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História

Diferentes discursos, diferentes


intencionalidades

1o bimestre – Aula 09
Ensino Médio
● As bases históricas dos ● Identificar e contextualizar
discursos dicotômicos. os discursos dicotômicos a
Dominações econômicas e partir do contexto do
civilizatórias no contexto do Imperialismo.
Imperialismo.
Todos falam
Os vergonhosos 'zoológicos humanos'
que existiram na Europa até 1958
“Nos anos 1870, iniciou-se a mostra mais
sistemática de nativos de outras culturas,
vindos de sociedades da África, da Ásia, da
Oceania e de partes das Américas, no
chamado Jardim Zoológico da Aclimatação,
em Paris, e logo também nas grandes
exposições universais e nas coloniais.”
Cartazes das exposições de núbios
Ref. KOUTSOUKOS. (1877), calmucos (1883) e somalis
(1890) no Jardin zoologique
Editora UNESP. Imagem. Kant d'acclimatation em Paris — e detalhes do
cartaz da mostra dos ashantis (1887).
Todos falam

● Reflita sobre o título e as imagens expostas. Tente imaginar em que


contexto essas situações aconteceram.
● Quais impressões as imagens causaram em você? Justifique. Não
deixe de registrar suas observações.

Editora UNESP. Imagem. Kant


A partir dos encontros da Conferência de Berlim de 1884 e 1885, as
potências europeias delimitaram a partilha da África, fato que marcou a
transição do século XIX para o século XX como o período de
institucionalização do Imperialismo no continente. Fenômeno este que
pode ser compreendido como uma relação de dominação entre as
potências europeias e os territórios africanos, na qual o primeiro
controlava de maneira imposta a soberania política, econômica, social e
cultural do segundo (Doyle, 1986; Bush, 2006).

Ref.: Adaptado de: Contijo, Lorenzo Campomizzi Bueno. Continua...


Ademais, pode-se dizer que essa ligação entre metrópole e colônia,
representada por uma relação assimétrica de dominação e dependência,
gerou uma submissão efetiva do colonizado pelo colonizador (Cohen,
1974).

Ref.: Adaptado de: Contijo, Lorenzo Campomizzi Bueno.


Por mais que fatores políticos e econômicos tenham sido as principais
motivações para a Conferência de Berlim e a consequente
institucionalização dos empreendimentos imperialistas, é necessário
ressaltar que as justificativas utilizadas pelas potências para entrada na
África muitas vezes mascaravam seus reais interesses. Sob a influência do
Iluminismo e da Revolução Industrial, princípios como modernidade,
civilidade e racionalidade – termos com significados majoritariamente
cunhados pelo Ocidente – serviram de pressuposto para fundamentar a
ação colonizadora europeia na África (Bush, 2006; Chakrabarty, 2000).
Ref.: Adaptado de: Contijo, Lorenzo Campomizzi Bueno.
Dessa forma, havia um grande esforço dos governos imperialistas em criar
uma narrativa de caráter humanitário e civilizatório para a dominação, a
fim de consolidar a ideia de que as intervenções na África seriam
benéficas para o continente. Essa era a premissa necessária para legitimar
as ações europeias e, consequentemente, possibilitar uma intervenção de
maneira estrutural nas colônias (Wallerstein, 2006; Amin, 1989).

Ref.: Adaptado de: Contijo, Lorenzo Campomizzi Bueno.


Continua...
Para garantir o controle desses territórios colonizados e a sustentação da
relação de dominação vigente, as metrópoles dispunham de diferentes
métodos de ação. As dominações no âmbito político, militar, econômico e
social, por exemplo, correspondiam às ações de caráter material.

Ref.: Adaptado de: Contijo, Lorenzo Campomizzi Bueno.


Existem também as ações de caráter imaterial empregadas pelas
potências europeias, as quais podem ser caracterizadas como
intervenções que giram em torno da subjetividade e do aspecto ideacional
da dominação. Essas medidas são identificadas principalmente nas
práticas de dominação cultural do Imperialismo, cujos objetivos estavam
associados a ganhos intangíveis que iriam servir de suporte para as
dominações materiais.

Ref.: Adaptado de: Contijo, Lorenzo Campomizzi Bueno. Continua...


Tais práticas aconteciam, por exemplo, por meio da imposição da língua e
religião oficial da metrópole no território colonizado, ou por meio da
supressão de movimentos culturais locais (Thomas, 1994). Dessa forma, a
população se via totalmente privada de praticar seus costumes,
recebendo em troca uma influência colonial maçante.

Ref.: Adaptado de: Contijo, Lorenzo Campomizzi Bueno.


Facilitando assim a atuação do Império, principalmente pelo fato de
aproximar os colonizados dos colonizadores e deixá-los mais vulneráveis à
proposta “modernizadora” europeia (Bush, B. 1999).
Para além dos exemplos de dominação cultural supracitados, outra
prática de caráter imaterial se destaca no que tange às ações imperialistas
europeias: a apropriação do conhecimento produzido sobre a colônia, a
fim de reproduzi-lo de maneira distorcida para justificar os outros tipos de
dominação (Mudimbe, 1988; Ogot, 2009; Bush, 2006).

Ref.: Adaptado de: Contijo, Lorenzo Campomizzi Bueno


Para basear essa ideia de que os povos das regiões colonizadas eram
naturalmente inferiores, o Império muitas vezes se valia de argumentos
científicos de cunho racista. Isso era feito com o apoio de conceitos
deterministas advindos das ciências naturais, transpostos, por exemplo,
para a área da antropologia, sociologia e filologia. O resultado foi a
aplicação de preceitos como darwinismo social e etnocentrismo no
conhecimento acadêmico europeu daquele período (Chafer & Sackur,
2002; Stepan, 1982).

