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ISSN 1984-9354
PARQUES TECNOLÓGICOS:
AGLOMERADOS URBANO-REGIONAIS
COMO ESTRATÉGIA INDUTORA DE
DESENVOLVIMENTO REGIONAL E
URBANO ORIENTADO À ECONOMIA
DE SERVIÇOS INTENSIVOS EM
CONHECIMENTO
Resumo
Com a observação de uma “territorialização econômica” no mundo
contemporâneo, juntamente com o processo de “financeirização dos
espaços geográficos”, questiona-se estratégias indutoras de
desenvolvimento vinculadas não somente a serviços suuperiores,
intensivos em conhecimento como também aspectos de novas formas de
organização espacial, principalmente nas cidades médias, que são
alvos de investidores imobiliários, implementando atividades
bancárias, atividades tecnocientíficas, com inovações e apoio no
campo da informática, destacado sobretudo pelo crescimento de base
cientifica e tecnológica voltada para a atividade produtiva ou de
serviços de nível superior. Numa economia fortemente dependente de
serviços, notadamente os intensivos em conhecimento, há exigência de
intensa relação entre as Políticas Públicas de incentivo e apoio a
Parques Tecnológicos e os Programas Nacionais e Regionais de
Desenvolvimento. O desenvolvimento econômico dos territórios, como
o desenvolvimento em geral depende da densidade e qualidade das
redes entre os atores, da pertinência dos quadros coletivos de ação, do
vigor dos projetos e das antecipações do futuro, das capacidades de
organização, a inteligência das evoluções, a qualidade das instituições,
publicas e privadas.
Introdução
Neste trabalho, tem-se como objetivo iniciar de maneira sucinta a discussão sobre parques
tecnológicos como aglomerados urbano-regionais estratégicos e sua influência no
desenvolvimento regional e urbano, notadamente nas questões de economia de serviços
intensivos em conhecimento.
Quanto aos aspectos metodológicos, o desenvolvimento desse trabalho partiu da escolha do
tema a ser pesquisado – o setor terciário superior da economia e sua correlação com
aglomerações urbano-regionais específicas (como os parques técnico científicos) e demandará
futuro levantamento bibliográfico acerca do tema, permitindo-se entender o déficit teórico
relacionado a estudos sobre o setor terciário em face das demais literaturas disponíveis sobre
os demais setores econômicos.
O desenvolvimento apresenta inicialmente uma contextualização da economia contemporânea
vinculando-a à evolução tecnológica para, a seguir iniciar debate sobre a questão conceitual e
por extensão sobre as diversas categorias que constituem o universo dos serviços tem sido
intenso e estimulante na medida em que ajuda a desvendar aspectos até então nebulosos sobre
estas atividades, finalizando-se com a conceituação de aglomerados urbano-regionais
especificamente os orientados à tipologia em questão para a pesquisa;
As conclusões (mais considerações parciais) são o mote para a continuação da pesquisa no
tema.
Contextualização da Economia Contemporânea
Desenvolver uma região ou área urbana, diferente de apenas promover um crescimento
econômico durante certo período de tempo, requer discussão continuada de estratégias
indutoras desse desenvolvimento integrando os âmbitos econômico, social e tecnológico.
Uma hipótese para a aparente dificuldade em se conseguir tal desenvolvimento está na
complexidade em conceituar Desenvolvimento Regional.
A conceituação, embora delimite o âmbito de análise do processo de desenvolvimento (o
conceito de região é discutível), pode ser simplificada como:
“um processo de mudança estrutural localizado que se associa ao
permanente progresso da região, da comunidade ou sociedade que a
habita e de seus habitantes como pessoas, incluindo uma dimensão
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Karl Marx à diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador,
que seria a base da exploração no sistema capitalista), como os trabalhadores que se mantém
por meio da parte excedente da economia: como os médicos, artistas, professores, entre
outros, que se mantém prestando um serviço necessário à sociedade organizada, mesmo não
sendo considerados como atividades propriamente produtivas (Kon, 1992, p.32).
