranger a terem os ditos actos nos dias assinados e arguirem no
lugar que lhes couber»(§ 13).
«Os ditos bedéis das Faculdades em que forem os actos ou graus serão
obrigados a levar pessoalmente todos os pontos e conclusões de quaisquer actos
às casas dos Doutores, Mestres ou Lentes que podem ou devem ser presentes
nos tais actos . E assim lhes notificarão os Doutoramentos, Magistérios e mais
graus em que têm propina e devem ser presentes, sob pena de o beciel perder a
propina do tal acto, em que o Reitor o multará por si e dito Doutor que lhe
afirmar que lhe não foi levado o tal ponto ou conclusão, nem notificado o tal
grau. E a dita propina se perderá para a arca da Universidade. E se foi o acto
cm que o tal Doutor perdeu sua propina por lhe não ser notificado, será dela
satisfeito à custa da dita propina e ordenado do dito bedel. E, se o acto for de
conclusões, terá cuidado de arrecadar do sustentante tantos traslados delas,
4uantos forem necessários para dar aos Doutores e Lentes e mais pessoas que
houverem de argumentar; o que fará três dias antes do tal acto. E, no mesmo
dia que arrecadar as ditas conclusões ... »(§ 14).
«Cada um dos bedéis será avisado que não leve a alguma pessoa, para pro-
pinas, mais do que pelo Estatuto é ordenado. E tanto que se acabar o acto, até o
outro dia (o mais tardar), dará conta, com a entrega do dinheiro e propinas do tal
acto à pessoa de quem o recebeu, sob pena de ser castigado a arbítrio do Reitor e
pagará o dobro que assim mais tiver levado à parte, cujo forn (livro li. Título
XL V!li, § I 8).
Na Reformação de 1612, lê-se o seguinte: «Por ser informado que os
bedéis cumprem mal com a obrigação, que têm pelos Estatutos, de viverem
perto das Escolas e, por esse respeito, não acodem a horas a seus ofícios e ao
que têm de vigiar os Lentes pela manhã, se entram nas lições a tempo, para os
apontarem e haverem de ser multados, mando ao Reitor que apertadamente os
obrigue a que vivam perto da Universidade»(§ //6).

Quanto aos «relógios de areia», os Estatutos dispunham o seguinte:


« Haverá na Universidade uma caixa, que estará em casa do Reitor, de que ele
terá a chave, na qual estarão os relógios de areia que servem para os autos;
e serão de hora inteira; e um de meia hora, que servirá nos exames privados à
segunda lição; e não estarão estes relógios, por nenhuma via, em mão dos
bedéis, mas eles levarão de casa do Reitor os que forem necessários em suas

21
caixinhas fechadas; e o bedel que não cumprir o sobredito será multado pelo
Reitor na propina do auto e no mais que lhe parecer» (Livro /l Título XX,§ 17).
Além do Secretário, do Conservador e dos Bedéis, outros oficiais da Uni-
versidade (1), ou não cumpriam o seu dever ou abusavam dos seus cargos em
proveito próprio (2). Nem o Reitor D. João Coutinho teria conseguido evitar
enlear-se na teia da corrupção (3). Confronte-se o que deles disseram alguns dos
inquiridos com os «regimentos» a que deviam obedecer alguns oficiais, como o
Escrivão da Fazenda, o Escrivão da Receita e Despesa, o Escrivão dos Contos,
o Escrivão das Execuções, os Escrivães diante o Conservador, o Escrivão da
Ouvidoria, o Escrivão da Almotaçaria, Taxas, Armas e Apontadoria, o Conta-
dor, o Meirinho da Universidade e o Meirinho da Ouvidoria das terras e coutos
da Universidade (Livro li, Título XXXV-XLIV) e ainda com o Juramento que
todos eles haviam feito (livro ll Título XIX).

Um número significativo de inquiridos afirmou que alguns estudantes


tinham pistoletas, espingardas, terçados, facalhões e outras armas (4), o que era
terminantemente proibido pelos Estatutos: «Nenhum estudante trará armas
ofensivas e defensivas, de qualquer sorte que sejam, ainda que seja faca ou
canivete, de dia nem de noite, nas Escolas nem fora delas, pela cidade e seus
arrabaldes. Nem em sua casa poderão ter arcabuzes nem pistoletas ... » (liv. Ili,
Título IV).
A Refarmação de 1612 previa penas graves para os contraventores:
«... ordeno que os estudantes, que se acharem com armas de qualquer quali-
dade que sejam, paguem, pela primeira vez, dez cruzados para o meirinho ou
guarda e Confraria e estejam trinta dias na cadeia. A qual pena por nenhuma

(1) Sobre os «oficiais» ou «funcionários» que então tinha a Universidade, ver os Estatutos,
Livro li, Título Ili.
(2) Ver fls. 11, l lv., 25, 31v., 32, 56v., 62, 62v., 84v., 96, 105, I05v., l 17v., 135, 152v., 164,
173v., 176, 179v., 180, 185v., 210v., 211, 212v., 241v., 243v., 244v., 245, 248, 248v., 254v., 255,
255v., 257v., 264, 264v., 265, 265v., 266, 270v., 271, 271v., 272, 272v., 273, 273v., 274v., 275, 275v. ,
276v., 291, 29lv., 294, 295v., 296,302, 307v., 313, 313v., 314,319, 319v., 320, 320v., 321, 321v.,
322,361, 361v., 362, 362v., 363 e 373v.
(3) Ver fls. 145v. e 184v.
Ver fls . 20v., 27, 32v., 33v., 36v., 37, 38, 40, 41, 43, 43v., 44, 46, 46v., 49v., 50v., 5 lv., 53,
4
( )

54, 54v., 55v., 57, 57v., 59v., 6lv., 63v., 65, 66, 66v., 67, 68v., 69v., 70v., 73v., 74v., 76, 78v., 79, 82,
82v., 86, 87, 89, 90v. , 97v., IOOv., 107, I07v., 11 lv., l 13v., 114, l 14v., l 17v., 122v., 123, 125v., 126,
126v., 127v., 130v., 132, 136, 137v., 140, 148, 153, 166, 166v., 168v., 191, 196v., 197v., 198, 203v.,
204,207, 207v., 210, 213v., 214, 245v., 246, 267v., 281, 296v., 301v., 308v., 310, 3l0v., 330, 331v.,
332v,, 333, 344v., 353, 354, 354v., 359, 360, 360v., 366v., 371, 372v., 373, 373v., 374v., 375v., 376,
378, 378v., 385v., 386v., 387, 387v., 390, 390v., 391, 391v., 392v., 393v., 394v., 396v., 398v., 399,
402v., 403, 403v., 404, 406 e 406v.

22
causa se lhe poderá remitir; nem será relevada desta pena pessoa alguma de
qualquer condição e qualidade que seja. E, pela segunda vez, haja a mesma
pena e, além dela, seja privado de todos os cursos que tiver. E os que se acha-
rem com pistoletes ou os tiverem em casa, mando que se pratique neles a lei do
Reino em tudo e fiquem submetidos a ela; que se executará com maior rigor,
visto como os estudantes têm mais obrigações de a guardar, por seu hábito e
profissão» (§ 66).

Sendo tão significativo o número de estudantes que possuíam armas, não é


de admirar que alguns deles andassem em constantes brigas, por vezes sangren-
tas, algumas das quais tinham por teatro o pátio e a roda do Mosteiro de Santa
Ana, onde alguns estudantes tinham «amizades» com freiras( 1).
As armas e as brigas referidas são prova de que a Universidade seiscentista
era palco de violência, violência que, uma ou outra vez, levou mesmo estudan-
tes e lentes a pegarem-se à bulha, como foi o caso de, no dia de Santo Amaro
de 1620, porque o lente de lnstituta, Dr. António de Abreu, se negou a dar
feriado, os estudantes o «patearam» na aula e, cá fora, depois de uma troca de
palavras com o estudante Estêvão Machado, tendo aquele lente atirado com o
compêndio de /nstituta à cabeça do dito estudante, este, em resposta, «arreme-
tera ao dito Doutor e lhe dera pelo corpo uma ou duas punhadas, até virem
ambos a braços» (2).

Este ambiente de violência e certas normas demasiado rígidas dos &tatu-


tos explicam que muitos estudantes estivessem na cadeia, que era privativa da
Universidade (livro II. Título Lili), em razão do foro académico. E ocasião de
dizer (já que falámos na cadeia da Universidade) que também o carcereiro não
cumpria com os deveres do seu oficio, bastando dizer que deixava os presos sair
em liberdade algumas noites (3) e permitia que entrassem na cadeia vadios para
jogar com os presos (4).

1
( ) Ver 11s. 20v., 33, 33v., 34, 47, 47v., 55v., 57, 57v., 67, 69, 69v., 70, 75, 76, 78v., 79, 97,
97v., 98v., 99, 11 lv., 112, l 12v., l 17v., 120v., 126, 126v., 129v., 132, l32v., 136, 137, 137v., 153,
177, 196v., 197v., 198, 203v., 207, 21 lv., 212, 213v., 240v., 245v., 246,268, 268v. , 269, 269v., 270,
282, 282v., 283v., 301v., 308v., 310,323, 323v., 330, 330v., 331, 331v., 332v., 333, 333v., 344, 344.,
353, 353v., 354, 354v., 357v., 358,360, 366v., 371, 378v., 381v., 385v., 386, 386v., 387, 387v., 390,
390v., 391, 391v., 392v., 393v., 394v., 398v., 399, 402v., 403, 403v. e 404.
(2) Ver 11s. 335, 355v., 338, 338v.,339, 339v., 341 v., 342, 343, 343v., 345, 345v., 346, 346v. e
347.
(3) Ver 11. 118.
( ) Ver 11. 240.
4

23
O Vice-Conservador da Universidade, Martim de Carvalho, o lente de
Medicina, Dr. Manuel de Abreu, o lente da Véspera de Leis, Dr. João de
Carvalho, alguns funcionários e alguns estudantes viviam em mancebia(').
No que aos estudantes diz respeito, estas situações eram severamente puni-
das pelos Estatutos: «O estudante em cuja casa for achada mulher de suspeita,
ou achando-os juntos em outro qualquer lugar suspeito, havendo disso teste-
munhas, ou se do escrivão, serão levados presos (cada um por si, que não vão
ambos juntos) pelo Meirinho a casa do Conservador; e, pagando cada um
quinhentos réis, a metade para a arca da Universidade e a outra para quem os
acusar, serão soltos. E, achando-os da mesma maneira pela segunda vez, paga-
rão a mesma pena e serão presos na cadeia oito dias. E assim se fará com os
que se provar terem mancebas em sua casa, ou fora dela, e pagará cada um
deles, pela primeira vez, mil réis, repartidos pela mesma maneira; e estarão
presos na cadeia oito dias; e, pela segunda vez, haverão esta pena dobrada; e,
pela terceira vez, serão riscados da matricula e não tornarão a ser admitidos,
senão quando constar ao Reitor de suas emendas» (Livro III, Titulo 1/l § 9).
Para evitar ocasiões de tentação, os Estatutos proibiam que vivessem, da
Porta de Almedina para cima, « mulheres solteiras, escandalosas ou de mau
exemplo ... » (Livro III, Titulo III,§ 8).
A rigidez da lei levava a que, para iludir possíveis acusadores, uma ou
outra vez, algumas raparigas se vestissem com trajos de homem e andassem
com estudantes de noite (2). Mas, ao proibir as relações heterossexuais, a lei
seria também responsável, ao menos em parte, pela homossexualidade de que a
Devassa dá conta. Mas será que as acusações de homossexualidade não seriam
também, em certos casos, pretextos que tinham em vista atacar certos elementos
da Universidade, em ordem a erradicá-los do seu seio? Alguns estudantes e
eclesiásticos eram, pois, acusados de práticas de homossexualidade e sodomia
ou, como se dizia na linguagem da época, eram «fanchonos», entregando-se à
«fanchonice», cometendo o «pecado de molícias», por vezes designado também
por «pecado nefando»(3) . Mas, além deles, ao longo da Inquirição de 1619,
foram acusados de cometer o pecado de sodomia, de «fanchonice» ou de

(i) Ver íls. 14, 47v., 52v., 96v., 97, 98v .. 99, l 12v., l 15v., 116, 117, 178, 178v., 238, 24lv.,
242v .. 270v. e 386.
(') Ver íl. 210.
(1) Ver íls. 5, 5v., 13v., 14, 15v., 16, 16v., 18, 18v., 19, 23, 26, 26v., 28, 29v., 30, 39, 39v.,
41v .. 42, 42v., 44v., 45, 45v., 60v., 61, 71, 71v., 78, 90v., 91, 102v., 103, I03v., 104, 108v., 109,
109v., 111, 155v. , 159, 159v., 160, 160v., 161, 178, 196v., 216, 216v., 217, 217v., 218, 218v., 219,
219v .. 220, 220v., 221, 221v., 222, 222v., 223, 224, 224v., 225, 225v., 226, 226v., 227, 227v., 228,
228v., 230, 230v., 231, 231v., 232,233, 233v., 239,251, 251v., 253,254, 277v., 278,288, 290, 302v.,
303, 31 lv., 312, 3 l 2v., 350v., 352, 365v., 399 e 400.

24
«molícias», ou «nefando» alguns lentes, como os canonistas Dr. António
Homem e o Dr. Francisco Vaz de Gouveia ( 1), que, talvez não por acaso, eram
de etnia judaica.

( ) Ver fls . 13v., 14, 15v., 16, 18, 18v., 26, 26v., 39, 39v., 44v., 45, 45v., 73 , 86, 102v., 103,
1

104, 108v., 109, 217,223,230, 230v., 239,251, 25lv. , 252v. e 253.


Na Visitação feita pelo Bispo de Lamego, D. Martim Afonso Mexia, em 1616, o Dr.
António Homem foi acusado de ser «tido e havido notoriamente por público subornador para as
cadeiras» (/7. 544). A esta acusação, formulada em 18 de Novembro de 1616 (fls. 544-544v.),
respondeu o Dr. António Homem, 3 dias depois, em 21 de Novembro de 1616, com um texto
escrito por sua própria mão que se encontra no fim do Manuscrito que agora se publica
(11s. 544v.-548v.). Apesar da sua defesa brilhante, foi condenado em cem mil réis (/7. 549).
Um dos inquiridos na Devassa de 1619 afirmou que a fama de o Dr. António Homem
cometer o «pecado de molícias» teve a «sua origem de alguns casos que, sobre isso, lhe acontece-
ram antes da última visita e de nela o condenarem a certa cópia de dinheiro, segundo foi público»
(/7. /8v.). Deve haver aqui confusão entre o «pecado de molícias» e o crime de «subornador para
as cadeiras», pelo qual, de facto, fora então condenado. É possível, porém, que, sendo então
acusado de «pecado de molícias», o Visitador, D. Martim Afonso Mexia, tivesse «abafado» o
caso, pois nele estava implicado um seu sobrinho:« . .. foi público escândalo, na maior parte desta
Universidade e cidade, que o dito Doutor cometia o dito pecado com Jorge Mexia, o mais moço
de três sobrinhos que, nesta Universidade, trazia o Bispo de Lamego que, ao presente, está eleito
desta cidade, trazendo esta fama sua origem dos ditos sobrinhos viverem junto ao dito Doutor e
jantarem com ele de ordinário, e o dito Jorge Mexia não sair de sua casa e, por este respeito, o
dito Bispo não procedera contra o dito Doutor na sua visita que fez nesta Universidade ... » (/7. 39v.).
O Dr. António Homem, conhecido por «praeceptor infelix», foi preso pelo Santo Ofício
em 24 de Novembro de 1619, durante a reformação de D. Francisco de Meneses que, como
vimos, era inquisidor ordinário da Inquisição de Lisboa. A esta prisão não teria sido alheia a
velha inimizade entre os dois Doutores em Cânones, inimizade que resultou de, em 1610, tendo
ambos concorrido à Conezia Doutoral da Sé de Coimbra, ter o Dr. António Homem ganho o
concurso. (Sobre a tomada de posse do Dr. António Homem como capitular e sobre a do seu
sucessor, Dr. Pantaleão Roiz Pacheco, ver MANUEi_ LOPES DE ALMEIDA, Acordos do Cabido de
Coimbra, 1580-/640, Coimbra, 1973, pp. 129-130 e pp. 263-264. Ver também M . P. DA SILVA
LEAL, «Catálogo dos Cónegos Magistrais e Doutorais que a Universidade de Coimbra apresen-
tou nas Sés deste Reino, in Colecção dos Documentos e Memórias da Academia Real da História
Portuguesa», Tomo V, n.0 28, Lisboa, 1725, p. 11).
Duas acusações levaram António Homem, em 24 de Novembro de 1619 aos cárceres do
Santo Ofício e, em 5 de Maio de 1624, à fogueira : a de judaísmo e a de «pecado nefando» ou
sodomia. (Ver a sentença no Memorial de Pero Roiz Soares, Leitura e Revisão de M. LOPES DE
ALMEIDA, Coimbra, 1953, pp. 463-464v. Ver também ANTÓNIO JOSÉ TEIXEIRA, António
Homem e a Inquisição, Coimbra, 1985, e ANTÓNIO BAIÃO, Episódios dramáticos da Inquisição
Portuguesa, vol. 1, 2.ª ed ., Lisboa, 1936, pp. 109-129).
Vem a propósito lembrar que, ao longo da longa Devassa de 1619-1624, o problema do
judaísmo nem sequer foi aflorado. Apenas encontrámos três referências, e sem qualquer signifi-
cado, a cristãos-novos e a gente de nação (fls. 24v., 36v. e /07v.). Deve notar-se, no entanto, que
uma Carta Régia, de 10 de Novembro de 1621, escrita por sugestão de D. Francisco de Meneses,
determinava : «hei por bem e mando que, daqui em diante, não seja admitida pessoa alguma da

25
Segundo o testemunho de alguns inquiridos, havia lentes, bedéis e estudan-
tes que se entregavam ao vinho em excesso(').
Outros dos inquiridos afirmaram que alguns estudantes e até funcionários
da Universidade falsificavam documentos, nomeadamente «certidões» de cur-
sos (2), afirmando outros que alunos dos Colégios dos Jesuítas, nomeadamente
do de Évora e do de Santo Antão, frequentavam a Universidade sem terem
completado os preparatórios (3).

O encarregado da Livraria da Universidade, Dr. André de Avelar (outro


cristão-novo ...) retirou dela - segundo as acusações - alguns livros e até algu-
mas das cadeias que os prendiam (4 ), o que era frontalmente contra as disposi-
ções dos Estatutos: « Haverá na Universidade uma livraria pública, na qual
estarão os livros de todas as Faculdades em estantes ou almários, presos por
cadeias ...
Terá o Guarda boa vigia sobre todos os livros para que se não furtem, nem
sejam maltratados ... E porá escrito à porta dela, assinado pelo Reitor, por que
mande a todos os lentes, estudantes e quaisquer pessoas outras, que entrarem
na dita casa, que, suh poena praestiti juràmenti, nenhum deles tire livro algum,
nem ponha cotas ... e, quando achar menos algum livro, irá logo dizê-lo ao
Reitor, que mandará fazer diligência para se saber quem o levou e se cobrar e
castigar quem nisso for culpado; e, não se achando, pagá-lo-á o dito.Guarda»
(livro li. Título XLVI).

Nem sempre os «partidos» ou bolsas de estudo de Medicina seriam atri-


buídos em conformidade com o disposto no Regimento dos médicos e boticá-
rios cristãos-velhos de 7 de Fevereiro de 1604 ( 5).
Alguns estudantes de Medicina exerciam a profissão médica sem haverem
completado os seus cursos e, nomeadamente, sem haverem feito os actos de

nação a nenhuma oposição» (Ver J. J. DE ANDRADE E SILVA, Colecção Cronológica da Legisla-


rão Portuxuesa, 1620-/627, Lisboa, 1855, p. 57). ·
Sobre o anti-judaísmo de O. Francisco de Meneses, quando Bispo do Algarve, ver JOA-
()lllM ROMERO MAGALHÃES, «E assim se abriu judaísmo no Algarve», in Revista da Universi-
clade de Coimhra, vol. XXIX ( 1983), pp. 1-73.
(1) Ver lls. 13, 118, l 19v., 133, 152, 152v. e 370.
e> Ver lls. 9, 24v., 81, 94, 129, 129v., 130, 138v., 141, 141v., 147v., 149v., ISO, 174, 181v.,
182, 182v., 241v., 370v., 382, 382v., 383,395, 395v., 396 e 397v.
(1) Ver lls. 81, 120, 120v., 121, 121v., 122, 129, 129v., 138, 138v., 141, 370v., 383,395, 395v.,
396 e 397v.
( ) Ver lls. 273, 274, 363 e 363v.
4

C) Ver lls. 19, 9lv., 92, 92v., 94v., 162, l62v., l64v., 174, 259v., 260, 261v., 263, 307v., 355,
355v. e 379v.

26
prática( 1), o que era proibido pelos &tatutos e mandado punir pela Reforma-
ção de·1612. Com efeito, os &tatutos dispunham: «Nem [o bacharel em Medi-
cina] poderá curar sem, além disso, ter feito o auto de prática, conforme ao
Título XLIX, § final deste Livro» (livro Ili, Título XIX). Por sua vez, a
Reformação de 1612 determinava «que o Físico, que curar, sem ter os actos
que o Estatuto aponta, pague trinta cruzados pela primeira vez, a metade para
cativos e a outra metade para o acusador, e incorra mais em dois anos de
degredo para fora da vila e termo; e, pela segunda vez, incorra em todas as
ditas penas em dobro»(§ 12/).

No fim de todos os actos académicos em que era necessário aprovar ou


reprovar o candidato, cada membro do júri votava por A ou por R. Para isso, a
cada um deles, era distribuído um papelinho com a letra A e outro com a letra
R. Ora, às vezes, acontecia que, tendo o candidato levado um R., o júri voltava
a votar para que o candidato ficasse aprovado só com AA, isto é, nemine
discrepante, ou, como hoje se diz, por unanimidade (2). Este modo de proceder
do júri estava em oposição com o disposto nos &tatutos: «Tendo-se uma vez
votado, em qualquer das ditas aprovações, não se poderá tomar a tomar votos,
salvo se, antes de se regularem, algum dos votantes disser que, por erro, lhe
ficou a letra que queria lançar; e, de outra maneira, o Cancelário não o consen-
tirá, sob pena de quarenta cruzados, ametade para a arca da Universidade e a
outra metade para a arca da Faculdade; e o Secretário será obrigado a requerer
a execução da dita pena. E, posto que o Secretário e toda a Congregação con-
sintam que se tome outra vez a votar, mando ao Secretário que não faça acta
senão do primeiro escrutínio; e nenhuma menção fará do segundo, sob pena de
vinte cruzados para a arca da Universidade e de perdimento do seu ofício.
E isto que dito é se guardará, sob as mesm~ penas, em todos os mais actos em
que se votar por AA e RR ... » (livro Ili, Título XXXV/II,§ 27).

Alguns funcionários e sobretudo professores - insistentemente aparece o


nome do Dr. António Homem ... - praticavam o suborno por ocasião das
oposições às cadeiras (3), o que era expressamente condenado pelos &tatutos e
pela Reformação de 1612. Com efeito, os &tatutos determinavam : «Nenhuma

(1) Ver fls. 11, 12, 14v., 15, 93v., 94v., 171, 171v., 261, 261v., 263 e 293v.
(2) Ver fls. 95, 139, 184, 184v., 194v., 201v., 202,206 e 263.
(3) Ver lls. 16, 22, 26v., 84, 84v., 85, 100, 115, 134, 134v., 157v., 158, 181v., 183, 183v., 189,
194, 198v., 199, 199v. e 205v.
Como dissemos atrás, já na Visitação de 1616, o Dr. António Homem fora condenado a
cem mil réis por ser «tido e havido notoriamente por público subornador para as cadeiras» (Ver
jls. 544-549).

27
pessoa da Universidade, publica nem secretamente, directe nem indirecte,
encomendará a justiça de algum dos opositores na cadeira que estiver vaga, ou
das que se esperem que vaguem. Nem suborne, nem negoceie por via alguma,
sob pena de ficar inábil para votar na tal cadeira, se for voto; e se não for e
tiver já votado, estará quatro dias preso e pagará cinco cruzados para a arca da
Universidade. E, se o tal for Doutor, Mestre ou Licenciado, incorrerá em pena
de dez cruzados; e, sendo Lente, em pena de vinte cruzados para a dita arca,
pela primeira vez, e, pela segunda, o Doutor, Mestre ou Licenciado pagará
vinte e o Lente pagará quarenta cruzados; e, pela terceira vez, perderá uma
terça da sua cadeira. E, sendo compreendido daí para diante, será privado das
rendas e preeminências de seu grau na Universidade» (Livro III, Título VI,
§ 45).
Por sua vez, a Reformação de 1612 dispunha: «Hei por bem que o Reitor,
ex officio, seja obrigado a tirar devassa dos opositores das cadeiras que saírem
fora de suas casas ou Colégios durante a vacatura; e proceda contra os culpa-
dos, posto que os opositores se tenham decido das inabilidades pessoais, e os
inabilitará na forma do Estatuto. E o Reformador e Visitador, quando forem à
Universidade, perguntarão particularmente por isto, e se o cumpre assim o Rei-
tor» ( § 76). Um pouco adiante, voltava ao assunto: « ... mando especialmente
aos ditos Lentes e oficiais, sob pena de perderem uma terça de seus salários, não
subornem por opositores, nem encomendem sua justiça em público, nem em
secreto. E o Reitor, depois de providas as cadeiras, tirará devassa dos ditos
Lentes e oficiais e principalmente do Secretário, por nele concorrerem maiores
inconvenientes» (§ 78).

Também na eleição dos Reitores e dos vice-Reitores se praticavam subor-


nos ( 1), o que, como no caso dos opositores, era, sem dúvida, contra a letra e
sobretudo contra o espírito dos Estatutos (2).

A vida escolar da Universidade dos começos do século XVII deixaria muito


a desejar. Os professores davam poucas aulas, limitavam-se, muitas vezes, a
leccionar apenas uma pequena parte do programa, não esclareciam os aíunos
nas suas dúvidas e, no que concerne à Faculdade de Medicina, limitavam-se a
« ler» algumas partes de alguns livros de antigos médicos gregos e árabes, descu-
rando a parte «experimental», nomeadamente a «anatomia» e as «visitas» ao
Hospital.

1
( ) Ver fls. 19v., 20, 36v., 58v., 59, 59v., 87v., 88, 88v., 96, 150v., 199 205 246 246v. 247
405 e 405v. ' ' ' ' '
(1) Sobre a eleição do Reitor, ver os Estatutos, Livro li, Título IV.

28
Este estado de decadência é confirmado pelos testemunhos de alguns dos
inquiridos na Devassa de 1619-1624. Assim, o Dr. Francisco Mendo Trigoso,
lente de Medicina, dava poucas aulas e o bedel não lhe marcava as faltas ( 1),
como mandavam os Estatutos (2). Por sua vez, os lentes de Cânones gastavam
mais tempo do que deviam na exposição de algumas matérias, com prejuízo de
outras (3), o que também era contra os Estatutos (4).

A Faculdade de Medicina seria porventura a que mais deficiências apresen-


tava. Basta dizer que o Dr. João Bravo, lente de Véspera e a substituir o de
Prima, passava todo o tempo da aula a ditar e não explicava a lição, desde há
longos anos limitava-se a «ler» (ou a ditar) o Nono ad Almansorem e, no fim
da aula, não ficava à porta da sala para resolver as dúvidas dos alunos (5), como
mandavam os Estatutos (6). O Dr. Gonçalo de Paiva, lente de Avicena, dada a
sua velhice, os alunos não o ouviam nem entendiam (7).
Quanto à Anatomia, de que estava encarregado o lente de Noa que, na
altura, era o Dr. Martim Gonçalves, ela, ou não era feita, ou era feita em
um carneiro (8). Ora, os Estatutos e sobretudo a Reformação de 1612, embora
sem serem suficientemente avançados, exigiam um pouco mais. Efectivamente,
os Estatutos determinavam: « ... e juntamente o lente desta cadeira [de Noa]
fará anatomia de membros particulares seis vezes cada ano e três gerais ... »
(Livro III, Título V). Por sua vez, a Reformação de 1612 era um pouco mais
exigente: «Hei por bem e mando que, do Hospital da Cidade de Coimbra, se
dê, em cada um ano, um sujeito humano, ou dois, para se fazer anatomia,

(1) Ver fls. 242v. e 243.


(2) «Cada um dos bedéis terá grande cuidado de visitar, cada dia pela manhã e à tarde, no
tempo das lições, os lentes da sua Faculdade e apontar as faltas de cada um em um livro .. . »
(Livro li. Título XLVIII.§/).
{3) Ver fls. 119 e 119v.
( ) « . .. nem gastarão nos capítulos ou leis mais lições do que são necessárias para examina-
4

rem as próprias matérias que são do texto que lêem» (Livro Ili. Título XI.§ 5).
(') Ver fls. 19, 19v., 89v., 106, 107v., 133,243 e 259.
(") ,ffodos os lentes de cadeiras grandes lerão com muito estudo, cuidado e diligência,
declarando muito bem a letra dos textos, com todos os notáveis e principais entendimentos
deles ... e escolhendo, em cada uma destas coisas, do que os Doutores escrevem, o necessário e o
mais principal, e acrescentando, de sua parte, o que, por seu talento e trabalho, puderam entender
e alcançar; resolvendo-se naquelas opiniões e conclusões que, a seu parecer, forem verdadeiras»
(Livro Ili, Título XI, § 3).Um pouco adiante, determinava-se: «Os lentes, no fim de suas lições,
estarão às portas do Geral em que lerem, da banda de fora, o tempo que for necessário para
responder às dúvidas que os discípulos lhes moveram sobre as lições ... » (livro Ili, Título XI,§ li).
<7) Ver fls. 89v. , 133 e 170v.
(") Ver fls, 19v., 106, 106v. e 259v.

29
como se usa em Salamanca, porque as que se fazem em outros sujeitos não são
de consideração. E estas anatomias se farão públicas e gerais no Inverno, por-
que ao menos hão-<le durar três dias»(§ 103). . A

Quanto às «visitas» ao Hospital, os lentes a quem cumpna faze-las - o


Dr. João Bravo e o Dr. Gonçalo de Paiva - não as faziam e encarregavam
dessa tarefa alguns estudantes (1). Ora, quer os Estatutos quer a Reformação de
1612 eram bem explícitos quanto a execução dessa obrigação. Com efeito, ~s
Estatutos determinavam: «Os lentes de Prima e Véspera e Avicena, em Medi-
cina, serão obrigados a visitar o Hospital às terças do ano, c~mo,_se dispõe no
Título 55 deste Livro; e haverão pelo seu trabalho doze mil reis cada um»
(Livro Ili, Titulo V, § 26). O citado Título_ 55 dispu~~a: «os trê~ Doutor~s
lentes de Prima Véspera e Avicena serão obngados a v1s1tar cada dia o Hospi-
tal da Cidade (~nquanto o não há da Universidade) para, com isso, se instru!-
rem os estudantes na prática; e será às terças do ano, a saber, o lente de Avi-
cena visitará a primeira terça, visto como nela há poucos doentes; na segunda
terça, visitará o lente de Prima; e, na derradeira, o de Véspera; e haverá cada
um pelo trabalho doze mil réis cada ano. Esta visitação durará três quartos de
hora» (Livro Ili, Titulo LV).
A Reformação de 1612 determinava: « Hei por bem que as visitas do Hos-
pital comecem a primeira terça pelo lente de Prima, a segunda pelo de Véspera
e a terceira pelo lente de Avicena, pois as doenças mais perigosas são as outo-
nais, de Setembro, Outubro, Novembro, e as hiemais, de Dezembro, Janeiro,
Fevereiro, em que os lentes de Prima e Véspera devem acudir, como mais dou-
tos e experimentados. E, além disso, na primeira e segunda terça, há estudantes
e cursam, e de vinte e um de Abril por diante, em que começa a terceira terça,
se vão os mais deles, pelo que ficaria o lente de Véspera, que tinha a derradeira
terça, sem praticar e os estudantes privados deste proveito. E esta visita não
poderão os ditos lentes mandar fazer por outrem, salvo tendo legítimo impedi-
mento» (§ 114).

1
( ) Ver fl. 261. Ao que parece, não seria apenas na Universidade que o Dr. João Bravo
Chamiço não cumpria integralmente os seus deveres. Com efeito, nomeado médico do Cabido da
Sé de Coimbra em Setembro de 1606, foi despedido pelos Cónegos, a pedido do Bispo, em
Março de 1611 (Ver MANUEL LOPES DE ALMEIDA, Acordos do Cabido de Coimbra, 1580-/640),
Coimbra, 1973, pp. 115-116 e pp, 133-134.
É de crer que a atitude do Prelado diocesano esteja ligada com os ataques que o Dr. João
Bravo Chamiço fez, na Câmara de Coimbra, de que «a Companhia dos Padres nos tinha viciado
e quase corrupto o ar, a água e os mantimentos e, pelo conseguinte, eram causa de quase todas as
enfermidades malignas que, de pouco tempo a esta parte, continuavam nesta cidade . .. » (Ver
A. DA ROCHA BRITO, « Uma grave questão de higiene na Câmara seiscentista de Coimbra», in
Arquivo Coimbrão, vol. XI, Coimbra, 1952, pp. 348-384).

30
Para terminar a enumeração do conjunto dos principais «vícios» aponta-
dos à Universidade pela Devassa de 1619, digamos ainda que um dos inquiridos
afirmou que os lentes não faziam as «Repetições» que eram obrigados a fazer
em cada ano (1) e que outro dos inquiridos afirmou que os Prelados eleitos
eram aprovados «por testemunhos dos lentes, dados sem serem por actos públicos
de conclusões» (2), o que, em ambos os casos, constituía uma infracção ao dis-
posto nos Estatutos e, no primeiro caso, também à Reformação de 1612. Com
efeito, no que concerne às «Repetições», os Estatutos determinavam: «os lentes
de propriedade de todas as quatro Faculdades farão Repetição pública (que
durará uma hora), em cada ano, na casa dos actos públicos, até dia de S. João
Baptista, das matérias que lerão no ano próximo» (Livro Ill Título XV), sendo
os lentes que o não fizessem condenados «em pena de quinze cruzados» (Livro
III, Título XV, § 5). Por sua vez, a Reformação de 1612 estabelecia: «Porque
sou informado que os mais dos lentes não fazem as Repetições como pelos
Estatutos são obrigados e querem, antes, perder a propina delas, ordeno que os
lentes de Leis e Cânones, e assim os das outras Faculdades, façam suas repeti-
ções, no tempo que o Estatuto lhes ordena; e se lhes não pague suas terças sem
certidão de como têm feito a Repetição e está entregue no Cartório, onde se
guardam para se imprimir» (§ 95).
No que diz respeito aos Prelados, os Estatutos determinavam : «quando
algum nomeado para Bispo pedir à Universidade a aprovação que requer o
Sagrado Concílio Tridentino, ordeno e mando seja obrigado a vir a ela e a dar
mostras de sua suficiência ... » (Livro I, Título XIX) (3).

Eram estes, fundamentalmente, segundo a Devassa, os «muitos e prejudi-


ciais vícios» de que então enfermava a Universidade (4).

(1) Ver fl. 35v.


<2) Ver fl . 280.
(3) Convém notar aqui que, quanto a este aspecto e num caso concreto, D. Francisco de
Meneses fez cumprir os Estatutos, mesmo contra a vontade régia : «No Claustro de 22 de Feve-
reiro de 1622, se leu uma Carta de El-Rei, de nove do dito mês, pela qual ordenava que o
Reformador propusesse nele uma petição de D. João de Alencastre, Capelão-Mor e Bispo eleito
de Lamego, para se lhe dar atestação da sua suficiência, por não ter o grau de Doutor nem
Licenciado, sem embargo de a não vir pedir pessoalmente, e se assentou que se lhe não podia
passar sem vir fazer um acto à Universidade, na forma que dispõem os Estatutos » (FRANCISCO
CARNEIRO DE FIGUEIROA, Mem órias da Universidade de Coimbra, 1937, pp. 131-132).
( ) Ver fl. 315.
4

Iúminada a exposição dos «muitos e prejudiciais vícios» de que, segundo a Devassa de


1619-1624, enfermava a Universidade nos começos do século XVII , impõe-se notar - embora
apenas numa simples nota de roda-pé ... - que, comparando o número dos «acusados» com a
população universitária de então, quer do corpo docente quer do corpo discente, somos levados a
concluir que esses «vícios», apesar de «muitos e prejudiciais», não atingiam toda a Escola. Efecti-
vamente, durante o primeiro vinténio do século XVII , professaram em todas as Faculdades da

31
A constituição da Junta. O prosseguimento da Devassa.

Depois de inquiridas mais de duzentas pessoas, em 2 de Janeiro de 1620, o


escrivão da reformação leu uma Carta, escrita em Madrid e datada de 16 de
Dezembro de 1619, dirigida ao Reformador, em que El-Rei lhe nomeava para
adjuntos os Doutores Frei Vicente Pereira, lente de Prima de Teologia, Frei
João Aranha, lente da cadeira grande de Escritura, e Luís Ribeiro de Leiva,
lente de Decreto. Juntamente com D. Francisco de Meneses, estes três lentes
constituiriam uma Junta, cuja missão seria tomar conhecimento de todos os
compreendidos na devassa da reformação, de que o Reformador já havia dado

Universidade de Coimbra alguns Mestres de excepcional valor. Basta lembrar, na Faculdade de


Teologia, Francisco Suarez, o Doctor E.ximius, cuja obra ecoou longe nos meios teológicos,
filosóficos e jurídicos, e Cristóvão Gil, cujo pensamento teológico ainda hoje merece a atenção e o
estudo dos especialistas. Se, nas outras Faculdades, o brilho atingido não luziu com tanto fulgor,
também nelas houve Mestres que honraram a Escola e o País. Deve ainda recordar-se que alguns
escritores de grande mérito, como Frei Amador Arrais, Gabriel Pereira de Castro e Pedro de
Mariz, fizeram a sua formação, naquela época, na Universidade de Coimbra (Ver EUGÉNIO DE
CASTRO, «O P.' Francisco Suarez em Coimbra - Notas sobre alguns dos seus contemporâneos e
amigos», in Revista da Universidade de Coimbra, vol. VI (1917), pp. 5-41).
No que diz respeito aos estudantes, convém distinguir as Escolas Menores ou Colégio das
Artes e as Escolas Maiores ou Universidade propriamente dita. O Colégio das Artes, de que
muitos alunos foram inquiridos na Devassa, era muito frequentado na época, até porque era
então a única escola «oficial» do ensino secundário - um ensino que, aliás, conferia graus aca-
démicos e, por isso, estava integrado na Universidade. Infelizmente, não dispomos de dados que
nos permitam quantificar com precisão a sua frequência, dado que os livros das matrículas desa-
pareceram, na sequência da extinção da Companhia de Jesus pelo Marquês de Pombal.
Quanto à Universidade ou Escolas Maiores, dispomos de números precisos. Durante o
quinquénio que durou a «reformação» (1619-1624), a Universidade era frequentada por mais de
5000 alunos. Com efeito, durante esse período, matricularam-se na Faculdade de Teologia 213
alunos; na de Cânones, 3389; na de Leis, 1431; e, na de Medicina, 333 - o que pe1faz um total
de 5366 alunos. A média anual de rriatrículas, durante aquele quinquénio, foi de 1073 alunos : 43
em Teologia; 678 em Cânones; 286 em Leis; e 66 em Medicina (Ver ANTÓNIO DE VASCONCELOS,
ob. cit., vol. II, p. 120 e p. 122).
A quase totalidade dos estudantes que então frequentavam a Universidade andavam pelos
40 anos de idade quando, em 1640, se deu a Restauração da independência nacional. Sem dúvida
que, pelas virtudes morais que lhes incutiu, a Universidade não teria sido de todo alheia à prepa-
ração e consolidação daquele feliz acontecimento. É interessante notar que um dos inquiridos na
Devassa foi Manuel Saldanha, estudante canonista (ver jl. 58), que, em 1640, era Reitor da
Universidade, cargo em que se houve com grande dignidade e patriotismo, chegando mesmo, na
sua qualidade de Reitor e de General das Armas dos Coutos da Universidade, a comandar um
batalhão de 630 estudantes que marcharam para o Alentejo, em defesa da independência da
Pátria (Ver FRANCISCO CARNEIRO DE FIGUEIROA, ob. cit., p. 135 e ss.). Bastaria este facto para
mostrar que, embora enfermando de «muitos e prejudiciais vícios», a Universidade de Coimbra,
mesmo naquela época de decadência, continuou a ser a fecunda Alma Mater, um grande viveiro
de formação de homens.

32
conta a El-Rei, e formar-lhes «cargos» ou «acusações» dos «muitos e prejudi-
ciais vícios» que a devassa trouxe à superfície, para que, em termo breve, res-
pondessem a cada um por escrito e, vista a sua resposta, os sentenciassem ... e
desse conta ao dito Senhor das sentenças, antes de se publicarem». A Junta
poderia mandar prender alguns dos culpados, se o achasse conveniente. Se
acaso algum adjunto estivesse impedido de exercer as suas funções, poderia o
Reformador, ouvido o parecer dos outros, nomear outro em sua substituição.
Mandava ainda a Carta que o Reformador remetesse aos adjuntos «as
suspeições que lhe intentaram os Drs. António Homem e Martim de Carvalho e
todas as que mais lhe intentaram, para que todos -três conheçam delas e as
despachem como for justiça» ( 1) .
Lida esta Carta, foi entregue pelo Reformador aos adjuntos outra Carta,
da mesma data, em que El-Rei lhes comunicava que houvera por bem nomeá-
los adjuntos de D. Francisco de Meneses, para o coadjuvarem nas tarefas da
reformação, do modo como atrás foi referido (2) .
Logo a 3 de Janeiro de 1620, a Junta mandou prender sete estudantes,
entre os quais Manuel de Miranda, estudante canonista (3). ao qual, mais
adiante, voltaremos a referir-nos. Em 18 de Janeiro seguinte, mandou prender
mais três estudantes (4). Em 11 de Fevereiro do mesmo ano, ordenou: «seja
preso em sua casa sobre a sua homenagem, pela culpa desta devassa, Rui de
Albuquerque, Secretário desta Universidade, e perguntem-se as testemunhas
referidas>• (5) .
Entretanto, prosseguiam, em bom ritmo, as inquirições.
Como algumas das pessoas anteriormente inquiridas ou referidas nessas
inquirições já não residiam em Coimbra, a Junta recorreu, em alguns casos, a
autoridades do local onde então tinham residência. Assim, por Ofício de 23 de
Janeiro de 1620, mandou ao Chanceler da Relação e Casa do Porto, Jerónimo
Pimenta de Abreu, que «perguntasse» pessoalmente os desembargadores da
Relação do Porto Luís Pereira de Castro e Cid de Almeida se, quando fizeram
«oposições» na Universidade, houve algum suborno (6) . Ambos se esquivaram o
melhor que puderam às perguntas, respondendo, em resumo, que não estavam
lembrados .. . (7) .

(1) Ver íls. 315-316. Um traslado desta Carta pode ler-se a íls. 316v.-317v.
(2) Ver íls. 315v.-316v. Um traslado desta Carta pode ler-se a íls. 317v.-31li.
(3) Ver íl. 318v.
4
( ) Ver íl. 334.
(5) Ver íl. 334v.
( 6)Veríls. 411 a 412.
(7) Veríls. 415a417.

33
Por Ofício de 28 de Janeiro de i620, a Junta fez saber ao Ouvidor da vila
de Setúbal, Cristóvão Moniz de Freitas, que lhe constara que Francisco Gago,
bacharel formado em Leis, havia dito em Coimbra, há cerca de um ano, que
ouvira dizer a um outro bacharel formado em Leis que o Secretário da Univer-
sidade lhe «dera» sete meses que lhe faltavam para se formar e que o estudante
André de Figueiredo dissera a um Doutor da Universidade que o mesmo Secre-
tário havia «dado» a um estudante legista de Évora três anos. Mandava, por
isso, que os chamasse perante si e os perguntasse e inquirisse sobre a verdade
desses dito~ (1). Nas suas respostas, um pouco evasivas, os inquiridos foram
dizendo que «se murmurava» que o Secretário levava dinheiro ... (2).
Por Ofício de 31 de Janeiro de 1620, a Junta mandou ao Corregedor da
comarca de Castelo Branco, Paulo Leitão de Abreu, que inquirisse Pero Geral-
des, bacharel formado em Cânones, Bartolomeu Nunes e Francisco Branco,
naturais de Idanha-a-Nova, para saber se, de facto, Pero Geraldes mandara ao
Secretário da Universidade duas peles de cordovão, meia dúzia de queijos e
algum dinheiro, para que lhe «desse» o tempo que lhe faltava para se formar ou
para que lhe incorporasse os cursos que tinha da Universidade de Sala-
manca (3) . Neste lugar, o Códice está bastante deteriorado (talvez devido ao tipo
de tinta utilizada), o que não permitiu uma leitura integral do texto. Este facto
faz tomar ainda mais confusa a resposta, em nosso entender já de si um pouco
confusa, do Corregedor. Com efeito, por um lado, afirma que Pero Geraldes
estava a estudar em Salamanca e, por outro lado, diz que o prendeu em sua
casa (4). Quanto a Francisco Branco, diz que «não há tal nome na vila de
Idanha-a-Nova nem seu termo>>(5). mas que, no lugar de Oledo, termo de
Idanha-a-Nova, vivia Francisco Fernandes Branco, o qual, porque «estava
estudando em Salamanca», «não foi possível perguntá-lo>> (6) . Mais adiante,
reafirma-se que, em Idanha-a-Nova, «não há pessoa nenhuma que se chame
Francisco Branco» (7). Quanto a Bartolomeu Nunes, «não está nesta dita vila,
porque estuda na Universidade de Salamanca» (g)_
Por Ofício de 4 de Fevereiro de 1620, dirigiu-se a Junta ao prior do Con-
vento de S. Domingos da vila de Amarante, Frei Gaspar de Góis, solicitando-
-lhe que perguntasse Francisco de Macedo, clérigo daquela vila, e um criado

1
( ) Ver 11s. 424 a 425.
(2) Ver 11s. 421, 426, 427, 427v. e 428.
(3) Ver 11s. 431 a 432v.
( ) Ver 11s. 429, 429v. e 434.
4

5
( ) Ver 11. 429v.
( ) Ver 11. 429v.
6

(7) Ver 11. 435.


( ) Ver 11. 435.
8

34
seu, de nome Pereira, para saber se realmente o dito clérigo dera presentes ao
Secretário da Universidade para que este lhe «desse» o tempo que lhe faltava
para completar os seus cursos (1). Interrogado, Francisco Macedo de Sousa
disse ser amigo do Secretário da Universidade, mas «que não ouvira dizer a
pessoa digna de crédito que o dito Rui de Alhuquer411e tomava peita<; nem
dádivas ... por dar tempo para suprimento de cursos .. . » (2). Por sua vez, Manuel
Pereira, criado do referido licenciado, «disse que é ve1Jade e sabe que o dito
Francisco Macedo corria com amizade com o Secretário Rui de Albuquerque,
mas que é verdade que ela testemunha nunca, de mandado do dito Francisco de
Macedo, seu amo, levou ... » (3).
Por Oficio de 4 de Fevereiro de 1620, dirigiu-se a Junta a João Álvares
Brandão, do Conselho Geral do Santo Ofício, para que fossem perguntados
Manuel Soares de Moura, Alberto Serrão, Manuel Camacho e Domingos
Rodrigues. Segundo se lê no Ofício, Manuel Soares de Moura, quando estu-
dante, teria dito, perante Henrique do Quintal, a Alberto Serrão, que fora ao
Secretário da Universidade «oferecer-lhe dez mil réis por uns meses que lhe
faltavam para se formar, que eram seis» e, ao regressar da casa do Secretário,
teria dito que vinha «aviado». Na segunda parte do referido Ofício, diz-se que
Manuel Camacho dissera que o Secretário dera a um estudante «um pouco de
tempo em seus cursos para fazer seus autos» e ainda que, não tendo um estu-
dante a certidão para poder provar determinado curso, o Secretário disse que se
lembrava de lha haver passado e, sem certidão, lavrou-se o termo do acto que
algumas testemunhas, entre as quais Domingos Rodrigues, provaram( 4) . Em
resposta a esta inquirição, Domingos Rodrigues testemunhou que o Secretário
«dera dois anos de curso ao dito Gonçalo Vaz>>(5) e que ouviu dizer «que o dito
Gonçalo Vaz dera ao dito Rui de Albuquerque dinheiro por razão do sobre-
dito >•(6) : Manuel Camacho disse que, de nenhuma daquelas questões, sabia
coisa alguma (7) : Manuel Soares de Moura disse que o Secretário lhe não dera
tempo, mas que este lhe fora concedido por mercê de Sua Majestade e «que
nunca dera dinheiro nem outra coisa alguma ao dito Secretário .. . »( 8) : por sua
vez, Alberto Serrão disse que o Secretário não dera tempo, por dinheiro, a

(1 ) Ver 11s. 4JY-44U.


(2)\-:rll.441 .
(3) Ver fl . 442v.
( ) Ver fls. 447 a 449.
4

(5) Ver fl . 451 v.


( 6) Ver fl . 452.
(7) Ver fl. 452v.
(8) Ver fl . 453.

35
Manuel Soares de Moura, mas que este o houvera por provisão de Sua Majes-
tade('), afirmando ainda que não sabia que houvesse fama pública de o Secre-
tário «dar ou vender tempo por dinheiro ou peitas ... » (2).

As cartas régias para a Junta. Alterações na constituição da Junta.

No Códice, de cujo conteúdo estamos a apresentar um resumo, segue-se,


nesta altura, uma série de Cartas Régias que mostram quão frequente era o
carteamento entre o Reformador e a Corte de Madrid e nos fornecem notícias
valiosas sobre o andamento da Devassa. Foram essas Cartas mandadas apensar
aos «Autos e diligências de inquirição» quando a reformação estava a chegar ao
seu termo. Com efeito, foi em 8 de Outubro de 1624, quando D. Francisco de
Meneses era já Bispo eleito de Leiria e quando Frei Gregório das Chagas e Frei
António da Ressurreição eram «adjuntos que foram da execução desta
devassa» que mandaram ao Secretário Pero Soares transcrever nos Autos «as
provisões e cartas de prorrogação do tempo do dito Senhor Reformador
e sobre outros particulares, tocantes e pertencentes à execução da dita
devassa ... » (3).
Vem a propósito abrir aqui um parêntesis para recordar as transformações
por que passou a constituição da Junta ao longo da Devassa. Tendo Frei João
Aranha falecido em 18 de Outubro de 1620, foi substituído, em 22 desse mês,
por Frei Gregório das Chagas, lente de Escritura (4). Tendo Frei Vicente Pereira
falecido em Setembro de 1622, foi substituído, em 27 de Junho de 1623, por
Frei António da Ressurreição, lente de Prima de Teologia (5). Quanto ao
Dr. Luís Ribeiro de Leiva, havia sido afastado da Junta em I I de Março de
1629 (6), sendo nomeado em sua substituição, em 20 de Maio desse ano, o
jesuíta P.° Francisco de Mendonça (7).
Fechado este parêntesis, façamos uma rápida digressão através dessas Car-
tas Régias.

(') Ver 11s. 453v. e 454.


(2) Ver 11. 454.
C) Ver 11s. 455v. e 456.
( ) Ver 11. 407.
4

(5) Ver 11s. 455 e 455v.


(") Ver 11. 461.
(7) Ver 11. 463.

36
Por Carta de 12 de Agosto de 1619, El-Rei prorroga a D. Francisco de
Meneses os seis meses que, como Reformador e Reitor, lhe estabelecera pela
Provisão de 15 de Novembro de 1618, atrás referida, por outros seis meses ( 1).
Já em 9 de Agosto do mesmo ano, outra Carta Régia, dirigida também a
D. Francisco de Meneses, lhe prorrogara por mais seis meses as suas funções de
Reformador e Reitor (2).
Reproduz-se, a seguir, a Carta Régia, de 16 de Dezembro de 1619, para o
Reformador sobre a constituição da Junta (3), Carta que já fora trasladada
atrás (4).
Reproduz-se também a Carta Régia, de 16 de Dezembro de 1619, para os
membros da Junta (5), Carta que, como a anterior, se encontra trasladada
atrás (6).
Uma Carta, de 28 de Fevereiro de 1620, para o Reformador, mandando
que D. Francisco de Meneses servisse de Reformador e Reitor «até eu mandar
outra coisa» (7).
Outra, de 12 de Fevereiro de 1620, mandando ao Reformador que se con-
servasse « no exercício dos cargos de Reformador e Reitor por tempo de um
ano mais» (8).
Uma outra, da mesma data, para o Reformador, onde se lê: « Recebeu-se a
vossa carta de vinte de Janeiro ... Havendo visto o que nela apontais acerca do
modo em que se deve conhecer dos compreendidos pela devassa da reformação,
nos crimes de sodomia e molícia, e das culpas dos religiosos, fidalgos e gradua-
dos, me pareceu dizer-vos que as culpas dos religiosos remetais a seus superio-
res, a que pertencem, para que eles tratem de as castigar; e as de sodomia, de
que no Santo Ofício da Inquisição se tiver começado a tomar conto e estiver
pre\l...;~ 1 a a jurisdição, remetereis também àquele tribunal, para se verem e sen-
tenciarem nele. E todas as mais se vejam e determinem na Junta, sem sujeição
de casos nem de pessoas. E para se poder fazer, com justiça, notícia das culpas
dos delinquentes, se averigue se reincidiram depois da visita que fez o Bispo de
Lamego, que mandei recolher no Convento de Santa Cruz, em uma arca de três

(1) Ver 11s. 456 e 456v. A.U.C. , Regis10 das Provisões, Tomo 1, 11s. 431v.-432.
e) Ver fls . 457-457v. A.U .C., Regislo das Provisões, Tomo 1, 11. 432.
(3) Ver 11s. 457v.-458v.
(4) Ver fls. 316v.-317v.
(5) Ver 11s. 458-458v.
( ) Ver 11s. 317-318.
6

(7) Ver 11s. 458v.-459.


(M) Ver 11s. 459-459v.

37
chaves; hei por bem que se tire dela e se vos entregue, para se ver na Junta;
e que as sentenças que se derem, sem as publicar, se me enviem, para as mandar
ver e ordenar a forma em que se deve fazer» (1).
Um pouco adiante, lê-se: «E quanto ao que propondes acerca da provisão
da cadeira de Prima de Cânones, que há o Dr. António Homem, que foi preso
pelo Santo Ofício, para se ver o que, nesta matéria, convém ordenar, me avisa-
reis quanto tempo faltava a António Homem para jubilar .. » (2).
Numa outra Carta, de 11 de Março de 1620, diz-se que a Universidade
(talvez por estar cheia do Reformador. .. ), sob pretexto de que tinha expirado o
tempo concedido ao Reformador, havia eleito, em Claustro pleno, Vice-reitor o
Dr. Frei Francisco Carreiro. Talvez porque o Dr. Luís Ribeiro de Leiva se
tenha mostrado favorável a essa eleição, a Carta remata assim: «hei por meu
serviço que o não chameis à Junta da reformação e vades procedendo nela com
os outros dois adjuntos que vos tenho nomeado» (3).
Uma outra Carta, de 11 de Março de 1620, confirma D. Francisco de
Meneses nos cargos de Reformador e Reitor «por tempo de um ano
mais ... » (4).
Vem, a seguir, uma Carta, de 14 de Março de 1620, sobre a prisão do
Secretário da Universidade e sobre a sua pretensão de ser julgado pelo Tribunal
das Ordens Militares: « Havendo visto as vossas cartas, de vinte e três do pas-
sado e primeiro do presente, sobre a prisão que a Junta ordenou se fizesse de
Rui de Albuquerque, Secretário dessa Universidade, e a declaração com que ele
veio para o Juiz dos Cavaleiros, me pareceu dizer-vos que, pelas razões que
apontais, de não se entender nesta matéria o privilégio do foro, hei por bem e
mando que a Junta vá procedendo na causa conforme a comissão que tem e ao
Juiz dos Cavaleiros se ordenará que sobreesteja em pedir que se lhe remeta» (5).
Numa outra Carta, de 20 de Maio de 1620, dirigida à Junta, lê-se: «Vi a
\íW,a carta <k cinco <in rn.·,ente. por que me cle,te, conta elo que. até- então. era
passado acerca da remissão que Rui de Albuquerque pretende que se faça de
~ua~ culpa~ aos Juízes dos Cavaleiros e das censuras que sobre isso fulminou o
Conservador das Ordens Militares, em que tenho mandado prover, para que se
não passe adiante nestes procedimentos; porém, parecendo-me adventícios·que
tenho mandado que a remissão se não fizesse, não deverá essa Junta ordenar

(1) Ver íls. 459v.-460.


(2) Ver íl. 460.
(3) Ver íls. 461. O Dr. Luís Ribeiro de Leiva, que era lente de Decreto quando foi nomeado
membro da Junta, foi nomeado lente de Véspera em 1623 e lente de Prima de Cânones em 1625,
sucedendo. assim. ao Or. António Homem (Ver FR,\'Jf'l<;,n I.FITÃO FFRRFIR'- . Alfalwtn dos
lentes da insigne Universidade de Coimbra, desde 1537 em diante, Coimbra, 1937, pp. 297-298).
(' J Ver tb. 4bl-4b2.
(5) Ver íl. 462.

38
que se trasladassem as culpas, nem fazer sobre a matéria novidade, sem outra
ordem minha, dada por esta mesma via, e que, para agora saber o que convirá
prover no particular de Rui de Albuquerque, façais tirar das devassas uma
relação particular das culpas que contra ele há e ma envieis com brevidade.
E para que, naquilo em que não há inconveniente, se defira à dita Mesa que se
faz por parte da Ordem, hei por bem que remetais a Rui de Albuquerque, preso
na forma em que o foi, à Mesa da Consciência, para, por ordem dela, estar em
custódia, até eu ordenar como se há-de proceder no conteúdo da sua causa.
E se ele houver quebrado a homenagem, como se me referiu que o fizera, o
fareis prender em ferros; e assim o remetereis à Mesa da Consciência, pelo
mesmo modo se ter em custódia» (1).
Um pouco adiante, na mesma Carta, lê-se: «E em lugar do dito Luís
Ribeiro de Leiva, hei por bem que entre nela [na Junta], por adjunto, Francisco
de Mendonça, Reitor do Colégio da Companhia dessa cidade» (2).
Numa Carta, de 8 de Setembro de 1620, dirigida ao Reformador, em res-
posta a uma outra de D. Francisco de Meneses, de 7 de Julho desse ano, com
que fora enviada a Madrid «a informação das culpas que, na reformação, resul-
taram contra o Dr. Martim de Carvalho Vilas-Boas do tempo que serviu o
cargo de Conservador», escreve El-Rei que, depois de ver essa «informação»,
«me pareceu dizer-vos que hei por bem que Martim de Carvalho tome a servir,
como o tenho mandado, o mesmo cargo, na forma que o fazia antes da suspen-
são do Claustro pleno e que, dos ditos das testemunhas que disseram contra ele
na devassa da reformação, me envieis logo cópias autênticas para as mandar
ver. E a Martim de Carvalho se ordenou que fosse a essa cidade para tomar a
servir» (3).
Numa Carta, de 20 de Outubro de 1620, dirigida à Junta, onde se refere a
,<relação» das culpas, enviada a El-Rei, que, «pela devassa. da reformação, se
acharem contra Frei Rui de Albuquerque, Cavaleiro de Hábito de Cristo e
Secretário da Universidade, e o que, por sua parte, se me representou sobre
haverem de ser remetidas ao Juízo dos Cavaleiros», escreve o Rei: «hei por bem
e mando que, por essa Junta se lhe formem e dêem cargos, para que responda a
eles dentro de termo breve, e, com sua resposta, se me consulte o que parecem.
Diz ainda a Carta que, pelo que toca à servidão do lugar de Secretário da
Universidade - que Rui de Albuquerque pretendia reaver - só se decidiria

( ) Ver fls. 462v.-463.


1

(2) Ver fl . 463. Apesar desta designação de El-Rei, nenhum documento da Devassa agora
publicada é assinado pelo P.' Francisco de Mendonça.
(3) Ver fl . 463v.

39
depois de se saber qual a pena que mereciam as suas culpas, uma vez sentencia-
das pelo Juiz dos Cavaleiros . .. (1).
Também o Vice-Rei, que era D. Diogo da Silva e Mendonça, Marquês de
Alenquer, em Cartas de Julho e Setembro de 1620, se interessa pelo processo
movido ao Secretário da Universidade, o que parece mostrar que Rui de Albu-
querque tinha bons apoios, tanto em Madrid como em Lisboa (2).
Entretanto, por Carta dirigida à Junta, em 15 de Dezembro de 1620,
El-Rei manda que as suspeições que o Colégio de S. Paulo intentara contra
D. Francisco de Meneses «não passem adiante e se lhe ponha silêncio» (3).
A mesma Carta informa-nos que o Conservador, Martim de Carvalho, inten-
tara suspeição contra Frei Vicente Pereira, membro da Junta, e contra Agosti-
nho de Aguiar, escrivão da reformação, e que outras suspeições eram de prever
contra D. Francisco de Meneses (4), suspeições que, de certo modo, nos permi-
tem concluir que a acção do Reformador estava a ser contestada em vários
sectores da Universidade. Talvez para tirar força a essas suspeições, por Alvará
de 12 de Janeiro de 1621, manda El-Rei que D. Francisco de Meneses «se
conserve no exercício dos ditos cargos de Reformador e Reitor e castigo dos
culpados na devassa, até eu ordenar outra coisa, com os mesmos poderes e
jurisdição que, de antes, o fazia» (5).
Em Carta de 10 de Fevereiro do mesmo ano, El-Rei dá normas de como
agir perante as suspeições e anuncia que prorroga o tempo ao Reformador,
manifestando, porém, o desejo de que «tudo se conclua» «sem se alargar
muito» (6).
Em 5 de Março desse ano de 1621, El-Rei informa que viu as 77 sentenças,
que lhe haviam sido enviadas, de pessoas compreendidas na devassa e manda
que, porque muito importa «desarreigar da Universidade um crime tão perni-
cioso como o de molícias», «todos os culpados nele sejam desterrados para
sempre da Universidade ... e dos que se desterrarem se façam assentos em um
caderno à parte que vós guardareis, para o entregardes ao Reitor que vos suce-
dem, para que, por todo o sempre, se saiba que «não podem tomar à Univer-
sidade» (7). .

1
( ) Ver fl. 463v.-464.
(2) Ver fls. 464-465.
(3) Ver fls. 465-465v.
( ) Ver fü 465-465v.
4

(' \ Ver fl . 466.


( ) Ver fl . 466v.
6

(1) Ver fls. 466v.-467.

40
Em Cartas de 25 de Maio e de 14 de Setembro de 1621, refere-se El-Rei,
respectivamente, a mais 9 e a mais 17 sentenças proferidas pela Junta e manda-
as executar (1) .
Em Carta de 14 de Setembro do mesmo ano, em resposta a quatro Cartas
do Reformador, escreve El-Rei sobre a provisão de cadeiras vagas, sobre a
provisão do ofício de escrivão da Fazenda e sobre Agostinho de Aguiar, escri-
vão da reformação, que havia abandonado o lugar e. por isso, devia ser mul-
tado «pela desobediência de se ausentar sem licença>, (2).
Depois de várias outras sobre sentenças proferidas contra alguns funcioná-
rios da Universidade, nomeadamente contra André Tavares, executor das ren-
das e dívidas da Universidade, por Carta de 31 de Agosto de 1623, El-Rei
comunica ao Reformador que, por sentença dada pelo próprio Rei e pelos
Juízes seus assessores, em terceira instância, «saiu Rui de Albuquerque absolto
das culpas que contra ele resultaram na visita da reformação dessa Universi-
dade, do tempo que havia servido de Secretário dela» e que «agora pretende
que se lhe restitua a serventia, ou ser, por outra via, acomodado ... ». Na
sequência desta comunicação, «encomenda» El-Rei ao Reformador «me aviseis
do que se vos oferecer, avisando quem serve de presente o ofício de Secretário
da Universidade, e com que ordem>,(3).
Apesar do aparente interesse de El-Rei por que Rui de Albuquerque vol-
tasse a ocupar o lugar de Secretário da Universidade, o certo é que isso se não
verificou. A 8 de Novembro de 1621, dado que Agostinho de Aguiar se ausen-
tara sem licença, foi Pero Soares nomeado escrivão e secretário da reformação
e. para que constasse, mandou a Junta lavrar o termo dessa nomeação
em 24 de Outubro de 1624(4) . Deve notar-se, porém, que,já em 27 de Junho de
1621, Pero Soares assina como Secretário da Universidade (5). o mesmo se veri-
ficando em 3 de Agosto desse ano (6) e em 18 de Outubro de 1624(7).

A conclusão da Devassa
Segue-~e, um pouco adiante, o processo de Manuel de Miranda, estudante
canonista. acusado de haver cometido. reretidas ve1es. o recado de amolí-
cias » ( 8) . Preso na cadeia da cidade, foram-lhe dados, a 17 de Julho de 1620,

( ) Ver 11s. 467v.-468.


1

(2) Ver 11. 468v.


(3) Ver 11s. 470-470v.
( ) Ver tls. 470v. e 473.
4

(5) Verl1.541.
( ) Ver 11. 502.
6

(7) Ver 11. 478v.


( ) Ver 11s. 480 a 502.
8

41
pelo secretário da reformação, Agostinho de Aguiar, por mandado do Refor-
mador, os «cargos» que contra ele foram formados, para que «a eles respon-
desse em termo de cinco dias» (1). Foi-lhe dado como advogado o Dr. Simão de
Basto (2) . Apesar do esforço da defesa, a Junta, em 3 de Abril de 1621,
condenou-o «em desterro para sempre desta Universidade e em perdimento dos
cursos, que lhe serão riscados dos livros dela em que os tiver provados>> (3).
Vem, a seguir, o processo de Gaspar de Sampaio, substituto do ofício de
Bedel das Faculdades de Cânones e Leis (4). acusado, como vimos atrás e como
se vê pelos «cargos» que lhe foram dados em 3 de Outubro de 1620, de receber
peitas e presentes para trocar as «sortes» para os actos de bacharel e de conclu-
sões, para assinalar no livro do ponto a «sorte» que o estudante queria que lhe
saísse, para marcar a data dos actos de bacharel ou de conclusões, em confor-
midade com o pedido de alguns estudantes, em prejuízo de outros, para já ter
corrido parte da areia do relógio quando se iniciavam os actos, etc.
Foi-lhe dado como advogado o Dr. Simão de Basto (5) . o qual não conse-
guiu, porém, evitar que, a 26 de Junho de 1621, a Junta o condenasse «em
privação da substituição do dito ofício de bedel das ditas Faculdades. para que
não possa ser admitido mais a ele, nem a outro ~lgum da dita Universidade» (6).

*
* *
O Códice dos «Autos e diligências de inquirição» da Devassa de 1619-1624
contém, no final, um «apenso» com os «cargos» (ou acusações) que se deram
ao Dr. António Homem na visitação de 1616 e a resposta que aquele «infeliz»
lente de Prima de Cânones deu, por sua própria mão, a esses «cargos» (2). Os
cinco «cargos» podem resumir-se nesta frase: António Homem «está tido e
havido notoriamente por público subornador para as cadeiras» (3). A autode-
fesa de António Homem foi brilhante, o que não impediu, porém, que ele fosse

(1) Ver 11. 481v.


(2) Ver 11. 482.
(3) Ver 11. 501.
(4) Ver 11s. 503 a 541.
(5) Ver 11s. 528-528v.
(6) Ver 11. 539v.
(7) Ver 11s. 451v. a 548v.
( ) Ver 11. 544.
8

42
condenado «em cem mil réis, aplicados à Universidade para ajuda dos gastos e
despesas que tem feitos e se fizerem nesta visita» (1) .
O facto de o texto da acusação e da condenação do Dr. António Homem
na visitação de 1616 se encontrar apenso ao Códice que contém a Devassa de
1619-1624 explica-se, sem dúvida, em virtude do disposto numa Carta Régia de
12 de Fevereiro de 1620, em que El-Rei mandava que, para se saber se os
acusados eram «reincidentes», se tirassem de uma arca, que se encontrava no
Mosteiro de Santa Cruz, para serem examinados na Junta, os Autos da
Devassa de 1616(2) .
Ao que parece, na Devassa de 1616, António Homem não foi acusado de
«judaísmo» nem do «pecado nefando», «crimes» que o haveriam de levar à
fogueira em 1624.

Conclusão

A título de Introdução, acabámos de apresentar um breve resumo do con-


teúdo dos «Autos e diligências de inquirição» da Sindicância feita à Universi-
dade em 1619-1624. Sindicância que, estando planeada para ser concluída «den-
tro de seis meses>> (3). se prolongou por cinco longos anos. porque se entendia
haver então na Universidade «muitos e prejudiciais vícios»{ 4). que era necessá-
rio corrigir, e porque seria importante que o Estado não perdesse o controlo
daquela Instituição.
Não foi nossa intenção - como insistentemente o afirmámos -apresentar
um estudo aprofundado sobre a Devassa. Apenas fizemos algumas descrições
«positivas», uma breve referência ao contexto e algumas interrogações. Deseja-
mos salientar, todavia, a importância do Documento que agora entregamos aos
investigadores. Ele é fundamental para se conhecer, em todo o seu dramatismo,
a história da Universidade de Coimbra no século XVII e, por certo, para se
entenderem as coordenadas conflitivas e legalistas que pautavam a sociedade
portuguesa daquela época.
Chão do Bispo - Coimbra, 13 de Julho de 1986

JOAQUIM FERREIRA GOMES

(') Ver fl. 549. Este apenso relativo a António Homem foi parcialmente publicado por
TEÓFILO BRAGA, ob. cit., Tomo II, pp. 506-511 e integralmente publicado por ANTÓNIO JOSÉ
TEIXFIRA, António Homem e a Inquisição, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1895, pp. 11-25.
(2) Ver íl. 460.
(3) Ver fl. 2v.
( ) Ver íl. 315.
4

43
AUTOS E DILIGÊNCIAS
DE INQUIRIÇÃO
1. 1 AUTOS E DILIGÊNCIAS DE INQUIRIÇÃO

que fez D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor desta Uni-


versidade, pelos interrogatórios por que, coriforme aos Estatutos
refarmados, é obrigação inquirir, e das provisões por que Sua
Majestade lho cometeu; e Agostinho de Aguiar o escreveu nela, e
do juramento que, para isso, recebeu.

Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e seiscentos e


dezanove anos, aos dois dias do mês de Maio do dito ano, nesta cidade de
Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada do Dr. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor dela, inquisidor ordinário da Inquisição da
cidade e .arcebispado de Lisboa e seu distrito, estando ele aí presente e as teste-
munhas abaixo nomeadas, mostrou uma provisão de Sua Majestade, feita em
Lisboa, a quinze de Novembro de seiscentos e dezoito, por António de Alpoim
de Brito. assinada pelo dito Senhor com visto de D. António Mascarenhas e
r. Jv. Inácio Ferreira e com cumpra-se do// Vice-Reitor Frei Egídio, e registada a
folhas quatrocentas e vinte e nove verso; pela y_ual Sua Majestade lhe comete a
Reformação desta Universidade. F ,outrossim, foi mostrada por mim, Agosti-
nho de Aguiar, outra provisão, por que Sua Majestade me manda escrever na
dita reformação, feita em Lisboa a seis de Março de seiscentos e dezanove pelo
dito António de Alpoim e assinada pelo Marquês de Alenquer, Duque de Fran-
cavilla, Viso-Rei destes Reinos. E, para o poder fazer logo aí, em presença das
ditas testemunhas. ·pelo dito Reformador me foi dado juramento dos Santos
Evangelhos, em que pus minhas mãos, e, sob cargo dele, prometi, neste meu
otício, que ora me é encomendado, de fazer o que sou obrigado e de guardar
sempre o segredo que convém à visita e mais coisas que tocarem à dita reforma-
ção, e por nenhum caso ou via, directe nec indirecte, o descobrir em seu pre-
juízo, e de não receber dádivas, peitas nem empréstimos dos Lentes, Doutores,
oficiais da Universidade, estudantes e privilegiados dela, e de não conseritir que
meus criados o façam. E, depois de recebido assim o dito juramento, me man-
dou o dito Reformador que o actuasse, e as ditas provisões, para poder dar a
2 execução à dita reformação / / e constar do poder com que o fazia. E de tudo
lavrei este auto, que em cujo cumprimento fiz e assinei com o dito Reformador e
testemunhas Pascoal J uzarte e António Alves Bernardes, sacerdotes capelães do
dito Reformador. E as ditas provisões são as que ao diante se seguem. Agosti-
nho de Aguiar o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Agostinho de Aguiar. António Bernardes. Pascoal Juzarte.

47
Traslado da provisão do Dr. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor da Universidade de Coimbra, por que Sua Majestade lhe faz mercê, digo,
lhe manda uma coisa e outra, de quinze de Novembro de mil e seiscentos e
dezoito ://
J7. 2v. Eu, El-Rei, como Protector que sou da Universidade de Coimbra, faço
saber a vós, D. Francisco de Meneses, inquisidor ordinário nesta cidade de
Lisboa, que, havendo respeito ao muito tempo que a dita Universidade não foi
reformada, considerando a necessidade que há de prover nisto, pelo zelo que
tendes do meu serviço e satisfação com que procedestes nas coisas de que vos
encarreguei, e por confiar de vós que da mesma maneira procedereis na refor-
mação da dita Universidade, hei por bem que a vades reformar, e vos enco-
mendo muito façais a dita reformação na forma dos Estatutos, concluindo-a
dentro de seis meses. E, enquanto contenderdes nela, para que se possa enca-
minhar melhor, servireis juntamente o cargo de Reitor, levando um só orde-
nado. E, acabada a dita reformação, a enviareis à minha Mesa da Consciência
e Ordens, para nela se ver e se me dar conta do que parecer. E em tudo o mais
tocante à dita reformação, guardareis a ordem que está dada nos mesmos Esta-
/7. J tutos e, na forma que neles // se declara, procedereis nela. E esta hei por bem
que se cumpra e haja efeito, posto que não será passada pela Chancelaria.
Manuel de Lemos a fe7 em Lisboa a quinze de Novembro de mil seiscentos e
dezoito. António de Alpoim de Brito a fez escrever. Há Vossa Majestade por
bem, como Protector que é da Universidade de Coimbra, que D. Francisco de
Meneses, inquisidor ordinário na cidade de Lisboa, vá reformar a dita Universi-
dade. E, enquanto contender nela, sirva juntamente o cargo de Reitor, levando
um só ordenado, na maneira acima declarada. Por carta de Sua Majestade, de
dezasseis de Outubro de seiscentos e dezoito. D. António de Mascarenhas,
Inácio Ferreira. Cumpra-se e registe-se na conformidade que Sua Majestade
manda, em Claustro, dezoito de Fevereiro de seiscentos e dezanove. Frei Egí-
dio, Vice-Reitor. Registada a folhas quatrocentas e vinte e nove verso.
Albuquerque.

/7. 3v. Traslado da provisão por que Sua Majestade faz escrivão da presente//
reformação da Universidade de Coimbra a Agostinho de Aguiar de hgueiroa,
Juiz de Fora que foi da vila de Viana, de seis de Março de seiscentos e
dezanove:
Eu, El-Rei, como Protector que sou da Universidade de Coimbra, faço
saber a vós, D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor da Universidade, e
deputados da Fazenda dela, que eu mando ao licenciado Agostinho de Aguiar
de Figueiroa, Juiz de Fora que foi de Viana, por escrivão da reformação que
ora ordenei se fizesse nessa Universidade, pela confiança que nele tenho que, no

48
de que o encarregar, o fará como cumpre a meu serviço; e, com o dito cargo,
haverá dois cruzados por dia, o tempo que durar a dita reformação, e cem
cruzados, por uma vez, de ajuda de custo, que dado se lhe pagarão das rendas
dessa Universidade, sem mais outra coisa alguma. E esta se cumprirá e guar-
_/7. 4 dará, posto que não/ / passe pela Chancelaria. E vai assinada pelo Marquês
Viso-Rei e valerá por tempo de quatro meses, se dentro neles não vier outra por
mim assinada. António de Alpoim de Brito a fez em Lisboa, a seis de Março
de seiscentos e dezanove. Marquês de Alenquer, Duque de Francavilla; Viso-
-Rei. Há Vossa Majestade por bem, como Protector que é da Univesidade de
Coimbra, que das rendas dela se dêem ao licenciado Agostinho de Aguiar de
Figueiroa, que a ela vai por escrivão da reformação que se vai fazer à dita
Universidade, dois cruzados por dia, enquanto durar a dita reformação, e cem
cruzados, por uma vez, de ajuda de custo, na maneira acima declarada. E esta
valerá por tempo de quatro meses. Por carta de Sua Majestade, de dezanove de
Fevereiro de seiscentos e dezanove. D. António Ma'lcarenhas. Antão de Mes-
quita. Cumpra-se e registe-se. Coimbra. dezanove de Março de mil e seiscentos
e dezanove. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Registada a folhas
4uatrocentas e trinta. Albu4uerque. As quais provisões trasladei bem e iiel-
.fl. 4v. mente das próprias, e elas concordam em tudo e por tudo a que/ / me reporto;
e as concertei com Rui de Albuquerque, Secretário desta Universidade, aqui
assinado, e com ele assinei. E as próprias tomei, a saber, ao dito Reformador a
sua, e assim me ficou a minha, em cumprimento e mandado do dito Reforma-
dor. E de tudo fiz este termo que escrevi. Concertada comigo Rui de Albu-
querque. Agostinho de Aguiar de Figueiroa.

E averbadas, assim, as ditas provisões e juramento atrás, mandou vir o


dito Reformador perante si as testemunhas que ao diante se seguem, e as inqui-
riu pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque, conforme a .eles, é
obrigação fazê-lo, das do grande número delas que in voce vai perguntando,
como no fim desta devassa se declarará, inquirindo todo o estudante de qual-
quer estado e Faculdade que provar o curso; que reservou para si, assim por
este respeito como por não faltar à obrigação do cargo de Reitor. E eu, Agos-
.fl. 5 tinho de Aguiar, o escrevi. / / Aos dois dias do mês de Maio do ano de mil e
seiscentos e dezanove, nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade,
sólita morada de D. Francisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade;
Reformador e Reitor dela, mandou vir perante si a Luís Fernandes Teixeira,
solteiro, filho de Gaspar Fernandes e de Maria Teixeira, moradores na cidade
de Lisboa, e ao presente institutário nesta mesma cidade, e morador defronte
das casas do Conde de Portalegre, de idade que disse ser de dezoito anos; e,
sendo presente, lhe foi dado juramento dos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que

49
lhe fosse perguntado, e ele prometeu de o fazer assim. E declarou que viviam os
ditos seus pais em Lisboa, na Praça da Palha, e que era aí ferrador. Pergun-
tado se sabe como vivem os lentes, doutores, oficiais e toda a mais pessoa desta
Universidade, e particularmente desde a última visita que nela se fez a esta
parte. disse que não sabia mais que do ano. digo. de Outubro a esta parte. não
lhe lembra em que meses, dizer António de Faria, médico, conselheiro este
presente ano, em cuja casa ele declarante está, que rião andasse com Luís de
Melo, natural de Lisboa, filho de um lavrador a quem não sabe o nome, estu-
dante legista, e vive junto da Porta da Traição, porque era fanchono. E posto~
em Lisboa. o sobredito lhe disse. estando ambos sós. não lhe lembra ao presente
quanto tempo haverá, que ele declarante fazia a fanchonice com um estudante,
por nome Manuel Fernandes, que é já morto, como quem lhe fazia perguntas_.,
Posto que se diga publicamente que o sobredito é fanchono, e aqui e em Lisboa o
fosse visitar, não sabe ele declarante que cometesse acto algum de malícia.
Disse mais que também é tido por fanchono António Cardoso, estudante legista. //
/7. 5v. filho de Agostinho Cardoso, que vive junto a Nossa Senhora do Salvador,
e que ele declarante o entendera assim, porque, tanto que veio para esta Univer-
sidade, o sobredito lhe falou na sala dos Gerais dela, com tantos risos e festas
que lhe chegou a dizer e perguntar que queria dizer non bene conveniunt, nec in
una sede morantur maiestas et amor, e explicando que queriam dizer que onde
havia amizade não havia de_haver falar por mercê, senão por vós. E ali não
passaram mais, nem sabe acto algum que o sobredito cometesse de Lisboa,
digo, de molícias. E mais que Salvador Lopes, médico e mestre em Artes,
natural de Sacavém, e vive aqui defronte de S. Jerónimo, tinha a mesma fama;
porque pediu a um estudante, por nome Gonçalo Vaz Freire, que daqui se foi,
formado na Faculdade de Leis, e está casado com uma filha de Simão Delgado,
cirurgião de Lisboa, um beijo, não sabe de que tempo a esta parte. E assim o
disse a ele declarante Simão Delgado, estudante canonista, filho do dito Simão
Delgado. E que isto era o que sabia da dita ,pergunta; e que assim dissera
também qualquer outra coisa que com os sobreditos lhe acontecesse, ou com
outra alguma pessoa. E que não tinha mais razões ... para os ter por tais, que
as que já tem declarado. E, por mais não dizer, lhe não foram feitas mais
perguntas, e do costume disse nada. E, sendo-lhe lido este testemunho, e por ele
ouvido e entendido, disse que estava na verdade; e assinou com o dito Refor-
mador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Refor-
mador e Reitor. Luís Fernandes Teixeira. / /

f1. 6 Aos sete dias do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove, nesta cidade
de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de Dom Francisco de
Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor dela, aí por ele
foi mandado vir perante si a Duarte Sousa, solteiro, estudante canonista, filho

50
de Francisco Pousada de Sousa, natural da cidade de Faro, reino do Algarve, e
ao presente porcionista do Colégio de S. Boaventura da Ordem de S. Francisco
da Província do Algarve, o qual disse ser da idade de vinte e um anos; e lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelho~, sob cargo do qual lhe foi mandado
dissesse a verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado. E ele prome-
teu de o fazer assim. Perguntado se sabia ou presumia o para que era cha-
mado, disse que não. Perguntado se lhe pediu alguma pessoa, por si ou por
outrem, que, sendo chamado para testemunhar na visita desta reformação pre-
sente, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, disse que não. F,sendo-lhe
logo lidos os interrogatórios dos Estatutos reformados desta Universidade, por-
que nela. conforme a eles. é obrigação inquirir. foram por ele ouvidos e enten-
didos. E perguntado, em geral, e, depois disso, em particular, do que deles sabia,
disse que o que sabia deles era que, de dois anos a esta parte que há que está
nesta Universidade, matriculando-se no princípio de cada ano, viu que todo o
estudante que se ia matricular, o secretário Rui de Albuquerque lhes levou a
todos e a cada um deles um vintém por matricular a cada um, e ele declarante
lhe deu também pelo matricular o seu vintém; e que em tanto é estilo e costume
fl. 6v. do dito Secretário levá-lo, que ninguém// lhe dá menos, e assim é notório entre
todos os estudantes. Disse mais que, no princípio deste Novembro próximo
passado. nesta cidade. vindo ele declarante de S. Francisco da Ponte para o seu
Colégio, passeando com Estêvão Pinto de Sousa, legista, solteiro, natural do
Algarve, filho de Leonardo de Sousa, já defunto, primo co-irmão dele decla-
rante, que vive na freguesia de S. Pedro, o sobredito lhe dissera que ouvira
dizer, sem lhe declarar a quem, que o dito Secretário vendera a um estudante,
que não nomeou, certos meses para suprir a falta que tinha de seus cursos, por
catorze ou quinzes mil réis; não lhe lembra quantos meses lhe disse, mas se
afirma que esta verdade fora, dando-lhe certidão dos ditos meses sem os ter
cursado nem provado; e ali não passaram mais. Disse mais que, em todo o dito
tempo, não viu ao dito Secretário assistir aos autos de conclusões, e aos outros
sim. E que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios. Perguntado se,
quando os ditos estudantes provam os cursos e os tiram, se levava mais do que
se lhe deve, e se os ditos estudantes, pela dita matrícula, lhe davam graciosa-
mente o dito vintém, ou ele lho pedia, disse que, pelo dito estilo pelo dito
Secretário tão introduzido, entende que lho dão os ditos estudantes, e não gra-
ciosamente; porque viu ao dito Secretário, na dita matrícula, aos que lhe davam
um tostão, tornar-lhe quatro vinténs, em lugar de refusar outra coisa, quando
pelo estatuto a haja; e seja obrigado a levar menos. E mais não disse, nem lhe
foram feitas mais perguntas. F, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se
Jl. 7 estava escrito na/ / verdade, disse que sim, e do costume disse nada. E assinou
com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor. Duarte de Sousa.

51
Diogo Fernandes Cardoso, estudante canonista, mestre em Artes, solteiro,
filho de Francisco Fernandes, de Santa Marinha, e morador ao Cais, de idade
de vinte e cinco anos, ao qual foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, sob cargo dele, lhe foi mandado dissesse verdade e tivesse
segredo i:io que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim. Pe,rguntado se
sabia ou presumia o para ·que era cHamado, disse que não. Perguntado se lhe
pediu alguma pessoa, por si ou por outrem, que, sendo perguntado para teste-
munhar na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, disse que não. E, sendo-lhe lidos os interrogatórios dos Estatutos refor-
mados. porque nela. conforme a eles. é obrigação inquirir. e por ele ouvidos e
entendidos, e perguntado, em geral, e, depois disso, em particular, pelo que deles
sabia, disse que, de dez anos a esta parte que há que estuda nesta Universidade,
todas as vezes que se matriculou, lhe levou pelo matFicular o secretário Rui de
Albuquerque um vintém, e assim o viu levar aos mais estudantes que, com ele,
se matricularam; e que, posto que o dito Rui de Albuquerque lhe não pedisse,
pelo costume todos têm de lho dar, lho davam, e o aceita. Disse mais que
Gaspar de Seixas, bedel de Medicina, e antes tendo por obrigação, conforme ao
estatuto, de notificar os doutoramentos, magistérios e mais graus das ditas
Faculdades, em que os mestres e lentes têm propinas e devem de ser presentes,
de seis ou sete anos a esta parte que há que ele declarante é mestre em Artes, //
fl. 7v. o sobredito lhe não fez nunca a dita notificação, mais que uma vez, que o
encontrou na rua, devendo de lho fazer em sua casa, e, por esse respeito, deixou
de vir a alguns dos ditos graus e eleições da Faculdade e perdeu a propina deles,
não lhe lembra ao certo quantos seriam; e que esta mesma queixa vê fazer
geralmente a todos os mestres em Artes e de os enganar nas contas que lhes dá,
a respeito das causas que dão para se ficar com o dinheiro que lhe não devem, e
toma dos mestres que não assistem aos ditos autos; pela qual razão os deixa de
notificar. E assim se houve com ele declarante, nas contas que lhe deu do seu
magistério, de cuja quantia, ao presente, se não lembra; e a mesma queixa havia
de lhe tomar as luvas dos ditos autos e as não reportar na forma do estatuto.
E mais não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse que estava escrito na
verdade, e do costume nada; e assinou aqui com o dito Reformador. E. eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, · Reformador e Rei-
tor. Diogo Fernandes Cardoso.

Aos oito dias do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de Francisco de
Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor dela, ali por ele
foi mandado vir perante si a Henrique do Quintal, solteiro, estudante na Facul-
dade de Medicina: filho do licenciado Lopo do Quintal de Fruto. da vila de
Santarém, morador na Pedreira da cidade, que disse ser de vinte e um anos; e,

52
fl. 8 sendo// presente, lhe foi por ele dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, sob cargo dele, lhe foi mandado dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado; e prometeu de o fazer assim. Perguntado
se sabe ou presume a causa para que é chamado, disse que não. Perguntado se
lhe pediu alguma pessoa, por si ou por outrem, que, sendo chamado para tes-
temunhar na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, disse que não; pelo que, sendo-lhe lidos e declarados os interrogatórios
dos estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, e
por ele ouvidos e entendidos, e, perguntado,em geral e, depois disso, em parti-
cular, pelo que deles sabia, disse que, este Novembro próximo passado, não lhe
lembra a quantos dias dele. nesta cidade. em casa dele declarante. se achou
Manuel Soares de Moura, estudante legista e formado na dita Facddade deste
ano, que será de vinte e seis anos de idade, de barba loira, de meà estatura,
natural de Lisboa, e não sabe cujo filho é, porém seu pais foi advogado e lhe
parece que pousa à Mouraria, e, nesta cidade, vivia detrás da igreja de S. Pedro,
e Alberto Serrão, médico, natural de Lisboa, solteiro e formado, não sabe o
nome dos pais e vive na Rua dos Escudeiros, de barba preta. E, estando todos
três, o sobredito Manuel Soares lhes disse, à boca da noite em que isto passou,
que ia ter com o secretário Rui de Albuquerque tratar sobre uns meses que lhe
faltavam para emendar seu curso, para se poder formar; que lhe havia de ofere-
cer dez mil réis; porque ele lhe disse que lhe parece eram seis meses. E, vol-
tando de casa do dito Secretário, e perguntando-lhe eles como vinha e se
fl. 8v. aviado, o sobredito lhes respondeu que sim, e que// havia dado ao dito Secre-
tário o dito dinheiro pelos ditos meses; e entende que lhos deu e os aceitou, e
que o dito Secretário lhe deu os ditos meses, e que se meneou isto, segundo
presume, por Estêvão da Fonseca, lente de Instituta, assim pelo que tem dito
como porque faltavam os ditos meses ao dito Manuel Soares, e que, antes de
os cursar, se formou; e por nesta conjunção o sobredito Manuel Soares,
encontrando-se com o dito Estêvão da Fonseca, falou em segredo, e, se se não
engana, cuida que um dos sobreditos lhe disse que o sobredito Manuel Soares
pedira ao dito Estêvão da Fonseca que falasse ao dito Secretário neste negócio,
e assim ouviu dizer ao dito Alberto Serrão que o dito Secretário fazia algumas
das coisas acima referidas. Disse mais que, de três anos a esta parte que se
matricula nesta Universidade, sempre deu ele declarante e viu dar a todos os
estudantes, que com ele se matricularam, um vintém por isso, e mais não disse.
E, sendo-lhe lido este testemunho, e por ele ouvido e entendido, disse que estava
escrito na verdade; e do costume disse nada; e o assinou aqui com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Henrique do Quintal.
E depois de assinar logo in continenti declarou mais, sob cargo do dito
juramento, que, este mês de Novembro ou Dezembro próximo passado, não lhe

53
lembra a quantos dias dele nem em que lugar desta cidade, se achou ele declarante
em companhia do sobredito Alberto Serrão, e, estando ambos sós, o sobredito lhe
disse que, dando-lhe Frei Egídio, Vice-Reitor, uma informação fechada sobre uma
fl. 9 petição de seu// irmão António Serrão, estudante legista, para Sua Majestade, na
Mesa da Consciência, ele a abrira e, por a não achar boa, fizera outra, e, pelo
sinal do dito Frei Egídio, Vice-Reitor, fizera outra com sua própria mão, e a dita
informação; e, dizendo nela o dito Frei Egídio que era de parecer que Sua Majes-
tade lhe desse um ano pelas causas que alegaria, ele pusera dois e quatro meses, e,
por esta razão, lhe viera provisão de Sua Majestade da Mesa da Consciência, por
que lhe fizera mercê de dois anos. E lhe parece que o sobredito lhe disse também
que fizera o mesmo noutra informação do dito Frei Egídio, do dito seu irmão
para Sua Majestade na dita Mesa, e, por esse respeito, lhe deram seis meses,
pouco mais ou menos. Disse mais que, nesta cidade, haverá coisa de um mês, lhe
disse António de Freitas, estudante canonista, de Santarém, não sabe cujo filho é,
é da Ribeira, estando em companhia de uns estudantes, cujos nomes se não lem-
bra, que um moço do Secretário Rui de Albuquerque, sem declarar qual, estando
na casa das matrículas e tendo as chaves da casa do Conselho e das caixas em que
estão os livros da matrícula, lhe dera quinze dias, pouco mais ou menos,
acrescentando-lhos na prova do curso e tempo dele por dinheiro, e não lhe lembra
quanto; e mais não disse. E, sendo lida esta declaração, disse estar escrita na
verdade, e do costume nada; e tomou a assinar aqui com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. E declarou mais que vira o dito dinheiro de
dez mil réis que o dito Manuel Soares de· Moura levou ao dito Secretário e lhe
emprestou parte dele; e quando digo sobredito o escrevi. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Henrique do Quintal.

Jl. 9v. Belchior da Guerra, estudante legista, solteiro, de Serpa, filho // de João
Bentes e de Maria Prego, ora morador na Rua dos Anjos, da idade de dezoito
anos, a que foi dado Juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
sob cargo dele, lhe foi mandado dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado, e prometeu de o fazer assim. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, disse que não; perguntado se lhe pediu alguma pessoa,
por si ou por outrem, que, sendo chamado para testemunhar na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, disse que não.
E, sendo-lhe lidos os interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela,
conforme a eles, se deve inquirir, e por ele ouvidos e entendidos, e perguntado,
em geral, e, depois, em especial, pelo que deles sabia, disse que o que deles sabia
era que, depois de entrarem a fazer os autos de conclusões, e não lhe lembra
que sorte era, nem em que dia, se achou ele declarante nesta cidade, em casa de
Fe~não Lobo de Sequeira, estudante, solteiro, legista, de Estremoz, em compa-
nhia dele e de Luís Mendes de Abreu, legista, de Veiros, que vive junto à Porta

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do Castelo. E, estando todos três, o sobredito Luís Mendes lhes disse que
Afonso Pato, legista, casado na cidade de Évora, e vive nesta, na Rua das
Parreiras, vendo que a sua sorte das conclusões que lhe cabia no dia em que,
por turno, competia ao Dr. António Lourenço, lente de Digesto Velho, e que
ele, Afonso Pato, tinha obrigação de fazer suas conclusões na matéria do dito
/. 10 padrinho e que a não tinha estudado, e que o remédio só era// valer-se do
bedel Gaspar de Sampaio; e que assim o dito Afonso Pato, como ele dito Luís
Mendes, se foram ter com o dito bedel e lhe pediram que lhes quisesse deixar
trocar as sortes para que o dito Afonso Pato. a quem padrinhava o dito Antó-
nio Lourenço, ficasse na sorte dele dito Luís Mendes, a quem padrinhava o
Dr. Cristóvão Mouzinho, em cuja matéria ele Afonso Pato tinha feitas suas
conclusões. e ele dito Luís Mendes as fizesse na sorte do dito Afonso Pato, em
que padrinhava o dito António Lourenço, cuja matéria tinha estudado e feito
nela as ditas conclusões, para que, com a dita troca, ficassem ambos satisfazendo
os Estatutos, e fazendo as conclusões nas matérias que tinham estudado. E que,
de efeito, o dito bedel, de seu próprio poder, os deixou trocar, e trocaram, e,
por isso, lhe mandaram ambos duas galinhas, e o dito Afonso Pato o disse a ele
declarante também no dito tempo, pouco mais ou menos, em companhia de
Gonçalo Vaz Piçarra e de António Soares. ambos estudantes legistas. naturais
de Moura, e fora sem consentimento do Reitor; e ali não passaram mais. E que
lazer o dito bedel o sobredito era mui notório entre os estudantes, posto que, ao
presente, se não lembra de quais lhe disseram coisas semelhantes a esta. Disse
mais que o bedel de Medicina, fulano de Seixas, a quem não sabe o nome, em
todos os actos de doutoramento e nos mais em que há propinas e luvas,
é público furtar e tomar muitos maços de luvas. e faltarem . por esse respeito.
E ele declarante e alguns lhos viu tomar e meter nas algibeiras, e ouviu queixar a
Cipriano Mendes de Vasconcelos, legista, de Ourém, que vive junto a S. Pedro,
e a Pantaleão Rodrigues Pacheco, canonista, que vive na Couraça, do sobredito
lhes tomar a propina que nos ditos autos se lhes devia por almotacés desta
Universidade; é notória, entre estudantes em geral, a dita queixa do dito bedel.
'· !Ov. Disse mais // que, de três anos a esta parte que há que cursa nas Escolas Maio-
res, e todos os anos deu ao Secretário Rui de Albuquerque pelo matricular um
vintém, e viu que assim lhe faziam os mais estudantes que se iam matricular,
que, posto que eles lho dessem graciosamente e de sua livre vontade, ele os
aceitou sem contradição. Disse mais que o Reitor passado, D. João Coutinho,
Bispo do Algarve que ora é, e o Vice-Reitor Frei Egídio, sabe que nenhum
deles, a seu tempo, mandou pôr édito na porta das ditas Escolas por que se
lembrasse aos estudantes a obrigação que têm de se confessar nos tempos do
estatuto e da reformação dele, porque, quando o mandaram passar, ele decla-
rante soubera pelo tempo que há que aqui reside de seis anos, em umas e outras
Escolas. Disse mais que as pessoas que nesta Universidade perturbam e inquie-

55
tam os outros são os Drs. João Bravo, lente de Véspera de Medicina, e o
Dr. João de Carvalho, lente de Véspera de Leis, e João Pereira Botado, oposi-
tor na Faculdade de Leis, e Francisco Vaz, corrector, o que ele declarante tem
para si porque o dito corrector e o dito João Pereira ordinariamente murmu-
ram e praguejam, e os sobreditos Doutores nas eleições ou algumas delas ouve
dizer que os inquietam. Disse mais que, das vezes que ia à Capela da Universi-
dade, se escandalizou e assim ouve que se escandalizavam os demais de não
haver, nas toalhas dos altares, guardas, dos corporais e sanguinhos, a limpeza
que convém, e que isto é o que só sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe
lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e
que não tinha nele que tirar nem . acrescentar; e do costume disse nada.
E assinou aqui com o dito Reformador. Eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi .
. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Belchior da Guerra. //

/7. li Manuel àe Vasconcelos, solteiro, estudante institutário, de Montemor-o-


-N ovo, filho de Manuel de Contreras e de Filipa de Vila-Lobos, morador nesta
cidade, a Santa Justa, de idade de dezassete anos, ao qual foi dado juramento
nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, sob cargo dele, lhe foi man-
dado dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado; e ele o
prometeu fazer assim; perguntado se sabia o para que era chamado, disse que
não. Perguntado se lhe pediu alguma pessoa, por si ou por outrem, que, sendo
chamado para testemunhar na visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela, disse que não, pelo que, sendo-lhe lidos e declarados
os interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles. é
obrigação inquirir, e por ele ouvidos e entendidos, perguntado, em geral, e,
depois disso, em particular, pelo que de cada um deles sabia, disse que, haverá
dois anos, pouco mais ou menos, que António Dias, guarda destas escolas,
sabendo que, em Montemor-o-Novo, estavam dois físicos actualmente curando
sem terem o acto da prática para o poderem fazer, contra a forma dos Estatutos
desta Universidade e da reformação próxima dela, que se chamam um deles
Francisco Alves de Castro e outro Bartolomeu Colaço, ambos casados, não
sabe os nomes às mulheres, os acusou o dito António Dias diante do Conserva-
dor desta Universidade, não sabe como se chamava, pela ametade que lhe cabe
da pena que tem pela dita reformação e que passou e tirou dele carta para os
sobreditos serem citados, e que, de feito; o foram, e que, por não correr em a
causa, os sobreditos ambos e cada um deles deram ao dito guarda certa quanti-
dade de dinheiro, que não sabe, para que não fosse com a dita acusação por
diante, e, de efeito, desistiu dela pelo dito dinheiro, o que ele declarante sabe
jl. l lv. por ! I estar. ao tempo da citação. na dita vila. donde é natural. e os sobreditos
ambos e cada um deles lhe dizerem que mandaram ao dito guarda o dito

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dinheiro pelo dito desistimento, e ser notório na dita vila, como também estarem
rnrando nda, ~em terem o Jito auto. até o presrnte. e 4w: poderão di,.ê-lo ass1111
também Matias Francisco, estudante legista, que vive junto ao Dr. João Bravo, e
Jerónimo Cardoso, canonista, que vive na Couraça, abaixo do Dr. António Lou-
renço, ambos solteiros e naturais da dita vila, e lhe mandaram o dito dinheiro por
um homem. a quem não ~ahe o nome. trahalhador que vive junto à vila. e que
isto é o que só sabia os ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho
e perguntado se estava escrito .na verdade, disse que sim, e do costume nada;
e o assinou aqui com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Manuel de Vasconcelos.

Jerónimo Cardoso, solteiro, estudante canonista, filho do licenciado


Manuel Cardoso e de Isabel Bota, médico o seu pai do partido, e moradores na
vila de Montemor-o-Novo, de idade de vinte e um anos, e morador na Couraça,
o qual o Reformador mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe deu jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, sob cargo dele, lhe
mandou dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, e pro-
11. i. meteu // de o fazer assim; e, perguntado se sabia para que era chamado, disse
que não. Perguntado se lhe pediu alguma pessoa, por si ou por outrem, que,
sendo chamado para testemunhar na visita desta reformação, calasse a verdade
ou dissesse o contrário dela e de que tempo a esta parte. disse que não.
E, sendo-lhes lidos e declarados os interrogatórios dos Estatutos reformados,
poniue nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, e por ele ouvidos e entendi-
dos, perguntado, em geral e, depois disso, em particular, por cada um deles,
disse que não sabia deles coisa alguma, pelo que, sendo-lhe lido o referimento
que nele faz Manuel de Vasconcelos e por ele ouvido e entendido, disse que era
verdade que, este mês de Setembro que foi há dois anos, pelo dito seu pai haver
escrito a António Dias, guarda destas Escolas Maiores, como na dita vila esta-
vam dois médicos, a saber, Bartolomeu Colaço e Francisco Alves, casados não
sabe com quem na dita vila, e curavam sem terem feito o auto da prática para
poderem curar na forma do estatuto _e da reformação dele, e que correria com
os gastos que fizessem no castigo deles, o sobredito António Dias, em cumpri-
mento disso, os acusou diante do Conservador desta Universidade, Manuel
Veloso da Veiga, Juiz do Fisco, que então servia de Vice-Conservador, e passou
carta citatória por virtude da qual foram citados, e que o seu pai gastara nisso
alguns três mil e quatrocentos réis, e porque os sobreditos médicos mandaram
cá, por um homem que não conhece concertar-se com o dito guarda, que, posto
que não sabe o por quanto desistiu da dita acusação, lhe parece que sempre
devia de ser por mais do que se montasse na sua ametade que lhe compete pela
.fl. 12v. dita reformação, e agora, estes dias atrás, pedindo ele declarante// ao dito

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guarda que lhe quisesse pagar os ditos três mil e quatrocentos réis que o dito
seu pai gastara, pois se concertara com os ditos médicos, lhe respondera que
fizesse o que lhe parecesse, o que tudo ele declarante sabe por não fazer a díia
citação e ser filho do dito licenciado Manuel Cardoso; é notório na dita vila,
como também o não serem, até ao presente, os ditos médicos formados; e o
dito seu pai ouviu que deram ao dito guarda doze ou quinze mil réis, e que isto
era o que só sabia dos ditos interrogatórios e referimentos. E, sendo-lhe lido
este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim; e do
costume nada, e assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o
escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Jerónimo Cardoso.

Aos dez dias do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor dela, aí foi
mandado vir perante si a Manuel Ribeiro Pacheco. solteiro. bacharel legista.
filho de Manuel Ribeiro, de Setúbal, e morador na Couraça, e já formado na
dita Faculdade, de idade de vinte e oito anos; e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, sob cargo dele, lhe
foi mandado dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, e
prometeu de o fazer assim. Perguntado se sabe ou presume para que é cha-
/7. 13 mado, / / disse que não. Perguntado se lhe pediu alguma pessoa, por si ou por
outrem, que, sendo chamado para testemunhar na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela. disse que não. pelo que. sendo-
-lhe lidos e declarados os interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela,
conforme a eles, é obrigação inquirir, e por ele ouvidos e entendidos, pergun-
tado, em geral, e, depois disso, em particular, pelo que de cada um deles sabia,
disse que, este Domingo, dezasseis, passado, fez um ano, nesta cidade, na quinta
de Manuel Teles. cónego na Sé dela, que está junto a Nossa Senhora do Loreto,
se acharam, à tarde, à merenda, a saber, o sobredito cónego e Mateus Lopes e
o Dr. António Homem, lente de Prima de Cânones e cónegos da dita Sé,
e Gaspar de Sousa, casado com Madalena Pinheira, homem de pé que então
era do dito Manuel Tele\, e, ao presente, o é do Conservador Martim de Carvá-
lho, e outras mais pessoa), de que não está lembrado. E, estando os ditos três
cónegos merendando. o dito Dr. António Homem se embebedou. de modo que,
depois de vomitar, se andava abraçando com os sinceiros, e aí o deixaram os
ditos dois cónegos, e, como foi noite, o trouxeram os lacaios, por não poder ele
vir, nem a cavalo nem a pé, sem a dita ajuda deles, o que ele declarante sabe
porque, posto que ali se não achou, lho disse e referiu o dito Gaspar de Sousa, e
pelos ditos cónegos se divulgou logo por outras muitas vias, por onde chegou
também a ele declarante, e foi tão público e notório e o é nesta cidade e, fora
este excesso, o dito Doutor, em todos os dias depois de jant~r, estar torvado,

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que, pelo escândalo que há disto em um lente de Prima, pareceu obrigação
declará-lo aqui. Disse mais que, este Natal próxTmó passado, não se lembra
a quantos do mês, foi o sobredito Doutor António Homem à cidade de
Jl. /J v. Lisboa, e, voltando de lá para esta cidade e, com ele,// um institutário desta
Universidade, a quem não sabe o nome e se chama fulano da Cunha, e é filho
do Dr. António da Cunha, desembargador que foi do Paço, o sobredito Antó-
nio Homem cometeu ao dito moço para o pecado nefando ou de molícias; e
dizem que diz o dito moço que o não consumou, mas que o publica por sodo-
mita e fanchono e não (dizia) a forma em que cometeu um ou outro pecado, o
que ele declarante sabe porque o ouviu assim a João Pereira Botado e a Fran-
cisco Vaz, corrector dos livros da Universidade, e assim lhe disse hoje, nesta
cidade, Francisco Tavares Pinheiro, bacharel legista, andando passeando ambos
sós. que Francisco Va1 de Gouveia. lente de Sexto desta Universidade. come-
tera dois estudantes para o pecado de molícias, e que, assim, o dito António
Homem como o dito Francisco Vaz de Gouveia estavam geralmente notados e
infamados deste vício entre as mais, e melhor, digo, pessoas desta cidade, e as
mais dignas de fé, tendo esta fama sua origem assim destes casos como de
outros antigos que lhes sucederam, de que, na visita passada, se devia dar conta,
por .antigos e notórios, como foi vir de casa do dito António Homem, vivendo
nesta rua do Colégio de S. Paulo, correndo e fugindo um criado de Bernardo
Correia, e disse que fugia porque o dito António Homem o cometera e quisera
forçar para o pecado nefando. e dizer-se publicamente que comete o dito
pecado, ou o de molícias, com um sobrinho, o mais moço, a quem não sabe o
lllllllL'. do H1-.ro deito de-.ta ndade ao pre-.ente . l>i-.-.e mai-. 4ue . na dita l ' ni,er-
sidade, havia a mesma fama de Simão Torrosão, colegial que está eleito no
fl. 14 Colégio de S. Pedro desta dita / 1 Umvers1dade, por sonetos e romances que
publicamente fez a moços gentis homens, estudantes destas Escolas, e por ser
amigo de António Cabral, que foi, por sentença, desterrado desta Universidade
pelo dito vício de molícias. E que, posto que, de dois anos a esta parte pouco
mais ou menos, dele não sabe nem ouviu caso algum das ditas molícias, esse
mesmo tempo há que ele está ausente desta terra. Disse mais que o Dr. João de
Carvalho, lente de Véspera de Leis; lhe disseram alguns estudantes, não selem-
bra ao presente quais foram, que desonrara nesta cidade a uma filha de um
tendeiro seu vizinho, que chamam o Carrasco, e correra com ela. E, em todo
este ano passado, se falou, e, não sabe de quanto tempo a esta parte começou a
dita amizade, ou se está acabada; e que isto era o que sabia dos ditos interroga-
tórios, e haver fama, de alguns anos a esta parte, e de dois para cá, que o
secretário Rui de Albuquerque matriculava em ausência algumas pessoas, e a
outras dava algum: tempo por dinheiro ou peças que por isso lhe davam, mas
não lhe lembra, ao presente, as pessoas a quem o ouviu, nem donde esta fama
trouxesse sua origem; e mais não disse. E, sendo~lhe lido este testemunho e

59
perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E o
assinou aqui com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, R~formador e Reitor. Manuel Ribeiro Pacheco.

Aos onze dias do mês de Maio do ano de mil e seiscentos e dezanove,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor em ela,
Jl. 14v. estando// aí presente, mandou vir perante si a Matias Francisco, solteiro, estu-
dante legista, filho de Francisco Pires, defunto, natural da vila de Montemor-o-
Novo, que vive junto ao Dr. João Bravo, ele idade de vinte e um anos, testemu-
nha referida no testemunho de Manuel de Vasconcelos atrás perguntado. e lhe
foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão. e, mandado
que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo do que lhe fosse pergun-
tado, e prometeu de o fazer assim. Perguntado se sabe ou presume para que é
chamado, e se lhe pediu alguma pessoa que, sendo chamado para testemunhar
na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de
que tempo a esta parte, disse que presumia que seria para testemunhar sobre
um caso de António Dias, guarda destas Escolas, porque ontem, que foram dez
deste presente mês, pela manhã, vindo para provar o curso, lhe disse Jerónimo
Cardoso, estudante canonista, natural da dita vila, que se viesse a testemunhar
nesta visita se lembrasse de dizer verdade no dito caso. Perguntado qual é o
dito caso, disse que, este Setembro que não foram dois anos, püuco mais ou
menos, que, a requerimento e cartas do licenciado Manuel Cardoso, médico da
dita vila, acusou o dito guarda diante do Conservador, que ao tal tempo era
Manuel Veloso da Veiga, a Bartolomeu Colaço e Francisco Alves, casados na
dita vila, por curarem nela sem terem feito o auto de prática para poderem
jl. 15 curar, na forma do estatuto e da Reformação dele. // E, por virtude desta acu-
sação, passou carta citatória, para virem responder sobre a pena que têm, no
juízo da Conservatória, e tanto que os citaram, mandaram aqui um homem e,
com isso, cessou a dita acusação até hoje. E ouviu dizer na dita vila, não lhe
lembra a quem, que lhe deram nove mil réis do concerto, porém o mais sabe
por assistir ao tal tempo na dita vila; e ser nela mui público e notório. E que
isto era o que só sabia do dito caso, e que nenhuma outra pessoa lhe falara para
nele haver de calar a verdade ou dizer o contrário dela; pelo que, sendo-lhe
lidos os interrogatórios dos Estatutos reformados porque, na dita visita, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, e por ele ouvidos e entendidos, perguntado,
em geral e, depois disto, em particular, por cada um deles, disse que o que só
deles sabia era, de três anos a esta parte, dar ele declarante, e os mais que viu
matricularem-se, um vintém pela matrícula ao secretário Rui de Albuquerque, e
ele aceitá-lo de todos, posto que o não pedia, e que isto é o que só sabia, assim
do dito referimento como dos ditos interrogatórios, e mais não disse. E, sendo-

60
-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que
sim, e do costume nada; e o assinou aqui com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco àe Meneses, Reformador e Rei-
tor. Matias Francisco.

Francisco Tavares, solteiro, estudante legista, filho de António Tavares e


de Iria Simoa da Costa, de Aldeia Galega, que vive junto a S. Pedro, de idade
fl. !5v. de vinte e cinco anos, ao qual / / foi mandado vir perante si. e,sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos. e,mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, e prometeu de o
fazer assim; perguntado se sabe ou presume o para que é chamado, disse que
não. Perguntado se lhe pediu alguma pessoa, por si ou por outrem, que, sendo
chamado para testemunhar na visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela. e de que tempo a esta parte. disse que não. pelo que.
sendo-lhe lidos e declarados os interrogatórios dos Estatutos reformados, por-
que, na dita visita, conforme a eles, é obrigação inquirir, e por ele ouvidos e
entendidos, perguntado, em geral, e, depois disso, em particular, pelo que sabe
de cada um deles, disse que o que deles sabia era que, na maior parte desta
Universidade e pessoas de crédito, estava o Dr. António Homem, lente de
Prima de Cânones, infamado de cometer o pecado de molícias, e que trouxera
esta fama sua origem e princípio do dito Lente, em sua casa, haverá dois anos
pouco mais ou menos, nesta cidade, indo a visitá-lo Damião da Silva, filho de
Estêvão Homem da Silva, canonista, da vila de Setúbal, e residente nesta Uni-
versidade com seu irmão Gregório Mascarenhas, arremeteu com o dito Damião
da Silva, querendo abraçá-lo e cometer com ele o dito pecado, e o dito Damião
da Silva levar de um punhal para ele, que, posto que ele declarante o não visse
fl. 16 logo então neste comenos, não lhe lembra em quê, mas ao certo// lho contou
assim o dito Damião da Silva, e o dito Gregório Mascarenhas, seu irmão, que
determinavam castigar ao dito Lente se os não tiravam disto. E que, outrossim,
resultara a dita fama do dito António Homem, este Natal próximo passado,
vindo de Lisboa para esta cidade, com um moço, por nome João da Cunha, se
se não engana, filho do Dr. António da Cunha, desembargador que foi do
Paço, o cometer no caminho para o dito pecado, e arremeter a ele para isso;
que o obrigou a se sair das andas em que vinham, e a deixá-lo, como lhe disse a
ele declarante João Pereira Botado, opositor às cadeiras nesta Universidade,
que o dito moço lhe contara na forma sohredita. F. além deste~ L·a~m. de
outros que dele diziam antes da visita do Bispo D. Martim Afonso Mexia,
como era dizer-se publicamente cometia o dito pecado de molícias com um
sobrinho do dito Bispo, dos três que aqui tem o mais moço, a quem não sabe o
nome. Disse mais que Francisco Vaz, corrector dos livros desta Universidade,
haverá cinco ou seis dias, estando em companhia dele declarante e de outras.

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pessoas que lhe não lembram, lhe disse que o dito Dr. António Homem deson-
rara em sua casa uma moça e nela lhe morrera e a enterrara secretamente.
E que, assim, era público que ele fora nesta catedrilha, que está vaga, de Insti-
tuta araixonado do Dr. António de Abreu. orositor a ela. e que. com dinheiro
do dito opositor, comprara votos, como sempre fizera em todas as cadeiras, o
4ue era notóno nesta cidade, posto 4ue não especificaram que pessoas com-
prara, nem lhe lembra a quais o ouvira, ainda que foi a muitos estudantes.
jl. 16v. Disse mais que a mesma fama há nesta Universidade//, entre as mesmas pes-
soas, de Francisco Vaz de Gouveia, lente de Sexto, cometer o mesmo pecado de
molícias. mas não sabe ele declarante que ele haja cometido algum acto de
molícias, e que lhe parece lhe disse Manuel Ribeiro Pacheco·, estudante,
bacharel formado em Leis, que l:-ranc1sco Gago, outrossim bacharel !armado
em Leis, natural da dita vila de Setúbal, dissera a ele declarante que um lente
desta Universidade cometera dois estudantes para o pecado de molícias, e não
lhe lembra que nomeasse nem dissesse o sobredito do dito Francisco Vaz de
Gouveia, e que isto era o que sabia do dito referimento que lhe foi lido. Disse
mais que, entre as mesmas pessoas, tem a mesma fama de cometer o dito
pecado de molícias Simão Torrosão, c9legial eleito do Colégio de S. Pedro
desta Universidade, e que tivera princípio de uns romances que o sobredito aqui
fez a um moço gentil-homem, e de ser suspeito, haverá três anos pouco mais ou
menos, mas não sabe que cometesse acto algum deles qµe haja de declarar.
Disse mais que era notório, nesta Universidade, entre as mais pessoas dela, e
mais dignas de crédito, que o secretário Rui de Albuquerque, este Natal pró-
ximo passado ou antes dele alguns dias, dera tempo a Gonçalo Vaz Freire,
legista e já formado, de Lisboa, para se formar sem o ter, e, por isto, lhe dera o
dito Gonçalo _Vaz Freire quinze ou vinte mil réis. E que entre as ditas pessoas o
ouvira em diferentes tempos. digo q1..1e as pessoas que podem saber disso. são
Jl. 17 Sebastião Álvares da Silva, opositor// em Leis, e Francisco Coelho Serrabodes,
estudante legista, companheiro que foi do dito Gonçalo Vaz Freire e vive na
Rua das Fangas, junto a Heitor de Sá. Disse mais que·assim é também público
que o dito secretário deu, por onze ou doze mil réis, tempo a Manuel Soares de
Moura, bacharel formado em Leis e advogado em Lisboa, para se formar este
curso presente, como de feito se formou, e, posto que ele declarante o não viu,
diria disso Jerónimo de Tovar, opositor, que era grande amigo do dito Manuel
Soares; e Alberto Serrão e António , naturais de Lisboa, ambos irmãos, e não
sabe cujos filhos, que vivem aqui na freguesia de S. Pedro; e um deles é médico,
e o outro, legista. Di~se mais que, haverá dois anos pouco mais ou menos que
o dito secretário Rui de Albuquerque deu a Manuel Alvares de Abreu, bacharel
já formado em Leis, dois anos de residência, por votar por António Cabral,
cujo apaixonado era, segundo logo então se disse publicamente; do que pode-
rão saber Sebastião Álvares da Silva, opositor legista, e João Pereira Botado,

62
também opositor legista, e João Cardoso, bacharel canonista, natural de Setú-
bal, que vive defronte das Escolas Menores. E que os mesmos poderão teste-
munhar como o dito Rui de Albuquerque deu ao Dr. António de Abreu, oposi-
tor legista, tempo para fazer seus autos sem o ter, por votar pelo dito António
Cabral. Disse mais que o bedel de Cânones e Leis, Gaspar de Sampaio, assim
das cauções dos bacharéis extraordinários que se depositam em sua mão como
do dinheiro que os estudantes lhe dão para os autos de bacharéis e formaturas,
não quer dar conta e fica com o dito dinheiro, o que ele declarante sabe porque
lho fez assim o ano passado a ele declarante, quando se fez bacharel, e ser
f1. Jlv. queixa comum da maior parte // dos estudantes desta Universidade. Disse mais
que, haverá dois anos pouco mais ou menos que, nesta cidade, o bedel de
Medicina, Gaspar de Seixas, depois de estar dado o ponto pelo Reitor D. João
Coutinho a António de Sequeira, legista, natural de Lisboa, solteiro, e, toma-
das em lembrança as folhas dele, pelo dito bedel, em presença ·do dito Reitor, o
sobredito bedel falsificara o número das ditas folhas para ficar dando outro
ponto diferente ao dito António de Sequeira do que o dito Reitor lhe havia
dado; no qual ponto falsificado levava já de casa a lição sabida, em que fez no
acto de bacharel e de formatura, fazendo na dita formatura o mesmo que tinha
feito no de bacharel. E, forçando-se para assistir aos ditos pontos, porque posto
que não era bedel da dita Faculdade, lho consentiu o dito Reitor e o pôde fazer,
porque, nesse tempo, não assistia o secretário aos ditos pontos, sem embargo de
pertencer a seu ofício na forma dos Estatutos; e que disto sabe Sebastião Álvares
da Silva e João Pereira Botado, opositores legistas, e Álvaro Lopes Tavares,
colegial do Colégio das Ordens Militares da Ordem de Santiago, aos quais o
ouviu, por diversas vezes e em diversos tempos. Disse mais que, de oito anos a
esta parte, que é e reside nesta Universidade, sempre deu ao dito secretário Rui
de Albuquerque um vintém pelo matricular, e a todos os mais estudantes lhe
viu dar o mesmo vintém, e ele aceitado de cada um, e que isto era o que sabia
/1. 18 dos ditos interrogatórios. / / E, por mais não dizer, lhe foi lido este testemunho
e, perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada.
E assinou aqui com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Francisco Ta vares Pinheiro.

António de Faria, solteiro, médico e conselheiro este presente ano, filho de


António de Faria e de Helena da Costa, da cidade de Lisboa, e morador
defronte das casas do Conde de Portalegre, testemunha referida, de idade que
disse ser de vinte e seis anos, a quem o Reformador mandou vir perante si, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão, e, sob cargo dele, mandado que dissesse verdade e tivesse segredo no que
lhe fosse perguntado, e prometeu de o fazer assim. Perguntado se sabe ou
presume para que é chamado, disse que não. Perguntado se lhe pediu alguma

63
pessoa, por si ou por outrem, que, sendo chamado para testemunhar, na visita
desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo
a esta parte, disse que não; e, sendo-lhe lidos e declarados os interrogatórios dos
Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, e por
ele ouvidos e entendidos, perguntado, em geral, e, depois disto, em especial, pelo
que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era estar, nesta Univer-
sidade, o Dr. António Homem, lente de Prima de Cânones, infamado do
pecado de molícias entre pessoas de crédito, que, posto que, ao presente, lhe
fl. 18v. não lembre o nome delas, o eram, e, entre// elas, ouviu a Francisco Vaz, cor-
rector desta Universidade, e trazer esta fama sua origem de alguns casos que
sobre isso lhe aconteceram antes da última visita, e de nela o condenarem em
certa cópia de dinheiro, segundo foi público, e, além disto, ele declarante o tem
por ser assim, porque, este ano presente, tendo ele declarante em casa um estu-
dante por seu companheiro, de dezassete anos, pouco mais ou menos, desbar-
bado e gentil-homem, por nome Luís Fernandes, de Lisboa, institutário,e indo,
de Janeiro para cá, a tomar e escrever a pastilha do dito Doutor, por ser de
matéria nova, o sobredito lhe disse logo, daí a poucos dias, que o dito Doutor,
no geral, olhava muito para ele, e fora, onde o encontrava, lhe falava de barrete,
com tal jeito que lhe dava em que cuidar, e, daí por diante, estando ele decla-
rante advertido à janela das ditas suas casas, e o dito moço em outra, delas viu
falar ao dito Doutor de barrete ao dito moço, com tal afabilidade, por algumas
vezes, que também lhe deu em que cuidar, porque era moço que ele não podia
conhecer mais que de ir à dita sua lição, e lhe confirma mais esta sua presunção,
virem em muitas noites alguns estudantes embuçados a perguntar e a falar com
o dito moço, e por continuarem a serem muitos, e lhe não parecer bem, man-
dara fechar a porta da rua, tanto que era noite; e presume que o perverteriam,
se o dito moço estivera só, posto que não sabe do dito Luís Fernandes coisa por
onde perca e, por esse respeito, lhe disse que não conversasse nem fosse amigo
fl. /9 de Luís de Melo, estudante legista, // natural da cidade de Lisboa, não sabe
cujo filho , porque lhe dissera que o dito Luís de Melo era fanchono, como foi
um Francisco da Cruz, de Lisboa, estudante legista, não sabe cujo filho, e mora
à Pedreira, defronte de Francisco Leal. Disse mais que, depois de ser eleito esta
última vez por Vice-Reitor desta Universidade Frei Egídio, não lhe lembra em
que mês, pedindo o Dr. Tomás Serrão, lente de Medicina, ao dito Vice-Reitor
que, sem embargo de estar feito Doutor e não ser reconduzido para, na forma
do regimento, haver de vencer o partido dos reconduzidos, lho desse o dito
Vice-Reitor e o Dr. João Bravo, lente de Véspera de Medicina, lho deram,
como constará do termo que disto se devia fazer, e que deram ao dito João
Bravo por persuadir ao dito Vice-Reitor e votar que lhe desse um potro melado,
que ele declarante lhe viu, e ao secretário Rui de Albuquerque peitavam tam-
bém, por persuadir o mesmo ao dito Vice-Reitor com dinheiro,cuja quantia lhe

64
não declararam, o que ele declarante tudo ouviu a António Dias, guarda destas
Escolas, haverá dois meses, estando ambos sós, e ao Dr. Manuel de Abreu,
lente de Medicina, do dito tempo de dois meses a esta parte; e o que só sabe
sobre este particular é que o dito Tomás Serrão era Doutor, e, até esse tempo do
dito grau, não foi nunca reconduzido; e se, depois disto o foi, constará do livro
dos provimentos, e do testemunho dos sobreditos, se o houve por peita ou não.
Disse mais que o Dr. João Bravo, lente de Véspera de Medicina, não lê a
proveito dos ouvintes, porque dá a escrever todo o tempo que lê, assim agora
de Prima como de Véspera, e, sendo-lhe assinado ou escolhido ele para ler o
Nono Ad Almansorem, o não tem acabado no tempo que se lhe devia limitar
para isso, antes, há para de seis anos, que lê a dita matéria; e não está acabada
.fl. J9v. nem a acabará tão cedo, porque mete nela muitas coisas// que não são necessá-
rias, nem proveitosas aos ouvintes, como são trazer muitas curas dos autores
que ele dito Doutor reprova no cabo, em que já não sabem o que fica em
princípio nem no meio, pela multidão das curas com que os confunde, e outras
coisas desnecessárias. E após lhes não declarar que escreve no fim das lições em
lugar de estar à porta para responder às dúvidas que lhe moverem na forma do
estatuto, se vai logo para casa sem o fazer. Disse mais que o Dr. Martim Gon-
çalves, lente de Anatomia, tendo obrigação, conforme ao Estatuto, de fazer as
anatomias gerais e particulares que ele dispõe, deixa de as fazer, e leva em
certidão do bedel o estipêndio delas; e ele lha passa sem as faltas, como é
público e notório entre os ouvintes que têm obrigação de assistir a elas, o que
ele declarante sabe por ser estudante da dita Faculdade e antigo e, que as fizera ,
ele o soubera e, por essa mesma razão, sabe o que dito têm do dito Dr. João
Bravo. Disse mais que, o ano passado, antes do S. Martinho este próximo
passado, na eleição que se fez de deputados da Fazenda, houve subornar e falar,
porque, antes da dita eleição, sendo ele declarante deputado de Medicina, e
assim votou nela, não lhe lembra agora ao certo em que dia, o Dr. António
Homem, lente de Prima de Cânones, e o secretário Rui de Albuquerque foram
buscar a ele declarante ao terreiro destas Escolas e, andando todos três, ambos e
cada um deles lhe pediram que, na dita eleição que estava para se fazer de
deputados da Fazenda, votasse por ele, dito António Homem, para deputado
dela canonista; e no Doutor António Lourenço para deputado legista; e que,
para isso, votasse no conselho que houvesse re-eleição do dito deputado legista,
fl. 20 sem embargo de haver sido // deputado no outro ano passado, e, no acto da
dita reeleição, assistiu e votou o dito Dr. António Homem como substituto do
proprietário canonista, que era o Dr. Fabrício de Aragão. E, de efeito, saíram
eleitos o dito Dr. António Homem e re-eleito o dito Dr. António Lourenço;
e que do dito suborno poderão testemunhar os deputados que então eram, a
saber, de Teologia, Frei Vicente Pereira e Frei Bento de S. Bento; e de Câno-
nes, Fabrício de Aragão e António da Silveira, substituto; e, de Leis, António

65
Lourenço e António Veloso; e, de Medicina, João Bravo e ele testemunha; e, de
Artes, João de Resende. E que o dito João Bravo pediu também a ele decla-
rante, antes de entrarem na dita eleição, estando ambos na capela desta Univer-
sidade, não lhe lembra em que dia, que quisesse votar pelo dito António
Homem e António Lourenço na forma sobredita, e, no acto da eleição, vendo
que ele declarante votara em que não houvesse re-eleição, por lhe parecer que o
contrário era a justiça, e que o turno(?) ao Dr. Domingos Antunes e ao Dr.
João de Carvalho, o sobredito João Bravo lhe disse, diante dos mais deputados,
que bem votara, e que votasse agora do mesmo modo como quem se ressentira
de ele declarante não votar como lhe tinha pedido, e que isto era o que sabia
dos ditos interrogatórios e referimento, e mais não disse. E, sendo-lhe lido este
testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do cos-
tume nada. E o assinou aqui com o dito Reformador, e eu, Agostinho de
Aguiar, o escrevi. Diz a entrelinha da Silveira sobredito o escrevi. D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor. António de Faria.

Aos treze dias do mês de Maio do ano de mil e seiscentos e dezanove, em


Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr. Francisco de Mene-
ses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor dela, estando ele aí,
j1. 20v. mandou // vir perante si a Miguel Pinto Fragoso, casado com Isabel das Neves
Soares, natural da vila de Abrantes, onde tem sua casa, e agora estuda nesta
Universidade Leis, e este é o seu sétimo ano, de idade de vinte e três para vinte e
quatro anos, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos,
em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, e prometeu de o fazer assim. Perguntado
se sabe ou presume porque é chamado e se lhe pediu alguma pessoa que, sendo
chamado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. E, sendo-lhe lidos os interro-
gatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação
inquirir, e por ele ouvidos e entendidos, perguntado, em geral, e, depois disso,
em particular, pelo que de cada um deles sabia, disse que, de dois anos a esta
parte, inquietam e amedrontam esta Universidade dois estudantes dela, a saber,
Pero do Couto, bacharel canonista, e lhe parece que é de Entre Douro e Minho
e vive ao serralheiro da Universidade, e Lourenço Dias, canonista, da vila do
Sardoal, que vive no bairro de S. Pedro, homem alto e de barba loura, com
brigas e andar de noite cada um deles com seu mangual, que ele declarante viu
ao dito Pero do Couto tê-lo em casa, e o sabe por o ouvir dizer publicamente
entre a maior parte da Universidade e serem nela tidos e havidos por esses.
Disse mais que, este mês de Abril próximo passado, às nove horas da noite,
vindo de casa de um estudante seu amigo para a sua, e chegando às Figueiri-
nhas, onde agora está uma cruz, saltaram com ele declarante cinco homens,

66
dois em trajo de estudantes e seus barretes, e três de curto, e todos com suas
p. 21 espadas // e rodelas lhe tomaram o manto de baeta que trazia e mil e seiscentos
réis em tostões, e umas luvas, e um lenço, e umas contas, tudo trazia na algi-
beira, e o nomeavam por seu nome como pessoas que o conheciam, e por lhe
haver acontecido o sobredito, e o andar de noite traga consigo fazerem-se seme-
lhantes furtos e desordens, deitava agora aqui assim os homens que lhe parece
inquietam e perturbam a Universidade, como o dito furto, porque, nesta visita
passada, nem o perguntaram como agora, nem ele o foi denunciar, como faz,
para que de todo o modo se alimpe e aquiete a Universidade. E que, desde
então até agora, nenhum rasto achava das ditas coisas, nem das ditas pessoas,
nem as conheceu pela voz, nem sabe onde possa saber delas; e dos outros dirá
toda a Universidade, e em particular Francisco Rodrigues Colaço, estudante
canonista, de Castelo Branco, e vive à Porta Nova. E que isto era o que sabia
dos ditos interrogatórios, e mais não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho e
perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E o
assinou aqui com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Miguel de Pinto Fragoso.

Jorge Osório Coutinho, solteiro, filho de Diogo Osório Coutinho e de


Isabel Osória de Gouveia, natural de Lamego, estudante canonista que vive à
Porta Nova, de idade de vinte e cinco para vinte e seis anos, a quem o Refor-
mador mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,mandado que, sob cargo dele, dis-
sesse a verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim; e, perguntado se sabe ou presume para que é chamado e se lhe
pediu pessoa alguma, por si ou por outrem, que, sendo chamado para testemu-
Jl. 2/v. nhar na visita desta reformação, // calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. E, sendo-lhe lidos os interro-
gatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação
inquirir, e por ele ouvidos e entendidos, perguntado, em geral, e, depois disso,
em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que, um dia destes, nesta
cidade, foi ele declarante a casa de Maria Simões, mulher de João Francisco,
sapateiro, por alcunha o Bacalhau, que vive abaixo da portaria do carro dos
Padres da Companhia, e entre outras coisas, vindo a falar sobre Rui de Albu-
querque, secretário desta Universidade, lhe disse que Pero Geraldes, da Idanha,
sem declarar qual delas, nem que Faculdade professava, e estudante de Sala-
manca, e que se formou nesta Universidade no princípio deste ano escolástico,
pouco antes ou depois, e lhe parece que vivia na casa da dita Maris Simões, dera
ao dito Rui de Albuquerque duas peles de cordovão, uma que trouxe da terra
melhor e outra somenos, que aqui comprou por nove tostões, e quinze cruzados
e patacas e uns queijos da dita Idanha, por que o dito Rui de Albuquerque lhe

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desse ou tempo que não tivesse cursado ou outra coisa semelhante sobre a dita
matéria. E declara que estavam ambos sós e não passaram ali mais; que, no fim
de Outubro próximo passado, não se lembra a quantos dele, nesta cidade, foi
ele declarante a casa de António Veloso, natural da cidade de Lisboa, estudante
legista, que se formou no mês seguinte de Novembro, solteiro, de meã estatura,
magro de corpo, pouca barba castanha, não sabe cujo filho é, nem onde vive,
que será de vinte e sete anos, pouco mais ou menos, e vivia, naquele tempo, na
jl. 22 travessa// que fica na ilharga da igreja do Colégio de Santa Cruz, e, ao pre-
sente, não sabe onde vive em Lisboa, nem como chamam a seus pais, ainda lhe
parece que são defuntos, e, estando ambos sós, a propósito de ele declarante se
queixar de não haver provado o curso do outro ano atrás, o sobredito lhe disse
que, faltando-lhe nos seus cursos um mês, ou mês e meio, o dito Secretário lho
dera nos cursos que lhe tirara, e que ele lhe mandara, em remuneração disso,
um prato de ovos reais e um açafate de ·camoesas, e que, se ele declarante
quisesse provar o dito seu curso, falasse-lhe a ele e lhe oferecesse dinheiro ou
alguma peça, porque entendeu que não repararia nisso. Disse mais que, de
cinco anos a esta parte que há que reside nesta Universidade, sempre deu e viu
dar a todos os mais estudantes por se matricularem ao dito Rui de Albuquerque
um vintém. E, no fim deste mês de Janeiro passado, pouco mais ou menos, lhe
deu João de Carvalho, teólogo opositor ao Colégio de S. Paulo, por lhe tirar os
seus cursos, um escudo de ouro que ele declarante viu tirar, e o dito secretário
recolhê-lo; e lhe parece que o Doutor que ali então assistia era Diogo Mendes
Godinho, se se não engana, e não se lembra quem eram os mais estudantes que
ali estavam, e que isto era o que só sabia; e dizer-se, vulgarmente que, nesta
cadeira de Instituta, que ora está vaga, André Cardoso e Francisco Morais de
Sepúlveda deram votos ao Dr. António de Abreu, opositor a ela, e fizeram
surra, sendo todos três opositores à dita cadeira, e não lhe lembra a quem o
ouviu, somente dizer-se entre a maior parte da Universidade, e que não sabia
doutros subornos das eleições que se costumam fazer na Universidade. E que
não sabia mais dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e
perguntado se estava escrito na verdade, çiisse que sim, e do costume nada; e
assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Jorge Osório Coutinho. //

jl. ]],·. Aos catorze dias do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr.
D. Francisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor
dela, estando ali presente, mandou vir perante si a Jorge Martins, solteiro, filho
de Bartolomeu Afonso e de Margarida Silvestre, da vila do Cadaval, estudante
canonista do quinto ano, morador na Couraça, de idade de vinte e dois anos, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento dos Santos Evangelhos, em que pôs sua

68
mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade no que lhe fosse pergun-
tado e tivesse segredo, o prometeu de fazer assim. Perguntado se sabia ou
presumia para que era chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu
que, sendo chamado para testemunhar na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, disse que não. E, sendo-lhe lidos os inter-
rogatórios dos Estatutos, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, e
por ele ouvidos e entendidos, perguntado, em geral,e, depois disso, em especial,
pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era só que, nesta
cidade, está um estudante institutário deste ano, por nome Luís Fernandes Tei-
xeira, solteiro, não sabe o nome dos pais, e é de Lisboa, que vive aqui defronte
da porta das casas do Conde de Portalegre, em companhia de António de Faria,
médico, e de Matias Gomes, canonista; e, no princípio do dito ano presente, foi
a visitar e a buscar o dito Luís Fernandes por muitas vezes um Luís de Melo,
legista, natural da dita cidade de Lisboa, não sabe cujo filho, que ele declarante .
/1. 23 em algumas delas viu e conheceu / / muito bem, porque ia desembuçado, e,
posto que ele não sabe coisa alguma, os ditos companheiros disseram, diante
dele declarante, ao dito Luís Fernandes, que não queriam que ele conversasse
com o dito Luís de Melo nem fosse lá tantas vezes, porque parecia um fan-
chono, e que, outrossim, viu ele declarante, em algumas noites que se ali achou,
vir a buscar o dito Luís Fernandes alguns estudantes embuçados com os man-
téus por cima da cabeça, e tornaram aqui sem se desembuçarem, e que não viu
que algum deles falasse em casa alguma ou lugar separado com o dito Luís
Fernandes, mas ali, com todos e com o dito, o dito Luís Fernandes e compa-
nheiros e ele declarante falaram os sobreditos, aos quais, nem pela voz, como
tem dito, conheceu , nem do dito Luís Fernandes, nem do dito Luís de Melo
sabe que tenham cometido acto algum de molícias, nem o ouviu mais que o que
tem dito, posto que lhe não pareceram bem as ditas visitas do dito Luís de
Melo, e mais não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se
estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada; e assinou aqui com
o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Jorge Martins.

Miguel de Coimbra, solteiro, filho de Filipe de Coimbra e de Isabel Vieira,


da cidade de Braga, estudante canonista, morador no Bairro do Salvador, de
idade de vinte e quatro anos, a quem o Reformador mandou vir perante si, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse a verdade e tivesse segredo no
que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim. Perguntado se sabe ou
/1. .?J \'. presume o para que é chamado, e se alguma pessoa, por si ou por outrem,/ / lhe
pediu que, sendo chamado para testemunhar na visita desta reformação, calasse
a verdade ou dissesse o contrário dela, disse que não; e, sendo-lhe lidos os

69
interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, e por ele ouvidos e entendidos, perguntado, em geral, e, depois
disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que, este mês de Abril
próximo passado, pouco mais ou menos, faz três anos, nesta cidade, na feira
dela, se achou ele declarante em companhia de Geraldo Pereira de Carvalho,
bacharel formado em Cânones, natural de Braga e ao presente residente nesta
Universidade e morador no canto da Rua dos Anjos, defronte das casas de Luís
de Lemos,e de outras pessoas cujos nomes lhe não lembram, e, estando todos
os sobreditos, lhes disse que o secretário Rui de Albuquerque, na cadeira que
no dito tempo vagou, e se proveu em o Doutor Diogo Mendes Godinho, dera a
Luís Pereira de Castro, colegial do Colégio de S. Paulo, e ao tal tempo opositor
à dita cadeira de Cânones, os livros da matrícula daqueles presentes anos que
lhe convinham, e o dito Luís Pereira os tivera no dito Colégio o tempo que lhe
fora necessário, sem declarar se, por isso, lhe dera alguma coisa. Disse mais
que, de seis anos a esta parte que tem de Direito Canónico, em todos eles
sempre pagou ao dito Secretário pelo matricular um vintém, e,em todos eles,
viu que todos os mais estudantes lhe davam, pela dita matrícula, um vintém,
que ele não só aceita, mas o pede quando lho não dão. Disse mais que, haverá
quinze dias, nesta cidade, indo para Nossa Senhora do Salvador ele declarante,
em companhia de Baltazar do Vale, de Arcos de Valdevez, canonista, bacharel
jl. :!4 opositor// ao Colégio de S. Paulo, e indo ambos e, digo, e de João de Freitas,
de Guimarães, conclusionista em Cânones deste ano, indo todos três sós, por
ocasião de o dito João de Freitas dizer que desejava um dia para fazer conclu-
sões, lhe disse o dito Baltazar do Vale que mandasse alguma coisa ao bedel
Gaspar de Sampaio, e logo teria o dia que quisesse; e posto que não sabe nem
se lho mandou, nem se ele lhe deu o dito dia, é público, entre a maior parte
desta Universidade, que o dito bedel o faz com muita facilidade, por qualquer
coisa que lhe dão. Disse mais que, haverá dois anos que, querendo ele decla-
rante fazer suas conclusões, e por não haver entrado às sortes, e o bedel, que
então era irmão deste que hoje serve, por nome António de Sampaio, se se não
engana, lhe não querer dar um dia, lhe mandou por um pagem dele declarante,
por nome Damião Tinoco, filho de Miguel Duarte, já defunto, que estuda
latim e ainda ao presente está actualmente servindo a ele declarante, uma caixa
de perada e uma dúzia de morcelas doces, que ele dito bedel aceitou, e, por isso,
lhe deu logo imediatemente dia e as graças do que lhe havia mandado, por onde
soube que fielmente lho dera o dito seu criado, e que isto era o que sabia dos
ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava
escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada, e o assinou aqui com o
dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Miguel de Coimbra.

70
Aos quinze dias do Mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr. D. Fran-
cisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor dela,
estand? ele aí, ma'!dou vir perante si a Amaro de Meireles, filho de Domingos
de Meireles e de Agueda Freire, solteiro, estudante canonista, de Santiago-o-
Novo, junto a Arrifana de Sousa, bispado do Porto, morador na freguesia de
./1. 15v.
S. Pedro, // de idade de vinte e três anos, e, sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,mandado que, sob cargo
dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, e prometeu
de o fazer assim. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se
alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a
esta parte, disse que não. E, sendo-lhe lidos os interrogatórios dos Estatutos
reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, e por ele ouvidos
e entendidos, perguntado, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de
cada um deles sabia, disse que, este Natal passado faz dois anos pouco mais ou
menos, nesta cidade, em casa dele declarante, não lhe lembra em que mês nem a
quantos dele, lhe contou Bartolomeu de Passos, filho de Sebastião André, e não
se lembra do nome da mãe, moradores no lugar do Porco, freguesia de Santo
André de Cristelos, do dito bispado do Porto, criado que foi dele declarante e,
ao presente, residente na dita terra, e ao tal tempo criado que também é de dois
estudantes de Setúbal nesta cidade, um dos quais era cristão-novo e outro
cristão-velho, e viviam na freguesia de S. Pedro, e o cristão-novo legista, e o
cristão-velho canonista, não lhe lembram os nomes, e lhe parece que o cristão-
-velho se chamava fulano Rodrigues, e se formaram ambos do dito tempo até à
Páscoa, pouco mais ou menos, e assim lhe disse, como tem dito, o sobredito
Bartolomeu de Passos, que ao dito cristão-velho fulano Rodrigues lhe faltavam
para se formar dois anos, se se não engana, ou o tempo que na verdade se
achar, e que pelos cursos que tinha do secretário Rui de Albuquerque e tivera
fazendo fé dos traslados para lhe furtar a letra até que, parecendo-lhe que a
tinha bem furtada e falsificada, e no dito traslado que fizera apresentara o dito
tempo que lhe faltava e com ele se viera ao Reitor D. João Coutinho que nele o
/1. 15 admitiu // aos autos, e que assim, por virtude da dita falsidade, se formara e se
fora ter a Páscoa à sua terra da dita vila de Setúbal, donde na verdade se afirma
que era. Disse mais que, no dito tempo, nesta cidade, no Colégio do Mosteiro
de S. Bento desta Universidade, não lhe lembra em que mês, se achou ele decla-
rante em companhia de seu irmão Frei Mauro das Chagas, frade da dita
Ordem, e Doutor na Sagrada Teologia, e, estando ambos sós por ocasião de
dar conta do sobredito ao dito seu irmão, e de lhe responder que seria por
ordem do secretário Rui de Albuquerque, disse mais ele declarante que o dito
Rui de Albuquerque dera dois meses para fazer seus autos a um estudante por

71
dez ou vinte cruzados, que então lhe disse ao certo, posto que agora lhe não
lembra se o dito estudante os tem cursado nem provado, e sendo-lhe necessários
para fazer o dito auto, e posto que lho não exprimiu, presumiu e entende ele
declarante que foi ao dito seu irmão a quem o dito secretário deu os ditos dois
meses. Disse mais que, de três anos que há que está nesta cidade, sempre deu
ao dito Rui de Albuquerque pelo matricular um vintém, e viu que todos os
mais lho deram e dão, e que lhes diz que ponham ali um vintém, e o recebe.
Disse mais que Sebastião Lopes, escrivão da almotaçaria, taxas, armas e apo-
sentadoria, esta Páscoa próxima passada, alguns dias antes dela, sendo necessá-
ria a ele declarante uma certidão do assento da taxa das casas em que viveu, à
porta do Castelo, de Maria Dias, para lhe pagar conforme a ela, o sobredito lhe
passou a certidão e lhe levou por ela cento e trinta réis, sem ele declarante lhos
querer dar, e por lhos pedir sem lhos dever, porque, se, do assento da dita taxa,
não tem mais que um vintém pelo Estatuto, mal lhe podia levar da dita certidão
dela cento e trinta réis, e que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios.
E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade,
disse que sim, e do costume nada, e assinou com o dito Reformador, que lhe
mandou que trouxesse a dita certidão, que tinha, sob pena de dez cruzados
Jl. 25 v. pagos da cadeia, e assim que desse minha fé por termo de como vira/ / a dita
certidão e do que nela se contivesse. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Amaro de Meireles.

E dado assim o dito testemunho, logo in continenti no mesmo dia, hora e


momento tornou o dito Amaro de Meireles conteúdo no dito testemunho, e
apresentou ao dito Reformador a certidão de que nele se faz menção da taxa
geral que se fez aos cinco de Maio de seiscentos e dezasseis, e de como nela
foram taxadas as casas de uma Maria Dias, sitas fora da porta do Castelo, em
preço de cinco réis e de como, outrossim, era feita a dita certidão aos seis dias
do mês de Novembro de mil e seiscentos e dezoito por Sebastião Lopes da
Costa, escrivão da almotaçaria, armas e taxas, e por ela levara cento e vinte e
cinco réis, como constava da dita certidão, e, por ser assim o sobredito, dou
disto minha fé de que fiz este termo por mandado do dito Reformador que,
com ele juntamente, assinei. Agostinho de Aguiar o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Agostinho de Aguiar.

Jacinto da Rocha, solteiro, filho de Sebastião da Rocha e de Maria


Nogueira, já defunta, natural de Aveiro, onde o dito seu pai é escrivão da
Câmara e aimoxarife do Duque, estudante legista do sétimo ano e morador na
Rua de Tinge-Rodilhas, de idade de vinte e dois para vinte e três anos, a quem
/1. 26 o Reformador mandou vir perante si, e, sendo// presente, lhe deu juramento
nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e lhe mandou que, sob cargo dele,

72
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, e prometeu de o
fazer assim. Perguntado se sabe o para que é chamado ou o presume, e se
alguma pessoa lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita
desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo
a esta parte, disse que não, pelo que, sendo-lhe lidos os interrogatórios dos
Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles,é obrigação inquirir, e por
ele ouvidos e entendidos, perguntado, em geral,e, depois disso, em especial, pelo
que de cada um deles sabia, disse que, haverá seis anos, e foi o seu primeiro de
Jnstituta, pouco mais ou menos, não lhe lembra em que mês nem a quantos
dele, sendo ele declarante companheiro de Paulo da Fonseca, votou na cadeira
de Leis que perdeu o Dr. Luís de Góis e lha levou o Dr. Cid de Almeida,
colegiais de S. Pedro e de S. Paulo, que no dito tempo estava vaga, e sendo,
outrossim, ele declarante, amigo de Manuel João Pereira, votou na dita cadeira,
e ambos naturais da dita vila de Aveiro, o mandou chamar a ele declarante o
Dr. António Homem, lente de Prima de Cânones, à noite, por um criado seu,
dizendo-lhe que fosse lá às ditas horas, porque, assim, ele declarante como o
dito seu companheiro eram conhecidos do dito Doutor, pelos parentes que tem
o sobredito Doutor em Vagos, junto da dita vila de Aveiro, donde ele decla-
rante é, e, em efeito, foi à noite ele declarante nesta cidade a casa do dito
Doutor, onde ao presente mora, embuçado e, tanto que entrou na segunda casa
que é o seu estudo, o dito Doutor, conhecendo-o, assim por o ter mandado
chamar como pelo tamanho do corpo, fechou logo a porta e se foi a ele decla-
rante a desembuçá-lo, e, tanto que o desembuçou, o abraçou e, chegando-o a si
Jl. 26v. e o seu rosto ao dele declarante, tendo-o // abraçado, o beijou na face, e, indo
para o beijar na boca, por ele declarante gritar que lhe abrisse a porta, que se
queria ir, o sobredito o desabraçou e o levou a outra casa de dentro e aí lhe deu
uns papelitos de confeitas e bocados de doces, e lhe disse, para o aquietar, que
estava zombando, e que o mandara chamar para lhe pedir que quisesse persua-
dir ao dito Paulo da Fonseca, seu companheiro dele declarante, e ao dito
Manuel João Pereira, a que votassem na dita cadeira pelo dito Cid de Almeida,
já que eles, mandando-os chamar ele dito Doutor, não quiseram ir lá como o
dito seu tio, e o dito Manuel João disseram a ele declarante que o dito Doutor
os mandara chamar, e que ele declarante lhes deu o dito recado, e não sabe se
foram lá ou não, mas que o dito Doutor mandou ao dito Manuel João uns
poucos de doces, como ele lhe dera, e não tornou lá mais, nem com ele passou
mais coisa alguma, mas se falam de barrete como conhecidos, onde se acham, e
que isto era o que sabia desta matéria. Perguntado se lhe pareceu que era o
sobredito zombar, ou querer o dito Dr. António Homem cometer com ele
pecado algum, e se o coligiu assim do dito efeito ou por palavras algumas que
lhe dissesse, disse que assim pelos ditos abraços e beijos como por lhe gabar os
olhos e ter ouvido, antes disso e depois, muito má fama do dito Doutor no

73
pecado de molícias, e se dizer publicamente nesta cidade que o cometia
com um sobrinho, não sabe qual, dos do Bispo eleito desta cidade, D. Martim
Afonso Mexia, presumiu e entende que o dito Doutor o quis cometer com ele
jl. 27 declarante, e o efectuara/ / se o consentira. Disse mais que, este mês de Dezem-
bro passado fez um ano, não lhe lembra a quantos dele, nesta cidade, ao Paço
do Conde, se achou ele declarante em companhia e casa de Miguel Pereira,
estudante canonista, já formado do dito ano passado, natural de Beja, e de
Manuel João Pereira, atrás nomeado, e, estando todos três, por ocasião de
virem a dizer que havia uns ditosos e outros desgraçados com o secretário Rui
de Albuquerque, disse ali o dito Miguel Pereira que ele queria que lhe untassem
as mãos, e que assim o fizera ele, Miguel Pereira, e que lhe mandara uma caixa
de marmelada e uma salva de prata, que lhe também ficou, e que, por isto, não
tendo ele provado o curso de um ano, o dito Rui de Albuquerque lho provara,
sem provisão que para isso tivesse de Sua Majestade, nem licença do Reitor,
sem especificar em que ano que lhe lembre a ele declarante. Disse mais que, de
seis anos a esta parte, dá ao dito Rui de Albuquerque um vintém pelo matri-
cular, e assim o vê dar a todos os mais estudantes, e este os aceitou e aceita.
Disse mais que, este ano passado, não lhe lembra em que mês, nesta cidade, à
porta dele declarante, se achou com Manuel Correia, estudante canonista, filho
de João António, mercador de panos, e, estando ambos, o sobredito lhe mos-
trou um pistolete, pouco mais de palmo, perguntando se lho queria comprar, e
que do sobredito o ter então poderá também testemunhar o dito Paulo da
Fonseca, e que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, por mais não
dizer, lhe foi lido este testemunho e, perguntado se estava escrito na verdade,
disse que sim, e do costume nada. E assinou aqui com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. E diz a entrelinha anos. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Jacinto da Rocha. / /

jl. 211-. Cristóvão de Coimbra, solteiro, filho de Filipe de Coimbra e de Isabel


Vieira, da cidade de Braga, estudante legista, morador junto a Nossa Senhora
do Salvador, de idade de vinte e cinco anos, a quem o reformador mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, e prometeu de o fazer assim; perguntado
se sabe ou presume o para que é chamado, e se alguma pessoa, por si ou por
outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não,
pelo que, sendo-lhe lidos os interrogatórios dos Estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, e por ele ouvidos e entendidos,
perguntado, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que cada um deles
sabia, disse que o que deles sabia era estar infamado o secretário Rui de Albu-

74
querque de tomar peitas e não fazer bem seu ofício, e não sabe donde nascesse
esta fama nem se lembra, ao presente, as pessoas a quem o ouviu, nem, outros-
sim, a quem ouviu que Luís Pereira, colegial que foi do Colégio de S. Paulo, lhe
dera dinheiro, para que, na ocasião que teve de ser opositor a uma cadeira de
Cânones, lhe desse os livros da matricula e o mais que lhe fosse necessário para
a dita pretensão; e que, de seis anos a esta parte, o dito Rui de Albuquerque lhe
jl. 28 levou e aos mais estudantes// um vintém pelo matricular. Disse mais que tam-
bém ouviu a algumas pessoas, que não lembra, que Manuel de Tovar, cano-
nista, não sabe cujo filho nem donde é natural, e pousa na Rua das Covas,
estava infamado do pecado de molícias, e ele declarante o imaginava assim por
o ver andar muitas vezes com um moço bem assombrado. Disse mais que,
haverá quatro ou cinco anos, que Frei Basílio, religioso da Ordem de S. Bento,
estando neste Colégio, e não é letrado, mas tem ordens de missa, estando
ambos sós, lhe disse que Frei Álvaro, da mesma Ordem, pregador, cometia o
dito pecado de molícias com um moço que então era estudante das Escolas
Menores, e agora anda nos Cânones, foi o ano passado institutário e poderá ser
de dezoito anos pouco mais ou menos, desbarbado, alvo e bem corado, nariz
comprido e olhos grandes, magro e alto de corpo, e não sabe donde seja natural
nem onde mora, nem como se chama, e que do dito moço não sabia coisa
alguma, e que o dito frade era a tal tempo aqui estudante teólogo e colegial no
dito Colégio de S. Bento. E que isto era o que só sabia dos ditos interrogató-
rios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na ver-
dade, disse que sim e do costume nada. E assinou aqui com o dito Refor-
mador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Refarmador e Reitor. Cristóvão de Coimbra.

Aos dezasseis dias do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove, nesta


cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr. D. Fran-
cisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor dela,
/1. 28v. estando ele aí, // mandou vir perante si a Damião Tinoco, testemunha referida,
solteiro, filho de Miguel Duarte e de Ângela Fernandes, digo de Briolanja Fer-
nandes, do lugar de São Breixemo, arcebispado de Braga, estudante da segunda
classe, que serve a Cristóvão de Coimbra, estudante de Braga, de idade de vinte
e um anos; e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos,
em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, e prometeu de o fazer assim. Perguntado
se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por
outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela, disse que não. E, sendo-lhe lidos os interrogatórios
dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, e
por ele ouvidos e entendidos, perguntado, em geral, e, depois disso, em especial,

75
pelo que de cada um deles sabia, disse que, haverá dois anos, nesta Universidade,
querendo fazer conclusões por não haver entrado às sortes Miguel de Coimbra,
filho de Filipe de Coimbra e de Isabel Vieira, da cidade de Braga, irmão do dito
seu amo, e por o bedel que então servia, que lhe parece se chama António de
Sampaio, irmão de Gaspar de Sampaio, que hoje serve, lhe não querer dar/ /
jl. JY dia para as fazer, segundo lhe ouvia em casa, mandou, por ele declarante, ao
bedel uma caixa de perada e uma dúzia de morcelas doces, e o sobredito as
aceitou e lhe deu ainda por lhas levar um vintém, a horas de jantar, e não deu fé
de quem aí estivesse, senão um moço seu, a quem não sabe o nome, e posto que
não sabe se lhe deu o dito dia, viu e soube que, depois disto, fizera logo o dito
Miguel de Coimbra suas conclusões, e também as fez, no mesmo tempo, seu
irmão Cristóvão de Coimbra, e por lhe isto então parecer mal do dito oficial, o
diz agora dele pela pergunta que lhe fizeram entre as mais dos ditos interrogató-
rios, e que isto era o que só deles sabia, e mais não disse. E, sendo-lhe lido este
testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do cos-
tume nada. E assinou aqui com o dito Reformador. E eu, Agostinho de
Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Damião
Tinoco .

Aos dezassete dias do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr.
D. Francisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor
dela, estando ele aí, mandou vir perante si a António Lopes Pantoja, filho de
Lopo Dias de Góis, corregedor que ora é da cidade do Porto e sua comarca, e
de D. Luísa Pantoja, estudante canonista, morador na Couraça, de idade de
p . .:Y,·. vinte e cinco para vinte e seis anos, e, sendo // presente, lhe foi dado juramento
nos Santos Evangelhos em que pôs sua mão, sob cargo do qual lhe foi man-
dado dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, e prometeu
de o fazer assim. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se
alguma pessoa, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita
desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo
a esta parte, disse que não. E, sendo-lhe lidos os interrogatórios dos Estatutos
reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, e por ele ouvi-
dos e entendidos, perguntado, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de
cada um deles sabia, disse que, há oito anos, pouco mais ou menos, vindo ele
declarante para esta cidade, e chegando a uma estalagem de Évora achou aí a
Brás Casco de Ferlain(?), ouvidor que é do Marquês de Ferreira, casado, não
sabe o nome à mulher, na vila de Vila Ruiva, e ao tal tempo estudante legista
nesta Universidade, e a Mateus de Brito, filho de Rui de Brito, não sabe o nome
à mãe, que, a tal tempo institutário, é agora casado, não sabe o nome à mulher,
e, estando ambos sós, ele declarante e o dito Brás Casco, o sobredito disse que o

76
dito Mateus de Brito se escandalizara dele dito Brás Casco zombar com ele, e
do dito Mateus de Brito pedir a ele declarante que o deixasse dormir na sua
cama, e de se enfadar do dito Brás Casco chamar "meu coração", e, no fim da
J1. 30 jornada,// se tornaram a amigar ora; o que logo dizia que lhe contaram dos
sobreditos, e da má fama que tinha o dito Brás Casco, e de ser o dito Mateus de
Brito moço e bem alembrado, e que, nesse mesmo ano, não lhe lembra com
quem, nesta mesma cidade, se achou ele declarante em casa de Cristóvão de
Faria, solteiro, estudante canonista, já formado, natural de Setúbal, onde hoje
vive; e não sabe o nome aos pais; e, estando com ele e com Vicente de Morais,
opositor que foi nesta Universidade em Leis, e hoje é frade professo de Santo
António, da Província da Piedade, todos três, ambos os dois lhe contaram que
o dito Mateus de Brito lhes dissera que, deitando-se na cama com o dito Brás
Casco e com dar muitos nós às ceroulas por se temer dele, estando dormindo, o
sobredito lhos desapertara; e que, por essa razão, sendo companheiro do dito
Brás Casco, se apartara dele e tomara outras casas; e o mesmo lhe parece que
disse a ele declarante o dito Mateus de Brito, e nenhuma outra coisa lhe conta-
ram mais que visto houvesse. Disse mais que, no dito ano, não lhe lembra a
que mês, nesta cidade, em casa dele declarante, estando ambos sós, lhe disse o
dito Mateus de Brito que, nesse mesmo ano, dormindo uma noite em casa do
dito Brás Casco, vindo a ela dormir António Freire e Jacinto Freire, moços,
filhos de Bernardim Freire de Almeida, de Beja, e estudantes canonistas forma-
dos, que ora residem em Lisboa, vira ao dito Brás Casco, e a um Pero de
Almeida, estudante, primo e companheiro então do dito Brás Casco, cometer o
pecado de molícias com o dito Jacinto Freire mais moço, e ora um ora outro; e,
posto que era de noite, ele dirá o modo em que o viu; e porque lhe isto pareceu
/1301•. mal e agora perguntaram, e o não fizeram na visita passada, // o declara; e que
isto é o que sabia dos ditos interrogatórios, e mais não disse. E, sendo-lhe lido
este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do
costume nada. E o assinou aqui com o dito Reformador. E eu, Agostinho de
Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. António
Lopes Pantoja.

Aos dezoito dias do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr.
D. Francisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor
dela, estando ele aí, mandou vir perante si a Pantaleão Rodrigues Pacheco,
filho de Francisco Pacheco e de Maria dos Reis, de Vila Viçosa, bacharel cano-
nista, morador na Couraça, de idade de vinte e seis anos; e, sendo presente, lhe
foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado
que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse pergun-
tado, e prometeu de o fazer assim; perguntado se sabe ou presume o pua que é

77
chamado e se alguma pessoa, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo
.f1. 31 perguntado na visita desta reformação, // calasse a verdade ou dissesse o con-
trário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não, nem tal se lhe pedira; e,
sendo-lhe lidos os interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, e por ele ouvidos e entendidos, perguntado,
em geral,e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que
não sabia deles coisa alguma; pelo que, dito e perguntado se, servindo de almo-
tacé desta Universidade, lhe deram sempre nos actos a propina que, pelos Esta-
tutos, tinha, ou em quantos deixaram de lha dar, e de que tempo a esta parte, e
se disso se queixou a pessoa alguma, disse que, o ano passado, esteve presente,
mas, faz um ano, em um auto de mestre em Artes, não lhe lembra de quem,
servindo actualmente de almotacé desta Universidade, o bedel Bartolomeu Fer-
nandes, que então devia servir por Gaspar de Seixas, lhe não deu a propina que
lhe devia pelo Estatuto, nem a Cipriano Mendes, bacharel legista, de Ourém,
que, outrossim, com ele declarante, servia de almotacé, sem embargo de ambos
e cada um deles lha pedir, e que, no dito tempo, servindo ainda de almotacés, o
dito bedel Bartolomeu Fernandes lha não quis dar também a ambos, como, de
efeito, não deu em um auto de formatura de Teologia, não lhe lembra de quem.
Disse mais que, no dito mês e tempo em que serviam de almotacés, lhes negou
também a dita propina e, de efeito, lha não deu, o bedel Gaspar de Seixas em
uma formatura de Medicina, e que disso se queixou a algumas pessoas que lhe
.fl. 3/ v. não lembram, e que esta queixa viu fazer aos mais dos oficiais a que // se deve
propinas do dito Gaspar de Seixas, e em particular lhe lembra fazê-la ao Dr.
João Bravo, e que isto era o que sabia dos ditos bedéis. Disse mais que, no dito
ano e tempo que serviu de almotacé (como tem dito), ele e o dito seu compa-
nheiro Cipriano Mendes, não lhe lembra em que feira dos ditos meses, conde-
naram a um homem, de cujo nome não se lembra, por atravessar linho, na
pena do estatuto, que eram mil réis, e, por se ausentar, lhe mandaram fazer
embargo em uma mala sua, como, de efeito, fizeram, na mão de um dos estala-
jadeirqs da feira, que mora defronte da casa da farinha, a quem não sabe o
nome, pelo escrivão de seu cargo, Sebastião Lopes da Costa, que lhes disse
como desembargara a dit~ mala por peças que passavam da dita quantia e .que
ficavam em seu poder, e, posto que entregou outra semelhante condenação e
esta ao meirinho e conffaria, sabe ele declarante e assim o de fora, o dito seu
companheiro, que o dito Sebastião Lopes, até hoje, não tem satisfeito a dita
condenação ao dito meirinho e confraria; e lhes disse que, entre as ditas peças,
lhe ficara um anel de ouro. Disse mais que, haverá o dito ano, não lhe lembra
em qual dos meses, de seu cargo, ambos os dois condenaram ao dito Sebastião
Lopes em pena de mil réis para a confraria, somente por não acudir às obriga-
ções de seu ofício, de que fizeram autos com Domingos Gomes, escrivão da/ /
.fl. 32 receita e despesa da Universidade, que deu sua fé de não acudir às ditas feiras

78
para exercitar seu ofício, e, sem embargo de avisar ao escrivão da confraria João
dos Santos que lha mandasse pedir, como, de efeito, pediram por António Fer-
nandes, andador, até hoje sabe que a não tem pago, e o mesmo dirá o dito seu
companheiro Cipriano Mendes, em cujo poder ou dele declarante está o dito
auto, que trarão tanto que o acharem. Disse mais que, este ano presente, nas
conclusões da Faculdade de Cânones e Leis, o bedel Gaspar de Sampaio sabe ele
declarante que, contra seu ofício e sortes, e sem licença do Reitor, as deixou
trocar aos conclusionistas Luís Mendes de Abreu, de Veiros, e a Afonso Pato,
casado em Évora, legistas, para que cada um fizesse na matéria em que tinha
estudado as conclusões e lhe ficassem caindo os padrinhos cujos elas houveram
contra o estilo e estatutos reformados, por certa peita que ambos lhe deram,
segundo cada um deles, estando ambos sós, em diversos tempos e lugares que lhe
não lembram, o disseram a ele declarante, e tornou a dizer que estava presente
Fernão Lobo de Sequeira, legista, de Estremoz, e André Ximenes, da dita vila,
também legista, e não disseram por quem lho mandaram, nem o que; e que isto
era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e
perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim e do costume nada, e
assinou aqui com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Pantaleão Rodrigues Pacheco .

.fl. 32v. Manuel Ramalho, solteiro, filho de Luís Fernandes// e de Maria Rama-
lha, da cidade de Lamego, estudante canonista, morador na Rua das Covas, de
idade de vinte anos, a quem o Reformador mandou vir perante si e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão,
e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado, e prometeu de o fazer assim. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se lhe pediu alguém, por si ou por outrem, que, sendo
perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não; e, perguntado pelos interroga-
tórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação
inquirir, em geral,e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia,
disse que, haverá sete ou oito dias, se achou ele declarante nesta cidade na loja
de Maria Baptista, sua ama, na Rua das Covas, em companhia de Gaspar
Velho, não sabe o nome aos pais nem donde é natural, estudante da oitava
classe das Escolas Menores, que vive lá em baixo, e lhe parece que na Rua da
Moeda, e, estando ambos sós, o sobredito lhe disse que tinha um pistolete em
seu poder, sobre que emprestara mil e quinhentos réis a um estudante que se
formara este ano, sem o nomear, e ali não passaram mais, nem sobre esta
fl. 33 matéria e interrogatórios sabe mais coisa alguma. // E, sendo-lhe lido este tes-
temunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim e do costume

79
nada, e assinou aqui com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o
escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Manuel Ramalho.

Pedro Homem de Faria, solteiro, filho de André de Avelar, lente de


Matemática nesta Universidade, e de Luísa de Faria, morador nesta cidade,
estudante canonista, de idade de vinte e dois anos, a quem o Reformador man-
dou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evange-
lhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, e prometeu de o fazer assim. Per-
guntado se sabe ou presume para.que é chamado, e se alguém, por si ou por
outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigatório inquirir, em geral,e, depois disso, em especial, pelo
que de cada um deles sabia, disse que, haverá quatro ou cinco meses pouco
mais ou menos, nesta cidade, no Mosteiro das freiras de Santa Ana, estando ele
declarante, à tarde, na Roda, ouvindo uma briga fora da porta do dito Mos-
teiro, no caminho que vai para Celas, e acudindo a ela, viu que era, de uma
parte, Luís de Carvalho, solteiro, estudante, da cidade de Lisboa, e vivia na
freguesia de S. Pedro, companheiro de Francisco Tavares, e não lhe sabe mais
fl. 33v. confrontações, // e um fulano de Faia, mal visto, a quem não sabe o nome
próprio, e é de Lisboa, e legista, não sabe mais confrontações, e, da outra parte,
Manuel Falcão, solteiro, legista, e lhe parece que vive na Pedreira, e Luís
Pereira, do Alentejo, institutário, e vive junto a José da Fonseca, conselheiro
este presente ano, na Pedreira, e Simão Correia, canonista, companheiro do
dito Manuel Falcão, e um mulato a quem não conhece nem sabe o nome,
pouca barba e preta, e de meã estatura, e que o dito fulano de Faia atirara com
um pistolete pouco mais de palmo, e o disparara; e, porque vê mal, dera e
dispararia em Gaspar da Fonseca, do Alentejo, que vive em casa de D. Mécia,
sua tia, que acudiu à dita briga, e que o dito mulato dera então no dito fulano
de Faia algumas pancadas e cutiladas no dito fulano de Faia, de que ficou mal
ferido na cabeça, e que o dito Luís Pereira, da outra banda, tinha um pistolete
na mão, de palmo e meio, com o cão armado, e apontando com ele para os
outros; mas que o não disparou; e que isto é o que viu, e que logo ali então
disseram que o dito Luís de Carvalho trazia também outro pistolete do mesmo
tamanho, e que, se todos os que por ali se achavam não acudiam, sem dúvida o
dito mulato matara o dito fulano de Faia, e com os ditos pistoletes acontecera
outro tanto, e que o dito Gaspar da Fonseca milagrosamente não perigara com
o dito tiro, porque resvalaram os pelouros e lhe deram no braço. E viu que ali
não acudiu o Conservador Martim de Carvalho, nem justiça alguma, nem o seu
fl. 34 meirinho, nem depois, nem que, até hoje, se tirasse devassa disso, e se// pergun-

80
tasse pelo dito caso, e que dele poderão dizer Miguel Pinheiro, estudante cano-
nista, de Lisboa, que vive na Rua das Escolas Menores, e não lhe sabe mais
confrontações, e Luís Mendes Palma, estudante canonista, outrossim de Lisboa,
que vive defronte dos paços do Bispo, e algumas das criadas de fora do dito
Mosteiro de Santa Ana; e que isto era o que desta matéria sabia. Perguntado
que estudantes são mais contínuos no dito Mosteiro, de modo que se divirtam
assim do estudo, perturbem e inquietem as religiosas dele e o serviço delas, com
sua assistência no pátio e Roda do Mosteiro, disse que eram Jacinto da Fon-
seca, estudante canonista, irmão de José da Fonseca, conselheiro, e Gaspar da
Fonseca, acima referido, e Luís Pereira, também acima referido, e todos os
mais, tirando o dito fulano Faia, e Afonso Craveiro, médico, criado do Bispo
do Algarve, e Cristóvão Teixeira, canonista, filho do conservador que foi André
de Matos, e por, digo, e Simão Pereira, legista, da Guarda, que vive na Rua dos
Anjos, e todos têm amizades no dito Mosteiro. E que isto é o que só sabia dos
ditos interrogatórios e das ditas amizades e continuação do dito Mosteiro, por
continuar lá muitas vezes, por respeito de três irmãs que tem no dito Mosteiro;
e, sendo-lhe lido este testemunho e perguntando se estava escrito na verdade,
disse que sim, e do costume nada, salvo haver tido brigas com o dito Luís
Pereira e estarem de falas tolhidas. E assinou aqui com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Pedro Homem de Faria.

/1. 34v. Aos dezoito dias do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove// anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr.
D. Francisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor
dela, estando ele aí, por ele foi mandado vir perante si a Álvaro Lopes Tavares,
testemunha referida, sacerdote de missa, colegial do Colégio das Ordens Milita-
res, freire professo da Ordem de Santiago; e, sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade
e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, e prometeu de o fazer assim.
Perguntado se sabe ou presume o porque é chamado, disse que não. Pergun-
tado se lhe pediu alguém, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita
desta reformação por coisa que lhe tocasse, calasse a verdade ou dissesse o
contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, em geral e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles
sabia, disse que o que deles sabia era que o bedel Gaspar de Sampaio, fazendo-
-se ele declarante bacharel, haverá dois anos, pouco mais ou menos, lhe pediu
para o dito auto certa quantia, que lhe não lembra, e para o de formatura, este
ano presente, em o mês de Janeiro, quatro mil e duzentos réis, pouco mais ou
menos, e, posto que o dito bedel lhe não podia pedir ao certo o que se montasse

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Jl. 35 nos ditos autos,/ / antes mais para que não faltasse neles, até hoje lhe não deu
conta do de formatura, nem seu irmão António de Sampaio, que tomou a dizer
que fora o bedel que serviu no tempo que se fez bacharel, lha deu também.
E que deixara de lha pedir, porque tem assim o dito bedel, como os mais das
outras Faculdades, tão introduzido este estilo de não darem conta do que
pedem para os ditos autos, que lhe pareceu que seria tachado, nele declarante,
fazer o que os outros não fazem. E que o sabe assim pelo que lhe aconteceu,
como por o ouvir aos mais condiscípulos de umas e outras Faculdades, que não
especifica porque é comum queixa de toda a Universidade. Disse mais que os
ditos bedéis usam de outro termo para tomar dinheiro do que lhe dão, que é,
nos autos de bacharéis, pôrem, na porta para argumentar, na forma do Esta-
tuto, os bacharéis presentes que deixarem de entrar neste turno os ausentes,
sendo assim que a respeito das ditas multas ausentes e presentes todos entram
neles, e havendo-se de guardar o dito turno não vinham então aos ditos presen-
tes tantas multas porque proportionabiliter põem a todos três que a respeito do
dito turno não poderão ser tantas; o que fazem, porque fica sendo maior o
interesse deles nelas, e o sabe pelo que lhe aconteceu de lhe levarem seis tostões
sem poder ter as ditas três multas, senão pelo dito modo, e a mesma queixa é
tão comum na Universidade como a outra. Disse mais que, desde nove anos a
esta parte que há que está nesta Universidade, matriculando-se, sempre deu por
isto a Rui de Albuquerque, secretário desta Universidade, um vintém, e também
Jl. 35 v. todos os outros lho deram, e o aceitou, posto que o não pedisse. // Disse mais
que, em todos os ditos anos, não ouviu ao Reitor e mestres fazerem lembrança
aos estudantes ao tempo que se hão-de confessar, porque, se o fizeram, ele
declarante dera fé dele. Disse mais que, em todos os ditos anos, viu e sabe que
os lentes não fizeram as repetições que cada ano são obrigados; e que isto é o
que só sabia dos ditos interrogatórios, pelo que, sendo-lhe lido o referimento
nele feito por Francisco Tavares, e por ele lido e entendido, disse que não lhe
lembra que o dissesse, nem soubesse, por si, porque não assistiu ao dito ponto,
nem por outrem, posto que ele declarante e alguns amigos seus, como serão
João Pereira Botado e outros, que agora não lhe lembram, assentaram então .e
presumiram que o sobredito António de Sampaio não poderia ser do modo em
que leu fazerem a lição por si, como mostrou que fizera sem ter sabida a dita
lição, em que porventura se perderia com o dito ponto; e que da dita formatura
não sabia coisa alguma, e que sabia que o dito bedel Gaspar de Seixas, em
tempo do dito Reitor D. João Coutinho, ainda na Faculdade de Leis e Câno-
nes, vinha assistir pelo bedel da dita Faculdade e pelo secretário Rui de Albu-
querque em alguns pontos, como foi no dele declarante, em que, depois de lhe
estar dado o ponto pelo dito Reitor, dizendo o Dr. Fabrício de Aragão que o
ponto era outro diferente do que lhe tinha caído, o dito bedel o consentia e se
Jl. 36 calou, de modo que,// se ele declarante o quisera trocar, o fizera sem falta, sem

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embargo de ali estar o dito bedel, e muita gente, de que agora lhe não lembra
mais que do dito João Pereira Botado e Sebastião Álvares da Silva, por cujo
respeito deixou de trocar o dito ponto, e em todos os pontos seus e de amigos
viu e sabe que o dito secretário Rui de Albuquerque não assistiu, e que isto é o
que só sabia, pelo que, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava
escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou aqui com
o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Álvaro Lopes Tavares.

Afonso Pato de Sousa, casado com Faustina Mendes, digo, Fumante, da


cidade de Évora, estudante legista, morador na Rua das Parreiras, de idade de
vinte e, oito anos, testemunha referida, a quem o Reformador mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, e prometeu de o fazer assim; e perguntado
se sabe ou presume o que para que é chamado, e se alguém, por si ou por
outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral,e, depois disso, em especial, pelo que
Jl. 36v. de// cada um deles sabia, disse que ouviu dizer comummente entre as mais das
pessoas desta Universidade e cidade que, por muitas, lhe não lembram quais,
que alguns dos lentes dela, e ainda fora desta cidade, que a nomeação passada e
última que se fez a Sua Majestade das pessoas que lhe nomearam para leitores
desta Universidade fora feita por subornos, e sem muitos dos eleitores que os
ditos Estatutos reformados requerem, como mais particularmente declararão os
que nela assistiram. Disse mais que, o primeiro dia deste presente mês de Maio,
ou o segundo, pouco mais ou menos, à noite, das oito para as nove horas, nesta
cidade, na dita Rua das Parreiras, ouviu um tiro de espingarda que se disparou
na própria rua, e, acudindo imediatamente, viu levar a um clérigo, estudante
nesta Universidade, a quem não sabe o nome, com a mão esquerda passada
com os perdigotos do dito tiro, para o curarem aí, em uma casa que, se se não
engana, era a dos criados do Dr. Miguel Soares Pereira; e o dito clérigo
queixou-se de judeus o quererem matar; e, posto que não viu ele declarante
quem lhe atirou, presume e tem para si que lhe atirou com a dita espingarda
João Vieira, estudante legista, que disse ser de Lisboa, e casado, que será de
vinte anos, baixo, grosso de corpo e com um buço louro e longo do rosto, que
mora na dita Rua, porque imediatamente se disse, logo aí, por muitas pessoas,
como foi Catarina Luís, ama de estudantes, não lhe sabe mais confrontações;
e, ao outro dia, por se ele ausentar, e se dizer, entre a mesma vizinhança toda,
que se concertara com o dito clérigo em oito mil réis. E tanto que o Conserva-

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jl. 37 dor, depois de passados oito ou// nove dias, perguntou testemunhas sobre o
caso, foi-se o dito João Vieira desta terra sem provar o curso. E viu também,
ousava falar melhor, sentiu, depois de atirarem, irem fugindo, e fazerem
estrondo de duas pessoas, que, ainda que não sabe quem fosse o outro, também
Simão Ferrão, solteiro, estudante legista, que dizem ser de Santo António do
Tojal, de dezoito anos, desbarbado, companheiro do dito João Vieira, se ausen-
tou três ou quatro dias, porém depois tornou; e não sabe se está agora aí;
e diziam que também ia com o dito João Vieira, e, na reposta do tiro, julga que
não poderia ser senão espingarda, e que isto era o que sabia dos ditos interroga-
tório. Pelo que, perguntado pelo referimento nele feito por Belchior da Guerra,
disse que era verdade que, neste ano presente, caindo-lhe a ele declarante a treze
ou catorze sorte, e a Luís Mendes de Abreu, legista, de Veiros, que vive junto à
porta do Castelo, a quarta ou ttnceira sorte, ele declarante e o dito Luís Mendes
pediram ao dito bedel Gaspar de Sampaio que os deixasse trocar, como, de
efeito, trocaram, e lhe mandaram por isto duas galinhas, das quais cada um deu
a sua, e lhes disse que o faria com licença do Reitor, e que fizeram a dita troca,
não pelo respeito que diz o dito referimento, senão porque o dito Luís Mendes
não tinha estudada a matéria em que fez as ditas conclusões, e que a muitos
amigos contou ô sobredito, como foi a Gonçalo Vaz Piçarra, e a Pantaleão de
Sousa, e outros que lhe não lembram; e, entre muitos, é notório que o dito
bedel deixa fazer semdhantes trocas, e que isto é o que se passava sobre o dito
referimento, que nele fez o dito Belchior da Guerra, e assim mais Pantaleão
Rodrigues Pacheco. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava
jl. Jh escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada, e assinou aqui // com o
dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Afonso Pato de Sousa.

