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Artigo

Ciências & Cognição 2014; Vol 19(2) 218-232 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição
Submetido em 23/04/2013│Revisado em 25/05/2014│Aceito em 10/06/2014│ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 01/07/2014

Representações de gênero na prática de enfermagem na perspectiva


de estudantes
Representations of gender in nursing practice from the perspective of students
Leonardo Lemos de Souzaa, Derly Borges Araújob, Daiara Souza Silvab, Valeria Cristina Menezes
Bêrredob
a
Universidade Estadual Paulista Assis, São Paulo, Brasil. b Universidade Federal de Mato Grosso,
Rondonópolis, Mato Grosso, Brasil

Resumo Abstract
Este estudo objetivou investigar as representa- This study’s main goal was to investigate the
ções de estudantes de enfermagem sobre o tra- representations of nursing students about the
balho da(o) enfermeira(o) numa perspectiva de work of a nurse in a gender perspective, during
gênero, durante o processo de formação. A pes- the training process. The research used a sample
quisa utilizou uma amostra de 41 alunos do curso of 41 nursing students (1st and 9th semesters)
de enfermagem (1o e 9o semestres), sendo aplica- being applied to such a questionnaire, analyzed
do a estes um questionário aberto, o qual foi ana- in the face of the organizer model concept, and
lisado a partir do conceito de modelo organizador also the critics studies of gender. Was found the
além dos estudos críticos de gênero. Constatou-se research data, one is able to notice that, students
com os dados da pesquisa que os alunos e alunas, that start off their academic lives in the nursing
que iniciam na vida acadêmica dentro do curso de course have less stereotyped representations
enfermagem, têm representações sobre os com- regarding gender behavior and certain
portamentos de gênero com menos estereótipos problematization concerning the sexual division
e com certa problematização acerca da divisão of the profession. When it comes to training, from
sexual da profissão de enfermagem. No âmbito the moment in which these students begin to live
da formação, a partir do momento em que estes with the nursing practices, that are impregnated
alunos passam a conviver com as práticas de en- with stereotypes, in different contexts, the vision
fermagem, que estão impregnadas de estereóti- that once was considered generalizing, becomes
pos, em diferentes contextos, a visão que antes crystallized, delimiting the practices that exist in
era considerada como generalizada, passa a ser nursing. The data points out to the need of the
cristalizada delimitando as práticas dentro desta training courses to embark a problematization on
profissão. Os dados apontam para a necessida- the gender relations in the context of the nursing
de dos cursos de formação empreenderem uma practices, given the fact they seem to reinforce
problematização sobre as relações de gênero no standards, neglecting an egalitarian democratic
contexto das práticas de enfermagem, dado que and professional action in the professional field.
elas parecem reforçar estereótipos negligencian-
do uma ação profissional democrática e igualitária
no campo profissional.

Palavras-chave: modelos organizadores; gênero; Keyword: organizing model; gender; nursing edu-
educação em enfermagem. cation.

Autor de Correspondência:
L. Lemos de Souza - Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e Escolar. Av. Dom Antonio, 2100 Parque Univer-
sitário. Assis – SP. CEP 19.806-350, Tel. (18) 3302-5889, E-mail: llsouza@assis.unesp.br

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1. História da enfermagem e suas inter-relações com as questões de gênero


Durante determinada época, entendia-se Para Amorim (2009) o (des)valor da profis-
que os acontecimentos que não se emoldurassem são de enfermagem e o insuficiente reconheci-
nas práticas consideradas domésticas, não diziam mento por parte da sociedade, está diretamente
respeito às mulheres. Aos homens, dotados de relacionado às questões que direcionam suas prá-
maior força física, eram atribuídas uma série de ticas às ideias de devoção, caridade e submissão,
outros cuidados com o corpo em situações como: considerando a cultura patriarcal na qual o mas-
acidentes durante a caça e a pesca; ferimentos culino exerce relação de poder sobre o feminino.
de guerra; traumatismos e fraturas; domínio de Desse modo, a enfermagem assume em sua traje-
pessoas agitadas, embriagadas ou em estado de tória, desde suas origens até sua moderna profis-
delírio (Oguisso, 2007). sionalização, contornos que vão além da técnica
Lima (1993) aponta que há relatos da pre- e prática que são próprias desta profissão. Seu
sença feminina nas práticas de enfermagem des- percurso histórico, que mantém conexões diretas
de tempos remotos, no desempenho da arte do com a história social do trabalho, das mulheres e
cuidar das mais diferentes formas, concebidos da cultura dos cuidados, foi responsável por redi-
através de saberes que eram passados de ge- mensionar a assistência e ampliar as fronteiras da
ração para geração, voltados para o cuidado de atuação da(o) enfermeira(o), vista antes de forma
homens, mulheres, crianças, idosos, deficientes limitativa, como práticas a serem desempenha-
e pobres. Para este autor, a relação estabelecida das exclusivamente em espaços hospitalares ou
entre a enfermagem e o gênero feminino é um fa- por mulheres. A perspectiva de gênero torna-se
tor determinante na segregação técnica, política fundamental para se compreender a enfermagem
e social do trabalho, infligindo menor valor pro- no âmbito da prática, assim como no da formação
fissional para quem a exerce. Para Paixão (1979), nesse campo.
a figura matriarcal foi considerada a primeira en- Adotou-se nesta pesquisa a perspectiva críti-
fermeira da família na antiguidade, onde esta era ca e histórica dos estudos de gênero (Scott, 1995;
responsável por transmitir os saberes acerca do Louro, 1997), considerando que as relações en-
cuidar para as gerações femininas seguintes e os tre homens e mulheres e as representações des-
conhecimentos a respeito da enfermagem esta- tas relações sofrem mudanças constantemente,
vam diretamente ligados a assuntos médicos, re- compreendendo que as identidades dos gêneros
ligiosos e sociais. estão de certa forma sendo transformadas na so-
No entanto, apenas no final do século XIX,
ciedade.
principalmente na Inglaterra da Era Vitoriana,
Nas discussões de gênero apresentadas no
sob influência de Florence Nightingale, ocorreu
trabalho de Louro (1997), a relação masculino-
a feminização e foi instituída a divisão sexual nas
-feminino estabelece a oposição entre dois po-
práticas de enfermagem. Estas se caracterizam,
los, um polo dominante e outro dominado, e esta
respectivamente, pela ideia de vocação das mu-
seria a única forma de relação entre os dois ele-
lheres para o cuidar e pela coexistência da divisão
mentos. A dicotomia não é formada apenas pela
do trabalho entre a enfermeira e o médico e entre
questão do gênero, esta contempla, também,
a enfermeira e os demais integrantes da equipe
questões referentes a raça, classe social, religião,
de enfermagem, com os quais a enfermeira divide
idade, podendo suas solidariedades e antagonis-
o parcelamento dos cuidados (Colpo, Camargo &
mos formar os arranjos mais diversos, alterando a
Mattos, 2006).
O reconhecimento da enfermagem como noção simplista de homem dominante e mulher
profissão levou à implementação de seu ensino. dominada.
Todavia, as primeiras escolas da área da saúde, Neste trabalho assumiu-se o conceito de gê-
foram consideradas como uma estratégia médica nero formulado por Louro (1997) e Scott (1995),
e governamental para controlar e estabelecer re- que definem gênero como uma construção histó-
gras para a formação e para o exercício das práti- rica e social que rompe binarismos e dicotomias;
cas realizadas pelos sujeitos que optaram por esta não são propriamente as características sexuais,
área (Magalhães, Oliveira, Moreira, Adamcyzk & mas é a forma como são concebidas ou aprecia-
Honorio, 2005). das, aquilo que se diz ou se pensa sobre elas que