Ref.: Adaptado de: Contijo, Lorenzo Campomizzi Bueno.


Esse conhecimento gerado pela dominação epistemológica em território
africano era comumente destinado à Europa, para lá ser publicado e
divulgado em formato de livros, revistas científicas, jornais ou exposições
de arte. Deste modo, as produções ganhavam visibilidade internacional e
passavam a fundamentar, cada vez mais, uma representação do nativo
colonizado como sendo bárbaro e incivilizado. Em face dessa imagem
criada artificialmente, uma dualidade na forma de (Eu vs o Outro) passa a
tomar forma, representada por uma dicotomia assimétrica entre o
“europeu evoluído” e o “africano atrasado” (Pratt, 1992; Todorov, 1993).
Ref.: Adaptado de: Contijo, Lorenzo Campomizzi Bueno.
Essa divisão era o combustível não só para a dominação epistemológica
ocorrer, mas também para todos os outros tipos de dominação. Ou seja, a
partir do momento em que se tem a metrópole intervindo na colônia e a
primeira propaga esse conhecimento enviesado sobre a segunda, cria-se
uma concepção – errônea – de que os povos colonizados são desprovidos
de inteligência, educação e cultura.

Ref.: Adaptado de: Contijo, Lorenzo Campomizzi Bueno.


Todos escrevem

Retorne ao slide 3, resgate suas anotações, e com base nos estudos e


discussões desenvolvidos até aqui, elabore um MEME que desconstrua a
visão dicotômica de “progresso/atraso”, “avançados/primitivos”,
“cultura/natureza”, criticando o etnocentrismo, o darwinismo social e as
hierarquias culturais.
Lembre-se: No contexto da internet, meme é uma mensagem quase sempre de
tom jocoso ou irônico, que pode ou não ser acompanhada por uma imagem ou
vídeo e que é intensamente compartilhada por usuários nas mídias sociais. O
termo foi cunhado pelo zoólogo Richard Dawkins em sua obra “O gene egoísta”, de
1976, para fazer uma comparação com o conceito de gene.
Ref. Tom Torres.
De surpresa

1. Como o Imperialismo justificava suas ações colonizadoras na África?


a) Alegando interesses econômicos e políticos.
b) Alegando que a intervenção era benéfica para o continente.
c) Alegando a superioridade cultural europeia sobre os povos africanos.
d) Alegando a necessidade de expandir as fronteiras europeias.
e) Alegando a necessidade de controlar os recursos naturais africanos.

Continua...
De surpresa

2. Quais eram as principais práticas de dominação cultural do


Imperialismo?
a) Imposição da língua e religião oficial da metrópole.
b) Supressão de movimentos culturais locais.
c) Apropriação do conhecimento produzido sobre a colônia.
d) Todas as alternativas estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.
Correção
Questão 1: Alternativa B
Justificativa: O Imperialismo europeu justificava suas ações colonizadoras
na África alegando que a intervenção era benéfica para o continente,
criando uma narrativa de caráter humanitário e civilizatório para a
dominação.
Questão 2: Alternativa D
Justificativa: As principais práticas de dominação cultural do Imperialismo
eram a imposição da língua e religião oficial da metrópole, a supressão de
movimentos culturais locais e a apropriação do conhecimento produzido
sobre a colônia.
Todos falam

3. Qual era o objetivo da apropriação do conhecimento produzido sobre


a colônia pelos imperialistas?
a) Legitimar as outras formas de dominação.
b) Demonstrar a superioridade europeia sobre os povos colonizados.
c) Criar uma narrativa humanitária e civilizatória para a dominação.
d) Submeter os colonizados aos ideais europeus.
e) Promover a independência dos territórios colonizados.
Correção
Se você respondeu Alternativa A, parabéns!

Justificativa: O objetivo da apropriação do conhecimento produzido


sobre a colônia pelos imperialistas era legitimar as outras formas de
dominação, reproduzindo esse conhecimento de maneira distorcida para
justificar os outros tipos de dominação.
● Identificamos e analisamos de maneira
contextualizada os discursos dicotômicos
a partir do contexto do Imperialismo.
Lista de imagens e vídeos

Slide 3 — Imagem. Referência: BBC News Brasil. Por: Dalia Ventura. Os vergonhosos
'zoológicos humanos' que existiram na Europa até 1958. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-63371607. Acesso em: 26 nov. 2023.
BOTELHO, Patrick. Etnocentrismo: entenda a que se refere esse conceito. Disponível em:
https://www.politize.com.br/etnocentrismo/. Acesso em: 25 nov. 2023.
CASTELLS, Manoel. O poder da identidade. Volume II. Tradução: Klauss Brandini Gerhardt. São
Paulo: Ed. Paz e Terra, 1999.
KOUTSOUKOS, S.S.M. Zoológicos humanos: gente em exibição na era do Imperialismo.
Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2020.
LEMOV, Doug. Aula nota 10 3.0: 63 técnicas para melhorar a gestão da sala de aula. Porto Alegre:
Editora Penso, 2023.
PUC-Rio. Definições de identidade. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-
rio.br/21902/21902_3.PDF. Acesso em: 25 nov. 2023.
TORRES, Tom. O fenômeno dos memes. Disponível em:
http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-
67252016000300018#:~:text=No%20contexto%20da%20internet%2C%20meme,por%20usu%
C3%A1rios%20nas%20m%C3%ADdias%20sociais. Acesso em: 04 dez. 2023.

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