Com o surgimento dos neoclássicos, Léon Walras (1834-1910), traz para as atividades
terciárias um conceito diferente dos autores anteriores. Destaca a ação de trabalho humano
como forma de extrair serviços dos fatores de produção: as terras, que produzem alimentos,
suportam as casas; o capital, que produziam rendimentos ou serviços imobiliários, como
casas, edifícios, máquinas; e, as pessoas: que se constituíam de capitais pessoais, produzindo
serviços pessoais. Enfatiza também, a ampliação das atividades industriais após a RI –
Revolução Industrial - na Grã-Bretanha, necessitando a ampliação da produção, e a
diversificação dos serviços, gerando assim, novos postos para profissionais liberais e outros
serviços complementares a indústria (Kon, 1992, p.33).
A partir da RI - Revolução Industrial (consistiu-se em um conjunto de mudanças tecnológicas
com profundo impacto no processo produtivo em nível econômico e social. Iniciada na Grã-
Bretanha em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo a partir do século XIX), no
final do século XIX, com a multiplicação das atividades intermediárias no processo produtivo,
ocorreram novas mudanças no pensamento econômico. Assim, surge à teoria keynesiana,
redefinindo os conceitos do que se considerava como componentes da geração de produto e
renda (bens e serviços). Com sua obra Teoria Geral do Emprego, Juro e Moeda , John
Maynard Keynes (1883- 1946), conclui que todo setor de atividade econômica gerador de
emprego e renda é, por si só, produtivo. Para Keynes, então, as atividades terciárias eram
consideradas não apenas como geradoras diretas de um produto, mas também passíveis de
mensuração, como as demais atividades econômicas.
Desta maneira, no decorrer da evolução das teorias econômicas, surge um sistema de valores
sobre as atividades terciárias, que resulta em duas linhas de pesquisa conceituais: a marxista,
segundo a qual algumas atividades consideradas terciárias, são improdutivas, não pertencendo
ao fundo potencialmente disponível para propósitos de desenvolvimento econômico; e, a
keynesiana, segundo a qual qualquer atividade que faz jus a uma recompensa monetária é
considerada útil e produtiva por definição (Kon, 1992, p.37).
Abrangente, tal análise não contempla aspectos contemporâneos desenvolvidos a partir das
revoluções tecnológicas.
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espaço com o aumento da velocidade dos fluxos de informação e financeiros através das
tecnologias de informação e comunicação.
No mundo capitalista, a inserção de tecnologias e o aprimoramento constante da mesma
promovem uma dinamização produtiva, intensifica o trabalho, cria produtos e mercadorias de
maior qualidade para concorrer em um mercado cada vez mais competitivo, gera diminuição
de custos. Esse processo desencadeia uma enorme acumulação de capitais pelos donos dos
meios de produção que posteriormente serão usados para realizar investimentos no
desenvolvimento de novos produtos e na geração de inéditas tecnologias de ponta, sempre a
serviço da indústria.
Mas quem são os donos desses meios de produção de conhecimento? Garzon (2009) relatou a
forma como a economia mexicana foi replanejada unilateralmente pelos Estados Unidos,
melhor dizendo, pelas empresas estadunidenses: o sucesso da economia mexicana
correspondeu ao replanejamento dos fatores econômicos internos como múltiplas áreas de
enclave, à disponibilização do seu território, com seus recursos naturais, suas estruturas
econômicas e sua população para os ciclos produtivos estadunidenses.
Pode-se extrapolar o exemplo de Garzon para as redes econômicas globais. As grandes redes
econômicas são projetadas como mega-redes flexíveis contendo as mais variadas
competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) e competitividades, os mais distintos
fatores econômicos (conjuntos de mão-de-obra, reservas de matérias-primas, estruturas
comerciais, industriais e financeiras e mercados) tornando países ou regiões nós dessas redes,
retiram-lhes toda margem de autonomia e os convertem em um eficiente e previsível
acessório, uma máquina viva, uma região modificada para assimilar um DNA corporativo.
A estrutura desse cenário mundial foi construída para proporcionar grande competitividade às
cadeias produtivas com maior descentralização geográfica da produção para áreas de baixo
custo operacional e sob total previsibilidade e controle institucional. Tal estrutura é
alavancada com o impulso do desenvolvimento tecnológico via crescente incorporação de
inovações que remodela a divisão internacional do trabalho, desenvolvendo privatizações e a
aparente negação do Estado como gestor da Economia. Essa alavancagem ocorre em
progressão geométrica quer pela hipercompetição de mercado quer pela diminuição das
distâncias (ou melhor, aceleração dos fluxos), barateamento dos equipamentos e processos de
produção mais eficientes.
O processo econômico da Terceira Revolução Industrial iniciou-se com o Estado, mas
aparentemente encontra-se na situação de Firma-Estado, empresas e conglomerados
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econômicos com mais poder e dominação que as próprias políticas públicas nacionais
oferecem, resultado aparente da estratégia de otimização das redes comerciais, alongando e
potencializando seu espectro de atuação. Como o fazem? Desmontando cadeias produtivas
nacionais antes protegidas e subsidiadas pelo Estado, afetando programas nacionais de
desenvolvimento tecnológico necessários a estabelecer a conexão das três fases (invenção-
inovação-difusão). Esses programas (coletivo de projetos) recebem vários nomes: incubação
de empresas, redes produtivas de conhecimento, redes (complexas) de inovação, EBT –
empresas de base tecnológica, KIBS = knowledge intensive business services, IESICS = infra
estrutura e serviços de informação e comunicações. Nota-se que tais programas são
sustentados por conglomerados (visando seu expansionismo capitalista) e não mais pelo
Estado (que deveria promover o expansionismo sócio-econômico).
São todas redes produtivas de conhecimento ou redes tecno-econômicas (Callon, 1992) com
alta complexidade para ser estruturada, articulada, fazer-se o enfrentamento das instabilidades
para consolidá-la e mantê-la. Isso exige um continuado processo de negociações e de
alinhamento de interesses entre todos os atores envolvidos. Se, em algum momento, estes
interesses deixam de estar alinhados, a rede se desestabiliza e a trajetória cessa. Manter os
interesses de todos os atores alinhados ao interesse do construtor da rede exige muita
persuasão e convencimento por parte do ator construtor. Ao contrário do que se passa, por
exemplo, em uma rede elétrica, onde lâmpadas não têm suas características mudadas pelo fato
de pertencerem a uma dada rede ou estarem fora de redes, um mesmo ator pode assumir
diferentes papeis estando dentro ou fora de uma rede tecno-econômica. Mais ainda, o papel
que ele assume depende do conjunto dos papeis assumidos pelos demais atores e pelo papel
desejado pelo ator construtor da rede tecno-econômica.
A nova morfologia social na era da informação-conhecimento
As redes tecno-econômicas são globais e constituem a nova morfologia social na era da
informação-conhecimento, controlando o estoque de experiência e poder, garantindo a
vinculação entre a produção da ciência e os espaços de seu uso. São redes os fluxos
financeiros globais; teia de relações políticas e institucionais que aceleram as inovações em
direção ao aumento da produtividade e da taxa de acumulação de suas grandes corporações.
Nesse contexto, ciência e técnica não param de surpreender e revolucionar, entretanto o
capitalismo global apossou-se por completo dos destinos da tecnologia orientando-a única e
exclusivamente para a criação de valor econômico. Os pólos de desenvolvimento tecnológico,
transformados em fator fundamental na disputa dos mercados e na acumulação capitalista
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como também por constituírem um sistema ou uma “região urbana” (alguns autores preferem
o termo “cidade-região”). Esta situação pode ampliar as polaridades no interior das
aglomerações, uma vez que aumenta a diferenciação entre indivíduos, coletivos sociais e
empresas integrados e os não-integrados.
Para entender-se como regiões metropolitanas inserem-se nesse cenário, pode-se recorrer a
Singer (2011) com sua elaboração de que a urbanização implica na formação de redes urbanas
polarizadas por grandes cidades, ao redor das quais formam-se áreas metropolitanas com
núcleos constituídos por complexos de serviços, uma economia de serviços. Mesmo com essa
“terceirização” da sociedade, sustenta que as explicações ainda não se complementam de
forma a constituir uma teoria consistente, mas pode-se destacar que o progresso técnico –
inovação – pode ser dividido em duas categorias de efeitos opostos: (a) mudanças de
processos (métodos de produção aperfeiçoados) para produtos já conhecidos e (b) novos
produtos (bens ou serviços) substitutos de modo superior aos existentes ou gerando novas
necessidades de consumo.