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vai formar efetivamente o que é feminino ou mas- mento histórico.


culino em uma dada sociedade, em um dado mo-

2. Formação e a prática profissional em enfermagem: estudos sobre o tema gênero


Segundo Padilha, Vaghetti & Brodersen com a construção de gênero, embora as ciên-
(2006) a participação masculina na enfermagem cias sociais não a privilegie, por várias razões: a)
no Brasil surgiu depois da criação dos hospitais por a enfermagem ser uma profissão majorita-
psiquiátricos, onde se fazia mais necessária a riamente feminina; b) as atividades sociais estão
força do que o próprio cuidar. O enfermeiro era subjacentes à segregação sexual do trabalho, e
contratado como cuidador, e como perfil tinha consequentemente, às questões de gênero; c) a
de ter bondade, humildade e estar apto ao tra- enfermagem está ligada diretamente aos serviços
balho. Com a participação do homem o curso de e cuidados diretos ao ser humano, enquadrando
enfermagem começou gradativamente a se mo- o estereótipo feminino; e d) por considerar que
dificar, estes passaram a ocupar cargos de dire- as questões de gênero ultrapassam a identidade
ção e chefia nas instituições de saúde, e o termo do próprio ser, independente de estudar os indi-
“enfermeiro”, passou a ser utilizado na linguagem víduos ou profissões majoritariamente femininas
da profissão, ou seja, enfermeiras passaram a se ou masculinas.
autodenominarem enfermeiros. A justificativa Os relatos levantados por Ojeda et al. (2008)
para tal modificação na terminologia foi que uma apresentam claramente ideias referentes ao sexo
profissão composta pelos gêneros – masculino e masculino na visão das profissionais da enfer-
feminino – deve ser referenciada pelo masculino, magem como “alguém que faça força” ligando o
para atender às exigências da língua portuguesa. sexo masculino a papéis relacionados mais à for-
Colpo et al. (2006) afirmam que esta divisão ça do que ao cuidar. Já Borges, Lima & Almeida
não serve apenas para atestar a diferenciação dos (2008) tratam o cuidado como ato primordial no
sexos na sociedade, mas também para justificar trabalho da enfermagem, independentemen-
os processos em que a sociedade emprega essa te do sexo, cor e poder aquisitivo da sociedade,
diferenciação para hierarquizar as atividades. A porém, ressaltam o sentimento de exclusão que
diferenciação do gênero no trabalho da enferma- diferencia o (des)valor do conhecimento da enfer-
gem ocorre no centro da força: “poder” que os magem em relação ao gênero do profissional. Por
homens exercem sobre as mulheres. ser uma profissão com caracterização feminina
Ojeda, Eidt, Canabarro, Corbellini & Creutz- imprime no profissional masculino uma desqua-
berg (2008) apontam que se pode observar uma lificação social. Para a enfermeira, na visão social,
importante participação masculina que, embora essa desigualdade não a exclui de seu ambiente
estivesse em pequeno número, colaborou para de trabalho, mas a implica em uma condição de
deixar mais evidentes as verdades e mitos circun- submissão.
dantes a enfermagem. As mulheres se mostram, Características, como carinho e sensibilida-
de acordo com os resultados do estudo, mais pre- de, apareceram como sendo específicas das mu-
ocupadas com questões relacionadas à posição, lheres, enquanto que para os homens a força e
cargos e história. Já nas manifestações expressas a racionalidade foram relacionadas como carac-
pelos homens a preocupação com a imagem da terísticas principais, tipificando e diferencian-
figura masculina, quando estes estão inseridos do alguns tipos de cuidados de acordo com os
no meio profissional da enfermagem, tem peso sexos (Ferreira, Figueiredo & Arruda 2002). Por
maior, já que de certa forma os colocam em uma isso, para Brito; Brito; Guazzinelli & Montenegro
situação de questionamento sobre qual seria seu (2011) a carga histórica a qual a enfermagem está
papel em um universo tido como feminino, além diretamente ligada, ainda é responsável por mol-
de evidencias de preconceitos sociais associando dar o saber e o fazer específico da profissão, que
o homem e a enfermagem com a homossexuali- estão ligados a sentimentos e comportamentos
dade. apreciados e orientados por aspectos éticos, hu-
Araújo (1996) afirma que a identidade da manos e religiosos.
profissão de enfermagem passou a se articular Um preconceito formado acerca dessas

