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Keywords – Windows of sawed eucalyptus, shutter leaves, collective joinery, social housing.
RESUMO
ABSTRACT
The main objective of this paper is to analyze the process of production of the shutters windows
in reforestation wood in a collective joinery with transition for the self management, located in the
Rural Settlement Pirituba II (Itapeva-SP/Brazil). As research strategy, it was adopted the study
case with the support of the research-action method. The data was collected through the written
registers, like the spread sheets of production monitoring, photos, videos and the direct and
participant comment of the researcher-assessors of the Habis group (EESC-USP, São Carlos-
SP/Brazil). With the gotten data it was possible: to develop studies of drawings of the shutters
leaves, that adjust to the context of a collective joinery; to analyze the productive process; to
identify the problems found during the productive process; to describe the adopted strategies to
give continuity to the production; and to make the composition of the costs of the 106 shutters
windows. The importance of this paper is in the creation of a relative data base to the windows
production in reforestation wood, in the context of joinery with basic infrastructure and joiners in
constant phase of qualification for the technician services and self management of the proper
enterprise.
1. Introdução
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2. Objetivo
Este artigo tem como objetivo analisar o processo de produção de 106 janelas venezianas em
madeira de plantios florestais na marcenaria coletiva, localizada no Assentamento Rural Pirituba II
(Itapeva-SP/Brasil), de forma a caracterizar o processo de produção (desenhos, realização de
protótipos, definir etapas de produção), analisar os gargalos encontrados durante a produção e a
solução adotada, assim como, analisar o custo apropriado. Tal produção destinou-se a atender a
demanda gerada pela construção de 77 moradias rurais no Assentamento Rural Sepé Tiaraju
(Serra Azul-SP/Brasil).
O estudo de caso foi a estratégia de pesquisa adotada para esse artigo, que de acordo com Yin
(2001), contribui para a compreensão que temos dos fenômenos individuais, organizacionais,
sociais e políticos e que, ao mesmo tempo, apresenta-se adequado às nossas perguntas de
pesquisa, que são do tipo explanatórias – com a forma de como e por quê; focalizam
acontecimentos contemporâneos. Assim sendo, o estudo de caso busca esclarecer um conjunto
de decisões, processos, programas, ou melhor, o motivo pelo qual foram implantados, como foram
implantados e quais foram os resultados.
Além disso o estudo de caso teve suporte no método da pesquisa-ação participativa, que
segundo Thiollent (2002) é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e
realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo no
qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão
envolvidos de modo cooperativo ou participativo. Dessa forma, os pesquisadores-autores também
são agentes envolvidos na ação, pois além das atividades de pesquisa, como coleta de dados e
sistematização, são assessores nas questões técnicas relativas à produção e gestão na
marcenaria.
Para a coleta de dados, utilizou-se como fonte de evidências relatos escritos, fotográficos e em
vídeos, documentação existente formal e informal (relatórios, planilhas orçamentárias, cronograma
de execução de produtos, projetos) e a observação participante (vivência dos pesquisadores-
autores como assessores técnicos na marcenaria coletiva do Assentamento Rural Pirituba II).
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do próprio assentamento rural, que segundo Gavino (2010) veem na marcenaria uma alternativa
ao trabalho do campo e uma possibilidade de alcançar oportunidades de ensino e aprendizagem,
além de fixá-los no assentamento.
Em relação a infraestrutura da marcenaria, conta com o espaço de um barracão e contem
equipamentos como: serra esquadrejadeira de mesa, plaina desengrossadeira, plaina
desempenadeira, tupia, lixadeira de mesa, furadeira de eixo horizontal, respigadeira e
destopadeira de eixo horizontal (máquina adquirida para a produção das folhas venezianas).
Conta também, com ferramentas e equipamentos manuais. Na figura 1, tem-se uma vista externa
do barracão da marcenaria e na figura 2, vistas internas da marcenaria, com seus equipamentos,
marceneiras e jovens aprendizes.
Figura 2 – Imagens internas da marcenaria, visualizando maquinários disponíveis, marceneiras e jovens aprendizes.
Fonte: acervo Habis, 2007.
