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Exercícios de
Interpretação
de texto
A tecnologia é hoje crucial para uma educação de qualidade.
Para estudantes, ela congrega informações e interatividades que
facilitam o aprendizado. Para as escolas e professores, ela é um
ganho de ferramentas pedagógicas estratégicas que elevam a
qualidade do ensino, além de facilitar a gestão e a logística do
grande volume de informações, provas e papéis que circulam
diariamente nos colégios.

O PROJETO REDAÇÃO está inserido nesse cenário, fornecendo


soluções tecnológicas inovadoras para a educação. Já são mais
de 804.451 usuários e mais de 1.300.000 redações corrigidas.
Esperamos, juntos, protagonizar a transformação da educação
brasileira, garantindo um ensino acessível e de qualidade.

A Equipe PROJETO REDAÇÃO deseja a você bons estudos e


muito sucesso!
SUMÁRIO

Questões fáceis............................................................. 4

GABARITO................................................................................................ 153

Questões médias..................................................... 158

GABARITO................................................................................................ 331

Questões difíceis..................................................... 336

GABARITO................................................................................................ 484
QUESTÕES FÁCEIS Questão 01 - (ESPM SP)
Segundo o texto:
TEXTO: 1 - Comuns às questões: 1, 2

a) uncionários públicos executaram um bom “lo-


bby”, para se protegerem de possíveis falsas
acusações relativas a exercício ilegal de poder.

b) Membros do funcionalismo público dos três po-


deres demonstraram divergências ideológicas
quanto à Lei do Abuso de Autoridade.

Lei de Abuso de Autoridade não ameaça qualquer práti- c) O “espírito de corpo”, que é uma postura soli-
ca jurisdicional dária de um determinado grupo, é conflitante
com uma nova lei que trata de extrapolação de
poder.
Em corpos diferenciados do funcionalismo público d) Tomados por certo elitismo, funcionários de ins-
emerge, naturalmente, um corporativismo construí- tituição oficiais se manifestaram favoravelmente
do pelo elitismo do seu “espírito de corpo”. Trata-se, à lei que combate possíveis abusos de autorida-
de fato, de um anel protetor do bom e do mau uso de.
que seus membros podem fazer de suas prerrogati-
vas. Um exemplo disso é a que o País assiste agora, e) Usando o corporativismo como escudo, setores
perplexo: a reação à lei que combate os possíveis do funcionalismo público reagiram infensos à
abusos de autoridade nos Três Poderes da República. Lei de Abuso de Autoridade.

(...)

Eventuais dúvidas sobre julgamentos são anali- Questão 02 - (ESPM SP)


sadas com recurso a instâncias jurídicas superiores
(colegiadas), porque só outros juízes podem avaliar Um dos questionamentos levantados pelo autor (que
a razoabilidade de outro juiz. O preparo da ação e o faz concordar com Elio Gaspari) é:
o julgamento são influenciados por muitos fatores
(inclusive a “visão de mundo” de cada um deles). O
importante, entretanto, é que, se o paciente não se a) a possibilidade de recurso ao Supremo afastar
conformar com o resultado, há a possibilidade de re- qualquer temor de julgamento equivocado em
correr a instâncias superiores que, eventualmente, primeira instância.
terão a oportunidade de corrigi-lo. Esses parcos co-
nhecimentos me levaram nos últimos 70 anos a acei- b) julgamentos estarem sujeitos, dentre vários fa-
tar tal mecanismo como satisfatório para minimizar tores, às visões particulares de cada magistrado.
os riscos do sistema.
c) a prática jurisdicional obediente ao espírito e à
É por isso que estou surpreso com a reação regra da Constituição não acarretar prejuízos a
corporativista contra a Lei de Abuso de Autoridade, funcionários públicos.
que, obviamente, não ameaça qualquer prática
jurisdicional que obedeça ao espírito e à letra da Lei. d) um funcionário, seja da Receita ou do Coaf, seja
Sobre o poder do Congresso de produzi-la e aprová- um juiz ou promotor, sentir-se coagido pelo Ju-
la, e o poder do presidente de sancioná-la ou vetá-la diciário e não confiar na justeza da lei.
parcialmente, não há dúvidas. Entretanto, a palavra
final sobre ela (pela rejeição de eventuais vetos) e) o arrazoado de um juiz só poder ser julgado ou
pertence ao Congresso. Mas há um problema lógico avaliado por outro juiz.
muito interessante, apontado pelo competente Elio
Gaspari. No caso de eventual denúncia de abuso de
autoridade, quem vai julgá-lo? O próprio Judiciário! TEXTO: 2 - Comuns às questões: 3, 4, 5, 6
Logo, se um funcionário da Receita, do Coaf, um
promotor ou um juiz se julga ameaçado, porque será Os fenômenos da linguagem examinavam- se ou-
“controlado” pelo próprio Judiciário, é porque ele trora apenas à luz da gramática e da lógica, e já era
não acredita em nada do que foi dito acima! (...) muito se a análise reconhecia como palavras expleti-
vas ou de realce os termos sobejantes¹ unidos à ora-
(Delfim Netto, revista Carta Capital, adaptado, 28 de ção ou nela encravados.
agosto de 2019)
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Hoje que a ciência da linguagem investiga os fatos d) eloquentes nos discursos retóricos.
sem deixar-se pear² por antigos preconceitos, já não
podemos levar essas expressões à conta da super- e) comuns na linguagem culta ou padrão.
fluidades nem ainda atribuir-lhes papel decorativo, o
que seria contrassenso, uma vez que rareiam no dis-
curso eloquente e retórico e se usam a cada instante
Questão 05 - (ESPM SP)
justamente no falar desataviado de todos os dias.
Segundo o texto:
Uma coisa é dirigirmo-nos à coletividade, a pes-
soas desconhecidas, de condições diversas, e que
nos ouvem caladas; outra coisa é tratar com alguém
de perto, falar e ouvir, e ajeitar a cada momento a a) A coletividade, interlocutora de nossos discur-
linguagem em atenção a essa pessoa que está diante sos, é constituída de pessoas desconhecidas que
de nós, para que fique sempre bem impressionada nos ouvem em silêncio.
com as nossas palavras.
b) Há uma tendência frequente de impressionar,
(Said Ali, Meios de Expressão e Alterações Semânti- com vocabulário rebuscado, um receptor de
cas, RJ) nossa fala.

c) É necessário escolher adequadamente o públi-


co-alvo de nossa fala, para compatibilizar o nível
¹
sobejantes: demasiados, excessivos, de sobras. de linguagem entre ambos.
²
pear: prender. d) Há uma tendência frequente de modular a lin-
guagem voltada ao ouvinte que está diante de
nós para impressioná-lo.
Questão 03 - (ESPM SP) e) Um discurso retórico, com emprego de lingua-
Conforme o autor: gem formal e de palavras cultas, impressiona o
ouvinte.

a) A gramática e a lógica reconheciam outrora a


análise das partículas de realce. Questão 06 - (ESPM SP)

b) A gramática e a lógica analisavam apenas os ter- Segundo o autor, não seria um contrassenso:
mos sobejantes da oração.

c) A linguagem era iluminada outrora apenas pela


a) Nos tempos atuais, a ciência linguística prender-
análise dos termos de realce.
-se a superfluidades.
d) As palavras excedentes encaixadas na oração,
b) A ciência linguística ainda estar entravada por
classificadas como termos de realce, consti-
preconceitos.
tuíam, até então, os limites da análise.
c) Os antigos preconceitos já não influírem na in-
e) As palavras expletivas e ilógicas sobravam nas
vestigação linguística dos fatos.
orações de realce, desde que reconhecidas
como fenômenos da linguagem. d) A ciência da linguagem deixar-se permear pela
gramática.

e) Considerar palavras ou expressões de realce


Questão 04 - (ESPM SP) como sendo inútil por excesso.
Conforme o texto, para a ciência da linguagem, as ex-
pressões de realce passaram a ser:
TEXTO: 3 - Comum à questão: 7
amora
a) um raro contrassenso linguístico.

b) frequentes na linguagem coloquial cotidiana.


a palavra amora
c) supérfluas e decorativas.
seria talvez menos doce
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e um pouco menos vermelha Questão 08 - (FUVEST SP)
se não trouxesse em seu corpo Considerando que se trata de um texto literário, uma
interpretação que seja capaz de captar a sua comple-
(como um velado esplendor) xidade abordará o poema como
a memória da palavra amor

a) uma defesa da natureza.


a palavra amargo b) um ataque às forças armadas.
seria talvez mais doce c) uma defesa dos direitos humanos.
e um pouco menos acerba d) uma defesa da resistência civil.
se não trouxesse em seu corpo e) um ataque à passividade.
(como uma sombra a espreitar)

a memória da palavra amar Questão 09 - (FUVEST SP)


Marco Catalão, Sob a face neutra. O ditado popular que se relaciona melhor com o poe-
ma é:

Questão 07 - (FUVEST SP)


a) Para bom entendedor, meia palavra basta.
É correto afirmar que o poema
b) Água mole em pedra dura tanto bate até que
fura.
a) aborda o tema da memória, considerada uma
c) Quem com ferro fere, com ferro será ferido.
faculdade que torna o ser humano menos amar-
go e sombrio. d) Um dia é da caça, o outro é do caçador.
b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das pala- e) Uma andorinha só não faz verão.
vras, o que vem expresso pela repetição da pala-
vra “talvez”.

c) apresenta natureza romântica, sendo as pala- Questão 10 - (FUVEST SP)


vras “amora” e “amargo” metáforas do senti-
mento amoroso. Agora, o Manuel Fulô, este, sim! Um sujeito pinga-
dinho, quase menino – “pepino que encorujou des-
d) possui reiterações sonoras que resultam em de pequeno” – cara de bobo de fazenda, do segundo
uma tensão inusitada entre os termos “amor” e tipo –; porque toda fazenda tem o seu bobo, que é, ou
“amar”. um velhote baixote, de barba rara no queixo, ou um
eterno rapazola, meio surdo, gago, glabro* e alvar**.
e) ressalta os significados das palavras tal como se Mas gostava de fechar a cara e roncar voz, todo en-
verificam no seu uso mais corrente. farruscado, para mostrar brabeza, e só por descuido
sorria, um sorriso manhoso de dono de hotel. E, em
suas feições de caburé*** insalubre, amigavam‐se as
TEXTO: 4 - Comuns às questões: 8, 9 marcas do sangue aimoré e do gálico herdado: cabe-
lo preto, corrido, que boi lambeu; dentes de fio em
Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército meia‐lua; malares pontudos; lobo da orelha aderen-
que a pisa. te; testa curta, fugidia; olhinhos de viés e nariz peba,
mongol.

Guimarães Rosa, “Corpo fechado”, de Sagarana.


Mas mais frágil fica a bota.

Gonçalo M. Tavares, 1: poemas.


*sem pelos, sem barba **tolo ***mestiço
*sesta: repouso após o almoço.

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O retrato de Manuel Fulô, tal como aparece no frag- d) “me esforçando para não ser notada” (Ref. 15).
mento, permite afirmar que
e) “sentia vergonha de levantar a mão” (Refs. 8‐9).

a) há clara antipatia do narrador para com a per-


sonagem, que por isso é caracterizada como TEXTO: 5 - Comum à questão: 12
“bobo de fazenda”. 1
E Sofia? interroga impaciente a leitora, tal qual
b) estão presentes traços de diferentes etnias, de Orgon: Et 2 Tartufe? Ai, amiga minha, a resposta é
modo a refletir a mescla de culturas própria ao naturalmente a 3 mesma, – também ela comia bem,
estilo do livro. dormia largo e fofo, – 4 coisas que, aliás, não impe-
dem que uma pessoa ame, quando 5 quer amar. Se
c) a expressão “caburé insalubre” denota o deter- esta última reflexão é o motivo secreto da vossa 6 per-
minismo biológico que norteia o livro. gunta, deixai que vos diga que sois muito indiscreta, e
que 7 eu não me quero senão com dissimulados.
d) é irônico o trecho “para mostrar brabeza”, pois
ao fim da narrativa Manuel Fulô sofre derrota na 8
Repito, comia bem, dormia largo e fofo. Chega-
luta física. ra ao fim da 9 comissão das Alagoas, com elogios da
imprensa; a Atalaia 10 chamou‐lhe “o anjo da conso-
e) se apontam em sua fisionomia os “olhinhos de lação”. E não se pense que este 11 nome a alegrou,
viés” para caracterizar a personagem como in- posto que a lisonjeasse; ao contrário, 12 resumindo
gênua. em Sofia toda a ação da caridade, podia mortificar
13
as novas amigas, e fazer‐lhe perder em um dia o
trabalho de 14 longos meses. Assim se explica o artigo
Questão 11 - (FUVEST SP) que a mesma folha 15 trouxe no número seguinte, no-
meando, particularizando e 16 glorificando as outras
1
O feminismo negro não é uma luta meramente iden- comissárias – “estrelas de primeira 17 grandeza”.
titária, até 2 porque branquitude e masculinidade
também são 3 identidades. Pensar feminismos negros Machado de Assis, Quincas Borba.
é pensar projetos 4 democráticos. Hoje afirmo isso
com muita tranquilidade, mas 5 minha experiência
de vida foi marcada pelo incômodo de uma 6 incom- Questão 12 - (FUVEST SP)
preensão fundamental. Não que eu buscasse respos-
tas 7 para tudo. Na maior parte da minha infância e No excerto, o autor recorre à intertextualidade, dia-
adolescência, 8 não tinha consciência de mim. Não logando com a comédia de Molière, Tartufo (1664),
sabia por que sentia 9 vergonha de levantar a mão cuja personagem central é um impostor da fé. Tal é
quando a professora fazia uma 10 pergunta já supon- a fama da peça que o nome próprio se incorporou
do que eu não saberia a resposta. Por que 11 eu fica- ao vocabulário, inclusive em português, como subs-
va isolada na hora do recreio. Por que os meninos 12 tantivo comum, para designar o “indivíduo hipócrita”
diziam na minha cara que não queriam formar par ou o “falso devoto”. No contexto maior do romance,
com a 13 “neguinha” na festa junina. Eu me sentia es- sugere‐se que a tartufice
tranha e 14 inadequada, e, na maioria das vezes, fazia
as coisas no 15 automático, me esforçando para não
ser notada.
a) se cola à imagem da leitora, indiscreta quanto
Djamila Ribeiro, Quem tem medo do feminismo ne- aos amores alheios.
gro?.
b) é ação isolada de Sofia, arrivista social e bene-
mérita fingida.

O trecho que melhor define a “incompreensão fun- c) diz respeito ao filósofo Quincas Borba, o que ex-
damental” (Ref.6) referida pela autora é: plica o título do livro.

d) se produz na imprensa, apesar de esta se esqui-


var da eloquência vazia.
a) “não que eu buscasse respostas para tudo”
(Refs. 6‐7). e) se estende à sociedade, na qual o cinismo é o
trunfo dos fortes.
b) “não tinha consciência de mim” (Ref. 8).

c) “Por que eu ficava isolada na hora do recreio”


(Refs. 10‐11). Questão 13 - (FUVEST SP)
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Hoje fizeram o enterro de Bela. Todos na Chácara a) ambos guardam uma dimensão transcendente e
se convenceram de que ela estava morta, menos eu. católica, de origem mineira.
Se eu pudesse não deixaria enterrá‐la ainda. Disse
isso mesmo a vovó, mas ela disse que não se pode b) ambos ouvem respostas que lhes esclarecem
fazer assim. Bela estava igualzinha à que ela era no em definitivo as dúvidas existenciais.
dia em que chegou da Formação, só um pouquinho
mais magra. c) a menina mostra curiosidade acerca da morte
como episódio e o poeta especula o sentido filo-
Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta sófico da morte.
da alma para se largar do corpo. Eu perguntei a vovó:
“Como é que a alma dela saiu sem o menor sofrimen- d) a menina está inquieta por conhecer o destino
to, sem ela fazer uma caretinha que fosse?”. Vovó dis- das almas, enquanto o poeta critica o ceticismo.
se que tudo isso é mistério, que nunca a gente pode e) as duas respostas reforçam os mistérios da vida
saber essas coisas com certeza. Uns sofrem muito ao acolherem crenças populares.
quando a alma se despega do corpo, outros morrem
de repente sem sofrer.

Helena Morley, Minha Vida de Menina. TEXTO: 6 - Comuns às questões: 14, 15, 16, 17, 18
Texto I
Perguntas

Numa incerta hora fria

perguntei ao fantasma

que força nos prendia,

ele a mim, que presumo

estar livre de tudo

eu a ele, gasoso,

(...)

No voo que desfere

silente e melancólico,

rumo da eternidade,

ele apenas responde

(se acaso é responder

a mistérios, somar‐lhes

um mistério mais alto):


Fonte: Disponível em: https://www.agenciaconexoes.
org/fome-e-desperdicio-em-numeros/.
Amar, depois de perder. Acesso em: 09 agost. 2019. (texto adaptado).

Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.

As perguntas da menina e do poeta versam sobre a


morte. É correto afirmar que

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Texto II Marinalva não consegue emprego formal há qua-
tro anos. Ela está muito longe de atingir a renda míni-
ma familiar, estimada pelo Departamento Intersindi-
cal de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)
Sem merenda: quando férias escolares significam em R$ 4.214,62, para suprir sem carências as neces-
fome no Brasil sidades com alimentação, moradia, saúde, educação,
vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência
dos quatro integrantes da casa. O valor, calculado em
“Me corta o coração eles quererem um pão e eu julho, equivale a aproximadamente quatro vezes o
não ter. Já coloquei os meninos na escola pra isso salário mínimo atual, de R$ 998,00.
mesmo, por causa da merenda. Um pouquinho de
arroz sempre alguém me dá, mas nas férias com- Fonte: IDOETA, Paula Adamo; SANCHES, Mariana. In: BBC
plica”, afirma Alessandra, que, desempregada, cole- News Brasil. 15 jul. 2019. Disponível em: https://
ta latinhas na favela de Paraisópolis, em São Paulo, www.bbc.com/portuguese/brasil-48953335. Acesso
onde mora. [...] em: 09 agost. 2019. (texto adaptado).

O drama de Alessandra não é incomum. As férias


escolares, quando muitas crianças deixam de ter o
Questão 14 - (UFT TO)
acesso diário à merenda, intensificam a vulnerabili-
dade social de muitas famílias em todo o país. Em- Assinale a alternativa CORRETA sobre as informações
bora variem em conteúdo e qualidade (às vezes, são apresentadas no texto I.
apenas bolacha ou pão, em outras, são refeições
completas de arroz, feijão, legumes e carne), as me-
rendas ocupam função importante no dia a dia de
certos alunos. Para essas crianças, nos períodos sem a) O Brasil é o responsável mundial pelos 54% de
aulas é que a fome, uma ameaça ao longo de todo alimentos desperdiçados nas etapas pós-consu-
ano, torna-se uma realidade a ser enfrentada. [...] mo.

Embora não haja estudos nacionais que indiquem b) O mundo produz comida suficiente para alimen-
o tamanho da insegurança alimentar durante o pe- tar toda a população, caso não houvesse 1/3 de
ríodo de férias escolares, uma série de indicadores desperdício desses alimentos.
comprova a evolução da pobreza no país e o modo
como ela incide sobre as crianças. c) O Brasil é um dos países do mundo que mais
desperdiça alimentos, por essa razão, uma em
De acordo com a Fundação Abrinq, que fez cálcu- cada oito pessoas passam fome no país.
los, a partir de dados do IBGE, 9 milhões de brasileiros
entre zero e 14 anos do Brasil vivem em situação de d) A produção alimentícia no mundo vem caindo,
extrema pobreza. O Sistema de Vigilância Alimentar principalmente, pelo processamento inadequa-
e Nutricional do Ministério da Saúde (Sisvan) identi- do dos alimentos.
ficou, no ano retrasado, 207 mil crianças menores de
cinco anos com desnutrição grave no Brasil.

A mais recente pesquisa de Segurança Alimentar


Questão 15 - (UFT TO)
do IBGE, de 2013, apontava que uma a cada cinco Assinale a alternativa INCORRETA sobre o entendi-
famílias brasileiras tinha restrições alimentares ou mento de “insegurança alimentar”, presente no 1º e
preocupação com a possibilidade de não ter dinheiro 2º parágrafos, do texto II.
para pagar comida.

Se a pesquisa fosse feita hoje, a família da faxinei-


ra Marinalva Maria de Paula, de 57 anos, se enqua- a) Insuficiência de alimentos para os alunos, inten-
draria nessa condição. Com uma renda de R$ 360,00 sificada durante o período de férias.
mensais para três adultos e uma criança, ela se vê
cotidianamente frente a decisões dramáticas: “Se b) Privação de alimentos para os alunos, principal-
eu pagar a prestação do apartamento ou a conta de mente, no período de férias.
água, não temos o que comer”. [...]
c) Ausência de condicionamento adequado dos ali-
O fenômeno que acontece na casa da faxinei- mentos que são servidos na escola, durante o
ra já havia sido identificado pelo Instituto Brasileiro período de férias.
de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) em 2008,
quando um terço dos titulares do Bolsa Família de- d) Falta de alimentação, no período de férias esco-
claravam em pesquisa que a alimentação da família lares, em razão de a população mais carente não
piorava durante as férias escolares. [...] ter dinheiro para comprar comida.
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Questão 16 - (UFT TO) merenda escolar para suprir as necessidades ali-
mentares.
Assinale a alternativa CORRETA sobre as informações
apresentadas no texto II. b) Os textos I e II evidenciam que crianças de todo
o mundo necessitam de merenda escolar para
suprir a carência alimentar vivenciada pelas fa-
mílias.
a) A insegurança alimentar brasileira cresce, no pe-
ríodo de férias escolares, principalmente, entre c) Os textos I e II comprovam que a insegurança ali-
crianças. mentar poderia ser sanada, caso houvesse uma
política de fornecimento de merenda de quali-
b) A merenda escolar, fornecida no período de fé- dade.
rias, é composta por pão e bolachas, o que é in-
suficiente para suprir a carência alimentar dos d) Os textos I e II ratificam a necessidade de uma
alunos. merenda escolar, baseada no reaproveitamento
de alimentos desperdiçados.
c) A escola é responsável pelo fornecimento de
alimentos, nas férias escolares, posto que as
famílias, em situação de vulnerabilidade social,
carecem desse auxílio. Questão 19 - (UFT TO)
d) A pesquisa do IBGE indica que a falta de meren- Horácio não gostava de ser contestado, mas com-
da, no período de férias, é um dos fatores de preendeu não era bom tema de conversa. Voltou à li-
evasão escolar das crianças contempladas pelo teratura, aconselhando os outros a lerem Drummond
programa Bolsa Família. de Andrade, na sua opinião o melhor poeta de língua
portuguesa de sempre. Qual Camões, qual Pessoa,
Drummond é que era, tudo estava nele, até a situa-
ção de Angola se podia inferir na sua poesia. Por isso
Questão 17 - (UFT TO) vos digo, os portugueses passam a vida a querer-nos
Assinale a alternativa CORRETA sobre as informações impingir a sua poesia, temos de a estudar na escola,
apresentadas no texto II. e escondem-nos os brasileiros, nossos irmãos, poe-
tas e prosadores sublimes, relatando os nossos pro-
blemas e numa linguagem bem mais próxima da que
falamos nas cidades. Quem não leu Drummond é um
a) O salário mínimo de R$ 998,00 é o suficiente analfabeto. Os outros iam comendo, trocando de vez
para custear gastos com moradia, saúde, dentre em quando olhares cúmplices. Até que Malongo e
outros, segundo o Dieese. Vítor terminaram a refeição. Malongo despediu-se,
levantando-se, um analfabeto vos saúda. Vítor e Fur-
b) A faxineira Marinalva recebe um salário mínimo tado riram, Horácio fingiu que não ouviu. Agarrou no
para suprir as despesas de quatro integrantes de braço de Furtado e continuou a cultivá-lo com versos
sua família. de Drummond e os seus próprios, dedicados ao gran-
de brasileiro.
c) A renda de R$ 360,00, recebida por cada mem-
bro da família de Marinalva, é suficiente para Fonte: PEPETELA. A geração da utopia.
suprir as necessidades básicas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: 2000, p. 30-31 (frag-
mento).
d) O valor da renda mínima, para suprir os gas-
tos familiares, estipulado pelo Dieese, é de R$
4.214,62 e está muito longe do valor do salário
mínimo atual. No fragmento do romance do escritor angolano Pe-
petela, Horácio aconselha seus amigos Malongo, Ví-
tor e Furtado a lerem o poeta Drummond de Andra-
de.
Questão 18 - (UFT TO)
Analise as afirmativas a seguir.
Sobre as temáticas retratadas nos textos I e II, assina-
le a alternativa CORRETA.

I. A poesia de Drummond é melhor que a de Ca-


mões e de Pessoa.
a) Os textos I e II retratam a fome presente no
mundo e, mais especificamente, no Brasil. Nes- II. Há uma aproximação entre a literatura de Drum-
te, por exemplo, muitas crianças dependem da mond e a realidade angolana.

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III. Nas escolas portuguesas se estuda a poesia de bém de alentar internas desordens no espírito.
Drummond.
Fonte: ROSA, João Guimarães. Tutaméia (Terceiras estó-
IV. A poesia de Drummond está sendo usada para rias).
alfabetizar nas escolas angolanas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 58. (frag-
mento).
V. As obras dos literatos brasileiros possuem uma
linguagem próxima a dos angolanos nas cidades.

Os fragmentos das obras de Bernardo Élis e de João


Guimarães Rosa narram, respectivamente, a notícia
Assinale a alternativa CORRETA. da chegada de um viajante e a chegada de outro via-
jante. É CORRETO afirmar que os narradores:

a) Apenas as afirmativas II, IV e V estão corretas.


a) descrevem a valentia desses viajantes.
b) Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas.
b) constroem imaginários desses viajantes.
c) Apenas as afirmativas I, II e V estão corretas.
c) delineiam as características físicas desses viajan-
d) Apenas as afirmativas I, III e V estão corretas. tes.

d) explicam as relações entre esses viajantes e o


governo.
Questão 20 - (UFT TO)
Texto I
Questão 21 - (UFT TO)

O Juiz Valério alegrava-se com a aproximação da co- Texto I


missão. Acreditava em justiça, em lei, achava que o
governo fosse dotado de uma clarividência que o co-
mum dos homens não possuía, de uma reta intenção Bulandeira
de punir o mal e premiar o bem. Daquele recanto tão
afastado, Governo era assim algo de sobre-humano e
inatacável. Antes porém que a Comissão chegasse ao
[Vila do] Duro, aportaram ali notícias do que era ela. O braço
Era como o vento que precede a chuva braba. Quem
vinha chefiando a comissão era um juiz togado, com rompe a roda
assento em Porto Nacional, formado pela Faculdade a roda
do Recife, com militança no Foro de Salvador e Belém
do Pará, homem de estudo, homem de preparo, ho- vira o ralo
mem sabido e corrido.
o ralo
Fonte: ÉLIS, Bernardo. O tronco.
Rio de Janeiro: José Olympio, 2008, p.15. (fragmen- na raiz da fome
to). (adaptado).
farinha.

Texto II
Texto II

Sucedeu então vir o grande sujeito entrando no lugar,


capiau de muito longínquo: tirado à arreata o cavalo Tapioca na gamela
raposo, que mancara, apontava de noroeste, pisan-
do o arenoso. Seus bigodes ou a rustiquez – roupa
parda, botinões de couro de anta, chapéu toda a aba Eita que esse destino de furupa
– causavam riso e susto. Tomou fôlego, feito burro
entesa orelhas, no avistar um fiapo de povo mas a guarnece a brasa e o tição
rua, imponente invenção humana. Tinha vergonha
de frente e de perfil, todo o mundo viu, devia tam- o forno de assar o bolo
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alvura que ama a tapioca na gamela do. Começou a gritar para chamar a atenção de to-
dos.
amassando a vida com as mãos
_ Inã biroxikre nhaçã rekã!... (Bugios grandalhões es-
pois a festa é certa tão devorando gente!).
quando certo o pão. [...] Onde vais com tanta pressa, valente guerreiro?
Fonte: PEDREIRA, Célio. As tocantinas. – Vou caçar nhaçã rekã! – respondeu o jovem de for-
Palmas–TO: Universidade Federal do Tocantins/ ma arrogante.
EDUFT, 2014, p. 36 e 20.
– Se me tomares como esposa, eu te ensinarei como
caçar aquelas perigosas feras feiticeiras! – propôs a
mulher-sapo.
A partir da leitura dos dois poemas do escritor tocan-
tinense Célio Pedreira é CORRETO afirmar que eles: Fonte: MUNDURUKU, Daniel.
A Caveira-Rolante, a Mulher-Lesma e outras histó-
rias.
a) aludem ao trabalho e ao preparo artesanal de Ilustrações Maurício Negro. São Paulo: Global, 2010,
alimentos retirados da mandioca. p. 40-41. (fragmento).

b) resgatam as tradições do preparo de alimentos


servidos nas festas religiosas e rezas. A partir da leitura do fragmento de texto de Daniel
c) retomam memórias afetivas de festejos popula- Munduruku, é INCORRETO afirmar que:
res que ocorrem nas comunidades interioranas.

d) remetem ao trabalho coletivo e ao ambiente a) Munduruku faz referência a elementos da cultu-


festivo durante a preparação de pratos tradicio- ra indígena.
nais.
b) a história Karajá narrada por Munduruku traz à
cena criaturas misteriosas.
Questão 22 - (UFT TO) c) na construção da sua narrativa Munduruku utili-
za palavras da língua indígena.
Contam os velhos do povo Karajá que um misterioso
acontecimento estava deixando a aldeia alarmada. d) Munduruku trata do aniquilamento de guerrei-
Isso acontecia porque os guerreiros estavam sumin- ros Karajá por tribos inimigas.
do durante a caçada e ninguém conseguia explicar
por que isso estava acontecendo. Havia um clima de
medo.
Questão 23 - (UFT TO)
Um rapaz, no entanto, resolveu rastrear pela trilha
dos parentes sumidos. Entrou na mata cautelosa- Corpo meu corpo corpo
mente e logo adiante avistou um bando de urubus.
Isso era um sinal de que havia carniça por perto. Re- que tem um nariz assim uma boca
dobrou sua atenção e arrastou-se até chegar perto
de uma grande árvore em cuja raiz encontrou obje- dois olhos
tos e ossadas dos parentes desaparecidos. Seu susto e um certo jeito de sorrir
foi maior quando avistou dois monstruosos indiví-
duos saindo de uma caverna. Comentavam um para de falar
o outro:
que minha mãe identifica como sendo de seu filho
– Estou com uma fome tão grande. Tô com vontade
de comer gente! que meu filho identifica

– Vamos botar uma espera? Sinto que hoje vamos como sendo de seu pai
pegar alguém!

O jovem, ouvindo aquela conversa, sentiu-se ame-


drontado, achando que ele poderia ser o alimento corpo que se para de funcionar provoca
daquela gente estranha.
um grave acontecimento na família:
[...] Quando chegou à aldeia, estava muito angustia-
12 - www.PROJETOREDACAO.com.br
sem ele não há José Ribamar Ferreira Questão 24 - (FATEC SP)
não há Ferreira Gullar Texto I

e muitas pequenas coisas acontecidas no planeta O branco açúcar que adoçará meu café
estarão esquecidas para sempre Nesta manhã de Ipanema

Não foi produzido por mim


corpo-facho corpo-fátuo corpo-fato Nem surgiu dentro do açucareiro por milagre
[...] Vejo-o puro
meu corpo nascido numa porta-e-janela da Rua dos E afável ao paladar
Prazeres
Como beijo de moça, água
ao lado de uma padaria
Na pele, flor
sob o signo de Virgo
Que se dissolve na boca. Mas este açúcar
sob as balas do 24º BC
Não foi feito por mim.
na revolução de 30
Este açúcar veio

Da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oli-


e que desde então segue pulsando como um relógio veira,
num tic tac que não se ouve Dono da mercearia.
(senão quando se cola o ouvido à altura do meu co- Este açúcar veio
ração)
De uma usina de açúcar em Pernambuco
tic tac tic tac
Ou no Estado do Rio
Fonte: GULLAR, Ferreira. Poema Sujo.
São Paulo: Círculo do Livro, 1980, p. 11-13. (frag- E tampouco o fez o dono da usina.
mento).
Este açúcar era cana

E veio dos canaviais extensos


Sobre o fragmento do Poema Sujo, de Ferreira Gullar,
assinale a alternativa CORRETA. Que não nascem por acaso

No regaço do vale.

a) Retrata, por meio de um narrador em terceira Em lugares distantes, onde não há hospital
pessoa, a memória de um homem cosmopolita Nem escola,
de meia idade.
Homens que não sabem ler e morrem de fome
b) Traz como temáticas centrais as paixões da ju-
ventude e a solidão que compõe o eu-lírico na Aos 27 anos
idade adulta.
Plantaram e colheram a cana
c) Apresenta as impressões do eu-lírico sobre o
corpo-vida que o constitui. Que viraria açúcar.

d) Compõe-se de um narrador em terceira pessoa Em usinas escuras,


que descreve sua trajetória de vida, do nasci-
mento à velhice. Homens de vida amarga

E dura

Produziram este açúcar


www.PROJETOREDACAO.com.br - 13
Branco e puro e) complementares, pois o primeiro aborda as de-
sigualdades sociais descrevendo os ciclos eco-
Com que adoço meu café esta manhã em Ipanema. nômicos desenvolvidos em períodos diferentes;
enquanto o segundo retrata a mão de obra utili-
GULLAR, F. “O Açúcar”. Toda poesia. zada nesses períodos.
Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1980.

Questão 25 - (FATEC SP)


Texto II
Leia a charge.

<https://tinyurl.com/y4ur7lhb>
Acesso em: 18.10.2019. Original colorido.

* Texto da imagem: “Em 1888, a princesa Isabel as- <https://tinyurl.com/y4xtwcwo> Acesso em:
sinou a Lei Aurea, mas nem todo mundo conseguiu 19.10.2019.
ler.”

De acordo com as informações verbais e não verbais


As informações contidas na imagem do texto II, loca- apresentadas na charge, pode-se depreender, corre-
lizadas no canto inferior direito, não foram reprodu- tamente, que
zidas, pois não interferem na resolução das questões
apresentadas.
a) a alta qualificação profissional da maioria da
população acarreta um aumento no número de
Após a leitura e a análise, infere-se corretamente que vagas não preenchidas no mercado de trabalho.
ambos os textos abordam temáticas
b) as vagas de emprego cresceram devido à alta
concorrência entre os trabalhadores, incluindo-
-se até mesmo crianças e mulheres na disputa
a) tangenciais, pois, apesar de tratarem do proces- por uma vaga no mercado de trabalho.
so de produção e do consumo do açúcar, igno-
ram a desigualdade existente entre o consumi- c) a falta de oportunidade de trabalho, aliada a
dor final e o comerciante do produto. novos meios de transporte de massa, impedem
o desenvolvimento de atividades paralelas no
b) semelhantes, pois o primeiro induz à reflexão mercado de trabalho.
sobre as desigualdades existentes no ciclo de
produção e de consumo, e o segundo represen- d) as vagas ofertadas no mercado de trabalho,
ta o impacto ambiental gerado pelo consumo apesar de inúmeras e constantes, não garantem
excessivo. estabilidade e remuneram menos do que as ati-
vidades “empreendedoras”.
c) conflitantes, pois o primeiro representa a aliena-
ção dos poetas de todo o processo de produção e) a resiliência, aliada à persistência, levam as pes-
dos alimentos, enquanto o segundo, a mão de soas a se realocarem dentro do mercado de tra-
obra empregada nos centros urbanos. balho e, consequentemente, adaptarem-se a
novas oportunidades de trabalho.
d) similares, pois o primeiro ressalta as desigual-
dades existentes entre o trabalhador rural e o
consumidor, o eu lírico; e o segundo evidencia a
exploração da mão de obra.
14 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 7 - Comum à questão: 26 tantos elementos que configuram a “nova morfolo-
gia do trabalho”, seus dilemas e desafios.
O leitor encontra, neste belo número da Revista Ka-
tálysis, um panorama rico, denso e qualificado do Ricardo Antunes, Editorial da Revista Katálysis, n.2,
que vem ocorrendo no mundo do trabalho hoje, com 2009.
seus traços de “continuidade” e “descontinuidade”,
num período em que o capitalismo aprofundou ainda <https://tinyurl.com/y6nchqmr> Acesso em:
mais as penalizações que está impondo ao universo 19.10.2019. Adaptado.
laborativo, onde o “novo” e o “velho” se (re)configu-
ram a partir da nova Divisão Internacional do Traba-
lho (DIT), que se reestruturou nas últimas décadas. * fetichizar: ação de admirar exageradamente, irres-
tritamente, incondicionalmente uma pessoa ou coi-
sa.
[...]

Questão 26 - (FATEC SP)


Se a Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, le-
gou-nos um enorme processo de “desantropomor- Assinale a alternativa que apresenta uma análise cor-
fização do trabalho” (Lukács); se o século XX pode reta das informações apresentadas no texto.
ser caracterizado pelo que Braverman definiu como
sendo a “era da degradação do trabalho”, as últimas
décadas do século passado e os inícios do atual vêm a) As mudanças ocorridas no mercado de trabalho,
presenciando a generalização de “outras formas e nas últimas décadas, caracterizam-se por um
modalidades de precarização”, [...] aquela responsá- processo contínuo de reformulação geradora de
vel pela geração do cybertariado (Ursula Huws), uma lucros ao trabalhador.
nova força de trabalho global que mescla intensa-
mente “informatização” com “informalização”.[...] b) As novas formas de relações laborais acabam
por gerar oportunidades no mercado de traba-
lho e garantir o acesso do trabalhador aos direi-
tos assegurados pela carteira assinada.
As consequências são fortes: nesta fase de desman-
che, estamos presenciando o derretimento dos pou- c) Como resultado do processo de desumanização
cos laços de sociabilidade, [...] sem presenciarmos das relações trabalhistas, a vida é dissipada pelo
uma ampliação da vida dotada de sentido, nem “den- consumo ou pelo desgaste devido à busca cons-
tro” e nem “fora” do trabalho. A vida se consolida, tante por aperfeiçoamento profissional.
cada vez mais, como sendo desprovida de sentido no
trabalho e, por outro lado, estranhada e fetichizada* d) A sociedade atual mantém questionamentos
também “fora” do trabalho, exaurindo-se no mundo e desafios herdados de períodos históricos di-
sublimado do consumo (virtual ou real), ou na labuta ferentes, sem, contudo, despertar o interesse
incansável pelas qualificações de todo tipo, que são mais profundo de pesquisadores e cientistas.
incentivadas como antídoto [...] para não perder o
emprego daqueles que o têm. e) A partir da Revolução Industrial, repetidos pro-
cessos geradores de garantias trabalhistas ocor-
reram, visando à humanização das relações en-
tre empregador e empregado.
É por isso que estamos presenciando uma descons-
trução sem precedentes do trabalho em toda a era
moderna, ampliando os diversos modos de ser da
precarização e do desemprego estrutural. Resta para TEXTO: 8 - Comuns às questões: 27, 28
a “classe-que-vive-do-trabalho” oscilar, ao modo dos
pêndulos, entre a busca de qualquer “labor” e a vi- SOBREVIVEREMOS NA TERRA?
vência do desemprego.

1
Tenho interesse pessoal no tempo. Primeiro, meu
Este número especial da Revista Katálysis, dedica- best-seller chama-se Uma breve história do 2tempo.
do às novas configurações do trabalho na sociedade Segundo, por ser alguém que, aos 21 anos, foi infor-
capitalista, é uma contribuição efetiva para a linha- mado pelos médicos de que teria apenas 3mais cinco
gem crítica, atualizada e original, tanto pelos temas anos de vida e que completou 76 anos em 2018. Te-
selecionados, quanto pela qualidade e competência nho uma aguda e desconfortável 4consciência da pas-
dos colaboradores presentes, ajudando a descortinar sagem do tempo. Durante a maior parte da minha

www.PROJETOREDACAO.com.br - 15
vida, convivi com a sensação 5de que estava fazendo na única. Foi a curiosidade obstinada que levou os
hora extra. exploradores a provar que a Terra não era 36plana, e
é esse mesmo impulso que nos leva a viajar para as
6
Parece que nosso mundo enfrenta uma instabilidade estrelas na velocidade do pensamento, 37instigando-
política maior do que em qualquer outro 7momento. -nos a realmente chegar lá. E sempre que realizamos
Uma grande quantidade de pessoas sente ter ficado um grande salto, como nos pousos 38lunares, exalta-
para trás. Como resultado, temos 8nos voltado para mos a humanidade, unimos povos e nações, introdu-
políticos populistas, com experiência de governo li- zimos novas descobertas e novas 39tecnologias. Dei-
mitada e cuja capacidade para 9tomar decisões pon- xar a Terra exige uma abordagem global combinada
deradas em uma crise ainda está para ser testada. A – todos devem participar.
Terra sofre ameaças em 10tantas frentes que é difícil
permanecer otimista. Os perigos são grandes e nu- STEPHEN HAWKING (1942-2018)
merosos demais. O 11planeta está ficando pequeno Adaptado de Breves respostas para grandes ques-
para nós. Nossos recursos físicos estão se esgotando tões. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2018.
a uma velocidade 12alarmante. A mudança climática
foi uma trágica dádiva humana ao planeta. Tempe-
raturas cada vez 13mais elevadas, redução da calota
polar, desmatamento, superpopulação, doenças, Questão 27 - (UERJ)
guerras, fome, 14escassez de água e extermínio de es-
Como resultado, temos nos voltado para políticos
pécies; todos esses problemas poderiam ser resolvi-
populistas, com experiência de governo limitada e
dos, mas 15até hoje não foram. O aquecimento global
cuja capacidade para tomar decisões ponderadas em
está sendo causado por todos nós. Queremos andar
uma crise ainda está para ser testada. (ref. 7-9)
de 16carro, viajar e desfrutar um padrão de vida me-
lhor. Mas quando as pessoas se derem conta do que No trecho acima, Stephen Hawking faz uma afirma-
17
está acontecendo, pode ser tarde demais. ção cujo conteúdo se desdobra nas cinco frases sub-
sequentes.
18
Estamos no limiar de um período de mudança cli-
mática sem precedentes. No entanto, muitos políti-
cos 19negam a mudança climática provocada pelo ho-
mem, ou a capacidade do homem de revertê-la. 20O Essas cinco frases cumprem o propósito de:
derretimento das calotas polares ártica e antártica
reduz a fração de energia solar refletida de volta 21no
espaço e aumenta ainda mais a temperatura. A mu-
dança climática pode destruir a Amazônia e 22outras a) justificar a estrutura econômica
florestas tropicais, eliminando uma das principais fer- b) relativizar as alterações ambientais
ramentas para a remoção do dióxido 23de carbono da
atmosfera. A elevação da temperatura dos oceanos c) caracterizar a conjuntura internacional
pode provocar a liberação de 24grandes quantidades
de dióxido de carbono. Ambos os fenômenos aumen- d) exemplificar as ações institucionais
tariam o efeito estufa e 25exacerbariam o aquecimen-
to global, tornando o clima em nosso planeta pareci-
do com o de Vênus: 26atmosfera escaldante e chuva
ácida a uma temperatura de 250 ºC. A vida humana Questão 28 - (UERJ)
seria impossível. 27Precisamos ir além do Protocolo
Ao enfatizar a atitude de curiosidade no último pa-
de Kyoto – o acordo internacional adotado em 1997
rágrafo, pode-se inferir a seguinte proposta do autor
– e cortar 28imediatamente as emissões de carbono.
para o problema que debate:
Temos a tecnologia. Só precisamos de vontade polí-
tica.
29
Quando enfrentamos crises parecidas no passado, a) estímulo a ações inovadoras
havia algum outro lugar para colonizar. Estamos 30fi-
cando sem espaço, e o único lugar para ir são outros b) cautela com práticas antigas
mundos. Tenho esperança e fé de que nossa 31enge-
nhosa raça encontrará uma maneira de escapar dos c) confiança em soluções padronizadas
sombrios grilhões do planeta e, deste 32modo, sobre-
viver ao desastre. A mesma providência talvez não d) questionamento de decisões precipitadas
seja possível para os milhões de 33outras espécies
que vivem na Terra, e isso pesará em nossa consciên-
cia. TEXTO: 9 - Comum à questão: 29
Mas somos, por natureza, exploradores. Somos
34
Diverti-me imensamente com a história dos imbe-
motivados pela curiosidade, essa qualidade 35huma-
16 - www.PROJETOREDACAO.com.br
cis da web. Para quem não acompanhou, foi publica-
do em alguns jornais e também on-line que no curso
de uma chamada lectio magistralis em Turim eu teria TEXTO: 10 - Comuns às questões: 30, 31
dito que a web está cheia de imbecis. É falso. A lectio
era sobre um tema completamente diferente, mas O jogo do salário mínimo
isso mostra como as notícias circulam e se deformam
entre os jornais e a web. A história dos imbecis surgiu
numa conferência de imprensa durante a qual, res- 1
[...] Em menos de trinta minutos, dois times cen-
pondendo a uma pergunta que não me lembro mais, tenários do futebol carioca, Bonsucesso e Olaria, vão
fiz uma observação de puro bom senso. Admitindo se enfrentar num 2jogo-treino, na preparação para a
que em 7 bilhões de habitantes exista uma taxa ine- disputa da segunda divisão do campeonato do Rio.
vitável de imbecis, muitíssimos deles costumavam
comunicar seus delírios aos íntimos ou aos amigos 3
Na arena vazia, os jogadores vivem a desigual-
do bar – e assim suas opiniões permaneciam limita- dade salarial do futebol brasileiro. Na esperança de
das a um círculo restrito. Hoje uma parte consistente chegar a um clube grande, 4os 22 atletas em campo
dessas pessoas tem a possibilidade de expressar as correm no estádio em troca de um salário mínimo
próprias opiniões nas redes sociais e, portanto, tais (998 reais) na carteira assinada – isso quando não há
opiniões alcançam audiências altíssimas e se mistu- 5
atraso no pagamento. Juntos, ganham cerca de 22
ram com tantas outras ideias expressas por pessoas mil reais – menos de 2% do salário mensal de uma
razoáveis. estrela como o atacante 6Gabriel Barbosa, o Gabi-
gol, do Flamengo. Longe do glamour dos estádios
[...] padrão Fifa, os 22 em campo no chamado Clássico
da 7Leopoldina, em referência à antiga linha de trem,
É justo que a rede permita que mesmo quem
são um retrato do precário mercado de trabalho da
não diz coisas sensatas se expresse, mas o excesso
bola no Brasil.
de besteira congestiona as linhas. E algumas reações
descompensadas que vi na internet confirmam mi- 8
Levantamento do antigo Ministério do Trabalho
nha razoabilíssima tese. Alguém chegou a dizer que, revela que a maioria (54%) dos jogadores de fute-
para mim, as opiniões de um tolo e aquelas de um bol do país empregados em 92017 recebia até três
ganhador do prêmio Nobel têm a mesma evidência e salários mínimos (2.811 reais). Os dados constam da
não demorou para que se difundisse viralmente uma RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) de 2017.
inútil discussão sobre o fato de eu ter ou não recebi- 10
[...]
do um prêmio Nobel – sem que ninguém consultasse
sequer a Wikipédia. 11
A estatística do antigo Ministério do Trabalho é o
único levantamento que tenta mapear os salários no
(Umberto Eco – Os imbecis e a imprensa responsável, futebol brasileiro. A CBF 12fazia uma pesquisa pareci-
2017.) da, mas deixou de publicar por causa das distorções
criadas pelos contratos de direito de imagem. 13Se-
gundo a última edição do trabalho da entidade que
Questão 29 - (UFPR) comanda o futebol nacional, mais de 80% dos joga-
dores de futebol ganhavam 14até 1 mil reais por mês
A questão central apontada pelo autor no texto pode em 2016. Sem citar nomes, a CBF informou que ape-
ser corretamente sintetizada no fato de que: nas um jogador recebia mais de 500 mil reais, mas o
15
número estava longe da realidade, e o mesmo se
pode dizer dos dados da RAIS. O salário em carteira
é só uma parte do que os 16atletas recebem, pois o
a) ele tenha se divertido com os comentários a res- principal vem dos direitos de imagem e patrocínios.
peito da presença dos imbecis na web.
17
Mas essa é uma realidade dos clubes grandes.
b) na web, as opiniões atingem audiências altíssi- Em clubes como Bonsucesso e Olaria, não há direitos
mas por expressarem ideias absurdas. de imagem, já que não 18há imagem a ser vendida.
Os patrocinadores estão mais para pequenos comer-
c) a opinião de um ganhador do prêmio Nobel e a ciantes locais do que para grandes financiadores do
de um imbecil têm o mesmo peso na web. 19
futebol.
d) as notícias sofrem distorções durante o proces- (Sérgio Rangel. Disponível em:
so de circulação entre as diferentes mídias. https://piaui.folha.uol.com.br/o-jogo-do-salario-mi-
e) os navegadores da web não conferiram a infor- nimo/. 31/05/2019.)
mação sobre ele ter recebido ou não um prêmio
Nobel.
Questão 30 - (UFPR)
www.PROJETOREDACAO.com.br - 17
Com base no texto de Rangel, considere as seguintes ( ) O desequilíbrio entre o que um jogador-estrela
afirmativas: recebe no Brasil em relação ao contingente dos
demais jogadores fundamenta-se na variável di-
reitos de imagem.
1. Em “Os patrocinadores estão mais para peque-
nos comerciantes locais do que para grandes fi-
nanciadores do futebol”, temos uma relação de Assinale a alternativa que apresenta a sequência cor-
contraposição. reta, de cima para baixo.

2. Os baixos salários, somados aos atrasos nos


pagamentos, são aspectos da precariedade do
mercado da bola no Brasil. a) V – V – F – V.

3. Os dados salariais dos jogadores brasileiros, b) V – F – V – F.


apontados pela RAIS, apresentam distorções
porque a maioria dos jogadores recebem até c) F – V – F – V.
três salários mínimos por mês, enquanto outros d) F – F – V – V.
recebem até quinhentos mil reais por mês.
e) V – V – V – F.
4. A ausência de comercialização de imagens de
jogadores de clubes como Bonsucesso e Olaria
decorre do fato de esses jogadores não terem
direitos de imagem como o jogador Gabigol, por TEXTO: 11 - Comuns às questões: 32, 33
exemplo.
A tira a seguir, do rato Níquel Náusea, de Fernando
Gonsales.

Assinale a alternativa correta.

a) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.

b) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.

e) Somente a afirmativa 3 é verdadeira.

Questão 31 - (UFPR)
Com base no texto, identifique como verdadeiras (V)
ou falsas (F) as seguintes afirmativas:

( ) A expressão “na arena vazia” (Ref. 3) encontra- (Disponível em: http://www2.uol.com.br/niquel/bau.


-se em relação de oposição metafórica com a ex- shtml.
pressão “glamour dos estádios padrão Fifa” (Ref. Acesso em 07/07/2019.)
6).

( ) Ainda que os jogadores de clubes como Bonsu-


cesso e Olaria sujeitem-se aos baixos salários, Questão 32 - (UFPR)
eles mantêm no horizonte a aspiração aos gran-
des clubes. Com base na tira, identifique como verdadeiras (V)
ou falsas (F) as seguintes afirmativas:
( ) O autor do texto traz a lume denúncias de joga-
dores acerca das disparidades salariais no mun-
do do futebol.
( ) No último quadrinho da charge, Níquel Náusea

18 - www.PROJETOREDACAO.com.br
se dirige diretamente à barata para dizer que zado para produzir uma nova terapia com anticorpos
não gosta de filosofia. que têm o potencial de combater todos os tipos de
gripe.
( ) A informação visual dos quadrinhos em que Ní-
quel Náusea está presente sinaliza sua irritação A gripe é uma das doenças mais hábeis na hora
com a barata. de mudar de forma. Constantemente, modifica sua
aparência para despistar nosso sistema imunológico.
( ) Nos dois primeiros quadrinhos, a fala da barata Isso explica porque as vacinas nem sempre são efeti-
é uma adaptação de dois provérbios à sua pró- vas e, a cada inverno, é necessário receber uma nova
pria realidade. injeção para prevenir a doença.
( ) A barata utiliza provérbios em sua fala com a in- Por isso, a ciência está à procura de uma forma de
tenção de dar lições de moral para Níquel Náu- acabar com todos os tipos de gripe, não importando
sea. de qual cepa provenha ou o quanto possa sofrer mu-
tações. É aí que entra a lhama.

Esses animais, nativos dos Andes, têm anticorpos


Assinale a alternativa que apresenta a sequência cor- incrivelmente pequenos em comparação com os dos
reta, de cima para baixo. humanos. Os anticorpos são as armas do sistema
imunológico, e aderem às proteínas que sobressaem
na superfície dos vírus.
a) V – F – V – V.
Os anticorpos humanos tendem a atacar as pon-
b) F – V – F – V. tas dessas proteínas, _______ essa é a parte em que
o vírus da gripe muda com mais rapidez. _______ os
c) V – V – V – F. anticorpos da lhama, com seu tamanho diminuto,
conseguem atacar as partes do vírus da gripe que
d) V – F – F – V. não sofrem mutação.
e) F – V – V – F. Uma equipe do Instituto Scripps, nos Estados Uni-
dos, infectou lhamas com múltiplos tipos de gripe,
para estimular uma resposta do seu sistema imuno-
Questão 33 - (UFPR) lógico. Em seguida, analisou o sangue dos animais,
procurando pelos anticorpos mais potentes, que po-
Considerando a sentença “Mais vale uma naftalina deriam atacar uma ampla variedade de vírus.
na mão do que duas rolando”, no segundo quadrinho
da tira, assinale a alternativa que traz um provérbio Os cientistas, _______, identificaram quatro anti-
com sentido mais próximo ao sentido do provérbio corpos das lhamas. Depois, começaram a desenvol-
suposto pela citação. ver um anticorpo sintético, que une elementos des-
ses quatro tipos.

O trabalho, que foi publicado na revista científica


a) Quem não tem cão, caça com gato. Science, ainda está em estágios muito iniciais. A equi-
pe de cientistas pretende realizar mais experimentos
b) Quando um não quer, dois não brigam. antes de fazer testes com humanos. “Ter um trata-
mento que possa funcionar contra uma variedade de
c) O seguro morreu de velho. cepas diferentes do vírus da gripe é algo muito de-
sejado. É o Santo Graal da gripe”, afirma o professor
d) Um dia é da caça, outro é do caçador. Jonathan Ball, da Universidade de Nottingham.
e) As aparências enganam. (James Gallagher, Correspondente de Saúde e Ciência,
BBC News. Disponível em: https://www.bbc.com/
portuguese/geral-46101443?ocid=socialflow_ face-
TEXTO: 12 - Comum à questão: 34 book&fbclid=IwAR1Bj0yRbAN1yzVPG9X8H0KC2B5I-
59XTXbPwX7w0kk9O4kfMIop3H-wjmIY. Acesso em
Por que as lhamas podem guardar o segredo para 07/07/2019. Adaptado.)
combater a gripe

Questão 34 - (UFPR)
Cientistas americanos recrutaram uma curiosa
aliada para desenvolver tratamentos contra a gripe: a Ao comparar a vacina contra diferentes cepas do ví-
lhama. O sangue desse animal sul-americano foi utili- rus da gripe ao Santo Graal, o professor Jonathan Ball
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quis dizer que: permite a eles expressar uma gama mais ampla 17 de
emoções”.

a) tanto o Santo Graal quanto a vacina são busca-


dos com afinco. 18
Se é verdade que os violinos Stradivarius, como
muitos vinhos, melhoraram com o tempo, é 19 ine-
b) a descoberta da vacina e do Santo Graal cabe a xorável que, em algum momento, avinagrem. Pois
pessoas com aptidões especiais. esse momento se aproxima: depois de quase 20 qua-
trocentos anos espalhando a melhor música que já
c) o Santo Graal e a vacina têm o sangue como ele- foi ouvida, os violinos, violoncelos e violas 21 de Cre-
mento em comum. mona estão atingindo seu limite. Logo estarão frá-
d) tanto o Santo Graal como a imunização pelas va- geis demais para serem tocados e serão, 22 segundo
cinas são lendas. Fausto Cacciatori, curador do Museu do Violino de
Cremona, “colocados para dormir”.
e) tanto a vacina quanto o Santo Graal apresen-
tam-se em mais de uma forma.
23
Antecipando-se ao sono derradeiro, os morado-
res de Cremona criaram o Projeto Stradivarius. “Por
TEXTO: 13 - Comum à questão: 35
24
cinco semanas, quatro músicos, tocando dois vio-
linos, uma viola e um violoncelo, farão centenas de
CIVILIZAÇÃO 25
escalas e arpejos, usando técnicas diferentes com
arcos, ou dedilhando as cordas”, sob “trinta e dois 26
microfones de alta sensibilidade”. Três engenheiros
de som, trancados num quartinho à prova de 27 qual-
1
A matéria saiu no New York Times, foi publicada na quer ruído, no auditório do museu, gravarão cada
Folha de São Paulo; deveria ser bibliografia 2 obrigató- uma das centenas de milhares de variações 28 sono-
ria do ensino fundamental à pós-graduação, deveria ras, de modo que, no futuro, será possível compor
ser colada aos postes, lançada de aviões, 3 viralizada músicas com o som dos Stradivarius.
nas redes sociais, impressa em santinhos, guardada
na carteira, no bolso ou no sutiã e lida 4 toda vez que
a desilusão, o desespero, a melancolia ou mesmo o
tédio batesse na porta, batesse na aorta: 5 “Para sal- 29
O projeto já estava quase saindo do papel em 2017
var Stradivarius, uma cidade inteira fica em silêncio”. quando os idealizadores perceberam que o barulho
30
em torno do museu impossibilitaria as gravações.
O prefeito de Cremona, então, permitiu que as ruas 31
da região fossem fechadas até que a última nota fos-
6
Antonio Stradivari viveu entre 1644 e 1737 em Cre- se imortalizada. A cidade calou-se e os Stradivarius 32
mona, norte da Itália, cidadezinha que hoje 7 conta começaram a cantar.
com 72267 habitantes. Durante algumas décadas dos
séculos XVII e XVIII, Stradivari 8 produziu instrumen-
tos de corda, como violinos, cujos sons quase quatro
séculos de conhecimento 9 acumulado não foram ca- 33
Até meados de fevereiro, os 72267 moradores da
pazes de igualar. cidadezinha italiana deixarão de buzinar suas 34 lam-
bretas, “nonas” evitarão gritar às janelas e amigos
cochicharão pelas mesas dos cafés para que 35 daqui
a quatrocentos anos um garoto em Cremona, Mum-
10
Por muito tempo permaneceu um mistério o que bai ou Reykjavik possa compor uma 36 música com
fazia aqueles instrumentos tão diferentes dos 11 de- as notas únicas e inimitáveis saídas de instrumentos
mais, fabricados antes ou depois. Estudos recentes, feitos à mão por um homem 37 que morreu quase um
porém, mostraram que, para além da artesania 12 milênio antes de esse garoto nascer. Acho que é disso
magistral do luthier*, um tratamento químico dado à que estamos falando 38 quando falamos em civiliza-
madeira, à época da fabricação, interfere na 13 quali- ção.
dade do som dos instrumentos.
ANTONIO PRATA

Adaptado de www1.folha.uol.com.br, 27/01/2019.


14
O tempo de uso também entra na equação: a se-
cura da madeira e a distância entre as fibras, causada
15
pela oxidação, são razões pelas quais, segundo o
dr. Hwan-Ching Tai, autor de um estudo de 2016, 16 * Luthier: profissional especializado em instrumen-
“esses velhos violinos vibram mais livremente, o que tos de cordas.

20 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 35 - (UERJ) d) caminham até a taverna mais próxima. (Refs.
5-6)
A matéria saiu no New York Times, foi publicada na
Folha de São Paulo; deveria ser bibliografia obrigató-
ria do ensino fundamental à pós-graduação, deveria
ser colada aos postes, lançada de aviões, viralizada Questão 37 - (UERJ)
nas redes sociais, impressa em santinhos, (Refs. 1-3)
Com base no trecho acima, é possível reconhecer É comum, no pensamento contemporâneo, o enten-
que, para o autor, o conteúdo da notícia comentada dimento de que os conceitos de Bem e de Mal não
se caracteriza por: são fixos, mas sim relativos a épocas e lugares.

a) interessar a diferentes espaços sociais Esse entendimento se reflete no conto quando o


Bem e o Mal têm a atitude de:
b) remeter a diversos recortes temporais

c) possuir variados significados alegóricos


a) mudar comportamento
d) permitir múltiplas interpretações pessoais
b) reafirmar argumentos

c) radicalizar traição
TEXTO: 14 - Comuns às questões: 36, 37
d) revelar ambições
CONSIDERE O LIVRO HORA DE ALIMENTAR SERPEN-
TES, DE MARINA COLASANTI.
Questão 38 - (UNIRG TO)

CENA ANTIGA Em Tribo cara baixa, Deusimar Pires elabora peque-


nos textos cronísticos pertinentes

1
Amanhece o dia entre neblinas, quando o Bem e o
Mal se encontram para mais um duelo. 2 Escolhem a) a críticas de questões sociológicas conservadoras.
as armas nos estojos, aproximam-se para o encontro b) ao uso acadêmico e científico dos meios digitais.
ritual, encaram-se. Os padrinhos 3 que aguardam ao
lado do campo, escuros como as gralhas que saltitam c) a reflexões moralistas sobre tópicos comporta-
entre restolhos, são instados 4 a partir. Que não haja mentais.
testemunhas.
d) ao desenvolvimento otimizado das novas gera-
ções.
5
Afastados estes, Bem e Mal guardam as armas, se
envolvem em suas capas e caminham até a taverna 6
mais próxima. Ali, frente a canecos cheios, discutirão Questão 39 - (UNIRG TO)
estratégias e trocarão conselhos durante dias 7 ou sé-
culos, até o próximo duelo. Deusimar Pires, no livro Tribo cara baixa, trata em
uma de suas crônicas, entre outros temas, da felici-
dade, que segundo ele,

Questão 36 - (UERJ)
O título “Cena antiga” alude à repetição de um ritual, a) é demonstrada pela condição de acúmulo de ex-
evidenciada pelo seguinte trecho: periências variadas.

b) é demonstrada pela capacidade de se fazer mui-


tas viagens.
a) Amanhece o dia entre neblinas, (Ref. 1)
c) é uma condição humana que supõe capacidade
b) se encontram para mais um duelo. (Ref. 1) para intelectualização.
c) Que não haja testemunhas. (Ref. 4) d) é uma condição humana que supõe desprendi-
mento material.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 21
TEXTO: 15 - Comuns às questões: 40, 41 TEXTO 2

TEXTO 1

Fabiano

[...]

Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de


ponta, esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aió um
pedaço de fumo, picouo, fez um cigarro com palha de
milho, acendeu-o ao binga, pôs-se a fumar regalado.

– Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta. Cartaz do XIII Festival de Artes de Goiás.
Diretoria de Comunicação Social do Instituto Federal
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, de Goiás, 2015.
com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E,
pensando bem, ele não era homem: era apenas um
cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Ver-
TEXTO 3
melho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os
cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cui-
dava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na
presença dos brancos e julgava-se cabra.

Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos,


alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corri-
giu-a, murmurando:

– Você é um bicho, Fabiano.

Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um


bicho, capaz de vencer dificuldades.

Chegara naquela situação medonha – e ali estava,


forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha.

– Um bicho, Fabiano. Revista Vida Simples.


São Paulo: Abril, edição 139, dez. 2013. [Adaptado].
Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair
morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e
sementes de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o
fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se desen- Questão 40 - (IFGO)
tendido e oferecera os seus préstimos, resmungan-
do, coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que No fragmento “E ali estava, forte, até gordo, fuman-
tinha era ficar. E o patrão aceitara-o, entregara-lhe as do o seu cigarro de palha”, Texto 1, o elemento em
marcas de ferro. destaque sugere que se trata de

Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali.


Aparecera como um bicho, entocara-se como um
bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou as a) uma noção depreciativa acerca do excesso de
quipás, os mandacarus e os xique-xiques. Era mais peso do personagem.
forte que tudo isso, era como as catingueiras e as ba- b) uma situação inesperada com relação ao peso
raúnas. Ele, Sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra do personagem.
Baleia estavam agarrados à terra.
c) uma soma de atributos dentre os quais o peso é
[...] o menos relevante.
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. d) um momento comum na vida do personagem
74 ed. São Paulo: Record, 1998. [Adaptado]. marcado pelo peso em excesso.

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Questão 41 - (IFGO) O que o mapa fez com o espaço — traduzir um
35
36
fenômeno natural em uma conceitualização artifi-
No fragmento de Vidas Secas, Texto 1, de Graciliano cial 37 e intelectual daquele fenômeno — o relógio
Ramos, Fabiano é apresentado, respectivamente, mecânico, 38 outra tecnologia, fez com o tempo. Du-
como homem, cabra, bicho e planta. Do ponto de rante a 39 maior parte da história humana, as pessoas
vista do personagem, essa gradação de atributos põe experimentaram 40 o tempo como um fluxo contínuo,
em evidência cíclico. 41 Por conseguinte, sua “marcação” era rea-
lizada por 42 instrumentos que enfatizavam seu pro-
cesso natural: 43 relógios de sol nos quais as sombras
a) o seu processo de autoconhecimento. giravam, ampulhetas 44 nas quais a areia caía, clepsi-
dras nas quais a 45 água escorria. Não havia uma ne-
b) a sua condição de imutabilidade. cessidade particular 46 de medir o tempo com preci-
são ou dividir um dia em 47 seus pequenos pedaços.
c) a sua inconformidade com a realidade. Para a maioria das pessoas, 48 as estrelas forneciam
os únicos relógios de que 49 precisavam.
d) a sua transformação em algo inanimado.
A necessidade de um maior rigor da programa-
50

ção 51 e da sincronização no trabalho, no transporte


e 52 no lazer forneceu o impulso para um rápido pro-
TEXTO: 16 - Comuns às questões: 42, 43 gresso 53 da tecnologia do relógio. Agora, o tempo te-
ria que 54 ser o mesmo em toda parte para não preju-
Ferramentas da mente
dicar o comércio 55 e a indústria. Unidades de tempo
se tornaram 56 padronizadas — segundos, minutos,
horas — e os 57 mecanismos do relógio sofreram um
1
Toda tecnologia é uma expressão da vontade 2 ajuste fino para 58 medirem essas unidades com pre-
humana. Através de nossas ferramentas, procuramos cisão muito maior.
3
expandir nosso poder e nosso controle sobre as cir-
cunstâncias 4 — sobre a natureza, sobre o tempo e a O relógio mecânico mudou o modo como vemos
59

5
distância, sobre o outro.
60
a nós mesmos. E, como o mapa, mudou o modo 61
como pensamos. O mapa e o relógio partilham uma
5
Nossas tecnologias podem ser classificadas 7 62
ética semelhante uma vez que ambos colocaram 63
conforme o modo como suplementam ou amplificam uma nova ênfase na mensuração e na abstração, 64
8
nossas capacidades naturais. Um primeiro conjun- na percepção e na definição de formas e processos 65
to, 9 que inclui o arado, a agulha de costura e o caça a além daqueles aparentes aos sentidos.
10
jato, estende a força física, a destreza ou a resiliên-
cia 11 das pessoas. Um segundo conjunto, que inclui As recentes descobertas da neuroplasticidade
66

o 12 microscópio e o amplificador, estende a faixa ou


67
tornam mais visível a essência do intelecto, e mais
a 13 sensibilidade dos nossos sentidos. Um terceiro fáceis 68 de assinalar seus passos e suas fronteiras.
grupo, 14 abarcando tecnologias tais como o reser- Elas 69 nos dizem que as ferramentas que o homem
vatório, 15 a pílula anticoncepcional e o milho gene- usou 70 para apoiar ou estender seu sistema nervoso
ticamente 16 modificado, permite-nos remodelar a modelaram 71 a estrutura física e o funcionamento do
natureza para 17 servir melhor a nossas necessidades cérebro 72 humano. Seu uso fortaleceu alguns circui-
ou desejos. O 18 mapa e o relógio pertencem à quar- tos neurais 73 e enfraqueceu outros, reforçou certos
ta categoria, que 19 seria mais bem descrita como a traços mentais 74 enquanto deixou esmaecer outros.
das “tecnologias intelectuais”. 20 Estas incluem todas A neuroplasticidade 75 fornece o elo perdido para
as ferramentas que 21 usamos para estender ou dar compreendermos como 76 os meios informacionais e
suporte aos nossos 22 poderes mentais — encontrar outras tecnologias intelectuais 77 exerceram sua in-
e classificar informação, 23 formular e articular ideias, fluência sobre o desenvolvimento 78 da civilização e
partilhar know-how 24 e experiência, fazer medidas e ajudaram a guiar, em um nível 79 biológico, a história
realizar cálculos, expandir 25 a capacidade da nossa da consciência humana.
memória. A máquina 26 de escrever é uma tecnologia
CARR, Nicholas. A geração superfi cial: o que a
intelectual e, do mesmo 27 modo, a régua de cálculo,
internet está fazendo com as nossas mentes. Tradu-
o globo, o livro e o jornal, a 28 escola e a biblioteca,
ção: Mônica Gagliotti Fortunato Friaça. Rio de Janei-
o computador e a internet. Embora 29 o uso de qual-
ro: Agir. 2011. p. 69-75. Adaptado.
quer tipo de ferramenta possa influenciar 30 nossos
pensamentos e nossas perspectivas — o arado 31 mu-
dou a visão do fazendeiro, o microscópio abriu novos
32
mundos de exploração mental para o cientista —, Questão 42 - (FM Petrópolis RJ)
33
são as tecnologias intelectuais que têm o maior e
mais 34 duradouro poder sobre como pensamos. O fragmento que resume a ideia principal do texto é:

www.PROJETOREDACAO.com.br - 23
a) “Um terceiro grupo, abarcando tecnologias tais TEXTO: 17 - Comum à questão: 44
como o reservatório, a pílula anticoncepcional e
o milho geneticamente modificado, permite-nos De onde vem o termo “shippar”?
remodelar a natureza para servir melhor a nos-
sas necessidades ou desejos” (Refs. 13-17)

b) “Durante a maior parte da história humana, as Vem da palavra “relationship” (relacionamento,


pessoas experimentaram o tempo como um flu- em inglês) e significa torcer para que personagens de
xo contínuo, cíclico. Por conseguinte, sua ‘mar- ficção firmem uma relação. A prática se popularizou
cação’ era realizada por instrumentos que enfa- na década de 1970 com a série Star Trek: os fãs tor-
tizavam seu processo natural” (Refs. 38-42) ciam por Kirk e Spock e os apelidaram de “K/S”.

c) “Elas [as recentes descobertas da neuroplastici- Mas foi com Arquivo X que o verbo “shippar” (“to
dade] nos dizem que as ferramentas que o ho- ship”) propriamente dito surgiu nos EUA, quando
mem usou para apoiar ou estender seu sistema espectadores torciam para que Fox Mulder e Dana
nervoso modelaram a estrutura física e o funcio- Scully ficassem juntos.
namento do cérebro humano” (Refs. 68-72) No Brasil, o termo bombou durante os anos 2000,
d) “A máquina de escrever é uma tecnologia inte- graças aos usuários do Twitter.
lectual e, do mesmo modo, a régua de cálculo, o Com o passar do tempo, classificações de “shi-
globo, o livro e o jornal, a escola e a biblioteca, o ppar” foram criadas: há o “slash ship” (um casal gay
computador e a internet” (Refs. 25-28) masculino, caso de “K/S”), o “femslash” (um casal fe-
e) “A necessidade de um maior rigor da programa- minino), o “canon ship” (o casal óbvio da série) e o
ção e da sincronização no trabalho, no transpor- “cult ship”(um casal que nunca se formou). É comum
te e no lazer forneceu o impulso para um rápido que, ao “shippar” dois personagens, os fãs criem uma
progresso da tecnologia do relógio” (Refs. 50- junção dos nomes: Elena e Damon, de The Vampire
53) Diaries, por exemplo, viraram Delena.

(Luiza Wolf. https://super.abril.com.br, 04.07.2018.)

Questão 43 - (FM Petrópolis RJ)


No desenvolvimento temático do texto, antes de ex- Questão 44 - (UNIVAG MT)
plicar que as tecnologias intelectuais são usadas para De acordo com o texto, a criação do termo “shippar”
encontrar e classificar informação, formular e arti- está associada
cular ideias, partilhar know-how e experiência, fazer
medidas e realizar cálculos, o autor afirma que

a) à simpatia do público de programas de televisão


para com seus personagens, expressa no desejo
a) o arado, a agulha de costura e o caça a jato es- de que estes formem pares românticos.
tendem a força física, a destreza ou a resiliência
das pessoas. (2º par.) b) à prática de compor nomes de personagens gra-
ças à junção de seus nomes aos de outros perso-
b) no passado, não havia uma necessidade particu- nagens com os quais o público simpatiza.
lar de medir o tempo com precisão ou dividir um
dia em seus pequenos pedaços. (3º par.) c) ao papel influenciador do Twitter junto ao públi-
co jovem, que disseminou a prática de atrapa-
c) os meios informacionais e outras tecnologias in- lhar os enredos das séries de ficção.
telectuais ajudaram a guiar, em um nível biológi-
co, a história da consciência humana. (5º par.) d) ao conceito de humor associado aos nomes dos
pares românticos de séries de televisão, com os
d) o mapa traduziu o espaço, um fenômeno natu- quais o público se identifica.
ral, em uma conceitualização artificial e intelec-
tual. (3º par.) e) à popularização, ocorrida no Brasil, com os no-
mes das personagens que surgiram nas redes
e) a necessidade de sincronização no trabalho e no sociais, as quais os internautas querem ver uni-
lazer forneceu o impulso para um rápido pro- das.
gresso da tecnologia do relógio. (4º par.)

24 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 45 - (UNIVAG MT) ça, para que as ações — legítimas e urgentes — do
Ministério Público não ponham sob o mesmo rótulo
Leia a tira. movimentos pautados por objetivos e métodos an-
tagônicos.

(Philip Yang et al. “Luta por moradia: por que criminalizar


a cidadania?”.
https://opiniao.estadao.com.br, 08.08.2019. Adaptado.)

No editorial, o ponto de vista manifesto afirma que


(Adão Iturrusgarai. “A vida como ela yeah”. as medidas do Ministério Público,
Folha de S.Paulo, 09.08.2019.)

a) apesar de serem legais e urgentes, são desastra-


O efeito de humor da tira decorre das e acabam por acobertar a ação dos crimino-
sos que supostamente enfrentam o déficit habi-
tacional, mas que estão, no fundo, acentuando
a) da quebra de associações de sentido, sugeridas a condição de vulnerabilidade das populações.
nas designações dos profissionais mas desvia- b) como são legais e urgentes, vêm solucionando a
das, na sequência, para referências a outros crise urbana de moradia das populações pobres,
campos de significação. conferindo legitimidade às lideranças de movi-
b) da criação intencional de uma lacuna de sentido mentos de moradia, em busca de resolver o pro-
nas referências à natureza das atividades, suge- blema das ações antagônicas desses grupos.
rindo que são realizadas por falsos profissionais. c) ainda que sejam legais e urgentes, precisam dis-
c) da reiteração dos sentidos literais de cada uma tinguir, entre os movimentos sociais, aqueles
das profissões, por meio da menção a ações que cujas ações são legítimas e resultaram em con-
lhes são atribuídas pelo senso comum. quistas para o enfrentamento do déficit habita-
cional, daqueles que praticam atos criminosos.
d) do emprego de expressões pouco usuais para
aludir a um novo sentido que pode ser dado às d) caso sejam legais e urgentes, consistirão em
atribuições de cada profissional. ações de enfrentamento de atividades crimino-
sas na área social, dando o mesmo tratamento
e) da escolha deliberada de expressões ambíguas para os movimentos que lutam, legitimamente
para designar as profissões, tendo em vista que ou não, pela causa dos sem-teto na capital pau-
as atividades que desempenham são incompatí- lista.
veis.
e) para serem legais e urgentes, desconsideram o
extraordinário impacto positivo das ocupações e
consistem em ações que não passam pelo crivo
Questão 46 - (UNIVAG MT) da equidade, pois visam a punir todos os mo-
vimentos sociais, independentemente de viés
A prisão de lideranças dos movimentos de mora- ideológico.
dia em São Paulo, no âmbito das investigações sobre
o incêndio e o desmoronamento do edifício Wilton
Paes de Almeida, deve ser considerada com cautela.
É evidente que é necessário coibir a ação de crimino- TEXTO: 18 - Comum à questão: 47
sos que se têm misturado nos movimentos sociais de
São Paulo e do País. Mas é preciso cuidado para não PRAZERES DA “MELHOR IDADE”
pôr em risco conquistas obtidas com extremo esfor-
ço por indivíduos e instituições que enfrentam o dé-
ficit habitacional, um dos grandes desafios urbanos A voz em Congonhas anunciou: “Clientes com ne-
de nosso tempo. As ocupações não são todas iguais. cessidades especiais, crianças de colo, melhor idade,
Quem acompanha a trajetória de organizações como gestantes e portadores do cartão tal terão preferên-
a Frente de Luta por Moradia (FLM) ou o Movimento cia etc.”. Num rápido exercício intelectual, concluí
Sem Teto do Centro (MSTC) conhece o extraordinário que, não tendo necessidades especiais, nem sendo
impacto positivo por elas provocado na vida de gran- criança de colo, muito menos gestante, nem mesmo
de parcela da população em situação de vulnerabili- portador do dito cartão, só me restava a “melhor ida-
dade. Nosso objetivo, aqui, é sublinhar essa diferen- de” – algo entre os 60 anos e a morte.
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Para os que ainda não chegaram a ela, “melhor ida- a) constitui-se como um escritor ultrapassado.
de” é quando você pensa duas vezes antes de se abai-
xar para pegar o lápis que deixou cair e, se ninguém b) exemplifica a autenticidade de um boêmio.
estiver olhando, chuta-o para debaixo da mesa. Ou,
tendo atravessado a rua fora da faixa, arrepende-se c) identifica-se com um carioca da gema.
no meio do caminho porque o sinal abriu e agora terá d) representa uma categoria já extinta.
de correr para salvar a vida. Ou quando o singelo ato
de dar o laço no pé esquerdo do sapato equivale,
segundo o João Ubaldo Ribeiro, a uma modalidade
olímpica. Questão 48 - (FCM MG)
Leia a tirinha de Adão Iturrusgarai.

Privilégios da “melhor idade” são o ressecamento da


pele, a osteoporose, as placas de gordura no coração,
a pressão lembrando placar de basquete americano,
a falência dos neurônios, as baixas de visão e audi-
ção, a falta de ar, a queda de cabelo, a tendência à
obesidade e as disfunções sexuais. Ou seja, nós, da
“melhor idade”, estamos com tudo, e os demais po-
dem ir lamber sabão.

Outra característica da “melhor idade” é a disponi-


bilidade de seus membros para tomar as montanhas
de Rivotril, Lexotan e Frontal que seus médicos lhes
receitam e depois não conseguem retirar.

Outro dia, bem cedo, um jovem casal cruzou comigo


no Leblon. Talvez vendo em mim um pterodáctilo da
clássica boemia carioca, o rapaz perguntou: “Voltan-
do da farra, Ruy?”.
(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/cartum/
cartunsdiarios/#28/7/2019)
Respondi, eufórico:

A comicidade da tirinha é explicada CORRETAMENTE


“Que nada! Estou voltando da farmácia!” em:

E esta, de fato, é uma grande vantagem da “melhor a) O paciente confunde o médico e sua especializa-
idade”: você extrai prazer de qualquer lugar a que ção.
ainda consiga ir.
b) O paciente domina o assunto melhor do que o
(CASTRO, Ruy. Morrer de prazer – crônicas da vida médico.
por um fio.
Rio de Janeiro: Foz, 2013, p.39.) c) O médico faz outra leitura da expressão “intesti-
no preso”.

d) O médico não convencional paradoxalmente usa


Questão 47 - (FCM MG) um clichê.

O cronista vale-se da linguagem conotativa, isto é,


explora tudo aquilo que as palavras podem sugerir,
além de seu significado propriamente dito. O trecho
“um pterodáctilo da clássica boemia carioca” sugere
que o autor:

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TEXTO: 19 - Comum à questão: 49 Questão 50 - (FCM MG)
DISTÂNCIA TEM CURA Leia a tirinha de Adão Iturrusgarai.

Em quase trinta anos atendendo doentes em ca-


deias, jamais ouvi um desaforo, uma palavra áspera,
uma reivindicação mal-educada. Às vezes, fica difícil
acreditar que pessoas tão respeitosas com o médi-
co tenham cometido os crimes que constam de seus
prontuários. Profissão caprichosa a medicina, capaz
de criar empatia mútua entre dois estranhos em
questão de minutos.
O humorista vale-se de um anacronismo e usa per-
A tendência natural é a de nos aproximarmos de sonagens bíblicos para protagonizarem um tema
pessoas da mesma classe social, com gostos, ideias, contemporâneo, presente nas redes sociais. Em O
posições políticas e estilos de vida semelhantes aos alienista, Machado de Assis também explora as fake
nossos. Embora esse formato de convivência nos news, como fica evidente na passagem:
traga conforto, não abre espaço para o contraditório
nem dá acesso a modos de pensar e de viver radi-
calmente diferentes. Impossível imaginar como eu
chegaria aos 73 anos se não fosse a experiência nos a) “Crispim empalideceu. Que negócio importante
presídios, mas sei que saberia menos medicina e des- podia ser, se não alguma triste notícia da comiti-
conheceria aspectos da alma humana aos quais só va, e especialmente da mulher? Porque este tó-
tive acesso porque me dispus a chegar perto daque- pico deve ficar claramente definido, visto insisti-
les que a sociedade tranca atrás de grades. rem nele os cronistas: Crispim amava a mulher,
e, desde trinta anos, nunca estiveram separados
O fascínio infantil pelo mundo marginal que me con- um só dia. Assim se explicam os monólogos que
duziu ao Carandiru ainda persiste. Não faço esse ele fazia agora, e que os fâmulos lhe ouviam
trabalho voluntário que me toma um período da se- muita vez: – ‘Anda, bem feito, quem te mandou
mana há tantos anos por motivações religiosas ou consentir na viagem de Cesária?’”
engajamento ideológico de qualquer natureza — sou
avesso a religiões e ideologias —, mas porque posso b) “O sistema tinha inconvenientes para a paz pú-
dispor desse tempo e manter aceso o interesse pela blica; mas era conservado pela grande energia
complexidade das interações humanas, sem o qual de divulgação que possuía. Por exemplo, um dos
viver perde o encanto. vereadores, – aquele justamente que mais se
opusera à criação da Casa Verde, – desfrutava a
(VARELLA, Drauzio. Prisioneiras. reputação de perfeito educador de cobras e ma-
São Paulo: Companhia das Letras, 2017, ed. Ebook.) cacos, e aliás nunca domesticara um só desses
bichos; mas tinha o cuidado de fazer trabalhar a
matraca todos os meses.”
Questão 49 - (FCM MG) c) “A ideia pareceu-lhe bonita e profunda e ele a
fez gravar no frontispício da casa; mas como ti-
A motivação principal que leva o médico Drauzio Va- nha medo ao vigário, e por tabela ao bispo, atri-
rella aos presídios pode ser sintetizada no termo: buiu o pensamento a Benedito VIII, merecendo
com essa fraude, aliás pia, que o padre Lopes lhe
contasse, ao almoço, a vida daquele pontífice
a) Bondade. eminente.”

b) Alteridade. d) “Ora, todo esse trabalho levava-lhe o melhor e o


mais do tempo. Mal dormia e mal comia; e, ain-
c) Curiosidade. da comendo, era como se trabalhasse, porque
ora interrogava um texto antigo, ora ruminava
d) Religiosidade. uma questão, e ia muitas vezes de um cabo a
outro do jantar sem dizer uma só palavra a D.
Evarista.”
TEXTO: 20 - Comuns às questões: 50, 51
Considere os livros O alienista, de Machado de Assis, Questão 51 - (FCM MG)
e Tinta de sangue, de Luís Giffoni.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 27
Leia a passagem, extraída de Tinta de sangue, de Luís
Giffoni.

“Médicos são terroristas profissionais. Vivem para


assustar as pessoas com seus monstros: triglicérides,
colesterol, angioplastia, acidente vascular cerebral,
nomes estranhos para bichos amansados. Antes, o
vilão se chamava câncer de pulmão por causa do ci-
garro – ou apenas CA; agora, AVC entrara na moda.
Siglas... Se desse ouvidos a todas as proibições, mor-
reria à míngua. Importava-lhe mais a qualidade de Charges e tirinhas retratam fatos do cotidiano e nor-
vida. Exames de sangue remetiam-no a boletins es- malmente têm uma intenção crítica.
colares. Ele se formara havia trinta anos.”

(GIFFONI, Luís. Tinta de sangue.


Belo Horizonte: Pulsar, 1998, p.115.) Nessa tirinha, essa intenção está explicitada em:

Com base no trecho e no enredo do romance, é COR- a) a indefinição dos papéis familiares atualmente.
RETO afirmar que:
b) as novas tecnologias de comunicação dificultam
o convívio social.
a) A incidência do vocabulário científico é compatí- c) por mais que cresçam, os filhos são sempre
vel com o ponto de vista do narrador, que é um crianças para os pais.
profissional da saúde.
d) o livro impresso perdeu a importância na era di-
b) O contundente discurso feito pelo protagonista gital.
Valdomiro expressa a ingratidão de quem foi sal-
vo pelos médicos. e) pais e filhos não têm mais uma relação de afeto
na sociedade atual.
c) As metáforas presentes são adequadas à idios-
sincrasia do personagem narrador, que é um ar-
tista.
TEXTO: 21 - Comum à questão: 53
d) A perspectiva da narração pertence ao persona-
gem, cujas iniciais formam a palavra MAL.

Questão 52 - (Fac. Santo Agostinho BA)


Leia a tirinha abaixo, retirada do jornal “O TEMPO”, e
responda as questões.

28 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Acesso em: 30 ago. 2019. (Fragmento)

Nesse trecho, o eu lírico revela implicitamente uma


perspectiva sociocultural relacionada à(ao)

a) ampliação das formas de divulgação da poesia


popular.

b) comparação entre o poeta popular e o clássico


mostrada no cordel.
PAINEL SOLAR. Coletando energia do Sol.
Disponível em: <http://painelsolares.com/energia- c) modelo idealizado da língua, o qual gera o pre-
-solar-como-funciona/>. conceito linguístico.
Acesso em: 30 ago. 2019.
d) superioridade da literatura clássica em relação a
outras literaturas.
Questão 53 - (Fac. Santo Agostinho BA) e) valorização da poesia como forma de expressão
individual.
De acordo com as informações do texto, conclui-se
que o Brasil apresenta, em geral, um(a)

Questão 55 - (Fac. Direito de São Bernardo do Cam-


a) médio para alto potencial de captação de ener- po SP)
gia solar. EU, O NARRADOR, SOU MILAGRE, O HOMEM DA
b) nível muito irregular de distribuição da energia BAZUKA.
solar nas regiões do país.

c) número pequeno de áreas adequadas à capta- Viram como o Comandante se preocupou tanto
ção de energia solar. com os cem escudos desse traidor de Cabinda? Não
d) potencial regular de captação de energia solar perguntam por quê, não se admiram? Pois eu vou ex-
ao longo do território. plicar-vos.

e) área limitada a um estado do Nordeste, onde se-


ria viável implantar painéis solares. O Comandante ékikongo; embora ele tenha ido
pequeno para Luanda, o certo éque a sua família veio
do Uíje. Ora, o fiote e o kikongo são parentes, éno
Questão 54 - (Fac. Santo Agostinho BA) fundo o mesmo povo. Por isso ele estava tão furioso
por se ter roubado um dos seus primos. Por isso ele
Leia os seguintes versos da primeira estrofe do cordel protege Lutamos, outro traidor. E viram a raiva com
“Aos poetas clássicos”: que ele agarrou o Ingratidão? Por quê? Ingratidão
ékimbundo, estátudo explicado.

(PEPETELA. Mayombe. Rio de Janeiro: Leya, 2013, p.


“Eu quero pedir licença, 47.)
Pois mesmo sem português

Neste livrinho apresento A leitura do excerto em questão permite afirmar que


o guerrilheiro Milagre
O prazê e o sofrimento

De um poeta camponês”
a) revela a atitude desonesta do Comandante Sem
ASSARÉ, Patativa. Aos poetas clássicos. Disponível Medo, que protege injustamente a personagem
em: Lutamos, autor do roubo dos cem escudos.
<http://www.fisica.ufpb.br/~romero/port/ga_
pa.htm>. b) dissemina boatos a respeito de Sem Medo a fim
www.PROJETOREDACAO.com.br - 29
de assumir o comando do grupo e pôr fim ao — No Facebook, nosso papel é garantir o padrão
tribalismo que prejudica as operações dos guer- do campo de jogo, não ser um participante da políti-
rilheiros. ca. Para usar o tênis como analogia, nosso trabalho é
garantir que a quadra esteja pronta, com a superfície
c) considera injusta a condenação de Ingratidão plana, as linhas pintadas e a rede na altura correta.
pelo roubo dos cem escudos, acusando o Co- Mas nós não pegamos a raquete para jogar. Como os
mandante de agir segundo os interesses de sua jogadores jogam depende deles, não de nós — afir-
tribo de origem. mou o executivo.
d) critica, por meio da ironia, o comportamento — É por isso que quero ser bem claro hoje: nós
dos colegas guerrilheiros que, defensores do tri- não encaminhamos discursos de políticos para nos-
balismo, recusam-se a obedecer aos comandos sos checadores de fatos independentes, e nós geral-
de Sem Medo. mente permitimos que eles fiquem na plataforma,
mesmo quando violam nossas regras de conteúdo.

Porém, existem duas exceções. Conteúdos com


TEXTO: 22 - Comum à questão: 56 potencial de incitar a violência podem ser removidos,
pois os riscos podem não compensar o interesse pú-
Políticos podem violar regras do Facebook, inclusive
blico. Os políticos também não poderão violar as re-
com mentiras e insultos
gras de conduta em anúncios na plataforma, que de-
vem seguir os padrões de comunidade e as normas
para anunciantes. Em casos de compartilhamento de
O Globo links, fotos e vídeos já desacreditados, a publicação
será acompanhada de informações de checadores de
WASHINGTON — Com a aproximação das elei- fatos e sua divulgação será rebaixada.
ções presidenciais americanas, a preocupação sobre
o funcionamento da maior rede social do mundo au- [Adaptado.]
menta, mas o Facebook se diz preparado para evitar
interferências no pleito, como aconteceu em 2016. Disponível em: https://oglobo.globo.com/econo-
Nesta terça-feira, Nick Clegg, ex-vice-primeiro-minis- mia/tecnologia/politicos-podem-violar-regras-do-fa-
tro britânico e responsável pelas Relações Globais e cebook-inclusive-com-mentiras-insultos-23973345.
Comunicações da companhia, fez um balanço sobre Acesso em: 13 out. 2019.
as ações tomadas nos últimos três anos e anunciou
que discursos de políticos (sem especificar essa clas-
sificação) estão livres para descumprir os padrões de Questão 56 - (Fac. Direito de São Bernardo do Cam-
comunidade e não serão alvo de checadores de fatos.
po SP)
— Eu sei que alguns vão dizer que deveríamos ser
“Checadores de fatos”, segundo o texto, diz respeito
mais duros. Que estamos errados em permitir que
a indivíduos que se ocupam da
políticos usem nossa plataforma para dizer coisas
desagradáveis ou declarações falsas. Mas imagine
o contrário — ponderou Clegg, durante palestra no
Atlantic Festival, em Washington. — Seria aceitável a) verificação quanto ao conteúdo das postagens
para a sociedade em geral que uma companhia pri- no Facebook.
vada se autonomeasse um árbitro para tudo o que os
políticos dizem? Eu acredito que não. Em democra- b) contestação em relação aos padrões de comuni-
cias abertas, os eleitores acreditam com razão que, dade do Facebook.
como regra geral, eles devem ser capazes de julgar
por eles mesmos o que os políticos dizem. c) observação referente ao perfil dos participantes
da palestra de Nick Clegg.
Os padrões de comunidade do Facebook defi-
nem os conteúdos que devem ser removidos da rede d) averiguação quanto à identidade dos usuários
social. É proibido, por exemplo, divulgar “conteúdo da rede social.
cruel e insensível”, como zombar da morte de outras
pessoas; promover bullying e assédio; ou promover
atos criminosos. Tudo isso está liberado para “po-
líticos”, que passam a ser considerados pessoas de
notoriedade. Isso significa que eles podem fazer co-
mentários ou compartilhar publicações que violem
os padrões de comunidade sem que os conteúdos
sejam removidos.

30 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 23 - Comuns às questões: 57, 58, 59 Questão 57 - (PUCCamp SP)
Literatura e realidade No trecho, o autor

Hoje está na moda dizer que uma obra literária é a) estabelece paralelo entre certos processos de
constituída mais a partir de outras obras, que a pre- criação literária para evidenciar o equívoco de
cederam, do que em função de estímulos diretos da acatar-se como plausível aquilo que, segundo
realidade, pessoal, social ou física. Deve haver boa sua compreensão, hoje está na moda dizer so-
dose de verdade nisso. Todas as vezes, dizia Proust1, bre uma obra literária.
que um grande artista nasce, é como se o mundo fos-
se criado de novo, porque nós começamos a enxergá- b) faz referência a determinada tendência literária
-lo conforme ele o mostra. como exemplo da superioridade de um momen-
to artístico sobre outro, que o antecedeu, levan-
Para o Naturalismo, a obra era essencialmen- do em conta o modo como os autores concebem
te uma transposição direta da realidade, como se a criação.
o escritor conseguisse ficar diante dela na situação
de puro sujeito em face do objeto puro, registrando c) mostra-se contrário ao entendimento de que
(teoricamente sem interferência de outro texto) as haja obras totalmente originais na contempora-
noções e impressões que iriam constituir seu próprio neidade, tal como existiam no momento literá-
texto. Essa estética repousa na utopia da originali- rio em que o escritor registrava fidedignamente
dade absoluta pela experiência imediata, que levava a realidade em que estava inserido.
o escritor a desconfiar da influência mediadora de
obras alheias. d) trata um específico ponto de vista acerca da
composição artística como um dos componen-
Mas nós sabemos que, embora filha do mundo, a tes de sua reflexão sobre a relação entre a obra
obra é um mundo, e que convém antes de tudo pes- de arte e o mundo, na qual apresenta possibili-
quisar nela mesma as razões que a sustêm como tal. dades de enfrentamento do tema e seus respec-
A sua razão específica é a disposição dos núcleos de tivos suportes.
significado, formando uma combinação singular, se-
gundo a qual a realidade do mundo foi reordenada, e) lança a hipótese de que uma mesma obra lite-
transformada, desfigurada ou até posta de lado, para rária pode ser interpretada de modos até an-
dar nascimento ao outro mundo que a obra constitui. tagônicos, sem que isso constitua falta de juízo
crítico, entendimento este que isenta Antonio
Ver criticamente a obra é escolher um dos mo- Candido de expressar sua visão pessoal sobre a
mentos do processo como plataforma de observação. maneira de defrontar-se com a criação artística.
Num extremo, é possível encará-la como uma dupli-
cação da realidade, de maneira que o trabalho imita-
tivo fique reduzido a um registro sem grandeza, pois
Questão 58 - (PUCCamp SP)
se era para fazer igual, por que não deixar a realida-
de em paz? Já no outro extremo é possível ver a obra Hoje está na moda dizer que uma obra literária é
como um objeto manufaturado com arbítrio sobera- constituída mais a partir de outras obras, que a pre-
no, que alcança significação na medida em que nada cederam, do que em função de estímulos diretos da
tem a ver com a realidade. Mas seria melhor a visão realidade, pessoal, social ou física. Deve haver boa
que pudesse rastrear na obra o mundo como mate- dose de verdade nisso. Todas as vezes, dizia Proust,
rial de origem, para surpreender no processo vivo da que um grande artista nasce, é como se o mundo fos-
montagem a singularidade da forma segundo a qual se criado de novo, porque nós começamos a enxergá-
se dá a ver um mundo novo. -lo conforme ele o mostra.
Obs.:1 Marcel Proust (1871-1922): romancista, en-
saísta e crítico literário francês, autor de Em Busca
do Tempo Perdido, publicada em sete volumes. Comenta-se com propriedade, considerado o pará-
grafo 1, acima transcrito, que o autor
(Adaptado de: CANDIDO, Antonio. O discurso e a
cidade.
Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2013, p. 107-108)
a) cita o que diz Proust valendo-se do discurso di-
reto, que, na ausência de palavra que anuncie a
fala, vem sinalizado somente por meio de recur-
sos gráficos.

b) atribui à coletividade um pensamento que ele


www.PROJETOREDACAO.com.br - 31
apresenta para ser refutado. 2. Em 2001, aos 59 anos, ele foi solto. Ao tentar se
adaptar à vida em sociedade, descobriu que não con-
c) lança uma suposição que propicia ao leitor liber- seguia reconhecer rostos, seguir rotas para ir a um
dade de avaliar a credibilidade de uma informa- lugar, e se tornou objeto de interesse da ciência: no
ção. ano passado, King foi convidado a contar sua história
no congresso da Sociedade Americana de Neurociên-
d) faz uso da conjunção conforme com o sentido de cia. O caso dele é notável, pois nunca um ser humano
“à medida que”. havia-se submetido a um período de isolamento tão
e) emprega a palavra Hoje, que, para remeter exa- longo e sobrevivido com lucidez para contar como
tamente ao dia em questão, exigirá do leitor foi. A solitária, geralmente, enlouquece suas vítimas
consulta à data indicada nas referências biblio- e há razões concretas para isso.
gráficas que acompanham o trecho.

