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Apostila de Sociologia – 3° ANO

Professor: Jonas Batista


Tema Central: Sociologia da Violência

A violência e sua prática através da sociologia

A sociologia no Brasil, procura cada vez mais estudar a violência e os motivos que fazem ela
acontecer, há inúmeros fatores que pesam, exemplo disso é a importância que a os veículos de
comunicação dão aos casos de violência, outra coisa são os eventos de conhecimento público e a
maneira como a mídia trata, aumento de teses sobre este tema não possuem uma forma de facilitar,
explicar realmente o que acontece, os estudos só aumentam mais as perguntas e questionamentos sobre
o tema, não tendo nenhuma solução.
Alguns estudiosos em suas teses afirmam que a violência é um fenômeno que existe em toda
sociedade humana, desde a sua origem até os dias de hoje, a maneira como ela se mostra varia e tem
uma forte relação com a cultura da sociedade, aonde tem um grupo de pessoas, sempre terá violência.
Freud (1974, p.133) afirma em seu estudo:

“O elemento de verdade por trás disso tudo, elemento que as pessoas estão tão
dispostas a repudiar, é que os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas
e que, no máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário, são criaturas
entre cujos dotes instintivos deve-se levar em conta uma poderosa quota de
agressividade”

Sendo assim, o termo “violência” está presente na história e se faz notar quando falamos de
grupos que formam uma sociedade e com o passar do tempo, a própria sociedade vai formando a
definição deste tema, no estudo de Michaud a variação de significados vindos da violência, dificulta o
seu estudo, entretanto, mostra que o valor da violência depende das regras de comportamento vigentes
em cada grupo, isso define o significado dela, no futebol, a violência cometida pelos torcedores de
futebol se mostra ampla, pois dependendo da sociedade, o futebol possui um número grande de
pessoas, que gostam do esporte e dos seus clubes.
O sociólogo Max Weber foi um autor que deixou grandes estudos sobre a violência na
sociedade afirmando que há uma batalha intensa na vida social das pessoas e vê a “ violência como
uma maneira de se resolver esses conflitos, afirma também que o Estado utiliza também a violência a
fim de mudar algo que está errado no sociedade, não há durante toda a história, um Estado que tivesse
o controle desta violência, exemplo disso, é o uso da violência em manifestações populares, a Polícia
sempre acaba exagerando e fazendo o mal uso de seu poder.
Ao se falar em violência, é necessário que a gente tenha uma definição estabelecida do que de
fato é a violência, dificulta estabelecer uma definição, pois a violência é mais experimental do que
teórica, ela acontece não há um modelo detalhado de como explicar ela, muitos estudiosos já se
arriscaram a fazer uma definição sobre o tema e o que melhor chega perto de uma definição é Yves
Michaud (1989, p.10) quando ele faz a seguinte definição:
“Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores agem de
maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou várias
pessoas em graus variáveis, seja na sua integridade física, seja em sua integridade
moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais.”

