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Terapia familiar no século XXI

EROSÃO DAS FRONTEIRAS


O formato da terapia familiar hoje
As fronteiras entre as escolas de terapia
familiar foram aos poucos esmaecendo na déca-
da de 1990, a ponto de cada vez menos tera-
De um experimento radicalmente novo na peutas definirem-se como puramente bowenia-
década de 1960, a terapia familiar transfor- nos ou estruturais, ou seja lá o que for. Uma
mou-se em uma força estabelecida, com sua pró- razão para esse declínio no sectarismo foi que,
pria literatura, organizações e legiões de pra- conforme ganhavam experiência, os profissio-
ticantes. Diferentemente de campos organiza- nais não viam problema em tomar emprestadas
dos em torno de um único modelo conceitual técnicas de arsenais alheios. Suponha, por exem-
(psicanálise, terapia comportamental), a tera- plo, que uma terapeuta estrutural de carteirinha
pia familiar sempre foi um empreendimento lesse o texto de White e Epston, Narrative means
diversificado, com escolas rivais e múltiplas teo- to therapeutic ends, uma jóia de livro, e começas-
rias. O que elas compartilhavam era a crença se a explorar cada vez mais as histórias que os
de que os problemas são da família. Fora isso, clientes contam sobre suas vidas. Essa terapeuta
cada escola era um empreendimento bem-de- ainda seria uma estruturalista? Uma terapeuta
finido e distinto, com seus próprios líderes, narrativa? Ou talvez um pouco de ambas?
textos e maneiras de fazer terapia. Suponha que a nossa terapeuta hipotéti-
Hoje, tudo isso mudou. O campo já não ca assistisse a uma conferência de Jim Keim
está nitidamente dividido em escolas separadas, descrevendo sua abordagem estratégica a fa-
e seus praticantes já não compartilham uma mílias com filhos opositores e começasse a uti-
adesão universal à teoria sistêmica. Uma vez lizá-la em sua própria prática. Como chama-
que os terapeutas de família sempre gostaram ríamos essa terapeuta agora? Estrutural-nar-
de metáforas, poderíamos dizer que o campo rativa-estratégica? Eclética? Ou talvez, simples-
ficou adulto. Agora sem panelinhas e despoja- mente, “uma terapeuta familiar”?
do da antiga presunção, o movimento de tera- Outra razão para a erosão da ortodoxia
pia familiar foi sacudido e transformado por foi o crescente reconhecimento da necessida-
uma série de desafios – desafios à idéia de que de de técnicas individualizadas para problemas
uma única abordagem detém todas as respos- e populações específicas. No passado, os tera-
tas, desafios envolvendo a natureza dos homens peutas familiares agarravam-se aos seus mo-
e das mulheres, e a família americana – na ver- delos. Se uma determinada família não se ajus-
dade, por um questionamento sobre a possibi- tasse bem ao paradigma, talvez ela não fosse
lidade de saber tudo com certeza. Neste capí- “um caso apropriado para tratamento”. Hoje,
tulo, examinaremos esses desafios e veremos terapias do tipo “tamanho único” já não são
como está a terapia familiar no século XXI. consideradas viáveis.
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Atualmente, os terapeutas abordam as dos os lados, a suposição era a de que alguém


famílias menos como especialistas confiantes possuía o artigo genuíno, uma verdade fixa e
na sua capacidade de consertá-las e mais como além da mera conjetura humana”. Na terapia
parceiros que esperam fortalecer seus recur- familiar, era a verdade estrutural versus a psi-
sos. Esses recursos são influenciados não ape- codinâmica; Bowen versus Satir.
nas pela estrutura da família, mas também por A relatividade de Einstein destruiu nossa
forças políticas e econômicas além de seu con- fé nas certezas. Marx desafiou o direito de uma
trole. Algumas das mudanças ocorridas nas classe de dominar outra. Nos anos de 1960,
escolas clássicas deveram-se à morte ou à apo- perdemos a confiança no estabelecimento e
sentadoria dos pioneiros e à ausência de figu- passamos a sentir que havia outras realidades
ras dominantes para substitui-los. A nossa épo- além daquelas da consciência comum. O mo-
ca atual, de questionamentos e incertezas, tam- vimento feminista desafiou suposições sobre
bém está relacionada a um crescente reconhe- gênero que haviam sido consideradas leis da
cimento de que os modelos doutrinários nem natureza. Conforme o mundo encolhia e o nos-
sempre são relevantes para as necessidades so contato com pessoas de culturas diferentes
específicas dos clientes. A terapia familiar é aumentava, tivemos de reexaminar nossas su-
apenas uma das muitas ciências sociais que posições sobre as suas crenças “peculiares”.
foram viradas de cabeça para baixo pela revo- Este crescente ceticismo tornou-se uma
lução pós-moderna. força maior na década de 1980 e balançou os
pilares de todos os empreendimentos huma-
nos. Na literatura, educação, religião, ciência,
PÓS-MODERNISMO política e psicologia, práticas aceitas foram
desconstruídas – isto é, desmascaradas como
Os avanços científicos do início do século convenções sociais criadas por pessoas com in-
XX nos transmitiram o sentimento de que a tenções pessoais. O filósofo social Michel
verdade das coisas poderia ser descoberta por Foucault interpretou os princípios aceitos em
meio da observação e mensuração objetivas. muitos campos como histórias perpetuadas
O universo era um mecanismo cujas leis de para proteger estruturas de poder e silenciar
operação aguardavam ser descobertas. Depois vozes alternativas. A primeira e talvez a mais
que as conhecêssemos, poderíamos controlar influente dessas vozes a se erguer na terapia
nosso meio ambiente. Essa perspectiva moder- familiar foi a crítica feminista.
nista influenciou a abordagem dos pioneiros
da terapia familiar aos seus clientes – eles eram
sistemas cibernéticos a serem decodificados e A CRÍTICA FEMINISTA
reprogramados. O terapeuta era o perito. Es-
O feminismo provocou o mais abrupto
quemas estruturais e estratégicos eram usados
despertar da terapia familiar. Na crítica sur-
para descobrir defeitos que precisavam ser con-
preendente introduzida em um artigo de
sertados, independentemente de a família ver
Rachel Hare-Mustin, em 1978, terapeutas fa-
as coisas do mesmo jeito.
miliares feministas não só expuseram o viés
O pós-modernismo foi uma reação a esse
de gênero em modelos existentes, como tam-
tipo de hubris. Não só estamos perdendo a fé
bém defenderam um estilo de terapia que ques-
na validade de verdades científicas, políticas e
tionava a própria teoria dos sistemas.
religiosas, como estamos começando a nos
A cibernética incentivou-nos a ver o sis-
perguntar se algum dia chegaremos à verdade
tema familiar como uma máquina defeituosa.
absoluta. Conforme Walter Truett Anderson
Judith Myers Avis (1988, p. 17) descreveu-a
(1990, p. 2) escreve em Reality isn’t what it
como uma máquina que
used to be: “A maioria dos conflitos que irrom-
peram na era moderna que agora se encerra
funciona de acordo com regras sistêmicas es-
foi entre diferentes sistemas de crença, cada peciais e está divorciada de seus contextos
um dos quais professava ser dono da verdade: histórico, social, econômico e político. Ao ver
esta fé contra aquela, o capitalismo contra o a família fora de contexto, os terapeutas fa-
comunismo, a ciência contra a religião. De to- miliares localizam a disfunção familiar intei-
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ramente dentro de relacionamentos interpes- porque, em muitos casos, as mães continua-
soais na família, ignoram padrões mais am- vam sendo vistas negativamente. As mães ain-
plos de disfunção que ocorrem nas famílias, e da estavam “emaranhadas”, mas agora apare-
deixam de perceber a relação entre contexto cia uma nova solução – colocar em cena o bom
social e disfunção familiar.
papai como o salvador.
O que as feministas afirmavam que os
A versão batesoniana da cibernética afir- terapeutas não percebiam era que “o ‘caso fa-
mou que o controle pessoal nos sistemas era miliar’ arquetípico da mãe superenvolvida e do
impossível, porque todos os elementos estão pai periférico deve ser compreendido não como
continuamente se influenciando, em ciclos de um problema clínico, e sim como o produto de
feedback repetitivos. Se todas as partes de um um processo histórico que levou duzentos anos
sistema estão igualmente envolvidas em seus se desenvolvendo” (Goldner, 1985, p. 31). As
problemas, ninguém tem culpa. mães eram muito envolvidas e inseguras, não
Para as feministas, contudo, a noção de devido a falhas pessoais, mas por estarem em
responsabilidade igual pelos problemas soava, posições de isolamento emocional, dependên-
suspeitamente, como uma “versão sofisticada cia econômica, excessiva responsabilidade na
de culpar a vítima e racionalizar o status quo” família, posições essas que levavam à loucura.
(Goldner, 1985, p. 33). Esta crítica era parti- Os terapeutas sensíveis ao gênero tenta-
cularmente apropriada nos crimes contra as ram ajudar as famílias a se reorganizar de modo
mulheres, como espancamento, incesto e es- que ninguém, homem ou mulher, permaneces-
tupro, para os quais as teorias psicológicas por se aprisionado nessas posições. Em vez de des-
muito tempo foram usadas para sugerir que as truir a auto-estima de uma mãe, substituindo-
mulheres provocavam seu próprio abuso a por um pai periférico (que provavelmente
(James e MacKinnon, 1990). criticava o tempo todo a maternagem dela),
A constelação familiar mais comumente uma terapeuta familiar feminista poderia aju-
citada como se contribuísse para problemas era dar a família a reexaminar os papéis que man-
o pai periférico, a mãe muito envolvida e a tinham as mães em desgraça e os pais do lado
criança sintomática. Durante anos, os psicana- de fora. Os pais poderiam ser estimulados a se
listas culparam as mães pelos sintomas dos fi- envolver mais nos cuidados parentais – não
lhos. A contribuição da terapia familiar foi porque as mães são incompetentes, mas por-
mostrar como a falta de envolvimento do pai que esta é uma responsabilidade dos pais
contribuía para o grande envolvimento da mãe, (Goodrich, Rampage, Ellman e Halstead, 1988;
e os terapeutas familiares tentaram libertá-la Walters, Carter, Papp e Silverstein, 1988).
inserindo o pai no seu lugar. Isso não foi van- As feministas não apenas pediam aos
tajoso para as mulheres como poderia parecer, terapeutas que fossem mais sensíveis às ques-

Peggy Papp, Olga Silverstein, Marianne


Walters e Betty Carter, fundadoras do
Women’s Project in Family Therapy.
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tões de gênero. Na verdade, elas afirmavam tam homens menos machões como fracotes,
que estas questões ou, mais especificamente, o covardes ou medrosos. Apesar de muitos ho-
patriarcado, permeavam o trabalho dos terapeu- mens não se experienciarem como poderosos
tas, mesmo que eles tivessem sido condiciona- em sua família, eles ainda se beneficiam de ar-
dos a não percebê-las. Elas acreditavam, por- ranjos que lhes dão poder na sociedade. Como
tanto, que a desigualdade de gênero deveria diz Rachel Hare-Mustin: “Embora seja verda-
ser uma preocupação primária para os terapeu- de que os homens agora também podem cho-
tas familiares (Goldner, 1988; Luepnitz, 1988). rar, eles ainda têm menos pelo que chorar”.1
Somente quando nos tornarmos mais sen-
síveis ao gênero é que pararemos de culpar as
mães e esperar que elas façam todas as mu- CONSTRUCIONISMO SOCIAL
danças. Somente então seremos capazes de agir E A REVOLUÇÃO DA NARRATIVA
plenamente contra o viés inconsciente de ver a
mulher como fundamentalmente responsável O construtivismo foi a alavanca que con-
pela criação dos filhos e cuidado da casa; como seguiu afastar a terapia familiar da sua crença
tendo de apoiar a carreira do marido negligen- na objetividade – a suposição de que aquilo
ciando a sua; como precisando ser casada ou, que vemos nas famílias é o que existe nelas. A
no mínimo, ter um homem em sua vida experiência humana é fundamentalmente am-
(Anderson, 1995). Somente então deixaremos bígua. Fragmentos de experiência só são com-
de considerar traços masculinos tradicionais, preendidos por um processo que os organiza,
como racionalidade, independência e competi- seleciona o que é proeminente e atribui signi-
tividade, como padrões de saúde para elas, e ficado e importância.
deixaremos de desprezar ou ignorar traços tra- Em vez de focar padrões de interação fa-
dicionalmente encorajados nas mulheres, como miliar, o construtivismo passou a enfatizar a
ser emotiva, cuidar dos outros e ser focada em exploração e reavaliação das perspectivas que
relacionamentos. as pessoas com problemas têm em relação a
Como poderíamos antecipar, a crítica fe- eles. O significado em si passou a ser o princi-
minista de início não foi bem recebida pelo pal alvo.
estabelecimento de terapia familiar. A primei- Nas décadas de 1980 e 1990, Harlene
ra metade da década de 1980 foi um período Anderson e Harry Goolishian traduziram o
de polarização, em que as feministas tentaram construtivismo em uma abordagem que demo-
exceder o “limiar de surdez” do estabelecimen- cratizou o relacionamento terapeuta-cliente.
to. Na década de 1990, elas conseguiram isso. Juntamente com Lynn Hoffman e outros, es-
Os principais pontos feministas já não são ques- ses terapeutas colaborativos uniram-se em sua
tionados e o campo está evoluindo para uma oposição ao modelo cibernético e suas impli-
forma de terapia mais colaborativa e socialmen- cações mecanicistas. Sua versão de pós-moder-
te esclarecida. nismo focalizava mais cuidar do que curar, e
Para não corrermos o risco de uma com- eles tentaram levar o terapeuta, da posição de
placência excessiva quanto a essa aceitação do perito, para uma parceria mais igualitária com
feminismo por parte da terapia familiar, é im- os clientes.
portante lembrar que as mulheres ainda en- Talvez o exemplo mais notável dessa de-
frentam problemas políticos, econômicos e so- mocratização da terapia tenha sido introduzi-
ciais no seu dia a dia. As mulheres ainda ga- do pelo psiquiatra norueguês Tom Andersen,
nham menos do que os homens por seu traba- que deixou as coisas em pé de igualdade ao
lho. Ainda realizam a maior parte do trabalho não esconder nada de seus clientes. Ele e sua
doméstico. São responsabilizadas pelos proble- equipe discutiam abertamente suas reações ao
mas familiares. A violência dos homens contra que a família dizia. Essa equipe reflexiva
as mulheres ainda é tolerada por muitas famí- (Andersen, 1991) passou a ser muito utilizada
lias, por suas semelhantes e por forças cultu- na terapia por consenso do modelo colabora-
rais. Além do mais, embora alguns homens re- tivo. Observadores saem de sua posição por trás
sistam, o ideal masculino ainda influencia a do espelho de observação para discutir suas
maioria deles, que tentam ser “viris” e rejei- impressões com o terapeuta e a família. Esse
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processo cria um ambiente aberto em que a mas a terapia familiar sempre enfatizou o po-
família se sente parte de uma equipe, e a equi- der da interação. Como resultado, outra psico-
pe, sente maior empatia pela família. logia pós-moderna, chamada construcionismo
O que esses terapeutas colaborativos com- social, agora influencia muitos terapeutas fa-
partilhavam era a convicção de que, com fre- miliares. O psicólogo social Kenneth Gergen
qüência excessiva, os clientes não são ouvidos (1985), seu maior proponente, enfatizou o
porque os terapeutas estão fazendo terapia poder da interação social na criação de signifi-
para eles, e não com eles. Para reparar essa cado para as pessoas.
atitude autoritária, Harlene Anderson (1993, Gergen desafiou a noção de que somos
p. 325) recomenda que os terapeutas adotem indivíduos autônomos com crenças indepen-
uma posição de “não saber”, que leva a con- dentes e argumentou, ao invés, que as nossas
versas genuínas com os clientes, em que “tan- crenças são fluidas e flutuam de acordo com
to a perícia do terapeuta quanto a do cliente mudanças no nosso contexto social. Gergen
são empregadas para dissolver o problema”.2 (1991b, p. 28) pergunta: “Todos os fragmen-
Essa nova perspectiva seguiu a tradição tos de identidade não são resíduos de relacio-
de uma abordagem ao conhecimento que sur- namentos, e não sofremos contínuas transfor-
giu de estudos bíblicos chamada hermenêu- mações conforme passamos de um relaciona-
tica, um termo derivado da palavra grega para mento para outro?”.
interpretação. Antes de surgir na terapia fami- Essa visão tem várias implicações. A pri-
liar, a hermenêutica já tinha sacudido a psica- meira é que ninguém tem o monopólio da ver-
nálise. Na década de 1980, Donald Spence, Roy dade; todas as verdades são construções sociais.
Schafer e Paul Ricoeur contestaram a noção Essa idéia convida os terapeutas a ajudarem
freudiana de que havia uma interpretação cor- os clientes a compreenderem as origens de suas
reta e compreensiva dos sintomas, dos sonhos crenças, mesmo daquelas que eles supõem ser
e das fantasias do paciente. O método analíti- leis da natureza. A segunda implicação é que a
co não é, argumentaram eles, arqueológico ou terapia é um exercício lingüístico; se os terapeu-
reconstrutivo; é construtivo e sintético, orga- tas podem conduzir os clientes a novas cons-
nizando tudo o que está lá em padrões impos- truções de seus problemas, os problemas po-
tos (Mitchell, 1993). dem se tornar mais claros e acessíveis. Terceiro,
De uma perspectiva hermenêutica, o que a terapia deveria ser colaborativa. Já que nem
um terapeuta sabe não é simplesmente desco- o terapeuta nem o cliente possuem a verdade,
berto por um processo de associação livre e novas realidades emergem por meio de con-
análise – ou encenação e questionamento circu- versas em que ambos os lados apresentam opi-
lar –, é organizado, construído e montado pelo niões e respeitam a perspectiva um do outro.
terapeuta sozinho, ou colaborativamente com O construcionismo social foi recebido de
o paciente ou a família. Embora não haja nada braços abertos por aqueles que estavam ten-
de inerentemente democrático na exegese her- tando mudar o foco da terapia, da ação para a
menêutica, seu desafio ao essencialismo possuía cognição, e tornou-se a base de uma aborda-
estreita ligação com o desafio ao autoritarismo. gem que tomou de assalto a terapia familiar
Na terapia familiar, a tradição hermenêutica na década de 1990, a terapia narrativa (Capí-
parecia uma parceira perfeita para a tentativa tulo 13). A metáfora narrativa examina como
de tornar o tratamento mais colaborativo. a experiência gera expectativas e como as ex-
É difícil desistir da certeza. É pedir muito pectativas moldam a experiência pela criação
a um ouvinte que, para estar de fato aberto à de histórias organizadoras. Os terapeutas nar-
história de quem fala, deixe de lado suas pró- rativos seguem Gergen ao considerar o self
prias crenças e, pelo menos temporariamente, como um fenômeno socialmente construído.
entre no mundo do outro. Ao fazer isso, o ou- A pergunta para o terapeuta narrativo não
vinte pode descobrir que aquelas crenças foram é sobre a verdade, mas uma pergunta que bus-
desafiadas e modificadas. Isso é mais do que ca determinar que pontos de vista são provei-
alguns terapeutas estão dispostos a arriscar. tosos e levam a resultados preferíveis. Os pro-
O construtivismo concentrou-se em como blemas não estão nas pessoas (como a psica-
os indivíduos criavam sua própria realidade, nálise dizia) ou nos relacionamentos (como a
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teoria sistêmica afirmava); de fato, os proble- abusadores do sexo masculino (95%), o nú-
mas estão inseridos em pontos de vista relati- mero de mulheres abusadas anualmente pelos
vos aos indivíduos e suas situações. A terapia homens com os quais vivem (1 em 6), a por-
narrativa ajuda as pessoas a reexaminar esses centagem de universitários do sexo masculino
pontos de vista. que impuseram relações sexuais a uma parcei-
ra relutante ou contra a sua vontade (25%) e
os que disseram que cometeriam estupro se ti-
A RESPOSTA DA TERAPIA FAMILIAR vessem certeza de que não seriam punidos por
AO GERENCIAMENTO DE SAÚDE: isso (20%). Depois de acusar as teorias que
TERAPIA FOCADA NA SOLUÇÃO defendem a neutralidade do terapeuta e tra-
tam a pessoa abusada como parcialmente res-
A terapia focada na solução foi outro ponsável por seu abuso, ela concluiu que:
modelo novo que se destacou nos anos de
1990. Steve de Shazer e seus colegas (Capítu- Enquanto treinarmos os terapeutas na teoria
lo 12) levaram as idéias do construtivismo em sistêmica sem equilibrar esse treinamento com
uma direção diferente, mais pragmática. O um entendimento da não-neutralidade da di-
objetivo dessa abordagem é conseguir que os nâmica do poder, continuaremos produzindo
clientes passem da “fala sobre os problemas” – terapeutas familiares que são coniventes com
tentar compreender seus problemas – à “fala a manutenção do poder masculino e são peri-
sobre as soluções” – focalizar o que está fun- gosos para as mulheres e crianças com os quais
trabalham.
cionando – o mais rápido possível. A idéia é
que focar soluções, em e por si próprias, geral-
mente elimina os problemas. Michele Bograd (1992, p. 248, 249) re-
A popularidade do modelo focado na so- sumiu uma das dificuldades centrais na tera-
lução explodiu durante um período em que os pia familiar nesta década:
orçamentos das instituições tinham sofrido
cortes e o sistema de saúde do país, que cha- Ao trabalhar com violência familiar, como
maremos de gerenciamento de saúde, deter- equilibrar uma visão de mundo relativista com
minava o número de sessões pelas quais os pro- valores referentes à segurança humana e aos
fissionais seriam reembolsados. Isso produziu direitos de homens e mulheres de autodeter-
a tremenda demanda de uma abordagem bre- minação e proteção? Quando a utilidade clí-
ve, fácil de aplicar, para a qual a terapia focada nica da neutralidade torna-se limitada ou con-
na solução parecia ser a resposta perfeita. traprodutiva? Quando a condenação é essen-
cial ao processo de mudança?