3. O isolamento prolongado tem efeitos neurológi-


cos. Pode fazer muito mal. E não só para quem está
Questão 59 - (PUCCamp SP)
trancafiado numa cela. Você já deve ter-se sentido
Levando em conta o contexto em que está inserido, o solitário e sabe o quão desagradável isso é. A soli-
trecho adequadamente traduzido é: dão pode ser objetiva, ou seja, derivada de um isola-
mento real, ou subjetiva, numa sensação criada pela
mente (esse tipo de solidão se manifesta, por exem-
plo, quando nos sentimos sós, mesmo estando cerca-
a) (parágrafo 2) levava o escritor a desconfiar da in- dos de outras pessoas). Em ambos os casos, ela é um
fluência mediadora de obras alheias / fazia que alerta do organismo para que busquemos a compa-
o escritor não aceitasse que outros escritores se nhia de mais pessoas, e aumentemos, assim, nossa
impusessem como modelos de criação literária chance de sobrevivência. Isso era tão verdadeiro na
Pré-História, quanto é no mundo de hoje. A novidade
b) (parágrafo 3) combinação singular / organização é que, por motivos ainda não elucidados, a solidão
sem artificialismos parece estar aumentando, a ponto de se tornar uma
c) (parágrafo 3) foi reordenada (...) ou até posta de epidemia. Nos EUA, 76% das pessoas apresentam ní-
lado / foi redesenhada e, em último caso, posta veis moderados ou altos de solidão, segundo estudos
de lado da Universidade da Califórnia.

d) (parágrafo 4) objeto manufaturado com arbítrio


soberano / peça produzida com supremo des- 4. Na década de 1980, cada americano tinha em
respeito à lógica média 2,94 “amigos do peito”. Em 2011, a média na-
e) (parágrafo 4) plataforma de observação / ângulo cional caiu para 2,03 amigos próximos. Na Inglater-
do qual se fará a observação ra, 66% da população apresenta sintomas de solidão
crônica.

TEXTO: 24 - Comum à questão: 60


5. Não há números a respeito no Brasil, mas os indi-
A explosão da solidão cadores mais relevantes apontam na mesma direção.
Entre 2004 e 2014, o número anual de divórcio au-
mentou 250%. Entre 1991 e 2019, a quantidade de
pessoas que moram sozinhas subiu 340%.
1. Em 1973, o americano Robert King foi preso pela
terceira vez. A polícia o levou para a cadeia de Nova
Orleans, onde conheceu membros dos Panteras Ne-
gras: um grupo que misturava ativismo com violên- 6. Em suma, a solidão é onipresente e está cres-
cia. King se juntou a eles para exigir melhores condi- cendo. O problema é que ela pode matar. Solitários
ções carcerárias. Não conseguiu e foi transferido para têm 29% mais chances de sofrer de doenças cardía-
a Penitenciária Estadual da Louisiana. Ao chegar, foi cas; 32% mais risco de ter um AVC. E são 200% mais
colocado na solitária – na qual passaria os 29 anos se- propensos a desenvolver Alzheimer. Em mulheres
guintes. Foram três décadas absurdamente sozinho. solitárias, a reincidência de câncer de mama é 40%
King só podia sair da cela de 2x2,5m uma hora por maior, e a propensão à letalidade chega a 60%. Quem
dia (quando ficava isolado numa gaiola sem poder se já experimentou um grau elevado de solidão tem três
aproximar dos outros presos). vezes mais chances de cair em depressão. A solidão é
mais letal que a obesidade e o alcoolismo e consegue
ser tão nociva quanto o tabagismo.

32 - www.PROJETOREDACAO.com.br
7. De toda forma, segue aqui uma dica: pare e pense bruta. E arriscada. Eram meios desesperados para si-
nos sentimentos que você tem em comum com as tuações desesperadas.
outras pessoas. A começar por este: elas, assim como
você, estão se sentindo meio isoladas. Todo mundo
anda meio solitário – e, exatamente por isso, você
não está sozinho. A história da vacina começa com a varíola, uma
doença viral (hoje, erradicada), cujas epidemias ater-
(Revista Super Interessante, n. 407. Set. 2019. Adap- rorizaram gerações. As primeiras tentativas de pro-
tado). vocar, de propósito, versões mais brandas da doença,
para proteger indivíduos saudáveis, teriam ocorrido
ainda no século X, na Índia e na China. Já os métodos
que eles utilizavam... Bem, eram engenhosos, por um
Questão 60 - (FPS PE) lado, e bizarros, por outro.
A argumentação elaborada no texto tem como base
e como suporte, respectivamente:
[...]

a) a diferença entre tipos de solidão e a análise de


situações de retraimento. Ou seja, elas, as vacinas, tiveram um início gosmen-
to. Depois, salvaram o mundo. E agora contam com
b) dados impressionantes de uma narrativa e aná- a engenharia genética da ciência moderna para dar
lises de pesquisas científicas. seu próximo salto.
c) costumes da Pré-História e a opção moderna (Revista Super Interessante.
pela prática do isolamento. Edição 408, outubro, 2019. Adaptado).
d) a significação do termo „solidão‟ e suas conse-
quências letais para os humanos.
Questão 61 - (FPS PE)
e) lutas humanas por adaptação a situações novas
e resultados conseguidos. Em relação ao texto, uma observação que favorece
uma visão mais compreensiva da questão tratada,
relaciona-se:
TEXTO: 25 - Comum à questão: 61
A Saga das vacinas a) à caracterização da „varíola‟, como a mais an-
cestral epidemia.
A vacina é um daqueles heróis com um passado obs-
curo. Por ano, ela previne 3 milhões de morte ao re- b) ao enfoque científico que é dado à abordagem
dor do mundo, segundo a OMS, e oferece proteção social do tema em jogo.
para mais de 30 doenças. Poucos investimentos trou-
xeram um custo-benefício tão bom ao logo da histó- c) à explicitação irrestrita e totalizante a respeito
ria da humanidade: controle de epidemias, redução de todos os métodos de vacinação.
da mortalidade infantil, uma economia brutal para os
serviços de saúde. d) a omissão a contextos históricos em que tiveram
início os ensaios de vacinação.

e) à diversidade de enfoques na abordagem da


Acima de tudo, porém, a ciência da vacina chama a questão debatida.
atenção pela elegância. Se há uma novidade na mi-
crobiologia, existe alguém pensando em como usá-la
para criar uma vacina melhor – seja para doenças no-
vas, inéditas na carteira de vacinação, ou para aque- TEXTO: 26 - Comuns às questões: 62, 63
las cuja imunização poderia ter sido mais eficiente. Por que escrevemos?
Por essas, a vacina costuma ser o creme de la creme
das ciências da saúde. Mas nem sempre foi assim.

Não é fácil enumerar todos os motivos pelos quais


escrevemos. Tantos são eles. Na verdade, escreve-
A ideia da vacina existe há mais de mil anos. Mas, nos mos por muitas e muitas razões. Mas todos os mo-
seus primórdios, a vacinação era indubitavelmente tivos particulares pelos quais escrevemos podem ser
www.PROJETOREDACAO.com.br - 33
explicados por uma razão geral: escrevemos para re- aprender como se grafa certo, que palavras devem
solver problemas que a fala, a linguagem oral, não levar acento, o que é a crase etc.
consegue resolver. Podemos até dizer que o homem
inventou a escrita, há milhares de anos, quando só a
conversa não conseguia dar conta de todas as suas
necessidades. O fato é que a invenção deu certo. Tente por um se-
gundo imaginar o mundo sem palavras escritas. Dá
para imaginar, mas seria um outro mundo, diferente
do nosso sob muitos aspectos.
Começava – naquele momento genial em que um
antepassado nosso resolveu “desenhar” algum sinal (Faraco, Carlos Alberto; Tezza, Cristóvão. Oficina de Texto.
na pedra para representar uma ideia ou um som –, Petrópolis: Vozes, 2003, 9-11. Adaptado).
uma viagem de séculos que haveria de mudar com-
pletamente a face da vida humana, para o bem ou
para o mal. A escrita já nasceu com mil utilidades:
Questão 62 - (FPS PE)
anotar as encomendas de compra e venda dos po-
vos comerciantes, registrar os fatos que aconteciam Analisando as informações do texto, podemos che-
e inventar outros que explicassem o que acontecia, gar à conclusão de que:
escrever palavras sagradas para representar deuses
e reis, filosofar sobre a vida e o mundo e, é claro,
mandar recados! Nas guerras entre os povos antigos,
por exemplo, tão importante quanto as armas, era o 1. nas narrativas da invenção da escrita, não exis-
sistema de comunicação entre os exércitos com os tem registros de sua inclusão entre procedimen-
mensageiros trazendo e levando cartas dos generais. tos de natureza bélicos.

2. a privação da escrita, seja pelo analfabetismo


seja por outra limitação, cria situações de de-
A invenção da escrita foi um sucesso absoluto: veio pendência social.
para ficar e se espalhar pelo mundo e foi uma arma
poderosíssima nas mãos dos povos que a domina- 3. a utilização da escrita começou e acabou por ser
vam, de tal forma que, hoje, os povos que não dis- eclética e servir de suporte à plurifuncionalida-
põem dela dependem da escrita dos outros para so- de da linguagem.
breviverem. E, mesmo dentro de países civilizados,
o cidadão que não sabe escrever também depende 4. a democratização da escrita constitui fator da
dos que sabem. produção de riquezas, embora ainda esteja pre-
sa às prescrições da grafia oficial.

5. a invenção da escrita responde a diversos obje-


O domínio da escrita é tão importante que, durante tivos interacionais, embora, historicamente, te-
séculos, só se permitia que uma pequeníssima par- nha sido objeto de discriminação social.
cela da sociedade aprendesse a ler e a escrever. Es-
crever era uma questão social, política ou religiosa:
só pessoas de determinadas classes ou castas tinham
Estão corretas:
esse direito, exercido sempre sob estrito controle.
Não só não era qualquer um que escrevia, como os
que escreviam não podiam escrever qualquer coisa.
Mesmo depois da invenção da imprensa, por Gutem- a) 2, 3, 4 e 5, apenas
berg, já no fim da Idade Média, que popularizou ex-
traordinariamente os livros (antes escritos a mão), a b) 1, 3 e 4, apenas
escrita continuava restrita a uma pequena faixa da
população, enquanto a vigilância sobre o que se es- c) 2, 4 e 5, apenas
crevia aumentava. d) 1, 2 e 5, apenas

e) 1, 2, 3, 4 e 5.
Porém, nenhuma vigilância conseguiu segurar a
popularidade da escrita, de modo que, hoje, a sua
absoluta democratização é exigência fundamental Questão 63 - (FPS PE)
da sobrevivência dos valores – e da produção de ri-
quezas – da civilização. Apesar de tudo, continuamos No fragmento do texto: “a escrita continuava restrita
“vigiados”. O nosso criativo inventor que esculpiu a uma pequena faixa da população”, fica evidente a
a primeira letra na pedra, hoje, teria de ir à escola, demonstração:

34 - www.PROJETOREDACAO.com.br
a) de elevação da cultura da época. gar três vezes por semana e podem ficar 24
até três
horas jogando sem parar.
b) de valorização da oralidade.
(Texto extraído de https://revistagalileu.globo.com/
c) de um preconceito linguístico. Sociedade/noticia/2019/07/adultos-jogammais-
videogame-do-que-adolescentes-no-brasil.html,
d) de convencionalismos científicos. Acesso: 10/09/2019)
e) da homogeneidade da população.

Questão 64 - (IFSC)
TEXTO: 27 - Comuns às questões: 64, 65 Leia as seguintes afirmações com relação ao texto:
Adultos jogam mais videogame do que adolescen-
tes no Brasil
I. Textos informativos como esse buscam a neutra-
lidade dos dados apresentados em suas maté-
E as mulheres são maioria: 53% do público fã de rias através do uso de uma linguagem mais pes-
jogos eletrônicos é do sexo feminino, segundo levan- soal e rebuscada.
tamento nacional II. O título apresentado resume a informação mais
relevante do texto.

Pare e pense em alguém que curte videogame.


1 III. Os dados estatísticos apresentados embasam a
Provavelmente, você 2 imaginou um homem jovem, informação transmitida pelo texto.
certo? Bem, talvez esteja na hora de rever essa 3 ima-
gem. De acordo com a Pesquisa Games Brasil 2019,
os brasileiros fãs de 4 joguinhos eletrônicos são adul- Considerando cada afirmação acima, assinale a alter-
tos e, a maioria, mulheres. nativa que apresenta as afirmações CORRETAS:
A sexta edição do levantamento – conduzido
5

pelas instituições Sioux Group, 6 Go Gamers, Blend e


ESPM – aponta que as mulheres compõem 53% dos a) Apenas a afirmação II.
gamers 7 no país. E a faixa etária predominante, tan-
to entre elas quanto entre eles, não são 8 adolescen- b) Apenas a afirmação III.
tes: os jogadores convictos têm entre 25 e 54 anos.
A maioria, inclusive, 9 está à frente de uma família: c) Afirmações II e III.
35% moram com os filhos e o cônjuge; aqueles que 10 d) Nenhuma das afirmações.
declararam morar com os pais são 27%.
e) Todas as afirmações.
O celular é a plataforma favorita dos 3.251
11

brasileiros entrevistados: 83% 12 costumam jogar di-


retamente pelo smartphone. Os consoles vêm em
segundo lugar 13 – 48,5% disseram que preferem vi- Questão 65 - (IFSC)
deogames como PlayStation e Xbox.
Nas referências 1 e 2 do texto, o autor faz a seguinte
Para 89% dos participantes da pesquisa, os jo-
14
pergunta: Provavelmente, você imaginou um homem
guinhos são um método de 15 relaxamento, algo que jovem, certo?
fazem quando estão em casa. Somente 4,7% jogam
quando 16 estão no trânsito ou no transporte público.

A cada 10 jogadores, apenas três se consideram


17 O autor faz essa pergunta ao leitor porque…
gamers hardcore: eles 18 podem até não jogar todos
os dias, mas estão sempre por dentro dos lançamen-
tos, 19 preferem partidas mais longas, gostam de jo- a) imagina que o leitor tenha uma imagem correta
gar em consoles e gastam mais de R$ 20 1.000 por ano do tipo de jogador de games.
com games.
b) deduz qual a provável imagem que o leitor do
21
A maior parte dos voluntários é de gamers casuais. texto tem do perfil de jogador.
Embora não se interessem tanto 22 pelos avanços tec-
nológicos nem gastem dinheiro com isso, dedicam c) não faz ideia do tipo de imagem que o leitor pos-
bastante 23 tempo para essa atividade: costumam jo- sa ter sobre o perfil de jogador.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 35
d) deduz que o leitor não seja capaz de imaginar é deixar os escritores falando 30 sozinhos, exercendo
como seria um jogador de games. sozinhos a sua profissão malsã, o seu vício solitário.
Você 31 ainda está lendo. Você é pior do que eu, leitor.
e) pretende instigar o leitor a não mudar o seu Você tinha escolha.
ponto de vista quanto ao perfil de jogador de
games massivos no Brasil. 32
Sozinhos. Os velhos sozinhos na casa. Os dois
vão para a cama. Quando o 33 velho dorme, a velha
liga o gravador. Mas em poucos minutos a velha tam-
bém 34 dorme. O gravador fica ligado, gravando. Pou-
TEXTO: 28 - Comum à questão: 66 co depois a fita acaba.
Sozinhos 35
Na manhã seguinte, certa do seu triunfo, a ve-
lha roda a fita. Ouvem-se 36 alguns minutos de silên-
cio. Depois, alguém roncando.
1
Esta ideia para um conto de terror é tão terrível 37
— Rarrá! – diz a velha, feliz.
que, logo depois de tê-la, 2 me arrependi. Mas já es-
tava tida, não adiantava mais. Você, leitor, no entan- 38
Pouco depois ouve-se o ronco de outra pessoa,
to, tem 3 uma escolha. Pode parar aqui, e se poupar, a velha também ronca!
ou ler até o fim e provavelmente 4 nunca mais dor-
mir. Vejo que decidiu continuar. Muito bem, vamos 39
— Rarrá! – diz o velho, vingativo.
em frente. 5 Talvez, posta no papel, a ideia perca um
pouco do seu poder de susto. Mas não 6 posso garan- 40
E em seguida, por cima do contraponto de ron-
tir nada. É assim: cos, ouve-se um sussurro. 41 Uma voz sussurrando,
leitor. Uma voz indefinida. Pode ser de homem, de
7
Um casal de velhos mora sozinho numa casa. Já mulher 42 ou de criança. A princípio – por causa dos
criaram os filhos, os netos 8 já estão grandes, só lhes roncos – não se distingue o que ela diz. 43 Mas aos
resta implicar um com o outro. Retomam com novo poucos as palavras vão ficando claras. São duas vo-
9
fervor uma discussão antiga. Ela diz que ele ronca zes.
quando dorme, ele diz que é 10 mentira.
44
É um diálogo sussurrado.
11
— Ronca.
45
“Estão prontos?”
12
— Não ronco.
46
“Não, acho que ainda não…”
— Ele diz que não ronca – comenta ela, impa-
13

ciente, como se falasse com 14 uma terceira pessoa. 47


“Então vamos voltar amanhã…”

Mas não existe outra pessoa na casa. Os filhos


15 Verissimo. Luis Fernando. Comédias para se ler na
raramente visitam. Os netos, 16 nunca. A emprega- escola.Disponível em:
da vem de manhã, faz o almoço, deixa o jantar e sai
cedo. http://files.jornalagito.webnode.com.br/
200000103-7b0077b18a/
17
Ficam os dois sozinhos. Comedias%20pra%20ler%20na%20escola.pdf
18
— Eu devia gravar os seus roncos, pra você se Acesso em 26/09/2019.
convencer – diz ela. E em 19 seguida tem a ideia infe-
liz. – É o que eu vou fazer! Esta noite, quando você
dormir, 20 vou ligar o gravador e gravar os seus roncos.
Questão 66 - (IFSC)
21
— Humrfm – diz o velho.
Sobre o texto, assinale a alternativa CORRETA:
22
Você, leitor, já deve estar sentindo o que vai
acontecer. Pare de ler, leitor. 23 Eu não posso parar
de escrever. As ideias não podem ser desperdiçadas, a) O autor se arrepende da ideia do conto, porque
mesmo 24 que nos custem amigos, a vida ou o sono. era algo terrível, mas como já a havia pensado,
Imagine se Shakespeare tivesse se 25 horrorizado com não poderia voltar atrás, assim como seu leitor.
suas próprias ideias e deixado de escrevê-las, por
puro 26 comedimento. Não que eu queira me com- b) O título não se justifica, pois havia uma empre-
parar a Shakespeare. Shakespeare era 27 bem mais gada na casa.
magro. Tenho que exercer este ofício, esta danação.
Você, no entanto, 28 não é obrigado a me acompa- c) A tensão da narrativa se dá quando a velha se
nhar, leitor. Vá passear, vá tomar um sol. Uma das 29 sente frustrada ao ouvir o que há no gravador.
maneiras de controlar a demência solta no mundo
36 - www.PROJETOREDACAO.com.br
d) O termo “sozinho(s)” também se aplicaria ao responsáveis legais, entre agosto 25 de 2018 e junho
autor do texto, pois ele considera sua profissão deste ano.
solitária.
26
Quase 400 deles chegaram à cidade de Pacarai-
e) No diálogo sussurrado, não se distinguem as vo- ma totalmente 27 desacompanhados, segundo dados
zes. inéditos obtidos pela BBC News Brasil junto à 28 De-
fensoria Pública da União.
29
[...]
TEXTO: 29 - Comuns às questões: 67, 68
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/
O drama de Juan e das centenas de crianças ve- brasil-49566807.
nezuelanas
que cruzam sozinhas a fronteira com o Brasil Acesso em: 13 de setembro de 2019. (Texto adapta-
do).

Nathalia Passarinho - BBC News Brasil em Londres


Questão 67 - (IFSC)
09 de setembro de 2019
Em relação ao que diz o texto, assinale a alternativa
CORRETA:
1
[...]

Juan foi encontrado vagando pelas ruas de Paca-


2
a) Uma conselheira venezuelana no Brasil reco-
raima, após cruzar a 3 fronteira “sozinho e faminto”, nheceu Juan, e por isso ele foi encaminhado ao
segundo relatório da equipe que atendeu a criança. país de origem.
4
Um senhor venezuelano o resgatou, deu abrigo e
comida por uma noite e levou o 5 menino ao centro b) Segundo a Defensoria Pública da União, um pou-
de triagem, onde defensores públicos da União en- co mais da metade das crianças e adolescentes
trevistam e 6 analisam cada caso de criança e adoles- que fugiram para o Brasil vieram sozinhas.
cente que chega ao Brasil.
c) Juan voltou à Venezuela após uma primeira e
Encaminhado depois ao Conselho Tutelar de Pa-
7
uma segunda vindas ao Brasil.
caraima, o menino foi 8 reconhecido por uma conse-
lheira que confirmou que ele tentava migrar sozinho d) Sinais de maus tratos, como marcas no corpo,
9
para o Brasil pela segunda vez, “pedindo ajuda para fizeram com que se decidisse pela permanência
fugir dos maus-tratos dos 10 pais”. de Juan no Brasil.

Na primeira tentativa, foi devolvido à Venezue-


11 e) O texto mostra claramente que a legislação bra-
la e encaminhado ao 12 Conselho Tutelar da cidade sileira para crianças e adolescentes é melhor do
de Santa Elena, após os conselheiros venezuelanos que a da venezuelana.
13
garantirem às autoridades brasileiras que ele seria
encaminhado para um abrigo.
14
Pelo visto, foi devolvido aos pais e à vida na rua. Questão 68 - (IFSC)

“Observa-se inúmeras marcas no corpo da


15 Qual das afirmações abaixo melhor explica a opinião
criança e ele afirma que são 16 todas causadas pelas conclusiva da repórter:
agressões físicas cometidas por seus pais”, diz o rela-
tório 17 do comitê de triagem a que a BBC News Brasil
teve acesso. “Pelo visto, foi devolvido aos pais e à vida na rua”.
Para impedir que o menino fosse entregue no-
18

vamente aos pais, os 19 defensores federais o encami-


nharam para uma casa de acolhimento de crianças e Essa opinião se explica:
20
adolescentes na capital de Roraima, “para que seja
cuidado pela legislação 21 brasileira”.

Juan é uma das 1.896 crianças e adolescentes


22 a) Porque Juan voltou ao Brasil sozinho reclaman-
que, para fugir da violência 23 e da miséria na Ve- do da vida difícil na rua.
nezuela, cruzaram a fronteira até o Brasil sozinhos
ou 24 acompanhados de pessoas que não são seus b) Porque Juan voltou ao Brasil, após garantias das

www.PROJETOREDACAO.com.br - 37
autoridades daquele país que ele iria para um nas, – estando Crispim Soares ocupado 7 em tempe-
abrigo. rar um medicamento, vieram dizer-lhe que o alienista
o mandava chamar.
c) Porque o relatório do comitê de triagem relata
que o menino voltou às ruas, na Venezuela. 8
– Tratava-se de negócio importante, segundo ele
me disse, acrescentou o portador.
d) Porque ele foi encaminhado a uma casa de aco-
lhimento de crianças e adolescentes na cidade 9
Crispim empalideceu. Que negócio importan-
de Santa Elena, em Roraima. te podia ser, se não alguma notícia da 10 comitiva, e
especialmente da mulher? Porque este tópico deve
e) Porque ele está entre as 1.896 crianças e ado- ficar claramente definido, visto 11 insistirem nele os
lescentes que entraram no Brasil, por diversas cronistas; Crispim amava a mulher, e, desde trinta
vezes, para fugir da polícia daquele país. anos, nunca estiveram 12 separados um só dia. Assim
se explicam os monólogos que fazia agora, e que os
fâmulos lhe 13 ouviam muita vez: – “Anda, bem feito,
quem te mandou consentir na viagem de Cesária? 14
TEXTO: 30 - Comuns às questões: 69, 70, 71, 72, 73
Bajulador, torpe bajulador! Só para adular ao Dr Ba-
A primeira publicação do conto O Alienista, de camarte. Pois agora aguenta-te; anda; 15 aguenta-te,
Machado de Assis, ocorreu como folhetim na revis- alma de lacaio, fracalhão, vil, miserável. Dizes amém
ta carioca A Estação, entre os anos de 1881 e 1882. a tudo, não é? Aí tens o 16 lucro, biltre!”. – E muitos
Nessa mesma época, uma grande reforma educacio- outros nomes feios, que um homem não deve dizer
nal efetuou-se no Brasil, criando, dentre outras, a ca- aos outros, 17 quanto mais a si mesmo. Daqui a imagi-
deira de Clínica Psiquiátrica. É nesse contexto de uma nar o efeito do recado é um nada. Tão depressa ele o
psiquiatria ainda embrionária que Machado propõe
18
recebeu como abriu mão das drogas e voou à Casa
sua crítica ácida, reveladora da escassez de conhe- Verde.
cimento científico e da abundância de vaidades, 19
Simão Bacamarte recebeu-o com a alegria pró-
concomitantemente. A obra deixa ver as relações
pria de um sábio, uma alegria abotoada 20 de circuns-
promíscuas entre o poder médico que se pretendia
peção até o pescoço.
baluarte da ciência e o poder político tal como era
exercido em Itaguaí, então uma vila, distante apenas 21
— Estou muito contente, disse ele.
alguns quilômetros da capital Rio de Janeiro. O con-
to se desenvolve em treze breves capítulos, ao longo 22
— Notícias do nosso povo?, perguntou o boticá-
dos quais o alienista vai fazendo suas experimenta- rio com a voz trêmula.
ções cientificistas até que ele mesmo conclua pela
necessidade de seu isolamento, visto que reconhece 23
O alienista fez um gesto magnífico, e respondeu:
em si mesmo a única pessoa cujas faculdades men-
tais encontram-se equilibradas, sendo ele, portanto,
24
— Trata-se de coisa mais alta, trata-se de uma
aquele que destoa dos demais, devendo, por isso, experiência científica. Digo experiência, 25 porque
alienar-se. não me atrevo a assegurar desde já a minha ideia;
nem a ciência é outra coisa, Sr. 26 Soares, senão uma
investigação constante. Trata-se, pois, de uma expe-
riência, mas uma 27 experiência que vai mudar a face
Texto 1 da terra. A loucura, objeto dos meus estudos, era até
agora 28 uma ilha perdida no oceano da razão; come-
ço a suspeitar que é um continente.
Capítulo IV 29
Disse isto, e calou-se, para ruminar o pasmo do
boticário. Depois explicou 30 compridamente a sua
UMA TEORIA NOVA
ideia. No conceito dele a insânia abrangia uma vas-
ta superfície de 31 cérebros; e desenvolveu isto com
grande cópia de raciocínios, de textos, de exemplos.
1
Ao passo que D. Evarista, em lágrimas, vinha Os 32 exemplos achou-os na história e em Itaguaí
buscando o Rio de Janeiro, Simão 2 Bacamarte estu- mas, como um raro espírito que era, reconheceu o 33
dava por todos os lados uma certa ideia arrojada e perigo de citar todos os casos de Itaguaí e refugiou-
nova, própria a alargar as 3 bases da psicologia. Todo -se na história. Assim, apontou com 34 especialidade
o tempo que lhe sobrava dos cuidados da Casa Verde alguns célebres, Sócrates, que tinha um demônio fa-
era pouco 4 para andar na rua, ou de casa em casa, miliar, Pascal, que via um 35 abismo à esquerda, Mao-
conversando as gentes, sobre trinta mil assuntos, e 5 mé, Caracala, Domiciano, Calígula etc., uma enfiada
virgulando as falas de um olhar que metia medo aos de casos e 36 pessoas, em que de mistura vinham en-
mais heroicos. tidades odiosas, e entidades ridículas. E porque o 37
boticário se admirasse de uma tal promiscuidade, o
6
Um dia de manhã, – eram passadas três sema-
38 - www.PROJETOREDACAO.com.br
alienista disse-lhe que era tudo a mesma 38
coisa, e loucura. A razão é o perfeito equilíbrio de todas as
até acrescentou sentenciosamente: faculdades; fora daí insânia, 70 insânia e só insânia.
39
— A ferocidade, Sr. Soares, é o grotesco a sério. O Vigário Lopes, a quem ele confiou a nova
71

teoria, declarou lisamente que não 72 chegava a en-


40
— Gracioso, muito gracioso!, exclamou Crispim tendê-la, que era uma obra absurda, e, se não era
Soares levantando as mãos ao céu. absurda, era de tal modo 73 colossal que não merecia
princípio de execução.
41
Quanto à ideia de ampliar o território da loucu-
ra, achou-a o boticário extravagante; mas 42 a modés- — Com a definição atual, que é a de todos os
74

tia, principal adorno de seu espírito, não lhe sofreu tempos, acrescentou, a loucura e a razão 75 estão per-
confessar outra coisa além de um 43 nobre entusias- feitamente delimitadas. Sabe-se onde uma acaba e
mo; declarou-a sublime e verdadeira, e acrescentou onde a outra começa. Para que 76 transpor a cerca?
que era “caso de matraca”. 44 Esta expressão não tem
equivalente no estilo moderno. Naquele tempo, Ita- Sobre o lábio fino e discreto do alienista roçou
77

guaí, que como as 45 demais vilas, arraiais e povoa- a vaga sombra de uma intenção de riso, 78 em que o
ções da colônia, não dispunha de imprensa, tinha desdém vinha casado à comiseração; mas nenhuma
dois modos de 46 divulgar uma notícia: ou por meio palavra saiu de suas egrégias 79 entranhas.
de cartazes manuscritos e pregados na porta da Câ-
mara, e 47 da matriz; – ou por meio de matraca. A ciência contentou-se em estender a mão à
80

teologia, – com tal segurança, que a 81 teologia não


48
Eis em que consistia este segundo uso. Contra- soube enfim se devia crer em si ou na outra. Itaguaí e
tava-se um homem, por um ou mais 49 dias, para an- o universo à beira de uma 82 revolução.
dar as ruas do povoado, com uma matraca na mão.
ASSIS, Machado de. O Alienista. Biblioteca Vir-
50
De quando em quando tocava a matraca, reu- tual do Estudante Brasileiro / USP. Disponível em:
nia-se gente, e ele anunciava o que lhe 51 incumbiam, <http://
– um remédio para sezões, umas terras lavradias, um
soneto, um donativo 52 eclesiástico, a melhor tesoura www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObra-
da vila, o mais belo discurso do ano etc. O sistema Form.do?select_action=&co_obra=1939>. Acesso
tinha 53 inconvenientes para a paz pública; mas era em:
conservado pela grande energia de divulgação 54 que
possuía. Por exemplo, um dos vereadores, – aquele 12/08/2019.
justamente que mais se opusera à 55 criação da Casa
Verde, – desfrutava a reputação de perfeito educa-
dor de cobras e macacos, e 56 aliás nunca domesticara O soneto XIII de Via-Láctea, coleção publicada em
um só desses bichos; mas, tinha o cuidado de fazer 1888 no livro Poesias, é o texto mais famoso da anto-
trabalhar a 57 matraca todos os meses. E dizem as logia, obra de estreia do poeta Olavo Bilac. O texto,
crônicas que algumas pessoas afirmavam ter visto 58 cuidadosamente ritmado, suas rimas e a escolha da
cascavéis dançando no peito do vereador; afirmação forma fixa revelam rigor formal e estilístico caros ao
perfeitamente falsa, mas só devida à 59 absoluta con- movimento parnasiano; o tema do poema, no entan-
fiança no sistema. Verdade, verdade, nem todas as to, entra em colisão com o tema da literatura típica
instituições do antigo regime 60 mereciam o desprezo do movimento, tal como concebido no continente
do nosso século. europeu.
61
— Há melhor do que anunciar a minha ideia,
é praticá-la, respondeu o alienista à 62 insinuação do
boticário. Texto 2
63
E o boticário, não divergindo sensivelmente
deste modo de ver, disse-lhe que sim, que 64 era me-
lhor começar pela execução. XIII

65
— Sempre haverá tempo de a dar à matraca,
concluiu ele.
1 “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
66
Simão Bacamarte refletiu ainda um instante, e
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
disse:
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
67
— Suponho o espírito humano uma vasta con-
cha, o meu fim, Sr. Soares, é ver se posso 68 extrair E abro as janelas, pálido de espanto…
a pérola, que é a razão; por outros termos, demar-
quemos definitivamente os limites da 69 razão e da
www.PROJETOREDACAO.com.br - 39
5 E conversamos toda a noite, enquanto ma segura e confiável de comunicação segundo
a percepção da população da cidade de Itaguaí.
A Via-láctea, como um pálio aberto,
III. A frase “Verdade, verdade, nem todas as insti-
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, tuições do antigo regime mereciam o desprezo
do nosso século.’’ (Refs. 59 e 60) exprime a con-
Inda as procuro pelo céu deserto. cordância implícita do narrador com o menos-
prezo pelo uso da matraca.

Direis agora: “Tresloucado amigo!

10 Que conversas com elas? Que sentido Em relação às afirmações, está(ão) correta(s):

Tem o que dizem, quando estão contigo?”


a) apenas a afirmação I.

Direis agora: “Tresloucado amigo! b) apenas a afirmação II.

Que conversas com elas? Que sentido c) apenas as afirmações I e III.

Tem o que dizem, quando estão contigo?” d) apenas as afirmações II e III.

BILAC, Olavo. Antologia: Poesias. Martin Claret, e) todas as afirmações estão corretas.
2002. p. 37-55. Via-Láctea.
Disponível em: <http://www. dominiopublico.gov.
br/download/texto/bv000289.pdf>. Questão 70 - (IME RJ)
Acesso em: 19/08/2019. “Os exemplos achou-os na história e em Itaguaí mas,
como um raro espírito que era, reconheceu o perigo
de citar todos os casos de Itaguaí e refugiou-se na
Questão 69 - (IME RJ) história. Assim, apontou com especialidade alguns
célebres, Sócrates, que tinha um demônio familiar,
“Contratava-se um homem, por um ou mais dias, Pascal, que via um abismo à esquerda, Maomé, Ca-
para andar as ruas do povoado, com uma matraca racala, Domiciano, Calígula etc., uma enfiada de ca-
na mão. sos e pessoas, em que de mistura vinham entidades
odiosas, e entidades ridículas.” (Texto 1, Refs. 31 a
[...] um dos vereadores [...] desfrutava a reputação 36)
de perfeito educador de cobras e macacos, e aliás,
nunca domesticara um desses bichos; mas tinha o
cuidado de fazer trabalhar a matraca todos os meses.
E dizem as crônicas que algumas pessoas afirmavam O adjetivo “raro”, destacado no texto acima,
ter visto cascavéis dançando no peito do vereador;
afirmação perfeitamente falsa, mas só devido à ab-
soluta confiança no sistema. Verdade, verdade, nem a) expressa a atitude de benevolência que é atri-
todas as instituições do antigo regime mereciam o buída a Simão Bacamarte pelo narrador.
desprezo do nosso século.” (Texto 1, Refs. 48 a 60)
b) revela a atitude de imodéstia que é atribuída a
Simão Bacamarte pelo narrador.
Considerando o trecho acima, analise as seguintes c) exprime a atitude de humildade que é atribuída
afirmações: a Simão Bacamarte pelo narrador.

d) remete à atitude de generosidade que é atribuí-


da a Simão Bacamarte pelo narrador.
I. O trecho “E dizem as crônicas que algumas pes-
soas afirmavam ter visto cascavéis dançando e) estabelece a atitude de ganância que é atribuída
no peito do vereador;’’ (Refs. 57 e 58) produz a Simão Bacamarte pelo narrador.
o efeito do humor por descrever uma situação
absurda, que, no entanto, foi considerada pelas
pessoas como verdadeira.

II. No texto, a matraca foi retratada como uma for-

40 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 71 - (IME RJ) Questão 73 - (IME RJ)
“Crispim empalideceu. Que negócio importante po- É correto afirmar que a ideia principal do Texto 2
dia ser, se não alguma notícia da comitiva, e especial-
mente da mulher? Porque este tópico deve ficar cla-
ramente definido, visto insistirem nele os cronistas;”
(Texto 1, Refs. 9 a 11) a) sustenta que a atividade poética é a única forma
de realizar uma compreensão subjetiva do mun-
do e da existência.

A oração “visto insistirem nele os cronistas’’ b) expressa a concepção segundo a qual o senti-
mento amoroso pode ensejar uma atitude de
contemplação e êxtase diante da realidade.

a) evidencia que o narrador inventou completa- c) constrói um diálogo hipotético entre o poeta e
mente a história do alienista. alguém para evidenciar uma forma religiosa de
experiência pessoal.
b) indica que o autor, Machado de Assis, baseou-se
em cronistas da época para elaborar o conto O d) revela a atitude de sagacidade e de lucidez ne-
Alienista. cessárias ao fazer poético.

c) anuncia que os temores de Crispim foram abor- e) exprime o ponto de vista de valorização do bom
dados de forma superficial pelos cronistas. senso próprio da vida cotidiana.

d) mostra que o narrador do conto se baseou nas


crônicas da cidade de Itaguaí para contar a his-
tória de Simão Bacamarte. TEXTO: 31 - Comum à questão: 74

e) revela que o conto O Alienista se encontra nas 01


Mesmo que o homem conseguisse construir um
crônicas de época de Itaguaí. computador que 02 fizesse tudo o que é normalmen-
te atribuído a processos mentais 03 quando feito pelo
homem, isso não implicaria que o homem nada 04
mais é do que uma máquina. Sem o programa cor-
Questão 72 - (IME RJ) respondente 05 um computador nada pode fazer em
relação à linguagem. É o 06 programa, e não as fer-
Dentre as afirmações abaixo, assinale a que é falsa ragens, que é responsável pela habilidade do 07 com-
em relação ao Texto 2. putador de simular um comportamento inteligente.
Há aqueles 08 que sustentariam que o programa está
para o computador como a 09 mente está para o cé-
a) Há uma nítida despreocupação quanto à perda rebro, e que considerando o cérebro humano 10 vivo
de razão por parte da voz poética que, inclusive, como um computador programado, de finalidades
abre as janelas para melhor “conversar com as especiais, 11 podemos contornar, se não resolver, o
estrelas”. problema tradicional mentecorpo. 12 Seja como for,
temos que enfatizar que a inteligência artificial 13 é
b) É possível falar em um movimento argumenta- em si neutra e não agride nem a dignidade humana
tivo no soneto que se desenvolve em forma de nem a liberdade 14 da vontade.
diálogo com um hipotético interlocutor e con-
clui que só os que amam são capazes de realizar
15
Muito da importância que damos à ciência cog-
a proeza descrita. nitiva e à inteligência 16 artificial dependerá de nossa
atitude face ao papel explanatório dos 17 modelos em
c) A luz do dia é recebida com tristeza pela voz poé- ciência natural e social. Qualquer sucesso obtido na 18
tica, o que deixa ver a valorização da capacidade simulação do processamento linguístico por compu-
de entender as estrelas e, consequentemente, tador tende a 19 aumentar a nossa compreensão da
seu apreço pelo estado de enamoramento. linguagem e da mente. Não é 20 certo, no entanto, se
um dia será possível simular por computador 21 todos
d) São versos que se eternizam pelo tema escolhi- os processos mentais envolvidos na produção e com-
do, o amor, mote universal e atemporal. preensão 22 da linguagem.
e) A invisibilidade do ser amado, que sequer é no- Adaptado de John Lyons, em Lingua(gem) e Linguís-
meado, tampouco caracterizado fisicamente, é tica, 1981.
uma das características mais marcantes do mo-
vimento romântico, ao qual o soneto está filia-
do, de acordo com a periodização literária.

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Questão 74 - (Mackenzie SP) conteúdo do próprio 12 sonho. [...]

Depreende-se corretamente do texto que: 13


Durante toda a discussão da teoria das fontes so-
máticas dos sonhos que apresentei 14 anteriormente,
abstive-me de usar o argumento baseado em minha
análise dos sonhos. Se ele puder ser 15 confirmado,
a) num futuro próximo será possível observar com- através de um procedimento não empregado por ou-
putadores se comportando exatamente como tros autores em seu material onírico, que 16 os sonhos
os humanos. possuem um valor próprio como atos psíquicos, o de
b) os estudos sobre linguagem artificial podem que os desejos são o motivo de sua 17 concentração e
auxiliar a humanidade na resolução de várias que as experiências do dia anterior fornecem o ma-
questões e também contribuir para que saiba- terial imediato para seu conteúdo, 18 qualquer outra
mos mais sobre a própria linguagem e a mente teoria dos sonhos que despreze um procedimento de
humana. pesquisa tão importante e que, por 19 conseguinte,
considere os sonhos como uma reação psíquica inútil
c) os processos mentais são em tudo equivalentes e enigmática a estímulos somáticos 20 estará conde-
aos procedimentos lógicos que operam na lin- nada, sem necessidade maior de críticas específicas.
guagem artificial e na programação dos compu- De outra forma – e isso parece 21 bastante imprová-
tadores. vel – teria de haver duas espécies bem diferentes de
sonhos, um das quais só eu pude 22 observar, e outra
d) o desenvolvimento das linguagens artificiais que só pôde ser percebida pelos autores mais anti-
fará com que num futuro próximo as atividades gos. Resta apenas, portanto, 23 encontrar em minha
humanas poderão ser realizadas de forma inde- teoria dos sonhos um lugar para os fatos em que se
pendente pelas máquinas, sem qualquer rela- baseia a atual teoria da 24 estimulação somática dos
ção com um programador humano. sonhos.

e) os computadores podem ser o dispositivo que 25


Já demos o primeiro passo nessa direção ao propor
num futuro próximo evidencie para toda a hu- a tese de que o trabalho do sonho está sujeito 26 à exi-
manidade a essência do homem apenas como gência de combinar em uma unidade os estímulos ao
uma máquina. sonhar que estiverem simultaneamente em 27 ação.
Verificamos que, quando duas ou mais experiências
capazes de criar uma impressão são deixadas 28 pelo
dia anterior, os desejos delas derivados se combinam
TEXTO: 32 - Comum à questão: 75 num único sonho, e, de modo similar, que a 29 impres-
são psiquicamente significativa e as experiências irre-
As fontes somáticas dos sonhos
levantes da véspera são reunidas no material 30 oníri-
co, sempre desde que seja possível estabelecer entre
elas representações comunicantes. Assim, o 31 sonho
1
Apesar de haver objeções em contrário, é forçoso parece ser uma reação a tudo o que está simultanea-
admitir que o papel desempenhado na 2 causação mente presente na mente adormecida como 32 mate-
dos sonhos pelas excitações sensoriais objetivas du- rial correntemente ativo. Até onde analisamos o ma-
rante o sono permanece indiscutível. E se, 3 por sua terial dos sonhos, vimo-lo como uma coletânea de 33
natureza e frequência, esses estímulos parecem in- resíduos psíquicos e traços mnêmicos, à qual (em vir-
suficientes para explicar todas as imagens 4 oníricas, tude da preferência mostrada por material recente e
somos incentivados a buscar outras fontes de sonhos 34
infantil) fomos levados a atribuir uma qualidade até
análogas a eles em seu funcionamento. aqui indefinível de ser “correntemente ativo”. Pode-
mos 35 por isso antever, sem grandes dificuldades, o
5
Também a influência dos estímulos somáticos or- que acontecerá se um material nosso, sob a forma de
gânicos sobre a formação dos sonhos é quase 6 uni- 36
sensações, for acrescentado durante o sono a essas
versalmente aceita hoje em dia; mas a questão das lembranças correntemente ativas. É também graças
leis que regem a relação entre eles é respondida 7 37
ao fato de serem correntemente ativas que essas
das mais diversas maneiras, e muitas vezes por afir- excitações sensoriais são importantes para o sonho;
mações obscuras. Com base na teoria da estimulação 38
elas se unem ao outro material psíquico corrente-
8
somática, a interpretação dos sonhos defronta-se mente ativo para fornecer aquilo que é usado para a
assim com o problema especial de atribuir o con- 39
construção do sonho. Em outras palavras, os estí-
teúdo 9 de um sonho aos estímulos orgânicos que mulos que surgem durante o sono são os conhecidos
o causaram; e, quando as normas de interpretação 40
“restos diurnos” psíquicos. Essa combinação não
formuladas 10 por algum pesquisador respeitado não precisa ocorrer; como já assinalei, há mais de uma 41
são aceitas, muitas vezes nos vemos diante do fato maneira de reagir a um estímulo somático durante o
desconcertante 11 de que a única coisa que revela sono. Quando ela efetivamente ocorre, isso significa
a existência do estímulo orgânico é precisamente o 42
que foi possível encontrar, para servir de conteúdo
42 - www.PROJETOREDACAO.com.br
do sonho, um material de representações de tal or-
dem 43 que é capaz de representar ambos os tipos de
fontes do sonho: a somática e a psíquica.
44
A natureza essencial do sonho não é alterada pelo
fato de se acrescentar material somático a 45 suas
fontes psíquicas: o sonho continua a ser a realização
de um desejo, não importa de que maneira a 46 ex-
pressão dessa realização de desejo seja determinada Disponível em: https://tirasarmandinho.tumblr.
pelo material correntemente ativo. com/.
Acesso em: 30 ago. 2019.
FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. 20.
ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018. p. 50; 215-216
(Adaptado). O sentido global da tirinha é constituído a partir de
uma relação

Questão 75 - (UEG GO)


a) sociolinguística, baseada numa variante linguís-
De acordo com o texto, é ideia defendida por Freud: tica incompatível com a fala de crianças.

b) antonímica, que se estabelece contextualmente


entre as palavras “muros” e “pontes”.
a) As experiências do dia anterior em nada influen-
ciam os sonhos, já que estes são fruto apenas da c) sintática, expressa pelo uso da construção ad-
imaginação humana. versativa no primeiro quadrinho.

b) Os estímulos externos que influenciam o sonho d) dialógica, devido à negação enfática da persona-
durante sua ocorrência provam que a teoria do gem no segundo quadrinho.
sonho como realização de desejo está equivoca-
da. e) morfológica, que se manifesta pela formação do
diminutivo de “tijolinho”.
c) Os sonhos independem de estímulo externo,
são apenas manifestação de material psíquico
da infância e de memórias inacessíveis durante
a vigília. TEXTO: 33 - Comuns às questões: 77, 78

d) O sonho, seja ele provocado por estímulos or- Pensem nas crianças
gânicos ou psíquicos, é a realização de um dese- Mudas telepáticas
jo, que se expressa de vários modos durante o
sono. Pensem nas meninas
e) O sonho é a manifestação da libido, impedida de Cegas inexatas
se manifestar de forma clara durante a vigília,
seja por motivos de tabu social, seja por ques- Pensem nas mulheres
tões morais.
Rotas alteradas

Pensem nas feridas


Questão 76 - (UEG GO)
Como rosas cálidas
Observe a tirinha a seguir.
Mas oh não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroxima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida

www.PROJETOREDACAO.com.br - 43
A rosa com cirrose d) oitavo verso

A antirrosa atômica e) último verso

Sem cor sem perfume

Sem rosa sem nada. Questão 79 - (UNICAMP SP)


MORAES, Vinícius de. Rosa de Hiroxima. In: Antolo- No livro A cabra vadia: novas confissões, Nelson Ro-
gia poética. drigues inicia a crônica “Os dois namorados” com a
São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p.196. seguinte afirmação:

“há coisas que um grã-fino só confessa num terreno


baldio, à luz de archotes, e na presença apenas de
uma cabra vadia.”

Na crônica “Terreno baldio” ele recorre ao mesmo


animal para explicar a ideia que teve de criar “entre-
vistas imaginárias”:

“Não podia ser um gabinete, nem uma sala. Lembrei-


-me, então, do terreno baldio. Eu e o entrevistado e,
no máximo, uma cabra vadia. Além do valor plástico
da figura, a cabra não trai. Realmente, nunca se viu
DALI, Salvador. A face da guerra, Óleo sobre tela, uma cabra sair por aí fazendo inconfidências.”
1940.
Disponível em: https://www.todamateria.com.br/ (Nelson Rodrigues, A cabra vadia: novas confissões.
obras-de-salvador-dali/. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016, p. 52 e160.)
Acesso em: 09 out. 2019.

O caráter confessional associado à figura da cabra


Questão 77 - (UEG GO) nas crônicas tem relação com

Tanto o poema-canção quanto a imagem apresenta-


dos tecem, a seu modo, uma
a) a veracidade dos depoimentos que o cronista
testemunha nas entrevistas.

a) denúncia de cunho social. b) a impostura dos contemporâneos que são obje-


to dos comentários do cronista.
b) reflexão de ordem metafísica.
c) a antipatia do jornalista no que diz respeito à
c) elogio a um modo de vida perigoso. busca de identidade dos artistas entrevistados.

d) exaltação ao caráter bélico da alma humana. d) a sinceridade dos intelectuais que são objeto
das crônicas dos jornalistas.
e) glorificação da alienação como forma de vida.

Questão 80 - (UNICAMP SP)


Questão 78 - (UEG GO)
O poema abaixo vem impresso na orelha do livro
A imagem se deixa ler por meio de formas vigorosas, Psia, de Arnaldo Antunes.
cujo efeito é aterrador, ao passo que o poema, em
alguns versos, se dirige de forma apelativa ao leitor,
como se verifica no
Psia é feminino

de psiu;
a) primeiro verso
que serve para chamar a atenção
b) segundo verso
de alguém, ou para pedir
c) décimo verso
silêncio.
44 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Eu berro as palavras Disponível em https://www.tecmundo.com.br/ in-
ternet/133690-voce-notou-net flix-
no microfone pareceevitando-termo-maratonar.htm. Acessado em
01/06/2019.)
da mesma maneira com que

as desenho, com cuidado,


Texto II
na página.

Para transformá-las em coisas,

em vez de substituírem

as coisas.

Calos na língua; de calar.

Alguma coisa entre a piscina e a pia.

Um hiato a menos.

(Arnaldo Antunes, Psia. São Paulo: Iluminuras, 2012.)

Na orelha do livro, Antunes apresenta ao leitor seu


processo de criação poética. É correto dizer que o au-
tor se propõe a

a) revelar a primazia da comunicação oral sobre a (Disponível em http://www.willtirando.com.br/ane-


escrita das palavras. sia-417/.
Acessado em 01/06/ 2019.)
b) discutir a flexão de gênero, que torna a palavra
“psia” um substantivo.

c) defender a conversão das palavras em coisas, Embora os dois textos tratem do termo “maratonar”
mudando seu estatuto. a partir de perspectivas distintas, é possível afirmar
que o Texto II retoma aspectos apresentados no Tex-
d) explorar o poder de representação da interjei-
to I porque
ção exclamativa “psiu!”.

a) esclarece o significado do neologismo “marato-


Questão 81 - (UNICAMP SP) nar” como esforço físico exaustivo, derivado de
Texto I “maratona”.

b) deprecia a definição de “maratona” como ação


contínua de superação de dificuldades e melho-
Os idiomas e suas regras são coisas vivas, que vão ria da saúde.
se modificando de maneira dinâmica, de acordo com
o momento em que a sociedade vive. Um exemplo c) reflete sobre o impacto que a falta de exercícios
disso é a adoção do termo “maratonar”, quando os físicos e a permanência em casa provocam na
telespectadores podem assistir a vários ou a todos os saúde.
episódios de uma série de uma só vez. Contudo, ao d) menospreza o uso do termo “maratonar” rela-
que parece, a plataforma Netflix não quer mais estar cionado a um estilo de vida sedentário, anta-
associada à “maratona” de séries. A maior razão se- gônico a maratona.
ria a tendência atual que as gigantes da tecnologia
têm seguido para evitar o consumo excessivo e me-
lhorar a saúde dos usuários.

(Adaptado de Claudio Yuge, “Você notou? Netflix parece


estar evitando o termo ‘maratonar’.”
www.PROJETOREDACAO.com.br - 45
Questão 82 - (UNICAMP SP) Leia os versos iniciais da peça Se correr o bicho pega,
se ficar o bicho come (1966), de Oduvaldo Vianna Fi-
Texto I lho e Ferreira Gullar. Em formato de cordel, os versos
são cantados por todos os atores.

Se corres, bicho te pega, amô.

Se ficas, ele te come.

Ai, que bicho será esse, amô?

Que tem braço e pé de homem?

Com a mão direita ele rouba, amô,


Texto II
e com a esquerda ele entrega;

janeiro te dá trabalho, amô,


O que levou Marta, seis vezes a melhor do mundo,
a enfrentar a Austrália de chuteiras pretas? Adianto, dezembro te desemprega;
não foi o futebol “raiz”. Marta não fechou patrocínio
de dia ele grita “avante”, amô,
com nenhuma das gigantes do mercado esportivo.
Não recebeu nenhuma proposta à altura do seu fu- de noite ele diz: “não vá”:
tebol. Isso diz muito sobre o machismo no esporte.
A partir disso, a atleta decidiu calçar a luta pela di- Será esse bicho um homem, amô,
versidade.
ou muitos homens será?
(Fonte: https://www.hypeness.com.br/2019/06/chutei-
ra-sem-logo-e-com-simbolo-de- (Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, Se correr o bi-
igualdade-de-genero-foi-mais-um-golaco-de-marta/. cho pega, se ficar o bicho come.
Acessado em 18/06/2019.) Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 3.)

Considerando o tweet e o texto acima, é correto afir- Texto II


mar que a atleta

Observe a charge de Laerte que fez parte da mostra


a) enfrentou o time adversário com chuteiras pre- Maio na Paulista, em 2019.
tas, mesmo que não tenha sido influenciada
pelo futebol “raiz”.

b) usou chuteiras sem logotipo e luta pela igualda-


de de gênero no esporte, mesmo sendo consi-
derada seis vezes a melhor do mundo.

c) não recebeu patrocínio de nenhuma grande


empresa, embora a chuteira preta sem logotipo
simbolize o futebol “raiz”.

d) optou por lutar contra o machismo no esporte,


embora as propostas de patrocínio não tenham
considerado seu valor.

Questão 83 - (UNICAMP SP) (Laerte, Exposição Maio na Paulista, de Laerte e Angeli,


2019. Disponível em
Texto I https://gq.globo.com/Cultura/ noticia/2019/05/
laerte-e-angeli-participam-de-exposicao-ao-
arlivre-na-avenida-paulista.html. Acessado em
02/06/2019.)
46 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Considerando a relação entre os textos I e II, conclui- Seja qual for o cenário, seguimos enganchados
-se que a charge pelo olhar alheio, ao qual respondemos desde o
nascer. As redes sociais só escancaram essa opera-
ção psíquica, e o Instagram, convém lembrar, foi a
plataforma que nasceu unicamente suportada pela
a) resgata a temática do cordel, rompendo com o imagem (mas quem passou dos 30, como eu, deve se
impasse vivido pelos personagens. lembrar do saudoso Fotolog).
b) reafirma o dilema dos personagens da peça, pa- Em psicanálise, especialmente a proposta por Ja-
rafraseando os versos iniciais do cordel. cques Lacan, um dos fiéis leitores de Freud, o sujeito
c) evidencia a tradição popular nordestina, utili- se constitui a partir de um olhar externo. Uma lin-
zando a imagem para sofisticar os versos. guagem alheia. Uma família antecipa a chegada do
bebê nas palavras que diz e no que imagina sobre
d) confirma a força transformadora da versificação ele. Funda-se algo aí. Uma mãe ou um pai olham o
popular, reproduzindo-a em imagens. recém-nascido para compreender o que deseja o ser
que ainda não fala. Ou seja, somos algo porque pri-
meiro somos olhados e adivinhados por alguém. Não
há escapatória. Estaremos neuroticamente fadados a
TEXTO: 34 - Comuns às questões: 84, 85, 86, 87 repetir essa dança durante toda a vida, de maneiras
mais ou menos sintomáticas. Mais ou menos sofri-
LIKES ESCONDIDOS NO INSTAGRAM NÃO VÃO AU- das.
MENTAR A AUTOESTIMA DE NINGUÉM
O Instagram é só mais um jeito de sermos olhados
e, sobretudo, de buscar esse olhar. Não é a rede que
Descartando-se o sempre pulsante noticiário po- nos torna mais ansiosos, com autoestima em baixa,
lítico, a principal novidade da semana talvez tenha achando a vida pouco colorida em comparação com
sido uma nova política do Instagram, batizada man- as demais vidas da timeline. A imagem é nosso pro-
chetes afora de “fim dos likes” — ou das curtidas. blema essencial, dentro ou fora da tela do celular. É
Não é bem verdade que os likes acabaram, eles ape- com ela que temos de lidar, mesmo que as curtidas
nas estão escondidos dos nossos seguidores. Mas estejam escondidas. A gente continua sempre saben-
podemos, a qualquer momento, descobrir o alcance do onde o calo aperta.
de uma foto ou vídeo postados por nós mesmos. Fonte: Anna Carolina Lementy, O Globo, em
Primeiro problema, portanto: continuamos sa- 19.07.2019. Coluna “Celina”.
bendo se bombamos ou “flopamos”. E podemos con-
tinuar cultivando a ideia imaginária de sucesso ou
fracasso a partir de como lemos nossas estatísticas Questão 84 - (UNIOESTE PR)
do coraçãozinho vermelho.
Assinale a alternativa CORRETA.
No entanto, a empresa afirma que a estratégia,
ainda em fase de testes, tem o propósito de permitir
que os seguidores se concentrem mais nos conteú-
dos do que em sua repercussão. a) O texto defende o uso do Instagram, afirmando
que a exposição da autoimagem em redes so-
Ora, como? Seria revolucionário mesmo se as cur- ciais não provoca quaisquer problemas de au-
tidas sumissem de vez. O que seria de nós ao postar toestima no usuário.
uma foto e não ter pistas sobre sua aprovação ou re-
provação? Seríamos mais livres de autocensura? Tal- b) O texto alerta sobre os quadros de neurose em
vez o eterno enigma sobre o que pensam os outros consequência dos sintomas de depressão e bai-
nos tornasse mais criativos. xa autoestima em usuários do Instagram.

A história fica ainda mais confusa quando acessa- c) O texto acusa o Instagram de provocar proble-
mos os Stories e continua lá o desenho de um olhi- mas de autoestima no usuário, sobretudo de-
nho seguido pelo número de visualizadores de cada pois da omissão dos likes.
capítulo da nossa trama cotidiana. Acho tão per-
turbador quanto, por exemplo, o coração de um ex d) O texto se vale de um tema em evidência — o
numa foto (ou a falta dele), saber quem se interessa uso do Instagram — como pretexto para discutir
minimamente pela nossa vida (e por qual motivo) e, sobre o papel da família na construção da au-
principalmente, quem não dá a menor bola para o toimagem do bebê.
que comemos no almoço, o novo corte de cabelo ou e) O texto relativiza as críticas quanto à divulgação
as fotos de férias. da imagem em redes sociais, visto que o Insta-
www.PROJETOREDACAO.com.br - 47
gram não pode ser, sozinho, o culpado por pro- Questão 87 - (UNIOESTE PR)
blemas de baixa autoestima.
A passagem “Estaremos neuroticamente fadados a
repetir essa dança durante toda a vida, de maneiras
mais ou menos sintomáticas. Mais ou menos sofri-
Questão 85 - (UNIOESTE PR) das” relaciona-se:
Quanto ao quinto parágrafo, o que é considerado
igualmente perturbador em relação à possibilidade
de se saber quantas pessoas vizualizam nosso Sto- a) ao Instagram e a rede tornar a pessoa mais an-
ries? Assinale a alternativa CORRETA. siosa.

b) ao sujeito e ao fato dele se constituir a partir de


um olhar externo.
a) Saber quem não dá a menor bola para o que co-
memos no almoço; o coração (ou a falta dele) c) aos likes, por estarem escondidos.
de um ex numa foto; quem se interessa minima-
mente pela nossa vida. d) ao processo de autodepreciação em relação à
vida alheia.
b) Não ter o coração de um ex numa foto; saber
quem não se interessa minimamente pela nossa e) ao saudoso Fotolog.
vida; não conseguir ver as visualizações.

c) Os olhinhos que servem para saber quem nos


segue; saber que um ex está seguindo você; sa- Questão 88 - (UNICAMP SP)
ber que pessoas se interessam pelo nosso novo
corte de cabelo.

d) Um ex não curtir a foto; ninguém se interessar


pelas fotos das nossas férias; não ter, de modo
algum, como saber as visualizações.

e) Saber quem se interessa pela nossa vida; não


ver o coração de um ex em uma foto nossa; não
conseguir visualizar os likes.

Questão 86 - (UNIOESTE PR)


Sobre o enunciado “Uma família antecipa a chegada
do bebê nas palavras que diz e no que imagina sobre
ele. Funda-se algo aí.” é INCORRETO afirmar que ele
trata sobre:
(Disponível em https://www.face-
book.com/SeboItinerante/photos/.
a) questões de gênero, especificamente. Acessado em 28/05/2018.)
b) o papel dos pais em relação aos desejos dos fi-
lhos.
“Acho que só devemos ler a espécie de livros que nos
c) a expectativa imaginária sobre a chegada de ferem e trespassam. Um livro tem que ser como um
uma criança. machado para quebrar o mar de gelo do bom senso
e do senso comum.”
d) a relação psicoemocional entre pais e filhos.
(Adaptado de “Franz Kafka, carta a
e) a determinação do olhar externo na constitui- Oscar Pollak, 1904.” Disponível em
ção de quem somos. https://laboratoriode sensibilidades.
wordpress.com. Acessado
em 28/05/2018.)

48 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Assinale o excerto que confirma os dois textos ante- a) o uso da vírgula provocou uma leitura negati-
riores. va do trecho que alude ao slogan da década de
1950.

b) a mensagem projetada pelo slogan anterior era


a) A leitura é, fundamentalmente, processo políti- mais clara, direta, e não exigia o uso da vírgula.
co. Aqueles que formam leitores – professores,
bibliotecários – desempenham um papel políti- c) a alusão ao slogan anterior afasta o público jo-
co. (Marisa Lajolo) vem e provoca a perda de seu poder persuasivo.

b) Pelo que sabemos, quando há um esforço real d) o duplo sentido do verbo “voltar” gerou uma
de igualitarização, há aumento sensível do há- mensagem que se afasta daquela projetada pelo
bito de leitura, e portanto difusão crescente das slogan anterior.
obras. (Antonio Candido)

c) Ler é abrir janelas, construir pontes que ligam


o que somos com o que tantos outros imagina- Questão 90 - (UNICAMP SP)
ram, pensaram, escreveram; ler é fazer-nos ex-
pandidos. (Gilberto Gil) Alguns pesquisadores falam sobre a necessidade de
um “letramento racial”, para “reeducar o indivíduo
d) A leitura é uma forma servil de sonhar. Se tenho em uma perspectiva antirracista”, baseado em fun-
de sonhar, por que não sonhar os meus próprios damentos como o reconhecimento de privilégios, do
sonhos? (Fernando Pessoa) racismo como um problema social atual, não ape-
nas legado histórico, e a capacidade de interpretar
Excertos adaptados de: as práticas racializadas. Ouvir é sempre a primeira
orientação dada por qualquer especialista ou ativis-
Marisa Lajolo, A formação do leitor no Brasil. ta: uma escuta atenta, sincera e empática. Luciana
São Paulo: Ática, 1996, p. 28. Alves, educadora da Unifesp, afirma que “Uma das
principais coisas é atenção à linguagem. A gente tem
Antonio Candido, Vários escritos. São Paulo:
uma linguagem sexista, racista, homofóbica, que
Duas cidades, 2004, p.187.
passa pelas piadas e pelo uso de termos que a gente
Gilberto Gil, Discurso no lançamento do Ano já naturalizou. ‘A coisa tá preta’, ‘denegrir’, ‘serviço
Ibero-Americano da Leitura, 2004. de preto’... Só o fato de você prestar atenção na lin-
guagem já anuncia uma postura de reconstrução. Se
Fernando Pessoa, Páginas íntimas e de Auto-In- o outro diz que tem uma carga negativa e ofensiva,
terpretação. São Paulo: Ática, 1966, p. 23. acredite”.

(Adaptado de Gente branca: o que os


brancos de um país racista podem
Questão 89 - (UNICAMP SP) fazer pela igualdade além de não
serem racistas. UOL, 21/05/2018)
Na década de 1950, quando iniciava seu governo,
Juscelino Kubitschek prometeu “50 anos em 5”. Na
campanha do atual governo o slogan ficou assim: “O
Brasil voltou, 20 anos em dois”. A ‘tradução’ não ti- Segundo Luciana Alves, para combater o racismo e
nha como dar certo; era como comparar vinho com mudar de postura em relação a ele, é fundamental
água. E mais: havia uma vírgula no meio do caminho.
Na propaganda, apenas uma vírgula impede que a
leitura, ao invés de ser positiva e associada ao pro- a) ouvir com atenção os discursos e orientações de
gressismo de Juscelino, se transforme numa men- especialistas e ativistas.
sagem de retrocesso: o Brasil de fato ‘voltou’ muito
nesses últimos dois anos; para trás. b) reconhecer expressões racistas existentes em
práticas naturalizadas.
(Adaptado de Lilia Schwarcz, Havia
uma vírgula no meio do caminho. c) passar por um “letramento racial” que dispense
Nexo Jornal, 21/05/2018.) o legado histórico.

d) prestar atenção às práticas históricas e às orien-


tações da educadora.
Considerando o gênero propaganda institucional e o
paralelo histórico traçado pela autora, é correto afir-
mar que o slogan do atual governo fracassou porque

www.PROJETOREDACAO.com.br - 49
TEXTO: 48 - Comuns às questões: 91, 92, 125 litar em Washington ou um anúncio da Casa Branca
sobre uma guerra iminente, sem meio técnico para
TEXTO 1 confirmar ou negar sua veracidade. Em uma futura
eleição presidencial no Brasil, não será mais necessá-
rio atacar os concorrentes – pode-se simplesmente
Na semana passada, uma eleição presidencial que produzir um vídeo em que o rival promete que, se
deveria ter como marca a volta da democracia ao eleito, encerrar o programa Bolsa Família, eliminar a
Zimbábue terminou em confusão quando contas propriedade privada ou qualquer absurdo que o faça
falsas no Twitter, no Facebook e no WhatsApp dis- perder apoio. Confusos e desconfiados, os cidadãos
seminaram resultados contraditórios. O país inteiro se refugiarão ainda mais em suas bolhas aparente-
chegou a presenciar comemorações espontâneas mente seguras, isolados em relação a qualquer tipo
pela vitória dos dois candidatos, o que resultou em de debate público. O Brasil também tem sido cenário
confrontos violentos. Em um clima geral de descon- de disseminação de inúmeras notícias falsas, sobre-
fiança, até observadores internacionais não sabiam tudo porque o País passa por um período eleitoral
onde obter informações confiáveis. Na Índia, o go- bastante tenso e polarizado. As pessoas que dissemi-
verno empreende verdadeira batalha contra uma nam notícias falsas o fazem por dois motivos: a) por
onda de linchamentos depois que rumores falsos vi- que são incapazes de pesquisar e confrontar informa-
ralizaram no WhatsApp sobre supostos sequestrado- ções, b) usam as notícias falsas para dar legitimidade
res de crianças. Nacionalistas interessados em atiçar a suas posições políticas. De um jeito ou de outro,
o ódio religioso usam a plataforma para aprofundar são posturas graves e que precisam ser combatidas
a polarização, que também tem resultado em lincha- em nome da jovem democracia brasileira.
mentos. Na Grã-Bretanha, 52% dos eleitores votaram Adaptado de https://brasil.elpais.
por deixar a União Europeia em 2016, atraídos por com/brasil/2018/08/06/opinion/
uma enxurrada de informações falsas disseminadas 1533562312_266402.html.
por nacionalistas oportunistas. Em uma pesquisa Acesso em out. 2018.
recente, uma porcentagem semelhante dos britâni-
cos disse acreditar que os desembarques na Lua de
1969 a 1972 eram falsos. A triste ironia é que, pela
primeira vez na história, a maioria dos cidadãos pode TEXTO 2
carregar no bolso todo o conhecimento do mundo,
mas, ao mesmo tempo, nunca esteve tão vulnerável
a informações falsas. Engana-se quem pensa que al-
gumas mudanças nas leis e ajustes técnicos podem
resolver a situação e permitir que tudo volte a ser
como antes. A humanidade testemunha os primei-
ros momentos de uma nova era em que todo o rela-
cionamento com a informação – e a realidade como
um todo – mudará de maneira hoje inimaginável. A
democracia, tal como se concebe hoje, dificilmente
sobreviverá a essa transformação. Basta considerar
duas grandes tendências. A primeira: apenas cerca
de 50% da população mundial tem acesso à inter-
net hoje. Nos próximos anos, a outra metade, po-
tencialmente ainda mais vulnerável a notícias falsas, Laerte. Adaptado.
também poderá participar do debate on-line. Por
exemplo, muitos aplicativos populares no mundo em
desenvolvimento concentram-se apenas em men-
Questão 91 - (UNITAU SP)
sagens de voz, já que parcela considerável de seus
usuários não sabe ler nem escrever, dificultando ain- Em relação aos dois textos, leia as afirmativas a se-
da mais a identificação de informações falsas. A se- guir.
gunda: o desenvolvimento de ferramentas baseadas
em inteligência artificial, capazes de manipular ou
fabricar vídeos, arquivos de áudio e fotos falsas – as
chamadas deep fakes – ampliará consideravelmente I. Os dois textos convergem em relação à temática
a dificuldade de separar fato de ficção, o que fará as e à linha de argumentação.
fake news de hoje parecerem brincadeira de criança.
Daqui a alguns anos, um smartphone será suficiente II. Os dois textos divergem em relação à temática e
para simular uma sequência de notícias, como as da à linha de argumentação.
CNN, por exemplo, na qual a perfeita imitação da voz
III. O texto 1 não assume posição em relação ao
de um apresentador famoso reportaria um golpe mi-
tema, diferentemente do texto 2.
50 - www.PROJETOREDACAO.com.br
IV. O texto 2 não assume posição em relação ao TEXTO: 36 - Comuns às questões: 93, 94
tema, pois se trata de texto de humor, diferen-
temente do texto 1. “É Brasileiro, já passou de Português...”

Está CORRETO o que se afirma em

a) I, apenas.

b) II, apenas.

c) III, apenas.

d) IV, apenas.

e) II e IV, apenas.

A ideia de uma língua única, que não se altera,


Questão 92 - (UNITAU SP) é um mito, pois a heterogeneidade social e cultural
implica a heterogeneidade linguística.
Em relação ao texto 1, leia as afirmativas a seguir.
(...)

Embora Brasil e Portugal tenham uma língua co-


I. Para o autor, é positivo que haja a possibilidade
mum, é nítido a qualquer falante do português que
de as pessoas acessarem informações diversas
existem diferenças entre o português falado nos dois
a partir de smartphones, pois hoje é possível
países – claro que elas também existem com relação
questionar fatos controversos, como a chegada
aos demais países de língua portuguesa. (...) Essas
do homem à Lua.
diferenças são tão grandes que podemos afirmar
II. O autor apresenta uma crítica ao fenômeno co- que no Brasil se fala uma língua diferente da de Por-
nhecido por fake news, mostrando-se pessimis- tugal, que os linguistas denominaram de português
ta em relação ao alcance negativo que esse tipo brasileiro. Isso é tão evidente que, se você observar
de ação pode ter na organização das sociedades. um processador de textos, o Word, por exemplo, na
ferramenta idiomas há as opções português e portu-
III. Há um elogio ao fato de que, por conta da tec- guês brasileiro ou português (Brasil). Por quê? Como
nologia, nas próximas eleições presidenciais não são línguas diferentes, o corretor automático do pro-
será mais preciso atacar os concorrentes. cessador precisa saber em que “língua” está sendo
escrito o documento, pois o português europeu e o
IV. Para o autor, as pessoas que disseminam notí- brasileiro seguem regras diferentes.
cias falsas o fazem por serem confusas e descon-
fiadas. Quando ouvimos um habitante de Portugal fa-
lando, percebemos imediatamente um uso diverso
da língua. A diferença mais perceptível é de ordem
fonológica, ou seja, na maneira de produzir os sons
Está CORRETO o que se afirma em da língua. Identificamos rapidamente que ele fala
português, porém com “sotaque ou acento lusitano”.
Se atentarmos com mais cuidado, perceberemos, en-
a) I, apenas. tretanto, que as diferenças não são apenas de ordem
fonológica. Há também diferenças sintáticas (poucas)
b) I e IV, apenas. e lexicais. Um mesmo conceito é designado por signi-
ficantes diferentes, o que prova o caráter imotivado
c) II, apenas. do signo linguístico. (...)
d) II e IV, apenas (Ernani Terra, Revista
Língua Portuguesa,
e) I, III e IV, apenas.
adaptado, julho/2018)

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Questão 93 - (ESPM SP) frequência, que tinha foros de gênero literário que
alguém poderia cultivar e no qual fosse, por assim
Um argumento concreto para corroborar a ideia de dizer, um especialista. As biografias dos grandes ho-
que “língua única, que não se altera, é um mito”, ex- mens da época são, a esse respeito, bastante instru-
posta no primeiro período, é o trecho: tivas. Não são poucos aqueles cujos biógrafos qua-
lificam de polemista como poderiam qualificar de
publicista, romancista ou polígrafo.
a) “existem diferenças entre o português falado (Antonio Luís Machado Neto,
nos dois países” Estrutura social da república
b) “se fala uma língua diferente da de Portugal” das Letras: sociologia da vi-
da intelectual brasileira
c) “elas também existem com relação aos demais 1870-1930, Edusp)
países de língua portuguesa”

d) “o Word... na ferramenta idiomas há as opções


português e português brasileiro ou português Questão 95 - (ESPM SP)
(Brasil)”
Parafraseando o trecho: “vingavam das desditas da
e) “o português europeu e o brasileiro seguem re- existência transbordando o fel da maledicência traves-
gras diferentes” tido em constantes ataques a tudo e a todos.”, tem-se:

Questão 94 - (ESPM SP) a) indizíveis fatos da vida geram o ódio da blasfê-


mia embutido em ataques verbais à sociedade.
O autor defende que:
b) infelicidades da vida produzem o veneno do
maldizer disfarçado em crítica generalizada.

a) Há diferenças linguísticas tão grandes, com re- c) trajetórias malditas da existência se transfor-
gras também tão diferentes, que se constatam mam em aversão atroz ao próximo.
duas línguas diversas: o português de Portugal e
o português europeu. d) conflitos existenciais criam o amargor pessimis-
ta disfarçado em ameaça geral à humanidade.
b) Diferenças de ordem fonológica ocorrem quan-
do um mesmo significado é designado por signi- e) injúrias da vida originam inimigos figadais, provo-
ficantes diferentes. cando violentas discussões verbais entre as pessoas.

c) Diferenças linguísticas em outros países, como


Angola, Moçambique, Cabo Verde, Timor Leste
Questão 96 - (ESPM SP)
e São Tomé e Príncipe, são tão pequenas que
não chegam a caracterizar línguas diferentes. Segundo o texto:
d) As alterações linguísticas entre Portugal e Brasil
ocorrem principalmente, por serem mais verifi-
cáveis, no campo da escrita. a) As biografias dos grandes homens públicos ou
de letras mostram, em geral, conduta avessa à
e) O signo linguístico não necessita, para sua exis- polêmica.
tência, de um caráter motivado.
b) Ataques pessoais entre literatos resultam inva-
riavelmente de indivíduos com personalidades
satíricas e caricatas.
TEXTO: 37 - Comuns às questões: 95, 96
c) Muitos biógrafos equivocadamente qualifica-
Afora espíritos essencialmente satíricos e cari- ram de polemista aqueles que são publicista,
catos como Emílio de Menezes, outros havia, como romancista ou polígrafo.
Lima Barreto, que parece se vingavam das desditas
da existência transbordando o fel da maledicência d) Emílio Menezes e Lima Barreto são figuras exempla-
travestido em constantes ataques a tudo e a todos. res do mesmo tipo de personalidade polêmica.
(...) Raro era o homem de letras e, até mesmo, o ho-
mem público que tivesse passado a vida sem expe- e) De tão praticada, a polêmica acabou constituin-
rimentar a vivência belicosa da polêmica. Tal era a do-se numa especialidade literária.

52 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 97 - (ESPM SP) Questão 98 - (ESPM SP)
O autor defende a ideia de que:

a) deve-se evitar frases clichês, mas pode-se con-


fiar em quem se esmera em frases delicadas.

b) em visita a um doente, embora não haja neces-


HAGAR sidade, uma frase amável já conhecida conforta
mais.

c) para sair do universo de frases feitas, é reco-


A graça da tira decorre: mendável sentenciar adotando o estilo do Con-
selheiro Acácio.

a) da existência de “ruído” na comunicação, efe- d) infelizmente o Conselheiro Acácio não previu


tuada por Hagar, sobre um relacionamento frases para todos os setores das atividades so-
amoroso anterior ao atual. ciais.

b) de uma fala metafórica de Hagar que, ao dirigir- e) deve-se poupar o próximo de exemplos do re-
-se diretamente à própria esposa, refere-se às pertório de lugares comuns.
qualidades de uma terceira pessoa.

c) da diferença do nível de linguagem usado pelo


emissor para se dirigir aos interlocutores, fato
TEXTO: 39 - Comum à questão: 99
que fez sugerir a existência de duas mulheres. A um passarinho
d) do não entendimento de um discurso ambíguo Para que vieste
bastante comum, no qual se dirige a um inter-
locutor, referindo-se a ele como se fosse uma Na minha janela
terceira pessoa.
Meter o nariz?
e) da dificuldade de compreensão no discurso de
Hagar, por parte do amigo Ed Sortudo, devido Se foi por um verso
aos traços de formalidade da linguagem erudita.
Não sou mais poeta

Ando tão feliz!


TEXTO: 38 - Comum à questão: 98
Se é para uma prosa
Quando se conversa, deve-se evitar as frases fei-
tas que são verdadeiras chapas. Exemplos: em um Não sou Anchieta
enterro, dizer “que não se morre senão uma vez”, que Nem venho de Assis.
“basta estar vivo para morrer”, que “o morto é feliz
porque deixou de sofrer”, que “Deus sabe o que faz Deixa-te de histórias
e escreve certo por linhas tortas” ou que “as grandes
dores são mudas”. Quando se visita um doente, não Some-te daqui!
há necessidade de levar no bolso sentenças desse
jaez: “a saúde é a maior das fortunas”, “somos nós (Vinicius de Moraes)
que pagamos pelos excessos de nossos pais” ou “a
ciência, que tudo pode, ainda não encontrou remé-
dio para os pequenos males”. Em todos os setores das
atividades sociais, há frases no mesmo estilo e que
convém deixar ao cuidado do Conselheiro Acácio que
nelas se esmerou.

(Marcelino de Carvalho,
Guia de Boas Maneiras) Disponível em: http://humberto-
dealmeida.com.br/ uma-borbo-
leta-e-a-poesia-em-movimento/

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Questão 99 - (ESPM SP) 20
sociabilidades produzidas pelas descendentes de 21
africanas e africanos sequestrados do lado de lá do
A partir da leitura do poema e da observação da ima- 22
Atlântico.
gem, assinale a afirmação correta.
23
Há quem possa ver no romance influência do 24
realismo fantástico. Parece-me limitado ler o livro a 25
partir dessa referência. O que a autora faz é dominar
a) Tanto no texto poético quanto na imagem fica 26
com maestria os códigos de percepção de mundo
evidente que a fonte de inspiração para a prática 27
dos subalternizados, entendendo a ancestralidade,
literária são os elementos da natureza. 28
o corpo mítico como modelador de condutas e os
b) Enquanto a imagem mostra a alienação de vá-
29
procedimentos de ligação entre o visível e o invisí-
rios leitores, o poema de Vinicius de Moraes vel, 30 expressos em toda a sorte de mandingas, como
sugere o engajamento do escritor com persona-
31
componentes da sofisticada cosmogonia e dos 32
gens históricas. modos de invenção da vida dos povos saídos das 33
Áfricas. A tragédia da diáspora, afinal, também é um
c) O texto poético diz que a produção literária é
34
empreendimento inventivo de rara potência.
consequência da tristeza; a imagem deixa claro
que só se faz poesia com a distração.
35
Outro mérito poderoso do livro reside na 36
apresentação de uma África pouquíssimo vista nas 37
d) O poema de Vinicius e a imagem apresentam nossas letras: aquela da parte oriental do continente.
a ideia de que a poesia é algo fugidio, volúvel,
38
A unidade portuguesa já é uma ficção. Minhotos, 39
consequência também de um estado de espíri- trasmontanos, beirões, alentejanos, algarvios, 40 es-
to. tremenhos, ribatejanos, açorianos e madeirenses 41
— que normalmente não se encontrariam nem 42 em
e) A noção de que poesia e prosa são gêneros dis- Portugal — aqui se encontram e redefinem 43 dina-
tintos fica evidente no texto poético; já a ima- micamente suas culturas, entre violências tantas 44 e
gem não discrimina qualquer tipo de leitura lite- afetos vários, no contato conflituoso e/ou negociado
rária. 45
com negros que não se viam como africanos, mas
46
como membros de sua aldeia: mandingas, bijagós,
47
fantes, achantis, gãs, jalofos, fons, guns, baribas, 48
gurúnsis, quetos, ondos, ijebus, oiós, ibadãs, benins,
TEXTO: 40 - Comum à questão: 100 49
hauçás ibos, ijós, calabaris, teques, bamuns, ijexás,
50
anzicos, congos, andongos, songos, pendes, lenjes,
Crítica: ‘O crime do Cais do Valongo’ é literatura da 51
ovimbundos, nupês, ovambos, macuas, mangajas,
melhor qualidade
e 52 outros tantos.

Não se imagine, todavia, que o livro caia no


53

Segundo romance de Eliana Alves Cruz reafirma au-


54
didatismo rasteiro que prende a narrativa com ân-
tora como voz poderosa e contundente coras 55 pesadas. A história é fluente, extremamente
bem 56 contada, mescla figuras reais — como o Inten-
dente 57 Geral e a cantora lírica Joaquina Lapinha —
com 58 inventadas, mergulha nas notícias da “Gazeta
1
O início de “O crime do Cais do Valongo”, 2 se- do Rio 59 de Janeiro” e transforma a cidade em perso-
gundo romance de Eliana Alves Cruz, autora do 3 pre- nagem 60 fundamental da trama.
miado “Água de barrela”, é um clássico das tramas 4
policiais. Nos tempos de Dom João VI, o corpo de um A cidade cindida pela Pedra do Sal, que tentou
61

5
próspero negociante da região do Valongo é achado 62
afastar da Corte o horror do comércio negreiro fei-
6
em uma ruela carioca. A partir daí, a história se 7 to 63 pelas bandas do Valongo, é também a cidade
desenvolve, pistas vão sendo deixadas e a narrativa, 8 cerzida 64 por aqueles que tiveram a sua humanidade
habilmente construída, circula naquela encruzilhada negada 65 pela coisificação e o sequestro.
9
entre a História e a ficção que pode nos fazer cair 10
na tentação de enquadrar o livro como um romance
66
Um livro escrito por uma autora negra, com 67 pro-
11
histórico-policial. Acontece que “O crime do Cais tagonistas negros e contado a partir dos saberes 68
do 12 Valongo” é muito mais do que isso. afro-cariocas, já seria importante em um país em que
69
o mercado editorial reproduz nossa desigualdade
13
Narrado a partir das vozes de dois personagens, 70
gritante. Além disso, “O crime do Cais do Valongo”
14
o livreiro mestiço Nuno Alcântara Moutinho e a 15 71
é literatura da melhor qualidade e firma Eliana 72
moçambicana escravizada Muana Lomué, o romance Alves Cruz como uma voz poderosa e contundente 73
16
apresenta um relato poderoso, cheio de sutilezas. da literatura brasileira. Como diz em certo trecho a 74
17
É o cotidiano de um Rio marcado pelo horror da protagonista Muana, “uma mulher do meu povoado
18
escravidão e, ao mesmo tempo, pela potência da 75
jamais poderia deixar seus antepassados de lado”.
19
cultura das ruas e da incessante reconstrução de A 76 literatura de Eliana faz exatamente isso.
54 - www.PROJETOREDACAO.com.br
SIMAS, L.A. Crítica: ‘O crime do O quadrinho de Laerte representa uma crítica à reali-
Cais do Valongo’ é literatura da dade atual, visto que nele a personagem
melhor qualidade. O Globo, Rio
de Janeiro, 2 jun. 2018. Disponível
em: <https://oglobo.com/cultura/
livros/critica-crime-do- -cais-do- a) perde sua função social, pois o desenvolvimento
valongo-literatura-da-melhor- de novas ferramentas acarreta sua obsolescên-
qualidade-22739683>. Acesso cia.
em: 23 jul. 2018. Adaptado. b) perde sua identidade devido às pressões de um
cotidiano estressante diante de uma rotina ma-
çante e repetitiva.
Questão 100 - (FACESG - Faculdade Cesgranrio RJ)
c) é substituído pelas tecnologias que, de tão evo-
No subtítulo do texto, o verbo reafirmar deixa implí- luídas, passam a assimilar hábitos corriqueiros
cita a ideia de que o romance atual da sociedade.

d) perde sua identidade devido ao abandono da


vida no campo, pois já não é capaz de realizar
a) é ainda melhor do que o anterior. ações corriqueiras sem auxílio.

b) demonstra que a autora passou a ter nesse ro- e) apresenta pior qualidade de vida, pois, ao abrir
mance uma voz firme. mão de sua identidade, conecta-se à tecnologia
para alcançar maior e_ ciência em suas ativida-
c) tem uma voz poderosa e contundente. des coletivas.
d) reforça a reputação de que a autora tem quali-
dade literária.
Questão 102 - (FATEC SP)
e) é o único da autora que se mostra poderoso e
contundente. Leia os textos.

Questão 101 - (FATEC SP) • Francisco tem pouca esperança no futuro. De-
pois de cinco anos em busca de trabalho e após
Analise o quadrinho três entrevistas de emprego, todas infrutíferas,
decidiu parar de procurar. Passou assim a fazer
parte de um contingente cada vez maior de bra-
sileiros: os desalentados.

• Um indicador fundamental para observar o nível


da confiança do trabalhador no mercado de tra-
balho é a taxa de desalento._

• O Brasil iniciou o terceiro trimestre com queda


na taxa de desemprego pela quarta vez seguida,
mas registrou número recorde de desalentados
diante das incertezas atuais em torno da eco-
nomia, segundo dados divulgados no dia 30 de
agosto de 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística (IBGE).

<https://tinyurl.com/ycovkfc9> Acesso A taxa de desemprego atingiu 12,3% no terceiro tri-


em: 20.10.2018. Original colorido. mestre de 2018, depois de ter ficado em 12,4% no
trimestre anterior, na quarta queda seguida, de acor-
do com o IBGE.

www.PROJETOREDACAO.com.br - 55
“O desemprego vem caindo no Brasil por conta do tes alinhados com as propostas da americana.
desalento, principalmente neste ano de 2018”, afir-
mou o coordenador do IBGE, Cimar Azeredo. O IBGE Em julho passado, Grandin, hoje com 71 anos,
estimou em 4,8 milhões o número de pessoas desa- veio ao Brasil pela sexta vez. Na fazenda Orvalho das
lentadas no trimestre maio – julho. Flores, localizada em Barra do Garças (MT), ela teste-
munhou como a equipe de Perez conduz suas 2 980
<https://tinyurl.com/yactn5rh> cabeças de Nelore, raça predominante no país. Os
Acesso em: 03.10.2018. Adaptado. vaqueiros massageiam os bezerros, não gritam com
os bois, tampouco deixam capas de chuva, correntes
ou chapéus no caminho dos animais.
De acordo com os textos, o cidadão desalentado é A engenheira agrônoma Maria Lucia Pereira Lima
aquele que foi aluna de pós-doutorado de Grandin na Univer-
sidade do Estado do Colorado, em Fort Collins, em
2013. Viajara aos Estados Unidos para aprender
a) conquista um emprego formal, mas sofre com a como medir o bem-estar dos bovinos e se inteirar de
desigualdade de gênero, em que mulheres ga- inovações que pudessem ser implantadas em currais
nham menos e ocupam a maioria dos empregos brasileiros. Uma delas, por exemplo, tranquiliza o
vulneráveis. animal conduzido à vacinação: o gado em geral se via
obrigado a passar espremido por espaços afunilados.
b) precisa de trabalho e trabalharia se houvesse Grandin projetou um acesso em curva, sem cantos,
possibilidade, entretanto, desiste de procurar que dá à rês a ilusão de que voltará ao ponto de par-
emprego porque sabe que não encontrará um tida. Outra: uma lâmpada acesa na entrada do tronco
posto de trabalho. de contenção – o equipamento que permite o mane-
jo individual do boi – a indicar o trajeto reduziu em
c) troca voluntariamente o trabalho formal pelo até 90% o uso de choque elétrico durante o processo.
trabalho terceirizado, abandona a carteira de
trabalho e opta pela previdência social estatal. [...]

d) consegue emprego formal com rendimento No auditório da universidade, outros pesquisado-


equivalente a dois terços do salário mínimo vi- res se revezavam no palco discutindo aspectos eco-
gente. nômicos e sociais relacionados ao bem-estar animal.
O tempo de manejo cai pela metade nos estabele-
e) possui um emprego com carteira assinada, mas cimentos agropecuários que seguem os manuais de
está desprotegido das leis trabalhistas. Grandin. De ovos transportados com cuidado nas-
cem pintinhos sadios. Sem falar na melhor qualidade
de vida de quem lida com esses bichos. Vaqueiros
bem treinados sofrem menos acidentes no trabalho
TEXTO: 41 - Comuns às questões: 103, 104 e desenvolvem uma relação mais harmoniosa nos ca-
Temple Grandin empacou diante da porteira. Al- samentos. “A melhoria do bem-estar animal melhora
guns parafusos cravados na madeira lhe saltaram aos o bem-estar humano”, afirmou o zootecnista Mateus
olhos. “Tem que limar a cabeça desses parafusos, se Paranhos da Costa, da Universidade Estadual Paulis-
não o gado pode se machucar”, aconselhou à dona ta.
da fazenda, Carmen Perez, que ao lembrar a cena co- Monica Manin <https://tinyurl.com/y8xeoqul>
mentou: “Sempre passo no curral antes do manejo, Acesso em: 12.10.2018. Adaptado.
observo tudo, dizem que tenho olho biônico, e ela
notou uma coisa que eu não tinha visto.”.

Grandin tem um parafuso a mais quando se trata Questão 103 - (FATEC SP)
do bem-estar dos bichos. Professora de ciência ani-
mal, ela é autista e dona de uma hipersensibilidade Sobre a expressão “parafuso a mais” presente na
visual e auditiva. Tocada pelas angústias do gado passagem “Grandin tem um parafuso a mais quando
desde a juventude, ela compreendia por que a rês se trata do bem-estar dos bichos.”, é correto afirmar
recuava na hora da vacinação, por que atacava um que se trata de
vaqueiro, por que tropeçava, por que mugia. Gran-
din traduziu esse entendimento em projetos que
propunham mudanças no manejo. Hoje, instalações
criadas por ela são familiares a quase metade dos bo- a) um trocadilho, pois o autor estabelece uma re-
vinos nos Estados Unidos. O Brasil, com seus quase lação entre o nome da professora, “Grandin”, e
172 milhões de cabeças de gado, segundo o Censo a pronúncia informal do diminutivo “grandinho”
Agropecuário de 2017, vem aos poucos fazendo ajus- (“grandim”).