O processo de produção das folhas venezianas, que será abordado nesse artigo, faz parte da
encomenda de 462 janelas de madeira de eucalipto para o assentamento Sepé Tiaraju. Em etapa
anterior, houve reuniões com as famílias do assentamento, juntamente com os pesquisadores do
grupo Habis e, também, as marceneiras da marcenaria coletiva de Itapeva, para definir quais as
tipologias de janelas a serem produzidas, que entre elas estavam as janelas com folhas de vidro e
folhas mexicanas. Nessa mesma reunião, pode-se firmar a parceria entre os dois assentamentos
e, surgiu uma proposta das famílias do assentamento Sepé Tiaraju, em viabilizar a produção de
uma terceira tipologia que seria a janela com folhas venezianas.
Assim, pesquisadores e marceneiras uniram esforços para viabilizar a produção de janelas
venezianas, estudando desenhos e realizando protótipos. As etapas desse processo são: a) visita
técnica a uma marcenaria próxima a região do assentamento Pirituba II; b) proposta de desenho e
realização de protótipo; c) identificação dos gargalos encontrados; d) produção em escala das
folhas venezianas.
4.1. Visita técnica a uma marcenaria próxima à região do Assentamento Rural Pirituba II
4
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7 2.5
7
o desenho da folha veneziana,
4
do tipo portuguesa, onde há um
trespasse da palheta no
58.3
63.3
montante, ou seja, a palheta
56.3
não é embutida no montante,
mas sim encaixada. Na figura 4,
109.6
109.6
115
11.9
para a produção do protótipo da
7
folha veneziana, composta por 2
27.4
32.3
montantes de borda, 2
39.3
travessas de borda, 1 travessa
11.9
interna, palhetas e o gabarito
para garantir os distanciamentos Corte AA Régua gabarito
Vista Externa
na execução dos cortes.
118
Segundo especificações do
42.6 6 7 42.6 7
projeto das moradias do Sepé, o
12
5
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Para a produção em escala das folhas venezianas, não houve alteração do desenho proposto no
momento da realização da produção do protótipo. Portanto, considerando o mesmo desenho, tem-
se que seriam necessários 7,65m³ de eucalipto grandis, para a produção de 212 folhas
venezianas. Em etapa anterior, os batentes das folhas já haviam sido produzidos com o uso da
madeira de eucalipto saligna.
As etapas para a produção de folhas venezianas são: processamento primário (destopo,
desempeno e desengrosso); processamento secundário - execução de montantes de borda,
travessa de borda, travessa interna e palhetas (execução dos furos nos montantes e das espigas
nas travessas, grosagem de espigas, execução dos cortes nos montantes e nas palhetas,
lixamento das peças); montagem da folha veneziana (pré-montagem, colocação das palhetas e
montagem final); processamento da folha veneziana (destopo da folha e execução do batedor); e
armazenamento da folha.
Na produção do protótipo da folha veneziana, a etapa referente aos cortes nas palhetas para o
encaixe nos montantes, foi realizada com o uso do formão. Para reduzir o tempo gasto com o uso
do formão, foi desenvolvido um gabarito para efetuar esses cortes na tupia, com a utilização de
uma serra oscilante, a fim de aperfeiçoar a etapa de cortes das palhetas (ver figura 6).
Outro teste realizado foi relativo ao uso da destopadeira de eixo horizontal para a execução dos
cortes nos montantes de borda, cujos cortes permitem o encaixe das palhetas. No momento da
produção do protótipo, os cortes nos montantes de borda foram realizados na marcenaria de
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Itararé-SP. Com a orientação e capacitação, para a execução dos cortes dos montantes, dada
pelos marceneiros chefes (marcenaria de Itararé-SP), a equipe de pesquisadores-assessores do
grupo Habis buscou seguir as mesmas especificações de máquina, rotação do motor e fresa
utilizadas por essa marcenaria, para a compra da destopadeira de eixo horizontal, a fim de
viabilizar a produção das folhas venezianas na marcenaria Madeirarte.
Com a compra da máquina, a partir de recursos próprios da marcenaria, iniciaram-se os testes
em montantes de eucalipto grandis [2], no mês de dezembro de 2007, a fim de verificar os
espaçamentos entre os cortes, assim como, fazer com que os integrantes da marcenaria se
habituassem à utilização da máquina destopadeira. Como resultado do teste, percebeu-se que o
montante em eucalipto grandis apresentava uma alta facilidade de lasquear, como mostra a figura
7, letra c.
