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ARTIGO

INTERVENÇÃO SISTÊMICA NO CONTEXTO DA TERAPIA


COM UM HOMEM AUTOR DE VIOLÊNCIA CONTRA
MULHER: ESTUDO DE CASO

SYSTEMIC INTERVENTION IN THE CONTEXT OF THERAPY WITH A MAN


AUTHOR OF VIOLENCE AGAINST WOMEN: CASE STUDY

RESUMO: Este artigo relata o estudo de caso de ABSTRACT: This article reports the case study NÁDIA DE MELO
um homem autor de violência em processo tera- of a man who committed violence in a therapeu- FERREIRA
pêutico em uma Clínica-Escola de Florianópolis. tic process at a Clinic School in Florianópolis. Universidade Federal
Seu objetivo é compreender a importância da te- It’s objective is to understand the importance of de Santa Catarina,
rapia sistêmica para homens autores de violência. systemic therapy for men who commit violence. Florianópolis/SC, Brasil
Notou-se, nesse sentido, repetição de comporta- A repetition of familiar behavior was noticed, be-
mento familiar, sendo possível uma compreensão ing possible an intergenerational understanding. It
intergeracional. Percebeu-se também que as was noticed that the perspectives used, allowed
perspectivas utilizadas permitiram adentrar com to penetrate with more depth to the world the pa-
mais profundidade o mundo vivido do paciente e tient lived and its processes of signification in the
seus processos de significação na construção da construction of the narrative of its trajectory. This
narrativa de sua trajetória. Espera-se, com este article hopes to expand possibilities for the care
artigo, ampliar possibilidades para o atendimento with men authors of violence.
com homens autores de violência.
KEYWORDS: Domestic Violence; Author of Vio-
PALAVRAS-CHAVE: Violência familiar; Autor de lence; Systemic Theory.
violência; Teoria Sistêmica.

INTRODUÇÃO

Este artigo se desenvolve a partir de um estudo de caso analisado na perspec-


tiva sistêmica que prioriza, sobretudo, o contexto relacional no qual o indivíduo
está inserido (Vidal, 2006). Especificamente o caso analisado é de um homem
autor de violência contra sua ex-companheira. Ao longo do estudo foram abor-
dadas questões como: (a) quais os impactos que a Lei Maria da Penha gerou na
* Artigo derivado de trabalho
vida de um homem autor de violência contra mulher? (b) Quais as consequências de conclusão de curso
do ato violento na vida deste homem? (c) Quais as transformações produzidas no (TCC), produzido no âmbito
processo terapêutico? da formação em Terapia
relacional Sistêmica, no
Os estudos voltados aos homens autores de violência vêm tomando notorie- Familiare Instituto Sistêmico,
dade na produção científica brasileira, embora, como salientam Lima e Büchelle Florianópolis, SC.
(2011), estudos e políticas públicas voltadas aos homens autores de violência ain-
da sejam escassas no Brasil. Entende-se que a violência é relacional e, para apreen-
dê-la, devemos olhar os dois espectros da violência, ou seja, tanto os ditos “agres- Recebido em 16/03/2018
sores”, como as ditas “vítimas”, pois só assim se pode transcender ao ato violento. Aprovado em 28/01/2019

http://dx.doi.org/10.21452/2594-43632019v28n63a06
Beiras e Nascimento (2017) afirmam Cabe salientar que se optou por uti-
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que os programas que atendem ho- lizar o termo ‘autor de violência’, por
mens autores de violência se dedicam compartilhar a ideia de alguns auto-
a promover reflexões e transformações res, como Acosta, Andrade, e Bronz
nas relações de gênero, por meio de es- (2004); Toneli, Lago, Beiras, e Clima-
tratégias diversas para que não ocorra co (2010), que explicam que o termo
reincidência do ato violento. Eviden- ‘agressor’ acaba por reforçar aspectos
cia-se a importância de promover gru- identitários que associam a violência
pos reflexivos com homens autores de como parte natural de ser homem.
violência, para que assim possamos ca- Neste sentido, acaba-se criando ró-
minhar para um maior entendimento tulos e generalizações, fixando assim
sobre o tema, como também contribuir papéis de vítima x agressor, o que faz
para diminuir a violência e promover a com que aquele considerado “agres-
equidade de gênero. sor” seja excluído do processo.
Quando falamos em violência con- Corroborando o pensamento de
tra a mulher, também estamos falando Beiras e Cantera (2012), acredita-se
sobre gênero. A violência, no entanto, que se faz necessário desconstruir rótu-
não está apenas atrelada ao gênero, los existentes como “agressor” e pensar
mas sim a todas as esferas sociais. Suas em termos como “autor de violência”,
características variam de acordo com o “perpetrador de violência”, “homens
tempo e espaço. Minayo (2007) elucida que exercitam ou exercem violência”;
que este é um fenômeno complexo e assim como homens, mulheres ou ca-
multicausal. De tal modo, por atingir sais em situações de violência. Neste
todas as pessoas e não apenas uma par- contexto, ao optar por utilizar o termo
cela específica da sociedade, ela foge a ‘autor de violência’, saímos de possíveis
qualquer conceituação precisa e cabal, generalizações e papéis fixos e promo-
já que a violência sofrida e vivenciada vemos um olhar mais sistêmico, possi-
será elaborada por cada indivíduo. bilitando mudanças e alternativas para
Ao falar em gênero, deve-se locali- resolução de conflitos.
zar de onde falamos. Nossa sociedade Espera-se, por conseguinte, que o
ocidental é ainda predominantemente presente estudo possa contribuir no
machista, patriarcal e sexista. Neste sentido de auxiliar tanto profissionais
sentido, muitas das relações que pre- do campo da Psicologia, como de ou-
senciamos de violência estão relacio- tras áreas do conhecimento no que
nadas a esses padrões sociais que re- tange ao atendimento com homens
forçam o caráter submisso e frágil da autores de violência contra mulheres.
mulher. Por entender que a violência O artigo também pretende suscitar re-
é complexa, multifatorial e relacional, flexões no que se refere à prática pro-
buscou-se refletir, a partir de um es- fissional com homens autores de vio-
tudo de caso, a importância da tera- lência contra mulher.
pia sistêmica para homens autores de
violência, uma vez que a análise sob
a perspectiva sistêmica pondera que, VIOLÊNCIA E SUAS REPERCUSSÕES
para maior efetividade das interven-
ções, deve-se considerar não somente A violência pode ser compreendida
indivíduos, mas os sistemas humanos e analisada através de alguns vieses,
como um todo (Schmidt, Schneider, seja por meio da psicologia, sociolo-
& Crepaldi, 2011). gia, antropologia, filosofia, direito e

