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MODERNA
Introdução
Analisar as origens do capitalismo e suas etapas é desafiador, mas neces-
sário para a compreensão da atualidade. Tudo começa com o processo de
desmantelamento do feudalismo, ainda na Baixa Idade Média. A grande
transformação da época está ligada aos trabalhadores, que deixaram de
ser camponeses para se tornar trabalhadores assalariados, com meios
de produção que não mais lhe pertenciam, adentrando a conhecida
Idade Moderna.
O mercantilismo, o sistema de acumulação de metais preciosos
controlados pelos Estados Modernos, promove o fortalecimento do
comércio e a camada social que o controlava, os chamados burgueses.
Nesse cenário, transcorre uma série de acontecimentos com reflexos
no imaginário social, cultural e político que alicerçam a sequência de
mudanças que vão reconfigurar a estrutura social, comercial e de poder
dos Estados Modernos a partir do advento das inovações de mercado
que estavam por vir. Assim, uma sucessão de eventos se relacionam no
decorrer do período, dentre os quais podemos destacar o rápido avanço
tecnológico, as grandes navegações, com o processo de colonialismo,
atingindo e criando novos mercados, e consequentemente, a consolida-
ção dos Estados Nações, com o acúmulo de riquezas oriundas do novo
mundo em exploração.
2 Origens do capitalismo
A Baixa Idade Média (século XIV/meados do século XVI) com suas crises
e seus rearranjos, representou exatamente o parto daqueles novos tempos, a
Modernidade. A crise do século XIV, orgânica, global, foi uma decorrência
da vitalidade e da contínua expansão (demográfica, econômica, territorial)
dos séculos XI-XIII, o que levará o sistema aos limites possíveis de seu fun-
cionamento. Logo, a recuperação a partir de meados do século XV deu-se em
novos moldes, estabeleceu novas estruturas, porém ainda assentadas sobre
elementos medievais: o Renascimento (baseado no Renascimento do século
XII), os Descobrimentos (continuadores das viagens dos normandos e dos
italianos), o Protestantismo (sucessor vitorioso das heresias), o Absolutismo
(consumação da centralização monárquica) (FRANCO JÚNIOR, 2001, p. 17).
Ora, antes de tais empresas, em plena Idade Média, houve as viagens de ita-
lianos — notadamente genoveses, além do Mediterrâneo, incursionando pelo
oceano. Delas, das notícias Jacob Burckhardt em A cultura do Renascimento
na Itália, de 1860, na quarta parte — "Descobrimento do mundo e do homem",
destacando viagens ainda no século XIII: o historiador vê aí características
de abandono de traços medievais no que supõe o homem novo do Renasci-
mento. Houve também as de nórdicos, chegando a várias partes do Atlântico
norte, mesmo às terras depois conhecidas como americanas. Se de muitas
dessas entradas tem-se apenas vaga notícia, das quais se pode duvidar, houve
certamente o ciclo do devassamento do desconhecido pelos italianos e mais
ainda nórdicos. Já na Antiguidade houve iniciativas audaciosas, por terras e
por mares, às vezes até de grande alcance, como as realizadas por fenícios,
gregos, cartagineses e romanos, fundando colônias em pontos distantes.
Não se falava então em descobrimento, mas em aventuras de viajantes, em
busca de riquezas, possíveis redes de comércio (IGLÉSIAS, 1992, p. 23-24).
pelos portugueses; eles se organizaram para sua execução, formando uma ver-
dadeira escola de marinhagem. Portugal estava fatalizado para esse trabalho,
por sua posição no extremo da Europa: a vizinhança de Castela impedia-lhe
crescer no continente, era preciso avançar pelos mares. O precário comércio
entre o sul e o norte, as cidades italianas e as da Liga Hanseática, quando feitas
pelo mar, tinham de passar pela costa portuguesa, no uso de seus portos para
reabastecimento ou descanso, origem de segmentos voltados para o comércio
(IGLÉSIAS,1992, p. 24).
