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SÃO CRISTOVÃO – SE
2023
Introdução
Nosso grupo escolheu fazer esse trabalho sobre a profissão da enfermagem,
pensando em uma perspectiva analítica com a fundamentação teórica de Norbert
Elias, examinando os conflitos e hierarquias presentes no ambiente de trabalho, bem
como as decisões que culminaram a escolha de atuação de nossas amostras
posteriormente apresentadas.
Para conduzir nossa pesquisa, a metodologia utilizada em nossa pesquisa foi
a análise bibliográfica, com artigos ligados à área da saúde e das ciências sociais, e
entrevistas semiestruturadas, aplicando questionários divididos em trinta perguntas e
agrupados em três blocos: o primeiro sobre gênero e tempo de trabalho, motivação
que resultaram na escolha da profissão e por último, às hierarquias. Conseguimos
aplicar cinco entrevistas com profissionais de diferentes setores da área, desde
técnicas de enfermagem a enfermeiras. Buscamos pensar em um recorte brasileiro
e sergipano, enfatizando uma bibliografia nacional.
Nosso objetivo com essa pesquisa é analisar a estruturação dessa profissão
e como isso influencia atualmente nas divisões de hierarquias, bem como
compreender as dinâmicas de poder e as relações sociais que permeiam o campo
da enfermagem, à luz da perspectiva teórica de Norbert Elias. Justificamos nosso
trabalho pela relevância presente na profissão de enfermagem na prestação de
cuidados de saúde, bem como pela necessidade de compreender as complexas
interações sociais que moldam o ambiente de trabalho dos profissionais de
enfermagem. Além disso, a pesquisa visa preencher uma lacuna na literatura
existente, oferecendo uma visão mais profunda das questões relacionadas à
hierarquia e poder na enfermagem, contribuindo assim para uma melhor
compreensão desse campo.
Estruturamos nosso trabalho da seguinte forma: A nossa primeira parte será
sobre a sócio história da enfermagem em aspectos mais gerais e como se formou no
Brasil, buscando compreender como iniciou a formação dessa profissão, fazendo
uma análise referente ao seu contexto de especialização de funções sociais (Elias,
2001, pg. 90). A segunda parte de nosso trabalho visa a partir de nossos dados
coletados, debater e estudar os casos e os resultados obtidos dentro da perspectiva
do Norbert Elias e os teóricos selecionados. Por fim, apresentamos nossa análise
final, que engloba todo o trabalho realizado.
Norbert Elias, em sua teoria argumenta que as relações sociais são moldadas
ao longo do tempo e sua contextualização cultural, torna-se relevante analisar a
história da enfermagem a partir dessa ótica. Profissões, por outro lado, são funções
sociais especializadas que as pessoas desempenham em resposta a necessidades
especializadas de outras (Elias, pg. 99) Enfermeiras e enfermeiros desempenham
um papel fundamental de promoção da vida, o potencial vital, o bem estar dos seres
humanos na sua individualidade, complexidade e integralidade (Pires, pg. 742). Essa
função social especializada envolve conjuntos especializados de relações humanas,
onde a atuação das enfermeiras tem um impacto profundo na vida das pessoas.
Vimos no texto “Gênese da profissão naval” do Norbert Elias, que a profissão
dos Tarpaulins era destinada a classes inferiores, a relação entre cavalheiros e
marujos na Marinha era altamente influenciada pela relação entre os estratos aos
quais eles pertenciam (Elias, pg. 101), que não tinha nenhuma ligação com a
realeza, algo parecido ocorreu na estruturação da profissão da enfermagem, onde
no seu início os cuidados eram realizados por mulheres de classes inferiores, como
prostitutas, viúvas, cozinheiras, ou seja, mulheres que estavam abaixo do nível
social e por isso eram destinadas a realizar o trabalho “sujo”, que ninguém da alta
sociedade gostaria de executar. Porém, anos mais tarde com a era da moderna, o
aprimoramento das técnicas em enfermagem, levaram mulheres ricas a procurarem
a profissão, como a sua pioneira Florence Nightingale, jovem, britânica e rica,
tornou-se pioneira da enfermagem após ajudar os soldados na guerra da Crimeia,
com as suas técnicas aprimoradas de cuidado, conseguindo reduzir o índice de
mortalidade dos mesmo de 40% para apenas 5%. O contexto de aprimoramento de
técnicas, está diretamente ligada ao conceito de Norbert Elias, apontando as
disparidades que poderiam surgir ora em virtude de mudanças técnicas, ora em
consequência de condições e exigências sociais (Elias, pg. 91). Além disso, visava a
importância da formação contínua, do aprendizado prático e da adaptação as
mudanças nas prática, pois este aprimoramento na visão do Elias, ajudou na
evolução social e cultural ao longo do tempo.