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ações delimitadas por gênero é bem exemplifi- ências enquanto profissionais, caracterizando a
cado nos trabalhos de Galastro & Fonseca (2006) consciência de gênero, o que reforça ainda mais
e Araújo (1996), ao afirmarem que o papel de a ideia de submissão que a enfermagem carrega.
cuidadora é central na identidade feminina, en- Lopes, Meyer & Waldow (1996) apontam
quanto a racionalidade é o elemento estrutural que, de acordo com historiadores e etnólogos,
do masculino. Segundo o modelo patriarcal, que as divisões de modalidades desempenhadas de
marcou culturalmente as relações sociais e profis- acordo com os sexos são passíveis de mutações
sionais, a enfermagem não seria superior ao ho- tanto no tempo quanto no espaço, podendo uma
mem, mas sim o homem seria superior ao tipo de tarefa que é essencialmente masculina em deter-
prática característica da profissão, o cuidar, que é minada sociedade em outra ser considerada fe-
tido como eminentemente feminino. minina.
Segundo Amorim (2009), o cuidado como Machado (2004) indica que aos poucos está
predominância feminina ocasiona a construção mudando a representatividade masculina da en-
de discursos heterogêneos relacionados ao sexo, fermagem, onde os próprios acadêmicos estão
que determinam certa rivalidade no que se refere tentando quebrar o tabu de que o cuidado huma-
ao cuidado, já que, de acordo com o imaginário no é visto apenas sob a ótica do feminino, para
social, o ambiente hospitalar, onde são dispensa- que possam enquadrar esta prática social num
dos cuidados aos pacientes, não é um lugar para contexto que envolva os dois gêneros em harmo-
homens, pois se trata de um universo destinado nia para desenvolverem suas atribuições, a fim de
as mulheres, por terem como característica prin- proporcionar aos pacientes bem-estar, segurança,
cipal o papel de cuidadora. conforto e o direito de escolha ao ser cuidado.
Modelos de ensino precisam ser criados para O trabalho de Scherer, Scherer & Carvalho
colaborar com a valorização das qualificações que (2006) evidencia um fator importante que é a
são construídas durante o processo de vida, para desconstrução da carga cultural que o graduando
que reflexões sejam estimuladas, visando à apre- traz consigo, que é responsável pelas diversas re-
ensão e o fortalecimento de novos conceitos, fa- presentações da prática de enfermagem, pois são
vorecendo a transformação daqueles adquiridos construções culturais que foram sendo criadas
ao longo da vida do indivíduo antes deste inserir- durante todo o processo educativo, desde os pri-
-se no campo da enfermagem (Amorim, 2009). meiros contatos com as diferenciações propostas
Nascimento (1996), afirma que os estereó- pela sociedade como sendo atributos femininos
tipos responsáveis pelas divisões sexistas são re- e masculinos, e que limitam o trabalho do enfer-
produzidos pelas enfermeiras que desenvolvem meiro de acordo com os sexos.
as práticas docentes, em virtude de suas experi-

3. Representações de gênero e modelos organizadores


A presente pesquisa tem como principal ob- por ele (Lemos-de-Souza, 2009).
jetivo investigar as representações de gênero no A perspectiva teórico-metodológica dos Mo-
contexto das práticas de enfermagem a partir dos delos Organizadores do Pensamento (MOP) (Mo-
relatos de discentes do curso de enfermagem de reno, Sastre, Leal & Bovet, 1999) parte desses
uma universidade pública. O conceito de repre- novos paradigmas buscando novas concepções
sentações eleito para ser a base de investigação é sobre o conceito de representação. Essa perspec-
aquele contido na Teoria dos Modelos Organiza- tiva tem origem nas discussões e estudos sobre as
dores do Pensamento (TMOP). representações mentais, superando o conceito de
O conceito de representação é tradicio- representação como simples cópia do real, mas
nalmente entendido como cópia do real. Com a afirmando a sua construção multifacetada e fruto
TMOP ele passa a ser ampliado. A não neutralida- da atividade interpretativa do sujeito sobre o real.
de na perspectiva dos novos paradigmas em ciên- Assim, pode-se definir modelo organizador como
cia, pautados na complexidade, trazem a subjeti- um conjunto de representações elaboradas pelos
vidade do investigador, enfatizando sua atividade sujeitos diante de uma determinada situação, na
interpretativa da realidade, portanto, construída qual se abstraem os elementos significativos e as

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implicações entre significados e elementos (Mo- inventivo no qual estão em jogo aspectos afeti-
reno et al., 1999). vos, culturais e cognitivos na produção de inter-
Assim, privilegia-se a dimensão inventiva, pretações sobre o real.
com base nas experiências dos sujeitos e suas re- A presente pesquisa terá como base o con-
lações com o meio. As abstrações de elementos ceito de modelo organizador ao permitir que a
significativos de cada situação enfrentada ou vi- partir dele se extraiam as representações cons-
venciada pelo sujeito se organizam de tal forma truídas pelos participantes acerca do gênero nas
que são pautas em ações e em formas de pensar, práticas profissionais de enfermagem.-
sentir e agir em determinados contextos. Aspecto

4. Metodologia
Esta pesquisa é de abordagem qualitativa, modelo organizador dado que ele é uma constru-
considerando, segundo Flick (2009), que o mate- ção elaborada pelo sujeito e é produto da sua in-
rial produzido é “o texto”, que é matéria de inves- terpretação da realidade. As representações são
tigação. Outra postura é a do entendimento de construídas pelos participantes da pesquisa com
que as realidades em estudo são construções, isto base nas suas experiências e relações sociais e
é, não são essências e a investigação retrata o seu culturais de que participam.
momento de construção. Na pesquisa qualitativa, Outro caráter dessa investigação é sua pro-
a perspectiva do participante sobre suas práticas posta de ser um estudo exploratório transversal,
e seu conhecimento cotidiano é o foco de interes- no sentido de levantar indícios e informações a
se do pesquisador. A partir dessas considerações respeito de um campo de pesquisa a partir de um
os métodos devem ser abertos e permitirem um referencial teórico-metodológico recentemente
entendimento de um processo ou relação. elaborado, em que se permite buscar caminhos
Tal abordagem está articulada com a ideia de de análise e interpretação do material coletado.

4.1 Participantes
Foram participantes estudantes de ambos os masculino; e 17 alunos do 9o semestre, sendo 15
sexos do curso de graduação em enfermagem de do sexo feminino e 02 do sexo masculino; tota-
uma universidade pública. Tais participantes se lizando 41 alunos, 36 do sexo feminino e 07 do
distribuíram da seguinte forma: 24 alunos do 1o sexo masculino.
semestre, sendo 19 do sexo feminino e 05 do sexo

4.2 Instrumentos
Foi elaborado um questionário com ques- buídas ao trabalho realizado pela mulher na en-
tões abertas a serem respondidas por escrito pe- fermagem? Explique porque você destacou essas
los participantes. Para que se pudesse conhecer qualidades?
as representações de gênero sobre o trabalho 4.2) Quais as qualidades que podem ser atri-
da(o) enfermeira(o), as questões foram aplicadas buídas ao trabalho realizado pelo homem na en-
sequencialmente, conforme a ordem a seguir. fermagem? Explique porque você destacou essas
1) Quais as atribuições que você destaca ao qualidades?
trabalho em enfermagem. Quais as qualidades 4.3) Indique situações vivenciadas por você
exigidas para ser um bom profissional? ou por pessoas que você conhece na qual hou-
2) O que é ser homem? ve diferenciação de gênero no trabalho da(o)
3) O que é ser mulher? enfermeira(o). Explique porque essa diferencia-
4) Considerando a perspectiva de gênero: ção aconteceu?
4.1) Quais as qualidades que podem ser atri-

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4.3. Procedimento para coleta de informações

Para a realização das entrevistas contactou- momento algum da pesquisa, não sendo neces-
-se a coordenação do curso para que fosse auto- sária a identificação nos questionários. Apenas
rizada a aplicação dos questionários, que foram seriam identificados os sujeitos de acordo com os
respondidos por escrito em sala de aula pelos sexos e os respectivos semestres.
alunos e alunas. Todos os procedimentos éticos Em seguida foi informado que as questões
foram respeitados. seriam aplicadas separadamente, sem explici-
Antes da aplicação dos questionários os pes- tar-se seus conteúdos, e que conforme fossem
quisadores se identificaram para as turmas, em terminando, a próxima questão seria entregue,
seguida foi apresentado brevemente o tema do assim por diante, para que uma pergunta não in-
trabalho, qual era a intenção dos pesquisadores terferisse na resposta da outra, acompanhando
na realização de tal estudo e informado que os um processo lógico, que era o intencionado pela
nomes dos sujeitos não seriam divulgados em pesquisa.

