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HISTÓRIA REGIONAL

MARCOS MARTINS

Marabá – 2023
ProfHistória/Unifesspa
Marcos Lobato Martins

Possui graduação em História pela Universidade do Estado de Minas Gerais (1993),


mestrado em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1997) e
doutorado em História Econômica pela Universidade de São Paulo (2004). Foi
professor da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG),Campus de
Diamantina, professor da Faculdade de Ciências Humanas de Pedro Leopoldo (FPL)
e professor da Faculdade de Direito de Pedro Leopoldo. Lecionou no curso de
História da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG) de agosto de 2009 a
setembro de 2013. Atualmente é professor da Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Campus Diamantina. Tem experiência na área de
História Regional, com ênfase em História do Vale do Jequitinhonha (MG) e na
área de História Ambiental. Atua principalmente nos seguintes temas: mineração
de diamantes e homens de negócio de Diamantina, abastecimento e estradas
regionais no período 1870-1930, história ambiental de Minas Gerais e do Vale do
Jequitinhonha
OBJETIVO GERAL

► APRESENTAR as perspectivas historiográficas para o


campo de pesquisa da história regional.
A pré-modernidade e a singularidade de
cada região
► Assim, os reinos, impérios e países pré-modernos eram
justaposições de regiões que conservavam alto grau de
autonomia econômica, social e cultural. Cada uma das
regiões era dotada de hábitos e costumes específicos,
possuía suas próprias normas de convívio e formas de
hierarquia social, empregava técnicas e instrumentos
diversos (LOBATO, 2013, p. 135).
Centralidade do par “local”/”regional”

► Cada região pouco sabia do que se passava na outra.


Material e ideologicamente, a identidade dos homens
dessas sociedades pré-modernas se assentavam no
conjunto de aldeias e de regiões onde desenrolavam suas
limitadas experiências. A experiência do “local” e do
“regional” é exemplo, portanto, de uma estrutura que
moldou a vida social por milênios, seja no Egito faraônico
ou na França Bourbon (LOBATO, 2013, p. 135).
A centralidade do local/regional

► A modernidade é um período histórico que


começou na Europa no final do século XV e se
estendeu até o século XVIII. Ela é caracterizada
pela ascensão do racionalismo, da ciência e da
tecnologia, bem como pela valorização da
individualidade e da liberdade pessoal. Durante a
modernidade, a Europa tornou-se o centro do
mundo e expandiu seu poder por meio da
colonização e do imperialismo.
A colonialidade como sistema de poder

► A colonialidade, por sua vez, é uma dimensão


persistente e estrutural da modernidade que se
refere ao legado do colonialismo e da dominação
imperial. Ela se manifesta em relações de poder
assimétricas que continuam a estruturar a vida
política, social, cultural e econômica das
sociedades globais, mesmo depois da
descolonização formal.
Uma visão homogênea de mundo

► Segundo Mignolo, a modernidade e a


colonialidade são dois lados da mesma moeda,
estando intimamente relacionadas. Ele argumenta
que a modernidade só pôde se estabelecer
através da exploração e da colonização dos povos
e territórios colonizados, e que a lógica da
modernidade está enraizada na imposição de uma
visão de mundo ocidental e eurocêntrica.
As hierarquias da colonialidade

► Mignolo destaca que a colonialidade não é um


fenômeno restrito ao período colonial, mas sim
uma estrutura persistente que se manifesta em
diversas áreas da vida contemporânea, incluindo a
política, a economia, a cultura e a linguagem. Ele
defende a necessidade de descolonizar o
conhecimento e a linguagem para romper com as
hierarquias impostas pela colonialidade do poder.
A construção histórica da “verdadeira
história nacional”
► Todavia, a partir dos séculos XV e XVI, as barreiras espaciais
começaram a ser progressivamente destruídas, promovendo o
desentravamento de muitas regiões. A irradiação planetária do
domínio europeu fez surgir “a verdadeira história nacional” e colocou
as escolas nacional e internacional no topo das preocupações dos
historiadores. A expansão da modernidade, do Estado, do capitalismo
e das filosofias universalistas (típicas do Renascimento e do
Iluminismo) tentou pôr fim às singularidades e autonomia das antigas
regiões. O ataque à independência da fortaleza regional é o trabalho
contínuo da modernidade (LOBATO, 2013, p. 136).
O regional e o global na modernidade

► O deslocamento da posição destacada que as regiões


ocupam na vida as pessoas está associada ao
desenvolvimento da economia global. Entre os séculos XV
e XVII, as grandes navegações e o sistema colonial
conectaram organicamente a Europa, a América e o litoral
africano, no mesmo tempo em que ampliaram os
intercâmbios comerciais com a Ásia (LOBATO, 2013, p.
136).
Consolidação do Estado Moderno

