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ISSN 1984-9354
Resumo
Atualmente existem muitas ocorrências de devastação das florestas.
Uma dessas ocorrências está relacionada com a retirada de madeira
de forma ilegal. Sabe-se que a madeira é utilizada em grande escala na
construção civil, porém, em alguns ccasos, não se pode identificar sua
procedência. Este trabalho aborda a extração de madeira e o seu uso
na construção civil nos municípios de Barra Bonita e Igaraçu do Tietê,
Estado de São Paulo. Para obtenção desses dados, além do
desenvolvimento do referencial teórico, foram realizadas entrevistas
com os gestores de madeireiras da região pesquisada. Como
resultados principais da pesquisa, obteve-se que os gestores das
empresas afirmam adquirir madeiras dentro da legalidade, além de
contribuírem com o plantio voluntário de mudas; apresenta os
principais procedimentos para obtenção da madeira legal, bem como
os documentos necessários no ato da compra para garantir que a
madeira comprada é de origem legal; além das práticas que as
empresas e municípios podem adotar para minimizar a
comercialização irregular. O estudo também apresenta os principais
problemas que a utilização de madeira ilegal pode provocar ao meio
ambiente e consequentemente para as pessoas.
1 Introdução
Para tanto, na região composta pelos municípios de Barra Bonita e Igaraçu do Tietê,
surge a necessidade de se realizar um estudo para buscar tais informações. Dessa forma, este
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artigo tem como principal objetivo apresentar um estudo sobre a utilização de madeira na
construção civil nestes municípios, bem como verificar sua procedência.
2 Metodologia
Também foi utilizada a pesquisa de campo, que utiliza como instrumento de coleta de
dados o questionário, com questões relacionadas ao proposto no artigo. Para a preservação
dos gestores e empresas que contribuírem com a pesquisa, e também diminuir os riscos de
respostas incorretas, seus nomes serão omitidos, sendo apenas denominados como empresas.
3 Referencial Teórico
A madeira extraída era utilizada nas edificações e nas fabricações dos meios de
transportes. A enorme variedade de espécies arbóreas permitia inúmeros usos, tendo como
principais as tintas, canoas, vigas, pilares, armas de caça, instrumentos musicais e
instrumentos de trabalho.
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extração da madeira além de servir como produto de exportação, passou a servir como matéria
prima para a produção de energia, o que fez com que a devastação fosse bem mais acentuada.
A madeira deixou por um bom tempo de ser utilizada nas construções para ser
queimada nas embarcações que passavam pelo litoral brasileiro. Na arquitetura ficou
rebaixada à estrutura e às casas, tendo o adobe e a taipa, como revestimento (UFSC, 2009).
A madeira pode ser obtida, segundo Zenid (2009) das seguintes fontes:
Na construção civil, a madeira pode ser utilizada em várias etapas da obra, tais como
em usos temporários, que englobam as formas para concreto, andaimes e escoramentos, de
forma definitiva, bem como em estruturas de coberturas, esquadrias, como portas, batentes e
janelas; em forros e pisos e decorações (FERREIRA, 2003).
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Imbuia: obtida no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, nas submatas dos
pinhais, é uma das madeiras mais procuradas para confecção de mobiliário de
luxo, principalmente pela sua beleza. Muito utilizada na construção civil em tacos,
esquadrias, lambris, pontes e moirões, para marcenaria de luxo, laminados e
carpintaria. Sua extração predatória e indiscriminada por ser muito usada na
confecção de mobiliários e construção civil, ameaça à espécie de extinção;
Jacarandá-da-Bahia: obtida na Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro
e São Paulo, na floresta pluvial atlântica, é própria para mobiliário de luxo,
empregada também para acabamentos internos em construção civil, como lambris,
molduras, portas, rodapés, para folhas faqueadas decorativas, entre outros. O corte
indiscriminado feito pelas madeireiras clandestinas, levou a espécie ao risco de
extinção;
Pinheiro-do-Paraná: obtido em Minas Gerais e Rio de Janeiro até o Rio Grande do
Sul em regiões de altitudes acima de 900m (no sul acima de 500m), é própria para
forros, molduras, ripas, entre outros. A redução da Floresta de Araucária e a
exploração predatória de sua madeira tornaram o Pinheiro-do-Paraná ameaçado de
extinção.
