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O MUNDO COMO REPRESENTAÇÃO E AS

DISTINTAS REPRESENTAÇÕES DO MUNDO

CRÍTICA AO EUROCENTRISMO
O MUNDO COMO REPRESENTAÇÃO
Veneza e Gênova Espanha
Sistema-Mundo Moderno em 1500 (Braudel)
Alguns dos circuitos comerciais existentes entre 1330 e 1550, segundo Abu-Lughod
(1989). Até esta data, existiam também outros no Norte da África, que ligavam o Cairo
a Fez e a Timbuto.
“[...] empiricamente nunca houve História Mundial até
1492 (como data de início [...] da operação do Sistema-
mundo.) [...]. Antes dessa data, os impérios ou sistemas
culturais coexistiam entre si. Apenas com a expansão
portuguesa desde o século XV, que atinge o Extremo
Oriente no século XVI, e com o descobrimento da
América hispânica, todo o planeta se torna o lugar de
uma só História Mundial. (Magalhães-Elcano realiza a
circunavegação da Terra em 1521).”(DUSSEL, 2005:
27)
a seta indica a procedência do homo sapiens na América e as influências neolíticas do
Pacífico; e nada mais.
Sistema-Mundo Moderno em 1775 (Braudel)
A emergência do circuito comercial do Atlântico interligou os circuitos assinalados na ilustração
com pelo menos dois não interligados até então: o circuito comercial que tinha seu centro em
Tenochtitlán e se estendia pelo Anáhuac; e o que tinha seu centro em Cusco e se estendia pelo
Tawantinsuiu.
EUROCENTRISMO

- Não pode ser caracterizado apenas com um mero


fenômeno etnocêntrico, comum aos povos em outras
épocas históricas.

-- Ele é uma ideologia, paradigma e/ou discurso.

- Ele é a expressão de uma dominação objetiva dos


povos europeus ocidentais no mundo.
a influência grega não é direta na Europa latino-ocidental (passa pelas setas a e b). A sequência c
da Europa moderna não entronca com a Grécia, nem tampouco diretamente com o grupo bizantino
(seta b), mas sim com todo o mundo latino romano ocidental cristianizado.
“A conquista ibérica do continente americano é o momento inaugural
dos dois processos que articuladamente conformam a história
posterior: a modernidade e a organização colonial do mundo [...]. Com
o início do colonialismo na América inicia-se não apenas a
organização colonial do mundo mas simultaneamente a constituição
colonial dos saberes, das linguagens, da memória (Mignolo, 1995) e
do imaginário (Quijano, 1992). Dá-se início ao longo processo que
culminará nos séculos XVIII e XIX e no qual, pela primeira vez, se
organiza a totalidade do espaço e do tempo .todas as culturas, povos
e territórios do planeta, presentes e passados. numa grande narrativa
universal. Nessa narrativa, a Europa é .ou sempre foi
simultaneamente o centro geográfico e a culminação do movimento
temporal.
O colonialismo e a implantação do Sistema Mundo Moderno-
Colonial(do século XV ao XVIII...)
•Sistema-mundo – organização dos espaços regionais à dinâmica
eurocêntrica – história e geografia mundiais;

•Mundo moderno como protagonismo europeu nega a participação


de outras regiões e sociedades para a sua consolidação;

•A modernidade é uma emancipação – processo exclusivamente


europeu – século XVIII – Reforma – Ilustração e Revolução francesa
– sequência espacial-temporal;

Os europeus geraram uma nova perspectiva temporal da História


e re-situaram os povos colonizados, bem como as suas respectivas
Histórias e Culturas, no passado de uma trajetória histórica cuja
culminação era a Europa.
Calendário como tempo contínuo, linear, homogêneo – o tempo
concreto;
-globalização da exploração da natureza e do conhecimento de
outras sociedades – mudança do circuito econômico para o
Atlântico - inserção da América Latina – mudanças na geografia
mundial.

segunda visão de “modernidade” – nunca houve história mundial


antes de 1492 – coexistência de impérios ou sistemas culturais;

Mundo-moderno-colonial – hierarquização de poder - matriz


branca, europeia e masculina;

-Mito: moderno-atrasado; civilizado-selvagem; desenvolvido-


subdesenvolvido; superior-inferior; centro-periferia; Europa
desenvolvimento linear. (PORTO-GONÇALVES, 2006).
COLONIALISMO

- Estrutura de dominação/exploração onde há o controle da autoridade


política, dos recursos de produção e do trabalho de uma população
determinada por outra população detentor de uma identidade diferente cuja
a sede central está em outra jurisdição territorial;

- Nem sempre implica relações racistas de poder;

- É mais antigo que a Colonialidade;

COLONIALIDADE

- É um dos elementos constitutivos e específicos do padrão mundial de


poder capitalista que se constitui no final do século XV e início do XVI
engendrada no Colonialismo;

- É indissociável do colonialismo. Sem ele a colonialidade não teria


conseguido impor na subjetividade do mundo de modo enraizado e
prolongado;