Aos vinte e dois dias do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr.
D. Francisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor
dela, estando ele aí, foi mandado vir perante si a António Chamorro, solteiro,
filho de Miguel Chamorro, guarda-mor da Relação do Porto, estudante institu-
tário e morador na Rua das Escolas Menores ; estando presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, e
prometeu de o fazer assim. Perguntado se sabe ou presume o para que é cha-
mado, e se lhe pediu alguém, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na
visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, disse que
não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela,
conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo
que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era só que, haverá oito

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dias que nesta cidade e na cela de Pascoal Correia, estudante legista, natural do
Porto, porcionista, digo familiar do Colégio de S. Pauio desta Universidade,
que estando no dito Colégio, tanto que entram no pátio à mão direita, à//
J7. 38 primeira se achou ele declarante em companhia do dito Pascoal Correia, e,
estando ambos sós, por ocasião de lhe haver dito que tinha pistolete, lho mos-
trou, o qual tinha em cima de uma banca, com fechos de pederneira e uma
coronha de nogueira e seria pouco mais de um palmo; e disse a ele declarante
que lho deram e não lhe lembra agora quem, e também disse a ele declarante
Garcia Soares, estudante da quarta classe, filho de Gabriel Soares, escrivão de
ante o juiz da cidade do Porto, que vira o dito pistolete ao dito Pascoal Correia.
Disse mais que, este Natal próximo passado, nesta cidade, na praça dela, se
achou ele declarante em companhia de Francisco Lopes Cordeiro, do Porto,
estudante canonista, não sabe cujo filho, e vive em S. João da Foz, junto à dita
cidade do Porto, e mora aqui, na Rua dos Sapateiros, defronte de Simão
António Manco, comprara um pistolete, sem dizer a quem, e que o tinha,
porém ele declarante lho não viu, nem sabe de quem lho mais visse, nem de
quem tenha mais algumas outras armas. E que isto é o que só sabia dos ditos
interrogatórios. E de Rui de Albuquerque, secretário desta Universidade, lhe
levar um vintém pelo matricular no princípio do ano, e viu que todos os mais
lho deram. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na
verdade, disse que sim, e do costume nada; e assinou aqui com o dito Refor-
mador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. António Chamorro.

f7. 38v. Damião de Sousa Falcão, solteiro, filho de Gaspar Pinto de Sousa// e de
D. Filipa de Sousa, de S. Pedro do Sul, estudante canonista, morador na Cou-
raça desta cidade, de idade de vinte e dois para vinte e três anos, a quem o
Reformador mandou vir perante si, e, sendo ele presente, lhe foi por ele dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que fosse perguntado, e prome-
teu de o fazer assim:... Perguntado se sabe ou presume o para que é chamado, e se
alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a
esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos
reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral.e,
depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que esta qua-
resma próxima passada, faz cinco anos, não lhe lembra em que mês, nesta
cidade, na Rua do Corpo de Deus, na casa em que ele declarante então pou-
sava, foi ter aí a buscá-lo Manuel Rodrigues Cardoso, que será de trinta anos,
baixo e delgado de corpo, de barba e cabelo louro, alvo e vermelho de rosto,
criado que foi do Dr. António Homem, lente de Prima de Cânones nesta Uni-

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versidade, há alguns quatro ou cinco anos pouco mais ou menos, e ora o é do
colector deste Reino, e natural da dita vila de S. Pedro do Sul, por cujo respeito
o foi ver. E, estando ambos sós, por ocasião de o sobredito lhe haver antes dito
que o dito António Homem estava nesta Universidade infamado de cometer o
fl. 39 pecado/ / de molícias, e, sem ele declarante lhe perguntar porque se lhe fora de
casa um pagem seu,flamengo, a quem chamam João Escaulim, de dezasseis ou
dezassete anos, sem barba, alvo e corado de rosto, e bem assombrado, a quem
ele declarante conhecia, por haver sido seu condiscípulo na nona classe de Lis-
boa, o sobredito Manuel Rodrigues Cardoso lhe disse que o dito moço João
Escaulim se lhe fugira de casa pelo dito Dr. António Homem pegar nele e
querer cometer com ele o dito pecado de molícias por algumas vezes, e que o
sobredito Doutor era muito estragado no dito pecado, e, depois disto, indo ele
declarante a casa do dito Dr. António Homem, a quem conhecia por respeito
da amizade que tinha com Alexandre Sequeira, estudante canonista, passante,
irmão de D. Violante, cunhada do dito Doutor, mulher de seu irmão Matias
Homem, ouvindo ele o dito Doutor, então já nas suas casas em que agora vive
à Pedrulha, pelo dito conhecimento e respeito, que lhe desse um parecer sobre
uma causa de um primo seu, depois de jantar, às três ou quatro horas, e, no
mesmo ano, não se lembra em que mês nem a quantos dele, e, estando ambos
sós no seu estudo, depois de lhe dar conta da proposta, e de escrever, assenta-
dos cada um em sua cadeira, o sobredito, chegando a sua cadeira para a dele
declarante, lhe pegou em uma mão, por duas outras vezes esfregando-lha sobre
o colo, e tendo-lhe a mão com jeito e modo desonesto que o entendeu ele
declarante logo que o sobredito queria cometer também com ele o dito pecado,
e, sem dúvida, o cometera se ele declarante lho consentira, e se não saíra pela
porta fora; e o dito Doutor, para dissimular, por respeito do dito Alexandre de
Sequeira, o acompanhou até à porta da escada e daí por diante que nunca//
fl. 39v. mais lhe entrou em casa, onde o velho faz muita cortesia, como homem que lhe
está obrigado pelo que lhe deu, e achava que estava na sala com Alexandre de
Sequeira, a quem o dito Doutor queria mostrar que ele declarante não vinha
agravado dele, e, por isto, lhe não fazendo o dito acompanhamento e grandes
oferecimentos; e que, depois disto e de pouco tempo a esta parte, foi público
escândalo, na maior parte desta Universidade e cidade, que o dito Doutor
cometia o dito pecado com Jorge Mexia, o mais moço de três sobrinhos que,
nesta Universidade, trazia o Bispo de Lamego, que, ao presente, está eleito desta
cidade, trazendo esta fama sua origem dos ditos sobrinhos viverem junto do
dito Doutor e jantarem com ele de ordinário, e o dito Bispo não procedera
contra o dito Doutor na sua visita que fez nesta Universidade, e mandara dela
ao dito sobrinho; e que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios que
declarava porque, na dita visita, não fora perguntado pelo que sabia nem cha-
mado como nesta, e, por mais não dizer, foi perguntado se o dito Doutor,

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quando lhe pegou na sua mão, se, de alguma vez lha levou à braguilha ou 0
abraçou ou beijou, ou deu alguma outra demonstração de querer cometer o
dito pecado, ou se por palavras, se declarou. Disse que não, mas que, no jeito
do dito Doutor e modo de que lhe pegou na mão e esfregava o colo, o entendeu
Jl. 40 claramente. E mais não disse, nem lhe foram feitas mais perguntas. // E, sendo-
-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que
sim. E assinou aqui com o dito Reformador, e eu, Agostinho de Aguiar, o
escrevi, e do costume disse nada. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Damião de Sousa Falcão.

Jacinto de Abreu, solteiro, filho de Cristóvão de Abreu e de Margarida


Correia, da vila de Mortágua, estudante canonista, morador a Nossa Senhora
do Salvador, de idade de vinte e dois anos, a quem o Reformador D. Francisco
de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento
nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim. Perguntado se sabe ou presume o para que é chamado, e se
alguma pessoa, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado, na visita
desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo
a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos
reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, disse que o que
deles sabia era que, haverá dois meses pouco mais ou menos, nesta cidade, em
casa dele declarante, foi aí ter Francisco Rodrigues Colaço, da vila de Castelo
Branco, estudante canonista, que vive junto a Nossa Senhora do Salvador; e,
estando em companhia do sobredito e do companheiro dele declarante, por
nome Fernão Mendes de Gusmão, de Vilagozendo, estudante da sexta classe,
todos três, o sobredito Francisco Rodrigues Colaço lhes mostrou um pistolete
de perto de dois palmos, de pederneira, com sua coronha, e o trazia na algi-
fl. 40v. beira; e saber// ele declarante que é seu e lho tinha visto em o discurso deste
ano, e ainda, a derradeira vez, foi dia de Vera Cruz; e assim poderá dizer que
ele o tem João Gomes, da vila de Castelo Branco, médico, que vive defronte
dele declarante, e Manuel Loureiro, da dita vila, que anda na segunda classe,
companheiro do sobredito; e que isto é o que sabia dos ditos interrogatórios; e
mais não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito
na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reforma-
dor. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reforma-
dor e Reitor. Jacinto de Abreu.

Francisco Vaz, solteiro, filho de Francisco Gonçalves da Costa e de Isabel


Rodrigues, da vila de Ponte da Barca, estudante canonista, morador na Rua
das Covas, de idade de vinte e três anos, a quem o Reformador mandou vir

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perante si, e, estando presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos,
~m que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim. Perguntado se
sabe ou presume para que é chamado, e se lhe pediu alguém, por si ou por
outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos
Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, disse
.fl. 41 que o que deles sabia era que,// haverá um mês que António da Fonseca, filho
de Geraldo da Fonseca, da cidade de Braga, estudante institutário, pupilo dos
Frades Loios, ganhou em jogo a Diogo Pinto Pereira, estudante canonista,
sobrinho de Francisco Vaz Pinto, um pistolete de palmo, pouco mais ou menos,
com fecho de pederneira, em casa do dito Diogo Pinto, nesta cidade, por onde
lhe ficou em seu poder e que isto é o que só sabia; e que não estava outra
pessoa presente. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava
escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Francisco Vaz.

D. João Sotomaior, estudante canonista, solteiro, a quem o Reformador


D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
por ele juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado
que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse pergun-
tado, e prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e cinco anos.
Perguntado se sabe ou presume o para que é chamado, e se alguém, por si ou
por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse
a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que
não ; pelo que, sendo perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reforma-
fl. 4/ v. dos, porque// nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, emgeral,e, depois
disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que, de dois anos a
esta parte, D. Bernardo de Ataíde, porcionista do Colégio de S. Pedro, presume
ele declarante que comete o pecado de molícias com Gonçalo Vaz Coutinho,
estudante canonista, não sabe cujo filho é, porque, dentro do dito tempo, foram
mui grandes amigos, e os viu na sua cela comunicar tão familiarmente que disso
teve a dita presunção e de o dito D. Bernardo ir a casa do sobredito a cavalo,
sem companheiro; posto que lhe não viu fazer acto algum de molícias; nem por
outra via sabe que o cometesse; e que o dito D. Bernardo estar infamado de
fanchono ouviu a Martim Afonso Pereira, estudante legista, sobrinho do bispo
eleito desta cidade , e a Francisco de Barros de Vasconcelos, canonista, e a João
Gonçalves da Câmara, teólogo, que vive ao Paço do Conde. Disse mais que,
haverá três anos que ouviu, nesta cidade, não lhe lembra em que mês, ao dito
Martim Afonso Pereira, que António de Mendonça, porcionista do Colégio de

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S. Paulo, cometera o pecado de molícias com D. João Telo, e que eram nisso
mui devassas, e que ele declarante os vira a ambos os dois por muitas vezes,
haverá sete anos, no Mosteiro de Nossa Senhora da Graça desta cidade, onde
estavam, fecharem-se em sua cela, o que lhe não parecia bem; posto que também
fl. 42 lhes não viu acto algum de molícias, nem por outrem o sabe// que o cometes-
sem; e que ouviu murmurarem desta mesma presunção a Pero de Melo e Alves
de Melo, irmãos, filhos de Manuel de Melo, já defunto, solteiros e moradores
nesta cidade, em diversos lugares e diversos tempos que não lembram, cada um
por si. Disse mais que ouviu dizer aos ditos Martim Afonso Pereira e João
Gonçalves da Câmara que o secretário Rui de Albuquerque levava peitas por
matricular em absentia e provar cursos falsos em absentia, e sabe que leva por
matricular um vintém a ele declarante e a todos os mais que viu matricular;
e que é descuidado em seu ofício; e que isto era o que sabia dos ditos interroga-
tórios. E, sendo-lhe lido este testemunho, e perguntado se estava escrito na
verdade, disse que sim. Declarou mais que o bedel de Medicina e Artes, fulano
de Seixas, lhe dissera o dito João Gonçalves da Câmara e Francisco de Sousa,
que era um ladrão, e por tal estava tido; e do costume disse nada. E assinou
aqui com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor. D. João Sotomaior.
E logo in continenti disse que lhe lembrava mais que o dito Francisco de
Barros e o dito João Gonçalves da Câmara lhe disseram, haverá ano e meio,
pouco mais ou menos, nesta cidade, estando todos três, que Sebastião César,
porcionista do Colégio de S. Paulo, tanto que era noite, se recolhia em sua casa
com Luís Cordovil, estudante canonista, do Alentejo, e com outros em diversas
.fl. 42v. noites, cada um por si tidos por fanchonos, de que presumiram// que o dito
Sebastião César cometia com eles o dito pecado de molicias. E assinou com o
dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Mene-
ses, Reformador e Reitor. D. João Sotomaior.

Aos vinte e três dias do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Doutor
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando ele aí, perante ele
apareceu Jacinto da Rocha, estudante legista, da vila de Aveiro, testemunha
atrás perguntada, e por ele foi dito que, depois de ter testemunhado nesta
devassa os dias passados, lhe lembrara que tinha mais que denunciar nela; pelo
que, logo o dito Reformador lhe deu juramento nos Santos Evangelhos, em que
pôs sua mão, e lhe mandou que, sob cargo dele, dissesse verdade e declarasse o
que de novo sabia e tivesse em tudo segredo; e ele o prometeu fazer assim.
Perguntado que era o que de novo lhe lembrara do que se contém nos interro-
gatórios dos Estatutos reformados, que lhe foram lidos ao tempo que testemu-

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.fl. 43 nhou, disse que Manuel António, mercador desta// cidade, que vive ao terreiro
de Santa Cruz, não sabe o nome à mãe, o ano passado, não lhe lembra em que
mês, tinha um pistolete de pouco mais de palmo, com fechos de pederneira;
o qual ele declarante lhe viu trazer, no dito tempo, na algibeira; e o mostrou a
ele declarante, perguntando-lhe se o queria comprar; e que sabe que também
lhe viu o dito pistolete Paulo da Fonseca, bacharel formado em Cânones, de
Aveiro, onde hoje vive; e que isto era o que tinha que dizer de novo. E, sendo-
-lhe lido este testemunho, disse que estava escrito na verdade, e do costume
nada, e assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Jacinto da Rocha.

Bento Luís, solteiro, filho de Luís Gonçalves e de Luísa Fernandes, de


Zurara, bispado do Porto, estudante institutário, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, e
prometeu de o fazer assim, e disse ser de idade de vinte e dois anos, e morador a
Montarroio. Perguntado se sabe ou presume o por que é chamado, e se
alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita
fl. 43v. desta// reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, disse que
não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela,
conforme a eles, é obrigação inquirir, disse que o que deles sabia era que,
haverá quatro meses, pouco mais ou menos, nesta cidade, indo para o Carmo,
em companhia de Pascoal Correia da Costa, estudante legista, familiar que
depois disso se fez do Colégio de S. Paulo, ambos sós, o sobredito lhe disse que
tinha de seu e em casa, não lhe lembra a que propósito, um pistolete pequeno e
muito lindo, e que, haverá dois meses, pouco mais ou menos, que o Padre
António Dias Barbosa, natural de Prado, estudante canonista, estando ambos
sós, lhe disse que, indo a casa do sobredito Pascoal Correia, da janela dispa-
rara o pistolete que ele tinha e que era muito bom; e se fiaram uns dos outros
neste particular por serem amigos e quase naturais. Disse mais que, depois da
Páscoa próxima passada, nesta cidade, foi ele declarante a casa de Simão Lei-
tão, clérigo de missa e capelão de S. João de Santa Cruz, estudante canonista,
e, estando em companhia do sobredito e de António Dias Barbosa, atrás
nomeado, e de Gonçalo Jorge, estudante canonista, da Maia, bispado do Porto,
/1. 44 e companheiro dele declarante, // o dito Simão lhes mostrou um pistolete que
levava na cinta pondo-se a cavalo, com o cano de mais de palmo e fechos de
pederneira. Disse mais que, haverá um ano, pouco mais ou menos, nesta
cidade, na ponte de Água de Maias, se achou ele declarante em companhia de
Francisco Lopes, estudante legista, conclusionista deste ano, do Alentejo, vive a
Nossa Senhora do Salvador, e de Pero Gonçalves, médico, que vive em Mon-

90
tarroio; o sobredito Francisco Lopes trazia na cinta um pistolete de palmo e
meio, com cano e tudo de pederneira, e todos lho viram por ele andar em
corpo, e lhes disse que era de Pero Tinoco, estudante canonista, do Alentejo, e
que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios; e não sabe se os sobreditos os
têm hoje ou não. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava
escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Bento Luís.

João da Cunha, solteiro, filho do Doutor António da Cunha, desembarga-


dor que foi do Paço, já defunto, estudante institutário e testemunha referida,
que disse ser de idade de dezassete anos, morador defronte de Nossa Senhora
fl 441•. do Salvador, a quem o Reformador D./ / Francisco de Meneses mandou vir
perante si, e, sendo presente, por ele lhe foi dado juramento nos Santos Evange-
lhos, em que pôs sua mão, e mandado que, sob cargo dele, tivesse segredo, e
dissesse verdade no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; per-
guntado se sabe ou· presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por
outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que
nenhuma pessoa lhe pediu o sobredito mais que Cristóvão Dinis, opositor
legista, dizer-lhe, hoje, que se o Reformador lhe perguntasse pelo que logo
diriam, que o calasse, por não fazer mal a um Doutor, mas que nem isso é
bastante para deixar de dizer a verdade. Perguntado pelos interrogatórios dos
Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em
geral, e, depois disso, em especial, pelo que deles sabia, e que é o que diz que
logo se lá faria, que o dito Cristóvão Dinis lhe pediu que calasse, disse que por
respeito dele declarante vir em Outubro para esta cidade, e levando-o para sua
casa o Dr. António Homem, lente de Prima de Cânones, onde esteve cinco ou
f1. 45 seis dias por se dar por obrigado do dito seu // pai, que Deus tem, e de irem
ambos os dois daqui para a cidade de Lisboa com um abade, estudante, a quem
não sabe o nome, alto, digo de meã estatura, cheio de rosto e corpo, e de barba
castanha, e lhe disseram que pousava com os sobrinhos do Bispo D. Martim
Afonso Mexia, este Natal próximo passado, e de tornarem da dita cidade de
Lisboa para esta, chegados, aos três de Janeiro próximo passado, a horas de
jantar, à Venda da Costa, e antes de jantar por ocasião dele declarante lhe
parecer mal trazer o dito Doutor em suas andas em que vinha um pagem seu, a
quem não sabe o nome, e tem por alcunha Fonseca, que lhe parece de idade de
catorze anos, sem buço ainda, e não tem outro deste nome consigo, e as corti-
nas das ditas andas sempre baixas, trazendo o dito Fonseca besta da sela em
que vinha de Lisboa até Puvos, e daí por diante nas andas, e o lacaio na dita
sua besta; e, na dita Venda, vendo que o dito Doutor se recolheu e meteu com o

91
dito moço nela, estando todos os mais de fora da casa, no alpendre dela, e na
estrebaria com as bestas, suspeitando já mal, entrou dentro e viu que o dito
Doutor tinha abraçado o dito moço e o estava beijando no pescoço, e, para
dissimular, vendo que ele declarante o tinha visto claramente, lhe deu na cabeça
brandamente, mandando-o que fosse para fora. E quando não vira o sobredito
pelos olhos, o presumira assim do que tem dito e de todas as mais palavras que
jl. 45v. lhe ouviu// nos ditos caminhos de fanchonices que, ao presente, lhe não lem-
bram; e,pelo que o dito abade lhe respondia, e seu modo, o tem e julgou por
tão fanchono como o dito Doutor. E que isto era o que sabia e o que ele
declarante disse logo a uns estudantes desta Universidade, e por se divulgar isto
mesmo é que o dito Cristóvão Dinis lhe pediu que não dissesse do dito Doutor.
É o que ele declarante só sabe dos ditos interrogatórios. E, perguntado pelo
referimento que nele fez Francisco Tavares Pinheiro, e por ele ouvido e enten-
dido, disse que o respeito por que deixara ao dito Doutor não fora esse, nem
ele, em tempo algum, o cometera para o pecado de molícias, nem lho dera a
entender por nenhum meio; e que deviam de contar ou ouvir uma coisa por
outra; e o que tinha dito era só a verdade; e que ouviu dizer que o dito Doutor
cometera o pecado de molícias com um sobrinho do Bispo eleito desta cidade, a
quem não sabe o nome, e que é grande amigo de João de Resende, estudante e
mestre em Artes, desta cidade, e de António Cardoso, estudante legista, de
Lisboa; os quais ouviu dizer que eram fanchonos a muitas pessoas que agora
fl. 46 lhe não lembram. Disse mais que, haverá um mês, nesta cidade, na// Rua das
Covas, se encontrou ele declarante com Luís Gonçalves, estudante canonista, de
Portalegre, que vive junto ao Dr. Francisco Vaz de Gouveia. E, estando ambos
sós, o sobredito lhe mostrou um pistolete de dois palmos, com coronha e fechos
de pederneira; e tornou a dizer que também estavam presentes e lho viram João
de Mesquita, filho do Dr. Antão de Mesquita, e Martim de Mesquita, estudante
canonista, e que isto é o que só sabia. E, sendo-lhe lido este testemunho, e
perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. João da Cunha.

Paulo de Carvalho, solteiro, filho do Dr. Sebastião de Carvalho, correge-


dor do Cível da Corte, bacharel legista, morador fora da porta do Castelo, a
quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim, e disse ser de idade de vinte e cinco
anos. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, por-
/l. 461•. que, // conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em parti-

92
cular, pelo que de cada um deles sabia, disse que, haverá quatro ou cinco meses,
nesta cidade, em diversos lugares dela, por vezes, viu a Luís Salema, estudante
legista, de Lisboa, um pistolete que trazia consigo, de dois para três palmos de
comprido, com coronha com fechos de pederneira, e menos há de um mês que
lho tornou a ver; e que de ele o ter saberá António de Mesquita, bacharel
canonista, e que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe
lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e
do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Re_f<mnador e Reitor. Paulo de Carvalho.

Miguel Coelho de Almada, solteiro, filho de Gonçalo Coelho, de Lisboa,


estudante institutário, morador no bairro de S. Pedro, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi por
fl. 47 ele// dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e mandado
que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse pergun-
tado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte para vinte e um
anos. Perguntado se sabe ou presume o para que é chamado, e se alguém lhe
pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos
Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em
geral, e, depois disso, em especial, pelo que cada um deles sabia, e particular-
mente do que deu, uns dias atrás, duas cutiladas nas faces, fora da porta do
Castelo, de noite, a Isabel de Figueiredo, mulata, filha de Lucrécia de Figuei-
redo, e, outrossim, vive na dita freguesia de S. Pedro. Disse que, dos ditos
interrogatórios, não sabia coisa alguma, e, do mais, o que sabia era que, haverá
dezoito dias pouco mais ou menos, que, à noite, nesta cidade, à falsa fé, foram
chamar a dita Isabel de Figueiredo e a levaram entre as cercas dos Padres da
Companhia e Santa Cruz, e assim lhe deram em cada face uma cutilada, que
.fl. 47v. lhe chegou, uma delas, da orelha// até ao beiço, e a outra da orelha até quase
à boca, e posto que não sabe quem lha deu, suspeita e tem para si que lhe deu
as ditas cutiladas, com navalha, Francisco de Leiria Monteiro, estudante legista,
de Lisboa, que vive na Rua de Alvaiázere, porque, nessa mesma noite, indo a
dita Isabel de Figueiredo ferida, não estava o sobredito em casa nem na rua;
e porque, fazendo-lhe, dantes, de comer, deixou logo o dito Francisco de Leiria
dois outros dias de o mandar lá fazer; e posto que depois lho fizeram um dia,
não tornou lá a mandar mais até hoje, e porque o sobredito está amancebado,
segundo se diz em toda a vizinhança, com Francisca de Figueiredo, a Perpétua
de alcunha, que vive com sua mãe, a quem não sabe o nome, na rua que vem
da porta do Castelo para a Porta da Traição, e faltando, uns dias atrás, um
prato à dita Isabel de Figueiredo do dito Francisco de Leiria, e por lhe dizerem

93
que o tinha mandado o dito Francisco de Leiria com um presente à dita Fran-
cisca de Figueiredo, e o mandar lá buscar, e a irmã da dita Francisca de Figuei-
fl. 48 redo se queixar da janela// da dita Isabel de Figueiredo, dizer publicamente que
tinha lá o prato do dito Francisco de Leiria, se presume que pedira ao dito
Francisco de Leiria que lhe desse as ditas cutiladas; e porque, haverá oito dias
que, estando em casa dele declarante Pero Velho, estudante legista, de Lisboa,
que vive em a dita rua, e Cristóvão Teixeira, estudante canonista, filho de
André de Matos, conservador que foi desta Universidade, por ocasião de virem
a falar na deformidade das ditas cutiladas, disse ali o dito Pero Velho que pode
ser que mandasse ele amolar a navalha com que elas se deram; porque lhe
emprestara o dito Francisco de Leiria uma navalha para fazer a barba, e para
isto a mandara amolar; e lha tornara à dar afiada, antes de se darem as ditas
cutiladas. E que tem para si que o dito Francisco de Leiria anda com a dita
Francisca de Figueiredo, como vizinho; e que isto é o que só sabe do sobredito.
E, sendo-lhe lido este testemunho, e perguntado se estava escrito na verdade,
disse que sim, e do costume nada; e assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Miguel Coelho de Almada.

João de Freitas, solteiro, filho de António de Freitas e de Madalena da


f1. 481·. Fonseca, de Guimarães,// estudante canonista, morador a S. Jerónimo, teste-
munha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim, e disse ser de
idade de vinte anos. Perguntado se lhe pediu alguém, por si ou por outrem,
que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse
o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, em geral,e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles
sabia, disse que não sabia deles coisa alguma. Perguntado pelo referimento qµe
nele fa z Miguel de Coimbra, disse que era verdade que, achando-se em compa-
nhia do dito Miguel de Coimbra e de Baltazar do Vale, não lhe lembra agora
em que parte, por ocasião de dizer que desejava um dia para fazer seu auto de
conclusões, o dito Baltazar do Yale lhe disse que mandasse alguma coisa ao //
f1. 49 bedel Gaspar de Sampaio; e, depois disso alguns dias, pediu ao dito bedel um
dia, e ele lho deu, em que fez as ditas conclusões este ano, e não era o de sua
sorte. E, depois de as ter feitas, ou antes, em que se afirma que foi, mandou ele
declarante ao dito bedel uma caixa de marmelada branca e duas galinhas, por
um moço seu, que se chama Jerónimo, e anda na undécima classe, e logo lhe
deu o dito dia e as graças também do dito presente ; e é queixa geral e notório

94
nesta Universidade, que assim o dito Gaspar de Sampaio, como seu irmão
António de Sampaio, quando servia o dito ofício, usarem do sobredito; e que
isto é o que só sabia do dito referimento e interrogatórios. E, sendo-lhe lido este
testemunho e perguntado se estava na verdade, disse que sim, e do costume
nada, e assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. João de Freitas.

Aos vinte e quatro dias do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove


anos, nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do
Dr. Francisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Rei-
//. 49v. tor dela, estando aí, por ele foi // mandado vir perante si a Frutuoso Antunes
da Costa, estudante canonista, natural da cidade de Braga, filho de Jorge Antu-
nes, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que
pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse a verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de vinte e quatro anos. Perguntado se lhe pediu alguém, por si ou por
outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Pergun-
tado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a
eles, é obrigação inquirir, disse que o que deles sabia era que, haverá dois meses,
nesta cidade, foi a casa dele declarante António da Fonseca, estudante institutá-
rio, pupilo dos Frades Loios, natural de Braga, e, estando ambos sós, e o moço
dele declarante, chamado Rodrigues, natural de Lamego, não lhe sabe o nome,
e lhe parece que é António, e anda na quarta ou na quinta classe, não se lembra
em que dia, o sobredito lhes mostrou um pistolete de mais de palmo e de fechos
/1. 50 de pederneira, e lhes. disse que jogou// sobre ele dois mil e quinhentos réis
a - Diogo Pinto Pereira, estudante canonista, de Mogadouro, sobrinho do
Dr. Francisco Vaz Pinto; sabe que era do dito Diogo Pinto porque lho viu em
casa e lho deixou ali seu pai, e não sabe, ao presente, se o tem o dito António
da Fonseca ou se o vendeu; porém, sabe que o não tornou ao dito Diogo Pinto,
por lho dizer assim o dito António da Fonseca. E que quando, este ano, se
matriculara deu ao secretário Rui de Albuquerque um vintém ou dois, e que
ouviu dizer dele, em alguns ajuntamentos de estudantes que lhe não lembram,
que davé!- tempo por dinheiro. E, em particular, lhe lembra que lho disse, haverá
um mês, nesta cidade, Jorge Osório, natural de Lamego, estudante canonista,
que vive junto ao Juiz do Fisco, em casa do sobredito, estando ambos, que por
um curso que deixara de provar e de cursar havia de ver se podia alcançar dele
que lho provasse e lhe mandar alguma coisa, e não sabe que ano era nem se lho
mandou, nem se lho provou. E que isto era o que só sabia dos ditos interroga-
tórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na

95
verdade, disse que sim, e do costume nada; e assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Frutuoso Antunes da Costa.

Alexandre de Figueiredo, solteiro, filho de António Rodrigues, da vila de


_/7. YJv. Góis, estudante institutário, que vive // à porta do carro dos Padres da Compa-
nhia, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e,
sendo presente, lhe foi dado por ele juramento nos Santos Evangelhos, em que
pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo
no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim, e disse ser de idade de
vinte e um para vinte e dois anos. E, perguntado se alguém lhe pediu, por si ou
por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a ver-
dade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, disse que, haverá um ano pouco mais ou
menos, nesta cidade, foi ele declarante a casa de Miguel Saraiva, solteiro, estu-
dante da quinta classe, filho de fulano Saraiva, de Aveiro; e, estando com ele
com João Álvares, estudante canonista, que vive junto a S. Pedro, ao Arco, e é
de Vila Cova, todos três, o sobredito Miguel Saraiva lhes mostrou e atirou a
uma parede com um pistolete de palmo e meio de cano e fechos de pederneira,
e sabe que era seu, e ainda ao presente o deve de ter. Disse mais que Rui de
.f7. 51 Albuquerque, Secre/ / tário desta Universidade, levou, este ano, pelo matricular
um vintém, e viu que os mais que estavam lho deram também, e ouviu a um
estudante, a quem não sabe o nome, que ele dera a um estudante uns cursos por
preço de oito mil réis, e não sabe onde pousa, e era institutário deste ano, e que
tem quatro anos de Artes, e começa-lhe o buço, e um olho cego de uma belida,
e que isto é o que só sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este
testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Alexandre de
Figueiredo.

João Cardoso, solteiro, filho de João Cardoso, de Cinfães, bispado de


Lamego, estudante canonista, morador na Rua dos Estudos, a quem o Refor-
mador D. Francisco de Meneses ·mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe
foi por ele dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse s~gredo, prometeu de
o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e um anos. Perguntado se alguém,
por si ou por outrem, lhe pedira que, sendo perguntado na visita desta reforma-
ção, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, disse que não. Perguntado
/7. 5/ v. pelos interrogatórios/ / dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles,

96
é obrigação inquirir, disse que, haverá mês e meio, nesta cidade, foi a casa dele
declarante Nuno Varela, digo da Guerra, não sabe donde, e anda na terceira
classe, e vive na rua que está detrás do Colégio de S. Paulo; e lhe deu a guardar
um pistolete que teria o cano de palmo e fechos de pederneira, o qual sabe que
é de Diogo Cardoso, canonista, que vive na Rua do Corpo de Deus e é de
Cinfães, bispado de Lamego, porque lho viu lá este ano e conheceu ser o
próprio, e o emprestou a Brás do Amaral, estudante da sexta classe, não sabe
donde, e que é o que o deu ao dito Nuno da Guerra, como o sobredito disse a
ele declarante, e, logo no dia seguinte, o mandou pedir o dito Nuno da Guerra
por um moço seu, a quem não sabe o nome, e lho deu. Disse mais que, haverá
quinze ou vinte dias, nesta cidade, a casa dele declarante foi ter Gaspar Pereira,
estudante da primeira classe e natural de Ferreira, bispado de Lamego, e criado
de Manuel de Saldanha, e, estando ambos sós, o sobredito lhe mostrou um
pistolete com o cano de palmo, bem feito, e de pederneira, e lhe perguntou se
lho queria comprar, e por dizer que não, o tomou a levar, e ali não passaram
.fl. 52 mais. Disse/ / mais que, dois anos que há que se matricula, neles lhe levou,
por isso, o secretário Rui de Abuquerque um vintém, e de cada vez assim viu
que lhe pagaram todos os mais, e que isto era o que só sabia dos ditos interro-
gatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na
verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. João Cardoso.

João da Fonseca de Mendonça, solteiro, filho de Salvador da Fonseca, de


Lisboa, estudante institutário, morador na Rua de Brás Nogueira, a quem o
Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente,
por ele lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse a verdade e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte
anos. Perguntado se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo per-
guntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogató-
rios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inqui-
rir, disse que o que só deles sabia era ser público e notório, por toda //
/7. 52v. a vizinhança da dita rua, estar Pero do Couto, estudante, que vive na dita rua, e
não sabe donde e nem que Faculdade professa, amancebado com Maria Pimen-
tel, digo falar o dito Pero do Couto com Maria Pimentel, casada com Sebastião
Antunes, que vive na dita rua, da sua janela e da rua, e escandalizando-se a dita
vizinhança disso, e ele declarante lhe ouviu uma noite dizer-lhe a ela que não
fosse tão cruel em lhe não responder, e porque outras pessoas da dita vizi-
nhança disto poderão saber mais, e poder cessar o dito escândalo, e perigo da

97
dita comunicação, o vem denunciar nesta visita, para se ordenar nela o que for
serviço de Deus. E que o secretário Rui de Albuquerque lhe levou por se matri-
cular, este ano, um vintém, e viu que os outros lho deram também. E isto é o
que só sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e per-
guntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. João Fonseca de Mendonça.

Diogo Bravo, solteiro, filho de Diogo Bravo, de Amarante, estudante


canonista, morador na Rua de S. Cristóvão, a quem o Reformador D. Fran-
/1. 53 cisco // de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo
dele, dissesse a verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu
de o fazer assim; e disse se_r de idade de vinte e quatro anos. Perguntado se
alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a
esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos
reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, disse que o que
deles sabia era que, haverá um mês, nesta cidade, foi ele declarante a casa de
Pero da Costa, estudante canonista, natural de Chaves, que vive na dita rua, e,
estando em companhia do sobredito e doutras pessoas que lhe não lembram,
jogando ao passa-dez, veio aí ter Estêvão Machado, estudante da segunda
classe, natural de Guimarães, e querendo o dito Estêvão Machado jogar, pediu
a ele declarante que lhe guardasse e tivesse mão em um pistolete com o cano de
mais de um palmo e fechos de pederneira; e lho viu o dito Pero da Costa, e lhe
parece que um Leonardo de Sá, canonista, de Viana; e, acabado o jogo, ele
declarante lho tornou a dar. E, haverá três semanas, que viu o dito pistolete a
João de Freitas, estudante canonista, da dita vila de Guimarães, em casa dele
declarante, e lho deu a guardar, e reconheceu ser o próprio do dito Estêvão
jl. 531•. Machado, e este de quem // lho emprestou, e que já agora o teve em seu poder
o dito Estêvão Machado. Disse mais que, de quatro anos a esta parte que há
que se matricula, sempre deu, por isso, ao secretário Rui de Albuquerque um
vintém, e, no seu primeiro ano, lhe deu quatro, e ele os recebeu; e viu que todos
os mais lhe deram e dão um vintém, e que lhe parece que não deu fé dos quatro
quando lhos deu. E isto é o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe
lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e
do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de
Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Diogo Bravo.

Francisco Rodrigues de Colaça, solteiro, filho de Cristóvão Martins da


vila de Castelo Branco, estudante canonista, morador no bairro do Salvador ,

98
testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou
vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos,
em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de vinte e um anos. Perguntado se alguém, por si ou por outrem, lhe
Jl. 54 pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade// ou
dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Pergun-
tado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a
eles, é obrigação inquirir, disse que não sabia deles coisa alguma. Perguntado
pelo referimento que nele fez Miguel Pinto Fragoso, primeiro, em geral, e,
depois, em particular, e, sendo por ele ouvido e entendido, disse que o que dele
sabia era que o ouvira dizer publicamente, pela maior parte desta Universidade,
a muitas pessoas, que lhe não lembram, e o dito Pero do Couto e o dito Lou-
renço Dias,do Sardoal, dos quais trata o referimento, ambos e cada um deles
tinham manguais, e que essa era a sua arma, que passam de noite, posto que
lhos não viu; e que não sabia mais do dito referimento. Disse mais que, de
quatro anos a esta parte que há que se matricula, sempre deu ao secretário Rui
de Albuquerque um vintém por isso, e viu que os mais que se matriculavam lho
davam, e ele o aceitava. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se
estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o
dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Francisco Rodrigues de Colaça .

.fl. 54v. Pero Tavares, solteiro, filho de Mateus Dias// e de Maria Francisca, da
vila de Tomar, estudante canonista, morador na freguesia de S. Pedro, debaixo
do Arco, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante
si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que
pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse a verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de vinte e seis anos. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos
reformados, porque, conforme a eles, é obrigação inquirir na visita desta
reformação, em geral, e, depois disso, em especial, disse que, haverá três meses
pouco mais ou menos, Gaspar Pereira, estudante da primeira classe, de perto de
Lamego, criado de Manuel de Saldanha, comprou ao genro da ama do dito
Manuel de Saldanha, por nome Olaia Antónia, e não sabe o nome ao dito
genro, um pistolete que passa de palmo de cano e tem fechos de pederneira, por
três cruzados, e depois disso lho viu, e sabe que o tem. Disse mais que, dois
anos que há que se matricula, em cada um deu ao secretário Rui de Albuquer-
que pelo matricular um vintém, e assim viu que lho deram os demais. E que
isto só sabia. Sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e
do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de

99
Aguiar, o escrevi. // D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Pero
Tavares.

Jl. 55 Aos vinte e cinco dias do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor dela,
estando aí, por ele foi mandado vir, perante si, a Gaspar Álvares, solteiro, filho
de Álvaro Eanes e de Constança Rodrigues, da vila de Arronches, estudante
canonista, criado de Simão Ferrão, outrossim estudante, e, sendo presente, lhe
foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado
que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse pergun-
tado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte anos. Pergun-
tado se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita
desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, disse que o que deles sabia era que, o pri-
meiro dia deste presente mês de Maio, ou o segundo, pouco mais ou menos, ·
nesta cidade, estando ele declarante, das oito para as nove horas da noite, na
Rua das Parreiras, que está detrás do Colégio Real, à porta de Simão Ferrão,
seu amo, que vive na dita rua, viu sair a João Vieira de Azevedo, estudante
legista do quarto ano, natural da cidade de Lisboa, de vinte e um anos, baixo
Jl. 55 v. e grosso, // com o corpo alvo e largo do rosto, com um buço louro, e não sabe
se casado se solteiro, que mora na dita rua, despido em corpo, com uma espin-
garda nas mãos, que, posto que àquelas horas, o conheceu muito bem, pelo luar
que fazia, e passou mui perto dele declarante; viu que chegara até à esquina da
dita rua, que fica da banda da igreja de S. Pedro, e logo imediatamente o viu
dizer e chamar por uma moça que se chama Ângela, que viesse com ele; e que é
moça de mau viver. E logo viu um clérigo correndo para onde ele estava, a que
chamam fulano Salvado, a quem não sabe o nome, e é de Epístola, barba preta
e muito barbado de comprido. E o dito João Vieira lhe requereu que se tivesse,
uma e muitas vezes, e, por ele não querer, lhe atirou com a dita espingarda cor11
que lhe deu pela mão esquerda, e deitou a correr o dito João Vieira pela rua
abaixo, e o dito clérigo de após ele, dizendo que o mataram judeus, e da quina
o trouxeram assim ferido para casa dos criados do Dr. Miguel Soares, onde o
recolheram e curaram, e o reconheceu, pelo que disse; o dito João Vieira se
ausentou os primeiros dias e, vendo que tiravam devassa, se foi caminho de
Lisboa, e porque nela o não perguntaram lhe pareceu obrigação declará-lo
fl. 56 agora, bem // como por lhe haverem perguntado pelos que perturbavam e
inquietavam a Universidade. E que isto era o que só sabia dos ditos interroga-
tórios, e mais não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se
estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o

100
dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses. Reformador e Reitor. Gaspar Álvares.

Baltazar Mendes, solteiro, filho de André Mendes, vmvo, de terra de


Sousa, arcebispado do Porto, digo de Braga, estudante canonista, morador na
Rua das Parreiras, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramentos nos Santos Evangelhos,
em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de vinte e cinco anos. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos
reformados, porque nesta visita, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral,
e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que
deles sabia era que, a Páscoa passada, faz um ano, vivendo à porta do Castelo
com Amaro de Meireles, estudante canonista, de Santiago-o-Novo, bispado do
Porto, em umas casas de Maria Dias, e sendo-lhes necessária uma certidão do
ti. 56,·. / / assento da taxa delas, Sebastião Lopes, escrivão da almotaçaria dela, lha
passou, e lhes levou por ela cento e trinta réis, não devendo de ser, pelo estatuto
e seu regimento, tanto. Disse mais que, esta semana, sendo-lhe necessária a ele
declarante e ao dito Amaro de Meireles outra certidão do dito Sebastião Lopes,
da taxa das casas em que vivem, ao presente, ambos os dois, na Rua das Par-
reiras, o sobredito lha passou e lhes levou por ela meio tostão, como dirá o dito
Amaro Meireles e constará da dita certidão, sendo necessário; e, porque uma
coisa e outra lhe pareceram contra o seu regimento, o declara. E, sendo-lhe lido
este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do
costume nada. E assinou aqui com o dito Reformador. E eu, Agostinho de
Aguiar, o escrevi. E por exibir logo a dita certidão, e o dito Reformador man-
dar a mim, escrivão, que desse aqui minha fé de como a vira, em cujo cumpri-
mento certifico passar assim na verdade o sobredito. E ele, dito Baltazar Men-
des, e eu, Agostinho de Aguiar, que o escrevi, assinámos aqui com o dito
Reformador. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Baltazar Mendes.
Agostinho de Aguiar:

Pero Botelho, solteiro, filho de João Lopes Botelho, Juiz dos Órfãos da
ti. 57 cidade da Guarda, // estudante canonista, morador no bairro de S. Pedro, a
que o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e cinco
anos. Perguntado se lhe pediu alguém, por si ou por outrem, que, sendo per-
guntado, na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reforma-

101
dos, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso,
em particular, disse que, todo este ano e ainda esta Páscoa próxima passada,
nesta cidade, viu trazer a Luís Salema, estudante legista, um pistolete, o cano de
mais de palmo, de pederneira; e, em vários lugares, por várias vezes. Disse mais
que, do Natal passado para cá, por algumas vezes, e ainda esta Páscoa próxima
passada, nesta cidade, em várias partes e lugares, estando ambos sós, viu a
Manuel Falcão da Fonseca, estudante legista, da cidade de Portalegre, um pis-
tolete de palmo e meio o cano, com fechos de pederneira; e assim trazer tam-
bém na cinta uma escopeta pequena de dia, e com fechos também de peder-
neira, porque se temia por uma briga que teve junto ao Mosteiro de Santa
.fl. 57v. Ana, com outros estudantes, a que ele de // clarante se não achou presente, mas
ouviu, e é notório que depois do Natal e antes do entrudo, não lhe lembra
agora, em que eles, nesta cidade, junto à porta do pátio do Mosteiro de Santa
Ana, houve uma briga entre o dito Manuel Falcão e, da sua parte, Gaspar da
Fonseca, do Alentejo, canonista, que vive aqui em casa de D. Mécia, e um
mulato, por nome Francisco, e lhe parece que forro, do Alentejo, e o dito Luís
Salema e Luís Pereira, canonista, de Vila Franca, e entre Luís de Carvalho, de
Lisboa e canonista, e, da sua parte, Manuel Faia, já formado em Cânones, na
qual briga foram vistos, com cada um seu pistolete, que não passavam de dois
palmos, os ditos Manuel Faia e Manuel Falcão, e Gaspar da Fonseca, e Luís de
Carvalho ; e nela atirou o dito Manuel Faia com o dito pistolete aos contrários;
e disparou no dito Gaspar da Fonseca, e, posto que lhe não fez nojo, o feriram
depois de atirar com uma cutilada pela cabeça e uma estocada em uma perna,
que lhe deu o dito mulato ; e diziam que se fizera a dita briga sobre uma citação
que mandara fazer o dito Luís de Carvalho ao dito Manuel Falcão, e sabe que,
até agora, se não tirou devassa disso, nem se fez diligência alguma; e, assim,
depois da sobredita briga, não lhe lembra em que mês nem em que dia, viu ele
.fl. 58 declarante ao dito Luís de Carvalho trazer dois pistoletes na cinta,// pequenos,
pouco mais de palmo de cano, de fechos de pederneira; e que não sabe se os
tem ainda agora. Disse mais que, em quatro ou cinco anos que há que estuda
nesta Universidade, em cada um deu sempre ao Secretário Rui de Albuquerque
um vintém pelo matricular, e viu que assim lho davam todos os mais, e que ele
o recebia. E que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe
lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e
do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de
Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Pero Bote-
lho de Bastos.

Manuel Saldanha, solteiro, estudante canonista, filho de João de Salda-


nha, da cidade de Lisboa, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses
mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos

102
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse
verdade e tivesse se_gredo no ~ue lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de vinte e sete anos. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe mandou, digo, lhe
pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou
jl. 58v. dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte,/ / disse que não. Pergun-
tado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a
eles, é obrigação inquirir, em geral,e, depois disso, em especial, disse que o que
deles sabia era que, nesta eleição e nomeação de Reitores próxima passada, e na
de Vice-Reitor do padre mestre Frei Egídio da Apresentação, houvera subor-
nos, assim do Colégio de S. Paulo como do Colégio de S. Pedro, para a
nomeação dos que uns e outros pretendiam, com diferença que os colegiais de
S. Paulo andavam buscando os votos pela cidade, e os de S. Pedro falando, aos
que lhe iam a casa, se achavam neste terreiro; e, sendo ele declarante conse-
lheiro, no ano e tempo das ditas eleições, lhe pediu D. Martinho de Castro,
porcionista do dito Colégio de S. Paulo, que, sendo eleitor, votasse no dito Frei
Egídio e nos mais da sua facção, para que assim pudesse sair nomeado seu
irmão D. Fernando de Castro, como, de efeito, saiu. E Síntio Acorambone lhe
pediu também que votasse por ele para eleitor de Reitor. E assim ver, no dia da
eleição, andar no terreiro das Escolas os ditos colegiais de S. Paulo, falando em
os votos da dita eleição, em diversos lugares e em segredo, donde inferiu o
parecer-lhe, como tem declarado, que houve, nas ditas eleições, subornos; e,
posto que os ditos colegiais de S. Pedro o não diziam na forma sobredita, como
.fl. 59 tem declarado, ouviu, não lhe lembra a quem, que por ordem sua// viera um
deputado, que estava na vila de Arganil, votar na dita eleição dos eleitores para
Reitor; por cujo respeito se duvidou no Claustro e se chegou a votar, se havia
ele, a quem não sabe o nome, de votar ou o seu substituto, quando a ausência
era de tantos e mais dias, do que o Estatuto permitia; e assim lhe pareceu
também mal ser a maior parte do Claustro de substitutos; e, muito pior, sendo
Pero Cabral, colegial do Colégio de S. Pedro, lente condutário desta Universi-
dade, não o elegerem a ele, e elegerem a Gomes de Brito, bacharel corrente
substituto da cadeira de Sexto; que ele declarante tinha por da facção dos ditos
colegiais de S. Paulo. E assim viu, na dita eleição, que, estando António de
Mendonça, bacharel corrente substituto conselheiro, pelo Reitor Vasco de
Sousa, e durando-lhe ainda os seus quinze dias, excluí-lo o Vice-Reitor Frei
Egídio, e mandar chamar em seu lugar, por substituto também, a António da
Silveira, porcionista do Colégio de S. Paulo, contra a forma dos estatutos;
porque lhe duravam ainda ao dito António de Mendonça os seus ditos quinze
dias, e, quando fossem acabados, não podia o dito Vice-Reitor do dito Reitor
Vasco de Sousa, por quem estavam dados os ditos quinze dias, dar-lhe outros,
o dito seu Vice-Reitor, que ao tal tempo era o dito Frei Egídio, e não eleito

103
ainda Vice-Reitor por eleição, como depois foi. E, assim, de tudo coligiu que
era dirigido pelos ditos colegiais de S. Paulo, a fazerem Vice-Reitor o dito Frei
fl. 591 •. Egídio, para que // assim fizessem a eleição que pretendiam, uma e outra. Disse
mais que, de seis anos a esta parte que há que reside nesta Universidade, sempre
deu ao secretário Rui de Albuquerque, em cada ano, pelo matricular um vin-
tém, e viu que, assim, lhe davam os demais, e que ele o recebeu; e que não
assistia aos pontos, como, de efeito, viu no auto de bacharel dele declarante, e
em outros; e que o bedel fazia o seu ofício e o dele dito secretário. Disse mais
que, neste mês de Abril próximo passado, não lhe lembra a quantos dele,
depois da cátedra de lnstituta, que se vagou nele, estar vaga, por ocasião dele
Reformador mandar, por informações que, para isso teria, buscar a casa de
Francisco Tavares Pinheiro, e de seu companheiro Luís Carvalho, se se não
engana, junto à igreja de S. Pedro, que está parede em meio com as casas dele
declarante, a buscar fundas ou armas, à noite, os sobreditos, sabe ele declarante
que, com medo, e por lhe não acharem dois pistoletes em casa que, ao tal
tempo, nela tinham, os deitaram pela dita janela no pátio dele declarante, por-
que, nessa mesma noite, os sobreditos lhos mandaram pedir, dizendo o que tem
relatado; e, mandando ele declarante, pelos seus criados, fazer diligência, -se
achou um só dos dois pistoletes, que lhe mandou por um criado seu, que cha-
mam Gaspar Pereira, que anda na primeira classe, ao dito Francisco Tavares,//
11. 60 e viu que era o cano dele de pouco mais de palmo, com fechos de pederneira;
e lhos mandara pedir por meio de João Pereira Botado, seu primo. E que isto
era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho
e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Re(ormador e Reitor. Manuel de Saldanha.

Aos vinte e sete dias do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr.
D. Francisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor
dela, estando aí, perante ele foi mandado vir, perante si, a Pero Leitão, filho de
Pero de Oliveira e de Ângela Leitoa, da vila de Avelãs, estudante institutário,
morador na Rua de Sobre as Ribas, e, sendo presente, por ele lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte anos. Perguntado se sabe
ou presume o para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu
que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse
/1. 60v. o contrário dela, e de que tempo a esta parte,// disse que não. Perguntado
pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é
obrigação inquirir, em geral,e, depois disso, em especial, pelo que de cada um

104
deles sabia, disse que, haverá dois anos e meio, pouco mais ou menos, que,
nesta cidade, na feira dela, se achou ele declarante em companhia de João
Machado, estudante do segundo curso das Artes, este ano presente, filho de
Jerónimo Machado, moradores nesta cidade, ao presente na sua quinta, e o
dito filho, defronte das casas do tesoureiro Nicolau Leitão, de idade de deza-
nove anos, e, estando ambos juntos, não lhe lembra a que propósito, o sobredito
lhe disse que Manuel de Andrade, moço pequeno, de dezassete ou dezoito anos,
gentil-homem e bem assombrado, estudante do terceiro curso deste ano, de
Santa Comba Dão, filho segundo, ouviu dizer, do meirinho da dita vila, a quem
não sabe o nome nem onde mora, e se se não engana lhe disseram que, na Rua
das Covas, ou em um beco aí junto, cometera o pecado de molícias com um
estudante de Viseu, cujo nome agora lhe não lembra, em casa do dito estu-
dante; e ele declarante o ficou assim tendo para si, porque de antes tinha
ouvido, andando nas classes menores, que o sobredito era fanchono; e o ver
fl. 61 andar, de ordinário, mui enfeitadinho a muitas pessoas que agora lhe// não
lembram. Disse mais que, no ano passado, não lhe lembra em que mês, nesta
cidade, se achou em companhia do dito João Machado, de quem é amigo, e,
estando ambos sós, não lhe lembra o lugar certo, o sobredito lhe disse que um
fulano Ferreira, cujo nome lhe não lembra ao presente, que será de dezasseis
anos, moço gentil-homem, estudante da terceira classe este ano, filho de um
sapateiro a quem não sabe o nome, que vive na rua que vai passado o Colégio
de S. Paulo, a primeira vindo para S. João, a terceira ou quarta casa à mão
esquerda, cometera também o pecado de molícias com um sobrinho, a quem
não sabe o nome, do prior de S. João, será de vinte e quatro anos, de meã
estatura, magro de corpo e rosto, e com barba pouca e preta, estudante, não
sabe de que Faculdade, nem tem o dito Prior outro leigo que ande aqui,
segundo lhe parece, senão a este; e que também lhe disse o dito João Machado
que João Aranha, que andava na segunda classe, e, por morte de um estudante,
se foi fazer frade na Ordem de S. Francisco, da Província de Portugal, filho de
João Aranha, desta cidade, cometera o dito pecado de molícias com o dito
fulano Ferreira, e ele declarante o presume assim porque também anda concer-
tado e não tem boa fama, segundo ouviu a pessoas que lhe não lembram, e, já
de pequeno, a tinha. Disse mais que, este ano, não se lembra em que mês, lhe
dis~e o sobredito João Machado, nesta cidade, nos Olivais, junto a Santa Ana,
que um pintor, digo dourador da Calçada, a quem não sabe o nome, cometera
o dito pecado de molícias com Filipe Coelho, estudante da quinta classe, / /
fl. 6/v. neto do desembargador Gonçalo Gil Coelho e filho de Manuel Coelho. Disse
mais que, neste Janeiro ou Fevereiro próximo passado, nesta cidade, na sala da
Universidade, viu a um estudante, por nome António da Costa, da cidade de
Viseu, legista, um pistolete na cinta, e não deu fé de que palmos, e outros
estudantes que ali estavam, a quem não sabe o nome. Disse mais que, deppis

105
desta Páscoa próxima passada, não lhe lembra se neste mês se no passado, viu
ele declarante nesta cidade, na Rua de Coruche, um pistolete a Francisco da
Costa, estudante canonista, irmão do sobredito que com ele vivia, e seria de
palmo e meio e fechos de pederneira, e não sabe se lho viu mais alguém. E que
isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho
e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Pero Leitão.

João Caminha, solteiro, filho de Domingos Francisco e de Catarina Gas-


par de Caminha, da Arrifana de Sousa, estudante canonista, morador a Santa
Justa, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si,
e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs
.fl. 62 sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade// e tivesse segredo
no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de
vinte e cinco anos. Perguntado se sabe ou presume o para que é chamado, e se
alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, disse que não. Per-
guntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme
a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de
cada um deles sabia, disse que, o ano passado, no mês. de Outubro, querendo
ele declarante e seu companheiro António Bernardes, da Arrifana de Sousa,
bispado do Porto, que então moravam a S. Bartolomeu, saber o que se mon-
tara nas custas de uns autos que, entre eles e os frades de S. Bento deste seu
Colégio, correram sobre a taxa de umas suas casas em que ele declarante e o
dito seu companheiro viveram, e achando que Sebastião Lopes, escrivão da dita
taxa, lhes havia levado mais do que neles se montava, fizeram queixa disto ao
Vice-Conservador, Manuel Veloso, que, por mandar ir o feito perante si, o
sobredito Sebastião Lopes, tanto que o soube pelo dito despacho, se concertou
com eles e lhes tornou oito ou nove vinténs, e presume que devia de ser mais e
que, por se não ver, lhes tornou o dito dinheiro, com que se aquietaram, por
não andar com mais demanda. Disse mais que, esta quaresma próxima pas~
sada fez dois anos, nesta cidade, dando ele declarante por testemunhas na dita
causa, a Manuel Ramos, do Porto, estudante canonista, não sabe cujo filho é,
que viveu este ano na Rua de João Cabreira, e outro estudante, a que não sabe
fl. 62v. o nome nem // donde é natural, e os levou a casa do dito Sebastião Lopes; o
qual os perguntou só por si, sem estar presente o inquiridor, e lhes levou por
isso dois vinténs, dizendo que eram para salário do inquiridor; o que ele decla-
rante sabe, porque, quando lhe levou as ditas testemunhas, não estava lá inqui-
ridor, como viu; e que as perguntou, sem embargo disso, estando ele declarante
à porta; e onde já as perguntara com inquiridor, ele declarante o vira, como viu,

106
que as perguntou sem ele; e assim o dirá também Estêvão da Fonseca, lente de
Jnstituta; porque se achou a isto presente e lhe perguntou também, em uma
causa sua, nesse mesmo tempo, uma testemunha sem o dito inquiridor. Disse
mais que, este mês de Maio, não se lembra a quantos dele, se achou ele decla-
rante em casa de Cristóvão Dinis, opositor legista, do Porto; e, estando ambos
e outras pessoas, o sobredito lhes disse que o dito Sebastião Lopes lhe pedira
por uma. certidão simples três tostões, e, respondendo-lhe que lhos não podia
levar, por ser contra as regras, lho viera a fazer por meio tostão. Disse mais
que, de quatro anos a esta parte que há que se matricula nesta Universidade e
sempre deu ao secretário Rui de Albuquerque pelo matricular um vintém; e por
lhe pa, digo, e, por cada curso que lhe ia depois de provado, um vintém; e
assim viu que, por uma e outra causa, lho davam todos os mais, e ele o recebeu.
/1. 63 E que isto // era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este
testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do cos-
tume nada .. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. E assinou com o dito Refor-
mador. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. João de Caminha.

André Correia de Mesquita, solteiro, filho de Gonçalo Pinto de Mesquita e


de D. Paula da Fonseca, de Vila Real, estudante canonista, morador na Rua
dos Estudos, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de dezoito anos. Perguntado se sabe ou presume o para que é chamado,
e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita
desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo
a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos
reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e,
depois disso, em especial, disse que, haverá oito dias, pouco mais ou menos,
nesta cidade, se achou ele declarante em casa de Gonçalo da Costa, estudante
canonista, filho do Dr. Gonçalo de Paiva, lente de Medicina, e de Francisco
/1. 6Jv. Ferreira, estudante da sexta classe, // filho do Dr. António Ferreira, desembar-
gador da Casa da Suplicação, e o sobredito Gonçalo da Costa lhes mostrou um
pistolete, de cano de menos de um palmo e fechos de pederneira; e que, depois
disso, daí a dois ou três dias, lhe tornou ele declarante a ver na algibeira o dito
pistolete, em casa de João de Carvalho, opositor canonista, da dita vila de Vila
Real; o qual também viu o dito pistolete, porque aí o tirou da algibeira o dito
Gonçalo da Costa. Disse mais que, de dois anos a esta parte que há que se
matricula nesta Universidade, lhe levou sempre pelo matricular o secretário Rui
de Albuquerque um vintém, e o mesmo lhe viu dar a todos os mais que se
matricularam em sua presença, e ele aceitá-lo. E que isto era o que sabia dos

107
ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava
escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. André Correia de Mesquita.

Francisco Coelho, filho de António Coelho e de Brites Pessoa Baracha, de


Vila Franca, estudante legista, solteiro, morador na Rua das Fangas, junto a
fl. 64 Heitor de Sá, testemunha referida, a quem o Reformador D./ / Francisco de
Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dis-
sesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de vinte e cinco anos. Perguntado se sabe ou
presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que,
sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o
contrário dela, disse que não lhe falou pessoa alguma, nem lhe pediu o que na
dita pergunta se contém; e que, posto que não sabe o para que é chamado,
presume que será para testemunhar alguma coisa sobre o secretário Rui de
Albuquerque. Perguntado que é o que dele sabe, disse que, este mês de Janeiro
próximo passado, querendo fazer o auto de bacharel e formar-se Gonçalo Vaz
Freire, legista, casado na cidade de Lisboa com uma filha de Simão Delgado,
faltando-lhe, para isso, algum tempo, de que ao presente se não lembra, sabe
que o dito secretário Rui de Albuquerque lho deu, e emprestou, persuadido de
estar o dito Gonçalo Vaz Freire esperando por uma provisão do dito tempo que
lhe faltava, e, de efeito, com ele fez os ditos autos sem ter o dito tempo, se não
dado e emprestado na forma sobredita; e que, por isso, lhe mandou, antes de
lhe dar o dito tempo, umas luvas de âmbar por um moço, a que chamam
André Monteiro, natural de Lourinhã, estudante institutário deste ano, criado
de Félix Rebelo. E, depois do dito auto de bacharel, antes de fazer o de forma-
tura, que lhe não lembra a quantos dias de Janeiro fez os ditos autos, lhe
fl. 64v. mandou, pelo dito moço, uns poucos de doces,// que o sobredito lhe não quis.
aceitar por estar com gente de fora, quando o dito moço lhos levou; o que tudo
ele declarante sabe, como já tem dito, porque lho disse assim o dito Gonçalo
Vaz Freire, e saber que lhe faltava o dito tempo, como condiscípulo e amigo
seu; e ver as ditas luvas e doces e lhe dizer que eram para mandar ao dito
secretário; e que, feitos os ditos autos, entende que veio a dita provisão, com
que se aperfeiçoou o dito tempo. E que isto era o que só sabia, pelas ditas
razões, e ser seu hóspede, no dito tempo, o dito Gonçalo Vaz Freire. E, pergun-
tado pelos interrogatórios dos estatutos reformados, porque, nesta visita, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, primeiro, em geral,e, depois disso, em parti-
cular, disse que, outrossim, o dito Secretário, de cinco anos que há que está

!08
nesta Universidade, em cada um, pelo matricular, lhe levou um vintém, e viu
que assim lho davam os demais. E que isto é o que só sabia dos ditos interroga-
tórios ; e que o dito Gonçalo Vaz Freire, que ele declarante saiba, nenhuma
outra coisa mandou ao dito Secretário, por lhe dar o dito tempo. E, sendo-lhe
lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e
do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o ~screvi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Francisco Coelho.

António Freire, solteiro, filho de Rafael Freire e de Maria Freire, de


Pedrógão, estudante médico, morador a Santa Cruz, a quem o Reformador
Jl. 65 D. / / Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,mandado que,
sob cargo dele, dissese verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,
prometeu de o fazer assim ; e disse ser de idade de vinte e cinco anos. Pergun-
tado se sabe ou presume o para que é chamado, e se alguém, por si ou por
outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, disse
que o que deles sabia era que, haverá cinco meses, pouco mais ou menos, nesta
cidade, se achou ele declarante em casa de Frutuoso de Basto, não sabe donde é
natural, estudante da quarta classe e criado de Síntio Acorambone. E, estando
ambos sós, o sobredito lhe mostrou e ele declarante lhos viu aí e trazer na cinta,
depois disto, por muitas vezes, dois pistoletes, cujos canos um era de palmo e
pouco mais, e outro quase de dois; e ambos de fechos de pederneira; e, assim,
sabe que os tinha e trazia ordinariamente por lhos ver, até à semana de Lázaro,
em que desta cidade se foi o dito seu amo para a de Lisboa. Disse mais que, de
cinco anos a esta parte que há que que se matricula nesta Universidade, nestas
Escolas Maiores e nas Menores, sempre deu ao Secretário Rui de Albuquerque
pelo matricular um vintém, e viu que todos os mais que se matricularam em sua
fl. 65v. presença// lhe deram o mesmo, e ele o aceitou. E que isto era o que sabia dos
ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava
escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. E declarou que Pero do
Couto, estudante canonista, que vive junto ao serralheiro da Universidade, sabe
também que o dito Frutuoso de Basto tem os ditos pistoletes, por lhos haver
visto. Sobredito o escreveu. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
António Freire.

João Soares da Silva, solteiro, filho de António Fernandes e de Leonor da


Silva, de Santa Comba Dão, estudante canonista, morador na Rua de Santa

109
Sofia, a quem o Reformador mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,mandado que,
sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,
prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e cinco anos. Pergun-
tado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por
outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
p. 66 Perguntado pelos interrogatórios dos estatutos/ / reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, primeiro, em geral e, depois disso, em especial,
pelo que de cada um deles sabia, disse que, haverá quatro ou cinco meses,
pouco mais ou menos, nesta cidade, se achou ele declarante em casa de Matias
Bernardes, estudante canonista, natural da vila de Canas de Senhorim, digo da
Sabugosa, bispado de Viseu, em sua companhia; e, estando ambos sós, o
sobredito lhe mostrou um pistolete, de cano de palmo e meio, pouco mais ou
menos, e fechos de pederneira; e depois, daí a um mês, foram ambos em com-
panhia de Manuel Ferreira, canonista, natural de Paranhos, e de Simão Fer-
nandes, primo e companheiro do dito Manuel Ferreira, estudante da segunda
classe, e outros que lhe não lembram, folgar aos Olivais, e ali lhe viram todos
ao dito Matias Bernardes o dito pistolete, que levava na cinta; e sabe ele decla-
rante que é seu, mas não se o tem ao presente ou não. E que isto era o que
sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado
se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com
o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. João Soares da Silva.

Aos vinte e oito do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr. D. Fran-
cisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor dela,
p. 66v. estando aí, por ele foi mandado vir// perante si a Brás Gomes de Ávila, sol-
teiro, filho de Fernão Gonçalves de Ávila e de Isabel Solis, de Portalegre, estu-
dante institutário, morador à Pedreira e, sendo presente, lhe foi dado juramento
nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de dezasseis anos. Perguntado se sabe ou
presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que,
sendo perguntado, na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o
contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, disse que o que deles sabia era que, haverá dois meses, nesta
cidade, em casa de Manuel Aires de Almeida, estudante legista, de Portalegre,
que vive à Pedreira, junto ao Dr. Domingos Antunes, da banda de baixo, nas

110
terceiras casas, se achou ele declarante em companhia do sobredito e de Manuel
Falcão, legista, de Portalegre, que vive, outrossim, na Pedreira, e de Luís
Salema, estudante legista, de Lisboa, que vive por detrás das casas do Juiz do
Fisco, e, estando todos quatro, viu ao dito Manuel Falcão um pistolete, cujo
cano seria de palmo e meio, com fechos de pederneira; e ao dito Luís Salema
viu outro, cujo cano seria de dois palmos, com fechos também de pederneira; os
quais traziam na cinta. E aí os estiveram todos vendo muito devagar, e com
fl. 67 eles se tornaram a ir. E, depois, a cada um dos sobreditos/ / Luís Salema e
Manuel Falcão lhe viu os ditos pistoletes, em diversos tempos e na mesma casa;
e sabe que os ditos pistoletes são seus. Disse mais que, haverá dois meses,
pouco mais ou menos, que, nesta cidade, em casa do sobredito Manuel Aires de
Almeida, se achou ele declarante em companhia de Gaspar da Fonseca, estu-
dante canonista, filho de Lucas da Fonseca, de Alter do Chão, que mora em
casa de D. Mécia, sua parenta, e de Diogo Vaz, moço de dezasseis anos, que
não estuda, de Portalegre, criado do dito Manuel Aires de Almeida, e, estando
todos três, o sobredito Gaspar da Fonseca lhes mostrou um pistolete que trazia
na cinta, cujo cano seria de menos de palmo, com fechos de pederneira, e lhes
disse que o tomara na briga que, este ano, sucedera junto ao Mosteiro de Santa
Ana, perto do entrudo, entre ele dito Gaspar da Fonseca, e o dito Manuel
Falcão e o dito Luís Salema, e Pedro Carrilho, mulato forro, do Alentejo, da
obrigação do dito Gaspar da Fonseca, e em cuja casa estava, que, por sua
ordem, viera para a dita briga, segundo se diz todos quatro de uma parte, e, da
outra, Luís de Carvalho, solteiro, estudante, da cidade de Lisboa, que vive na
freguesia de S. Pedro, e Francisco Tavares Pinheiro, companheiro do sobredito,
e Manuel Faia, de Lisboa, legista, e declarou que lhe lembrava que eram
mais, da parte do dito Manuel Falcão, Luís Pereira, do Alentejo, institutário,
que vive na Pedreira, junto a José da Fonseca, conselheiro este presente ano; e,
assim, mais Simão Correia, canonista, companheiro do dito Manuel Falcão, seu
vizinho e amigo; e que era o dito pistolete do dito Manuel Faia, que depois de
o disparar e lhe darem os pelouros em um braço, que sem o ferirem achou
metidos na manga da roupeta, tomara ao dito Manuel Faia, que com ele lhe
atirara; e que poderá dizer de como o dito Gaspar da Fonseca tem e traz o dito
pistolete, e assim os ditos Luís Salema e Manuel Falcão, António de Mesquita,
bacharel canonista, que vive à Pedreira, e assim o dito Manuel Aires de
Almeida, e assim lhe disse o dito Manuel Falcão que, na dita briga, também
/7. 67v. levava o seu// pistolete, e que isto é o que dela sabe e ouviu, como também
dizer-lhe o sobredito Manuel Falcão que o dito mulato dera umas cutiladas na
cabeça ao dito Manuel Faia. Disse mais que, matriculando-se este ano, o Secre-
tário Rui de Albuquerque lhe levara por isso um vintém, e viu que assim lho
davam os demais e que ele o recebia. E que isto era o que sabia dos ditos
interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava

111
escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o Refor-
mador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Refarmador e Reitor. Brás Gomes de Ávila.

Jorge de Magalhães, filho de Rui Lopes de Magalhães, bacharel legista,


desta cidade de Coimbra, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses
mandou vir perante si, e, estando presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse
verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de vinte e três anos. Perguntado se sabe ou presume
para que é achamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo
perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reforma-
dos, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso,
fl. 68 em especial, disse que, haverá dois anos, pouco// mais ou menos, não lhe lem-
bra em que mês, nesta Universidade, ouviu a tantas pessoas, que lhe não lem-
bram delas mais que o Dr. Cristóvão Mouzinho, lente de Código, que Rui de
Albuquerque, Secretário desta Universidade, dera um ano, ou o tempo que na
verdade se achar, sem declararem o modo em que o dera, ao Dr. António de
Abreu, e que o dito Doutor lhe dera um cavalo ou uma mula, e se foi por isso
ou não e o que mais houve neste particular e ao certo dirá o dito Cristóvão
Mouzinho, e assim lhe disse mais o Dr. João de Carvalho, lente de Véspera de
Leis, falando nesta matéria, que o Dr. Domingos Antunes, lente de Véspera de
Cânones, sabia a verdade de como ele passara. Disse mais que, de sete anos a
esta parte, sempre deu ao dito secretário um vintém pelo matricular, e em todos
viu que os mais lho davam também, e que ele o recebia; tirando alguns a que
viu dar só dez réis. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios.
E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade,
disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Jorge de Magalhães.

João Gomes, de Castelo Branco, solteiro, filho de Gaspar Gomes e de Ana


Martins, da dita vila, estudante médico, morador ao Salvador, testemunha refe-
rida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão, e,mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que
lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si
fl. 68v. ou por// outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse

112
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral,e, depois, em especial, disse
que o que deles sabia era que, haverá três ou quatro meses, nesta cidade, em
casa de Jacinto de Abreu, estudante canonista, de Mortágua, que vivia a Nossa
Senhora do Salvador, se achou ele declarante em companhia do sobredito e de
Fernão Mendes de Gusmão, estudante da sexta classe, companheiro do dito
Jacinto de Abreu, e de Francisco Rodrigues Colaço, estudante canonista, da
dita vila de Castelo Branco; e, estando todos quatro, o sobredito Francisco
Rodrigues lhes mostrou um pistolete, cujo cano seria de palmo e meio, com
fechos de pederneira; e, depois disso, lho viu por algumas vezes, e sabe que é
seu, porque, antes deste tempo, já no ano passado, o sobredito lhe disse que o
tinha, e lho mostrou, e que lhe custara mil e quatrocentos réis. Disse mais que,
de seis anos a esta parte que há que se matricula nas Escolas Maiores e Meno-
res, em todos deu, por isso, um vintém ao Secretário Rui de Albuquerque, e viu
que todos os mais lho davam assim e ele o recebeu. E que isto era o que sabia
dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se
estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o
dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. E declarou que sabia
mais do dito pistolete António Carvalho, barbeiro, filho de João Jorge, homem
do meirinho. Sobredito o escrevi.// D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. João Gomes.

fl. 69 Aos vinte e nove dias do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majes-
tade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi chamado vir, perante si,
a Lourenço Pereira da Gama, filho de Luís da Gama Pereira, desembargador
do Paço, estudante institutário e mestre em Artes, e, sendo presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,mandado que,
sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,
prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de dezanove para vinte anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por
outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois, em especial, disse que o
que deles sabia era que, oito dias, pouco mais ou menos, antes do entrudo
próximo passado, às duas horas da tarde, indo ele declarante para o Colégio de
Tomar, onde é pupilo, e chegando ao Mosteiro de Santa Ana, viu que, por
respeito das razões que haviam dantes tido Manuel Falcão, estudante legista, de
Portalegre, com Luís de Carvalho, estudante, da cidade de Lisboa, que vive na

l 13
freguesia de S. Pedro, e um mulato que se chama Pedro e dizem ser do Alen-
fl. 69v. tejo, da obrigação// de Gaspar da Fonseca, estudante canonista, que vive em
casa de D. Mécia, sua tia, viesse ao dito Luís de Carvalho, e tendo-lhe o rosto
entre as mãos dar-lhe algumas bofetadas, e dar-lhe com a cabeça na parede do
dito Mosteiro, da banda de fora, onde isto era; e virem logo que, ali estavam,
por parte do dito Manuel Falcão, o dito Gaspar da Fonseca e Luís Salema,
estudante legista, de Lisboa, que vive detrás das casas do Juiz do Fisco, e o dito
mulato, e Luís Pereira, institutário, do Alentejo, que vive à Pedreira, e Simão
Correia, canonista; e, da outra parte e em favor do dito Luís de Carvalho,
Francisco Tavares Pinheiro, seu companheiro, e Manuel Faia, de Lisboa, e Luís
Mendes Palma, estudante, de Lisboa, não sabe que ciência será a sua; e o dito
Manuel Faia atirou com um pistolete, cujo cano seria de palmo, e de peder-
neira, e deu com os pelouros em um braço do dito Gaspar da Fonseca, sem lhe
fazer prejuízo nele, mais que passar-lhe a roupeta; e, da mesma parte, atirou
também o dito Luís de Carvalho com outro pistolete, que lhe não tomou fogo;
e bem poderiam os outros, da outra parte, ter também pistoletes, que ele decla-
rante lhe não viu, por ficarem com as costas para ele; e logo viu que o dito
mulato levou da espada e deu uma cutilada ao dito Manuel Faia pela cabeça, e
ouviu dizer que era pequena, e o feriu em uma mão, de que caiu logo no chão,
e tomar-lhe o pistolete, e, sem dúvida, o matara se o dito Gaspar da Fonseca
fl. 70 lhe não dissera que lhe não desse;// e, fugindo seu companheiro Luís de Carva-
lho, viu que todos os outros iam correndo depós ele, e lhe tomaram a capa, que
ele largou, e não sabe onde lhe escapou. E o dito Manuel Faia se recolheu no
dito Colégio de Tomar, donde, à noite, se foi. E que isto era o que sabia da dita
briga e dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e pergun-
tado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E que, até
ao presente, não sabe que se haja tirado devassa do dito caso. E assinou com o
dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Lourenço Pereira da Gama.

Simão Pereira, filho de Frutuoso Francisco e de Violante João, da vila d~


Pereira, estudante teólogo, morador na Rua da Saboaria, a quem o Reforma-
dor D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,mandado que,
sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,
prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e cinco anos. Pergun-
tado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por
outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, disse que não. Perguntado pelos interro-
gatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação
.fl. 70v. inquirir, disse que,// haverá doze ou treze dias que ele declarante se achou nesta

114
cidade, no pátio das Escolas Menores, em companhia de Manuel Coelho, filho
de um ourives da Calçada, a quem não sabe o nome, estudante da terceira
classe, que será de dezassete anos. E, estando ambos sós, o sobredito lhe mos-
trou a si um pistolete, cujo cano seria de um palmo, e fechos de pederneira, que
trazia na cinta; e, posto que ali lho não viu mais pessoa alguma, poderá dizer
de como ele _o tem um seu amigo, por nome Francisco Pinto, filho de uma
mulher viúva, que não sabe o nome, que anda na quarta classe, e pousa com a
dita sua mãe na Rua do Corpo de Deus; e, já o ano passado, lhe viu também
outro pistolete maior alguma coisa, nesta cidade, na Conchada, onde atirou
com ele para o ar, e lhe parece que estava ali também o dito Francisco Pinto;
o qual era também de pederneira. E que isto era o que sabia dos ditos interro-
gatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na
verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Simão Pereira.

Estêvão Ferreira, solteiro, filho de António Dias e de Gregória Francisca,


de Óbidos, estudante canonista, morador na Rua dos Estudos, a quem o
fl. 71 Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir// perante si, e, sendo pre-
sente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e oito anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, disse que não. Perguntado pelos interro-
gatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação
inquirir, em geral, e, depois disso, em especial pelo que de cada um deles sabia,
disse que o que deles sabia era que, este mês de Outubro próximo passado,
trouxe ele declarante um moço de quinze ou dezassete anos, desbarbado, por
nome Manuel Gomes, estudante da quarta classe, natural do lugar de S. Barto-
lomeu, termo da vila da Lourinhã, a cujos pais não sabe o nome, alvarinho,
alto e magro de corpo, que lhe encarregou na dita vila de Óbidos Francisco
Garcia, casado, não sabe o nome à mulher, bacharel formado por esta Univer-
sidade, primo do dito moço; e, chegados a esta cidade, o deu por moço e criado
a Diogo Dias, estudante, bacharel canonista, do Alentejo, e lhe parece que de
Vila Viçosa, que vive defronte do Colégio de S. Paulo; e ,depois de estar com ele
perto de dois meses, não lhe lembra em que dia, veio o dito moço ter com ele
declarante, e lhe disse que o dito seu amo Diogo Dias lhe fizera de noite,
estando na cama, esfregar com a mão o membro viril do dito Diogo Dias, até
que derramara semente, e, sem embargo dele declarante lhe aconselhar que o
não fizesse mais, daí a alguns quinze dias, tomando a ir ter com ele declarante,

115
o dito moço lhe disse que o dito Diogo Dias lhe tinha feito o mesmo cinco//
fl. 7/v. vezes na mesma casa, em diversos dias, de lhe dar o dito membro a esfregar e
de derramar a dita semente com isso, pela mão do dito moço, e que lhe pedira
que se quisesse deitar na cama com ele, e que lhe daria, por isso, um dobrão,
que lhe mostrara, sem declarar se o abraçava e beijava, pelo que se não atrevia
a estar com o dito amo; e, de efeito, se saiu dele; e entende ele declarante que o
dito moço lhe falou verdade em tudo, porque, depois de haver deixado o dito
amo, o sobredito Diogo Dias, não lhe lembra em que dia e tempo, disse a ele
declarante, em sua casa, que lhe fizesse tornar para ela o dito moço, ou que lhe
fizesse a saber que não havia de estar na terra; e, com este medo e outros que o
dito moço dirá, o fez ir para a terra; e o dito Diogo Dias se foi também para a
sua, sem se formar, andando para isso, tanto que ele Reformador veio para esta
Universidade. Disse mais que, este mês de Novembro próximo passado, nesta
cidade, se achou ele declarante em sua casa, em companhia de Manuel Soares
de Moura, legista, de Lisboa, já formado, e de Francisco Gago, de Setúbal,
bacharel formado em Leis, e de João Cardoso, canonista, irmão do dito Fran-
cisco Gago, que vive à porta do estudo das Escolas Menores, onde ele decla-
rante pousa; e, estando todos quatro, disse o sobredito Manuel Soares de
Moura que já tinha sete meses que lhe faltavam para se formar, que o Secretá-
rio Rui de Albuquerque lhe dera por dez mil réis, e, posto que não sabe se lhe
deu o dito dinheiro cu não, viu que, faltando-lhe o dito tempo, ele se formou
logo, o que não podia ser sem isso, porque não tinha provisão de Sua Majes-
.fl. 72 tade do dito tempo. Disse mais que, / / de seis anos a esta parte que há que se
matricula nesta Universidade, sempre deu ao dito Secretário Rui de Albuquer-
que pelo matricular um vintém, e viu que o mesmo lhe deram todos os mais
estudantes que, em sua presença, se matricularam, e que ele o aceitou. E que
isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho
e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Estêvão Ferreira.

Fabrício Bembo, solteiro, filho de Afonso Bembo e de Catarina de Sousa,


de Lisboa, estudante canonista, morador detrás de S. Cristóvão, a quem o
Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e três anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por
outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que,
anteontem, se achou ele declarante na sala dele Reformador, em companhia de

116
outros estudantes e do Secretário Rui de Albuquerque, que se iam assentando
em rol para, por ele, serem admitidos à prova do curso, e assim poderem dizer
do que soubessem, para, depois, testemunharem de noite, sem saberem uns dos
outros, na forma em que ele Reformador costuma, e, a esse respeito e por
Jl. 72v. ocasião deles, perguntou o dito Se// cretário se estavam já confessados; e de
responderem que sim, lhes disse que, posto que ele dito Reformador lhes dissera
que se não haviam de dar os nomes das testemunhas, que visse cada um o que
jurava, porque forçado lhos haviam de dar para contraditas, e que havia estu-
dantes tão ignorantes que se criam do que ele lhes dizia neste particular. E qm;
posto que indirecte ele assim o pedia, nenhuma outra pessoa lho pediu. Pergun-·
tado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a
eles, é obrigação inquirir, primeiro, em geral,e, depois, em especial, pelo que de
cada um deles sabia, disse que, este mês de Janeiro próximo passado, pouco
mais ou menos, se formou Gonçalo Vaz Freire, casado com uma filha de Simão
Delgado em Lisboa, e que logo se disse publicamente que ele se formara com o
tempo que lhe dera Rui de Albuquerque, secretário, e assim mais certidão de
haver residido nesta Universidade, depois disso, os dois anos necessários para
poder requerer, sem neles haver estado nesta Universidade, o que ele declarante,
ouviu a muitas pessoas que lhe não lembram, mas lhe parece que o sabem
muito bem os opositores, e particularmente Sebastião Álvares da Silva, e ele
declarante o tem para si que lhe deu, por isso, dinheiro, como diziam, ou coisa
que o valesse, porque, sendo ambos de um curso desta Universidade e tendo
ambos Artes, este é o sexto dele declarante, e o dito Gonçalo Vaz Freire está
formado e com dez anos na forma sobredita. Disse mais que também é
público, na maior parte desta Universidade, que deu tempo a Manuel Soares,
.fl. 73 canonista, de Lisboa, / / sem o ter, com que se formou, este ano, o que poderão
dizer os ditos opositores; e ele o presume assim, porque se formou o sobredito,
este inverno passado, sendo assim que não tem mais que três anos de curso
desta Universidade. Disse mais que, haverá oito ou nove dias que, nesta cidade,
em sua casa, se achou ele declarante em companhia de Bartolomeu Gonçalves
de Castelo Branco, legista, de Lisboa, e, estando ambos e outras pessoas que lhe
não lembram, o sobredito lhes disse que João da Cunha lhe dissera que, vindo
de Lisboa com o Dr. António Homem, quisera dormir com ele o dito João da
Cunha. Disse mais que, de seis anos que há que se matricula, deu sempre ao
dito secretário Rui de Albuquerque um vintém, e viu que todos os mais lho
davam, e ele o recebeu. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios.
E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade,
disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Fabrício Bembo.

117
Francisco Correia, solteiro, filho de Gonçalo Rodrigues e de Isabel Lou-
renço, estudante médico, de Lisboa, morador na freguesia de S. Pedro, a quem
o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo pre-
sente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e seis anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu,//
fl. 73v. por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse
a verdade ou dissesse o contrário dela, disse que não. Perguntado pelos interro-
gatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação
inquirir, disse que o que deles sabia era que, haverá mês e meio que nesta
cidade, em casa de Gregório da Silveira de Miranda, estudante canonista, de
Lisboa, que vive detrás de S. Pedro, se achou ele declarante em companhia do
sobredito e de Vicente Pestana, estudante da quarta classe, outrossim de Lisboa,
filho de Lourenço Pestana, que vive também detrás de S. Pedro, e, estando
todos três, o sobredito Vicente Pestana lhes mostrou um pistolete, cujo cano era
quase de palmo, e fechos de pederneira, que todos lhe viram, e o trazia na
algibeira, e ali disse que era seu. Disse mais que, esta quaresma próxima pas-
sada, mandou Gonçalo Mendes, clérigo, estudante canonista, que vive detrás de
S. Pedro, um presente, em um prato de prata de Água as mãos, ao Secretário
Rui de Albuquerque por um índio, por nome Cristóvão Gomes, escravo do dito
Gregório da Silveira, o que sabe porque lho viu levar, posto que não viu o que
nele ia; e que o aceitou e recebeu, porque se veio o dito índio sem nada, e disse
que o aceitara; e presume que seria por algum curso, porquanto o dito Gonçalo
Mendes quer fazer seus autos. Disse mais que, de quatro anos a esta parte que
f1. 74 há que se matricula, sempre deu ao dito Rui de Albuquerque// um vintém pelo
matricular, e viu que todos os mais lhe davam o mesmo, e ele o aceitava.
E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este
testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do cos-
LUme nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o
escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Francisco Correia.

Aos trinta e um dias do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majes-
tade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Gaspar Pinto, solteiro, filho de Gaspar Pinto e de Antónia da Fonseca, da vila
de Trancoso, estudante institutário, morador na Rua Direita, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte anos.

118
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por
outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, disse que não. Perguntado pelos interro-
gatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação
inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia,
disse que o que deles sabia era que, hoje, depois de jantar, nesta cidade, se
jl. 74v. achou ele declarante em casa// e companhia de António Varela, clérigo de
missa, estudante canonista, não sabe donde é natural nem cujo filho, e mora na
rua das casas da Perestrela, e de Pero Rebelo, de Trancoso, estudante de pri-
meira classe, que vive à Porta Nova, depois de passada a portaria dos Padres
da Companhia, a segunda travessa, em entrando por ela à mão esquerda, filho
de Sebastião Cardoso e de Violante Pinta; e, estando todos três, viram ao dito
António Varela um pistolete sobre a sua banca, cujo cano será de dois palmos,
com fechos de pederneira, e sabe ele declarante que é seu, e que, desde a Páscoa
para cá, lho viu sempre, e assim o dirá o dito Pero Rebelo. Disse mais que o
dito Pero Rebelo, haverá quinze dias, lhe disse, nesta cidade, estando ambos
sós, que Amaro de Sousa, estudante, canonista, de Pena Verde, trazia um pisto-
lete, e ele declarante, haverá o mesmo tempo, assim o julgou e trazê-lo na cinta,
posto que lho não viu com os olhos, mas por cima do manto de baeta se deixar
ver bem a figurar sê-lo, e, depois disso, haverá oito dias, em casa dele decla-
rante, se acharem todos três, a saber, o dito Amaro de Sousa e o dito Pero
Rebelo e ele declarante, e aí viram tirar da cinta ao dito Amaro de Sousa o
dito pistolete, cujo cano será de dois palmos, de fechos de pederneira; e lhe
parece que não é seu, porque lhe disse o dito Pero Rebelo que era o dito
pistolete de Vicente de Albuquerque, estudante canonista, não sabe donde é
natural, que vive na dita rua e casas da Perestrela. Disse mais que, haverá um
/7. 75 mês, pouco mais ou menos, nesta// cidade, na feira dela, sem ser dia de feira, às
quatro horas da tarde, viu ele declarante que por palavras que ouviu dizer, que
disseram Sebastião Cardoso, estudante da terceira classe, da vila de Trancoso, e
outro estudante, da sexta classe, a que não sabe o nome, nem donde é, que
andavam passeando na dita feira, o dito estudante, a quem não sabe o nome, e
outro, a quem também não sabe o nome, e o apelido é fulano da Guerra, que
será de dezoito anos, sem barba alguma, de meã estatura, nem magro nem
grosso, e dizem que é filho de um desembargador da Relação do Porto, e este
ano anda na terceira classe, e tanto que saiu das ditas Escolas e que chegou à
dita feira, o dito Sebastião Cardoso, os outros dois se foram a ele, como que o
andavam esperando; e o dito Guerra lhe atirou com um pistolete, cujo cano
seria de dois palmos, e fechos de pederneira, e, depois de tomar fogo, disparou
com efeito, posto que não feriu nem fez nojo algum ao dito Sebastião Cardoso;
e que disto testemunharão, e de como ele se chamava, Gonçalo Pinto, irmão e
companheiro dele declarante, e Domingos Martins, criado de Simão da Fon-

119
seca, de Trancoso, canonista,e ele anda na quinta ou sexta classe; e Filipe de
Paiva, criado dele declarante, que anda na nona classe, e Paulo Galvão, que
anda no primeiro curso, de junto a Viseu, que mora abaixo da Porta Nova, na
dita rua em que vive Pero Rebelo, atrás declarado. Disse mais que, este ano,
quando se matriculou, dera ao secretário Rui de Albuquerque um vintém, e viu
que todos os mais deram o mesmo e ele os recebeu. E que isto era o que sabia
dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se
estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o
dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Gaspar Pi.nto.//

Jl. 75v. Manuel Pereira, casado com Luísa Botelho nesta cidade, estudante legista,
que vive na Calçada, e natural de Lisboa, a quem o Reformador D. Francisco
de Meneses mandou vir perante si, e, estando presente, lhe foi dado juramento
nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de vinte e seis anos. Perguntado se sabe ou
presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que,
sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o
contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, disse que, este entrudo que
vem fará dois anos, nesta cidade, ao Arco de Almedina, viu ele declarante,
sobre umas laranjadas, que os filhos de Rui Lopes de Magalhães, das suas
casas, atiraram a um moço barqueiro, a quem não sabe o nome, que será de
vinte e cinco anos, e é filho de Paulo Luís, taberneiro, que vive na Rua das
Azeiteiras; e, por respeito do dito moço, cuidando que lhe atiravam António de
Sousa, estudante legista, solteiro, filho de Sebastião Tavares de Sousa, e Sebas-
tião Pinto, padre de missa, desta cidade, que vive na Rua de Quebra-Costas,
f1. 76 que estavam junto ao Arco, encostados na primeira tenda,// arrancar para eles
e acudirem juntamente os ditos filhos de Rui Lopes, que, de cima, lhe haviam
atirado, Jorge de Magalhães e Fernão de Magalhães, com cada um sua espada,
em corpo, viu, como tem dito, que o dito António de Sousa levou de um
pistolete, cujo cano teria palmo e meio, com fechos de pederneira, e atirou ao
dito moço, e, disparando, lhe deu por uma perna, de que esteve em cama muito
doente, e posto que saiu também com uma cutilada na cabeça, e não viu quem
lha deu, presume que lha deu um dos filhos do dito Rui Lopes de Magalhães,
porquanto só eles tinham espadas; e que poderá dizer de como ele lhe atirou
com o dito pistolete João Fernandes, sirgueiro, e o alfaiate manco da Rua das
Fangas, a quem não sabe o nome, e não há outro nesta terra, e os mais que eles
nomearem; e o mesmo pistolete lhe viu ele declarante, haverá três meses, no

120
Geral de Leis, por algumas vezes. E assim sabe que também tinha um pistolete
de dois canos, que seria cada cano de mais de dois palmos, pouco mais ou
menos, com fechos de pederneira, e que o vendeu, e que o vendeu a Mateus
Lopes, cónego desta Sé, por via do dito padre Sebastião Pinto, porque assim
lho disse o dito padre. Disse mais que, de cinco anos a esta parte que há que
se matricula, sempre deu, por isso, a Rui de Albuquerque, secretário da Univer-
sidade, um vintém, e viu que lho davam os demais, e ele os recebeu. E que isto
era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e
perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Manuel Pereira./ /

fl. 76v. Manuel Valdargo, solteiro, filho de Francisco Fernandes e de Francisca


Rijo, de Santiago do Cacém, estudante canonista, morador na Rua dos Estu-
dos, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e,
estando presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs
sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no
que lhe fossse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de
vinte e um anos. Perguntado se sabe ou presume o para que é chamado, e se
alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a
esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos
reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e,
depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que, este mês
de Novembro próximo passado, a dez dele, pouco mais ou menos, se achou ele
declarante nesta cidade, na casa do Conselho e da matrícula, pela manhã, em
companhia do Dr. António Homem, lente de Prima, que depois de sair da
reunião estava na dita casa, provando cursos, e do secretário Rui de Albuquer-
que, que neles exercitava o seu ofício, e de Gonçalo Vaz Freire, legista, casado
com uma filha de Simão Delgado, cirurgião do Hospital de El-Rei em Lisboa, e
de Simão Delgado, cunhado do dito Gonçalo Vaz Freire e filho do dito Simão
fl. 75v. Delgado,// estudante canonista, e de outros estudantes que, ao presente, lhe
não lembram. E, estando assim todos, por ocasião do dito Gonçalo Vaz Freire
querer provar o curso do ano passado, que se começou em Outubro de seiscen-
tos e dezassete e acabou em Maio de seiscentos e dezoito, e lhe pedirem certidão
do dia em que se havia ido, na forma da nova reformação, número sessenta e
um, e de responder que lhe ficara em casa, saído para a casa de fora, disse o
dito Secretário que se lembrava dele haver passado a dita certidão, e que a não
passara o Reitor Vasco de Sousa para o dito efeito mais com a velha, e outra, e,
com isso, lho provaram, sendo testemunhas o dito Simão Delgado e Domingos
Rodrigues, de Lisboa, se se não engana, dizendo o dito Dr. António Homem

121
que lhe provavam aquele curso, como, de efeito, provou, sem a dita certidão,
mas que o não faria mais, sem primeiro a ver e ler; e do dito Secretário arra-
zoar ali em favor do dito Gonçalo Vaz Freire, em lugar de o não admitir à
prova sem a dita certidão, presume ele declarante que o dito Gonçalo Vaz
Freire não devia de ter todo o ano cursado, e para o poder passar ter peitado ao
dito Rui de Albuquerque para que lho fizesse provar, como, de efeito, fez;
como também porque, depois disso, não lhe lembra em que tempo, lhes disse
Pero Velho do Rego, estudante legista, de Lisboa, estando eles ambos e o Dr.
António Pereira, da dita cidade, que a ama do dito Gonçalo Vaz Freire lhe fora
pedir emprestado o seu prato de prata de Água às mãos, para mandar o dito
Gonçalo Vaz Freire um presente de caixas de doces ao dito Rui de Albuquer-
que, como, de efeito, emprestara e ele lho mandara de caixas de doces e de
jl. 77v. outras coisas, e lhe parece que nelas entrara uma bolsa de seda e ouro.// Disse
mais que, três anos que se matriculou nesta Universidade, sempre deu ao dito
Secretário Rui de Albuquerque pelo matricular um vintém, e viu que todos os
mais lho davam, e ele o pedia e aceitava. E que isto era o que sabia dos ditos
interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava
escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Manuel Valdargo.

Gonçalo Pinto, filho de Gaspar Pinto e de Antónia da Fonseca, da vila de


Trancoso, estudante da terceira classe, morador na Rua Direita, testemunha
referida, a quem o Reformador mandou vir perante si, e, estando presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que,
sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,
prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de dezasseis anos. Perguntado se
sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe
pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos
.fl. 78 Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles,// é obrigação inquirir,
disse que não sabia deles coisa alguma, pelo que, perguntado pelo referimento,
digo, disse que, haverá mês e meio, pouco mais ou menos, que, nesta cidade, foi
ele declarante dormir a casa e com Sebasti_ão Cardoso, estudante da terceira
classe, da vila de Trancoso, por o irmão do sobredito não estar aí, e, depois de
deitados ambos em uma cama, viu ele declarante ao dito Sebastião Cardoso
esfregar com sua própria mão o seu membro viril até que derramou semente, e,
por outra vez, indo para o Espírito Santo ambos os dois, junto a Santo Antó-
nio, o sobredito lhe disse, esta quaresma, em que isto foi, que naquela fazia um
ano que ele vira dois estudantes estarem com as mãos esfregando cada um o seu
membro viril, os quais não conhecera nem sabia quem eram; e que isto era o

122
que só sabia. Perguntado pelo, digo, se o dito Sebastião Cardoso o abraçou ou
beijou na dita cama, ou se lhe pediu que ele declarante lhe esfregasse o dito
membro, ou lhe derramou a dita semente entre as suas pernas ou junto delas,
disse que nenhuma das ditas coisas fizera. Perguntado se sabe de alguma outra
pessoa, das Escolas Maiores ou Menores, que derramasse a dita semente com
alguma outra pessoa do mesmo género, e em que forma, disse que não; pelo
que, perguntado pelo caso a que foi dado por testemunha por Gaspar Pinto,
seu irmão, disse que o que dele sabia era que, haverá um mês, pouco mais ou
menos, às quatro horas da tarde, saindo o dito Sebastião Cardoso e Pero
Rebelo, seu irmão, e Paulo Galvão, que anda nos cursos das Artes, não sabe
em qual, os vieram esperar à feira Nuno da Guerra, de dezoito anos, que anda
.fl. 78v. na terceira classe, e não há lá outro deste // nome, e Brás do Amaral, não sabe
donde é, que anda na sexta classe, e, chegados a eles na feira, o dito Nuno da
Guerra lhe atirou com um pistolete, e o disparou com efeito, posto que não
feriu nem fez dano algum aos outros, o que tudo sabe por ser público e notório
na dita classe terceira, e pátio das ditas Escolas Menores, e por, como condiscí-
pulo, conhecer ao dito Nuno da Guerra e aos demais. E que isto era o que sabia
sobre o dito caso. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava
escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Gonçalo Pinto.

Filipe de Paiva, solteiro, filho de Álvaro Fernandes e de Filipa Dias, de


Castro Daire, estudante na nona classe, criado de Gaspar Pinto, estudante insti-
tutário, da vila de Trancoso, testemunha referida, a quem o Reformador man-
dou vir perante si, e, sendo presente, lhe deu juramento nos Santos Evangelhos,
em que pôs sua mão, e lhe mandou que, sob cargo dele, dissesse verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse
ser de idade de dezoito anos. Perguntado se sabe ou presume para que é cha-
/7. 79 mado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado// na
visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, disse que
não. Perguntado pelo caso a que é dado por testemunha e referimento de
Gaspar Pinto, seu amo, disse que o que dele sabia era que, haverá um mês
pouco mais ou menos, que, na feira desta cidade, às quatro horas da tarde, viu
ele declarante, saindo das classes, Sebastião Cardoso, estudante da terceira
classe, da vila de Trancoso, e Pero Rebelo, irmão do sobredito, e Paulo Galvão,
que anda nos cursos, e chegando à dita feira virem para eles, como quem os
estavam esperando, Nuno da Guerra, da dita terceira classe, e Brás do Amaral,
que dizem ser de Vilar Torpim, comarca de Pinhel, que anda na sexta classe,
lhes tirou o dito Nuno da Guerra com um pistolete, cujo cano seria de perto de
dois palmos, de fechos de pederneira, e, depois de tomar fogo , disparou com

123
efeito, posto que não feriu nem fez nojo a pessoa alguma. E isto viu por seus
olhos, e ouviu dizer que vinham ali esperar ao dito Sebastião Cardoso e seu
irmão, por palavras e diferenças que tivera com o dito Nuno da Guerra e Brás
do Amaral. E que isto era o que sabia do dito caso. E, sendo-lhe lido este
testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do cos-
tume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o
escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Filipe de Paiva.

Ao primeiro dia do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove anos,


fl. 79v. nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada// de
D. Francisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua
Majestade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir
perante si a André Monteiro, filho de Domingos Fernandes e de Jerónima Luís,
da vila da Lourinhã, estudante institutário, criado de Félix. Rebelo de Carvalho,
estudante canonista, de Lisboa, que vive na Rua das Fangas, testemunha refe-
rida, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, e,man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, e, pondo a mão nos Evangelhos, prometeu de o fazer assim; e disse
ser de idade de vinte e dois anos. Perguntado se sabe ou presume para que é
chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado
na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, disse
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral,e, depois disso, em especial,
pelo que de cada um deles sabia, disse que não sabia coisa alguma. Perguntado
pelo referimento que nele fez Francisco Coelho, que lhe foi lido e declarado,
primeiro em geral, a saber, se sabia que algum oficial da Universidade recebera
peita ou dádiva alguma de pessoa que dele dependesse, e de que tempo a esta
parte, disse que, este mês de Janeiro próximo passado, não lhe lembra a quan-
tos dele, antes de fazer o auto de bacharel Gonçalo Vaz Freire, legista, casado
na cidade de Lisboa com uma filha de Simão Delgado, cirurgião do Hospital de
El-Rei, mandou por ele declarante, em um prato de prata de Pero Velho do
Rego, estudante legista, da cidade de Lisboa, que a ama do dito Gonçalo Vaz
fl. 80 Freire lhe foi pedir emprestado, // por a ele declarante lho não dar da primeira
vez que lho foi pedir, o dito Pero Velho, um presente; e posto que ia coberto
com uma toalha e o levava um moço, por nome António Rodrigues, natural do
Porto, do primeiro curso das Artes deste ano, criado que é, como então era, de
Francisco Coelho Serrabodes, e ele declarante levava o recado com um escrito,
como de efeito levou, a Rui de Albuquerque, Secretário desta Universidade, à
noite, viu quando o descobriram que eram uns púcaros de Lisboa e umas luvas
de cheiro e umas caixas, não sabe de quê; e depois que o dito Secretário rece-
beu o dito presente, e respondeu ao dito escrito, trazendo-o ele declarante ao

124
dito Gonçalo Vaz Freire, tanto que o leu lhe disse, este escrito vale muito, ou
importa-me muito, e depois lhe mandou por ele mesmo, e lhe parece que pelo
dito moço, umas camoesas ou peros verdeais no mesmo prato, que ele aceitou,
e,depois destes dois presentes, e de se fazer bacharel, e antes de se formar, não
lhe lembra a quantos do dito mês, lhe mandou o dito Gonçalo Vaz Freire no
dito prato, só por ele declarante, outro presente de doces, para que ele decla-
rante foi comprar ao Mosteiro de Santa Clara três arráteis de pessegada e
marmelada; e não lhe lembra o que mais levava, com um escrito, e depois de o
ler, e apresentar o dito presente ao dito Rui de Albuquerque, e de lhe responder
por escrito, de palavra lhe disse também que dissesse ao dito Gonçalo Vaz
Freire que o não aceitava, como, de efeito, não aceitou, porque estavam lá os
colegiais de S. Pedro, e que lho guardasse lá em casa. Chegando ele declarante
à do dito Gonçalo Vaz Freire e lido o escrito que trouxera, disse o dito Gonçalo
Vaz a seu cunhado Simão Delgado, que lhe perguntou pela resposta, que o não
aceitara por estarem lá os ditos colegiais. E que isto era o que só sabia da dita
pergunta. E, por mais não dizer e ter satisfeito ao dito referimento, se lhe não
/1. 80v. leu. E, sendo-lhe lido e perguntado se estava// este seu testemunho escrito na
verdade, disse que sim, e do costume nada. E o assinou com o dito Reforma-
dor. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Refor-
mador e Reitor. André Monteiro.

Luís de Cardenas Sotomaior, solteiro, filho do Dr. Pedro de Cardenas


Sotomaior, desembargador da Casa da Suplicação, estudante canonista, mora-
dor a S. Bartolomeu, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou
vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos,
em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de vinte anos. Perguntado se sabe ou presume porque é chamado, e se
alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, se fosse perguntado na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, disse que não. Per-
guntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme
a eles, é obrigação inquirir, disse que, haverá três anos, pouco mais ou menos,
não lhe lembra em que mês, nesta cidade, em casa de Pero Moreira, estudante
fl. 81 canonista formado,// natural da ilha da Madeira, que então vivia na Couraça,
se achou ele declarante, em companhia do sobredito e de outras pessoas que lhe
não lembram, e, estando assim todos por ocasião de virem a falar em seus
cursos, o sobredito Pero Moreira lhes disse que ele tinha uma carta de mestre
ou bacharel em Artes da Universidade de Évora, sem declarar de quem a hou-
vera, e que, sem ter cursado nela, se raspara o nome da pessoa a quem ela se
passara e, pondo o seu, a levara ao secretário Rui de Albuquerque, o qual, por
presumir a dita falsidade, lha não quisera cumprir, e sendo ausente e servindo

125
por ele Bartolomeu Fernandes, bedel de Teologia, lha guardara, e assim fizera
com o dito curso de Artes, que na verdade não tinha; e que, depois de se
aproveitar da dita carta, a dera a Pero Gonçalves, estudante canonista formado,
da ilha da Madeira, desbarbado de sua natureza, só com uns bigodes mui
pequenos, solteiro, e vivia na Couraça; o qual, por virtude dela, fazendo o
mesmo e com o dito bedel, furtara o dito primeiro curso de Artes, e que, depois
disso, a emprestara para o dito efeito a Francisco Soares de Albergaria, estu-
dante legista, que vive no bairro de S. Pedro; e que, para a verem e se aprovei-
tar dela, lhe pedira ele declarante que a mandasse vir; e vindo, logo in conti-
nenti, viu ele declarante que ela vinha em nome do dito Francisco Soares, e que,
pedindo-lhe ele declarante que o raspasse e pusesse o seu nome, pondo-se o dito
Pero Moreira a raspar o dito nome de Francisco Soares, por quem gastado e
raspado estava já o dito lugar, a rompera com o canivete com que o raspava;
com que não teve efeito o que ele declarante lhe pedia. E não se lembra por
jl. 8/v. quem vinha/ / assinada a dita carta, nem de que ano era, posto que se afirma
ser da Universidade de Évora e deixar-se ver nela haverem raspado nela os
nomes que dizia o dito Pero Moreira. E que isto era o que só sabia, e que,
posto que fora chamado à última e próxima visita que houve nesta Universi-
dade, não dissera o sobredito nela, porque lho não perguntaram na forma e
modo com que ao presente lhe pareceu obrigado declará-lo, como agora o tem
feito . E, por mais não dizer, lhe foram feitas as perguntas seguintes. Pergun-
tado se sabe por alguma via ou presume que os ditos Pero Gonçalves e Pero
Moreira se aproveitaram da dita carta para Sua Majestade, por virtude dela,
lhes fazer mercê de algum tempo pelos mais anos dela, e se o dito Francisco
Soares de Albergaria se aproveitou dela como os outros, e se uns e outros
deram ao dito bedel coisa alguma por os admitir e lhes lançar o dito curso, disse
que não sabe nem uma coisa nem outra, nem se atreve a lançar juízos sobre
isso, posto que os ditos Pero Gonçalves e Pero Moreira cada um deles são mais
modernos que ele declarante dois anos, sendo este o seu oitavo e havendo-se
eles formado no princípio deste ano, e que por ignorância o fez só o dito bedel;
e não lhe foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe lido este testemunh_o
e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
Dr. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Luís de Cardenas Sotomaior.//

.fl. 82 Leonardo de Sá, solteiro, filho de Francisco de Sá Sotomaior e de Maria


Nunes de Almeida, de Viana, estudante canonista, morador na Rua dos Sapa-
teiros, testemunha referida, a q_uem o Reformador D. Francisco de Meneses
mandou vir perante si, e, estando presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse
verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer

126
assim; e disse ser de idade de vinte e um anos. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo
perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogató-
rios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inqui-
rir, em geral, e, depois, em especial, disse que o que deles sabia era que, haverá
mês e meio, pouco mais ou menos, que nesta cidade veio a casa dele declarante
Baltazar de Carvalho, estudante canonista, de S. João da Foz do Porto, sol-
teiro, filho de D. Joana de Salazar, viúva não sabe de quem, que vive na Rua
dos Sapateiros, junto a Simão Leal; e, estando ambos sós, o sobredito lhe
mostrou, e lhe viu, um pistolete, cujo cano seria de um palmo, e fechos de
pederneira, e sabe que é seu, e que o comprou a um estrangeiro dos que aqui
andam, a quem não sabe o nome, e que isto era o que sabia dos ditos interroga-
J7. 82v. tórios. Perguntado pelo referimento que nele fez // Diogo Bravo, em geral,
primeiro, e, depois, em especial, disse que, haverá um mês pouco mais ou
menos, que ele se achou nesta cidade em casa de Pero da Costa, canonista,
natural de Chaves, e, estando em companhia do sobredito e de Diogo Bravo e
de outras pessoas que lhe não lembram, jogando ao passa-dez, foi ali ter Estê-
vão Machado, estudante da segunda classe, natural de Guimarães; e,querendo
jogar, pediu ao dito Diogo Bravo que lhe tivesse mão e guardasse um pistolete,
que, posto que ele declarante não viu mais que dar-lhe por baixo do manteu um
vulto do tamanho do pistolete, depois lhe disseram que o era, não lhe lembra
quem. E que isto era o que só sabia do dito referimento. E, sendo-lhe lido este
testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do cos-
tume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o
escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Leonardo de Sá.

João Pereira Botado, opositor jurista, natural de Aldeia Galega, testemu-


nha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, e,
./1. 83 mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade// e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado. prometeu de o fazer assim: e disse ser de idade de vinte e
nove anos e morador na Couraça. Perguntado se sabe ou presume para que é
chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado
na visita desta reformação. calasse a verdade ou dissesse o contrário dela. e de
que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos
Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em
geral,e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o
que deles sabia era que, haverá seis anos, pouco mais ou menos, não lhe lembra
em que mês, e os devia de fazer este inverno passado, nesta cidade, em sua casa,
e em outros vários lugares, se achou ele declarante em companhia de Mateus de

127
Azevedo, filho de João de Azevedo, de Alhandra, estudante legista, que, haverá
quatro ou cinco anos que se foi desta Universidade, sem fazer seus autos; e,
estando ambos sós, por ocasião do sobredito lhe dizer que interpolava, como de
efeito interpolou, um ou dois anos, e que, o queria provar, sem embargo de o
não ter cursado, e mandar ao Secretário Rui de Albuquerque alguma coisa,
para que lhos provasse, assentaram ambos que lhe mandasse o dito Mateus de
Azevedo coisa que valesse quatro ou cinco mil réis; e sabe que, de feito, lhos
mandou em galinhas, que ainda lhe ajudou a comprar na feira, e doces vários
de caixas e bocados, e um chapéu de mulher; porque o sobredito lhe disse que
fl. 83v. lhe// havia já mandado as ditas coisas, e prometido o dito chapéu, que lhe
havia de mandar fazer em Lisboa. para que. sem haver cursado o dito ano. o
dito Secretário lho fizesse corrente; e que, posto que não sabe se lhe provou o
dito curso, nem qual fosse, nem, outrossim, viu receber-lhe o dito presente,
entende se não se engana haver-lhe dito também o dito Mateus de Azevedo que
o dito Secretário lhe provara o dito curso, o que lhe aceitara o dito presente.
Disse mais que, haverá cinco anos, pouco mais ou menos, nesta cidade, em casa
e companhia de António de Beja, filho de Lancerote Leitão, que hoje é ouvidor
de Avis, se achou ele declarante, e, estando ambos sós, o sobredito lhe disse que
mandara ao dito Secretário, Rui de Albuquerque, nesse mesmo ano, sem decla-
rar porquê, um presente de doces e, no meio, uma bolsa de seda e ouro, que,
segundo sua lembrança, lhe tinha mostrado, para que lhe suprisse algumas fal-
tas que tinha em seus cursos; e que, de feito, lhas suprira, e aceitara o dito
presente; e viu ele declarante que o sobredito fez seus autos, em que o ajudou,
por ser já então opositor. Disse mais que, este mês de Outubro próximo pas-
sado, não lhe lembra a quantos dele, foi ele declarante com Pero Gonçalves,
natural da ilha da Madeira, bacharel formado em Cânones nesta cidade, a casa
do Secretário Rui de Albuquerque, e, por ocasião do sobredito lhe ter comuni-
cado que queria que o dito Secretário lhe desse quatro ou cinco meses que lhe
faltavam, por dinheiro, e de se chegar ao dito Secretário e lhe falar em segredo,
fl. 84 e, depois disso, tomar para ele declarante,// e lhe disse que o dito Secretário era
um ladrão. e que já tinha feito e assentado com ele o seu negócio: mas que não
sabe se lhe deu os ditos meses, nem se, por eles, levou o dito dinheiro. Disse
mais que, este mês de Abril próximo passado, faz três anos que, vagando a
catedrilha de Cânones que levou o Dr. Diogo Mendes Godinho, e sendo oposi-
tor a ela o licenciado Pero Cabral, e por ocasião dele declarante ser opositor a
uma beca do Colégio de S. Pedro, onde também era colegial o dito Pero Cabral,
e, apaixonado do dito Pero Cabral, Belchior Caldeira, meirinho desta Universi-
dadc, se acharam em uma noite na vacatura da dita catedrilha, que lhe não lembra
agora a quantos do dito mês, na cela do Dr. Diogo Fernandes Salema, a saber,
o dito Diogo Fernandes, Belchior Caldeira, acima referido, e João de Men-
donça e Francisco Cardoso Torneu e Miguel Soares Pereira, colegiais do dito

128
Colégio, e Cristóvão Mouzinho, colegial do dito Colégio, que então era opositor
a ele; e Francisco de Andrade, outrossim colegial e ao tal tempo opositor, e
Diogo Marchão. estudante canonista. de Abrantes, já formado, e ele declarante.
opositores que também eram ao dito Colégio; e, estando assim todos juntos e o
dito Pero Cabral, para regularem os votos que tinha o dito Pero Cabral na dita
oposição, fechado já o escrutínio, como de feito regularam, e pela matricula que
liam. indo cada um dizendo o que tinha feito sohre cada voto. ouviu ele decla-
rante, e ouviu dizer ao dito Belchior Caldeira, em número de trinta e tantos
homens dos votantes na dita catedrilha, que os tinha subornados e seguros, por
f1. 84v. lhes haver falado e dado dinheiro; e assim que como// certos, por sua via e
poder de seu ofício, os lançassem em rol por conta do dito Pero Cabral, como
de feito lançaram; e que, posto que lhe não viu ele declarante dar dinheiro,
ouviu ali, saindo de fazer as suas contas, a um dos ditos colegiais acima nomea-
dos, que lhe não lembra qual era, que lhe tinham dado trinta ou quarenta mil
réis para dar aos ditos votos, por conta do dito Pero Cabral, e que tem para si,
por todas as coisas que tem declarado, e as mais que ali viu, que o dito Belchior
Caldeira recebeu o dito dinheiro; e que, por isso, falava na forma que especifi-
cado tem, e que não sabe cadeira em que o sobredito se não apaixonasse por
seu interesse, e que não fosse isso público e notório em toda esta Universidade,
via-lo nesta última de Instituta, a que ele declarante é opositor, e assim lhe
lembra que, haverá oito ou nove dias, que o dito Francisco de Andrade, na sua
cela, lhe contou que mandara citar a António Cabral, lente que foi nesta Uni-
versidade, por trinta mil réis que ele, dito Francisco de Andrade, dera ao dito
meirinho para lhe comprar os votos naturais desta terra na cadeira que levou o
dito António Cabral, a que ele também fora opositor, porque como o dito
meirinho os votos que tinha comprado de seu consentimento os votara, e fizera
votar pelo dito António Cabral, pela jura e pacto que com ele fizera, por um
escrito seu ficara obrigado a lhos pagar, que era a caução que tivera para o
fl. 85 mandar citar por eles; e este caso e outros// muitos há de como o dito meiri-
nho se há em todas as cadeiras ... eles do dito seu ofício. Disse mais que, nessa
mesma cadeira que levou o dito António Cabral, que foi em Maio de seiscentos
e quinze, em todas as noites, ou nas mais delas, teria o Dr. António Homem,
lente de Prima de Cânones, as portas das Escolas abertas, dando doces a todos
os estudantes que a ela iam, como de feito pediu a ele declarante, digo sendo
embuçado ouviu pedir aos outros que com ele iam, e que em todas as cadeiras,
de doze anos a esta parte, sabe que o sobredito foi sempre na forma declarada
apaixonado, dizendo-se publicamente que recebia dinheiro dos opositores, para
o gasto que nelas fazia. Disse mais que, haverá quatro anos, não lhe lembra em
que mês, nesta cidade e nestas próprias casas, se achou ele declarante em com-
panhia de Pero Ribeiro, estudante canonista, de Aveiro, criado do Bispo do
Algarve, que então era Reitor da Universidade, e, estando ambos por ocasião

129
dele declarante lhe oferecer algumas lições para ler de bacharel. ele respondeu
que não queria mais que uma e no capítulo primeiro De Postulando, e lhe
perguntar como se queria arriscar a lhe ela não cair, o sobredito lhe disse que
estava seguro, porque o bedel Gaspar de Seixas, que lhe assistia aos pontos, lhe
falsificaria os números das folhas, e, assim, posto que noutro texto lhe dessem,
daria fé de ser no dito título De Postulando, como, de feito, sabe que nele leu; e
tem para si e por certo que ele o falsificou, posto que se não achou presente,
fl. 85v. porque, faz agora dois anos que, querendo ele declarante que o dito bedel/ / lhe
fizesse o mesmo para Gregório Mascarenhas, estudante canonista, e pedindo-lhe
e oferendo-lhe por isso duas patacas, posto que as não aceitou, lhe disse que o
faria. e. de feito, o fizera. se o dito Gregório Mascarenhas o quisera. Disse mais
que haverá os ditos dois anos que pediu o mesmo ao dito bedel Gaspar de
Seixas, estando ambos sós e vindo já tomar ponto para Álvaro Tavares, colegial
do Colégio das Ordens Militares, e posto que lhe disse que falsificaria o dito
número, o não fez, porque lhe caiu em bom ponto e não foi necessário. Disse
mais que haverá três anos que António de Sequeira, legista, da cidade de Lis-
boa, estudava uma lição na lei primeira, Codice Communia de legatis, para se
fazer bacharel, e, haverá dois, que estudava outra lição na lei impossibilis jf. de
Verborum Obligationibus para se formar, e que em um e outro ponto assistiu,
pelo Secretário, o dito Gaspar de Seixas, e sabe que, em um e outro, lhe falsifi-
cou o número das folhas, porque em ambas as ditas lições teve os ditos pontos,
e leu; e assim lho disse o Dr. António Viegas, lente, que é já defunto; e Sebas-
tião Álvares da Silva. opositor legista poderá saber disto, e o Dr. Cristóvão
Mouzinho, lente de Código, e que, deste e doutros casos semelhantes, sabem
todos os opositores, entre os quais é público e notório; e que isto era o que
sabia dos ditos interrogatórios. Perguntado pelo referimento que nele faz
fl. 86 Manuel Ribeiro Pacheco, em geral e, depois,// em especial, sem declarar os
nomes, disse que, este ano, em Janeiro ou Fevereiro, lhe disse João da Cunha,
institutário, filho do Dr. António da Cunha, que o Dr. António Homem era
um sodomita e fanchono, sem dizer em que forma cometera um ou outro
pecado; e que assim o contou a algumas pessoas, de que agora se não lembra, e
que isto era o que só sabia do dito referimento, e do que nele fez Francisco
Tavares. Perguntado pelo segundo e terceiro referimento que nele fez mais o
dito Francisco Tavares, em geral, de um e outro disse_que não sabia mais coisa
alguma do que tinha dito do terceiro e do segundo, dos dois anos de residência
que Rui de Albuquerque, Secretário, dera a Manuel Álvares de Abreu por
votar por António Cabral, não sabe mais que ser público e notório, e gabar-se
disso o dito António Cabral. E, perguntado pelo referimento que nele fez
Álvaro Tavares, em geral, disse que não sabia dele mais que o que tinha dito.
Disse mais que, haverá sete anos, pouco mais ou menos, tempo que na verdade
se achar, que, estando o Dr. António Homem provando cursos na Casa do

130
Conselho com Rui de Albuquerque, secretário, e vindo para provar o seu curso
António Álvares, digo Cristóvão Álvares da Torre, estudante canonista, e sendo
testemunha na prova doutro e fazendo o seu sinal com umas rabiscas grandes, e
por o repreenderem disso o dito António Homem e secretário, e haver entre
ek.., palaHas muito ruins 4ue lhe não kmhram . de modo 4ue lenrn o dito
Secretário da campainha para atirar ao dito Cristóvão Álvares, e, vindo após
ele, e gente entre ambos, levou o dito Cristóvão Álvares um pistolete que seria
de cano de pouco mais de palmo e fechos de pederneira, e com ele apontou
jl. 86v. para o dito Secretário; posto que não // atirou nem disparou, e por levarem ao
dito Cristóvão Álvares para fora, e ao Secretário o recolherem, cessaram as
devassas e não foram mais por diante, e não se lembra de quem mais estivesse
presente a elas ; e lhe parece que poderia ser naquele tempo o dito Cristóvão
Álvares de alguns dezasseis anos; o que ele declarante sabe porque se achou
presente a tudo. Disse mais que, desde o tempo que há que Rui de Albuquer-
que serve de Secretário até ao presente, sempre lhe levou um vintém pelo matri-
cular; e viu que assim o levava a todos os mais. E, por mais não dizer, sendo-lhe
lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. João Pereira Botado.

Aos três dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Manuel Correia, sacerdote, filho de Rodrigo Correia, do lugar de Alcouce,
termo desta dita cidade, estudante canonista, morador na Rua das Saboarias, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
jl. 87 mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade// e tivesse segredo no
que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim ; e disse ser de idade de
trinta e três anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se
alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, disse que não. Per-
guntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme
a eles, é obrigação inquirir, em geral,e, depois disso, em especial, pelo que de
cada um deles sabia, disse que, haverá quatro meses, pouco mais ou menos, que
tinha um pistolete com cano de pouco mais de palmo e fechos de pederneira
nesta cidade Félix de Morais, filho de um fulano Lobo, que vive no Espinhal,
por sua fazenda, estudante que anda na décima classe; o que ele declarante
sabe, porque nesse mesmo tempo o sobredito o empenhou sobre certa quantia
de dinheiro a Pero Neto, companheiro dele declarante, estudante da terceira
classe, do lugar do Corvo, da vila de Miranda, em cuja casa e mão ele decla-

131
rante o viu por muitas vezes, e ele lhe disse que emprestara dinheiro sobre o
dito pistolete ao dito Félix de Morais; e lhe parece que poderá saber de como
tem o dito pistolete também um estudante, de quem lhe não lembra o nome, e é
da vila de Penela, institutário deste ano, e não há outro que da dita vila anda na
Instituta, que vivia na Rua dos Sapateiros, será de vinte anos, e lhe começa o
buço preto; grosso, e gentil-homem, e que foi figura no diálogo que fizeram,
este ano, os Padres da Companhia. E que isto era o que sabia dos ditos inter-
rogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na
verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco Meneses, Reformador e
Reitor. Manuel Correia.//

fl. 87v. António de Mendonça. bacharel canonista e conselheiro este presente ano.
da cidade de Lisboa, morador defronte da portaria dos Frades de Santo Elói,
testemunha relt:rida, a quem o Reformador D. l-rancisco de Meneses mandou
vir perante si. e,sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos,
e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e
quatro anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém,
por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reforma-
ção, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte,
disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, por-
que nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em
especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que,
na eleição e nomeação de Reitor próxima passada e na de Vice-Reitor do padre
mestre Frei Egídio da Apresentação, que lhe, digo, que foi aos vinte e sete ou
vinte e oito do mês de Junho passado, sendo ele declarante conselheiro substi-
tuto pelo Reitor Vasco de Sousa, e durando-lhe ainda os seus quinze dias, o
j1. 88 padre Frei Egídio, Vice-Reitor,// dado pelo dito Reitor Vasco de Sousa por
causa da doença, o sobredito Frei Egídio excluiu a ele declarante, estando ser-
vindo juridicamente pelos seus ditos quinze dias, e, em seu lugar, sem embargo
de lhe lembrar António Dias, guarda das Escolas, que lhe pertencia a ele decla-·
rante, mandou chamar a António da Silveira, porcionista áo Colégio de
S. Paulo, sendo assim que, como Vice-Reitor do dito Vasco de Sousa, e não
eleito ainda Vice-Reitor por eleição, como depois foi, não podia excluí-lo de
votar nos eleitores para a nomeação de Reitores nem para a eleição de Vice-
-Reitor, durando-lhe ainda os ditos quinze dias, nem fazer outro substituto.
E assim viu mais que, estando servindo António de Sequeira de conselheiro
legista, havia quatro ou cinco me..es, e assim eleito já pelo Conselho em conse-
lheiro. o excluiu o dito Vice-Reitor Frei Egídio do Claustro. e. em seu lugar.
chamou a Síntio Acorambone, colegial do Colégio de S. Pedro, que o não era;

132
e, sem embargo do ser mal chamado, pois estava na cidade o dito António de
Sequeira, conselheiro proprietário, o elegeram por eleitor, e deixaram \1anuel
de Saldanha e outros conselheiros proprietários que ao tal tempo se achavam,
na dita eleição, e que isto era o que sabia da eleição do Reitor, e foi só a em que
se achou. Perguntado se sabe por que respeito excluíram a ele declarante e ao dito
António de Sequeira, e a cujo requerimento e para que fim, disse que não sabia.
Perguntado que é o que ele declarante presumiu e presume do sobredito, se era
fl. 88v. para se eleger o dito/ / Frei Egídio, e ele para fazer a eleição que lhe parecesse,
ou que pretendesse quem a ele o quisesse eleger, disse que não presumia nada.
Disse mais que, este ano presente, na eleição dos deputados que ora servem, viu
ele declarante chamar ao dito António de Sequeira e, de efeito, assistir na elei-
ção dos ditos deputados, e excluírem Francisco de Morais, criado do Arcebispo
Primaz, proprietário, por se dizer que estivera ausente por mais tempo do que o
dito Vice-Reitor lhe podia dar, e se dizia que o fazia o dito Vice-Reitor para sair
reeleito erri deputado legista o Dr. António Lourenço, e o Dr. António Homem,
outn ,,~,111 ror deputado da Fazenda e Cânones, como, de feito, saíram,
savendo-se 4ue, por turno e forma costumada na Universidade, cabia aos Drs.
Domingos Antunes e João de Carvalho. E isto era o que sabia dos ditos inter-
rogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na
verdade, disse que sim. E logo declarou que, haverá dois meses, pouco mais ou
menos, depois da Páscoa, nesta cidade, em casa de Manuel Ximenes, estudante
canonista, de Lisboa, que mora na rua do Colégio de S. Paulo, se achou ele
declarante em companhia do sobredito e de António Cardoso, filho de Agosti-
nho Cardoso, bacharel legista, e de Luís Cordovil, bacharel canonista, que vive
fl. 89 junto à porta do Castelo, e, estando todos juntos,// lhes mostrou o sobredito
António Cardoso um pistolete de cano de palmo e meio e fechos de pederneira;
e o tinha com uma fita ao pescoço; e mais não disse; e não se afirma se estava
ali o dito Luís Cordovil. E, pelo que acima disse, lhe não foi lido o referimento
que nele foi feito. E do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. António de Mendonça.

João Rodrigues, casado com Leonor Álvares, de Vila Nova de Alvito,


estudante médico, morador à Porta Nova, a quem o Reformador D. Francisco
de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento
nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de trinta e dois anos. Perguntado se sabe ou
presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que,
sendo perguntado na -....isita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o
contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos

133
interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, em geral,e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles
Jl. 89v. sabia, disse que o que deles sabia era que o Dr. João// Bravo, lente de Véspera
de Medicina, não lê a proveito dos ouvintes, porque dá a escrever todo o tempo
da sua lição, que é hora e meia, e com tanta pressa que se não pode tomar sem
muitas faltas, e não o explica; e dá a escrever muitas cousas desnecessárias; e
não se põe à porta para responder às dúvidas que lhe moverem, na forma do
estatuto, e se lhas propõem não quer responder a elas. E que era público e
notório, entre os ouvintes, isto que tem dito. E que, há três anos que lê o Nono
Ad Almansorem, e que já de antes diziam que ele o lia; e, assim, o não tem
acabado no tempo que se lhe devia limitar para isso; e, nessa mesma postila, se
refere a muitas coisas que tem dado há anos, de que os modernos não podem
ter notícia, e lhes diz que se o quiserem saber que o não ia buscar, e alguns
nomes que não entendem, roçando-lhe os discípulos os pés para que lhos
declare, lhes diz uma coisa por outra como salvatela, que é veia, pateando-se-lhe
para que o declarasse, respondeu que era Salvaterra, junto a Santarém; e outras
respostas muito semelhantes a esta. E que todos os seus discípulos se queixam
dele, e do seu ruim modo com que os trata. E que o Dr. Gonçalo de Paiva, já
por sua velhice, o não ouvem nem entendem. E que isto era o que sabia dos
ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava
fl. 90 escrito na verdade, disse que sim, e do costume disse nada. E// assinou com
o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. João Rodrigues.

Aos quatro dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majes-
tade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Bento da Fonseca, solteiro, filho de Domingos Gomes, escrivão da receita e
despesa desta dita Universidade, que vive sobre as Ribas, estudante canonista, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão. e,mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que
lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si
ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Fstatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral,e, depois, em especial, disse
que, haverá dois meses, pouco mais ou menos, que nesta cidade e casa de
Manuel Carvalho, estudante legista, natural do Beco, que mora na Rua do
fl. 90v. Colégio Novo dos Padres// de Santa Cruz, por cima das casas do Juiz do

134
Fisco, na travessa que é para o Colégio de S. Francisco, que será de vinte e
quatro anos. de pouca barba e ruiva. se achou ele declarante em companhia
do sobredito e de Luís Queixada, estudante legista, de Figueiró dos Vinhos, e,
estando todos três, o sobredito Manuel Carvalho lhes mostrou um pistolete,
cujo cano seria de dois palmos, com fechos de pederneira, e lho viram muito
bem porque o tinha aí sobre um bufete, e depois lho viu ele declarante trazer na
cinta, uma ou duas vezes; e lhe parece que é seu, e não sabe quem mais lho
visse, que o dito Luís Queixada. Disse mais que, haverá um ano, que ouviu a
Simão de Araújo, filho de Mateus Fernandes, que vive na Rua de Quebra-
-Costas, estudante do terceiro curso, e a Jerónimo Gomes, filho de Francisco
Gomes, advogado, que vive na Calçada, estudante canonista, e outros muitos
estudantes que agora lhe não lembram, que Francisco de Matos, filho de
Manuel João, alfaiate, que vive junto a Rui Lopes de Magalhães, estudante
canonista, era fanchono, sem especificarem em que forma, e que já dos Padres
da Companhia trouxera esta fama, andando nas classes, e também disseram
que, haverá dois anos, pouco mais ou menos, que também ouviu aos sobreditos
que o dito Francisco de Matos cometia o dito pecado de molícias com um meio
cónego desta Sé, a quem não sabe o nome, e lhe parece que se chama fulano da
fl. 91 Silveira, muito alto e grosso do corpo e vermelho do rosto, prior que// hoje é
de Pereira, por troca que fez com Vicente Nogueira, e que, por isto, lhe dava
meias de seda. e outras muitas coisas: e não sabe donde esta fama trouxesse sua
origem, mais que de o verem ir a casa do dito prior, e ser o dito prior tido em
conta de tanchono, e um e outro entre a maior parte desta Universidade. l:. que
isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemu-
nho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim e do costume
nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Bento da Fonseca.

O Dr. Manuel de Abreu, lente de Crisibus nesta Universidade, morador na


Rua do Corpo de Deus, testemunha referida, a quem o Reformador D. Fran-
cisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão. e,mandado que, sob cargo
dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu
de o fazer assim; e disse ser de idade de quarenta e dois anos. Perguntado se
sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe
pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Pergun-
/7. 9/v. tado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela,// conforme a
eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de
cada um deles sabia, disse que o reitor D. João Coutinho, que hoje é Bispo do
Algarve, haverá dois anos, e lhe parece que os fará este Agosto que vem, pror-

135
rogara o partido dos médicos a Diogo da Cruz, desta cidade, estudante em
Medicina, pedindo a um dos eleitores, que era o Dr. João Bravo, que quisesse
votar por ele, e que nos mais faria o que ele Doutor quisesse, e, de facto, lhe
deram o partido para os três anos que lhe faltavam para tomar o grau de
licenciado, não tendo as partes que o regimento requer, nem sendo ainda
bacharel formado, contra a disposição do dito regimento; e todos os lentes da
Faculdade de Medicina poderão dizer isso. Disse mais que, no princípio deste
ano, o padre mestre Frei Egídio da Apresentação, Vice-Reitor desta Universi-
dade. sem haver lugar vago do partido dos médicos, e havendo de vagar agora
no fim de Maio, antes de vagar seis ou sete meses, ajuntou os eleitores, e depois,
digo, e sem por édito nem preceder exame, com o voto só de Martim Gonçal-
ves, eleitor, proveu no primeiro partido que vagasse, contra o regimento, a
Paulo da Fonseca, estudante médico, da Lousã, casado em Lorvão; como cons-
tará do assento que disso se fez e dos mais providos, para se ver como não
.fl. 92 vagaram senão no fim de Maio. Disse mais// que, no mesmo tempo, pouco
mais ou menos, sem estar vago lugar algum do partido dos médicos nem prece-
der édito nem exame, o sobredito Frei Egídio, com os eleitores, provera a Fran-
cisco de Mendo, colegial de S. Paulo, bacharel formado em Medicina, em um
partido para se fazer licenciado, sendo assim que, como não estava vago, provê-lo
e reconduzi-lo ficava sendo além do número do regimento, contra forma dele,
porque logo imediatamente, sem vagar, lhe mandou passar mandado para se
lhe entregarem setenta e do1~ mil réis, como, de eieito, se lho deram, que se
montam nos ditos três anos de recondução, tendo ele por colegial médico de
S. Paulo quarenta mil réis cada ano, por cujo respeito, até hoje, se não recon-
duziu nenhum colegial que ele declarante saiba, médico. Disse mais que, haverá
treze anos, pouco mais ou menos, que, no oitavo ou nono ano escolástico,
reconduziram ao Dr. Tomás Serrão, lente de Método nesta Universidade, estu-
dante do partido e bacharel formado que então era; e, em conformidade disso,
lhe deram o dinheiro que pro rata temporis lhe cabia da dita recondução; e
porque, depois de se fazer Doutor, pedindo ao Reitor D. João Coutinho que
lhe mandasse pagar o tempo que se lhe devia da dita recondução, a respeito de
três anos dela, vendo que nem ele nem seu antecessor D. Francisco de Castró
lhe quiseram mandar pagar, agora no princípio deste ano, não lhe lembra em
que mês, pedira o dito dinheiro ao dito Frei Egídio, Vice-Reitor, e lho mandara
pagar por seu mandado, como, de feito, pagaram, contra o regimento, porque,
.fl. 92v. conforme a ele, não se lhe devia dinheiro da dita// recondução, senão do tempo
em que foi reconduzido, até perfazer os ditos nove anos pro rata temporis, e
não por inteiro, como o dito Vice-Reitor lhe mandou dar, e que, posto que o
dito Tomás Serrão assinasse o mandado dos cinquenta e tantos mil réis que
recebeu, é público, em toda esta Universidade, que os arrecadou e tomou o
secretário Rui de Albuquerque, e que ele foi o que negociou isto com os ditos

136
Frei Egídio e Tomás Serrão, que poderá testemunhar de como ele os recebeu,
em nome do dito Tomás Serrão, o dito Francisco de Mendo, colegial de
S. Paulo; e que, posto que foi público dar ao Dr. João Bravo o dito secretário
um potro mesclado que ele, ao presente, tem, não sabe se é assim nem se foi por
votar e persuadir ao dito Vice-Reitor que desse o dinheiro da dita recondução
ao dito Tomás Serrão, antes dizendo-o ele declarante ao Dr. João Bravo, lhe
respondeu que não havia tal, e que tomara o dito potro em desconto do
dinheiro que lhe devia D. Madalena, mulher de Gregório da Silva, que foi
secretário desta Universidade. Disse mais que, haverá dois anos, pouco mais ou
menos, que se formaram e aprovaram em Medicina Pero Lopes, casado na
cidade de Évora, não sabe com quem, e António Pinto, de Arraiolos, estudan-
tes médicos no seu quinto ano, devendo de terem cursado para isso seis anos;
e sabe que lhes deu o secretário Rui de Albuquerque parte do dito sexto curso,
fl. 93 e, enfim, o tempo que lhes faltava para a dita/ / aprovação; porque sabe muito
bem que aquele em que se aprovaram era o dito seu quinto ano, e que não
tinham de mercê de Sua Majestade mais que dois meses cada um deles; e serem
grandes amigos do dito secretário; e que poderão dizer disto o dito Tomás
Serrão e Martim Gonçalves, lentes de Medicina, e Francisco Morato, estudante
médico, de Alpalhão. Disse mais que, no ano de seiscentos e dezasseis escolás-
tico, e no ano seguinte, se foram os sobreditos António Pinto e Pero Lopes
desta Universidade, a semana de Lázaro, para suas terras, e não tornaram mais
à dita Universidade, senão em cada um dos anos seguintes, e sabe ele declarante
que provaram os cursos até ao derradeiro de Julho dos ditos anos em que se
ausentaram, sem haverem cursado nem estado na Universidade o dito tempo,
declarado com certidão, que lhes deu o secretário Rui de Albuquerque para
poderem provar o curso no ano seguinte, sendo assim que sabe ele declarante
que depois de se irem, os ditos dois anos, não tornaram mais à dita Universi-
àade, porque se tornaram o soubera ele declarante, como quem com eles con-
versava; tirado o dito António Pinto, que lhe parece que, no segundo dos ditos
dois anos, em o fim de Junho, tornara a esta Universidade a fazer seus autos, e
se fora. sem tornar mais a ela. Disse mais que. haverá dois anos. e os fará em
Outubro, que, nesta cidade e nas varandas da Universidade, à porta do Geral
de Medicina. se achou ele declarante em companhia do dito Francisco Morato.
e estando ambos, o sobredito lhe dissera que, sendo naquele momento cha-
mado de Francisco Mendes, de Portalegre, estudante médico, para lhe provar
quinze dias, para perfazer o ano passado, vira que, não lhe provando ele dito
Francisco Morato mais que os ditos quinze dias, o secretário Rui de Albuquer-
que lhe pusera que sim, digo, em lugar dos ditos quinze dias, o curso
Jl. 93v. escolás;; tico por inteiro, e quem mais assistisse à dita prova, e as mais particu-
laridades que nisso houve dirá o dito Francisco Morato; e sabe ele declarante
que o dito Francisco Mendes não cursou no dito ano que provou nesta Univer-

137
sidade, antes estava já curando com partido, como ao presente está na vila de
Veiros, junto a Estremoz. Disse mais que, o ano escolástico que começou em
Outubro de seiscentos e dezasseis, se se não engana, e se reporta à folha dos
médicos, depois de ter acabado os anos do partido de médico e os da dita
Faculdade Francisco Vaz Cabral, natural do Algarve, ao presente médico do
partido na vila de Seia, casado nesta cidade com Maria de Almada, amiga que
disse que foi, antes de casar, do secretário Rui de Albuquerque, sabe ele decla-
rante que o dito Rui de Albuquerque pôs ao dito Francisco Vaz Cabral na
folha e lhe saiu com todos os quatro quartéis do dito ano, tendo acabado, e sem
estar reconduzido, porque por respeito da Faculdade dele declarante sabe que o
dito médico tinha acabado; e que estava já na dita vila de Seia com o partido; e
que lhe saíam com as ditas folhas, como viu, e como delas e do assento do seu
provimento constara, e foi público nesta Universidade querer-lhe pagar o dito
secretário parte do seu dote que lhe prometera, com o partido dos médicos; e o
dito Francisco Vaz o contou assim a ele declarante; e poderá dizer disto Fran-
cisco de Mendo, atrás nomeado, e o Dr. Martim Gonçalves, e Gaspar de Sei-
fl. 94 xas, bedel de Medicina. Disse mais // que, o ano passado escolástico que come-
çou em Outuhro de seiscentos e dezassete. veio a esta cidade Manuel de
Calaça, estudante médico, da vila Castelo Branco, a quinze de Novembro,
pouco mais ou menos, a pousar e agasalhar-se a casa dele declarante, onde
esteve alguns dias: e. como hóspede seu. sahe e viu ele declarante que o dito
Manuel de Calaça mandou ao secretário Rui de Albuquerque um cântaro de
mel branco, e meia dúzia de queijos do Alentejo, por um rapaz, que não sabe
cujo é, porque viu uma coisa e outra em sua casa, e o sobredito lhe disse, vindo
ele declarante das Escolas, estando ambos sós em um daqueles dias, que man-
dara o dito presente declarado ao dito Rui de Albuquerque, e que ele, pelo dito
presente. o matriculara no dito ano. ao primeiro de Outubro. contra o regi-
mento, e sabe ele declarante que o sobredito Manuel de Calaça não esteve
nesta Universidade o dito mês de Outubro, nem até os ditos quinze dias de
Novembro, porque a sua casa e com seu fato e cavalgaduras se veio apear; e, se
estivera na dita Universidade, ele declarante o soubera, por ser da Faculdade e
amigo. Disse mais que, haverá três meses, pouco mais ou menos, que nestá
cidade, em casa do Dr. Fabrício de Aragão, lente de Clementinas, que vive à
Trindade, se achou ele declarante em companhia do sobredito, e, estando
ambos sós, lhe disse que, o ano passado, em que ele dito Fabrício de Aragão
servira de deputado da Fazenda, sem lhe declarar em que mês dele, o secretário
Rui de Albuquerque fizera uma falsidade em papéis públicos sobre certo negó-
fl. 94v. cio de Francisco Vaz, corrector desta Universidade,// declarando neles e dando
fé falsa do contrário do que constava nos assentos do Conselho de deputados e
conselheiros, como mostraria por uns e outros. Disse mais que, haverá nove ou
dez dias, nesta cidade, em casas da Universidade, se achou ele declarante em

138
companhia de João Fiúza, estudante médico do partido, que vive à Couraça,
natural de Ponte de Lima, e, estando ambos sós, o sobredito lhe disse que
Francisco Correia, estudante médico do partido, de Setúbal, natural e aí mora-
dor e casado. sem ter feito acto algum na Faculdade de Medicina. nem ainda o
de licenciado em Artes, levara cartas de formatura e aprovação por esta Uni-
versidade, pelas quais, na dita vila, estava hoje actualmente exercitando a dita
ciência em que não estava aprovado, contra os estatutos, e levando os partidos
da dita vila, contra forma do regimento, e que lha passara o secretário Rui de
Albuquerque, e por intercessão do seu sogro Simão Leal, e sabe ele declarante
que o dito Francisco Correia não fez acto algum na dita Faculdade, porque se o
fizera, ele declarante o soubera, como lente da dita Faculdade. Disse mais que,
haverá dois anos, nesta cidade, em casa de André de Figueiredo, estudante
legista, natural de Setúbal, e já formado, se achou ele declarante em companhia
do sobredito, e, estando ambos sós, o dito André de Figueiredo lhe disse que o
secretário Rui de Albuquerque dera a Brás Casco, estudante jurista. natural de
fl. 95 Évora, três anos, sem os ter, nem provisões para se formar, e que, // de efeito,
com elas se formara, e por lhe não descobrir uns papéis escritos que o dito
s@cretário havia mandado a Cid de Almeida, colegial que foi do Colégio de
S. Paulo, na oposição que teve com Luís de Góis, colegial de S. Pedro, sobre
avisos que lhe dava e segredos que lhe descobria de coisas que nele fazia contra
seu ofício, que achando-os o dito Brás Casco na cela do dito Cid de Almeida,
dera e entregara ao dito Rui de Albuquerque, por lhe dar os ditos três anos.
Disse mais que, este mês de Dezembro ou Janeiro próximo passado, ou tempo
que na verdade se achar, nesta Universidade e Geral de Medicina, se achou ele
declarante em companhia de todos os mais lentes de Medicina, como foram os
Drs. Gonçalo de Paiva, Martim Gonçalves, To más Serrão e António Sebastião,
e, estando todos presentes ao auto de aprovação que é depois da formatura,
para poderem com ele curar, na forma dos Estatutos, de Manuel Ribeiro, estu-
dante médico do partido, natural da vila de Alcobaça e nela ao presente mora-
dor, e, depois de feito o acto e de votarem para ver se se havia de penitenciar, e
posto que não fosse penitenciado, levando alguns pontos, vindo-se a votar por AA
e RR e, regulados os votos, achando-se-lhe um R, que ele declarante lhe deitou,
que declara para ficar a ciência que disso tem jurídica, pois não assistiu ao
regular, a que estiveram presentes o dito Gonçalo de Paiva e Martim Gonçal-
ves. e que, posto que se não tornou a votar, nem ele declarante. antes de se
regularem os votos, disse que, por erro, lhe ficou a letra que queria lançar, se
fez assento em que o aprovaram nemine discrepante, como dele constará;
fl. 95v. e assistiu, pelo secretário Rui de Albuquerque, Gaspar// de Seixas, bedel da
dita Faculdade, porém que não sabe se está o assento feito pelo dito bedel, se
por Rui de Albuquerque. E, outrossim, sabe que o sobredito levou a carta
nemine discrepante, mas que não sabe de certo quem lha passou, nem também

139
se os ditos regulantes o fizeram com malícia ou sem ela, por serem carecidos de
vista. Disse mais que era público e notório, entre toda esta Universidade, que o
dito Rui de Albuquerque vende cursos, e,em tanto é isto assim que, ainda um
dia destes, mandaram perguntar a ele declarante, do Alentejo, por uma carta,
se, com dinheiro, daria um curso a Gaspar Dias, estudante de Salamanca, resi-
dente em Alter do Chão, porque lá se dizia que ele o faria; e dar carta de
Doutor a um estudante de Portalegre, médico e Doutor de uma Universidade
de fora do Reino, que nesta se veio incorporar; e que nesta não fez mais que
incorporar-se na formatura. Disse mais que, haverá dois anos, pouco mais ou
menos, que, pedindo ele declarante ao dito secretário Rui de Albuquerque que
lhe declarasse o dia em que um estudante fizera formatura, ele lhe respondeu
que tinha o dito livro em sua casa, e por aí sabe que os tinha fora do lugar em
que servem os de seu ofício; e que sempre lhe viu levar um vintém por cada
pessoa que matricula: e que raro era o acto a que assistia de Medicina, e que,
por ele, o fazem os bedéis. E que, neste doutoramento último, de um frade de
Jl. 96 S. Bernardo, viu ele de/ / clarante ao dito secretário dar um maço de luvas,
escondido, a um pagem seu, e tomar outras. Disse mais que, nesta eleição
próxima passada de Vice-Reitor de Frei Egídio, e nomeação de reitores que ele
fez ultimamente, ouviu dizer que houvera subornos, e se deram substituições
para votarem a homens que nunca o foram de lentes; e, na atrasada, de Vasco
de Sousa e dos mais que com ele nomearam, todos os colegiais de S. Paulo
foram a casa dele declarante pedir-lhe que quisesse votar por certos eleitores que
lhe nomearam e deram em um rol, todos da facção do dito Colégio. Disse mais
que, poucos dias há, dentro no mês de Maio passado, ouviu ele declarante dizer
a Pero Nogueira, morador no lugar da Cioga do Monte, caseiro desta Universi-
dade. que Miguel da Fonseca, escrivão da fazenda dela, dissera a outro caseiro
da Universidade, que lhe não nomeou, que lhe desse um carneiro, e que, na
mesa do despacho dela, lhe faria despachar a petição como ele queria; e que isto
era o que sabia dos ditos interrogatórios e referimento que nele fez António de
Faria, que, sendo-lhe lido, em geral, depois disso, em especial, calado o nome
da testemunha, disse que não sabia mais do que tinha declarado. E, sendo-lhe
lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e
que em tudo o que fosse de papéis se reportava a eles. E do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Dr. Manuel de Abreu.

f7. 96v. Aos cinco dias do mês de Junho de mil e seiscentos// e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Doutor nos Sagrados Câno-
nes, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
António de Mesquita, bacharel canonista, solteiro, filho de Jorge Pinto de

140
Mesquita, desembargador que foi da Casa do Porto, morador à Pedreira, tes-
temunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evange-
lhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse
ser de idade de vinte e quatro anos. Perguntado se sabe ou presume para que é
chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado,
na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de
que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos
Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles. é obrigação inquirir, em
geral, e, depois, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que
deles sahia era dizer-se puhlicamente . entre os vizinhos da rua onde vive João
Borges, médico, que vem dar à Trindade, e entre muitas pessoas de fora dela,
f l. 97 que Francisco de Leiria, estudante legista, da cidade de 11 Lisboa, que vive na
rua de Alvaiázere, está amancebado com Francisca de Figueiredo, a Perpétua
de alcunha, e que, por diferenças que tivera com Isabel de Figueiredo, mulata, a
levou de noite, nesta cidade, à falsa fé, fora da porta do Castelo, entre as cercas
dos Padres da Companhia e de Santa Cruz, e aí lhe deu em cada face uma
cutilada, que lhe chega uma delas da orelha até ao beiço, e a outra da orelha até
quase à boca, e suspeitar-se que levava consigo a Lopo Trigueiros, estu-
dante legista, seu vizinho, por serem grandes amigos, e deixar o dito Lopo
Trigueiros, desde essa hora por diante, de falar a Cristóvão Teixeira, amo da
dita mulata, sendo de antes amigos e vizinhos; e a dita mulata queixar-se publi-
camente, assim do dito Francisco de Leiria, como da dita Francisca de Figuei-
redo e sua mãe e irmã, e ele declarante não sabe disto mais que de ouvi-lo assim
publicamente e aos amigos do dito Francisco de Leiria e, de vista, encontrá-lo
com ela nos Olivais, vindo detrás da cerca do Mosteiro de Celas, com esta à
mão esquerda, quando de cá imos, haverá alguns três anos, e, de então para cá,
se diz que são amigos. Disse mais que, sete ou oito dias antes do entrudo
próximo passado, junto à porta do pátio do Mosteiro de Santa Ana, Manuel
Falcão, estudante legista, de Portalegre, por andar enfadado de Luís Carvalho,
estudante outrossim legista, o mandou citar, tendo à dita porta um mulato, por
nome Pedro Forro, de Alter do Chão, mandou por ele dar algumas bofetadas
no dito Luís Carvalho, e, de feito, lhas deu, e que sabe, por lho dizerem todas
fl. 97v. as// pessoas abaixo declaradas, que, por parte do dito Manuel Falcão, acudi-
ram logo Gaspar da Fonseca e Jacinto da Fonseca, Simão Correia, Luís Pereira
e Luís Salema, e o dito mulato, e, da outra parte ,., em favor do dito Luís de
Carvalho, Manuel Faia, Miguel Pinheiro, Francisco Tavares Pinheiro, e que o
dito Manuel Faia atirara com um pistolete e dera com os pelouros por um
braço ao dito Gaspar da Fonseca, cujos pelouros achara na manga da roupeta,
e, no braço, duas nódoas vermelhas que ele declarante lhe viu, e os buncos na
roupeta, logo na mesma hora em que eles vieram; e que, da mesma parte,

141
atirara 0 dito Luís de Carvalho com outro pistolete, que lhe não tomara fogo, e
que o dito mulato dera uma cutilada pela cabeça ao dito Manuel Faia, e o
ferira em uma nádega, com que lhe tomaram o dito pistolete, que ele declarante
viu em mão do dito Gaspar da Fonseca, cujo cano seria de palmo, com fechos
de pederneira. E que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios. Pergun-
tado se sabia de alguma pessoa que mais tivesse pistolete, disse que, haverá três
ou quatro meses que, vendo nas costas um vulto ao dito Luís Salema, e,
perguntando-lhe o que era, lhe mostrou um pistolete cujo cano seria de dois
palmos, e fechos de pederneira, e que o tinha ordinariamente: e isto estando
ambos sós; e que de nenhum outro pistolete sabia. E, sendo-lhe lido o referi-
fl. 98 mento que nele fez // Brás Gomes Ávila, primeiro, em geral, e, depois, em espe-
cial, por ele ouvido e entendido, disse que não sabia mais do que dito tem.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse que estava escrito na verdade, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Refarmador e Reitor. António de Mesquita.

Aos seis dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Vicente Soares de Albergaria, filho de Cristóvão Soares de Albergaria, vereador
que foi da cidade de Lisboa, estudante legista, Cavaleiro da Ordem de Cristo,
morador à porta do Castelo, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dis-
sesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de vinte e três anos. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo
perguntado na vista desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
fl. 98v. dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Pergun/ / tado pelos interroga-
tórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação
inquirir, em geral,e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia,
disse que não sabia coisa alguma. Perguntado se sabia, por alguma via, quem
fosse o que deu, a quatro ou cinco do mês de Maio próximo passado, duas
cutiladas pelo rosto a uma mulata, por nome ,Isabel de Figueiredo, entre as
cercas dos Padres da Companhia e Santa Cruz, de noite, disse que o que disso
sabia era que, no fim de Abril este próximo passado, cinco ou seis dias antes
das ditas cutiladas se darem, a dita mulata, nesta cidade, na rua junto à sua
porta, se achou ele declarante em companhia de Francisco de Leiria, estudante
legista, de Lisboa, que vive no mesmo bairro, na Rua de Alvaiázere, e, estando
ambos sós, entre outras práticas, o sobredito lhe disse que Pero Velho do Rego,
estudante legista, outrossim de Lisboa, que vive no dito bairro, punha os cornos,

142
por via da dita mulata Isabel de Figueiredo e de sua mãe, a Luís Cordovil,
estudante canonista, do Alentejo, que vive no dito bairro, nos amores que trazia
com Juliana Borges, filha do médico João Borges, de cuja casa ele declarante
viu sair ao dito Luís Cordovil duas tardes; e suposto isto e o dito Luís Cordovil
dissesse que andava e anda de amores com a dita Juliana Borges, por via tam-
fl. 99 bém da dita mulata, de cuja casa ele declarante// via que o sobredito não saía,
e dizer-se também publicamente, na dita rua, que o dito Francisco de Leiria
anda com Francisca de Figueiredo, filha de Perpétua Nunes, e por faltarem uns
pratos à dita Isabel de Figueiredo do dito Francisco de Leiria, a quem fazia de
comer, e ela dizer que estavam em casa da dita Francisca de Figueiredo, e sobre
isso terem ambos diferenças. e o dito Francisco de Leiria ser grande amigo do
dito Luís Cordovil, e por deixarem ambos os dois, tanto que se deram as ditas
cutiladas, e ela Isabel de Figueiredo se queixar deles, de mandar fazer o comer
a sua casa, onde dantes lho faziam, suspeita ele declarante que, assim, o dito
Francisco de Leiria, como o dito Luís Cordovil lhe poderiam dar as ditas cuti-
ladas, e lhe parece que seria mais pela causa do dito Luís Cordovil que pela do
dito Francisco de Leiria, e que, na rua, se diz, geralmente, por queixa da dita
mulata, que o dito Francisco de Leiria lhas deu; mas não sabem a causa que ele
declarante tem especificado; posto que não sabe, por nenhuma outra via, que
um ou outro lhas desse; as quais são uma delas da orelha até ao beiço, e outra
da outra face, da orelha até quase à boca; e lhas deram à noite, entre as ditas
cercas, levando-a lá enganada, e para a tirarem de casa de sua mãe, chamando-
ª em nome dele declarante, ou de um moço seu, porquanto ela lhe fazia de
comer. E que isto era o que sabia do dito caso. E, sendo-lhe lido este testemu-
fl. 99v. nho e perguntado se estava// escrito na verdade, disse que sim e do costume
nada. E assinou com o dito Reformador. E eu,Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Vicente Soares de Albergaria.

João Cardoso, solteiro, filho do Dr. André Rodrigues Càldeira, de Setú-


bal, bacharel canonista nesta Universidade, morador à porta do Estudo das
Escolas Menores. testemunha referida. a quem o Reformador D. Francisco de
Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dis-
sesse verdade e tivesse segredo no 4ue lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de vinte e quatro anos. Perguntado se sabe ou
presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que,
sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o
contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos Estatutos reformados. porque nela. conforme a eles. é obri-
Jl. 100 gação inquirir, em geral, e, depois, em especial,/ / pelo que de cada um deles
sabia, disse que, haverá quatro anos, e o fez neste Maio, no tempo em que

143
estava vaga a catedrilha de Instituta, que levou António Cabral, a quem tam-
bém foram opositores Cristóvão Mouzinho e Francisco de Andrade, lentes e
colegiais que ora são do Colégio de S. Pedro. e Fstêvão da Fonseca. outrossim
lente, sendo paixonados descobertos e grandes amigos do dito Cristóvão M ou-
zinho, Manuel Álvares de Abreu, bacharel formado em Leis, filho de Álvaro
Iristào de Abreu, já defunto, de Lisboa, e Juiz de Fora que hoje é de Alcácer
do Sal, e António de Abreu, de Serpa, que, ao presente, é Doutor e opositor em
Leis nesta Universidade, e porque se sabia que o eram, e se entendia que levava
a cadeira o dito Cristóvão Mouzinho, o secretário Rui de Albuquerque, porque
era amigo e apaixonado do dito António Cabral, para fazer com que os ditos
Manuel Álvares e António de Ahreu votassem por ele e não pelo dito Cristóvão
Mouzinho, dera ao dito Manuel Álvares o tempo que lhe faltava de residência
para cumpnmento dos dez anos da ordenação do Remo, e ao dito António de
Abreu lhe lançara no livro uns anos de Artes, que não tinha, por uma certidão
de Évora, o que ele declarante, posto que não saiba de vista, é público e notório
fl. 100v. em a maior parte desta Universidade, e lhe lembra,// ao presente, que o ouviu
ao dito Cristóvão Mouzinho e a outras pessoas que lhe não lembram. Disse
mais que, esta quaresma próxima passada, e desde que aqui chegou, que foi
depois do Natal, e se foi em Maio, Luís de Carvalho, estudante canonista,
.de Lisboa, que vivia junto a S. Pedro, defronte do vendeiro que chamam o
Pequeno, sempre, ou o mais do tempo, trazia consigo um pistolete, e algum
tempo dois, que ele declarante lhe viu; e poderão ser os canos de ambos de
palmo e meio, e fechos de pederneira; e posto que não está lembrado de quem
lhos visse, juntamente com ele declarante, em casa e fora dela, parece-lhe que
poderão dizer deles Jerónimo de Tovar, opositor legista, e Jerónimo da Silva,
estudante legista, da cidade do Porto. Disse mais que, de nove anos a esta parte
que há que cursa nesta Universidade, sempre deu ao secretário Rui de Albu-
querque um vintém pelo matricular, e o mesmo viu dar a todos os mais estu-
dantes que, em sua presença, se matricularam. E que isto era o que sabia dos
ditos interrogatórios. Pelo que, perguntado pelo referimento que nele fez Estê-
fl. 101 vão Ferreira, calados os nomes todos dele e, em geral, disse// que, este mês de
Novembro próximo passado, nesta cidade, se achou ele declarante em compa-
nhia de Manuel Soares de Moura, estudante legista, de Lisboa, que se formou
este ano, em casa dele declarante, e aí lhe pediu o sobredito, estando ambos sós,
que lhe quisessem emprestar dez mil réis ou parte deles, porque estava em con-
certo com o secretário Rui de Albuquerque para que, dando-lhe o tempo que
lhe faltava para se poder formar, lhe desse os ditos dez mil réis, e que, posto que
lhos não emprestou, nem sabe se lhe deu o dito tempo, sabe que lhe faltava, e
que não tinha para ele provisão de Sua Majestade, e que se formou logo no
mesmo tempo; e ouviu a Alberto Serrão, médico, ou a António Serrão, seu
irmão, legista, naturais de Lisboa, que, posto que ele declarante não emprestara

144
ao dito Manuel Soares de Moura os ditos dez mil réis para o dito efeito, ele os
houvera de outra parte, sem declarar quem lhos emprestara; e que vivem os
sohreditos na Rua da Trindade. e que bem poderia achar-se noutra companhia
e ouvir sobre esta matéria ao dito Manuel Soares outras palavras e coisas, mas
4ue lhe não lembra 4ue passasse mais do que tem dito, nem o que se contém no
dito referimento, nem na casa e pessoas que se nele especificam, que lhe foi lido
e declarado in specie. E que não sabia mais. E, sendo-lhe lido este testemunho
f1. JO/ v. e perguntado se estava escrito na verdade, disse // que sim, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. João Cardoso.

Aos dez dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Gonçalo Alvo Godinho, solteiro, filho de Simeão Alvo, da cidade do Porto,
estudante canonista e já bacharel na dita Faculdade, morador junto a S. Jeró-
nimo, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que
pôs sua mão . e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo
no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim ; e disse ser de idade de
vinte e quatro anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se
alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a
esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos
fl. 102 reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral,// e,
depois, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia
era que, este mês de Dezembro próximo passado, fim do ano de s~iscentos e
dezoito e princípio deste em que estamos, a quinze dele, pouco mais ou menos,
nesta cidade, se achou ele declarante em casa e companhia de Inácio Ferreira
Leitão, bacharel formado em Leis, que então se formou, filho do Dr. António
Ferreira, ouvidor do crime na Casa da Suplicação; e, estando ambos sós, lhe
disse o sobredito que lhe faltavam para perfazer os dez anos escolásticos, que
para requerer lhe eram necessários, alguns três meses ou quatro, e que queria
dar por eles alguma coisa ao secretário Rui de Albuquerque, que lhe aconse-
lhasse ele declarante se seria antes se depois de lhos pedir; e, por assentarem ali
que lhe mandasse ou quatro presuntos ou meia dúzia, e que fosse antes de lhos
pedir, o sobredito Inácio Ferreira lhe disse, daí a seis ou sete dias, que lhe
mandara os ditos presuntos, e que, por eles, lhe dera o dito secretário os ditos
meses; e sabe ele declarante que assim foi, porque, como grande seu amigo que
era, sabia que lhe faltavam os ditos meses ; e viu que, sem embargo disto, o dito
secretário lhos dera e tirara nos cursos ou certidão que lhe mostrou, que agora

145
lhe não lembra qual fosse, dizendo-lhe que, pelos ditos presuntos, o tinha
aviado e deferido, se foi com os ditos dez anos, que não tinha, como constaria
do tempo em que entrou, e de quinze de Janeiro próximo passado, em que se
foi; ainda que teve ano de Artes e mercê de El-Rei; e devia de lhe mandar os
fl. 102v. ditos presuntos por um moço seu, que então tinha, que// chamam Francisco da
Mota, não sabe cujo filho, e andava no Latim, e ainda hoje está com ele; e que
era público nesta Universidade fazer o dito secretário toda a falsidade que dele
querem por dinheiro ou por peitas. Disse mais que, de nove anos a esta parte
que há que se matricula, em todos lhe levou o dito Rui de Albuquerque um
vintém pelo matricular. e viu que todos os mais lho davam e ele o recebia.
Disse mais que, há três dias que, nesta cidade, foi ter a casa dele declarante
João Moutinho Vilela, cónego que foi nesta Sé, sacerdote de missa e ao pre-
sente residente nesta cidade, e vive na Rua do Salvador, em casa de Duarte
Rebelo, estudante institutário, de Vila Real; e, estando ambos sós, o sobredito
lhe disse, por ocasião de virem a falar nos fanchonos, que o Dr. António
Homem, lente de Prima de Cânones, sem declarar em que tempo, indo a uma
quinta sua, que tem junto à cerca dos frades de Nossa Senhora da Graça, vindo
um lacaio seu de fora que mandara por esse respeito, o achara cometendo o
pecado de sodomia com um moço, que não sabe quem é, e o dito João Mouti-
nho declarará o que nisto mais há. E que também lhe disse que o dito Doutor,
indo um pajem, que não nomeou, de Bento de Almeida, cónego desta Sé, a sua
casa levar-lhe um recado, o chamara para uma câmara e quisera com ele come-
Jl. 10. ter o pecado de molícias, e o dito moço fugira;// e que, assim, era público, nesta
Universidade e cidade, ser o dito Doutor fanchono; e que desse vício estava mui
infamado com um estudante, que chamam Martim Alves Mexia, canonista,
sobrinho do Bispo eleito desta cidade. E que isto era o que sabia dos ditos
interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava
escrito na verdade, disse que sim e do costume nada. E assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Gonçalo Alvo Godinho.

João Moutinho Vilela, sacerdote, cónego que foi na Sé desta cidade, e ao


presente residente nela, natural da vila de Faicajos, arcebispado de Braga, tes-
temunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir
perante si, e, sendo presente. lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos.
em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de trinta e cinco anos. Perguntado se sabe ou presume para que é cha-
mado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na
visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que
jl. /03v. tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos// interrogatórios dos Esta-

146
tutos reformados. porque nela. conforme a eles. é obrigação inquirir. em geral. e.
depois, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que, haverá três anos,
pouco mais ou menos, ou o tempo que na verdade se achar, em que o
Dr. Cristóvão de Azevedo levou a catedrilha de Instituta, nesta cidade foram ter
a casa dele declarante Fernão Soares de Miranda, estudante, natural de Amara-
rante, que faleceu o ano passado, e Vicente de Morais, bacharel e opositor em
Leis, do Alentejo, que, ao presente, é frade professo da Província da Piedade, e,
estando todos três sós. os sobreditos lhe disseram. e. em segredo. que. nesse
comenos, indo ambos os dois a casa do Dr. Francisco Vaz de Gouveia, lente de
Sexto, como seus amigos, em uma visita do dia, e, abrindo a porta da câmara, o
acharam e viram sem calções, e a um moço, que não nomearam, também sem
eles, e deitados de bruços sobre a cama, e o dito Francisco Vaz em cima do dito
moço, ficando-lhe o traseiro virado para o membro viril do dito Francisco Vaz;
mas que, como logo e subitamente entraram, não se pudera tirar o dito Fran-
cisco Vaz com tanta pressa que o dito Vicente de Morais, que foi o que primeiro
fl. 104 entrou, não visse o dito Doutor tirar o dito membro do// traseiro do dito
moço, onde lho tinha metido; de que se dera por tão convencido que, saindo-se
logo sem lhe falar, pelo que tinha visto, o dito Doutor, daí a poucos dias, lhe
fora pedir de joelhos que o não quisesse desonrar e destruir. Disse mais que,
haverá dois anos, pouco mais ou menos, nesta cidade, estando ele declarante no
ladrilho da Sé, em companhia dos cónegos António Lopes da Maia e Manuel
Banha, e por ocasião de virem a falar nos fanchonos, disse ali o dito António
Lopes da Maia que um homem de esporas, por nome Manuel Carvalho,
mulato, lhe dissera que, antes pouco tempo, que, estando com o Dr. António
Homem, lente de Prima de Cânones, e indo à sua quinta, que tem junto à de
Nossa Senhora da Graça, o dito Doutor e um moço seu, a quem não sabe o
nome, e era muito gentil-homem, e indo de cá da cidade o dito homem de
esporas. o achara dentro no lagar da dita quinta. em cima dq dito moço. por
detrás, sem calções um e outro; como declararão mais miudamente o dito
homem de pé, que, ao presente, está com o dito cónego António Lopes da Maia.
Disse mais que ouviu queixar a um moço, por nome João, criado de Bento de
Almeida, cónego desta Sé, que é já morto, que o dito Dr. António Homem
quisera cometer com ele o pecado de molícias, e que, na Sé e nesta cidade e
Universidade, ainda ao presente, é público ser ele fanchono, e cometer a todo o
moço que acha de bom lanço; e assim o é também cometê-lo ainda hoje com
Martim Alves Mexia, canonista, sobrinho do Bispo eleito desta cidade, e com
/7. 104v. um pagem. o maior. a quem 11 não sabe o nome, de Mateus Lopes. cónego
desta Sé, dos dois que ao presente tem. E isto era o que sabia e ouvira dos ditos
interrogatórios, e do referimento que nele fez Gonçalo Alvo, que se lhe não
perguntou ·por não ser necessário. E, sendo-lhe lido este testemunho e pergun-
tado se estava escrito na verdade, disse que deixara de dizer algumas destas

147
coisas que foram antes da visita do Bispo de Lamego D. Martim Alves, por lhe
não serem perguntadas. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. João Moutinho Vilela.

Luís Cerqueira de Miranda, solteiro, filho de Belchior de Miranda, de


Amarante, estudante canonista, morador a S. Cristóvão, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e quatro anos. Perguntado
se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe
fl. 105 pediu que, sendo perguntado na// visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Pergun-
tado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a
eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada
um deles sabia, disse que, haverá seis meses, que houve ele declarante uma
sentença. no Juízo da Conservatória Segunda. contra Manuel Fernandes.
marido da Guarita que vive na Feira, porque o alcançou em dois mil e quatro-
centos réis que se montaram nas custas dela ; e dando-a a Sebastião Lopes da
Costa, escrivão da almotaçaria e taxas, para que a desse a execução, e ele o não
quis fazer por ser seu amigo, estando a dita parte na terra; e mostrando-lha,
para a requerer ; e, pela Páscoa próxima passada, disse a ele declarante, e lhe
parece que o ouviu também a um morador, a quem não sabe o nome, e tem de
alcunha o Raia. que vive ao Arco de Almedina. que. se queria mil e quinhentos
réis pela sua dívída, lhos daria de sua casa; e, vendo que a não queria executar,
sem embargo dele estar por vezes mandado pelo conservador com pena de
suspensão de seu ofício, se concertou ele declarante com a parte no modo da
paga. Disse mais que, no princípio do mês de Outubro próximo passado,
depois de começada a dita causa, o dito Sebastião Lopes lhe perguntou nela
du as ou três testemunhas. sem estar presente o inquiridor. o que sahe por lhas
f7. 105 v. ver inquirir// sem ele, e lha ver dar depois a assinar ao dito inquiridor, e,
alegando-lhe o dito Sebastião Lopes a amizade que nisso lhe fizera e o que por
ela lhe merecia, lhe deu um ou dois tostões, além do que se montou no salário
do inquiridor, que ali não esteve. E que isto era o que sabia dos ditos interroga-
tórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na
verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Luís Cerqueira de Miranda.

Aos onze dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco

148
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Manuel de Almeida, solteiro, filho de António Rodrigues Couto e de Inês de
Almeida, da vila de Arraiolos, estudante médico, morador à Pedreira, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
Jl. 106 mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade // e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e sete
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si
ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em espe-
cial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, de
três anos a esta parte que há, que lê de Prima o Dr. João Bravo em Medicina, e
que ele declarante escreveu a sua postila, sempre e em todas as lições viu que
deu a escrever toda a hora e meia, sem explicar in voce o que dá a escrever; que
é causa de os estudantes. ou por não entenderem a postila. ou por faltarem
alguma manhã, e não se atrevem a trasladar tanta leitura, de não fazerem caso
da dita postila; e 4ue, haverá cinco ou seis anos, segundó viu e ouviu, 4ue o
dito Doutor anda nesta matéria. que é o capítulo de Rasis Nono ad Almanso-
rem; que é também o respeito por que alguns estudantes não tomam a dita
matéria, nem a trasladam ; e 4ue disso se queixam todos os estudantes da dita
Faculdade de Medicina. Disse mais que, do dito tempo a esta parte, sabe ele
declarante que o Dr. Martim Gonçalves não faz as anatomias, nem gerais nem
Jl. 106v. particulares,// que é obrigado na forma do estatuto, e que só uma lhe viu aqui
fazer, no ano passado, em um carneiro ; e que, depois desta, lhe disseram que
ele fizera outra, e se o dito Martim Gonçalves fizera as outras que tem de
obrigação, ele declarante o soubera, por assistir sempre, nos ditos três anos,
nesta Universidade e na dita Faculdade que professa, em que o dito Martim
Gonçalves é lente. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios.
E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade,
disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Manuel de Almeida.

Aos catorze dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majes-
tade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Pero Gonçalves, solteiro, filho de Manuel Gonçalves e de Marta Lopes, natu-
rais da cidade de Elvas, estudante médico, morador a Montarroio, testemunha

149
referida. e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
f1. 107 que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo// dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de vinte e oito anos. Perguntado se sabe ou presume para que é cha-
mado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na
visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que
tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatu-
tos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e,
depois, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que, haverá um mês,
pouco mais ou menos, que nesta cidade, em casa e companhia de D. João da
Silva, estudante canonista, que vive na Rua da Matemática, filho de D. Fer-
nando da Silva, de Elvas, se achou ele declarante, e de Matias Colaço, estu-
dante canonista, do lugar de Barbacena, junto à dita cidade de Elvas, criado do
dito D. João da Silva, e de outro seu pagem, a quem não sabe o nome, que
anda no Latim, que será de dezanove anos, e não sabe em que classe anda, nem
mais confrontações dele; e, estando todos quatro, o sobredito D. João lhe mos-
trou uma espingarda ou escopeta, que seria, pouco mais ou menos, de quatro
palmos, com coronha, e de fechos de pederneira; e sabe que é sua, e que a tem
em sua casa, e a levou agora, quando se foi, consigo. Disse mais que, nesta
cidade, pelo entrudo passado, pouco mais ou menos, se achou ele declarante em
casa de Francisco Lopes, estudante legista, de Elvas, que vive defronte ao
fl. 107v. Dr. Gonçalo// de Paiva, em companhia do sobredito e de João Gonçalves e de
Pero Tinoco. ambos naturais de Elvas. e o dito João Gonçalves. irmão do
sobredito Francisco Lopes, legista, e o dito Pero Tinoco, companheiro seu
dele". estudante canonista: e. estando todm 4uatro. o sobredito l-ranc1sco
Lopes tinha sobre a mesa em que estudava um pistolete, cujo cano seria de
um palmo, com fechos de pederneira, e todos lho viram, e sabe ele declarante,
segundo ouviu, que o dito pistolete é de um estudante, a quem não sabe o
nome, e é natural de Vila Viçosa, e legista, e da nação, e vive na Pedreira, por
baixo de Diogo Mendes Godinho, e tem de alcunha o Machado. E que isto era
o que sabia dos ditos interrogatórios. E, perguntado pelo referimento que nele .
faz Bento Luís, primeiro, em geral, e, depois, em especial, calado o nome da
testemunha, disse que, algumas vezes, fora com as sobreditas pessoas à dita
ponte de Água de Maias a pescar e folgar. e que bem poderia o dito Francisco
Lopes levar ali o dito pistolete, mas que não ·se lembra. Disse mais que o Dr.
João Bravo, lente de Véspera de Medicina, que lê agora de Prima, em uma e
outra cadeira, dá toda a hora a escrever, sem explicar na forma do estatuto.
fl. 108 Disse mais que Rui de Albuquerque,// secretário desta Universidade, de quatro
anos a esta parte, sempre lhe levou um vintém pelo matricular, e viu que assim
o levou aos mais. E que isto era o que só sabia de uma coisa e outra.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse que estava escrito na verdade, e do

150
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Pero Gonçalves.