Michaud fala também sobre os tipos pelos a violência, como ela ocorre e os motivos pelo qual
ela aparece, dentre os tipos que ele cita, existe a “violência política difusa”, que trata das brigas de
torcida organizadas, pessoas que coordenam o futebol e a polícia que usa a violência para coibir os
torcedores de brigarem nos estádio e locais próximos. No futebol as torcidas organizadas possuem um
poder muito grande e as brigas acontecem como maneira da torcida se impor perante a outra torcida,
outro estudioso da violência é Pierre Bourdieu (1989, p.11) ele afirma que a violência é um tipo de
coação que está presente no indivíduo
“É enquanto instrumentos estruturados e estruturantes de comunicação e de conhecimento que
os “sistemas simbólicos” cumprem a sua função política de instrumento de imposição ou de
legitimação da dominação, que contribuem para assegurar a dominação de uma classe sobre outra
(violência simbólica) dando o reforço da sua própria força às relações de força que as fundamentam e
contribuindo assim, segundo a expressão de Weber, para a “domesticação dos domesticados”.”
No cenário atual da sociedade, todos temem que a violência aconteça, é este receio a causa
principal de vermos cada vez mais os estádios com um público reduzido, na década de 1970 e 1980 os
estádios chegavam a receber mais de cem mil pessoas, hoje esse número de pessoas que frequenta um
estádio abaixou.
A violência no futebol é rotina no nosso país, já afetou nossa sociedade, para entender como
esta violência surgiu, os sociólogos dizem que é preciso entender os problemas da população, isso
auxilia para no estudo sobre o tema, uma partida de futebol aflora os ânimos de todos os que estão
presente, isso faz com que a probabilidade de ocorrer uma violência aumente.
De acordo com o sociólogo Maurício Murad, o futebol expressa a violência da sociedade, se
aumentar a violência na sociedade, ela tende a aumentar também no futebol e ela aumentou na nossa
sociedade no fim dos anos 80, fato é que a impunidade de quem comete a violência e a corrupção de
algumas instituições também ajudam e ela acontecer, pois se tivesse leis mais sérias para essa questão
e as pessoas fossem punidas, certamente o índice de violência abaixaria.
Os sociólogos estudam a relação da violência com o esporte, devendo ter igualdade de ambas
as partes, respeito pelo próximo para se ter uma convivência harmoniosa e regras que todos cumpram,
no livro de Mauricio Murad (2007, p.12) A violência e o futebol – dos estudos clássicos até os dias de
hoje, o sociólogo relata que o esporte combate à violência.
Sua lógica está fundamentada, em tese, na igualdade de oportunidades, no respeito às
diferenças e na assimilação de regras e normas de convivência com o outro. A grande questão é
transformar essa força em realidade manifesta. O estudo do futebol e a violência chamou a atenção do
sociólogo Ronaldo Helal (1997, p.37) que afirma no seu livro que a violência no futebol é um
problema social.

“O esporte é definido pela sociologia como qualquer competição física subordinada a


uma organização mais ampla que escapa ao controle daqueles que participam da
ação”
Durante a unidade estudamos algumas formas de violência, abaixo temos o conteúdo de cada
uma das aulas:

Aula 1: Justiça Social (Entendendo a lógica por trás dos Linchamentos)

O Brasil é o país que mais lincha no mundo. Mais de um milhão de brasileiros já participaram de
linchamentos – ou de “ações de justiçamento” – nos últimos 60 anos. É isso que aponta a pesquisa do
sociólogo José de Souza Martins, professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP e autor do livro
Linchamentos: A Justiça Popular no Brasil. Em resumo, essa é uma forma de punição coletiva contra
alguém suspeito de praticar um comportamento considerado antissocial. Um dos problemas é que essa
concepção do que é o antissocial pode variar enormemente. 
É bastante comum, por exemplo, que ocorram linchamentos em casos de roubos, homicídios,
crimes de violência sexual, acidentes de trânsito e até mesmo violação de valores e costumes
tradicionais, morais ou religiosos. Mas há também casos motivados por desentendimentos, como uma
mulher que decide reclamar do barulho do vizinho ou um trabalhador precarizado que cobra seu
salário atrasado. Foi isso que aconteceu com o congolês Moïse Kabagambe, jovem de 24 anos morto
no Rio de Janeiro no início de 2022.
Moïse trabalhava por diárias em um quiosque na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade, e veio
para o Brasil como refugiado político em 2014 com a mãe e os irmãos. Ele foi espancado até a morte
por ter ido até o quiosque cobrar dois dias de pagamento atrasado. Imagens de câmeras de segurança
do local mostram o momento em que o congolês é derrubado e imobilizado. Ele leva, ao todo, 40
pauladas de homens que compartilham um bastão de madeira.
“É um caso diferente da imensa coleção de casos que eu reuni, os
linchamentos não seguem o mesmo modelo. O que aconteceu com o Moïse é
uma novidade num certo sentido, porque decorreu de uma reivindicação do
pagamento de um trabalho realizado. É claro que houve toda uma
circunstância de tensão que costuma cercar esse tipo de situação, mas não
descaracteriza como linchamento porque é um grupo que resolve agredir o
sujeito à noite. É o que eu defino como linchamento covarde”, afirma José
de Souza Martins em entrevista para o podcast “O Assunto” (Você pode
acessar pelo QR code ao lado para se aprofundar no conteúdo).