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outras áreas do conhecimento. A Or- no Estudo da Organização Pan-Ame-
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ganização Mundial da Saúde define-a ricana da Saúde de 2003. contexto da terapia com
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um homem autor de
como “o uso de força física ou poder, Os estudos sobre violência catego- violência contra mulher:
em ameaça ou na prática, contra si rizam-na de acordo com a natureza estudo de caso
Nádia de Melo Ferreira
próprio, outra pessoa ou contra um do ato: violência física, psicológica,
grupo ou comunidade que resulte ou negligência, violência sexual e explo-
possa resultar em sofrimento, morte, ração sexual. De acordo com dados do
dano psicológico, desenvolvimento Mapa da Violência (Waiselfisz, 2012),
prejudicado ou privação” (OMS, 2007, a violência física se refere ao uso da
p. 1165). força com o objetivo de ferir, deixando
Esta definição traz um ponto-cha- ou não marcas evidentes. Ela ocorre
ve, que é a intencionalidade do ato, quando uma pessoa, que está em posi-
independente do resultado produzido. ção de poder em relação à outra, cau-
Priorizou-se o conceito da OMS tendo sa ou tenta causar dano não acidental,
em vista que a mesma amplia a defi- por meio do uso da força física ou de
nição de violência, não a entendendo algum tipo de arma que possa provo-
apenas como um sofrimento ou mor- car ou não lesões externas, internas ou
te, por exemplo, indo além da violên- ambas. Já a violência psicológica é ca-
cia contra indivíduos, abrangendo fa- racterizada pela rejeição, depreciação,
mílias e grupos. discriminação, humilhação e desres-
De acordo com o artigo 7º da Lei nº peito. A negligência é ato de omissão
11.340/2006, são formas de violência do responsável pela criança/idoso/ou-
doméstica e familiar contra a mulher, tra (pessoa dependente de outrem) em
entre outras: I - a violência física; II - a proporcionar as necessidades básicas
violência psicológica; III - a violência – necessárias para a sua sobrevivência,
sexual; IV - a violência patrimonial; para o seu desenvolvimento.
V - a violência moral, entendida como A violência intrafamiliar diz respei-
qualquer conduta que configure calú- to, por conseguinte, a “toda ação ou
nia, difamação ou injúria. omissão que prejudique o bem-estar,
Evidencia-se que a violência apare- a integridade física, psicológica ou a
ce entre diversos contextos, sejam eles liberdade e o direito ao pleno desen-
sociais, culturais ou políticos. Perce- volvimento de outro membro da fa-
be-se que ela é um problema de saúde mília, incluindo pessoas que passam
pública, não restrito apenas ao campo a assumir função parental, ainda que
individual, mas como um fenômeno sem laços de consanguinidade, e em
socialmente produzido, conforme es- relação de poder à outra” (Ministério
clarecem Guareschi e outros (2006). da Saúde, 2001).
Toneli, Beiras, Clímaco, e Lago Lima e Büchele (2011) afirmam que
(2009) ressaltam que a violência, além os Programas de Políticas Públicas
de ser um problema de saúde pública, acerca da atenção, prevenção e enfren-
é um problema de saúde mental, haja tamento à violência doméstica e fa-
vista que as pessoas envolvidas nesse miliar destinam-se em maior número
processo podem apresentar alguns às mulheres. Os homens autores de
riscos como “desordens alimentares, violência muitas vezes acabam sendo
alcoolismo, uso de drogas, estresse excluídos desse contexto. Segundo o
pós-traumático, depressão, ansieda- autores, duas exceções foram locali-
de, fobias/pânicos, baixa autoestima zadas: a Campanha do Laço Branco,
e etc.”, segundo os autores verificaram que busca sensibilizar e envolver os

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homens pelo fim da violência contra em vista a história singular de cada pes-
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as mulheres, e o projeto Siga Bem Mu- soa. Nesse viés, trabalhar com homens
lher, cuja temática relaciona-se aos ca- autores de violência é atuar na contra-
minhoneiros. mão da patologização e perceber esse
De acordo com a Lei 11.340/06, homem com suas potencialidades, ou
conhecida como Lei Maria da Penha, seja, alguém com predicados, e não
recomenda-se “a criação de centros apenas o rótulo de “agressor”.
de educação e de reabilitação para Nos casos de violência conjugal,
os agressores”. Embora a Lei seja um muitos homens acabam excluídos do
marco no que tange aos serviços des- processo e tornam-se figuras que de-
tinados a homens autores de violência vem ser punidas a todo custo. Não ha-
contra mulher, tendo em vista que lhes vendo na sociedade o entendimento
prevê atendimento, bem como a obri- sobre a importância dos serviços que
gatoriedade de homens autores de vio- atendam homens autores de violência
lência participarem de programas de contra a mulher, os comportamentos
recuperação e reeducação, nota-se que agressivos se perpetuam sem uma in-
esses serviços não são realizados em tervenção adequada.
todos os territórios nacionais, como é Compartilho a ideia de Medra-
o caso de Florianópolis/SC. do e Lyra (2003), no que se refere à
Beiras problematiza que são muitas compreensão da violência de homens
as dificuldades para a criação de servi- contra as mulheres a partir da pers-
ços como estes, tais como: pectiva de gênero, a suas experiências
de vida e suas formas de compreender
Local que atenda a esses homens, o fenômeno da violência. Conforme
políticas públicas ainda ineficientes, os autores, faz-se necessário conhecer
mudanças de gestão por questões os significados que os homens dão ao
políticas e fim de mandatos que ato violento.
interrompem serviços iniciados, Neste sentido, é preciso ampliar o
desconhecimento sobre serviços olhar frente à violência contra a mu-
similares para troca de experiên- lher, já que ela envolve estruturas de
cias, necessidade de capacitação poder e aspectos culturais enraizados
continuada dificultada pela falta de em nossa sociedade. Essas estruturas
recursos e dificuldades de gestão, e e padrões culturais vão construindo
dificuldades ainda presentes de de- nossas formas de pensar e agir frente
senvolvimento e captação de recur- a esse fenômeno, para ir na contramão
sos. (Beiras, 2014, p. 5) de conceitos reducionistas homem x
mulher (biológico), compreendendo,
O trabalho com homens autores de assim, como homens percebem a sua
violência ainda é um tabu para alguns masculinidade, por exemplo.
profissionais e até mesmo para os É de suma importância pensar em
próprios homens, que num primeiro políticas públicas que atuem para além
momento não compreendem o moti- de punir o dito “agressor”. É impres-
vo da obrigatoriedade de frequentar cindível pensar em estratégias que
os grupos. promovam uma transformação do
Para trabalhar com este público, ato violento, bem como a responsa-
o profissional precisa, antes de tudo, bilização do autor de violência. Neste
“despir-se” de seus preconceitos, tarefa viés, universidades também podem
essa que muitas vezes é difícil, tendo ter papel fundamental no âmbito das