56 - www.PROJETOREDACAO.com.br
b) uma aliteração, pois o autor procura representar A reflexão sobre o sentido da educação adentra
a dureza da lide com animais de grande porte o século XX. A crítica se aprofunda e há insatisfação
por meio de repetição das consoantes “p”, “t” e tanto das correntes mais liberais quanto das mais
“r”. marxistas. [...] As mudanças sociais acentuaram os
problemas estruturais da instituição escola. No Brasil,
c) uma assonância, pois o autor deseja representar por exemplo, em meados dos anos 50, apenas 30%
sua visão otimista do trabalho da professora ao da população brasileira vivia nas cidades. A pressão
repetir as vogais abertas “a” e “o”. das camadas médias pelo aumento do acesso e da
permanência na escola ampliou-se consideravelmen-
d) uma metáfora, pois o autor inverte a imagem te neste período, dada a relação estabelecida entre a
utilizada para representar loucura a fim de ex- escolarização e o direito à cidadania.
pressar a habilidade da professora.
(ROCHA, J. Design thinking na
e) uma silepse de número, pois o verbo “tratar-se” formação de professores: novos
deveria estar no plural para concordar com o su- olhares para os desafios da edu-
jeito “bichos”. cação. In: Metodologias ativas
para uma educação inovadora.
Porto Alegre: Penso, 2018, p.154.)
Questão 104 - (FATEC SP)
De acordo com as informações apresentadas no tex-
O excerto apresenta, brevemente, uma crítica ao mo-
to sobre os trabalhos da professora Temple Grandin,
delo vigente da educação na sociedade brasileira nos
a mudança proposta por ela no tratamento dos ani-
anos 1950.
mais acarreta

Assinale a alternativa em que o trecho literário re-


a) benefícios aos animais e aos tratadores, pois os
trata uma situação semelhante à abordada no texto.
tratadores se expõem menos a riscos e ganham
maior qualidade de vida.

b) benefícios aos animais em detrimento do enca- a) “E ele, Clarimundo, o homem do relógio, o es-
recimento dos produtos derivados dos gastos cravo fiel das horas, que fez nos seus quarenta
excessivos no bem-estar da criação. e oito anos de vida? Preparou espíritos, estudou
e compreendeu Einstein, escreveu artigos para
c) prejuízos aos tratadores de gado em detrimento
jornais, notas sobre filosofia, matemática, física
dos animais que, não só recebem tratamentos
e astronomia recreativa...”, Érico Veríssimo, Ca-
piores, mas ainda são antropomorfizados.
minhos Cruzados.
d) benefícios aos criadores de animais de peque-
b) “As primas já estão se acostumando no Colégio,
no porte, pois não detêm poder aquisitivo sufi-
mas Luisinha está se queixando de dor no estô-
ciente para investir na infraestrutura e concorrer
mago e nós a achamos mais magra. Diante dis-
com os grandes proprietários.
so eu insisti com mamãe para trazê-la para casa
e) prejuízos aos animais de grande porte, pois os para consultar com Dr. Teles. A Superiora quis
investidores gastam mais para manter a infraes- fazer dúvida e disse que não era preciso trazer
trutura necessária, como currais sem cantos ou Luisinha porque o médico podia ir ao Colégio
pregos fora do lugar e, consequentemente, me- como vai sempre ver outras meninas.”, Helena
nos em seu bem-estar. Morley, Minha Vida de Menina.

c) “Fabiano estava contente e acreditava nessa


terra, porque não sabia como ela era nem onde
Questão 105 - (FATEC SP) era. Repetia docilmente as palavras de sinha Vi-
tória, as palavras que sinha Vitória murmurava
A denúncia de uma crise de sentido na educação porque tinha confiança nele. E andavam para o
não é algo novo e exclusivo do momento histórico em sul, metidos naquele sonho. Uma cidade gran-
que vivemos. Podemos dizer que a crítica ao modelo de, cheia de pessoas fortes. Os meninos em es-
educacional e à função social da escola se constitui colas, aprendendo coisas difíceis e necessárias.”,
à medida que a própria educação se institucionaliza, Graciliano Ramos, Vidas Secas.
incorporando a responsabilidade de ser um processo
sistemático e intencional de formação humana. d) “Dirigi-me a alguns amigos, e quase todos con-
sentiram de boa vontade em contribuir para o
[...] desenvolvimento das letras nacionais. Padre Sil-
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vestre _ caria com a parte moral e as citações nossas 32 manifestações culturais. Elas não apenas
latinas; João Nogueira aceitou a pontuação, a traduzem 33 o que somos, antes produzem a nossa
ortografia e a sintaxe; prometi ao Arquimedes identidade.
a composição tipográfica; para a composição
literária convidei Lúcio Gomes de Azevedo Gon- SALGADO, M. Jornal do Brasil.
dim, redator e diretor do Cruzeiro.”, Graciliano Caderno B. 10 jun. 2018. Adaptado.
Ramos, São Bernardo.

e) “Na segunda-feira, voltou o menino armado


com a sua competente pasta a tiracolo, a sua Questão 106 - (FM Petrópolis RJ)
lousa de escrever e o seu tinteiro de chifre; o pa-
Um exemplo utilizado no texto como argumento de
drinho o acompanhou até a porta. Logo nesse
que a cultura exerce importante papel na construção
dia portou-se de tal maneira que o mestre não
da identidade é a
se pôde dispensar de lhe dar quatro bolos, o que
lhe fez perder toda a folia com que entrara: de-
clarou desde esse instante guerra viva à escola.”,
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um a) elaboração da Constituição de 1988 com partici-
Sargento de Milícias. pação popular

b) função das redes sociais no processo de globali-


zação da sociedade
TEXTO: 42 - Comuns às questões: 106, 107
c) definição da política cultural como um ato oficial
Cultura e cidadania de governo

d) influência da publicidade nas ações dos merca-


dos e das mídias
A construção das identidades culturais já foi tra-
1

tada 2 como uma questão institucional, depois pas- e) caracterização do Brasil como o país do carnaval
sou 3 a sofrer influências das mídias, dos mercados, e do futebol
das 4 imagens publicitárias. Hoje, são identidades em
trânsito, 5 interconectadas às redes sociais.
6
Foi a partir da Constituição de 1988 que, no Bra- Questão 107 - (FM Petrópolis RJ)
sil, 7 se passou a falar em “direitos culturais”. Antes
não 8 havia referência a essa expressão. Hoje a cida- O trecho que expressa a tese defendida pelo autor a
dania 9 cultural é um direito consagrado, embora, na respeito da relação entre cultura e cidadania é
prática, 10 o seja com muitos percalços.

Os conceitos de cultura e cidadania, entre nós,


11
12
devem expressar as múltiplas formas de produzir a) “Os conceitos de cultura e cidadania, entre nós,
cultura 13 e exercer a cidadania. devem expressar as múltiplas formas de produ-
zir cultura e exercer a cidadania” (Refs. 11-13)
14
A cultura possui aspectos materiais — como os
15
objetos ou símbolos — e imateriais, como as ideias, b) “A cultura possui aspectos materiais – como
16
as expressões artísticas, a religiosidade. As culturas os objetos ou símbolos – e imateriais, como as
17
têm valores que geram certos tipos de comporta- ideias, as expressões artísticas, a religiosidade”
mentos, 18 já a convivência social tem normas que (Refs. 14-16)
envolvem 19 direitos e deveres. A cultura oferta a li- c) “Foi a partir da Constituição de 1988 que, no
berdade, a cidadania 20 pede organização. Brasil, se passou a falar em “direitos culturais”.
21
Quando a dura realidade bate à porta, o que 22 Antes não havia referência a esta expressão”
salva o brasileiro da catástrofe é o que há de simbóli- (Refs. 6-8)
co, 23 o que compõe o sentido lúdico da vida. Dizer 24 d) “Dizer que o Brasil é o país do carnaval e do fute-
que o Brasil é o país do carnaval e do futebol é um 25 bol é um lugar-comum, mas faz todo o sentido”
lugar-comum, mas faz todo o sentido. (Refs. 23-25)
A cultura alimenta a sua alma, dá forma à sua
26
e) “A construção das identidades culturais já foi
27
identidade. Hoje muito mais uma identidade em tratada como uma questão institucional, depois
movimento 28 do que, como já se pensou, uma iden- passou a sofrer influências das mídias” (Refs.
tidade 29 imutável. São as múltiplas formas de ser que 1-3)
se organizam, 30 como condição de sobrevivência, em
um mundo 31 globalizado. Devemos estar atentos às
58 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 43 - Comuns às questões: 108, 109, 110 (6) Caprichar na higienização dos vegetais? Prestar
mais atenção na hora das compras? Priorizar va-
Mais agrotóxico na mesa riedades da época e da região? Dar preferência
aos orgânicos e à produção agroecológica? Ficar
ligado nas discussões políticas sobre alimenta-
Projeto de lei que flexibiliza regras para aprovação e ção?
uso de pesticidas reacende discussões sobre a segu- (7) No fundo, tudo passa por uma mudança cultu-
rança do que colocamos em nosso prato. ral que esbarra em questões econômicas. Vai na
mesma linha de diminuir o uso de sacolas plás-
ticas e de copos plásticos. Só assim a gente con-
(1) Tem no arroz. Tem no feijão. Tem na salada. E segue caminhar para um mundo mais saudável
tem até na carne, no leite, no pão e nos biscoi- e sustentável.
tos. Todos esses alimentos, ou as matérias-pri-
mas que permitem sua produção, dependem de
agrotóxico para ganhar escala industrial. Pelos
Questão 108 - (FPS PE)
cálculos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
circulam, em média, sete litros por ano dessas Qualquer texto – o que, na verdade, corresponde a
substâncias pelo nosso organismo. Não sur- uma ‘ação de linguagem’ – é movido por uma inten-
preende. Desde 2008, o Brasil é considerado o ção, por um ‘propósito’, contextualmente reconhe-
principal consumidor desses agentes, utilizando cido. Em relação ao texto, pode-se entender que a
cerca de 20% de todos os tipos comercializados interação do autor foi:
no mundo. Mas há quem defenda que é preciso
usar mais.

(2) Em junho, um grupo de políticos aprovou na Câ- a) caracterizar as diferentes doenças possivelmen-
mara dos Deputados o projeto de lei que flexibi- te incitadas por pesticidas comercializados no
liza as regras de fiscalização e aplicação de pes- mundo, inclusive no Brasil.
ticidas. “Com ferramentas atuais, os agricultores
poderão responder de forma mais assertiva para b) propor que as normas de fiscalização do uso de
a produção das lavouras, garantindo a produção agrotóxicos sejam determinantes, embora mais
de alimentos e matérias-primas sem aumentar a flexíveis, para a produção das lavouras.
área plantada ou o consumo de recursos natu-
rais”, justifica o diretor executivo da Associação c) estimular o setor agrícola do país no sentido de
Nacional de Defesa Vegetal. garantir, aos diferentes produtos, o status de ‘es-
cala industrial’.
(3) É claro que houve reação. O documento foi ape-
lidado de “Pacote do Veneno” por vários setores d) informar aos trabalhadores do campo e mora-
da sociedade, que trataram de se mobilizar para dores das zonas rurais os riscos de contamina-
impedir que ele avance e ganhe força de lei. En- ção incitados pelo agrotóxico.
cabeçada pela Fiocruz, além de ativistas e cele- e) advertir os leitores de que enfrentar a exposi-
bridades, uma petição online reuniu mais de 1,6 ção excessiva ao uso de agrotóxicos é, antes de
milhão de assinaturas. Toda essa movimentação tudo, uma questão cultural.
trouxe à tona uma discussão antiga: afinal, como
esses químicos afetam nosso organismo?

(4) Segundo a OMS, são registrados 25 milhões de Questão 109 - (FPS PE)
casos de envenenamento por agrotóxicos e 20
mil mortes no planeta todo ano. As populações No sexto parágrafo do texto, encontramos várias
mais vulneráveis são as que estão diretamente perguntas. São perguntas que, neste texto, têm uma
em contato com esses elementos, como traba- função:
lhadores do campo e moradores das zonas ru-
rais, empregados das corporações que fabricam
os defensivos, bem como populações indígenas,
quilombolas e ribeirinhas. No Brasil, informa a a) textualmente relevante, pois se destinam a es-
Abrasco, ocorrem cerca de 4.300 episódios de clarecer, aos prováveis leitores, detalhes do
intoxicação anualmente. Mas esse dado é sub- tema ainda em discussão.
notificado, apesar de o número de doenças pos-
b) elucidativa, uma vez que têm como função dar
sivelmente incitadas por pesticidas ser enorme.
respostas explícitas a questões até então desco-
(5) Mas, o que o consumidor pode fazer para mini- nhecidas.
mizar a exposição ao agrotóxico?
www.PROJETOREDACAO.com.br - 59
c) pragmaticamente coerente, pois os interlocu- fenômeno da variação tão natural e inevitável na vida
tores previstos esperam esclarecimentos que das línguas. Essa supervalorização da língua escrita
tirem suas dúvidas atuais. combinada com o desprezo da língua falada é um
preconceito que data de antes de Cristo!
d) comunicativamente inadequada, uma vez que o
contexto ativado pelo texto pede, no momento, É claro que é preciso ensinar a escrever de acordo
respostas explícitas. com a ortografia oficial, mas não se pode fazer isso
tentando criar uma língua falada “artificial”, e repro-
e) puramente retórica. Ou seja, as perguntas são vando como “erradas” as pronúncias que são resulta-
uma estratégia, ou um recurso para instigar o in- do da história social e cultural das pessoas que falam
teresse do leitor. a língua em cada canto do Brasil. Seria mais justo e
democrático explicar ao aluno que ele pode dizer
“bulacha” ou “bolacha”, mas que só pode escrever
BOLACHA, porque é necessária uma ortografia única
Questão 110 - (FPS PE)
para toda a língua, para que todos possam ler e com-
Do ponto de vista global, o texto elege como área preender o que está escrito.
prioritária para a solução do problema levantado:
Marcos Bagno. Preconceito linguístico.
São Paulo: Parábola, 2015. p. 79-80.

a) o campo das mudanças culturais, conforme o


qual as pessoas atuam socialmente.
Questão 111 - (FPS PE)
b) as populações que se concentram na produção
específica do meio rural. O texto mostra uma elaboração própria dos textos
expositivos. Isso fica mais evidente:
c) o cultivo de alimentos vegetais por métodos
preferencialmente orgânicos.

d) a discussão pública sobre a relação entre ciência a) pelo cumprimento de regras sintáticas da escri-
e saúde. ta.

e) as corporações responsáveis pela contínua fa- b) por estar distante dos modos típicos da oralida-
bricação dos agrotóxicos. de.

c) por apresentar autoria e divisão paragráfica.

d) por empregar um vocabulário de caráter erudi-


TEXTO: 44 - Comuns às questões: 111, 112, 113
to.
“O certo é falar assim porque se escreve assim”.
e) graças ao teor generalizante de suas afirmações.

Diante de uma placa escrita TEATRO, é provável


que um pernambucano, lendo em voz alta, diga TÉ- Questão 112 - (FPS PE)
-atru, que um carioca diga TCHI-atru, que um paulis- A questão abordada no texto é vista numa perspec-
tano diga TÊ-atru. E agora? Quem está certo? Ora, tiva linguística:
todos estão igualmente certos. O que acontece é que
em toda comunidade linguística do mundo existe um
fenômeno chamado variação, isto é, nenhuma língua
é falada do mesmo jeito em todos os lugares, assim a) mais social, pragmática e flexível.
como nem todas as pessoas falam a própria língua de
modo idêntico o tempo todo. b) antes de tudo, sintático-semântica.

Infelizmente, existe uma tendência (mais um pre- c) eminentemente morfológica e sintática.


conceito!) muito forte no ensino da língua de querer
obrigar o aluno a pronunciar “do jeito que se escre- d) meramente, fonética e fonológica.
ve”. Como se essa fosse a única maneira “certa” de e) sobretudo, léxico-gramatical.
falar português. (Imagine se alguém fosse falar inglês
ou francês do jeito que se escreve!) Muitas gramá-
ticas e livros didáticos chegam ao cúmulo de acon-
selhar a professora a “corrigir” quem fala muleque,
bêju, minino, bisôro, como se isso pudesse anular o
60 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 113 - (FPS PE) ajustando o volume ao do recipiente, como os
gatos aparentam ser.
O autor conclui seu texto afirmando a flexibilidade da
pronúncia na modalidade oral, mas também a neces- e) moleculares são voláteis, necessitando estoca-
sidade de uma única grafia oficial, pois: gem em recipientes fechados, como os gatos
aparentam ser.

Note e adote:
a) em cada canto do Brasil se escrevem textos re-
prováveis. Considere temperatura e pressão ambientes.

b) é artificial um padrão de escrita sem aprovação


da gramática.
Questão 115 - (FUVEST SP)
c) são consideradas erradas e reprováveis as pro-
núncias regionais. Examine o cartum.

d) o entendimento do que está escrito deve ser ga-


rantido a todos.

e) as dificuldades ortográficas podem resultar em


padrões artificiais de fala.

Questão 114 - (FUVEST SP)


ITURRUSGARAI, Adão. A vida
Uma postagem de humor na internet trazia como como ela yeah. Folha de S.
título “Provas de que gatos são líquidos” e usava, Paulo, ago.2018.
como essas provas, fotos reais de gatos, como as re-
produzidas aqui.
O efeito de humor que se obtém no cartum decorre,
principalmente,

a) da expressão facial da personagem.

b) do uso de uma ferramenta fora de contexto.

c) da situação rotineira exposta pela imagem.

d) da ambiguidade presente na expressão “quebre


a cara”.

Bored Panda. https://www.bo- e) do emprego de linguagem popular.


redpanda.com. Adaptado.

TEXTO: 45 - Comum à questão: 116


O efeito de humor causado na associação do título
com as fotos baseia‐se no fato de que líquidos
1
Mito, na acepção aqui empregada, não signifi-
ca mentira, 2 falsidade ou mistificação. Tomo de em-
préstimo a formulação 3 de Hans Blumenberg do mito
político como um processo 4 contínuo de trabalho de
a) metálicos, em repouso, formam uma superfície uma narrativa que responde a uma 5 necessidade
refletora de luz, como os pelos dos gatos. prática de uma sociedade em determinado 6 perío-
do. Narrativa simbólica que é, o mito político coloca
b) têm volume constante e forma variável, proprie- em 7 suspenso o problema da verdade. Seu discurso
dade que os gatos aparentam ter. não pretende ter 8 validade factual, mas também não
pode ser percebido como 9 mentira (do contrário, não
c) moleculares são muito viscosos, como aparen-
seria mito). O mito político confere 10 um sentido às
tam ser os gatos em repouso.
circunstâncias que envolvem os indivíduos: ao 11 fa-
d) são muito compressíveis, mantendo forma mas zê-los ver sua condição presente como parte de uma
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história 12 em curso, ajuda a compreender e suportar
o mundo em que 13 vivem.
Questão 118 - (UNICAMP SP)
ENGELKE, Antonio. O anjo redentor.
Piauí, ago. 2018, ed. 143, p. 24. Uma página do Facebook faz humor com monta-
gens que combinam capas de livros já publicados e
memes que circulam nas redes sociais. Uma dessas
postagens envolve a obra de Henry Thoreau, para
Questão 116 - (FUVEST SP) quem a desobediência civil é uma forma de protesto
legítima contra leis ou atos governamentais conside-
De acordo com o texto, o “mito político” rados injustos pelo cidadão e que ponham em risco
a democracia.

a) prejudica o entendimento do mundo real.

b) necessita da abstração do tempo.

c) depende da verificação da verdade.

d) é uma fantasia desvinculada da realidade.

e) atende a situações concretas.

Questão 117 - (FUVEST SP)


Examine o anúncio.

(Fonte: Página de Facebook Obras


Literárias com capas de memes
genuinamente brasileiros.)
Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Sul.

O efeito de humor aqui se deve ao fato de que a


No contexto do anúncio, a frase “A diferença tem que montagem
ser só uma letra” pressupõe a

a) refuta as razões para a desobediência civil com


a) necessidade de leis de proteção para todos que base na desculpa apresentada pela criança.
trabalham.
b) antecipa uma possível avaliação negativa da de-
b) existência de desigualdade entre homens e mu- sobediência sustentada pelo livro.
lheres no mercado de trabalho.
c) equipara as razões da desobediência civil à justi-
c) permanência de preconceito racial na contrata- ficativa apresentada pela criança.
ção de mulheres para determinadas profissões.
d) contesta a legitimidade da desobediência civil
d) importância de campanhas dirigidas para a mu- defendida por Thoreau.
lher trabalhadora.

e) discriminação de gênero que se manifesta na


própria linguagem.

62 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 119 - (UNICAMP SP) Questão 120 - (UNICAMP SP)
Para driblar a censura imposta pela ditadura militar, “...Nas ruas e casas comerciais já se vê as faixas indi-
compositores de música popular brasileira (MPB) cando os nomes dos futuros deputados. Alguns no-
valiam-se do que Gilberto Vasconcelos chamou de mes já são conhecidos. São reincidentes que já foram
“linguagem da fresta”, expressão inspirada na canção preteridos nas urnas. Mas o povo não está interessa-
“Festa imodesta”, de Caetano Veloso. do nas eleições, que é o cavalo de Troia que aparece
de quatro em quatro anos.”

(Carolina Maria de Jesus, Quarto de


(...) despejo. São Paulo: Ática, 2014, p. 43.)
Numa festa imodesta como esta

Vamos homenagear O trecho anterior faz parte das considerações polí-


ticas que aparecem repetidamente em Quarto de
Todo aquele que nos empresta sua testa despejo, de Carolina Maria de Jesus. Considerando
Construindo coisas pra se cantar o conjunto dessas observações, indique a alternativa
que resume de modo adequado a posição da autora
Tudo aquilo que o malandro pronuncia sobre a lógica política das eleições.

E que o otário silencia

Toda festa que se dá ou não se dá a) Por meio das eleições, políticos de determina-
dos partidos acabam se perpetuando no exercí-
Passa pela fresta da cesta e resta a vida. cio do poder.

b) Os políticos se aproximam do povo e, depois das


eleições, se esquecem dos compromissos assu-
Acima do coração que sofre com razão midos.
A razão que volta do coração c) Os políticos preteridos são aqueles que acabam
vencendo as eleições, por força de sua persis-
E acima da razão a rima
tência.
E acima da rima a nota da canção
d) Graças ao desinteresse do povo, os políticos se
Bemol natural sustenida no ar apropriam do Estado, contrariando a própria de-
mocracia.
Viva aquele que se presta a esta ocupação

Salve o compositor popular


TEXTO: 46 - Comuns às questões: 121, 122, 123
(Gilberto de Vasconcelos, Música
popular: de olho na fresta. Rio Dicas para evitar a disseminação de boatos e notí-
de Janeiro: Graal, 1977.) cias falsas

É correto afirmar que, na canção, essa “linguagem da 1. Saiba quando uma mensagem é encaminhada
fresta” transparece
Mensagens com a etiqueta “Encaminhada” aju-
dam a determinar se seu amigo ou parente es-
creveu aquela mensagem ou se ela veio original-
a) na contradição entre “festa” e “fresta”, que fun- mente de outra pessoa.
ciona como crítica ao malandro.
2. Verifique fotos e mídia com cuidado
b) na repetição de palavras com pronúncia seme-
lhante para louvar a MPB. Fotos, áudios e vídeos podem ser editados para
enganar você. Procure por fontes de notícias
c) na referência à “fresta” como forma de o com- confiáveis para ver se a história está sendo re-
positor se pronunciar. portada também em outros veículos. Quando
uma notícia é reportada em vários canais con-
d) na incoerência da rima entre “festa” e “imodes- fiáveis, é mais provável que ela seja verdadeira.
ta” para prestigiar o compositor.

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3. Fique atento a mensagens que parecem estra- ciais e a relação emocional que os usuários têm
nhas com elas.

Muitas mensagens ou links para sites que con- e) um roteiro com orientações para a identificação
têm boatos ou notícias falsas apresentam erros de notícias falsas em redes sociais, o qual ajuda-
de português. Procure por esses sinais para veri- rá os usuários a parar de disseminá-las.
ficar se a informação é confiável.

4. Esteja atento a preconceitos e influências


Questão 122 - (IBMEC SP Insper)
Histórias que parecem difíceis de acreditar são,
em sua maioria, realmente falsas. Considere as seguintes passagens do texto:

5. Notícias falsas frequentemente viralizam

Não encaminhe uma mensagem só porque o re- • Procure por fontes de notícias confiáveis para
metente está lhe pedindo para fazer isso. ver se a história está sendo reportada também
em outros veículos. Quando uma notícia é re-
6. Verifique outras fontes portada em vários canais confiáveis, é mais pro-
vável que ela seja verdadeira.
Se você ainda não tem certeza de que uma men-
sagem é verdadeira, faça uma busca online por • Muitas mensagens ou links para sites que con-
fatos e verifique em sites de notícias confiáveis têm boatos ou notícias falsas apresentam erros
para ver de onde a história veio. de português. Procure por esses sinais para ve-
rificar se a informação é confiável.
7. Ajude a parar a disseminação
• Se você sentir que você ou alguém está em pe-
Não compartilhe uma mensagem só porque al- rigo emocional ou físico, por favor, contate as
guém lhe pediu. Se algum contato ou grupo está autoridades locais de cumprimento da lei. Essas
enviando notícias falsas constantemente, de- autoridades são preparadas e equipadas para
nuncie-os. oferecer assistência nesses casos.
Importante: Se você sentir que você ou alguém
está em perigo emocional ou físico, por favor,
contate as autoridades locais de cumprimento No contexto em que estão empregadas, as expres-
da lei. Essas autoridades são preparadas e equi- sões destacadas referem-se, correta e respectiva-
padas para oferecer assistência nesses casos. mente, às seguintes informações:
(https://faq.whatsapp.com/pt. Adaptado)

a) história; mensagens ou links; cumprimento da


lei.
Questão 121 - (IBMEC SP Insper)
b) fonte de notícias; boatos; contato com as autori-
As informações apresentadas permitem afirmar que dades.
o texto consiste em
c) notícia; sites com erros; contato com as autori-
dades.
a) um guia que permite às pessoas tanto a identifi- d) história; notícias falsas; perigo emocional ou físi-
cação de notícias falsas quanto a sua produção, co.
o que, algumas vezes, poderá estar em desacor-
do com a lei. e) notícia; erros de português; perigo emocional
ou físico.
b) um manual rápido e simplificado para que os
usuários das redes sociais saibam se comportar
adequadamente ao lerem as mensagens recebi-
das.

c) um relatório pormenorizado das ações mais co-


muns identificadas na produção e veiculação de
informações falsas pelas redes sociais.

d) uma síntese de procedimentos que permitem


entender melhor o funcionamento das redes so-
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Questão 123 - (IBMEC SP Insper) Meus olhos em sangue

Testemunharam

a dança dos algozes

em torno do meu cadáver.

Tornei-me mineral

memória da dor.

Para sobreviver,
(Jorge Braga. Em: https://
www.opopular.com.br/) recolhi das chagas do corpo

a lua vermelha de minha crença,

A leitura comparativa entre o texto e a charge permi- no meu sangue amanhecendo.


te afirmar que ambos fazem um alerta acerca

[...]
a) dos perigos a que as pessoas estão expostas
nas redes sociais, considerando-se a facilidade Porque sou o poeta
de fazer circular informações inverídicas nesses
dos mortos assassinados,
meios de comunicação.
dos eletrocutados, dos “suicidas”,
b) da falta de contato presencial entre as pessoas
que, cada vez mais, estão preferindo comunicar- dos “enforcados” e “atropelados”,
-se a distância, sem se preocuparem com a inte-
ração face a face. dos que “tentaram fugir”,

c) do descaso das pessoas com o que é veiculado dos enlouquecidos.


pelas redes sociais, principalmente pelo fato de
serem informações, em sua maioria, baseadas
em inverdades.
Sou o poeta
d) da importância assumida pelas redes sociais no
contexto da comunicação atual, razão pela qual dos torturados,
devem ser estimulados os contatos pessoais dos “desaparecidos”,
nesses meios.
dos atirados ao mar,
e) dos internautas incautos que usam as redes so-
ciais para obter vantagens pessoais, apesar de sou os olhos atentos
haver pouco espaço nelas para manobras ile-
gais. sobre o crime.

(Pedro Tierra, Poemas do Povo da Noite)

TEXTO: 47 - Comum à questão: 124


Leia o poema de Pedro Tierra. Questão 124 - (IBMEC SP Insper)
No poema, o eu lírico

Fui assassinado.

Morri cem vezes a) expressa seus sentimentos em relação à vida


como submissão a um incessante sofrimento,
e cem vezes renasci independentemente da sociedade em que está
inserido.
sob os golpes do açoite.
b) emerge como força de resistência, representan-
do a voz daqueles que foram submetidos, em
www.PROJETOREDACAO.com.br - 65
qualquer tempo, a toda sorte de violência. também poderá participar do debate on-line. Por
exemplo, muitos aplicativos populares no mundo em
c) refere-se às ações de repressão à liberdade desenvolvimento concentram-se apenas em men-
como algo justificável, pois é inerente à cultura sagens de voz, já que parcela considerável de seus
de todos os tempos, em circunstâncias defini- usuários não sabe ler nem escrever, dificultando ain-
das. da mais a identificação de informações falsas. A se-
gunda: o desenvolvimento de ferramentas baseadas
d) mostra-se confiante no propósito de combater em inteligência artificial, capazes de manipular ou
toda forma de opressão, incitando o leitor a par- fabricar vídeos, arquivos de áudio e fotos falsas – as
tilhar o sentimento de justiça. chamadas deep fakes – ampliará consideravelmente
e) declara que sua arte é desvinculada da denúncia a dificuldade de separar fato de ficção, o que fará as
de crimes e injustiça, sugerindo implicitamente fake news de hoje parecerem brincadeira de criança.
que não pode desviar-se de seu propósito. Daqui a alguns anos, um smartphone será suficiente
para simular uma sequência de notícias, como as da
CNN, por exemplo, na qual a perfeita imitação da voz
de um apresentador famoso reportaria um golpe mi-
TEXTO: 48 - Comuns às questões: 91, 92, 125 litar em Washington ou um anúncio da Casa Branca
sobre uma guerra iminente, sem meio técnico para
TEXTO 1 confirmar ou negar sua veracidade. Em uma futura
eleição presidencial no Brasil, não será mais necessá-
rio atacar os concorrentes – pode-se simplesmente
Na semana passada, uma eleição presidencial que produzir um vídeo em que o rival promete que, se
deveria ter como marca a volta da democracia ao eleito, encerrar o programa Bolsa Família, eliminar a
Zimbábue terminou em confusão quando contas propriedade privada ou qualquer absurdo que o faça
falsas no Twitter, no Facebook e no WhatsApp dis- perder apoio. Confusos e desconfiados, os cidadãos
seminaram resultados contraditórios. O país inteiro se refugiarão ainda mais em suas bolhas aparente-
chegou a presenciar comemorações espontâneas mente seguras, isolados em relação a qualquer tipo
pela vitória dos dois candidatos, o que resultou em de debate público. O Brasil também tem sido cenário
confrontos violentos. Em um clima geral de descon- de disseminação de inúmeras notícias falsas, sobre-
fiança, até observadores internacionais não sabiam tudo porque o País passa por um período eleitoral
onde obter informações confiáveis. Na Índia, o go- bastante tenso e polarizado. As pessoas que dissemi-
verno empreende verdadeira batalha contra uma nam notícias falsas o fazem por dois motivos: a) por
onda de linchamentos depois que rumores falsos vi- que são incapazes de pesquisar e confrontar informa-
ralizaram no WhatsApp sobre supostos sequestrado- ções, b) usam as notícias falsas para dar legitimidade
res de crianças. Nacionalistas interessados em atiçar a suas posições políticas. De um jeito ou de outro,
o ódio religioso usam a plataforma para aprofundar são posturas graves e que precisam ser combatidas
a polarização, que também tem resultado em lincha- em nome da jovem democracia brasileira.
mentos. Na Grã-Bretanha, 52% dos eleitores votaram Adaptado de https://brasil.elpais.
por deixar a União Europeia em 2016, atraídos por com/brasil/2018/08/06/opinion/
uma enxurrada de informações falsas disseminadas 1533562312_266402.html.
por nacionalistas oportunistas. Em uma pesquisa Acesso em out. 2018.
recente, uma porcentagem semelhante dos britâni-
cos disse acreditar que os desembarques na Lua de
1969 a 1972 eram falsos. A triste ironia é que, pela
primeira vez na história, a maioria dos cidadãos pode TEXTO 2
carregar no bolso todo o conhecimento do mundo,
mas, ao mesmo tempo, nunca esteve tão vulnerável
a informações falsas. Engana-se quem pensa que al-
gumas mudanças nas leis e ajustes técnicos podem
resolver a situação e permitir que tudo volte a ser
como antes. A humanidade testemunha os primei-
ros momentos de uma nova era em que todo o rela-
cionamento com a informação – e a realidade como
um todo – mudará de maneira hoje inimaginável. A
democracia, tal como se concebe hoje, dificilmente
sobreviverá a essa transformação. Basta considerar
duas grandes tendências. A primeira: apenas cerca
de 50% da população mundial tem acesso à inter-
net hoje. Nos próximos anos, a outra metade, po-
tencialmente ainda mais vulnerável a notícias falsas, Laerte. Adaptado.

66 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 125 - (UNITAU SP) Com base nessas informações, é correto depreender
como inferência autorizada pela tira:
Qual frase melhor resume a ideia central do texto 1?

a) o cliente menospreza a perspectiva de ter um


a) “A triste ironia é que, pela primeira vez na his- bom salário que lhe permita fazer grandes aqui-
tória, a maioria dos cidadãos pode carregar no sições.
bolso todo o conhecimento do mundo, mas, ao
mesmo tempo, nunca esteve tão vulnerável a in- b) a previsão da vidente sugere a economia marca-
formações falsas”. da pela alta da inflação nos próximos anos.

b) “Engana-se quem pensa que algumas mudan- c) a vidente pressupõe que o cliente quer ouvir
ças nas leis e ajustes técnicos podem resolver a uma promessa de futuro de bom salário e satis-
situação e permitir que tudo volte a ser como faz a expectativa dele.
antes”.
d) um alto salário poderá garantir que o cliente
c) “Confusos e desconfiados, os cidadãos se refu- terá, nos próximos dois anos, condições de com-
giarão ainda mais em suas bolhas aparentemen- prar o que quiser.
te seguras, isolados em relação a qualquer tipo
de debate público”. e) cliente e vidente nutrem expectativas positivas
quanto ao futuro: ele porque é confiante, ela
d) “O Brasil também tem sido cenário de dissemi- porque diz o que ele quer ouvir.
nação de inúmeras notícias falsas, sobretudo
porque o País passa por um período eleitoral
bastante tenso e polarizado”.
TEXTO: 49 - Comum à questão: 127
e) “As pessoas que disseminam notícias falsas o fa-
zem por dois motivos: a) por que são incapazes Drogas e mortes
de pesquisar e confrontar informações, b) usam
as notícias falsas para dar legitimidade a suas
posições políticas”. As taxas de homicídios dolosos e de mortes de
trânsito no Brasil, é notório, situam o país entre os
mais violentos do planeta. No ano passado, registra-
ram-se quase 56 mil assassinatos intencionais, ou 27
Questão 126 - (IBMEC SP Insper)
por 100 mil habitantes. Em 2016, pelo dado mais re-
cente, 38 mil vidas foram ceifadas em ruas e estradas
nacionais, cerca de 19 por 100 mil.

Diante dessa carnificina cotidiana, deve-se exigir


das autoridades nada menos que a busca de estra-
tégias mais efetivas para a prevenção desses óbitos.
Países desenvolvidos, já há algumas décadas, passa-
(Adão Iturrusgarai, “A vida co- ram a adotar com sucesso políticas públicas ancora-
mo ela yeah”. Em: Folha de S. das em evidências empíricas. Nem sempre é o que
Paulo, 21.10.2018) ocorre por aqui, no entanto.

Tome-se o exemplo da associação entre a inges-


tão de álcool e o aumento da violência interpessoal
Segundo Carmelino, Taffarelo, Lima e Ramos (em (homicídios e agressões) e dos acidentes de trânsito.
Elias, Lino & Marquesi [orgs.], Linguística Textual e Embora a relação esteja bem estabelecida na litera-
ensino), “a tira cômica trabalha com os conhecimen- tura da área, praticamente inexistem no país dados
tos prévios do leitor. E, nesse sentido, é esperado que sobre o consumo da substância pelas vítimas.
ele depreenda algumas informações, além de tam-
bém inferir as relações entre um quadrinho e outro. Estudo recente conduzido por pesquisadores da
Inferências são processos cognitivos que contribuem Faculdade de Medicina da USP e noticiado por esta
muito para a construção do sentido do texto pelo Folha jogou luz sobre tal questão na cidade de São
fato de levarem o leitor (ou o ouvinte), a partir das Paulo.
informações textuais explicitamente veiculadas e do
contexto, a construir novas representações semânti- Os pesquisadores analisaram amostras de san-
cas”. gue de 365 vítimas de crimes violentos. Constatou-se
que, em 55% dos casos, havia traços de álcool ou ou-
tras drogas.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 67
Também entre as vítimas de acidentes de trânsito c) confirmam a gravidade da situação envolvendo
analisadas no trabalho, chama a atenção o alto per- drogas e álcool, tanto que, assim como o edito-
centual de casos (43%) que mostraram resquícios de rial da Folha, mostram que terá pouca produtivi-
álcool no sangue. dade e impacto social qualquer ação promovida
pelas autoridades governamentais.
Embora o país conte há uma década com severa
legislação sobre o tema, a taxa indica que o diploma d) apresentam dados contundentes em relação ao
deveria ser mais efetivo em seu propósito. Leis como uso de drogas e álcool, e não mostram os efeitos
essa não devem ter a meta de apreender transgres- desses usos; assim como o editorial da Folha,
sores, mas de criar a percepção de que aqueles que a consideram como desnecessária a intervenção
infringirem serão pegos e punidos. governamental.

O estudo deveria servir de exemplo para que o e) trazem dados mais contundentes do que os
país invista na geração contínua de dados como es- apresentados no editorial da Folha, porque a si-
ses. Assim será possível identificar as causas dos pro- tuação investigada restringe- se a uma cidade,
blemas, avaliar a efetividade das políticas públicas o que potencializa a possibilidade de ações por
adotadas e orientar a formulação de novas estraté- parte das autoridades governamentais.
gias.

(Editorial. Folha de S.Paulo, 20.10.2018. Adaptado)


TEXTO: 50 - Comum à questão: 128
A palavra vernáculo caracteriza um modo de
Questão 127 - (IBMEC SP Insper) aprender as línguas: o aprendizado que se dá, por
assimilação espontânea e inconsciente, no ambiente
Em um levantamento que objetivava conhecer a em que as pessoas são criadas. A vernáculo opõe-se
incidência do uso de álcool e anfetaminas entre ca- tudo aquilo que é transmitido através da escola. Para
minhoneiros de estrada, feito com 91 motoristas exemplificar com fatos conhecidos, basta que o leitor
abordados em um posto de combustíveis na cidade brasileiro pense em formas verbais como eu farei e
de Passos, no Estado de Minas Gerais, em novembro eu fizera, ou em construções como fá-lo-ei, dir-lhe-ia,
de 2005, cujos dados foram obtidos por meio de um tu o fizeste ou Ninguém lho negaria. A parte da po-
questionário contendo 19 questões de múltipla esco- pulação brasileira que as conhece chegou a elas pela
lha, os resultados indicaram que 66% desses profis- escola, provavelmente através da leitura de textos
sionais usavam anfetaminas durante os percursos de literários bastante antigos, pois no Brasil de hoje é
viagens, principalmente em postos de combustíveis quase nula a chance de que essas formas ou constru-
(54%) à beira das rodovias. O álcool era utilizado por ções sejam usadas de maneira espontânea.
91% deles, dos quais 43% consumiam a bebida nos
postos de combustíveis. (Rodolfo Ilari e Renato Basso. O por-
tuguês da gente: a língua que estuda-
(Nemésio Dario Almeida, “Os acidentes mos, a língua que falamos)
e mortes no trânsito causados pelo con-
sumo de álcool: um problema de saúde
pública”. Revista Diretório Sanitário,
São Paulo v.15 n.2, p. 108-125, jul. Questão 128 - (IBMEC SP Insper)
/out. 2014. Em: https://www.
revistas.usp.br) Com base no texto, um enunciado que se aproxima
do vernáculo é:

É correto afirmar que as informações do texto


a) Márcio era um pimpão, que divertia a todos com
seus chistes e trocadilhos.

a) ratificam o ponto de vista apresentado no edito- b) Se arrumou, mas esqueceu de ir na casa do ami-
rial da Folha, o que permite inferir a necessida- go, porque ficou assistindo o filme.
de de campanhas preventivas e informativas por
parte das autoridades governamentais. c) Eu o amo tanto que meu coração parece que
logo, logo vai explodir.
b) trazem outro aspecto do problema apresentado
no editorial da Folha, o que é insuficiente para d) Ainda que houvesse luar, a noite não a encanta-
questionar se o uso de drogas ou bebidas tem va como das outras vezes.
impacto em homicídios ou mortes no trânsito.
e) Não vos digo que sejais santos, pois incorrem
diuturnamente em pecados.
68 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 51 - Comuns às questões: 129, 130 mente apreendidas, uma vez que melhoram a
sua qualidade de vida.
Em 17 de maio de 2016, o diretor do Instituto do
Cérebro do RS (InsCer/RS), Jaderson Costa da Costa, c) as novidades são inseridas lentamente na rotina
e o professor do curso de Teologia da Escola de Hu- das pessoas, que não conseguem enxergar cla-
manidades da PUCRS Erico Hammes debateram as ramente os benefícios resultantes das transfor-
interfaces entre o cérebro e a tecnologia, em mais mações tecnológicas.
uma atividade do projeto Fé e Cultura.
d) as mudanças provocadas na vida das pessoas
O debate começou com Costa da Costa contex- trazem bem-estar, pois, com os recursos tecno-
tualizando as tecnologias durante as décadas e ge- lógicos, não há como haver eventuais prejuízos
rações. “Eu sou de uma geração que escrevia cartas”, na rotina pessoal e social.
afirmou, explicando que tinha mais tempo para pen-
sar no que escreveria e em um possível arrependi- e) os avanços tecnológicos deixam evidente que
mento. Na primeira vez que enviou um fax, contou a maioria das pessoas não está preparada para
que, quando viu a folha passando pela máquina, se suportar grandes mudanças em sua vida pessoal
arrependeu imediatamente, mas percebeu que não ou profissional.
tinha mais volta. Lembrou, também, que não esta-
va preparado para aquela tecnologia, utilizando o
exemplo para mostrar de que maneira as inovações Questão 130 - (IBMEC SP Insper)
mudam o modo como as pessoas vivem e enxergam
o mundo. Segundo ele, a vida é orientada pela tec- Ao falar sobre o impacto da tecnologia no campo da
nologia, que busca, entre outras coisas, longevidade, aprendizagem, Costa da Costa pondera que a nova
inteligência e bem-estar. geração
Perguntado sobre o impacto da tecnologia no
campo da aprendizagem, o diretor do InsCer decla-
rou ser um entusiasta do processo, já que não tem a) poderá ter prejuízos severos na memória, mas
medo da tecnologia. Sobre os efeitos na educação, ainda é cedo para falar sobre eles, já que a gera-
ele lembra que antigamente a memória era muito ção dele continua tendo dificuldades de enten-
mais utilizada. Hoje, o celular tem todos os dados e der as inovações.
ninguém mais grava números de telefone, por exem-
plo. Se isso é bom ou ruim, ele diz que depende do b) mantém os mesmos padrões das gerações an-
ponto de vista. Pensando de maneira antiga e tradi- tigas ao tratar as informações, o que indica que
cional, é prejudicial. “Mas essa geração não foi feita não houve prejuízo à memória das pessoas.
para nós, essa geração foi feita para um futuro que
c) tende a juntar fragmentos de informações em
ainda temos dificuldade de entender”, explicou. Por
uma base de tempo aleatória, o que deixa claro
isso, enxerga que, se por um lado a memória foi pre-
os prejuízos que houve à memória dessa gera-
judicada, por outro a nova geração tem a capacidade
ção.
de juntar fragmentos em uma base de tempo aleató-
ria, quenenhuma outra geração tem. Além disso, o d) desenvolveu uma forma diferente de tratar as
pesquisador defende a ideia de que não existe me- informações, o que pode ser estranho para as
mória que grave a mesma coisa, cada um grava peda- gerações mais antigas, mas pode ser produtivo
ços e cria diferentes percepções no cérebro. para a atual.
(http://www.pucrs.br. Adaptado) e) desenvolveu percepções equivocadas de trata-
mento das informações, o que é prejudicial à so-
ciedade, que ainda tem dificuldade de entender
Questão 129 - (IBMEC SP Insper) as mudanças.

Ao analisar o impacto que a tecnologia representou


para sua geração, Costa da Costa destaca que
Questão 131 - (USF SP)
Vida off-line x vida on-line
a) as pessoas vão transformando sua forma de ver
e de se relacionar com o mundo por meio das
mudanças proporcionadas pelos recursos tecno- Em tempos de ânimos à flor da pele e de dicoto-
lógicos disponíveis em cada época. mias políticas bastante extremas, percebe-se que a
b) as transformações tecnológicas ganham espaço vida fora das telas dos computadores, das timeslines
na vida das pessoas porque são rápida e facil- e dos smartphones estão cada vez mais raras. Vemos
www.PROJETOREDACAO.com.br - 69
hoje uma tentativa de adaptação do mundo jurídi- passos sem assistência graças a um tratamento de
co em um mundo portador de algumas ilegalidades estimulação elétrica em sua medula espinhal.
“sem face”, onde autores de crimes como sexismo e
xenofobia, passam a ser devidamente investigados e É o primeiro caso de caminhada independente de
punidos. A Lei Carolina Dieckmann, que é como ficou uma pessoa com paralisia completa dos membros in-
conhecida a Lei Brasileira 12.737/2012, sancionada feriores após lesão na medula, segundo artigo publi-
em 30 de novembro de 2012 pela ex presidente Dil- cado nesta segunda (24) na revista científica Nature
ma Rousseff, promoveu alterações no Código Penal Medicine.
Brasileiro (Decreto-Lei 2.848 de 7 de dezembro de
1940), tipificando os chamados delitos ou crimes in- Os pesquisadores afirmam que, mesmo com um
formáticos. diagnóstico de total perda do controle motor, ainda é
possível encontrar conexões neurais intactas no local
do ferimento, e esses vínculos podem ser excitados.

Essa recente reeducação dos usuários da internet O tratamento do americano Jered Chinnock, 29,
configura uma nova mudança de mentalidade que, começou com 22 semanas de reabilitação física. Em
gradativamente, condiciona a um uso mais responsá- seguida, ele recebeu o implante de um eletrodo —
vel dessa ferramenta. Sobre os dois crimes descritos responsável pela estimulação elétrica e inicialmente
no texto é correto afirmar destinado para terapia contra dor— no canal medu-
lar, abaixo da área lesionada.

O eletrodo tem comunicação sem fio com uma


a) que xenofobia seria desconfiança, temor ou an- central, o que permite controle fino sobre local, fre-
tipatia por pessoas estranhas ao meio daquele quência e duração da estimulação elétrica.
que as ajuíza, ou pelo que é incomum ou vem de
fora do país, enquanto sexismo é referente à ati- O estímulo aplicado precisa ser muito específico
tude de discriminação fundamentada no sexo. para ter efeito. “Uma estimulação aleatória não fun-
ciona”, afirmou em entrevista a jornalistas Kendall
b) Que sexismo é referente ao movimento feminis- Lee, um dos pesquisadores responsáveis pela pes-
ta, enquanto a xenofobia é a acolhida incondi- quisa.
cional a pessoas oriundas de países do continen-
te africano. Depois, o paciente passou por 43 semanas —cer-
ca de 113 visitas durante um ano à Mayo Clinic, em
c) Que xenofobia seria referente ao desconforto de Rochester, Minnesota (EUA) — de reabilitação multi-
convivência, medo e falta de simpatia com pes- modal junto à estimulação elétrica, que permitiu que
soas de orientação sexual diferentes e sexismo os neurônios recebessem a sinalização da intenção
seria uma atitude que consiste na discriminação de movimento.
de veganos
“Isso nos mostra que essa rede de neurônios ain-
d) Que sexismo seria a postura de apoiar incon- da pode funcionar depois da paralisia”, disse Lee, um
dicionalmente pessoas apoiadoras de partidos dos pesquisadores responsáveis pela pesquisa.
de esquerda, enquanto xenofobia seria o apoio
parcial aos movimentos lgbts. Em uma esteira, o paciente conseguiu pisar e de-
senvolver uma caminhada somente com apoio dos
e) que xenofobia seria confiança, amor ou simpatia próprios braços, sem assistência de treinadores ou
por pessoas estranhas ao meio daquele que as aparelhos de sustentação de peso. Ao se movimen-
ajuíza, ou pelo que é incomum ou vem de fora tar no chão, foi necessário o auxílio de um andador
do país, enquanto sexismo é referente à atitude com rodas e a ajuda de um assistente para facilitar o
de acolhida fundamentada no sexo. controle das passadas e do peso corporal.

O paciente conseguiu dar 331 passos, andar 102 me-


tros e caminhar por 16 minutos com alguma assistência.
TEXTO: 52 - Comuns às questões: 132, 133
Christina de Brito, fisiatra do Hospital Sírio-Liba-
Homem paraplégico volta a andar após estimula- nês que não teve participação na pesquisa, afirma
ção elétrica nos EUA que a estimulação elétrica em casos de lesões com-
pletas é utilizada para ativar a musculatura —evitan-
Pesquisa ainda precisa ser expandida para que cien- do encurtamento de fibras e fazendo movimentos
tistas saibam quem poderá se beneficiar da terapia que eram habituais— e para aprimorar os músculos
para possíveis recursos terapêuticos futuros. O que
precisa evoluir na prática clínica, segundo ela, é a
Um paciente que ficou paraplégico em 2013 após funcionalidade do estímulo, como a apresentada no
um acidente conseguiu se manter em pé e dar alguns estudo.
70 - www.PROJETOREDACAO.com.br
“Agora começa o verdadeiro desafio, que é enten- a) estratégia argumentativa, buscando convencer
der como a caminhada aconteceu, por que e quais o leitor sobre o tema.
pacientes conseguirão se beneficiar”, afirmou Kristin
Zhao, cientista também responsável pelo projeto. b) divulgação parcial, condicionando o conheci-
mento prévio à compreensão.
Segundo os pesquisadores, ainda são necessários
estudos mais amplos e com mais pacientes para de- c) sequência injuntiva, considerando as técnicas
terminar a validade e a eficácia do uso associado de empregadas pelo meio.
terapia multimodal e estimulação elétrica.
d) linguagem simples, objetivando a divulgação da
Apesar da ressalva de que é preciso cuidado para informação para o público geral.
não generalizar um relato de caso como possibilida-
de de tratamento para todos, Brito diz que se trata e) codificação técnica, visando à compreensão de
de uma boa notícia. “Abre-se uma perspectiva, uma público especializado.
possibilidade.”

A pesquisadora do Sírio-Libanês também aponta


TEXTO: 53 - Comuns às questões: 134, 135, 136,
para possibilidades terapêuticas futuras relaciona-
da a exoesqueletos, que, mesmo com as evoluções
137
tecnológicas recentes, ainda são pesados e não tão De onde você fala?
funcionais. “Eles não funcionam com você vestindo
e saindo andando, como imaginamos para o futuro.”

Disponível em: <https://www1.fol- Nos anos 1970, em Paris, não havia como se po-
ha.uol.com.br/ciencia/2018/09/ho- sicionar num debate sem receber a questão: “Mais
mem-paraplegico-volta-a-andar-em- d’où tu parles?”, de onde você fala? E isso sobre qual-
esteira-apos-estimulacaoeletrica- quer tema que fosse.
nos-eua.shtml>. Acesso em: 24/9/18.
Cada um devia se perguntar quem estava “real-
mente” falando pela boca dele. Seguindo as ideias da
época: 1) você fala “eu penso que xyz”; 2) o “eu” que
Questão 132 - (USF SP) diz que pensa xyz é apenas o sujeito da frase “eu pen-
so”, uma espécie de ilusão gramatical, que PARECE
Os resultados da pesquisa realizada com Jered Chin-
ser o lugar de onde sai a declaração; 3) atrás desse
nock apontam para
“eu” de “eu penso”, há outro sujeito, eventualmente
ignorado por quem fala: é ele, de fato, que pensa xyz,
sem que o “eu” de “eu penso” sequer se dê conta
a) a viabilidade de estímulos gerais produzirem disso.
efeitos gradativos sobre o exoesqueleto.
Em outros termos, ao tomarmos a palavra, não
b) o cuidado com técnicas inovadoras, cujos efeitos conhecemos direito o próprio lugar de onde falamos
sobre o exoesqueleto ainda são desconhecidos. - ou melhor, desconhecemos o agente que fala pela
nossa boca. Somos divididos e escondemos (inclusive
c) a possibilidade de conjuntos de neurônios já pa- de nós mesmos) uma parte grande de nossas moti-
ralisados responderem a estímulos específicos. vações.
d) o processo muito sofisticado que requer técni- A partir dos anos 1980 e 90, a política das iden-
cas pouco produtivas para tentar localizar neu- tidades, nascida nos EUA, apoderou-se da pergunta
rônios sadios. “de onde você fala?”.
e) a produção de estímulos espontâneos por re- “De onde você fala?”, nos anos 1970, evocava
giões do cérebro cuja paralisia ainda não seja a complexidade indefinida de nossas motivações.
total. Hoje, a mesma pergunta parece se satisfazer com as
identidades que estão na cara - tipo, você é homem
ou mulher, hétero ou homo ou trans, branca ou ne-
gra, bonito ou não, rica ou pobre etc., e, portanto, é
Questão 133 - (USF SP) de lá que você fala, quer queira quer não queira.
De acordo com características como finalidade, pú- É como se os grupos aos quais pertencemos so-
blico-alvo, conteúdo e suporte de publicação, os gê- cial, histórica e geneticamente (nossas “identida-
neros textuais são elaborados de diferentes manei- des”) fossem a origem essencial de nossas motiva-
ras. No caso da pesquisa relatada pelo texto anterior, ções (escondidas ou não) e, portanto, constituíssem
é possível destacar o uso de
www.PROJETOREDACAO.com.br - 71
uma espécie de viés inevitável. política das identidades, pois uma cura psicanalítica,
em tese, serve para nos permitir de não ser apenas,
Por exemplo, posso ser feminista, mas não deixo neuroticamente, o fruto dos grupos onde nascemos,
de ser homem; posso achar qualquer racismo uma membros de uma família, de uma nação, de uma
idiotice, mas não deixo de ser branco; posso ser raça.
comunista, mas não deixo de ser burguês - e essas
coisas todas que eu “não deixo de ser” colocam em Fonte: Contardo Calligaris, psicanalista,
questão o valor do que eu digo. Seja qual for nossa texto publicado no jornal Folha de São
ideia ou militância, seríamos sempre uma quinta co- Paulo, em 9 de agosto de 2018.
luna de nossas identidades.

Essa dúvida (ou crítica) pode ter uma utilidade


política, mas o fato é que as identidades às quais pa- Questão 134 - (UNIOESTE PR)
recemos pertencer não coincidem necessariamente
com nossas motivações. O autor faz uma comparação entre os anos de 1970
e os anos de 1980/90 mostrando os deslizamentos
A mente é complexa. Há proletários que defen- de sentido produzidos a partir de uma mesma ex-
dem políticas econômicas de direita porque, eles pressão: “De onde você fala?” Qual das alternativas
dizem, vai que eles ganham na Mega-Sena. Assim abaixo mostra a correspondência entre o período e
como há homossexuais que defendem sua própria as ideias da época?
discriminação. Interrogando a variedade das motiva-
ções, aliás, eis um clássico, para se divertir: a música/
poesia de Giorgio Gaber,“Qualcuno Era Comunista”.
a) Anos 1970 = nossas motivações constituíssem
Na minha história, a política das identidades e a uma espécie de viés inevitável.
pergunta “de onde você fala?” se cruzaram num es-
b) Anos 1970 = as identidades que estão na cara: é
tranho debate na New School de Nova York, no co-
de lá que você fala, quer queira quer não queira.
meço dos 1990 ou fim dos 80. A decana do departa-
mento onde eu ensinaria era uma mulher branca que c) Anos 1970 = seja qual for nossa ideia/militância,
publicara livros seminais sobre o novo feminismo e, seríamos sempre uma quinta coluna de nossas
antes disso, sobre o racismo nos EUA. Isso não a im- identidades.
pedia de se opor à ideia de considerar a raça (ou o
gênero) como critérios para escolher o corpo docen- d) Anos 1980 e 90 = somos divididos e escondemos
te do departamento. Acusada de dever sua opinião (inclusive de nós mesmos) uma parte grande de
à cor de sua pele, ela declarou (de jeito proposital- nossas motivações.
mente chulo e chocante) sua preferência sexual por
homens negros. O que deixou a plateia estupefata e e) Anos 1980 e 90 = os grupos aos quais pertence-
abriu, para mim, uma série de reflexões inconclusi- mos social, histórica e geneticamente seriam a
vas. origem essencial de nossas motivações.

Se eu, homem ou mulher, transo com negros, o


que isso diz sobre minha relação com minha “iden-
tidade” branca? Será diferente se eu preferir transar Questão 135 - (UNIOESTE PR)
passivamente ou ativamente? Os donos de escravos
Sobre os questionamentos do 11º parágrafo, pode-se
que iam para a senzala para comer eram mais ou
AFIRMAR que
menos “brancos” do que aqueles que iam para ser
comidos?

Falando de escravos, aliás, outra ideia forte da a) são perguntas retóricas e sem relação com o tex-
política das identidades é a das culpas que cada um to.
carregaria consigo por causa das suas identidades.
b) são perguntas imorais, pois não se deve falar de
Pareceria fácil objetar: como um branco chegado sexo publicamente.
ao Brasil nos anos 1940 seria “culpado” pela escrava-
tura no Brasil? Como um muçulmano de hoje seria c) são perguntas racistas, porque expõem os ne-
responsável pela pirataria no Mediterrâneo? Mas, de gros à condição de sujeitos sexualmente passi-
fato, adoramos assumir as culpas (ou os “direitos”) vos.
das nossas supostas identidades - provavelmente
porque adoramos qualquer coisa que alivie nossa so- d) são perguntas reveladoras sobre as preferências
lidão. sexuais dos indivíduos dos anos 1970.

Aqui, a psicanálise toma a direção oposta à da e) são perguntas irônicas frente à tese sobre gêne-
ro (raça) e identidade coincidirem.
72 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 136 - (UNIOESTE PR) A cadela Laika, tripulante da Sputnik-2, foi o primeiro
ser vivo a ir ao espaço, em novembro de 1957, quatro
Marque a alternativa CORRETA, considerando os três anos antes do primeiro homem, o astronauta Gaga-
últimos parágrafos do texto. rin.

Os norte-americanos gostam de fazer experiências


científicas espaciais com macacos, pois o corpo deles
a) A ideia de culpa se deve, exclusivamente, à falta se parece com o humano. O chimpanzé é o preferido
de uma política de identidade. porque é inteligente e convive melhor com o homem
b) As políticas de identidade defendem a ideia de do que as outras espécies de macacos. Ele aprende a
que todo cidadão assume uma parcela de culpa comer alimentos sintéticos e não se incomoda com a
em relação à discriminação. roupa espacial.

c) Não existe culpa quando a pessoa conhece a sua Além disso, os macacos são treinados e podem fa-
identidade. zer tarefas a bordo, como acionar os comandos das
naves, quando as luzes coloridas acendem no painel,
d) A psicanálise permite que sujeito não seja ape- por exemplo.
nas o fruto dos grupos onde nasceu, membro de
uma família, de uma nação ou de uma raça. Enos foi o mais famoso macaco a viajar para o espa-
ço, em novembro de 1961, a bordo da nave Mercury/
e) Culpa e solidão são sentimentos provocados pe- Atlas 5. A nave de Enos teve problemas, mas ele vol-
las políticas de identidade como elas se apresen- tou são e salvo, depois de ter trabalhado direitinho.
tam hoje. Seu único erro foi ter comido muito depressa as pas-
tinhas de banana durante as refeições.

Folha de São Paulo, 26 de janeiro de 1996.


Questão 137 - (UNIOESTE PR)
No penúltimo parágrafo, o encerramento da frase,
“provavelmente porque adoramos qualquer coisa No trecho “Além disso, os macacos são treinados e
que alivie a nossa solidão” cria uma relação com a podem fazer tarefas a bordo ...”.
culpa. No caso, trata-se da necessidade de

A expressão destacada indica


a) encorajamento.

b) pertencimento.
a) argumento contrário.
c) acobertamento.
b) justificativa.
d) comedimento.
c) comparação.
e) distanciamento.
d) relação de condição.

e) soma de argumentos
Questão 138 - (UNIFOR CE)
Animais no espaço
Questão 139 - (UNIFOR CE)
Costuma-se acreditar que, quando se relatam dados
Vários animais viajaram pelo espaço como astronau- da realidade, não pode haver nisso subjetividade al-
tas. guma e que relatos desse tipo merecem toda a nossa
confiança porque são reflexo da neutralidade do pro-
dutor do texto e de sua preocupação com a verdade
objetiva dos fatos.
Os russos já usaram cachorros em suas experiências.
Eles têm o sistema cardíaco parecido com o dos se- Mas não é bem assim. Mesmo relatando dados ob-
res humanos. Estudando o que acontece em eles, os jetivos, o produtor do texto pode ser tendencioso e
cientistas descobrem quais problemas podem acon- ele, mesmo sem estar mentindo, insinua seu julga-
tecer com as pessoas. mento pessoal pela seleção dos fatos que está repro-
duzindo ou pelo destaque maior que confere a certos

www.PROJETOREDACAO.com.br - 73
pormenores. Questão 140 - (UNIFOR CE)
A essa escolha dos fatos e à ênfase atribuída a certos
tipos de pormenores dá-se o nome de viés.

(...)

Nas campanhas políticas, órgãos da imprensa, dizen-


do-se imparciais e comprometidos com a neutralida-
de da informação, não podem manifestar claramen-
te suas preferências partidárias. Mas estes acabam
encontrando maneiras veladas de fazer propaganda,
como, por exemplo, a prática do viés.

(...)

Para não cair na ingenuidade e para não se deixar le-


var pela malícia do produtor do texto, o leitor atento
deve procurar reconhecer todo tipo de viés, pois essa
é uma das formas de manipular o texto, pela qual o
escritor cria uma imagem positiva ou negativa de um
certo dado da realidade, fingindo estar sendo neutro.

PLATÃO e FIORIN. Para entender


o texto – leitura e redação. São Pau-
lo: Ática, 1992 (fragmentos)

Considerando a natureza didática desse texto, os au-


tores objetivam

a) fazer uma crítica à falta de informação do eleito-


rado brasileiro.
De acordo com o infográfico “A desigualdade de gê-
b) explanar uma estratégia de produção de texto. nero no Brasil em 2016”, é correto afirmar que:
c) denunciar a falta de neutralidade da imprensa.

d) chamar a atenção para o descuido com a leitura. a) as mulheres estudam mais, entretanto têm salá-
rio compatível com o dos homens.
e) alertar os leitores sobre a malícia dos textos pu-
blicitários. b) a taxa de frequência média do ensino médio en-
tre os homens brancos é maior do que a taxa das
mulheres.

c) a proporção de mulheres pretas ou pardas com


representação política na Câmara é de 10,5%.

d) o percentual de tempo dedicado aos afazeres


domésticos é igual entre homens pretos ou par-
dos e as mulheres brancas.

e) as mulheres em geral trabalham 18,1h semanais


em afazeres domésticos e os homens, 10,5h se-
manais.

74 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 141 - (UNIFOR CE) Questão 142 - (UNIFOR CE)
Elogio da memória Com licença poética

Adélia Prado

O funil da ampulheta Quando nasci um anjo esbelto,

Apressa, retardando-a desses que tocam trombeta, anunciou:

A queda vai carregar bandeira.

Da areia. Cargo muito pesado pra mulher,

Nisso imita o jogo esta espécie ainda envergonhada.

Manhoso Aceito os subterfúgios que me cabem,

De certos momentos sem precisar mentir.

Que se vão embora Não sou tão feia que não possa casar,

Quando mais queríamos acho o Rio de Janeiro uma beleza e

Que ficassem. ora sim, ora não, creio em parto sem dor.

PAES, José Paulo. Socráticas: poemas. São Paulo: Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Companhia das Letras, 2011. p.49
Inauguro linhagens, fundo reinos

— dor não é amargura.


Após a leitura do poema, pode-se afirmar que
Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade de alegria,


I. não é possível ir contra o fluxo do tempo.
sua raiz vai ao meu mil avô.
II. precisamos da memória para resgatar os mo-
mentos que se foram. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.

III. o poeta gostaria de eternizar os bons momen- Mulher é desdobrável. Eu sou.


tos.
PRADO, Adélia. Bagagem. São
IV. o texto pode ser considerado uma poesia con- Paulo: Siciliano. 1993. p. 11.
creta.

A poesia de Adélia Prado apresenta uma mulher


É correto apenas o que se afirma em:

a) forte e pronta para obter uma posição de desta-


a) I e II. que.

b) III e IV. b) negativa e encara a dor como amargura.

c) I, II e III. c) positiva, mas não aceita o seu papel de reprodu-


tora.
d) II, III e IV.
d) submissa diante da realidade social feminina.
e) I, II, III e IV.
e) envergonhada por não ser bonita e não poder
casar.

www.PROJETOREDACAO.com.br - 75
Questão 143 - (UNIFOR CE) Introduzida pelo filósofo e educador austríaco Rudolf
Steiner (1861-1925) em 1919, a pedagogia Waldorf
defende que os pequenos (com até 7 anos de ida-
de) tenham apenas uma responsabilidade na escola:
brincar. Ao participar de jogos e atividades lúdicas,
meninos e meninas desenvolvem diversas habilida-
des, entre físicas e motoras, além de um estímulo
essencial para a vida: a confiança. Segundo a teoria,
nessa fase o aluno tende a gastar muita energia e se
prepara fisicamente – isso é fundamental para o seu
desenvolvimento neurológico e sensorial. Tais capa-
cidades refletem em domínio corporal, linguagem
oral e, principalmente, contribuem para a intelWi-
gência da criança.

Disponível em: <http://www.blog- Em poucas palavras: na educação infantil, aprimo-


dagaivota. com/2011/05/direitos- rar essas características é mais importante do que
iguais-ao-trabalhante-partir.html aprender a ler o próprio nome. “Eliminar atividades
>. Acesso em 16 Out 2018. que favorecem a criatividade e o pensamento pode
ter consequências graves. Infelizmente, muitas des-
sas práticas estão sendo substituídas pela escolariza-
A partir da charge, é possível inferir que o autor ção antecipada”, alerta Luiz Carlos de Freitas, diretor
da Faculdade de Educação da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp).

a) critica a atitude do professor ignorando os alu- Disponível em:<http://www.revista-


nos. educacao.com.br/por-que-o-letramen-
to-precoce-pode-ser-prejudicial/>.
b) mostra a falta de investimento nas escolas. Acesso em 16 Out 2018.

c) denuncia a falta de acessibilidade no espaço es-


colar.
De acordo com o texto, é correto afirmar que
d) aponta a falta de acesso a tecnologias digitais
nas escolas.

e) ironiza a falta de interesse dos alunos. a) aprender a ler e a escrever pode excluir etapas
decisivas no desenvolvimento da criança.

b) a criança com 7 anos de idade já pode ser alfa-


Questão 144 - (UNIFOR CE) betizada sem prejuízo em sua formação.

Entenda por que o letramento precoce pode ser c) a educação infantil deve ter jogos e práticas lúdi-
prejudicial cas que favoreçam a escolarização.

Juliana Duarte d) as atividades lúdicas e os jogos na educação in-


fantil são mais importantes do aprender a ler.

e) aprender a ler o próprio nome na educação in-


Aprender a ler e a escrever antes do tempo pode ex- fantil aprimora o desenvolvimento mental da
cluir etapas decisivas no desenvolvimento das crian- criança.
ças

O letramento precoce é um assunto permeado por


controvérsias. Enquanto algumas instituições de en-
sino apostam em atividades ligadas à leitura e à escri-
ta, outras defendem a ideia de que é preciso prepa-
rar a criança antes de abordar esse tipo de assunto.

76 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 145 - (UNIFOR CE) Estrada eu sou

Tocando em Frente
Todo mundo ama um dia

Almir Sater / Renato Teixeira Todo mundo chora

Ando devagar Um dia a gente chega

Porque já tive pressa E no outro vai embora

E levo esse sorriso

Porque eu já chorei demais Cada um de nós compõe

A sua própria história

Hoje me sinto mais forte E cada ser em si

Mais feliz, quem sabe Carrega o dom de ser capaz

Eu só levo a certeza De ser feliz

De que muito pouco eu sei

Ou nada sei O gênero música, como outros textos, está inter-rela-


cionado com outros discursos que podem apresentar
uma complexidade social e histórica do sujeito. Em
relação à letra da música de Almir Sater e Renato Tei-
Conhecer as manhas xeira, analise as seguintes afirmações.
E as manhãs

O sabor das massas I. No título “Tocando em Frente”, o verbo tocar


E das maçãs não se refere apenas ao seu significado lexical,
mas também à condução do gado, à vida condu-
zida e ao próprio sujeito.

É preciso amor II. Na primeira estrofe, apresenta uma fase da vida


marcada pela individualidade, a necessidade
Pra poder pulsar imediata própria da juventude.

É preciso paz pra poder sorrir III. Na terceira estrofe, ainda na primeira pessoa,
apresenta as rimas “manhas/manhãs”, em que
É preciso a chuva para florir se percebe na primeira palavra – o que se apren-
de; e na segunda palavra – o que está posto.

IV. No trecho “cada um de nós compõe a sua histó-


Penso que cumprir a vida ria”, percebe-se um indivíduo consciente de sua
Seja simplesmente posição social, mesmo sob uma ideologia, pode
reverter sua história.
Compreender a marcha

E ir tocando em frente
É correto apenas o que se afirma em

Como um velho boiadeiro


a) I, II e IV.
Levando a boiada
b) I e IV.
Eu vou tocando os dias
c) II, III e IV.
Pela longa estrada, eu vou
d) II e IV.
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e) III e IV. É correto apenas o que se afirma em

TEXTO: 54 - Comuns às questões: 146, 147 a) I, II e III.

Leitura b) I, II e IV.

c) I e II.

Era um quintal ensombrado, murado alto de pe- d) II, III e IV.


dras.
e) I, II, III e IV.
As macieiras tinham maçãs temporãs, a casca ver-
melha do escuríssimo vinho,

o gosto caprichado das coisas fora do seu tempo Questão 147 - (UNIFOR CE)
desejadas.
Do ponto de vista da composição do poema Leitura
Ao longo do muro eram talhas de barro. de Adélia Prado,é CORRETO afirmar que

Eu comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo


que lá fora o mundo havia parado de calor.
a) É predominantemente dissertativo, servindo as
Depois encontrei meu pai, que me fez festa e não imagens como fundo para a digressão.
estava doente e nem tinha
b) É predominantemente descritivo, construído
morrido, por isso ria, os lábios de novo e a cara apenas com termos concretos: quintal, maçãs,
circulados de sangue, caçava macieiras, muro, água, retratando um cenário
familiar específico.
o que fazer para gastar sua alegria: onde está meu
formão, minha vara de pescar, c) Equilibra em harmonia descrição, narração e dis-
sertação à medida que suas recordações saem
cadê minha binga, meu vidro de café? do plano das reminiscências, sofrem transfor-
mações e dão margem a digressões.
Eu sempre sonho que uma coisa gera, nunca nada
está morto. d) É predominantemente narrativo, visto que o eu-
-lírico evoca os acontecimentos que marcaram o
O que não parece vivo, aduba. encontro com seu pai.
Ao que parece estático, espera. e) Equilibra narração e dissertação, com o uso de
imagens que servem como fundo para a digres-
PRADO, Adélia – Bagagem,1976. são.

Questão 146 - (UNIFOR CE) TEXTO: 55 - Comum à questão: 148


Com base na leitura do poema, considere as seguin- Considere os textos a seguir, adaptados dos originais
tes afirmações. disponíveis na internet.

I. O eu-lírico descreve recordações de uma cena TEXTO I:


doméstica, familiar.

II. Há um mergulho no sonho, na imaginação.


Pensa em QUANTA planta comestível existe no
III. As imagens: “quintal ensombrado”, “maçãs tem- planeta, que a gente não come. Começa a incluir
porãs”, “melhor água” constituem apenas remi- elas no dia a dia. E começa a pensar: Porque, com
niscências. tanta variedade de comida disponível, a gente tá
IV. Observa-se o uso de metalinguagem: o sonho acostumado a comer só meia dúzia de coisas? Em
gerou o poema qualquer lugar do mundo a gente encontra basica-
mente a mesma coisa nos supermercados: comida
ultraprocessada, salgadinhos, refrigerantes, sucos de
78 - www.PROJETOREDACAO.com.br
caixinha, achocolatados, embutidos, lácteos, muito mentícios. A proposta, que tramita no Senado desde
produto com farinha de trigo refinada, gordura hi- 2015, visa retirar o triângulo amarelo com a letra “T”,
drogenada e açúcar. símbolo da existência de organismos geneticamente
modificados (OGMs).
O que a gente come é resultado de uma série de
processos sociais, políticos, econômicos. Quem deter- Segundo o relator do projeto, não haveria danos
mina o que a gente come, hoje, são as indústrias e para a população: “A despeito de os alimentos trans-
o mercado, por vezes com anuência dos governos , gênicos serem uma realidade há mais de 15 anos no
por falta de regulamentação ou por acabar legislan- mundo, ainda não há registros de que sua ingestão
do em detrimento dos consumidores (por exemplo, cause danos diretos à saúde humana. Não existe um
a lei que aprovou o fim da rotulagem de alimentos registro sequer”. O relator propõe que só alimentos
transgênicos). com taxas de concentração de OGMs acima de 1%
mantenham a rotulagem de alerta.
Se o que a gente come é resultado de uma série de
processos sociais, políticos e econômicos, quando a A Associação Brasileira de Saúde Coletiva, com
gente escolhe o que comer também estamos desen- outras organizações da sociedade civil, assinou do-
cadeando processos. Pensar na cadeia de relações da cumento em que justifica que o projeto não deve ser
comida até o nosso prato é pensar de maneira polí- aprovado. Além de citar que a aprovação reverterá
tica. “Alimentação saudável é mais que ingestão de decisões anteriores de tribunais acerca da necessida-
nutrientes. Diz respeito sim à saúde, mas também a de de informação ao consumidor, aponta que o pro-
meio ambiente, distribuição de renda, justiça social”, jeto
disse na III Feira da Reforma Agrária Patrícia Jaime,
nutricionista da Faculdade de Saúde Pública da USP
que participou da elaboração do Guia Alimentar para
a População Brasileira de 2014 (uma publicação do — Prejudica o controle adequado dos transgênicos,
Ministério da Saúde). já que a rotulagem de transgênicos é medida de saú-
de pública relevante para permitir o monitoramento
Quando uma pessoa começa a pensar de onde pós-introdução no mercado e pesquisas sobre os im-
veio, quem plantou, como foi cultivado o alimento pactos na saúde;
que está no seu prato, tem a chance de desconstruir
a cadeia que não deixa ela escolher. E criar uma nova. — Viola o direito dos agricultores e das empresas ali-
Se escolhe a agrobiodiversidade no prato, no início mentícias que optam por produzir alimentos isentos
da cadeia que trouxe o alimento até o prato dela está de ingredientes transgênicos. E pode impactar forte-
o pequeno produtor, o agricultor familiar, a agroeco- mente as exportações, na medida em que a rejeição
logia − e não o agronegócio e os agrotóxicos. às espécies transgênicas em vários países que impor-
tam alimentos do Brasil é grande.
(Adaptado de: NAHRA, Alessandra.
Disponível em: https://medium.com) (Adaptado de: www.abrasco.org.br. 21/09/2018)

TEXTO II: Questão 148 - (PUCCamp SP)


Considerados os Textos I e II, é correto afirmar:

a) O conteúdo de I e o nível de linguagem nele ado-


tado demonstram que o fragmento faz parte de
texto de divulgação − transpõe conhecimentos
de uma esfera do campo científico para lingua-
gem acessível; nesse contexto, os erros da lin-
guagem informal não são considerados fuga à
norma-padrão da língua.

b) O padrão formal, a ausência de traços de pes-


soalidade no tratamento do tema e a própria
natureza do conteúdo temático conduzem à
compreensão de que o texto II tem a finalidade
A Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal de instruir o leitor acerca do assunto abordado,
votou, no dia 17 de abril de 2018, favoravelmente ao ou seja, acerca dos passos percorridos por um
Projeto de Lei que desobriga empresas de denuncia- projeto de lei.
rem a presença de transgênicos em seus produtos ali-

www.PROJETOREDACAO.com.br - 79
c) Em I, da estrutura em forma de diálogo e do Muitas pessoas acham que, se têm um direito moral
meio de circulação da mensagem decorrem tra- a uma crença, todo mundo tem o dever de não as
ços inevitáveis de composição, como relato de privar dessa crença, o que envolve não criticá-la, não
fato vivenciado e expressão de opiniões pessoais mostrar que é ilógica ou que lhe falta apoio eviden-
do falante; o traço de imposições de atitudes ao cial. O problema é que essa é uma maneira cada vez
interlocutor é ainda inerente à forma dialogal. mais comum de pensar sobre o direito de acreditar. E
as grandes perdedoras são a liberdade de expressão
d) Em II, expõem-se dados sobre Projeto de Lei, em e a democracia.
que são referidos argumentos de apoio e argu-
mentos de reprovação ao projeto, estes bastan-
te sustentados pela perspectiva da associação
que é uma das signatárias de documento com [...] A defesa de uma crença está restrita ao uso de
finalidade de barrar sua aprovação. métodos que pertence ao espaço das razões – argu-
mentação e persuasão, em vez de força. Você tem o
e) Ainda que o tema central de I não seja o de II, direito de avançar sua crença na arena pública usan-
eles podem ser aproximados, pois I cita como do os mesmos métodos de que seus oponentes dis-
exemplo a aprovação de uma lei que é o tema põem para dissuadi-lo.
privilegiado em II; entretanto, não se podem ex-
plorar comparativamente esses textos, dada a
grande distância entre o estilo adotado em um e
no outro. O pior acontece quando crenças se materializam em
opinião, e são usadas como substitutas de argumen-
tos, quando o “Eu tenho direito às minhas crenças”
se transforma em “Eu tenho direito à minha opinião”.
TEXTO: 56 - Comuns às questões: 149, 150 Crenças e opiniões não são argumentos. Mais preci-
samente, crenças diferem de opinião, que diferem
Opinião não é argumento de fatos, que diferem de argumentos. Um fato é algo
que pode ser comprovado verdadeiro. Por exemplo,
é um fato que Júpiter é o maior planeta do sistema
solar tanto em diâmetro quanto em massa. Esse fato
Aqui está uma história que pode ser verdadeira no
pode ser provado pela observação ou pela consulta a
contexto atual do Brasil. Um jovem professor de Fi-
uma fonte fidedigna.
losofia, instruindo seus alunos à Filosofia da Religião,
introduz, à maneira que a Filosofia opera há sécu-
los, argumentos favoráveis e contrários à existência
de Deus. Um dos alunos se queixa, para o diretor e Uma crença é uma ideia ou convicção que alguém
também nas onipresentes redes sociais, de que suas aceita como verdade, como “passar debaixo de uma
crenças religiosas estão sendo atacadas. “Eu tenho escada dá azar”. Isso certamente não pode ser pro-
direito às minhas crenças”. O diretor concorda com o vado (ou pelo menos nunca foi). Mas a pessoa ainda
aluno e força o professor a desistir de ensinar Filoso- pode manter sua crença, como vimos, se não pelo
fia da Religião. “direito evidencial”, apelando para o “direito moral”.
Ou ainda, pelo mesmo “direito moral”, deixar de acre-
ditar no que ela própria pensa ser evidência, como
no caso do famoso dito (atribuído a Sancho Pança):
Mas o que é exatamente um “direito às minhas cren-
“Não creio em bruxas, ainda que existam”. [...]
ças”? [...] O direito à crença, nesse caso, poderia ser
visto como o “direito evidencial”. Alguém tem um Fonte: CARNIELLI, Walter. Página
direito evidencial à sua crença se estiver disposto a Aberta. In: Revista Veja. Edição 2578,
fornecer evidências apropriadas em apoio a ela. Mas ano 51, nº 16. São Paulo: Editora Abril,
o que o estudante e o diretor estão reivindicando e 2018, p. 64 (fragmento adaptado).
promovendo não parece ser esse direito, pois isso
implicaria precisamente a necessidade de pôr as evi-
dencias à prova.
Questão 149 - (UFT TO)
Sobre a interpretação do texto, assinale a alternativa
Parece que o estudante está reivindicando outra CORRETA.
coisa, um certo “direito moral” à sua crença, como
avaliado pelo filósofo americano Joel Feinberg, que
trabalhou temas da Ética, Teoria da Ação e Filosofia
Política. O estudante está afirmando que tem o di- a) O autor expõe que opiniões pessoais devem ser
reito moral de acreditar no que quiser, mesmo em expressas em ambientes acadêmicos em detri-
crenças falsas. mento de outros, pois as opiniões manifestadas,
80 - www.PROJETOREDACAO.com.br
fora desses ambientes, podem ferir o princípio - Sabe, pai...
da liberdade de expressão.
- O que é?
b) O autor analisa a falta de conhecimento dos
professores, quanto aos conceitos presentes no -...minha mãe está livre.
campo da Ética, principalmente quando utilizam
argumentos sem fundamentação científica.

c) O autor procura demonstrar que as pessoas po- 27


dem possuir diferentes crenças, mas, para de- O casal divorciado assim que a filha nasceu. Aos três
fendê-las, precisam usar da argumentação e da anos, ela passa férias com o pai, morando noutra
persuasão. cidade. De volta, com a mãe, folheia um álbum de
d) O autor condena o fato de as pessoas se fun- fotos.
damentarem em argumentos em defesa de um - Olha só, mãe. Esse aqui com você...
ponto de vista.
Gritinho de espanto:

- Ei, você conhece meu pai!


Questão 150 - (UFT TO)
Sobre a interpretação do texto, assinale a alternativa
CORRETA. Considerando-se os dois minicontos, assinale a op-
ção CORRETA.

a) O texto apresenta que os professores brasileiros


devem se valer do uso de crenças e opiniões, em a) Apresentam situações cotidianas, tendo predile-
detrimento de argumentos e persuasão. ção pelo fluxo de consciência.
b) O texto apresenta que um dos alunos sentiu-se b) Apresentam um cenário mítico, tendo predile-
desrespeitado por acreditar que suas crenças ção pela descrição do espaço urbano.
estavam sendo violadas quando o professor ex-
pôs conteúdos vinculados à Filosofia da Religião. c) Apresentam um estilo marcante, tendo predile-
ção pela linguagem concisa e elipses.
c) O texto apresenta que a opinião dos alunos deve
se sobrepor à opinião do professor, posto que d) Apresentam uma galeria de personagens este-
não cabe ao docente discutir temas ligados à Fi- reotipadas, tendo predileção pelo uso de nomes
losofia da Religião. próprios.

d) O texto apresenta a desobrigação da escola em


promover discussões sobre o uso de métodos
que pertence ao espaço das razões, como argu- Questão 152 - (UFT TO)
mentação e persuasão.
Leia o excerto de Vista parcial da noite, de Luiz Ru-
ffato.

Questão 151 - (UFT TO)


Leia os minicontos, de Dalton Trevisan. O morto

9 e agora desprendeu a cera-lustosa que tampava a


panela-do-dente e já a dor pernilonga os ouvidos
A menina ao pai divorciado: ambicionando achegar novamente, ferroa, entoja-
da, arrodeando, infla em fogo a bochecha, calafrios
- Pai. Me diga, pai. relampeiam o corpo moído, de frio curva-se a noite
azul, ronca a saparia, estrilam grilos, voejam brasas
- Sim, filhinha. acesas de vagalumes, esconjuro de coruja, vasculha o
vento as fantasmáticas árvores, em silêncio o balofo
- Você já tem namorada?
sargento perscruta, espia, fareja, arrulham as escas-
- Não, ainda não. sas águas do Rio Pomba ao longe, perfilados, ambos,
o jipe estacado, acesos os faróis alumiam o mato, es-

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frega as mãos, atento aos mínimos gestos do supe- cedores naturais da mudança climática, já que seu
rior, poderiam permanecer afundados no bem-bom ciclo reprodutivo é favorecido pelo aumento da tem-
da delegacia não fosse a ocorrência, duro renegar peratura nos ciclos oceânicos. Mas há mais fatores.
aqueles olhos estatelados, como se, escancarando- Existem evidências de que certas espécies de medu-
-os, almejassem agarrar o sopro que se esvaía, e se- sa se reproduzem com mais facilidade junto a estru-
quer uma nódoa de sangue, a lâmina da faca-de-pi- turas costeiras artificiais, como molhes e píeres. Por
car-fumo penetrara com tamanha força na linha do isso, é difícil saber se os esforços para deter, ou até
coração que se emaranhara em músculos, tendões, reverter a mudança climática, representam uma so-
ossos, obstruindo o sangramento, isso explicou o sar- lução à crescente presença de medusas nos mares,
gento, versado, e sondando vagos indícios buscam pelo menos enquanto continuem gerando proble-
acossar o assassino (...) mas em ecossistemas costeiros e cadeias alimentares
marinhas. [...]
Fonte: RUFFATO, Luiz. Vista
parcial da noite. Rio de Janeiro: No entanto – e não muito longe de Monte Hermo-
Record, 2011, p. 131. so – um cientista elucubra uma ideia mais interessan-
te: se queremos resolver o problema das medusas,
temos de parar de vê-las como um mal, e começar a
vê-las como comida.
Considerando a leitura do fragmento de O morto, é
CORRETO afirmar que: (Disponível em: <https://brasil.elpais.com/bra-
sil/2018/09/18/ciencia/1537282711_864007.
html>.)
a) o narrador lança um olhar impiedoso sobre a
miséria humana e sobre o cotidiano dos canga-
ceiros e seus crimes no sertão. Questão 153 - (UFPR)
b) a descrição minuciosa do cenário e das persona- Entre principais e secundários, o texto menciona
gens colabora para contextualizar a investigação como causas de origem antrópica da proliferação de
de um crime. medusas:
c) na linguagem há marcas estéticas e estilísticas,
com invenções vocabulares e translações de sig-
nificados. a) 2 fatores.
d) a narrativa é linear, cíclica, com vários estratos b) 3 fatores.
de significação e superposição de cenas.
c) 4 fatores.

d) 6 fatores.
TEXTO: 57 - Comum à questão: 153
e) 7 fatores.
A explosão das medusas em todo o mundo se
deve a uma série de fatores inter-relacionados. Uma
das principais causas é o excesso de pesca de seus
predadores naturais, como o atum, o que ao mesmo TEXTO: 58 - Comum à questão: 154
tempo elimina a concorrência pelo alimento e o es-
Era uma vez um lobo vegano que não engolia a
paço de reprodução. Em paralelo, diversas atividades
vovozinha, três porquinhos que se dedicavam _____
humanas em regiões costeiras também ajudam a
especulação imobiliária e uma estilista chamada Gre-
explicar o fenômeno: ali onde enormes quantidades
tel que trabalhava de garçonete em Berlim. Não de-
de nutrientes são jogadas no mar (em forma de re-
veria nos surpreender que os contos tradicionais se
síduos agrícolas, por exemplo), produzindo grandes
adaptem aos tempos. Eles foram submetidos _____
explosões de populações de algas e plânctons, que
alterações no processo de transmissão, oral ou escri-
consomem o oxigênio da água e geram as denomi-
ta, ao longo dos séculos para adaptá-los aos gostos
nadas zonas mortas. Não muitos peixes e mamíferos
de cada momento. Vejamos, por exemplo, Chapeuzi-
aquáticos conseguem sobreviver nelas, mas as me-
nho Vermelho. Em 1697 – quando a história foi colo-
dusas sim, além de encontrarem no plâncton uma
cada no papel –, Charles Perrault acrescentou _____
fonte de alimentação abundante e ideal. Quando as
ela uma moral, com o objetivo de alertar as meninas
populações de medusas conseguem se estabelecer,
quanto _____ intenções perversas dos desconheci-
as larvas de outras espécies acabam sendo parte do
dos.
cardápio também, desequilibrando a cadeia trófica.
Pouco mais de um século depois, os irmãos
As medusas são, além disso, um dos poucos ven-
Grimm abrandaram o enredo do conto e o coroa-
82 - www.PROJETOREDACAO.com.br
ram com um final feliz. Se a Chapeuzinho Vermelho Questão 154 - (UFPR)
do século XVII era devorada pelo lobo, não seria de
surpreender que a atual repreendesse a fera por sua Com relação aos contos tradicionais, a autora:
atitude sexista quando a abordasse no bosque. A for-
ça do conto, no entanto, está no fato de que ele fala
por meio de uma linguagem simbólica e nos convida a) defende a ideia de que eles precisam ser reela-
a explorar a escuridão do mundo, a cartografia dos borados, para se adequarem aos valores de cada
medos, tanto ancestrais como íntimos. Por isso ele época.
desafia todos nós, incluindo os adultos. [...]
b) concorda que deve ser proibido assustar as
A poetisa Wislawa Szymborska falou sobre um crianças por meio dos contos, para que isso não
amigo escritor que propôs a algumas editoras uma as afaste da leitura.
peça infantil protagonizada por uma bruxa. As edi-
toras rejeitaram a ideia. Motivo? É proibido assustar c) vê com bons olhos as versões dos irmãos Grimm,
as crianças. A ganhadora do prêmio Nobel, admira- que abrandaram o enredo e passaram a apre-
dora de Andersen – cuja coragem se destacava por sentar finais felizes.
ter criado finais tristes –, ressalta a importância de se
assustar, porque as crianças sentem uma necessida- d) considera a infinita repetição como um aspec-
de natural de viver grandes emoções: “A figura que to negativo dos contos, mas que é compensado
aparece [em seus contos] com mais frequência é a pela infinita variedade.
morte, um personagem implacável que penetra no
âmago da felicidade e arranca o melhor, o mais ama- e) é favorável a que tenham finais tristes e abor-
do. Andersen tratava as crianças com seriedade. Não dem situações de desigualdade, crueldade e in-
lhes falava apenas da alegre aventura que é a vida, fortúnios.
mas também dos infortúnios, das tristezas e de suas
nem sempre merecidas calamidades”. C. S. Lewis di-
zia que fazer as crianças acreditar que vivem em um
TEXTO: 59 - Comuns às questões: 155, 156
mundo sem violência, morte ou covardia só daria
asas ao escapismo, no sentido negativo da palavra. ‘Ferrugem’: um ótimo nacional encara o cyber-
bullying
Depois de passar dois anos mergulhado em re-
latos compilados durante dois séculos, Italo Calvi-
no selecionou e editou os 200 melhores contos da
tradição popular italiana. Após essa investigação li- Um celular perdido, um vídeo viralizado, e Tati, de
terária, sentenciou: “Le fiabe sono vere [os contos 16 anos, se vê no meio de um furacão que abalaria
de fadas são verdadeiros]”. O autor de O Barão nas qualquer um – e muito mais uma menina a quem
Árvores tinha confirmado sua intuição de que os con- ainda falta o equipamento emocional para lidar com
tos, em sua “infinita variedade e infinita repetição”, uma situação tão drástica de exposição da intimida-
não só encapsulam os mitos duradouros de uma cul- de e de ostracismo social. Os amigos e amigas vão
tura, como também “contêm uma explicação geral caindo fora; com os pais, ela não consegue falar. Re-
do mundo, onde cabe todo o mal e todo o bem, e net, o garoto com quem ela começava a engatar um
onde sempre se encontra o caminho para romper os flerte quando tudo começou, dá as costas a ela. E
mais terríveis feitiços”. Com sua extrema concisão, os Tati, interpretada pela ótima novata Tiffanny Dopke,
contos de fadas nos falam do medo, da pobreza, da de fisionomia suave e jeitinho cativante, sucumbe à
desigualdade, da inveja, da crueldade, da avareza... pressão.
Por isso são verdadeiros. Os animais falantes e as fa-
das madrinhas não procuram confortar as crianças, ‘Ferrugem’, do diretor Aly Muritiba, é um dos pon-
e sim dotá-las de ferramentas para viver, em vez de tos altos de uma safra surpreendentemente boa do
incutir rígidos patrões de conduta, e estimular seu cinema nacional nos últimos meses (completada ain-
raciocínio moral. Se eliminarmos as partes escuras e da por ‘Aos Teus Olhos’, ‘As Boas Maneiras’, ‘O Animal
incômodas, os contos de fadas deixarão de ser essas Cordial’ e ‘Benzinho’). Da agitação e cacofonia dessa
surpreendentes árvores sonoras que crescem na me- primeira parte do filme, Muritiba vai, na segunda me-
mória humana, como definiu o poeta Robert Bly. tade, para um estilo oposto: com atenção e reflexão,
acompanha o sofrimento de Renet (o também muito
(Marta Rebón. Disponível em: <https://brasil.elpais. bom Giovanni de Lorenzi) com as consequências do
com/brasil/2018/09/18/eps/1537265048_460929. episódio que afetou Tati. Aqui, duas visões morais
html>.) muito distintas se opõem: a do pai (Enrique Diaz),
que quer poupar Renet, e a da mãe (a calorosa Cla-
rissa Kiste), que quer obrigá-lo a enfrentar os fatos.

Maduro, lúcido, muito bem escrito e filmado,

www.PROJETOREDACAO.com.br - 83
‘Ferrugem’ está na comissão de frente dos possíveis d) maturidade – isolamento.
indicados do Brasil ao Oscar do ano que vem.
e) malícia – incapacidade de se expressar.
(Disponível em: <https://veja.abril.com.
br/tveja/em-cartaz/ferrugem-um-otimo-
nacional-encara-o-cyberbullying/>.
Acesso em 31/08/2018.) TEXTO: 60 - Comum à questão: 157
Direito à cidade

Questão 155 - (UFPR)


Com base no texto, identifique como verdadeiras (V)
1
A cidade é um direito coletivo em emergência.
ou falsas (F) as seguintes afirmativas: No contexto da retomada das ideias de Henri 2 Lefeb-
vre sobre esse tema e da emergência de uma série de
movimentos sociais no mundo inteiro, 3 assistimos
atualmente a uma crescente reivindicação do direito
( ) O filme “Ferrugem”, segundo a reportagem apu- de ocupar e reinventar a cidade, de modo 4 a torná-la
ra, concorrerá ao Oscar de melhor filme estran- efetivamente democrática. Como podemos, portan-
geiro no ano que vem. to, definir esse direito?

( ) O filme “Ferrugem” narra a história de uma me-


nina, Tati, que tem sua intimidade exposta publi-
camente depois de perder o celular.
5
A cidade, escreveu certa vez o famoso sociólogo
urbano Robert Park, é “a tentativa mais coerente 6
( ) O filme apresenta duas linhas narrativas: uma e, em termos gerais, mais bem-sucedida de refazer
agitada e dissonante, e outra, psicológica e re- o mundo em que o homem vive, e de fazê-lo de 7
flexiva. acordo com seus mais profundos desejos. Porém, se
a cidade é o mundo criado pelo homem, segue-se 8
( ) O filme “Ferrugem” critica a exposição descuida- acordo com seus mais profundos desejos. Porém, se
da dos adolescentes em redes sociais. a cidade é o mundo criado pelo homem, segue-se 9
consciência bem definida da natureza de sua tarefa,
ao criar a cidade o homem recriou a si mesmo”.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência cor-
reta, de cima para baixo.
10
Para Park, a questão do tipo de cidade que que-
remos não pode ser separada da questão do tipo 11
a) F – F – V – V. de pessoas que queremos ser, que tipos de relações
sociais buscamos, que relações com a natureza nos 12
b) F – V – V – F. satisfazem mais, que estilo de vida desejamos levar,
quais são os nossos valores estéticos.
c) V – F – F – V.

d) V – V – F – F.
13
Nessa perspectiva, o direito à cidade é, portan-
e) V – F – V – V. to, muito mais do que um direito de acesso 14 indivi-
dual ou grupal aos recursos que a cidade incorpora:
é um direito de mudar e reinventar a cidade, de 15
forma que ela atenda aos desejos mais profundos e
Questão 156 - (UFPR) às necessidades mais prementes do ser humano. 16
As expressões ‘equipamento emocional’ e ‘ostracis- Além disso, é um direito mais coletivo do que indi-
mo social’, no segundo parágrafo, podem ser inter- vidual, uma vez que reinventar a cidade depende 17
pretadas, segundo o contexto de ocorrência, respec- inevitavelmente do exercício de um poder coletivo
tivamente, como: sobre o processo de urbanização. A liberdade de fa-
zer 18 e refazer a nós mesmos e às nossas cidades é
um dos diretos humanos mais preciosos, ainda que
um 19 dos mais menosprezados.
a) objeto que regula emoções – exílio.
HARVEY, David. Cidades rebeldes:
b) capacidade de sentir emoções – exclusão. do direito à cidade à revolução urbana.
São Paulo: Martins Fontes, 2014. p.
c) experiência – falta de exposição. 28-30. (Adaptado).