João Velho Lobo, filho de Nicolau Baqueia, natural da vila da Atouguia,


estudante canonista e beneficiado na igreja de Nossa Senhora da Alcáçova da
vila de Montemor-o-Velho, que vive em casa do Dr. António Velho, seu tio, a
quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e quatro
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si
ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
f1. 108v. que não.// Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois, em especial, pelo
que de cada um deles sabia, disse que, haverá dois anos, pouco mais ou menos,
que, nesta cidade, em casa do dito seu tio António Velho, se achou ele decla-
rante em companhia de Manuel Carvalho, casado, não sabe o nome à mulher,
homem de pé, ao presente, de D. Lourenço Coutinho, colegial de S. Paulo, e
que, ao tal tempo, o era do Dr. António Homem, lente de Prima de Cânones
nesta Universidade, filho, digo, enteado de Bartolomeu da Silva, criado actual
do dito seu tio, e, estando ambos e outras pessoas de casa, que, ao presente, lhe
não lembram, mais que Simão Veloso, casado com Isabel Rodrigues, e pagem
do dito seu tio, o sobredito Manuel Carvalho lhes disse que o dito Dr. António
Homem, na sua quinta que tem junto à dos frades de Santo Agostinho, à
Conchada, dormira, assim como o faz um homem com sua mulher, com Jorge
Mexia, sobrinho mais moço do Bispo eleito ao presente desta cidade, e irmão
de Martim Alves Mexia, outrossim seu sobrinho, estudante que foi nesta
f1. 109 Universidade, o que ele sabia de vista, porque os achara// na forma sobredita
em uma casa da dita quinta, sem declarar se era por diante se por detrás, se
com calções se sem eles; porque lho não perguntou, nem mais alguma particu-
laridade, que todas ele declarará. Disse mais que, haverá três anos, pouco mais
ou menos, nesta cidade, foi ele declarante a casa do dito Dr. António Homem,
a visitá-lo, como vizinhos que são, de paredes meias, à tarde, e, estando ambos
sós, a saber, o dito Doutor e ele declarante, no estudo, passeando, o sobredito,
sem mais propósito, lhe pegou em uma mão com as suas, e puxando por ele,
como quem o encaminhava e queria levar para a casa de dentro, onde tem a
sua cama, lhe disse juntamente de palavra que havia de ir para a sua cama. e que
haviam de fazer nela certas coisas, e levando-o, e pondo-lhe também uma mão
à abertura da roupeta da algibeira, perguntando-lhe se trazia atacas; e vendo
ele declarante .que, de palavra e obra, o dito Doutor o cometia para o pecado de

151
molícias, quando não fosse o de sodomia, como claramente entendeu, lhe disse
que se não fazia nem dizia aquilo a ele declarante, e, vindo-se para fora, o
sobredito lhe pediu que lhe quisesse ter aquilo em segredo, e o não dissesse a
pessoa alguma, e, com isso, se veio. E entende que, se ele declarante consentira,
o dito António Homem consumara com ele um ou outro dos ditos pecados,//
fl. 109v. como também porque, neste acto, pretendeu chegar o seu rosto ao dele decla-
rante, como quem pretende abraçá-lo e beijá-lo; e nisto se veio para casa do
dito seu tio. E. porque. antes de acontecer o que tem declarado. e lhe não
lembra ao certo em que mês, um mês antes disso, na mesma casa, o sobredito
António Homem o cometeu, pegando-lhe na mão e, querendo-o levar para a
casa em que tem a dita cama, e que nela fariam certas coisas que não especifi-
cou nem declarou; porém, não com tanta força como da segunda vez, e sem
passarem ali mais do que tem declarado, com que se veio, e também entende
que ali consumara o dito António Homem um dos ditos pecados, se ele decla-
rante o consentira. E que havia, assim na rua em que vive como na maior parte
da Universidade, fama e rumor do dito Doutor cometer o pecado de molícias, e
ser nele mui devasso, e está-lo cometendo actualmente com um sobrinho seu,
que tem em casa, por nome Estêvão Homem, filho de seu irmão Matias
Homem, que lhe parece anda no Latim. E, perguntado, disse que lhe parecia
em sua consciência que assim será, pelo que lhe aconteceu, e trazer a dita fama
fl. 110 sua origem dos ditos casos que dele contam,// e entre as pessoas mais autoriza-
das da rua e da Universidade, que, por muitas, não especifica. Disse mais que a
mesma fama havia na Universidade do secretário Rui de Albuquerque vender e
dar cursos a quem quer por dinheiro; e, entre as pessoas a que o ouviu, foi
Pero Moreira, estudante canonista, que este ano se formou, da ilha do Funchal,
o qual lhe disse que folgava de vir Reformador para lhe descobrir as velhacarias
que o sobredito nesta matéria tinha feito; e viu ele declarante que, sendo o dito
Pero Moreira mais moderno que ele um ano, se formou no princípio deste ano
escolástico: e que é o sétimo dele declarante. por onde suspeita que os dois. que
lhe faltavam, haveria pelo dito modo do dito secretário; e que, em todos, lhe
levou pelo matricular um vintém, e assim viu que o levava aos demais; e qu~
deixara de dizer estas coisas na visita próxima passada, porque o não chama-
ram a ela, como agora fizeram nesta, por cujo respeito as declarava. E, por
mais não dizer, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e
do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de
Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. João Velho
Lobo.
Aos quinze dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove anos,
fl. l !Ov. nesta cidade de Coimbra, nas casas// da Universidade, sólita morada de
D. Francisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Doutor nos Sagra-

152
dos Cânones, Reformador e Reitor, estando aí, por ele foi mandado vir perante
si a Inácio de Brito Nogueira, filho do Dr. Inácio Colaço de Brito, desembarga-
dor da Casa da Suplicação, solteiro, estudante legista, morador à Portagem, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que
lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e
dois anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém,
por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reforma-
ção, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte,
disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados,
porque nela. conforme a eles. é obrigação inquirir. em geral, e, depois, em
especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que, haverá quatro anos, pouco
mais ou menos, que nesta cidade se achou ele declarante em casa e companhia de
António Lopes de Almeida, estudante legista, que vive na Rua do Pocinho, e é
fl. 111 filho de// fulano Álvares Negrão, o Morgado de alcunha, morador e lavrador
de Porto de Mugem; e, estando ambos e Francisco Coelho do Amaral, digo,
Cardoso, filho de Francisco Cardoso do Amaral, desembargador do Porto, já
defunto, companheiro do sobredito, e de Jerónimo Coelho, estudante cano-
nista, companheiro, outrossim, dos sobreditos, o sobredito António Lopes de
Almeida lhes disse que. em uma oposição. sem declarar qual. o Dr. Cristóvão
Mouzinho, lente de Código e colegial de S. Paulo, que ao presente é, o come-
tera para que fanchonasse com ele, na casa do dito Cristóvão Mouzinho, onde
isto passou; e, por se agastar e se sair logo para fora, não tivera efeito. Disse
mais que Martim de Carvalho, vice-conservador desta Universidade, em tanto é
mal ensinado, e trata mal as partes que requerem perante ele, que, este ano, não
lhe lembra em que mês, indo a sua casa a mulher, a quem não sabe o nome, e o
é do recoveiro de Lisboa, por nome Manuel João, já defunto, que vive à Porta-
gem, o sobredito, sobre ela lhe requerer que lhe mandasse pagar o que lhe devia
da recovagem que lhe trouxeram seus filhos dela, os quais ficaram, por morte
do dito seu marido, correndo com a recovagem, lhe chamou de puta, bruxa e
feiticeira, estando presentes algumas pessoas mais, que a dita mulher declarará;
o que ele declarante sabe por ela assim lho contar, um dia destes. Disse mais/ /
fl. 11 l v. que, antes do entrudo próximo passado, alguns sete ou oito dias, nesta cidade,
junto à porta do Mosteiro de Santa Ana, houve uma briga, de uma parte
Manuel Falcão, estudante legista, de Portalegre, e um mulato, a quem não sabe
o nome, da obrigação de Gaspar da Fonseca, estudante canonista, que vive em
casa de D. Mécia, e o dito Gaspar da Fonseca, e Luís Salema do Carvalho,
estudante legista, de Lisboa, e Luís Pereira, institutário que vive à Pedreira;
e Diogo Ribeiro de Macedo, estudante legista, de Lisboa; e, da outra parte e em
favor de Luís de Carvalho, Manuel Faia, canonista, de Lisboa, e outra muita
gente que lhe não lembra, todos estudantes desta Universidade, tidos e havidos

153
notoriamente por tais; e o dito Manuel Faia, na dita briga, atirou com um
pistolete, cujo cano dizem ser de palmo, e de fechos de pederneira, e com os
pelouros deu em um braço do dito Gaspar da Fonseca, que, posto que o não
feriu, lhe ficaram as nódoas; e o dito mulato deu uma cutilada na cabeça ao
dito Manuel Faia; o que os sobreditos referiram a ele declarante. E, sendo o
caso de devassa e tão notório nesta Universidade, sabe que o dito Martim de
Carvalho a não tirou, por lho pedirem os frades de Nossa Senhora da Graça, e
fl. 112 particularmente Frei Francisco da Fonseca,// como é notório e de grande
escândalo, por andarem nesta Universidade os ditos estudantes sem castigo
algum, por razão de parentesco que têm alguns deles com os ditos frades,
de quem o dito Martim de Carvalho é grande amigo. Disse mais que, nesta
cidade, esta quaresma próxima passada, à noite, houve uma briga, de que saí-
ram feridos um fulano Mourão, filho de Lourenço Mourão, que foi desembar-
gador do Paço, estudante canonista, com cinco cutiladas, não sabe em que
partes, e uma estocada; e um fulano de Sá, a quem não sabe o nome, filho de
António Correia de Sá, desta cidade, com três cutiladas, que todas, posto que
foram mui grandes, não sabe em que partes nem quantos pontos levaram, junto
ao ladrilho da Sé e mui perto das casas do dito Martim de Carvalho, e, durando
a dita briga grande espaço de tempo, o dito vice-conservador, estando em casa.
não quis acudir a ela, como nem acudiu a outra que se fez na Feira desta cidade,
de estudantes, na mesma quaresma passada, de que saiu um dos ditos estudan-
tes, a quem não sabe o nome, criado de D. Martinho, filho do Conde de Vila
Nova, ferido de algumas cutiladas mui ruins, a que acudiu o corregedor da
Comarca; e, de não acudir a ela o dito Martim de Carvalho, houve grande
murmuração, da gente que saía da pregação da tarde do Colégio da Compa-
nhia, no dia em que isto aconteceu. Disse mais que, haverá dois meses, pouco
fl. 112v. mais ou menos, nesta cidade,// de noite, levaram à falsa fé a uma mulata, por
nome Isabel de Figueiredo, fora da porta do Castelo, entre as cercas dos Padres
da Companhia e de Santa Cruz, e ali lhe deram pelo rosto duas cutiladas da
uma, digo, da orelha até à boca, em cada face, e, antes disso, deram outra
cutilada pelo rosto a uma criada chamada Marta, de João Borges, médico, e,
sendo público em toda a vizinhança e outra muita gente, que uma e outra dera ·
um estudante, por nome Francisco de Leiria Monteiro, por respeito de uma
moça com quem anda, que chamam fulana de Figueiredo, a Perpétua de alcu-
nha, a mais moça, e, sendo ambos os ditos casos de devassa, sabe que o dito
Martim de Carvalho, em um e outro caso, a não tirou, como tinha de obriga-
ção, por respeito de seu ofício e dos delitos cometidos por estudantes de sua
jurisdição. Disse mais que, haverá sete meses, que, nesta cidade, Zacarias da
Costa, estudante canonista, de Évora, denunciou, perante o dito Martim de
Carvalho, vice-conservador, de lhe haverem feito certo furto, que, sendo caso de
devassa, e tirando-a o dito vice-conservador e, constando por ela do furto e dos

154
culpados nele, até hoje a não tem pronunciada, nem a quem pronunciar, por
fl. I /3 mais requerimentos que lhe tem feito,// e faz, o dito Zacarias da Costa, como
constará da dita devassa, de que foi escrivão António de Gouveia, e do dito
Zacarias da Costa, e de Rafael Galvão, criado que foi dele declarante, e hoje o é
do dito seu pai. por quem o dito Zacarias da Costa mandava fazer alguns reque-
rimentos. Disse mais que, denunciando um estudante a um seu criado, aos
quais não sabe o nome, nem em que tempo, de lhe furtar certas peças, e, tirando
devassa disso, pela qual o prendeu, o dito Martim de Carvalho sentenciou, e,
devendo apelar por parte da Justiça, o deixou de fazer, como constará dela, de
que foi escrivão Simão Leal: e não sabe a causa por que deixasse de o fazer.
Disse mais que, servindo o dito Martim de Carvalho, desde Fevereiro de seiscen-
tos e dezoito, de vice-conservador, em dezanove de Junho do dito ano, do lugar
de Pereira, até esta cidade, veio em companhia de um Manuel Soares, estudante
nesta Universidade. não sabe em que Faculdade. natural do dito lugar de
Pereira; e nele entrou no cavalo do dito Manuel Soares, por ser melhor, e o
dito Manuel Soares no do dito vice-conservador, estando pronunciado a prisão o
dito Manuel Soares, por uma resistência que havia feito, não sabe a que justiça;
e, posto que ele declarante o não viu, nem sabe, assim o ouviu a Francisco Vaz,
corrector desta Universidade, que o declarará, e também o dito Manuel Soares;
e o respeito por que o não prendeu. Disse mais que, depois que serve de vice-
-conservador o dito Martim de Carvalho. e de ter preso e condenado. não lhe
fl. l/3\'. lembra ao presente em que tempo, a um estudante, cujo nome// lhe não lembra,
que prendeu o alcaide Manuel de Escobar, por o achar, depois do sino, com
espada nua e casco, em quatro mil réis e trinta dias de cadeia, o sobredito
Martim de Carvalho o mandou soltar logo, antes deles acabados, e o absolveu
da dita condenação, como constará dos autos, de que foi escrivão Simão Leal,
e, posto que ele declarante o não saiba. assim lho disse o dito Francisco Vaz,
corrector, e Antão da Costa Gramaxo, cidadão desta cidade. Disse mais que, a
dezassete do mês de Abril este próximo passado, correndo o dito Martim de
Carvalho a cidade de noite, prendeu a Francisco de Figueiredo, criado de
António Coelho de Carvalho, colegial do Colégio de S. Paulo, e, tendo duas
culpas no seu Juízo da Conservatória, pelas quais o tinha pronunciado a prisão
e o trazia a rol, o sobredito, sem o mandar livrar delas nem lhe correr a folha, o
mandou soltar, como constará dos autos, de que é escrivão Simão Leal, não
sabe por que respeito; e da prisão e soltura constará dos autos dela e termo da
dita soltura, que estão em poder de Sebastião Lopes da Costa, escrivão das
armas. Disse mais que, depois do dito Martim de Carvalho servir de vice-
-conservador, não lhe lembra em que mês, indo a requerimento do pai, a quem
não sabe o nome, de ·Paulo Faia, que matou Francisco Coelho e Serrabodes à
.fl. I /4 porta da sala dos autos desta Universidade, a prender a// um fulano Coelho
Gasco, que morava na Couraça, outrossim também culpado nela, e acolhendo-se

155
a casa do Dr. João de Carvalho, lente de Véspera de Leis, à vista do dito
conservador, deixou de o prender, por não lhe querer buscar a casa, por ami-
zade que tinha com o dito Doutor; de que ele poderá testemunhar, e toda a
vizinhança, o que ele testemunha sabe de vista, por se achar a isso presente.
Disse mais que, a dez de Março este próximo passado, nesta cidade, prendeu o
alcaide Manuel de Escobar a dois estudantes, a quem não sabe os nomes, de
noite, com espadas e terçados, e levando-os ao dito vice-conservador Martim de
Carvalho, nem quis fazer auto de prisão nem condená-los na pena dos estatu-
tos, por serem da vila de Guimarães, donde ele é, e amigos; o que ele declarante
ouviu ao dito alcaide, que o relatará mais muidamente. Disse mais que, depois
do dito Martim de Carvalho servir de vice-conservador, e de Luís Cerqueira
Cordovil, estudante canonista, estar pronunciado a prisão, por culpas que dele
havia no Juízo da Conservatória, o sobredito, indo a casa ordinariamente do
dito vice-conservador a lhe fazer requerimentos sobre uma demanda que trazia
com uma Brásia Luís, de umas casas, o dito vice-conservador o não prendeu,
sendo seu Juiz e o delinquente seu súbdito; as quais culpas estão em poder de
Simão Leal, que dirá de uma e outra coisa, e o dito Francisco Vaz, corrector, e
a dita Brásia Luís, os quais o contaram a ele declarante. Disse mais que, a vinte
e seis do mês de Janeiro próximo passado, pouco mais ou menos, tendo o dito
Martim de Carvalho. vice-conservador. preso e condenado a Tomé Cardoso.
fl. 114v. estudante// desta Universidade, não sabe em que Faculdade, por andar de noite
com arma:-.. t:m 4ua1ru mil ré1:-. l' cadl'ta na forma da rt:lorma1;àu. 11 mandou
soltar e absolver até das custas, não sabe por que respeito, cujos autos estão em
rodt:r do dito Simão I l'al. I )i:-.:-.t: ma1:-. 4Ul'. t::-.ll' mé:-. dl' Outuhrn rnl\11110
passado, pouco mais ou menos, vivendo Afonso Soares, estudante legista, da
vila de Moura, ao tal tempo em umas casas que estão junto à portaria do
Colégio da Trindade, não sabe cujas são, e, tendo paga a primeira terça, o dito
vice-conservador Martim de Carvalho. sem precederem os termos para isso
necessários, que o estatuto requer, de seu poder absoluto lhe mandou tirar o
fato, e lhas tomou, e as deu a um Cristóvão Soares, institutário, seu parente, de
Lisboa, e, requerendo e alegando o dito Afonso Soares sua justiça, na forma
ordinária, diante o dito vice-conservador, em lugar de sentenciar a causa suma.:
riamente, indo-lhe conclusa, até hoje a não tem sentenciada, nem sentencia, por
esse respei~o. Disse mais que, depois de estar vaga, este mês de Abril próximo
passado, a cadeira de Instituta que nele se vagou, não lhe lembra a quantos da
dita vacatura, e, antes de se fechar o escrutínio, em tanto foi o dito Martim de
Carvalho, vice-conservador, apaixonado de António de Abreu, opositor a ela,
que, sem embargo do seu ofício, antes com pretexto e poder dele, foi pedir a
três estudantes, irmãos, por nome António da Costa, e João de Loureiro,//
fl. 115 o segundo, e Francisco da Costa, o terceiro, da cidade de Viseu, o mais velho
legista e os outros dois canonistas, que todos três eram votos nela, que moram

156
na Rua de Coruche, e trazendo um deles uma causa diante do dito Martim de
Carvalho, que votassem pelo dito António de Abreu nela, a casa dos ditos
estudantes; o que ele declarante sabe, porque lho disseram assim Adriano
Reimão, estudante canonista, e João Gomes, opositor legista, ambos desta
cidade, e que sabia também disso Matias da Silva, estudante; e que assim o
dirão os sobreditos irmãos. E, sendo perguntado, declarou que poderiam tes-
temunhar de como o dito Martim de Carvalho tomou as ditas casas ao dito
Afonso Soares, ele mesmo, e o dono das ditas casas, e o escrivão das taxas, e o
dito António de Abreu, e pelos próprios autos constará; e, assim, presume da
dita paixão do dito conservador, que mandaria ao seu meirinho Belchior Cal-
deira que fizesse o mesmo, porque, em uma das noites da dita vacatura,
achando o dito Belchior Caldeira a ele declarante, de noite, em uma rua, com o
manto por cima da cabeça, embuçado, perguntando-lhe quem era e dizendo-o
ele declarante, disse um dos de sua companhia, que não conheceu, que bem o
podiam prender, porque não era voto do dito António de Abreu; e dizendo que
sim, votava, sem embargo de o achar naquela forma, que a reformação proíbe e
do édito que ele dito reformador tinha publicado, de que ninguém andasse
depois das Avé Marias nos ditos dias da vacatura, e que da cadeia pagasse dois
mil réis, e de o mandar assim ao dito meirinho, o sobredito o não prendeu e o
deixou ir para sua casa depois de o ter preso, sendo já as Avé Marias dadas e a
noite fechada; e que poderão testemunhar os seus beleguins de como o dito
fl. I 15v. meirinho, à porta// principal da Misericórdia, onde isto foi, largou, depois de
ter preso, a um estudante, na forma sobredita somente, porque eles não o viram
nem conheceram, e só o viu e conheceu o dito meirinho e dois estudantes, que
só conheceu serem-no por irem em trajos deles, que foram os que disseram que
bem ó podiam prender. Disse mais que, véspera da véspera de Domingo de
Ramos, pronunciando o dito Martim de Carvalho, vice-conservador, por uma
devassa que tirou do ferimento que se fez a um Manuel João, alfaiate, casado,
que vive a Almedina, a ele declarante à prisão, e mandando-o sobre sua home-
nagem para sua casa, daí a três ou quatro dias lhe alargou a dita homenagem,
dando-lhe a cidade por prisão por tempo de quinze dias; e, acabados eles,
ficando outra vez preso em sua casa, lha tomou segunda vez a alargar,
permitindo-lhe e dando-lhe licença para poder ir aos Gerais ouvir suas lições,
como constará dos despachos que ele declarante tem em seu poder. Disse mais
que, trazendo o dito Manuel João a dita causa perante o dito vice-conservador
Martim de Carvalho, é público e notório, nesta Universidade e cidade, que o
dito Martim de Carvalho dorme camalmente com uma das filhas do dito
Manuel João, de duas que tem, e que, por esse respeito, chega a pôr consigo à
sua mesa ao dito Manuel João; e que poderão testemunhar disso António Car-
doso, estudante legista, filho de Agostinho Cardoso, e o Dr. Diogo Mendes
Godinho, lente de Cânones, e Francisco de Mendo, colegial e Reitor do Colégio

157
fl. 116 de S. Paulo,/ / e um obreiro do dito Manuel João, manco de uma perna, a
quem não sabe o nome, desbarbado, e uma criada que foi sua, a que chamam
Maria, e é daqui a quatro ou cinco léguas, não sabe de que terra nem que
apelido tem. E ele declarante, os dias atrás, à boca da noite, tendo o dito
Martim de Carvalho sua mulher na quinta do tesoureiro Nicolau Leitão, por
lhe dizer o seu moço Rafael Galvão, estando ele declarante na Rua das Fangas,
à porta de um cirurgião, que ali iam a mulher do dito Manuel João e uma filha
sua e um filho seu, estudante canonista, por nome Francisco de Matos, vindo
após elas no seu alcance e encontrando-as ao ladrilho da Sé. metendo-se por
elas, viu e conheceu ao dito Francisco de Matos, e a dita sua mãe, e, no meio,
uma moça 4ue lhe parece ser uma das ditas suas fühas, pois ia com a dita sua
mãe e irmão; e, indo andando ele declarante dissimuladamente, viu que todos
três entraram em casa do dito Martim de Carvalho, que pousa junto ao dito
ladrilho da Sé; e, estando aí um pedaço, as não viu sair; e sabe que o dito
Martim de Carvalho, ao tal tempo, não era fora da cidade. Disse mais que, o
ano passado, depois do sino corrido, encontrou Martim de Carvalho, vice-
-conservador, uma mulher em trajos de homem com uns estudantes, que,
fugindo e deixando-a, o dito Martim de Carvalho, depois de a ter presa, em
lugar de a mandar à cadeia, a dera a Sebastião Lopes da Costa, escrivão das
armas, que a levasse para sua casa, onde depois fora dormir com ela; o que ele
declarante sabe porque lho contou assim Antão da Costa Gramaxo, cidadão
desta cidade, e que lho dissera assim Simão Leal, escrivão da Conservatória
desta Universidade. Disse mais que, haverá dez ou doze dias, que, nesta
fl. 116v. cidade,// se achou ele declarante em casa e companhia do dito Dr. Diogo
Mendes Godinho, e, estando ambos sós, o sobredito lhe disse, entre outras
coisas, que o dito vice-conservador Martim de Carvalho mandara cometer a
uma mulher de um médico, que lhe não declarou, que pousava junto às casas
do Bispo, e que, por não querer, a infamara com um estudante, que, estando
preso, ia buscar de noite à própria rua onde ela mora, dizendo-o assim a seus
oficiais, para a poder difamar. Disse mais que, haverá sete ou oito dias, nesta
cidade, em casa dele declarante, foi ter o dito Francisco Vaz, corrector, .e,
estando ambos sós, entre outras coisas, o sobredito lhe disse que, trazendo os
padres do Mosteiro de Santa Cruz, desta cidade, certas causas diante do dito
vice-conservador Martim Carvalho, lhe mandavam muitos presentes e peitas,
que ele aceitava publicamente, que ele, conforme a seu ofício, não podia aceitar
de pessoa alguma, ainda que, com ele, não tivesse requerimento algum. Disse
mais que, este mês de Novembro ou Dezembro próximo passado, nesta cidade,
estando ele declarante em sua casa, em companhia de Zacarias da Costa, atrás
nomeado, e de Rafael Galvão, outrossim atrás declarado, o sobredito Zacarias
da Costa lhe disse que, indo entrando em casa do dito vice-conservador Martim
de Carvalho naquele mesmo dia, lhe ouvira estar aconselhando a Francisco

158
Dias Mendes, estudante canonista, de Lisboa, sobre uma causa de umas casas
jl. Jf 7 que, perante ele, corria entre o dito Francisco// Dias Mendes e ele declarante.
Disse mais que todos os estudantes que se prendem por armas e prenderam
pelo édito da vacatura da cadeira de Instituta, que vagou este mês de Abril
próximo passado, sendo as condenações, conforme a ele, de dois mil réis, e
havendo-se nelas de proceder sumariamente, o dito Martim de Carvalho, vice-
-conservador, pelos mandatos que passa para serem soltos, havendo de levar
quatro réis, leva um tostão de assinatura; e, não havendo, em alguns, causa que
in totum os releve da dita condenação, lhas diminuiu e diminui, segundo os
respeitas que tem com cada um, como sabem seus escrivães António de Gou-
veia e Simão Leal, e o dito Francisco Vaz, corrector, a quem o ouviu em
particular, e a outras muitas pessoas. Disse mais que, haverá quinze ou vinte
dias, que, nesta cidade, se achou ele declarante em companhia do dito Francisco
Vaz, corrector, em casa dele declarante, e, estando ambos sós, veio aí ter Antão
da Costa Gramaxo, atrás declarado, e, por ocasião de virem a falar no dito
Martim de Carvalho, vice-conservador, lhes disse o dito Francisco Vaz que o
dito Martim de Carvalho, depois que serve de vice-conservador, dera homena-
gem a Francisco de Bairros, estudante desta Universidade, sem a ter, por ser
natural de Guimarães; e que, condenado por uma resistência a um ano de
degredo para África, o mandara, sem fiança e sem termo de soltura, ir livre-
mente para onde ele quisesse, como ele declarara, e constará dos autos que
estão em poder de Simão Leal. Disse mais que, assistindo o dito vice-conser-
vador Martim de Carvalho ao inventário que se fez de António Dias da Cunha,
cónego desta Sé, preso pelo Santo Ofício, fez avaliar o dito Martim de Carva-
jl. 117v. lho a cevada que nele havia a três vinténs e o trigo // a seis, valendo a dois
tostões, e a cevada a tostão; e, sem andar em pregão e na forma do regi-
mento fiscal, con!ra o que dispõe a ordenação do Reino, tomou para si a dita
cevada e trigo pelos ditos preços, e uns livros, como lhe contaram muitas pes-
soas que, agora, ao presente, lhe não lembram; e que assistira ao dito inventário
Amaro da Costa, que declarará as pessoas que mais assistiram e quem foram os
avaliadores, e lhe parece que lhe disseram que também aí estivera o dito Simão
Leal, e o tempo em que se fez o dito inventário. Disse mais que, sendo o dito
vice-conservador Martim de Carvalho adjunto na Junta que se fez para a exe-
cução da fazenda de Manuel Rodrigues Navarro, e, por ordem dela, deposi-
tando-se o dinheiro em mão de António Ferreira, ourives desta cidade, entre
outro dinheiro que o dito vice-conservador tomou da dita fazenda, pediu ao
dito António Ferreira cinquenta mil réis para comprar o cavalo em que anda, e,
até agora, lho não tem pago; e assim o ouviu ele declarante ao dito Antão da
Costa Gramaxo, e o dirá o dito António Ferreira, ourives. Disse mais que,
sendo público nesta cidade atirar João Vieira, estudante legista, morador nela,
na Rua das Parreiras, de noite, a um clérigo por nome fulano Salgado, e

159
passar-lhe a mão esquerda com uma espingarda, o primeiro ou segundo dia de
fl. 118 Maio próximo passado, o dito vice-conservador Martim de Carvalho,// sendo
o caso de devassa, a não tirou, depois de cometido o delito há muitos dias, como
constará do auto dela; e depois de a começar a tirar, a não acabou, nem no dito
tempo da ordenação nem depois de passado ele, porque lho pediu assim
D. Miguel de Castro, filho de D. Diogo de Castro, presidente da Mesa do
Paço; o que ele declarante sabe, por o ouvir dizer assim publicamente, e que
Salvador Lopes, médico, sabia como ele lho mandara pedir. Disse mais que
Jerónimo Correia, carcereiro da cadeia desta Universidade, solta e dá liberdade
a alguns presos muitas noites, para andarem por onde quiserem, o que ele
declarante sabe porque viu, em algumas noites, presos fora da dita cadeia, e
com o dito carcereiro e eles foi ele declarante, uma das ditas noites, dar uma
música ao Mosteiro de Santa Ana, e ver a um estudante fulano da Nóbrega da
Azinhaga, estando preso, andar de noite pela cidade; e assim o dirá Gaspar de
Sousa, que foi criado do dito Martim de Carvalho, e um homem da vara do
meirinho, a que chamam Heitor, e não há outro deste nome. Disse mais que,
haverá cinco anos, e os fez este mês de Maio próximo passado, na vacatura da
catedrilha de lnstituta, que levou por oposição António Cabral, de Celorico,
bêbado, que desta Universidade foi desterrado por sentença da visita próxima
fl. 118v. passada, sendo ele declarante apaixo/ / nado do dito António Cabral, como tal,
sabe que Rui de Albuquerque, secretário desta Universidade, na dita oposição,
em tanto excesso foi seu apaixonado, que, faltando a Francisco Cardoso do
Amaral, estudante legista, companheiro que era então dele declarante, mês e
meio no seu primeiro e segundo ano, e dizendo-o ao dito António Cabral diante
dele declarante, e pedindo-lhe que lho houvesse do dito Rui de Albuquerque, e
dizendo-lhe que sim, depois, daí a poucos dias, o sobredito António Cabral lhes
disse que lhos tinha havidos; e, com esse pressuposto, foi votar por ele; e, em
efeito, ele declarante viu os cursos perfeitos ao dito Francisco Cardoso, que lhe
disse lhos aperfeiçoara o dito Secretário. E assim António Veloso, filho de
Lancerote Veloso, legista formado, nos cursos que tinha, em um deles, de
Junho pôs Julho, e o dito Secretário, caindo na falsidade, lha deixou passar,
sem embargo de lhe falar nela, por uma dúzia de galinhas que lhe mandou, não.
sabe por quem, o que ele declarante sabe por lho dizer o dito António Veloso, e
ver o dito Julho falsificado. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume
nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Inácio de Brito Nogueira//.

fl. 119 Aos dezassete dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Doutor nos Sagrados Câno-

160
nes, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Pero de Moura, solteiro, filho de Brás Silvestre e de Maria Geralda, da cidade
de Elvas, estudante canonista, morador ao Paço do Conde, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e dois anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por
outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que
de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, na Faculdade dele
declarante, os lentes dela gastarem, nas matérias que lêem, tanto tempo, além
do que lhes é e deve ser assinado para as acabarem, que não ficam fazendo o
fruto que, por respeito delas, se pretende; porque o Dr. Domingos Antunes
/7. J19v. gastou na matéria De Donationibus Inter// Virum et Uxorem, que acabou este
ano, cinco anos perfeitos; e o Dr. António Homem gastou três anos perfeitos,
ou mais ainda, na matéria De Causa Possessionis et Proprietatis; e, só no capí-
tulo Sotrina, se deteve um ano inteiro; e o Dr. Diogo Mendes Godinho gastou
três anos inteiros no título De Pignoribus; e o Dr. Francisco Vaz de Gouveia,
lente de Sexto, gastou três anos no título De Officio et Potestate Judieis Dele-
gati Libra Sexto, e os estudantes que, a princípio, o não escreveram, o deixa-
ram de escrever, por não terem as ditas matérias imperfeitas; e, assim, ficam
sem o fruto das principais lições pelo dito respeito. E, assim, tirado o dito
Francisco Vaz, não explicam as rubricas dos títulos que alegam, o que fora
muito bom, porque da lnstituta as não levam sabidas. Disse mais que Gaspar
de Seixas, bedel de Medicina e Artes, é público e notório, nesta cidade e Univer-
sidade, andar ordinariamente esquentado do vinho, quando não será noutra
forma, e a nenhum estudante das suas Faculdades querer dar conta do dinheiro
que lhe dão para os actos, e, por esse respeito, pedir mais do que neles se
monta, para o poder melhor tomar, como a ele declarante aconteceu, que,
f1. 120 levando o ano passado, ao dito bedel, trinta e três mil réis// que lhe deu João
Gonçalves de Câmara para se fazer mestre em Artes, e, vendo ele declarante
que faltavam ao dito acto alguns Doutores e mestres em Artes, sem estarem
doentes nem ocupados no serviço da Universidade, e quitando-lhe outros a
propina, que considerou e atentou no dito acto, para depois haver de fazer
contas, em nome do dito João Gonçalves da Câmara, com o dito bedel; e, de
feito, fazendo-as, e ficando nelas devendo ao dito João Gonçalves da Câmara
dois mil réis, lhos não quis dar, nem deu até hoje, em ianto que, de enfadado e
desenganado, o dito João Gonçalves lhos deixou; o que ele sabe, como teste-
munha de vista, e o eleger, para isso, o dito João Gonçalves da Câmara. Disse

161
mais que os Padres da Companhia, que ora trazem as Escolas Menores, davam
certidões para ouvir Direito a estudantes que nem sabiam musa musae, como
foi a Pero Barbosa, bacharel canonista, filho de Pero Barbosa, cuja postila os
que se sentam junto a ele procuram ver para passar tempo, e ele declarante lhe
viu, os dias passados, nela, em lugar de dizer "cui quaestioni respondenda est",
escreveu "fuit quaestioni respondendum est", em ff de _fatis, sem c. E, na postila
de Agostinho Tinoco, estudante canonista, de Montemor-o-Velho, viu que
escreveu, em lugar de "redditus ecclesiasticus", "reliqus ecclesiasticus", e outros
muitos semelhantes a estes, gue lhe não lembram. Disse mais que os estudantes
Jl. 120v. que, em todo este ano, viu que nem aos Gerais, nem varandas deles foram,/ / e
assistiram sempre e assistem no Mosteiro de Santa Ana, assim na roda como
nas grades do dito Mosteiro, são Afonso Craveiro, médico, Jacinto da Fonseca,
canonista, Pedro Homem, filho do matemático, e outros sete ou oito, a quem
não sabe os nomes. Disse mais que, em Outubro do ano de seiscentos e doze,
este que vem fará sete anos, na cidade de Lisboa, no Colégio de Santo Antão,
da Companhia de Jesus, se assentaram e entraram no primeiro curso das Artes,
que no dito ano leu o padre Luís Brandão, sacerdote de missa da dita Compa-
nhia, que ao presente assiste no seu Colégio de Évora, a saber, ele declarante e
Gonçalo Mendes de Freitas, que hoje é clérigo, amulatado do rosto, estudante
canonista, e Manuel Soares Pereira, outrossim estudante canonista, que se for-
mou no princípio deste ano, de Lisboa, e com outros muitos que não tem para
que referir agora; todos três cursaram o dito ano por inteiro; e viu ele decla-
rante aos sobreditos Gonçalo Mendes e Manuel Soares cursar o dito curso no
dito ano, de modo que, se deixaram de cursar, ele declarante o vira; e porque
foi seu condiscípulo, e, nos anos atrás, próximos e imediatos, os viu andar no
Latim, nas classes dos ditos Padres de Santo Antão, e viu que, no princípio
deste ano, se formou o dito Manuel Soares, que, ainda que lhe levassem em
fl. 121 conta o dito primeiro ano das Artes,/ / suposto que no dito Colégio de Santo
Antão teve mais o segundo e terceiro ano sucessivamente das Artes, e veio ao
quarto curso das Escolas Menores do Colégio dos ditos padres desta cidade de
Coimbra, no quarto ano seguinte, e se fez mestre em Artes, não ficando, con-
forme a isto, mais que com dois anos da Faculdade que professa, e um dos
ditos dois estar preso na cadeia desta cidade, e, ainda que o provasse com provi-
são de Sua Majestade, como ele declarante lhe viu, não lhe devendo Sua Majes-
tade levar em conta os demais, e assim ser possível tê-los, ou por falsa informa-
ção, ou por alguns meios ilícitos, de que ele não sabe; e lhe pareceu que tinha
obrigação de o declarar nos interrogatórios, porque agora foi perguntado,
mormente pedindo-lhe o dito Manuel Soares emprestada, o ano passado, a
provisão que ele declarante tinha de Sua Majestade do dito primeiro curso das
Artes; e, quando lha tornou, daí a cinco ou seis dias, dar-lha embrulhada em
meia folha de papel, toda cheia dos sinais do Rei, como rascunhos do próprio

162
sinal da dita provisão real, como quem se ensaiara para o falsificar. E, assim,
porque ouviu dizer que o dito Gonçalo Mendes de Freitas andava para se for-
mar, depondo aos ditos artigos, declara que o dito Gonçalo Mendes cursou
também o segundo e terceiro curso de Artes no dito Colégio de Santo Antão,
nos ditos anos sucessivos e imediatos ao primeiro do dito curso, e o quarto ano
.fl. 121v. em ordem seguinte// andou no quarto curso das Escolas Menores desta cidade,
ficando só com três de Cânones por fim deste mês de Maio próximo passado, se
não pode formar, senão por alguma falsa informação, ou por algum outro meio
ilícito, de que ele declarante não sabe; e que isto era o que sabia dos ditos
interrogatórios. Perguntado se sabe que os ditos Manuel Soares e Gonçalo
Mendes, ou algum deles, tivessem anos de Casos no dito Colégio de Santo Antão
ou em alguma outra parte, e que razão tinha para saber o sobredito, disse que
sabia que nem um nem outro tinha anos de Casos; porque, se os tiveram, ele
declarante o soubera por condiscípulos, conhecidos e amigos; e, porque, cur-
sando nas Artes, como, de feito, cursaram nos ditos anos, manhãs e tardes, e,
antes delas, no Latim, não podiam juntamente ouvir os_ ditos Casos, os quais se
lêem nas mesmas horas em que se lêem os ditos cursos; e que o demais sabia
pelo ver cursar no dito quarto curso e na Teologia, algumas vezes, nesta Univer-
sidade. Perguntado que pessoas mais poderão saber de tudo o sobredito, disse
que Francisco Fernandes, médico, natural de Lisboa, solteiro, e Gregório Cor-
/7. 122 reia, estudante canonista, solteiro, de Lisboa, que vive na Rua/ / de Alvaiázere, e
Gonçalo Vaz Coutinho, canonista, e Gonçalo Vaz Reimão, digo e Manuel de
Sousa Reimão, institutário, e Manuel de Azevedo, canonista, e Gaspar Cordeiro,
criado do Dr. António Homem, canonista, todos da cidade de Lisboa e do
mesmo curso das Artes. E não lhe foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe lido
este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o
escrevi. D. Frqncisco de Meneses, Reformador e Reitor. Pero de Moura.

Gaspar de Sequeira de Queirós, solteiro, filho de João de Sequeira de


Queirós, da vila de Amarante, bacharel legista e opositor na dita Faculdade,
morador na Rua de S. Cristóvão, a quem o Reformador D. Francisco de
Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,mandado que, sob cargo dele, dis-
sesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de vinte e sete anos. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo
.fl. 122v. perguntado na visita desta reformação,// calasse a verdade ou dissesse o con-
trário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos inter-
rogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação
inquirir, em geral, e, depois, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse

163
que o que deles sabia era que, haverá dois meses e meio, pouco mais ou menos,
que nesta cidade, em casa dele declarante, lhe mostrou Diogo Bravo, seu com-
panheiro, estudante canonista, de Amarante, estando ambos sós, um pistolete
de cano de palmo e meio e fechos de pederneira, dizendo-lhe que lho dera a
guardar em segredo um homem, que lhe não declarou, e que esse mesmo
homem lhe dissera que ele era de Estêvão Machado de Miranda, de Guimarães,
estudante da segunda classe; e sabe que, ao outro dia, se tirou de casa o dito
pistolete, e que não é do dito Diogo Bravo. Disse mais que, de seis anos a esta
parte que há que cursa nesta Universidade, sempre deu a Rui de Albuquerque,
secretário dela, pelo matricular um vintém, e viu que todos os mais lhe davam
o mesmo, e ele o aceita. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios.
E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade,
disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Gaspar de Sequeira Queirós.//

.fl. 123 Gaspar Pinto da Fonseca, viúvo, filho de Pero de Seixas Pinto, natural da
vila de Amarante, estudante legista, morador à Porta da Traição, a quem o
Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de trinta e dois
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, po~ si
ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois, em especial, pelo
que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, haverá três ou
quatro meses, pouco mais ou menos, que nesta cidade se achou ele declarante
em casa e companhia de Vicente Pestana, estudante da quarta classe, filho de
Lourenço Pestana, que vive junto a S. Pedro, perto da Porta da Traição, e,-
estando ambos sós, o sobredito tirou da cinta um pistolete, cujo cano seria de
fl. I 23v. palmo e meio, pouco mais ou menos, com// fechos de pederneira, na qual o
trazia ; com ele ficou na mão até que ele declarante se veio; e entende e tem para
si que é do dito Vicente Pestana; e não sabe que ele, nem outra alguma pessoa,
tenha mais algum pistolete. E que isto era o que só sabia dos ditos interrogató-
rios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na ver-
dade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Gaspar Pinto da Fonseca.

164
Aos dezoito dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Doutor nos Sagrados Câno-
nes, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
António Varela, sacerdote, filho de João Rodrigues, natural de Sernancelhe,
estudante canonista, morador na Rua de Sobre Ribas, junto a Francisco Vaz
Perestrelo, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
Jl. 124 que pôs sua mão, e,mandado que, sob cargo// dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de vinte e nove anos. Perguntado se sabe ou presume para que é cha-
mado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na
visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que
tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatu-
tos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e,
depois, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que não sabia coisa
alguma. Perguntado pelo curso primeiro das Artes, que ouviu no Colégio de
Santo Antão dos Padres da Companhia da cidade de Lisboa, que começou em
Outubro de seiscentos e doze ·e acabou em Maio de seiscentos e treze, que
mestre teve, e que condiscípulos, e assim nos cursos seguintes, segundo e ter-
ceiro, disse que, no dito ano e curso, ouviu as Artes no dito Colégio, que lhas
leu o padre Luís Brandão, da dita Companhia, e nele, entre outros condiscí-
pulos, lhe lembra que teve João Gonçalves da Câmara, estudante nesta Univer-
sidade, e Pero de Moura, e Gonçalo Vaz Coutinho, e Manuel de Sousa
Reimão, e Manuel de Azevedo, e Gonçalo Mendes de Freitas, preto do rosto e
clérigo que hoje é de missa. Perguntado, digo, e que cursaram no ano seguinte
o segundo curso das ditas Artes no dito Colégio e com o dito Mestre, e que não
fl. 124v. tivera o terceiro ano delas, // e que lhe parece que, no dito segundo curso,
andaram também com ele declarante os sobreditos. Perguntado se andou e
estudou ele declarante o Latim em Lisboa com os ditos Padres, e os demais
condiscípulos do curso, se o foram também aí do Latim, disse que a todos eles
conhecia e sabia andarem estudando o Latim com os ditos Padres, e o dito
Gonçalo Mendes de Freitas, e um Manuel Soares Pereira, estudante canonista,
de Lisboa, que se formou no princípio deste ano, andaram primeiro com ele
declarante, estudando Latim com o mestre da Sé, e daí aos ditos Padres, onde,
acabado o Latim, entraram todos, como dito tem, no dito curso das Artes.
Perguntado se sabe que o dito Gonçalo Mendes de Freitas e o dito Manuel
Soares Pereira ouvissem Casos, ou algum deles, no dito Colégio de Santo
Antão, ou em alguma outra parte, disse que sabe que nenhum dos sobreditos,
nos ditos dois anos, ouvisse Casos; porque, se os ouviram, ele declarante o
houvera de saber, pela dita razão de condiscípulos, e por não poderem junta-
mente neles ouvir Casos e as ditas Artes, que tudo se lê nas mesmas horas

165
e tempo. E que isto era o que sabia, e não lhe foram feitas mais perguntas.
E declarou que o dito Manuel Pereira veio a esta Universidade a Instituta, em
Jl. 125 Outubro do ano de seiscentos e ca/ / torze, e o segundo ano, e, nos ditos dois
anos, foram também condiscípulos; e o terceiro ano ouviu ele declarante dizer
que o dito Manuel Soares não viera a esta Universidade, e que ouvira Teologia
em Santo Antão o Velho, dos padres de Nossa Senhora da Graça, da cidade de
Lisboa, até ao tempo em que o prenderam por ordem desta Universidade, a
cuja cadeia dela foi trazido, e a Miranda, onde ele declarante então estava, o
sobredito lhe escreveu de dentro da cidade de Lisboa, no dito ano e antes da
dita prisão, não lhe lembra em que mês, e na carta lhe dizia que estava ouvindo
Teologia com os ditos padres. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado
se estava escrito na verdade, disse que sim, e de costume nada. E assinou com
o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. António Varela.

Salvador Lopes da Silva, solteiro, filho de Gaspar Francisco Fróis e de


Maria da Silva, naturais da cidade de Lisboa e ao presente residentes em Saca-
vém, estudante aprovado na Faculdade de Medicina e mestre em Artes, mora-
dor na Rua de S. Jerónimo, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses
fl. 125v. mandou vir perante// si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão. e, mandado que, sob cargo dele, dissesse
verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de vinte e sete anos. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo
perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogató-
rios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inqui-
rir, em geral, e, depois, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o
que deles sabia era que, haverá um ano, pouco mais ou menos, que nesta
cidade, na Rua das Parreiras, se achou ele declarante à sua porta, em compa-
nhia de Luís Salema, estudante legista, enteado de Baltazar Veloso, e, estando
ambos sós, o sobredito tirou um pistolete da cinta para lhe consertar o ataca-
dor, que ele declarante lhe viu muito bem, e seria o cano de palmo e meio,
pouco mais ou menos, e os fechos de pederneira, fiando-se dele declarante como
amigo; e que o trazia de ordinário, em tanto que, na briga que houve à porta/ /
fl. 126 do Mosteiro de Santa Ana, perto deste entrudo próximo passado, sendo o
dito Luís Salema de uma parte, levou dele e doutro pistolete do mesmo tama-
nho um Manuel Falcão, estudante legista, de Portalegre; e doutro pistolete do
mesmo tamanho um Manuel Faia, estudante, de Lisboa, canonista, a qual,
posto que ele declarante se não achasse, assim lho contaram, e é tão público e
notório nesta cidade, o sair ferido o dito Manuel Faia, de um mulato, depois

166
que disparou o dito pistolete, e deu com os pelouros em um braço de Gaspar da
Fonseca, posto que o não feriu, que não há pessoa nesta cidade que não saiba
disso. Disse mais que, haverá mês e meio que nesta cidade se achou ele decla-
rante em casa de Jerónimo de Tovar, opositor legista, de Lisboa; e, estando o
sobredito na loja e ele declarante na casa de cima, e Gaspar Nunes, solteiro,
estudante legista, de vinte e dois anos, e é da Beira, e mora na rua dos Estudos,
ambos sós, o dito Gaspar Nunes lhe mostrou um pistolete que tinha nas mãos,
gabando-o muito, cujo cano seria de um palmo, e os fechos de pederneira; e,
vindo-se ele declarante para baixo, não sabe o que o dito Gaspar Nunes fez do
dito pistolete. E, assim, ouviu dizer também, não lhe lembra a quem, que Luís
de Carvalho, estudante nesta Universidade, em Cânones ou em Leis, e de Lis-
boa, tinha um pistolete. Disse mais que, o primeiro ou segundo dia do mês de
Maio próximo passado, das oito para as nove horas da noite, nesta cidade, se
achou ele declarante em casa e companhia de Jerónimo de Tovar, opositor
legista, de Lisboa, e de Francisco Dias Mendes, estudante canonista, de Lisboa,
neto de Heitor Mendes, e de Luís de Carvalho, atrás nomeado, e de Gonçalo
Salema, estudante canonista; e, estando assim todos, entrou João Vieira de
Azevedo, estudante legista, da cidade de Lisboa, com uma espingarda na mão,
cujo cano seria de quatro para cinco palmos e fechos de pederneira, em corpo e
.f1. /261·. roupeta comprida de baeta; e perguntou se estava ali // Diogo Nunes de Leão;
e, respondendo-lhe que não, se saiu, ao qual eles todos viram e conheceram, por
a casa estar alumiada com candeias acesas. E, imediatamente saindo todos
depois ele, ouviram, quase vindo às casas, um tiro de espingarda, e gritar um
homem, dizendo que o mataram, e depois souberam que o ferido da dita espin-
garda, em uma mão, era um clérigo, estudante nesta Universidade, por nome
fulano Salgado. E, ao outro dia pela manhã, mandando-o chamar o dito João
Vieira ao Mosteiro dos Marianas, onde logo se recolheu, por lhe parecer que o
deixara morto, o sobredito lhe disse, estando ambos sós, que, estando ele João
Vieira na Rua das Parreiras, falando com umas moças, viera o dito clérigo para
entender com elas; e, por ele o não sofrer, fora buscar a casa um terçado ou
facalhão, e ele João Vieira a dita espingarda, com a qual fora a casa do dito
Jerónimo de Tovar, a perguntar pelo dito Diogo Nunes; e, tornando-se para as
ditas moças, das quais uma chamam Francisca e outra Ângela, não sabe onde
vivem, a esperar o dito clérigo, por lhe haver dito o dito clérigo que à volta o
veria, e, vindo com capa feita e com o facalhão na mão para ele dito João
Vieira, requerendo-lhe que se tivesse, por o não querer fazer, lhe atirou em sua
defesa com a dita espingarda, e lhe dera com o tiro pela dita mão esquerda,
com que se amparara; e, além desta sua confissão, ele declarante e os demais
entenderam que não podia ser outrem o do dito tiro, senão o dito João Vieira;
como também por ele logo se ausentar, e se concertar com o dito clérigo em
jl. 121 oito mil réis, e na botica que lhe pagou; como lhe disse o dito // João Vieira, e

167
o dito Gonçalo Salema, que fez o dito concerto. Disse mais que, de oito anos a
esta parte que há que cursa, nesta Universidade, na Faculdade de Medicina,
sempre deu ao secretário Rui de Albuquerque pelo matricular um vintém, e viu
que todos os demais lhe davam o mesmo, e ele o aceitava. E que isto era o que
sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado
se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com
o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Salvador Lopes da Silva.

Aos dezanove dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Doutor nos Sagrados Câno-
nes, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir, perante si, a
Manuel da Veiga, Doutor na Sagrada Teologia, conselheiro este presente ano,
natural da cidade de Viseu, morador à Porta da Traição, e, sendo presente, lhe
foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado
que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse pergun-
tado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e sete anos, pouco
jl. 127v. mais ou menos. Perguntado// se sabe ou presume para que é chamado, e se
alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a
esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos
reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e,
depois, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia
era que, o ano passado, no discurso de todo, ele viu nesta cidade, em casa dele
declarante e na de Paulo de Carvalho, ao sobredito um pistolete de dois canos e
de pouco mais de palmo e meio, com fechos de pederneira, e tantas vezes lho
viu, que lhe não lembra agora em particular as pessoas que estavam presentes ;
mas as que sabem que ele o tem são João Moutinho, estudante legista, de
Freixo de Alemão, e José João, tendeiro, e sua mulher, que vivem fora da porta
do Castelo, e Manuel de Figueiredo, estudante canonista, de Penalva. E declara ·
que o dito Paulo de Carvalho e bacharel legista é filho de Sebastião de Carva-
lho, corregedor da Corte do Cível. Disse mais que, haverá um ano, pouco mais
ou menos, nesta cidade, se achou ele declarante em casa e companhia de Fran-
cisco Rebelo, estudante canonista, de Pinhel, que vive defronte das casas do
Bispo, e de António Bandeira, estudante legista, companheiro dele declarante, e,
estando todos, o sobredito António Bandeira lhes mostrou um pistolete, cujo
cano seria de pouco mais de um palmo, e de fechos de pederneira; e lhe parece
que era de dois canos ; e lhes disse que o dito pistolete era de Francisco Mon-
fl. 128 teiro, de Besteiros,/ / que não é estudante, homem casado; e assim lhe disse,
depois, a ele declarante que o tomara logo ao dito Francisco Monteiro, que

168
lho emprestara por aqueles dias. Disse mais que, este Santo António próximo
passado, faz dois anos, vivendo ele declarante fora da porta do Castelo, nas
casas de Paulo Pinto, que são as penúltimas antes de chegar ao crucifixo, e,
sendo fora de casa, de uma para as duas horas do dia, deixando as suas portas
e arcas fechadas, de dentro de uma arca, a que despregaram as fechaduras, lhe
furtaram um jarro e dois púcaros, e um saleiro, e um castiçal, tudo de prata, e
nove ou dez mil réis em dinheiro; e, com o peso da prata, montaria tudo trinta
e tantos mil réis. E, presumindo ele declarante que lhe fizeram o dito furto dois
vizinhos seus, estudantes, e indo denunciar deles a Manuel Veloso da Veiga, juiz
do Fisco, que então servia de vice-conservador, que tirasse devassa do caso, até
hoje, nem ele nem seu sucessor, Martim de Carvalho, a tem tirada, sendo assim
que é o caso tão público e notório, para um e outro se não escusarem com
ignorância, que o corregedor desta cidade, começando a tirá-la, a não acabou,
por lhe constar da qualidade dos ditos estudantes que fizeram o dito furto, e,
por esse respeito, deixaram e deixam os ditos vice-conservadores, Manuel
Veloso e Martim de Carvalho, de a tirarem. E declarou que os ditos estudantes,
de que denunciou, são o dito Paulo de Carvalho e Marçal Casado, estudante
canonista, de Viana, que, ao tal tempo, moravam e moram paredes meias com
ele declarante, e, na dita hora, estavam em sua casa, e da janela das suas casas
viam toda ou a maior parte da casa, em que lhe foi feito o dito furto, e parti-
cularmente a arca, donde lhe tiraram as ditas peças e dinheiro; e o presumirem
assim todos os mais vizinhos que então eram e são, ainda hoje, alguns deles, //
Jl. 128v. como é os ditos José João e sua mulher; e aos mais não sabe o nome; e desafiar
o dito Paulo de Carvalho a ele declarante sobre requerer que perguntasse o dito
conservador à dita sua ama, e, porque isto lhe parecia concernente aos ditos
interrogatórios, o declara, e, sob cargo do juramento que recebeu, o diz e
denuncia bem e verdadeiramente, assim aos ditos vice-conservadores, como aos
ditos Paulo de Carvalho e Marçal Casado. Disse mais que, haverá dez anos,
que se matricula nesta Universidade, e que, em todos, deu ao secretário Rui de
Albuquerque um vintém por isso; e viu que, assim, lho davam os outros. E que
isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho,
disse que estava escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Doutor Manuel da Veiga.

Francisco de Leiria Monteiro, solteiro, filho de Pero Monteiro Leitão, já


defunto, da cidade de Lisboa, estudante legista, morador na Rua de Alvaiázere,
a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
fl. 129 perguntado, prometeu de o fazer assim;// e disse ser de idade de vinte e dois

169
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado e se alguém, por si
ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado, na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois, em especial, pelo
que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, este Outubro
que vem fará cinco anos, digo seis, que, vindo ele declarante da terceira classe
de Lisboa a esta Universidade, os Padres da Companhia o mandaram, naquele
Outubro, que foi o de seiscentos e treze, à primeira classe, e, nesse mesmo ano,
mandaram também a Francisco Soares de Albergaria, estudante legista, filho de
Cristóvão Soares de Albergaria, já defunto, que foi vereador da cidade de Lis-
boa, à dita primeira classe, da terceira em que, o ano atrás, tinha andado; e nela
cursaram ambos todo aquele ano. E daí, no ano seguinte, em Outubro de
seiscentos e catorze, com certidão, vieram a Instituta; e porque, conforme a esta
conta, este é o quinto ano dele declarante, e do dito Francisco Soares, e ouviu e
viu que, nos cursos, tinha provados e tirados seis anos, com um de Artes da
Universidade de Évora, e como isso lhe prejudica a ele declarante, e, deferindo
aos ditos artigos, o declara; e de como tem ao dito curso por falso, porque o
sobredito lhe disse que era coisa mui fácil furtar os cursos de Artes de Évora ou
doutra qualquer parte, os quais, como se passaram em carta de pergaminho,
fl. 129v. raspado // o nome verdadeiro da pessoa a quem se passa, ficava servindo para
todos os que dela se quisessem aproveitar. E, por outra vez, perguntando-lhe
ele declarante, por o ver entrar às sortes dos bacharéis, como se podia fazer
bacharel este ano, se era o seu quinto de direito, ele lhe respondeu que tinha
uma carta de Évora dos cursos das Artes, pelas quais lhe levaram o primeiro
ano em conta, e pelos outros determinava pedir mais tempo, sem lhe declarar se
era falsa, o que também não era necessário, porque, como eram condiscípulos e
sabia que não podia ter as ditas Artes, haveria que, com isso, lhe dava a enten-
der que o era. E foi mestre deles ambos os dois, na dita primeira classe, um
padre que se chama Manuel Freire, se se não engana, e está agora actualmente
lendo, no Colégio desta cidade, Escritura; e que poderão testemunhar também .
disso D. Pero de Meneses, estudante canonista, e D. João de Sotomaior,
outrossim estudante canonista, e João de Sá, canonista, filho de Heitor de Sá,
desta cidade, e Francisco da Cunha, estudante canonista, filho de António
Gonçalves da Cunha. Disse mais que, haverá vinte dias, pouco mais ou menos,
que, estando nesta cidade em companhia de Sebastião Álvares da Silva, oposi-
tor legista, na rua, o sobredito lhe disse, entre outras coisas, que Bartolomeu
Gonçalves de Castelo Branco, estudante legista, de Lisboa, furtara o primeiro
.fl. 130 ano de Artes com certidão falsa, sem o ter cursado; e a ele declarante // lhe
parece assim, porque o dito Bartolomeu Gonçalves, o ano que começou em
Outubro de seiscentos e treze para seiscentos e catorze, andou na primeira classe

170
de Lisboa, o que sabe porque assim lhe disse o sobredito, e o ouviu dizer
quando de cá foi ter as férias, e antes que viesse o deixaram na dita primeira
classe; e, no ano seguinte, que começou em Outubro de seiscentos e catorze,
veio aqui a Instituta. E, por esta conta, sendo este o seu quinto ano, nos cursos
que tirou são seis, com o dito ano de Artes. Disse mais que Pero Velho
do Rego, estudante legista, de junto a Lisboa, foi, na dita primeira classe, con-
discípulo do dito Bartolomeu Gonçalves, e na Jnstituta; e, assim, não havendo
de ter mais que cinco anos, tem seis, com outro ano de Artes, que também
furtou, de Lisboa; e assim o ouviu a muitas pessoas que agora lhe não lem-
bram; e poderão testemunhar disso o dito Bartolomeu Gonçalves e o dito
Sebastião Álvares da Silva, posto que, por seu companheiro e amigo, o não
dirá; e o dito Bartolomeu Gonçalves, por compreendido na mesma culpa.
E que isto era o que sabia. E porque temia que inimigos seus, por haverem
lançado fama que ele declarante dera ou mandara dar umas cutiladas a uma
mulata pelo rosto, viessem maliciosamente culpá-lo nesta visita, o fazia assim a
saber, e declarava que eram Miguel Coelho de Almada, de Lisboa, institutário,
Cristóvão Teixeira, canonista, filho de André de Matos, que foi conservador
desta Universidade, Vicente Soares de Albergaria e o dito Francisco Soares, seu
irmão, Manuel Falcão e Luís Salema, legistas. E, sendo-lhe lido este teste-
} /. 130v. munho, disse que estava escrito na verdade; e do costume// disse o que tinha
dito atrás. do dito Francisco Soares e dos outros dois,. nada. E declarou mais
que, este Fevereiro próximo passado, nesta cidade, se achou ele declarante em
casa e companhia dos ditos Vicente Soares e Francisco Soares de Albergaria, e
de Cristóvão Teixeira; e, estando todos os sobreditos, Vicente Soares e Fran-
cisco Soares mostraram ambos e cada um deles um pistolete, com os canos
pouco mais de palmo, com fechos de pederneira. E, perguntado pelas causas de
inimizade que havia entre ele declarante recusante e os ditos recusados, disse
que não havia nenhuma mais que não serem amigos; e que, depois de se decla-
rarem por inimigos, se falam de barrete, e de muito tempo a esta parte. E mais
não disse, nem lhe foram feitas mais perguntas. E assinou com o dito Refor-
mador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reitor
e Reformador. Francisco de Leiria Monteiro.

Aos vinte dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Doutor nos Sagrados Cânones,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir, perante si, a
Pero do Couto, solteiro, filho de Pero do Couto e de Maria Francisca de Maga-
lhães, naturais da vila de Canaveses, estudante canonista, morador em casa//
fl. 131 de Inácio Coutinho, na Rua de S. Jerónimo, testemunha referida, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,

171
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de vinte e dois anos de idade.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois, em especial, pelo que de
cada um deles sabia, disse que não sabia coisa alguma. Perguntado segunda
vez, mais in specie, se, de um ano a esta parte, sabe que algum estudante das
classes menores tenha dois pistoletes, cujos canos um é de palmo, pouco mais, e
outro quase de dois, com fechos de pederneira, que ele declarante sabe tê-los o
dito estudante e lhos viu, disse que não sabe de tal, nem tal viu. Perguntado se
conhece a Frutuoso de Basto, estudante da quarta classe, e de que tempo a esta
parte, perguntado se lhe viu algum pistolete, e sabe que ele o tenha e traga, disse
que nenhum lhe vira, nem sabia que o trouxesse nem tivesse. E, sendo-lhe lido
este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim,//
fl. 13/v. e do costume nada E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Pero do Couto.

Simão Fernandes, casado com Maria de Lucena, morador em Lorvão,


estudante médico, morador fora da porta do Castelo, defronte de S. Bento, a
quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de trinta e um anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por
outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois, em especial, pelo que de
cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, no discurso de todo
este ano e curso escolástico, nesta cidade, ora em sua casa ora na de Félix// ·
fl. 132 Lobo de Morais, estudante da décima classe das Escolas Menores, natural do
Espinhal, se achou ele declarante em companhia do sobredito, e de Pero Neto,
estudante da terceira classe, de Miranda do Corvo, e assim lhe mostrou o dito
F.élix Lobo um pistolete, com cano de palmo e meio bom, e fechos de peder-
neira; e ele declarante o teve na mão; e o trazia na cinta ordinariamente. Disse
mais que, este ano presente, duas outras vezes, perto da Páscoa, nesta cidade,
viu ele declarante um pistolete de fechos de pederneira na cinta de um estu-
dante, a quem não sabe o nome, e é do Alentejo, não sabe donde, que será de
vinte e dois anos, preto do rosto, e lhe começa a barba de preto; magro dele e

172
do corpo, de meã estatura, não sabe onde aqui vive, ainda que lhe parece que
na Couraça ou no bairro de S. Pedro; e não deu fé de quantos palmos poderia
ser, nem dele sabe mais confrontações. Disse mais que, a dois outros dias do
mês de Maio próximo passado, pouco mais ou menos, estando ele declarante à
sua janela, que é junto à cerca dos padres de S. Jerónimo, e defronte dois
clérigos, a saber, Inácio Dias, capelão da Sé, que vive na Rua das Flores, junto
às casas do Bispo, e Bernardo de Abreu, que vive junto ao chafariz da Feira,
conversando uns com os outros, à noite, depois das Avé Marias, ouviram gritar
e vir a uma Isabel de Figueiredo, mulata, que vive junto a João Borges, médico,
com as mãos nas faces, dizendo que a mataram, toda lavada em sangue;
e, acudindo-lhe todos três, lhe viram em cada face uma cutilada muito grande.
E, posto que aí não se queixou de pessoa alguma, depois dizem que o fez de um
!. IJ2v. alfaiate, // seu vizinho, por nome fulano Fernandes ou Gonçalves. E, agora, é
público que se diz que lhas deu Francisco de Leiria, como ouviu a Gregório
Barbosa, estudante médico, criado do Dr. Luís Ribeiro de Leiva; e, antes disso,
tinha ouvido a Paulo da Fonseca, médico, casado em Lorvão, e vive na rua dos
Estudos, que lhas dera João de Resende, irmão do tesoureiro do Fisco. E os
ditos clérigos viram a pessoa que lhas deu, posto que dizem que a não conhece-
ram. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este
testemunho, disse que estava escrito na verdade, e do costume nada. E assinou
com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor. Simão Fernandes.

Manuel Figueira, bacharel em Medicina, casado com Maria Monteira,


natural da vila de Fronteira, morador no bairro de S. Pedro, desta cidade, em
casa do licenciado André Cardoso, opositor legista, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim; e disse ser de idade de trinta e quatro anos. Perguntado
/7 IJJ se// sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem,
lhe pediu que, sendo perguntado, na visita desta reformação, calasse a verdade
ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Per-
guntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme
a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois, em especial, pelo que de cada
um deles sabia, disse que o que deles sabia era que o Dr. João Bravo, lente de
Véspera de Medicina, assim na dita cadeira como na de Prima, que ora lê de
substituição, sempre deu a escrever todos os quartos, sem explicar, com o que
os estudantes não entendem a postila, e, assim, há seis anos que anda no nono
Ad Almansorem. Disse mais que o Dr. Gonçalo de Paiva, por respeito de sua
velhice, o não ouvem bem. Disse mais que o bedel da dita Faculdade de Medi-

173
cina é homem que, em todas as casas alheias, os mais dos dias, janta e ceia, e,
além de não estar bem a tal oficial aceitar de jantar e ceia aos estudantes, de
tal modo bebe que se embebeda nas ditas casas, e ele declarante o viu, de modo
que houve lástima dele; como foi particularmente em casa dele declarante, o
ano passado, em uma noite das mesas dos licenciados em Artes, estando presen-
tes e ceando também António de Pina, de Linhares, e Sebastião Jorge, desta
cidade, ambos médicos, que vivem à Misericórdia, e o António de Pina, à Sé, e
noutras muitas casas o viu do mesmo modo; e é público e notório, em toda
esta Universidade, ser o dito bedel bêbado, e, quando o não esteja, andar ao
menos esquentado do vinho, de que há grande escândalo nela, em tanto que lhe
fl. 133v. não // chamam senão "bedel". Disse mais que, de seis anos que há que se
matricula nesta Universidade, em todos eles lhe levou o secretário Rui de Albu-
querque um vintém, e viu que todos os mais lhe deram o mesmo e ele o aceitou.
E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-he lido este
testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o
dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Manuel Figueira.

Aos vinte e dois dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Doutor nos Sagrados Câno-
nes, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Paulo da Fonseca, solteiro, filho de António da Fonseca e de Catarina
Nogueira de Brito, da vila de Aveiro, bacharel formado em Cânones, morador
na Rua de Tinge-Rodilhas, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e ,mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
/7. 134 meteu de o fazer assim; disse ser de // idade de vinte e nove anos. Perguntado
se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por
outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Pergun-
tado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a
eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois, em especial, pelo que de cada um
deles sabia, disse que o que deles sabia era que, na catedrilha de Código, à qual
foram opositores os Drs. Cid de Almeida, colegial de S. Paulo, e Luís de Góis,
colegial de S. Pedro, a levou o dito Cid de Almeida, depois de estar vaga; que,
haverá cinco anos, pouco mais ou menos, estando ele declarante nesta cidade e
pousado na Rua de Tinge-Rodilhas, o mandou chamar o Dr. António Homem,
lente de Prima de Cânones, por um pagem seu, a quem não sabe o nome. E, ao
outro dia, porque ele declarante lá não foi, saindo da lição de Prima, lhe pediu
lhe fizesse mercê de lhe dar uma palavra, à tarde, em sua casa. E, indo nesse
174
mesmo dia lá, às casas em que agora vive, e, estando ambos sós, o sobredito lhe
pediu que quisesse, na dita cadeira, votar pelo dito Dr. Cid de Almeida, porque
lhe tinha muitas obrigações, e era seu parente, e lhe faria nisso muita mercê;
e ele lhe respondeu que faria o que fosse justiça, e trabalharia por o servir.
E que também fora com ele declarante Manuel João Pereira, voto que também
então era na dita cadeira, e agora advogado na vila de Aveiro, e o dito
Dr. António Homem lhe falou também, de parte, na dita casa, e pediu o
mesmo, porque depois de lhe falar em particular, estiveram todos três falando
11. 134v. nisso mesmo, e ele ratificando-lhe o sobredito; e assim lho disse// depois o dito
Manuel João Pereira, que o dito Doutor lho pediu em particular, e que aí
estavam outros muitos estudantes, que não conheceu, nem sabe se lhe pediu o
mesmo. E que ao dito Manuel João Pereira ma, digo, dera o dito Doutor uma
caixa de marmelada, que ele declarante viu; e ali não passaram mais, nem sabe
que o dito Doutor subornasse mais alguma pessoa. E que isto é o que só
sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo perguntado pelos estudantes que
conhecia desta cidade, disse que conhecia a Jorge de Almeida, e a seu cunhado
fulano Gomes, e a Manuel de Sousa, e a Constantino da Cruz, e João da
Fonseca, e Manuel Correia, filho de um mercador que chamam João António,
e a Pero da Costa. Perguntado se sabe que algum deles tivesse, o ano passado,
e de então para cá, ou dantes, algum pistolete pouco mais de palmo, disse que
não, que lembrado seja, pelo que lhe não foram feitas mais perguntas nem
perguntado pelos referimentos que nele fez Jacinto da Rocha. E, sendo-lhe lido
este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou
com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor. Paulo da Fonseca.

Cristóvão Dinis de Sousa, solteiro, filho de Manuel Dinis, da cidade do


Porto, opositor na Faculdade de Leis nesta Universidade, e morador defronte
dos padres de Santo Elói, testemunha referida, a quem o Reformador//
17. 135 D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão. E, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e seis anos. Perguntado se
sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe
pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado
pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é
obrigação inquirir, em geral, e, depois, em especial, pelo que de cada um deles
sabia, disse que o que deles sabia era que, haverá três anos, pouco mais ou
menos, que, vivendo nesta cidade, fora da porta do Castelo, em umas casas de
Maria Dias, indo, a seu requerimento, penhorá-lo não sabe que meirinho, e com

175
o escrivão Sebastião Lopes da Costa, escrivão da almotaçaria e taxas desta Uni-
versidade, e feita a dita penhora em um copo de prata que tinha a quantia dela,
vindo ele declarante das férias e querendo tirar o seu copo, que achou depositado
em casa do dito escrivão, o sobredito, pelo termo que disso fez, lhe levou três
tostões, que, contado na forma da ordenação, lhe viria muito menos, como cons-
tará dos actos da dita penhora, que estão em poder do dito escrivão; e, por mais
réplicas que a isso pôs, não deixou de lhe levar os ditos três tostões, como de
feito levou. E que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios; pelo que,
;l. JJ5 v. sendo, digo, lhe não foi lido o referimento que nele faz João// de Caminha.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse que estava escrito na verdade, e do costume
nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Cristóvão Dinis de Sousa.

Bartolomeu Gonçalves Castelo Branco, solteiro, filho de Rui Gonçalves


de Castelo Branco, da cidade de Lisbol;l, bacharel legista, morador à Pedreira,
testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou
vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos,
em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de vinte e quatro anos. Perguntado se sabe ou presume para que é cha-
mado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na
visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que
tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatu-
tos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e,
fl. /J6 depois disso, em// especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que
deles sabia era que, haverá dois meses, pouco mais ou menos, que,passando ele
declarante, às quatro horas da tarde, pela feira dos estudantes desta cidade, viu
a uns estudantes, que não conheceu, em trajos escolásticos, que deviam ser das
Escolas Menores, e assim o disseram aí logo, uns com facalhões de três e quatro
palmos de comprido, outros com terçados, andarem brigando uns contra os
outros, e um deles, desbarbado, que seria de dezoito até vinte anos, atirou aos
outros com um pistolete, cujo cano seria mais de palmo e meio, e de fechos de·
pederneira, e, tomando fogo, disparou com efeito, ainda que não feriu nem fez
nojo a pessoa alguma, e ali de um terçado ou faca saiu um ferido em uma
ilharga, e não ouviu dizer, nem sabe por via alguma, quem eles sejam. Disse
mais que, há cinco anos que cursa e se matricula nesta Universidade, e que, em
todos, deu ao secretário Rui de Albuquerque um vintém por isso; e viu que os
mais lhe davam o mesmo por se matricularem, e ele o recebia, e que isto só era
o que sabia dos ditos interrogatórios. Perguntado onde acabou o Latim e com
que condiscípulos, disse que andara com o mestre da Sé da cidade de Lisboa, e
aí fora seu condiscípulo Gonçalo Mendes de Freitas, de rosto preto, clérigo que

176
hoje é, e dizem ser filho de um mercador que vive na Rua de Mata-Porcos, e
Manuel Soares Pereira, clérigo também, estudante formado em Cânones, e daí,
Jl. J36v. deixando os sobreditos ainda na Sé, passou ele declarante, por exame,// à
primeira classe dos Padres da Companhia de Santo Antão da cidade de Lisboa,
com o padre Gaspar Fernandes que foi seu mestre; e foram seus condiscípulos
Francisco Coelho Serrabodes, estudante legista, e Francisco Serrão, estudante
canonista, de Lisboa, e Pero Velho do Rego, estudante legista, outrossim de
Lisboa. E que, sendo isto no ano de seiscentos e treze, que se acabou em
Agosto do dito ano, no ano seguinte andava no primeiro curso das Artes do
dito Colégio; não lhe lembra o nome do mestre; e que, nem nas ditas Artes nem
na dita primeira classe, os ditos Gonçalo Mendes e Manuel Soares foram seus
condiscípulos; nem lhe foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe lido este tes-
temunho, disse que estava escrito na verdade, e do costume nada. E assinou
com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor. Bartolomeu Gonçalves Castelo Branco.

Aos vinte e cinco dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove


anos, nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de
D. Francisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Doutor nos Sagra-
dos Cânones, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir
fl. 137 perante si a Manuel Aires de Almeida, solteiro, filho// de Diogo Gourão de
Almeida, da cidade de Portalegre, bacharel legista, morador à Pedreira, teste-
munha referida, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evange-
lhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse
ser de idade de vinte e quatro anos. Perguntado se sabe ou presume para que é
chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado
na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de
que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos
Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em
geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que
nenhuma coisa deles sabia. Perguntado pelo primeiro e segundo referimento
que nele fez Brás Gomes de Ávila, pelo primeiro em geral, calados os nomes,
disse que, este entrudo próximo passado, alguns dias antes, e depois dois ou três
dias de acontecer uma briga que houve à porta do pátio do Mosteiro de Santa
Ana, entre alguns estudantes, de uma parte Gaspar da Fonseca, estudante ·
canonista, filho de Lucas da Fonseca, de Alter do Chão, e Manuel Falcão,
estudante legista, de Portalegre, e Simão Correia de Lacerda, estudante cano-
nista, outrossim de Portalegre, e um mulato, por nome Pedro Carrilho, forro,
da dita vila de Alter do Chão, e da outra parte Luís de Carvalho, estudante, de
fl. 137v. Lisboa, e Manuel Faia, legista,// e Luís Mendes Palma, todos de Lisboa, e Luís

177
Salema, estudante legista, que também era da parte do dito Gaspar da Fonseca,
na qual, sendo público e notório que o dito Manuel Faia atirou com um pisto-
lete ao dito Gaspar da Fonseca, e que, tomando fogo, lhe deu com os pelouros
em um braço, que por milagre o não matou nem feriu, e que o dito mulato
feriu na cabeça e em uma perna ao dito Manuel Faia, achando-se ele declarante
em casa e companhia do dito Gaspar da Fonseca, que vive com sua tia
D. Mécia, e dos ditos Manuel Falcão e Luís Salema, os sobreditos lhe contaram
a dita briga; e o dito Gaspar da Fonseca lhe mostrou o dito pistolete, com que
lhe atirara o dito Manuel Faia, que na dita briga lhe tomaram, cujo cano será
pouco mais de palmo, pouco mais ou menos, com fechos de pederneira; e que
nunca mais lho viu em outra alguma parte, que lembrado seja. E perguntado
pelo dito segundo referimento, primeiro em geral e, depois, em particular, disse
que não sabia terem pistoletes os ditos Manuel Falcão e Luís Salema, que
lembrado seja. E mais não disse, nem lhe foram feitas mais perguntas. E, sen-
do-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Manuel Aires de Almeida. //

fl. 138 Francisco de Leão Furtado, solteiro, filho de Bartolomeu João, natural da
vila do Barreiro, bacharel legista e opositor na dita Faculdade, morador na
Couraça, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante
si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que
pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo
no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de
vinte e sete anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se
alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a
esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos
reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e,
depois disso, em especial,pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles
sabia era que, haverá dois meses, pouco mais, nesta cidade, em casa dele decla-
rante, de dia, se achou Luís Mendes, estudante canonista, natural da vila de
Pedrógão, e anda de chapéu, criado de Fabricio Bembo, estudante outrossim
canonista, e, estando ambos os dois, o sobredito Luís Mendes, entre outra<;
coisas, lhe disse que o dito Fabricio Bembo, seu amo, não tinha o primeiro
curso das Artes, e assim, se lhe quisesse pôr essa excepção quando fosse a votar
na cadeira de Instituta, que se havia de vc_1gar, como de feito vagou, o podia
.fl. 138v. fazer; e, por esta ocasião, e de lhe perguntar// como não tinha ele o dito curso
de Artes, lhe disse mais que era porque o dito seu amo, sendo muito amigo do
padre Diogo de Areda, da Companhia de Jesus, e estando na sua cela no Mos-
teiro de S. Roque de Lisboa, e vendo nela o selo da Companhia, o imprimira

178
em uma pouca de cera, e, por ela, mandara fazer um sinete, com o qual selara
uma certidão falsa, que ele mesmo fizera, em nome dos padres de Santo Antão,
pela qual houvera o dito curso de Artes, que, na verdade, não tinha; e que o
sabia assim por lho contar o dito seu amo. E que entende e lhe parece que isto
mesmo lhe contou, no mesmo tempo, pouco mais ou menos, em casa dele decla-
rante, Heitor Pita, estudante do terceiro curso de Artes, do Colégio da Compa-
nhia, desta Universidade, e Sebastião Álvares da Silva, opositor legista, deve de
saber o sobredito, se o quiser dizer, porque é grande amigo do dito Fabrício
Bembo. E entende ele declarante que é falso , assim pelo que tem dito que
ouviu, como porque o dito Fabrício Bembo, na cadeira que levou o Dr. Diogo
Mendes Godinho, o não votou, e, como seu amigo, tratando com ele sobre os
cursos, soube dele que não tinha tal ano de Artes; e com ele, este é o seu sétimo
ano. Disse mais que, aos quatro de Junho deste presente ano, pela manhã,
depois de feito o auto de bacharel, que lhe não lembra agora como se chama, e,
f1. 139 tratando os lentes e votando sobre// a sua aprovação, lhe deixaram um R, que,
além de ser público na sala darem segundos papéis de AA e RR para tornarem
a votar, como ele declarante viu, e toda a mais sala, lhe disse o Dr. Duarte
Brandão, lente condutário, que assistiu e votou na dita aprovação, que nela lhe
lançaram o dito R; e, sem embargo desta notoriedade, e de o estatuto o proibir
aos ditos lentes e ao dito secretário consenti-lo, e fazer auto do segundo escrutí-
nio e não do primeiro, sob pena de perdimento do seu ofício e doutras penas, os
ditos lentes tornaram a votar em segundo escrutínio; e o dito secretário devia de
fazer o auto do segundo escrutínio e não do primeiro, como dele constará,
e dos ditos lentes e de toda a mais pessoa que ali se achou. Disse mais que,
haverá vinte e tantos dias que, nesta cidade, se achou em casa e companhia de
Gonçalo Varela, bacharel formado em Cânones, da vila de Santarém, e,
estando ambos, o sobredito lhe disse que o secretário Rui de Albuquerque lhe
fora pedir que, pois estava formado, se fosse embora sem provar o curso, para
que o não perguntasse o Reformador na visita que fazia, e que ele lhe satisfaria
o tempo que lhe fosse necessário para poder requerer a Sua Majestade, e, de
feito, sabe que o dito Gonçalo Varela se foi sem provar o dito curso, dizendo-
-lhe mais que o não quisesse destruir, sabendo que tinha que dizer dele bastan-
temente. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios; como, de dez
.fl. 139v. anos a esta parte que há que se matricula, em todos eles o dito Rui// de Albu-
querque lhe levou um vintém, e viu que assim o levou e leva a todos os outros.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume
nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Francisco de Leão Furtado.

Jerónimo da Silva, solteiro, filho de Francisco de Azevedo e de Leonor


Pedrosa, naturais da cidade do Porto, estudante legista, morador na Rua do

179
Colégio de S. Paulo, testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco
de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dis-
sesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de vinte e cinco anos. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo
perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogató-
rios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inqui-
fl. 140 rir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de// cada um deles sabia,
disse que o que deles sabia era só ser público nesta Universidade, e não lhe
lembra, ao presente, a que pessoas o ouviu, que Rui de Albuquerque, secretário
dela, vende cursos e tempo por dinheiro a quem quer, e também lhe não lembra
que pessoas lhe nomeassem a quem houvesse vendido os ditos cursos; e que, de
três anos que há que se matricula a esta parte, em todos o dito Secretário lhe
levou, por isso, um vintém, e viu que assim o levava aos demais; e que isto era o
que só sabia dos ditos interrogatórios. Pelo que, perguntado pelo referimento
que nele fez João Cardoso, em geral e, depois, em especial, disse que dele não
sabia mais que, vendo agora, depois desta Páscoa próxima passada, não lhe
lembra ao certo em que tempo, em casa de Francisco Tavares Pinheiro, com
quem pousava o dito Luís de Carvalho, estudante canonista, de Lisboa, um
pistolete de cano de palmo, pouco mais, com fechos de pederneira, e pergun-
tando cujo era, o sobredito lhe disse que era de Duarte da Silva, estudante
legista, de Lisboa, a quem o pedira emprestado o dito Luís de Carvalho, e, posto
que, como quem andava de brigas, o devia de trazê-lo, não o viu nunca na
cinta; e mais não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na
verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agosti-
nho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Jeró-
nimo da Silva.

fl. 140v. Aos vinte e seis dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Doutor nos Sagrados Câno-
nes, ReforJ:!1ador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Sebastião Alvares da Silva, filho de Diogo da Silva, natural de Azeitão, bacha-
rel legista e opositor nesta Universidade, na dita Faculdade, morador acima da
Porta da Traição, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo
dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu
de o fazer assim ; e disse ser de idade de vinte e sete anos. Perguntado se sabe
ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu

180
que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse
o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obriga-
ção inquirir, em geral, e, depois, em especial, pelo que de cada um deles sabia,
JI. 141 disse// que o que deles sabia era que lhe parecia, em sua consciência, que os
mais dos cursos de Artes que se admitem aos estudantes desta Universidade,
particularmente de Évora e deste Colégio da Companhia, alguns são falsos,
porque Pero Moreira Marsino, natural da ilha da Madeira e nela morador,
bacharel formado em Cânones, teve, nos cursos com que se formou, o primeiro
de Artes da Universidade de Évora, que lhe levaram em conta, e sabe ele decla-
rante que o dito curso e carta de bacharel era falsa, porque o sobredito, estando
ambos sós, assim mesmo lho confessou, e do teor, digo, e da letra c!ela assim o
julgou ele declarante, e se verá por ela, e constará do livro do dito curso de
Évora. Que a respeito deste curso escolástico ser o sexto, em que o sobredito se
formou, deve de haver nove anos que ouviu as ditas Artes, se as tivera; e dos
livros constará como se formou só com os ditos seis anos; e o como não o sabe;
e, além disso, nas mesmas cartas de pergaminho verdadeiras, raspam o nome
verdadeiro e põem o da pessoa que quer furtar os ditos cursos de Artes; e,
assim, a dita carta fica servindo deste modo a dois e a três, porque assim o
ouviu a estudantes que o fizeram, cujos nomes lhe não lembram, e a António
Viegas, já defunto, lente desta Universidade, dos três livros de Código, o qual
lhe disse também que assim o fazia para alguns seus amigos. E entende que ele
foi o que inventou a falsidade dos cursos de Artes por este modo. E que os
fl. 14/v. deste Colégio// sabia ele declarante que se furtavam, como tinha dito, porque, o
ano passado, ou o outro atrás, nesta cidade, em casa de Cristóvão de Castro,
estudante canonista, de Monção, já defunto, se achou ele declarante em compa-
nhia do sobredito e de Fernão Botelho, estudante legista, de Palmela, outrossim
defunto, bacharel corrente na dita Faculdade, e, estando todos três, por ocasião
do dito Fernão Botelho se querer formar para poder casar, como estava contra-
tado, e saber que o dito Cristóvão de Castro falsificava as letras e sinais, lhe
pediu lhe quisesse fazer um passe falso do Reitor do Colégio da Companhia
desta Universidade, Francisco de Mendonça, e que, por isso, lhe daria alguma
coisa, e de feito logo aí viu ele declarante fazer ao dito Cristóvão de Castro o
dito passe na forma costumada, e com ele se foi ao Secretário Rui de Albu-
querque para lhe passar a certidão costumada, como de feito passou, e, depois
de passada, o dito Cristóvão de Castro, em presença dele declarante, lhe pôs o
sinal do dito Reitor Francisco de Mendonça, tão próprio que o dito Rui de
Albuquerque por ele lhe lançou o dito primeiro curso de Artes no livro das
provas deles do dito ano, pouco mais ou menos, e que será falso constará dos
ditos livros das provas e dos do curso dos Padres da Companhia; e que por
aqui julga que assim o fazem muitos, posto que em particular não sabe de

181
outro, e que o mesmo será das outras partes, donde tragam certidão de seme-
fl. 142 !bantes cursos;// e que será de grande utilidade do bem comum advertir-se e
dar-se ordem, para que não haja tanto curso de Artes falso, como entende que
serão as duas partes desta Universidade. Disse mais que, este presente ano
escolástico, no mês de Dezembro próximo passado, não lhe lembra a quantos
dele, se formou nesta Universidade em Leis Gonçalo Vaz Freire, da cidade de
Lisboa, com lhe faltarem nos seus cursos trinta e tantos dias, pouco mais ou
menos; e que não sabe quem lhos deu; e que, antes de se formar, ouviu dizer a
Monteiro, criado de Félix Rebelo de Carvalho, que o sobredito Gonçalo Vaz
Freire mandara por ele a Rui de Albuquerque, Secretário da Universidade, uns
doces e uma bolsa de âmbar; e que isto era o que sabia deste particular. Per-
guntado se sabe que o dito Rui de Albuquerque lhe deu, ou quem, os ditos
trinta e tantos dias, ou presume que ele os desse, disse que não sabia que o dito
Rui de Albuquerque lhos desse, nem o presume, mas que lhe parece que o dito
Gonçalo Vaz Freire os houve falsificando os cursos, e o dito Rui de Albuquer-
que consentindo nisso; e que, para o ter propício para isso, entende lhe mandou
os ditos doces e bolsa, porque, sabendo que faltavam os ditos dias ao dito
Gonçalo Vaz Freire, lhe subscreveu as cartas de formatura, sem o declarar ao
Reitor, nem lhe pôr a isso dúvida nem impedimento algum ; e, havendo de antes
regulados seus cursos para bacharel, e por aí vendo que se não podia formar no
dito tempo, que Bartolomeu Fernandes, que então servia por ele, lhe regulou,
sem cair na dita falsidade que ele tinha cometido, e que sabe o sobredito, por
fl. 142v. lhe haver visto os cursos antes de // falsificados, e por eles ver que se não podia
formar senão em Fevereiro, pela dita falta. E que não sabe que, por isso, lhe
desse mais coisa alguma, tirado um presente que lhe mandou de Lisboa, que seu
cunhado Simão Delgado lhe não quis dar, de doces. Disse mais que o dito
secretário Rui de Albuquerque, haverá alguns cinco anos, peu a Manuel Álva-
res de Abreu, já formado em Leis, os dois anos de residência, por votar naquela
conjunção por António Cabral na cadeira que levou, cujo apaixonado foi; o
que ele declarante sabe por o ouvir dizer publicamente naquele tempo, e o
entende e tem para si, porque sabe que não teve dez anos desta terra; porque
logo então se formou e se foi dela, sem mais tornar a esta Universidade. E, pela
sua intrância, se verá como, ao tal tempo, não tinha os ditos dez anos. Disse
mais que, haverá dois anos, pouco mais ou menos, que nesta Universidade se
formou António de Sequeira, legista, de Lisboa, e Gaspar de Seixas, bedel de
Medicina, assistindo por seu cunhado Gaspar de Sampaio, bedel de Leis e
Cânones, ao ponto, porquanto o secretário da Universidade, sem embargo de
pertencer ao seu ofício assistir a eles para tomar as folhas, o não fazia, em
tempo que era Reitor o Bispo D. João Coutinho, e Vasco de Sousa, que Deus
tem, o sobredito bedel Gaspar de Seixas falsificou o número das folhas, para
ficar dando outro diferente ponto ao dito António de Sequeira; o que ele decla-

182
rante sabe porque, vindo para entrar na casa do dito Reitor D. João Coutinho,
jl. /43 a ver dar o ponto,/ / lho estorvou Cristóvão Mouzinho, colegial que hoje é de
S. Pedro e lente, com quem estudou a dita lição; e porque o papel da dita lição
era mui velho e sujo, e todo escrito da sua letra, que lhe viu em sua casa, de
quatro folhas de papel, que não podia fazer e estudá-la juntamente em vinte e
quatro horas; e o ouviu assim a João Pereira Botado, e o dito Cristóvão Mou-
zinho saberá disso melhor, se o quiser dizer. Disse mais que, neste tempo atrás,
em que serviu de Vice-Reitor o padre mestre Frei Egídio da Apresentação,
vindo ele declarante, por razão de seu ofício de opositor, assistir aos pontos que
ele dava em sua casa e estudo, viu que os pontos se davam onde cada um
queria; porque, ou o bedel Gaspar de Sampaio, que fazia o dito ofício de secre-
tário, ou qualquer frade que queria, dobrava as folhas, ou metia a chave que
trazem pendurada na correia, onde queriam que caísse o ponto, e aí lhe abria o
dito Vice-Reitor, ou o padrinho a quem ele o mandava dar, o que saberiam
todos os opositores que costumam assistir aos pontos, como eram Francisco
Gomes e João Pereira Botado, e outros; e que não especifica nenhuma pessoa
em particular, porque, em todos os pontos que se deram naquele tempo a que
ele declarante se achou, o viu. Disse mais que, no tempo do dito Reitor D. João
Coutinho, vindo o dito Gaspar de Seixas, vindo tomar ponto de bacharel
Álvaro Lopes Tavares, colegial do Colégio das Ordens Militares, o tempo que
na verdade se achar, devendo de ter prometido certo texto que lhe pedisse, e
c_aindo-lhe o capítulo primeiro De his quae fiunt a maiori parte capituli, e o dito
//. 143v. Alvaro Lopes Tavares, e os que com ele// vinham, como era João Pereira
Botado, querendo tomar o dito texto no capítulo primeiro, por ser melhor,
porque nele estaria mais aparelhado e visto, o dito bedel, pela palavra que
parece que tinha dado a Fabrício de Aragão, que assistia como padrinho, não
queria que fosse senão o outro, e para isso alegava o bedel outras folhas, que
não caíram, e, na realidade, ele declarante, como testemunha de vista, via que
ele as falsificara, e as dera, sendo diferentes, ao dito Álvaro Lopes Tavares, se as
ele quisera tomar; e que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios, pelo
que lhe foram feitas as perguntas seguintes. Perguntado se sabe que o dito Rui
de Albuquerque desse ao dito Gonçalo Vaz Freire, além de consentir na dita
falsidade, os dois anos de residência necessários para poder requerer, sem haver
neles estado nesta Universidade, disse que o não sabia; e que bem lha poderia
ter dado sem ele declarante o saber; e que S/lbe que o sobredito não tem desta
Universidade mais que o tempo que lhe foi necessário para se formar, na forma
que atrás tem declarado. Perguntado se sabe que alguns estudantes da cidade
de Lisboa, além dos que tem declarado, tenham lançado, no livro da prova dos
cursos das Artes, falso por diverso modo, cada um deles, disse que nem sabia
que estudante algum de Lisboa tivesse provado e lançado o dito curso nos ditos
/1. 144 livros falso ,// nem que o dito curso falso fosse da dita cidade, posto que, sendo

183
de Lisboa naturais, poderão ter desta cidade, ou doutra qualquer parte, o dito
curso falso, sem que ele declarante o saiba, mais que o que tem declarado.
E, por mais não dizer, lhe não foram feitas mais perguntas; e se houve por
satisfeito no que tocava a ele declarante dos testemunhos atrás. E, sendo-lhe
lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assi-
nou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor. Sebastião Álvares da Silva.

Marcos de Figueiredo, casado com D. Brites de Melo, morador em Vila


Cova, deste bispado de Coimbra, e por dizer que, vindo à sua notícia que,
actualmente, estava visitando e devassando nesta Universidade, para tratar da
reforma dela, e se ter vindo os dias passados, digo, da reforma dela, ele
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor da dita Universidade, e se ter
vindo os dias passados queixar e denunciar a ele dito Reformador do que logo
dirá, e por lhe dizer que, ao tal tempo, não era chegado o Secretário da Refor-
fl. 144v. mação em visita, agora que sabia que era chegado, se tornava a queixar// e
denunciar, e, para dizer verdade, lhe foi dado juramento nos Santos Evange-
lhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, a dissesse e tivesse
segredo, prometeu de o fazer assim, e disse ser de idade de trinta e três anos.
E logo disse que, depois dele declarante vir testemunhar à visita próxirna pas-
sada, que nesta Universidade fez D. Martim Afonso Mexia, Bispo de Lamego e
eleito desta cidade, sobre duzentos e quarenta mil réis que, dando-os ele decla-
rante para alguns votos que haviam de votar na conezia que levou da Sé de
Évora seu irmão, o Dr. Francisco Fernandes de Figueiredo, que Deus tem,
como mais largamente então disse em seu testemunho, e por ser filho famílias
ao dito tempo, e se julgarem por sentença da Junta que houve sobre a dita visita
a seu pai, Marcos Fernandes de Figueiredo, duzentos mil réis, e que lhe pagasse
delas Manuel Rodrigues Navarro, lente de Véspera de Leis, cento e vinte, e
António Gomes, lente de Véspera de Medicina, os oitenta; e porque o dito
António Gomes depositara logo os seus oitenta mil réis para o soltarem de
ordem da mesma Junta, em mão e poder de António Ferreira, ourives de prata
desta cidade, que vive na Calçada, e para execução das sentenças dadas na dita
Junta, por ordem de Sua Majestade, se cometeu// a dita execução a Manuel
Veloso da Veiga, juiz do Fisco desta cidade, e a Martim de Carvalho Vilas-Boas,
vice-conservador que hoje é, e escrivão que foi da dita visita, e se lhes deu por
escrivão das ditas execuções a Francisco Pinto, escrivão do Fisco. Vindo ele
declarante pedir aos ditos Manuel Veloso e Martim de Carvalho os ditos
oitenta mil réis, como procurador do dito seu pai, e,para isso, de mandado seu,
tirando a sentença, depois de a ter tirada, e lançando-se o dito Manuel Veloso
de entender nas ditas execuções, recorrendo ao dito Martim de Carvalho, lhe
disse que, como lhe viesse a vara de conservador, por que esperava, que logo

184
lhos mandaria dar uns e outros; e que, tomando a ele depois de servir já de
vice-conservador, lhe disse que o seu dinheiro se houvera mister para a Junta, e
assim que, como houvesse outro, se lhe pagaria. E para se certificar do que
nisso passava, indo logo ter com o dito António Ferreira, haverá sete meses em
que tudo isto passou, e estando com ele em sua casa, e com o Dr. Manuel da
Costa, cónego da Sé de Lamego, e com António de Osório, filho de Bernardo
da Fonseca, conservador que foi desta Universidade, e se não foram ambos foi
.fl. J45 v. um deles, e, estando todos juntos, por razão das queixas e perguntas que/ / lhe
fez o sobredito António Ferreira, lhe disse que o dito Martim de Carvalho e
D. João Coutinho lho pediram, e que lhe deram um escrito de descarga sua, e
que era o dito dinheiro para o dito D. João Coutinho, para se aviar; e que, por
isso, lhe dera um abraço e uma caixa de marmelada; e que o entende e pre-
sume ele declarante assim, porque o padre Jorge de Almeida, da Companhia de
Jesus, lhe pediu quatro mil cruzados emprestados para o dito D. João, estando
ainda Reitor desta Universidade, e exercitando o ministério da dita Junta, e
sobre a dita visita do dito Bispo de Lamego para as Letras do bispado do
Algarve ; e que, nos ditos quatro mil cruzados, entrariam os duzentos mil réis
que a dita visita e Junta julgara e devia ao dito seu pai Marcos Fernandes de
Figueiredo, como ele declarante tinha já pedido ao dito D. João lhe mandasse
pagar; e porque lhe negou o dito empréstimo e receou que o dito D. João lhos
tomasse a pedir em pessoa, lhe não pediu mais lhe mandasse pagar o dito seu
dinheiro, esperando esta reformação, onde agora declarava o sobredito, para
.fl. 146 que, como procurador que é bastante do dito // seu pai, mande que se lhe
entregue e pague o dito dinheiro, e o depositário o cobre do dito D. João
Coutinho, pois lho emprestou injustamente. E, por mais não dizer, lhe foi lido
este testemunho, e, por ele ouvido, disse estar escrito na verdade, e do costume
nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. ·
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Marcos de Figueiredo.

Aos vinte e sete dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Doutor nos Sagrados Câno-
nes, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Baltazar do Vale, solteiro, filho de Gonçalo do Vale, dos Arcos de Valdevez,
bacharel canonista e opositor ao Colégio de S. Paulo, morador sobre as Ribas,
testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse
.fl. 146v. verdade e tivesse segredo no que lhe fosse // perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de vinte e três anos. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo
perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário

185
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogató-
rios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inqui-
rir, em geral, e, depois, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que
não sabia deles coisa alguma. Pelo que, perguntado pelo referimento que nele
fez Miguel de Coimbra, calados os nomes, disse que lhe parece que, este mês de
Abril próximo passado, não lhe lembra a quantos nem em que parte, disse a
um João de Freitas, canonista, de Guimarães, por ocasião de querer fazer suas
conclusões, e se queixar de não ter dia, que mandasse ao bedel Gaspar de
Sampaio alguma coisa e que logo teria o dia que quisesse, mas que não sabe se
lho deu, nem que, por isso, lhe mandasse coisa alguma, nem se fez na sua sorte,
Jl. 147 se fora dela ; e que o aconselhou e lho disse, movido de ser// público e notório
nesta Universidade dar o dito bedel os dias, por lhe darem alguma coisa, posto
que não sabe de quem lho mandasse, nem do dia que ele desse ; e que também
poderia dizer o sobredito em outra parte e a outras algumas pessoas, de que lhe
não lembra. E, por mais não dizer, lhe não foram feitas mais perguntas.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume
nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Baltazar do Vale.

João de Carvalho, solteiro, filho de Gonçalo Pires, de Vila Real, bacharel


canonista e opositor na dita Faculdade, morador à portaria do carro dos Padres
da Companhia, testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de
Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de vinte e oito anos. // Perguntado se sabe ou
presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que,
sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o
contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, em geral, e, depois, em especial, pelo que de cada um deles sabia,
disse que o que deles sabia era ouvir dizer a algumas pessoas que o Dr. António
de Abreu, opositor legista, tinha lançado no livro das provas dos cursos o pri-
meiro ano das Artes falso, porque nenhumas. tivera, e assim o licenciado Gon-
çalo Alvo, canonista, da cidade do Porto, não ter o ano de Casos, porque Sua
Majestade lhe fez mercê de tempo; o que ouviu a Manuel Ramos, bacharel
canonista, da dita cidade do Porto; e do dito António de Abreu lhe não lembra
agora em particular a quem o ouviu, mais que ser público, e queixarem-se disso
seus opositores. Disse mais que, haverá dois meses, pouco mais ou menos, que,
nesta cidade, em casa e companhia de Francisco da Fonseca, bacharel cano-
nista, de Celorico, se achou ele declarante, e, estando ambos sós, lhe viu tirar da

186
cinta e pôr sobre uma ~esa um pistolete, cujo cano seria pouco mais de palmo,
e fechos de pederneira. E, pelejando com ele, porque o trazia, lhe disse que o
/1 !48 trazia porque/ / se temia, como na verdade assim era, e não sabe quem mais lho
visse, nem saiba que ele o traga; e também entende que não é seu. Disse mais
que, o ano passado, no mês de Junho, se achou ele declarante em casa e compa-
nhia de Manuel Carvalho da Silva, estudante legista, do Beco, que vive junto ao
Colégio de Santa Cruz, e de Luís de Aguiar Queixada, estudante canonista; e,
estando todos três, viram ao dito Manuel Carvalho um pistolete cujo cano seria
pouco mais de palmo, e fechos de pederneira, que havia comprado a um Balta-
zar de Medeiros, estudante formado em Cânones ; e lhe parece que, ainda este
ano, lhe disse que o tinha. Disse mais que, haverá dois anos que ele declarante
viu e sabe que tinha Diogo Botelho, estudante canonista, da vila de Ourém, um
pistolete de dois palmos de cano e fechos de pederneira; e sabem que ele o tinha
em casa, no dito tempo, António Sodré, estudante canonista, da dita vila de
Ourém, que vive detrás de S. Pedro, e o dito Dr. António de Abreu, atrás
nomeado. E que isto era o que sabia dos ditos. interrogatórios. Pelo que, pergun-
tado pelo referimento que nele fez André Correia de Mesquita, disse que bem
poderia ver o dito pistolete, mas que lhe não lembra. E que, de doze anos a esta
parte que há que cursa nesta Universidade e se matricula, sempre deu ao secretá-
rio Rui de Albuquerque, desde o tempo que há que serve, um vintém por isso, e
viu que assim lho davam todos os mais estudantes, e ele o aceitava. E que, estes
anos atrás, em tempo de D. João Coutinho, não vinha provar os cursos em
jl. 148v. Maio, e se dizia que, a fim // de levar dois vinténs por cada certidão, como de
feito levava, além do vintém do dito curso, quando o provava; e mais não disse.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade. Declarou mais
que, neste tempo que foi Vice-Reitor o padre mestre Frei Egídio, viu que, em
alguns pontos, em presença do dito Frei Egídio, Fabrício de Aragão e Diogo
Mendes Godinho, lentes desta Universidade, os deram abrindo as folhas pouco
mais ou menos onde o estudante queria; e, entre ambos, lho veria fazer seis ou
sete vezes; e o poderá assim dizer Francisco Gomes, opositor canonista. E que o
bedel Gaspar de Sampaio, hoje actualmente nos autos de ponto, a que ele
Reformador não vai, vê ele declarante que, quando vira o relógio para o estu-
dante começar a ler, tem já alguma parte da areia corrida e menos do tempo do
relógio; e sabe que, por isso, o ano passado, e por o meter e lhe dar sorte de
bacharel melhor do que tinha, lhe mandou Manuel Pinto, formado em Cânones,
de Penaguião, três ou quatro galinhas ; e que, pela mesma causa e favor de lhe
tirar da areia do relógio, lhe mandou Manuel Pereira, estudante canonista, de
Britiande, uns doces, o que sabe por assim lho dizer o dito Manuel Pereira;
e lhos devia mandar pelo seu moço. E que aos mais dos bacharéis faz o mesmo,
como dirão assim todos os opositores. E mais não disse, e do costume nada.

187
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor. João de Carvalho.//

fl. /49 Aos vinte e oito dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de O.Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majes-
tade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
António de Sequeira, solteiro, filho de Manuel Sequeira, natural da cidade de
Lisboa, bacharel legista, morador na Rua de Alvaiázere, testemunha referida, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que
lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de trinta
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si
ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois, em especial, pelo
que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, haverá três ou
quatro anos, nesta cidade, em a casa do Conselho e prova dos cursos desta Uni-
versidade, se achou ele declarante no princípio do ano, e, por ocasião de Sebas-
tião de Faria, bacharel formado em Cânones, de junto a Lisboa, da banda de
fl. 1491'. além, de AI/ / cochete, querer passar o curso do ano passado com certidão do
secretário Rui de Albuquerque, e a ele declarante lhe parecer a dita certidão
falsa, por não ser da própria letra do dito Secretário, e, os dias atrás, ver ao dito
Sebastião de Faria, em sua própria casa, exercitando-se em furtar ao dito Rui
de Albuquerque a sua letra, chegando-se a ver a dita certidão, viu que não era a
letra do dito Secretário, antes do dito Sebastião de Faria, porque conhece as
letras de um e outro, por os ver escrever, de modo que não podia deixar de as
conhecer, por mais que as mudasse; e, por esse respeito, se afirma que era
furtada e da própria letra e mão do dito Sebastião de Faria. E por ela viu que
o sobredito provou o dito curso até ao fim de Julho. E entende que ele se iria
desta terra em Maio do dito ano; e que, para furtar aqueles dois meses, usou da·
dita certidão, como constará do livro da prova, que, depois de ter provado o
curso, por ~la provou mais os ditos dois meses de Junho e Julho; e que não viu
acto por que colegisse o dito Rui de Albuquerque dar fé da dita falsidade, para
poder dizer que nela consentiu com mão, ânimo e fé. E, dizendo-lhe aí logo ele
declarante que a letra da dita certidão estava bem mudada, e que não gastara o
tempo debalde em se exercitar nisso, o sobredito Sebastião de Faria lho confes-
fl. 150 sou claramente; não lhe lembra// quem estava presente, e, se se não engana,
assim entende que se chama. Disse mais que, de oito anos a esta parte que há
que se matricula nesta Universidade, em todos lhe levou, por isso, o dito Rui de

188
Albuquerque um vintém; e viu que assim o leva aos demais. Disse mais que,
sendo este ano presente o quinto de Francisco Soares de Albergaria, porque
andou na primeira classe dos Padres da Companhia, deste seu Colégio de
Coimbra, o ano que começou escolástico em Outubro de seiscentos e treze, e
sabe que tem lançado, no livro da prova dos cursos, Artes da Universidade de
Évora; e que, assim, é, entre a vizinhança, notório que ele não tem tais Artes,
porque nunca foi a Évora. Disse mais que, o ano escolástico que começou em
Outubro de seiscentos e catorze, que foi o da Instituto de Vicente Soares de
Albergaria, estudante legista, irmão do sobredito Francisco Soares, e filhos de
Cristóvão Soares de Albergaria, já defunto, vereador que foi da cidade de Lis-
boa, sem cursar nem residir nesta Universidade todo o dito ano, provou o dito
curso no ano seguinte, por uma certidão falsa pedida por outrem em seu nome,
estando o sobredito, ao tal tempo, fora desta cidade; não sabe se lha deu o
Secretário, se o Reitor D. João Coutinho, por onde entende ele declarante que
será em bem comum desta Universidade não haver passarem-se semelhantes
certidões. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. Pelo que, sendo
perguntado pelo referimento que nele fez António de Mendonça, disse que o
que dele estava lembrado era que, servindo de conselheiro, agora faz um ano,
Jl. 150v. pouco mais ou menos, não lhe lembra se era// durando ainda os quinze dias,
porque o Reitor o substituiu, se estando eleito pelo Conselho depois deles aca-
bados, e querendo-se eleger Vice-Reitor pela morte de Vasco de Sousa, que
Deus tem, o padre mestre Frei Egídio, que, como mais antigo, mandou chamar
ao Claustro; e, depois de terem dado recado a ele declarante, e de estar no dito
Claustro, o mandou o dito Frei Egídio sair dele, e, em seu lugar, chamou ao dito
Síntio Acorambone, que não era conselheiro; e entende ele declarante que
era para sair por Vice-Reitor e poder nomear por Reitores os que quisesse,
parecendo-lhe que ele declarante não votasse nas pessoas de que o dito Frei
Egídio tratasse. E mais não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar
escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. António de Sequeira.

Manuel Pereira, solteiro, filho de Manuel Ribeiro, natural da vila de Bri-


tiande, bacharel canonista e morador na Rua dos Estudos, testemunha referida,
a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
fl. 151 mão,// e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no
que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de
vinte e seis anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se
alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a

189
esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos
reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e,
depois, em especial,pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia
era que, o ano passado, depois de provar o curso, no fim de Maio, Francisco
Pereira, estudante legista, filho de António Coimbra, residindo ainda o mês
seguinte de Junho, até ao S. João, nos bacharéis e mais autos, e sendo-lhe
forçado, visse e fazê-lo, sem licença do Reitor, ao menos in scriptis, nem ficar
no livro das provas dos cursos termo feito da sua ida, e, tendo provisão de Sua
Majestade para o Reitor informar sobre a prova do dito mês, pediu ao dito Rui
de Albuquerque, secretário desta Universidade, e a Pero Cabral, colegial de
S. Pedro, que quisesse fazer com o dito Secretário, para escusar de andar com
provisões, que o admitisse à prova do dito mês, o qual lhe pediu; e, no princípio
deste ano, em que isto foi, o dito Rui de Albuquerque, sem embargo de não
haver nem a dita certidão nem o dito termo, contra a proibição do estatuto, lhe
provou o dito mês, como constará do dito livro; o que ele declarante sabe,
Jl. 15/ v. porque é primo co-irmão do dito // Francisco Pereira, e como a tal lho disse; e,
em presença dele declarante, disse o dito Pero Cabral ao dito seu primo que
tinha falado ao dito Secretário, e que lhe respondera que, todas as vezes que
quisesse, lhe provaria o dito mês ; e saber que tinha por provar o dito mês, e que
não tinha a dita certidão, e que, por esse respeito, houvera a dita provisão para
informar, e ele e o dito Pero Cabral o dirão assim. Disse mais que o dito Rui
de Albuquerque a muitos estudantes que se matriculam e vão, para isso, aos
vinte e cinco do mês, dizendo-lhe que vieram aos dezoito ou aos quinze, os
matricula aos quinze e não aos vinte e cinco, em que vão a matricular-se; e isto
aos que quer fazer este favor. E ele declarante o viu fazer a um estudante, que
não conhece nem lhe sabe o nome, e ouviu a outros que assim lho fizera, os
quais agora lhe não lembram. Disse mais que, de sete anos a esta parte que há
que se matricula, em todos lhe levou, por isso, o dito Rui de Albuquerque um
vintém, e viu que assim lho davam os mais. Disse mais que o bedel Gaspar de
Sampaio não dá conta a estudante algum do dinheiro que lhes pede para os
autos e deles lhe sobeja, e para esse fim lhes costuma pedir mais do que neles se
monta; e que a todos os estudantes desta Universidade viu queixar disso; e a ele
declarante pediu três mil e oitocentos réis para o seu auto de bacharel, que fez //
fl. 152 aos dezoito deste presente mês, não se podendo nele montar tanto dinheiro; até
hoje,não lhe tornou o que cresceu, nem lhe deu conta, como não dá, nem ainda
aos que lha pedem, escusando-se disso com dilações em que os traz. Disse mais
que o dito bedel Gaspar de Sampaio, de toJo o estudante que faz autos tem e
aceita presentes, ou por lhe dar o dia que lhe não cabe por sorte, ou por lhe
dizer, quando lhe cai o seu próprio dia, que, sem o dito presente, não quer
declarar, ou por lhe diminuir a areia do relógio, tendo já alguma corrida
quando põe o relógio para o estudante começar a ler; o que sabe porque assim

190
o ouve comummente a todos. E particularmente sabe que lhe mandou João
Moutinho de Mesquita, bacharel legista, de Freixo de Alemão, um presunto
por lhe diminuir da dita areia, como ele mesmo lhe disse ; e ele declarante lhe
mandou também, pelo seu auto de bacharel, quatro ou cinco arráteis de doces,
de que lhe deu depois os agradecimentos; e lhos mandou por o seu moço,
Domingos Coutinho, estudante da segunda classe; e Simão da Fonseca, estu-
dante canonista, de Trancoso, lhe mandou uma porcelana de ovos reais, que
disse lhe custara um cruzado, por lhe dar um dia para conclusões, este ano
presente, porque o seu vinha muito tarde; o que ele declarante sabe porque
assim lho disse o sobredito; e o seu criado, por nome fulano Martins, estudante
das classes menores, não sabe em qual anda e não tem outro, que foi o que lhe
levou os ditos ovos; e que o Simão da Fonseca vive à Porta Nova. Disse mais
que Gaspar de Seixas, bedel de Medicina, está tido nesta Universidade e cidade
fl. I52v. por um bêbado, e daí resultou chamarem-lhe// "bedel"; e ele declarante o viu
com seus olhos, o ano passado, levarem-no dois homens da Rua das Covas
para sua casa nos braços, e tão fora de seu juízo que não pudera lá ir sem eles.
E que todos três não assistem aos autos como devem, e os dois acima nomea-
dos, em todos os doutoramentos a que assistiu, lhe viu ele declarante furtar as
luvas. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido
este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou
com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor. Manuel Pereira.

Ao primeiro dia do mês de Julho de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majes-
tade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Gonçalo Salema, solteiro, filho de Diogo Fernandes Salema, já defunto, estu-
dante canonista, morador na Rua das Parreiras, testemunha referida, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
fl. 153 perguntado, prometeu de o fazer assim;// e disse ser de idade de trinta e um
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si
ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois, em especial, pelo
que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, ao primeiro ou
segundo dia do mês de Maio próximo passado, das oito para as nove horas da
noite, se achou ele declarante nesta cidade, em casa e companhia de Jerónimo
de Tovar, opositor legista, de Lisboa, e de Francisco Dias Mendes, estudante

191
canonista, da dita cidade de Lisboa, e de Luís de Carvalho, estudante legista ou
canonista, de Lisboa, não sabe cujo filho; e, estando assim todos, entrou João
Vieira de Azevedo, estudante legista, da dita cidade de Lisboa, com uma espin-
garda na mão, de pederneira e com o cano de cinco palmos, em corpo, com
roupeta de baeta, e lhe parece que com uma saltimbarca por cima; e, em per-
guntando se estava lá Diogo Nunes de Leão, e respondendo-lhe que não, se
tornou a sair pela porta fora, que todos viram e conheceram, por a casa estar
alumiada com candeias acesas. E, indo todos após ele, chegando ao pé da
escada, ouviram disparar a espingarda e gritar um homem, dizendo que o mata-
ram; que, vindo ele declarante para sua casa, viu que era Jerónimo Salgado,
clérigo de epístola, que com a dita espingarda lhe passou com os pelouros déla a
Jl. 153v. mão esquerda o dito// João Vieira; o que ele declarante sabe porque, ao outro
dia, pela manhã, indo em companhia de Salvador Lopes da Silva, médico, aos
Marianas, onde o dito João Vieira o tinha mandado chamar, aí, estando todos
três, o dito João Vieira o confessou assim; e ainda aí tinha a dita espingarda;
e por pedir a ele declarante que, em seu nome dele João Vieira, se concertasse
com o dito Jerónimo Salgado, como de feito concertou em vinte cruzados e a
botica paga, que montou sete tostões; que tudo ele declarante deu em dinheiro
de contado ao dito Jerónimo Salgado, por ordem do dito João Vieira, que ele
para isso deu; pelo qual dinheiro o dito Jerónimo Salgado perdoou ao dito
João Vieira, por perdão feito nas notas de Diogo Lopes de Sequeira, tabelião
desta cidade. E que isto é o que só sabia dos ditos interrogatórios. E, por ter
satisfeito ao referimento que nele fez Salvador Lopes da Silva, lhe não foi per-
guntado. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Gonçalo Salema.

Gonçalo Vaz Coutinho, solteiro, de Lisboa, bacharel canonista, morador à


.fl. 154 Porta Nova, testemunha referida,// a quem o Reformador D. Francisco de
Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, e prometeu de o·
fazer assim; e disse ser de idade de vinte e dois anos. Perguntado se sabe ou
presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que,
sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o
contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles
sabia, disse que não sabia deles coisa alguma. Perguntado se tem ano de Artes,
donde, e de que anos, quem nele foi seu mestre e condiscípulos, disse que, em
Outubro de seiscentos e doze, este que fará sete anos, no Colégio de Santo

192
Antão da Companhia de Jesus, da cidade de Lisboa, depois de haverem
andado, como atrás, na primeira classe do Latim do dito Colégio, a saber,
Manuel de Saldanha, bacharel canonista, filho de João de Saldanha, Gonçalo
Mendes de Freitas, que hoje é clérigo, amulatado do rosto, estudante canonista,
e Manuel Soares Pereira, outrossim bacharel formado em Cânones no princípio
deste ano, entraram e se assentaram todos quatro, e outros muitos, no primeiro
curso das Artes, que no dito ano leu o padre Luís Brandão, sacerdote de missa
da dita Companhia, que, ao presente, não sabe onde assiste; e cursaram o dito
fl. 154v. ano por// inteiro, vendo-se cursar uns aos outros, de modo que se deixaram de
cursar assim na dita primeira classe, como no dito primeiro curso, ele declarante
o vira e soubera. E, acabado o dito curso, no ano seguinte esteve doente, e ao
terceiro veio para esta Universidade, e, por isso, não sabe se os sobreditos, nos
mais anos, continuaram com as ditas Artes. E que também andara na dita
primeira classe e primeiro curso com eles João Gonçalves da Câmara, estudante
teólogo nesta Universidade, que então se chamava João Fogaça de Eça, e
Manuel de Sousa Reimão, institutário, e outros muitos, que não havia para que
escrever. Perguntado se sabe que algum dos sobreditos tivesse anos de Casos, e
donde, disse que não; antes, sabe que, no dito primeiro curso das Artes, o não
tiveram, porque viu que nelas cursavam, e, lendo-se eles no mesmo tempo em
que elas se lêem, não podiam ouvi-los, pois cursavam no dito primeiro curso das
Artes; salvo se, em algum dia que faltassem nas Artes, fossem ouvir os ditos
Casos a S. Domingos, em Nossa Senhora da Escada, onde eles se lêem. E mais
não disse, nem lhe foram feitas mais perguntas. E declarou aos ditos interroga-
tórios que, de cinco anos a esta que há que se matricula, sempre deu ao secretá-
rio Rui de Albuquerque um vintém por isso, e viu que assim o levou aos
demais; e, às vezes, quando não há troco, lhe dão mais do vintém. E, sendo-lhe
/1. 155 lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do// costume nada. E assi-
nou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor. Gonçalo Vaz Coutinho.

João Moutinho de Mesquita, solteiro, filho de Luís Moutinho de Mes-


quita, já defundo, da vila de Freixo de Alemão, bacharel legista, morador no
bairro de S. Pedro, na Rua de Alvaiázere, testemwlha referida, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,
prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de trinta anos. Perguntado se
sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por
outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Pergun-
tado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a

193
eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois, em especial, pelo que de cada um
deles sabia, disse que o que deles sabia era que, haverá onze ou doze anos, ou o
tempo que na verdade se achar, nesta cidade, na oposição em que Jorge Cor-
fl. 155v. reia, desembargador// que hoje é da Casa do Porto, e colegial que então era do
Colégio de S. Pedro, levou a catedrilha de Instituta, ou em outra oposição sua,
não está bem lembrado qual delas foi, em uma noite da vacatura, ele declarante
foi, em companhia de Lourenço Freire, licenciado por exame privado em Câno-
nes, filho de João Freire de Andrade, ao dito Colégio. E, chegando à porta da
cela do dito Jorge Correia, e lhe não lembra agora se era no corredor de baixo
se no de cima, e, abrindo-lhes, tanto que conhece ao dito Lourenço Freire, disse
que lhe queria uma palavra; e o meteu para dentro e fechou a porta. E, pela
ruim presunção que ele declarante tinha do dito Jorge Correia, tanto que
fechou a porta, pondo-se ele declarante a espreitar pelo buraco da chave, viu
que o dito Jorge Correia pegou no dito Lourenço Freire, estando ambos sós na
dita casa, e o dito Lourenço Freire ir recuando e afastando-se. E porque enten-
deu que era querê-lo abraçar e fanchonar com ele, bateu ele declarante na porta
mui rijo, dizendo que abrisse, com que ele o fez logo, e se saiu o dito Lourenço
Freire de suas mãos, e nisto entrou ele declarante. E não falou com o dito
Lourenço Freire ali nem depois nesta matéria, para mal nem para bem, nem
com o dito Jorge Correia. Disse mais que é público e notório, entre os estudan-
.fl. 156 tes, que a maior// parte deles mandam a Gaspar de Sampaio, bedel de Cânones
e Leis, presentes, uns por lhes dar dia antecipado da sua sorte, outros por lhes
pôr o relógio a correr antes de começar o auto, e terem já alguma areia corrida.
E ao presente lhe lembra que lhe disse Luís Salema, estudante legista, de Lis-
boa, que Manuel Aires de Almeida, estudante bacharel em Leis, lhe mandara
umas meias de seda ou valia delas, por lhe ter corrida alguma areia quando lhe
pusesse o relógio no seu auto de bacharel que fez este ano, e que Manuel
Pereira, bacharel canonista, de Britiande, disse a ele declarante que, pelo
mesmo, lhe mandara uns poucos de doces, que valeriam quinhentos réis, pouco
mais ou menos; e ele declarante lhe mandou um presunto quando fez o seu
auto de bacharel este ano, por as ditas razões, posto que ele lhe não fez nada de .
que ele declarante desse vista. E que isto era o que sabia dos ditos interrogató-
rios. Perguntado se sabe que alguns estudantes tragam pistolete, ou o tives-
sem o ano passado, disse que não lhe lembra de nenhum; pelo que lhe não
foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar
escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador, e eu,
Agostinho de Aguiar, da terceira classe, e diz António da Costa. Sobredito
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. João Moutinho de
Mesquita.

194
J7. 156v. Aos três dias do mês de Julho de mil e seiscentos// e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
António Lopes de Almeida, solteiro, filho de Sebastião Álvares Negrão, natural
da vila de Santarém, bacharel legista, morador detrás do Paço do Conde, tes-
temunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evange-
lhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e
disse ser de idade de vinte e cinco anos. Perguntado se sabe ou presume para
que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo per-
guntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogató-
rios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inqui-
rir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse
que não sabia deles coisa alguma. Pelo que, perguntado pelo referimento que
nele fez Inácio de Brito, calados os nomes, em geral, e, depois, em especial, disse
que de semelhante matéria não sabia tal, nem tal lhe acontecera; e o que só sabia
de semelhante matéria era que, haverá sete anos, nesta cidade, na oposição
Jl. 157 do Dr. / / António de Mariz, já defunto, foi ele declarante, de noite, a casa do
Dr. Cristóvão Mouzinho, lente que hoje é de Código e colegial do Colégio
de S. Pedro, e ao tal tempo opositor da catedrilha de Instituta, que levou o
dito . António de Mariz; .E, por ver e achar _aí, na mesma casa, a Francisco
Machado, estudante do Latim, filho de Jorge Fernandes Machado, já defunto,
criado que foi do bispo D. Afonso de Castelo Branco, e lhe parecer mal, por o
dito moço ser bem assombrado, posto que era na vacatura da dita cadeira, e
que lhe não viu coisa de que pudesse presumir mal, e dar conta desta sua
temerária presunção a algumas pessoas que lhe não lembram, resultaria o refe-
rimento; mas que isto era o que se passou na verdade, e não o que contém
o dito referimento. E mais não disse, nem lhe foram feitas mais perguntas.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume
nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. António Lopes de Almeida.

Adriano Reimão Toscano, solteiro, filho de António Reimão Toscano,


escrivão do público e judicial desta cidade de Coimbra, estudante canonista,
morador na Rua de Coruche, testemunha referida, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
fl. 157v. cargo dele,/ / dissesse verdade e tivesse s~gredo no que lhe foss~ perguntado,
prometeu de o fazer assim ; e disse ser de idade de vinte e um anos. Perguntado

195
se sabe ou pre~ume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por
outrem, que, sendo perguntado, na visita desta reformação, calasse a verdade
ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Per-
guntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme
a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de
cada um deles sabia, disse que não sabia deles coisa alguma. Pelo que, pergun-
tado pelo referimento que nele fez Inácio de Brito, calado o nome, primeiro em
geral, e, depois, em especial, disse que o que dele sabia era, no dito tempo, ver
sair Cristóvão de Sá, cidadão desta cidade, da casa de Martim de Carvalho,
vice-conservador desta Universidade, e, daí a dois ou três dias, ir a entrar a
visitar o dito Cristóvão de Sá a António da Costa, e João de Loureiro, e Fran-
cisco da Costa, da cidade de Viseu, todos três votos na catedrilha de Instituto, a
que é opositor António de Abreu, e outros, todos três irmãos, que vivem na
Rua de Coruche. E porque o dito Cristóvão de Sá nunca entrou na dita casa a
visitar os sobreditos, e é amigo do dito Martim de Carvalho, disse ele decla-
rante, não lhe lembra a quem, que se o dito Martim de Carvalho era apaixo-
nado do dito opositor, ou por outro algum na dita cadeira que, sem dúvida, os
fl. 158 mandaria apaixonar pelo// dito Cristóvão de Sá, sem ter para isto mais fun-
damento nem razão que a que tem declarado. E que isto era o que só sabia do
dito referimento. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na ver-
dade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho
de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Adriano
Reimão Toscano.

Domingos Coutinho, solteiro, filho de Pero João, do concelho de Pena-


guião, comarca de Lamego, estudante da segunda classe, criado de Manuel
Pereira, bacharel canonista, de Britiande, testemunha referida, a quem o
Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e três anos . .
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por
outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
fl. 158v. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque// nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo
que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, haverá seis
anos que, vindo ele declarante da dita sua terra, e chegando à cidade de Lisboa,
e estando, uma tarde, não lhe lembra de que mês, mas era no verão, e desaco-
modado, vendo jogar a bola em uma horta, que está nas costas do Mosteiro da
Esperança, que está defronte do Mosteiro de S. Bento Novo, onde costumava

196
ir, em seis ou sete ·dias que esteve desacomodado, e depois de ter estado dois
meses e meio com D. Pedro de Castelo Branco, o mandou chamar Cristóvão da
Silveira, bacharel formado em Cânones deste ano passado, se se não engana,
filho de Gil Eanes da Silveira, vereador da cidade de Lisboa, que vive defronte
da dita horta. E depois do dito Cristóvão da Silveira e ele declarante se concer-
tarem, para o servir de seu pagem, com a condiç~o de_que o dito Cristóvão da
Silveira lhe daria o necessário e tempo para estudar nesta Universidade, na
mesma cidade, e casas de uma quinta do dito seu pai, para Benfica, onde foram,
passados sete ou oito dias, ele declarante e o dito Cristóvão da Silveira, e,
estando ambos sós, o sobredito Cristóvão da Silveira o começou a abraçar//
/7. /59 e beijar, e tomar-lhe a mão direita e pô-la no membro dele dito Cristóvão da
Silveira, que tinha fora dos calções, e que lho esfregasse com a dita mão, como
de feito esfregou, até que derramou semente do dito membro, tendo-o,
enquanto a não derramou, sempre abraçado, e beijando-o. E, do próprio modo
e pela dita maneira, na dita quinta e na dita cidade, e casas do dito seu pai,
derramou o dito Cristóvão da Silveira semente sete ou oito vezes, esfregando-
-lhe ele declarante com a dita sua mão direita, em cada uma das ditas vezes, o
dito membro genital, estando teso e direito, até derramar a dita semente. E, em
cada uma, o dito Cristóvão da Silveira, tendo-o abraçado, e estando-o beijando,
não lhe lembra os dias e meses em que foram, porém seria no discurso de vinte
dias que, depois de se acomodar com ele, estiveram na dita cidade, antes de
partir para esta Universidade, estando sempre sós. Disse mais que, no fim dos
ditos dias, chegando o tempo de partirem para esta Universidade e partindo, se
vieram viver a esta cidade, à Pedreira, nas casas em que ora vive o Dr. Luís
Delgado; e aí, estando ambos sós, no discurso do ano escolástico, derramou o
dito Cristóvão da Silveira algumas vezes, não lhe lembra ao certo quantas, mas
se afirma que seriam sete ou oito, esfregando-lhe em cada uma delas ele decla-
rante o dito membro genital, estando erguido e teso, e o dito Cristóvão da
11. 159v. Silveira// abraçando e beijando a ele declarante. Disse mais que, no discurso
do dito ano escolástico, não lhe lembra em que mês, nesta cidade e nas ditas
casas, além das ditas vezes, em uma noite, na cama do dito Cristóvão da Sil-
veira se deitaram ambos, despidos, nus, entre os lençóis; e logo, estando ele
declarante deitado de costas, se lançou o dito Cristóvão da Silveira, digo,
estando o dito Cristóvão da Silveira deitado de costas, e tendo o seu membro
viril direito e teso, se pôs ele declarante em cima dele, e estando barriga com
barriga, e o dito membro metido entre as pernas dele declarante, e apertado
entre elas, e bulindo ele declarante e o dito Cristóvão da Silveira de baixo, e,
fazendo um e outro o que faz um homem e uma mulher, derramou semente o
dito Cristóvão da Silveira entre as pernas dele declarante. Disse mais que, no
fim do dito ano escolástico, em Maio, se foram daqui para a dita cidade de
Lisboa a ter as férias, e, nas ditas casas de seu pai e na quinta, derramou

197
semente o dito Cristóvão da Silveira, no discurso e tempo das ditas férias, cinco
ou seis vezes, esfregando-lhe ele declarante o dito seu membro viril, estando
direito e teso, com a mão, até que derramou a dita semente em cada uma.
fl. 160 Disse mais que,// nas ditas férias, na dita cidade e casas dele, além das sobredi-
tas vezes, estando ambos sós em uma câmara, o dito Cristóvão da Silveira,
tendo os calções descidos aos joelhos, se deitou sobre a cama, e ele declarante,
tendo também os seus descidos aos joelhos, se deitou em cima do dito Cristó-
vão da Silveira, o qual, tendo o seu membro teso e erguido entre as pernas dele
declarante, e, com elas apertadas, fazendo como faz um homem com uma
mulher, derramou semente entre as ditas pernas dele declarante; sendo assim,
desta vez como da outra e das demais, o dito Cristóvão da Silveira o agente,
posto que debaixo, e ele declarante paciente; e abraçando-se e beijando-se em
todas. Disse mais que, nas ditas férias, que faz nestas quatro, digo, cinco anos,
pouco mais ou menos, se se não engana, na dita cidade de Lisboa e casas do
dito Gil Eanes da Silveira, se achou ele declarante em uma câmara delas, em
companhia de André Gil da Silveira, filho do sobredito, Juiz de Fora que foi
desta cidade; e, estando ambos sós, o sobredito o abraçou e beijou, e lhe meteu
na mão direita o seu membro viril, e, estando teso e direito, lho esfregou com a
dita mão, até que o dito André Gil derramou semente, tendo abraçado e bei-
jado a ele declarante. E depois que veio para esta cidade a servir o dito cargo
jl. 160v. de Juiz de Fora, no discurso/ / e tempo dos primeiros quatro ou cinco meses,
pelo mesmo modo derramou semente o dito André Gil da Silveira três ou
quatro vezes entre todas, pouco mais ou menos, sendo ele declarante sempre
paciente, e o sobredito agente, na sobredita forma, e abraçando-se e beijando-se
em cada uma, até derramar a dita semente. Disse mais que, no dito tempo de
vinte dias em que esteve na dita cidade, depois de concertado com o dito Cris-
tóvão da Silveira, que haverá agora os ditos seis anos, na dita quinta, se achou
ele declarante, por outras vezes, em companhia de Manuel da Silveira, filho do
dito Gil Eanes da Silveira, e irmão mais moço dos sobreditos estudantes, que
daqui se foi da Gramática, e, estando ambos sós, cometera o pecado de molí-
cias, abraçando-se e beijando-se até derramar semente o dito Manuel da Sil-
veira, com a mão dele declarante esfregando-lhe o seu membro viril, que o ·
sobredito tinha teso e direito, e esfregando-lhe o dito Manuel da Silveira a ele
declarante também seu membro viril, que tinha teso e direito, posto que não
derramou semente. E, na dita quinta, e depois, vindo-se para esta cidade, e nas
ditas casas da Pedreira, cometeram o mesmo pecado de molícias três ou quatro
fl. 161 vezes, pouco mais ou// menos, pela mesma dita maneira, e em cada uma delas
derramando sempre semente o dito Manuel da Silveira, e ele declarante
consentindo-lhe esfregar-lhe também o dito membro, mas não derramando
semente, que lhe lembre, e que, com os sobreditos, antes nem depois, passou
mais coisa alguma que lembrado seja, tirado o que tem dito. Disse mais que,

198
no dito primeiro ano que com os sobreditos esteve, consigo mesmo só derra-
mou semente quatro ou cinco vezes, pouco mais ou menos, esfregando o seu
membro até a derramar, e que isto era o que só sabia tocante a esta matéria; de
que pedia perdão e se acusava na forma da ordenação do Reino; e que de tudo
estava mui arrependido e determinado a não o fazer mais, e prestes e pronto
para o castigo que por isso merecesse. Pelo que, perguntado que companheiros
mais teve nos ditos actos de molícias, e com que outras pessoas o cometeu, ou
sabe que cometesse o dito pecado, disse que não tem mais companheiros, nem
sabe de quem mais cometesse o dito pecado ou saiba dele. E, perguntado pelo
referimento que nele faz Manuel Pereira, calado o nome, e em geral, disse que,
haverá quinze dias, pouco mais ou menos, antes do dito Manuel Pereira, seu
amo, fazer o seu auto de bacharel, um dia mandou por ele declarante ao bedel
·. 16/v. de Cânones,// Gaspar de Sampaio, quatro ou cinco arráteis de doces, e outros
tantos ao padrinho que nele teve, que era o Dr. Domingos Antunes, que ele
declarante levou a um e outro, que eram bocados de marmelada e massapães, e
lhe custaram nove ou dez tostões, e cada um deles o aceitou; e não sabe o
respeito por que lhos mandou. Perguntado se, em todas as ditas vezes que os
sobreditos cometeram o dito pecado de molícias, se lhe esfregaram a ele decla- ·
rante o dito seu membro, como declarou em algumas, e se derramou, em algu-
mas delas, semente, disse que todos eles, em todas as ditas vezes, lhe esfregaram
também o dito membro; e o tinha direito e teso; mas em nenhuma derramou
semente. E não lhe foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe lido este teste-
munho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com
o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Domingos Coutinho.

Aos cinco dias do mês de Julho de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
. 162 cidade de Coimbra, nas// casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si ao
Dr. Gonçalo de Paiva, lente de Avicena, de propriedade, e,ao presente, substi-
tuto da cadeira de Véspera na Faculdade de Medicina, nesta Universidade, tes-
temunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evange-
lhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse
ser de idade de sessenta e cinco anos. Perguntado se sabe ou presume para que
é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado
na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de
que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos
Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em
geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o

199
que deles sabia era que, no princip10 deste ano, tempo que na verdade se
achar, o padre mestre Frei Egídio da Apresentação, Vice-Reitor desta Universi-
dade, sem haver lugar vago do partido dos médicos, e havendo de vagar no fim
de Maio próximo passado, seis ou sete meses antes de vagar, ajuntou os eleito-
//. !62v. res e, sem por édito nem preceder exame, proveu, no pri / / meiro partido que
vagasse, contra direito e regimento, a Paulo da Fonseca, estudante médico, da
Lousã, casado em Lorvão, como constará do assento que disso se fez; e dos
outros, dos já providos, para se ver como não vagavam senão no fim do dito
mês de Maio próximo passado, e lhe parece que foi só com o voto do dito
Vice-Reitor. Disse mais que, no mesmo tempo, pouco mais ou menos, sem
estar vago lugar algum do partido dos médicos nem preceder exame, o dito Frei
Egídio proveu Francisco Mendo, colegial do Colégio de S. Paulo, formado em
Medicina, em um partido, para se fazer licenciado; sendo assim que, provê-lo e
reconduzi-lo sem estar vago, ficava sendo além do número do regimento, contra
forma dele, mandando-lhe logo entregar o dinheiro dele, que foram setenta e
dois mil réis, como constará do mandado, tendo quarenta mil réis por colegial
médico, por cujo respeito se não reconduziu nunca nenhum. Disse mais que,
este ano, ouviu, não lhe lembra em que tempo, e lhe parece que foi ao
Dr. Tomás Serrão, lente de Medicina, se se não engana, que o dito Vice-Reitor
lhe tinha mandado dar cinquenta e tantos mil réis dos anos da sua recondução,
e que ele os não arrecadara, nem recebera, por se não andar cansando com
mandados e outras dificuldades que nisso havia, como ele declarará melhor,
/7. /63 e que,// ao presente, não está tão bem lembrado. E que isto era o que sabia
dos ditos interrogatórios. Perguntado pelo referimento último que nele fez o
Dr. Manuel de Abreu, lente de Medicina, calado o nome, primeiro, em geral, e,
depois, em especial, e, sendo por ele ouvido e entendido, disse que o que dele
sabia era que, no dito tempo de Dezembro ou Janeiro próximo passado, ou que
na verdade se achar, nesta Universidade e Geral de Medicina, se achou ele
declarante em companhia de Martim Gonçalves, Tomás Serrão, Manuel de
Abreu e António Sebastião, e não lhe lembra dos mais; e, estando todos presen-
tes ao acto da aprovação de Manuel Ribeiro, estudante médico do partido,
natural da vila de Alcobaça, e depois de feito o auto, e de votarem para ver se
se havia de penitenciar, não se lembra se o penitenciaram, se lhe deitaram R,
nem se foi padrinho ou adjunto, mas que est.á lembrado que ou foi R ou peni-
tência, porque o dito Manuel Ribeiro se veio logo queixar a ele declarante de
lhe lançarem um R; e que também está lembrado que entre as queixas lhe disse
que não queria carta com tal labéu. E declara que mais se afirma, pelas ditas
razões, em que foi R ou penitência; e que não está lembrado de nenhuma das
coisas que mais se contém no dito referimento; só lhe parece que não foi Rui de
Albuquerque, secretário, o que assistiu ao dito acto. E mais não disse, nem lhe
fl. 163v. foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe lido este teste// munho, disse estar

200
escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Dr. Gonçalo de Paiva.

Manuel Pereira, solteiro, filho de Álvaro Pereira e de Beatriz de Almeida,


naturais da vila da Feira, estudante legista e bacharel na dita Faculdade, mora-
dor na Rua Direita, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou
vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos,
em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer·assim; e disse ser de
idade de vinte e dois anos. Perguntado se sabe ou presume para que é cha-
mado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na
visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que
tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatu-
tos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e,
depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que
.fl. 164 deles// sabia era que Rui de Albuquerque, secretário desta Universidade, não
faz seu ofício como deve, porque, para se os estudantes matricularem, se pas-
sam muitos dias, sem vir à casa da matrícula; e ele declarante lhe aconteceu
perder já dias por esse respeito, depois de chegado a esta cidade; e, assim, não
tirar os cursos aos estudantes, senão com muito vagar e quando quer; e em não
vir aos actos e pontos, como ele declarante viu em tempo do Reitor D. João
Coutinho, e agora no desta reformação, em que ele declarante viu que, por não
vir o dito Secretário o derradeiro dia do mês de Maio próximo passado assistir
ao ponto, na forma da reformação, deixou ele o dito Reformador de o dar para
a primeira sorte dos bacharéis, que pela Faculdade estava assentado que fosse o
primeiro de Junho deste presente ano, achando-se ele declarante presente, ao
tempo e hora do dito ponto, com o bedel e o estudante da primeira sorte, e o
padrinho, opositores e mais pessoas que presentes estavam; e, por esse mesmo
respeito, sendo ele declarante também primeira sorte de Leis, deixou, por esse
respeito, de tomar o dito ponto naquele dia. E também viu que também ele
dito Reformador, à hora do ponto da tarde, deixou de o dar, estando juntos os
oficiais e mais pessoas necessárias, a Francisco da Costa, canonista, de Alco-
baça, para se formar, por não vir o dito Secretário; sendo assim que, além de
saber que todos os dias que não são santos há acto, indo-o chamar o dito
Francisco da Costa, como ele lhe disse, o dito Secretário lhe respondera que o
/7. 164v. multassem embora nos três tostões da sua propina,// que se lhe não dava disso
coisa nenhuma, e não havia de vir ao dito ponto. E que, de seis anos a esta
parte que há que se matricula nesta Universidade, sempre deu por isso ao dito
secretário Rui de Albuquerque um vintém, e viu que todos os mais lho davam e
ele o recebeu, sem embargo de ouvir, na dita casa da matrícula, no tempo

201
e~ que esteve nesta Universidade, o visitador, Bispo eleito que hoje é desta
cidade, que lhe não dessem mais que dez réis cada um, que só isso lhe deviam,
mas não deixando de receber o dito vintém. Disse mais que, haverá sete ou oito
anos que, nesta cidade, vivendo ambos, lhe disse seu irmão António Pereira,
bacharel formado em Cânones, que ao presente reside na dita vila da Feira, que
Pero da Silva Homem, que vive por sua fazenda e mora no lugar de Milheirós
de Poiares, terra da Feira, dera, vindo a esta cidade, trinta mil réis ao dito
Secretário Rui de Albuquerque, porque lhe houvesse o partido dos médicos do
Reitor D. João Coutinho para seu filho Paulo da Silva, médico, casado com
Jerónima de Brito nesta cidade; e que, de efeito, lhe houvera o dito partido pelo
dito dinheiro; e ele declarante o ouviu assim também na dita vila da Feira, e
que poderão saber disto o dito Paulo da Silva, se o quiser dizer, e Gaspar de
Seixas, bedel de Medicina, e Gaspar de Sampaio, bedel de Cânones, a quem lhe
parece que também o ouviu. Disse mais que, haverá um mês e meio, pouco
fl. 165 mais ou menos, que, nesta cidade, se achou ele de/ / clarante em companhia do
dito Gaspar de Sampaio, bedel de Cânones, e, estando ambos sós, o sobredito
lhe disse que Pero Barbosa, estudante canonista, filho de Pero Barbosa, dera ao
dito Secretário Rui de Albuquerque uma espada dourada, que lhe custara
dezassete mil réis, por lhe provar um curso ou dar alguns meses, que agora bem
lhe não lembra; e ele declarará melhor. E que isto era o que sabia dos ditos
interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na ver-
dade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho
de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Manuel
Pereira de Andrade.

Luís de Aguiar Queixada, solteiro, filho do licenciado Manuel de Fontes


Ribeiro, natural da vila de Figueiró dos Vinhos, bacharel canonista, morador
a Nossa Senhora do Salvador, testemunha referida, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim ; e disse ser de idade de vinte e quatro anos. Perguntado
se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por
fl. 165v. outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, // calasse a verdade
ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Per-
guntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme
a eles, é obrigação inquirir, em geral e, depois disso, em especial, pelo que de
cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que é queixa pública, entre
os estudantes, que os bedéis Gaspar de Seixas, de Medicina, e Gaspar de Sam-
paio, de Leis e Cânones, cada um em sua Faculdade, do dinheiro que lhes dão
para os actos, depois deles acabados e os graus recebidos, não darem conta com

202
entrega dele, nem ao outro dia, nem até os três dias depois dos ditos graus,
como manda o estatuto, mas não a darem nunca. E a ele declarante lhe aconte-
ceu assim, que, fazendo-se bacharel o primeiro dia deste presente mês, até hoje
o dito bedel lhe não tem dado conta, e dando-lhe ele declarante para o dito acto
três mil e oitocentos réis que lhe pediu, e pagando, além disto, doze vinténs da
armação ao moço do guarda, que se chama Pero Ferreira, e, não tendo, no dito
acto, mais que oito doutores lentes com o padrinho, e só dois argumentantes; e,
assim, sobejando dinheiro, o dito bedel lhe não tem dada a dita conta, nem
dará, como não deu aos conclusionistas e bacharéis deste ano. E é notório que,
.fl. 166 nos outros passados, a não deu também. // E o mesmo ouve dizer do dito
Gaspar de Seixas. E que vê ao dito Gaspar de Sampaio, nos actos de bachare-
lamento, ordinariamente, quando põe o relógio, pô-lo já com parte da areia
corrida; e é público entre os estudantes que o faz, pelo que lhe manda cada um,
posto que não sabe quem lho mandasse, salvo Agostinho da Costa da Casta-
nheira, natural da vila de Mação, estudante e bacharel canonista, que por esse
respeito lhe mandou um queijo do Alentejo o ano passado pelo seu moço, a
quem não sabe o nome; e assim lho disse o sobredito Agostinho da Costa.
Disse mais que, o ano passado, se achou ele declarante em casa e companhia do
dito Agostinho da Costa, que vive no beco da Rua das Covas, e, estando
ambos, lhe viu um pistolete, cujo cano seria de palmo e quatro dedos, de fechos
de pederneira; e, este ano, lho viu também; e não sabe quem saiba disso mais
que seu irmão, a quem não sabe o nome, que anda nas classes, e está actual-
mente preso pelo próprio pistolete na cadeia desta Universidade, posto que é do
dito Agostinho da Costa. Disse mais que, o ano passado e este presente, por
vezes, e a derradeira vez no mês de Maio próximo passado, sendo companheiro
de Manuel Carvalho, estudante legista, do Beco, que mora defronte do Colégio
de Santa Cruz, lhe viu, em companhia de Bento da Fonseca, solteiro, filho de
Domingos Gomes, escrivão da receita e despesa da Universidade, um pistolete,
fl. 166v. cujo cano era de um palmo, pouco// mais ou menos, com fechos de peder-
neira; e ainda agora, quando se foi, lho viu levar na cinta para a sua terra. Disse
mais que, o ano passado, pela Páscoa esta passada fez um ano, nesta cidade, foi
ele declarante a casa de Inácio de Brito, filho de Inácio Colaço de Brito, desem-
bargador da Casa da Suplicação, e, estando em companhia do sobredito, lhe
viu, dependurado em uma parede, um pistolete, cujo cano seria de mais de
palmo, e fechos de pederneira; não sabe quem mais lho visse, tirado seus
moços, que devem saber dele. E que isto era o que só sabia dos ditos interroga-
tórios. E, por ter satisfeito aos referimentos que nele fizeram Bento da Fonseca
e João de Carvalho, não foi por eles perguntado. E, sendo-lhe lido este teste-
munho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o
dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Luís de Aguiar Queixada.

203
Aos seis dias do mês de Julho de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade dela, sólita morada do Dr.
D. Francisco de Meneses, inquisidor da Inquisição de Lisboa, Reformador e
jl. /6 7 Reitor da dita Universidade, estando ele aí, mandou declarar// aqui como,
depois de se ter entrado às sortes dos bacharéis de Leis e Cânones deste ano
presente, na forma do estatuto, e de ele Reformador e as ditas Faculdades
assentarem que fosse a primeira sorte o primeiro dia de Junho do dito ano; e,
em conformidade disso, havendo ele Reformador de dar ponto à dita primeira
sorte de Cânones, a trinta e um de Maio do dito ano, pela manhã, e, à tarde, a
de Leis, a Manuel Pereira; e, à hora do dito ponto, sendo presentes o padrinho,
bedel e a dita primeira sorte, deixara de lhe dar o dito ponto, porque o Secretá-
rio Rui de Albuquerque; na forma dos Estatutos reformados devendo de estar
presente, e sabendo do dia em que se havia de dar o dito ponto, por haver feito
o termo em que com as ditas Faculdades se assentou o dito dia, deixara de vir a
ele, sem embargo de lhe terem dado outro segundo recado e aviso. E que,
outrossim, declarasse aqui como o dito Secretário Rui de Albuquerque, sendo
chamado, não viera esta quinta-feira próxima passada, que foram quatro do
presente mês, à tarde, ao ponto que se havia de dar; e que, por esse respeito,
não se podendo dar sem sua presença, deixara de haver auto de formatura, que
se dilatou para o dia seguinte. E que, por eu Agostinho de Aguiar me achar
presente a um e outro auto, como escrivão desta visita e reformação, desse
minha fé do que tivesse visto; em cujo cumprimento certifico passar tudo o
sobredito assim, e da maneira que atrás vai referido. E, por me achar a tudo
presente e o ver e ouvir, dou disso minha fé em um e outro acto. E de tudo fiz
este termo, que assinei com o dito Reformador. Agostinho de Aguiar o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Agostinho de Aguiar Figueiroa .

.fl. 1671·. António da Costa, solteiro, filho de António da Costa, já defunto, natural
de Souto de Penedono, bispado de Lamego, estudante da terceira classe, criado
de João Moutinho da Fonseca, digo, de Mesquita, bacharel legista, de Freixo
de Alemão, que vive na Rua de Alvaiázere, testemunha referida, a quem o
Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de dezoito anos.
Perguntado se sabe ou presume porque é chamado, e se alguém lhe pediu, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois, em especial, pelo que de
cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era só que, haverá alguns

204
quinze dias que nesta cidade o dito seu amo João Moutinho de Mesquita,
bacharel legista, mandou por ele declarante, a véspera do dia em que fez o seu
auto de bacharel, um presunto da perna a Gaspar de Sampaio, bedel de Leis e
Cânones, e que quisesse fazer-lhe mercê de que se não desse o seu dia a algum
Jl. 168 outro estudante; o qual, de efeito, ele/ / declarante lhe levou e entregou na sua
mão, em sua casa, na Rua de Santa Sofia, que lhe parece que valeria quatro ou
cinco tostões. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E por ter
satisfeito, lhe não foi lido o referimento que nele fez o dito João Moutinho de
Mesquita, seu amo. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na
verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agosti-
nho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
António da Costa.

Aos oito dias do mês de Julho de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a Francisco
Cardoso do Amaral, solteiro, filho de Francisco Cardoso do Amaral, desem-
bargador da Relação do Porto, já defunto, bacharel legista, e morador na Rua
do Pocinho, junto ao Paço do Conde, testemunha referida, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e cinco
anos. Perguntado se sabe ou presume porque é chamado, e se alguém, por si
j7. 168v. ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado// na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial,
pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, haverá um
ano, pouco mais ou menos, que nesta cidade se achou ele declarante em casa de
Inácio de Brito, estudante legista, filho de Inácio Colaço, desembargador da
Casa da Suplicação; e, estando ambos sós, lhe viu tirar da algibeira um pisto-
lete, cujo cano seria de mais de um palmo, com fechos de pederneira. E, por
outras vezes, naquela conjunção, lho viu também; e não sabe se, ao presente, o
tem ou não, nem se das ditas vezes estava mais alguém presente; e que poderá
saber disso António Lopes de Almeida, estudante legista, natural de Santarém.
Disse mais que, haverá dois anos, nesta cidade, se achou ele declarante, indo
para Nossa Senhora do Salvador, à porta da igreja, em companhia de Filipe de
Mesquita, canonista, e de Luís Cordovil, e do dito António Lopes de Almeida,
e viu que, sobre palavras que tiveram, António de Mesquita, bacharel cano-
nista, filho de Jorge Pinto de Mesquita, desembargador do Porto, já defunto, e

205
Sebastião Álvares da Silva, opositor legista, que lhe não lembram, tirou João
Pereira Botado, opositor, natural de Aldeia Galega, em favor do dito Sebastião
Álvares da Silva, de um pistolete que trazia na cinta, cujo cano seria de dois
.fl. 169 palmos // de comprido, e fechos de pederneira, e apontou com ele para o dito
António de Mesquita, posto que nem atirou nem disparou o cão, que tinha
levantado. E, por mais não dizer, lhe foram feitas as perguntas seguintes.
Perguntado se sabe que algum estudante houvesse algum tempo, por meio de
algum seu amigo, e de que tempo a esta parte, como pressuposto de haver de
votar pelo dito amigo, disse que não. Perguntado de que tempo a esta parte se
matricula, e o que dá por isso, disse que, de sete anos a esta parte, se matricula,
e em todos deu por isso ao Secretário Rui de Albuquerque um vintém, e viu
que assim lhe dão e deram todos os outros. E, por mais não dizer, lhe não
foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar
escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Francisco Cardoso do Amaral.

Aos treze dias do mês de Julho de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Damião de Aguiar, solteiro, filho de Pero de Aguiar e de Leonor de Fontes,
naturais da cidade do Porto, estudante canonista, morador na Rua de Alvaiá-
zere, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que
j1. 169v. pôs sua mão,// e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de vinte e dois anos. Perguntado se sabe ou presume porque é chamado,
e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita
desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo
a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos
reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e,
depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse o que deles
sabia era que agora, no tempo destas conclusões próximas passadas, não lhe
lembra em que mês, se achou ele declarante nesta cidade, em casa e companhia
de Martim Gaifão, estudante canonista, de Mação, que vive na rua do Colégio
de S. Paulo; e, por ocasião de serem amigos, e de lhe importar ir-se para a
terra, e se haver queixado do bedel de Cânones Gaspar de Sampaio lhe não dar
um dia para fazer suas conclusões, e de lhe dizer, a esse propósito, Maria
Manuel, viúva não sabe de quem, tendeira, que vive na Rua do Colégio Real,
que aí também estava, que mandasse ao dito bedel alguma coisa, e que logo lhe
daria o dito dia, viu ele declarante que o dito Martim Gaifão mandou logo aí,

206
diante dele declarante, duas galinhas e uma garrafa de vinho ao dito
fl. 110 bedel; / / e que lhas levou uma negra, a quem não sabe o nome, que se recolhe
em casa de D. Martinho de Melo, estudante, que vive na dita rua, e é forra, e
gorda e alta do corpo; com ordem, como ali se assentou, que as desse a uma
mulher, a quem não sabe o nome nem onde mora, que criou ao dito bedel, para
que lhas desse; e sabe ele declarante que lhas deram, porque assim o ouviu e lho
disseram as ditas pessoas. E viu que, logo ao outro dia, o dito Martim Gaifão
teve o dito dia que desejava, em que fez as ditas conclusões. Disse mais que,
três anos que há que se matricula, em cada um deles deu, por isso, a Rui de
Albuquerque, Secretário desta Universidade, um vintém, e viu que assim lhe
davam os outros, e o recebia. E que isto era o que sabia dos ditos interrogató-
rios. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Damião de Aguiar.

João Fiúza, solteiro, filho de Gonçalo Pires e de Beatriz Gonçalves, natu-


rais de Vila Nova de Cerveira, estudante médico, morador na Couraça, teste-
munha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
fl. 170v. segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu // de o fazer assim; e disse ser
de idade de vinte e oito anos. Perguntado se sabe ou presume porque é cha-
mado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na
visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que
tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatu-
tos reformados, por que nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e,
depois, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia
era que o Dr. Gonçalo de Paiva, lente de Avicena, por sua idade não perce-
bem já os estudantes assim o que dita, como o que dá a escrever, por o não
ouvirem nem ele poder já falar de modo que o possam perceber. Disse mais
que o bedel de Medicina, Gaspar de Seixas, não assiste muitas vezes à porta do
Geral, para poder multar assim as faltas dos lentes como as dos estudantes do
partido, o que ele declarante sabe por o ver faltar no dito Geral e porta dele, e
varandas, ao qual em todo este ano, e no passado, o dito bedel não veio senão
de quinze em quinze dias e ora de oito, e de quatro em quatro; e se viera em
todos não pudera ser sem ele declarante o ver, porque em todos os dias cursou
ele declarante, nos ditos dois anos, o Geral, manhãs e tardes, tirado que, no ano
fl. 171 passado, só as manhãs cursava, e as tardes nas Artes. // Geralmente se queixam
os estudantes todos de que o dito bedel, do dinheiro que lhe dão para os seus
autos, não lhes dar conta; e pedir-lhes mais do que neles se monta, para poder
tomar o que sobeja dos ditos autos. Disse mais que, no fim deste mês de

207
Outubro prox1mo passado de seiscentos e dezoito, viu ele declarante nesta
cidade, na Couraça, a Francisco Correia, estudante médico do partido, natural
de Setúbal e aí casado e morador; e, posto que tem mais de seis anos de Medi-
cina provada, sabe ele declarante que não fez acto algum na dita Faculdade de
Medicina, porque assim lho disse seu mestre, o Dr. Manuel de Abreu, e que,
sem embargo disso, levou, neste dito ano e princípio dele, suas cartas de forma-
tura e aprovação, subscritas por Rui de Albuquerque, Secretário desta Univer-
sidade, e assinadas pelo padre mestre Frei Egídio; as quais lhe viram e sabem
que, sem ter os ditos actos, nem ainda o de licenciado em Artes, lhas dera o dito
Secretário por intercessão de Estêvão Fuzeiro, porcionista do Colégio das
Ordens Militares, que o alcançara de Simão Leal, sogro do dito Secretário, a
saber, Dionísio de Andrade, familiar do dito Colégio, que anda no primeiro
curso, e Domingos Rodrigues, criado de Diogo Ribeiro de Macedo, que vive na
Couraça, nas casas de Manuel Gomes, o Carrasco, e o dito Domingos Rodri-
gues anda no primeiro curso. E cada um dos sobreditos disse a ele declarante
que vira as ditas cartas na dita forma, e que ele as levara, e, por virtude delas,
jl. 171v. exercitava suas// letras e tinha partidos; e, actualmente, estava curando na dita
vila de Setúbal. Disse mais que, de dois anos, digo, que de três ou quatro anos
que se matricula, a esta parte, em cada um deu por isso ao dito Rui de Albu-
querque um vintém; e viu que assim lho davam os outros e ele o levou. E que
isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, por mais não dizer e ter
satisfeito ao referimento que nele fez o Dr. Manuel .de Abreu, lhe não foi lido.
E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade,
disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. João Fiúza.

Aos quinze dias do mês de Julho de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Pantaleão de Sousa, natural da cidade do Porto, casado em a cidade de Évora
com Inês Dias, bacharel formado na Faculdade de Leis, morador junto a
jl. 172 S. Pedro, testemunha referida, e, sendo presente,// lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de vinte e quatro anos. Perguntado se sabe ou
presume porque é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que,
sendo perguntado, na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o
contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-

208
gação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles
sabia, disse que o que deles sabia era que, haverá dois meses e meio, pouco mais
ou menos, que, nesta cidade, em companhia de Afonso Pato, legista, de Évora,
se achou ele declarante; e, estando ambos sós, o sobredito lhe disse que ele dito
Afonso Pato e Luís Mendes, estudante legista, pediram ao bedel Gaspar de
Sampaio que, agora nestas sortes de conclusões próximas passadas, lhes
deixasse trocar as suas, para que o dito Afonso Pato, a quem padrinhava o
Dr. António Lourenço, ficasse na sorte do dito Luís Mendes, a quem padri-
nhava o Dr. Cristóvão Mouzinho, em cuja matéria o dito Afonso Pato tinha
feitas suas conclusões, e para que o dito Luís Mendes as fizesse na sorte do dito
Afonso Pato, a quem padrinhava o dito Dr. António Lourenço, cuja matéria
f7. 172v. tinha estudada, e feitas // nela suas conclusões; para que assim satisfizessem
ambos ao estatuto, e fizessem as ditas conclusões nas matérias em que as
tinham estudadas; e que, de feito , ele lhas trocara, e lhe mandaram ambos duas
galinhas, cada um sua. Disse mais que, este ano, deu ao dito bedel quatro mil
réis para o auto de bacharel, e outros quatro para o de formatura, e que,
havendo algum mês e meio que fez os ditos autos, e não se podendo, em cada
um deles, montar os ditos dez cruzados, porque no de bacharel faltaram sete
lentes e um bedel, e, no de formatura, cinco lentes. E seu irmão dele declarante,
por nome António de Sousa, se formou há quatro ou cinco dias, lhe deu três
mil e novecentos réis, que ele declarante deu ao dito bedel, em sua própria mão,
que lhe não tornou mais que um tostão. E, assim, é queixa pública dos estudan-
tes não lhes dar o dito bedel conta do dinheiro_que lhe dão, e, quando lhas dá, é
pelo modo que tem declarado que fez ao dito seu irmão. Disse mais que, de
oito anos a esta parte que há que se matricula, em todos deu por isso ao
Secretário Rui de Albuquerque um vintém, e viu que assim lhe davam os outros
e ele o recebia; e, às vezes, digo, e uma vez, lhe viu dar meio tostão. E, por
mais não dizer, e ter satisfeito ao referimento que nele fez o dito Afonso Pato,
fl. 173 lhe não foi lido. E, sendo-lhe lido este testemunho e/ / perguntado se estava
escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Pantaleão de Sousa.

Aos dezasseis dias do mês de Julho de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majes-
tade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
António Bernardes, solteiro, filho de António da Rocha e de Maria da Rocha,
naturais da Arrifana de Sousa, bispado do Porto, estudante canonista, morador
no Terreiro de Santa Justa, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e mandado que, sob

209
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e cinco anos. Perguntado
se sabe ou presume porque é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe
pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou
fl. 173v. dissesse o contrário/ / dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Pergun-
tado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a
eles, é obrigação inquirir, em geral e, depois disso, em especial, pelo que de cada
um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, esta quaresma passada, fez
um ano, nesta cidade, se achou ele declarante em companhia de Gaspar Rebelo,
inquiridor desta Universidade, e de Manuel do Couto, estudante, que, ao tal
tempo, era das classes e, ao presente, está com D. Jerónimo de Azevedo, Vice-
-Rei que foi da Índia, e de João Caminha, estudante canonista, da Arrifana de
Sousa; e, estando todos, o sobredito inquiridor lhe pediu dois tostões empresta-
dos para ir comprar uma lampreia, e como lhos deu, logo foi perguntar umas
testemunhas que ele declarante tinha para dar em uma causa que trazia com os
frades de S. Bento, que, antes disso, lhe não queria perguntar. E, depois, ao
contar do feito, querendo ele declarante descontar os ditos dois tostões, lhos
não quisera meter na conta, nem tornar até agora, dizendo-lhe que aquilo que
se dava, que se não tornava a pedir. E, assim, com a capa da causa, perdeu os
fl. 174 seus dois tostões, que a essa conta deu; e mais pagou a inquiridoria. // Disse
mais que, esta quaresma próxima passada fez dois anos, foi ele declarante a
casa de Sebastião Lopes da Costa, escrivão da taxa e almotaçaria desta Univer-
sidade, para dar por testemunhas a um Manuel Ramos, do Porto, e a outros
estudantes seus vizinhos, cujos nomes lhe não lembram; e, sem embargo de ver
que lá não estava inquiridor, viu que o sobredito lhes perguntou sobre umas
casas dos frades de S. Bento, em que andava ele e seu companheiro em
demanda, o qual era o dito João de Caminha; e lhe deram, por isso, dois
vinténs, ele e o dito seu companheiro, que também aí estava, que o dito Sebas-
tião Lopes lhes pediu para o inquiridor; e, aí mesmo, viu perguntar ao
Dr. Estêvão da Fonseca outras testemunhas sem o dito inquiridor. Disse mais
que, no fim de Janeiro este próximo passado, veio a esta Universidade, da de
Salamanca, António Ferreira de Oliveira, natural da dita Arrifana de Sousa,"
médico formado e aprovado por esta Universidade neste presente mês de Julho;
e, por via do Dr. Tomás Serrão, lente de Medicina, lhe houve o Secretário Rui
de Albuquerque os cursos de Salamanca por incorporados nesta, sem provisão
de Sua Majestade, apresentando, para isso, outra doutro médico, e fingindo que
era do dito António Ferreira, por dinheiro que lhe dera, entrando no partido,
haver-lhe de pôr nas ditas cartas como era do partido, o que deixara de fazer//
fl. 174v. nelas, porque se não atrevera com ele dito Reformador, e que, assim, o dera por
isento ao dito médico; e não servir o padre mestre Frei Egídio, que eram os
termos em que se tinham concertado, o que ele declarante sabe porque o ouviu

210
assim a um estudante, que não conhece mais que de vista; e presume que assim
seria, porque não havia tempo para poder vir ao dito António Ferreira a dita
provisão depois de vir de Salamanca, e por o sobredito lhe dizer que mandara
uns presuntos ao dito Tomás Serrão, e ver-lhe também mandar galinhas e lam-
preias, neste dito ano, pelo moço dele declarante, por nome André, que anda na
escola delas e é de Entre Douro e Minho. Disse mais que, de cinco anos a esta
parte que há que se matricula, sempre deu ao dito Secretário Rui de Albu-
querque, por isso, um vintém, e viu que assim lhe davam todos os mais.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume
nada. E, por ter satisfeito ao referimento que nele fez João de Caminha, lhe
não foi lido. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o
escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. António Bernardes.

J1. 175 Estêvão Pinto de Sousa, solteiro, filho de Leo / / nardo de Sousa, natural
da cidade de Faro, Reino do Algarve, estudante legista, morador na Rua da
Trindade, testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses
mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse
verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim ; e disse ser de idade de vinte e um anos. Perguntado se sabe ou presume
porque é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo
perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogató-
rios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inqui-
rir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse
que o que deles sabia era que, haverá um ano, pouco mais ou menos, que nesta
cidade, estando ambos sós, lhe contou Manuel Camacho de Brito, bacharel
formado em Leis, natural de Almodôvar, que sabia que o Secretário Rui de
Albuquerque, haveria três anos, pouco mais ou menos, que dera a Manuel
Álvares de Abreu, bacharel formado em Leis, um pouco de tempo, sem lhe
declarar quanto nem de que qualidade, nem quanto lhe dera por isso; e que
bem poderia ele declarante contar o sobredito a alguns estudantes, mas que lhe
.fl. 175v. não !em// bra. Disse mais que, de cinco anos a esta parte que há que reside
nesta Universidade, sempre deu ao dito Secretário Rui de Albuquerque um
vintém para o matricular, e viu que assim lho davam e levava aos demais.
E que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios. E, por mais não dizer,
sendo-lhe lido este testemunho e por ele ouvido e entendido, disse estar escrito
na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E, por ter
satisfeito o referimento que nele fez Duarte de Sousa, lhe não foi lido. E eu,

211
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Estêvão Pinto de Sousa.

Aos dezassete dias do mês de Julho de mil e seiscentos e dezanove anos,


' nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majes-
tade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
João Caminha, testemunha atrás já perguntada, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
Jl. 176 cargo// dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,
prometeu de o fazer assim ; e disse ser de idade de vinte e cinco anos. E, por
estar já perguntado, e de novo ser necessário perguntá-lo pelo referimento que
nele fez António Bernardes, lhe foi feita a pergunta seguinte. Perguntado se
sabe que algum dos oficiais desta Universidade, com capa de seu ofício e pre-
texto de coisa que a ele pertencesse, pedisse algum dinheiro emprestado, e o não
pagasse, nem descontasse no custo e salário da dita coisa, disse que o que do
sobredito sabia, era que, esta quaresma passada, fez um ou dois anos, que,
nesta cidade e casa de Sebastião Lopes da Costa, escrivão das taxas, se achou
ele declarante em companhia de António Bernardes, estudante canonista,
da Arrifana de Sousa, e de Manuel do Couto, da dita vila, que está com o
Dr. Jerónimo de Azevedo, Viet!-Rei que foi da Índia; e, estando todos, chegou
aí Gaspar Rebelo, inqui.idor desta Universidade, e pediu ao dito António Ber-
nardes que lhe emprestasse dois tostões para ir comprar uma lampreia ; e, de
feito, lhos deu, como viu ; e que logo lhe perguntou umas testemunhas, que
dantes não havia chegá-lo a isso, em uma causa que sobre umas casas dos
frades de S. Bento traziam ele declarante e o dito António Bernardes com os
ditos frades, porquanto nelas foram companheiros. E depois pagaram a inqui-
/7. 176v. ridoria, e lhe não quis tomar o seu dinheiro. E, sendo-lhe lido este testemu / /
nho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E, por ter satisfeito ao
referimento que nele fez o dito António Bernardes, não foi por ele perguntado.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. João Caminha.

Gregório Barbosa, solteiro, filho de Gaspar Fernandes, natural do conce-


lho de Coura, comarca de Viana, estudante médico, criado do Dr. Luís Ribeiro
de Leiva, lente de Decreto nesta Universidade, testemunha referida, a quem o
Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de trinta anos.
Perguntado se sabe ou presume porque é chamado, e se alguém, por si ou por

212
outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
fl. 177 Perguntado pelos// interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, disse
que o que deles sabia, e do referimento que nele fez Simão Fernandes, era que,
no princípio deste mês próximo passado, se achou ele declarante em companhia
de uma mulata, por nome Isabel de Figueiredo, a quem nas faces deram duas
cutiladas, fora da porta do Castelo, de noite, levando-a lá à falsa fé; e, estando
ambos, nesta cidade, à porta da dita Isabel de Figueiredo, ela lhe disse que, no
princípio deste mês de Maio próximo passado, a levara junto à cerca dos padres
de S. Jerónimo, de noite, à falsa fé, Francisco de Leiria, estudante legista, de
Lisboa, e aí lhe dera as duas cutiladas que tinha pelo rosto, com uma navalha,
por respeito de duas brigas que ela tivera com umas mulheres, filhas de Perpé-
tua Nunes, suas vizinhas, com uma das quais, por nome Francisca de Figuei-
redo, dizem que anda o dito Francisco de Leiria; e que do sobredito não sabe
mais coisa alguma. E que assim o relatou a alguns amigos, não lhe lembra
quais, nem sabe que esta fama trouxesse sua origem e princípio de outras causas
e pessoas, mais que da dita mulata. E declarou que se lhe perguntou pelo dito
referimento, calados os nomes, e que não presumia ele declarante, sem embargo
do sobredito, que o dito Francisco de Leiria lhe daria as ditas cutiladas, porque
/1. 177v. não // sabe se a dita mulata teve as ditas palavras com a dita Francisca de
Figueiredo. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e
do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu Agostinho de
Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Gregório
Barbosa."

Aos vinte dias do mês de Julho de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
António Cardoso, bacharel legista, filho de Agostinho Cardoso, de Lisboa,
morador ao Salvador, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim; e disse ser de idade de trinta anos. Perguntado se sabe
ou presume porque é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem,
que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse
//. 178 o contrário dela, e de que tempo // a esta parte, disse que não. Perguntado
pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é
obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um
deles sabia, disse que o que deles sabia era, nesta Universidade, entre muitas

213
pessoas, está infamado de cometer o pecado de molícias Sebastião Dias, estu-
dante canonista, natural desta cidade, filho de Manuel João, já defunto, reco-
veiro que foi desta Universidade, com alguns rapazes. E, posto que não sabe ele
declarante donde resultasse e trouxesse sua origem esta fama, não presume bem
do sobredito nas ditas molícias, porque o vê, de ordinário, andar com moços
desbarbados e bem assombrados ; e ouviu dizer a amigos dele que folgava muito
com rapazes, como foi a Diogo Ferreira, pintor, solteiro, que vive na Calçada,
natural desta cidade, e não há aqui outro, e a Diogo Caldeira, irmão de Bel-
chior Caldeira, meirinho da Universidade, e a outras muitas pessoas que lhe não
lembram agora. E, por mais não dizer, lhe foram feitas as perguntas seguintes.
Perguntado se sabe que algum oficial desta Universidade durma camalmente e
esteja amancebado com alguma mulher, e que, por esse respeito, chegasse a pôr
consigo à mesa ao pai da dita mulher, disse que o que sabia do sobredito era
que, este ano, não lhe lembra em que mês, e o passado, ouviu dizer, não lhe
lembra a quem, que o vice-conservador Martim de Carvalho pretendia haver
fl. 178v. uma filha // de Manuel João, alfaiate, desta cidade, que vive junto a Almedina,
por nome Antónia dos Anjos; e o sobredito ouviu também a Inácio de Brito,
estudante legista, filho do desembargador Inácio Colaço, em cuja mão viu este
ano uma carta da dita Antónia dos Anjos, em que lhe dizia que a tirasse de casa
de seu pai, e a levasse para casa do dito Conservador Martim de Carvalho;
a qual letra reconheceu, por ter visto muitas vezes letra sua, e a ter, como amigo
que foi de seu pai, por ser alfaiate. E mais não disse. E, sendo-lhe lido este
testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o
dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. António Cardoso.

António de Pina, casado com Isabel Lopes, naturais de Fornos de Algo-


dres, do bispado de Viseu, estudante médico do partido, morador junto à Sé,
testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou
vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos,
fl. 179 em que // pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse
ser de idade de quarenta e cinco anos. Perguntado se sabe ou presume porque é
chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado
na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de
que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos
Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em
geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que
não sabia deles coisa alguma. Pelo que, perguntado pelo referimento que nele
fez Manuel Figueira, calados os nomes, primeiro, em geral, e, depois, em espe-
cial, disse que bem poderia ser o que se contém no dito referimento, mas que

214
lhe não lembra ao presente. E que, dos ditos interrogatórios, agora lhe lembra
que, de três anos a esta parte que há que se matricula, em todos deu, por isso,
ao Secretário Rui de Albuquerque um vintém. E, sendo-lhe lido este testemu-
nho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. António de Pina.

/1. 179v. Cipriano Mendes de Vasconcelos, solteiro, filho de Diogo// Mendes de


Vasconcelos, natural da vila de Ourém, bacharel em Leis, morador no bairro de
S. Pedro, por cima da Porta da Traição, testemunha referid~, a quem o Refor-
mador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe
foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado
que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse pergun-
tado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e cinco anos.
Perguntado se sabe ou presume porque é chamado, e se alguém lhe pediu, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral,e, depois disso, em especial, pelo que
de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, no princípio deste
mês de Maio próximo passado, fez um ano, servindo ele declarante e Pantaleão
Rodrigues Pacheco, canonista, de almotacés desta Universidade, por faltas e
desobediências, condenaram a Sebastião Lopes da Costa, escrivão das taxas e
almotaçaria, em mil réis para a Confraria da Universidade, de que fizeram
fl. 180 autos, que ainda ao presente// estão em poder do dito seu companheiro Panta-
leão Rodrigues Pacheco, de que foi escrivão Domingos Gomes, escrivão da
receita e despesa desta Universidade; e, até hoje, não tem o dito Sebastião
Lopes paga a dita condenação. Disse mais que, no dito ano e tempo em que
serviram de almotacés, ele declarante e o dito seu companheiro condenaram a
um homem, a quem não sabe o nome, por atravessar linho na feira, em mil
réis; e, por se ausentar, lhe mandaram fazer embargo em uma besta na mão de
um estalajadeiro, a quem não sabe o nome, pelo dito Sebastião Lopes, escrivão
de seu cargo; o qual desembargou a dita besta por uns anéis de ouro, que
pesavam a dita quantia, e tomou para si as ditas peças, e não satisfez ao meiri-
nho nem à Confraria, até ao presente. Disse mais que, no dito tempo que
serviu de almotacé, o bedel de Medicina, Gaspar de Seixas, nos actos de douto-
ramento e em algumas formaturas de Medicina, lhe tomou a propina que lhe
devia nos ditos actos de almotacés, sem, até hoje, lha querer dar. Disse mais
que Bartolomeu Fernandes, bedel de Teologia, lhe não quis também dar a ele
declarante a propina, em dois actos que, por almotacé, lhe devia, por mais que
ele declarante a pediu a um e a outro. E que isto era o que sabia dos ditos inter-

215
rogatórias. E, por ter satisfeito aos referimentos que nele fizeram Pantaleão
Rodrigues Pacheco e Belchior da Guerra, não foi por eles perguntado. E, sendo-
fl. 180v. -lhe lido este testemu/ / nho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que
sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho
de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Cipriano
Mendes de Vasconcelos.