4.4. Procedimentos para a análise das informações


Partiu-se do conceito de modelo organizador (por participantes, por questão), tendo o papel do
e de seus componentes: os elementos abstraídos investigador extrema relevância na interpretação.
e retidos como significativos e as implicações en- A escolha do processo de análise de conteú-
tre elementos e significados (Moreno et al., 1999). do para extrair os modelos organizadores (ou re-
Como se trata de analisar as representações presentações) valeu-se do modelo aberto (Laville
de gênero a partir dos questionários e construir & Dionne, 1999), a partir do qual não se definiu
os modelos organizadores utilizados pelos parti- previamente categorias, estas emergiram da bus-
cipantes para explicar as diferenças de gênero e ca interpretativa e aproximações entre as diversas
suas relações com as práticas de enfermagem a respostas de núcleos de significados.
análise é eminentemente qualitativa, na qual se Após a digitalização das respostas, o material
dará especial atenção ao conteúdo das informa- foi organizado e analisado da seguinte maneira: a)
ções coletadas. identificação do núcleo central de elementos abs-
A análise realizada considerou os recursos traídos e retidos como significativos; e b) identifi-
linguísticos e semânticos, nos quais a inferência cação e análise dos modelos organizadores sobre
e organização do núcleo de significados definem o trabalho da(o) enfermeira(o).
conteúdos de representação a partir dos dados

5. Resultados

Nesta seção apresenta-se a análise das ques- foco de análise, pois seu conteúdo nos auxilia na
tões que são mais pertinentes aos objetivos desta construção de respostas sobre o objetivo de pes-
pesquisa. Foram eleitas as questões 4, 5 e 6 como quisa.

5.1 As representações de gênero na perspectiva de participantes do 1º e 9º semestre de enferma-


gem (questões 4 e 5)

Nessa primeira parte os resultados sobre as que destacariam no trabalho executado pela en-
representações dos participantes acerca das prá- fermeira e pelo enfermeiro.
ticas de enfermagem, a partir de uma perspectiva Busca-se apresentar, com os quadros a se-
de gênero, considerando os conteúdos das ques- guir, a qualidade das respostas dos participantes,
tões 4 (enfermeira) e 5 (enfermeiro), quando fo- uma abordagem quantitativa segue-se em outra
ram solicitados a responder quais as qualidades discussão mais à frente.

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Compreensão; Paciência
Delicadeza; Sensibilidade
Visão holística
Humanidade
Responsável; Comprometimento
Atenciosa
Cuidadosa (às vezes ligada á maternidade); Carinhosa; afetiva
Dedicada
Carismática
Perfeccionista
Autocrítica
Propositiva (iniciativa)
Líder
Projetista (capacidade de planejamento)
Quadro 1. Núcleo de elementos abstraídos e retidos como significativos sobre a enfermeira. Elabora-
ções dos autores.

O que se pode perceber no quadro acima é suas raízes no trabalho feminino, destacando-se
que a maioria dos atributos eleitos como signifi- o cuidar como uma qualidade eminentemente
cativos pelos acadêmicos de enfermagem sobre feminina. Tal quadro é semelhante aos dados de
o trabalho da enfermeira remete-se a uma ima- Brito et al. (2011) que apontam para um conjun-
gem da mulher ainda carregada de estereótipos, to de significados atribuídos pelos estudantes de
poucos foram aqueles que mencionaram outras enfermagem sobre o “ser enfermeiro”. Neste es-
capacidades, comumente atribuídas aos homens: tudo os autores atribuem à questão de gênero as
liderança; iniciativa; racionalidade; altruísmo; e qualificações dadas pelos estudantes. Devido ao
planejamento foram características mencionadas fato de ser uma profissão eminentemente femi-
por poucos participantes. nina, são atribuídas pelas discentes mais carac-
O atributo mencionado mais vezes é o do cui- terísticas, tais como: conhecimento e amar, tidas
dado, como característico e definidor da enferma- como fundamentais nas representações sobre a
gem. Isso leva a ressaltar que esta profissão tem profissão.

Força física
Cuidado/amar ao próximo (apesar de não ser sua característica)
Racionalidade
Confiança
Altruísmo
Postura
Atencioso
Ético
Organizado
Resistente
Ágil/habilidoso
Liderança
Projetista (capacidade de planejamento)
Quadro 2. Núcleo de elementos abstraídos e retidos como significativos sobre o enfermeiro. Elabora-
ção dos autores.