84 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 157 - (UEG GO) Acabar brincadeira, bandeiras se desmanchando

De acordo com o texto, o direito à cidade constitui E ela inda está sambando
um dos direitos humanos mais básicos, o qual deve
Ela desatinou, viu morrer alegrias, rasgar fantasias

Os dias sem sol raiando e ela inda está sambando


a) prover aos indivíduos formação técnico-profis-
sional em larga escala, de modo a tornar a gran- Ela não vê que toda gente
de massa urbana capacitada às diversas formas
Já está sofrendo normalmente
de trabalho e de ocupações urbanas.
Toda a cidade anda esquecida, da falsa vida, da
b) implementar formas criativas e sustentáveis de
avenida
expansão do espaço urbano, possibilitando a
todas as pessoas condições dignas e plenas de Onde Ela desatinou, viu chegar quarta-feira
viver, morar e se locomover pela cidade.
Acabar brincadeira, bandeiras se desmanchando
c) fornecer à sociedade um modo de organização
política hierarquizado, cuja escolha dos gover- E ela inda está sambando
nantes e dos gestores públicos seja realizada
pelo mérito, em intervalos de tempo regulares. Ela desatinou, viu morrer alegrias, rasgar fantasias

d) garantir às pessoas a prerrogativa de moldar o Os dias sem sol raiando e ela inda está sambando
mundo em que vivem, de modo que o espaço
urbano atenda, de forma democrática, às neces- Quem não inveja a infeliz, feliz
sidades e aos desejos humanos fundamentais.
No seu mundo de cetim, assim
e) promover, de forma sistemática, a inclusão e o
Debochando da dor, do pecado
bem-estar de migrantes rurais e de grupos mar-
ginalizados, de forma a criar e recriar um espaço Do tempo perdido, do jogo acabado.
de plena realização para o ser humano.
BUARQUE, Chico. Ela desatinou.
In: Todas as canções. Rio de Ja
neiro: Record, 2004. p. 210.
TEXTO: 61 - Comuns às questões: 158, 159
Observe a imagem e leia o texto.
Questão 158 - (UEG GO)
Tanto a pintura quanto a letra de música apresenta-
das

a) veiculam uma preocupação oriunda do universo


do trabalho e da ordem.

b) deixam-se pautar por uma abordagem estética


da alegria e da festividade.

PRAZERES, Heitor dos. Carnaval c) explicitam a ideia de que o carnaval causa uma
nos Arcos (1961), Óleo sobre tela. emoção sempre passageira.
Disponível em: <http://artenarede.
com.br/blog/index.php/ate-o-car- d) ironizam o contentamento dos que são felizes
naval-chegar/>. Acesso em: apenas em tempos de festa.
22 out. 2018.
e) abordam a vivência de pessoas que se negam a
enfrentar o cotidiano.

Ela desatinou
Questão 159 - (UEG GO)

Ela desatinou, viu chegar quarta-feira Em termos imagéticos tem-se, na pintura e na letra

www.PROJETOREDACAO.com.br - 85
da canção apresentadas, respectivamente, a repre- Tenho uma lista (não muito grande) de amizades
sentação do desfeitas ou de relacionamentos estremecidos por
causa de política. E, hoje, com o cenário ainda mais
conturbado, lamento profundamente que as coisas
tenham tomado esse caminho. Sinto saudade de al-
a) coletivo e do individual. guns mais próximos e de conhecidos que eram para
b) individual e do grupal. mim sempre uma alegria rever num post ou num
boteco. Amizades nascem pela empatia, crescem
c) individual e pictórico. com afinidades, ainda que não sejam determinadas
apenas por isso, mas por muitos critérios subjetivos,
d) pictórico e coletivo. se fortalecem com tempo, carinho e dedicação. Não
deveriam terminar por divergências políticas, porque
e) grupal e pictórico. elas sempre existirão.

Mesmo com amigos muitos próximos, com paren-


tes queridos, e até com meu marido, tenho grandes
TEXTO: 62 - Comuns às questões: 160, 161 diferenças sobre muitas questões. Nada que agrida
Texto I minhas crenças fundamentais, mas ainda assim te-
mas que rendem conversas acaloradas, em que os
ânimos se agitam, as vozes se alteram. Em português
arcaico, a gente fica puto com a opinião do outro e dá
Amizades dilaceradas uns gritos mesmo para se fazer ouvir, mas, no final,
todo mundo se abraça e pede uma saideira, porque
a gente gosta mais um do outro do que de político.
Qualquer um. Mas não é todo mundo que pensa des-
“Em nosso tempo, aprendemos a submeter a ami- sa maneira. Há quem idolatre candidatos com o mes-
zade àquilo que chamamos de convicções. E até mes- mo fanatismo com o qual reverencia divindades. E
mo com o orgulho de uma retidão moral. É preciso pior do que a cegueira religiosa só mesmo a política.
realmente uma grande maturidade para compreen-
der que a opinião que nós defendemos não passa de Ao analisar as amizades desfeitas, percebi que a
nossa hipótese preferida, necessariamente imperfei- maioria delas aconteceu justamente com pessoas
ta, provavelmente transitória, que apenas os muito que resolveram brincar de cabos eleitorais. E com es-
obtusos podem transformar numa certeza ou numa ses a conversa parece estar perdida. É avatar no perfil
verdade. Ao contrário da fidelidade pueril a uma con- das redes sociais, treta em nome de candidato, ódio,
vicção, a fidelidade a um amigo é uma virtude, talvez ameaça de vingança.
a única, a última. Hoje, eu sei: na hora do balanço fi-
nal, a ferida mais dolorosa é a das amizades feridas; e Minhas batalhas são sempre inglórias porque, em
nada é mais tolo do que sacrificar uma amizade pela geral, estou na posição de criticar e não de canonizar,
política.” mas de que adianta se político virou, para muitos,
herói ou santo? Acho difícil acreditar que em 2018,
O trecho acima é parte do ensaio “A Inimizade e com toda a classe exposta com a bunda na janela,
a Amizade”, no qual o escritor Milan Kundera fala de tenha gente que se preste ao papel de lambe-botas
relações fraturadas por divergências políticas. Foi es- (com respeito ao leitor não escrevo o que gostaria)
crito em 2009, mas nos ajuda a fazer uma reflexão de candidato.
necessária no momento atual. Vale mesmo se engal-
finhar nas redes sociais com amigos, conhecidos, co- E eu, apesar de ser boa pessoa, limpinha, não ter
legas de trabalho, por causa de política? o nome no SPC, não parar em fila dupla, não usar
carteirinha de estudante falsificada e ter sempre fica-
Nas eleições, em 2014, escrevi neste espaço pela do ao lado dos meus amigos na alegria e na ressaca,
primeira vez sobre o ringue de MMA no qual as re- fui trocada por alguns por promessas de campanha.
des sociais tinham se transformado. Só piorou. De lá Um diz que vai fazer o Brasil ser feliz de novo, outro
pra cá as pessoas passaram a se sentir muito à von- assegura união para o Brasil mudar, tem aquele que
tade para escrever as maiores barbaridades sem se fala que vai ter mais Brasil. A concorrência é grande.
sentirem constrangidas porque encontraram eco em
suas idiotices. Ficou claro que muitos de nossos ami- Uma das poucas coisas que posso oferecer é
gos não primam pela inteligência, pela solidariedade, minha mais singela fidelidade, virtude que Kunde-
desprezam minorias, são coniventes com corrupção, ra enaltece. Também faço uma moqueca baiana de
compartilham fake news e se sentem muito espertos. lamber os beiços. Duvido que algum desses candida-
Também caí na cilada de me achar muito mais sabida tos seja páreo para isso. Por outro lado, está cheio
do que gente que pensa diferente. Fui mordida pela de gente que foca no ódio ao coentro e que não liga
mosquinha da razão, perdi a paciência, fui arrogante muito para esse negócio de amizade.
e intransigente.
86 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Mariliz Pereira Jorge. Jornalista e roteirista de TV. seus valores, suas convicções e crenças são mais im-
Folha de S.Paulo, 18 set. 2018 portantes do que a vida. São aqueles que, se julgam
algo mau, consideram legítimo procurar eliminá-lo,
{Adaptado} Disponível em: <https:// junto com seus vizinhos.*
www1.folha.uol.com.br/colunas/ ma-
rilizpereirajorge/2018/09/amizades-di- [...]
laceradas.shtml>. Acesso em: 23 set. 2018.
O assunto é preocupante. Qualquer pessoa de
bom senso sabe que o fanatismo já provocou muito
estrago. É mais que hora de ser identificado, com-
Texto II preendido e combatido. Para tanto, é preciso saber
reconhecê-lo em suas diversas manifestações. Saber
Fanatismo, fanatismos até onde foi para se ter uma ideia de até onde poderá
ir, se não for detido.

Fanático por caipirinha. Fanático por samba. Fa- Ou ter o seu conceito definitivamente transforma-
nático por viagens. Há fanáticos para tudo. Ou me- do, num mundo menos louco. Que tal fanático por
lhor, há fanáticos e fanáticos. O problema é que, por livros? Ou fanático por chocolate? E, que Mozart nos
ser empregada tão à vontade (aliás, como tantas ou- perdoe, fanático por Beethoven?
tras), a palavra fanatismo banalizou-se, perdendo em * Contra o fanatismo – Amós Oz (Rio de Janeiro,
força e conteúdo. Entretanto, parece óbvio que um Ediouro, 2004).
“fanático por novela” é algo bem diferente (e bem
menos perigoso) que um “nazista fanático”.

Fanático é um termo cunhado no século XVIII Jaime Pinsky e Carla Bassanezi Pinsky
para denominar pessoas que seriam partidárias ex-
tremistas, exaltadas e acríticas de uma causa religio- In: PINSKY, J.; PINSKY, C.B. (Org.). Faces do fanatis-
sa ou política. O grande perigo do fanático consiste mo.
exatamente na certeza absoluta e incontestável que São Paulo: Contexto, 2004, p. 10-13. [Adaptado]
ele tem a respeito de suas verdades. Detentor de
uma verdade supostamente revelada especialmente
para ele pelo seu deus, (portanto não uma verdade
qualquer, mas A Verdade), o fanático não tem como Questão 160 - (PUC SP)
aceitar discussões ou questionamentos racionais
No oitavo parágrafo do texto 1, ao descrever-se, a ar-
com relação àquilo que apresenta como sendo seu
ticulista tem por intenção contrastar
conhecimento: a origem divina de suas certezas não
permite que argumentos apresentados por simples
mortais se contraponham a elas: afinal, como colo-
car, lado a lado, dogmas divinos e argumentos huma- a) as hipóteses da vida pessoal dela com as certe-
nos? zas do que os candidatos realizarão.

Pode-se argumentar que as palavras de Hitler ou b) o que ela pretende concretizar e o que as cam-
as de Mao mobilizaram fanáticos tão convictos como panhas dos candidatos instituem com realiza-
os religiosos e não tinham origem divina. Ora, de cer- ções.
ta forma, eles eram cultuados como deuses e suas
palavras não podiam ser objeto de contestação, do c) as situações imaginadas por ela em relação à
mesmo modo que ocorre com qualquer conheci- própria vida com os compromissos dos candida-
mento de origem dogmática. É condição do fanático tos.
a irracionalidade.
d) os atributos e as ações pessoais com o que os
[...] candidatos dizem que realizarão.

Num tempo de homens-bomba, atentados ter-


roristas, manifestações racistas, ações extremistas,
pensar o fanatismo é atual, relevante e urgente. Questão 161 - (PUC SP)

[...] No primeiro parágrafo do texto 2, está registrado


que “há fanáticos e fanáticos”, de modo a manifestar
Os fanáticos, como nos explica o escritor Amós duas vertentes:
Oz, são “aqueles que acreditam que o fim, qualquer
fim, justifica os meios”, que acham que a justiça – ou
o que quer que queiram dizer com a palavra justiça –,
a) a dos que gostam exacerbadamente de algo; a
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dos que defendem acirradamente suas convic- b) Há no texto uma constatação inicial que será,
ções ideológicas. em seguida, problematizada em diferentes de
seus aspectos, fundamentais para a caracteriza-
b) a dos que são partidários dos prazeres sem com- ção do texto como explicativo.
promisso; a dos que rechaçam quaisquer formas
de deleite. c) No início do texto, duas teses são apresentadas,
acompanhadas de hipóteses explicativas, que
c) a dos que são adeptos do que consideram como podem direcionar a interpretação dos leitores.
coisas prazerosas; a dos que negam os prazeres Essa configuração textual indicia que estamos
da vida cotidiana. diante de um texto argumentativo.
d) a dos que apreciam algo com exagero; a dos que d) Centrado na caracterização de um objeto espe-
odeiam deliberadamente todos os desfrutes cífico, de modo subjetivo, o texto é predominan-
mundanos. temente descritivo, aspecto visível por meio do
uso da exploração da sinestesia.

e) A alteração de papéis comunicativos como emis-


TEXTO: 63 - Comuns às questões: 162, 163 sor e receptor, além da presença de elementos
caracterizadores da interação verbal oral, permi-
01
— Mas o que é a língua? Para nós, ela não se
te que se defina o texto como uma sequência
confunde com a linguagem; 02 é somente uma parte
dialogal.
determinada, essencial dela, indubitavelmente. 03 É,
ao mesmo tempo, um produto social da faculdade
de linguagem e 04 um conjunto de convenções neces-
sárias, adotadas pelo corpo social 05 para permitir o Questão 163 - (Mackenzie SP)
exercício dessa faculdade nos indivíduos. Tomada 06
em seu todo, a linguagem é multiforme e heteróclita; Assinale a alternativa que indica de modo correto o
o cavaleiro de 07 diferentes domínios, ao mesmo tem- assunto explorado no texto.
po física, fisiológica e psíquica, 08 ela pertence além
disso ao domínio individual e ao domínio social; 09
não se deixa classificar em nenhuma categoria de
fatos humanos, 10 pois não se sabe como inferir sua a) A complementaridade distintiva entre língua e
unidade. linguagem.

11
A língua, ao contrário, é um todo por si e um b) A atribuição divina ao dom da linguagem huma-
princípio de 12 classificação. Desde que lhe demos o na.
primeiro lugar entre os fatos 13 da linguagem, intro- c) A diferença entre linguagem humana e comuni-
duzimos uma ordem natural num conjunto que 14 não cação animal.
se presta a nenhuma outra classificação.
d) A classificação dos tipos de língua faladas no
15
A esse princípio de classificação poder-se-ia ob- mundo.
jetar que o 16 exercício da linguagem repousa numa
faculdade que nos é dada 17 pela Natureza, ao passo e) A oposição entre língua natural e língua artifi-
que a língua constitui algo adquirido e 18 convencio- cial.
nal, que deveria subordinar-se ao instinto natural em
vez 19 de adiantar-se a ele.

Ferdinand de Saussure, TEXTO: 64 - Comuns às questões: 164, 165


Curso de linguística geral
Soneto

Questão 162 - (Mackenzie SP)


v.01 Um mancebo no jogo se descora,
Assinale a alternativa correta.
v.02 Outro bêbado passa noite e dia,

v.03 Um tolo pela valsa viveria,


a) Uma situação inicial desdobrada em eventos
com um momento de perturbação, e criação v.04 Um passeia a cavalo, outro namora.
de tensão, e de ações que convergem para um
v.05 Um outro que uma sina má devora
clímax permitem a classificação do texto como
narrativo. v.06 Faz das vidas alheias zombaria,
88 - www.PROJETOREDACAO.com.br
v.07 Outro toma rapé, um outro espia... Questão 165 - (Mackenzie SP)
v.08 Quantos moços perdidos vejo agora! Assinale a alternativa correta.

v.09 Oh! Não proíbam pois ao meu retiro a) Os dois primeiros quartetos que compõem o so-
neto são marcados por uma aprofundada espe-
v.10 Do pensamento ao merencório luto culação filosófica.
v.11 A fumaça gentil por que suspiro. b) O eu lírico, no verso “Quantos moços perdidos
vejo agora!”, se furta a fazer uma lamento moral
sobre sua geração.
v.12 Numa fumaça o canto d´alma escuto...
c) Nos dois tercetos finais do poema, está explícita
v.13 Um aroma balsâmico respiro, a ideia de que o eu lírico se recolhe da vida a fim
de pensar na mulher amada.
v.14 Oh! Deixai-me fumar o meu charuto!
d) Os versos foram compostos em um tom prosai-
co, imprimindo ao soneto um ar de crônica, per-
ceptível em especial nos oito primeiros versos.
Mancebo: Rapaz
e) Há no poema uma eletrizante positividade em
Merencório: melancólico relação às potencialidades da vida.

Questão 164 - (Mackenzie SP) TEXTO: 65 - Comum à questão: 166


Observe as afirmações sobre o texto. 01
É importante notar que o esforço para a produ-
ção dos sentidos 02 ocorre em virtude de os homens
desejarem estabelecer cadeias 03 comunicativas, seja
para informar, convencer, emocionar, seja para 04
I. Espiritualização e engajamento social são as saí-
explicar, determinar, aconselhar. Mas, para que isto
das encontradas pelo eu lírico no seu embate
acontecesse, 05 foi necessária aos diversos grupos hu-
com os problemas existenciais de toda uma ge-
manos a criação de códigos 06 linguísticos próprios,
ração.
acordos que conhecemos pelo nome de línguas 07 e
II. A angústia e a melancolia observáveis no poema que expressam maneiras particulares de conceber
são um traço marcante da geração “Mal do Sé- os significados, 08 as formas de uso, os mecanismos
culo”, a qual pertenceu Álvares de Azevedo. de elaboração do universo das 09 palavras. Sem isto,
as expressões linguísticas cairiam no vazio e as 10
III. Há um clima de “geração perdida” nos versos sentenças resultariam incompreensíveis. Imaginem
acima, como também uma intensa sensação de como ficaria um 11 alemão que não sabe português
tédio sentida pelo eu lírico. diante da frase “A lição está difícil”.
12
Em nosso caso, o código comum é a língua
portuguesa: graças 13 a ela produzimos, verbalmen-
Assinale a alternativa correta. te, os efeitos de sentido. No entanto, não 14 se deve
considerar o código comum como uma referência
padrão que 15 se mantém inalterada. Ao contrário,
a) As afirmações I e II estão corretas. a língua possui variabilidades, 16 usos diferenciados
conforme a situação cultural, econômica, etária, 17
b) As afirmações I e III estão corretas. regional do usuário.

c) As afirmações II e III estão corretas. Adilson Citelli, O texto argumentativo

d) Todas as afirmações estão corretas.

e) Nenhuma das afirmações está correta.

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Questão 166 - (Mackenzie SP) Mancebo: Rapaz

Pela leitura do texto, depreende-se corretamente que: Merencório: melancólico

a) por hipótese, a necessidade dos homens de es- Questão 167 - (Mackenzie SP)
tabelecer laços sociais motivou a criação das lín-
guas, que são, em definição, códigos linguísticos. Assinale a alternativa correta.

b) o isolamento social é a principal decorrência do


uso das línguas e dos processos comunicativos.
a) A partir da leitura do soneto, podemos apontar
c) o padrão dos códigos linguísticos são permanen- a importância do parnasiano tema da “arte pela
tes e imutáveis, a despeito do uso que os falan- arte” na escrita amorosa do livro Lira dos Vinte
tes fazem deles. Anos.

d) a função dos códigos comuns é controlar em b) Traços épicos, oriundos da poesia de Homero,
termos definitivos os usos diferenciados das lín- Virgilio e Camões, são identificáveis no soneto,
guas em situações específicas. especialmente devido às referências noturnas.

e) as línguas são iguais nas formas como concebem c) O caráter tão debatido do sentimentalismo ro-
e manifestam significados, independentemente mântico é negado nos versos: Por ti – as noites
de serem códigos diversos. eu velei chorando,/Por ti – nos sonhos morrerei
sorrindo! (v.13 e v.14).

d) Em termos de composição cromática, o soneto


TEXTO: 66 - Comum à questão: 167 lança mão de um jogo de cores primárias inten-
sas, bem como de metáforas solares e reluzen-
Soneto tes.

e) Identifica-se o tema, presente na lírica em língua


portuguesa desde o Trovadorismo, da mulher
v.01 Um mancebo no jogo se descora, idealizada, distante e indiferente aos anseios
v.02 Outro bêbado passa noite e dia, amorosos do eu lírico.

v.03 Um tolo pela valsa viveria,

v.04 Um passeia a cavalo, outro namora. TEXTO: 67 - Comum à questão: 168


Saúde mental - O fim da psicoterapia?

v.05 Um outro que uma sina má devora

v.06 Faz das vidas alheias zombaria,


1
Nota publicada recentemente na revista Pop-
Science 2 revela que o relato semanal ou quinzenal
v.07 Outro toma rapé, um outro espia... feito pelos 3 pacientes quando se sentam no sofá de
um terapeuta pode se 4 extinguir como prática de
v.08 Quantos moços perdidos vejo agora! saúde mental. O texto aponta para 5 o fato de que a
psicoterapia tradicional tem sido 6 desestimulada ao
longo dos anos, enquanto mais e mais 7 psiquiatras e
até mesmo clínicos gerais prescrevem 8 medicamen-
v.09 Oh! Não proíbam pois ao meu retiro
tos psicotrópicos, em vez de encaminharem seus 9
v.10 Do pensamento ao merencório luto clientes à terapia. O uso de psicoterapia para pessoas
em 10 tratamento mental nos Estados Unidos dimi-
v.11 A fumaça gentil por que suspiro. nuiu em quase 11 16% para 10,5%. O uso de terapia
em conjunto com a 12 medicação, por sua vez, caiu
de 40% para 32%. Por outro 13 lado, as taxas de uso
de medicação como único processo de 14 tratamento
v.12 Numa fumaça o canto d´alma escuto... para questões mentais subiu de 41% para pouco 15
mais de 57%. Tal fato não ocorre diante da ineficácia
v.13 Um aroma balsâmico respiro,
da 16 psicoterapia tradicional para questões como de-
v.14 Oh! Deixai-me fumar o meu charuto! pressão ou 17 ansiedade. Pelo contrário, as evidências
encontradas em 18 outros estudos apontam resulta-
90 - www.PROJETOREDACAO.com.br
dos mais eficazes e 19 duradouros para psicoterapia, nacional Association of 14 Psychosocial Rehabilitation
em relação às drogas 20 psicotrópicas. Muitas ações Services, de 1985, seria “o 15 processo de facilitar ao
na área de saúde, entretanto, são 21 movidas por in- indivíduo com limitações a 16 restauração, no melhor
teresses mercadológicos. nível possível, da autonomia do 17 exercício de suas
funções na comunidade. O processo 18 enfatizaria
MARQUES, Suzana. Saúde mental – O as partes mais sadias e a totalidade de potências 19
fim da psicoterapia? In: Revista Psique, do indivíduo, mediante uma abordagem compreen-
ano VII, edição 93, setembro de 2013, siva e um 20 suporte vocacional, residencial, social,
p.13, com adaptações. recreacional, 21 educacional, ajustados às demandas
singulares de cada 22 indivíduo e de cada situação de
modo singularizado.”
Questão 168 - (UCB DF) PITTA, Ana Maria Fernandes. Reabilitação
psicossocial no Brasil. Org. São Paulo:
Em Saúde mental - O fim da psicoterapia?, infere-se
Hucitec, 2001, p.19, com adaptações.
o ponto de vista da autora acerca da substituição da
psicoterapia por medicamentos psicotrópicos em
tratamento mental por meio da
Questão 169 - (UCB DF)
Infere-se do texto que a reabilitação psicossocial no
a) associação de muitas ações na área de saúde Brasil, além de significar uma reforma das institui-
aos interesses mercadológicos em contraponto ções psiquiátricas, trata
aos resultados mais eficazes e duradouros da
psicoterapia.

b) descrição de dados que apontam para a dimi- a) de doenças incuráveis com compreensão e in-
nuição da psicoterapia em tratamento mental. centivo profissional.
c) apresentação de uma sucessão de verbos no b) de doenças severas e persistentes, com base na
pretérito para contar como a psicoterapia dei- medicalização.
xou de ser um tratamento relevante.
c) da saúde para prevenir doenças mentais crôni-
d) citação da revista PopScience, que revela a im- cas.
portância dos medicamentos em tratamentos
mentais. d) dos aspectos positivos de cada paciente, da to-
talidade de potências do indivíduo.
e) argumentação favorável ao tratamento que as-
socia medicamentos a psicoterapia. e) das partes sadias do corpo de indivíduos, de for-
ma geral, para lhes dar autonomia.

TEXTO: 68 - Comum à questão: 169


Questão 170 - (UCB DF)
O que é reabilitação psicossocial no Brasil, hoje?
O Assinalado

1
A história é recente. Fala-se em reabilitação 2 psi-
cossocial há, no máximo, quatro décadas; no entan- 1 Tu és o louco da imortal loucura,
to, 3 muitos são os usos que têm sido feitos em seu
nome. Não se 4 pode esgotar aqui os seus múltiplos O louco da loucura mais suprema.
sentidos; cabe-nos apenas 5 destacar, a voo de pássa-
ro, um pouco de sua história, seus 6 conceitos, suas A Terra é sempre a tua negra algema,
práticas, com o sentido de explorarmos o que 7 dele 4 Prende-te nela a extrema Desventura.
nos seja útil em um momento em que tentamos levar
a 8 sério uma reforma das instituições psiquiátricas
no Brasil.
Mas essa mesma algema de amargura,
9
No seu sentido instrumental, a reabilitação 10
psicossocial representa um conjunto de meios (pro- Mas essa mesma Desventura extrema
gramas e 11 serviços) que se desenvolvem para faci-
litar a vida de 12 pessoas com problemas severos e 7 Faz que tua alma suplicando gema
persistentes. Em uma 13 definição clássica da Inter-
www.PROJETOREDACAO.com.br - 91
E rebente em estrelas de ternura. Jogo de fidalguia, bom barato,

Tirar falsídia ao moço do seu trato,

Tu és o Poeta, o grande Assinalado Furtar a carne à ama, que promete;

10 Que povoas o mundo despovoado,

De belezas eternas, pouco a pouco. A putinha aldeã achada em feira,

Eterno murmurar de alheias famas,

Na Natureza prodigiosa e rica Soneto infame, sátira elegante;

13 Toda audácia dos nervos justifica

14 Os teus espasmos imortais de louco! Cartinhas de trocado para a freira,

Disponível em: <https://www.escritas.org>. Acesso Comer boi, ser Quixote com as damas,
em: 4 out. 2018.
Pouco estudo: isto é ser estudante.

WISNIK, J. M. (Org.). Poemas es-


O poema O Assinalado destaca a criação poética colhidos de Gregório de Matos.
apresentando uma visão do eu lírico relativamente São Paulo: Companhia das
a esse tema. Assinale a alternativa que indica essa Letras, 2010. p. 173.
visão.

Questão 171 - (UEL PR)


a) Ser poeta é estar ligado ao mundo exterior e
alheio ao mundo interior da loucura e da des- Sobre o poema, considere as afirmativas a seguir.
ventura.

b) Ser poeta é estar alheio ao mundo exterior, pois


a “negra algema” o prende ao mundo interior. I. O poema estabelece uma diferenciação entre o
estudante rico, que tudo tem, e o estudante po-
c) Ser poeta é uma espécie de sina, de loucura, bre, que é obrigado a “furtar carne à ama”.
pois ele está fadado a viver a desventura.
II. O poema tem início com uma distinção entre o
d) Ser poeta é estar alheio ao social, pois a sua mis- bom e o mau estudante: “Mancebo sem dinhei-
são é povoar o mundo de “belezas eternas”. ro, bom barrete, /Medíocre o vestido, bom sa-
pato [...]”.
e) Ser poeta é estar ligado ao mundo exterior e
alheio ao mundo interior. III. O poema é construído a partir de pequenos
quadros que denotam as várias práticas do es-
tudante, sendo que quase nenhuma delas está
associada ao estudo.
TEXTO: 69 - Comum à questão: 171
IV. A repetição de formas verbais no infinitivo indi-
Descreve a vida escolástica ca uma permanência das características negati-
vas elencadas a respeito do estudante.

Assinale a alternativa correta.


Mancebo sem dinheiro, bom barrete,

Medíocre o vestido, bom sapato,


a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
Meias velhas, calção de esfola-gato,
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
Cabelo penteado, bom topete.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.


Presumir de dançar, cantar falsete,
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
92 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 70 - Comuns às questões: 172, 173, 174 b) As referências à personalidade de Cassi demons-
tram como a personagem era espontânea no su-
Leia o fragmento, a seguir, retirado do livro Clara dos búrbio enquanto no centro da cidade sobressaía
Anjos, de Lima Barreto. sua artificialidade.

c) As alusões à fama correspondem à “rusticidade”


atribuída pelo narrador aos modos com que a
Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em personagem circula pelos dois ambientes da ci-
pleno Campo de Sant’Ana, no meio da multidão que dade.
jorrava das portas da Catedral, cheia da honesta
pressa de quem vai trabalhar. A sua sensação era que d) A fama da personagem remete ao orgulho de
estava numa cidade estranha. No subúrbio tinha os seu desempenho social no subúrbio, o que lhe
seus ódios e os seus amores; no subúrbio, tinha os garantia, lá, imunidade à condição de “humilde”
seus companheiros, e a sua fama de violeiro percor- e “medíocre”.
ria todo ele, e, em qualquer parte, era apontado; no
subúrbio, enfim, ele tinha personalidade, era bem e) O termo “personalidade” significa que a deter-
Cassi Jones de Azevedo; mas, ali, sobretudo do Cam- minação da personagem para preservar, longe
po de Sant’Ana para baixo, o que era ele? Não era do subúrbio, seus valores éticos era a causa de
nada. Onde acabavam os trilhos da Central, acabava seus infortúnios.
a sua fama e o seu valimento; a sua fanfarronice eva-
porava-se, e representava-se a si mesmo como esma-
gado por aqueles “caras” todos, que nem o olhavam.
[...] Questão 173 - (UEL PR)
Com base no trecho e no romance, acerca das rela-
ções entre personagens e os estilos de época, consi-
Na “cidade”, como se diz, ele percebia toda a sua in- dere as afirmativas a seguir.
ferioridade de inteligência, de educação; a sua rus-
ticidade, diante daqueles rapazes a conversar sobre
cousas de que ele não entendia e a trocar pilhérias; I. Clara, ao nutrir ilusões quanto às intenções
em face da sofreguidão com que liam os placards dos amorosas de Cassi, aproxima-se da condição so-
jornais, tratando de assuntos cuja importância ele nhadora de personagens femininas românticas.
não avaliava, Cassi vexava-se de não suportar a leitu-
ra; comparando o desembaraço com que os fregue- II. Clara, ao entregar-se a Cassi e ao ceder às suas
ses pediam bebidas variadas e esquisitas, lembrava- investidas sexuais, exibe a dificuldade de resistir
-se que nem mesmo o nome delas sabia pronunciar; aos instintos, como ocorre com personagens fe-
olhando aquelas senhoras e moças que lhe pareciam mininas naturalistas.
rainhas e princesas, tal e qual o bárbaro que viu, no
Senado de Roma, só reis, sentia-se humilde; enfim, III. Cassi, ao recorrer a falsas promessas e fugir das
todo aquele conjunto de coisas finas, de atitudes responsabilidades com Clara, destoa da carac-
apuradas, de hábitos de polidez e urbanidade, de terização afetiva e moral dos heróis masculinos
franqueza no gastar, reduziam-lhe a personalidade românticos.
de medíocre suburbano, de vagabundo doméstico, a
quase cousa alguma. IV. Cassi, ao compreender a complexidade das in-
justiças sociais que se abatem contra ele e os
BARRETO, Lima. Clara dos demais suburbanos, acirra o espírito combativo,
Anjos. Rio de Janeiro: Gar- assim como os heróis modernistas.
nier, 1990. p. 130-131.

Assinale a alternativa correta.


Questão 172 - (UEL PR)
Sobre as referências aos termos “fama” e “persona-
lidade”, que aparecem duas vezes cada um no frag- a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
mento, assinale a alternativa correta.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.


a) O apego à fama evidencia que Cassi era inocen-
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
te em sua vida amorosa e que o conceito de si
mesmo como um artista o eximia de culpa nos e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
relacionamentos com as moças virgens.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 93
Questão 174 - (UEL PR) de acontecer com o interfone nem com o porteiro.

Com base no trecho e no romance, considere as afir-


mativas a seguir.
Ganhei a rua e saí a esmo, querendo dar o fora dali o
mais depressa possível, como se alguém me vigiasse
ou me perseguisse, mas saí andando decidida, como
I. A frase “Não era nada” estabelece conexão en- se soubesse perfeitamente aonde ia, pisando duro,
tre Cassi e o desfecho vivido por Clara, embora como nunca tinha pisado em parte alguma da minha
os motivos dessas avaliações tenham graus de antiga terra, lá onde eu sempre soube ou achava que
relevância e sentidos diferentes para cada per- sabia que rumo tomar. Saí, sem perguntar nada ao
sonagem. guri da banca da esquina nem a ninguém, até que
me visse a uma distância segura daquele endereço
II. Clara e Cassi são superprotegidos por suas mães; que me impingiram e onde eu me sentia espionada,
contudo, Clara é mantida em sua ingenuidade, sabe-se lá que raio de combinação eles tinham com
sem exposição à realidade, enquanto Cassi é os porteiros, com os vizinhos? Olhe só, Barbie, como
acobertado a cada maldade cometida. eu chegava perigosamente perto da paranoia e ainda
III. O assassinato de Marramaque afeta Clara e Cas- falo “deles” como se fossem meus inimigos, minha
si sob perspectivas diferentes: Clara sofre com a filha e meu genro
morte do padrinho, enquanto Cassi é o mentor REZENDE, Maria Valéria. Qua-
daquele crime. renta dias. 1ª ed. Rio de Janeiro:
IV. A ideia de “polidez” acentua diferenças entre Objetiva, 2014. p. 95-96.
Clara e Cassi: enquanto ele ostenta essa qualida-
de no subúrbio e no centro, ela, como autêntica
suburbana, é tosca, carente de lapidação. Questão 175 - (UEL PR)
Com base no trecho e no romance, considere as afir-
mativas acerca da Barbie, mencionada na última fra-
Assinale a alternativa correta.
se do trecho.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.


I. Barbie é uma espécie de “ouvinte” dos relatos e
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. das confissões da narradora.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. II. Barbie, imagem asséptica, serve de contraste
com os difíceis percursos da narradora em Porto
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. Alegre.

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. III. Barbie é o apelido criado pela narradora para
Milena, sua diarista em Porto Alegre.

IV. Barbie, boneca posta pela filha de Alice sobre


TEXTO: 71 - Comuns às questões: 175, 176, 177 um móvel do apartamento, ouve confidências e
desabafos da protagonista.
Leia o trecho, a seguir, retirado do livro Quarenta
dias, de Maria Valéria Rezende.

Assinale a alternativa correta.

Saí, em busca de Cícero Araújo ou sei lá de quê, mas


sem despir-me dessa nova Alice, arisca e áspera, que
tinha brotado e se esgalhado nesses últimos meses a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
e tratava de escamotear-se, perder-se num mundo
sem porteira, fugir ao controle de quem quer que b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
fosse. Tirei o interfone do gancho e o deixei balan- c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
çando, pendurado no fio, bati a porta da cozinha e
desci correndo pela escada de serviço, esperando d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
que o porteiro se enfiasse na guarita pra responder
ao interfone de frente pro saguão, de modo que eu e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
pudesse sair de fininho, por trás dos pilotis, e escapar
sem ser vista. Não me importava nada o que haveria
94 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 176 - (UEL PR) [...] Um dia o ladrão apareceu em sua casa dizen-
do ao administrador que ali estava para devolver uma
Com base no trecho e no romance, assinale a alter- joia que furtara à dona fazia dois anos. Dois anos!
nativa correta sobre Cícero. Impossível! – pensou o administrador, pois dona Ar-
ginusa diariamente passava em revista suas joias e
nunca deu por falta de nenhuma! Mas como o ladrão
a) A referência a Cícero revela que a protagonista insistisse, dona Arginusa apareceu, tomou a joia, e
tem pouco interesse sobre essa personagem, o após minucioso exame reconheceu que era mesmo
que se confirma no desenrolar do romance. seu aquele broche de ouro e brilhantes, fora sua mãe
que o herdou da avó, que herdou de outra avó. Só
b) Cícero é o homem pelo qual a protagonista foi a ideia de ter podido perder a joia causou à sensí-
abandonada e a quem ela passa a perseguir vel senhora um desgosto tão grande que logo vieram
após ter sido desprezada pela filha e pelo genro. médicos e enfermeiras ministrar-lhe sais e injeções.

c) Encontrar Cícero torna-se o objetivo da protago- Mas dona Arginusa tinha como princípio rígi-
nista que, assim, mantém vivos os vínculos da do não perdoar nunca os ladrões porque muita vez
maternidade, após a decepção com a filha. um simples castigo podia corrigir um transviado ou
salvar uma alma do inferno. Por isso, chamou a po-
d) Cícero, o filho desaparecido de uma vizinha de lícia e determinou que se instaurasse o mais rigoro-
Porto Alegre, desperta na protagonista um es- so e perfeito dos inquéritos e depois de provada de
pírito detetivesco afinado com suas transforma- maneira irrefutável a culpa, aplicassem ao faltoso o
ções na nova cidade. castigo capaz de redimir de uma vez por todas da-
quela vida de crime e de pecado, amém. Foi nesse
e) Localizar Cícero em Porto Alegre é o que leva a processo que se oficializou definitivamente seu cargo
protagonista a sair da Paraíba em busca de uma de ladrão. O mais rico comerciante declarou sob os
vida abnegada. evangelhos que certa feita um caixeiro seu fez o acu-
sado desenrolar a barra de calça, na loja e de dentro
caíram três pedrinhas de sal provavelmente furtadas
no armazém onde possuía toneladas e toneladas de
Questão 177 - (UEL PR)
sal; o maior fazendeiro com a dignidade de suas dez
Com base no trecho, assinale a alternativa correta so- mil cabeças de gado de qualidade provou com deta-
bre a comparação dos espaços. lhes impressionantes que certa noite de luar os ca-
maradas viram o acusado roubar um ovo de galinha
da fazenda.

a) O prédio é espaço de maior segurança e confor- E o acusado, graças à piedosa senhora, foi recolhi-
to para a personagem, em comparação com os do à prisão por muitos anos.
perigos oferecidos pelas ruas das imediações.
(ÉLIS, Bernardo. A lavadeira cha-
b) O apartamento é um espaço que desperta mais mava-se pedra. Melhores contos
desconfiança do que a portaria pela sensação de de Bernardo Élis. 4. ed. São
perseguição. Paulo: Global, 2015. p. 111.)

c) A Paraíba é o espaço que permite à personagem


maior conhecimento quanto a rumos a serem
tomados, em comparação com Porto Alegre. Às vezes, por mais que o indivíduo seja
qualificado, que tenha diplomas e títulos, a
d) A cidade onde a protagonista está é palco de de- desigualdade social é tamanha que ele é vencido
cisões mais acertadas do que o lugar de onde ela pelas circunstâncias e torna-se, sob diferentes
veio. aspectos, refém do poder. Se não tem qualificação
nem quem o valha, a exploração torna-se mais
e) A banca da esquina é um espaço menos suscetí- irremediável. Analise as assertivas sobre o texto de
vel à paranoia da protagonista do que a escada Élis:
de serviço do prédio.

I. Pode-se reconhecer um tom irônico ao avaliar-


Questão 178 - (PUC GO) mos as ações dos ricos diante da ação do pobre
no trecho destacado, devido à oposição entre a
Leia o fragmento do conto A lavadeira chamava-se honestidade do ladrão pobre e a honestidade do
pedra, de Bernardo Élis: comerciante e do fazendeiro ricos.

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POIS a) ser sofrido, pobre discriminado e explorado por
seu patrão.
II. A referência ao “mais rigoroso e perfeito dos in-
quéritos”, à prova irrefutável da culpa, ao pos- b) ter uma personalidade delicada e prestativa, tra-
suidor de toneladas de sal que, sob juramento, balhadora e honesta.
acusa o ladrão de provavelmente ter furtado
“três pedrinhas de sal” e a dignidade medida em c) ser sistemático e retraído com o trabalho desen-
“dez mil cabeças de gado de qualidade” susci- volvido em casas alheias.
tam a desconfiança sobre os fatos.
d) ter a coragem de enfrentar qualquer trabalho
para bajular o sitiante amigo.

Assinale a resposta correta:


Questão 180 - (PUC GO)

a) A assertiva I está correta e a II está errada. As estatísticas comprovam que o feminicídio é


um grave problema na nossa sociedade. Esses dados
b) A assertiva II está correta e a I está errada. demonstram que a educação familiar, muitas vezes,
tende a supervalorizar o gênero masculino em detri-
c) Ambas as assertivas estão corretas e a I justifica mento do gênero feminino, enquanto deveria pro-
a II. mover a igualdade desde o berço. Esse ponto de vista
encontra-se “ironicamente” salientado na seguinte
d) Ambas as assertivas estão corretas e a II justifica
citação retirada de um texto de Jô Soares: “A mulher
a I.
também é um ser humano, quase como a gente.”

(Disponível em: https://www.


Questão 179 - (PUC GO) folhadelondrina.com.br/geral
/jo-soares- os-dez-mandamen-
O texto a seguir é um fragmento do conto A enxada, tos-do-machista-horroroso-ou-
de Bernardo Élis. Leia-o com atenção: o-crepusculo- -dos-machoes-
101487.html. Acesso em:
10 jul. 2018.)

“Não sei adonde que Piano aprendeu tanto pre-


ceito” — pensava Dona Alice. E ninguém podia tirar
sua razão. Supriano era feio, sujo, maltrapilho, mas Assinale a alternativa cujos itens confirmam correta-
delicado e prestimoso como ele só. Naquele dia, por mente a citação de Jô Soares:
exemplo, chegou no sítio do Seu Joaquim Faleiro,
marido de Dona Alice, beirando aí as sete horas, no
momento em que a mulher mais os filhos estavam I. Para muitos homens, a mulher é humana e me-
sapecando um capado matado indagorinha. nos capacitada que eles.
— Com sua licença, Dona Alice. — E Piano sa- II. Muitos homens consideram as mulheres tão ca-
pecou o bicho, abriu, separou a barrigada, tirou as pazes quanto eles.
peças de carne, o toucinho e, na hora do almoço, já
estava tudo prontinho na salga. Aí Seu Joaquim che- III. Para muitos homens, a mulher também é tão ca-
gou da roça para o almoço e enconvidou Piano para paz quanto eles.
comer, mas ele enjeitou.
IV. Muitos homens defendem que a mulher é hu-
(ÉLIS, Bernardo. A enxada. In: mana, mas é inferior a eles.
Melhores contos de Bernardo
Élis. 4. ed. São Paulo: Glo-
bal pocket, 2015. p. 56.)
a) I, II, III E IV

b) I, II e III.
A respeito do pensamento de Dona Alice sobre Su-
priano “ser homem de preceitos”, indique a alterna- c) I e IV.
tiva que corretamente se relaciona com a caracterís-
tica de o personagem: d) II, III e IV.

96 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 72 - Comum à questão: 181 tudo haveria 62 de ser diferente. Maria, não te esque-
ci! 63 Tá tudo aqui no buraco do peito...
MARIA

64
O homem falava, mas continuava estático, 65 preso,
1
Maria estava parada há mais de meia hora no pon-
2
fixo no banco. Cochichava 66 com Maria as palavras,
to de ônibus. Estava cansada de 3 esperar. Se a distân- sem entretanto 67 virar para o lado dela. Ela sabia o
cia fosse menor, teria 4 ido a pé. Era preciso mesmo ir que 68 o homem dizia. Ele estava dizendo de 69 dor,
se acostumando 5 com a caminhada. Os ônibus esta- de prazer, de alegria, de filho, de 70 vida, de morte,
vam 6 aumentando tanto! Além do cansaço, 7 a sacola de despedida. Do buraco- 71 saudade no peito dele...
estava pesada. No dia anterior, 8 no domingo, havia Desta vez 72 ele cochichou um pouquinho mais alto. 73
tido festa na casa da 9 patroa. Ela levava para casa os Ela, ainda sem ouvir direito, adivinhou a 74 fala dele:
restos. 10 O osso do pernil e as frutas que tinham 11 um abraço, um beijo, um carinho 75 no filho. E logo
enfeitado a mesa. Ganhara as frutas e 12 uma gorjeta. após, levantou rápido 76 sacando a arma. Outro lá
O osso a patroa ia jogar fora. 13 Estava feliz, apesar do atrás gritou 77 que era um assalto. Maria estava com
cansaço. A gorjeta 14 chegara numa hora boa. Os dois 78
muito medo. Não dos assaltantes. Não 79 da morte.
filhos 15 menores estavam muito gripados. Precisava Sim da vida. Tinha três filhos. 80 O mais velho, com
16
comprar xarope e aquele remedinho 17 de desentu- onze anos, era filho 81 daquele homem que estava ali
pir o nariz. Daria para comprar 18 também uma lata na frente 82 com uma arma na mão. O de lá de 83 trás
de Toddy. As frutas estavam 19 ótimas e havia melão. vinha recolhendo tudo. O motorista 84 seguia a via-
As crianças 20 nunca tinham comido melão. Será que gem. Havia o silêncio de todos 85 no ônibus. Apenas a
os 21 meninos gostavam de melão? voz do outro 86 se ouvia pedindo aos passageiros que
87
entregassem tudo rapidamente. O medo 88 da vida
em Maria ia aumentando. Meu 89 Deus, como seria
22
A palma de umas de suas mãos doía. 23 Tinha so- a vida dos seus filhos? 90 Era a primeira vez que ela
frido um corte, bem no meio, 24 enquanto cortava o via um assalto 91 no ônibus. Imaginava o terror das
pernil para a patroa. 25 Que coisa! Faca-laser corta até
92
pessoas. O comparsa de seu ex-homem 93 passou
a vida! por ela e não pediu nada. Se 94 fossem outros os as-
saltantes? Ela teria 95 para dar uma sacola de frutas,
um osso 96 de pernil e uma gorjeta de mil cruzeiros.
97
Não tinha relógio algum no braço. Nas 98 mãos ne-
26
Quando o ônibus apontou lá na esquina, 27 Ma- nhum anel ou aliança. Aliás, nas 99 mãos tinha sim!
ria abaixou o corpo, pegando a sacola 28 que estava Tinha um profundo corte 100 feito com faca-laser que
no chão entre as suas pernas. 29 O ônibus não esta- parecia cortar 101 até a vida. 102 Os assaltantes desce-
va cheio, havia lugares. 30 Ela poderia descansar um ram rápido. Maria 103 olhou saudosa e desesperada
pouco, 31 cochilar até a hora da descida. Ao entrar, 32 para o 104 primeiro.
um homem levantou lá de trás, do último 33 banco,
fazendo um sinal para o trocador. 34 Passou em silên-
cio, pagando a passagem 35 dele e de Maria. Ela reco-
nheceu o 36 homem. Quanto tempo, que saudades!
105
Foi quando uma voz acordou a coragem 106 dos
37
Como era difícil continuar a vida sem ele. 38 Maria demais. Alguém gritou que aquela 107 puta safada
sentou-se na frente. O homem assentou- 39 se ao lado conhecia os assaltantes. Maria 108 assustou-se. Ela
dela. Ela se lembrou 40 do passado. Do homem deita- não conhecia assaltante 109 algum. Conhecia o pai do
do com ela. 41 Da vida dos dois no barraco. Dos pri- seu primeiro 110 filho. Conhecia o homem que tinha
meiros 42 enjoos. Da barriga enorme que todos 43 di-
111
sido dela e que ela ainda amava tanto. 112 Ouviu
ziam gêmeos, e da alegria dele. Que 44 bom! Nasceu! uma voz: Negra safada, vai ver que 113 estava de co-
Era um menino! E haveria 45 de se tornar um homem. leio com os dois. Outra voz 114 ainda lá do fundo do
Maria viu, sem 46 olhar, que era o pai do seu filho. ônibus acrescentou: 115 Calma, gente!Se ela estives-
Ele continuava 47 o mesmo. Bonito, grande, o olhar 48 se junto com 116 eles, teria descido também. Alguém
assustado não se fixando em nada e em 49 ninguém. argumentou 117 que ela não tinha descido só para 118
Sentiu uma mágoa imensa. Por 50 que não podia ser disfarçar. Estava mesmo com os ladrões. 119 Foi a úni-
de outra forma? Por 51 que não podiam ser felizes? E ca a não ser assaltada. Mentira, 120 eu não fui e não
o menino, 52 Maria? Como vai o menino? cochichou o sei porquê. Maria olhou 121 na direção de onde vinha
53
homem. Sabe que sinto falta de vocês? 54 Tenho um a voz e viu um 122 rapazinho negro e magro, com fei-
buraco no peito, tamanha a 55 saudade! Tou sozinho! ções de 123 menino e que relembrava vagamente o 124
Não arrumei, não 56 quis mais ninguém. Você já teve seu filho. A primeira voz, a que acordou 125 a coragem
outros... 57 outros filhos? A mulher baixou os olhos de todos, tornou-se um grito: 126 Aquela puta, aquela
58
como que pedindo perdão. É. Ela teve 59 mais dois negra safada estava 127 com os ladrões! O dono da
filhos, mas não tinha ninguém 60 também! Homens voz levantou 128 e se encaminhou em direção à Maria.
também? Eles haveriam 61 de ter outra vida. Com eles A 129 mulher teve medo e raiva. Que merda! 130 Não
conhecia assaltante algum. Não devia 131 satisfação a
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ninguém. Olha só, a negra 132 ainda é atrevida, disse d) I, II e IV.
o homem, lascando 133 um tapa no rosto da mulher.
Alguém 134 gritou: Lincha! Lincha! Lincha!... Uns pas- e) Apenas I.
sageiros 135 desceram e outros voaram em 136 direção
à Maria. O motorista tinha parado 137 o ônibus para
defender a passageira: Calma, 138 pessoal! Que loucu-
TEXTO: 73 - Comuns às questões: 182, 183
ra é esta? Eu conheço 139 esta mulher de vista. Todos
os dias, 140 mais ou menos neste horário, ela toma o
141
ônibus comigo. Está vindo do trabalho, da 142 luta
para sustentar os filhos...

143
Lincha! Lincha! Lincha! Maria punha sangue 144
pela boca, pelo nariz e pelos ouvidos. 145 A sacola
havia arrebentado e as frutas rolavam 146 pelo chão.
Será que os meninos 147 gostam de melão? 148 Tudo
foi tão rápido, tão breve. Maria tinha 149 saudades
do seu ex-homem. Por que estavam 150 fazendo isto
com ela? O homem havia 151 segredado um abraço,
um beijo, um carinho 152 no filho. Ela precisava chegar
em casa 153 para transmitir o recado. Estavam todos
154
armados com facas-laser que cortam até 155 a vida.
Quando o ônibus esvaziou, quando 156 chegou a po-
Disponível em:<http://anacristinapb.blogs-
lícia, o corpo da mulher já estava 157 todo dilacerado,
pot.com/2011/07/ charge-sobre-educacao-
todo pisoteado. 158 Maria queria tanto dizer ao filho
e-tecnologia.html>. Acesso em 07 de
que o pai 159 havia mandado um abraço, um beijo, um
agosto de 2018.
160
carinho.

EVARISTO, Conceição. Olhos


d’ água. Rio de Janeiro:Ed. Questão 182 - (IFBA)
Pallas,2014, p.39-42.
No conteúdo discursivo da charge, podemos afirmar
que:
Questão 181 - (IFBA)
I. No Conto da escritora Conceição Evaristo há a a) O conteúdo não apresenta relação com proble-
representação sofrida por mulheres negras víti- mas sociais.
mas da desigualdade social.
b) O tema central distancia da relação educação e
II. A personagem Maria é violentada simbólica e tecnologia para as desigualdades sociais.
fisicamente por uma prática machista.
c) É discutida a problemática do uso de recursos
III. O papel de mulher apaixonada e de mãe é posto tecnológicos nas escolas em discrepância com a
por Maria como menor em relação ao contexto. realidade social de famílias brasileiras.
IV. O conto apresenta uma discrepância social na d) O conteúdo trata sobre a dificuldade de recursos
relação das condições de vida de Maria em rela- das escolas para a inclusão digital das/os estu-
ção à Patroa. dantes.

e) O foco é discutir que sem o computador, os es-


tudantes terão dificuldades de aprendizagem.
Assinale a alternativa que corresponde às opções
verdadeiras:

Questão 183 - (IFBA)


a) Apenas II. Assinale a alternativa verdadeira sobre a charge:
b) I e II.

c) Apenas III. a) Apresenta-se um discurso de estereótipos raciais.

98 - www.PROJETOREDACAO.com.br
b) O texto não estabelece relação com questões ra- Um grupo de especialistas em direitos humanos das
ciais. Nações Unidas pediu que o Brasil reconsidere seu
programa de austeridade fiscal e coloque os direitos
c) A estética das personagens representa questões humanos de sua população, que está sofrendo duras
de gênero e da população negra. consequências, no centro de suas políticas econômi-
cas.
d) Os elementos visuais favorecem a desconstru-
ção de estereótipos raciais e de gênero.

e) Há um cuidado na representação étnico-racial. A reportagem é publicada no portal Nações Unidas


Brasil, em 03-08-2018.

TEXTO: 74 - Comum à questão: 184


“Pessoas vivendo na pobreza e outros grupos mar-
É necessário que a mulher se coloque em um es- ginalizados estão sofrendo desproporcionalmente
paço mínimo de resistência, denunciando ameaças como resultado de medidas econômicas restritivas
– quando há tempo para isso –, mas, ainda que ela em um país que já foi considerado exemplo de políti-
denuncie, não evitará o crime se o Estado não se mo- cas progressistas para reduzir a pobreza e promover
bilizar para protegê-la. O que evita o feminicídio é a a inclusão social”, disseram os especialistas.
resposta estatal à violência.
Texto Adaptado. Disponível em:
COSTA,Waleska. No aniversário da Lei <http://www.ihu.unisinos. br/581
Maria da Penha, 5 feminicídios nas últi- 554-brasil-precisa-colocar-direitos-hu-
mas 48h. Disponível em:<https:// www. manos-afrente- da-austeridade-fiscal-
metropoles.com/brasil/no-aniversario-da dizem-relatores-da-onu>. Aces-
-lei-maria-dapenha- 4-feminicidios-nas-ul- so em 08 de agosto de 2018.
timas-48h>. Acesso em 07 de agosto de 2018.

De acordo com o texto acima é correto afirmar que:


Questão 184 - (IFBA)
O apelo central da fala da Waleska Costa é:
a) Políticas públicas de Direitos humanos não pro-
porcionam a redução da pobreza.
a) A falta de tempo para as mulheres vitimadas de- b) O problema das condições de pobreza de grupos
nunciarem. em situação de vulnerabilidade é consequência
de políticas econômicas reducionistas.
b) O Estado não protege as mulheres.
c) A troca da palavra “austeridade” por “severida-
c) Alertar o Estado para a busca de ações com ce-
de” altera o significado do texto porque não são
leridade para proteção de mulheres vítimas de
sinônimas.
violência.
d) A inclusão social se constitui um instrumento de
d) As mulheres não denunciam a violência domés-
elevação da pobreza.
tica.
e) Não há uma relação entre política econômica e
e) Os motivos que levam as mulheres vitimadas a
política social.
não denunciarem.

TEXTO: 75 - Comuns às questões: 186, 187


Questão 185 - (IFBA)
SUPER VELOCIDADE
BRASIL PRECISA COLOCAR

DIREITOS HUMANOS À FRENTE


O velocista escarlate consegue mover-se a uma velo-
DA AUSTERIDADE FISCAL,
cidade sobre-humana e, com isso, é capaz de violar
DIZEM RELATORES DA ONU várias leis da Física. Barry Allan ganhou seus poderes
após ser atingido por um raio. Então, ele resolveu co-
locar um colante vermelho e sair por aí, correndo.

www.PROJETOREDACAO.com.br - 99
Depois de um tempo, acabou se juntando a outros A Primeira Lei de Newton fala da Inércia, que é a
super- heróis integrando a Liga da Justiça. Será que a resistência a uma mudança no estado natural de re-
gente conseguiria correr por aí como o Flash? pouso ou movimento. Isso significa que um objeto
vai continuar se movendo ou continuar parado, a não
ser que algo mude isso. Ela estava parada e acelerou
até a sua velocidade em menos de um segundo. O
Nós somos uma espécie bem lenta quando compa- cérebro dela se chocaria com uma das paredes den-
rada a outras. Nossos pés e pernas evoluíram para tro do crânio no momento do seu salvamento e, ao
escalar árvores. Nós começamos a andar eretos re- parar abruptamente, o cérebro se chocaria com a ou-
centemente enquanto outros animais evoluíram de tra parede do crânio, transformando-se em mingau.
ancestrais bípedes. Neste caso, não é a velocidade que causa os danos,
mas sim a aceleração ou a parada abrupta, da mes-
ma forma que você é jogado para frente quando o
Engenheiros e pesquisadores têm se baseado em motorista do ônibus pisa fundo no freio. O que você
pernas de outros animais para dar um jeito de au- fez à moça é matematicamente a mesma coisa que
mentar a nossa velocidade. Um destes animais é a atropelá-la com uma nave espacial a 40.000 km/h.
avestruz, que corre até 64 km por hora, usando me-
tade da energia que nós. Isso é possível porque eles Disponível em: <https://medium.
têm tendões que são capazes de reciclar a energia com/ciencia-descomplicada/ super-
exercida quando os pés batem no chão e a utilizam poderes-4-super-velocidade-c0c533
para impulsionar o pé no próximo passo. Algumas 3a18a4>. Acessado em: 06.08.2018
próteses utilizadas por atletas olímpicos foram ba-
seadas nas pernas e patas da avestruz.
Questão 186 - (IFBA)
Sobre o texto é correto afirmar:
O recorde de velocidade humana é dos astronautas
da Apollo 11, que atingiram 40.000 km/h quando a
espaçonave reentrou na atmosfera terrestre. Nós
poderíamos economizar muito tempo nos movimen- a) Traz uma explicação científica que demonstra
tando nesta velocidade, mas há alguns problemas. ser possível correr tanto quanto o Flash.

b) Propõe, através da ciência, tornar o ser humano


capaz de chegar próximo à velocidade da luz.
Com super velocidade, antes de você ver o que está
a sua frente e reagir, você já teria passado por, ou c) Demonstra como a ciência está conseguindo le-
através, do que quer que fosse que teria que desviar. var os seres humanos a obterem os poderes dos
A conta é: tempo (1/5 de segundo) multiplicado pela super-heróis.
velocidade (40.000 km/h) é igual a distância (2,2 km).
Ou seja, se você estivesse correndo nesta velocida- d) Contrapõe a ficção das histórias de super-heróis
de e tentasse desviar de um prédio, teria que estar a dos quadrinhos à realidade científica.
mais de 2 km dele para ter tempo de desviar. Quem
dirige sabe o que acontece com um inseto quando e) Mostra como o personagem Flash tem contri-
ele atinge o para-brisa do carro. Não é uma visão buído nas pesquisas que buscam fazer os seres
muito bonita (principalmente para o inseto). Dessa humanos mais velozes.
forma, qualquer colisão direta que você tenha via-
jando mais de 95 km por hora será fatal. Então, não
adianta ter super cura se você morre no impacto. Na Questão 187 - (IFBA)
melhor das hipóteses, caso você seja indestrutível, se
tornaria um míssil, destruindo tudo que atingisse. O comentário do último período do sexto parágrafo
apresenta um tom:

Tudo bem! Você se livrou de todos estes problemas!


Imagine que uma bala está prestes a atingir uma a) Melancólico.
donzela em perigo. Então você, com sua super velo-
cidade, agarra a moça e a leva para um lugar seguro. b) Crítico.
Romântico, mas ela vai sofrer mais lesões pelo salva-
mento do que pela bala. c) Irônico.

d) Apreciativo.

e) Depreciativo.
100 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 76 - Comum à questão: 188 a) Se I, II e III estiverem corretas.

ELA E EU b) Se II e III estiverem corretas.

c) Se I e II estiverem corretas.

Há flores de cores concentradas d) Se II, III e IV estiverem corretas.

Ondas queimam rochas com seu sal e) Se I e IV estiverem corretas.

Vibrações do sol no pó da estrada

Muita coisa, quase nada TEXTO: 77 - Comum à questão: 189


Cataclismas, carnaval Mito nº 6

“O certo é falar assim porque se escreve assim”

Há muitos planetas habitados

E o vazio da imensidão do céu 1


Diante de uma tabuleta escrita COLÉGIO é provável
que um pernambucano, lendo-a em voz alta, 2 diga
Bem e mal e boca e mel CÒlégio, que um carioca diga CUlégio, que um paulis-
tano diga CÔlégio. E agora? Quem está 3 certo? Ora,
E essa voz que Deus me deu
todos estão igualmente certos. O que acontece é que
Mas nada é igual a ela e eu em toda língua do mundo existe 4 um fenômeno cha-
mado variação, isto é, nenhuma língua é falada do
Trecho de uma canção de Caetano Veloso, canta- mesmo jeito em todos os 5 lugares, assim como nem
da por todas as pessoas falam a própria língua de modo
idêntico. Infelizmente, 6 existe uma tendência (mais
Marina Lima no álbum Marina Lima, do ano de um preconceito!) muito forte no ensino da língua de
1991. querer obrigar o 7 aluno a pronunciar “do jeito que se
escreve”, como se essa fosse a única maneira “certa”
Disponível em: https://www. de falar 8 português (Imagine se alguém fosse falar
vagalume.com.br/marina-li- inglês ou francês do jeito que se escreve!). Muitas 9
ma/ ela-e-eu.html>. Aces- gramáticas e livros didáticos chegam ao cúmulo de
sado em: 06/08/2018. aconselhar o professor a “corrigir” quem fala 10 mule-
que, bêjo, minino, bisôro, como se isso pudesse anu-
lar o fenômeno da variação, tão natural e 11 tão an-
Questão 188 - (IFBA) tigo na história das línguas. Essa supervalorização da
língua escrita combinada com o 12 desprezo da língua
Sobre a canção de Caetano Veloso é correto afirmar: falada é um preconceito que data de antes de Cristo!
É claro que é preciso 13 ensinar a escrever de acordo
com a ortografia oficial, mas não se pode fazer isso
tentando criar 14 uma língua falada “artificial” e re-
I. Apresenta uma dimensão sensorial, centrada, provando como “erradas” as pronúncias que são re-
principalmente, em imagens que se contrastam. sultado natural 15 das forças internas que governam o
idioma. Seria mais justo e democrático dizer ao aluno
II. Tem uma dimensão lógica e procura definir com
que ele 16 pode dizer BUnito ou BOnito, mas que só
precisão o relacionamento entre o eu lírico e a
pode escrever BONITO, porque é necessária uma 17
sua amada.
ortografia única para toda a língua, para que todos
III. buscar fazer o leitor entender de forma precisa o possam ler e compreender o que está escrito, 18 mas
que significa “Ela e eu”. é preciso lembrar que ela funciona como a partitura
de uma música: cada instrumentista vai 19 interpretá-
IV. buscar fazer o leitor sentir, mais do que enten- -la de um modo todo seu, particular!
der, o que “Ela e eu” é para ele.
Fonte: BAGNO, Marcos. Preconceito
Linguístico: o que é, como se faz. 49ª
ed. São Paulo: Loyola, 2007, p. 52-53.
Para responder use o seguinte código: (adaptado) Acesso em: 10 abr. 2018.

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Questão 189 - (IFSC) serviços públicos porque é mais fácil jogar a respon-
sabilidade em quem não tem voz (apesar de 17 darem
Assinale a alternativa CORRETA de acordo com o tex- braços para gerarem riqueza para o lugar em que vi-
to acima. vem) do que criar mecanismos para 18 trazê-los para
o lado de dentro do muro que os separa da dignidade
ou políticas para evitar e 19 reduzir conflitos em suas
a) Em seu texto, o autor rejeita qualquer possibili- terras de origem.
dade de ensino da ortografia oficial. 20
Qualquer pessoa que estuda migração sabe que
b) Para o autor, o aluno não pode realizar pronún- esse fluxo de gente tem sido fundamental para a 21
cias diferentes de uma mesma palavra escrita. economia do centro rico. Países desenvolvidos, como
os Estados Unidos, apesar de venderem o 22 discurso
c) Em seu texto, o autor faz uma crítica à ideia de de que querem barrar a migração não-autorizada, sa-
uma única maneira certa de falar. bem que dependem dela para ajudar 23 a regular seu
custo da mão de obra. É cômodo deixar uma massa
d) O autor propõe a criação de uma língua falada de pessoas ao largo dos direitos 24 por serem invisí-
mais próxima da ortografia oficial. veis, mas com muitos deveres e baixa remuneração.
Mas o que são favelas e 25 cortiços senão campos de
e) O autor mostra que não há uma tendência de refugiados econômicos?
forçar o aluno a falar como se escreve.
26
O relatório ‘’Tendências Globais’’, do Alto Comis-
sariado das Nações Unidas para os Refugiados 27
(Acnur), mostra que 85% dos refugiados estão nos
TEXTO: 78 - Comuns às questões: 190, 191 países em desenvolvimento, muitos dos quais 28 são
extremamente pobres e recebem pouco apoio para
Apesar da paranoia dos ricos, 85% dos refugiados
cuidar dessas populações. Outro dado 29 importante:
estão em países pobres
Quatro em cada cinco refugiados permanecem em
locais vizinhos aos de seus de 30 origem.

por Leonardo Sakamoto


31
Semelhante à questão da violência urbana em ci-
dades como o Rio: quem sofre as consequências 32
são os pobres, mas os ricos acham que são eles os
principais atingidos.
1
As imagens de crianças separadas dos pais pelo
governo dos Estados Unidos ao tentarem entrar 2 33
O número de pessoas forçadas a deixarem suas ca-
de forma ilegal no país provocaram comoção inter- sas – deslocando-se internamente em seu país 34 ou
nacional. Os vídeos que circularam pela 3 imprensa buscando refúgio fora – chegou a 68,5 milhões em
norte-americana mostram montes delas, enjauladas, 2017, de acordo com o Acnur, o que 35 significa 2,9
chorando. Antes, as famílias 4 permaneciam unidas milhões a mais que no ano anterior. O principal grupo
em centros de detenção. continua sendo os da Síria (12,6 36 milhões), seguido
por Afeganistão, Sudão do Sul, Mianmar (por conta
5
Durante a campanha de Donald Trump à Presidên- da violência contra a minoria 37 rohingya) e Somália.
cia, o tema da migração ganhou destaque com o 6
então candidato, culpando os trabalhadores estran- 38
No Brasil, como relata Patrícia Campos Mello, na
geiros por desgraças que acontecem em solo 7 norte- Folha de S. Paulo, desta terça (19), mais que 39 do-
-americano – de estupros ao tráfico de drogas. Des- brou o número de refugiados, dos que pediram refú-
de então, está obsessivo com o 8 prolongamento do gio e daqueles que estão com permissão 40 temporá-
muro, isolando o México dos Estados Unidos e che- ria de residência. Em 2017, foram 148.645 pessoas,
gou a anunciar o veto à 9 entrada de muçulmanos. principalmente por conta da crise 41 humanitária ve-
nezuelana.
10
Corporações de países ricos ou em desenvolvimen-
to superexploram territórios na periferia do 11 mundo 42
É normal que tenhamos medo daquilo ou daque-
ou seus governos promovem conflitos armados em les que não conheçamos bem. Daquilo que é ‘’de 43
nome de recursos naturais ou de 12 interesses geopo- fora’’. Mas esse medo é infundado, equivocado, pre-
líticos. Comunidades sofrem com isso e são obriga- conceituoso. Os migrantes estrangeiros vêm 44 bus-
das a deixar suas casas. Daí 13 vão bater às portas de car oportunidades de vida que não são encontradas
países ricos ou em desenvolvimento, mas nem todos em seu país, fugindo de guerras ou de 45 desastres
os recebem de braços 14 abertos, apesar de serem naturais. E muitos também vieram atendendo a um
cúmplices do sistema que os expulsou. chamado por mão de obra. Sim, 46 esse fluxo migra-
tório respondeu à demanda por força de trabalho
15
Em todo o mundo, culpamos os migrantes por rou- no Brasil, que cresceu até o 47 começo desta déca-
bar empregos, trazer violência, sobrecarregar os 16 da. Determinadas ocupações já não são preenchidas
102 - www.PROJETOREDACAO.com.br
apenas por brasileiros, 48 como empregadas domés- Assinale a alternativa CORRETA, de acordo com o tex-
ticas, costureiras, operários da construção civil e de to:
frigoríficos. E há 49 jovens brasileiros de classes mais
baixas que não querem ser costureiros ou emprega-
das 50 domésticas. Preferem se aventurar como aten-
dentes de telemarketing, que é o novo proletariado a) O texto III apresenta argumentos favoráveis em
51
urbano. relação às políticas governamentais do Brasil e
dos Estados Unidos, sobre os imigrantes e refu-
52
Todos estão produzindo riqueza por aqui. Mas sob giados.
a perspectiva mal informada de parte da 53 popula-
ção, contudo, eles vêm ‘’roubar’’ empregos. Isso b) O texto III aborda principalmente a questão dos
quando o preconceito não descamba para 54 a para- refugiados no Brasil e na Venezuela.
noia de que todos sejam ladrões de relógios, joias, c) O texto III descreve a situação da imigração nos
carros e casas. Estados Unidos e na Síria.
55
A verdade é que muita gente, de Roraima a São d) O texto III narra a história dos imigrantes euro-
Paulo, passando por Brasília, quando 56 questiona- peus no Brasil e nos Estados Unidos.
da, não sabe de onde vem o incômodo que sente ao
constatar centenas de 57 venezuelanos andando nas e) O texto III aborda principalmente a questão dos
ruas. Mas se fossem loiros escandinavos ricos pe- imigrantes, com foco nas decisões tomadas re-
dindo estada ao 58 contrário de indígenas pobres, a centemente pelos governos dos Estados Unidos
história seria diferente. Ou seja, para muita gente, o e do Brasil.
problema é 59 racismo e preconceito de classe mes-
mo. Com todas as letras.
60
O governo federal demora para viabilizar e finan- Questão 191 - (IFSC)
ciar estruturas de acolhida, apoio e intermediação
61
oficial de mão de obra de modo a evitar a supe- Assinale V (verdadeiro) ou F (falso), de acordo com
rexploração e o trabalho escravo de venezuelanos, 62 o texto:
bolivianos, paraguaios, haitianos, chineses que acon-
tece em oficinas de costura, canteiros de 63 obras e
até pastelarias. ( ) O atual presidente dos Estados Unidos, Donald
64
A mobilidade deveria ser livre em todo o planeta. Trump, durante sua campanha eleitoral, afirma-
Afinal, se o capital não vê fronteiras, os 65 trabalha- va que problemas sociais, tais como estupros e
dores também deveriam não ser barrados nelas. Ou tráfico de drogas, são causados pelos imigran-
morrer afogados ou à bala enquanto 66 tentam ultra- tes.
passá-las. ( ) Na atualidade, devido ao grande número de
67
Os mais irônico é que a decisão do presidente nor- pessoas que precisam abandonar seus lares, os
te-americano de abandonar o Acordo de Paris, o 68 refugiados são culpabilizados pelos problemas
que foi um retrocesso no combate às mudança climá- sociais enfrentados pelos países em que pedem
ticas, vai contribuir no médio e longo prazo 69 com o refúgio.
crescimento de outro tipo de refugiado: o ambiental. ( ) De acordo com o Acnur (ONU), o número de re-
Pois, à medida em que o nível do mar 70 subir, tem- fugiados aumentou em 2017, em relação ao ano
pestades e furacões destruírem áreas inteiras, secas anterior.
e nevascas acabarem com criações 71 de animais e
plantações, vai aumentar o número daqueles que ( ) Segundo o relatório da Acnur (ONU), o principal
são obrigados a sair de casa para 72 sobreviver. grupo de pessoas que se viram forçadas a buscar
refúgio fora de seu país foram os Sírios.
73
O problema é que, no limite, não temos outro pla-
neta para nos refugiar se este der errado. ( ) A causa do aumento do número de asilo político
no Brasil é a crise na Venezuela.
*Disponível em: https://blogdosaka-
moto.blogosfera.uol.com.br/2018/06
/19/apesar-da-paranoia-dos-ricos-85-
dosrefugiados-estao-em-paises-po- Assinale a alternativa CORRETA:
bres/. Acesso em: 31 ago. 2018.

a) V, F, V, V, V.
Questão 190 - (IFSC)
b) V, V, V, V, F.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 103
c) V, V, V, V, V. los no alto da cabeça, sentou-se na larga poltrona em
que passava horas debruçada sobre um livro, esque-
d) F, F, F, F, V cida que estava do burburinho da vida lá fora. Quan-
do cheguei, me apontou a cadeira onde eu devia sen-
e) V, F, V, F, V. tar para ouvir o que ela tinha a me dizer. Parecia o dia
em que a classe toda tinha feito a desfeita de pôr cola
na sua cadeira de mestra. Ao sentar, a gargalhada
Questão 192 - (IFSC) explodiu e, com ela, o gesto tão conhecido de avisar
que a coisa era séria: arrastar os óculos para o alto
Leia o gráfico abaixo: da cabeça. Sentada já estava. Desconfiada, assim fi-
cou, até o término da aula, quando todos deixaram
a sala, já arrependidos da brincadeira. Ninguém quis
saber o que aconteceu quando se levantou. Naquele
dia, lá estava, e eu esperando o que ouviria, certa-
mente um sermão. Desenhou-me: a filha mais velha,
sempre enfrentando deveres, atenta às necessidades
dos pais, da avó, dos irmãos mais novos. Ou a seus
desejos? Sim senhora, responsável por preservar as
tradições da família, que há tempo sabia que haviam
deixado em suas mãos. “Está na hora de alçar voo,
descobrir sua identidade, construir sua própria histó-
ria”, disse antes de me anunciar sua aposentadoria.
Chorei. À noite, enfrentei o espelho do meu quarto.
Via em mim os traços da herança, o rigor na postura,
os vincos na testa projetados pelas constantes preo-
Fonte: Polícia Federal. Disponível em: cupações. Os olhos eram meus, achava vivos, boni-
http://www.justica.gov.br/news/de-10-1-mil-refu- tos, curiosos. O que via não era o que diziam de mim
giados-apenas-5-1-milcontinuam-no-brasil. no mercado. Menina altiva, parece que tem o rei na
Acesso em: 23 set. 2018. barriga. Nem o que ouvira uma vez numa festa junina
da igreja: Não conte com ela, nunca tem tempo pra
ajudar ninguém. Menina preguiçosa, insossa, sabe-
-se lá no que vai dar.
Assinale a alternativa CORRETA, de acordo com o
gráfico. (Mariana Assis, inédito)

a) O número de solicitações de refúgio concedidas Questão 193 - (PUCCamp SP)


no Brasil em 2017 foi menor que o número de
solicitações concedidas em 2016. O texto comprova a correção do seguinte comentá-
rio:
b) 2015 foi o ano em que foi concedido o maior nú-
mero de solicitações de refúgio no Brasil.

c) Em 2016, o número de solicitações de refúgio a) O que segue a Chorei representa passos da bus-
recebido foi igual ao número de solicitações ca de uma identidade, que inclui balanço entre o
concedidas. ponto de vista da personagem sobre si e outros
pontos de vista sobre ela.
d) O número de solicitações de refúgio no Brasil di-
minuiu a partir de 2011. b) A personagem valeu-se das palavras desfeita e
brincadeira para reportar-se ao mesmo referen-
e) O número de solicitações de reconhecimento da te − a segunda palavra corresponde à retificação
condição de refugiado no Brasil aumentou em da aluna acerca do seu julgamento anterior, fei-
relação a 2011. to quando a classe pôs cola na cadeira.

c) A expressão enfrentei o espelho do meu quar-


to sugere que a personagem ou nunca havia se
TEXTO: 79 - Comum à questão: 193 preocupado com sua aparência, ou não gostava
Lembrava a professora que primeiro reconhecera dela, e que as palavras da professora haviam lhe
o grande peso da casa paterna. Ela era magra, um inspirado uma mudança de atitude.
pouco lenta e desajeitada nos gestos, mas sagaz ao d) O fato de a aluna reconhecer a sagacidade da
“ler as pessoas”, como dizia. Naquele dia, com os ócu- professora ao “ler as pessoas” determina, de um
104 - www.PROJETOREDACAO.com.br
lado, a certeza que tinha de que iria ouvir um TEXTO: 80 - Comum à questão: 195
sermão e, de outro, o seu choro.
Anda esquecido um forte romance, “Dona Gui-
e) A expressão os óculos no alto da cabeça consti- dinha do Poço”, de Manuel de Oliveira Paiva (1861-
tui uma metáfora, em que a comparação que a 1892). O autor, jornalista cearense e combativo re-
constitui remete ao sentido de “a coisa é séria”. publicano, aluno que foi de Benjamin Constant na
Escola Militar da Praia Vermelha, morreu cedo e seu
romance teve um destino ingrato: publicados apenas
seus primeiros capítulos numa revista do século XIX,
Questão 194 - (PUCCamp SP) só alcançou edição completa em livro em meados do
O título de uma notícia que circulou na internet no século XX – já completamente desgarrado do Natu-
dia 23/09/2018 vem abaixo reproduzido, com o corte ralismo que tão bem representou. Seu interesse hoje
de uma palavra. está, a meu ver, na singularidade da fazendeira Dona
Guidinha, mulher de poder e empoderada, dona de
personalidade acachapante e protagonista da histó-
ria política de sua região cearense, qualidades que
Michele Obama celebra casamento em sua terra assumiu com radical coerência até o fim.
natal, Chicago.
(Valdércio Coimbra, inédito)

Sobre o título alterado, é correta a seguinte conside-


ração: Questão 195 - (PUCCamp SP)
Com muita frequência, a literatura de uma época ga-
nha novo sentido em outra, num processo de atuali-
a) Porque a ex-primeira-dama dos Estados Unidos zação permitido pelos novos fatos históricos. Consi-
é figura pública internacionalmente conhecida, derando-se o contexto, tal fenômeno é registrado na
o conteúdo da informação é claro e unívoco, seguinte passagem do texto:
significando que Michele Obama participou de
uma festa de casamento em sua cidade natal,
Chicago.
a) Anda esquecido um forte romance.
b) O conhecimento dos significados do verbo “ce-
lebrar” e o conhecimento da história recente b) seu romance teve um destino ingrato.
dos Estados Unidos embasam uma interpreta-
c) já completamente desgarrado do Naturalismo.
ção da mensagem que impede qualquer outra, a
não ser a de que Michele Obama, em sua cidade d) Seu interesse hoje está [...] na singularidade da
natal, comemora seu casamento com o ex-presi- fazendeira Dona Guidinha.
dente.
e) qualidades que assumiu com radical coerência
c) Se o leitor tem conhecimento de que “celebrar” até o fim.
pode significar, entre outros, “realizar contrato
ou acordo com solenidade” e também “feste-
jar”, saberá reconhecer que deve atribuir à men-
sagem um único sentido, o associado a “come- Questão 196 - (PUCCamp SP)
morar com festa”.
Do catolicismo vinha a representação da monar-
d) Se o leitor tem conhecimento de que “celebrar” quia como uma comunidade irmanada (...). Por esta
pode significar, entre outros, “realizar contrato via, a sociedade imperial encontrava um lugar para
ou acordo com solenidade” e também “feste- os homens livres pobres e os escravos: sua incorpora-
jar”, reconhecerá que o título tem um sentido ção era simbólica (...) O catolicismo era também reli-
único, o de que Michele Obama poderia oficiar gião de Estado. A separação entre as esferas política
uma cerimônia de casamento. e religiosa não se fizera, de modo que as instituições
políticas não eram laicas. A Igreja dava auxílio vital
e) O título revela-se ambíguo ao leitor que, saben- ao Estado no controle social, especialmente onde os
do que Michele Obama é casada e pode festejar braços estatais eram mais curtos: no meio rural.
seu casamento, tiver conhecimento também de
que o contexto cultural em que está inserida lhe (ALONSO, Angela. Ideias em movimento.
permite oficiar casamentos. A geração 1870 na crise do Brasil Império.
São Paulo, Paz e Terra 2002, p. 64)

www.PROJETOREDACAO.com.br - 105
No contexto dado, a frase Por esta via, a sociedade a) revive o mesmo drama, no mesmo estilo, do
imperial encontrava um lugar para os homens livres poeta Gonçalves Dias em sua “Canção do exílio”.
pobres e os escravos: sua incorporação era simbólica
deve ser entendida de modo a fazer compreender b) revela a tensão de alguém que precisa reafirmar
sua história e sua identidade num país estran-
geiro.

a) que a incorporação do escravo nas igrejas cató- c) mostra que o poeta sucumbiu à tentação de dis-
licas era a saída de que dispunham para se liber- solver em ameno lirismo sua estada em outro
tarem das duras amarras da escravidão. país.

b) as razões pelas quais os senhores proprietários d) faz ver que a distância do país natal enfraquece
de terra não estabeleciam qualquer diferença as formas discursivas e leva ao experimentalis-
entre o homem escravizado e o homem pobre mo de vanguarda.
livre.
e) constitui uma espécie de reportagem a que o
c) o fato de que os escravos contavam, muitas ve- poeta se dedica para deixar vivas as impressões
zes, com igrejas especialmente destinadas aos do novo país.
seus cultos, sempre respeitados os parâmetros
do catolicismo.

d) que o simbolismo religioso era tão frágil que mui- TEXTO: 82 - Comuns às questões: 198, 199, 200,
tas vezes os dogmas da igreja católica cediam es- 201, 202
paço para valores da caminhada abolicionista.
Relativismos e divisões
e) os motivos que levavam os escravos e os ho-
mens pobres livres a se associar à igreja para um
combate simbólico contra o regime de servidão.
Costuma ser irritante a expressão “ah, isso é re-
lativo”, especialmente quando aplicada sobre uma
verdade que julgamos absoluta. Mas o relativismo
TEXTO: 81 - Comum à questão: 197 vive, exatamente, da desconfiança quanto a qualquer
absoluto. O relativista suspende julgamentos defini-
O caso é que eu tinha convidado um grupo de ami- tivos, como Sócrates já fazia nos diálogos com seus
gos para ouvir a gravação em K-7 do último e belíssi- pares, na Grécia antiga.
mo poema de Ferreira Gullar, chamado Poema sujo,
que o poeta lera para mim em seu exílio em Buenos O certo é que os praticantes do relativismo não
Aires, em outubro de 1975. Um poema de largo fôle- têm vida fácil. O que foi mais importante no caminho
go, em que ele atinge uma universalidade como não da civilização: o domínio do fogo ou a invenção da
se via na poesia brasileira desde que Drummond es- roda? Do ângulo da cozinheira ou de um motorista,
creveu Sentimento do mundo e A rosa do povo. Eu, a resposta não parece difícil, mas um relativista não
sinceramente, já havia perdido a memória da emo- apenas hesitará na resposta como duvidará do méri-
ção poética num tal grau de intensidade. Minha emo- to da pergunta. E se tivéssemos que escolher entre o
ção poética se transferira muito mais – em vista do princípio das alavancas ou o da propulsão nuclear? E
verbo leucêmico ou verborrágico dos poetas novos, se formos até à Bíblia, para perguntar: quem pecou
sua esterilidade ou mero tecnicismo – para as letras mais, Adão ou Eva? O relativista responderá: mas o
de Chico, Caetano e Gil, com músicas e palavras casa- que é pecado? Numa rebelião popular contra uma
das em perfeito conúbio (...). ditadura chovem pedras e paus no ar, todo mundo
está em risco – e o dono da vidraçaria, apolítico, sorri.
(MORAES, Vinicius. “Poema sujo de Numa eleição é frequente que o relativista se abste-
vida”. In: GULLAR, Ferreira. nha. Ah, a política, que prato cheio para os relativis-
Poesia completa, teatro e prosa. tas: quem tinha razão na guerra da Criméia? Por que
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008, p. xxxix). caiu Napoleão? Personalidades conduzem as massas
Originalmente publicado na Revista Manchete, em ou estas fundam as lideranças? No Brasil do século
1976) passado: a queda do primeiro governo Vargas foi o
fim de uma ditadura ou novo golpe? Os historiado-
res, por vezes, têm que enfrentar o duro dilema da
escolha, esta que é o inferno dos relativistas.
Questão 197 - (PUCCamp SP)
O relativismo comparece em todas as áreas. Quem
Como poesia típica de um exilado por motivos políti- foi maior: o Newton, com suas três leis fundamentais,
cos, o intenso Poema sujo, que o poeta maranhense ou o Einstein, ao demonstrar, entre outras coisas,
Gullar escreveu em Buenos Aires, que “É preciso estar em constante movimento para
106 - www.PROJETOREDACAO.com.br
manter o equilíbrio”? No campo das fábulas, muitas planetária, segundo a qual tudo parece condenado
têm duas versões conclusivas, como a da cigarra e da a ser efêmero, tudo parece estar à espera de sua
formiga. As religiões dividem-se quanto aos valores e imediata superação. Uma multidão de pessoas en-
perfis divinos; na política, o embate é a lei, e as po- tretidas cada uma em seu celular é um cenário que
sições de classe relativizam o valor de um fato. Aliás confirma uma orientação geral para a pluralidade de
o fato também se relativiza, ao ser rebaixado a opi- interesses, dentro da qual tudo parece ser tão decisi-
nião. O fenômeno contemporâneo das migrações em vo quanto relativo. É essa nossa marca de modernos?
massa abre discussão sobre o papel ou a existência
mesma de fronteiras nacionais. Não era para apagá- (Aristeu Gonçalves Filho, inédito)
-las que nasceu a decantada globalização?

No campo das artes, as divisões e os ângulos são


incontáveis. Prosa ou poesia? Realismo ou romantis- Questão 198 - (PUCCamp SP)
mo? A consagração religiosa na disciplina de Bach
Afirma-se com correção:
ou a energia individualista e trágica de Beethoven?
Música para ouvir ou para dançar? A revolução rus-
sa ganha força num filme histórico ou a denúncia
revolucionária se vê melhor num filme de Carlitos? a) O título da matéria, associando relativismos e
A fotografia e o cinema, fotogramas isolados ou em divisões, denota o tema abordado, e o desen-
movimento regular, diminuem a arte da pintura na- volvimento do texto torna claro o ponto de vista
turalista? A pureza do som digital revela-se mais arti- do autor sobre a relação entre os dois fatores −
ficial do que o som das gravações em vinil? o primeiro citado não consente a existência do
segundo.
Um teste vocacional parece ser concebido por
relativistas. O jovem que faz o teste pode ter como b) A referência aos diálogos de Sócrates (parágrafo
resultado a indicação de duas carreiras muito distin- 1) sinaliza que o autor os considera o argumento
tas: biólogo ou economista. Talvez ele acabe fazendo mais sólido para demonstrar que a longa tradi-
Letras, em vez de se decidir pelas leis de Mendel, de- ção legitima a importância da prática do relati-
cisivas para a compreensão da hereditariedade, ou vismo, tema central do texto.
de Adam Smith, pai do liberalismo econômico. Num
de seus maiores contos, Machado de Assis escolheu c) A sucessão de frases interrogativas (parágrafo 2)
como protagonista um festejado compositor de pol- constitui cronologia dos questionamentos que o
cas, música alegre e dançante, que preferiria ser o ser humano se fez no trajeto a caminho da civi-
autor de sisudas sonatas ou de prelúdios clássicos lização, propostos também à decisão de relati-
– e o narrador de Machado concluiu que esse pobre vistas, que, no início hesitantes, deram resposta
pianista era “uma eterna peteca entre a ambição e a afirmativa a cada um deles.
vocação”, amargando esse duro movimento do pên-
dulo, tão característico das pessoas divididas. d) Na progressão argumentativa, o autor cita a
resposta que o relativista deu à pergunta quem
Jornalismo profissional ou redes sociais? Por onde pecou mais, Adão ou Eva? (parágrafo 2) para
passa a força decisiva das informações, nos dias que comprovar, de maneira clara e específica, que
correm? A reserva de cotas nas escolas públicas é relativistas suspendem julgamentos definitivos.
um duradouro instrumento de justiça ou medida
emergencial? O Estado é laico em sentido absoluto e) Ao mencionar uma rebelião popular contra uma
ou deve ceder espaço para diferentes manifestações ditadura e a atitude de um dono de vidraçaria
religiosas? Os currículos escolares devem se orientar apolítico (parágrafo 2), o autor demonstra o re-
por princípios centralizadores ou seguir inclinações lativismo com que um fato pode ser considerado
regionais? Têm os homens algum papel nas afirma- e evidencia como interesses particulares afetam
ções do feminismo? A sexualidade tem a ver com gê- esse julgamento.
neros, e há definições a fixar nesse campo delicado
dos desejos e das identidades?
Questão 199 - (PUCCamp SP)
É possível que no século XXI desenvolvam-se as
contradições próprias do relativismo: a permanência ... o fato também se relativiza, ao ser rebaixado a opi-
na posição relativista acaba sendo sua condenação a nião (parágrafo 3).
um absoluto, o do adiamento sistemático da escolha.
O intimismo confidencial e a vida privada não
combinam muito com a internet e os smartphones;
as noções mesmas de interesse público e interesse Depreende-se corretamente da frase acima, respei-
privado parecem pouco nítidas, ou mesmo desneces- tado o contexto em que está inserida:
sárias. O crescente avanço das ciências e das várias
tecnologias parece favorecer uma posição relativista
www.PROJETOREDACAO.com.br - 107
a) Fato e opinião se distinguem, visto que é ineren- dação “sendo que Sócrates fazia isso também na
te à opinião certo traço depreciativo acerca do Grécia antiga, nos diálogos com seus pares” não
que se propaga sobre o fato que está em obser- prejudica a clareza e a correção, nem elide traço
vação. algum do sentido original.

b) Um julgamento que expressa uma apreciação


subjetiva da realidade, isto é, sem compromisso
de neutralidade quanto à avaliação do fato con- Questão 201 - (PUCCamp SP)
creto, nega a este um valor absoluto.
Considere os comentários que seguem à transcrição
c) Fatos e opiniões são relativos, na medida em do parágrafo 7, abaixo reproduzido.
que tanto uns quanto outros recebem críticas
que os tornam desacreditados.

d) O fato “também” se relativiza se quem o obser- É possível que no século XXI desenvolvam-se as
va o descreve de modo pouco preciso, valendo- contradições próprias do relativismo: a permanência
-se de termos que afetam a fidelidade ao real e na posição relativista acaba sendo sua condenação a
o tornam passível de julgamento negativo. um absoluto, o do adiamento sistemático da escolha.
O intimismo confidencial e a vida privada não
e) A opinião é considerada um rebaixamento por- combinam muito com a internet e os smartphones;
que quem a expressa não é jamais um especialis- as noções mesmas de interesse público e interesse
ta, mas pessoas comuns, de quem não se espera privado parecem pouco nítidas, ou mesmo desneces-
rigor na interpretação da realidade concreta. sárias. O crescente avanço das ciências e das várias
tecnologias parece favorecer uma posição relativista
planetária, segundo a qual tudo parece condenado
a ser efêmero, tudo parece estar à espera de sua
Questão 200 - (PUCCamp SP) imediata superação. Uma multidão de pessoas en-
tretidas cada uma em seu celular é um cenário que
Costuma ser irritante a expressão “ah, isso é relativo”, confirma uma orientação geral para a pluralidade de
especialmente quando aplicada sobre uma verdade interesses, dentro da qual tudo parece ser tão decisi-
que julgamos absoluta. Mas o relativismo vive, exa- vo quanto relativo. É essa nossa marca de modernos?
tamente, da desconfiança quanto a qualquer abso-
luto. O relativista suspende julgamentos definitivos,
como Sócrates já fazia nos diálogos com seus pares,
na Grécia antiga. I. A frase É possível que no século XXI desenvolvam-
se as contradições próprias do relativismo traz
subentendida a ideia de que contradições pró-
prias do relativismo já existem.
Considerado o parágrafo acima, comenta-se com
propriedade: II. O segmento a permanência na posição relativis-
ta acaba sendo sua condenação a um absoluto
expressa a motivação do autor para manifestar
a) A formulação uma verdade que julgamos abso- o que considera possível no século XXI.
luta sinaliza que o falante sabe que o valor abso- III. Na frase É possível que no século XXI
luto que atribui à verdade pode ser contestado desenvolvam-se as contradições próprias do
por outra ou outras pessoas. relativismo, a palavra destacada é um pronome
b) O segmento a expressão “ah, isso é relativo” reflexivo.
exerce a função sintática de objeto direto. IV. A frase final do texto, em modo de indagação,
c) O segmento Costuma ser irritante a expressão expressa um convite à reflexão sobre a socieda-
“ah, isso é relativo” demonstra que o autor con- de contemporânea, especialmente no que se re-
sidera a citada irritação como decorrência obri- fere a seus paradoxos.
gatória do uso da expressão.

d) Se o segmento quando aplicada sobre uma ver- Está correto o que se afirma em
dade que julgamos absoluta fosse alterado para
“se for aplicada sobre uma verdade que o cará-
ter absoluto é reconhecido por nós”, a correção
e o sentido originais não seriam prejudicados. a) I, II, III e IV.

e) Em substituição a como Sócrates já fazia nos b) II e IV, apenas.


diálogos com seus pares, na Grécia antiga, a re-
108 - www.PROJETOREDACAO.com.br
c) I, II e IV, apenas. dor, espelhando Adão pedindo uma companheira a
Deus. Horrorizado com sua própria 11criação, Victor
d) II e III, apenas. Frankenstein recusou. Não queria iniciar uma raça de
monstros, mais poderosos do 12que os humanos, que
e) I, apenas. pudesse nos extinguir.
13
O romance examina a questão dos limites éticos da
ciência: será que pesquisadores podem ter 14liberda-
Questão 202 - (PUCCamp SP)
de total? Ou será que existem certos temas que são
A frase O intimismo confidencial e a vida privada não tabu, que devem ser bloqueados, 15limitando as pes-
combinam muito com a internet e os smartphones quisas dos cientistas? Em caso afirmativo, que limites
aponta para uma direção já tomada por novas for- são esses? Quem os 16determina?
mas literárias ou comunicativas: aquela em que 17
Essas são questões centrais da relação entre a ética
e a ciência. Existem inúmeras complicações: 18como
definir quais assuntos não devem ser alvo de pesqui-
a) se reencontram as raízes fundamentais do liris- sa? Em relação à velhice, será que 19devemos tratá-
mo que marcou a primeira metade do século -la como doença? Se sim, e se conseguíssemos uma
XIX. “cura” ou, ao menos, um 20prolongamento substan-
cial da longevidade, quem teria direito a tal? Se a
b) se revelam mais e mais influências da linguagem “cura” fosse cara, 21apenas uma pequena fração da
digitalizada e a interação imediata com um pú- sociedade teria acesso a ela. Nesse caso, criaríamos
blico aberto. uma divisão 22artificial, na qual os que pudessem vi-
veriam mais. E como lidar com a perda? Se uns vivem
c) os recursos da retórica clássica são redimensio- mais 23que outros, os que vivem mais veriam seus
nados de modo a incorporar a gíria e falares re- amigos e familiares perecerem. Será que isso é uma
gionais. 24
melhoria na qualidade de vida? Talvez, mas só se
d) a linguagem jornalística substitui a emissão de fosse igualmente distribuída pela população, e 25não
opiniões por uma informação absolutamente fi- por apenas parte dela.
dedigna. 26
Pensemos em mais um exemplo: qual o propósito
e) o estilo próprio de cada sujeito se afirma de da clonagem humana? Se um casal não pode 27ter
modo a exaltar o valor das experiências mais filhos, existem outros métodos bem mais razoáveis.
pessoais. Por outro lado, a clonagem pode estar 28relacionada
com a questão da longevidade e, em princípio ao me-
nos, até da imortalidade. 29Imagine que nosso corpo
e nossa memória possam ser reproduzidos indefini-
TEXTO: 83 - Comuns às questões: 203, 204 damente; com isso, 30poderíamos viver por um tem-
po também indefinido. No momento, não sabemos
A CIÊNCIA, O BEM E O MAL se isso é possível, 31pois não temos ideia de como ar-
mazenar memórias e passá-las adiante. Mas a ciência
cria caminhos 32inesperados, e dizer “nunca” é arris-
cado.
1
Em 1818, com apenas 21 anos, Mary Shelley publi-
cou o grande clássico da literatura gótica, 2Frankens- 33
Como se observa, existem áreas de atuação cientí-
tein ou o Prometeu Moderno. O romance conta a fica que estão diretamente relacionadas com 34esco-
história de um doutor genial e 3enlouquecido, que lhas éticas. O impulso inicial da maioria das pessoas é
queria usar a ciência de ponta de sua época, a rela- apoiar algum tipo de censura ou restrição, 35achando
ção entre a eletricidade e a 4atividade muscular, para que esse tipo de ciência é feito a Caixa de Pandora*.
trazer mortos de volta à vida. Mas essa atitude é ingênua. Não é 36a ciência que cria
o bem ou o mal. A ciência cria conhecimento. Quem
5
Duas décadas antes, Luigi Galvani havia demons-
cria o bem ou o mal somos 37nós, a partir das esco-
trado que a eletricidade produzia movimentos 6em
lhas que fazemos.
músculos mortos, no caso em pernas de rãs. Se vida
é movimento, e se eletricidade pode 7causá-lo, por MARCELO GLEISER
que não juntar os dois e tentar a ressuscitação por Adaptado de Folha de S. Paulo, 29/09/2013.
meio da ciência e não da religião, 8transformando a
implausibilidade do sobrenatural em um mero fato
científico?
* Caixa de Pandora - na mitologia grega, artefato que,
9
Todos sabem como termina a história, tragicamen- se aberto, deixaria escapar todos os males do mun-
te. A “criatura” exige uma companheira de 10seu cria- do.

