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O mito do imaterial:
economia verde não é o mesmo
que crescimento verde
1. Apresentação
O crescimento da produção de bens e serviços é cada vez menos
considerado, mesmo entre economistas, o caminho universal
para o bem-estar. O que os trabalhos mais recentes a esse res-
peito contestam não são apenas as medidas em que a riqueza
se exprime, mas o alcance e o significado da produção de bens
e serviços como base na obtenção de qualidade de vida nas so-
ciedades contemporâneas. Jeffrey Sachs, relatando reunião das
Nações Unidas sobre o tema, chega a falar da “importância de
buscar a felicidade em vez da renda nacional...” É importante,
porém, evitar dois mal-entendidos a esse respeito.
Em primeiro lugar, o crescimento econômico é condição para
construir as infraestruturas e oferecer serviços (educação, saú-
de, cultura, mobilidade, conexão) capazes de preencher as ne-
cessidades básicas de bilhões de pessoas, sobretudo nos países
em desenvolvimento. Não se trata, portanto, de preconizar sua
supressão generalizada. Mas, mesmo nos países em desenvol-
vimento, é imperativo modificar de forma muito significativa o
conteúdo em que o crescimento econômico se materializa. Não é
viável, por exemplo, que a produção de automóveis individuais
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Quem emite?
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(bilhões de toneladas de carbono por ano) As 500 milhões de pessoas
6 mais ricas respondem
por metade de todas as emissões
5 de carbono mundiais
Emissões cumulativas
0
0 1 2 3 4 5 6
População ordenada em bilhões de pessoas
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Microchip Renovável
Energia primária (exajoules)
400
Nuclear
Aviação
comercial Energia
300 nuclear Gás
Biomassa
0
1850 1900 1950 2000
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Despesas Receitas
Mercado
de bens
e serviços
Demanda Ofertas
de bens de bens
e serviços e serviços
Famílias Empresas
Oferta de FP*
- trabalho
- capital Demanda
- terra de FP
- ...
Mercado
de fatores
de produção
Renda familiar Pagamento
de fatores
*Fatores de produção de produção (FP)
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desde sua criação por Keynes e até hoje, concebe a vida social
como um ciclo fechado e autossuficiente, em que a renda e o
produto circulam entre domicílios e empresas (incluindo, no
máximo, governos e entidades filantrópicas), sem que matéria
e energia, poluição e biodiversidade exerçam aí qualquer fun-
ção que não tenha expressão no mercado. A figura anterior dá
uma boa ideia dessa representação. Nela se vê bem que a eco-
nomia é concebida com base no fluxo de recursos, cuja oferta
de matéria e energia vem de si própria e não guarda nenhuma
relação com os ecossistemas.
Mas não é só na economia que a vida social é examinada
fazendo-se abstração de seu metabolismo. Na sociologia de
Émile Durkheim, é o social que explica o social, sem qualquer
referência à relação entre sociedade e natureza. Em Max Weber,
com exceção de uma passagem profética ao fim da Ética Protes-
tante e o Espírito do Capitalismo (em que ele evoca o esgotamento
do carvão e do petróleo), a sociedade é analisada com base no
que ocorre na relação entre indivíduos e grupos sociais.
O economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen teve um
papel intelectual decisivo na formulação daquilo que, sem exa-
gero retórico, pode ser chamado de um novo paradigma na
reflexão sobre a vida econômica, articulado em torno da ideia
de que não basta, como o faz a tradição dominante na ciência
econômica, reduzir a matéria, a energia e a poluição à lingua-
gem dos preços e evocar a noção de externalidades ali onde
essa redução não for possível. Na raiz da crença na continuida-
de incessante do crescimento econômico está a ideia de que, ao
se tornarem eventualmente escassas, as fontes de materiais e
energia de que depende a reprodução social serão substituídas
por outras mais eficientes, desde que esse processo seja orien-
tado de forma adequada pelo livre funcionamento dos merca-
dos. A inteligência humana, sob essa ótica, constrói um mundo
de recursos infinitos totalmente alheio à noção de entropia. A
ideia é de que capital e trabalho têm capacidade ininterrupta
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Quadro 1
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8 4
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4 2
2 1
0 0
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
1 Todos metais e minérios; dados disponíveis mais recentes até 2006.
Fontes: BHP Billiton; US Geological Survey; MEG Minerals 2009 McKinsey & Company
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50
Bilhões de toneladas
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1980 1985 1990 1995 2000 2005
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2005 2010 2015 2020 2025 2030
Biomassa Minerais Metais Combustínveis fosseis
Fonte: McKinsey & Company (2011), Resource Revolution: Meeting the World's Energy,
Material, Food and Water Needs
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800
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1960 1970 1980 1990 2000 2010
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