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GESTÃO PARTICIPATIVA NAS POLÍTICAS PÚBLICAS: DESAFIO NA

CONSTRUÇÃO DO PLANO DIRETOR DO DESENVOLVIMENTO URBANO


(PDDU)1

Resumo
O objetivo proposto neste ensaio é discorrer sobre a gestão participativa na formulação
dos Planos Diretores do Desenvolvimento urbano (PDDU) que se mantem apenas no
discurso, através de políticas gerencialistas que estabelece modelos administrativos
burocráticos. Dessa forma, a cidade se torna palco de profundas desigualdades
socioespaciais na medida em que ocorre a produção do espaço no âmbito capitalista
favorecendo a especulação imobiliária. Diante disso, o Plano Diretor Urbano fomenta
mecanismos que promove a função social da propriedade, no entanto, tal instrumento
torna-se um aparato de dominação das classes burguesas.

Palavras chave: Administração Pública; Modelos Políticos; Participação Social; Plano


Diretor de Desenvolvimento Urbano.

Introdução
A administração pública está relacionada a um processo de gestão do Estado que
abragem uma série de ações que interferem na organização social e no interesse
coletivo, e que estão presente de forma direta e indireta nas relações entre a sociedade e
o Estado. Os modelos de gestão pública surgem no contexto da redemocratização,
trazendo consigo os instrumentos de gestão que buscam a difusão de uma política
democrática.
Segundo Paula (2005), a administração pública apresenta dois modelos de gestão
conhecidos como gerencial e societal, que trazem em seus discursos a prática social nas
políticas públicas, no entanto, o gerencialismo iniciado no governo de Fernando
Henrique Cardoso não assegurou a soberania popular, enquanto na perspectiva societal
as decisões governamentais que seriam ligadas a uma participação social não foram
sustentadas durante o governo de Luís Inácio Lula da Silva.
De acordo com Weber (1864-1920), o meio urbano estar sendo planejado através
de moldes capitalistas obedecendo a uma lógica de acumulação de capital, de
propriedade