Concluindo, a partir desse caso, conseguimos ter uma visão mais íntima dos
processos enfrentados no dia-a-dia por alguns desses profissionais, processos
esses que implicam diretamente nas relações sociais e profissionais de cada um,
fazendo muitas vezes com que o mesmo se sinta desvalorizado no seu ambiente de
trabalho, levando-o a duvidar de suas capacidades, além de ter que lidar com a
pressão constante e com o peso da responsabilidade de lidar com a vida do
próximo, afetando diretamente seu estado físico, emocional e moral.
Esboça a convicção de que não existe uma relação estrita de hierarquia, pois,
embora seja uma das responsabilidades das enfermeiras liderar toda a equipe de
enfermagem, esta liderança não deve ser concebida como uma relação hierárquica.
Para Alice, a imposição de hierarquias pode engendrar divisões e desigualdades
desnecessárias, tornando a comunicação e a colaboração mais desafiadoras e,
potencialmente, restringindo as oportunidades de crescimento.
Por outro lado, Gilsanira percebeu hierarquias bem definidas e visíveis dentro
da profissão de enfermagem, que, em sua visão, podem conferir benefícios
significativos, mas também acarretar prejuízos se não forem administradas
adequadamente. Ela enfatiza que as hierarquias podem contribuir para aprimorar a
coordenação das atividades, otimizar o fluxo de trabalho e fornecer orientação
necessária. Mesmo reconhecendo casos frequentes de abuso de poder, Gilsanira
aponta que as hierarquias podem, de forma positiva, promover o respeito e a
responsabilidade no ambiente de trabalho.
Ao entrevistar uma mulher que é técnica em enfermagem e que está em seu último
período no ensino superior e que corresponde ao grupo de 40 a 50 anos, e que
trabalha na área há mais de 6 anos, obtive informações muito valiosas em relação à
profissão de enfermagem. Quando perguntada sobre o que influenciou na escolha
da profissão, ela deu uma resposta aberta, relatando:
" Sempre tive paixão pela área. Sempre quis ajudar os outros. E como a área da
saúde sempre precisa de gente pra trabalhar, uni o útil ao agradável"
A entrevistada ainda relatou em conversa, que seus pais eram analfabetos, e que a
escolha partiu exclusivamente dela. E que uma das grandes dificuldades foi
equilibrar os estudos com trabalho, já que casou-se cedo.
Quando indagada sobre as hierarquias na profissão e se eram visíveis, ela contou
que havia uma diferença dos hospitais privados para o público. A entrevistada, em
relato antes de dar sua resposta, disse que trabalhou em ambos. Que no momento
desta pesquisa trabalhava no público, mas que nos hospitais particulares, as
estruturas hierárquicas eram muito bem claras.
"No hospital particular nós temos medo de ser demitidos. A pressão é ainda maior
quando se trata do auxiliar ou técnico. " - Disse a entrevistada.
Ainda neste trecho, ela menciona que os auxiliares não existem mais, e que os
hospitais particulares contratam apenas técnicos, e que nas funções de auxiliares e
técnicos houve uma espécie de fusão em suas atribuições. Entretanto, ainda existe
um hospital particular na capital aracajuana, que contrata apenas auxiliares de
enfermagem, ainda que muitos destes profissionais sejam técnicos recebem por
auxiliares, e que sua carga de trabalho é intensa, cheia de pressão e que a relação
do enfermeiro para o, neste caso, auxiliar é muito mais rígida e intensa.
