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ANA CRISTINA P.

ROSSI
ANGELA NOGUEIRA
DANIELA V. ABRAHÃO
KARINE RORIZ
MARILZA ALE
NAIANY CAMPOS

IA1- ÉTICA PROFISSIONAL E DIREITOS HUMANOS


Reflexão sobre o ataque à escola estadual de São Paulo

Instrumento Avaliativo apresentado ao


Centro Universitário de Várzea Grande
– UNIVAG, como requisito da disciplina,
Ética profissional e direitos humanos,
sob a orientação da Professora Mariana
Penha.

CUIABÁ
2023
1. Introdução de moral e ética

Inicialmente traremos algumas conceituações na temática da moral e ética


para embasamento da discussão sobre o fato apresentado no presente trabalho.
De acordo com Chauí (2002) toda cultura e cada sociedade institui uma
moral, isto é, valores concernentes ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido, e à
conduta correta, válidos para todos os seus membros. Culturas e sociedades
fortemente hierarquizadas e com diferenças muito profundas de castas ou de
classes podem até mesmo possuir várias morais, cada uma delas referida aos
valores de uma casta ou de uma classe social.
No entanto, a simples existência da moral não significa a presença explícita
de uma ética, entendida como filosofia moral, isto é, uma reflexão que discuta,
problematize e interprete o significado dos valores morais.
O senso e a consciência moral dizem respeito a valores, sentimentos,
intenções, decisões e ações referidos ao bem e ao mal e ao desejo de felicidade.
Dizem respeito às relações que mantemos com os outros e, portanto, nascem e
existem como parte de nossa vida intersubjetiva. (Chauí 2002)
Em Chauí (2002) juízos éticos são dois: Juízo de fato que são aqueles que
dizem o que as coisas são, como são e por que são. E juízo de valor que avaliam
coisas, pessoas, ações, experiências, acontecimentos, sentimentos, estados de
espírito, intenções e decisões como bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis;
normativos (dever ser).
Segundo o La Taille o conceito de vaidade tem sua origem etimológica nos
adjetivos “vazio” e “vão”. Logo, uma cultura da vaidade deve ser uma cultura da
superficialidade e da frivolidade. Coerentemente com a origem etimológica
assinalada, vaidade remete à ideia de aparência. O vaidoso cuida sobremaneira do
espetáculo que quer dar de si. Logo, na vaidade, a heteronomia é lei, pois o olhar
alheio é tudo. Passar despercebido é o maior castigo para o vaidoso, mesmo que
tenha, para que tal não aconteça, de lançar mão de estratégias duvidosas do ponto
de vista moral. Em suma, uma cultura da vaidade, por remeter à aparência e à
superficialidade, remete também à pequenez, à fraqueza e, finalmente, à ilusão. O
vaidoso “vive uma vida imaginária no pensa- mento dos outros”, para empregar uma
expressão de Blaise Pascal (1972).
Segundo La Taille a expressão “cultura do tédio” é usada para nomear esse
vazio cultural que parece assolar várias pessoas. “Tédio” aqui não deve ser
entendido como esse sentimento inevitável que às vezes experimentamos em
momentos de forçado ócio, mas sim como sentimento existencial de perda de
sentido, de vazio. “Que o tédio e a perda de sentido estejam de alguma forma
relacionados, isto parece indiscutível”.
2. Descrição dos fatos
Um adolescente, de 13 anos, atacou e feriu com uma faca quatro professores
e dois alunos na Escola Estadual Thomazia Montoro, localizada na rua Doutor
Adolfo Melo Júnior, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo, na manhã de segunda-
feira dia 27/03/2023. O ataque ocorreu por volta das 7h30, quando as aulas já
tinham começado.
A professora que foi esfaqueada pelo aluno, identificada como Elisabete, de
71 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu.
O autor do ataque é um jovem de 13 anos, que era estudante do 8º ano
nesta escola, foi detido pela polícia.
Em depoimento o adolescente disse que sofria bullying por causa de sua
aparência física na escola onde os fatos ocorreram e em outras unidades de
ensino onde ele estudou anteriormente.
Relatou que era chamado de “rato de esgoto” e, por isso, brigou e xingou
um colega de escola de “macaco” na semana passada. O estudante disse ainda
que a professora assassinada por ele nesta segunda-feira foi quem apartou a
briga na ocasião.
Ao ser questionado sobre o que seria a “vingança”, o aluno de 13 anos
respondeu que sua “vontade era matar pessoas, aproximadamente umas duas, e
depois se matar”, segundo trecho do depoimento ao qual o Metrópoles teve
acesso.
No depoimento, ele contou ao delegado que se inspirou em outros
massacres ocorridos em escolas, principalmente no Massacre de Suzano, em
março de 2019, no qual dois estudantes mataram sete pessoas e depois se
suicidaram. No ataque desta segunda ele usava uma máscara de caveira
semelhante à utilizada pelos assassinos naquele atentado.
Ainda em seu depoimento, o aluno de 13 anos afirmou que “sua vontade”
era realizar o atentado “com uma arma de fogo.” Ele diz que tentou adquirir uma
pela internet durante os últimos dois anos, mas acrescentou que “seus planos
sempre falharam.”
Como ele não conseguiu a arma de fogo, o aluno decidiu colocar seu plano
em ação com uma faca. Pouco antes de ir para a escola, ele anunciou nas redes
sociais que iria realizar o ataque. (jornal metrópoles)