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No estudo de Brito et al. (2011) os discentes -se da “ciência” fundamento da enfermagem como
(homens) atribuíram ao ser enfermeiro representa- neutralizadora das questões sexistas.
ções relacionadas ao profissionalismo, habilidade e Vale ressaltar que realizando uma análise in-
iniciativa, características semelhantes ao perfil que dividual das questões 4 e 5, juntas, percebeu-se
encontrado no núcleo de elementos acima. Assim uma continuidade nas respostas no sentido de
as características apontadas remetem-se a típicos que: a) ora elas distinguiam os trabalhos do en-
atributos masculinos que destacam força física, ra- fermeiro com o da enfermeira (com base em es-
cionalidade, liderança e resistência. tereótipos culturais dos papéis de gênero); b) ora
Ao destacarem tais características, os partici- eles distinguiam, embora apresentassem reflexões
pantes indicam divisão no trabalho entre homens e sobre essa distinção, buscando argumentos para
mulheres no campo da enfermagem, indo além das afirmar que nem todos eram diferentes (homens
questões técnicas; a cultura no campo de trabalho e mulheres enfermeiras(os), os quais podem ter
e a modalidade de atuação também são indícios de características semelhantes e positivas para o tra-
que o gênero comparece como uma categoria de balho em enfermagem. Na terceira modalidade de
diferenciação. Nos quadros de elementos apresen- resposta, c), não atribuíam diferenças (e universa-
tados anteriormente, existem características que lizavam) com base no gênero, os papéis da enfer-
são comuns aos que se atribuem à enfermeira e meira e do enfermeiro. Nesse caso, a maioria deles
ao enfermeiro, outros são bem localizados de acor- não mencionaram quaisquer atributos específicos,
do com os estereótipos. A mulher enfermeira tem simplesmente afirmaram que eram semelhantes.
suas características fundadas na ideia de cuidado A partir dessas considerações, foi possível
e o homem enfermeiro tem suas características construir categorias de modelos (representações)
fundadas na ideia da racionalidade. Nestes casos, em que se agrupassem as respostas dos participan-
os estereótipos são reforçados por aqueles partici- tes que pudessem demostrar as representações da
pantes que não apresentam reflexões sobre esses prática da(o) enfermeira(o), numa perspectiva de
lugares construídos para o enfermeiro e a enfer- gênero. Assim, a seguir serão estabelecidas rela-
meira ou são questionados quando são refletidos, ções entre os modos de representação dos acadê-
tal como aponta Saffioti (1987) sobre a delimitação micos sobre a prática de enfermagem, a partir de
social do papel da mulher e do homem na socie- categorias que foram construídas na análise dos
dade. conteúdos dos protocolos de pesquisa, seguindo
Os significados atribuídos pelos participantes a noção de modelo organizador (um conjunto de
ao enfermeiro e à enfermeira parecem afirmar o representações) e a proposta de análise a partir
papel importante da cultura na construção social da leitura conjunta das questões 4 (enfermeira) e
dos gêneros. A naturalização destas características 5 (enfermeiro) do questionário. Essa estratégia
localizadas nos sexos vincula às práticas de saúde permite organizar os dados, de modo que possa
desdobramentos que podem interferir nos con- responder a questão principal da pesquisa.
textos de promoção e formação na área. Amorim Assim, os modelos organizadores (ou repre-
(2009) menciona que no ensinar e no aprender em sentações) podem ser descritos em categorias, as
enfermagem sexismos são perpetuados nos dis- quais podem ser: Categoria A – pensamento este-
cursos das participantes de sua investigação, nos reotipado entre os sexos; Categoria B – pensamen-
quais se atribuem aos homens menos capacidade to estereotipado seguido de reflexão; Categoria C
de cuidar. Ainda, por vezes as participantes tentam – negação de estereótipo seguido de reflexão.
minimizar as diferenças em seu discurso valendo-
Sexo do
Categoria A Categoria B Categoria C Total
participante
04 01 - 05
Masculino
(75%) (25%) (0,0%) (100%)
09 04 06 19
Feminino
(47,4%) (21%) (31,6%) (100%)
13 05 06 24
Total
(51,7%) (28,3%) (25%) (100%)
Tabela 1. Representações sobre o trabalho da(o) enfermeira(o) segundo acadêmicos do 1o semestre do Curso de Enfer-
magem de uma Universidade Pública. Elaboração dos autores.

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A tabela 1 apresenta a divisão de categorias A, significa uma prática sexista no contexto da en-
de acordo com as respostas atribuídas pelos alunos fermagem no início da formação, o que reforça a
do 1o semestre de forma geral. Na visão dos alunos necessidade de políticas de formação que abram
do sexo masculino, é considerável a presença da di- um debate acerca dos conteúdos de gênero.
visão das práticas de enfermagem de acordo com Ao mesmo tempo, os participantes do sexo
os sexos, pois dos 05 participantes, 04 estereoti- feminino ocuparam as três categorias, de certa for-
param o trabalho realizado pela(o) enfermeira(o), ma equilibrada, apresentando maior prevalência
deixando clara a ideia de dicotomização do traba- na categoria A, na qual os papéis estão definidos
lho realizado pela enfermagem. Apenas nas res- de acordo com o sexo, sem reflexividade sobre as
postas de um participante foi possível destacar a afirmações, como o apresentado a seguir:
presença de estereótipos, porém há uma reflexivi-
dade sobre as diferenças impostas de acordo com “A atenção, carinho e paciência, destaquei
os sexos, pois o mesmo afirma que: essas três qualidades porque a mulher conse-
gue dedicar atenção a varias coisas ao mesmo
“Na enfermagem não há trabalho que se des- tempo. Carinho pelo fato de que isso já é tra-
taque do trabalho do homem, uma vez que balhado na mulher desde a infância, pelo fato
todas as funções o homem também pode fa- de dar carinho ao seu marido e filhos que ela
zer, talvez o cuidado com mulheres seja apro- queira ter. Paciência porque também é traba-
priado à enfermeira pela preferência de al- lhado com as mulheres desde a infância, mas
gum paciente” (Sujeito 20/1, sexo masculino). nem todas tem essa característica” (Sujeito
05/1, sexo feminino).
Esta resposta dada pelo participante, consi-
derando seu o ingresso ainda inicial, revela os des- Entretanto, quando se considera as catego-
dobramentos da cultura de gênero envolvida nas rias B e C juntas há alguma reflexividade por parte
práticas e discursos sobre a enfermagem. Segundo dos alunos, principalmente pelas participantes do
Padilha et al. (2006), isso destaca a importância da sexo feminino, de problematizar os estereótipos.
problematização sobre esse tema na formação e na De modo semelhante encontra-se nas discussões
profissão. Além disso, Simões & Amâncio (2004), de Amorim (2009), sobre o ensinar e o aprender
consideram que a masculinidade deve ser foco dos em enfermagem, que esta reflexividade pode estar
estudos sobre gênero no campo da enfermagem, presente, mas não se sustenta ao longo do curso
dado que os homens são minoria e a profissão tem quando alunos e alunas imergem em conteúdos
a sexuação com o foco no feminino, produzindo e práticas sexistas. Este dado faz suscitar o ques-
significações, na profissão, que se desdobram em tionamento de que o curso pode se desdobrar ao
exclusões. longo do tempo, passando a fomentar o sexismo
Apesar de o número de participantes abor- no cotidiano de ensinar e aprender enfermagem.
dados possibilitar uma generelização, a forte pre- Os dados sobre os grupos do 9º semestre po-
sença de homens e mulheres (51,7%), na categoria dem oferecer mais indicações sobre essa questão.

Sexo do
Categoria A Categoria B Categoria C Total
participante
- - 02 02
Masculino
(0,0%) (0,0%) (100%) (100%)
13 02 - 15
Feminino
(86,6%) (23,4%) (0,0%) (100%)
13 02 02 24
Total
(76,4%) (11,8%) (11,8%) (100%)
Tabela 2. Representações sobre o trabalho da(o) enfermeira(o) segundo acadêmicos do 9o semestre do Curso de Enfer-
magem de uma Universidade Pública.

