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8 e 9 de junho de 2012

ISSN 1984-9354

PARQUES TECNOLÓGICOS:
AGLOMERADOS URBANO-REGIONAIS
COMO ESTRATÉGIA INDUTORA DE
DESENVOLVIMENTO REGIONAL E
URBANO ORIENTADO À ECONOMIA
DE SERVIÇOS INTENSIVOS EM
CONHECIMENTO

Milton Correia Sampaio Filho


(Universidade Salvador - UNIFACS)
Maria Ângela da Costa LIno Franco Sampaio
(Universidade Federal da Bahia - UFBA)

Resumo
Com a observação de uma “territorialização econômica” no mundo
contemporâneo, juntamente com o processo de “financeirização dos
espaços geográficos”, questiona-se estratégias indutoras de
desenvolvimento vinculadas não somente a serviços suuperiores,
intensivos em conhecimento como também aspectos de novas formas de
organização espacial, principalmente nas cidades médias, que são
alvos de investidores imobiliários, implementando atividades
bancárias, atividades tecnocientíficas, com inovações e apoio no
campo da informática, destacado sobretudo pelo crescimento de base
cientifica e tecnológica voltada para a atividade produtiva ou de
serviços de nível superior. Numa economia fortemente dependente de
serviços, notadamente os intensivos em conhecimento, há exigência de
intensa relação entre as Políticas Públicas de incentivo e apoio a
Parques Tecnológicos e os Programas Nacionais e Regionais de
Desenvolvimento. O desenvolvimento econômico dos territórios, como
o desenvolvimento em geral depende da densidade e qualidade das
redes entre os atores, da pertinência dos quadros coletivos de ação, do
vigor dos projetos e das antecipações do futuro, das capacidades de
organização, a inteligência das evoluções, a qualidade das instituições,
publicas e privadas.

Palavras-chaves: rede sócio-tecno-econômica complexas,


planejamento estratégico, economia de serviços superiores, parques
tecnológicos
VIII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
8 e 9 de junho de 2012

Introdução
Neste trabalho, tem-se como objetivo iniciar de maneira sucinta a discussão sobre parques
tecnológicos como aglomerados urbano-regionais estratégicos e sua influência no
desenvolvimento regional e urbano, notadamente nas questões de economia de serviços
intensivos em conhecimento.
Quanto aos aspectos metodológicos, o desenvolvimento desse trabalho partiu da escolha do
tema a ser pesquisado – o setor terciário superior da economia e sua correlação com
aglomerações urbano-regionais específicas (como os parques técnico científicos) e demandará
futuro levantamento bibliográfico acerca do tema, permitindo-se entender o déficit teórico
relacionado a estudos sobre o setor terciário em face das demais literaturas disponíveis sobre
os demais setores econômicos.
O desenvolvimento apresenta inicialmente uma contextualização da economia contemporânea
vinculando-a à evolução tecnológica para, a seguir iniciar debate sobre a questão conceitual e
por extensão sobre as diversas categorias que constituem o universo dos serviços tem sido
intenso e estimulante na medida em que ajuda a desvendar aspectos até então nebulosos sobre
estas atividades, finalizando-se com a conceituação de aglomerados urbano-regionais
especificamente os orientados à tipologia em questão para a pesquisa;
As conclusões (mais considerações parciais) são o mote para a continuação da pesquisa no
tema.
Contextualização da Economia Contemporânea
Desenvolver uma região ou área urbana, diferente de apenas promover um crescimento
econômico durante certo período de tempo, requer discussão continuada de estratégias
indutoras desse desenvolvimento integrando os âmbitos econômico, social e tecnológico.
Uma hipótese para a aparente dificuldade em se conseguir tal desenvolvimento está na
complexidade em conceituar Desenvolvimento Regional.
A conceituação, embora delimite o âmbito de análise do processo de desenvolvimento (o
conceito de região é discutível), pode ser simplificada como:
“um processo de mudança estrutural localizado que se associa ao
permanente progresso da região, da comunidade ou sociedade que a
habita e de seus habitantes como pessoas, incluindo uma dimensão

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espacial, social e individual. O progresso da região é uma


transformação sistemática do território regional em sujeito coletivo, de
fortalecimento da sociedade civil e a remoção de toda classe de
barreiras que impedem que cada membro da sociedade regional
alcance sua plena realização como pessoa humana” (Boisier, 2003,
p.37).

Entendendo-se desenvolvimento como um processo contínuo de aplicação de excedentes em


novos investimentos que resultam na expansão de uma unidade produtiva (desde uma
empresa, até uma cidade, uma região ou uma sociedade inteira) é comum nestes tempos de
globalização (ou melhor, mundialização) e capitais voláteis considerar como
Desenvolvimento Urbano aquele realizado com capitais locais, logo, cidades, derivados dos
Sistemas Locais de Produção.
Vinculada a essa conceituação sintética, deriva-se ao menos duas discussões igualmente
complexas: a) quais as estratégias indutoras de desenvolvimento? e b) como medir esse
desenvolvimento?
Observa-se uma “territorialização econômica” no mundo contemporâneo, juntamente com o
processo de “financeirização dos espaços geográficos”, questiona-se estratégias indutoras de
desenvolvimento vinculadas não somente a serviços superiores, intensivos em conhecimento
como também aspectos de novas formas de organização espacial, principalmente nas cidades
médias, que são alvos de investidores imobiliários, implementando atividades bancárias,
atividades tecnocientíficas, com inovações e apoio no campo da informática, destacado
sobretudo pelo crescimento de base cientifica e tecnológica voltada para a atividade produtiva
ou de serviços de nível superior.
No presente ensaio, discorre-se resumidamente sobre aspectos metodológicos, economia de
serviços superiores, verifica-se como isso influencia a configuração de aglomerados urbano-
regionais e como os parques tecnológicos e científicos podem ser uma estratégia possível.
Economia de serviços superiores - Tipologia de Serviços e breve linha do
tempo
Anita Kon em sua obra A produção Terciária: O Caso Paulista (Ed. Nobel, SP, 1992),
classifica os serviços em quatro categorias: Serviços Produtivos, Serviços Distributivos,
Serviços Sociais e Serviços Pessoais. O critério de classificação nessas quatro categorias é o
tipo de demanda. A composição desses quatro tipos de serviços compatibilizados com as
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categorias da Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE adotados pela