"Geralmente o São Lucas (Hospital São Lucas) pega muitos profissionais e demitem
muitos também" disse a entrevistada.
Aqui é possível notar, ainda que por relatos e não em específico nos dados gerados
pela tabulação, que existe a precarização do trabalho, já que o auxiliar neste caso,
ganha menos que o técnico. O hospital então contrata um número expressivo de
funcionários para não só atender suas demandas, mas não pagar o proporcional ao
trabalho realizado.
Esse relato foi importante para compreender a estrutura das hierarquias no público e
no privado, ainda que não tenha sido este o objetivo da pesquisa.
No ambiente privado, especificamente ao São Lucas, de onde a entrevistada
trabalhou primeiramente, e do hospital Primavera, o último local onde passou
particular antes de trabalhar no público, a cadeia da hierarquia começa por
auxiliares/ técnicos de enfermagem e enfermeiros(a). Nesta ordem. Já no público,
técnicos de enfermagem, enfermeiros(a), enfermeiros(a) , chefes e enfermeiros(a)
geral/diretor. O enfermeiro geral/diretor, neste caso, é o responsável por todos os
setores do hospital em questão. A entrevistada não sabia definir a nomenclatura ao
certo. E neste relato, diz não ocorrer tal estrutura no particular.
Pelo que pude entender, distribuição das funções e subfunções são mais visíveis no
público, já no particular ocorre uma pressão ainda mais intensa nas atribuições das
funções e uma menor cadeia.
Neste último caso, ao qual ela mesma contou a história sobre o público e que
apenas fiquei ouvindo, o médico havia prescrito a quantidade exacerbada de
remédio para um paciente oncológico, e ela achou aquilo muito estranho, pois pelos
seus conhecimentos práticos e pelos seus estudos, a quantidade seria fatal. Detalhe
importante, o médico prescreve mas quem aplica a medicação são os técnicos.
Quando ela foi perguntar ao médico se não tinha se confundido com a quantidade
da dose, ele a agrediu verbalmente, tomando a receita da mão de maneira violenta e
prescrevendo outra quantidade, agora que condizia com a quantidade aceitável ao
organismo do paciente.
"A pressão que passamos todos os dias, as pessoas não têm noção do que
passamos. - disse a segunda entrevistada.
Quando perguntei sobre o paciente que entrou em coma, ela respondeu que passa
bem, e que o médico permanece no trabalho.
Ela menciona que os motivos de tanta tensão entre enfermeiros e técnicos é mais
uma questão de comunicação, que sempre ocorre por conta da rotina puxada de
encontro de informações importantes, o que causa um estresse no ambiente de
trabalho. Já em relação aos médicos, aqueles, como dito por ela, superiores na
escala de hierarquia, os conflitos ocorrem por pensarem que sabem mais que os
técnicos e enfermeiros, quando na verdade são muitos destes profissionais que
acabam por corrigir as falhas. Vale lembrar que a entrevistada trabalha em uma
instituição particular também de Aracaju. E que para entender melhor estes relatos,
seria preciso um aprofundamento maior neste campo de estudo, com uma base
teórica variada para entender as especificidades da pesquisa científica.
Considerações finais
Sobre as considerações finais deste trabalho, é importante ressaltar que para uma
abordagem mais completa em relação a estas questões levantadas é preciso
expandir o número de entrevistados em vários universos possíveis. Constatamos
que o nosso questionário precisa ser melhor planejado, e que para obter uma
eficiência dos dados, seria preciso abordar nos três universos de especialização da
enfermagem, tanto de auxiliar, técnico e enfermeiro.
Por conseguinte, relação aos conflitos, os dados apresentados nos mostra que os
conflitos são evidentes na maior parte dos ambientes de trabalho da enfermagem, e
que os conflitos de comunicação são os mais recorrentes.
Referência bibliográfica