VIOLÊNCIA FAMILIAR A visão sistêmica, agora sob ataque, era


de que a violência familiar resultava de ciclos
No início da década de 1990, a terapia de mútua provocação, uma escalação, embora
familiar lançou um olhar rigoroso para o lado inaceitável, do comportamento emocionalmen-
sombrio da vida familiar. Pela primeira vez, li- te destrutivo que caracteriza muitos casamen-
vros e artigos sobre espancamento da mulher tos. Defensores das mulheres rejeitaram esse
e abuso sexual começaram a aparecer na lite- ponto de vista. De sua perspectiva, os homens
ratura sobre terapia familiar (por exemplo, violentos não perdem o controle, eles o assu-
Trepper e Barrett, 1989; Goldner, Sheinberg e mem – e só pararão quando forem responsabi-
Walker, 1990; Sheinberg, 1992). O campo foi lizados por isso.
sacudido de sua negação coletiva referente à Apesar de a afirmação de algumas defen-
extensão do abuso que as mulheres sofriam por soras das mulheres de que a terapia de casal
parte dos homens nas famílias. não tem lugar no tratamento de casamentos
Judith Myers Avis (1992, p.231) apresen- violentos ser controversa, suas advertências
tou estatísticas chocantes sobre o número de foram um grito de alerta. A violência domésti-
mulheres que haviam sofrido abuso sexual an- ca – vamos dizer claramente o que ela é, bater
tes dos 18 anos (37%), a percentagem de na mulher e bater nos filhos – é um problema
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de saúde pública muito grave, no nível do al- O multiculturalismo tornou-se um tema
coolismo e da depressão. prevalente na terapia familiar, como se pode
ver pelas questões tratadas em conferências,
artigos de jornais e currículos universitários. A
MULTICULTURALISMO atenção a essas questões representa uma bem-
vinda sensibilidade à influência da etnicidade.
A terapia familiar sempre se anunciou O multiculturalismo é, certamente, um
como um tratamento de pessoas em um con- avanço em relação ao etnocentrismo. No en-
texto. Na América pós-guerra do nascimento tanto, ao salientar diferenças, existe o perigo
da terapia familiar, este princípio traduzia-se de enfatizarmos em demasia políticas de iden-
em um olhar pragmático para a influência dos tidade. A segregação, mesmo em nome do or-
relacionamentos familiares sobre seus mem- gulho étnico, isola as pessoas e cria preconcei-
bros. Agora, conforme nos tornamos um país tos. Talvez pluralismo seja um termo melhor
mais diversificado, enriquecido por um fluxo do que multiculturalismo, pois sugere maior
de imigrantes da Ásia, América Central e do equilíbrio entre identidade étnica e conexão
Sul, África e Europa Oriental, a terapia familiar com o grupo mais amplo.
como profissão demonstra estar disposta a Conforme sugerimos no Capítulo 4, a sensi-
abraçar esse influxo de diversidade. Não só bilidade étnica não requer que nos tornemos
estamos aprendendo a respeitar que as famí- especialistas – ou que assim nos consideremos –
lias de outras culturas têm sua maneira pró- naquelas culturas com as quais é possível que
pria e válida de fazer as coisas, como nossos trabalhemos um dia. Se você não sabe como
jornais e nossas organizações profissionais tam- uma família mexicana do interior se sente em
bém estão se esforçando para se tornarem mais relação aos filhos saindo de casa ou o que pais
diversos e inclusivos. coreanos acham de sua filha adolescente na-
Monica McGoldrick e colaboradores morar garotos estadunidenses, você sempre
(McGoldrick, Pearce e Giordano, 1982) deram pode perguntar.
o primeiro golpe em nosso etnocentrismo com
um livro que descrevia valores e estruturas ca-
racterísticos de vários grupos étnicos diferen- RAÇA
tes. Depois desse e de uma enxurrada de traba-
lhos relacionados (por exemplo, Falicov, 1983, Nos primeiros dias da terapia familiar, as
1998; Boyd-Franklin, 1989; Saba, Karrer e Hardy, famílias afro-americanas receberam alguma
1989; Mirkin, 1990; Ingoldsby e Smith, 1995; atenção (por exemplo, Minuchin et al., 1967),
Okun, 1996; McGoldrick, 1998), nós estamos mas, por muitos anos, parecia que o campo,
mais sensíveis à necessidade de saber alguma assim como o restante do país, tentava ignorar
coisa sobre o background étnico das famílias que as pessoas negras e o racismo com o qual elas
atendemos, de modo a não supor que eles estão conviviam todos os dias. No entanto, finalmen-
doentes simplesmente porque são diferentes. te, terapeutas familiares afro-americanos como
Nancy Boyd-Franklin (1993) e Ken Hardy
(1993) tiraram essas questões das sombras e
obrigaram o campo a reconhecê-las.
Embora os terapeutas ainda tenham a
opção, evidentemente, de se distanciar dessas
questões, as pessoas negras não podem se dar
a esse luxo (Hardy, 1993, p. 52-53):

Para evitar sermos vistos pelos brancos como


criadores de problemas, suprimimos aquela
B lack families in therapy, de parte de nós que se sente magoada e indigna-
Nancy Boyd-Franklin, foi um da pelo racismo que nos cerca, e desenvolve-
dos primeiros – e melhores – mos um “self institucional” – uma fachada de
livros sobre o tratamento de acomodação de calmo profissionalismo, cal-
famílias de minorias étnicas. culada para ser não-ameaçadora para os bran-
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cos... Conhecendo apenas os nossos selves lizações, como também a frustração e o deses-
institucionais, as pessoas brancas não apre- pero que tais obstáculos criam.
ciam o senso de conexão imediato e a silen- A tarefa dos terapeutas que trabalham
ciosa lealdade que une as pessoas negras... Nós com famílias não-brancas é compreender sua
somos unidos por sermos criados com as mes-
relutância em se engajar no tratamento (prin-
mas mensagens que a maioria das famílias
negras transmite aos seus filhos: “Vocês nas-
cipalmente se o terapeuta for branco) no con-
ceram em um dos grupos mais desprezados texto de seu ambiente e de sua história de
do mundo. Vocês não podem confiar nos bran- interação negativa com pessoas brancas, in-
cos. Vocês são alguém. Tenham orgulho e ja- cluindo muitos dos funcionários de agências
mais, nem por um minuto, pensem que as de serviços sociais que conheceram. Além dis-
pessoas brancas são melhores do que vocês”. so, o terapeuta precisa reconhecer as forças da
família e recrutar suas redes de apoio, ou ajudá-
Laura Markowitz (1993, p. 29) cita a ex- la a criá-las se a família for isolada.
periência de terapia de uma mulher negra: Finalmente, os terapeutas precisam olhar
para dentro de si mesmos e encarar as pró-
Lembro que fiz terapia há alguns anos com prias atitudes em relação à raça, classe e po-
uma mulher branca e bondosa que tinha como breza. Para isso, vários autores recomendam uma
foco descobrir por que eu era uma pessoa tão formação que vá além de preleções e inclua um
zangada, e os meus pais, indivíduos tão ina- encontro pessoal – isto é, confrontar nossos pró-
dequados [...] Nós nunca olhamos para o meu
prios demônios de racismo (Pinderhughes, 1989;
pai como um homem negro e pobre, para a
minha mãe como uma mulher negra e pobre, Boyd-Franklin, 1989; Green, 1998).
e para o contexto em que eles sobreviveram e
nos criaram [...] Anos depois, fiz terapia com
uma mulher negra, e a primeira coisa que saiu POBREZA E CLASSE SOCIAL
de sua boca foi: “Vamos examinar o que os
seus pais vivenciaram”. Foi um momento mui- Dinheiro e classe social não são assuntos
to feliz aquele em que pude ver meu pai não que a maioria dos profissionais de ajuda gosta
como uma pessoa terrível que nos odiava, mas de discutir. A vergonha da desvantagem eco-
como um sobrevivente que enfrentou condi- nômica está relacionada à difundida ética in-
ções incrivelmente difíceis. Eu consegui abra-
dividualista de que as pessoas são responsá-
çá-lo e pude entender a minha raiva, em vez
de me culpar por aquele sentimento.
veis por seu próprio sucesso ou falta dele. Se
você é pobre, a culpa deve ser sua.
É difícil para os brancos perceber quantas Apesar da redução de honorários provoca-
portas se abriram para eles com base na cor da da pelo gerenciamento de saúde, a maioria dos
sua pele, e entender como as pessoas não-bran- terapeutas consegue manter um estilo de vida
cas são oprimidas pelo racismo. Famílias afro- razoavelmente confortável. Em geral não ava-
americanas precisam superar não só muitas liam bem os obstáculos que seus clientes po-
barreiras para ter acesso a oportunidades e rea- bres enfrentam e o impacto psicológico dessas
condições. Quando clientes pobres não com-
parecem à sessão ou não seguem diretivas, al-
guns terapeutas logo os vêem como desinte-
ressados ou irresponsáveis. Em muitos casos, é
assim que as pessoas pobres passam a se ver –
e essa auto-imagem negativa pode se tornar o
maior obstáculo de todos.
Como podemos nos opor a essa tendên-
cia de pensar que as pessoas pobres simples-
Ken Hardy aconselha os mente não conseguem dar conta? Primeiro, os
terapeutas precisam instruir-se sobre as reali-
terapeutas a não ignorarem
o impacto do racismo em dades sociais e políticas de ser pobre nos Esta-
seus clientes – ou no dos Unidos. Recentemente, a jornalista investi-
relacionamento terapêutico. gativa Barbara Ehrenreich (1999, p. 52) pas-
TERAPIA FAMILIAR 291

C lientes não-brancos podem sentir que os


terapeutas brancos não serão capazes de
compreender totalmente suas experiências.

