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All content following this page was uploaded by Braian Garrito Veloso on 01 February 2022.
Resumo
As transformações que decorrem da presença e da expansão das tecnologias digitais na
sociedade têm demandado reflexões teóricas e epistemológicas. Dentre as mudanças sociais, cita-se
aquelas atinentes ao mundo do trabalho. À guisa de exemplo, a pandemia ocasionada pela COVID-
19 fez com que muitos empregadores adotassem regimes laborais mais flexíveis, permeados por
recursos tecnológicos. Expande-se, assim, a modalidade de teletrabalho, em que, por via de regra,
empresa e funcionários se encontram separados fisicamente, mas conectados por meio de
tecnologias digitais. Partindo dessas considerações, este artigo tem como objetivo discutir a
sociologia digital enquanto área que emerge no contexto dos estudos sociológicos. De forma mais
específica, o texto propõe uma intersecção para com a sociologia do trabalho, buscando
compreender as possíveis contribuições para a análise do assim chamado teletrabalho que, como
mencionado, tem se expandido durante o período pandêmico. Com a análise proposta, entende-se
que as discussões da sociologia digital podem contribuir de modo significativo para a compreensão
do domínio das subjetividades e das novas dinâmicas que perfazem o trabalho coetâneo marcado,
por um lado, pelo uso de tecnologias digitais e, por outro lado, pela flexibilidade.
Abstract
The transformations that result from the presence and expansion of digital technologies in society
have demanded theoretical and epistemological reflections. Among the social changes, those related
to the world of work are mentioned. As an example, the pandemic caused by COVID-19 caused many
employers to adopt more flexible work regimes, permeated by technological resources. Thus, the
telework modality expands, in which, as a rule, the company and employees are physically separated,
but connected through digital technologies. Based on these considerations, this article aims to discuss
digital sociology as an area that emerges in the context of sociological studies. More specifically, the
text proposes an intersection with the sociology of work, seeking to understand the possible
contributions to the analysis of the so-called telework that, as mentioned, has expanded during the
pandemic period. With the proposed analysis, it is understood that the discussions of digital sociology
can significantly contribute to the understanding of the domain of subjectivities and the new dynamics
that make up the contemporary work marked, on the one hand, by the use of digital technologies and,
on the other, side, for flexibility.
1 INTRODUÇÃO
Em face dos céleres avanços das tecnologias e das consequentes implicações para a
sociedade contemporânea, discute-se, há alguns anos, sobre a constituição de um novo subcampo
dentro dos estudos sociológicos. Trata-se da sociologia digital, preocupada, dentre outras coisas,
com as novas tendências que se perfilam a partir da presença cada vez mais constante dos recursos
tecnológicos nas relações humanas. É certo que as redes sociais, o ciberespaço, os recursos da
telemática, as imbricações entre virtual e presencial etc. trazem transformações substanciais no bojo
da sociedade. Mais do que simples aparatos técnicos que potencializam algumas capacidades
2 SOCIOLOGIA DIGITAL
Com vistas a constituir os alicerces que nos servirão de esteio às proposições atinentes aos
estudos sobre o trabalho na contemporaneidade, iniciamos com uma definição mais precisa daquele
subcampo da sociologia. De acordo com Nascimento (2016), os computadores, hodiernamente,
fazem parte da vida em sociedade nos mais diferentes contextos, indo desde a grande indústria até
os consultórios médicos, os carros modernos, o bolso dos adolescentes etc. Isso significa que grande
parte dos processos sociais passam a depender e, de certa forma, a se relacionar ao funcionamento
desses dispositivos tecnológicos. Para Lévy (1999), a assim chamada cibercultura indica o
surgimento de um novo universal que se difere de outras formas culturais anteriores, construindo-se
sobre a indeterminação de um sentido global qualquer. Os espaços virtuais, gerados pelas
possibilidades tecnológicas e, mais precisamente, pelos computadores, trazem implicações
substanciais para a vida em sociedade. Eles não apenas potencializam práticas de outrora, mas
engendram novas formas de relacionamento, comunicação, apreensão do mundo material, aquisição
do conhecimento, dentre outros. “Obviamente que tais transformações sociais impactaram o modo
como fazemos ciência, reverberando, também, na disciplina de sociologia” (NASCIMENTO, 2016, p.
218).