Kon (1999) sustenta que as tecnologias de informação e das comunicações conduzem à
industrialização dos serviços, à inovação organizacional e a novas formas de comercialização
dos serviços face aos relacionamentos entre organização e consumidor, ambiente dinâmico
cuja categorização da tipologia não tem acompanhado esse mesmo dinamismo
Precisa-se pensar uma espacialidade muito mais complexa na qual se articulam diferentes
escalas, polarizações e centralidades. Esta complexidade inclui o recrudescimento das
polaridades econômicas e sociais, as quais se manifestam em dois níveis: externamente,
diferenciando regiões “ganhadoras” e “perdedoras”, quanto à sua “capacidade de adaptação” à
nova conjuntura e de inserção nos circuitos hegemônicos do movimento global de capitais; e
internamente, entre setores sociais “incluídos” e “excluídos” nas “oportunidades”
vislumbradas pela nova economia globalizada.
Os casos mais conhecidos de Sistemas Territoriais Locais são as aglomerações e sistemas
urbanos policêntricos, na medida em que as cidades são favorecidas pela pluralidade de
sujeitos sociais ativos, presença de infra-estruturas, recursos culturais, instituições, formando
um milieu aberto à inovação, como também o são os próprios Sistemas Locais de Produção.
Assim espera-se que nas aglomerações urbanas se realizem conexões sinergéticas semelhantes
aos APLs prevalecendo a cooperação, o intercâmbio de informações e as parcerias entre os
diferentes atores.
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Todavia, um Sistema Territorial Local não é dado pela natureza, pela cultura, pelos limites
físicogeográficos ou administrativos, pela história. Trata-se de um projeto construído
politicamente, estando em questão quais os sujeitos sociais devem contar para esta
construção. Nem todos os agentes sociais atuantes na aglomeração podem estar dispostos a
cooperar, inovar, participar e estabelecer políticas de gestão participativa. Assim que
determinados grupos ou sujeitos sociais devem disputar politicamente o poder na região para
a construção de uma nova hegemonia e aí sim construir o novo território local.
Este processo exige a mudança dos tradicionais esquemas políticos, sendo necessário transpor
o âmbito municipal para pensar a política em outras escalas, especialmente as escalas global e
regional. É imprescindível o movimento das “políticas localizadas para as políticas em rede”
o que não é tarefa fácil para atores sociais que habitualmente arraigados ao localismo e às
escalas de ação impostas pelo Estado.
A nova política territorial e de desenvolvimento deve ser interativa, contratual, capaz de
integrar atores e sujeitos pertencentes à “redes” diferentes, para a realização de projetos
comuns em uma escala territorial nova (Dematteis, 1998:32).
Parques técnico científicos - Uma estratégia possível?
Nesse contexto, coloca-se em questão a implementação do PTda Bahia, inserido na RMS
como uma proposta de âmbito estadual (como o nome induz, mas demonstrando uma amnésia
quanto ao fracasso do parque tecnológico em Simões Filho)
Com o avanço tecnológico em comunicação e informação, as barreiras geográficas deixaram
de existir. Hoje o conhecimento técnico-científico propicia mudanças no desenvolvimento
regional, como também no âmbito local, gerando riquezas e melhorando a qualidade de vida
de seus habitantes.
Os meios de inovação industrial de alta tecnologia, que Castells (2006) chama de
“tecnópoles”, apresentam-se em vários formatos urbanos.
As principais, com a exceção dos Estados Unidos e da Alemanha,
localizam-se em áreas metropolitanas mais destacadas como: Tóquio,
Paris-Sud, corredor M4 de Londres, Milão, Seul-Inchon, Moscou-
Zelenograd e, a uma distância considerável, Nice-Sophia Antipolis,
Taipei-Hsinchu, Cingapura, Xangai, São Paulo, Barcelona, etc. A
exceção parcial da Alemanha (afinal Munique é uma importante área
metropolitana) está diretamente relacionada à história política [...]
(CASTELLS, 2006, p. 480).
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Segundo esse autor, estas tecnologias interagem com a estrutura espacial de três modos
fundamentais:
1. com a nova lógica informacional de produção e gestão que cria
um novo espaço de produção, cujo desenvolvimento remodela
fundamentalmente a estrutura regional e a dinâmica de cada
cidade, concedendo uma importância funcional às suas
características sociais, econômicas, e institucionais, para o novo
sistema de produção;
2. através do impacto direto de novas tecnologias (particularmente
das tecnologias de comunicação) sobre o modo de trabalhar e
viver tende a modificar a forma urbana;
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Nesse contexto, muitos arranjos produtivos locais, têm-se manifestado, como estratégia para
minimizar custos e maximizar resultados.
