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RECIFE – PE
2022
THAÍZA ARAUJO SILVA DE FREITAS
RECIFE – PE
2022
1. INTRODUÇÃO
O que poderia desejar uma nação subdesenvolvida com mais força e fervor do que alcançar, o
quanto antes, o momento reticentemente reservado a um tempo futuro da conquista do título de
país e povo desenvolvido? [...]
Porque “tem sempre alguém vendendo o mesmo peixe, dizendo que é fresco” * e nós seguimos,
geração a geração, trocando irmãos por espelhos, mães por pensões e nutrindo-nos de frágeis
promessas de liberdade definitiva e paz.
Afinal, reconhecemos isto: desenvolvimento carece de adjetivação. [...] Ainda que tenhamos
aprendido historicamente a conviver com a desigualdade entre
países, regiões, estados, cidades, bairros e pessoas, com a consagração de privilégios em
detrimento da universalização de direitos, que tenhamos feito concessões além das elásticas
linhas da dignidade, reconhecido e admitido a existência de cidadãos de segunda categoria por
todos os segmentos, omitindo a face de sujeitos responsáveis sob a figura de pessoas jurídicas
esquizofrênicas de atitude corporativa, que personagem poderia neste cenário engessado turvar
e romper com a paralisia da injustiça generalizada?
Assim como o limite da civilização é a barbárie, o abuso dos sistemas vivos resulta em crise
estrutural. [...] A ruptura de um estado de equilíbrio de fluxos e estoques geralmente conduz a
um novo arranjo de componentes, cuja transição, até onde se sabe, tende à mudança
catastrófica. [...] Se o espaço em que se vive já é majoritariamente e segue, cada vez
mais, urbano; se existe uma centralidade capaz de aglomerar os atores e os conflitos-chave das
referidas questões socioambientais, ainda que sejam apenas emissários de demandas que se
processam em espaços longínquos e envolvam outros atores, esses motivos confeririam às
cidades e, sobretudo, às metrópoles o status de arena privilegiada para ocorrência dos embates
acerca do futuro da humanidade. A nossa proposição aqui é de que, para as condições históricas
atuais, a sustentabilidade intraurbana precede e deve ser prioridade às demais políticas de
gestação de um mundo justo, democrático e sustentável.
Consideraremos aqui apenas três principais correntes, reconhecidas por Haughton, e, de acordo
com ele, mais radicais.
Cidades corrigidas: O caminho para a cidade sustentável seria, a partir desta
leitura, construído mediante uma ampla reforma nos mecanismos de funcionamento do
mercado. A cidade corrigida, em nossa leitura, conflitua com a cidade para pessoas – uma
perspectiva de urbanismo que problematiza a primazia do planejamento de tráfego em voga nos
últimos 50 anos e superpõe as necessidades humanas, em referência a pedestres e
ciclistas, como foco das ações de planejamento urbano. Vejamos que nenhuma das razoáveis
respostas de Dobson se adequam ao que propõe este modelo de cidade. Internacional para
Manejo de Recursos Sustentáveis, ou Painel de Recursos, do Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente atesta este otimismo tecnológico ao discutir as possibilidades da decolagem
econômica a nível de cidade. Fizemos questão de ressaltar a relevância do debate sobre a
substitutibilidade dos recursos naturais na tentativa de endereçarmos corretamente a
problematização aos modelos de cidade corrigida. Enquanto o crescimento constar entre os
elementos a serem sustentados na lista de pré-condições à sustentabilidade da cidade corrigida
este modelo se aproximará do extremo dito fraco e demandará fartas porções dos ecossistemas
do entorno, promovendo a externalização dos seus custos ambientais de reprodução. A cidade
corrigida não se orienta, portanto, a resolver internamente seus problemas de
abastecimento, regulação e manutenções necessárias.
Cidades autônomas: O terceiro e último modelo traz como pedra de toque à revelação de sua
identidade a compreensão central de que o curso de modernização das cidades, de modo geral
e por todo o globo, conduziu-as ao desempenho da postura padrão de filhas pródigas, que,
imbuídas ao desbrave das fronteiras que as comprimiam, tornam à casa, num segundo momento,
após sofrerem ou anteverem o tombo de sua própria imprudência. É importante que não se
apreenda por autonomia um sentido de independência impassível, a historicidade contida nas
proposições deste modelo aponta para a busca de autossuficiência e autodeterminação como
senso de maturidade adquirido em função dos fardos e ônus injustamente relegados às
vizinhanças. Trata-se de gerir local e regionalmente questões como provisão de água, energia e
alimentos e áreas para disposição de efluentes e resíduos, convertendo o metabolismo
urbano, via absorção produtiva das saídas, a um formato circular. No atual estágio de
urbanização global, a maioria das cidades médias e grandes já comprometeram parte
significativa de suas capacidades naturais internas de regeneração, absorção e provimento de
elementos básicos como água, cobertura vegetal, solos férteis e áreas e corpos d’água para
destinação final de resíduos.