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Questão 203 - (UERJ) maneira que os estudantes de física, engenharia 14e
química poucas vezes voltam a ter contato com a li-
Em relação à polêmica abordada pelo autor, os três teratura, a história e a sociologia. É triste 15notar que
primeiros parágrafos atendem ao objetivo de: a especialização na formação dos indivíduos costuma
deixá-los distantes de partes 16importantes da nossa
cultura, da qual as ciências físicas e as humanidades
a) indicar um eufemismo fazem parte.

b) estabelecer uma analogia


17
Mas vamos pensar em soluções. Há alguns anos,
ofereço um curso chamado “Física para poetas”. 18A
c) expor um contra-argumento ideia não é original – ao contrário, é muito utilizada
em diversos países e aqui mesmo no Brasil. 19Seu ob-
d) apresentar uma generalização jetivo é apresentar a física sem o uso da linguagem
matemática e tentar mostrá-la próxima 20ao cotidia-
no das pessoas. Procuro destacar a beleza dessa ciên-
cia, associando-a, por exemplo, à 21poesia e à música.
Questão 204 - (UERJ)
22
Alguns dos temas que trabalho em “Física para
O conjunto de perguntas formuladas ao longo do tex- poetas” são inspirados nos artigos que publico. 23Por
to por Marcelo Gleiser produz o seguinte efeito de exemplo, “A busca pela compreensão cósmica” é
sentido: uma das aulas, na qual apresento a evolução 24dos
modelos que temos do universo. Começando pelas
visões místicas e mitológicas e chegando 25até as mo-
a) levantar objeções políticas dernas teorias cosmológicas, falo sobre a busca por
responder a questões sobre a 26origem do universo e,
b) reforçar convicções morais consequentemente, a nossa origem, para compreen-
dermos o nosso lugar 27no mundo e na história.
c) debater hipóteses religiosas
28
Na aula “Memórias de um carbono”, faço uma nar-
d) ilustrar raciocínios investigativos rativa de um átomo de carbono contando 29sua his-
tória, em primeira pessoa, desde seu nascimento,
em uma distante estrela que morreu há 30bilhões de
anos, até o momento em que sai pelo nariz de uma
TEXTO: 84 - Comuns às questões: 205, 206
pessoa respirando. Temas como 31astronomia, biolo-
Física para poetas gia, evolução e química surgem ao longo dessa aula,
bem como as músicas 32“Átimo de pó” e “Estrela”, de
Gilberto Gil, além da poesia “Psicologia de um venci-
do”, de Álvares 33de Azevedo.
1
O ensino da física sempre foi um grande desafio. Nos
últimos anos, muitos esforços foram feitos 2com o 34
Em “O tempo em nossas vidas”, apresento esse fas-
objetivo de ensiná-la desde as séries iniciais do ensi- cinante conceito que, na verdade, vai muito 35além
no fundamental, no contexto do ensino 3de ciências. da física: está presente em áreas como a filosofia, a
Porém, como disciplina regular, a física aparece no biologia e a psicologia. Algumas músicas 36de Chico
ensino médio, quando se torna 4“um terror” para Buarque e Caetano Veloso, além de poesias de Vini-
muitos estudantes. cius de Moraes e Carlos Drummond 37de Andrade,
ajudaram nessa abordagem. Não faltou também
5
Várias pesquisas vêm tentando identificar quais são “Tempo Rei”, de Gil.
as principais dificuldades do ensino de física 6e das
ciências em geral. Em particular, a queixa que sem- A arte é uma forma importante do conhecimento
38

pre se detecta é que os estudantes não 7conseguem humano. Se músicas e poesias inspiram as 39mentes
compreender a linguagem matemática na qual, mui- e os corações, podemos mostrar que a ciência, em
tas vezes, os conceitos físicos são 8expressos. Outro particular a física, também é algo 40inspirador e belo,
ponto importante é que as questões que envolvem capaz de criar certa poesia e encantar não somente
a física são apresentadas 9fora de uma contextuali- aos físicos, mas a todos os 41poetas da natureza.
zação do cotidiano das pessoas, o que dificulta seu
aprendizado. Por 10fim, existe uma enorme carência ADILSON DE OLIVEIRA
de professores formados em física para ministrar as Adaptado de cienciahoje.org.br, 08/08/2016.
aulas da 11disciplina.
12
As pessoas que vão para o ensino superior e que
não são da área de ciências exatas praticamente
13
nunca mais têm contato com a física, da mesma
110 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 205 - (UERJ) a) evolução

Tempo Rei b) aceleração

c) linearidade

Não me iludo d) descontinuidade

Tudo permanecerá do jeito

Que tem sido Questão 206 - (UERJ)


Transcorrendo, transformando O trecho do texto de Adilson de Oliveira que melhor
sintetiza o problema exposto acerca da abordagem
Tempo e espaço navegando todos os sentidos da física é:

(...) a) Várias pesquisas vêm tentando identificar quais


são as principais dificuldades do ensino de física
e das ciências em geral. (ref. 5-6)
Tempo Rei, ó Tempo Rei, ó Tempo Rei
b) os estudantes não conseguem compreender a
Transformai as velhas formas do viver linguagem matemática na qual, muitas vezes, os
conceitos físicos são expressos. (ref. 6-8)
Ensinai-me, ó Pai, o que eu ainda não sei
c) a especialização na formação dos indivíduos
Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei costuma deixá-los distantes de partes importan-
tes da nossa cultura, da qual as ciências físicas e
as humanidades fazem parte. (ref. 15-16)
Pensamento, mesmo fundamento singular d) ofereço um curso chamado “Física para poetas”.
A ideia não é original – ao contrário, é muito uti-
Do ser humano, de um momento para o outro lizada em diversos países e aqui mesmo no Bra-
sil. (ref. 17-18)
Poderá não mais fundar nem gregos nem baianos

Mães zelosas, pais corujas TEXTO: 85 - Comuns às questões: 207, 208

Vejam como as águas de repente ficam sujas Três teses sobre o avanço da febre amarela

Não se iludam, não me iludo

Tudo agora mesmo pode estar por um segundo


1
Como a febre amarela rompeu os limites da Flores-
ta Amazônica e alcançou o Sudeste, atingindo 2 os
grandes centros urbanos? A partir do ano passado,
o número de casos da doença alcançou 3 níveis sem
Tempo Rei, ó Tempo Rei, ó Tempo Rei precedentes nos últimos cinquenta anos. Desde o
início de 2017, foram confirmados 4 779 casos, 262
deles resultando em mortes. Trata-se do maior surto
da forma silvestre da doença 5 já registrado no país.
(...) Outros 435 registros ainda estão sob investigação.
GILBERTO GIL, letras.com.br

6
Como tudo começou? Os navios portugueses vindos
O tempo, além de relacionado aos fenômenos natu- da África nos séculos XVII e XVIII não 7 trouxeram ao
rais, é também condicionador das vidas humanas. Brasil somente escravos e mercadorias. Dois inimigos
silenciosos vieram junto: o 8 vírus da febre amarela e
Na letra da canção de Gilberto Gil, a dimensão do o mosquito Aedes aegypti. A consequência foi uma
tempo histórico destacada é denominada: série de surtos de 9 febre amarela urbana no Brasil,
com milhares de mortos. Por volta de 1940, a febre
amarela urbana 10 foi erradicada. Mas o vírus migrou,

www.PROJETOREDACAO.com.br - 111
pelo trânsito de pessoas infectadas, para zonas de Os casos acontecem exatamente nas áreas onde eu
floresta na 11 região Amazônica. No início dos anos havia 38 recomendado a vacinação. A Secretaria está
2000, a febre amarela ressurgiu em áreas da Mata correndo atrás do prejuízo”. Desde julho de 2017, 39
Atlântica. 12 Três teses tentam explicar o fenômeno. mais de 100 pessoas foram contaminadas em São
Paulo e mais de 40 morreram.

13
Segundo o professor Aloísio Falqueto, da Univer-
sidade Federal do Espírito Santo, “uma pessoa 14 pe- 40
O Ministério da Saúde afirmou em nota que, desde
gou o vírus na Amazônia e entrou na Mata Atlântica 2016, os estados e municípios vêm sendo 41 orienta-
depois, possivelmente na altura de Montes 15 Claros, dos para a necessidade de intensificar as medidas de
em Minas Gerais, onde surgiram casos de macacos e prevenção. A orientação é que 42 pessoas em áreas
pessoas infectadas”. O vírus teria 16 se espalhado por- de risco se vacinem.
que os primatas da mata eram vulneráveis: como o
vírus desaparece da região 17 na década de 1940, não NATHALIA PASSARINHO
desenvolveram anticorpos. Logo os macacos passa-
ram a ser mortos por 18 seres humanos que temem Adaptado de bbc.com, 06/02/2018.
contrair a doença. O massacre desses bichos, porém,
é um “tiro no 19 pé”, o que faz crescer a chance de
contaminação de pessoas. Sem primatas para picar Questão 207 - (UERJ)
na copa das 20 árvores, os mosquitos procuram san-
gue humano. A frase que contém uma explicação do conteúdo da
frase anterior está sublinhada em:

21
De acordo com o pesquisador Ricardo Lourenço,
do Instituto Oswaldo Cruz, os mosquitos 22 trans- a) Desde o início de 2017, foram confirmados 779
missores da doença se deslocaram do Norte para o casos, 262 deles resultando em mortes. Trata-se
Sudeste, voando ao longo de rios e 23 corredores de do maior surto da forma silvestre da doença já
mata. Estima-se que um mosquito seja capaz de voar registrado no país. (Refs. 3-5)
3 km por dia. Tanto o homem 24 quanto o macaco,
quando picados, só carregam o vírus da febre amare- b) Dois inimigos silenciosos vieram junto: o vírus
la por cerca de três dias. 25 Depois disso, o organismo da febre amarela e o mosquito Aedes aegypti.
produz anticorpos. Em cerca de dez dias, primatas A consequência foi uma série de surtos de febre
e humanos ou 26 morrem ou se curam, tornando-se amarela urbana no Brasil, com milhares de mor-
imunes à doença. tos. (Refs. 7-9)

c) O massacre desses bichos, porém, é um “tiro no


pé”, o que faz crescer a chance de contaminação
27
Para o infectologista Eduardo Massad, professor de pessoas. Sem primatas para picar na copa das
da Universidade de São Paulo, o rompimento 28 da árvores, os mosquitos procuram sangue huma-
barragem da Samarco, em Mariana (MG), em 2015, no. (Refs. 18-20)
teve papel relevante na disseminação 29 acelerada da
doença no Sudeste. A destruição do habitat natural d) Tanto o homem quanto o macaco, quando pica-
de diferentes espécies teria 30 reduzido significati- dos, só carregam o vírus da febre amarela por
vamente os predadores naturais dos mosquitos. A cerca de três dias. Depois disso, o organismo
tragédia ambiental ainda 31 teria afetado o sistema produz anticorpos. (Refs. 23-25)
imunológico dos macacos, tornando-os mais susce-
tíveis ao vírus.
Questão 208 - (UERJ)
32
Por que é importante determinar a “viagem” do ví- No sexto parágrafo, a interlocução com o leitor é ex-
rus? Basicamente, para orientar as campanhas 33 de plicitamente marcada pelo emprego de:
vacinação. Em 2014, Eduardo Massad elaborou um
plano de imunização depois que 11 34 pessoas mor-
reram vítimas de febre amarela em Botucatu (SP): a) pergunta
“Eu fiz cálculos matemáticos 35 para determinar qual
seria a proporção da população nas áreas não vaci- b) estatística
nadas que deveria ser 36 imunizada, considerando os
riscos de efeitos adversos da vacina. Infelizmente, a c) depoimento
Secretaria de 37 Saúde não adotou essa estratégia.
d) coloquialismo
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TEXTO: 86 - Comuns às questões: 209, 210, 211 A flutuação do gosto em relação aos poetas é nor-
mal, como é normal a sucessão dos modos de fazer
Um poema de Vinicius de Moraes poesia. (Ref. 1-2)

1
A flutuação do gosto em relação aos poetas é nor- A relação que se estabelece entre essa declaração
mal, como é normal a sucessão dos modos 2 de fazer inicial do crítico Antonio Candido e o restante de seu
poesia. Pelo visto, Vinicius de Moraes anda em baixa texto pode ser definida pela seguinte sequência:
acentuada. Talvez o seu prestígio 3 tenha diminuído
porque se tornou cantor e compositor, levando a opi-
nião a considerá-lo mais 4 letrista do que poeta. Mas
deve ter sido também porque encarnou um tipo de a) problema – solução
poesia oposto a 5 certas modalidades para as quais
b) abstração – realidade
cada palavra tende a ser objeto autônomo, portador
de maneira 6 isolada (ou quase) do significado poé- c) pressuposição – asserção
tico.
d) generalização – particularização

7
Na história da literatura brasileira ele é um poeta
de continuidades, não de rupturas; e o nosso 8 é um Questão 210 - (UERJ)
tempo que tende à ruptura, ao triunfo do ritmo e
mesmo do ruído sobre a melodia, assim 9 como ten- A articulação do primeiro com o segundo parágrafo
de a suprimir as manifestações da afetividade. Ora, revela o seguinte eixo principal da argumentação do
Vinicius é melodioso e não tem medo 10 de manifes- crítico:
tar sentimentos, com uma naturalidade que deve
desgostar as poéticas de choque. 11 Por vezes, ele
chega mesmo a cometer o pecado maior para o nos-
a) valorização de versos coloquiais
so tempo: o sentimentalismo. 12 Isso lhe permitiu dar
estatuto de poesia a coisas, sentimentos e palavras b) descrição de uma poética singular
extraídos do mais singelo 13 cotidiano, do coloquial
mais familiar e até piegas, de maneira a parecer mui- c) contestação de artistas modernos
tas vezes um seresteiro 14 milagrosamente transfor-
mado em poeta maior. João Cabral disse mais de uma d) exaltação de uma obra convencional
vez que sua própria 15 poesia remava contra a maré
da tradição lírica de língua portuguesa. Vinicius se-
ria, ao contrário, 16 alguém integrado no fluxo da sua
corrente, porque se dispôs a atualizar a tradição. Isso Questão 211 - (UERJ)
foi possível 17 devido à maestria com que dominou o Com base nas ideias apresentadas no texto, a metá-
verso, jogando com todas as suas possibilidades. fora um raro malabarista (l. 22) sugere que o poeta
articula os seguintes aspectos em sua poesia:

18
Ele consegue ser moderno usando metrificação e
cultivando a melodia, com uma imaginação 19 reno- a) humor e seriedade
vadora e uma liberdade que quebram as convenções
e conseguem preservar os valores 20 coloquiais. Rigo- b) tradição e inovação
roso como Olavo Bilac, fluido como o Manuel Bandei-
ra dos versos regulares, terra 21 a terra como os poe- c) erudição e formalismo
mas conversados de Mário de Andrade, esse mestre
do soneto e da crônica 22 é um raro malabarista. d) musicalidade e silêncio

ANTONIO CANDIDO

Adaptado de Teoria e debate, TEXTO: 87 - Comuns às questões: 212, 213, 214


nº 49. São Paulo: Fundação
Perseu Abramo, out-dez, 2001. Soneto de separação

De repente do riso fez-se o pranto


Questão 209 - (UERJ)
Silencioso e branco como a bruma
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3 E das bocas unidas fez-se a espuma b) hesitantes

E das mãos espalmadas fez-se o espanto. c) antagônicos

d) independentes

De repente da calma fez-se o vento

6 Que dos olhos desfez a última chama Questão 214 - (UERJ)


E da paixão fez-se o pressentimento No último verso, não mais que enfatiza a expressão
de repente, revelando certa reação do poeta em re-
E do momento imóvel fez-se o drama. lação à separação.

9 De repente, não mais que de repente Essa reação é marcada pelo sentimento de:
Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente. a) indecisão

b) libertação
12 Fez-se do amigo próximo o distante c) resignação
Fez-se da vida uma aventura errante d) preocupação
De repente, não mais que de repente.

TEXTO: 88 - Comuns às questões: 215, 216, 217


Questão 212 - (UERJ) Soneto do Corifeu*
Uma série de transformações é apresentada pelo
verbo fazer acompanhado da palavra se.
São demais os perigos desta vida
Na cena construída no poema, essa estrutura linguís-
tica produz o seguinte efeito: Para quem tem paixão, principalmente

3 Quando uma lua surge de repente


a) apagamento dos parceiros da relação E se deixa no céu, como esquecida.
b) esquecimento da sensação de perda

c) neutralização dos espaços de conflito E se ao luar que atua desvairado


d) indefinição do momento da despedida 6 Vem se unir uma música qualquer

Aí então é preciso ter cuidado

Questão 213 - (UERJ) Porque deve andar perto uma mulher.

Na terceira estrofe (v. 9-11), a seleção vocabular evi-


dencia a passagem de um estado emocional a outro
por parte do poeta. 9 Deve andar perto uma mulher que é feita

De música, luar e sentimento

A partir dessa seleção, os estados emocionais por E que a vida não quer, de tão perfeita.
que passa o poeta podem ser definidos como:

12 Uma mulher que é como a própria Lua:


a) cíclicos
Tão linda que só espalha sofrimento

114 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Tão cheia de pudor que vive nua. TEXTO: 89 - Comuns às questões: 218, 219
A BANALIDADE DO MAL
* Corifeu: personagem sempre presente no anti-
go teatro grego.
1
Muito se ouve, se fala e se sente acerca da violência.
O ódio se encontra disseminado, como 2 se não fosse
possível habitar o mesmo espaço do outro que pensa
Questão 215 - (UERJ) e age diferente. A violência 3 institucional do Estado
prolifera. Contudo, as práticas sociais agressivas não
Os dois primeiros versos do soneto sugerem uma ad- se resumem à 4 tradicional oposição Estado versus
vertência dirigida aos apaixonados. sociedade. Entre cada indivíduo das comunidades,
Com base na leitura do poema, essa advertência se dos bairros, 5 dos mesmos transportes públicos, ron-
baseia no pressuposto de que a paixão é capaz de da o fantasma da violência.
provocar estado de:

6
Certamente, as causas desses fenômenos são múl-
a) apatia tiplas, talvez tanto quanto o são suas ocorrências. 7
Sofrem mais do dinamismo da continuidade do que
b) carência das rupturas. Apesar das várias facetas sob 8 as quais
poderíamos analisar a violência estrutural, há certos
c) contrariedade mecanismos e estratégias que se 9 repetem. Como
funcionam? Mais ainda: quais funções e dispositivos
d) vulnerabilidade de manutenção dessas 10 práticas se atualizam no
mundo do trabalho, na sociabilidade desigual e na
urbanidade precária?
Questão 216 - (UERJ)
No soneto, é possível reconhecer a configuração de 11
A continuidade, permanência e sofisticação dos
um espaço caracterizado pelo seguinte aspecto: modos da violência poderiam ser sintetizadas, na 12
experiência brasileira, em duas formas fundamentais
e dominantes: o racismo e o machismo. O 13 país cor-
a) composição teatral dial e democrático, em seu cotidiano, tem três mu-
lheres assassinadas por dia. E a maioria 14 das vítimas
b) inspiração bucólica é composta de mulheres negras. Se o normal é a vio-
lência, o racismo e o machismo, de 15 que modo a
c) atmosfera fúnebre mulher ou o jovem negro podem experimentar uma
autodefinição de sua existência, 16 condição necessá-
d) tradição religiosa ria para repensar o quadro de violência?

Questão 217 - (UERJ) 17


A Constituição de 1988 seria a promessa de novas
práticas, da produção de sujeitos universais 18 – in-
Na última estrofe, a figura feminina é descrita por
terrompendo a história de vitimizações contínuas de
meio de elementos que estabelecem entre si uma
mulheres, índios, idosos, adolescentes, 19 quilombo-
relação do seguinte tipo:
las, trabalhadores. A nova lei, legitimada na funda-
mentação futura de uma outra vida, 20 seria a reden-
ção para esses sujeitos.
a) ambígua

b) antitética 21
Porém, com a narrativa de construção do Estado de
c) denotativa direito, soberano, centralizado, formado pelos 22“bra-
sileiros”, subjaz franco e atuante, ainda que silencio-
d) metalinguística so e rasteiro, o discurso do conflito, do 23 inimigo, das
lutas que continuam, que permanecem constituti-
vas da existência do país. Os vivas à 24 democracia, à
Constituição, às leis e à ordem convivem com o ódio
ao outro via racismo agressivo, 25 preconceito contra
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o nordestino, dentre outros. Questão 219 - (UERJ)

26
A ideia de sermos um único sujeito, o brasileiro ale-
gre e complacente, convive com a prática da 27 dife-
rença não tolerada, com a consideração do outro, do
estranho, do estrangeiro, como aquele 28 que não é
“nós”. A produção do outro e, portanto, a continuida-
de histórica da violência se devem, 29 em grande me-
dida, à persistência e ao incremento do racismo e do
machismo, autorizando a 30 agressão física ou moral.

31
Qualquer saída para essa situação somente terá
alguma possibilidade de efetivação sob políticas, 32
atos e afetos de respeito às mulheres, aos jovens ne-
gros e aos que não têm posses, pois são essas 33 as
subjetividades e as sociabilidades que são alvos das
estruturas violentas.

EDSON TELES
HENFIL
Adaptado de diploma-
tique.org.br, 18/09/2017. Adaptado de google.com.

Considerando a sequência dos quadrinhos, a fala fi-


Questão 218 - (UERJ)
nal, da personagem Graúna, fundamenta-se em um
No texto, o autor discute o fenômeno de dissemina- sentimento de:
ção do ódio entre as pessoas.

a) nostalgia
Para ele, essa disseminação é autorizada pelo seguin-
b) esperança
te aspecto social:
c) ambição

d) ilusão
a) garantia de direitos às minorias

b) centralização do poder no Estado

c) produção de inimigo a ser combatido TEXTO: 90 - Comum à questão: 220

d) redução de estratégias de repressão CONSIDERE A OBRA LIVRO DOS SONETOS, DE VINI-


CIUS DE MORAES.

1
“Desafiando e brincando, ao longo de 35 anos de
fidelidade à poesia, Vinícius construiu este Livro 2 dos
sonetos, do qual se poderá dizer, sem querer bancar
o profeta, que o público já consagrou, 3 com o que dá
provas de bom gosto e discernimento. De todas as
formas poéticas, fora a quadrilha 4 em redondilhas, o
soneto é por certo a mais popular, inclusive – ou so-
bretudo – porque de mais 5 fácil memorização. A uni-
dade da peça e até o galope dos versos, quase sem-
pre heroicos, assim 6 como a distribuição geométrica
e visual em quartetos e tercetos, são bons arrimos
para a memória, 7 que aliás, em matéria de sonetos,
é ajudada pelo seu melhor servo, que é o coração.
116 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Saber de cor, 8 no caso, é mesmo saber de coração.” Eu possa me dizer do amor (que tive):

OTTO LARA REZENDE. Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

Questão 220 - (UERJ) VINICIUS DE MORAES

Saber de cor, no caso, é mesmo saber de coração.


(Refs. 7-8)
Questão 221 - (UERJ)
No último verso do poema, a proposição mas que
Por sugerir que a expressão de cor tem origem na pa- seja infinito enquanto dure constitui um paradoxo
lavra coração, a afirmação de Lara Rezende assume que enfatiza o seguinte aspecto:
o papel de:

a) enaltecimento da vida
a) valorizar ideia lúdica
b) reconhecimento da ilusão
b) redefinir conceito popular
c) aceitação do desencontro
c) desconstruir senso comum
d) intensificação do sentimento
d) promover reflexão linguística

TEXTO: 92 - Comuns às questões: 222, 223


TEXTO: 91 - Comum à questão: 221
CONSIDERE A OBRA LIVRO DOS SONETOS, DE VINI-
CONSIDERE A OBRA LIVRO DOS SONETOS, DE VINI- CIUS DE MORAES.
CIUS DE MORAES.

SONETO DE LUZ E TREVA


SONETO DE FIDELIDADE

Ela tem uma graça de pantera


De tudo ao meu amor serei atento
No andar bem-comportado de menina.
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
No molejo em que vem sempre se espera
Que mesmo em face do maior encanto
Que de repente ela lhe salte em cima.
Dele se encante mais meu pensamento.

5 Mas súbito renega a bela e a fera


5 Quero vivê-lo em cada vão momento
Prende o cabelo, vai para a cozinha
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E de um ovo estrelado na panela
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ela com clara e gema faz o dia.
Ao seu pesar ou seu contentamento

Ela é de capricórnio, eu sou de libra


E assim, quando mais tarde me procure
10 Eu sou o Oxalá velho, ela é Inhansã
10 Quem sabe a morte, angústia de quem vive
A mim me enerva o ardor com que ela vibra
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

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E que a motiva desde de manhã. idade, altura, peso, massa muscular, cor e textura dos
cabelos, cor 8 e formato dos olhos, cor da pele etc.
- Como é que pode, digo-me com espanto A priori, não existe absolutamente nenhuma razão
para 9 valorizar mais uma ou outra dessas caracterís-
A luz e a treva se quererem tanto... ticas no exercício de investigação.
VINICIUS DE MORAES

10
Nem todos esses traços têm a mesma relevância.
Há características que podem nos fornecer 11 infor-
Questão 222 - (UERJ)
mações sobre a origem geográfica ancestral das pes-
Nas descrições que faz, o poeta conjuga diferentes soas: uma pele negra pode nos levar a 12 inferir que a
referências, como a astrologia e as religiões afro-bra- pessoa tem ancestrais africanos, olhos puxados evo-
sileiras. Além dessas, para caracterizar a figura femi- cam ancestralidade oriental 13 etc. E isso é tudo: não
nina, alude-se também ao seguinte tipo de texto: há absolutamente mais nada que possamos captar à
flor da pele. Pense 14 bem. O que têm a pigmentação
da pele, o formato e a cor dos olhos ou a textura do
cabelo a ver 15 com as qualidades humanas singulares
a) novelas eróticas que definam uma individualidade existencial?
b) contos de fadas

c) receitas culinárias 16
Em nítido contraste com as conclusões do experi-
mento de observação empírica acima, está 17 a rigidez
d) narrativas de folclore da classificação da humanidade feita pelo naturalista
sueco Carl Linnaeus, em 1767. 18 Ele apresentou, pela
primeira vez na esfera científica, uma categorização
Questão 223 - (UERJ) da espécie humana, 19 distinguindo quatro raças prin-
cipais e qualificando-as de acordo com o que ele con-
Todo o soneto se estrutura a partir de uma antítese siderava suas 20 características principais:
que indica a seguinte temática central:

a) assunção do desejo

b) aceitação da dúvida

c) necessidade de convivência

d) mudança de comportamento

TEXTO: 93 - Comuns às questões: 224, 225, 226


O DNA do racismo
21
• Homo sapiens europaeus: branco, sério, forte;
1
Proponho ao leitor um simples experimento. Diri-
22
• Homo sapiens asiaticus: amarelo, melancólico,
ja-se a um local bastante movimentado e observe 2 avaro;
cuidadosamente as pessoas ao redor. Deverá logo
saltar aos olhos que somos todos muito 3 parecidos
23
• Homo sapiens afer: negro, impassível, preguiço-
e, ao mesmo tempo, muito diferentes. so;
24
• Homo sapiens americanus: vermelho, mal-humo-
rado, violento.
4
Realmente, podemos ver grandes similaridades no
plano corporal, na postura ereta, na pele fina 5 e na
25
Observe o leitor que as raças de Linnaeus conti-
falta relativa de pelos, características da espécie hu- nham traços peculiares fixos, 26 ou seja, havia a expec-
mana que nos distinguem dos outros 6 primatas. Por tativa de todos os europeus serem “brancos, sérios 27
outro lado, serão evidentes as extraordinárias varia- e fortes”. Assim, teríamos de esperar que as pessoas
ções morfológicas entre as 7 diferentes pessoas: sexo, negras ao redor de 28 nós tivessem tendências “im-

118 - www.PROJETOREDACAO.com.br
passíveis e preguiçosas”, e que as de olhos 29 puxados Comparando as quatro categorias apresentadas pelo
fossem predispostas a “melancolia e avareza”. naturalista sueco Carl Linnaeus, a perspectiva adota-
da em sua classificação pode ser definida como:

30
Esse é um exemplo do absurdo da perspectiva essen-
cialista ou tipológica de raças humanas. 31 Nesse para- a) neutra
digma, o indivíduo não pode simplesmente ter a pele
mais ou menos pigmentada, 32 ou o cabelo mais ou me- b) parcial
nos crespo – ele tem de ser definido como “negro” ou
“branco”, rótulo 33 determinante de sua identidade. c) universal

d) homogênea

34
Esse tipo de associação fixa de características físi-
cas e psicológicas, que incrivelmente ainda persiste 35
Questão 226 - (UERJ)
na atualidade, não faz absolutamente nenhum sen-
tido do ponto de vista genético e biológico! O 36 ge- No último parágrafo, o autor expressa uma crítica à
noma humano tem cerca de 20 mil genes e sabemos teoria de Linnaeus, por reconhecer na classificação
que poucas dúzias deles controlam a 37 pigmentação que este propôs o seguinte problema:
da pele e a aparência física dos humanos. Está 100%
estabelecido que esses genes 38 não têm nenhuma
influência sobre qualquer traço comportamental ou
intelectual. a) omissão

SÉRGIO DANILO PENA b) abstração

Adaptado de cienciahoje.org.br, 11/07/2008. c) incorreção

d) fragmentação

Questão 224 - (UERJ)


O terceiro parágrafo contém uma conclusão acerca TEXTO: 94 - Comum à questão: 227
dos resultados do experimento descrito nos dois pa-
rágrafos anteriores. CONSIDERE A OBRA “O ALIENISTA”, DE MACHADO DE
ASSIS.

Essa conclusão se baseia no seguinte posicionamen-


to do autor: Questão 227 - (UERJ)
Além de se opor ao cientificismo dogmático do sécu-
lo XIX, “O alienista” também põe em xeque práticas
a) afirmação de crenças excêntricas de outros grupos da sociedade da época.

b) valorização da racionalidade ocidental

c) desconsideração de opiniões polêmicas A narração da revolta dos Canjicas e da postura de


seu líder, o barbeiro Porfírio, tem como alvo o grupo
d) contestação do determinismo biológico dos:

Questão 225 - (UERJ) a) políticos

• Homo sapiens europaeus: branco, sério, forte; b) soldados

• Homo sapiens asiaticus: amarelo, melancólico, c) comerciantes


avaro;
d) trabalhadores
• Homo sapiens afer: negro, impassível, preguiçoso;

• Homo sapiens americanus: vermelho, mal-humo-


rado, violento. (Refs. 21-24)
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TEXTO: 95 - Comuns às questões: 228, 229 tadores, ao final da peça teatral expôs membro ínti-
mo de seu corpo para o público. Na situação em tela,
LIBERDADE DE EXPRESSÃO entendeu a Corte Constitucional brasileira que não
haveria o indivíduo cometido o ilícito penal de ato
obsceno, mas sim exercido seu direito de liberdade
Ao consagrar a liberdade de manifestação de pen- de expressão, ainda que tivesse sido “inadequado ou
samento no texto constitucional, o legislador cons- deseducado”.
tituinte garantiu também a liberdade de expressão, Por fim, deve-se reconhecer também que dentro
como corolário da liberdade de pensamento e opi- da liberdade de expressão, encontra-se albergado
nião. um aspecto negativo, a liberdade de não se expres-
Ora, se detém o ser humano o direito a pensar e sar, como aduz Nuno e Sousa: “(...) garantida não
opinar, não se pode olvidar que também detém o di- aparece apenas a liberdade de expressão e informa-
reito a expressar esse pensamento e opinião. Assim, ção, mas também a liberdade de não exprimir qual-
o indivíduo “pode manifestar-se por meio de juízos quer pensamento, de não se informar, de não fundar
de valor (opinião) ou da sublimação das formas em uma empresa de imprensa, de não dar informações;
si, sem se preocupar com o eventual conteúdo valo- garante-se o exercício e o não exercício. ”
rativo destas”. ALMEIDA, Priscila Coelho de Barros. Disponível
Essa é a exata noção da liberdade de expressão, em: http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.
conforme atesta Nuno e Sousa: “A liberdade de ex- php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8283.
pressão consiste no direito à livre comunicação es-
piritual, no direito de fazer conhecer aos outros o
próprio pensamento (na fórmula do art. 11° da De- Questão 228 - (ACAFE SC)
claração Francesa dos Direitos do Homem de 1789: a
livre comunicação de pensamentos e opiniões). Não Em relação ao texto, é correto afirmar que:
se trata de proteger o homem isolado, mas as rela-
ções interindividuais (‘divulgar’). Abrangem-se todas
as expressões que influenciam a formação de opi-
niões: não só a própria opinião, de caráter mais ou a) O ser humano, tendo o direito a pensar e opinar,
menos crítico, referida ou não a aspectos de verdade, também detém o direito a expressar esse pensa-
mas também a comunicação de fatos (informações). mento e opinião.
” b) Se o ser humano tem a liberdade de expressão
Dessa feita, sob o manto da liberdade de expres- é porque previamente lhe foi assegurada a liber-
são encontram-se agasalhados “toda opinião, con- dade de pensamento.
vicção, comentário, avaliação ou julgamento sobre c) A Declaração Francesa dos Direitos do Homem
qualquer assunto ou sobre qualquer pessoa, envol- de 1789 garante ao ser humano a liberdade de
vendo tema de interesse público, ou não, de impor- expressão, mas não garante o direito à informa-
tância e de valor, ou não”. ção.
Ressalte-se, ainda, que encontra guarida no con- d) A Constituição da República Federativa do Brasil
teúdo da liberdade de expressão a propagação por de 1988 consubstanciou em seu artigo 5º, inciso
todos os meios possíveis, não apenas pela palavra IV, a liberdade de manifestação de pensamento,
escrita ou falada, mas também por gestos, desenhos, e em seus incisos XIV e XXXIII, o direito coletivo
gravuras, pinturas e, por que não dizer, o silêncio, in- à informação.
serido dentro de uma determinada perspectiva.

Assim, pode-se claramente observar que a liber-


dade de expressão contém uma dupla dimensão, Questão 229 - (ACAFE SC)
conforme nos ensina Jônatas Machado: “Nesse sen-
tido, deve-se sublinhar a dupla dimensão deste direi- Em relação ao texto, todas as alternativas estão cor-
to. A dimensão substantiva compreende a atividade retas, exceto:
de pensar, formar a própria opinião e exteriorizá-la. A
dimensão instrumental traduz a possibilidade de uti-
lizar os mais diversos meios adequados à divulgação
do pensamento. ” a) O direito à informação inclui todos os fatos e
notícias veiculadas que podem formar a opi-
Sobre a dimensão instrumental da liberdade de nião pública, bem como a utilização de todos os
expressão, cabe aqui fazer referência à decisão do meios possíveis, e realizada por todos os orga-
Supremo Tribunal Federal ao analisar o caso de um nismos que compõem a sociedade.
diretor de teatro, que após ser criticado pelos espec-
120 - www.PROJETOREDACAO.com.br
b) Na realidade, a liberdade de pensamento se tor- Com Facebook, Twitter, Instagram, Tinder e quetais,
na concreta a partir do instante em que é permi- a gente comunica o que a gente é (ou pensa que é,
tido ao indivíduo a possibilidade de externar seu ou finge que é) para os que a gente escolheu. Que se
pensamento, a liberdade de opinião. dane o cara do carro ao lado, da frente ou de trás.
Meu nicho, espalhado pelo globo, se concentra na
c) A liberdade de expressão tem origem na carac- tela do meu celular. (Será coincidência que um dos
terística de sociabilidade humana. últimos adesivos a entrar na moda tenha sido a fa-
miliazinha papai-mamãe-filhinho-filhinha-cachorro,
d) A liberdade de informação encontra-se abarca- como se disséssemos adeus ao espaço público antes
da no conceito de liberdade de expressão toma- de nos refugiarmos no silêncio dos insulfilms?).
da em seu aspecto lato.
Nos meus dias mais otimistas acho que essa com-
partimentação é positiva. Trinta anos atrás, se um
cara era o único gay, ou o único heavy metal, ou o
TEXTO: 96 - Comuns às questões: 230, 231, 232,
único vegetariano de um vilarejo de quinhentos ha-
233 bitantes, ele se achava um freak. Hoje, com uns cli-
ques, ele encontra seus pares – no vilarejo ao lado ou
do lado de lá do Atlântico.

Nos meus dias mais pessimistas, no entanto, fico


me questionando qual será o preço de nos comuni-
carmos cada vez mais apenas com os nossos seme-
lhantes. Não será essa uma nova forma de vilarejo? O
vilarejo dos iguais? Será que essa mesma segmenta-
ção que me faz prescindir da opinião do carro ao lado
não cria um mundo mais intolerante, mais raivoso,
menos aberto à diversidade?
Lá vou eu em meu eu oval
“Lá vou eu em meu eu oval”, palíndromo da Mari-
na Wisnik¹, me veio à memória ali no engarrafamen-
Semana passada, parado em meio a centenas de to. Uma frase circular que veste como uma luva – ou
motoristas, tomando parte nesta sinfonia da cretini- como uma uva?– o nosso universo umbigo, casulo
ce humana chamada engarrafamento, me dei conta dentro do qual perco qualquer identificação com os
de uma mudança pequena, porém sintomática, na de fora. Na melhor das hipóteses, o outro deve ser
epiderme dos automóveis (ou autoimóveis?): quase ignorado. Na pior, deve ser “trollado”, linchado ou
já não há adesivos. atropelado por um caminhão.

Alguns anos atrás, praticamente todo mundo usa- (Antonio Prata, Folha de S.Paulo, 17/07/2016)
va o carro para mandar uma mensagem ao mundo. A
bandeira da Jamaica informava aos demais cidadãos
que ali dentro daquele Fusca havia um cara que cur- ¹Marina Wisnik: cantora brasileira, compositora,
tia reggae, provavelmente fumava maconha e entre atriz, escritora e arte-educadora.
passar as férias em Berlim ou Itacaré, preferiria Itaca-
ré. O “Je parle”, da Aliança Francesa, informava que
ali dentro daquele Uno havia uma garota que curtia
Godard, provavelmente usava boina e entre um pi- Questão 230 - (ESPM RS)
quenique no parque e uma ida ao Playcenter, ficaria
com o piquenique. “OPTei” informava a todos que o Logo no primeiro parágrafo, ao fazer um jogo de pa-
motorista da Variant era petista. “Deus é fiel” infor- lavras no segmento: “na epiderme dos automóveis
mava a todos que o motorista da Brasília era cristão (ou autoimóveis?)”, o autor revela:
– embora, por anos, eu tenha pensado que a ideia
fosse mostrar que Deus torcia pro Corinthians.
a) estupefação pelo fato de o automóvel passar a
Minha hipótese – se me permitem uma rápida so-
ter um valor tão alto que se equiparou ao valor
ciologia de botequim – é que os adesivos foram engo-
de um imóvel.
lidos pelas redes sociais. Antes, estávamos soltos na
multidão. Era preciso afirmar nossas individualidades b) constatação de que o automóvel se tornou um
no meio da geral. Como não sabíamos quem ao nos- lugar em que o motorista passa tanto tempo
so redor era católico, maconheiro, cinéfilo, petista quanto passa em seu imóvel.
ou tucano, o alvo do nosso marketing pessoal era a
cidade inteira, o carro era nosso outdoor particular. c) questionamento irônico pelo fato de um meio

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de locomoção não poder locomover-se, inva- e) o uso de insulfilms nos carros é uma metáfora
riavelmente preso a um congestionamento no simbólica da falta de visão humanística em rela-
trânsito. ção aos problemas que correm no mundo.

d) surpresa por não possuir mais, nos dias de hoje,


a mobilidade que lhe era inerente no passado,
quando havia fluidez no trânsito. Questão 233 - (ESPM RS)

e) dúvida filosófica dentro de uma sociedade ma- O título do artigo está relacionado:
terialista que tem como aspirações principais o
automóvel e o imóvel.
a) ao mundo cada vez mais egocêntrico, produzi-
dor de segmentos da sociedade considerados
Questão 231 - (ESPM RS) “freaks”.

Para o autor, só não se pode afirmar que os adesivos b) ao casulo individualista em que se isola o ser,
de carro: tornando o sujeito mais intolerante em relação
ao outro, ao diferente.

c) ao círculo vicioso em que se encontra o compor-


a) eram uma forma de expressar a individualidade tamento humano contemporâneo.
e revelavam, por parte dos usuários, gostos cul-
turais, ideologias ou convicções religiosas. d) ao movimento de vaivém, tal qual a leitura de
um palíndromo, entre público e privado nas re-
b) acabavam fazendo papel de cartazes particula- lações sociais.
res, funcionando como marketing pessoal.
e) ao questionamento existencial gerado pela falta
c) divulgavam simpatias ou crenças dos usuários de identificação com seu semelhante.
como mensagens dirigidas ao mundo em geral.

d) tenham sido, talvez, substituídos pelas redes so-


ciais, mas, ao contrário destas, não tinham um TEXTO: 97 - Comuns às questões: 234, 235
público-alvo específico.
Semana inicia com Brainard amenizando a fala da
e) podiam provocar, por vezes, devido à ambigui- sexta-feira de Rosengren, trazendo alívio momen-
dade, certa confusão nas preferências entre reli- tâneo aos mercados.
gião e futebol.

O Ibovespa (58.586 pontos; +1,01%) após o tom-


Questão 232 - (ESPM RS) bo de -3,71% da última sexta-feira (9/set), apresen-
tou uma ligeira recuperação embalado pela melhora
Na opinião do autor: no humor dos investidores em âmbito global, após a
fala da dirigente do Fed, Lael Brainard, que defendeu
que “o argumento para apertar a política de maneira
preventiva é menos convincente”. O discurso foi con-
a) não há dúvidas de que os papéis desempenhados siderado dovish (brando) e contrapôs até determina-
pelos adesivos de carros acabaram cedendo es- do ponto o discurso de Rosengren, presidente do Fed
paço, dada a eficiência, para facebook e twitter. de Boston, que na sexta feira atuou como catalisador
b) a sociedade se agrega em grupos com afinidades da aversão a risco nos mercados ao indicar que alta
específicas e, paradoxalmente, cria individualis- gradual dos juros norte-americanos era “apropria-
mo que desenvolve comportamentos agressivos da”. Enfim, o índice brasileiro acompanhou de perto
em relação ao outro. a trajetória altista dos índices das bolsas de Nova
York. A alta de hoje foi capitaneada pelas ações da
c) a expressão “vilarejo dos iguais” pode ser en- Petrobras, do setor de siderurgia e mineração e pelo
tendida como tribos urbanas, ou grupos sociais, setor de bancos – os maiores e mais líquidos do índice
com interesses em comum para desenvolver a doméstico.
aceitação de opiniões contrárias.
(Hamilton Moreira Alves e Rafael Freda Reis, Diário
d) usuários de redes sociais buscam um público de Mercado, BB Investimentos, 12/set/2016)
virtual, considerado seus pares, ou seja, seus
“semelhantes”, nas preferências de qualquer as-
sunto.
122 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 234 - (ESPM RS) A graça da charge de Benett reside no fato de supos-
tos:
Segundo o texto, a principal causa da queda nos ín-
dices da Bolsa de Valores de SP (Ibovespa) se deveu:
a) políticos estarem decidindo uma lei anticorrup-
ção e um assessor de político estar, aparente-
a) ao discurso de Brainard, defensor de um aper- mente, oferecendo facilidades de aprovação da
to na política econômica, via aumento de juros, mesma lei, mediante uma gratificação.
como forma de prevenção a um aquecimento
econômico. b) manifestantes estarem protestando contra a
corrupção e, ironicamente, um político estar pe-
b) ao discurso de Brainard, contrário a um aumen- dindo uma comissão financeira para aprovar um
to, pela pouca eficácia, dos juros norte-america- projeto sobre o assunto em discussão.
nos.
c) parlamentares estarem preocupados com cassa-
c) ao discurso de Rosengren, favorável a um cresci- ções devido às novas leis anticorrupção e, eufe-
mento paulatino nos juros norte-americanos. misticamente, um representante dos parlamen-
tares estar sugerindo uma porcentagem para
d) ao discurso de Rosengren, criticando investido- sancionar a lei.
res com postura de aversão a riscos de mercado.
d) políticos estarem votando uma medida anticor-
e) ao mau-humor dos investidores no âmbito glo- rupção e, paradoxalmente, um membro, numa
bal e no âmbito nacional (brasileiro). atitude não-ética, estar cobrando propina para
aprovar o mesmo projeto.

e) cidadãos estarem debatendo tema sobre anti-


Questão 235 - (ESPM RS)
corrupção e, paralelamente, um dos elementos
Depreende-se do texto que: estar se corrompendo ao estabelecer esquemas
de suborno.

a) as bolsas de valores de Nova York e de São Paulo


seguem movimentos pendulares opostos. Questão 237 - (ESPM RS)

b) a alta de juros norte-americanos fazem investi- Assinale a alternativa em que ocorra a possibilidade
dores fugirem de mercados de risco. de dupla leitura:

c) para as autoridades do Fed, aumento dos juros é


uma maneira convincente de segurar a inflação
do país. a) Disney e Microsoft têm interesse em comprar
Twitter, diz agência.
d) a alta do índice do Ibovespa foi motivada dire-
tamente pela alta da bolsa de valores de Nova b) Na África, câmeras viram armas contra abusos
York. da polícia.

e) ações do setor de petróleo, de siderurgia, de c) Governo colombiano e Farc assinam acordo de


mineração e de banco se destacam no mercado paz histórico.
doméstico por terem maior rentabilidade. d) Doutrina escolar do Estado Islâmico afirma que
democracia é idolatria.

e) Cresce participação de aposentados na força de


Questão 236 - (ESPM RS)
trabalho do Brasil.

TEXTO: 98 - Comuns às questões: 238, 239


Era necessário, para dourar a família, buscar ou-
tra origem, que não cheirasse à tanoaria¹ e apenas às
patacas. Daí o duplo expediente do pai de Brás Cubas
para fugir ao fabricante de cubas².

Primeiro, deslocou a origem dos Cubas para o li-


www.PROJETOREDACAO.com.br - 123
cenciado Luís Cubas, que “primou no Estado e foi um TEXTO: 99 - Comum à questão: 240
dos amigos particulares do vice-rei conde da Cunha”;
segundo, atribuiu o apelido Cubas a uma jornada da Leia o trecho do segundo capítulo do romance Ira-
África, onde um cavaleiro teria arrebatado trezentas cema.
cubas aos mouros.

(Raymundo Faoro, Machado de Assis: a pirâmide e


o Além, muito além daquela serra, que ainda azula no
trapézio, Edit. Nacional) horizonte, nasceu Iracema.²

Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os ca-


belos mais negros que a asa da graúna, e mais longos
tanoaria: fabricante de barris, cubas, tinas; tonela-
¹ que seu talhe de palmeira.
ria.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a
cuba: vasilha grande de madeira na qual se guarda
² baunilha recendia no bosque como seu hálito perfu-
vinho ou outros líquidos; tina. mado. Mais rápida que a corça selvagem, a morena
virgem corria o sertão e as matas do Ipu¹, onde cam-
peava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara.
O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde
Questão 238 - (ESPM RS) pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
Depreende-se do texto que: Um dia, ao pino do Sol, ela repousava em um claro
da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oitici-
ca, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos
a) o duplo expediente dificultava ao pai de Brás da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos
Cubas fugir da relação com as patacas e os to- cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros amei-
néis. gavam o canto.

b) por não gostar de apelidos, o pai de Brás Cubas Disponível em: https://tinyurl.com/y9b94sq4. Acesso em
preferiu nomes próprios oriundos de nobres. 06.10.18

c) a fim de aparentar maior nobreza, o pai de Brás


Cubas transportou a família para a África para
Questão 240 - (ETEC SP)
contactar um cavaleiro conquistador.
De acordo com a leitura do trecho, é possível afirmar
d) a família Brás Cubas procurava esconder suas
que
raízes na burocracia do Estado e numa jornada
da África.

e) o pai de Brás Cubas buscou subterfúgios para a a) a construção dessa narrativa se dá na junção en-
origem do sobrenome no intuito de valorizar so- tre poesia e música, priorizando a sonoridade da
cialmente sua família. escrita.

b) a construção narrativa é marcada pela linearida-


de, em que os fatos são narrados na ordem em
Questão 239 - (ESPM RS) que acontecem.
O texto associa: c) existe a tentativa da busca pela perfeição estéti-
ca textual, assim como a imitação dos modelos
clássicos greco-romanos.
a) pataca a apelido; cavalaria a nome de família.
d) a linguagem utilizada no trecho preza pela obje-
b) pataca a vulgaridade; cavalaria a prestígio. tividade, porque as palavras escolhidas apresen-
tam um sentido coloquial.
c) burocracia a expediente; pataca a prestígio.
e) a personagem é associada a elementos da natu-
d) mouros a vulgaridade; pataca a distinção. reza brasileira, o que demonstra uma tendência
nacionalista na literatura.
e) tanoaria a vulgaridade; fabricante de cubas a
honraria.

124 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 100 - Comum à questão: 241 E agora, José?

Leia os trechos do poema E agora, José? de Carlos Sua doce palavra,


Drummond de Andrade.
seu instante de febre,

sua gula e jejum,


E agora, José?
sua biblioteca,

sua lavra de ouro,


E agora, José?
seu terno de vidro,
A festa acabou,
sua incoerência,
a luz apagou,
seu ódio — e agora? [...]
o povo sumiu,
Disponível em: https://tinyurl.com/y9j6exoj. Acesso em:
a noite esfriou, 09.10.18

e agora, José?

e agora, você? Questão 241 - (ETEC SP)


você que é sem nome, Segundo os trechos do poema, é possível afirmar que

que zomba dos outros,

você que faz versos, a) as ações não concluídas despertam em José um


desejo de mudança.
que ama, protesta?
b) o contexto trazido pelo poema trata somente de
e agora, José? situações hipotéticas.

c) o eu lírico procura, mediante as adversidades,


demonstrar que José encontra-se sem saída.
Está sem mulher,
d) a repetição da pergunta que dá título ao poema
está sem discurso,
acontece para reiterar a ignorância de José.
está sem carinho,
e) o nome José faz referência a uma pessoa que
já não pode beber, não se apresenta como o sujeito das ações des-
critas, mas um paciente.
já não pode fumar,

cuspir já não pode,


TEXTO: 101 - Comum à questão: 242
a noite esfriou,
Leia a tirinha Niquel Náusea, de Fernando Gonsales.
o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?

www.PROJETOREDACAO.com.br - 125
doente de tristeza, por ter visto que, como serva, és
mais formosa que ela.

[...]

JULIETA – Ai de mim!

ROMEU – Oh, falou! Fala de novo, anjo brilhante,


porque és tão glorioso para esta noite,

[...]
Disponível em: https://tinyurl.com/y8h9asg3. Acesso em
11.10.18 JULIETA – Romeu, Romeu! Ah! por que és tu Romeu?
Renega o pai, renuncie o seu nome; ou então, se não
quiseres, jura ao menos que amor me tens, porque
uma Capuleto deixarei de ser logo.
Questão 242 - (ETEC SP)
ROMEU (à parte) – Continuo ouvindo-a mais um pou-
Na tirinha, o Rato Ruter faz um pedido a Níquel: um co, ou lhe respondo?
pedaço de seu queijo. No entanto, Níquel não enten-
de o pedido. Assim, o humor da tira é gerado, pois JULIETA – Meu inimigo é apenas o teu nome. Conti-
Níquel nuarias sendo o que és, se acaso Montecchio tu não
fosses. Que é Montecchio? Não será mão, nem pé,
nem braço ou rosto, nem parte alguma que perten-
ça ao corpo. Sê outro nome. Que há num simples
a) parece não prestar atenção ao pedido nos dois nome? O que chamamos rosa, sob uma outra de-
primeiros quadrinhos. signação teria igual perfume. Assim Romeu, se não
b) deixa claro não querer compartilhar seu queijo tivesse o nome de Romeu, conservara a tão preciosa
antes de uma ordem expressa. perfeição que dele é sem esse título. Romeu, risca
teu nome, e, em troca dele, que não é parte alguma
c) só entende o pedido por meio da linguagem in- de ti mesmo, fica comigo inteira.
formal e do grito, expresso pelas letras em ne-
grito. ROMEU – Sim, aceito tua palavra. Dá-me o nome
apenas de amor, que ficarei rebatizado. De agora em
d) tem em suas mãos um objeto que não se trata diante não serei Romeu.
de uma substância e nem uma guloseima, pala-
vras expressas como sugestão. [...]

e) entende a solicitação desde o primeiro quadri- JULIETA – Dize-me como entraste e porque vieste.
nho, mas só resolve respondê-la quando seu in- Muito alto é o muro do jardim, difícil de escalar, sen-
terlocutor usa palavras de seu repertório. do o ponto a própria morte - se quem és atendermos
- caso fosses encontrado por um dos meus parentes.

ROMEU – Do amor as lestes asas me fizeram trans-


TEXTO: 102 - Comum à questão: 243 voar o muro, pois barreira alguma conseguirá deter
do amor o curso, tentando o amor tudo o que o amor
Leia um trecho da peça teatral, Romeu e Julieta, de realiza. Teus parentes, assim, não poderiam desviar-
Shakespeare. -me do propósito.

JULIETA – No caso de seres visto, poderão matar-te.

ROMEU E JULIETA, ATO II, Cena II – Jardim dos ROMEU – Ai de mim! Há mais risco em seu olhar do
Capuletos. Entra Romeu. que em suas espadas. Seu carinho é a única barreira
ao seu rancor. [...]

Disponível em: https://tinyurl.com/yazkgtux. Acesso em:


ROMEU – Só ri das cicatrizes quem ferida nunca so- 12.10.18
freu no corpo.

(Julieta aparece na janela.)

Mas silêncio! Que luz se escoa agora da janela? Será


Julieta o sol daquele oriente? Surge, formoso sol, e
mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e

126 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 243 - (ETEC SP) ção teatral.

A partir da leitura do texto, é possível afirmar que c) um poder quase mágico capaz de dar vida ao
que não está presente, pois “transporta vozes
humanas”, ao mesmo tempo em que constrói
barreiras.
a) a relação amorosa entre Romeu e Julieta está
sendo terminada naquele momento. d) a função de corromper sua favorita, pois separa-
ria a noiva de seus ideais religiosos, representa-
b) Julieta recusa seu próprio sobrenome Montec- dos pelos histriões.
chio para evitar problemas posteriores.
e) o papel de garantir proteção, pois a palavra es-
c) o conflito estabelecido entre Julieta e Romeu crita garante uma aproximação entre ela, Escra-
deve-se somente por seus sobrenomes. va, e sua favorita.
d) a personagem Romeu vai até a casa de Julieta,
pois estava fugindo de seus parentes.
TEXTO: 104 - Comum à questão: 245
e) Romeu vive um dilema decorrente da dúvida se
deve ou não continuar conversando com Julieta. Leia o texto e a charge de Alberto Montt.

TEXTO: 103 - Comum à questão: 244 Charles Baudelaire, poeta do século XIX, é autor do
livro As Flores do Mal. Nele, seus poemas abordam
Como filha de um homem abastado, a noiva fora ins- temas que questionam as convenções morais da so-
truída nos rudimentos da leitura e da escrita [...]. Só ciedade francesa, sendo, por isso, tachado como obs-
que a noiva era uma criatura histriônica*. Tudo que ceno, como um insulto aos bons costumes da época.
lia, poesia ou canção, era compartilhado com a Es- A partir dele, originaram-se na França os chamados
crava; tudo que escrevia, em seguida lia em voz alta “poetas malditos”.
para a Escrava. Em segredo, a africana desconfiava
daqueles sinais mágicos, tinha medo do papel que
podia transportar vozes humanas. Porém, contanto
que fosse a sua favorita quem dava voz às palavras,
ela se sentia em segurança; contanto que fosse ela
quem transformava em música os sinais no papel,
a Escrava ficava contente. Agora, pela primeira vez,
foi excluída. A mensagem do anjo tinha erguido uma
barreira de escrita entre ambas.

*histriônica: relativo a histrião, aquele que represen-


tava as farsas, logo, comediante, farsista.

(Bahiyyih Nakhjavani, O alforje. Porto Alegre: Dublinen-


se, 2018, p. 180.)

<https://tinyurl.com/ycuzcs6h> Acesso em: 27.10.2018.


Original colorido.
Questão 244 - (ETEC SP)
Na cena transcrita, a personagem Escrava vê, na lin-
guagem escrita, Questão 245 - (ETEC SP)
O título da charge retoma o título da obra de Bau-
a) o papel de unir estratos sociais diferentes, pois delaire, As Flores do Mal. O autor, para construir o
o texto escrito, ao ser lido pela noiva, deleitava a humor em seu texto, utiliza-se de
todos, incluindo a Escrava e sua protegida.

b) o poder de ligar o profano e o sagrado, pois o a) metalinguagem, na representação das flores,


texto escrito continha instruções divinas que ga- que recitam versos compostos pelo poeta ao
rantiam o sucesso da noiva em sua representa- próprio Baudelaire.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 127
b) saudosismo, nas falas das flores, pois elas repre- Questão 247 - (FAMEMA SP)
sentam costumes morais inerentes à sociedade
francesa do século XIX.

c) metáfora, na representação do poeta como flo-


res que apenas dizem verdades, indiferentes às
regras morais da sociedade.

d) polissemia do substantivo “flores”, uma vez que


podem se referir às próprias flores representa-
das na charge ou aos desejos moralmente rejei-
tados pelo poeta.

e) ambiguidade na locução adjetiva “do mal”, pois,


no título original, a locução representa a temá-
tica dos poemas, mas, na charge, representa o (Quino. Assim vai o mundo!, 2014.)
conteúdo dos conselhos das flores.

Do questionamento da personagem Mafalda, de-


TEXTO: 105 - Comum à questão: 246 preende-se uma crítica

a) à desumanização do mundo.

b) ao crescimento demográfico.

c) à generalização do consumismo.

d) à mercantilização da infância.

e) à precariedade da educação.
Dan Piraro. Disponível em: <https://tinyurl.com/
y4uuwpx8>
Acesso em: 07.02.2019. Original colorido.
TEXTO: 106 - Comum à questão: 248
Leia o texto do crítico de arte Jorge Coli.
Questão 246 - (ETEC SP)
Após a leitura do cartum, pode-se concluir correta-
mente que ele Dizer o que seja a arte é coisa difícil. Um sem-nú-
mero de tratados de estética debruçou-se sobre o
problema, procurando situá-lo, procurando definir
o conceito. Mas, se buscamos uma resposta clara e
a) representa os hábitos primitivos compartilhados definitiva, decepcionamo-nos: elas são divergentes,
entre os seres humanos e outras espécies. contraditórias, além de frequentemente se preten-
derem exclusivas, propondo-se como solução única.
b) corrige o modelo darwiniano, evidenciando o
desenvolvimento das espécies por meio da con- Entretanto, se pedirmos a qualquer pessoa que
vivência pacífica e ordenada. possua um mínimo contato com a cultura para nos
citar alguns exemplos de obras de arte ou de artis-
c) distorce o modelo evolucionista, retratando a tas, ficaremos certamente satisfeitos. Todos sabemos
influência negativa do consumo desenfreado na que a Mona Lisa, que a Nona sinfonia de Beethoven,
manutenção da biodiversidade. que a Divina comédia, que Guernica de Picasso ou o
d) critica o modelo evolucionista, segundo o qual Davi de Michelangelo são, indiscutivelmente, obras
os seres vivos surgem a partir do material orgâ- de arte. Assim, mesmo sem possuirmos uma defi-
nico descartado de outros seres vivos. nição clara e lógica do conceito, somos capazes de
identificar algumas produções da cultura em que vi-
e) utiliza a teoria da evolução para evidenciar há- vemos como sendo “arte”. Além disso, a nossa atitu-
bitos ambientais destrutivos do ser humano, de diante da ideia “arte” é de admiração: sabemos
como poluir o ambiente do qual se originou. que Leonardo ou Dante são gênios e, de antemão,
diante deles, predispomo-nos a tirar o chapéu.

128 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Podemos, então, ficar tranquilos: se não conse- a) “À questão ‘O que é a arte?’ seria possível res-
guimos saber o que a arte é, pelo menos sabemos ponder brincando (mas não seria uma brinca-
quais coisas correspondem a essa ideia e como deve- deira tola): que a arte é o que todos sabem o
mos nos comportar diante delas. Infelizmente, esta que é.” – Benedetto Croce (1866-1952)
tranquilidade não dura se quisermos escapar ao su-
perficial e escavar um pouco mais o problema. O Davi b) “À questão ‘O que é a arte?’ somos levados a
de Michelangelo é arte, e não se discute. Entretanto, responder: ‘Aquilo por meio do qual as formas
eu abro um livro consagrado a um artista célebre do tornam-se estilo.’” – André Malraux (1901-1976)
século XX, Marcel Duchamp, e vejo entre suas obras,
conservado em museu, um aparelho sanitário de lou- c) “A arte não é um espelho para refletir o mun-
ça, absolutamente idêntico aos que existem em to- do, mas um martelo para forjá-lo.” – Vladimir
dos os mictórios masculinos do mundo inteiro. Ora, Maiakovski (1893-1930)
esse objeto não corresponde exatamente à ideia que d) “A arte é a mentira que nos permite conhecer a
eu faço da arte. verdade.” – Pablo Picasso (1881-1973)
Assim, a questão que há pouco propusemos – e) “Não existe meio mais seguro para fugir do mun-
como saber o que é ou não é obra de arte – de novo do do que a arte, e não há forma mais segura de
se impõe. Já vimos que responder com uma definição se unir a ele do que a arte.” – Johann Wolfgang
que parte da “natureza” da arte é tarefa vã. Mas, se von Goethe (1749-1832)
não podemos encontrar critérios a partir do interior
mesmo da noção de obra de arte, talvez possamos
descobri-los fora dela.
Questão 249 - (FAMEMA SP)
Para decidir o que é ou não arte, nossa cultura
possui instrumentos específicos. Um deles, essencial, Leia o trecho de uma entrevista com o cineasta fran-
é o discurso sobre o objeto artístico, ao qual reconhe- cês Jean Renoir (1894-1979), filho do conhecido pin-
cemos competência e autoridade. Esse discurso é o tor Pierre-Auguste Renoir, datada de novembro de
que proferem o crítico, o historiador da arte, o perito, 1958.
o conservador de museu. São eles que conferem o
estatuto de arte a um objeto. Nossa cultura também
prevê locais específicos onde a arte pode manifes-
tar-se, quer dizer, locais que também dão estatuto Cheguei mesmo a me perguntar se toda obra hu-
de arte a um objeto. Num museu, numa galeria, sei mana não é provisória – mesmo um quadro, mesmo
de antemão que encontrarei obras de arte; num ci- uma estátua, mesmo uma obra arquitetônica, mes-
nema “de arte”, filmes que escapam à “banalidade” mo o Partenon. Seja qual for a solidez do Partenon, o
dos circuitos normais; numa sala de concerto, música que resta dele é muito pouco e não temos nenhuma
“erudita” etc. Esses locais garantem-me assim o rótu- ideia do que era quando acabara de ser construído.
lo “arte” às coisas que apresentam, enobrecendo-as. Mesmo o que resta vai desaparecer. Talvez se con-
siga, a custa de tanto colocar cimento nas colunas,
Desse modo, para gáudio1 meu, posso despreocu- mantê-lo por cem anos, duzentos anos, digamos qui-
par-me, pois nossa cultura prevê instrumentos que nhentos anos, digamos mil anos. Mas, enfim, chegará
determinarão, por mim, o que é ou não arte. Para um dia em que o Partenon não existirá mais. Pergun-
evitar ilusões, devo prevenir que a situação não é as- to-me se não seria mais honesto abordar a obra de
sim tão rósea. Mas, por ora, o importante é termos arte sabendo que ela é provisória e irá desaparecer, e
em mente que o estatuto da arte não parte de uma que, na verdade, relativizando, não há diferença en-
definição abstrata do conceito, mas de atribuições tre uma obra arquitetônica feita em mármore maciço
feitas por instrumentos de nossa cultura, dignifican- e um artigo de jornal, impresso em papel e jogado
do os objetos sobre os quais ela recai. fora no dia seguinte.

(O que é arte, 2013. Adaptado.) (Jean Renoir apud Jorge Coli. O que é arte, 2013. Adapta-
do.)

1
gáudio: alegria; júbilo.
Neste trecho da entrevista, Jean Renoir reflete sobre

Questão 248 - (FAMEMA SP)


a) a materialidade dos objetos artísticos.
A discussão proposta pelo texto dialoga intimamente
com o seguinte enunciado: b) o significado dos objetos artísticos.

c) a finalidade dos objetos artísticos.


www.PROJETOREDACAO.com.br - 129
d) o conteúdo dos objetos artísticos. principalmente frutas e verduras. Somente se o bebê
responder mal é que a mãe deve ficar atenta a algo
e) a origem dos objetos artísticos. em particular”, acrescenta o professor.

Lacerda ressalta que é recomendável evitar o ex-


cesso de leite, carnes vermelhas e corantes. “Às ve-
Questão 250 - (FAMEMA SP) zes, a mãe bebe muito leite de vaca e isso pode cau-
sar algum problema na criança, como cólicas. Então o
Leia a fábula “A tartaruga e a águia” do escritor grego
consumo recomendado é de, no máximo, dois copos
Esopo (620 a.C.?-564 a.C.?).
por dia. Vale também trocá-lo por outro tipo de pro-
teína”, recomenda. “O ideal, no período de amamen-
tação, é consumir mais carnes brancas como peixe e
Uma tartaruga pediu a uma águia que a ensinasse frango”.
a voar. A ave tentou dissuadi-la:
A hidratação é ponto importantíssimo, e a lactan-
– Voar é completamente contrário à sua natureza. te tem de lembrar também que deve beber muita
água. “Se a recomendação é de que as pessoas be-
Mas a tartaruga suplicou e insistiu ainda mais. En- bam dois litros de água por dia, a mãe que amamen-
tão a águia pegou a tartaruga com suas garras, levou- ta deve beber, pelo menos, dois litros e meio”, finali-
-a até bem alto no céu e depois a soltou. A tartaruga za o professor.
caiu nos rochedos e se espatifou.
O QUE a mãe deve comer durante a amamentação?
(Fábulas, 2013.) Disponível em:
<http:// saudebrasilportal.com.br>. Acesso em: set.
2018. Adaptado.
Depreende-se leitura da fábula a seguinte moral:

Questão 251 - (Fac. São Francisco de Barreiras BA)


a) Os artifícios dos maus não escapam à perspicá-
De acordo com a leitura do texto, é correto afirmar:
cia dos mais sensatos.

b) Muitas vezes o esforço vence o talento natural,


quando este se torna indiferença. a) A lactante, na opinião do professor da Facul-
dade de Medicina da Universidade de Brasília,
c) Quem concebe armadilhas para os outros se tor-
deve consumir mais reservas de carboidratos e
na o causador de seus próprios males.
proteínas, para que mantenha uma dieta equili-
d) Muitos se recusam a ouvir os bons conselhos brada e saudável.
que lhes são dados: azar o deles.
b) Quem amamenta precisa se preocupar com a
e) Aqueles que têm uma natureza má prejudicam própria alimentação, uma vez que o bebê de-
até mesmo quem os ajuda. pende exclusivamente do que ela consome, e,
assim, tudo o que for ingerido necessita ser ava-
liado anteriormente.

TEXTO: 107 - Comum à questão: 251 c) Os nutrientes do leite de vaca, em grande quan-
tidade, são benéficos tanto para a mãe, por
Para que tudo saia como planejado, a lactante constituir-se fonte de energia e cálcio, como
deve ficar atenta a sua própria alimentação. para a criança, que deles carece a fim de se de-
senvolver com saúde.
“A mãe que amamenta precisa ter uma alimen-
tação equilibrada, com carboidratos, gorduras e pro- d) A ingestão das carnes brancas e vermelhas é
teínas. Na verdade, ela deve até consumir um pouco importante para a mulher no período de aleita-
mais para suprir as reservas, já que vai gastar mais mento, desde que consumidas em escalas pro-
energia para produzir o leite”, explica José Alfredo porcionais, para contrabalançar perdas protei-
Lacerda, professor da Faculdade de Medicina da Uni- cas que costumam ocorrer.
versidade de Brasília.
e) A hidratação é fundamental, na fase de lactação,
“Escuto, por exemplo, que a mãe não pode comer para o corpo feminino, que tem necessidade de
laranja porque isso vai para o leite e a criança pode grande volume de líquidos, pois sem produzir o
não receber muito bem. Alimentos normalmente alimento para isso, não poderá nutrir o filho e
não fazem mal à criança. A mãe deve comer de tudo, protegê-lo de doenças.
130 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 252 - (Fac. São Francisco de Barreiras BA) TEXTO: 108 - Comum à questão: 253
A Filosofia vem participando das reflexões no âm- A industrialização trouxe consigo, além da mo-
bito da Saúde Coletiva no Brasil, desde o seu início dernização, o avanço tecnológico e a valorização da
– seja por intermédio de estudos de filósofos especí- ciência em detrimento do homem e de seus valores.
ficos que tematizaram questões da saúde, como Can- Os avanços tecnológicos também ocorreram na área
guilhem e Foucault, seja na utilização da reflexão de da saúde, com a introdução da informática e o apa-
cunho filosófico como apoio para que se pensem as recimento de aparelhos modernos e sofisticados que
questões da área, seja como base filosófica de corren- trouxeram muitos benefícios e rapidez na luta contra
tes teóricas gerais da área tais como o positivismo, o as doenças. Essa tecnologia moderna, criada pelo ho-
materialismo histórico, a dialética, o estruturalismo, mem a serviço do homem, tem contribuído em larga
a fenomenologia. Contudo, é fato que a Filosofia não escala para a solução de problemas antes insolúveis
conquistou na Saúde Coletiva o reconhecimento que e que pode reverter em melhores condições de vida
as Ciências Sociais, e mesmo as Ciências Políticas, e saúde para o paciente.
conquistaram e consolidaram ao longo dos anos. Se
é verdade que a Filosofia já tem dado uma contribui- Os dias atuais caracterizam-se por profundas e
ção importante para as reflexões do campo da Saúde constantes mudanças, em que é crescente e cada vez
Coletiva, acreditamos que este pode se enriquecer mais acelerada a inovação tecnológica, colocando à
ainda mais com ela, de modo fundamental nestes disposição dos profissionais e usuários os mais diver-
tempos de complexidade, transdisciplinaridade e no- sos tipos de tecnologia, tais como as educacionais,
vos paradigmas. gerenciais e assistenciais.

MARTINS, André. Filosofia e saúde: métodos genea- Vivemos em uma era tecnológica e, muitas vezes,
lógico e filosófico-conceitual. Disponível em: a concepção do termo tecnologia tem sido utilizada
<http://www.scielo.br>. Acesso em: set. 2018. Frag- de forma enfática, incisiva e determinante, porém
mento. equivocada na nossa prática diária, uma vez que tem
sido concebida, corriqueiramente, somente como
um produto ou equipamento. A temática tecnologia
não deve ser tratada através de uma concepção re-
Da leitura do texto, é correto afirmar que ducionista ou simplista, associada somente a máqui-
nas. Entendemos que a tecnologia compreende cer-
tos saberes constituídos para a geração e utilização
a) os estudos dos filósofos influenciaram as ques- de produtos e para organizar as relações humanas.
tões relacionadas com o bem-estar da coleti- BARRA, Daniela Couto Carvalho et al. Evolução his-
vidade, todavia Canguilhem e Foucault não se tórica e impacto da tecnologia na área da saúde e
destacam com seus trabalhos. da enfermagem Disponível em: <http://ww.fen.ufg.
b) as ponderações de cunho filosófico interferiram, br>. Acesso em: set. 2018. Fragmento. Com ajustes.
de maneira diminuta e inexpressiva, nos deba-
tes sobre as práticas referentes à saúde como
fenômeno social. Questão 253 - (Fac. São Francisco de Barreiras BA)
c) o positivismo, corrente teórica, não conseguiu Com base na leitura do texto, pode-se concluir que
contribuir para a melhoria dos diagnósticos e
tratamentos de doenças do indivíduo, para que
ele tivesse, na comunidade, um padrão de vida
saudável, o que ocasionou a perda de seu pres- a) a modernização e os avanços tecnológicos pro-
tígio. moveram, de modo geral, tão somente conse-
quências desastrosas nas relações humanas.
d) as Ciências Sociais e as Ciências Políticas logra-
ram maior reconhecimento nas reflexões sobre b) os dias atuais são marcados pela ausência de
Saúde Coletiva do que a Filosofia, embora se mudanças e aplicação prática do conhecimento
defenda a continuidade de suas análises para científico em diversos setores de pesquisa.
melhorar esse importante campo da atuação
humana. c) os benefícios gerados pela industrialização di-
zem respeito ao surgimento de máquinas para
e) as contribuições embasadas na razão e na aná- a produção em larga escala, em detrimento de
lise empírica para a boa disposição física e men- melhorias para o homem que as criou.
tal do ser humano são restritas aos tempos de
paradigmas obsoletos e da ausência da interdis- d) a tecnologia moderna exerceu grande influência
ciplinaridade, bem como de menor complexida- na sociedade em todos os aspectos, em particu-
de. lar, na área de saúde, pois tem inovado os pro-
www.PROJETOREDACAO.com.br - 131
cessos de diagnóstico e o tratamento de várias apenas em eventos que ocorrem, geralmente,
doenças. em finais de semana, para não comprometer
sua saúde e sua conduta, sobretudo, no futuro.
e) o conceito do que se conhece como o conjunto
de instrumentos, métodos e técnicas que visam c) O fato de o indivíduo fazer uso de bebida alcoó-
à resolução de problemas vem sendo utilizado lica em demasia, durante a adolescência, pos-
de maneira evasiva, mesmo sendo visto com sibilita complicações para seu bem-estar físico,
praticidade diversificada. mental, emocional e social em outras fases da
vida.

d) O debate sobre alcoolismo, se comparado às


TEXTO: 109 - Comum à questão: 254 discussões sobre a utilização da maconha, é ex-
tensivo, ainda assim o álcool é muito mais utili-
A medicina conseguiu provar pela primeira vez, zado e prejudicial do que qualquer outra droga
de forma inquestionável, que a bebedeira compro- existente no mundo.
mete o desenvolvimento cerebral dos jovens. Confir-
mando indicações de estudos anteriores, pesquisa- e) A embriaguez e suas consequências vêm sendo
dores de cinco universidades americanas analisaram coibidas pela sociedade, segundo o Ministério
o cérebro de 483 voluntários, entre 12 e 21 anos, em da Saúde, e essa iniciativa tem auxiliado na di-
dois momentos: quando ainda não consumiam bebi- minuição do percentual de bebedeiras e com-
da alcoólica e até dois anos depois. Concluíram que portamentos de risco.
os “grandes bebedores” – aqueles que bebem até se
embriagar – tiveram redução no ritmo de crescimen-
to cerebral e perderam massa cinzenta no córtex pré-
-frontal. Última região do cérebro a se formar, até os TEXTO: 110 - Comuns às questões: 255, 256, 257,
25 anos, o córtex é associado à tomada de decisões, 258
ao autocontrole e ao comportamento social. Ainda
não é possível afirmar, com certeza, que essa perda ANOTAÇÕES SOBRE INOCÊNCIO DA PAIXÃO, UM
faz alguma falta. Mas é um claro sinal de alerta: quem HIPOCONDRÍACO
exagera na bebida durante a adolescência pode per-
der habilidades fundamentais para uma vida madura
e saudável. Inocêncio Paixão era hipocondríaco e viciado em re-
médios. Sofria de 39 doenças imaginárias, algumas
A sociedade debate os riscos da liberação da ma-
tão raras que desafiavam as maiores autoridades no
conha, que já aconteceu no mundo todo, mas pouco
assunto. Bastava alguém espirrar perto para Inocên-
fala sobre bebidas alcoólicas. O álcool mata e fere
cio da Paixão ficar gripado. E não era uma gripezinha
mais que a soma de todas as outras drogas. Num es-
boba que vitamina C e cama curavam, não. Era gripe
tudo do Ministério da Saúde, 20% dos acidentados no
com direito a febre de 40 graus e a delírio. Molhava
trânsito apresentaram sinais de embriaguez ou rela-
pijamas e mais pijamas, de tanto que suava, e, em
taram consumo de álcool. Entre vítimas de agressão,
seus delírios, via-se de novo na casa da mãe, na rua
o percentual sobe para 49%. Apesar de seus males,
Paraíba.
a bebida não é coibida. Ao contrário. É incentivada.

BECKER, Daniel. Esqueça a maconha, o problema é a


bebida. Disponível em: A casa tinha um quintal, onde um sabiá cantava, e ga-
<https://epoca.globo.com/saude/noticia/2017/12>. linhas ciscavam a terra. E Prima Mariana vinha. Prima
Acesso em: set. 2018. Adaptado. Mariana era morena, verdes, feiticeiros olhos, e já
vestida de noiva, com véu e grinalda, deixou o pobre
Inocêncio esperando na igreja, no dia do casamento,
Questão 254 - (Fac. São Francisco de Barreiras BA) e disse aos pais e às amigas:

Considerando as informações veiculadas no texto,


pode-se inferir: — Eu, hein Rosa, só se eu fosse uma louca de casar
com Primo Inocêncio: ele ama mais os remédios que
a mim: a aspirina é mulher de sua vida.
a) O adolescente que se alcooliza com frequência
terá seu desenvolvimento cerebral mantido, se,
quando adulto, for reduzindo as dosagens que O perfume preferido de Inocêncio era o cheiro de re-
ingere. médio, cheiro de farmácia. Ah, com que sofreguidão
b) O jovem tem o direito de beber além da conta Inocêncio ia às farmácias para ver os últimos lança-

132 - www.PROJETOREDACAO.com.br
mentos dos laboratórios. Ficava horas e horas chei- Inocêncio ficou desolado. Consolou-se com a suspei-
rando os frascos dos novos medicamentos e ia para ta de que já estava na idade de ter problemas com a
casa levando remédios para todos os males. Inocên- próstata.
cio era um ávido leitor. Mas não pensem que lia os
livros mais vendidos ou indicados pelos amigos. Os (DRUMMOND, Roberto. Melhores crônicas.
best-sellers na estante de Inocêncio eram as bulas de São Paulo: Global, 2005, p.83-85.)
remédios. Sabia de cor e salteado as bulas e declama-
va a fórmula dos medicamentos como se declamasse
um poema de Adélia Prado ou de Manoel Barros.
Questão 255 - (FCM MG)
Sabe-se que Roberto Drummond era hipocondríaco.
Quando ficou noivo de Prima Mariana, Inocêncio Nesse texto, em que o gênero “crônica” aproxima-se
comprou uma aliança de brilhantes e mandou flores do gênero “conto”, pode-se de dizer que a hipocon-
com um cartão em que dizia: “Mariana, você é a vi- dria foi abordada
tamina que eu pedi a Deus.” Não por acaso, Prima
Mariana era médica. Passou, por sinal, a maior parte
do tempo do noivado, já formada em medicina, cui- a) por meio de expediente expositivo, com diálo-
dando da hipocondria do noivo. Até essa época, Ino- gos e argumentação científica.
cêncio sofria, como já foi dito, de 39 doenças imagi-
nárias. Bastava ouvir alguém falar numa doença que b) sob forma ficcional, mesclando narração e des-
sentia logo todos os sintomas. Alguém estava com crição, com certo acento humorístico.
úlcera? Inocêncio logo passava a cultivar uma úlcera
como uma flor. Diabetes? Lá ia Inocêncio prescreven- c) com objetividade narrativa, fiel aos fatos reais,
do a si mesmo regime alimentar que quase o matava na perspectiva de um narrador onisciente.
de inanição. Cortou o açúcar de sua vida e enviou flo-
res a Prima Mariana com este cartão: d) de maneira confessional, com predominância da
dissertação, baseando-se em experiências con-
cretas.

— Você é o que restou de doce em minha vida, Prima


Mariana.
Questão 256 - (FCM MG)
O clichê, segundo o linguista Rodrigues Lapa, “é um
Uma vez, Inocêncio achou que estava sofrendo de agrupamento de palavras surrado pelo uso”. Com
Aids. Não, não era de nenhum grupo de risco, não. base no texto, podem ser consideradas como clichês
Nem era dado ao uso de droga alguma, quanto mais as expressões
através de pico. Aconteceu que Inocêncio foi ao Rio
de Janeiro e ficou hospedado num famoso hotel, o
que não impediu que os pernilongos não o deixas-
a) “gripezinha boba”; “feiticeiros olhos”.
sem dormir. No meio da insônia, Inocêncio suspeitou
que o apartamento em questão tinha sido ocupado, b) “grupo de risco”; “infarto imaginário”.
dois dias antes, por um famoso roqueiro, que esta-
va com Aids. Prima Mariana foi acordada em casa, c) “véu e grinalda”; “de cor e salteado”.
em Belo Horizonte, por um telefonema de Inocêncio
perguntando: d) “aliança de brilhantes”; “cultivar uma úlcera”.

— Pernilongo transmite Aids? Questão 257 - (FCM MG)


Dentre as considerações sobre os personagens do
texto, arroladas a seguir, é CORRETO afirmar que:
Estava certo de que os pernilongos tinham ferroado
o roqueiro e, agora, transmitiam a Aids. Pobre Pri-
ma Mariana. Nunca ficou livre de Inocêncio. Noites
dessas, foi acordada por Inocêncio, que ia se inter- a) Os cartões enviados expressam idiossincrasia do
nar num famoso hospital. Não, desta vez não sofria emissor que, ludicamente, expressa sua hipocondria.
mais um infarto imaginário. Desta vez sentia todos os
b) Os laços consanguíneos impediram a união do
sintomas da febre amarela. Preparou-se para morrer.
casal, pois Inocêncio temia consequências gené-
Quando a equipe médica chefiada por Prima Maria-
ticas.
na examinou-o e disse que estava são como um coco,
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c) A Prima Mariana, apesar de médica, demonstra c) apresentação dos sintomas.
preconceitos ao suspeitar que seu ex-noivo po-
dia estar com Aids. d) gesticulação do paciente.

d) A comparação com uma fruta desolou o prota-


gonista, que se sentiu ferido em sua virilidade.
Questão 260 - (FCM MG)
Com base no contexto histórico de sua publicação, o
Questão 258 - (FCM MG) título adequado para essa charge é

A interação entre autor e leitor está presente em

a) “Desta vez sentia todos os sintomas da febre


amarela.”

b) “Nem era dado ao uso de droga alguma, quanto


mais através de pico.”

c) “Mas não pensem que lia os livros mais vendi-


dos ou indicados pelos amigos.”

d) “Estava certo de que os pernilongos tinham fer-


roado o roqueiro e, agora, transmitiam a Aids.” (Folha de São Paulo, 27/05/2018.)

Questão 259 - (FCM MG) a) “Quem cala, consente”.

b) “É preciso mudar o Brasil!”.

c) “Ninguém segura este país!”.

d) “Brasil: refém dos caminhoneiros”.

TEXTO: 111 - Comuns às questões: 261, 262, 263


O TORPEDO NO VESTIBULAR

§1 “A polícia do Rio de Janeiro prendeu quatro estu-


dantes que tentavam fraudar o vestibular de medici-
na na Universidade Gama Filho. Uma quadrilha teria
cobrado entre R$ 10 mil e R$ 15 mil pela transmissão
do gabarito do exame por meio de mensagens de tex-
to (31/01/2006)”

(http://saude.culturamix.com/doencas/
como-saber-se-sou-hipocondriaco. §2 Apesar do fracasso dos quatro vestibulandos que
Acessado em 06/08/2018.) haviam tentado fraudar a prova mediante mensa-
gens pelo celular, ela decidiu fazer a mesma coisa.
Em primeiro lugar, porque morava numa cidade mui-
O humor do cartum reside na to menor que o Rio, no qual as medidas de seguran-
ça não eram tão rigorosas. Depois, não recorreria a
quadrilha nenhuma, coisa que, segundo imaginava,
tornava a operação vulnerável. Em terceiro lugar, não
a) hesitação do médico em relação ao diagnóstico. tinha outra opção: não sabia quase nada, e era certo
que seria reprovada. Por último, havia uma coinci-
b) ambiguidade do termo usado pelo médico. dência favorável: estava com antebraço esquerdo en-
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gessado. Nada preocupante, na verdade até poderia
ter tirado o gesso, mas não o fizera, o que se revelara
providencial: agora contava com um ótimo esconde- Questão 263 - (FCM MG)
rijo para o celular. Assinale a alternativa que NÃO apresenta ideia de
oposição.

§3 Quem mandaria o gabarito? O namorado, claro.


Rapaz inteligente (já estava cursando a faculdade), a) “Apesar do fracasso dos quatro vestibulandos
só teria de perguntar as questões para alguém que que haviam tentado fraudar a prova mediante
tivesse terminado a prova e enviar o gabarito por tor- mensagens pelo celular, ela decidiu fazer a mes-
pedo. Quando fez a proposta ao rapaz, ele pareceu ma coisa.”
um tanto relutante, incomodado mesmo. E no dia do
vestibular ela descobriu por quê. b) “Quando fez a proposta ao rapaz, ele pareceu
um tanto relutante, incomodado mesmo.”

c) “Sinto muito, mas não posso continuar namo-


§4 Quarenta minutos depois de iniciada a prova, ela rando uma pessoa tão desonesta.”
recebeu o tão esperado torpedo. Para sua surpresa,
não continha o gabarito, e sim uma mensagem: “Sin- d) “Para sua surpresa, não continha o gabarito, e
to muito, mas não posso continuar namorando uma sim uma mensagem...”
pessoa tão desonesta. Considere terminada a nossa
relação. PS: Boa sorte no vestibular.” Com o que ela
foi obrigada a concluir: tão importante quanto o tor- Questão 264 - (FCM MG)
pedo é aquele que dispara o torpedo.
Leia a charge:
(SCLIAR, Moacyr. Histórias que
os jornais não contam. Rio de
Janeiro: Agir, 2009. p.97.)

Questão 261 - (FCM MG)


O livro de Moacyr Scliar inspira-se em fatos jornalísti-
cos e contém histórias fictícias, marcadas pela crítica
social, pelo comentário político ou apenas pelo hu-
mor puro e simples. A história apresentada caracteri-
za-se por conter aspectos

a) éticos. (http://www.blogdozebrao.com.br/v1/2015/01/
18/charges-42/. Acessado em 16/09/2018)
b) poéticos.

c) satíricos.
O humor da charge é marcado por
d) didáticos.

a) apresentar um perigo iminente.


Questão 262 - (FCM MG)
b) exibir a polissemia de um vocábulo.
O post scriptum do torpedo pode ser caracterizado
como c) recorrer a uma linguagem coloquial.

d) mostrar um náufrago com um celular.


a) erudito.
b) irônico.
c) moralizante.
d) compassivo.
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TEXTO: 112 - Comuns às questões: 265, 266, 267 Rosalind tomava pouco cuidado em evitar o risco da
radiação. Em 1962, a descoberta do DNA rendeu o
A MULHER POR TRÁS DO DNA Nobel de medicina e fisiologia – para Watson, Crick
e Wilkins. O precoce falecimento de Rosalind evitou
uma disputa, já que o Nobel só pode ser concedido a
O 28 de fevereiro assinalou o quinquagésimo ani- pessoas vivas – no máximo, no número de três. Viva,
versário de uma das mais importantes descobertas estaria ela neste trio? Pergunta interessante, ainda
científicas da História: a estrutura do DNA, o ácido que melancólica. De qualquer forma, a posterida-
desoxiribonucleico, substância responsável pela de fez justiça a Rosalind Franklin: nos últimos anos
transmissão dos caracteres hereditários. Por outro ela foi objeto de vários livros e artigos, filmes, e seu
lado, este 8 de março marca o Dia da Mulher. Preten- nome (junto com o de Wilkins) foi dado ao novo pré-
do juntar essas datas evocando uma figura feminina dio de ciências do King’s College.
que ilustra muito bem o que foi, até há bem pouco
tempo, a difícil trajetória da mulher na ciência. Que
o DNA portava informação genética sabia-se desde A trajetória das mulheres na ciência – território clas-
1943. Mas não se sabia como o fazia, e para isso era sicamente considerado masculino – nunca foi fácil. O
importante saber que desenho tinha, afinal, esse resultado disso é que o número de mulheres cientis-
DNA, de que átomos era formado e como esses áto- tas é pequeno. Mas então surgem figuras luminosas,
mos se dispunham no espaço. Isso desencadeou uma como a de Marie Curie e da própria Rosalind Franklin,
corrida entre centros de pesquisa. Dois deles se des- e mostram esta verdade fundamental: a vocação
tacavam, ambos na Inglaterra: na Universidade de para a ciência não está unicamente no DNA mascu-
Cambridge, trabalhavam Francis Crick e James Wat- lino. Mulher no laboratório não serve só para lavar
son; no King’s College, de Londres, Maurice Wilkins e tubo de ensaio, serve para pesquisar e descobrir. O
Rosalind Elsie Franklin. Esta última veio a se tornar a conhecimento é libertador e é para todos. É a lição
figura mais polêmica (e dramática) da disputa. do Dia das Mulheres. E é a lição da curta e emocio-
nante vida de Rosalind Franklin.

(SCLIAR, Moacyr. A poesia das coisas


De tradicional família judia, Rosalind (Rosy) muito simples. São Paulo: Companhia das Le-
cedo planejou tornar-se cientista – contra a vontade tras, 2012, p. 159-161. Adaptado.)
do pai, para quem ciência não era carreira feminina:
ele queria que a filha trabalhasse como assistente so-
cial e, embora tivesse posses, recusou-se a pagar-lhe
os estudos. Uma tia, porém, assumiu o encargo; Rosy Questão 265 - (FCM MG)
foi em frente e doutorou-se em química por Cambri-
dge. Aos que a conheceram, impressionava pelo ta- O texto é uma crônica, gênero associado diretamen-
lento, pela beleza, pela minuciosa dedicação – e pelo te ao tempo, e foi determinado por uma efeméride.
temperamento: era uma pessoa voluntariosa, difícil, A melhor conceituação desse termo, conforme apli-
e não muito chegada a sexo. Mas, no trabalho, era cação dessa definição no contexto, é:
brilhante. Usando Raios-X para estudar o DNA – as
radiografias que fez eram obras-primas, pela preci-
são e também pela beleza – levantou a hipótese de a) “Diário, livro ou agenda em que se registram os
que a molécula teria a forma de hélice, mas não quis fatos de cada dia.”
adiantar nada sem provas mais concretas. Isso levou
a uma briga com Wilkins, que decidiu mostrar os re- b) “Referência a uma obra que conta, dia por dia, a
sultados de Franklin a Watson – sem o consentimen- vida de uma figura ilustre.”
to de Rosy. “Meu coração bateu mais forte quando
vi as radiografias”, disse Watson. As imagens foram c) “Anotação dos acontecimentos sujeitos a cálcu-
uma revelação. A partir daí ele e Crick aceleraram as los e a previsão durante o ano.”
pesquisas, e chegaram ao resultado que foi imediata-
mente reconhecido e que os consagrou. d) “Registro dos acontecimentos realizados no
mesmo dia do ano em épocas diferentes.”

Contrariamente ao que sua imagem faria supor, Rosa-


lind reconheceu o triunfo dos colegas e cumprimen-
tou-os por isso. Àquela altura ela já estava em outra
linha de pesquisa, estudando vírus. Mas sua carreira
seria curta. Morreu com 38 anos, em 1958, de câncer
de ovário, o que pode ter sido uma consequência de
seu trabalho: no afã de pesquisar a estrutura do DNA,
136 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 266 - (FCM MG) A mulher, sozinha, sem qualquer ajuda, faz um corpo
inteiro: trilhões de células, diz o Google. E tudo isso,
O provérbio popular sugerido pelo título da crônica pasme, prestando atenção em outra coisa.
é:

Nunca vou me acostumar com isso: enquanto con-


a) “Atrás de um grande homem, há sempre uma versava comigo, a mãe da minha filha produziu
grande mulher” um corpo inteiro dentro do corpo dela. Ao mesmo
tempo em que tomava banho, trabalhava, assistia a
b) “Entre marido e mulher nunca metas a colher.” séries, ela fez, como se nada fosse, braços, pernas,
c) “Do homem a praça, da mulher a casa”. orelhas, olhos, pulmões, coração, fígado, estômago,
bexiga, fez coisas que ela não sabe nem pra que é
d) “Beleza não põe mesa.” que servem, fez baço, pâncreas, vesícula, córnea. Da
minha parte, tenho dificuldade em prestar atenção
num filme enquanto faço um misto-quente. Imagina
se eu tivesse que fazer um cérebro.
Questão 267 - (FCM MG)
Assinale a passagem do texto em que haja mais a
presença da opinião do que da informação. E não para por aí. Depois que o bebê nasce, a mãe
ainda faz o leite. E ela não precisa ter estudado al-
quimia nem nutrição nem culinária: o leite que ela
faz é perfeito e tem tudo de que o bebê precisa. E
a) “As imagens foram uma revelação.” ela faz do próprio corpo uma lanchonete aberta 24
horas, um bandejão popular que produz uma seiva,
b) “O conhecimento é libertador e é para todos.”
até hoje, inimitável.
c) “Que o DNA portava informação genética sabia-
-se desde 1943.”
Nesse processo todo, sobra pra gente o resto. Mas
d) “Àquela altura ela já estava em outra linha de
alto lá: a coadjuvância é, também, uma arte. Não vou
pesquisa, estudando vírus.”
dizer que é fácil. Chitãozinho sabe das dificuldades
de se fazer segunda voz. Robin, coitado, precisa se
humilhar numa vestimenta pra lá de ridícula.
TEXTO: 113 - Comuns às questões: 268, 269
VIVA A NOSSA COADJUVÂNCIA
No nosso caso, a coadjuvância envolve coisa pra ca-
ramba: amar profundamente, botar pra arrotar, tro-
car fralda, ninar, cantarolar, esterilizar, mas, sobre-
Todo trabalho de grupo tem uma pessoa que traba- tudo, lembrar todo dia que a mãe tá operando um
lha mais. Nunca me dediquei tanto a nada na minha milagre. Se dependesse de mim, tava ninando uma
vida quanto à paternidade, mas, ainda assim, é pre- pedrinha de ácido úrico.
ciso ser sincero. Por mais esforçado que seja o pai,
nos primeiros meses de vida do bebê, somos como (DUVIVIER, Gregorio. Folha de São Paulo.
Chitãozinho, Sancho Pança, Robin, Pumba e aquele 25/2/2018. https://www1.folha.
supergêmeo, coitado, que só sabe virar água, en- uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/
quanto a irmã vira qualquer tipo de animal existente 2018/02/viva-a-nossa-coadjuvancia.
ou mitológico. Existe, na paternidade, uma grande Acessado em 26/02/2018)
desigualdade de superpoderes.

