Você está na página 1de 34

Subscribe to DeepL Pro to translate larger documents.

Visit www.DeepL.com/pro for more information.

Derretimento do mega-projecto
Autor(es): Amparo Tarazona Vento
Fonte: Urban Studies , JANEIRO 2017, Vol. 54, No. 1 (JANEIRO 2017), pp. 68-84 Publicado
por: Sage Publications, Ltd.

URL Estável: https://www.jstor.org/stable/10.2307/26151325

REFERÊNCIAS
As referências ligadas estão disponíveis no JSTOR para este
artigo:
https://www.jstor.org/stable/10.2307/26151325?seq=1&cid=pdf-
reference#references_tab_contents
Poderá ter de iniciar sessão no JSTOR para aceder às referências ligadas.

JSTOR é um serviço sem fins lucrativos que ajuda académicos, investigadores e estudantes a descobrir, utilizar e construir
sobre uma vasta gama de conteúdos num arquivo digital de confiança. Utilizamos tecnologias e ferramentas de
informação para aumentar a produtividade e facilitar novas formas de bolsas de estudo. Para mais informações sobre
JSTOR, por favor contactar support@jstor.org.

A sua utilização do arquivo JSTOR indica a sua aceitação dos Termos e Condições de Utilização, disponíveis em
https://about.jstor.org/terms

A Sage Publications, Ltd. está a colaborar com a JSTOR para digitalizar, preservar e alargar o acesso a
Estudos Urbanos
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
Artigo

Estudos Urbanos
2017, Vol. 54(1) 68-84

Derretimento do mega-projecto: © Urban Studies Journal Limited 2016


Reimpressões e permissões:

A pós-política, a regeneração
sagepub.co.uk/journalsPermissions.nav
DOI: 10.1177/0042098015625025

urbana neoliberal e a crise fiscal


usj.sagepub.com

de Valência

Amparo Tarazona Vento


Universidade de Glasgow Reino Unido

Abstrato
Baseando-se na literatura da pós-política e pós-democracia, a literatura do neoliberalismo como
modo de governação e o estudo da ênfase de longa data da cidade de Valência no
desenvolvimento de mega-projectos de prestígio da arquitectura icónica como meio para
alcançar a regeneração económica e a revitalização urbana, este documento avalia os efeitos
sociais e económicos dos mega-projectos urbanos e analisa-os como condutas da globalização
neoliberal e da despolitização da esfera pública.
Por um lado, uma política urbana baseada na utilização de mega-projectos representa uma
viragem do farisaísmo para o empreendedorismo que, para além da evidente transformação
urbana e reimagem, resulta num aumento da desigualdade social, na criação de empregos
precários, e num subinvestimento em serviços sociais.
Por outro lado, os mecanismos utilizados para implementar mega-projectos - incluindo tanto
medidas de tionalidade excepcional como a privatização da gestão através da criação de
organismos de entrega semi-públicos - resultam numa falta de transparência e controlo
democrático, que por sua vez conduzem a formas mais autoritárias e privatizadas de tomada de
decisão. Além disso, os mega-projectos - através do seu enfoque na perícia e tecnocracia e
numa política e discurso populista construídos à sua volta - desempenham um papel crucial na
erosão da democracia e no estabelecimento de uma política consensual onde a luta ideológica
não existe.

Palavras-chave
ambiente construído, governação, arquitectura icónica, governação neoliberal, pós-política, urbana
mega-projecto, regeneração urbana

Recebido em Janeiro de 2015; aceite em Dezembro de 2015

Introdução
Em Janeiro de 2008, alguns meses antes Autor correspondente:
Amparo Tarazona Vento, Escola Superior de Política e Social
das eleições gerais, o presidente
Sciences (Urban Studies), Universidade de Glasgow, 25 Bute
espanhol, Rajoy, afirmou que o governo Gardens, Glasgow G12 8RT, Reino Unido.
regional valenciano era um exemplo de Email: Amparo.TarazonaVento@glasgow.ac.uk
bom
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
Tarazona Vento 69
de planeamento, arquitectos, grupos de busi-
ness, organizações de promotores, agentes
gestão económica (Conejos, 2008). Nas
imobiliários, organismos profissionais, partidos
suas próprias palavras, "este é o modelo
políticos,
que quero aplicar para o Governo de
Espanha" (Informacion.es, 2012). Cinco
anos mais tarde, em Julho de 2013,
Valência foi a primeira comunidade
autónoma a solicitar um salvamento
governamental central para poder cumprir
as suas obrigações de pagamento
(Terrasa, 2012). O que aconteceu entre
estes dois momentos? Como irei discutir,
a ênfase de Valência na utilização de
mega-projectos e eventos internacionais a
fim de alcançar a revitalização urbana e a
regeneração económica está no centro da
crise fiscal do governo regional. Além
disso, através do estudo de caso de
Valência, argumentarei que os mega-
projectos urbanos são condutas da
globalização neoliberal e de uma
despolitização da esfera pública.
Tanto a discussão teórica na primeira
A secção do documento e o disco empírico
na secção seguinte serão estruturados em
torno de três pontos principais. Primeiro,
serão avaliados os efeitos sociais e
económicos dos mega-projectos urbanos.
Em segundo lugar, a análise dos resultados
dos mega-projectos em termos de
governação será utilizada para analisar os
resultados dos mega-projectos em termos
de governação. Em terceiro lugar, a
literatura sobre pós-política e pós-
democracia será utilizada para explorar
como a utilização de mega-projectos tem
contribuído para a despolitização da
sociedade.
A análise apresentada neste artigo faz
parte de um estudo mais amplo da política
urbana em Valência. O material empírico
em que se baseia inclui 62 entrevistas
com actores-chave (realizadas face a face
entre Maio e Dezembro de 2009), mais de
1200 artigos de jornais e dados
secundários retirados de material
publicado.
Os entrevistados - seleccionados com base
no seu conhecimento específico em
primeira mão da política urbana - incluem
políticos, agências públicas, funcionários
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
mega-projectos urbanos de prestígio.
jornalistas, representantes da Espera-se que estas políticas
comunidade e outros grupos de empresariais gerem actividade económica
interesse. e emprego; contudo, os estudos empíricos
Vale a pena notar que embora o
período de condução das entrevistas
coin- cidisse com as fases iniciais de
vários processos judiciais relacionados
com acusações de corrupção ligada a
mega-projectos, isto não teve um
impacto enorme no acesso à
investigação, talvez porque a
contestação pública e a sensibilidade do
tema não tinham atingido níveis muito
elevados naquele momento.

Mega-projectos, desigualdade e crise fiscal


Desde os anos 70, uma abordagem
empresarial à governação urbana, que
visa atrair investimento e alcançar o
crescimento económico, tornou-se
comum nos países capitalistas
desenvolvidos, geograficamente e através
de visões políticas (Hubbard e Hall,
1998). Embora as estratégias específicas
utilizadas pelas cidades para atrair
investimento variem, o seu sucesso
depende sempre, em certa medida, das
forças do mercado e implica algum tipo
de competição interurbana na tentativa
da cidade de aumentar as suas
vantagens comparativas (Jessop, 1997). O
foco das políticas empresariais está no
investimento urbano especu- lativo e na
construção do lugar e não na criação de
emprego e bem-estar social. Assim, a
construção de um ambiente construído
atractivo é vista como atraindo o
investimento por dois meios. Por um
lado, atrai profissionais e turistas (Leitner
e Sheppard, 1998). Por outro lado, uma
imagem apropriada reduz o risco per-
cessante de investir em propriedade -
typi- cally com base em estimativas de
futuros aumentos de rendas e valor -
significando o compromisso da cidade
com o sector imobiliário (Haila, 1998).
Portanto, as políticas urbanas
empreendedoras incluem geralmente a
re-imagem da cidade através da
promoção do local e da estruturação de
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
70 Estudos Urbanos 54(1)