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políticas públicas. Nota-se que o de- Nos casos de violência é comum, em
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safio também consiste em reconhecer nossa sociedade, fragmentar as partes contexto da terapia com
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um homem autor de
os grupos reflexivos como uma for- envolvidas: “vítimas” x “agressor”. Esse violência contra mulher:
ma de pensar políticas públicas. Cabe pensamento linear acaba prejudicando estudo de caso
Nádia de Melo Ferreira
destacar que é fundamental pensar o entendimento da violência e estig-
em estruturas e locais adequados, as- matizando as partes envolvidas. Nesse
sim como profissionais qualificados e sentido, o pensamento complexo tam-
metodologia específica em casos de bém nos permite entender o contexto
violência contra mulheres. no qual a violência está inserida, bem
como os aspectos relacionais envolvi-
dos nesse processo.
PERSPECTIVAS ABORDADAS E SUAS Desse modo, o pensamento com-
REFLEXÕES plexo nos ajuda a compreender que
a ênfase desses processos está nas re-
A Teoria da Complexidade ou pen- lações e não nos próprios indivíduos,
samento complexo nos permite am- que passam a fazer parte dessa trama
pliar nosso pensamento sobre os epi- de relações. O mundo é entendido,
sódios cotidianos e sobre as pessoas, desse modo, como uma rede de re-
rompendo com pensamentos simpli- lações que estão inter-relacionadas
ficadores e visões fragmentadas de (Vasconcellos, 2010).
mundo. Essa teoria não se reduz a re- Bronfenbrenner (1979/1996) ex-
gras simplistas; ela reconhece o indiví- plica que os sistemas precisam ser
duo e o concreto. Segundo Morin e Le analisados em sua totalidade, sendo
Moigne (2000, p. 207), o pensamento entendidos tanto no nível macro (as-
complexo é capaz de contextualizar, pectos sociais), intermediários (cul-
de globalizar, mas, ao mesmo tempo, tura), assim como no nível proximal
de reconhecer o singular, o individual, (escola e família). Scantamburlo, Moré
o concreto. e Crepaldi (2012) esclarecem que ao
Propõem pensar complexamente, trabalhar apenas com as partes, o pro-
ou seja, além do pensamento reducio- fissional pode correr o risco de cair
nista, fragmentado e simplista. Escla- em possíveis armadilhas, que são as
rece Morin (1998) que o todo é com- escutas fragmentadas de um determi-
plexo, como as partes. Desta maneira, nado fenômeno. Ou seja, nos casos de
a complexidade está presente em tudo violência, por exemplo, a “vítima” é
em nossa volta. Tal percepção faz com escutada e seu discurso tomado como
que as influências internas e externas real; já no caso do “agressor” essa es-
que o indivíduo recebe no seu meio cuta muitas vezes vem permeada por
sociocultural sejam determinantes do preconceito e julgamento.
pensamento complexo. Outra prática utilizada foi a tera-
Corroborando as ideias de Morin pia narrativa de re-autoria, de Mi-
(1998), é possível afirmar que o pensa- chael White, desenvolvida na década
mento complexo nos permite ampliar de 1980. Este autor defende a ideia de
o conhecimento frente a um determi- que as experiências são organizadas de
nado fenômeno. Quando percebemos modo narrativo e que a construção de
um acontecimento de maneira frag- sentido sobre o mundo e sobre nós se
mentada e reducionista, acabamos processa a partir da construção e da
tendo uma visão simplista, não o reco- desconstrução de histórias (Santos,
nhecendo na sua complexidade. Lopes, e Neufeld 2013).

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O modelo narrativo de re-autoria formação em todo o sistema familiar,
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de White e Epston (1990) parte da assim como a alteração deste sistema
ideia de que as histórias são centrais permitirá a mudança no indivíduo.
para a compreensão de um trabalho
narrativo. A narrativa do paciente
pode estar relacionada ao modo de en- COMPREENDENDO E ANALISANDO O
tender o mundo, sua história de vida, CASO CLÍNICO
sendo que as experiências diárias do
paciente nos orientam a atribuir sig- Antes de fazer terapia individual na
nificados à sua narrativa. As histórias clínica-escola, Fábio e Bruna faziam
que os pacientes trazem ao longo dos terapia de casal na mesma instituição
atendimentos servem como guias ao em que funciona a clínica-escola. Des-
longo do processo terapêutico. Sendo de o início das sessões, Fábio explicava
assim, este modelo caminha ao lado que seu relacionamento com Bruna
do construcionismo social, referin- era de “idas e vindas”. Fábio teve no to-
do-se à construção social da realidade tal seis relacionamentos afetivos, sen-
por meio da linguagem. do que Bruna foi seu quarto relacio-
Autores como Beiras (2009) nos namento. Cabe mencionar que Fábio
ajudam a pensar que as narrativas pes- e Bruna romperam aproximadamente
soais referem-se às histórias que con- dezoito vezes no período da terapia de
tamos e recontamos de nós mesmos, casal e individual.
histórias repletas de crenças, valores e O paciente explica que, antes de co-
sentimentos que nos guiam na nossa nhecer Bruna, era casado há mais de
maneira de agir e pensar. Assim, ao dez anos e o que acarretou a separação
trabalhar com as narrativas pessoais, foi a relação extraconjugal com Bruna.
é possível trazer novos significados às Na época dos atendimentos, Fábio ti-
experiências vividas, como, por exem- nha trinta e oito anos e Bruna trinta
plo, uma história de violência. e quatro anos. As sessões eram sema-
Optou-se por utilizar estas pers- nais e o paciente sempre se mostrou
pectivas por compreender que se en- assíduo e preocupado, caso precisas-
trelaçam e se complementam. Neste se faltar ou se atrasar. O período dos
contexto, ao trabalhar sistemicamente atendimentos foi de 2015 a 2017 e, por
e atento à complexidade, o terapeu- motivos profissionais, Fábio decidiu
ta tem uma visão do todo e das suas encerrar a terapia, que durou um ano
múltiplas relações, compreendendo e meio.
não apenas o ato violento em si, mas A decisão de fazer terapia individu-
toda sua trama relacional. Ao contar al surgiu com a ideia do casal de traba-
sua história, portanto, o paciente revi- lhar questões individuais, para que, se
ve seu passado e presente, contando, fosse o caso, fosse retomada a terapia
recontando-a e tendo a possibilidade de casal e a união. No entanto, com a
de reescrever novas histórias. Ou seja, terapia individual, os dois foram per-
a abordagem narrativa permite ao in- cebendo que o relacionamento não es-
divíduo, ao contar sua trajetória para tava trazendo benefícios para nenhum
um ouvido atento à edição, às exce- deles, mas sim brigas, desconfiança,
ções, dar sentido sobre o mundo atra- agressão e desrespeito de ambas as
vés da construção e desconstrução de partes. O relacionamento durou sete
suas histórias. Por fim, entende-se que anos, entre idas e vindas, sendo dez
a mudança individual permite a trans- meses o maior período ininterrupto.