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A tabela 2 informa a divisão das categorias de E sobre as qualidades atribuídas ao traba-


acordo com as respostas apresentadas pelos alu- lho realizado pelo homem na enfermagem, como
nos do 9o semestre. Os participantes do sexo mas- apresentado a seguir:
culino se concentraram totalmente na categoria C,
na qual as práticas não são diferenciadas de acordo “- Força;
com os sexos, transmitindo por meio de suas de- - Inteligência;
clarações ideias claras sobre a igualdade dos sexos - Racionalidade;
quanto às praticas de enfermagem, como a seguir: - Precisão;
- Foco.
“Qualidades: responsável, atenciosa, execu-
tar atividades sabendo o que está fazendo. As Estas qualidades foram destacadas porque
mesmas qualidades que podem ser atribuídas o homem consegue ser racional a frente de
aos homens; qual a diferença?” (Sujeito 02/9, certas situações decisivas” (Sujeito 01/9, sexo
sexo masculino). feminino).
Um preconceito formado acerca dessas ações
Há uma tendência maior por parte dos par- delimitadas por gênero é bem exemplificado nos
ticipantes do sexo feminino para a categoria A, na trabalhos de Galastro & Fonseca (2006) e Araújo
qual os papéis estão bem definidos demarcando (1996), ao afirmarem em seus estudos que o papel
a divisão das práticas de enfermagem de acordo de cuidadora é central na identidade feminina, en-
com os sexos, sem nenhum tipo de reflexão sobre quanto a racionalidade é o elemento estrutural do
as representações relacionadas ao trabalho da(o) masculino.
enfermeira(o), conforme resposta apresentada É possível observar que há uma diferen-
quando questionada sobre as qualidades atribuí- ça entre as representações do trabalho da(o)
das ao trabalho realizado pela mulher na enferma- enfermeira(o) entre os participantes do sexo fe-
gem, como apresentado a seguir: minino e masculino. Nota-se que os participantes
do sexo feminino foram os únicos a ocupar as cate-
“- Compreensão; gorias A e B e os do sexo masculino a categoria C,
- Delicadeza; imprimindo grande valor às características defini-
- Visão holística; doras dos sexos pelas mulheres e da igualdade das
- Humanidade. práticas pelos homens.
A fim de verificar se há mudanças no modo
Estas qualidades foram destacadas porque como os estudantes de enfermagem constroem
a mulher é capaz de ter uma visão mais am- suas representações de gênero acerca da prática
pliada, identificando fatores de riscos impor- do trabalho da(o) enfermeira(o), elaborou-se a ta-
tantes para resolução de problemas” (Sujeito bela 3 que compara os dados organizados nas cate-
01/9, sexo feminino). gorias A, B e C para o 1o e no 9o semestre.
Semestre do
Categoria A Categoria B Categoria C Total
participante
13 04 07 24
1º Semestre
(54,1%) (11,7%) (29,2%) (100%)
13 02 02 17
9º Semestre
(76,5%) (11,75%) (11,75%) (100%)
26 06 09 41
Total
(63,4%) (14,6%) (22,0%) (100%)
Tabela 3. Representações sobre o trabalho da(o) enfermeira(o) segundo estudantes do Curso de Enfermagem.
Na tabela 3 observa-se que os participantes do tes do 9o semestre concentraram significativamente
1o semestre estão de certa forma, distribuídos de na categoria A, na qual as práticas de enfermagem
maneira relativamente equilibrada entre as catego- estão totalmente alheias aos estereótipos, havendo
rias, não apresentando uma prevalência significativa um equilíbrio entre os que estão situados nas cate-
para uma das categorias, no entanto os participan- gorias B e C, porém em menor valor.

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Isso significa que os participantes do 9º se- preocupação com a questão, sendo apontada pe-
mestre demonstram ter uma visão mais unificada las tabelas anteriores e nesta possibilidades de re-
acerca das diferenças de gênero nas práticas de en- flexão dos discentes que podem ter mais a ver com
fermagem, a qual pode ser atribuída às experiên- sua história e experiência de vida do que com um
cias vividas no campo prático, onde realizam aulas espaço problematizador dos gêneros na Universi-
práticas e estágios supervisionados. Por outro lado, dade. De acordo com Amorim (2009), é necessário
os participantes do 1º semestre têm variações no investir em outros modelos de ensinar, aprender e
modo como representam tais práticas, talvez pela avaliar, considerando o gênero como conceito re-
ainda pouca influência de uma experiência concre- lacional, e, portanto problematizador das relações
ta no campo prático. entre os sexos.
Este quadro geral torna-se interessante ao De modo a perceber como se distribuem as
sinalizar que muitos dos estudantes têm conheci- repostas segundo o sexo dos participantes entre os
mentos e práticas sexistas desde o início da forma- dois semestres, elaborou-se a tabela 4, a seguir:
ção em enfermagem, intensificando-os ao longo
dela. No contexto estudado, parece não haver uma
Semestre do
Categoria A Categoria B Categoria C Total
participante
04 - 01 05
1º Semestre
(75%) (0,0%) (25%) (100%)
- - 02 02
9º Semestre
(0,0%) (0,0%) (100%) (100%)
04 - 03 07
Total
(57,2%) (0,0%) (42,8%) (100%)
Tabela 4. Representações sobre o trabalho da(o) enfermeira(o) segundo estudantes do sexo masculino do Curso de En-
fermagem. Elaboração dos autores.

Na tabela 4 as representações das práticas de ções para esse fato podem estar relacionadas às
enfermagem de acordo com os participantes do experiências vivenciadas no contexto de forma-
sexo masculino do 1o e 9o semestres estão dispos- ção ou, até mesmo, anterior à formação. Possi-
tas segundo as categorias. Pode-se observar uma velmente, as experiências com papéis de gênero
concentração maior por parte dos participantes do distintos podem ser problematizadas ao longo do
sexo masculino do 1o semestre na categoria A, na curso pelo próprio aluno/homem de enfermagem.
qual os papéis desempenhados pelos profissionais Por ser uma profissão eminentemente feminina,
de enfermagem estão bem definidos e divididos os homens do 9º semestre podem ser questiona-
conforme os sexos, opondo-se aos participantes dos a todo o momento sobre seu desempenho e
do 9o semestre que estão totalmente concentra- habilidade em diferentes tarefas, além da própria
dos na categoria C, segundo a qual não há uma di- sexualidade. Ao contrário, os do 1º semestre po-
visão sexista nas práticas de enfermagem. dem trazer estereótipos de experiências anteriores
Pode-se dizer que os homens do 1º semestre à formação, que é geralmente marcada pela pre-
apresentam uma visão mais estereotipada do que sença do sexismo e a heteronormatividade nas re-
os homens do 9º semestre. As possíveis explica- lações sociais (Saffioti, 1987; Louro, 1997).