- Funda-se na imposição de uma classificação racial/étnica da população


mundial como pedra angular do padrão de poder;
“[...] o critério básico de classificação social universal da população
mundial, de acordo com a idéia de ‘raça’ foram distribuídas as
principais novas identidades sociais e geoculturais do mundo. Por
um lado, ‘Índio’, ‘Negro’, ‘Asiático’ (antes, ‘Amarelos’), ‘Branco’ e
‘Mestiço’; por outro, ‘América’, ‘Europa’, ‘Ásia’, ‘África’ e ‘Oceania’.
Sobre ela se fundou o eurocentramento do poder mundial
capitalista e a conseguinte distribuição mundial do trabalho e do
intercâmbio. E, também sobre ela, se traçaram as diferenças e
distâncias específicas nas respectivas configurações específicas de
poder, com as suas cruciais implicações no processo de
democratização de sociedades e Estados, e da própria formação de
estados-nação modernos”. (QUIJANO, 2007:43)
A COLONIALIDADE
-Homogeneiza (cria um padrão estético inalcançável a ser
perseguido);
-Invisibiliza (apaga do tempo e do espaço);
-Retira o Estatuto de Humanidade;
-Divide;
-Estabelece sucessivas separações de categorias;
-Desperdiça, destrói e Subalterniza Experiências;
-‘Desempodera’;
-Tira o Crédito e a Legitimidade;
-Tira o Protagonismo;
-Cria e se alimenta de múltiplas hierarquias (gênero, étnico-
racial, geracional, classe, entre outras);
O confronto entre a experiência histórica e a perspectiva
eurocêntrica de conhecimento permite apontar alguns dos
elementos mais importantes do eurocentrismo: a) uma articulação
peculiar entre um dualismo (pré-capital-capital, não europeu-
europeu, primitivo-civilizado, tradicional-moderno, etc.) e um
evolucionismo linear, unidirecional, de algum estado de natureza à
sociedade moderna europeia; b) a naturalização das diferenças
culturais entre grupos humanos por meio de sua codificação com a
ideia de raça; e c) a distorcida relocalização temporal de todas
essas diferenças, de modo que tudo aquilo que é não-europeu é
percebido como passado. Todas estas operações intelectuais são
claramente interdependentes. E não teriam podido ser cultivadas e
desenvolvidas sem a colonialidade do poder.
A constituição do ‘sistema-mundo moderno/colonial’
(WALLERSTEIN, 1979; MIGNOLO, 2000), a partir do século XV,
assentou em múltiplas ‘destruições criadoras’ que, mesmo
quando realizadas em nome de projetos ‘civilizatórios’,
libertadores ou emancipatórios, visaram reduzir a compreensão
do mundo à compreensão ocidental do mundo. São exemplos, a
redução dos conhecimentos dos povos conquistados à condição
de manifestações de irracionalidade, de superstições ou, quando
muito, de saberes práticos e locais cuja relevância dependeria da
sua subordinação à única fonte de conhecimento verdadeiro, a
ciência; a subordinação dos seus usos e costumes ao direito do
Estado moderno e das suas práticas econômicas à economia
capitalista; [...]”
Giro decolonial
"Giro decolonial" é um termo cunhado originalmente por Nelson Maldonado-
Torres em 2005 e que basicamente significa o movimento de resistência
teórico e prático, político e epistemológico, à lógica da
modernidade/colonialidade. A decolonialidade aparece, portanto, como o
terceiro elemento da modernidade/colonialidade.
A genealogia do pensamento decolonial é planetária e não se limita a
indivíduos, mas incorpora nos movimentos sociais (o qual nos remete aos
movimentos sociais indígenas e afros) (Mignolo, 2008, p. 258).

Relaciona-se com o projeto de decolonização na medida em que esta


aspira romper com a lógica monológica da modernidade. Pretende fomentar
a transmodernidade: um conceito que também deve se entender como um
convite ao diálogo e não como um novo universal abstrato imperial. A
transmodernidade é um convite a pensar a modernidade/colonialidade de
forma crítica, desde posições e de acordo com as múltiplas experiências de
sujeitos que sofrem de distintas formas a colonialidade do poder, do saber e
do ser. A transmodernidade envolve, pois, una ética dialógica radical e um
cosmopolitismo de-colonial crítico (Maldonado-Torres, 2007, p. 162).
No nosso contexto brasileiro, destacam-se os deslocamentos e as
insurgências dos/as intelectuais negros e negras na formação de um novo
cânone acadêmico, em espaço de disputa e oposição às narrativas
dominantes que colocaram a África e os/as negros/as em um não-lugar.
Assim, refutando a negação histórica de um locus de enunciação negro,
considerando que o processo de escravização pretendia, também, os
compelir à desumanização (MIRANDA, 2018).

Como contrarresposta a este processo histórico, a insurgência decolonial se


configura enquanto práxis de reexistência epistêmica ao se incumbir de
valorizar e difundir produções de conhecimento, narrativas, vozes e lugares
de fala que sofreram epistemicídio, dinâmica educacional que inferioriza a
capacidade cognitiva e a confiança intelectual de negros e negras
(CARNEIRO, 2017). Se rebelando contra este fenômeno que desvaloriza,
nega e oculta estas contribuições, propomos uma multiplicidade
epistemológica que se materializa em rupturas nos campos da produção do
saber hegemônico.
REFLEXÕES FINAIS

Que la diversidad del mundo es infinita. Existen diferentes


maneras de pensar, de sentir –de sentir pensando, de pensar
sintiendo–, de actuar; diferentes relaciones entre seres
humanos –diferentes formas de relación entre humanos y no
humanos, con la naturaleza, o lo que llamamos naturaleza;
diferentes concepciones del tiempo, diferentes formas de mirar
el pasado, el presente y el futuro; diferentes formas de
organizar la vida colectiva y la provisión de bienes, de
recursos, desde un punto de vista económico. Para las
Epistemologías del Sur, esta gran diversidad queda
desperdiciada porque, debido al conocimiento hege­mónico
que tenemos, permanece invisible. (BOAVENTURA DE
SOUZA SANTOS, 2013).

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