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Féres-Carneiro (1998) traz a noção momentos de raiva e quais os sen-
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de modelo único de casal, que se re- timentos ele tem em momentos de contexto da terapia com
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um homem autor de
fere às individualidades do casal que conflito como este que culminou em violência contra mulher:
formam uma conjugalidade. De acor- agressão. Faço as seguintes questões: estudo de caso
Nádia de Melo Ferreira
do com a autora, cada um dos cônju- O que seu corpo sente quando você
ges traz consigo sua história pessoal, está em um momento de raiva? Cite
sonhos, medos, expectativas... Estes um momento onde essa raiva poderia
componentes se somam para estabe- ter assumido o seu controle, mas você
lecer uma história a dois. Neste viés, não permitiu.
Apreende-se então que, caso não exista O paciente disse que nesses mo-
um equilíbrio entre esses componen- mentos sente uma “tremedeira, osso
tes, a manutenção do casamento e seu da canela esfarelando, coração dispara
equilíbrio se tornam um desafio. e sente muita raiva” (sic). O paciente
Fábio foi denunciado por Bruna pela lembrou que essas reações ele sen-
primeira vez em 2012, após um confli- tia no início das sessões. Após alguns
to relacional que resultou em agres- meses de terapia, foi possível verificar
sões; na época, ele estava com Bruna. mudanças no controle da ira e nos sig-
O conflito foi motivado por uma dis- nificados dados à raiva.
cussão, que, segundo ele, começou por Fábio comentou que não permitia
conta de divergências na hora de fazer que a raiva assumisse o controle em
compras no supermercado. Fábio rela- alguns momentos em que Bruna o
tou que Bruna o provocou falando que, provocava com insultos. Fábio ainda
com “o outro”, não tinha problemas, explica como eram as provocações que
fato este que o incomodou e o deixou sofria: “Bruna falava que os outros ho-
‘nervoso’. Quando chegaram em casa, mens que ela conheceu eram melhores
a briga se estendeu e Fábio conta que que eu”. Em alguns momentos, Fábio
agrediu Bruna fisicamente. O mesmo conseguiu sair de cena, ou seja, toma-
explicou que a vizinha escutou os gri- va um copo de água, respirava fundo,
tos e tentou “apartar” a briga, mas tam- contava até dez, ou até mesmo saía de
bém acabou se machucando. casa e esperava “a poeira baixar”, es-
Ravazzola (1997) explica que a vio- perava os ânimos acalmarem-se, para
lência familiar é um fenômeno que que, assim, pudesse ter um diálogo
se repete e que acontece num sistema sem violência e agressões.
abusivo em que existem pessoas que Perguntei, como terapeuta, se essa
cometem o abuso, a receptora do ato forma de lidar com a raiva foi melhor
abusivo e as testemunhas (vizinhos, ou pior para ele. Fábio esclareceu que
filhos, primos, amigos e outros mem- essa forma o ajudou não apenas na
bros). No caso de Fábio, ora ele era sua vida pessoal, mas também na vida
considerado a pessoa que cometeu o profissional. Ele exemplificou um epi-
ato violento, ora era ele quem sofria o sódio no trânsito, onde “cortaram a
ato violento, tendo em vista que a ex- frente” dele. Fábio explicou que se fos-
-esposa já o agredira verbalmente e se em outros tempos, ele iria “xingar”
fisicamente. A vizinha e seus filhos o “cara” e “cortar a frente”. Fábio disse
muitas vezes eram as testemunhas dos que respirou fundo, deixou “o cara se-
episódios de agressão, tanto por parte guir seu caminho” e não tomou aquela
de Fábio, como de Bruna. ação como pessoal.
Em uma determinada sessão, per- Andersen (1999) nos ajuda a pen-
gunto a Fábio como ele se sentia nos sar em outras formas construtivas de

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trabalhar as significações. Outras per- guns momentos da terapia foi possível
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guntas possíveis seriam: “Se a raiva identificar que esses processos eram
pudesse te dizer algo, o que ela diria? conscientes, na medida em que alguns
Se ela te reclamasse algo, seria o quê? dos conteúdos herdados foram perce-
Essas perguntas também poderiam bidos pelo paciente, como a conduta
suscitar reflexões e significações da agressiva para educar seus filhos, que
raiva a ele, favorecendo o exercício do posteriormente passou para uma con-
tempo fora, ou o “sair de cena”. duta de diálogo. No que tange à educa-
Nas histórias de intergeracionali- ção dos filhos, cabe mencionar que Fá-
dade do paciente foi possível verificar bio tem quatro filhos, sendo que dois
padrões repetitivos de infidelidade são do relacionamento com Bruna.
conjugal. A teoria sistêmica nos con- Como afirmam Scantamburlo et al.
sente compreender o sujeito de forma (2012), é necessário que não se entre
mais abrangente, entendendo a famí- na armadilha de pensar que todos que
lia, meio social, econômico e cultural. sofreram algum tipo de violência, por
Ao trabalhar com o indivíduo, tam- exemplo, irão perpetrá-la. Nesse ínte-
bém devemos analisar o sistema fami- rim, o pensamento sistêmico permite
liar do mesmo. Um dos recursos possí- vislumbrar outras possibilidades de
veis para se analisar o sistema familiar mudanças, potencialidades e recursos
segundo Carter e McGoldrick (1995) é que não sejam apenas o comporta-
o genograma familiar. mento violento.
De acordo com Lisboa, Feres-Car- Scantamburlo et al. (2012), ao se
neiro, e Jablonski (2007), o conceito pensar no processo de violência, afir-
de transmissão intergeracional “com- mam que devemos entendê-lo como
preende a transmissão de uma geração uma trama relacional, na qual todas as
à seguinte de legados, rituais e tradi- partes envolvidas se afetam recursiva-
ções, a qual pode ser consciente ou mente. Essa perspectiva nos permite
inconsciente”. Destarte, a transmissão compreender a violência como sendo
intergeracional permite continuar re- interacional, e não como constitutiva
passando crenças, ideologias e ensi- de um único indivíduo.
namentos de geração em geração. A Os aspectos relacionados à transge-
transmissão intergeracional de violên- racionalidade, de certa forma, acaba-
cia na vida de Fábio foi muito presente ram por influenciar os comportamen-
– foram ensinamentos repassados, seja tos e atitudes do paciente. O termo
na forma de educar de forma violenta, transgeracionalidade, definido por
ou de expressar seus sentimentos de Falcke e Wagner (2005), remete-se ao
forma violenta. fenômeno de perpetuação da família
Neste sentido, para Scantamburlo através da transmissão de legados de
et al. (2012), os modelos de compor- geração em geração nas mais diferen-
tamento que são pautados na violência tes culturas. Neste sentido, o indivíduo
podem ser transmitidos entre gera- é compreendido tanto na sua esfera
ções, sendo muitas vezes naturalizados. familiar, com suas histórias e legados,
Muitos dos comportamentos perpetu- como nas esferas social, econômica,
ados são, por consequência, repetições política e cultural.
de atitudes, crenças e ideologia que são O modelo transmitido pela família
transmitidas ao longo de gerações. de Fábio indica modelos patriarcais
No que concerne às histórias de e rígidos sobre a concepção de mu-
intergeracionalidade de Fábio, em al- lher e criação dos filhos, por exemplo.