sou um ano tentando viver como uma ex- Nos dias de hoje, não são apenas as famí-
beneficiária da assistência social de volta à for- lias pobres que vivem com insegurança finan-
ça de trabalho. Ela morou em um estaciona- ceira. Conforme aumentam as hipotecas, os
mento de trailers e trabalhou como garçonete. pagamentos de carros e as mensalidades esco-
Depois de pagar suas despesas, não lhe sobra- lares, e as empresas demitem empregados sú-
va praticamente nem um centavo. bita e implacavelmente, a vida familiar em to-
dos os níveis, fora o mais rico, cada vez é mais
De que maneira ex-beneficiárias da assistên- dominada pela ansiedade econômica. A renda
cia social e mães solteiras sobreviverão (e so- média familiar diminuiu nas duas últimas dé-
brevivem) na força de trabalho de baixos sa- cadas a ponto de as famílias jovens não espe-
lários, não consigo imaginar. Talvez elas con- rarem se sair tão bem quanto seus pais, mes-
sigam dar um jeito de condensar suas vidas –
mo com os dois salários necessários para sus-
incluindo criação dos filhos, lavar e passar rou-
pa, romance e refeições – nas poucas horas
tentar um padrão de vida bastante modesto
entre seus empregos de tempo integral. Tal- (Rubin, 1994).
vez elas possam morar em seus carros [como Os terapeutas não podem pagar o aluguel
ela descobriu que muitas de suas colegas fa- de seus clientes, mas podem ajudá-los a ava-
ziam], se tiverem um. Tudo o que sei é que liar que as dificuldades que enfrentam não fo-
não consegui manter dois empregos e ganhar ram todas criadas por eles. Mesmo quando não
dinheiro suficiente para me sustentar com ape- mencionam o assunto, um terapeuta sensível
nas um. Eu tinha vantagens impensáveis para deve estar ciente do papel que as pressões fi-
muitas das pessoas pobres – saúde, coragem, nanceiras desempenham na vida das famílias.
um carro que funcionava e nenhuma criança Perguntar como eles estão se virando nessa área
para cuidar ou sustentar [...] O pensamento
não só coloca na mesa essa questão, como pode
por trás da reforma da assistência social era
de que mesmo o mais humilde dos empregos também conduzir a uma maior apreciação do
é moralmente animador e psicologicamente esforço e engenho necessários para viver den-
sustentador. Na realidade, é provável que es- tro do seu orçamento.
ses empregos estejam repletos de insultos e
estresse.
DIREITOS DE GAYS E LÉSBICAS
O fato é: esta não é a terra das oportuni-
dades iguais. A economia criou disparidades A terapia familiar passou a ter maior cons-
que tornam demasiado difícil para qualquer ciência dos direitos dos gays e das lésbicas, as-
pessoa sair da pobreza e mantêm quase uma sim como aconteceu em relação à raça. Após
em quatro crianças vivendo em privação um longo período de negligência e negação, a
(Walsh, 1998). terapia familiar, no final da década de 1980,
292 MICHAEL P. NICHOLS

começou a enfrentar a discriminação que uma tas desigualdades. Por exemplo, gays e lésbi-
considerável percentagem da população sofre cas com freqüência criam “famílias de escolha”
(Krestan, 1988; Roth e Murphy, 1986; Carl, em sua rede de amigos (Johnson e Keren,
1990; Laird, 1993; Sanders, 1993). O lança- 1998). Conforme sugeriu Joan Laird (1993,
mento, em 1996, de um importante texto clí- p.284), essas famílias têm muito a nos ensinar
nico (Laird e Green, 1996) e da revista In the “sobre relacionamentos de gênero, sobre pa-
family (editada por Laura Markowitz) signifi- ternidade e maternidade, sobre adaptação a
cou que as questões envolvendo gays e lésbicas tensões nesta sociedade e, em especial, sobre
finalmente tinham saído do armário da tera- força e resiliência”. A pergunta é se estamos
pia familiar. prontos para aprender.
Apesar de a tolerância estar maior em
alguns segmentos da nossa sociedade, os gays
e as lésbicas continuam sofrendo humilhações, ESPIRITUALIDADE
discriminação e, inclusive, violência por cau-
sa de sua sexualidade. Após uma infância de Durante o século XX, os psicoterapeutas,
vergonha e confusão, muitos gays e lésbicas querendo evitar qualquer associação com o que
são rejeitados por suas famílias depois que se a ciência considera irracional, tentaram man-
revelam. Devido à falta de apoio social, os la- ter a religião fora do consultório. Também ten-
ços em seus relacionamentos podem sofrer as tamos permanecer fora de empreendimentos
pressões do isolamento, o que gera estresse e moralizadores, lutando para continuar neutros
ciúme. para que os clientes pudessem tomar suas pró-
Os pais costumam se sentir culpados, em prias decisões de vida.
parte porque os primeiros estudos psicanalíti- Contudo, na virada do século XXI, quan-
cos os culpavam pela orientação sexual dos fi- do cada vez mais pessoas acham a vida moder-
lhos. As reações parentais variam de negação, na solitária e vazia, a espiritualidade e a reli-
autocensura e medo pelo futuro dos filhos à gião surgem como antídotos para um dissemi-
hostilidade, violência e repúdio (LaSala, 1997). nado sentimento de alienação – tanto na im-
Os terapeutas devem lembrar que, embora as prensa popular (foi capa de revistas como Time
crianças gays ou lésbicas possam ter lutado por e Newsweek) quanto na literatura sobre terapia
anos para chegar a um acordo com sua identi- familiar (Brothers, 1992; Burton, 1992; Prest
dade, seus pais talvez precisem de tempo para e Keller, 1993; Doherty, 1996; Walsh, 1999).
alcançá-los após o choque inicial. Algumas das mais poderosas crenças
No trabalho com clientes gays, lésbicas, organizadoras de uma família têm a ver com
bissexuais e transexuais, recomendamos que como eles encontram significado em suas vi-
o terapeuta obtenha o máximo possível de in- das e com suas idéias sobre um poder supe-
formações sobre as questões excepcionais de rior. No entanto, a maioria dos terapeutas nun-
formação de identidade e relacionamento que ca pergunta sobre essas questões. É possível
esses grupos enfrentam. Os terapeutas que não explorar as crenças espirituais da família sem
estiverem bem informados sobre a experiên- fazer proselitismo e sem zombaria? Mais e mais
cia de ser gay ou lésbica precisam buscar su- terapeutas acreditam que isso não apenas é
pervisão com alguém que esteja, ou encami- possível, como também é crucial. Eles acredi-
nhar esses clientes a um terapeuta com maior tam que as respostas das pessoas a essas ques-
experiência. Não é verdade que indivíduos e tões maiores estão intimamente relacionadas
famílias, independentemente de seu contexto à sua saúde emocional e física.
cultural, todos lutam com as mesmas questões.
Esperamos que logo chegue o dia em que
famílias de gays e lésbicas, bissexuais e transe- ADAPTANDO O TRATAMENTO ÀS
xuais, afro-americanos e outros grupos margi- POPULAÇÕES E AOS PROBLEMAS
nalizados sejam estudados por terapeutas fa-
miliares para aprender não só sobre os proble- Recentemente, os terapeutas familiares
mas que enfrentam, mas também sobre como desceram das torres de marfim de seus institu-
sobrevivem e seguem em frente apesar de tan- tos de formação para se atracar com a confu-
TERAPIA FAMILIAR 293
são dos problemas do mundo real. Eles sen- lias que estão de luto por uma morte (Walsh e
tem, cada vez mais, que é preciso adaptar suas McGoldrick, 1991), têm um filho com alguma
abordagens às necessidades de seus clientes, e deficiência (Seligman e Darling, 1996) ou um
não o contrário. A terapia familiar mais madu- filho adotado (Reitz e Watson, 1992); famílias
ra se reflete na literatura. Outrora, a maioria pobres (Minuchin, Colapinto e Minuchin, 1998)
dos textos era sobre os modelos clássicos e e famílias de diferentes etnicidades (Boyd-
como eles se aplicavam às famílias em geral Franklin, 1989; Okun, 1996; McGoldrick,
(por exemplo, Haley, 1976; Minuchin e Giordano e Pearce, 1996; Lee, 1997; Falicov,
Fishman, 1981). Começando na década de 1998). Também há vários livros sobre como
1980, livros não mais ligados a alguma escola tratar famílias de gays e lésbicas (por exem-
começaram a tratar de como fazer terapia fa- plo, Laird e Green, 1996; Greenan e Tunnell,
miliar em uma série de problemas e constela- 2003).
ções familiares específicas. Além desses livros especializados, o cam-
Atualmente existem livros sobre como tra- po ampliou seu escopo e estendeu o pensamen-
balhar com famílias de pessoas que abusam de to sistêmico além da família, incluindo o im-
drogas (Stanton, Todd e Associados, 1982; Barth, pacto de sistemas mais amplos, como outros
Pietrzak e Ramier, 1993), álcool (Steinglass, agentes de ajuda, agências sociais e escolas
Bennett, Wolin e Reiss, 1987; Treadway, 1989; (Schwartzman, 1985; Imber-Black, 1988; Elizur
Elkin, 1990), alimentos (Root, Fallon e Friedrich, e Minuchin, 1989), a importância dos rituais
1986; Schwartz, 1995) e de familiares (Trepper familiares e seu uso na terapia (Imber-Black,
e Barrett, 1989; Friedrich, 1990; Madanes, Roberts e Whiting, 1988) e o contexto sociopo-
1990). lítico em que as famílias vivem (Mirkin, 1990;
Há livros sobre tratamento de famílias de McGoldrick, 1998).
mães sozinhas (Morawetz e Walker, 1984), fa- Há guias práticos de terapia familiar não-
mílias no segundo casamento (Visher e Visher, ligados a nenhuma escola específica (Taibbi,
1979, 1988), famílias que estão se divorcian- 1996; Patterson, Williams, Graul-Grounds e
do (Sprenkle, 1985; Wallerstein e Kelley, 1980; Chamow, 1998) e livros que incluem contri-
Ahrons e Rogers, 1989; Emery, 1994), famí- buições de todas as escolas, mas são focados
lias mistas (Hansen, 1982; Sager et al., 1983) em problemas ou casos específicos (Dattilio,
e famílias em transição entre esses estados 1998; Donovan, 1999). Diferentemente dos
(Pittman, 1987; Falicov, 1988). primeiros dias da terapia familiar, em que os
Também há livros sobre tratamento de seguidores de um modelo particular liam mui-
famílias com filhos pequenos (Combrinck- to pouco fora do que vinha daquela escola, a
Graham, 1989; Wachtel, 1994; Gil, 1994; tendência no sentido da especialização por
Freeman, Epston e Lobovits, 1997; Selekman, conteúdo, e não por modelo, tornou o campo
1997; Smith e Nylund, 1997; Bailey, 1999; mais pluralista nesta era pós-moderna.
Nichols, 2004), adolescentes problemáticos Entre as constelações familiares que apre-
(Price, 1996; Micucci, 1998; Sells, 1998) e jo- sentam desafios especiais mais freqüentemen-
vens adultos problemáticos (Haley, 1980), e te encontradas estão as famílias monoparen-
famílias com problemas entre irmãos (Kahn e tais, famílias afro-americanas e famílias de gays
Lewis, 1988). Há, inclusive, livros sobre famí- e lésbicas. As seguintes recomendações são ofe-
lias normais (Walsh, 1982, 1993) e “famílias recidas apenas como uma introdução a algu-
bem-sucedidas” (Beavers e Hampson, 1990). mas das questões encontradas no tratamento
Há livros sobre como trabalhar com fa- desses grupos.
mílias de esquizofrênicos (Anderson, Reiss e
Hogarty, 1986), famílias com transtorno bipo-
lar (Miklowitz e Goldstein, 1997) e famílias Famílias monoparentais
com AIDS (Walker, 1991; Boyd-Franklin,
Steiner e Boland, 1995); famílias que sofre- O problema estrutural mais comum nas
ram traumas (Figley, 1985), apresentam doen- famílias monoparentais é o mesmo da maioria
ças ou limitações crônicas (Rolland, 1994; das famílias com pai e mãe: uma mãe sobrecar-
McDaniel, Hepworth e Doherty, 1992); famí- regada, emaranhada com os filhos e desligada
294 MICHAEL P. NICHOLS

de relacionamentos adultos. Dessa perspecti- deixam muitas mães estressadas e, freqüente-


va, o objetivo da terapia é fortalecer a posição mente, deprimidas.
hierárquica da mãe em relação aos filhos e A pobreza pode ser a carga mais esmaga-
ajudá-la a se realizar mais plenamente em sua dora para as mães sozinhas e seus filhos
própria vida como mulher. Entretanto, é im- (Duncan e Brooks-Gunn, 1997). Os terapeutas
portante lembrar que as mães sozinhas em ge- não devem subestimar o impacto da pobreza
ral são sobrecarregadas e raramente têm os sobre a depressão, auto-estima e independên-
recursos para manter uma vida social depois cia da mãe e sobre as decisões que ela precisa
de trabalhar o dia inteiro e voltar para casa à tomar em empregos extenuantes e relaciona-
noite para tomar conta dos filhos, fazer o jan- mentos abusivos. Muitas famílias chefiadas pela
tar, arrumar a cozinha e lavar e passar tonela- mãe vivem à beira de uma crise, conseguindo
das de roupas. dar conta na maior parte do tempo, mas sem-
Antes de prosseguir, devemos reconhecer pre conscientes de que qualquer emergência
que as famílias monoparentais assumem va- inesperada pode empurrá-las para o outro lado.
riadas formas (U.S. Census Bureau, 2001). Os Um terapeuta apoiador reconhece o peso das
filhos podem estar vivendo com uma mãe ado- dificuldades financeiras, adapta-se aos horá-
lescente e seus pais, uma professora universi- rios de trabalho da mãe e, em alguns casos, a
tária divorciada ou um pai cuja esposa morreu ajuda a considerar opções, como voltar a estu-
de câncer. Essas famílias podem ser ricas ou dar, que poderiam lhe dar maior estabilidade
pobres e estar isoladas ou pertencer a uma financeira.
grande rede familiar. Na discussão a seguir, fo- Via de regra, uma das fontes de apoio mais
calizaremos a variante mais comum encontra- prontamente disponíveis para a mãe sozinha é
da em situações clínicas: uma mãe financeira- a sua própria família. Aqui, a tarefa terapêuti-
mente sobrecarregada, com filhos, que enfrenta ca é dupla: facilitar conexões apoiadoras e re-
tudo sozinha. duzir conflitos. Às vezes, por falar no assunto,
Ao trabalhar com famílias monoparen- é mais fácil desenvolver fontes latentes de apoio
tais, os terapeutas precisam manter em men- do que resolver conflitos com as já existentes.
te que apoiar sua maternagem e ajudá-la a A irmã que mora a uns 30 km de distância tal-
encontrar maior satisfação em sua própria vez esteja mais disposta a cuidar dos sobrinhos
vida são realizações recíprocas. O terapeuta de vez em quando do que a mãe deprimida
deve entrar no sistema tratando da queixa pensa. A família da mãe pode fornecer auxílio
apresentada, mas, independentemente de o financeiro, um lugar para ficar e ajuda com as
problema ser a depressão da mãe ou o mau crianças. Entretanto, como a maioria dos pais
desempenho escolar de um filho, na maioria tem dificuldade em deixar de tratar seus filhos
dos casos é importante trabalhar tanto para adultos como crianças – em especial quando
ajudar a mãe a cuidar mais efetivamente dos eles pedem ajuda –, o terapeuta talvez precise
filhos quanto para aumentar seus recursos conversar com os avós, criar uma aliança com
externos de apoio. eles e depois ajudá-los a negociar com a filha
O tratamento efetivo para uma mãe sozi- adulta um relacionamento que funcione bem.
nha começa com um relacionamento terapêu- Muitas famílias de mães jovens têm uma
tico ativamente apoiador. Um relacionamento dificuldade especial de apoiar a manutenção
terapêutico empático ajuda a fortalecer a con- do envolvimento com o pai do bebê (Johnson,
fiança da mãe de que ela pode fazer mudanças 2001). A família tem ressentimento em rela-
positivas e, mais tarde, serve como uma ponte ção a ele e pode até considerá-lo um inimigo.
para ajudá-la a se conectar com pessoas apoia- Se esses sentimentos compreensíveis forem tra-
doras de seu ambiente. Para começar, convém tados com respeito, a família pode ser ajudada
reconhecer que as mães sozinhas, muitas ve- a apoiar o envolvimento do pai.
zes, estão zangadas e desapontadas com a per- Facilitar o envolvimento do pai adolescen-
da de um relacionamento, dificuldades finan- te é algo que merece uma atenção especial por
ceiras, e estão tentando lidar com as deman- ser tão importante e tão desafiador (Lehr e
das do trabalho e dos filhos. Essas demandas MacMillan, 2001). Já que é relativamente fácil
TERAPIA FAMILIAR 295
ele ser ignorado e abandonar o contato com a
criança, é importante buscá-lo, estabelecer Estudo de caso
rapport e incentivá-lo a se tornar um pai res-
Elana Santos contatou a clínica porque seu filho Tony, de 10
ponsável. O terapeuta pode facilitar esse pro-
anos, estava deprimido. “Ele está tendo dificuldade em supe-
cesso ajudando a mãe e sua família a perceber rar o meu divórcio”, disse ela, “e acho que sente falta do pai”.
que a manutenção do contato com o pai é um Após duas sessões, a terapeuta determinou que Tony não
benefício para a criança. estava deprimido e, embora realmente sentisse falta do pai,
Quando os conflitos intergeracionais fo- era a mãe que não tinha superado o divórcio. Tony realmente
rem minimizados, esse contato poderá ser uma deixara de brincar com os amigos depois da escola; entretan-
rica fonte de apoio. Os avós poderão ter maior to, era a sua preocupação com a mãe, que se tornara amarga e
intimidade com os netos; as mães terão uma retraída, e não uma depressão, o que o mantinha em casa.
folga, sabendo que seus filhos estão sendo cui- A formulação da terapeuta foi de que a Sra. Santos
dados por membros da família que os amam, e estava emaranhada com o filho, e ambos estavam desliga-
as crianças poderão ter uma variedade de con- dos de contatos fora da família. A terapeuta disse à Sra. San-
tos que seu filho estava triste porque estava preocupado com
tatos adultos, além de relacionamentos de tipo
ela. Ela não parecia estar seguindo em frente com a sua vida,
fraternal com os primos. e Tony se sacrificava para ser seu protetor. “Você precisa que
Apontar essas possíveis fontes de assis- seu filho seja o seu protetor?” perguntou a terapeuta. “Não”,
tência para as mães sozinhas não deve ser en- insistiu a Sra. Santos. “Então, eu acho que você precisa de-
tendido como uma sugestão de que a única fun- miti-lo desse cargo. Será que você pode convencer o Tony
ção, ou a principal, do terapeuta familiar é o de que ele não precisa tomar conta de você, de que ele pode
aconselhamento de apoio. A maioria das famí- passar um tempo com seus amigos e que você ficará bem?”
lias, monoparentais ou não, busca os serviços A Sra. Santos realmente “demitiu” o filho do emprego
clínicos por estarem presas em conflitos – psi- de ser seu anjo de guarda. A terapeuta, então, sugeriu que
cológicos, interpessoais, ou ambos. Ao traba- Tony se envolvesse mais nas atividades escolares posterio-
res às aulas para fazer novos amigos. “Quem sabe”, disse a
lhar com mães sozinhas, a tarefa mais impor-
terapeuta, “se o Tony começar a fazer amigos, você tenha
tante do terapeuta é identificar e ajudar a re- tempo para fazer a mesma coisa”.
solver os obstáculos que estão impedindo as A única pessoa que poderia ajudar a tomar conta de
clientes de aproveitarem seus recursos pessoais Tony para que ela pudesse ter mais tempo para si mesma,
e interpessoais. segundo a Sra. Santos, era o pai do menino, e ele era “com-
Às vezes, o conflito mais significativo nas pletamente indisponível”. Em vez de aceitar ao pé da letra
famílias chefiadas pela mãe não está visível: é essa declaração, a terapeuta expressou surpresa “por um pai
o potencial envolvimento do pai das crianças, não se importar nem um pouco com seu filho”. Quando a
que, não raramente, é descrito como “fora de Sra. Santos insistiu que seu ex-marido não estaria disposto a
cena”. Ele pode estar fora de cena, mas, na passar um tempo com Tony, a terapeuta pediu permissão
maioria dos casos, não deveria estar.3 (Os para telefonar para ele.
Quando a terapeuta disse ao Sr. Santos que estava
terapeutas familiares jamais devem deixar o
preocupada com seu filho e achava que o menino precisava
pai fora da equação.) Alguns desses homens que o pai participasse mais da sua vida, o Sr. Santos pareceu
são pais carinhosos que gostariam de se envol- responsivo. Então, a terapeuta escutou alguém falando ao
ver na vida dos filhos. Mesmo pais invisíveis fundo, e o Sr. Santos começou a recuar.
ou indisponíveis podem desejar maior contato O que começara como um problema firmemente in-
e estar dispostos a assumir maior responsabili- serido na cabeça de uma pessoa (“É o meu filho, ele está
dade por amor aos filhos. O terapeuta deve deprimido”) acabou envolvendo não apenas a interação en-
pensar em contatar o pai que não tem a custó- tre o menino e a mãe, mas também uma complicação trian-
dia para avaliar sua potencial contribuição para gular em que a namorada do pai objetava o seu envolvimento
o sustento emocional e financeiro dos filhos. porque não queria “que aquela cadela da ex-mulher tirasse
vantagem dele”. O que se seguiu foi uma série de encontros
Aqui, também, os triângulos podem com-
com o pai e a namorada, o pai e a mãe, o pai e o filho e, por
plicar o quadro. Em um esforço para conquistar fim, os quatro juntos – em que a terapeuta concentrou-se em
a simpatia da parceira (e às vezes por ciúme ajudá-los a esclarecer as coisas, verbalizando sentimentos de
inconsciente), um novo parceiro pode atiçar as rancor que os impediam de agir colaborativamente.
chamas do conflito com o pai que não tem a A namorada do pai cometera o mesmo erro que mui-
custódia, o que apenas reforça o rompimento. tos de nós cometem quando uma pessoa que amamos se
296 MICHAEL P. NICHOLS

queixa do tratamento que recebe de alguém. Em resposta às Parceiros que moram com as mães – que
queixas dele sobre os telefonemas zangados da ex-mulher, não devem ser ignorados, tanto quanto os pais
ela o incentivou a não ter mais nada a ver com ela. Em res- biológicos – constituem fontes adicionais de
posta a esses sentimentos, e à raiva e indignação da Sra. apoio – e de conflito. Muitos competem com as
Santos, a terapeuta os ajudou a compreender uma importan-
crianças pelo tempo e pela atenção da mãe. Al-
te distinção entre dois subsistemas em um divórcio. O pri-
meiro (o casal) estava morto e deveria ser enterrado; o se-
guns solapam a autoridade da mãe e o estabele-
gundo (os pais) ainda precisava encontrar uma maneira de cimento de regras, enquanto outros tentam im-
cooperar, no interesse da criança. “Enterrar” o relacionamen- por as próprias regras, geralmente mais rígidas,
to do casal divorciado, nesse caso, foi facilitado pela oportu- criando um triângulo em que a mãe é obrigada
nidade que a Sra. Santos teve de verbalizar sua amargura e a escolher um lado, ou o do namorado ou o dos
raiva por ter sido abandonada pelo homem que amava, em- filhos. Essas tentativas do namorado da mãe de
bora a maior parte dessas conversas ocorresse em sessões impor a disciplina são freqüentemente repudi-
individuais com a terapeuta. adas, especialmente por adolescentes. Sua ta-
refa não é ser pai, mas apoiar e reforçar a mãe
como a principal autoridade para os filhos.
Quando um pai sem custódia começar a As crianças podem se beneficiar de um
passar um tempo com os filhos, talvez ele pre- maior contato social que equilibre a intensida-
cise de ajuda para se comportar como pai, e de da conexão mãe-sozinha-e-criança. Recur-
não como amigo. O Sr. Santos, por exemplo, sos a considerar incluem professores, treina-
estava tão ansioso para desenvolver um bom dores, irmãos mais velhos e irmãs mais velhas,
relacionamento com Tony que, ao começar a líderes de grupos de atividades, grupos da co-
ficar mais com o filho, teve dificuldade em dizer munidade (“Pais sem Parceiros”, “Dia de Folga
não aos pedidos do menino. Com ajuda, toda- da Mãe”), congregações religiosas, aulas de
via, ele começou a assumir um papel mais adul- artesanato e contatos do local de trabalho.
to, e os dois continuaram a se relacionar bem. As famílias assumem muitas formas; a
Ajudar a mãe sozinha a não se desligar família monoparental é apenas uma delas. As
de relacionamentos adultos facilita o fortale- famílias não se esfacelam nem são destruídas,
cimento da fronteira geracional entre ela e a a sua configuração é que se modifica. Infeliz-
criança. Isso envolve delegar a crianças mais mente, a transição de estar junto para estar
velhas responsabilidades apropriadas à sua fai- separada é um caminho sem mapas. Não sur-
xa etária, impor disciplina e ajudar os filhos a preende que haja tanto sofrimento e confusão.
terem atividades próprias. O principal objeti- Salientamos, anteriormente, que as famí-
vo estrutural para a mãe sozinha é assumir o lias monoparentais são sobrecarregadas por
poder como a principal executiva no sistema desafios complexos. Contudo, este é apenas o
familiar. Essa tarefa pode ser bastante difícil lado sombrio do que pode ser um conjunto de
para a mãe que está desmoralizada por perda relacionamentos satisfatórios. As famílias são
ou depressão. Portanto, alguns objetivos estru- ricas em possibilidades; as famílias monopa-
turais podem fazer sentido, mas não ser práti- rentais podem ser difíceis, mas, com um pou-
cos. Criar tabelas e sistemas de prêmios para co de ajuda, elas podem não só sobreviver,
refrear crianças fora-de-controle, por exemplo, como também vicejar.
pode exigir um monitoramento irrealista e so-
brecarregar ainda mais uma mãe já sobrecar-
regada. Sentindo-se esmagada, ela pode per- Famílias afro-americanas
der a capacidade de estabelecer limites efeti-
vos. Algumas mães também permitem maus Entre as características da experiência vi-
comportamentos por acharem que precisam vida pelos negros nos Estados Unidos descri-
compensar a perda que os filhos sofreram com tas mais freqüentemente estão as redes de pa-
o divórcio ou a falta de envolvimento do pai. rentesco extensas, a religião e a espiritualidade,
Tarefas devem ser delegadas – a mãe ainda está o pai ausente, o sistema trigeracional, a po-
no comando – e o filho do sexo masculino não breza e, é claro, o racismo.
é “o homem da casa” (o que sugere que o filho Os terapeutas que trabalham com famí-
assumiu o lugar do pai). lias afro-americanas devem estar preparados
TERAPIA FAMILIAR 297
para expandir a definição de família de modo tanto, pareceu para a assistente social que Deena tinha, efeti-
a incluir um sistema de parentesco extenso. A vamente, assumido a família e que Juanita perdera sua posi-
rede de parentesco continua sendo um dos se- ção de autoridade. Deena falou quase todo o tempo, enquan-
gredos para lidar com as pressões da opressão to Juanita ficava sentada quieta, olhando para baixo. Martin
(14), Jesse (12) e Coretta (11) não diziam nada.
(Billingsley, 1992; Staples, 1994). O terapeuta
A assistente social concluiu que Deena e as crianças
deve estar ciente de que existem inúmeros tios,
Williams estavam emaranhadas, enquanto Juanita estava
tias, “mãezonas”, namorados, irmãos e irmãs desligada, e que sua tarefa era ajudar Juanita e os filhos a
mais velhos, diáconos, pregadores e outras se reconectarem, enquanto Deena precisava recuar para um
pessoas entrando e saindo do lar afro-ameri- papel apenas de apoio, menos controlador. Então, ela disse
cano (White, 1972, p. 45). Entretanto, muitas que Juanita tinha muita sorte por ter uma amiga tão boa,
famílias que procuram ajuda se isolaram de sua que fora mãe adotiva para seus filhos, mas chegara a hora
rede de apoio tradicional. Parte da tarefa do de ela reclamar seu papel como chefe da família. A assis-
terapeuta é buscar pessoas na família ou na tente social organizou uma encenação, em que pediu à
rede de parentesco que representem ilhas de Juanita que conversasse com os filhos sobre seus planos
força e recrutar seu apoio para a família. Per- para o futuro imediato.
guntar “Com quem você pode contar quando Quando Juanita começou a dizer aos filhos como senti-
precisa de ajuda?” é uma maneira de localizar ra saudade deles, Deena se intrometeu para falar que as crian-
essas pessoas. ças também tinham sentido saudade dela. A intenção de
Deena era boa, mas sua interrupção era um sinal de seu pa-
Uma avaliação estrutural deve conside-
pel demasiado central. A terapeuta cumprimentou Deena por
rar não apenas as pessoas que estão envolvi- ser prestativa, mas disse que agora ela precisava mostrar seu
das com a família, mas também aquelas que apoio deixando Juanita falar por si mesma. Juanita recome-
podem ser chamadas para ajudar. Na comuni- çou a falar com os filhos, dizendo: “Eu sei que não posso
dade afro-americana, essas conexões potenciais prometer nada, mas todos os dias eu me esforçarei ao máxi-
incluem uma rede de parentesco extensa, cons- mo para ser uma boa mãe para vocês e não deixar que a
tituída tanto pela família como pelos amigos minha doença leve a melhor, e”, continuou ela com lágrimas
(Billingsley, 1968; McAdoo, 2002). Essa rede nos olhos, “eu sei que, com a ajuda de Deus, nós poderemos
poderia incluir não só todos esses menciona- ser a família que nunca fomos”.
dos acima, mas também avós e bisavós, padri- Martin olhou para baixo, Jesse e Coretta estavam com
nhos, babás, vizinhos, amigos, membros da lágrimas nos olhos. Então, Martin voltou-se para a terapeuta
igreja, ministros e assim por diante. e perguntou: “Posso falar?” “Claro, Martin, você pode dizer o
Essas extensas conexões, reais e poten- que quiser para a sua mãe”. “Eu te amo, mamãe”, disse ele. “E
peço a Deus que você nunca volte para as drogas. Mas eu nun-
ciais, significam que as fronteiras familiares e
ca – nunca – morarei em uma casa em que tenha de ver a
as linhas de autoridade podem ficar pouco cla-
minha mãe voltando para as ruas de novo. Sem saber se nós
ras, como ilustra o seguinte exemplo. vamos ter janta naquela noite porque você está lá fora se
drogando. Você nunca mais vai me fazer passar por isso”.
“Martin” – mais uma vez Deena interrompeu, e mais uma vez
a assistente social a bloqueou.
Estudo de caso Martin continuou falando por 15 minutos sobre seu
sofrimento e sua raiva por ser filho de uma mãe drogada. Ele
Quando Juanita Williams ingressou em um programa não escondeu nada. Juanita chorou muito. Quando Martin
residencial para drogados, teve a sorte de sua vizinha e ami- terminou, houve um silêncio longo e pesado. Então, Juanita
ga, Deena, estar disposta a cuidar de seus três filhos. Seis falou. “Eu sei o que fiz você passar, Martin. O que eu fiz todos
meses depois, Juanita estava pronta para deixar a reabilita- os meus filhos passarem. E sei que nunca, nunca poderei
ção e voltar para casa. A essa altura, as crianças Williams compensar isso. Mas, com Deus por testemunha, eu farei tudo
estavam acostumadas a viver com a “tia Deena” e seus dois o que estiver em meu poder para jamais, jamais decepcionar
filhos adolescentes. vocês ou fazer com que se envergonhem de mim. Tudo o
Quando a assistente social das crianças organizou um que eu quero é uma outra chance”. Aquele foi um intercâm-
encontro com Juanita, seus três filhos e a “tia Deena”, Deena bio extremamente doloroso. Martin falara direto de seu cora-
elogiou Juanita por concluir o programa de reabilitação e se ção, e ele e a mãe tinham dito tudo um ao outro – sem inter-
preparar para reassumir a responsabilidade pelos filhos. “Você ferência de amigos bem-intencionados, ou profissionais
sabe que eu os amo, quase como se fossem meus”, ela disse prestativos, ansiosos para colocar as coisas sob uma luz mais
à Juanita, que concordou com a cabeça, “mas chegou a hora favorável.
de eles voltarem a morar com sua verdadeira mãe”. Entre-
298 MICHAEL P. NICHOLS

A proeminência da religião e espirituali- sões se ficar convencido de que sua presença


dade na vida da família afro-americana (Hines realmente é necessária. Os terapeutas também
e Boyd-Franklin, 1982), assim como a rede de podem recorrer a telefonemas e cartas para
parentesco extensa, constitui um recurso tan- manter o pai envolvido no tratamento da fa-
to real quanto potencial. Muitas famílias afro- mília. Respeitar o papel do pai na família di-
americanas fortalecem-se por serem membros minui a probabilidade de ele sabotar o trata-
da igreja e da comunidade religiosa (Billingsley, mento (Hines e Boyd-Franklin, 1996), e mes-
1994; Walsh, 1999). Os terapeutas que traba- mo uma participação limitada pode levar a uma
lham com famílias negras serão beneficiados mudança estrutural na família.
se estabelecerem um relacionamento com os Parcialmente, em conseqüência de pais
ministros da comunidade afro-americana, que ausentes, muitas famílias da comunidade afro-
possuem muita influência e geralmente podem americana são sistemas trigeracionais, consti-
ajudar a mobilizar apoio para uma mãe isola- tuídos pela mãe, seus filhos e uma avó. Às ve-
da, um adolescente que está abusando de dro- zes, as avós assumem a tarefa de criar um se-
gas ou um adulto mentalmente doente que gundo conjunto de filhos. Outras vezes, a mãe
perde o apoio familiar após a morte da sua ou o pai sozinho e seus filhos voltam a morar
principal cuidadora (Boyd-Franklin, 2003). com os avós. Em alguns casos, mães adolescen-
Uma razão para os lares de pai ausente tes entregam os filhos para as próprias mães,
serem tão comuns entre os afro-americanos é mas posteriormente querem reassumir a respon-
que existem muito menos homens do que mu- sabilidade por criá-los. Embora nenhuma des-
lheres na comunidade negra. Os motivos da sas estruturas seja inerentemente disfuncional,
ausência de homens negros são os índices de todas elas criam complicações.
mortalidade infantil duas vezes mais elevados As avós que assumem o controle podem
do que na população branca, um abuso de subs- ter dificuldade em desistir dele. Elas vêem seus
tâncias epidêmico, morte relacionada a empre- filhos adultos como se comportando de modo
gos de risco, demora em buscar atendimento irresponsável, e os tratam correspondentemen-
de saúde, serviço militar, homicídios e, é claro, te. Infelizmente, isso perpetua o clássico ciclo
a percentagem assombrosamente alta de jovens de controle-e-rebelião, em que tantos jovens
negros nas prisões (U.S. Bureau of the Census, acabam presos com seus pais. Os terapeutas
2003). Não só existem menos homens negros, nem sempre conseguem permanecer neutros
como a sua participação na vida familiar é fre- nesse tipo de impasse. Convém apoiar a jovem
qüentemente dificultada por oportunidades de mãe ou o pai no papel parental, e ao mesmo
trabalho limitadas e a tendência, por parte dos tempo respeitar a contribuição da avó e sua
profissionais de saúde mental, de ignorar os disponibilidade para aconselhar e ajudar
homens no sistema familiar ampliado, incluin- (Minuchin, Nichols e Lee, no prelo).
do a rede de parentesco do pai e os amigos do Nos últimos 20 anos, houve um aumento
sexo masculino da mãe, que talvez participem no número de famílias negras de classe média,
da vida das crianças. que agora constituem 25% da comunidade
É importante envolver o pai e outros adul- afro-americana (Hill, 1999). Entretanto, a
tos do sexo masculino no tratamento familiar, maioria dos clientes afro-americanos encontra-
embora isso possa ser difícil quando os homens dos em situações clínicas provavelmente en-
mantêm vários empregos ou não podem sair frenta estigmas de raça e classe, igualmente.
do trabalho para participarem das sessões de Embora algumas famílias negras tenham se
terapia. Muitos terapeutas resignam-se à não- beneficiado de oportunidades de trabalho e
participação do pai na terapia familiar. Um pai educação, a maioria das comunidades urbanas
considerado indisponível pode concordar em afro-americanas continua atolada na pobreza
participar se o próprio terapeuta entrar em multigeracional (Boyd-Franklin, 2003).
contato com ele. Mesmo que seja difícil para Até as famílias mais sadias têm dificulda-
ele sair do emprego para ir à terapia, o pai pode de para funcionar efetivamente sob o peso es-
concordar em participar de uma ou duas ses- magador das dificuldades financeiras. Quan-
TERAPIA FAMILIAR 299
do questões de sobrevivência – como comida, à criança e serviços de saúde mental (Henggeler
habitação e outras necessidades básicas – es- e Borduin, 1990). É possível capacitar mais a
tão envolvidas, elas têm precedência sobre os família, nesse contexto, (1) organizando en-
conflitos familiares. Os terapeutas podem aju- contros com as várias agências envolvidas com
dar encorajando os membros da família a to- a família, (2) escrevendo cartas de recomen-
marem medidas efetivas e trabalharem com os dação para a família e (3) organizando encon-
agentes comunitários e sociais existentes para tros com os supervisores de funcionários resis-
resolver as questões de habitação, formação tentes (Boyd-Franklin, 2003). O importante é
profissional, emprego e creches (Rojano, 2004). capacitar a família encorajando-a a assumir, ela
A combinação de discriminação e opres- própria, esses problemas. Os terapeutas podem
são, piorada pelo racismo e pela pobreza, pro- ajudar, mas não devem assumir o controle.
vocou uma “raiva feroz” em muitos afro-ame-
ricanos (Cose, 1993). Os prestadores de servi-
ços precisam perceber que parte dessa raiva Terapia com famílias de gays e lésbicas
talvez seja dirigida para eles. É importante não
assumir uma posição defensiva. Além disso, o Os casais de gays e lésbicas lutam com as
legado de intrusão de serviços sociais e de pro- mesmas tristezas, confusões e anseios de qual-
teção à criança, polícia, sistema legal e crimi- quer outro casal. Todo casal precisa encontrar
nal nas comunidades pobres afro-americanas uma maneira de equilibrar o tempo que pas-
resultou em uma compreensível desconfiança sam juntos com interesses independentes, de-
em relação às agências e a seus representantes cidir se e quando ter filhos, e decidir com qual
(Boyd-Franklin, 1989; Grier e Cobbs, 1968). família passar os feriados. Contudo, os casais
Os terapeutas que ignoram o contexto históri- de mesmo sexo também enfrentam desafios
co dessa desconfiança podem tomá-la como especiais, incluindo lidar com a homofobia na
algo pessoal e supor que essas famílias não de- sociedade mais ampla e em suas famílias; re-
sejam seus serviços ou não podem ser trata- solver ambigüidades relacionais nas áreas de
das. Nancy Boyd-Franklin (1989) recomenda compromisso, fronteiras e comportamentos li-
que os profissionais de saúde mental esperem gados a gênero; diferenças por estar “de fora”
uma certa desconfiança e reúnam-se aos seus profissional ou socialmente, e criar redes de
clientes negros para construir um relaciona- apoio social (Green e Mitchell, 2002). Para
mento de confiança desde o início do trata- realizar um bom trabalho com casais homos-
mento. Comunicar respeito é o segredo para sexuais, é importante não ignorar nem exage-
conseguir engajar as famílias na terapia. rar a natureza singular dos pares de mesmo
Ao trabalhar com famílias afro-americanas, sexo.
convém expandir o contexto da terapia para Embora possa ser tranqüilizador para os
incluir a rede de parentesco, a comunidade, e terapeutas heterossexuais dissociar-se da ho-
quaisquer agentes sociais que estejam envolvi- mofobia declarada em nossa cultura, é um pou-
dos na vida da família (Aponte, 1994; Boyd- co mais difícil lidar com a homofobia interna-
Franklin, 1989). A tarefa terapêutica inclui não lizada – neles mesmos e em seus clientes. O
só identificar as fontes de apoio para mães e terapeuta que não se sentir à vontade com amor
famílias sobrecarregadas, mas também nego- e sexo entre dois homens ou duas mulheres
ciar arranjos terapêuticos que funcionem – para pode ter dificuldade em falar francamente com
evitar problemas estruturais, inconsistências e casais homossexuais ou, e isso talvez seja mais
triângulos. comum, pode se comportar com uma deferên-
Ao trabalhar com famílias afro-america- cia protetora. O terapeuta que estiver muito
nas de zonas urbanas pobres, os terapeutas ansioso para transmitir sua atitude progressis-
precisam levar em conta que elas podem estar ta pode ter dificuldade em impelir para a mu-
emaranhadas com diversas organizações, como dança ou fazer aquelas perguntas penosas que
escolas, hospitais, tribunais, sistema judiciário podem ser necessárias com casais que não es-
juvenil, assistência social, serviços de proteção tão se relacionando bem.
300 MICHAEL P. NICHOLS

cendo muitos casais de gays, especialmente


Estudo de caso considerando que, para os homens, a separa-
ção costuma ser uma resposta reflexa ao con-
Stephen e David buscaram terapia durante uma crise induzida flito (Greenan e Tunnell, 2003). Dada a fre-
pelo desejo de Stephen de abrir seu relacionamento para qüência com que os homens ameaçam acabar
outros parceiros e pela recusa de David a sequer discutir essa o relacionamento quando vivenciam dificulda-
possibilidade. Seu terapeuta, ansioso para se distanciar do
des, convém antecipar essas ameaças e estar
estereótipo de que os homens gays são promíscuos e incapa-
zes de manter um relacionamento estável, decidiu resolver o preparado para confrontá-las. Em vez de se
problema da incapacidade de Stephen de se comprometer, deixar atrair pelo conteúdo da ameaça, o
em vez de explorar o problema mais amplo da dificuldade do terapeuta pode interpretá-la como uma defesa
casal de se comunicar e tomar decisões. Se o casal fosse contra sentimentos de desamparo. “Obviamen-
composto por um homem e uma mulher discordando sobre te, você está chateado, mas se pudermos achar
comprar uma casa ou alugar um apartamento, o terapeuta uma maneira mais construtiva de ajudá-lo a
provavelmente não teria tomado partido tão rapidamente e sentir que suas necessidades estão sendo leva-
reduzido a terapia a um exercício de solução de problemas. das a sério, talvez você não tenha de usar táti-
cas que podem destruir o relacionamento quan-
do vocês se desentendem”.
Trabalhar com casais de gays e lésbicas
A homofobia também pode se manifestar requer sensibilidade à internalização de nor-
de maneiras sutis e não tão sutis nos próprios mas de gênero tradicionais e ao preconceito
homossexuais (Brown, 1994; Meyer e Dean, declarado que eles continuam enfrentando em
1998). Quando crescemos em uma sociedade seu ambiente social. Parceiros heterossexuais
em que a homossexualidade é considerada foram socializados para papéis complementa-
desvio, é impossível não absorver pelo menos res. As mulheres e os homens talvez já não es-
parte dessa atitude. Aqueles que começam a perem ser pais tipo “Leave-It-to-Beaver”, June
descobrir seus próprios sentimentos homosse- e Ward Cleaver, mas, gostem ou não, as mu-
xuais talvez não consigam evitar certo ódio em lheres ainda são ensinadas a ser mais cuida-
relação a si mesmos. Os terapeutas heterosse- doras e orientadas para os relacionamentos, e
xuais bem-intencionados que, conscientemen- a ter um senso de self menos distanciado
te, afirmam seus clientes homossexuais, talvez (Jordan et al., 1991), enquanto os homens são
estejam cegos a essa dinâmica. criados para estar no controle, marcar seu ter-
Ao trabalhar com casais de mesmo sexo, ritório, tolerar distância e apreciar a compe-
é importante procurar manifestações sutis de tição. Então, o que acontece quando parcei-
imagens negativas profundamente arraigadas ros do mesmo sexo se unem esperando de-
da homossexualidade e de relacionamentos sempenhar um determinado papel e esperan-
com o mesmo sexo. Um estereótipo que pode do que a outra pessoa desempenhe um papel
ser bastante destrutivo é a expectativa cultu- complementar? Quem vai pegar as toalhas do
ral de que pares do mesmo sexo são instáveis. chão do banheiro? Quem inicia a atividade
Muitas pessoas, homossexuais ou não, acredi- sexual?
tam que relacionamentos amorosos duradou- Muitos casais de gays e lésbicas lutam,
ros entre pessoas do mesmo sexo (em particu- tanto quanto os heterossexuais, com a questão
lar do sexo masculino) são impossíveis. Como de se e quando ter filhos. Diferentemente dos
costuma acontecer com muitos preconceitos, heterossexuais, os gays e as lésbicas precisam
provavelmente é mais útil o terapeuta exami- resolver a questão de quem (se algum deles)
nar e reconhecer suas próprias atitudes e seus será o progenitor biológico.
pressupostos do que fingir não ter vieses. Re- Ao contrário do estereótipo apresenta-
conhecer conscientemente seus pressupostos do em filmes populares como A gaiola das lou-
faz com que seja mais fácil policiá-los; fingir cas, apenas uma pequena minoria de casais
que você não os tem permite que o influen- de gays e lésbicas divide-se em papéis exagera-
ciem sem que você suspeite. damente masculinos ou femininos (Green e
A crença de que os casais de mesmo sexo Mitchell, 2002). O ideal, para a maioria dos
são inerentemente instáveis acaba enfraque- casais homossexuais, é compartilhar as tarefas
TERAPIA FAMILIAR 301
explicitamente aceitas (Green e Mitchell,
Estudo de caso 2002). Entre essas expectativas estão mono-
gamia, compartilhar finanças, cuidar do outro
Rachel e Jan estão juntas há 10 anos e estão pensando em em doenças graves, mudar de cidade para que
ter um filho. Ambas concordam que prefeririam ter um filho o outro possa progredir profissionalmente, cui-
biológico a adotar. Entretanto, as duas querem muito ser a dar da família do outro na velhice, comparti-
recebedora do doador de esperma.
lhar heranças, fazer uma procuração para o
Vendo que Rachel e Jan estavam em um impasse, o
terapeuta sugeriu que pensassem em adotar. Desgastadas e outro em caso de incapacitação, para nomear
frustradas por sua incapacidade de decidir qual delas desisti- apenas algumas. Como não existem modelos
ria do desejo de gerar seu bebê, elas viram nisso uma solu- familiares para casais de mesmo sexo, os par-
ção. Entretanto, seu alívio se transformou em raiva quando ceiros podem apresentar discrepâncias em suas
descobriram que o estado em que viviam não permitia que opiniões sobre como essas questões serão tra-
casais homossexuais adotassem filhos. Essa experiência fez tadas. Sugerimos que os terapeutas estejam
com que perdessem a confiança no terapeuta e elas abando- cientes dessas questões e preparados para aju-
naram o tratamento. dar os clientes a discuti-las, mas que não apre-
sentem essas ou quaisquer outras que o casal
ainda não pareça pronto para enfrentar.
Os terapeutas heterossexuais podem su-
instrumentais e emocionais habitualmente as- bestimar as complexidades envolvidas em “se
sociadas aos papéis masculinos e femininos revelar” para a família e os amigos (LaSala,
(Carrington, 1999). A compatibilidade sem 1997). Aqui, convém lembrar que a terapia não
complementaridade fixa permite grande flexi- visa a empurrar as pessoas para onde elas es-
bilidade. Por outro lado, sem nenhum papel tão com medo de ir, e sim ajudá-las a reconhe-
ou expectativa familiar padrão, a divisão do cer e resolver os medos que as seguram.
trabalho em casais de mesmo sexo precisa ser Já que muitos casais de mesmo sexo sen-
mais consciente e deliberada do que em casais tem uma ansiedade compreensível em um
heterossexuais. mundo inseguro, suas antenas estarão ligadas
Uma das questões na terapia com casais para qualquer sugestão de homofobia. Por essa
de mesmo sexo provavelmente será a necessi- razão, a fase da terapia de “reunir-se a” talvez
dade de negociar de forma clara acordos sobre precise ser mais longa, porque o terapeuta terá
comprometimentos, fronteiras e papéis. Entre de se esforçar para ganhar sua confiança
as perguntas que o terapeuta pode fazer estão: (Greenan e Tunnell, 2003). Começar pela per-
gunta “O que traz vocês aqui como casal?” é
“Quais são as regras sobre monogamia no uma boa maneira de transmitir respeito por
relacionamento de vocês?” eles como unidade familiar.
“Quais são seus acordos sobre finanças, Outra dificuldade que os terapeutas he-
divisão dos bens e posse conjunta de pro- terossexuais podem ignorar nos relacionamen-
priedades?” tos de mesmo sexo é a prevalência de extremo
“Quais são as tarefas de cada um/a em ciúme por parte de um dos parceiros (Green e
casa e como isso é decidido?” Mitchell, 2002). Esse ciúme baseia-se na cren-
ça de que os outros são uma ameaça, por cau-
Essas perguntas são oferecidas como sa da falta de respeito pelo comprometimento
exemplos do modo de tratar essas questões mútuo do casal. Afinal de contas, como o rela-
quando forem mencionadas pelos clientes. Po- cionamento pode ser “real” se os parceiros não
rém, é importante achar um equilíbrio entre são casados?
ajudar os casais a resolver essas questões sig- O terapeuta que não valoriza o compro-
nificativas e forçá-los a isso, em especial quan- misso dos casais homossexuais pode, quando
do ainda não estão prontos. eles têm problemas sérios, vê-los como inso-
Muitas das expectativas habituais que os lúveis e apoiar uma separação mais rapida-
heterossexuais trazem para o casamento não mente do que faria com um casal heterosse-
se aplicam, necessariamente, aos casais de xual. O oposto também pode ocorrer se o
mesmo sexo, a menos que sejam discutidas e terapeuta, decidido a superar o estereótipo de
302 MICHAEL P. NICHOLS

chama de “a síndrome do maricas”. Homens de


Estudo de caso verdade não choram. Um dos aspectos insidio-
sos do preconceito é como o grupo minoritário
Jim gosta do cenário do clube como uma maneira de sociali- freqüentemente internaliza os estereótipos atri-
zar com seus amigos da comunidade gay. Seu parceiro, Kyle, buídos a eles pela cultura majoritária ou imita
prefere evitar bares e clubes. Segundo este, suas objeções uma versão exagerada da imagem da maioria
não têm a ver com Jim se divertir, mas se devem à sua cren-
(Allport, 1958).
ça de que muitos homens nos clubes não respeitam o fato
de que Jim é parte de um casal. “Eles não se importam Talvez o melhor conselho para os terapeu-
conosco, só se interessam em conseguir bom sexo dando tas que trabalham com casais homossexuais
em cima de você”. Kyle também estava preocupado com a seja perguntar a si mesmos: “Que mensagens
prevalência de drogas da moda – como ecstasy, cocaína, me- estou comunicando para este casal sobre o sig-
tanfetamina e K especial – que faziam parte da atmosfera do nificado, valor e mérito dos relacionamentos
clube. Jim insistia que não estava interessado em outros ho- de mesmo sexo?” O terapeuta deve estar aten-
mens e não usava drogas. Ele só queria ficar com os amigos. to não apenas às mensagens negativas, mas
Alguns terapeutas podem ver a insistência de Jim em também ao perigo de glamourizar relaciona-
ir a bares como uma incapacidade de aceitar que ele não é mentos de mesmo sexo. Desprezo e idealização
mais solteiro, mas o terapeuta desse caso estava ciente de
têm o mesmo potencial danoso.
que, na verdade, não ir a bares e clubes pode resultar em um
significativo desligamento da comunidade gay. Em vez de
aceitar a difícil escolha apresentada pelo casal – ou Jim cede
e fica em casa, ou Kyle cede e Jim continua indo a clubes –, o ATENDIMENTO DOMICILIAR
terapeuta se perguntou, em bom tom, se haveria maneiras
alternativas de o casal socializar com a comunidade gay. O atendimento domiciliar descende do
“movimento do visitante amigo”, em que os as-
sistentes sociais, inspirados por Mary Richmond,
visitavam as famílias em casa. No passado, os
assistentes sociais com freqüência acabavam
que os relacionamentos de mesmo sexo não retirando crianças vulneráveis de seus lares
são permanentes, age como se a longevidade para a segurança delas. Infelizmente, esse al-
fosse o bem maior, em lugar da satisfação no truísmo mal-orientado muitas vezes prejudi-
relacionamento. cava a unidade familiar. Começando na déca-
Altercações zangadas podem ser um pro- da de 1970, e sob a influência dos princípios
blema em qualquer relacionamento, mas isso é de desinstitucionalização e tratamento na co-
particularmente comum em casais do sexo mas- munidade, aumentaram os esforços para man-
culino que buscam terapia (Greenan e Tunnell, terem unidas famílias frágeis e prevenirem a
2003). Não é apenas o fracasso em seguir as retirada de crianças de seus lares (McGowen e
Roberts Rules of Order que faz as pessoas recor- Meezan, 1983).
rerem à raiva como um mecanismo de defesa. Como outras versões tradicionais de te-
O objetivo do tratamento de muitos casais é cri- rapia familiar, o atendimento domiciliar foca a
ar uma atmosfera em que eles se sintam segu- família como o alvo primário do atendimento
ros para explorar qualquer vergonha que sin- de saúde mental (Friesen e Koroloff, 1990).
tam por suas necessidades de afeição e intimi- Diferentemente dos modelos convencionais,
dade em seu relacionamento (Bowlby, 1988). todavia, a abordagem domiciliar se concentra
Esse nível de trabalho é essencial no tratamen- mais em expandir a rede de recursos da famí-
to de homens homossexuais, que geralmente lia do que em consertar a disfunção familiar
não se sentem à vontade para expressar sua (Henggeler e Borduin, 1990). Embora o aten-
necessidade de ternura e entendimento com dimento domiciliar reconheça e trate proble-
outro homem (McWhirter e Mattison, 1984). mas no sistema familiar, a maior ênfase está
Essa reticência pode ser aumentada pelo temor em construir relacionamentos entre a família
de que a ternura seja “efeminada”. A maioria e os vários recursos da comunidade.
dos homens – homo ou heterossexuais –, que Os terapeutas domiciliares aproximam-se
igualam sua necessidade de proximidade à efe- da família com uma postura colaborativa e ex-
minação, quer evitar o que Richard Isay (1989) pectativas positivas. Essa abordagem “basea-
TERAPIA FAMILIAR 303
da em forças”, que supõe que as famílias con- a visita começa pela definição de tudo o que o
têm os recursos para lidar com seus proble- processo de tratamento envolve, as regras bá-
mas, também pode ser aplicada à expectativa sicas das sessões e quais serão os papéis do
de que outras pessoas também são igualmente terapeuta e dos membros da família. Os seguin-
competentes, como agências ou organizações tes comentários ilustram o processo de escla-
envolvidas com a família. Conseqüentemente, recer papéis.
agências e outras influências não são vistas
como adversárias, mas como potenciais par-
ceiras no processo de tratamento.
O atendimento domiciliar geralmente in- Estudo de caso
clui quatro elementos: serviços de apoio à fa-
mília, intervenção terapêutica, gerenciamento “Antes de começarmos, eu gostaria de dizer que não tenho
de caso e intervenção em situações de crise nenhuma intenção de vir aqui e lhes dizer como viver sua
(Lindblad-Goldberg, Dore e Stern, 1998). Os vida. Meu trabalho é ajudar vocês a entender como querem
lidar com seus filhos. Eu não posso resolver os problemas de
serviços de apoio à família incluem um atendi-
vocês. Isso é algo que só vocês podem fazer.
mento que traga alívio à família, assim como Nos nossos encontros, é importante que você digam
assistência concreta com alimentos, roupas e tudo o que pensam e sentem. Nós precisamos ser honestos.
abrigo. A intervenção terapêutica pode incluir Digam-me o que vocês esperam de mim, e eu lhes direi o
tratamento individual, familiar ou de casal. O que espero de vocês. Eu não vou agir como se tivesse todas
objetivo terapêutico maior é fortalecer e esta- as respostas, porque não tenho.
bilizar a unidade familiar. As famílias tornam- A avó virá hoje à noite? Se ela não vier, tudo bem,
se mais capacitadas ao serem ajudadas a utili- mas eu gostaria que ela viesse nas futuras sessões, pois te-
zar suas forças e seus recursos para resolver nho certeza de que poderá ajudar com idéias valiosas.
seus problemas, em vez de depender da colo- Hoje à noite, eu gostaria de conhecer melhor cada um
de vocês. Depois, gostaria de saber que preocupações cada
cação dos filhos em alguma instituição. O geren-
um de vocês tem sobre a vida da família e o que gostaria de
ciamento de caso envolve desenvolver vínculos mudar.” 4
com recursos da comunidade, incluindo cui-
dados médicos, assistência social, educação,
formação profissional e serviços legais. A in-
tervenção em situações de crise significa disponi- Embora muitos terapeutas familiares fa-
bilizar serviços de emergência de 24 horas, lem desembaraçadamente sobre sua orienta-
quer com a equipe de atendimento domiciliar ção “ecossistêmica”, as pessoas que prestam
quer por um convênio com outro serviço de atendimento domiciliar precisam coordenar
atendimento de emergência de saúde mental. seus esforços com diversos outros sistemas de
Visitar a família em casa dá ao terapeuta serviços. Para isso, é imperativo entender as
a oportunidade de demonstrar interesse pelas preocupações de outras agências envolvidas
coisas que definem sua identidade – como os com a família e estabelecer com elas um rela-
filhos, animais de estimação, artefatos religio- cionamento colaborativo. Em vez de criticar o
sos, objetos de estimação, prêmios recebidos, pessoal da escola ou os funcionários da justiça
e assim por diante. Olhar álbuns de fotogra- juvenil, que parecem não apoiar simultanea-
fias pode ser uma boa maneira de se reunir à mente a família e a criança, quem presta aten-
família e conhecer sua história, suas esperan- dimento domiciliar precisa compreender que
ças e seus sonhos. Depois que for estabelecido essas outras agências estão igualmente preo-
um relacionamento positivo – depois, não an- cupadas com as necessidades de seus clientes,
tes – o terapeuta pode pedir diretamente à fa- mesmo que sua abordagem seja diferente. Uma
mília que reduza distrações como fumar, te- família atendida por múltiplas agências que não
levisão em volume alto ou cães que latem. entram em um acordo é como a criança aprisio-
(Gatos que latem provavelmente não serão um nada em um triângulo entre os pais que não
problema.) conseguem funcionar juntos como equipe.
Papéis e fronteiras que estão implícitos no Operar com uma perspectiva sistêmica
ambiente da sala de atendimento talvez preci- começa pela colaboração com outras agências.
sem ser verbalizados. Esclarecer papéis durante Isso também significa ter em mente toda a cons-
304 MICHAEL P. NICHOLS

telação familiar, mesmo quando atendemos sinta depois sobrecarregado pelas necessidades
subsistemas. Por exemplo, o terapeuta que da família e recue, estabelecendo limites rígidos
atende individualmente um adolescente des- e contendo seu apoio. O “salvador” acaba se
contente deve lembrar que em toda história tornando o “abandonador”. Esse processo rea-
existem dois lados e que, via de regra, a me- tiva a ansiedade do cliente e, inevitavelmente,
lhor maneira de apoiar as crianças é apoiar os o afasta. As lições para a família são claras: na-
esforços construtivos dos pais, em vez de to- da jamais mudará – e não confie em ninguém.
mar o partido da criança sem nenhum questio-
namento.
Embora a terapia domiciliar ofereça uma TERAPIA FAMILIAR MÉDICA E PSICOEDUCAÇÃO
oportunidade única para influenciar a família
diretamente em seu ambiente natural, aten- Ao longo dos últimos 15 anos surgiu uma
der as pessoas em suas salas de estar também nova concepção de terapia familiar. Em vez de
aumenta a pressão para ser induzido aos pa- resolver problemas, o objetivo desta aborda-
drões problemáticos da família. Trabalhar com gem é ajudar as famílias a lidar com deficiên-
um co-terapeuta pode ajudar a minimizar a ten- cias. Isso representa uma mudança da idéia de
dência a ser arrastado, involuntariamente, para que as famílias causam problemas para a idéia
as maneiras improdutivas da família de ver as de que os problemas, como os desastres natu-
coisas. O terapeuta que presta atendimento rais, às vezes acontecem às famílias. A terapia
domiciliar precisa fazer um esforço especial familiar psicoeducacional surgiu do trabalho
para manter as fronteiras profissionais e para com pacientes esquizofrênicos e suas famílias,
evitar ser induzido a desempenhar os papéis ao passo que a terapia familiar médica de-
ausentes na família. Por exemplo, se uma cri- senvolveu-se a partir do trabalho com famílias
ança precisa ser confortada, é muito melhor que lutavam com doenças crônicas como cân-
apoiar os pais para que façam isso do que as- cer, diabetes e doença cardíaca.
sumir essa função.
A prioridade no trabalho domiciliar deve
ser demonstrar que o terapeuta é consistente Psicoeducação e esquizofrenia
e genuíno. Ter uma conexão com alguém com
quem possam contar talvez seja mais impor- A busca de uma cura para a esquizofre-
tante para as famílias com uma história de ne- nia lançou o campo da terapia familiar na dé-
cessidades de dependência não-satisfeitas do cada de 1950. Ironicamente, agora que sabe-
que ter um terapeuta eficiente, esperto ou mos que a esquizofrenia envolve uma vulnera-
controlador. bilidade biológica de origem desconhecida, a
Uma das piores coisas que podem acon- terapia familiar, ou pelo menos o modelo psi-
tecer em qualquer forma de psicoterapia é os coeducacional, é mais uma vez considerada
clientes recriarem com seus terapeutas o mes- parte do tratamento mais efetivo para esse
mo relacionamento insatisfatório que mantêm transtorno tão frustrante.
com a maioria das pessoas. Talvez o mais im- O modelo psicoeducacional nasceu da
portante seja não se deixar arrastar para o pa- insatisfação com a terapia familiar tradicional
drão usual de relacionamento da família. O e com as abordagens psiquiátricas à esquizofre-
padrão mais perigoso para um terapeuta do- nia. Conforme Carol Anderson, Douglas Reiss
miciliar é aproximar-se demais e depois em- e Gerald Hogarty (1986, p.vii) lamentaram:
purrar os clientes para onde eles estão com
medo de ir. Em vez de começar a pressionar Nós nos culpamos uns aos outros, culpamos
os próprios pacientes, seus pais e avós, as au-
por mudança de imediato, geralmente é mais
toridades públicas e a sociedade pela causa e
efetivo começar reconhecendo os obstáculos à pelo curso, geralmente tão terrível, desses
mudança. transtornos. Quando a esperança e o dinheiro
As famílias com problemas temem ser se exaurem, nós freqüentemente arrancamos
abandonadas; os terapeutas inseguros temem os esquizofrênicos de suas famílias, despa-
não ser úteis. O terapeuta que se sente impul- chando-os para o terror existencial de locais
sionado a fazer tudo por um cliente talvez se que são verdadeiros depósitos humanos, ho-
TERAPIA FAMILIAR 305
téis com quartos para uma só pessoa e, mais A família, então, é vista como um fator de ris-
recentemente, para as ruas e becos das cida- co ou de proteção, podendo tornar mais ou
des dos Estados Unidos. menos provável que vulnerabilidades genéti-
cas e/ou biológicas subjacentes sejam expres-
Em suas tentativas de entender a função sas como sintomas de doença mental.
dos sintomas dos esquizofrênicos, os terapeutas
familiares exortavam os membros da família a Além disso, os benefícios da redução da
expressar sentimentos guardados e, assim, cria- EE nas famílias que aprendem a lidar com a
vam sessões demasiado carregadas em termos esquizofrenia têm sido repetidamente demons-
emocionais, que geralmente pouco faziam além trados (Atkinson e Coia, 1995). Reduzir a EE
de aumentar as tensões. Ao perceber o freqüen- também contribui para diminuir os índices de
te declínio no funcionamento dos pacientes e recaída na depressão maior e no transtorno
o aumento na ansiedade dos familiares após bipolar (Muesser e Glynn, 1995).
essas sessões, Anderson e colaboradores (1986, Com isso em mente, três grupos diferen-
p. 2) “começaram a se perguntar se a terapia tes no final dos anos de 1970 e início dos anos
familiar ‘real’ não estaria, de fato, sendo antite- de 1980 começaram a experimentar maneiras
rapêutica”. de reduzir o estresse no ambiente mais comum
Enquanto isso, estudos começaram a mos- para o paciente esquizofrênico – a casa dos pais.
trar que os pacientes que se saíam melhor após Michael Goldstein coordenou um grupo na
uma hospitalização eram aqueles que voltavam UCLA (Goldstein et al., 1978) no planejamen-
para os lares menos estressantes. Um grupo to de um modelo breve e estruturado, que ten-
britânico, incluindo George Brown, John Wing, tava antecipar os estresses que a família pro-
Julian Leff e Christine Vaughn, prestou uma aten- vavelmente enfrentaria e reduzir o conflito em
ção especial no que chamou de “emoção expres- torno do paciente. Seguindo o estudo de
sa” (EE) nas famílias de esquizofrênicos – prin- Goldstein, grupos chefiados por Ian Falloon,
cipalmente críticas, hostilidade e muito envol- na University of Southern California (cujo
vimento emocional – e descobriu que os pacien- modelo é principalmente comportamental), e
tes que retornavam para famílias com alta EE Carol Anderson, no Western Psychiatric Ins-
apresentavam índices mais elevados de recaí- titute de Pittsburgh, experimentaram modelos
da (Brown, Birley e Wing, 1972; Vaughn e Leff, psicoeducacionais.
1976; Vaughn et al., 1984). Os psicoeducadores tentam não só aju-
A pesquisa sobre a emoção expressa su- dar a família a modificar suas idéias sobre o
gere que a esquizofrenia é um transtorno do paciente e suas interações com ele, mas tam-
pensamento que deixa o indivíduo especial- bém a reverter o dano causado por profissio-
mente sensível à expressão de críticas e hosti- nais insensíveis. Em vez de fornecer as infor-
lidade. A teoria é que um input emocional in- mações, o apoio e senso de controle que essas
tenso faz com que o paciente tenha dificulda- famílias necessitam quando em crise, muitos
de em lidar com o tumulto de pensamentos profissionais de saúde mental ignoram os mem-
caóticos que o assola. Quando um paciente em bros da família, exceto para conseguir infor-
recuperação retorna para um ambiente familiar mações – informações sobre o que deu errado.
estressante, com elevada EE, a grande preocu- As implicações dessa linha de questionamento
pação intrusiva e os comentários críticos levam só aumentam a culpa e a vergonha que os mem-
a uma excitação emocional aumentada, e é essa bros da família já sentem. Não surpreende que
sobrecarga afetiva que desencadeia a recaída. muitas famílias desistam ou travem batalhas
Por outro lado (como sugeriria a teoria bowe- antagonísticas com esses profissionais auto-
niana), o paciente que retorna para uma famí- ritários.
lia com baixa EE e cujos familiares não são de- Os psicoeducadores tentam estabelecer
masiado ansiosos tem mais espaço psicológico uma parceria colaborativa em que os membros
para se recuperar (Leff e Vaughn, 1985). da família se sintam apoiados e capacitados
A emoção expressa é atualmente o fator para lidar com o paciente. Para conseguir esse
mais bem-documentado na recaída da esqui- tipo de parceria, Anderson e colaboradores
zofrenia (Milkowitz, 1995, p. 194): (1986) descobriram que seria necessário ree-
306 MICHAEL P. NICHOLS