Relação Anual de Informações Sociais – RAIS / Ministério do Trabalho e Emprego - MTE,
para efeito deste trabalho, é a seguinte:
a) Os Serviços Produtivos são demandados em grande medida pelo setor industrial, o
que significa que os determinantes principais destes serviços são as decisões de
investimentos do setor empresarial. Também exercem demanda por estes serviços os
consumidores em geral, indivíduos e famílias. Serviços Produtivos: Serviços
Financeiros e de Seguros; Serviços Profissionais e de Negócios e Serviços
Imobiliários,
b) Os Serviços Distributivos também têm sua demanda mais relevante no setor
produtivo, distinguindo-se dos Serviços Produtivos porque não participam diretamente
da produção de mercadorias. São apenas serviços auxiliares do processo produtivo.
Uma parte da sua demanda é gerada no âmbito das famílias e indivíduos. Serviços
Distributivos: Comércio Varejista; Comércio Atacadista; Serviços de Transporte e
Serviços de Comunicações,
c) Os Serviços Sociais apresentam, pelo menos, duas características: são de consumo
coletivo e em alguns casos são comercializáveis. A demanda provém, principalmente,
dos indivíduos e famílias. Serviços Sociais: Serviços Públicos (Administração Direta);
Serviços de Saúde; Serviços de Educação e Serviços Sociais Diversos,
d) Por último, os Serviços Pessoais demandados, preferencialmente, por consumidores
finais. Serviços Pessoais: Hotéis, Bares e Restaurantes; Recreação e Diversão;
Serviços Domésticos; Serviços de Reparos; Barbearia e Beleza; Lavanderia e
Limpeza; e Serviços Pessoais Diversos.
Segundo os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, o Brasil tornou-se,
nas últimas décadas, uma economia na qual o setor terciário representa quase dois terços do
emprego urbano metropolitano e responde por mais da metade do PIB - Produto Interno
Bruto. Este setor é responsável por uma parcela econômica significativa em relação ao PIB
mundial, além de ser um grande gerador de novas oportunidades de emprego, assim como
alternativa de ganho econômico para gestores de negócios e empreendedores. Além disso,
segundo pesquisas do IPEA, a expansão das atividades de serviços tem-se constituído como
uma importante mudança no processo de desenvolvimento econômico (IPEA, 1999). Essa
tipologia do Setor Terciário auxiliará a avaliar se aglomeração urbano-regional orientadas à
tecnologia e ciência, nominada Parques Tecnológicos apresenta-se como uma estratégia

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indutora de desenvolvimento (se possível integrado nos âmbitos social, econômico e


tecnológico) e como os serviços superiores são determinante nos movimentos de concentração
e dispersão relativa dessas atividades nos centros de ordem mais elevada na hierarquia urbana.
Ao se recuperar uma breve linha do tempo sobre serviços, entende-se que nas últimas
décadas, a expansão das atividades de serviços constitui–se uma importante mudança no
processo de desenvolvimento econômico. Até então, as Teorias Econômicas sempre deram
maior ênfase às atividades ligadas à produção agrícola, extrativista ou manufatureira. Tanto
que, o primeiro registro relativo às atividades terciárias ou de serviços, caracterizou-as como
atividades improdutivas.
Adam Smith (2003) caracterizou os serviços como sendo atividades improdutivas, porque não
agregavam valor material às mercadorias, e porque o resultado do trabalho em serviços, ao
contrário daquele aplicado à manufatura, não perdura no tempo e nem pode ser estocado,
inviabilizando a acumulação de riqueza.
Conforme análise dessa evolução elaborada por Kon (1992), Thomas Robert Malthus (1766-
1834) reinterpreta a doutrina de Smith, apresentando as contribuições sobre a importância dos
serviços terciários para o crescimento da riqueza das nações. O autor afirma que há trabalho
produtivo e improdutivo em diferentes graus, e a única alteração do modo de pensar de Smith,
seria de substituir os termos de produtivo e improdutivo por mais ou menos produtivos.
Assim, segundo a concepção de Malthus, uma das causas que contribuíam para aumentar o
valor do produto, favorecendo sua distribuição, são as atividades que não acrescentam
diretamente em acumulação de objetos materiais, representados pelas atividades ditas como
terciárias (KON, 1992, p. 23).
Mais tarde, David Ricardo (1772-1823) acrescenta às idéias de Smith e Malthus a forma como
as atividades terciárias do comércio e dos transportes, contribuíam para o aumento do produto
total, através da troca de um produto por outros, ou por trabalho em valor de igual monta,
caracterizando assim a atividade de comércio também como um trabalho produtivo.
Surgem então as idéias de Karl Marx (1818-1883), introduzindo uma nova abordagem a
respeito de forças produtivas e as relações de produção, tomando como base o conceito de
utilidade. Este conceito considerava qualquer atividade que fazia jus a uma recompensa
monetária considerada útil e produtiva. Considerando até mesmo o trabalho, dito como
improdutivo, como produtivo e útil no âmbito da economia capitalista. Max defendia que o
fato de gerar valor-trabalho em quantidade maior que aquela existente nas condições iniciais
do processo produtivo das mercadorias, já considerava como a mais-valia(é o nome dado por