Semestre do
Categoria A Categoria B Categoria C Total
participante
09 04 06 19
1º Semestre
(47,4%) (21%) (31,6%) (100%)
13 02 - 15
9º Semestre
(86,7%) (13,3%) (0,0%) (100%)
22 06 06 34
Total
(64,8%) (17,6%) (17,6%) (100%)
Tabela 5. Representações sobre o trabalho da(o) enfermeira(o) segundo estudantes do sexo feminino do Curso de Enfer-
magem. Elaboração dos autores.

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A tabela 5 apresenta a divisão das categorias concentram de forma expressiva na categoria A,


nas quais as participantes do sexo feminino do 1o havendo uma porcentagem pequena na categoria
e 9o semestres estão organizadas, conforme as re- B. Em ambas as categorias existe a divisão sexista
presentações das práticas de enfermagem de acor- das práticas de enfermagem, sendo que na catego-
do com os sexos. ria B é feita uma reflexão sobre essa divisão, o que
Não houve nenhuma tendência significati- a difere da categoria A. Tais dados sugerem que as
va para qualquer uma das categorias no grupo de participantes do 9º semestre possuem uma visão
participantes do 1º semestre, no entanto, pode-se mais sexista do trabalho em enfermagem do que
visualizar que as participantes do 9o semestre se as do 1º semestre.

5.2 As experiências pessoais ou vicárias sobre a discriminação de gênero na prática em enfermagem


(questão 6)

Na busca por elucidar quais experiências os Os relatos supra-apresentados evidenciam a


acadêmicos indicam como significativas na dife- ideia de que a força está ligada ao profissional do
renciação entre os sexos na prática de enferma- sexo masculino, sendo as tarefas que estão relacio-
gem identificou-se dois elementos abstraídos e nadas ao desempenho da força física, diretamente
retidos como relevantes. Foram dois ambientes atribuídas aos homens, criando certa divisão entre
predominantes em que eles descrevem situações as práticas que exigem força.
desse tipo: o Programa de Saúde da Família (PSF) Ojeda et al. (2008) apresentam a ideia de que
e os hospitais. o enfermeiro é visto pelas profissionais da enfer-
Nos dois lugares, os participantes organizam magem como alguém que faça força, ligando o
suas respostas de modo a definir dois modelos que sexo masculino a papéis mais relacionados à força
são matrizes para a diferenciação entre os sexos na do que ao cuidar.
prática de enfermagem, são eles: Outra qualidade que pode ser observada em
um dos relatos é a praticidade, eleita característica
Modelo 1: Representação sobre o enfermeiro – do profissional de enfermagem do sexo masculi-
força física no no desempenho de suas tarefas em situações
emergenciais.
A força física nas relações de trabalho é des- O masculino como foco dos estudos em en-
tacada como atributo masculino. Os participantes fermagem ainda representa uma lacuna. Simões
revelam que nesses ambientes, o homem é privi- & Amâncio (2004) mencionam que assim como
legiado nesse sentido, pois ele detém tal adjetivo. as mulheres têm dificuldades sobre a inserção nos
domínios hegemonicamente masculinos nas dife-
“Fiz estágio na UTI e tive dificuldades, pois é rentes profissões e trabalhos, os homens sofrem
um setor em que a grande maioria dos pa- processos semelhantes. A enfermagem situa o ho-
cientes requer cuidados que exigem força físi- mem para determinadas posições e, conforme os
ca, como na hora do banho que tem que virar relatos dos participantes da presente investigação,
o paciente, colocar para cima, entre outros. o define como especialista em situações em que
Acredito que meu porte físico não ajudou se exige a força física no cuidar. Mesmo que este
muito, pois sou mulher” (Sujeito 06/9, sexo seja um aspecto positivo no contexto de trabalho,
feminino). exclui outras possibilidades de atuação e inserção
do enfermeiro no contexto da própria profissão.
“Transporte de paciente, a enfermeira respon-
sável pediu ajuda para seu colega de serviço Modelo 2: Representação sobre a enfermeira – cui-
(enfermeiro), pois não daria conta de realizar dado
este serviço” (Sujeito 18/1, sexo feminino).
Neste modelo o enfoque são os procedimen-
“Urgência = o enfermeiro teve maior pratici- tos técnicos que exigem destreza e delicadeza na
dade no atendimento e socorro do paciente.” execução e são qualidades do trabalho da enfer-
(Sujeito 10/9, sexo feminino). meira. O homem é menos valorizado, pois é identi-
ficado como mais adequado ao uso da força física

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quando necessário no trabalho em enfermagem. por questão de maior afinidade, a presença da en-
Algumas das descrições indicam justamente esse fermeira é mais requisitada, delimitando as práti-
trabalho à mulher. cas realizadas pelo profissional do sexo masculino;
o que reforça a ideia de Saffioti (1987) sobre os pa-
“Na coleta de CCO1, por exemplo, (aconteceu péis atribuídos ao homem e à mulher. As questões
com um colega de sala), durante a coleta de relacionadas ao corpo no contexto do cuidar foram
CCO, em um determinado PSF, um estagiário também problematizadas por Amorim (2009) ao
não conseguiu coletar, pois as mulheres que afirmar que muitas práticas sexistas em enferma-
estavam na sala de espera foram todas embo- gem têm como base o cuidado com as diferenças
ra quando ficaram sabendo que era enfermei- de gênero e sexuais.
ro e não enfermeira que iria realizar a coleta” Esta sexuação que se repete no tratamento
(Sujeito 02/9, sexo masculino). e na atenção, vistos pela perspectiva da sensibili-
dade, foi elencados pelo Sujeito 10/9 como sendo
“A coleta de CCO é um procedimento interno atributo feminino, isto torna-se explícito mediante
da mulher e o enfermeiro homem é prejudi- há a afirmação de que a enfermeira foi mais aten-
cado pelo fato das mulheres não gostarem de ciosa e o enfermeiro foi insensível quando os mes-
realizar o exame com ele. Isso pode até afas- mos estavam frente à mesma situação.
tar as mulheres da unidade e assim prejudi- Esta maneira de sexualizar as práticas são
car a meta mensal da coleta de CCO” (Sujeito questionadas por autores como Padilha et al.
06/9, sexo feminino). (2006) e Simões & Amâncio (2004). Estes últimos
consideram, a partir dos dados de seu estudo, que
“Tratamento e atenção = a enfermeira se mos- as mulheres não são sexuadas, pois sua profissão já
trou mais atenciosa com o paciente que esta- é feminizada e, portanto, tendem a um universalis-
va choroso e ansioso para cirurgia, enquanto mo nesse contexto, por isso o cuidar é naturalmen-
o enfermeiro não olhou para o paciente e re- te uma qualidade feminina, tal como acontece em
feriu que o paciente era “dengoso”” (Sujeito outras profissões como a de professor. O homem
10/9, sexo feminino). enfermeiro não é sexuado dada a sua identidade já
universal, sendo espelho para essa universalidade,
De acordo com estes relatos, alguns procedi- e em contexto de um trabalho feminizado tende a
mentos nos quais há a exposição do corpo da mu- qualificá-lo como mais humano.
lher, seja por questões culturais e de pudores ou