Aos vinte e dois dias do mês de Julho de mil e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majes-
tade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si
ao Dr. Cristóvão Mouzinho, colegial do Colégio de S. Pedro e lente de Código
nesta Universidade, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo
dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu
de o fazer assim; e disse ser de idade de trinta e seis anos. Perguntado se sabe
ou presume porque é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem,
fl. 181 que, sendo perguntado na// visita desta reformação, calasse a verdade ou dis-
sesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado
pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é
obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um
deles sabia, disse que o que deles sabia era parecer-lhe, em sua consciência, que
convém ao serviço de Deus e de Sua Majestade, e bem da Universidade, não
servir Rui de Albuquerque, Secretário da dita Universidade, o dito cargo; por-
que é público e notório, entre os lentes todos desta Universidade e as mais
pessoas dela, dar e vender o dito Rui de Albuquerque o tempo que lhe quer
comprar, para os estudantes perfazerem seus cursos e fazerem seus actos. E são
tantos os casos de que esta fama teve sua origem e princípio, que se não podem
especificar, porque por uns esquecem-se os outros. E o Dr. Domingos Antunes,
lente de Véspera de Cânones, que, como zeloso do serviço da Universidade,
tem alguns em lembrança, poderá declarar. E os de que ele declarante ao pre-
sente está lembrado, são que, haverá quatro ou cinco anos, pouco mais ou
menos, tempo que na verdade for, e os fez este mês de Maio próximo passado,
fl. 181v. na oposição da catedrilha de lnstituta, que l_ evou António Cabral, a ele de//
clarante [lembra que] deu o dito Secretário, Rui de Albuquerque, os dois anos
de residência a Manuel Álvares de Abreu, por votar pelo dito António Cabral;
o que ele declarante sabe, além de ser público e notório, porque, como amigo
particular do dito Manuel Álvares de Abreu, lhe fazer seus actos desde conclu-
sões até formatura inclusive; e, como tal, esteve o sobredito esperando aqui,
depois de formado, quinze dias, para poder votar na dita cadeira por ele decla-
rante, e por o dito Manuel Álvares de Abreu não ter mais que os ditos oito

216
cursos ao tempo da dita cadeira; e, depois de votar nela, ir-se, sem tornar mais
a esta Universidade, tratando logo o seu requerimento, como quem tinha dez
anos, para isso necessários. E sabe que, sem ter os ditos dois anos de prática, o
despacharam, donde presume que, com certidão falsa de os haver residido nesta
Universidade, o despacharam; como por lhe haver dito a ele declarante o dito
Manuel Álvares, depois de formado, que daria oito dobrões a quem lhe hou-
vesse do dito Rui de Albuquerque os ditos dois anos; o que se passou, estando
(1. /82 ambos sós. E ser, outrossim, público dar-lhos // o dito Rui de Albuquerque,
porque, sendo o dito Manuel Álvares o maior apaixonado que ele declarante
tinha, e com muito pouca amizade do dito António Cabral, e de se divulgar que
votara pelo sobredito António Cabral, por quem o dito Rui de Albuquerque foi
público apaixonado; com o mais que tem dito, resultou a fama que há de ser
pelos ditos dois anos. Disse mais que o segundo caso que tem referido e que, no
dito tempo e oposição, pondo ele declarante excepção a um estudante, de cujo
nome se não lembra, de não ter curso de Artes, e apresentando em Conselho o
dito António Cabral certidão do dito Rui de Albuquerque, por que constava ter
o dito curso de Artes o dito estudante e estar lançado no livro das provas dos
ditos cursos do dito ano, folhas tantas, requereu ele declarante in continenti que
o dito Secretário exibisse o dito livro. E, apresentado em juízo, viu ele decla-
rante que não havia tal curso nas ditas folhas referidas, nem em outra alguma
parte dele, buscando-se em todas em que o dito curso podia estar; e se conven-
ceu da dita falsidade pelo dito conselho, e nele deu por razão dela ser muito
abelhudo, de que poderão testemunhar os conselheiros, que então eram João de
jl. 182v. Mendonça,/ / colegial de S. Pedro, e os mais lhe não lembram; e que, em todas
as cadeiras, era notavelmente apaixonado. E que, assistindo nas matrículas, via
que levava aos estudantes um vintém a cada um, por os matricular, contra os
estatutos reformados. Disse mais que António Dias, guarda destas Escolas, não
assiste aos actos, como tem obrigação, nem traz a sua vara, senão agora, depois
que ele Reformador veio para esta Universidade. Disse mais que os bedéis ~e
Teologia e Medicina, tendo obrigação de assistir nos actos de Leis e Cânones,
assim por respeito de seu oficio como para poderem vencer a propina que neles
têm ordinariamente, não assistem; e que o meirinho da Universidade a nenhum
deles vinha. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. Perguntado
pelo referimento que nele fez Jorge de Magalhães, disse que o que dele sabia era
ouvir a muitas pessoas que António de Abreu, opositor legista e Doutç>r ao
presente, por uma carta falsa de licenciado em Artes da Universidade de Evora
lançara no livro da prova dos cursos o primeiro delas, e pelos mais houvera
jl. 183 tempo de Sua Majestade; e que, por isso, dera// ao dito Secretário uma mula
ou um cavalo; e que bem o poderia contar a algumas pessoas, mas que lhe não
lembra. Perguntado pelo segundo referimento e primeiro que nele fez João
Pereira Botado, primeiro, em geral,e, depois, em especial, pelo que deles sabia,

217
calados os nomes, disse que era verdade que, este mês de Abril próximo pas-
sado, fez três anos, na vacatura da catedrilha de Cânones que levou o Dr. Diogo
Mendes Godinho, a que foi opositor o licenciado Pero Cabral, colegial do
Colégio de S. Pedro, depois do escrutínio fechado, sendo ele declarante ao tal
tempo opositor ao dito Colégio, se achou, em uma noite, em companhia dos
mais opositores ao dito Colégio, e de alguns colegiais, que lhe não lembram, e
de Belchior Caldeira, meirinho desta Universidade, e do dito Pedro Cabral; e,
estando assim todos juntos, indo cada um dizendo o que havia feito e regulando
os votos, disse ali o dito Belchior Caldeira, em número de vinte e tantos homens
dos votantes na dita catedrilha, que os tinha seguros, por lhes haver falado, mas
não está lembrado que dissesse que por dinheiro; mas entende ele declarante
fl. 183v. que não podia o dito meirinho dizer o sobredito, de dar aos ditos// votos por
seguros, senão ou por respeito dele, ou de seu ofício. E que, nessa mesma
conjunção, dissera Diogo Fernandes Salema, colegial do dito Colégio, a ele
declarante, que se tinham dado ao Dr. António Homem, lente de Prima de
Cânones, sessenta ou setenta mil réis para repartir com votos; e que, estando
regulando os ditos votos e fazendo as ditas contas, se leu aí um rol, que man-
dou o dito Dr. António Homem, das pessoas a que tinha falado, dizendo que
estavam certos. Perguntado se sabe, por si ou por outrem, que algum dos
bedéis desta Universidade assistisse aos pontos, e falsificasse em algum deles o
número das folhas, para que o estudante lesse porventura nas lições que tivesse
estudadas, disse que, no tempo do Reitor D. João Coutinho, no discurso de três
ou quatro anos a esta parte, não lhe lembra em que meses, viu ele declarante,
por seus olhos, duas ou três vezes, em dois ou três pontos que o dito Reitor deu,
cujas folhas tomou o bedel de Medicina Gaspar de Seixas, que o dito bedel
falsificou o número das folhas, e ficou, em todos os ditos dois ou três pontos,
fl. 184 dando aos ditos estudantes/ / diferentes títulos e matérias das que lhe caíram ;
o que ele declarante sabe por o ver, como o tem dito, e assistir aos ditos pontos
como opositor que era. E por aqui se houve por satisfeito ao segundo referi-
mento que nele fez o dito João Pereira Botado. E declarou que lhe não lem-
bravam os nomes dos estudantes a quem o dito bedel falsificara as ditas folhas.
E, por mais não dizer, e na dita per~unta atrás se ter, outrossim, satisfeito ao
referimento que nele fez Sebastião Alvares da Silva, não foi perguntado por
ele. E, sendo-lhe lido este testemunho, digo, nem foi perguntado pelo referi-
mento que nele fez João Cardoso, filho do Dr. André Rodrigues Caldeira, de
Setúbal, por ter satisfeito a ele. Perguntado se se achou ele declarante nos
bacharés deste ano, e viu que a algum deles se lançasse R, e que, depois de
regulados os votos, se tornassem a dar outros papéis de AA e RR, e se fizesse
auto do segundo escrutínio, e não do primeiro, disse que, aos quatro dias do
mês de Junho próximo passado, pela manhã, depois de feito o auto de bacharel
de Manuel Correia, canonista, natural desta cidade, e votando-se sobre a sua

218
aprovação, viu ele declarante por seus olhos que lhe deitaram um R; e que, sem
embargo disso, os regulantes, que lhe parece que foram os Drs. Domingos
f1. J84v. Antunes, lente de Véspera, e Luís Ribeiro de Leiva, de Decreto,// e os mais
votantes, dizendo que fora erro, tornaram a votar por AA e RR; e, regulados os
votos, saiu aprovado por todos nemine discrepante, antes mostrando cada um o
A para toda a sala; porque foi público nela haverem lançado o dito R. E, sem
embargo do estatuto proibir aos ditos votantes e ao dito Secretário consenti-lo,
e fazer auto do segundo escrutínio e não do primeiro, sob pena de perdimento
de seu ofício e de outras penas, tornaram a votar em segundo escrutínio, como
dito tem, a que o dito Luís Ribeiro de Leiva resistiu em seu voto; e o dito
Secretário, Rui de Albuquerque, fez o dito auto do segundo escrutínio, e não do
primeiro. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Dr. Cristóvão Mou-
zinho.

Aos vinte e quatro dias do mês de Julho de mil e seiscentos e dezanove


anos, nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de
D. Francisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua
Jl. 185 Majestade, Re/ / formador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir
perante si a António Ferreira, ourives de prata, morador nesta cidade, na Rua
da Calçada, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,mandado que, sob cargo dele, dis-
sesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de quarenta e quatro anos. Perguntado se sabe ou
presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu que, sendo perguntado na
visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que
tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelo referimento que nele fez
Marcos de Figueiredo, em geral, e, depois disso, em especial, calados os nomes,
disse que, a quaresma próxima passada fez um ano, pouco mais ou menos,
estando o Reitor D. João Coutinho para se partir desta Universidade, já com o
fato entrouxado, pedira a ele declarante que lhe mandasse dar cem mil réis, do
dinheiro que tinha em depósito da fazenda de Manuel Rodrigues Navarro, sen-
tenciado pela visita próxima passada, e, de feito, lhos trouxe; e lhe dera, por
isso, uma caixa de marmelada, e muitos abraços, e deles um escrito para sua
fl. 185v. descarga, que trará, sendo necessário. E, perguntado se dera mais// algum
dinheiro a alguma outra pessoa da Junta que resultou da dita visita, disse que,
este S. Bartolomeu que vem fará dois anos, emprestara, na feira de Trancoso,
trinta mil réis, pouco mais ou menos, ao Vice-Conservador Martim de Carva-
lho, para comprar Cosme de Castro um cavalo na dita feira para o dito Martim
de Carvalho, que por ele lhe mandou; que depois lhe foi pagando. E ainda

219
para os ditos cem mil réis que deu ao dito D. João Coutinho lhe acabou de
pagar com dezasseis ou dezassete mil réis. E que, ao presente, lhe está o sobre-
dito Martim de Carvalho devendo doze mil réis sobre doze moedas de
S. Vicente. E que este é o dinheiro que lhe lembra que tenha emprestado; e
que, se tem dado mais algum, constará dos papéis, que todos tem juntos, os
quais verá, e deles trará relação a ele Reformador. E não lhe foram feitas mais
perguntas. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na
verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. António Ferreira.

Jl. 186 Paulo da Fonseca, casado em Lorvão, bacharel// formado em Medicina,


morador na Rua dos Estudos, testemunha referida, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim; e disse ser de idade de trinta anos. Perguntado se sabe
porque é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo
perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogató-
rios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inqui-
rir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse
que não sabia deles coisa alguma. Perguntado pelo referimento que nele fez
Simão Fernandes, em geral,e, depois, em especial, calado o nome, disse que o
que dele só sabia era ouvir, no tempo em que deram as cutiladas à mulata, por
nome Isabel de Figueiredo, dizer, não lhe lembra quem, que lhas dera João de
Resende, irmão do tesoureiro do Fisco; e isto a uma só pessoa. E não sabe
nem presume que ele lhas haja dado, nem que fizesse o tal delito. E, por mais
fl. 186v. não dizer, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade,// e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Paulo da Fonseca.

João Gonçalves da Câmara, solteiro, filho de Pero Gonçalves da Câmara,


de Lisboa, estudante teólogo, morador ao Paço do Conde, testemunha referida,
a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão,
e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e três
anos. Perguntado se sabe ou presume porque é chamado, e se alguém, por si ou
por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse
a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que

220
não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela,
conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo
íl. 187 que de cada um deles sabia, disse que o que// deles sabia era que Gaspar de
Seixas, bedel de Medicina e Artes, não dá contas do dinheiro que recebe para os
actos das ditas Faculdades; e, disso, há dele comum queixa entre todos ou a
maior parte dos estudantes desta Universidade. E ele declarante tem a dita queixa
por certa e verdadeira, porque, fazendo-se mestre em Artes a dez ou doze deste
presente mês de Julho, fez um ano, mandou por um pagem seu, por nome Pero
de Moura, estudante canonista, ao dito bedel trinta e três mil réis para o dito
grau de mestre em Artes; e, sem embargo de ver que lhe faltaram no dito acto
alguns Doutores e mestres em Artes, sem estarem doentes nem ocupados no
serviço da Universidade, e que lhe quitaram outros a propina, e que, feitas
contas pelo dito seu pagem Pero de Moura com o dito bedel, lhe ficava delas a
dever dois mil réis, lhos não tomou, nem deu, até ao presente; posto que, pelas
ditas contas, o dito bedel se deu por convencido na dita quantia. E que, desde
então até hoje, o dito bedel não chamou nem deu aviso a ele declarante para
grau algum; e isto fez aos demais, para ter ocasião de levar ao que toma o dito
grau a propina de todos aqueles que faltam. Disse mais que era comum queixa
de todos os estudantes desta Universidade o Secretário, Rui de Albuquerque,
não assistir no Conselho e casa da matrícula, nem ainda a requerimento deles
querer vir a ela, para lhes provar o curso, e lhos tirar para seus autos, e os
Jl. 187v. matricular;// e, por isso, perderem parte de seu curso, como a ele declarante lhe
aconteceu, que perdeu, de um de seus cursos, oito dias, sem poder acabar com o
dito Secretário que o matriculasse. E que, de quatro anos a esta parte que se
matricula, deu ao dito Rui de Albuquerque um vintém por isso, e viu que assim
lho davam os outros. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios.
Perguntado se sabe que o dito Rui de Albuquerque leve peitas por matricular
em ausência, e provar cursos falsos, e se o disse assim a alguma pessoa, disse
que fama havia do sobredito, e ele declarante o ouvira assim comummente, não
lhe lembra agora em particular a que pessoas, nem a quem dissesse o sobredito.
Perguntado se cursou as Artes no Colégio dos Padres da Companhia de Santo
Antão de Lisboa, no primeiro curso, que começou em Outubro de seiscentos e
doze e acabou em Maio de seiscentos e treze, e quem foi seu mestre, e se teve
por condiscípulos a Manuel Soares Pereira, bacharel formado em Cânones
deste ano, da cidade de Lisboa, e a Gonçalo Mendes de Freitas, clérigo que hoje
é, preto do rosto, estudante canonista, outrossim natural de Lisboa, disse que
.fl. 188 ouviu as ditas Artes no dito ano// e Colégio, e que foi seu mestre o padre Luís
Brandão em todos os três anos; e que o dito Gonçalo Mendes foi seu condiscí-
pulo no primeiro, segundo e terceiro curso das Artes no dito Colégio, e o ano
imediato e quarto em ordem, andou com ele declarante no quarto curso das

221
Escolas Menores desta cidade; e o dito Manuel Soares Pereira foi, outrossim,
seu condiscípulo no dito primeiro e segundo curso, e que ao terceiro ano se veio
para esta Universidade, e ao quarto em ordem andou, outrossim, com ele decla-
rante no dito quarto curso destas Escolas Menores. Perguntado se sabe que os
sobreditos Gonçalo Mendes e Manuel Soares tivessem Casos de consciência,
disse que sabia que os não tinham, porque, como foram condiscípulos até ao
quarto curso inclusive, e, após ele, vieram a ouvir Direito, humanamente não os
podiam ter nem ouvir nos mesmos anos das Artes, porque, no próprio tempo
em que se elas cursam, se ouvem os ditos Casos, no dito Colégio de Santo
Antão. E, por mais não dizer, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito
na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. João Gonçalves da Câmara.

fl. 188v. Aos vinte e seis dias do mês de Julho de mil e seis// centos e dezanove
anos, nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de
D. Francisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua
Majestade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir
perante si ao Dr. Miguel Soares Pereira, colegial do Colégio de S. Pedro, lente
de Cânones nesta dita Universidade e deputado do Santo Ofício, testemunha
referida, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de trinta e nove anos. Perguntado se sabe ou presume porque é cha-
mado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na
visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que
tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatu-
tos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e,
depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que deles não
sabia coisa alguma. Pelo que, perguntado pelo referimento que nele fez João
fl. 189 Pereira Botado,// calado o nome, primeiro, em geral, e, depois, em especial,
disse que bem poderiam, no dito tempo, ajuntarem-se na dita cela do Dr. Diogo
Fernandes Salema, e na dita noite e com as mais pessoas nele nomeadas, e sem
embargo de lhe parecer que assim foi, e de Belchior Caldeira, meirinho desta
Universidade, haver sido, na dita cadeira, apaixonado do licenciado Pero
Cabral, no que mostrava, não lhe lembra em particular que pessoas e votantes
ele aí declarasse haver apaixonado pelo dito Pero Cabral, pelo muito tempo que
há; nem lhe lembra que lhe desse, para isso, dinheiro algum, por conta do dito
Pero Cabral. E que, na dita oposição, entende que, por via do dito Pero
Cabral, se deu dinheiro ao Dr. António Homem, lente de Prima de Cânones,
para votos para a dita cadeira; e, em conformidade disso, mandou o dito Dou-

222
tor um rol de homens a quem havia subornado pelo dito Pero Cabral; porém,
não sabe a quantia do dinheiro que foi. E sabe o sobredito, pelo que ouviu aos
ditos seus colegiais, que ao tal tempo estavam no Colégio; e que o dito Doutor
é público e notório, entre a maior parte desta cidade e toda a Universidade, ser
apaixonado em todas as cadeiras, e os opositores delas darem-lhe dinheiro para
esse efeito. E, por mais não dizer, sendo-lhe lido este testemunho, e por ele
J7. 189v. ouvido, disse estar escrito na/ / verdade, e do costume nada. E assinou com o
dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Dr. Miguel Soares Pereira.

Jorge Osório Coutinho, solteiro, filho de Diogo Osório, de Lamego, teste-


munha atrás ·perguntada e referida, a quem o Reformador D. Francisco de
Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de vinte e seis anos. Perguntado se lhe pediu
alguém, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reforma-
ção, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte,
disse que não. Perguntado que ano foi o seu primeiro de Instituta, e, depois
dela, se deixou de provar e cursar alguns anos, disse que lhe parece que foi o
ano de seiscentos e catorze para seiscentos e quinze o seu de Instituta, e que o
fl. 190 segundo deixou // de cursar, e o ano passado de o provar e cursar. Perguntado
que era o que ofereceu ou deu ao Secretário, Rui de Albuquerque, por lhe
provar algum dos ditos dois anos, ou qualquer dos outros cursos que tenha
provado, disse que nem lhe deu nem lhe prometeu coisa alguma por isso. Per-
guntado se o determinou logo fazer, e, por alguma via, tratou de o efectuar, e o
comunicou para esse efeito, disse que a seu pai comunicara o dito desenho, para
lhe dar algum dinheiro e presuntos, como de feito deu, e que bem poderia dar
também conta dele a algumas pessoas, como em efeito lhe lembra que disse,
mas não a quais; e que, com uma provisão de Sua Majestade para o poder
provar, determinou a satisfazer ao dito seu pai. E, por mais não dizer, se houve
por satisfeito ao referimento que nele fez Frutuoso Antunes da Costa. E, sen-
do-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Jorge Osório Coutinho.

Aos vinte e sete dias do mês de Julho de mil e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
/1. 190v. cisco// de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua
Majestade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir
perante si a Luís Cordovil, solteiro, natural de Pavia, do arcebispado de Évora,

223
bacharel canonista, morador na Rua de Alvaiázere, testemunha referida, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que
lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e
nove anos. Perguntado se sabe ou presume porque é chamado, e se alguém,
por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reforma-
ção, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte,
disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados,
porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em
especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que não sabia deles coisa
alguma. Pelo que, perguntado pelo referimento que nele fez António de Men-
donça, primeiro, em geral, e, depois, em especial, disse que não estava lembrado
de pistolete algum que visse, e muito menos preso por fita, com que estivesse
lançado ao pescoço de estudante algum. Perguntado pelo referimento que nele
fl. 191 fez Francisco// Cardoso do Amaral, em geral, disse que, haverá ano e meio,
pouco mais ou menos, que ele declarante se achou nesta cidade, uma tarde, à
porta de Nossa Senhora do Salvador, em companhia de muitos estudantes, e,
entre eles, tendo palavras Sebastião Álvares da Silva, opositor legista, e António
de Mesquita, bacharel canonista, posto que se disse que João Pereira Botado,
acudindo em favor do dito Sebastião Álvares da Silva, levara de um pistolete,
ele declarante lhe não viu mais que por baixo do mantéu da baeta fazer
demonstrações de como quem tinha nas mãos pistolete, sem atirar, nem por
outro acto algum conhecer e entender que era pistolete. E que isto era o que só
sabia do dito referimento. Perguntado pelo referimento que nele fez Inácio,
digo, perguntado que vezes iria a casa do Vice-Conservador Martim de Carva-
lho a lhe fazer requerimentos sobre a demanda que trouxe com Brásia Luís,
sobre umas casas, disse que não conhecia tal mulher; porém, que trazia duas
demandas no Juízo da Conservatória, e que sobre elas fora fazer a casa do dito
Vice-Conservador lembranças e requerimentos. Perguntado quanto haverá que
foi a casa do dito Vice-Conservador, disse que haveria dois ou três meses;
e depois tornou a dizer que haveria seis ou sete. Perguntado se, das culpas por
que, no dito Juízo da Conservatória, foi pronunciado a prisão, está já livre, e de
fl. 191v. que tempo a esta parte, disse que// não sabia culpas que tivesse no dito Juízo
da Conservatória, nem que por elas fosse pronunciado a prisão. E não lhe
foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar
escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Luís Cordovil.

Aos vinte e nove dias do mês de Julho de mil e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-

224
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majes-
tade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Francisco da Cunha, solteiro, filho de António Gonçalves da Cunha, natural
desta cidade, estudante canonista, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que,
sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,
prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte anos. Perguntado se
sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por
Jl. 192 outrem,// que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade
ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Per-
guntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme
a eles, é obrigação inquirir, em geral e, depois disso, em especial, pelo que de
cada um deles sabia, disse que não sabia deles coisa alguma, pelo que lhe foram
feitas as perguntas seguintes. Perguntado se andou na primeira classe das Esco-
las Menores desta Universidade, e com que mestre e condiscípulos, e em que
ano e quantos, disse que no ano que começou em Outubro de seiscentos e treze,
desde o princípio dele até quatro do mês de Julho de seiscentos e catorze, andou
ele declarante na primeira classe das ditas Escolas Menores, só esse ano escolás-
tico, em que teve por mestre ao padre Manuel Freire, ou João Freire, que, este
presente ano, leu Escritura nas ditas Escolas Menores; e foram seus condiscípu-
los, no dito ano e classe, entre outros muitos estudantes, Francisco Soares de
Albergaria, estudante legista, e seu irmão Vicente Soares, filhos de Cristóvão
Soares de Albergaria, já defunto, vereador que foi da cidade de Lisboa, e Fran-
cisco de Leiria Monteiro, estudante legista, e D. Pedro de Meneses, estudante
canonista, D. João Sotomaior e João de Sá, estudantes canonistas, e outros
muitos. Perguntado se sabe que algum dos sobreditos, ou dos mais condiscípu-
los que teve na dita classe e ano, tivesse e tenha curso de Artes das ditas Esco-
fl. 192v. las, ou doutra alguma parte,// disse que não; e que todos os atrás nomeados
com ele declarante passaram a Instituto no ano seguinte, e nela, e nele, e nos
mais, foram condiscípulos em Cânones; e os legistas atrás nomeados na Insti-
tuto, até se passarem à Faculdade de Leis, que professam. Disse mais que, de
cinco anos a esta parte que há que se matricula, sempre deu em todos ao
Secretário, Rui de Albuquerque, um vintém, e viu que os mais · assim lho
davam, e ele o recebia. E, por mais não dizer, sendo-lhe lido este testemunho, e
por ele ouvido e entendido, disse estar escrito na verdade, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Francisco da Cunha.

O Dr. Estêvão da Fonseca, lente de Instituto nesta Universidade, testemu-


nha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em

225
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
fl. 193 idade de trinta e dois para trinta e três anos. Perguntado// se sabe ou presume
para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo
perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogató-
rios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inqui-
rir, em geral, e, depois, disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia,
disse que deles não sabia coisa alguma, pelo que lhe foram feitas as perguntas
seguintes. Perguntado se lhe pediu algum estudante que intercedesse por ele e
falasse ao Secretário, Rui de Albuquerque, para que lhe desse certo tempo ou
dias que lhe eram necessários para suprimento de certas faltas, disse que nunca
tal lhe pediram. Perguntado se, esta quaresma próxima _passada fez dois anos,
nesta cidade, em uma causa que ele declarante trazia, lhe perguntou alguma
testemunha Sebastião Lopes da Costa, escrivão da almotaçaria e taxas, disse
que, no dito tempo, pouco mais ou menos, tempo que na verdade se achar
pelos autos, o dito Sebastião Lopes, em sua casa, lhe perguntou algumas teste-
munhas, em uma causa sobre as casas em que mora e taxa delas, de António
Dias da Cunha, cónego na Sé desta cidade. Perguntado se, no tempo _em que
as deu, e em que elas depuseram, se estava presente o inquiridor que as inqui-
risse, ou se, depois de as o dito escrivão escrever e inquirir, se assinou o dito
inquiridor, e qual era, disse que as primeiras testemunhas que deu na dita causa;
fl. 193v. em uma manhã, no dito tempo e em casa do dito Sebastião Lopes,// que foi
uma ou duas, o sobredito as escreveu e inquiriu juntamente, sem estar presente
o inquiridor; e lhe parece que foram Diogo Lopes de Almeida, estudante cano-
nista, natural de Leiria, que há dois anos que falta nesta Universidade, e Tomé
Falcão, estudante do Latim, criado do Dr. Cristóvão Mouzinho. E sabe o
sobredito, pórque subiu à casa onde estava o dito Sebastião Lopes e não viu lá
inquiridor; e imediatamente foram as ditas uma ou duas testemunhas, e as
perguntou; e, descendo-se para baixo, lhe disseram que tinham testemunhado.
E assistiu, à porta da dita casa, donde, se lá fora inquiridor, ele declarante o
vira. E não lhe lembra se deu aí mais alguém algumas testemunhas, que lhe
perguntasse sem o dito inquiridor. E lhe parece que pagou o salário ao dito
inquiridor e não ao dito escrivão, por outra vez. E, por mais não dizer, lhe não
foram feitas mais perguntas, e se ter satisfeito aos testemunhos atrás de Henri-
que do Quintal, e de João de Caminha, e António Bernardes. E, sendo-lhe lido
este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou
com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor. Dr. Estêvão da Fonseca.//

226
J7. 194 Aos trinta dias do mês de Julho de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si ao
Dr. Luís Ribeiro de Leiva, lente de Decreto nesta Universidade, e, sendo pre-
sente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de quarenta anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo
que, de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era ser público e
notório, nesta Universidade, o meirinho Belchior Caldeira ser apaixonado e
subornar estudantes em muitas cadeiras, quando não fosse em todas, tirando
esta de Instituta que agora se proveu; e o Secretário, Rui de Albuquerque, e o
Dr. António Homem, lente de Prima de Cânones. E posto que não fez apreen-
fl. 194v. são particular que lhe ficasse dos actos particulares de cada uma/ / das ditas
pessoas, de que se divulgasse a dita fama, contudo lhe parece que era pública
voz e fama, entre as pessoas com que tratava, como colegial e lente desta Uni-
versidade, ou como pessoa assistente nela. Disse mais que, aos quatro dias do
mês de Junho próximo passado, pela manhã, depois de feito o auto de bacharel
de Manuel Correia, canonista, natural desta cidade, e votando-se sobre sua
aprovação e regulando os votos ele declarante e o padrinho, que era o Dr.
Domingos Antunes, viu que lhe lançaram um R; e, depois de regulados, por
dizer o dito Dr. Domingos Antunes que devia de ser erro, ou que foi erro,
tomaram a votar por AA e RR, e saíra aprovado nemine discrepante; e que,
assim, ele declarante, como os demais lentes, cuidara, que aquilo era in conti-
nenti, e, por ser in continenti, se podia fazer. E que isto era o que sabia dos
ditos interrogatórios; declarando, porém, mais que, depois do dito segundo
escrutínio, lhe disse o Dr. Duarte Brandão, voto que também foi nele, que
estava advertido de que o estatuto dispunha em contrário, quando votou no
dito escrutínio, sem embargo do que tinha acontecido no primeiro. E, sendo-
-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Dr. Luís Ribeiro de Leiva.//

fl. 195 Jerónimo de Tovar, solteiro, filho de Paulo de Tovar, da cidade de Lisboa,
estudante legista, bacharel e opositor na dita Faculdade, morador na Rua do
Forno, testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses

227
mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse
verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de vinte e seis anos. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo
perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogató-
rios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inqui-
rir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse
que o que deles sabia era que, este Dezembro passado fez um ano, pouco mais
fl. 195v. ou menos, nesta cidade, em sua casa,// se acharem Manuel Soares de Moura,
bacharel formado em Leis, de Lisboa, onde actualrnente advoga, e Estêvão da
Fonseca, lente de Instituta, e Manuel Pegado, estudante canonista, criado do
Arcebispo de Lisboa, e ele declarante; e, estando todos quatro, por ocasião de
dizer o dito Manuel Soares que lhe faltavam cinco ou seis meses, e que dera por
eles dez mil réis, porque lhe importava formar-se, disse e respondeu o dito
Estêvão da Fonseca que lhos desse, que ele lhe haveria do Secretário, Rui de
Albuquerque, o dito tempo. E porque ali se não concertaram, e o dito Manuel
Soares receava que o dito Estêvão da Fonseca lhe tornasse parte do dinheiro,
disse a ele declarante, depois que fora ter com o dito Rui de Albuquerque, e que
lhe dera o dito tempo, e lho pusera no traslado dos seus cursos, por menos
dinheiro ainda dos ditos dez mil réis, sem declarar quanto, porque lho pedira
um amigo seu, que não nomeou. E que se fiou dele declarante o dito Manuel
Soares por serem conhecidos e amigos; e o disse também a outras pessoas.
Disse mais que, este mês de Abril ou Maio próximo passado, não lhe lembra a
quantos dele, nesta cidade, se achou ele declarante em casa e companhia de
Simão Delgado, estudante canonista, filho de Simão Delgado, cirurgião do
fl. 196 hospital de El-Rei/ / da cidade de Lisboa, e, estando ambos, o sobredito lhe
mostrou urna caixa de diacidrão e pêras secas e cobertas, e um saco, que ele
declarante viu também, em que o sobredito lhe disse estarem doze mil réis; e lhe
disse que urna coisa e outra mandava seu cunhado Gonçalo Vaz Freire, bacha-
rel formado em Leis, ao dito Secretário, Rui de Albuquerque, por urna amizade
que lhe fizera nos seus cursos, sem lhe declarar qual. E é público, nesta Univer-
sidade, que o dito Rui de Albuquerque lhe deu oito ou nove meses que lhe
faltavam em seus cursos para se poder formar, corno de feito formou, este mês
de Dezembro ou Janeiro próximo passado. Disse mais que, de nove anos a esta
parte que há que se matricula nesta Universidade, em todos lhe levou, por isso,
o dito Rui de Albuquerque um vintém, e viu que assim o levava aos mais. Disse
mais que, haverá dois anos e dois meses que, nesta cidade, em casa dele decla-
rante, foi ter Rui da Costa Calaça, estudante canonista, da cidade de Elvas;
e, estando ambos, por ocasião do sobredito lhe pedir urna navalha emprestada,

228
lhe disse que, o dia de antes, à noite, o levara Salvador Lopes da Silva, estu-
dante médico, de Sacavém, comprar uns doces a casa da Monteira, que os
vende nesta cidade; que, depois de os terem comido ao cano da feira, foram aí,
na feira, a umas casas de um amigo, que abriram para ver se achavam lá uns
presuntos que cuidavam que tinha; e que lá, nas ditas casas, o dito Salvador
Lopes chegara o rosto ao seu, como quem o queria beijar e abraçar. E, saídos
fl. 196v. para fora, vindo para// o terreiro desta Universidade, aos degraus da Capela, o
cometera claramente para o pecado de molícias; e, de feito, o cometera se ele
dito Rui da Costa o consentira. E que o dito Salvador Lopes, entre alguns
estudantes, estava infamado de cometer o dito pecado, por continuar e assistir
em uma casa donde, antes da visita do Bispo de Lamego, se costumavam ajun-
tar alguns fanchonos. Disse mais que, este mês de Abril próximo, nesta cidade,
se achou ele declarante em casa e companhia de Francisco Tavares, bacharel
legista, de Aldeia Galega, e de Luís de Carvalho, seu companheiro, estudante
canonista, de Lisboa, que vive detrás de S. Pedro; e, estando todos três, lhes viu
dois pistoletes, a cada um seu, cujos canos seriam ambos de palmo e meio, com
fechos de pederneira. E lhe disseram depois disto que, mandando-lhos ele
Reformador buscar a casa, tanto que viram ir para ela o meirinho, deitaram
por uma janela os pistoletes em um quintal de Manuel Saldanha, seu vizinho.
Disse mais que, o primeiro deste mês de Maio próximo passado, das oito para
as nove horas da noite, atirou João Vieira, estudante legista, de Lisboa, com
uma espingarda a um clérigo estudante, por nome fulano Salgado, e lhe meteu
na mão esquerda, com que se emparou, vinte e oito perdigotos; o que sabe
porque o viu entrar com a dita espingarda em sua casa, e, em saindo dela, logo
fl. 197 ouviram// ao dito tiro. E o dito João Vieira se concertou com o dito clérigo
em oito mil réis, por lhe perdoar. E que isto era o que só sabia dos ditos interro-
gatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade; e do
costume, que tivera umas dúvidas com o dito Salvador Lopes, mas, depois
disso, se reconciliaram por amizade tácita, falando-se de barrete, de um ano a
esta parte. E que tinha dito verdade. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Jerónimo de Tovar.

Aos trinta e um dias do mês de Julho de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majes-
tade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Luís Mendes Palma, solteiro, filho de Manuel Mendes Palma, natural da
cidade de Lisboa, estudante canonista, morador defronte das casas do Bispo,
testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse

229
fl. 197v. verdade e tivesse segredo no que // lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de vinte e um anos. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo
perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogató-
rios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inqui-
rir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse
o que deles sabia era que, oito dias, pouco mais ou menos, antes do entrudo
próximo passado, à tarde, nesta cidade, defronte da porta do pátio do Mosteiro
de Santa Ana, se achou ele d~clarante, vindo de Celas, em companhia de Luís
de Carvalho, estudante, da cidade de Lisboa, e de Manuel Faia, estudante,
também de Lisboa, canonista, e de Miguel Pinheiro, canonista, de Setúbal.
E, chegando à dita porta um mulato, que dizem ser do Alentejo, da obrigação
de Gaspar da Fonseca, arremeteu ao dito Luís de Carvalho, e andando a bra-
ços, e nesse comenos veio de dentro do pátio do dito Mosteiro Manuel Falcão,
estudante legista, de Portalegre, com um pistolete na mão, de dois palmos de
cano e fechos de pederneira, com o cão levantado, dizendo que largasse o
fl. 198 mulato;/ / e,tanto que o largaram, indo correndo após o dito Luís de Carvalho,
dizem que lhe atirou com ele. E o dito Manuel Faia atirou com outro pistolete,
e disparou para o dito mulato, e deu em um braço ao dito Gaspar da Fonseca,
posto que o não feriu; e o dito Gaspar da Fonseca diziam que trazia também
pistolete, e o cano seria de palmo e fechos de pederneira. E, assim, viu outros
pistoletes, posto que lhe não lembra agora cujos eram. E o dito mulato feriu
com uma espada ao dito Manuel Faia, na cabeça, de uma ferida aberta e san-
grenta, que levaria um ou dois pontos. E, nesta briga, foram, de uma parte, em
favor do dito Manuel Falcão, Luís Salema, Jacinto da Fonseca, e o dito Gaspar
da Fonseca, e o dito mulato; e, da outra, o dito Luís de Carvalho e o dito
Manuel Faia. E que, da dita briga e ferimento, se não tirou devassa, sendo o
caso dela, por razão dos ditos pistoletes; e que ouviu ele declarante dizer que
deixara de se tirar por se meter nisso um dos sobrinhos do Bispo eleito desta
cidade, e não sabe qual deles. E que isto era o que sabia dos ditos interrogató-
rios. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do ·
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrev1. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Luís Mendes
Palma.

f7. 198v. Ao primeiro dia do mês de Agosto de mil e seiscentos// e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majes-
tade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si
ao Dr. Domingos Antunes de Abreu, lente de Véspera de Cânones nesta Uni-

230
versidade, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dis-
sesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de cinquenta anos. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo
perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogató-
rios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inqui-
rir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse
que o que deles sabia era que o Dr. António Homem, lente de Prima de Câno-
nes, era público e notório, nesta Universidade, ser apaixonado público nas
fl. 199 cadeiras que nela vagam, com muito// escândalo de toda ela; e, nas ditas cadei-
ras, lhe davam dinheiro para dar a votos. E entende ele declarante que lhe
ficam sempre as mãos untadas, porque sempre é apaixonado dos opositores
mais ricos. Disse mais que, na nomeação de Reitores próxima passada, houve
subornos e pacto entre os lentes Frei Francisco da Fonseca, lente de Escoto, e
António Lourenço, lente de Véspera de Medicina, e D. André de Almada, lente
de Véspera de Teologia; a saber, que o Vice-Reitor Frei Egídio mandasse cha-
mar os substitutos que a eles lhe vinham bem, e o dito Frei Francisco da Fon-
seca o persuadisse a isso; e que votassem, em primeira caixa, por D. Fernando
de Castro, e, na segunda, por Francisco de Brito de Meneses, e, na terceira, por
D. Diogo Lobo, por respeito do dito Dr. António Homem, que, sem isso, não
quisera votar por nenhum dos outros dois primeiros. E, em conformidade do
dito pacto, propuseram e mandaram votar, como de facto se votou, se havia de
assistir à dita nomeação Francisco Caldeira de Morais, deputado proprietário,
que estava no dito claustro, ou D. João Pereira, que tinham mandado chamar
para substituto do dito proprietário. E, sendo Pero Cabral, colegial do Colégio
de S. Pedro, lente condutário desta Universidade, e estando nela actualmente, o
não elegeram; e elegeram a Gomes de Brito, bacharel corrente, para subs/ /
fl. 199v. tituto da cadeira de Sexto, que ele declarante tinha por da facção dos sobredi-
tos; e lançaram António de Sequeira, bacharel legista, que havia, digo, que
servia em ausência do proprietário, e chamaram outro em seu lugar, e os mais
do dito Claustro foram substitutos por este modo, do que resultou a nomeação
dos sobreditos; de cujos modos, e de não nomearem outras pessoas, houve,
nesta Universidade e cidade, grande escândalo. Disse mais que, este ano pas-
sado, estando tomadas as contas do contador Jerónimo de Acha, contador da
próxima visita, o Dr. António Lourenço e o Dr. Fabrício de Aragão, lente de
Clementina, se puseram de novo a revê-las, e nisto gastaram muito poucos dias,
e o Vice-Reitor Frei Egídio lhe mandara dar trinta mil réis a cada um, contra os
estatutos reformados; do que houve grande escândalo nesta Universidade e
cidade. Disse mais que, este mês de Junho próximo passado fez um ano, viu

231
ele declarante trazer a Domingos Gomes, escrivão da receita e despesa, um saco
com dinheiro; e, perguntando-lhe que era, lhe disse que eram cento e oitenta mil
réis, que o Reitor Vasco de Sousa, antes que morresse quatro dias, mandara
entregar ao Dr. Fabricio de Aragão, deputado da Fazenda que era ao tal
fl. 200 tempo, para gastos dos// que da Universidade fossem acudir a um rebate de
Mouriscos, que se dizia que estavam à vista de Buarcos. E sabe ele declarante
que se lhe deram, e que não foi a Universidade acudir ao dito rebate; e não sabe
se o dito dinheiro tomou ao prebendeiro. Disse mais que António Soares,
tesoureiro da Capela, tinha os ornamentos dela marlotados e mal tratados, e, na
limpeza e ministério da dita Capela, era mui descuidado; e que era público e
notório que emprestava ou alugava os ditos ornamentos e mais coisas da dita
Capela, sem embargo da proibição dos estatutos. Disse mais que os bedéis
Gaspar de Seixas, de Medicina, e Gaspar de Sampaio, de Cânones e Leis, não
dão contas aos estudantes do dinheiro que lhes dão para fazerem seus autos; e,
quer haja muitos, quer poucos Doutores, sempre pedem a mesma quantia para
o que lhes cresce dos lentes que faltam nos actos lhes ficar, e não o tomarem
aos ditos estudantes; e que não sabe a quantia que pedem. E que as sortes de
conclusões e bacharéis são escusadas, porquanto o dito Gaspar de Sampaio dá
os dias como quer e lhe parece; e os estudantes, por isso, o peitavam com
presentes. E que, assim, os sobreditos, como Bartolomeu Fernandes, bedel de
Teologia, o dinheiro que dos ditos autos lhes fica para a arca da Universidade,
o não pagam, com intento de o pedirem de mercê a Suá Majestade, como, de
fl. 200v. feito, pedem pouco a pouco, sem// entregarem nunca o resto. E que ainda hoje
os filhos de Jerónimo de Sampaio devem algum dinheiro deste. Disse mais que,
publicamente, o Secretário, Rui de Albuquerque, leva pela matrícula um vintém
de cada pessoa; e, algumas vezes, o viu ele declarante, contra a forma da refor-
mação; e que não vinha aos pontos de bacharéis nem formaturas, tirando
depois que ele dito Reformador aqui assiste, contra o que dispõe a dita refor-
mação. E que os termos que faz de bacharéis e formaturas, muitos deles são
feitos por outrem, como pelos bedéis, que por ele assistem aos ditos autos,
fazendo em tudo seu ofício, sem comissão dos Reitores, e estando na terra o
dito Rui de Albuquerque, e sem impedimento algum. Disse mais que, dos
catorze mil réis que o dito Secretário Rui de Albuquerque recebe para o préstito
dos Reis, por mandado do Reitor, não deu, em todos estes anos atrás, conta do
que lhe cresceu, por certidões dos bedéis, que ele declarante saiba. Disse mais
que é público, nesta Universidade, que o dito Secretário, Rui de Albuquerque,
dá tempo aos estudantes, tirando-lhes em seus cursos mais tempo do que no
original deles têm, a uns mais e a outros menos, segundo quer e lhes é necessá-
.fl. 201 rio; e, nas// certidões que passava, na forma da reformação, dava o mesmo
tempo ou mais, conforme ao que queria. E que entende ele declarante, em sua
consciência, que, se Deus lhe não mudar a vontade e condição, que é serviço de

232
Deus e de Sua Majestade e desta Universidade e do bem comum do Reino não
servir o dito Rui de Albuquerque o ofício de Secretário. E que sabe o sobredito
por o ouvir aos mais dos estudantes, condiscípulos daqueles a quem o dito
Secretário deu o dito tempo; e, em especial, lhe lembra de um António Veloso,
filho de Lancerote Veloso, formado em Leis deste ano escolástico, e Gonçalo
Vaz Freire, e Manuel Ximenes, canonista, e Manuel Soares de Moura, legista,
aos quais dera o dito tempo para se formarem este presente ano; e a outros
muitos que lhe não lembram; de que resultou a dita fama e notoriedade. E que
a que havia das ditas certidões, tinha ele declarante também por certa, porque,
haverá dois anos, ou pouco mais, que ele declarante viu ir-se desta Universidade
Manuel Falcão, estudante legista, de Portalegre, e o ano seguinte apresentar-lhe
a ele declarante uma certidão do dito Secretário, Rui de Albuquerque, para
provar o curso; na qual, a respeito do tempo em que se havia ido, e da data da
dita certidão, lhe ficou dando nela alguns vinte dias, pouco mais ou menos;
e não tinha despacho algum do Reitor. E que, sendo opositores à catedrilha de
fl. 201v. Cânones, que levou o Dr. Diogo// Mendes Godinho, ele e Pero Cabral, cole-
gial de S. Pedro, e Luís Pereira, colegial de S. Paulo, que hoje é desembargador
do Porto, antes da vacatura da dita catedrilha, por ocasião dele declarante dizer
ao dito Luís Pereira que ouvia dizer que o dito Secretário, Rui de Albuquerque,
dava as ditas certidões a instância dos ditos opositores ou de seus amigos, o
sobredito Luís Pereira lhe respondeu que se calasse, que ele o consentia, porque
o dito Rui de Albuquerque lhe fazia a ele o mesmo. E que isto era o que sabia
dos ditos interrogatórios. Perguntado se se achou ele declarante aos bacharéis
que se fizeram este ano, e se viu que, ao regular dos votos, se lançasse algum R,
e que, sem embargo disso, se tomassem a dar outros papéis de AA e RR, e se
fizesse auto do segundo escrutínio e não do primeiro, disse que, aos quatro dias
do mês de Junho próximo passado, pela manhã, depois de feito o auto de
bacharel de Manuel Correia, canonista, natural desta cidade, de que ele decla-
rante foi padrinho, ao regular dos votos com seu companheiro Luís Ribeiro de
Leiva, viram que lhe deitaram um R; e, sem embargo disso, eles o comunica-
ram à Faculdade, e assentaram que podiam outra vez tomar a votar, cuidando
que assim o podiam fazer, por ser in continenti; e, de feito, tomaram a votar por
fl. 202 AA e RR,/ / e saiu aprovado nemine discrepante, e se fez termo do segundo
escrutínio,e não do primeiro. E, em outro acto deste mesmo ano, se lançou um
R, e, por estarem já advertidos do que o estatuto dispunha, com ele ficou, e não
tomaram a votar. Perguntado pelo referimento que nele fez Jorge de Maga-
lhães, calado o nome, em geral, e, depois, em especial, disse que também era
público e notório que o dito Secretário, Rui de Albuquerque, dera tempo con-
siderável ao Dr. António de Abreu, e, por isso, lhe dera um cavalo e outros
muitos presentes; e que não sabe mais da dita matéria. E lhe não foram feitas
mais perguntas, e se houve por satisfeito aos testemunhos atrás em que o decla-

233
rante estava referido. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na
verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agosti-
nho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Dr. Domingos Antunes de Abreu.

Sebastião Jorge, solteiro, filho de Manuel Jorge, natural desta cidade,


morador defronte da Misericórdia, testemunha referida, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob//
fl. 202v. cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim; e disse ser de idade de trinta anos. Perguntado se sabe
ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem,
que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse
o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles
sabia, disse que não sabia coisa alguma. Pelo que, perguntado pelo referimento
que nele fez Manuel Figueira, calados os nomes, primeiro, em geral, e, depois,
em especial, disse que era verdade que, o ano passado, este mês presente agora
no dia das Mesas, em uma noite delas, fez um ano, se achou ele declarante
nesta cidade, em casa de Manuel Figueira, estudante médico, não sabe de que
terra, em companhia do sobredito e de António de Pina, outrossim estudante
médico, natural de Linhares, e de Gaspar de Seixas, bedel de Medicina, e dou-
tras pessoas que lhe não lembram; mas que não sabe que ele dito bedel se
fl. 203 embebedasse nem estivesse bêbado, nem o viu, em outro algum// dia, bêbado,
nem esquentado, posto que naquele comeu ali polvo e outras coisas, e bebeu
vinho. E, por mais não dizer, lhe não foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe
lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e
do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de
Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Sebastião
Jorge.

Luís Cordovil, solteiro, natural de Pavia, do arcebispado de Évora, bacha-


rel canonista, morador na Rua de Alvaiázere, apareceu perante o Reformador
D. Francisco de Meneses, e, sendo presente, por dizer que tinha que denunciar,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de vinte e nove anos. E logo disse que, segunda
feira esta próxima passada, que foram vinte e nove dias do mês de Julho pró-
ximo passado, às oito horas da noite, pouco mais ou menos, andando ele decla-
rante passeando junto à sua porta, e da de Bento Pereira, chantre da Capela,

234
sem fazer nem dizer coisa por onde houvesse de receber mal algum, por ocasião
de seu moço Manuel de Oliveira lhe dizer que as mulatas Isabel de Figueiredo e
1. 2031'. sua mãe haviam dito dele denunciante muitas infâmias,// e que o mandara
· jurar falso nas suspeições, por que recusara Francisco de Leiria ao Conservador
Martim de Carvalho, e ele denunciante dizer que havia de pôr o fogo às ditas
mulatas, Cristóvão Teixeira, estudante canonista, filho de André de Matos, já
defunto, conservador que foi desta Universidade, e Luís Salema, estudante
legista, enteado de Baltazar Veloso, contador das Sete Casas, estavam à porta
das ditas mulatas, que vivem aí junto, o dito Luís Salema, com uma espada
nua, e o dito Cristóvão Teixeira, com um pistolete, de cano de dois palmos e
fechos de pederneira, intitulados com o apelido do oficial que os fez, a saber,
Coelho, que logo apresentou e exibiu em juízo, saltaram com ele denunciante,
como quem o estava esperando de propósito. E, caindo ele denunciante, o dito
Cristóvão Teixeira, posto que o dito pistolete é do dito Luís Salema, e por
tal conhecido, lhe deu com ele na cabeça uma ferida, da parte esquerda, de
grandura de dois ou três dedos, aberta e sangrenta, que levou um ponto.
E, recolhendo-se a casa da padeira, por nome Medeiros, que vive aí pegado, os
sobreditos ainda lá dentro o foram seguir e maltratar, onde, andando a braços,
lhes tomou o dito pistolete, que tem apresentado e entregue a ele dito Reforma-
r. 204 dor, a quem pede faça diligência sobre cujo é, porquanto se lhe quer// imputar
ser dele denunciante; e, de como o dito Cristóvão Teixeira tirou do dito pisto-
lete para o matar, poderá testemunhar Estêvão de Miranda, opositor legista, de
Portalegre, e Perpétua Nunes, que vive defronte donde o dito caso aconteceu;
e, de como o dito pistolete seja do dito Luís Salema, testemunharão o dito
Estêvão de Miranda, Francisco da Fonseca, filho de D. Mécia, o Dr. João de
Carvalho, opositor a S. Paulo, e José Ferreira, estudante canonista, de Évora.
E que estas eram as testemunhas que nomeava para a dita denunciação. E que
dava, sob cargo do juramento que tinha recebido, bem e verdadeiramente, e
requeria que sobre ela lhe fizesse cumprimento de justiça. O que, visto pelo dito
Reformador, lhe recebeu a dita denunciação; e com ele aqui assinou. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. E declaro que, por o dito Reformador achar o
dito pistolete carregado, mandou que disso desse aqui minha fé, e de como
tinha todas as confrontações acima referidas; e que se buscasse um saca-trapo,
e, da forma em que estivesse carregado, se fizesse termo nesta devassa; o que
certifico passar assim na verdade, e ficar o dito pistolete em meu poder, em cujo
testemunho assinei também com o dito Reformador e com o dito Luís Cordo-
vil. Sobredito o escrevi. E dou, outrossim, minha fé de ver a dita ferida na dita
parte e forma sobredita. Sobredito o escrevi. Diz a entrelinha, há uma ferida.
Sobredito o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Luís Cor-
dovil. / /

235
Jl. 204v. Aos dois dias do mês de Agosto de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si ao
Dr. Francisco de Andrade, colegial do Colégio de S. Pedro, lente de Instituta
nesta dita Universidade, testemunha_referida, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim ; e disse ser de idade de trinta e dois para trinta e três
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si
ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial,
pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era dizer-se geral-
mente que houvera pacto na nomeação próxima passada entre os colegiais de
fl. 205 S. Paulo.António Lourenço e Fabrício/ / de Aragão, de uma parte, e, da outra,
António Homem, lente de Prima de Cânones, e D. André de Almada, para que
nomeassem D. Fernando de Castro e Francisco de Brito de Meneses; em que o
dito António Homem viera, contanto que os sobreditos votantes votassem em
terceiro lugar e fizesse votar por D. Diogo Lobo. E sabe e é público o sobredito
nesta Universidade, porque o dito Dr. António Homem lhe disse, depois da
nomeação feita, que porGue *** do dito D. Diogo Lobo e os ditos colegiais,
como foi António Coelho e outro, que lhe não lembra, se lhe foram oferecer,
que faria o dito Colégio pelo dito D. Diogo, se ele votasse nas sobreditas duas
pessoas. Disse mais que sabe que o Reitor D. João Coutinho, nas cadeiras que
vagou e provou, não tirou devassa, digo, que não sabe se a tirara. E que isto
era o que sabia dos ditos interrogatórios. Pelo que, perguntado pelo referi-
mento que nele fez João Pereira Botado, primeiro, em geral, e, depois, erri
especial, calado o nome, disse que era verdade que, neste mês de Abril próximo
passado faz três anos, vagando a catedrilha de Cânones que levou Diogo Men-
des Godinho, a que foi opositor o licenciado Pero Cabral, colegial de S. Pedro,
se achou ele declarante, em uma noite, na dita cela do Dr. Diogo Fernandes
Salema, em companhia de alguns colegiais, que lhe não lembram, e opositores
ao dito Colégio, que também lhe não lembram quais eram; e, estando aí, foi ter
fl. 205 v. com eles Belchior Caldeira, meirinho desta Universidade,// que lhe parece que,
assim como os mais circunstantes, falando-se nos votos, diziam que tal ou tal
estudante votara pelo dito Pero Cabral por seu respeito, o dizia também o dito
Belchior Caldeira; mas que se não lembrava que ele nem outra nenhuma pessoa
dissesse que comprara votos ou dera dinheiro por eles. E, por mais não dizer,
lhe foram feitas as perguntas seguintes. Perguntado se ma~dou citar a António

236
Cabral, lente que foi nesta Universidade, por dinheiro que ele declarante desse
ao dito meirinho para a oposição da cadeira que levou o dito António Cabral,
disse que era verdade que ele declarante mandara citar ao dito António Cabral,
haverá mês e meio, pouco mais ou menos, a Celorico, onde ao presente está,
por vinte e tantos mil réis que o dito António Cabral lhe devia, por um assi-
nado que tem em seu poder; o qual dinheiro declarou ele declarante que man-
dara ao dito meirinho Belchior Caldeira por Filipe de Vasconcelos, estudante
canonista, da Ilha Terceira, para onde se foi formado; e que, da mão do dito
meirinho, o recebera o dito António Cabral, ou o gastara por sua ordem, por
cujo respeito dera a ele declarante o escrito pelo qual o mandara citar agora.
Perguntado se sabe, por si ou por outrem, o em que o dito Belchior Caldeira//
. 206 gastasse o dito dinheiro, por conta do dito António Cabral, ou o presume, disse
que não sabia em que o gastara, nem o presumia. Perguntado para que man-
dara o dito dinheiro ao dito Belchior Caldeira, disse que o mandara para o
gastar da sua mão, naquilo que estivesse bem e fosse necessário a ele declarante.
Perguntado se se achou ele declarante aos bacharéis deste ano e viu que a
algum deles se lançasse algum R, e se tomasse a votar, e se fizesse termo do
segundo escrutínio, e não do primeiro, disse que, aos quatro dias do mês de
Junho próximo passado, pela manhã, depois de feito o acto de bacharel de
Manuel Correia, canonista, natural desta cidade, votando-se sobre sua aprova-
ção, viu ele declarante que, depois de se ter votado e regulados os votos, toma-
ram os regulantes a mandar votar, dizendo que houvera erro, e se tomasse a
votar, como, de feito, tomaram por AA e RR ; e saiu por todos aprovado
nemine discrepante. E, perguntando ele declarante que erro fora, lhe disseram
os votantes que fora um R, e os regulantes lhe parece que foram Domingos
Antunes e Luís Ribeiro de Leiva; e que o termo se fez do segundo escrutínio, e
não do primeiro. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na ver-
dade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho
de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Dr. Francisco de Andrade Leitão.//

. 206v. Aos três dias do mês de Agosto de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Simão Leal, escrivão da Conservatória desta Universidade, morador na Praça,
junto a S. Tiago, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado juramento
nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de
o fazer assim; e disse ser de idade de sessenta anos, pouco mais ou menos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por

237
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo
que de cada um deles sabia, disse que deles não sabia coisa alguma. Perguntado
Jl. 207 se,// pelo auto da denunciação ou distribuição dele, sabe que se tirasse devassa
de um furto de quantia de trinta e tantos mil réis, em prata lavrada e dinheiro,
que se fez a um estudante, por nome Manuel da Veiga, teólogo, vivendo fora da
porta do Castelo, este Santo António próximo passado fez dois anos, de uns
estudantes que cometeram o dito furto, disse que ele declarante, até ao presente,
não fez auto de tal denunciação, que lembrado seja, nem lhe foi distribuída tal
devassa. Perguntado se, pelo dito auto ou distribuição dele, sabe que se tirasse
devassa da briga que houve, antes do entrudo próximo passado seis ou sete
dias, junto à porta do Mosteiro de Santa Ana, de estudantes, e dos pistoletes
que nela dispararam, e dos mais que mostraram, de que um deles saiu ferido,
disse que notório foi haver a dita briga de pistoletes junto ao Mosteiro de Santa
Ana, em que dizem que houve um ferido, e que ouviu dizer que o Conservador
Martim de Carvalho fora sabedor disto, mas ele declarante não fez auto de seu
mandado até hoje, nem lhe foi distribuído para tomar devassa, nem sabe ele
declarante que a tirasse seu companheiro; e que a dita briga fora de estudantes,
fl. 207v. segundo é público e notório. Perguntado// se sabe que Manuel Soares, estu-
dante desta Universidade, natural do lugar de Pereira, foi pronunciado a prisão
por certa resistência que fez à justiça, e de que tempo a esta parte, disse que
conhece bem o dito Manuel Soares, estudante nesta Universidade; e a ele decla-
rante lhe foi distribuída uma devassa da resistência que o sobredito fez ao Juiz
do Crime da dita vila de Pereira, a qual se tirou, e nela está o dito Manuel
Soares pronunciado a prisão; o que lhe parece que foi em Agosto ou Setembro,
este presente faz dois anos; e é escrivão do livramento António de Gouveia; e se
tirara como seguro com carta pela justiça. Perguntado se sabe que o alcaide
Manuel de Escobar prendesse a certo estudante, por o achar depois do sino
com espada nua e casco, e que o Vice-Conservador Martim de Carvalho, depois
de o condenar na pena da reformação, que é quatro mil réis e trinta dias de
cadeia, o mandasse soltar antes deles acabados, e o absolvesse da dita condena-
ção, disse que é verdade que em seu poder estão uns autos da prisão de um
estudante, cujo nome lhe não lembra, que prendeu o dito Manuel de Escobar
pela dita culpa acima dita; e, estando na cadeia, o condenou o Conservador
fl. 208 Martim// de Carvalho na dita pena; e, depois de estar condenado, o dito estu-
dante fez petição que era pobre e o dito Conservador o absolveu da dita pena,
e o mandou soltar, sem embargo da dita pena ser irremissível pela dita refor-
mação. Perguntado se, depois de servir de Vice-Conservador o dito Martim de
Carvalho, sabe que algum estudante denunciasse de um seu criado de lhe furtar

238
certas peças, e que, tirando-se devassa disso, fosse por ela preso e sentenciado
pelo dito Martim de Carvalho, e devendo de apelar por parte da justiça, o
deixasse de fazer, disse que era verdade que ele declarante fora escrivão de uns
autos de uma queixa de João Rodrigues, estudante, que se queixou de um
criado seu, por nome Francisco de Matos, lhe furtar um terçado e umas meias e
uma colher de prata, segundo sua lembrança, o qual foi preso a requerimento
do amo; e se tiraram testemunhas, e o dito amo fez termo que lhe perdoava, e o
dito Conservador Martim de Carvalho o mandou soltar, sem apelar por parte
da Justiça, como consta dos autos a que se reporta. Perguntado se o dito
Manuel Soares, atrás nomeado, servia com algumas dávidas ao dito Conserva-
dor Martim de Carvalho, neste tempo em que perante ele se livra, ou se lhe
emprestou em algum caminho algum cavalo em que viesse, disse que, vindo de
J1208v. Pereira, a dezanove// de Junho, pouco mais ou menos, com o dito, digo, do
ano passado de seiscentos e dezoito, em companhia do dito Martim de Carva-
lho e de Belchior Caldeira, meirinho da Universidade, e de seus homens, atrás
deles os veio seguindo o dito Manuel Soares, em cima de um cavalo, e por o do
dito Conservador não ser bom, o dito Manuel Soares lhe emprestou o seu, e ele
o aceitou, e entrou nesta cidade nele, e foi até sua casa, e o dito Manuel Soares
no do dito Conservador; e, à Portagem, se apartou deles. E que corre com
amizade com o dito Martim de Carvalho, Conservador, e declarou que as
cavalgaduras de que trata, não se lembra se eram cavalos se éguas. Perguntado
se, este mês de Abril próximo passado, prendeu, de noite, o dito Vice-
-Conservador Martim de Carvalho, nesta cidade, a Francisco de Figueiredo,
criado de António Coelho de Carvalho, colegial de S. Paulo, e se, estando
pronunciado a prisão ao tal tempo, sem o mandar livrar das culpas nem lhe
correr a folha, o mandou soltar, disse ele declarante que é verdade que António
Coelho de Carvalho, colegial de S. Paulo, fora dizer a ele declarante, em sua
casa, que o dito Conservador Martim de Carvalho lhe prendera, na dita//
.fl. 209 noite, a um seu criado, por nome Francisco de Figueiredo, o qual, por ser
deputado do Santo Ofício, tinha remissória para o remeterem lá, a qual logo aí
deu a ele declarante, com cumpra-se do dito Conservador, segundo sua lem-
brança; e ele declarante disse ao dito António Coelho que do dito seu criado
havia outras culpas antigas, além das contidas na dita remissória, pelas quais o
dito Conservador o trazia a rol; e, por estas de que tratava a dita remissória, o
dito Martim de Carvalho o tinha pronunciado a prisão. E com isto se foi o dito
António Coelho enfadado. E, depois disso, sabe ele declarante que o dito Mar-
tim de Carvalho mandou soltar ao dito Francisco de Figueiredo, fazendo os
autos da soltura com António de Gouveia, e não com ele declarante, a quem
pertencia, por ser escrivão das ditas culpas e da dita remissória; e, devendo de o
remeter preso pela dita remissória e culpas nela contidas, o mandou soltar,
como ele declarante viu pelo livro da carceragem, feita a soltura pelo dito

239
António de Gouveia. E, porquanto havia as outras culpas, por que o dito
Martim de Carvalho o trazia a rol, cometidas em tempo de Bernardo da Fon-
seca, e antes do dito António Coelho ser deputado, segundo dizem, para o dito
fl. 209v. seu criado não gozar do seu privilégio, não devendo de o remeter,// o mandou
soltar, como dito tem, sem ele declarante responder à folha. E ele declarante
viu, depois disso, ao dito Francisco de Figueiredo andar solto pela cidade.
Perguntado se sabe que Luís Cerqueira, estudante canonista, desta Universi-
dade, esteja pronunciado a prisão, e se o dera a rol ao dito Conservador Mar-
tim de Carvalho, e se, tendo-o a rol, andava perante ele em uma demanda com
uma Brásia Luís, a Guarita, disse ele declarante que ele tinha culpas de um Luís
Cerqueira, estudante, que, no tal tempo, morava em umas casas da dita Brásia
Luís, as quais eram pronunciadas por Manuel Veloso, servindo de Vice-
-Conservador; o qual Luís Cerqueira deu ele declarante a rol ao dito Martim de
Carvalho, tanto que sucedeu ao dito Manuel Veloso; e que, daí a alguns meses,
disse a ele declarante a dita Brásia Luís que trazia demanda com o dito Luís
Cerqueira, sobre o aluguer das ditas casas, perante o dito Martim de Carvalho,
de que era escrivão Sebastião Lopes, escrivão das taxas; e que o dito Luís
Cerqueira assistia com ela perante o dito Martim de Carvalho em suas pousa-
das, nos requerimentos da dita demanda. E sabe que não está livre das ditas//
fl. 210 culpas, nem o dito Martim de Carvalho o prendeu por elas, trazendo-o a rol,
como tem dito. Perguntado se, a vinte e seis de Janeiro próximo passado,
pouco mais ou menos, tendo o dito Conservador Martim de Carvalho preso a
um Tomé Cardoso, estudante, por o achar, de noite, com armas, e condenado
na forma da dita reformação, o mandou soltar, e absolveu, até das custas, disse
que ele declarante fora escrivão de um estudante, que lhe parece se chama
Tomé Cardoso, que foi preso, de noite, com um punhal ou adaga; e, estando na
cadeia, foi condenado. E, depois de o ser, sem embargo do que dispõe a dita
reformação, o mandou soltar, por o dito estudante lhe mandar um escrito de
misérias, e lhe dizer que era criado de outro estudante; e não pagou a dita
condenação. Perguntado se sabe que o dito Martim de Carvalho, o ano pas-
sado, depois de servir de Conservador, encontrasse, de noite, a uma mulher em
trajos de homem com uns estudantes, que, deixando-a, depois de a ter presa,
em lugar de a mandar à cadeia, a mandasse para casa de algum oficial seu,
onde depois fosse ter com ela, disse que ouvira dizer a Jerónimo Correia, carce-
reiro da Universidade, que, uma noite deste ano passado, encontrara o dito
Martim de Carvalho, servindo de Vice-Conservador, andando correndo//
f1. 210v. a cidade, uma moça bem parecida, com uns estudantes, que fugiram, e ela ficou
só, coberta com uma capa; a qual o dito Martim de Carvalho prendera e man-
dara à cadeia da Universidade. E que, antes disso, a tivera aquela noite em casa
o escrivão das armas, Sebastião Lopes, por mandado do dito Conservador.
Perguntado se sabe que o dito Martim de Carvalho, Vice-Conservador, pelos

240
mandados que passa para serem soltos os estudantes que se prendem de noite,
contra forma dos estatutos, havendo de levar quatro réis, leve um tostão de
assinatura, e, não havendo causa que, in totum, os releve, lhes diminui a pena,
disse que é verdade que o dito Martim de Carvalho, desde que serve de Vice-
-Conservador, levou sempre um tostão de toda a condenação que fazia e faz, na
forma do estatuto, das quais condenações se não diz a sentença; e, sem se tirar,
leva os ditos tostões da condenação, que põe, e, depois, leva quatro réis do
alvará da soltura, e a reformação, condenando nas armas e . . . . . . . . e em
dois mil réis, os que trazem o mantéu pela cabeça, ele, Martim de Carvalho,
diminui a pena, sendo irremissível pela dita reformação, como consta de muitos
f1. 211 autos que estão em poder dele declarante.// Perguntado se, depois que serve o
dito Martim de Carvalho de Vice-Conservador, dera homenagem a um Fran-
cisco de Barros, e, condenado em um ano de degredo para África, o mandara ir
solto sem fiança e sem termo de soltura, disse que ele declarante foi escrivão do
dito Francisco de Barros, o qual se livrou neste Juízo da Conservatória de uma
resistência feita a um escrivão da vila de Guimarães, sobre sua homenagem, que
lhe foi dada antes do dito Martim de Carvalho entrar para Conservador; e foi
condenado pela dita resistência para África, em um ano, por sentença da Casa
da Suplicação. E, estando nestes termos, fez petição ao dito Martim de Carva-
lho, que o mandasse cumprir o dito degredo sem a fiança costumada, e ele
assim o mandou, por despacho seu, que está em poder dele declarante, ao qual,
e autos, se reporta. Perguntado se sabe que o dito Vice-Conservador Martim
de Carvalho, assistindo ao inventário que fez da fazenda do cónego António
Dias da Cunha, preso pelo Santo Ofício, levasse dela algumas coisas, disse que
ouvira dizer, e não se lembra a quem, que o dito Martim de Carvalho levara da
dita fazenda alguns livros, e cevada, e trigo, e tudo muito barato; do que dará
f1. 211v. razão Amaro da Costa, tabelião que fez o dito inventário.// Perguntado se
começou o dito Martim de Carvalho a tirar devassa da espingarda com que um
estudante atirou e feriu um clérigo, por nome fulano Salgado, passando-lhe a
mão esquerda com os perdigotos dela, dentro dos dois dias da ordenação, e se a
tem acabada no termo dela, disse ele declarante que o dito Martim de Carvalho
lhe mandara recado, que fosse ver ao dito clérigo ferido, e ele declarante foi
logo, e o achou, deitado na cama, com muitos buracos na mão esquerda; e lhe
tomou seu auto de queixa, a que se reporta, e tirou logo devassa com o dito
Martim de Carvalho e a pronunciou. E lhe parece a ele declarante que não está
acabada, nem se começou a tirar nos dois dias da lei, nem se fez o auto.
Perguntado se tirou o dito Martim de Carvalho devassa de um estudante das
Escolas Menores atirar, de propósito, com um pistolete de menos comprimento
que de dois palmos de cano, para matar e ferir outros, e de ficar um deles ferido
em uma ilharga com um terçado, disse que não fora escrivão de tal devassa,
nem sabe que se haja tirado. Perguntado se sabe que, esta quaresma próxima//

241
fl. 212 passada, acudisse o dito Martim de Carvalho a prender um estudante que, com
um terçado, dera, de propósito, à porta do Colégio da Companhia, uma cuti-
lada na cabeça, sangrenta, aberta e penetrante, disse ele declarante que, estando
um domingo ou dia santo em sua casa, lhe foram dizer, da parte do dito Mar-
tim de Carvalho, que acudisse à feira, que haviam lá morto um estudante; e ele
declarante fora logo com muita pressa, e viu estar o dito estudante ferido na
forma sobredita, dentro em uma casa; e aí estava o corregedor da comarca, e
não achou lá o dito Conservador Martim de Carvalho, nem novas que ali
acudisse. E o dito ferido foi levado em uma cadeira, por ir muito mal. E decla-
rou que agora lhe lembrava, pelas perguntas que lhe foram feitas, deferindo aos
interrogatórios atrás por que fora perguntado, que o dito Vice-Conservador
Martim de Carvalho, do mês de Janeiro próximo passado a esta parte, não lhe
lembra ao certo em que tempo, absolveu a um estudante, que foi preso por se
lhe achar um pistolete no chão, perto dele e não, digo, e negar que não era seu,
e lhe coutar o alcaide um gibão de cor, e ele dito Martim de Carvalho o conde-
nou na pena do gibão, e não diferiu ao dito pistolete, nem o mandou quebrar,
fl. 212v. na forma da lei. Disse mais que era lembrado// que Sebastião Lopes, escrivão
' das armas, taxas e aposentadoria e almotaçaria, no ofício da aposentadoria,
tomava muitos depósitos, e os negava às partes; e assim nas execuções fazia o
mesmo. E isto contou a ele declarante Nicolau Carvalho, livreiro, o Dr. Fabrí-
cio de Aragão, Mendo Lopes, estudante, filho de Rui Gonçalves de Almeida, já
defunto; cada de per si, em diversos tempos; e esta fama tem. E na feira faz
muitas exorbitâncias, levando almotaçarias, e tomando muitas coisas para
outrem em seu nome; e isto lhe contou Jerónima Fernandes, a Guarita, e sua
irmã Ângela Luís, e sua filha da dita Jerónima Fernandes, Brásia Luís. E mais
não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade; e do
costume disse que não corre com o dito Sebastião Lopes, mas que tinha dito
verdade; e que estão julgados de suspeitos um ao outro. Diz a entrelinha não.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Simão Leal.

Estêvão de Miranda, solteiro, natural de Portalegre, bacharel em Leis e


fl. 213 opositor na dita// Faculdade, testemunha referida, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e três para vinte e quatro
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe
pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque

242
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial,
pelo que de cada um deles sabia, disse que não sabia deles coisa alguma.
Perguntado se sabe que, nestes dias atrás, à boca da noite, nesta cidade, saltasse
algum estudante com outro, que o ferisse, e com que armas, disse que, esta
segunda-feira próxima passada fez oito dias, que foram vinte e nove dias do
mês de Julho próximo passado, às oito horas depois do meio-dia, a horas que
ainda se via, nesta cidade, estando ele declarante à porta de Bento Pereira,
chantre da Capela, falando com ele, viu e ouviu dizer a Luís Cordovil de
Jl. 213v. Sequeira, bacharel canonista, que aí estava junto a// eles, e da porta de umas
mulatas, a que chamam Lucrécia de Figueiredo e Isabel de Figueiredo, sua
filha, em voz alta, "estas mulatas não me querem deixar, pois hei-de lhes pôr o
fogo", dizendo o sobredito a um moço seu, do dito Luís Cordovil, com quem
estava falando,. e passando neste comenos Cristóvão Teixeira da Veiga, estu-
dante canonistj~ filho de André de Matos, que foi Conservador desta Universi-
dade, tanto que ouviu as ditas palavras, levou de um pistolete, de perto de dois
palmos de cano, e deu com ele pela cabeça ao dito Luís Cordovil, de que lhe fez,
na parte esquerda, uma ferida da largura de dois dedos, aberta e sangrenta.
E, acudindo ele declarante ao dito Luís Cordovil para os apartar, por o ver cair
no chão, o dito Cristóvão Teixeira lhe pôs o dito pistolete diante, para que se
tivesse. E, levantado o dito Luís Cordovil, e indo-se meter em casa de uma
padeira que aí vive, que chamam a Medeiros, foi o dito Cristóvão Teixeira de
após ele, e um estudante, a que chamam Luís Salema, com uma espada em seu
favor. E, quando ele declarante veio de casa do dito Luís Cordovil, que aí
mora, com um terçado, para o defender, já os sobreditos eram idos, e o dito
fl. 214 Luís Cordovil vinha saindo// com o dito pistolete na mão, dizendo que anda-
ram a braços e que tomara o dito pistolete ao dito Cristóvão Teixeira; que
pareceu a ele declarante o próprio com que o dito Cristóvão Teixeira apontou a
ele declarante para que se tivesse. E, vendo depois o pistolete mais devagar, o
reconheceu por o do dito Luís Salema, por lho haver visto antes disso; e que
ainda o dia estava claro, de modo que viu tudo o sobredito. E que isto era o
que sabia da dita pergunta e caso. E que vira e achara então o dito pistolete
carregado em casa do dito Luís Cordovil; e, sendo-lhe logo mostrado o pisto-
lete, de que, na dita denunciação atrás do dito Luís Cordovil, se faz menção, e
por ele visto, e perguntado se era o próprio, que reconheceu ser do dito Luís
Salema, e com que lhe apontou o dito Cristóvão Teixeira, disse que o reconhe-
ceu pelo próprio com que lhe apontou o dito Cristóvão Teixeira, e que o viu ao
dito Luís Salema o ano passado; porque, além da marca que tem de Coelho e
ferro do cinto, e haverem-no feito de alguma espingarda, e os fechos serem dela,
fica o dito pistolete tão conhecido que, quem o vir uma vez, o reconhecerá logo.
E, por mais não dizer, lhe não foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe lido
fl. 214v. este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume// nada. E assinou

243
com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor. Estêvão de Miranda.

Aos seis dias do mês de Agosto de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
André da Cruz, solteiro, filho de Maria Jorge, viúva de André Dias, que vive na
Rua do Corpo de Deus, naturais da vila de Tentúgal, estudante da oitava classe,
de idade de dezasseis para dezassete anos, e, sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo
dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu
de o fazer assim. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se
alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita/ /
fl. 215 desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo
a esta parte, disse que não sabia para que era chamado, e que, haverá quinze
dias que António Nogueira, filho de Pero Nogueira, carcereiro que foi da cadeia
desta cidade, e Manuel Vaz, que não tem pai, e não sabe o nome à mãe, que
vive com ela a Montarroio, lhe disseram que foram chamados a esta devassa, e
que nela foram perguntados pelas pessoas que soubessem haverem cometido o
pecado de molicias, e (!Ue, pois eles negaram tudo, assim o fizesse ele declarante,
se também o chamassem a ele, e que nenhuma outra pessoa lhe pediu o sobre-
dito. Perguntado que ocasião tiveram os sobreditos para lhe pedirem o que tem
declarado, e dizerem que negasse, como eles fizeram, disse que ele declarante
festejava muito havê-lo mandado chamar ele Reformador, e de lhe ter ouvido
todas as razões que lhe tem dado, para dizer o que soubesse, com descarregar
sua consciência e ficar quieto nela; com as quais, movido na forma da ordena-
ção do Reino, fazia sua confissão. Foi-lhe dito que, pois usava de tão bom
conselho, dissesse toda a verdade do que soubesse, não impondo sobre si nem
sobre outra alguma pessoa testemunho falso; porque, nesta// devassa, só a
verdade se queria saber, e se castigaria com grande rigor a quem dissesse o
contrário dela. E logo disse que, no discurso de sua confissão, se veria a razão
que os sobreditos Manuel Vaz e António Nogueira tiveram para lhe pedir que
calasse, sendo chamado à dita devassa. E, que, este Setembro que vem, pouco
mais ou menos, não lhe lembra a quantos dele, fará dois anos, nesta cidade, em
um lagar caído, que está por cima da Forca, se achou ele declarante, à tarde,
em companhia de Manuel de Miranda, canonista, natural desta cidade, não
sabe cujo filho, e vive com sua mãe defronte de Santa Justa, e está, ao presente,
preso na cadeia desta Universidade, e de Manuel Carneiro, natural desta cidade,
que anda nas Escolas Menores, não lhe sabe o nome aos pais, que são já defun-
tos, e vive na Rua dos Sapateiros com sua avó, por nome Catarina Henriques,

244
que será de vinte e três anos, e lhe começa a barba; e de Tomé de Paiva,
estudante da quinta classe, filho de Teotónio de Almeida, cantor da Sé desta
cidade, que será de dezoito anos, que vive na Rua Direita, e são naturais de
Verride. E, estando todos quatro com ele declarante, por ocasião dos ditos//
fl. 216 Manuel de Miranda e Manuel Carneiro os convidarem para a merenda que
levavam, depois de merendarem, o dito Manuel Carneiro disse a ele declarante
que quisesse consentir que dormisse com ele, e se não que o havia de matar com
uma faca que tinha na mão, diante dos outros; e que logo tirasse os calções.
E ele declarante, com o medo que teve, desceu os ditos calções. E, indo os
outros para detrás de uma parede do mesmo lagar, donde, de quando em
quando, se viam, o dito Manuel Carneiro o deitou no chão, e descidos os ditos
calções, tendo seu membro viril levantado e teso, lho meteu entre as pernas, e
fazendo-lhas ajuntar, estando em cima dele declarante, fez o que faz um homem
com uma mulher, até que derramou semente entre as ditas pernas. E tanto
que acabou de consumar o dito pecado de molícias, veio o dito Manuel de
Miranda e se pôs da mesma maneira em cima dele declarante, e metendo-lhe
seu membro viril, teso e levantado, entre as ditas pernas, fez os ditos meneios de
homem com mulher, até que também derramou semente entre as ditas pernas;
neste tempo, cada um deles tendo-o abraçado, e beijando-o. E posto que esta-
vam, ora um ora outro, detrás da parede com o dito Tomé de Paiva, todos se
fl. 216v. viram uns aos// outros muito bem, e ali lhe ofereceram se queria dinheiro.
E não passaram mais. Disse mais que, daí a um mês, os sobreditos Manuel de
Miranda e Manuel Carneiro, em um sábado à noite, foram esperar a ele decla-
rante, vindo da ladainha de S. Domingos, e o levaram pela travessa que fazem
as cercas de S. Bernardo e do Carmo, nesta cidade; e, tendo-o já pela travessa
dentro, sendo já noite, lhe fizeram tirar os calções e o deitaram no chão; e o
dito Manuel Carneiro, metendo-lhe outra vez o dito seu membro viril entre as
pernas, levantado e teso, tendo-o abraçado e beijado, fez o mesmo meneio, até
que derramou semente entre as ditas pernas dele declarante. E o dito Manuel
de Miranda estava aí junto, à vista, e ali lhe fizeram os sobreditos medo com
umas disciplinas, dizendo que, se não fosse a sua casa todas as vezes que o
chamassem, lhe haviam de dar muito açoite, depois de lhe terem dado três, até
que ele declarante prometeu que iria lá todas as vezes que mandassem. E ali
não passaram mais. Disse mais que, daí a seis meses, pouco mais ou menos,
haverá agora ano e meio, nesta cidade, à tarde, não lhe lembra o mês ao
fl. 217 certo,// ele declarante foi a casa do Dr. António Homem, lente de Prima de
Cânones, cónego desta Sé, por o conhecer dela, onde ele declarante tem o par-
tido de músico da Capela. E, estando com o sobredito, lhe pediu que lhe qui-
sesse emprestar seis tostões. E, depois de lhe dizer que sim, o levou à casa do
seu estudo, nas em que agora mora, e aí lhe mandou tirar os calções; e, descidos
abaixo, o encostou a uma parede, e tendo-o abraçado, e beijando-o, lhe meteu

245
seu membro viril, levantado e teso, entre as pernas dele declarante, fazendo o
que faz um homem com uma mulher, derramou semente entre as ditas pernas.
E, tirado, lhe emprestou os ditos seis tostões, dizendo que lhos dava dados.
Disse mais que, daí a quinze dias, nesta cidade, à tarde, foi ele declarante a casa
do dito Dr. António Homem, a pedir-lhe que lhe quisesse alcançar do impres-
sor Diogo Gomes Loureiro esperar-lhe oito dias pelo aluguer das casas em que
vive sua mãe; e, estando ambos sós, o sobredito o levou à sua cama, que estava
em uma casa além do estudo, coberta com um pavilhão branco, não lhe lembra
se era de seda; e, descidos os ditos calções, que ele lhe mandou descer, o sobre-
dito se lançou em cima dele declarante, e tendo-o abraçado, e beijando-o, lhe
meteu seu membro viril, levantado e teso, entre as pernas,// fazendo os ditos
meneios até que derramou semente entre as ditas pernas. E lhe mandou o dito
recado, e se veio, sem passarem ali mais, nem antes nem depois, que lembrado
seja. Disse mais que, haverá um ano, nesta cidade, foi ele declarante, não lhe
lembra em que mês, mas era agora no tempo da fruta, a visitar ao padre Frei
Manuel de S. Jacinto, da Ordem de S. Domingos, que, ao presente, reside neste
seu Mosteiro, por o conhecer de ir ao dito Mosteiro às ditas ladainhas, que
estava em umas casas de seu pai, defronte das em que vive o dito pai, junto
ao Dr. Pimentel, que ora faleceu, a quem não sabe o nome, e é almocreve.
E, estando ambos, o sobredito Frei Manuel, depois de algumas práticas,
estando ambos sós, o deitou sobre a cama e lhe desceu os calções abaixo dos
giolhos, e, deitando-se sobre ele, tendo-o abraçado e beijando-o, lhe meteu seu
membro viril, tendo-o teso e levantado, entre as pernas, fazendo os ditos
meneios, até que nelas lhe derramou semente; e ali não passaram mais, nem
antes nem depois, que lembrado seja. Disse mais que, haverá um ano, pouco
fl. 218 mais ou menos, neste tempo, nesta cidade, foram// Manuel Ferreira, estudante
da terceira classe, natural desta cidade, filho de um homem a quem não sabe o
nome, criado que foi do Bispo D. Afonso de Castelo Branco, e António Mon-
teiro, também estudante, desta cidade, já defunto, e ele declarante jantar, por
respeito e amizade do dito Manuel Ferreira, com Belchior de Figueiredo, que
vive em umas casas defronte da casa do Auditor Eclesiástico, homem de trinta
para quarenta anos, de barva preta, e tem filhos, mas não sabe se é viva
a mulher, se morta, nem como se chama. E, depois de jantarem e de se irem
os demais, ficando ambos sós, o sobredito o levou a ele declarante à sua cama,
que tinha sobre um estrado, sem pavilhão, e o fez deitar nela e descer os calções
aos giolhos, e se deitou sobre ele; e, abraçando-o e beijando-o, lhe meteu
seu membro viril, levantado e teso, e entre as pernas dele declarante, e fez os
ditos meneios até que nelas derramou semente. E, daí a oito dias, tornando ele
declarante à dita casa do dito Belchior de Figueiredo, estando ambos sós, o
sobredito lhe pediu que quisesse consentir que, outra vez, tomassem a fazer o
mesmo; e, por ele declarante, então, não querer, deixou o sobredito de o tornar

246
a cometer e de efeituar o dito pecado de molícias, que, sem dúvida, efeituara se
f1. 2/Bv. ele declarante o consentira,// o que não quis consentir por haver pouco que se
tinha confessado; posto que sofreu abraçá-lo e beijá-lo o dito Belchior de
Figueiredo. Disse mais que, haverá um ano, em Figueiró dos Vinhos, onde ele
declarante foi com outros músicos ao ofício de Pero de Alcáçova, e deitando-se
na cama com o dito Tomé de Paiva, atrás nomeado, estando ambos nela despi-
dos, no discurso da noite, ambos os dois abraçando-se e beijando-se, pegando o
dito Tomé de Paiva com a mão no membro viril dele declarante, e ele decla-
rante no do dito Tomé de Paiva, estiveram esfregando os ditos membros até
que ambos, digo, até que o dito Tomé de Paiva derramou semente, e ele decla-
rante não, posto que o tinha teso; e também folgava com o dito esfregar que o
dito Tomé de Paiva lhe fazia. Disse mais que, haverá um ano, agora pelo
tempo das uvas, se achou ele declarante em casa de Bastião Dias, estudante
canonista, desta cidade, filho do recoveiro que foi da Universidade, que vive à
Portagem, vizinhos que então eram; e, estando com ele, o sobredito o abraçou e
beijou, e fez que ele declarante lhe esfregasse seu membro viril, que lhe meteu na
fl. 219 mão, e lho esfregou até que o dito Bastião Dias derramou semente. // E, daí a
três ou quatro dias, o sobredito o tornou a chamar à dita casa, e, estando nela
ambos sós, como da outra vez, lhe meteu o dito membro viril na mão, e lho fez
esfregar até que derramou semente, abraçando-o e beijando-o. E ali não passa-
ram mais, nem antes nem depois, que lembrado seja. Disse mais que, daí a
poucos dias, não lhe lembra quantos, à tarde, na vinha que trazia arrendada a
António Dias, recoveiro desta Universidade, irmão do sobredito Bastião Dias,
se achou ele declarante em companhia do dito António Dias, por o convidar
para irem a ela; e, estando nela ambos sós, o sobredito António Dias lhe fez
descer os calções aos giolhos e deitar no chão, e se lançou sobre ele, abraçan-
do-o e beijando-o, lhe meteu seu membro viril entre as pernas dele declarante,
tendo-o teso, e fazendo os ditos meneios até que nelas derramou semente; e, em
se tirando, logo apareceu o dito Manuel de Miranda, como quem ali estava
escondido e sabia do dito António Dias haverem de ir lá, e, desviando-se o dito
António Dias, o dito Manuel de Miranda se pôs em cima dele declarante e lhe
meteu o dito membro teso entre as pernas, e, com os ditos meneios, até que
nelas derramou semente; que lhe consentiu por já o ter feito também, como tem
fl. 219v. dito atrás, e lhe parecer que o estivera espreitando. E ali com o dito// António
Dias, nem antes nem depois, passaram mais. Disse mais que, este inverno pró-
ximo passado, não lhe lembra em que mês, nesta cidade, no Mosteiro de
S. Francisco da Ponte, por ocasião de jantar lá com outros músicos, que
haviam ido lá a um ofício, depois de jantar, o levou para a sua cela do primeiro
corredor, a dormir a sesta, o vigário da casa, que ainda hoje é, cujo nome é Frei
Manuel, não lhe lembra de que, e é um frade mui comprido do corpo, e magro.
E, depois de estarem sós, dentro na dita cela, o sobredito lhe fez descer os

247
calções aos giolhos, e o deitou sobre a cama, e se pôs sobre ele, e lhe meteu seu
membro viril, tendo-o teso, entre as pernas dele declarante; e, fazendo os ditos
meneios, e abraçando-o e beijando-o, até que nelas derramou semente. E, daí a
quatro ou cinco dias, tomando pela mesma ocasião ele declarante à dita cela, e,
estando ambos sós, o dito Frei Manuel o abraçou e beijou, e, indo-o deitando
sobre a cama, para tomar a cometer o dito pecado de molicias, o deixou de
fazer, porque veio um moço de fora chamá-lo e os estorvou. E ali, nem antes
fl. 220 nem depois, passaram mais, que lembrado seja.// Disse mais que, haverá seis
meses, pouco mais ou menos, nesta cidade, nas casas episcopais do Bispo dela,
se achou ele declarante, à tarde, em casa e companhia de António Milheiro,
homem secular, estudante canonista, mestre da Capela que então era do Bispo,
que hoje é Arcebispo de Braga, D. Afonso Furtado. E, estando ambos sós, o
sobredito, abraçando e beijando a ele declarante, o encostou à parede e lhe
meteu seu membro viril teso e levantado entre as pernas, e fez os ditos meneios
até que, entre elas, derramou semente. E, daí a oito ou nove dias, na mesma
casa, à tarde, estando ambos sós, o sobredito o deitou sobre a cama, que tinha
coberta com um pavilhão de estamenha, cor vermelha e verde, e, entre as ditas
pernas dele declarante, estando sobre ele, lhe tomou a derramar semente na
forma sobredita. E antes nem depois não passaram mais, que lembrado seja.
Disse mais que, haverá quatro meses, nesta cidade, na torre dos sinos velha do
Mosteiro antigo de S. Domingos do Amado, da dita cidade, se achou ele decla-
rante, à tarde, em companhia de Diogo de Beja, estudante que o ano passado
andou na quinta classe, e este presente não foi ao estudo, sobrinho do alcaide
Jl. 220v. velho, fulano Cordeiro; e, estando ambos sós,// o sobredito Diogo de Beja
meteu seu membro viril na mão dele declarante, e, beijando-o, lho fez esfregar,
até que derramou semente. E depois, daí a quinze dias, nesta cidade, em um
olival e parte escusa, à tarde, estando ambos sós, e ele declarante com os calções
descidos e deitado no chão, o dito Diogo de Beja se pôs sobre ele declarante e
lhe meteu o dito membro viril teso entre as pernas, e fez os ditos meneios até
que nelas derramou semente, abraçando-o e beijando-o. Disse mais que, haverá
seis meses, nesta cidade, se achou ele declarante em casa e companhia de Sebas-
tião Ferreira Castelo Branco, prior da igreja de Pereira, à tarde, estando ambos
sós, o sobredito lhe fez descer os calções aos giolhos e deitar sobre a cama, e se
deitou sobre ele : e ,metendo-lhe seu membro viril entre as pernas e abraçando-o
e beijando-o, fez os ditos meneios até derramar semente entre as ditas pernas.
E, depois disto, nesta mesma cidade e casa, coisa de um mês, vindo ver o sobre-
dito, o tomou a abraçar e beijar e a pedir que consentisse o mesmo, mas deixou
fl. 221 de o fazer por o estarem esperando uns amigos na rua,// e não suspeitarem
alguma coisa, pela ruim fama que tinha ouvido do dito prior. Disse mais que,
haverá ano e meio, nesta cidade, na loja das casas de Marçal de Macedo, junto
a S. Cristóvão, em que se recolheram por respeito da chuva, à tarde, se achou

248
ele declarante em companhia de António Nogueira, estudante da sexta classe,
filho de Pero Nogueira; e, estando ambos sós, o sobredito lhe meteu seu mem-
bro viril na mão dele declarante, e, estando-lho esfregando e beijando-o, até que
derramou semente. E, depois que o soltaram, lhe tomou a pedir o mesmo nesta
cidade e ele declarante lho não quis fazer. Disse mais que, haverá três meses,
nesta cidade, se achou ele declarante em casa e companhia de Manuel Vaz,
estudante da quinta classe, que vive a Montarroio, músico também da dita
capela da Sé, de dezanove anos, aonde dormiu aquela noite, por ocasião de
haverem de ir pela manhã a uma festa a Pé de Cão. E, estando ambos sós na
cama, o sobredito se pôs em cima dele, despidos, e lhe meteu seu membro viril
teso entre as pernas, e abraçando-o e beijando-o e fazendo os ditos meneios,
derramou semente entre as ditas pernas dele declarante. E, por este respeito, ele
Jl. 22 / v. e o dito António Nogueira, atrás nomeado, lhe disseram/ / que negasse, vindo a
esta devassa. E ali não passaram mais, nem antes nem depois, que lembrado
seja. Disse mais que, haverá dois meses, nesta cidade, junto à Forca dela, detrás
de um valado, se achou ele declarante em companhia de Manuel da Costa,
estudante da quinta classe, filho de um cerieiro que vive a S. Bartolomeu, será
de dezasseis anos, e de Francisco Pinto, que será de outros tantos, natural desta
cidade, filho de Álvaro de Fana, já defunto, e de Filipa Pinha, com quem vive
ao Corpo de Deus, estudante da quarta classe. E, estando todos três, o dito
Manuel da Costa lhe fez descer os calções aos giolhos, e se pôs em cima dele e
lhe meteu sem membro viril entre as pernas, teso; e, abraçando-o e beihando-o,
fazendo os ditos meneios, derramou entre elas semente à vista do dito Francisco
Pinto. E ali não passaram mais. Disse mais que, haverá dois meses, pouco
mais, antes do sobredito, nesta cidade, à tarde, se achou ele declarante na loja
do dito Francisco Pinto, atrás nomeado, e aí, beijando-se um ao outro, e tendo
fl. 222 ele declarante // a mão no membro viril do dito Francisco Pinto e o dito Fran-
cisco Pinto a sua no membro dele declarante, os estiveram esfregando até der-
ramarem semente. E, depois disso, na mesma casa, por espaço de oito ou nove
dias, cometeram ambos os dois, estando sós, o mesmo pecado de molícias, na
forma sobredita, por duas vezes mais, que ficaram por todas sendo três. Disse
mais que, haverá um ano que, indo ele declarante desta cidade para o Mosteiro
de S. Marcos com outros músicos, e em companhia do padre Frei Ângelo,
estudante teólogo, do Carmo, residente neste seu Colégio, o sobredito, fican-
do-se atrás com ele declarante, apartados da mais companhia, lhe pediu quisesse
ir à sua cela como tomasse, para cometerem o dito pecado de molícias, decla-
rando-lho por palavras muito claras; mas ele declarante, sem embargo de lhe
dizer que iria, não foi; e ali não passaram mais. Disse mais que, haverá um
mês, nesta cidade, em uma rua dela, se achou ele declarante em companhia de
fl. 222v. Pero de Sequeira, estudante da/ / sétima classe, filho de António Dias de
Almeida, advogado, que vive na Calçada, de dezassete anos; e, estando ambos

249
sós, o sobredito lhe pediu que quisesse que cometessem ambos o dito pecado
de molícias, por palavras muito claras; e lhe disse que o fazia ele Pero de
Sequeira com o dito Manuel da Costa, atrás nomeado, e com outras pessoas
tão honradas como ele declarante. E que isto era o que de presente lhe lem-
brava, de que estava muito arrependido, e tinha determinação de nunca mais
tornar a cometer, e de vir acumular a esta sua confissão tudo o mais que lhe
lembrasse, para descargo de sua consciência. Pelo que lhe foi perguntado se
teve mais outros alguns companheiros dos ditos atrás declarados, e se sabe que
outras algumas pessoas mais hajam cometido o dito pecado de molícias, ou
saibam dele. Disse que, nos ditos actos, não assistira mais alguma pessoa; e
que o dito Francisco Pinto lhe dissera que ia a casa do dito António Homem,
e fazia com ele o dito pecado de molícias, e que// também lhe dissera o dito
Manuel da Costa, atrás nomeado, que cometia o dito pecado de molícias com
o dito padre Frei Manuel de S. Jacinto; e assim lhe disse mais o dito Francisco
Pinto que cometia o dito pecado com Jerónimo Vaia, estudante da quarta
classe, sobrinho do mestre-escola desta Sé, que será de catorze para quinze
anos, e vive com seu pai em casa do dito mestre-escola. E que não sabia desta
matéria mais coisa alguma. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar
escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. André da Cruz.

Aos sete dias do mês de Agosto de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir
perante si a Tomé de Paiva, solteiro, filho de Teotónio de Almeida, morador
fl. 223v. nesta cidade,// cantor da Sé dela, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que,
sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,
prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de dezassete para dezoito anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado se sabe como vivem os lentes, Doutores, oficiais desta Universi-
dade, estudantes e mais pessoas dela, e se hajam cometido algum vício da carne,
e de que tempo a esta parte, disse que o que da dita pergunta sabia era que ele
declarante, na forma da ordenação, declarava e confessava que, haverá dois
anos, e os faz este verão presente, pouco mais ou menos, não lhe lembra o mês
ao certo, nesta cidade, foi ele declarante a nadar ao rio, à tarde, com Manuel de
Miranda, estudante de Direito, filho de Maria Simões, que, ao presente, está
preso na cadeia desta Universidade, e com Manuel Carneiro, estudante da

250
quinta classe, não sabe o nome aos pais, que são já falecidos, e vive com sua
, _fl. 224 avó, oleira,/ / à qual não sabe o nome, moradores nesta cidade e dela naturais, e
anda agora, de ontem para cá, feito sohlado, para ir com o Capitão que aqui
está fazendo gente. E, andando todos três despidos na água, os sobreditos, ora
um ora outro, pegavam no membro viril dele declarante, e lho esfregavam, até
que ele declarante lhe fugia com o corpo. Disse mais que, daí a quinze dias,
pouco mais ou menos, nesta cidade e casa da dita sua avó, às Olarias, se achou
ele declarante em companhia dos sobreditos, em uma tarde, e, estando todos
três sós, o sobredito Manuel Carneiro pegou nele e o deitou sobre a cama;
e, tendo-o na mão, o dito Manuel de Miranda lhe desatacou a ataca dianteira e
se deitou sobre ele, e, abraçando-o e beijando-o, lhe meteu entre as pernas seu
membro viril, e, fazendo os meneios que faz um homem com uma mulher, até
derramar semente, se se não engana. E, tirado o dito Manuel de Miranda, se
pôs logo sobre ele declarante o dito Manuel Carneiro, e o abraçou e beijou e lhe
meteu seu membro viril entre as pernas dele declarante, e fez os ditos meneios
por espaço, até também derramar a dita semente, posto que não sentiu se a
derramou ou não. E, querendo endireitar, digo, gritar, lhe taparam a boca com
a mão; e, acabado isso, se tiraram, e não passaram ali mais. Disse mais que,
jl. 224v. este// Setembro ou Outubro que fará dois anos pouco mais ou menos, não lhe
lembra em que mês, nesta cidade, à tarde, foi ele declarante, em companhia de
André da Cruz, cantor desta Sé, estudante da oitava classe, filho de uma mulher
viúva, a quem não sabe o nome, que vive na Rua do Corpo de Deus, passear
pelos sinceiros e, à Ponte de Águas de Maias, junto à Forca, encontraram os
sobreditos Manuel de Miranda e Manuel Carneiro, e, por os convidarem a ele
declarante e ao dito André da Cruz com umas castanhas para merendarem, e
vinho, as foram comer todos quatro, detrás da Forca; e, depois disso, lhe deram
umas moedas e jogaram aos dados. E, aí junto, chegando a um lagar, dentro
nele o dito Manuel de Miranda deitou ao dito André da Cruz no chão, e,
descidos os calções, se pôs sobre ele, abraçando-o e beijando-o, e fez o que faz
um homem com uma mulher; e o dito Manuel Carneiro, depois de fazer medo
com uma faca ao dito André da Cruz, até o fazer deitar no chão, se veio para
detrás de uma parede do dito lagar com ele declarante. E, tirado Manuel de
Miranda, foi o dito Manuel Carneiro, e se pôs sobre o dito André da Cruz,
estando ainda com os calções aos giolhos, e fez o mesmo que tinha feito o dito
/7. 225 Manuel de Miranda, o qual,/ / nesse tempo, se veio para ele declarante; e daí se
viam uns aos outros. E, acabado isso, se vieram todos para casa. Disse mais
que, daí a algum tempo, não lhe lembra ao certo, vindo ele declarante das
ladainhas de S. Domingos, em companhia do dito André da Cruz, junto ao
Carmo acharam aos sobreditos Manuel de Miranda e Manuel Carneiro; e os
sobreditos tomaram ao dito André da Cruz, sendo à toca da noite, e o levaram
entre as cercas do dito Mosteiro do Carmo e de S. Bernardo, e, tardando um

251
grande espaço, estando ele declarante esperando por eles à boca da travessa,
tomaram todos três e o dito André da Cruz chorando, e com a capa suja e
cheia de barro, e os calções. E, ao outro dia, lhe disse que os sobreditos o
açoitaram. Disse mais que, haverá um ou dois anos, pouco mais ou menos, foi
ele declarante, como músico, com seu pai e outros, e o dito André da Cruz, a
um' ofício de Pero de Alcáçova à vila de Figueiró dos Vinhos; e, à noite,
estando despidos na cama, ele declarante e o dito André da Cruz, no discurso
estiveram pegando um ao outro nos membros viris, abraçando-se e beijando-se,
até que ele declarante derramou semente, e o dito André da Cruz lhe parece que
não derramou. Disse mais que, depois disto, não lhe lembra ao certo quantos
dias, mas foram poucos, nem os lugares, uma ou duas vezes, derramou semente,
fl. 225v. não lhe lembra se// de ambas as vezes, estando-se esfregando os membros na
forma sobredita, e abraçando-se e beijando-se, e não deu fé se o dito André da
Cruz derramou também semente, mas tinha o dito membro viril teso, e mos-
trava folgar com isso. E que isto era o que só sabia e tinha cometido, de que
estava muito arrependido e com propósito de o não tomar mais a cometer, de
que pedia perdão. E, lembrando-lhe mais alguma coisa, o viria acumular nesta
sua confissão. E, por mais não dizer, perguntado se sabia haverem mais algu-
mas pessoas cometido o dito pecado de molícias, ou que saibam dele, disse que
não sabia. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na
verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Tomé de Paiva.

Jorge Lopes, solteiro, filho de Lopo Esteves, porteiro da portaria dos


Padres de Santa Cruz, e de Leonor Vaz, naturais de Pademe e moradores nesta
fl. 226 cidade, a Montarroio, a quem o Reformador D. Francisco de// Meneses man-
dou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evange-
lhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse
ser de idade de quinze para dezasseis anos. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo
perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de c;_ue tempo a esta parte, disse que não. Perguntado se sabe os lentes,
Doutores, oficiais, estudantes e mais pessoas desta Universidade, como vivem, e
se hajam cometido algum vício da carne, e de que tempo a esta parte, disse que,
na forma da ordenação do Reino, diria e confessaria o que sabia, e, de feito,
logo confessava, persuadido das razões que ele Reformador lhe havia dado, e
para descarregar sua consciência. E era que, haverá dois anos, pouco mais ou
menos, e os faz agora este verão, não lhe lembra em que mês, se achou ele
declarante em casa e companhia de Lucas Rangel, estudante ao tal tempo da

252
oitava classe, e agora, ainda que não estuda, anda em trajos de estudante, filho
de um fulano Rangel, que vive ao Romal, escudeiro, comprido do corpo,
magro do rosto, começa-lhe a barba de preto. E, estando ambos sós, o sobre-
dito o deitou sobre a cama e lhe desatou os calções, e, descidos até aos giolhos,
Jl. 226v. se deitou sobre ele, e lhe meteu o membro// viril, teso e levantado, entre as
pernas dele declarante; e, abraçando-o e beijando-o, fez os meneios que faz um
homem com uma mulher, até que derramou semente entre elas, pedindo-lhe
que tivesse segredo. E ali, nem antes nem depois, passaram mais, que lembrado
seja, porque o sobredito se foi logo para uma quinta, que tem o dito seu pai.
Disse mais que, haverá cinco meses, e foi no de Março próximo passado, não
lhe lembra a quantos dele, vindo do estudo, à tarde, ele declarante e Diogo de
Beja, solteiro, de idade de dezoito para dezanove anos, cujo pai é já morto, e é
neto do alcaide Manuel Cordeiro, em cuja casa está com sua mãe, a quem não
sabe o nome. E, junto a Montarroio, no olival que está detrás da cerca de
Santa Cruz, esperaram que anoitecesse, e, noite cerrada, o sobredito o cometeu
para o pecado de molícias; e logo o sobredito lhe pegou no membro viril com a
mão, e ele declarante pegou também no membro viril do dito Diogo de Beja, e
se esfregaram com as mãos um ao outro, abraçando-se e beijando-se, até que
derramaram ambos os dois semente. E ali não passaram mais, nem disseram
com quem mais o cometiam, nem antes nem depois, que lembrado seja. Disse
mais que, haverá três meses, pouco mais ou menos, não lhe lembra em que dia,
nesta cidade, indo ele declarante do estudo para sua casa, à tarde, o esperou
entre os muros Manuel de Miranda, estudante que andou no primeiro curso das
J1. 221 Artes, não sabe// o que aprende agora; e, dizendo-lhe que fossem passear até à
Conchada, no olival que fica detrás da vinha da Inquisição, o sobredito, depois
de o ter persuadido; o dito Manuel de Miranda, que ao presente está preso na
cadeia desta Universidade, o deitou no chão, e lhe desceu os calções aos giolhos,
e se deitou sobre ele, e lhe meteu o membro viril, teso e levantado, entre as
pernas dele declarante, e o abraçou e beijou, fazendo os ditos meneios atrás
declarados, até que, entre elas, derramou semente. E, depois que se tirou, esfre-
gou o membro viril dele declarante o dito Manuel de Miranda, abraçando-o e
beijando-o, até que ele declarante derramou também semente. E ali não passa-
ram mais, nem antes nem depois, que lembrado seja, nem disseram com quem
cometiam, digo, e ali lhe disse o dito Manuel de Miranda que cometia o dito
pecado de molícias com André da Cruz, músico da capela da Sé, que vive com
sua mãe na Rua do Corpo de Deus, e com Manuel Nunes, que foi músico da
. dita Capela, que é de Aveiro, e vive com o padre Manuel Dias, que mora junto
a Martim Gonçalves, lente de Medicina nesta Universidade. Disse mais que,
haverá quinze dias, pouc9 mais ou menos, nesta cidade, na loja das casas dele
declarante, onde vive com os ditos seus pais, a Montarroio, sendo eles fora e
não estando pessoa alguma em casa, foi ter com ele, como seu conhecido e

253
vizinho, Manuel Vaz, estudante da quinta classe, e não tem pai, e é filho de
Jl. 227v. Maria/ / Vaz, que será de dezanove anos, comprido do corpo, que foi moço do
coro desta Sé, e agora é músico dela. E, estando ambos sós, o sobredito o
persuadiu a que cometesse o dito pecado, e logo lhe meteu a mão na braguilha
e lhe pegou no membro viril, e ele declarante no do dito Manuel Vaz, e os
estiveram esfregando um ao outro, e, beijando-se e abraçando-se, até que
ambos os dois derramaram semente. E ali não passaram mais, nem antes nem
depois, que lembrado seja, nem disseram com quem mais cometiam o dito
pecado. Disse mais que, este domingo próximo passado, que foram quatro do
presente mês, por ocasião dos ditos seus pais serem em uma romaria, e lhe ir
pedir uma roupeta e uns sapatos que aí tinha deixado, Manuel Ferreira, estu-
dante, lhe parece que anda na terceira classe, filho de um fulano Ferreira, que
vive cá em cima, junto à feira ou a estes Colégios, e leva algumas cargas para
Lisboa, e será de idade o dito moço de dezassete anos, comprido e magro do
corpo. E, por ser isto à noite, estando ambos na cama, onde dormiram despi-
dos, depois do sobredito o persuadir ao dito pecado, lhe pegou no membro viril
dele declarante, e ele no membro viril do dito Manuel Ferreira, e, abraçando-se
fl. 228 e beijando-se, os esfregaram um ao outro, até que ambos// derramaram
semente. E ali não passaram mais, nem antes nem depois, que lembrado seja,
nem disseram com quem mais o cometiam. Disse mais que, haverá dois anos,
pouco mais ou menos, não lhe lembra em que mês, nesta cidade, pela manhã,
depois de ouvirem missa no Mosteiro de Santa Cruz, onde se encontraram,
António Nogueira, filho de Pero Nogueira, carcereiro que foi da cadeia desta
cidade, e é escrivão das armas, que vive à Portagem com o dito seu pai, por
ocasião do sobredito lhe pedir que fossem dar um passeio até aos sinceiros, e de
o persuadir, indo ambos andando para eles, a que cometessem o dito pecado de
molícias, entraram em uma casa velha e derrubada, das que estão por baixo de
Santa Justa, antes de chegarem ao crucifixo, e, estando ambos sós nela, o
sobredito o abraçou e beijou, e lhe meteu na mão o membro viril, e com a sua
pegou no membro viril dele declarante, e os esfregaram um ao outro, por
espaço, e, por sentirem vir um homem, desaferraram os ditos membros, que
estavam tesos e levantados. E, entrado o dito homem, se saíram ambos para
fora, e se vieram para casa. E não está lembrado bem, para se afirmar nisto, se
o dito António Nogueira derramou então semente ou não; porém, lhe lembra
que ele declarante a não derramou. E ali não passaram mais, nem antes, porém
depois, haverá um ano, pouco mais ou menos, que se encontraram à tarde,
saindo do estudo, entre as cercas de Santa Cruz e dos Padres da Compa-
fl. 228v. nhia, o dito António// Nogueira e ele declarante; e, estando ambos sós, o
sobredito lhe pediu que quisesse que tornassem a cometer o dito pecado de
molícias. E por ele declarante lhe responder que não queria, o dito António
Nogueira deixou de efectuar seu intento, como, de feito, logo ali o efectuara se

254
ele declarante consentira nisso. E não passaram mais antes nem depois, que
lembrado seja, nem disseram com quem mais cometiam o dito pecado. Disse
mais que agora lhe lembrava mais que, depois do dito Lucas Rangel derramar a
dita semente e se tirar de cima dele declarante, como tem acima dito, pegou no
membro viril dele declarante e lho esfregou, abraçando-o e beijando-o, até que
derramou semente. E que isto era o que, ao presente, lhe lembrava, e que pedia
perdão e estava muito arrependido, e tinha propósito de nunca mais o tomar a
cometer; e de vir confessar e acumular a esta sua confissão o que mais de novo
lhe lembrasse. Pelo que lhe foi perguntado se sabia que algumas pessoas mais
houvessem cometido o dito pecado de molícias, ou que saibam dele; disse que
não sabia de mais alguma pessoa, nem que soubesse do dito pecado. E, por
mais não dizer, lhe não foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe lido este
testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do cos-
tume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o
fl. 229 escrevi. E declarou// que, ao presente, andara, até agora, na segunda classe das
Escolas Menores. Sobredito o escreveu. D. Francisco de Meneses, Reformador
e Reitor. Jorge Lopes.

Aos oito dias do mês de Agosto de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Francisco Pinto de Faria, solteiro, filho de Álvaro de Faria, que Deus tem, e de
Filipa Pinto de Macedo, com quem vive ao Corpo de Deus, estudante da
quarta classe, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de catorze para quinze anos, do mês de Abril próximo passado para cá.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que Pero
de Sequeira, estudante da sexta classe, filho de António Dias de Almeida,
fl. 229v. lhe disse, haverá dois meses, pouco mais ou menos, que se fosse chamado// a
esta visita não dissesse ele declarante dele Pero de Sequeira coisa alguma, se
porventura o sabia; e que o mesmo lhe pedira Manuel da Costa, estudante da
quinta classe, filho de um cerieiro a quem não sabe o nome, que pousa junt J a
S. Bartolomeu, defronte da ilharga da igreja, que será de idade de quinze para
dezasseis anos, magro do rosto; e que o mesmo lhe pedira André da Cruz,
estudante da oitava classe, músico da Sé, que vive com sua mãe Maria Jorge,
debaixo das casas da dita mãe dele declarante; e que nenhuma outra pessoa

255
mais lho pediu. Perguntado se sabe que alguns lentes, Doutores, oficiais desta
Universidade, estudantes e mais pessoas dela hajam cometido algum vício da
carne, e de que tempo a esta parte, e que ocasião tiveram os sobreditos para lhe
pedirem que calasse a verdade, sendo chamado a esta visita, disse que ele, per-
suadido das razões que ele Reformador lhe tem dado, e, para descargo de sua
consciência, queria e, de feito, confessava suas culpas na forma da ordenação do
Reino. Foi-lhe dito que, pois tomava tão bom conselho, não impusesse sobre si
nem sobre outrem testemunho falso, porque nesta visita só a verdade se queria
saber. E logo disse que, haverá quatro meses, pouco mais ou menos, e foi
depois da Páscoa, nesta cidade, se achou ele declarante em casa e companhia do
fl. 230 Dr. António Homem, lente// de Prima de Cânones desta Universidade, nas
suas próprias casas, que, ao presente, tem juntas às do provisor que foi António
Velho, pela manhã, perto de horas de jantar, por ocasião da mãe dele decla-
rante o mandar ao dito Doutor com um recado. E, estando ambos sós, na casa
do estudo, o dito Doutor o assentou sobre uma cadeira que aí tinha, de
encosto, sem braços, e o desatacou, e lhe desceu os calções aos giolhos, e se
desatacou também assim mesmo; e, descidos os calções, se pôs em cima dele
declarante e lhe meteu o membro viril, teso e levantado, entre as pernas dele
declarante; e, tendo-o abraçado e beijando-o, fez o que faz um homem com
uma mulher, até que, entre elas, derramou semente. E, depois disso, daí a um
mês, pouco mais ou menos, tornou ele declarante à casa do dito Dr. António
Homem; e, estando ambos sós, na casa em que o dito Doutor então dormia, a
qual é pintada o forro e tem uns passos da Rainha Santa, e, descidos os calções
até aos giolhos, de ambos os dois, o deitou sobre a cama, e se deitou sobre ele
declarante, e, abraçando-o e beijando-o, lhe meteu seu membro viril entre as
pernas dele declarante, e fez os ditos meneios, até que, entre elas, derramou
semente. Disse mais que, depois desta segunda vez, daí a um mês, pouco mais
ou menos, nesta cidade, tornou ele declarante terceira vez a casa do dito
Dr. António Homem; e, estando ambos sós na dita casa do estudo, descidos os
calções de ambos os dois até aos giolhos e posto ele declarante na dita cadeira
fl. 230v. de encosto sem braços, o dito// Dr. António Homem se pôs sobre ele, e lhe
meteu seu membro viril entre as pernas dele declarante, e, abraçando-o
e beijando-o, fez os ditos meneios, até que derramou semente entre as ditas
pernas. Disse mais que, daí a um mês, pouco mais ou menos, foi ele declarante
quarta vez, nesta cidade, a casa do dito Dr. António Homem; e, estando com
ele amhos sós. noutra casa mais para dentro. em que então tinha e tem a
cama, e descidos os calções de ambos os dois, o sobredito, depois de o ter
deitado na cama, se deitou sobre ele e lhe meteu seu membro viril entre as
pernas dele declarante, e o abraçou e beijou, e com os mesmos meneios, até
que, entre elas, derramou semente. E ali não passaram mais, nem disseram com
quem faziam o dito pecado de molícias; só lhe pareceu a ele declarante, mal

256
indo lá por outra vez, ver ao dito Doutor falar e dizer a um criado do
Dr. António Lourenço, a quem não sabe o nome, bem assombrado, que é um
dos que agora tem, dizer-lhe que fosse lá pela porta travessa que as ditas casas
têm. Disse mais que, dia do Corpo de Deus este próximo passado, pela manhã,
foram passeando ele declarante e Manuel da Costa, estudante da quinta classe,
seu amigo e conhecido, filho de um carcereiro, atrás já nomeado; e, chegados a
um olival, junto à Forca, se assentaram, e, estando ambos sós, o sobredito
f1. 231 pegou no membro dele declarante, e ele declarante// no dito Manuel da Costa,
o esfregaram um ao outro, beijando-se, até que derramaram ambos os dois
semente. E ali, ou em outra parte, lhe disse o sobredito que cometia o dito
pecado de molícias com o dito Pero de Sequeira, atrás nomeado. E, por este
respeito, o sobredito e o dito Manuel da Costa lhe deviam de pedir que negasse
o que soubesse, se viesse a esta visita. E não passaram mais, nem mais disseram
com quem o cometiam. Disse mais que, haverá dois meses, pouco mais ou
menos, o dia em que fizeram a procissão do Sacramento de S. Bartolomeu, à
tarde, nesta cidade, se achou ele declarante por cima da Forca, junto a um
valado, em companhia do dito Manuel da Costa e de André da Cruz, outrossim
atrás nomeado; e, estando todos três como amigos, se deitou no chão o dito
André da Cruz, com os calções descidos aos giolhos, e o dito Manuel da Costa,
com os seus também descidos, se pôs em cima do dito André da Cruz, e estive-
ram fazendo o que faz um homem com uma mulher; e ele declarante estava
vigiando se vinha alguém. E como acabaram, o dito Manuel da Costa veio
para onde ele estava a vigiar, e ele declarante foi e tirou os calções até ao giolho,
e se deitou no chão, e sobre ele se pôs o dito André da Cruz, também com os
calções descidos, e lhe meteu entre as pernas o membro viril, e o abraçou e
beijou e fez os ditos meneios, até que, entre elas, derramou semente. E ali não
passaram mais, e tornaram para casa; nem disseram com quem mais comete-
fl. 23/v. ram o dito pecado de molícias. / / Disse mais que, haverá um mês, pouco mais
ou menos, nesta cidade, à tarde, se achou ele declarante em companhia dos
sobreditos Manuel da Costa e André da Cruz, em um olival detrás de Santa
Ana; e deixaram ao dito Manuel da Costa para vigiar; e, metidos em uma
cova, com os calções descidos, se deitou no chão o dito André da Cruz, e ele
declarante se pôs em cima e lhe meteu seu membro viril entre as pernas, e o
abraçou e beijou, e, fazendo os ditos meneios, até que, entre elas, derramou
semente. E, após isso, se deitou ele declarante no chão, e o dito André da Cruz
sobre ele, e lhe meteu o membro viril entre as pernas, fazendo tudo o mais, até
que, entre elas, lhe derramou também semente. E, posto que o dito Manuel da
Costa os não via, sabia muito bem que eles o estavam fazendo, porque, para
isso, lhe disseram que os vigiasse. Disse mais que, haverá quinze dias, à tarde,
nesta cidade, foram ele declarante e o dito André da Cruz em um canto escuro
que fazem as duas cercas de Santa Cruz e, aí, deitados no chão, assim e da

257
mesma maneira, sendo ora um agente, ora paciente, fizeram ambos os dois tudo
o acima referido, até que ambos os dois derramaram semente, sendo ele decla-
rante o primeiro agente. Disse mais que, antes de tudo isto, haverá um ano,
pouco mais ou menos, em sua casa, em diversos dias e tempos que lhe não
fl. 232 lembram,// o dito André da Cruz o abraçou e se beijaram, pegando no mem-
bro viril um do outro, esfregando-os com as mãos, até que o dito André da
Cruz derramou semente duas ou três vezes, e ele declarante, posto que folgava,
a não derramou, parece que por não poder ainda. E, por outra vez, nesta
quaresma próxima passada, em um olival junto aos Marianos, à tarde, fizeram
o mesmo ambos de dois, derramando o dito André da Cruz, e ele declarante
não, pelo dito respeito : e, só de então para cá, começou a derramar semente, as
vezes que tem declarado. E que, por este respeito, o dito André da Cruz lhe
pediu que, se cá viesse, negasse as ditas coisas, como ele declarante pediu tam-
bém a todos os outros de que tem dito. E que isto era o que só, ao presente, lhe
lembrava, de que estava muito arrependido, e com determinação de nunca mais
o tomar a cometer. Perguntado se sabe quem mais haja cometido o dito
pecado de molícias, ou se deu ele declarante conta a alguém de o haver come-
tido com estas ou outras mais algumas pessoas, disse que não. E, por mais não
dizer, lhe foi lido este testemunho, e, sendo por ele ouvido, disse estar escrito na
verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agosti-
nho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Francisco Pi.nto de Faria.//

fl. 232v. Manuel Coelho, solteiro, filho de António Ferreira, ourives de prata, natu-
ral desta cidade de Coimbra, morador na Calçada, defronte da Misericórdia,
estudante da terceira classe, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses
mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse
verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de dezasseis para dezassete anos. Perguntado se sabe
ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem,
que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse ·
o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado se
sabe que algum Doutor, lente, oficial desta Universidade, estudantes e mais
pessoas dela hajam cometido algum vício da carne, e de que tempo a esta parte,
disse que, persuadido das razões que ele Reformador lhe tem dadas, e, para
descargo de sua consciência, na forma da ordenação do Reino, queria confessar
suas culpas. Foi-lhe dito que, pois tomava tão bom conselho, não impusesse
sobre si nem sobre alguma pessoa testemunho falso, porque nesta devassa só a
verdade se queria saber. E logo disse que, haverá dois ou três meses, pouco
fl. 233 mais ou menos, nesta cidade, se achou// ele declarante em casa e companhia de

258
André Lopes, estudante do terceiro curso das Artes, que poderá ser de vinte
anos, desbarbado, filho de Francisco Lopes, alfaiate, que vive na Calçada, e de
Matias Gonçalves, estudante da terceira classe, que será da mesma idade, des-
barbado, natural de Montemor-o-Velho, filho de um advogado a quem não
sabe o nome, e vive na dita casa, e é pupilo do dito Francisco Lopes. E, por
ocasião dele declarante ir lá dormir, os sobreditos, estando todos três na cama,
e ele declarante no meio dos ditos André Lopes e Matias Gonçalves, ambos os
dois, não lhe lembra qual deles foi o primeiro, o abraçou e beijou, e lhe meteu
seu membro viril entre as pernas dele declarante, estando deitados de ilharga, e
fazendo o que faz um homem com uma mulher, até que derramou semente.
E, como acabou, se virou ele declarante para o outro, que, do mesmo modo lhe
fez o mesmo, até que, entre as pernas, derramou também semente. E, logo na
noite seguinte, ou na outra imediata, não lhe lembra se foi na segunda se na
terceira, tomou a dormir lá, e, estando todos três na cama, despidos, de noite,
assim e, da mesma maneira, ambos e cada um deles derramaram semente entre
as pernas dele declarante, tendo de todas as vezes os membros viris tesos e
levantados. E, em um destes dias, não lhe lembra qual, pela manhã, ao levantar
fl. 233v. da cama, estando ambos sós, já vestidos, em outra// casa das ditas casas, ele
declarante e o dito André Lopes, o sobredito lhe meteu o membro viril na mão
e o abraçou e beijou, e ele declarante lho esfregou até derramar semente. E que
isto era o que só tinha que declarar, de que estava muito arrependido, e com
ânimo de o não tomar mais a cometer, e de vir acumular a esta sua confissão
tudo o mais que lhe lembrar. E, por mais não dizer, lhe foi perguntado se sabe
haverem mais algumas pessoas cometido o dito pecado de molícias, ou que
saibam dele, ou que estejam infamadas nele; disse que não sabia coisa alguma
da primeira e segunda parte da pergunta, e da terceira que ouviu dizer, a muitas
pessoas, que agora lhe não lembram, que Manuel de Miranda, estudante, que
ora está preso na cadeia desta Universidade, e Manuel Carneiro, estudante que
foi da quinta classe, naturais desta cidade, e António Nogueira, filho de Pero
Nogueira, carcereiro que foi da cadeia desta cidade, e Sebastião Dias, irmão do
recoveiro desta Universidade, todos estudantes dela, estavam infamados de
cometer o dito pecado de molícias. E não sabe donde esta fama trouxesse sua
origem. E não lhe foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe lido este testemu-
.fl. 234 nho e perguntado se estava escrito na verdade, // disse que sim, e do costume
nada. E assinou com o dito Reformador. Diz a entrelinha modo. E eu, Agos-
tinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Manuel Coelho.

Jerónimo Gomes, solteiro, filho do licenciado Francisco Gomes, advogado,


natural desta cidade de Coimbra, morador na Calçada, estudante canonista,
testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou

259
vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos,
em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de vinte anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se
alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo
a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos
reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e,
depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que não sabia
deles coisa alguma. Pelo que, perguntado pelo referimento que nele fez Bento
da Fonseca, primeiro, em geral, e, depois, em especial, calado o nome, e por ele
fl. 234v. ouvido e entendido, disse que bem poderia// dizer o sobredito, mas que lhe não
lembra ao presente, nem da matéria do dito referimento sabe coisa alguma.
E lhe não foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse
estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Jerónimo Gomes.

Maria Simões, mulher de João Francisco, sapateiro, morador à Porta


Nova, por baixo da portaria do carro dos Padres da Companhia, testemunha
referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante
si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que
pôs sua mão, e, mandada que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo
no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de
cinquenta anos. Perguntada se sabe ou presume para que é chamada, e se
alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntada na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a
esta parte, disse que não. Perguntada se sabe que algum oficial desta Universi-
fl. 235 dade cometesse erro algum contra seu ofício, e de que// tempo a esta parte,
disse que não. Perguntada se sabe que algum estudante peitasse com dinheiro e
dádivas a algum oficial desta Universidade, disse que, por ocasião dela decla-
rante ter em sua casa por pupilo a Bartolomeu Nunes, estudante das Escolas
Menores, natural de Idanha-a-Nova, veio aí pousar com o dito Bartolomeu
Nunes, este mês de Novembro ou Dezembro próximo passado, pouco mais ou
menos, Pero Geraldes, da dita Idanha-a-Nova, estudante da Universidade de
Salamanca, e que, depois de cursar aqui alguns anos, se formou na Faculdade
que professa, não sabe qual, o dito mês de Dezembro próximo passado, da dita
casa dela declarante. E, no discurso de um mês que aí estaria, pouco mais ou
menos, viu ela declarante que o dito Pero Geraldes, pelo dito seu marido João
Francisco, mandou comprar uma pele de cordovão, que lhe custou nove tos-
tões, e outra que o dito Pero Geraldes comprou por outros nove tostões a um

260
estudante do Fundão; e que, ambas as duas, com meia dúzia de queijos, além
doutros que já lhe tinha mapdado, mandou por Francisco Branco, estudante de
Latim, não sabe de que classe, criado dos ditos Pero Geraldes e Bartolomeu
Nunes, que será de dezoito anos, desbarbado, de meã estatura, a Rui de Albu-
querque, Secretá_rio desta Universidade, para que lhe desse algum tempo que lhe
faltava para se poder formar, ou lhe incorporar os cursos que tÍnha da dita
f1. 235v. Universidade de Salamanca. E, porque o dito Rui// de Albuquerque lhe não
fazia o sobredito, sem embargo de lhe ter escrito, que leu a ela declarante, em
que lhe dizia que, se queria aceitar seis mil réis, que lhe mais daria, que lhos
mandaria, por lhe fazer o sobredito; e pelo dito Francisco Branco, que lhe levou
o dito escrito, lhe mandou dizer que se visse com ele na Universidade. E, depois
de falarem, viu ela declarante que o dito Pero Geraldes mandou pelo dito Fran-
cisco Branco ao dito Rui de Albuquerque seis mil réis em patacas; e, depois de
as entregar ao dito moço, se foi com ele, e, quando tomaram, o sobredito Pero
Geraldes lhe mostrou um papel, dizendo-lhe que nele lhe dera o Secretário o
que era necessário para se formar, e que aquilo era o que faziam os ditos seis
mil réis. E, logo ao outro dia, viu que tomou ponto e se formou o dito Pero
Geraldes com Francisco Gomes, opositor canonista. E que as pessoas que
sabem disto, e ainda melhor a causa por que lhe deu o qito dinheiro e mais
coisas, são os ditos Bartolomeu Nunes e Francisco Branco, seu criado, que, no
princípio do ano escolástico, hão-de tomar, porque em sua casa lhe ficou o fato.
E, por ter satisfeito ao referimento que nela fez Jorge Osório Coutinho, lhe não
foi lido. E, por mais não dizer, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar
fl. 236 escrito na verdade, e do costume disse nada. E assinei com o dito// Reforma-
dor por ela, a seu rogo, por não saber escrever. E eu, Agostinho de Aguiar, o
escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Agostinho de Aguiar,
a rogo.

Aos nove dias do mês de Agosto de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
André Lopes, solteiro, filho de Francisco Lopes e de Maria Cabral, alfaiate,
morador na Calçada, estudante do terceiro curso das Artes, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de dezanove anos.
Perguntado se sabe para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por
outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade
ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado se sabe que algum Doutor, lente, oficial desta Universidade, estu-

261
dante e mais pessoas dela hajam cometido algum vício da carne, que vivam
fl. 236v. desonestamente,// e de que tempo a esta parte, disse que o que sabia da per-
gunta era ser pública voz e fama serem fanchonos e andarem com moços, a
saber, Manuel de Miranda, estudante das Escolas Maiores, preso ao presente na
cadeia desta Universidade, e Manuel Carneiro, estudante que foi das Escolas
Menores, e agora se assentou na companhia de soldados que se faz nesta
cidade, ambos naturais dela, e Diogo de Beja, estudante da quinta classe, neto
de Manuel Cordeiro, alcaide que foi desta cidade, e João de Gouveia, dourador,
solteiro, irmão de Diogo Ferreira, pintor, solteiro, que vive na Calçada, que se
foi agora daqui com Estêvão da Cunha, filho de António Gonçalves da Cunha;
a qual fama anda entre a maior parte desta cidade, e não sabe donde trouxesse
seu princípio, mais que de os verem andar sempre com moços. Disse mais que,
haverá seis anos, pouco mais ou menos, nesta cidade, na ponte dela, à noite, se
achou ele declarante em companhia do dito João de Gouveia; e, estando ambos
sós, o sobredito lhe meteu seu membro viril, teso e levantado, na mão dele
declarante, que lho esfregasse; e, estando-lho esfregando, por vir um homem e
os estorvar, e ele declarante se acolher para casa, deixou de derramar semente,
fl. 237 que, sem dúvida, derramara se o outro não viera, e ele declarante se// não
acolhera. E ali não passaram mais, nem antes nem depois, que lembrado seja.
E que também era público o dito Manuel de Miranda com outros açoitarem
um moço, a quem não sabe o nome, fora da cidade, por não querer cometer o
dito pecado de molícias. E que não sabia nem lhe tinha acontecido mais coisa
alguma nesta matéria. Perguntado se sabe que outros alguns hajam cometido o
dito pecado de molícias, ou saibam dele por alguma via, disse que não. Pelo
que, sendo-lhe lido este testemunho, e por ele ouvido e entendido, disse que
estava escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Refor-
mador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. André Lopes.

O Dr. Francisco Mendo Trigoso, colegial e Reitor do Colégio de S. Paulo,


Doutor na Faculdade de Medicina, testemunha referida, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, estando presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que,
sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,
fl. 237v. prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de trinta e quatro// anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo
que de cada um deles sabia, disse que não sabia deles coisa alguma; pelo que lhe

262
foram feitas as perguntas seguintes. Perguntado se sabe que se desse a algum
estudante, dos do partido dos médicos, alguns quartéis, e quantos, e de que
tempo a esta parte, tendo acabado, e sem estarem reconduzidos, disse que não
sabia de pessoa alguma que, tendo o dito partido, depois de aprovado o levasse,
sem estar reconduzido. Perguntado se sabe que algumas pessoas, de qualquer
qualidade, desta Universidade, seja público e notório terem alguma conversação
e amizade ilícita, e de que tempo a esta parte, disse que, no princípio deste ano,
pouco mais ou menos, nesta cidade, se achou ele declarante em companhia de
Pero de Sousa, estudante em Medicina, natural de Valongo, junto ao Porto,
que vivia o último tempo que aqui esteve com o Dr. Manuel de Abreu, lente de
Medicina. E, estando ambos, o sobredito lhe disse, vindo a falar no dito//
f1. 238 lente, que estava ordinariamente em grandes brigas e ódios com sua mulher, a
quem não sabe o nome, em tanto que comiam apartados; porque ela se quei-
xava publicamente de ele correr em amizade ilícita com uma filha de um boticá-
rio de Aveiro, a quem não sabe o nome, e que com ela gastava toda a sua
fazenda; e que muitas coisas vira, pelas quais julgava ser verdadeira a dita
queixa, como era o dito boticário vir buscar, algumas vezes, ao dito Manuel de
Abreu. E que Manuel Figueira, estudante médico, da Fronteira, ou o bedel de
Medicina, Gaspar de Seixas, lhe disse, este mês de Julho, que ele era em casa do
dito boticário, e outras pessoas, e que até os parentes de sua mulher tratavam já
de a desquitar dele. E que, ao presente, lhe não lembrava coisa alguma mais
pertencente à dita pergunta. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar
escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Francisco Mendo Trigoso.

Aos doze dias do mês de Agosto de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
.fl. 238v. de Meneses,/ / do Conselho de Sua Majestade, Doutor nos Sagrados Cânones,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
António da Silva, solteiro, filho de Tomé Nunes, já defunto, morador que foi
nesta cidade, e de Maria Gaspar, outrossim defunta, estudante do segundo
curso das Artes, morador na Praça com suas irmãs, defronte de Santiago, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que
lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e
um anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe
pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado se sabe que alguns lentes, Doutores, oficiais desta Univer-
sidade, estudantes e mais pessoas dela vivam desonestamente, e disso estejam

263
infamados, e de que tempo a esta parte, quer de vista quer de ouvido, e de que
fl. 239 tempo a esta parte, disse que o que sabia da dita pergunta era// ouvir publica-
mente que o Dr. António Homem, lente de Prima de Cânones, e o prior que
agora é de Pereira, a quem não sabe o nome, eram fanchonos. E, das pessoas a
quem o ouviu, de que, ao presente, se lembra, são a um Francisco Pinto, moço
pequeno, filho de um fulano de Faria, irmão de um António de Faria, e a um
moço, por nome fulano da Cruz, músico da Sé, que vivem ambos com suas
mães na Rua do Corpo de Deus; mas não sabe donde esta fama trouxesse seu
princípio, nem que os sobreditos hajam cometido pecado algum de molícias.
E que nenhuma outra coisa sabia, tocante à dita pergunta. Perguntado se sabe
que algumas outras pessoas mais hajam cometido o dito pecado de molícias, ou
saibam dele, disse que a mesma fama havia de um Manuel Carneiro, que foi
estudante e agora se fez soldado na companhia do capitão que aqui está, e um
Manuel de Miranda, que está preso na cadeia desta Universidade, estudante
desta Universidade, ambos naturais e moradores desta cidade, de cometerem o
dito pecado com o dito fulano da Cruz; e que, por isso, lhe dera o dito Manuel
Carneiro umas meias de seda. Não lhe lembra, ao presente, a que pessoas o
ouviu. E não lhe foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe lido este testemu-
nho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume
nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. António da Silva.//

Jl. 239v. Sebastião Antunes, casado nesta cidade com Maria Pimentel, filho de Brás
Nogueira, morador junto às casas do Bispo, defronte do relojoeiro da Universi-
dade, bacharel formado na Faculdade de Medicina, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que fosse perguntado, prome-
teu de o fazer assim; e disse ser de idade de quarenta anos. Perguntado se sabe
ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem,
que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse
o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles
sabia, disse que o que deles sabia era que Jerónimo Correia, carcereiro que ora
é de substituição da cadeia desta Universidade, consentia nela .algum jogo pre-
judicial, e que vinham a ela homens vadios e de má fama e crédito; em tanto
que, o ano passado, estando então aqui por Reitor o Bispo do Algarve, D. João
fl. 240 Coutinho,// e preso Manuel Soares, estudante, mestre em Artes, de Lisboa,
que, ao presente, é clérigo, em cujo livramento, assistindo seu pai, a quem não
sabe o nome, por algumas vezes ouviu ele declarante queixar ao dito seu pai

264
que, na dita cadeia, o roubavam por muitas vias, assim não lhe abrindo a porta
sem lhe darem dinheiro, tanto que era noite, o dito carcereiro, como não o
deixando falar com o dito seu filho sem peitas, e, estreitando-lhe a prisão e
obrigando-o a jogar com homens que o dito carcereiro lhe ali trazia, que tinha
por de muito má presunção, posto que os não conhecera; porque lhe ganharam
uma noite três mil réis, além de doze que tinha ganhados, os quais se deixou
perder de indústria, por entender que lhe fariam alguma afronta, e eles assim o
darem a entender. E agora, neste mês de Março ou Abril próximo passado,
estando preso na dita cadeia Luís Gonçalves, estudante, lhe parece que legista,
natural do Crato, lhe ganhou um Pero Pais, irmão de Bento Arrais, homem de
má fama e vida, vinte e cinco mil réis por meios ilícitos, segundo o dito Luís
Gonçalves disse a ele declarante, que lhe ganhara o dito dinheiro; e sabe ele
declarante que o dito Pero Pais usa dos ditos meios no jogo com muita largueza
de consciência. E, assim, havia comer e beber na dita cadeia com estes e outros
vadios, em que entrava o bedel de Medicina, Gaspar de Seixas. Disse mais
f7. 240v. que // o Secretário, Rui de Albuquerque, estava nesta Universidade, pela maior
parte dela, infamado de vender tempo aos estudantes, sem o terem, e de passar
certidões a estudantes que não estavam na terra, para poderem provar os cursos
no ano seguinte; o que ele declarante sabe porque, este ano escolástico, no mês
de Novembro, pouco mais ou menos, nesta cidade, se achou ele declarante em
companhia de Salvador Álvares, mercador da cidade do Porto, amigo e hós-
pede dele declarante, e, estando ambos sós, lhe disse o sobredito, por ocasião de
lhe haver escrito do Porto, que fizesse com que o dito Rui de Albuquerque lhe
passasse certidão dos cursos que nesta Universidade tinha de Cânones, António
Álvares, seu irmão, para se poder ir com ela acabar seu estudo a Salamanca;
porquanto era fama pública que o Reitor Vasco de Sousa, que Deus tem, lhos
mandara riscar, por umas cutiladas que dera em outro estudante, das portas das
Escolas para dentro; e ele declarante lhe responder que danaria o negócio, cor-
rendo por sua via, porque o Secretário se não fiaria dele ; mas que viesse a esta
cidade, e que, por via de Jorge Fernandes Mascarenhas, mercador, amigo e
vizinho do dito Secretário, alcançaria a dita certidão. E que mandasse, pela sua
fl. 241 moça, a casa do dito Jorge// Fernandes, duas arrobas de açúcar, para mandar
ao dito Secretário; como, de feito, mandou por a moça dele declarante, por
nome Margarida. E, perguntando-lhe, após isso, se lhe tinha dado a dita certi-
dão, o sobredito lhe respondeu que já lha tinha dado, e que chegara o que o
dito Rui de Albuquerque por ela lhe levara, a vinte cruzados, e lha não quisera
dar por menos; a qual certidão ele declarante viu, e era assinada pelo Vice-
-Reitor Frei Egídio. E entende ele declarante que o dito Rui de Albuquerque
lhe negaria a dita certidão, por respeito do crime das ditas cutiladas, e que o
dito Salvador Álvares, por remir a vexação do dito seu irmão, lha comprou
pelo dito preço; o que tem por certo porque, daí a poucos dias, por ocasião do

265
dito Álvares emprestar cem cruzados a Frei Fernando, frade de Nossa Senhora
da Graça, ficando-lhe por fiador deles o dito Rui de Albuquerque, e se queixar
o dito Rui de Albuquerque a ele declarante do dito Salvador Alvares o aceitar
por seu fiador, lhe disse que bem o pudera escusar, pois poucos dias havia que
lhe tinha feito tão bom serviço, dando-lhe a entender ser a dita certidão.
E entende que este é o quinto ano do dito António Álvares. Disse mais que ele
declarante sabe que Manuel Aires de Almeida, estudante legista, de Portalegre,
.fl. 24/v. e Brás Vales, clérigo, canonista,// da mesma cidade, ambos e cada um deles,
estando ausentes, tiraram por outrem certidão, para provarem o curso o ano
seguinte, e por ela o provaram, sem o haverem cursado, e outras muitas pes-
soas, por onde entende que será serviço de Deus não se passarem as ditas
certidões. Disse mais que era público, nesta cidade, que o Dr. Manuel de
Abreu, lente de Medicina, andava amanéebado, há quinze ou dezasseis anos,
com uma filha de um boticário de Aveiro, a quem não sabe o nome, e, por esse
respeito, dava muito má vida a sua mulher; e que assim lho contaram também
muitas pessoas, que lhe não lembram. Disse mais que, haverá três anos, pouco
mais ou menos, que Martim Afonso Godinho, estudante, já formado, não sabe
em que Faculdade, de Vila Viçosa, advocara certas culpas à Conservatória; e
que, sendo delas escrivão António de Gouveia, porquanto não havia parte, lhas
sumira por dinheiro, não sabe quanto; o que ele declarante sabe porque assim
lho contou o sobredito. E que isto é o que só sabia dos ditos interrogatórios.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume
nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Sebastião Antunes.//

jl. 242 Aos treze dias do mês de Agosto de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
António Pacheco, solteiro, filho de Domingos Fernandes e de Jerónima Leo-
nardes, desta cidade, estudante médico do partido, morador na Rua dos Estu-
dos, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que
pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo
no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de
vinte e cinco anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se
alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a
esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos
reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e,
depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles
sabia era ser muito grande amigo de seu mestre, o Dr. Manuel de Abreu, lente

266
na dita Faculdade de Medicina, em tanto que em casa da mãe dele declarante
J7. 242v. janta muitas vezes; e como esta// se fia dele, que é a razão por onde sabe que o
dito Manuel de Abreu, de quatro ou cinco anos a esta parte, anda e está
actualmente amancebado em Aveiro com a filha de um boticário, aos quais,
posto que lhe sabe o nome, não lhe lembra agora. E que o dito Manuel de
Abreu gasta sua fazenda com a dita manceba, e dá, com isso, muito má vida a
sua mulher. E, em casa da dita sua mãe, lhe fazem muitas coisas que ele lhe
manda, e daí lhe escreve muitas cartas; e, tanto que entraram as férias, este
presente ano, foi lá estar quinze dias; e, assim, o faz nas Páscoas e Natais.
E porque se foi confessar ele declarante, e seu confessor lhe mandou que viesse
declarar isto aqui, o viera logo dizer a ele Reformador, que, por então não
haver tempo, se reservou para o perguntarem agora. Disse mais que, o ano
passado, leu Francisco Mendo Trigoso, colegial de S. Paulo, a cadeira de
Método; e que, no dito ano, lera muito poucas lições, e neste, em que também
leu a dita cadeira, leu tão poucas que não escreveria mais que um caderno; e, de
quatro anos a esta parte em que lê de substituição nas cadeiras de Medicina, leu
sempre a mesma matéria, que é De Sanguinis Missione; a qual, tendo vinte e
dois capítulos, não tem lido mais que doze, que ele declarante escreveu em
fl. 243 quatro cadernos. E, sem// embargo disso, Gaspar de Seixas, bedel da dita
Faculdade, não atenta por suas faltas, sendo tão notáveis. Disse mais que o
Dr. João Bravo, lente de Véspera de Medicina, lê a matéria Nono Ad Almanso-
rem há muitos anos, segundo dizem, ao menos nos quatro que ele declarante
tem de Medicina sempre a leu, e, na cadeira de Prima e na de Véspera, dá a
escrever toda a hora, sem explicar; o que tudo é contra o estatuto, e pouco o
fruto que se opera de semelhantes matérias, porque as não entendem os ouvin-
tes sem a explicação neces.sária E que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios.
E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade,
disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. António Pacheco.

O Dr. Simão de Basto, síndico desta Universidade, a quem o Reformador


D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim; e disse ser de idade de quarenta e sete anos. Pergun-
tado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou
fl. 243v. por outrem, que, sendo perguntado na visita desta// reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que

267
de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que ouvira dizer a Bento
Pereira, chantre da Capela, que António Soares, tesoureiro dela, emprestava os
ornamentos da dita Capela para festas, e os alugava. Disse mais que ouve dizer,
por esta Universidade, que o Secretário, Rui de Albuquerque, não dá conta dos
catorze mil réis que recebe para o préstito dos Reis, nem sabe ele declarante que
a tenha dado. Disse mais que, de onze anos a esta parte que há que serve de
síndico desta Universidade, não sabe que se arrecadasse dinheiro do quindénio
na forma do estatuto, nem lhe parece que se cobrasse mais que duas terças, que
ele declarante recebeu, no tempo que estava visitando esta Universidade o Bispo
de Lamego, as quais se meteram no cofre de Santa Cruz. E que também não
sabe que se tirasse dinheiro para a livraria, nem lhe parece que se tirou. Disse
fl. 244 mais que, algumas vezes, se manda dar a algumas pessoas// dinheiro da Uni-
versidade, mais do que o Estatuto ordena, o qual constará do livro da receita e
despesa. E, em particular, lhe lembra que, haverá quatro ou cinco anos, pouco
mais ou menos, que o Reitor D. João Coutinho, com os deputados que então
eram, que agora lhe não lembram, mandaram dar de esmolas a umas freiras, de
que não está lembrado, dois ou quatro mil réis, e que ao certo lhe não lembra a
quantia. E que, assim, na dita Mesa da Fazenda, se fazem algumas vezes quitas
de dinheiro, que devem à Universidade por serviços ou outros respeitas que
alegam, como constará dos ditos livros, e assim do livro dos assentos da dita
Mesa; e, em particular, se lembra que se quitaram ao Dr. Fernão de Maga-
lhães, _já defunto, cinquenta e cinco mil réis, segundo sua lembrança, que devia
de terrádego de um praz0 que comprou no lugar de Fala, termo desta cidade;
e que, outrossim, quitaram a Pero Soares, contador da Universidade, no tempo
que foi Reitor o Bispo da Guarda que hoje é, cento e cinquenta mil réis, do
dinheiro que devia de seu recebimento, por razões que para isso alegou, como
lhe parece que constará do dito livro dos assentos da Mesa da Fazenda. Disse
mais que ouviu dizer a algumas pessoas, que lhe não lembram, que o Secretá-
fl. 244v. rio, Rui de Albuquerque, dera a algumas pessoas// certidões de tempo que, na
verdade, não tinham. Disse mais que também ouviu a algumas pessoas que o
escrivão da Fazenda, Miguel da Fonseca, leva mais pelos papéis que faz do que
se lhe deve, e que toma peitas e descobre os segredos da Mesa; e, em particuiar,
lhe lembra que o ouviu a António Tomás, escrivão das execuções, e a João de
Milão, solicitador da Universidade. E que sabe ele declarante, por o ver, que,
haverá oito ou nove anos que o dito Miguel da Fonseca deu uma certidão de
como ficavam carregados nos livros da Universidade quinze mil réis, por conta
da dívida que se devia à dita Universidade, da execução que se fez em um
marchante, que lhe parece se chamava Gaspar Pires, de Aguiar da Beira, decla-
rando nela como ficavam carregados no livro da Universidade, os quais lhe
parece que se não carregaram, porque, fazendo-lhe diligência, lhe parece que se
não acharam, e, desde então até agora, os tem em seu poder, como o sobredito

268
confessa, e que os tem por lhos mandar entregar então o Bispo da Guarda,
sendo Reitor; e que a dita certidão deve estar em poder de uma mulher, a quem
não sabe o nome, nora ou filha ou mulher do dito Gaspar Pires. Disse mais
Jl. 245 que ouvira dizer// ao dito João de Milão que Manuel Pires de Aguiar, agente
desta Universidade, mandara levar algumas carradas de cal para sua casa, e
outras coisas que lhe não lembram, que ele declarará. E que isto era o que
sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado
se estava escrito na verdade e do costume, digo, disse que sim, e do costume que
tivera palavras com o dito Miguel da Fonseca, mas que lhe não queria mal, e
que tinha dito verdade. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de
Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Simão de
Basto.

Aos catorze dias do mês de Agosto de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela,
estando aí, por ele foi mandado vir perante si ao Dr. João de Carvalho, desem-
bargador de Sua Majestade e lente de Véspera nesta dita Universidade, na
Faculdade de Leis, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo
j7. 245v. dele, dissesse verdade e/ / tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu
de o fazer assim; e disse ser de idade de quarenta e seis anos. Perguntado se
sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por
outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade
ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que
de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, nesta Universidade,
havia mui grande escândalo de alguns estudantes que continuavam no Mosteiro
de Santa Ana com amizades de freiras, assim por perderem seu estudo e desin-
quietarem as freiras, como por serem ocasião de brigas, como, de feito, houve
este ano, de pistoletes e outras armas, pelo tempo do entrudo, pouco mais ou
menos, a que ele declarante se não achou; somente sabe que os estudantes, de
que principalmente há este escândalo, são Jacinto da Fonseca, canonista, irmão
de José da Fonseca, e um seu primo, que chamam Gaspar da Fonseca, e
Manuel Falcão, de Portalegre, legista, e Francisco Tavares, legista. E que tam-
fl. 246 bém os sobreditos são infamados de trazerem// pistoletes e outras armas. E que
também continua na mesma forma, no mesmo Mosteiro de Santa Ana, Cristó-
vão Teixeira, filho de André de Matos, que foi Conservador desta Universi-
dade, em tanto que dizem que ficou, estas férias, nesta cidade, por amor de uma
freira do dito Mosteiro; o que sabe por ser público e notório nesta ü niversi-

269
dade. Disse mais que, haverá um ano, pouco mais ou menos, nesta cidade, se
achou ele declarante em companhia de um clérigo de Amarante, que se veio
formar em Cânones, a quem não sabe o nome; e, por ocasião de lhe dizer que
lhe faltava tempo para se formar, se lhe queixaram do Secretário, Rui de Albu-
querque, que lhe prometera algum tempo; e que, por isso, o dito clérigo lhe
mandara um presente, com dois cruzados em dinheiro, segundo sua lembrança,
e que o dito Secretário, depois de aceitar o dito presente, lhe não quisera dar o
dito tempo; e que Marçal Casado, estudante canonista, de Viana, poderá teste-
munhar do sobredito mais largamente, e do nome do dito clérigo, porque o
contou também a ele declarante; e que tem ao dito clérigo por homem de pouca
cabeça. Disse mais que a eleição próxima passada que se fez das pessoas
nomeadas para Reitor fora muito escandalosa, assim nesta Universidade como
em todo o Reino, assim por razão de algumas pessoas nomeadas, como por
circunstâncias que, na dita nomeação, concorreram, e por razão de algumas
fl. 246v. pessoas// que nelas se houveram mui apaixonadamente. E, assim, foi público
nesta Universidade que o Dr. António Homem se concertou com os colegiais de
S. Paulo, para que uns e outros, com os de sua parcialidade, nomeassem
D. Diogo Lobo, que se dizia ser parente do dito António Homem, e dois cole-
giais que foram de S. Paulo, a saber, D. Fernando de Castro e Francisco de
Brito de Meneses, no qual pacto e concerto concorreram o dito Dr. António
Homem com André de Almada, António Lourenço, Fabrício de Aragão, João
Bravo, D. Martinho, irmão do dito D. Fernando, e o Secretário, Rui de Albu-
querque. E que se disse publicamente que, para este efeito, se ajuntaram uma
manhã em casa de Vasco de Sousa, Reitor que foi da Universidade, o dia em
que faleceu, vendo que estava já em artigo de morte, e, estando ainda vivo, se
deu juramento de Vice-Reitor a Frei Egídio, supondo que estava nomeado pelo
dito Vasco de Sousa para Vice-Reitor; sendo assim que, essa mesma manhã,
um clérigo, a quem não sabe o nome, fora despachar uma petição com o dito
Frei Egídio, que ele não quis despachar, dizendo que não era ainda Vice-Reitor;
e sendo também verdade que o dito Vasco de Sousa, havia dois dias que não ·
estava em seu juízo, e que, ajuntando-se na sala o dito Frei Egídio com outros
fl. 247 lentes, e/ / querendo proceder como Vice-Reitor, ele declarante acudiu, e reque-
reu que o não podia ser, pelas razões acima ditas; o qual Frei Egídio, e os de
sua parcialidade, que eram os atrás nomeados, temendo que se lhe provasse o
dito acima, trataram logo da eleição de Vice-Reitor; e, assim, para esta eleição
como para a nomeação do Reitor que logo no dia seguinte se fez, segundo sua
lembrança, ordenaram e preveniram os votos para fazerem a dita eleição e
nomeação como quisessem, em tanto que, servindo de conselheiro António 1..- r:
Sequeira, legista, de Lisboa, quase todo o ano, o não admitiram, por entende-
rem que não votaria por quem eles quisessem; e chamaram, em seu lugar,
António Galvão, que teve um tio colegial de S. Paulo, que se publicava por

270
opositor ao dito Colégio; e que também não admitiram a votar a Pero Cabral,
por ser colegial de S. Pedro, que devia ser admitido, por ter lido de substituição
pelo Dr. Francisco Vaz de Gouveia, e, em seu lugar, chamaram um bacharel
corrente do seu bando, cujo nome lhe não lembra. E, do mesmo modo, chama-
ram outros, que lhe não lembram, e chegaram a pôr em votos se havia de ser
admitido Francisco Caldeira de Morais, deputado canonista proprietário, que
estava no dito Claustro, por haver faltado alguns dias, ou D. João Pereira, que
tinham chamado por seu substituto. E que o dito pacto e concerto sabe por ser
Jl. 247v. público e notório,// e as mais coisas, por se achar a elas presente. E que isto
era o que sabia dos ditos interrogatórios. Pelo que, perguntado se, acolhendo-
-se alguém a casa dele declarante, deixaram alguns ministros de justiça de o
prenderem ou fazerem seu ofício, disse que a ele declarante lhe foi dito, não
estando em casa, que a ela se acolheu Francisco Coelho Serrabodes; e, por
outra vez, estando ele declarante dormindo, um António Coelho Casco; mas
que a nenhum deles viu, nem que os ministros de justiça os deixassem de pren-
der por se acoitarem a sua casa, nem que deixassem de fazer seu ofício.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse que estava escrito na verdade, e do
costume que não está corrente com o Dr. António Homem, nem com o Dr.
António Lourenço, mas que tinha dito verdade. E assinou com o dito Refor-
mador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Dr. João de Carvalho.

Manuel João, carreiro, morador nesta cidade e no burgo de Santa Clara,


casado com Domingas João, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses
Jl, 248 mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi// dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse
verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de quarenta anos. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo
perguntado na vista desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado se sabe, por si ou
por outrem, que alguns oficiais desta Universidade levassem dela coisa alguma,
e de que tempo a esta parte, disse que, este Setembro que vem fará um ano,
acarretou ele declarante e trouxe a esta Universidade dezoito carradas de pedra
para o portal que se fez na porta da varanda das casas dos Reitores, por ordem
de Manuel Pires de Aguiar, agente da dita Universidade, as quais lhe está a
dever até agora, a três vinténs por cada uma; e, assim, lhe deve mais ditas de
bancos e ripas, a quarenta réis por cada uma. E o sobredito Manuel Pires, das
vezes que veio com as ditas carradas, quando tornava para baixo, lhe mandou
levar, para obras que, ao tal tempo, fazia em sua casa, sete carradas de cal,
depois de estar empojada e terçada, da que a Universidade tem na barbacã,

271
Jl. 248v. onde costuma estar,// e a demais ficou, como poderá dizer Fernão João, traba-
lhador, que a andava amassando para o dito portal, e António Francisco,
homem do ouvidor; e, perguntando-lhe ele declarante quem lhe havia de dar
licença para trazer a dita cal, o sobredito lhe disse que a tomasse e não tivesse
de ver com ninguém. E que não sabia com que licença ele a mandara levar,
nem doutro algum oficial que, da dita Universidade, levasse ou mandasse levar
coisa alguma. E que, quando trouxe as ditas ripas, vindo para as pregar Antó-
nio Gonçalves, carpinteiro, viu que José Simões, outrossim carpinteiro da Uni-
versidade, teve com ele sobre isso muito más palavras, e lhe atirara com o
martelo, com que o ameaçou, se o dito António Gonçalves se não desviara;
como também viu o carcereiro que agora é da Universidade, a quem não sabe o
nome. E mais não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito
na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador de seu
costumado sinal, que tal é. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor. Manuel João .//

fl. 249 Aos dezasseis dias do mês de Agosto de mil e seiscentos// e dezanove
anos, nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do
Dr. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele
mandado vir perante si ao padre Domingos Gonçalves, natural de Águas Boas,
junto a Aveiro, estudante teólogo, morador na Rua da Trindade, e, sendo pre-
sente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de trinta anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, e obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo
que de cada um deles sabia, disse que o deles sabia era que, desde que ele decla-
rante serve de escrivão da Confraria, da segunda terça deste ano até ao presente,
lhe não deram condenação alguma, mais que duas, a saber, Sebastião Lopes da
fl. 249v. Costa, escrivão da almotaçaria, que lhe deu cinco tostões,// dizendo-lhe que
eram de uma condenação que o Conservador fizera, e outra que lhe deu um
estudante, a quem não sabe o nome, nem lhe lembra agora quanto, de outra
condenação do dito Conservador, como constará do livro da Confraria.
E, porque presume que houve muitas mais, pelas provisões que se fizeram no
provimento das cadeiras, e lhas não deram, nem o dito Sebastião Lopes lhe deu
alguma dos almotacés, havendo-as, como lhe disse fulano de Carvalho, Doutor
em Teologia, que vive em casa do cónego Francisco Lopes Pacheco, que, ser-
vindo de almotacé, pusera em lembrança as condenações que fizera, e dirão os

272
almotacés desta sua segunda terça; o declara aqui para se mandar averiguar,
pelos autos, as que foram, e se saber o que se deve à dita Confraria. E que o
dinheiro dela se não mete em caixa, porque o mordomo o leva. Disse mais que
o mordomo presente recebe, por si só, o dinheiro da Confraria, e ele declarante
o faz também às vezes; e, assim, cada um deles dá assinado do que recebe para
o lançar depois. E, assim, fica na verdade de cada um declarar o que quiser que
se lance. E, para que se remedeie, como também fazem os escrivães dos autos//
f7. 250 das ditas condenações, o declara aqui também. Disse mais que ouviu a um
alfaiate, a quem não sabe o nome, que vive defronte de Simão de Almeida,
casado, que fizera um vestido à mulher do Dr. Martim de Carvalho, tomando
por achaque que lhe danara o dito vestido, e que, se falasse nele, o mandaria
prender. E que João Mar4ues, tecelão, que vive nesta cidade, junto à Trindade,
lhe dissera que, de uma teia de pano de linho que tecera à mulher do dito
Martim de Carvalho, ele lha não quisera pagar; e que ela, escondida dele, lhe ia
pagando, e ainda lhe estava devendo cinco tostões. E que isto era o que só
sabia. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Domingos Gon-
çalves. .

Diogo de Beja, solteiro, filho de Jerónimo Juzarte, já defunto, e de Antó-


nia de Andrade, naturais desta cidade, moradores na Rua de João Cabreira, a
jl. 250v. quem o Reformador// D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que
lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de deza-
nove anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém
lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reforma-
ção, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte,
disse que não. Perguntado, digo, disse que, um dia destes atrás, chamara a ele
declarante, vendo-o passar pela rua, o Dr. António Homem, lente de Prima de
Cânones, e lhe pedira, estando em sua casa ambos sós, que, sendo chamado a
esta devassa para testemunhar nela, que não quisesse falar nele, nem dizer o que
tinham passado, porque era desonrar-se a si e a ele. E que nenhuma outra
pessoa lhe pedira o sobredito. Perguntado se sabe como vivem os lentes, Dou-
tores, oficiais desta Universidade, estudantes e mais pessoas dela, disse que,
haverá ano e meio, pouco mais ou menos, não lhe lembra em que mês nem a
fl. 251 . quantos dele, foi ele declarante a casa do dito Dr. António// Homem, pedir-lhe
um conselho em um papel, de mandado de seu tio Manuel de Escobar.
E, estando nesta cidade, nas casas do dito Doutor, ambos sós, o sobredito o
levou para a casa de dentro, onde tem a cama, coberta com um pavilhão, e lhe

273
fez descer os calções até aos giolhos, e o deitou sobre a dita cama; e descendo
também os seus calções, se lançou sobre ele declarante e lhe meteu o membro
viril, teso e levantado, entre as pernas; e, abraçando-o e beijando-o, fez os
meneias que faz um homem com uma mulher, até que, entre elas, derramou
semente. E, até ao presente, no discurso deste tempo, por vezes e em diversos
dias que ao certo lhe não lembram, na mesma casa e cama, e na forma sobre-
dita, derramou semente o dito Dr. António Homem, entre as ditas pernas dele
declarante, abraçando-o e beijando-o, sendo sempre agente, e ele declarante
paciente, algumas vinte vezes, pouco mais ou menos. E, ao quarto ou quinto
dia, estando nas ditas casas com os calções descidos aos giolhos, em outra casa
em que não tinha a cama, e que está logo além da do estudo, e, estando já para
cometer o dito pecado de molícias, o sobredito lhe disse que se virasse, com as
costas para ele, donde entendeu que o cometia para o pecado nefando; e
respondendo-lhe ele declarante que não, e, por esse respeito, nem um nem outro
fl. 251v. pecado cometeram então. / / E depois foram continuando com as ditas molícias,
como tem declarado. E a derradeira vez que cometeram o dito pecado de
molícias foi nas ditas casas, no sobrado de cima, na quarta casa, onde agora
tem a cama. E que então, nem depois de todas estas vezes, passaram mais, que
lembrado seja, nem disseram com quem cometiam o dito pecado, posto que o
dito Doutor lhe perguntou. E que, por este respeito, o sobredito António
Homem lhe pediu que, sendo perguntado nesta devassa, não falasse nele. E que
também cometera o dito pecado de molícias com o prior de Pereira, que agora
é, e com Tomé de Paiva, e com Manuel Vaz, e com Manuel Ferreira, filho de
um criado que foi do Bispo, e com Jerónimo de Mesquita, estudante, e com
Jorge Lopes, e com Manuel de Miranda, que está preso na cadeia desta Univer-
sidade, e outros que no discurso de seu testemunho declarará, com que agora se
não foi por diante, por ser tarde, e se não dar em que cuidar a sua mãe e avó,
mas que viria declarar tudo, e o mais que lhe lembrasse, na primeira hora em
que eles não suspeitassem que vinha testemunhar na devassa, como agora cui-
dariam se se detivesse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na
fl. 252 verdade, e do costume nada. E assinou/ / com o dito Reformador. E eu, Agos-
tinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Diogo de Beja.

Manuel Pereira, solteiro, filho de Pedro Álvares Pereira, pintor, e de Ana


Sanches, moradores nesta cidade, na Calçada, junto à Misericórdia, a quem o
Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de catorze anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu,

274
por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse
a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que
não. Perguntado se sabe como vivem os lentes, Doutores, oficiais desta Univer-
.fl. 252v. sidade, e toda a mais pessoa dela, disse que, haverá um ano, pouco// mais, e o
fez esta festa próxima passada de Nossa Senhora do Rosário, por ocasião dele
declarante saber pintar, e lhe pedir Frei Simão, não sabe de que apelido se
chame, da Ordem de S. Domingos, morador neste seu Convento e nele ser
sacristão, que lhe fosse pintar umas carrancas para um dos carros e de o levar à
sua cela, não lhe lembra o dia ao certo, e, estando ambos sós nela, o sobredito o
abraçou a ele declarante e o beijou na face; e, por ele declarante querer gritar, o
dito padre o largou, e ele se saiu pela porta fora. E, ali, nem antes nem depois
passaram mais. Disse mais que, haverá dois ou três meses, pouco mais ou
menos, nesta cidade, por ocasião de ele declarante ir a casa do Dr. António
Homem, lente de Prima de Cânones, a pedir-lhe, da parte de seu pai, um pouco
de dinheiro que lhe ficou devendo, de uma casa que lhe pintou, estando nela
ambos sós, não lhe lembra o dia ao certo, o sobredito o levou da sala em que
estavam para a casa do estudo, e aí o abraçou e beijou a ele declarante; e, por
se desenvencilhar dele, se saiu e veio para casa, sem aí passarem nem antes nem
.fl. 253 depois// mais coisa alguma. Disse mais que, haverá quatro ou cinco meses,
pouco mais ou menos, nesta cidade, em um quintal que está sobre as Ribas,
junto às casas de Francisco Vaz Perestrelo, não sabe cujo é, se achou ele decla-
rante em companhia de Simão da Silva, moço do coro que foi da Sé desta
cidade, filho de uma lavadeira, a quem não sabe o nome, que vive junto ao dito
quintal, e de Manuel de Beja, sobrinho do alcaide velho Manuel Cordeiro; e,
estando todos três, o sobredito Manuel de Beja, depois de merendarem, lhe
pegou na mão e lha pôs no seu membro viril, dizendo que lhe pegasse nele.
E, por ele declarante não querer, posto que lhe pôs a mão nele quando lá lha
meteu, e o dito Simão da Silva lhe abrir a porta, deixou o dito Manuel de Beja
de efectuar seu intento; como também efectuara o dito Simão da Silva, que
também pediu o mesmo a ele declarante, que foi o que os convidou para a dita
merenda e quintal, de que tinha a chave. E entende que, assim, estes dois, como
o dito frade Frei Simão e o Dr. António Homem, cometeriam o pecado de
molícias com ele declarante, se quisera consentir e não resistira, como tem
declarado. E que, com os ditos moços, não passou mais coisa alguma antes
nem depois, nem disseram com quem haviam cometido o dito pecado. E que
isto é o que só sabe da dita pergunta. E mais não disse. E, sendo-lhe lido este
.fl. 253v. testemunho,// disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou
com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor. Manuel Pereira.

275
Manuel Ferreira, solteiro, filho de António Ferreira e de Ana Henriques,
naturais desta cidade de Coimbra, moradores na rua que vai do Colégio Real
para S. João de Almedina, estudante da primeira classe, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que fosse perguntado, prome-
teu de o fazer assim; e disse ser de idade de dezasseis para dezassete anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado se sabe como vivem os lentes, Doutores, oficiais, estudantes e mais
.fl. 254 pessoas desta Universidade, disse que não sabe mais que// ouvir dizer a Diogo
de Beja, estudante que foi do Latim, neto de Manuel Cordeiro, alcaide que foi
desta cidade, que Manuel de Mesquita, estudante da sexta classe, natural de
Viseu, filho de Manuel de Campos, que vive na Rua dos Colégios, cometera o
pecado de molícias com um frade da Ordem de S. Bento, a quem não sabe o
nome. Disse mais que, este ano, ouviu um estudante, fulano Leitão, a quem
não sabe o nome próprio, nem cujo filho é, e vive com seu pai a Montarroio,
estando ambos, que Manuel Carneiro, estudante que foi, e agora soldado,
cometia o pecado de molícias com Manuel da Cruz, músico, que vive na Rua
do Corpo de Deus. E qt1e isto era o que só sabia da dita pergunta, mas que não
sabe que os sobreditos cometessem o dito pecado, nem outra alguma pessoa.
E, por mais não dizer, lhe não foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe lido
este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou
com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor. Manuel Ferreira.
Brásia Luís, mulher de Manuel Fernandes, almocreve, morador à porta de
Nossa Senhora do Salvador, testemunha referida, a quem o Reformador
.fl. 254v. D. Fi:ancisco de Meneses// mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe_ foi
dado juramento nos Santos Evangelhos e, mandada que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de
o fazer assim; e disse ser de idade de quarenta anos, pouco mais ou menos.
Perguntada se sabe ou presume para que é chamada, e se alguém lhe pediu, por
si ou por outrem, que, sendo perguntada na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não,
pelo que foi perguntada pelo referimento que nela fez Simão Leal, calado o
nome, na forma seguinte: perguntada se sabe que alguns oficiais desta Universi-
dade, com pretexto de seus ofícios, façam na feira dela algumas exorbitâncias,
levando almoçarias e tomando muitas coisas para outrem em seu nome, e de
que tempo a esta parte, disse que o que sabia da dita pergunta era só que
Sebastião Lopes, escrivão das arma e almotaçaria, ordinariamente, desde que
276
serve o dito ofício até ao presente, sabe que, nas feiras desta Universidade, antes
de vir o almotacé delas, por si só manda tirar dos porcos os lombos que quer,
Jl. 255 e os toucinhos,// carneiros, e o mais que vem à dita feira, e não só para si senão
para suas vizinhas e gente de sua obrigação; e que, depois, o paga pela almota-
çaria. E ela declarante o viu e o sabe, como dito tem, porque assiste nas ditas
feiras, por ser medideira, e que sua mãe, Jerónima Fernandes, lhe disse, não lhe
lembra quando, que o dito Sebastião Lopes, a algumas medideiras das ditas
feiras, sem lhe mostrarem certidão de terem afiladas as medidas e pesos, assen-
tava no livro das àlmotaçarias de como as tinham afiladas, por peitas que lhe
davam. E que isto era o que só sabia dele; e dos mais não tinha que dizer. Per-
guntada se trouxe demanda sobre algumas casas, e perante que justiça, e com
quem, disse que, com Luís Cerqueira, estudante desta Universidade, trouxera
demanda sobre o aluguer e taxa de umas casas dela declarante, que estão à
Porta Nova, perante o Dr. Manuel Veloso, que a seu favor deu sentença, e,
depois, sucedendo-lhe o Dr. Martim de Carvalho Vilas-Boas, Vice-Conservador,
perante ele, por via de embargos, correu a dita demanda, e se revogou a sen-
tença contra ela declarante, e com o dito Luís Cerqueira, enquanto durou a dita
demanda, assistiu em casa do dito Martim de Carvalho às audiências e reque-
rimentos que cada um tinha sobre a dita demanda. E que o dito Martim de
fl. 255v. Carvalho, antes de // dar a dita sentença, lhe disse que se concertasse com o
dito Luís Cerqueira. E que o dito Sebastião Lopes levou das custas do dito feito
oito mil réis; e, porque nelas se não podia montar tanto, pedia e requeria que se
mandasse contar na verdade, e se lhe tornasse o que de mais lhe tinha levado.
Disse mais que, haverá três meses, pouco mais ou menos, que ouvira dizer a
Filipa da Fonseca, viúva de Rui Gonçalves de Almeida, que vive à porta da
igreja do Salvador, que um jarro de prata, que se depositara em mão do dito
Sebastião Lopes, que pertencia a ela, ele lho não dava nem aparecia, e que disso
havia de mandar fazer queixa a ele dito Reformador, sem lhe declarar mais.
E mais não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na ver-
dade, e do costume nada. E por ela assinei, a seu rogo, com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Agostinho de Aguiar, a rogo.

Maria Manuel, viúva de António Pereira, tendeira, moradora na Rua do


Colégio de S. Paulo, testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco
fl. 256 de Meneses mandou vir perante// si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento
nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandada que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de trinta anos. Perguntada se sabe ou presume
para que é chamada, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo
perguntada na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário

277
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntada se sabe que alguns
oficiais desta Universidade, por exercitar o seu ofício ou coisa que lhe perten-
cesse, recebessem peitas ou dádivas algumas, e de que tempo a esta parte, disse
que, este ano escolástico próximo passado, no tempo das conclusões dele, nesta
cidade, em casa dela declarante, se achou ela declarante e Martim Gaifão, estu-
dante canonista, de Mação, que vive nos altos das ditas suas casas, e não lhe
lembra se estava mais alguém; e, estando assim todos, por ocasião do dito
Martim Gaifão se querer ir para a terra, e fazer antes disso seu auto de conclu-
sões, e se queixar do bedel de Cânones, Gaspar de Sampaio, lhe não dar dia
para isso, ela declarante lhe aconselhou que lhe mandasse alguma coisa, e que
logo lhe daria dia; e viu que o sobredito lhe mandou duas ou três galinhas e
fl. 256v. uma garrafa// de vinho. E ela declarante mandou as ditas galinhas e garrafa
por um menino seu a Francisca Ribeira, mulher preta e forra, que se recolhe em
casa, digo, nos baixos da casa de Nicolau da Veiga, em que hoje vivem os
freires de Santiago de A vis, com seu marido, que se chama Manuel Rodrigues, a
qual foi cativa de Jerónimo de Sampaio, bedel que foi desta Universidade, pai
do dito. E ela declarante lhe pediu que quisesse dar o dito presente ao dito bedel,
e haver dele o dito dia; e ele prometeu de o fazer assim, e aceitou o dito presente.
E, depois disto, viu ela declarante que logo lhe deu o dito dia, em que o sobre-
dito fez seu auto. E assim lho disse a dita Francisca Ribeira que ele lho daria,
como sabe, pela dita razão que tem declarada de estar das suas portas adentro.
E que isto é o que só sabia da dita pergunta... E assinei, a seu rogo, com o dito
Reformador, por não saber escrever. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Agostinho de Aguiar, a rogo.//

fl. 257 Pero Francisco, casado com Antónia Rodrigues, natural da vila de Anadia
e nela lavrador e morador, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses
mandou vir perante si, e, sendo presente, por dizer que tinha que denunciar, lhe
foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado
que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de cinquenta anos. E logo disse que, haverá um mçs,
pouco mais ou menos, nesta cidade, à tarde, não lhe lembra em que dia, no
terreiro de Santa Cruz, à porta de José Coutinho, escrivão dos órfãos, ou de
quem mora nas casas que fazem o canto da entrada da Rua dos Sapateiros, à
mão esquerda, indo do dito terreiro, se achou ele declarante em companhia de
Miguel da Fonseca, escrivão da fazenda da Universidade, e de António Rodri-
gues, morador no couto da dita Ana Dias, casado com Maria Rodrigues, sapa-
teiro. E, estando assim todos três, por ocasião do dito António Rodrigues dizer
ao dito Miguel da Fonseca que lhe despachasse uma petição que lhe tinha
mandado, sobre pedir à Universidade que lhe fizesse encabeçamento do casal de
que ela era direito senhorio e útil, Matias de Sá, em que sucedera, por morte de

278
Jl. 257v. seu sogro Miguel Gaspar, e lhe responder / / o dito Miguel da Fonseca que lha
tinha despachado, e que lhe deixasse à conta um cruzado para lhe passar man-
dato, para haverem vista os co-herdeiros do dito casal dela, viu ele declarante
que o dito António Rodrigues deu ao dito Miguel da Fonseca em dinheiro, de
contado, trezentos e cinquenta réis. E que, ontem à noite, vindo para esta cidade,
deu o dito António Rodrigues a ele declarante o dito mandado, pedindo-lhe
que o quisesse assinar por ele Reformador, e dizendo-lhe que o dito Miguel da
Fonseca lhe levara por ele os ditos trezentos e cinquenta réis; o qual e o que
agora apresentou e assinou por ele dito Reformador, o que declara, por lhe
parecer que era levar mais do que lhe devia pelo dito mandato; o qual é pas-
sado em nome do dito Reformador, feito aos trinta e um dias do mês de Agosto
de seiscentos e dezanove pelo dito Miguel da Fonseca. E para se notificarem
aos ditos co-herdeiros, para dizerem se têm direito ao dito encabeçamento, e da
própria letra diz cinquenta réis que pagou, que certifico e dou minha fé passar
fl. 258 assim na verdade, de mandado do// dito Reformador, por ver o dito mandato.
E, por mais não dizer, lhe foi lido este testemunho, e, por ele ouvido, disse estar
escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco Meneses, Reformador e Reitor.
Pero Francisco.

Aos dezoito dias do mês de Setembro de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majes-
tade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
António Dias, guarda das Escolas, testemunha referida, e, sendo presente, lhe
foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado
que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse pergun-
tado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de quarenta e oito anos,
pouco mais ou menos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e
se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta
.fl. 258v. reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário// dela, e de que tempo a
esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos estatutos refor-
mados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois
disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que não sabia deles
coisa alguma. Pelo que, sendo perguntado pelo referimento que nele fez Antó-
nio de Faria, primeiro, em geral, e, depois, em especial, calados os nomes, disse
que o que dele sabia era que, haverá um ano, pouco mais ou menos, lhe disse
Gaspar de Seixas, bedel de Medicina, que o padre mestre Frei Egídio, servindo
de Vice-Reitor, dera ao Dr. Tomás Serrão, lente desta Universidade, depois de
o ser, agora depois da morte do Reitor Vasco de Sousa, o dinheiro da recondu-
ção do partido dos médicos; e que, por lho conceder o dito Vice-Reitor e o

279
Dr. João Bravo, dera o dito Tomás Serrão parte do dinheiro ao Secretário, Rui
de Albuquerque, o qual dera ao dito João Bravo um potro; e fora o que nego-
ciara a dita recondução. E que isto era o que só sabia. E, sendo-lhe lido este
testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com
o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. António Dias.//

.fl. 259 Gaspar de Seixas, bedel da Faculdade de Medicina nesta Universidade,


testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou
vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos,
em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse a verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de trinta e quatro anos. Perguntado se sabe ou presume para que é cha-
mado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na
visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que
tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos estatu-
tos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e,
depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles
sabia era que o Dr. João Bravo, lente de Véspera de Medicina, todo o tempo
que há que tem a cadeira de Prima de substituição, leu ele a mesma matéria que
tinha começada nas outras cadeiras atrasadas, e, assim, não ficou lendo na de
Prima as matérias que o estatuto lhe assina; nem explicava in voce, antes dava
a escrever todo o tempo da lição, de que os estudantes ficavam tão cansados
que nem podiam escrever as mais lições, nem ainda essa; e, assim, se perdia, por
essa causa, o fruto de todas elas. Disse mais que as anatomias gerais e particu-
_/7. 259v. lares se não fazem com tanto/ / fruto dos estudantes, por não dar casa para
isso, e as fazer o Dr. Martim Gonçalves o mais das vezes em suas casas, a
quem ele sucedeu. E que os ferros que a Universidade para isso comprou, os
tem o Dr. João Bravo, e os não quer dar ao dito Martim Gonçalves, proprietá-
rio ao presente da cadeira de Anatomia. E que isto era o que sabia dos ditos
interrogatórios. Perguntado se sabe que algum médico do partido lhe saísse
com todos os quatro quartéis do ano, tendo acabado, sem estar reconduzido,
disse que não. Perguntado se sabe que alguma pessoa desse a outra desta Uni-
versidade dinheiro, para que lhe houvesse o partido dos médicos, para alguma
outra pessoa de sua obrigação, disse que o que disso sabia era que, haverá seis
anos, pouco mais ou menos, que Pero da Silva, homem que vive por sua
fazenda no lugar de Milheirós de Poiares, terra da Feira, e seu filho Paulo da
Silva, médico do partido, lhe disseram, estando todos três, que dera o dito Pero
da Silva ao Secretário, Rui de Albuquerque, vinte e quatro mil réis,em dinheiro
de contado, e seis lacões, por que lhe houvesse o dito partido dos médicos do
Reitor D. João Coutinho para o dito seu filho Paulo da Silva. E sabe ele

280
declarante que lhe deram o dito partido do primeiro curso das Artes, que foi em
Junho do ano de seiscentos e treze. Perguntado pelo referimento que nele fez//
Jl. 260 António Dias, guarda, primeiro em geral, calados os nomes, disse que o que
dele sabia era que, este mês de Outubro que fará um ano, nesta cidade, se achou
ele declarante em companhia do Dr. Tomás Serrão, lente de Medicina; e, por
ocasião dele declarante lhe dar as emboras de lhe mandar dar o Vice-Reitor
Frei Egídio, e o Dr. João Bravo, e o Dr. Gonçalo de Paiva, sessenta mil réis da
sua recondução, que lhe faltavam, porquanto lhe haviam já dado doze, do
tempo em que o reconduziram, e os demais lhe não deram, por dúvidas que
então houvera .de ser reconduzido além do número de trinta, e de o não pode-
rem reconduzir, como reconduziram, nos lugares dos Colégios sem ordem de
Sua Majestade, lhe disse o sobredito que não fora nisso figura mais que em
assinar o mandato dos ditos sessenta mil réis. E que um potro que tinha o
Secretário, Rui de Albuquerque, dera o dito Secretário ao Dr. João Bravo, em
preço de dezoito mil réis, para que votasse em se lhe dar o dito dinheiro de
sessenta mil réis, os quais todos recebera o dito Rui de Albuquerque e lhe
ficaram, que fizera com o dito Frei Egídio com que se lhe desse. E que se dizia
que o dito potro ruão frontaberto dera António de Abreu ao dito Secretário,
ou, por sua via, o mandara vir, mas que não sabe de certo se o dito Secretário
recebeu o dito dinheiro, mais que dizer-lho o dito Tomás Serrão, e não quere-
fl. 260v. rem os Reitores passados dar os ditos sessenta mil réis ao// dito Tomás Serrão,
pelas ditas dúvidas. E mais não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse
estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Gaspar de Seixas.