3. Desbobramentos

O assassinato a facadas da professora em uma escola pública de São Paulo


no dia 27/03/2023 por um aluno de 13 anos repercutiu no Plenário da Câmara dos
Deputados onde se debate entre quem defende punição mais rigorosa para
adolescentes infratores e quem defende medidas preventivas, como maior atenção
à saúde mental dos alunos. Na sessão do Plenário, deputados de vários partidos
pediram mais rigor contra adolescentes que cometem crimes hediondos.
Hoje um adolescente não comete propriamente um crime, mas sim um ato
infracional.
Dentre as punições previstas pelo ECA (Estatuto da criança e do
adolescente), estão: advertência; obrigação de reparar o dano; prestação de
serviços ã comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de semiliberdade; e
internação em estabelecimento educacional.
O deputado Delegado Palumbo (MDB-SP) defendeu a redução da maioridade
penal:
“Está na hora de discutirmos a reforma do Estatuto da Criança e do
Adolescente e a redução da maioridade penal. Estamos cansados de ver
pais de família e mães chorando a morte de seus filhos. Ninguém aguenta
mais. E este discurso falacioso de que são vítimas da sociedade: não são
vítimas da sociedade! Vítima da sociedade é esta professora assassinada
covardemente por um assassino”, afirmou. (Agência Câmara de Notícias)

O deputado Victor Linhalis (Podemos-ES) pediu informações aos ministérios


da Educação e da Justiça e Segurança Pública sobre ações que estão sendo
adotadas para combater eventos terroristas nas escolas brasileiras. (Agência
Câmara de Notícias)
Alguns parlamentares defenderam a necessidade de ações preventivas nas
escolas, como a presença de psicólogos e assistentes sociais para identificar riscos.
Foi o que disse o deputado Carlos Zarattini (PT-SP):
“Um jovem, estimulado por práticas racistas e fascistas, chegou a este
ponto. Nós precisamos urgentemente retomar uma cultura de paz nas
escolas brasileiras. Nós aqui no ano passado derrubamos o veto à lei que
dispõe que todas as redes de ensino tenham psicólogos e serviço social,
assistentes sociais, para criar este ambiente de convivência e de
solidariedade.” (Agência Câmara de Notícias)

Para a deputada, a saúde mental é um dos fatores que explicam o aumento


da violência nas escolas, junto com a proliferação de discursos de ódio.
“Este é um problema complexo, que passa pelo aumento da violência nas
escolas públicas do nosso Brasil. Este é um problema que também passa
pelo aumento dos grupos de ódio, que vêm pregando violências como essa
na internet e nas redes sociais, mas este também é um problema que
advém da falta de atenção às questões de saúde mental. Na rede estadual
de São Paulo, apenas para trazer um exemplo, durante a pandemia, de
cada dez estudantes, sete apresentaram sintomas de depressão e
ansiedade”, disse Tabata Amaral. (Agência Câmara de Notícias)

O projeto que cria a Política Nacional de Atenção Psicossocial nas


Comunidades Escolares já foi aprovado pelo Senado e, na Câmara, ainda precisa
ser analisado por quatro comissões e pelo Plenário.
4. Conclusão