► Outro vetor que contribuiu decisivamente para esmaecer o


colorido intenso dos mosaicos regionais foi a
constituição/consolidação do Estado Moderno. Desde o final da
Idade Média, um processo histórico complexo logrou a
eliminação de centenas de casas principescas e cederam lugar
a algumas dezenas de Estados. As trajetórias de Estados
Modernos alimentaram impulsos homogeneizadores. Afinal no
plano interno, essas novas formas de dominação combateram
sem trégua os particularismos e buscaram alcançar a condição
de lugar principal ao redor do qual se organizam as identidades
e as lealdas individuais e coletivas (LOBATO, 2013, p. 136).
O “nacional” como vetor para a história

► O Estado moderno investiu no “nacional” em detrimento


do grupo de parentesco, da comunidade local e da
organização religiosa. A batalha do Estado contra os
regionalismos alcançou o ápice com o nacionalismo
políticos dos séculos XIX e XX (LOBATO, 2013, p. 137).
Forjando a ideia de “nação”

► Lançando mão de um trabalho sobre a memória, a partir


da manipulação dos referenciais e símbolos históricos, o
Estado moderno forjou a ideia de “nação” e, por
conseguinte, alcançou significativa uniformidade dos
comportamento das pessoas no interior de seus territórios
(LOBATO, 2013, p. 1370.
Estratégias e táticas dos Estados Nacionais

► Assim, por exemplo, o Estado criou a bandeira, hinos,


festas cívicas, moedas de efígies de heróis e governantes,
animais e monumentos característicos do país, e
sobretudo, difundiu a História e um idioma oficiais
ensinados com diligência numa rede crescente de escolas
públicas fundamentais (LOBATO, 2013, p. 137).
O papel das ideias iluministas

► Um terceiro vetor que concorreu para dissolver a


importância do “regional” e do “local” como foco de vida
de grupos e indivíduos foi o Iluminismo, movimento
intelectual do século XVIII. As novas ideias iluministas
apostaram firmemente na uniformização das sociedades,
como resultante da marcha da história sob a égide do
progresso material, científico e moral da humanidade
(LOBATO, 2013, p. 137).
Perspectiva dos marxistas no século XX

► No século XX, a corrente principal dos marxistas acreditou


que a modernização capitalista do tipo anglo-saxão
abarcaria todo o planeta, porque corresponderia a uma
transformação histórica não só inevitável como iminente
(LOBATO, 2013, p. 137).
Encontrando o “local” e o “regional” na
nova esfera global.
► Entretanto, alguns observadores atentos da história do último
quartel do século XX e dos acontecimentos do início do
milênio, fica claro que o planeta não caminha no sentido de se
libertar das originalidades locais e regionais (LOBATO, 2013, p.
138).
► A compreensão do espaço-tempo que a globalização produz,
tem o efeito de tornar cada canto do mundo muito parecido
com os demais, porque difunde os mesmos valores e
comportamentos, torna as comunicações espontâneas, dá
visibilidade a um conjunto restrito de marcas, sons e imagens
induzindo em milhões de pessoas um “ecletismo de gosto”. Mas
também, é verdade que ela faz isso de maneira desigual
(LOBATO, 2013, p. 138).
A renovada importância da história regional

► O que se observa é, portanto, a resistência do “regional”


e do “local”, porque certas diferenças não desaparecem.
Mas do que isso as pessoas e os grupos sociais, submetidos
às tensão da “sociedade global” – os riscos ecológicos, o
medo (do desemprego, do terrorismo, da competição), o
individualismo exagerado, as frustrações do consumismo,
etc -, experimentam uma “perda de direção” (LOBATO,
2013, p. 139).
A globalização faz repensar as
identidades
► Questionam a realidade, refletem a “perda da história”,
reexaminam sua experiência de vida. Enfim, são
asfaltadas pela inquietação relativa à identidade. A
globalização, ao deslocar antigas certezas e filiações,
exige que os indivíduos e as nações repensem suas
identidades (LOBATO, 2013, p. 139).
O papel da memória na questão das regionalidades

► Neste momento, reaparecem as regiões, de mão dadas


com a revalorização da memória. Ao olharem ao redor, as
pessoas buscam encontrar elementos de continuidade,
alguma quantidade de símbolos de permanência, certos
lugares do passado (LOBATO, 2013, p. 139).
Olhando sob outro prisma a História

► Como decorrência desse desejo, as diferenças entre as


regiões e as especificidades dos lugares afloram,
investidas de novas significações. Os vestígios do passado,
as ruínas, os monumentos, os museus, merecem atenção
especial. Crescem as exigências por novas narrativas e
interpretações da história local e regional (LOBATO, 2013,
p. 140).
O “espelho São Paulo”