O Dr. Tomás Serrão, lente de Método na Faculdade de Medicina nesta


Universidade, testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de
Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de quarenta e três anos. Perguntado se sabe ou
presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que,
sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o
contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
fl. 261 gação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada// um deles
sabia, disse que o que deles sabia era, em os mais dos autos da Faculdade dele
declarante, não assite nem bedel nem Secretário, para haver de fazer os termos
deles; e, por esse respeito, votam muitas vezes sobre os ditos autos daí a muitos
dias, segundo aqueles que se acertam de meter entre uns e outros; e que ordina-

281
riamente os faz o dito bedel Gaspar de Seixas, como dos livros constará. Disse
mais que o dito bedel, tendo obrigação de dar conta do dinheiro da Faculdade
no fim do ano, para se distribuir pelos lentes, a não dava, havia muitos anos, e
se fica com o dinheiro. Disse mais que os lentes de Medicina, a quem toca a
visita do hospital, como são, ao presente, o Dr. João Bravo e o Dr. Gonçalo de
Paiva, deixam muitas vezes de a fazer, sem terem para isso causa nem impedi-
mento algum; e a cometem a estudantes particulares, que não têm ainda feito
autos, como fez este ano o dito Dr. João Bravo, a maior parte da terça de
Avicena, cometendo a dita visita a António de Pina, que ainda não fez auto
nenhum na dita Faculdade. Disse mais que havia alguns estudantes médicos
que estavam curando pelo Reino, sem terem feito seus autos; e, em particular,
lhe lembra que está na vila de Seia, Francisco Vaz Cabral, natural do Algarve,
casado com Maria de Almada, o qual, sendo só formado e estando por apro-
var, e sendo do partido, o levou por inteiro, e esteve curando na dita vila de
fl. 261 v. Seia, e depois/ / na vila de Montemor-o-Velho, em ambas com os partidos da
Câmara; e, ao presente, o tem outra vez na dita vila de Seia. Disse mais que
Pero de Sousa, natural de Guimarães, solteiro, que foi do partido de Sua Majes-
tade, sem embargo de não ser mais que bacharel corrente, e estar por formar e
aprovar, levou o dito partido por inteiro, e está actualmente curando na dita
vila de Guimarães, com partido. Disse mais que Luís Ribeiro, natural e casado
na vila da Lousã, outrossim médico dos do partido, sem embargo de não ter
feito acto algum, levou o dito partido por inteiro, e está actualmente curando na
dita vila e seus arredores. E outros que, ao presente, lhe não lembram. E que
Pero da Costa, casado nesta cidade, não sabe o nome à mulher, que, ao pre-
sente, é médico na Guarda, sendo reconduzido na forma do regimento, não se
fez licenciado por exame, e levou a maior parte do dinheiro, como constará das
folhas. E que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido
este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Tomás Serrão de
Brito. //

fl. 262 Aos dezanove dias do mês de Setembro de mil e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor dos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majes-
tade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si
ao Dr. Martim Gonçalves, lente de Anatomia nesta Universidade, testemunha
referida, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de quarenta e cinco anos. Perguntado se sabe ou presume para que é

282
chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado
na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, disse
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em espe-
cial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era ser queixa
comum nesta Universidade haver alguns capelães da Capela dela que nem estu-
dam, nem ainda alguns se matriculam, sendo da instituição deles haverem de
ouvir as lições, para se conseguir o fruto que a Universidade pretende; e, em
particular, não sabe quais, posto, digo, nem de outros que também dizem que
têm acabado seu tempo; mas dos livros poderá constar uma e outra coisa. Disse
fl. 262v. mais que, assim, na sua Faculdade, o bedel, / / Gaspar de Seixas, como os demais
nas outras, faziam a obrigação dos seus autos, e neles fazem os assentos pelo
Secretário, Rui de Albuquerque, a quem só, conforme aos estatutos, pertence
fazê-los, como constará dos ditos assentos; o que ele declarante sabe, por os ver
fazer ao dito Gaspar de Seixas, e a Bartolomeu Fernandes, bedel de Teologia,
na Faculdade de Medicina, sem embargo de estar o dito Secretário na cidade, e
ainda, algumas vezes, na Universidade. Disse mais que ouviu dizer a algumas
pessoas, que lhe não lembram, que Jerónimo Correia, carcereiro desta Univer-
sidade, não podia servir o dito ofício, por ser homiziado e haver dele algumas
culpas, que lhe não declararam; nem sabe em que juízos as tem. E que isto era
o que sabia dos ditos interrogatórios. Perguntando se sabe que, de um ano a
esta parte, em algum auto de aprovação de Medicina, depois de se votar sobre a
penitência, se lançasse algum R, e que o assento se fizesse nemine discrepante,
disse que se não lembrava de tal. Perguntado se se achou ao regular dos votos
do auto da aprovação de Manuel Ribeiro, médico do partido, natural da vila de
Alcobaça, e se está lembrado que fosse aprovado nemine discrepante, disse que,
segundo sua lembrança, assistira ao regular dos votos no auto da aprovação do
fl. 263 dito Manuel Ribeiro,// mas que não viu que se lhe lançasse R, posto que lhe
lembra que, logo então depois de assinado o termo, disse o Dr. Manuel de
Abreu, que foi um dos votantes no dito auto, que o estudante levara um R e ia
aprovado nemine discrepante. E que o dito termo o não fizera o Secretário,
senão um dos bedéis. Disse mais que havia alguns estudantes médicos que
estavam curando pelo Reino sem terem feitos seus autos; e lhe lembra que
Francisco Vaz Cabral, natural do Algarve, casado com Maria de Almada, está
por aprovar, e, sendo do partido, o levou por inteiro ; e dizem que está actual-
mente curando na vila de Seia, e com as cartas de aprovação desta Universi-
dade, levando partido da Câmara da dita vila. Disse mais que, posto que Pero
Lopes, da cidade de Évora, e António Pinto, da vila de Arraiolos, estudantes
médicos, se formaram e aprovaram por esta Universidade na dita Faculdade,
ouviu ele declarante dizer, não lhe lembra a quem, digo, que ouviu dizer ao Dr.
Tomás Serrão que o Secretário, Rui de Albuquerque, dera aos sobreditos algum

283
tempo que lhes faltava para fazerem seus autos de aprovação; mas que não lhe
disse quanto tempo lhes dera. E que, em gratificação disto, lhes mandaram
alguns queijos do Alentejo. E que o dito Tomás Serrão pedira ao dito Secretá-
rio que lhes desse o dito tempo; o que se passou estando ambos sós, passa de
ano, não lhe lembra o tempo ao certo. E que isto era o que sabia, pelo que lhe
fl. 263v. não foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe// lido este testemunho e pergun-
tado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou
com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor. Martim Gonçalves Coelho.

João de Milão, solicitador da Universidade, morador na Rua das Escolas


Menores, testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses
mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse
verdade e tive,,r ,e!!rrdo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim;
e disse ser de idade de trinta e dois anos. Perguntado se sabe ou presume para
que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo per-
guntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogató-
rios dos estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inqui-
fl. 264 rir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um// deles sabia,
disse que o que deles sabia era que, este mês de Janeiro próximo passado, nesta
cidade, se achou ele declarante em casa e companhia de Miguel da Fonseca,
escrivão da fazenda, e de André da Fonseca, solicitador ao presente do Mos-
teiro de Santa Ana, casado, não sabe o nome à mulher, e vive na freguesia de
S. Pedro. E, estando todos três, por ocasião de dizer, digo, por ocasião de ter
lançado, nos terrádegos do prazo da Universidade da Carapinheira setenta mil
réis, as pagas, e de ele declarante, digo, as pagas, António Fernandes, mordomo
da Universidade, de Montemor, e do dito André da Fonseca ir lançar nos ditos
terrádegos a casa do dito Miguel da Fonseca, que, para aceitar os ditos lanços,
tinha ordem da Mesa, e lançando neles oitenta mil réis, lhes disse o dito Miguel
da Fonseca que soubesse que, se levavam os ditos terrádegos, lhe haviam de·dar
para ele dez mil réis, além do principal para a Universidade, ou um bom ves-
tido, porque isso mesmo lhe dava o dito António Fernandes; o qual André da
Fonseca lhe respondeu que era muito dez mil réis, mas que lhe daria o que fosse
razão, e que, nessa forma, os aceitaria. E porque o dito António Fernandes
lançou mais vinte mil, os levou, e não sabe se deu por isso ao dito Miguel da
Fonseca alguma coisa ou não. Disse mais que Mateus Fernandes, picadeiro da
fl. 264 Universidade, haverá três meses, lhe disse que Gaspar Fernandes, o Rei, siseiro / /
do peixe, dera um saco de trigo ao dito Miguel da Fonseca, por lhe prometer
que o faria privilegiado da dita Universidade. Disse mais, que este mês de

284
Junho próximo passado, nesta cidade, se achou ele declarante em casa e com-
panhia do dito Miguel da Fonseca e de Afonso Gonçalves, rendeiro do dito
prazo da Carapinheira; e, estando todos três, viu ele declarante que o sobredito
levou ao dito Afonso Gonçalves dois cruzados, por lhe fazer o arrendamento do
dito prazo da Carapinheira, sem o mandar contar, nem viu se pôs no dito arren-
damento o que por ele lhe levou; o que também dirá o dito Afonso Gonçalves,
que se queixou logo de lhe levar tanto pelo dito arrendamento. Disse mais que
o dito Miguel da Fonseca era público e notório tomar peitas e dádivas das
pessoas que diante dele tenham negócio; e ele declarante lhe deu uma pele de
cordovão, depois de ser oficial desta Universidade, sem respeito nenhum, e ele
lha aceitou. E não guardar os segredos da Mesa, porque lhe disse Domingos
Mendes Cardoso, vigário do Alvorge, que o dito Miguel da Fonseca lhe dissera
que Fabrício de Aragão lhe*** uma petição, que metera na Mesa, sendo depu-
tado dela. Disse mais que um Caneiro do burgo de Santa Clara, a quem não
Jl. 265 sabe o nome, nem à mulher com quem é casado, lhe disse, haverá dois// ou três
meses, que Manuel Pires de Aguiar, agente desta Universidade, da cal dela lhe
mandara levar para sua casa, e lha levara, e, até ao presente, lhe não tinha pago
o carreto dela, sem declarar quanto; porém, ele declarante lha não viu levar.
E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este
testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o
dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Mene-
ses, Reformador e Reitor. João de Milão.

Aos vinte dias do mês de Setembro de mil seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela, estando
aí, por ele foi mandado vir perante si a Jerónima Fernandes, viúva que ficou de
Domingos Pires, moradora na Feira, testemunha referida, e, sendo presente, lhe
foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandada
que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse pergun-
tado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de sessenta anos. Pergun-
tada se sabe ou presume para que é chamada, e se alguém lhe pediu, por si ou
fl. 265v. por outrem,// que, sendo perguntada na visita desta reformação, calasse a ver-
dade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntada se sabia que alguns oficiais desta Universidade, com pretexto de
seus ofícios, façam na feira dela algumas exorbitâncias, -levando almotaçarias e
tomando muitas coisas para outrem em seu nome, e de que tempo a esta parte,
disse que o que sabia da dita pergunta era que Sebastião Lopes da Costa, escri-
vão da almotaçaria e taxas, desde que serve o dito ofício até ao presente, em
todas as feiras, leva para sua casa um cesto, e, às vezes dois, de todas as coisas
que almotaça. E, muitas vezes, sem estar o almotacé presente, ele é o que

285
almotaça, e pede as almotaçarias sem lhas darem, as quais recebe o seu criado
no dito cesto. E, os dias atrás, pedindo-lhe ela declarante que lhe almotaçasse
um pouco de centeio a seis vinténs, lho pôs pelo dito preço, mas lhe disse que
lhe havia de dar um alqueire por um tostão, como, de feito, logo deu. Disse
mais que o dito Sebastião Lopes, porque sabe que as medideiras da dita feira,
que, com as da farinha, são algumas oito, pelo Janeiro e S. João são obrigadas
a aferir as medidas e pesos pela Câmara, lhes pede certidão disso, e, depois de
fl. 266 lha mostrarem, / / leva um vintém de cada uma das ditas medideiras, dizendo-lhe
que as assenta em livro, e que, por isso, lhe leva o dito vintém; e ela declarante
lho viu dar. E que não só toma para si o peixe e carne e outras coisas que vêm
à feira, senão para seus amigos; e, muitas vezes, antes de estar almotaçado pelos
almotacéis. E que de nenhum outro oficial sabia coisa alguma. E mais não
disse, nem lhe foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe lido este testemunho e
perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assi-
nou, digo, e por não saber assinar, a seu rogo, assinei por ela com o dito Refor-
mador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Refor-
mador e Reitor. Agostinho de Aguiar, a rogo.

Aos trinta dias do mês de Setembro de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majes-
tade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Manuel de Figueiredo, solteiro, filho de Simão de Figueiredo, corregedor que
fl. 266v. foi desta cidade, natural/ / de Penalva, junto a Viseu, estudante canonista, mora-
dor junto ao crucifixo da porta do Castelo, testemunha referida, e, sendo pre-
sente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e cinco
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe
pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial,
pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, haverá
quatro ou cinco anos, pouco mais ou menos, não lhe lembra em que mês, por
ocasião de ele declarante mandar a António Cime, irmão de Miguel Cime,
ambos bacharéis formados em Cânones, naturais de Viana, de uma quinta junto
fl. 267 a Viseu, umas/ / meias de retrós verde, como amigo, o sobredito António Cime
lhe escreveu logo então, em resposta, agradecimentos das ditas meias, e que as
dera a Rui de Albuquerque, Secretário desta Universidade. E, porque logo
então se formou, suspeita ele declarante que lhas daria o dito António Cime

286
por algum tempo que o dito Secretário lhe desse, suposto que não eram amigos,
e lhe não dever de querer dar as suas meias sem lhe fazer alguma amizade.
Disse mais que, haverá o dito tempo, pouco mais ou menos, nesta cidade, se
achou ele declarante em companhia de Francisco Botelho, bacharel formado
em Leis, natural de Bragança; e, estando ambos sós, o sobredito lhe disse que o
dito Secretário, Rui de Albuquerque, lhe fizera uma amizade, de que estava tão
contente que o havia de mandar visitar com alguma coisa; e, depois, encontrando-
-se com Brás de Almeida, bacharel formado em Cânones, primo do dito Rui de
Albuquerque, lhe disse que, por seu respeito, fizera o dito Rui de Albuquerque
boa amizade ao dito Francisco Botelho, e daí infere que devia ser dar-lhe algum
tempo para se formar, o qual Francisco Botelho lho havia, vindo de Salamanca
para esta Universidade. Disse mais que ouviu queixar publicamente a muitos
estudantes do bedel Gaspar de Sampaio lhes vender por dinheiro ou por peitas os
dias para fazerem seus autos de bacharel e conclusões; e não lhe lembra agora/ /
fl. 267v. a que estudantes o ouviu. Disse mais que, haverá sete ou oito dias, nesta cidade,
fora da porta do Castelo, de dia, encontrando-se com Cristóvão Teixeira, cano-
nista, de Lisboa, filho de André de Matos, conservador que foi desta Universi-
dade, estando ambos conversando, lhe viu um pistolete grande, de fechos de
pederneira, ou espingarda, e não deu fé de quantos palmos seria o cano. E que
isto era o que sabia dos ditos interrogatórios, pelo que lhe foi feita a pergunta
seguinte: se sabe que mais algum estudante tenha, traga ou tivesse algum pisto-
lete de dois canos, com fechos de pederneira, e de que tempo a esta parte. Disse
que não sabia mais do que tinha dito. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse
estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D, Francisco Meneses, Reformador e
Reitor. Manuel de Figueiredo.

Ao primeiro dia do mês de Outubro de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela,
fl. 268 estando aí, por ele// foi mandado vir perante si ao padre Jerónimo Vaz, cape-
lão das freiras de Santa Ana, desta cidade, e, sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo
dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu
de o fazer assim; e disse ser de idade de cinquenta anos. Perguntado se sabe ou
presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, q~e,
sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o
contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles
sabia, disse que o que deles sabia era irem alguns estudantes desta Universidade

287
ao dito Mosteiro de Santa Ana, e inquietarem as religiosas dele, assim na igreja
como no pátio, como nas grades e roda. E, entre estes, os a que sabe o nome
são Francisco Rodrigues de Valadares, colegial do Colégio de S. Paulo, Cristó-
vão Teixeira, estudante canonista, filho de André de Matos, conservador que
foi desta Universidade, Pero da Costa, bacharel legista, filho de Amaro da
Costa, escrivão desta cidade, Henrique Barreira, bacharel legista, filho do desem-
fl. 268v. bargador Miguel de Barreira,// e três ou quatro freires do Colégio dos Milita-
res, a quem não sabe os nomes, tirando a um, que dizem chamar-se Frei Daniel
de Avis, e D. António da Silveira, estudante canonista, filho de D. Álvaro da
Silveira, e Martim Afonso Mexia, arcediago da Sé de Lamego, Lourenço Pereira
da Gama, filho de Luís da Gama Pereira, desembargador do Paço, Gaspar da
Fonseca, estudante canonista, filho de Lucas da Fonseca, Jacinto da Fonseca,
canonista, filho de João da Fonseca, vereador que foi da cidade de Lisboa, Luís
Salema, estudante legista, de Lisboa, Luís Pereira, outrossim de Lisboa, Manuel
Falcão, estudante legista, de Portalegre, Afonso Craveiro, médico, do Algarve.
E, assim, que seria de grande quietação para o dito Mosteiro proibir-lhes irem a
ele, porque todos os sobreditos o fazem, em modo que causam exteriormente
escândalo; que é o que obriga a ele declarante a declará-lo aqui, para se lhe dar
o remédio que mais convier. E que isto era o que só sabia. E, sendo-lhe lido
este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou
com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor. P. e Jerónimo Vaz.//

fl. 269 O padre António Jorge, chantre da igreja de S. Pedro, desta cidade, cape-
lão do Mosteiro de Santa Ana, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses
mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse
verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de quarenta e cinco anos. Pertuntado se sabe ou
presume para que é chamado, e se alguém lhe pdiu, por si ou por outrem, que,
sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse_o
contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles
sabia, disse que o que deles sabia era alguns estudantes desta Universidade inquie-
tarem o dito Mosteiro de Santa Ana, assistindo de ordinário na roda, pátio,
grades e igreja, em tanto que, até nos sacrifícios divinos, os perturbam, e as
religiosas neles; em tanto que lhe foi a ele declarante já necessário, estando
fl. 269v. dizendo missa, fazer sinal do altar para que se calassem.// E, entre estes, os
a que sabe os nomes são Afonso Craveiro, estudante médico do partido, do
Algarve, Cristóvão Teixeira, filho de André de Matos, conservador que foi desta

288
Universidade, e estudante canonista nela, Pedro Homem de Faria, filho de
André de Avelar, lente de Matemática, Manuel Ximenes, estudante canonista,
de Lisboa, Jacinto da Fonseca, estudante canonista, filho de João da Fonseca,
vereador que foi da cidade de Lisboa, e seu primo Gaspar da Fonseca, estu-
dante canonista, filho de Lucas da Fonseca, Luís Pereira, canonista, natural de
Vila Franca, junto a Lisboa, que no dito pátio andou com o dito Pedro Homem
às pescoçadas, sobre se dizer que um deles escrevia a uma freira, Diogo Fer-
nandes Cardoso, estudante canonista e mestre em Artes, de Santa Marinha,
Manuel Falcão, estudante legista, de Portalegre, Lourenço Pereira da Gama,
filho de Luís da Gama Pereira, desembargador do Paço, João Pinheiro, filho de
Luís Martins Pinheiro, ouvidor, digo, provedor que foi de Setúbal, Luís Salema,
estudante legista, de Lisboa, Francisco Rodrigues de Valadares, colegial do Colé-
gio de S. Paulo. E que, por lhe parecer que será de grande quietação para o dito
Mosteiro proibir-lhes irem a ele, por o fazerem em modo que exteriormente //
fl. 270 causam escândalo, o declara aqui, para se lhe dar o remédio que mais convier.
E, por mais não dizer, lhe foi lido este testemunho, e, por ele ouvido, disse estar
escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
António Jorge.

Aos dois dias do mês de Outubro de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela,
estando aí, por ele foi mandado vir perante si ao Dr. António Lourenço, lente
de Digesto Velho nesta Universidade, e, sendo presente, lhe foi dado juramento
nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de quarenta e cinco anos. Perguntado se sabe
ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem,
que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse/ /
fl. 270v. o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial pelo que de cada um deles
sabia, disse que o que deles sabia era que, na vizinhança da rua em que ele
declarante vive, que é na Couraça, havia escândalo de Francisco Vaz, corrector
da Universidade, ter por ama, das portas adentro, uma mulher, com a qual está
infamado entre as pessoas da dita vizinhança. Disse mais que o mesmo escân-
dalo havia do Dr. Manuel de Abreu, lente de medicina, porque, sendo casado,
se diz que está amancebado com uma mulher que tem em Aveiro ou em outra
parte; e que o dito escândalo havia entre as pessoas graves da Universidade, e
nela era público. Disse mais que, há alguns anos, que serão seis ou sete anos,

289
pouco mais ou menos, que a Mesa da Fazenda fez um acrescentamento de pão,
não lhe lembra da quantia nem do que mais nele se continha, ao cura de Lagares;
e, depois de provido o dito cura, no dito acrescentamento, por alguns casos,//
fl. 271 cobrava Miguel da Fonseca, escrivão da Fazenda, para si, sem o fazer a saber
ao dito cura; até que, depois, por ocasião de o dito cura fazer novo requeri-
mento, por cuidar que não estava provido, se veio a saber que o dito Miguel da
Fonseca tomava para si o dito acrescentamento, e o levou com efeito, e não lhe
lembra por quantos anos. Disse mais que o dito Miguel da Fonseca, no livro
de seu ofício de escrivão da Fazenda, escrevera nele, sem estar feito o encerra-
mento do número de folhas que tinha, e não se lembra se estava rubricado pelo
Conservador, nem que livro é, nem de que ano, mas que dos seus constará qual
é, em que por sinal tem o encerramento no fim da letra dele declarante, que ele
fez como deputado, por lho não achar. Disse mais que, em uns autos de execu-
ção, de que foi escrivão António Gomes, escrivão das execuções da Universi-
dade, entre partes Francisco da Silva e um rendeiro da Beira, a quem não sabe
o nome nem a terra, sobre uns quarenta mil réis de uma reclamação de um con-
.fl. 27Jv. trato, nos quais autos viu ele declarante uma certidão// do dito Miguel da
Fonseca, que não continha toda a declaração que havia no contrato donde tirou
a dita certidão. E nisto se remetia ele declarante aos autos, de que constará a
verdade. E o prejuízo, que daí resultou às partes dos quais autos e do mais,
poderá dar conta e testemunhar mais clara e distintamente o dito António
Gomes; e sabe, em particular, o que passa. E que, assim, pelo que tem dito
como por outras muitas coisas que lhe passaram pela mão no discurso dos anos
que foi deputado, o tem por mui descuidado em seu ofício, e aparelhado para
fazer nele muitas amizades. Disse mais que o dito Miguel da Fonseca tem ainda
em seu poder nove mil réis, pouco mais ou menos, que cobrou da mulher de
um marchante de Aguiar da Beira, que resultaram de uma pouca de fazenda em
que se fez execução. E a dívida que seu marido devia à Universidade, por-
quanto, sendo o dito dinheiro quantia de quinze mil réis, ele declarante lhe pôs
jl. 272 verba na folha primeira deste ano,// na qual se montam seis mil réis, os quais
abatidos, fica devendo os ditos nove mil réis. E que disto sabe André Tavares,
que poderá testemunhar com mais clareza e distinção; o qual declarará jun-
tamente a pessoa a que se entregaram alguns rendimentos da dita fazenda,
dos anos que era da Universidade. Disse mais que Simão de Basto, síndico da
Universidade, devia um terrádego de uma fazenda que comprou, que nele se
montou coisa de treze mil réis, e destes lhe quitaram na Mesa da Fazenda seis
mil réis no princípio deste ano, sendo Vice-Reitor o padre mestre Frei Egídio; e
que do mais daria ele conta. Disse mais que, de uma fazenda que comprou o
Dr. Francisco Vaz Pinto, desembargador do Paço, de que ao presente se não
lembra como se chama o prazo, está devendo do terrádego dele à Universidade
cinquenta mil réis, de anos a esta parte, como dirão os oficiais da Fazenda. E que

290
as mais dívidas constarão dos livros da receita e despesa, e principalmente do
livro onde estão os autos das execuções que resultaram da reformação passada.
Jl. 272v. Disse mais que, geralmente, ouvira dizer que André// Tavares, executor da Uni-
versidade, das execuções que fazia na Beira, fazia alguns excessos, de que se
queixou a ele declarante Gonçalo Leitão, corregedor da comarca de Viseu, mas
não lhe especificou a qualidade das queixas, nem as pessoas que dele as tinham
nas matérias de seu ofício; nem ele declarante sabe do sobredito coisa alguma
em particular. Disse mais que publicamente havia queixas de Sebastião Lopes
da Costa, escrivão da almotaçaria e taxas, de não fazer bem o seu ofício; e que
ouvira dizer a Mateus Fernandes, picadeiro, este mês de Agosto próximo pas-
sado, que o dito Sebastião Lopes lhe passara uma certidão, em que continha
que ele dito Mateus Fernandes trouxera a casa, do peixe da Universidade, mais
cargas do que na verdade foram, acrescentando que seria por lhe ter empres-
tado algum dinheiro, de que lhe tinha dado conhecimento; que ele declarante
viu e conheceu, e entendeu ser da sua letra, por o ver escrever muitas vezes; para
se descarregar com a dita certidão da obrigação que tinha de trazer tantas car-
fl. 273 gas, na forma de seu contrato. Disse mais que, neste mês// de Agosto próximo
passado, vira ele declarante uns autos na Mesa da Fazenda, feitos pelo dito
Sebastião Lopes da Costa, mui suspeitosos, por serem escritos em duas meias
folhas de papel diferente, um mais curto que o outro, e outras circunstâncias
que fazem cuidar mal dele, como se pode ver dos próprios autos, que estarão
em poder de Miguel da Fonseca, escrivão da Fazenda; e é autor deles o dito
Mateus Fernandes. Disse mais que o síndico da Universidade, posto que cum-
pria com as obrigações de seu ofício, tinha outros ofícios incompatíveis com o
seu, como era ser procurador fiscal e dos presos do Santo Ofício. Disse mais
que os bedéis de todas as Faculdades não entregam o dinheiro da fábrica da
Capela, nem da arca da Universidade, e o retêm em si; e, nas contas que ele decla-
rante lhes tomou do ano passado, estão todos devendo; e até António de Sam-
paio, proprietário do ofício de bedel de Cânones e Leis, está ainda devendo
passa de trinta mil réis. Disse mais que Manuel Ferraz Camelo, escrivão dos
contos da Universidade, não cumpria com as obrigações de seu ofício, e está
ausente; o que ele declarante sabe porque lhe escreveu duas cartas em que o
.fl. 273v. mandava chamar, para vir fazer seu ofício nas contas// desta reformação, por
ordem dele dito Reformador. E o sobredito se desculpou, com lhe responder
que servia de ouvidor nos coutos de Arganil, e que, de presente, estava mui
ocupado com umas comissões de Sua Majestade, e que não era possível deixá-
-las. E que lhe parece que se foi sem licença, mas que está lembrado que fez
petição sobre isso; mas que se não lembra que despacho lhe deram nela. Disse
mais que o dinheiro que o estatuto manda pagar para os quindénios e livraria
da Universidade se não executà; porque, só destes anos atrás, que serão de
catorze ou quinze, sabe que se pagaram somente duas terças, que estão no cofre

291
de Santa Cruz. Disse mais que, por diligências que fizera como deputado da
Fazenda da Universidade, entendia que faltavam dezassete volumes, em que entra-
vam textos de Leis e Cânones, os quais se encadernaram e compraram por conta
da Universidade, segundo lhe dissera Manuel Álvares, livreiro; e o Dr. Fabricio
de Aragão os vira em casa do matemático André de Avelar, e que por eles estu-
dará seu filho. E, assim, mais faltam, dos livros velhos e antigos, muitos deles,/ /
fl. 274 e todas as cadeias e varões de ferro, por que estavam presos. E uns e outros
tinha e tem a seu cargo o dito André de Avelar. E que isto era o que sabia dos
ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse que estava escrito
na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. António Lourenço.

Mateus Fernandes, picadeiro desta Universidade, morador na freguesia da


Sé, testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses man-
dou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evange-
lhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse
ser de idade de quarenta e seis anos. Perguntado se sabe ou presume para que é
chamado, e, se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado
na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de
Jl. 274v. que tempo a esta parte, disse// que não. Perguntado pelos interrogatórios dos
Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em
geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o
que deles sabia era que Sebastião Lopes da Costa, escrivão da almotaçaria e
taxas, haverá quatro anos, pouco mais ou menos, pediu a ele declarante vinte
mil réis emprestados, e ele lhos emprestou, sendo já então, e muitos anos antes,
picadeiro da dita Universidade, sobre um escrito seu; e, posto que deles lhe
pagou doze, haverá um ano, ainda, ao presente, lhe deve oito, de que tem o dito
escrito. E que, à conta de ser escrivão da dita almotaçaria, manda esperar ao
caminho a ele declarante, nas quaresmas, quando vem de Aveiro com o peixe,
por o seu criado, e lhe toma os cambos de pescado que quer, e lhos leva pata
casa; e lá, por si só, os pesa, e lhe dá o que quer. E, no açougue, entra nele, e,
antes de estar almotaçado o pescado, toma o melhor para si, antes de ser almo-
taçado. E, perguntado pelo referimento que nele fez o Dr. António Lourenço,
fl. 275 disse que o dito Sebastião Lopes,// haverá um ano e meio, pouco mais ou
menos, passou a ele declarante uma certidão em que certificava haver ele decla-
rante trazido à Universidade muitas mais cargas de pescado do que é obrigado
por seu contrato, que havia trazido na verdade, por cuidar que nisso lhe fazia
amizade. E, por ele declarante lhe dizer que lhe não convinha a tal certidão,
por não ser obrigado a dar tantas cargas, como nela se continha, e que lhe

292
passasse outra, lha passou de menos cargas. E que, conforme a isto, em um
feito que ele declarante trazia com o dito Sebastião Lopes por apelação na
Mesa da Fazenda, sobre o condenarem a dois mil e duzentos e dez réis, injusta
e nulamente, de que é escrivão Miguel da Fonseca, se verá como cortou umas
folhas do dito feito e nele fez letras diferentes e acrescentou o que quis. E ele
mesmo foi o depositário da dita condenação e a repartiu, pendendo a dita apela-
ção. E que, no açougue da carne, é público que faz o mesmo e outras coisas
semelhantes, por onde entende que será serviço de Deus e da Universidade não
servir o dito Sebastião Lopes o dito ofício. Disse mais que o mesmo entendia
de Miguel da Fonseca, escrivão da Fazenda, porque todas as pessoas que têm //
f1. 275v. requerimentos na Mesa dela lhe dão primeiro a galinha ou coisa semelhante pelo
despacho das suas petições. E ele declarante lhe deu já, por muitas vezes, cam-
bos de linguados e outro pescado por esse respeito. Disse mais que, haverá três
anos, pouco mais ou menos, que Gaspar Fernandes, o Rei, rendeiro do pescado
desta cidade, sendo-lhe necessário o privilégio da Universidade por uma causa
que trazia, deu ao dito Miguel da Fonseca um saco de trigo e cambos de lin-
guados, por lhe passar carta pela qual o fez ajudante dele declarante no seu ofício
de picadeiro da dita Universidade; o que se passou entre todos três; e o dito
Gaspar Fernandes declarará como, depois e por quem, lhe mandou o dito saco
de trigo. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido
este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do
costume disse que trazia com o dito Sebastião Lopes a demanda acima decla-
rada, e que tinha dito verdade. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agos-
tinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Mateus Fernandes.//

fl. 276 Aos três dias do mês de Outubro de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela, estando
aí, perante ele pareceu Maria de Andrade, moça solteira, filha de Pero Fran-
cisco, pedreiro, já defunto, moradora no adro da igreja de S. Pedro, junto ao
prior dela. E, por dizer que tinha de que se queixar e denunciar nesta devassa,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dada que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de vinte e cinco anos, pouco mais ou menos.
E logo disse que ela se vinha queixar e denunciar de Sebastião Lopes da Costa,
escrivão da almotaçaria e taxas, agora faz cinco ou seis anos, pouco mais ou
menos, nesta cidade, tendo o dito seu pai Pero Francisco alugadas umas casas
suas a um estudante, a quem não sabe o nome, sobrinho de Bernardo da Fon-
seca, Conservador que foi desta Universidade, e, por ocasião de o querer lançar
fora das casas, por lhas danificar, e o dito estudante as não querer largar, depo-

293
sitou as três terças daquele ano o seu fiador Manuel Monteiro, barbeiro, que
vive na Rua dos Colégios, em mão e poder do dito Sebastião Lopes, escrivão
fl. 276v. que era também da dita causa. E, depois, indo o// dito seu pai a receber do
dito Sebastião Lopes as ditas terças, o sobredito lhe fez nos ditos autos quitação
das ditas três terças, e lha fez assinar, dizendo-lhe, como a homem que não sabia
ler nem escrever, que era de quatro mil réis, e que os dois lhes ficava devendo, e
lhos daria brevemente; e, daí a dias, indo-lhos a pedir, lhos negou, dizendo que
lhos tinha pagos, e disso lhe mostrou a dita quitação. E assim o jurou em juízo,
deixando o dito seu pai em sua alma, e, posto que ele os haja de negar, para
que se saiba como, sendo escrivão das taxas, se faz juntamente depositário das
ditas terças para fazer estas e outras semelhantes, o vem declarar nesta devassa.
E, para prova disso, dá ao dito Manuel Monteiro por testemunha, e aos ditos
autos, se os ele quiser exibir. E tudo isto sabe ela declarante por lho assim dizer
o dito seu pai. E, por mais dizer, lhe foi lido este testemunho, e, sendo por ela
ouvido, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E por não saber
assinar, a seu rogo, assinei por ela com o dito Reformador. E eu, Agostinho de
Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Agostinho
de Aguiar, a rogo.

Jl. 277 · João Machado, solteiro, filho de Jerónimo Machado// e de Joana Cor-
deira, naturais desta cidade de Coimbra, estudante do terceiro curso das Artes,
do princípio deste mês de Outubro a esta parte, morador na feira dos estudantes,
em casa do dito seu pai, testemunha referida, a quem o Reformador D. Fran-
cisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo
dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu
de o fazer assim; e disse ser de idade de dezanove anos. Perguntado se sabe ou
presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que,
sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o
contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos Fstatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, em geral,~, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles
sabia, disse que o 4 ue deles sabia era que, haverá três ou quatro anos, nesta
cidade, na quinta do dito seu pai, junto a ela, menos de um quarto de légua, se
achou ele declarante, à tarde, em companhia de António Fernandes Monteiro,
solteiro, estudante das Escolas Maiores, não sabe de que ciência, filho de Antó-
nio Fernandes e sobrinho de António Monteiro, prior da igreja de S. João, que
todos vivem juntos em umas casas, na travessa que fica defronte da dita igreja e//
fl. 277v. do Colégio de S. Paulo, que agora será de vinte e quatro anos, e de João Aranha
Chaves, de idade de vinte anos, estudante da segunda classe, ausente desta cidade
por morte de um estudante, e filho de João Aranha, cidadão desta cidade, e de

294
sua mulher Isabel Banha, e de Manuel Ferreira, solteiro, estudante da terceira classe,
de dezassete anos, não sabe o nome aos pais, mas seu pai é recoveiro e serviu ao
Bispo D. Afonso de Castelo Branco, que Deus tem, e vive junto ao Colégio de
S. Paulo, onde foram por seus amigos e conhecidos. E, estando lá todos qua-
tro, juntos com ele declarante, junto a um valado, viu ele declarante que o dito
João Aranha e o dito António Fernandes, cada um por sua vez, pegou no mem-
bro viril do dito Manuel Ferreira, digo, cada um por si meteu seu membro viril,
teso e levantado, na mão ao dito Manuel Ferreira, e ele lhos esfregou, posto que
não chegaram a derramar semente, e se abraçaram e beijaram todos três; e, se
ele declarante os deixara, sem dúvida cada um deles derramara a dita semente,
que, como viu que queriam consumar o dito pecado, lho estranhou, e, por isso,
o deixaram. E, por respeito da dita amizade, se fiaram dele declarante. E ali nem
antes nem depois passaram mais coisa alguma, que lembrado seja. E que isto é
o que só sabia dos ditos interrogatórios. Perguntado se se achou em certa //
fl. 278 parte, haverá três anos, pouco mais ou menos, em certa companhia, a qual disse
ele declarante que certa pessoa, que nomeou, cometera o pecado de molícias
com certo estudante, disse que agora lhe lembrava que, haverá o dito tempo,
que ouviu a Bento Dias, que aqui andava em trajos de estudante e não estu-
dava, não sabe cujo filho é, nem donde natural, nem onde aqui mora, que
Manuel de Andrade, que poderá ser de dezoito anos, pouco mais ou menos,
estudante do terceiro curso das Artes o ano passado, não sabe cujo filho é, e
segundo ouviu dizer é natural de Santa Comba Dão, fora cometido para fazer o
pecado de molícias por um estudante, por nome fulano Tomás, não sabe cujo
filho, natural desta cidade. E que nenhuma outra coisa sabia nem dissera tocante
à dita pergunta. E que o contou a algumas pessoas, não lhe lembra agora quais.
E que todos estes quatro, atrás nomeados, tinham fama de cometerem o dito
pecado. E que lhe lembrava mais que lhe contaram, não lhe lembra agora quem,
que João Francisco, dourador, solteiro, que vivia na Calçada, e agora é soldado
em Lisboa, cometera, vindo em um barco por este rio, haverá dois anos, a Filipe
Coelho, estudante da terceira classe ao presente, que será de dezoito anos, preto
do rosto, filho de Manuel Coelho e neto de Gonçalo Gil Coelho. E que Matias
da Silva, estudante canonista, filho de um livreiro, que vive na Rua de Coruche,
a quem não sabe o nome, lhe dissera, haverá um mês, que viera a esta devassa,
fl. 278v. e que o bom era não // dizer nela nada. E mais não disse. E, sendo-lhe lido este
testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com
o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. João Machado.

Aos cinco dias do mês de Outubro de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrado~ Cânones, Reformador e Reitor dela,

295
estando aí, por ele foi mandado vir perante si ao Dr. Diogo Mendes Godinho,
lente de Cânones nesta dita Universidade, testemunha referida, e, sendo pre-
sente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de trinta e oito anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
fl. 279 verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo// a esta parte, disse que
não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela,
conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo
que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, haverá um ano,
pouco mais ou menos, nesta cidade, se achou ele declarante em companhia do
Dr. Fabricio de Aragão, lente de Clementinas, e, estando ambos sós, o sobre-
dito lhe disse que Manuel Pires de Aguiar, agente desta Universidade, levava
mais dinheiro do que se montara no gasto da cera que estivera ardendo no oficio
do Reitor Vasco de Sousa, que Deus tem, e que seria o que levou de mais doze
ou treze mil réis, pouco mais ou menos; e que, deste dito dinheiro, lhe passara
mandado o Vice-Reitor Frei Egídio. Disse mais que era fama pública, entre os
lentes desta Universidade. e de que havia escândalo, de se formarem nela, a saber
Gonçalo Vaz Freire, legista, Manuel Soares Pereira, canonista, ambos de Lis-
boa, Pero Moreira e Pero Gonçalves, canonistas, e ambos da ilha da Madeira,
por não terem o tempo necessário para isso; mas que não sabe ele declarante se
lho deu o Secretário, ou por que via o houveram. Disse mais que, todo este
tempo atrás, antes de ele Reformador estar nesta Universidade, viu ele decla-
rante dar os pontos para os autos de bacharéis e formaturas, sem estar presente//
fl. 279v. a eles o Secretário, como manda a reformação. E que, algumas vezes, falta aos
autos, e, em seu lugar, fazem os bedéis os termos dos ditos autos. E que vê
ordinariamente levar ao dito Secretário um vintém pela matricula a cada estu-
dante, não devendo levar mais de dez réis, na forma da reformação. Disse mais
que Sebastião Lopes da Costa, escrivão da almotaçaria e taxas, recebeu, por
algumas vezes, dinheiro de depósito, que os estudantes depositam, havendo de o
depositar em mão de terceira pessoa, na forma da ordenação do Reino; e que
está infamado de passar algumas certidões como não deve. E que isto sabia o
Dr. Cristóvão Mouzinho, e António Fernandes, escrivão do auditório eclesiás-
tico, e Francisco Vaz, corrector da Universidade. E que, dos depósitos, sabe ele
declarante porque, servindo, estes três anos próximos de taxador, e algumas
vezes de aposentador, viu receber-lhe alguns depósitos; e deles lhe lembra ao
presente que foi um que fez António Cardoso, bacharel legista, natural de Lis-
boa, sobre umas casas que estão na Couraça, de Belchior Caldeira, meirinho
desta Universidade. Disse mais que, depois que ele declarante está nesta Uni-
fl. 280 versidade, que há dezasseis anos a esta parte,// viu e sabe que os prelados

296
eleitos se aprovam, nesta Universidade, por testemunhos dos lentes, dados sem
serem por autos públicos de conclusões, contra a forma do estatuto. E que isto
era o que sabia dos ditos interrogatórios, declarando que lhe parecia, se se não
enganava, que, estando um dia na casa da matricula, não lhe lembra em que
tempo nem que estudante, nem quem mais estava presente, lançou um escudo
de ouro ao Secretário, Rui de Albuquerque, segundo sua lembrança, por lhe
tirar cursos, ou por matricula; e não lhe lembra ao certo por qual foi. Pergun-
tado se se achara em certa parte e em certa companhia, na qual, entre outras
coisas, disse ele declarante à dita companhia que certa pessoa desta Universi-
dade mandara cometer a certa mulher, e que, por ela não querer, a difamara,
disse que, este ano passado, não lhe lembra em que mês, junto da Páscoa,
pouco mais ou menos, nesta cidade, se achou ele declarante com D. Lourenço
Coutinho, colegial do Colégio de S. Paulo, e, estando ambos, o sobredito lhe
disse que Martim de Carvalho, Vice-Conservador desta Universidade, mandara
cometer uma mulher, casada com um médico, pessoa de virtude e recolhimento,
e por tal tida e havida, e, por ela lhe não deferir a seu mau intento, a difamara,
dizendo que mandara estreitar a prisão a Pero do Couto, estudante canonista, //
Jl. 280v. por não ir à sua porta bater, como diziam fazia quase todas as noites. E mais
não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Diogo Mendes
Godinho.

António Carvalho, barbeiro, casado com Maria Lopes, natural desta


cidade e morador ao presente no lugar de Murtede, termo desta dita cidade,
testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou
vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos,
em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de vinte e um anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado,
e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita
desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo
a esta parte, disse que não. Perguntado se sabe que algum estudante tenha ou
fl. 281 traga algum pistolete, de vista ou/ / de ouvido, e de que tempo a esta parte, disse
que nesta cidade, no discurso deste ano escolástico próximo passado, que se
acabou em Julho deste presente ano de seiscentos e dezanove, se achou ele decla-
rante, por muitas vezes, em casa de Francisco Rodrigues Calaça, estudante cano-
nista, da vila de Castelo Branco, que morava na freguesia do Salvador, e, estando
ambos, lhe viu e teve ainda nas mãos um pistolete, cujo cano seria de palmo e
meio, pouco mais ou menos, com fechos de pederneira, e por outras vezes sem
eles. E sabe que é seu, porque, posto que tinha outros companheiros, todos

297
diziam que o dito pistolete era do dito Francisco Rodrigues Calaça. E mais não
disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. António Carvalho.

Aos sete dias do mês de Outubro de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela, estando
aí, por ele foi mandado vir perante si a João Gomes, licenciado por exame
privado na Faculdade de Leis e opositor em ela, testemunha referida, natural
fl. 28/v. desta// dita cidade. E, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evan-
gelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse
ser de idade de vinte e oito anos. Perguntado se sabe ou presume para que é
chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado,
na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de
que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos
Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em
geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o
que deles sabia era que, o ano passado, o Secretário Rui de Albuquerque, não
lhe lembra em que mês, e lhe parece que era no primeiro do dito ano escolás-
tico, passara certidão a António Álvares, estudante canonista, da cidade do
Porto, dos cursos que tinha desta Universidade na dita Faculdade, por umas
arrobas de açúcar e umas moedas de ouro, porquanto o dito Secretário lha não
fl. 282 queria passar sem isto, por ser público e notório// ter-lhos mandado riscar o
Reitor Vasco de Sousa, que Deus tem, por umas cutiladas que o dito António
Álvares havia dado a um fulano Moutinho, dentro do pátio desta Universidade,
para se poder ajudar dos ditos cursos com a dita certidão na Universidade de
Salamanca, para onde se foi pelo dito caso; o que ele declarante sabia porque
lho contou assim seu irmão Bartolomeu Gomes, bacharel formado em Câno-
nes, logo então, que foi a pessoa a quem o dito Secretário deu a dita certidão.
E entende ele declarante que, por via de Jorge Fernandes, sogro do dito ·seu
irmão, se devia procurar a dita certidão, por respeito de algum seu correspon-
dente do Porto, parente do dito António Álvares; o qual Jorge Fernandes é
vizinho e amigo do dito Secretário, e lhe emprestara dinheiro, por onde entende
o que tem declarado. Disse mais que, haverá seis ou sete anos, nesta cidade, na
casa do Conselho, viu ele declarante provar e lançar no livro da prova dos
cursos o curso a um ou dois estudantes, como foi Agostinho Carvalho ou Mateus
da Cruz, segundo sua lembrança, pelo Secretário, Rui de Albuquerque, sem
estar presente nem Reitor nem lente que fizesse a dita prova e inquirisse as teste-
munhas e lhes desse juramento, o que foi, estando para vagar uma cadeira. Disse

298
fl. 282v. mais que ele // declarante foi amigo do Dr. Cid de Almeida, seu compadre, e,
como tal, sabe que o Secretário, Rui de Albuquerque, por ser apaixonado do
dito Cid de Almeida, matriculou alguns estudantes a sua petição, não estando eles
na terra, só para efeito de poderem vir votar naquele ano na cadeira que se espe-
rava vagar, que o sobredito levou a Luís de Góis, colegial que era de S. Pedro.
E que era público, entre muitas pessoas desta Universidade, costumar o dito
Rui de Albuquerque dar tempo e anos de Artes por dinheiro, como se diz que
fizera a Gonçalo Vaz Freire, bacharel formado em Leis, e a Pero Moreira,
bacharel formado em Cânones, da ilha da Madeira, e a outros muitos, do que
havia murmuração e escândalo nesta Universidade. E que isto era o que sabia
dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito
na verdade, e do costume que tivera um agravo do Conselho desta Universidade
no provimento da cadeira de Instituta, que vagou este ano próximo passado, e
que se queixara do dito Rui de Albuquerque, mas que tinha dito verdade. E assi-
nou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor. João Gomes. //

Jl. 283 Aos oito dias do mês de Outubro de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela, estando
aí, por ele foi mandado vir perante si a Bartolomeu Gomes, casado com Ana
Mascarenhas, naturais desta cidade, bacharel formado em Cânones, testemunha
referida, morador ao arco da Rua Direita, e, sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo
dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu
de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e cinco anos. Perguntado se sabe
ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem,
que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse
o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado se
sabe, e de que tempo a esta parte, que algum oficial desta Universidade passasse
certidão a estudante algum dos cursos da Faculdade que professava, por peitas
e dinheiro, sem embargo de ser público e notório mandar-lhos o Reitor dela ris-
car, por certo caso que nela cometeu, disse que o que sabia da pergunta era que,
no tempo em que o Reitor Vasco de Sousa esteve nesta Universidade, depois//
fl. 283v. de o ser, um António Álvares, estudante canonista, da cidade do Porto, este
Abril que vem fará três anos, pouco mais ou menos, deu umas cutiladas em um
Gonçalo Moutinho, estudante canonista, da dita cidade do Porto; e por ser
público nesta Universidade que o dito Reitor lhe mandara, por isso, riscar seus
cursos, viera o ano passado, no princípio dele, servindo de Vice-Reitor o padre
mestre Frei Egídio, a esta Universidade Salvador Álvares, irmão do dito Antó-
nio Álvares, a buscar certidão dos cursos do dito seu irmão António Álvares.

299
E, por uma petição que ele declarante lhe fez para o dito Frei Egídio, por
ordem do Secretário, Rui de Albuquerque, com despacho do dito Frei Egídio, o
sobredito Secretário lha passou deles; e sabe ele declarante mais que lhe pediu
lha passasse Jorge Fernandes Mascarenhas, sogro dele declarante, porque assim
lho disse, e o viu ir com o dito Salvador Álvares a casa do dito Secretário.
E suspeita que lhe mandou, por isso, o dito Salvador Álvares alguma coisa,
porque lhe disse que lhe havia de servir a dita certidão. E por ele declarante ver
levar a uma criada do dito seu sogro um pouco de açúcar em um balaio, mas
não que saiba sobre esta matéria mais coisa alguma, nem que por ela se lhe
fl. 284 desse outra coisa, nem que desse// disto conta mais que a seu irmão, o licen-
ciado João Gomes. Perguntado se disse ao dito seu irmão, ou a alguma outra ·
pessoa, que, pelo sobredito, lhe desse umas moedas de ouro, disse que diria,
mas que lhe não lembra; nem sabe mais coisa alguma. E, sendo-lhe lido este
testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do cos-
tume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o
escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor, Bartolomeu Gomes.

António Serrão, solteiro, filho do Dr. Gonçalo Serrão, da cidade de Lis-


boa, estudante legista, morador na Rua das Parreiras, testemunha referida, a
quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e três anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse
fl. 284v. a verdade ou dissesse o contrário dela, e// de que tempo a esta parte, disse que
não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela,
conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois, em especial, disse que
não sabia deles coisa alguma. Perguntado se sabe que oficial algum desta Uni-
versidade desse, por dinheiro, a algum estudante tempo para se formar, e de que
tempo a esta parte, disse que não sabia coisa alguma da pergunta. Perguntado
se, de um ano a esta parte, pouco mais ou menos, se achou ele declarante nesta
Universidade em certa companhia, e se, entre outras práticas, disse a dita com-
panhia que, posto que não emprestara a certo estudante o dinheiro que lhe
pedira para o dito efeito, ele o houvera de outra parte, disse que não sabia coisa
alguma da dita pergunta. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito
na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agos-
tinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses. Reformador e Reitor.
António Serrão.

300
Jl. 285 Aos nove dias do mês de Outubro de mil/ / e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela,
estando aí, por ele foi mandado vir perante si a Simão de Araújo, solteiro, filho
de Mateus Fernandes, natural desta dita cidade, morador na Rua de Quebra-
-Costas, e sendo, digo, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e três anos. Perguntado se
sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por
outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Pergun-
tado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a
eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, disse que não
sabia deles coisa alguma; pelo que, perguntado pelo referimento que nele fez
fl. 285v. Bento da Fonseca, primeiro, em geral, e, depois, em especial, calados// os nomes,
disse que não dissera tal, nem disso sabia coisa alguma, que lhe lembre. E, sendo-
-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que
sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho
de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Simão
de Araújo.

Marçal Casado, solteiro, filho de João Casado, já defunto, natural da vila


de Viana, Foz do Lima, estudante canonista, morador fora da porta do Castelo,
junto ao crucifixo, testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de
Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dis-
sesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de vinte e seis anos. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo
fl. 286 perguntado na visita/ / desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrá-
rio dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interro-
gatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação
inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, disse que não sabia deles coisa
alguma, digo, disse que o que deles sabia era que, este Junho passado fez um ano,
nesta cidade, fora da porta do Castelo, em umas casas dos Padres de S. Bento,
se achou ele declarante em companhia de Francisco de Macedo, clérigo de ordens
sacras, estudante canonista, natural da vila de Amarante; e, estando ambos, o
sobredito lhe disse, entre outras práticas, como vinha para se formar, por lhe o
Secretário, Rui de Albuquerque, escrever uma carta que viesse fazer seus autos,
porque cá se faria tudo muito bem feito. E que, faltando-lhe tempo para eles, o

301
sobredito Rui de Albuquerque, agora depois de estar cá, lho não queria dar,
mas que sabia já que, para negociar com ele, lhe havia de mandar algum pre-
sente. E, de feito, lhe mandou logo então pela sua ama, que, ainda ao presente,
vive na loja das ditas casas, que são as segundas dos ditos Padres, indo da porta
fl. 286v. do Castelo, à qual não sabe o nome,// e será de sessenta anos, magra e pequena
do corpo, e natural também da dita vila de Amarante, donde veio com o dito
Francisco de Macedo, umas galinhas e uma cesta de pêras, e lhe parece que
uma caixa de marmelada; e se afirma que também ia em dinheiro alguns dez
cruzados, pouco mais ou menos, as quais coisas ele declarante viu, e também
leu o escrito que lhe mandou pela dita ama, em que lhe dizia, em substância,
que viera a esta Universidade confiado em lhe haver de fazer mercê de lhe haver
de dar tempo para os seus autos, que lhe mandava aquele mimo como seu servi-
dor; e viu também a resposta que a dita ama lhe trouxe, da letra do dito Secre-
tário, Rui de Albuquerque, que ele declarante, por o ver escrever muitas vezes,
reconheceu por sua, em que lhe dizia que desejava de o servir, e que se vissem
depois, que lhe daria todo o remédio possível para o que pedia. E posto que,
nos cursos do dito clérigo, lhe faltava tempo para se fazer bacharel logo no dito
tempo, e o sobredito Francisco de Macedo lhe disse que o dito Secretário lhe
fl. 287 dera tempo para se fazer bacharel, e não o que lhe// era necessário para se
formar, pelo que havia de ir dar capítulos dele, de lhe tomar o seu presente e
justificá-lo com os ditos seus escritos. E entende ele declarante que o que lhe fez
o dito Rui de Albuquerque de favor foi provar-lhe um curso que o sobredito
deixara de provar ou de cursar, e para que não tinha nem provisão de Sua
Majestade nem certidão na forma da reformação, não sabe agora qual, porque
era o dito clérigo antigo, o qual lhe disse que pouco lhe fizera o dito Secretário
em lho provar; e que o mais tempo para se formar era o que só lhe ficaria
devendo. E que lhe pareceu que se há-de vir formar ainda este ano. E que isto
contou a alguns seus amigos, não lhe lembra agora a quem. E que, de oito ou
nove anos a esta parte que se matricula nesta Universidade, sempre deu por isto
ao dito Rui de Albuquerque um vintém, e viu que assim o levava aos demais.
E que não sabia mais coisa alguma dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido
este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Marçal Casado.

Aos dez dias do mês de Outubro de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
fl. 287v. cidade de Coimbra, nas// casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela,
estando aí, por ele foi mandado vir perante si a Rui da Costa, solteiro, filho de
João da Ponte da Costa, natural da cidade de Elvas, estudante canonista, mora-
dor a Nossa Senhora do Salvador, testemunha referida, e, sendo presente, lhe

302
foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado
que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse pergun-
tado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de dezanove anos. Per-
guntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si
ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo
que de cada um deles sabia, disse que não sabia coisa alguma. Perguntado pelo
referimento que nele fez Jerónimo de Tovar, primeiro em geral, calados os
nomes, disse que, haverá dois anos e meio, pouco mais ou menos, nesta cidade,
à noite, não lhe lembra em que mês, inda que lhe parece que foi em Abril, se
fl. 288 achou// ele declarante em companhia de Salvador Lopes da Silva, estudante
médico, de Sacavém; e, estando ambos sós, depois do sobredito ir comprar uns
doces a casa da Monteira, e de os terem comido ao cano da feira desta cidade,
foram a umas casas que estão na mesma feira, e lá lhe pegou das mãos e, vindo
para o terreiro desta Universidade, e, sentados nos degraus da Capela, lhe tor-
nou a pegar nas mãos, e chegou o seu rosto ao seu, como que o queria abraçar
e beijar; e, dizendo-lhe se queria que fizessem aquelas coisas, sem declarar quais,
que ele declarante entendeu pelo pecado de molícias; e, se nele consentira, lhe
parece que o sobredito o efeituara. E, vendo que não queria, o sobredito lhe
disse que se calasse. E daí a alguns dias o cometeu para que fossem jogar o
toque-emboque às casas de D. Miguel de Castro, que estavam ao tal tempo sós,
de que também inferiu que era para o tornar lá a cometer, porque ouviu dizer,
em casa de Jerónimo de Tovar, opositor legista, a ele e a outros estudantes, que
lhe não lembram, que o dito Salvador Lopes estava infamado de cometer o dito
pecado de molícies. E que isto era só o que sabia do dito referimento. E, sendo-
-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrev1.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Rui da Costa.//

/1. 288v. Isabel Gonçalves, mulher solteira, natural da vila de Amarante, e ao pre-
sente moradora na cidade de Coimbra de nove anos a esta parte, para onde
veio com Francisco de Macedo de Sousa, clérigo de missa, estudante canonista
nesta cidade, e de quem foi ama muitos anos, e, ao presente, o é de uns estudan-
tes de Braga, a quem ainda não sabe o nome, nas mesmas casas onde viveu o
dito Francisco de Macedo, que são dos frades de S. Bento, fora da porta do
Castelo, testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses
mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandada que, sob cargo dele, dissesse ver-
dade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim;

303
e disse ser de idade de cinquenta para sessenta anos. Perguntada se sabe ou
presume para que é chamada, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que,
sendo perguntada na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o
contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntada se man-
dou, por ela declarante, certo estudante, e de que tempo a esta parte, um pre-
sente, e a quem, e de que era, com um escrito, disse que não sabia de tal presente,
fl. 289 nem / / o levara a pessoa alguma ; e que só vira, haverá um ano, pouco mais ou
menos, na dita cidade, o dito seu amo Francisco de Macedo mandar comprar
umas poucas de galinhas, e com outras que lhe mandou um frade de Santa Cruz,
seu irmão, e com uma caixa de marmelada que tinha, mandá-las por um moço
seu, a que chamavam Pereira, não lhe sabe mais nome, que é natural da dita
vila de Amarante, e andava nas Escolas Menores, e não deu fé se ia com o dito
presente mais alguma coisa, nem sabe a quem o mandou. E que o dito Pereira
anda com o dito Francisco de Macedo. E que não sabia nenhuma outra coisa
tocante à dita pergunta. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na
verdade, declarando que, depois, perguntando ao dito moço onde levara o dito
presente, e como se detivera tanto, lhe disse que o levara ao Secretário, Rui de
Albuquerque. E do costume disse nada. E por não saber assinar, a seu rogo,
assinei por ela com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Agostinho de Aguiar, a rogo.

Aos onze dias do mês de Outubro de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco //
fl. 289v. de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a Fran-
cisco da Cruz, solteiro, filho de João Lopes, natural da cidade de Lisboa, estu-
dante legista, morador à Pedreira, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que,
sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse declarado,
prometeu de o fazer assim ; e disse ser de idade de dezanove para vinte anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, disse
que não sabia deles coisa alguma. Perguntado se sabe que algum estudante
desta Universidade fosse fanchono, disse que não ; pelo que foi perguntado pelo
f1. 290 refe/ /rimento que nele fez António de Faria, na forma seguinte: perguntado de
que tempo a esta parte disse a certo estudante, de outro que lhe nomeou, que
era fanchono, disse que não lhe lembra que tal dissesse a pessoa alguma. Per-
guntado se disse a algum estudante que Luís de Melo, estudante legista, de

304
Lisboa, era fanchono, e que fundamento tivera para isso, disse que a algumas
pessoas perguntara se o dito Luís de Melo era fanch_ono, quais agora l~e não
lembram, e lhe responderam que não, nem dele sabiam c01sa alguma, mais que
dizer-lhe Francisco de Leão, opositor legista, que lhe parecia o dito Luís de Melo
fanchono; e que esse fora o fundamento que tivera para o pergunta~. E que
não sabia mais da dita pergunta. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar
escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Francisco da Cruz.

Aos doze dias do mês de Outubro de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco de
fl. 290v. Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela,// estando
aí, por ele foi mandado vir perante si a Mendo Lopes da Fonseca, solteiro, filho
de Rui Gonçalves de Almeida e de Filipa da Fonseca, naturais desta cidade de
Coimbra, estudante canonista, morador junto à porta principal de Nossa Senhora
do Salvador, testemunha referida, a quem o Reformador, digo, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de trinta e dois anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por
outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que
de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, haverá cinco anos,
pouco mais ou menos, vivendo ele declarante e sua mãe Filipa da Fonseca em
umas casas que ora são dos Padres Loios, em que viveu antigamente o Dr. Luís
fl. 291 Correia, e, para os não poderem lançar fora, depositou a terça,// que eram dois
mil e trezentos e tantos réis, e, por lhos negar depois, o demandou no juízo desta
Conservatória, e em favor dele declarante se deu sentença, que lhe tomasse o
dito dinheiro, de que foi escrivão Simão Leal. Disse mais que, haverá cinco
anos, pouco mais ou menos, que, por ocasião da dita sua mãe Filipa da Fon-
seca ter alugadas umas casas suas nesta cidade, que estão no Bairro do Salva-
dor, na Rua do Forno, a António Ravasco, estudante, lhe parece que canonista,
nesta Universidade, não sabe de que terra era, que dela se ausentou pela visita
do Bispo de Lamego, e dele declarante como procurador bastante da dita sua
mãe o executar, por ordem do Conservador Bernardo da Fonseca, com o escri-
vão das taxas Sebastião Lopes, depositou, em sua presença, o dito António
Ravasco um jarro de prata em mão do dito Sebastião Lopes, estando outrossim
presente, que disso poderá testemunhar, Francisco de Morais Caldeira, criado

305
do Arcebispo que hoje é de Braga, por quantia de quatro mil e quinhentos réis,
que bastantemente e muito mais a1nda importava o dito jarro, a qual quantia
devia o dito António Ravasco à dita sua mãe do aluguer das ditas casas; e
porque o dito António Ravasco veio com embargos e requereu que se taxassem
fl. 29/v. as ditas casas, como de feito se taxar~,// e, por respeito da dita visita, se
ausentar e se deixar de sentenciar a dita causa, pediu ele declarante ao dito
Conservador que lhe mandasse exibir o dito jarro, e que se depositasse na mão
de um fiel; e, até hoje, o dito Sebastião Lopes o não exibiu, antes o nega, e aos
autos da dita execução; o que ele declarante sabe como procurador que foi e é
da dita sua mãe na dita causa. E que João Fernandes da Rosa, sirgueiro,
casado com Maria Pomba, que vive na Calçada, lhe disse que o dito Sebastião
Lopes se fizera depositário de um pouco de dinheiro de umas casas suas, e que
depois lho negara. E que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume
nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Mendo Lopes da Fonseca.

André da Fonseca, casado com Ana Rodrigues, morador nesta cidade de


Coimbra, solicitador das freiras de Santa Ana, morador no bairro de S. Pedro,
fl. 292 testemunha referida, a quem // o Reformador D. Francisco de Meneses man-
dou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evange-
lhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse
ser de idade de quarenta anos. Perguntado se sabe ou presume para que é
chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado
na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de
que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado se sabe que alguns oficiais
desta Universidade hajam cometido algum erro contra seu ofício, disse que não.
Perguntado se se achou em casa de algum, a lançar sobre alguma renda dela, e
que é o que aí passou, e de que tempo a esta parte, disse que, este mês de Janeiro
próximo passado, nesta cidade, se achou ele declarante em casa e companhia de
Miguel da Fonseca, escrivão da Fazenda da dita Universidade, e de João de
Milão, solicitador dela, e, por ocasião de terem assentado ambos os dois, ele
declarante e o dito João de Milão, de lançarem nos terrádegos do prazo da
Carapinheira, que é da dita Universidade, e de irem ambos à perda e ao ganho,
e ele declarante lançar neles oitenta mil réis, lhes disse o dito Miguel da Fon-
fl. 292v. seca, o qual tinha ordem da Mesa para receber os ditos lanços, que,// se hou-
vessem de levar os ditos terrádegos, era bem que lhe pagassem, além do princi-
pal seu trabalho, porque já quem neles tinha lançado lhe dava cinco cruzados,
ao que ele declarante respondeu que, se tomassem os terrádegos, lhe pagariam

306
muito bem. E, porque neles lançou mais António Fernandes Sinde, de Monte-
mor, não teve efeito a dita promessa. E que bem poderia aí passar outras coisas,
mas que lhe não lembra mais que o que tem declarado, de que poderá dizer o
dito João de Milão. E mais não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse
estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. André da Fonseca.

Aos catorze dias do mês de Outubro de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela,
estando aí, por ele foi mandado vir perante si a Francisco Morato, bacharel
fl. 293 formado na Faculdade de Medicina, casado com Isabel Gomes, na // tural de
Ca5telo de Vide e residente na vila de Alpalhão, testemunha referida; e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão,
e, mandado que, sob cargo dele, dissesse a verdade e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado, prometeu de o fazer' assim; e disse ser de idade de trinta anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por
outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado se sabe que alguns estudantes se formassem e aprovassem em
Medicina, no seu quinto ano, o meio por que houveram o mais tempo que lhes
faltava para isso, disse que António Pinto, de Arraiolos e aí casado, e Pero
Lopes, casado na cidade de Évora, não sabe o nome às mulheres, se formaram
e aprovaram nesta Universidade no fim do seu quinto ano, de dois anos a esta
parte; e cada um deles lhe disse que o mais tempo lho suprira SuaMajestade.
E não sabe nem ouviu que, por outra via, houvessem o dito tempo. Perguntado
pelo referimento que nele fez o Dr. Manuel de Abreu, primeiro em geral, disse
fl. 293v. que, haverá dois ou três anos, pouco mais ou menos, // nesta cidade, lhe pediu
Francisco Mendes, de Portalegre, ao presente casado não sabe com quem, estu-
dante médico, que lhe provasse aquele ano atrás passado e quinze dias daquele
presente. E, porque ele declarante sabia que o sobredito não havia cursado
aquele ano, lhe disse que lho não havia de provar, e lhe provou os ditos quinze
dias. E, porque imediatamente fez seus autos e se aprovou, ficaram entendendo
que, digo, ele declarante e algumas pessoas mais que a prova dos ditos quinze
dias se convertera em prova do dito curso atrasado, e disso deu ele declarante
conta a seus mestres, pela culpa que se lhe imputava sem a ter; e não se afirma
em quem era o lente que assistia à dita prova, e se afirma que o secretário era
Rui de Albuquerque. E sabe que, no dito ano que ele declarante lhe não quis
provar, não cursou todo o ano no dito Geral, antes estava na vila de Veiros,
curando com partido da Câmara, como o dito Francisco Mendes disse e con-

307
fessou a ele declarante. E que isto é o que só sabia do dito referimento. Disse
mais que o bedel de Medicina Gaspar de Seixas, para os autos da dita Facul-
dade, dizem que pede mais dinheiro do que neles se monta, e o que sobeja lhe
fl. 294 fica // em seu poder, sem dar conta, e disto há queixa pública, como a não deu
a ele declarante de todos os autos que fez até se formar. E mais não disse.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume
nada. E assinou com o dito Reformador. E eu Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Francisco Morato.

Gaspar Fernandes, o Rei de alcunha, rendeiro do pescado nesta cidade, tes-


temunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de setenta anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e
se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita
desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo
a esta parte, disse que não. Perguntado quanto tempo foi ajudante de algum
piscadeiro desta Universidade, disse que Miguel da Fonseca, escrivão da Fazenda
desta Universidade, há anos, não lhe lembra quantos, que no contrato que
fl. 294v. Mateus Fernandes // fn com a dita Universidade de ser seu piscadeiro, meteu a
ele declarante, segundo sua lembrança, por ajudante do dito Mateus Fernandes,
e, por lhe dizerem depois que não podia ser, não teve efeito. Perguntado se
entre eles houve alguma promessa e se efeituou por algum modo e reconheci-
mento de o haverem metido no dito contrato, disse que nem ali, nem por si,
nem por interposta pessoa, lhe deu coisa alguma, que lhe lembre. E mais não
disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do cos-
tume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o
escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Gaspar Fernandes.

Aos quinze dias do mês de Outubro de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Frán-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela,
estando aí, por ele foi mandado vir perante si a Paulo da Silva, casado com
Jerónima de Brito Serroa, natural da Terra da Feira, estudante médico, e, sendo
fl. 295 presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que// digo, foi
mandado vir perante si a Nicolau Carvalho, casado com Maria de Flores, impres-
sor e livreiro desta Universidade, morador a Almedina, testemunha referida, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que
lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim ; e disse ser de idade de qua-

308
renta anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém
lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reforma-
ção, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte,
disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados,
porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em
especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era ouvir a
alguns estudantes, cujos nomes ao presente lhe não lembram, queixar-se de
Sebastião Lopes, escrivão das armas, taxas e almotaçaria, que, no ofício da
aposentadoria, tomava em si os depósitos e os negava às partes, até que lhe
deixavam parte deles; e que, nas execuções, fazia o mesmo, como fez a ele decla-
rante, haverá um ano, pouco mais ou menos, que, havendo ele declarante nesta
cidade, no Juizo da Conservatória, sentença contra António Pereira de Vascon-
fl. 295v. celos, / / estudante legista, do Alentejo, já falecido, de cinco mil e seiscentos réis
de principal e custas do aluguer de umas casas dele declarante, em que o sobre-
dito viveu, e, por virtude da dita sentença, sem se tirar do processo, o dito Sebas-
tião Lopes executou ao dito António Pereira até pagar com efeito a dita quan-
tia, e, pedindo-lha ele declarante, lha não deu, antes, além de ficar com o dito
dinheiro que recebeu, executou a ele declarante por três mil e tantos réis que se
montaram nas ditas custas, por mandado do Vice-Conservador Manuel Veloso;
e, com efeito, os pagou ele declarante ao dito Sebastião Lopes. E, de como
recebeu do dito António Pereira o dito dinheiro, tem ele declarante um escrito
de mil réis; e, de como o dito Sebastião Lopes confessou receber o dito princi-
pal e custas, tem algumas testemunhas, como são o licenciado André de Burgos,
advogado nesta cidade, e Mateus Tavares, livreiro, que vive na Rua de Alme-
dina. E, fazendo ele declarante exibir os autos do dito Sebastião Lopes, por
mandado do Vice-Conservador Martim de Carvalho, e, constando-lhe da dita
desordem, pediu a ele declarante o dito Martim de Carvalho, depois de servir
o dito cargo, que quissesse esperar ao dito Sebastião Lopes pelo dinheiro, que
fl. 296 ele fiava que o dito Sebastião Lopes/ / pagasse; e, sem embargo de lho prome-
ter assim, e de lhe dizer que merecia o dito Sebastião Lopes ser castigado por
fazer execução sem sentença tirada do processo, e se levantar com o dito dinheiro,
até hoje lhe não deram nem um nem outro o dito dinheiro, nem parte dele.
Disse mais que, haverá um ano, pouco mais ou menos, nesta cidade, em casa
dele declarante, se achou em companhia de Mateus Tavares, livreiro, e de
Manuel Couceiro, componedor, e de Francisco Vaz, corrector desta Universi-
dade, e, estando todos, pedindo-lhe ele declarante, como impressor que é dela,
que lhe revisse um livro de Caldas, que imprimiu, o sobredito lhe respondeu que
o não havia de rever, sem lhe dar um vintém por cada folha, que eram seis tos-
tões cada mês, quer imprimisse quer não; e nisso se concertaram, e, de feito,
lhos pagou por tempo de sete meses. E o mesmo lhe disse Diogo Gomes, .
outrossim impressor, que o sobredito Francisco Vaz lhe fizera sobre um missal

309
que impnmm. E, porque doutro modo não quer exercitar seu oficio, o declara,
para que se lhe mande que o faça, sem levar por isso dinheiro. E que isto era o
que só sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse
que estava escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Refor-
mador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Refor-
mador e Reitor. Nicolau Carvalho. //

f1. 296 v. Zacarias da Costa, solteiro, filho de Diogo Fernandes Gago, corregedor
que foi da vila de Tomar, natural da cidade de Évora, estudante canonista,
morador junto ao cais, testemunha referida, a quem o Reformador D. Fran-
cisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo
dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu
de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e quatro anos. Perguntado se
sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por outrem, lhe
pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Pergun-
tado se sabe que, nesta cidade, se fizessem alguns furtos, e que, sendo de devassa
se tirasse deles, e de que tempo a esta parte, disse que, haverá um ano, pouco
mais ou menos, nesta cidade, vivendo ele declarante na Pedreira, junto ao Dr.
João de Carvalho, lhe furtaram, de dentro de uma canastra, alguns livros e
roupa de linho e um cinto e adaga prateada, que lhe parece que tudo poderia
fl. 297 valer mais de dez // cruzados, e, posto que não sabia quem lhe fez o dito furto,
dele denunciou logo ao Vice-Conservador Martim de Carvalho ; e, tirando
devassa com o escrivão António de Gouveia, a quem foi distribuída, posto que
o auto da dita denunciação fez Simão Leal, e, constando, por testemunhas, trazer
o dito cinto e adaga um tendeiro, casado, que vive na Rua das Fangas, por nome
João Correia, como disseram a ele declarante, e quem ainda hoje a tornou a
ver, o dito Vice-Conservador, até ao presente, nem tem pronunciada a devassa,
nem prendeu o tendeiro, nem os mais que dela constasse, por mais requerimen-
tos que lhe tem feitos; antes, lhe deu por resposta que, para a pronunciar, era
necessário ter viradas trinta testemunhas e a devassa acabada, e assim que fosse
ele declarante buscar as que mais faltavam, ou provasse como não tinha empe-
nhado o dito cinto e adaga ao dito tendeiro; pelo que, entendendo ele decla-
rante que, por algum respeito, o dito Vice-Conservador o não queria prender,
deixou a causa e não falou até agora mais nela. E, perguntando por ela ao dito
António de Gouveia, lhe respondeu que o dito Vice-Conservador lhe pedira a
dita devassa e a tinha em seu poder. E que isto era o que só sabia tocante à dita
pergunta. Perguntado se sabe que algum lente e oficial desta Universidade,
sobre seu ofício, em matéria pertencente a ele, aconselhasse a alguma das partes
.fl. 297v. o que devia fazer,// disse que o que delas sabia era que, este ano passado, tra-

310
zendo Inácio de Brito, estudante legista desta Universidade, demanda com outro
da mesma Faculdade, por nome Francisco Dias Mendes, neto de Heitor Men-
des, demanda sobre umas casas perante o dito Vice-Conservador Martim de
Carvalho, que lhe havia mandado tomar bem o dito Francisco Dias Mendes, e,
nesta mesma conjunção, por ocasião dele declarante vir a fazer seu requeri-
mento sobre o dito furto ao dito Martim de Carvalho a sua casa, entrando na
sala dela, onde agora vive, ouviu dizer ao dito Martim de Carvalho ao dito
Francisco Dias Mendes, que se fosse para sua casa, e que não temesse coisa
nenhuma, que ele o sustentaria nelas. E, posto que aí estava gente de fora, não
lhe lembra quem era. E porque ele declarante sabia, como primo do dito Inácio
de Brito, que a esse tempo corria entre eles a dita demanda perante o dito
Vice-Conservador Martim de Carvalho, e lhe parecer aquilo mal, o contou, daí
a alguns dias, ao dito Inácio de Brito. E que não sabia outra coisa tocante à
dita pergunta, e mais não disse, nem lhe foram feitas mais perguntas. E, sendo-
jl. 298 -lhe lido este testemunho, disse que estava escrito na// verdade, e do costume
nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Zacarias da Costa.

Aos dezasseis dias do mês de Outubro de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado
vir perante si a Gregório da Silveira de Miranda, solteiro, filho de Diogo Lopes
da Silveira e de D. Maria da Silva, de Lisboa, estudante canonista, morador no
bairro de S. Pedro, testemunha referida, a quem o Reformador, digo, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão,
e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e um
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si
ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, é, depois disso, em especial,
fl. 298v. disse que não sabia deles coisa alguma. Perguntado// pelo referimento que nele
fez Francisco Correia, primeiro em geral e, depois, em especial, calados os nomes,
disse que não estava lembrado que, em sua casa, visse tal pistolete, nem em outro
algum lugar; e se o vira o tivera dito nos ditos interrogatórios. E mais não disse.
E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse
que sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agosti-
nho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Gre-
gório da Silveira de Miranda.

311
Luís Salema, solteiro, filho de Cristóvão Salema, já defunto, de Lisboa,
estudante legista, morador na Rua de S. Cristóvão, testemunha referida, a quem
o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo pre-
sente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e dois anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém, por si ou por
fl. 299 outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse// a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelo referimento que nele fez João Moutinho de Mesquita, pri-
meiro, em geral, e, depois, em particular, e sendo por ele ouvido e entendido,
calados os nomes, disse que lhe não lembrava que dissesse a estudante ou pes-
soa alguma que algum outro desta Universidade, fazendo seu auto de bacharel,
mandasse a oficial algum dela meias de seda ou valia delas, por lhe ter corrida
areia alguma do relógio, nem tal sabe, nem ouviu assim, o ano passado como
nos mais. E que isto era o que sabia do dito referimento que nele foi feito.
E mais não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava
escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Luís Salema.

Aos dezassete dias do mês de Outubro de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela,
estando aí, por ele foi mandado vir perante si a Manuel Gonçalves, casado com
Maria Gaspar, alfaiate, morador à Pedreira, defronte das casas de Simão de
Almeida, testemunha referida, a quem o Reformador, digo, e, sendo presente,
fl. 299v. lhe foi dado// juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse a verdade e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de cinquenta e
três anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém,
por si ou por outrem, lhe pediu que, sendo perguntado na visita desta reforma-
ção, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte,
disse que não. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se
alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a
esta parte, disse que não. Perguntado se sabe como hajam procedido os lentes,
oficiais e mais pessoas desta Universidade, e se de algum deles sabe coisa que
haja de denunciar na visita desta reformação, disse que o que sabia era que,
nesta cidade, este Fevereiro ou Março que fará dois anos, depois de ter a vara
de Vice-Conservador Martim de Carvalho Vilas-Boas, o mandou chamar para

312
lhe cortar e fazer a sua mulher D. Brites um saio, vasquinha e gibão de melcho-
chado, e um mantéu de escarlatim vermelho, a dois debruns do mesmo pano, e
a vasquinha a sete, e o saio a dois debruns da mesma seda; e, de feito, lho
cortou e acabou, e, até ao presente, lhe não quis, nem tem pago o feitio do dito
Jl. 300 vestido, que ele declarante estima em dois mil réis. // E, a um obreiro que lho
ajudou a coser, lhe mandaram, por justiça, pagar dois cruzados, que, por rogos,
aceitou a ele declarante, em que se concertaram antes da sentença. E, indo-lhe
ele declarante pedir o dito feitio por muitas vezes, em lugar de lhe pagar o
desonrou, dizendo-lhe que o mandaria à cadeia, e, por outra vez, que lhe daria
com um pau na cabeça, que era um ladrão, que lhe deitara o seu vestido a
perder, sendo assim que lhe havia dito a dita sua mulher, quando lho foi a
provar, que estava muito bom. E que isto era o que só sabia da dita pergunta.
E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade,
disse que sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Manuel Gonçalves.

Afonso Soares, solteiro, filho de António Rodrigues e de Inês Vaz, natu-


rais da vila de Moura, estudante legista, morador na Rua das Parreiras, teste-
munha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
fl. 300v. segredo no// que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser
de idade de dezanove anos. Perguntado se sabe ou presume para que é cha-
mado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na
visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que
tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelo referimento que nele fez
Belchior da Guerra, em geral, e, depois, em especial, calados os nomes, disse que
bem podia achar-se em tal companhia, porém que não lhe lembrava ouvir falar
em tal troca de sortes de conclusões, nem o sabia por via alguma. E que denun-
ciava nesta visita de como, este mês de Outubro próximo passado fez um ano,
vindo ele declarante a esta Universidade para se meter nas suas casas, que estão
junto ao Colégio da Trindade, que são de João de Mendonça, natural de San-
tarém, em que havia morado o ano atrás passado, e tendo paga a terça daquele
ano que se começava de Outubro por diante, as achou tomadas do mês de Setem-
bro próximo passado por Martim de Carvalho, Vice-Conservador, para as dar,
/l. 301 como deu, a um estudante, por nome Cristóvão Soares,// como, de feito, deu;
e, movendo ele declarante demanda ao dito Cristóvão Soares perante o dito
Martim de Carvalho sobre as ditas casas, até ao presente, com embargos e
dilações que lhe admitiu o dito Vice-Conservador, não pôde haver justiça. E, por
lhe parecer que o dito Martim de Carvalho, em lhe mandar tomar suas casas,

313
sem guardar a forma do estatuto, tinha procedido nula e desordenadamente, o
fazia a saber nesta visita, deferindo aos interrogatórios dela, em que tratam os
oficiais desta Universidade. E mais não disse, nem lhe foram feitas mais per-
guntas. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o
escrevi. D. Francisco de Meneses, Reforrrzador e Reitor. Afo~o Soares da Fonseca.

Aos dezanove dias do mês de Outubro de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela,
estando aí, por ele foi mandado vir perante si a João Fernandes, casado com
fl. 30 / v. Maria Pomba, natural desta cidade de Coimbra, // sirgueiro, morador na Cal-
çada, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse
verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de vinte e oito anos. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo
perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelo referimento
que nele fez, digo, perguntado se está lembrado de quem, nesta cidade, ao Arco
de Almedina, este entrudo que fará dois anos, ou o que na verdade se achar,
feriu a um filho de Paulo Luís, taberneiro, com um pistolete, em uma perna, de
que esteve em cama muito doente, disse que, este entrudo que fará quatro anos
que, no dito lugar, atiraram com um pistolete a um filho do dito Paulo Luís, por
nome Cristóvão, e lhe deram em uma perna, de que lhe viu tirar um pelouro; e
não sabe quem lhe atirou, nem com quê; porém, ouviu o tiro, que parecia ser
de pistolete. Nem está já lembrado de quem então ouviu que atirara, e ·1he
fl. 302 parece era estudante. Perguntado/ / pelo referimento que nele fez Mendo Lopes
da Fonseca, e, sendo por ele ouvido e entendido, primeiro, em geral, e, depois,
em particular, calados os nomes, disse que não sabia dele mais que dizer-lhe
Manuel Fernandes, barbeiro, já defunto, genro de um pedreiro, já defunto, que
vivia detrás de S. Pedro, cujo nome lhe não lembra, haverá cinco anos, que
Sebastião Lopes, escrivão das armas e taxas, se fizera depositário de um pouco
de dinheiro de umas casas suas, ou de seu sogro, e depois lho negara. E não
sabia mais coisa alguma do dito referimento. E, sendo-lhe lido este testemunho
e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. João Fernandes.

Manuel de Andrade, solteiro, filho de Manuel Carvalho e de Bárbara de


Andrade, naturais de Santa Comba Dão, estudante institutário este presente

314
ano, e o passado do terceiro curso das Artes, morador na Rua das Covas, tes-
temunha referida, a quem o Reformador mandou vir perante si, e, sendo pre-
sente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
Jl. 302v. perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse/ / ser de idade de dezoito para
dezanove anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se
alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta
reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a
esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos refor-
mados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois
disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o _que deles sabia
era que, haverá dois ou três anos, pouco mais ou menos, nesta cidade, andando
no primeiro curso das Artes e estando no Colégio e pátio delas, se achou em
companhia de Manuel de Almeida, natural da cidade de Viseu, estudante cano-
nista, que vive ao presente defronte da portaria do carro dos Padres da Com-
panhia, nas casas que foram de Aires de Sá, de barba preta. E, estando ambos
sós, o sobredito lhe pediu que quisesse ir a sua casa, e dormir, e cometer com
ele o pecado de molícias, e, posto que lhe não referiu, daí a dois ou três dias, foi
buscar a ele declarante o sobredito, com outro estudante, por nome João de
Almeida, a sua casa, que então era na Rua Corpo de Deus, e deixaram de
fl. 303 entrar nela por ele declarante lhe pôr diante uma espingarda// e lhe acudir um
seu vizinho com uma espada e rodela. Disse mais que, haverá dois anos, nesta
cidade, na Rua de S. Jerónimo, em casa de Bernardo de Lemos, estudante cano-
nista, filho de Isabel de Lemos, viúva, que vive em Santa Comba Dão, se achou
ele declarante em companhia do sobredito; e, estando ambos sós, pediu a ele
declarante que cometesse o pecado de molícias, porque assim o fazia com Gre-
gório Cordeiro, estudante institutário, este presente ano, filho de Francisco
Gomes, morador na dita vila de Santa Comba Dão; e, por ele declarante não
querer, ali não passaram mais, nem disseram uns e outros com quem cometiam
o dito pecado. E que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios. Pergun-
tado se foi cometido para o dito pecado de molícias por alguma outra pessoa, e
particularmente por algum estudante natural desta cidade, e que fama há e cré-
dito dos ditos Manuel de Almeida e Bernardo de Lemos e Gregório Cordeiro,
disse que não sabia que estivessem infamados do dito pecado e que nenhuma
outra pessoa, nem ainda desta cidade, o cometera para o dito pecado. E, sendo-
-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que
sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho
de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Manuel
de Andrade.

315
Jl. 303v. O Dr. Fabrício de Aragão, lente de Clementinas// nesta Universidade, tes-
temunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe mandou vir perante, digo, lhe deu juramento
nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim ; e disse ser de idade de quarenta e sete anos. Perguntado se sabe ou
presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que,
sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o
contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir,em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles
sabia, disse que, no que toca à Capela da Universidade, por culpa dos Reitores
passados, dos quais se não lembra em particular os que eram, estavam por
prover muitas capelanias da Universidade e se proveram algumas em pessoas
que não cursam, nem professam alguma das ciências ... , e que, ainda que o
fl. 304 estatuto o não especifique, ele declarante tem por inconveniente // não se prove-
rem as capelanias em pessoas que actualmente estudem, como de presente não
estudam, Bento Pereira, chantre da Capela, Inácio Pires, que ele declarante não
viu nunca nos Gerais à sua lição. Disse mais que os ornamentos da Capela e
prata dela se emprestam e dão para algumas festas da cidade, por ordem do
tesoureiro António Soares, e em algumas que ele arma por sua conta; porque,
em algumas igrejas que o dito António Soares armou, o viu assim, e reconheceu
serem as ditas peças da Universidade ; e disto há queixa nela, como também há
de ele não dar bom vinho para as missas. Disse mais que sabe ele declarante,
por o ver, dos livros da Confraria, que se não cumpriram os estatutos acerca
dela, nem no tomar das contas, nem no arrecadar do dinheiro dos mordomas,
nos tempos em que o estatuto dispõe; antes, devendo ele declarante, por man-
dado do Reitor Vasco de Sousa, examinar os livros da Confraria, de sete e oito
anos atrás, achou, em muitos deles, não estarem tomadas as contas pelo conta-
dor, e, em outros, estarem só tomadas pelo escrivão das contas, sem o contador
nem mordomas as assinarem, no que se reporta aos mesmos livros ; e. em
fl. 304v. outros / / estar por arrecadar o dinheiro que ficaram devendo os mordamos, de
que estão arrecadados, por indústria dele declarante, cento e tantos mil réis.
Disse mai~ que, no que toca ao Secretário da Universidade, em muitas coisas
não guardou inteiramente a obrigação de seu ofício, assim em não acudir aos
autos, a que é obrigado assistir, como se verá dos livros dos autos da Universi-
dade, nos quais estão muitos assentos de autos de bacharelamentos e outros
semelhantes feitos pelos bedéis das Faculdades, sem terem juramento para servi-
rem de Secretário, o que é prejuízo da Universidade, porque como, da arca
dela, se paga de cada auto um tanto, o qual dinheiro recebe e que o bedel dos
estudantes que o fazem, fazendo o bedel o termo do auto, e não o Secretário,

316
fica na mão do dito bedel poder tomar o dinheiro do dito auto, sem depois se
lho poder pedir para a Universidade, no que é pública queixa de o Secretário
não acudir aos autos, como é obrigado; e, às vezes, nem mandar o livro para se
fazer o termo deles, porque muitas vezes acontece acabar-se o auto e haver-se
.fl. 305 de dar// o grau ao estudante, e nem o Secretário nem o livro aparecer; e
dar-se-lhe então o grau, e, ao outro dia, fazer-se o termo e assiná-lo o lente que
padrinha, como muitas vezes ele declarante viu. Como também disse ele decla-
rante que, padrinhando nos autos de ponto da Universidade, quase nunca via
vir, ao dar do ponto, o dito Secretário, como é obrigado assistir; antes, o que se
vê comummente é darem-se os pontos somente com o bedel da Faculdade, que
toma as folhas dele sem o dito Secretário assistir; antes, quando, algumas horas
depois faz os termos deles, manda perguntar ao bedel ou ao padrinho em que
texto leu o estudante, para o escrever no termo, o que ele declarante sabe por o
ver muitas vezes. E assim mais que se diz nesta Universidade que o dito Secretá-
rio dá alguns cursos ou meses por peitas ou dádivas de estudantes, com que
fazem seus autos antes de terem o tempo cumprido; e disto houve queixa no
tempo que foi Vice-Reitor o padre Frei Egídio, depois da morte de Vasco de
Sousa, que Deus haja. E que se viram fazer autos de bacharéis e formaturas a
.f1. 305v. estudantes de que se dizia que não tinham tempo para eles, como foi // um
Manuel Soares, mestre em Artes, natural de Lisboa, e um Gonçalo Vaz Freire,
e outros muitos que se formaram, estando ele declarante doente; de que ele
declarante se espantava, quando lhe iam dizer que faziam os ditos autos, por
saber que, até então, não podiam ter, conforme aos cursos da Universidade,
tempo para fazerem tais autos. Disse mais que sabe ele declarante que não
cumprem com a obrigação de seu ofício os bedéis da Universidade, porque
nenhum dos três que, ao presente, há, Bartolomeu Fernandes, Gaspar de Sam-
paio, Gaspar de Seixas, metem, nos tempos devidos, o dinheiro dos autos na
arca da Universidade, antes lhe fica nas mãos, e há trabalho para o arrecadarem
deles e para chegarem a dar contas; e, muitas vezes, pedem quita à Universi-
dade, com licença de Sua Majestade. E o dito Gaspar de Sampaio não leva a
casa dos lentes os pontos, como é obrigado. Disse mais que o guarda da Uni-
versidade, António Dias, não tem cuidado das Gerais Escolas, porque deixa as
portas abertas, e furtam os bancos; e os recados para os Claustros e Conselhos
/1. 306 da Universidade, os não leva a casa das// pessoas que votam nos Claustros,
antes, as mais das vezes, lhes dá recado pelo seu moço, por outros homens do
serviço da Universidade; o que ele declarante sabe porque, sendo voto nos ditos
Claustros, o chamou pelas ditas pessoas algumas vezes para eles. E, por estar
mal disposto e doente, e se não atrever a ir por diante, ficou reservado conti-
nuar com seu testemunho para o tempo em que o pudesse fazer. E, sendo-lhe
lido este, e por ele ouvido e entendido, e perguntado se estava escrito na ver-
dade, e que, digo, disse que estava escrito na verdade, e que só tinha que emen-

317
dar nele que, onde dizia por saber que os ditos estudantes não tinham tempo
para fazer seus autos, declarava que queria entender que cuidava que eles o n~o
tinham, porque ele o não podia saber, senão só cuidar. E me mandou o dito
Reformador declarar que, posto que até aqui tinha testemunhado, por se cuidar
que, ao dia seguinte, pudesse continuar o dito testemunho, e por esse respeito
deixava de o assinar; e, não sendo possível até agora fazê-lo, por causa da sua
doença, declarasse, ao pé deste testemunho, como ele o assinara hoje, vinte de
jl. 306v. Março de seiscentos e vinte, posto que tinha testemunhado o que // nele se
contém no dito dia em que se começou. E assinou aqui com o dito Refor-
mador. E o que mais disse vai ao diante. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
E do costume disse o que vai no seu testemunho adiante. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Fabrício de Aragão. //

jl. 307 Aos vinte e oito dias do mês de Novembro de mil e seiscentos e dezanove
anos, nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de
D. Francisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor
dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a Paulo da Silva, casado
com Jerónima de Brito Serroa, estudante médico, natural da Terra da Feira, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que
lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim ; e disse ser de idade de vinte e
oito anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe
pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em espe-
cial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que,
haverá nove anos, pouco mais ou menos, andando ele declarante no primeiro
curso das Artes deste Colégio da Companhia, e por ocasião de seu pai Pero da
Silva lhe ter dito que fosse médico, e que buscasse quem fizesse com o Reitor
jl. 307v. D. João Coutinho que lhe desse // o partido dos médicos, e que ele dito Pero
da Silva lhe daria para uma boa mula, e de ele declarante ter já feita a sua
genealogia, se foi ter com Rui de Albuquerque, Secretário desta Universidade, e
lhe pediu que lhe quisesse haver o dito partido ; e que lhe saberia servir toda a
mercê que lhe fizesse. E porque o dito Secretário lhe pediu o dito partido de
Reis em dia deles, e, depois disso, lho deram, como viu, e lhe disse o dito
Secretário, e em remuneração e satisfação disso, o dito seu pai Pero da Silva
mandou por ele declarante ao dito Secretário trinta mil réis em dinheiro de
contado, para um macho, e, depois disso, uma dúzia de lacões. E ele declarante
lhe deu uma e outra coisa. Disse mais que, vivendo este ano próximo passado
na Rua Nova, paredes meias com Miguel da Fonseca, escrivão da Fazenda

31 8
desta Universidade, viu ele declarante, por muitas vezes, levarem-lhe muitos
presentes de coelhos, perdizes, patos, galinhas, a homens que com ele tinham
requerimento; e, comummente, se diz, nesta cidade, que ele os recebe das ditas
partes com pretexto de seu ofício. E que isto era o que sabia dos ditos interro-
gatórios . F. sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na
Jl. 3nR verdade. disse que sim. e do costume nada.// E assinou com o dito Reforma-
dor. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reforma-
dor e Reitor. Paulo da Silva.

António Lopes de Almeida, solteiro, filho de Sebastião Álvares Negrão,


natural de Santarém, bacharel legista, morador na Rua dos Sapateiros, teste-
munha atrás perguntada, e de novo referida, a quem o Reformador D. Fran-
cisco de Meneses mandou vir perante si, e sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo
dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu
de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e cinco anos. Perguntado se sabe
ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem,
que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse
o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelo
referimento que nele fez Francisco Cardoso, em geral, calados os nomes, se sabia
que alguns estudantes trouxessem ou tivessem pistoletes, disse que, haverá dois
anos, pouco mais ou menos, se achou ele declarante em casa de Inácio de Brito,
filho de Inácio Colaço de Brito, estudante legista; e, estando ambos sós, lhe viu
fl. 308v. um // pistolete, cujo cano seria de mais de palmo e fechos de pederneira.
E, depois disso, lho viu algumas vezes; e, de dez meses a esta parte, lho não
tomou a ver, nem sabe se, ao presente, o tem. Disse mais que, haverá dois ou
três anos, pouco mais ou menos, nesta cidade, à porta de Nossa Senhora do
Salvador, em uma briga que aí teve António de Mesquita, filho de Jorge Pinto
de Mesquita, com Sebastião Álvares da Silva, opositor legista, de Azeitão, viu
ele declarante a João Pereira Botado, outrossim opositor legista, de Aldeia
Galega, um pistolete grande, com fechos de pederneira; e, de então para cá, lho
não viu mais, nem sabe se o tem, nem doutras algumas pessoas. E mais não
disse. E. sendo-lhe lido este testemunho. disse estar escrito na verdade. e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar o
escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. António Lopes de Almeida.

João Marques, casado com Maria Simões, tecelão, morador nesta cidade,
junto ao Colégio da Trindade, testemunha referida, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
fl. 309 juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs // sua mão, e, mandado que,
sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,

319
prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de cinquenta anos. Perguntado se
sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por
outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado
pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é
obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um
deles sabia, disse que o que deles sabia era que, este Natal próximo passado,
pouco mais ou menos, acabando ele declarante uma teia de pano de linho, que lhe
mandou tecer D. Brites, mulher de Martim de Carvalho, Vice-Conservador que
ao tal tempo era, e levando-lha e pedindo ao dito Martim de Carvalho mil e
tantos réis que·se montavam no feitio dela, lhe deu um cruzado, dizendo que nem
aquele lhe houvera de dar; e, depois, nem a seus filhos nem à dita sua mulher quis
dar a demasia, antes disse que, se ela tivera vergonha, que lho não pedira. E a
dita sua mulher D. Brites lhe acabou um dia destes de pagar em cevada, da que
tinha para o cavalo, escondida do dito Martim de Carvalho. E, por ter
fl.309v. satisfeito// ao referimento que nele fez Domingos Gonçalves, se lhe não
perguntou por ele. E que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios. E, sen-
do-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que
sim, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de
Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. João Marques.

Aos vinte e nove dias do mês de Novembro de mil e seiscentos e dezanove


anos, nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do
Dr. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi
mandado vir perante si a José João, casado com Maria Francisca, natural desta
cidade, tendeiro, morador fora da porta do Castelo, testemunha referida, a
quem, digo, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos,
em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de trinta e dois anos. Perguntado se sabe ou pre1,11me rara que é cha-
Jl. 310 mado, e se alguém, por si ou por outrem,// lhe pediu que, sendo perguntado na
visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contránu dela, e de 'que
tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatu-
tos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e,
depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles
sabia era que, haverá dois meses, pouco mais ou menos, nesta cidade, fora da
porta do Castelo, à porta de Paulo de Carvalho, se achou ele declarante, pela
manhã, em companhia de Cristóvão Teixeira, estudante canonista, filho de
André de Matos, conservador que foi desta Universidade, e de outro estudante,
a quem não sabe o nome nem onde pousa, nem cai nas confrontações dele; e,
estando ambos sós, por ocasião das brigas que tivera com Luís Cordovil, e do

320
dito estudante lhe perguntar que remédio teria, ele dito Cristóvão Teixeira,
entrando por uma porta, para deixarem de lhe dar uma estocada, o sobredito
lhe respondeu que, com uma espingarda e pistolete que trazia, se defenderia
bastantemente, porque logo entrava com ele com o cão armado e de feição que
primeiro poderia atirar com ele do que lhe dessem. E que lhos não viu, e ali
não passaram mais. E que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios.
Perguntado se sabe que alguma pessoa mais tenha ou tivesse algum pistolete, e
_fl. J!Ov. de que tempo a esta parte, disse que, haverá // vinte dias, pouco mais ou menos,
estando à porta de sua casa, viu dela ter na mão a Paulo de Carvalho ou a seu
irmão Sebastião de Carvalho, filhos de Sebastião de Carvalho, conservador da
Corte do Cível, estudantes desta Universidade, não se afirma a qual deles, nem
se era deles se doutrem, um pistolete de dois canos e de mais de palmo de
comprido de cano. Disse mais que, na dita sua rua, haverá dois anos, pouco
mais ou menos, do meio-dia para a uma hora depois do meio-dia, furtaram ao
Dr. Manuel da Veiga, que então aí vivia, umas peças de prata e um pouco de
dinheiro, despregando-lhe as portas e arca donde as tinha; mas ele declarante
não sabe quem lhe fez o dito furto, nem presume quem lho pudesse fazer, mais
que ouvir queixar ao dito Doutor do dito Paulo de Carvalho e de Marçal
Casado, estudante canonista, de Viana, e dos criados que tinham. Nem sabe
quem disto possa saber, senão Isabel Carvalha, solteira, ama do dito Paulo de
Carvalho, que ainda hoje é. E mais não disse, nem lhe foram feitas mais per-
guntas. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na
verdade, disse que sim, e do costume nada. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. José João. //

/7. J// João de Figueiredo de Sousa, solteiro, filho de D. Isabel, viúva de António de
Figueiredo, morador nesta cidade de Coimbra, na Rua das Padeiras, estudante
que foi da quinta classe, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses man-
dou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evange-
lhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse
ser de idade de vinte anos. Perguntado se sabe ou presume para que é cha-
mado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na
visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que
tempo a esta parte, disse que não. Perguntado se sabe que algum Doutor, lente,
oficial desta Universidade, estudantes e mais pessoas dela hajam cometido algum
vício, e de que qualidade, e de que tempo a esta parte, disse que, persuadido das
razões que ele Reformador lhe tem dadas, queria, para descargo de sua cons-
ciência, dizer o que sabia, na forma da ordenação do Reino. Foi-lhe dito que,
pois tomava tão bom conselho, não impusesse sobre si nem sobre pessoa alguma
testemunho falso, porque nesta devassa só a verdade se queria saber. E logo

321
fl. Jllv. disse que, haveria sete anos, pouco mais ou menos, nesta// cidade, nas casas em
que então vivia a mãe de Jerónimo de Oliveira, advogado que foi nesta dita
cidade, já defunto, ou da mãe de sua mulher, a quem não sabe o nome, que estão
na Calçada, em uma câmara e casa delas, em que morava e vivia Teotónio de
Oliveira com a dita sua avó, porque é filho do dito Jerónimo de Oliveira, sol-
teiro, a tal tempo, e ao presente não reside nesta cidade, e não sabe lugar certo
onde esteja, se achou ele declarante em companhia do sobredito Teotónio de
Oliveira, à tarde, não lhe lembra em que mês; e, estando ambos sós, por ocasião
de serem amigos e estudantes, e de virem a pegar um no outro, o sobredito o
deitou em uma cama que aí tinha, e, descidos os calções até aos giolhos de um e
de outro, se pôs sobre ele declarante, e lhe meteu seu membro viril, tendo-o teso
e levantado, entre as pernas dele declarante, e fazendo os mesmos meneios que
faz um homem com uma mulher, e tendo-o abraçado, e beijando-o, até que,
entre elas, derramou semente. E ali não passaram mais. Disse mais que, daí a
alguns dias, não lhe lembra quantos ao certo, nesta mesma cidade, nas Escolas
Menores, na décima classe em que ele declarante andava, depois de saídos todos
fl. 312 os// estudantes, foi o sobredito Teotónio de Oliveira ter com ele declarante
e, estando ambos sós, e com a porta da classe fechada por dentro, o dito T eo-
tónio de Oliveira o deitou no chão, e, com os calções de ambos os dois descidos
até aos giolhos, se deitou sobre ele e lhe meteu seu membro viril entre as pernas
dele declarante, até que, pelo mesmo modo, derramou a dita semente entre elas;
e ali não passaram mais. Disse mais que, daí por diante, no discurso de alguns
meses, digo, de um mês, ora na dita classe, ora na dita casa, estando ambos sós,
abraçando-se e beijando-se, esfregou ele declarante o membro viril, com sua
mão, do dito Teotónio de Oliveira, até que ele declarante fez derramar semente
ao sobredito, por cinco ou seis vezes, sendo em todos estes actos sempre paciente,
e o dito Teotónio de Oliveira agente. E ali, nem antes nem depois, passaram
mais, nem disseram com quem mais faziam as ditas molícias. Disse mais que,
haverá cinco ou seis anos, pouco mais ou menos, nesta cidade, em casa de
D. Catarina de Sá e Sousa, viúva de Francisco da Silva, na Rua das Fangas,
não lhe lembra em que mês, em uma noite, por ocasião de uma festa em que,
como parentes, assistiram, se achou ele declarante em companhia e cama de
Bento da Cunha, filho de D. Luísa Perestrela, e ao presente casado com//
fl. 312v. D. Antónia, e, estando ambos sós e despidos na dita cama, o sobredito se pôs
sobre ele declarante e lhe meteu seu membro viril, teso e levantado, entre as
pernas dele declarante, abrançando-o e beijando-o, até que, entre elas, derramou
semente, sendo o sobredito agente e ele declarante paciente; e ali, nem antes nem
depois, passaram mais, nem disseram com quem mais cometiam isto. E que as
pessoas que podem saber e dizer quem mais haja cometido o dito pecado, pela
fama que disso há contra eles, e por lhes ouvir falar nestas molícias, mas não que
deles saiba coisa alguma, são Aires de Sá, filho de Marçal de Macedo, e Diogo de

322
Beja, filho de fulano Juzarte, defunto, e neto de Manuel Cordeiro, que foi alcaide
desta cidade, e Manuel Cabreira, filho de João Cabreira, defunto, escrivão que foi
da provedoria. E que isto era o que só sabia, e mais não disse. E, sendo-lhe lido
este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou
com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. João de Figueiredo de Sousa.

Jl. 313 Aos dois dias do mês de Dezembro de mil// e seiscentos e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela,
estando aí, por ele foi mandado vir perante si a José Simões, mestre das obras
de carpintaria desta dita Universidade, e, sendo presente, lhe foi dado juramento
nos Santos Evangelhos e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse
ser de idade de quarenta e oito anos. Perguntado se sabe ou presume para que
é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado
na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de
que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos
Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em
geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o
que deles sabia era que, este Setembro próximo passado fez um ano, fazendo-se
o portal da varanda destas casas em que vivem os Reitores, pela manhã, viu ele
declarante, estando aí, a um carreiro de Santa Clara, que lhe parece se chama
fl. 313v. Manuel João, baixo do corpo, depois de trazer pedra para o dito portal,// levar
sete ou oito carradas de cal, da que a Universidade tem empojada e terçada, na
barbacã, onde costuma tê-la. E, perguntando ele declarante, a Manuel Pinto,
pedreiro, outrossim da dita Universidade. onde levava a dita cal, na primeira
carrada, ele lhe respondeu que lha mandara levar Manuel Pires de Aguiar,
agente da dita Universidade, para as obras que ao tal tempo fazia em sua casa.
E assim viu mais ao dito Manuel Pires de Aguiar, nesse mesmo tempo, mandar
levar para a dita sua casa e obras, lá em que a Universidade tem sua madeira,
como eram tábuas de pinho do Louriçal e de Frandes, e barrotes, pela sua
moça e criados. E, posto que não se atreve a alvidrar ao presente o que valeria,
lhe lembra que foi por vezes, e que, por esse respeito, se comprou depois
madeira para o sepulcro, e Silvestre Rodrigues, seu obreiro, lha viu também
levar, como poderá declarar. E entende ele declarante que é sem licença da
Universidade. E assim sabe que o dito Manuel Pires mandou tirar das portas
da porta principal do terreiro da Universidade o ferrolho e fechadura delas, e o
fl. 314 vendeu sem licença dela, sendo procurador da Câmara desta cidade, // a dita
Câmara, para as portas que mandou consertar no Castelo desta dita cidade, por
dois cruzados; e dizendo ele declarante ao dito Manuel Pires como fizera aquilo,

323
e lhe respondeu que, quando a dita Universidade mandasse fazer portas, ele
daria outro ferrolho . E que o sobredito, de todos os róis que ele declarante fez
de suas obras, lhe não pagou o que neles se montou; as quais adições delas, que
tinha lançadas em seu livro, lhe assinou agora estes meses atrás, dando contas a
ele Reformador, por lhe dizer que importava assim para suas contas, e ele decla-
rante estar muito mal. E que isto usa com todas as pessoas a que há-de pagar
serviços da Universidade. E que ainda um dia destes lhe disse Manuel Luís,
barqueiro, o Escuro de alcunha, que vive ao Cais, que o dito Manuel Pires lhe
devia umas poucas de couceiras que deu para esta Universidade ; como também
não pagou a João de Milão, solicitador dela, uns pinheiros que lhe tomou para
a dita Universidade. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume
nad a. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses. Ref ormador e Reitor. José Simões. //

[fl. 314v. em branco]

Jl. 3 15 Aos dois dias do mês de Janeiro de mil e seiscentos e vinte anos, nesta cidade
de Coimbra, nas casa~ da Universidade, sólita morada do Dr. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor dela, inquisidor ordinário da Inquisição da cidade
e Arcebispado de Lisboa e seu distrito, estando ele aí presente, e os Drs. Frei
Vicente Pereira, lente de Prima de Teologia, e Frei João Aranha, lente da cadeira
grande de Escritura, e Luís Ribeiro de Leiva, lente de Decreto, pelo dito Refor-
mador lhes foi mandado ler por mim uma carta de Sua Majestade para ele
escrita . em Madrid . a clen1,,eis el e De7emhro de sei,cento, e cle7anovc . ;cissinacla
por sua Real mão com visto do Duque de Villa Hermosa, Conde de Ficalho,
pres1deme do Lonsdho de 1:::.stado destes Remos de Portugal, por 4ue manda ao
dito Reformador que, por virtude dela, com os ditos Doutores por adjuntos,
tome conhecimento de todos os compreendidos na devassa desta sua presente
reformação, de que lhe deu conta, e lhes forme cargos dos muitos e prejudiciais
vícios que dela resultam. para que, em termo breve, respondam a cada um por
/1. J /5 v. escrito, e, vista sua resposta, os sentencie com os // ditos adjuntos, e dê conta ao
dito Senhor das sentenças, antes de se publicarem. E que, sendo necessário para
segurança dos culpados serem alguns presos, o possa fazer, e para, digo, e tomar
por adjunto em lugar do que estiver impedido, com parecer dos outros, a pessoa
que mais convier. E que remeta aos ditos adjuntos as ·suspeições que lhe
intentaram os Drs. António Homem e Martim de Carvalho e todas as que mais
lhe intentarem, para que todos .três conheçam delas e as despachem como for
justiça. E lida, assim, a dita carta, logo pelo dito Reformador lhes foi dada
outra, do dito Senhor, para eles, cerrada, que, sendo outrossim por mim aberta e
lida, consta ser feita em Madrid no dito dia, e assinada por sua Real mão, com

324
visto do dito Duque, presidente, pela qual dá e nomeia por adjuntos ao dito
Rdormador aos ditos Doutore~, para 4ue, com ele, tomem conhecimento dos
ditos vícios, de que o dito Reformador lhe tinha dado conta, e das suspeições
fl. 316 que intentaram ao dito Reformador os Drs. António Homem // e Martim de
Carvalho, e das mais que ao diante lhe intentarem, e as despachem como lhes
parecer justiça. E que, por vi1tude da dita carta, o façam sem ser necessária
outra provisão, como em uma e outra mais largamente se contém. E lidas,
assim, as ditas cartas por todos e cada um deles, foi dito que, em cumprimento
do que Sua Majestade nelas lhes manda, aceitavam o conhecimento das causas
dos culpados na deva<;sa da dita reformação. e nelas se pronunciavam por juízos.
E que, para isto, se ajuntassem na dita casa todas as manhãs dos dias que não
fossem feriados; das oito horas até as onze. E logo, pelo dito Reformador, lhes
foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que puseram suas mãos, e, sob
cargo dele, prometeram de fazer bem e verdadeiramente o que, por Sua Majes-
tade, lhes era mandado, e de terem e guardarem o segredo que convinha ao dito
seu serviço, e o mais a que ficavam obrigados; e lhes foram, outrossim, pelo
dito Reformador, remetidas as ditas suspeições dos ditos Doutores, que aceita-
ram, e de tudo me mandaram fazer este termo, que assinaram com o dito
Jl. 316v. Reformador. // E que trasladasse aqui as ditas provisões, que são as que ao
diante se seguem. E eu, Agostinho de Aguiar, escrivão desta reformação, o
escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Frei Vicente Pereira.
Frei João Aranha. Luís Ribeiro de Leiva.

Traslado da carta de Sua Majestade para o Reformador e Reitor da Uni-


versidade de Coimbra, por que lhe manda sentenciar, com os adjuntos nela
nomeados, os culpados nesta devassa, e proceder na forma que nela se declara.

D. Francisco de Meneses, eu, El-Rei, vos envio muito saudar. Havendo


Jl. 317 visto a vossa carta, por que me destes conta do que tínheis começado // a fazer
na reformação dessa Universidade, e a relação que juntamente enviaste dos
muitos e prejudiciais vícios de que a Universidade está infeccionada, conside-
rando quanto importa ao serviço de Deus e meu, e bem comum desse Reino,
que se castiguem, com toda a demonstração e rigor, e se procure extirpá-los de
todo da Universidade, por confiar de vós que tratareis de o fazer com o cui-
dado, inteireza e zelo da justiça que convém, hei por meu serviço e mando que,
em virtude desta carta, sem ser necessária para isso outra provisão, com os Drs.
Frei Vicente Pereira, lente de Prima de Teologia, Frei João Aranha, lente da
cadeira grande de Escritura, e Luís Ribeiro de Leiva, lente da cadeira de Decreto,
por adjuntos, tomeis conhecimento de todos os compreendidos na devassa da
reformação de que me destes conta; e, formando-lhes cargos deles, lhos façais
dar, para que, dentro de termo breve, respondam a cada um por escrito; e, vista

325
sua resposta, os sentenciareis com os ditos adjuntos, e me dareis conta das sen-
tenças antes de se publicarem. E, sendo necessário, para bem da justiça e segu-
rança dos culpados, serem alguns presos, o ordenareis assim. E, faltando ou
estando impedido algum dos adjuntos, tomareis em seu lugar, com parecer dos
fl. 317v. dois que ficarem, a pessoa que vos // parecer mais a propósito, em que concor-
ram as qualidades de virtude, letras e experiência que, para negócio tão grave,
se requer. E aos ditos Doutores Frei Vicente Pereira, Frei João Aranha e Luís
Ribeiro de Leiva remetereis as suspeições que vos intentaram os Drs. António
Homem e Martim de Carvalho, para que todos três conheçam delas, e das mais
que ao diante se vos intentarem; e as despachem como lhes parecer justiça.
E assim lho mando escrever pela carta que vai com esta, que lhes dareis. Escrita
em Madrid a dezasseis de Dezembro de seiscentos e dezanove. O Rei. O Duque
de Vila Hermosa. Conde de Ficalho. Para o Reitor e Reformador da Universi-
dade de Coimbra, por El-Rei a D. Francisco de Meneses, Reitor e Reformador
da Universidade de Coimbra.

Traslado da carta de Sua Majestade para os adjuntos do Reformador e


Reitor da Universidade de Coimbra.

fl. 318 Doutores Frei Vicente Pereira, Frei João Aranha// e Luís Ribeiro de Leiva.
Eu, El-Rei, vos envio muito saudar. Eu houve por bem de vos nomear por
adjuntos a D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor dessa Universidade,
para que, com ele, tomeis conhecimento das causas dos culpados na reforma-
ção, nos casos de que ele me deu conta, como o entendereis pela carta que lhe
mando escrever. E porque os Drs. António Homem e Martim de Carvalho lhe
têm intentado suspeições, ordeno juntamente que se vos remetam, para que
tomeis conhecimento delas, e das mais que, ao diante, se intentarem a D. Fran-
cisco; e as despacheis como vos parecer justiça. E, assim, vos encomendo e
mando que o façais, em virtude desta carta, sem ser necessário para isso outra
provisão. Escrita em Madrid a dezasseis de Dezembro de seiscentos e dezanove.
Rei. Duque de Villa Hermosa, Conde de Ficalho. Para os adjuntos do Refor-
mador e Reitor da Universidade de Coimbra. Por El-Rei aos Drs. Frei Vicente
Pereira, Frei João Aranha e Luís Ribeiro de Leiva.

Trasladada-; assim as ditas provisões. mandou a Junta que lhe levasse esta
devassa, como de feito lha apresentei. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.//

fl. 318v. Sejam presos, pela culpa desta devassa, Manuel Vaz, desta cidade, estu-
dante da quinta classe, moço do coro que foi desta Sé, e, ao presente, músico da
capela dela, que vive com sua mãe Maria Vaz,a Montarroio, junto à Inquisi-
ção; e Manuel Ferreira, natural desta cidade, solteiro, estudante da terceira classe
do ano passado, filho do Ferreirinha, recoveiro e criado que foi do Bispo-Conde
D. Afonso de Castelo Branco, que vive na rua que vai de S. João ao Colégio de
S. Bento; e Manuel de Miranda, estudante canonista, natural desta cidade, que
vive com sua mãe, Maria Simões, defronte de Santa Justa, que andou no pri-
meiro curso desta Universidade; e Manuel Carneiro, natural desta cidade, cujos
pais são falecidos, e vive na Rua dos Sapateiros com sua avó Catarina Henri-
ques, oleira, estudante da terceira classe; e Manuel da Costa, natural e morador
nesta cidade com seu pai, cerieiro, que por nome não perca, que vive junto a
S. Bartolomeu, estudante da quinta classe do ano passado; e André da Cruz,
filho de Maria Jorge, viúva de André Dias, que vive na Rua Corpo de Deus,
músico da capela da Sé, estudante da oitava classe, solteiro; e Diogo de Beja,
filho de Antónia de Andrade e de Jerónimo Zuzarte, desta cidade, estu-
dante das Escolas Menores em Coimbra. Em Junta, aos três de Janeiro de 1620.
Dr. D. Francisco de Meneses, Reformador. Frei João Aranha. Frei Vicente
Pereira. Luís Ribeiro de Leiva. / /

fl. 319 Aos dois dias do mês de Janeiro de mil e seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Menes, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante
si a António Gomes, escrivão das execuções da dita Universidade, testemunha
referida, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de cinquenta anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado,
e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita
desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo
a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos refor-
mados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois
disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia
era que André Tavares, executor desta Universidade, desde que serve o dito
cargo até ao presente, quando vai a requerimento dos prebendeiros dela, receber
dos rendeiros o dinheiro que lhe devem, e eles lhe pagam, sem os executar
fl. 319v. juridicamente, lhes leva, de todos e de cada um// deles, das custas dos oficiais
que a isso vão, mais do que se lhes deve a respeito de seus ordenados, e do que
cabe e vem a cada um dos ditos rendeiros, pro rata, porque, considerado o dia
em que partem e em que chegam, e o que têm em cada um deles, não se monta
tanto quanto o dito André Tavares leva. E, para o poder fazer e encobrir, não
faz termo do dia em que partem nem do em que chegam, nem do dinheiro que
recebe de cada um dos ditos rendeiros, o que, se fizera, a todo o tempo pudera
constar do seu procedimento, e de como não levava aos ditos rendeiros mais do
que eles deviam pro rata nas custas de lhe irem lá buscar o dinheiro devido; o

327
que ele declarante sabe por lho ver assim fazer, e estranhar, e não consentir,
como escrivão que é das ditas execuções, as vezes que com ele foi; e consta dos
autos da execução que o sobredito fez, na fazenda de Domingos Simões de
Carvalho, em que lhe levou, de uma só vez, sessenta e dois mil e tantos réis de
custas, dos dias que se deteve na dita execução, fora as dos autos que estão em
poder dele declarante, que o dito André Tavares mandou neles lançar, por termo
.fl. 320 de outro escrivão, por ele declarante lhe dizer que // o não podia fazer, nem ele
André Tavares levar-lhos, porque, posto que estivera em Sendim quarenta dias,
em todos eles não começara a execução do dito Domingos Simões de Carvalho,
e deles estava já pago doutros rendeiros. E, assim, pois lhe não mostrava o rol
dos rendeiros que o prebendeiro dera para haverem ser executados, nem ele
André Tavares tinha feito termo do dia que partira de Coimbra, não podia fazer
termo dos ditos sessenta e dois mil e tantos réis de carga ao dito Domingos
Sim õc,;_ <;em primeiro fe it as contas a respeito dos mais rendeiros e do dia em
que partiram de Coimbra, e saber o que pro rata lhes cabia das quotas dos autos
olll.: 1a1~. 1:. a~~1m dirá Jose Ja Silva, 4ue 101 por escnvào Jas execw;ões com ele,
como dessa vez ficou devendo aos rendeiros alguns seis mil réis, que lhes levou
de mais das ditas custas dos oficiais. E entende ele declarante que montará o
que tem levado às partes, depois que serve o dito ofício, de mais quatro mil
cruzados, pouco mais ou menos; e que Domingos-Dias, que vive aqui, na Rua
de Tinge-Rodilhas, e Manuel de Macedo, que ambos foram por escrivães com o
dito André Tavares, dirão o mesmo, e Jerónimo Dias, e André Francisco, saca-
.fl. 320v. dores da dita Universidade, e Cristóvão de Figueiredo, escrivão // dos órfãos e
ouvidor na vila de Fonte Arcada, e Gaspar Mendes Gomes, morador na Aldeia
da Ponte, rendeiro que foi de Sendim, e o outro de Fonte Arcada, e Jerónimo
da Silva, que mora em Vila Nova de Foz Coa, que foi rendeiro de Freixl' de
Alemão, e António Nunes Botelho, morador em Penedono, rendeiro que foi Je
Penela e Paredes, e Manuel Homem, rendeiro que foi de Fonte Arcada. E que
isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios, e dizerem-lhe, esta quaresma
passada, indo com o dito André Tavares à Beira, na dita vila de Fonte Arcada,
que Manuel Ferraz, escrivão dos contos da dita Universidade, indo por execu-
tor e levando por escrivão Mateus Fernandes, desta cidade, que vive na Rua .de
Quebra-Costas, levara aos rendeiros muito mais dinheiro de custas do que é
devido pro rata, e que António Henriques, rendeiro de Fonte Arcada e aí
morador e casado, não sabe com quem, dissera a ele declarante em particular
que ele levara o dinheiro que devia da dita renda ao dito Manuel Ferraz, e que
ele lho não queria aceitar, dizendo que o tivesse em seu poder, e, quando ele se
.fl. 32 I viesse da dita vila para esta cidade, lho entregaria; e as custas // de todos os dias
que nela se detivesse. E que, outrossim, era público nas ditas vilas que até aos
devedores dos ditos rendeiros, por os executar a instância deles, lhes levava
tanto de custas como era o próprio sem as executar. Perguntado pelo re, digo,

328
perguntado se sabe que alguns oficiais desta Universidade levem pelos papéis
que fazem mais do que se lhes deva, e peitas, e não guardem o segredo que
devem, disse que Miguel da Fonseca, escrivão da Mesa da Fazenda desta Uni-
versidade, leva, do que escreve às partes, mais do que elas lhe devem, e, por esse
respeito, não declara, ao pé do que escreve, o que leva; o que ele declarante
sabe por ver alguns papéis e arrendamentos seus sem declaração do que por ele
levou, de que tem em seu poder alguns; e, assim, uma certidão feita pelo sobre-
dito, que, segundo sua lembrança, a que se reporta, diz que levou por ela dois
mil réis; e queixando-se a ele declarante à parte a quem os levou, que é Manuel
Fernandes, de Besteiro, termo da vila de Penela, rendeiro que foi da renda do
Alvorge, lhe disse que, além dos ditos dois mil réis, lhe levara mais nove vinténs
de busca, send.o assim que não se pode montar na dita certidão, segundo dela
fl. 32 / v. parece, mais que sete ou oito tostões. E que // isto era o que sabia da dita per-
gunta. Perguntado se foi escrivão das execuções da Universidade entre partes
Francisco da Silva e um rendeiro da Beira, sobre quarenta mil réis de reclama-
ção de um contrato, disse que o que sabia da dita pergunta era que, haverá dois
anos, pouco mais ou menos, ou o tempo que na verdade se achar, fez Francisco
da Silva, prebendeiro desta lJ niversidade, arrendamento de umas rendas da
Universidade, que lhe parece eram de Sendim, a Gaspar Mendes Gomes, só na
nota de Miguel da Fonseca, escrivão dela, como consta do traslado do dito
arrendamento, subscrito pelo dito Miguel da Fonseca, que anda em uns autos
que estão em poder dele declarante, do removimento das ditas rendas de Sen-
dim e Moimenta da Beira ao dito Gaspar Mendes Gomes, morador em Caba-
ços, e do livro das ditas notas que o dito Francisco da Silva tinha em seu poder,
pelo que lhe ia nele, e, depois de assinado o dito arrendamento, o dito Miguel
da Fonseca, no dito livro das notas, fez uma declaração em que o dito Fran-
cisco da Silva dava por companheiro ao dito Gaspar Mendes seu filho Fernão
Jl. 322 Mendes Gomes, e, sem o dito Francisco da // Silva assinar a dita declaração,
segundo ele declarante a viu, o dito Miguel da Fonseca passou outro traslado
da dita nota do dito arrendamento, em que declara haver o dito Francisco da
Silva arrendado as ditas rendas aos ditos Gaspar Mendes Gomes e seu filho,
como consta de uns autos em que o dito Gaspar Mendes demanda ao dito
Francisco da Silva pelas perdas e danos do dito removimento, que ele decla-
rante viu, e lhe parece que é escrivão deles António de Gouveia; sendo assim
que, no dito traslado, que anda nos autos de António de Gouveia, certifica o
dito Miguel da Fonseca falsamente haver o dito Francisco da Silva assinado a
dita declaração da dita parceria do filho, e que nisso deu o prejuízo às partes,
que de uns e outros autos resultou, como neles se verá; a que ele declarante se
reporta. E que isto era o que só sabia da dita pergunta, com que se houve por
<;atisfeito aos referimentos que nele fi7eram os Ors. António I.ourenco e Simão
de Basto. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na ver-

329
dade, disse que sim, e do costume que não corria com o dito André Tavares. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. E assinou com o dito Reformador. E eu, sobre-
dito o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. António Gomes//.
Jl. 322v. Aos onze dias do mês de Janeiro de mil e seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr. D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado
vir perante si a Pero Velho do Rego, solteiro, filho de António Rodrigues Cor-
reia, natural da cidade de Lisboa, estudante legista, morador no bairro de
S. Pedro, junto à Porta da Traição, testemunha referida; e, sendo presente, lhe
foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado
que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse pergun-
tado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e dois anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que nãó.
Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados. porque nela. con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo
que[ ... ] (1) de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, este mês
de Dezembro próximo passado, ou de Janeiro presente, faz um ano, nesta cidade,
não lhe lembra a quantos dele, vivendo ele declarante, como hoje vive, com o
dito Francisco Coelho, seu amo, e com seu companheiro, que então era Gon-
çalo Vaz Freire. casado na cidade de Lisboa. legista. o dito Gonçalo Vaz Freire
mandou, em um prato de prata de água às mãos, umas caixas de doces, e uns
púcaros, e umas luvas de cheiro, coberto com uma toalha, por ele declarante, a
Rui de Albuquerque, secretário desta Universidade, e por André Monteiro, estu-
dante canonista. criado de Félix Rehelo. também estudante canonista. amigo e
fl. 325 vizinho com porta adentro// do dito Francisco Coelho, um escrito para dar
juntamente com ele ao dito Secretário, com o sobrescrito para ele. E, indo
ambos os dois à noite, deram o dito escrito e presente ao dito Rui de Albuquer-
que, o qual, depois de o receber, lhe respondeu por um escrito, que o dito André
Monteiro trouxe ao dito Gonçalo Vaz Freire; que, posto que lho viu dar, n_ão
sabe o que nele se continha. E que, depois disto, não lhe lembra quanto tempo,
mandou o dito Gonçalo Vaz Freire por ele declarante, e não lhe lembra se ia
também aí o dito André Monteiro, no dito prato, umas caixas de doces, e lhe
parece que uns verdeais, ao dito Rui de Albuquerque, que dele aceitou. E que
agora, em Julho passado, veio a esta cidade um criado do dito Gonçalo Vaz
Freire, a quem não sabe o nome, dirigido ao dito seu amo, com umas cartas
para o dito Rui de Albuquerque, cuja casa ele declarante lhe foi mostrar, por
mandado do dito seu amo. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios,
com que se houve por satisfeito o referimento que nele fez André Monteiro.
1
( ) Ver Aditamento, na pág. 493.

330
·E, sendo-lhe lido este testemunho, disse que estava escrito na verdade. E do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. António Rodrigues. //

Jl. 325v. Aos treze dias do mês de Janeiro de mil e seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir
perante si a João Francisco, casado com Maria Simões, sapateiro, morador na
Porta Nova, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dis-
sesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de quarenta anos. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo
perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não; e que só Belchior Caldeira,
meirinho desta Universidade, no mês de Novembro passado, foi a casa dele
declarante e lhe perguntou se era vindo Bartolomeu Nunes, estudante das Escolas
fl. 326 Menores, natural de Idanha-a-Nova, que ele/ / declarante tinha em casa por
pupilo; e por lhe responder que não, lhe pediu que quisesse, tanto que o sobre-
dito viesse, lho fazer saber, porque tinha que falar com ele, mas que não sabe o
para que lho dissesse. Perguntado se sabe que algum oficial desta Universidade
cometesse erro algum contra seu ofício, e de que tempo a esta parte, disse que,
tendo ele declarante por pupilo o dito Bartolomeu Nunes, este mês de Dezem-
bro ou Novembro próximo passado veio ser hóspede do dito Bartolomeu Nunes
Pero Geraldes, outrossim de Idanha-a-Nova, estudante de Salamanca, que, no
dito tempo, pouco mais ou menos, de aqui se formou, e,antes disso, mandou o
dito Pero Geraldes comprar, por ele declarante, uma pele de cordovão, que lhe
custou dois cruzados, pouco mais ou menos, e lha, digo, e a mandou por Fran-
cisco Branco, estudante de Latim, seu criado e do dito Bartolomeu Nunes, que
lhe parece que é de junto a Idanha, e andava na sétima ou oitava classe, que será
de dezoito anos, e lhe começava o buço preto, baixo, baço do rosto e grosso do
corpo, a Rui de Albuquerque, Secretário desta Universidade; e assim mais
outra pele, e uma dúzia de queijos. E dizia o dito Pero Geraldes que era para
fl. 326v. lhe dar o tempo que lhe faltasse, e lhe dar // um papel, o qual, tanto que o tivesse,
logo se havia de formar e ir. E porque parece que o dito Rui de Albuquerque
lhe não fazia o que queria, disse a ele declarante que lhe daria seis mil réis se ele
o aviasse, e que lhos havia de mandar oferecer pelo seu moço, ou pedir-lhe o
que lhe tinha dado. E, de feito. lhe ofereceu pelo dito Francisco Branco um
escrito, e, pela resposta que lhe trouxe depois à noite, perguntando-lhe ele
declarante se estava aviado, lhe disse que sim, e que, posto que ele declarante
viu contar um pouco de dinheiro em patacas, não sabe se lho mandaram.

331
E logo ao outro dia viu que o dito Pero Geraldes se formou; e, por isto lhe
parecer mal, e o dito Pero Geraldes lhe dizer que o dito Secretário lho pagaria
mui bem pago, o declara assim à dita pergunta, e que dela não sabia mais coisa
alguma. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Franciso de Meneses, Reformador e Reitor. João Francisco. //

fl. 327 Aos dezasseis dias do mês de Janeiro de mil e seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir
perante si a Maria Caldeira, mulher solteira, ama que é actualmente de Fran-
cisco Coelho Serrabodes e de Félix Rebelo, e que, outrossim, ú foi de Gonçalo
Vaz Freire, estudante legista, de Lisboa, moradora na Rua das Fangas, das
portas adentro do dito Félix Rebelo, testemunha referida, e, sendo presente, lhe
foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandada
que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse pergun-
tado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de quarenta e cinco anos.
Perguntada se sabe ou presume para que é chamada, e se alguém, por si ou por
outrem, lhe pediu que, sendo perguntada na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntada se sabe que algum oficial desta Urúversidade cometesse algum erro
contra seu ofício. e de que tempo a esta parte. disse que o que sabia da dita
fl. 327v. pergunta era que, este més de Dezembro ou de Janeiro presente faz // um ano,
nàu lhe: lembra a 4 uantos dde, nesta cidade, estando o dito l.Jun1raio Vaz !-reire
por hóspede do dito Francisco Coelho, mandou o dito Gonçalo Vaz Freire pedir
por ela declarante a Pero Velho do Rego, estudante legista, que mora no bairro
de S. Pedro, um prato de prata de água às mãos, para mandar nele um presente
a Rui de Albuquerque, Secretário desta Universidade, o qual, emprestando-lhe
o dito prato, o trouxe ao dito Gonçalo Vaz Freire. E viu ela declarante que o
sobredito lhe mandou nele quatro caixas de doces e dois pares de luvas de âmbar,
e duas bolsas de agulha, se se não engana; porém, se afirma que, se não for~m
duas bolsas e dois pares de luvas, era ao menos uma das ditas coisas, e uns
púcaros de Lisboa, coberto com uma toalha de água às mãos de pontas, que ela
declarante foi pedir a uma sua vizinha, por nome Catarina Simões, mulher de
um livreiro, e lho mandou por dois moços, um que o levava, por nome António
Rodrigues, criado do dito Francisco Coelho, e outro que levava um escrito para
fl. 328 o dito Rui de Albu / / querque, por nome André Monteiro, criado do dito Félix
Rebelo, que ela declarante lhe viu dar, e dizer que o desse, com o dito presente,
ao dito Rui de Albuquerque; e irem os ditos moços, com ele retomarem, e
di7erem ao dito Gonçalo Va7 Freire que lho deram e ele o aceitara. e lhe man-
daria a resposta em outro escrito, que lhe deu. E, depois disso, lhe mandou,

332
pelo dito André Monteiro, outro presente, de bocados doces, que o dito Secretá-
rio lhe não tomou, não sabe o porquê, porque os viu depois tornar a trazer.
E, posto que ela declarante não sabe o porquê, o dito Gonçalo Vaz Freire lhe
mandou estes presentes, e lhe escrevia pelo ditos moços ordinariamente escritos,
e dek receheu respostas . ouviu ela declarante ao dito Francisco Coelho. Félix
Rebelo, Sebastião Álvares da Silva e a Jerónimo Brandão, e a Francisco Bran-
dão, estudantes, filhos de harn.:1sco Machado Brandão, e a Jacinto 1avam,,
companheiro do dito Félix Rebelo, e a Bartolomeu Gonçalves, que vive à
Pedreira, e a António da Silva, criado do sobredito, que o dito Gonçalo Vaz
Freire não tinha tempo para se formar, e que mandara os ditos presentes ao dito
Secretário para que lho desse. E que não tinha mais que seis anos e três ou
fl. 328v. quatro meses. E, tornando ela decla / / rante o dito prato ao dito Pero Velho do
Rego, e dizendo-lhe o que o dito Gonçalo Vaz Freire mandara nele ao dito
Secretário, ele lhe disse que devia ser para que lhe desse algum tempo. E entre
eles todos é fama pública do sobredito. E que isto era o que sabia da dita per-
gunta. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na ver-
dade, disse que sim, e do costume nada. E, por não saber escrever, assinei por
ela, a seu rogo, com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Agostinho de Aguiar, a rogo.

Manuel Pegado, solteiro, filho de Paulo Pegado, natural da cidade de Elvas,


estudante canonista, morador na freguesia do Salvador, testemunha referida, a
quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
fl. 329 perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade // de vinte e seis
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se lhe pediu
alguém, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reforma-
ção, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte,
disse que não. Perguntado se sabe que alguma pessoa desta Universidade haja
cometido algum erro contra seu ofício, ou que não viva como deve, disse que
não. Perguntado se, este Dezembro próximo passado fez dois anos, se achou
nesta cidade. em companhia de pessoas escolásticas. e se nela. por ocasião de
dizer uma das ditas pessoas que lhe faltavam cinco ou seis meses, e que daria por
eles dez mil réis para se poder iormar, respondeu outra das ditas pessoas que
lhos desse, que ela lhe haveria o dito tempo, disse que bem se poderia achar na
dita companhia, mas que lhe não lembra ao presente. Perguntado se sabia ou
ouvira dizer que alguns estudantes se formassem nesta Universidade sem terem
tempo para isso, disse que não; pelo que lhe não foram feitas mais perguntas, e
se houve por satisfeito ao referimento que nele fez Jerónimo de Tovar. E, sendo-
-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim,

333
e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Manuel Pegado. / /

f1. 329v. José Ferreira, solteiro, filho de António de Figueiredo, natural da cidade
de Évora, estudante canonista, morador no bairro de S. Pedro, testemunha refe-
rida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que
lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e
quatro anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e pelo auto
da denunciação atrás de Luís Cordovil, e se alguém lhe pediu que, sendo por ele
perguntado, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a
esta parte, disse que não, e o que dele sabia era que, este verão próximo pas-
sado, a vinte e nove de Julho, em uma segunda-feira, por ocasião de Luís
Cordovil dizer ao seu moço, estando na rua, perto da noite, que havia de pôr
fogo a umas mulatas, por nome as Figueiredas, e ouvir o sobredito, Cristóvão
j7. 330 Teixeira e Luís Salema arremeteram o dito, e // Cristóvão Teixeira com um pis-
tolete, e dar com ele na cabeça ao dito Luís Cordovil, e o ferir; e o dito Luís
Salema com uma adaga na mão; o que ele declarante sabe por o ouvir a muitas
pessoas da dita vizinhança. como foi a Estêvão de Miranda. opositor legista.
natural de Portalegre, e a Manuel de Figueiredo, filho de Simão de Figueiredo,
ljllt' 101 nirn:gedm de-.ta cidade. ljllt' \" ÍW tora d a porta do Castelo . F 4ut· ele,
lhe disseram a ele dito Manuel de Figueiredo que já deixaram ao dito Luís
Cordovil morto, e ainda haviam de matar outro ; e que só lhes pesava do pisto-
lete que lá lhes ficara. E, dizendo-lhe a ele declarante que estava o dito Luís
Cordovil ferido, acudiu, e o achou em casa da Medeiros, que é uma mulher que
vende pão, com uma ferida na cabeça, da parte esquerda, aberta e sangrenta, de
largura de dois dedos, com um pistolete que lhe disse que tomara ao dito Cris-
tóvão Teixeira; o qual ele declarante viu e reconheceu ser do dito Luís Salema,
por lho haver visto na cinta, grande, de dois palmos de cano, pouco mais ou
menos, sem guarda-mato, e havê-lo visto ao dito Cristóvão Teixeira, que disse a
ele declarante era do dito Luís Salema. O qual pistolete, sendo-lhe logo mos-
fl. 330v. trado, disse que o reconhecia // por o próprio que tinha visto a um e a outro.
E, rerguntado se sabia de mais alguma briga, disse que não sabia mais que ser
público nesta cidade, segundo ouviu a muitas pessoas, que lhe não lembram, de
uma briga que houvera, este entrudo que ora vem fará um ano, entre Manuel
Falcão, estudante legista, natural de Portalegre, e Luís Carvalho, com estudan-
tes de uma e de outra parte, os quais agora lhe não lembram. E mais não disse.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume
que se não falava de barrete com os ditos Luís Salema e Cristóvão Teixeira, e
Manuel Falcão, mas que não tivera com eles brigas nem diferenças, e que tinha

334
dito a verdade. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. José Ferreira.

Bento Pereira, chantre da Capela da Universidade, testemunha referida, a


quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
JI. 331 per// guntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de cinquenta e
sete anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe
pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial,
pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era darem-se as
maças da Universidade para o Mosteiro de Santa Ana, como ouviu que se
deram para a calenda deste N atai próximo passado ao Abade do Mosteiro de
S. Bento. E que, por algumas vezes, viu ir para casa de António Soares, tesou-
reiro da Universidade, tabuleiros com ornamentos que presumia serem da Uni-
versidade, e que vinham de armar em algumas igrejas. E que publicamente se
dizia, entre os capelães da Capela, que o dito António Soares alugava e empres-
tava os ornamentos e coisas da dita Capela. Disse mais que, no fim deste mês
de Julho próximo passado, nesta cidade, se achou ele declarante, à boca da
noite, à sua porta, em companhia de Estêvão de Miranda, viu dois estudantes
fl. 331v. andarem pegados, um no// outro. E posto que então os não conheceu, viu que
ambos se meteram em casa de uma padeira que aí vive, a que chamam a Medei-
ros, e aí dizem que feriu Cristóvão Teixeira a Luís Cordovil, e que eles eram os
que andavam ambos pegados um no outro, com um pistolete que o dito Luís
Cordovil disse depois. a ele declarante, que tomara ao dito Cristóvão Teixeira, e
lho mostrou. E, que desta matéria, nem dos interrogatórios, sabe mais coisa
alguma, tirado dizer-lhe um moço seu que, haverá quatro ou cinco dias que tive-
ram aí umas razões uns estudantes, que não conhecera, e de má feição, por
onde, e pelo modo em que ali andam, entende ele declarante que será serviço de
Deus o pacificar ao dito Cristóvão Teixeira e ao dito Luís Cordovil, e a outros
daquele bairro, que, de uma e outra parte, andam em brigas e diferenças, de
que se seguirão grandes desserviços de Deus. se se lhe não atalhar. F por aqui
se houve por satisfeito ao referimento que nele fez o Dr. Simão de Basto, e à
denum:1açào do dilo Luís Cordov1l. 1::,, sendo-lhe lido este testemunho e pergun-
/1. 332 tado se estava// escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E assi-
nou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor. Bento Pereira.

335
Isabel Fernandes, mulher de António Rodrigues, pedreiro, moradores nesta
cidade, de alcunha a Medeiros, padeira, que vive junto à porta do Castelo,
defronte de João Borges, testemunha referida, a quem o Reformador D. Fran-
cisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandada que, sob cargo
dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu
de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e seis anos. Perguntada se sabe ou
presume para que é chamada, disse que não. Perguntada pelo auto da denun-
ciação de Luís Cordovil, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu que,
sendo perguntada por ele, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, disse
que não. E que o que sabia da dita denunciação era que, este mês de Julho
Jl. 332v. próximo passado, no fim dele, não // se lembra a quantos, junto da noite, nesta
cidade, entrou na dita casa dela declarante, sem barrete e muito esbaforido,
fugindo, Luís Cordovil, estudante canonista; e foi ter à segunda casa dela, das
debaixo onde ela declarante estava com uma criada sua, a que chamam Ângela
Fernandes, que está jurada com Domingos Vieira, e com Pero Nogueira, casado
com Ana Heitor, caminheiro, que vive na freguesia de S. Pedro, por baixo da
Rua de Alvaiázere, deitando um pouco de vinho em um quarto. E fechou o
dito Luís Cordovil a porta, tanto que entrou, na dita segunda loja, e lhes disse
que o ajudassem a ter mão, porque vinha Cristóvão Teixeira a matá-lo. E tanto
que sentiram sair-se da primeira loja ao dito Cristóvão Teixeira, e ido a chamar
um cirurgião o dito Pero Nogueira, tornou o dito Cristóvão Teixeira ao dito
Luís Cordovil, tanto que ouviu na casa de fora, e ambos, entrando um de após
o outro, e ela declarante pegada no dito Cristóvão Teixeira, para que não fizesse
mal ao dito Luís Cordovil, com uma adaga que levava na mão, ou punhal, e
.fl. 333 por se apagarem as candeias que ela decla / / rante já então tinha, não viu em
quem o dito Cristóvão Teixeira dava, que de uma pancada lhe quebrou um
alguidar. E, chegando neste comenos de fora seu marido, pegou no dito Cristó-
vão Teixeira, e ela que nele andava pegada, e o trouxeram para fora, e daí se
foi. E o dito Luís Cordovil entrou já em casa dela declarante, ferido na cabeça,
da parte esquerda, de uma ferida aberta e sangrenta, não lhe viu de que tama-
nho por não advertir nisso. E, tornando-se a acender as candeias, achou a dita
moça dela declarante, na dita casa de dentro, um pistolete que o dito Luís Cor-
dovil disse logo então que tomara ao dito Cristóvão Teixeira, andando debaixo
dele, sem ter arma alguma; e o levou para sua casa. E que não sabe qual deles
o levasse, mas que lhe parece que o não levara o dito Luís Cordovil, porque ia
com uma mão na ferida e na outra sem coisa alguma, com que teve mão na
porta; e, por estarem às escuras, não viu ela declarante quem levava o dito
pistolete. E disseram aí os da vizinhança que Luís Salema estava à porta dela
declarante, e fora com o dito Cristóvão Teixeira. E, sendo-lhe logo mostrado o
dito pistolete, disse que se não afirmava em ser o próprio, ainda que lho parecia

336
11. 333v. ser esse, pelo tamanho; porque então, por estar sobressaltada, não pudera // fazer
memória dele. E que, entre os da vizinhança, era pública fama que o dito Cris-
tóvão Teixeira ferira ao dito Luís Cordovil na rua com o dito pistolete, outros
dizem que com uma tranca. E que isto era o que só sabia da dita denunciação.
E, sendo, digo, perguntada se sabe quem, no princípio do mês de Maio este pró-
ximo passado, pouco mais ou menos, entre as cercas dos padres de Santa Cruz
e da Companhia, deu umas cutiladas a uma mulata, por nome Isabel de Figuei-
redo, disse que não sabe nem ouviu quem lhas dera, posto que ela nomeou a
um Francisco de Leiria, estudante, e primeiro a um Domingos Vaz, alfaiate, e a
um João de Resende. E que não sabia disto mais coisa alguma, e que se repor-
tava a outro testemunho que sobre esta matéria dera hoje, diante do Juiz de
Fora desta cidade. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava
escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada. E por não saber assinar,
assinei por ela, a seu rogo, com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. Diz a entrelinha de uma ferida. Sobredito o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Agostinho de Aguiar, a rogo.//

jl. 334 Aos dezoito de Janeiro de seiscentos e vinte, em Coimbra, nas casas da
Universidade e sólita morada de D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor dela, estando ele aí e os adjuntos desta presente reformação, em Junta, man-
daram que lhes levasse esta devassa, como, de efeito, lha apresentei. E eu, Agos-
tinho de Aguiar, o escrevi. Sejam presos, pela culpa desta devassa, Cristóvão
Teixeira, estudante canonista, filho de André de Matos, conservador que foi
desta Universidade, natural da cidade de Lisboa; e Manuel Falcão, estudante
legista, natural de Portalegre; e Luís Salema, estudante legista, natural de Lis-
boa, enteado de Baltazar Veloso, contador das Sete Casas, todos solteiros. Em
Coimbra aos dezoito de Janeiro de 620. Dr. D. Francisco de Ment':;es, Refor-
mador e Reitor. Frei João Aranha. Frei Vicente Pereira. Luís Ribeiro de
Leiva. //

jl. 334v. Aos onze de Fevereiro de seiscentos e vinte, em Coimbra, nas casas da
Universidade e sólita morada do Dr. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor dela, estando ele aí e os adjuntos desta presente reformação em Junta,
mandaram que lhes levasse esta devassa, como, de feito, lha apresentei. Agosti-
nho de Aguiar o escrevi. //

jl. 3341>. Seja preso em sua casa sobre sua homenagem, pela culpa desta devassa,
Rui de Albuquerque, Secretário desta Universidade, e perguntem-se as testemu-
nhas referidas. Coimbra, em Junta hoje, onze de Fevereiro de 1620. Dr. D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor. Frei João Aranha. Frei Vicente Pereira.
Luís Ribeiro de Leiva. //

337
jl. 335 Aos dezoito dias do mês de Janeiro de mil e seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando ele aí presente, mandou decla-
rar aqui de como viera à sua notícia que, aos quinze dias deste presente mês e
ano, no Geral de Instituta, estando lendo nas lições da tarde o Dr. e lente dela
António de Abreu, e pateando os estudantes, assim os que estavam no dito
Geral como à porta dele, por ocasião de ser dia de Santo Amaro, em que os
estudantes o haviam feito na manhã do dito dia, e os lentes se haverem saído, e
na dita tarde o terem feito também nos mais Gerais, até que fizeram sair da
cadeira e Geral ao dito lente António de Abreu, dissera, saindo-se, o dito lente
que não ganhava honra em o ser, e que lhe não haviam de perder o respeito que
se lhe devia. à conta de ser lente. E, encostado à porta do dito Geral, da banda
de fora, saindo-se os estudantes, dissera, outrossim, o dito lente a um Estêvão
Machado de Miranda que não havia de patear ali mais, e que havia de ir patear
a sua casa. E que a isso lhe respondeu o dito Estêvão Machado que patearia
onde quisesse, e que ele dito Doutor lho não podia tolher, ao que, dizendo-lhe e
fl. 335v. replicando-lhe que era mui desavergonhado, o dito Estêvão Machado // lhe
respondera que ele era o desavergonhado. E de como, por ocasião destas pala-
vras, o dito Doutor logo in continenti atirara, estando quieto o dito Estêvão
Machado, com uma Instituta que tinha nas mãos, e dera com ela na cabeça ao
dito Estêvão Machado, junto à face e orelha, e que, no mesmo acto, o dito
Estêvão Machado, por si próprio e propria authoritate, para repelir a injúria
que havia. que lhe era feita pelo dito lente. com lhe dar com a dita lnstituta.
arremetera ao dito Doutor e lhe dera pelo corpo uma ou duas punhadas, até
virem ambos a braços. E muitos estudantes 4.ue os apartaram, que estavam nas
varandas dos ditos Gerais, saídos já deles ao tempo em que isto sucedeu, pela
dita razão de não quererem que se lesse no dito dia, e que o dito Estêvão
Machado era institutário deste ano, e dos nobres da vila de Guimarães, donde
era natural, e o dito caso, pelo lugar e tempo em que aconteceu e qualidade das
dita-; pessoas. era público e notório em toda a Universidade. e. por respeito delas,
ainda muito mais é de grande escândalo. E que de tudo fizesse este auto, e se per-
guntassem por ele alguns dos institutários deste ano que estivessem presentes e
fl. 336 melhor soubessem do dito caso,// para se poder proceder nele como a importân-
cia dele pedia. Em cujo cumprimento o fiz, e o dito Reformador o assinou. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.

Aos vinte e três dias do mê~ de Janeiro de mil e seiscentos e vinte anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado
vir perante si a Cristóvão Gomes, casado com Catarina Gonçalves, índio,
escravo de Gregório da Silveira de Miranda, estudante nesta Universidade, mora-

338
dor no bairro de S. Pedro, junto à Porta da Traição, testemunha referida; e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão, e,mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que _
lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de qua-
renta anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se lhe pediu
algém, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
f1. 337v. que não. Perguntado se levou ele declarante alguma// coisa a algum oficial
desta Universidade, e de que tempo a esta parte, disse que, esta quaresma pró-
xima passada, não lhe lembra ao certo em que tempo, mandou pedir um clé-
.rigo, a quem não sabe o nome, amulatado do rosto, que vivia detrás de S. Pedro,
o ano passado, e este presente não veio cá, e é de Lisboa, um prato de prata de
água às mãos ao dito seu senhor Gregório da Silveira; e ele declarante levou o
dito prato ao sobredito de mandado do dito seu senhor; e, estando com ele, lhe
pediu que lhe quisesse levar nele um presente ao Secretário Rui de Albuquer-
que. E, por ele declarante não querer, mandou o dito clérigo pedir o mesmo ao
dito seu amo, e ele declarante lhe respondeu que não havia lá de ir, pois não era
de sua mercê; e que não sabe o que tinha para lhe mandar. nem por lho man-
dou, digo, nem quem lho mandou, porque, indo-lhe depois pedir o dito
prato, lhe respondeu que estava ainda em casa do dito Secretário, que o man-
daria buscar pelo seu moço, a quem não sabe o nome. E mais não disse. E, sen-
fl. 338 do-lhe lido este testemunho,// disse estar escrito na verdade, e do costume nada.
E que, tornado lá ao outro dia, lhe dera o prato. E assinou com o dito Refor-
mador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. Diz a entrelinha prato. Sobredito
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Cristóvão Gomes.
Manuel David, solteiro, filho de Baltazar David e de Catarina Antunes, já
defunta, moradores na cidade de Lisboa, estudante institutário, a quem o
Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de dezassete anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu que,
sendo perguntado pelo auto atrás, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, e que é o que sabe dele, disse que não, e que o
que sabia do dito auto era que, dia de Santo Amaro, que foi quarta-feira,
quinze deste presente mês, à tarde, se achou ele declarante no Geral da Instituta,
e viu que, por ocasião de patearem todos ao Dr. António de Abreu, que estava
lendo, para que se saísse, como saíram os mais lentes, e de um estudante lhe
fl. 338v. bater na cadeira, disse o dito Dr. António de Abreu ao dito estu / ·/ dante, a
quem não sabe o nome, que, se quisesse patear, o fosse fazer a sua casa, que por

339
ser seu mestre e lente lhe não havia de perder o respeito, que lhe devia, por
quem era. E, sem embargo disso, patearam tanto até que o lançaram fora.
E, posto à porta do Geral, viu ele declarante que, tanto que saiu, um estudante
a que chamam fulano Machado, não sabe donde é, que tem barbas e bigodes
pretos, que será de idade de vinte e três anos, pouco mais ou menos, alto do
corpo, o sobredito lente lhe disse que fazia mui mal em patear daquele modo,
ao que o dito estudante respondeu que fazia muito bem, e que ele lhe não podia
tolher que pateasse onde quisesse. E o dito lente lhe disse que era desavergo-
nhado, e o dito estudante lhe respondeu que mais desavergonhado era ele; após
o que o dito Doutor lhe atirou com a Instituto que tinha nas mãos e lhe deu
com ela na cabeça, junto da orelha, tão grande pancada que saltou a Instituto
mui longe. E, logo in continenti, o dito estudante, como quem se havia por
injuriado de lhe darem com a Instituto na cabeça, arremeteu ao dito Doutor
com o punho seco, e lhe foi com ele por cima do braço, com que se reparou dar
uma punhada abaixo da orelha, no queixo e queixada. E, indo para dar outra,
/7. 339 e em seu favor outro estudante, ruivo, / / que dizem ser de Barcelos, a quem
não sabe o nome, também institutário, se meteram muitos estudantes de per-
meio, até que os apartaram. E que, na dita varanda dos Gerais, ao tal tempo,
estava muita gente do dito Geral de Instituto, e dos outros um só estudante, que
se chama fulano Piçarra. E que uns punham a culpa ao dito António de Abreu,
e outros ao dito estudante. E os que podem saber do sobredito são Luís
Ramos, que vive na Rua das Parreiras, institutário, de Setúbal, e João Gil de
Torres, também institutário, de Aldeia Galega, e vive de fronte de S. Jerónimo,
e outros a quem não sabe o nome. E ele declarante lhe pareceu que, por ser o
dito Doutor mestre, tivera o dito estudante a culpa em lhe responder. E mais
não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Manuel David.

João de Torres, solteiro, filho de Simão Gil de Torres, natural de Aldeia


Galega, estudante institutário, morador indo a S. Jerónimo , a querµ o
Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente,
17 339" lhe foi dado juramento nos / / Santos Evangelhos em que pôs sua mão. e.
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de dezoito anos.
Perguntado pelo auto atrás, e se alguém lhe pediu, e por si ou por outrem, que,
sendo perguntado por ele, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que
tempo a esta parte, disse que não. E que o que dele sabia era que, quarta-feira,
quinze deste presente mês, à tarde, nesta cidade, no Geral da Instituto, se achou
ele declarante, e por ocasião de ser dia de Santo Amaro, e de os estudantes
patearem para que o Dr. António de Abreu, que estava lendo, se saísse, viu e

340
ouviu ele declarante dizer ao dito Doutor que, por ser seu mestre, não perdia de
sua honra, nem se lhe havia de perder o respeito que, por sua pessoa, se lhe devia;
e, por continuarem em patear, saiu-se da cadeira. E, por ele declarante ficar no
Geral, não viu o que mais sucedeu; porém, ouviu que o dito lente atirara a um
estudante, a quem não sabe nome, e dizem ser de Guimarães, com uma Instituta,
e lhe dera na cabeça. E viu que aí estava muita gente do Geral, que não conhece; e
jl. 340 que de todos foi // mal recebida a dita desavença de uma e outra parte. E mais
não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do
costume nada. E assinou com o dito -Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o
escrevi. D. Francisco de Meneses, Re{nrmadar e Reitor. João Torres.

António de Faria, solteiro, filho de António de Faria, natural da cidade de


Lisboa, estudante médico, bacharel na dita Faculdade e deputado em ela este
presente ano, morador na Couraça, testemunh.;i. já atrás perguntada, a quem o
Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e sete anos.
Perguntado se está lembrado de haver provado a alguns estudantes desta Uni-
versidade o curso. e de que tempo a esta parte. disse que a muitos provara. e em
especial lhe lembrava haver provado a Francisco Morato e a Alberto Serrão
jl. 340v. e a Amaro Nunes e a Francisco Mendes, de Portalegre, / / todos médicos. Pergun-
tado que é o que provou a cada um dos sobreditos, disse que ao dito Francisco
Mendes, no seu derradeiro ano em que se formou e aprovou, que foi de Outu-
bro de seiscentos e dezasseis para seiscentos e dezassete, lhe lembra que ele
declarante e Francisco Morato lhe provaram quinze dias, ou até vinte, e a causa
que tem em estar lembrado disso é que esses quinze dias ou vinte dias que aqui
veio o dito Francisco Mendes para se aprovar, e tendo obrigação de escrever as
lições que deve ouvir, e por deixar de as escrever e o Dr. João Bravo se queixar
de o sobredito lhe não escrever a sua lição, e eles ambos lha irem provar, lhes
disse como o fizeram, davam por razão que era por serem quinze dias em que
não ia nada em deixar de escrever. E lhe parece que os ditos quinze ou vinte
dias que provaram foi no mês de Dezembro ou Janeiro do dito ano escolástico .
E. sendo-lhe logo mostrado o termo da prova que o dito Francisco Mendes, de
Portalegre, fez no livro do ano de seiscentos e quinze por diante, a folhas dele
cento e sessenta e três, inferia que tem por testemunhas a ele declarante e a
Francisco Morato, feito pelo Secretário, Rui de Albuquerque, em presença do
jl. 34/ Dr. João de / / Carvalho. E, perguntado se reconhecia os nomes e sinais dele
declarante e do dito Francisco Morato pelos próprios, e se lhe parece que lhe
provou mais dias do que tem declarado, disse, sendo por ele vistos, que os
reconhecia, assim o seu como o do dito Francisco Morato, pelos próprios, por

341
o ver escrever muitas vezes e ser a letra tal que a não poderá mudar sem ele
declarante a conhecer. E que entende que lhe não provou mais do que o dito
tempo que tem declarado; e que, dos outros, lhe não lembra ao presente quanto
tempo lhe provou. E mais não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse
estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. António de Faria.

João Velho, solteiro, filho de Francisco Velho, já defunto, natural da vila


de Viana, Foz de Lima, estudante institutário, morador na Pedreira, a quem o
Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs a sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte anos.
Perguntado pelo auto atrás, e se lhe pediu alguém, por si ou por outrem, que,
f7. 34/v. sendo perguntado / / por ele, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de
que tempo a esta parte, disse que não. E que o que dele sabia era que, quarta-
-feira à tarde, quinze deste presente mês, estando ele declarante no Geral de
Instituta, viu que, por ser dia de Santo Amaro e patearem os estudantes para
que se saísse o Dr. António de Abreu, que estava lendo no Geral de /nstituta,
disse o sobredito Doutor que lhe não pateassem na sua cadeira, como eles ...
quereriam que o não fizessem na sua deles. E, saindo para fora, tanto que
também saiu Estêvão Machado, institutário, da vila de Guimarães, ouviu ele
declarante dizer ao dito António de Abreu para o dito Estêvão Machado que
não pateasse mais na Instituta, e que o fosse fazer onde quisesse, e dizer-lhe o
dito Estêvão Machado que patearia ali e onde quisesse ; e, por ocasião disto,
dizer-lhe o dito Doutor que era mui desavergonhado, e o dito Estêvão
Machado replicar-lhe que mais desavergonhado era ele; e, a isto, atirar-lhe o
dito Doutor com a Instituta que tinha nas mãos, e dar com ela na cabeça. junto
Jl. 342 à orelha, e dar-lhe tão grande pancada que saltou a Instituta/ / muito longe. E, in
cuntinenri, arremeteu o dito estudante ao dito Doutor, e viu que vieram a bra-
ços; e, posto que dizem que lhe dera uma bofetada, pela muita gente que era,
ele declarante o não viu, nem conhece as pessoas que lho disseram. E logo os
apart~ram, _e havia ali muita gente à porta do dito Geral, da banda de fora,
onde isto foi. E que todos comummente põem a culpa ao dito Doutor, e por ele
há escândalo, como ele declarante teve, só do dito lente; porque, depois de
h~ver chamado desavergonhado ao dito estudante e de lhe responder o que tem
dito, sem embargo de se vir vindo já o dito estudante quieto e pacífico, o dito
Doutor lhe atirou. E, assim, para repelir, no mesmo acto em que o havia inju-
riado, a dita injúria, por defensão sua, não teve ele declarante por muito arre-
meter o dito Estêvão Machado ao dito lente. E assim o dizem todos os que

342
entendem a matéria e se acharam a ela presentes. E mais não disse. E, sendo-
-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. E diz
entrelinha lhe pediu. Sobredito o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reforma-
dor e Reitor. João Velho .

Jl. 342v. Aos vinte e quatro dias do mês de Janeiro de // mil e seiscentos e vinte anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D.
Francisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele mandado vir
perante si a Manuel Gonçalves, defunto, digo, filho de Simão Gonçalves, já
defunto, natural da vila de Setúbal, familiar do Colégio das Ordens Militares,
estudante canonista, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse a
verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim;
e disse ser de idade de vinte e cinco anos. Perguntado pelo auto atrás, e se alguém
lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntado por ele, calasse a verdade
ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. E que o
que dele sabia era que, quarta-feira, quinze deste presente mês, à tarde, se achou
ele declarante nas varandas dos Gerais desta Universidade, junto à porta // de
fl. 343 Instituto, e viu que, saindo-se o Dr. António de Abreu, lente dela, e após ele um
estudante, por nome fulano Machado, segundo ouviu dizer, e ser de Guimarães,
entre outros muitos, disse o dito António de Abreu ao dito estudante que não
havia de patear ali mais, e que o fosse fazer a sua casa, a que lhe respondeu o dito
estudante que pateria ali e aonde fosse sua vontade. E que, após isto, lhe chamou
o dito Doutor desavergonhado, e o dito estudante ao dito Doutor e lhe deu com a
mão direita uma pancada pela cabeça, junto às orelhas, e com a mão esquerda
ressegundou com outra da outra banda; e, por os apartarem logo estudantes, não
houve ali mais coisa alguma, o que foi na dita varanda, à porta do dito Geral,
onde estariam ao tal tempo perto dez ou doze homens, e depois acresceram / /
fl. 343v. muitos mais, entre os quais se punha comummente culpa ao dito Doutor, e do
seu termo só houve escândalo, e o que só ele o podia fazer, por lhe haverem já
acontecido outras sobre o patear com um irmão de João Pereira Botado, e com o
pupilo dos Padres Loios. E ele declarante o teve do dito Doutor, e fizera como o
dito estudante fez no mesmo acto em que o haviam injuriado, como lhe darem
com á dita Instituto e lhe chamarem desavergonhado, arremetendo ao dito lente
por defensão da dita injúria. E não conheceu as pessoas que estavam presentes,
nem quais as que viram o sobredito; e ouviu dizer que o dito estudante fulano
Machado é dos mais nobres da dita vila. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse
estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Manuel Gonçalves.

343
Ângela Fernandes, solteira, filha de Simão Fernandes e de Maria Antónia,
fl. 344 já defunta, do lugar da// Granja, junto a Lorvão, que ao presente vive com
Isabel Fernandes, padeira, a Medeiros de alcunha, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Fvan)!elhos. em que pôs sua mão. e. mandada que. soh
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,
prometeu de o lazer assim; e disse ser de idade de vinte e dois anos. Perguntada
pelo auto atrás da denunciação de Luís Cordovil, e se alguém, por ::,1 uu pur
outrem, lhe pediu que, sendo por ele perguntada, calasse a verdade ou dissesse o
contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. E que o que dele
sabia era que, este mês de Julho próximo passado, no fim dele, não lhe lembra
a quantos, quase noite, nesta cidade, se achou ela declarante em companhia da
dita Isabel Fernandes e de Pero Nogueira, trabalhador; e, estando todos três na
segunda loja das casas em que vive a dita Isabel Fernandes, entrou Luís Cordo-
vil, estudante desta Universidade, ferido com uma ferida na cabeça, da parte
esquerda, lavaào em sangue, que da dita ferida lhe caía, na dita casa, e fechou a
porta com uma mão, e, com a outra na cabeça, lhes pediu que também o
ajudassem a ter mão, porque ia para o matar Cristóvão Teixeira. E, tendo//
fl. 344v. todos mão na porta, e vendo o dito Cristóvão Teixeira que a não podia abrir,
que logo veio após ele, se tornou a ir. E foi o dito Pero Nogueira chamar o
cirnr~ião. e saíram para a loia de fora. F. estando para se ir o dito T.uís de
Cordovil, tornou a vir o dito Cristóvão Teixeira, e arremeteu contra o dito Luís
Cordüvil, y_ue ::,e meteu outra vez na segunda loJa; e, com uma adaga na mão,
foi após ele o dito Cristóvão Teixeira, e a dita Isabel Fernandes pegada nele.
E, por se apagarem as candeias, o não matou ele. E, chegando seu amo, António
Rodrigues, lhe pegou em um braço, e o deitaram fora; e então lhe parece que
lhe caiu um pistolete, que devia de levar da parte esquerda, embrulhado na
capa, porque na mão direita levava a adaga. E, vindas as candeias, achou o
pistolete no próprio lugar onde estivera o dito Cristóvão Teixeira. E aí na
vizinhança disseram que lhe dera com o dito pistolete na cabeça ao dito Luís
Cordovil, defronte da janela de João Borges, e o deitara logo no chão; o qual,
sendo-lhe logo mostrado e perguntado se era o próprio que achara na dita loja,
cii,q:• qut:' o reconhecia pelo próprio que achara. e que então dera ao dito T uís
fl. 345 Cordovil, que // o levara para casa. E mais não disse. E sendo-lhe lido este
te::.temunhu , disse estar escnto na verdade, e do costume nada. E, por não
saber assinar. a seu rogo. assinei com o dito Reformador E,t'll . Agostinho de
Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Agostinho
de Aguiar, a rogo.

Pero Machado, solteiro, filho de João Rodrigues e de Isabel Machada,


naturais da cidade de Braga, estudante institutário, morador junto à porta do

344
Castelo, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si,
e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs
sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no
que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de
vinte anos. Perguntado pelo auto atrás, e se alguém, por si ou por outrem, lhe
pediu que, sendo perguntado por ele, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. E o que dele sabia era que,
quarta-feira, quinze deste presente mês, à tarde, estando ele declarante no Geral
de Instituta, e, por ocasião de ser dia de Santo Amaro e os estudantes patearem
para se sair o Dr. António de Abreu, que estava lendo, como se tinham saído
os mais lentes, ouviu ele declarante ao dito Doutor dizer que, assim como //
Jl. 345v. eles não queriam que lhes batessem nas cadeiras que tinham em suas casas,
assim ele não queria que o fizessem naquela, que era sua; e que, por ser mestre,
se lhe não havia de perder o respeito que se lhe devia por sua pessoa. E, saído o
dito lente, e posto à porta do dito Geral, entre outros estudantes que se saíram,
saindo Estêvão Machado, estudante institutário, natural de Guimarães, man-
cebo grande do corpo, barba preta, que vive a S. Jerónimo, o sobredito lente
lhe disse que lhe não acontecesse bater mais no Geral daquele, e, quando o
quisesse fazer, o fosse fazer a sua casa; a que lhe respondeu que o faria ali e em
sua casa, como era costume. E que a isto lhe respondera o dito Doutor que era
mui desavergonhado, e lhe atirara com uma Instituto, e lhe dera na cabeça,
junto à orelha. E, posto que ele declarante não ouviu estas palavras, nem viu
atirar-lhe, assim lhe contaram todos os seus condiscípulos; porém, saíndo a dita
porta de Instituto, viu arremeter um para o outro, e o dito Estêvão Machado
dar com a mão direita uma pancada na cabeça do dito Dr. António de Abreu, e
bem poderia segundar com outra, mas ele declarante a não viu, porque se
fl. 346 meteu em meio e concorreram / / muitos estudantes, que os apartaram. E, entre
todos, pública e comummente se disse e diz que o dito Doutor tivera a culpa, e
se escandalizaram do seu termo; e assim lhe pareceu a ele declarante, porque,
sendo provocado e injuriado o dito Estêvão Machado, direito lhe era, no
mesmo acto da injúria, por sua defensão, tratar de se desinjuriar, como ele
declarante fizera. E que o dito Estêvão Machado é filho de Pero Machado, da
dita vila de Guimarães, tido e havido por dos mais nobres dela; e ele declarante
o tem e conhece por tal. E mais não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho,
disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Refor-
mador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Pero Machado.

Aos vinte e cinco dias do mês de Janeiro de mil e seiscentos e vinte anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, foi por ele mandado

345
vir perante si a Luís dos Ramos, solteiro, filho de Pero Lopes Henriques, natu-
ral da vila de Setúbal, estudante institutário, morador na Rua das Parreiras, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
fl. 346v. mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse// verdade e tivesse segredo no
que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de
dezasseis anos. Perguntado pelo auto atrás, e se alguém, por si ou por outrem,
lhe pediu que, sendo por ele perguntado, calasse a verdade ou dissesse contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. E que o que dele sabia era
que, quarta-feira, quinze deste presente mês, à tarde, no Geral da Instituto, se
achou ele declarante, e viu e ouviu que, por ocasião de patearem ao Dr. Antó-
nio de Abreu, que estava lendo, para que se saísse, por ser dia de Santo Amaro,
como os mais lentes se tinham saído, disse o sobredito que fossem patear a sua
casa. E, saído e posto à porta do Geral, entre outros estudantes que se tinham
saído, como ele declarante viu, estando encostado nas varandas, que tanto que
saiu Estêvão Machado, institutário, natural de Guimarães, lhe disse o dito Dou-
tor que não fazia bem patear ali, nem o podia fazer, ao que lhe respondeu o
dito Estêvão Machado que fizera bem, e que podia patear quando lhe pare-
cesse. E, por o dito Doutor lhe tomar a dizer que não podia, nem o havia de
fazer, lhe disse o dito estudante que era desavergonhado; e o dito António de
Abreu lhe atirou com a Instituto e lhe deu com ela uma pancada na cabeça,
fl. 347 junto à orelha; // e, logo in continenti, arremeteu ao dito António de Abreu, e
andaram ambos a braços, até que os vieram apartar. E não viu que o dito
estudante lhe desse, nem ouviu ao dito Doutor mais algumas palavras.
E publica e comummente põem todos a culpa ao dito Doutor, e se escandaliza-
ram do seu termo; e assim o pareceu a ele declarante, porque, vendo-se o dito
estudante afrontado com a dita pancada, no mesmo acto de tal injúria, obri-
gado estava e licito lhe era acudir por sua honra, como ele declarante e qual-
quer homem fizera. E conhece e tem ao dito Estêvão Machado por dos nobres
da dita sua vila, porque, de três anos a esta parte, o conhece das classes, e lá e
cá de todos é e foi sempre tido e havido por este. E mais não disse. E, sendo-lhe
lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Luís dos Ramos.

Aos vinte dias do mês de Janeiro de mil e seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele, foi mandado vir
perante si a Gaspar de Sampaio, solteiro, bedel das Faculdades de Cânones e
Leis, morador nesta cidade, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado
fl. 347v. juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão,// e, mandado que,
sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,

346
prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e dois anos. Perguntado
se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por
outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte. disse que não. Pergun-
tado pelos interrogatórios dos estatutos reformados, porque nela, conforme a
eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada
um deles sabia, disse que não sabia deles coisa alguma. Perguntado se, este mês
de Maio próximo passado, pouco mais ou menos, se achou ele declarante em
companhia de alguma pessoa, à qual dissesse ele declarante que certo estudante
desse uma espada dourada a certo oficial da dita Universidade, disse que o que
sabia da dita pergunta era ouvir dizer, não lhe lembra a quem, que Pero Bar-
bosa, estudante canonista, filho de Pero Barbosa, mandara ou trouxera ao
Secretário, Rui de Albuquerque, uma espada dourada de Lisboa, e que também
lhe não lembrava em que tempo ouvira dizer o sobredito, nem sabia mais coisa
alguma da dita pergunta. · E, sendo-lhe lido o referimento que nele fez
fl. 348 Manuel// Pereira, calado o nome do sobredito, disse que não sabia mais do
que tinha dito, nem estava lembrado que dissesse haverem-lhe dado a dita
espada por prova de curso ou meses, nem a que pessoa deu conta disto. E mais
não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Gaspar de Sampaio.

Domingas, moça solteira, filha de Domingos João, já defunto, e de Antó-


nia Simões, naturais do lugar de Oiã, termo da vila de Aveiro, criada de Jorge
Fernandes Mascarenhas, testemunha referida, a quem o Reformador D. Fran-
cisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandada que, sob cargo
dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu
de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e um anos. Perguntada se sabe ou
presume para que é chamada, e se lhe pediu alguém que. sendo perguntada na
visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que
tempo a esta parte, disse que não. Perguntada se, de um ou dois anos a esta
fl. 348v. parte, pouco mais ou// menos, levou um pouco de açúcar de sua casa à de
algum oficial desta Universidade, e por ordem de quem, e a que pessoa o entre-
gou, disse que, haverá um ano, pouco mais ou menos, que ela declarante, não
lhe lembra, se por ordem do dito seu amo Jorge Fernandes, se de sua ama,
levou a casa do Secretário, Rui de Albuquerque, em uma canastra que aí man-
dou o dito Secretário, um pouco de açúcar, e o entregou em casa do sobredito,
não lhe lembra se ao dito Secretário, se a uma criada dele. E lhe lembra que, de
cinco ou seis anos que há que serve ao dito seu amo, que não levou à dita casa
mais algum açúcar que este, o qual não sabe por que respeito lhe fosse man-

347
dado, nem o ouviu dizer a pessoa alguma. E mais não disse. E, sendo-lhe lido
este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E, por não
'-é't her <1ssinar. assinei por ela. a c;; eu roe:o. com o dito Reformador. F eu . A!!osti-
nho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Agustinhu de Aguiar, a rogo.

Aos vinte e oito dias do mês de Janeiro de mil e seiscentos e vinte anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
fl. 349 cisco de Meneses, Reformador e Reitor / / dela, estando aí, por ele foi mandada
vir perante si a Margarida, moça solteita, filha de Pero Simões e Ana João, Já
defuntos, moradores que foram na Rascasilva, junto a Penacova, criada de
Sebastião Antunes, médico, morador nesta cidade, testemunha referida; e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs a
sua mão, e, mandada que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no
que lhe fosse perguntado, prometeu ele o fazer assim; e disse ser de idade de
vinte e cinco anos . Per!!untada se sahe ou presume para que é ch amada. e se
lhe pediu alguém, por si ou por outrem, que, sendo perguntada na visita desta
relormaçào, cai~::.c a vcn.iaJc uu J1::.::.e::.::.e o contrano dela, e de 4ue tempo a
esta parte, disse não. Perguntada se, este Novembro próximo passado fez um
ano, pouco mais ou menos, mandou seu amo, Sebastião Antunes, ou outra
alguma pessoa, de consentimento dele, a outra, um pouc:o de açucar, e quando,
e a quem, disse que, no dito mês fez um ano, pouco mais ou menos, estando
Salvador Álvares, mercador da cidade do Porto, pousando em casa do dito seu
amo, e tendo nela quantidade de açucar, de consentimento do dito seu amo,
pediu a ela declarante que lhe levass<:! duas arrobas de açucar à Ru<1 Direita. a
casa de Jorge Fernandes, o Andorinho, do que tinha em uma saca, como, de//
fl. 349v. feito , lhas levou em uma canastra, embrulhadas em uma toalha de mesa, e as
entregou a ele ou à dita sua mulher, não lhe lembra agora a qual deles; e, à
noite, ouviu dizer ao dito Salvador Álvares ao dito seu amo e a sua ama que o
dito açúcar, que mandara ao dito Jorge Fernandes, era para que ele o desse ao
Secretário, Rui de Albuquerque. E que não sabia por que respeito lhas man-
dara, nem o ouvira. E que isto era o que sabia da dita pergunta; e mais rião
disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do
costume nada. E, por não saber assinar, assinei por ela, a seu rogo, com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Agostinho de Aguiar, a rogo.

Aos trinta dias do mês de Janeiro de mil e seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir
perante si a Simão Delgado, solteiro, filho de Simão Delgado, de Lisboa, estu-

348
Jl. 350 dante canonista, morador/ / na Couraça, testemunha referida, e, sendo pre-
sente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em quem pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e um anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se lhe pediu alguém, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo
que que de cada um deles sabia, disse que era ser público e notório, na maior
parte desta Universidade, que Rui de Albuquerque, Secretário dela, dava tempo
por dinheiro; e esta fama devia de trazer sua origem de lhe dizer o Dr. António
Pereira. filho de Diogo Rodrigues. médico na cidade ele T i,hoa. que um estu-
dante, cujo nome lhe não lembra, dera ao dito Secretário dez dobrões por um
pouco de tempo; e 4ue nào sabe donde mais tivesse seu pnncíp10. l:, 4ue tam-
bém era público que um estudante, chamado Manuel Soares. de Moura, dera
também dinheiro ao dito Secretário por tempo que lhe faltava. Disse mais que
J1. 350v. também ouviu a António Coelho da Costa, e / / a Sebastião Álvares da Silva,
opositor legista. que Salvador Lopes, médico, já formado, de Sacavém, pedira,
nesta cidade, a Gonçalo Vaz Freire, cunhado dele declarante, um beüo; e que
estava tido por tanchono, como também o está Luís de Melo, estudante legista,
de Lisboa, entre muitas pessoas desta Universidade, a quem o ouviu. E que isto
era o que sabia dos ditos interrogatórios. Perguntado a que estudante provou o
curso, este Novembro passado fez um ano, do ano antecedente, por dizer o dito
estudante que tinha certidão na forma da reformação, sem se exibir ao tal
tempo a dita certidão, disse que, o ano passado, em Novembro ou De7emhro.
pouco mais ou menos, assistindo o Dr. António Homem na casa da matrícula à
prova dos cursos, e o Secretário, Rui de Albuquerque, provou ele declarante o
curso do ano antecedente com outro estudante, que agora lhe não lembra, ao
dito Gonçalo Vaz Freire, seu cunhado; e, pedindo-lhe o Dr. António Homem
certidão para o poder provar até Maio ou Junho, ou o tempo que se achar, na
matrícula, disse o dito Secretário, Rui de Albuquerque, que ele a passara, e a
assmara o Reitor Vasco de Sousa. E que não passara mais que aquela e outra;
Jl. 35! e que, posto que se não exibia, ,;e lhe provasse o curso, como,// de feito, pro-
vou, porquanto ele dito Secretário a tinha passada; e não lhe lembra ao pre-
sente quem aí mais estivesse. Perguntado se. este mê, ele Ahril próximo pas-
sado, mandou ele declarante, e a quem, certos mimos e dinheiro, disse que, o
ano passado, no pnncípio da 4uaresma, mandou ele declarante ao dllo Rui de
Albuquerque uma caixa de diacidrão, em que também ia uma bolsa de ouro e
seda, e outros brincos de freiras, por um pagem seu, que então o servia, que se
chama João Monteiro, do Latim, que, ao presente, vive com um estudante de

349
Santarém, que vive na Couraça, a quem não sabe o nome: o que tudo lhe
mandou o dito seu cunhado Gonçalo Vaz Freire. E que isto era o que só sabia
da dita pergunta. Perguntado se sabe que o dito Rui Albuquerque recebeu o
dito presente e se, com ele, lhe mandou dinheiro algum, ou haja recebido o dito
Secretário mais alguma coisa, e por que respeito, disse que nenhuma outra coisa
sabe que se mandasse ao dito Rui Albuquerque, nem ele declarante lhe mandou
dinheiro algum; e sabe que aceitou os ditos mimos, porque não tornou
nenhuma coisa para casa, e respondeu ao dito seu cunhado por carta. E que
entende que lhe mandou o sobredito, por ser seu amigo e conhecido da Univer-
sidade. E mais não disse; e com isto se houve por satisfeito ao referimento que
fl. 351v. nele fizeram Jerónimo de Tovar e Manuel Valdrago e Luís Fernandes.// E, sen-
do-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada.
E assinou com o dito reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrev1.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Simão Delgado.

João Monteiro, solteiro, filho de Tomé Monteiro e de Jerónima de Faria,


naturais da vila de Alcoentre, estudante da sexta classe, que vive, ao presente,
com Nicolau de Brito, estudante canonista, da vila de Santarém, na Couraça, e,
o ano passado, esteve com Simão Delgado, estudante, da cidade de Lisboa,
testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou
vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos,
em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse a verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse
ser de idade de vinte anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado,
e se lhe pediu alguém que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse
fl. 352 a verdade ou dissesse o contrário·dela, e de que tempo// a esta parte, disse que
não. Perguntado pelos interrogatórios dos estatutos reformados, porque nela,
conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial,
disse que o que deles sabia era, por ocasião de ter ouvido a António de Faria,
estudante médico desta Universidade, que Luís Fernandes, outrossim estudante
dela, institutário do ano passado, era de noite buscado de muitos estudant~s, e
de ver que o dito Luís Fernandes foi dormir duas noites a casa do dito Simão
Delgado o ano passado, não lhe lembra em que mês, sem embargo dele decla-
rante fazer a cada ·um dos sobreditos sua cama a noite passada, lhe pareceu
muito mal ir ele lá dormir. e ficarem ambos sós na dita ca,;a toda a noite. e ser o
dito Luís Fernandes moço de pouca idade e gentil-homem. E que isto era o
que só sabia dos ditos interrogatórios. Perguntado se, no princípio desta 4ua-
resma próxima passada, levou ele declarante a alguma pessoa desta U niversi-
dade algum presente, e de quem, e a quem, e de quê, disse que o dito Simão
Delgado, no dito tempo, pouco mais ou menos, lhe mostrou uma caixa que lhe
viera de Lisboa, e mandara seu cunhado Gonçalo Vaz Freire, de diacidrão, e

350
uns brincos, e logo lhe pôs lacre e a mandou levar por ele declarante; e ambos
se foram a casa de Rui de Albuquerque, Secretário desta Universidade, e o
fl. 352v. dito// Simão Delgado lhe deu uma carta que levava do dito seu cunhado, para
o dito Rui de Albuquerque. E saído para fora , logo in continenti, entrou ele
declarante e deu ao dito Rui Albuquerque a dita caixa, que lhe pôs sobre um
bufete que tinha na dita casa, estando só nela. E que lhe não levara mais outra
coisa alguma, nem sabia quem lha levasse nem mandasse. E assim se houve por
satisfeito ao referimento que nele fez Simão Delgado. E, sendo-lhe lido este
testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o
dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. João Monteiro.

Marta Simões, viúva de Simão Álvares, moradora nesta cidade, junto à


porta do Castelo, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandada que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
//. 353 idade de quarenta e cinco anos. Perguntada se sabe ou presume para que// é
chamada, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem, que, sendo perguntada
na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de
que tempo a esta parte, disse que não. Perguntada pelo auto atrás da denuncia-
ção de Luís Cordovil, disse que o que sabia era que, segunda-feira que foram
vinte e nove do mês de Julho próximo passado, perto da noite, chegando ela
declarante à porta de Isabel Fernandes, a Medeiros, padeira, que vive defronte
de João Borges, à grita e arruído de se dizer que Cristóvão Teixeira, estudante
desta Universidade, ferira a Luís Cordovil, outrossim estudante, na cabeça, com
um pistolete com que nela lhe dera, viu entrar na dita casa, onde estava aco-
lhido o .dito Luís Cordovil, entrar ao dito Cristóvão Teixeira com uma adaga
nua na mão, para tratar ainda pior ao dito Luís Cordovil. E, por o tirarem
para fora, e acendidas as candeias, viu que lhe acharam aí um pistolete, que
dizem que levava debaixo do braço o dito Cristóvão Teixeira, e que aí lhe caíra.
E ao dito Luís Cordovil, ferido na cabeça, da parte esquerda, de uma ferida
aberta e sangrenta, que levou um ou dois pontos, e ele todo lavado em sangue.
E por muita gente que aí concorreu, não deu fé dos que vinham em seu/ /
/1. 353v. favor, mas dizem na vizinhança, como ela declarante ouviu a Perpétua Nunes,
que eram Francisco Soares de Albergaria, e Francisco da Fonseca, filho de
D. Mécia, e Luís Salema. E mais não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho,
disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E, por não saber assinar,
assinei por ela, a seu rogo, com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Agostinho de
Aguiar, a rogo.

351
Perpétua Nunes, viúva de Manuel de Figueiredo, moradora nesta cidade, à
porta do Castelo, junto à Rua de Alvaiázere, testemunha referida, a quem o
Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dada que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de cinquenta anos.
Perguntada pelo auto atrás da denunciação de Luís Cordovil, e se alguém lhe
pediu, por si ou por outrem, que, sendo por ele perguntada, calasse a verdade
fl. 354 ou dissesse o contrário// dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. E que
o que dele sabia era que, uma segunda-feira, vinte e nove de Julho próximo
passado, à tarde, da sua janela e casas em que vive, viu estar a Luís Cordovil,
estudante desta Universidade, na boca da Rua de Alvaiázere, falando com um
criado seu, e a Cristóvão Teixeira, estudante desta Universidade, andar na loja
das casas em que vive Miguel Coelho, estudante, que ficam defronte da janela
em que ela declarante estava, com um pistolete nas mãos, de alguns três palmos
de comprimento ao todo, e Luís Salema, estudante, de Lisboa, com uma espada
nas mãos, e Francisco Soares de Albergaria, outrossim estudante, de Lisboa,
com outra espada nas mãos, e outro estudante, a quem chamam João Mouti-
nho, que logo então se foi e não tomou cá este ano, não sabe donde é, sem
arma alguma. E logo saiu o dito Cristóvão Teixeira, e, correndo, se arremessou
ao dito Luís Cordovil com o dito pistolete nas mãos; e viu duas ou três faíscas
de fogo , como o que fere em uma pederneira, e logo cair no chão o dito Luís
Cordovil; e dizer uma moça, por nome Isabel, filha de Catarina Fernandes, que
vive na dita rua, que matara ao dito Luís Cordovil o dito Cristóvão Teixeira.
E, posto que lhe não viu a levantar o cão, nem dispará-lo, o devia de fazer, pois
viu o dito fogo. E posto que, outrossim, lhe não viu dar com o pistolete, viu que
fl. 354v. andaram, antes de ver o dito fogo, pegados um no outro. / / E que então lhe
pareceu que lhe daria com o dito pistolete na cabeça, donde saiu ferido, porque
não chegou aí alguma outra pessoa. E daí viu que, assim ferido, o levantaram
alguns estudantes, e o levaram para casa de Isabel Fernandes, a Medeiros; e os
sobreditos Luís Salema e Francisco Soares, com as ditas espadas na mão,. acu-
diram e saíram da dita loja ao dito Cristóvão Teixeira, ao tempo em que caiu o
dito Luís Cordovil, e vinha acudindo gente. E Lucrécia de Figueiredo, mulata,
mãe doutra mulata, por nome Isabel, a quem feriram fora da porta do Castelo,
de noite, no rosto, que vive debaixo do dito Cristóvão Teixeira, e lhe fazem de
comer e o servem, saiu à porta com uma candeia na mão, a pôr-se diante do
dito Francisco Soares, e dizer-lhe que não fosse lá, porque o dito Cristóvão
Teixeira, seu amo, bastava para matar ao dito Luís Cordovil; donde infere ela
declarante que ambos os dois estavam ali para acudir ao dito Cristóvão Tei-
xeira, como acudiram. E, posto que lhe não fizeram mal algum, os viu ir a
ambos os dois e o dito Cristóvão Teixeira após o dito Luís Cordovil, até à

352
porta da dita Medeiros. E é público, na vizinhança, que ainda lá entrou o dito
Cristóvão Teixeira para matar ao dito Luís Cordovil; e ela declarante ouviu
Jl. 355 gritar à dita Medeiros// sobre os ditos homens, que lhe não deixavam entrar
fogo para sua casa, tendo lá um homem morto; a qual conheceu na voz por a
tratar de anos a esta parte. E que isto era o que sabia do dito auto. E, sendo-
-lhe logo mostrado o dito pistolete, e por ela visto, e perguntada se o reconhecia
pelo próprio que viu ao dito Cristóvão Teixeira, disse que o parecia no tama-
nho; e mais não disse. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na
verdade, e do costume nada. E, por não saber assinar, a seu rogo, assinei por
ela com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. Diz o
emendado Francisco Sobredito o fiz. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Agostinho de Aguiar, a rogo.

Aos cinco dias do mês de Fevereiro de mil seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir
perante si a Pero Mendes, solteiro, filho de António Fernandes, natural de
Portalegre, estudante médico, morador na Pedreira, e, sendo presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs a sua mão, e, mandado
que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse pergun-
/1. 355,•. tado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte sete// anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado pelos interrogatórios dos estatutos reformados, porque nela, con-
forme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo
que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, este Maio passado,
por ocasião de lhe terem dito que os lentes não davam os partidos senão aos
que lhes mais davam, e ser público e notório, em as mais pessoas desta Univer-
sídade, e de lhe dizer Manuel Abreu, lente, e Manuel Aires de Almeida, estu-
dante legista, de· Ponalegre, que o Dr. João Bravo, lente de Medicina, era o que
dava e tirava os partidos, e que só a ele se devia dar alguma coisa para
se poderem alcançar, mandou ele declarante uma dúzia de chouriços ao dito
Dr. João Bravo por Diogo Vaz, criado do dito Manuel Aires, de catorze para
quinze anos, baixo e refeito, e não estuda, que vive com o dito seu amo junto a
S. João. E, depois disto, no princípio dos mês de Outubro próximo passado,
jl. 356 indo ele declarante visitar ao dito Dr. João Bravo, lhe ofereceu // meia dúzia de
queijos; e, por lhe dizer que lhos mandasse, lhos mandou por uma moça, por
nome Maria, criada de Ana Fernandes, ama dele declarante das portas adentro.
E, posto que o dito João Bravo lhe não deu os agradecimentos, entende que
recebeu os ditos presentes, porque, quando mandou os queijos, foi com a dita

353
moça até à sua porta, por ela a não saber, e por ela lhe mandou dizer o dito
Doutor que eram muito formosos, e que lhos mandara com tenção de que
votasse por ele nos partidos, posto que lho não declarou, nem houve pacto
sobre isso. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe
lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e
do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de
Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Pero
Mendes.

Jorge Fernandes Mascarenhas, mercador desta cidade de Coimbra, mora-


dor na Rua Direita, testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco
de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento
nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
Jl. 356v. fazer assim; e disse ser rie idade de sessenta anos. Perguntado/ / se sabe ou
presume para que é chamado, e se lhe pediu alguém, por si ou por outrem, que,
sendo perguntado na visita desta reformação, calasse ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado se sabe que
alguma pessoa ou oficial desta Universidade haja cometido algum erro contra
seu ofício, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado se sabe que
algum oficial desta Universidade, por passar alguma certidão, recebesse peitas e
dádivas de consideração, disse que, este ano passado, no princípio deste pre-
sente mês, pouco mais ou menos, fez um ano, se se não engana no tempo, veio
a esta cidade Salvador Álvares, mercador e tratante do Porto; e por lhe ter
escrito do Porto que, como vizinho e amigo do Secretário, Rui de Albuquer-
que, lhe houvesse dele uma certidão dos cursos de António Álvares , estudante
desta Universidade, irmão do dito Salvador Álvares, e por ele declarante pedir
os ditos cursos ao dito Secretário, por uma petição que lhe parece que fez o seu
genro Bartolomeu Gomes, e lhe despachou o Vice-Reitor Frei Egídio, e que o
dito Secretário lhe deu aviada com o traslado dos ditos cursos, que deu ao dito
Jl. 357 Salvador Álvares, o qual, em// remuneração, lhe mandou por ele declarante
quatro escudos de ouro, se se não engana em serem mais, e se afirma que não
eram menos, e ele declarante lhos levou e entregou, depois de feita e assinada a
dita certidão, os quais o dito Secretário não queria, e, a sua instância, os tomou.
E assim mandou mais por uma moça sua, por nome de Domingas, a D. Maria,
mulher do dito Secretário, em satisfação da dita certidão, um pouco de açucar,
que lhe parece seria uma arroba, pouco mais ou menos, por ordem do dito
Salvador Álvares, que lhe pediu que lho mandasse de um pouco que tinha
mandado a casa dele declarante, dizendo à dita sua moça que lhe dissesse que
lho mandava Salvador Álvares; donde entende e presume e tem para si que
saberia o dito Secretário do dito açucar. E que isto era o que só sabia da dita

354
pergunta. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar
de Figueiroa, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Jorge
Fernandes Mascarenhas.

Aos onze dias do mês de Fevereiro de seiscentos e vinte anos, nesta cidade
de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco de //
Jl. 357v. Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante
si a João de Carvalho, Doutor eI;Jl Teologia, opositor ao Colégio de S. Paulo,
natural desta cidade, testemunha referida; e, sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo
dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu
de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e oito anos. Perguntado se sabe
ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por outrem,
que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse
o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos estatutos -reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles
sabia, disse que o que deles sabia era ser público, nesta cidade, mandar Manuel
fl. 358 Falcão, estudante legista, de Portalegre, por um mulato, a quem não sabe o / /
nome, afrontar a Luís de Carvalho, estudante, este entrudo que vem fará um
ano, à porta do Mosteiro de Santa Ana, de que ele declarante, posto que se não
achou presente, se escandalizou da fama pública que disso houve nesta Univer-
sidade. E que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios. Perguntado se
está lembrado de quantas vezes serviu de conselheiro desta Universidade, e de
que, por respeito das oposições que houvesse no dito tempo, sucedesse coisa de
que haja de denunciar nesta devassa, disse que está lembrado servir nela de
conselheiro dois anos, de propriedade o segundo, que começou em S. Martinho
de seiscentos e dezoito, de conselheiro teólogo, e o primeiro de conselheiro
artista, que haverá alguns seis anos, pouco mais ou menos. E que nesse hou-
vera uma oposição de uma cadeira de lnstituta, que levou António Cabral a
Cristóvão Mouzinho, Estêvão da Fonseca e Francisco de Andrade; e que não
está lembrado de coisa que aí visse que haja de declarar. Perguntado se está
lembrado de que algum dos sobreditos pusesse excepção a algum estudante de
não ter curso de Artes, e de apresentar em Conselho o dito António Cabral
fl. 358v. certidão por que constava ter o dito estudante o dito tempo // de Artes e estar
lançado no livro da prova dos cursos, a certas folhas dele, e de requerer o dito
opositor in continenti que se exibisse o dito livro, e, apresentado em Conselho,
ver-se que não havia tal curso nas ditas folhas referidas, nem em outra alguma
parte dele, buscando-se em todas em que o dito curso podia estar; e se, conven-
cido o oficial que passara a dita certidão, dera por razão de a haver passado, ser

355
muito abelhudo, disse que bem poderia acontecer o sobredito, mas que se não
lembra disso coisa alguma. Perguntado se se lembra quem foi o secretário que
escreveu na dita oposição, disse que não lhe lembrava, posto que estava acor-
dado de Cristóvão Mouzinho se queixar de o Secretário, Rui de Albuquerque,
ser amigo de António Cabral. Perguntado se, no fim deste mês de Janeiro
passado fez um ano, tirou ele declarante os seus cursos, e quem lhos tirou, disse
que lembrado estava haver-lhos tirado o Secretário, Rui de Albuquerque. Per-
guntado que é que lhe deu por isso, .e em que moeda, disse que lhe dera por isso
f1. 359 um escudo de ouro, por lhos tirar com muita brevidade/ / e não ter então outra
moeda na algibeira; e, sem embargo de o dito Secretário lhe não pedir paga, e
serem os cursos que lhe tirou alguns nove anos. Perguntado se sabe que algum
estudante desta Universidade tenha ou traga pistolete, disse que ouvira, não lhe
lembra a quem, que Luís Salema, estudante legista, tinha um pistolete, e que
Luís Cordovil lhe mostrara um pistolete este ano passado, e lhe dissera que era
do dito Luís Salema, mas não sabe que o· dito Luís Salema o tenha, nem o
traga, nem lho viu a tempo algum. E por aqui se houve por satisfeito o referi-
mento que nele fez Jorge Osório Coutinho. E, sendo-lhe lido este testemunho,
disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E também se houve por
satisfeito ao auto de Luís Cordovil. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Dr. João de Carvalho.

Ao treze dias do mês de Março de mil e seiscentos e vinte anos, nesta


cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, . perante ele compareceu
f 359v. Manuel Rodrigues Chaves, solteiro, filho de Baltazar Coelho Chaves // e de sua
mulher Justa Rodrigues, moradores na vila de Abrantes, estudante legista nesta
Universidade, morador na Pedreira, em umas casas de D. Mécia, e por dizer
que tinha que denunciar lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que
pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de vinte e três anos. E logo disse que era
verdade que, sendo seus inimigos Jacinto Lopes Machado, filho de Gaspar
Lopes Machado, da dita vila de Abrantes, estudante legista, morador na
Pedreira, sobre ciúmes que o sobredito tinha dele declarante de uma mulher,
por nome Maria da Silva, que dizia ser casada, natural de Lisboa, e não sabe o
nome ao marido, e a mãe dela, a quem não sabe o nome, vende na capela de
Lisboa, que o dito Jacinto Lopes tinha em sua casa, e Simão Juzarte, estudante
canonista, solteiro, filho de António Juzarte, da dita vila de Abrantes, sobre ele
declarante, digo, sobre parecer ao dito Simão Juzarte que ele declarante escre-
vera à sua terra que ele vendera os textos para jogar, segunda-feira à noite, vinte
e quatro de Fevereiro, às seis horas, este próximo passado, estando ele decla-

356
Jl. 360 rante falando nesta cidade junto à// igreja de S. Cristóvão, debaixo de umas
casas que estão por cima da rua que vem da Pedreira para a dita igreja, com
Francisco da Costa de Vasconcelos, estudante legista, de Vilarinho, que vive na
Pedreira, sem fazer nem dizer por onde mal houvesse de receber, os ditos
Jacinto Lopes e Simão Juzarte, com outros dois de sua parcialidade, que ele
declarante não conheceu, saltaram com ele declarante, o dito Jacinto Lopes
com uma adaga, e lhe pegou das mãos, e o dito Simão Juzarte com uma faca, e
lhe deu com ela uma cutilada pelo pescoço, da parte direita, aberta e sangrenta,
que levou dois pontos, de largura de quatro dedos, e no queixo, da parte
esquerda, duas feridas, também abertas e sangrentas, e nas mãos, com que se
amparava por que o não ferissem no rosto, na direita só quatro feridas, que
levaram nove pontos, e na esquerda duas feridas pequenas, e todas abertas e
sangrentas; as quais todas logo mostrou ao dito Reformador perante mim,
Agostinho de Aguiar, escrivão da reformação; e estavam nas ditas partes, e
eram do dito tamanho acima referido. E requereu a ele dito Reformador lhe
recebesse a dita denunciação, e fizesse sobre ela cumprimento da justiça. E que,
sob o cargo do juramento que tinha recebido, a dava bem e verdadeiramente; e
nomeou por testemunhas dela ao dito Francisco da Costa de Vasconcelos, e
/l. 360v. João Velasques, estudante canonista, da dita vila de // Abrantes, que vive na
Pedreira, em casa de D. Mécia, e Francisco Lobo, também canonista e de
Abrantes, que vive outrossim na Pedreira, em outras casas da dita D. Mécia, e
António J uzarte, legista, de Abrantes, que vive na Pedreira, em umas casas de
Francisca Leal, e Torres, criado do dito Simão Juzarte, cujo nome é Pedro
Álvares, estudante do Latim. E declarou que os que vinham com os ditos seus
inimigos traziam, um uma espada, e outro uma espingarda; e todos vinham
vestidos em trajos de estudantes, com lenços pelo rosto, e com os mantéus de
baeta por cima das cabeças; e que conheceu aos ditos Simão Juzarte e Jacinto
Lopes por serem da sua terra e os conversar ordinariamente, e pela estatura dos
corpos e talho deles, e pelas mãos e olhos, e o mais que se deixava ver, em que
não havia lenço, e pelos vestidos, que, posto que era àquelas horas, ainda não
era tão noite que não visse o que tem dito. E que o cirurgião que o curou, por
nome António de Pina, estudante médico, nomeava também. O que, visto pelo
dito Reformador, lhe recebeu a dita denunciação; e assinou aqui com ele. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Manuel Rodrigues Chaves/ j.

fl. 361 Aos vinte e sete dias do mês de Março de mil e seiscentos e vinte anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado
vir perante si ao Dr. Fabrício de Aragão, lente de Clementinas nesta dita Uni-
versidade, para continuar com o seu testemunho que atrás fica; e, sendo pre-

357
sente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim. E, continuando seu testemunho, disse
que é público nesta Universidade, entre os lentes que foram deputados ou
ministros da Fazenda dela, que o escrivão, que até agora foi da Fazenda, por
nome Miguel da Fonseca, em muitas coisas não cumpria com a obrigação de
seu ofício por muitas vezes; porque nos seus livros se achavam muitos empra-
zamentos que a Universidade fez a várias pessoas, nos quais, continuando o
dito escrivão que foram feitos diante de tal jeito, e tais deputados e com tais
testemunhas ao pé de cada um dos ditos autos, se não acha sinal de nenhuma
·das ditas pessoas, nem o dito escrivão fazia assinar por elas; o que, parece, fazia
Jl. 36/v. por não dar as assinaturas que as ditas pessoas têm, tomando-as as partes // e
dando-lhes trasladas das escrituras sem as ditas pessoas estarem assinadas na
nota; e se reporta aos livros do tempo da última reformação para cá. Disse
mais que era público que o dito escrivão Miguel da Fonseca, quando algumas
partes faziam petição à Mesa da Fazenda sobre algumas provações para prazos
ou coisas semelhantes, e, para isso, acrescentavam seus títulos antigos algumas
vezes, o dito escrivão lhos sumia e dizia que eram perdidos, e dizia que tirassem
outros, para lhe pagarem busca e novo traslado, como, em efeito, fez a um
Domingos João, o Cartaxo de fala, casado com Maria Antónia, e a outras
pessoas que se vinham queixar disto a ele testemunha, sendo deputado, de cujos
nomes ao presente se não lembra. E que não dava, às vezes, à Universidade, os
os trasladas que tinham obrigação, para se porem no cartório. Disse mais que,
do escrivão da almotaçaria e taxas, há pública queixa que não cumpre bem os
seus ofícios, e que, na feira e açougues da carne, toma, contra o estatuto, a mais
da que há mister para sua casa, e, algumas vezes, fiada, ou sem pagar parte do
preço, pelo que se lhe tem mandado muitas vezes que não entre nos açougues,
fl. 362 nem tome carne para tornar a vender,// como já se disse dele, nem tome almo-
çatarias às mulheres que vendem fruta, como por muitas vezes se diz que toma;
e, no que toca às taxas particulares, as não escreve em livro, como o estatuto
manda, antes faz autos, para lhe darem mais dinheiro por eles, assim da escri-
tura como da busca; e, muitas vezes, toma as taxas só em lembrança, e depois
faz autos em sua casa, acrescentando e diminuindo algumas circunstâncias das
ditas casas, de que trazem muitas demandas que duram a maior parte do ano,
com que o dito escrivão se gaba que rende mais o dito ofício das taxas que os
ofícios dos escrivães da Conservatória. E nisto se diz que, indo ao dono das
casas a fazer demanda, por lhe serem taxadas em menos, e aos privilegiados,
por lhe serem taxados em mais, usando de invenções nesta matéria e lançando
termos supérfluos, que não é necessário lançar, e ajuntando outros papéis, com
que pede muito dinheiro às partes, de que há queixa, como ele declarante ouviu
a Brásia Luís, a Guarita da Feira, e outras coisas destas ao Dr. Diogo Mendes

358
Godinho, sendo taxador, e a Nicolau Carvalho, livreiro. E AntóniÓ Alves,
escrivão dos vigários, se queixa dele lhe fazer uma falsidade em uns papéis; e
das coisas que faz na feira e açougues se queixam Mateus Fernandes, Margarida
f1. 3óh Carvalha e António João, mestre dos // meninos, que vive na Feira, e Marcos•·-.,
Martins, repesador, e outros que assistem com ele na feira e açougues .
E, assim, é público que os mais dos depósitos que se fazem sobre as demandas
das taxas e aposentadorias, ele os toma na sua mão, e com muito trabalho
depois se arrecadam dele, sendo contra ordenação, que isto proíbe, o que acon-
teceu em uma demanda em que era parte Martim Afonso Coelho, e noutra em
que eram partes D . Francisco de Meneses e seu irmão, D. Pedro de Meneses,
que, depositando um deles três mil réis na sua mão, e outros dez, que se quei-
xavam, cumpridas as demandas, os não podiam arrecadar dele; nem sabe que
os arrecadassem. E outros erros semelhantes, pelos quais publicamente se
entende que convém ao bom governo da Universidade não servir aquele homem
os tais ofícios. Disse mais que Mateus Fernandes, picadeiro da Universidade,
por algumas vezes lhe dissera que, havia quatro anos ou mais que emprestara
ao dito escrivão vinte mil réis, que ele lhe fora pagando pouco a pouco, e
devendo-lhe de resto oito mil réis, por um escrito que ele declarante viu, depois,
f1. 363 lhe trocara aquele escrito por outro, que diz ser feito neste Outubro // próximo
passado, em que o dito escrivão diz dever ao dito Mateus Fernandes seis mil
réis que lhe emprestou à conta de seus cunhados, os quais escritos ambos ele
declarante reconheceu serem da letra do dito escrivão; e, no segundo, se vê
claramente o engano, porque fala em seus cunhados neste Outubro, obri-
gando-se a pagar a dita quantia da feitura do escrito a seis meses, sendo verdade
que um de seus cunhados é morto há três anos, antes do dito escrito, em Vila
Viçosa, onde é morador; o qual engano entende ele declarante que o dito escri-
vão fez com que algumas pessoas lhe botavam em rosto que fizera mal em pedir
os ditos vinte mil réis, e dever ainda de resto os oito do primeiro escrito ao dito
Mateus Fernandes, sendo dele dependente. E isto dos escritos sabe também o
Dr. António Lourenço e o Dr. Luís Álvares da Rocha. E que isto era o que
sabia dos ditos interrogatórios. Perguntando pelo referimento que nele fez
o Dr. António Lourenço, e sendo ouvido e entendido, e perguntado primeiro
in genere, disse que, haverá nove ou dez anos que, entrando ele declarante na
livraria da Universidade, viu nela mais de cinquenta volumes de livros velhos,
chapeados do mesmo latão, pegados nas estantes; e indo, haverá dois anos,
Jl. 363v. sendo outra vez deputado, visitar a dita livraria, // que toda esteve e está em
poder do cartulário André de Avelar, não achou nenhum dos ditos livros
velhos. E, queixando-se disso, e cominando que se havia de castigar aquela
falta, daí a dois dias, tornando ao cartório, achou alguns dos ditos livros velhos,
mas poucos e sem chapas nem cadeias de latão. E assim ficaram entendendo
que o dito André A velar, com medo, os mandara trazer de sua casa; e dos

359
livros novos que se acharam, e dos mais, mandaram fazer inventário, entre os
quais faltavam textos de Leis e Cânones dos novos, que, segundo sua lem-
brança, lhe parece que viu em casa do dito André Avelar, servindo-se deles um
filho seu. Perguntado pelo referimento que nele fez Diogo Mendes Godinho,
primeiro in genere, e, sendo por ele ouvido, disse que o que dele sabia era que
Manuel Pires de Aguiar, agente da Universidade, no ofício que se fez do Reitor
Vasco de Sousa, que Deus tem, levara, digo, contara na cera dele mais do que
parecia que se gastara no dito ofício. E assim, no mais gasto de músicos e
religiosos, entende que ficaria levando a terça parte mais do que se continha no
mandado que, para isso, se passou; mas que não se afirma se seriam doze ou
.fl. 364 treze mil réis, nem lhe lembra // ao presente a quem o dissesse. Perguntado
pelo referimento que nele fez o Dr. Manuel de Abreu, primeiro in genere, disse
que o que dele sabia era que, vendo o último Conselho de multas que se fez em
Agosto de seiscentos e dezoito, achou nele um assento do Conselho, feito da
letra de Rodrigo de Albuquerque e assinado pelo Vice-Reitor Frei Egídio, e os
mais conselheiros daquele ano, o qual dizia, viu-se neste conselho uma petição
de Francisco Vaz, corrector da impressão, em que pedia se lhe mandasse pagar
a segunda terça daquele ano por inteiro, assim como estava lançado na folha.
E por constar que assim se lhe mandara no Conselho da dita segunda terça e o
Dr. Fabrício de Aragão, como deputado, não podia pôr verba na folha contra
o que o Conselho tinha determinado, mandavam se tirasse a dita verba da folha
e se pagasse por inteiro ao dito Francisco Vaz; o qual assento vem a ele decla-
rante com o Dr. António Lourenço. E sendo verdade que, na folha e adição do
dito Francisco Vaz, estava lançado seu substituto António de Sequeira, o qual
tinha já recebido, naquele tempo, a sua terça parte, e ele declarante não tinha
posta tal verba, como da folha se viu, por ser o dito assento prejudicial à Uni-
/7. J64 v. versidade, requereu ao dito Vice-Reitor o mandasse riscar. E ele,/ / em Conse-
lho que fez a sete de Setembro do mesmo ano, praticado o negócio com os
conselheiros, o mandou riscar, declarando, no mesmo assento, que se riscava,
por ser feito por inadvertência e contra o que convinha à boa distribuição da
fazenda da Universidade; ao qual assento, que está feito por Miguel da Fon-
seca, que então servia, se reporta; mas nem em um nem em outro se fala em o
dito Rui de Albuquerque dar fé falsa nem verdadeira, nem ele se lembra de
quem, ao presente, deu conta do sobredito. E por aqui se houve por satisfeito
ao referimento que nele fez Simão Leal, e ex causa não foi perguntado pelo
referimento que nele fez Sebastião Álvares da Silva. E do costume disse, assim a
este testemunho como ao passado, que, entre as pessoas contra quem tem tes-
temunho, Rodrigo de Albuquerque se publica por inimigo capital dele decla-
rante; e há um ano e meio que se não falam, nem de barrete, até ao presente ; e
que não sabe a causa. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de

J60
Aguiar, o escrevi, D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Dr. Fabrício
Aragão. //

/1. 365 Ao primeiro dia do mês de Abril de mil e seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada de D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante
si Manuel Gomes, solteiro, estudante do ano passado da quarta classe, que ora
veio da Universidade de Salamanca e se vai para sua terra, que é da freguesia de
S. Bartolomeu, termo da vila de Óbidos, filho de Domingos Gomes, sapateiro,
e de Violante Simoa, já defunta, alvarinho do rosto, desbarbado, testemunha
referida; e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de vinte anos, pouco mais ou menos. Perguntado se sabe ou presume
para que é chamado, e se lhe pediu alguém, por si ou por outrem, que, sendo
perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogató-
rios dos estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inqui-
rir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse
que o que deles sabia era que, este mês de Outubro próximo passado, fez um
Jl. 365,·. ano, Estêvão Ferreira, // estudante canonista desta Universidade, natural da
Vila de Óbidos, nesta cidade pôs e acomodou a ele declarante com Diogo Dias
Pinto. estudante que o ano passado se formou em Cânones, que vivia defronte
do Colégio de S. Paulo, natural de Vila Viçosa, homem de barba loura.
E, depois de o servir coisa de mês e meio. meado o de Novembro, o dito Diogo
Dias, em uma noite, depois de estar deitado na cama e despido nela, o chamou,
e o abraçou e beijou, e lhe meteu o seu membro viril, teso e levantado, na mão
direita dele declarante, e lhe mandou que lho esfregasse, como de feito esfregou,
até que derramou semente. estando o dito Diogo Dias deitado e ele declarante
de giolhos, junto à cama. E. nos dias imediatos, pela manhã e à noite, em cada
um deles, no mesmo lugar e cama, e do mesmo modo, fez o dito Diogo Dias o
sobredito, de maneira que seriam perto das cinco vezes, derramando em todas
semente, e abraçando-o e beijando-o; e sendo sempre agente, e ele declarante,
paciente. E, por lhe dizer o seu confessor que se saísse de casa do dito Diogo
Dias, e querendo-o fazer, com efeito, o sobredito o atou ao seu catre e o açoi-
tou, até que ali lhe prometeu que se não iria; porém, o não fez assim, e se foi
/7. 166 . para casa de seu // pai. E nesse comenos deu conta de tudo ao dito Estêvão
Ferreira. E que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios. Perguntado se
sabe que o dito Diogo Dias haja cometido o dito pecado com alguma outra
pessoa, e se está infamado dele, ou que outras algumas o tenham cometido,
disse que não. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade,

361
e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de
Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Manuel Gomes.

Aos seis dias do mês de Maio de mil seiscentos e vinte anos, nesta cidade de
Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada de D. Francisco de Mene-
ses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela, estando aí,
perante ele compareceu António Antunes de Paiva, filho de Francisco Antunes e
de Catarina Gaga, moradores em Coina, naturais de Lisboa, estudante institutá-
rio deste presente ano; e, por dizer que tinha que denunciar, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs a sua mão, e mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo. E logo disse que, por ocasião de lhe
fl. 366v. terem furtado de sua casa, em dinheiro // e peças, valia de vinte para trinta mil
réis, de que o Conservador desta Universidade tirou devassa, e de se falar nela
em Damião Dias, natural de Estremoz , estudante legista, que vive na Pedreira,
sábado que foram dois deste presente mês de Maio, à tarde, das três para as
quatro horas, vindo ele declarante dos Gerais, sem dizer nem fazer por onde mal
houvesse, o dito Damião Dias, por entender que ele declarante seria ocasião de
se falar nele, com um terçado e com uma faca, estando-o esperando nos degraus
que vão para os ditos Gerais, de propósito saltou com ele, e, não podendo dar
com o terçado, por ele declarante se abraçar logo a ele, com a faca lhe deu uma
ferida na testa, da parte direita, junto à raiz do cabelo, aberta e sangrenta, do
tamanho de um dedo, que logo mostrou, posto que estava já sarada; e que, sob
cargo do dito juramento, dava bem e verdadeiramente a dita denunciação.
E que poderiam testemunhar do dito ferimento António de Pina, médico e cirur-
gião, que o curou, e António de Gouveia, escrivão da Conservatória, e Estêvão
Cardoso, estudante legista, de Vila Viçosa, que estava com o dito Damião Dias,
e Francisco Carvalho, estudante canonista, de Lisboa, que vive junto a S. Pedro,
fl. 367 e António Dias, guarda das Escolas, e os mais// que eles nomearem. E mais
não disse. E assinou com o dito Reformador. Agostinho de Aguiar o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. António Antunes de Paiva.

Aos sete dias do mês de Maio de mil e seiscentos e vinte anos, nesta cidade
de Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada de D. Francisco de
Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela, estando aí,
mandou vir perante si a Luís Correia, solteiro, filho de Francisco Correia de
Meneses, já defunto, estudante canonista e mestre em Artes, morador defronte
da portaria do Colégio da Trindade, e, sendo presente, lhe foi dado juramento
nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de vinte e um anos. Perguntado se sabe ou

362
presume para que é chamado, e se lhe pediu alguém, por si ou por outrem, que,
sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou dissesse o
contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos
interrogatórios dos estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, em geral, e, depois, em especial, pelo que cada um deles sabia,
disse que o que deles sabia era que Gaspar de Seixas, bedel de Medicina e
jl. 367v. Artes, não chama de ordinário os/ / mestres delas por suas casas para as con-
gregações da Faculdade, como pelo estatuto é obrigado. Disse mais que, como
arqueiro que, ao presente, é da dita Faculdade das Artes, tomando contas ao
dito bedel, que alcançou em remate delas em sete mil e oitocentos réis, como
consta do encerramento delas no livro que ele declarante fez para isso, assinado
também pelo dito Gaspar de Seixas e duas testemunhas que estiveram presen-
tes, feito a folhas quatro no fim, e sendo assim que tinha o dito dinheiro em seu
poder, na eleição que se fez ao primeiro de Fevereiro deste ano, para examinar
dos bacharéis, não houve distribuição, por ele dizer publicamente que não tinha
dinheiro. Disse mais que, não só sonegava, pelo dito modo, o dinheiro da
Faculdade, mas, para o poder tomar, os assentos que o recebedor ou arqueiro
havia de fazer, para constar do que montassem as distribuições da Faculdade, o
dito bedel os fez por sua própria letra; e, para que constasse de serem assinados
pelo arqueiro André de Avelar, lente de Matemática, que foi eleito para servir
o dito ofício no ano de seiscentos e dezoito, falsificou todos os sinais do dito
André de Avelar; com os quais sinais falsos, como deles se vê no livro dos ditos
assentos, de oitavo, encadernado em pergaminho, que o dito bedel tinha dado
.fl. 368 ao dito André A velar, e que ele // Reformador mandou a ele declarante para,
como arqueiro, tomar as ditas contas ao dito bedel, como, de feito , tomou por
ele, quis e pretendeu o dito bedel intitular os ditos assentos por do dito arqueiro
André de Avelar, sendo feitos e assinados pelo dito bedel em nome do dito
André de Avelar, para, deste modo, levar o dinheiro que quisesse. Disse mais
que, nas cédulas que dão os examinandos de bacharéis e licenciados aos exami-
nadores, de muitos anos a esta parte, se não assinou o recebedor ou arqueiro da
dita Faculdade; e sendo assim que havia de assinar e receber o dinheiro, e que,
doutro modo, se não podia fazer o tal exame, conforme ao estatuto do livro
terceiro, título sessenta, parágrafo terceiro e sexto, o dito bedel, de alguns anos
a esta parte, contra o estatuto, passa as ditas cédulas de haver recebido o dito
dinheiro, e, em efeito, o recebia, como consta e se vê do dito livro. Disse mais
que, conforme ao dito título, no parágrafo oitavo, havendo-se de pagar ao dito
bedel singelamente, ele, em muitas distribuições, se contava dobrado, como,
outrossim, consta do dito livro, porque lhe tomou as ditas contas nas distribui-
ções dos licenciados do ano de seiscentos e dezanove. Disse mais que, nas ditas
contas que lhe tomou do ano de seiscentos e dezanove, na distribuição dos
/1. 368v. licenciados, o dito bedel contava a propina dobrada, sendo assim // que a deu

363
singela, em que assentou e confessou ao tomar das contas como também em se
haverem feito, no dito ano, nove mestres em Artes, sem embargo de ter posto
no seu livro sete, como nele vê, e assim mais negava a incorporação de bacha-
réis e licenciados em Artes de D. Miguel de Portugal e de Cristóvão de Távora,
e, nestas adições e declarações, o alcançou ele declarante nos ditos sete mil e
oitocentos réis das ditas contas que lhe tomou, de que fez, além do encerra-
mento do seu livro, outro, que ele declarante apresenta, assinado pelo dito bedel
e testemunhas, de que mais claramente consta o sobredito. Disse mais que o
sobredito bedel leva para os autos mais dinheiro do que o estatuto manda,
porque, fazendo contas conforme a ele, que manda pagar a cada bacharel mil e
trezentos e cinquenta réis ao todo, ele leva mil e quinhentos réis, e, assim, de
mais cento e cinquenta réis, como, de feito, levou a ele declarante e ao mestre
Cristóvão Soares, e a outros muitos. Disse mais que o dito bedel se não acha
presente aos autos das Artes que se fazem nos Padres da Companhia, contra o
estatuto do dito livro, título sessenta e três, parágrafo primeiro, posto que vai a
f1. 369 alguns. Disse mais que, no dia em que se dá o grau a todos os ba//charéis na
sala da Universidade, conforme ao estatuto, pagam os bacharéis, de propinas,
charamelas, ramos e armação, três mil e setecentos e cinquenta réis, o dito bedel
pede, de ordinário, para as ditas coisas, aos ditos bacharéis, cinco mil e qui-
nhentos e cinquenta, como consta que recebeu este ano presente para o dito
efeito da quitação que disso deu o dito bedel a Francisco de Araújo, que foi um
dos mestres em Artes do dito ano. Disse mais que o dito bedel, para os autos
de mestres em Artes, leva mais dinheiro do que se manda pagar pelo estatuto,
em tanto que ao mestre Cristóvão Soares ficou devendo, do dia de seu magisté-
rio, três mil réis, que depois pagou com muito trabalho; e, de presente, deve ao
mestre Cristóvão de Távora mil e quinhentos réis, ou o que na verdade se
achar, do seu magistério, que lhe ... por tirar das mãos. Disse mais que o dito
bedel, no dia do exame dos licenciados, pede a cada um examinando dois mil e
quinhentos réis; e, assim, a respeito do que são obrigados a pagar, lhes leva
mais. E, assim, no dia em que se dá o grau aos licenciados, lhes leva mais para
propinas, chamarelas e ramos e armação, o que ele declarante sabe porque lhe
levou, no dia em que ele declarante tomou o dito grau com os mais daquele
ano, cinco mil e novecentos, que nisso se não montam. Disse mais que o dito
fl. 369v. bedel passa certidão aos examinandos de haver recebido// o dinheiro, que são
obrigados a pagar, sem o terem entregue, para que, não sabendo o recebedor do
tal examinando, possa levar à Faculdade o dinheiro que se lhe deve, como fez
este ano a Dãmião Botelho, que se examinou a vinte e nove de Abril, o qual
confessou a ele declarante que o dito bedel lhe esperara pelo dito dinheiro, e
assim deu a ele declarante três tostões, depois de se haver examinado, havendo
de ser antes, como manda o estatuto. Disse mais que, nos exames dos licencia-
dos deste presente ano, o dito bedel passou certidão a um Paulo de Moura,

364
colegial do Colégio das Ordens Militares, de como tinha pagas as propinas e a
da Faculdade, sendo assim que ele declarante, recebedor dela, a não tinha rece-
bida, para que assim pudesse tomar à Faculdade os seus três tostões que tem de
propina. E que o dito bedel,vendo que os devia, e que ele declarante os pedia,
lhos mandou a casa, depois do dito Paulo de Moura examinado alguns vinte
dias, havendo de ser antes, conforme ao estatuto. E que, nos autos, ordinaria-
mente lhe vê furtar as luvas; e assim é notório. E que entende ele declarante, em
sua consciência, que o dito bedel deve ser despedido do serviço da Faculdade e
da Universidade, por entender se faz nisto grande serviço a Deus e à dita Uni-
fl. 370 versidade, pelas coisas que// atrás vão apontadas; e também por ser homem
que se toma do vinho. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume
nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
Fiz o riscado que diz de Meneses. Sobredito o escrevi. D. Francisco de Mene-
ses, Refarmador e Reitor. Luís Correia.

Heitor Pita, solteiro, filho de Bento Tomé e de Simoa Dias, natural da vila
de Santarém, estudante institutário deste presente ano, que o passado andou no
teceiro curso das Artes desta Universidade, testemunha referida, a quem o
Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de dezanove anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se lhe pediu alguém, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.
Perguntado se sabe que alguns estudantes desta Universidade tenham o pri-
,/7. 370v. meiro curso das Artes / / sem o haverem cursado ou o ouviu, disse que, o ano
passado, ouviu nesta cidade, não lhe lembra a que estudantes, que Fabrício
Bembo, estudante canonista, de Lisboa, tinha lançado o primeiro curso das
Artes de Santo Antão nos livros desta Universidade falsamente, sem o haver
cursado, e, para isto, mandara fazer o sinete do dito Colégio de Santo Antão,
que dele trouxe,ra impresso em um papel, com uma pouca de obreia, e com
ele fizera certidão falsa, com a qual lançara o dito curso; e que poderia contar
isto a outras pessoas, mas que lhe não lembra agora a quem. E mais não disse,
nem lhe foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe lido testemunho, disse estar
escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Heitor Pita.

365
Aos nove dias do mês de Maio de mil seiscentos e vinte anos, nesta cidade
de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor dela, estando ele aí, mandou declarar aqui como
ti. 37! viera à sua notícia como, ontem, que // foram oito deste presente mês e ano, às
sete horas da manhã, vindo o licenciado André Cardoso para ler a cadeira
de lnstituta da dita hora, em que, pelo Conselho, estava provido, e com ele o
Dr. João Bravo, lente de Véspera de Medicina, da igreja de S. Pedro para a
Universidade, sem dizer nem fazer por onde houvesse de ser desacatado e inju-
riado, Diogo Velho, estudante legista desta dita Universidade, filho de Rui
Homem da Mata, já defunto, que vive por baixo das casas do Colégio das
Ordens Militares, com um pedaço de pau e com um terçado, que junto à
esquina do Colégio de S. Paulo o andava esperando, e um fulano de Faria,
filho de Tomé Gomes Faria, neto do Dr. Pimentel, e outro homem, cujo nome
se não sabe, que, outrossim, o estavam esperando em favor do dito Diogo
Velho, saltara de propósito o dito Diogo Velho, passada a porta principal do
dito Colégio de S. Paulo com o dito André Cardoso, lhe dera com o dito pau
algumas pancadas por detrás, e, acudindo logo os outros dois em seu socorro
com as ditas armas, de que saíra ferido o dito André Cardoso na mão esquerda,
nas costas dela, de uma ferida aberta e sangrenta, de grandura de dois dedos, e
que, porquanto o dito André Cardoso não queria que, a seu requerimento, se
fl. 37 tv. procedesse contra os // sobreditos, me mandava que ex officio fizesse de tudo
este termo e auto, vista a qualidade, e do dito André Cardoso estar actualmente
lendo cadeira nesta Universidade; e que eu desse minha fé da dita ferida, que me
mandara ver, e de como o dito André Cardoso não queria que, a seu requeri-
mento, se procedesse contra eles; e que, pelo dito auto, se perguntassem as
testemunhas que do caso soubessem, em cujo cumprimento dou a minha fé de
ver a dita ferida, e ser do tamanho que atrás vai declarado, e aberta e sangrenta.
E certifico que o dito André Cardoso disse que não queria que, a seu requeri-
mento, se procedesse neste caso. De que tudo fiz este auto, por mandado
do dito Reformador, que ele assinou. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.

Aos vinte dias do mês de Maio de mil seiscentos e vinte anos, nesta cidade
de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco de
Meneses, Doutor dos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela, estando aí,
por ele foi mandado vir perante si a Martim de Mesquita, solteiro, filho de
Gaspar Soeiro, já defunto, e de Isabel Araújo, da cidade do Porto, estudante / /
Jl. 372 canonista, morador à Pedreira, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que,
sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,
prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte anos. Perguntado pelo
referimento que nele fez João da Cunha, primeiro, em geral, e, depois disso, em
especial, disse que bem poderia ver ao dito Luís Gonçalves o dito pistolete, mas
que lhe não lembra ao presente. E mais não disse, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Martim de Mesquita.

António Dias Barbosa, clérigo de ordens de epístola, natural de Prado,


junto a Braga, estudante canonista, morador na Rua do Carmo, testemunha
referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante
si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que
pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo
no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de
Jl. 372 vinte e três anos.// Perguntado pelo referimento que nele fez Bento Luís, pri-
meiro, em geral, e, depois disso, em especial, disse que, esta Páscoa próxima
passada fez um ano, algum tempo depois dela, nesta cidade, em Montarroio,
em companhia de outros estudantes que lhe não lembram, era verdade que viu
ir a Simão Leitão, conteúdo no dito referimento, o qual, pondo-se a cavalo, ele
declarante lhe viu na ilharga, caindo-lhe a capa, uma coisa como espingarda ou
pistolete; e não deu fé de mais particularidades. E mais não disse, nem lhe
foram feitas mais perguntas; e do costume disse nada. E assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. António Dias Barbosa.

Gonçalo Jorge, clérigo de ordens de epístola, natural da Maia, junto ao


Porto, estudante canonista, morador a Montarroio, testemunha referida, a
quem o Reformador mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que,
fl. 373 sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo // no que lhe fosse pergun-
tado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e cinco anos.
Perguntado pelo referimento que nele fez Bento Luís, primeiro, em geral, e,
depois, em especial, calados os nomes, disse que, depois da Páscoa alguns dias,
esta próxima passada fez um ano, nesta cidade, em Montarroio, em companhia
de outras pessoas que lhe não lembram, e aí à sua porta passando, a cavalo, o
dito Simão Leitão, conteúdo no dito referimento, ele declarante lhe viu, por lhe
cair a capa, na cinta, um pistolete, e não deu fé de quantos palmos seria, e lhe
pareceu de pederneira. E mais não disse, nem lhe foram feitas mais perguntas;
e do costume disse nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho,
de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Gonçalo
Jorge.

367
Pero Tinoco Sardinha, solteiro, filho de Manuel Tinoco, natural de Elvas,
estudante canonista, morador na Pedreira, testemunha referida, a quem o
reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de vinte e um anos de idade.
f]. 373v. Perguntado pelo referimento que nele fez Pero Gonçalves,// em geral, e, depois
disso, em especial, calados os nomes, disse que o que sabia do dito referimento
era que, o ano passado, não lhe lembra em que mês, nem com que pessoas, se
achou ele declarante em companhia delas e nesta cidade, e viu a uma delas um
pistolete, cujo cano seria de palmo, com fechos de pederneira; e aí se disse que o
dito pistolete era de Estêvão Cardoso, estudante legista, que tem por alcunha o
Malhado, porque tem umas malhas de cabelo branco na cabeça; e lhe lembra
que não era ele nenhum dos que estavam na dita companhia. E que isto era
o que só sabia do dito referimento, e mais não disse, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Refqrmador e Reitor. Pero Tinoco Sardinha.

João de Mesquita de Figueiroa, solteiro, Cavaleiro da Ordem de Cristo e


porcionista do Colégio das Ordens Militares, filho do Dr. Antão de Mesquita,
deputado da Mesa da Consciência, testemunha referida, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que,
f]. 374 sob cargo dele, dissesse verdade/ / e tivesse segredo no que lhe fosse pergun-
tado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de dezanove anos. Pergun-
tado pelo referimento que nele fez João da Cunha, em geral, e, depois, em
especial, calados os nomes, disse que lhe não lembrava de ver o pistolete de que
fala o referimento; e mais não disse, nem lhe foram feitas mais perguntas, e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. João de Mesquita de
Figueiroa.

Aos vinte e dois dias do mês .de Maio de seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela, estando
aí; por ele foi mandado vir perante si a Pero_Neto, solteiro, filho de Pero Neto
e de Maria Martins, defuntos, de Miranda do Corvo, estudante da primeira
classe, morador à Couraça, testemunha referida, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado
fl. 374v. prometeu de o fazer/ / assim; e disse ser de idade de dezanove para vinte anos.

368
Perguntado pelo referimento que nele fizeram, digo, perguntado se sabe que
alguns estudantes tragam, ou trouxessem, ou tenham pistoletes em sua casa, e
de que tempo a esta parte, disse que, o ano passado escolástico, que começou
em Outubro de seiscentos e dezoito, no discurso dele, por várias vezes, viu,
nesta cidade, a Félix Lobo de Morais, filho de um António Lobo, que vive no
Espinhal por sua fazenda, estudante da décima classe, a quem seu pai mandou
buscar por não estudar, trazer consigo um pistolete com cano de pouco mais de
palmo e fechos de pederneira, ora na algibeira, ora na cinta; e isto, ora em casa
dele declarante, ora em casa do dito Félix Lobo de Morais. E, de uma vez, lhe
lembra que foi em companhia de um Simão Fernandes, estudante médico desta
Universidade; e isto por serem amigos e conhecidos. E que não sabia de outra
pessoa alguma; só ouvir dizer publicamente, assim nas Escolas Menores desta
Universidade como nesta cidade, que Nuno da Guerra, estudante da terceira
classe do ano passado, seu condiscípulo, atirara com um pistolete e o disparara
com efeito nesta cidade, na Feira dos estudantes, no fim do ano passado escolás-
fl. 375 tico, no mês de Abril, a um estudante, 11 a quem não sabe o nome, nem lhe
lembra de presente a quem ouviu o sobredito, por o ouvir comummente dizer,
em uma e outra parte. E mais não disse, e do costume nada; e com isto se
houve por satisfeito aos referimentos que neles fizeram Manuel Correia e Simão
Fernandes. E assinou como o dito Reformador. E eu, Agostinho Aguiar, o
escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Pero Neto.

António Rodrigues, filho de Francisco Rodrigues e de Maria Monteira,


natural de Lamego, estudante da quarta classe, que esteve o ano passado com
Frutuoso Antunes da Costa, estudante, de Braga, testemunha referida, a quem
o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo pre-
sente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de dezoito anos.
Perguntado pelo referimento que nele fez Frutuoso Antunes da Costa, disse que
o que dele sabia era que, este Março próximo passado fez um ano, pouco mais
ou menos, nesta cidade, não lhe lembra a quantos dele, foi a casa do dito 11
fl.375v. Frutuoso Antunes da Costa António da Fonseca, estudante desta Universidade
e natural de Braga, e dizem que é filho de Geraldo da Fonseca; e, estando aí,
lhe mostrou a ele declarante e ao dito Frutoso Antunes um pistolete, e disse que
ganhara sobre ele dois mil e tantos réis a Diogo Pinto, estudante canonista, de
Mogadouro, sobrinho do Dr. Francisco Vaz Pinto, cujo cano seria de mais de
um palmo, pouco mais ou menos, e fechos de pederneira. E mais não disse,
nem lhe foram feitas mais perguntas. E assinou com o dito Reformador, e do
costume disse nada. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. António Rodrigues. ·

369
Fernão Mendes de Gusmão, solteiro, filho de António Mendes, já defunto,
e de Leonor Pinheira, de Mortágua, estudante da quarta classe, testemunha
referida, a quem o Reformador D . Francisco de Meneses mandou vir perante
si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que
pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissess~ verdade e tivesse segredo
.fl. 376 no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer // assim; e disse ser de idade
de vinte anos. Perguntado se sabe que alguma pessoa tenha ou trouxesse algum
pistolete ou outras armas proibidas, e de que tempo a esta parte, disse que, este
N atai próximo passado, e algum tempo mais próximo passado, fez um ano,
nesta cidade, em casa dele declarante, foi ter Francisco Rodrigues Calaça, estu-
dante canonista, da vila de Castelo Branco, e aí lhe mostrou um pistolete, de
cano de mais de um palmo e de fechos de pederneira, o qual trazia na algibeira;
e, isto, estando em companhia de algumas pessoas que lhe não lembram.
E, por outras vezes, lho viu, não lhe lembra quantas, nem em que partes.
E mais não disse, e do costume nada; e que era público que ele o trazia. E assi-
nou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. E com
isto se houve por satisfeito ao referimento que nele fez Jacinto de Abreu.
Sobredito o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Fernão
Mendes de Gusmão.

Francisco Pereira, solteiro, filho de António de Coimbra, provedor da


.fl. 376v. comarca da Guarda, natural de Britiande, estudante legista, morador / / na Rua
dos Estudos, testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de
Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de vinte e um anos. Perguntado se, depois de
provar o curso escolástico, no fim de Maio do ano de seiscentos e dezoito,
residiu ainda algum tempo do mês de Junho seguinte, e quando provou o dito
tempo de Junho, disse que, no fim do dito Maio provara o dito curso, e depois
residira até vinte e cinco do dito mês de Junho seguinte, e, no ano seguinte, pela
quaresma de seiscentos e dezanove, provara o dito mês de Junho, como cons-
tará do livro do dito ano. Perguntado quem assistiu à prova do dito mês de
Junho, disse que assistira à dita prova o Dr. João de Carvalho, se se não
engana, e o Secretário, Rui de Albuquerque. Perguntado se tinha certidão do
.fl. 377 ano antecedente para poder provar o dito mês de // Junho no ano seguinte,
disse que fez petição ao Reitor Vasco de Sousa para lhe dar licença para poder
provar o dito mês no ano seguinte; e, por falecer, naquele comenos, o dito
Reitor, não houvera a dita certidão; e depois alcançara provisão da Mesa da
Consciência, para se fazer informação sobre a prova do dito mês. E por lhe
dizerem que, sem a dita provisão, se lhe podia provar de equidade, e o

370
Dr. Pedro Cabral dizer a ele declarante que pediria ao dito Rui de Albuquerque
que lhe informasse, na dita provisão, por as fazer naquele tempo ao padre
mestre Frei Egídio, e responder o dito Rui Albuquerque que não era necessário,
para coisa tão pouca, tratar de provisão, que ele lho provaria sem ela, de efeito
lho provou o dito tempo atrás declarado. Perguntado se, em remuneração da
dita prova, mandou às ditas pessoas que o provaram alguma coisa, disse que
não; e mais não disse, nem lhe foram feitas mais perguntas, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Francisco Pereira.

Agostinho da Costa, solteiro, filho de Sebastião Dias Castanheira e de


Jl. 377v. Catarina Sambada, natural/ / de Mação, bacharel canonista, morador na Rua
de Alvaiázere este presente ano, testemunha referida, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim; e disse ser de vinte e oito anos. Perguntado pelos
interrogatórios dos estatutos, na forma costumada, disse que o que deles sabia
era que, este mês de Junho que vem fará dois anos, viu ele declarante que o
bedel Gaspar de Sampaio, quando pôs o relógio para ler a sua lição de bacharel
Pero da Costa, filho de Amaro da Costa, natural desta cidade, levava já o dito
relógio alguma areia corrida, mas não sabe se, por isso, lhe deu alguma coisa;
·porém, Martim Gaifão, estudante canonista, de Mação, disse a ele declarante
que mandara ao dito bedel duas galinhas, por lhe dar um dia para fazer conclu-
sões. E o mesmo lhe disse que fizera Pero Gaifão, estudante canonista, do
Sardoal, o que fizera, haverá dois anos, e o dito Martim Gaifão, o ano passado.
Disse mais que, na quaresma passada fez um ano, nesta cidade, viu ele decla-
/1. 378 rante a Simão Juzarte// estudante canonista, de Abrantes, que hoje vive à
Pedreira, e então vivia na Rua das Covas, e a Pero de Avelar, canonista, com-
panheiro do sobredito, em casa dos sobreditos, a cada um deles, seu pistolete,
cujos canos não passavam de palmo e meio, e de fechos de pederneira; e não lhe
lembra se estava aí mais alguém; porém, o saberá o moço dos sobreditos, por
nome Pero de Torres, que anda na quarta classe, natural de Belver, junto a
Abrantes. Perguntado pelo referimento que nele fez Luís de Aguiar, disse que o
que dele lhe lembrava era que, este Junho que vem fará dois anos, mandou ele
declarante por um moço seu, chamado António Dias, de Mação, filho
de Simão Fernandes, que, ao presente, anda na terceira classe, um queijo do
Alentejo. Disse que, posto que o seu intento fosse para que assistisse ao seu
auto e viesse a ele com facilidade, quando começou a ler tinha já corrida
alguma areia, pouca. E que lhe não deu conta do dito que ele declarante lhe
deu para o dito auto, posto que também lha não pediu. E mais não disse, e do

371
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Agostinho da
Costa.

fl. 378v. Pero Rebelo, solteiro, filho de Sebastião Cardoso// e de Violante Pinta,
da vila de Trancoso, estudante institutário que o ano passado andou na primeira
classe, testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses
· mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse
verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de dezoito anos. Perguntado pelos interrogatórios na
forma costumada, disse que o que deles sabia era que, no fim de Abril, pouco
mais ou menos, este próximo passado fez um ano, nesta cidade, na Feira dos
estudantes, à tarde, sobre palavras que haviam tido Sebastião Cardoso, irmão
dele declarante, e Brás de Amaral, de propósito, o dito Brás de Amaral, que
então andava na sexta classe, e Nuno da Guerra, que andava na terceira, o
esperaram com um pistolete de cano de alguns dois palmos e fechos de peder-
neira, e, com ele, o dito Nuno da Guerra atirou e o disparou, com efeito, para
ele declarante e para o dito Sebastião Cardoso, seu irmão. E assim denuncia
agora nesta mesa bem verdadeiramente. E, perguntado pelo referimento que
fl. 379 nele fez Gaspar Pinte,, disse que bem// poderia ver o pistolete que diz o refe-
rimento, mas que lhe não lembrava ao presente. E, perguntado pelo segundo
referimento que nele fez Gaspar Pinto, disse que não era lembrado que visse tal
pistolete. E mais não disse, e do costume nada. E assinou com o dito Refor-
mador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Pero Rehelo.

Aos vinte e três dias do mês de Maio de mil e seiscentos e vinte anos, nesta
(:idade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Ságrados Cânones, Reformador e Reitor dela, estando
aí, por ele foi mandado vir perante si a Manuel Aires de Almeida, testemunha
já atrás perguntada, por ser, depois disso, referido; e, sendo presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que,
sob cargo dele, dissesse_ verda?e e tivess~ segredo no que fosse perguntado,
prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e cinco anos. Pergun-
tado se_ sabe que algum o~cial desta Universidad~ recebesse de estudante algum
dela c01sa alguma, por deixar de fazer alguma c01sa que fosse de seu ofício e de
jl.379v. que tempo a / / esta parte, disse que, este presente mês de Maio faz um' ano
nesta cidade, ~stando para se provar os partidos dos médicos e oposto a eles, 0 ~
para se examinar para eles, Pero Mendes, estudante médico, de Portalegre e
por parecer ao dito Pero Mendes, e assim lho haverem aconselhado algu~as

372
pessoas que lhe não lembram, que o Dr. João Bravo, lente de Véspera de
Medicina, votaria por ele, dando-se-lhe alguma coisa, sabe ele declarante que o
dito Pero Mendes lhe mandou, pelo dito respeito, uma dúzia de chouriços por
Diogo Vaz, criado dele declarante, que, esta Páscoa passada, se ausentou daqui,
o qual lhos entregou, e disso trouxe resposta ao dito Pero Mendes; o que sabe
porque, de casa dele declarante, lhos mandou o dito Pero Mendes, e viu trazer
a resposta de como os aceitou o dito João Bravo. E também disse a ele decla-
rante o dito Pero Mendes que, no princípio deste mês de Outubro, mandara ao
dito Doutor uns queijos de Alentejo; mas que não sabe se, com efeito, lhos
mandou, porque o não viu, nem que o dito lente, com pretexto do dito pre-
sente, dissesse ao dito Pero Mendes que votaria por ele. E que isto era o que só
sabia da dita pergunta. Perguntado se deu ele declarante a algum dos ditos
oficiais coisa alguma, e de que tempo a esta parte, disse que não. E mais não
fl. 380 disse/ / nem lhe foram feitas mais perguntas; e com isto se houve por satisfeito
aos referimentos que nele fizeram João Moutinho de Mesquita e Pero Mendes;
e do costume não disse nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agosti-
nho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Manuel Aires de Almeida.

Martim Gaifão, filho de António Gaifão, já defunto, natural de Mação,


estudante canonista, morador na rua do Colégio de S. Paulo, testemunha refe-
rida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que
lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e
seis anos. Perguntado se sabe que algum oficial desta Universidade recebesse
alguma coisa por fazer alguma amizade contra o seu ofício, disse que o que
sabia da dita pergunta era que, no ano passado, pelo tempo das conclusões, por
ele declarante haver perdido a sua sorte e desejar de fazer noutra, e o bedel
Gaspar de Sampaio lhe dar alguma ordem para as poder fazer em alguma que
vagasse, mandou, por uma negra forra, a quem não sabe o nome, e casada na
fl. 380v. feira com um homem caçador,// a quem também não sabe o nome, a qual foi
de casa do dito bedel, ao dito Gaspar de Sampaio, duas galinhas, e para a dita
negra uma garrafa de vinho. E, logo ao outro dia, lhe disse que faria em uma
sorte que estava vaga, e, de feito, o admitiu a ela, dizendo-ll!e que o fazia de
equidade, e não porque estivesse obrigado a fazê-lo; por onde ele declarante
entendeu que as havia recebido e, por respeito delas, lhe havia dado o dito dia.
E também disse a ele declarante Pero Gaifão, estudante canonista, que dera ao
dito bedel umas galinhas por o admitir às ditas sortes, agora faz dois anos, sem
haver entrado a elas. E disso se queixam alguns estudantes, e um lhe disse que,
por uns presuntos, o admitiria a fazer conclusões, antes de chegar o dia da sua

373
sorte. E mais não disse, e do costume nada; e com isto se houve por satisfeito
ao referimento que nele fez Damião de Aguiar. E assinou com o dito Refor-
mador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Martim Gaifão.

Jerónimo Pinheiro, filho de Manuel Pedrosa, defunto, e de Maria


Pinheira, da vila de Guimarães, criado de João de Freitas, estudante canonista,
da dita vila, estudante da undécima classe, testemunha referida, a quem o
Jl. 381 Reformador D. Francisco / / de Meneses mandou vir perante si; e, sendo pre-
sente, por dizer que era de doze anos, lhe não foi dado juramento nos Santos
Evangelhos; e, para informação, lhe tomou seu testemunho, e lhe foi mandado
que dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado. Perguntado
se levou a algum oficial desta Universidade algum presente, e de quem, e de que
tempo a esta parte, disse que, o ano passado, quando fez conclusões, o dito seu
amo João de Freitas, não lhe lembra em que mês antes delas, mandou por ele
declarante ao bedel Gaspar de Sampaio, que então vivia defronte de S. Ber-
nardo, uma caixa de marmelada branca e duas galinhas; e ele declarante as deu
ao dito bedel da parte do dito seu amo, e as recebeu. E mais não disse e do
costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Jerónimo Pinheiro.

Aos vinte e cinco dias do mês de Maio de mil e seiscentos e vinte anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado
vir perante si a João Velasques, solteiro, filho de Fernão Velasques, da vila de
Jl.38/ v. Abrantes, estudante canonista, // morador à Pedreira, testemunha nomeada no
auto de denunciação de Manuel Rodrigues Chaves, folhas trezentas e cinquenta
e nove; e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de vinte e um anos. Perguntado pelo dito auto, disse que não sabia·do
dito auto coisa alguma mais que ver a Manuel Rodrigues Chaves as ditas feri-
das, e serem da forma que nele se relata; e ser, na vizinhança, público haveram-
-lhas dado os ditos Jacinto Lopes e Simão Juzarte, por se o dito Manuel
Rodrigues Chaves queixar só deles, na mesma noite em que o feriram. E que
não sabe nem presume que os sobreditos lhe fizessem as ditas feridas, porque
não tem indícios alguns para isso. E mais não disse do dito auto, e do costume
nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. João Velasques.

374
E, logo no mesmo dia atrás declarado, nesta cidade de Coimbra, nas casas
Jl. 382 da Universidade e sólita morada de D. Francisco de Meneses, Reformador // e
Reitor dela, estando ele aí, mandou vir perante si a João de Freitas, solteiro,
filho de António de Freitas, natural da vila de Guimarães, estudante canonista,
testemunha atrás perguntada, e, sendo presente, por dizer que tinha que decla-
rar, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de vinte e dois anos. E logo disse que, haverá
quatro anos, pouco mais ou menos, não lhe lembra em que mês, nesta cidade,
se achou ele declarante em casa de João Leitão, estudante formado em Câno-
nes, natural de Braga, que vivia junto ao Dr. António Viegas, na Rua de João
Borges, médico, e, estando com o dito João Leitão ambos sós, por ocasião de
lhe haverem dito que todos tinham ano de Artes, e de ele declarante desejar
mais depressa seus autos, e de haver dado conta disso ao dito João Leitão, o
sobredito lhe mandou que fizesse um passe da sua letra, por que constasse de
como ele declarante havia ouvido o primeiro curso das Artes do padre Manuel
de Gouveia, feito no ano de seiscentos e dezoito, como, de feito, ele declarante
fl.382v. fez na sua própria letra. E o dito João Leitão, por um sinal que tinha// do
padre Cosme de Magalhães, prefeito que então era, lhe pôs ao pé do dito passe
o nome do dito prefeito Cosme de Magalhães, falsificado, e, para o falsificar,
tomou o dito sinal verdadeiro que tinha do dito prefeito, e posto onde o queria
assinar, e por cima das letras dele as ia escrevendo e assinando com um pon-
teiro por cima; e depois de as ter afiguradas, tirado o sinal verdadeiro, escreveu
com tinta as ditas letras e sinal de Cosme de Magalhães; e assim ficou falsifi-
cado o dito nome, sem o dito prefeito o escrever com a sua própria mão.
E com este passe veio ele declarante a Bartolomeu Fernandes, que então servia
pelo Secretário Rui de Albuquerque, que lhe passasse certidão em nome do
Reitor do Colégio das Escolas Menores, Francisco de Mendonça, e, tanto que
lha passou, a levou ao dito João Leitão, que, assim e da mesma maneira que
lhe falsificou o sinal do prefeito Cosme de Magalhães, lhe falsificou também o
nome do dito Reitor Francisco de Mendonça, por outro verdadeiro que ele
tinha. E, tanto que teve a dita certidão, veio ao dito Bartolomeu Fernandes,
que por ela lhe lançasse o dito primeiro curso das Artes no livro da prova dos
cursos, como, de feito, lançou, e por virtude do dito curso de Artes falso fez ele
fl. 383 declarante // o ano passado seu auto de conclusões, sem ter, na verdade, os
quatro anos perfeitos que, para isso, se requeriam, porquanto, sem as ditas
Artes este presente ano é o seu quinto. E porque, caindo no em que o tinha
metido o dito João Leitão, e a sua consciência e confessores o obrigarem, o
vinha declarar a ele Reformador, para que fizesse o que lhe parecesse, por-
quanto não queria usar do dito curso de Artes, e que de o haver feito estava
muito arrependido; e mais não disse. Perguntado se soube da dita falsidade o

375
dito Secretário, e se sabe que algumas outras pessoas hajam, pelo dito modo,
lançado nos ditos livros semelhantes cursos de Artes ou de Casos, e de que
tempo a esta parte, disse que não, e do costume nada. E declarou que não lhe
lembra ao certo o tempo que há que isto foi, mas lhe lembra que foi depois de
ser Reitor o dito Francisco de Mendonça. Diz a entrelinha feito e dezoito, e o
riscado se fez na verdade. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho
de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. João de
Freitas.

Pero Gaifão, solteiro, filho de António Ferreira, natural do Sardoal, estu-


dante canonista, morador na Rua de Alvaiázere, testemunha referida, a quem o
fl.383v. Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante // si, e, sendo pre-
sente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e seis anos.
Perguntado pelos referimentos que nele fizeram Agostinho da Costa e Martim
Gaifão, in genere e calados os nomes, disse que, agora faz dois anos, nesta
cidade, por ele declarante não haver entrado nas sortes dos conclusionistas, e
lhe largar a sua sorte um fulano Saraiva, a quem não sabe nome, estudante
canonista, e o bedel Gaspar de Sampaio o deixar fazer naquele dia, mandou ao
dito bedel duas galinhas por António Cordeiro, estudante de Medicina, natural
do Sardoal, criado de Francisco de Parada, antes de lhe dar o dito dia, e, depois
de lhas mandar, consentiu que fizesse as ditas conclusões e lhe deu os agradeci-
mentos das ditas galinhas. E que isto era o que só sabia. E também lhe disse
Martim Gaifão, de Mação, que, por outra coisa semelhante, lhe mandara
outras duas galinhas; e também ouviu dizer a Agostinho da Costa, de Mação,
·que mandara ao dito Gaspar de Sampaio uns queijos por outra coisa semelhante.
jl. 384 E mais não disse, e do costume / / nada; assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Pero Gaijão.

Aos vinte e seis dias do mês de Maio de mil e seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir
perante si a Simão da Fonseca, solteíro, filho de Diogo Cardoso da Costa, estu-
dante canonista, da vila de Trancoso, testemunha referida, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e seis anos.
Perguntado pelo referimento que nele fez Manuel Pereira, em geral, calados os
nomes, disse que o que dele sabia era, este ano próximo passado, mandou ele

376
declarante uma porcelana de ovos reais, que lhe custou uma pataca, ao bedel
Gaspar de Sampaio, pelo seu moço, chamado Domingos Martins, estudante da
quinta classe, que é ido para Roma, para que o dito bedel lhe deixasse trocar a
sorte das conclusões com um estudante, a quem não sabe o nome. E mais não disse
f1. 384v. do dito referimento. E assinou com/ / o dito Reformador. E eu, Agostinho de
Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Simão da
Fonseca.

Aos vinte nove dias do mês de Maio de mil e seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir
perante si a Gonçalo Vaz Piçarra, solteiro, filho de Pero Gonçalves Piçarra,
natural da vila de Moura, estudante legista, testemunha referida, morador no
Bairro de S. Pedro, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evan-
gelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse
ser de idade de vinte e um anos. Perguntado pelo referimento que nele fez
Belchior da Guerra, disse que bem o poderia ouvir, mas que, ao presente, lhe
não lembra; e mais não disse. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agos-
tinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Gonçalo Vaz Piçarra//.

jl. 385 André Ximenes, casado com Eugénia Vicência Machado, da vila de
Estremoz, estudante legista, morador junto à Porta da Traição, testemunha
referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante
si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos santos Evangelhos, em que pôs
sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no
que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de
vinte e oito anos. Perguntado pelo referimento que nele fez Pantaleão Rodri-
gues Pacheco, primeiro, em geral, e, depois, em particular, calado o nome, disse
que bem poderia achar-se presente, mas não lhe lembra que ouvisse falar na
dita matéria de que o referimento trata; e mais não disse, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses. Reformador e Reitor. André Ximenes.

Francisco da Costa de Vasconcelos, solteiro, filho de Francisco da Costa


de Vasconcelos, natural de Vilarinho, estudante legista, morador à Pedreira,
testemunha nomeada no auto de Manuel Rodrigues Chaves, folhas trezentas e
/1. 385 v. e cinquenta e nove, a quem / / o Reformador D. Francisco de Meneses mandou
vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos,
em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse

377
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de vinte e dois anos. Perguntado pelo dito auto, calados os nomes dos
delatados nele, disse que era verdade que, a vinte e quatro de Fevereiro pró-
ximo passado, pouco mais ou menos, às seis horas da tarde, sendo já boca da
noite, nesta cidade, se encontrou ele declarante com Manuel Rodrigues Chaves,
denunciante, na Pedreira, e, chegando ambos à igreja de S. Cristóvão, debaixo
de umas casas que estão por cima da rua que vem da Pedreira para a dita
igreja, e, detendo-se aí ambos os dois falando, saltaram quatro homens com o
dito Manuel Rodrigues Chaves, vestidos de baeta comprida, em trajo de estu-
dantes, com seus barretes, e embuçados com lenços; e um deles com uma espin-
garda, e outro com uma espada, e outro com um terçad·o, e lhe deram uma
cutilada pelo pescoço, da parte direita, aberta e sangrenta, que levou pontos, de
largura de quatro dedos, e outras feridas no queixo e nas mãos, com que se
f1. 386 amparava, // como foi na direita, quatro feridas que levaram pontos, e na
esquerda outras; e, nem de vista nem pela voz, conheceu algum deles. E só viu
dois deles pegarem no dito Manuel Rodrigues Chaves e fazerem-lhe o sobre-
dito; posto que ali se não queixou de pessoa alguma, logo disse que sabia e
conhecera dois homens que o feriram, e nomeou a Jacinto Lopes Machado,
filho de Gaspar Lopes Machado, e a Simão Juzarte, estudantes desta Universi-
dade, e ambos de Abrantes. E logo se disse que os prendera o Conservador,
por razão das ditas feridas; e que nascera o dito ferimento sobre uma mulher,
por nome Maria da Silva, de Lisboa, e dizem que casada, a qual o dito Jacinto
Lopes tivera em sua casa. E mais não disse, e que não sabe quem possa saber
do sobredito; e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Francisco da Costa de Vasconcelos.

Aos dois dias do mês de Junho de mil e seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela, estando
aí, por ele foi mandado vir perante si a António Dias, guarda destas Escolas,
/1.386, ·. testemunha / / atrás perguntada e nomeada no auto de António Antunes de
Paiva; e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de cinquenta anos. Perguntado pelo dito auto, disse que o que dele sabia
era ser público nesta Universidade que, por ocasisão de António Antunes, estu-
dante institutário este presente ano, se queixar de lhe haverem feito um furto de
vinte e cinco mil réis, que lhe fizeram em sua casa, quinta-feira de endoenças
esta próxima passada, e suspeitar de Damião Dias, natu-ral de Estremoz, estu-
dante legista, que, por esse respeito, falavam na devassa que se tirou do dito

378
furto, nele, sábado, dois do mês de Maio próximo passado, das três para as
quatro horas, vindo dos Gerais o dito António Antunes, quieto e pacífico, o dito
Damião Dias veio esperá-lo de propósito às escadas das varandas dos Gerais
com um terçado de alguns quatro palmos, e dar-lhe com ele, ou com uma faca,
uma ferida na testa, da parte direita, junto à raiz do cabelo. E ele declarante
tomou logo o dito terçado ao dito António Antunes, que o trazia na mão por o
jl. 387 haver tomado ao dito Damião Dias. E posto que, / / com o sangue, não deu fé
do tamanho da dita ferida, que diziam era muito pequena, e tanto que o dito
Damião Dias lhe deu e o feriu com o dito terçado, viu ele declarante ir fugindo
pelo terreiro ao dito Damião Dias, e ir-se pela porta que vai para os açougues.
E poderá dizer disto Francisco Lopes, estudante legista, de Setúbal, que vinha
com o dito António Antunes ao tal tempo. E mais não disse, e do costume
nada; e assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. António Dias.

Francisco Lopes Henriques, solteiro, filho de Pero Lopes Henriques, natu-


ral de Setúbal, estudante legista, morador na Rua das Parreiras, testemunha
referida no testemunho atrás de António Dias, guarda, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo o presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que,
sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,
prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e dois anos. Perguntado
pelo auto de denunciação de António Antunes da Costa, folhas trezentas e
sessenta e seis, disse que o dele sabia era dizer-se e assim o ouvira a muitas
pessoas, que lhe não lembram, que, por ocasião de haverem furtado, quinta-feira
/1. 387v. de endoença<; deste presente ano, vinte e três / / ou vinte e quatro mil réis de sua
. casa ao dito António Antunes, e de suspeitar Damião Dias que o dito António
Antunes se queixara dele do dito furto, sábado, que foram dois do mês de
Maio próximo, nas escadas das varandas que vão para os Gerais desta Univer-
sidade, das três para as quatro horas da tarde, estando ele declarante aí, chegou
a elas o dito Damião Dias, e tão enfiado que ele declarante lhe perguntou que
era aquilo; e, posto que lhe não respondeu logo, daí a pouco espaço, estando ele
declarante à porta do Geral das Leis, ouviu reboliço na dita escada, e, acudindo
a ele, viu ao dito António Antunes uma ferida na testa, da parte direita, junto à
raiz do cabelo, aberta e sangrenta, muito pequena, e um terçado de três para
quatro palmos, que o guarda das Escolas lhe tomou, o qual havia tomado ao
dito Damião Dias; e disseram que lhes fizera a dita ferida com uma faca, e que,
indo para levar o terçado, o dito António Antunes lho tomara. E mais não
disse do dito auto, e do costume nada; e assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Francisco Lopes Henriques.

379
Manuel de Calaça, solteiro, filho de Domingos Rodrigues, natural da
jl. 388 vila de Castelo Branco, estudante/ / médico e bacharel formado na dita Facul-
dade, morador sobre as Ribas, testemunha referida, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e ti_vesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim; e disse ser de trinta e quatro anos. Perguntado pelos
interrogatórios dos estatutos reformados, porque nesta visita, conforme a eles, é
obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um
deles sabia, disse que o que deles sabia era que Gaspar de Seixas, bedel da dita
Faculdade de Medicina, não dá conclusões aos bacharéis que neles têm obriga-
ção de argumentar, ao menos nos mais dos autos que se fazem na dita Facul-
dade; e entende ele declarante que faz o sobredito por lhe ficar na mão o tostão
que cada um dos ditos argumentantes tem, de que também resulta ficarem os
lentes sem poderem instar; e, entanto, trata de se fazerem os ditos autos em
segredo, que a três formaturas, estas últimas, que se fizeram deixou ele decla-
rante de ir, por o não saber, nas quais tinha de propina um tostão em cada
uma; e que, para elas, pede mais dinheiro do que se monta nos ditos autos, de
f1. 388v. que não dá conta, nem ainda três dias// depois dos ditos autos feitos, como
não deu a ele declarante nos que tem feito. E que, do sobredito, há queixa
comum entre todos os estudantes da dita Faculdade. E que isto era o que só
sabia dos ditos interrogatórios. Perguntado, de quatro anos a esta parte, em
que partes e em que casas viveu, disse que, no ano de seiscentos e dezasseis
para dezassete, viveu na Rua do Almoxarife, defronte de umas casas que tem o
Dr. Manuel de Abreu, e, no ano seguinte, que começou em Outubro de seiscen-
tos e dezassete, viveu na dita rua e nas ditas casas do dito Doutor com ele
próprio; e, o ano passado, à Porta Nova; e, agora de presente, sobre as Ribas. ·
Perguntado quanto tempo foi companheiro, no dito ano, do dito Dr. Manuel
de Abreu, disse que estaria com ele coisa de seis meses, pouco mais ou menos.
Perguntado, nesse dito ano, vindo de Castelo Branco a primeira vez, em princí-.
pio do ano, onde se foi apear e agasalhar, disse que na dita casa do dito Doutor
se foi apear, e aí ficou por seu hóspede. Perguntado se mandou daí a pessoa
alguma, e a quem, alguma coisa, disse que ao Dr. João Bravo mandou três ou
quatro perrtizes, sem respeito algum, e ao Secretário, Rui de Albuquerque,
fl. 389 mandou um cântaro de mel branco e// quatro ou cinco perdizes e uns queijos,
que lhe parece eram três; e que mandara o dito mel e perdizes e queijos por um
moço dele declarante, por nome João, filho de Jorge Mendes Galinheiro, de
Quebra-Costas, e enteado de Ana Rodrigues, sua mulher, e por outro moço
pequeno, criado de um serralheiro, que mora em uma esquina na dita rua,
defronte das ditas casas do dito Doutor; ao qual nem ao dito moço sabe os
nomes, e seria de treze anos. E sabe que os sobreditos lhe deram o dito pre-

380
sente, porque depois lhe deu os agradecimentos dele. E ele declarante lho man-
dou para o ter propício e amigo no que houvesse mister de seu ofício. E ao dito
Dr. João Bravo mandou as ditas perdizes pelo dito seu moço João. Pergun-
tado se algum dos sobreditos lhe deu pelos ditos presentes alguma equidade
dependente de seus ofícios, disse que não lhe lembra que algum deles lhe fizesse
coisa alguma, salvo quando o Secretário, Rui de Albuquerque, lhe regulou seus
cursos, para se formar e aprovar, dizer que tinha o tempo necessário para eles,
sendo assim que lhe faltavam sete dias. E que mandara o sobredito ao dito
Secretário, ou no fim de Outubro ou na entrada de Novembro, pouco mais ou
menos. Perguntado se, em algum ano, o matriculou algum secretário desta
Universidade alguns dias atrasados e antecedentes dos em que a ela houvesse
f7.389v. chegado, e se disso deu ele declarante coisa a alguém, disse que o dito Rui // de
Albuquerque lhe dera no dito ano em que esteve por companheiro do dito
Manuel de Abreu, ao matricular, vinte e tanto dias, pouco mais ou menos; e
isto depois de lhe haver mandado o dito presente. E mais não disse, nem lhe
foram feitas mais perguntas, e do costume nada. E assinou com o dito Refor-
mador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Manuel de Cafaça.

Manuel Correia, solteiro, filho de Jerónimo Correia, carcereiro desta Uni-


versidade, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante
si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que
pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo
no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de
dezoito para dezanove anos. Perguntado pelo conteúdo no auto de António
Antunes Paiva, folhas trezentas e sessenta e seis, disse que o que dele sabia era
que, sábado, que foram dois do mês de Maio próximo passado, das três para as
quatro horas da tarde, viu ele declarante, à porta da cadeia, descer das escadas
que vão para a varanda dos Gerais a Damião Dias, estudante legista,
Jl. 390 e // levar nas mãos a baínha de um terçado, que lhe havia tomado António
Antunes na briga que aí tiveram, na qual o dito Damião Dias feriu a ele Antó-
nio Antunes, e dizem que com uma faca, que ele declarante viu, na testa, na
parte direita, junto à raiz do cabelo, de uma ferida aberta e sangrenta; que,
posto que não viu de que tamanho era, lhe viu o rosto lavado em sangue. E
assim lhe disse aí logo que o dito Damião Dias lhe fizera a dita ferida por se
haver queixado ele António Antunes de o sobredito Damião Dias lhe haver
feito um furto em sua casa, quinta-feira de endoenças, de valia de vinte mil réis,
pouco mais ou menos. E que poderá dizer do dito ferimento um moço, por
nome Miguel, que serve os presos, que é natural de além do Porto, e outras
pessoas que aí se acharam, que agora lhe não lembram. E mais não disse do
dito auto, e do costume nada; e assinou com o dito Reformador. E eu, Agosti-

381
nho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Manuel Correia.

Miguel, solteiro, filho de Domingos João e de Domingas Gonçalves, natu-


rais de Vila do Conde, ora estante nesta cidade de Coimbra, e que, ao
jl. 390v. presente, vive na cadeia / / da Universidade e serve aos presos dela, testemunha
atrás de Manuel Correia, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses
mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse
verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de dezassete anos. Perguntado pelo conteúdo no
auto de António Antunes de Paiva, folhas trezentas e sessenta e seis, disse que,
sábado que foram dois do mês de Maio próximo passado, das três para as
quatro horas da tarde, estando ele declarante encostado á grade da cadeia,
ouviu o reboliço de estudantes nas escadas que vão para as varandas dos
Gerais; e, olhando o que era, viu vir descendo pelas ditas escadas a Damião
Dias, estudante, que dizem ser natural de Estremoz, e, ao presente, está preso
na cadeia da dita Universidade, com a faca na mão, de comprimento de palmo
e meio, pouco mais ou menos; e logo aí, nas diias escadas, a deitou no chão, e
ele declarante a foi tomar; e o dito Damião Dias se foi andando depressa pelo
terreiro das Escolas adiante. E viu estar nas ditas escadas outro estudante, que não
fl. 391 conhece, e logo aí disseram que era natural de Elvas, ferido / / na testa, da qual
lhe corria sangue, o qual estudante tinha um terçado sem baínha na mão. E aí
estavam outros estudantes, que acudiram apartar, os quais ele declarante não
conhece. Perguntado se vira ao dito Damião Dias a bainha do dito terçado,
que tinha na mão o dito estudante, ou se vira ou ouvira que o dito estudante
tomasse ao dito Damião Dias o dito terçado na dita briga, e se sabia ou ouvira
a causa dela, disse que não sabia donde a dita briga nascera, nem ouvira que o
dito estudante tomasse o dito terçado ao dito Damião Dias, nem dera fé de ver
a bainha do dito terçado a nenhum dos ditos estudantes, nem sabia mais coisa
alguma do dito auto, e do costume disse nada. E assinou com o dito Reforma-
dor. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Refor-
mador e Reitor. Miguel.

Aos dez dias do mês de seiscentos e vinte anos, nesta cidade de Coimbra,
nas casas da Universidade, sólíta morada do Dr. Francisco de Meneses, Refor-
mador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a Sebastião
César, filho de Vasco Fernandes César, porcionista do Colégio de S. Paulo, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
.fl. 39/v. mão, e, mandado que, // sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no
que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de

382
vinte anos. Perguntado pelo conteúdo no auto de António Antunes de Paiva,
folhas trezentas e sessenta e seis, disse que, sábado à tarde, que foram dois do
mês de Maio próximo passado, estando ele declarante, por respeito de seu ofí-
cio de mordomo da confraria da Universidade, tirando a esmola dela à porta
das varandas dos Gerais e junto à escada por onde se sobe a elas, viu que
Damião Dias, conteúdo no dito auto, que dizem ser de Estremoz, foi para dar
com um terçado de quatro palmos em António Antunes, estudante institutário
deste ano, e, antes de lhe dar, o dito António Antunes se abraçou com ele e lho
tomou, e que, com uma faca que o dito Damião Dias tirou, feriu ao dito Antó-
nio Antunes na testa, da parte direita, junto ao cabelo, de uma ferida aberta e
sangrenta, de que lhe saiu muito sangue; e não deu fé de que tamanho fosse; e
isto estando na dita escada o dito Damião Dias, esperando-o de propósito, e
subindo o dito António Antunes, sem fazer ali coisa alguma por que mal mere-
cesse. E não sabe a causa por que o dito Damião Dias fez o sobredito; e, sem
jl. 392 dúvida, // tratara pior ao dito António Antunes se ele lhe não tomara o dito
terçado. E que poderão dizer do sobredito António Dias Ferrão, escrivão da
dita confraria, e Cristóvão Soares, mestre em Artes, que, se se não engana, lhe
parece que estava presente. E mais não disse, e do costume nada; e assinou com
o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Sebastião César.

Aos vinte e dois dias do mês de Junho de mil e seiscentos e vinte anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada de
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando ele aí, mandou
declarar aqui como viera à sua notícia que ontem, que foram vinte e um
dias do dito mês e ano atrás declarado, às duas horas depois do meio-dia,
pouco mais ou menos, estando preso na cadeia da dita Universidade Francisco
Rodrigues Calaça, estudante canonista, natural da vila de Castelo Branco, e
fechado das grades da dita cadeia para dentro com outros presos, ele dito Fran-
cisco Rodrigues Calaça, tendo já, de antes, a primeira porta da dita cadeia
aberta com uma gazua, de propósito e à falsa fé chamara a Ana Gomes, mulher
de Jerónimo Correia, carcereiro da dita cadeia, a qual ao tal tempo estava só
/1. 392v. nela, guardando-a, e lhe pedira que quisesse abrir a se / / gunda porta da dita
cadeia com a chave que tinha, para tirar um cântaro, para irem buscar água
para ele dito Francisco Rodrigues e para os mais presos que estavam com ele na
dita cadeia. E, abrindo a porta a dita Ana Gomes, com a chave que tinha, ele
dito Francisco Rodrigues Calaça, por já ter a primeira porta da banda de den-
tro desfechada com a dita gazua, a abriu in continenti, e saiu por ela para fugir;
e, querendo a dita Ana Gomes detê-lo para que não fugisse, pegando nele, e
chamando à voz de El-Rei que lhe acudissem, que fugiam os presos, ele dito
Francisco Rodrigues, com uma adaga que, para esse efeito, trazia na mão, lhe

383
deu uma grande ferida no rosto, da parte esquerda, que começou do meio da
orelha e veio acabar perto da boca, e seria comprimento de meio palmo, pouco
mais ou menos, aberta e penetrante, que levou alguns pontos, e outra na mão
direita, no fim do dedo polegar, vindo ao colo do braço, de comprimento de
dois dedos, e outra no dedo que está junto ao mendinho da mão esquerda, da
banda de cima, de comprimento de um dedo, as quais feridas todas eram rotas
e penetrantes, e delas lhe saiu muito sangue. E eu dou minha fé nelas, e serem
do tamanho que atrás vai declarado. E, deixando o dito Francisco Rodrigues a
dita Ana Gomes no chão com as ditas feridas por morta, fugiu logo da dita
cadeia, tendo já de antes traçada a dita fugida; e, de após dele, fugiram também
fl. 393 Bartolomeu / / Jorge e Francisco de Matos, que, outrossim, estavam presos na
dita cadeia, deixando as portas dela abertas. E,porque ele Reformador ex offi-
cio tinha obrigação de proceder neste caso, me mandou fazer do sobredito este
auto, e que das feridas desse minha fé; e que por ele se perguntasse Damião
Dias, que estava também preso na dita cadeia, onde ficou ao tempo que o dito
Francisco Rodrigues e os mais fugiram dela, e as mais testemunhas que ele
dissesse se acharam presentes. E, em cumprimento do mandado do dito Refor-
mador, dou a minha fé de haver visto as ditas feridas, e de serem abertas e
sangrentas, e do tamanho que atrás vai declarado. E de tudo fiz este auto, que
ele dito Reformador assinou. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor.

E, logo no mesmo dia atrás declarado, nesta cidade de Coimbra, nas casas
da Universidade e sólita morada do Dr. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a João Fernandes,
casado com Antónia João, homem de pé do Dr. João de Carvalho, morador a
S. Cristóvão, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos,
em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
fl. 393v. idade de trinta anos. Perguntado pelo/ / conteúdo do auto atrás, disse que o
que dele sabia era que, aos vinte e um do mês de Junho de que o auto faz
menção, às duas horas depois do meio-dia, estando ele declarante assentado em
um poial junto à cadeia desta Universidade, e, ouvindo gritar à voz de El-Rei,
acudiu e viu saírem pela porta fora da dita cadeia dois presos, que dizem ser
Bartolomeu Jorge e Francisco de Matos, e outro, que dizem chamar-se Fran-
cisco Rodrigues Calaça, andar a braços com Ana Gomes, mulher do carcereiro
Jerónimo Correia; e, para se desenvencilhar dela e lhe poder fugir, dar-lhe com
uma adaga ou punhal no rosto, da parte esquerda, da ponta da orelha até junto
à boca, uma ferida aberta e sangrenta, que levou muitos pontos, e outra na mão
direita, no fim do dedo polegar, junto ao colo do braço, e outra no dedo da
mão esquerda que está junto ao mendinho, e deixá-la no chão por morta; e

384
deitar a fugir de após os outros, como, de feito, fugiram todos os três, deixando
as portas da dita cadeia abertas, que dantes estavam fechadas. E não sabe
quem mais aí estivesse presente, nem do dito auto outra coisa alguma. E ouviu
dizer que, para poder fugir e dar ocasião aos outros para o poderem fazer
também, usara o dito Francisco Rodrigues Calaça de pedir à dita Ana Gomes
um cântaro// de água, e, vindo com ele, se escondera detrás da porta, para que,
tanto que a abrisse, pudesse fazer o sobredito, como, de feito, fez, tendo já a
primeira, digo, a fechadura da primeira porta da banda dos presos com uma
gazua aberta. E mais não disse, e do costume nada; e assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. João Fernandes.

Francisco da Barreira, solteiro, estudante canonista, filho de Catarina


Rodrigues, viúva de João da Barreira, natural desta cidade e morador nela,
defronte das casas em que vive D. Miguel de Castro, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e três anos. Perguntado
pelo conteúdo no auto atrás, do ferimento feito a Ana de Gomes, mulher de
Jerónimo Correia, carcereiro, disse que o que dele sabia era que, aos vinte e um
do mês de Junho, como no dito auto se relata, à tarde, estando ele declarante
na cadeia de dentro desta Universidade, dormindo e encostado à grade, e acor-
1. 394v. dando aos gritos da carcereira Ana Gomes,// viu ele declarante a dita Ana
Gomes cheia de sangue, com uma ferida no rosto, da parte esquerda, da orelha
até junto da boca, e em uma mão, que era a direita, junto ao colo do braço,
outra ferida; e Francisco Rodrigues Calaça, estudante canonista desta Universi-
dade, preso na mesma cadeia, em outra casa dela, com um punhal na mão
direita, sem bainha, pegado na dita Ana Gomes, e ela nele; e, correndo pelo
terreiro, Bartolomeu Jorge e Francisco de Matos, casados e presos que ao tal
tempo estavam na dita cadeia. E o dito Francisco Rodrigues Calaça correu
também após eles, tanto que se soltou das mãos da dita Ana Gomes; por onde
crê e tem para si que lhe fez as ditas feridas com o dito punhal o dito Francisco
Rodrigues Calaça, como também por se ela estar queixando dele, e lho dizer
depois o dito Francisco de Matos quando o tornaram a trazer à cadeia, e
Damião Dias, que também estava preso nela. E viu a porta da cadeia donde
fugiram aberta, que estava fechada quando ele declarante se deitou a dormir; e
lhe disse o dito Damião que a porta de dentro tinha aberta o dito Bartolomeu
Jorge, e que a segunda abrira a dita Ana Gomes para dar água. E mais não
disse e do costume nada; e assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de

385
Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Francisco
da Barreira./ /
jl. 395 Aos quatro dias do mês de Julho de mil e seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada do Dr. D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado
vir perante si a Luís Mendes, solteiro, filho de Luís Mendes, natural do Pedró-
gão Pequeno, do priorado do Crato, estudante canonista desta Universidade,
criado de João Bembo, morador a S. Cristóvão, testemunha referida, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evagelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se lhe pediu alguém, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a
verdade ou dissesse contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não, e
que presume que será chamado para testemunhar sobre um curso de Artes que
não tem Fabrício Bembo, com quem ele declarante está, porquanto o dito
Fabrício Bembo não veio até agora provar o curso, por lhe parecer que o
prenderiam pelo dito curso. Perguntado como sabe ele declarante que o dito
f1. 395v. Fabrício Bembo não tenha o primeiro curso de Artes,// e que, por esse res-
peito, deixe de provar o curso, disse que o sabia, porque, quando ele Reforma-
dor mandou prender uns estudantes, por se dizer que tinham cursos de Artes
falsos , ouviu dizer ao dito João Bembo, irmão do sobredito, aí em casa, que
estava o dito Fabrício Bembo posto nesta devassa, por se dizer que tinha curso
de Artes falso, e viu tratar a ambos os ditos irmãos entre si que seria como
ausentar-se, porque o não prendessem; e, de feito, se foi o dito Fabrício Bembo
para Lisboa, onde esteve algum mês e meio, com o dinheiro da bula da Cru-
zada, que também levou. E daqui infere que será falso o dito curso, e que, por
esse respeito, não vinha provar o curso deste ano; e que não sabia como o dito
Fabrício Bembo houvera o dito curso de Artes. Perguntado se sabe que o dito
Fabrício Bembo, sendo muito amigo do padre Diogo de Arada, da Companhia
de Jesus, e estando na sua cela, no Mosteiro de S. Roque de Lisboa, e vendo
nela o selo da Companhia, o imprimira em uma pouca de cera, e, por ela,
mandara fazer um sinete, com o qual selara uma certidão falsa, que o dito
fl. 396 Fabrício Bembo fizera em nome dos Padres de Santo Antão, pela// qual
houvera o dito curso de Artes, que, na verdade, não tinha, disse que não sabia
mais que ser o dito Fabrício Bembo muito amigo do dito padre Diogo de
Arada, e como esse mandou trasladar a ele declarante muitos sermões do dito
padre. E que nenhuma outra coisa sabia da dita pergunta. Perguntado se, no
tempo em que esteve com o dito Fabrício Bembo até ao presente, lhe contou o
dito Fabrício Bembo a ele declarante o que se contém na pergunta atrás, ou,

386
por outra qualquer via, sabe dela, disse que, de dois anos a esta parte que há
que o serve, lhe não ouviu o sobredito, nem a outra alguma pessoa. Pergun-
tado se deu ele declarante conta do sobredito a alguma pessoa, e de que tempo
a esta, disse que não, que lhe lembre. E com isto se houve por satisfeito ao
referimento que nele fez Francisco de Leão. E, sendo-lhe lido este testemunho e
perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume que era
criado do dito Fabricio Bembo; e assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Luís Mendes.

João Álvares, solteiro, filho de João Álvares, natural de Vila Cova, deste
bispado de Coimbra, estudante canonista, morador na freguesia de S. Pedro,
'. 396v. testemunha referida, // a quem o Reformador D. Francisco de Meneses man-
dou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evange-
lhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse
ser de idade de vinte e quatro anos. Perguntado pelo referimento que nele fez
Alexandre de Figueiredo, folhas cinquenta verso, in genere, calados os nomes,
disse que, haverá dois anos, e os fez este mês de Maio próximo passado, pouco
mais ou menos, nesta cidade, se achou ele declarante em casa de Miguel
Saraiva, solteiro, estudante que, ao tal tempo, era das Escolas Menores, natural
de Aveiro, não sabe o nome de seus pais; e, estando com ele, e não lhe lembra
com quem mais, lhe viu um pistolete, de alguns dois palmos, pouco mais ou
menos, e fechos de pederneira. E que bem o poderia disparar aí, mas que não
lhe lembra. E que o tem por do dito Miguel Saraiva. E mais não disse do dito
referimento, e do costume nada; e assinou com o dito Reformador. E, eu Agos-
tinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
João Álvares.

Aos onze dias do mês de Julho de mil seiscentos e vinte anos, nesta
l. 397 cidade de Coimbra, nas / / casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, Reformador e Reitor dela,
estando aí, foi mandado vir perante si a Pero Domingues, solteiro, filho de
Jerónimo Fernandes, natural de Fronteira, estudante canonista, morador ao
presente em casa do Dr. João de Carvalho, lente de Véspera de Leis, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão,
e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e sete
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, e se lhe pediu
alguém, por si ou por outrem, que, sendo perguntado na visita desta reforma-
ção, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte,

387
disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos estatutos reformados, por-
que nela, conforme, a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disto, em
especial, pelo que cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que, esta
quaresma próxima passada, pouco mais ou menos, fez dois anos, nesta cidade,
estando ele declarante em casa de Fabrício Bembo, estudante canonista desta
Universidade, que vivia junto a S. Cristóvão, em um dia da dita quaresma, não
lhe lembra qual, nem ao certo se foi nela, mas que haverá os ditos dois anos,
fl.397v. pouco mais ou menos, e passando ele// declarante por uma das ditas casas em
que estava o dito Fabrício Bembo e o licenciado Luís Álvares Correia, teólogo,
que, ao presente, está com o arcebispo de Braga, ouviu tratar entre ambos os
dois como fariam e haviam de fazer uma certidão em nome dos Padres da
Companhia de Lisboa, e, por virtude dela, pediria o dito Fabrício Bembo o
primeiro curso de Artes, porquanto ela seria de as haver cursado com os ditos
Padres de Santo Antão da dita cidade de Lisboa; e, posto que não viu fazer a
dita certidão, nem sabe como a falsificassem, ouviu dizer a três ou quatro estu-
dantes, um deles Francisco de Leão, opositor legista, e, outro Simão, legista, da
Chamusca, que vivia na rua de S. Cristóvão, e os outros lhe não lembram, que
o dito Fabrício Bembo, com a dita certidão falsa, houvera de Sua Majestade o
primeiro curso das Artes, e, por virtude dela, o tinha lançado no livro da prova
dos cursos desta Universidade. E que isto era o que só sabia dos ditos interro-
gatórios. Perguntado se entende, em sua consciência, que não ouviu as ditas
Artes, e é falso o dito curso, e que razão tem para isso, disse que o tem por
falso ao dito curso, porque não ouviu as ditas Artes, o que ele declarante sabe
porque o conhece de oito anos a esta parte, e, andando em Lisboa na segunda
classe, daí veio a ouvir Direito nesta Universidade, sem se meter, entre uma e
fl. 398 outra// coisa, tempo em que as pudesse ouvir; e que o opositor Sebastião
Álvares da Silva poderá testemunhar do dito curso, porque também lhe ouviu
falar nele em casa do dito Fabrício Bembo. E mais não disse, nem lhe foram
feitas mais perguntas; e, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na
verdade e do costume nada, e assinou com o dito Reformador. E eu, Agosti-
nho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Pero
Domingues.

Aos treze dias do mês de Julho de mil e seiscentos e vinte anos, nesta cidade
de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante
si a Damião Dias, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evange-
lhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse, digo, foi
mandado vir perante si a Damião Dias, estudante legista, filho do licenciado
Manuel Rodrigues Caldeira, natural de Estremoz, e, sendo presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que,

388
sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,
prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e um anos. Perguntado
/1 J98v. pelo auto atrás do ferimento de Ana Gomes, mulher de Jerónimo // Correia,
carcereiro da cadeia da Universidade, disse que o que dele sabia era que,
Domingo, que foram vinte e um do mês de Junho próximo passado, às duas
horas depois de meio dia, estando ele declarante ao tal tempo preso na cadeia
desta Universidade, em companhia de Francisco Calaça, estudante canonista, da
vila de Castelo Branco, e de Bartolomeu Jorge e de Francisco de Matos,
outrossim estudantes desta Universidade todos quatro, e, por ocasião do dito
Francisco Rodrigues Calaça haver dado uma volta, e deixar a fechadura da
porta de dentro por fechar, e fingir que ficava fechada, deixando-a aberta, e lhe
pedir que lhe dessem água, viu ele declarante que, vindo a carcereira Ana
Gomes abrir a primeira porta para tomar o cântaro em que fosse buscar a dita
água, abriu imediatamente o dito Francisco Rodrigues Calaça a porta, cuja
fechadura havia ficado aberta, ou por fechar, e sair-se pela primeira e segunda
porta; e, por lhe a dita Ana Gomes querer impedir que não saísse, dar-lhe com
uma adaga, de que lhe fez uma ferida aberta e sangrenta na face esquerda, de
meia orelha até junto à boca, do comprimento de meio palmo, e,na mão direita,
no fim do dedo polegar, junto ao colo do braço, da banda de dentro do braço,
/1. 399 da banda de dentro, outra ferida, também // aberta e sangrenta, de largura de
dois dedos, e, na mão esquerda, em um dedo dela, outra ferida, também aberta
e sangrenta, do tamanho da cabeça de um dedo. E, assim ferida e escabelada, e
estirada no chão à porta da dita grade da cadeia, fugiu dela o dito Francisco
Rodrigues Calaça, e, após ele, os outros dois atrás nomeados. E ainda a uma
filha da dita carcereira, por nome Ângela, indo para pegar do dito Francisco
Rodrigues Calaça, lhe deu ele com a dita adaga, e lhe fez uma escalavradura na
testa. E isto sendo o carcereiro fora, e seu filho . E por mais que ele declarante
chamou à voz de El-Rei, e a dita carcereira e sua filha, não acudiu quem lhes
pudesse impedir a dita fugida. E mais não disse; e, sendo-lhe lido este testemu-
nho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. Diz a entrelinha Damião
Dias. Sobredito o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Damião Dias.

Aos dezassete dias do mês de Julho de mil e seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr. D. Fran-
fl.J99 v. cisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, // por ele foi mandado
vir perante si a Manuel Ribeiro, filho de Belchior Fernandes, já defunto, desta
cidade de Coimbra, pagem do Dr. João de Carvalho, desembargador da Casa
do Porto e lente de Véspera de Leis nesta Universidade e, sendo presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que,

389
sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,
prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de dezasseis para dezassete anos.
Perguntado pelos interrogatórios dos estatutos reformados, disse que o que
deles sabia era estar nesta cidade infamado de cometer o pecado de molícias, e
disto ser pública voz e fama entre muitas pessoas dela, António Nogueira, filho
de Pero Nogueira, escrivão das armas desta cidade. E assim ouviu a Sebastião
Dias e António Dias, recoveiros desta Universidade; e ele declarante o tem por
tal, porque, a quaresma próxima passada fez dois anos, a Santo António da
Couraça, à boca de noite, o sobredito António Nogueira lhe pediu um beijo, e
que lhe metesse a mão na braguilha, oferecendo-lhe, por isso, dois estojos dou-
rados; e quando, por aí, o não pôde levar, ameaçando-o com uma faca; e se
fl. 400 livrou dele por o trazer enganado até sua casa, e aí,/ / na loja onde o tinha
trazido enganado para o devido efeito, lhe tornou o dito António Nogueira a
pedir outro beijo; e, fingindo que ia pôr a capa em cima, chamou a gente de
casa, que o fizeram fugir. E, posto que, por esta culpa, foi condenado pelo
Conservador, saiu da Casa da Suplicação solto e livre. E assim tem também
por infamado a Manuel de Miranda, estudante canonista, natural desta cidade,
porque lhe disse a ele declarante Simão Silva, moço que foi do coro desta Sé e
natural desta cidade, que ora está preso na cadeia dela, não sabe os nomes a
seus pais, haverá o mesmo tempo, que o dito Manuel de Miranda o cometera
para o pecado de molícias, e sobre isso o ameaçara. E mais não disse e do
costume nada; e que se reportava ao testemunho que sobre esta matéria dera
diante do Conservador desta cidade. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Manuel Ribeiro.

Tomé Falcão, solteiro, filho de António Fernandes, natural da vila de


Proença-a-Nova, criado do Dr. Cristóvão Mouzinho, testemunha referida, a
quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e,
fl. 400v. sendo presente, lhe foi dado juramento dos santos Evangelhos, / / em que pôs
sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no
qt':'.e lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade· de
vinte e seis anos. Perguntado pelo referimento que nele fez o Dr. Estêvão da
Fonseca, primeiro, in genere, e, depois, in specie, disse que lembrado estava de
haver trazido o dito Dr. Estêvão da Fonseca uma demanda sobre o aluguer das
casas em que vive com o cónego António Dias da Cunha, por ser da sua terra e
o conhecer; mas que não lhe lembra que na dita causa testemunhasse, nem por
um nem por outro, nem que o fizesse em tempo algum em casa do escrivão da
Aposentadoria. E mais não disse, e do costume nada; e assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Ref ormador e Reitor. Tomé Falcão.

390
Aos cinco dias do mês de Setembro de mil e seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada do Dr. D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi
mandado vir perante si a André de Avelar, lente de Matemática que foi / / nesta
.fl. 401 Universidade, mestre em Artes e sacerdote, morador a Nossa Senhora do Sal-
vador; e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de setenta e quatro anos. Perguntado se sabe ou presume para que é
chamado, e se lhe pediu alguém, por si ou por outrem, que, sendo perguntado
na visita desta Reformação, calasse a verdade ou dissesse contrário dela, e de
que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos
estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em
geral, e, depois disso, em especial, disse que o que deles sabia era que, nas
cédulas que dão os examinandos de bacharéis e licenciados aos examinadores,
se não assina o arqueiro da dita Faculdade de muitos anos a esta parte, sendo
assim que havia de assinar e receber o dinheiro, porque, doutro modo, não
podia fazer o tal exame, conforme ao estatuto; e o bedel Gaspar de Seixas passa
as ditas cédulas, contra a forma do dito estatuto, de haver recebido o dito
dinheiro, e, em efeito, o recebe; e, nas contas que lhe tomou do ano de seiscen-
tos e dezanove, lhas tomou sem as ditas cédulas, e só pelo que ele dizia. E assim
fl. 402 constará // do termo que delas fez no livro dos arqueiros, de oitavo, encader-
nado em pergaminho. E, em todos os mais anos atrás em que ele declarante foi
arqueiro, fez o dito bedel o mesmo. Disse mais que, nas ditas contas que lhe
tomou do ano de seiscentos e dezanove, na distribuição dos licenciados, o dito
bedel lhe deu em conta a distribuição a duzentos réis, sendo, assim, que foi a
tostão; e o dirão todos os mestres que se acharam presentes; e a duzentos encer-
rou a dita conta com ele. E que o dito bedel, para as congregações da Facul-
dade, algumas vezes chamou a ele declarante, e algumas vezes não. E que isto
era o que sabia dos ditos interrogatórios, pelo que, sendo-lhe mostrado o dito
livro, e por ele visto e lido, e perguntado se foram os ditos termos dele,
que estavam assinados com o seu nome dele declarante de André Avelar, e de
Avelar somente, feitos em sua presença e assinados por ele, e os reconheceu por
seus sinais próprios. Disse que alguns dos ditos termos estavam feitos por ele
declarante, e outros pelo dito Gaspar de Seixas; e que, em todos os que em que
estava o nome de Avelar e de André de A velar, eram feitos por sua própria
Jl. 402v. mão, e que por seus os // reconhecià; e que o termo da distribuição dos ditos
licenciados do dito ano, e o da receita e despesa, era da letra do dito Gaspar de
Seixas, que trouxera feitos de sua casa; e ele declarante assinara o encerra-
mento, por o dito Gaspar de Seixas lhe dizer, de mandado dele Reformador,
que o fizesse, como declara no fim do dito encerramento; posto que depois ele

391
Reformador lhe dissera que tal não mandara. E mais não disse; e assinou com
o dito Reformador; e do costume disse nada. E eu, Agostinho de Aguiar, o
escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. André de A velar.

Isabel Henriques, viúva de António Luís, moradora nesta cidade, na Rua


dos Sapateiros, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandada que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de cinquenta anos. Perguntada pelos interrogatórios dos estatutos refor-
mados, porque nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois
disso, em especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia
fl. 402v. era que, oito dias antes do entrudo do ano de seiscentos' e// dezanove, nesta
cidade, à porta do Mosteiro de Santa Ana, fazer-se uma briga entre Manuel
Falcão e Luís de Carvalho, estudantes desta Universidade, sobre queixas que
dele tinha o dito Manuel Falcão, e ser, de uma parte, Gaspar da Fonseca e um
mulato, e Simão Correia, parente do dito Manuel Falcão, e outros, e, da parte
do dito Luís de Carvalho, Manuel Faia e outros estudantes, que lhe não lem-
bram; e o dito mulato ferir ao dito Manuel Faia em uma perna e em uma mão,
e atirar o dito Manuel Faia com um pistolete e dar no dito Gaspar da Fonseca
em um braço, que mostrou a ela declarante os buracos na roupeta e os pelou-
ros; e apontarem com outros pistoletes. E assim se disse publicamente no pátio
do dito Mosteiro, onde ela declarante estava e tinha visto aos sobreditos nele, a
esse tempo. E quando chegou à porta do pátio já os não viu, posto que ouviu o
arruido da dita briga, e dizer-se assim. E que sabe que tem amizade no dito
Mosteiro Cristóvão Teixeira, Simão Correia, atrás nomeado, e Francisco Tava-
res Pinheiro, de Aldeia Galega. E que isto era o que sabia dos ditos interroga-
tórios; e mais não disse, e do costume nada. E, por não saber assinar, a seu
rogo, assinei por ela com o dito Reformador. Agostinho de Aguiar o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Agostinho de Aguiar, a rogo.

fl. 403 Catarina Jorge, mulher de Domingos João, hortelão// das freiras do Mªos-
teiro de Santa Ana desta cidade de Coimbra, a quem o Reformador D. Fran-
cisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado jura-
mento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandada que, sob cargo
dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu
de o fazer assim; e disse ser de idade de trinta e quatro anos. Perguntada pelos
interrogatórios dos estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é obri-
gação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um deles
sabia, disse que o que deles sabia era que, oito dias antes do entrudo, pouco
mais ou menos, este passado fez um ano, nesta cidade, à porta do Mosteiro de

392
Santa Ana, da banda de fora, houve uma briga entre Manuel Falcão e, em seu
favor e ajuda, Luís Salema e Gaspar da Fonseca e Simão Correia e um mulato
e Jacinto da Fonseca e Luís Pereira, e entre Luís de Carvalho e, da sua parte,
Manuel Faia e Francisco Tavares Pinheiro e outros estudantes desta Universi-
dade, sobre queixas que tivera o dito Manuel Falcão do dito Luís de Carvalho,
por uns retratos que o dito Manuel Falcão tinha do dito Luís de Carvalho,
pelos quais o mandara citar. E que, estando todos os da parte do dito Manuel
Falcão juntos, e vindo os da outra parte, se armara entre eles a dita briga, na
qual o dito Manuel Faia disparara um pistolete, cujo tiro ela declarante ouviu
dar dentro de sua casa; e, acudindo a ver, viu ir os da parte do dito Manuel
Jl. 403 v. Falcão de após os outros; e dizem que também / / o dito Luís de Carvalho
apontara com outro pistolete, mas que não tomara fogo, e que, da outra parte,
também houvera apontar com outros pistoletes. E que o dito mulato ferira, na
dita briga, ao dito Manuel Faia na cabeça. E que isto, que não viu, ouviu dizer
aí no pátio, e aos mesmos da parte do dito Manuel Falcão, quando tornaram,
sem poder alcançar ao dito Luís de Carvalho, após o qual foram; e que, se não
caira o dito Luís Salema, o tomaram. E que os que tinham amizade no dito
Mosteiro eram os ditos Manuel Falcão e Jacinto da Fonseca e Luís de Carva-
lho; e os outros escreviam, mas não sabe se falavam nas grades. E que isto era
o que sabia dos ditos interrogatórios. E mais não disse, e do costume nada; e,
por não saber assinar, a seu rogo, assinei por ela com o dito Reformador.
Agostinho de Aguiar o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Agostinho de Aguiar, a rogo.

Maria Fernandes, mulher de Francisco Pires, comprador das freiras do


Mosteiro de Santa Ana desta cidade, a quem o Reformador D. Francisco de
Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandada que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
fl. 404 assim; e disse ser de idade de trinta e seis anos. // Perguntada pelos interrogató-
rios dos Estatutos reformados, por que, nesta visita, é obrigação inquirir, disse
que o que deles sabia era, nesta cidade, à porta do Mosteiro de Santa Ana, da
banda de fora, este entrudo próximo passado fez um ano, pouco mais ou
menos, junto dele, haver uma briga entre Manuel Falcão e Luís de Carvalho, de
que ela declarante não sabe mais que, vindo do rio, ver à porta do dito Mos-
teiro um mulato encostado a ela, com uma espada debaixo da capa, que
Jacinto da Fonseca lhe disse ser de uma sua tia; e, chegando ela declarante a
sua casa, que está dentro do pátio do dito Mosteiro, logo ouviu o reboliço da
briga. E, vindo à porta do pátio, viu vir ao longo dele o dito Jacinto da Fon-
seca e Luís Salema e Gaspar da Fonseca, correndo ao longo do Mosteiro,
cuidando que tomassem a dianteira ao dito Luís de Carvalho, quando se reco-

393
lhesse para os Marianos, e dizer-se aí que o dito mulato ferira na cabeça e
noutras partes a Manuel Faia, companheiro do dito Luís de Carvalho, e que
atirara ao dito Manuel Faia com um pistolete; e que iam todos juntos, com
outros que lhe não lembram, após o dito Luís de Carvalho, para o injuriar e
matar; e o fizeram, se se não acolhera, por brigas e diferenças que tivera com
Luís Falcão, digo, com Manuel Falcão. E que as pessoas que, no dito Mos-
.fl. 404v. teiro, tinham amizade com freiras eram Francisco Rodrigues// de Valadares,
colegial de S. Paulo, e os ditos Jacinto da Fonseca e Luís Salema e Luís Pereira
e Lourenço Pereira da Gama e Lopo Trigueiros e Francisco Tavares e Simão
Correia de Lacerda e Cristóvão Teixeira e António Cardoso, e outros que lhe
não lembram ao presente. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios;
e mais não disse, e do costume nada. E declarou que também tinha amizade no
dito Mosteiro o dito Manuel Falcão. E, por não saber assinar, assinei por ela, a
seu rogo, com o dito Reformador. Agostinho de Aguiar o escrevi. D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor. Agostinho de Aguiar, a rogo.

Aos vinte e um dias do mês de Outubro de seiscentos e vinte anos, nesta


cidade de Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada do Dr.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi
mandado vir perante si Manuel Pires de Aguiar, agente desta Universidade,
morador na Calçada, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse
verdade e tivesse segredo no que lhe fossse perguntado, prometeu de o fazer
.fl. 405 assim; e disse // ser de idade de trinta e sete para trinta e oito anos. Perguntado
se sabe ou presume para que é chamado, e se alguém lhe pediu, por si ou por
outrem, que, sendo perguntado na visita desta reformação, calasse a verdade ou
dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não. Perguntado
pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, é
obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, pelo que de cada um
deles sabia, disse que, no que tocava a subornos, ouvira geralmente dizer que os
Colégios de S. Paulo e de S. Pedro, nas eleições de reitores, e particularmente
na ultima que se fez, subornaram votos para cada um fazer ir nomeadas pessoas
do seu Colégio; mas que não sabe que em particular se falasse a voto algum.
E que, no dia em que morreu Vasco de Sousa, Reitor que foi desta Universi-
dade, assistindo ele declarante nestas casas, por razão de seu oficio, e estando nelas
D. Martinho de Castro, porcionista do Colégio de S. Paulo, e o Dr. António
Lourenço, lente de Digesto Velho e colegial que foi do dito Colégio, estando
ainda por enterrar o corpo do dito Vasco de Sousa, ouviu ele declarante enco-
mendar ao dito D. Martinho ao dito António Lourenço, por ser voto na dita
eleição, que nomeasse seu irmão D. Fernando de Castro; e que se fizesse logo.
jl. 405 v. E presume ele declarante que deviam estar ambos // tratando da dita eleição no

394
mais que não ouviu, persuadindo-se a isso pelo que lhes tinha ouvido. E que
também ouvira dizer que o Colégio de S. Pedro se queixara do Dr. Frei Fran-
cisco da Fonseca, lente de Escoto e voto então na dita eleição, lhes haver fal-
tado, e de os haver enganado, por lhes ir representar o modo de que sairia a
dita eleição e nomeação, e depois sair o contrário do que lhes havia assegurado
e tratado com os colegiais do dito Colégio; e corno queixa pública o sabe, não
lhe lembrando, ao presente, as pessoas a que ouviu, salvo Belchior Caldeira,
meirinho da Universidade, que foi urna a quem o ouviu, segundo sua lem-
brança. E que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios. E mais não
disse, e do costume nada; e assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho
Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Manuel
Pires de Aguiar.

Olaia Antónia, mulher de André Gonçalves, homem do meirinho da Uni-


versidade, moradora a Nossa Senhora do Salvador, testemunha referida, a
quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão,
e, mandada que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe
f1. 406 fosse perguntado, // prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de quarenta
e seis anas. Perguntada pelos interrogatórios dos estatutos reformados, por
que, nesta visita, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em especial, disse
que o que deles sabia era que, haverá ano e meio, pouco mais ou menos, não
lhe lembra o tempo ao certo, que Diogo Vaz, genro dela declarante, casado
com sua filha Inês das Neves, vendeu a Gaspar Pereira, estudante que então era
das Escolas Menores, criado de Manuel de Saldanha, um pistolete de fechos de
pederneira e cano de menos da marca, não lhe lembra por quanto dinheiro; e,
depois disso, o viu ao dito Gaspar Pereira. E que isto era o que só sabia dos
ditos interrogatórios. E mais não disse, e do costume nada; e assinei por ela, a
seu rogo, com o dito Reformador. Agostinho de Aguiar o escrevi. D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor. Agostinho ele Aguiar, a rogo.

André Gonçalves, homem do meirinho desta Universidade, casado com


Olaia Antónia, morador junto a Nossa Senhora do Salvador, testemunha a
quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e. sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão,
e, mandado que, sob cargo dele. dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de quarenta
Jl. 4061·. anos, // pouco mais ou menos. Perguntado se sabe ou presume para que é
chamado, e se lhe pediu alguém que, sendo perguntado na visita desta reforma-
ção, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte,
disse que não. Perguntado pelos interrogatórios dos estatutos reformados, por-

395
4ue nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em
especial, pelo que de cada um deles sabia, disse que o que deles sabia era que,
haverá um ano e meio, pouco mais ou menos, que Gaspar Pereira, estudante
4ue então era das Escolas Menores, e, ao presente, anda nas Maiores, criado
4ue foi de Manuel Saldanha, comprara um pistolete de menos da marca a um
Diogo Vaz, casado com Inês das Neves, não sabe ao certo por quanto, nem o
viu depois disso ao dito Gaspar Pereira. E que o dito pistolete era de fechos de
pederneira. E que isto sabe porque, naquele tempo, vivia detrás da igreja de
S. Pedro, aonde também morava e vivia o dito Gaspar Pereira com o dito
Manuel de Saldanha. E que isto era o que só sabia dos ditos interrogatórios, e
do costume nada. E, sendo-lhe lido este testemunho, e por ele ouvido e enten-
dido. disse estar escrito na verdade. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses. Reformador e Reitor.
fl. 407 André Gonçalves. / /

Aos vinte e dois dias do mês de Outubro de seiscentos e vinte anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada do Dr. D. Fran-
cisco de Meneses . Reformador e Reitor dela, estando aí e o padre mestre Frei
Vicente Pereira. adjunto da Junta, e por ser Nosso Senhor servido de levar para
si. a dezoito deste dito mês, ao padre mestre Frei João Aranha, outrossim
adjunto da dita Junta. propôs o dito Reformador que, para proceder nos negó-
cios dela. deviam de eleger e nomear outro adjunto, em que concorresem a
virtude, letras e experiência que. para os ditos negócios, se requeria, conforme a
carta de dezasseis de Dezembro de seiscentos e dezanove, que tinham de Sua
Majestade, para conhecerem deles e poderem fazer a dita nomeação todas as
vezes que algum dos ditos adjuntos faltar ou estiver impedido. E, votando no
dito adjunto. nomearam ao padre mestre Frei Gregório das Chagas. lente de
Escritura desta Universidade, por nele concorrerem todas as ditas partes, e o
haver sido já na Junta passada, e terem já dado conta desta nomeação a sua
Majestade na doença do dito padre mestre Frei João Aranha. E, para que
pudesse constar disso, mandaram fazer dela este termo, que assinaram. Agosti-
nho de Aguiar o escrevi. D. Francisco de Meneses, Re.fbrmador e Reitor. Frei
Vicente Pereira.

f1. 4071-. E feita, assim, a dita nomeação, logo na mesma Junta, sendo // presente o
padre mestre Frei Gregório das Chagas, pelo dito Reformador lhe foi dado
juramento dos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, sob cargo dele,
prometeu de fazer bem e verdadeiramente o que por sua Majestade lhe era
mandado, e de ter e guardar o segredo que convinha a este seu serviço, e o mais
a que ficava obrigado. E. para constar do sobredito, me mandaram fazer este

396
termo, que assinaram. Agostinho de Aguiar o escrevi. D. Francisco de Mene-
ses, Reformador e Reitor. Frei Gregório das Chagas. Frei Vicente Pereira.

Aos dois dias do mês de Março do .ano de mil e seiscentos e vinte um,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada do Dr.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando ele em Junta e os
padres mestres Frei Gregório das Chagas e Frei Vicente Pereira, e Marcos Bote-
lho Furtado, corregedor da Comarca desta cidade de Coimbra, por eles foi
mandado vir perante si a Francisco Branco, solteiro, filho de Francisco Fernan-
des e de Catarina Branca, do lugar de Oledo, termo de Idanha-a-Nova, estu-
/1. 408 dante da oitava classe / / e que foi da décima agora faz dois anos, de idade de
vinte anos, pouco mais ou menos, a quem começa o buço, baixo e grosso do
corpo, criado que foi, ao tal tempo, nesta Universidade, de Pero Geraldes, estu-
dante dela, natural da dita vila da Idanha-a-Nova, testemunha referida, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão,
e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado, prometeu de o fazer assim. E, perguntado se sabia o para
que era chamado, ou o presumia, e se alguém, por si ou por outrem, lhe pediu
que, sendo nesta Junta perguntado, calasse a verdade ou dissesse o contrário
dela, e de que tempo a esta parte, disse que não lhe pediu pessoa alguma tal; e
que lhe parecia qúe não podia ser chamado a esta Junta senão para declarar
alguma coisa que o dito Pero Geraldes mandasse a Rui de Albuquerque, Secre-
tário desta Universidade, no tempo que ele o servia. Perguntado que é o que o
sobredito mandou ao dito Rui de Albuquerque, e se sabe o para quê, disse que,
este mês de Outubro ou Novembro próximo passadq fez dois anos, nesta
cidade, vivendo ele declarante com o dito Pero Geraldes, levou, de mandado do
dito seu amo, ao dito Rui de Albuquerque, por uma vez, uma pele de cordovão,
que lhe custou, nesta cidade, alguns dois cruzados, e meia dúzia de queijos, e lhe
1
1. 408v. deu, ao dito Rui de Albuquerque, em sua própria mão e/ / em sua casa, uma
e outra coisa; e ele as aceitou e lhe respondeu que lhe agradecia a mercê.
E, depois, por outra vez, daí a cinco ou seis dias, lhe levou, de mandado do dito
seu amo Pero Geraldes, um escrito em que lhe pedia que lhe fizesse correntes e
negociasse uns cursos de Salamanca, para poder fazer seus autos, e que lhe
daria quinze patacas, como o dito seu amo disse a ele declarante, quando fez o
dito escrito, e o levou ao dito Rui de Albuquerque, e lhe trouxe, em resposta,
por escrito do dito Rui de Albuquerque, em que lhe dizia que se visse o dito
Pero Geraldes com ele na Universidade, como também lhe disse o dito seu amo.
E sabe, por lho dizer o dito seu amo, estando presente juntamente Bartolomeu
Nunes, estudante, de Idanha-a-Nova, não lhe lembra o nome de seus pais, em
casa de João Francisco, sapateiro, onde pousavam nesta cidade, que falou com
o dito Rui de Albuquerque na dita Universidade. E, daí a dois ou três dias, foi

397
a sua casa e lhe levou o dito dinheiro, que ele declarante só viu, e ir o dito
Bartolomeu Nunes com ele, quando lhe levou o dito dinheiro; e, tornando para
casa, dizer-lhe o dito seu amo que lhe dera o dito dinheiro, e que vinha aviado.
E, em efeito, daí a três dias, pouco mais ou menos, fazer o seu auto de forma-
tura. E que isto era o que só sabia tocante a esta matéria. Perguntado se sabe,
digo, se levou mais alguma outra pele e queijos, além dos que tem declarados,
ao dito Rui de Albuquerque, da parte do dito Pero Geraldes, seu amo, ou sabe
j1. 409 que por outrem // lhos mandasse, ou outra alguma coisa, disse que não sabia
mais que dizer-lhe o dito seu amo que, por outro nome, digo, por outro moço,
por nome Domingos, que tem pai e mãe, aos quais não sabe o nome, nem a ele
o sobrenome, que era seu criado, lhe tinha mandado outra pele e outros queijos;
e não sabia mais coisa alguma da pergunta. Perguntado se foi ele declarante
com o dito Pero Geraldes quando levava as ditas patacas, e se as entregou a ele
declarante para as dar ao dito Rui Albuquerque, disse que, como dito tem, o
dito Pero Geraldes foi só com o dito Bartolomeu Nunes levar o dito dinheiro ao
Rui de Albuquerque; e, quando tornou, lhe disse que lho dera e que já vinha
concertado com o dito Rui de Albuquerque, e trazia o tempo que lhe era neces-
sário para se formar. E que, em lhe levar o escrito em que lhos oferecia se
poderia cuidar que lhos levara, mas que, na verdade, não fora assim. E com
isto se houve por satisfeito aos referimentos que nele fizeram Maria Simões e
seu marido, João Francisco. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar
escrito na verdade, e do costume nada; e assinou com o dito Reformador e
adjuntos. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Menese:,
Re./órmador e Reitor. Frei Gregório das Chagas. Frei Vicente Pereira. Marcos
Botelho Furtado. Francisco Branco. / /

[folhas 410 e 410v. em hram:o]

./7. 411 D. Francisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador


Reitor desta Universidade de Coimbra, e os Drs. Frei Vicente Pereira, lente
de Prima de Teologia, Frei João Aranha, lente da cadeira grande de Escri-
tura, Luís Ribeiro de Leiva, lente da cadeira de Decreto na dita Universidade,
fazemos saber ao Senhor Jerónimo Pimenta de Abreu, do Conselho de Sua
Majestade, chanceler da Casa uo Porto, que o dito Senhor nos mandou tomar
conhecimento dos casos da visita da presente reformação da dita Universidade,
por carta sua, por virtude da qual começamos a ver a devassa da dita reforma-
ção, e achamos que, para bom despacho dela, cumpre serem perguntados os
desembargadores seguintes dessa Relação, pelos casos ao diante declarados:
o desembargador Luís Pereira de Castro, se está lembrado que, alguma hora,
tratando de ser opositor a alguma cadeira de Cânones na dita Universidade,
com outros opositores a ela, em conversação, de algum lente de Cânones da

398
mesma Universidade, fosse advertido por ele de que ouviu dizer que algum
oficial da dita Universidade dava certidões de mais tempo do que era o da
partida de alguns estudantes para as férias ou para se ausentarem doutra
maneira, e isto para depois passarem seus cursos na forma da reformação, a
instância dos ditos seus opositores ou de seus amigos; e que ele dito Luís Pereira
haja respondido então ao dito lente que se calasse, que ele mesmo Luís Pereira
de Castro o consentia, porque o dito oficial lhe fazià a ele o mesmo;
E, assim, mais se está lembrado que, no tempo da dita sua oposição,
J7. 411v. lhe havia, // dado algum oficial da dita Universidade os livros da matrícula
daqueles presentes anos que lhe convinham a ele Luís Pereira de Castro e se os
teve em seu poder no Colégio Real de S. Paulo, o tempo que lhe foi necessário,
e que respeitas teve nisso com o dito oficial, e que ele testemunha os declare
bem e verdadeiramente, na forma que for da sua obrigação;
o desembargador Cid de Almeida, corregedor do crime da Relação do Porto,
se está lembrado que, na oposição de uma carreira de Leis da dita Universidade,
que teve com o desembargador Luís de Góis, colegial de S. Pedro, lhe haja
mandado algum oficial da dita Universidade alguns escritos sobre avisos que lhe
dava, e segredos que lhe descobria, e coisas que nele fazia contra seu ofício. ·
Pelo que requeremos a Vossa Mercê, da parte de Sua Majestade, e da nossa
pedimos a Vossa Mercê que faça perguntar, perante si pessoalmente, aos ditos
dois desembargadores, cada um sobre as coisas acima referidas, com o segredo
e consideração que Vossa Mercê usa no serviço de Sua Majestade, e que o dito
Senhor nos encarrega, para melhor despacho da dita visita; perguntando-lhes
primeiro aos ditos desembargadores se sabem o para que são chamados de
Vossa Mercê, e se alguma pessoa lhes haja pedido, por si ou por outrem, que,
sendo perguntados sobre as coisas desta visita, encubram a verdade ou digam
contrário dela, e de que tempo a esta parte. E, tomados assim os testemunhos
dos ditos desembargadores pelo oficial que. parecer a Vossa Mercê de maior
consideração, Vossa Mercê nos faça mercê de no-los enviar a bem recado, para
procedermos no caso como nos parecer que mais convém ao serviço de Sua
fl. 412 Majestade. Dado em Coimbra, na Junta da// reformação da Universidade, aos
vinte e três dias do mês de Janeiro de mil seiscentos e vinte anos. Agostinho de
Aguiar de Figueiroa, escrivão da dita reformação, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Frei João Aranha. Frei Vicente Pereira. Luís
Ribeiro de Leiva./ /

[Folhas 413 a 414v. em branco]

.fl. 415 Testemunhas que se tiraram por uma diligência que veio. Aos sete dias do
mês de Fevereiro de mil e seiscentos e vinte anos, nesta cidade do Porto, na

399
Relação dela, estando presente o Dr. Jerónimo Pimenta, do Conselho de Sua
Majestade e chanceler nesta Relação e Casa do Porto, por ele foram pergunta-
das as testemunhas seguintes, comigo escrivão Bernardo Godinho Camadão.
O Dr. Cid de Almeida, corregedor do crime nesta Relação e Casa da dita
cidade, que disse ser de trinta e oito anos, pouco mais ou menos, testemunha já
jurada nos Santos Evangelhos, e pelo costume disse nada. Perguntado se sabia
o porque era chamado, ou alguma pessoa lhe escrevera sobre a matéria de//
.fl. 415v. que há-de ser perguntado, disse que não sabia nada. E, perguntado se lem-
brava que não ... de uma cadeira de Leis da Universidade que teve com o
Dr. Luís de Góis de Aragão, colegial de S. Pedro, como a ele haja mandado
algum oficial da dita Universidade alguns escritos sobre avisos que lhe dava, e
segredos que lhe descobria, e coisas que nele fazia, disse que, quando veio des-
pachado pela Relação, passando pela Universidade de Coimbra o Bispo de
Lamego, ·D. Martim Afonso Mexia, o perguntou por testemunha sobre esta
matéria e outras, ao qual, digo e outras pertencentes à dita visita, e que espe-
cialmente lhe não lembra, ao qual testemunho se reporta, e que, por ora, lhe
Jl. 416 não lembra q\le oficial lhe descobrisse segredos,// nem mandasse escrito contra a
obrigação de seu ofício, porquanto, na dita visitação, foi dado por suspeito o
Secretário Rui de Albuquerque, e não fez seu ofício na dita cadeira. E, posto
que, nesse tempo, teve muitos avisos e escritos de muitas pessoas, mas que não
está lembrado se eram oficiais da Universidade, e de coisas tocantes a seu ofício,
por haver muito tempo que as ditas oposições passaram. E mais não disse; e
assinou com ele o Chanceler. E eu, Bernardo Godinho Camadão, o escrevi. Cid
de Almeida. Jerónimo Pimenta de Abreu.

O Dr. Luís Pereira de Castro, desembargador dos agravos nesta Relação e


Casa do Porto e de idade que disse ser de trinta e sete anos, pouco mais ou
menos, testemunha jurada aos Santos Evangelhos, e pelo costume disse nada./ /
/7. 4161•. E, perguntado por cartas, digo, e, perguntado se sabia o para que era chamado,
e se alguma pessoa lhe falara nesta matéria, disse que nunca lhe falou nela
pessoa alguma, e nem sabia para o que era chamado. E, perguntado pelo
segundo capítulo, disse que lhe não lembrava, digo, no primeiro capítulo que de
letra há, disse que não está lembrado que tal passasse diante ele testemunha.
E, perguntado pelo segundo capítulo, disse que não está lembrado que nenhum
oficial da Uriiversidade lhe desse nem comprasse dele testemunha nenhum dos
livros da matrícula, nem os teve nunca em seu poder no tempo de sua oposição,
.fl. 417 nem fora dela. E mais não disse, e assinou com ele Chan / / celer. E eu, Ber-
nardo Godinho Camadão, o escrevi. Luís Pereira de Castro. Jerónimo
Pime111a de Abreu.

[folhas 417v. a 420v. em branco]

400
fl. 421 André de Figueiredo, de que faz menção o precatório, andou até agora
ausente desta vila, e, ainda ontem, com cominação de graves penas, veio; e logo
fiz com ele a diligência que Vossa Mercê me mandou. E, por mais que apertei
com ele, não deu mais de si do que vai em seu testemunho. Sobre o médico, fiz,
por vezes, diligência, e nunca mais veio a esta vila. Em tudo o mais que
houver do serviço de Vossa Mercê, mostrarei sempre a vontade que me fica de
empregar-me nel~, Nosso Senhor. Setúbal e 23 de Fevereiro de 620. Cristóvão
Moniz de Freitas.//

[folhas 421v.a 422v. em branco]

.f1. 423 Apresentação de um precatório da Universidade de Coimbra, apresentado


ao Corregedor desta Comarca. Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus
Cristo de seiscentos e vinte, aos seis dias do mês de Fevereiro do dito ano, nesta
vila de Setúbal e na residência do Senhor Cristóvão Moniz de Freitas, ouvidor
desta comarca de Setúbal, por ele me foi mandado fizesse auto em como lhe é
mandado um precatório da Universidade de Coimbra para fazer. .. diligências
nele declaradas e perguntar a todos eles nomeados, em ... qual... o dito precató-
rio e o adjuntei ... seguinte ... / /

[folha 423v. em branco]

fl. 424 D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor da Universidade de Coim-


bra, Frei Vicente Pereira, lente da cadeira de Prima de Teologia, Frei João
Aranha, lente da cadeira de Escritura, Luís Ribeiro de Leiva, lente da cadeira de
Decreto na mesma Universidade, fazemos saber ao Senhor Cristóvão Moniz,
ouvidor da vila de Setúbal, que, da devassa desta reformação, de que Sua
Majestade nos manda tomar conhecimento e informação, que nesta Junta há,
consta que, este mês de Novembro próximo passado fez um ano, nesta cidade
de Coimbra, se achou Francisco Gago, dessa vila, Bacharel formado em Leis,
em casa e companhia de Estêvão Ferreira, estudante canonista, e de João Car-
doso, irmão do dito Francisco Gago, e de Manuel Soares de Moura, de Lisboa,
bacharel formado em Leis, e que, estando todos quatro, dissera o dito Manuel
Soares que já tinha sete meses que lhe faltavam para se formar, que Rui de
Albuquerque, Secretário desta Universidade, lhe dera por dez mil_ réis .
E outrossim, há informação que haverá dois anos e oito meses que, nesta cidade,
s; achou André de Figueiredo, estudante que, no tal tempo, era nesta Universi-
dade, e, ao presente, bacharel formado em Leis, em sua casa, em companhia de

401
certo de Doutor desta Universidade, ao qual dissera que o dito Secretário Rui
de Albuquerque dera a Brás Casco, estudante legista, natural de Évora, três //
.f1. 4241-. anos, sem os ter, nem provisões de Sua Majestade para se formar; e que, de
efeito, com eles se formara, por lhe não descobrir uns papéis e escritos que o
dito Secretário havia mandado a Cid de Almeida, opositor que então era, com
Luís de Góis, a uma cadeira de Leis, sobre avisos que lhe dava e segredos que
lhe descobria de coisas que fazia contra seu ofício, os quais papéis e escritos o
dito Brás Casco, achando-os na cela do dito Rui de Albuquerque, por lhe dar
os ditos três anos. E,porque convém ao serviço de Sua Majestade serem pergun-
tados os sobreditos Francisco Gago e André de Figueiredo pelo sobredito,
requeremos a Vossa Mercê, da parte do dito Senhor, e da nossa pedimos que,
sendo-lhe este apresentado, os mande vir perante si, e, com o segredo e cuidado
com que Vossa Mercê costuma haver-se, com o oficial que lhe parecer de mais
confiança, os pergunte e inquira pelo acima referido, na forma costumada, e
primeiro, em geral, e, depois, em particular, quando seja necessário, para sabe-
rem as ditas testemunhas o sobre que hão-de depor. E, feita a dita diligência,
.fl. 425 no-la mandará Vassa Mercê, sem lá ficar traslado// algum desta Junta a este
nosso, para que conste que, por verdade dele, se fez. Dado em Coimbra, em
Junta da reformação desta Universidade, a vinte e oito de Janeiro de seiscentos
e vinte. Agostinho de Aguiar, escrivão da reformação, o escrevi. E assim mais
perguntará Vossa Mercê às ditas testemunhas pela fama das coisas sobreditas
que haja ou houvesse na dita Universidade, pela maior parte ou fora dela, e da
origem e pessoas da dita fama. Sobredito o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Refêm,wdor e Reitor. Frei João Aranha. Frei Vicente Pereira. Luís Ribeiro de
Leiva./ /

[folha 425v. em branco]

.f1. 4:!ó Aos seis dias do mês de Fevereiro do ano de seiscentos e vinte, nesta vila
de Setúbal, em casa ... Cristóvão Moniz de Freitas, comigo escrivão, perguntou
as testemunhas seguintes, em cumprimento de uma carta que lhe veio da Uni-
versidade de Coimbra.
Francisco Gago. filho do Dr. André Rodrigues. médico. de idade que diz ser de
vinte e sete anos, jurado nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão; e, per-
guntado pelo conteúdo na carta da Universidade de Coimbra ... que não sabe
mais do conteúdo nela· que ouvir dizer a muitas pessoas, segundo sua lem-
brança, o ... que Rodrigo de Albuquerque ... em dinheiro que lhe davam; e disto
era infamado na Universidade. E que particularmente o ouviu dizer a Jeró-
nimo ... que foi na dita Universidade. e ... que o dito Rodrigo de Albuquerque
fl. 426v. dera a Manuel Soares de Moura três meses que lhe faltavam// por nove ou
dez mil réis, segundo sua lembrança. e que. segundo ... tempo que cursou o dito

402
Manuel Soares com ele, já lhe parece que não podia ter os cursos perfeitos ... na
Universidade, tendo sendo ano de Casos, supondo que ... o dito Manuel Soares
que tinha, e também ... com que pudera perfazer os ditos cursos, mas ele ... o que
se vem do livro da ... E, assirn, mais ouviu dizer, segundo sua lembrança, ao
Dr. Cristóvão Mouzinho, que ... António Cabral, que então era opositor, lhe
dera o dito Rodrigo de Albuquerque dois anos de residência, com que fez ... por
fl. 427 dinheiro. E, perguntado particularmente ... conteúdo na dita, // disse que ele
não conhece o dito Estêvão Ferreira, nem se lembra que se ajuntassem em sua
casa, como diz Manuel Soares, nem era lembrado que o dito ... que o dito
Rodrigo de Albuquerque lhe deve os dez mil réis, e o dinheiro ... tem. E mais
não disse, e do costume nada; e o assinou... Entrelinhei a Manuel Soares de
Moura ... Cristóvão Moniz. Francisco Gago de Azevedo.
Aos vinte dois dias do mês de Fevereiro do ano de seiscentos e vinte, nesta
vila de Setúbal, em a... do dito ouvidor, comigo escrivão, perguntado o
seguinte.
fl. 4271'. André de Figueiredo Palha, bacharel formado em Leis, de idade que disse ser
de trinta e um anos, jurado nos Santos Evangelhos, em que pôs a mão, e,
perguntado pelo costume, disse nada. E perguntado pelo conteúdo no/ / preca-
tório que veio da Universidade de Coimbra... disse que, em sua consciência, não
sabe nada do conteúdo nele, com que está lembrado, e que ... ouviu falar, e não
está lembrado a quem, ... já anos, que Rodrigo de Albuquerque, no dito tempo
Secretário da dita Universidade, dava cursos a algumas pessoas, mas que não
sabe se por dinheiro; e que, pelo que ouviu e se disse na Universidade, e virá
também testemunhar o bacharel António Ferreira, natural de Viana da ... , e seu
companheiro um Fuão Quaresma, advogado que hoje é em Montemor-o-Novo.
E, perguntado particularmente pelo conteúdo no dito precatório, sobre Brás
Casco, natural de ... , digo, de .. ., disse que lhe parece ouviu também dizer que o
dito Rodrigo de Albuquerque dera ao dito Brás Casco algum tempo para se
formar, como de feito lhe parece que é formado, e, segundo ouviu dizer e está
lembrado, que, em ... oposição que fez o Dr. Cid de Almeida, não está lem-
brado com quem, sendo ... o dito Brás Casco lhe acharam alguns papéis do dito
fl. 428 Rodrigo de Albuquerque, que ... o dito Brás// Casco ; e não sabe nem ouviu o
que se continha em os ditos papéis, mais que ouvir que ele os achara, como
disse se ... ; e, segundo sua lembrança, lhe parece que se murmurava na dita
Universidade de o dito Rodrigo de Albuquerque dar tempo a quem lhe parecia;
e que não está lembrado a quem o ouviu. E ai. não disse; e assinou com o ...
E declarou que ouviu a ... que ... em diversos tempos ... e outros estudantes que
andavam ... e falavam na ... ; e que lhe parece que se não lembra de ouvir dizer
ao bacharel formado Gonçalo Fernandes da Silva... E ai. não disse; e ora
assinou ... Cristóvão Moniz. André Figueiredo Palha. / /
[folha 428v. em branco]

403
.fl. 429 Com a carta da Junta e de Vossa Senhoria, fiz a diligência a que se me encarre-
gou, e mandei vir perante mim a Pero Geraldes, legista, nela conteúdo, feitas
todas as diligências e prevenções necessárias. Vindo a ... de fazer certa
informação com ele e outros procuradores mui repentinamente, sem ter lugar de
poder deliberar nem ter notícia do que ele testemunhou, e por mais que fez
por. .. tudo, não pode, informei-me de Manuel Álvares da Igreja, juiz ordiná-
rio, na mesma vila, e bom ministro e de André de Madureira, tabelião, e de ... e
.fl. 429v. achei que Bartolomeu Nunes não reside// na dita vila, de Outubro a esta parte,
porque está em Salamanca, estudando, como consta da certidão que com esta
leva; e Francisco Branco, não há tal nome na vila de Idanha-a-Nova nem seu
termo, como antes se consta da dita certidão. Porém, testemunhando o dito
Pero Geraldes, disse que se chamava Francisco Branco, e que não sabia dele
de ... Preso em minha casa o dito Pero Geraldes, e com boa guarda, que não
falhasse, com que tudo se ... ao dito Francisco Fernandes Branco, e fiz diligên-
cias por o descobrir, fingindo que era por outra coisa, e achei que em o lugar de
Oledo, termo da dita vila de ldanha, vive o dito Francisco Fernandes Branco,
filho de Francisco Fernandes Ovelho, do mesmo lugar. Mandei logo com toda
a pressa ao alcaide, em busca dele, e achou que estava estudando em Sala-
manca, como da fé do dito alcaide consta; e assim não foi possível perguntá-lo, nele
fl. 430 consiste// a verdade do negócio, os salmanticenses costumam vir depois da
Páscoa, pesou-me de o não perguntar, e de não poder satisfazer a tudo o que
Vossa Mercê mandara, para cujo serviço e dela Universidade, e farei sempre
mui pronto, a quem Deus guarde. E, havendo-se de fazer mais diligências,
vindo de Lisboa, para donde me parto, e se não fora este negócio, ja o fora;
guarde a Vossa Mercê. E... Castelo Branco e de ... 17 de 6bro. / /

[folha 430v. em branco]

fl. 431 D. Francisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e


Reitor desta Universidade de Coimbra, Frei Vicente Pereira, lente da cadeira de
Prima de Teologia, Frei João Aranha, lente da cadeira grande de Escritura,
Luís Ribeiro de Leiva, lente da cadeira do Decreto da dita Universidade, faze-
mos saber ao Senhor Paulo Leitão de Abreu, Corregedor da Comarca da vila
de Castelo Branco, ou a quem seu cargo servir, que, na Junta da reformação
desta Universidade de Coimbra, há informação que, no mês de Novembro ou
Dezembro de seiscentos e dezoito, veio a esta Universidade, da de Salamanca,
Pero Geraldes, bacharel formado em Cânones, natural de Idanha-a-Nova, a se
formar na dita Faculdade, e que pousou em casa de Maria Simões, mulher de
João Francisco, sapateiro, morador à Porta Nova, por baixo da portaria do
carro dos Padres da Companhia; e que mandou comprar pelo dito João Fran-
cisco uma pele de cordovão, que lhe custara oito ou nove tostões, e, com outra

404
que tinha, as mandara, com meia dúzia de queijos, além de outros que já tinha
mandado, a Rui de Albuquerque, Secretário desta Universidade, por Francisco
Branco, estudante de Latim, seu criado, para que lhe desse o tempo que lhe
faltava para se formar, ou lhe incorporar os cursos que tinha da dita Universi-
dade de Salamanca. E que, porque o dito Rui de Albuquerque lhe não
fl. 43/i>. fazia o sobredito, sem embargo de lhe ter// mandado as ditas peles e queijos, o
dito Pero Geraldes lhe escreveu um escrito, que leu à dita Maria Simões, em
que lhe dizia que, se queria aceitar seis mil réis, que lhe mais daria, que lhos
mandaria, por lhe fazer o sobredito. E que, pelo dito Francisco Branco, que lhe
levou o dito escrito, lhe mandou dizer o dito Secretário que se visse com ele na
Universidade. E que, depois de falarem, mandou o dito Pero Geraldes, pelo
dito Francisco Branco, ao dito Rui de Albuquerque, seis mil réis em patacas; e,
depois de lhas entregar, o acompanhou o dito Pero Geraldes; e, tornando, mos-
trara o dito Pero Geraldes à dita Maria Simões e João Francisco, seu marido,
um papel, dizendo-lhes que nele lhe dera o dito Secretário o que era necessário
para se formar, e que aquilo era o que faziam os ditos seis mil réis; e que, logo
no outro dia, se formara. E, porque convém ao serviço de Sua Majestade
serem perguntados pelo sobredito o dito Pero Geraldes e Bartolomeu Nunes, estudante
das Escolas Menores desta Universidade, natural da dita Idanha-a-Nova, pupilo
que então era da dita Maria Simões, que será de dezoito anos, desbarbado, de
meã estatura, e o dito Francisco Branco, criado que então era dos ditos
/1. 432 Bartolomeu Nunes e Pero Geraldes, que é de junto a ldanha, / / de dezoito
anos, e lhe começava o buço preto, baixo, baço de rosto e grosso de corpo,
requeremos a Vossa Mercê, da parte do dito Senhor, e, da nossa, pedimos a
Vossa Mercê que, sendo-lhe este apresentado, com o cuidado e brevidade possí-
vel, e com que costuma acudir a coisas de tanto serviço de Sua Magestade,
mande vir perante si aos sobreditos Pero Geraldes, Bartolomeu Nunes e Fran-
cisco Branco, e os pergunte pelo acima referido, primeiro, em geral, e ,depois,
em particular; e primeiro se sabem o para que são chamados, ou o presumem, e
se alguém, por si ou por outrem, lhes pediu que, sendo perguntados ou por
coisa pertencente a esta reformação e visita dela, calassem verdade ou dissessem
contrário dela, e de que tempo a esta parte. E, depois de perguntados pelo
sobredito, e de deporem a isso, se sabem ou ouviram que houvesse fama pública
do dito Secretário dar e vender tempo por dinheiro e peitas, e entre que pessoas,
e se dignas de fé e crédito, e donde tivesse sua origem e princípio a dita fama,
para constar de haver resultado de causa provável e verosímil. E, feita a dita
diligência com o oficial que Vossa Mercê tiver de maior confiança, junta a este,
para que conste de como, por virtude dele, se fez, no-la enviará Vossa Mercê a
própria, sem lá ficar traslado algum dela, por convir assim ao serviço do dito
fl. 4J2v. Senhor. Dado em Coimbra, sob nossos sinais, somente em// Junta desta pre-
sente reformação da Universidade dela, aos trinta e um de Janeiro de seiscentos

405
e vinte. Eu, Agostinho de Aguiar, secretário da dita reformação, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Frei João Aranha. Frei
Vicente Pereira. Luís Ribeiro de Leiva.

Cumpra-se, e Simão Rodrigues Cortês escreva nesta diligência. Castelo


Branco e de Fevereiro 16 de 620. Paulo Leitão de Abreu/ /

[folha 432v. em branco]

fl. 433 Aos dezassete dias do mês de Fevereiro de mil seiscentos e vinte anos, nesta vila
de Castelo Branco, o Corregedor Paulo Leitão de Abreu... comigo escrivão
perguntou as testemunhas seguintes:

O Licenciado Pero Geraldes Leitão, morador na vila de Idanha-a-Nova, de


idade que disse ser de vinte e seis anos, jurado nos Santos Evangelhos e prome-
teu dizer verdade ... E, perguntado ele pelo conteúdo na carta do Senhor Reitor
da Universidade de Coimbra, e mais adjuntos da reformação da dita Universi-
dade, disse que é verdade que, no mês de Novembro do ano de seiscentos e
dezoito, por ele ir da Universidade de Salamanca à de Coimbra, onde se for-
mou em cânones ... e de Maria Simões, mulher de João Francisco ... os man-
dou a Rui de Albuquerque, Secretário da dita Universidade; e que não está
lembrado ... tinha mandado antes disso outros queijos, os quais lhe mandou por
um estudante, que se chamava Francisco Fernandes Branco, que, ao tal tempo,
o servia; porém, ora não sabe deste nem onde seja; e que isto fez por o dito Rui
de Albuquerque lhe dar uns cursos de Salamanca que ele já lhe tinha deixado em
fl. 433v. seu poder, mas não para lhe dar// tempo porque lhe não faltasse, achava ele,
porque o dito Secretário lhe fez ... em os buscar, lhe deu o sobredito. E que é
verdade que ... ao tempo que lhe mandou os queijos, porém, não lhe falava em
lhe dar dinheiro nem ... E que ... ao dito Secretário umas ... pelo dito Francisco
Branco... Universidade, e que falara com e lhe disse que lhe buscaria os seus
papéis; porém, não lhe mandou dinheiro, nem ele ... acompanhou nunca, e-que
ele ... a dita Maria Simões e João Francisco, mostrando-lhe um papel, "vedes
aqui o que fizeram os meus queijos e a pele, que fizeram aparecer os meus
cursos"; e se eles não foram ... porém, não lhe falou em dinheiro, nem o deu, e...
dias se formou ele segunda, e de ... para falar. .. nem sabia o para que era cha-
mado, nem o presumia. E disse ... que não sabia nem ouvira que houvesse fama
pública que o dito Secretário vendesse tempo por dinheiro e peitas. E que isto
era o que .. . na verdade e não ... e assinado ... pelo juramento óos Santos Evange-
lhos, que tinha recebido. E do costume disse nada. E assinou com o dito
corregedor. E eu, Simão Rodrigues Cortês, escrivão da correição, o escrevi.
Pero Geraldes Leitão. Paulo Leitão de Abreu.//

406
.fl. 434 E, logo nesse dia, mês, e ano atrás ..., o dito corregedor prendeu a Pero
Geraldes, testemunha atrás, em sua casa, ... em Loriga... Conde da vila de Ida-
nha, que para a ... diligência, mandara ... corregedor a Francisco Fernandes
Branco, filho de Francisco Fernandes o Velho, que era morador no dito
lugar, ... no testemunho atrás do dito Pero Geraldes, sem embargo de ele o não
declarar, conforme a informação e diligências que o dito corregedor fez sobejo,
o que.. . perante mim .. . no mesmo modo ... e disse que, buscando no dito lugar
ao dito Francisco Fernandes Branco, o não achara, antes o ... que está estu-
dando na Universidade de Salamanca, de Outubro a esta parte, no que fez toda
a diligência, e o não achou, nem constava no dito lugar, como dito tem, de que
deu sua fé, por estar escrito na verdade, como tendo ... e de tudo o dito correge-
dor mandou fazer este termo, que o Senhor... E eu, Simão Fernandes Cortês,
escrivão da correição, o escrevi. Paulo Leitão de Abreu. //

[folha 434v. em branco]

.fl. 435 Certifico eu, André de Madureira, tabelião do público judicial e notas
' nesta vila de Idanha-a-Nova e seu termo, por El-Rei nosso Senhor, que, nesta
dita vila, não há pessoa nenhuma que se chame Francisco Branco, nem agora
nem em algum tempo se chamasse, nem que tivesse tal nome, de que haja
lembrança de presente. E, outrossim, certifico e dou fé que o corregedor desta
comarca, o Dr. Paulo Leitão Abreu, tirou sumário de testemunhas juradas, que
aclararam não haver, nesta dita vila, o dito Francisco Branco. E, por verdade,
assinei de meu sinal público, que tal é. Em esta vila, aos quinze dias do mês de
Fevereiro de mil e seiscentos e vinte anos. E declaro que, nem em seu termo, há
o dito Francisco Branco. O sobredito o escrevi. E esta fé e certidão passei,
segundo a diligência que o dito corregedor fez perante mim. O sobredito o
escrevi. André de Madureira. / /

fl. 435v. E, assim, mais certifico e declaro que Bartolomeu// Nunes, filho de Nuno
Álvares Archistão (?), de idade de dezoito anos, pouco mais ou menos, desbar-
bado, de meã estatura, que se diz foi companheiro de Pero Geraldes, desta vila,
sendo estudantes, ao que ... não está nesta vila, porque estuda na Universidade
de Salamanca, segundo pública voz e fama. E disto dou fé, e passa na verdade,
e está ausente desta vila; e, por verdade, assinei de meu sinal raso. Hoje, dia,
mês e ano atrás declaro. Diz a entrelinha dou. O sobredito o escrevi. André de
Madureira//

[folhas 436 e 436v. em branco]

407
p. 437 Auto de apresentação da carta da Junta da Universidade de Coimbra e refor-
mação dela.

Ano do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo de mil e seiscentos e


vinte anos, aos dezanove dias do mês de Fevereiro, na ermida de S. Lázaro da
vila de Guimarães, onde foi vindo o reverendo padre Frei ... de ... Prior do Mos-
teiro de S. Gonçalo da dita vila, da Ordem do glorioso S. Domingos, por ele foi
mandado a mim, tabelião ... a carta do Senhor D. Francisco de Meneses, Reitor
e Reformador da Universidade de Coimbra, e dos padres Frei João Aranha e
Frei Vicente Pereira lentes de Teologia, e de Luís Ribeiro de Leiva, ... na dita
Universidade e adjuntos na reforma dela, que ... Ribeiro, Tabelião na dita vila, o
escrevi. / /

(folha 437v. em branco]

jl. 438 Inquirição que o Prior do Convento de S. Gonçalo da vila Amarante tirou na
dita vila, por mandado dos Senhores Reitor e adjuntos da mesa da reformação
da Universidade de Coimbra. / /

(folha 438v. em branco]

fl. 439 D. Francisco de Meneses, do Conselho de Sua Mejestade, Reformador e Reitor


da Universidade de Coimbra, e Frei Vicente Pereira, lente da cadeira de Prima
de Teologia, Frei João Aranha, lente da cadeira grande de Escritura, e Luís
Ribeiro de Leiva, lente da cadeira de Decreto na dita Universidade, adjuntos,
por provisão de Sua Majestade, para se tomar conhecimento da devassa desta
presente reformação, fazemos saber ao Senhor Frei Gaspar de Góis, prior do
Convento de S. Domingos da vila de Amarante, ou a quem seu cargo servir,
que, nesta Junta, há informação que Rui de Albuquerque, Secretário da d_ita
Universidade, escrevera a Francisco de Macedo, clérigo de ordens sacras, estu-
dante canonista, natural dessa vila, que viesse fazer seus autos, porque lhe
faria tudo o que lhe fosse necessário. E que, vindo o dito Francisco de Macedo,
e, faltando-lhe tempo em seus cursos para os fazer, escrevera desta cidade ao
dito Rui de Albuquerque um escrito, em que lhe dizia que viera a ela confiado
em lhe haver de dar o dito tempo para os ditos autos, e que lhe mandava aquele
mimo como seu servidor, e que, de feito, mandou um presente de galinhas e
fl. 439v. uma caixa de marmelada, e uma cesta de pêras, / / e alguns dez cruzados em
dinheiro, pouco mais ou menos, por um moço seu, a quem chamam Pereira,
natural dessa dita vila, que andava, ao tal tempo, nas Escolas Menores, e que o

408
dito Rui de Albuquerque lhe respondera, depois de aceitar o dito presente, por
letra sua, e que desejava de o servir, e que se viesse, que lhe daria todo o
remédio possível para o que pedia; e que o dito Rui Albuquerque lhe deu o
tempo que lhe foi necessário para se fazer logo bacharel, como, de feito, se fez,
em Junho ou Julho do ano de seiscentos e dezoito, pouco mais ou menos, em
que isto passou, provando-lhe, para isso, um curso que o sobredito Francisco
de Macedo deixara de provar ou de cursar, e para que não tinha provisão de
Sua Majestade, nem certidão, na forma da reformação. E, porque o dito Rui
de Albuquerque lhe não dera todo o tempo que lhe era necessário para se
formar, dissera o dito Francisco de Macedo que esse só era o que lhe ficaria
devendo, se lho dera, e que, por lho negar, para a dita formatura, havia de ir
fl. 440 dar capítulo deles, de lhe tomar// o seu presente e justificá-lo com os ditos seus
escritos. E, porque convém ao serviço de Sua Majestade serem perguntados
pelo sobredito o dito Francisco de Macedo e o dito Pereira, seu criado, reque-
remos a Vossa Mercê, da parte do dito Senhor, e da nossa, pedimos a Vossa
Mercê que, sendo-lhe este apresentado, com o segredo, cuidado e brevidade
possível, os mande vir perante si, e os pergunte, primeiro, em geral, e, depois,
em particular, e se sabem ou ouviram que houvesse fama pública disto, e de o
dito Secretário dar ou vender tempo por dinheiro e peitas, e entre que pessoas,
e se dignas de fé e crédito, e se teve sua origem de causa provável e verosímil;
e fazendo-lhes saber, sendo necessário, a obrigação que têm de revelar o sobre-
dito, assim por se seguir da tal revelação obviar a semelhantes males futuros,
como por estar descoberto e haver prova do crime referido. E, feita a diligência,
com o escrivão dessa vila que lhe parecer de mais confiança, junta a este, para
que conste de como, por virtude dele, se fez, nos enviará Vossa Mercê a pró-
pria, sem lá ficar traslado algum dela, por convir assim ao serviço do dito
Senhor. Dado em Coimbra, sob nossos sinais, somente em Junta, aos quatro
.fl. 440v. de// Fevereiro de mil e seiscentos e vinte. Agostinho de Aguiar de Figueiroa,
secretário dela, a escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Frei
João Aranha. Frei Vicente Pereira. Luís Ribeiro de Leiva. //

f1. 441 Autuada a dita carta por... perante mim o licenciado Francisco de Macedo
de Sousa na dita carta... que para o... foi vindo ... padre prior e... na dita carta...
Ribeiro, tabelião, o escrevi.
O licenciado Francisco de Macedo de Sousa, morador na quinta de Pinheiro,
termo da dita vila, jurado nos Santos Evangelhos, que pelo dito padre prior
disse que ... de idade de trinta e um anos, pouco mais ou menos, e aos ... disse
que, há oito anos que era ... amigo de Rui de Albuquerque, Secretário da
Universidade de Coimbra, e falariam ...
Perguntado pelo conteúdo da carta que ... dito ... não ouvira dizer a pessoa digna
de crédito que o dito Rui de Albuquerque tomava peitas nem dádivas de ... por

409
dar tempo para suprimento de cursos e para verificar. .. natural da cidade do
jl. 44/v. Porto que ... nela ... testemunha era// muito amigo do dito Rui de Albuquer-
que, ... foi uma noite a sua casa, e lhe ... que lhe pediu a ele Rui Albuquerque
que lhe desse vinte dias para sua formatura; e o dito João Álvares deu a ele
testemunha três caixas de marmelada, para mandar ao dito Secretário; e ele
testemunha ... pedindo-lhe que ... os ditos vinte dias; e o dito Secretário lhe tor-
nou a mandar as ditas caixas, respondendo-lhe que não estava ... que fizesse,
pedira o dito João ... ao Reitor que então havia que lhe podia dar os vinte dias
que pedia; e que ele testemunha as tornou a dar ao dito João Álvares. E que é
verdade que pela muita amizade que ele testemunha tinha com o dito Secretá-
rio, lhe mandava algumas vezes alguns mimos, ou tinha como ... E o mesmo
Secretário, quando ... a sua casa, e lhe dava os mimos que tinha, pelo que ...
ficava correndo... E que vindo o dito Secretário ... um agravo da ... mandou
Jl. 442 visitar, como seu amigo a casa// ... estava mandado do Porto, onde foi visitar,
e ... do Secretário lhe mandou dois jaezes ... para as ... de cavalo que se fizeram ...
e louvor do bem ... E que era verdade e nunca vira dinheiro, nem mandara ao
dito Secretário ... lhe dar. .. porquanto, necessário o que, no ano que se fez
bacharel na dita Universidade, passava de ... anos ou ... que o dito Rui de Albu-
querque, ao tempo que se fez bacharel, não estava na dita Universidade, que era
partido para a cidade de Lisboa, por mandado, de sua lembrança, assistindo ao
dito auto Gaspar de Sampaio, como do livro dos bacharéis constará ... e o dito
padre prior Manuel Ribeiro ... //
Jl. 44:!,·. Manuel Pereira, criado do licenciado Francisco de Macedo, testemunha, jurado
nos Santos Evangelhos, que lhe o dito padre prior deu, em que pôs sua mão,
jurou dizer verdade, que ... de idade de dezoito anos, pouco mais ou menos, e aos
costumes disse nada.
Perguntado ele testemunha pelo conteúdo na carta que lhe foi lida e declarada
pelo dito padre prior, disse que é verdade e sabe que o dito Francisco de
Macedo corria com amizade com o Secretário Rui de Albuquerque, mas que é
verdade que ele testemunha nunca, de mandado do dito Francisco de Macedo,
seu amo, levou, o ... conteúdo na carta ao dito Secretário nalgumas por razão de
seu ofício, e que ... de que ele testemunha nunca andou nas Escolas Menores de
Coimbra, nem sabe ... dito padre prior Manuel Ribeiro, Tabelião, o escrevi.
E, perguntadas as ditas testemunhas, o dito padre prior mandou a ... esta inqui-
rição em carta fechada, a enviar na forma da... nesta vila de Amarante, por
El-Rei nosso Senhor, assinei.//
jl. 443 Com esta será o precatório e diligências que Vossas Mercês nele me encomen-
daram. E posto que as quatro testemunhas que se perguntaram não dizem
coisa de substância, contudo, servirá para satisfação da justiça. Se, nestas par-

410
tes, se oferecer outra coisa, do serviço dessa Junta e do _particular de Vossa
Mercês, farei sempre tudo com muita vontade. Guarde Deus a Vosssas Mercês.
Lisboa, 6 de Março de l 620 anos. João Álvares Brandão / /

[folhas 443v. a 444v. em branco]

/1. 445 Auto da ... do Conselho da mesa grande e geral da Santa Inquisição desta cidade.
Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e seiscentos e vinte
anos, aos seis dias do mês de Março do dito ano, nesta cidade de Lisboa, nas
pousadas do Dr. João Álvares ... e do conselho da mesa grande e geral da Santa
Inquisição, e por ele me foi apresentado um precatório que ... de D. Francisco
de Meneses, Reitor e Reformador da Universidade de Coimbra, e da Junta da
dita reformação, dizendo-lhe ... que, em cumprimento do dito precatório, tinha
mandado notificar as testemunhas conteúdas nele, para serem perguntadas cada
Jl. 445v. uma ... a que dêem ... e me mandou fazer este auto ... por se dizer / / que ... as que
adiante se segue ... E declaro que eu ... desta cidade ... Sobredito o escrevi. / /

.fl. 446 Diligência que fez o Inquisidor, o Dr. João Álvares Brandão, por precatório do
Reformador e Junta da reformação da Universidade de Coimbra, para se entre-
gar na dita Junta. / /

[folha 446v. em branco]

fl. 447 D. Francisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e


Reitor da Universidade de Coimbra, e Frei Vicente Pereira, lente da cadeira de
Prima de Teologia, Frei João Aranha, lente da cadeira grande de Escritura, e
Luís Ribeiro de Leiva, lente da cadeira de Decreto na dita Universidade, adjun-
tos, por provisão de Sua Majestade, para se tomar conhecimento da devassa
desta presente reformação, fazemos saber ao Senhor João Álvares Brandão, do
Conselho do dito Senhor e do Geral do Santo Ofício, que, nesta Junta, há
informação que, no mês de Novembro do ano de seiscentos e dezoito, em certo
dia dele, à boca da noite, nesta cidade, em casa de Henrique do Quintal, estu-
dante médico, se acharam, em companhia do sobredito, Manuel Soares de
Moura, bacharel formado em Leis, de vinte e seis anos de idade, de barba loura,
de meã estatura, que actualmente está advogando nessa cidade e natural dela, e
pousa à Mouraria, e Alberto Serrão, bacharel formado e aprovado em Medi-
cina, natural dessa dita cidade, de barba preta, que vive na Rua dos Escudeiros
e tem nela um irmão advogado, por nome fulano Serrão; e que, estando todos
três, o sobredito Manuel Soares lhes disse que ia ter com o Secretário Rui de

411
f1. 447v. Albuquerque e oferecer-lhe // dez mil réis por uns meses que lhe faltavam para
se formar, que eram seis. E que, tornando de casa do dito Secretário, e
perguntando-lhe eles como vinha, e se aviado, o sobredito lhes respondeu que
sim, e que havia dado ao dito Secretário o dito dinheiro pelos seis meses.
E que, no mesmo tempo, pouco mais ou menos, nesta cidade, se achara o dito
Manuel Soares em companhia de Estêvão da Fonseca, lente de Jnstituta, e de
Manuel Pegado, canonista, e de Jerónimo de Tovar, bacharel formado em Leis;
e, estando todos, por ocasião de dizer o dito Manuel Soares que lhe faltavam
cinco ou seis meses, e que dera por eles os ditos dez mil réis, porque lhe impor-
tava formar-se, e de responder o dito Estêvão da Fonseca que lhos desse, e que
lhe haveria do dito Secretário os ditos meses, e do dito Manuel Soares se não
concertar com o dito Estêvão da Fonseca, por certo respeito, disse a uma das
ditas pessoas depois, que fora ter com o dito Rui de Albuquerque, e lhe dera o
dito tempo e lho pusera no traslado e certidão que lhe passara de seus cursos,
e por menos dinheiro ainda dos ditos dez mil réis, porque lhe pedira certo
Jl. 448 amigo seu, / / e que, em Julho de seiscentos e dezoito, pouco mais ou menos,
nesta cidade, se achou Manuel Camacho, bacharel formado em Leis, criado do
Senhor Inquisidor Geral, em companhia de Estêvão Pinto de Sousa, estudante
legista, da cidade de Faro; e, estando assim o dito Manuel lhe disse que sabia
que o dito Secretário Rui de Albuquerque, haveria três anos, pouco mais ou
menos, dera a Manuel Álvares de Abreu, bacharel formado em Leis, um pouco
de tempo em seus cursos para fazer seus autos. E que, este mês de Novembro
passado fez um ano, a dez dele, pouco mais ou menos, na casa da matrícula
desta Universidade, estando provando cursos o Dr. António Homem e o dito
Secretário Rui de Albuquerque, provara o curso do ano antecedente, que
começou em Outubro de seiscentos e dezassete, Gonçalo Vaz Freire, casado
nessa cidade, bacharel formado em Leis, genro de Simão Delgado, cirurgião do
Hospital; e que, por ocasião de lhe pedir o dito Doutor certidão do dia em que
se havia ido, para, no ano seguinte, poder provar o dito curso, na forma da
nova reformação, e de lhe responder o dito Gonçalo Vaz Freire que lhe ficara
em casa, disse o dito Secretário que se lembrava de lhe haver passado a dita
certidão, e que só essa e outra assinara o Reitor Vasco de Sousa, e razoara em
seu favor, de modo que o dito Doutor, sem se exibir ali a dita certidão, lhe//
fl. 448v. provou o cEto Doutor o dito curso; e da prova dele fez o dito Secretário termo,
que assinaram as testemunhas que lho provaram com repugnância do dito
Doutor, a saber, Domingos Rodrigues, casado nessa cidade, não se sabe o
nome da mulher, que, por outro nome, se chama Domingos da Silva, filho de
Domingos Rodrigues, cerieiro nessa cidade que tem tenda a S. Paulo, estudante
legista desta Universidade, e outra testemunha. E porque convém ao serviço de
Sua Majestade serem perguntados pelas sobreditas coisas, assim distinta e sepa-
radamente, como aqui vão relatadas, só as sobreditas pessoas, a saber Manuel

412
Soares de Moura e Alberto Serrão pelo primeiro capítulo delas, e o dito
Manuel Camacho pelo segundo capítulo, em que vai nomeado, e o dito
Domingos Rodrigues pelo terceiro, e nenhuma outra pessoa mais, requeremos a
Vossa Mercê, da parte do dito Senhor, e, da nossa, pedimos por mercê que,
sendo este apresentado a Vossa Mercê, com a brevidade que lhe for possível e
cuidado com que costuma empregar-se em coisas de tanto serviço seu, os
mande vir perante si e os pergunte, primeiro, em geral, e, depois, em particular, e
se sabem ou ouviram que houvesse fama pública das sobreditas coisas, e de o
jl. 449 dito Secretário dar e vender tempo por// dinheiro e peitas, e entre que pessoas,
e se dignas de fé e crédito, e se teve sua origem das ditas cousas ou de algumas
outras prováveis e verosímeis; e fazendo-lhes a saber, sendo necessário, a obri-
gação que têm de revelar as ditas coisas, assim por se seguir de tal revelação
obviar-se a semelhantes males futuros, como por estarem todas descobertas,
delatadas e provadas nesta dita Junta. E, feita a diligência com o escrivão dessa
cidade que parecer a Vossa Mercê de mais confiança, junta a este, para que
conste de como, por virtude dele, se fez, nos enviará Vossa Mercê a própria,
sem lá ficar traslado algum dela, por convir assim ao serviço de Sua Majes-
tade. Dado em Coimbra, sob nossos sinais, somente em Junta, aos quatro de
Fevereiro de seiscentos e vinte. Agostinho de Aguiar de Figueiroa, secretário
dela, o escrevi. D. Francisco Meneses, Reformador e Reitor. Frei João Aranha.
Frei Vicente Pereira. Luís Ribeiro de Leiva//

[folhas 449v. a 450v. em branco]

jl. 451 E sendo o dito precatório ... no dito ... atrás ... seis dias do dito mês de Março
desta era presente de mil seiscentos e vinte, nesta cidade de Lisboa, nas pousa-
das do dito Inquisidor, o dito Inquisidor, comigo escrivão, perguntámos as tes-
temunhas seguintes:
Domingos de... filho de Domingos Rodrigues, casado com Margarida... e
morador nesta cidade, do ... formado em Leis, e de idade de que diz ser de
vinte e seis anos, pouco mais ou menos ... jurado nos Santos Evangelhos, em que
pôs a mão, sob cargo do qual prometeu dizer verdade e de ter segredo no que
lhe fosse perguntado. Perguntado se sabia, de feito, porque foi chamado, ou o
suspeitava, disse que não. E logo lhe foi lido o capítulo a que vem nomeado
por testemunha, conteúdo no precatório ... por ele ouvido e entendido, disse
que, no mês de Novembro este próximo passado fez um ano, se achou ele
declarante na casa que fica logo antes da casa... provar os cursos na Universi-
/1. 4511'. dade de Coimbra, a tempo ... em que Gonçalo// Vaz Freire estava provando
um curso dos seus, que tinha cursado na dita Universidade, na dita casa onde se
provam os cursos, estava nela também, para a dita provança, o Dr. António
Homem, lente de Prima de Cânones, e Rui Albuquerque, Secretário da mesma

413
Universidade. E logo ali então se murmurou que o dito Gonçalo Vaz provara o
dito curso indevidamente, por não ter assistido ... que ... requerem os estatutos,
quando os estudantes ... sem os provarem, e se disse também que o dito Rui de
Albuquerque favoreceu muito na dita prova ao dito Gonçalo Vaz, por ser
muito seu amigo. E ele declarante sabe que o eram muito particulares... que o
dito ... tirou na dita prova ... e que no ... depois da dita prova ... que o dito Rui de
Albuquerque dera dois anos de curso ao dito Gonçalo Vaz ... E que isto era o
que sabia do dito capítulo, porque desta não sabia coisa alguma. Perguntado
se ... ele testemunha presente a ... na prova de ... sabe quem foram as ... que o
provaram, ouviu a ... ou sabe quem ... disse que nada das ... nem fora testemunha
da dita prova. Perguntado se sabia que o dito Gonçalo Vaz desse algum
dinheiro ou outra coisa ao dito Rui Albuquerque para as ... dele para ter alguma
/7. 452 sorte ... // para provação de algum curso, o ... de favor para isso, disse que não,
somente ouviu dizer, na Universidade, que o dito Gonçalo Vaz dera ao dito Rui
de Albuquerque dinheiro por razão do sobredito; e que ... nesta cidade lhe ... dar
um presente.. . o que ouviu dizer a Bartolomeu ... estudante em Leis, filho de
Estêvão de Pina, boticário ... desta cidade, e a António de Pina, estudante em
Cânones, filho do mesmo boticário; e a Simão Delgado, estudante canonista,
filho de Simão Delgado, cirurgião ... desta cidade, e... do mesmo... E do costume
nada. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse que estava escrito na verdade; e
assinou aqui com o dito Inquisidor. Diz o emendado seus. E entrelinha indevi-
damente. Que se fez por verdade. Diogo Fernandes o escrevi. João Álvares
Brandão. Domingos da Silva.

