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artigo

A violência contra a mulher na perspectiva


da terapia feminista da família

The violence against women in the context of feminist family


therapy

Resumo: Este artigo teórico tem como objetivo Abstract: This paper aims to present concepts Tatiana Camargo de
apresentar conceitos relacionados à violência related to violence against women in the conjugal Sant’Anna
contra a mulher no âmbito do relacionamento relationship, in the sense of the feminist family Psicóloga, psicodramatista,
conjugal, a partir da terapia feminista da família, therapy, combined with gender inequality con- mestra em psicologia pela
articulada com conceitos de desigualdade de gê- cepts. Initially, the paper presents concepts of Universidade Católica de
nero. Inicialmente, apresenta conceitos da terapia systemic family therapy, gender and feminism, Brasília – UCB, Brasília,
familiar sistêmica, gênero e feminismo, visando to facilitate the understanding of the emergence Brasil.
facilitar a compreensão sobre o surgimento da of the feminist family therapy. Then, it describes
terapia feminista da família. Em seguida, descre- the concepts of violence in the conjugal relation- Maria Aparecida
ve os conceitos de violência na relação conjugal ship in its various expressions. Later, it articulates Penso
em suas diversas expressões. Posteriormente, concepts of family and gender inequality in the Terapeuta de casais e família,
articula conceitos de família e de desigualdade sense of the feminist family therapy and finally, it doutora em psicologia pela
de gênero à luz da terapia feminista da família e attempts to articulate domestic violence, gender, Universidade de Brasília
finaliza buscando articular violência conjugal, gê- feminism, patriarchy and feminist family therapy. – UNB, pós-doutora em
nero, feminismo, patriarcado e terapia feminista Psicossociologia pela
da família. Keywords: feminist family therapy, violence Universidade Federal
against women, gender, feminism. Fluminense – UFF, professora
Palavras-chave: terapia feminista da família, do Programa de Pós-
violência contra a mulher, gênero, feminismo. graduação em Psicologia
da Universidade Católica
de Brasília – UCB, Brasília,
Brasil.

Introdução

Pesquisar sobre a questão da violência conjugal faz-se necessário uma vez que este
é um fenômeno multideterminado, sendo importante, para a sua compreensão
considerar aspectos sobre a dinâmica do relacionamento conjugal e também, os
estereótipos atribuídos ao gênero existentes em nossa sociedade. Neste sentido,
este artigo teórico tem por objetivo analisar as contribuições da terapia feminista
de família na compreensão da dinâmica de casais que vivem situação de violência
conjugal. Apresenta conceitos sobre a violência contra a mulher a partir da terapia
feminista da família, com contribuições das teorias feministas de gênero. Discutir
a questão da violência conjugal faz-se necessário, uma vez que este é um fenô-
meno multideterminado, sendo importante, portando, considerar os aspectos da
dinâmica do relacionamento conjugal, mas também os estereótipos atribuídos ao
gênero existentes em nossa cultura e sociedade.
O pensamento sistêmico contribuiu para a fundamentação e o surgimento
Recebido: 21-07-2015
da terapia familiar, compreendida como um sistema de interação, composto de Aceito: 01-10-2015

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subsistemas que se interligam e de- por mulheres, mas configurando-se
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senvolvem padrões de interação que sempre em relações desiguais de po-
governam o funcionamento da famí- der. Deste modo é importante ques-
lia e delineiam o comportamento de tionar o pressuposto de que as relações
seus membros (McGoldrick, Gerson na família funcionam sempre basea-
& Petry, 2012; Minuchin, 1982; 2008; das na complementariedade dos pa-
Minuchin & Fishman, 1990). Propõe a peis e na circularidade, ignorando as
mudança de foco intrapsíquico para o influências culturais externas sofridas
inter-relacional, enfatizando o contex- pela família e as diferenças de poder
to (tempo e espaço) no qual o sujeito (Featherstone, 1996; Libow, Rashkin
encontra-se inserido. Isso significa & Caust, 1982; Taggart, 1985; Walters,
que a teoria sistêmica traz um novo 1994). Segundo as feministas, esta for-
paradigma que avança do modelo li- ma de perceber o grupo familiar des-
near de causa e efeito para um modelo considerava as diferenças de poder
circular de padrão interacional, consi- existentes no seio familiar. Assim, des-
derando o indivíduo como um ser so- contentes com as negligências da tera-
cial que influencia o contexto em que pia familiar tradicional a respeito das
se encontra, ao mesmo tempo em que questões de gênero, iniciaram-se gru-
é influenciado pelo mesmo (Carter & pos de discussão que culminaram na
McGoldrick, 1995; Minuchin 1982; terapia feminista da família, cujo olhar
2008; Vasconcellos, 2002). busca uma compreensão das relações
A teoria de gênero, por sua vez, familiares de forma mais igualitária e
pontua sobre a importância e o esta- justa, mas sem abrir mão dos pressu-
belecimento de condições igualitá- postos sistêmicos que discutem a di-
rias sociais e políticas entre homens nâmica do relacionamento do casal; as
e mulheres, pois entende que ambos relações dos cônjuges com as famílias
são sujeitos ativos e participantes no extensas de cada um; as redes sociais
processo de desenvolvimento, inde- do casal e do cônjuge e a manutenção
pendentemente de seus estereótipos do sistema (Goldner, Penn, Sheinberg
atribuídos ao gênero e tem o dever de & Walker, 1988; Goodrich, Rampage,
engajarem em um projeto social (Ban- Elman, & Halstead, 1990; Hare-Mus-
deira, 2008; Bandeira & Melo, 2010; tin, 1987; Narvaz & Koller, 2007).
Diniz & Almeida, 2012; Saffioti, 1999, A violência é considerada uma for-
2009; Schmidt, 2004; Scott, 1995; Ma- ma de privação que leva o ser huma-
cedo, 2009) no ao desrespeito para com seus se-
Segundo Walters (1994), o femi- melhantes, retirando-lhes seu direito,
nismo contemporâneo tem uma im- despojando-os de uma vida e redu-
portante contribuição para a área da zindo-os a uma condição de objeto,
terapia familiar, pois sugere reflexões ignorando e menosprezando o fato do
sobre convicções e práticas a respeito humano ser um sujeito possuidor de
da igualdade entre os dois sexos, numa desejos, vontades próprias com neces-
sociedade em que sobressaem os pa- sidades físicas e psicológicas (Chauí,
péis estereotipados de gênero. Além 2000; Miller, 1999; Saffioti, 1997). Essa
disso, historicamente a subordinação e observação se encontra qualificada
a desvalorização da mulher e a opres- tanto no âmbito social quanto fami-
são masculina sempre existiram, sen- liar, pois a violência sempre esteve as-
do que, na sociedade moderna, esta sociada a relações de dominação e po-
opressão também pode ser exercida der, em que um encontra-se em uma

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relação de submissão para com outro lência contra a mulher era motivo de A violência contra a mulher
detentor do poder que, muitas vezes, preocupação pois as questões relacio- na perspectiva da terapia 97
feminista da família
o exerce oprimindo e explorando. Por- nadas à violência conjugal são fenô- Tatiana Camargo de Sant’Anna
Maria Aparecida Penso
tanto, a opressão é exercida pelas clas- menos sociais, e como tais, precisam
ses dominantes, detentoras de regalias ser enfrentados com um conjunto de
e privilégios sobre uma classe domina- estratégicas políticas e de intervenção
da e repreendida que possui determi- social direta e que atue em diferentes
nadas obrigações (Bandeira, 2012; Bu- áreas como: educação; saúde; justiça;
cher-Maluschke, 2004; Rifiotis, 2006). segurança pública e direitos huma-
Como afirma Velázquez (2003), “uso nos (Medrado & Lyra, 2003). Assim,
y abuso de la fuerza física y a obligar, em 2003, é lançado o Plano Nacional
mediante cualquier tipo de coacción, a de Enfrentamento à Violência contra
que una persona haga algo en contra a Mulher, que tem como uma de suas
de su voluntad” (p.27). vertentes principais o enfrentamento à
No que tange à definição de vio- violência contra a mulher e estabelece
lência contra a mulher, os conceitos como meta a criação de uma Políti-
apresentam-se a partir de diferentes ca Nacional sobre a temática (Brasil,
expressões, tais como violência de 2013a). Comparando os dados dos
gênero, violência familiar, violência períodos antes e depois da vigência
intrafamiliar e violência doméstica. da lei Maria da Penha, percebe-se que,
Dentre os diversos termos utilizados apesar da população estar mais cons-
para caracterizar a violência contra a ciente a respeito do tema e de já terem
mulher, será utilizado neste trabalho passado 9 anos que a lei 11.340/06 foi
o termo “violência conjugal”, por ser promulgada, ainda nos defrontamos
esta uma expressão de uso comum na com dados alarmantes sobre a violên-
sociedade e seu significado ser tipifi- cia conjugal.
cado na Lei 11.340/06, mais conheci- A violência contra a mulher é um
da como Lei Maria da Penha (Brasil, fenômeno que tem ganhado grande
2006) e na Convenção de Belém do repercussão nacional e mundial por
Pará (Ações em Gênero, Cidadania e ser caracterizada como uma forma
Direitos [AGENDE], 2004). de violação dos direitos humanos Em
A Lei Maria da Penha entrou em vi- 2012, foi divulgado o Mapa da Violên-
gor em 07 de agosto de 2006 e tem a cia: Homicídios de Mulheres no Brasil
importante característica de ser a pri- que apresentou, dentre outros dados, o
meira lei a abordar de forma específica histórico de assassinatos de mulheres
a violência conjugal, reconhecendo seu entre os anos de 1980 a 2010 (Waisel-
ciclo e compreendendo a sua especifi- fisz, 2012). As informações mostram
cidade, devendo ser interpretada sob que, nas quatro décadas de pesquisa,
a perspectiva de outros pressupostos 92 mil mulheres foram assassinadas
teóricos diferentes dos que eram ado- no Brasil. Deste total, 43,7 mil dos ca-
tados anteriormente (Campos, 2010). sos registrados ocorreram entre 1990
A partir dessa lei, a violência conjugal e 2010, passando de 1.353 assassina-
passou a ser reconhecida como uma tos, em 1990, para 4.465, em 2010, o
violação aos direitos humanos e, como que representa um aumento de 230%
tal, deve ser vista e tratada, resguar- de mulheres assassinadas no país. Os
dando sua real gravidade (Campos, dados anuais de mortes apresenta-
2010). Vale ressaltar que, mesmo an- dos pelo Mapa da Violência mostram
tes da referida lei, o fenômeno da vio- ainda que, em 2006, ano em que a Lei

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Maria da Penha entrou em vigor, 4.022 buscaram algum tipo de auxílio, seja
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mulheres perderam suas vidas, com por intermédio de uma rede social ou
um aumento de 138 casos, quando por denúncia (Brasil, 2013b).
comparado com o ano anterior. Após Pesquisas que têm como objetivo
um ano da promulgação da lei, o nú- o levantamento dos dados sobre a te-
mero de registro diminuiu. Contudo, mática em questão são importantes
esse número voltou a crescer até o ano por possibilitar subsídios para políti-
de 2010, período em que foi registra- cas públicas voltadas para o enfrenta-
do o índice de 4.465 mulheres vítimas mento da violência contra as mulhe-
de assassinato no país. O Mapa da res. Um exemplo é a criação da Lei no
Violência apresenta, ainda, os dados 13.104/2015, de 09 de março de 2015,
da Organização Mundial de Saúde que diz respeito ao feminicídio (Brasil,
(OMS), entre os anos de 2006 a 2010 2015a). A denominação feminicídio ou
no mundo, período em que o Brasil se femicídio é designada para conceituar
apresentou como sendo um dos países o homicídio de mulheres em razão do
com elevados níveis de homicídio de conflito de gênero, pelo simples fato
mulheres, ocupando a 7ª colocação de serem do sexo feminino, que en-
mundial, com uma taxa de 4,4 homi- volve, dessa forma, ódio ou menos-
cídios para cada 100 mil mulheres. prezo pela condição de ser mulher.
Quanto aos tipos de violência sofridos De acordo com o IPEA (Instituto de
pelas mulheres, o maior percentual é Pesquisa Econômica Aplicada), 40%
de violência física (44,2%), seguido de dos homicídios mundiais de mulheres
violência psicológica (acima de 20%) são cometidos por um parceiro ínti-
e de violência sexual (12,2%) (Waisel- mo. De 2001 a 2011, estima-se que no
fisz, 2012). Brasil ocorreram mais de 50.000 femi-
Uma recente pesquisa realizada no nicídios. Mesmo após a criação da Lei
ano de 2013 pela DataSenado (Brasil, Maria da Penha, a pesquisa realizada
2013b),sobre a violência conjugal e fa- pelo IPEA constatou que não houve
miliar contra a mulher, em municípios redução das taxas anuais de morta-
brasileiros com mulheres com 16 anos lidade. Os dados apontam que, no
ou mais e que residem no Brasil, mos- período de 2001 a 2006, a taxa anual
trou que99% das mulheres brasileiras de mortalidade por 100 mil mulheres
entrevistadas sabem da existência da brasileiras foi de 5,28, sendo que entre
Lei Maria da Penha. Segundo os dados 2007 e 2011 o percentual foi de 5,22%;
da pesquisa, 13,5 milhões de mulhe- Registrou-se, no período de 2009 a
res já foram vítimas de algum tipo de 2011, 13.071 feminicídios, o que equi-
agressão e destas, 31% ainda convivem vale a uma taxa de 4,48 óbitos por 100
com o agressor, sendo que 14% destas mil mulheres. Isso significa que nesse
ainda sofrem algum tipo de violência. período ocorreram, no Brasil, mais de
Dentre as mulheres que já sofreram 5 mil mortes de mulheres a cada ano,
violência, 65% foram agredidas pelo 427 a cada mês ou15 a cada dia, sendo
seu parceiro, 13% agredidas por ex- que 29% dessas mortes ocorreram no
-companheiros e em 11% dos casos, domicílio, 31% em via pública e 25%
foram agredidas por parentes consan- em ambientes de saúde (Brasil, 2015b).
guíneos e cunhados. De acordo com Diante de um problema de tal mag-
a pesquisa, 40% das mulheres agredi- nitude, sua compreensão demanda ar-
das procuraram ajuda após a primeira ticulações de diferentes abordagens e
agressão, mas em15% dos casos sequer conceitos distintos. Isso justifica a op-

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ção por apresentar neste artigo concei- novas informações, o que possibilitou A violência contra a mulher
tos da terapia feminista da família com o desenvolvimento de uma nova abor- na perspectiva da terapia 99
feminista da família
apoio da teoria de gênero, buscando dagem no campo das terapias de famí- Tatiana Camargo de Sant’Anna
Maria Aparecida Penso
colaborar para a ampliação do debate lia (Goldner et al., 1988). As críticas do
sobre esta problemática. feminismo às terapias familiares sistê-
micas, principalmente aquelas ante-
riores aos movimentos pós-modernos
A terapia feminista da família: do construtivismo e construcionismo
articulando conceitos de social, dizem respeito a sua negligên-
família e de desigualdade de cia quanto às questões relacionadas
gênero a gênero; para as feministas, os pres-
supostos de causalidade circular, que
A família é o sistema que mais influen- apontam para a noção de que todas as
cia indivíduos. Os intercâmbios rela- partes de um sistema estão igualmen-
cionais entre seus membros tendem a te envolvidas, tende a ignorar ques-
ser recíprocos, padronizados e repe- tões de responsabilidade e racionaliza
titivos, pois o funcionamento físico e o status quo (Narvaz & Koller, 2006,
emocional dos membros da família é 2007; Urry, 1994; Walters, 1994).
interdependente (McGoldrick, Gerson De forma geral, o feminismo trou-
& Petry, 2012; Minuchin, 2008; Vas- xe para o pensamento sistêmico novas
concellos, 2002). informações e críticas sobre as convic-
Diversas são as abordagens no cam- ções dos terapeutas familiares a respei-
po da terapia familiar. Neste artigo, to de sua teoria, frente a uma socieda-
fizemos a opção por utilizar como de patriarcal. Sugere que estes reflitam
parâmetro os conceitos da Terapia sobre seus princípios e práticas, tra-
Familiar Estrutural, cujo principal zendo à tona a discussão sobre a ne-
representante é Salvador Minuchin. cessidade de a terapia familiar incluir
Para Minuchin (2008), a terapia fami- em sua compreensão sobre a dinâmica
liar possibilita que terapeutas revisem familiar o fato de que, apesar de mu-
seus pressupostos introduzindo partes danças terem ocorrido no decorrer
de vários enfoques, para que se encai- da história, o modelo patriarcal ainda
xem no estilo peculiar e particular de continua latente, assim como a subor-
cada um e na estrutura de sua práti- dinação e desvalorização da mulher
ca. Segundo o autor, a disseminação (Featherstone, 1996; Goodrichet et al.,
dos pressupostos sobre a terapia fa- 1990; Narvaz & Koller, 2007). Desse
miliar permite o enriquecimento da modo, o feminismo, no campo das re-
área, pois à medida que isso ocorre, lações familiares, agrega esses fatos à
ideias outrora vistas como defasadas compreensão da dinâmica familiar.
frequentemente são revisadas. Essa O movimento da terapia feminista
abertura permite o desenvolvimento da família surge no final da década de
de novas abordagens no campo das te- 1970, quando terapeutas familiares,
rapias de família como, por exemplo, a como Peggy Papp, Olga Silverstein,
terapia feminista da família. Marianne Walters e Betty Carter des-
Com seus questionamentos e refle- contentes com a negligência dos as-
xões a respeito das desigualdades de pectos de gênero da terapia familiar, se
gênero, o movimento feminista contri- uniram e formaram grupos para dis-
buiu para uma revisão dos pressupos- cutir as questões femininas a partir de
tos da terapia familiar, introduzindo casos atendidos por elas. Em seguida,

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fundaram o The Women’s Institute for diretamente as famílias. Um terceiro
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Life Studies, um instituto que oferecia ponto se refere ao questionamento
cursos nessa área, tendo como propos- das tradicionais concepções de família
ta promover um espaço de discussão existentes na sociedade, que não le-
sobre questões, dúvidas e assuntos vam em consideração a existência de
feministas voltados para as mulhe- estereótipos genéricos e de relações de
res (Goodrich et al., 1990; Nichols & poder existente na sociedade e, muitas
Schwartz, 2007). vezes, autorizado por esta (Goodrich
A terapia feminista da família se et al., 1990; Urry, 1994).
consolida como uma ramificação da Portanto, a terapia feminista da fa-
terapia familiar sistêmica e, portanto, mília, ao inserir pressupostos do mo-
tem como objeto de estudo o indiví- vimento feminista em sua prática e
duo inserido em um sistema. Seu dife- considerar a desigualdade e a opressão
rencial é a inserção de pressupostos do como originárias de algumas dificul-
movimento feminista em sua prática, dades individuais e familiares, con-
tendo o cuidado de não negligenciar fronta estereótipos sobre o que seria
aspectos de gênero, pois entende que, ser homem ou mulher em nossa socie-
mesmo considerando a família como dade ampliando a teoria sistêmica de
sistema composto por subsistemas família, incluindo a questão de gênero
que interagem, não é possível negar as como importante fator na construção
questões relacionadas à diferença de das estruturas e das relações familiares
poder existente em nossa sociedade (Goldner et al., 1988; Walters, 1994).
entre homens e mulheres (Goldner et Nessa perspectiva, a terapia feminista
al., 1988; Hare-Mustin 1987; Narvaz & da família tem como objetivo auxiliar
Koller, 2007). as mulheres em seu empoderamento;
Ao incorporar pressupostos femi- possibilitar que as mesmas identifi-
nistas em seu campo de atuação, a quem suas capacidades e competên-
terapia feminista da família apresenta cias, a fim de se posicionarem diante
uma nova forma de conceituar e pra- das violências sofridas de forma mais
ticar a terapia de família. Sobre essa fortalecida e orientá-las sobre seus di-
abordagem, Minuchin (2008) escla- reitos políticos e sociais (Goldner et
rece: “A essência do trabalho clínico al., 1988; Miller & Bryan, 2005; Vat­
feminista encontra-se na atitude dos cher & Bogo, 2001; Walters, 1994).
terapeutas em relação ao gênero e na
sensibilidade ao impacto diferencial
que as intervenções têm sobre homens Articulações entre violência
e mulheres” (p. 81-82). conjugal, gênero, feminismo,
Esse modelo de terapia assume um patriarcado e terapia feminista
compromisso político com a mudan- da família
ça social por vários aspectos, um dos
quais é a preocupação com a manei- A perspectiva da terapia feminista
ra pela qual as questões de gênero e da família sobre a violência conju-
os papéis sociais e sexuais de homem gal precisa ser compreendida a partir
e mulher afetam o contexto familiar. dos conceitos de gênero, feminismo e
Outro fator diz respeito ao reconheci- patriarcado. O significado de gênero
mento das desigualdades e das opres- passou por diversas transformações
sões que o sistema patriarcal propor- no decorrer da história da humani-
ciona à sociedade e que influencia dade, inicialmente sendo vinculado à

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variável sexo (masculino ou femini- socioculturais interferem no sistema A violência contra a mulher
no), passando, posteriormente, a ser familiar e nos relacionamentos de seus na perspectiva da terapia 101
feminista da família
compreendido como uma categoria membros, influenciando na formação Tatiana Camargo de Sant’Anna
Maria Aparecida Penso
teórica relacional e contextual que cor- do indivíduo e nos aprendizados que
responde a um conjunto de símbolos, lhe foram transmitidos.
normas, valores sociais e atributos que Escrever sobre o feminismo con-
cada sociedade constrói a partir das temporâneo torna-se uma tarefa árdua
diferenças anatômicas sexuais e que por este se configurar em um discurso
dão sentido aos comportamentos do múltiplo com tendências variadas. As-
homem e da mulher (Diniz & Almei- sim, serão apresentadas aqui somente
da, 2012). Portanto, gênero se refere algumas ideias que servirão como au-
a uma categoria de análise histórica, xílio para compreender o fenômeno
tendo sua concepção diversificada so- da violência conjugal.
bre várias esferas nas quais cada femi- O movimento feminista apresenta
nista enfatiza determinados aspectos. análises revisadas sobre as questões
Para Scott (1995), “gênero é uma que envolvem a violência contra a mu-
categoria social, imposta sobre o cor- lher, problematizando, polemizando
po sexuado. O gênero é um elemento e debatendo o tema de forma incan-
constitutivo de relações sociais fun- sável. Tal movimento tem promovido
dadas sobre as diferenças percebidas mudanças sociais para as mulheres e
entre os sexos” (p. 14). Portanto, gêne- mostrado à sociedade fatos reais que
ro deve ser visto a partir do conceito precisam ser reconhecidos. (Melo,
de sexo social, e não biológico. É uma 2008; Narvaz & Koller, 2007). Ban-
categoria subjetiva, usada em oposi- deira (2008) pontua que o movimento
ção ao termo sexo, com o intuito de feminista elucida como em nossa so-
criar um espaço em que as diferenças ciedade as práticas discriminatórias de
entre homens e mulheres possam ser etnia, gênero, religião e classe social
pesquisadas independentemente das perpassaram a história da humani-
diferenças biológicas. Assim, mascu- dade, tendo a experiência masculina
linidade e feminilidade são modos de sido sempre privilegiada e a feminina,
agir socialmente, denominadas de gê- oprimida. É justamente a esse sistema
nero (Diniz & Almeida, 2012; Macedo, de dominação masculina que as femi-
2009). Dentro dessa discussão sobre a nistas se opõem, provocando reflexões
categoria de gênero, surge o feminis- sobre a concepção da humanidade, da
mo enquanto movimento organizado ética e das relações sociais (Narvaz &
de luta das mulheres por direitos polí- Koller, 2006).
ticos e civis igualitários, ou seja, o ter- Por ser um campo que proporciona
mo gênero passa a ser entendido como reflexões, discussões e debates, o femi-
uma relação política que acontece em nismo vem passando por transforma-
um campo histórico em que existem ções desde o discurso feminista ori-
relações de poder (Scott, 1995). Essa ginal. De acordo com Scott (2005), o
perspectiva de gênero é importante feminismo “original” focalizava a dife-
para a compreensão do que se entende rença sexual entre homens e mulheres
socialmente como atribuições que de- a fim de explicar a origem da opressão
finem homens e mulheres e seus signi- feminina e tinha como objetivo lutar
ficados nos casos de violência conjugal pela garantia de direitos, incluindo o
e se aproxima da leitura sistêmica, pois direito ao voto, e a eliminação da di-
afirma Minuchin (1982) que os valores ferença sexual na política. Isso ocorreu

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porque, naquela época, para que um homens. Com isso, o patriarcado se
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indivíduo fosse considerado cidadão, configura como uma hierarquia de re-
era necessário que este fosse homem, lação civil, oferecendo aos homens di-
branco, com poderio político, educati- reitos sobre as mulheres (inclusive os
vo e civil. Este “cidadão”, por sua vez, sexuais), sem qualquer restrição, além
oprimia e discriminava os ditos “inca- de representar uma estrutura de poder
pazes”, que eram os escravos (proprie- ideológico e violento.
dades dos outros), os pobres (ausentes Segundo Medrado e Lyra (2003),
de propriedade) e as mulheres (deveres observam-se em nossa sociedade es-
domésticos e cuidados com as crian- tereótipos construídos a partir de uma
ças) (Scott, 2005). Para Scott (2002), cultura patriarcal, onde os homens são
o feminismo era um projeto contra a educados e incentivados a exercerem a
exclusão política da mulher, que tinha masculinidade, por meio de atos agres-
como objetivo eliminar as “diferenças sivos que estão diretamente relaciona-
sexuais”. Narvaz e Koller (2006) rela- dos ao significado de “ser homem”. As
tam que, desde essa fase inicial até a brincadeiras desenvolvidas com tons
atualidade, o feminismo passou por de agressividade, a maneira de respon-
processos de transformações, sendo der proativamente às demandas, a for-
revisado e avaliado pelas próprias fe- ma de ser viril e provedor são aceitas
ministas no decorrer dos tempos. O e estimuladas pelo social, podendo ser
feminismo que no final do século XIX facilitadoras de posteriores atos vio-
foi um movimento caracterizado por lentos (Lima, Buxel & Clímaco, 2008).
uma luta das mulheres pelo direito ao As mulheres, por sua vez, devem ser
voto, no decorrer dos anos passou a ser submissas e dóceis, submetidas às es-
um movimento político e social. Na truturas sociais da família, cuja conti-
década de 1960 o movimento feminista nuidade devem manter. Um exemplo é
emergiu com uma grande força, ques- o ritual do casamento, em que a filha é
tionando a forma de relacionamento levada por seu pai para “ser entregue”
entre homens e mulheres – as relações ao seu futuro marido sem a presença
de poderes dos homens sobre as mu- da mãe (Swain, 2010).
lheres – e a liberdade e autonomia das Nesse sentido, Walters (1994), Bur-
mulheres sobre seus próprios corpos. ck e Daniel (1994) e Narvaz e Koller
Na década de 1980 foi criado o Conse- (2006) relatam que as mulheres, por
lho Nacional da Condição da Mulher serem mantenedoras da continuidade
e, no final do século XX, o movimento familiar, são estimuladas a serem mais
feminista teve como foco principal a expressivas emocionalmente, se pre-
questão da violência contra a mulher ocupando mais com os sentimentos
e a busca de espaços para uma maior de terceiros, em especial dos familia-
participação dos direitos das mulheres res, pois cabe a elas a responsabilidade
na área política (Pinto, 2010). pelo bem-estar geral de seus membros
De acordo com Saffioti (2004, e de sua família. Tal situação se torna
1999), o patriarcado diz respeito a um mais complexa quando a mulher tra-
contrato entre homens, tendo como balha fora de casa: “A dura existência
objeto as mulheres. Nesse acordo, a di- da mulher trabalhadora encerra para
ferença sexual se transforma em uma a educação dos filhos, para a autori-
diferença política, em que um poder dade do país, para a moralidade da
político é exercido pelos homens sobre família” (Saffioti, 2011, p.84). Ban-
as mulheres pelo simples fato de serem deira (2009) e Velázquez (2003) com-

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plementam afirmando que o papel de desigualdade social em que a valoriza- A violência contra a mulher
mantenedora do equilíbrio emocional ção diferenciada dos papéis masculino na perspectiva da terapia 103
feminista da família
dos membros de uma família (pais e e feminino ainda é encontrada, legiti- Tatiana Camargo de Sant’Anna
Maria Aparecida Penso
filhos), priorizando a honestidade e a mada e mantida como um fenômeno
fidelidade, que é dado à mulher, nada que atinge as mulheres, independente
mais é do que um controle social que, de cor, idade ou classe social (Brauner
em nome da ordem familiar, valida o & Carlos, 2004; Diniz, 2011). Além
poder do homem sobre ela. disso, a opressão e o desrespeito não
Segundo Saffioti (2001), os meios estão somente no ato explícito, mas
de comunicação, as escolas e as re- também no implícito, através de suas
ligiões reproduzem e intensificam, sutilezas convenientes compostas de
de maneira constante, o estereótipo regras e normas de condutas sociais e
masculino de organização hierárquica culturais (Bandeira, 2009).
e autoritária, sendo a função patriar- Para Saffioti (2004) e Narvaz e Kol-
cal do homem socialmente aceita e ler (2006), é importante voltar o olhar
autorizada, possibilitando a punição para alguns atos violentos que estão
daquilo que é determinado como des- sob um âmbito maior que vão além da
vio, no caso de mulheres. Esses fatores violência física, que são aqueles rela-
hierárquicos de poder são fortemente cionados à violência social. Isso signi-
vistos pela família, cuja mulher foi vio- fica que, antes de o marido agredir sua
lentada, e pela sociedade, como situa- esposa, do pai espancar o filho ou do
ções naturais e justificáveis, pois “os trabalhador ter sua imagem denegrida
homens estão autorizados a realizar pelo chefe diante dos colegas, existe
seu projeto de dominação-exploração uma violência que é apresentada e jus-
das mulheres, mesmo que, para isso, tificada como sendo condição neces-
precisem utilizar-se de sua força física” sária para manter a estrutura de uma
(Saffioti, 2001, p.121). sociedade. Trata-se, portanto, de uma
O movimento feminista critica o violência que tem como característica
sistema patriarcal dominante e propõe a negação do viver do indivíduo em
a busca de um novo olhar para trans- sociedade, pois desrespeita e denigre
formá-lo em um sistema em que todos, a pessoa humana, sendo esta expres-
homens e mulheres, possam expressar sa, dentre outras formas, a partir das
suas semelhanças e diferenças. Ou seja, discriminações raciais, das diferenças
em uma cultura que aceite as diferen- entre as classes sociais e da separa-
ças, sem transformá-las em estruturas ção sexual e de gênero (Odalia, 2004).
hierarquizadas nas quais um “manda” Desde os primórdios da humanidade
e o outro “obedece”, sendo que aquele sempre existiram grupos sociais que
que “manda” tem como características detiveram o poder sobre outros. Ou
ser autoritário e dominador, e o que seja, classes dominantes detentoras
obedece ser oprimido e subjugado. A de regalias e privilégios que oprimem
filosofia do movimento feminista re- outra classe dominada. Esta observa-
conhece as experiências diferentes que ção se encontra qualificada tanto no
homens e mulheres têm no decorrer de âmbito social quanto familiar, pois a
suas vidas, mas pontua que ambos de- violência sempre esteve associada às
vem ser tratados com respeito e justiça relações de dominação de poder (Bu-
(Jones, 1994; Swain, 2010). cher-Maluschke, 2004). Para Goldner
Na perspectiva feminista, a violên- et al. (1988), a desigualdade de gênero
cia conjugal é entendida como uma é uma realidade social existente que

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tem implicações nas relações de poder, em público, gritando ou humilhando-
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devido à formação discursiva patriar- -a. Pode acusá-la de ter amantes e co-
cal, que, infelizmente, regula e norma- meçar a vigiar cada movimento seu,
tiza os lugares e as relações de gêne- seguindo-a quando ela encontrar um
ro no social. Ao discorrerem sobre a amigo” (Miller, 1999, p. 34).
violência conjugal na perspectiva da Portanto, a violência é o assujeita-
terapia feminista da família, as autoras mento da mulher ao homem, que tem
consideram que aspectos familiares, autoridade e direito sobre ela e seus
culturais, políticos e sociais fazem par- filhos. A incorporação dessa lógica
te da ocorrência de tal violência, en- patriarcal é caracterizada como uma
tendendo que esta pode ser explicável, violência simbólica, pois proporciona
mas não é desculpável, pois se trata de aval para a dominação masculina na
um ato criminoso e, como tal, deve ser medida em que prevê a adequação da
tratado com sanções judiciais. mulher às normas impostas pelo dis-
No caso da mulher, como lembra curso masculino (Saffioti, 2004).
Bandeira (2009), existe uma violência A construção social da masculi-
que deriva das relações sociais de gê- nidade e feminilidade, determinada
nero que foram produzidas no decor- pela divisão social do trabalho e pelos
rer da história, no contrato conjugal e papéis desempenhados por homens e
na vida social em geral e estes fatos são mulheres, afeta a maneira de perceber
mais que uma simples transgressão de e lidar com a violência. À medida que a
normas e regras com fins de domina- mulher desempenha um lugar de sub-
ção e opressão. A violência contra a missão, no intuito de evitar conflitos e
mulher, acrescenta a autora, atinge a preservar o relacionamento, fica presa
sua integridade, causando dor, sofri- aos padrões culturais, uma vez que se
mento e medo que, muitas vezes, são sente como a responsável pela manu-
irreparáveis. Saffioti (2004) afirma tenção do casamento, o que alimenta
ainda que a violência conjugal é vista e favorece sua vulnerabilidade e, con-
como um fator que se encontra dire- sequentemente, a violência (Diniz &
tamente relacionado ao poder dado Pondaag, 2004; Falcke, Zagonel, Rosa
ao homem e à submissão da mulher & Bentancur, 2009; Velázquez, 2003).
construída no decorrer da história das As relações de poder impõem a
civilizações. Para a autora, existe uma mulher o silenciamento da violência
pressuposição social e cultural de que sofrida. Para Diniz e Pondaag (2004) e
o homem deve usar a agressão para ter Saffioti (2004), esse silêncio por parte
o domínio sobre a mulher e esta, por da mulher e a sua subordinação à vio-
sua vez, deve suportar tais agressões lência recebida de seu companheiro
por se tratar do seu destino. constituem uma estratégica de organi-
Miller (1999) acentua que a domi- zação e manutenção da opressão e do-
nação do homem sobre a mulher pode minação do patriarcalismo, uma vez
ser manifestada de diferentes formas, que a violência passa a ser silenciada
incluindo o espancamento, as opres- por ser um exercício do direito do ho-
sões verbais e até formas sutis e elabo- mem sobre a mulher.
radas de desqualificação, xingamentos, Para Goldner et al. (1998), a violên-
reclamações e anulação, onde o abuso cia masculina pode ser descrita a partir
emocional em suas diversas formas de dois níveis considerados simultâne-
destrói o autorrespeito e a autoestima os: o instrumental e o ato expressivo.
da mulher. “Ele pode envergonhá-la O primeiro é caracterizado por ser um

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poderoso método de controle social. utiliza os conceitos sistêmicos para A violência contra a mulher
Um homem, por exemplo, pode impor compreender as relações entre os na perspectiva da terapia 105
feminista da família
sua vontade no relacionamento, utili- membros do casal, sem perder de vista Tatiana Camargo de Sant’Anna
Maria Aparecida Penso
zando-se da alteração de sua voz ou de a influência dos fatores relacionados à
violência, seja ela física e/ou moral. Ao desigualdade de gênero e ao patriarca-
utilizar da violência como uma forma do existente em nossa sociedade. Para
de intimidação a serviço da domina- esta abordagem, a perspectiva pa-
ção masculina, ele escolhe, conscien- triarcal violenta, que foi, ao longo dos
temente, uma estratégia para conse- séculos, incentivada e mantida pela
guir aquilo que deseja. No nível do ato sociedade influenciou e influencia di-
expressivo, a violência é caracterizada retamente as relações familiares.
como sendo um impulso do homem,
uma resposta a um sentimento deses-
perador de perda relacionada ao poder Considerações Finais
ou a uma pessoa com quem se rela-
ciona, normalmente, sua esposa e/ou Buscou-se neste artigo apresentar as
companheira A esse respeito, Wood perspectivas da terapia feminista da
(2004) afirma que o uso da violência família, influenciada pelos conceitos
pode ser utilizado pelos homens como da teoria de gênero e do feminismo
forma de suprimir as manifestações de na compreensão da violência conjugal.
alguns comportamentos das mulheres Considerando o que foi exposto, per-
que ameaçam sua masculinidade. Nes- cebe-se a importância do estudo sobre
sa mesma linha de raciocínio, Johnson a violência conjugal contra a mulher
(2005) pontua que a violência conjugal sob os pressupostos da terapia fami-
é assimétrica, uma vez que existe uma liar sistêmica em consonância com as
maior ocorrência de homens que agri- questões de gênero, uma vez que vive-
dem as mulheres do que o contrário, mos em uma sociedade na qual vigora
o que, segundo o autor, provoca um um modelo patriarcal, com diferenças
terror na mulher, contribuindo para de níveis de poder entre homens e mu-
que elas adotem o comportamento de lheres, influenciando diretamente as
anulação em favor das vontades de seu relações familiares e entre os membros
companheiro. do casal.
Bucher-Maluschke (2004), buscan- Trata-se de uma revisão teórica so-
do aprofundar os aspectos psicológi- bre a relação entre as duas abordagens,
cos desse comportamento masculino, porém sem a pretensão de esgotar o
salienta que os homens, ao terem seus tema. Muito ainda precisa ser pesqui-
sentimentos de frustração intensifica- sado sobre como esses dois campos te-
dos, podem desenvolver a cólera, a de- óricos podem contribuir para a com-
pressão ou o desespero. Tais emoções preensão de um tema complexo como
favorecem o surgimento da agressi- a violência conjugal.
vidade, que pode se elevar quando o A terapia feminista da família, ao
homem se sente privado de afeto e as considerar juntamente com os concei-
sensações de desvalorização passam a tos sistêmicos, que tanto as mulheres
existir. quanto os homens têm funções in-
Em resumo, ao analisar as relações fluenciadas pelas estruturas sociais e
conjugais de modo geral e também são estereotipados em razão de ques-
aquelas que são permeadas pela vio- tões de gênero, de vivência em uma
lência, a terapia feminista da família cultura patriarcal, amplia a compreen-

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