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Aline ReginatoDetófani1
Clenir Maria Moretto2
Resumo: A temática da violência escolar vem ganhando expressão e visibilidade na sociedade, com repercussão
significativa nas mídias sociais, indicando um fenômeno complexo e desafiador. Este estudo teve como objetivo
central identificar e compreender os principais aspectos da violência escolar, a partir dos meios de reprodução
social e de violência simbólica no Brasil, tendo como referência Pierre Bourdieu. Para isso, foi utilizada a
metodologia de pesquisa bibliográfica, exploratória, de abordagem qualitativa, tendo como base autores que
fizeram uso da referência de Pierre Bourdieu nos estudos sobre violência escolar, além de livros do próprio
sociólogo. Analisou-se três artigos de forma a buscar responder como os conceitos de reprodução e de violência
simbólica podem ser trabalhados na compreensão da violência escolar; busca-se, também, analisar como a
violência escolar se manifesta no contexto escolar e ainda analisar de que forma a imposição da cultura da classe
dominante influencia o contexto escolar na consolidação da reprodução e da violência simbólica sobre a classe
dominada. O estudo contribui para a problematização da influência que a cultura da classe dominante exerce
sobre as instituições escolares e seu meio, tornando assim uma reprodução social imposta dessa cultura.
Introdução
Nos seus mais diversos contextos e nas suas mais variadas formas de se manifestar, a
violência é um tema sempre atual para ser refletido e debatido, principalmente quando se trata
do âmbito escolar.
É justamente aí um primeiro ponto a ser trabalhado, que vai pela perspectiva de
quebrar o senso comum sobre as formas de violência, pois muitas atitudes que encontramos
na sociedade, no nosso dia a dia e no espaço da escola, não são vistas como violentas ou como
passíveis de geração de violência. Desse modo, essas atitudes violentas ou que contribuem de
alguma forma para a violência, podem passar despercebidas no cotidiano. Quando se trata da
escola, a violência pode se apresentar de diversas formas, de modo a promover desigualdade e
reproduzir ciclos de violências.
O Brasil constitui-se, hoje, segundo a agência da ONU, como o sétimo país que mais
mata jovens. De acordo com o site de notícias G1, ao falar sobre o relatório do Fundo das
1
Acadêmica do curso de Serviço Social VIII nível da Universidade de Passo Fundo – UPF.
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Professora do Curso de Serviço Social da Universidade de Passo Fundo. Mestre em Serviço Social. Orientadora
do trabalho de conclusão de curso - TCC.
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Nações Unidas para a Infância (Unicef), ligado à ONU, dentre os países sem conflito armado com as
piores taxas de homicídios de crianças e adolescentes, o Brasil ocupa a quinta posição (ONUBR,
2017). Nesse sentido, também temos a violência em outros contextos, como no âmbito escolar, onde
aparecem outras formas de violência e com isso “a prática de atos de violência física ou psicológica
contra uma pessoa já é realidade em significativa parte do mundo. No Brasil, 43% dos estudantes de
11 a 12 anos disseram ter sido vítimas de bullying na escola”(CAESAR, 2017, p. 1).
Assim, podemos perceber que a violência escolar se torna fato comum nesse meio,
onde as relações perpassam por práticas violentas de modo natural. Diante disso, como nos
afirma Souza (2012, p. 26), “para entender melhor as relações entre as práticas da violência e
a escola, é necessário saber que, esta, se passa pela reconstrução das relações sociais que estão
presentes no espaço social e escolar”, ou seja, na imposição da cultura dominante no espaço
escolar como única e legítima. Outro ponto, também, diz respeito aos contextos que a
violência está presente, fato este que vem acompanhado não só do senso comum, mas também
de preconceito no que se refere a acreditar que a violência vem exclusivamente da pobreza e
assim, consequentemente, de famílias que residem em territórios periféricos.
Em uma perspectiva mais ampla, a violência está presente desde as pequenas coisas do
dia a dia, e não só nas grandes tragédias que vemos. Também não só na pobreza. Assim, não é
preciso que apareça com facilidade, através de uma violência explicita, sendo visível a todos
para existir. Muitas vezes pode ser silenciosa e invisível aos nossos olhos. Com referência a
isso, “o tema da violência, entretanto, não se reduz à taxa de homicídios. As manifestações do
fenômeno, como se sabe, são multifacetadas e atravessam as relações sociais e as instituições
brasileiras de maneira perturbadora, inclusive nossas escolas” (ROLIM, 2008, p. 23).
Sabendo da existência desde os tempos antigos, como forma de punição, repressão,
castigo e até educação e obediência, tida como única forma de se adquirir “disciplina”, a
violência foi visualizada como solução a isso na sociedade por muito tempo. No ambiente das
instituições de ensino, a disciplina dos alunos é um item muito exigido perante os professores
para que se possa alcançar o “sucesso escolar”. Em contrapartida, Maldonado afirma que:
inculcada para a classe subalternizada ou,nesse mesmo sentido, dominada. Essas reproduções
se manifestam então, por meio das instituições escolares, que assim como são caracterizadas
de instrumentos ideológicos de transformação social, têm um grande potencial para que essa
imposição da cultura dominante seja inculcada de forma arbitrária e legítima. Por esse modo,
“confere ao sistema escolar uma certa neutralidade e outorga-lhe a função de inculcar nos
seus agentes o arbitrário cultural de maneira inquestionável, o que torna de fundamental
importância e eficácia na manutenção e reprodução social” servindo assim, aos anseios da
classe dominante (ALMEIDA, 2005, p. 145).
O presente estudo está estruturado de modo a, num primeiro momento, apresentar o
esboço da metodologia da pesquisa. Em seguida, são apresentadas as análises, sob a forma de
categorias temáticas, as quais destacamos como: violência escolar – Escola e violências:
pensando a partir de Bourdieu; violência simbólica – Violência (simbólica) no contexto
escolar: das desigualdades à dominação; e cultura dominante e reprodução – A escola como
lugar de reprodução da cultura dominante.
Metodologia
[...] têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com
vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas
pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de
intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a
consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado (GIL, 2002, p.
41).
relação à abordagem do estudo, este se deu por meio da pesquisa qualitativa, que “se
preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado”
(MINAYO et. al., 2001, p. 21) e tem mais enfoque no processo e na análise da realidade. Na
concepção de Fonseca (2002), a pesquisa qualitativa se embasa na análise da realidade que
não pode ser quantificada, pois tem a compreensão e explicação da realidade e relações
sociais, buscando compreender a totalidade dos problemas em suas múltiplas faces.
A escolha do material utilizado para coleta de dados partiu de uma primeira leitura de
artigos que tiveram como base o autor francês Pierre Bourdieu, no que ele traz sobre a
violência simbólica e a reprodução no campo da educação escolar, utilizando-se, para isso, da
ferramenta de busca Google Acadêmico. Considerando o baixo número de artigos brasileiros
relacionados ao tema, numa segunda etapa se aplicaram os critérios de inclusão e exclusão,
que são os elementos que definem quais obras serão incluídas no estudo. De acordo com isso,
esses critérios se deram por obras relacionadas à violência escolar tendo como base Bourdieu,
usando-se dos termos, “violência simbólica”, “reprodução”, “Pierre Bourdieu e a violência
escolar” e ainda “violência simbólica e reprodução em Pierre Bourdieu”, onde foram
escolhidos sete artigos e, dentre esses, selecionados apenas três, os quais atenderam aos
objetivos propostos. E em se tratando dos artigos selecionados, estes estão dispostos no
quadro a seguir:
resultados são submetidos a provas estatísticas, assim como a testes de validação” (BARDIN,
2011, p. 131).
Enquanto imposição arbitrária de um arbitrário cultural que supõe a AuP, isto é, uma
delegação de autoridade, a qual implica que a instância pedagógica reproduza os
princípios do arbitrário cultural, imposto por um grupo ou por uma classe como
digno de ser reproduzido, tanto pela sua existência quanto pelo fato de delegar a uma
instância a autoridade indispensável para reproduzi-lo, a AP implica o trabalho
pedagógico (TP) como trabalho de inculcação que deve durar o bastante para
produzir uma formação durável; isto é, um hábituscomo produto de interiorização
dos princípios de um arbitrário cultural capaz de perpetuar-se após a cessação da AP
e por isso de perpetuar nas práticas os princípios do arbitrário interiorizado.
(BOURDIEU; PASSERON, 1982, p. 43-44)
forma, entendemos que as relações de poder têm ligação direta com a violência simbólica,
pois é através da imposição do poder entre uma classe e outra que se constituem as relações
de violência simbólica. Para afirmar isso, lembramos do que Pierre Bourdieu refere:
Por outro lado, em uma visão diferente, destacamos outro artigo analisado onde
Almeida (2005, p. 149), discute a função transformadora da escola, afirmando que “sendo a
escola uma instituição que exerce um papel fundamental para a reprodução da ordem social,
também em seu interior podem construir-se as bases fundamentais para o questionamento e a
transformação da sociedade”. E segue, apontando que “quanto mais o sistema escolar
dissimular sua ação pedagógica e suas relações com as estruturas objetivas sob a característica
de pseudoneutralidade, mais estará funcionando como instrumento de reprodução social”
(ALMEIDA, 2005, p. 145).
Diante disso, podemos destacar aqui que para Pierre Bourdieu (1998, p. 25), a
reprodução social enquanto conceito faz sentido no contexto escolar por que é “definida como
reprodução da estrutura das relações de força entre as classes”, assim como nas ações
pedagógicas (AP), as quais reproduzem os interesses da classe dominante para a classe
dominada, através das relações de poder e força, onde “essas AP tendem sempre a reproduzir
a estrutura da distribuição do capital cultural entre esses grupos ou classes, contribuindo do
mesmo modo para a reprodução da estrutura social” (BOURDIEU, 1998, p. 25).
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Do mesmo modo, a autora continua essa discussão acrescentando que “a escola é vista
como reprodutora das desigualdades sociais e que a exclusão é uma das grandes causas da
violência na escola” (SOUZA, 2012, p. 28). Com isso, o ambiente escolar se assume como
espaço impulsionador dessas desigualdades, promovendo a imposição da cultura da classe
dominante, pois assim como afirma Bourdieu (1998), do mesmo modo que a cultura une,
tentando manter um padrão de ensino, também separa, pois consolida ainda mais as
desigualdades.
No sentido de pensar sobre as desigualdades, podemos perceber que elas acabam
contribuindo para a consolidação e geração de violência, o que podemos reforçar a partir do
que diz Caliman:
O Brasil não pode analisar sua violência sem levar em consideração o fato de ser um
dos países mais desiguais do mundo. Isso significa que é também um dos países que
mais geram mal-estar, insatisfações e sentimentos de privação, premissas e
condicionantes de uma agressividade impossibilitada de ser educada e administrada.
Tanto assim que desemboca em reações de violência as mais diversas. (CALIMAN,
2010, p. 7)
A escola produz violências, por exemplo, quando negamos que existem tempos e
processos de aprendizagem diversos e que entram em choque quando se exige a
homogeneização dos/as estudantes. E esta, bem como outras violências, imprimem
significações não apenas no âmbito físico, mas também, e fundamentalmente, no
âmbito simbólico. Simbólico pode ser compreendido como metáforas que atingem
“o meu ser” e deixam marcas, sem que, para isso, vejamos escorrer sangue. (LEITE;
ROSA, 2011, p.124)
violência abordada neste estudo. Para isso, utilizaremos Bernard Charlot que nos traz os dois
conceitos. Inicialmente, Charlot conceitua violência na escola, questionando o fato de que o
espaço escolar já foi lugar de detenção da violência, afirmando que:
A violência na escola é aquela que se produz dentro do espaço escolar, sem estar
ligada à natureza e às atividades da instituição escolar: quando um bando entra na
escola para acertar contas das disputas que são as do bairro, a escola é apenas o lugar
de uma violência que teria podido acontecer em qualquer outro local. Pode-se,
contudo, perguntar-se porque a escola, hoje, não está mais ao abrigo de violências
que outrora se detinham nas portas da escola. (CHARLOT, 2002, p.434)
Do mesmo modo, Charlot traz o conceito de violência da escola, como sendo uma
violência contra a escola também, pois:
Essa violência contra a escola deve ser analisada junto com a violência da escola:
uma violência institucional, simbólica, que os próprios jovens suportam através da
maneira como a instituição e seus agentes os tratam. [...] se a escola é largamente
(mas não totalmente) impotente face à violência na escola, ela dispõe (ainda) de
margens de ação face à violência à escola e da escola. (CHARLOT, 2002, p. 434-
435)
meio disso, “tal mecanismo no âmbito escolar impõe uma série de barreiras e problemas para
a efetivação de um ensino que valorize e avalie cada aluno em suas especificidades”. Desse
modo, a escola trata “todos os alunos de forma igual, ignorando o meio de onde vieram, e,
consequentemente, as desigualdades sociais entre as diferentes classes sociais”
(TIRADENTES, 2015, p. 39), fazendo assim, um ensino padronizado, sem que a escola olhe
para a diversidade e individualidade de cada um, de modo que “percebe-se a desvalorização
da diversidade em vários aspectos, sejam eles físicos ou intelectuais” (TIRADENTES, 2015,
p. 33).
De outro modo, para Souza (2012, p. 21), “a desigualdade social é apontada como uma
das origens estruturais da violência” e essas desigualdades que contribuem para a violência,
favorecem “impulsos que se expressam através de hábitos, costumes, tradições” (SOUZA,
2012, p. 22). Ainda sobre o que diz a autora, a violência simbólica muitas vezes passa
despercebida e outras é facilmente vista, assim:
[...] quando as regras da escola não são claras, quando os alunos são pré-julgados ou
não são escutados, quando os professores se afastam muitas vezes porque não
conseguem responder aos anseios dos educandos ou, ainda, quando há a imposição
de tarefas dobradas a estes, é exercida a violência simbólica. (SOUZA, 2012, p. 31)
A frustração dos jovens das camadas médias e populares diante das falsas promessas
do sistema de ensino converte-se em uma evidência a mais que corrobora as novas
teses propostas por Bourdieu. Onde se via igualdade de oportunidades, meritocracia,
justiça social, Bourdieu passa a ver reprodução e legitimação das desigualdades
sociais. A educação, na teoria de Bourdieu, perde o papel que lhe fora atribuído de
instância transformadora e democratizadora das sociedades e passa a ser vista como
uma das principais instituições por meio da qual se mantêm e se legitimam os
privilégios sociais. (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2002, p. 17)
Sabendo-se disso, “para que de fato possamos promover a educação inclusiva, faz-se
necessário repensar os processos escolares para todos e todas, pois o modelo conservador de
educação não atende à demanda de diversidade” (LEITE; ROSA, 2011, p. 52). E ainda, vale
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lembrar que é a diversidade que nos torna humanos, sendo preciso respeitar e dialogar
(LEITE; ROSA, 2011).
O espaço escolar é onde se encontram as mais variadas realidades, sendo complexo e
multifacetado e por isso, sempre haverá conflitos. O ponto crucial está, desse modo, na
maneira em que a escola lidará com a diversidade, viabilizando ou não sua dimensão
(TIRADENTES, 2015). Quando se pensa na educação, a questão da desigualdade no espaço
escolar, o ensino padronizado, engessado e controlador, não nos vem à mente como opções a
serem consideradas primeiramente, pois têm-se a noção de sentido formador e inclusivo. Para
isso, Tiradentes refere que:
A posição de um determinado agente no espaço social pode assim ser definida pela
posição que ele ocupa nos diferentes campos, quer dizer, na distribuição dos poderes
que actuam em cada um dele, seja, sobretudo, o capital econômico – nas suas
diferentes espécies –, o capital cultural e o capital social e também o capital
simbólico, geralmente chamado prestígio, reputação, fama, etc. que é a forma
percebida e reconhecida como legítima das diferentes espécies de capital.
(BOURDIEU, 1998, p. 134-135)
Do mesmo modo, Almeida comenta sobre o capital cultural nas suas diferentes formas
de manifestação, dizendo que:
Nesse sentido, podemos dizer que, em se tratando das escolas públicas e gratuitas, por
mais que seu acesso seja democrático, sempre haverá uma forte ligação com as desigualdades
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sociais e principalmente culturais, pois a escola valoriza e exige dos alunos determinadas
qualidades que são desigualmente distribuídas entre as classes sociais e, desse modo, entre os
alunos.
Com isso, a escola assume um papel de conservação social, o qual promove uma
igualdade propulsora da meritocracia, onde as classes precisam desaprender sua cultura
própria para se encaixarem na sociedade e estarem de acordo com o padrão escolar proposto,
ignorando assim, suas origens sociais e culturais. Diante disso, Souza dialoga que:
Para os filhos das classes trabalhadoras, a escola representa uma ruptura no que se
refere aos valores e saberes de sua prática, que são desprezados, ignorados e
desconstruídos na sua inserção cultural, ou seja, necessitam aprender novos padrões
ou modelos de cultura. Sendo assim, para os alunos filhos das classes dominantes
alcançarem o sucesso escolar torna-se bem mais fácil do que para aqueles que têm
que desaprender uma cultura para aprender um novo jeito de pensar, falar,
movimentar-se, enfim, enxergar o mundo, inserir neste processo para se tornar um
sujeito ativo nesta sociedade. (SOUZA, 2012, p. 29)
descreve sobre a noção do princípio da diferença, para compreender melhor a sua perspectiva
em relação ao mérito, onde afirma que:
Por esse modo, Rawls conclui que essas desigualdades presentes entre as classes assim
distintas, podem ser abordadas de uma maneira positiva, trabalhando em razão dos menos
favorecidos, sem que ninguém se sobressaia por meio da ideia de méritos:
Mas, é claro, isso não é motivo para ignorar essas distinções, muito menos para
eliminá-las. Em vez disso, a estrutura básica pode ser ordenada de modo que as
contingências trabalhem para o bem dos menos favorecidos. Assim somos levados
ao princípio da diferença se desejamos montar o sistema social de modo que
ninguém ganhe ou perca devido ao seu lugar arbitrário na distribuição de dotes
naturais ou à sua posição inicial na sociedade sem dar ou receber benefícios
compensatórias em troca. (RAWLS, 1997, p. 108)
Nesse sentido, temos a igualdade de oportunidades, que significa deixar para trás a
questão de méritos por influência e condição social, assim a meritocracia vai contra os
princípios de justiça, que presa a equidade e entra na questão democrática, que propõe a noção
de merecimentos (RAWLS, 1997). Esses entendimentos podem ser colocados em discussão
na esfera escolar, onde a percepção de vantagens e méritos são bastante visíveis na relação
entre cultura de classes, o que se pode observar no momento de que a escola impõe um
mesmo plano de ensino para todos os alunos, não levando em conta suas singularidades, “o
que, em grande parte das vezes favorece aqueles que já possuem vantagem, qual sejam, os
alunos de classe dominante” (TIRADENTES, 2015, p. 38). Podemos compreender, aqui, o
que Tiradentes aborda quando retoma a ideia de Pierre Bourdieu sobre o espaço escolar como
reprodutor da meritocracia, e desse modo, legitimador da violência simbólica, afirmando que:
O espaço escolar acaba por legitimar a violência simbólica, onde as desigualdades são
cada vez mais ressaltadas pela imposição de um padrão único que acaba por fortalecer apenas
uma parcela social. Isto é enfatizado pelos autores analisados nesse estudo, os quais referem
ser a escola um lugar de reprodução da cultura dominante. Para Souza (2012, p. 25) conforme
Bourdieu e Passeron, “o sistema de ensino dentro da sociedade capitalista tem uma dupla
função: a reprodução da cultura e a reprodução da estrutura de classes”, de acordo com a
cultura dominante. Já para Almeida (2005, p. 149) o campo escolar “age de acordo com um
arbitrário cultural dominante, como instrumento ideológico” e ainda, “os agentes „emissores
pedagógicos‟, utilizam-se de autoridade pedagógica para assim formar os indivíduos de
acordo com o que está estabelecido pela cultura dominante” (ALMEIDA, 2005, p. 146).
Podemos observar isso mais concretamente a partir do que Tiradentes afirma, pois
nesse sentido refere que a escola impulsiona:
A partir disso, a autora observa que essa conservação do habitus, do mesmo modo em
que se forma, revela-se crucial para o processo de reprodução social no âmbito escolar
(ALMEIDA, 2005) e contribui do mesmo modo, para a presença da violência simbólica.
Ainda, sobre a concepção de campo, Almeida reflete que o conceito:
[...] para Bourdieu refere-se à situação social em que os agentes sociais realizarão
sua prática de acordo com o habitus apreendido. Um campo é marcado por agentes
dotados de um mesmo habitus em que se movimentam como jogadores, cujas
posições no jogo dependerão do acúmulo de capital correspondente ao campo que
cada indivíduo, ou agente, adquirir. (ALMEIDA, 2005, p.142)
Dessa forma, a teoria de Pierre Bourdieu vista apenas no sentido da reprodução social,
seria ignorar as ações dos agentes dentro do campo (ALMEIDA, 2005). Nessa perspectiva,
temos o espaço escolar, que atua como lugar de reprodução social ignorando as ações dos
sujeitos e suas individualidades, colaborando assim para a consolidação das violências, onde
estas se mostram “nas relações de poder, na violência verbal entre professores e alunos, na
discriminação indireta de gêneros e raça, entre outras e descreve o processo pelo qual a classe
que domina economicamente impõe sua cultura aos dominados” (SOUZA, 2012, p. 28). Com
isso, a reprodução do capital cultural dominante e desse modo a violência simbólica no
contexto escolar, só tendem a se fortalecer.
Considerações finais
Referências
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998
FONSECA, João José Saraiva da. Metodologia da pesquisa científica. Ceará: Universidade
Estadual do Ceará, 2002
22
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa.4º ed. São Paulo: Atlas, 2002
LEITE, Amanda Maurício Pereira; ROSA, Rogério Machado (Org.). Módulo 3:educação,
escola e violências. Florianópolis: NUVIC – CED – UFSC, 2011
MINAYO, Maria Cecília de Sousa (Org.). Pesquisa social: Teoria, método e criatividade.
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ONUBR, Nações Unidas no Brasil.Brasil tem 7ª maior taxa de homicídios de jovens de todo o
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PRIOTTO, Elis Palma; BONETI, Lindomar Wessler. Violência escolar:na escola, da escola e
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RAWLS, John. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 1997