Na psicologia o olhar estará sempre voltado aos direitos humanos. Não


podemos deixar de mencionar que há pluralidade de posicionamentos dependendo
da área de atuação, se trata uma visão multidisciplinar.
Quando ocorre um fato de violência, há uma comoção social fazendo com
que a sociedade volte a discutir questões complexas normativas, como a diminuição
da maioridade penal e a culpabilidade do agressor, sendo que estas questões são
muito profundas e decorrem de uma análise subjetiva do agressor e o contexto
social em que o mesmo está inserido. Essa questão deve ser analisada de forma
aprofundada sob o aspecto social.
Os juízos éticos (as coisas são, como são; desejáveis ou indesejáveis) a
teoria do tédio (a vida sem sentido, o desespero, a paralisia e, finalmente, a raiva,
destempero) e a teoria da vaidade (o peso de se pensar como eterno “perdedor”,
dor da invisibilidade, vergonha, procura de associar a si próprio valores
reconhecidos pela sociedade do espetáculo, ignorância da moral) geram a negação
extrema de outrem, ou até o crime. Não deve passar despercebido que vários
desses jovens assassinos e suicidas deixaram, antes de seu trágico ato, imagens
de si na internet carregando as armas que usariam contra os outros e contra si
próprios. Sabiam que seriam, finalmente, olhados. (La Taille, 2002)
A responsabilidade deve ser dividida no viés sociedade e individuo, uma vez
que o indivíduo está inserido na sociedade, e também levando em conta que o
individuo é biopsicossocial.
As crianças e adolescentes são sujeitos de direitos e estão em
desenvolvimento. Portanto, por estarem em um período de transformações, as
soluções devem ser pensadas em uma perspectiva educativa – do ponto de vista
emocional e social.
Importante ressaltarmos que a diminuição da maioridade penal de 18 para 16
anos, não reduzirá a violência nem suas causas, mas desviará a atenção do
problema real que depende da adoção de políticas sociais efetivas, conforme
posiciona-se o CFP (Conselho Federal de Psicologia).
A culpabilização do sujeito tem sido uma tendência de tornar natural aquilo
que é historicamente determinado.
Para o CFP, atacar o indivíduo, desconsiderando as causas da violência e da
criminalidade, é a resposta irracional a um apelo da sociedade de caráter mais
amplo, por justiça social, mas reiteradamente traduzido pela grande mídia como
uma demanda pela redução da maioridade penal.
Outra perspectiva nos leva ao fato de que as crianças e adolescentes
passam grande parte do seu período de formação e desenvolvimento na escola. E
esta deve reconhecer a importância da família e da comunidade na constituição do
sujeito, sem, no entanto, considerá-la como a única determinante dessa
constituição.
Portanto a atuação do psicólogo escolar neste ambiente certamente
contribuirá para o desenvolvimento destes indivíduos. O psicólogo escolar deve
atuar junto à criança e adolescente de forma problematizadora, dando-lhe voz a fim
de construir sentidos históricos aos fenômenos que a envolvem, como queixas de
comportamento, dificuldades de socialização, etc.
O Código de Ética Profissional do Psicólogo (Resolução CFP n.º 13/2007)
dispõe a área de atuação profissional da psicologia referente à educação e ao
processo de ensino aprendizagem em todas as modalidades do sistema
educacional e processos formativos em espaços de educação não formal. A
psicóloga especialista em Psicologia Escolar e Educacional:
“a) analisa e propõe intervenções psicológicas em processos de ensino-
aprendizagem, de acordo com características de docentes, discentes,
normativas e materiais didáticos usados em instituições de ensino e
intervenções em processos formativos em outros espaços educacionais;
b) promove, por meio de atividades específicas, o desenvolvimento
cognitivo e afetivo de discentes, considerando as relações
interpessoais no âmbito da instituição de ensino, da família e da
comunidade;
c) contribui com a promoção dos processos de aprendizagem, buscando,
juntamente com as equipes multiprofissionais, garantir o direito a inclusão
de todas as crianças e adolescentes; Promovendo ações voltadas à
escolarização do público alvo da educação especial;
d) avalia os impactos das relações entre os segmentos do sistema de
ensino no processo de ensino-aprendizagem e elabora, ouvindo
professores e equipe técnica, procedimentos educacionais adequados à
individualidade de discentes;
e) oferece programas de orientação e de escolha profissional;
f) trabalha de modo interdisciplinar com equipes de instituições de ensino, a
fim de desenvolver, implementar e reformular currículos, projetos
pedagógicos, políticas e procedimentos educacionais;
g) usa métodos e técnicas e instrumentos adequados para subsidiar a
formulação e o replanejamento de planos escolares, bem como para avaliar
a eficiência de programas educacionais;
h) propõe e implementa intervenções psicológicas junto às equipes de
instituições de ensino, a fim de realizar objetivos educacionais;
i) orienta programas de apoio administrativo e educacional, bem como
presta serviços a agentes educacionais;
j) atua considerando e buscando promover a qualidade de vida da
comunidade escolar, a partir do conhecimento psicológico;
k) atua nas ações e projetos de enfrentamento dos preconceitos e da
violência na escola, orientando as equipes educacionais na promoção de
ações que auxiliem na integração família, educando, escola e nas ações
necessárias à superação de estigmas que comprometam o desempenho
escolar dos educandos.” – g.n. (Resolução CFP N.º 3, de 16 de março de
2022).