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Para a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (2010), a madeira legal é
definida como as de espécies nativas que provêm de corte autorizado pelo órgão ambiental e
que possuem os documentos de licença de transporte e armazenamento, acompanhada da Nota
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Nesses dois últimos, o manejo é o convencional e, apesar de legal nos termos da lei,
não é sustentável. Por outro lado, quando a madeira é extraída de áreas com Plano de Manejo
Florestal Sustentável, o impacto ambiental gerado é muito menor, garantindo assim a
conservação das florestas e a continuidade da disponibilidade de matéria prima.
Para comprar madeira de origem legal, segundo De Grande (2008), o consumidor deve
exigir que o lojista apresente o Cadastro Técnico Federal e emita um Documento de Origem
Florestal (DOF), além da Nota Fiscal.
Um selo, que tem por objetivo indicar ao consumidor as empresas que vendem
produtos e subprodutos florestais de forma responsável, implantado no Estado de São Paulo, é
uma forma, para Carvalho (2008), de saber se a madeira é legal. Para que a empresa esteja
habilitada a receber o selo, ela deve fazer a adesão voluntária ao Cadmadeira e ser avaliada
pela fiscalização.
O selo atesta que a empresa se encontra em situação regular com os órgãos fiscais e
sem pendências nos órgãos de fiscalização e, principalmente, que só vende produtos
certificados.
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Cadmadeira.
O Cadastro Técnico Federal (CTF) devem possuir as pessoas físicas ou jurídicas que
exerçam atividades que causem impacto ao meio ambiente ou que sejam potencialmente
poluidoras ao meio ambiente são obrigadas a se cadastrarem no Cadastro Técnico Federal -
CTF do IBAMA (PORTAL DA MADEIRA MANEJADA, 2009).
Os planos de manejo florestal devem ser registrados no CTF, por ser uma atividade
que causa impacto ao meio ambiente além de consumir matéria-prima florestal. O registro no
CTF é realizado através do preenchimento de uma ficha disponível na internet no site do
IBAMA, e este só pode ser feito pelo detentor do plano de manejo.
O DOF só poderá ser emitido se houver saldo de volume para a espécie que se deseja
acobertar o transporte e deverá ser emitido um DOF para cada meio de transporte utilizado
para a madeira, porém não é cobrada taxa para emissão (PORTAL DA MADEIRA
MANEJADA, 2009).
A Nota Fiscal, de acordo com a legislação tributária, indica que qualquer operação de
circulação de mercadoria/produto deverá ser acompanhada de nota fiscal (PORTAL DA
MADEIRA MANEJADA, 2009). O transporte da madeira deverá sempre estar acompanhado
da nota fiscal. Para emissão da nota fiscal é necessário ter em mãos as seguintes informações
do vendedor e comprador (PORTAL DA MADEIRA MANEJADA, 2009):
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Nome e endereço;
CPF ou CNPJ e Inscrição Estadual (somente para empresas);
Nome das espécies e quantidade vendida por espécie;
Valor vendido por espécie.
Este decreto cria o cadastro estadual das pessoas jurídicas que comercializam, no
Estado de São Paulo, produtos e subprodutos da flora nativa e estabelece procedimentos na
aquisição destes produtos e subprodutos pelo Governo do Estado (SIGAM/SMA, 2009).
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Segundo SMA (2009), o Selo Reposição Florestal é concedido para pessoas jurídicas
que cumprirem adequadamente o plantio de árvores em volume equivalente ao de produtos ou
subprodutos florestais explorados, utilizados ou transformados no último ano.
As principais vantagens das empresas que obtém este selo, de acordo com o SMA
(2009) são apontadas como o reconhecimento da sociedade, por estar comprometida com o
meio ambiente e a contribuição na diminuição da pressão sobre os ecossistemas naturais por
meio do plantio de espécies adequadas.
O Programa Madeira é Legal, foi lançado no Estado de São Paulo em março de 2009,
com o objetivo de incentivar e promover o uso da madeira de origem legal e certificada na
construção civil no estado e no município de São Paulo. Este programa busca desenvolver
mecanismos de controle como a exigência da apresentação do Documento de Origem
Florestal (DOF) além do incentivo ao uso da madeira certificada nos departamentos de
compras dos setores público e privado, tais como as grandes construtoras, para poder
identificar e monitorar a madeira que está sendo comprada (SINDIM V, 2009).