A essência do linchamento
“Eles são fruto de um julgamento súbito, sumário, em que a vítima não tem tempo ou
oportunidade de provar a sua inocência.” É assim que a professora de sociologia Sarah
Franciscangelis, do Colégio Oficina do Estudante, em Campinas (SP), introduz o modus operandi dos
linchamentos. Mas não é exatamente deste ponto que a história começa.
Em um país como o Brasil, onde ocorre ao menos um linchamento por dia, a prática ganha
contornos ainda mais profundos. “É um forte indicador de que vivemos em uma cultura da violência e
da desumanização do outro, do descaso com a vida humana, que parece ser descartável. Também é
importante lembrar que certos grupos sociais – como negros, imigrantes e travestis – sofrem
especialmente este processo de desumanização”, diz a professora.
Ou seja, o linchamento não deixa de ter, como pano de fundo, uma violência arraigada, que se
entrelaça a preconceitos como o racismo, a xenofobia e a homofobia. Há também a tentativa de fazer
justiça com as próprias mãos, por fora da legalidade e dos procedimentos institucionais da aplicação
da Lei – já que essa via é percebida como ineficaz ou insuficiente.
Renê Araújo, professor de Sociologia do Curso Anglo, resume: a impressão dos linchadores é que
estão criando uma ordem frente a morosidade dos meios legais. Trata-se, porém, de uma concepção de
ordem arcaica e patológica.

Arcaica porque remonta a um padrão de sociedade que vigorava há pelo menos 3700 anos. Foi
nessa época, em meados do século XVIII a.C., que o rei da Mesopotâmia criou um código penal que
levava seu nome, o Código de Hamurabi. Esse código baseava-se na Lei do Talião, conhecida pela
máxima “olho por olho, dente por dente”. Ou seja, a ideia de justiça com as próprias mãos ou de
pagar por uma ação com a mesma moeda não é nada recente. O problema, no entanto, torna-se ainda
maior quando se perpetua em uma era marcada pelas redes sociais, pela disseminação de notícias
falsas e pelo tempo da internet que, definitivamente, não abre espaço para réplicas. 
Os boatos espalham-se provocando medo e comoção em comunidades, que acabam externalizando
esses sentimentos por meio de atos violentos realizados coletivamente. Provavelmente você já viu essa
história repetir-se nos noticiários: uma fake news envolvendo abuso se espalha nas redes, e o suposto
culpado pela ação acaba encurralado e linchado por uma multidão furiosa. Foi o que aconteceu com
Fabiane de Jesus, caso que estudamos em sala (Se necessário pesquise o nome do google para
relembrar o caso).
Assim, os linchamentos são uma forma de violência auto defensiva, pautada em uma ideia de
proteção preventiva que visa acabar com a causa do medo – no caso, aquele que é linchado e o que ele
representa. Logo, em uma sociedade cuja sociabilidade é historicamente violenta e o sistema jurídico
pouco eficiente e confiável para a maioria das pessoas, linchamentos continuam sendo praticados.

Sociedade do medo

A intolerância é a principal causa dos linchamentos que ocorrem em vários estados do Brasil,
dizem especialistas em comportamento humano, segurança pública e direito. Para a pesquisadora do
Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo, Ariadne Natal, os
espancamentos são fruto da combinação da percepção de Estado ineficiente, por parte da população,
com uma tradição de desrespeito aos direitos humanos.
“De um lado, a percepção de que o Estado não é capaz de prover segurança e justiça. Há uma
percepção difusa de uma parte da população de que a impunidade dá a sensação de medo, aumento da
criminalidade e a população se vê vulnerável. Então, há a percepção de que o Estado é ausente e
ineficiente. Além disso, há uma cultura de desrespeito aos direitos humanos. A gente vive em um país
em que há uma cultura de resolução de conflito por meio do emprego da violência”, disse.
Conforme a pesquisadora, as motivações variam, mas partem da ideia de que algumas regras
foram quebradas e, com isso, os suspeitos são alvo de ameaças ou de agressões físicas, que podem ter
um desfecho fatal. “O linchamento é uma espécie de controle social, é uma espécie de punição ou
pena dada à pessoa acusada de cometer um crime, não necessariamente culpada, porque ali não tem
uma investigação real, é com base em indícios momentâneos”, disse.
Ariadne Natal destacou que, em geral, quando ocorre um linchamento não há qualquer base de
investigação e a imputação da responsabilidade se dá no calor dos acontecimentos. “Geralmente, as
falas são até desconexas. As pessoas que participam podem apontar razões diferentes para o
linchamento. É meio a história de telefone sem fio”, comparou.
Na sua avaliação, independentemente de a vítima ser inocente ou culpada, o espancamento é que é
injusto, ainda que a pessoa tenha culpa. “Porque se trata de uma ação que não é para fazer justiça, mas
para vingança. A forma como o linchamento se dá, usando a violência física e, muitas vezes, aplicando
uma espécie de pena que é mais dura do que seria a prevista por nossa legislação” completou.
Observe abaixo alguns dos motivos por trás dos linchamentos relatados pelos especialistas:

Como o linchamento é um crime coletivo, operado por um grupo ou uma multidão, é comum a
presença de outros indivíduos que não participam das agressões, mas que também não intervêm para
que as mesmas não ocorram ou cessem o mais rápido possível. As testemunhas buscam não se
envolver, pois acreditam que outro espectador agirá em seu lugar, mas essa “terceirização” da
responsabilidade acaba fazendo com que ninguém tome providências. 
O termo “efeito testemunha” foi cunhado na década de 1960, em alusão ao caso de uma jovem,
Catherine Susan Genovese, que foi estuprada e esfaqueada no Queens, em Nova York. O crime foi
assistido por vários vizinhos que estavam nas janelas dos prédios situados na mesma rua e
simplesmente se omitiram. 
Nessas situações, as testemunhas afirmam não querer se envolver, alegam medo de também serem
vitimadas pelos agressores, e, frequentemente, esperam que outra pessoa intervenha. “É como se a
responsabilidade fosse diluída socialmente: se há diversos voluntários em potencial para agir, ninguém
se sente tão individualmente responsável”
A lógica por trás da justiça estatal
‘A sociedade civil está ficando progressivamente descontrolada’, diz o sociólogo José de Souza
Martins, professor aposentado da USP, que há mais de 20 anos documenta linchamentos no país (…)
Há atualmente uma média de um linchamento por dia no Brasil, ante quatro por semana anteriormente,
afirma Martins (…)
Por trás dos casos há, continua Martins, uma crescente descrença nas instituições, o que
potencializa os linchamentos. Reduzi-los dependeria, diz, de a polícia ser mais eficiente ao deter
criminosos e de a Justiça ter agilidade ao julgá-los e condená-los”
Países diferentes têm posicionamentos diferentes para a o nível de reação que vítimas de crimes
podem ter. Nos EUA, por exemplo, boa parte dos Estados adotam a Castle Doctrine - mais comumente
conhecida ‘Make my day’ (da expressão tornada célebre por Clint Eastwood no personagem Dirty
Harry) - que permite o uso de força letal contra qualquer pessoa que entre sem permissão em sua
residência. Estados como Ohio chegam a estender a permissão para o uso de tal violência até mesmo a
veículos. Já na Inglaterra, até muito recentemente, você seria condenado à prisão perpétua se atirasse
em um criminoso armado que invadisse sua casa na calada da noite.
Mas todos os países minimamente civilizados têm algo em comum: cabe à Justiça julgar e punir.
Mesmo no ‘make my day’, a ideia é a proteção de pessoas e propriedade contra um perigo iminente, e
não o justiçamento do criminoso pelos indivíduos. Você não pode sair correndo pela rua para atirar
contra o criminoso que havia invadido sua residência. E há duas razões para isso.
A primeira é para a sobrevivência do Estado. Se o Estado deixa de ser o único garantidor e
provedor de Justiça e perde o monopólio da força, ele deixa de ser essencial. Ele passa a ser um
coadjuvante. Para que pagar tributos para um Estado para o qual temos uma alternativa mais célere e
mais barata? A segunda é para a sobrevivência da própria sociedade. A razão pela qual delegamos o
monopólio da força ao Estado não é porque confiamos inteiramente no Estado: é porque não
confiamos inteiramente em nós mesmos.
Se eu posso fazer justiça com minhas próprias mãos, outros também podem. E cada um de nós
pode resolver fazer justiça usando regras diferentes porque temos padrões morais e éticos distintos. A
minha justiça pode parecer injusta a um terceiro, assim como a justiça desse terceiro pode nos parecer
injusta. Com milhares de padrões individuais, um único olhar ‘errado’ pode desencadear a
possibilidade de ‘justiçamento’. Uma guerra de todos contra todos.
Se eu posso impor minha justiça (ou injustiça) sobre o terceiro, ele também pode fazer o mesmo
contra mim. O custo dessa constante possibilidade é financeira e emocionalmente enorme. Eu não só
passarei a viver todo o tempo com medo de ser vítima da (in)justiça alheia, mas terei de me resguardar
contra essa permanente possibilidade. Meu objetivo deixa de ser viver, e passa a ser apenas sobreviver.
Voltamos a agir e sentir como todas as outras espécies animais. A possibilidade de prosperarmos
desaparece porque o tempo e recursos disponíveis são usados de formas ineficientes. Não para
construir algo novo e progredir, mas para proteger aquilo que já existe e não regredir.
A razão pela qual não podemos fazer justiça com as próprias mãos não é porque os criminosos são
ou não animais (ou qualquer outro termo pejorativo que queiramos empregar), não respeitam as
normas básicas da sociedade e não merecem ser punidos. A razão pela qual não podemos fazer justiça
com as próprias mãos é que nós não somos e não queremos ser animais.