Questão 268 - (FCM MG)


Mil séculos de avanços científicos e o homem ainda
não sabe fabricar um rim, mesmo com todo o dinhei- O humor está presente em:
ro do mundo, dentro do maior laboratório que há. A
natureza é sábia, não sei se o homem aguentava essa
pressão. Tudo o que o meu corpo produziu na vida a) “Todo trabalho de grupo tem uma pessoa que
inteira foi uma pedrinha de dois milímetros de ácido trabalha mais.”
úrico. E até hoje reclamo da dor.
b) “No nosso caso, a coadjuvância envolve coisa
pra caramba.”
www.PROJETOREDACAO.com.br - 137
c) “Tudo o que o meu corpo produziu na vida intei- c) É preciso um esforço para detectar fake news e
ra foi uma pedrinha de dois milímetros de ácido combatê-las e isso não é impossível. Cuidados
úrico.” simples podem ajudar a mudar esse cenário e o
melhor caminho para combater as notícias fal-
d) “Nunca me dediquei tanto a nada na minha vida sas é o senso crítico, a educação, a transparência
quanto à paternidade, mas, ainda assim, é pre- e o exercício de checagem de fatos.
ciso ser sincero.”
d) Uma notícia falsa, com um título sensacionalista
ou com um corpo de texto que careça de fontes
concordando com determinadas opiniões pré-
Questão 269 - (FCM MG) -estabelecidas, será facilmente compartilhada
porque as pessoas estão, cada vez mais, em bus-
A última frase do texto: “Se dependesse de mim, tava
ca de argumentos que justifiquem seus posicio-
ninando uma pedrinha de ácido úrico.”, sugere que
namentos.

a) as mães ocupam um lugar de destaque na famí-


lia. TEXTO: 114 - Comuns às questões: 271, 272, 273,
274, 275
b) o autor reconhece a superioridade das mães.
O MUSEU MAIS AMADO MORREU (...)
c) os pais são tão importantes quanto as mães.

d) os pais são mais importantes que as mães.


Domingo sempre tinha fila na porta do Museu Na-
cional. Famílias vindas de todos os cantos do Rio de
Janeiro, e até de outros estados, empolgadas para vi-
Questão 270 - (FCM MG) sitar meteoros, múmias, dinossauros, indígenas. Fo-
tografias, crianças correndo, gritaria, risadas. O Mu-
Com o advento e a evolução da comunicação via in- seu era corpo vivo e pulsante, um jovem senhor com
ternet, a circulação de notícias aumentou bastante. 200 anos de existência. Muitos cariocas, sobretudo
No entanto, nem sempre essas informações são ver- das periferias da cidade, tinham o Museu da Quinta
dadeiras, já que não há fiscalização e, quando há, ela da Boa Vista como seu quintal, por vezes a única ex-
é falha. O perigo de notícias falsas e mentiras é maior periência de visita a um museu em suas vidas.
hoje do que era no passado. A expressão fake news,
importada da língua inglesa nos últimos dois anos, Dentro do museu visitado, havia outro museu, a
partia de personalidades e instituições que queriam primeira instituição científica do Brasil. O museu das
descreditar críticas feitas a elas por jornalistas. Essa pesquisas, biblioteca, acervos, documentos, aulas de
prática tem como objetivo desviar de potenciais po- pós-graduação e extensão, laboratórios, reserva téc-
lêmicas e evitar responder sérias investigações. nica. Era comum, durante nossas aulas ou reuniões,
ouvirmos passos de estudantes das escolas públicas
sobre nossas cabeças, nos passeios-aulas que ocor-
riam nas exposições. Barulho que não nos deixava es-
Com relação aos danos que essas notícias podem
quecer de nosso compromisso público, de produzir e
causar às instituições e a influência negativa que po-
compartilhar ciência.
dem trazer para o equilíbrio das relações entre os
povos, são corretas as afirmativas a seguir, EXCETO: Vivo o cotidiano do Museu Nacional desde 1996.
Fui assistente de pesquisa do antropólogo Gilberto
Velho, grande mestre e referência mundial da Antro-
a) Espalhar notícias falsas não é um problema éti- pologia. Ali cursei meu doutorado e meu pós-dou-
co, pois isso já existia em séculos anteriores, torado. Em 2013, ingressei em seu quadro como
mas hoje tem um potencial maior de causar ten- professora do Programa de Pós-Graduação em An-
são e conflitos. Notícias falsas têm o poder de tropologia Social, que este ano completa 50 anos.
caminhar com os próprios pés, apelando para o Nossa biblioteca era uma das mais importantes na
emocional humano. área de Ciências Sociais da América Latina. Reunía-
mos um inigualável acervo de pesquisas sobre po-
b) Fake news são notícias e informações falsas — pulações indígenas, camponeses, migrantes, entre
ou modificadas — veiculadas na internet com o outros temas, resultado de décadas de trabalho de
propósito de manipular pessoas e eventos. Elas nossos pesquisadores mais velhos, nossos mestres.
também estão ligadas ao sensacionalismo, que Que história poderemos contar a partir de hoje? Que
visa chamar a atenção e obter “likes” para gerar narrativas se perderam para sempre?
lucro.
138 - www.PROJETOREDACAO.com.br
O Museu mais amado morreu. Foi assassinado. a) III, IV e V.
Estivemos hoje velando seus escombros, em silêncio
e lágrimas. É uma perda irreparável. Como se hou- b) I e II.
véssemos sido bombardeados numa guerra.
c) IV e V.
Sempre vivemos na precariedade, recebendo ver-
bas insuficientes para um funcionamento digno da d) I, II e III.
importância da instituição. Nos últimos dois anos, e) II e III.
a situação se agravou. A morte do Museu Nacional,
em meio a chamas que não podiam ser apagadas por
bombeiros que não tinham água para trabalhar, é o
retrato mais fiel de nosso país. Nossa elite mesqui- Questão 272 - (FCM PB)
nha, que se delicia em museus parisienses, prefere
investimentos mais rentáveis. Por aqui, museu bom Quanto ao tema abordado, pode-se afirmar que o
é elefante branco irrelevante que garante bons negó- texto
cios a empreiteiras e governos.

Assim como nosso amado museu, a universida-


de pública agoniza, a Biblioteca Nacional corre ris- a) evidencia a história de um personagem fictício
co, e tantos outros patrimônios culturais e artísticos utilizado como artifício na educação das crian-
podem ser extintos. O Estado brasileiro precisa ser ças e dos jovens brasileiros.
público, voltado aos interesses da população e não b) destaca a importante contribuição do Museu
um ente sequestrado pelos donos do capital. Cultura, Nacional essencialmente como objeto de inte-
educação e ciência não são gastos ou desperdício de resse de outros países.
recurso público são investimento para a construção
de uma sociedade mais justa, humana e feliz. c) ressalta o descaso do poder público, no Brasil,
com a preservação do nosso patrimônio cultural
Está na hora de repensarmos o que queremos e artístico e com o desenvolvimento do conheci-
para nosso país, ou não haverá futuro a ser contado. mento científico.
Nem mesmo em museus.
d) prevê um futuro menos sombrio para a pesquisa
(FACINA, Adriana.Radis .Nº 193.Out.2018) científica já que, agora, o sentimento de patrio-
Adriana Facina: historiadora, antropóloga e tismo despertou em nossos governantes.
professora do Programa de Pós-Graduação
em Antropologia Social do Museu Nacio- e) sugere que a construção dos famosos “elefantes
nal UFRJ. Texto publicado original- brancos” é um mal necessário para o enriqueci-
mente no jornal O Dia (4/9). mento da arquitetura brasileira.

Questão 271 - (FCM PB) Questão 273 - (FCM PB)


Segundo o texto, o Museu Nacional se oferecia ao O fragmento “Está na hora de repensarmos o que
público como queremos para nosso país, ou não haverá futuro a
ser contado. Nem mesmo em museus” traduz a ideia
de que
I. tão somente uma possibilidade de entreteni-
mento.
a) os nossos museus nunca terão histórias para
II. um espaço de produção do conhecimento cien- contar.
tífico.
b) o futuro independe das nossas escolhas no pre-
III. um lugar capaz de preservar os fatos marcantes sente.
da história do Brasil.
c) o brasileiro não precisa se preocupar com os
IV. um espaço para o estudo exclusivamente em ní- dias vindouros.
vel de pós-graduação.
d) o passado e o futuro mantêm entre si uma rela-
V. uma instituição cujo acervo dizia respeito ape- ção de dependência.
nas a temas nacionais. Está (ão) correta(s) ape-
nas: e) um traço da nossa cultura é o respeito à preser-
vação da nossa história.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 139
Questão 274 - (FCM PB)
No trecho em destaque no fragmento “O Museu era
corpo vivo e pulsante, um jovem senhor com 200
anos de existência”, ocorre

(https://idec.org.br)
a) uma ambiguidade de sentido.

b) uma comparação implícita.


Os dados da pesquisa permitem concluir que
c) uma comparação explícita.

d) uma ironia.
a) a maioria dos consumidores não compreende
e) a atenuação de um pensamento desagradável. as informações veiculadas nos rótulos dos pro-
dutos, principalmente por causa da letra muito
pequena.
Questão 275 - (FCM PB) b) a maioria dos consumidores compreende o que
lê nos rótulos, mas reconhece que o tamanho
Nos fragmentos “Que história poderemos contar a da letra e os termos técnicos e números prejudi-
partir de hoje?” “Que narrativas se perderam para cam a compreensão.
sempre?” a articulista se dirige
c) a dificuldade de compreensão da maioria dos
consumidores decorre da poluição visual dos ró-
a) aos funcionários daquela instituição. tulos e da necessidade de cálculo da porção.

b) aos visitantes assíduos do Museu. d) os consumidores, de maneira geral, compreen-


dem o que leem nos rótulos dos produtos, por
c) aos pesquisadores mais velhos. isso julgam dispensáveis mudanças nas embala-
gens.
d) aos alunos da rede pública.
e) os consumidores não relacionam a dificuldade
e) à sociedade brasileira. de compreensão dos rótulos a critérios de letra
pequena ou necessidade de cálculo da porção.

Questão 276 - (IBMEC SP Insper)


Questão 277 - (IBMEC SP Insper)
Analise os dados obtidos a partir de uma pesquisa
cujo objetivo era identificar as dificuldades dos con- A internet se espalhou em menos tempo que ou-
sumidores para entender informações nutricionais tras mídias, mas, ao atingir a marca dos 50 milhões
dos rótulos de produtos. de usuários, estava bem menos presente nos lares
do que qualquer um dos outros sistemas. É claro que
hoje ainda há no mundo muito mais telefones e bem
mais aparelhos de rádio e tevê do que internautas
surfando. E isso não vai mudar num futuro próximo,
até porque telefones, rádios e tevês são (e serão),
por algum tempo ainda, muito mais baratos que um
computador. No começo do século 21, contam-se no
mundo 7 bilhões de humanos e cerca de 600 milhões
de internautas. Cerca de 50% da população mundial
ainda não tem telefones, que já estão por aí há mui-
to tempo. Jamais, em qualquer circunstância, uma
tecnologia, mesmo o arado ou a foice, foi disponível
para todos os humanos. Imaginar um mundo linear,
inteiramente plano e pleno em suas necessidades é
uma das mais insistentes utopias humanas. Jamais
veremos toda uma humanidade conectada, letrada,
com os mesmos padrões de comportamento e de
140 - www.PROJETOREDACAO.com.br
conhecimento. Nem a palavra escrita, que já tem 5 TEXTO: 115 - Comuns às questões: 278, 279
mil anos, nem o livro, seu mais perfeito hardware,
foram capazes desta proeza. Independentemente de
fatores como a distribuição de renda e os níveis de
escolaridade, os internautas continuarão a ser parte
do mundo, como os letrados. É nessas horas que o
termo “vanguarda” e o conceito de inovação distin-
guem uns de outros, e uma parte do todo se destaca,
mesmo não sendo maioria ou regra dominante.

(“A sociedade da informação”. https://super.abril.


com.br, 31.10.2016. Adaptado.)

Ao analisar o impacto das tecnologias no cotidiano


da humanidade, o texto enfatiza que elas
(André Dahmer. “Malvados”. Folha de S.Paulo,
05.04.2019.)

a) romperão, em um breve espaço de tempo, as


utopias humanas, superando as principais difi-
culdades de acesso aos recursos, como a distri- A Terra, como um todo, está a ser destruída pelos
buição de renda e os níveis de escolaridade. humanos, que acabarão por ser as principais vítimas
do desastre, provocado pelos próprios e pela ganân-
b) tendem a construir um mundo linear, todo pla- cia dos interesses. Porque os grandes Estados e a
no e pleno, ideal perseguido há tempos e que, própria ONU deixaram de se interessar pelo ambien-
ao longo da história, tem deixado de ser uma te. Desde a reunião frustrada da Dinamarca. O que é
utopia, do que resultará um padrão único de de uma irresponsabilidade inaceitável. Tenho já, nes-
comportamento e de conhecimento. ta mesma coluna, chamado a atenção para esta tão
grave — e urgente — questão.
c) estão disponíveis para os seres humanos, mas
será impossível que todos eles sejam conecta- (Mário Soares. “Os seres humanos estão a destruir
dos e letrados, uma vez que se distribuem de a Terra”.
forma heterogênea no mundo quanto a suas www.dn.pt, 11.02.2014. Adaptado.)
possibilidades e a seus interesses.

d) estão distantes da maioria dos seres humanos,


que nutrem tímido interesse pelos avanços tec- Questão 278 - (IBMEC SP Insper)
nológicos, como o prova o livro, que, ainda hoje,
Analisando a forma como os recursos expressivos são
não é realidade para todos, independentemente
usados para veicular a ideia de destruição da Terra,
de sua disponibilidade.
conclui-se que
e) poderão estar presentes na vida de todos os
seres humanos muito brevemente, já que es-
tes são imprevisíveis e buscam constantemente a) a tira sugere que outras espécies alienígenas es-
estar na vanguarda, dando prioridade às inova- tão destruindo a Terra, o que se comprova com a
ções no mundo contemporâneo. frase “Então, juntem-se a nós!”, do que decorre
o humor nesse gênero; o texto de Mário Soares
é subjetivo, como se comprova pelo emprego da
primeira pessoa, razão pela qual os argumentos
apresentados se mostram frágeis.

b) os dois textos reforçam a preocupação do ser


humano com os perigos a que o planeta está
atualmente exposto, por ações humanas e natu-
rais, e, ainda que pertençam a diferentes gêne-
ros, tratam o tema com o mesmo humor cáus-
tico, pois consideram inevitável a destruição da
raça humana.

c) a tira discute, com a leveza própria do gênero a


que pertence, a possibilidade de o ser humano
www.PROJETOREDACAO.com.br - 141
encontrar em seres de outros planetas respostas desejou expor, e que faz da construção novelística
para seus grandes problemas com o meio am- mero pretexto, já que não soube transcender o tom
biente; o texto de Mário Soares, em tom alar- esquemático, de parábola. Mas, considerada a situa-
mista, analisa o impacto da ação humana, fruto ção brasileira do tempo, daí provém igualmente o
da própria ganância. alcance humano e social que consagrou o livro, des-
tacando-o como panfleto corajoso e viril, que pôs em
d) a tira, dada a intenção de humor própria do gê- relevo ante a imaginação popular situações intolerá-
nero, explora o tema pelo viés da ironia, assina- veis de cativeiro. Numa literatura tão aplicada quan-
lando o descaso humano com o planeta; o texto to a nossa, não é qualidade desprezível. Tanto mais
de Mário Soares também evoca essa desaten- quanto o romancista timbrou em passar da descrição
ção, todavia fundamentando-a com a referência à doutrina, pondo na boca de personagens (sobretu-
ao posicionamento que países vêm tomando em do na parte decorrida em Recife) tiradas e argumen-
relação ao assunto. tos abolicionistas.
e) os dois textos exploram de forma pouco precisa (Antonio Candido. Formação da literatura brasileira,
o que seria, de fato, a destruição da Terra, pois 2000. Adaptado.)
a tira rechaça, graças ao humor, a ideia de uma
invasão ao planeta, enquanto o texto de Mário
Soares autoriza afirmar que a reunião da Dina-
marca frustrou os interesses de países e organi- Questão 280 - (IBMEC SP Insper)
zações.
As considerações do crítico literário Antonio Candi-
do em relação à obra de Bernardo Guimarães têm o
objetivo de
Questão 279 - (IBMEC SP Insper)
Na organização das informações dos textos a que
pertencem, as passagens “Então, juntem-se a nós!” a) ressaltar o estilo inovador da obra, notadamen-
(tira) e “que acabarão por ser as principais vítimas do te panfletário, o que instigou na imaginação
desastre” (texto) estabelecem, respectivamente, re- popular o medo de que os escravos fossem li-
lações de sentido de bertados, conforme apregoava o ideário do Ro-
mantismo brasileiro na época.

b) dimensionar a obra em relação a outros roman-


a) explicação e restrição. ces do Romantismo brasileiro, criticando-lhe a
desarmonia em relação a eles, ressaltando-lhe,
b) causa e explicação. no entanto, o aspecto positivo de insuflar o es-
pírito abolicionista.
c) conclusão e conclusão.
c) desqualificar a obra que, embora tenha sido
d) explicação e consequência. consagrada pelo público da época, a exemplo do
e) conclusão e consequência. que se viu com as de outros escritores do Ro-
mantismo brasileiro, não se colocou criticamen-
te em relação à causa abolicionista.

TEXTO: 116 - Comum à questão: 280 d) questionar a validade da obra no cenário do Ro-
mantismo brasileiro, uma vez que grande parte
A Escrava Isaura foi composta fora do enqua- dos escritores escreviam com maior peso de
dramento habitual dos outros romances e é algo realidade, o que lhes permitia combater aberta-
excêntrica em relação a eles: conta as desditas de mente a escravidão vigente no país.
uma escrava com aparência de branca, educada, de
caráter nobre, vítima dum senhor devasso e cruel, e) mostrar que a obra do Romantismo brasileiro
terminando tudo com a punição dos culpados e o estava desajustada ao pensamento social da
triunfo dos justos. A narrativa se funda em pessoas e época, uma vez que se mostrava favorável à ma-
lugares alheios à experiência de Bernardo Guimarães nutenção do sistema escravista, amplamente
— fazenda luxuosa de Campos, a cidade do Recife — combatido por outros escritores.
reclamando esforço aturado de imaginação. O resul-
tado não foi bom: o livro se encontra mais próximo
das lendas que dos outros romances, quando o seu
próprio caráter de tese requeria maior peso de rea-
lidade.

O malogro da obra é devido em parte à tese que


142 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 281 - (IBMEC SP Insper) d) jeito natural de conviver com a ancestralidade e,
ainda que os livros digam que os antepassados
A tradição oral tem a função de preservar histó- nada têm a ensinar, a realidade mostra o contrá-
rias, de garantir às novas gerações indígenas ou afro- rio.
-brasileiras o conhecimento de seus antepassados.
Para muitos grupos a oralidade é a única forma de e) expediente produtivo para o conhecimento das
resgatar e preservar sua ancestralidade. Hoje, mais culturas passadas, o qual se mostra cada vez
de um milhão de brasileiros não possuem o portu- mais arraigado no cotidiano das novas gerações
guês como sua língua materna. Temos mais de 200 brasileiras.
línguas em nosso território, onde muitas são indíge-
nas e não possuem qualquer tradição escrita. Essas
línguas aos poucos vêm se perdendo. A cada ano a
preservação pelas novas gerações tem se tornado Questão 282 - (IBMEC SP Insper)
um desafio maior. Atualmente, milhares de brasilei-
ros com ancestrais afro-brasileiros e indígenas des-
conhecem sua própria história ou acreditam não ter
uma de fato.

Quando nossas histórias não estão em livros e as


únicas referências a nossos ancestrais estão fundadas
em frases como: “Os europeus chegaram ao Brasil
e…”, “Milhares foram mortos…” ou “Tantos foram es-
cravizados…”, é compreensível acreditar que nós não
carregamos uma história para além de genocídios e
sofrimentos e pensar que nossos ancestrais não têm (Duke. www.otempo.com.br, 20.02.2019.)
nada a nos ensinar… Mas eles têm o que ensinar e já
vêm nos ensinando há muito tempo, não apenas para
nós (afro-brasileiros e indígenas) mas para toda uma
Na fala da personagem, identifica-se
sociedade. O conhecimento e as práticas religiosas,
o uso de plantas medicinais, o cultivo do alimento, o
combate às pragas, as danças, as histórias, a pesca, a
caça, tudo isso nos foi passado através da oralidade, a) crítica ao uso do aplicativo para disseminação de
não existem livros que nos expliquem como é a reza mensagens de ódio, reforçada pelo jogo de pala-
que nossa bisavó fazia ou o poder da planta que ela vras “áudio” e “ódio”.
utilizava, mas nem por isso os desconhecemos.
b) descaso com o uso do aplicativo, considerando-
(Fabiana Pinto. “Tradição oral e a preservação de -se que ele regularmente apresenta problemas,
culturas”. o que gera “ódio” nas pessoas.
www.revistacapitolina.com.br, 24.03.2016. Adapta- c) opinião contraditória em relação ao comparti-
do.) lhamento de áudio, só aceitável para veiculação
de mensagens de “ódio”.

d) reconhecimento de que mensagens de áudio


As informações do texto evidenciam que a tradição são necessárias, o que se comprova com a rele-
oral é um vância desse recurso para disseminar o “ódio”.

e) ambiguidade, pois não se sabe ao certo o que é


problema, devido ao trocadilho provocado pelo
a) caminho pouco apropriado para resgatar e pre-
uso de “áudio” e “ódio”.
servar a ancestralidade, já que, atualmente, os
livros podem conservar as informações com fi-
dedignidade.
TEXTO: 117 - Comuns às questões: 283, 284
b) modo de salvaguarda cultural do conhecimento
produzido, sobretudo em um país tão marcado Futuro do pretérito
pela diversidade étnica e linguística como o Bra-
sil.

c) meio de preservação de culturas perdido ao lon- Não sei como é pra vocês, mas eu acho complica-
go das gerações, razão pela qual se gerou desco- do ser brasileiro. Sinto-me como alguém que casou
nhecimento do passado dos povos colonizado- com uma pessoa cheia de defeitos na expectativa de
res. mudá-la. Por isso a frase “o Brasil é o país do futuro”
www.PROJETOREDACAO.com.br - 143
(livre adaptação que fizemos do título de um livro de se e se e se e se e bota ‘se’ aí” (1º parágrafo) circuns-
Stefan Zweig, “Brasil, um País do Futuro”) vem bem a crevem a análise do autor ao campo da
calhar. O que eu amo não é tanto o país em que vivo,
é uma projeção do que o país poderia ser se... E se e
se e se e se e se e se e se e se e bota “se” aí.
a) atemporalidade.
Às vezes o Brasil é uma esperança, às vezes um
delírio e na maior parte do tempo é apenas uma tris- b) precisão.
te constatação. Impossível nos divorciarmos, contu- c) objetividade.
do: mesmo que eu fosse pras ilhas Fiji eu continuaria
a ser brasileiro. Foi aqui que nasci, é em português d) ordem.
que eu falo, penso, sonho e crio os meus filhos, então
só me resta agarrar-me a esta projeção e amar esta e) conjectura.
ideia vaga do que nós um dia poderíamos ser. (Não é
à toa que conjugo o verbo “poder” no futuro do pre-
térito, esse tempo verbal banhado em melancolia).
TEXTO: 118 - Comum à questão: 285
Meu amigo Gustavo me mostrou outro dia o
anúncio de um apartamento à venda com a seguinte Texto 1
frase: “Grande potencial para reforma!”. Maneira não
muito sutil que a imobiliária arrumou para informar
que o imóvel estava caindo aos pedaços. “O Brasil é o Oprimido entre a projeção mítica do eterno herói
país do futuro” não deixa de ter o mesmo significado: e a perda de papel de protagonista no trabalho e em
se é no futuro que nos realizaremos é porque no pre- casa, o homem enfrenta a encruzilhada. Se a inver-
sente, bem, tá cheio de taco solto, fiação podre, infil- são de funções com as mulheres parece menos pro-
trações e trincas. No entanto, postergando as refor- blema que solução para certos estratos, para outros
mas, aqui vivemos. É muito esquisito ser brasileiro. o resultado é a reinsurgência do velho machismo.
Ainda mais no Brasil, onde 52% das mulheres econo-
(Antonio Prata. www.folha.uol.com.br, 03.03.2019. micamente ativas sofrem assédio.
Adaptado.)
(Paulo Vieira. “Poder analisa a nova percepção da
masculinidade que enfrenta uma encruzilhada com
o fim do protagonismo”.
Questão 283 - (IBMEC SP Insper)
https://glamurama.uol.com.br, 06.04.2019.)
A estratégia argumentativa empregada pelo autor
para mostrar que é complicado ser brasileiro se ba-
seia na
Texto 2

a) comparação do Brasil a um imóvel cujo estado


de degradação não o impede de ser adotado No início do século, as mulheres exerciam um
como lar. papel de quase total submissão aos homens. Trans-
gressora, Tarsila foi na contramão dos costumes da
b) preterição da ideia de deixar o Brasil para esque- época e se separou do primeiro marido, o médico
cer seus vínculos afetivos com o país de origem. André Teixeira Pinto, em 1913, alegando divergências
culturais. Para ela era inaceitável assumir o papel de
c) citação ao livro de Stefan Zweig, reforçando a
dona do lar e abdicar de suas pretensões artísticas.
ideia do promissor Brasil contemporâneo.
E, sem medo de julgamentos, encarou o desquite e
d) alusão ao casamento, metáfora do amor ao Bra- demorou anos, até 1925, para conseguir a anulação
sil, o que permite esquecer rapidamente seus de seu casamento. Só assim conseguiu concretizar
defeitos. sua união com Oswald de Andrade, com quem ficou
entre 1926 e 1930. Depois dele, Tarsila teve outros
e) interpelação à consciência do cidadão, indife- dois companheiros — o último deles, o jornalista Luis
rente às mazelas imutáveis constatadas no Bra- Martins, 21 anos mais jovem do que ela. Eles ficaram
sil. 18 anos juntos.

(Mariana Kid. “Por que Tarsila do Amaral foi uma


mulher à
Questão 284 - (IBMEC SP Insper)
frente do seu tempo?”. https://universa.uol.com.br,
O título do texto e a passagem “E se e se e se e se e 06.04.2019.)
144 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 285 - (IBMEC SP Insper) a) a não contratação de empregados domésticos
com carteira assinada constitui um perfil econô-
A leitura comparativa dos textos permite concluir mico não delineado pela PNAD Contínua realiza-
que a informação comum a ambos diz respeito da em 2015.

b) a aprovação da PEC das domésticas impactou


na redução de contratação dos empregados do-
a) à aceitação natural em relação ao machismo do mésticos, em função dos benefícios a que passa-
século passado até os dias de hoje. ram a ter direito.
b) ao arraigamento do machismo na cultura nacio- c) os direitos garantidos pela PEC das domésticas
nal ao longo de sua história. reforçaram na sociedade as contratações com
c) ao alcance inexpressivo do machismo ao longo carteira assinada, mesmo em meio à crise eco-
dos tempos na sociedade brasileira. nômica.

d) às contradições evidentes no enfrentamento do d) as oscilações em relação aos empregados do-


machismo, através dos tempos. mésticos com registro em carteira e aos sem re-
gistro têm se mostrado constantes nos últimos
e) à luta constante das mulheres contra o ressurgi- anos, e isso é comum na economia nacional.
mento do machismo na sociedade.
e) os dados apresentados sinalizam uma possível
inversão no cenário das contratações no país,
com ênfase no maior número de registro dos
TEXTO: 119 - Comum à questão: 286 empregados domésticos.

Em três anos, total de domésticas com carteira cai


15%
Questão 287 - (IBMEC SP Insper)

Nos últimos três anos, mais de 300 mil emprega-


dos domésticos perderam o registro na carteira de
trabalho, mesmo após a regulamentação dos direi-
tos da categoria. No fim do ano passado, o número
de profissionais registrados foi impactado pela crise
e teve seu pior resultado desde 2015. Esse contin-
gente caiu 15% no período, de 2,1 milhões para 1,78
milhão.

Enquanto o total de empregados domésticos re-


gistrados caiu, a quantidade de trabalhadores sem
carteira assinada cresceu 7,2%, indo de 4,2 milhões
no fim de 2015 para 4,5 milhões em dezembro do
ano passado, de acordo com dados da Pesquisa Na-
cional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD
Contínua), do IBGE, separados pela consultoria LCA. (Fabiane Langona. “Viver dói”. https://folha.uol.
com.br, 30.03.2019.)
Em 2013, os benefícios para a categoria passaram
a ser previstos na Constituição, com a aprovação da
chamada PEC das Domésticas. Essas medidas foram
Observando-se o plano imagético da tira, é coerente
regulamentadas dois anos mais tarde, garantindo
concluir que a arte da ilustradora Mariza Dias Costa
para esses trabalhadores direitos como jornada de
trabalho, horas extras e Fundo de Garantia do Tempo
de Serviço (FGTS).
a) marcou-se pela incoerência, ao deixar de lado o
(Douglas Gavras. https://economia.estadao.com.br, mundo feminino.
06.04.2019. Adaptado.)
b) centrou-se em aspectos lúdicos, sem intenção
Questão 286 - (IBMEC SP Insper) de romper com as estruturas de poder.
O último parágrafo do texto permite inferir que c) materializou a fertilidade imaginativa, retratan-
do fatos corriqueiros.

www.PROJETOREDACAO.com.br - 145
d) transpôs os padrões estabelecidos, criando ima- dúvidas dos alunos e compartilhar tarefas.
gens audaciosas e violentas.

e) expressou o poder social instituído, enfatizando


sua necessidade na organização do mundo. TEXTO: 120 - Comuns às questões: 289, 290

Questão 288 - (IBMEC SP Insper)


Nas minhas andanças como consultor em tecno-
logias educacionais, tenho notado que o WhatsApp
tem sido cada vez mais adotado como uma versátil
ferramenta de comunicação nas escolas — não tinha
como ser diferente, afinal, só no Brasil, o aplicativo
contabiliza mais de 100 milhões de usuários!

Um dos exemplos é de Wagner Soeiro, professor (https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/nova/


de Geografia na EM Darcy Ribeiro, em uma escola 1610368173022699-charges-setembro-2018.
pública de São José do Rio Preto, no interior de São Acesso em 16/9/2018)
Paulo. Ele criou um grupo para cada classe e usa o
aplicativo para tirar dúvidas sobre a disciplina e com-
partilhar as tarefas de casa. Mensagens com gírias
típicas das comunicações virtuais e respostas em áu- Questão 289 - (IFAL)
dio são permitidas. O importante é saber se o aluno
aprendeu o conteúdo. Esporadicamente, ele ainda Marque a alternativa correta. O propósito comunica-
envia desafios para os grupos, estimulando que se tivo da charge acima é:
aprofundem em determinados temas. “Com a faci-
lidade de contato, aumentamos o número de alunos
que entregam suas tarefas e trabalhos”, conta. Afinal,
a) narrar um fato que aconteceu no Brasil, com
as desculpas de que não sabiam que tinham lição ou
menção a personagens reais.
de que esqueceram a data de entrega acabaram, já
que, com o aplicativo, é possível saber se uma pessoa b) apresentar uma estatística, especificamente, de
recebeu a mensagem e se a leu. dados sobre a leitura no Brasil.
(“Como usar o WhatsApp na escola”. c) informar sobre a importância de se lerem jor-
nais.
https://novaescola.org.br, 26.07.2016. Adaptado.)
d) fazer uma crítica social relativa a um dos índices
de desenvolvimento humano no país.
A experiência de aprendizagem apresentada no texto
e) descrever as diferenças existentes entre as pro-
mostra o aplicativo WhatsApp como
fissões, que estão associadas ao nível de leitura
dos sujeitos.

a) uma possibilidade de ampliação do conheci-


mento, por meio de uma interação colaborativa
entre os alunos participantes.
Questão 290 - (IFAL)
Levando-se em consideração as linguagens verbal e
b) uma forma de reduzir a capacidade intelectual
não verbal, presentes na charge, indique qual das al-
dos alunos, já que nela se permitem gírias típi-
ternativas abaixo não apresenta uma leitura possível
cas das mensagens virtuais.
do texto.
c) uma nova forma de monitoramento da dedica-
ção dos alunos aos estudos, deixando-se para
segundo plano a relação com o conhecimento. a) A charge estabelece uma relação entre posse de
bens econômicos e competência leitora.
d) um desafio de difícil enfrentamento para os alu-
nos, já que os grupos são constantemente ex- b) Ironiza-se, no texto, o fato de se poder compro-
postos a novos temas. var, de forma explícita, na realidade, o que se ve-
rifica na mensagem lida, no primeiro quadrinho,
e) um recurso de alcance pedagógico limitado, já
pela personagem que usa óculos.
que o objetivo do seu uso é tão somente tirar
146 - www.PROJETOREDACAO.com.br
c) Os efeitos de sentido desse texto seriam outros, sempre. Antes de falar procure ouvir, muitas respos-
se ele fosse lido da direita para a esquerda, o tas podem ser adquiridas neste momento. Imaginar
que mudaria sua progressão temática. que você está sempre certo, além de ser chato, não
te ajuda a melhorar.
c) Os prédios que aparecem no último quadro re-
forçam, na imagem, o contraste socioeconômico Seja sincero, em amor: Muitas vezes não é o que
e cultural explicitado na charge. falamos, mas a forma como escolhemos passar o que
desejamos. Se você ouvisse o que tem a dizer, como
e) Como ideia central, o texto apresenta uma exal- se sentiria?
tação à capacidade de ler que algumas pessoas
têm, mesmo sendo analfabetas. Por fim, lembre-se, se podemos amar o outro
quando aprendemos a nos amar, experimente.

(http://blog.tnh1.com.br/vamosfalardagente/discu-
TEXTO: 121 - Comum à questão: 291 tir-a-relacao-realmentevale-
Discutir a relação realmente vale a pena? a-pena/. Acesso em 17/9/2018)

Relacionar-se com outra pessoa exige paciência, Questão 291 - (IFAL)


flexibilidade, vontade de dar certo e uma visão em-
bevecida de amor. A comunicação sempre foi e será Conforme se pode depreender do texto, somente
a chave do sucesso nas relações afetivas, aquele que não se pode afirmar que:
a conquistarem estarão passos à frente no quesito
maturidade emocional. Pesquisas apontam que são
as mulheres que iniciam as DRs, mas homens tam-
bém acham importante falar sobre os incômodos e a) conforme pesquisas, homens e mulheres acham
comportamentos inadequados, mesmo sendo uma importante discutir a relação, embora as primei-
minoria neste assunto. ras tendam a iniciar as discussões com mais fre-
quência.
Os casais precisam entender que as diferenças
existem e junto com elas uma razão de ser, mas lem- b) a maturidade emocional envolve, para a sua
bre-se, nem tudo precisa virar motivo de DR ou dis- existência, uma boa qualidade na comunicação
cussão, afinal de contas, alguns detalhes podem ser no âmbito das relações afetivas.
adaptados ou até mesmo relevados. Adaptar-se ao c) nem tudo precisa virar razão para o casal dis-
estilo do outro exige paciência, bom senso e com- cutir a relação, incluindo assuntos relacionados
preensão, não estamos aqui para suprir as expecta- aos pontos de divergências e temas que incomo-
tivas e muito menos para nos tornarmos uma cópia dam.
fiel do outro.
d) entre os casais, as diferenças existem; mas é
Os pontos divergentes merecem ser comentados possível adaptar-se ao estilo do outro, manten-
e assuntos que nos incomodam precisam ser expos- do-se, contudo, as características da própria
tos, para que alternativas possam surgir e a plenitude personalidade.
na relação possam sempre existir. Algumas dicas são
fundamentais neste processo: e) antes de se discutir a relação, é importante, en-
tre outros, saber o que deverá ser dito, escolher
Escolha o melhor momento e lugar para essa con- bem o momento e ouvir o outro.
versa: Atenção é um bem raro hoje em dia, então evi-
te elementos de distração.

Pense o que vai dizer: Muitas vezes não nos preo- TEXTO: 122 - Comum à questão: 292
cupamos como o outro vai receber aquilo que temos
a falar. Colocar-se no lugar do outro além de elegan- Nomes de ruas dizem mais sobre o Brasil do que
te, evita novos desgastes. você pensa

Crie um momento adequado: Nada de conversar Murilo Roncolato, Daniel Mariani,


quando ambos estiveram cansados, ocupados, fa-
zendo algo que gostam muito ou quem sabe antes de Ariel Tonglet e Wellington Freitas
dormir, ser estratégico conta muito para o resultado
final.

Aprenda a ouvir: O outro sempre tem algo a dizer, Você provavelmente não é o responsável pela es-
colha dos nomes do seu país, Estado, cidade ou rua,
www.PROJETOREDACAO.com.br - 147
mas as motivações atreladas a todos eles, queira você Questão 292 - (IFAL)
ou não, fazem parte da sua identidade. O professor
da USP e diretor no Instituto Histórico e Geográfico Sobre o texto acima, pode-se afirmar que:
de São Paulo, Jorge Cintra, explica que os fatores que
influenciam a denominação de ruas, avenidas e pra-
ças mudam ao longo do tempo. a) Os autores minimizam a importância dos nomes
Homens ainda dão nome à maior parte dos via- de logradouros na construção de nossa identi-
dutos (88,2%), avenidas (87,1%), parques (86,9%) dade.
e praças (85,4%). Enquanto nomes femininos têm b) A religiosidade do brasileiro exerce um papel
participação um pouco melhor, sem nunca chegar a importante na designação de ruas, avenidas
30%, em vilas (29,6%), passagens (27,2%), escadarias e praças. Tal fenômeno se pode comprovar ao
(24,3%), servidões (24,3%) e vielas (24,0%). “É es- perceber-se a popularidade do nome de Santos
tranho, mas é preciso levar em conta também que Dumont.
na vida pública das cidades brasileiras do passado, o
homem é quem poderia se destacar. A mulher ficava c) O especialista entrevistado entende que o mo-
em casa. Assim, é claro que mais homens serão reco- vimento pelo equilíbrio entre os gêneros na
nhecidos como pessoas notáveis. Há mulheres como nomeação dos logradouros é artificial, uma vez
Princesa Isabel e Maria Quitéria, mas são exceções”, que homens são naturalmente mais reconheci-
opina o professor. dos como pessoas notáveis.
Por aqui, dos 30 primeiros nomes mais populares d) A lei criada no Rio de Janeiro ainda não afetou
entre homens, 14 são entidades católicas, a outra significativamente a predominância masculina
parte, liderada por Tiradentes e Santos Dumont, se nos nomes de ruas daquela cidade.
distribui entre escritores, políticos e militares. Já en-
tre os 30 logradouros de nomes femininos, apenas e) A proporção entre nomes de entidades religio-
quatro não são de caráter religioso: são elas a cita- sas e de pessoas notáveis em outros campos da
da Princesa Isabel, a francesa Joana D’Arc, além de atividade humana é a mesma entre homens e
Anita Garibaldi e Cecília Meireles. Cantoras, atrizes, mulheres.
escritoras e heroínas militares se destacam na lista
de mulheres populares, que têm a peculiaridade de
carregar nomes ‘anônimos’, como Ana Maria, Maria
José, Maria Helena e Maria de Lourdes. TEXTO: 123 - Comum à questão: 293

No Rio de Janeiro, uma lei municipal (2.906/1999) Livro faz justiça a Evaldo Braga, astro desconhecido
criada há 16 anos tentou acelerar o processo e tor- de nossa música popular
nou “obrigatória a alternância de gênero, em igual
André Barcinski
proporção, de nomes de personalidades masculinas
e femininas”. De acordo com a amostra utilizada pelo
Nexo, mesmo com a lei em vigor, o Rio contava, até
o ano passado, com só 14,9% de seus logradouros Evaldo Braga teve uma carreira breve e trágica:
ostentando nomes femininos. em quatro anos, gravou apenas 38 canções. Morreu
num acidente de automóvel, em 1973, aos 27 anos
Para o professor Jorge Cintra, o equilíbrio entre de idade, no auge da fama.
os gêneros deve se refletir nos logradouros com o
tempo, através de um “movimento natural”. “É uma Suas músicas — “Eu Não Sou Lixo”, “A Cruz que
discussão, mas acredito ser preferível que as pessoas Carrego”, e seu maior hit, “Sorria, Sorria”— foram re-
possam escolher livremente os novos nomes de ruas. chaçadas pela crítica como produtos bregas de quin-
Regulamentar tudo pode ser algo problemático”, opi- ta categoria, mas capturaram a imaginação popular
na. com suas narrativas cheias de drama e tristeza.
(https://www.nexojornal.com.br/espe- O livro de Gonçalo Júnior faz justiça a um dos as-
cial/2016/02/15/Nomes-de-ruas-dizemmais- tros mais desconhecidos de nossa música popular.
sobre-o-Brasil-do-que-voc%C3%AA-pensa. Acesso (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/andrebar-
em17/9/2018. cinski/2017/12/1939718-
Texto adaptado) livro-faz-justica-a-evaldo-brago-astro-desconhecido-
-de-nossa-musicapopular.

shtml. Acesso em 16/9/2018)

148 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 293 - (IFAL) No texto “Precisa-se”, de Lispector, pode-se afirmar,
a partir do gênero escolhido para a produção de sen-
Sobre o texto acima, marque a alternativa correta. tidos, que o narrador.

a) O autor lamenta a morte do artista, ocorrida há a) Demonstra-se impaciente na busca de alguém


38 anos. para partilhar o seu momento melancólico.
b) O artista morreu de causas naturais. b) Mostra-se disposto a partilhar a sua felicidade
com a chegada de alguém, seja alegre ou triste.
c) Enquanto vivia, o artista desfrutava de aprecia-
ção positiva, tanto do público quanto da crítica c) Apresenta-se desesperançado, já que precisou
especializada. de alguém e não havia encontrado em outros
espaços anteriormente.
d) Para o autor do artigo, “Sorria, Sorria” seria um
bom exemplo de como o repertório do artista d) Enuncia-se como disponível a pagar com dinhei-
incentivava as pessoas a cultivarem sentimentos ro pela aquisição do serviço/produto anunciado.
positivos.
e) Configura-se como exigente, pois elenca carac-
e) A fama do artista decaiu ao longo dos anos. terísticas que lhe são fundamentais à aceitação
do serviço/produto.

TEXTO: 124 - Comum à questão: 294


TEXTO: 125 - Comum à questão: 295
Precisa-se
TEXTO 1

Sendo este um jornal por excelência, e por excelên-


cia dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio
em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher
que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta
está tão contente que não pode ficar sozinha com a
alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinaria-
mente bem: minuto por minuto paga-se com a pró-
pria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é
fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só
se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente
antes da noite cair porque a noite é muito perigosa
e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa
pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois
que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal Fonte:https://www.google.com/search?q=monali-
que venha uma pessoa triste porque a alegria que se sa+de+da+vi
dá é tão grande que se tem que a repartir antes que nci&rlz=1C5CHFA_enBR816BR816&tbm=isch&-
se transforme em drama. Implora-se também que source=iu&ic
venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-
-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com tx=1&fir=FoZgeHjTuje1GM%253A%252CAlGYMp-
todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos.
Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da 9tF6wgM%252C%252Fm%252F0jbg2&vet=1&us-
sala de estar. g=AI4_-

P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por kSmjHylyBBkyNbAeSz-


estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro
que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo NDiwqm6JZw&sa=X&ved=2ahUKEwinpsWqxKDiA-
divina para dar. hUsFLkG

LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. Hct7AfAQ_B0wGnoECAwQBg#imgrc=Lj_xUuT6BPc-


Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
YM:&vet=1

Questão 294 - (IFAL)


www.PROJETOREDACAO.com.br - 149
TEXTO 2 d) imitação, tendo em vista que, embora modifica-
dos, os textos provocam o mesmo efeito

e) hibridização, uma vez que há uma miscelânea


entre ambos para que um tenha sentido a partir
do outro, e vice-versa

TEXTO: 126 - Comuns às questões: 296, 297, 298


O que o fenômeno Jojo Todynho e suas finanças
têm em comum? 1

“Que tiro foi esse?” Foi com esse hit que a can-
Fonte: tora de funk Jojo Marronttinni, conhecida como Jojo
Todynho ficou nacionalmente conhecida e assediada
https://gazetaweb.globo.com/portal/especial. por fãs. Você lembra qual foi o hit do ano passado?
php?c=58320 O comportamento médio que se observa nos indiví-
duos frente a esses hits acaba se refletindo também
em aspectos financeiros. [...]
TEXTO 3 Assim como pelo hit da Jojo Todynho, somos
constantemente expostos a novidades de consumo
efêmeras e que no ano seguinte mudam e nos fazem
consumir novamente. Anualmente, o lançamento de
“[...] A funkeira com ares europeus que tem conquis-
um novo modelo de celular e sua propaganda nos
tado o público maceioense (e do Brasil) é arte urbana
faz pensar que precisamos da nova aplicação que o
em sua melhor forma, interferindo na cidade e pro-
modelo apresenta em relação ao anterior. O mesmo
vocando as pessoas. O grafite, antes marginalizado,
ocorre com automóveis e bens de consumo de forma
hoje já está inserido no contexto das artes visuais.
geral. A compra de bens supérfluos é uma das princi-
Essa forma de expressão política, artística e poética
pais razões para o desequilíbrio financeiro e, conse-
existe desde o Império Romano e ganhou força na
quentemente, para o endividamento familiar.
idade moderna a partir do movimento da contracul-
tura e, depois, com Jean-Michel Basquiat, considera- É difícil segurar a tentação e a tecnologia não co-
do um dos maiores criadores do século XX.[...]” labora, pois com um simples click é possível realizar
a compra sem precisar abrir a carteira. Portanto, aqui
Fonte:
vai a primeira dica, retire seu cartão de crédito do ca-
https://gazetaweb.globo.com/portal/especial. dastro de sites de compras, evitando assim a compra
php?c=58320 sem esforço.

Evite comprar um bem na primeira vez que vir a


novidade em um anúncio. Comprometa-se sempre a
Questão 295 - (IFAL) adiar a compra de qualquer bem pelo menos por um
mês depois de o desejar. Dessa forma, terá um prazo
Ao analisar os textos 1 e 2, tendo como signos a Mona razoável para analisar se ele é realmente necessário
Lisa renascentista de Leonardo Da Vinci, disposta no ou se está apenas realizando uma aquisição por im-
Museu do Louvre, em Paris, e a Mona Lisa funkeira pulso.
do artista paulistano TARS, visualizada em mais de 20
lugares em Maceió/AL, pode-se depreender que o Planeje suas aquisições. Em vez de se endividar
processo utilizado pelo artista quanto ao recurso de depois de adquirir um bem, crie o hábito de poupar
ressignificação foi. o suficiente para a compra. A dívida faz com que o
bem saia mais caro devido aos juros pagos. Se pou-
par para realizar a compra, ele sairá mais barato, pois
em vez de pagar juros, você receberá juros de suas
a) intertextualização, já que se pode ser percebida aplicações.[...]
a tentativa de diálogo entre os textos
(Fonte: http://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.
b) contextualização, visto que o segundo texto visa br/2018/02/18/o-que-o-fenomeno-jojo-todynho-e
à explicação do surgimento do primeiro -suas-financas-tem-em-comum/?loggedpaywall).
c) descaracterização, pois houve uma negação em MICHAEL VIRIATO, é colunista da Folha de São Paulo.
1

relação ao texto-base, neste caso, o texto 1

150 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 296 - (IFMT) lo apresenta em relação ao anterior.”

Com base no texto lido sobre os hábitos de consumo b) “[…] somos constantemente expostos a novida-
médio das pessoas, só NÃO é correto afirmar que : des de consumo efêmeras e que no ano seguin-
te mudam e nos fazem consumir novamente.”

c) “[...] com um simples click é possível realizar a


a) O comportamento médio que se observa nos in- compra sem precisar abrir a carteira.”
divíduos frente aos hits, como o do “Que tiro foi
esse?” acaba se refletindo, também, nos aspec- d) “A compra de bens supérfluos é uma das princi-
tos financeiros. pais razões para o desequilíbrio financeiro[...].”

b) Somos constantemente expostos a novidades e) “[…] retire seu cartão de crédito do cadastro de
de consumo efêmeras e que no ano seguinte sites de compras, evitando assim a compra sem
mudam e nos fazem consumir novamente. esforço.”

c) Anualmente, o lançamento de um novo modelo


de celular e sua propaganda nos induz a precisar
de novo aplicativo que o modelo anterior não TEXTO: 127 - Comum à questão: 299
oferece.
Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?
d) Os hábitos de consumo desenfreados, de forma
geral, não são aplicados nas aquisições de auto- Samba Enredo 2018 - G.R.E.S Paraíso do Tuiuti
móveis e bens de consumo.

e) A compra de bens supérfluos é uma das prin- Irmão de olho claro ou da Guiné
cipais razões para o desequilíbrio financeiro e,
consequentemente, para o endividamento fami- Qual será o seu valor? Pobre artigo de mercado
liar.
Senhor, eu não tenho a sua fé e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
Questão 297 - (IFMT) O mesmo que escorre da ferida
O autor do texto dá uma série de dicas para evitar- Mostra que a vida se lamenta por nós dois
mos o consumo desnecessário. Dentre eles, o que
NÃO se pode fazer é: Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar a escravidão e um prato de feijão com arroz

a) Inserir seu cartão de crédito no cadastro de sites


de compras, evitando assim a compra sem esforço. Eu fui mandiga, cambinda, haussá
b) “Evitar comprar um bem na primeira vez que vir Fui um Rei Egbá preso na corrente
a novidade em um anúncio.”
Sofri nos braços de um capataz
c) Comprometer-se sempre a adiar a compra de
qualquer bem pelo menos por um mês depois Morri nos canaviais onde se plantava gente
de o desejar.

d) Planejar suas aquisições. Ê Calunga, ê! Ê Calunga!


e) Em vez de se endividar depois de adquirir um Preto velho me contou, preto velho me contou
bem, deve-se criar o hábito de poupar o sufi-
ciente para a compra desse bem. Onde mora a senhora liberdade
Não tem ferro nem feitor

Questão 298 - (IFMT)


Amparo do Rosário ao negro Benedito
No 3º parágrafo, o autor afirma que “é difícil segurar
a tentação e a tecnologia não colabora”. A frase abai- Um grito feito pele do tambor
xo que ratifica essa afirmação é:
Deu no noticiário, com lágrimas escrito
a) “[...] precisamos da nova aplicação que o mode-
www.PROJETOREDACAO.com.br - 151
Um rito, uma luta, um homem de cor nante do planeta, o monte Everest. Da primeira, usou
o reforço de um cilindro de oxigênio para suportar a
altura. Na segunda (e última), dispensou o cilindro,
E assim quando a lei foi assinada devido ao seu estado geral, que era considerado óti-
mo. As façanhas dele me emocionaram, a bem suce-
Uma lua atordoada assistiu fogos no céu dida e a malograda. Aqui do meu canto, temendo e
tremendo toda a vez que viajo no bondinho do Pão
Áurea feito o ouro da bandeira de Açúcar, fico meditando sobre os motivos que le-
Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel vam alguns heróis a se superarem. Vitor já havia ven-
cido o cume mais alto do mundo. Quis provar mais,
fazendo a escalada sem a ajuda do oxigênio suple-
mentar. O que leva um ser humano bem sucedido a
Meu Deus! Meu Deus! vencer desafios assim?
Seu eu chorar não leve a mal
Ora, dirão os entendidos, é assim que caminha a
Pela luz do candeeiro humanidade. Se cada um repetisse meu exemplo, fi-
cando solidamente instalado no chão, sem tentar a
Liberte o cativeiro social aventura, ainda estaríamos nas cavernas, lascando o
fogo com pedras, comendo animais crus e puxando
nossas mulheres pelos cabelos, como os trogloditas
Não sou escravo de nenhum senhor — se é que os trogloditas faziam isso. Somos o que
somos hoje devido a heróis que trocam a vida pelo
Meu Paraíso é meu bastião risco. Bem verdade que escalar montanhas, em si,
não traz nada de prático ao resto da humanidade que
Meu Tuiuti o quilombo da favela
prefere ficar na cômoda planície da segurança.
É sentinela da libertação
Mas o que há de louvável (e lamentável) na aventura
(Disponível em: https://www.letras.mus.br/gres-pa- de Vítor Negrete é a aspiração de ir mais longe, de
raiso-do-tuiuti/samba-enredo-2018-meu-deus-meu- superar marcas, de ir mais alto, desafiando os riscos.
-deus-esta-extinta-a-escravidao/). Não sei até que ponto ele foi temerário ao recusar o
oxigênio suplementar. Mas seu exemplo - e seu sa-
crifício - é uma lição de luta, mesmo sendo uma luta
perdida.
Questão 299 - (IFMT)
(Carlos Heitor Cony. Disponível em: http://www1.
No texto, Samba Enredo da G.R.E.S Paraíso do Tuiuti folha.uol.com.br/folha/pensata/ult505u247.shtml)
do ano de 2018, o eu-lírico se dirige reiteradas vezes
a um interlocutor que não responde, trata-se:

Questão 300 - (IFMT)


a) De pessoa influente, provável herdeiro da elite Ao escrever esta crônica, Cony, teve como intenção
escravocrata brasileira. principal:
b) Dos organismos internacionais que combatem
ao trabalho escravo.
a) Criticar severamente a pessoas aventureiras que
c) Dos chefes das facções criminosas de favelas ca- buscam a superação dos próprios limites.
riocas.
b) Aconselhar aos atletas que praticam esportes
d) Do congresso Nacional Brasileiro. radicais a não ousarem demasiadamente.
e) Do Supremo Tribunal Federal. c) Revelar o desejo pessoal que também tinha de
escalar o Everest.

d) Motivar às pessoas sedentárias para que tam-


TEXTO: 128 - Comum à questão: 300 bém elas pratiquem esportes desde que mode-
radamente.
A luta e a lição
e) Refletir, com base em um acidente fatal, sobre a
aspiração do humano em sonhar, projetar e su-
Um brasileiro de 38 anos, Vítor Negrete, morreu no perar desafios.
Tibete após escalar pela segunda vez o ponto culmi-
152 - www.PROJETOREDACAO.com.br
GABARITO QUESTÕES 17) Gab: D 34) Gab: A 51) Gab: D
FÁCEIS
1) Gab: E 18) Gab: A 35) Gab: A 52) Gab: B

2) Gab: D 19) Gab: C 36) Gab: B 53) Gab: A


No geral, pelo mapa e pela
legenda, o Brasil apresen-
3) Gab: D 20) Gab: B 37) Gab: A ta de médio a alto poten-
cial para fazer captação da
energia solar por meio dos
4) Gab: B painéis solares. Verifica-se
21) Gab: A 38) Gab: C que há uma grande inci-
dência de raios solares ao
longo de todo o território.
5) Gab: D 22) Gab: D 39) Gab: D

54) Gab: C
6) Gab: C 23) Gab: C 40) Gab: B
Nos versos em destaque,
o eu lírico pede “licença”
para apresentar-se como
7) Gab: D 24) Gab: D 41) Gab: A poeta “mesmo sem portu-
guês”. Ele revela, assim, a
perspectiva sociocultural
8) Gab: D de que usar determinadas
25) Gab: E 42) Gab: C variedades do português
significaria que o falante
“não fala” a língua. Há, nes-
9) Gab: B 26) Gab: C 43) Gab: A se caso, um modelo ideali-
zado da língua portuguesa,
representado na variedade
padrão, dominada por fa-
10) Gab: B 27) Gab: C 44) Gab: A lantes escolarizados (pelos
“poetas clássicos”) e trata-
da como a “única” forma de
11) Gab: B se falar o português. Esse
28) Gab: A 45) Gab: A tipo de perspectiva, social e
culturalmente difundida, é
uma das razões para a exis-
12) Gab: E 29) Gab: D 46) Gab: C tência do preconceito lin-
guístico, ou seja, a discrimi-
nação dos modos de falar,
principalmente de grupos
13) Gab: C 30) Gab: D 47) Gab: D sociais de baixa escolarida-
de. O eu lírico, em seus ver-
sos, materializa esse pro-
14) Gab: B blema social ao considerar
31) Gab: A 48) Gab: C que seu modo de falar não
seria “português”, o que é
revelador do preconceito
15) Gab: C 32) Gab: E 49) Gab: B
linguístico sofrido por ele.

16) Gab: A 55) Gab: C


33) Gab: C 50) Gab: B

www.PROJETOREDACAO.com.br - 153
56) Gab: A 73) Gab: B 90) Gab: B 107) Gab: A

57) Gab: D 74) Gab: B 91) Gab: A 108) Gab: E

58) Gab: C 75) Gab: D 92) Gab: C 109) Gab: E

59) Gab: E 76) Gab: B 93) Gab: D 110) Gab: A

60) Gab: B 77) Gab: A 94) Gab: E 111) Gab: E

61) Gab: E 78) Gab: A 95) Gab: B 112) Gab: A

62) Gab: A 79) Gab: B 96) Gab: E 113) Gab: D

63) Gab: C 80) Gab: C 97) Gab: D 114) Gab: B

64) Gab: C 81) Gab: D 98) Gab: E 115) Gab: D

65) Gab: B 82) Gab: B 99) Gab: D 116) Gab: E

66) Gab: D 83) Gab: A 100) Gab: D 117) Gab: B

67) Gab: D 84) Gab: E 101) Gab: B 118) Gab: C

68) Gab: B 85) Gab: A 102) Gab: B 119) Gab: C

69) Gab: E 86) Gab: A 103) Gab: D 120) Gab: B

70) Gab: B 87) Gab: B 104) Gab: A 121) Gab: E

71) Gab: D 88) Gab: C 105) Gab: C 122) Gab: E

72) Gab: E 89) Gab: D 106) Gab: E 123) Gab: A

154 - www.PROJETOREDACAO.com.br
124) Gab: B 141) Gab: E 158) Gab: B 175) Gab: A

125) Gab: A 142) Gab: A 159) Gab: A 176) Gab: C

126) Gab: B 143) Gab: B 160) Gab: D 177) Gab: C

127) Gab: A 144) Gab: D 161) Gab: A 178) Gab: D

128) Gab: B 145) Gab: A 162) Gab: B 179) Gab: B

129) Gab: A 146) Gab: B 163) Gab: A 180) Gab: C

130) Gab: D 147) Gab: C 164) Gab: C 181) Gab: D

131) Gab: A 148) Gab: D 165) Gab: D 182) Gab: C

132) Gab: C 149) Gab: C 166) Gab: A 183) Gab: A

133) Gab: D 150) Gab: B 167) Gab: E 184) Gab: C

134) Gab: E 151) Gab: C 168) Gab: A 185) Gab: B

135) Gab: E 152) Gab: C 169) Gab: D 186) Gab: D

136) Gab: D 153) Gab: C 170) Gab: C 187) Gab: C

137) Gab: B 154) Gab: E 171) Gab: C 188) Gab: E

138) Gab: E 155) Gab: B 172) Gab: D 189) Gab: C

139) Gab: B 156) Gab: D 173) Gab: D 190) Gab: E

140) Gab: E 157) Gab: D 174) Gab: D 191) Gab: B

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192) Gab: E 209) Gab: D 226) Gab: C 243) Gab: C

193) Gab: A 210) Gab: B 227) Gab: A 244) Gab: C

194) Gab: E 211) Gab: B 228) Gab: A 245) Gab: E

195) Gab: D 212) Gab: A 229) Gab: C 246) Gab: E

196) Gab: C 213) Gab: C 230) Gab: C 247) Gab: A

197) Gab: B 214) Gab: C 231) Gab: E 248) Gab: A

198) Gab: E 215) Gab: D 232) Gab: D 249) Gab: A

199) Gab: B 216) Gab: A 233) Gab: B 250) Gab: D

200) Gab: A 217) Gab: B 234) Gab: C 251) Gab: E

201) Gab: C 218) Gab: C 235) Gab: B 252) Gab: D

202) Gab: B 219) Gab: D 236) Gab: D 253) Gab: D

203) Gab: B 220) Gab: D 237) Gab: B 254) Gab: C

204) Gab: D 221) Gab: D 238) Gab: E 255) Gab: B

205) Gab: D 222) Gab: B 239) Gab: B 256) Gab: C

206) Gab: B 223) Gab: C 240) Gab: E 257) Gab: A

207) Gab: C 224) Gab: D 241) Gab: C 258) Gab: C

208) Gab: A 225) Gab: B 242) Gab: C 259) Gab: B

156 - www.PROJETOREDACAO.com.br
260) Gab: D 277) Gab: C 294) Gab: B

261) Gab: A 278) Gab: D 295) Gab: A

262) Gab: B 279) Gab: E 296) Gab: D

263) Gab: B 280) Gab: B 297) Gab: A

264) Gab: B 281) Gab: B 298) Gab: C

265) Gab: D 282) Gab: A 299) Gab: A

266) Gab: A 283) Gab: A 300) Gab: E

267) Gab: B 284) Gab: E

268) Gab: C 285) Gab: B

269) Gab: B 286) Gab: B

270) Gab: A 287) Gab: D

271) Gab: E 288) Gab: A

272) Gab: C 289) Gab: D

273) Gab: D 290) Gab: E

274) Gab: B 291) Gab: C

275) Gab: E 292) Gab: D

276) Gab: B 293) Gab: E

www.PROJETOREDACAO.com.br - 157
QUESTÕES MÉDIAS Leia com atenção as afirmações que seguem.

I. (parágrafo 1) Entende-se, do que dizia Proust,


TEXTO: 1 - Comum à questão: 1 que o mundo que um leitor conhece por expe-
riência própria se transforma num outro mundo
Literatura e realidade quando tratado por um grande artista, pois este,
ao produzir sua visão pessoal da realidade, re-
Hoje está na moda dizer que uma obra literária é vela traços que eram desconhecidos ao leitor: o
constituída mais a partir de outras obras, que a pre- mundo é recriado.
cederam, do que em função de estímulos diretos da
realidade, pessoal, social ou física. Deve haver boa II. (parágrafo 2) O emprego da palavra utopia, que
dose de verdade nisso. Todas as vezes, dizia Proust1, traz em si o sentido de um projeto ideal, deixa
que um grande artista nasce, é como se o mundo fos- entrever a simpatia com que Antonio Candido
se criado de novo, porque nós começamos a enxergá- acolhe a ideia da busca da originalidade absolu-
-lo conforme ele o mostra. ta por aquele que se dedica à escrita literária.
Para o Naturalismo, a obra era essencialmen- III. (parágrafo 3) O autor, ao usar a expressão nós
te uma transposição direta da realidade, como se sabemos, recorre a uma estratégia argumentati-
o escritor conseguisse ficar diante dela na situação va, a do saber partilhado: atribui também ao lei-
de puro sujeito em face do objeto puro, registrando tor o conhecimento que ele, Candido, traz como
(teoricamente sem interferência de outro texto) as argumento para dar sequência a seu discurso.
noções e impressões que iriam constituir seu próprio
texto. Essa estética repousa na utopia da originali- IV. (parágrafo 3) Antonio Candido vale-se da cons-
dade absoluta pela experiência imediata, que levava trução embora filha do mundo, a obra é um
o escritor a desconfiar da influência mediadora de mundo para marcar, por meio do emprego de
obras alheias. distintos determinantes de uma mesma palavra,
a distinta natureza do substantivo determinado.
Mas nós sabemos que, embora filha do mundo, a
obra é um mundo, e que convém antes de tudo pes-
quisar nela mesma as razões que a sustêm como tal.
A sua razão específica é a disposição dos núcleos de O texto comprova a correção do que se lê em
significado, formando uma combinação singular, se- a) I, II, III e IV.
gundo a qual a realidade do mundo foi reordenada,
transformada, desfigurada ou até posta de lado, para b) III, apenas.
dar nascimento ao outro mundo que a obra constitui.
c) I e IV, apenas.
Ver criticamente a obra é escolher um dos mo-
mentos do processo como plataforma de observação. d) I, III e IV, apenas.
Num extremo, é possível encará-la como uma dupli- e) II e III, apenas.
cação da realidade, de maneira que o trabalho imita-
tivo fique reduzido a um registro sem grandeza, pois
se era para fazer igual, por que não deixar a realida-
de em paz? Já no outro extremo é possível ver a obra Questão 02 - (ENEM)
como um objeto manufaturado com arbítrio sobera-
no, que alcança significação na medida em que nada Uma ouriça
tem a ver com a realidade. Mas seria melhor a visão
que pudesse rastrear na obra o mundo como mate-
rial de origem, para surpreender no processo vivo da
Se o de longe esboça lhe chegar perto,
montagem a singularidade da forma segundo a qual
se dá a ver um mundo novo. se fecha (convexo integral de esfera),
Obs.:1 Marcel Proust (1871-1922): romancista, en- se eriça (bélica e multiespinhenta):
saísta e crítico literário francês, autor de Em Busca
do Tempo Perdido, publicada em sete volumes. e, esfera e espinho, se ouriça à espera.

(Adaptado de: CANDIDO, Antonio. O discurso e a Mas não passiva (como ouriço na loca);
cidade.
Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2013, p. 107-108) nem só defensiva (como se eriça o gato);

sim agressiva (como jamais o ouriço),

Questão 01 - (PUCCamp SP) do agressivo capaz de bote, de salto

158 - www.PROJETOREDACAO.com.br
(não do salto para trás, como o gato): c) falta de habilidade da personagem em operar o
localizador geográfico.
daquele capaz de salto para o assalto.
d) discrepância entre situar-se geograficamente e
dominar o idioma local.
Se o de longe lhe chega em (de longe), e) incerteza sobre o nome do ponto turístico onde
as personagens se encontram.
de esfera aos espinhos, ela se desouriça.

Reconverte: o metal hermético e armado


TEXTO: 2 - Comum à questão: 4
na carne de antes (côncava e propícia),
“Eu me amo, eu me amo, não posso mais viver sem
e as molas felinas (para o assalto),
mim”: narcisismo, ciberespaço e capitalismo
nas molas em espiral (para o abraço).

MELO NETO, J. C. A educação pela pedra. 1


Caetano Veloso, em tom poético, cantou que 2
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
“Narciso acha feio o que não é espelho”. O Mito de 3
Narciso é uma história que nos remete à mitologia 4
grega, uma história que fala sobre um jovem que, ao
Com apuro formal, o poema tece um conjunto se- 5
se deparar com sua imagem na lâmina d’água de um
mântico que metaforiza a atitude feminina de 6
lago, apaixona-se por si mesmo. O mito é utilizado
7
para fazer referência ao apego de muitas pessoas a
si 8 mesmas. Essas pessoas são geralmente chamadas
de 9 narcisistas ou até mesmo de egocêntricas.
a) tenacidade transformada em brandura.
Narcisismo e egocentrismo são dois termos de
10
b) obstinação traduzida em isolamento. 11
grande difusão social, o que se deve à Psicanálise,
que 12 utilizou o mito de Narciso para explicar a difi-
c) inércia provocada pelo desejo platônico.
culdade 13 de muitas pessoas em adiar suas satisfa-
d) irreverência cultivada de forma cautelosa. ções, guiadas 14 por um sentimento de urgência. Daí
surgiu o termo 15 narcisismo, que consiste numa fixa-
e) desconfiança consumada pela intolerância. ção presente nos 16 primeiros estágios do desenvol-
vimento humano, 17 quando somos guiados pela ur-
gência de satisfazer 18 nossas necessidades. A criança
chora e a mãe dá-lhe 19 o peito. A satisfação quase
Questão 03 - (FUVEST SP) sempre é imediata. Disso 20 podem resultar registros
mentais que levam à busca 21 de satisfação imediata,
Examine o cartum.
e, no futuro, a pessoa pode se 22 tornar um adulto
que toma a si mesmo como medida 23 de todas as
coisas, ou seja, coloca seu “eu” (ego) como 24 centro
do universo.

Ego é outro termo psicanalítico. Quase um si-


25

nônimo 26 de “eu”, o ego seria a estrutura mental


responsável por 27 negociar com o id (inconsciente)
quando a satisfação de 28 nossos desejos ocorrerá. O
ego é regido pelo princípio 29 de realidade, dominado
Frank e Ernest – Bob Thaves. O Estado de S. Paulo. pela razão; já o id é regido pelo 30 princípio do pra-
22.08.2017. zer, da busca de satisfação de desejos 31 reprimidos.
Um ego frágil vai ceder aos impulsos do 32 id, tendo,
portanto, dificuldades de adiar a satisfação 33 dos de-
O efeito de humor presente no cartum decorre, prin- sejos e de lidar com frustrações. Deriva dessa 34 difi-
cipalmente, da culdade o egocentrismo. Daí a aproximação entre os
35
conceitos de narcisismo e egocentrismo.

Essa propensão à intolerância quase sempre é


36

a) semelhança entre a língua de origem e a local. 37


produto de esquemas de reforçamento contínuo.
Nesse 38 tipo de esquema, o reforço segue o com-
b) falha de comunicação causada pelo uso do apa- portamento 39 praticamente todas as vezes que ele
relho eletrônico. é emitido e 40 costuma estar presente em histórias
www.PROJETOREDACAO.com.br - 159
de pessoas 41 “mimadas”, que tiveram de se esforçar te 94 premência de consumir o que se produz, cria-se
muito pouco para 42 obter a satisfação de suas neces- um 95 círculo vicioso em que o consumo é uma satis-
sidades e desejos, pois 43 os pais ou outros membros fação 96 inadiável e é realizado sem que se pense nas
da família quase sempre 44 proviam essa satisfação ao 97
consequências, sem consciência das contingências
menor sinal de alteração 45 emocional. É sabido que 98
que o determinam. Dessa forma, não se questiona
quanto mais imediato um 46 reforço ocorre depois de 99
sobre o que está sendo consumido, pois o que im-
um comportamento, maior 47 a chance de esse com- porta 100 é consumir para obter prazer.
portamento ser fortalecido. 48 Portanto, a intolerân-
cia como padrão comportamental 49 pode ter relação O produto desse ciclo é a construção de pes-
101

com o esquema de reforçamento e 50 com a imediati- soas 102 cada vez menos conscientes dos determinan-
cidade com a qual os reforços foram 51 apresentados tes 103 de seu comportamento, incapazes de assumir
ao longo da história do indivíduo. um 104 posicionamento crítico sobre seu modo de
vida e o 105 mundo em que vivem, inseridas numa teia
Sendo assim, pessoas podem se tornar re-
52
de consumo 106 em que elas mesmas são um produ-
féns do 53 reforço, tornando-se incapazes de adiar to à venda em 107 stands reais e virtuais. O não pen-
a satisfação 54 de seus desejos e necessidades. São sar nas consequências 108 produz pessoas alienadas,
modeladas não 55 somente para ser intolerantes às enamoradas por seu prazer, 109 como Narciso por sua
frustrações, como 56 também para buscar satisfação imagem refletida no espelho 110 d’água, pessoas que
imediata. Elas se 57 tornam presas fáceis do ciberes- podem ser descritas com o refrão 111 da música do Ul-
paço, onde a satisfação 58 pode ser obtida apenas traje a Rigor: “Eu me amo, eu me amo, 112 não posso
com um clique. mais viver sem mim”.

No ciberespaço, tudo parece ser mais fácil. As 60


59
Adaptado de Ribeiro, Bruno Alvarenga.
amizades são virtuais, sendo assim, os aborrecimen- “Eu me amo, eu me amo, não posso mais
tos 61 podem ser evitados bloqueando ou excluindo viver sem mim”: narcisismo, ciberespaço
alguém 62 da rede de contatos. O prazer pode ser bus- e capitalismo. Em: http://cafe-com-cien-
cado em 63 chats e redes sociais. cia.blogspot.com.br/2012/08/eu-me-amo-
eu- me-amo-nao-posso-mais.html.
Acesso em 10.01.2018. Passim.
64
Talvez seja hora de parar e pensar nos efeitos
da cultura digital sobre o comportamento das pes-
65

soas. 66 Essa cultura não criaria circunstâncias favorá- Questão 04 - (UESB BA)
veis para 67 a modelagem de comportamentos nar-
cisistas? Essa 68 cultura não favorece o fechamento De acordo com o texto, sobre a diferença entre nar-
sobre si mesmo, 69 de modo que as pessoas passem a cisismo e egocentrismo, está correto o que se afirma
entender que se 70 bastam a si mesmas? Essa cultura em
não acaba por 71 favorecer o individualismo? Quais
são os efeitos da 72 obtenção tão facilitada de refor-
ços com apenas um 73 clique?
I. O narcisismo é um sentimento de urgência em
Se, na vida real, os reforços podem ser adiados
74 obter satisfação; o egocentrismo se caracteriza
75
por causa de uma série de circunstâncias, no 76 ci- pela focalização exclusiva em si mesmo.
berespaço eles são facilmente obtidos. Mas que 77
II. O narcisismo é um modo de buscar compensar a
tipos de comportamentos estão sendo reforçados?
falta de beleza; o egocentrismo implica o desejo
78
Comportamentos de não fazer nada, ou de se 79
de superar limitações pessoais.
empenhar em atividades que concorrem com ou-
tras 80 mais produtivas. Muitas empresas bloqueiam III. O narcisismo se revela na intolerância e frustra-
o acesso 81 a chats e redes sociais, pois navegar em ção do indivíduo frente à não satisfação de seus
tais redes e 82 chats afeta o trabalho e a produtivida- desejos; no egocentrismo, o que se destaca é a
de, acarretando 83 prejuízos. 84 Não estaria o mundo ausência de consideração do outro como refe-
digital contribuindo para a 85 criação de uma cultura rência de seus atos.
do imediatismo? Creio que 86 não. Talvez esteja ape-
nas fortalecendo contingências 87 que já operavam IV. No narcisismo, há uma insatisfação do indivíduo
no mundo antes de sua existência, 88 contingências com sua própria aparência; já no egocentrismo,
que fazem parte de um mundo capitalista 89 em que predomina, na mente do indivíduo, uma visão
“tempo é dinheiro”, um mundo do “just in time”, 90 de inferioridade, que é compensada pelo ensi-
um mundo regido pela urgência em produzir, pois 91 mesmamento e rejeição da realidade objetiva.
existe, de outra parte, a urgência em consumir. Um 92
mundo, pois, regido por produção versus consumo. V. O narcisismo consiste na busca de resolução
imediata e urgente de necessidades pessoais; já
93
Se produzir com urgência é preciso, pois exis- o egocentrismo se caracteriza pela centralização
160 - www.PROJETOREDACAO.com.br
do indivíduo em si mesmo como definidor de res humanos (ética). [...] O importante da proposta 34
suas ações, concepções e decisões. futurista de Potter é a ideia de que a constituição de
35
uma ética aplicada às situações de vida seria o ca-
minho 36 para a sobrevivência da espécie humana. E,
mais: para 37 essa ciência da sobrevivência não seria
A alternativa em que todas as afirmativas indicadas preciso um 38 conhecimento rigoroso da técnica, mas
estão corretas é a sim respeito aos 39 valores humanos.

Esta proposta de associar as ciências da vida e


40

01. I e II. a ética (visando ao bem-estar dos seres humanos e


41

dos 42 animais e a salvaguarda do meio ambiente) é


02. II e IV. o que se 43 mantém hoje como o espírito da bioética.

03. IV e V. O nascimento da bioética foi precedido de 45 im-


44

portantes transformações ocorridas no cenário so-


04. I, III e V. cial, 45 político e tecnológico entre as décadas de 1960
e 1970. 46 Por um lado, um grande desenvolvimento
05. II, III e V. tecnológico 47 fez surgir dilemas morais inesperados
relacionados à 48 prática biomédica (morte encefá-
lica, doação de órgãos 50 para transplante, bebê de
TEXTO: 3 - Comum à questão: 5 proveta, descarte de embriões 51 etc.). Por outro, os
anos 1960 foram também a era da 52 conquista dos
Bioética: a mudança da postura ética direitos civis, o que fortaleceu o 53 ressurgimento
de movimentos sociais organizados, 54 promovendo,
com isso, um revigoramento dos debates 55 acerca da
ética normativa e aplicada. [...]
1
O Juramento de Hipócrates é uma preciosidade
do pensamento humano voltado para o bem do pró-
2
Jonsen pontua três acontecimentos como ten-
56

ximo. 3 Nestes 25 séculos, em que vem sendo a base do 57 papel particularmente importante na consoli-
da postura 4 ética dos médicos, porém, aconteceram, dação da 58 disciplina. O primeiro foi o artigo publica-
além da 5 evolução acentuada do conhecimento mé- do na revista Life, 59 em 1962, que contou a história
dico e humano 6 em geral, importantes mudanças do Comitê de Seattle, o 60 qual, de forma inusitada,
sociais, que afetaram 7 profundamente a relação do passou o processo de decisão 61 médica para o do-
médico com seu paciente, 8 exigindo a adequação mínio público, ao delegar os critérios 62 de seleção
de sua conduta moral aos novos 9 padrões adotados de atendimento para um pequeno grupo de 63 pes-
pela sociedade. [...]. Ele reflete o 10 espírito da época soas, todas leigas em medicina. O segundo evento 64
em que foi escrito, pois os gregos antigos 11 deram foi o artigo de Beecher, no New England Journal of
grandes contribuições à evolução humana, porém 12 65
Medicine, em 1966, no qual, ao analisar pesquisas
as ideias sobre os direitos de todos os homens e a 66
científicas em seres humanos, publicadas em pe-
luta 13 pela sua implantação na sociedade são bem riódicos 67 de grande prestígio internacional, mostrou
posteriores. 14 A Revolução Francesa é o marco his- que cerca de 68 12% dos artigos médicos continham
tórico do seu efetivo 15 desencadeamento. Nela os ci- graves 69 transgressões à ética. O terceiro evento foi
dadãos passam a pugnar 16 pela igualdade de direitos o primeiro 70 transplante cardíaco, em que a principal
de todos os homens perante 17 a lei, pela liberdade pergunta 71 era: — Como Barnard podia garantir que
para decidir o que é melhor para si e 18 para todos e o doador estava 72 realmente morto no momento do
pela união de todos para o bem comum. 19 Essa revo- transplante? Esse fato 73 lançou questões de difícil
lução continua em andamento e nas últimas 20 déca- resposta, entre elas: — 74 Quando alguém deve ser
das vem atingindo a medicina de maneira cada vez 21 considerado morto? Se o 75 cérebro morrer, morre
mais intensa. Suas ideias foram sendo estruturadas também a pessoa? [...]
em 22 um novo corpo de conhecimentos, dando ori-
gem a uma 23 nova disciplina: a bioética. A bioética, em nossa opinião, deve ser vista não
76
77
como uma derrubada da ética médica clássica (tan-
24
Esta denominação é atribuída ao oncologista 25 to 78 que ela adotou os seus princípios básicos, a be-
norte-americano Van Rensselaer Potter, que a utili- neficência 79 e a não maleficência), mas como a sua
zou 26 pela primeira vez no livro Bioethics: bridge to adaptação aos 80 novos tempos, com a consequente
the future. 27 Seu objetivo era promover um novo mudança de postura 81 do médico, para dar uma me-
diálogo entre ciência 28 e humanismo que pareciam lhor resposta aos desafios 82 éticos surgidos com as
incapazes de comunicar-se. 29 Preocupado com a so- mudanças sociais e a evolução 83 do conhecimento e
brevivência ecológica do planeta e 30 com a demo- da tecnologia.
cratização do conhecimento científico, 31 aspirava a
produzir uma disciplina que combinasse o 32 conhe- MUÑOZ, Daniel Romero. Bioética: a mudança da
cimento biológico (bio) com o do sistema de 33 valo- postura ética. Rev. Bras. Otorrinolaringol. v.70
www.PROJETOREDACAO.com.br - 161
n.5 São Paulo Set./Out. 2004. Disponível em: 3
minoritário da sociedade, adversário do regime, e
<http:// a massa 4 da população que vivia um dia a dia de
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid alguma esperança 5 nesses anos de prosperidade
=S0034- 72992004000500001>.Acesso em: 25 out. econômica. A repressão 6 acabou com o primeiro
2016. setor, enquanto a propaganda 7 encarregou-se de,
pelo menos, neutralizar gradualmente o 8 segundo.
Para alcançar este último objetivo, o governo 9 con-
tou com o grande avanço das telecomunicações no
Questão 05 - (UNIDERP MS) país, 10 após 1964. As facilidades de crédito pessoal
permitiram a 11 expansão do número de residências
Sobre o pensamento de Van Rensselaer Potter está
que possuíam televisão: 12 em 1960, apenas 9,5% das
correto o que se afirma em
residências urbanas tinham 13 televisão; em 1970, a
porcentagem chegava a 40%. Por 14 essa época, be-
neficiada pelo apoio do governo, de quem se 15 trans-
I. Seu objetivo era promover a superação da su- formou em porta-voz, a TV Globo expandiu-se até
premacia da ciência, com a ascensão soberana se 16 tornar rede nacional e alcançar praticamente
dos valores maiores do humanismo. o controle do 17 setor. A propaganda governamental
passou a ter um canal 18 de expressão como nunca
II. Ele revelava preocupação com a sobrevivência existira na história do país. A 19 promoção do “Brasil
da humanidade, para o que o respeito aos valo- grande potência” foi realizada a partir 20 da Assesso-
res humanos e a disseminação do conhecimento ria Especial de Relações Públicas (AERP), criada 21 no
científico eram condições importantes. governo Costa e Silva, mas que não chegou a ter 22
importância nesse governo. Foi a época do “Ninguém
III. Sua intenção era conceber uma disciplina que 23
segura este país”, da marchinha Prá Frente, Brasil,
sintetizasse o conhecimento das ciências bioló- que 24 embalou a grande vitória brasileira na Copa do
gicas com os pressupostos do humanismo. Mundo de 25 1970.
IV. Para ele, o desenvolvimento científico era fun- Boris Fausto, História do Brasil. Adaptado.
damental para criar as condições de garantir a
sobrevivência da espécie humana e a preserva-
ção do planeta.
Questão 06 - (FUVEST SP)
V. Segundo ele, a sobrevivência da humanidade
dependeria muito mais do respeito a princípios A frase que expressa uma ideia contida no texto é:
éticos em situações diversas da vida do que do
conhecimento técnico.
a) A marchinha “Prá Frente, Brasil” também contri-
buiu para o processo de neutralização da grande
A alternativa em que todas as afirmativas indicadas massa da população.
estão corretas é a
b) A repressão no Governo Médici foi dirigida a um
setor que, além de minoritário, era também irre-
levante no conjunto da sociedade brasileira.
01) I e II.
c) O tricampeonato de futebol conquistado pelo
02) II e IV. Brasil em 1970 ajudou a mascarar inúmeras difi-
culdades econômicas daquele período.
03) IV e V.
d) Uma característica do governo Médici foi ter
04) I, III e IV.
conseguido levar a televisão à maioria dos lares
05) II, III e V. brasileiros.

e) A TV Globo foi criada para ser um veículo de di-


vulgação das realizações dos governos militares.
TEXTO: 4 - Comum à questão: 6
A ARMA DA PROPAGANDA
TEXTO: 5 - Comuns às questões: 7, 8, 9
A internet e a morte da imaginação
1
O governo Médici não se limitou à repressão. Dis-
2

tinguiu claramente entre um setor significativo mas Jacques Gruman

162 - www.PROJETOREDACAO.com.br
“Nunca entendi essa obsessão por sorrisos em foto- Outro estranhamento vem da inundação de ima-
grafias. gens, aflição que chamo de galeria dos sem imagina-
ção. Enxurradas de fotos invadem o espaço virtual,
Deve ser um conluio com os dentitaws.” a enorme maioria delas sem o menor significado e
perfeitamente descartáveis. O Instagram recebe 60
(Nora Tausz Rónai) milhões de fotos por dia, ou seja, quase 700 fotos por
segundo! Fico pensando no sorriso irônico ou, quem
sabe, no horror em estado bruto, que Cartier-Bres-
Reza uma antiga lenda que dois reinos estavam em son1 esboçaria se esbarrasse nisso. Ele, que procura-
guerra. Os perdedores acabaram condenados ao va a poesia nos pequenos gestos, no cotidiano que se
confinamento do outro lado dos espelhos, um primi- desdobrava em surpresas, nos reflexos impensados,
tivo mundo virtual em que eram obrigados a repro- jamais empilharia a coleção de sorrisinhos forçados
duzir tudo o que os vencedores faziam. A luta dos que caracteriza a obsessão pelos clics.
derrotados passava a ser como escapar daquela pri-
são. O genial Lee Falk inspirou-se nesta narrativa para
criar, na década de 1940, O mundo do espelho, para Essa história dos sorrisos foi muito bem notada pela
mim uma das mais aterrorizantes histórias do Man- Nora Rónai, que citei logo no início. Vivemos a era das
drake. Espelhos foram, aliás, protagonistas de algu- aparências. Com a multiplicação das imagens, vem a
mas sequências cinematográficas assustadoras. Bó- obrigação de “estar bem”. Afinal de contas, quem vai
ris Karloff, um clássico do gênero, aproveitou muito querer se exibir no Facebook ou nas trocas de mensa-
bem o medo que, desde crianças carregamos, de que gens com uma ponta de melancolia ou, pelo menos,
nossos reflexos nos espelhos ganhem autonomia. Ui! um suspiro de realidade? O mundinho virtual exige
Já imaginaram se isso virasse realidade? Teríamos de estado de êxtase permanente. Uma persona que não
conviver com nossos opostos, um estranhamento no passa de ilusão. Criatividade não quer dizer tristeza,
mínimo desconfortável. Os quadrinhos exploraram o claro, mas certamente precisa incorporá-la como
assunto também nasérie do Mundo bizarro, do Su- tijolo construtor da nossa personalidade. O resto é
per-Homem. Era um nonsense pouco habitual no uni- fofoca. Eric Nepomuceno, tradutor e escritor, fez o
verso previsível dos super-heróis. seguinte comentário sobre seu amigo Gabriel Garcia
Márquez, que acabara de morrer: “Tudo o que ele es-
creveu é revelador da infinita capacidade de poesia
Estava pensando nos estranhamentos do mundo mo- contida na vida humana. O eixo, porém, foi sempre
derno quando me deparei com uma pequena nota o mesmo, ao redor do qual giramos todos: a solidão
de jornal. Encenava-se a ópera Carmen, de Bizet, no e a esperança perene de encontrar antídotos contra
Theatro Municipal do Rio. Suponho que a plateia, essa condenação”. Nada que essas maquininhas oni-
que pagou caro, estava mergulhada na história e presentes possam registrar, elas que jamais entende-
na interpretação da orquestra e dos solistas. Não é riam a fina ironia de Fernando Pessoa no Poema em
que um cidadão saca seu iPad e passa um tempão linha reta, que começa assim: “Nunca conheci quem
checando os e-mails, dedinhos nervosos para cima e tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos
para baixo, com a tela iluminando a penumbra indis- têm sido campeões em tudo”. Mais adiante: “Arre,
pensável para a fruição plena do espetáculo? Como estou farto de semideuses. Onde é que há gente nes-
esse tipo de desrespeito está entrando na “norma- se mundo ?”.
lidade”, apenas uma pessoa esboçou reação. Uma
espécie de angústia semelhante à incontinência uri-
nária se espalha como praga nas relações pessoais e A praga narcísica desembarcou nas camas. Leio que
no uso dos espaços público e privado. Tudo passou a nova moda é fazer selfies2 depois do sexo. O casal
ser urgente. Todos os torpedos, e-mails e chamadas transa, mas isso não basta. É urgente compartilhar!
no celular viraram prioridade, casos de vida ou mor- Tira-se uma foto da aparência de ambos, coloca-se
te. Interrompem-se conversas para olhar telinhas e no Instagram e ... pronto. O mundo inteiro será teste-
telonas, desrespeitando interlocutores. Como este munha de um momento íntimo, talvez o mais íntimo
tipo de patologia tende a se diversificar, já há gente de todos. Meu estranhamento vai ao paroxismo. É
que conversa e olha o computador ao mesmo tempo, a esse mundo que pertenço? Antigamente, era cos-
como aqueles lagartos esquisitos cujos olhos se mo- tume dizer que o que não aparecia na televisão não
vimentam sem aparente coordenação. Outros parti- existia. Atualizando a frase: pelo visto, o que não está
cipam de reuniões sem desligar sua tralha eletrônica na rede não existe. É a universalização do movimento
(na verdade, não estão nas reuniões). Especialistas apenas muscular, sem sentido, leviano, rapidamente
em informática previram que, num futuro não mui- perecível.
to distante, chips serão implantados no corpo. Estão
atrasados. Corpos já pertencem a máquinas. A vida é
controlada a distância e por outros.
Durante o exílio, o poeta argentino Juan Gelman pas-
www.PROJETOREDACAO.com.br - 163
sou um bom tempo sem conseguir escrever. A inspi- na série do Mundo bizarro, do Super-Homem.
ração não vinha. Disse ele: “A poesia é uma senhora Era um nonsense pouco habitual no universo
que nos visita ou não. Convocá-la é uma impertinên- previsível dos super-heróis.” (INCOERÊNCIA)
cia inútil. Durante uns bons quatro anos, o choque
do exílio fez com que essa senhora não me visitasse”. e) “A poesia é uma senhora que nos visita ou não.
Quando, finalmente, a senhora chega, tudo muda, Convocá-la é uma impertinência inútil. Duran-
como narra o poeta: “A visita é como uma obsessão. te uns bons quatro anos, o choque do exílio fez
Uma espécie de ruído junto ao ouvido. Escrevo para com que essa senhora não me visitasse”. (REPA-
entender o que está acontecendo”. Não consigo ima- TRIAÇÃO)
ginar uma serenidade como essa no mundo virtual.
Tudo nasce e morre antes de ser completamente ab-
sorvido. Cada novidade passa a ser vital, filas se for-
Questão 08 - (CEFET MG)
mam nas madrugadas nas portas de lojas que come-
çam a vender modelos mais avançados de produtos Relacione a fase da vida do protagonista aos respec-
eletrônicos. Não dá pra esperar um dia, muito menos tivos trechos da narrativa.
uma hora. O silêncio e a introspecção são guerrilhei-
ros no habitat plugado. Estou me alistando neste
exército de Brancaleone.3
(1) Aos 7

(2) Aos 40
1 Henri Cartier-Bresson: (França 1908- 2004), fotó-
grafo do século XX, considerado por muitos como o
pai do fotojornalismo.
( ) “E ele tinha mão pra tirar as coisas do silêncio,
2 fazer selfies: selfie é uma palavra em inglês, um afagar asas, avivar cantos.”
neologismo com origem no termo self-portrait, que
significa autorretrato, e é uma foto tirada e compar- ( ) “... a febre não cedera, o menino queimava, Me-
tilhada na internet. Normalmente uma selfie é tirada lhor levá-lo ao pronto-socorro, ela disse.”
pela própria pessoa que aparece na foto, com um ce- ( ) “O dono do armazém, cigarro pendurado na
lular que possui uma câmera incorporada, com um boca, sorriu, anotou qualquer coisa num saco
smartphone, por exemplo. de papel e enfiou a caneta sobre a orelha.”
3 O Incrível Exército de Brancaleone (em italiano: ( ) “Por um instante, meus olhos ficaram desarru-
L’armata Brancaleone): é um filme italiano de 1966, mados com o arco que o corpo dele desenhou
do gênero comédia. Foi dirigido por Mario Monicelli. no ar sobre o sarrafo. E aí eu só pude aplaudir
O Exército de Brancaleone é considerado um clássico junto com o estádio inteirinho.”
italiano, que retrata os costumes da cavalaria medie-
val através da comédia satírica. É um filme inspirado ( ) “Depois deixou-se ir sem rota prévia, meio no ar,
em Dom Quixote, do espanhol Miguel de Cervantes. meio preso ao chão, numa mistura de passeio
e via crucis, desejando que os pés, como raízes
acima da terra, o conduzissem (...)”
Questão 07 - (CEFET MG) ( ) “Se demorariam horas e horas para chegar à
magnífica foz e por isso é que lá iriam a passeio,
O vocábulo grifado foi corretamente interpretado en-
dali mesmo viam uma torrente d’água desabar
tre os parênteses em:
para além das plataformas, onde os ônibus en-
travam e saíam.”

a) “Meu estranhamento vai ao paroxismo. É a esse


mundo que pertenço?” (PARADOXO)
A sequência correta encontrada é
b) “É a universalização do movimento apenas mus-
a) 2-1-2-2-1-2.
cular, sem sentido, leviano, rapidamente perecí-
vel.” (INCONSISTENTE) b) 1-2-2-1-2-1.
c) “O eixo, porém, foi sempre o mesmo, ao redor c) 1-2-1-1-2-2.
do qual giramos todos: a solidão e a esperança
perene de encontrar antídotos contra essa con- d) 2-1-1-2-1-2.
denação”. (EFÊMERA)
e) 1-1-2-2-1-2.
d) “Os quadrinhos exploraram o assunto também
164 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 09 - (CEFET MG) periferias de São Paulo, com raras exceções, vai se
recordar que a rua era o espaço por excelência da so-
O narrador faz referência ao personagem Bolão em: ciabilidade, do lazer e da convivência. Com a chegada
do asfalto, vieram também muitos carros e se insti-
tuiu como verdade o discurso de que a rua é lugar
a) “Aí, quando eu ia odiar aquele garoto, ele me perigoso e violento. Para muitos adultos, as políticas
estendeu o maço de figurinhas, mais gordo com culturais só se justificam se for para “tirar os jovens
o acréscimo das minhas, e disse, Pega, é pra das ruas”. Para os jovens, ao contrário, suas ações
você!” culturais só têm força e sentido quando acontecem
na rua, no espaço público.
b) “Aparecia lá pelas oito da noite, cansado, sujo,
mas sorrindo. Quase sempre chegava fedendo
a suor. Tinha que descarregar mercadoria pesa- A condenação da rua como espaço da violência
da.” veio acompanhada da chegada dos shopping centers
c) “E ele tinha mão pra tirar as coisas do silêncio, também às periferias. Muita gente vai ao shopping
afagar asas, avivar cantos. Construíra um viveiro tentar encontrar um vazio deixado pelo “fim” das
de canários fantástico: vinha gente do país intei- ruas. Para além do consumo, busca-se num shopping
ro admirar a sua criação.” um passeio mais livre, solto, e a possibilidade de en-
contro com pessoas de fora do círculo mais próximo,
d) “Por um instante, meus olhos ficaram desarru- familiar. No entanto, esse encontro não acontece.
mados com o arco que o corpo dele desenhou Tampouco a livre circulação. As pessoas só encon-
no ar sobre o sarrafo. E aí eu só pudeaplaudir, tram uma multidão “sem rosto e coração” – nos di-
junto com o estádio inteirinho.” zeres dos Racionais MC’s –, e a circulação no interior
do shopping não pode ocorrer de forma livre e es-
e) “Tinha uma cara feia e, ao mesmo tempo, me pontânea. Ela tem regras claras e rígidas: os pobres
deu raiva e dó dele. Vivia no meio daquele lugar podem circular pelo shopping, contanto que finjam
que fedia a sabão e fumo enrolado, e na certa pertencer a outra classe social. Mesmo que circulem
estava querendo passar a perna na gente.” no shopping sem recursos para consumir, eles de-
vem desejar consumir. Da mesma forma, os negros
podem circular pelo shopping tranquilamente, desde
que finjam ser brancos nas vestimentas, nos cabelos,
TEXTO: 6 - Comum à questão: 10 no comportamento etc.
O rolezinho da juventude nas ruas do consumo e do
protesto por Renato Souza de Almeida
Os rolezinhos em shoppings – da periferia ou das
áreas abastadas –, que se tornaram um fenômeno
neste verão, têm características muito semelhantes
Os jovens têm criado formas cada vez mais in-
com os pancadões de rua realizados de forma es-
teressantes de manifestação. Desde as jornadas de
pontânea e congregam um número significativo de
junho de 2013 – que levou às ruas milhares de brasi-
jovens que se reúnem, sobretudo, em torno da ex-
leiros – até os chamados “rolezinhos” – que também
pressão cultural do funk. O polêmico e famigerado
vêm colocando centenas em circulação – se instalou
funk é um dos principais mobilizadores dos jovens na
uma crise na análise daqueles que insistiam em afir-
metrópole paulistana. E um dos segredos da sua for-
mar uma possível apatia dessa geração juvenil.
ça não está necessariamente no apelo sexual de al-
gumas músicas ou na sua batida envolvente, mas na
forma como ressignificou as ruas para esses jovens.
“Sair de rolê...” significa dar uma circulada des- “No dia em que tem pancadão, a rua é nossa!” E se a
pretensiosa pela vila ou pela cidade. É possível dar rua é “nossa”, pode-se fazer qualquer coisa, inclusive
um rolê de trem, de ônibus ou a pé. Geralmente, o não fazer nada... E, se o “som é de preto, de fave-
rolê está ligado ao lazer ou a alguma prática cultu- lado e, quando toca, ninguém fica parado”, não há
ral. Sai de rolê o pichador, o skatista, o caminhante... necessidade de fingir ser outra coisa, como exigem
O que vem chamando a atenção de muita gente é os shoppings centers. Ao contrário, é um momento
como um simples gesto de sair e circular de forma de afirmação dessa mesma identidade periférica.
livre tem ocupado um papel central nas principais
mobilizações juvenis na cidade de São Paulo nos úl-
timos tempos.
Nesse sentido, estar no shopping – no local que a
sociedade estabeleceu para substituir a rua – é bas-
tante provocador. Os rolezinhos levaram para dentro
[...] Quem não é mais jovem e sempre morou nas do paraíso do consumo a afirmação daquilo que esse
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mesmo espaço lhes nega: sua identidade periféri- pretensiosa pela vila ou pela cidade.”
ca. Se quando o jovem vai ao shopping namorar ou
consumir com alguns amigos ele deve fingir algo que b) “Muita gente vai ao shopping tentar encontrar
não é, com os rolezinhos ele afirma aquilo que é! E um vazio deixado pelo “fim” das ruas.”
quando faz essa afirmação ele revela a contradição
na lógica dos shopping centers. Ou seja, os rolezinhos c) “(...) a circulação no interior do shopping não
põem por terra a aparente circulação livre e o espaço pode ocorrer de forma livre e espontânea.”
aberto que os shoppings dizem proporcionar. Quan- d) “(...) os pobres podem circular pelo shopping,
do o jovem afirma, por meio do rolezinho, sua identi- contanto que finjam pertencer a outra classe so-
dade de negro e pobre, a contradição se evidencia e cial.”
a polícia é acionada, e tão logo o paraíso do consumo
e do prazer se revela como o inferno do preconceito
racial e da violência.
Questão 11 - (CEFET MG)
O tigre, o jaguar e a onça, principais felinos da narra-
Esses jovens que hoje mobilizam os rolezinhos tiva Max e os felinos de Moacyr Scliar,
são intitulados “geração shopping center”, consumis-
ta, por parte dos mais velhos. Porém a prática dos ro-
lezinhos nos shoppings está revelando a contradição
mais aguda desse espaço que tentou tomar o locus a) representam relações de poder e de exploração,
simbólico da rua. Nos rolezinhos, os jovens não são tanto no âmbito familiar quanto no social.
consumidores, mas produtores. Produzem um novo
jeito de circular pelo shopping. Produzem uma prá- b) demonstram os instintos e a insanidade do pro-
tica cultural que se contradiz com esse lugar. Produ- tagonista, que o levam a cometer um crime.
zem contradição e desordem no sistema. E produzem c) constituem reproduções da figura do pai, auto-
uma nova gramática política ao afirmar sua classe ritário comerciante de peles, no imaginário do
num espaço que existe para negá-la. [...] filho.
Disponível em: < http://www.diplomatique.org.br>. d) configuram ameaças reais a Max em três mo-
Acesso em: 29 mentos de sua vida respectivamente a infância,
ago. 2014 - Artigo publicado em 03 fev. 2014 (frag- a juventude e a maturidade.
mento de texto)

TEXTO: 7 - Comuns às questões: 12, 13


Questão 10 - (CEFET MG)
A falácia do mundo justo e a culpabilização das
Considere a charge a seguir. vítimas

Por Ana Carolina Prado

“É claro que o cara que estuprou é o culpado,


mas as mulheres também ficam andando na rua de
saia curta e em hora errada!”. “O hacker que roubou
as fotos dessas celebridades nuas está errado, mas
ninguém mandou tirar as fotos!”. “Se você trabalhar
duro vai ser bem-sucedido, não importa quem você
seja. Quem morreu pobre é porque não se esforçou
o bastante.” Você sabe o que essas afirmações têm
em comum?