Há muitas linhas de pensamento sobre a utilização de parques tecnológicos como parte da
estratégia de aglomerados urbano-regionais indutores do desenvolvimento orientado a
serviços intensivos em conhecimento. Lahorgue (2006) analisando as causas do surgimento
dos pólos tecnológicos no Brasil, assinala o seguinte:
Em meados dos anos 1980, ficou claro que estava surgindo uma nova
indústria e uma nova economia, baseada em conhecimento. Assim,
além da dotação em fatores tradicionais de produção, passou a ser
necessário que os países e suas regiões dispusessem de estruturas de
produção e de difusão do conhecimento, de mão-de-obra qualificada e
capaz de dominar as novas tecnologias e de capital social capaz de
garantir a estabilidade de um projeto de desenvolvimento.
(LAHORGUE, 2006, s/p.)
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Outro exemplo, pólo surgido da visão, está sediado em Santa Rita do Sapucaí, em Minas
Gerais. A cidade se desenvolveu baseado em produção do conhecimento, formação de pessoal
altamente qualificado e implantação de empresas de base tecnológica, cuja origem é
encontrada na visão de um grupo ou de uma pessoa. Santa Rita do Sapucaí era, nos anos
1950, um município essencialmente agrícola. Nesse ambiente, uma representante da
aristocracia rural local, cria, em 1958, na contramão da tradição da cidade, uma escola de
eletrotécnica, que deveria suprir parte do pessoal técnico que o país necessitava. A cidade
cresceu com a visão de que era possível, através de um projeto educacional de qualidade,
sintonizar o desenvolvimento local às grandes transformações trazidas pela industrialização
do país. Sem essa iniciativa, a cidade continuaria fechada dentro da única alternativa
agropecuária.
O terceiro exemplo de pólo tecnológico surgido da vocação tem origem num potencial de
desenvolvimento, que muitas vezes não é claramente reconhecido pelos atores locais,
principalmente quando se trata de uma grande cidade ou de uma região metropolitana. Muitas
vezes é uma conjunção de fatores que possibilita a ascensão de algumas cidades à categoria de
Tecnópole. Conforme o trabalho de Lahorgue, no caso de Porto Alegre Tecnópole, a
oportunidade é a existência de forte infraestrutura de C&T e de atividades industriais e de
serviços de base tecnológica. Aí, também, não há articulação forte ou capacidade de
construção de um projeto de desenvolvimento que sejam encontradas num só setor. O
aproveitamento dessas oportunidades é somente realizável a partir de um conjunto de
esforços, envolvendo vários segmentos. Essas parcerias são construídas ao longo de um
processo, que passa por várias etapas, num crescendo de comprometimento institucional e de
complexidade de gestão. (LAHORGUE, 2006)
Prosseguindo na análise sobre a formação de pólos tecnológicos, Duarte (2004) observa que
os pólos tecnológicos são comumente analisados pela inserção de processos produtivos
inovadores, pela articulação de atores científicos, empresariais, financeiros e políticos e pelos
arranjos econômicos locais.
Duarte destaca a importância da inovação na requalificação dos espaços urbanos que abrigam
as Tecnópoles. Assim, afirma que
[...] os aspectos dos processos de inovação que trazem conseqüências
para a gestão urbana, buscando saber como é possível otimizar valores
de um contexto urbano central de modo a atrair a implantação de um
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Considerações finais
Em uma economia de aprendizado globalizada, a concentração geográfica e institucional de
empresas em clusters parece favorecer substancialmente as vantagens competitivas dinâmicas.
O processo de criação histórica e espontânea dos clusters em certas regiões e organizado e
deliberado em outros contextos não tem sido, contudo, bem compreendido. Porém, parece
claro que o sucesso dos aglomerados urbano-regionais orientados a serviços superiores como
produção organizada na economia globalizada deve ser analisado caso a caso. Assim pode-se
avaliar criticamente o (des)planejamento estratégico dessa redes sócio-técnicas.