Desta forma, mesmo havendo obrigação normativa para a atuação do


psicólogo no ambiente escolar, por questões de política social verificamos que não
vem sendo implementado, o que causa imensuráveis prejuízos a formação dos
indivíduos e reflexos na sociedade.

Dispõe brilhantemente La Taille em seu artigo Moral e Ética no mundo


contemporâneo:

“Se eu tiver, no que escrevi no texto que ora finalizo, um átomo sequer de
razão, impõe-se o seguinte diagnóstico: alguma instituição deve cuidar da
formação ética e moral das crianças e jovens, pois não é
“espontaneamente” que tal formação ocorre. Mas que instituição? A
família? Muitos pensam que tal tarefa cabe única e exclusivamente a ela.
Mas o que ela tem feito na prática? E pode ela realmente carregar o peso
de uma formação que interessa à sociedade como um todo? Deixo ao leitor
a resposta...
De minha parte, e muito bem acompanhado por autores como Kant, Alain,
Durkheim, Piaget, Kohlberg e outros, creio que as instituições educacionais
devem assumir essa responsabilidade. E urgentemente.
Como fazer? Procurar responder a essa indagação pedagógica não é o
objetivo do presente texto. Limito-me a dizer que, coerentemente com o que
escrevi ao longo destas páginas, uma educação moral não pode se furtar a
enfrentar as questões éticas. Falar em justiça, solidariedade, generosidade
e outras virtudes (morais) sem ancorá-las na vida (ética) poderá ter parcos
efeitos. Afinal, como vimos, as pessoas costumam chegar ao nível
convencional do desenvolvimento do juízo moral sem que sejam
empregadas estratégias educacionais. O problema maior não está,
portanto, na compreensão racional da moral. O problema maior está em
seu sentido ético.”

REFERÊNCIA

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP n.º 13/2007. Institui a


Consolidação das Resoluções relativas ao Título Profissional de Especialista em
Psicologia e dispõe sobre normas e procedimentos para seu registro.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP N.º 3, de 16 de março de


2022. Institui condições para concessão e registro de psicóloga e psicólogo
especialistas; reconhece as especialidades da psicologia e revoga as Resoluções
CFP n.º 13, de 14 de setembro de 2007, n.º 3, de 5 de fevereiro de 2016, n.º 8, de
25 de abril de 2019.

Matéria: “Aluno diz à polícia que planejava ataque havia dois anos, inspirado em
Massacre de Suzano”, escrita por Alfredo Henrique, 27/03/2023. Acesso dia 29 de
março de 2023, disponível em www.metropoles.com.

Matéria: “Assassinato de professora em SP gera debate sobre maioridade penal e


atenção à saúde mental”, escrita por Antônio Vital e Marcello Larcher, 27/03/2023.
Acesso dia 29 de março de 2023. Disponível em
https://www.camara.leg.br/noticias/948621-assassinato-de-professora-em-sp-gera-
debate-sobre-maioridade-penal-e-atencao-a-saude-mental

LA TAILLE, Y. Moral e Ética no mundo contemporâneo. Revista USP, São Paulo, n.


100, 2016. p. 29-42.

CHAUI, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2002. – Capítulos “A Existência


Ética” e “A Filosofia Moral”.

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