Há algum tempo falei aqui sobre como os huma-


nos têm diversas formas de se enganar em relação
Essa charge estabelece uma correspondência de sentido à ideia que têm de si mesmos, quase sempre para
com a passagem transcrita em: proteger sua autoestima ou para saciar sua vontade
de estar sempre certos. Mas nosso cérebro não nos
engana só em relação a como vemos a nós mesmos:
temos também a tendência de nos iludir em relação
a) “’Sair de rolê...’ significa dar uma circulada des- aos outros e à vida em geral. E as frases acima exem-

166 - www.PROJETOREDACAO.com.br
plificam uma maneira como isso pode acontecer: por Em casos de abusos contra outras pessoas, como
meio da falácia do mundo justo. bullying ou estupro, a injustiça é ainda maior, pois
eles nunca são justificados – e aí a falácia do mundo
Por exemplo, embora os estupros raramente te- justo se mostra ainda mais perversa. Portanto, toda
nham qualquer coisa a ver com o comportamento ou vez que você se sentir movido a dizer coisas como “O
vestimenta da vítima e sejam normalmente cometi- estuprador é quem está errado, é claro, mas…”, pare
dos por um conhecido e não por um estranho numa por aí. O que vem depois do “mas” é quase sempre
rua deserta, a maioria das campanhas de conscienti- fruto de uma tendência a ver o mundo de uma forma
zação são voltadas para as mulheres, não para os ho- distorcida só para ele parecer menos injusto.
mens – e trazem a absurda mensagem de “não faça
algo que poderia levá-la a ser violentada”. Disponível em: <http://super.abril.com.br/blogs>. Acesso
em: 02 set. 2014
Em um estudo sobre bullying feito em 2010 na
Universidade Linkoping, na Suécia, 42% dos adoles- (Adaptado)
centes culparam a vítima por ser “um alvo fácil”. Para
os pesquisadores, esses julgamentos estão relaciona-
dos à noção – amplamente difundida na ficção – de
que coisas boas acontecem a quem é bom e coisas Questão 12 - (CEFET MG)
más acontecem a quem merece. A tendência a acre-
A palavra destacada foi utilizada para retomar um
ditar que o mundo é assim é chamada, na psicologia,
termo antecedente na passagem transcrita em:
de falácia do mundo justo. “Não importa quão liberal
ou conservador você seja, alguma noção dela entra
na sua reação emocional quando ouve sobre o sofri-
mento dos outros”, diz o jornalista David McRaney a) “A tendência a acreditar que o mundo é assim
no livro “Você não é tão esperto quanto pensa”. Ele é chamada, na psicologia, de falácia do mundo
acrescenta que, embora muitas pessoas não acre- justo.” (4º parágrafo)
ditem conscientemente em carma, no fundo ainda
acreditam em alguma versão disso, adaptando o con- b) “[...] a falácia do mundo justo desconsidera os
ceito para a sua própria cultura. inúmeros outros fatores que influenciam quão
bem-sucedida a pessoa vai ser [...]” (6º parágra-
E dá para entender por que somos levados a pen- fo)
sar assim: viver em um mundo injusto e imprevisível
é meio assustador e queremos nos sentir seguros e c) “O problema é que crer cegamente nisso leva a
no controle. O problema é que crer cegamente nisso ainda mais injustiças, como o julgamento de que
leva a ainda mais injustiças, como o julgamento de pessoas pobres ou viciadas em drogas são vaga-
que pessoas pobres ou viciadas em drogas são vaga- bundas [...].” (5º parágrafo)
bundas [...], que mulher de roupa curta merece ser
maltratada ou que programas sociais são um des- d) “Ele acrescenta que, embora muitas pessoas
perdício de dinheiro e uma muleta para preguiçosos. não acreditem conscientemente em carma, no
Todas essas crenças são falaciosas porque partem do fundo ainda acreditam em alguma versão disso,
princípio de que o sistema em que vivemos é justo e adaptando o conceito para a sua própriacultu-
cada um tem exatamente o que merece. ra.” (4º parágrafo)

[...] a falácia do mundo justo desconsidera os inú-


meros outros fatores que influenciam quão bem-su-
Questão 13 - (CEFET MG)
cedida a pessoa vai ser, como o local onde ela nas-
ceu, a situação socioeconômica da sua família, os Em casos de abusos contra outras pessoas, como
estímulos e situações pelas quais passou ao longo da bullying ou estupro, a injustiça é ainda maior, pois
vida e o acaso. Programas sociais e ações afirmativas eles nunca são justificados – e aí a falácia do mundo
não rompem o equilíbrio natural das coisas, como justo se mostra ainda mais perversa. Portanto, toda
seus críticos podem crer – pelo contrário, a ideia é vez que você se sentir movido a dizer coisas como “O
justamente minimizar os efeitos da injustiça social. estuprador é quem está errado, é claro, mas…”, pare
Uma pessoa extremamente pobre pode virar a dona por aí. O que vem depois do “mas” é quase sempre
de uma empresa multimilionária, mas o esforço que fruto de uma tendência a ver o mundo de uma forma
vai ter de fazer para chegar lá é muito maior do que distorcida só para ele parecer menos injusto.
o esforço de alguém nascido em uma família rica que
sempre teve acesso à melhor educação e a bons con-
tatos. “Se olhar os excluídos e se questionar por que
eles não conseguem sair da pobreza e ter um bom Nesse fragmento, a autora sugere interromper a
emprego como você, está cometendo a falácia do enunciação de certas frases construídas com o “mas”
mundo justo. Está ignorando as bênçãos não mereci- porque, caso contrário, se evidenciaria um discurso
das da sua posição”, diz McRaney.
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a) acrítico. lento 40 e tirânico porque é servido pela violência da
informação.
b) ambíguo.
Milton Santos. Por uma outra globalização - do pensa-
c) impreciso. mento único à consciência universal.
Rio de Janeiro: Record, 2006 (com adaptações).
d) contraditório.

Questão 14 - (ESCS DF)


TEXTO: 8 - Comum à questão: 14
No que se refere aos sentidos do texto acima e às in-
1
A tão repetida ideia de aldeia global é uma fa- formações nele veiculadas, assinale a opção correta.
bulação. 2 O fato de que a comunicação se tornou
possível à escala do 3 planeta, deixando saber instan-
taneamente o que se passa em 4 qualquer lugar, per-
mitiu que fosse cunhada essa expressão, 5 quando, a) A palavra “desfalecimento” (Ref.28) está empre-
na verdade, ao contrário do que se dá nas verdadei- gada, no texto, em sentido denotativo.
ras 6 aldeias, é frequentemente mais fácil comunicar
com quem está 7 longe do que com o vizinho. A infor- b) Conclui-se do texto que a “violência da infor-
mação sobre o que 8 acontece não vem da interação mação” (Ref.40), associada ao processo de me-
entre pessoas, mas do que é 9 veiculado pela mídia, diação da informação disponibilizada ao público
uma interpretação interessada, senão 10 interesseira, pelos meios de comunicação, serve, no momen-
dos fatos. to histórico tratado, aos interesses do capital.
11
Um outro mito é o do espaço e do tempo con- c) As palavras “interessada” (Ref.9) e “interesseira”
traídos, 12 graças, outra vez, aos prodígios da veloci- (Ref.10) são empregadas para caracterizar, res-
dade. Só que a 13 velocidade está ao alcance apenas pectivamente, de forma positiva e negativa, a
de um número limitado de 14 pessoas, de tal forma interpretação dada pela mídia à informação por
que, segundo as possibilidades de cada 15 um, as dis- ela veiculada.
tâncias têm significações e efeitos diversos e o uso
do 16 mesmo relógio não permite igual economia do d) Conclui-se do segundo parágrafo do texto que a
tempo. velocidade da comunicação é responsável pelo
aumento da desigualdade associado à globaliza-
17
A ideia de aldeia global, tanto quanto a de espa- ção, o que é reforçado pela afirmação “o uso do
çotempo 18 contraído, permitiria imaginar a realiza- mesmo relógio não permite igual economia do
ção do sonho de 19 um mundo só, já que, pelas mãos tempo” (Refs. 15 e 16).
do mercado global, coisas, 20 relações, dinheiros, gos-
tos largamente se difundem por sobre 21 continentes,
raças, línguas, religiões, como se as 22 particularida-
TEXTO: 9 - Comuns às questões: 15, 16
des tecidas ao longo de séculos houvessem sido 23
todas esgarçadas. Tudo seria conduzido e, ao mesmo 1
A expressão globalização da alimentação signi-
tempo, 24 homogeneizado pelo mercado global regu- fica 2 uma série de processos, em boa medida vin-
lador. Será, todavia, 25 esse mercado regulador? Será culados, que tendem 3 a dar uma dimensão global à
ele global? alimentação, e que incluem a 4 produção e o consu-
mo. A globalização alimentar é um 5 fenômeno que
26
Fala-se, também, de uma humanidade 27 des-
se origina em períodos de dominação tão 6 distantes
territorializada, entre cujas características estaria
como as cruzadas ou os descobrimentos. Com as 7 ca-
o 28 desfalecimento das fronteiras como imperativo
racterísticas que hoje a conhecemos, desenvolveu-se
da globalização, 29 e a essa ideia dever-se-ia uma
na 8 segunda metade do século XX, quando a ativida-
outra: a da existência, já agora, 30 de uma cidadania
de econômica 9 se orientou decisivamente para uma
universal. De fato, as fronteiras mudaram de 31 signi-
escala mundial. A 10 globalização alimentar (à seme-
ficação, mas nunca estiveram tão vivas, na medida
lhança de outras manifestações 11 da globalização)
em que 32 o próprio exercício das atividades globali-
está envolta em fatores estruturais que a 12 alimen-
zadas não prescinde 33 de uma ação governamental
tam e promovem. Políticas econômicas, agrícolas e 13
capaz de torná-las efetivas dentro 34 do território. A
sociais estabelecidas e os meios de comunicação são
humanidade desterritorializada é apenas um 35 mito.
alguns 14 desses fatores. A imigração, sendo atual-
O exercício da cidadania, mesmo se avança a noção
mente um dos 15 fenômenos mais significativos com
de 36 moralidade internacional, é, ainda, um fato que
que se confrontam as 16 sociedades industrializadas,
depende da 37 presença e da ação dos Estados na-
muito tem também contribuído 17 para o fenômeno
cionais. Sem essas fábulas e 38 mitos, este período
da globalização alimentar. Ao longo da 18 história, os
histórico não existiria como é: também não 39 seria
fluxos migratórios têm sido responsáveis pela 19 che-
possível a violência do dinheiro. Este só se torna vio-
168 - www.PROJETOREDACAO.com.br
gada de novos alimentos aos países de acolhimento. nas Américas.
20
Quando as populações migram para outro país, as
acompanham 21 os hábitos alimentares do seu país de c) De acordo com o texto, a imigração, fenômeno
origem. Entre os casos 22 mais paradigmáticos, cite-se que inclui a saída e a chegada de fluxos de pes-
a comida chinesa, considerada 23 uma das mais inter- soas em diversos países, restringe-se às socieda-
nacionalizadas, por ter-se espalhado pelo 24 mundo à des industrializadas.
custa dos imigrantes. Assim também, a pizza 25 acom-
panha os italianos, a picanha segue os brasileiros e o d) Considerando-se que, no texto, os “imigrantes”
26
bacalhau viaja nas malas dos imigrantes portugue- (Ref.24) são as “populações [que] migram para
ses, entre 27 muitos outros exemplos. Qualquer des- outro país” (Ref.20), a forma verbal “migram”
tas práticas 28 gastronômicas primeiro circunscreve- poderia ser corretamente substituída por imi-
-se às bolsas de imigrantes 29 e depois se estende ao gram.
conjunto da sociedade, em maior ou 30 menor grau.

Maria do Céu Antunes Martins. Globalização da alimen-


TEXTO: 10 - Comum à questão: 17
tação: unidade ou diversidade.
In: Internet: <repositorio.ipcb.pt> (com adaptações). 1
Fala-se muito em globalização. As finanças, a
2
informação simultânea, as migrações de povos, o
crime 3 organizado, os conhecimentos científicos, a
Questão 15 - (ESCS DF) tecnologia, os 4 sistemas de poder, a produção e o
trabalho humano, tudo isso 5 se globaliza. Pode-se
Assinale a opção correta no que refere a aspectos lin- exaltar a globalização como oportunidade 6 de cresci-
guísticos do texto. mento econômico e cultural dos povos. Pode-se ain-
da 7 criticá-la em razão dos que a conduzem, ou de
como a 8 conduzem, ou dos rumos que toma. Mas ela
é irrefreável, 9 sobretudo por corresponder a muitas
a) Na referência 28, o segmento “circunscreve-se” exigências dos seres humanos.
poderia ser corretamente substituído por per-
manece circunscrita. 10
Essa afirmação pode sofrer duas objeções: uma
vem 11 sustentar que a globalização resulta em acu-
b) A partícula “se”, em “se estende” (Ref.29) não mulação de capital 12 e de poder em poucas mãos e
poderia ser classificada como pronome apassi- no predomínio das finanças 13 internacionais sobre
vador, sendo a correção do texto prejudicada qualquer outro interesse; outra, que o 14 conceito e
caso se substitua “se estende” por é estendida. a natureza da globalização foram criados e 15 difun-
didos por forças neoliberais, com a intenção de levar
c) Em “desenvolveu-se na segunda metade do sé- 16
os povos a crer que não há alternativa e, assim, de
culo XX” (Refs. 7 e 8), a partícula “se” classifica- negar a 17 função da política e da democracia.
-se como índice de indeterminação do sujeito.
8
Ambas as objeções baseiam-se em fatos reais.
d) Em “se confrontam as sociedades industriali- Pode-se 19 acrescentar que o ganho de capital passou
zadas” (Refs. 15 e 16), a partícula “se”, que se a não respeitar nada 20 (a vida, a saúde e até mesmo
classifica como pronome reflexivo, equivale em as partes do corpo humano vão se 21 transforman-
sentido à expressão umas às outras. do em mercadoria) e que o credo neoliberal é 22 im-
posto aos povos com as regras do fundamentalismo
23
monetário, que não admite dissidências. É o que
Questão 16 - (ESCS DF) se evidencia 24 quando instituições financeiras inter-
nacionais subordinam sua 25 ajuda ao compromisso
No que se refere aos sentidos do texto e às informa- dos governos de reestruturar os sistemas 26 de saúde
ções nele veiculadas, assinale a opção correta. pública e previdência social. As consequências des-
sa 27 opção (e ainda mais, dos crescentes desníveis
de renda, de 28 educação e de poder entre as classes
e entre os povos) 29 traduziram-se por quase toda a
a) Ainda que exerçam a função de sujeito nas ora- parte em aumento das 30 desigualdades de níveis de
ções em que ocorrem, “a pizza” (Ref.24), “a pi- saúde, documentadas por 31 estatísticas eloquentes,
canha” (Ref.25) e “o bacalhau” (Refs. 25 e 26) que se podem traduzir em milhões de 32 existências
não podem ser interpretados como agentes das humanas truncadas ou prejudicadas.
ações de acompanhar, seguir e viajar, sob pena
de se tornar o texto incoerente. Giovanni Berlinguer. Globalização e saúde global.
In: Estudos avançados. Vol. 13, n.º 35, São Paulo,
b) Conforme o texto, a globalização da alimentação jan./abr. 1999.
origina-se da dominação de povos por outros Internet: <www.scielo.br> (com adaptações).
povos, como no caso da dominação europeia
www.PROJETOREDACAO.com.br - 169
Questão 17 - (ESCS DF) quanto da cultura dos países de língua portu-
guesa, especialmente de Portugal, em decorrên-
Assinale a opção correta a respeito dos aspectos lin- cia do espírito de aventura dos portugueses.
guísticos do texto.
b) a lusofonia, em sentido amplo, não coincide com
a comunidade dos países cuja língua oficial seja
o português — ou ao menos inclua o português.
a) A oração iniciada pela conjunção “que” (Ref.19)
exerce a função de complemento da forma ver- c) o conceito de variação linguística é imprescindí-
bal “acrescentar” (Ref.19). vel à caracterização da lusofonia, de modo que,
se não houvesse variação — seja linguística, seja
b) O vocábulo “truncadas” (Ref.32) poderia ser cultural —, o próprio conceito de lusofonia seria
substituído por mutiladas, sem prejuízo para o inconcebível.
sentido do texto.
d) a língua portuguesa, assim como a unidade re-
c) A substituição do trecho “dos povos” (Ref.6) por presentada pela lusofonia, foi introduzida na
para os povos prejudicaria a coerência do texto, Ásia, na África e na América no mesmo período
dificultando seu entendimento. histórico.
d) O sentido do texto seria prejudicado caso a pa-
lavra “dissidências” (Ref.23) fosse empregada no
singular. Questão 19 - (ESCS DF)
Kehinde
Questão 18 - (ESCS DF) O meu nome é Kehinde porque sou uma ibêji* e
nasci por último. Minha irmã nasceu primeiro e por
É comum afirmar que a ideia da lusofonia surge isso se chamava Taiwo. Antes tinha nascido meu ir-
com a primeira globalização: a aventura dos desco- mão Kokumo, e o nome dele significava “não mor-
brimentos marítimos portugueses e a consequente rerás mais, os deuses te segurarão”. O Kokumo era
difusão de sua língua e cultura. De fato, percorrer o um abiku**, como a minha mãe. O nome dela,
mundo, apesar das especificidades sócioeconômico- Dúróorîîke, era o mesmo que “fica, tu serás mima-
culturais de cada comunidade de língua oficial por- da”. A minha avó Dúrójaiyé tinha esse nome porque
tuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, também era uma abiku, e o nome dela pedia “fica
Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor para gozar a vida, nós imploramos”. Assim são os
Leste), significa, via de regra, deparar-se com sons, abikus, espíritos amigos há mais tempo do que qual-
cores e sabores da nossa língua comum. quer um de nós pode contar, e que, antes de nascer,
Apresentada como um sistema de comunicação combinam entre si que logo voltarão a morrer para
linguísticocultural no âmbito da língua portuguesa e se encontrarem novamente no mundo dos espíri-
de suas variantes linguísticas, a lusofonia não pode tos. Alguns abikus tentam nascer na mesma família
ser restrita ao que as fronteiras nacionais delimi- para permanecerem juntos, embora não se lembrem
tam. Nesse modo de conceber a lusofonia, há que disso quando estão aqui no ayê, na terra, a não ser
se considerar as muitas comunidades espalhadas quando sabem que são abikus. Eles têm nomes espe-
pelo mundo e que constituem a chamada “diáspora ciais que tentam segurá-los vivos por mais tempo, o
lusa” e as localidades em que, se bem que nomeiem que às vezes funciona. Mas ninguém foge ao destino,
o português como língua de “uso”, na verdade, ela a não ser que Ele queira, porque, quando Ele quer,
seja minimamente (se tanto) utilizada: Macau, Goa, até água fria é remédio.
Diu, Damão e Málaca. Além disso, como lembra o * ibêji: assim são chamados os gêmeos, entre os po-
pensador português Eduardo Lourenço, lusofonia é vos iorubás.
inconcebível sem a inclusão da Galiza.
** abiku: criança nascida para morrer
Regina Helena Pires de Brito. A viagem da língua portu-
guesa. Internet: <www.revistapessoa.com> (com
adaptações).
Ana Maria Gonçalves. Um defeito de cor.

Rio de Janeiro: Record, 2007.


Infere-se do texto acima que

No fragmento do romance Um defeito de cor, de Ana


a) a globalização, por permitir a troca rápida de Maria Gonçalves, narrado por uma mulher que vem
informações, permitiu a difusão tanto da língua escravizada para o Brasil no século XIX, a presença da
170 - www.PROJETOREDACAO.com.br
multiculturalidade nas práticas das personagens, um a) O escravo nunca ameaçava o senhor quando ha-
dos legados da modernidade para a literatura brasi- via intimidade, confiança e consideração.
leira contemporânea, é evidenciada
b) As relações familiares criadas entre senhores e
escravos acabaram lançando as bases das leis
universalizantes.
a) pelo emprego da primeira pessoa, que garante
objetividade à narrativa. c) Em sistemas sociais fortemente hierarquizados,
o trabalho escravo substituía as atividades do
b) pela sintaxe do texto, em que predominam fra- espírito.
ses simples, em ordem direta.
d) Em sociedade hierarquizada, senhores e escra-
c) pelo uso de palavras e nomes próprios de ori- vos eram percebidos naturalmente como com-
gem iorubá, acompanhados de seus significa- plementares.
dos.
e) Hierarquia e complementaridade são formas na-
d) pela apresentação de uma paisagem natural es- turais de relações sociais.
trangeira pouco familiar ao leitor brasileiro.

TEXTO: 12 - Comuns às questões: 21, 22


TEXTO: 11 - Comum à questão: 20
Numa sociedade fortemente hierarquizada, onde as
pessoas se ligam entre si e essas ligações são consi-
deradas como fundamentais (valendo mais, na ver-
dade, do que as leis universalizantes que governam
as instituições e as coisas), as relações entre senhores
e escravos podiam se realizar com muito mais “intimi-
dade, confiança e consideração”. Aqui, o senhor não
se sente ameaçado ou culpado por estar submetendo
um outro homem ao trabalho escravo, mas, muito
pelo contrário, ele vê o negro como seu “comple- O PATO SOCIAL
mento natural”, como um “outro” que se dedica ao
Amigos que atuam no mercado editorial e na im-
trabalho duro, mas complementar às suas próprias
prensa de Lisboa, externando com bom humor a sua
atividades que são as do espírito. Assim a lógica do
indignação, argumentavam: “Queremos igualdade
sistema de relações sociais no Brasil é a de que pode
de condições e direitos. Se não podemos ser ‘exac-
haver intimidade entre senhores e escravos, superio-
tos’ em nosso idioma, então vocês não podem ter
res e inferiores, porque o mundo está realmente hie-
um ‘pacto’, mas, sim, um pato social”.
rarquizado, tal qual o céu da Igreja Católica, também
repartido e totalizado em esferas, círculos, planos, Avicultura sociopolítica à parte, os lusos, a despei-
todos povoados por anjos, arcanjos, querubins, san- to de seus questionamentos, e os demais governos
tos de vários méritos etc., sendo tudo consolidado na da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa,
Santíssima Trindade, todo e parte ao mesmo tempo; com exceção de Angola, já ratificaram o acordo or-
igualdade e hierarquia dados simultaneamente. O tográfico. O mais importante de tudo isso é entender
ponto crítico de todo nosso sistema é a sua profunda que as mudanças que unificaram a ortografia não
desigualdade.(...) alteraram a gramática e a riqueza do português,-
com sua multiplicidade de expressões homônimas e
Neste sistema, não há necessidade de segregar o
parônimas e infinitas possibilidades sintáticas para a
mestiço, o mulato, o índio e o negro, porque as hie-
composição das frases e sentenças.
rarquias asseguram a superioridade do branco como
grupo dominante. Ademais, o alto grau de redundância linguística
de nosso idioma permite que os textos sejam lidos
(Roberto da Matta, Relativizando - Uma Introdução à An-
rapidamente e na diagonal, sem prejuízo de se assi-
tropologia Social)
milar a informação mínima, e também facilita o me-
canismo da previsibilidade (ou seja, mesmo quando
faltam letras numa palavra, o leitor consegue ler de
Questão 20 - (ESPM SP) maneira correta). Tudo isso vai a favor do consenso
nacional quanto à necessidade de estimular a leitura.
Segundo o texto:
Considerando a adequada e rápida adaptação do
Brasil e levando-se em conta que até os portugueses

www.PROJETOREDACAO.com.br - 171
já ratificaram o acordo ortográfico, são incompreen- Questão 23 - (ESPM SP)
síveis as propostas que às vezes surgem no nosso Le-
gislativo ou na retórica de pretensos estudiosos do
tema, de se produzirem novas mudanças.

(Karine Pansa, Folha de SP, adaptado, 19.08.2014)

Questão 21 - (ESPM SP)


Pode-se afirmar que segundo a autora do texto: (Folha de S.Paulo, 31.05.2014)

a) a elevada redundância linguística trabalha a fa- A charge acima é passível de ser interpretada como
vor da contextualização do vocábulo. ironizando:

b) a supressão de uma letra altera totalmente o I. A presunção do ministro, ao considerar- -se pos-
significado de uma palavra. suidor de poderes semelhantes a Cristo, quando
este ressuscitou depois de três dias.
c) o leitor possui uma capacidade limitada de pre-
visibilidade para uma palavra. II. O modo ardiloso, além de certa arrogância, a
que o ministro recorre para, ante uma provável
d) a rápida adaptação do Brasil ao acordo ortográ- condenação ética, “desaparecer” e “reapare-
fico estimulou novas propostas pelo Legislativo. cer” politicamente num curto espaço de tempo.
e) novas mudanças linguísticas deveriam ser enca- III. A falácia do discurso político, o qual subentende
minhadas às autoridades para estimular a leitu- repetidas promessas e planos, ante um grupo de
ra no país. jornalistas ávidos por mudanças.

Questão 22 - (ESPM SP) a) apenas a I está correta.

Na última linha, o segmento “retórica de pretensos b) apenas a II está correta.


estudiosos do tema” possui um tom:
c) I e II corretas.

d) I e III corretas.
a) de elogio, significando a arte de convencer de
pesquisadores sábios. e) todas estão corretas.

b) exortativo, significando detentores do saber que


possuem o dom da oratória.
TEXTO: 13 - Comum à questão: 24
c) irônico, significando o discurso pomposo de su-
postos estudiosos. (...) era o Leonardo Pataca. Chamavam assim a
uma rotunda e gordíssima personagem de cabelos
d) pejorativo, significando esforçados estudantes brancos e carão avermelhado, que era o decano da
com surpreendente eloquência. corporação, o mais antigo dos meirinhos(¹) que vi-
viam nesse tempo. (...) Fora Leonardo algibebe( ²)
e) crítico, significando o discurso ardiloso de lin- em Lisboa, sua pátria; aborreceu-se porém do ne-
guistas soberbos. gócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe
por proteção de quem, alcançou o emprego de que
o vemos empossado, e que exercia, como dissemos,
desde tempos remotos. (Memórias de um Sargento
de Milícias, de Manuel

Antonio de Almeida)

¹meirinho = funcionário da justiça.

²algibebe = vendedor de roupas baratas; mascate.

172 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 24 - (ESPM SP) c) Milkau se mostra reticente sobre uma futura in-
tegração entre homem e natureza.
No trecho acima, podem ser detectados elementos
característicos que fazem com que a obra em ques- d) Há uma visão antecipatória de que agredir o Pla-
tão se afaste dos padrões românticos. Assinale o item neta significa agredir o próprio homem.
que NÃO seria responsável por esse afastamento:
e) Enquanto Lentz se mostra mais soberbo, Milkau
tem uma postura mais humilde.

a) descrição física não idealizada da personagem.

b) uso de apelido incorporado ao nome. Questão 26 - (ESPM SP)


c) passado não digno de um herói tradicional. Do léxico de Cruz e Sousa, especialmente o dos
primeiros livros, já se disse que, além da presença
d) cargo conseguido não por conquistas, mas por explicável de termos litúrgicos, traía a obsessão do
privilégios. branco, fator comum a tantas de suas metáforas (...)
Ao que se pode acrescer a não menor frequência de
e) ser o mais antigo dos meirinhos que viviam nes-
objetos luminosos ou translúcidos.
se tempo.
(Alfredo Bosi, História Concisa da Literatura Brasileira)

Questão 25 - (ESPM SP)


Os versos que confirmam de modo mais preciso as
– O homem – notou Lentz a sorrir com ar de triun- características apontadas no texto são:
fo – há de sempre destruir a vida para criar a vida. E
depois, que alma tem esta árvore? E que tivesse...
Nós a eliminaríamos para nos expandirmos.
a) Ó Formas alvas, brancas. Formas claras
E Milkau disse com a calma da resignação:
De luares, de neves, de neblinas!...
– Compreendo bem que é ainda a nossa contin-
gência essa necessidade de ferir a Terra, de arrancar Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
do seu seio pela força e pela violência a nossa alimen-
tação; mas virá o dia em que o homem, adaptando-se Incensos dos turíbulos das aras... (“Antífona”)
ao meio cósmico por uma extraordinária longevidade
b) Para as Estrelas de cristais gelados
da espécie, receberá a força orgânica da sua própria
e pacífica harmonia com o ambiente, como sucede As ânsias e os desejos vão subindo,
com os vegetais; e então dispensará para subsistir o
sacrifício dos animais e das plantas. Por ora nos con- Galgando azuis e siderais noivados
formaremos com este momento de transição... Sinto
dolorosamente que, atacando a Terra, ofendo a fonte De nuvens brancas a amplidão vestindo.
da nossa própria vida, e firo menos o que há de ma-
terial nela do que o seu prestígio religioso e imortal (“Siderações”)
na alma humana...
c) Nesse lábio mordente e convulsivo,
(Graça Aranha, Canaã)
Ri, ri risadas de expressão violenta

O Amor, trágico e triste, e passa, lenta,


No trecho acima, duas personagens alemãs expõem
A morte, o espasmo gélido, aflitivo... (“Lésbia”)
suas posições filosóficas antagônicas a respeito do
mundo e do homem. No fragmento discutem a ne- d) Alma! Que tu não chores e não gemas,
cessidade ou não do corte das árvores. Assinale a
afirmação NÃO condizente: Teu amor voltou agora.

Ei-lo que chega das mansões extremas,


a) Enquanto Lentz tem espírito agressivo, destrui- Lá onde a loucura mora! (“Ressurreição”)
dor, Milkau é humanista, sensível.
e) As minhas carnes se dilaceraram
b) Lentz defende a “lei do mais forte”, justificando
que para haver vida é preciso haver morte. E vão, das llusões que flamejaram,

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Com o próprio sangue fecundando as terras...(“ d) a vantagem de começar a entender a história de
um povo pelos fatos principais é que eles faci-
Clamando”) litam o acesso aos fatos secundários, em geral
confusos e de difícil compreensão.

e) a orientação da história de um povo pode ser


TEXTO: 14 - Comum à questão: 27 nitidamente encontrada quando são separados
os processos mais importantes dos fatos secun-
Todo povo tem na sua evolução, vista à distância,
dários que a tornam menos compreensível.
um certo “sentido”. Este se percebe não nos porme-
nores de sua história, mas no conjunto dos fatos e
acontecimentos essenciais que a constituem num
largo período de tempo. Quem observa aquele con- TEXTO: 15 - Comum à questão: 28
junto, desbastando-o do cipoal de incidentes secun-
dários que o acompanham sempre e o fazem muitas Inteligência é manter portas abertas
vezes confuso e incompreensível, não deixará de per-
ceber que ele se forma de uma linha-mestra e inin- Suzana Herculano-Houzel
terrupta de acontecimentos que se sucedem em or-
dem rigorosa, e dirigida sempre numa determinada
orientação. É isto que se deve, antes de mais nada, Folha de S.Paulo
procurar quando se aborda a análise da história de
um povo, seja aliás qual for o momento ou o aspecto
dela que interessa, porque todos os momentos e as-
pectos não são senão partes, por si só incompletas, 1 Uma das primeiras coisas que aprendemos em
de um todo que deve ser sempre o objetivo último ciência é que, para abordar um problema, é primeiro
do historiador, por mais particularista que seja. Tal preciso defini-lo. Encontrar as origens cerebrais da
indagação é tanto mais importante e essencial que é inteligência ou entender como ela se compara entre
por ela que se define, tanto no tempo como no espa- pessoas ou espécies animais diferentes, portanto,
ço, a individualidade da parcela de humanidade que exige primeiro definir o que é inteligência.
interessa ao pesquisador: povo, país, nação, socieda-
de, seja qual for a designação apropriada no caso. É 2 O problema é antigo, mas ainda elusivo. O psi-
somente aí que ele encontrará aquela unidade que cólogo Francis Galton foi supostamente o primeiro a
lhe permite destacar uma tal parcela humana para propor, no século 19, medir a inteligência de indiví-
estudá-la a parte. duos para estudar sua hereditariedade (e usá-la para
fins de eugenia, termo, aliás, cunhado por ele). Mas
(Formação do Brasil contemporâneo, 2004, Caio Prado uma medida útil foi criada somente em 1904, pelo
Júnior) estatístico Charles Spearman, e chamada de “fator g”
em referência a inteligência “geral”: algo que influen-
cia o desempenho em habilidades mentais diversas.
Questão 27 - (Fac. Cultura Inglesa SP) 3 Mas o que é a capacidade que o fator g mede?
Por muito tempo me atraiu a definição abrangente
Segundo o texto, de que inteligência é a capacidade de usar informa-
ções para resolver problemas. Mas recentemente um
físico e matemático fez uma descoberta potencial-
a) no emaranhado de fatos que compõem a histó- mente transformadora.
ria de um povo, é improvável que se encontre
4 Alex Wissner-Gross, pesquisador de Harvard e
um tronco principal que oriente o entendimento
do MIT, resolveu fazer aquela coisa que físicos gos-
dos processos associados a este povo.
tam de fazer: buscar uma equação única que expli-
b) a dificuldade em se entender a organização da casse a inteligência. E conseguiu. Sua palestra no site
história de um povo está no método como se ted.com explicando a descoberta pode não ser a mais
ensina a história, que valoriza os fatos desimpor- impressionante ou polida – mas faz pensar, e muito.
tantes em detrimento dos fatos mais significati-
5 A equação geral para a inteligência, que ele
vos, que poderiam orientar a compreensão.
trata como uma força dinâmica, consiste em apenas
c) o espírito de um povo está expresso prioritaria- seis letras ou símbolos que se traduzem em uma fra-
mente nos pequenos elementos, que devem ser se simples: inteligência é a capacidade de maximizar
desbastados para serem compreendidos, e não opções futuras. Decisões inteligentes, portanto, são
no tronco principal e mais organizado de sua aquelas que, ao contrário de fechar portas, mantêm
evolução histórica. portas abertas para outras decisões no futuro.

6 As implicações são gigantescas. Por um lado,


174 - www.PROJETOREDACAO.com.br
a equação produz comportamento inteligente até ou objetos serem processados. E a Igreja era a que
mesmo nos programas mais simples. Por outro, ela mais processava animais”, diz.
prediz que animais inteligentes são aqueles capazes
de formular mentalmente estados futuros possíveis Na época, não havia o entendimento de que os
e então decidir pelo caminho que mantém mais op- animais não tinham consciência do certo ou errado,
ções abertas. Um hipocampo, que permite usar me- e, como criaturas de Deus, os bichos eram submeti-
mórias recentes para projetar estados futuros, talvez dos ao julgamento da Igreja. Na história, há casos de
seja assim fundamental para a inteligência – além ratos excomungados e de animais venenosos banidos
do mais óbvio, algo que atue como um córtex pré- por ordem de bispos. Para escrever o livro, Almeida
-frontal que represente objetivos e selecione entre pesquisou documentos que citavam o processo, já
alternativas. que o original desapareceu.

7 Se decisões inteligentes são aquelas que ma- O tribunal eclesiástico chegou a nomear um de-
ximizam alternativas, para mim é inevitável pensar fensor para as formigas, que argumentou que elas
então no que é ciência inteligente: não aquela que não eram malditas, como dizia o processo, nem la-
resolve detalhes e fecha portas, mas a que abre no- dras, pois agiam pela sobrevivência. Não adiantou:
vas questões e possibilidades. foram condenadas. Segundo o juiz, não se sabe se a
sentença foi cumprida.

(Sílvia Freire. Folha de S.Paulo, 08.10.2011. Adaptado)


Questão 28 - (Fac. Direito de Franca SP)
Os elementos de conexão destacados no penúltimo
parágrafo do texto manifestam, respectivamente, as Questão 29 - (Fac. Direito de Sorocaba SP)
relações de sentido de
Assinale a alternativa cuja frase expressa, correta e
coerentemente, informações do texto.

a) comparação, ilusão e dúvida.

b) adição, dúvida, conclusão. a) À medida que o defensor das formigas tenha


afirmado que elas não eram ladras, foram con-
c) inclusão, dúvida e adição. denadas; logo não se sabe se cumpriram a sen-
tença.
d) comparação, adição e inclusão.
b) Ainda que o defensor das formigas tenha sus-
e) adição, dúvida e comparação. tentado que elas não eram ladras, foram con-
denadas; todavia não se sabe se cumpriram a
sentença.
TEXTO: 16 - Comum à questão: 29 c) Uma vez que o defensor das formigas tenha
reiterado que elas não eram ladras, foram con-
Livro conta caso de formigas condenadas por roubar
denadas; portanto não se sabe se cumpriram a
farinha
sentença.

d) Embora o defensor das formigas tenha afiança-


Milhares de formigas acusadas de retirar farinha do que elas não eram ladras, foram condenadas;
sorrateiramente da despensa de frades capuchinhos, de sorte que não se sabe se cumpriram a sen-
em São Luís (MA), foram processadas por furto e da- tença.
nos ao edifício.
e) Caso o defensor das formigas tenha declarado
Segundo a acusação, os túneis subterrâneos es- que elas não eram ladras, foram condenadas;
cavados pelos insetos poderiam colocar em risco a porém não se sabe se cumpriram a sentença.
estrutura do convento. Os frades queriam a expul-
são das formigas. O julgamento – que aconteceu em
1706, em um tribunal eclesiástico na província do Questão 30 - (Fac. Direito de Sorocaba SP)
Maranhão – é narrado agora pelo juiz José Eulálio
Figueiredo de Almeida no livro “O Processo das For- Considere a tirinha.
migas”.

Ele conta que escreveu o livro para mostrar as


mudanças ocorridas no Direito e na Igreja ao longo
desses 300 anos. “Antigamente, era comum animais
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em si mesmo 15 um prêmio insigne. Só desejava uma
coisa: a cópia 16 autêntica da verba. Deram-lha; ele
mandou-a encaixilhar 17 e pendurar de um prego,
na loja. Os outros fabricantes 18 de caixões, passa-
do o assombro, clamaram 19 que o testamento era
um despropósito. Felizmente 20 — e esta é uma das
vantagens do estado social —, 21 felizmente, todas as
(André Dahmer. Folha de S.Paulo, 29.11.2013) demais classes acharam que 22 aquela mão, saindo
do abismo para abençoar a obra 23 de um operário
modesto, praticara uma ação rara e 24 magnânima.
Era em 1855; a população estava mais 25 conchegada;
Para a personagem da tirinha, o sentimento amoroso não se falou de outra coisa. O nome do 26 Nicolau re-
é boou por muitos dias na imprensa da corte, 27 donde
passou à das províncias. Mas a vida universal 28 é tão
variada, os sucessos acumulam-se em tanta 29 mul-
tidão, e com tal presteza, e, finalmente, a memória
a) efêmero, o que condiz com a estética barroca 30
dos homens é tão frágil, que um dia chegou em 31
para a qual o ser humano vive sem conflitos ao que a ação de Nicolau mergulhou de todo no olvido.
devotar-se integralmente aos prazeres munda-
nos. 32
Não venho restaurá-la. Esquecer é uma neces-
sidade. 33 A vida é uma lousa, em que o destino, para
b) perene, o que condiz com a estética realista-na- escrever 34 um novo caso, precisa apagar o caso escri-
turalista para a qual esse sentimento é conse- to. 35 Obra de lápis e esponja. Não, não venho restau-
quência de manifestações puramente instinti- rá-la. 36 Há milhares de ações tão bonitas, ou ainda
vas. mais bonitas 37 do que a do Nicolau, e comidas do es-
c) ilusório, o que condiz com a estética parnasiana quecimento. 38 Venho dizer que a verba testamentá-
para a qual a crítica aos problemas sociais deve- ria não é um 39 efeito sem causa; venho mostrar uma
ria se sobrepor ao sentimentalismo. das maiores 40 curiosidades mórbidas deste século.

d) fugaz, o que se opõe à estética romântica para a


41
Sim, leitor amado, vamos entrar em plena pato-
qual a relação amorosa caracteriza-se, idealiza- logia. 42 Esse menino que aí vês, nos fins do século 43
damente, pela fidelidade e dedicação constante passado (em 1855, quando morreu, tinha o Nicolau
ao ser amado.
44
sessenta e oito anos), esse menino não é um pro-
duto 45 são, não é um organismo perfeito. Ao contrá-
e) perdurável, o que se opõe à estética trovado- rio, desde 46 os mais tenros anos, manifestou por atos
resca para a qual a impossibilidade de contato reiterados 47 que há nele algum vício interior, alguma
com a mulher amada determina o fim da paixão falha orgânica. 48 Não se pode explicar de outro modo
amorosa. a obstinação 49 com que ele corre a destruir os brin-
quedos dos outros 50 meninos, não digo os que são
iguais aos dele, ou ainda51 inferiores, mas os que são
melhores ou mais ricos. 52 Menos ainda se compreen-
TEXTO: 17 - Comuns às questões: 31, 32 de que, nos casos em 53 que o brinquedo é único, ou
somente raro, o jovem 54 Nicolau console a vítima
Verba Testamentária com dois ou três pontapés; 55 nunca menos de um.
Tudo isso é obscuro. Culpa do 56 pai não pode ser. O
pai era um honrado negociante 57 ou comissário [...],
1
“... Item, é minha última vontade que o caixão, que viveu com certo luzimento no 58 último quartel
2
em que o meu corpo houver de ser enterrado, seja do século, homem ríspido, austero, que 59 admoes-
3
fabricado em casa de Joaquim Soares, à rua da Al- tava o filho, e, sendo necessário, castigava-o. 60 Mas
fândega. 4 Desejo que ele tenha conhecimento desta nem admoestações, nem castigos, valiam nada. 61 O
5
disposição, que também será pública. Joaquim Soa- impulso interior do Nicolau era mais eficaz do que 62
res 6 não me conhece; mas é digno da distinção, por 7 todos os bastões paternos; e, uma ou duas vezes por
ser dos nossos melhores artistas, e um dos homens 8
63
semana, o pequeno reincidia no mesmo delito. Os
mais honrados da nossa terra...”
64
desgostos da família eram profundos. Deu-se mes-
mo 65 um caso, que, por suas gravíssimas consequên-
9
Cumpriu-se à risca esta verba testamentária. cias, 66 merece ser contado. [...]
Joaquim 10 Soares fez o caixão em que foi metido
o corpo 11 do pobre Nicolau B. de C.; fabricou-o ele ASSIS, Machado de. In: Contos/ Uma Antologia. Seleção,
mesmo, con 12 amore; e, no fim, por um movimento introdução
cordial, pediu 13 licença para não receber nenhuma e notas de John Gledson. São Paulo: Companhia das
remuneração. 14 Estava pago; o favor de defunto era Letras, 1998.p. 411-413.

176 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 31 - (FM Petrópolis RJ) TEXTO: 18 - Comum à questão: 33
A afirmação do texto “a verba testamentária não é Autopsicografia
um efeito sem causa” (Refs. 38-39) relaciona-se ao
fato de que
O poeta é um fingidor.

a) a herança de uma pessoa falecida deve ir obriga- Finge tão completamente


toriamente para seus descendentes diretos.
Que chega a fingir que é dor
b) a consideração do falecido por uma certa pessoa
é expressa em testamento, se ela não é herdeira A dor que deveras sente.
legítima, mas é favorecida por possíveis condu-
tas pregressas.
E os que leem o que escreve,
c) herdeiros legítimos (filhos, por exemplo) podem
se opor à doação do falecido a outras pessoas, Na dor lida sentem bem,
ainda mais a operários humildes.
Não as duas que ele teve,
d) o artesão que constrói o caixão, por direito, faz
jus à parte da herança já que ele produz algo in- Mas só a que eles não têm.
dispensável ao funeral.

e) as pessoas, como Joaquim Soares, que recebem


parte da herança por merecimento e considera- E assim nas calhas de roda
ção do morto, ficam famosas.
Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda


Questão 32 - (FM Petrópolis RJ) Que se chama o coração.
Há um trecho no conto cuja linguagem torna clara a
(Obra poética, 1984, Fernando Pessoa.)
seguinte afirmação:

O Realismo se tingirá de naturalismo, no romance e


Questão 33 - (FAMERP SP)
no conto, sempre que fizer personagens e enredos Deduz-se, da leitura da primeira estrofe, que “o poe-
submeterem- se ao destino cego das “leis naturais” ta” a que se refere o poema
que a ciência da época julgava ter codificado [...]

BOSI, A. História concisa da literatura brasileira.


43. ed. São Paulo: Cultrix, 1994. a) livra-se por completo de sua dor ao compor o
poema.

b) sente dor, mas, ainda assim, não se exime de


Esse trecho é: compor o poema.

c) sente dores falsas, que o motivam a compor um


poema.
a) “Cumpriu-se à risca esta verba testamentária”
(Ref. 9) d) transforma sua dor sentida em outra, simulada,
diferente da original.
b) “Os outros fabricantes de caixões, passado o
assombro, clamaram que o testamento era um e) expressa sem artifícios sua dor, o que fica carac-
despropósito” (Refs. 17-19) terizado na palavra “deveras”.
c) “Esquecer é uma necessidade” (Refs. 32-33)

d) “esse menino não é um produto são, não é um TEXTO: 19 - Comuns às questões: 34, 35
organismo perfeito” (Refs. 44-45)
Uma noite destas, vindo da cidade para o Enge-
e) “Culpa do pai não pode ser” (Refs. 55-56) nho Novo, encontrei num trem da Central um rapaz
aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 177
Cumprimentou-me, sentou- -se ao pé de mim, falou Questão 35 - (FAMERP SP)
da lua e dos ministros, e acabou recitando-me ver-
sos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não “um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e
fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, de chapéu.”
como eu estava cansado, fechei os olhos três ou qua-
tro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a
leitura e metesse os versos no bolso. Nessa frase, são associados dois substantivos seman-
– Continue, disse eu acordando. ticamente díspares: “vista” e “chapéu”. A quebra de
paralelismo semântico provoca um curioso efeito de
− Já acabei, murmurou ele. estilo.

− São muito bonitos.

Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do Entre as frases, retiradas de outro romance de Ma-
bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. chado de Assis, a que produz efeito de estilo seme-
No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, lhante é:
e acabou alcunhando- -me Dom Casmurro. Os vizi-
nhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e
calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. a) “Algum tempo hesitei se devia abrir estas me-
Nem por isso me zanguei. mórias pelo princípio ou pelo fim.”
[...] b) “Já o leitor compreendeu que era a Razão que
Não consultes dicionários. Casmurro não está voltava à casa, e convidava a Sandice a sair.”
aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs c) “Um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a
o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom aliviar a nossa melancólica humanidade.”
veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo.
Tudo por estar cochilando! Também não achei me- d) “A minha ideia, depois de tantas cabriolas, cons-
lhor título para a minha narração; se não tiver outro tituíra-se ideia fixa.”
daqui até o fim do livro, vai este mesmo. O meu poe-
ta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. e) “Marcela amou-me durante quinze meses e
E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá onze contos de réis.”
cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão
isso dos seus autores; alguns nem tanto.

(Dom Casmurro, 2008, Machado de Assis.) TEXTO: 20 - Comum à questão: 36


A experiência do cotidiano nos brinda sempre
com anomalias, incongruências, contradições. E,
Questão 34 - (FAMERP SP) quando tentamos explicá-las, explicações à primeira
vista razoáveis acabam por revelar-se insatisfatórias
O narrador de Dom Casmurro, em procedimento tí- após exame mais acurado. A natureza das coisas e
pico de Machado de Assis, dirige-se diretamente ao dos eventos não nos parece facilmente inteligível. As
leitor para conversar. No texto, um elemento que tor- opiniões e os pontos de vista dos homens são difi-
na evidente tal procedimento é cilmente conciliáveis ou, mesmo, uns com os outros
inconsistentes. Consensos porventura emergentes se
mostram provisórios e precários. Quem sente a ne-
a) a explicação que o narrador dá sobre a ironia do cessidade de pensar com um espírito mais crítico e
pronome “Dom” em seu apelido. tenta melhor compreender,essa diversidade toda o
desnorteia.
b) o emprego da segunda pessoa do singular, em
“Não consultes dicionários”. Talvez a maioria dos homens conviva bem com
esse espetáculo da anomalia mundana. Uns poucos
c) o uso dos pronomes possessivos, em “sendo o não o conseguem e essa experiência muito os per-
título seu” e “a obra é sua”. turba. Alguns destes se fazem filósofos e buscam na
filosofia o fim dessa perturbação e a tranquilidade
d) a informalidade com que o narrador expressa de espírito. Uma tranquilidade de espírito que espe-
suas escolhas, como em “vai este mesmo”. ram obter, por exemplo, graças à posse da verdade.
A filosofia lhes promete explicar o mundo, dar conta
e) o emprego de travessões, para marcar as trocas da experiência cotidiana, dissipar as contradições,
de turnos nos diálogos. afastar as névoas da incompreensão. Revelando o
ser, que o aparecer oculta; ou, se isso não for pos-
178 - www.PROJETOREDACAO.com.br
sível, desvendando os mistérios do conhecimento e Na tirinha, pode-se observar uma sequência de ima-
deste delineando a natureza e os precisos limites; ou, gens, de um homem sobre uma corda-bamba, e uma
pelo menos, esclarecendo a natureza e a função de sequência de frases. A interação entre imagens e fra-
nossa humana linguagem, na qual dizemos o mundo ses
e formulamos os problemas da filosofia. A filosofia
distingue e propõe-se ensinar-nos a distinguir entre
verdade e falsidade, conhecimento e crença, ser e
aparência, sujeito e objeto, representação e repre- a) faz com que um significado – a “dificuldade” de
sentado, além de muitas outras distinções. andar sobre uma corda – migre para a sequência
escrita, induzindo a que se conclua que é difícil
Mas a filosofia não nos dá o que nos prometera não julgar ninguém.
e buscáramos nela. Muito pelo contrário, o que ela
nos descobre é uma extraordinária diversidade de b) perde importância no último quadro, pois a que-
posições e pontos de vista, totalmente incompatí- da do personagem, expressa em imagens, inter-
veis uns com os outros e nunca conciliáveis. A dis- rompe seus pensamentos.
cordância que divide o comum dos homens, nós a c) é interrompida entre o terceiro e o quarto qua-
encontramos de novo nas filosofias, mas potenciali- dros, quando o personagem para deliberada-
zada agora como ao infinito, de mil modos sofisticada mente de andar e de pensar no que até então
num discurso arguto. Sobre coisa nenhuma se põem pensava.
os filósofos de acordo, nem mesmo sobre o objeto, a
natureza ou o método do próprio empreendimento d) produz um efeito cômico, na medida em que a
de filosofar. queda da corda faz rir e apaga o raciocínio que
até então vinha se desenvolvendo em palavras.
(Oswaldo Porchat Pereira, Rumo ao ceticismo, 2006.
Adaptado.) e) cria uma terceira narrativa, alegórica, que sinte-
tiza as imagens e as palavras, segundo a qual as
pessoas não terminam algumas de suas tarefas
porque não conseguem silenciar a mente.
Questão 36 - (FAMERP SP)
Com base na leitura do texto, é correto afirmar que a filosofia
TEXTO: 21 - Comum à questão: 38

a) revela inúmeras divergências de opiniões, cuja Felicidade Clandestina


harmonização é impossível. Clarice Lispector
b) concilia os pontos de vista e as posições diferen-
tes, aparentemente incompatíveis.
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos exces-
c) suprime as diferenças das opiniões, usuais na sivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto
vida cotidiana. enorme, enquanto nós todas ainda éramos achata-
d) dilui as divergências da vida cotidiana em expli- das. (...) Mas possuía o que qualquer criança devo-
cações superficiais. radora de histórias gostaria de ter: um pai dono de
livraria. (...)
e) assegura a convergência entre os diferentes pon-
tos de vista. Ela toda era pura vingança, chupando balas com
barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que
éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, alti-
nhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma
Questão 37 - (FAMERP SP) ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu
nem notava as humilhações a que ela me submetia:
Considere a tirinha de Laerte. continuava a implorar-lhe emprestados os livros que
ela não lia.

Até que veio para ela o magno dia de começar a


exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como ca-
sualmente, informou-me que possuía As reinações
de Narizinho, de Monteiro Lobato.

Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para


se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E,
(www.manualdominotauro.blogspot.com.br) completamente acima de minhas posses. Disse-me
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que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que (http://tinyurl.com/veele-contos Acesso em: 27.08.14.
ela o emprestaria. (...) Adaptado)

No dia seguinte fui à sua casa, literalmente cor-


rendo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim
numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem Questão 38 - (FATEC SP)
para meus olhos, disse-me que havia emprestado
o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia se- De acordo com a leitura do texto, pode-se afirmar
guinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas que a narradora-personagem,
em breve a esperança de novo me tomava toda e eu
recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu
modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Des- a) para conseguir um livro emprestado, mentia
sa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia para a colega e fazia falsas promessas.
seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a
minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, b) para conseguir um livro emprestado, ia à casa da
andei pulando pelas ruas como sempre e não caí ne- colega a fim de humilhá-la.
nhuma vez.
c) para recuperar um livro emprestado, humilhava
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano se- a colega, que não se importava.
creto da filha do dono da livraria era tranquilo e dia-
bólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua d) para conseguir um livro emprestado, era humi-
casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ou- lhada pela colega, porém não desistia.
vir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu
poder, que eu voltasse no dia seguinte. (...) E assim e) para recuperar um livro emprestado, procurou a
continuou. Quanto tempo? Não sei. (...) Eu ia diaria- mãe de uma colega, dona de livraria.
mente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes
ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem, mas você
só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra TEXTO: 22 - Comuns às questões: 39, 40
menina. (...)
CABEÇADAS NADA BONITAS
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua
casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apa-
receu sua mãe. Ela devia estar estranhando a apa-
rição muda e diária daquela menina à porta de sua Nesta semana tem início a temporada daquele
casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma con- que é provavelmente o esporte favorito do brasilei-
fusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elu- ro: sentar no sofá para acompanhar o progresso de
cidativas. A senhora achava cada vez mais estranho um esquadrão de 11 componentes para defender a
o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe honra do seu país em face de múltiplos ataques es-
boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme trangeiros. São batalhas até que pouco sangrentas, e
surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui visivelmente menos violentas do que as dos campos
de casa e você nem quis ler!(...) de futebol americano ou hóquei, que levam a fama
de perigosos para seus jogadores.
Foi então que, finalmente se refazendo, disse fir-
me e calma para a filha: você vai emprestar o livro Mas, de acordo com dois estudos recentes, um
agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro canadense e um americano, também o futebol faz
por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do estragos – e ao cérebro, sobretudo. O estudo cana-
que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é dense mostrou que, dependendo de quem conta,
tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode a chance de concussão é ao menos tão grande em
ter a ousadia de querer. jogos de futebol quanto no truculento futebol ame-
ricano, deixando jogadores com problemas de me-
Como contar o que se seguiu? Eu estava estontea- mória. Cotoveladas e cabeçadas entre jogadores são
da, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não grandes culpados, mas um outro inimigo foi aponta-
disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como do recentemente por dois estudos independentes:
sempre. Saí andando bem devagar. (...) Chegando em cabecear a bola.
casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só
para depois ter o susto de o ter. (...) Criava as mais Lances lindos, como a cabeçada de Pelé defen-
falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que dida miraculosamente pelo goleiro inglês Gordon
era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandes- Banks na Copa de 70, escondem uma física nada bo-
tina para mim. Parece que eu já pressentia. Como nita: a aceleração e desaceleração do cérebro dentro
demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em da cabeça enquanto absorve o choque de uma bola
mim. Eu era uma rainha delicada. (...) viajando a 75 km/h, e então a arremessa a 45 km/h
em direção ao gol. Durante uma partida, jogadores
180 - www.PROJETOREDACAO.com.br
expõem seus cérebros a uma quantidade média de a) “mostrou que quanto mais cabeceiam a bola,
6 a 12 impactos assim. Treinos são ainda piores, com mais esses jogadores sofrem danos em seus cé-
cerca de 30 cabeçadas por sessão. rebros” (proporção)

O problema maior de cabecear a bola é que, na b) “Cotoveladas e cabeçadas entre jogadores são
maior parte dos casos, o dano não é imediatamente grandes culpados, mas um outro inimigo foi
visível – mas está lá e vai se acumulando ao longo do apontado recentemente...”(contraste)
tempo. São pequenas lesões causadas pela quebra
das fibras na substância branca que interconectam c) “Lances lindos, como a cabeçada de Pelé defen-
as várias partes do cérebro e que se partem quando dida miraculosamente pelo goleiro inglês Gor-
estiradas muito rápido – por exemplo, quando o cé- don Banks na Copa de 70, escondem uma física
rebro recebe, ou dá, uma pancada na bola. O resul- nada bonita...” (comparação)
tado é equivalente a uma rede de computadores que
ainda funcionam, mas que não mais trocam informa- d) “O estudo canadense mostrou que, dependen-
ções uns com os outros. do de quem conta, a chance de concussão é ao
menos tão grande em jogos de futebol quanto
Ao longo do tempo, as pequenas interrupções no truculento futebol americano...” (consequên-
nas fibras da substância branca se tornam visíveis em cia)
imagens do cérebro – inclusive em amadores: o estu-
do do Hospital Albert Einstein, nos EUA, mostrou que
quanto mais cabeceiam a bola, mais esses jogadores
TEXTO: 23 - Comum à questão: 41
sofrem danos em seus cérebros – que se correlacio-
nam com pequenos, mas visíveis, problemas de me- SAÚDE SOFRE ESCASSEZ CRÔNICA DE RECURSOS
mória.

Defender seu país, é claro, sempre tem seu preço.


Nesta Copa, serão as canelas, joelhos e cérebros dos Dos pilares do ambicioso modelo de seguridade
nossos jogadores. Ao menos eles são bem pagos... social criado pela Constituição de 1988, o Sistema
Único de Saúde é o que enfrenta os maiores entraves
(HERCULANO-HOUZEL, Suzana. orçamentários.
Folha de São Paulo, 10/06/2014, Caderno Equilíbrio,
p.5.) Enquanto os gastos públicos brasileiros com Pre-
vidência, assistência social e amparo ao trabalhador
são comparáveis, como proporção da economia, aos
do Primeiro Mundo, a saúde padece de escassez
Questão 39 - (FCM MG) crônica de verbas.
A passagem em que se verifica a presença de uma Com base em dados de 2009, o IBGE (Instituto
analogia é: Brasileiro de Geografia e Estatística) estimou o gasto
público em saúde em 3,8% do Produto Interno Bruto;
com valores de 2011, um estudo do IPEA (Instituto de
a) “O resultado é equivalente a uma rede de com- Pesquisa Econômica Aplicada) calculou muitos seme-
putadores que ainda funcionam, mas que não lhantes 3.9% do PIB.
mais trocam informações com os outros.”
Embora crescente nos últimos anos, o montante
b) “Mas, de acordo com dois estudos recentes, um é inferior aos 4,8% da renda nacional gastos pelas fa-
canadense e um americano, também o futebol mílias com planos privados, medicamentos e outros
faz estragos – e ao cérebro, sobretudo.” bens de serviços de saúde, nas contas do IBGE.

c) “Defender seu país, é claro, sempre tem seu pre- É muito menos, ainda, que a média de 6,5% do
ço. Nesta Copa, serão as canelas, joelhos e cére- PIB desembolsada pelos governos dos países da
bros dos nossos jogadores.” OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvi-
mento Econômico), a maioria desenvolvidos.
d) “Durante uma partida, jogadores expõem seus
cérebros a uma quantidade média de 6 a 12 im- Segundo as regras constitucionais, estabelecidas
pactos assim.” em 2000, a União deve elevar suas despesas em saú-
de conforme o crescimento anual da economia do
país. Estados e municípios devem destinar ao setor,
respectivamente, 12% e 15% de suas receitas.
Questão 40 - (FCM MG)
(PATU, G.;NUBLAT, J. Folha de São Paulo. 29/03/2014.
Assinale o trecho que NÃO apresenta a relação de Caderno especial de Saúde, p.8. Texto adaptado.)
ideia indicada nos parênteses:
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Questão 41 - (FCM MG) dutividade acadêmica, fui aposentado compulsoria-
mente.
Leia a charge a seguir e atente para a sua relação com
o texto anterior. Para alguns professores, é concedido o honroso
título de Professor Emérito. É um grande privilégio;
em lugar de ser aposentado como um professor ves-
tindo pijama, o Professor Emérito veste uma beca.
Como um velho amigo dizia: “O Professor Emérito
é um eunuco acadêmico; tem a voz, mas não tem o
voto nos colegiados da universidade.”

Antes de a aposentadoria chegar, comecei a pla-


nejar atividades que preencheriam o meu dia a dia.
Comecei explorando a minha memória, escrevendo
crônicas; já publiquei um livro, Diário Reinventado, e
já estou com outro em impressão.

As leituras de Guimarães Rosa e a vivência em uma


fazenda nas proximidades de Cordisburgo, durante
cerca de 30 anos, levaram-me a observar os pássaros
(https://www.google.com.br/search?q=charge+de+en- do cerrado, cotejando-os com aqueles citados pelo
fermeira&tbm Acesso em 22/07/2014.) encantado vizinho Dr. Rosa. Agora observo os pássa-
ros de rua, e estou preocupado com as dificuldades
que têm para sobreviverem. Trata-se de uma fauna
totalmente desprotegida. Vivem de teimosos.
Com base no texto anterior, a frase da enfermeira
Não tenho dúvidas de que, como idoso ido em
anos, não perdi a capacidade de aprender. Eu não me
a) endossa a questão da escassez crônica de recur- sinto um idoso acabado, volto a insistir. Aquele infeliz
sos. julgamento de 50 anos passados está permanente-
mente na minha consciência. Foi preciso ter vivido
b) contradiz a equiparação entre os planos públi- todos estes longos anos para reformular os meus
cos e privados. preconceitos, sustentados por uma auto-suficiência
inexplicável.
c) sugere que as regras constitucionais merecem
drástica revisão. (CISALPINO, Eduardo Osório. Percursos.
B.H.: Editora do Autor, 2014, p.109. Texto adaptado.)
d) corrobora a concepção de que há despreparo
entre os profissionais da saúde.

Questão 42 - (FCM MG)


TEXTO: 24 - Comum à questão: 42 Assinale a afirmativa INCORRETA sobre aspectos lin-
guísticos do texto:
O IDOSO E O MUNDO ACABADO

a) O termo “vestindo pijama” refere-se à vida ina-


Quando jovem, e até mesmo adulto, em plena tiva e monótona de um aposentado dentro de
maturidade, auto-suficiente, eu tinha uma certacom- casa.
paixão pelos velhos, pois os considerava com a vida
acabada. Agora, sendo um velho, possuindo uma ida- b) Na expressão “como idoso ido em anos” há um
de avançada, vim a descobrir o grande erro que havia jogo de palavras provocado por sons semelhan-
cometido. tes.

Talvez eu tenha sido levado a errar devido à nossa c) A palavra “eunuco” no trecho “O Professor Emé-
cultura, que pouco valoriza o idoso, e mais, era uma rito é um eunuco acadêmico” pode ser lida no
época em que a nossa população de idosos não era sentido literal.
significativa, não se encontrava organizada como nos
dias de hoje. d) No trecho “aos setenta anos de idade, em plena
produtividade acadêmica, fui aposentado com-
Senti pessoalmente como o idoso era tratado em pulsoriamente”, o advérbio reforça a ideia implí-
nosso país: aos setenta anos de idade, em plena pro- cita na locução verbal.

182 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 25 - Comum à questão: 43 11
– Por este preço dou eu conta da roça!

Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mes- 12


– Ah! É nhô Jão!
mo no que se refere à simples informação, depende
de muita coisa além do valor que ele possa ter. De-
13
Conheciam os velhinhos o capanga, a quem tinham
pende do momento da vida em que o lemos, do grau
14
por homem de palavra, e de fazer o que prometia.
do nosso conhecimento, da finalidade que temos pela
15
Aceitaram sem mais hesitação; e foram mostrar o
frente. Para quem pouco leu e pouco sabe, um com- lugar que 16 estava destinado para o roçado.
pêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para 17
Acompanhou-os Jão Fera; porém, mal seus olhos 18
quem sabe muito, um livro importante não passa
descobriram entre os utensílios a enxada, a qual ele
de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades 19
esquecera um momento no afã de ganhar a soma
profundas, que nos fazem afinar com certo autor (e
precisa, 20 que sem mais deu costas ao par de velhi-
portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro,
nhos e foi-se 21 deixando-os embasbacados.
independente da valia de ambos.
José de Alencar, Til.
Antonio Candido, “Dez livros para entender o Brasil”.
Teoria e debate. Ed. 45, 01/07/2000. * moquirão = mutirão (mobilização coletiva para au-
xílio mútuo, de caráter gratuito).

Questão 43 - (FUVEST SP)


Questão 44 - (FUVEST SP)
Traduz uma ideia presente no texto a seguinte afir-
mação: Considerada no contexto, a palavra sublinhada no
trecho “mal seus olhos descobriram entre os utensí-
lios a enxada” (L. 17-18) expressa ideia de
a) O efeito de um livro sobre o leitor é condiciona-
do pela quantidade de informações que o texto
veicula. a) tempo.
b) A recepção de um livro pode ser influenciada b) qualidade.
pela situação vivida pelo leitor.
c) intensidade.
c) A verdadeira erudição não dispensa a leitura dos
bons manuais escolares. d) modo.
d) A leitura de um livro a qual tem finalidades me- e) negação.
ramente práticas prejudica a assimilação do co-
nhecimento.

e) O reconhecimento do valor de um livro depen- TEXTO: 27 - Comum à questão: 45


de, primordialmente, dos sentimentos pessoais
do leitor E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda
a alma pelos olhos enamorados.

Naquela mulata estava o grande mistério, a sín-


TEXTO: 26 - Comum à questão: 44 tese das impressões que ele recebeu chegando aqui:
ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor ver-
1
Tornando da malograda espera do tigre, alcançou o melho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos
2
capanga um casal de velhinhos, que seguiam dian- trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas
te dele o 3 mesmo caminho, e conversavam acerca brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se
de seus negócios 4 particulares. Das poucas palavras não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e
que apanhara, percebeu 5 Jão Fera que destinavam era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o
eles uns cinquenta mil-réis, tudo 6 quanto possuíam, mel e era a castanha do caju, que abre feridas com
à compra de mantimentos, a fim de fazer 7 um moqui- o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e trai-
rão*, com que pretendiam abrir uma boa roça. çoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que es-
voaçava havia muito tempo em torno do corpo dele,
8
– Mas chegará, homem? perguntou a velha. assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras
embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe
9
– Há de se espichar bem, mulher!
as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma
10
Uma voz os interrompeu: centelha daquele amor setentrional, uma nota da-
quela música feita de gemidos de prazer, uma larva

www.PROJETOREDACAO.com.br - 183
daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno nem lugar me foi dado nos altares.
da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosfo-
rescência afrodisíaca. Sou apenas o alimento forte e substancial

Aluísio Azevedo, O cortiço. dos que trabalham a terra,

alimento de rústicos e animais de jugo.

Questão 45 - (FUVEST SP) Quando os deuses da Hélade corriam pelos bosques,

O conceito de hiperônimo (vocábulo de sentido mais coroados de rosas e de espigas,


genérico em relação a outro) aplica-se à palavra
e os hebreus iam em longas caravanas
“planta” em relação a “palmeira”, “trevos”, “bauni-
lha” etc., todas presentes no texto. Tendo em vista a buscar na terra do Egito o trigo dos faraós,
relação que estabelece com outras palavras do texto,
constitui também um hiperônimo a palavra quando Rute respigava cantando nas searas de Booz

e Jesus abençoava os trigais maduros,


a) “alma”. eu era apenas o bró nativo das tabas ameríndias.
b) “impressões”. Fui o angu pesado e constante do escravo
c) “fazenda”. na exaustão do eito.
d) “cobra”. Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante.
e) “saudade”. Sou a farinha econômica do proprietário, sou a po-
lenta

do imigrante e a amiga dos que começam a vida


TEXTO: 28 - Comum à questão: 46
em terra estranha.
Oração do Milho
Alimento de porcos e do triste mu de carga,
Cora Coralina
o que me planta não levanta comércio,

nem avantaja dinheiro.


Senhor, nada valho.
Sou apenas a fartura generosa
Sou a planta humilde dos quintais pequenos
e despreocupada dos paióis.
e das lavouras pobres.
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado.
Meu grão, perdido por acaso,
Sou o canto festivo dos galos
nasce e cresce na terra descuidada.
na glória do dia que amanhece.
Ponho folhas e haste, e, se me ajudardes, Senhor,
Sou o cacarejo alegre das poedeiras
mesmo planta de acaso, solitária,
à volta dos ninhos.
dou espigas e devolvo em muitos grãos
Sou a pobreza vegetal agradecida a vós,
o grão perdido inicial, salvo por milagre,
Senhor,
que a terra fecundou.
que me fizestes necessário e humilde.
Sou a planta primária da lavoura.
Sou o milho!
Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo,
Disponível em: www.plataforma.paraapoesia.nom.br/
de mim não se faz o pão alvo universal. esther_
ensaios.htm Acesso em: 07 Nov. 2014.
O justo não me consagrou Pão de Vida

184 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 46 - (IFGO) a) “Sangria desatada” – diz-se de algo que requer
solução postergada ou protelada;
Cora Coralina faz da poesia o seu instrumento de
denúncia das dificuldades vividas. Sobre os versos: b) “Ter o rei na barriga” – dar pouca importância a
“O justo não me consagrou Pão de Vida nem lugar si mesmo e tecer elogios a outra pessoa;
me foi dado nos altares”, é correto afirmar que
c) “Fazer ouvidos de mercador” – não dar atenção
ao que o outro diz e fazer exatamente como lhe
foi dito;
a) Cora usa o “Pão da Vida” como símbolo de sua
postura humilde face aos dissabores enfrenta- d) “Colocar panos quentes” – favorecer alguém ou
dos após seu retorno à cidade de Goiás Velho, acobertar algo errado feito por outro.
de onde havia fugido para se casar.
e) “Bicho de sete cabeças” – impedir alguém de
b) o trigo, alimento nobre e do qual se faz o pão, colocar limites quando da realização de uma ta-
representa os bons momentos vividos pela poe- refa;
ta ao longo de sua vida e remete aos momentos
de fartura e abundância.

c) os termos “O justo”, “Pão da Vida” e “altares” re- TEXTO: 30 - Comum à questão: 48


forçam a distância física e espiritual entre aque-
les tidos como “trigos” e “milhos” da sociedade. Versos Íntimos

d) o Pão da Vida representa o alimento nobre, ser-


vido à mesa daqueles mais abastados e prove- Vês! Ninguém assistiu ao formidável
nientes das altas classes sociais, em oposição à
broa, alimento rústico do sitiante. Enterro de tua última quimera.

e) os termos “O justo” e “Pão da Vida” não repre- Somente a Ingratidão – esta pantera –
sentam a experiência religiosa na vida da poeta.
Foi tua companheira inseparável!

TEXTO: 29 - Comum à questão: 47 Acostuma-te à lama que te espera!


O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Acostuma-te à lama que te espera!


O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Disponível em: <http://www.grupoescolar.com>. Acesso
em: 07 Nov. 2014.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Questão 47 - (IFGO)
Escarra nessa boca que te beija!
‘Ditos populares’, ‘ditados populares’, ‘máximas’,
‘anexins’ são formas diferentes de se referir aos
provérbios. Segundo o professor Rogério Lacaz-Ruiz
(USP), “os provérbios têm a função de produzir um ANJOS, Augusto dos
efeito particular, uma mudança no estado de cons-
ciência nos ouvintes desejada pelo que fala”. Assinale Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/poemas_
a alternativa que apresenta corretamente o dito po- de_augusto_dos_anjos/>.
pular e o efeito de sentido por ele pretendido.
Acesso em: 30 set. 2014.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 185
Questão 48 - (IFPE) está à beira da morte e gostaria de vê-lo uma última
vez. O que ele não esperava é que, como último ato
Analise as proposições a respeito do poema “Versos em vida, ela lhe joga uma praga, fazendo-o prometer
íntimos”. que nunca mais mentiria, seja dentro de casa ou na
vida política. (...)

Acostumado com um mundo de lavagem de di-


I. Augusto dos anjos se utiliza, no poema, de diver- nheiro, helicópteros e secretárias sensuais, o deputa-
sos verbos no imperativo que conferem ao texto do se vê como um peixe fora d’água, sem conseguir
um tom de diálogo com o leitor. ambientar-se novamente ao lado de seus colegas no
II. O eu-lírico, na interlocução que estabelece com Palácio.
o leitor, dá-lhe conselhos que visam lhe passar (...)
uma mensagem de esperança.
No final, o filme nos apresenta uma grande dis-
III. O eu-lírico deixa clara uma visão pessimista e cussão: a culpa de ser corrupto é apenas do indivíduo
rancorosa em relação à vida e às pessoas com ou do sistema como um todo? A tentativa de San-
quem convive. tucci de tratar um tema quente dentro de um longa
IV. Em “Somente a Ingratidão – esta pantera – Foi de humor é bem-sucedida, apesar de alguns exage-
tua companheira inseparável!”, “pantera” repre- ros característicos das comédias brasileiras. E serve
senta a força necessária à convivência social. como um leve toque para o espectador pensar muito
bem antes de apertar o botão “confirmar” na hora
V. O verso “Toma um fósforo. Acende teu cigarro!” de votar.
apresenta um raro momento de prazer que o in-
terlocutor teria em uma atmosfera de sofrimen- ZULIANI, André Disponível em: http://omelete.uol.com.
to e pessimismo. br/cinema/o-candidato-
honesto-critica/#.VDKgIWddWys, Acesso em: 01 out.
2014 (adaptado).

São proposições verdadeiras, apenas:


Questão 49 - (IFPE)

a) I, III e V No primeiro parágrafo do texto sobre o filme “O can-


didato honesto”, a palavra “praga” tem um sentido
b) I, II e III conotativo. Em qual das alternativas a referida pala-
vra também foi utilizada em um sentido figurado e é
c) II, III e IV sinônimo de maldição?
d) II, IV e V

e) I, II e IV a) A Peste Negra ou Peste Bubônica, que assolou a


Europa medieval, era uma praga transmitida aos
humano por pulgas e ratos pretos.
TEXTO: 31 - Comum à questão: 49 b) Uma praga de pulgas está a deixar desesperados
Comédia Política é atuação mais madura de Leandro os moradores de Angoche, Nampula (Moçambi-
Hassum no cinema. que). ― Correio da Manhã, 27/10/2010

c) “Sou muito devota do Menino Jesus de Praga,


porque alcancei muitas graças com as orações a
O candidato honesto ele.” ― Tarsila do Amaral

d) “Nova Iorque está confrontada com uma


praga de percevejos.” ― Jornal de Notícias,
Na trama, Hassum vive José Ernesto, um candida- 26/10/2010 .
to à presidência da República que se vê no segundo
turno das eleições e com larga vantagem sobre o seu e) “Ditador é o chefe de uma nação que prefere a
opositor. Sua popularidade é imensa, mas o deputa- peste do despotismo à praga da anarquia.” ―
do é tudo o que o povo não gostaria que seu repre- Ambrose Bierce
sentante no poder fosse: corrupto e mentiroso. Tudo
parecia perfeito quando, na reta final de sua campa-
nha, Ernesto recebe um comunicado de que sua avó

186 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 32 - Comuns às questões: 50, 51 O texto tematiza a agressão racista sofrida pelo go-
leiro Aranha, do Santos, numa partida contra o Grê-
Aranha é chamado de “macaco” por torcida do Grê- mio. Com relação à função social do texto, é correto
mio afirmar que
Publicado em 28/08/2014, 22:09 /Atualizado em
29/08/2014, 02:38
a) seu papel é orientar a população sobre as leis
que regulamentam o crime de racismo.
O jogo entre Santos e Grêmio terminou 2 a 0 para o b) persuadir os torcedores do Santos a aderirem à
time alvinegro, mas a cena mais lamentável veio das causa de Aranha é a função principal do texto 1.
arquibancadas. O goleiro Aranha, do time paulista,
foi alvo de críticas racistas por parte da torcida atrás c) o texto 1 tem a função de noticiar um fato, en-
do gol onde estava no segundo tempo. volvendo racismo, ocorrido numa partida de fu-
tebol entre Grêmio e Santos.

d) compete ao texto 1 definir o conceito de “racis-


Em uma imagem flagrada pela câmera da ESPN Bra- mo”, expondo suas causas e consequências e
sil, é possível ver uma torcedora da equipe tricolor analisando tal conceito na sociedade brasileira.
chamando Aranha de “macaco”. Além disso, outros
torcedores - inclusive, um negro - imitaram sons de e) cabe ao texto 1 propagar a conscientização a
macaco em direção ao atleta. respeito do racismo, defendo explicitamente a
causa do goleiro Aranha.

O gesto revoltou o goleiro do Santos, que, visivelmen-


te chateado, falou sobre o caso após o apito final. Questão 51 - (IFPE)
Identifique a alternativa que se constitui em um
exemplo explícito de intertextualidade.
“O fato de ter uma campanha contra o racismo no te-
lão da outra vez não é à toa. A torcida xingar e pegar
no pé é normal. Mas daí começaram a falar ‘preto
fedido’, ‘cambada de preto’, fiquei nervoso, mas fi- a) “Mas isso dói, dói. Não é possível. Vem falar que
quei me segurando. Fizeram rápido e pouco um coro eu estava insultando a torcida, virei e falei que
de macaco, para não dar tempo de pegar. Pedi para eu era preto sim, negão” (parágrafo 4).
o câmera virar e mostrar, mas ele não fez isso. Fico
p.. com essas coisas acontecerem aqui. Mas isso dói, b) “Outros torcedores - inclusive, um negro - imita-
dói. Não é possível. Vem falar que eu estava insultan- ram sons de macaco em direção ao atleta” (pa-
do a torcida, virei e falei que eu era preto sim, ne- rágrafo 2).
gão”, afirmou o goleiro. c) “O goleiro Aranha, do time paulista, foi alvo de
críticas racistas” (parágrafo 1).

“Como tomar providência? No meio de tanta gente, d) “O jogo entre Santos e Grêmio terminou 2 a 0
fica difícil assim. Graças a muito esforço, tem leis, para o time alvinegro” (parágrafo 1).
mas no futebol a gente sabe que o torcedor usa de e) “O gesto revoltou o goleiro do Santos, que, vi-
várias maneiras para desestabilizar o jogador. Sou sivelmente chateado, falou sobre o caso após o
mais experiente agora”, falou Aranha. A assessoria apito final” (parágrafo 3).
de imprensa do Santos informou que divulgará uma
nota no nome de Aranha sobre o caso.

ESPN. Aranha é chamado de “macaco” por torcida do Questão 52 - (IFPE)


Grêmio. Disponível em:
< http://espn.uol.com.br/noticia/436034_aranha-e-
-chamado-
de-macaco-por-torcida-do-gremio>. Acesso em: 01
out. 2014 (adaptado).

Questão 50 - (IFPE)

www.PROJETOREDACAO.com.br - 187
NASCIMENTO, Douglas. Disponível em: <http://www.
saopauloantiga
.com.br/anuncios-de-escravos/>. Acesso em: 01 out.
2014.

Os classificados possuem a função de anunciar pro-


dutos e serviços, com a finalidade de venda, compra,
aluguel ou troca. O texto foi publicado no século XIX,
quando ainda havia escravidão no Brasil. A leitura
desse anúncio, na atualidade, é chocante porque um
homem é tratado como um produto. A partir dessa
reflexão, ressalta-se a seguinte característica do con-
ceito de gêneros textuais:
JUNIÃO. Disponível em: <http://www.juniao.com.br/
aranha-fecha-
o-gol-novamente-contra-o-gremio/>. Acesso em:
01out.2014. a) Os gêneros classificam-se mais pela forma do
que pela função.

b) Gêneros são totalmente estáveis.


A charge é um gênero de opinião, de cunho crítico
e humorístico. Sobre o texto, que também trata do c) Os gêneros são institucionais e não linguísticos.
caso Aranha, pode-se afirmar que:
d) Gêneros textuais são frutos de aspectos históri-
cos e são vinculados à vida cultural e social.

a) A crítica é construída, principalmente, na carica- e) Os gêneros são a representação da mudança or-


tura do goleiro, a qual não o retrata de forma tográfica no Brasil.
respeitosa.

b) Há a representação da ação típica de um goleiro


agarrando uma bola, que serve de base para a TEXTO: 33 - Comuns às questões: 54, 55
construção do discurso contra o racismo, uma
vez que Aranha “fecha o gol” agarrando uma A lanterna que ilumina a espuma
bola em que está grafado o substantivo “racis-
Por Luciano Martins Costa
mo”.

c) A expressão “fechar o gol” é fundamental para


esse texto, pois é ambígua, fazendo com que a 1 A prática e as teorias da comunicação aplicadas ao
charge ganhe um duplo sentido, nesse caso o jornalismo induzem a acreditar que a atividade da
apoio do chargista Junião ao goleiro pode ocor- imprensa cuida de organizar o processo de avanço
rer ou não, depende da compreensão do leitor. da modernidade, pela classificação e valoração dos
fatos novos. Assim, somos levados a aceitar que um
d) O humor da charge é construído principalmente
acontecimento só se transforma em notícia, ou seja,
a partir do uso da hashtag no final “#tamojun-
em conteúdo jornalístico, se representar uma novi-
toaranha”, pois além da informalidade, repre-
dade, uma ruptura em relação ao que já existe.
senta uma forma típica de uso linguístico da in-
ternet. 2 Essa acepção vale tanto para uma ocorrência iné-
dita quanto para uma nova interpretação de fatos
e) A fala atribuída a Aranha “aqui não!” endossa
conhecidos. Portanto, um dos grandes desafios do
o discurso antirracismo e estabelece um duplo
jornalismo contemporâneo seria a oferta exacerbada
sentido com relação à opinião do autor da char-
de notícias, produzida pela penetração dos meios di-
ge.
gitais em todos os cantos do mundo. [...]

3 Seja o observador devoto ou iconoclasta em re-


lação à hipótese de estarmos vivendo uma pósmo-
Questão 53 - (IFPE)
dernidade, não se pode fugir à evidência de que os
processos da História se aceleraram de tal forma que
se tornou impossível – ou, pelo menos, improdutivo
– catalogar os fatos relevantes pelo método de filtra-
gem arbitrária da imprensa tradicional.
188 - www.PROJETOREDACAO.com.br
4 Essa é a constatação que precisamos fazer para en- No texto, o autor analisa o papel da imprensa fren-
tender como a imprensa, não apenas aqui no Brasil te à exacerbada oferta de notícias divulgadas pelos
como em outros países onde sempre foi relevante, meios digitais. Para defender a ideia de que “se tor-
vai se encolhendo até se configurar como instrumen- nou impossível – ou, pelo menos, improdutivo – ca-
to de poder de uma fração da sociedade. [...] talogar os fatos relevantes pelo método de filtragem
arbitrária da imprensa tradicional” (parágrafo 3), é
5 Como os fatos estão sempre muito à frente dos sis- utilizado o seguinte argumento:
temas da imprensa, o resultado é que seu produto,
o jornalismo, deixou de ser o processo de anunciar a
novidade e se transforma rapidamente em mero re-
gistro de coisas antigas. Daí a queda no número de a) A imprensa tradicional deixou de ser um proces-
leitores. so de anunciar as novidades, pois os meios digi-
tais fazem esse registro de forma mais rápida.
6 Como na frase que deu o título à autobiografia do
falecido ministro Roberto Campos, a imprensa fun- b) Cabe à imprensa tradicional a validação das no-
ciona agora como uma lanterna na popa do barco: só tícias já divulgadas pelos meios digitais.
serve para iluminar a espuma que fica para trás.
c) É responsabilidade da imprensa a ação reacio-
7 Num oceano de possibilidades infinitas, a visão nária, preservando seu principal produto: o jor-
conservadora da imprensa genérica serve principal- nalismo.
mente à inglória e impossível tarefa de interromper,
ou, no mínimo, de desacelerar o ritmo das mudan- d) A imprensa tem a missão de lutar contra o tem-
ças. À medida em que se aceleram os processos da po e de conter o ímpeto de mudança trazido pe-
modernidade, mais se torna clara essa função de los meios digitais.
freio social e cultural. e) A imprensa é tão relevante na pós-modernidade
8 A imprensa é reacionária por natureza, mas até o que se tornou uma espécie de quarto poder, o
último quarto do século passado podia encenar o pa- qual cresce produtivamente como instrumento
pel de vanguarda da modernidade, contra outras ins- de poder popular.
tituições, como a religião, que têm a missão de lutar
contra o tempo. Tratava-se de manter sob controle
o ímpeto natural de mudança que marca o processo Questão 55 - (IFPE)
civilizatório.
Identifique, entre as estratégias lógico-discursivas lis-
9 Nos anos 1980 e 1990, por exemplo, os jornais tadas abaixo, aquelas utilizadas por Luciano Martins
brasileiros se destacaram por abrigar debates sobre Costa, na construção do seu texto.
novos comportamentos que vieram com a liberação
social que acompanhou o fim da ditadura. A Folha
de S. Paulo, por exemplo, construiu aí sua estratégia
vitoriosa de aparecer como portavoz de uma cultu- I. Relação de causa e efeito, através da utilização
ra liberal e libertina, contra a sisudez de seus então “como”, no trecho “Como os fatos estão sempre
concorrentes. muito à frente dos sistemas da imprensa, o re-
sultado é que seu produto, o jornalismo, deixou
10 O caso Folha é, talvez, o mais típico para ilustrar de ser o processo de anunciar a novidade e se
esse movimento. Depois de alcançar tiragens su- transforma rapidamente em mero registro de
periores a um milhão de exemplares em circulação coisas antigas” (parágrafo 5).
diária, o jornal paulista encolheu para menos de um
terço desse total. II. Recorrência de uso da conjunção “como”, nova-
mente introduzindo a relação de causa e conse-
11 O que explicaria essa queda, que retrata a deca- quência, no parágrafo 6 “Como na frase que deu
dência do sistema da imprensa? o título à autobiografia do falecido ministro Ro-
berto Campos, a imprensa funciona agora como
COSTA, Luciano Martins. A lanterna que ilumina a uma lanterna na popa do barco: só serve para
espuma. Observatório da Imprensa. iluminar a espuma que fica para trás”.
ano 18. n. 810. Ago. 2014. Disponível em: < http://
www.observatoriodaimprensa. III. Uso da expressão “Num oceano de possibilida-
com.br/news/view/a_lanterna_que_ilumina_a_ des infinitas” (parágrafo 7), em que o substan-
espuma >. Acesso em: 30 set. 2014 (adaptado). tivo “oceano” mantém o sentido metafórico de
comparar a imprensa a uma “lanterna na popa
do barco”.
Questão 54 - (IFPE) IV. Utilização da locução conjuntiva “à medida em
que” (parágrafo 7) para estabelecer uma relação
www.PROJETOREDACAO.com.br - 189
otimista de proporcionalidade, em que a im- O entendimento bem sucedido do texto requer que o
prensa tem o papel de acelerar os processos da interpretemos como um texto
modernidade.

V. Introdução de um exemplo, no final do texto “O


caso Folha é, talvez, o mais típico para ilustrar a) descritivo, pois analisa profundamente as fanfi-
esse movimento. Depois de alcançar tiragens cs através de verbos no passado e uso exagera-
superiores a um milhão de exemplares em cir- do de adjetivos.
culação diária, o jornal paulista encolheu para
menos de um terço desse total” (parágrafo 10). b) narrativo, com cenários, tempos, personagens e
uma sequência de causas e efeitos contada por
meio de verbos no passado.

Estão corretas apenas as proposições: c) argumentativo, já que há a construção de racio-


cínio em torno de algumas hipóteses.

d) expositivo, pois, através de verbos no presente,


a) I, II e III o termo fanfic é definido ou explicado.

b) I, II e IV e) injuntivo, uma vez que apresenta uma sequên-


cia de procedimentos práticos para a utilização
c) I, III e V das fanfics.
d) II, III e V

e) IV e V Questão 57 - (IFPE)

TEXTO: 34 - Comum à questão: 56


Fanfic: escrita criativa, autoria e metalinguagem

Se você quer algo bem feito, faça você mesmo

Esse é o mote constante nas páginas das fanfics


que circulam nas nuvens como a <http://www.fan- Disponível em: < http://www.iguatu.org/~iguatuor/por-
fiction.net/> (último acesso em 2 de maio de 2013), tal/index.php/
um dos endereções mais conhecidos da comunidade charges/4387-alemanha-7-x-1-brasil>. Acesso em:
“fantiqueira”. A página é editada em língua inglesa, 30 set. 2014.
mas permite a publicação de textos em mais de 23
línguas, incluindo o latim.

De uma forma generalizada, podemos dizer que Analise a charge acima e perceba como a linguagem
uma fanfic (termo reduzido para fanfiction, i.e. “fic- verbal e as imagens se misturam num todo comuni-
ção de fã”) é uma história escrita por fãs, a partir de cativo. Com relação à construção de sentido do texto,
um livro, quadrinhos, animê, filme ou série de TV. avalie as afirmativas que se seguem.
Fanfics podem ainda ser inspiradas em bandas ou
atores favoritos. Geralmente, usam ambientes como
blogs ou páginas eletrônicas para a mídia escrita,
I. A charge é um texto crítico-argumentativo e
mas navegam também por outros meios, como ví-
humorístico. No exemplo do texto 03, a tese do
deos (fanvids) ou quadrinhos e audiofics.
autor é de que o povo brasileiro deixou de se
AZZARI e CUSTÓDIO. Fanfics, google docs... a produção preocupar com educação, segurança e saúde
textual colaborativa. In: por causa da copa do mundo.
ROJO, Roxane. Escol@ conectada: os multiletramen-
II. A expressão “guardar no baú”, representada
tos e as TICs.
pela imagem do baú e da placa, significa fazer
São Paulo: Parábola, 2013. p. 74. (adaptado)
valer questões fundamentais nele guardadas.