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Karl Marx à diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador,
que seria a base da exploração no sistema capitalista), como os trabalhadores que se mantém
por meio da parte excedente da economia: como os médicos, artistas, professores, entre
outros, que se mantém prestando um serviço necessário à sociedade organizada, mesmo não
sendo considerados como atividades propriamente produtivas (Kon, 1992, p.32).
Com o surgimento dos neoclássicos, Léon Walras (1834-1910), traz para as atividades
terciárias um conceito diferente dos autores anteriores. Destaca a ação de trabalho humano
como forma de extrair serviços dos fatores de produção: as terras, que produzem alimentos,
suportam as casas; o capital, que produziam rendimentos ou serviços imobiliários, como
casas, edifícios, máquinas; e, as pessoas: que se constituíam de capitais pessoais, produzindo
serviços pessoais. Enfatiza também, a ampliação das atividades industriais após a RI –
Revolução Industrial - na Grã-Bretanha, necessitando a ampliação da produção, e a
diversificação dos serviços, gerando assim, novos postos para profissionais liberais e outros
serviços complementares a indústria (Kon, 1992, p.33).
A partir da RI - Revolução Industrial (consistiu-se em um conjunto de mudanças tecnológicas
com profundo impacto no processo produtivo em nível econômico e social. Iniciada na Grã-
Bretanha em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo a partir do século XIX), no
final do século XIX, com a multiplicação das atividades intermediárias no processo produtivo,
ocorreram novas mudanças no pensamento econômico. Assim, surge à teoria keynesiana,
redefinindo os conceitos do que se considerava como componentes da geração de produto e
renda (bens e serviços). Com sua obra Teoria Geral do Emprego, Juro e Moeda , John
Maynard Keynes (1883- 1946), conclui que todo setor de atividade econômica gerador de
emprego e renda é, por si só, produtivo. Para Keynes, então, as atividades terciárias eram
consideradas não apenas como geradoras diretas de um produto, mas também passíveis de
mensuração, como as demais atividades econômicas.
Desta maneira, no decorrer da evolução das teorias econômicas, surge um sistema de valores
sobre as atividades terciárias, que resulta em duas linhas de pesquisa conceituais: a marxista,
segundo a qual algumas atividades consideradas terciárias, são improdutivas, não pertencendo
ao fundo potencialmente disponível para propósitos de desenvolvimento econômico; e, a
keynesiana, segundo a qual qualquer atividade que faz jus a uma recompensa monetária é
considerada útil e produtiva por definição (Kon, 1992, p.37).
Abrangente, tal análise não contempla aspectos contemporâneos desenvolvidos a partir das
revoluções tecnológicas.

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Contextualização Preliminar da Terceira Revolução Industrial e sua


influência nos chamados serviços superiores
A Terceira Revolução Industrial ou Revolução Tecno-científica é caracterizada pela etapa de
profundas evoluções no campo tecnológico desencadeada principalmente pela junção entre
conhecimento científico e produção industrial ocorridas depois da Segunda Guerra Mundial
(após a segunda metade do século XX). O processo industrial pautado no conhecimento e na
pesquisa caracteriza essa etapa ou fase produtiva: todos os conhecimentos gerados em
pesquisas são repassados quase que simultaneamente para o desenvolvimento industrial.
Tal cenário permitiu o desenvolvimento de atividades industriais que aplicam tecnologias de
ponta em todas as etapas produtivas. A produção tecnológica, promissora no âmbito global,
envolve atividades vinculadas à produção de computadores, softwares, microeletrônica (chips,
transistores, circuitos eletrônicos) além da robótica, telecomunicações: a automação da
informação de forma geral ou comumente conhecida como informática. Algumas inovações
citadas contribuem direta ou indiretamente para o desenvolvimento de outros, evidenciando
não só a interdependência intensiva entre eles como também o valor agregado através do
conhecimento intensivo aplicado nos estudos e pesquisas, mesmo com custos reduzidos de
matéria-prima.
Sociedade da Informação, Economia do Conhecimento e a Reestruturação
do sistema de Acumulação de Capital
No contexto de Revolução Científico-tecnológica, o economista Fritz Machup iniciou os
estudos sobre o o efeito das patentes na pesquisa. Seu trabalho culminou no importante estudo
"The production and distribution of knowledge in the United States" em 1962. Ele foi um dos
que iniciou a discussão do conceito de Sociedade da Informação, também chamada de
Sociedade do Conhecimento, vinculado ao discutível termo Globalização (de forma mais
coerente Mundialização).
A chamada Sociedade da Informação ou do Conhecimento pretende ressaltar o novo modelo
de organização e desenvolvimento social e econômico onde a informação, é um patrimônio,
possui valor como meio de criação de conhecimento pelo homem na proposta de soluções,
desempenha um papel fundamental na produção de riqueza e na contribuição para o bem-estar
e qualidade de vida dos cidadãos. Derivam desse conceito termos como Economia do
Conhecimento cujo principal componente da agregação de valor, produtividade e crescimento
econômico é o conhecimento e Economia Digital ressaltando uma nova perspectiva de tempo-

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espaço com o aumento da velocidade dos fluxos de informação e financeiros através das
tecnologias de informação e comunicação.
No mundo capitalista, a inserção de tecnologias e o aprimoramento constante da mesma
promovem uma dinamização produtiva, intensifica o trabalho, cria produtos e mercadorias de
maior qualidade para concorrer em um mercado cada vez mais competitivo, gera diminuição
de custos. Esse processo desencadeia uma enorme acumulação de capitais pelos donos dos
meios de produção que posteriormente serão usados para realizar investimentos no
desenvolvimento de novos produtos e na geração de inéditas tecnologias de ponta, sempre a
serviço da indústria.
Mas quem são os donos desses meios de produção de conhecimento? Garzon (2009) relatou a
forma como a economia mexicana foi replanejada unilateralmente pelos Estados Unidos,
melhor dizendo, pelas empresas estadunidenses: o sucesso da economia mexicana
correspondeu ao replanejamento dos fatores econômicos internos como múltiplas áreas de
enclave, à disponibilização do seu território, com seus recursos naturais, suas estruturas
econômicas e sua população para os ciclos produtivos estadunidenses.
Pode-se extrapolar o exemplo de Garzon para as redes econômicas globais. As grandes redes
econômicas são projetadas como mega-redes flexíveis contendo as mais variadas
competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) e competitividades, os mais distintos
fatores econômicos (conjuntos de mão-de-obra, reservas de matérias-primas, estruturas
comerciais, industriais e financeiras e mercados) tornando países ou regiões nós dessas redes,
retiram-lhes toda margem de autonomia e os convertem em um eficiente e previsível
acessório, uma máquina viva, uma região modificada para assimilar um DNA corporativo.
A estrutura desse cenário mundial foi construída para proporcionar grande competitividade às
cadeias produtivas com maior descentralização geográfica da produção para áreas de baixo
custo operacional e sob total previsibilidade e controle institucional. Tal estrutura é
alavancada com o impulso do desenvolvimento tecnológico via crescente incorporação de
inovações que remodela a divisão internacional do trabalho, desenvolvendo privatizações e a
aparente negação do Estado como gestor da Economia. Essa alavancagem ocorre em
progressão geométrica quer pela hipercompetição de mercado quer pela diminuição das
distâncias (ou melhor, aceleração dos fluxos), barateamento dos equipamentos e processos de
produção mais eficientes.
O processo econômico da Terceira Revolução Industrial iniciou-se com o Estado, mas
aparentemente encontra-se na situação de Firma-Estado, empresas e conglomerados

