Você está na página 1de 3

2.1.

Compreende-se então que, assim como afirmam Rezende e Ultramari


(2007), os Planos Diretores Municipais constituem uma ferramenta de
planejamento e gestão de municípios e prefeituras considerada de
importância inquestionável.
2.2. O Planejamento urbano e sua importância
No Brasil, inicialmente o planejamento urbano foi identificado como uma
política higienista para suprir uma necessidade oriunda das políticas de saúde coletiva as
quais fundamentavam a demolição de obras decadentes e urbanisticamente
desordenadas, que favoreciam a disseminação de doenças infectocontagiosas. Após a
intensificação do processo de urbanização, o planejamento urbano passou a ser
considerado uma técnica para expandir e/ou criar novas cidades, propondo soluções que
permitissem o ordenamento do uso do solo em cidades em contínuo crescimento.
(Santos, 2006).
Porém, nas últimas décadas, vive-se um crescimento populacional
acelerado. Isso tem acarretado problemas graves que afetam negativamente a
qualidade de vida das pessoas que vivem nas cidades. Nota-se então que essa forma
de planejamento não tem obtido sucesso, o que pode ser explicado pela não participação
popular nesse seguimento.
Através do seu trabalho acerca dos desafios do planejamento urbano na
expansão das cidades: entre planos e realidade, Lima, Lopes e Façanha (2019)
concluíram que o planejamento e a gestão ambiental devem considerar o equilíbrio entre
o homem e seu ambiente como sistemas que interagem de forma complexa, em uma teia
de interligação que afeta todo o conjunto.
Enfatizam também que, hodiernamente, é preciso atender à demanda urbana,
visando ao bem-estar dos cidadãos e aos critérios de desenvolvimento sustentável, tendo
em conta as inter-relações entre a sociedade e a natureza, não apenas por infraestrutura.
A gestão urbana deve promover a combinação de ações que promovam a distribuição
equânime dos benefícios urbanos com qualidade.
VILLAÇA (2001 apud MICHELOTTO; SOBRINHO, 2018), analisa esse
movimento das classes menos favorecidas para as periferias na cidade. Dessa forma, as
classes de maior poder aquisitivo vão ocupando os espaços que lhes convém, gerando
assim formas diferenciadas de apropriação do espaço urbano pela segregação espacial
imposta as classes menos favorecidas.
No artigo, os autores supramencionados alegam ser válido considerar que o
avanço da urbanização no mundo de um modo geral tem ignorado a capacidade de
suporte do meio ambiente, necessitando de uma mudança nos padrões culturais, de
consumo e governabilidade. É nas cidades que as relações econômicas, sociais, culturais
e ambientais são intensas, desiguais e contraditórias.

2.3. Zoneamento urbano: um instrumento para controle do uso e ocupação


do solo
Segundo Mello (1982), o adensamento dos núcleos populacionais e a
complexidade da vida urbana resultante do progresso tecnológico propuseram organizar
racionalmente o uso do espaço onde se assentam as cidades. Sendo assim, fundamental
repartir a área urbana em zonas delimitadas e categorizadas em vista de suas utilizações,
impedindo usos inconciliáveis com as destinações reconhecidas para cada qual.
Barbosa e Carvalho (2010, p.2 apud OLIVEIRA, 2012) afirmam que o
zoneamento “é uma forma de planejamento físico territorial, é o dispositivo legal que o
planejamento urbano tem para a implantação de planos de uso do solo, assegurando a
distribuição adequada dos usos do solo em uma área urbana”.
Para Montaño, Oliveira, Ranieri, Fontes (2007, p.53 apud OLIVEIRA, 2012) o
zoneamento “consiste em dividir o território em parcelas nas quais se autorizam
determinadas atividades”.
Nery Júnior (2005, p.65 apud OLIVEIRA, 2012) afirma que o zoneamento
urbano “[...] melhora as condições de habitação[...] e o uso mais adequado da terra é
preciso acentuar que o seu papel não é somente restritivo, mas também, construtivo”.
Tendo como base a concepção desses autores, Oliveira (2012) define
zoneamento como um mecanismo utilizado no processo de planejamento urbano, cuja
finalidade é o emprego racional do solo citadino, sendo assim preponderante para a
gestão do território.
Contudo, na maioria dos municípios brasileiros, algumas das características
iniciais da utilização do zoneamento como instrumento urbanístico de controle da
produção privada mantêm-se, especialmente no tocante às análises políticas e
ideológicas que mostram como o instrumento é utilizado na manutenção de interesses
de determinados grupos sociais, mediante uma linguagem de difícil entendimento por
não técnicos têm-se a facilidade para esse mau uso. (SILVA, 2014)
Como consequência disso temos, na maioria das cidades brasileiras, o cenário
expresso por Grostein (p. 14, 2001) “de um lado a cidade formal, que concentram os
investimentos públicos e do outro lado, a cidade informal, que cresce exponencialmente
na ilegalidade urbana.”. Ademais, ainda segundo o autor “a precariedade e a ilegalidade
são seus componentes genéricos e contribuem para a formação dos sistemas urbanos
sem um escalonamento de suas variáveis.”
O município de Marabá pode ser citado como um exemplo do cenário descrito
anteriormente, sobretudo nas áreas abaixo da cota altimétrica prevista no plano diretor,
locais em que é nítida a presença dos aspectos como precariedade e ilegalidade.
Destarte, ao desempenhar soluções para esse contexto é válido considerar a seguinte
perspectiva de Rocha (p. 12,2011):
“Sabe-se também que a organização espacial das cidades apresenta
caráter dinâmico e apresenta mudanças ao longo do tempo, impostas pelos
novos atores sociais e pela própria dinâmica econômica. Contudo, cabe
ressaltar, que as mudanças que dependem da aprovação do poder público,
devam ser vistas, analisadas e trabalhadas de modo a não trazer prejuízo ao
meio ambiente, ao cidadão e à cidade na sua totalidade.”

Você também pode gostar