sugeriram que, apesar de renegociarem a envolvido, e este é levado pelo sector público,
paisagem urbana e darem uma impressão uma vez que os mega-projectos são quase
de regeneração económica, não sempre liderados e financiados pelo Estado
conseguiram corrigir a situação laboral, (Swyngedouw et al..,
social e fiscal das cidades (Leitner e
Sheppard, 1998). Assim, tem sido
argumentado que a utilização de mega-
projectos de prestígio não é uma solução
para a regeneração económica por muitas
razões. Em primeiro lugar, não produz um
aumento da actividade económica (Imrie e
Thomas, 1999). Em segundo lugar, o seu
alegado papel no incentivo ao
desenvolvimento ou investimento do
sector privado não se tem revelado
verdadeiro (Cochrane, 1999). Terceiro, a
actividade de construção não implica
necessariamente mais emprego local e o
emprego que é gerado é inseguro e de
baixos salários, trabalho não qualificado
(Turok, 1992). Além disso, o prometido
trickle-down gerado pelos mega-projectos
- em substituição do investimento no bem-
estar - revelou-se ausente ou muito
limitado (Cochrane, 1999; Imrie e Thomas,
1999).
Mesmo quando se trata de estratégias
empresariais
baseados em mega-projectos conseguem
atrair investimento, têm demonstrado
exacerbar as desigualdades distributivas
de riqueza e rendimento (Hubbard e Hall,
1998). Por um lado, a concentração na
imagem desvia a atenção dos problemas
económicos e sociais. Por outro lado, uma
vez que a via- bilidade dos mega-projectos
urbanos depende do retorno da
revalorização da terra, estes tendem a
deslocar a população devido a processos
de gentri-ficação (Evans, 2005). Assim, os
mercados prop- erty contribuem para a
criação de paisagens urbanas
fragmentadas e acentuam processos de
polarização e exclusão sócio-espaciais
(Swyngedouw et al., 2002).
Além disso, os benefícios da revalorisa-
do terreno e do ambiente construído são
quase exclusivamente colhidos pela elite.
Dada a natureza especulativa do
investimento, há um risco financeiro
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
2002). Assim, o envolvimento do ser con- secundado por um exemplo de
Estado no desenvolvimento de uma um movimento mais amplo no sentido de
arquitectura icónica dispendiosa e na um estilo de tomada de decisões mais
realização de eventos internacionais flexível, menos hierárquico e baseado nas
resultou numa transferência líquida de partes interessadas ( R o drı́
g uezguez
' et
riqueza do sector público para o al., 2005). Embora esta abordagem seja
privado através do ambiente construído frequentemente retratada como mais
(Harvey, 1989).

Mega-projectos como condutas da


governação neoliberal
Os mega-projectos urbanos - Moulaert et
al. (2005) argumentaram - são canais
da globalização; considerados a nível
estrutural, os processos de globalização
implicam a transferência de ele- mentos
globais do neoliberalismo à medida que
as políticas urbanas empreendedoras
se propagam. Como explicado por Keil
(2002: 239), "a implementação concreta
de novas tecnologias de poder tem
desempenhado um papel fundamental
nestes processos de neoliberalização".
Portanto, os mega-projectos também
podem ser considerados como condutas
de neoliberalização ou, mais
especificamente, motores de mudança
conducentes a mais formas neoliberais
de governação, que envolvem uma
abordagem da governação baseada em
parcerias público-privadas, autoritarismo
e falta de capacidade de prestação de
contas democrática (Jessop, 2002;
Keil, 2002).
Uma abordagem à governação que
implica a mobilização de actores-chave
privados - através da liderança das
elites empresariais, mas mais
frequentemente através de parcerias
público-privadas - é defendida, de uma
perspectiva neoliberal, com base no
facto de ser alegadamente mais técnica
- tecnicamente mais eficiente, flexível,
colaborativa e participativa (Jessop,
1997). Assim, a prática de parcerias
tornou-se o modelo organizacional
preferido, e proliferaram as
organizações semi-públicas para a
realização de mega-projectos urbanos
(Swyngedouw et al., 2005).
O crescimento das parcerias pode
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
Tarazona Vento 71
Esta privatização implica a redistribuição do
poder e das competências dos governos
de baixo para cima e participativos, na
locais eleitos e para o sector privado através
prática apenas um grupo limitado de
da subordinação das autoridades locais a
profissionais e membros da elite -
arquitectos, planeadores, promotores,
financeiros e líderes empresariais - estão
autorizados a participar na tomada de
decisões. O contributo do público em geral
é restrito e adiado para fases muito
avançadas do processo quando as
decisões importantes já foram tomadas,
dado que a responsabilidade principal cabe
aos 'peritos' ( R o drı́
g ue z
guez
' et al.,
2005). Desta forma, certos grupos são
excluídos do processo de tomada de
decisão, enquanto os interesses da cidade
são identificados com os dos membros
das elites empresariais e grupos sociais
privilegiados.
A necessidade de criar redes de
colaboração...
A fim de alcançar a estabilidade necessária
para competir por investimentos estatais e
privados, estas parcerias têm levado a
restringir o acesso à informação e aos
dados, a fim de evitar que actores
externos desestabilizem a coesão das
redes (Swyngedouw et al., 2002). Assim,
o debate democrático sobre os custos e
benefícios dos mega-projectos é
geralmente evitado e a informação sobre
os custos financeiros reais não é
disponibilizada ao público (Swyngedouw
et al., 2005). Além disso, a transferência
de fundos públicos para mãos privadas
ocorre de forma obscura, "e como
relativamente poucas pessoas são
directamente feridas, é difícil mobilizar a
oposição" (Orueta e Fainstein, 2008: 761).
Esta mudança para uma gestão quase-
privada...
A privatização das estruturas
governamentais e de planeamento e a
consequente perda parcial do controlo
público sobre os processos de tomada de
decisão e de desenvolvimento tem sido
descrita como uma privatização da
governação e do planeamento, uma vez
que os novos organismos de execução
deslocam as instituições governamentais e
de planeamento (Imrie e Thomas, 1999).
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
Considerando que as repre- sentações
pós-políticas - institucionalmente - "a
tais organismos quase privados e
redução do político ao económico" e -
redefinindo o seu papel de modo a torná-
ideologicamente - "o fim da utopia"
los meros facilitadores estratégicos do
(Wilson e
processo de regeneração (Imrie e
Thomas, 1999). A privatização do
planeamento é reforçada pela prática
generalizada de aplicar medidas de
excepcionalidade à concepção e
implementação de mega-projectos, o
que se justifica pela sua escala e
significado para toda a cidade, e pela
necessidade de maior eficiência técnica
e de prazos de entrega mais curtos
(Swyngedouw et al., 2002).

Despolitização através de mega-projectos


Além de conduzir a formas mais
autocráticas e pri- vatizadas de tomada
de decisões, olhando através da lente
da literatura crescente sobre pós-política
e pós-democracia - que apontam para a
emergência de uma democracia
consensual na qual o status quo não é
fundamentalmente questionado
(Swyngedouw, 2011) - os mecanismos
utilizados para implementar mega-
projectos podem ser vistos como
estando intimamente ligados a
processos de despolitização.
Tal como discutido anteriormente, os
mega-projectos podem ser considerados
canais para modos de governação
neoliberal e, de um ponto de vista de
mentalidade governante, a pós-
democracia, tal como o neoliberalismo, é
caracterizada por uma gestão
tecnocrática e privatizada da esfera
pública (Swyngedouw, 2010). No
entanto, o neoliberalismo é mais do que
"um regime de poder político-económico
difuso" ou "um pacote muito frouxo de
práticas políticas e de governos" (Leitner
et al., 2007: 316-317). Implica a
extensão dos valores de mercado a
todas as esferas da vida, incluindo o
sentido psicológico do eu. Como Kamat
(2015) argumentou, a literatura da pós-
política pode ajudar a compreender as
implicações ideológicas da
neoliberalização.
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
72 Estudos Urbanos 54(1)