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econômicos com mais poder e dominação que as próprias políticas públicas nacionais
oferecem, resultado aparente da estratégia de otimização das redes comerciais, alongando e
potencializando seu espectro de atuação. Como o fazem? Desmontando cadeias produtivas
nacionais antes protegidas e subsidiadas pelo Estado, afetando programas nacionais de
desenvolvimento tecnológico necessários a estabelecer a conexão das três fases (invenção-
inovação-difusão). Esses programas (coletivo de projetos) recebem vários nomes: incubação
de empresas, redes produtivas de conhecimento, redes (complexas) de inovação, EBT –
empresas de base tecnológica, KIBS = knowledge intensive business services, IESICS = infra
estrutura e serviços de informação e comunicações. Nota-se que tais programas são
sustentados por conglomerados (visando seu expansionismo capitalista) e não mais pelo
Estado (que deveria promover o expansionismo sócio-econômico).
São todas redes produtivas de conhecimento ou redes tecno-econômicas (Callon, 1992) com
alta complexidade para ser estruturada, articulada, fazer-se o enfrentamento das instabilidades
para consolidá-la e mantê-la. Isso exige um continuado processo de negociações e de
alinhamento de interesses entre todos os atores envolvidos. Se, em algum momento, estes
interesses deixam de estar alinhados, a rede se desestabiliza e a trajetória cessa. Manter os
interesses de todos os atores alinhados ao interesse do construtor da rede exige muita
persuasão e convencimento por parte do ator construtor. Ao contrário do que se passa, por
exemplo, em uma rede elétrica, onde lâmpadas não têm suas características mudadas pelo fato
de pertencerem a uma dada rede ou estarem fora de redes, um mesmo ator pode assumir
diferentes papeis estando dentro ou fora de uma rede tecno-econômica. Mais ainda, o papel
que ele assume depende do conjunto dos papeis assumidos pelos demais atores e pelo papel
desejado pelo ator construtor da rede tecno-econômica.
A nova morfologia social na era da informação-conhecimento
As redes tecno-econômicas são globais e constituem a nova morfologia social na era da
informação-conhecimento, controlando o estoque de experiência e poder, garantindo a
vinculação entre a produção da ciência e os espaços de seu uso. São redes os fluxos
financeiros globais; teia de relações políticas e institucionais que aceleram as inovações em
direção ao aumento da produtividade e da taxa de acumulação de suas grandes corporações.
Nesse contexto, ciência e técnica não param de surpreender e revolucionar, entretanto o
capitalismo global apossou-se por completo dos destinos da tecnologia orientando-a única e
exclusivamente para a criação de valor econômico. Os pólos de desenvolvimento tecnológico,
transformados em fator fundamental na disputa dos mercados e na acumulação capitalista
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global, alteraram muito as considerações de natureza ética, social ou de políticas públicas,


tendo como conseqüências o aumento da concentração de renda e da exclusão social.
A reflexão desafiadora proposta por Fernand Braudel (1987) em olhar-se além da economia
de mercado e acompanhar o capital até o andar de cima, no qual ele se encontra com o poder
político com seus segredos sobre a obtenção dos sistemáticos lucros tornou-se uma questão
contemporânea bem mais complexa: o andar de cima potencializa a acumulação pela
revolução vigiada da tecnologia da informação e pela possibilidade de fragmentação das
cadeias produtivas globais. Os cientistas de laboratórios internacionais de pesquisa dedicam-
se ao desenvolvimento de tecnologia para as grandes corporações globais, que além de
responder às demandas do mercado, precisam garantir a taxa de retorno do investimento dos
seus acionistas o capital impaciente (SENNETT, 2006, p. 43) como critério central na
definição de seus objetivos. Se a conseqüência desse desenvolvimento for, por exemplo, um
maciço aumento do desemprego por conta da radical automação, este ônus passa a ser
transferido para a sociedade, tenha ela ou não estrutura para lidar com a questão.
Serviços intensivos em conhecimento
“A próxima sociedade será a sociedade do conhecimento. O
Conhecimento será o recurso primordial e os trabalhadores do
conhecimento serão o grupo dominante na força de trabalho”
(DRUCKER, 2001)

Os estudos sobre o desenvolvimento regional e urbano (econômico e social integrados) ao


longo da história, demonstram que os economistas, ou ao menos as políticas governamentais
em geral têm atribuído um papel secundário aos serviços.
Apesar da relevância dos serviços no funcionamento das economias regionais, em especial
nas grandes aglomerações urbanas, só recentemente há maior interesse sobre a contribuição
dos serviços para a dinâmica do desenvolvimento econômico apesar da literatura internacional
já vir apresentando debates importantes a respeito.
Com o advento da chamada Sociedade da Informação ou do Conhecimento, tem-se
evidenciado uma expansão das atividades terciárias (serviços) tão rápida quanto a das
atividades produtoras de bens (industriais), notadamente com o surgimento de uma ampla
gama de serviços novos, ampliando o papel dos serviços, atribuindo aos mesmos mais do que
uma função passiva de induzidas pelo desenvolvimento, mas também, em determinados