ducar os profissionais, levando-os a abando- ção expressa e uma orientação para a família
nar a idéia de que a família, de alguma forma, ficar de olho na EE. A família aprende que não
é responsável pela esquizofrenia, fortalecendo deve pressionar o paciente para que se recu-
suas capacidades e informando-a sobre a do- pere rapidamente ou para que retome seu fun-
ença. É esse compartilhamento de informações cionamento normal. Ela também é aconselha-
que constitui o elemento educacional da da a respeitar fronteiras e permitir que o mem-
psicoeducação. Informações sobre a natureza bro da família em recuperação se isole sempre
e o curso da esquizofrenia ajudam os mem- que necessário.
bros da família a desenvolver um senso de do- A abordagem multifamiliar de Bill McFar-
mínio – ao descobrir uma maneira de compre- lane costuma incluir cinco ou seis famílias e
ender e antecipar o processo freqüentemente começa com oficinas de palestras e discussões.
caótico e aparentemente incontrolável. Depois dessas oficinas, os pacientes e suas fa-
Uma das intervenções-chave da psicoe- mílias encontram-se regularmente por, no mí-
ducação é diminuir as expectativas, para re- nimo, um ano. Considera-se que o formato
duzir a pressão que o paciente sofre no senti- multifamiliar fornece maior apoio social. O
do de se comportar normalmente. Por exem- objetivo, para o paciente, é reduzir, em vez de
plo, os objetivos para o primeiro ano poste- curar, os sintomas. A família é encorajada a
rior a um episódio agudo são, primariamen- fornecer um ambiente tranqüilo e estável, em
te, a evitação de uma recaída e a gradual que o paciente em recuperação não se sinta
assunção de algumas responsabilidades em criticado ou acusado, e a não esperar muito
casa. Os membros da família devem ver o pa- dele durante a recuperação. O objetivo para a
ciente como alguém que teve uma doença gra- família é aprender técnicas de manejo para a
ve e precisa se recuperar. Os pacientes podem difícil e longa tarefa de viver com uma pessoa
precisar de muitas horas de sono, solidão e esquizofrênica e prevenir ou retardar sua re-
atividades limitadas por algum tempo depois caída e hospitalização.
de um episódio; também podem parecer in- A Tabela 11.1 apresenta uma série de
quietos e ter dificuldade para se concentrar. orientações psicoeducacionais típicas para se
Ao prever esses desenvolvimentos, os psicoe- manejar a reabilitação após um episódio esqui-
ducadores tentam prevenir conflitos entre o zofrênico.
paciente e a família. O modelo psicoeducacional é efetivo?
A abordagem psicoeducacional de Anderson Sim. Por exemplo, no estudo de Anderson e
se parece bastante com a terapia familiar es- colaboradores (1986, p. 24):
trutural; a diferença é que as falhas estruturais
da família são entendidas como o resultado em Entre os pacientes tratados (n = 90), 19% dos
vez de a causa do problema apresentado. Gran- que receberam apenas terapia familiar tive-
de parte da terapia segue temas familiares: re- ram uma recaída psicótica no ano seguinte à
forçar fronteiras geracionais, abrir a família alta hospitalar. Dos que receberam terapia
comportamental individual, 20% recaíram,
para o mundo externo e desenvolver redes de
mas nem um paciente do grupo de tratamen-
apoio, exortar os pais a reinvestir em seu casa- to que recebeu tanto terapia familiar quanto
mento, e conseguir que os familiares não fa- treinamento de habilidades sociais apresen-
lem nem ajam pelo paciente. tou recaída. Esses índices de recaída demons-
Anderson e colaboradores começam com tram de forma significativa os efeitos de am-
uma oficina de dia inteiro sobre habilidades bos os tratamentos quando comparados ao ín-
de sobrevivência, em que ensinam os membros dice de recaída de 41% daqueles que recebe-
da família sobre a prevalência e curso da es- ram apenas quimioterapia e apoio.
quizofrenia, sua etiologia biológica, tipos atu-
ais de tratamento farmacológico e psicossocial, Outros estudos revelaram resultados
medicações comuns e prognóstico. São discu- igualmente impressionantes (Falloon et al.,
tidas as necessidades do paciente e as necessi- 1982; Leff et al., 1982). Parece não haver dú-
dades familiares e introduzidas habilidades que vida de que a psicoeducação é a melhor abor-
a família precisa para lidar com a situação. São dagem para retardar a recaída e a re-hospitali-
apresentados dados de pesquisas sobre a emo- zação na esquizofrenia.
TERAPIA FAMILIAR 307
Tabela 11.1
Orientações psicoeducacionais para famílias e para amigos de esquizofrênicos

Aqui está uma lista de coisas que todos podem fazer para que tudo seja mais fácil.
1. Vá devagar. A recuperação leva tempo. O descanso é importante. As coisas vão melhorar no seu devido
tempo.
2. Tenha calma. O entusiasmo é normal. Modere-o um pouco. As discordâncias são normais. Modere-as,
também.
3. Dê espaço. Todo mundo precisa de espaço. Está certo oferecer. Está certo recusar.
4. Estabeleça limites. Todo mundo precisa saber quais são as regras. Algumas boas regras fazem com que as
coisas corram mais tranqüilamente.
5. Ignore aquilo que você não pode mudar. Deixe passar algumas coisas. Porém, não ignore violência ou uso de
drogas de rua.
6. Simplifique. Diga o que você tem a dizer clara, calma e positivamente.
7. Siga as ordens do médico. Tome as medicações conforme prescritas. Só tome a medicação indicada.
8. Leve a vida conforme o habitual. Restabeleça a rotina familiar o mais rápido possível. Mantenha contato com
família e amigos.
9. Nada de drogas de rua ou álcool. Elas pioram os sintomas.
10. Fique atento aos primeiros sinais. Observe mudanças. Converse com o médico da família.
11. Resolva problemas passo a passo. Faça mudanças gradualmente. Trabalhe em uma coisa de cada vez.
12. Diminua, temporariamente, as expectativas. Utilize um padrão de comparação pessoal. Compare este mês
com o mês passado, não com o ano passado ou com o próximo.

Fonte: McFarlane, 1991, p. 375.

Terapia familiar médica o terapeuta pode ajudar a família a se prepa-


rar para lidar com uma doença ou, se a doença
Se considerarmos a esquizofrenia uma está com eles há anos, a obter uma perspecti-
doença crônica, então a terapia familiar psi- va de suas resultantes polarizações e emaranha-
coeducacional pode ser vista como uma forma mentos.
especializada de terapia familiar médica. Os Na terapia familiar médica, o sistema não
terapeutas familiares médicos trabalham com é apenas a família da pessoa doente; é a famí-
famílias que lutam com doenças ou deficiências lia e os médicos e enfermeiros envolvidos no
de maneira muito parecida com a descrita pre- cuidado da pessoa enferma. O objetivo, por-
viamente para as famílias de esquizofrênicos. tanto, é estimular a comunicação e o apoio não
A doença crônica freqüentemente tem um apenas dentro da família, mas também entre a
impacto devastador. Ela pode controlar a vida família e o pessoal médico. A doença deixa as
da família, destruindo a saúde, a esperança e pessoas se sentindo desamparadas e confusas.
a paz de espírito. Como diz Peter Steinglass, A terapia familiar médica visa a combater tais
ela pode ser como o ladrão “que surge na so- sentimentos, ao fortalecer a comunicação e um
leira da porta, entra sem pedir licença e exige senso de ação.
tudo o que a família tem” (citado em McDaniel Os terapeutas familiares médicos traba-
et al., 1992, p. 21). lham em colaboração com pediatras, médicos
As demandas da doença interagem com da família, especialistas em reabilitação e en-
as características da família, tais como o seu fermeiros. Afirmam que, logo após o diagnós-
estágio no ciclo de vida e o papel que a pessoa tico, a família deve ter uma sessão de rotina
atingida desempenha; os recursos de lideran- para explorar seus recursos referentes às de-
ça e o grau de isolamento da família; e suas mandas da doença ou da deficiência. Citam o
crenças sobre doenças e sobre quem deveria crescente corpo de conhecimento das pesqui-
ajudar, derivadas de sua etnicidade e história sas que sugerem uma forte relação entre a di-
com enfermidades. Consciente desses fatores, nâmica familiar e o curso clínico das condições
308 MICHAEL P. NICHOLS

médicas (Campbell, 1986), bem como pesqui- Um dos mais conhecidos desses programas prá-
sas mais recentes que demonstram que a tera- ticos de treinamento de habilidades é o siste-
pia familiar tem um efeito positivo sobre a saú- ma de Relationship Enhancement desenvolvi-
de física e a utilização do atendimento de saú- do por Bernard Guerney, Jr., (1977) em Penn
de (Law e Crane, 2000). State. O Relationship Enhancement normal-
No início da década de 1990, o campo mente envolve 10 sessões, que podem se es-
atingiu a maioridade, com três livros indican- tender por alguns meses. Os chamados facilita-
do isso (McDaniel et al., 1992; Ramsey, 1989; dores ensinam os participantes a esclarecer
Rolland, 1994). Cresceu e adotou um paradig- seus conflitos e depois reconhecer e expressar
ma inteiramente novo, chamado atendimento o que estão sentindo, aceitar os sentimentos
de saúde familiar colaborativo, com uma gran- um do outro, negociar e elaborar problemas, e
de conferência anual que começou em 1996 e aprender a buscar a satisfação, tornando-se
atualmente oferece 14 plenários e mais de 50 parceiros emocionais (Ginsberg, 2000). Em
oficinas. Nessa conferência, terapeutas famili- cada sessão há palestras e treinamento expe-
ares médicos muito conhecidos, como John riencial, e são dadas tarefas para se fazer em
Rolland, Bill Doherty, Lorraine Wright, Susan casa, com o objetivo de levar os participantes
McDaniel e Thomas Campbell, apresentam seu a praticarem e ampliarem habilidades no seu
trabalho juntamente com especialistas em dia-a-dia.
medicina, enfermagem, serviço social e admi- Os programas de Relationship Enhance-
nistração hospitalar. A esperança e promessa ment oferecem aos casais um treinamento em
desse movimento significam uma nova forma três conjuntos de habilidades básicas (Ginsberg,
de trabalho para os terapeutas familiares e tam- 2000):
bém um novo modelo para atendimento de
saúde em nível nacional, mais humano e efeti- • A habilidade expressiva (de posse) (ficar cien-
vo para os custos. te dos próprios sentimentos, assumir a res-
Em conclusão, a terapia familiar médica ponsabilidade por eles sem projetá-los nos
e a psicoeducacional compartilham muitos ele- outros e afirmá-los)
mentos com os outros modelos deste capítulo, • A habilidade de resposta empática (recepti-
e todos eles representam uma tendência signi- va) (aprender a escutar e entender os sen-
ficativa: afastar-se de um relacionamento an- timentos e motivos da outra pessoa)
tagonista com as famílias e buscar uma parce- • A habilidade de conversar (discussão-nego-
ria colaborativa. Os terapeutas, agora, são in- ciação/engajamento) (aprender a escutar e
centivados a procurar as forças da família, em a transmitir o entendimento do significado
vez dos déficits, e encontrar maneiras de reti- do que foi ouvido; os parceiros podem se
rar a família da culpa e da acusação que fre- alternar nas posições de ouvinte e locutor)
qüentemente acompanham seus problemas.

Para ajudar os casais a avaliar se estão


PROGRAMAS DE ENRIQUECIMENTO preparados para o casamento, David Olson e
DOS RELACIONAMENTOS seus colegas criaram o Premarital Personal and
Relationship Inventory (PREPARE). Esse ques-
O método psicoeducacional também foi tionário de 165 itens (Olson, 1996) foi plane-
aplicado a casais e famílias que desejam ad- jado para ajudar os casais a compreenderem e
quirir habilidades para lidar com os problemas discutirem suas histórias, expectativas, e as
de relacionamento do cotidiano. Alguns tera- áreas em que poderiam encontrar dificuldades.
peutas não acreditam que cursos de auto-aju- As atitudes e expectativas dos parceiros são
da possam substituir a atenção individual de exploradas em 11 áreas, incluindo expectati-
um terapeuta com formação profissional, mas vas em relação ao casamento, à comunicação,
esses programas são muito populares, e uma ao relacionamento sexual, às diferenças de
das razões é que as pessoas que participam de personalidade, ao gerenciamento financeiro, à
programas de enriquecimento conjugal não sen- resolução de conflitos, à criação de filhos, ao
tem o estigma associado a “estar em terapia”. lazer, à família e amigos, aos papéis conjugais,
TERAPIA FAMILIAR 309
e às crenças espirituais. O PREPARE mostrou- zo na satisfação com o relacionamento incluem
se útil para identificar potenciais conflitos e melhora na comunicação, satisfação sexual e
para promover discussões que podem preve- menor intensidade de problemas. Os ganhos a
nir problemas no futuro (Stahmann e Hiebert, longo prazo (em um seguimento após quatro
1997). anos) geralmente revelam que os benefícios
Decididamente, o mais popular e difun- foram mantidos, especialmente na comunica-
dido de todos os programas para melhorar os ção (Silliman, Stanley, Coffin, Markman e
relacionamentos é o fim de semana do encon- Jordan, 2002). Na Tabela 11.2 nós apresenta-
tro de casais, introduzido em Barcelona por um mos algumas orientações para fazer os relacio-
padre jesuíta, Gabriel Calvo (Chartier, 1986). namentos funcionarem bem.
Esses retiros de fim de semana, que fornecem
apoio e enriquecimento para casais católicos,
foram importados para este país no final da GERENCIAMENTO DE SAÚDE
década de 1960 e, desde então, têm sido am-
plamente adotados por diversos grupos de igre- Parece irônico que, com todos os emocio-
jas (Stahmann e Hiebert, 1997). Milhares de nantes desenvolvimentos na terapia familiar,
casais aproveitaram esses programas de enri- a influência mais poderosa sobre o campo
quecimento de fim de semana para trabalhar atualmente não tenha nada a ver com a teoria
sua comunicação, suas habilidades de solução clínica. As companhias de gerenciamento de
de problemas, sua intimidade sexual e suas saúde controlam cada vez mais não apenas o
questões espirituais. Alguns grupos religiosos acesso aos clientes, mas também o tipo de te-
inclusive exigem que os casais participem de rapia que eles recebem, quanto tempo podem
um programa desses antes de poderem casar ser tratados, e quanto o terapeuta vai receber
na igreja. pelo seu trabalho.
Um programa de enriquecimento do rela- Na onda inicial do gerenciamento de saú-
cionamento mais cuidadosamente pesquisado de, os terapeutas candidatavam-se para recebe-
é o Prevention and Relationship Enhancement rem encaminhamentos. Depois que recebiam,
Program (PREP), desenvolvido por Floyd, precisavam pedir permissão ao gerente do caso
Markham, Kelly, Blumberg e Stanley (1995) na para mais sessões e tinham de justificar seus
University of Denver. Essa abordagem de apren- planos de tratamento. As companhias de geren-
dizagem social, criada na década de 1980, ensi- ciamento de saúde estão considerando esse
na habilidades de comunicação e solução de microgerenciamento caro demais, de modo que
conflitos e explora atitudes e expectativas em a segunda onda envolve incentivos para que
relação ao casamento. O objetivo primário é aju- os próprios terapeutas reduzam custos. Nesta
dar os casais a aprenderem a enfrentar e resol- segunda onda, os terapeutas concordam com
ver conflitos, de modo a não incorporarem pa- contratos de “capitação”, em que fornecem
drões defensivos prejudiciais ao seu relaciona- atendimento de saúde mental para um grupo
mento. específico por um valor anual preestabelecido.
As sessões de PREP têm dois formatos: Embora o sistema de capitação possa desesti-
encontros semanais ao longo de várias sema- mular os terapeutas a oferecerem certos servi-
nas e sessões tipo maratona, realizadas em um ços, pelo menos eles estarão lutando com sua
hotel durante um fim de semana. Ambas as própria consciência e não com estranhos sem
versões incluem palestras e exercícios experien- rosto.
ciais focalizando o manejo dos conflitos, a co- Os terapeutas reagiram de várias manei-
municação e o perdão, assim como práticas ras. Alguns vêem o gerenciamento de saúde
religiosas, recreação e amizade. Os casais como positivo, ou pelo menos inevitável, a cor-
aprendem como e quando levantar um assun- reção de uma situação que estava fora de con-
to conflituoso, como identificar questões escon- trole. Eles dizem que, antes do gerenciamento
didas por trás de brigas crônicas, uma aborda- de saúde, a psicoterapia era irresponsável e
gem estruturada à solução de problemas, e a exploradora, sem nenhum incentivo para con-
criar um tempo para se divertir. Os resultados ter custos descontrolados. Esses terapeutas
têm sido animadores. Os ganhos no curto pra- aprendem a agradar as companhias de geren-
310 MICHAEL P. NICHOLS