Nesse sentido, o processo de trabalho do sociólogo se depara com uma profusão de
possibilidades e recursos que se diferem, em muitos aspectos, daqueles disponíveis há algumas
décadas. Mas não apenas as mudanças no aparato técnico e nos instrumentos de coleta e análise
devem ser observadas. As novas configurações da sociedade e, num sentido amplo, do capitalismo,
geram novas e importantes fontes de dados. Nas redes sociais e nos espaços virtuais, a todo
momento os usuários produzem informações que são armazenadas pelas grandes empresas de
tecnologias. Informações estas que compõem o big data, conjuntos de dados frequentemente
utilizados para fins publicitários, mas que não esgotam suas possibilidades nessas áreas de compra e
venda de anúncios altamente direcionados ao usuário final. A bem da verdade, o incessante fluxo de
produção e consumo na internet traz novas configurações ao capitalismo à medida que abre
possibilidades e lacunas que precisam ser exploradas pelos estudos sociológicos no intuito de
compreender, sobretudo de modo crítico, as relações sociais coetâneas.
É nesse contexto que a sociologia digital surge como subcampo voltado a perscrutar não
apenas a sociedade marcada pelos recursos e possibilidades tecnológicas, como também
interessado e atento às novas ferramentas, metodologias e instrumentos que incidem sobre o fazer
sociológico. Nas palavras de Nascimento (2016), o termo aparece pela primeira vez na literatura
acadêmica inglesa em 2009, num artigo do professor do Smith College, Jonathan Wynn. Assim
sendo, afirma-se que:
Não apenas como consumidores, mas, especialmente, como produtores, os usuários que
navegam e usam os mais variados espaços sociais contribuem para a construção de novos contextos
marcados pela reciprocidade. A miríade de dados gerados por essas interações digitalmente
estruturadas levanta problemáticas fundamentais para a sociologia na contemporaneidade. É por isso
que, como Nascimento (2016) sugere, a sociologia digital busca um meio-termo entre a demonização
da internet como instrumento de “hipervigilância” e a sua “tecnolatria” imponderada. De um lado,
pesquisas sociológicas já evidenciam as perversidades que subjazem ao uso e à adoção de
tecnologias que, dentre outras coisas, servem ao capital como instrumento de dominação e
exploração; por outro, não se pode negar as implicações profundas que os recursos tecnológicos
trazem para as relações sociais, mormente ao tratarmos de uma disciplina que tem, como objeto, a
sociedade. Aliás, como já dissemos, a sociologia digital também se preocupa com aspectos
metodológicos. Os instrumentos, técnicas, ferramentas, possibilidades, fontes de dados etc. que
surgem ou se modificam mediante a presença das tecnologias passam a ser considerados como
imprescindíveis para o fazer sociológico atento às especificidades da contemporaneidade. Consoante
Lupton (2019, p. 139):
Pois bem, ao estabelecermos as definições necessárias às proposições que serão feitas mais
à frente, buscamos ressaltar a importância da sociologia digital como subcampo que se debruça
sobre a sociedade contemporânea, indo desde as preocupações metodológicas e circunscritas pelo
fazer científico até a preocupação direcionada às relações sociais medidas pelas tecnologias. Com
base nessa perspectiva, partimos, a seguir, para uma discussão com ênfase numa dentre as
temáticas que podem ser analisadas sob os olhares da sociologia digital. Estamos nos referindo ao
trabalho, como objeto de estudo da sociologia, preocupando-nos com as mudanças e as
características que delineiam as atividades laborais a partir do advento e da expansão das
tecnologias digitais. Que implicações essa sociedade marcada pelo uso de recursos tecnológicos traz
para o trabalho? De que maneira a sociologia digital contribui para as pesquisas que abordam essa
temática? Estas são algumas das questões que perpassam a nossa discussão subsequente.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste texto não foi esgotar a temática atinente à sociologia digital. Em verdade,
buscou-se articular as discussões dessa área com os estudos sobre o teletrabalho. Quer dizer que
foram apresentados conceitos que abordam a sociologia digital e a sua pertinência para estudar a
sociedade coetânea, marcada pelas relações sociais mediadas por recursos tecnológicos diversos.
Seja como área emergente da disciplina, seja como discussão mais preocupada com a metodologia,
é certo que esse subcampo dos estudos sociológicos, embora recente, tem ganhado cada vez mais
espaço em face da expansão e do desenvolvimento das tecnologias que incidem sobre as relações
sociais.
Desse modo, considera-se que, sobretudo devido às experiências vivenciadas em meio à
pandemia, muitas implicações para a sociedade tendem a demandar olhares sociológicos atentos. No
caso do trabalho, aqueles postos mais dependentes dos recursos tecnológicos e que puderam ser
migrados para o regime de home office ou, então, teletrabalho, certamente incluem um conjunto
complexo de fatores passíveis de análise pela sociologia. Alicerçados em características que
imprimem flexibilidade às atividades laborais, esses postos de trabalho abarcam, dentre outros
elementos, uma maior preocupação com o controle da subjetividade. Dadas as especificidades do
teletrabalho, afirmamos que a sociologia digital traz discussões importantes para analisá-lo. Esse é o
principal argumento que, nestas páginas, foi apresentado.
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