Segundo Dawson (2014), durante o século XV, Portugal se destacou com a tecnologia
naval; no século seguinte, essa condição passou a ser da Espanha; a Holanda, no século
XVII, teve seu destaque; e, por fim, já no século XVIII, a Inglaterra definitivamente
superaria toda a concorrência, tornando-se uma potência naval.
Como citam Silva e Silva (2009), não havia coesão no conjunto de políticas
econômicas denominado mercantilismo. Contudo, o sistema, cuja definição
surgiu ao final do século XVIII, perpassou por toda a transição entre a Baixa
Idade Média até a Idade Moderna e foi responsável pelo fortalecimento dos
Estados Nacionais, pela ascensão da burguesia, pelos processos de expansão
marítima, colonização e, como base, foi preponderante para o surgimento do
capitalismo.
Os seres humanos geram essas estruturas através das suas acções, mas nem
sempre podem escolher as condições sob as quais o fazem ou a forma como
pretendem fazê-lo. Marx e os marxistas centraram as suas pesquisas teóri-
cas e empíricas nos sistemas capitalistas, sua emergência e transformação
(BURNS, 2006, p. 12).
Segundo Donário e Santos (2016), Karl Marx tinha origem judia, apesar de
ter nascido em Treves, na Alemanha, em 1918. Do ponto de vista acadêmico, os
autores relatam que o pensador estudou no liceu de Trier e, após concluir essa
etapa inicial, conseguiu ingressar na Universidade de Bona. Posteriormente,
foi para Berlim, onde estudou direito, história e filosofia. Conforme Lenine
(1914), defendeu sua tese de doutoramento sobre a filosofia de Epicuro, o que,
na opinião do autor, ressalta que Marx tinha características convergentes com
as de um genuíno idealista hegeliano.
Portanto, no que diz respeito aos estudos seminais de Marx, sua análise
filosófica tem base em Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1830), talvez
um dos filósofos mais importantes entre os séculos XVIII e XIX. Sua obra
é considerada decisiva para o ramo da filosofia conhecido como idealismo,
corrente filosófica que consiste no processo de busca por um mundo ideal. Os
estudos de Hegel influenciaram diversas áreas do conhecimento, das quais
podemos citar os campos da arte, das humanidades e das ciências sociais
aplicadas, como o direito.
O pensamento de Karl Marx integra-se num todo mais amplo do que o que
deriva da Economia. A influência de Hegel em Marx traduziu-se nos seguin-
tes pontos fundamentais: a) uma concepção social como um todo, como um
sistema de relações; b) uma interpretação unitária e dinâmica dos movimentos
da história; c) uma visão do progresso como resultado do conflito de forças
opostas. Marx considera o Homem mergulhado nas relações sociais, as quais
moldam os seres humanos, bem como, influem no que pensam e no que fazem,
levando a que as relações sociais condicionem o comportamento individual
(DONÁRIO; SANTOS, 2016, documento on-line).
sociedade não é formada exclusivamente por ideias, mas, sim, pela ação dos
homens e, consequentemente, pela produção de suas ideias e pelo impacto de
sua recepção na dinâmica da sociedade.
Leituras recomendadas
BURKE, P. Cultura popular na idade moderna. São Paulo: Cia das Letras, 1989.
FEUERBACH, Ludwig. A essência do cristianismo. Trad. José da Silva Brandão. Petrópolis.
Vozes. 2007
FEUERBACH, Ludwig. Teses provisórias para a reforma da filosofia. Trad. Adriana V. Serrão.
In: Filosofia da Sensibilidade. Escritos (1839-1846). Lisboa. CFUL. 2005
HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do Espírito. Trad. Paulo Meneses. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
KOSELLECK, R. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de
Janeiro: Contraponto, 2006.
LOYN, H. R. (Org.). Dicionário da idade média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
MARX, K. (1977). Crítica da filosofia do direito de Hegel – Introdução. Temas de ciências
humanas. n. 2, 9-14, São Paulo, 1977.
MARX, K. Obras escolhidas, 3 volumes, Rio de Janeiro, Editorial Vitória, 1963.
WOOD, E. M. A origem do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
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