Repertório

 O livro Linchamentos: a justiça popular no Brasil, do sociólogo José de Souza Martins, é uma
referência importante para quem quer se aprofundar na temática. 
 O documentário A Primeira Pedra, disponível no Globoplay, faz uma reconstrução histórica da
prática social dos linchamentos no Brasil e traz à tona alguns casos que foram bastante
noticiados na mídia a partir da fala de sobreviventes e familiares de vítimas. 
 O filme Aos teus Olhos, de Carolina Jabor, traz uma abordagem sobre os chamados
linchamentos virtuais, que podem ser pensados como uma outra forma de manifestação
contemporânea dessa prática de punição coletiva. Um professor de natação infantil vivido por
Daniel Oliveira é acusado de abusar de um dos alunos. O longa também está disponível no
Globoplay.
 Outra produção sobre o assunto é o filme O mundo não perdoa, que trata da história de um
homem negro, nos Estados Unidos, acusado injustamente de homicídio e ameaçado de
linchamento. Disponível no Itunes.

Aula 2: Estupros e Violência Contra a Mulher

Preso desde o dia 20 de janeiro, o jogador de futebol Daniel Alves foi acusado de estupro por uma
jovem espanhola. O caso, no entanto, não é o primeiro que vem à público envolvendo atletas. Daniel,
porém, é um dos raros esportistas que foi encarcerado pela prática de crime sexual. Segundo
levantamento realizado pelo jornal Folha de S.Paulo, entre os anos de 2019 a 2021, foram registrados
240 boletins de ocorrência de crimes contra a mulher cometidos por atletas no estado de São Paulo. A
maioria, jogadores de futebol. Outros grandes nomes também foram condenados e acusados do crime.
De acordo com a advogada especialista em direito penal Jessica Marques, ainda há muita dificuldade,
por parte dos homens, de entender do que se trata o estupro. “Por incrível que pareça, ainda é
complicado estruturar na cabeça das pessoas o que é o estupro, principalmente quando falamos
daquelas sociedades que têm uma cultura machista, geridas por um sistema de patriarcado”, pontua.
Para a especialista do Kolbe Advogados Associados, os locais que se pautam por esses princípios “têm
uma visão restrita e delimitada do que é o estupro”. “Esses atos de violência sexual são vistos como
atos comuns e do cotidiano, como se fossem uma cantada e não são”, pontua.
As mulheres demoraram a serem inseridas no cenário futebolístico, meio majoritariamente masculino.
Criado em meados do século 19, na Inglaterra, o esporte era jogado e assistido por homens. Após mais
de dois séculos da tentativa de inclusão e ocupação delas nos mais variados espaços, ainda há uma
recusa delas no futebol.
Levantamento realizado pelo Kantar Ibope revelou que as mulheres representam apenas 44% dos fãs
do esporte no país. Ainda que exista uma crescente em relação ao interesse e participação delas no
futebol, elas ainda são excluídas das lideranças e espaços de visibilidade relacionadas à prática
esportiva.
“Quando se tem esse ambiente do futebol sem uma representação feminina na alta liderança, nos times
e nem na cobertura esportiva, isso também afeta nas condutas dessas pessoas”, explica Marina
Ganzarolli, advogada e presidente do Me Too Brasil.
“Esse ambiente passa a naturalizar, por exemplo, condutas de coação ou de constrangimento das
mulheres ou de seus corpos — situações que não aconteceriam se fosse um ambiente mais diverso ou
mais inclusivo”, salienta Ganzarolli.
A especialista pontua que é possível observar que, por muitos anos, a figura do jogador “malandro e
festeiro”, que vai para a balada, “pega” um monte de mulheres e joga no dia seguinte, imperou por
muitos anos, mas esse cenário tem mudado recentemente. Tais atitudes podem explicar como
jogadores de futebol voltam a exercer a profissão ainda quando foram acusados e condenados de
praticarem crimes hediondos. Em um dos exemplos, o ex-jogador Cuca, que atualmente treina o
Atlético-MG, foi condenado por estupro de vulnerável em 1987, na Suíça, e nunca cumpriu sua pena.