Swyngedouw, 2015: 8), o que implica a política se baseia na concepção de que


incapacidade de imaginar uma alternativa todas as formas de
ao capitalismo neoliberal, é óbvio como os
processos de neoliberali- sação e
despolitização estão relacionados de forma
divertida. Segundo Kamat (2015: 67-68), a
despolitização é cen- tral para a
manutenção e avanço do neoliberalismo
ou, nas suas palavras, para "instituir uma
cultura política indispensável à estratégia
de crescimento neoliberal". Certamente,
uma democracia con- sensual é crucial
para apoiar o projecto neoliberal, tanto
ideológica como psicologicamente.
A esse respeito, ao significar o
compromisso da cidade em criar um
"ambiente acolhedor para o busi- ness", os
mega-projectos de prestígio simbolizam "a
redução do político ao económico" (Wilson
e Swyngedouw, 2015: 8). Além disso, a
arquitectura icónica, através da sua
capacidade de sedução, contribui para
bloquear mentalmente a possibilidade de
políticas alternativas de regeneração
urbana empreendedora.
O núcleo conceptual da pós-política é
representado pela distinção entre as
políticas - como as práticas que criam ordem
social ao tentar "fundar um conjunto
particular de relações de poder numa base
finalmente ausente" - e a política - como a
evi- dência da ausência de um terreno final
da sociedade, que deixa em aberto a
possibilidade de criar uma ordem social
diferente (Wilson e Swyngedouw, 2015: 10).
A pós-democracia ou pós-política opera,
segundo Rancie're, através de diferentes
formas de dis- avowal (arqui-política, para-
política e meta-política) que ocultam a
ausência de um terreno supremo da
sociedade ou, segundo Z ˇ i z ˇ ek,
através da execução hipotecária, a denega- tal
ausência.
Archi-política é uma táctica de
despolitização que se baseia na ideia de
uma cidade comum que vive em
harmonia. A para-política baseia-se na
ideia da redução do antag- onismo à
competição superficial dentro de uma
ordem estabelecida, enquanto a meta-
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
as desigualdades societais derivam de um Puymbroeck e Oosterlynck, 2015: 103). O
essencial (económico, por exemplo). A estes foco empírico transforma-se, então, em
três Z ˇ i z ˇ ek acrescenta a ultra-
política, que se baseia na construção de um
inimigo com o qual a dis- acordo só pode ser
gerida em termos de violência.
Também desta perspectiva, os mega-
projectos podem dizer algo sobre como,
empiricamente, o político é repudiado. Se,
como fazem Rancie` re e Mouffe, a ênfase
é colocada no pós-político ou pós-
democrático "como um ideal de consenso,
inclusão e administração" (Dean, 2015:
264), os mega-projectos provaram ser
instrumentos úteis para gerar consenso e
deslocar o debate para questões de
administração puramente tecnocrática. A
táctica arqui-política de apresentar
políticas baseadas em mega-projectos
como políticas sem vencedores nem
perdedores é apoiada por uma realidade
física - arquitectura icónica - que significa
a imagem de crescimento e regeneração
económica que
está a ser apresentado ao público. Se, como
Z ˇ i z ˇ ek
A ênfase é colocada na "pós-política como o
encerramento da luta de classes" (Wilson e
Swyngedouw, 2015: 14-15), o des-curso
populista frequentemente ligado a mega-
projectos vai além da criação de consenso;
homogeneiza a sociedade e sublima os
conflitos de classes em outros tipos de
diferença. Na verdade, para além do
objectivo abertamente discutido de
alcançar a regeneração económica, o
objectivo não mencionado mas claramente
importante dos mega-projectos icónicos é
convencer os cidadãos das virtudes das
estratégias competitivas (Hubbard, 1996),
criando a ilusão de uma comunidade
harmoniosa, unida e homogénea que se
dedica globalmente ao turismo e ao
prestígio.
Por outro lado, uma vez que a sociedade é
inevitável.
instituída por um motivo de ausência
deixando qualquer ordem social aberta à
perturbação, a pós politização é um pro-
cess necessariamente incompleto. Além
disso, em vez de provocar "o regresso dos
genuinamente políticos", a política só pode
distorcer a ordem estabelecidaEste (Van conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
Tarazona Vento 73
complexo cultural com 350.000 metros
quadrados
compreender melhor através de que
mecanismos e práticas a ordem pós-
política é constituída, mas também como
ela pode ser desafiada e perturbada.
Como alguns autores têm argumentado,
isto inclui práticas quotidianas e a "micro-
política da resistência" (Larner, 2015;
Mitchell et al., 2015). Contudo, vale
também a pena explorar a eficácia com
que qualquer forma específica de re-
politização pode contribuir para minar a
ordem social estabelecida e para
estabelecer uma ordem diferente.

O derretimento dos mega-


projectos de Valência
Valência - a terceira maior cidade de
Espanha - é ideal para analisar os
resultados de uma política baseada em
mega-projectos e eventos porque, em
Valência, tornou-se quase a única política e
foi prosseguida ao longo do tempo tanto
pelos governos regionais e locais conser-
vativos como social-democratas.
Em 1982, alguns anos após o regresso
da democracia, um novo Estado das
Autonomias foi instaurado em Espanha.
Valência tornou-se a capital da
Comunidade Autónoma Valenciana e a
sede do governo regional. A cidade e a
região estavam a passar por um processo
de desindustrialização, e Valência tinha de
encontrar o seu lugar no sistema de cidades
espanhol e europeu. Com isto em mente,
sucessivos governos locais e regionais1
fizeram grandes investimentos públicos em
infra-estruturas, projectos arquitectónicos
de prestígio e a organização de eventos
internacionais com o objectivo de
reimplantar a cidade para torná-la
atractiva para o investimento e o turismo.
Por conseguinte, a cidade desenvolveu
vários projectos emblemáticos. Dois dos
mais significativos que encapsulam o que
os mega-projectos significaram para
Valência são A Cidade das Artes e das
Ciências e a realização do concurso de vela
da America's Cup.
A Cidade das Artes e das Ciências - um
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
Economia espanhol - e aprovou um plano de
investimento de 444 milhões de euros para
vulgarmente conhecida como A Cidade
que as obras fossem
das Ciências - foi concebida no final da
década de 1980 pelo governo regional
social- ist e levou mais de 20 anos a ser
concluída. Nessa altura, o governo
regional estava nas mãos dos Conser-
vativos, e o projecto inicial tinha sido
modificado e vários edifícios tinham sido
acrescentados a ele. O projecto,
inteiramente pago pelo governo regional,
inclui um plano - tário, um museu de
ciências, um museu de oceanografia, um
teatro de ópera e um edifício
multifuncional chamado Agora. Para
além do museu de oceanografia, o resto
do complexo foi concebido pelo arquitecto
estrela global Santiago Calatrava, que é
valenciano. De acordo com Calatrava:

A importância da Cidade das Artes e das


Ciências é que, durante os quinze anos em
que o trabalho progrediu, os laços
políticos parciais no poder mudaram, mas
todos reconheceram a importância deste
projecto. Esta é a razão para que continue
a ser independente da política. A Cidade
das Artes e das Ciências é a realização
de uma democracia e celebra a
democracia. (Torres, 2005: 35)

O outro projecto importante para


Valência foi a realização da competição
de vela da America's Cup em 2007. A
cidade foi seleccionada para acolher a
competição depois de uma equipa suíça
ter ganho a 31ª edição e precisar de
encontrar um lugar para acolher a 32ª
edição. A designação, baseada em
apenas alguns esboços do porto, foi
considerada como uma demonstração
do empreendedorismo de Valência.
A cidade transformou-se a si própria, o
har...
em particular, para se adaptar às
necessidades do concurso. A
transformação da zona portuária interior
foi gerida pelo Consorcio Valencia 2007,
um consórcio formado pelos governos
central, regional e local. O consórcio
solicitou um empréstimo ao Instituto
Oficial de Crédito - um organismo
público dependente do Ministério da
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
74 Estudos Urbanos 54(1)

realizado na zona. Os trabalhos incluíram empresa pública. Assim, entre 1996 e 2009,
um novo canal no porto interior dando não houve
acesso ao mar aberto, espaços abertos
recreativos, as bases das equipas, uma
marina, e um icónico edifício repreensivo
pelo arco global britânico Chipperfield.