Manuel Camacho, bacharel formado em Leis pela Universidade de Coim-


bra, e solteiro, e natural da vila de ... e residente nesta cidade, em casa ... Inquisi-
dor Geral, e de idade que disse ser de trinta e um anos , pouco mais ou menos,
testemunha nomeada no precatório atrás; e jurado nos Santos Evangelhos, em
que pôs a mão, sob cargo do qual prometeu dizer verdade e de ter segredo no
que lhe fosse perguntado. Perguntado se sabia o efeito por que fora chamado,
ou o suspeitava, disse que não. //
.fl. 452v. Perguntado pelo segundo capítulo do dito precatório, que lhe foi lido e decla-
rado pelo dito Inquisidor, disse que ele não ... conteúdo no precatório, nem está
lembrado que, com as pessoas conteúdas no dito capítulo, nem com nenhuma
delas, contasse coisa alguma das conteúdas no dito capítulo, nem de nenhuma
delas sabe coisa alguma, nem ainda ... saber delas. E mais não disse, e do cos-
tume disse nada; e assinou aqui com o dito Inquisidor. E, sendo-lhe lido este
testemunho, disse estar escrito na verdade. Diogo Fernandes ... o escrevi. João
Álvares Brandão. Manuel Camacho.

414
Manuel Soares de Moura, solteiro, e filho que ficou do licenciado Pero
Soares de Moura, advogado nesta cidade, e nela morador, na Rua das Azeitei-
ras, e disse que será de idade de vinte e seis anos, pouco mais ou menos, teste-
munha nomeada no precatório atrás; e, jurado nos Santos Evangelhos, em que
pôs a mão, sob cargo do qual prometeu de dizer verdade e ter segredo no que
lhe fosse perguntado. Perguntado se sabia o efeito por que foi chamado, ou se
suspeitava, disse que não. Perguntado pelo primeiro capítulo do precatório
atrás, que lhe foi lido e declarado pelo dito Inquisidor, dissse ele testemunha
fl. 453 que era verdade que, no mês de Novembro de seiscentos e dezoito,/ / ou o
tempo que na verdade for, se achou ele declarante um dia, à boca da noite, na
cidade de Coimbra, em casa de Henrique do Quintal, estudante médico, com o
sobredito, e com Alberto ..., bacharel formado em Medicina, morador nesta
cidade; e o dito Henrique do Quintal é hoje morador em Santarém. E, estando
todos três na dita casa, e não se lembra que estivessem mais pessoas, lhes dissera
ele declarante que ... com o Secretário Rui de Albuquerque para ver se ... seis
meses que lhe faltavam para se formar. E, de facto, foi ter com o dito Secretá-
rio, e, pedindo-lhe os ditos seis meses, ele lhos não quis dar, antes lhe ... o
sobredito. E se formou ele declarante no dito tempo, por uma provisão que
Sua Majestade lhe fez mercê dos ditos seis meses, como dela constará, e foi
lançada nos livros da matrícula da dita Universidade. E a viu lançar nos ditos
livros a ... Serrão, morador nesta cidade, irmão do licenciado Francisco Serrão.
E que nunca dera dinheiro nem outra coisa alguma ao dito Secretário, nem a
outra pessoa, por. .. Perguntado se. .. fama do dito Secretário dar ou vender
tempo algum, ou certidões disso por dinheiro ou peitas, ou se sabe pessoa que
possa saber, disse que não, antes o tinha por homem recto ... E mais não disse; e
do costume disse nada. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na
fl. 453v. verdade. E assinou aqui como o dito Inquisidor. E dizem as entrelinhas ... / / ...
João Álvares Brandão. Manuel Soares de Moura.

O licenciado Alberto Serrão, bacharel formado em Medicina, filho que


ficou do licenciado Gonçalo Serrão, e morador nesta cidade, na Rua dos Escu-
deiros, e disse que será de idade de vinte e nove anos, pouco mais ou menos,
testemunha, jurado nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, sob cargo do
qual prometeu de dizer verdade e ter segredo no que lhe fosse perguntado.
Perguntado se sabe o porque foi chamado, ou o suspeitava, disse não. Pergun-
tado pelo primeiro capítulo do precatório, que lhe foi lido e declarado pelo dito
Inquisidor, disse ele declarante que não estava lembrado, ao presente, ter estado
em casa de Henrique do Quintal, com ele e com Manuel Soares de Moura,
conteúdos no dito precatório, nem que ali nem em outra parte o dito Manuel
Soares lhe dissesse que ... fez com o Secretário Rui de Albuquerque ... dez mil
réis que ... coisa pelo tempo que lhe ... por se formar, nem que o mesmo Manuel

415
Soares ... o dito Secretário lhe desse o dito tempo por dinheiro nem por outro
/1. 454 respeito, nem que ... alguma das conteúdas no dito capítulo do precatório, / /
antes ouviu dizer, não se lembra a quem, que o dito Manuel Soares houvera
provisão de Sua Majestade para os ditos seis meses; e que estava lançada no
livro da matrícula da Universidade ... Tudo que ... o que dizia, porque ... reforma-
ção que o conteúdo no dito capítulo passava ... respondeu que dizia o que tinha
dito. Perguntado se sabia ou ouvira dizer que houvesse fama pública de o dito
Secretário Rui de Albuquerque dar ou vender tempo por dinheiro ou peitas, ou
a quem, disse que não sabia. E mais não disse, e do costume disse nada.
E, sendo-he dito, digo, lido este testemunho, e ouvido por ele, disse estar na
verdade; e assinou com o dito Inquisidor. E diz o emendado houvera. Em
entrelinha, capítulo do que se fez por verdade. Diogo Fernandes ... João Álvares
Brandão. Alberto Serrão.

E tiradas assim as ditas testemunhas, ele dito Inquisidor me mandou que


as ... com o dito precatório para as enviar aos ... as próprias. E em ... apontei ...
tudo, e o entreguei ao dito Inquisidor, sem me ficar traslado algum. E vai
fl.454v. escrito em oito folhas, com esta, e com as do precatório, de que fiz este/ /
termo, que assinei com o dito Inquisidor. Dia, mês e ano atrás escrito. Diogo
Fernandes o escrevi. João Álvares Brandão./ /

Jl. 455 Aos vinte e sete dias do mês de Junho de mil e setecentos e vinte e três
anos, em Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada do Senhor
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando ele aí, e o padre
mestre Frei Gregório das Chagas, lente da cadeira grande de Escritura, adjunto,
em Junta, por ser Nosso Senhor servido levar para si ao padre Frei Vicente
Pereira este mês de Setembro próximo passado, outrossim adjunto da dita
Junta, propôs o dito Senhor Reformador, que, para poder e proceder nos negó-
cios dela, deviam de eleger e nomear a outro adjunto, em que concorresse a
virtude, letras e experiência que para os ditos negócios se requeria, conforme a
carta de dezasseis de Dezembro de seiscentos e dezanove e provisão de Sua
Majestade para corregerem deles e poderem fazer a dita nomeação todas as
vezes que algum dos ditos adjuntos faltar ou estiver impedido, porquanto, até
agora, se não puderem concluir os que estavam para acabar, por o dito Senhor
Reformador entender noutros e seu tempo de estudo e de oposições, em que
não era bem que se pendesse ... qual era do dito Doutor Frei Gregório, nem se
lhe ... trabalho, e ... a Junta, nomearam ao Dr. Frei António da Ressurreição,
lente de Prima de Teologia, por nele concorrerem todas as ditas partes. E, para
constar do sobredito mandaram fazer este termo, que assinaram. Pero Soares,
Secretário da Universidade e da Junta, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Frei Gregório das Chagas.//

416
p. 455v. E feita, assim, a dita nomeação, logo na mesma Junta, sendo presente o
padre mestre Frei António da Ressurreição, pelo dito Senhor Reformador lhe
foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, sob cargo
dele, prometeu de fazer bem e verdadeiramente o que por Sua Majestade lhe
será mandado, e de bem guardar o segredo que convinha a este seu serviço,
e o mais a que ficava obrigado. E para constar do sobredito me manda-
ram fazer este termo, que assinaram. Pero Soares, Secretário da Junta, o
escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Frei Gregório das
Chagas. Frei António da Ressurreição.

Aos oito dias do mês de Outubro de mil seiscentos e vinte e quatro anos,
em Coimbra e casas da Universidade, sólita morada do Senhor D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor dela, e do Conselho de Sua Majestade, Bispo
eleito de Leiria, estando ele aí e os padres mestres Frei Gregório das Chagas e
Frei António da Ressurreição, adjuntos que foram da execução desta devassa,
me mandaram declarar aqui as provisões e cartas de prorrogação do tempo do
dito Senhor Reformador, e sobre outros particulares tocantes e pertencentes à
.fl. 456 execução // da dita devassa, para que, por todo o tempo, constasse de como
foram procedendo com plenário poder, e ajuntár nas sentenças que deram con-
forme as ditas cartas de Sua Majestade, que ... o que ao diante se segue, trasla-
dadas das própias e originais, que estão em poder do dito Senhor Reformador.
E de tudo mandaram fazer este termo, que assinaram. E eu, Pero Soares, que
ex ... de escrivão da dita Junta, como consta da carta de Sua Majestade que ao
diante também fica trasladada, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reforma-
dor e Reitor. Frei Gregório das Chagas. Frei António da Ressurreição.

Cartas de prorrogação do tempo do dito Senhor Reformador, além da que


está no princípio desta devassa, de Sua Majestade.

D. Filipe, por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves, de aquém e


de além mar em África, Senhor da Guiné, etc. Como Protector que sou da
Universidade de Coimbra, faço saber a vós, D. Francisco de Meneses, que
.fl. 456v. havendo respondido a ... acabando os seis meses em que vos mandei // reformar
essa Universidade, e a importância que há de se concluir, vos tenho prorrogado
os ditos seis meses, de que se tem passado provisão, que é por mim assinada,
pelo que tenho ... que se acabem os ditos seis meses da primeira prorrogação
antes que a última dos outros seis se vos enviem por esta ... continuando com a
mesma reformação, e juntamente servireis de Reitor na mesma conformidade
da ... provisão com as mesmas cláusulas. E esta lereis em Claustro pleno, para
que a todos seja notório como vos tenho prorrogado os ditos seis meses, e vos
obedeçam em tudo, como lhes tenho ordenado. El-Rei nosso Senhor. .. pelos

417
deputados da Mesa da Consciência e Ordens, D. António Mascarenhas e Antão
de Mesquita. João Tavares a fez em Lisboa a doze de Agosto de seiscentos e
dezanove. António de Alpoim de Brito a fez escrever. D. António Mascare-
nhas. Antão de Mesquita. Foi lida em Claustro pleno em vinte e dois de
Agosto de seiscentos e dezanove, e mandada registar no livro de registo no
mesmo dia. E fica registada a folhas quatrocentas e quarenta e duas. Rui de
Albuquerque.

Outra carta.

fl. 457 Eu El-Rei como Protector que sou da Universidade de Coimbra, faço
saber a vós, D. Francisco de Meneses, que, havendo respondido ... acabando os
seis meses em que vos mandei reformar essa Universidade, e a importância que
há de se concluir, vos prorrogo mais outros seis meses, que começarão a co'rrer
desde o tempo que os primeiros se acabarem; e, neste tempo, ireis continuando
na forma da primeira provisão, como Reformador e Reitor dessa Universidade,
e com as mesmas cláusulas que nela se declaravam. E esta lereis em o Claustro
pleno, para que a todos seja notório como vos tenho prorrogado os ditos seis
meses, e vos obedeçam em tudo, como lhes ordenei na primeira provisão; e esta
se conferirá em tudo, como nela se contém, pelo tempo dos ditos seis meses.
António de Alpoim de Brito a fez em Lisboa, a doze de Agosto de seicentos e
dezanove. Rei . E há Vossa Majestade por bem, como Protector que é da
Universidade de Coimbra, de prorrogar mais outros seis meses a D. Francisco
de Meneses, para acabar a reformação; e no mesmo tempo servirá de Reitor, na
conformidade da primeira provisão que se lhe passou, e o Clautro pleno lhe
obedecerá em tudo, como acima se declara. Por carta de Sua Majestade de
nove de Agosto de seiscentos e dezanove. D. António Mascarenhas. Antão de
Mesquita. Foi lida em Claustro pleno a vinte e dois de Agosto de seiscentos e
jl. 457 v. dezanove, e mandada registar // no mesmo dia; e fica registada folhas quatro-
centos e trinta e um verso. Albuquerque.

Carta para a Junta e o Senhor Reformador procederem.

D. Francisco de Meneses, eu El-Rei vos envio muito saudar. Havendo


visto a vossa carta, por que me destes conta do que tendes começado a fazer na
reformação dessa Universidade, e a relação que, juntamente, enviastes de mui-
tos e prejudiciais vícios de que a Universidade está infeccionada, considerando
que importa ao serviço de Deus e meu, e bem comum desse Reino, que se
castiguem com toda a demonstração e rigor, e se procure extirpá-los de todo da
Universidade, por confiar de vós que tratareis de o fazer com o cuidado, intei-
reza e zelo da justiça que convém, e por meu serviço, e mando que, em virtude

418
desta carta, sem ser necessária, para isso, outra provisão, com os Drs. Frei
Vicente Pereira, lente de Prima de Teologia, Frei João Aranha, lente da cadeira
grande de Escritura, e Luís Ribeiro de Leiva, lente da cadeira de Decreto, por
adjuntos, tomeis conto de todos os compreendidos na devassa da reformação,
de que me destes conta, e, formando-lhes cargos deles lhos façais dar para que,
.fl. 458 dentro de termo breve, respondam a ca // da um, por escrito; e, vista sua res-
posta, os sentencieis com os ditos adjuntos, e me dareis conta das sentenças,
antes de se publicarem; e, sendo necessário, para bem da justiça e segurança dos
culpados, serem alguns presos, o ordenareis assim. E, faltando ou estando
impedido algum dos adjuntos, tomareis em seu lugar, com parecer dos dois que
ficarem, a pessoa que vos parecer mais a propósito, em que concorram as qua-
lidades de virtude, letras e experiência, que, para negócio tão grave, se reque-
rem. E aos ditos Drs. Frei Vicente Pereira, Frei João Aranha e Luís Ribeiro de
Leiva remetereis as suspeições que vos intentaram os Drs. António Homem e
Martim de Carvalho, para que todos três conheçam delas, e das mais que ao
diante se vos intentarem, e as despachem como lhes parecer justiça. E assim lho
mando escrever, pela carta que vai com esta, que lhes dareis. Escrita em
Madrid _a dezasseis de Dezembro de seiscentos e dezanove. Rei. Duque de Villa
Hermosa, Conde de Ficalho. Para o Reitor e Reformador da Universidade de
Coimbra. Por El-Rei a D. Francisco de Meneses, Reitor e Reformador da
Universidade de Coimbra.

Carta para os adjuntos serem informados das suspeições que António Homem
e Martim de Carvalho ...
,,---
Drs. Frei Vicente Pereira, Frei João Aranha e Luís Ribeiro de Leiva, eu
El-Rei vos envio muito saudar. Eu houve por bem de vos nomear por a~jun-
/1. 458v. tos // a D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor dessa Universidade,
para que, com ele, tomeis conhecimento das causas dos culpados na reforma-
ção, nos casos de que ele me deu conta, como o entendereis pela carta que lhe
mando escrever. E, porque os Drs. António Homem e Martim de Carvalho lhe
têm intentado suspeições, ordeno juntamente que se vos remetam, para que
tomeis conto delas e das mais que ao diante se intentarem a ... e as despacheis
como vos parecer justiça. E assim vos encomendo e mando que o façais em
virtude desta carta, sem ser necessário para isso outra provisão. Escrita em
Madrid a dezasseis de Dezembro de seiscentos e dezanove. Rei. O Duque de
Villa Hermosa, Conde de Ficalho. Para os adjuntos do Reformador e Reitor da
Universidade de Coimbra. Por El-Rei aos Drs. Frei Vicente Pereira, Frei João
Aranha e Luís Ribeiro de Leiva.

419
Carta para o Senhor Reformador de mais tempo.

D. Francisco de Meneses, eu El-Rei vos envio muito saudar. Havendo


entendido as dúvidas que se moveram, entendendo-se que se havia acabado o
tempo por que eu vos mandei servir de Reitor e Reformador dessa U niversi-
fl. 459 dade, declarando // o que, nesta parte, hei por meu serviço e é minha vontade,
hei por bem e mando que sirvais de Reitor e Reformador, como o fazíeis antes
que as ditas dúvidas se '.!movessem, até eu mandar outra coisa, tendo para isso
por derrogado, por esta vez, tudo o que em contrário pode ... E para que o que
nesta ordeno venha à notícia dessa Universidade, fareis ler, em o Claustro
pleno, esta carta, logo como a receberdes, e a Frei Francisco Carreiro mando
escrever que venha logo a esta cidade. Escrita em Lisboa, a vinte e oito de
Fevereiro de seiscentos e vinte. O Marquês de Alenquer, Duque de Francavilla.
Para D. Francisco de Meneses. Por El-Rei a D. Francisco de Meneses, Reitor
e Reformador da Universidade de Coimbra.

Outra carta para o mesmo efeito.

D. Francisco de Meneses, eu El-Rei vos envio muito saudar. Sendo res-


pondido a que, para acabar os negócios da reformação dessa Universidade, e da
Junta que agora mandei ordenar para castigo dos culpados compreendidos na
devassa, é necessário mais tempo que o que ultimamente se já vos prorrogou, e
se acaba agora, hei por meu serviço e mando que vos conserveis no exercício
fl. 4591•. dos cargos de Reformador e Reitor/ / por tempo de um ano mais, fazendo-o
em virtude desta carta, sem ser necessária, para isso, outra provisão. Escrita em
Madrid a doze de Fevereiro de seiscentos e vinte. Rei. O Duque de Villa
Hermosa, Conde de Ficalho. Para o Reformador e Reitor da Universidade de
Coimbra. Por El-Rei a D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor da
Universidade de Coimbra.

Outra para o Senhor Reformador, tocante à devassa e reforma.

D. Francisco de Meneses, eu El-Rei vos envio muito saudar. Recebeu-se a


vossa carta de vinte de Janeiro ... Havendo visto o que nela apontais acerca do
modo em que se deve conhecer dos compreendidos pela devassa da reformação,
nos crimes de sodomia e molíce, e das culpas dos religiosos, fidalgos e gradua-
dos, me pareceu dizer-vos que as culpas dos religiosos remetais a seus superio-
res, a que pertencem, para que eles tratem de as castigar; e as de sodomia, de
que no Santo Ofício da Inquisição se tiver começado a tomar conto, e estiver
preventa a jurisdição, remetereis também àquele tribunal, para se verem e sen-
tenciarem nele. E todas as mais se vejam e determinem na Junta, sem enjeição

420
/7. 460 de casos/ / nem de pessoas. E, para se poder fazer, com justiça, notícia das
culpas dos delinquentes, se averigue se reincidiram depois da visita que fez o
Bispo de Lamego, que mandei recolher no Convento de Santa Cruz, em uma
arca de três chaves, hei por bem que se tire dela e se vos entregue, para se ver na
Junta; e que as sentenças que se derem, sem as publicar, se me enviem, para as
mandar ver e ordenar a forma em que se deve fazer. E com esta carta vai outra,
pela qual hei por bem de vos prorrogar por mais um ano o tempo em que
haveis de residir nessa Universidade, para que possais acudir cumpridamente
assim às coisas desta comissão, como às da reformação.
E quanto ao que propondes acerca da provisão da cadeira de Prima de
Cânones, que há o Dr. António Homem que foi preso pelo Santo Ofício, para
se ver o que, nesta matéria, convém ordenar, me avisareis quanto tempo faltava
a António Homem para jubilar, e quando se acaba; e, entretanto, se substitui-
rão aquela cadeira e as mais na forma costumada. E também vos encomendo
me envieis uma relação mui particular e distinta do dito, que por despesas soltas
fl. 460v. dizeis se tem gastado na forma dos estatutos, e outra// do mesmo modo, do
que se dispendeu de ordinário, de trigo e propinas, com as declarações necessá-
rias dos tempos e pessoas que o fizeram, para eu a ver e tomar sobre tudo
resolução. Escrita em Madrid a doze de Fevereiro de seiscentos e vinte. Rei.
O Duque de Villa Hermosa, Conde de Ficalho. Para o Reformador e Reitor da
Universidade de Coimbra. Por El-Rei a D. Francisco de Meneses, Reformador
e Reitor da Universidade de Coimbra.

Outra para o dito Senhor Reformador, em se não chamar à Junta o Dr. Luís
Ribeiro de Leiva.

D. Francisco de Meneses, eu _El-Rei vos envio muito saudar. Recebeu-se a


vossa carta de vinte e um do mês passado, e o auto que com ela enviastes sobre
o ... em que se ajl.ntou Claustro pleno nessa Universidade, e nele foi eleito por
Vice-Reitor o Dr. Frei Francisco Carreiro, por dizerem que tinha expirado a
última provisão por que mandei que servisse de Reformador e Reitor junta-
mente, e do mais que sobre este caso se passou, de que tive desprazer, e fico
vendo o que acerca de tudo se deve ordenar, e posto que já havereis recebido a
minha carta de doze do passado, pelo qual houve por bem de vos prorrogar o
fl. 461 tempo do exercício dos/ / ditos cargos de Reformador e Reitor por mais um
ano, todavia me pareceu mandar-vos passar na mesma conformidade a provi-
são, que vai com esta, e encomendar-vos que, sem embargo de qualquer coisa
que em contra se ... continueis como dantes, dizendo ao Claustro pleno como eu
assim o ordeno e fazendo ler nele a provisão. E pelo que me avisastes de como
naquela ocasião se houve o Dr. Luís Ribeiro de Leiva, fomentando as inquieta-
ções que se moveram, hei por meu serviço que não o chameis à Junta da

421
reformação, e vades procedendo nela com os outros dois adjuntos que vos
tenho nomeados. Escrita em Madrid a onze de Março de seiscentos e vinte.
Rei. O Duque de Villa Hermosa, Conde de Ficalho. Para o Reformador e
Reitor da Universidade de Coimbra. Por El-Rei a D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor da Universidade de Coimbra.

Outra de prorrogação do tempo ao Senhor Reformador.

Eu El-Rei, como Protector qu'e sóu· da ·universidade de Coimbra, faço


saber aos lentes, conselheiros e deputados dela que, tendo consideração a que,
fl. 46/ v. para acabar os negócios // da reformação da mesma Universidade, que tenho
encarregado ao Dr. D . Francisco de Meneses, com ordem de servir os ofícios de
Reformador e Reitor juntamente, e para determinar as causas dos culpados
compreendidos na devassa, em que o dito D. Francisco entende com os adjun-
tos que lhe nomeei, é necessário mais tempo do que ultimamente se lhe prorro-
gou, que se tem acabado, hei por bem e me praz que o dito D. Francisco, como
já lho havia ordenado por uma minha carta de doze de Fevereiro, digo, de doze
do mês de Fevereiro passado, continue no exercício dos ditos cargos de Refor-
mador e Reitor por tempo de um ano mais, com os mesmos poderes e jurisdi-
ção que de antes o fazia; e quero e mando que este alvará, que não passará pela
chancelaria, valha, tenha força e vigor, e se guarde e cumpra inteiramente, sem
embargo de quaisquer estatutos em contrário, e do que a ordenação do livro
segundo, título trinta e nove e quarenta dispõem. Marcos Rodrigues Tinoco o
fez em Madrid aos onze dias do mês de Março de mil a seiscentos e vinte anos.
fl. 462 E eu, Francisco de // Lucena, o fiz escrever. Rei. O Duque de Villa Hermosa,
Conde de Ficalho. Alvará para o Dr. D. Francisco de Meneses servir por
tempo de um ano mais os ofícios de Reformador e Reitor da Universidade de
Coimbra. Para Vossa Majestade ver tudo.

Outra, sobre Rui de Albuquerque.

D. Francisco de Meneses, eu El-Rei vos envio muito saudar. Havendo visto ·as
vossas cartas, de vinte e três do passado e primeiro do presente, sobre a prisão
que a Junta ordenou se fizesse de Rui de A_lbuquerque, Secretário dessa Univer-
sidade, e a declinação com que ele veio para o Juiz dos Cavaleiros, me pareceu
dizer-vos que, pelas razões que apontais, de não se entender nesta matéria o
privilégio do foro , hei por bem e mando que a Junta vá procedendo na causa
conforme a comissão que tem, e ao Juiz dos Cavaleiros se ordenará que sobres-
teja em pedir que se lhe remeta. Escrita em Madrid a catorze de Março de

422
seiscentos e vinte. Rei. O Duque de Villa Hermosa, Conde de Fica!ho. Para o
Reformador Reitor da Universidade de Coimbra. Por El-Rei a D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor da Universidade de Coimbra./ /

f1. 4621'. Outra sobre o dito Rui de Albuquerque, e se chamar por adjunto o padre
Francisco de Mendonça, da Companhia de Jesus.

Doutores D. Francisco de Meneses, Frei João Aranha e Frei Vicente Pereira,


eu El-Rei vos envio muito saudar. Vi a vossa carta de cinco do presente, por
que me destes conta do que, até então, era passado acerca da remissão que Rui
de Albuquerque pretende que se faça de suas culpas aos Juizes Cavaleiros e das
censuras que sobre isso fulminou o Conservador das Ordens Militares, em que
tenho mandado prover, para que se não passe adiante nestes procedimentos,
porém, parecendo-me adventícios que, tendo eu mandado que a remissão se
não fizesse, não deverá essa Junta ordenar que se trasladem as culpas, nem
fazer sobre a matéria novidade, sem outra ordem minha, dada por esta mesma
via, e que, para agora saber o que convirá prover no particular de Rui de
Albuquerque, façais tirar das devassas uma relação particular das culpas que
contra ele há e ma envieis com brevidade. E para que, naquilo em que não
/1. 463 há inconveniente, se defira // à dita Mesa que se faz por parte da Ordem, hei
por bem que remetais a Rui de Albuquerque, preso na forma em que o foi, à
Mesa da Consciência, para, por ordem dela, estar por custódia, até eu ordenar
como se há-de proceder no conteúdo da sua causa. E se ele houver quebrado a
homenagem, como se me referiu que o fizera, o fareis prender em ferros; e
assim o remetereis à Mesa da Consciência, pelo mesmo modo se ter em custó-
dia. E, nos mais negócios cometidos a essa Junta, ireis procedendo segundo o
que tenho ordenado. E, em lugar do dito Luís Ribeiro de Leiva, hei por bem
que entre nela, por adjunto, Francisco de Mendonça, Reitor do Colégio da
Companhia dessa cidade; e vos encomendo que lho digais da minha parte, e lhe
encarregueis que, pelo que convém a meu serviço e bem comum dessa Universi-
dade, se disponha a servir nesta ocupação. Escrita em Madrid a vinte de Maio
de seiscentos e vinte. Rei. O Duque de Villa Hermosa, Conde de Ficalho. Para
o Reformador da Universidade de Coimbra e seus adjuntos. Por El-Rei ao
Dr. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor da Universidade de Coim-
bra, e aos Drs. Frei João Aranha e Frei Vicente Pereira. //

463 v. Sobre Martim de Carvalho, Vice-Conservador que foi desta Universidade.

Dr. D. Francisco de Meneses, eu El-Rei vos envio muito saudar. Recebeu-se a


vossa carta de sete de Julho passado, e a informação das culpas que, na refor-
mação, resultaram contra o Dr. Martim de Carvalho Vilas-Boas, do tempo

423
que serviu o cargo de Conservador, e, havendo visto tal, me pareceu dizer-vos
que hei por bem que Martim de Carvalho torne a servir, como o tenho man-
dado, o mesmo cargo, na forma que o fazia antes da suspensão do Claustro
pleno, e que, dos ditos das testemunhas que disseram contra ele na devassa da
reformação, me envieis logo cópias autênticas para as mandar ver. E a Martim
de Carvalho se ordenou que se fosse a essa cidade para tornar a servir. Escrita
em S. Lourenço a oito de Setembro de seiscentos e vinte. Rei. O Duque de
Villa Hermosa, Conde de Ficalho. Para o Reformador e Reitor da Universi-
dade de Coimbra. Por El-Rei a D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor
da Universidade de Coimbra.

Outra sobre Rui de Albuquerque.

Doutores D. Francisco de Meneses, Frei Vicente Pereira, eu El-Rei vos


J1. 464 envio // muito saudar. Havendo visto a relação que me enviaste das culpas que,
pela devassa da reformação, se acharam contra Frei Rui de Albuquerque, Cava-
leiro do Hábito de Cristo, Secretário dessa Universidade, e o que, por sua parte,
se me representou sobre haverem de ser remetidas ao Juízo dos Cavaleiros, hei
por bem e mando que, por essa Junta, se lhe formem e dêem cargos, para que
responda a eles dentro de termo breve, e, com sua resposta, se me consulte o
que parecer. Pelo que toca à servidão do ofício de Secretário da Universidade,
somente e que para a mais pena crime que podem merecer as culpas, se reme-
tam ao Juízo dos Cavaleiros, para se sentenciarem nele em todas as tais instân-
cias, guardando-se o segredo às testemunhas se a devassa houver prometido; e
tudo se em ... eu um mesmo tempo; e vos encomendo que assim o façais cum-
prir. Escrita em S. Lourenço, a vinte de Outubro de seiscentos e vinte. Rei. O
Duque de Villa Hermosa, Conde de Ficalho. Para o Reformador e Reitor da
Universidade de Coimbra, e seus adjuntos. Por El-Rei ao Dr. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor da Universidade de Coimbra, e Drs. Frei João
Aranha e Frei Vicente Pereira.

Outras cartas do Vice-Rei e do Secretário Cristóvão Soares sobre se haverem éie


remeter ao Juízo dos Cavaleiros as culpas de Rui de Albuquerque, de que trata
a provisão atrás. ·

jl. 464v. D. Francisco de Meneses, Reitor e Reformador. // Amigo, eu, El-Rei, vos
envio muito saudar. Cumpre a meu serviço que as culpas que achastes contra
Rui de Albuquerque, Secretário dessa Universidade, pelas quais está preso em
homenagem nessa cidade, se remetam ao Juiz dos Cavaleiros das Ordens Mili-
tares, por ele ser Cavaleiro da Ordem de Cristo, na forma do breve das três
instâncias, para poder tratar de seu livramento, visto haver ele de correr naquele

424
Juízo e estar satisfeito ao que eu ultimamente mandei sobre esta matéria.
Encomendo-vos e encarrego-vos muito que, nessa conformidade, ordeneis que
se proceda sem dilação. Escrita em Lisboa, a vinte e sete de Julho de seiscentos
e vinte. O Marquês de Alenquer, Duque de Francavilla. Por El-Rei a D. Fran-
ciséo de Meneses, do seu Conselho, Reitor e Reformador da Universidade de
Coimbra: Manda o Senhor Viso-Rei que lhe remeta Vossa Mercê as culpas de
Rui de Albuquerque, e que, tendo enviado a Sua Majestade as que são origi-
nais, se lhe mande a ele um traslado autêntico delas; e que tudo se faça com
muita brevidade. Deus guarde a Vossa Mercê. De Lisboa, a dezassete de
Setembro de seiscentos e vinte. Cristóvão Soares para D. Francisco de
Meneses .

.f1. 465 Dei conta ao Senhor Viso-Rei do que Vossa Mercê me re / / quereu sobre as
culpas que lhe pedem, e mandou-me que, da sua parte, avisasse a Vossa Mercê
que convinha muito que, sem mais dilação, remetesse Vossa Mercê já a cópia
autêntica delas, porque foi o que Sua Majestade requerera e mais importava a
seu serviço; pois, quando quisera que nisto se procedesse em forma diferente, o
tivera mandado a ... para Vossa Mercê remeter estes trasladas, não se .. . bastante
aversão ... as culpas originais, porque estas se mandaram ao Corregedor desta
Coroa, que reside em Madrid; e, conforme a isto, ordenará Vossa Mercê que
nesta instância se proceda. Guarde Deus a Vossa Mercê. Em Lisboa, a vinte e
sete de Setembro de seiscentos e vinte. Cristóvão Soares.

Carta de Sua Majestade, por que põe perpétuo silêncio às suspe1çoes que o
Colégio de S. Paulo intentou ao Senhor Reformador, em que dá juízos os mais
assuntos que lhe intentaram.

Doutores D. Francisco de Meneses, Frei Gregório das Chagas e Frei


Vicente Pereira, eu El-Rei vos envio muito saudar. Havendo visto o que escre-
vestes acerca das suspeições que, por parte do Colégio Real de S. Paulo dessa
Universidade, se puseram a D. Francisco de Meneses, houve por bem de rece-
ber, por justas considerações, que elas não passem adiante, e se lhes ponha
/1. 4651-. silêncio. E, pelo que toca ao que o Conservador Martim // de Carvalho inten-
tou ao Dr. Frei Vicente Pereira e Agostinho de Aguiar, escrivão da reformação,
mando escrever ao Dr. Francisco de Caldeira, para que desista de tomar conto
delas, a carta que vai com esta, que lhe fareis dar, e presentando-se outras
suspeições a D. Francisco de Meneses, ou como a Reformador ou como a
Reitor, hei por meu serviço que os adjuntos da reformação conheçam delas,
sem, para o efeito de as julgarem, poderem ser recusados. Escrita em Madrid, a
quinze de Dezembro de seiscentos e vinte. Rei. O Duque de Villa Hermosa,
Conde de Ficalho. Para o Reformador e Reitor da Universidade de Coimbra e

425
seus adjuntos. Por El-Rei ao Dr. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor
da Universidade de Coimbra, e aos Drs. Frei Gregório das Chagas e Frei Vicente
Pereira, seus adjuntos. _

Outro alvará por que Sua Majestade prorroga o tempo ao dito Senhor
Reformador.

Eu El-Rei, como Protector que sou da Universidade de Coimbra, faço


saber aos lentes, conselheiros e deputados dela que, tendo consideração a que,
para acabar os negócios da reformação da mesma Universidade, que encarre-
guei ao dito D. Francisco de Meneses, com ordem de servir os ofícios de
Reformador e Reitor juntamente, e para determinar as causas dos culpados
.fl. 466 compreen // <lidos na devassa da reformação, em que o dito D. Francisco
entende com os adjuntos que lhe nomeei, é necessário mais tempo do que ulti-
mamente se lhe prorrogou, que se acaba em doze de Fevereiro deste ano pre-
sente, hei por bem e me praz que o dito D. Francisco de Meneses se conserve
no exercício dos ditos cargos de Reformador e Reitor, e castigo dos culpados na
devassa, em que eu não ordenar outra cousa, com os mesmos poderes e jurisdi-
ção que de antes o fazia; e quero e mando que este alvará, que não passará pela
chancelaria, valha, tenha força e vigor, e se guarde e cumpra juntamente, sem
embargo de quaisquer estatutos ou assentos em contrário, e do que dispõe a
ordenação no livro segundo, título trinta e nove e quarenta. António Pereira o
fez em Madrid, aos doze do mês de Janeiro de mil seiscentos e vinte um anos.
E eu, Francisco de Lucena, o fiz escrever. Rei. O Duque de Villa Hermosa,
Conde de Ficalho. Alvará para o Dr. D. Francisco de Meneses continuar o
exercício dos ofícios de Reformador e Reitor da Universidade de Coimbra,
enquanto Vossa Majestade houver por bem e não mandar o contrário. Para
Vossa Majestade ver.

Outra carta para se tomar a tudo nos cargos e suspeições, e a Junta conhecer,
dos que se intentarem ao escrivão dela.

Drs. D. Francisco de Meneses, Frei Gregório das Chagas e Frei Vicente


Pereira, eu El-Rei vos envio muito saudar. Recebeu-se a vossa carta de vinte do
.fl. 466v. passado, // por que me destes conta das suspeições que Rui de Albuquerque,
Secretário que foi dessa Universidade, intenta ao Reformador D. Francisco de
Meneses e ao Dr. Frei Vicente Pereira; e hei por bem que, neste e nos mais
casos semelhantes que se oferecerem, sendo os juízes dessa Junta recusados,
procedam adiante, tomando por companheiro o corregedor dessa comarca; e
que, sucedendo recusar-se ao escrivão, tome a Junta conto das suspeições, e as
determine como lhe parecer... de entender o cuidado e assistência com que tra-

426
tais de abreviar as causas, e já se enviou ao Reformador provisão da reforma-
ção de mais tempo. E eu espero que, sem se alargar muito, procurareis que
tudo se conclua como convém ao serviço de Deus e meu, e bem dessa U niversi-
dade. Escrita em Madrid, a dez de Fevereiro de seiscentos e vinte um. Rei.
O Duque de Villa Hermosa, Conde de Ficalho. Para o Reformador e Reitor da
Universidade de Coimbra e seus adjuntos. Por El-Rei ao Dr. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor da Universidade de Coimbra, e aos Drs. Frei
Gregório das Chagas e Frei Vicente Pereira.

Outra para os mesmos, para se haverem de desterrar da Universidade os moli-


ciosos, e se haver de deixar ao novo Reformador rol deles, para não poderem
tornar a ela.

Drs. D . Francisco de Meneses e Frei Vicente Pereira e Frei Gregório das


_fl. 467 Chagas, eu El-Rei vos envio // muito saudar. Havendo visto as sessenta e sete
sentenças que me enviastes, de pessoas compreendidas na devassa da reforma-
ção dessa Universidade, de cujas culpas tomais conto por especial ordem minha,
e tendo consideração ao muito que importa desarreigar da Universidade um
crime tão pernicioso como o de molices, hei por bem e mando que todos os
culpados nele sejam desterrados para sempre da Universidade, reformando-lhes
as sentenças, as quais se lhes intimarão na Junta, sem as publicar; e dos que se
deterram se façam assentos em um cade1,;,110 à parte, que vós guardareis, para o
entregardes ao Reitor que vos suceder, e haver sempre memória de que não
podem tornar à Universidade. E as sentenças dos moliciosos se publicarão e se
executarão, na forma em que estão dadas. Escrita em Madrid, a cinco de
Março de seiscentos e vinte um. Rei. O Duque de Villa Hermosa, Conde de
Ficalho. Para o Reformador e Reitor da Universidade de Coimbra e seus
adjuntos. Por El-Rei a D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor da
Universidade de Coimbra, e aos Drs. Frei Vicente Pereira e Frei João Aranha,
seus adjuntos.

Outra carta, tocante às suspeições de Rui de Albuquerque, e caução de vinte mil


réis que perdeu.

Drs. D. Francisco de Meneses, Frei Gregório das Chagas e Frei Vicente


Pereira, eu El-Rei vos envio muito saudar. Encomendo-vos que, tanto que
receberdes esta carta, me envieis cópia das suspeições com que Rui de Albu-
querque, que foi Secretário dessa Universidade, veio ao Reformador
f l. 467v. D . Francisco de Meneses, e da sentença/ / por que o mesmo Rui de Albuquer-
que foi condenado em perdimento da caução de vinte mil réis que tinha deposi-
tado; e juntamente me aviseis do dia em que receberdes a minha ordem, para

427
tomar por companheiro ao corregedor dessa cidade . Escrita em Madrid, a dois
de Maio de seiscentos e vinte e um. Rei. O Duque de Villa Hermosa, Conde de
Ficalho. Para o Reformador e Reitor da Universidade de Coimbra e seus
adjuntos. Por El-Rei ao Dr. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor da
Universidade de Coimbra, e aos Drs. Frei Gregório das Chagas e Frei Vicente
Pereira.

Outra para os mesmos, sobre sentenças dadas na Junta.

Drs. D. Francisco de Meneses, Frei Gregório das Chagas e Frei Vicente


Pereira, eu El-Rei vos envio muito saudar. Havendo visto nove sentenças que
se deram nessa Junta contra alguns culpados na reformação, que tornam com
esta causa, hei por bem que a que trata de Gaspar de Seixas, ... no que toca à
privação, se cumpra pontualmente, e no particular da renunciação do ofício
para filho se declare que se tratou nos autos deste ponto, enviando-se junta-
mente relação de tal, e cópia da licença que ... da Universidade para a renuncia-
ção que a causa de Francisco Rodrigues Calaça se remeta ao conservador, para
que proceda contra ele como for justiça, pelas culpas do ferimento e fugida da
cadeia; e que para o mais que toca a inquieto, seja largado para sempre da
Universidade, fazendo-se o mesmo com Gaspar Pereira, Diogo ... / / ... Matias
Gonçalves, Teotónio de Oliveira, Manuel da Silveira e Cristóvão da Silveira, e
que, com Sebastião Cardoso, se faça a diligência que parece. Escrita em
Madrid, a vinte e cinco de Maio de seiscentos e vinte e um. Rei. O Duque de
Villa Hermosa, Conde de Ficalho. Para o Reformador da Universidade de
Coimbra e adjuntos da reformação. Por El-Rei ao Dr. D . Francisco <le Mene-
ses, Reformador e Reitor da Universidade de Coimbra, e aos Drs. Frei Gregó-
rio das Chagas e Frei Vicente Pereira, seus adjuntos.

Outra para os mesmos, sobre sentenças dadas na Junta.

Drs. D. Francisco de Meneses, Frei Gregório das Chagas e Frei Vicente


Pereira, eu El-Rei vos envio muito saudar. Vi duas cartas vossas de vinte e dois
de Julho e dezanove do passado, uma com que vieram dezassete sentenças
dadas nessa Junta e sobre a publicação das passadas, e algumas penas com que
se deve dissimular ou dar-se-lhes outras condenações, outra em que avisais do
vosso parecer sobre as culpas de Rui de Albuquerque, de que nos enviastes um
relatório. E hei por bem de aprovar o que em ambas apontais, e que na mesma
conformidade se proceda. Escrita em Madrid, a catorze de Setembro de seis-
centos e vinte e um. Rei. O Duque de Villa Hermosa, Conde de Ficalho. Para
o Reformador e adjuntos da reformação da Universidade de Coimbra. Por

428
El-Rei a D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor da Universidade de
Coimbra, e aos Drs. Frei Gregório das Chagas e Frei Vicente Pereira, seus
adjuntos. //

jl. 468 v. Carta para o Reformador sobre as causas tocantes à Junta.

Dr. D. Francisco de Meneses, eu El-Rei vos envio muito saudar.


Receberam-se quatro cartas vossas, de vinte um, vinte e três, vinte e quatro e
trinta e um do passado, uma sobre a provisão das cadeiras vagas, e brevemente
se tomará resolução nesta matéria; outra sobre as pessoas que pretendem ser
providas no ofício de escrivão da Fazenda, que nessa Universidade está vago, e,
para se responder a esta, me avisareis logo do rendimento do ofício e das culpas
por que André Tavares está do lado na visita da reformação; duas sobre Agos-
tinho de Aguiar, escrivão da reformação, e Afonso Pato Sousa, e, na forma que
em ambas apontais, hei por bem que se proceda a ... tanto que do que aponta se
dever de seus ordenados a Agostinho de Aguiar, seja multado pela Junta na
quantidade que parecer, pela desobediência de se ausentar sem licença; e que,
estando já pago, se cobre dele a mesma quantia. Escrita em Madrid , a catorze
de Setembro de seiscentos e vinte e um. Rei. O Duque de Villa Hermosa,
Conde de Ficalho. Para o Reformador da Universidade de Coimbra. Por
El-Rei ao Dr. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor da Universidade
de Coimbra.

Outra sobre Rui de Albuquerque.

Dr. D. Francisco de Meneses, eu El-Rei vos envio muito saudar para que
Rui de Albuquerque, Secretário que foi dessa Universidade, se possa
jl. 469 descarregar das culpas que contra ele resultaram na reformação, / / lhe fareis
dar, com assistência de pessoa de confiança, que para seu ... escolhereis, vista
dos livros de seu ofício, que tendes em vosso poder, para, por eles, ordenar se
vedes cargos ; porque assim só hei por meu serviço. Escrita em S. Lourenço, a
treze de Outubro de seiscentos e vinte e urh. Rei. O Duque de Villa Hermosa,
Conde de Ficalho. Para o Reformador e Reitor da Universidade de Coimbra.
Por El-Rei ao Dr. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor da Universi-
dade de Coimbra.

Traslado do capítulo doutra carta, de dez de Dezembro de 621 , assinada por


Sua Majestade, com visto do dito Duque presidente, para o dito Reformador
sobre André Tavares, que diz o seguinte:

429
E havendo-a visto, e a relação das culpas que, na devassa da reformação,
resultaram a André Tavares, executor da Universidade, que o pretendia, hei por
bem que, com os adjuntos que vos assistem, façais proceder contra ele como for
justiça. E não diz mais o dito capítulo, tocante a ele.

Outra carta para a Junta, para o dinheiro das execuções dela se enviar ao
Secretário Francisco de Lucena e a Mesa da Consciência se não intrometer nas
suas sentenças, e apuração de algumas.

Drs. D. Fancisco de Meneses, Frei Gregório das Chagas e Frei Vicente


Pereira, eu El-Rei vos envio muito saudar. Vi as vossas cartas de dezoito e
vinte e cinco do passado, sobre as sentenças que tendes dado nas causas de Rui
de Albuquerque e de outros culpados na devassa da reformação que se vos
tornam a enviar, e hei por bem e mando que elas se publiquem e executem, e de
Jl. 469v. aplicar o ... das conde // nações ao Hospital de Santo António dos Portugueses,
desta Corte, que fareis cobrar logo e remeter por letra dirigida a mãos de Fran-
cisco de Lucena, do meu Conselho e meu Secretário, de está-lo a pagar a Fran-
cisco Pereira, dei... tesoureiro do Conselho dessa... E à Mesa da Consciência
mando advertir que se não intrometa, por via alguma, nas sentenças dadas por
essa Junta, nem em sua execução. Escrita em Madrid, a dezanove de Março de
seiscentos e vinte e dois. Rei. O Duque de Villa Hermosa, Conde de Ficalho.
Para o Reformador da Universidade de Coimbra e seus adjuntos. Por El-Rei
ao Dr. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor da Universidade de
Coimbra, e aos Drs. Frei Gregório das Chagas e Frei Vicente Pereira, seus
adjuntos.

Outra para a Junta, sobre André Tavares.

Drs. D. Francisco de Meneses, Frei António da Ressureição e Frei Gregó-


rio das Chagas, eu El-Rei vos envio muito saudar. Havendo visto a sentença
que, nessa Junta, se deu na causa de André Tavares, executor das rendas e
dívidas dessa Universidade, pelas culpas que, na devassa da reformação, resulta-
ram contra ele, que enviastes com carta de vinte e dois de Outubro passado, e ...
com esta, hei por bem que a sentença se escreva nos autos e se publique e
execute. Escrita em Madrid, a vinte e seis de Novembro de mil e seiscentos e
jl. 470 vinte e três. Rei. O Duque de Villa / / Hermosa, Conde de Ficalho. Para o
Reformador da Universidade de Coimbra e seus adjuntos. Por El-Rei ao Dr.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor da Universidade de Coimbra, e
aos Drs. Frei António da Ressurreição e Frei Gregório das Chagas, seus
adjuntos.

430
Outra, sobre Rui de Albuquerque pretender que se lhe restitua a serventia dos
ofícios de Secretário e Mestre de Cerimónias desta Universidade, e que o
Senhor Reformador me mandou declarar aqui, como informara, com os papéis
necessários dos mesmos autos, que não convinha restituí-lo, e se conformara
com a mesma sentença dada em seus autos a três de Outubro de 623.

Dr. D. Francisco de Meneses, eu El-Rei vos envio muito saudar. Por


sentença dada por mim e os estatutos, digo, e os juízes meus assessores, em
terceira instância, saiu Rui de Albuquerque absolto das culpas que contra ele
resultaram na visita da reformação dessa Universidade, do tempo que havia
servido de Secretário dela. E, porque agora pretende que se lhe restitua a ser-
ventia, ou ser, por outra via, acomodado, vos encomendo que, considerada bem
/1. 4701'. a matéria e estado dela, me aviseis do que // se vos oferecer, avisando quem
serve de presente o ofício de Secretário da Universidade, e com que ordem.
Escrita em Madrid, a trinta e um de Agosto de seiscentos e vinte e três. Rei.
O Duque de Villa Hermosa, Conde de Ficalho. Para o Reformador da Univer-
sidade de Coimbra. Por El-Rei ao Dr. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor da Universidade de Coimbra.
E trasladadas assim as ditas cartas dos próprios originais, que estão em
poder do dito Reformador, bem e fielmente, e concordados com elas os ditos
traslados, e concertados com o dito Senhor Reformador e a Junta, em Junta
me mandaram declarar aqui como, havendo o dito Senhor Reformador dado
conta a sua Majestade de Agostinho de Aguiar se ausentar sem licença, e de
como convinha ao serviço do dito Senhor despedi-lo, e, para continuar por ele
no que fosse necessário de seu ofício, eleger ele dito Senhor Reformador qual-
quer das pessoas da Univerdade que melhor o pudessem fazer, Sua Majestade
lhe mandara, por carta assinada por sua Real mão de catorze de Setembro de
seiscentos e vinte e um, trasladada aqui, as folhas quatrocentos e sessenta e oito
verso, que houvera por bem o que nas suas cartas lhe havia escrito, e que, por
/1. 47J virtude / / dela, me nomeara a mim, Pero Soares, para escrever no que fosse
necessário, e, para isso, me dera juramento em forma, como constará do termo
que disso se fizera a catorze de Setembro do mês, digo, a oito de Novembro de
seiscentos e vinte um, no processo de Rui de Albuquerque, a folhas dele qui-
nhentas e cinquenta e oito; e que, desta declaração, para que constasse de como
eu, Pero Soares, legitimamente havia escrito na dita Junta e servido de escrivão
e secretário dela, e de concerto das ditas causas, fez-se este termo, que assinaram
aos vinte e quatro de Outubro de mil e seiscentos e vinte e quatro anos. Em
Coimbra, em Junta. E eu, Pero Soares, o escrevi e assinei com eles. D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor. Frei Gregório das Chagas. Frei Antó-
nio da Ressurreição. Pero Soares. / /

431
(No Códice, há um salto da fl. 470v. para a fl. 473. As fls. 473v. a 497, embora numeradas, estão
todas em branco. O facto de haver muitas folhas em branco levou a que, como já foi explicado
na nossa Introdução, a numeração das folhas desta obra, sobretudo na sua parte final, não
corresponda à numeração do Códice]

Jl. 474 Ano do nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e seiscentos e
vinte e dois anos, em Coimbra e casas da Universidade, sólita morada do
Dr. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, aos seis de Setembro
da dita era, estando ele aí e o padre mestre Frei Gregório das Chagas, ambos
sós, por o padre mestre Frei Vicente Pereira estar ausente desta cidade, nas
Caldas, aonde se foi curar, me mandaram declarar aqui que, porque Sua Majes-
tade, por carta assinada por sua Real mão, de dezanove de Março da presente
era, com a ... do Duque de Vilia Hermosa, Conde de Ficalho, que se ... da Coroa
deste Reino em Madrid para esta Junta, em que lhe manda que os autos das
condenações que nela se fizeram e aplicaram ao Hospital de Santo António dos
Portugueses, da Corte de Madrid, o cobre, logo me remeta, por letra dirigida a
mãos de Francisco de Lucena, do seu Conselho e seu Secretário, de estar a
pagar ·a Francisco Pereira de ... do Conselho da Coroa deste Reino, ... cento e
quatro mil réis até o presente, a saber, de Manuel Álvares de Abreu vinte mil
fl. 474v. réis, e de António Pinto outros vinte, e de Pero Lopes doze// mil réis... Agos-
tinho de Aguiar de Figueiroa outros doze mil réis, e de Belchior Caldeira qua-
renta ... como se vê dos processos de cada um, que todas juntas fazem a dita
quantia de cento e quatro mil réis, e deles se ... dispendido seis mil e quinhentos
e dez réis na causa sobre a nulidade das sen ... e procedimentos que contra ele
se ... e adjuntos pagou o Conservador das Ordens Militares ... de Rui de Albu-
querque, Secretário que foi desta Universidade, que, pela apelação que ... Con-
servador trezentos e vinte réis.

De duas cartas de absolvição a ... réis.

Doutras cartas de absolvição para o escrivão Agostinho de Aguiar, cento e


quarenta réis.

Duma certidão de prorrogacão de absolvição e despacho da petição que se fez,


cem réis.

A um solicitador que começou esta causa, oitocentos réis./ /

/1. 475 Do despacho da petição que se fez para se prorrogar o tempo de ... sessenta réis.

Do cômputo dos autos que vieram da Conservatória para a legacia ao escrivão,


setecentos e setenta réis.

432
Ao contador e doutra prorrogação da absolvição, cento e sessenta réis.

A António Lopes Moreira de... do feito que ... por o proprietário, trezentos réis.

Do prometer que desse neste feito por sua... da parte, duzentos e setenta réis.

Ao ... e uma provisão do... Colector, que anda no feito ... surrogou nesta causa
ao auditor para a ... quinhentos réis.

Das espórtulas do ... dois cruzados.

mil e quatrocentos e noventa réis que tudo faz conta de dez mil réis, os
quais ... dos cento e quatro mil réis ficam noventa e quatro mil réis, para se
enviarem ao dito Secretário Francisco de Lucena, porque ora ia para a cidade
de Lisboa, Luís de Araújo de Barros, conservador da Corte, e se oferecia a levar
este dinheiro, lho mandaram entregar por António Godinho, para o mandar em
(1. 475v. Lisboa entregar a// ... Mendes, para dele pagar... segunda via, na forma do

dar entregarªº
sobredito, e que do dito ... cobrasse um escrito de como o recebia, para o man-
dito ... Mendes, e que ... fizesse este auto, que assinaram. E eu,
Pero Soares, secretário da Junta, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Refor-
mador e Reitor. Frei Gregório das Chagas.

A dezoito dias do mês de Outubro de seiscentos e vinte quatro anos, nas


casas da Universidade, sólita morada do Dr. D. Francisco de Meneses, Refor-
mador e Reitor dela ... e os Drs. Frei Gregório das Chagas e Frei António da
Ressurreição, ... adjuntos, estando eles aí, mandaram declarar aqui como os
noventa e quatro mil réis de que atrás se faz menção, os não quisera receber
Luís de Araújo, senão para passar letra de Lisboa, e que, por isso, mandaram
antes por António Godinho a entregar a Heitor Mendes, de que passou letra
sobre seu filho Nuno Dias Mendes, que para constar da carta de Francisco de
Lucena, estarem entregues ao tesoureiro do Hospital, como constava da certi-
fl. 476 dão de António de Almeida que com ela lhes mandou, me mandaram que// eu
a ajuntasse a este ... e ele a devassa, e desse minha fé do que dizia na carta o dito
Francisco de Lucena, que por servir para outras coisas se não pode ajuntar a ela
também; e que, outrossim, desse minha fé de como de três mil quatrocentos e
noventa réis, que deixaram para se remeterem ao agente da Universidade para
custas das censuras de que atrás se faz menção, tiraram setecentos e noventa
réis, que mandaramn dar a José Rodrigues, que, por mandado da Junta, fora
ao lugar de Ansião a prender certa pessoa, que não achou, como constava do
seu despacho; e que, a este auto, ajuntasse também a sua petição, despacho
e recibo do dito dinheiro, e que os dois mil e setecentos réis se entregariam a

433
Manuel de Oliveira, agente da Universidade na Corte de Lisboa, para correr
com a dita causa, e dar conta deles, e mandar à Universidade certidão de recibo
deles; em cujo cumprimento se ... Pero Soares, e dou fé que vi a dita conta por
que se contém o acima referido, e que, outrossim, se deu ao dito José Rodrigues
o dito dinheiro, e que a dita petição e certidão do traslado que ao diante se
.fl. 476v. segue; de que me mandaram fazer este// termo, que assinaram. E eu, Pero
Soares, Secretário da Junta, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Frei Gregório das Chagas. Frei António da Ressurreição.//

.fl. 477 Certifico eu, António de Almeida, escrivão do Hospital Real de Santo
António, desta vila e Corte de Madrid, que a Diogo Mendes Brandão, juiz do
dito Hospital, no livro de sua receita, a folhas quatro, lhe está feita uma receita
do teor seguinte: ·

Recebeu o dito Juiz Diogo Mendes Brandão de Francisco Pereira de Bet-


tencourt dois mil trezentos e cinquenta reales em plata doble, por outros tantos
que de Coimbra remeteu D. Francisco de Meneses, Reitor da Universidade, pro-
vém de Heitor Mendes, sobre seu filho Nuno Dias Mendes, que, por ser ausente
desta Corte, a deu a Lourenço e Simão Pereira, para que os pagasse ao dito
Francisco Pereira, tomando carta de pago sua ante Domingo Roldão, escrivão,
ante quem a deu, e, segundo avisa o dito Reitor, diz que o dito dinheiro é
produto das condenações que a Junta da reformação da dita Universidade fez,
que Sua Majestade, por carta sua de 19 de Março do ano passado de 622,
aplicou ao dito Hospital; e se carregam aqui em receita os ditos dois mil trezen-
tos e cinquenta reales ao dito ministro por mim, António de Almeida, escrivão
de seu cargo. Em Madrid, a dezassete de Junho de mil seiscentos e vinte e três
anos. Diogo Mendes Brandão. António de Almeida.

A qual certidão passei para satisfação do Senhor D. Francisco de Meneses,


que é quem remeteu o dinheiro da dita receita, como nela se declara. Em
Madrid, a vinte e cinco de Agosto de mil seiscentos e vinte três anos. António
de Almeida. //

[folha 477v. em branco]

.fl. 478 Diz José Rodrigues que ele, por mandado da Junta, foi fazer uma diligên-
cia a Ansião, distância de seis léguas desta cidade, indo por meirinho para
prender um certo homem; e, na dita diligência, gastou três dias, levando consigo
um moço e cavalgadura; que tudo pagou à sua custa. E porque da dita diligên-
cia não está pago. Pede a Vossa Senhoria e aos mais Senhores da Junta lhe

434
mandem pagar a dita diligência, tudo aquilo que for visto e parecer a Vossa
Senhoria e seja conveniente, e pede a Vossa Mercê.
De três mil e quatrocentos e noventa réis junta-se para... dez pessoas de
que na devassa se faz menção se ... só parte, setecentos e noventa réis, pelos dois
dias que podia gastar só na diligência que diz e fez, por ordem desta Junta. Em
Coimbra, em Junta, a 18 Outubro 624. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Frei Gregório das Chagas. Frei António da Ressureição .

... José Rodrigues, os setecentos e noventa réis conteúdos no mandado


acima. Em Coimbra,// aos dezoito de Outubro de seiscentos e vinte e quatro
anos. E assinou aqui. Pero Soares, Secretário da Universidade e da Junta, o
escrevi. José Rodrigues//

.fl. 479 D. Filipe, por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves, de aquém e de
além mar em Africa, Senhor da Guiné, etc. Como Protector que sou da Uni-
versidade de Coimbra, faço saber a vós, D. Francisco de Meneses, Reformador
e Reitor da mesma Universidade, que vi a vossa carta de 17 do presente, em que
me dais conta como me tínheis enviado o relatório das culpas que resultaram da
devassa da reformação. E, porque importa ver-se na minha Mesa da Consciên-
cia, apenas aí, como está com os nomes das testemunhas e dos culpados, as
mandareis trasladar bem e fielmente, e as enviareis à dita Mesa, para prover no
caso como houver por meu serviço. E o que mais tratais na vossa carta, assim
de mandar suprir aos votantes canonistas na catedrilha dé Escritura que mandei
vagar o ... de um mês, como na dívida que tendes na provisão do Dr. Francisco
Caldeira, para haver de vencer os seis moios de trigo de que tratais, se me tem
dado conta a Madrid. El-Rei nosso Senhor o mandou pelos deputados do
despacho da Mesa da Consciência e Ordens, D. António Martins e Francisco
Pereira Pinto. António ... de Brito a fez em Lisboa, a 23 de Novembro de 619.

[folha 479v. em branco]

/7. 480 Processo de Manuel de Miranda, ·estudante canonista, preso na cadeia desta
cidade.

Por eu, Agostinho de Aguiar, não poder mandar trasladar culpas que das
devassas resultam contra os réus, pela importância do segredo delas, nem fazê-
-lo por mim, por serem muitas e não haver tempo mais que para tirar cargos e
fazer os processos, me mandou a Junta que, para se sentenciar este processo,
ajuntasse a ele a devassa que tirou o Dr. D. Francisco de Meneses, em que só
este réu está delato, e declarasse aqui as testemunhas por que nela o estava, que
são as seguintes. Agostinho de Aguiar o escrevi.

435
Testemunha André da Cruz, perguntado folhas 214 verso, e diz do réu a folhas
216 e verso, e 219.
Testemunha Tomé de Paiva, perguntado a folhas 223, e diz do réu a folhas 223
verso, 224 e verso, e 225.
Testemunha Jorge Lopes, perguntado a folhas 225 verso, e diz do réu a folhas
227.
Testemunha Diogo de Beja, perguntado a folhas 250, e diz do réu a folhas 251
verso.
Testemunha André Lopes, perguntado a folhas 236, e diz do réu a folhas 237
verso.
Testemunha António da Silva, perguntado a folhas 238, e diz do réu a folhas
239.
Testemunha Manuel Coelho, perguntado a folhas 232 verso, e diz do réu a
folhas 233 verso.

A sentença deste processo se deu pela resolução de Sua Majestade, de que


consta da sua carta, que anda junta à devassa.//

[folha 480v. em branco]

Jl. 481 Processo de Manuel de Miranda, estudante canonista desta Universidade.

Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e seiscentos e


vinte, aos dezassete dias do mês de Julho do dito ano, nesta cidade de Coimbra,
nas casas da Universidade e sólita morada do Dr. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor dela, estado aí presente, e Manuel de Miranda, estudante
canonista desta Universidade, filho de Maria Simões, viúva, natural desta
cidade, por eu requerer ao dito Reformador que o sobredito estava preso na
cadeia desta cidade por mandado da Junta desta presente reformação, pelas
culpas que da devassa dela contra ele resultaram, e que por ele fora mandado
vir esta tarde perante si, para se lhe darem os cargos que delas estivessem for-
mados, e que, para isso, o houvesse por requerido e citado, ele Reformador o
houve por citado, e me mandou que lhe desse os ditos cargos que delas //
fl. 48/ v. contra ele estivessem formados, e que a eles respondesse em termo de cinco dias,
e que declarasse como o sobredito dizia ser de mais de vinte e cinco anos, dois
ou três meses; e que de tudo fizesse este auto, em cujo cumprimento o fiz.
Agostinho de Aguiar o escrevi. Manuel de Miranda.

E logo assim foi feito o dito auto, e sendo dados os cargos que, por parte da ·
Justiça, ofereci ao dito Manuel de Miranda, e sendo, outrossim, vindo o auto
de sua prisão, e hábito e tonsura, e o mandato de prisão, e lidos por ele os ditos

436
cargos, e por dizer que queria responder a eles, ... procurador para que o aconse-
lhasse e encaminhasse no que devia fazer, lhe foi dito que, pela visita desta
presente reformação, estava ordenado que o fossem das pessoas que nela se
livrassem das culpas que tivessem, o Dr. Simão de Basto e o licenciado Ivo
Duarte, procuradores dos presos do Santo Ofício e desta Universidade, por
.fl. 482 pessoas de mais segredo, que visse qual deles queria fazer nesta// causa. E por
ele Manuel de Miranda foi dito que fazia nela apud acta et agenda seu procura-
dor ao dito Dr. Simão de Basto, e lhe dava os poderes que podia e com direito
devia para responder aos ditos cargos que se lhe tinham dado, e que eu, por
parte da Justiça, oferecera. E, sendo logo presente o dito Dr. Simão de Basto,
pelo dito Reformador lhe foi dado juramento dos Santos Evangelhos e, man-
dado que, sob cargo dele, tivesse segredo no que, nos ditos cargos, se continha,
e prometeu de o fazer assim. De que tudo fiz este termo, que eles assinaram
com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor. Manuel de Miranda. Simão de Basto. //

[folha 482v. em branco]

/1. 483 Ordem da Junta para serem presos Manuel de Miranda e Manuel Carneiro.

Cumpre ao serviço de Sua Majestade que se prendam Manuel de Miranda,


estudante canonista, natural desta cidade, que vive com sua mãe Maria Simões
defronte de Santa Justa, que esteve preso este verão de seiscentos e dezanove na
cadeia desta Universidade, e que andou no primeiro curso das Artes das Escolas
Menores dela; e Manuel Carneiro, natural desta cidade, cujos pais são falecidos,
e vive na Rua dos Sapateiros com sua Avó Catarina Henriques, oleira, que será
de vinte e três anos, começa-lhe a barba, estudante que andou na quinta classe,
e, ao presente, se diz ter-se ausentado por soldado na companhia do capitão que
veio a esta cidade fazer gente; por culpas que contra eles há, nesta presente
reformação, obrigatórias a isso. E, porque fiamos que Vossa Mercê o faça com
o cuidado, diligência e segredo que convém, e com que Vossa Mercê costuma
acudir as coisas de tanto serviço de Sua Majestade como esta, lhe requeremos,
jl. 483v. da parte do dito Senhor, e, da nossa, pedimos a// Vossa Mercê que, sendo-lhe
este dado, os prenda; e, presos, a bom recado os mande presos à cadeia pública
desta cidade, à enxovia dela. E da entrega deles na dita cadeia mandará Vossa
Mercê fazer auto nas costas deste, para poder constar disso a todo o tempo. Em
Coimbra, na Junta desta presente reformação, aos três dias do mês de Janeiro
de mil e seiscentos e vinte anos. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Frei João Aranha. Frei Vicente Pereira. Luís Ribeiro de Leiva.

437
f1. 484 Auto de prisão de Manuel de Miranda.
Auto de prisão, hábito e tonsura de Manuel de Miranda, estudante que disse
ser nesta Universidade e natural desta cidade.

Ano de nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e seiscentos e


vinte anos, em os cinco dias do mês de Fevereiro do dito ano, em esta cidade de
Coimbra e cadeia pública dela, onde me servido foi, para efeito de fazer auto de
prisão, hábito e tonsura a Manuel de Miranda, preso na dita cadeia, ao qual fiz
perguntar como se chamava, e se era clérigo ou frade e se tinha ordem alguma,
e que estado tinha, por ele me foi dito que o seu nome era Manuel de Miranda,
e era natural desta cidade, e que era estudante na Universidade dela, e que era
solteiro e tinha ordens menores; E eu, escrivão, lhe vi a cabeça, e não tinha//
fl. 484v. coroa nem sinal dela, e o cabelo da cabeça comprido, e estava vestido com uma
roupeta de baeta preta, comprida, que lhe dava pelo artelho do pé, e meias e
sapatos pretos, em corpo, homem de boa estatura e uma carapuça de pano
pardo, e calções de saragoça, em que... a tonsura... na cadeia, e nela ficou
entregue ao carcereiro dela Manuel Soares, debaixo de sua chave, o qual se
obrigou a dar conta dele todas as vezes que pelo Juiz lhe for mandado. E, de
como lhe ficou entregue, assinou este auto, que fiz por mandado do Corregedor
Manuel Cabral. E assinei. Eu,escrivão Lopo de Moura, escrivão da correição,
o escrevi. Manuel Soares. Lopo de Moura.//

f1. 485 Aos dezassete dias do mês de Julho, juntos assim os ditos papéis, dei vista
ao Dr. Simão de Basto, procurador do réu, para responder aos cargos que ao
diante se seguem, de que fiz este termo. Agostinho de Aguiar o escrevi. Agos-
tinho de Aguiar de Figueiroa. / /

[folha 485v. em brar..co]

.fl. 486 Cargos que o ofício da Justiça desta presente reformação da Universidade
de Coimbra, que faz o Dr. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, .dá
a Manuel de Miranda, estudante canonista da dita Universidade, natural desta
cidade de Coimbra, filho de Maria Simões, viúva que ficou de Francisco de
Miranda, seu pai.
Faz-se-lhe cargo que, sendo ele, Manuel de Miranda, estudante matriculado
nesta Universidade, e, como tal, obrigado a viver honestamente em sua vida e
costumes, nesta cidade, este Setembro que vem, pouco mais ou menos, fará três
anos, se achou ele Manuel de Miranda em companhia de certas pessoas do
mesmo sexo, depois de uma das ditas pessoas dizer a outra da dita companhia
que quisesse consentir dormir com ele, sendo que a havia de matar com certa
arma que tinha nas mãos, e que tirasse os calções, e de se pôr em cima dela,

438
fazendo o mesmo que faz um homem com uma mulher, cometendo o pecado
de molíce, vendo-se uns aos outros, e de se tirar a dita pessoa que foi agente, se
pôs ele Manuel em cima da dita pessoa, tendo um e outro os calções descidos,
lhe meteu seu membro viril entre as pernas, sendo agente e abraçando-a e
beijando-a e fazendo os ditos meneios até que derramou semente entre as
.fl. 486v. ditas// pernas da dita pessoa paciente, cometeu e consumou o dito pecado de
molíce; e, vigiando um ao outro, enquanto cada um deles o cometeu.

Faz-se-lhe cargo que, este mês de Outubro que vem, pouco mais ou menos,
fará três anos, nesta cidade, se achou ele Manuel de Miranda em companhia de
certas pessoas do mesmo sexo; e, depois de fazerem tirar os calções a uma das
pessoas da dita companhia e de a deitarem no chão, e de uma delas se pôr em
cima e cometer e consumar o dito pecado pelo mesmo modo e da mesma
maneira, e de ele Manuel de Miranda estar em vigia a favor· da dita pessoa
agente, tomaram a dita pessoa paciente e a açoitaram com umas disciplinas, até
que lhes prometeu que iria a suas casas todas as vezes que o chamassem, que
era o para que lhe faziam o dito medo, e que lhe mandaram que prometesse
nele.

Faz-se-lhe cargo que, neste mês de Dezembro, pouco mais ou menos, que
vem fazem dois anos, nesta cidade, se achou ele Manuel de Miranda em com-
panhia de certas pessoas do mesmo sexo, e, depois de certa pessoa fazer descer
os calções a outra da dita companhia, e, sendo agente, e a outro paciente,
cometer e consumar o dito pecado pelo mesmo modo, ele Manuel Miranda se
fl. 487 pôs em cima / / da dita pessoa paciente, e, sendo agente, lhe meteu o seu mem-
bro viril entre as pernas da paciente, e abraçando-a e beijando-a e fazendo os
ditos maneios até que, derramamento nelas semente, cometeu e consumou o
dito pecado de molícia.
Faz-se-lhe cargo que, haverá três anos, pouco mais ou menos, nesta cidade,
se achou ele Manuel de Miranda em companhia de certas pessoas do mesmo
sexo, despido, e, ora, Manuel Miranda, ora outra pessoa, pegaram e esfregaram
o membro viril doutra pessoa da dita companhia, até que ela lhe fugira com o
dito membro.

Faz-se-lhe cargo que, haverá os ditos três anos, pouco mais ou menos,
nesta cidade, se achou ele Manuel de Miranda em certa parte, em companhia
de pessoas do mesmo sexo, e, tendo uma das ditas pessoas mão noutra da dita
companhia, ele Manuel de Miranda se deitou sobre ela, despidos os calções, e,
abraçando-a e beijando-a, lhe meteu seu membro viril entre as pernas dela, e,
fazendo os meneias que faz um homem com uma mulher até que, entre as ditas
pernas, cometeu e consumou o dito pecado, sendo agente e ela paciente;

439
e, tirado ele Manuel de Miranda, se pôs a outra dita pessoa na paciente, e do
mesmo modo, até cometer e consumar o dito pecado, tapando-lhe ambos a
boca para que não pudesse gritar. //

j7. 487v. Faz-se-lhe cargo que, no princípio deste mês de Maio próximo passado,
pouco mais ou menos, fez um ano, nesta cidade, se achou ele Manuel de
Miranda em companhia do mesmo sexo, e a persuadiu para o pecado de molí-
cias; e, depois de lhe descer os calções aos giolhos, se deitou sobre ela e lhe
meteu o seu membro viril entre as pernas, abraçando-a e beijando-a, fez os ditos
meneios até que nelas, derramando semente, .cometeu e consumou o dito
pecado.

Faz-se-lhe cargo que, no dito tempo e nesta cidade, se achou ele Manuel de
Miranda em certa companhia do mesmo sexo, a qual esfregou o membro viril
até lhe fazer derramar semente e cometer e consumar o dito pecado, abraçando-
-se e beijando-se, e lhé deu ele Manuel de Miranda conta de como cometia o
dito pecado com certas pessoas do mesmo sexo, que lhe nomeou.

Faz-se-lhe cargo que, outrossim, cometeu e consumou o dito pecado de


molícias ele Manuel de Miranda com outra pessoa do mesmo sexo, entre as
pernas dela, na forma sobredita.

Faz-se-lhe cargo que é pública voz e fama nesta cidade dele Manuel de
Miranda cometer o dito pecado de molícias com pessoas do mesmo sexo, e
jl. 488 trazer a dita // fama seu princípio e origem dos ditos actos da dita molície que
cometeu e consumou, e das ditas coisas que, para isso, fez, e de andar com
moços de ordinário; e havê-la entre pessoas que têm razão de saber das ditas
coisas prováveis e racionais de que a dita fama resulta, o que tudo cometeu e
fez, em grande desserviço de Deus, prejuízo seu e do bem comum desta Univer-
sidade e do Reino. Aos quais cargos responderá em termo de cinco dias. Em
Coimbra, a dezassete de Julho de seiscentos e vinte. Diz o mal escrito dezassete.
Agostinho de Aguiar de Figueiroa .

.fl. 4881•. O réu contesta por negação e por contradição e defesa ou palavras melhor
de direito de o que sendo necessário.
1 - Provará que ele é homem de muito boa vida e costumes, e vive com
muito exemplo e sem escândalo algum, e se não pode ... nem crer dele que
cometesse os pecados que se lhe dão em cargos.
2 - Provará que ele réu é músico e tangedor, e aprendia em casa de Teo-
tónio de Almeida, pai de Tomé de Paiva; e, se tratava com alguns moços, era
com alguns que juntamente aprendiam na dita casa, e, algumas vezes, iam com

440
ele fora da cidade, a festas, tanger e cantar, por lhe pagarem ; mas não por mau
trato, nem leveza, que, por verdade, o possam afirmar.
3 - Provará que, se houver alguma fama ou rumor contra ele réu acerca
dos cargos que se lhe dão, será lançada e fulminada por seus inimigos capitais, a
fim de o afrontarem e se vingarem dele, para o que diz que sendo necessário.
fl. 489 4- Provará que Tomé de Paiva e Manuel de Almeida,// seu irmão,
filhos de Teotónio de Almeida e sua mulher, são inimigos capitais dele réu, e
por tais todos havidos, porque, estando eles todos ... em sua casa, lhes deram,
sendo de noite, em umas panelas ... e eles ... a que de ... sobre ele, sendo falso, e
ficarem seus inimigos, e o buscavam com males e desonras. E o dito Tomé de
Paiva... foram buscar a ele réu para o matarem com armas, andand.o jogando a
bola... quintal.

5 - Provará que André da Cruz é, outrossim, inimigo capital dele réu,


porque o foi buscar armado para o matar, com o dito Tomé de Paiva, e é
amicíssimo e de muito particular amizade do dito Tomé de Paiva, e comem e
bebem de ordinário, e dorme muitas vezes em sua casa.

6 - Provará que este Tomé de Paiva é moço de muito pouco crédito e


verdade, e grande beberrão, em tanto que, testemunhando na devassa desta
reformação, e, sendo-lhe dado juramento de segredo, o não guardou, e disse o
que testemunhara e avisou disso a algumas pessoas.

Jl. 489v. 7 - Provará que, tanto é verdade que o dito André da Cruz / / testemu-
nhou falso contra ele réu, que, sendo repreendido por algumas pessoas, ficou
mui turbado e embaraçado, e confessou que o culpara mal, porém que o fizera
por suspeito, e contém palavras do dito Tomé de Paiva, e se mostrou mui
arrependido, e disse que o Tomé de Paiva o fora chamar e lhe pedira que, pela
amizade que entre eles havia, fosse testemunhar contra o réu, que ele vinha de
testemunhar... o réu só pelos agravos que ele réu tinha feitos a seu pai e a ele,
e... que induziu ao que havia de dizer, dizendo que se referira nele que ... encon-
trasse, assim o fez pelos ditos .. .

8 - Provará que o dito ... disse que se arranjassem alguns, e fossem culpar
ao Senhor Reformador, e mais ... e que ele seria o primeiro que iria testemunhar
de ... que é desaforado e sem vergonha nem consciência, e disse que o Senhor
Reformador lhe prometeu a metade das fazendas dos culpados, contanto que
culpasse muitos, e bem culpados.

9 - Provará que Manuel, criado que foi do Dr. António Homem, é,


outrossim, inimigo capital dele réu, porque ... uma noite ... e ele réu o espancou,

441
e lhe ficou com ódio mortal; e, além disso, é amigo de muito particular e muita
fl. 490 amizade do dito André// da Cruz, e come e bebe e andam ambos de ordinário.

10 - Provará que Diogo Bravo é inimigo capital dele réu, por dúvidas e
palavras afrontosas que entre si tiveram; e é amigo particular dos inimigos dele
réu, acima ditos.

11 - Provará que Manuel Nunes foi, com o dito André da Cruz e Tomé
de Paiva, ao quintal do jogo da bola, para matarem o réu; e, por esta razão,
encontrando-se ele réu com ele nos sinceiros, lhe deu muita pancada, e se diz
afrontado, pelo que ficou seu inimigo capital; e é particular amigo dos sobredi-
tos Tomé de Paiva e André da Cruz.

12 - Provará que Fernão de Morais é amigo de mui particular e estreita


amizade do dito André da Cruz, e, de ordinário, comem e bebem, e, além disso,
é inimigo do réu, porque haviam brigas e palavras afrontosas entre os mesmos ...
e ele e outros que com ele iam levaram contra o réu de certas armas que leva-
ram, pelo qual respeito ficaram inimigos; e tanto que, sendo ele réu preso, daí a
poucos dias, por um crime de que saiu solto, e ... se foi o dito Fernão de Morais
com um estudante, que se chama André Lopes, à cadeia, a dar matraca ao réu,
e lhe chamaram muitos nomes mui afrontosos e injuriosos; de que houve
grande escândalo. E esta razão de contradita alega também contra o dito
André Lopes.

13 - Provará que Gaspar Correia teve brigas e diferenças com ele réu, e
fl. 490v. ficou seu inimigo capital, e por tal é tido e havido; e é amigo de// mui estreita e
particular amizade do dito André da Cruz; e comem e bebem, andam ordina-
riamente ambos de noite, e dormem em a mesma cama.

14 - Provará que Pero de Sequeira é inimigo do réu capital, porquanto


ele réu teve uma briga com ele, e o feriu em uma mão; e seu pai e irmãos estão
presos pelo Santo Ofício; pelo que se lhe não deve dar crédito algum. '

15 - Provará que Brás Nogueira e António Nogueira são inimigos capitais


do réu, porque ele réu espancou ao dito Brás Nogueira, e são ambos irmãos.
E é o dito António Nogueira amigo particular e de mui estreita amizade do dito
André da Cruz e Tomé de Paiva, e tanto que, por seu respeito, deu uma bofe-
tada ... em um estudante que tinha agravado ao dito André da Cruz. E é moço
sem crédito, e bêbado, e infame; e que foi preso por um crime mui grave, como
é notório, e está preso por culpas desta reformação.

442
16- Provará que Francisco Pinto e seu irmão são amigos particulares do
dito André da Cruz, e vivem de umas portas adentro, e comem e bebem, e
dormem muitas vezes na mesma cama.

17 - Provará que Manuel Ferreira, filho de António Ferreira, é inimigo


fl. 491 do réu, por brigas e dúvidas/ / que tiveram.

18 - Provará que Lourenço Rangel, filho de Fernando Rangel, desta


cidade, é inimigo capital dele réu, porque tiveram entre si brigas; e ele réu lhe
deu e o espancou. E tanto é seu inimigo que deu, uma noite, uma facada a um
estudante, cuidando a dava nele réu; e assim confessou a muitas pessoas.

19 - Provará que Diogo de Beja é, outrossim, inimigo capital do réu, e


por tal tido e havido, e é de pouco crédito e bêbado, e disse que havia de culpar
nesta devassa todo o homem que conhecesse e visse por esse mundo, como de
feito foi.

20 - Provará que António Duarte, digo, Teotónio Duarte e António


Farinha são inimigos dele réu, e por tais tidos e havidos; e Manuel Pereira é
particular amigo do dito André da Cruz e Tomé de Paiva, e é de dez ou doze
anos, e não podia ser testemunha.

21 - Provará que todos os acima são moços de pouca idade e pouco cré-
dito, e reputação de má vida e costumes; e que, por tal mente, diriam contra a
verdade.

Todos este artigos quer provar o réu, e dar rol de testemunhas a cada um,
declaradamente, e pede se lhe admitam as ditas testemunhas e rol, do que é
pública voz e fama. Adimatur [?] [seja retirada a acusação?]. Pede rescrito e
absolvição et ius complebo meliore modo cum sumptibus [e cumprirei a justiça
da melhor forma, com as despesas]. //

[folha 491 v. em branco]

jl. 492 Na contradita de André da Cruz, nos autos que dele falarem, as testemu-
nhas_seguintes.
António da Veiga, estudante, desta cidade, mora defronte do Paço do Bispo, o
qual me viu brigar cóm o dito André da Cruz, e nesta matéria da briga também
com Tomé de Paiva, a que pus contradita.
Mais, em todos os que tocar em André da Cruz, testemunham Sivestre João e

443
Bartolomeu Jorge, presos na cadeia da cidade, Jerónimo Correia, carcereiro que
foi da Universidade, António Couceiro, de Tentugal, estudante, Francisco Dias,
filho do mestre-sala do Conde de Penacova, Francisco Geraldes.
No que toca a Tomé de Paiva, testemunhas Madalena da ... e seu marido,
tanoeiro, da Rua das Padeiras, e a vizinhança da dita rua, que sabem das
panelas com que deram em seu pai; sabe mais Francisco Geraldes, barbeiro,
morador a Santa Cruz, este sabe como eu tomei uma espada a Tomé de
Paiva... noite, António da Veiga, estudante, vive defronte do Paço do Bispo, e
Manuel Cardoso, sombreireiro na Calçada.
No artigo que tocar a um criado de António Homem, que chamam Manuel,
sabe Silvestre João, António Dias, preso na cadeia, sabe André Zuzarte, preso.
No artigo que tocar a Diogo Bravo, sabe Silvestre João, e Francisco Geraldes,
André Zuzarte, presos.
No artigo que tocar a Manuel Nunes, sabe Francisco Geraldes, António da
Veiga, António Dias, preso, e Manuel Vaz, preso.//

f1. 492v. No artigo que tocar a Gaspar Correia, sabe Francisco Geraldes e seu pai,
barbeiros, vivem no terreiro de Santa Cruz; e Bartolomeu de Sequeira.
No artigo que tocar a Diogo de Beja, sabe Silvestre João, e António Dias,
recove1ro.
No artigo que tocar a Lucas Rangel, sabe Fernão Domingues, violeiro na Cal-
çada, António Nogueira, preso na cadeia da Universidade, Silvestre João,
António Dias, recoveiro, e Fernão Domingues, violeiro na Calçada.
No artigo que tocar a Simão de Morais e André Lopes, sabe um filho do
carcereiro da Universidade, que chamam o Montarroio, e Jerónimo Correia,
Silvestre João, Paulo Luís, das Rua das Azeiteiras.
No artigo que tocar em Pero de Sequeira, sabe Fernão Domingues, António
Dias, Silvestre João, violeiros na Calçada, preso, Sebastião Dias, preso, e o dito
seu irmão também.
No artigo que tocar a António Nogueira, sabem Silvestre João, André Zuzarte,
preso nesta cadeia, o dito Paulo Luís, Bartolomeu Jorge, Manuel de Tovar,
alcaide. ·
No artigo que tocar a Teotónio Duarte, sabe António Dias e Silvestre João.
No artigo que tocar Sarinho (?), sabe Silvestre João.//

.fl. 493 No artigo que tocar a Francisco Pinto e seu irmão, estudantes, não dou
mais testemunhas que morar André da Cruz com eles de portas adentro, e
comerem e beberem todos, e dormirem numa cama.
No que toca a Manuel Pereira, sabem o dito Silvestre João, António Dias,
Sebastião Dias e Manuel Vaz a ... ditos.
Para a contrariedade nomeei testemunhas a cada artigo, e não me ficou o tras-

444
lado, por entender que não era necessário, porquanto se me entendeu que isto
não basta; bastará a graça de Deus. Ele a dê ao Reformador, para que atente
por minha justiça. Nosso Senhor me chegue a tempo, que, com liberdade, me
possa mostrar agradecido. Nosso Senhor.

Criado de V.M .
Manuel de Miranda

Este Rol ofereço.


Dr. Basto

Aos vinte e três de Julho de seiscentos e vinte, me foi dado este feito pelo
Dr. Simão de Basto, procurador do réu, com a resposta aos cargos e artigos de
/1. 493v. contraditas e nomes de testemunhas a eles, // que são os que atrás ficam, e, de
mandado da Junta, lhe fiz auto concluso. Agostinho de Aguiar o escrevi. Agos-
tinho de Aguiar de Figueiroa.

Recebemos o segundo, quarto, quinto, sexto, sétimo, onze, doze, treze,


quinze, dezassete, dezanove, vinte e vinte um artigos das contraditas apresenta-
das do recusante Manuel de Miranda. Perguntem-se as testemunhas que
nomeia pela forma deles. Na Junta do Conselho, Coimbra, 28 de Setembro de
1620. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Frei João Aranha. Frei
Vicente Pereira. / /

fl. 494 Aos trinta dias do mês de Setembro de seiscentos e vinte anos, nesta cidade de
Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada do Dr. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante
si a António Nogueira, solteiro, filho de Cristóvão da Veiga e de Maria Fer-
nandes, moradores nesta cidade, estudante do segundo curso das Artes, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão,
e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e um
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, disse que não.
Perguntado se lhe pediu Manuel de Miranda, preso na cadeia desta cidade, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado nesta Junta por coisa que lhe tocasse,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos artigos das contraditas do recusante, a que foi dado
testemunha, disse ao segundo que sabia ser o recusante amigo do recusado
Tomé de Paiva, e que, como tais, se tratavam. E mais não disse. Perguntado
_/1. 494v. pelo quarto, // que não sabia mais que ouvir, o ano passado, dizer a algumas
pessoa, que lhe não lembram, que deram com umas panelas de sujidade nas

445
janelas do pai do dito Tomé de Paiva, e dizer-se que eles se queixavam do
recusante Manuel de Miranda; e , de então para cá, não viu que se tratassem
como amigos. Perguntado pelo quinto, disse que, haveria dois anos, pouco
mais ou menos, que ele declarante viu, em um quintal, às Tanoarias, Tomé de
Paiva e André da Cruz, recusados, e Manuel Nunes andarem às pedradas com
o dito Manuel de Miranda, por onde lhe parece que daí ficariam inimigos; e
que são amigos o dito Tomé de Paiva e André da Cruz; e que não viu que,
depois disso, se tratassem como amigos. E mais não disse. E do sexto, disse
que não sabia coisa alguma; e o mesmo do sétimo. E, ao undécimo, disse que
não sabia mais do que tinha dito o quinto. E ao duodécimo, disse que não
sabia dele coisa alguma, nem do décimo tércio. E ao décimo quinto, que não
sabia dele coisa alguma. E ao décimo sétimo, disse que não sabia dele coisa
alguma. E ao décimo nono e vigésimo primo, disse que não sabia de todos eles
.fl. 495 coisa alguma. E mais não disse, e do costume// nada; e assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. António Nogueira.

Ao primei::o dia do mês de Outubro de mil e seiscentos e vinte anos, nesta


cidade de Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada do Dr. D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado
vir perante si a Jerónimo Correia, carcereiro desta Universidade; e, sendo pre-
sente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de quarenta e dois
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, disse que não.
Perguntado se lhe pediu Manuel de Miranda, preso na cadeia desta cidade, por
si ou por outrem, que, sendo perguntado nesta Junta por coisa que lhe tocasse,
calasse a verdade ou dissesse contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos artigos das contraditas do dito Manuel de Miranda,
a que foi nomeado, ao segundo, disse que sabia ser músico e tangedor de harpa
jl. 495v. e rabeca: e mais não disse. // Ao quarto, disse que não sabia coisa alguma. Ao
quinto, disse que não sabia dele nada; e, ao sexto, disse que, tendo preso na
cadeia desta Universidade Manuel Carneiro, que se foi desta cidade para Flan-
dres por soldado, haverá dois anos e meio, pouco mais ou menos, viu ele decla-
rante ao recusado André da Cruz ir algumas vezes à cadeia da dita Univer-
sidade, e aí beber muito vinho, mas que não lhe lembra que o visse embebedar.
E que é verdade que, estando preso na dita cadeia o dito recusado André da
Cruz, logo quando o prenderam, que foi em Janeiro ou Fevereiro próximo
passado, tempo que na verdade se achar, ouvira ele declarante dizer ao dito
André da Cruz que culpara na devassa da reformação presente ao recusante
Manuel de Miranda e outros alguns, de quem agora se não lembra. Pergun-

446
tado pelo sétimo, disse que não sabia dele coisa alguma. Perguntado pelo duo-
décimo, disse que, estando preso na cadeia desta Universidade, este ano pró-
ximo passado, tempo que na verdade se achar, aí foi , digo, o recusante Manuel
f1. 496 de Miranda, aí foi ter o recusado Simão de Morais a visitar outro preso, e // ele
declarante os viu ter ambos palavras, por onde entendeu que o recusado e o
recusante não eram amigos; e que não sabia mais coisa alguma do dito artigo
número undécimo. Perguntado pelo décimo tércio, disse que não sabia dele
coisa alguma. Perguntado pelo décimo quinto, brigas com Brás Nogueira,
irmão de António Nogueira, posto que não sabe que sejam inimigos; e que sabe
que o dito António Nogueira, recusado, esteve preso por cometer um amigo
para fanchonice, mas que saíra dela solto e livre. E mais não disse. Perguntado
pelo décimo sétimo, disse que dele não sabia nada; nem do décimo nono, nem
do vigésimo. Perguntado pelo vigésimo primo, disse que os recusados Tomé de
Paiva, Simão de Morais, Manuel Ferreira e António Nogueira são moços de
pouca idade. E mais não disse, e do costume nada; e assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Jerónimo Correia.

fl. 496v. E, logo no mesmo dia atrás declarado, nesta // cidade de Coimbra, nas
casas da Universidade e sólita morada do Dr. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Manuel da Fonseca, solteiro, filho de Afonso de Montarroio, sapateiro, que, ao
presente, tem a seu cargo a guarda da cadeia desta Universidade; e, sendo pre-
sente, lhe foi dado juramento dos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de dezoito anos.
Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, disse que não. Pergun-
tado se lhe pediu Manuel de Miranda, preso na cadeia desta cidade, por si ou
por outrem, que, sendo perguntado nesta Junta por coisa que lhe tocasse,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelo duodécimo artigo das contraditas do recusante
Manuel de Miranda, a que somente foi nomeado por testemunha, disse que,
haverá um ano, pouco mais ou menos, vindo ele declarante de Coselhas, encon-
/7. 497 trara no caminho ao recusado Simão de Morais, com outros estudantes // que
não conheceu, e, chegando o dito Simão de Morais a uns olivais que estão
junto a Montarroio, vira ele ao recusante Manuel de Miranda; e, tanto que o
viu, arremeteu para ele com uma meia espada que trazia, e o dito Manuel de
Miranda levou de uma faca grande que trazia, e disse para o dito Simão de
Morais que se fosse embora, que lhe não queria dar, porque tinha respeito a seu
pai. E todos os outros que vinham com o dito Simão de Morais lhe disseram
que se fosse , como, de feito, foram logo, sem haver mais nada entre eles. E que

447
está lembrado que também ali viu então o recusado André Lopes, mas que não
tirou arma nem disse palavra alguma entre os sobreditos, mais que chamar o
dito Simão de Morais ao dito Manuel de Miranda torto. E mais não disse do
conteúdo do dito artigo; e do costume nada. E assinou com o dito Reforma-
dor. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Refor-
mador e Reitor. Manuel da Fonseca.

E, logo no mesmo dia atrás declarado, nesta cidade de Coimbra, nas casas
f1. 497v. da Universidade e sólita morada do// Dr. D. Francisco de Meneses, Reforma-
dor e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a Manuel
Cardoso Maligeiro, criado de Serafina da Costa, morador nas Olarias, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão,
e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e três
anos. Perguntado se sabe ou presume para que é chamado, disse que não.
Perguntado se lhe pediu Manuel de Miranda, preso na cadeia desta cidade, por
si ou por outrem, nesta Junta da reformação por coisa que lhe tocasse, digo,
que, sendo perguntado nesta Junta da reformação por coisa que lhe tocasse,
calasse a verdade e dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos artigos das contraditas do dito Manuel de Miranda,
em que foi nomeado, disse, ao segundo, que o dito Manuel de Miranda é
músico e tangedor; e mais não disse. E, perguntado pelo quarto, disse que não
sabia dele coisa alguma, nem do vigésimo, nem do vigésimo primo, a que tam-
fl. 498 bém foi nomeado.// E mais não disse, e do costume nada; e assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Manuel Cardoso.

Aos dois dias do mês de Outubro de seiscentos e vinte anos, nesta cidade
de Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada do Dr. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor dela, estando ;:ií, por ele foi mandado vir perante
si a Simão Gonçalves, casado com Maria de Oliveira, barbeiro, morador nesta
cidade, no terreiro de Santa Cruz; e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de sessenta anos; perguntado se sabe ou pre-
sume para que é chamado, disse que não. Perguntado se lhe pediu Manuel de
Miranda, preso na cadeia desta cidade, por si ou por outrem, que, sendo per-
guntado na Junta desta reformação por coisa que lhe tocasse, calasse a verdade
ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse que não.//
fl. 498v. Perguntado pelo décimo tércio artigo das contraditas do recusante Manuel de
Miranda, a que somente foi dado por testemunha, disse que, haverá perto de

448
dois anos que o recusante Manuel de Miranda teve briga com o recusado Gas-
par Correia, e o dito Manuel de Miranda levou de um terçado para ele, e o fez
fugir; o que ele declarante não viu com seus olhos, mas logo no mesmo instante
lho foram dizer a sua casa. E, pelejando ele declarante com o dito Manuel de
Miranda, por haver tido a briga com o dito Gaspar Correia, ele lho não negou.
E mais não disse do conteúdo do dito artigo, e do costume nada; e assinou com
o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Simão Gonçalves.

E, logo no mesmo dia atrás declarado, nesta cidade de Coimbra, nas casas
da Universidade e sólita morada do Dr. D. Francisco de Meneses, Reformador
e Reitor dela, por ele foi mandado vir perante si a Francisco Gonçalves, filho de
Simão Gonçalves, barbeiro, morador ao terreiro de Santa Cruz, e, sendo pre-
fl. 499 sente, lhe foi dado juramento nos Santos// Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob c~go dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e um anos.
Perg_untado se sabe ou presume para que é chamado, disse que não. Pergun-
tado se lhe pediu Manuel de Miranda, preso na cadeia desta cidade, por si ou
por outrem, que, sendo perguntado na Junta desta reformação por coisa que
lhe tocasse, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta
parte, disse que não. Perguntado pelos artigos das contraditas do recusante
Manuel de Miranda em que foi nomeado por testemunha, disse que, do quinto,
sabia ele declarante que o recusante Manuel de Miranda se não falava muito,
antes que o prendessem esta última vez, com o recusado, André da Cruz, nem
previa que lhe falasse nele; e que ouvira dizer que brigara o dito recusante com
o dito André da Cruz, e com Tomé de Paiva, ambos juntos, e que o dito Tomé
de Paiva e André da Cruz eram particulares amigos um do outro. E mais não
disse deste artigo. E, perguntado pelo sexto, disse que o recusado André da
Cruz é costumado a tomar-se de vinho, o que ele declarante sabe, porque, indo
fl. 499v. algumas vezes com ele e com outros a festas cantar, o vira embebedar,/ / pelo
que o tem ele declarante por moço de pouco crédito. E mais não disse. Per-
guntado pelo sétimo, disse que não sabia dele coisa alguma. Perguntado pelo
décimo, disse que não sabia dele coisa alguma. Perguntado pelo duodécimo,
disse que sabia que Simão de Morais e André da Cruz, recusados, são amigos
particulares, e têm amizade estreita e comum, e bebem ambos; e mais não disse
do conteúdo no dito artigo. Perguntado pelo décimo tércio, disse que, este
Natal próximo passado, viu ele declarante ao recusante Manuel de Miranda ter
palavras com o recusado Gaspar Correia, no terreiro de Santa Cruz, por razão
das quais o dito recusante deu com um terçado ao dito Gaspar Correia, posto
que o não feriu, pelo que os tem por inimigos. E que sabe que o dito Gaspar Cor-
reia é•particular amigo do dito André da Cruz; e mais não disse. Perguntado pelo

449
décimo quinto, disse que tem ao recusado António Nogueira por amigo do dito
André da Cruz, e como tais os viu tratar; e que é público que o dito António
Nogueira esteve preso por fanchonice. E mais não disse. Perguntado pelo vigé-
fl. 500 simo artigo, disse que não sabia dele coisa alguma. E do costume disse // nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor, Francisco Gonçalves.

Aos seis meses do mês de Outubro de seiscentos e vinte anos, nesta cidade
de Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada do Dr. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante
si a António Dias, recoveiro desta Universidade, solteiro, morador na Calçada,
preso na cadeia desta cidade; e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de vinte e três anos. Perguntado se sabe ou
presume para que é chamado, disse que não; se lhe pediu Manuel de Miranda,
preso na cadeia desta cidade, que, sendo perguntado nesta Junta por coisa que
lhe tocasse, calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta
parte, disse que não. Perguntado pelos artigos das contraditas do dito Manuel
fl. 500v. de Miranda aos que particularmente foi nomeado, ao// décimo nono, disse que
não sabia que o dito recusado Diogo de Beja tivesse tido brigas com o recu-
sante, nem que fosse seu inimigo, antes viu conversarem-se e tratarem-se como
amigos até ao presente; e mais não disse. E, perguntado pelo décimo sétimo,
disse qué não sabia dele coisa alguma ; e mais não disse, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrev1.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. António Dias.

E, tiradas assim as ditas testemunhas, por mandado da Junta lhe fiz estes
aut-os conclusos, para os despachar a final. Agostinho de Aguiar o escrevi.

Visto este feito, provisões e ordens de Sua Majestade dadas nelas a esta
Junta para a execução da devassa desta presente reformação, feita por virtude
delas cargos da Justiça e descargos a eles, e mais artigos recebidos do réu
fl. 501 Manuel de Miranda, filho de Maria// Simões, viúva de Francisco de Miranda,
natural desta cidade de Coimbra, preso na cadeia dela por mandado da dita
Junta, prova a tudo dada, mostra-se ser estudante canonista desta Universidade
e haver cometido e consumado o pecado de molíce com pessoas do mesmo sexo
por muitas vezes, sendo sempre agente e também paciente, intimidando-as para
o dito efeito com violência; e, sendo ocasião de outras cometerem o dito malefí-
cio, e estar difamado dele. O que tudo visto e perseverança sua, tendo porém,
respeito ao que convém à autoridade e crédito da Universidade, debilidade do

450
réu, e ao que por sua parte se mostra, e qualidade da prova da Justiça, e a ser o
fim desta visita a reforma, e por citar-se o ofício e correição paternal com o
mais que dos autos consta, disposição do Direito e Ordenação do Reino em tal
caso, e das cartas de Sua Majestade, condenamos o réu em desterro para sem-
pre desta Universidade, e em perdimento dos cursos, que lhe serão riscados dos
livros dela em que os tiver provados. E que, em Junta, lhe seja esta sentença //
.f1. 50/v. publicada, e sem custas ex causa; e, satisfeito a ela, seja solto da dita cadeia em
que está, passando-se para ele mandado, não estando por tal preso. Em Coim-
bra, em Junta, aos 3 de Abril de 621. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Frei Gregório das Chagas. Frei Vicente Pereira.

Aos três dias do mês de Abril do ano de mil e seiscentos e vinte e um,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade e sólita morada do Dr.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando ele aí e os padres
mestres Frei Gregório das Chagas e Frei Vicente Pereira, seus adjuntos, em
Junta que faziam, mandaram vir perante si a Manuel de Miranda, conteúdo
nestes autos, e, sendo presente nela em sua própria pessoa, lhe foi publicada a
sentença acima da dita Junta. E, depois de publicada, lhe foi mandado que
cumprisse o que se continha na dita sentença, não tomando mais à dita U niver-
sidade [segue-se um texto riscado] sob pena de ser castigado mais rigorosa-
mente. E ele Manuel de Miranda prometeu de õ cumprir assim [segue-se um
jl. 502 texto riscado]// e prometeu de guardar. ó s,egredo que lhe foi mandado. De que
tudo fiz este termo, que assinou com o dito Reformador e adjuntos. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Frei Gregório das Chagas. Frei Vicente Pereira. Manuel de Miranda.

Certifico eu Pero Soares, Secretário da Universidade, que, por mandado


da Junta, risquei dois cursos que achei de Manuel de Miranda, de Coimbra, na
forma da sentença atrás. Coimbra, aos 3 de Agosto de 621. Pero Soares.

Os quais cursos, um é no livro de seiscentos e catorze para seiscentos e


quinze, folhas 185, e o outro no livro de seiscentos e quinze para seiscentos e
dezasseis, folhas 189 verso. Pero Soares o escrevi. Pero Soares.//

[folha 502v. em branco]

fl. 503 Processo de Gaspar de Sampaio, substituto do ofício de bedel das Facul-
dades de Cânones e Leis da Universidade de Coimbra.

[folha 503v. em branco]

451
jl. 504 Traslado das culpas que, da devassa desta presente reformação da Uni-
versidade de Coimbra, que faz D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor
dela, resultam contra Gaspar de Sampaio, bedel de Cânones e Leis da dita
Universidade.

Belchior da Guerra, estudante legista, solteiro, de Serpa, filho de João Ben-


tes e de Maria Prego, ora morador na Rua dos Anjos, de idade de dezoito anos,
ao qual foi dado juramento nos santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, sob
cargo dele, lhe foi mandado que dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado, e prometeu de o fazer assim. Perguntado se sabe para que é
chamado, disse que não. Perguntado se lhe pediu alguma pessoa, por si ou por
outrem, que, sendo chamado para testemunhar na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, disse que não. E, sendo-lhe lidos
os interrogatórios dos Estatutos reformados, porque nela, conforme a eles, se
deve inquirir, e por ele ouvidos e entendidos, e perguntado, em geral, e, depois
.fl. 504 v. disso, em especial, pelo que deles sabia, disse que o que deles sabia era/ / que,
depois de entrarem a fazer os autos de conclusões, não lhe lembra que sorte era
nem em que dia, se achou ele declarante nesta cidade, em casa de Fernão Lobo
Sequeira, estudante legista, solteiro, de Estremoz, em companhia dele e de Luís
Mendes de Abreu, legista, de Yeiros, que vive junto à portà do Castelo; e,
estando todos três, o sobredito Luís Mendes lhe disse que Afonso Pato, legista,
casado na cidade de Évora, e vive nesta, na Rua das Parreiras, vendo que a sua
sorte das conclusões lhe caía no dia em que, por turno, competia ao Dr. Antó-
nio Lourenço, lente de Digesto, padrinhar, e que ele Afonso Pato tinha obriga-
ção de fazer suas conclusões na matéria do dito padrinho, e que a não tinha
estudada, e que o remédio que só tinha era valer-se do bedel Gaspar Sampaio.
E que, assim, o dito Afonso Pato, como ele dito Luís Mendes, se foram ter com
o dito bedel, e lhe pediram que lhes quisesse deixar trocar as sortes, para que o
dito Afonso Pato, a quem padrinhava o dito António Lourenço, ficasse na
sorte dele dito Luís Mendes, a quem padrinhava o Dr. Cristóvão Mouzinho,
em cuja matéria ele Afonso Pato tinha feitas suas conclusões, e ele dito Luís
Mendes as fizesse nas sortes do dito Afonso Pato, em que padrinhava o dito
António Lourenço, cuja matéria tinha estudada e feito nelas as ditas conclusões,
para que, com a dita troca, ficassem ambos satisfazendo ao estatuto e fazendo
Jl. 505 as conclusões nas matérias que tinham estudado. E que, // de feito, o dito
bedel, de seu próprio poder, os deixou irocar, e trocaram ; e por isto lhe manda-
ram ambos duas galinhas. E o dito Afonso Pato o disse a ele declarante tam-
bém no dito tempo, pouco mais ou menos, em companhia de Gonçalo Vaz
Piçarra, e de Afonso Soares, ambos estudantes legistas, naturais de Moura ; e
que fora sem consentimento do Reitor. E ali não passaram mais. E que fazer o
dito bedel o sobredito era mui notório entre os estudantes, posto que, ao pre-

452
sente, se não lembra de quais lhe disseram coisas semelhantes a esta. E que isto
é o que só sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e
perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e que não tinha nele que
tirar nem acrescentar; e do costume disse nada. E assinou aqui com o dito
Reformador. E eu Agostinho de Aguiar o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Belchior da Guerra.

Francisco Tavares, solteiro, estudante legista, filho de António Tavares e


de Iria Simoa da Costa, de Aldeia Galega, que vive junto a S. Pedro, de idade
de vinte e cinco anos, ao qual foi mandado vir perante si, e, sendo presente, lhe
foi dado juramento nos Santos Evangelhos e, mandado que, soh cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no _que lhe fosse perguntado, prometeu de o
fazer assim. E, sendo-lhe lidos e declarados os interrogatórios dos estatutos
reformados, porque, na dita visita, conforme a eles, é obrigação inquirir, e por
f1. 505v. ele ouvidos e entendidos, // perguntado, em geral, e, depois disso, em particular,
pelo que sabia de cada um deles, disse que o bedel de Cânones e Leis, Gaspar
de Sampaio, assim das cauções dos bacharéis extraordinários que se depositam
em sua mão como do dinheiro que os estudantes lhe dão para os autos de
bacharéis e formaturas não quer dar conta, e fica com o dito dinheiro, o que ele
declarante sabe porque lho fez assim o ano passado a ele declarante, quando se
fez bacharel, e ser queixa comum da maior parte dos estudantes desta Universi-
dade. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, por mais, não
dizer, lhe foi lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade, e
disse que sim e do costume nada; e assinou aqui com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Francisco Tavares Pinheiro.

Miguel de Coimbra, solteiro, filho de Filipe de Coimbra e de Isabel Vieira,


da cidade de Braga, estudante canonista, morador no Bairro do Salvador, de
idade de vinte e quatro anos, a quem o Reformador mandou vir perante si, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão, e mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que
fl. 506 lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim ;// e, sendo-lhe lido os interro-
gatórios dos Estatutos reformados, na forma que atrás vai declarado, disse que,
haverá quinze dias, nesta cidade, indo para Nossa Senhora do Salvador ele
declarante, em companhia de Baltazar do Vale, dos Arcos de Valdevez, cano-
nista, bacharel e opositor ao Colégio de S. Paulo, e de João de Freitas, de
Guimarães, conclusionista em Cânones deste ano, e, indo todos três sós, por
ocasião de o dito João de Freitas dizer que desejava um dia para fazer conclu-
sões, lhes disse o dito Baltazar do Vale que mandasse alguma coisa ao bedel
Gaspar dt Sampaio, e que logo teria o dia que quisesse. E posto que não sabe

453
nem se lha mandou nem se ele lhe deu o dito dia, é público, entre a maior parte
desta Universidade, que o dito bedel o faz com muita facilidade, por qualquer
coisa que lhe dão. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios.
E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado e estava escrito na verdade,
disse que sim, e do costume nada; e assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Miguel de Coimbra.

Aos dezoito dias do mês de Maio de mil e seiscentos e dezanove anos,


nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr.
D. Francisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor
Jl. 506v. dela, estando aí, mandou vir perante si a Pantaleão Rodrigues // Pacheco, filho
de Francisco Pacheco e de Maria dos Reis, de Vila Viçosa, bacharel canonista,
morador na Couraça, de idade de vinte e seis anos, e, sendo presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,mandado que,
sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado,
prometeu de o fazer assim. E, sendo-lhe lidos os interrogatórios dos Estatutos,
na forma que atrás vai declarado, disse que, este ano presente, nas conclusões
das Faculdades de Cânones e Leis, o bedel Gaspar de Sampaio, sabe ele decla-
rante que, contra seu ofício e sortes, e sem licença do Reitor, as deixou trocar
aos conclusionistas Luís Mendes de Abreu, de Veiros, e a Afonso Pato, casado
em Évora, legistas, para que cada um fizesse na matéria em que tinha estudado
as conclusões, e lhe ficassem caindo os padrinhos cujas elas eram, contra estilo e
estatutos reformados, por certa peita que ambos lhe deram, segundo cada um
deles, estando ambos sós, em diversos tempos e lugares que lhe não lembram, o
disseram a ele declarante. E tornou a dizer que estava presente Fernão Lobo de
Sequeira, legista, de Estremoz, e André Ximenes, da dita Vila, também legista;
e não disseram por quem lhe mandaram, nem o quê. E que isto era o que sabia
dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se
estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada; e assinou/ / aqui
com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco
de Meneses, Reformador e Reitor. Pantaleão Rodrigues Pacheco.

Aos dezoito dias do mês de Maio de mil seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr. D. Fran-
cisco de Meneses, do Conselho de Sua Majestade, Reformador e Reitor dela,
estando ele aí, por ele foi mandado vir perante si a Álvaro Lopes Tavares,
sacerdote de missa, colegial do Colégio das Ordens Militares, freire professo da
Ordem de Santiago, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo
no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim. Perguntado pelos

454
interrogatórios, na forma que atrás vai declarado, disse que o que deles sabia
era que o bedel Gaspar de Sampaio, fazendo-se ele declarante bacharel, haverá
dois anos, pouco mais ou menos, lhe pediu para o dito auto certa quantia, que
lhe não lembra, e, para o de formatura, este ano presente, no mês de Janeiro,
quatro mil e duzentos réis, pouco mais ou menos; e, posto que o dito bedel lhe
não podia pedir ao certo o que se montasse nos ditos autos, antes mais, para
que não faltasse neles, até hoje lhe não deu conta do de formatura, nem seu
irmão fuão, que tomou a dizer que fora o bedel que servia no tempo em que se
fez bacharel lha deu também; e que deixaram de lha pedir, porque tem assim o
/7. 507v. dito bedel, como// os mais das outras Faculdades, tão introduzido este estilo
de não darem conta do que pedem para os ditos autos, que lhe pareceu que
seria tachado nele declarante fazer o que os outros não fazem. E que o sabe
assim pelo que lhe aconteceu, como por o ouvir aos mais condiscípulos de umas
e outras Faculdades, que não especifica porque é comum queixa de toda a
Universidade. Disse mais que os outros bedéis usam de outro termo para tomar
dinheiro do que lhe cabe, que é, nos autos de bacharéis, porem na porta, para
argumentar na forma do estatuto, os bacharéis presentes, e deixarem de entrar
neste turno os ausentes; sendo assim que, a respeito das ditas multas, ausentes e
presentes, todos entram neles; e havendo-se de guardar o dito turno, não
vinham então aos ditos presentes tantas multas, porque proportionabiliter põem
a todos três, que a respeito do dito turno não puderam ser tantas; o que fazem
porque fica sendo maior o interesse deles nelas. É o que sabe pelo que lhe
aconteceu, de lhe levarem seis tostões, sem poder ter as ditas três multas senão
pelo dito modo. E a mesma queixa é tão comum na Universidade como a
outra. E que isto é o que só sabia; pelo que, sendo-lhe lido este testemunho e
perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada; e
assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor. Álvaro Lopes Tavares./ /

jl. 508 Afonso Pato de Sousa, casado com Faustina Fumante, da cidade de
Évora, legista, morador na Rua das Parreiras, de idade de vinte e oito anos,
testemunha referida, a quem o Reformador mandou vir perante si, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão,
e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe
fosse perguntado, prometeu de o fazer assim. Perguntado pelos interrogatórios,
na forma que atrás vem declarado, disse algumas coisas que se não trasladam
por não pertencerem ao bedel Gaspar de Sampaio, e que isto era o que sabia
dos ditos interrogatórios. Perguntado pelo referimento nele feito por Belchior
da Guerra, disse que era verdade que, neste ano presente, caindo-lhe a ele decla-
i:ante a treze ou catorze sorte e a Luís Mendes de Abreu, legista, de Veiros, que
vive junto à porta do Castelo, a quarta ou terceira sorte, ele declarante e o dito

455
Luís Mendes pediram ao dito bedel Gaspar de Sampaio que os deixasse trocar,
como, de feito, trocaram; e lhe mandaram, por isso, duas galinhas, das quais
cada um deu a sua; e lhes disse que o fazia com licença do Reitor; e que
fizeram a dita troca, não pelo respeito que diz o dito referimento, senão porque
o dito Luís Mendes não tinha estudado a matéria em que fez as ditas conclu-
sões. E que a muitos amigos contou o sobredito, como foi a Gonçalo Vaz
Piçarra e a Pantaleão de Sousa, e outros que lhe não lembram. E, entre//
fl. 508v. muitos, é notório que o dito bedel deixa fazer semelhantes trocas. E que isto é
o que passava sobre o dito referimento que nele fez o dito Belchior da Guerra, e
assim mais Pantaleão Rodrigues Pacheco. E, sendo-lhe lido este testemunho
perguntado se estava escrito na verdade, disse que sim e do costume nada;
e assinou com o diro Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Afonso Pato de Sousa.

João de Freitas, solteiro, filho de António de Freitas e de Madalena da


Fonseca, de Guimarães, estudante canonista, morador a S. Jerónimo, testemu-
nha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de vinte anos. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reforma-
dos, na forma que atrás vai declarado, disse que não sabia deles coisa alguma.
Perguntado pelo referimento que nele fez Miguel de Coimbra, disse que era
verdade que, achando-se em companhia do dito Miguel de Coimbra e de Bal-
fl. 509 tazar / / do Vale, não lhe lembra agora em que parte, por ocasião de dizer que
desejava um dia para fazer seu auto de conclusões, o dito Baltazar do Vale lhe
disse que mandasse alguma coisa ao bedel Gaspar de Sampaio. E, depois disso
alguns dias, pediu ao dito bedel um dia, e ele lho deu, em que fez as ditas
conclusões este ano, e não era de sua sorte. E, depois de as ter feitas, ou antes,
em que se afirma que foi, mandou ele declarante ao dito bedel uma caixa de
marmelada branca e duas galinhas, por um moço seu, que se chama Jerónimo e
anda na undécima classe; e logo lhe deu o dito dia e as graças do dito pre-
sente. E, é queixa geral e notório nesta Universidade que assim o dito Gaspar
de Sampaio, como seu irmão fuão, quando servia o dito ofício, usarem do
sobredito. E que isto é o que só sabia do dito referimento e interrogatórios.
E sendo-lhe lido este testemunho e perguntado se estava escrito na verdade,
disse que sim, e do costume nada; e assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. João de Freitas.

456
anos,
Aos vinte e seis dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove
Univer sidade, sólita morad a de D. Fran-
nesta cidade de Coimbra, nas casas da
Majes-
cisco de Meneses, Douto r nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua
aí, por ele foi manda do/ / vir perante
j7. 509v. tade, Reformador e Reitor dela, estando
Azeitão,
si a Sebastião Á_lvares da Silva, filho de Diogo da Silva, natural de
oposito r, digo, morad or acima da
bacharel legista, opositor nesta Universidade,
dado jurame nto nos Santos Evange -
Porta da Traição, e, sendo presente, lhe foi
cargo dele, dissess e verdad e e
lhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
e disse
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim;
interro gatório s dos Estatu-
ser de idade de vinte e sete anos. Perguntado pelos
atrás
tos reformados, na forma que atrás vai declarado, disse que, nesse tempo
da Aprese ntação , indo
em que serviu de Vice-Reitor o padre mestre Frei Egídio
aos pontos que ele
ele declarante, por razão de seu oficio de opositor, assistir
onde cada um queria ,
dava em sua casa e estudo, viu que os pontos se davam
oficio de secretá rio, ou
porque ou o bedel Gaspar de Sampaio, que fazia o dito
trazem
qualquer frade que queria, dobrava as folhas ou metia a chave, que
e aí lhe abria o dito
pendurada na correia, onde queriam que caísse o ponto,
saberia m todos os
Vice-Reitor, ou o padrinho a que ele o mandava dar; do que
Francis co Gomes e
opositores que costumam assistir aos pontos, como eram
a pessoa em parti-
João Pereira Botado, e outros; e que não especifica nenhum
que ele//
cular, porque, em todos os pontos que se deram naquele tempo, a
disse estar escrito
/7. 510 declarante se achou, o viu. E, sendo-lhe lido este testemunho,
ador. E eu,
na verdade, e do costume nada; e assinou com o dito Reform
ador e Rei-
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reform
tor. Sebastião Alvares da Silva.
anos,
Aos vinte e sete dias do mês de Junho de mil e seiscentos e dezanove
a de D. Fran-
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morad
Majes-
cisco de Meneses, Douto r nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua
perante si a
tade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir
de Valdev ez,
Baltazar do Vale, solteiro , filho de Gonçalo do Vale, dos Arcos
as Ribas,
bacharel canonista e opositor ao Colégio de S. Paulo, morad or sobre
Santos
testemunha referida; e, sendo presente, lhe foi dado jurame nto nos
dissess e
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
o fazer
verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de
gató-
assim; e disse ser de idade de vinte e três anos. Perguntado pelos interro
que não
rios dos Estatutos reformados, na forma que atrás vai declarado, disse
nele fez
sabia deles coisa alguma. Pelo que, perguntado pelo referimento que
mês de
Miguel de Coimbra, calados os nomes, disse que lhe parece que, este
disse a
. Abril próximo passado, não lhe lembra a quantos nem em que parte,
// fazer
fl. 510v. um João de Freitas, canonista, de Guimarães, por ocasião de querer
457
suas conclusões e se queixar de não ter dia, que mandasse ao bedel Gaspar de
Sampaio alguma coisa, e que logo teria o dia que quisesse; mas que não sabe se
lho deu, nem que, por isso, lhe mandasse coisa alguma, nem se fez na sua sorte,
se fora dela; e que o aconselhou e lho disse, movido de ser público e notório,
nesta Universidade, dar o dito bedel os dias, por lhe darem alguma coisa, posto
que não sabe de quem lho mandasse, nem de dia que ele desse. E que também
poderia dizer o sobredito em outra parte e a outras algumas pessoas, de que
lhe não lembra. E, por mais não dizer, lhe não foram feitas mais perguntas.
E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume
nada; e assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Baltazar do Vale Cerqueira.

João de Carvalho, solteiro, filho de Gonçalo Pires, de Vila Real, bacharel


canonista e opositor na dita Faculdade, morador à portaria do carro dos Padres
da Companhia, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse-Nerdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
jl. 511 idade de vinte // e oito anos. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos
reformados, na forma que atrás vai declarado, disse que o bedel Gaspar de
Sampaio, hoje actualmente nos autos de ponto a que ele Reformador não vai,
vê ele declarante que, quando vira o relógio para o estudante começar a ler, tem
já alguma parte da areia corrida em menos do tempo do relógio; e sabe que,
por isto, o ano passado, e por o meter e lhe dar sorte de bacharel melhor da que
tinha, lhe mandou Manuel Pinto, formado em Cânones, de Penaguião, três ou
quatro galinhas. E que, pela mesma causa e favor de lhe tirar a areia do reló-
gio, lhe mandou Manuel Pereira, estudante canonista, de Britiande, uns doces,
o que sabe por assim lho dizer o dito Manuel Pereira; e lhos devia mandar pelo
seu moço. E que aos mais dos bacharéis faz o mesmo, como dirão, e assim
todos os opositores. E mais não disse, e do costume nada; e assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi . D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. João de Carvalho.

Manuel Pereira, solteiro, filho de Manuel Ribeiro, natural da vila de Bri-


tiande, bacharel canonista e morador na Rua dos Estudos, testemunha referida,
a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo
presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
/7. 51 ! v. mão, e, mandado que, sob cargo // dele, dissesse verdade e tivesse segredo no
que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de
vinte e seis anos. Perguntado pelos interrogatórios dos estatutos reformados, na
forma que atrás vai declarado, disse que o bedel Gaspar de Sampaio não dá

458
conta a estudante algum do dinheiro que lhes pede para os autos e deles lhe
sobeja, e, para esse fim, lhes costuma pedir mais do que neles se monta; e que a
todos os estudantes desta Universidade viu queixar disso. E a ele declarante
pediu três mil e oitocentos réis para o seu auto de bacharel, que fez aos dezoito
deste presente mês, não se podendo nele montar tanto dinheiro, até hoje nem
lhe tornou o que cresceu nem lhe deu conta, como não dá nem ainda aos que
lha pedem, escusando-se disso com dilações em que os traz. Disse mais que o
dito bedel Gaspar de Sampaio, de todo o estudante que faz autos tem e aceita
presentes, ou por lhe dar o dia que lhe não cabe por sorte, ou por lhe dizer
quando lhe cai o seu próprio dia, que, sem o dito presente, o não quer declarar,
ou por lhe diminuir areia do relógio, tendo já alguma corrida quando põe o
relógio para o estudante começar a ler; o que sabe porque assim o ouve a todos
comummente. E particularmente sabe que lhe mandou João Moutinho de
/1. 512 Mesquita, bacharel legista, de Freixo de Alemão,// um presunto, por lhe dimi-
nuir da dita areia, como ele mesmo lhe disse. E ele declarante lhe mandou
também, pelo seu auto de bacharel, quatro ou cinco arráteis de doces, de que
lhe deu depois os agradecimentos; e lhos mandou pelo seu moço Domingos
Coutinho, estudante da segunda classe. E Simão da Fonseca, estudante cano-
nista, de Trancoso, lhe mandou uma porcelana de ovos reais, que disse lhe
custara um cruzado, por lhe dar um dia para conclusões, este ano presente,
porque o seu vinha muito tarde; o que ele declarante sabe porque assim lho
disse o sobredito e o seu criado, por nome fulano Martins, estudante das classes
menores, não sabe em qual anda, e não tem outro, que foi o que lhe levou os
ditos ovos. E que Simão da Fonseca vive à Porta Nova. E que todos três não
assistem aos autos, como devem, e os dois acima nomeados, em todos os dou-
toramentos a que assistiu, lhe viu ele declarante furtar as luvas. E que isto era o
que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse
estar escrito na verdade, e do costume nada; e assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Manuel Pereira.

João Moutinho de Mesquita, solteiro, filho de Luís Moutinho de Mes-


quita, já defunto, da vila de Freixo de Alemão, bacharel legista, morador no
·. 5 J2v. bairro de S. Pedro, // na Rua de Alvaiázere, testemunha referida, a quem o
Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse pergun-
tado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de trinta anos. Pergun-
tado pelos interrogatórios dos estatutos reformados, na forma que atrás vai
declarado, disse que é publico e notório entre os estudantes que a maior parte
deles mandam a Ga~par de Sampaio, bedel de Cânones e Leis, presentes, uns

459
por lhes dar dia antecipado da sua sorte, outros por lhes pôr o relógio a correr
antes de começar o auto e terem já alguma areia corrida. E, ao presente, lhe
lembra que lhe disse Luís Salema, estudante legista, de Lisboa, que Manuel
Aires de Almeida, estudante, bacharel em Leis, lhe mandara umas meias de
seda, ou valia delas, por lhe ter corrida alguma areia quando lhe pussesse o
relógio no seu auto de bacharel, que fez este ano. E que Manuel Pereira,
bacharel canonista, de Britiande, disse a ele declarante que, pelo mesmo, lhe
mandara uns poucos de doces, que valeriam quinhentos réis, pouco mais ou
menos. E ele declarante lhe mandou um presunto, quando fez o seu auto bacharel
f1. 513 este ano, pelas ditas razões, posto que ele lhe não fez// nada de que ele decla-
rante desse vista. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-
-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada;
e assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
E declarou que lho mandara pelo seu criado António da Costa, da terceira
classe. Sobredito o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
João Moutinho de Mesquita.

Domingos Coutinho, solteiro, filho de Pero João, do concelho de Pena-


guião, comarca de Lamego, estudante da segunda classe, criado de Manuel
Pereira, bacharel canonista, de Britiande, testemunha referida, a quem o
Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente,
lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, man-
dado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e três anos.
Perguntado pelos interrogatórios na forma que atrás vai declarado, disse algu-
mas coisas que se não trasladam aqui, por não pertencerem ao bedel Gaspar de
Sampaio. Perguntado pelo referimento que nele fez Manuel Pereira, calado o
nome e em geral, disse que, haverá quinze dias, pouco mais ou menos, antes de
o dito Manuel Pereira, seu amo, fazer o seu auto de bacharel, um dia mandou
por ele declarante ao bedel de Cânones Gaspar de Sampaio quatro ou cinco
fl. 513v. arráteis / / de doces, e outros tantos ao padrinho que ele teve, que era fuão, que
ele declarante levou a um e a outro, que eram bocados de marmelada e massa.:
pães, e lhe custaram nove ou dez tostões, e cada um deles o aceitou. E não sabe
o respeito por que lhos mandou. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar
escrito na verdade, e do costume nada; e assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. Domingos Coutinho.

Luís de Aguiar Queixada, solteiro, filho do licenciado Manuel de Fontes


Ribeiro, natural da vila de Figueiró dos Vinhos, bacharel canonista, morador a
Nossa Senhora do Salvador, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses

460
mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse ...
disse que o que dele sabia era que é queixa pública entre os estudantes que os
bedéis fuão, de Medicina, e Gaspar de Sampaio, de Leis e Cânones, cada um
em sua Faculdade, do dinheiro que lhes dão para os autos, depois deles acaba-
Jl. 514 dos e os// graus recebidos, não darem conta com entrega dele nem ao outro
dia, nem até aos três dias depois dos ditos graus, como manda o estatuto, mas
não a darem nunca; e a ele declarante lhe aconteceu assim, que, fazendo-se
bacharel, o primeiro dia deste presente mês, até hoje o dito bedel lhe não tem
dado conta; e, dando-lhe ele declarante para o dito auto três mil e oitocentos
réis, que lhe pediu, pagando, além disto, doze vinténs da armação ao moço do
guarda, que se chama Pero Ferreira, e não tendo, no dito auto mais que oito
doutores, com o padrinho, e só dois argumentistas, e assim sobejando dinheiro,
o dito bedel lhe não tem dada a dita conta, nem dará, como não deu aos ditos
conclusionistas e bacharéis deste ano, e nos dias que nos outros passados a não
deu também. E o mesmo ouve dizer do dito fuão, e que ... ·ao dito Gaspar de
Sampaio, nos autos de bacharelamento, quando põe o relógio, pô-lo já com
parte da areia corrida; e é público entre os estudantes que o faz, pelo que lhe
manda cada um, posto que não sabe quem lho mandasse, salvo Agostinho da
Costa da Castanheira, natural da vila de Mação, estudante e bacharel canonista,
que, por esse respeito, lhe mandou um queijo do Alentejo o ano passado, pelo
seu moço, a quem não sabe o nome; e assim lho disse o sobredito Agosti-
/l. 514v. nho da// Costa. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-
-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Luís de Aguiar Queixada.

António da Costa, solteiro, filho de António da Costa, já defunto, natural


do Souto de Penedono, bispado de Lamego, estudante da terceira classe, criado
de João Moutinho de Mesquita, bacharel legista, de Freixo de Alemão, que
vive na Rua de Alvaiázere, testemunha referida, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade ... nesta cidade o dito seu amo João Moutinho de
jl. 515 Mesquita, bacharel legista, mandou, por ele declarante, a véspera// do dia em
que fez o seu auto de bacharelamento, um presunto a Gaspar de Sampaio,
bedel de Leis e Cânones; e que quisesse fazer-lhe mercê de que se não desse o
seu dia a algum outro estudante; o qual, de efeito, ele declarante lhe levou e
entregou na sua mão, em sua casa, na Rua da Santa Sofia; que lhe parece que
valeria quatro ou cinco tostões. E que isto era o que sabia dos ditos interroga-
tórios. E, por ter satisfeito, lhe não foi lido o referimento que nele fez o dito

461
João Moutinho de Mesquita, seu amo. E,sendo-lhe lido este testemunho, disse
estar escrito na verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador.
E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e
Reitor. António da Costa.

Aos treze dias do mês de Julho de mil seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade , sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade ...
por ele foi mandado vir perante si a Damião de Aguiar, solteiro, filho de Pero
de Aguiar e... natural da cidade do Porto, estudante canonista, morador na Rua
de Alvaiázere, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evange-
fl. 515v. lhos, // em que pôs sua mão, e, mandado que, sob ... que lhe fosse perguntado ...
ser de idade de vinte e... pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, na
forma que atrás vem declarado, disse que, agora, no tempo destas conclusões, e
lhe dizer a esse propósito Maria Manuel, viúva não sabe de quem ... que vive na
rua do Colégio Real... uma negra, a quem não sabe o nome, que se recolhe em
casa de D. Martinho de Melo, estudante, que vive na dita rua, e é forra, e gorda
.fl. 516 e alta de corpo, com ordem ... se ali assentou que as desse a uma mulher,// a
quem não sabe o nome nem onde mora, que criou ao dito bedel... ele declarante
que lhas ... e lho declararam as ditas pessoas ... dito Martim Gaifão ... as ditas
conclusões. E que isto era o que sabia dos ditos interrogatórios. E, sendo-
-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada.
E assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Damião de Aguiar.

Aos quinze dias do mês de Julho de mil e seiscentos e dezanove anos, nesta
cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco
de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si a
Pantaleão de Sousa, natural... de Évora com ... Faculdade de Leis ... referida; e...
Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
Jl. 516v. fazer assim; e disse ser de idade de vinte e quatro anos. Perguntado/ / pelos
interrogatórios dos Estatutos reformados, na forma que atrás vai declarada,
disse que o que deles sabia era que, haverá dois meses e meio, pouco mais ou
menos, que, nesta cidade, em companhia de Afonso Pato, legista, de Évora, se
achou ele declarante; e, estando ambos sós, o sobredito lhe disse que ele, dito
António Pato, e Luís Mendes, estudante legista, pediram ao bedel Gaspar de
Sampaio que, agora, nestas sortes de conclusões próximas passadas, lhes
deixasse trocar as suas, para que o dito Afonso Pato, a quem padrinhava o
Dr. Cristóvão Mouzinho, em cuja matéria o dito Afonso Pato tinha feito suas

462
conclusões, e para que o dito Luís Mendes as fizesse na sorte do dito Afonso
Pato, a quem padrinhava o dito Dr. António Lourenço, cuja matéria tinha
estudado, e feitas nela suas conclusões, para que assim satisfizessem ambos ao
estatuto e fizessem as ditas conclusões nas matérias em que tinham estudadas; e
que, de feito, ele lhas trocara. E lhe mandaram ambos duas galinhas, cada um
sua. Disse mais que, de oito anos a esta parte que há que se matricula, digo,
Jl. 517 disse mais que, este ano, deu ao dito bedel quatro mil réis para// o auto de
bacharel, e outros quatro para o de formatura e... ditos autos, e não se ... depois
de dez cruzados ... e um bedel e seu irmão, dele declarante, por nome António
de Sousa, que se formou há quatro ou cinco dias, lhe deu três mil e novecentos
réis, que ele declarante deu ao dito bedel em sua própria mão, lhe não tomou
mais que um tostão. E, assim, é queixa pública dos estudantes não lhes dar o
dito bedel conta do dinheiro que lhe dão ... e pelo modo que tem declarado ...
por mais não dizer e ter satisfeito ao referimento que nele fez o dito Afonso
Pato, lhe não foi lido. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse estar escrito na
verdade, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agosti-
nho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Pantaleão de Sousa.
Francisco de Meneses, Doutor nos Sagrados Cânones, do Conselho de
Sua Majestade, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir
perante si ao Dr. Domingos Antunes de Abreu, lente de Véspera de Cânones
nesta dita Universidade, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
/7. 517v. Evangelhos, em que// pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse ...
interrogatórios dos Estatutos reformados, na forma que atrás vai declarada,
disse que o que deles sabia era que os bedéis fuão, de Medicina, Gaspar de
Sampaio ... dinheiro que lhes dão para fazerem seus autos, e que ... para o que
lhes ... dos lentes que faltam, lhes ... estudantes. E que não sabe a quantia que
pede. E que as sortes das conclusões e bacharéis ... porquanto o dito Gaspar de
Sampaio dá os dias como quer e lhe parece ... os estudantes ... o peitavam com
presentes, e que ... compram... e formaturas, muitos deles ... por outrem, como
pelos bedéis que por ele assistem aos ditos autos, fazendo em .. . são dos reitores,
/7. 518 e estando ... // ... impedimento algum. E, sendo-lhe lido este testemunho, disse
estar escrito na verdade, e do costume nada... E eu, Agostinho de Aguiar, ...
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor, Domingos Antunes de Abreu.
Maria Manuel, viúva de António Pereira, tendeira, moradora na rua do
Colégio de S. Paulo, testemunha referida, a quem o Reformador D. Francisco
de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento
nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandada que, sob cargo dele,
dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fos~e perguntado, prometeu de o
fazer assim; e disse ser de idade de trinta anos. Perguntada se sabe que alguns

463
oficiais desta Universidade ... a seu ofício ... coisa que lhe pertencesse recebesse ...
e de que tempo a esta ... próximo passado ... dade, em casa dela... Martim Gai-
fão ... e; estando assim todos, por ocasião do dito Martim Gaifão ... se querer ir
para a terra e fazer, antes de ir, seu auto de conclusões, e se queixar do bedel de
Jl. 5/ll, •. Cânones Gaspar de Sampaio lhe não dar dia para isso, e lhe// ... lhe aconse-
lhou que lhe mandasse alguma coisa, e que logo lhe daria... e uma garrafa de
vinho ... mandou as ditas galinhas e garrafa por um menino seu a Francisca
Ribeira, mulher preta e forra, que ... nos baixos das casas de Nicolau Veiga, em
que hoje vivem as freiras de S. Tiago, e ... com seu marido, que se chama
Manuel Rodrigues, o qual foi ... de Jerónimo de Sampaio, bedel que foi desta
Universidade, pai do dito Gaspar de Sampaio, e ela declarante lhe pediu que
quisesse dar o dito presente ao dito bedel, e haver dele o dito dia; e ele lhe
prometeu de o fazer assim, e. .. E, depois disso, viu ela declarante que logo lhe
deu o dito dia em que ... lho disse a dita Francisca ... ouvido e entendido, pergun-
tada se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada; e assinei,
a seu rogo, com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Agostinho de Aguiar, a rogo.

jl. 519 Aos dezanove dias do mês de ... de mil seiscentos ... cidade de Coimbra, nas
casas ... D. Francisco de Meneses, Doutor nos ... Conselho de Sua Majestade,
Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante si ao
Dr. Martim Gonçalves, lente de Anatomia desta Universidade, e, sendo pre-
sente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e,
mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse
perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de quarenta e cinco
anos. Perguntado pelos interrogatórios, na forma que atrás vai declarado, disse
que o que deles sabia era que assim na sua Faculdade o bedel fuão , como os
demais nas outras, faltarem à obrigação dos seus autos; e neles fazerem os
assentos pelo Secretário Rui de Albuquerque, a quem só, conforme aos estatu-
tos ... fazê-los, como constará dos ditos assentos ... ele declarante sabe por os ...
de Teologia na ... de estar o dito ... vezes na Universidade ... interrogatórios.
E, sen ... se estava escrito na verdade, disse que sim, e do costume nada;
e assinou com o dito ~eformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi.
D. Francisco de Meneses. Re_fém11ador e Reitor. Martim Gonçalves Coelho.

jl. 5191 ·. Aos dois dias do mês de Outubro de mil e seiscentos // e dezanove anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas ... D. Francisco de Meneses, Doutor nos
Sagrados ... e Reitor dela, estando aí ... vir perante si ao Dr. António Lourenço,
lente de Digesto Velho nesta Universidade ; e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-

464
meteu de o fazer assim; e disse ser de idade de quarenta e cinco anos. Pergun-
tado pelos interrogatórios dos estatutos reformados, na forma que atrás vai
declarado, disse que o que deles sabia era que os bedéis de todas as Faculdades
não entregam o dinheiro da fábrica da Capela, nem da arca da Universidade, e
o retêm em si; e, nas contas que ele declarante lhes tomou do ano ... , estão todos
devendo. E até fuão ... bedel de Cânones e Leis ... mil réis ... assinou com o dito
Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. António Lourenço .

.fl. 520 Luís Salema, solteiro, filho de Cristóvão// Salema, já defunto, de Lisboa,
estudante legista, morador na Rua de S. Cristóvão, testemunha referida, a
quem ... mandou vir perante ... foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em
que pôs a sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse
segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de
idade de vinte e dois anos. Perguntado pelo referimento que nele fez João
Moutinho de Mesquita, primeiro, em geral, e, depois, em particular, e sendo por
ele ouvido e entendido, calados os nomes, disse que não lembrava que dissesse a
estudante ou pessoa alguma que algum outro desta Universidade, fazendo seu
auto bacharel, mandasse a oficial algum dela, meias de seda ou valia delas, por
lhe ter corrido areia alguma do relógio, nem tal sabe nem ouviu assim o ano
passado como nos mais. E que isto ... o que sabia do dito referimento que nele
foi feito... E, sendo-lhe lido este... escrito na verdade... o dito Reitor... vi.
D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Luís Salema de Carvalho.

Afonso Soares, solteiro, filho de António Rodrigues e de Inês Vaz, natu-


rais da vila Moura, estudante legista, morador na Rua das Parreiras, testemu-
fl. 520v. nha referida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses // mandou vir
perante si, e, sendo presente, lhe foi dado ... em que pôs sua mão, e,mandado ...
verdade e tivesse ... perguntado, prometeu de o fazer. .. de idade de ... Perguntado
pelo referimento que nele fez Belchior da Guerra, em geral, e, depois, em espe-
cial, calados os nomes, disse ·que bem poderia achar-se em tal companhia,
porém, que não lhe lembrava em ... de sortes de conclusões, nem o sabia por via
alguma. E mais não disse, nem lhe foram feitas mais perguntas. E, sendo-lhe
lido este testemunho, disse estar escrito na verdade, e do costume nada; e assi-
nou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor. Afonso Soares da Fonseca.

Dr. Fabrício de Aragão, lente de Clementinas nesta Universidade ... pôs


sua ... mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que
lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de qua-
renta e sete anos. Perguntado pelos interrogatórios dos estatutos reformados, //

465
jl. 521 na forma que atrás vai declarado, disse que ... Secretário da Universidade ... não
guardou, na sua mente, a obrigação de seu ofício, assim em não ... a que é
obrigado assistir, como se verá dos livros dos autos da Universidade, nos quais
estão muitos assentos de autos de bacharelamentos e outros semelhantes, feitos
pelos bedéis das Faculdades, sem terem ... para servirem de Secretário, o que é
prejuízo da Universidade, porque como para a arca dela se paga cada auto um
tanto, o qual dinheiro recebe em si o bedel dos estudantes que o fazem, fazendo
o bedel o termo do auto, não o Secretário, fica na mão do dito bedel poder
tomar o dinheiro do dito auto, sem depois se lhe poder pedir para a Universi-
dade. Disse mais que sabe ele declarante que não cumprem com a obrigação de
seu ofício os bedéis da Universidade, porque nenhum dos três, que ao presente
há, fuão e Gaspar de Sampaio e fuão, metem nos tempos ... da Universidade,
antes lhe ... arrecadarem deles ... pedem quita ... como e... E que isto era ... inter-
rogatórios. E, sendo-lhe lido este testemunho, por ele ouvido e entendido, e
perguntado se estava escrito na verdade, disse que· estava escrito na verdade, e
jl. 52/v. do costume ... que toque a Gaspar de Sampaio. E assinou com o dito// Refor-
mador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Fabrício de Aragão.

Agostinho da Costa, solteiro, filho de Sebastião Dias Castanheira e de


Catarina Sambada, natural de Mação, bacharel canonista, morador na Rua
de Alvaiázere este presente ano, testemunha referida, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e oito anos. Perguntado
pelos interrogatórios dos Estatutos, na forma costumada, disse que o que deles
sabia era que, este mês de Junho que vem fará dois anos, viu ele declarante que
o bedel Gaspar de Sampaio, quando pôs o relógio ... lição de bacharel Pero ...
alguma ... disse a ele declarante que mandara ao dito bedel duas galinhas, por
lhe dar um dia para fazer conclusões e o mesmo lhe disse que fizera Pero
Gaifão,· estudante canonista, do Sardoal, o que fizera, haverá dois anos; //
jl. 522 e o dito Martim Gaifão, o ano passado. Per... nele fez Luís de Aguiar ... que,
este Junho que vem ... , ele declarante, por um moço seu, chamado António
Dias, de Mação, filho de Simão Fernandes, que, ao presente, anda na terceira
classe, um queijo do Alentejo. Disse que posto que o seu intento fosse ... ao seu
auto, e viesse a ele com facilidade, quando começou a ler tinha já corrida
alguma areia, pouca; e que lhe não deu conta do dinheiro que ele declarante lhe
deu para o dito auto, posto que também lha não pediu. E mais não disse, e do
costume nada; e assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar,
o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Agostinho da Costa.

466
Aos vinte e três dias do mês de Maio de mil seiscentos e vinte. .. nesta
cidade de Coimbra, nas casas da... D. Francisco de Meneses ... Reformador
dela, estando ... perante si a Manuel Aires de Almeida ... perguntado por.. . lhe
foi dado juramento nos Santos ..., sua mão, e, mandado que, sob cargo dele,
dissesse verdadê e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o
jl. 522v. fazer assim; e disse ser de idade de vinte e cinco a/ / nos. Perguntado se deu ele
declarante a algum oficial desta Universidade ... e de que tempo ... se houve por
satisfeito aos referimentos que nele fizeram João Moutinho de Mesquita e Pero
Mendes, e do costume disse nada. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Manuel Aires de Almeida.

Martim Gaifão, filho de António Gaifão, já defunto, natural de Mação,


estudante canonista, morador na rua do Colégio de S. Paulo, testemunha refe-
rida, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão ... sob cargo dele dissesse ... Perguntado ... algum oficial... por fazer. .. contra
seu ofício, disse que o que sabia da dita pergunta era que, o ano passado, pelo
tempo das conclusões, por ele declarante haver perdido a sua sorte e desejar de
jl. 523 fazer outra, e o bedel Gaspar de Sampaio lhe dar alguma/ / ... que vagasse .. . que
não saiba ... com um homem caçador ... sabe o nome, o qual foi de casa do dito
bedel... dito Gaspar de Sampaio duas galinhas ... dita negra uma garrafa de
vinho; e, logo ao outro dia, lhe disse que faria a sua sorte, que estava vaga, e, de
feito, o admitiu em ela, dizendo-lhe que o fazia de equidade, e não porque
estivesse obrigado a fazê-lo, por onde ele declarante entende que as havia rece-
bido, e, por respeito delas, lhe havia dado o dito dia. E também disse a ele
declarante Pero Gaifão, estudante canonista, que dera ao dito bedel umas gali-
nhas por o admitir às ditas sortes ... dois anos de haver entrado... E disso se
queixam alguns ... presuntos o ... de chegar o ... e do costume ... referimento que
nele fez Damião de Aguiar assinou com o dito Reformador. E eu, Agostinho
de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Martim
Gaifãv.

/1. 52J v. Jerónimo Pinheiro, filho de Manuel Pedrosa, defunto,// e de Maria


Pinheira, da vila de Guimarães ... estudante da undécima classe, testemunha
referida ... Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e,
sendo presente, por dizer que era de doze anos, lhe não foi dado juramento nos
Santos Evangelhos, e, para informação, lhe tomou seu testemunho, e lhe foi
mandado que dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado.
Perguntado se levou a algum oficial desta Universidade algum presente, e de
quem, e de que tempo a esta parte, disse que, o ano passado, quando fez con-

467
clusões o dito seu amo João de Freitas, não lhe lembra em que mês, antes delas,
mandou por ele declarante ao bedel Gaspar de Sampaio ... da ponte de S. Ber. ..
não disse, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu, Agos-
tinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor.
Jerónimo Pinheiro.

fl. 524 Pero Gaifão, solteiro, filho de António Ferreira,// natural do Sardoal,
estudante· canonista, morador... testemunha referida, a quem o Reformador
D. Francisco de Meneses mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado
juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob
cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, pro-
meteu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte e seis anos. Perguntado
pelos referimentos que nele fizeram Agostinho da Costa e Martim Gaifão, in
genere e calados os nomes, disse que, agora faz dois anos, nesta cidade, por ele
declarante não haver entrado às sortes dos conclusionistas, e lhe largar a sua
sorte um fulano Saraiva, a quem não sabe o nome, estudante canonista, e o
bedel Gaspar de Sampaio o deixar fazer naquele dia, mandou ao dito bedel
duas galinhas ... estudante de Medicina ... de Francisco de Parada... lhas mandar
con ... e lhe deu os agradecimentos das ditas galinhas. E que isto era o que só
sabia; e também lhe disse Martim Gaifão, de Mação, que, por outra coisa
semelhante, lhe manadara outras duas galinhas. E também ouviu dizer a
fl. 524v. Agostinho da Costa,// do ... que mandara ao dito Gaspar de Sampaio uns
queijos ... E mais não disse, e do costume nada... com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Pero Gaifão.

Aos vinte e seis dias de Maio de mil e seiscentos e vinte anos, nesta cidade
de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado vir perante
si a Simão da Fonseca, solteiro, filho de Diogo Cardoso da Costa, estudante
canonista, da vila de Trancoso, testemunha referida; e, sendo presente, lhe foi
dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que,
sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que lhe ... de o fazer assim;
e disse... Perguntado Manuel Pereira ... que o que dele sabia... próximo passado
mandou ele declarante uma porcelana de ovos reais, que lhe custou uma pataca,
ao bedel Gaspar de Sampaio, pelo seu moço, chamado Domingos Martins,
.fl. 525 estudante da quinta classe, que é ido para Roma, para que o dito// bedel lhe
deixasse trocar. .. conclusões com ... mais não disse ... assinou com o dito Refor-
mador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor. Simão da Fonseca.

468
Aos vinte e nove dias do mês de Maio de mil e seiscentos e vinte anos,
nesta cidade de Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada de D. Fran-
cisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí, por ele foi mandado
vir perante si a Gonçalo Vaz Piçarra, solteiro, filho de Pero Gonçalves Piçarra,
natural da vilda de Moura, estudante legista, testemunha referida, morador no
bairro de S. Pedro; e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evan-
gelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e
tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse
ser de ... Perguntado pelo re ... disse que bem ... não lembra... Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. Gonçalo Vaz Piçarra.

fl. 525v. André Ximenes, casado com Eugénia Vicência Ma/ / chado, da vila de
Estremoz, estudante legista, morador. .. testemunha referida; a quem ... Meneses
mandou vir perante si, e, sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos
Evangelhos, em que pôs sua mão, e, mandado que, sob cargo dele, dissesse
verdade e tivesse segredo no que lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer
assim; e disse ser de idade de vinte e oito anos. Perguntado pelo referimento
que nele fez Pantaleão Rodrigues Pacheco, primeiro, em geral e, depois, em
particular, calado o nome, disse que bem poderia achar-se presente, mas que
não lhe lembra que ouvisse falar na dita matéria de que o referimento trata.
E mais não disse, e do costume nada. E assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses, Reformador e Rei-
tor. André Ximenes.//

fl. 526 Certifico eu, Agostinho de Aguiar de Figueiroa, escnvao da presente


reformação desta Universidade de Coimbra, que faz D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor dela, que, no tempo dos bacharéis do ano de seiscentos e
dezanove, por ocasião de se queixarem três estudantes ao dito Reformador de
Gaspar de Sampaio, bedel das Faculdades de Cânones e Leis, lhes não dar conta
do dinheiro que lhe tinham entregue para os seus autos de bacharelamento,
mandou o dito Reformador vir perante si aos ditos estudantes; e, em presença
deles todos, e minha, lhe deu o dito bedel conta do dito dinheiro que deles havia
recebido, e a todos três, feitas ::is ditas contas, lhes ficou devendo mil réis, que
lhes tomou. E, por passar tudo assim na verdade, passei disso esta certidão, por
mandado do dito Reformador. Em Coimbra, a dois de Setembro de seiscentos
e vinte anos. Agostinho de Aguiar de Figueiroa.

[folha 526v. em branco]

469
.fl. 527 Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e seiscentos e
vinte anos, aos dois dias do mês de Outubro do dito ano, nesta cidade de
Coimbra, nas casas da Universidade, sólita morada do Dr. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor dela, estando aí presente Gaspar de Sampaio,
por eu, Agostinho de Aguiar, escrivão da presente reformação, lhe dizer que o
tinha requerido, para se livrar das culpas que contra ele resultaram da devassa
da dita reformação, de que, em Junta, mandaram que se livrasse, e que, por-
quanto estava presente, o houvesse por requerido e lhe mandasse dar os cargos
que contra ele delas se lhe formassem. E por ele Reformador foi dito que o
havia por citado para o dito efeito, e por todos os termos e autos judiciais até
sentença definitiva, inclusive; e que se lhe dessem os ditos cargos, e a eles res-
pondesse em termo de cinco dias; e declarasse aqui como dizia ser menor de
vinte e cinco anos, e lhe parecia que seria de vinte e três, pouco mais ou menos.
E que de tudo fizesse este auto, que ele assinou com o dito Reformador. E eu,
Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de Meneses. Gaspar de Sampaio
Riheiro. 11

jl. 5271•. E logo, feito assim o dito auto, estando aí o dito Reformador e o dito
Gaspar de Sampaio ... deu juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão ... que bem ... o fazer... ele aqui com o dito Reformador. E eu, Agostinho
de Aguiar, o escrevi.
E feito ... mandou o dito Reformador declarar que, por ter informação que o
dito Gaspar de Sampaio se queria ir com seu irmão António de Sampaio, o
mandou preso à cadeia da Universidade por Belchior Caldeira, meirinho dela; e
que disso ficasse aqui esta declaração, que ele assinou. E eu, Agostinho de
Aguiar, o escrevi. II
.fl. 528 Aos três dias do mês de Outubro de seiscentos e vinte anos, nesta cidade de
Coimbra, na cadeia da Universidade dela, estando aí presente Gaspar de Sam-
paio, preso na dita cadeia por mandado do Reformador D. Francisco de Mene-
ses, ... reformação ... ao licenciado ... de livrar. .. desta cidade ... das causas perten-
centes à dita pessoa, a ... qual deles ou quem fosse ... e por ele foi dito que o fazia
ao dito Dr. Simão de Basto, apud acta et agenda, para responder aos cargos
que se lhe mandaram dar; e, para isso, lhe dava os poderes que podia e com
direito devia, para o que, pelo dito seu curador lhe foi dado sua autoridade, e .. .
Reformador ao dito Doutor ... bem e verdadeira... ditos cargos no ... adiante se .. .
fiz este termo .. Agostinho de Aguiar o escrevi. I /
.fl. 528v. E, logo feita assim a dita procuração atrás, pelo dito Reformador foi dito que
havia ao dito Gaspar de Sampaio ... e que ... notificação ... fiz este termo, que
assinou com o dito Reformador. Agostinho de Aguiar o escrevi.

470
E logo dei vista destes autos ao Dr. Simão de Basto, procurador do réu Gaspar
de Sampaio, para responder em termo de cinco dias. Agostinho de Aguiar o
escrevi.//
J7. 529 Cargos que o oficío da Justiça desta presente reformação da Universidade de
Coimbra, que faz D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor dela, dá a
Gaspar de Sampaio, bedel das Faculdades de Cânones e Leis da dita Universi-
dade, na forma seguinte, para se descarregar deles.

Faz-se-lhe cargo que, conforme os estatutos reformados, do livro terceiro,


título 43, parágrafo 2, e da reformação número cento, não podendo os estudan-
tes fazer o auto de conclusões senão no dia que lhe couber por sorte, e em uma
só matéria que o padrinho que lhe tiver caído por sorte tenha lido, para que
assim estudem todas as matérias dos mestres, e não saibam qual deles lhes cairá
por padrinho, ele Gaspar de Sampaio, o ano de seiscentos e dezanove, tendo o
rol dos estudantes pela ordem que saíram no livro dos assentos da Faculdade de
Leis, em seu poder, por razão de seu oficío, deixou trocar as ditas sortes a dois
estudantes da dita Faculdade, para que cada um deles fizesse, como, de feito,
j7. 529v. fizeram, as ditas conclusões na matéria que dantes tinha// estudada, e não na
do padrinho que pelas ditas sortes lhe tinha caído; a qual troca lhes foi por
certa peita que os ditos estudantes lhe deram, dizendo-lhe falsamente que tinha,
para isso, licença do Reitor, sem a ter na realidade, nem o dito Reitor poder
dispensar do dito estatuto reformado.

Faz-se-lhe, outrossim, cargo que, no dito ano e conclusões dele, ele Gaspar
de Sampaio deu a outro estudante canonista um dia para fazer, como de feito
fez, o dito auto de suas conclusões, antes do dia que lhe caiu por sua sorte, por
certa peita e presente que, por isso, lhe mandou.

Faz-se-lhe cargo que, no dito ano e conclusões dele, ele Gaspar de Sam-
paio deu a outro estudante canonista um dia para fazer, como, de feito, fez, seu
auto de conclusões, sem ser o dia que lhe tinha caído por sorte, por certa peita e
presente que, por isso, lhe mandou.

f7. 530 Faz-se-lhe, outrossim, cargo que, no ano escolástico// de seiscentos e


dezoito, e conclusões dele, ele Gaspar de Sampaio deu a outro estudante um dia
para fazer, como, de feito, fez, seu auto de conclusões, sem ser o que lhe tinha
caído por sorte, por certa peita e presente que, por isso, lhe mandou.

Faz-se-lhe, outrossim, cargo que, no ano de seiscentos e dezanove escolás-


tico, nas conclusões dele, ele Gaspar de Sampaio deixou trocar as sortes a
outros dois estudantes, como, de feito, trocaram, para que cada um fizesse,

471
corno fizeram, os autos de conclusões fora da matéria do padrinho que, por
sorte, lhe tinha caído, e do dia que cada um deles vinha pelas ditas sortes, por
certa peita e presente que, por isso, lhe mandou um deles.

Faz-se-lhe cargo que é pública voz e fama, entre todos os estudantes e


lentes desta Universidade, que ele Gaspar de Sampaio faz o sobredito aos estu-
dantes que lho pedem, por peitas e presentes ... prejuizo da observação dos esta-
tutos e dos estudantes que, em lugar destes, houveram de entrar logo sucessi-
vamente, e a quem se devolvia o direito de fazer nos ditos dias, na forma dos
ditos estatutos; a qual fama trouxe sua origem e princípio dos ditos casos//
fl. 530v. atrás declarados, e doutros, em tanto que se há que são escusadas as ditas
sortes, sendo ele, dito Gaspar de Sampaio, o bedel das Faculdades de Cânones
e Leis, que tinha o traslado do dito rol e dias que caíram por sorte.

Faz-se-lhe, outrossim, cargo que, conforme aos estatutos reformados, livro


3, título 44, parágrafos 2 e 3... , nos autos de bacharelarnento, havendo a lição de
ponto de durar três quartos de hora de relógio de areia, e o que não fizer o dito
auto no dia de sua sorte ficar por derradeiro, e entrar em seu lugar o que se
segue, e o que assim primeiro se graduar ficar precedendo aos outros, ele Gas-
par de Sampaio, nos bacharéis do ano de seiscentos e dezoito, deu um dia a
certo estudante para se fazer bacharel, corno, de feito, fez, antecipado do que
lhe havia caído por sorte, e, quando começou a ler, e ele Gaspar de Sampaio lhe
pôs o relógio para isso, lhe tinha já parte da areia corrida, com que ficou lendo
menos dos ditos três quartos, por certa peita que, por isso, lhe mandou.//

fl. 531 Faz-se-lhe cargo que, nos bacharéis do ano de seiscentos e dezanove, ele
Gaspar de Sampaio a outro certo estudante canonista, no seu auto de bachare-
larnento, antes que começasse a ler e lhe pusesse, para isso, o relógio, lhe tinha
já parte da areia dele corrida, com que ficou lendo menos dos ditos três quartos,
por certa peita e presente que, por isso, lhe mandou.

Faz-se-lhe cargo que, nos bacharéis do dito ano de seiscentos e dezanove,


ele Gaspar de Sampaio, a outro estudante legista, no seu auto bacharelarnento,
antes que começasse a ler e lhe pusesse, para isso, o relógio, lhe tinha já parte da
areia dele corrida, com que ficou lendo menos dos ditos três quartos, por certa
peita e presente que, por isso, lhe mandou.

Faz-se-lhe cargo que, nos bacharéis do ano de seiscentos e dezoito, ele


Gaspar de Sampaio, a outro certo estudante canonista, no seu auto de bachare-
larnento, antes que começasse a ler e lhe pusesse, para isso, o relógio, lhe tinha

472
já parte da dita areia corrida, com que ficou lendo menos dos ditos três quartos,
por certa peita e presente que, por isso, lhe mandou.

fl. 53/v. Faz-se-lhe cargo que, nos bacharéis do dito ano de// seiscentos e dezoito,
outro estudante legista, no seu auto de bacharelamento, antes que começasse a
ler e lhe pusesse, para isso, o relógio, lhe tinha já parte da areia dele corrida,
com que ficou lendo menos dos ditos três quartos.

Faz-se-lhe cargo que é pública voz e fama, entre todos os estudantes desta
Universidade, que ele Gaspar de Sampaio' faz o sobredito aos estudantes que
lho pedem, pelas ditas peitas e presentes; e que o fez a outros, além dos acima
declarados, em grande prejuizo da observação dos ditos estatutos e dos estudan-
tes a quem, por esta via, estes ficaram precedendo; e que trouxe seu princípio e
origem nos ditos casos.

Faz-se-lhe cargo que, conforme aos ditos estatutos reformados do livro


segundo, título 48, parágrafo 18, sendo obrigados os bedéis a não levarem aos
estudantes mais dinheiro, para propinas, do que pelos ditos estatutos é orde-
nado, e a darem conta dele até ao outro dia depois do auto, o mais tardar, sob
as penas nele declaradas, ele Gaspar de Sampaio, o ano de seiscentos e dezoito,
nos bacharéis, não deu a dita conta a certo estudante do dinheiro que lhe entre-
/7. 532 gou para o seu auto de// bacharelamento, e com o que lhe cresceu dele se ficou
até ao presente.

Faz-se-lhe cargo que, nos bacharéis do ano de seiscentos e dezanove, ele


Gaspar de Sampaio pediu a outro certo estudante mais dinheiro do que se
montava no auto de seu bacharelamento, para ficar com o que dele sobejasse,
como, de feito, ficou, sem lhe dar conta dele até ao presente.

Faz-se-lhe cargo que, nos bacharéis do dito ano de seiscentos e dezanove,


ele Gaspar de Sampaio pediu a outro certo estudante mais dinheiro do que se
montava no auto de seu bacharelamento, para se ficar com o que dele sobe-
jasse, como, de feito, ficou, sem lhe dar conta dele até ao presente.

Faz-se-lhe cargo que, nos ditos bacharéis do ano de seiscentos e dezanove,


ele Gaspar de Sampaio fez o mesmo a outro estudante, legista, nos seus autos
de bacharelamento e formatura.

Faz-se-lhe cargo que é pública voz e fama, entre a maior parte dos estu-
dantes desta Universidade, que ele Gaspar de Sampaio, assim nestes autos
fl. 532v. acima referidos como em todos os mais de suas Faculdades, faz o// sobredito,

473
aos que lha pedem, escusando-se disso com dilações, e, por queixa de alguns
estudantes, sendo constrangido a dá-la, foi em juizo, convencido de lhe haver
ficado em sua mão, só de três autos de bacharéis, mil réis, de cujos casos, e de
outros, tem resultado a dita fama que contra ele há, entre as pessoas que têm
razão de saber dela.

Faz-se-lhe cargo que, conforme aos estatutos no livro 4, título 7, in princi-


pio, e título 8, parágrafos 3 e 4, sendo os bedéis obrigados a dar conta do
dinheiro que se paga dos autos para a arca da Universidade cada mês, aos
lentes de Prima, e, pelo mês de Agosto de cada ano, ao contador, e para a fábrica
da Capela, e a pagarem, com efeito, o que ficarem devendo, sob pena de fica-
rem suspensos de seu ofício até a darem com entrega, e, pela última reformação,
número 145, sendo obrigados, pelos inconvenientes de ficarem na sua mão
deles, a dar ao prebendeiro, ele Gaspar de Sampaio a não deu no dito tempo,
nem aos ditos lentes nem ao dito contador, nem entregou ao prebendeiro o dito
dinheiro antes; contra os ditos estatutos o deixou ficar em seu poder, por tanto
jl. 533 tempo// que, sendo ao presente constrangido a dar a dita conta, foi ... em cento
e quarenta e quatro mil e quinhentos e quatro réis, que está a dever à dita arca,
fábrica e Universidade, como consta da certidão aqui vinda. Diz o mal escrito e
entrelinha cento e cinquenta e quatro mil oitocentos e quatro réis.

Faz-se-lhe cargo que, sendo ele, Gaspar de Sampaio, obrigado, por res-
peito de seu ofício, na forma da última reformação, no parágrafo 3 do título 44
do livro 3, número I 26, a assistir aos pontos de bacharéis e formaturas, para
atalhar aos inconvenientes que, de sua falta e do Secretário, se podiam seguir,
no tempo que serviu de Vice-Reitor o padre mestre Frei Egídio, desde vinte e
cinco de Junho de seiscentos e dezoito até dezassete de Fevereiro de seiscentos e
dezanove, ele Gaspar de Sampaio, fazendo em alguns pontos, que se deram em
casa do dito Vice-Reitor, não só o seu ofício de bedel, mas o de Secretário,
dobrava as folhas onde o estudante queria que lhe saísse o ponto, ou consentia
que alguma das pessoas que aí assistiam fizesse coisa equivalente para o dito
efeito, em presença do dito Vice-Reitor ou do padrinho, a quem ele mandava
dar.//
jl. 533v. Aos quais cargos responderá em termo de cinco dias. Em Coimbra, aos três de
Outubro de seiscentos e vinte. Agostinho de Aguiar de ,Figueiroa.

fl. 534 Certifico eu, Agostinho de Aguiar de Figueiroa, escrivão da presente


reformação desta Universidade de Coimbra, que faz D. Francisco de Meneses,
Reformador e Reitor dela, que, no livro dos acórdãos do Conselho desta Uni-
versidade, que começou a servir em dia de S. Martinho de seiscentos e dezas-
seis, a folhas dele quarenta e nove verso, in principio, está um assento, feito ao

474
primeiro de Agosto de seiscentos e dezassete, na casa do Conselho desta Uni-
versidade, por Rui de Albuquerque, Secretário .dela, assinado por D. João Cou-
tinho, Reitor que, ao tal tempo, era na dita Universidade, e pelos Conselheiros
que nele assistiram, em que, entre outras coisas que se contêm no dito assento,
tocantes a outras pessoas, está um capítulo, cujo traslado de verbo ad verbum
é o seguinte: Faz por António de Sampaio, bedel de Cânones, que pedia, visto
haver oito anos que servia o dito ofício, e tê-lo servido seus pais e avós, pedia
lhe fizesse mercê dar licença, para renunciar o dito ofício em pessoa hábil e
suficiente, e, enquanto ele vai tratar de seu negócio, lhe dessem licença para, por
ele, servir seu irmão Gaspar de Sampaio; o qual, depois de lido, se votou, e
assentou que lhe faziam mercê dar licença para renunciar a seu ofício em pessoa
hábil e suficiente, a contentamento da Universidade na Mesa da Fazenda, e que,
enquanto o dito António de Sampaio, por tratar de seus negócios, lhe davam
licença para, por ele, servir seu irmão Gaspar de Sampaio; e isto, vista a boa
fl. 534v. informação que/ / se tinha da sua pessoa; e a em que ele renunciar será a
contentamento da dita Mesa da Fazenda, a quem se cometia neste Conselho.
Rui de Albuquerque o fez. O qual trasladado foi trasladado bem e fielmente em
tudo, e por tudo, e a ele me reporto; e o concertei com Pero Soares, Secretário
desta Universidade, de mandado da Junta. Agostinho de Aguiar de Figueiroa,
escrivão da reformação, o fiz escrever e subscrevi. //

fl. 535 Certifico eu, Pero Soares, contador da Fazenda da Univ.ersidade de Coimbra,
que, pelas contas que tomei a Gaspar de Sampaio, bedel de Cânones e Leis, por
obrigação de meu ofício, e ordenar assim o Senhor Reformador, do dinheiro
que se paga dos autos para a arca da Universidade e fábrica da Capela dela, e
do que tinha recebido da dita Universidade para os autos das conclusões com ...
e achei, pelo ... que delas fiz, em presença do dito bedel, aprovado e assinado
por ele, ficar o dito bedel pelo dito ... devedendo, de todos os anos atrasados até
ao fim de Julho de seiscentos e vinte, cento e cinquenta e quatro mil oitocen-
tos e quatro réis à dita arca, fábrica e Universidade, no qual termo protestou
haver se lhe de abater da dita quantia o que começou de vencer-lhe do seu
ordenado, que lhe não foi descontado; donde passei esta certidão, por mandado
do dito Senhor Reformador. Em Coimbra, ao primeiro de Outubro de seiscen-
tos e vinte. Pero Soares. / /

[folha 535v. em branco]

/1. 536 Descarga que Gaspar de Sampaio Ribeiro deu aos cargos que lhe foram
dados, no ofício da Justiça desta presente reformação, por estar preso na cadeia

475
e lhe ser mandado res~onder a eles com protesto, com requerer homenagem a
seu tempo.
Serviu o ofício de bedel de Cânones e Leis desta Universidade o ano esco-
lástico de 618,619 e 620; e, em todos eles, nunca deixou trocar sortes de conclu-
sões, nem o podia fazer sem o Reitor dar licença, mandar que os estudantes que
queriam trocar. E é costume imemorial darem os Reitores estas licenças e que-
rerem, nas sortes vagas, as pessoas que lhe parecem. E por o Senhor D. Fran-
cisco querer guardar o estatuto do livro 2, título 43, parágrafo 2, não houve,
muitos dias, autos de conclusões. E se assentou em Faculdade que, visto serem
poucas as pessoas que estavam para fazer conclusões, as fizessem pela melhor
ordem que se pudesse. E, como as ditas sortes se trocavam, e as vagas se
proviam de licença do Reitor, não se lhe pode dar a culpa. E se o Reitor não
tem poder para dispensar no dito estatuto, e dispensava, a culpa não é do réu.

Nega o réu Gaspar de Sampaio ser-lhe dado peita ou presente algum das
pessoas que, nos ditos avisos, trocaram sortes; e não lhos podiam dar pela
mercê que o Reitor ou Vice-Reitor lhes fazia. E, em caso negado, que algum
estudante lhe mandasse alguma coisa, quando fizesse seu auto, não se pode
dizer que fosse por lhe consentir trocar as sortes; porque, muitas vezes, man-
dam os estudantes, quando fazem seus autos, presentes ao padrinho, argumen-
tantes e oficiais.
Nega, outrossim, dar o dia a certo estudante para se fazer bacharel, ant!:'cipado
do que lhe caíra em sorte; porque, em caso que algum fizesse seu auto antes do
dia de sua sorte, seria por o Reitor lhe dar alguma vaga, e porque daí resultava
prejuizo aos estudantes que faziam do tal... não houveram eles de consentir que
.fl. 5361•. ele fizera seu auto, // se não soubessem que o Reitor dera tal dia, e que podia
dar, ou de direito ou de costume.

É tanto assim que os Reitores costumavam a dar dias para se fazerem


bacharéis antes do dia da sua sorte, que, de costume, se tomam dez dias de
Maio, que dão os Reitores às pessoas que lhe parece, as quais ficam mais anti-
gas que as que fazem suas s~rtes. Quando não consideram o prejuízo de 20
bacharéis que, nesses dias, se fazem, mal consideram o de uma só pessoa a que
dão sorte vaga. ·

Nega também pôr o relógio a correr antes dos bacharéis começarem a ler
sua lição de ponto, porque claramente se vê que o não podia fazer, pondo-o a
correr ou tirando o relógio, sem o Reitor ou o padrinho que fica presidindo lho
mandar pôr ou tirar; e, mandando-lhe fazer, como ministro, tinha obrigação de
o fazer.

476
E, quanto ao cargo de dizerem que pedia para os autos mais dinheiro do
que se montava, é falso, nem o tornar o dinheiro aos estudantes faz em contrá-
rio, porque, sendo costume antiquíssimo vencerem os doentes sua assistência, e
os deputados, o Senhor Reformador mandava que não vencessem; e mandou a
ele bedel que tornasse as propinas que já lhe tinha dadas aos estudantes, e
depois mandou que eles vencessem em casa, e o Dr. Gonçalo Gil Coelho por
doente; e como, para o auto, não pedia mais que o que se montava, vindo
todos os Doutores a ele, tornando depois o dinheiro dos que não vieram, não
caía em culpa.

A conta dos autos de bacharel e formatura se não costuma nunca dar por
escrito, senão de palavra, tornando aos estudantes os tostões dos doutores que
faltavam, porque é tão pouco gasto, e tão sabido, que, com contarem os Douto-
.fl. 537 res que assistiram, ficam sabendo se lhes dá boas// contas ou não. E tanto é
assim que ele as deu sempre, e tornou o que devia, e que mostra assinados dos
doutoramentos que tornou, um de João de Caminha, e outro de Francisco
Marques; e mostrara outros muitos, se lhe parecera que podiam ser necessários.
E também tornou dinheiro a um António Galvão, e a todos a que cresceu ou se
lhe quitou.

É falso dizer que ele foi convencido em juízo a mil réis que, de três autos de
bacharéis, devia, porque nenhuma coisa ficou devendo aos estudantes do
dinheiro que lhe deram para seus autos, antes muitos deles lhe ficaram devendo,
como o Dr. Pedro Cardoso 8000 réis, de que sabe Dr. Diogo Mendes Godinho,
o Dr. António Lourenço e o bacharel António Cardoso, e outras muitas pes-
soas. Item, um Ascenso Dias, de Aveiro, lhe ficou devendo dinheiro de seus
autos, cuja informação pediu ao Senhor Reformador retivesse até lhe pagar,
testemunha António Dias, o guarda, mais lhe foi devendo trezentos réis Manuel
Mendes de Matos, cujas cartas embargou na mão de Bernardo Correia, secretá-
rio que então era, a quem o Senhor Reformador mandou que, sem embargo do
embargo, lhe desse suas cartas, como deu; e com ele ficou perdendo seu
dinheiro, e com outros muitos.

Quanto ao cargo de não dar conta, dentro do tempo limitado pelo esta-
tuto, e estar a dever à Universidade, responde que é costume imemorial tomar-
-se só uma vez no ano, e ainda em Outubro do seguinte, cartas do que rendeu à
arca da Universidade, e do mesmo modo as contas da arca da Faculdade, se
costumam dar, como ele sempre as deu aos lentes de Prima, no cabo do ano
escolástico ... e outras, cada mês, lhe foram pedidas, as dera. E se está a dever à
Universidade, é porque não foi contado em mais da terça parte do ordenado do
dito ofício, que esses anos rendeu muito menos do costumado, e satisfará com

477
_/7. 537v. as duas partes do ordenado, fazendo-lhe Sua Majestade mercê pela in / /forma-
ção, para que o Senhor Reformador tem provisão há mais de um ano; e
monta-se nesta mercê de Sua Majestade ... que na terça parte do dito ordenado,
em que por contado lhe estão por abater da dívida 16000 réis, e assim mais
António de Sampaio Ribeiro, seu irmão, proprietário do dito ofício, ofereceu,
por muitas vezes, 6400 réis e fiador a pagar o retente em tempo conveniente,'
fazendo-lhe a Universidade mercê de fazer, no dito ofício, uma de duas pessoas
que apresentava; e tinham todas as partes necessárias; e queriam servir por
meias propinas, ficando o ordenado e outras meias propinas para paga do que
restará a dever; que, fazendo-lhe Sua Majestade a mercê que pretende, eram
37500 réis, e, sem ela, 74840, para os quais dava fiador, obrigando-se a pagar
dentro de um ano. E ele Gaspar de Sampaio não pode pagar noutra forma, por
não ter bens patrimoniais.
Assim mais nega dobrar as folhas no livro dos pontos, para sair onde o
estudante queria, ou consentir que alguma das pessoas que assistiam o fizessem,
ou coisa equivalente, no tempo que o padre mestre Frei Egídio servia de Vice-
-Reitor, porque, ao dar dos pontos, abre o livro o Reitor ou Vice-Reitor, ou o
padrinho, por sua comissão, que não é de crer que eles abrissem onde estives-
sem folhas dobradas, nem que ele as dobrasse.

