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Professores: Carol Heldt e Mario Reali | Professora Assistente: Amanda Silber | Aluna:
Luiza Minassian
Raquel Rolnik inicia seu texto no contexto do final dos anos de 1970, período no qual foi
implementada uma reestruturação produtiva durante uma crise fiscal de um Brasil em plena
Ditadura Militar que perdurou até 1985. É importante destacar que durante a década de 70, o
país foi marcado por investimentos em infraestrutura e na indústria, financiados por um “milagre
econômico” baseado no aumento da dívida externa brasileira. O período foi marcado pelo
grande aumento das desigualdades sociais e regionais. Posto que tais investimentos foram mal
distribuídos e concentrados na região suldoeste do país, o acesso aos serviços básicos como
saúde, educação e moradia , assim como uma distribuição de renda desequilibrada, conforma
um cenário problemático.
Com um crescimento urbano acelerado, despreparado e de pensamento enviesado, o
Brasil se torna palco e fluxo. Palco de processos como a favelização e a especulação
imobiliária e fluxo de um planejamento urbano tendencioso e antiético. Tal conformação
política, segundo a autora, contribuiu para a ampliação da base do movimento pela reforma
urbana, passando a incluir tanto moradores de assentamentos informais, periferia e favelas
como setores das classes médias profissionais liberais a partir da criação e inclusão de
“emendas populares” à Constituição. A força do movimento se funda, talvez, na crise pautada
pelas altas taxas de inflação e endividamento externo, assim como o levante da força popular
marcado por protestos e manifestações lideradas por movimentos estudantis e sindicais contra
o regime militar.
As emendas citadas por Rolnik, são salientadas pela autora por meio do
reconhecimento dos assentamentos informais, assim como o movimento de legitimação da
integração dos mesmos na cidade. Tais emendas propuseram medidas de combate à
especulação imobiliária e introduzindo o conceito de função social da cidade, propriedade
urbana e “democracia direta”. Desta forma, a plataforma possibilitou a constituição de espaços
institucionais participativos de escuta, pactuação, elaboração e controle social sobre as
políticas urbanas por meio de conferências, conselhos, plebiscitos e referendos.
O diálogo entre os moradores periféricos e profissionais liberais, fomentou até o
decorrer dos anos 1980, a criação de administrações locais que redistribuíram e ampliaram a
cidadania por meio das “gestões democrático-populares”. Estas, por sua vez, previam a
melhoria de serviços públicos, a inclusão das favelas e periferias como objeto de investimento,
o apoio a cooperativas, programas de geração de renda entre outros tipos de projetos sociais
que enfrentaram “o vazio de políticas desse tipo no nível nacional” (ROLNIK, 2015, p. 256).
Este novo modelo redistributivo local acarretou no estabelecimento obrigatório de planos
diretores nos municípios com mais de 20 mil habitantes, usando do planejamento como
instrumento de reformulação urbana do desenvolvimento urbano que, como já descrito
anteriormente, foi gerado sobre a ótica de exclusão político-territorial da, ironicamente, maioria
da população. Assegurando não só o direito à renda, às oportunidades, à ocupação do solo
urbano e à cidade, mas como um direcionamento da construção da cidadania ao germinar um
sentido coletivo que fosse de embate com um modelo de sociabilidade individualista que não
respeitava o interesse público (ROLNIK, 2015, p. 257).
BIBLIOGRAFIA: