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O MÉTODO SÓCRÁTICO NO ENSINO MÉDIO

Autor: Maximiliano José Paim1


Tutor externo: Vanessa Tomé2
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Licenciatura em Filosofia (FLX1405) – Estágio Curricular Obrigatório II
19/06/2020

RESUMO

No presente documento é feita a relação entre o método socrático de investigação e a prática de


ensino em sala de aula com ênfase em estimular o educando a pensar e a indagar sobre os
aspectos dos fenômenos que acontecem cotidiano.
Palavras-chave: Filosofia. Educação. Sócrates.

1 INTRODUÇÃO

A interpretação que Friedrich Nietzsche deu para a diferença entre a filosofia de


Sócrates e a filosofia de Platão, no século 19, talvez seja uma das melhores.
Acertadamente, deixando de lado toda sua crítica a ambos registrada nas suas últimas
obras, ele percebeu que se tratava de práticas filosóficas distintas que estavam de acordo
com a posição social de cada um, mesmo se tratando de mestre e discípulo. Platão,
sendo ele um aristocrata e um descendente de Sólon, não poderia repetir seu mestre que,
segundo os textos clássicos do próprio discípulo, passeava pelas ruas de Atenas e se
detinha em longas conversas com uma enorme diversidade de pessoas. Entre elas,
estavam sofistas e estrangeiros.
Os sofistas, considerados sábios, o que o próprio significado do termo aponta, eram
responsáveis pela educação dos atenienses que na idade adulta participariam da vida da
pólis, a vida política de Atenas. De acordo com Platão, eram educadores que até
lucravam com um ensino pobre de fundamentação – pobreza que faz necessário que seja
apontado para o desenho de um conflito de vaidades já que Platão era um ateniense
nobre, descendente de Sólon e educado conforme ensinamentos transmitidos por
mestres nas filosofias dos pré-socráticos, sobretudo Heráclito e Parmênides. É nesta crise
que se encaixa o método socrático responsável por buscar a definição sobre aqueles
conceitos dos quais muitos usavam, sobretudo o que dizia respeito à virtude, como a
coragem, a justiça e a beleza, mas ninguém sabia dizer no que consistiam teoricamente.
O tema abordado foi escolhido basicamente por se tratar do núcleo de ação da
filosofia, embora se possa perceber algumas distinções ao longo da história, que consiste

1
Acadêmico do Curso de Licenciatura em Filosofia; E-mail: aulaprofmax@gmail.com
2
Tutor Externo do Curso de Licenciatura em Filosofia – Polo Canela – RS; E-mail:
vanessatome@uniasselvi.edu
em duvidar, perguntar e/ou investigar, o que entendo ser necessário para o estudante do
ensino médio que já tem discernimento para entender a gravidade dos fenômenos que
envolvem o mundo onde ele vive. Além da curiosidade, que nem todos possuem, é
necessário desenvolver com o método socrático o lado cético humano, o que pode ser útil
na medida que a aceitação de regras e de pensamentos prontos podem e devem ser
questionados, o que no limite também desenvolve o pensamento crítico do estudante. O
fato de que tenha existido uma escola chamada cética é um fato mais relevante para o
lado técnico da filosofia acadêmica propriamente dita e menos para o caráter pedagógico
do ensino de filosofia, que é o nosso campo de atuação.
Na fundamentação teórica, usando como contexto histórico o cidadão da pólis grega,
e como campo de possibilidade o conceito de cidadão político, o enfoque foi
fundamentalmente o método socrático de investigação, efetivamente o elenkhós, aquele
no qual dois interlocutores ou mais dialogam em pé de igualdade sobre as razões
envolvidas em qualquer assunto. Após, na vivência do estágio estão comentadas as
informações sobre a escola escolhida para colher as informações e a importância da
mesma para a pesquisa. Por último, nas considerações finais existe o ponto de vista do
autor sobre o caráter incomum do momento no qual vivemos e, por isso, a importância da
escola para a sociedade.

2 ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A democracia ateniense tornou-se necessária a partir do século VI quando o comércio


no mar Mediterrâneo se expandiu juntamente com a navegação e a sociedade ateniense
precisou se organizar em padrões novos sem interferência direta da sua mitologia.
Para esta organização, a assembleia cumpria um papel fundamental, pois era onde
os atenienses se reuniam para votar os assuntos relativos à pólis:

Isso significa que as decisões são tomadas por consenso, o que acarreta
persuadir, convencer, justificar, explicar. Não se dispõe mais da força, dos
privilégios, da ordem divina. Anteriormente, havia a imposição, a violência, a
obediência, o privilégio, a tradição, o medo como formas de exercício de poder. A
linguagem, o diálogo, a discussão, rompem com a violência, o uso da força e do
medo, na medida em que, em princípio, todos os falantes têm no diálogo os
mesmos direitos (isegoria): interrogar, questionar, contra-argumentar. A razão se
sobrepõe à força, é uma forma de controlar o exercício do poder. A linguagem
precisa ser racional, as discussões pressupõe a apresentação de justificativas, de
argumentos, sendo abertas à interpretação, ao questionamento (MARCONDES
2007, p.: 41).
A figura do sofista como aquele responsável por educar a seu modo o jovem cidadão
grego está inserida exatamente neste momento de transição. Segundo MARCONDES
(2007, 42), os sofistas praticavam uma espécie de paideia que, diferentemente da paideia
heróica da época mitológica, tinham a tarefa de treinar seus alunos para a vida pública de
Atenas.
Sofista significa sábio, e estes naquele período tinham a função de educadores da
juventude, porém não há muitas informações nas quais possamos verificar um método de
ensino. Sobre isto, MARCONDES aponta que:

Os sofistas foram portanto filósofos e educadores, além de mestres em retórica e


oratória, embora este papel lhes seja negado, p.ex. por Platão. É difícil por isso
mesmo termos uma avaliação mais concreta de sua função e mesmo de sua
concepção filosófica e pedagógica. (MARCONDES, 2007, p. 42).

A preocupação com a educação e/ou com o conteúdo que era ensinado por estes
sofistas, segundo Platão, era inexistente. De acordo com MARCONDES,

A crítica de Sócrates aos sofistas consiste em mostrar que o ensinamento sofístico


limita-se a uma mera técnica ou habilidade argumentativa que visa a convencer o
oponente daquilo que diz, mas não leva ao verdadeiro conhecimento. A
consequência disso era que, devido à influência dos sofistas, as decisões políticas
na Assembléia estavam sendo tomadas não com base em um saber, ou na
posição dos mais sábios, mas na dos mais hábeis em retórica, que poderiam não
ser os mais virtuosos. Os sofistas não ensinavam portanto o caminho para o
conhecimento, para a verdade única que resultaria desse conhecimento, mas para
a obtenção de um “verdade consensual”, resultado da persuasão. (MARCONDES,
2007, p. 48).

Portanto, ainda que o papel dos sofistas na vida política de Atenas fosse altamente
relevante, havia um grande hiato a ser resolvido entre o que era ensinado e o que poderia
ser conhecido. As escolas filosóficas existentes atuantes até aquele período eram
conhecidas de Platão e ele mesmo havia estudado com um mestre heraclitiano
(GHIRALDELLI, 2010, 20), Crátilo, e havia visitado a escola pitagórica no sul da Itália.
Eram filósofos/cientistas dedicados a produzir conhecimento e que motivaram Platão a
colocar em prática em Atenas a partir daquele Sócrates que dizia saber que nada sabia.
Sobre este ponto de partida, ABRÃO ensina que:

Sócrates simplesmente pergunta. Não ensina, quer aprender. Seu pensamento


parece desprovido de conteúdo. Mas, se não há ensinamentos, há uma proposta.
Destruindo as respostas fáceis dos interlocutores, ele mostra que o pensamento
deve ser mais prudente. Se as respostas saem fáceis é porque a pergunta foi mal
formulada e apenas contorna o problema. (ABRÃO, 2004, 43).

E mais adiante:
O diálogo cumpre essa função de “experimentação”. O pensamento precisa de um
interlocutor com quem possa sempre discutir. O verdadeiro conhecimento nasce
desse diálogo; não é transmissível do mestre ao aluno, mas arrancado do interior
de uma discussão – um verdadeiro trabalho de parto. (ABRÃO, 2004, 44).

Se ser cidadão era equivalente a ser virtuoso, mas ninguém se preocupava em


procurar entender ou saber o que isso significava. Por isso, Sócrates coloca em questão,
após a pitoniza do oráculo de Delfos afirmar ser ele o homem mais sábio de Atenas, os
conceitos do que a maioria falava, mas que muitos ignoravam. Assim, REZENDE afirma
que:

Sócrates havia desenvolvido um método de pesquisa, que procedia por questões


e propostas, chamado dialética. A dialética socrática consistia, em grande parte,
em refutar as teses apresentadas pelo interlocutor. Mas a refutação socrática tinha
uma função catártica, isto é, purificadora. Sócrates pretendia purificar o interlocutor
das opiniões falsas que ele tinha a respeito daquilo que era objeto de pesquisa.
Com isso, forçava um novo ponto de partida que permitisse, eventualmente,
chegar ao conhecimento da verdade. (REZENDE, 1986, p. 43).

O método socrático usado no ensino médio é a tentativa de colocar assim os


participantes de uma conversa em um patamar que tenha um determinado equilíbrio com
o fim pedagógico de depurar o objeto sobre o qual se fala de crenças de qualquer ordem
e que não façam sentido – irracionais, portanto. Sobre isso, STÖRIG diz que:

Descobrindo a ignorância das pessoas, ele quer convocá-las ao auto exame e à


reflexão (STÖRIG, 1999, p. 124).

É menos necessário que os estudantes abstraiam que a finalidade em entender o


método socrático seja a finalidade de entrar em algum consenso entre eles, mas é mais
necessário que compreendam que é preciso pensar, indagar e argumentar sobre o que se
fala, já que é desta forma que se produz conhecimento e não procurando absorver cada
vez mais dados para se tornar sábio. Segundo WARBURTON:

O que fazia Sócrates tão sábio era o fato de continuar fazendo perguntas e de
estar sempre disposto a debater suas ideias. A vida, declarava ele, só vale a pena
ser vivida quando pensamos no que estamos fazendo. Uma existência sem
análise é adequada para o gado, mas não para seres humanos. (WARBURTON,
2012, p. 4).

Assim, o estudante do ensino médio pode aprender que ele, sendo um cidadão do e
no mundo, é um agente de mudanças em potencial a partir do momento que ele não
aceita as condições que julga serem injustas e dignas de alguma releitura para um
consequente melhoramento.
3 VIVÊNCIA DO ESTÁGIO

O tema Direitos Humanos foi escolhido por razões óbvias: se trata de algo comum a
qualquer pessoa. É um tema que também deve estar no embasamento de todo estudante
ao assimilar o método socrático de investigação já que este pode causar o efeito colateral
de nutrir lamentavelmente o ceticismo e ainda o niilismo na conduta dos futuros cidadãos
em docência.

Para o produto virtual, foi elaborado o estudo dirigido a partir do livro Direitos
Humanos e Cidadania no Pensamento de Hannah Arendt, texto que foi a tese de
mestrado da professora Iara Lúcia Santos Mellegari. A proposta ainda conta com a adição
do livro Laudato ‘Si, do Papa Francisco, obra na qual ele explana sobre o cuidado comum
que todos temos com a vida, e com a música El Gran Remate, da dupla uruguaia Los
Olimareños, que coloca em figura de linguagem a ética do descarte desenvolvida pelo
Para Francisco em seu livro.

4 IMPRESSÕES DO ESTÁGIO (CONSIDERAÇÕES FINAIS)

A filosofia é inerente à escola de forma proporcional que a educação é inerente à


filosofia. Se o pensamento em educação consistir na necessidade de fomentar o
pensamento crítico e independente no estudante, é preciso então dar ferramentas para
que ele próprio possa esculpir o seu refletir e o seu agir no e sobre o mundo. A finalidade
de fazer com que ele compreenda que – por mais individualista que seja a ética do século
21 – nós vivemos em uma casa comum que cada vez mais parece menor devido ao
número de habitantes e que dependemos uns dos outros para haver uma boa qualidade
de vida para todos, esta atitude plantada na sala de aula consiste faz parte do ideal
coletivo dos Direitos Humanos e pode prevenir cada vez mais a humanidade de teorias
obscuras e cruéis ainda existentes no nosso meio.

REFERÊNCIAS

ABRÃO, Bernadete Siqueira. A História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 2004.

GHIRALDELLI JR., Paulo. A Aventura da Filosofia – de Parmênides a Nietzsche. Barueri – São


Paulo: Manole, 2010.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia – Dos pré-socráticos a Wittgenstein.
Rio de Janeiro – RJ: Zahar, 2007.

STÖRIG, Hans Joachim. História Geral da Filosofia. Petrópolis – Rio de Janeiro: Editora
Vozes, 1999.
WARBURTON, Nigel. Uma Breve História da Filosofia. Porto Alegre – Rio Grande do
Sul: L&PM Pocket, 2012.

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