Vale ressaltar que oito em cada 10 vítimas de estupro não prosseguem com a denúncia. Para muitas, a
vergonha e o medo do julgamento, principalmente quando o acusado é uma celebridade, são
empecilhos que atrapalham na denúncia dos crimes de estupro — fatores que contribuem para a
subnotificação dos casos.

A realidade cultural Brasileira

Um estudo divulgado nesta quinta-feira (27) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)
revela que a maioria da população brasileira acredita que “mulheres que usam roupas que mostram o
corpo merecem ser atacadas” e que “se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos
estupros”.
“Por trás da afirmação, está a noção de que os homens não conseguem controlar seus apetites sexuais;
então, as mulheres, que os provocam, é que deveriam saber se comportar, e não os estupradores”,
afirmam os pesquisadores no relatório do estudo.

O resultado da pesquisa é visto com preocupação pela assistente social Sonia Coelho, integrante da
equipe técnica da Sempreviva Organização Feminista (SOF), que tem sede em São Paulo. Para ela, a
sociedade trata como natural a violência contra a mulher, mas não poderia culpar a própria vítima em
casos de estupro.

O que diz a lei

Vamos entender no que consiste: ato obsceno, importunação sexual e estupro em consonância com a
Lei.

ATO OBSCENO

É a prática de obscenidade em lugar público, ou aberto ou exposto ao público. Ato obsceno é praticar
uma ação de cunho sexual que ofende o pudor (a moral) da sociedade. Esse crime, além da multa, já
gera também pena de prisão.

Por exemplo, tirar a roupa no meio da rua é um ato obsceno.

Mas a obscenidade não é apenas vinculada à nudez, e nem tudo que envolve nudez é obsceno. Obsceno
é aquilo que ofende o padrão médio da moralidade social, ou seja, aquilo que ofende alguém que não é
especialmente sensível ou pudico. Praticar um ato de cunho sexual que ofende a moralidade média da
sociedade (como expor o pênis em um ônibus lotado, no ponto de ônibus e/ou na rua pouco transitada),
é um exemplo de ato obsceno.

Lei: Art . 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público.
Pena: Detenção, de três meses a um ano, ou multa.

IMPORTUNAÇÃO SEXUAL

O crime de importunação sexual é caracterizado pela realização de ato libidinoso na presença de


alguém e sem sua anuência. Um exemplo desse crime é mais comum em mulheres em meios de
transporte coletivo (ônibus e metrô). Era considerado uma contravenção penal, sua penalidade era a
multa.

Lei: Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer
a própria lascívia ou a de terceiro.

Pena: Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.

Diferentemente do ato obsceno já mencionado, a importunação sexual há toque entre o autor e a vítima.
Lei 13.718/18 Importunação sexual e divulgação de cenas de estupro são crimes. Lei sancionada no dia
24 de setembro de 2018 pela Presidência da República, tendo como base projeto (PL 5452/16) de
autoria da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), aprovada pela Câmara dos Deputados em março
deste ano.