ALTERNATIVAS PARA EXECUÇÃO DOS CORTES NOS MONTANTES DAS FOLHAS VENEZIANAS
Equipamento, Serra
Fresa com Serra tico-tico Máquina Furadeira
máquina e esquadrejadeira Serra oscilante
riscador manual e fresa para veneziana
ferramenta de mesa/fresa
Passar a peça
primeiramente na Fazer os rasgos
Execução
serra Fazer os rasgos Fazer os rasgos iniciais (os limites
automática dos
esquadrejadeira de das peças com o uso da serra dos rasgos) com a
rasgos, em dois
Operação mesa, nos limites utilizando fresa oscilante (anexar à serra manual e
montantes de
dos rasgos e c/riscador destopadeira) depois retirar o
borda,
depois retirar o (destopadeira) miolo na fresa
simultaneamente
miolo na fresa (destopadeira)
(destopadeira)
Execução mais
Máquina e Execução mais Máquina e
rápida e precisa
Vantagem equipamento rápida e menor Execução mais equipamento
dos rasgos para
existentes na possibilidade de rápida existentes na
encaixe das
marcenaria lasquear a peça marcenaria
palhetas
Custo da máquina
Desvantagem Maior tempo de Custo da fresa com Custo da serra Maior tempo de
furadeira para
execução riscador oscilante execução
veneziana
Tabela 1 – Alternativas para execução dos cortes, para o encaixe das palhetas, nos montantes.
As soluções como a substituição da fresa de corte reto pela fresa com ranhura ou serra
oscilante, seria inviável para marcenaria em função do custo dos equipamentos. Segundo
pesquisas em lojas de equipamentos específicos para marcenaria, no estado de São Paulo, o
custo de um conjunto de fresa com ranhura era de, aproximadamente, R$ 800,00. Outra opção
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que garantiria maior rapidez e qualidade na produção das folhas seria adquirir uma máquina
furadeira para veneziana. O custo de uma máquina nova era de R$ 10.000,00 e de máquina
usada era de, aproximadamente, R$ 4.800,00. Esses valores são referentes à pesquisa de preço
realizada no período de abril de 2008, em lojas especializadas em máquinas e equipamentos,
novos e usados, para marcenarias, tanto no estado de São Paulo quanto no estado do Paraná.
Só seria viável a compra de uma máquina furadeira para veneziana para a marcenaria
Madeirarte, se houvesse encomendas constantes de folhas venezianas, de forma a compensar o
custo do equipamento. Como a marcenaria não tem essa proposta de especialização na produção
de componentes para folhas venezianas em madeira e, também, naquele momento, não dispunha
de sobras no fundo de reserva para aquisição de novos equipamentos e máquinas, não foi
possível adotar essas propostas para a produção de folhas venezianas, para o Sepé.
5. Conclusões
Em relação a apropriação de custo, foi possível fazer uma estimativa, visto que houve inúmeras
interrupções da produção como um todo (462 janelas de madeira), devido à outras encomendas
que a marcenaria coletiva teve que atender, ausências das próprias marceneiras nas atividades
da marcenaria, rotatividade dos jovens aprendizes, além dos gargalos já citados sobre a produção
das folha venezianas. Portanto foi possível fazer uma estimativa de custo, considerando que a
madeira adquirida, eucalipto grandis [3], teve um custo de R$ 700,00m³ (secagem em estufa +
transporte até a marcenaria); a valor do serviço técnico das marceneiras foi de R$ 3,30/h, chegou-
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se ao custo estimado de R$ 110,94, uma janela com batente e duas folhas venezianas, sem
considerar os impostos embutidos em notas fiscais. Com os impostos, esse valor passaria para
R$ 143,40. No gráfico 1 é possível observar os valores que mais impactaram na estimativa de
custo da folha veneziana. Entre eles estão, em ordem de maior participação: madeira, mão-de-
obra, fundo de reserva da marcenaria e o tratamento com a pintura stain.
Grafico 1 – Participação (valores em porcentagem) de cada item na formação do custo estimado da janela
veneziana de madeira de eucalipto. Fonte: Leite (2009).