1
Trabalho referente à avaliação da disciplina Administração Pública Brasileira, ofertada pela Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, e ministrada pelo Professor Esdras Antunes do Nascimento.
privada e do lucro, e consequentemente, as cidades como um produto da economia
política urbana. Em busca de superar todos os grandes desafios sociais gerando pela
monopolização de poder nos espaços urbanos, a gestão participativa possibilita busca
alcançar o pleno exercício da cidadania e fomenta políticas sociais mais assertivas e
legitimas. Os problemas sociais são responsabilidade do Estado no momento em que
surge o Estado de Bem-Estar Social elevando a cidadania a um sinônimo de direito
social. O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) constitui e regulamenta a
política urbana, onde o Estatuto da Cidade promove a participação social, instrumentos
de planejamento e intervenção para gestão do espaço, com objetivo de garantir o avanço
do desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana
estabelecidos nos artigos 182 e 183 da Constituição de 1988. Diante disso, como o
planejamento das
cidades se torna um mecanismo de controle na produção do espaço?
O PDDU é um importante instrumento público de gestão, de monitoramento e de
avaliação para um desenvolvimento sustentável, com participação da população na
construção social, econômica e políticas da cidade. Contudo, acaba não exercendo sua
função democrática no ambiente urbano, de acordo com Weber (1864-1920, p. 187)
“Todas as áreas da ação social, sem exceção, mostram-se profundamente influenciadas
por complexos de dominação”, isto decorre no planejamento urbano das cidades, na
medida que as elites exercem o monopólio no espaço geográfico.
Com o progresso industrial, houve um boom populacional nas cidades
estabelecendo uma urbanização caótica e desigual. Essas desigualdades socioespaciais
são reveladas na produção das cidades. Além disso, o Estado conduz o planejamento
urbano a uma lógica gerencial fora do contexto dos interesses coletivos, priorizando a
reprodução de interesses das classes burguesas.
Em concordância com Paula (2005), a reforma gerencial do Estado ganhou
pauta em meados dos anos de 1990, no momento em que o Brasil entra numa crise
nacional- desenvolvimentista, e também o surgimento de pensamentos contrários as
práticas patrimonialistas e autoritárias, tornando o ideário político de cunho liberal,
formulado por planos administrativos dominantes numa perspectiva norteadas pela
reforma de mercado. Nesta administração pública gerencialista, imposta por interesses
burocráticos dominantes, valorizou-se um Plano Diretor Urbano que promove cidades
fragmentadas e desiguais, negligenciando assim, a sua função em ampliar a equidade
social.
Portanto a participação social na gestão dos Planos Diretores enfrenta grandes
desafios, no que se refere a construção, implantação e avaliação das políticas públicas
através de uma organização burocrática marcada por uma participação social tácita, uma
deficiência no preparo técnico e institucional e na sua elaboração que muitas vezes não
se adequa a uma determinada realidade social.
Conforme Weber (1864-1920, p.193) “Toda dominação manifesta-se e funciona
como administração”, no qual o contexto consiste na dominação do território. A partir
do surgimento dos espaços urbanos surgem de forma estrutural novas relações de poder
e dominação, o Estado como uma figura politicamente neutra se desvencilha da
promoção da equidade social conduzindo condutas que fomenta a produção do espaço
pela lógica das classes dominante.
No intuito de realizar uma política de controle social, a burocracia transforma-se
em instrumento de dominação por um determinado grupo na sua forma de organização
técnica, a exemplo do PDDU, no qual a política urbana estabelece uma participação
social disfarçada, com isso reflete no meio urbano uma filosofia liberal que busca a
comercialização e especulação da urbe. Ainda segundo Weber (1864-1920), há um
interesse no prestigio pelos funcionários administrativos, pelas burocracias modernas e
as classes burguesas conduzidas pelo poder na própria formação política, possibilitando
aquela o aumento das posições burocráticas e para esta a aquisição de tributos para
custear seus descendentes.
Assim percebe-se a natureza gerencial sobe forma de manipulação reforçando
uma segregação socioespacial com aparatos urbanísticos que favorecem promotores
imobiliários, grandes indústrias e os proprietários fundiários, práticas que causam
grandes desigualdades sociais e socioambientais.
Esse modelo de cidades provoca grandes impactos sociais, econômicos e
culturais para a população de menor poder aquisitivo, com a inserção precária e
ambígua no espaço urbano, ou seja, condicionadas a vulnerabilidade em locais com
infraestrutura urbana inadequada para um desenvolvimento sustentável. Por
consequência, na perspectiva socioeconômica e ambiental a cidade sofre danos
complexos para ser reestabelecidos.
A falta de diretrizes legítimas no desenvolvimento do PDDU e a Pseud-
Participação na construção das cidades mantem ações de políticas públicas através do
uso do solo, da apropriação privada, e por consequência proporciona a falta de
disponibilidade para ceder terrenos para urbanização dificultando a concretização do
Direito à cidade.
O conselho das cidades (CONCIDADES) representa a importância da gestão
democrática, em que a participação social e os diversos segmentos participativos devem
acompanhar a formulação e excussão do plano diretor. Por conseguinte, torna-se de vital
importância a gestão participativa na construção das cidades, com objetivo de que todas
as camadas sociais sejam ouvidas para diminuir as desigualdades sociais, onde cada
cidadão pode ser tornar um agente transformador do espaço, ao mesmo tempo que se
transforma junto com ele. Essa participação deve ser realizada com eficiência através de
audiências públicas, oficinas de bairros, fóruns temáticos, orçamento participativo,
conselho gestores e conferências.
Mas na realidade a elaboração de um plano enfrenta diversos desafios com a
falta de uma cultura de participação social, tanto pelos gestores como pela própria
população, a falta de linguagem tecnocrática e acessível às diversas camadas populares
e as metodologias inadequadas para promover informação, onde o Plano Diretor torna-
se apenas um discurso distorcido. Logo, a falta de uma política que visa promover a
participação crítica e social do cidadão e a burocracia favorecem um o processo de
dominação vinculado a administração pública.
Segundo Paula (2005) a administração gerencial dificulta condutas de estimulo a
participação social, no entanto o modelo societal propõe uma gestão menos tecno-
burocrática em que o cidadão de forma deliberativa participe das ações políticas.
Embora existem desafios na organização do funcionalismo público, nesse paradigma se
destaca as ONGs e Movimentos sociais que de acordo com a autora evidencia alterações
do sistema burocrático a um sistema de caráter democrático.
A inclusão da sociedade na produção, fiscalização e implementação das políticas
públicas instituídas pelos Planos Diretores faz com que as cidades sejam interpretadas e
executadas conforme a necessidade da população, além de políticas que não tenham
exigências burocráticas que objetiva oportunizar financiamentos públicos e elaborar
projetos desapropriados para cidades que crescem de forma desordenada.
O poder público precisa estabelecer uma postura legal na aplicação dos
instrumentos urbanísticos com iniciativas que permita a população usufruir do espaço
público e cabe a sociedade o dever de vigilância e ações diretivas. Uma vez que, só
pode alcançar cidades sustentáveis e participativas através do planejamento
transformativo com comunidades políticas, primando à participação dos cidadãos na
criação de suas existências. Uma cidade melhor deve conter uma sociedade com grupos
identitários, onde a diferença proporcione caráter à cidade enquanto existir integridade,
mas apresenta uma imperfeição no momento em que surge uma disputa de poder e
prestígio.
Referências

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de


outubro de 1988.

PAULA, A. P. P. Administração pública brasileira entre o gerencialismo e a gestão


social. RAE-Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 45, n.1, p. 36-49,
2005.

WEBER, M. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva.


Brasília. Editora da Universidade de Brasília, 1999.

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