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espaços, a de indutoras do desenvolvimento, não podendo-se mais tratar o setor terciário


como um resíduo.
Esse reposicionamento de relevância do setor de serviços gera nova classificação: tem-se o
setor quaternário ou terciário superior da economia, incluindo atividades como geração e
compartilhamento de informação (computação, tecnologia de informação), telecomunicações,
educação, pesquisa e desenvolvimento, planejamento, consultoria e outros serviços baseados e
intensivos em conhecimento.
Serviços Intensivos em Conhecimento – Knowledge Intensive Bisiness Services – KIBS, são
os serviços e operações de negócio fortemente dependente do conhecimento profissional. Eles
estão principalmente preocupados com o fornecimento de conhecimento intensivo, suporte
para os processos de negócio de outras organizações. Como resultado, as suas estruturas de
emprego são fortemente baseadas em cientistas, engenheiros e outros especialistas. É comum
distinguir entre Serviços Tecnológicos - T-KIBS, (aquelas com alto uso de conhecimento
científico e tecnológico – pesquisa e desenvolvimento, serviços de engenharia, serviços de
informática, etc), e Serviços Profissionais - P-KIBS, que são mais tradicionais como
contabilidade, jurídico, e consultoria de gestão e muitos serviços de marketing. Ambos ou
fornecem produtos que são elas próprias fontes primárias de informações e conhecimentos, ou
usam seus conhecimentos especializados para a produção de serviços que facilitam seus
clientes próprias atividades.
No entanto, outros setores poderão prestar serviços de negócios juntamente com os seus
principais produtos e serviços, tais são, naturalmente, rotineiramente produzidos por empresas
para uso próprio - quase todas as empresas terão algum trabalho interno, computador,
atividades de marketing, por exemplo. Empresas KIBS são simplesmente especialistas nessas
atividades de serviços, e estes são seus principais produtos.
Alguns exemplos importantes são: Saúde / médico, os serviços postais e de transporte e
distribuição (alguns serviços especializados de logística pode ser visto como KIBS), serviços
financeiros e imobiliários, os serviços de Educação (além de treinamento especializado para a
indústria), broadcast e outros meios de comunicação (mais uma vez com eventuais excepções,
como quando esses meios também são utilizados para entrega de serviços especializados de
negócios como em transmissão de dados ou transmissões de vídeo codificados de negócios),
administração pública (mais uma vez com algumas exceções possíveis em regimes de apoio
da indústria), reparação / manutenção (com a exceção de TI relacionadas com atividades), de
varejo e atacado, serviços de bem-estar social, Hotelaria, Catering, Lazer / turismo, serviços

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de consumo pessoal, Entertainment. Alguns de telecomunicações e serviços financeiros


especializados são casos borderline.
Aglomerações urbano-regionais como estratégias indutoras de
desenvolvimento
Os processos de reestruturação sócio-econômica e de integração territorial face à crescente
desregulamentação e aumento de fluxo das trocas comerciais ano âmbito mundial tendo como
resultado a debilitação dos estados nacionais; a reorientação estratégica dos comportamentos e
escolhas dos diferentes agentes ou atores sociais e econômicos na materialização de um novo
relacionamento; o reforço da mobilidade com base no uso das telecomunicações e de novos
serviços originando um contexto de simultaneidade; as soluções de parceria construídas em
função de objetivos e estratégias consensualmente assumidos entre empresas, associações,
organismos públicos setoriais e horizontais, cidadãos, etc., como forma de responder à
instabilidade e incerteza crescentes.
Do conceito hierárquico e fechado de rede urbana que caracterizou a literatura desde
Christaller, hoje em dia transitamos para a concepção de rede urbana como um conceito não-
hierárquico e aberto. Assim, as novas definições de rede urbana consideram estruturas nas
quais os nós são cidades conectadas por vínculos sócio-econômicos através dos quais são
intercambiáveis fluxos de distinta natureza. As principais características destas aglomerações
são a possibilidade de coexistência de estruturas hierárquicas e não-hierárquicas, a cooperação
entre cidades e a geração de vantagens associadas à organização da estrutura urbana e à
interação entre seus nós (Boix Domènech, 2003:17).
As aglomerações que se incorporam com êxito nas redes globais seguem um caminho de
desenvolvimento bem mais independente que os de territórios à margem dos fluxos globais.
Estas podem ainda buscar a associação com outras aglomerações inseridas nas redes globais
formando novas “regiões virtuais” (como designa Boisier, 1999) e afastando-se tanto de
regiões contíguas não-conectadas às redes, como de entidades administrativas ou âmbito
territorial mais amplo (município, estado e até mesmo do Estado-nação) ao qual estão
vinculadas institucional e formalmente (Dematteis, 2002:166).
As Aglomerações Urbanas são territórios propícios para o desenvolvimento de Sistemas
locais de produção ou Arranjos locais de produção porque devido a sua tendência à
policentralidade estas formas espaciais estão mais de acordo com os sistemas flexíveis de
produção. As aglomerações urbanas podem se caracterizar tanto como nós de uma rede
urbana mais ampla (realizando, por exemplo, a conexão entre a rede local e a rede global),
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como também por constituírem um sistema ou uma “região urbana” (alguns autores preferem
o termo “cidade-região”). Esta situação pode ampliar as polaridades no interior das
aglomerações, uma vez que aumenta a diferenciação entre indivíduos, coletivos sociais e
empresas integrados e os não-integrados.
Para entender-se como regiões metropolitanas inserem-se nesse cenário, pode-se recorrer a
Singer (2011) com sua elaboração de que a urbanização implica na formação de redes urbanas
polarizadas por grandes cidades, ao redor das quais formam-se áreas metropolitanas com
núcleos constituídos por complexos de serviços, uma economia de serviços. Mesmo com essa
“terceirização” da sociedade, sustenta que as explicações ainda não se complementam de
forma a constituir uma teoria consistente, mas pode-se destacar que o progresso técnico –
inovação – pode ser dividido em duas categorias de efeitos opostos: (a) mudanças de
processos (métodos de produção aperfeiçoados) para produtos já conhecidos e (b) novos
produtos (bens ou serviços) substitutos de modo superior aos existentes ou gerando novas
necessidades de consumo.
Kon (1999) sustenta que as tecnologias de informação e das comunicações conduzem à
industrialização dos serviços, à inovação organizacional e a novas formas de comercialização
dos serviços face aos relacionamentos entre organização e consumidor, ambiente dinâmico
cuja categorização da tipologia não tem acompanhado esse mesmo dinamismo
Precisa-se pensar uma espacialidade muito mais complexa na qual se articulam diferentes
escalas, polarizações e centralidades. Esta complexidade inclui o recrudescimento das
polaridades econômicas e sociais, as quais se manifestam em dois níveis: externamente,
diferenciando regiões “ganhadoras” e “perdedoras”, quanto à sua “capacidade de adaptação” à
nova conjuntura e de inserção nos circuitos hegemônicos do movimento global de capitais; e
internamente, entre setores sociais “incluídos” e “excluídos” nas “oportunidades”
vislumbradas pela nova economia globalizada.
Os casos mais conhecidos de Sistemas Territoriais Locais são as aglomerações e sistemas
urbanos policêntricos, na medida em que as cidades são favorecidas pela pluralidade de
sujeitos sociais ativos, presença de infra-estruturas, recursos culturais, instituições, formando
um milieu aberto à inovação, como também o são os próprios Sistemas Locais de Produção.
Assim espera-se que nas aglomerações urbanas se realizem conexões sinergéticas semelhantes
aos APLs prevalecendo a cooperação, o intercâmbio de informações e as parcerias entre os
diferentes atores.

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Todavia, um Sistema Territorial Local não é dado pela natureza, pela cultura, pelos limites
físicogeográficos ou administrativos, pela história. Trata-se de um projeto construído
politicamente, estando em questão quais os sujeitos sociais devem contar para esta
construção. Nem todos os agentes sociais atuantes na aglomeração podem estar dispostos a
cooperar, inovar, participar e estabelecer políticas de gestão participativa. Assim que
determinados grupos ou sujeitos sociais devem disputar politicamente o poder na região para
a construção de uma nova hegemonia e aí sim construir o novo território local.
Este processo exige a mudança dos tradicionais esquemas políticos, sendo necessário transpor
o âmbito municipal para pensar a política em outras escalas, especialmente as escalas global e
regional. É imprescindível o movimento das “políticas localizadas para as políticas em rede”
o que não é tarefa fácil para atores sociais que habitualmente arraigados ao localismo e às
escalas de ação impostas pelo Estado.
A nova política territorial e de desenvolvimento deve ser interativa, contratual, capaz de
integrar atores e sujeitos pertencentes à “redes” diferentes, para a realização de projetos
comuns em uma escala territorial nova (Dematteis, 1998:32).
Parques técnico científicos - Uma estratégia possível?
Nesse contexto, coloca-se em questão a implementação do PTda Bahia, inserido na RMS
como uma proposta de âmbito estadual (como o nome induz, mas demonstrando uma amnésia
quanto ao fracasso do parque tecnológico em Simões Filho)
Com o avanço tecnológico em comunicação e informação, as barreiras geográficas deixaram
de existir. Hoje o conhecimento técnico-científico propicia mudanças no desenvolvimento
regional, como também no âmbito local, gerando riquezas e melhorando a qualidade de vida
de seus habitantes.
Os meios de inovação industrial de alta tecnologia, que Castells (2006) chama de
“tecnópoles”, apresentam-se em vários formatos urbanos.
As principais, com a exceção dos Estados Unidos e da Alemanha,
localizam-se em áreas metropolitanas mais destacadas como: Tóquio,
Paris-Sud, corredor M4 de Londres, Milão, Seul-Inchon, Moscou-
Zelenograd e, a uma distância considerável, Nice-Sophia Antipolis,
Taipei-Hsinchu, Cingapura, Xangai, São Paulo, Barcelona, etc. A
exceção parcial da Alemanha (afinal Munique é uma importante área
metropolitana) está diretamente relacionada à história política [...]
(CASTELLS, 2006, p. 480).
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Os primeiros aglomerados de empresas com base tecnológica surgiram na Califórnia, no Vale


do Silício. Foi tão promissor esse modelo de gestão empresarial, que logo se difundiu pelo
mundo. Um novo modelo para promover e viabilizar o desenvolvimento regional, baseado na
cooperação entre os setores público e privado, nascia na década de 1950, nos Estados Unidos:
os parques ou pólos tecnológicos. As primeiras experiências brasileiras com parques
tecnológicos, iniciaram na década de 1980, em São Carlos, São José dos Campos e Campinas,
no interior de São Paulo, e em Campina Grande, na Paraíba, com incentivo do CNPq
(Conselho Nacional de Pesquisa).
Como estratégia para atrair e promover a constituição de aglomerados industriais vinculados à
produção de alta tecnologia, os governos municipais tem oferecido terrenos e infra-estruturas
básica para instalação dessas indústrias. Como esse produto é capaz de produzir e alterar a
composição dos processos territoriais e socioeconômicos, pode-se perceber o porquê das
cidades investirem em políticas governamentais que fomentem a criação de parques
tecnológicos e APLs (Arranjos Produtivos Locais).
CASTELLS (1985), referindo-se à relação entre a produção, gestão e tecnologia, afirma que:
Alta Tecnologia não é uma técnica particular, mas uma forma de
produção e organização que pode afetar todas as esferas de atividade
pela transformação de suas operações de modo a adquirir grande
produtividade e melhor desempenho através do conhecimento
ampliado do seu próprio processo. (CASTELLS, 1985: 11-12)