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Também foi possível perceber certa nado com ela na primeira vez que ela
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similaridade ou complementaridade me traiu. Esse que foi o problema. Não contexto da terapia com
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um homem autor de
na motivação pela escolha de Bruna tinha mais confiança nela”. Foi pergun- violência contra mulher:
como parceira, que, segundo Fábio, tado durante a sessão: O que a Bruna estudo de caso
Nádia de Melo Ferreira
tem muitas características de sua mãe. significava em sua vida? Ele respon-
Sobre a figura materna, Fábio relata deu: “A Bruna era como uma droga,
que sua mãe era ríspida, grosseira e tei- eu sempre tinha que arrumar um jeito
mosa. Conta que seu pai (de criação) dela estar comigo, transar comigo. É
tentava conversar e nunca bateu nos como um dependente, se treme todo,
filhos ou na esposa. Acrescenta que a arruma um jeito. O que me atraiu nela
relação entre seus pais não tinha afeto foi o sexo. Hoje percebo que era ape-
e demonstrações de amor. Explica que, nas o sexo. Foi por isso que voltamos
com a mãe, tudo era na “base da cinta”, dezoito vezes”.
não havia diálogo, ao contrário de seu Nota-se, nesse trecho, a ressigni-
pai, que resolvia as coisas na base do ficação de Fábio em relação à Bruna
diálogo, embora descontasse sua raiva em sua vida, assim como o fato de
nos objetos da casa. percebê-la, em retrospectiva, como
Durante os atendimentos, foi possí- ‘objeto sexual’, afastando-se do afeto.
vel observar uma relação conturbada Observa-se no discurso de Fábio liga-
entre o ex-casal, já que ambos entra- ção com os aspectos sociais patriarcais
vam em conflito e faziam “jogos” de e machistas implícitos, repercutidos e
ciúmes e ameaças. Nota-se um ciclo que são, quase sempre, contidos nos
vicioso entre eles, onde ambos se agri- casos de violência contra a mulher.
dem tanto fisicamente como psicolo- Nas primeiras sessões com o pa-
gicamente. ciente, foi solicitado que o mesmo fi-
Corroborando as ideias de Bowen zesse um checklist de como seria uma
(1991), para compreender a família “mulher ideal”, as qualidades que ele
e seu funcionamento, é de suma im- percebia nela, o que mudou e o que
portância desvendar o que aconteceu gostaria de mudar. Depois de um ano
nas gerações anteriores. Trata-se de de terapia, foi retomado esse checklist
uma oportunidade de ampliar o olhar a fim de avaliar possíveis mudanças ou
e trabalhar questões como segredos, se ele gostaria de acrescentar ou mu-
mitos e repetições familiares. No caso dar algo. Esse exercício teve o objetivo
de Fábio, o uso de genograma foi fun- de visualizar, no período de um ano,
damental, pois foi possível revelar se- mudanças, crescimento e outras for-
gredos, mitos, histórias de repetições, mas de se perceber.
como traição e violência. Após doze meses de terapia na clí-
nica-escola, retomou-se o checklist e,
em relação à “mulher ideal”, o paciente
ESTRATÉGIAS SISTÊMICAS comentou que espera que uma mulher
seja: calma; independente financeira-
Ao longo do trabalho clínico, foi mente, para se ter um equilíbrio; de-
sugerido que Fábio fizesse uma retros- pendente emocionalmente (o paciente
pectiva e pensasse no que faria de dife- trocou por ‘submissa’), ou seja, “que
rente em relação ao episódio da agres- não bata de frente comigo”; e que te-
são. Em um momento do processo nha os mesmos gostos que o dele: “fil-
terapêutico, ele disse: “Não penso em me, cinema, que seja bonita, charmosa
relação a não bater, mas já teria termi- e se vista bem” (sic).