A crise fiscal de Valência


A transformação física de Valência como
resultado do investimento em mega-
projectos produziu uma nova Valência com
uma imagem melhorada que atraiu a
atenção dos meios de comunicação
internacionais, melhorou a auto-estima da
população, atraiu o turismo e foi
eleitoralmente rentável para o partido em
funções (Entrevista com o Ministro
regional da Indústria, Comércio e Turismo
(1987-1993), 23 de Setembro de 2009;
entrevista com o editor-chefe da revista
Valência City, 25 de Setembro de 2009). No
entanto, os resultados em termos de
regeneração económica não são tão
positivos.
A Cidade das Ciências e a CACSA 2 a
empresa pública que a gere 2 registaram
uma perda desde o início. Já em 1999, com
apenas o planetário terminado e o func-
tionamento, CACSA não conseguiu
equilibrar as suas contas apesar do
elevado número de visitantes e organizou
um conjunto de empréstimos de diferentes
bancos num total de 345 milhões de
euros. Em 2005, a dívida acumulada da
CACSA era de 713 milhões de euros. À
medida que o complexo crescia, as
despesas também cresciam e, em 2007,
as despesas de mais de 192 milhões de
euros não puderam ser equilibradas pelos
34,5 milhões de euros de volume de
negócios, criando uma dinâmica contínua
de perdas económicas acumuladas.
A fim de evitar a liquidação obrigatória
da CACSA devido a falência, o governo
regional - que tinha assinado um acordo -
comprometendo-se a assegurar que a
estrutura financeira da empresa
permanecesse equilibrada (Olivares,
2008) - injectou várias vezes capital na
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
menos de 11 injecções de capital O Director Geral da Economia regional
público, as últimas de 115 milhões de explica o ponto de vista do governo:
euros em 2006, 113,3 milhões de euros
em 2008 e 72,7 milhões de euros em
2009 (El P a ı́s
s', 2008b). Além disso,
as perdas económicas da CACSA
foram acompanhadas de excessos de
custos, que rondaram em média 200%
para todo o complexo e variaram entre
178% para o planetário e 440% para o
museu de oceanografia.
A infra-estrutura criada para a
America's Cup é outro exemplo de
retornos económicos de culto diffi. A
zona portuária interior - que, através da
sua exploração, deveria fornecer o
capital para reembolsar o empréstimo -
permaneceu deserta após a
competição de vela ter terminado em
2007; os restaurantes tiveram de fechar
gradualmente devido à falta de clientes
e a área não conseguiu gerar qualquer
rendimento. Do mesmo modo, apenas
6% dos 311 pias para mega-iates na
marina foram ocupados em 2009
(Zafra, 2009). Portanto, o consórcio
começou a acumular perdas porque as
receitas provenientes da exploração do
porto interior eram inferiores aos custos
de exploração. Em 2006, o balanço
mostrava uma equidade negativa, o
que teria forçado o consórcio a
dissolver-se se tivesse de respeitar as
regras comerciais regulares das
empresas. Em 2008, a perda total foi de
30,6 milhões de euros. As três
administrações repudiaram o consórcio
e concordaram em injectar capital num
total de 40 milhões de euros em 2006,
mas apenas o governo central
contribuiu com a sua parte, 16 milhões
de euros. Em 2011, as perdas foram de
18 milhões de euros, e o consórcio não
tinha reembolsado nenhum do capital
emprestado para as obras de infra-
estruturas, embora o empréstimo
devesse ter sido reembolsado em
2010.
No entanto, segundo o governo
regional conservador, o objectivo dos
mega-projectos e eventos não era a sua
rentabilidade eco-nómica, mas o seu
impacto positivo na economia regional.
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
Tarazona Vento 75
economia regional baseada no turismo e na
Os relatos de A Cidade das Ciências construção. Em 1994, o sector da
sempre estiveram no vermelho, por várias construção contribuiu para a
razões. Mas a questão é que como iniciativa
pública não pode cobrar preços de
mercado, nem no museu, nem no
planetário, nem mesmo no palácio da
ópera, que é intrinsecamente deficitário.
Mas estas são perdas de livros; se tivermos
em conta todos os benefícios em termos de
emprego, actividade, hotelaria e restauração,
etc., os retornos são muito positivos.
(Entrevista com o Director-Geral regional da
Economia (1995- 1998), 1 de Julho de 2009)

O governo regional alegou que os


benefícios dos mega-projectos e eventos
tinham sido recebidos pela "sociedade
como um todo". No entanto, a alegada
geração de riqueza para "a sociedade
como um todo" não se concretizou. Por
exemplo, a America's Cup deveria gerar
um aumento de 1% no PIB regional, de
acordo com os relatórios de impacto
económico encomendados pelo governo
regional. Mas, em 2007, o aumento total
do PIB regional valenciano foi de 5,9%,
enquanto que o aumento total em
Espanha foi de 7%. Em 2009 - quando se
realizou a 33ª edição da competição em
Valência 2 a variação do PIB foi de -3,1%
em Espanha e -3,8% na Comunidade
Valenciana (Instituto Nacional
Estadı´stica'stica, sem data).
Além disso, a política urbana de
Valência fez
não resultam em mudanças importantes
na estrutura pró- ductiva da cidade a nível
metropolitano, onde o sector dos serviços
continua a predominar, embora os
sectores da construção e imobiliário
tenham aumentado a sua influência
(Banyuls e Sa' n chez, 2007). Por exemplo,
em 2008, o comércio e o sector hospi-
tality representaram 26% do emprego
metropolitano total, os representantes da
construção civil ressentiram-se 9% e os
serviços imobiliários e comerciais 15%
(Oficina Estadı´stica'stica Ajuntament
Vale` ncia, 2008).
Além disso, a política urbanística de
Valência con- tribuiu à promoção de uma
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
como já disse 2, temos uma educação de
vanguarda, temos
7,4% para o PIB regional, 10% em 2000
e, em 2009, após o rebentamento da
bolha imobiliária, o sector da construção
contribuiu com 11% do PIB regional e
14,8% do emprego regional total (Boira,
2012). O presidente da região con-
servativa, Camps, nos seus discursos
públicos, descreveu projectos como A
Cidade das Ciências e a Taça América
como "fábricas de turismo do século
XXI" ( Pe'
r e z Benlloch, 2007) e insistiu que
o sector da construção tinha de
"continuar a ser a principal força motriz
da economia, criação de emprego e
bem-estar" (Ferrandis, 2009a). Este
modelo económico gerava empregos
precários e de baixos salários. De facto,
entre 2002 e 2010, o salário médio anual
na construção, comércio, sector hoteleiro
e serviços às empresas foi entre 30% e
40% inferior à média espanhola (Instituto
Nacional Estadı´stica'stica, sem data).
Além disso, a taxa regional de emprego
temporário em Valência em 2008 foi de
32,3%, enquanto que a média espanhola
foi de 29,3% ( Ca' m a r a Comercio Valencia,
2010).
Além disso, a ênfase em mega-
projectos e eventos drenou fundos da
saúde, educação e protecção social 2
pelos quais o nível regional de governo
tem responsabilidade exclusiva 2, numa
viragem do assistencialismo para o
empreendedorismo. De facto, entre os
anos 2000 e 2008, a despesa social
pública per capita na Comunidade
Valenciana diminuiu gradual e
substancialmente em comparação com a
idade média espanhola, como mostra o
Quadro 1.
O esforço para situar Valência
globalmente contrastou com a forma
como o investimento quotidiano nos
bairros foi negligenciado. O Presidente
da Federação das Associações de
Moradores exprime-o muito bem:

Do nosso ponto de vista, até que não nos


mostrem números de lucro, não temos
beneficiado. Podemos ter beneficiado ao
colocar Valência no mapa; Valência
(Espanha), Fórmula 1, Taça América, mas
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
76 Estudos Urbanos 54(1)

21843
tem um serviço de saúde de vanguarda,

2605
2201
2223

8041
9884
2008

2740
3345
1107

1252
1453
melhores hospitais que qualquer outro,
884 serviços incríveis para os idosos? A
resposta é claramente não. (Entrevista com
o Presidente da Federação das

21591
2503
2154
2196

7636
9227
2565
3069
2007

1033

1189
1344
Associações de Moradores de Valência, 2
838

de Novembro de 2009)

Como resultado, não se verificou uma


melhoria na igualdade. Por exemplo, entre

21439
2476
2149
2174

7163
8602
2407
2883
2006

1118
1267

1996 e 2007, um período de crescimento


791
965

económico, a distribuição dos rendimentos


21143 não registou qualquer melhoria em termos
de igualdade, enquanto a percentagem de
2386
2116

6937
8079
2325
2711
2005

1128
1193
265
785
901

pobreza relativa aumentou de 13,3% para


15,2% (Azagra e Romero, 2012). Em 2010,
a crise económica tinha levado a
21018

desigualdade e a pobreza a níveis mais


2360
2103

6632
7650
2207
2567
2004

1058
1085
226
768
871

elevados do que os registados no início da


década de 1980 (Azagra e Romero, 2012).
O investimento em mega-projectos
também deixou o governo regional
2853
2340
6290
7143
2081
2420
2003

287

213
725
813

963
976

altamente endividado. Já em 2001, o


relatório da Moody's alertava para os
elevados riscos financeiros que o CACSA
2620
2274
6231
6851
2020
2294
2002

representava para o governo regional (El


218

235
751
769

883
918

P a ı́s
s', 2001). Na realidade, todos os
aumentos orçamentais dos ministérios
regionais desse ano foram absorvidos
2196
2218
6141
6337
1943
2161
2001

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Observatorio Social de Espan˜a.