6. Considerações finais
Os alunos que iniciam na vida acadêmica no eminentemente feminina, ainda existe resistência
curso de enfermagem, carregam consigo cargas a presença de homens em alguns tipos de práticas
culturais que são construídas em todo o processo que são realizadas por estes profissionais.
de edificação dos saberes e na convivência social, De certo modo, concordando com a perspec-
atribuindo papéis determinados aos sexos. Porém, tiva da universalização da identidade masculina,
de forma ampla, a partir do momento em que es- sugerida por Simões & Amâncio (2004), em qual-
tes alunos passam a conviver com as práticas da quer campo de trabalho, Paixão (1979) demons-
enfermagem, práticas estas impregnadas de es- tra certa preocupação com a inserção do homem
tereótipos, sua visão, que antes era considerada dentro da enfermagem, pois este, quando inserido
como generalizante, pode, por vezes, passar a ser em um meio que é dominado pelo sexo feminino,
cristalizada delimitando as práticas dentro desta por ser considerado líder de acordo com a cultura
profissão, isto se não houver uma reflexão sobre patriarcal passa a exercer sua liderança, desempe-
estas crenças e valores. nhando papel dominante em um espaço visto an-
As divisões sexistas estão presentes e são cla- tes como feminino, o que difere quando é a mulher
ramente visíveis dentro da profissão de enferma- que se insere em uma profissão masculina, na qual
gem, e são trazidas nos relatos dos alunos e alu- esta não oferece risco, no que tange a dominação,
nas. Embora o homem tenha conquistado espaço assumindo posição de subjugada.
dentro desta profissão, que é considerada como No âmbito da formação em enfermagem, no

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contexto estudado, pode-se dizer que as práticas nada sociedade, ser, em outra, considerada femini-
nas quais os alunos e alunas são inseridos estão na. As criações dessas identidades de acordo com
impregnadas de elementos segregadores que são determinadas sociedades, sobre papéis desempe-
apropriados por esses sujeitos no seu processo de nhados por homens ou por mulheres, não são fi-
aprendizagem da profissão. xas, assumindo diferentes aspectos no mundo do
Como já visto na revisão bibliográfica (Amo- trabalho, o que pode explicar os dados explicitados
rim, 2009; Brito et al, 2011; Padilha et al., 2006), os nessa pesquisa referentes a reflexões apresenta-
estudos realizados sobre as questões de gênero na das pelos participantes sobre as práticas.
enfermagem, apontam práticas sexistas no âmbito A problematização das relações de gênero no
da formação e da profissão e esses dados reforçam contexto da sociedade contemporânea desmistifi-
o que o presente estudo constatou: que parece ha- ca os estereótipos e preconceitos decorrentes de
ver uma influência das práticas de enfermagem do visões tradicionalistas: androcêntricas; sexistas;
contexto de formação sobre as representações de e heteronormativas. A enfermagem vem abrindo
gênero dos acadêmicos. espaço para a inserção do homem em uma pro-
Em alguns destes estudos (Machado, 2004; fissão vista como feminina, procurando universa-
Amorim, 2009; Padilha et al, 2006) há uma certa lizar as práticas de enfermagem, miminizando as
tendência em positivar as diferenças de gênero. As diferenciações de acordo com o gênero (Machado,
diferenças se referem a qualidades que podem ser 2004). Esse contexto pode explicar, por exemplo,
negociadas e dialogadas no contexto da formação o questionamento dos homens do 9º semestre
e da atuação. A questão que cabe aqui é se essa em relação ao seu papel no contexto de práticas,
positivação pode potencializar ainda mais práticas produzindo uma visão mais aberta em relação ao
sexistas e excludentes. No entanto, considera-se trabalho do homem na Enfermagem, podendo
que a perspectiva de negociação de significados e articulá-lo a própria prática do cuidado. Simões &
sentidos sobre as diferenças no contexto pode ser Amâncio (2009) também já apontam uma tentati-
problematizadora das desigualdades e uma forma va das próprias mulheres nesse sentido.
de se estabelecer parâmetros éticos de formação Espera-se que esta pesquisa, apesar de suas
e atuação. lacunas, possa abrir novas frentes de discussão so-
Por isso, é necessário problematizar as rela- bre a formação em enfermagem no que se refere
ções entre homens e mulheres nas diferentes prá- às questões de gênero. É possível que no decorrer
ticas de enfermagem, dado que muitas vezes a mu- das práticas de enfermagem na formação as rela-
lher é colocada em posição de inferioridade (atri- ções de gênero no contexto profissional tornem-
bui-se a ela atividades menos intelectuais e mais -se objeto de discussão, contribuindo assim para a
manuais e técnicas) e ao homem é atribuída uma reflexão acerca do trabalho ético em enfermagem.
posição de liderança (atribuindo-se a ele atividades Entende-se que uma disciplina, por exemplo,
administrativas e intelectuais, que significam posi- é estratégica no sentido de fomentar a discussão
ção de destaque no âmbito da profissão). Assim, institucionalmente nos cursos de formação. To-
alguns lugares são mais propícios à mulher enfer- davia, é a criação de espaços transversais a toda
meira e outros ao homem enfermeiro, isto, para os a formação com assuntos referentes às discus-
alunos, é reforçado no processo de formação pelos sões de gênero que pode problematizar o saber
contextos de aprendizagem (Amorim, 2009). fazer no contexto da enfermagem, levando o(a)
Nas diferentes culturas encontram-se diferen- acadêmico(a) a refletir com maior clareza sobre as
tes papéis atribuídos aos sexos, podendo uma ta- desigualdades e os mitos sobre os gêneros na vida
refa que é essencialmente masculina em determi- e na construção de sua identidade profissional.

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Nota
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te transmissíveis.

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