Este programa pretende influenciar outros estados e municípios a adotar estas e outras
práticas semelhantes para estimular a legalização do uso da madeira. Junto com o programa,
foram lançados os manuais “Seja Legal” e “Madeira: uso sustentável na construção civil, os
quais mostram como é possível desenvolver uma política de compra e como confirmar se o
fornecedor está de acordo com a lei” (SINDIM V, 2009).
A Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (2010) define como madeira
explorada ilegalmente aquela realizada sem a autorização de exploração e se caracteriza pela
ação rápida, predatória e devastadora de grandes áreas de floresta nativa. Muitas vezes ocorre
até mesmo em Área de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL), ou seja, em
áreas protegidas por lei.
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FIGURA 1 - Processo de licenciamento para o manejo florestal e fraudes. Fonte: Miller (2006).
Antes de ser analisado tecnicamente pelo IBAMA, o plano de manejo deve passar por
uma análise de sua viabilidade jurídica, a Autorização Prévia à Análise Técnica de Plano de
Manejo Florestal Sustentável (APAT), baseada na documentação apresentada pelo proponente
(MILLER, 2006).
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Miller (2006) comenta que depois que deixa a floresta, a madeira é transportada para
serrarias e laminadoras, onde pode acabar sendo misturada com madeira ilegal, possuir
documentação fraudulenta ou até não possuir documentação. Estas serrarias e laminadoras
muitas vezes se utilizam da corrupção de fiscais, dados fictícios e emissão fraudulenta de
documentos para transformar e comercializar a madeira.
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A atividade ilegal, para Miller (2006), é parte de um problema maior, o qual vai muito
além de alguns indivíduos que violam as leis, constituindo-se em esquemas bem-estruturados
com ramificações.
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problemas para a falta de madeira são os fatores ambientais, pois muitas vezes,
devido a esses fatores, fica proibida a retirada de madeira, além da lentidão do
IBAMA para aprovar projetos de manejo para retirada de madeira;
A Tabela 2 mostra as empresas que obtiveram o selo de reposição florestal no
município de Barra Bonita, objeto de estudo, e a quantidade de árvores por ela
plantadas.
TABELA 2 - Empresas que obtiveram o selo de reposição florestal no município de Barra Bonita.
Quantidade de Árvores
Nome/ Razão Social
Plantadas
Empresa A 4.000
Empresa B 10.000
Empresa C 2.500
Empresa D 1.775
Empresa E 500
Empresa F 300
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.
Foi apurado que nenhuma madeireira dos municípios estudados possui o selo de
reposição florestal, apenas empresas fabricantes de cerâmicas utilizam madeira como lenha
em seus fornos.
5 Considerações Finais
O consumo de madeira no país atinge volumes consideráveis. Esta nem sempre vem
de empresas que se preocupam com o meio ambiente. Foi possível identificar com esta
pesquisa que uma grande parte da madeira extraída destina-se à construção civil.
Porém, estas mesmas empresas não estão inseridas em programas de incentivos como
o “Madeira é Legal” e o “Selo de Reposição Florestal”, além de os próprios municípios do
estudo não estarem cadastradas no programa “Cidade Amiga da Amazônia”.
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Mesmo as madeireiras afirmando que adquirem madeira legal, não foi possível
constatar formalmente, pois o foco do trabalho não foi averiguar documentos comprobatórios
de aquisição e venda.
6 Referências
CARVALHO, P. SP inicia concessão de selo madeira legal, 2008. Disponível em:
<http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/2173>. Acesso em: 26 de dezembro de 2009.
DE GRANDE, A. Você sabe como comprar madeira legal? 2008. Disponível em:
<http://www.fsc.org.br/index.cfm?fuseaction=noticiaImprimir&IDnoticia=54>. Acesso em: 26 de dezembro de
2009.
MILLER, F. Seja legal: boas práticas para manter a madeira ilegal fora de seus negócios, 2006. Disponível
em <http://www.anpm.org.br/documentos/Manual%20WWF.pdf>. Acesso em: 26 de dezembro de 2009.
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO. Madeira legal versus Madeira
ilegal, 2010. Disponível em: <http://www.ambiente.sp.gov.br/madeiralegal/legal_Vs_ilegal.php>. Acesso em:
02 de janeiro de 2010.
SINDIM V. Programa Madeira é Legal une esforços de diferentes setores para incentivar o uso de
madeira legal e certificada, 2009. Disponível em:
<http://www.amplamercados.com.br/artigos/sindmov57.pdf>. Acesso em: 09 de janeiro de 2010.
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