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A partir do discurso de Fábio fo- do a homens e mulheres e sobre os
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ram analisadas questões voltadas aos recursos que ele poderia ter frente aos
discursos, modelos socialmente valo- comportamentos violentos.
rizados de homem e mulher, ou seja, Ao longo do processo terapêutico
estereótipos. Foi possível também foi possível perceber que Fábio esta-
observar questões relacionadas à so- va mais calmo, pensava antes de agir
ciedade machista, que tem o ideal de e tomar decisões na sua vida pessoal,
mulher que seja submissa ao homem. afetiva e amorosa. Mudança esta que
Segundo o pensamento sistêmico, es- Fábio percebeu durante as sessões e
sas questões fazem referência a fatores salientou como importante para ele e
socioculturais que influenciam o com- para as pessoas com que convivia.
portamento e acabam sendo pautados Após ser perguntado sobre as coisas
por padrões esperados de comporta- de que ele gostava de fazer, dos seus
mento. desejos profissionais e de sua perspec-
Sobre suas “qualidades”, o mes- tiva para o futuro, Fábio conseguiu tra-
mo respondeu que se considera uma çar seus objetivos profissionais e como
pessoa atenciosa, amorosa, resiliente, ele poderia fazer para alcançá-los.
trabalhadora, honesta, inteligente, de- Começou a trabalhar como motorista
dicada, persistente e bondosa. Ao ser particular, trocou de carro e almejava
perguntado quais as mudanças pelas começar um curso para piloto.
quais passou no processo da terapia, O que gostaria de mudar: “ter mais
Fábio respondeu: “não sou mais agres- vida social; não ser tão ciumento e
sivo, sou mais calmo no trânsito, não desconfiado; ser mais calmo no geral;
falo mais o nome da ex com tanta fre- e deixar de centralizar tudo em sexo”
quência, espero a confirmação das coi- (sic). Após um ano, o paciente percebe
sas para cobrar”. que mudara todos esses itens. Relatou
Após algumas perguntas reflexi- que uma vez por semana vai ao cine-
vas, Fábio pôde perceber que estava ma, seja sozinho ou com sua filha (ca-
“submerso” ao relacionamento com samento com Roberta). Diz que não é
Bruna, o que não o permitia estabe- mais desconfiado e ciumento, já que
lecer outros laços sociais, bem como sabe ouvir mais e prioriza o diálogo.
se concentrar no trabalho, já que seu Fábio relata como ele percebe o
pensamento estava apenas em Bruna: ciúme: “Ciúme é como câncer, tá ali,
se ela iria traí-lo ou não. As perguntas desperta ou não. Se for leviana, apron-
reflexivas giram no sentido de resgatar tar, mentir ou omitir, claro que vai ser
o Fábio que estava escondido atrás de desconfiado. Tem que cair fora logo de
Bruna, já que ele estava inseguro dian- cara. Até na educação dos meus filhos
te do seu papel social abalado, ou seja, estou diferente, hoje em dia eu baixo
o mesmo utilizava da violência como na mesma altura dos meus filhos e
reação e restabelecimento de poder. converso” (sic).
Ao utilizar a proposta reflexiva de Em relação ao processo de terapia,
Tom Andersen, que nos ajuda a repen- Fábio esclareceu que “sou nervoso,
sar, (re) construir e transformar deter- mas com a terapia estou colhendo
minada realidade, abriu-se um espaço bons frutos. Hoje em dia eu consigo
de diálogo e troca, favorecendo a cons- respirar fundo, consigo ‘sair de cena’.
trução e reconstrução de significados Estou mais calmo em relação a tudo,
sobre o que Fábio pensava e acreditava mais calmo até no trânsito. Hoje respi-
sobre violência, o lugar social atribuí- ro fundo e deixo passar”.

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Ao investigar como o paciente per- Essa questão levantada por Fábio
Intervenção sistêmica no
cebia a técnica de ‘sair de cena’, o mes- explicita a carência de um atendimen- contexto da terapia com
11
um homem autor de
mo explicou: “sair de cena dá menos to qualificado e eficiente, quando mui- violência contra mulher:
rolo, porque você respira fundo, pensa: tas vezes o homem autor de violência estudo de caso
Nádia de Melo Ferreira
será que tenho que agir assim? E no ou- é apenas julgado e punido, sem ao me-
tro dia pensa melhor. Percebi que assim nos vislumbrar uma possibilidade de
é melhor e não é tão difícil como eu escuta e ressignificação e superação do
pensava. Tem me ajudado muito e se o ato violento, somado às dificuldades
outro não consegue ‘sair de cena’, o ou- já apontadas anteriormente por Beiras
tro precisa, senão tem briga e agressão”. (2014) de implementação dos progra-
Perguntei em uma das sessões: mas de apoio. Araújo (2008) dialoga
Como você se sente quando usa essa com Saffioti (2004) ao problematizar a
técnica e como você se percebe após ideia de violência olhando para os dois
ter ‘saído de cena’? Ele respondeu: “Me “espectros”, ou seja, olhar a violência
tranquiliza, dá tempo de pensar e ter não apenas em relação à vítima, mas
outra atitude. Eu comecei a raciocinar e também voltar o olhar para o agressor.
não agir mais por impulso. Eu perdia a Desse modo, é possível buscar uma
razão e passava a ser malvisto, talvez se real transformação da relação.
eu tivesse virado o jogo antes, se tives- Neste caso, e em outros presentes na
se saído de cena. Maria da Penha pesa clínica-escola, os conflitos familiares
mais que tudo. Coloca 10kg de pedra e não são apenas de violência física, mas
a Lei vale mais.” muitos casos ficam camuflados, como
Embora essa técnica seja de base é o exemplo de violência psicológica e
cognitiva, optou-se por um olhar sis- sexual. Acerca do problema de Fábio,
têmico, a fim de se compreender as- observa-se a violência física e psico-
pectos macrossistêmicos que levaram lógica de mãos dadas, onde ambos se
o paciente a tomar determinada ação, atingiam e chegavam às vias de fato –
explorando histórias de violência pre- agressão.
sentes em sua história de vida – cons- Hoje o paciente percebe que não
trução social. Neste contexto, a técnica tinha esse “autocontrole” que tem
se mostrou útil, tendo em vista que Fá- atualmente, mas ressalta que não sabe
bio conseguiu cessar a violência. se ainda o tem em relação à Bruna, já
No que concerne à Lei Maria da que nem tem o interesse em “testar”.
Penha, o paciente expressa que a Lei é Os modelos educacionais e as histórias
muito seletiva: “se fosse num país eu- transgeracionais de Fábio permitiram
ropeu, por exemplo, ela iria funcionar. adentrar profundamente a sua vida.
Aqui no Brasil não se tem uma investi- Foi perguntado, ao longo das sessões,
gação, não querem saber o motivo de como eram os padrões de relaciona-
quem bateu, o que levou ao episódio mentos aprendidos por cada membro
em si. Apenas chamam o cara de vaga- da família, quais lembranças tinha da
bundo e prendem”. Fábio ainda afirma educação dos pais, quais lembranças
que a lei não é igual para todos, não se ele tinha dos momentos de lazer e ca-
tem um interesse por parte das autori- rinhos com os pais e quais cicatrizes
dades em investigar o caso: “parece que ele tinha da infância.
é meio que um sorteio: esse vai pagar No que tange aos modelos educa-
em cesta básica, esse vai cumprir três cionais do paciente, verificou-se um
anos em regime fechado, esse vai pres- modelo patriarcal e machista que in-
tar serviço comunitário”. clui castigos físicos. Como Fábio sem-