Tabela 11.2
Habilidades essenciais para um funcionamento efetivo como casal

A) Estrutura
1. Acomodação
Aprenda a aceitar e se adaptar às preferências e expectativas do outro, ceda em algumas questões, mas
não sempre, para que não se crie ressentimento.
Ela aprendeu a aceitar o desejo dele de jantar cedo, enquanto ele concordou em acompanhá-la no culto
religioso semanal. Contudo, ela não concordou em trabalhar apenas meio turno, e ele manteve sua viagem
anual com os irmãos para pescar, embora ela odiasse ser deixada para trás.
2. Estabelecimento de fronteiras
Crie uma fronteira protetora em torno do relacionamento que reduza, mas não elimine, o contato com
outras pessoas.
Ele parou de sair com os amigos três vezes por semana; ela começou a perguntar o que ele achava, antes
de concordar que os pais dela viessem para o fim de semana.
Demonstrar seu comprometimento com seu parceiro cria uma base segura de apego, assim como
confiança na permanência do seu relacionamento. Assegure-se de que seu parceiro sabe que você se
importa e está para valer nesse relacionamento.
Ele parou de se defender dizendo “Se você não gosta disso, por que não procura outra pessoa?”, porque
isso só a deixava insegura e zangada. Ela faz questão de contar a ele com quem almoçou, pois sabe que o
ciúme dele faz com que se preocupe.
B) Comunicação
1. Escute e reconheça o ponto de vista do seu parceiro.
Ela descobriu que fazer um esforço sincero para dizer coisas como: “Então você gosta mais deste
porque...” antes de contrapor sua própria opinião fazia com que ele sentisse que ela respeitava o seu ponto
de vista. Com relação às questões mais polêmicas, ele descobriu ser essencial perguntar primeiro o que
ela achava e então escutar pacientemente. Em alguns casos, era uma boa idéia nem sequer expressar sua
opinião sobre o assunto naquele momento, e sim mais tarde.
2. Impeça a escalação das brigas aprendendo a recuar antes que as espirais negativas tornem-se realmente
desagradáveis. Sugira um intervalo e combine voltar a conversar em um momento posterior específico.
“Eu estou ficando chateada; vamos parar e conversar sobre isso hoje à noite, depois da janta, certo?”
3. Evite a invalidação e os ataques.
“Você é tão irresponsável”, pode estar óbvio, mas é tão invalidador quanto “Eu acho que você está
exagerando”. Não critique a personalidade de seu parceiro nem negue o que ele está sentindo.
C) Solução de problemas
1. Faça pedidos positivos, tais como “Você estaria disposta a...?” em vez de criticar “Você nunca...!”
2. Se você pedir alguma coisa, esteja preparado para dar algo em troca.
Era mais fácil conseguir que ele fizesse coisas com ela e as crianças se ela também sugerisse momentos
em que ele poderia fazer algumas das coisas que gostava de fazer sozinho. Ele aprendeu que se oferecer
ocasionalmente para fazer as compras ou preparar o jantar fazia com que ela sentisse mais vontade de
fazer coisas para ele – e que se oferecer espontaneamente funcionava melhor do que tentar fazer uma
troca.
3. Traga um problema a ser resolvido só depois que não estiver mais com raiva. Fale de suas preocupações
diretamente, mas gentilmente.
Ela ficou furiosa por ele ter tomado o partido do pai dela contra ela numa discussão. Contudo, decidiu não
dizer nada até se acalmar. Na noite seguinte, depois do jantar, ela começou dizendo: “Querido, eu gostaria

(Continua)
TERAPIA FAMILIAR 311
Tabela 11.2
Habilidades essenciais para um funcionamento efetivo como casal (continuação)

de conversar sobre uma coisa que estou sentindo, mas estou com medo, porque isso pode deixar você
furioso”. Enfatizar que esses eram sentimentos dela e dizer que estava preocupada com a reação dele
ajudaram a deixá-lo num humor receptivo.
4. Pense em vocês dois como uma equipe trabalhando contra o problema.
Em vez de brigar a respeito da “frieza” dele e da “dependência” dela, eles começaram a falar sobre como
poderiam se ajustar de acordo com seus “diferentes níveis de conforto”. Em resultado, eles planejaram as
próximas férias de modo que pudessem jogar golfe e tênis juntos, e ela fosse visitar as amigas enquanto
ele tirava um dia para pescar.
5. Assegure-se de ter compreendido as preocupações do outro antes de tentar encontrar uma solução.
Ele estava chateado por ela querer dar apenas uma entrada mínima na compra da nova casa, pois isso
resultaria em pagamentos mensais elevados devido à hipoteca. Para ele, fazia mais sentido dar a entrada
mais alta possível, para baixar os pagamentos mensais o máximo possível. Todavia, em vez de continuar
argumentando, ele perguntou o que a preocupava. Ela temia que, sem uma reserva na poupança, eles
fossem surpreendidos por alguma emergência e ficassem em má situação. Então, finalmente, ele entendeu
como ela se sentia.
D) Consideração
1. Faça coisas agradáveis para seu parceiro e para o relacionamento.
Gestos espontâneos – como elogios, abraços, pequenos presentes, telefonar no meio do dia para dizer
“Eu te amo” – tranqüilizam e demonstram um ao outro o quanto você se importa e ajudam a manter um
sentimento positivo no relacionamento.
E) Divertimento
1. Faça um esforço para criar momentos agradáveis para os dois, e não use atividades de lazer como uma
ocasião para discutir problemas ou conflitos.
Ele criou o hábito de convidá-la a ir ao cinema, caminhar no parque, visitar museus e jantar fora aos
sábados. Ela aprendeu que conversar sobre problemas nesses passeios tendia a estragar o clima.

Adaptado de Nichols, M.P. The Lost Art of Listening. Nova York: Guilford Press.

ciamento de saúde e nunca lhes falta trabalho, RESUMO


mesmo que ganhem menos por hora. Outros
estão tentando sobreviver atraindo clientes que Durante as duas últimas décadas, o mo-
podem pagar do próprio bolso e descobrindo vimento da terapia familiar sofreu uma série
outras maneiras de empregar suas habilidades, de críticas duras – de feministas, pós-moder-
tal como mediação em divórcios; consultoria nistas, construcionistas sociais, multicultura-
para empresas, escolas e tribunais; apresentar listas e profissionais que trabalham com pes-
ou coordenar oficinas de estudo e trabalhar em soas abusadas, pobres, gays e lésbicas e pes-
departamentos de recursos humanos. Outros, soas cronicamente doentes. Os terapeutas fo-
ainda, estão lutando ativamente contra a onda ram desafiados a tornarem-se mais colaborati-
gigantesca do gerenciamento de saúde orga- vos; sensíveis a diferenças de etnicidade, raça,
nizando-se em grupos que oferecem alternati- classe, gênero e orientação sexual, e interes-
vas a esse sistema, alimentando a mídia com sados em crenças e valores, não apenas em
um fluxo constante de histórias de terror so- ações e interações. O especialista em sistema
bre o gerenciamento de saúde e abrindo ações familiar foi destronado pelo conversador com-
judiciais antitruste.5 passivo.
312 MICHAEL P. NICHOLS

Esse novo interesse pela colaboração não soas contam a si mesmas. Como veremos no
é nenhum acidente – reflete um amadureci- Capítulo 13, Michael White e seus colegas do
mento do campo. Inicialmente, os pioneiros se movimento narrativo traduziram esse insight
aproximaram da família como de uma pode- em uma abordagem de tratamento inovadora
rosa adversária – “homeostática”, “resistente” – e poderosa. Ajudar os clientes a construírem
em parte devido a um preconceito inato. De- histórias novas e mais produtivas sobre sua
terminados a salvar os “bodes expiatórios da experiência certamente é um avanço em rela-
família”, viam as mães como inimigas a serem ção às tentativas manipuladoras de controlá-
vencidas e os pais como figuras periféricas a los e superá-los em esperteza. Todavia, na ex-
serem ignoradas. Os sistemas de fato resistem tensão em que os terapeutas narrativos ape-
à mudança, mas uma das razões pelas quais os nas substituem ação e interação por cognição,
terapeutas familiares encontraram tanta resis- eles correm o risco de ignorar tudo o que nós
tência foi por estarem ansiosos demais para aprendemos sobre como a dinâmica familiar
mudarem as pessoas e serem lentos demais molda as vidas dos membros da família – in-
para compreendê-las. dependentemente das histórias que contam a
Os terapeutas familiares nos ensinaram a si mesmos.
olhar além das personalidades individuais, para Os dois grandes valores do ceticismo pós-
os padrões que as transformam em uma famí- moderno são a diversidade e a democracia.
lia – uma organização de vidas interligadas, Respeitar perspectivas múltiplas certamente é
governada por regras estritas, mas não-expres- uma coisa boa. Duas expressões muito positi-
sas. Só que, nesse processo, eles criaram uma vas desse valor são o surgimento de modelos
entidade mecanicista – o sistema familiar – e integrativos e um renovado respeito por for-
começaram a batalhar com ela. A maioria dos mas diversas de organização familiar. Contu-
desafios que sacudiram e reformularam a te- do, não é tão bom rejeitar todas as normas e
rapia familiar foi uma reação a esse mecanicis- tratar cada indivíduo como absolutamente úni-
mo. Contudo, se a revolução sistêmica foi lon- co. Isso significa que não temos nenhuma ne-
ge demais em uma direção, o mesmo podemos cessidade de conhecimentos e nenhum espaço
dizer de alguns de seus críticos. para orientações. Os terapeutas familiares abra-
A crítica feminista foi a primeira, e talvez çaram a democracia ao defender abordagens
a mais influente, contestação das tradições da não-hierárquicas e ao se opor à imposição da
terapia familiar. Ao assumir uma posição con- influência. Conforme Bateson salientou, a hie-
tra o ataque às mães, as feministas desafiaram rarquia é inerente à natureza; as famílias em
a essência do pensamento sistêmico, salientan- tratamento, como outros sistemas sociais, cer-
do que conceitos como complementaridade e tamente precisam de algum tipo de equipe exe-
causalidade circular podem sugerir que mulhe- cutiva que tome decisões.
res subjugadas têm tanta culpa quanto seus A história-título da evolução da terapia
opressores. familiar – da cibernética de primeira – para
A ponte da terapia familiar para o século segunda-ordem, da terapia do MRI para a te-
XXI foi o construcionismo social. Assim como rapia focada na solução, do grupo sistêmico
quando os pioneiros mudaram seu foco dos de Milão para Hoffman e Goolishian, e do cons-
indivíduos para as famílias, essa recente mu- trutivismo para o construcionismo social e ago-
dança do comportamento para a cognição, e ra narrativo – é o que tem estado em primeiro
do desafio para a colaboração, está abrindo um plano na discussão intelectual. Durante todo o
novo mundo de possibilidades. Nos próximos tempo em que esses desenvolvimentos sensa-
capítulos, nós veremos quão animadoras são cionais estavam acontecendo, terapeutas fami-
algumas dessas possibilidades. liares que praticavam abordagens não tão na
Desde que Paul Watzlawick revelou as moda (comportamental, psicanalítica, estrutu-
implicações construtivistas do modelo do MRI ral, boweniana e experiencial) continuaram
em The Invented Reality (1984), os terapeutas trabalhando. Talvez seja um erro pensar que o
familiares passaram a perceber, cada vez mais novo, o que atrai atenção, é a única, ou a me-
claramente, o poder das histórias que as pes- lhor, coisa que está acontecendo no campo.
TERAPIA FAMILIAR 313
O movimento colaborativo levantou no- LEITURAS RECOMENDADAS
vas perguntas sobre o estilo de liderança do
terapeuta. Quando Harlene Anderson e Harry Andersen, T. 1991. The reflecting team. New York:
Goolishian defenderam uma “abordagem Norton.
colaborativa”, o que estava sendo rejeitado era Anderson, C. M., Reiss, D., e Hogarty, B. 1986. Schizo-
o modelo médico – um modelo de papel auto- phrenia and the family: A practitioner’s guide to psy-
ritário, em que o médico desempenha o papel choeducation and management. New York: Guilford
de especialista, de quem o paciente espera res- Press.
postas. Ser um especialista não significa ser um Avis, J. M. 1992. Where are all the family therapists?
ogro. Aqui, o avanço é desafiar o modelo mé- Abuse and violence within families and family the-
dico que, ironicamente, foi perpetuado em rapy’s response. Journal of Marital and Family The-
modelos de terapia familiar tão de vanguarda rapy. 18, p. 225-232.
quanto as abordagens estratégica e sistêmica Powers, B., e Richardson, F. 1996. Why is mul-
de Milão. Nós já não vemos o terapeuta como ticulturalism good? American Psychologist. 51, p.
um tecnocrata da mudança. Isso não significa 609-621.
que os terapeutas não devam ser especialistas – Gergen, K. 1985. The social constructionist move-
líderes no processo de mudança. ment in modern psychology. American Psychologist.
Finalmente, devemos dizer que, assim 40, p. 266-275.
como a terapia familiar não ficou imóvel nos Goldner, V. 1985. Feminism and family therapy.
últimos anos, a família também não ficou. A Family Process. 24, p. 31-47.
família de hoje está evoluindo e está estressada. Goodrich, T. J., ed. 1991. Women and power:
Passamos do modelo familiar de complemen- Perspectives for family therapy. New York: Norton.
taridade da década de 1950 para uma versão Greenan, D. E., e Tunnell, G. 2002. Couples therapy
simétrica – embora ainda não tenhamos che- with gay men: A family systems model for healing
gado a um acordo com o novo modelo. Talvez relationships. New York: Guilford Press.
seja o momento de fazer a pergunta: enquan- Hare-Mustin, R. T., e Marecek, J. 1988. The
to a família americana enfrenta dificuldades meaning of difference: Gender theory, postmo-
nesta época estressante de transição, que con- dernism and psychology. American Psychologist. 43,
ceitos a terapia familiar oferece para nos aju- p. 455-464.
dar a compreender e a lidar com as múltiplas Held, B. S. 1995. Back to reality: A critique of postmo-
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2. Os terapeutas colaborativos distinguem essas Luepnitz, D. 1988. The family interpreted: Feminist
conversas do estilo rogeriano não-diretivo, em- theory in clinical practice. New York: Basic Books.
pático, porque elas não só refletem como tam-
McDaniel, S., Hepworth, J., and Doherty, W. 1992.
bém oferecem idéias e opiniões, embora sem-
Medical family therapy. New York: Basic Books.
pre como sugestão.
3. Os casos em que um pai abusivo teria uma in- McGoldrick, M., Giordano, J., e Pearce, J. 1996.
fluência destrutiva sobre o bem-estar dos fi- Ethnicity and family therapy, 2.ed. New York: Guilford
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