829
698
131
895
861
34

pelo pagamento de juros da dívida. Em


2004, o governo regional tinha uma dívida
de 10.098 milhões de euros, 11% do seu
2157
2192
5951
6108
1866
2058
2000

798
666
132
864
821

PIB, o que o tornou na região mais


43

endividada de Espanha. Em 2005, se as


regras para as empresas privadas
Quadro 1. Despesa social pública per capita.

tivessem sido aplicadas, o governo


Valenciana Espanha
Valenciana Espanha
Valenciana Espanha

Valenciana Espanha

regional teria de ser dissolvido (


G a r
c ı́
a a'
del Moral, 2006). Em 2007, o governo
Comunidade
Comunidade
Comunidade

Comunidade

Diferencial
Diferencial
Diferencial

Diferencial

regional valenciano, com 11.500 milhões


de euros de dívida total 2 representando
11,4% do PIB 2, continuou a ser o mais
endividado em Espanha (El P a ı́s
s',
2008a). Segundo a Moody, a maior parte
Protecção social

do aumento da dívida deveu-se ao


endividamento das empresas públicas 2
Educação

incluindo a CACSA e outras 2 e às


Saúde

garantias bancárias que lhes foram dadas


Total

(Ferrandis, 2008). Com a recessão eco-


nómica, o problema do endividamento e
as dificuldades de manter os mega-
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
projectos construídos durante o boom
económico foram tornados mais
evidentes, e em 2013

Este conteúdo descarregado de


194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
Tarazona Vento 77
processos de contratação e para saltar os
procedimentos. Por exemplo, como
o governo regional valenciano foi o
explicado pelo primeiro director do
primeiro a pedir uma ajuda ao governo
consórcio, o plano director necessário para
central.
o projecto de candidatura do
Enquanto o Estado carregava os riscos
financeiros e permanecia falido, os
sectores da construção e da propriedade
colheram a maior parte dos benefícios
económicos gerados pelos mega-projectos
e eventos, como sugerem os relatórios de
impacto económico tanto da Cidade das
Ciências como da Taça América
encomendados pelo governo regional.
Portanto, em vez de haver uma
transferência líquida de riqueza para a
sociedade como um todo, na realidade
houve uma transferência de dinheiro
público para mãos privadas.

Regeneração urbana neoliberal em


Valência
Para além da imagem e dos resultados
físicos, sociais e económicos, há menos
consequências visi- ble da política urbana de
Valência, que provocou profundas
mudanças de governação.
De facto, os mecanismos utilizados
para implementar mega-projectos e
eventos desempenharam um papel
importante na gestão da cidade "numa
base de sede das calças no interesse dos
poucos favorecidos e dos seus interesses
particulares", tal como descrito por um
grupo ecologista local (Zafra, 2004). Em
primeiro lugar, para a maioria deles, foram
aplicadas medidas de excep- tionalidade
utilizando a justificação da eficiência, a
aceleração dos procedimentos e o interesse
social dos projectos- ect. O segundo
mecanismo principal que foi utilizado para
retirar o controlo do citi- zens à tomada de
decisões foi a transferência da gestão
para organizações
públicas2privadas.
A America's Cup é um exemplo de como
foram aplicadas medidas de
excepcionalidade. As pressões de tempo e
a declaração do governo central
conservador sobre o "interesse especial" do
evento foram utilizadas para acelerar os
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
Valência, 14 de Maio de 2009)

A taça foi encomendada sem qualquer


Assim, apesar das contínuas exigências da
competição - ao gabinete do arquitecto
imprensa e da oposição política, a região
de confiança do presidente da câmara
porque já tinham trabalhado na área e
"não havia tempo para qualquer outra
opção. Não se tratava de dizer, "vamos
ver como o projecto se desenrola", mas
sim "preciso disto em 15 dias"
(Entrevista com o Director do Gabinete
da Convenção de Valência, 9 de Julho
de 2009).
Uma vez designada a cidade, o
projecto candi-datureza tornou-se o
definitivo e as obras de infra-estruturas
foram contratadas por contratação directa,
porque não houve tempo para convocar
propostas (Entrevista com o Gestor de
Projectos e Conservação do Consórcio
Valência 2007, 29 de Outubro de 2009).
Tanto a Cidade das Ciências como a
Taça América fornecem exemplos da
transferência da gestão para
organizações
públicas2privadas. VACICO,
que depois passou a chamar-se CACSA,
foi criada para lidar com a construção e
gestão da Cidade das Ciências para
acelerar os processos e saltar os
procedimentos burocráticos, por
exemplo, permitiu mais liberdade em
termos de contratação de pessoal. O
presidente da CACSA é o ministro
regional da economia, e tem um
conselho de administração de 10
pessoas. O seu capital é público, mas é
gerido como uma empresa privada.
Sendo uma organização
pública2privada, as suas obrigações de
transparência são menos rigorosas do
que as da administração pública. O ex-
director do escritório de Calatrava em
Valência explica de forma muito gráfica
o seu funcionamento:

O que se faz é receber dinheiro público,


pagá-lo em dinheiro e trabalhar a partir daí
como uma empresa privada: gere-o e
arranja uma abordagem mais profissional
ou tenta assegurar uma abordagem mais
profissional de gestão de dinheiro por
parte desta empresa. (Entrevista com o
ex-director do escritório de Calatrava em
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
78 Estudos Urbanos 54(1)

vezes levou à corrupção.


o governo evitou dar informações sobre os
contratos 2 da CACSA, por exemplo no
que diz respeito aos honorários 2 da
Calatrava, com base no facto de a
informação ser um "segredo profissional"
entre as duas partes (Ferrandis, 2009b).
Por sua vez, os diferentes relatórios
anuais do organismo de auditoria pública
regional questionaram o sistema de
adjudicação de contratos do CACSA e até
aconselharam uma possível apropriação
indevida de fundos públicos. Por exemplo,
em 2006, o relatório assinalou a
"quantidade escandalosa de contratação
sem obedecer a qualquer princípio de
publicidade ou de igualdade de
tratamento" (G a rcı́
a a' del Moral, 2006).
Além disso, em 2001, com a desculpa do
cre...
A CACSA foi dividida em quatro
sociedades anónimas, cujos directores
não têm de responder perante um órgão
de direcção ou um conselho de
accionistas. Além disso, a quantidade de
informação que devem tornar pública foi
ainda mais reduzida.
Do mesmo modo, referindo-se à VEPI
2 uma fundação criada com 50% de
capital público local e 50% regional para
promover o turismo em Valência, por
ocasião da Taça América 2, um vereador
municipal do partido socialista com-
planícies que:

Foi criada uma empresa instrumental que


não pode ser responsabilizada por ninguém
da oposição ou do público em geral que
possa gostar de saber o que está a ser feito
com dinheiro público. Não é dada conta dos
relatórios e tem sido utilizada para contratar
empresas ou contratar pessoal à vontade,
mesmo na actual cri- sis, para organizar o
evento. (Entrevista com o conselheiro
municipal, 3 de Novembro de 2009)

Em última análise, as medidas de


excepcionalidade e a privatização da
gestão 2 através da criação de fundações
semi-públicas e empresas públicas 2
resultaram numa falta de transparência e
numa falta de democracia, o que muitas
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
e de como minimizar o seu inevitável
O declínio da democracia em Valência
impacto ambiental. Nas palavras de um
Além de serem condutas de modos de arquitecto local, "Quem não vai concordar
governação neoliberais, os mega-
projectos de Valência estão
intimamente ligados ao estab- lamento
de uma "pós-democracia pós-política
autocrática consensual" (Swyngedouw,
2011).
Certamente, mega-projectos e
eventos foram geridos recorrendo a
uma miríade de corpos semi-estatais
de pessoas como a CACSA e a VEPI. A
ênfase foi claramente colocada na
gestão eficiente e não em ter um
programa ideo-lógico, como ilustram as
palavras do director de negócios da
CACSA:

[Os objectivos da Cidade das Ciências]


eram muito genéricos, como, por
exemplo, a geração de riqueza, bem-
estar, revitalização urbana da área. Além
disso, são objectivos que qualquer
governo que chegue ao poder se
comprometeria a atingir, uma vez que
são geralmente positivos. (Entrevista
com o director comercial da CACSA, 27
de Outubro de 2009)

Da mesma forma, o anúncio de que


Valência iria acolher a America's Cup
em 2007 foi saudado como uma grande
oportunidade por diferentes grupos
cívicos e empresariais: uma
oportunidade para terminar a orla
marítima da cidade, para regenerar os
bairros marítimos empobrecidos, para
impulsionar o investimento do governo
central em infra-estruturas e para atrair
turistas de alto nível (Biot and Velert,
2003).
As lutas ideológicas foram substituídas
por dis- cussões sobre questões
técnicas e ambientais. Assim, o acordo
geral sobre os benefícios da America's
Cup foi qualificado com referências à
necessidade de que a petição fosse
"sustentável", particularmente no que
diz respeito à especulação imobiliária e
aos impactos ambientais na linha
costeira. Nesse sentido, o debate girou
principalmente em torno do projecto de
infra-estruturas para o har- bour interior
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
Tarazona Vento 79
que não apoiá-los (Entrevista com o director
do editorial
sobre a realização de um evento deste
tipo? Não, mas o problema é como se
realiza" (Entrevista com o autor dos
espaços abertos do porto interior de
Valência, 1 de Outubro de 2009).
A governação privatizada e
tecnocrática foi acompanhada por uma
política e discurso populista, o que
provocou a intensificação da
despolitização. Os governos regionais e
locais conservadores 2, utilizando uma
táctica arqui-política de despolitização 2,
insistiram que os mega-projectos e eventos
eram bons para o povo valenciano como
um todo. Ao tomar "o povo valenciano"
como o sujeito político universal, os
conflitos ideológicos e sociais internos
foram negados e, portanto, a acção
política demagógica tornou-se uma
questão de decidir quem era o melhor
gestor e administrador do erário público e
o interesse "comum" dos valencianos.
Este populismo reflectiu-se na imprensa,
que foi um dos principais instrumentos
para obter o consentimento popular, como
explica um jornalista local de El Paı´s's2 :

Estão a jogar sobre a credulidade populista


do 'Great! Vamos ter o maior 'Great'! [.] E a
grandiloquência tende a abafar qualquer
possível debate dos ele- mentos racionais
como o que é bom e mau no projecto,
acima de tudo porque é sem fissuras; não
deixa espaço ou lacunas para qualquer
discussão sensata. Ou estás comigo ou
contra mim; ou és a favor de Valência se
tornar algo importante ou és um traidor a
esta ideia" (Entrevista com jornalista de El Paı´s
na redacção de Valência, 2 de Outubro de
2009)

A política de identidade foi utilizada para


rejeitar a dissidência, acusando aqueles
que discordam da política urbana de não
serem valencianos. Os mega-projectos
tornaram-se a representação dos
sentimentos de orgulho e identidade locais
do povo e, como afirma o director do El
Mundo3 em Valência, até os políticos da
oposição se aperceberam que era
eleitoralmente mais rentável apoiá-los do
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
tempo de um amplo con- sensus dentro
dos principais partidos políticos, grupos
escritório de El Mundo em Valência, 27
económicos locais influentes e o público
de Outubro de 2009).
em geral.
A arquitectura do Prestige também
desempenhou um papel importante na
geração de consenso popular. A Cidade
das Ciências de Calatrava é a instância
mais paradigmática disto, mas a
transformação urbana para a Taça
América é também um exemplo, como
explica um membro de esquerda do
parlamento regional:

Não tem havido oposição [.] nenhum


debate social. Porquê? Porque os jornais
do dia seguinte imprimem fotografias do
desenvolvimento futuro de toda essa área
e a reacção é: 'Que bonito! Gosto disso!''.
Mostram-lhe o outro projecto, seja o que
for, e você vai: 'Quão encantador! Gosto
disso!' (Entrevista com o ex-candidato à
presidência do governo regional, 12 de
Maio de 2009)

Além disso, seguindo o que se poderia


considerar uma lógica ultra-política,
tanto o governo regional conservador
como o governo local conservador
desviaram a atenção do antagonismo
social ao concentrarem-se na
estruturação de um inimigo "externo",
neste caso o governo central socialista,
que acusaram continuamente de
dificultar projectos estratégicos como a
Taça América. Por exemplo, um político
regional conservador fez a seguinte
acusação: 'O governo de Zapatero não
sabe o que inventar para prejudicar a
Comunidade Valenciana' (Velert, 2004).
Na verdade, o facto de Valência ter sido
maltratada em referência ao
financiamento do governo central
continua a gerar con- sensus localmente
e regionalmente entre os principais
partidos políticos, incluindo o que está
em funções no governo central.
Populismo, centrado na política de iden-
A sua personalidade e auto-estima,
fomentou uma política consensual em
que a verdadeira escolha política não
existia, apenas encenou um
antagonismo. Certamente, a política
urbana de Valência gozou durante muito
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
80 Estudos Urbanos 54(1)

(Entrevista com o director da redacção de excluiu o debate ideológico.


El Mundo em Valência, 27 de Outubro de
2009). A oposição à política urbana veio
de um número limitado de grupos muito
específicos 2 urbanistas, intelectuais e
ecologistas 2 e não teve grande impacto
sobre a população em geral.
Mas se A Cidade das Ciências é,
segundo Calatrava, representativa da
democracia de Valência, tornou-se
também uma metáfora do estado da
democracia. Em 2013, sete anos após a
inauguração do edifício, uma secção do
mosaico de 8000 metros quadrados que
cobria a pele exterior do palácio da ópera
caiu, o resto teve de ser removido para
evitar maior deterioração e as actuações
foram canceladas (Europa Press, 2014).