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pre teve o padrão educacional de bater, resolvi sair do conflito. Depois a gente
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ele acreditava que dar limite era bater se acalma e começa a raciocinar me-
nos filhos. Após o processo terapêuti- lhor.” Esse exercício fez com que Fábio
co, Fábio pôde perceber outras formas pudesse dar um nome à sua “raiva” e
de educar que vão além da agressão. enxergá-la como não constituinte dele.
“Na época em que estava com Bru- Ademais, ele pôde refletir sobre sua
na eu metia os ‘pés pelas mãos’. Eu a raiva e trilhar outros caminhos – dife-
cobrava muito e era agressivo. Hoje rentes da agressão física.
percebo que cada um tem sua particu- Vale aqui lembrar um trecho de
laridade. Hoje só penso em estar com uma música de Vanessa da Mata, que
alguém que me traz segurança, porque traduz o processo terapêutico: “Reguei
antes eu estava intoxicado com a Bru- com tanta paciência / Podei as dores,
na, talvez a distância fez eu me desin- as mágoas, doenças / Que nem as fo-
toxicar dela.” lhas secas vão embora / Eu trabalhei”.
Ao ser perguntado como ele perce- Ao longo do processo terapêutico
bia a terapia, o mesmo respondeu que foram perceptíveis as mudanças de
“A terapia me ajudou a ter discerni- Fábio e seu anseio por fazer diferen-
mento em relação às coisas. Hoje eu te, não mais por Bruna, mas por ele.
me olho mais, me preocupo com meu A Lei 11340/06 é injusta na opinião
profissional e percebo que estou pro- de Fábio, no sentindo de não permi-
gredindo. Estou me aperfeiçoando e tir ao homem expor seus sentimentos,
buscando crescer profissionalmente. anseios e razões. Ele entende que Bru-
Antes ficava preso apenas nos relacio- na teve comportamentos provocati-
namentos e não me olhava” (sic). vos que culminaram na agressão, mas
O processo terapêutico acaba se pensa que poderia ter feito diferente,
tornando um espaço de diálogo, onde ou seja, “não cair nas provocações”.
existem trocas significativas para in- Hoje o paciente busca um relacio-
tervenção terapêutica, bem como o namento em que possa ter um diálo-
respeito e a flexibilidade. Neste senti- go, onde ambos possam expor seus
do, além de trabalhar questões relativas sentimentos e que sejam respeitados,
ao que culminou em sua condenação, mesmo com opiniões opostas. Isso
foram abordadas questões compatíveis foi possível tendo em vista que Fábio
ao trabalho, modo de vida, questões li- pôde ressignificar aspectos de sua vida
gadas à paternidade e planos futuros, pessoal, profissional e amorosa.
por entender que Fábio é muito mais Fábio mostrou que até a flor mais
do que um homem autor de violência. seca pode ser regada, pode crescer e
Foram criadas perguntas no sentido florescer. Sim, foi um processo que
de abrir espaço e descobrir resultados exigiu paciência, tanto da terapeuta
positivos. Esses exercícios conversa- como do paciente, mas os dois pude-
cionais admitem focar nos pontos po- ram florescer.
sitivos e externalizar o problema. De Quando é dito que Fábio floresceu,
acordo com White e Epston (1990), significa dizer que ele pôde trabalhar
a externalização permite que o pa- em terapia sua autoestima, passou a
ciente dê outro significado a alguma se valorizar mais, tanto como pessoa,
história trazida, como, por exemplo: como profissional. Buscou outros pro-
“como você agiu quando percebeu jetos profissionais, aprimorou-se pro-
que sua raiva poderia tomar contro- fissionalmente e está trilhando seus
le sobre você?”. “- Eu respirei fundo e sonhos e objetivos.

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No atendimento com homem autor De acordo com Beiras e Bronz (2016),
Intervenção sistêmica no
de violência, foi possível perceber que no nosso meio social ainda perdura a contexto da terapia com
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um homem autor de
o autor da violência deve ser respon- ideia sexista, o que corrobora o com- violência contra mulher:
sabilizado. No estudo de caso, Fábio portamento violento de muitos ho- estudo de caso
Nádia de Melo Ferreira
se colocou como o autor da violência, mens, por exemplo.
mas também se colocou como agredi- Ao ser mulher e atender um ho-
do, seja pela ex-companheira, seja pela mem autor de violência, foi possível
Lei, pois, segundo ele, foi impossibi- trazer questões de gênero e me colocar
litado de expor seus argumentos pe- enquanto mulher. Fábio ressaltou in-
rante a justiça ou pela sociedade que clusive o fato de ser atendido por uma
acaba por segregar e não reconhecer mulher, já que, segundo ele, “se sentia
que o autor de violência também pode mais à vontade”.
ressignificar o seu ato e, possivelmen- Foram feitas perguntas abertas e
te, não cometê-lo mais. reflexivas, visando ao entendimen-
Assim, é preciso pensar em políticas to do processo de violência: como se
públicas mais eficazes para o atendi- dava, como ela ocorria, quais eram os
mento aos homens autores de violência. envolvidos e o que a suscitava. Enten-
Pensar em políticas públicas não requer de-se que a terapia tem que ir além de
criminalizar e prender, mas criar estra- focalizar os “problemas”; ela também
tégias e recursos para que esses homens precisa identificar as potencialida-
possam transcender ao ato violento e des, ou seja, o que há de positivo na
ressignificar suas atitudes e crenças. pessoa. Neste viés, Fábio conseguiu
Por fim, se faz terapêutica a possibili- identificar competências que nem ele
dade de contar e recontar histórias de reconhecia em si.
vida, sobretudo se essas histórias pude- Foi possível perguntar: como eram
rem ser ressignificadas e reconstruídas. os momentos de lazer com os filhos?
Como ele se sentia nos momentos em
que estava com os filhos? Fábio sem-
PROCESSO TERAPÊUTICO: CAMINHOS pre se mostrou um pai participativo na
POSSÍVEIS educação dos seus dois filhos, os que
teve com Bruna. Ao longo das sessões,
A visão sistêmica permitiu identi- quando era perguntado sobre os filhos
ficar discursos e questões intergera- que estão em outro Estado, seus olhos
cionais, assim como repetições que se enchiam de lágrimas e ele demons-
contribuíam para a continuidade do trava saudade, carinho, afeto e um de-
problema, e trabalhar no sentido de sejo de estar novamente com eles.
mudanças e transformações. Possibi- Pôde-se trabalhar com Fábio quais
litou um olhar que fugisse das patolo- são os recursos existentes no momento
gizações, rótulos, fazendo assim com em que um conflito se instaura. Recur-
que o indivíduo pudesse ser percebido sos que vão além de uma discussão ou
segundo suas potencialidades e resili- de uma briga, por exemplo. Fábio con-
ências. Ao longo da terapia, percebeu- seguiu vivenciar, experimentar e levar
-se a implicação e o desejo de mudança com ele a técnica de “sair de cena”; mé-
por parte de Fábio, que, muitas vezes, todo que ele diz ter sido fundamental
mostrou-se insatisfeito por não ser ou- no seu processo. Fábio conseguiu tam-
vido nas instâncias judiciais. bém perceber que o diálogo é primor-
A perspectiva de gênero também dial, que ouvir o outro também se faz
orientou o nosso trajeto terapêutico. necessário, que as pessoas podem ter