E toda a fama que dele réu houver em contrário será saída de seus inimi-
gos capitais, que nesta Universidade tem muitos por seu respeito, de seu irmão e
cunhado, como são o Dr. Cristóvão Mouzinho, por sobrinho do Dr. Luís de
Góis, com quem seu irmão, António de Sampaio Ribeiro, teve palavras afron-
tosas e injuriosas na varanda da Universidade, a que acudiu o Conservador
/1. 538 Bernardo da Fonseca, que então era; de que/ / sabe o Padre João Galvão da
Costa, o Dr. Luís Pereira de Castro, o Dr. Cid de Almeida, Brás Correia de
Abreu, criado do Bispo do Algarve, que então era Reitor; e é notório, e assim
mais o Dr. Fabrício de Aragão, com quem, sobre um ponto de um António
Gomes, natural de Santa Comba Dão, teve palavras afrontosas, como sabe o
próprio António Gomes; e o bacharel João de Carvalho, natural de Vila Real e
opositor nesta Universidade; e outras pessoas de que se não lembra. E não se
pode dar em culpa a fama que não saiu a maiori et saniori parte populi.

Pede absolvição et ius complebo me/iore modo cum sumptibus [e cumpri-


rei a justiça da melhor forma, com as despesas].

Aos nove dias do mês de Outubro do ano de mil e seiscentos e vinte, nesta
cidade de Coimbra, pelo Dr. Simão de Basto, procurador do réu Gaspar de
Sampaio, me foram dados estes autos, com as suas razões atrás, e resposta aos

478
cargos. E logo os fiz conclusos à Junta. Por seu mandado, de que fiz este
termo. Agostinho de Aguiar o escrevi//

Jl. 538v. Não recebemos as contraditas apresentados do recusante Gaspar de Sam-


paio, ex-causa. Coimbra, aos dez de Outubro de 1620. D. Francisco de Mene-
ses, Reformador e Reitor. Frei Gregório das Chagas. Frei Vicente Pereira.

E, dado o despacho atrás, fiz estes autos conclusos à Junta, para se despa-
charem a final, de que fiz este termo. Agostinho de Aguiar o escrevi.//

fl. 539 Visto este feito, provisões e ordens de Sua Majestade, dadas nelas a esta
Junta, para execução da devassa desta presente reformação, feita por virtude
dela e cargo de Justiça, autos de descargo a eles e mais artigos do réu Gaspar de
Sampaio, filho de Jerónimo de Sampaio e de Margarida de Oliveira, já defun-
tos, natural desta cidade, substituto no ofício de bedel das Faculdades de Câno-
nes e Leis desta Universidade, preso na cadeia dela, prova a tudo dada, mostra
o requerimento de António Sampaio, proprietário do dito ofício, ser provido na
substituição dele ao primeiro de Agosto de seiscentos e dezassete, em Conselho
de deputados e conselheiros desta Universidade, sem prefinição de tempo,
enquanto o proprietário tratasse de seus negócios, e servido em seu lugar até o
tempo de sua prisão, e, como tal, sendo obrigado a guardar a ordem que, pelos
estatutos reformados, está dada ao dito ofício de bedel, das ditas Faculdades,
contra eles, e rol tirado do livro dos estudantes que nelas entraram às sortes
para os autos de conclusões e bacharelamentos dos anos que serviu o dito ofí-
cio, dar dias aos ditos estudantes para fazerem os ditos autos, sem serem os que
lhe tinham caído por sorte; e, havendo a lição de ponto dos autos de bachare-
lamento de durar três quartos de hora de relógio de areia, antes de começarem
a ler, e lhe pôr, para isso, o relógio, ter-lhes o réu já parte da areia dele corrida,
e ficarem lendo menos nos ditos três quartos; e receber, por fazer, consentir e
ordenar as sobreditas coisas, certas peitas e presentes que, por isso, lhe deram.
E, não lhes podendo levar mais dinheiro para as propinas do que pelos ditos
estatutos é ordenado, e devendo dar-lhes dele conta até o outro dia depois dos
autos, o mais tardar, pedir-lhes mais dinheiro do que neles se montava, sem lho
tornar, nem lhes dar a dita conta, ainda aos que a pedem. E, entre a maior
fl. 539v. parte dos estudantes desta Universidade, e quem tem razão de o// saber, haver
pública voz e fama de o réu fazer tudo o sobredito aos que lho pedem, pelas
ditas peitas e presentes, e trazer seu princípio e origem dos autos em que o fez.
Mostra-se mais, assistindo, por respeito de seu · ofício, e o de secretário em
ausência dele, dobrar as folhas em alguns dos ditos pontos, onde o estudante
queria que lhe saísse, e consentir, para o dito efeito, que outrem fizesse coisas
semelhantes. E não entregar ao prebendeiro da Universidade o dinheiro que

479
recebia dos autos para a arca da Universidade e fábrica da Capela, nem dar
conta dele, cada mês, aos lentes de Prima, nem pelo mês de Agosto, cada ano,
ao contador, antes, contra os ditos estatutos que assim o dispõem, deixá-lo ficar
em seu poder por tanto tempo que, sendo constrangido a dar conta, ser alcan-
çado nela em cento e cinquenta e quatro mil oitocentos e quatro réis, e está-los
devendo à dita arca, fábrica e Universidade, do que dela recebeu para as propi-
nas das conclusões. O que tudo visto, e o grave prejuizo da observância dos
ditos estatutos, e dos estudantes que, em lugar dos a que deu os ditos dias,
houveram de entrar logo sucessivamente a fazer seus autos, e aos quais se
devolvia o direito disso; e a que eles, por esta via, ficaram precedendo, e que
nasce e resulta à República de semelhantes pontos e excessos, e a demonstração
com que convém castigarem-se, com o mais que o dito auto se mostra, disposi-
ção de Direito, ordenação do Reino e dos estatutos reformados, em tal caso
condenamos ao réu em privação da substituição do dito ofício de bedel das
ditas Faculdades, para que não possa ser admitido mais a ele, nem a outro
/1. 540 algum da dita Universidade. E ainda que / / todas as circunstâncias que
arguem, e agravam a culpa, dolo e malícia com que cometeu os ditos erros, se
podia haver por bastantes, e por aquela que o Direito requer, ao menos pre-
sunta para ter lugar a condenação das maiores penas contra os semelhantes
estabelecidas, o revelamos delas, atenta a qualidade da prova da Justiça, e ser o
fim desta visita exercitar-se no ofício e correição paternal, e outras considera-
ções que, no caso, se tiveram; e mandamos que seja solto da cadeia em que
está, e, para isso, se passe mandado, não estando, por tal preso, e sem custas
ex-causa. Em Coimbra, em Junta, a vinte e seis de Junho de seiscentos e vinte
um. D. Francisco de Meneses, Reformador e Reitor. Frei Gregório das Cha-
gas. Frei Vicente Pereira. / /

[folha 540v. em branco]

Jl. 541 Aos vinte e sete de Junho de seiscentos e vinte e um, em minha presença e
do bedel de Medicina João Bernardes, foi publicada esta sentença atrás no
Geral de Cânones, à lição de Prima, estando o Geral cheio com os ouvintes
dela, pelo dito bedel em voz alta e inteligível. E, para que constasse, digo, dou
disto minha fé, em testemunho do qual fiz este, que assinei. Pero Soares, Secre-
tário da Universidade, o escrevi. Pero Soares.
E, logo, em cumprimento dela, se passou mandado para o sobredito ser solto,
e para que constasse, digo, o declaro aqui. Pero Soares o escrevi. Pero Soares.

E, da sentença atrás, se informou Sua Majestade, como consta de suas


cartas, que andam juntas à devassa. Pero Soares.

480
jl. 54/ v. Autos
Homem (Dr. António)
Coimbra
Meneses

(NOTA : O que se segue refere-se à devassa de 1616)

.fl. 542 CARGOS QUE SE DERAM AO DR. ANTÓNIO HOMEM LENTE DE PRIMA DE
C ÃNON~S. '

Resposta e descargos que ele deu, e adição aos mesmos descargos, tudo da
sua letra; com uma certidão do bedel António de Sampaio, de como o bacharel
[espaço em branco] o recusara, para se não achar no seu auto.
Sentença que se deu contra ele em segredo. / /

[folha 542v. em branco]

f1. 543 No auto de bacharelamento de Diogo Salazar, dei recado ao Senhor Dr.
António Homem que não viesse a ele, e lhe dei a propina que nele tinha, por
mandado do mesmo Diogo Salazar. Hoje, 12 de Maio de 616 anos. António
de Sampaio Ribeiro. / /

[folha 543v. em branco]

j1. 544 CARGOS QUE SE DERAM AO DR. ANTÓNIO HOMEM, LENTE DE PRIMA
DE CÂNONES:

1 - Faz-se-lhe cargo que, sendo lente de Prima, sacerdote e cónego, e


tendo obrigação, como tal, a dar o exemplo aos opositores e estudantes, ele o
tem feito tanto por o contrário que está tido e havido notoriamente por público
subornador para as cadeiras, e que, como tal, o buscam e solicitam opositores,
recebendo deles muita quantidade de dinheiro para distribuir, tendo de noite
suas portas abertas para isso, seguindo geralmente aos homens ricos, do que
tudo há mui geral escândalo nesta Universidade.

2 - Faz-se-lhe cargo que, tendo autoridade, por razão da sua cadeira, de


votar na aprovação dos letrados que hão-de entrar no serviço de Sua Majes-
tade, e nas eleições dos que se opõem aos benefícios e capelanias desta Univer-
sidade, ele promete favores nestas aprovações e eleições, para assim obrigar aos
estudantes a votar por quem ele é apaixonado, do que há escândalo.

481
3 - Faz-se-lhe cargo que, por ser conhecido por poderoso neste meneio,
especialmente com os naturais da terra e seus discípulos, era buscado por
cabeça de bando, entendendo todos que se não podia levar cadeira se o não
tinham de sua parte, e a outros dois seus parciais neste trato.

4 - Faz-se-lhe cargo que, em três cadeiras que se prouveram nesta Univer-


sidade de poucos anos a esta parte, o dito Doutor foi público agente de três
opositores, subornando com rogos, promessas e dádivas, e desabrindo-se com
alguns estudantes que não queriam receber dele coisa alguma nas ditas
oposições.

5 - Faz-se-lhe cargo, para melhor alcançar seu intento ajudando os que


lhe parecia e cujo bando seguia, interveio em três surras de três cadeiras,
fazendo com que uns opositores dessem votos a outros, chegando também a
dar escrito em que se obrigava a ajudar a quem desistia, oferecendo-se outra
ocasião semelhante. / /

fl. 544v. Responderá em termo de três dias. Coimbra, 18 de Novembro de 616.


Dr. Carvalho

RESPOSTA

Em 40 anos (ou, por melhor dizer, todo o discurso da minha vida) que
tenho empregado nesta Faculdade e Universidade, con"tínuos, sem interrupção
de um dia, 25 de lente de propriedade, e três mais de substituição) e em tantas
ocasiões, como em todos eles houve de oposições necessárias, minhas, de paren-
tes e de amigos, a que não podia faltar com o favor e amparo do conselho, sem
falha e menoscabo da minha honra, em que uns perderam, outros levaram
cadeiras, não é de espantar ter contra mim queixosos, agravados e apaixonados,
que, em semelhante ocasião de visita, me grangeassem os cargos que se me dão.
Mas, na inteireza, prudência e letras de Vossa Mercê e de Vossas Reveren-
díssimas pessoas, estou certo que, considerando a ocasião do tempo em que, e
das pessoas que contra mim falaram, e todas as mais qualidades, com a delibe-
ração que costumam, acharão em mim razões dignas de se me fazerem mercês e
outra remuneração diferente desta, que, apaixonados de pessoas particulares,
por particulares e conhecidos respeitas, me quiseram procurar. Pois é público e
geralmente sabido, não só nesta Universidade, mas em outras de outros Reinos,
o fruto que tenho feito na República com as minhas leituras e conselhos, e com
o exemplo e boa disciplina, bons e são conselhos, quietação, modéstia e reco-
lhimento com que sempre procedi e trabalhei em instruir os meus discípulos, e o
respeito que, sempre, por estas razões, me tiveram na Universidade, não só

482
discípulos e lentes, mas também todos os Senhores Reitores que a governaram,
encomendando-me todos os negócios de importância que, em meu tempo, na
Universidade houve, de que dei a conta que neles de mim se esperava. E, não
só depois de lente, mas em estudante e opositor, que comecei a professar de
J7. 545 idade de 20 anos, depois já de feito bacharel nesta Faculdade,// pelo que esta
geral e comum reputação, de tão longe fundada, deve prevalecer aos rumores
que, na ocasião desta oposição de Luís Pereira, Diogo Mendes Godinho e
Francisco Gomes, com Pero Cabral, eles e seus apaixonados, por as rodas e
conversações da Universidade, contra mim começaram a espalhar, parecendo-
-lhes, erradamente, que, com me odiarem, se melhoravam em justiça, obrigando
a religiosos e lentes e pessoas graves a lhe irem à mão, e se descomporem com
eles. Aponto particularmente o que aconteceu a Luís Pereira em casa de Diogo
Lopes de Almeida, estando presentes Fernão Martins Pessoa e Diogo de Aze-
vedo que, ouvindo as palavras com que Luís Pereira me tratava, chegou a
apunhar do punhal e se aparelhar a um grande desconcerto se Luís Pereira não
se recolhera.

Mui tos semelhantes pudera apontar de senhores colegiais, o que não faço,
porque são histórias na Universidade bem sabidas; e confio que Vossa Senhoria
e VV. PP. terão tudo entendido e ponderado, como convém e costumam, e,
particularmente, que as pessoas que de mim falaram são conhecidamente apai-
xonadas ; e, em tanto que, tendo-me alguns deles postas suspeições, para não ir
aos seus autos, testemunharam contra mim o que quiseram, e é de crer que não
declararam nada ao costume; e, logo em se apartando de Vossa Senhoria, se
vieram gabar que bem encravado me deixavam, como, no mesmo dia, logo me
queixei a Vossa Senhoria, dando-lhe uma certidão do bedel de Cânones.
E, da mesma maneira, o pudera fazer de outros que, para testemunhar, saíram
de casa de Cristóvão Mouzinho, e, acabando, se tornaram a ela, ou às rodas
onde ele andava; causa por onde as histórias, que contaram na visita, então
divulgadas cá por fora, por eles folgarem de se saberem, e apontarem, e fazerem
fama delas. E o poderão dizer outros que lhas ouviram, por entenderem que,
na substância, não podiam chegar a mais.

E, vindo aos cargos que se me deram, ao primeiro digo que, como sacer-
dote, cónego e lente de Prima, antes e depois de o ser, trabalhei sempre de dar o
exemplo que devia aos opositores e ouvintes. Porque notório é que, enquanto
estudei e fui opositor, começando-o a ser de 20 anos, como tenho dito, e
ficando segundo em votos de 22 na cadeira que levou o Dr. Sebastião de Sousa,
cumpri com as obrigações daquele estado com o maior exemplo, recolhimento e
perfeição que de maior idade se podia esperar, fazendo os lentes daquele tempo,
.fl. 545 v. antigos e mais velhos, de mim// tanta conta, como se lhe fora igual na idade e

483
cadeiras, encomendando-me os Reitores as cadeiras de Prima, e Véspera, e
Decreto, que li anos inteiros, com tão grande número de ouvintes como se fora
proprietário, servindo aos estudantes em os encaminhar em seus estudos e
autos, com tanta satisfação, bom exemplo de vida e recolhimento, que, tendo
na primeira cadeira que levei por opositores o Dr. Luís de Araújo, colegial de
S. Paulo, hoje corregedor da Corte, e o Dr. Domingos Antunes, hoje lente de
Véspera, e sendo ambos em Cânones mais antigos, e de muito maior idade,
votaram por mim 366 votos pessoais com 300 de excesso a cada um, o que
nunca se viu até então, nem depois, nesta Faculdade.

Isto me deu confiança para empreender a fazer oposições com os que esta-
vam diante de mim, até, por oposição, levar a cadeira de Decreto ao Dr. Diogo
de Brito, que, havia 14 anos, me tinha levado a primeira, correndo em todo o
meu tempo com tanto trabalho no estudo, exemplo e bom procedimento, como
convinha a quem estava em tal empresa, sendo pobre, com 80 mil réis de renda
somente da cadeira de Clementinas, contra um lente mais antigo, rico, cónego
nesta Sé, Deputado do Santo Ofício e poderoso, com grande parcialidade e
favor do seu Colégio de S. Pedro.

Com o mesmo crédito entrei na conezia em que VV. PP. viram como,
tendo o opositor que tive, e nas cadeiras os que tenho tido, nunca eles, nem
outra pessoa da Universidade, pôs nódoa em meus procedimentos, como agora
pretendem Luís Pereira, com os do seu Colégio (que me prometeu, perante o
Dr. António Lourenço, que me havia de fazer morrer primeiro que ele mor-
resse) e isto por respeito da cadeira a que não chegou a ser opositor. E Cristó-
vão Mouzinho, com sua gente, por respeito da cadeira que perdeu. E Diogo
Mendes Godinho, com seu compadre e facção, por respeito da cadeira que
levou. E todos estes só por conceberem contra mim que eu tinha obrigação de
favorecer a outrem no que, justa e licitamente, pudesse, e que sou pessoa que
costumo acudir ao primor, com verdade e limpeza, sem traição nem falta a
meus amigos.

1. - E, vindo mais em particular ao primeiro cargo, poderão os que, na


matéria dele, de mim falaram, dizer, como confesso, que tive, em todo o dis-
curso deste tempo, ocasiões (graças infinitas dou a Deus, que me tem hoje livre
delas) em que favoreci alguns opositores, não buscadas ou grangeadas por eles
ou por mim, nem com tão vil respeito como o que se me põe no cargo, de me
fl. 546 buscarem para me darem dinheiro para distribuir,// mas necessárias de obriga-
ção natural e política, por uns serem meus parentes e amigos de antiga e estreita
amizade de pais e avós, como o Dr. Cid de Almeida; e outros por naturais e
amigos na mesma forma, como o Dr. Francisco Leitão; outros por boas obras

484
antecedentes, sem respeito a cadeiras, como Pero Cabral e António Cabral, por
razão de algum parentesco que, com o dito Pero Cabral, tenho, e favor que dele
e do dito António Cabral achei nas festas que fiz à Rainha Santa Isabel,
fazendo vir seus parentes e amigos de Lamego e Viseu; pelo qual respeito, todos
os da cidade, e Universidade, e Reino, esperavam que, no que se oferecesse, e
em da minha parte pudesse, me mostrasse grato, como a lei natural e primor
pede, entre pessoas de semelhante qualidade.

Em todas estas ocasiões e outra alguma semelhante (se houve), guardei


sempre o modo e termo lícito e recebido nesta Universidade e todas as mais
bem governadas, acreditando os opositores, a que o devia, e abonando suas
partes aonde se oferecia ocasião, sem visitar nem buscar rodas e conventículos,
mas na forma que os lentes mais velhos e religiosos costumam em favor das
pessoas a que têm obrigação, por justamente entender que tinham talento e
partes necessárias para o ministério de lente, e que eram dos melhores supostos
e sujeitos que, nas tais oposições, concorriam.

E, por a Universidade ver e achar, por experiência, que, nesses que eu


escolhia e lhe inculcava, me não enganava, veio as pôr os olhos nos que eu
aprovava e a julgar que isso bastava para se terem por dignos e beneméritos da
cadeira; e daqui, porventura, nasceu de folgarem os opositores de ter o meu
favor e de me terem outros por poderoso nas oposições, e não por meneio de
dinheiro, que nunca distribuí, nem sinto em mim feição de o saber fazer.

Não haverá quem, com verdade, diga que me visse, depois de lente de
Decreto, e, muito menos, depois de Cónego, em rodas nem conventículos, nem
visitar estudantes, nem entrar em casa deles, senão de algum fidalgo ou pessoa
semelhante dessa qualidade; e, muito menos, que, em minha casa, haja ajunta-
mento, nem que nela entrem senão pessoas mui qualificadas, ou que tenham
comigo negócio de letras. E muito menos que tenha minha porta aberta de
noite, para me virem votos a casa; antes, no tempo das oposições, as mandei
sempre fechar com dobrado cuidado, assim pelos mais respeitos da honra,
como pelo perigo que podia haver se, a tal tempo, a tivesse aberta. Verdade é
que, batendo a ela, em tempo de oposições ou fora dele, alguma pessoa conhe-
cida, a quem se devesse respeito, lhe mandaria abrir, por o contrário ser escân-
dalo, mas, logo em particular, e, muitas vezes, da cadeira, me queixei do mal
.que me faziam em me tirar o tempo de estudo, encomendando-lhe, com essa
ocasião, o estudo e recolhimento.//

fl. 546v. Os que contra mim disseram que seguia geralmente os homens ricos funda-
ram mal o cargo; porque mo põem das cadeiras que houve depois de eu ser
485
cónego e lente de Prima, e, assim, depois de ser rico, e conhecido por pouco
cobiçoso ou avarento. E, portanto, o que dizem não é verosímil, que buscaria
agora os ricos para me aproveitar de seu dinheiro, quando não podem dizer de
mim que o fizesse em tempo que era pobre.

Não consideraram também estes que, se, pelas razões que tenho dito, favo-
reci a Cid de Almeida e Francisco Leitão, que parece são os ricos, também
favoreci, na mesma forma destes, a Fabrício de Aragão, João de Carvalho,
João Pinheiro na oposição com Jorge Correia, Cristóvão de Azevedo e António
Cabral (posto que alguns deles hoje mo agradeçam mal), sendo os mais pobres
opositores que nunca na Universidade houve, e concorrendo com outros muito
ricos e poderosos.

O escândalo, que se diz no cargo que disso houve, certo é não o houveram
de ter os que se queixam, se eu os favorecera na mesma forma, ou a seus
apaixonados, ou os pudera favorecer com honra e primor, como por cartas de
pessoas bem insignes procuraram. As histórias são bem sabidas; não me é
necessário referi-las.

2. - Quanto ao segundo cargo, que, por razão de ser voto nas informa-
ções de Sua Majestade, benefícios e capelanias da Universidade, prometo favo-
res aos opositores para lhe grangear os votos, é cargo mui geral, a que não
posso responder em particular, nem acho nisso a consciência lesa, seja-me Deus
disso testemunha; nem é de crer, de pessoa de minhas letras e qualidade, que,
por um respeito tão fraco como um voto de um estudante, cometa uma simo-
nia, que afirmo não farei por todos os benefícios e dignidades do mundo que
com ela me pudessem vir; e estou certo e seguro que não se poderá apontar as
pessoas a quem prometesse estes favores, por este respeito.

Só me lembra que, no tempo da oposição do Capelão da Universidade,


Tomé Álvares, em que também estava vaga a cadeira que levou Diogo Mendes,
ouvi que alguns apaixonados seus, para o grangearem, lhe meteram em cabeça
certas ficções que eu favorecia outro Capelão, afirmo por minhas ordens que
lhe mentiram e o enganaram ; e estou certo que os que nisso andaram, por
descargo de sua consciência, se se tomarem a perguntar (se daqui nasceu o
cargo), falem a verdade.

Estou também mui seguro que, em todas as coisas em que tenho voto, se
viu sempre quão livre sou de todos os respeites humanos, pondo somente
diante dos olhos a Deus e obrigação da consciência, e que, nesta matéria, não

486
tenho de que me acusar diante dele; e confio assim o digam todos os que
comigo se acharam em votos e eleições; e que, por isto, sou geralmente conhe-
cido de todos os que de mim sabem alguma coisa.//

.fl. 547 3 - Quanto ao terceiro, que sou buscado por cabeça de bando e poderoso
neste meneio, tenho dito que não se apontara nenhuma ocasião, nem opositor
que me buscasse, nem eu favorecesse, sem precederem justas e necessárias
razões que, a juízo de toda a Universidade, me obrigavam a o fazer, e por elas
se esperasse que fizesse mais, e com maiores demonstrações das que nelas fiz.

E as palavras do mesmo cargo mostram quão mal o souberam fundar os


que contra mim falaram; pois dizem que entendiam todos que não podiam
levar cadeiras, sem me ter da sua parte, e logo ajuntam que o cargo se me faz de
três cadeiras em que intervim depois de ser cónego e lente de Prima, e pelo
discurso se dá a entender que são quatro, em que, nesse tempo, confesso, que
nessa mesma forma tive amigos, e com eles procedi, scilicet, Cid de Almeida,
Francisco Leitão, António Cabral e Pero Cabral; e, todavia, é notório que dois
levaram cadeira, Cid de Almeida e António Cabral, e dois perderam, Francisco
Leitão e Pero Cabral. Logo, sem mim, se perdem e levam cadeiras.

Diz também o cargo que sou poderoso, principalmente com os naturais e


discípulos, por onde é claro que este poder devia montar em Cânones, onde leio
e tenho discípulos, e em que quase todos os naturais são ouvintes; e, todavia, os
dois canonistas perderam as cadeiras, e as levaram os dois legistas. Logo, bem
se segue e se vê quão pouco posso ou monta meu poder nesta matéria de
oposições. O que também mostra o excesso de 205 homens que Cid de
Almeida levou mais que Luís de Góis, e 40 que mais levou o Cabral que o
Mouzinho; e que a Universidade dá e tira as cadeiras a quem concebe que tem
justiça, e que eu não posso dá-las nem tirá-las; e que quem entende o contrário
se enganou.

Quanto a me ajuntarem dois parciais, segundo o que praticam cá por fora


os que lá testemunharam, parece que querem que seja o Secretário, Rui de
Albuquerque, e o meirinho, Belchior Caldeira; mas falaram mal e erradíssima-
mente; e falo com confiança na nossa terra, em que não faltam testemunhas,
que é notório que, com Belchior Caldeira, não tenho comércio nem conversa-
ção, antes muita desafeição, e que mal nos falamos de barrete; e se ele apaixo-
nou por algum opositor que fosse da minha obrigação, seria por seus respeitas,
mas não por ordem a mim. Pois é bem notório como se houve, nas ocasiões
em que eu mais desejei bom sucesso, como na cadeira de Instituto que Luís de
Góis levou a Cid de Almeida, e na que levou Miguel Soares a Francisco Leitão,

487
apaixonando-se contra Cid de Almeida e Francisco Leitão, e contra lillm
quando fui opositor com Diogo de Brito.//

fl. 547v. Com o Secretário, tenho particulares razões de antiga amizade de seus
avós com meus pais, e de seu pai e tio comigo, que são notórias. Mas afirmo
que me não lembra que lhe pedisse coisa alguma em favor de algum opositor,
nem haverá quem em particular aponte acto que mereça nome de parcialidade
de cadeiras entre mim e ele. E se, porventura, aconteceu ser ele amigo de oposi-
tor de que eu o fosse seria por lhe ter obrigações por seu respeito próprio, como
em António Cabral é notório, pela amizade de Frei Manuel Cabral, seu tio,
com os tios do Secretário, Frei Jerónimo e Frei Agostinho, da mesma ordem de
Santo Agostinho, e com toda a casa do Secretário, e de sua avó, além de se
darem por parentes de Diogo de Albuquerque, pai do Secretário.

4 - Quanto ao quarto, que, em três cadeiras, fui público agente, com


rogos e dádivas de três opositores, se são os que tenho dito, foi pelos modos
lícitos, e por razão das obrigações apontadas, não subornando com dádivas
nem com as agências que se me impõem.

Quanto a se dizer que me desabri com alguns estudantes, por não quere-
rem de mim aceitar, não sei quem possam ser estudantes, que, depois de velho,
me obrigassem a me descompor, mormente por não quererem aceitar de mim
alguma coisa, que estou certo que não podia ser, se foi, senão alguns bocados
de doces, que é o mais que, nesta matéria, nunca me lembra que oferecesse, com
ocasião de pedirem algum púcaro de água, como em boa criação se costuma.

5 - Quanto ao quinto, que intervim em três surras, fazendo com os oposi-


tores que dessem votos uns aos outros, afirmo que me não lembra ouvir falar
em surras, mormente desse tempo que falam estes cargos, scilicet, depois de eu
ser cónego e lente de Prima; senão em três, scilicet, uma que se diz fazer Antó-
nio de Mariz em favor de Luís de Góis na cadeira de Instituta, que levou a Cid
de Almeida; e esta se me pode a mim mal impor, assim por ser notoriamente
amigo de Cid de Almeida, e lhe desejar bom sucesso, como por, nesse tempo,
estar ausente da Universidade em Lisboa, no requerimento da minha conezia.
Outra foi aquela famosa de João Fernandes de Almeida em favor de Miguel
Soares na cadeira que levou a Francisco Leitão; e esta se me pode menos
imputar, pois foi tanto contra o que eu desejava. A terceira foi a que se diz que
fez Francisco de Andrade com António Cabral (se a houve). Cristóvão Mouzi-
nho, que é o que disso se queixa, sabe o pouco que eu posso e valho, nem pude
fl. 548 em tempo algum / / com Francisco de Andrade e o pouco conhecimento que
com ele tenho, nem tive, e que nunca lhe entrei em casa, nem ele na minha,

488
senão é informa communi de opositor, entrando e saindo; e que, nesse tempo,
se não queixou de mim, mas de dois colegiais que publicamente ele dizia que
foram a casa do Andrade tratar estes tratos. E a essa conta é público que o
mesmo Cristóvão Mouzinho, na oposição de Pero Cabral, sendo opositor do
Colégio, o encontrou e favoreceu em tudo a Diogo Mendes. Tudo isto são
histórias públicas e sabidas na Universidade, de que a mim não toca, nem cabe
parte, senão a que estes senhores me querem dar, para me desacreditar e odiar,
sabendo de certa ciência que nisto, ainda que quisera, não podia pouco nem
muito.

Quanto ao último, que cheguei a dar um escrito em que me obrigava a


ajudar a quem desistia, oferecendo-se outra tal ocasião, não pode haver escrito
meu que declare tal respeito; e se constar ser meu, e falar simplesmente, se
haverá de presumir qualquer outro respeito que posto seja conforme o direito;
como, também, conforme ao mesmo direito, se há-de interpretar de favor den-
tro dos termos e limites lícitos e honestos, e permitidos, concorrendo circuns-
tâncias devidas na pessoa dos opositores, e na qualidade do favor que eu lhe
podia prometer, e ele de mim esperar; e, se quem o mostrou, entendia outra
coisa, alega torpeza sua, e não de quem lho deu, com bom e são intento, de
impedir, porventura, que não houvesse efeito o que se diz que lhe pediam, que
largasse votos, mas que fizesse sua oposição direita.

O mais que aqui não digo, e pudera dizer, peço a Vossa Senhoria e a VV.
PP. supram com sua inteireza, examinando bem as qualidades destas testemu-
nhas, e o que, antes e depois de testemunhar, publicaram fora, acrescentando
outros mais feios aleives, escrevendo desta cidade a Lisboa, ao Porto, e por
todo o Reino, há muitos meses, que por esta Junta ficava eu preso, e, por
outras vezes, que me tinham dado seus cargos, como muitas vezes me queixei a
Vossa Senhoria e a VV. PP., nomeando-lhe as pessoas que bem mostravam que
assim como se estreitavam e alevantavam estas prisões e cargos, com maior
facilidade nos fariam, e jurariam os seus depoimentos, e de seus apaixonados. //

fl. 548v. Como também me queixei dos grandes despropósitos que Diogo Mendes
publicamente contra mim disse da cadeira do Geral de Cânones, no tempo de
sua oposição, que eu prometera 40 dobrões a certa pessoa contra ele, e hoje
confessa publicamente que o enganaram, e que lhe consta que nunca tal foi.
Como também me queixei de ele, na mesma oposição, fazer grande união de
gente, gritando em vozes altas, aqui de El-Rei sobre mim, que lhe mandava os
meirinhos a sua casa, estando eu quieto na minha, estudando a lição que havia
de ler ao outro dia; e sendo verdade que, com aquele Manuel de Escobar,
alcaide, que à sua porta estava, nem então nem até hoje falei, nessa ou em outra

489
matéria, uma só palavra, como ele pode dizer; e o mesmo Godinho confessa
que se enganou, por o enganarem seus apaixonados.

Matérias são estas em que cai bem um exemplar castigo para que os
homens que têm gastado a vida no serviço da Universidade, trabalhando dar de
si a conta que devem, possam viver seguros de línguas prejudiciais e venenosas,
e gente que se põe à noite a imaginar com que sairá pela manhã, fingindo, sobre
uma leve sombra, castelos armados de infâmias, _trazendo só entre si por lin-
guagem, lancemos por ora isto; se pegar, pegue.

E porque os réus não podem pedir mais que justiça, esta tenho por mui
segura diante da inteireza de Vossa Ilustríssima Senhoria e VV. Reverendos
Padres.

Não aponto testemunhas, porque tudo o que tenho dito, tendo por verda-
des notórias entre as pessoas que forem desapaixonadas, e não forem da parcia-
lidade de Luís Pereira, Cristóvão Mouzinho e Diogo Mendes Godinho.

E se, em alguma das coisas que digo, houver dúvida, nomearei pessoas em
particular, fidedignas e sem suspeita. Lembrando que se, em algum caso, se
pode praticar aquele modo de prova por confrontação das partes e testemu-
nhas, neste se me devia admitir, e fácil fora ver nelas mudar a cor, tremer a
língua, e não acertar com as palavras, e os mais indícios que, em direito, se
apontam para se conhecer a falsidade das testemunhas, e seu ânimo. Em
Coimbra, 21 de Novembro de 616. António Homem./ /

SENTENÇA DO DR. ANTÓNIO HOMEM

fl. 549 Vista a comissão de Sua Majestade e plenário poder dado a esta Junta
para proceder contra o Dr. António Homem, lente de Prima em Cânones nesta
Universidade, cargos que se lhe deram, e reposta que a eles deu.

Mostra-se que, sendo o réu lente na dita cadeira de Prima, sacerdote e


cónego, e tendo obrigação, como tal, de dar bom exemplo aos opositores e
estudantes, ele o fez tanto por o contrário que está tido e havido por suborna-
dor para as cadeiras, e, como tal, o buscavam e solicitavam opositores, dizendo-
-se que recebia deles dinheiro para distribuir, tendo, de noite, suas portas aber-
tas para isso, do que há muito escândalo nesta Universidade.

Mostra-se que, por ser o réu conhecido por poderoso neste meneio, espe-
cialmente com os naturais da terra e seus discípulos, era buscado, entendendo

490
todos que se não podia levar cadeira se o não tinham de sua parte, e a outros
dois seus parceiros neste trato.

Mostra-se que, em três cadeiras que se proveram nesta Universidade, de


poucos anos a esta parte, o dito réu foi agente de três opositores, subornando
com rogos, promessas e dádivas, e desabrindo-se com um estudante que não
quis receber dele coisa alguma em uma oposição.

Mostra-se que, para o réu melhor alcançar seu intento e ajudar aqueles de
quem era apaixonado, e cujo bando seguia, inscreveu em três surras de três
cadeiras, fazendo que uns opositores dessem votos a outros, chegando também
a dar escrito em que se obrigava a ajudar a quem desistia, oferecendo-se outra
ocasião semelhante.
O que tudo visto, e mais dos autos, havendo respeito ao que em seus
descargos aponta; e que, em razão deles, se pode considerar, condenamos ao
réu em cem mil réis, aplicados à Universidade para ajuda dos gastos e despesas
que tem feitos e se fizerem nesta visita.

A., Bispo de Lamego. Frei Egídio da Apresentação. Frei Francisco Suarez.


Frei João Aranha. / /

491
Aditamento à página 330

O texto que a seguir se apresenta acha-se compreendido nas folhas 323-324


do original dos «Autos e Diligências de Inquirição» e devia ter sido impresso
atrás, na página 330. O salto só foi detectado quando se encontrava já composto
todo o posterior texto do manuscrito. Por óbvias razões, optou-se por publicar
aqui, in fine, o original em falta, devendo, portanto, o mesmo considerar-se inse-
rido no lugar assinalado pelos dois parêntesis rectos, na página 330.

ti. 323 de cada um deles sabia, disse que não sabia deles coisa alguma. Perguntado se
sabe quem, no princípio deste mês de Maio próximo passado ou fim de Abril,
de noite, à falsa fé, deu umas cutil adas pelo rosto a uma mulata por nome
Isabel de Figueiredo, fora da porta do Castelo, disse que não e que só a ela
ouvira dizer que lhas dera Francisco de Leiria, estudante legista de Lisboa.
Perguntado pelo referimento que nele fez Miguel Coelho de Almada, calados os
nomes, primeiro em geral, e, depois disso, em particular, disse que o que dele
sabia era que, depois das ditas cutiladas alguns quinze [dias], se achou ele decla-
rante em companhia da dita Isabel de Figueiredo e de Cristóvão Teixeira, estu-
dante canonista, filho de André de Matos, conservador que foi desta Universi-
dade, e de Miguel Coelho, estudante canonista de Lisboa, e, por ocasião de
virem a falar nas ditas cutiladas e no dito Francisco de Leiria, disse ele decla-
rante que se ele lhas dera poderia ser que fosse com uma navalha, 9ue, antes
das ditas cutiladas, havia emprestado a seu companheiro Sebastião Alvares da
Silva para fazer a barba, que o dito seu companheiro mandara amolar e assim
fl. 323v. lha tomara e que daqui nasceria/ / o referimento que nele declarante se fez, mas
que não sabe que ferisse a dita mulata com a dita navalha. E entende que servia
ela ao dito Francisco de Leiria de aparar penas. Perguntado se tem um prato
de prata de água às mãos e se o emprestou a alguma pessoa e para quê e de que
tempo a esta parte, disse que, haverá um ano, pouco mais ou menos tempo que
na verdade se achar, nesta cidade, pediu a ele declarante Maria Caldeira, sol-
teira, que poderá ser de quarenta e cinco anos, magra de corpo, de meã esta-
tura, que vive na Rua das Fangas, em casa de Félix Rebelo, estudante cano-
nista, de quem é ama, e o foi também no dito tempo de Gonçalo Vaz Freire,

493
estudante já formado, da cidade de Lisboa, um prato de prata de água às mãos
para mandar o dito Gonçalo Vaz Freire um presente nele não sabe a quem,
que, segundo depois ouviu, não lhe lembra também a quem era de caixas de
doces e de umas luvas ou bolsa, não sabe de quê. E que isto era o que só sabia
da dita pergunta. Perguntado, segundo sua consciência e juízo, a quem presume
fl. 324 e suspeita que se mandou // o dito presente e por que respeito, disse que nem
ouviu dizer a quem se mandara nem o presume. E com isto se houve por
satisfeito ao referimento que nele fez Manuel Valdargo. E, sendo-lhe lido este
testemunho, disse estar escrito na verdade. E do costume nada. E assinou com
o dito Reformador. E eu, Agostinho de Aguiar, o escrevi. D. Francisco de
Meneses, Reformador e Reitor. Pero Velho do Rego.

António Rodrigues, solteiro, filho de Manuel Rodrigues, já defunto, e de


Ana Ferreira, natural da cidade do Porto, estudante nesta Universidade, que
anda no segundo curso das Artes, testemunha referida, e que ao presente vive
com Francisco Coelho Serrabodes, estudante legista que mora na Rua das Fan-
gas, a quem o Reformador D. Francisco de Meneses mandou vir perante si; e,
sendo presente, lhe foi dado juramento nos Santos Evangelhos, em que pôs sua
mão, e mandado que, sob cargo dele, dissesse verdade e tivesse segredo no que
lhe fosse perguntado, prometeu de o fazer assim; e disse ser de idade de vinte
fl. 324v. anos. Perguntado se sabe ou presume para que/ / é chamado e se lhe pediu
alguém por si ou por outrem que, sendo perguntado na visita desta reformação,
calasse a verdade ou dissesse o contrário dela, e de que tempo a esta parte, disse
que não. Perguntado pelos interrogatórios dos Estatutos reformados, porque
nela, conforme a eles, é obrigação inquirir, em geral, e, depois disso, em espe-
cial, pelo que

494
ÍNDICES
NOTA - No Índice Antroponímico, procurou-se identificar todos os perso-
nagens referenciados, indicando-se as respectivas qualificações pes-
soais e profissionais. A falta destas significa, a maioria das vezes,
que se trata de indivíduos ligados a estudantes por qualquer afini-
dade (normalmente por progenitura).
No caso de apelidos compostos, utilizaram-se as formas pelas quais
mais repetidamente aparecem mencionados os intervenientes na
inquirição. Na hipótese de a mesma pessoa ser referida, ora pelos
dois apelidos, ora apenas pelo primeiro, seguiu-se o critério de utili-
zar o nome constante da assinatura do próprio. Em qualquer dos
casos, porém, fizeram-se as devidas remissivas.
O Índice Toponímico não se limita a mencionar localidades de todo
o país e do estrangeiro, mas inclui também referência a espaços da
geografia de Coimbra, que podem apresentar interesse para futuros
estudos.
Foi, aliás, na convicção de que este livro poderá, na verdade, inspi-
rar futuras investigações que se decidiu não elaborar, para já, um
Índice Ideográfico, visto sermos de opinião de que o mesmo deverá
constituir um dos principais objectivos daquelas investigações.

- Abreviaturas utilizadas: est. - estudante; mi. - mulher; ts.- tes-


temunha; U.C. - Universidade de Coimbra.
ÍNDICE ANTROPONÍMICO

A AGOSTINHO, frade da Ordem de Santo


Agostinho - 488.
A., bispo de Lamego - 491. AGUIAR, Agostinho de - Vide: FIGUEIROA,
ABREU, Álvaro Tristão de - 144. Agostinho de Aguiar de.
ABREU, António de, opositor à cadeira de AGUIAR, Damião de, est. canonista - 206,
lnstituta - 23, 62, 63, 68, 112, 144, 156, 207,374,462,467.
157, 186, 187, 196,217,233,281,338,339, AGUIAR, Luís de - 371,466.
340,342,343,345,346. AGUIAR, Manuel Pires de, agente da Universi-
ABREU, Bernardo de, clérigo - 173. dade - 269, 271, 285, 296, 323, 324, 360,
ABREU, Brás Correia de, criado do bispo do . 394,395.
Algarve, reitor da U. C. - 478. AGUIAR, Pero de - 206, 462.
ABREU, Cristóvão de - 87. ALBERGARIA, Cristóvão Soares de, vereador
ABREU, Domingos Antunes de, lente de Vés- de Lisboa - 142, 170, 189,225.
pera de Cânones - 66, 110, 112, 133, 161, ALBERGARIA, Francisco Soares de, est.
199,216,219,227,230,234,237,463,484. legista - 126, 170, 171, 189,225,351,352.
ABREU, Jacinto de, est. canonista - 87, 113, ALBERGARIA, Vicente Soares de, est. legista e
370. cavaleiro da Ordem de Cristo - 142, 143,
ABREU, Jerónimo Pimenta de, chanceler da 171,189,225.
Relação e Casa do Porto - 33, 398, 400. ALBUQUERQUE, Diogo de, pai do secretário
ABREU, Luís Mendes de, legista - 54, 55, 79, Rui de Albuquerque - 488.
84,452,454,455,456,462,463. ALBUQUERQUE, Rui ou Rodrigo de, secretá-
ABREU, Manuel de, lente de Crisibus da U. rio da Universidade - passim.
C. - 24, 65, 135, 140, 200, 208, 263, 266, ALBUQUERQUE, Vicente de, est. canonista
267,283,289,307,353,360,380,381. -119.
ABREU, Manuel Álvares de, bacharel for- ALCÁÇOVA, Pero de - 247,252.
mado em Leis e juiz de fora de Alcácer do ALENCASTRE, João de, capelão-mor e bispo
Sal - 62, 130, 144, 182,211,216,217,412, de Lamego, 31.
432. ALENQUER, Marquês de - - 40, 47, 49, 420,
ABREU, Paulo Leitão de, corregedor da 425.
comarca de Castelo Branco - 34, 404, ALMADA, André de, lente de Véspera de
406,407. Teologia - 231, 236, 270.
ACHA, Jerónimo de, contador - 231 . ALMADA, Maria de, mi. de Francisco Vaz
ACORAMBONE, Síntio, colegial do Colégio de Cabral, médico - 138, 282, 283.
S. Pedro - 103, 109, 132, 189. ALMADA, Miguel Coelho de, est. institu-
AFONSO, Bartolomeu, 68. tário - 93, 94, 171, 493.

497
ALMEIDA, António de, escrivão do Hospital ÁLVARES, João, est. canonista -96, 387,410.
Real de Santo António dos Portugueses de ÁLVARES, Leonor, mi. de João Rodrigues,
Madrid - 433, 434. est. - 133.
ALMEIDA, António Dias de, advogado - ÁLVARES, Manuel, livreiro - 292.
249, 255. ÁLVARES, Salvador, mercador do Porto,
ALMEIDA, António Lopes de, bacharel irmão de um est. expulso da Universidade
legista - 153, 195,205,319. - 265, 266, 299, 300, 348, 354.
ALMEIDA, Beatriz de - 201. ÁLVARES, Simão - 351.
ALMEIDA, Bento de, cónego da sé de ÁLVARES, Tomé, opositor ao cargo de cape-
Coimbra - 146, 147. lão da Universidade - 486.
ALMEIDA, Bernardim Freire de - 77. ÁLVARO, Frei, pregador da Ordem de S. Ben-
ALMEIDA, Brás de, bacharel formado em to - 75.
Cânones - 287. ALVES, António, escrivão dos vigários - 359.
ALMEIDA, Cid de, colegial do Colégio de ALVES, Francisco - Vide: CASTRO, Fran-
S. Paulo e opositor legista, mais tarde cisco Alves de.
desembargador da Relação do Porto - 33, ALVES, Martim, bispo de Lamego - 148.
73, 139, 174, 175, 299, 399, 400, 402, 403, ALVO, Gonçalo, licenciado canonista - 186.
478,484,486,487,488. ALVO, Simeão - 145.
ALMEIDA, Diogo Gourão de - 177. AMARAL, Brás do, est. da 6.• classe - 97,
ALMEIDA, Diogo Lopes de, est. canonista - 123, 124, 372.
226, 483. AMARAL, Francisco Cardoso do, desembar-
ALMEIDA, Inês de - 149.
gador da Relação do Porto - 153, 205.
ALMEIDA, João de, est. - 315.
AMARAL, Francisco Cardoso do, est. legista,
ALMEIDA, João Fernandes de, opositor a
filho do anterior - 153, 160, 205, 206, 224,
uma cadeira de Cânones - 488.
319.
ALMEIDA, Jorge, est. - 175.
ANDORINHO (0) - Vide: FERNANDES, Jorge.
ALMEIDA, Jorge de, padre da Companhia de
ANDRADE, Antónia de - 273, 327.
Jesus - 185.
ALM EIDA, Manuel de, est. canonista - 315. ANDRADE, Bárbara de - 314.
ALMEIDA, Manuel de, est. médico -- 149. ANDRADE, Dionísio de, familiar do Colégio
ALMEIDA, Manuel de, irmão de Tomé de das Ordens Militares - 208.
Paiva, est. da 5." classe -- 441. ANDRADE, Francisco de, lente e colegial do
ALMEIDA, Manuel Aires de, est. e bacharel Colégio de S. Pedro, opositor à cadeira de
legista - 110, 111, 177, 178, 194, 266,353, lnstituta - 129, 144, 236, 237, 355, 488,
372, 373, 460, 467. 489.
ALMEIDA, Manuel Lopes - 16, 25, 30. ANDRADE, João Freire de - 194.
ALMEIDA, Maria Nunes de - 126. ANDRADE, Manuel de, est. do 3.0 curso das
ALMEIDA, Pero de, est. - 77. Artes e institutário - 105, 295,314,315.
ALMEIDA, Rui Gonçalves de - 242, 277, ANDRADE, Manuel Pereira de, est. legista e
305. bacharel na Faculdade de Leis - 201,202,
ALMEIDA, Simão de - 273,312. 204,347.
ALM EIDA, Teotónio de, cantor da sé de ANDRADE, Maria de, proprietária de umas
Coimbra - 245,250,440, 441. casas - 293.
ÁLVARES, António, est. de Cânones, expulso ANDRÉ, moço de um est. - 211.
da Universidade por acutilar outro est. - ANDRÉ, Sebastião - 71.
265,266, 298,299,354. ÂNGELA, filha dos carcereiros da cadeia da
ÁLVARES, Gaspar, est. canonista e criado de Universidade - 389.
outro est. - 100, 101. ÂNGEL.A, moça de mau viver - 100, 167.
ÁLVARES, João - 387. ÂNGELO, Frei, est. teólogo - 249.

498
ANJOS, Antónia dos, amante de Martim de ARAÚJO, Luís de, colegial de S. Paulo e mais
Carvalho, vice-conservador da Universi- tarde corregedor da Corte - 484.
dade - 214. ARAÚJO, Simão de, est. do 3. 0 curso - 135,
ANTÓNIA (D.), mi. de Bento da Cunha, acu- 301.
sado de fanchono - 322. ARCHISTÃO (?), Nuno Álvares - 407.
ANTÓNIA, Maria , mãe de uma teste- AREDA, Diogo de, padre da Companhia de
munha - 344. Jesus-178.
ANTÓNIA, Maria, mi. de Domingos João, ARRAIS, Amador - 32.
donatários de um prazo da Universi- ARRAIS, Bento - 265.
dade - 358. ATAIDE, Bernardo de, porcionista do Colégio
ANTÓNIA, Olaia, mi. de André Gonçalves, de S. Pedro - 88.
ama de um est. - 99, 395. AVELAR, André de, lente de Matemática e
ANTÓNIO, João, mercador de panos - 74, arqueiro da Faculdade de Artes - 26, 80,
175. 289, 292,359, 360, 363,391 , 392.
ANTÓNIO, Manuel, mercador - 90. AVELAR, Pero de, canonista - 371 .
ANTUNES, António - Vide: PAIVA, António ÁVILA, Brás Gomes de, est. institutário -
Antunes. 110, 112, 142, 177.
ANTUNES, Catarina - 339. ÁVILA, Fernão Gonçalves de - 110.
ANTUNES, Domingos - Vide: ABREU, Domin- AVIS, Daniel de, freire do Colégio dos
gos Antunes de. Militares - 288.
ANTUNES, Francisco - 362. AZEVEDO, Cristóvão de, lente de Instituto -
ANTUNES, Jorge - 95. 146, 486.
ANTUNES, Sebastião, bacharel formado em AzEVEDO, Diogo de, est. - 483.
Medicina - 97, 264, 266, 348. AZEVEDO, Francisco de - 179.
APRESENTAÇÃO, Egídio da, padre-mestre, AZEVEDO, Francisco Gago - Vide: GAGO,
vice-reitor da U. C. - 15, 47, 48, 54, 55, Francisco.
64, 103, 104, 132, 133, 136, 137, 140, 183, AZEVEDO, Jerónimo de, vice-rei da índia -
187, 189, 200, 208, 210, 231, 265, 270, 279, 210, 212.
281 , 290,296,299, 300,317, 354,360,371, AzEVEDO, João de -128.
457, 474,478,491. AZEVEDO, João Vieira de, est. legista - 83,
ARADA, Diogo de, padre da Companhia de 84, 100, 159, 167, 192, 229.
Jesus-386. AZEVEDO, Manuel de, est. canonista- 163,
ARAGÃO, Fabrício de, lente de Clementinas 165.
- 65, 82, 138, 183, 187, 231 , 232, 236, 242, AZEVEDO, Mateus de, est. legista- 127, 128.
270, 285, 292, 296, 316, 318, 357, 360, 361,
465, 466, 478, 486.
ARAGÃO, Luís de Góis de - Vide : Góis, e
Luís de.
ARANHA, João - 105, 294. BACALHAU (O) - Vide: FRANCISCO, João.
ARANHA, João, lente da cadeira grande de QAIÃO, António - 25.
Escritura, adjunto da Junta de Reforma- BAIRROS, Francisco de, est. - 159.
ção - 32, 36, 324, 325, 326, 327, 337, 396, BANDEIRA, António, est. legista - 168.
398, 399, 401, 402, 404, 406, 408, 409, 411, BANHA, Isabel - 295.
413,419, 423,424,427,437,445,491. BANHA, Manuel, cónego da sé de Coimbra
ARANHA, João - Vide: CHAVES, João Ara- -147.
nha. BAPTISTA, Maria, ama de um est. - 79.
ARAÚJO, Francisco de, mestre em Artes BARACHA, Brites Pessoa - 108.
- 364. BARBOSA, António Dias, clérigo de ordens de
ARAÚJO, Isabel - 366. epístola, est. canonista - 90, 367.

499
BARBOSA, Gregório, est. médico e criado do BORGES, João, médico-141, 143, 154, 173,
Dr. Luís Ribeiro de Leiva-173, 212,213. 336, 344, 351, 375.
BARBOSA, Pero - 162, 202, 347. BORGES, Juliana, filha de João Borges, mé-
BARBOSA, Pero, bacharel canonista, filho do dico- 143.
anterior - 162, 202, 347. BOTA, lsabel - 57.
BARREIRA, Francisco da, est. canonista - BoT ADO, João Pereira, opositor legista - 56,
385, 386. 59, 61, 62, 63, 82, 83, 104, 127, 131, 183,
BARREIRA, Henrique, bacharel legista - 288. 206,217,218,222,224, 236,319,343,457.
BARREIRA, João da - 385. BOTELHO, António Nunes, rendeiro de Pe-
BARREIRA, Miguel de, desembargador - 288. nela e Paredes - 328.
BA!lROS, Francisco de, degradado para BOTELHO, Damião, licenciado em Artes
Africa - 241. - 364.
BARROS, Luís de Araújo de, conservador da BOTELHO, Diogo, est. canonista-187.
Corte-433. BOTELHO, Fernão, est. legista - 181.
BARTOLOMEU . .. , est. de Leis, filho de Estê- BOTELHO, Francisco, bacharel formado em
vão de Pina, boticário - 414. Leis - 287.
8Asfuo, Frei, religioso da Ordem de S.
BOTELHO, João Lopes, juiz dos órfãos da
Bento-75.
Guarda - IO 1.
BASTO, Frutuoso de, est. da 4.ª classe e
BOTELHO, Luísa, mi. de um est. -120.
criado de um lente - 109, 172.
BRAGA, Teófilo ·- 7, 15, 43.
BASTO, Simão de, advogado, síndico da U.
BRANCA, Catarina - 397.
C. e procurador dos presos do Santo Ofí-
BRANCO, Francisco Fernandes, est. de Latim
cio e da mesma Universidade - 42, 267,
(8.ª classe), criado de outros dois estudan-
269, 290, 329, 335, 437, 438, 445, 470, 471,
tes e depois est. na Universidade de
478.
Salamanca - 34, 261, 331, 397, 398, 404,
BASTOS, Pero Botelho de, est. canonista -
405, 406, 407.
IOI , !02.
BEJA, António de, ouvidor de Avis-128. BRANDÃO, Diogo Mendes, juiz do Hospital
BEJA, Diogo de, est. da 5.ª classe - 248, 253, Real de Santo António dos Portugueses de
262, 273, 274, 276, 322-323, 327, 436, 443, Madrid - 434.
BRANDÃO, Duarte, lente condutário cano-
450.
BEJA, Manuel de, sobrinho do alcaide de nista - 179, 227.
Coimbra, acusado de fanchono - 275. BRANDÃO, Francisco, est. - 333.
BELCHIOR, Pero Cabral, meirinho da U. BRANDÃO, Francisco Machado - 333.
C.-128. BRANDÃO, Jerónimo, est. - 333.
BEMBO, Afonso-116. BRANDÃO, João Álvares, membro do Conse-
BEMBO, Fabrício, est. canonista- 116, 117, lho Geral do Santo Oficio - 35, 411,414,
178, 179, 365, 386, 387, 388. 415,416.
BEMBO, João, amo de um est. - 386. BRANDÃO, Luís, sacerdote de missa da Com-
SENTES, João, 54, 452. panhia de Jesus, lente de Artes em
BERNARDES, António, est. canonista - 106, Lisboa - 162, 165,193,221.
209, 211, 212, 226. BRANDÃO, Mário - 11, 16.
BERNARDES, António Alves, sacerdote, cape- BRA vo, Diogo - 98.
lão do reformador da U. C. - 47. BRA vo, Diogo, est. canonista, filho do
BERNARDES, João, bedel de Medicina-480. anterior-98, 127, 164,442,444.
BERNARDES, Matias, est. canonista - I IO. BRAVO, João, lente de Véspera e Prima de
BETTENCOURT, Francisco Pereira de, paga- Medicina-29, 30, 56, 57, 60, 64, 65, 66,
dor de custas do processo - 434. 78, 134, 136, 137, 149, 150, 173, 267, 270,
BOQUELA, Nicolau - 151. 280,281,282,341,353, 366,373,380,381.

500
BRITES (D.), mi. de Martim de Carvalho, CALAÇA, Francisco Rodrigues, est. cano-
vice-conservador da U. C. - 313, 320. nista, preso na cadeia da Universidade -
BRITO, A. da Rocha - 30. 297, 298, 370, 383, 384,385, 389, 428.
BRITO, António de Alpoim de, escrivão CALAÇA, Manuel de, est. médico e bacharel
régio - 47, 48, 49,418,435. formado na Faculdade de Medicina - 138,
BRITO, Catarina Nogueira de - 174. 380, 381.
BRITO, Diogo de, lente de Decreto, cónego CALAÇA, Rui da Costa - Vide: COSTA, Rui
da sé de Coimbra e deputado do Santo da.
Oficio - 484, 488. CALDEIRA, André Rodrigues - 143, 218.
BRITO, Gomes de, bacharel corrente, substi- CALDEIRA, Belchior, meirinho da u. e. -
tuto da cadeira de Sexto - 103, 231. 128, 129, 157, 214, 216, 222, 227, 236, 237,
BRITO, Inácio de - Vide: NOGUEIRA, Inácio 239,296, 331 , 395, 432, 470, 487.
de Brito. CALDEIRA, Diogo, ts. -214.
BRITO, Inácio Colaço de, desembargador da CALDEIRA, Francisco de, juiz -425, 435.
Casa da Suplicação - 153, 203, 205, 214, CALDEIRA, Francisco de Morais, criado do
319 . . arcebispo de Braga - 305.
BRITO, Jerónima de, mi. de um médico - 202. CALDEIRA, Manuel Rodrigues - 388.
BRITO, Manuel Camacho de, bacharel for- CALDEIRA, Maria, ama de estudantes - 332,
mado em Leis - 211. 493.
BRITO, Mateus de, est. institutário - 76, 77. CAMACHO, Manuel, bacharel formado em
BRITO, Nicolau, est. canonista - 350. Leis e criado do Inquisidor Geral - 35,
BRITO, Rui de - 76. 412, 413,414.
BRITO, Tomás Serrão de - Vide: SERRÃO, CAMADÃO, Bernardo Godinho, escrivão da
Tomás. Relação e Casa do Porto - 400.
BURGOS, André de, advogado em Coim- CÂMARA, João Gonçalves da (chamado
bra - 309. antes João Fogaça de Eça), mestre em
Artes e est. teólogo - 88, 89, 161, 165, 193,
220, 221.
e CÂMARA, Pero Gonçalves da - 220.
CAMELO, Manuel Ferraz, escrivão dos contos
CABRAL, António, opositor e lente que foi da da Universidade - 291.
catedrilha de Instituto, da qual foi afastado CAMINHA, Catarina Gaspar de - 106.
pelo crime de molícias-59, 62, 63, 129, CAMINHA, João de, est. canonista - 106,
130, 144, 160, 182, 216, 217, 236, 237, 355, 107,176, 210,211 , 212, 226, 477.
356, 403, 485,486, 487, 488. CAMPOS, Manuel de - 276.
CABRAL, Francisco Vaz, médico formado na CARDOSO, Agostinho - 50, 133, 157, 213.
vila de Seia - 138, 282, 283. CARDOSO, André, opositor à cadeira de
CABRAL, Manuel, corregedor de Coim- Instituto - 68, 173, 366.
bra - 438. CARDOSO, António, bacharel legista - 50,
CABRAL, Manuel, frade da Ordem de Santo 92, 133, 157, 213, 214, 296,394,477.
Agostinho - 488. CARDOSO, Diogo, canonista - 97.
CABRAL, Maria-261. CARDOSO, Diogo Fernandes, est. canonista e
CABRAL, Pero, colegial de S. Pedro, opositor mestre em Artes - 52, 289.
canonista e lente condutário - 103, 128, CARDOSO, Domingos Mendes, vigário do
129, 190, 218, 222, 223, 231 , 233, 236, 271, Alvorge - 285.
371,483, 485,487, 489. CARDOSO, Estêvão (de alcunha o Malhado),
CABREIRA, João, escrivão da provedo- est. legista _,. 362, 368.
ria - 323. CARDOSO, Jerónimo, est. canonista - 57, 58,
CABREIRA, Manuel, est. - 323. 60.

501
CARDOSO, João - 96. CARVALHO, João de, lente de Véspera de
CARDOSO, João, bacharel canonista, natural Leis e desembargador da Casa do Porto -
de Setúbal - 63, 143, 145, 180,218,401. 24, 56, 59, 66, 112, 133,156,269,271 , 310,
CARDOSO, João, est. canonista, natural de 341 , 370, 384, 387, 389.
Cinfães, filho do anterior - 96, 97. CARVALHO, João de, teólogo, opositor ao
CARDOSO, Manuel, est. canonista - 57, 58, 60. Colégio de S. Paulo e almotacé da U.
CARDOSO, Manuel, sombreireiro - 444. C. - 68, 235, 272, 355, 356.
CARDOSO, Manuel Rodrigues, criado do Dr. CARVALHO, João Manuel Saraiva de - 8.
António Homem - 85, 86. CARVALHO, Luís de, est. canonista ou legista
CARDOSO, Pedro, bacharel - 477. -80, 102, 104, 111 , 113, 114, 141, 142,
CARDOSO, Sebastião- 119, 372. 144, 153, 167, 180, 192, 229, 230, 334, 355,
CARDOSO, Sebastião, est. da 3.• classe, filho 392, 393, 394.
do anterior - 119, 122, 123, 124,372, 428. CARVALHO, Luís Salema de- Vide: SA-
CARDOSO, Tomé, est. - 156, 240. LEMA, Luís.
CARNEIRO, Manuel, est. da 5.• classe das CARVALHO, Manuel - 314.
Escolas Menores - 244, 245, 250, 251 , 259, CARVALHO, Manuel, est. legista-134, 135,
327. 187, 203.
CARNEIRO, Manuel, est. que foi das Escolas CARVALHO, Manuel, homem de pé ou de
Menores e depois se assentou na compa- esporas, mulato - 147, 151.
nhia de soldados de Coimbra - 262, 264, CARVALHO, Martim, vice-conservador da U.
276, 437, 446. C. -15, 16, 20, 24, 33, 39, 40, 58, 80, 153,
CARRASCO (0)- Vide: GOMES, Manuel. l~l~l~l~l~l~l~l~I¾
CARREIRO, Francisco, eleito por vice-reitor 185, 196, 214, 219, 220, 224, 238, 239, 240,
da U. C. - 38, 420. 241 , 242, 273,277, 297,309,310,311,312,
CARRILHO, Pedro, mulato forro - Ili, 114, 313,320,324, 325,326,419,423,424,425.
177. Vide também : FORRO, Pedro. CARVALHO, Nicolau, impressor e livreiro da
CARTAXO (0)- Vide : JOÃO , Domin- u. C. - 242, 308,310,359.
gos. CARVALHO, Paulo de, bacharel legista, filho
CARVALHA, Isabel, ama de um est.-321. do seguinte-92, 93, 168,169, 320, 321.
CARVALHA, Margarida, comerciante na Feira CARVALHO, Sebastião de, corregedor do
dos Estudantes - 359. Cível da Corte-92, 168,321.
CARVALHO, Dr.,juiz-482. CARVALHO, Sebastião de, est., filho do
CARVALHO, Agostinho, est. -298. anterior - 321 .
CARVALHO, António, barbeiro - 113, 297, CASADO, João - 301.
298. CASADO, Marçal, est. canonista-169, 270,
CARVALHO, António Coelho de, colegial do 301, 302, 321.
Colégio de S. Paulo - 155, 239,240. CASCO, António Coelho, est. - 271 .
CARVALHO, Baltazar de, est. canonista - 127. CASCO, Brás, est. jurista, depois ouvidor do
CARVALHO, Domingos Simões de, executado Marquês de Ferreira - 76, 77, 139,402, 403.
judicialmente - 328. CASTANHEIRA, Agostinho da Costa - Vide:
CARVALHO, Félix Rebelo de, est. cano- COSTA, Agostinho da.
nista - 124, 182. CASTANHEIRA, Sebastião Dias-371, 466.
CARVALHO, Francisco, est. canonista-362. CASTELO BRANCO, Afonso de, bispo de
CARVALHO, Geraldo Pereira de, bacharel Coimbra - 195, 246,295,327.
formado em Cânones - 70. CASTELO BRANCO, Bartolomeu Gonçalves,
CARVALHO, João de, bacharel canonista e bacharel legista - ! 17, 170, 171, 176, 177.
opositor na F acuidade de Cânones - 107, CASTELO BRANCO, Pedro de, amo de um est.
186, 188,203, 458,478, 486. da 2.• classe - 197.

502
CASTELO BRANCO, Rui Gonçalves de - 176. CIRNE, António, bacharel formado em
CASTELO BRANCO, Sebastião Ferreira, prior Cânones - 286.
da igreja de Pereira - 248. CIRNE, Miguel, bacharel formado em Câno-
CASTRO, Cosme de, comprador na feira de nes-286.
Trancoso-219. COELHO, fabricante de pistoletes - 235, 243.
CASTRO, Cristóvão de, est. canonista - 181. COELHO, António - 108.
CASTRO, Diogo, presidente da Mesa do COELHO, António, colegial- 236, 240.
Paço-160. COELHO, Filipe, est. da 5.• classe e depois da
CASTRO, Eugénio de - 32. 3.• - 105, 295.
CASTRO, Fernando de, colegial de S. Paulo, COELHO, Francisco, est. legista- 108, 109,
eleito como reitor da U. C. - 103, 231, 124, 330, 332.
236, 270, 394. COELHO, Gonçalo - 93.
CASTRO, Francisco de, reitor da U. C.-136. COELHO, Gonçalo Gil, desembargador e
CASTRO, Francisco Alves de, fisico em lente - 105, 295, 477.
Montemor-o-Novo - 56, 57, 60. COELHO, Jerónimo, est. canonista - 153.
CASTRO, Gabriel Pereira de - 32. COELHO, Manuel - 105, 295.
CASTRO, Luís Pereira de, colegial do Colégio COELHO, Manuel, est. da 3.• classe - 115,
de S. Paulo e desembargador da Relação 258, 259, 436.
do Porto - 33, 70, 75, 233, 398, 399, 400, COELHO, Martim Afonso, parte numa de-
478, 483, 484, 490. manda- 359.
CASTRO, Martinho de, porcionista do Colé- COELHO, Martim Gonçalves - Vide: GoN-
gio de S. Paulo - 103, 270, 394. ÇAL VES, Martim.
CASTRO, Miguel de-160, 303,385. COELHO, Miguel, est. - 352, 493.
CERQUEIRA, Baltazar do Vale - Vide: VALE, COIMBBRA, António, provedor da comarca
Baltazar do. da Guarda-190, 370.
CÉSAR, Sebastião, porcionista do Colégio de COIMBRA, Cristóvão de, est. legista- 74, 75,
S. Paulo e mordomo da confraria da U. 76.
C. - 89, 382, 383. COIMBRA, Filipe de - 69, 74, 76, 453.
CÉSAR, Vasco Fernandes - 382. COIMBRA, Miguel de, est. canonista - 69, 70,
CHAGAS, Gregório das, lente de Escritura, 76, 94, 186,453,454, 456,457.
adjunto da Junta de Reformação - 36, COLAÇO, Bartolomeu, fisico em Montemor-
396, 397, 398, 416, 417, 425, 426, 427, 428, -o-Novo - 56, 57, 60.
429,430, 431 , 432,433,434, 435, 451,479, COLAÇO, Francisco Rodrigues, est. cano-
480. nista-67, 87, 98, 99, 113.
CHAGAS, Mauro das, frade de S. Bento e COLAÇO, Inácio - Vide: BRITO, Inácio Colaço
doutor em Teologia- 71. de.
CHAMIÇO, João Bravo- Vide: BRAVO, João. COLAÇO, Matias, est. canonista- ISO.
CHAMORRO, António, est. institutário - 84, CONTRERAS, Manuel de - 56.
85. CORDEIRA, Joana- 294.
CHAMORRO, Miguel, guarda-mor da Relação CORDEIRO, António, est. de Medicina, criado
do Porto - 84. de outro est. - 376.
CHAVES, Baltazar Coelho - 356. CORDEIRO, Francisco Lopes, est. cano-
CHAVES, João Aranha, est. da 2.• classe, que nista - 85.
se ausentou de Coimbra por morte dou- CORDEIRO, Gaspar, criado do Dr. António
tro est. para se fazer frade na Ordem de Homem e est. canonista - 163.
S. Francisco - 105, 294, 295. CORDEIRO, Gregório, est. institutário - 315.
CHAVES, Manuel Rodrigues, est. legista - CORDEIRO, Manuel, alcaide de Coimbra -
356, 357, 374, 377, 378. 248, 253,262, 275, 276,323.

503
CORDOVIL, Luís Cerqueira, bacharel cano- COSTA, António da, est. da 3.ª classe, criado
nista-89, 133, 143, 156, 205, 223, 224, de João Moutinho de Mesquita - 204,
234, 235, 240, 243, 277, 320, 334, 335, 336, 205,460,461,462.
337,344,351,352,353,356. COSTA, António Coelho da, est. - 349.
CORREIA, António de Arruda Ferrer- 8. CosT A, Diogo Cardoso da - 376, 468.
CORREIA, António Rodrigues - 330. COSTA, Francisco da, est. canonista - 106,
CORREIA, Bernardo, amo de um criado - 59. 156, 196, 201.
CORREIA, Bernardo, secretário da U. C. - 477. COSTA, Francisco Gonçalves da-87.
CORREIA, Francisco, est. médico do partido COSTA, Frutuoso Antunes da, est. cano-
- 118, 139,208,311. nista-95, 96, 223, 369.
CORREIA, Gaspar, inimigo de outro est. - COSTA, Gonçalo da, est. canonista-107.
442, 444, 449. CosT A, Helena da - 63.
CORREIA, Gregório, est. canonista- 163. COSTA, Iria Simoa da-61, 453.
CORREIA, Jerónimo, carcereiro da cadeia da COSTA, João Galvão da, padre-478.
u. C. - 160, 240, 264, 283, 381, 383, 384, COSTA, João da Ponte da - 302.
385, 389, 444, 446, 447. CosT A, Manuel da, cónego da sé de La-
CORREIA, João, tendeiro que roubou um mego - 185.
est. - 310. COSTA, Manuel da, est. da 5.ª classe - 249,
CORREIA, Jorge, colegial do Colégio de 250,255,257,327.
S. Pedro e depois desembargador da Casa CosT A, Pascoal Correia da, est. legista e
do Porto - 194, 486. familiar do Colégio de S. Paulo - 85, 90.
CORREIA, Luís, est. canonista e mestre em COSTA, Pero da, bacharel legista-175, 288,
Artes em cuja F acuidade é arqueiro - 362, 371.
365. COSTA, Pero da, est. canonista-98, 127.
CORREIA, Luís, inquilino de umas casas per- CosTA, Pero da, médico na Guarda - 282.
tencentes aos Padres Lóios - 305. COSTA, Rui da, est. canonista-228, 229,
CORREIA, Luís Álvares, licenciado teólogo 302,303.
- 388.
CosT A, Sebastião Lopes da, escrivão da
CORREIA, Manuel, est. canonista- 74, 175,
almotaçaria, aposentadoria, armas e taxas
218,227,233,237.
da U.C.- 72, 78, 101, 106, 107, 148, 155,
CORREIA, Manuel, filho do carcereiro da U.
158,176,210, 212,.215, 226,240,242,272,
C. - 381, 382.
276, 277, 285, 286, 291, 292, 293, 294, 296,
CORREIA, Manuel, sacerdote, est. cano-
nista - 131,132,369. 305,306,309,314.
CORREIA, Margarida-87. COSTA, Serafina da-448.
CORREIA, Pascoal- Vide: COSTA, Pascoal CosT A, Zacarias da, est. canonista - 154,
Correia da. 155, 158, 310, 311.
CORREIA, Rodrigo - 131. COUCEIRO, António, est., ts. -444.
CORREIA, Simão, canonista - 80, 111, 114, COUCEIRO, Manuel, compositor tipográfico
141, 177, 392, 393, 394. -309.
CoRT~S, Simão Rodrigues, escrivão da cor- COUTINHO, Diogo Osório - 67.
reição de Castelo Branco-406, 407. COUTINHO, Domingos, criado de Manuel
CosT A, Agostinho da, bacharel canonista - Pereira e est. da 2.• classe- 191, 196, 199,
203, 371,372,376,461,466,468. 459,460.
COSTA, Amaro da, tabelião de Coimbra- COUTINHO, Francisco de Lemos de Faria
159, 241, 288, 371. Pereira, reformador da U. C. -11.
CosT A, António da - 204, 461. COUTINHO, Gonçalo Vaz, est. de Artes em
CosT A, António da, est. legista - 105, 156, Lisboa e bacharel canonista em Coimbra
194, 196. -88, 163, 165, 192, 193.

504
COUTINHO, Inácio, morador na Rua de S. Je- D
rónimo - 171.
COUTINHO, João, reitor da U. C. e bispo do DAVID, Baltazar-339.
Algarve- IS, 22, 55, 63, 71, 82, 135. DAVID, Manuel, est. institutário - 339, 340.
136, 182, 183, 185, 187, 189,201,202,218, DELGADO, Luís -197.
219,219,220,236,264,268,280,318,475. DELGADO, Simão, cirurgião do Hospital de
COUTINHO, Jorge Osório, est, canonista- EI-Rei em Lisboa-50, l08, 117, 121, 124,
67, 68,223,261,356. 228,348,412,414.
COUTINHO, José, escrivão dos órfãos - 278. DELGADO, Simão, est. canonista-50, 121,
COUTINHO, Lourenço, colegial de S. Paulo - 125, 182,228,348,350,351,414.
151, 297. DIAS, Ana, proprietária de um couto - 278.
COUTO, António Rodrigues - 149. DIAS, André-244, 327.
COUTO, Manuel do, est. das classes-2IO, DIAS, António - 115.
212. DIAS, António, est. da 3.ª classe e moço dou-
CouTO, Pero do - 171. tro est. - 37 I, 466.
COUTO, Pero do, est., morador na Rua de DIAS, António, guarda das Escolas Maio-
Brás Nogueira-97. res - 56, 57, 60, 65, 132, 217, 279, 280,
COUTO, Pero do, est. canonista-66, 109, 281,317,362,378,379,477.
171, 172,297. DIAS, António, preso na cadeia da cidade,
CRAVEIRO, Afonso, médico e criado do bispo ts. -444.
do Algarve-81, 162,288. DIAS, António, recoveiro da Universidade -
CRISTÓVÃO, filho de um taberneiro, ferido 247, 390, 444, 450.
por um tiro de pistolete-314. DIAS, Ascenso, est. -477.
CROUZET, Maurice -9. DIAS, Bento, indivíduo que vestia de est. mas
CRUZ, André da, est. da 8.ª classe e cantor da não estudava - 295.
sé de Coimbra-244, 250, 251, 252, 253, DIAS, Damião, est. legista, preso na cadeia
255, 257, 258, 264, 327, 436, 441, 442, 443, da Universidade-362, 378,379,381,382,
444, 446, 449, 450. 383, 384, 385, 388, 389.
CRUZ, Constantino da, est. -175. DIAS, Diogo, est., bacharel canonista - 115,
CRUZ, Diogo da, est. de Medicina-136. 116,361 .
CRUZ, Francisco da, est. legista-64, 304, DIAS, Domingos, escrivão - 328.
305. DIAS, Filipa-123.
CRUZ, Manuel da, músico - 276. DIAS, Francisco, ts. - 444.
CRUZ, Mateus da, est. - 298. DIAS, Gaspar, est. de Salamanca-140.
CUNHA, António da, desembargador do DIAS, Inácio, clérigo, capelão da sé - 173.
Paço-59, 61, 91, 130. DIAS, Inês, mi. de um estudante - 208.
CUNHA, António Dias da, cónego da sé de DIAS, Jerónimo, sacador da Universidade
Coimbra, preso pelo Santo Oficio- 159, -328.
226, 241, 390. DIAS, Lourenço, canonista - 66, 99.
CUNHA, António Gonçalves da-170, 225, DIAS, Manuel, padre - 253.
262. DIAS, Maria, proprietária de umas casas ao
CUNHA, Bento da, est. fanchono - 322. Castelo- 72, l01, 175.
CUNHA, Estêvão da, fanchono - 262. DIAS, Mateus-99.
CUNHA, Francisco da, est. canonista - 170, DIAS, Sebastião, est. canonista, irmão do
225. recoveiro da Universidade e também
CUNHA, João da, est. institutário-59, 61, recoveiro - 214, 247, 259, 390, 444.
91, 92,117, 130,367,368. DIAS, Simoa - 365.

505
DINIS, Cristóvão, opositor legista - 91 , 92, FARIA, Álvaro de - 255.
107. FARIA, António de - 63, 341.
DINIS, Manuel - 175. FARIA, António de, médico, conselheiro da
DIOGO . .. , est. expulso da Universidade - 428. Universidade e deputado na Faculdade de
DOMINGAS, criada de Jorge Fernandes Mas- Medicina - 50, 63, 66, 69, 140, 264, 279,
carenhas, mercador de Coimbra - 347, 304,341,342,350.
354. FARIA, Baltazar de, primeiro visitador da U.
DOMINGOS, criado de um est. - 398. C. - 11.
DOMINGUES, Fernão, violeiro na Calçada, FARIA, Cristóvão de, est. canonista - 77.
ts. - 444. FARIA, Francisco Pinto de, est. da 4.ª
DOMINGUES, Pero, est. canonista - 387, 388. classe - 255, 258.
D UARTE, Ivo, procurador dos presos do FARIA, Jerónima de - 350.
Santo Oficio e da Universidade - 437. FARIA, Luísa de - 80.
DUARTE, Miguel - 70, 75. FARIA, Pedro Homem de, est. canonista -
D UARTE, Teotónio, ts. contestada pelo est. 80,81 , 289.
acusado - 443, 444. FARIA, Sebastião de, bacharel formado em
Cânones - 188.
FARIA, Tomé Gomes - 366.
E
FARINHA, António, ts. - 443.
FERNANDES, fulano, alfaiate - 173.
EANES, Álvaro - 100.
FERNANDES, Álvaro - 123.
EÇA, João Fogaça de - Vide: CÂMARA,
FERNANDES, Ana, ama de um est. - 353.
João Gonçalves da.
FERNANDES, Ângela, criada de uma pa-
EGIDIO - Vide: APRESENTAÇÃO, Egídio da.
deira - 336, 344.
ESCAULIM, João, pagem de um est. - 86.
ESCOBAR, Manuel de, alcaide de Coimbra - FERNANDES, António, andador- 79.
155, 156, 238, 273,489. FERNANDES, António, escrivão do auditório
ESCURO (0) - Vide: Lufs, Manuel. eclesiástico - 296.
FERNANDES, António, mordomo da Univer-
ESTEVES, Lopo, porteiro da portaria dos
Padres de Santa Cruz - 252. sidade - 284.
FERNANDES, António, pai de António Fer-
nandes Monteiro - 294.
F FERNANDES, António, pai de João Soares da
Silva - 109.
FAIA, Manuel, est. legista ou canonista - 80, FERNANDES, António, pai de Pero Men-
81, 102, 111 , 114, 141, 142, 153, 154, 166, des - 353.
177, 178, 230, 392, 393, 394. FERNANDES, Bartolomeu, bedel de Teolo-
FAIA, Paulo, est. assassinado à porta da sala gia - 20, 78, 126, 215, 232,283,317.
dos autos - 155. FERNANDES, Bartolomeu, secretário da U. C.
FALCÃO, Damião de Sousa, est. canonista - por Rui de Albuquerque - 182, 375.
85, 87. FERNANDES, Belchior - 389.
FALCÃO, Manuel, est. legista - 80, 102, 111 , FERNANDES, Briolanja - 75.
113, 114, 141 , 153, 166, 171, 177, 178, 230, FERNANDES, Catarina, mãe de uma ts.
233, 269, 288, 289, 334, 337, 355, 392, 393, moradora na Rua de Alvaiázere - 352.
394. FERNANDES, Diogo, escrivão da lnqui-
FALCÃO, Tomé, est. de Latim, criado do Dr. sição - 414, 416.
Cristóvão Mouzinho - 226, 390. FERNANDES, Diogo - Vide: SALEMA, Diogo
FANA, Álvaro de-249. Fernandes.
FARIA, fulano de - 264. FERNANDES, Domingos, pai de André Mon-
FARIA, fulano de, est. - 366. teiro - 124.

506
FERNANDES, Domingos, pai de António FERNANDES, Simão - 371, 466.
Pacheco - 266. FERNANDES, Simão, est. da 2.• classe - 110.
FERNANDES, Francisco, médico - 163. FERNANDES, Simão, est. médico - 172, 173,
FERNANDES, Francisco, pai de Diogo Fer- 213, 220, 369.
nandes Cardoso - 52. FERNANDES, Simão, pai de uma criada - 344.
FERNANDES, Francisco, pai de Francisco FERNANDES o VELHO, Francisco-407.
Branco - 397. FERNANDO, Frei, frade de Nossa Senhora da
FERNANDES, Francisco, pai de Manuel Graça-266.
Valdargo - 121. FERRÃO, António Dias, escrivão da confraria
FERNANDES, Gaspar, padre-mestre da I.ª da Universidade - 383.
classe dos Padres da Companhia de Santo FERRÃO, Simão, est. legista - 84, 100.
Antão de Lisboa - 177. FERRAZ, Manuel, escrivão dos contos da
FERNANDES, Gaspar, pai de Gregório Bar- Universidade - 328.
bosa - 212. FERREIRA, fulano, est. da 3.ª classe - 105.
FERNANDES, Gaspar, pai de Luís Fernandes FERREIRA, fulano , recoveiro para Lis-
Teixeira - 49. boa - 254.
FERNANDES, Gaspar (o Rei), siseiro do FERREIRA, Ana - 494.
peixe - 284, 293, 308. FERREIRA, António, bacharel - 403.
FERNANDES, Isabel - Vide: MEDEIROS (A). FERREIRA, António, desembargador da Casa
FERNANDES, Jerónima (de alcunha a Gua- da Suplicação - 107.
rita), vendedora na Feira dos Estudan- FERREIRA, António, ourives de prata - 159,
tes - 242,277,285. 184, 185, 219, 220, 258.
FERNANDES, Jerónimo - 387. FERREIRA, António, ouvidor do crime na
FERNANDES, João, homem de pé do Dr. Casa da Suplicação - 145.
João de Carvalho - 384, 385. FERREIRA, António, pai de Manuel Fer-
FERNANDES, João, sirgueiro -- 120, 306,314. reira - 276, 443.
FERNANDES, Jorge - Vide: MASCARENHAS, FERREIRA, António, pai de Pero Gaifão -
Jorge Fernandes. 376, 468.
FERNANDES, Luís - 79. FERREIRA, Diogo, pintor - 214, 262.
FERNANDES, Luís, institutário - 64, 350. FERREIRA, Estêvão, est. canonista - 115,
FERNANDES, Luísa, 90. 116, 144, 361,401 , 403.
FERNANDES, Manuel; almocreve - 276. FERREIRA, Francisco, est. da 6.ª classe - 107.
FERNANDES, Manuel, barbeiro - 3I4. FERREIRA, Francisco Leitão - 38.
FERNANDES, Manuel, est. já falecido ao FERREIRA, Inácio, deputado da Mesa da
tempo da reformação - 50. Consciência e Ordens - 47, 48.
F ERNANDES, Manuel, parte executada numa FERREIRA, José, est. canonista - 235, 334,
sentença judicial - 148. 335.
FERNANDES, Manuel, rendeiro da renda do FERREIRA, Manuel, canonista - 110.
Alvorge - 329. FERREIRA, Manuel, est. da I.ª classe - 276.
FERNANDES, Maria-445. FERREIRA, Manuel, est. da 3.ª classe, filho de
FERNANDES, Maria, mi. do comprador das um criado do bispo e fanchono - 246, 254,
freiras do Mosteiro de Santa Ana - 393. 274,295,326, 447.
FERNANDES, Mateus - 135, 301. FERREIRA, Pero, moço do guarda da
FERNANDES, Mateus, comerciante na Feira Universidade - 203, 461.
dos Estudantes - 359. FERREIRINHA, recoveiro e criado do bispo-
FERNANDES, Mateus, escrivão dos contos da -conde D. Afonso de Castelo Branco - 327.
Universidade - 328. FICALHO, Conde de - 324, 326, 419, 420,
FERNANDES, Mateus, picadeiro da Univer- 421,422,423, 424, 425, 426,427,428,429,
sidade - 284, 291 , 292, 293, 308, 359. 430, 431 , 432.

507
FIGUEIRA, Manuel, bacharel em Medicina- FLORES, Maria de, mi. de uma ts. - 308.
173, 174,214,234. FONSECA, pagem assim alcunhado - 91.
FIGUEIRA, Manuel, est. médico - 263. FONSECA, Afonso Soares da - Vide: SOARES,
FIGUEIREDAS, mulatas que originaram uma Afonso.
desordem entre vários estudantes - 334. FONSECA, André da, solicitador do Mosteiro
FIGUEIREDO, Alexandre de, est. institutá- de Santa Ana-284, 306,307.
rio -96, 387. FONSECA, Antónia da-118, 122.
FIGUEIREDO, André de, bacharel formado FONSECA, António da - 174.
em Leis-34, 139,401,402,403. FONSECA, António da, est. institutário, a
FIGUEIREDO, António de, pai de João de quem chamam pupilo dos Frades Lóios -
Figueiredo de Sousa - 321. 88, 95, 343, 369.
FIGUEIREDO, António de, pai de José FONSECA, Bento da, est. canonista-134,
Ferreira - 334. 135, 203, 260, 301.
FIGUEIREDO, Belchior de, fanchono-246, FONSECA, Bernardo da, conservador da U.
247. C.-185,240,293,305,478.
FIGUEIREDO, Cristóvão de, escrivão dos FONSECA, Estêvão da, lente de Instituto -53,
órfãos, e ouvidor e rendeiro de Fonte 107, 144, 210, 225, 226, 228, 355,390,412.
Arcada - 328. FONSECA, Filipa da, viúva de Rui Gonçalves
FIGUEIREDO, Francisca de (de alcunha a de Almeida-277, 305.
Perpétua), manceba de um est. - 93, 94, FONSECA, Francisco da, bacharel cano-
141, 143, 154, 213. nista - 186.
FIGUEIREDO, Francisco de, criado de Antó- FONSECA, Francisco da, filho de D. Mécia -
nio Coelho de Carvalho-155, 239,240. 235, 351.
FIGUEIREDO, Francisco Fernandes de, cónego FONSECA, Francisco da, frade de Nossa
da sé de Évora- 184. Senhora da Graça- 154.
FIGUEIREDO, Isabel de, mulata acutilada por FONSECA, Francisco da, lente de Escoto -
um est.-93, 94, 141, 142, 143, 154, 173, 231, 395.
213,220,235,243,337,352,493. FONSECA, Gaspar da, est. canonista - 80, 81,
FIGUEIREDO, Lucrécia de, mãe de uma 102, 111, 114, 141, 142, 153, 154, 167, 177,
mulata acutilada - 93, 243, 352. 178,230,269,288,289,392,393.
FIGUEIREDO, Manuel de, est. canonista- FONSECA, Gaspar Pinto da, est. legista-164.
168, 286, 287, 334. FONSECA, Geraldo da - 88, 369.
FIGUEIREDO, Manuel de, marido de uma FONSECA, Jacinto da, est. canonista - 81,
ts. -352. 141, 162, 230, 269, 288, 289, 293, 394.
FIGUEIREDO, Marcos de, ts. na anterior e FONSECA, João da, est. -175.
presente inquirição à U. C.-184, 185, 219. FONSECA, João da, vereador de Lisboa -
FIGUEIREDO, Marcos Fernandes de - 184, 288, 289.
185. FONSECA, José da, conselheiro - 80, 81, 111.
FIGUEIREDO, Simão de, corregedor de Coim- FONSECA, José da, irmão de um est. - 269.
bra -- 286. 334. FONSECA, Lucas da-111, 177,288,289.
FtGUEIROA, Agostinho de Aguiar de, secretá- FONSECA, Madalena da - 94, 456.
rio da reformação - passim. FONSECA, Manuel da, ts. -447, 448.
FtG u EI ROA, Francisco Carneiro de - 31, 32. FONSECA, Manuel Falcão da- Vide: FAL-
FtGUEIROA, João de Mesquita de, cavaleiro CÃO, Manuel.
da Ordem de Cristo e porcionista do Colé- FONSECA, Mendo Lopes da, est. canonista -
gio das Ordens Militares - 92, 368. 242, 305,306,314.
FILIPE II (D.), rei de Portugal-417, 435. FONSECA, Miguel da, escrivão da fazenda da
FtúZA, João, est. médico do partido-139, U. C.- 140, 268, 269, 278, 279, 284, 285,
207,208. 290,291,293,306,308,318,329,358,360.

508
FONSECA, Paula da-107. FREITAS, António de-94, 375,456.
FONSECA, Paulo da, bacharel formado em FREITAS, António de, est. canonista - 54.
Cânones- 73, 74, 90, 174, 175. FREITAS, Cristóvão Moniz de, ouvidor de
FONSECA, Paulo da, médico, bacharel for- Setúbal - 34, 401, 402, 403.
mado em Medicina-136, 173,200,220. FREITAS, Gonçalo Mendes de, clérigo, est. de
FONSECA, Salvador da-97. Artes em Lisboa e canonista na U. C. -
FONSECA, Simão da, est. canonista - 119- 162, 163, 165, 176. 177,193,221,222.
-120, 191, 376,377,459,468. FREITAS, João de, conclusionista de Câno-
FONTES, Leonor de - 206. nes - 70, 94, 95, 98, 186, 374, 375, 376,
FORRO, Pedro, mulato-141. Vide também: 453,456,457,468.
CARRILHO, Pedro. FRólS, Gaspar Francisco - 166.
FRAGOSO, Miguel Pinto, est. de Leis - 66, FRUTO, Lopo do Quintal de, licenciado - 52.
67, 99. FUMANTE, Faustina, mi. de um est. -83,
FRANCAVILLA, Duque de-47, 49,420,425. 455.
FRANCISCA, moça de mau viver-167. · FURTADO, Afonso, bispo de Coimbra e
FRANCISCA, Gregória-115. depois arcebispo de Braga - 248.
FRANCISCA, Maria - 99. FURTADO, Francisco de Leão, bacharel
FRANCISCA, Maria, mi. de um tendeiro à legista e opositor na Faculdade de Leis -
porta do Castelo - 320. 178, 179.
FRANCISCO, mulato protagonista de uma FURTADO, Marcos Botelho, corregedor da
briga- 102. comarca de Coimbra - 397, 398.
FRANCISCO, André, sacador da U. C. - 328. FUZEIRO, Estêvão, porcionista do Colégio
FRANCISCO, António, homem do ouvidor das Ordens Militares - 208.
- 272.
FRANCISCO, Domingos-106.
FRANCISCO, Frutuoso - 114. G
FRANCISCO, João, dourador, depois soldado
em Lisboa - 295. GAGA, Catarina - 362.
FRANCISCO, João (de alcunha o Bacalhau), GAGO, Diogo Fernandes, corregedor de
sapateiro - 67, 260, 331, 332, 397, 398, Tomar-310.
404, 405, 406. GAGO, Francisco, bacharel formado em
FRANCISCO, Matias, est. legista - 57, 60, 61. Leis - 34, 62, 401, 402, 403.
FRANCISCO, Pero, lavrador - 278, 279. GAIFÃO, António - 373, 467.
FRANCISCO, Pero, pedreiro - 293. GAIFÃO, Martim, est. canonista-206, 207,
FREIRE, Águeda- 71. 278,371,373,374,376,462,464,466,467,
FREIRE, António, est. canonista formado 468.
-77. GAIFÃO, Pero, est. canonista - 371, 373, 376,
FREIRE, António, est. médico - 109. 466, 467, 468.
FREIRE, Gonçalo Vaz, bacharel formado em GALINHEIRO, Jorge Mendes, pai do moço de
Leis - 50, 62,108,109,117, 121, 122, 124, um est. - 380.
125, 182, 183,228,233,296,299,317,330, GALVÃO, António, eleitor do reitor - 270,
332,333,349,350,412,413,414,493. 477.
FREIRE, Jacinto, est. canonista formado - 77. GALVÃO, Paulo, est. do 1. 0 curso de Artes -
FREIRE, Lourenço, licenciado, por exame 120, 123.
privado, em Cânones - 194. GALVÃO, Rafael, criado de Inácio de Brito
FREIRE, Manuel, padre, lente de Escritura Nogueira-155, 158.
nas Escolas Menores - 170, 225. GAMA, Lourenço Pereira da, est. institutário
FREIRE, Maria - 109. e mestre em Artes - 113, 114, 288, 289,
FREIRE, Rafael - 109. 394.

509
GARCIA, Francisco, bacharel formado - 115. GoM ES, Domingos, sapateiro - 361.
GAsco, Coelho, implicado no assassínio de GOMES, Fernão Mendes, recebedor de rendas
um est. - 155. da Universidade - 329.
GASPAR, Maria - 263. GOMES, Francisco - 315.
GASPAR, Maria, mi. de um alfaiate - 312. GOMES, Francisco, advogado - 135, 259.
GAS PAR, Miguel, proprietário - 279. GOM ES, Francisco, opositor canonista - 183,
GERALDA, Maria - 161. 187, 261,457, 483.
GERALDES, Francisco, barbeiro - 444. GOMES, Gaspar-] 12.
GERALDES, Francisco, mestre-sala do Conde GOM ES, Gaspar Mendes, rendeiro de Sen-
de Penacova - 444. dim - 328, 329.
G ERALDES, Pero, est. formado em Cânones GOM ES, Isabel, mi. de um est. - 307.
por Coimbra e na altura est. de Salamanca GOMES, Jerónimo, est. canonista-135, 259,
- 34, 67, 260, 261 , 331 , 332, 397, 398, 404, 260.
405, 406, 407. GOMES, João, médico - 87, 112, 113.
GI L, Cristóvão, lente de Teologia- 32. GOMES, João, licenciado por exame privado
GODINHO, António, pagador - 433. na Faculdade de Leis e opositor legista -
GODINHO, Diogo Mendes, opositor e depois 157, 298, 299, 300.
lente proprietário de uma catedrilha de GOMES, Manuel, est. da 4.ª classe da U. C. e
Cânones - 68, 70, 128, 150, 157, 158, 161, depois da Universidade de Salamanca -
179, 187, 218,233,236, 296, 297, 358-359, 115, 361 , 362.
360, 477, 483, 484, 490. GOMES, Manuel (de alcunha o Carrasco),
GODINHO, Gonçalo Alvo, est. e bacharel tendeiro, proprietário de umas casas - 59,
canonista - 145, 146, 147. 208.
GODINHO, Martim Afonso, est. formado GOMES, Matias, canonista - 69.
- 266. GONÇALVES, fulano , alfaiate - 173.
Gó is, Gaspar de, prior do Convento de GONÇALVES, Afonso, rendeiro do prazo da
S. Domingos de Amarante - 34, 408. Carapinheira - 285.
Góis , Lopo Dias de, corregedor do Porto e GONÇALVES, André, homem do meirinho da
sua comarca - 76. Universidade - 395, 396.
Góis, Luís de, colegial do Colégio de S. Pe- GONÇALVES, António, carpinteiro - 272.
dro, opositor a uma cadeira de Leis e GONÇALVES, Bartolomeu, est. - 333.
desembargador da Relação do Porto - 73, GONÇALVES, Beatriz - 207.
139, 174, 299, 399, 400, 402, 478, 487, 488. GONÇALVES, Catarina, mi. do escravo de um
GOMES, fulano, est.-175. est. - 338.
GOM ES, Ana, mi. do carcereiro da cadeia da GONÇALVES, Domingas, mãe do moço que
Universidade - 383, 384, 385, 389. serve na cadeia da Universidade - 382.
GOM ES, António, escrivão das execuções da GONÇALVES, Domingos, padre, est. teó-
U. C. - 290, 327, 330. logo - 272, 273, 320.
GOMES, António, est. - 478. GONÇALVES, Francisco, barbeiro - 449, 450.
GOM ES, António, lente de Véspera de GONÇALVES, Isabel, ama de estudantes - 303.
Medicina - 184. GONÇALVES, João, est. legista - 150.
GOMES, Bartolomeu, bacharel formado em GONÇALVES, Luís - 90.
Cânones - 298, 299, 300, 354. GONÇALVES, Luís, est. canonista-92, 367.
GOMES, Cristóvão, índio, escravo de um GONÇALVES, Luís, est. legista - 265.
est. - 118, 338, 339. GONÇALVES, Manuel - 149.
GOM ES, Diogo, impressor - 309. GONÇALVES, Manuel, alfaiate - 312, 313.
GOMES, Domingos, escrivão da receita e des- GONÇALVES, Manuel, est. canonista e fami-
pesa da U. C. - 78, 134, 203, 215, 232. liar do Colégio das Ordens Militares - 343.

510
GoNÇAL VES, Martim, lente de Anatomia - 130, 131 , 133, 146, 147, 151 , 152, 161 , 163,
29, 65, 136, 137, 138, 139, 149, 200, 253, 174, 218, 222, 227, 231 , 236, 245, 246, 250,
280, 282, 284, 464. 256, 264, 270, 271 , 273, 274, 275, 324, 325,
GONÇALVES, Matias, est. da 3.ª classe - 259, 326, 349, 412,413 , 419, 421,441,444, 481,
428. 490.
GONÇALVES, Pero, bacharel formado em HOMEM, Estêvão, est. de Latim - 152.
Cânones - 126, 128, 296. HOMEM, Manuel, rendeiro de Fonte Arcada
GONÇALVES, Pero, est. médico - 90, 149, -328.
151,368. HOMEM, Matias, irmão do Dr. António
GONÇALVES, Simão - 343. Homem - 86, 152.
GONÇALVES, Simão, barbeiro - 448, 449. HOMEM, Pedro, est. , filho do matemá-
GOUVEIA, António de, escrivão da Conserva- tico - 162.
tória da U. C. - 155, 159, 238, 239, 240, HOMEM, Pero da Silva -- 202.
266, 310,329,362.
GOUVEIA, Francisco Vaz de, lente canonista
de Sexto - 25, 59, 62, 92, 147,161 , 271.
GOUVEIA, Isabel Osória de - 67.
GOUVEIA, João de, dourador - 262. IGREJA, Manuel Álvares da, juiz ordinário de
GOUVEIA, Manuel de, padre, lente do 1. 0 Castelo Branco - 404.
curso de Artes - 375. ISABEL (D.) - 321 .
GRAMAXO, Antão da Costa, cidadão de ISABEL, moça moradora na Rua ·de Alvaiá-
zere - 352.
Coimbra - 155, 158, 159.
GUARITA (A) - Vide: FERNANDES, Jeró-
nima. J
GUARITA (A) - Vide: Luls, Brásia.
GUERRA, Belchior da, est. legista - 54, 56, JERÓNIMO, est. da 11 .ª classe e moço doutro
84, 216, 313, 377, 452,453,455,456, 465. est. - 94, 456.
GUERRA, Nuno da, est. da 3.ª classe - 97, JERÓNIMO, frad e da Ordem de Santo
119, 123, 124, 369, 372. Agostinho - 488.
GUSMÃO, Fernão Mendes de, est. da 6.ª JERÓNIMO . . ., est. (?) da U. C. - 402.
classe - 87, 113, 370. JOÃO, moço, criado de um cónego da sé de
Coimbra-147.
JOÃO, moço de um est. médico - 380, 381.
H JOÃO III (D.), rei de Portugal - 11.
JOÃO, Ana, mãe da criada de um est. - 348.
HEITOR, homem da vara do meirinho - 160. JOÃO, Antónia, mi. de um homem de
HEITOR, Ana, mi. de um caminheiro - 336. pé-384.
HENRIQUES, Ana - 276. JOÃO, António, mestre de meninos, assistente
HENRIQUES, António, rendeiro de Fonte na Feira dos Estudantes - 359.
Arcada - 328. JOÃO, Domingas, mi. de uma ts. - 271.
HENRIQUES, Catarina, oleira-244, 327, 437. JOÃO, Domingos, hortelão das freiras do
HENRIQUES, Francisco Lopes - Vide: LOPES, Mosteiro de Santa Ana - 392.
Francisco. JOÃO, Domingos, pai de uma criada de Jorge
HENRIQUES, Isabel, moradora em Coimbra Fernandes - 347.
- 392. JOÃO, Domingos, pai do moço que serve na
HENRIQUES, Pero Lopes -346, 379. cadeia da Universidade - 382.
HOMEM, António, lente de Prima de Câno- JOÃO,- Domingos (de alcunha o Cartaxo),
nes - 16, 25, 27, 33, 38, 42, 43, 58, 59, 61, donatário de um prazo da Universidade
62, 64, 65, 66, 73, 85, 86, 91 , 117, 121 , 129, - 358.

511
JOÃO, Fernão, trabalhador das obras da LEITÃO, Gonçalo, corregedor da comarca de
Universidade - 272. Viseu-291.
JOÃO, José, tendeiro - 168, 169, 320, 321. LEITÃO, Inácio Ferreira, bacharel formado
JOÃO, Manuel, alfaiate-135, 157,158,214. em Leis-145.
JOÃO, Manuel, recoveiro ou carreiro de LEITÃO, João, est. formado em Cânones
Lisboa-153, 214,271,272,323. -375.
JOÃO, Pero - 196, 460. LEITÃO, Lancerote - 128.
JOÃO, Silvestre, preso na cadeia da cidade, LEITÃO, Nicolau, tesoureiro-105, 158.
ts. -443, 444. LEITÃO, Pero, est. institutário-104, 106.
JOÃO, Violante-114. LEITÃO, Pero Geraldes - Vide: GERALDES,
JORGE, António, padre, chantre da igreja de Pero.
S. Pedro de Coimbra e capelão do Mos- LEITÃO, Pero Monteiro-169.
teiro de Santa Ana-288, 289. LEITÃO, Simão, clérigo de missa e capelão de
JORGE, Bartolomeu, est. preso na cadeia da S. João de Santa Cruz-90, 367.
Universidade donde depois fugiu - 384, LEITE, Serafim - 12.
385,389,444. LEITOA, Ângela-104.
JORGE, Catarina, mi. do hortelão das freiras LEIVA, Luís Ribeiro de, lente de Decreto,
do Mosteiro de Santa Ana - 392. adjunto da Junta de Reformação, 32, 36,
JORGE, Gonçalo, clérigo de ordens de epís- 38, 39, 173, 212, 219, 227, 233, 237, 324,
tola e est. canonista - 90, 367. 325, 326, 327, 337, 398, 399, 401, 402, 404,
JORGE, João, homem do meirinho - 113. 406,408,409, 411,413,419,421,423,437.
JORGE, Manuel - 234. LEMOS, Bernardo de, est. canonista - 315.
JORGE, Maria-244, 255,327. LEMOS, Isabel de - 315.
JORGE, Sebastião, médico - 174, 234. LEMOS, Luís de, proprietário de umas casas
JUZARTE - Vide: ZUZARTE. na Rua dos Anjos - 70.
LEMOS, Manuel de, escrivão-48.
LEONARDES, Jerónima - 266.
L
LOBO, fulano - 131.
LOBO, António - 369.
LACERDA, Simão Correia- Vide: CORREIA,
Simão. LOBO, Diogo, opositor na eleição do reitor
LEAL, Francisca, proprietária de umas casas da Universidade - 231, 236, 270.
na Pedreira - 357. 1:0BO. Francisco, est. canonista - 357.
LEAL, Francisco, morador junto à Pedreira Loso, João Velho, est. - canonista e benefi-
-64. ciado na igreja de N.• S.• da Alcáçova de
LEAL, M. P. da Silva - 25. Montemor-o-Velho - 151, 152.
LEAL, Simão, escrivão da Conservatória da LOPES, André, est. do 3. 0 curso de Artes -
u. C.-127, 139, 155, 156, 158, 208, 237, 259, 261,262. 416. 442,444,448.
242, 276,305,310, 360. LOPES, Francisco, alfaiate - - 259, 261.
LEÃO, Diogo Nunes de, est. - 167, 192. LOPES, Francisco, est. legista-90, 91, 150,
LEÃO, Francisco de, opositor legista-305, 379.
387,388. LOPES, Isabel, mi. de um est. - 214.
LEIRIA, Francisco de - Vide: MONTEIRO, LOPES, João - 304.
Francisco de Leiria. LOPES, Jorge, est. da 2.ª classe das Escolas
LEITÃO, fulano, est. - 276. Menores - 252, 255, 274, 436.
LEITÃO, Francisco, opositor canonista-484, LOPES, Maria, mi. de um barbeiro - 297.
486, 487, 488. LOPES, Marta-149.
LEITÃO, Francisco de Andrade - Vide: AN- LOPES, Mateus, cónego da sé de Coimbra -
DRADE, Francisco de. 58, 121, 147.

512
LOPES, Mendo - Vide: FONSECA, Mendo MACHADO, Estêvão, est. da 2.ª classe de
Lopes da. Instituta - 23 , 98, 127, 164, 338, 340, 342,
LOPES, Pero, est. médico formado - 137, 343, 345, 346.
283, 307, 432. MACHADO, Eugénia Vicência, mi. de um est.
LOPES, Salvador, médico e mestre em legista - 377, 469.
Artes - 50, 160, 349. MACHADO, Francisco, est. de Latim - 195.
LOPES, Sebastião - Vide: CosT A, Sebastião MACHADO, Gaspar Lopes - 356, 378.
Lopes da. MACHADO, Jacinto Lopes, est. legista - 356,
LOUREIRO, Diogo Gomes, impressor - 246. 357, 374, 378.
LO UREIRO, João de, est. canonista - 156, MACHADO, Jerónimo - 105, 294.
196. MACHADO, João, est. do 2. 0 (depois 3.0 )
LOUREIRO, Manuel, est. da 2.ª classe - 87. curso de Artes - 105, 294, 295.
LOURENÇO, António, lente de Digesto Velho MACHADO, Jorge Fernandes, criado do bispo
e antigo colegial do Colégio de S. Paulo - D. Afonso de Castelo Branco - 195.
55, 57, 65, 66,133, 209,231,236,257,270, MACHADO, Pero, est, institutário - 344, 345.
271, 289, 292, 329, 359, 360, 394, 452, 463, MACHADO, Pero, nobre de Guimarães - 345.
464,465,477, 484. MADALENA (D.), mi. de Gregório da Silva,
LO URENÇO, Isabel - 118. secretário da U. C. - 137.
LUCENA, Francisco de, secretário régio --422, MADALENA DA .. . , ts. - 444.
426, 430, 432, 433. MADUREIRA, André de, tabelião do público
LUCENA, Maria de, mi. de um est. - 172. judicial e notas de Idanha-a-Nova - 404,
Lu ís, Ângela, vendedora na Feira dos 407.
Estudantes - 242. MAGALHÃ ES, Cosme de, padre, prefeito de
Luís, António, marido que foi de uma Artes - 375.
ts. - 392.
MAGALHÃES, Fernão de, comprador de um
Lu ís, Bento, est. institutário - 90, 91, 150,
prazo no lugar de Fala - 268.
367.
MAGALHÃES, Fernão de, est. - 120.
Luls, Brásia (de alcunha a Guarita), vende-
MAGALHÃES, Joaquim Romero - 26.
dora na Feira dos Estudantes - 148, 156,
MAGALHÃES, Jorge de, bacharel legista -
224,240,242, 276, 358.
112, 120, 217, 233.
Luís, Catarina, ama de estudantes - 83.
MAGALHÃES, Maria Francisca de - 171.
Luís, Jerónima - 124.
MAGALHÃES, Rui Lopes de - 112, 120, 135.
Lu ís, Manuel (de alcunha o Escuro),
MAIA, António Lopes da, cónego da sé de
barqueiro - 324.
Coimbra - 147.
Luls, Paulo, taberneiro - 120, 314,444.
MALHADO (0) - Vide: CARDOSO, Estêvão.
MA LIGEIRO, Manuel Cardoso, criado - 448.
M MANCO, Simão António, sapateiro - 85.
MACEDO, Diogo Ribeiro de, est. legista - MANUEL, criado do Dr. António Homem --
153, 208. 441, 444
MACEDO, Filipa Pinto de - 255. MANUEL, Frei , vigário do Mosteiro de
MACEDO, Francisco de - Vide: SOUSA, Fran- S. Francisco da Ponte - 247, 248.
cisco de Macedo de. MANUEL, Maria, tendeira - 206, 277, 462,
MACEDO, Manuel de, escrivão - 328. 463.
MACEDO, Marçal de, proprietário de uma MARAVALL, José António - 9, 10.
loja a S. Cristóvão - 248, 322. MARCHÃO, Diogo, est. canonista - 129.
MACHADA, Isabel - 344. MARGARIDA, moça de um est. bacharel for-
MACHADO (O), alcunha de um est. legista mado em Medicina - 365, 348.
- 150. MARGARIDA .. ., mi. de um est. - 413 .

513
MARIA, criada de Ana Fernandes, ama de MATOS, Francisco de, est. preso na cadeia da
um est. - 353. Universidade, donde depois fugiu - 384,
MARIA, criada de Inácio de Brito Nogueira 385,389.
- 158. MATOS, Francisco de, criado de um est. a
MARIA (D.), mi. de Rui de Albuquerque, quem roubou - 239.
secretário da U. C. - 354. MÁTos, Manuel Mendes de, est. - 477.
MARIZ, António de, lente da catedrilha de MAURO, Terenciano - 7.
lnstituta - 195, 488. MÉCIA (D.), proprietária de casas junto ao
MARIZ, Pedro de - 32. Mosteiro de Santa Ana - 80, 102, 111,
MARQUES, Francisco, est. - 477 . 114, 153,178,235,351,356,357.
MARQUES, João, tecelão-273, 319,320. MEDEIROS (A), alcunha de FERNANDES,
MARSINO, Pero Moreira, bacharel formado Isabel - 235, 243, 334, 335, 336, 337, 344,
em Cânones - 181. 351, 352, 353.
MARTA, criada de João Borges, médico MEDEIROS, Baltazar de, est. formado em
- 154. Cânones - 187.
MARTINHO, filho do Conde de Vila Nova MEIRELES, Amaro de, est. canonista -- 71,
- 154. 72, 101.
MARTINS, fulano, criado de outro est. e tam-
MEIRELES, Domingos de - 71.
bém est. das Classes Menores - 191, 459.
MELO, Alves de, morador em Coimbra - 89.
MARTINS, Ana - 112.
MELO, Brites de, mi. de Marcos de Figuei-
MARTINS, António, deputado do despacho
redo, morador em Vila Cova - 184.
da Mesa da Consciência e Ordens - 435 .
MARTINS, Cristóvão - 98. MELO, Luís de, est. legista - 50, 64, 69, 304,
MARTINS, Domingos, est. da 5.ª classe e 305,349.
criado de outro est. - 119,377, 468 . MELO, Manuel de - 89.
MARTINS, Jorge, est. canonista do 5.0 ano - MELO, Martinho de, est. - 207, 462.
68, 69. MELO, Pero de, morador em Coimbra - 89.
MARTINS, Marcos, repesador, oficial na MENDES, André - 101.
feira - 359. MENDES, António - 370.
MARTINS, Maria - 368. MENDES, Baltazar, est. canonista - 101.
MASCARENHAS, Ana, mi. de um est. - 299. MENDES, Cipriano, bacharel legista, servindo
MASCARENHAS, António de, deputado da de almotacé - 78, 79.
Mesa da Consciência e Ordens - 47, 48, MENDES, Diogo, opositor a uma cadeira e ao
49,418. cargo de capelão da U. C. - 486, 489.
MASCARENHAS, Gregório, irmão de um MENDES, Francisco, est. médico - 137, 307,
est. - 61. 341.
MASCARENHAS, Gregório, est. canonista MENDES, Francisco Dias, est. canonista -
- 130. 158, 159, 167, 191 , 311.
MASCARENHAS, Jorge Fernandes (de alcu- MENDES, Gonçalo, clérigo, est. canonista
nha o Andorinho), mercador de Coimbra, - 118.
amigo e vizinho de Rui de Albuquerque, MENDES, Heitor, recebedor de custas do
secretário da U. C. - 265, 298, 300, 347, processo de inquirição - 167, 311, 433,
348, 354, 355. 434.
MATA, Rui Homem da - 366. MENDES, Luís - 386.
MATOS, André, conservador da U. C. - 81, MENDES, Luís, est. canonista, criado de
94, 171, 235, 243, 269, 287, 288, 320, 337, outro est. - 178, 386, 387.
493 . MENDES, Luís, est. legista - 209.
MATOS, Francisco de, est. canonista - 135, MENDES, Nuno Dias, recebedor de custas do
158. processo de inquirição • 433, 434.

514
MENDES, Pero, est. médico - 353, 354, 372, MESQUITA, Luís Moutinho de - 193, 459.
373,467. MESQUITA, Manuel de, est. da 6.ª classe
MENDO, Francisco de, colegial e reitor de - 276.
S. Paulo, bacharel formado em Medi- MESQUITA, Martim de, est. canonista-92,
cina - 136, 137, 138,157,200. 366, 367.
M ENDONÇA, António de, bacharel cano- MEXIA, Jorge, moço que residia com o Dr.
nista - 132, 133, 189, 224. António Homem-25, 86, 151.
MENDONÇA, António de, porcionista do MEXIA, Martim Afonso, arcediago da sé de
Colégio de S. Paulo - 88, 103. Lamego - 288.
MENDONÇA, Diogo da Silva e, marquês de MEXIA, Martim Afonso, bispo de Lamego e
Alenquer, vice-rei de Portugal - 40. Coimbra, visitador da U. C. - 15, 25, 61 ,
M ENDONÇA, Francisco de, jesuíta, membro 74, 91, 184,400.
da Junta de Reformação - 36, 39, 423.
MEXIA, Martim Alves, canonista - 146, 147,
MENDONÇA, Francisco de, reitor do Colégio 151. .
das Escolas Menores da U. C. - 181, 375,
MIGUEL, moço que serve os presos da cadeia
376.
da Universidade - 381, 382.
MENDONÇA, João de, colegial do Colégio de
S. Pedro e conselheiro da U. C. - 128, 217. MILÃO, João de, solicitador da Universi-
MENDONÇA, João de, proprietário de casas dade-268, 269,284,285,306,307,324.
junto ao Colégio da Trindade-313. MtLHEIRO, António, est. canonista, mestre
MENDONÇA, João da Fonseca de, est. da capela do bispo de Coimbra - 248.
institutário - 97, 98. MIRANDA, Belchior de-148.
MENESES, Francisco, parte numa demanda MIRANDA, Estêvão de, bacharel em Leis e
- 359. opositor legista - 235, 242, 244, 334, 335.
MENESES, Francisco de, reformador da U. MIRANDA, Estêvão Machado de - Vide:
C. - passim. MACHADO, Estêvão.
MENESES, Francisco de Brito de, colegial de MIRANDA, Fernão Soares de, est. - 147.
S. Paulo - 231 . 236, 270. MIRANDA, Francisco de - 438, 450.
MENESES, Francisco Correia de - 362. MIRANDA, Gregório da Silveira de, est.
MENESES, Pedro de, est. canonista, parte canonista - li 8, 31 !, 338, 339.
numa demanda - 225, 359. MIRANDA, Luís Cerqueira de, est. canonista
MENESES, Pero de, est. canonista - 170. - 148.
MESQUITA, André Correia de, est. cano- MIRANDA, Manuel de, est. canonista, preso
nista-107, 108, 187. na cadeia da Universidade - 33, 41, 244,
MESQUITA, Antão de, deputado da Mesa da 245, 247, 250, 251 , 253, 259, 262, 264, 274,
Consciência e Ordens - 49, 92, 368, 418. 327, 390, 435, 436, 437, 438, 439, 440, 445,
MESQUITA, António de, bacharel cano- 446,447,448,449,450,451.
nista - 93, 111 , 140, 142, 205, 206, 224, MONTARROIO (O), filho do carcereiro da
319. Universidade-444. ·
MESQUITA, Filipe de, canonista - 205. MONTARROIO, Afonso de, sapateiro, guarda
MESQUITA, Gonçalo Pinto de - 107. da cadeia da Universidade - 447.
MESQUITA, Jerónimo de, est. - 274. MONTEIRA, vendedora de doces - 229, 303.
MESQUITA, João de- Vide: FIGUEIROA, MONTEIRA, Maria, mi. de um est. - 173.
João de Mesquita de. MONTEIRO, André, est. institutário, criado de
MESQUITA, João Moutinho de, bacharel um est. canonista - 108, 124, 125, 182,
legista - 191, 193, 194, 204, 205,212,373, 330, 332, 333.
459, 460, 461 , 462, 465, 467. MONTEIRO, António, est. - 246.
MESQUITA, Jorge Pinto de, desembargador MONTEIRO, António, prior da igreja de S.
da Casa do Porto-140-141 , 205, 319. João - 294.

515
MONTEIRO, António Fernandes, est. das MOUTINHO, Gonçalo, est. canonista acuti-
Escolas Maiores - 294, 295. lado por outro - 298, 299.
MONTEIRO, Francisco, não est. - 168. MOUTINHO, João, est. legista - 168, 352.
MONTEIRO, Francisco de Leiria, est. legista MOUZINHO, Cristóvão, lente e colegial do
-- 93, 94, 141, 142, 143, 154, 169, 171, 173, Colégio de S. Pedro e lente de Código -
213, 225,235,337,493. 55, 112, 129, 130, 144, 153, 183, 195, 209,
MONTEIRO, João, est. de Latim (6.ª classe) e 216, 219, 226, 296, 355, 356, 390, 403, 452,
pagem de outro est. - 349, 350, 351 . 462,478, 483,484, 487, 488,489, 490.
MONTEIRO, Manuel, barbeiro - 294.
MONTEIRO, Tomé - 350.
MORAIS, Félix Lobo de, est. da 10.ª classe -
131 , 132,172,369. N
MORAIS, Fernão de, est. - 442.
MORAIS, Francisco de, criado do arcebispo
primaz - 133. NAVARRO, Manuel Rodrigues, lente de Vés-
MORAIS, Francisco Caldeira de, deputado pera de Leis - 159, 184.
canonista proprietário - 231, 271. NEGRÃO, Sebastião Álvares (de alcunha
MORAIS, Simão de, moço de pouca idade - O Morgado), lavrador de Porto de Muge
444, 447, 448, 449. - 153,195,319.
MORA IS, Vicente de, bacharel e opositor NETO, Pero - 368.
legista, frade de Santo António da Provín- NETO, Pero, est. da 3.ª classe, filho do
cia da Piedade - 77, 147. anterior - 131 , 172, 368, 369.
MORATO, Francisco, bacharel formado na NEVES, Inês das, mi. de um est. - 395, 396.
Faculdade de Medicina - 137, 307, 308, NóBREGA, fulano da, est. - 160.
341. NOGUEIRA, António, est. da 6.ª classe e do
MOR EIRA, António Lopes, recebedor de cus- 2.0 curso de Artes - 244, 249, 254, 259,
tas do processo - 433. 390,442,444,445, 446,447,450.
MOREIRA, Pero, est. canonista - 125, 126, NOGUEIRA, Brás - 264.
152, 296, 299. NOGUEIRA, Brás, irmão de António No-
MORGADO (0)- Vide: NEGRÃO, fulano gueira - 442, 447.
Álvares. NOGUEIRA, Inácio de Brito, est. legista - 153,
MOTA, Francisco da, est. de Latim - 146. 160, 195,196,203,205,214, 311,319.
MO URA, Lopo de, escrivão da correição NOGUEIRA, Maria - 72.
- 438. NOGUEIRA, Pero, caminheiro - 336, 344.
MOURA, Manuel Soares de, bacharel for- NOGUEIRA, Pero, carcereiro da U. C. e escri-
mado em Leis e advogado em Lisboa - 35, vão das armas - 244, 249, 254, 259, 390.
36, 53, 54, 62, 116, 144, 145, 228, 233, 349, NOGUEIRA, Pero, caseiro da u. C. - 140.
401,402, 403, 411,412,413,415, 416. NOGUEIRA, Vicente, prior-135.
MOURA, Paulo de, colegial do Colégio das NUNES, Amaro, est. médico - 341.
Ordens Militares - 364, 365. NUNES, Bartolomeu, est. das Escolas Meno-
MO URA, Pero de, est. canonista, pagem de res e depois da Universidade de Salamanca
outro est. - 161 , 163, 165,221. -34, 260,261,331,397,398,404,405,407.
MOURA, Pero Soares de, advogado de NUNES, Gaspar, est. legista - 167.
Lisboa - 415. NUNES, Manuel, músico da capela da sé de
MOURÃO, fulano, est. canonista - 154. Coimbra - 253, 442, 444, 446.
MOURA, Lourenço, desembargador do Paço NUNES, Perpétua, ts. - 143, 213, 235, 351,
- 154. 352.
MOUSNIER, Roland - 9. NUNES, Tomé - 263.

516
o PALMA, Luís Mendes, est. canonista - 81 ,
114, 177,229,230.
OLIVEIRA, António de - 10. PALMA, Manuel Mendes, 229.
OLIVEIRA, António Ferreira de, médico PANTOJA, António Lopes, est. canonista -
formado - 210, 211. 76, 77.
OLIVEIRA, Jerónimo de, advogado em Coim- PANTOJA, Luísa - 76.
bra - 322. PARADA, Francisco de, est. - 376, 468.
OLIVEIRA, Manuel de, agente da U. C. na PASSOS, Bartolomeu de, criado de um
corte de Lisboa - 434. est. - 71.
OLIVEIRA, Manuel de, moço de um est. PATO, Afonso, legista - 55, 79, 83, 84, 209,
- 235. 429, 452, 454,455, 456,462, 463 .
OLIVEIRA, Margarida de, mãe do bedel Gas- PEDROSA, Leonor - 179.
par de Sampaio - 479. PEDROSA, Manuel - 374, 467.
OLIVEIRA, Maria de, ml. de um barbeiro PEGADO, Manuel, est. canonista e criado do
- 448. arcebispo de Lisboa - 228, 333, 334, 412.
OLIVEIRA, Pero de -104. PEGADO, Paulo - 333.
OLIVEIRA, Teotónio de, est. das Escolas PENACOVA, Conde de - 444.
Menores - 322, 428. PEQUENO (O), alcunha de um vendeiro junto
OSÓRIO, António de, filho do conservador da a S. Pedro - 144.
u. C. - 185. PEREIRA, Álvaro - 201.
OSÓRIO, Diogo - 223. PEREIRA, António, bacharel formado em
OsóRIO, Jorge, est. canonista - 95. Cânones - 202.
OvELHO, Francisco Femandes - 404. PEREIRA, António, escrivão régio -426.
PEREIRA, António, marido que foi de Maria
Manuel, tendeira - 277, 463.
p PEREIRA, António, médico em Lisboa - 122,
349.
PACHECO, António, est. médico do par- PEREIRA, Bento, chantre da capela - 234,
tido - 266, 267. 243, 268,316,335.
PACHECO, Francisco - 77,454. PEREIRA, Diogo Pinto, est. canonista - 88,
PACHECO, Francisco Lopes, cónego - 272. 95.
PACHECO, Manuel Ribeiro, bacharel legista PEREIRA, Francisco, est. legista - 190, 370,
- 58, 60, 62, 130. 371,430.
PACHECO, Pantaleão Rodrigues, canonista, PEREIRA, Gaspar, est. das Escolas Menores e
almotacé da Universidade - 25, 55, 77, 79, depois das Maiores, criado de Manuel de
84,215,216,377,454,456,469. Saldanha - 97, 99,104,395,396,428.
PAIS, Pero, jogador de má fama e vida - 265. PEREIRA, João, deputado substituto - 231 ,
PAIVA, António Antunes de, est. institutá- 271.
rio - 262,378,379,381,382,383. PEREIRA, Joaquim Tomás Miguel-8.
PAIVA, Filipe de, est. da 9.ª classe, criado de PEREIRA, Lourenço e Simão, pagador de
outro est. - 120, 123, 124. custas do processo - 434.
PAIVA, Gonçalo de, lente de Avicena - 29, PEREIRA, Luís, institutário - 80, 81, 102,
30, 107, 134, 139, 150, 173, 199, 201, 207, 111, 114, 141,153,288, 289, 393,394.
281, 282. PEREIRA, Luís - Vide: CASTRO, Luís Pe-
PAIVA, Tomé de, est. da 5.• classe -- 245, 247, reira de.
250, 252, 274, 436, 440, 441 , 442, 443, 444, PEREIRA, Luís da Gama, desembargador do
445, 446, 447, 449. Paço-113, 288,289.
PALHA, André Figueiredo - Vide: FIGUEI- PEREIRA, Manuel, bacharel canonista - 187,
REDO, André. 189, 191 , 194, 196, 199,458,459,460,468.

517
PEREIRA, Manuel, est. das Escolas Menores PINA, António de, est. médico do partido -
e moço de outro est. - 35, 304, 408, 409, 174, 214,215, 234,282,357,362 .
410, 443, 444. PINA, Estêvão de, boticário - 414.
PEREIRA, Manuel, est. legista- 120, 121, 376. PINHA, Filipa - 249.
PEREIRA, Manuel, ts. - 274, 275. PINHEIRA, Leonor - 370.
PEREIRA, Manuel - Vide: ANDRADE, Ma- PINHEIRA, Madalena, mi. de um homem de
nuel Pereira de. pé - 58.
PEREIRA, Manuel João, est. com voto numa PINHEIRA, Maria - 374, 467.
cadeira de Leis e depois advogado em PINHEIRO, Francisco Tavares, bacharel le-
Aveiro - 73, 74, 175. gista - 59, 61 , 63, 80, 82, 92, 104, 111, 114,
PEREIRA, Manuel Soares, clérigo, bacharel 130, 141, 180, 229, 269, 392, 393,394,453.
formado em Cânones •-- 162, 163, 165, 166, PINHEIRO, Jerónimo, est. da 11.ª classe e
177, 193,221,222,296 . criado de outro est. - 374, 46 7.
PEREIRA, Martim Afonso, est. legista - 88, PINHEIRO, João, est. - 289.
89. PINHEIRO, João, opositor canonista - 486.
PEREIRA, Miguel, est. canonista formado - 74. PINHEIRO, Luís Martins, provedor de Setú-
PEREIRA, Miguel Soares, colegial do Colégio bal - 289.
de S. Pedro, lente de Cânones - 83, 100, PINHEIRO, Miguel, est. canonista - 81 , 141,
128,222, 223, 487, 488. 230.
PEREIRA, Pedro Álvares, pintor - 274. PINTA, Violante - (19,372.
PEREIRA, Simão, legista - 81, 114, 115. PINTO, António, est. médico formado - 137,
PEREIRA, Vicente, lente de Prima de Teolo- 283, 307, 432.
gia, adjunto da Junta de Reformação - 32, PINTO, Diogo, est. canonista - 369.
36, 40, 65, 324, 325, 326, 327, 337, 396, PINTO, Diogo Dias - Vide: DIAS, Diogo.
397,398, 399, 401,402, 404,406, 408, 409, PINTO, Francisco, est. da 4.ª classe - 115,
411, 413, 416, 419, 423, 424, 425, 426, 427, 249, 250, 443, 444.
428,429,430,432 , 437, 445,451 , 479, 480. PINTO, Francisco, escrivão do fisco - 184.
PEREIRA DE. .., Francisco, membro do Con- PINTO, Francisco, moço pequeno - 264.
selho da Coroa - 432. PINTO, Francisco Pereira, deputado do des-
PERESTRELA, proprietária de casas - 119. pacho da Mesa da Consciência e Ordens
PER ESTRELA, Luísa, mãe de fanchono - 322. - 435.
PERESTRELO, Francisco Vaz, morador na PINTO, Francisco Vaz, desembargador do
Rua de Sobre-Ripas - 165, 275. Paço - 88, 95, 290, 369.
PERO . .. , est. que fez auto de bacharel com PINTO, Gaspar - 118, 122.
areia já corrida no relógio - 466. PINTO. Gaspar, est. institutário - 118, 120,
PERPÉTUA (A) - Vide: FIGUEIREDO, Fran- 123, 372.
cisca de. PINTO, Gonçalo, est. da 3.ª classe - ! 19, 122,
PESTANA, Lourenço - ! 18, 164. 123.
PESTANA, Vicente, est. da 4.ª classe - 118, PINTO, Manuel, formado em Cânones - 187,
164. 458.
PIÇARRA, Gonçalo Vaz, est. legista - 55, 84, PINTO, Manuel, pedreiro da Universidade
340, 377, 452,456,469. - 323.
PIÇARRA, Pero Gonçalves - 377, 469. PINTO, Paulo, proprietário de casas fora da
PIMENTEL, Dr. , morador junto ao Mosteiro porta do Castelo - 169.
de S. Domingos - 246, 366. PINTO, Pero de Seixas - 164.
PIMENTEL, Maria, manceba de um est. - 97, PINTO, Sebastião, padre de missa- 120, 121.
264. PIRES, Domingos, defunto, marido de uma
PINA, António de, est. de Cânones - 414. ts. - 285.

518
PIRES, Francisco - 60. REBELO, Duarte, est. institutário - 146.
PIRES, Francisco, comprador das freiras do REBELO, Félix, est. canonista, amo de outro
Mosteiro de Santa Ana - 393. est. canonista - 108, 330, 332, 333, 493.
PIRES, Gaspar, marchante - 268, 269. REBELO, Francisco, est. canonista - 168.
PIRES, Gonçalo, pai de João Carvalho -458. REBELO, Gaspar, inquiridor da U. C. - 210,
PIRES, Gonçalo, pai de João Fiúza - 207. 212.
PIRES, Inácio, provido numa capelania da U. REBELO, Pero, est. da J.a classe - 119, 120,
C., embora não seja est. - 316. 123, 372.
PITA, Heitor, est. do 3. 0 curso de Artes- REGO, Pero Velho do, est. legista - 122, 124,
179, 365. 142, 171 , 177, 330, 332, 333, 494.
POMBA, Maria, mi. de um sirgueiro - 306, REI (0) - Vide: FERNANDES, Gaspar.
314. REI MÃO, Adriano - Vide: TOSCANO, Adria-
POMBAL, Marquês de - 11, 32. no Reimão.
PORTALEGRE, Conde de - 49, 63, 69. REIMÃO, Manuel de Sousa, est. de Artes em
PREGO, Maria - 54, 452. Lisboa - 165.
PORTUGAL, Miguel de, bacharel e licenciado REIS, Maria dos - 77, 454.
em Artes - 364. RESENDE, João de, deputado de Artes - 66,
PUPILO DOS PADRES LóIOS - Vide: FON- 92.
SECA, António da. RESENDE, João de, est., irmão do tesoureiro
Q do fisco, implicado numas cutiladas dadas
a uma mulata-173, 220,337.
QUARESMA, Fuão, advogado em Montemor-o- RESSURREIÇÃO, António da, lente de Prima
-Novo - 403. de Teologia, membro da Junta da Reforma-
QUEIRÓS, Gaspar de Sequeira de, bacharel ção-36, 416,417,430,431,433,434,435.
legista e opositor na Faculdade de Leis - RIBEIRA, Francisca, mi. preta e forra-278,
163, 164. 464.
QUEIRÓS, João de Sequeira - 163. RIBEIRO, ... , tabelião de Amarante -408,
QUEIXADA, Luís, est. legista - 135. 409.
QUEIXADA, Luís de Aguiar, bacharel cano- RIBEIRO, António de Sampaio - Vide: Sam-
nista - 187,202,203,460,461. paio, António ele
QUINTAL, Henrique do, est. de Medicina -
RIBEIRO, Gaspar de Sampaio - Vide: SAM-
35, 52, 53, 54,226,411,415. PAIO, Gaspar.
RIBEIRO, Luís, médico do partido na
R Lousã - n?
RAIA (O}, alcunha de um morador ao Arco RIBEIRO, Manuel, est. médico do partido -
de Almedina-148. 139, 200, 283.
RAMALHA, Maria - 79. RIBEIRO, Manuel, pai de Manuel Pereira -
RAMALHO, Manuel, est. canonista- 79, 80. 189, 458.
RAMOS, Luís dos, est. institutário - 340, 346. RIBEIRO, Manuel, pai de Manuel Ribeiro
RAMOS, Manuel, est. canonista- 106,210. Pacheco - 58.
RANGEL, fulano, escudeiro - 253. RIBEIRO, Manuel, padre-prior, tabelião - 410.
RANGEL, Fernando -443. RIBEIRO, Manuel, pagem do Dr. João de
RANGEL, Lourenço, est. - 443. Carvalho - 389, 390.
RANGEL, Lucas; est. que foi da 8.ª classe e RIBEIRO, Manuel de Fontes, licenciado -
que andava na altura em trajos de est., 202, 460.
embora não estudasse - 252, 255, 444. RIBEIRO, Pero, est. canonista- 129.
RASIS _:_ 149. Ruo, Francisca - 121.
RA v ASCO, António, est. canonista - 305, 306. ROCHA, António da - 209.

519
ROCHA, Jacinto da, est. legista - 72, 74, 89, RODRIGUES, José, meirinho encarregado de
90, 175. prender uma pessoa em Ansião - 433,
ROCHA, Luís Álvares da, Dr. - 359. 434, 435.
ROCHA, Maria da - 209. RODRIGUES, Justa - 356.
ROCHA, Sebastião da, escrivão da Câmara e RODRIGUES, Manuel - 494.
almoxarife do Duque de Aveiro - 72. RODRIGUES, Manuel, marido de mi. preta e
RODRIG UES, fulano, est. canonista - 71. forra - 278, 464.
RODRIG UES, Ana, madrasta do moço de um RODRIGUES , Maria, mi. de um sapa-
est. -- 380. teiro - 278.
RODRIGUES, Ana, mi. do solicitador das frei- RODRIGUES, Silvestre, obreiro da Universi-
ras de Santa Ana - 306. dade - 323.
RODRI GUES, André, médico - 402. ROLDÃO, Domingo, escrivão - 434.
RODRIG UES, Antónia, mi. de um lavrador de ROSA, João Fernandes da - Vide: FERNAN-
Anadia - 278. DES, João.
RODRI GUES, António, est. da 4.ª classe, moço
de outro est. (Frutuoso Antunes da Costa)
- 95, 369. s
RODRIG UES, António, est. do 1. 0 curso de
Artes, criado de outro est. (Francisco Coe- SÃ, fulano de, est. - 154.
lho Serrabodes) - 124, 332., 494. SÃ, Aires de, proprietário de umas casas
RODRIGUES, António, pai de Afonso Soa- junto à cerca dos Jesuítas - 315.
res - 313,465. SÃ, Aires de, ts. - 322.
RODRIGUES, António, pai de Alexandre de SÃ, António Correia de - 154.
Figueiredo - 96. SÃ, Cristóvão de, cidadão de Coimbra - 196.
RODRIGUES, António, pedreiro - 336, 344. SÃ, Heitor de, morador na Rua das
RODRIGUES, António, sapateiro, morador no Fangas-62, 108, 170.
couto de Ana Dias - 278, 279. SÃ, João de, est. canonista - 170, 225.
RODRIGUES, Catarina - 385. SÃ, Leonardo de, est. canonista-98, 126,
RODRIG UES, Constança - 100. 127.
RODRIGUES, Diogo - 349. SÃ, Matias de, cabeça de um casal da
RODRIGUES, Domingos -380. Universidade - 278 .
RODRIGU ES, Domingos, cerieiro em Lisboa SALAZAR, Diogo, bacharel em Cânones
com tenda em S. Paulo - 412, 413. - 481.
RODRIGUES, Domingos, est. do 1. 0 curso e SALAZAR, Joana de - 127.
criado de outro est. - 208. SALDANHA, João de - 102, 193.
RODRIGUES, Domingos, est. legista, também SALDANHA, Manuel de, est. canonista, mais
chamado Domingos da Silva - 35, 121 , tarde reitor da U. C. - 32, 97, 99, 102, 104,
412,413, 414. 133, 193, 395, 396.
RODRIGUES, Gonçalo - 118. SALDANHA, Manuel, proprietário de um
RODRIGUES, Isabel - 87. quintal-229.
RODRIG UES, Isabel, mi. de Simão Ve- SALEMA, Cristóvão - 312, 465.
loso - 151. SALEMA, Diogo Fernandes, colegial do Colé-
RODRIGUES, João, est. médico-133, 134. gio de S. Pedro - 128, 191, 218, 222, 236.
RODRIGUES, João, est. a quem um criado SALEMA, Gonçalo, est. canonista- 167, 168,
roubou - 239. 191, 192.
RODRIGUES, João, pai de António Va- SALEMA, Luís, est. legista - 93, 102, 111,
rela - 165. 114, 141, 142, 153, 166, 171 , 177, 178, 194,
RODRIG UES, João, pai de Pero Machado 230, 235, 243, 288, 289, 312, 334, 336, 337,
- 344. 351 , 352,356,393,394, 460,465.

520
SALGADO, Jerónimo, clérigo de epístola, est. SEQUEIRA, Fernão Lobo de, legista - 54, 79,
na U. C. - 100, 159, 167, 192, 229, 241. 452, 454.
SAMBADA, Catarina - 371 , 466. SEQUEIR A, Manuel - 188.
SAMPAIO, António de, bedel de Cânones e SEQUEIRA, Pero de, est. da 6.• ou 7.•
Leis - 70, 76, 82, 94, 95, 291, 470, 475, classes - 249, 250, 255, 257, 442, 444.
478, 479, 481. SERRABODES, Francisco Coelho, est. legista
SAMPAIO, Gaspar de, bedel de Cânones e - 62, 124, 155, 177, 271 , 332, 333,494.
Leis - 20, 42, 55, 63, 70, 76, 79, 81 , 84, 94, SERRÃO, fulano, advogado - 411.
95, 182, 183, 186, 187, 190, 194, 199, 202, SER RÃO, Alberto, médico - 35, 53, 54, 62,
203, 205, 206, 209, 232, 278, 287, 317, 346, 144,341,411,413, 415,416.
347, 371,373,374,376,377 ,410,451,452, SERRÃO, António, est. legista - 54, 62, 144,
453, 454,455, 456,457,458, 459, 460, 461, 300.
462,463, 464, 466,467,468, 469, 470, 471 , SERRÃO, Francisco, est. canonista - 177,415.
472, 473, 474, 475, 476,478, 479. SERRÃO, Gonçalo - 300, 415.
SAMPAIO, Jerónimo de, bedel da U. C. - 232, SERRÃO, Tomás, lente de Medicina - 64, 65,
278, 464, 479. 136, 137, 139, 200, 2IO, 211 , 279, 280, 281,
SANCHES, Ana - 274. 282, 283, 284.
SANTOS, João dos, escrivão da confraria SERROA, Jerónima de Brito, mi. de um
- 79. est. - 308, 318.
SÃO BENTO, Bento de, deputado de Teologia SILVA, António da, criado de um est. - 333.
- 65. SILVA, António da, est. do 2.0 curso de
SÃO JACINTO, Manuel de, padre da Ordem Artes - 263, 264, 436.
de S. Domingos - 246, 250. SILVA, Bartolomeu da, criado do Dr. Antó-
SARAIVA, fulano - 96. nio Velho - 151.
SARAIVA, fulano, est. canonista - 376, 468. SILVA, Damião da, canonista - 61.
SARAI VA, Miguel, est. da 5.ª classe das Esco- SILVA, Diogo da - 180, 457 .
las Menores - 96, 387. SILVA, Domingos da - Vide: RODRIGUES,
SARDINHA, Pero Tinoco - Vide: TINOCO, Domingos.
Pero. SILVA, Duarte da, est. legista - 180.
SARINHO (?), ... - 444. SILVA, Estêvão Homem da - 61.
SEBASTIÃO, António, lente de Medicina - SILVA, Fernando da - 150.
139, 200. SILVA, Francisco da, marido que foi de Cata-
SEIXAS, Gaspar de, bedel de Medicina, Artes rina de Sá e Sousa, moradora na Rua das
e Latinidade - 20, 52, 55, 63, 78, 82, 89, Fangas - 322.
130, 138, 139, 161, 182, 183, 191, 202, 203, SILVA, Francisco da, parte numa execução
207, 215, 218, 221 , 232, 234, 263, 265, 267, judicial - 290.
279, 280, 281, 282, 283, 308, 317, 363, 380, SILVA, Francisco da, prebendeiro da Universi-
391 , 428. dade - 329.
SEPÚLVEDA, Francisco Morais de, opositor à SILVA, Gonçalo Fernandes da, bacharel -403.
cadeira de /nstituta - 68. SILVA, Gregório da, secretário da U. C.
SEQUEIRA, Alexandre de, est. canonista - 86. - 137.
SEQUEIRA, António de, bacharel legista e SILVA, J . J . de Andrade e-26.
depois conselheiro - 63, 130, 132, 133, SILVA, Jerónimo da, est. legista - 144, 179,
182, 188, 189, 231 , 270. 180.
SEQUEIRA, António de, corrector da Univer- SILVA, Jerónimo da, rendeiro de Freixo de
sidade como substituto de Francisco Vaz - 3fü Numão - 328.
SEQUEIRA, Bartolomeu de, ts. -444. SILVA, João da, est. canonista - 150.
SEQUEIRA, Diogo Lopes de, tabelião de SILVA, João Soares da, est. canonista - 109,
Coimbra - 192. 110.

521
SILVA, José da, escnvao das execuções da SIMÕES, Antónia, mãe de uma criada- 347.
Universidade - 328. SIMÕES, Catarina, mi. de um livreiro - 332.
SILVA, Leonor da - !09. SIMÕES, José, mestre das obras de carpinta-
SILVA, Manuel Carvalho da - Vide: CAR- ria da Universidade - 272, 323, 324.
v ALHO, Manuel. SIMÕES, Maria, mãe de Manuel de Miranda,
SILVA, Maria da, mãe de Gregório da Sil- cst. legista - 250, 327, 436, 437, 438, 450.
veira de Miranda - 311. SIMÕES, Maria, mi. de um tecelão-319.
SILVA, Maria da, mãe de Salvador Lopes da SIMÕES, Maria, proprietária de uma casa
Silva - 166. abaixo da portaria do carro dos Padres da
SILVA, Maria da, mi. que vivia em casa de Companhia, ts. - 67, 260, 331, 398, 404,
um est. - 356, 378. 405,406.
SILVA, Matias da, est. canonista - 157,295. SIMÕES, Marta, moradora junto à porta do
SILVA, Paulo da, médico do partido - 202, Castelo - 351 .
280,308,318,319. SIMÕES, Pero, pai de uma criada - 348.
SILVA, Pero da - 318. SINDE, António Fernandes, proprietário em
S1L v A, Pero da, proprietário no lugar de Montemor - 307.
Milheirós de Poiares - 280. SOARES, Afonso, est. legista - 156, 157, 313,
SILVA, Salvador Lopes da, mestre em Artes, 314,452, 465.
est. aprovado na Faculdade de Medicina e SOARES, António, est. legista - 55.
médico - 166, 168,192,229,303. SOARES, António, tesoureiro da capela da
SILVA, Sebastião Álvares da, opositor legista Universidade - 232, 268,316,335.
- 62, 63, 83, 117, 130, 170, 171, 179, 180, SOARES, Cristóvão, est. institutário - 156,
184, 206, 218, 224, 319, 333, 349, 360, 388, 313.
457,493. SOARES, Cristóvão, mestre em Artes - 364,
SILVA, Simão da, moço do coro da sé de 383.
Coimbra, preso na cadeia da cidade - 275, SOARES, Cristóvão, secretário régio - 424,
390. 425.
SILVEIRA, fulano da, meio cónego da sé de SOARES, Gabriel, escrivão de ante o juiz do
Coimbra - 135. Porto - 85.
SILVEIRA, Álvaro da - 288. SOARES, Garcia, est. da 4.ª classe - 85.
SILVEIRA, André Gil da, juiz de fora de SOARES, Isabel das Neves, mi. de um
Coimbra - 198. est. - 66.
SILVEIRA, António da, deputado substitu- SOARES, Manuel, canonista - ) 17.
to de Cânones, porcionista do Colégio de SOARES, Manuel, carcereiro da cadeia pública
S. Paulo - 65, 66, l03, 132. de Coimbra - 438.
SILVEIRA, António da, est. canonista - 288 . SOARES, Manuel, est. da U. C. - 155, 238,
SILVEIRA, Cristóvão da, bacharel formado 239.
em Cânones - 197, 198,428. SOARES, Manuel, mestre em Artes, clérigo -
SILVEIRA, Diogo Lopes da - 311. 264, 317.
SILVEIRA, Gil Eanes da, vereador de Lis- SOARES, Miguel - Vide: PEREIRA, Miguel
boa - 197, 198. Soares. ·
SILVEIRA, Manuel da, est. de Gramática - SOARES, Pero, contador da Fazenda, escri-
198, 428. vão e secretário da reformação - 36, 41,
SILVESTRE, Brás - 161. 268,416,417,431,433,434,435,4 51,475,
SILVESTRE, Margarida - 68. 480.
SIMÃO, Frei, frade da Ordem de S. Domin- SOARES, Pero Roiz - 25.
gos - 275. SODRÊ, André, est. canonista-187.
SIMÃO, est. legista - 388. SOEIRO, Gaspar - 366.
SIMOA, Violante - 361. Sous, Isabel - 1IO.

522
SoTOMAIOR, Francisco de Sá - 126. T
SOTOMAIOR, João, est. canonista - 88, 89,
170,225. TA VARES, Álvaro Lopes, colegial do Colégio
SOTOMAIOR, Luís de Cardenas, est. cano- das Ordens Militares - 63, 81, 83, 130,
nista - 125, 126. 183, 454, 455.
SOTOMAIOR, Pedro de Cardenas, desembar- TA v ARES, André, executor das rendas e dívi-
gador da Casa da Suplicação - 125. das da Universidade - 41 , 290, 291, 327,
SOUSA, Afonso Pato de - Vide: PATO, 328, 330, 429, 430.
Afonso. TAVARES, António - 61, 453.
SOUS A, Amaro de, est. canonista-) 19. TAVARES, Francisco - Vide: PINHEIRO, Fran-
SOUSA, António de, est. legista - 120. cisco Tavares.
SOUSA, António de, est. formado em Leis - TA VARES, Jacinto, est. - 333.
209, 463. TA v ARES, João, escrivão régio - 418.
SOUSA, Catarina de -- 116. TA VARES, Mateus, livreiro - 309.
SOUS A, Catarina de Sá e, viúva de Francisco TAVARES, Pero, est. canonista - 99, 100.
da Silva, moradora na Rua · das Fangas
TÁVORA, Cristóvão de, bacharel e licenciado
- 322. em Artes - 364.
SOUSA, Cristóvão Dinis de, opositor na
TEIXEIRA, António José - 25, 43.
Faculdade de Leis - 175, 176.
TEIXEIRA, Cristóvão, canonista - 81, 94,
SOUSA, Duarte de, est. canonista - 50, 51,
141, 171,235,243,269,287,288,320,321,
211.
SOUS A, Estêvão Pinto de, est. legista - 51, 334, 335, 336, 337, 344, 351, 352, 353, 392,
211,212,412. 394, 493.
SOUSA, Filipa de - 85. TEIXEIRA, Luís Fernandes institutário - 49
50, 69. , ,
SOUSA, Francisco de, est. - 89.
SOUSA, Francisco de Macedo de, clérigo de TEIXEIRA, Maria - 49.
ordens sacras, est. canonista - 34, 35, 301, TELES, Manuel, cónego da sé de Coimbra
302,303,304,408,409,410. - 58.
SOUS A, Francisco Pousada, porcionista do TEL0, João, est. - 89.
Colégio de S. Boaventura - 51. TINOCO, Agostinho, est. canonista - 162.
SOUSA, Gaspar de, homem de pé, criado de TINOCO, Damião, est. de Latim e pagem de
Martim de Carvalho - 58, 160. outro est. - 70, 75, 76.
SOUS A, Gaspar Pinto de - 85 . TINOCO, Manuel - 368.
SOUSA, João de Figueiredo de, est. da 5.ª TINOCO, Marcos Rodrigues, escrivão régio
classe - 321 , 323. - 422.
SOUSA, Leonardo de-51 , 211. TINOCO, Pero, est. canonista - 91, 150, 368.
SOUSA, Manuel de, est. -- 175. TOMÁS, fulano , est. que cometera outro para
SOUSA, Panta.Ieão de, bacharel formado na o pecado de molícias - 295.
Faculdade de Leis - 84, 208, 209, 456, 462, TOMÁS, António, escrivão das execuções
463. - 268.
SOUSA, Pero de, bacharel corrente de TOMÉ, Bento - 365.
Medicina - 282. TORGAL, Luís Manuel Soares dos Reis - 8.
SOUSA, Pero de, est. de Medicina - 263. TORNEU, Francisco Cardoso, colegial do
SOUSA, Sebastião de, opositor canonista Colégio de S. Pedro -- 128.
- 483. TORRE, Cristóvão Álvares da, est. cano-
SOUSA, Sebastião Tavares de - 120. nista - 131.
SOUS A, Vasco de, reitor da U. C. - 103, 121, TORRES, João Gil de, est. institutário - 340
132, 140, 182, 189, 232, 265, 270, 279, 296, 341. '
298,299,316, 317, 349,360, 370, 394,412. TORRES, Pedro Álvares, est. de Latim, criado
SUAREZ, Francisco - 32, 491. de outro est. - 357.

523
TORRES, Pero de, est. da 4.ª classe, moço de VASCONCELOS, Francisco da Costa de, est.
outros dois estudantes - 37 I. legista, filho do anterior - 357, 377,378.
TORRES, Simão Gil de - 340. VASCONCELOS, Manuel de, est. institutário
TORROSÃO, Simão, colegial do Colégio de S. - 56, 57, 60.
Pedro - 59, 62. VAZ, Diogo, moço que não estuda e é criado
TOSCANO, Adriano Reimão, est. canonista - de um est. -111, 353, 373.
157, 195, 196. VAZ, Diogo, vendedor de um pistolete a um
TOSCANO, António Reimão, escrivão do est. - 395, 396.
público e judicial da cidade de Lisboa VAZ, Domingos, alfaiate - 337.
- 195. VAZ, Francisco, corrector dos livros da U. C.
TOVAR, Jerónimo de, opositor legista - 62, - 56, 59, 61, 64, 138, 155, 158, 159, 289,
144, 167,191 , 227,229, 303, 333. 350, 412. 296, 309, 360.
TOVAR, Jerónimo de, opositor legista - 62, VAZ, Francisco, corrector dos livros da U. C.
144, 167,191,227,229,303, 333, 350,412. - 56, 59, 61, 64, 138, 155, 156, 158, 159,
TOVAR, Manuel de, alcaide - 444. 289, 296, 309, 360.
TOVAR, Manuel de, canonista - 75. VAZ, Jerónimo, padre, capelão das freiras de
TOVAR, Paulo de- 227. Santa Ana - 287, 288.
TRIGOSO, Franéisco Mendo, lente de Medi- VAZ, Leonor - 252.
cina, colegial e reitor do Colégio de S. Paulo VAZ, Manuel, est. da 5.ª classe, músico do
- 29, 262, 263, 267. coro da sé de Coimbra - 244, 249, 254,
TRIGUEIROS, Lopo, est. legista - 141 , 394. 274, 326, 444.
VAZ, Maria - 254, 236.
VEIGA. António da, est. , ts. - 443, 444.
V VEIGA, Cristóvão da - 445.
VEIGA, Cristóvão Teixeira da - Vide: TEI-
VAIA, Jerónimo, est. da 4.ª classe - 250. XEIRA, Cristóvão.
VAL ADARES, Francisco Rodrigues de, cole- VEIGA, Manuel da, doutor em Teologia e
gial do Colégio de S. Paulo - 288, 289, 394. conselheiro - 168, 169, 238, 321.
VALDARGO, Manuel, est. canonista - 121 , VEIGA, Manuel Veloso da, juiz do fisco, ser-
122, 350, 494. vindo de vice-conservador da U. C. - 57,
VALE, Baltazar do, bacharel canonista, oposi- 60, 169, 184.
tor ao Colégio de S. Paulo - 70, 94, 185, VEIGA, Nicolau da, proprietário de uma casa
186, 453, 456, 457, 458. em Coimbra - 278, 464.
VALE, Gonçalo do - 185, 257. VELASQUES, Fernão - 374.
VALES, Brás, clérigo, canonista - 266. VELASQUES, João, est. canonista - 357, 374.
VARELA, António, clérigo de missa, est. VELHO, António, provisor - 256.
canonista - ] 19, 165, 166. VELHO, António, tio de um est. canonista
VARELA, Gonçalo, bacharel formado em - 151.
Cânones - 179. VELHO, Diogo, est. legista - 366.
VASCONCELOS, António de - 11 , 15, 32. VELHO, Francisco - 342.
VASCONC ELOS, António Pereira de, est. le- VELHO, Gaspar, est. da 8.ª classe das Escolas
gista - 309. Menores - 79.
VASCONCELOS, Cipriano Mendes de, bacha- VELHO, João, est. institutário - 342, 343.
rel em Leis - 55, 215,216. VELHO, Pero, est. legista - 94.
VASCONCELOS, Diogo Mendes de - 215. VELOSO, António, legista formado e depu-
VASCONCELOS, Filipe de, est. canonista - 237. tado de Leis - 66, 68, 160, 233.
VASCONCELOS, Francisco de Barros de, VELOSO, Baltazar, contador das Sete Casas
canonista - 88, 89. - 166, 235, 337.
VASCONCELOS, Francisco da Costa de - 377. VELOSO, Lancerote - 160, 233.

524
VELOSO, Manuel, vice-conservador da U. C. VIOLANTE (D .}, cunhada do Dr. António
- 106, 240, 277, 309. Homem - 86.
VELOSO, Simão, pagem do Dr. António
Velho - 151. X
VI EGAS, António, lente dos três livros de
Código - 130, 181 , 375. XIME NES, André, est. legista - 79, 377, 454,
VIEIRA, Domingos, jurado com Ângela 469.
Fernandes - 336. XIMENES, Manuel, est. canonista - 133, 233,
VIEIRA, Isabel - 69, 74, 76, 453. 289.
VIEIRA, João - Vide: AZEVEDO, João Vieira z
de.
VILA NOVA, Conde de - 154. ZUZARTE, André, preso na cadeia da cidade,
VI LALOBOS, Filipa de - 56. ts. - 444.
VI LAS BOAS, Martim de Carvalho - Vide: ZUZARTÊ, António - 356.
CARVALHO, Martim de. ZUZARTE, António, legista - 357.
VILELA, João Moutinho, cónego da sé de ZUZARTE, Jerónimo - 273, 323, 327.
Coimbra - 146, 148. ZUZARTE, Pascoal, sacerdote, capelão do
VILLA H ERMOSA, Duque de - 324, 326, 419, reformador - 47.
420, 421 , 422, 423, 424, 425, 426, 427, 428, ZUZARTE, Simão, est. canonista - 356, 357,
429,430, 431,432. 371 , 374, 378.

525
ÍNDICE TOPONÍMICO

A ARCO (Junto a S. Pedro, ao)-96, 99.


ARCO DE ALMEDINA-120, 148, 314. Vide
também: ALMEDINA.
ABRANTES - 66, 129,356,357,371,374,378. ARCO DA RUA DIREITA-299.
ÁFRICA-9, 241,417,435. ARCOS DE VALDEVEZ - 70, 185, 453, 457.
ÁGUA DE MAIAS, ponte-90, 150. ARGANIL - 103, 29 J.
ÁGUAS BOAS-Aveiro - 272. ARNADO- Coimbra - 248.
AGUIAR DA BEIRA - 268, 290. ARRAIOLOS- 137, 149, 283, 307.
ALCÁCER-QUIBIR -10. ARRIFANA DE SOUSA- 71, 106, 209, 210,
ALCÁCER DO SAL - 144. 212.
ALCOBAÇA - 139, 200,201,283. ARRONCHES-100.
ALCOENTRE - 350. ATOUGUIA-151.
ALCOCHETE - 188. AVEIRO- 72, 73, 89, 90, 96, 129, 174, 175,
ALCOUCE-Coimbra-131. 253, 263, 266, 267, 272, 289, 292, 347, 387,
ALDEIA GALEGA - 61 , 127, 206, 229, 319, 477.
340, 392, 453. AVELÃS-104.
ALDEIA DA PONTE - 328. AVIS - 128.
ALENQUER - 40, 47, 49,420,425. AZEITÃo - 180, 319,457.
ALENTEJ0 - 80, 89, 90, 91, 102, 111, 114, AZINHAGA -- Coimbra - 160.
115, 138, 140, 143, 147, 172, 203, 230, 284,
309, 371,373,461,466.
ALGARVE - 26, 51, 55, 81, 129, 135, 185, e
211 , 264, 282, 283, 288, 478.
ALGARVES - 417, 435. BAIRRO DO SALVADOR - 69, 98, 305, 453.
ALHANDRA- 128. BAIRRO DE SÃO PEDR0 - 51, 62, 66, 71, 80,
ALMEDINA-Coimbra - 157, 214, 308. Vide 93, 99, 101, 111, 114, 118, 126, 173, 193,
também: ARCO DE ALMEDINA. 208, 215, 284, 306, 311, 330, 332, 334, 336,
ALMODÔVAR - 211. 339,377,387,459,469.
ALPALHÃO- 137, 307. BARBACÃ DA UNIVERSIDADE - 271, 323.
ALTERDOCHÃ0 - 111, 140,141,177. BARBACENA - 150.
ALVORGE-285, 329. BARCELOS - 340.
AMARANTE-34, 98, 147, 148, 163, 164,270, BECO - 134, 187.
301,302,303,304,408,410. BECO DA RUA DAS Cov AS - 203.
AMÉRICA-9. BEIRA-167, 290,291,328, 329.
ANADIA - 278. BEJA - 74, 77.
ANSIÃ0 - 433, 434. BELVER - Abrantes-371 .

527
BENFICA - Lisboa-197. COINA-362.
BESTEIRO - Penela - 329. CONCHADA - Coimbra - 115, 151 , 253.
BESTEIROS- 168. CoRvo-Miranda - 131.
BRAGA - 69, 70, 74, 75, 76, 88, 95, 101 , 146, COSELHAS - Coimbra - 447.
303,306,344,367,375,388,453. COURA - 212.
BRAGANÇA - 287. COURAÇA - Coimbra - 55, 57, 58, 68, 76,
BRITIANDE - 187, 189, 194, 196, 370, 458, 77, 85, 125, 126, 127, 139, 155, 173, 178,
460. 207, 208, 289, 296, 341, 349, 350, 368, 390,
BUA RCOS - 232. 454.
COUTO DE ANA DIAS - 278.
CRATO - 265, 386.
e CRISTELOS, Santo André - 71 .

CABAÇOS - 329.
CADAVAL - 68. E
CAIS - Coimbra - 52, 310, 324.
CALÇADA - Coimbra - 105, 115, 120, 135, ElVAS - 149, 150, 161 , 228, 302, 333, 368,
184, 214, 249, 258, 259, 261, 262, 274, 295, 382.
314, 322,394,444,450. ENTRE DOURO E MINH0 - 66, 211.
CALDAS DA RAINHA-432. ESPANHA - 10.
CANAS DE SENHORIM - 110. ESPINHAL-131 , 172,369.
CANAVESES - 171. ESPIRITO SANTO - Santo António dos Oli-
CARAPINHEIRA - 284, 285, 306. vais - 122.
CASTELO (Porta do)- Coimbra - 133, 141 , ESTREMOZ - 54, 79, 138, 362, 377, 378, 382,
142, 154, 168, 169, 172,175, 213,238,286, 383,388, 452,454, 469.
287,301 , 302,303,320, 323,334,336,345, ÉVORA - 34, 55, 76, 79, 83, 125, 126, 137,
351,352,452, 455,493. 139, 144, 154, 162, 170, 181 , 184, 189, 208,
CASTELO BRANC0-34, 67, 87, 98, 112, 113, 209, 217, 223, 234, 235, 283, 307, 310, 334,
138,297,370,380, 383, 389, 404, 406. 402,452,454,455, 462.
CASTELO DE VIDE - 307.
CASTRO DAIRE - 123.
CELAS - Coimbra - 80, 230. F
CELORIC0 - 160, 186,236.
CERCA DO CARMO - 245, 251. FAICAJOS - Braga, 146.
CERCA DOS FRADES DE NOSSA SENHORA DA FALA - Coimbra - 268.
GRAÇA- 146, 147. FAR0-51 , 211 , 412.
CERCA DO MOSTEIRO DE CELAS- 141. FEIRi'. - Vide: VILA DA FEIRA.
CERCA DOS PADRES DE SÃO JERÓNIM0 - FEIRA DOS ESTUDANTES - Coimbra-148,
173, 213. . 154, 173, 254, 285, 294, 303, 358, 359, 369,
CERCA DE SANTA CRUZ-141, 142, 154, 253, 372,373.
254, 257, 337. FERLAIN (?) -- 76, 77.
CERCA DE SÃO BERNARDO - 24S, 251. FERREIRA - 76.
CERCAS DOS PADRES DA COMPANHIA E FERREIRA - Lamego, 97.
SANTA CRUZ (Entre as) - 93, 141, 142, FICALH0 - 324, 326, 419,420, 421,422,423,
154, 254,337, 404. 424,425,426,427,428, 429, 430,431 , 432.
CHAMUSCA - 388. FONTE ARCADA - 328.
CHAVES - 98, 127. FIGUEIRINHAS - Coimbra - 66.
CINFÃES- 96, 97. FIGUEIRÓ DOS VINHOS - 135, 202, 247, 252,
CIOGA DO MONTE - 140. 460.

528
FLANDRES - 323, 446. 176, 177, 178, 180, 182, 183, 184, 188, 189,
FORCA - Coimbra-244, 249,251 , 257. 191 , 192, 193, 194, 196, 197, 198, 204, 213,
FORNOS DE ALGODRES-214. 220, 221 , 225, 227, 228, 229, 230, 254, 264,
FRANÇA - 10. 270, 287, 288, 289, 295, 296, 300, 304, 305,
FRANCAVILLA - 47, 49, 420,425. 311, 312, 317, 324, 330, 332, 337, 339, 341 ,
FREIXO DE ALEMÃ0{1) - 168, 191,193, 204, 347,348,349,350, 352,356,362,365,378,
328,459, 461. 386, 388, 401, 404, 410, 411, 413, 418, 420,
FRONTEIRA - 173, 263, 387. 425,433,434,435, 460,465,488,489,493.
FUNCHAL - 152. LO RETO - Coimbra - 58.
FUNDÃ0 - 261. LORIGA - 407.
LORVÃ0 - 136, 172, 173,200,220,344.
G LOURIÇAL - 323.
LOURINHÃ - 108, 115, 124.
GólS - 96. LOUSÃ - 136, 200, 282.
GRANJA - Lorvão - 344.
GUARDA- 81 , 101 , 268, 269, 282, 370.
M
GUIMARÃES - 70, 94, 98, 127, 156, 164, 186,
241 , 282, 338, 341 , 342, 343, 345, 346, 374,
MAÇÃ0 - 203, 206, 278, 371 , 373,376,461,
375, 408,453,456,457,467. 466, 467, 468.
GUINÉ- 417, 435.
MADEIRA, ilha - 125, 126, 128, 181, 296, 299.
MADRID - 39, 40, 324, 326, 419, 420, 421 ,
422, 423, 425, 426, 427, 428,429,430, 431,
432, 434, 435.
MAIA - Porto - 90, 367.
IDANHA - 67.
IDAN HA-A-NOVA- 34, 260, 331 , 397, 404, MILHEIRÓS DE POIARES - Vila da Feira -
202, 280.
405, 406,407.
ÍNDI A- 9, 210, 212. MIRANDA DO CORV0 - 131 , 166, 172,368.
MOGADOUR0 - 95, 369.
MOIMENTA DA BEIRA - 329.
MONÇÃ0 - 181.
L
MONTARROIO - Coimbra - 90, 91,149, 244,
LAGARES - 290. 249, 252, 253, 276, 326,367,447.
MONTEMOR-O-Novo - 56, 57, 60,403.
LAM EG0 - 15, 25 , 31 , 37, 67, 79, 86, 95, 96,
97, 99, 148, 184, 185, 196, 204, 223, 229, MONTEMOR-O-VELH0 - 151 , 162, 259 282
284,307. ' '
268, 288, 305, 400, 421 , 460, 461 , 485. 491.
LEIRI A- 36, 226, 417. MORTÁGU A- 87, 113, 370.
LIM A, rio - 301 , 342. MOURA- 55, 156, 313, 377, 452, 465, 469.
LINH ARES - 174, 234. MOURARIA - Lisboa - 53, 411 .
M URTEDE- 297.
LISBOA - 14, 15, 25, 40, 47, 48, 49, 50, 53,
59, 61 , 62, 63, 64, 68,69, 77, 80, 81, 83, 86,
91 , 92, 93 , 94, 97, 100, 102, 108, 109, 111, o
113, 114, 116, 117, 118, 120, 121, 122, 124,
128, 130, 132, 133, 141, 142, 144, 153, 156, ÓBIDOS - 115, 361.
159, 162, 163, 165, 166, 167, 169, 170, 171 , ÜIÃ - Aveiro - 347.
ÜLARIAS - 251, 448.
ÜLEDO - Idanha-a-Nova - 34, 397, 404.
(1) Sic. Presume-se que seja Freixo de ÜUVAIS - Coimbra - 141.
Numão. ÜURÉM - 55, 78, 187, 215.

529
p 235, 242, 266, 269, 288, 289, 307, 334, 337,
341, 353, 355, 372.
PAÇO DO CONDE-Co imbra- 74, 88, 161, PORT0-33, 71, 76, 84, 85, 90, 101, 106, 107,
195, 205, 220. 119, 124, 141, 144, 145, 153, 175, 179, 186,
PAÇOS DO BISPO - Coimbra - 81. 194, 205, 206, 208, 209, 210, 233, 263, 265,
p ADERNE - 252. 298, 299, 348, 354, 366, 367, 381, 389, 398,
PALMELA-181. 399,400,410,462,489,494.
PARANHOS - 110. PORTO DE MUGE - 153.
PAREDES - 328. PORTUGAL - 105, 324, 417, 435.
PÁTIO DAS ARTES-315. Povos - 91.
PÁTIO DAS ESCOLAS MENÓRES - 115. PRAÇA-Co imbra-85, 237, 263.
PÁTIO DA UNIVERSIDADE-298. PRAÇA DA PALHA - Lisboa - 50.
p AVIA - 223, 234. PRADO- Braga-90, 367.
PÉ DE CÃ0 - 249. PROENÇA-A-NOVA - 390.
PEDREIRA - Coimbra - 52, 64, 80, 110, 111,
114, 141, 149, 150, 153, 176, 177, 197, 198,
304, 310, 312, 333, 342, 353, 356, 357, 362, a
366,368,371, 374,377,378.
PEDRÓGÃ0-109, 178. QUINTA DOS FRADES DE SANTO AGOSTI-
PEDRÓGÃO PEQUENO - Crato - 386. NHO-Conch ada - 151.
PEDRULHA - Coimbra - 86.
PENA VERDE-! 19.
PENACOVA-348, 444. R
PENAGUIÃ0 - 187, 196,458,460.
PENALVA - 168, 286. • RASCASIL VA - Penacova - 348.
PENEDONO - 328. RIBAS - Vide: RUA DE SOBRE-RIBAS .
PENELA - 132, 328, 329. RIBEIRA - 54.
PEREIRA - ! 14, 135, 155, 238, 239, 248, 264, ROMA-377, 468.
274. ROMAL - Coimbra - 253.
PINHEIRO, quinta - Amarante - 409. RUAS DE COIMBRA:
PINHEL- 123, 168. RUA DE ALMEDINA - 309.
POMBAL - 11, 32. RUA DO ALMOXARIFE - 380.
PONTE DE S. BER ... - 468. RUA DE ALVAIÁZERE-93, 141, 142, 163,
PONTE DE ÁGUAS DE MAIAS - 251. 169, 188, 193, 204, 206, 224, 234, 336, 352,
PONTE DA BARCA - 87. 371,376,459,461,462,466.
PONTE DE LIMA - 139. RUA DOS ANJOS - 54, 70, 81, 452.
PORCO - Santo André de Cristelos - 71. RUA DAS AZEITEIRAS - 120, 415, 444.
PORTA DE ALMEDINA - 24. RUA DE BRÁS NOGUEIRA - 97.
PORTA DO CASTELO - 54-55, 72, 84, 92, 93, RUA DA CALÇADA - 219.
101. RUA DO CARM0 - 367.
PORTA DO ESTUDO DAS ESCOLAS ME- RUA DAS CASAS DA PERESTRELA - 119.
NORES - ! 16, 143. RUA DO COLÉGIO Novo DOS PADRES DE
PORTA NOVA - 67, 119, 120, 133, 191, 192, SANTA CRUZ - 134.
260,277,331,380,404,459. RUA DO COLÉGIO REAL - 206, 462.
PORTA DA TRAIÇÃ0-50 , 93, 164, 168, 180, RUA DO COLÉGIO DE S. PAUL0-59, 133,
215,330,339,377,457. . 180,206,277,373,463,467.
PORTAGEM - 153, 239, 247, 254. RUA DOS COLÉGIOS - 276, 294.
PORTALEGRE - 49, 63, 69, 92,102,110,1 11, RUA DO CORPO DE DEUS - 85, 97, 115, 135,
113, 137, 140, 141, 153, 166, 177, 230, 233, 244. 249,251,253, 255,264,276, 315,327.

530
RUA DE CORUCHE-106, 157, 195, 196, 295. s
RUA DAS COVAS - 75, 79, 87, 92, 105, 191 ,
203, 315, 371. SABUGOSA - 110.
RUA DETRÁS DO COLÉGIO DE S. PAUL0 - 97. SACAVÉM -50, 166, 229, 303, 349.
RUA DIREITA - 118, 122, 201, 245, 299, 348, SALAMANCA - 30, 34, 140, 210, 260, 261 ,
354. 265, 287, 298, 331 , 361 , 397, 404, 405, 406,
RUA ENTRE AS CERCAS DOS PADRES DA 407.
COMPANHIA E DE SANTA CRUZ - 141 SALVATERRA - 134.
142. , SANTA CLARA, burgo - 271 , 285, 323.
RUA DAS ESCOLAS MENORES-81 , 84,284. SANTA COMBA DÃ0 - 105, 109, 295, 314,
RUA DOS ESCUDEIROS - 53, 411,415. 315,478.
RUA DOS ESTUDOS-107, 115, 121 , 167, 173, SANTARÉM - 52, 54, 134, 179, 195,205, 313,
189,220, 266,370, 458. 319, 350, 365, 415.
RUA DAS FANGAS-62, 108, 120, 124, 158, SANTIAGO DO CACÉM - 121.
310, 322, 332, 493, 494. SANTIAGO-O-Novo - Arrifana de Sousa -
RUA DAS FLORES - 173. 71, 101.
RUA DO FORNO - 227, 305. SANTO ANDRÉ DE CRISTELOS - 71.
RUA DE JOÃO BORGES - 375. SANTO ANTÓNIO DOS Ouv AIS - 122.
RUA DE JOÃO CABREIRA - 106, 273. SANTO ANTÓNIO DO TOJAL - 84.
RUA DE MATA-PORCOS - 177. SÃO BARTOLOMEU-Lourinhã-! 15.
RUA DA MATEMÁTICA-150. SÃO BARTOLOMEU - Óbidos - 361 .
RUA DA MOEDA - 79. SÃO BREIXEMO - Braga - 75.
RUA NOVA-318. SÃO JOÃO DA Foz DO PORT0 - 85, 127.
RUA DAS PADEIRAS-321 , 444. SÃO PEDRO, freguesia - Vide: BAIRRO DE
RUA DAS PARREIRAS-55, 83, 100, 101 , 159, SÃO PEDRO.
166, 167, 191 , 300, 313, 340,346, 379, 452, SÃO PEDRO DO SUL - 85, 86.
455, 465. SARDOAL - 99, 371 , 376, 466,468.
RUA DA PEDREIRA PARA A IGREJA DE S. CRIS- SEIA - 138, 282, 283.
TÓVÃO - 378. SENDIM - 328, 329.
RUA DO POCINH0 - 153, 205. SERNANCELHE - 165.
RUA QUE VAI DO COLÉGIO REAL PARAS. JOÃO SERPA - 54, 144, 452.
DE ALMEDINA - 276. SETE CASAS - 235, 337.
RUA QUE VAI DE S. JOÃO AO COLÉGIO DE S. SETúBAL - 58, 61 , 62, 63, 71, 77, 116, 139,
BENT0 - 327. 143, 208, 218, 230, 289, 340, 343, 346, 379,
RUA DE QUEBRA-COSTAS - 120, 135, 301, 401 , 402,403.
328, 380. SOUSA, terra - 101.
RUA DA SABOARIA-114. SOUTO DE PENEDON0 - 204, 461.
RU A DAS SABOARIAS - 131.
RUA DO SALVADOR-146.
RUA DE SANTA SOFIA - 109-110, 205,461. T
RUA DE SÃO CRISTÓVÃ0 - 98, 163, 312, 388,
465. T ANOARIAS - 446.
RUA DE SÃO JERÓNIM0 - 166, 171 , 315. TENTÚGAL - 244, 444.
RUA DOS SAPATEIROS - 85, 126, 132, 244, TERCEIRA, ilha - 237.
278, 319, 327, 392, 437. TERRA DA FEIRA - Vide: VILA DA FEIRA.
RUA DE SOBRE-RIBAS - 104, 134, 165, 185, TERREIRO DAS ESCOLAS- 65, 103, 382.
275, 380, 457. TERREIRO DE SANTA CRUZ - 90 278 444
RUA DE TINGE-RODILHAS- 72, 174, 328. 44~~- , , ,
RUA DA TRINDADE-145, 211,272. TERREIRO DE SANTA JUSTA - 209.
TERREIRO DA UNIVERSIDADE - 229, 303, VIANA DO CASTELO (ou da Foz do Lima) -
323, 379, 385. 15, 48, 98, 126, 169, 212, 270, 301, 321 ,
TOJAL, Santo António - 84. 342,403.
TOMAR - 99, 310. VILA DO CONDE - 382.
TRANCOSO - 118, 119, 122, 123, 191 , 219, VILA COVA - 96, 184,387.
372, 376,459,468. VILA DA FEIRA-201 , 202, 280,308,318.
TRAVESSA DAS CERCAS DE S. BERNARDO E VILA FRANCA - 102, 108, 289.
DO CARMO - Coimbra - 245, 251, 252. VILA NOVA - 154.
TRAVESSA DEFRONTE DA IGREJA DE S. JOÃO VILA NOVA DE ALVIT0 - 133.
E DO COLÉGIO DE S. PAULO-Coimbra VILA NOVA DE CERVEIRA-207.
-294. VILA NOVA DE Foz COA - 328.
TRAVESSA PARA O COLÉGIO DE S. FRANCISCO VILA REAL - 107, 146, 458,478.
- Coimbra - 135. VILA RUIVA- 76.
TRAVESSA A PORTA NOVA - Coimbra - ! 19, VILA VIÇOSA- 77, 115, 150, 266, 359, 361 ,
120. 362,454.
TRAVESSA QUE FICA NA ILHARGA DA IGREJA VILAR TORPIM - 123.
DO COLÉGIO DE SANTA CRUZ-Coim- VILARINH0 - 357, 377.
bra - 68. VILLA HERMOSA - 324, 326, 419, 420, 421,
422, 423, 424, 425, 426, 427, 428, 429, 430,
V 431,432.
VILLAGOZENDO- 87.
VAGOS - 73. VISEU - 105, 110, 120, 156, 168, 196, 214,
VALONGO - 263. 276, 286, 291, 315, 485.
VEIROS - 54, 79, 84, 138, 307, 452, 454, 455.
VENDA DA COSTA - 91. z
VER RIDE- 245.
VIANA, quinta junto a Viseu - 286. ZURARA - 90.

532
ÍNDICE GERAL

Prefácio .................................................. ... . 7


Introdução .................................................. . . 9
Autos e Diligências de Inquirição ............................... . 45
Índice Antroponímico ......................................... . 497
' . ............................................ .
I,ndºice TopomIIllco 527
Índice Geral .................................................. . 533

533
Esta edição dos AUTOS E DILIG~NCIAS DE
INQUIRIÇÃO, foi composta, impressa e
encadernada, para a Fundação Calouste
Gulbenkian, nas oficinas da G. C.-Gráfica
de Coimbra, Lda. A tiragem é de 2 000
exemplares, encadernados.
Dezembro de 1989.
Depósito legal n. 0 33270/ 89
ISBN 972-31-0500-4
EDIÇÕES DA FUNDAÇÃO
CALOUSTE GULBE KIA N

· Ma nuais Universitários
206 volumes publicados

Textos Clássicos
13 volumes p ublicados

Cultura Portuguesa
35 volumes publicados

Próximas publicações:

OBR AS COMPLETAS
DE FARIA DE VASCONCELOS

li VOLUME

CO SOLAÇÃO ÀS TRIBULAÇÕES
DE ISRAEL
SAMUEL USQUE

So brecapa de Vítor da Silva


SÉRIE DE CULTURA PORTUGUESA
DAS EDIÇÕES DA FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN

Aparecendo embora depois de outras, talvez que esta série do Plano


de Edições da Fundação Calouste Gulbenkian possa considerar-se
anterior ·às que a precederam : pois não foi sempre na Cultura Portu-
guesa que se pensou ao projectar e fazer tudo quanto já existe no
referido Plano? Agora e aqui trata-se apenas de explicitar, criando
um lugar próprio reservado aos testemunhos válidos da singularidade
e da autenticidade da nossa cultura, seja qual for o quadrante onde
se localizem. Interessa-nos documentar o que somos e temos sido no
campo das letras e das artes, da reflexão e do saber; procuramos
atingir a realidade colectiva nacional , que se criou pensando e agindo,
aprendendo e inventando, conhecendo ou descobrindo os outros, mas
sentindo-se sempre diferente deles . Uma realidade que é viva e se
interroga à medida que vive : o clássico e indecifrado enigm·a histórico
de tudo o que é humano e existe no tempo .
/

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