Conclusões
Os resultados mais evidentes da política
urbana de Valência, para além da
transferência física, foram a desigualdade
social, o subinvestimento nos serviços
sociais e a crise fiscal, em suma, uma
transferência líquida de riqueza do sector
público para o privado através do
ambiente construído.
Mas, para além dos desastrosos
resultados sociais e eco-nómicos, os
mecanismos utilizados para implementar
mega-projectos levaram ao instituto de
formas de tomada de decisão mais
autoritárias e privatizadas, o que resultou
em falta de transparência, falta de controlo
democrático e, em última análise,
corrupção. De facto, os mega-projectos
são condutas da neoliberalisa- tion e,
portanto, a literatura do neoliber- alismo
como modo de governação é útil para
explorar as implicações das políticas de
regeneração urbana empresarial para a
tomada de decisões democráticas.
Além disso, os mega-projectos
desempenharam um papel crucial no
estabelecimento de uma pós-democracia
consensual, ao passar do foco da luta
ideológica para a tecnocracia e ao serem
o centro de um discurso populista que
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
Testemunhando quão posta em evidência pela imprensa e pelo
inevitavelmente ligadas estão a movimento Indignados como a causa visível
neoliberalização e a despolitização, o dos problemas económicos da região e da
caso de Valência mostra não só quão deterioração da democracia, começaram
fundamental é uma democracia a tornar-se mais altas e mais numerosas,
consensual para apoiar o projecto e, finalmente, tiveram consequências
neoliberal tanto ideologicamente como eleitorais.
psicologicamente, mas também o papel
central que os mega-projectos icónicos
desempenham neste contexto. Assim,
ligar a literatura de pós-política à de
arquitectura e globalização abre novos
caminhos para explorar mais o
neoliberalismo a partir de uma
perspectiva ideológica. Empiricamente,
enfatiza a importância das questões de
sedução, encarnação e representação
sym- bolic 2 neste caso, em relação à
arquitectura icónica e ao des-curso
populista construído em torno dos
mega-projectos 2 para o repúdio da
política e, portanto, para a construção
da pós-política.
O consenso gerado pela mega-
Os projectos descansaram em grande
medida sobre o poder de sedução e
simbolismo da técnica icónica do arco.
Os mega-projectos tornaram-se a
representação de sentimentos de
orgulho e identidade locais, desviando
desta forma a atenção do antagonismo
social e contribuindo para bloquear
mentalmente a possibilidade de
alternativas ao empreendedorismo.
A implicação que isto tem para as
agendas políticas é que se a
representação simbólica é importante
para a construção do pós-político e
para apoiar o neoliberalismo, também
pode ser um instrumento útil para as
contestar, como o caso de Valência
também sugere.
A crise económica de 2008
estimulou, em Espanha, o
aparecimento de novos movimentos
sociais, que alimentaram um processo
de re-politização incipiente. Em
Valência, à medida que as medidas de
austeridade se intensificavam e a
falência do governo regional era mais
evidente, as vozes que criticavam a
política urbana, que em 2011 tinha sido
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
Tarazona Vento 81
outras questões conceptuais de simbolismo e
encarnação pode contrib- ute, teoricamente,
Em 2015,4 's, em coligação com o
para compreender melhor o
partido socialista e Vale`ncia en Comu',5 pôs
fim a 24 anos de governo pelo presidente da
câm a ra conservadora Barbera', enquanto
um presidente socialista foi eleito para
governar a região em coligação com 's. A
"regeneração da democracia" (embora
certamente dentro da ordem social
estabelecida) foi vista como o mandato
dos novos governos locais e regionais.
Tanto a Vale`ncia en Comu' como a
Comu´'s estiveram envolvidas na mudança
das per- cepções de pessoas dos mega-
projectos, e fizeram uso - e beneficiaram
da utilização de - representação simbólica
para contestar o senso comum
estabelecido em relação à política urbana
empreendedora de Valência.
Por um lado, em contraste com a lista
eli e a tomada de decisões autoritárias
das quais os mega-projectos eram
simultaneamente condutas e símbolo, o
movimento Indignados - trans- lavava
eleitoralmente em "Vale`ncia en Comu" -
videnciou o simbolismo de ser-em-comum
e de tomada de decisões participativas.
As deliberações nas praças ocupadas -
além de uma oportunidade para muitos de
ouvir um relato de mega-projectos
diferente do oficial e de imaginar um
Valência diferente - tornaram-se a
representação simbólica de uma nova
forma de fazer política.
Por outro lado, os mesmos mega-projectos
que simbolizava "a redução do político ao
económico" (Wilson e Swyngedouw, 2015:
8) e o fim da utopia teve muito a ver com o
processo de re-politização incipiente de
Valência desde que se tornaram a
representação do declínio da democracia.
Em particular, Compromı´s foi o partido mais
visivelmente responsável por mudar o
significado simbólico dos mega-projectos,
passando da incorporação do sucesso e do
orgulho local para a incorporação do
excesso de despesas, da desigualdade e
da corrupção.
Enquanto a pós-politização - e portanto
a repolitização - são necessariamente
processos incompletos, a exploração de
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
d'ocu- pacio'
.In: Universitat de Vale` ncia (ed.)
La
ligações entre pós-politização e o
neoliberalismo e, empiricamente,
compreender a aposta - ter como e em
que medida a representação simbólica
pode contribuir para constituir mas
também para desafiar e perturbar a
ordem pós-política e o senso comum
neoliberal.

Agradecimentos
Gostaria de agradecer aos dois árbitros anónimos
pelos seus comentários e aos entrevistados por
darem generosamente o seu tempo. Aplicam-se
as renúncias habituais.

Financiamento
Esta investigação não recebeu qualquer
subvenção específica de qualquer agência de
financiamento nos sectores público,
comercial, ou sem fins lucrativos.

Notas
1. O PSOE, um partido socialista por nome
mas que se define a si próprio como
social-democrata e representa a política
da Terceira Via em Espanha, esteve em
funções no governo local entre 1979 e
1991 e no governo regional entre 1983 e
1995. O PP, o partido conservador, esteve
no poder localmente entre 1991 e 2015 e
regionalmente
entre 1995 e 2015.
2. Este jornal diário tem a maior circulação
em Espanha e é sociologicamente e
ideologicamente próximo do PSOE.
3. Este jornal diário tem a segunda maior
circulação em Espanha e é sociológica e
ideologicamente próximo do PP.
4. Partido verde de esquerda e coligação
partidária nacionalista que tinha feito
campanha muito visivelmente contra a
política urbana de Valência.
5. Um novo partido considerado como o
herdeiro do movimento Indignados.

Referências
Azagra J e Romero J (2012) Desde la margen
izquierda. Valência: Universitat de Vale`
ncia.
Banyuls J e Sa'
n c h e z A (2007) La dina` mica del
mercat laboral valencia` i les p a có
i tiques
'
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
82 Estudos Urbanos 54(1)

Comunidad Valenciana en el umbral del siglo s e g u a´


' del Moral J (2006) El informe del
XXI. Estrategias de desarrollo econo'mico. s eg un´
'd i c confirma el estado de 'colapso'
Valência: Publicacions Universitat de Vale` n- de la Generali- tat, segu' n el PSPVE.l segu´'s, 27
cia, pp. 113-142. de Dezembro, 8.
Biot R e Velert S (2003) El reto de la Valencia Haila A (1998) O construtor negligenciado de
de 2007. El Paı´s's, 30 de Novembro, 8. cidades globais. In: Kalltrop O, Elander I,
Boira J (2012) Valência, la tormenta perfecta. Ericsson O e Franzen M (eds) Cities in
Bar- celona: RBA Libros. Transformation - Transformation in Cities:
Ca'
m a r a Comercio Valencia (2010) La economı´a'a de Social e Sym-
la Comunidad Valenciana. Valenciana: Mudança Bolic do Espaço Urbano. Aldershot:
Ca' m a r a Comercio Valencia. Ash- gate, pp. 51-64.
Cochrane A (1999) Apenas mais uma Harvey D (1989) Do gerencialismo ao entre-
experiência urbana fracassada? O legado preneurialismo: A transformação na
das corporações de desenvolvimento urbano governação urbana no capitalismo tardio.
Geografiska Annaler: Série B, Human Geography
- ment. In: Imrie R e Thomas H (eds) British
Urban Policy: An Evaluation of the Urban 71(1): 3–17.
Development Corporations. Londres: Sage, Hubbard P (1996) Urban design and city regen-
pp. 246-258. eration: Representações sociais de
Conejos M (2008) Rajoy pone a Camps como paisagens entrepre- neurais. Estudos
ejemplo de buena gestion' econo' m ica. ABC, 1 de Urbanos 33(8): 1441–1461.
Janeiro. Hubbard P e Hall T (1998) The entrepreneurial
Dean J (2015) Após a pós-política: Ocupação e City and the 'New Urban Politics'. In: Hall
o regresso do comunismo. In: Wilson J e T e Hubbard P (eds) The Entrepreneurial City:
Swyngedouw E (eds) The Post-Political and Its Geografias da Política, Regime e
Representação...
Discontents: Espaços de Despolitização, Spec- tação. Londres: Wiley, pp. 1-23.
tres de Radical Politics. Edimburgo: Edinburgh Imrie R e Thomas H (1999) Assessing urban
University Press, pp. 261-278. policy and the urban development corpora-
El P a ı ´ s ' s (2001) La Ciudad de las Artes y el tions. In: Imrie R e Thomas H (eds) British
Insti- tuto de Finanzas agudizan el riesgo Urban Policy: An Evaluation of the Urban
financiero de la Generalitat; una agencia Development Corporations. Londres: Sage,
alerta del incre- mento de la deuda. El pp. 3-39.
Paı´s's, 12 de Outubro, 1. Informacion.es (2012) El modelo de Camps es el
El P a ı́ss' (2008a) La deuda de la Generalitat que yo quiero para E s p a n ˜ a . Informacion.es
crece en un a n ˜ o 619 millones y suma ya El perio'dico de la provincia de Alicante, 21 de
11.500. El Paı´s's, 27 de Março, 5. Julho. Disponível em:
El f n
i a n ca
i co
i ´
ns ' (2008b) El P a ı́
s n'd i c http://www.diarioinformacion.-
reclama una nueva financiacio' n . El Paı´s's, 23 de com/alicante/2012/07/21/modelo-camps-quiero-
Dezembro, 2. espana/1277171.html.
Europa Press (2014) El Palau de les Arts retira Instituto Nacional www.ine.es'stica (sem data)
todo el ' t
ren ca d ı́
s s
'
' y reabrira'el domingo. El http:// www.ine.es (acedido a 3 de Março de
Mundo, 17 de Fevereiro. 2013).
Evans G (2005) Measure for measure: Evaluating Jessop B (1997) A cidade empreendedora: Re-
the evidence of culture's contribution to ima- ging localities, redesigning economic
regen-eração. Estudos Urbanos 42(5-6): 959– governar- ance, ou reestruturar capital? In:
983. Jewson N e MacGregor S (eds) Realização
Ferrandis J (2008) Moody's alerta al Consell que de cidades: Novas Divisões Espaciais e
debe frenar la deuda y el gasto sanitario. El Transformação Social. Londres: Routledge,
Paı´s's, 20 de Março, 3. pp. 28-41.
Ferrandis J (2009a) Acampamentos apuesta por el Jessop B (2002) Liberalismo, neoliberalismo e
ladrillo. governação urbana: Uma perspectiva de
El Paı´s's, 24 de Março. Estado - teórica - tive. In: Brenner N e
Ferrandis J (2009b) El Consell niega al PSPV Theodore N (eds) Espaços do Neoliberalismo:
los contratos del A'g o r a y de la Fo' r m u l a 1. Reestruturação Urbana
El Paı´s's, 12 de Dezembro. na América do Norte e na Europa Ocidental.
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
Oxford: Blackwell, pp. 105-125.