Mesmo com algumas dificuldades encontradas durante a produção em escala das folha
venezianas, como o não acompanhamento do cronograma de produção geral das 462 janelas de
madeira que, consequentemente, gerou atrasos na produção e na entrega dos produtos, o custo
estimado dessas janelas apresenta-se com valor competitivo em relação às janelas metálicas
comumente utilizadas em projetos de habitação social.
Com a experiência de produção das folhas venezianas foi possível observar alguns pontos
importantes para a viabilização da produção de componentes de madeira de plantios florestais em
uma marcenaria coletiva, com marceneiras e jovens aprendizes em constante fase de
capacitação:
• Considerando o contexto da marcenaria coletiva do Assentamento Rural Pirituba II (Itapeva-
SP) é importante a capacitação contínua dos seus integrantes, seja por meio de visitas
técnicas em marcenarias experientes, seja pela presença de um marceneiro instrutor ou dos
pesquisadores do grupo de pesquisa Habis (EESC-USP). A capacitação contínua ajudará na
formação e aprimoramento do conhecimento técnico, fazendo com que marceneiras e
aprendizes desenvolva produtos diversificados;
• Ainda dentro do contexto da marcenaria, é importante observar a infraestrutura existente. Com
isso é possível prever melhor as possibilidades de produção, no caso das folhas venezianas,
com os equipamentos e maquinários existentes e, também, com o conhecimento adquirido
pelos integrantes no uso desses maquinários. A aquisição da máquina destopadeira trouxe um
certo receio de uso pelas marceneiras;
• Em relação a matéria-prima, verificar sempre a qualidade das peças adquiridas, pois presença
de defeitos (nós, desbitolamentos, entre outros) podem acarretar em perdas significativas. No
caso da produção das folhas venezianas, nos montantes e nas palhetas foi utilizada a madeira
de eucalipto grandis, cujo o processo de secagem ocorreu em estufa. E além disso essas
peças foram previamente selecionadas de acordo com a quantidade de defeitos. Na questão
sobre os lasqueamentos, ocorridos no processo de cortes na máquina destopadeira, é preciso
verificar os equipamentos utilizados, verificando se fresas e velocidade de rotação da mesma
estão de acordo com as propriedades da matéria-prima;
• Quanto ao custo estimado apropriado, percebeu-se que mesmo com inúmeras interrupções
causados pelos gargalos encontrados durante a produção, o custo estimado final se encontra
compatível com os valores de janelas metálicas comumente utilizadas em habitação social.
Agradecimentos
Os autores agradecem à marcenaria coletiva do Assentamento Rural Pirituba II (Itapeva-SP),
aos pesquisadores-assessores do grupo HABIS (EESC-USP, São Carlos-SP) e InCoop (UFSCar),
à marcenaria Alberti (Itararé-SP) e aos pesquisadores consultados da UNESP/Itapeva-SP. Além
disso, os autores agradecem à FAPESP pelo apoio no desenvolvimento da pesquisa.
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Infografia
[1] Denominação para janelas que possuem vergas, peitoris e ombreiras de madeira, rusticamente cortados,
com uma folha de madeira que abre para o interior do ambiente (Rabbat, 1998), largamente utilizadas em
moradias no inicio do período colonial no Brasil.
[2] O lote de madeira adquirido para a fase inicial da produção era proveniente da região de São Miguel
Arcanjo-SP. Esse lote passou pelo processo de secagem em estufa e não se optou pelo uso de tratamento
químico. Apesar de ter passado pelo processo de secagem em estufa, no momento da entrega na
marcenaria, a umidade se encontrava incompatível para o inicio dos trabalhos, necessitando finalizar o
processo de secagem pelo método natural. Além disso, não houve uma seleção adequada das peças após
o processo de secagem. Portanto, o lote apresentava peças com rachas no topo e no sentido longitudinal.
[3] O lote utilizado para a produção em escala das folhas das janelas venezianas foi adquirido na região de
Telêmaco Borba-PR. Foram entregues lotes de 1ª, 2ª e 3ª qualidade, que passaram pelo processo de
secagem em estufa. As peças que apresentaram defeitos após o processo de secagem foram descartadas,
sendo entregues, na marcenaria, somente peças que estivessem de acordo a classificação de qualidade
(ABNT, 2002). Mesmo as peças de 3ª qualidade apresentaram quantidade de nós e rachas inferiores ao lote
anterior, utilizado para a primeira fase da produção.
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