Segundo esse autor, estas tecnologias interagem com a estrutura espacial de três modos
fundamentais:
1. com a nova lógica informacional de produção e gestão que cria
um novo espaço de produção, cujo desenvolvimento remodela
fundamentalmente a estrutura regional e a dinâmica de cada
cidade, concedendo uma importância funcional às suas
características sociais, econômicas, e institucionais, para o novo
sistema de produção;
2. através do impacto direto de novas tecnologias (particularmente
das tecnologias de comunicação) sobre o modo de trabalhar e
viver tende a modificar a forma urbana;

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3. pela mediação dos efeitos da AT por amplos processos sociais e


econômicos que estruturam seus usos. (p. 12)

Nesse contexto, muitos arranjos produtivos locais, têm-se manifestado, como estratégia para
minimizar custos e maximizar resultados.
Há muitas linhas de pensamento sobre a utilização de parques tecnológicos como parte da
estratégia de aglomerados urbano-regionais indutores do desenvolvimento orientado a
serviços intensivos em conhecimento. Lahorgue (2006) analisando as causas do surgimento
dos pólos tecnológicos no Brasil, assinala o seguinte:
Em meados dos anos 1980, ficou claro que estava surgindo uma nova
indústria e uma nova economia, baseada em conhecimento. Assim,
além da dotação em fatores tradicionais de produção, passou a ser
necessário que os países e suas regiões dispusessem de estruturas de
produção e de difusão do conhecimento, de mão-de-obra qualificada e
capaz de dominar as novas tecnologias e de capital social capaz de
garantir a estabilidade de um projeto de desenvolvimento.
(LAHORGUE, 2006, s/p.)

Assim, os projetos de desenvolvimento local e regional passam a privilegiar os arranjos locais


de produção, as sinergias entre os diferentes atores, a criação de ambientes favorecedores da
inovação tecnológica e organizacional e a implantação de infra-estruturas multi-institucionais
de fomento à agregação de valor à produção local e regional, conforme o autor acima.
Cada pólo tecnológico brasileiro tem a sua história, seja em termos de gênese, de evolução ou
do seu perfil atual, embora Lahorgue tenha classificado em três tipos quanto a sua origem.
A sua classificação indica: pólo surgido da crise, pólo surgido da visão e pólo surgido da
vocação.
Exemplificando a origem desses pólos, Lahorgue apresenta o pólo têxtil de Nova Friburgo
como um pólo surgido da crise. Hoje Friburgo é quase uma referência nacional e
internacional de produtividade, qualidade, design e competitividade, com programas de
capacitação tecnológica, gerencial, produtiva e comercial, com financiamento do Banco
Mundial. Atualmente há um aglomerado de empresas especializadas na fabricação de roupas
íntimas. A crise surgiu também nos meados da década de 1990, com a crise e demissão de
costureiras e milhares de operários afastados da indústria metal-mecânica.

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Outro exemplo, pólo surgido da visão, está sediado em Santa Rita do Sapucaí, em Minas
Gerais. A cidade se desenvolveu baseado em produção do conhecimento, formação de pessoal
altamente qualificado e implantação de empresas de base tecnológica, cuja origem é
encontrada na visão de um grupo ou de uma pessoa. Santa Rita do Sapucaí era, nos anos
1950, um município essencialmente agrícola. Nesse ambiente, uma representante da
aristocracia rural local, cria, em 1958, na contramão da tradição da cidade, uma escola de
eletrotécnica, que deveria suprir parte do pessoal técnico que o país necessitava. A cidade
cresceu com a visão de que era possível, através de um projeto educacional de qualidade,
sintonizar o desenvolvimento local às grandes transformações trazidas pela industrialização
do país. Sem essa iniciativa, a cidade continuaria fechada dentro da única alternativa
agropecuária.
O terceiro exemplo de pólo tecnológico surgido da vocação tem origem num potencial de
desenvolvimento, que muitas vezes não é claramente reconhecido pelos atores locais,
principalmente quando se trata de uma grande cidade ou de uma região metropolitana. Muitas
vezes é uma conjunção de fatores que possibilita a ascensão de algumas cidades à categoria de
Tecnópole. Conforme o trabalho de Lahorgue, no caso de Porto Alegre Tecnópole, a
oportunidade é a existência de forte infraestrutura de C&T e de atividades industriais e de
serviços de base tecnológica. Aí, também, não há articulação forte ou capacidade de
construção de um projeto de desenvolvimento que sejam encontradas num só setor. O
aproveitamento dessas oportunidades é somente realizável a partir de um conjunto de
esforços, envolvendo vários segmentos. Essas parcerias são construídas ao longo de um
processo, que passa por várias etapas, num crescendo de comprometimento institucional e de
complexidade de gestão. (LAHORGUE, 2006)
Prosseguindo na análise sobre a formação de pólos tecnológicos, Duarte (2004) observa que
os pólos tecnológicos são comumente analisados pela inserção de processos produtivos
inovadores, pela articulação de atores científicos, empresariais, financeiros e políticos e pelos
arranjos econômicos locais.
Duarte destaca a importância da inovação na requalificação dos espaços urbanos que abrigam
as Tecnópoles. Assim, afirma que
[...] os aspectos dos processos de inovação que trazem conseqüências
para a gestão urbana, buscando saber como é possível otimizar valores
de um contexto urbano central de modo a atrair a implantação de um

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pólo de inovação tecnológica e torná-lo, ao mesmo tempo, catalisador


de requalificação urbana. (DUARTE, 2005, p.123)