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opiniões diversas, e não é porque o ou- Fábio conseguiu compreender aspec-
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tro não concorda com nossa forma de tos positivos no serviço comunitário,
pensar que ele está nos desrespeitando. já que ele começou a estabelecer con-
Ao sair da ideia de um “suposto tatos profissionais e se sentir impor-
saber do terapeuta” e coconstruir a tante no trabalho que estava fazendo,
sessão com o paciente, foi possível onde fez também outras amizades.
adentrar o mundo de Fábio e validar Nesse contexto, podemos perceber
e re-conhecer suas experiências e vi- que foi exequível trabalhar ao longo
vências. O vínculo e a confiança foram do processo terapêutico os impactos
fundamentais neste processo porque da Lei. Fábio teve abertura para falar
facilitaram a construção no trabalho do estigma social que ainda perdura
com esse homem autor de violência. sobre o “agressor”. Explicou que algu-
Ao longo do processo terapêutico, mas pessoas o enxergavam apenas a
Fábio foi contando o quão sofrido é partir da etiqueta de “agressor” e não
carregar o estigma de “agressor”. O como Fábio. Ao final do processo te-
estigma, segundo Goffman (2004), re- rapêutico Fábio conseguiu se enxergar
fere-se aos estereótipos sociais, estan- como Fábio e não apenas como um
do ligado à construção social de uma homem agressivo que cometeu deter-
determinada cultura. Ou seja, a socie- minado crime, conseguindo ressigni-
dade vê o homem autor de violência ficar suas atitudes e crenças e dar um
como agressor, violento, criminoso e novo sentido para o ato que cometeu.
muitas vezes classifica essas pessoas Os desafios podem ser inúmeros,
como “doentes”. Esses atributos aca- como em qualquer atendimento. O
bam por moldar e criar rótulos a esse profissional tem que estar disposto a
homem; trata-se, como salienta Goff- entrar na vida do paciente, ouvir, en-
man, “[d]a situação do indivíduo que tender, compreender e, acima de tudo,
está inabilitado para aceitação social não julgar. Ao ter essa postura, o tra-
plena” (Goffman, 2004, p. 4). balho terapêutico se torna mais leve,
Compreendeu-se um pouco, a tendo em vista o vínculo terapêutico
partir do discurso de Fábio, como a e o respeito pela pessoa que está con-
sociedade alimenta cada vez mais o fidenciando sua vida, suas angústias,
preconceito frente em relação àquele medos e incertezas.
que é visto como “agressor”, como a
justiça também corrobora esse pen-
samento ao não oferecer um espaço CONSIDERAÇÕES FINAIS
de escuta, diálogo e, principalmente,
transformação. Reafirmo que, para compreender
Fábio externou que os impactos da a violência, é necessário entendê-
Lei nº 11.340 foram inúmeros, seja na -la como um fenômeno complexo e
vida pessoal, profissional e nos seus re- multifacetado. Podem existir fatores
lacionamentos. Relatou que seu sonho individuais, tais como histórico de
de fazer um curso para piloto teve que violência na família de origem, aspec-
ser adiado, tendo em vista que estava tos relacionais, instabilidade nos re-
com “a Lei nas costas”. Neste sentido, lacionamentos, entre outros. Ao falar
sua vida deu uma estagnada, já que ele em violência, devemos nos despir do
precisava cumprir o que foi lhe fora conceito de vítima x agressor e assimi-
estabelecido: serviço comunitário. Po- lar como se dá a dinâmica da violência
rém, ao longo do processo terapêutico, dentro de cada caso.

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Na abordagem sistêmica não pro- homem pudesse falar da violência per-
Intervenção sistêmica no
curamos culpados, mas sim a apre- petrada, mas, além disso, reescrever contexto da terapia com
15
um homem autor de
ensão da dinâmica da violência que sua história, revisitando suas condutas violência contra mulher:
acontece no meio familiar e qual o e traçando outros caminhos possíveis. estudo de caso
Nádia de Melo Ferreira
papel de cada um nessa família. As- A terapia narrativa também auxiliou
sim, compreender a violência é escu- no trabalho desenvolvido, possibili-
tar como ela se dá na família, como o tando diálogos interpessoais e intra-
indivíduo percebe a violência e seus pessoais, o que abarca sua forma de
sentidos para o ato violento. estar, relacionar-se no mundo.
Ao longo do processo terapêutico
trabalhou-se com questões relacio-
nadas ao controle da ira, sendo fun- REFERÊNCIAS
damental falar sobre os mais diversos
sentimentos e angústias. Fábio conse- Acosta, F., Andrade, A., & Bronz, A.
guiu se implicar no processo terapêu- (2004). Conversas homem a homem:
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foi possível que ele transcendesse ao Andersen, T. (1999). Processos Reflexi-
seu ato e ressignificasse suas maneiras vos. Rio de Janeiro: Instituto Noos.
de vivenciar sua história, de significar Araújo, S. (2008). Jovens identificados
a violência como forma de tornar-se como autores de abuso sexual: sen-
homem e sujeito no mundo, e como tidos da violência. Dissertação de
modo de relacionamento e solução de Mestrado, Programa de Pós-gradu-
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Acredita-se que o autor da violên- Federal de Santa Catarina, Floria-
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seus atos, mas que o olhar sobre ele Beiras, A. (2009). Grupos de homens
seja também de acolhimento da histó- autores de violência - possibilidades
ria de cada um, assim como a pessoa de intervenções diante das reco-
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tal que garantem o cumprimento da vas teóricas e processos de interven-
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suma importância que possamos olhar Beiras, A. (2014). Relatório Mapea-
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que estão nesse contexto relacional de pal a homens autores de violên-
violência. Neste sentido, o espaço de cia contra mulheres no contexto
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que ele permite que esse homem possa www.noos.org.br/userfiles/file/
ressignificar suas crenças, sua história Relat%C3%B3rio%20Mapeamen-
e assim se responsabilizar por seus atos to%20SHAV_site.pdf
e vislumbrar outros modos de consti- Beiras, A. & Cantera, L. (2012). Narra-
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Nova Perspectiva Sistêmica, n. 63, p. 109-125, abril 2019.

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