A juíza Rejane Suxberger, do Juizado Especial de Violência Doméstica de São Sebastião (DF), a
criação dessa punição ajudará a proteger a dignidade das mulheres, menciona: “É necessário que
crimes como esses sejam tipificados, que sejam trazidos a lume da sociedade, seja divulgado esse tipo
de sanção, mostrando que, felizmente, não é mais permitido esse tipo de postura machista e essa
conduta violenta contra a mulher", disse a juíza.

ESTUPRO

Ato forçado ou violação. Envolve relação sexual dentre outras formas de atos libidinosos realizado
contra uma pessoa sem o seu consentimento.

Lei: Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.

Pena: Reclusão, de 6 (seis) a


10 (dez) anos. A pena quem
vender ou divulgar cena de
estupro por qualquer meio,
seja fotografia, vídeo ou outro
tipo de registro audiovisual é
reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco)
anos. A pena será maior ainda
caso o agressor tenha relação
afetiva com a vítima.
Simplificando os conceitos:

Aula 3: Explorando o conceito de Banalidade do Mal – Hannah Arendt

O polêmico conceito criado pela filósofa alemã judia Hannah Arendt, aluna preferida de Martin
Heidegger, foi apresentado no livro Eichmann em Jerusalém. O livro, publicado originalmente em
1963, a partir dos artigos que publicara como correspondente na revista The New Yorker, discutia o
julgamento de Adolf Eichmann, iniciado em 1961, em Jerusalém, e que resultou na pena de morte por
enforcamento, ocorrida em 1962, nas proximidades de Tel Aviv. Arendt discutia a perspectiva do mal
provocado por ninguém, ou por pessoas destituídas da capacidade do pensar, visto que ela não atribuiu
o mal ao nazista julgado, mas via nele tão somente o burocrata zeloso, incapaz de pensar por si.
A banalidade do mal é, para a filósofa, a mediocridade do não pensar, e não exatamente o desejo ou
a premeditação do mal, personificado e alinhado ao sujeito demente ou demoníaco. Como postura
política e histórica, e não ontológica, a banalidade do mal se instala por encontrar o espaço
institucional, criado pelo não pensar. Em Eichmann, Arendt via não alguém perverso ou doentio, sequer
alguém antissemita ou raivoso, mas tão somente alguém que cumpre ordens, incapaz de pensar no que
realmente fazia, mantendo o foco somente no cumprimento de ordens.
Diante de destratos e violências físicas e verbais a que testemunhamos, e que certamente alguns
leitores protagonizam, cotidianamente, em redes sociais e pelos jornais, não há como negar que
daríamos farto material para a discussão da filósofa, nesses momentos críticos da eleição presidencial
brasileira. Ao extremismo não falta apenas alteridade - a capacidade de se colocar no lugar do outro -,
mas falta o pensar. As posições políticas e históricas assumidas banalizam o bullying, a violência e a
ação, sejam elas uma replicação de post, um compartilhamento de fake news ou a realização de
comentários agressivos contra seus opositores políticos, que se sobrepõem a amizades, à família e a
crenças religiosas.
Tais quais movimentos da manada, a horda faz fugir o pensamento, deixando o espaço necessário
para que a banalização do mal se instale. Relatos de amizades desfeitas, grupos de família e de bairros
em crise diante de posições políticas acirradas em que não há respeito, mas despeito, pelas posições
contrárias, a proliferação do bullying, político, histórico, é farto material para a discussão central de
Arendt.
Embora a mídia tecnológica seja, de fato, pós-massiva, a massa continua sendo uma perspectiva de
manipulação, inclusive e principalmente por ações acríticas, motivadas por consenso institucional: os
exemplos de violência parecem ser regra nas relações entre eleitores, tal qual entre torcedores. A massa
incapaz de pensar age, acéfala, não enxergando o mal que comete, socialmente. Mas ressente-se,
quando igualmente agredida, o que a impele a responder, com maior violência ainda. Cria-se o círculo
vicioso da banalidade do mal.
Ainda que não se queira comparar os contextos utilizados pela filósofa e neste artigo, não há dúvida
de que vivemos uma banalização da violência, por motivações políticas. Por sorte, eleições passam, e a
maior parte dos eleitores esquece seu ardor de defesa, suas posições políticas inquebrantáveis,
provando que a tese de Arendt tem sua aplicação: a mediocridade do não pensar não é ontológica, mas
política é histórica.

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