► Na década de 1960 e 1970, quando o grosso de produção historiográfica


brasileira já havia ocorrido no âmbito da universidade, assistiu-se ao
embaralhamento do nacional e do regional. A Universidade de São Paulo (USP)
lançou uma torrente de pesquisas históricas, atualizadas e rigorosas dos
pontos de vista teóricos e metodológico), abordando principalmente aspectos
da história paulista (LOBATO, 2013, p. 142).
► A hegemonia econômica e acadêmica de São Paulo possibilitou a
identificação de sua história com a história do Brasil mais recente. Ainda
hoje, nos livros didáticos empregados no ensino fundamental e médio, a
trajetória republicana brasileira é examinada à luz do “modelo paulista”. São
Paulo torna-se o Brasil quando o assunto é café, imigração, industrialização,
trabalho, conflito social urbano, movimentos sindicais e populares, vida
metropolitana, vanguardas artísticas, etc. (LOBATO, 2013, p. 142).
Uma mudança na década de 1980

► A partir da década de 1980, o pleno funcionamento de cursos de


pós-graduação fora de São de Paulo permitiu corrigir as distorções resultantes
da generalização, para todo o Brasil, da trajetória paulista e alimentou nova
onda de estudos regionais, assentada em bases mais adequadas do que as
antigas corografias (LOBATO, 2013, p. 142).
Região: uma categoria histórica

► História Regional é aquela que toma o espaço com terreno de estudo, que
enxerga as dinâmicas históricas no espaço e através do espaço, obrigando o
historiador a lidar com os processos de diferentes áreas (LOBATO, 2013, p.
143).
► A História Regional é a que vê o lugar, a região e o território como a natureza
da sociedade e da história, e não apenas como o palco imóvel onde a vida
acontece (LOBATO, 2013, p. 143).
► Ela é História Econômica, Social, Demográfica, Cultural, Política, etc,
referida ao conceito chave de região. Os temas e os problemas da História
Regional são os mesmos da História, sem tirar e nem pôr (LOBATO, 2013, p.
143).
História Regional: uma abordagem específica

► Na verdade, a História Regional constitui uma abordagem


específica, uma proposta de estudo de experiência de
grupos historicamente vinculados a uma base territorial
(LOBATO, 2013, p. 143).
► Os “historiadores regionalistas” trabalham com regiões e
localidades não porque afirmam a dicotomia entre o geral
e o particular. Fazem isso porque questionam e criticam
as narrativas e interpretações históricas dominantes e
cronistas triunfalistas do progresso, seus pressupostos e
implicações político-identitárias (LOBATO, 2013, p. 143).
A História regional na sala de aula

► Convém insistir: no mundo globalizado, a forma do local e


do regional fazerem face ao global é através da
revalorização de sua cultura e de seu ambiente. Esse fato
transforma a História Regional e Local num artigo de
primeira necessidade (LOBATO, 2013, p. 145).
► Por outro lado, no campo da historiografia, a História
Regional e Local tem incentivado a busca de explicação
das sociedades nas suas múltiplas determinações e
complexidades e tem proporcionado ocasião para testar
generalizações da História Geral, por meio da redução,
por meio da redução de escalas das
investigações(LOBATO, 2013, p. 145).
► Não se trata de uma tarefa fácil. Os professores de História estão
sabidamente sobrecarregados e enfrentam, frequentemente, condições de
trabalho adversas nas escolas brasileiras. Na maioria dos municípios e estados
são os estudos históricos de boa qualidade sobre aspectos das trajetórias
locais e regionais. Quando existem, há dificuldades para acessá-los. Mas os
professores não podem desanimar. Precisam ampliar suas leituras, prestas
mais atenção às especificidades locais e regionais, visitar museus e arquivos
existentes áreas onde residem, acumular informações diversas sobre suas
localidades, municípios, regiões ou estados, procurar saber o que se está
pesquisando nas universidades próximas.
► Todavia, esse trabalho não tem que ser realizado de uma só
vez. Os professores de História, para levar às salas de aula a
História Regional e Local, terão que virar pesquisadores. Ensino
e pesquisa, teoria e prática terão quer ser definitivamente
associados, respeitando-se, é claro, as situações concretas
vividas pelos profissionais da História. O que não se poderá
fazer é ficar de braços cruzados, à espera de que alguma
universidade ou algum pesquisador consagrado produza
material didático suficiente para atender as demandas dos
professores espalhados pelo Brasil, país tão grande quanto
multifacetado (LOBATO, 2013, p. 146).
Algumas sugestões são apresentadas com o
objetivo de estimular o trabalho com a
história regional e local em nossas escolas

a) Análise de corografias, memórias e sites.


b) Crítica dos textos da “Macro-História”.
c) Observação direta de sobrevivências e permanências.
d) Leitura de literatura regional e os relatos de viajantes.
e) Análise de temas e as formas do artesanato, música e arte.
f) Exibição comentada de documentários e programas de TV.

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