Este conteúdo descarregado de


194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
Tarazona Vento 83
informacion' pu' blicaE.l fo´rmula's, 16 de Agosto, 1.

Kamat S (2015) O novo desenvolvimento


architec- ture e a pós-política no Sul Global.
In: Wilson J e Swyngedouw E (eds) The Post-
Political and Its Discontents: Espaços de
Despolitização, Espectros de Política Radical.
Edimburgo: Edinburgh University Press, pp.
67-85.
Keil R (2002) 'Common-sense' neoliberalism:
Urbanismo conservador progressivo em
Toronto, Canadá. In: Brenner N e Theodore
N (eds)
Espaços do Neoliberalismo: Reestruturação
Urbana na América do Norte e Europa
Ocidental. Oxford: Blackwell, pp. 230-253.
Larner W (2015) Os limites da pós-política:
Repensar o empreendimento social radical.
In: Wil- son J e Swyngedouw E (eds) The Post-
Polit-
ical e os seus descontentes: Espaços de
Despolitização, Espectros de Política Radical.
Edimburgo: Edinburgh University Press,
pp. 189-207.
Leitner H e Sheppard E (1998) Economic
uncertainty, interurban competition and the
efficacy of entrepreneurialism. In: Hall T e
Hubbard P (eds) The Entrepreneurial City:
Geografias de Política, Regime e Represen-
tação. Londres: Wiley, pp. 285-307.
Leitner H, Peck J e Sheppard E (2007) Squar-
até ao neoliberalismo. In: Leitner H, Peck J
e Sheppard E (eds) Contestando o Neoliberal-
ism: Fronteiras Urbanas. Londres: Guilford
Press,
pp. 311–327.
Mitchell D, Attoh K e Staeheli L (2015) De
quem é a cidade? Que política? Espaços
contenciosos e não contenciosos na Frente
do Colorado. Estudos Urbanos 52(14): 2633–
2648.
Moulaert F, R o d rı́
g u e zg'u e z A e
Swyngedouw E (2005) Large scale urban
development projets- ects, urban dynamics
and social polarization: Uma reflexão
metodológica. In: Moulaert F, Rodriguez A e
Swyngedouw E (eds) The Globalized City:
Reestruturação Económica e Polarização Social
nas Cidades Europeias. Oxford: Oxford
University Press, pp. 47-64.
Oficina Estadı´stica'stica Ajuntament Vale` ncia
(2008) Mercat laboral a`rea metropolitana 2008.
Vale` n- cia: Oficina Estadı´stica'stica
Ajuntament Vale` ncia.
Olivares M (2001) La Generalitat 'inventa' la
sociedad pu' blica de responsabilidad limitada;
la for'm u l a restringe los o'
r g a n o s de gobierno y la
Este conteúdo descarregado de
194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
Olivares M (2008) CACSA no pago'los 2,58 mill-
ones de intereses de su deuda en 2007. El Paı´s's, 28
de Agosto, 1.
Orueta FD e Fainstein SS (2008) Os novos mega-
projectos: Génese e impactos. Interna-
Jornal Regional de Investigação Urbana e Regional
32(4): 759–767.
Pe'
r e z Benlloch JJ (2007) Las soflamas del presi-
dente. El Paı´s's, 11 de Fevereiro, 43.
R o d rı́
g uez
g'u e z A, Swyngedouw E e Moulaert F
(2005) Urban restructuring, social-political
polarization, and new urban policies. In: Mou-
laert F, Rodriguez A e Swyngedouw E (eds)
A Cidade Globalizada: A Reestruturação
Económica e Polarização Social nas Cidades
Europeias. Oxford: Oxford University Press,
pp. 29-46.
Swyngedouw E (2010) Apocalypse forever? O
populismo pós-político e o espectro das
alterações climáticas. Teoria, Cultura e
Sociedade 27(2-3): 213–232.
Swyngedouw E (2011) Interrogating post-demo-
cratization: Recuperar espaços políticos
igualitários. Geografia Política 30: 370-380.
Swyngedouw E, Moulaert F e Rodriguez A (2002)
Urbanização neoliberal na Europa: Projectos
de desenvolvimento urbano em grande escala
e a Nova Política Urbana. Antipode 34(3): 542–
577.
Swyngedouw E, Moulaert F e Rodriguez A (2005)
O mundo num grão de areia: Projectos de
desenvolvimento urbano em grande escala e a
dinâmica das transformações 'glocais'. In:
Mou- laert F, Rodriguez A e Swyngedouw E
(eds) The Globalized City: Reestruturação
Económica e Polarização Social nas Cidades
Europeias. Oxford: Oxford University Press, pp.
9-28.
Terrasa R (2012) Valencia pide el 'rescate' al
Gobierno para atender sus pagos pendientes.
El Mundo, 20 de Julho.
Torres A (2005) Democracia formal. Una conver-
sacio'
n con Santiago Calatrava. Arquitectura Viva
103: 32-35.
Turok I (1992) Regeneração urbana liderada pela
propriedade: Panacea ou placebo. Ambiente e
Planeamento A 24(3): 361–379.
Van Puymbroeck N e Oosterlynck S (2015)
Abrindo a condição pós-política:
Multiculturalismo e a matriz da depoliticisa-
tion. In: Wilson J e Swyngedouw E (eds) The
Post-Political and Its Discontents: Espaços

Este conteúdo descarregado de


194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms
84 Estudos Urbanos 54(1)

de Despolitização, Espectros de Política Despolitização, Espectros de Política Radical.


Radical. Edimburgo: Edinburgh University Edimburgo: Edinburgh University Press,
Press, pp. 86-108. pp. 1-22.
Velert S (2004) El Gobierno designa a sus delega- Zafra I (2004) La Federacion' de Vecinos reclama un
dos en la Copa de Ame' r i c a . El Paı´s's, 3 de Junho, 4. proyecto global para la Valencia de la Copa
Wilson J e Swyngedouw E (2015) Seeds of dys- de Ame'r i c a . El Paı´s's, 28 de Maio, 6.
topia: Post-politics and the return of the politi- Zafra I (2009) La ruina de los 'megayates'.
cal. In: Wilson J and Swyngedouw E (eds) The El Paı´s's, 13 de Setembro, 1.
Post-Political and Its Discontents: Espaços de

Este conteúdo descarregado de


194.117.18.100 on Wed, 29 Mar 2023 08:53:10 UTC
Todas as utilizações estão sujeitas a https://about.jstor.org/terms

Você também pode gostar