Espera-se que esta iniciativa ajude o fortalecimento das relações cooperativas, da sinergia e
interação entre atores e favoreça o processo de inovação e vantagens competitivas
sustentáveis. Outro ponto fundamental para que se garanta a sustentabilidade dos padrões de
sociabilidade e desenvolvimento neste milênio é a necessidade de equacionar os objetivos de
crescimento econômico e competitividade de empresas, organizações com princípios e metas
de desenvolvimento e equidade social.
É importante lembrar que os parques tecnológicos além de manterem o processo de inovação
têm como aspecto fundamental do seu sucesso o espírito empreendedor. Tais parques
introduzem novas formas de relacionamento entre universidades e indústrias. Nesse sentido
contribuem significativamente para o desenvolvimento de novas metodologias de criação de
novos negócios (o processo de incubação e desenvolvimento de spin-off, por exemplo, através
da estreita relação com incubadoras de empresas.), concorrendo definitivamente para o
desenvolvimento econômico regional. Dessa perspectiva, fica claro que se os países em
desenvolvimento não fizerem os investimentos necessários para consolidar a inserção
competitiva de sua economia no processo de globalização a partir da criação de novas bases
de conhecimento para a integração do país no novo paradigma da economia da aprendizagem,
a distância que os separam dos países desenvolvidos com certeza se acentuará.
Deve ser destacada a importância da tecnologia de base informacional, na localização de
tecnopolos, pois conforme ensina Duarte, economia de base informacional e os arranjos
geopolíticos contemporâneos tendem, de um lado, a tornar as indústrias independentes de
proximidade com insumos físicos ou reserva de mão-de-obra e, de outro, a facilitar a
circulação de mercadorias e profissionais – sobretudo aqueles ligados ao desenvolvimento de
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produtos tecnológicos digitais. Apoiando-se em Castells (2006, p. 375), Duarte afirma que “o
espaço de fluxos substitui o espaço dos lugares”, que continuariam importantes para a
concretização de transformações econômicas globais, mas perderiam seu significado cultural,
geográfico e histórico.
De acordo com Spinola (2011) esse tradicional modelo de "mini-industrialização"
disseminou-se, principalmente, entre os anos 1970 e 1985, quando várias indústrias
paulistanas começaram a migrar para cidades próximas, para fugir do cenário de deseconomia
que pairava sobre elas. "A elevação dos preços dos terrenos, que dificultava projetos de
ampliação, e o custo da força de trabalho e de logística foram os principais motivadores dessa
migração", explica. Para disputar a preferência dessas indústrias e, claro, atrair novas,
prefeituras de vários pontos do país acenavam tanto com a oferta de benefícios fiscais como
de infra-estrutura praticamente gratuita nas áreas escolhidas como distritos industriais. Numa
economia fortemente dependente de serviços, notadamente os intensivos em conhecimento,
há exigência de intensa relação entre as Políticas Públicas de incentivo e apoio a Parques
Tecnológicos e os Programas Nacionais e Regionais de Desenvolvimento.
O desenvolvimento econômico dos territórios, como o desenvolvimento em geral, passa hoje
pela densidade e qualidade das redes entre os atores. Depende mais da pertinência dos
quadros coletivos de ação, do vigor dos projetos e das antecipações do futuro, que das infra-
estruturas e dos equipamentos. As capacidades de organização, a inteligência das evoluções, a
qualidade das instituições, publicas e privadas contam mais que as infra-estruturas e
equipamentos. (VELTZ, 1994). A questão das políticas urbanas e do papel dos poderes locais
coloca-se relevantes, ao menos teoricamente, para a inovação social e política e de uma nova
reflexão sobre as normas e as práticas da ação pública local a implementar no futuro
(GODARD, 1996).
As parcerias podem ser entendidas como sistemas de cooperação formal ou informal que têm
por objetivo a resolução parcial ou integral de um determinado problema, ou a prestação de
um determinado serviço local. Esta forma de colaboração pode tomar várias formas: entre o
setor público e o setor privado, entre vários níveis de governo, entre diferentes agentes
públicos, entre vários atores privados, ou entre agentes públicos, privados e do terceiro setor.
As parcerias permitem uma maior responsabilização dos vários parceiros, pois partilham os
riscos e os benefícios. Trata-se, não só de estabelecer um contrato, mas também, um método
de trabalhar em conjunto (definir estratégias e elaborar, conduzir e avaliar planos de ação para
a cidade como um todo), ou, ainda de fazer lobbying com o objetivo de atrair um número
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