Considerações finais
Em uma economia de aprendizado globalizada, a concentração geográfica e institucional de
empresas em clusters parece favorecer substancialmente as vantagens competitivas dinâmicas.
O processo de criação histórica e espontânea dos clusters em certas regiões e organizado e
deliberado em outros contextos não tem sido, contudo, bem compreendido. Porém, parece
claro que o sucesso dos aglomerados urbano-regionais orientados a serviços superiores como
produção organizada na economia globalizada deve ser analisado caso a caso. Assim pode-se
avaliar criticamente o (des)planejamento estratégico dessa redes sócio-técnicas.
Espera-se que esta iniciativa ajude o fortalecimento das relações cooperativas, da sinergia e
interação entre atores e favoreça o processo de inovação e vantagens competitivas
sustentáveis. Outro ponto fundamental para que se garanta a sustentabilidade dos padrões de
sociabilidade e desenvolvimento neste milênio é a necessidade de equacionar os objetivos de
crescimento econômico e competitividade de empresas, organizações com princípios e metas
de desenvolvimento e equidade social.
É importante lembrar que os parques tecnológicos além de manterem o processo de inovação
têm como aspecto fundamental do seu sucesso o espírito empreendedor. Tais parques
introduzem novas formas de relacionamento entre universidades e indústrias. Nesse sentido
contribuem significativamente para o desenvolvimento de novas metodologias de criação de
novos negócios (o processo de incubação e desenvolvimento de spin-off, por exemplo, através
da estreita relação com incubadoras de empresas.), concorrendo definitivamente para o
desenvolvimento econômico regional. Dessa perspectiva, fica claro que se os países em
desenvolvimento não fizerem os investimentos necessários para consolidar a inserção
competitiva de sua economia no processo de globalização a partir da criação de novas bases
de conhecimento para a integração do país no novo paradigma da economia da aprendizagem,
a distância que os separam dos países desenvolvidos com certeza se acentuará.
Deve ser destacada a importância da tecnologia de base informacional, na localização de
tecnopolos, pois conforme ensina Duarte, economia de base informacional e os arranjos
geopolíticos contemporâneos tendem, de um lado, a tornar as indústrias independentes de
proximidade com insumos físicos ou reserva de mão-de-obra e, de outro, a facilitar a
circulação de mercadorias e profissionais – sobretudo aqueles ligados ao desenvolvimento de
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produtos tecnológicos digitais. Apoiando-se em Castells (2006, p. 375), Duarte afirma que “o
espaço de fluxos substitui o espaço dos lugares”, que continuariam importantes para a
concretização de transformações econômicas globais, mas perderiam seu significado cultural,
geográfico e histórico.
De acordo com Spinola (2011) esse tradicional modelo de "mini-industrialização"
disseminou-se, principalmente, entre os anos 1970 e 1985, quando várias indústrias
paulistanas começaram a migrar para cidades próximas, para fugir do cenário de deseconomia
que pairava sobre elas. "A elevação dos preços dos terrenos, que dificultava projetos de
ampliação, e o custo da força de trabalho e de logística foram os principais motivadores dessa
migração", explica. Para disputar a preferência dessas indústrias e, claro, atrair novas,
prefeituras de vários pontos do país acenavam tanto com a oferta de benefícios fiscais como
de infra-estrutura praticamente gratuita nas áreas escolhidas como distritos industriais. Numa
economia fortemente dependente de serviços, notadamente os intensivos em conhecimento,
há exigência de intensa relação entre as Políticas Públicas de incentivo e apoio a Parques
Tecnológicos e os Programas Nacionais e Regionais de Desenvolvimento.
O desenvolvimento econômico dos territórios, como o desenvolvimento em geral, passa hoje
pela densidade e qualidade das redes entre os atores. Depende mais da pertinência dos
quadros coletivos de ação, do vigor dos projetos e das antecipações do futuro, que das infra-
estruturas e dos equipamentos. As capacidades de organização, a inteligência das evoluções, a
qualidade das instituições, publicas e privadas contam mais que as infra-estruturas e
equipamentos. (VELTZ, 1994). A questão das políticas urbanas e do papel dos poderes locais
coloca-se relevantes, ao menos teoricamente, para a inovação social e política e de uma nova
reflexão sobre as normas e as práticas da ação pública local a implementar no futuro
(GODARD, 1996).
As parcerias podem ser entendidas como sistemas de cooperação formal ou informal que têm
por objetivo a resolução parcial ou integral de um determinado problema, ou a prestação de
um determinado serviço local. Esta forma de colaboração pode tomar várias formas: entre o
setor público e o setor privado, entre vários níveis de governo, entre diferentes agentes
públicos, entre vários atores privados, ou entre agentes públicos, privados e do terceiro setor.
As parcerias permitem uma maior responsabilização dos vários parceiros, pois partilham os
riscos e os benefícios. Trata-se, não só de estabelecer um contrato, mas também, um método
de trabalhar em conjunto (definir estratégias e elaborar, conduzir e avaliar planos de ação para
a cidade como um todo), ou, ainda de fazer lobbying com o objetivo de atrair um número

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alargado de parceiros e de influenciar decisões. É, então, um processo de aprendizagem de


novas competências, as do trabalho por projeto. Este trabalho pressupõe uma verdadeira
ruptura com as organizações compartimentadas, as funções estritamente delimitadas e
especializadas, no seio da cidade, como entre instituições. A avaliação desenvolve-se,
também, através de uma lógica de informação transparente aos habitantes, pela divulgação
das ambições, objetivos e dos meios atribuídos às estruturas específicas do desenvolvimento
urbano. Corresponde, também, a uma instrumentalização do processo, uma vez que a maioria
dos planos de ação são acompanhados na sua implementação e avaliados com a ajuda de
numerosos indicadores. Visa-se favorecer o desenvolvimento econômico, não só através da
melhoria das infra-estruturas, mas também de contribuir para modificar em profundidade a
imagem da cidade e em aumentar a sua atratividade para os investimentos nacionais e
estrangeiros
Para a consecução daquela política é necessário implementar um processo de planejamento
estratégico e criar redes de cooperação, com a finalidade de trocar experiências, metodologias
e critérios técnicos de trabalho, contribuindo para um novo modelo de desenvolvimento
urbano mais solidário, buscando o equilíbrio entre a competição com outras entidades
territoriais e a cooperação interna dos seus actores. Este duplo imperativo da
competição/cooperação orienta de forma inovadora as políticas urbanas.
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