III. Quanto aos aspectos verbais, o texto é todo


Questão 56 - (IFPE) construído por substantivos. Importantes para a
construção de sentido do texto são as imagens
190 - www.PROJETOREDACAO.com.br
em que os substantivos são grafados: Brasil e a) O cultivo do amor e do respeito deve se sobre-
Alemanha, na TV; saúde, educação e segurança, por ao acúmulo de bens materiais.
numa placa guardada num baú.
b) Muitas pessoas acreditam que só serão respei-
tadas pelo grupo em que vivem se possuírem
certos produtos da moda.
Está(ão) correta(s) apenas a(s) proposição(ões):
c) Por cultivar a humildade, o ser humano conside-
ra-se imortal.
a) II d) É ilusório o fato do ser humano ser respeitado e
amado unicamente por seus bens materiais.
b) III
e) A busca incessante por poder e fortuna é causa-
c) II e III dora de conflitos.
d) I e II

e) I e III
TEXTO: 36 - Comuns às questões: 59, 60
Frases que fisgam e aberturas sedutoras ou por que
TEXTO: 35 - Comum à questão: 58 os romances têm as primeiras páginas

O pagamento final
01
Muita gente sonha em ser rica e, vendo o dinheiro Já observou as pessoas na livraria? Elas pegam o livro
abrir tantas portas, entende que só assim a 02 felici- de uma estante, leem a capa, depois a quarta capa,
dade é possível, mas o chato de se ser respeitado e depois as páginas de elogios (aquelas poucas só com
amado só pelo que se tem, é que não se é 03 amado elogios solicitados), e então... o quê? Você sabe essa.
de verdade nem respeitado a não ser através destes Dificilmente vi alguém pular para o meio do capítulo
bens. Isto é uma armadilha da vaidade. 04 Significa vinte e três. Portanto, é melhor que aquela página
que suas conquistas afetivas migrarão para outro diga a que veio. Caso contrário, o livro volta para a
portador caso seus bens mudem de dono. É 05 uma estante. Você não pode ler todos eles.
ficção este poder. Não está em nós. Pertence ao que Precisamos das primeiras páginas – e os romancistas
possuímos. Neste “cassino” os bens imateriais 06 não também precisam. Desde o cabeçalho, o romance
contam. Pois, analfabeta de escola, mas instruída começa a exercer sua magia sobre os leitores. Talvez
da vida, dona Maria da Natividade, a sábia mãe de mais notavelmente, os leitores também começam a
07
Antonio Pitanga meu querido, dizia aos seus filhos exercer a magia deles sobre o romance. O começo
quando brigavam por objetos: “Filhos, pra que isso? de um romance é de modo diferente a negociação de
08
Caixão não tem gaveta!”. Talvez nos soe crua de- um contrato social um convite para dançar uma lista
mais tal sentença, mas é altamente libertadora. 09 de regras do jogo e uma sedução bastante complexa.
Desprezamos os outros porque não são de nossa tri- Eu sei eu sei – sedução? Parece extremo não é?
bo, rimos de seu jeito de falar e de vestir porque não
10
é o nosso, e julgamo-los por não terem os bens que Mas é isso o que acontece no começo de um roman-
nós consideramos bens. Então, matamos e nos 11 ma- ce. Estão nos pedindo para comprometer uma boa
tamos por dinheiro. Humilhamos os que não o têm. parte do nosso tempo e energia em uma iniciativa
E inauguramos a cada dia novas guerras querendo 12 com muito pouca garantia quanto ao que ela tem pra
poder e fortuna. Não escutamos a dona Maria da Na- nós. É aí que entra a sedução. E ela quer nos dizer
tividade. A doença nossa é a doença do mundo: de 13 o que acha importante, tanto que mal pode esperar
negar a morte e a desimportância das joias na cena pra começar. Talvez mais importante, quer que fique-
final. mos envolvidos. Quando acabar, podemos nos sentir
cortejados, adorados, apreciados, ou abusados, mas
LUCINDA, Elisa. O pagamento final. In: ____. será sempre um caso para lembrar. A abertura de um
Parem de falar mal da rotina. São Paulo: Lua de Pa- romance é um convite para entrar e jogar. [...] (adap-
pel, 2010. tado)

FOSTER, Thomas C. Para ler romances como um especia-


lista.
Questão 58 - (IFRS)
Trad. de Maria José Silveira. São Paulo: Lua de Papel,
Quanto ao posicionamento defendido pela autora, 2011. p. 13.
assinale a alternativa INCORRETA.

www.PROJETOREDACAO.com.br - 191
Questão 59 - (IFRS) Questão 61 - (IFSC)
Em termos resumidos,

a) o autor questiona a forma academicista, sem


emoção (por consequência, sem sedução),
como alguns romancistas escrevem.

b) infere-se que se trata de um texto voltado es-


pecialmente a quem pretende fazer da arte de
escrever um meio de vida.

c) o texto dá dicas pertinentes, tanto a leitores


como escritores, de como um texto não deve ser
escrito.
Disponível em: www.casseta.com.br. Acesso: 10 ago.
d) o texto, escrito de forma impessoal, reflete so-
2014.
bre a importância das informações sedutoras
desde a primeira página de um romance.

e) o autor defende a proposta de que um roman- Sobre a charge, assinale a alternativa CORRETA.
ce já deva seduzir desde a primeira página, sob
pena de que o leitor não tenha interesse na lei-
tura.
a) A mensagem de paz do texto que introduz a
charge apresenta-se substancialmente oposta à
imagem violenta retratada.
Questão 60 - (IFRS)
b) O confronto entre os personagens apresenta
Das alternativas a seguir, assinale a que melhor cor- uma mensagem coerente com a mensagem ini-
responde à expressão do texto “um convite para cial da charge: de amor e paz.
dançar”.
c) Lutar é algo inerente ao ser humano; por isso
pode-se afirmar que não há qualquer contradi-
ção entre a mensagem verbal e a não verbal.
a) É um eufemismo, que consiste em substituir
uma expressão por outra, mais leve. Nesse sen- d) As frases da torcida indicam que esses especta-
tido, por saber que a leitura de um romance é dores não gostam de violência.
entediante, o autor optou por associá-la a algo
mais prazeroso, como dançar. e) No contexto da charge, a luta pode ser entendi-
da como uma forma de violência pacífica.
b) Trata-se de uma expressão em sentido literal.
Para o autor, ler um romance ou dançar envol-
vem a mesma habilidade para qualquer que seja
o praticante. TEXTO: 37 - Comum à questão: 62

c) É uma típica expressão da linguagem coloquial, Uma nova preocupação


utilizada pelo autor para caracterizar a formali-
dade do texto.

d) Trata-se de uma ironia, pois todos sabemos que


dançar é muito mais agradável que ler um ro-
mance.

e) Trata-se, em sentido mais amplo, de uma me-


táfora utilizada pelo autor para se referir ao co-
meço de um romance, que deve seduzir o leitor,
como se estivesse recebendo um agradável con-
vite para dançar.

192 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Desde os meus 16 anos pratico algum tipo de luta. TEXTO: 38 - Comum à questão: 63
Na faculdade de Educação Física, na UFRJ, vivia den-
tro do ginásio de lutas. Com grandes mestres apren- Esparadrapo
di que a luta pode ser um ótimo meio de se educar
jovens e crianças e de realizar a tal inclusão social.
[...] Nunca fui expoente em nenhuma, porém extraí, 1
Aquele restaurante de bairro é do tipo 2 simpatia/
de cada uma, conhecimentos e aprendizagens que classe média. Fica em rua 3 sossegada, é pequeno,
levo para minha vida. Na luta, aprendi a respeitar, ter limpo, cores 4 repousantes, comida razoável, preços
disciplina e principalmente... a não usá-la de forma 5
idem, não tem música de triturar os 6 ouvidos. O
inadequada dono senta-se à mesa da 7 gente, para bater um papo
leve, sem 8 intimidades.

Aproveitando a moda do “vale tudo”, nome que deu


9
Meu relógio parou. Pergunto-lhe 10
quantas horas
origem às lutas atualmente conhecidas como MMA são.
(Mix de Artes Marciais), a rede Globo importa um 11
— Estou sem relógio.
programa que pode, a médio e longo prazo, demolir
tudo o que os grandes mestres das lutas consegui- 12
— Então vou perguntar ao garçom.
ram em anos. Na casa intitulada “TUF” o que se vê
é o oposto que qualquer luta deve trazer para seus 13
Ele também está sem relógio.
praticantes. É uma sequência de exemplos negativos
[...]. Nos colégios, normalmente as crianças repetem
14
— E o colega dele, que serve aquela 15 mesa?
o que seus ídolos fazem [...] agora elas já começam
a imitar o Anderson Silva, só que o resultado será di-
16
— Ninguém está com relógio nesta 17 casa.
ferente. A Educação Física precisa discutir o assunto. 18
— Curioso. É moda nova?
Glossário: 19
— Antes de responder, e se o senhor 20 permite,
TUF: é um reality show chamado The Ultimate Fight- vou lhe fazer, não propriamente 21 um pedido, mas
er uma sugestão.

Fonte: Ricardo Oliveira da Silva [CREF 01822–G/RJ]. Espa-


22
— Pois não.
ço do leitor. 23
— Não precisa trazer relógio, quando 24 vier jantar.
Revista Educação Física, n. 48, jun. 2013. p. 34.
[Adaptado] 25
— Não entendo.
26
— Estamos sugerindo aos nossos 27 fregueses que
façam este pequeno 28 sacrifício.
Questão 62 - (IFSC)
29
— Mas o senhor podia explicar...
Sobre o texto, é CORRETO afirmar que:
30
— Sem querer meter o nariz no que não 31 é da mi-
nha conta, gostaria também que 32 trouxesse pouco
dinheiro, ou antes, 33 nenhum.
a) Quanto ao nível da narrativa, o relato sugere au-
dácia e medo por parte do narrador. 34
— Agora é que não estou pegando 35 mesmo nada.
b) O texto apresenta características predominan- — Coma o que quiser, depois 37 mandamos receber
36
temente narrativo-descritivas no primeiro pará- em sua casa.
grafo.
38
— Bem, eu moro ali adiante, mas e 39 outros, os que
c) O segundo parágrafo apresenta características nem se sabe onde moram, 40 ou estão de passagem
dissertativas, na medida em que o autor emite na cidade?
sua opinião sobre a prática das lutas atualmente
conhecidas como MMA. 41
— Dá-se um jeito.
d) Observa-se que a narrativa não segue uma lógi- 42
— Quer dizer que nem relógio nem 43 dinheiro?
ca na apresentação dos fatos narrados.
44
— Nem joias. Estamos pedindo às 45 senhoras que
e) O texto em sua totalidade retrata características não venham de joia. É o 46 mais difícil, mas algumas
ambientais e sociais. estão 47 atendendo.
48
— Hum, agora já sei.

www.PROJETOREDACAO.com.br - 193
49
— Pois é. Isso mesmo. O amigo 50 compreende... 90
— Já sei. Sabe que mais? Na polícia me 91 pergunta-
ram se eu tinha seguro contra roubo. E eu 92 pensan-
51
— Compreendo perfeitamente. do que meu seguro fosse a polícia. Agora 93 estou me
segurando à minha maneira, deixando 94 as coisas lá
Desculpa ter custado um pouco a entrar na 53 joga-
52
em casa e convidando os fregueses a 95 fazer o mes-
da. Sou meio obtuso quando estou com fome. mo. E vou comprar um cofre. Cofre 96 pequeno, mas
54
— Absolutamente. Até que o amigo 55
compreen- cofre.
deu sem que eu precisasse dizer tudo. 97
— Para que, se não vai guardar dinheiro nele?
56
Muito bem. 98
— Para mostrar minha boa-fé, se eles voltarem.
57
— Mas me diga uma coisa. Quando foi isso? 99
Abro imediatamente o cofre, e verão que não 100

58
— Quarta-feira passada. estou escondendo nada. Que lhe parece?

59
— E como foi, pode-se saber? — Que talvez o senhor precise manter um 102 esto-
101

que de esparadrapo em seu restaurante.


— Como podia ser? Como nos outros lugares, no 61
60

mesmo figurino. Só que em ponto menor.


62
— Lógico, sua casa é pequena. Mas levaram o 63 Questão 63 - (IFSC)
quê?
Como é comum no gênero crônica, este texto trata
64
— O que havia na caixa, pouquinha coisa. Eram 9 65 de uma situação cotidiana. Neste caso, assinale a
da noite, dia meio parado. alternativa CORRETA em que as situação constitui o
tema central do texto.
66
— Que mais?
67
— Umas coisinhas, liquidificador, relógio de pulso,
68
meu, dos empregados e dos fregueses. a) A importância da segurança.

69
— An. (Passei a mão no pulso, instintivamente.) b) A banalização da violência urbana.

70
— O pior foi o cofre. c) O atendimento cordial nos pequenos restauran-
tes.
71
— Abriram o cofre?
d) O valor da vida humana.
72
— Reviraram tudo, à procura do cofre.
e) A boa relação de confiança entre comerciantes e
73
Ameaçaram, pintaram e bordaram. Foi muito 74
de- clientes.
sagradável.
75
— E afinal?
TEXTO: 39 - Comum à questão: 64
76
— Cansei de explicar a eles que não havia cofre, 77
nunca houve, como é que eu podia inventar cofre 78
naquela hora?
79
— Ficaram decepcionados, imagino.
80
— Não senhor. Disseram que tinha de haver cofre.
81
Eram cinco, inclusive a moça de bota e revólver, 82
querendo me convencer que tinha cofre escondido 83
na parede, no teto, embaixo do piso, sei lá. Disponível em: http://profmilenacaetano.blogspot.com.
br/2012/12/tiras-da-
84
— E o resultado? mafalda-quino-para-discussao.html. Acesso em: 29
abr. 2013.
85
— Este — e baixou a cabeça, onde, no cocuruto, 86
alvejava a estrela de esparadrapo.
87
— Oh! Sinto muito. Não tinha notado. Felizmente
88
escapou, é o que vale. Dê graças a Deus por estar
89
vivo.

194 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 64 - (IFSC) último obstáculo imposto pela legislação foi a emen-
da constitucional nº 20 do artigo 7, alínea XXIII que
Com relação ao texto acima, é CORRETO afirmar: proíbe ou institui a idade para o trabalho somente a
partir de 16 anos.

A lei existe para distinguir o trabalho explorador


a) A menina mostra-se muito grosseira, porque usa do trabalho com vistas à formação, fazendo-se ne-
com a professora uma linguagem carregada de cessário a existência de instituições/programas que
sarcasmo e ordena-lhe que ensine coisas irrele- se proponham az investir na formação. Portanto, am-
vantes. parado por essas instituições ou programas, o ado-
b) Enquanto a professora está preocupada com a lescente está protegido para aprender, com respon-
forma das palavras – especificamente, a presen- sabilidade.
ça da letra m –, a menina está mais atenta ao Fonte: Portal Educação
seu significado.

c) A menina pede à professora que ensine coisas


relevantes porque não crê que seja de grande Questão 65 - (IFSP)
importância aprender as letras do alfabeto.
Analise os períodos abaixo.
d) O texto mostra como, no ambiente escolar, tam-
bém se valorizam as relações familiares e o amor
materno.
I. De acordo com o texto, a Lei atrapalha o adoles-
e) O texto funciona como um elogio aos métodos cente que deseja trabalhar, entretanto essa Lei
escolares tradicionais, que levam as crianças a existe para protegê-lo.
desenvolver senso crítico.
II. Portanto, amparado por essas instituições ou
programas, o adolescente está protegido para
aprender, com responsabilidade.
TEXTO: 40 - Comum à questão: 65
Adolescente e o mundo do trabalho
Assinale a alternativa que expressa, corretamente, a
Artigo por Colunista Portal - Educação – terça-feira, relação estabelecida pelas orações em negrito.
15 de janeiro de 2013.

a) Condição e modo.
O jovem adolescente faz parte de um momento
singular1 da história. Jamais a humanidade teve ta- b) Oposição e conclusão.
manha possibilidade de desenvolvimento. É a Socie-
dade do Conhecimento! O poder está nas mãos de c) Adversidade e explicação.
quem tem informação e sabe usá-la2 com inteligên-
d) Condição e consequência.
cia. São mudanças constantes em contextos que saí-
ram de nossos bairros e municípios para o mundo. e) Oposição e finalidade.
Políticas econômicas, globalização, relações inter-
nacionais são aspectos complexos que serão enten-
didos no decorrer do desenvolvimento da carreira do Questão 66 - (IFSP)
jovem. Hoje, a preocupação é prepará-lo para enca-
rar um mercado que está disposto a pagar bem pelo ADOLESCENTE
profissional qualificado.

Muitos jovens acabam por ingressar no mundo


do trabalho prematuramente3, para colaborar no su- “A vida é tão bela que chega a dar medo.
primento das necessidades4 familiares. Outros para
Não o medo que paralisa e gela
conquistar seu espaço, sua independência, autono-
mia e, de certa forma, um pouco de liberdade. estátua súbita,
A participação do adolescente no mercado de tra- mas
balho tem provocado muitos questionamentos, difi-
cultando e interferindo na implementação de políti-
cas específicas voltadas para o trabalho do jovem. O
www.PROJETOREDACAO.com.br - 195
esse medo fascinante e fremente de curiosidade que Questão 67 - (IFSP)
faz
Assinale a alternativa que apresenta uma explicação
o jovem felino seguir para frente varejando o vento incorreta para a correção feita.
ao sair, a primeira vez, da gruta.

Medo que ofusca: luz! a) Houveram algumas pessoas que gritavam seu
nome. O verbo “haver”, no sentido de “existir”
Cumplicemente, é impessoal e não admite flexão.
as folhas contam-te um segredo b) Existiam situações terríveis naquele contexto. O
verbo existir acompanha a impessoalidade do
velho como o mundo:
verbo haver e fica no singular.
Adolescente, olha! A vida é nova...
c) Segue anexa duas guias de orientações. É preci-
A vida é nova e anda nua so estar atento à concordância nominal: Seguem
anexas.
-Vestida apenas com o teu desejo!”
d) Já faz cinco anos: quando indica tempo decorri-
Mário Quintana do, o verbo “fazer” deve permanecer no singu-
lar.

e) Devem haver mais erros nesse documento. Au-


Com relação ao texto, marque V para verdadeiro ou xiliar do verbo haver segue a impessoalidade do
F para falso e, em seguida, assinale a alternativa que verbo principal e deve ficar no singular.
apresenta a sequência correta.

TEXTO: 41 - Comum à questão: 68


( ) O verbo paralisa (segundo verso) é um verbo
regular e o verbo faz (sexto verso) é um verbo Leia o texto adaptado abaixo, publicado em
irregular. 24/11/2014, no jornal Tribuna de Santos.

( ) No décimo verso, o verbo contar é classificado


como verbo transitivo direto e transitivo indire-
to. Santos reduz em cerca de 50% consumo de água
nos chuveirinhos
( ) A ocorrência da palavra que, no primeiro ver-
so, traz uma relação de consequência, já no se-
gundo verso, especifica o medo, restringindo-o.
Entretanto, nas duas ocorrências é classificada O consumo de agua dos chuveirinhos da orla da
como conjunção. praia de Santos, no litoral de Sao Paulo, foi reduzido
em cerca de 50% nos meses de julho a outubro de
( ) No nono verso – “Medo que ofusca: luz!” – há 2014, comparado ao ano passado. O valor poupado
duas palavras que apresentam o mesmo núme- foi o equivalente ao consumo total dos chuveirinhos
ro de fonemas. em setembro e outubro.

( ) No décimo primeiro verso – “velho como o mun- Segundo a prefeitura, em 2013, o gasto total nos
do” – as palavras velho e mundo apresentam o quatro meses foi de 24,9 mil m3. Ja neste ano, fo-
mesmo número de fonemas. ram utilizados 17,7 mil m3 de agua, uma economia
de 7,1 mil m3 – ou 48%. A Administracao Publica vem
tomando algumas medidas para reduzir o consumo,
como a implantacao de lava-pes e a interrupcao do
a) V/ V/ F/ F/ V fluxo de agua dos chuveirinhos da 0h as 6h.
b) F/ F/ F/ V/ V Tambem foram instaladas novas duchas pela orla
da cidade, equipamentos fornecidos pela Companhia
c) V/ V/ F/ V/ F deSaneamento Basico do Estado de Sao Paulo (Sa-
d) V/ F/ F/ F/ F besp). Alem disso, os temporizadores que controlam
o tempo de fluxo de agua foram reduzidos de 30 para
e) F/ F/ V/ V/ V 15 segundos.

196 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 68 - (IFSP) b) A mãe e o pai extasiados com os barulhos que os
bebês fazem instintivamente, ao afinarem suas
De acordo com o que se depreende do texto, assinale cordas vocais, viram a cabeça quando eles mur-
a alternativa correta. muram e balbuciam.

c) Virar a cabeça, ao ouvir um barulho, e se alegrar


com o som das vozes dos pais são ações comuns
a) O consumo de agua caiu, consideravelmente, aos bebês, que também murmuram e balbu-
nos meses de julho e outubro. ciam, o que acaba por tornar suas cordas vocais
b) O consumo de agua economizou, para a prefei- afinadas.
tura, em 2013, 24,9 mil m3. d) Virar a cabeça é um movimento do instinto dos
c) A instalacao de lava-pes com temporizadores re- bebês que murmuram e balbuciam quando ou-
duziram o fluxo de agua de 30 para 15 segundos. vem as vozes do pai ou da mãe, fazendo, assim,
com que suas cordas vocais também se afinem.
d) As medidas tomadas garantem a conscientiza-
cao do banhista na reducao do consumo. e) Ao ouvirem um barulho, os bebês murmuram
e balbuciam, assim como viram a cabeça com o
e) A interrupcao do fluxo de agua, na madrugada, som das vozes dos pais, que instintivamente afi-
implica uma economia desejavel, ja que nao ha nam, extasiados, as cordas vocais dos bebês.
banhistas nesse periodo.

TEXTO: 43 - Comum à questão: 70


TEXTO: 42 - Comum à questão: 69
Sete anos de pastor Jacob servia
1
Os bebês nascem com instintos que os ajudam a sin-
tonizar 2 rapidamente os ritmos da fala e a gramáti-
ca. São muito sensíveis 3 à direção do olhar de outra 1 Sete anos de pastor Jacob servia
pessoa, que os ajuda a decifrar frases 4 incompreen-
síveis, como “olha aquele cachorro engraçado”. Os 2 Labão, pai de Raquel, serrana bela;
bebês 5 murmuram e balbuciam, ações que tornam
as cordas vocais mais 6 afinadas. Eles também viram 3 Mas não servia ao pai, servia a ela,
a cabeça instintivamente por causa de 7 um barulho e
se extasiam com a voz da mãe ou do pai. O elo afetivo 4 E a ela só por prêmio pretendia.
8
é muito importante para o seu desenvolvimento in-
tuitivo e emocional. 9 Embora a linguagem ainda não
esteja conectada no seu cérebro, o 10 bebê tem várias 5 Os dias, na esperança de um só dia,
artimanhas genéticas que lhe permitem aprender 11
desde o dia de seu nascimento. 6 Passava, contentando-se com vê-la;
John McCrone 7 Porém o pai, usando de cautela,

8 Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Questão 69 - (Mackenzie SP)


Assinale a alternativa que apresenta melhor paráfra- 9 Vendo o triste pastor que com enganos
se para o trecho abaixo, considerando a manutenção
do sentido original e o uso da norma culta. 10 Lhe fora assim negada a sua pastora,

Os bebês murmuram e balbuciam, ações que tornam 11 Como se a não tivera merecida;
as cordas vocais mais afinadas. Eles também viram a
cabeça instintivamente por causa de um barulho e se
extasiam com a voz da mãe ou do pai. 12 Começa de servir outros sete anos,

13 Dizendo – Mais servira, se não fora


a) Ao murmurar e balbuciar, os bebês instintiva- 14 Para tão longo amor tão curta a vida.
mente tem como objetivo afinar suas cordas vo-
cais para que os barulhos que fazem, ao virarem Luís de Camões
a cabeça, fiquem semelhantes com as vozes do
pai e da mãe.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 197
Sunetto Crassico pátria brasileira, como em Ficô c’um brutto d’um
garó di arara, (Ref. 11).

e) compõe seus textos calcados na ironia, reto-


1 Sette anno di pastore, Giacó servia Labó, mando características do teatro vicentino e an-
tecipando características determinantes da poe-
2 Padre da Raffaela, serrana bella, sia da Geração de 1930, cujo expoente é João
3 Ma non servia o pai, che illo non era trouxa nó! Cabral de Melo Neto.

4 Servia a Raffaela p’ra si gazá c’oella.


TEXTO: 44 - Comuns às questões: 71, 72

5 I os dia, na speranza di un dia só,


01
Seres humanos dividem o mundo entre “nós” e
“eles”.
6 Apassava spiano na gianella;
Criadas por razões religiosas, étnicas, preferên-
02

7 Ma o páio, fugino da gombinaçó, cias sexuais, 03 futebolísticas ou de outra natureza, as


tensões e suspeições 04 intergrupais são as grandes
8 Deu a Lia inveiz da Raffaela. responsáveis pela violência no mundo.
05
O preconceito que resulta dessas divisões não
é consciente, 06 está arraigado nas profundezas do
9 Quano o Giacó adiscobri o ingano, passado evolutivo, na tendência 07 universal de for-
marmos coalizões que nos ajudem a enfrentar os 08
10 E che tigna gaido na sparella, desafios que a vida impõe.
11 Ficô c’um brutto d’um garó di arara, Experimentos conduzidos nos últimos 30 anos
09

mostram que nos 10 reunimos em grupos, mesmo em


torno de objetivos fúteis: o fã-clube 11 de uma canto-
ra, um time ou um piloto de corrida. E que, ao nos 12
12 I incominciô di servi otros sette anno incluirmos em tais agrupamentos, passamos a acre-
ditar que nossos 13 companheiros são mais inteligen-
13 Dizeno: Si o Labó non fossi o pai d’ella tes, espertos, generosos e dotados 14 de valores mo-
rais superiores aos dos membros de outros grupos.
14 Io pigava elli i li quibrava a gara.
15
As pesquisas hoje estão dirigidas para as ra-
Juó Bananere zões que nos levam 16 a enxergar o mundo sob essa
perspectiva do “nós” e “eles”. Que 17 fatores em nos-
so passado evolutivo forjaram a extrema facilidade
Questão 70 - (Mackenzie SP)
18
com que formamos coalizões e reagimos de forma
preconceituosa 19 contra os estranhos a elas?
Tendo como base o poema modernista brasileiro de 20
Para muitos psicólogos, o ódio dirigido a “eles”
Juó Bananere, é correto afirmar que o autor:
tem origem na 21 generosidade manifestada em re-
lação a “nós” mesmos. [...] 22 Como consequência,
esperamos encontrar acolhimento e 23 solidariedade
a) resgata o tema já utilizado por Luís de Camões, quando estamos entre “nós”, porque somos mais 24
mas concede a ele uma visão mais estereotipa- amigáveis, altruístas e pacíficos do que os de fora.
da e romântica, como em Servia a Raffaela p’ra Valores morais 25 dessa magnitude nos autorizam a
agir com violência contra inimigos 26 que julgamos
si gazá c’oella. (Ref. 04).
não possui-los, em caso de disputas por territórios,
b) valendo-se de uma linguagem macarrônica, re-
27
prestígio social, empregos ou acesso a bens mate-
presentando o falar dos italianos que imigraram riais. [...]
para o Brasil nos idos do século XIX e do século 28
Embora o preconceito esteja alojado em áreas
XX, critica a visão portuguesa medieval do amor. arcaicas do sistema 29 nervoso central, sua expressão
não é inevitável. Nosso córtex cerebral 30 já evoluiu o
c) recorre à intertextualidade para conceder um suficiente para reprimi-lo, de modo a abandonarmos
olhar irônico ao tema já explorado por Luís de a 31 bestialidade do passado e adotarmos condutas
Camões, como em Ma non servia o pai, che illo racionais centradas 32 na tolerância e na aceitação da
non era trouxa nó! (Ref. 03). diversidade humana.
d) resgata o tema já utilizado por Luís de Camões Adaptado de Drauzio Varella
mas concede a ele uma visão mais ufanista da

198 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 71 - (Mackenzie SP) que a ciência demonstrou que o preconceito
está alocado em nosso sistema nervoso central.
Conclui-se do texto que:

TEXTO: 45 - Comuns às questões: 73, 74, 75


a) O preconceito está fundamentado em rigorosas
leis religiosas e civis que subsidiam os valores Liberdade para mentir
morais que com magnitude provocam a diferen-
ça e a exclusão. Marion Strecker

b) A evolução humana ao longo dos tempos de-


monstrou que o homem estabelece em todas
as situações de interação a predisposição para Folha de S.Paulo
a compreensão do diferente, sendo prioritaria- 26/08/2014 02h00
mente pacífico.

c) A manifestação preconceituosa diante do diver-


so está arraigada não só nas condutas humanas Os jornalistas Carlos Alberto Sardenberg e Miriam
em sociedade, mas também no nosso sistema Leitão, das Organizações Globo, sentiram na pele as
nervoso, o que legitima para o autor a prática da consequências da liberdade com que se escreve e
segregação racial. reescreve a principal enciclopédia do século 21. Seus
verbetes na Wikipédia ganharam informações falsas
d) Ainda que haja evidências de natureza neuroló- e ofensivas. E o mais espantoso: as modificações fo-
gica para nosso comportamento social, é funda- ram feitas a partir da rede de internet do Palácio do
mental que a convivência humana se baseie em Planalto.
valores morais que combatam a discriminação,
que está na raiz de atos preconceituosos. O governo federal lamentou o episódio, negou
que tenha sido o autor das modificações, afirmou
e) O hábito de se reunir em grupo, arraigado em que agora é tecnicamente impossível identificar os
nosso desenvolvimento como espécie, possibi- responsáveis e alegou que sua rede é também usada
litou, ao longo dos tempos, a formação de uma por visitantes do Planalto. A fraude teria ocorrido em
prática que nega ao extremo modos de exclusão maio do ano passado, mas só veio à tona neste mês.
social do diferente.
O episódio joga luz sobre os bastidores da maior
enciclopédia do século 21, quinto site mais visitado
do mundo, que atende mais de 430 milhões de pes-
Questão 72 - (Mackenzie SP)
soas por mês com seus 32 milhões de verbetes em
Pela leitura, afirma-se corretamente que o objetivo 287 idiomas. Qualquer um pode escrever ou reescre-
principal do texto é: ver verbetes da Wikipédia.

Um dos pilares da Wikipédia é permitir o anoni-


mato de seus autores. Por que isso? A fundação ale-
a) informar dados percentuais indicativos do au- ga que o anonimato favorece a enciclopédia, pois au-
mento da violência gerada em atos de intolerân- tores que talvez não queiram ver sua imagem pública
cia. associada a determinados verbetes também pode-
riam colaborar. Será que os benefícios de permitir o
b) demonstrar a inevitável falta de conciliação en- anonimato justificam os malefícios?
tre pesquisas científicas e valores morais deter-
minados pela religião. O anonimato como valor é uma herança da in-
ternet do século 20, quando não havia Facebook e o
c) iniciar reflexão sobre como descobertas científi- uso de apelidos ou avatares era bem mais dominante
cas e sua relação com os hábitos sociais podem do que hoje. O fundador mais conhecido da enciclo-
nos auxiliar para rever o que nos conduz a atos pédia é o americano Jimmy Wales, que no século 20
que reafirmam o preconceito e a intolerância. era dono de um site pornográfico e antes de criar a
Wikipédia tentou fazer uma enciclopédia escrita por
d) denunciar a violência contra jogadores de fu- especialistas. Mudou de ideia quando percebeu que
tebol nos estádios nacionais e internacionais, o site poderia crescer muito mais rápido se aceitasse
onde a prática preconceituosa da segregação contribuição de qualquer um.
racial está cada vez mais evidente.
Para escrever para a Wikipédia é preciso ter tem-
e) demarcar a inevitabilidade do comportamento po livre, por isso ela é escrita predominantemente
preconceituoso dos homens em sociedade, já por dois grupos: pessoas muito jovens e pessoas
www.PROJETOREDACAO.com.br - 199
aposentadas. Agrande maioria dos colaboradores “O episódio joga luz sobre os bastidores da maior
são homens, o que também gera um desequilíbrio enciclopédia do século 21 [...]”
que a enciclopédia tenta combater.

Existe uma divisão de funções entre os colabora-


dores. Há os editores (autores), os eliminadores (que Qual efeito de sentido que, respectivamente, desen-
apagam conteúdos que consideram inadequados), cadeiam tais ocorrências?
os administradores, os burocratas, os verificadores
e o conselho de arbitragem, para resolver disputas.
As funções de eliminador e administrador, que são
as mais poderosas, são exercidas por pessoas eleitas
pelos próprios colaboradores da enciclopédia. a) Sentir na pele: passar por uma situação de agres-
são física. Jogar luz sobre os bastidores: iluminar
Mas há diferenças culturais importantes entre a o lado sombrio do que acontece com o público
Wikipédia original, em inglês, e a Wikipédia em por- leitor.
tuguês. Além de a versão em inglês ser muito maior,
com muito mais verbetes e colaboradores, a busca b) Sentir na pele: sentir dor física por causa de uma
do consenso é mais presente em sua produção, en- dura experiência pessoal. Jogar luz sobre os bas-
quanto que em português prevalece a votação sim- tidores: explicar o que acontece quando há pú-
ples. blico envolvido.
A confiabilidade das informações continua a ser c) Sentir na pele: ter a sensação de que uma coisa
o maior problema da Wikipédia, embora em países ruim está prestes a acontecer. Jogar luz sobre os
como a Grã-Bretanha mais pessoas confiem na enci- bastidores: esclarecer o que acontece fora do al-
clopédia on-line (64%) do que nos jornalistas da BBC cance público.
(61%) e de outros veículos.
d) Sentir na pele: sofrer uma penosa experiência
Seu método de produção favorece erros, tan- pessoal. Jogar luz sobre os bastidores: esclare-
to bem quanto mal intencionados, como mostra o cer o que acontece fora do alcance público.
exemplo dos verbetes sobre os jornalistas da Globo.
Embora seus acertos sejam inúmeros, seus erros são e) Sentir na pele: perceber por meio dos sentidos o
cometidos em escala muito mais ampla do que nas que desencadeia uma dolorida experiência pes-
enciclopédias tradicionais, como a Britannica, que soal. Jogar luz sobre os bastidores: tomar deci-
é escrita por profissionais remunerados, entre eles sões para esclarecer o que acontece quando fica
experts, acadêmicos e até laureados com o prêmio pública uma situação.
Nobel.

A fé na “sabedoria das multidões” é outro valor


supremo da Wikipédia. Mas a “sabedoria das mul- Questão 74 - (PUC SP)
tidões” pode resultar no desprezo pela voz do indi-
víduo, inclusive do especialista. E o anonimato pode Na construção do quarto parágrafo, a autora faz uso
liberar o lado mais obscuro da natureza humana, de duas perguntas retóricas, formuladas como
como lembra o intelectual Jaron Lanier, que cunhou
a expressão “maoísmo digital”.
a) estratégia argumentativa que tem como pro-
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ pósito suscitar questionamento sobre os temas
marionstrecker/2014/08/ que contemplam, realizar um apelo à leitura e
1505571-liberdade-para-mentir.shtml. Acesso em: impor uma resposta imediata do interlocutor.
10 out.2014.
b) recurso estilístico sem a intenção de obter res-
posta, que tem como efeito de sentido criar in-
teresse no leitor e levá-lo a refletir sobre algo
Questão 73 - (PUC SP)
que a própria autora já responde.
No início dos primeiro e terceiro parágrafos, há o em-
c) recurso estratégico para desencadear reflexão
prego de linguagem figurada:
sobre algo que não se questiona, além de esti-
mular um posicionamento imediato do interlo-
cutor, ou seja, fazer que ele responda à autora.
“Os jornalistas Carlos Alberto Sardenberg e Miriam
Leitão, das Organizações Globo, sentiram na pele as c) procedimento estilístico que conta com uma
consequências da liberdade com que se escreve e resposta retórica dos leitores, isto é, que eles se
reescreve a principal enciclopédia do século 21.” dirijam ao jornal com um discurso ornamentado

200 - www.PROJETOREDACAO.com.br
com figuras de linguagem. Adeus, meu canto! Na revolta praça

e) questionamento apresentado ao leitor, cuja in- Ruge o clarim tremendo da batalha.


tenção é tornar o discurso mais dinâmico e es-
timulá-lo a ponderar sobre a melhor resposta a Águia — talvez as asas te espedacem,
ser dada ao jornal.
Bandeira — talvez rasgue-te a metralha.

[...]
Questão 75 - (PUC SP)
(ALVES, Castro. Melhores poemas de Castro Alves.
Nos dois últimos parágrafos, os elementos de cone- 7. ed. São Paulo: Global, 2003, p. 109.)
xão entre ideias relacionam, de acordo com a ordem
em que aparecem no texto, sentido de
Questão 76 - (PUC GO)

a) concessão, confrontação, contraste e conformi- Antônio de Castro Alves foi um poeta romântico da
dade. terceira geração e cultor da poesia “condoreira”, ca-
racterizada pela abundância de imagens grandiosas
b) refutação, congruência, concessão e adição. e sonoras, adequadas à declamação pública. O poeta
desvela as mazelas impregnadas nas camadas sociais,
c) adição, comparação, contraste e integração. sobretudo a situação opressora pela qual passavam
as senzalas brasileiras, em meio aos castigos dos seus
d) contradição, equivalência, oposição e compara- senhores. Era imprescindível que alguém clamas-
ção. se por liberdade, com a finalidade de despertar nas
consciências a necessidade de um mundo mais igua-
e) concessão, explicação, oposição e conformida- litário e mais justo. Tais objetivos são materializados
de. no texto “Adeus meu canto”. Sobre esse poema de
Castro Alves (Texto), marque a alternativa correta:

TEXTO: 46 - Comum à questão: 76


a) Pode-se dizer que o poema evidencia o labor
Adeus, meu Canto
poético de Castro Alves e traz uma característica
individualista semelhante aos seus antecesso-
res: a idealização do mundo e da natureza.
Adeus, meu canto! É a hora da partida...
b) O texto enfatiza a chamada “poesia social”, em-
O oceano do povo s’encapela. bora traga um “falso subjetivismo”, pois reali-
za denúncia e manifesta insatisfação frente ao
Filho da tempestade, irmão do raio, cenário político da época, mais precisamente,
frente à escravidão, mas não tem espírito de
Lança teu grito ao vento da procela. luta, não é combativo.

c) O eu lírico dirige-se à própria poesia para que


O inverno envolto em mantos de geada ela assuma sua posição na luta pela abolição dos
escravos. A poesia será sua maior arma contra a
Cresta a rosa de amor que além se erguera... escravidão.

Ave de arribação, voa, anuncia d) Apesar da luta a que se propunha, a poesia não
realizou seu canto e foi arruinada ao tentar des-
Da liberdade a santa primavera. pertar na população o espírito crítico. Por isso, o
poeta foi criticado por aqueles que militavam na
política e na imprensa pela libertação da escra-
vatura.
É preciso partir, aos horizontes

Mandar o grito errante da vedeta.


TEXTO: 47 - Comum à questão: 77
Ergue-te, ó luz! — estrela para o povo,
Não gostei da reunião de ontem na Casa do Couro.
— Para os tiranos — lúgubre cometa.
A reunião em si foi excelente, a melhor desde muito
tempo. Todo mundo estava inspirado e tinindo, quem
www.PROJETOREDACAO.com.br - 201
quis falar falou o que quis sem medo de desagradar; de vir, se eu gostar do jeito dele; mas vou fazer isso
e quem achou que devia discordar discordou, tam- devagar, sem afobação nem imprudências, e sem al-
bém sem pensar em consequências. Foi uma reunião terar o meu sistema de vida.
civilizada, se posso usar essa palavra que lembra tão
comprometedoramente o tempo antigo. Não gostei
foi de certas ocorrências marginais que observei du-
rante os trabalhos, e que me deixaram com uma pul- Tanto que esta tarde vou pescar com meu irmão Ru-
ga na virilha, como dizemos aqui. dêncio. Ele na certa vai me sondar sobre a reunião de
ontem, e já armei minhas defesas. Rudêncio é meu
irmão, pessoa razoavelmente correta e tudo mais,
mas é casado com filha de Caincara e não devo me
Pensando nesses pequeninos sinais, e juntando- os, abrir com ele. Depois que ele casou só temos falado
estou inclinado a concluir que muito breve não te- de pescarias, de comida — assunto que o deixa de
remos mais reuniões na Casa do Couro. É possível olhos vidrados —, das festas que ele frequenta (das
mesmo que a de ontem fique sendo a última, pelo minhas não falo para não perder tempo ouvindo con-
menos por algum tempo, cuja duração não posso selhos).
ainda precisar. As ocorrências que observei enquan-
to meus companheiros falavam me levam a concluir
que vamos entrar numa fase de retrocessos e rejei-
ções semelhante àquela que precedeu o fim da Era Vale a pena contar como foi o casamento de Rudên-
dos Inventos. cio. Joanda, hoje mulher dele, estudava plantas cura-
tivas e fazia longas expedições pelas matas e campos
procurando ervas raras para suas experiências. Um
dia ela se separou dos companheiros numa expedi-
Notei, por exemplo, que os anotadores não estavam ção à fronteira das Terras Altas, perdeu- se na mata
anotando nada, apenas fingiam escrever, fazendo e não voltou ao acampamento. Os companheiros es-
movimentos fúteis com o carvão. Isso podia significar peraram, procuraram, desistiram. Dias depois apare-
ou que já estavam com medo de ser responsabiliza- ceu um caçador dizendo que ela tinha sido raptada
dos pelo que escrevessem, ou que haviam recebido por um bando de Aruguas.
ordem de não registrar o que fosse dito na reunião.
Também uns homens que nunca vi antes na Casa do
Couro iam fechando sorrateiramente as janelas e fi-
xando-as com uma substância pastosa que de longe O Caincara quis organizar uma expedição de resga-
me pareceu ser cola instantânea. te, chegou a reunir mais de cem voluntários, mas o
Umahla vetou, e com boa razão. Estávamos empe-
nhados na atração dos Aruguas, e uma expedição de
resgate comandada por um Caincara violento estra-
Notei ainda que um grupo de indivíduos estranhos à garia o trabalho já feito. O Umahla preferia negociar.
Casa, espalhados pelo grande salão, contava e anota-
va os luzeiros, as estátuas, os defumadores, as estei- [...](VEIGA, José J. Os pecados da tribo.
ras, banquetas, todos os utensílios e objetos de de- 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005, p. 7-9.
coração, como leiloeiros contratados para organizar Adaptado.)
um leilão.

Questão 77 - (PUC GO)


Não falei de minha suspeita a ninguém porque ulti-
mamente ando muito cauteloso. Se me perguntarem A Literatura, sob a ótica do crítico francês Roland Bar-
por que tanta cautela, não saberei responder. Talvez thes, é uma espécie de interrogação sobre o homem,
seja faro, sexto sentido. A grande maioria do povo as coisas e o mundo. É um corpo vazio que se identifi-
está como que enfeitiçada pelo Umahla, para eles é ca e se completa, de alguma forma, em seu encontro
o Sol no céu e o Umahla na terra, julgam-no incapaz com outros corpos. Contudo, não se pode negar que
de transgredir qualquer dos Quatrocentos Princípios, toda obra literária seja um objeto de intervenção so-
baixados por ele mesmo quando tomou as rédeas cial, uma vez que todas elas representam meios de
depois de evaporar o Umahla antigo. Por isso acho educação para melhor percepção do mundo, com
melhor fazer de conta que penso como todo mundo, maior sensibilidade. Assim, pode-se afirmar que
para poder continuar pescando e comendo o bom o texto, de José J. Veiga, encontra repercussão em
pacu, que felizmente ainda pula em nossos rios e la- meio à crise de autoridade que temos experimenta-
gos; o que não me impede de tomar precauções para do nos últimos tempos. Com base nessas afirmações,
não ser confundido com os bate -caixas de hoje; e na após releitura do texto mencionado, marque a alter-
medida do possível pretendo ir anotando certas coi- nativa correta:
sinhas que talvez interessem ao novo Umahla que há

202 - www.PROJETOREDACAO.com.br
a) Na verdade, o trecho narrado faz alusão a um leve e instantâneo ponto, tão leve e 23 instantâneo
momento em que os acontecimentos estavam que mais é feito de pudor e 24 segredo: mal eu falasse
surpreendendo a todos em sua comunidade, nele, já estaria falando 25 em nada.
mas o próprio personagem que narra o fatos
deixa uma mensagem de alento quando indica
26
Mas tenho um milagre, sim. O milagre das 27
em sua fala que tudo estava acontecendo como folhas. Estou andando pela rua e do vento me 28 cai
nos tempos antigos. uma folha exatamente nos cabelos. A 29 incidência da
linha de milhões de folhas 30 transformadas em uma
b) O narrador-personagem demonstra, literaria- única, e de milhões de 31 pessoas a incidência de re-
mente, que as coisas estão em constante mu- duzi-las a mim. Isso 32 me acontece tantas vezes que
dança e, neste caso específico, o que era tradi- passei a me 33 considerar modestamente a escolhida
ção está se dissolvendo, dando lugar a outras das 34 folhas. Com gestos furtivos tiro a folha dos 35
formas de ver e viver a vida naquela comunida- cabelos e guardo-a na bolsa, como o mais 36 diminuto
de. diamante.

c) O narrador-personagem faz alusão às transfor- 37


Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro 38
mações comportamentais de sua comunidade entre os objetos a folha seca, engelhada, 39 morta.
apenas como alerta para que, em qualquer si- Jogo-a fora: não me interessa fetiche 40 morto como
tuação, quando algo não está ocorrendo nor- lembrança. E também porque sei 41 que novas folhas
malmente, tomem-se providências, imediata- coincidirão comigo.
mente.
42
Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei 43
d) De fato, apesar da conversa civilizada, o narra- Deus de uma grande delicadeza.
dor-personagem apresenta certas preocupa-
ções, principalmente quando ele nota a presen- LISPECTOR, Clarice. In: SANTOS, Joaquim Ferreira dos.
ça de pessoas estranhas à casa, num claro sinal Organização e
de que a sua comunidade estava seriamente introdução. As cem melhores crônicas brasileiras.
ameaçada, uma vez que se podia suspeitar a Rio de Janeiro:
partir dessa invasão que o seu Umahla todo po- Objetiva, 2007. p. 186-187.
deroso estivesse em perigo.

Questão 78 - (UECE)
TEXTO: 48 - Comuns às questões: 78, 79, 80
O texto diz que
O milagre das folhas

a) o fenômeno do milagre é privativo das pessoas


1
Não, nunca me acontecem milagres. Ouço fa- 2 que abraçam abertamente uma religião.
lar, e às vezes isso me basta como 3 esperança. Mas
também me revolta: por que 4 não a mim? Por que b) é importante ver as pequenas coisas do cotidia-
só de ouvir falar? Pois já 5 cheguei a ouvir conversas no como milagres, ou manifestações de Deus.
assim, sobre 6 milagres: “Avisou-me que, ao ser dita c) saber-se indignas de milagres deixa todas as
7
determinada palavra, um objeto de estimação 8 se pessoa confusas e revoltadas contra Deus.
quebraria”. Meus objetos se quebram 9 banalmente
e pelas mãos das empregadas. d) nem todo mundo é digno de receber um milagre
da divindade.
10
Até que fui obrigada a chegar à conclusão 11 de
que sou daqueles que rolam pedras durante 12 sécu-
los, e não daqueles para os quais os seixos 13 já vêm
prontos, polidos e brancos. Bem que 14 tenho visões Questão 79 - (UECE)
fugitivas antes de adormecer – 15 seria milagre? Mas
já me foi tranquilamente 16 explicado que isso até Nos estudos sobre a obra de Clarice Lispector, fala-se
nome tem: cidetismo 17 (sic), capacidade de projetar da epifania (ou revelação) que se dá com a persona-
no alucinatório as 18 imagens inconscientes. LISPEC- gem. Em determinado momento do texto, a perso-
TOR, Clarice. In: SANTOS, Joaquim Ferreira dos. Orga- nagem passa a entender algo que, para ela, estava
nização e introdução. As cem melhores crônicas bra- escondido ou obscuro.
sileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. p. 186-187.
Assinale a opção cujo trecho transcrito indica esse
19
Milagre, não. Mas as coincidências. Vivo de 20 momento na crônica.
coincidências, vivo de linhas que incidem uma 21 na
outra e se cruzam e no cruzamento formam 22 um
www.PROJETOREDACAO.com.br - 203
a) “Até que fui obrigada a chegar à conclusão de O seu não ter sequer mãos para se pronunciar
que sou daqueles que rolam pedras durante sé- com
culos...” (Refs. 10-12)
10 as mãos.
b) “Vivo de coincidências, vivo de linhas que incidem
uma na outra e se cruzam...” (Refs. 19-21) Penso que a natureza o adotara em árvore.

c) “Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro entre Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos1 de pas-
os objetos a folha seca, engelhada, morta. Jogo- sarinhos
-a fora: não me interessa fetiche morto como
lembrança.” (Refs. 37-40) que um dia teriam cantado entre as suas folhas.

d) “Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Tentei transcrever para flauta a ternura dos arru-
Deus de uma grande delicadeza.” (Refs. 42-43) los.

15 Mas o mato era mudo.

Agora o poste se inclina para o chão − como al-


Questão 80 - (UECE)
guém
O personagem do texto percorre etapas para chegar,
que procurasse o chão para repouso.
ao final, a um estado de epifania ou iluminação. Iden-
tifique esse percurso na ordem em que ele acontece. Tivemos saudades de nós.

Manoel de Barros
a) esperança; revolta; ceticismo (irônico); aceita- Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.
ção; certeza (do não merecimento de milagres);
iluminação.

b) revolta; certeza (do não merecimento de mila- 1


arrulos − canto ou gemido de rolas e pombas
gres); aceitação; ceticismo (raivoso); ilumina-
ção.

c) conformação; revolta; ceticismo (raivoso); cer- Questão 81 - (UERJ)


teza (do não merecimento de milagres); ilumi-
nação. O título Canção do ver reúne duas esferas diferentes
dos sentidos humanos: audição e visão.
d) revolta; esperança; certeza (do não merecimen-
to de milagres); ceticismo (raivoso); aceitação; No entanto, no decorrer do poema, a visão predomi-
iluminação. na sobre a audição.

Os dois elementos que confirmam isso são:

TEXTO: 49 - Comum à questão: 81


CANÇÃO DO VER a) o imobilismo do poste e a saudade dos tempos
passados

b) a inclinação do poste e sua adoção pela paisa-


Fomos rever o poste. gem natural

O mesmo poste de quando a gente brincava de c) a aparência do poste e a suposição do arrulo dos
pique passarinhos

e de esconder. d) o silêncio do poste e a impossibilidade de trans-


crição musical
Agora ele estava tão verdinho!

5 O corpo recoberto de limo e borboletas.

Eu quis filmar o abandono do poste.

O seu estar parado.

O seu não ter voz.

204 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 50 - Comum à questão: 82 A crônica de Gregorio Duvivier é construída em um
único parágrafo com uma única frase. Essa frase co-
É MENINA meça e termina pela mesma expressão: é menina.

Em termos denotativos, a menina, referida no final


do texto, pode ser compreendida como:
1
É menina, que coisa mais fofa, parece com o pai,
parece com a mãe, parece um joelho, upa, 2 upa, não
chora, isso é choro de fome, isso é choro de sono,
isso é choro de chata, choro de 3 menina, igualzinha a) filha da primeira
à mãe, achou, sumiu, achou, não faz pirraça, coitada,
tem que deixar chorar, 4 vocês fazem tudo o que ela b) ideal de pureza
quer, isso vai crescer mimada, eu queria essa vida pra
c) mulher na infância
mim, dormir 5 e mamar, aproveita enquanto ela ain-
da não engatinha, isso daí quando começa a andar é d) sinal de transformação
um 6 inferno, daqui a pouco começa a falar, daí não
para mais, ela precisa é de um irmão, foi só falar, 7
olha só quem vai ganhar um irmãozinho, tomara que
seja menino pra formar um casal, ela tá até 8 mais TEXTO: 51 - Comum à questão: 83
quieta depois que ele nasceu, parece que ela cuida
dele, esses dois vão ser inseparáveis, 9 ela deve mor- SEPARAÇÃO
rer de ciúmes, ele já nasceu falante, menino é outra
coisa, desde que ele nasceu 10 parece que ela cres-
ceu, já tá uma menina, quando é que vai pra creche, 1
Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez,
ela não larga dessa 11 boneca por nada, já podia ser como quem repete um gesto imemorialmente 2 ir-
mãe, já sabe escrever o nomezinho, quantos dedos remediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas
têm aqui, 12 qual é a sua princesa da Disney preferida, ao chegar à porta sentiu que nada poderia 3 evitar
quem você prefere, o papai ou a mamãe, quem é 13 a reincidência daquela cena tantas vezes contada na
o seu namoradinho, quem é o seu príncipe da Disney história do amor, que é a história do 4 mundo. Ela o
preferido, já se maquia nessa idade, é 14 apaixonada olhava com um olhar intenso, onde existia uma in-
pelo pai, cadê o Ken, daqui a pouco vira mocinha, eu compreensão e um anelo*1, como 5 a pedir-lhe, ao
te peguei no colo, só falta ficar 15 mais alta que eu, mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de
finalmente largou a boneca, já tava na hora, agora ir, por isso que era tudo 6 impossível entre eles.
deve tá pensando besteira, 16 soube que virou moci-
nha, ganhou corpo, tenho uma dieta boa pra você, a (...)
dieta do ovo, a dieta 17 do tipo sanguíneo, a dieta da
água gelada, essa barriga só resolve com cinta, que 7
Seus olhares fulguraram por um instante um contra
corpão, essa 18 menina é um perigo, vai ter que voltar o outro, depois se acariciaram ternamente 8 e, final-
antes de meia-noite, o seu irmão é diferente, menino mente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-
é 19 outra coisa, vai pela sombra, não sorri pro por- -lhe adeus com doçura, virou-se 9 e cerrou, de golpe,
teiro, não sorri pro pedreiro, quem é esse menino, a porta sobre si mesmo numa tentativa de secionar*2
20
se o seu pai descobrir, ele te mata, esse menino aqueles dois mundos 10 que eram ele e ela. Mas o
é filho de quem, cuidado que homem não 21 presta, brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as
não pode dar confiança, não vai pra casa dele, ho- folhas de madeira 11 o espesso tecido da vida, e ele
mem gosta é de mulher difícil, tem que 22 se dar valor, ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo
homem é tudo igual, segura esse homem, não fuxica, o pranto 12 formar-se muito longe em seu íntimo e
não mexe nas coisas dele, 23 tem coisa que é melhor subir em busca de espaço, como um rio que nasce.
a gente não saber, não pergunta demais que ele te
abandona, o que24 os olhos não veem o coração não
13
Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do
sente, quando é que vão casar, ele tá te enrolando, momento, mas o fato de sabê-la ali ao 14 lado, e dele
morar 25 junto é casar, quando é que vão ter filho, ele separada por imperativos categóricos*3 de suas vidas,
tá te enrolando, barriga pontuda deve ser menina, 26 não lhe dava forças para 15 desprender-se dela. Sa-
é menina. bia que era aquela a sua amada, por quem esperara
desde sempre e que 16 por muitos anos buscara em
Gregorio Duvivier cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia,
também, que 17 o primeiro passo que desse coloca-
Folha de São Paulo, 16/09/2013. ria em movimento sua máquina de viver e ele teria,
mesmo 18 como um autômato, de sair, andar, fazer
coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez 19
mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua
Questão 82 - (UERJ) forma feminina que não era nenhuma outra 20 forma
feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que
www.PROJETOREDACAO.com.br - 205
ele abençoara com os seus beijos e 21 agasalhara nos da água
instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la
em sua dolorosa mudez, já 22 envolta em seu espaço (Arnaldo Antunes.)
próprio, perdida em suas cogitações próprias − um
ser desligado dele 23 pelo limite existente entre todas (Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/
as coisas criadas. teorialiteraria/72545>06.)

24
De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas,
correu para a rua e pôs-se a andar sem saber 25 para
Questão 84 - (UERN)
onde...
De acordo com a estrutura do texto apresentado de
Vinícius de Morais
Arnaldo Antunes, e considerando os componentes
Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1986. do ato de comunicação, é correto afirmar a ocorrên-
cia de

*1
anelo − desejo intenso
a) destaque dado ao locutor.
*2
secionar − dividir em partes
b) expressão metalinguística.
*3
categóricos − claros e explícitos
c) linguagem direta e precisa.

d) destaque dado à mensagem.


Questão 83 - (UERJ)
No íntimo, preferia não tê-lo feito; (Ref. 2)
TEXTO: 53 - Comum à questão: 85
Embora seja narrada em terceira pessoa, a crônica
apresenta ao leitor as sensações do personagem, por Texto I
meio de termos que remetem à intimidade, como Epitáfio à mesma beleza sepultada
exemplificado acima.

Dois outros termos, empregados pelo narrador, que


remetem ao universo interior do personagem são: Vemos a luz (ó caminhante espera)
De todas, quantas brilham, mais pomposa,

a) sentiu (Ref. 2) − imaginá-la (Ref. 21) Vemos a mais florida Primavera,


Vemos a madrugada mais formosa:
b) fulguraram (Ref. 7) − acariciaram (Ref. 7)
Vemos a gala da luzente esfera,
c) Disse-lhe (Ref. 8) − abençoara (Ref. 20)
Vemos a flor das flores mais lustrosa
d) Sabia (Ref. 15) − distanciar-se (Ref. 18)
Em terra, em pó, em cinza reduzida:
Quem te teme, ou te estima, ó morte, olvida.
TEXTO: 52 - Comum à questão: 84
Matos, Gregório de. Crônica do viver baiano seiscentista.
In: Obras
completas de Gregório de Matos e Guerra.
Salvador: Janaína, 1969,7 volumes, tomo III, p. 528.
Adaptado.

Texto II
Casulo Cristãos, pagãos, maometanos,
azul A qual de vós fará o Mistério a vontade?
guarda as asas A incerteza do que é a morte é o que nos vale na
vida.
206 - www.PROJETOREDACAO.com.br
O desconhecimento do que é a morte é o sentido é um símbolo indicador de passagem, mudan-
da vida. ça,transição. Não por acaso, a narrativa começa
justo nesse lugar, limiar geográfico e simbólico
O desconhecermos a morte é que faz a beleza da entre dois mundos.
vida.
( ) De um lado da ponte, concentram-se comércio,
cartório, correio, cadeia, largo, chafariz, coreto,
igreja, cemitério, campo de futebol, em resumo,
Quem sabe o valor exato de uma vida? a parte mais organizada da cidade.
Sei que há uma vida, e que apagam essa vida — ( ) Do outro, há pastos, capinzais, paragens onde
não sei é se podem coletar lenha e raízes para chá, além
quem apaga da já mencionada tapera. Lá os forasteiros se
organizam em um acampamento, onde criam
Mas sei que de cada vida que passa há um univer- animais, porém o narrador não fornece ao leitor
so em mim. pistas sobre quais espécies são criadas.

Pessoa, Fernando. Poesia/Álvaro de Campos. ( ) Manarairema ocupa simultaneamente dois pa-


São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 258. péis na narrativa; é uma espécie de espaço-per-
Adaptado. sonagem – como no exemplo: (“Manarairema
foi dormir pensando nos vizinhos esquivos e fa-
zendo planos para tratar com eles quando che-
gasse a ocasião.” p.5) Nesse caso José J. Veiga
Questão 85 - (UFJF MG) aplica a prosopopeia ao espaço a fim de ratificar
a tese naturalista de que o homem é fruto de
Sobre a questão da transitoriedade da vida retratada seu meio. Essa premissa determinista encaixa-se
nos dois poemas, é CORRETO afirmar: perfeitamente em A Hora dos Ruminantes, pois
os forasteiros que chegam à cidadezinha passam
a se comportar como os manarairenses. E con-
a) O eu-lírico do texto I tem um profundo medo da dição única de espaço (“Manarairema estaria se
morte, enquanto o do texto II a desafia. acabando, se perdendo para sempre?” p.44).

b) O eu-lírico do texto I vê beleza ao morrer, en-


quanto o do texto II só vê danos.
A sequência correta é:
c) O eu-lírico do texto I considera a vida eterna, en-
quanto o do texto II reconhece sua efemeridade.

d) O eu-lírico do texto I estima a morte, enquanto o a) V-V-V-F-F


do texto II a rejeita completamente. b) F-V-F-V-F
e) O eu-lírico do texto I parece conhecer a morte, c) V-V-F-F-V
enquanto o do texto II aceita seu mistério.
d) F-F-V-V-F

Questão 86 - (UNIRG TO)


TEXTO: 54 - Comuns às questões: 87, 88
Sobre a cidadezinha de A Hora dos Ruminantes mar-
que V ou F: Fotojornalismo

( ) Se fôssemos desenhar um mapa de Manaraire- 1


Vem perto o dia em que soará para os escritores a
ma com as informações fornecidas pelo roman- hora do irreparável desastre e da derradeira 2 des-
ce, um dado geográfico fundamental seria a di- graça. Nós, os rabiscadores de artigos e notícias, já
visão entre a tapera, local onde os homens se sentimos que nos falta o solo debaixo 3 dos pés… Um
instalam, e o núcleo da cidade, porção habitada exército rival vem solapando os alicerces em que até
pelos demais personagens. agora assentava a nossa 4 supremacia: é o exército
dos desenhistas, dos caricaturistas e dos ilustrado-
( ) As duas partes avizinham-se - de uma se avista res. O lápis destronará 5 a pena: ceci tuera cela1.
a outra -, mas estão claramente separadas: há
um rio no meio, e sobre ele, uma ponte. A ponte
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6
O público tem pressa. A vida de hoje, vertiginosa quem, como atualmente ficam, fixadas e conserva-
e febril, não admite leituras demoradas, nem 7 re- das eternamente, para 31 gáudio6 dos inimigos… Qual
flexões profundas. A onda humana galopa, numa de vós, irmãos, não escreve todos os dias quatro ou
espumarada bravia, sem descanso. Quem 8 não se cinco tolices 32 que desejariam ver apagadas ou ex-
apressar com ela será arrebatado, esmagado, exter- tintas? Mas, ai! de todos nós! Não há morte para as
minado. O século não tem tempo a 9 perder. A ele- nossas 33 tolices! Nas bibliotecas e nos escritórios dos
tricidade já suprimiu as distâncias: daqui a pouco, jornais, elas ficam (...) catalogadas.
quando um europeu espirrar, 10 ouvirá incontinenti2
o “Deus te ajude” de um americano. E ainda a ciência (...)
humana há de achar o 11 meio de simplificar e apres-
sar a vida por forma tal que os homens já nascerão
com dezoito anos, 12 aptos e armados para todas as 34
No jornalismo do Rio de Janeiro, já se iniciou a re-
batalhas da existência. volução, que vai ser a nossa morte e a 35 opulência7
dos que sabem desenhar. Preparemo-nos para mor-
rer, irmãos, sem lamentações 36 ridículas, aceitando
13
Já ninguém mais lê artigos. Todos os jornais abrem resignadamente a fatalidade das coisas, e consolan-
espaço às ilustrações copiosas, que entram 14 pelos do-nos uns aos outros 37 com a cortesia de que, ao
olhos da gente com uma insistência assombrosa. As menos, não mais seremos obrigados a escrever bar-
legendas são curtas e incisivas: toda 15 a explicação baridades…
vem da gravura, que conta conflitos e mortes, casos
alegres e casos tristes.
38
Saudemos a nova era da imprensa! A revolução
tira-nos o pão da boca, mas deixa-nos aliviada 39 a
16
É provável que o jornal-modelo do século 20 seja consciência.
um imenso animatógrafo3, por cuja tela vasta 17 pas-
sem reproduzidos, instantaneamente, todos os inci-
dentes da vida cotidiana. Direis que as 18 ilustrações, Olavo Bilac
sem palavras que as expliquem, não poderão doutri-
nar as massas nem fazer uma 19 propaganda eficaz Gazeta de Notícias , 3/0 / 90 .
desta ou daquela ideia política. Puro engano. Haverá
ilustradores para a sátira, 20 ilustradores para a pie-
dade.
1 ceci tuera cela − isto vai matar aquilo

2 incontinenti − sem demora


21
(...) Demais, nada impede que seja anexado ao ani-
matógrafo um gramofone de voz tonitruosa4, 22 en- 3 animatógrafo − aparelho que passa imagens se-
carregado de berrar ao céu e à terra o comentário, quenciais
grave ou picante, das fotografias.
4 tonitruosa − com o volume alto

5 égide − proteção
23
E convenhamos que, no dia em que nós, cronistas
6 gáudio − alegria extremada
e noticiaristas, houvermos desaparecido da 24 cena
– nem por isso se subverterá a ordem social. As pala- 7 opulência − riqueza, grandeza
vras são traidoras, e a fotografia é fiel. 25 A pena nem
sempre é ajudada pela inteligência; ao passo que a
máquina fotográfica funciona 26 sempre sob a égide5
da soberana Verdade, a coberto das inumeráveis ci- Questão 87 - (UERJ)
ladas da Mentira, do 27 Equívoco e da Miopia inte-
lectual. Vereis que não hão de ser tão frequentes as O cinema se popularizou no Brasil depois de esta
controvérsias… crônica ter sido escrita. Nela, porém, o autor já ante-
cipa o advento do novo meio de comunicação.
(...)
Um trecho que comprova tal afirmativa é:

28
Não insistamos sobre os benefícios da grande revo-
lução que a fotogravura vem fazer no 29 jornalismo. a) E ainda a ciência humana há de achar o meio de
Frisemos apenas este ponto: o jornal-animatógrafo simplificar e apressar a vida (Refs. 10-11)
terá a utilidade de evitar que 30 nossas opiniões fi-
208 - www.PROJETOREDACAO.com.br
b) toda a explicação vem da gravura, que conta os infatigáveis bichos. Taímo nos 11 sacudia a nós, in-
conflitos e mortes, (Refs. 14-15) comodado por lhe dedicarmos cuidados.

c) nada impede que seja anexado ao animatógrafo


um gramofone de voz tonitruosa, (Ref. 21)
12
Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos
d) a máquina fotográfica funciona sempre sob a transabertos. Como dormia fora, nem dávamos 13
égide da soberana Verdade, (Refs. 25-26) conta. Minha mãe, manhã seguinte, é que nos con-
vocava:
14
− Venham: papá teve um sonho!
Questão 88 - (UERJ)
Vereis que não hão de ser tão frequentes as contro-
vérsias… (Ref. 27) 15
E nos juntávamos, todos completos, para escutar
as verdades que lhe tinham sido reveladas. 16 Taímo
A previsão de Bilac sobre a diminuição das contro- recebia notícia do futuro por via dos antepassados.
vérsias ou polêmicas, por causa da vitória da imagem Dizia tantas previsões que nem havia 17 tempo de
sobre a palavra, baseia-se em uma pressuposição provar nenhuma. Eu me perguntava sobre a verdade
acerca da maneira de representar a realidade. daquelas visões do velho, 18 estorinhador como ele
era.
Essa pressuposição está enunciada em:

19
− Nem duvidem, avisava mamã, suspeitando-nos. 20
a) o desenho critica o real e as palavras expressam E assim seguia nossa criancice, tempos afora. Nesses
consciência anos ainda tudo tinha sentido: a razão 21 deste mun-
do estava num outro mundo inexplicável. Os mais
b) a fotografia reproduz o real e as palavras provo-
velhos faziam a ponte entre esses 22 dois mundos. (...)
cam distorções
Mia Couto
c) a imagem interpreta o real e as palavras preci-
sam de inteligência Terra sonâmbula. São Paulo, Cia das Letras, 2007.
d) a fotogravura subverte o real e as palavras ten-
dem ao conservadorismo
Questão 89 - (UERJ)
Este texto é uma narrativa ficcional que se refere à
TEXTO: 55 - Comum à questão: 89 própria ficção, o que caracteriza uma espécie de me-
talinguagem.
O tempo em que o mundo tinha a nossa idade
A metalinguagem está melhor explicitada no seguin-
te trecho:
1
Nesse entretempo, ele nos chamava para escutar-
mos seus imprevistos improvisos. As estórias 2 dele
faziam o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que a) As estórias dele faziam o nosso lugarzinho cres-
o mundo. Nenhuma narração tinha fim, o 3 sono lhe cer até ficar maior que o mundo. (Ref. 1-2)
apagava a boca antes do desfecho. Éramos nós que
recolhíamos seu corpo dorminhoso. 4 Não lhe dei- b) Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de
távamos dentro da casa: ele sempre recusara cama olhos transabertos. (Ref. 12)
feita. Seu conceito era que a morte 5 nos apanha dei-
tados sobre a moleza de uma esteira. Leito dele era c) E nos juntávamos, todos completos, para escu-
o puro chão, lugar onde a 6 chuva também gosta de tar as verdades que lhe tinham sido reveladas.
deitar. Nós simplesmente lhe encostávamos na pare- (Ref. 15)
de da casa. Ali ficava 7 até de manhã. Lhe encontráva-
mos coberto de formigas. Parece que os insectos gos- d) Nesses anos ainda tudo tinha sentido: (Ref. 20)
tavam do suor 8 docicado do velho Taímo. Ele nem
sentia o corrupio do formigueiro em sua pele.
TEXTO: 56 - Comum à questão: 90

9
− Chiças: transpiro mais que palmeira! 10 Proferia O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e,
tontices enquanto ia acordando. Nós lhe sacudíamos ainda menos, uma integração de certos agrupamen-
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tos, de certas vontades particularistas, de que a fa- TEXTO: 57 - Comuns às questões: 91, 92, 93
mília é o melhor exemplo. Não existe, entre o círculo
familiar e o Estado, uma gradação, mas antes uma Crianças brincando
descontinuidade e até uma oposição. A indistinção
fundamental entre as duas formas é prejuízo român-
tico que teve os seus adeptos mais entusiastas duran-
te o século XIX. De acordo com esses doutrinadores, o
Estado e as suas instituições descenderiam em linha
reta, e por simples evolução, da família. A verdade,
bem outra, é que pertencem a ordens diferentes em
essência. Só pela transgressão da ordem doméstica
e familiar é que nasce o Estado e que o simples in-
divíduo se faz cidadão, contribuinte, eleitor, elegível,
recrutável e responsável, ante as leis da Cidade. Há
nesse fato um triunfo do geral sobre o particular, do
intelectual sobre o material do abstrato sobre o cor-
Uma psicóloga da PM-SP defende que crianças de
póreo e não uma depuração sucessiva, uma espiri-
oito anos podem manusear armas de fogo, “desde
tualização de formas mais naturais e rudimentares.
que acompanhadas pelos pais”. É normal, diz ela, que
A ordem familiar, em sua forma pura, é abolida por
o filho de um policial tenha curiosidade sobre o ins-
uma transcendência.
trumento de trabalho de seu pai, “assim como o filho
(Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil, 2010. do médico tem sobre o estetoscópio”. A recente tra-
Adaptado.) gédia em São Paulo, envolvendo o menino Marcelo
Pesseghini, 13, suspeito de matar seus pais (ambos,
policiais militares), a avó e a tia-avó, e que se matou
em seguida, tudo a tiros, não abalou sua convicção.
Questão 90 - (Fac. Santa Marcelina SP)
No que diz respeito à comparação entre família e Es-
tado, o texto apresenta Vejamos. É normal que o filho de oito anos de um
piloto de aviação tenha curiosidade sobre o instru-
mento de trabalho do pai - o avião. Isso autoriza o
piloto a pôr o filho na cadeira do copiloto e “acompa-
a) a caracterização do Estado como geral, intelec- nhá-lo” enquanto ele pousa o aparelho levando 300
tual e abstrato, e da família como particular, ma- passageiros? O filho de um madeireiro, apenas por
terial e corpórea. ser quem é, estará autorizado a brincar com uma mo-
tosserra? E o filho de um proctologista estará apto a
b) a explicação do princípio segundo o qual a famí-
manipular o instrumento de trabalho de seu pai? (...)
lia fornece as leis que governam o Estado.

c) a tese de que existe uma hierarquia entre Esta-


do, Cidade e Família, com o Estado no topo e a A professora Maria de Lourdes Trassi, da Faculdade
Família na base. de Psicologia da PUC-SP, rebate o argumento da psi-
cóloga da PM, dizendo: “O cirurgião pode até dar o
d) a possibilidade de, se for para o bem da família,
estetoscópio ou a luva [para o filho brincar]. Mas não
os cidadãos transgredirem as leis do Estado.
vai lhe apresentar o bisturi”.
e) a defesa de que o Estado é uma versão ampliada
e refinada das estruturas e das relações familia-
res. Também acho. E há muitas coisas com que o filho de
um PM pode brincar - gás de mostarda, bombas de
gás lacrimogêneo, balas de borracha -, sem ter de
apelar para armas de fogo.

(Ruy Castro, Folha de S.Paulo, 19.08.2013)

210 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 91 - (ESPM SP) d) bisturi

Segundo o texto, o autor: e) instrumento do proctologista

a) aceita o fato de uma criança ter curiosidade so- TEXTO: 58 - Comum à questão: 94
bre o instrumento de trabalho do pai, inclusive
se for arma de fogo.

b) sugere que o filho de um PM pode brincar com


instrumentos de trabalho perigosos, exceto com
armas de fogo.

c) acha normal o filho de um PM ter interesse so-


bre o instrumento de trabalho do pai, sobretudo
quando se trata de arma de fogo.

d) sustenta a ideia de que um menor de idade pode


usar armas de fogo, desde que sob a supervisão
dos pais. Tratava-se de uma orientação pedagógica que acre-
ditava no papel da instrução como base prévia das
e) concorda com o fato de uma criança ser atraída transformações sociais. Ela preconizava uma edu-
pelo instrumento de trabalho do pai, mas pon- cação rigorosamente leiga em classes mistas, sem
dera sobre os limites que ele, pai, deva estabe- religião, com predomínio da ciência apelando para
lecer. a iniciativa do aluno e criando para ele condições
atraentes de aprendizado, com o fim de formar cida-
dãos independentes não submetidos aos preconcei-
tos. Ao mesmo tempo, Ferrer pregava a organização
Questão 92 - (ESPM SP) sindical dos professores e a sua solidariedade com o
movimento operário, como consequência lógica do
No 2º parágrafo, as perguntas feitas pelo autor são:
pressuposto segundo o qual a instrução leiga e cientí-
fica leva necessariamente a desejar a transformação
da sociedade.
a) declarativas, que comparam a periculosidade
das mais variadas atividades profissionais. (Antonio Cândido, Teresina etc...)

b) retóricas, que contradizem a declaração da pro-


fessora da PUC.
Questão 94 - (ESPM SP)
c) retóricas, que questionam o posicionamento da
psicóloga da PM. Com base no texto, pode-se afirmar que o modelo
pedagógico defendido pretendia aliar:
d) ideológicas, que polemizam a postura tanto da
psicóloga quanto da professora.
a) Religião, obscurantismo e mudança política.
e) exclamativas, que expressam os sentimentos de
ironia sobre o tema em questão. b) Estado laico, corpo docente e sindicalização dos
discentes.

c) Ciência, participação do aluno e transformação


Questão 93 - (ESPM SP) da sociedade.
Dos objetos citados no texto, assinale aquele que
d) Formação leiga, nivelamento social e cidadania.
possui grau diferente de importância se comparado
aos demais: e) Quebra de preconceitos, identidade operária e
revolução.

a) armas de fogo

b) estetoscópio TEXTO: 59 - Comum à questão: 95

c) motosserra Como percepção da sociedade moderna, não há


nada que se compare a ‘O Capital’, ao ‘Manifesto
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Comunista’ e aos escritos sobre a luta de classes na
França. A potência da formulação e da análise até
hoje deixa boquiaberto. Dito isso, os prognósticos de A graça da tira decorre:
Marx sobre a revolução operária não se realizaram, o
que obriga a uma leitura distanciada. Outros aspec-
tos da teoria, entretanto, ficaram de pé, mais atuais a) da existência de “ruído” na comunicação efe-
do que nunca, tais como a mercantilização da exis- tuada pela esposa Helga e não entendida pelo
tência, a crise geral sempre pendente e a exploração amigo Ed Sortudo.
do trabalho. Nossa vida intelectual seria bem mais
relevante se não fechássemos os olhos para esse lado b) de uma fala inabitual de Helga que, ao dirigir-
das coisas. -se diretamente ao próprio marido, refere-se às
qualidades de uma terceira pessoa.
(Roberto Schwarz, “Por que ler Marx”, Folha de S.Paulo,
22.02.2013) c) do não entendimento de um discurso ambíguo
bastante comum, no qual se dirige à própria
pessoa, questionando-a como se fosse uma ou-
tra.
Questão 95 - (ESPM SP)
d) da diferença do nível de linguagem usado pelo
Assinale a correta. Segundo o texto: emissor para se dirigir aos interlocutores, fato
que fez sugerir a existência de dois maridos.

a) comprovadamente não há nada que supere até e) da dificuldade de compreensão, por parte do
hoje, em densidade analítica, os textos marxis- amigo Ed Sortudo, devido aos traços de infor-
tas. malidade no discurso de Helga.

b) não é possível comparar os textos marxistas,


muito intelectuais, com as produções críticas da
sociedade moderna. TEXTO: 60 - Comuns às questões: 97, 98

c) todas as teorias profetizadas nos textos de Marx O supérfluo


acabaram vingando, tais como a “mercantiliza-
ção da existência”, a “crise geral” e a “exploração
do trabalho”. Mário de Andrade disse uma vez que a arte não é
um elemento vital, mas um elemento da vida. Não
d) há um prejuízo intelectual para a sociedade, ao nos é imediatamente necessária como a comida, as
se ignorarem, hoje, aspectos deploráveis das re- roupas, o transporte, e descobrimos nela a constante
lações humanas denunciadas no século XIX por do supérfluo, do inútil. Uma lâmina num cabo é uma
Marx. faca, mas é preciso que o cabo seja esculpido, que a
e) os textos marxistas, de um modo geral, são con- lâmina seja gravada, para que a faca, objeto de um
siderados atuais no plano temático, mas ultra- trabalho supérfluo, exprima o amor e a atenção que
passados quanto ao poder de análise. o homem consagrou a ela. Se a arte é associada a um
objeto útil, ela é, nele, o supérfluo.

Questão 96 - (ESPM SP)


Benvenuto Cellini, em 1540, realiza, para o rei Fran-
HAGAR – Dik Browne cisco I da França, um saleiro. Mas “um saleiro que
em nada se assemelha aos saleiros comuns”, como
diz o próprio artista em suas memórias, pois se trata
de uma extraordinária escultura dos deuses do mar e
da terra, Netuno e Ops, sobre um pedestal ricamen-
te ornado. Os recipientes do sal e da pimenta têm a
forma de uma barca e de um arco do triunfo. A des-
proporção entre a função banal e o trabalho artístico
é evidente e assinala fortemente o quanto a arte sig-
nifica supérfluo.

Não se trata apenas de embelezamento, de ornamen-


to. Trata-se de algo próprio à ideia que possuímos da

212 - www.PROJETOREDACAO.com.br
arte. Em nossa cultura, ela se encontra no domínio da Considere o trecho do conto A causa secreta, de Ma-
pura gratuidade. chado de Assis.

(Jorge Coli. O que é arte, 2010. Adaptado.)

Garcia lembrou-se que na véspera ouvira ao Fortu-


nato queixar-se de um rato, que lhe levara um papel
Questão 97 - (Fac. Santa Marcelina SP) importante; mas estava longe de esperar o que viu.
Viu Fortunato sentado à mesa, que havia no centro
Ao recorrer às expressões elemento vital e elemento do gabinete, e sobre a qual pusera um prato com es-
da vida, ditas certa vez por Mário de Andrade, o au- pírito de vinho. O líquido flamejava. Entre o polegar e
tor do texto o índice da mão esquerda segurava um barbante, de
cuja ponta pendia o rato atado pela cauda. Na direi-
ta tinha uma tesoura. No momento em que o Garcia
a) tenta mostrar, a partir de expressões semelhan- entrou, Fortunato cortava ao rato uma das patas; em
tes, como podem ser sutis as diferenças entre os seguida desceu o infeliz até a chama, rápido, para
objetos úteis e os objetos inúteis. não matá-lo, e dispôs-se a fazer o mesmo à terceira,
pois já lhe havia cortado a primeira. Garcia estacou
b) pretende associar sua discussão sobre arte ao horrorizado.
universo da biologia, ciência que trata dos ele-
mentos vivos.

c) procura fazer uma diferença entre os alimentos, – Mate-o logo! disse-lhe.


essenciais à sobrevivência, e os utensílios secun-
– Já vai.
dários da cozinha, como a faca e o saleiro.

d) quer separar, conceitualmente, aspectos úteis


de aspectos supérfluos, nos objetos e nas práti- E com um sorriso único, reflexo de alma satisfeita,
cas humanas. alguma coisa que traduzia a delícia íntima das sensa-
ções supremas, Fortunato cortou a terceira pata ao
e) almeja comparar, com a arte verdadeira, uma
rato, e fez pela terceira vez o mesmo movimento até
faca e um saleiro esculpidos como se fossem
a chama. O miserável estorcia-se, guinchando, en-
arte.
sanguentado, chamuscado, e não acabava de morrer.
Garcia desviou os olhos, depois os voltou novamente,
e estendeu a mão para impedir que o suplício conti-
Questão 98 - (Fac. Santa Marcelina SP) nuasse, mas não chegou a fazê-lo, porque o diabo do
homem impunha medo, com toda aquela serenidade
Considere a frase: radiosa da fisionomia. Faltava cortar a última pata;
Fortunato cortou-a muito devagar, acompanhando a
tesoura com os olhos; a pata caiu, e ele ficou olhan-
do para o rato meio cadáver. Ao descê-lo pela quarta
Trata-se de algo próprio à ideia que possuímos da
vez, até a chama, deu ainda mais rapidez ao gesto,
arte.
para salvar, se pudesse, alguns farrapos de vida.

A fim de que a crase continue a existir, o segmento


Garcia, defronte, conseguia dominar a repugnância
grifado pode ser substituído apenas por:
do espetáculo para fixar a cara do homem. Nem rai-
va, nem ódio; tão-somente um vasto prazer, quieto e
profundo, como daria a outro a audição de uma bela
a) essa ideia de arte. sonata ou a vista de uma estátua divina, alguma coi-
sa parecida com a pura sensação estética.
b) nenhuma ideia de arte.
(Machado de Assis. Obra completa, 1994.)
c) todas as ideias de arte.

d) mesma ideia de arte.


Questão 99 - (Fac. Santa Marcelina SP)
e) vossas ideias de arte.
O nome do personagem Fortunato é um elemento
importante para a interpretação do conto. Fortunato
quer dizer afortunado, aquele que tem sorte. Com
TEXTO: 61 - Comum à questão: 99
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este dado, e a partir dos traços psíquicos e das ações todas as situações que nos ameaçam parecem orien-
do personagem, é possível vislumbrar na cena narra- tadas por poderes que nos fogem ao controle. (…)
da uma característica marcante da obra madura de
Machado de Assis: Grande amarrador de ideias que vagam no ar, ele
desenvolveu o conceito de uma sociedade “líquida”,
partindo do princípio de que as certezas e a previsi-
bilidade do futuro estão diluídas e, porque políticos e
a) Pouco ou nenhum senso de justiça prevalece empresas tendem a lucrar com isso, não há perspec-
sobre os problemas humanos. Um personagem tiva de que esse clima de insegurança seja sanado.
perverso, por exemplo, pode ser secretamente “Pelo contrário, os governos e os mercados têm inte-
recompensado pelo mundo. resse em manter esses medos intactos e, se possível,
aumentá-los.”
b) Quando um personagem é marcado pela aura
da sorte, suas ações não são reprovadas nem (…) (O Estado de S. Paulo, 27/01/2008)
terão consequências negativas.

c) Alguns protagonistas são idealizados e, por ve-


zes, descritos ingenuamente apenas com carac- Questão 100 - (IBMEC SP Insper)
terísticas elogiosas.
As perguntas iniciais do fragmento são um recurso
d) Uma imagem positiva do ser humano é formu- argumentativo para mostrar que
lada. O destino dos homens é frequentemente
marcado pela sorte, como o expresso no nome
Fortunato.
a) a sociedade moderna está conseguindo aumen-
e) Os narradores evitam comentários negativos, tar a sensação de segurança da população.
mesmo ao narrar fatos reprováveis ou pouco
usuais à vida pública cotidiana. b) os meios de comunicação fizeram com que a po-
pulação percebesse como o mundo atual é peri-
goso.

TEXTO: 62 - Comum à questão: 100 c) existe um clima de insegurança cada vez mais
generalizado, embora muitos temores sejam in-
Governados pelo medo fundados.

A sensação de insegurança rege mercados e relações d) os mercados financeiros lucram com esses te-
sociais. E ninguém parece ter controle sobre os peri- mores, enquanto governos perdem dinheiro
gos invisíveis que nos ameaçam com isso.

por FLAVIA TAVARES e) não existem respostas prontas para esses ques-
tionamentos, que tendem a acabar no mundo
contemporâneo.
“Que computador foi danificado pelo sinistro ‘bug
do milênio’? Quantas pessoas você conhece que fo-
ram vítimas dos ácaros de tapete? Quantos amigos TEXTO: 63 - Comum à questão: 101
seus morreram da doença da vaca louca? Quantos
conhecidos ficaram doentes ou inválidos por causa Lentes da história
de alimentos geneticamente modificados?” Esta se-
quência de perguntas está no (...) livro do sociólogo
polonês Zygmunt Bauman, Medo Líquido (…). A elas,
O que aconteceu com o sonho do fim da segregação
ele não dá uma resposta, cumprindo apenas seu pa-
racial que, há 50 anos, Martin Luther King anunciava
pel de provocador. Mas nem precisaria. Esse questio-
para 250 mil pessoas na Marcha sobre Washington?
namento faz parte do que ele chama de “a era dos
Ele está perto de materializar-se ou continua uma es-
temores”.
perança para o futuro?
Foi esse temor, inclusive, o motor do abalo que
A resposta depende dos óculos que vestimos. Se apa-
atingiu as bolsas de valores do mundo inteiro esta
nharmos a lente dos séculos e milênios, a “longue du-
semana. O medo de uma crise econômica se trans-
rée” de que falam os historiadores, há motivos para
formou na crise em si. E, enquanto o governo dos Es-
regozijo. A instituição da escravidão, especialmente
tados Unidos não deu sinais de que tinha condições
cruel com os negros, foi abolida de todas as legisla-
de amenizar o estrago, baixando os juros e lançando
ções do planeta. É verdade que, na Mauritânia, isso
pacotes, o pânico se manteve. Para Bauman, este é
ocorreu apenas em 1981, mas o fato é que essa cha-
um dos sinais de que estamos subjugados pelo medo:
214 - www.PROJETOREDACAO.com.br
ga que acompanhava a humanidade desde o surgi- Questão 102 - (IBMEC SP Insper)
mento da agricultura, 11 mil anos atrás, se tornou
universalmente ilegal. Supremo blá-blá-blá

Apenas 50 anos atrás, vários Estados americanos ti-


nham leis (Jim Crow laws) que proibiam negros até
de frequentar os mesmos espaços que brancos. Na Abraham Lincoln levou pouco mais de dois minutos
África do Sul, a segregação “de jure” chegou até os para pronunciar o discurso de Gettysburg (1863), às
anos 90. Hoje, disposições dessa natureza são não só vezes considerado a maior peça de oratória em todos
impensáveis como despertam vívida repulsa moral. os tempos. Ninguém esperaria encontrar tamanho
talento para a concisão no Supremo Tribunal Federal
Em 2008, numa espécie de clímax, o negro Barack brasileiro, mas o contraste ressalta que falar muito
Obama foi eleito presidente dos EUA, o que levou al- não significa ter muito a dizer.
guns analistas a falar em era pós-racial.
Os maus hábitos da linguagem empolada e da ex-
Basta, porém, apanhar a lente das décadas e passear pressão prolixa continuam a prosperar no Judiciário;
pelos principais indicadores demográficos para veri- no Supremo, ainda mais em julgamento momentoso
ficar que eles ainda carregam as marcas do racismo. como o do mensalão, chegam ao apogeu. Nem mes-
Negros continuam significativamente mais pobres e mo certas vulgaridades, salpicadas por alguns dos
menos instruídos que a média do país. São mandados advogados da defesa, alteraram a sensação do leigo
para a cadeia num ritmo seis vezes maior que o dos de assistir a um espetáculo obscuro e bizantino.
brancos. As Jim Crow laws foram declaradas nulas,
mas alguns Estados mantêm regras que, na prática, Não há dúvida de que a Justiça deve examinar cada
reduzem a participação de negros em eleições. aspecto com cuidado, nem de que muitos aspectos
são alvo de controvérsia. Ainda assim, será necessá-
É um caso clássico de copo meio cheio e meio vazio. ria tamanha verbosidade, reflexo, aliás, da extensão
Do ponto de vista da «longue durée», estamos interminável dos autos, a versão escrita de cada pro-
bem. Dá até para acreditar em progresso moral cesso?
da humanidade. Só que não vivemos na escala dos
milênios, mas na das décadas, na qual a segregação (...)
teima em continuar existindo. (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/61784-su-
(Hélio Schwartsman, Folha de S. Paulo, 28/08/2013) premo-bla-bla-bla.shtml)

No primeiro parágrafo, o autor optou por apresentar


Questão 101 - (IBMEC SP Insper)
a ideia principal do texto,
Dentre as alternativas a seguir, identifique aquela
que apresenta uma afirmação compatível com a tese
defendida pelo autor nesse artigo de opinião. a) aproximando-a por semelhança com um fato
histórico.

b) intercalando-a com uma citação de Abraham


a) Apesar de inúmeros avanços, o antigo sentimen-
Lincoln.
to de intolerância entre brancos e negros se for-
taleceu nas últimas décadas. c) explorando uma relação de oposição.
b) Uma profunda cegueira atinge aqueles que não d) apresentando um questionamento sobre o
querem enxergar um fato que é incontestável: o tema.
racismo continua vivo e explícito.
e) considerando perspectivas complementares so-
c) É necessário mobilizar as massas, à semelhança bre o mesmo tema.
do que aconteceu na Marcha sobre Washington,
para lutar pela conquista dos direitos civis.

d) Ainda que recentemente as práticas discrimina- Questão 103 - (IBMEC SP Insper)


tórias sejam menos visíveis no mundo inteiro,
é inegável que o caminho para igualdade racial Para você estar passando adiante
ainda não terminou.

e) O sonho de igualdade racial, idealizado por Martin


Luther King, não avançou, nem para os norteame- Este artigo foi feito especialmente para que você pos-
ricanos, nem para os cidadãos de outros países. sa estar recortando e possa estar deixando discreta-
www.PROJETOREDACAO.com.br - 215
mente sobre a mesa de alguém que não consiga estar d)
falando sem estar espalhando essa praga terrível da
comunicação moderna, o futuro do gerúndio. Você
pode também estar passando por fax, estar mandan-
do pelo correio ou estar enviando pela internet.

O importante é estar garantindo que a pessoa em


questão vá estar recebendo esta mensagem, de modo
que ela possa estar lendo e, quem sabe, consiga até
mesmo estar se dando conta da maneira como tudo
o que ela costuma estar falando deve estar soando
nos ouvidos de quem precisa estar escutando. (...)

(FREIRE, Ricardo. As cem melhores crônicas brasileiras.


São Paulo: Objetiva, 2010)

Assinale a alternativa na qual o autor emprega a


mesma estratégia discursiva usada por Ricardo Freire
na defesa de seu ponto de vista sobre o gerundismo.
e)

a) “Do chefão ao Office-boy escuta-se o vou estar


providenciando, vamos estar mandando, vão
estar telefonando. Viu? O intruso é usurpador.
Quer indicar futuro. Esquece que a nossa língua
tem duas formas pra falar no porvir. Uma: o fu-
turo simples (mandarei, mandarás, mandará).
A outra: o composto (vou mandar, vais mandar,
vai mandar). O gerundismo pertence ao time do
empurra-com-a-barriga. Finge que faz. Mas em-
broma.” A TRADIÇÃO NOS TRÓPICOS
(SQUARISI, Dad. www.brasiliaemdia.com.br ) Luís de Camões, o grande poeta português, e
uma operadora de telemarketing: por que será
b) “Nas redações de vestibulandos, o problema que em Os Lusíadas o poeta disse “cantando es-
com o gerundismo é mais profundo. Vai além palharei por toda parte”, e não “a cantar espa-
de clichês ou modismos, (...) e afeta os meca- lharei por toda parte”? Os operadores de tele-
nismos estruturais da língua. A maior parte das marketing sabem a razão: o gerúndio do Brasil é
falhas ocorre quando o gerúndio aparece depois a forma clássica da língua; modernismo é o jeito
de uma ou mais orações, “pendurado” no fim da de falar dos portugueses.
frase. Isso torna ambígua a identificação do su-
jeito e compromete a coerência do enunciado.” (Disponível em http://veja.abril.com.
br/311007/p_104.shtml)
(Chico Viana, Revista Língua Portuguesa )

c) “Todos os defensores da língua pura estão criti-


cando uma locução verbal supostamente nova TEXTO: 64 - Comum à questão: 104
que apareceu e se espalhou. Confesso que não a
ouvia, ou não me dava conta de que existia, até Sempre desconfiei
que tive minha atenção chamada para ela pe-
los guardiões da língua que imaginam que tudo
aquilo de que não gostam ou for novo - o que
vier antes – é necessariamente ruim. Penso o Sempre desconfiei de narrativas de sonhos. Se já nos
contrário. Se não gostam, deve ser interessante. é difícil recordar o que vimos despertos e de olhos
Se acham que não serve para nada, alguma ser- bem abertos, imagine-se o que não será das coisas
ventia deve ter.” que vimos dormindo e de olhos fechados... Com esse
pouco que nos resta, fazemos reconstituições suspei-
(Sírio Possenti, http://vaiencarar.wordpress. tamente lógicas e pomos enredo, sem querer, nas
com/2010/07/27/possenti-em-defesa-do- ocasionais variações de um calidoscópio. Me lembro
-gerundio/) de que, quando menino, minha gente acusava-me de

216 - www.PROJETOREDACAO.com.br
inventar os sonhos. O que me deixava indignado. dentro do círculo permite dar a ela duas diferen-
tes interpretações. Essa ambiguidade ocorre, por-
Hoje creio que ambas as partes tínhamos razão. que a expressão “sem sexo” tanto pode se referir a
_________________ quanto a ______________ .
Por outro lado, o que mais espantoso há nos sonhos é
que não nos espantamos de nada. Sonhas, por exem-
plo, que estás a conversar com o tio Juca. De repente,
te lembras de que ele já morreu. E daí? A conversa A alternativa que preenche corretamente as lacunas
continua. do enunciado acima é:

Com toda a naturalidade.

Já imaginaste que bom se pudesses manter essa im- a) “revolução”, “fazer”


perturbável serenidade na vida propriamente dita?
b) “entender”, “fazer”
(Mario Quintana, A vaca e o hipogrifo. São Paulo:
Globo,1995) c) “revolução”, “filhos”

d) “filhos”, “fazer”

Questão 104 - (IBMEC SP Insper) e) “fizeram”, “fazer”

Infere-se que a principal justificativa para a expressão


contida no título e no primeiro período do texto é:
Questão 106 - (IBMEC SP Insper)
Falar e dizer
a) Na reconstituição dos sonhos, a mente reorgani-
za de maneira coerente o que se consegue lem- Não é possível que portentos não tenham ocorrido
brar. Ou visões ominosas e graves profecias
b) Habitualmente, os sonhos apenas refletem a in- Quando nasci.
coerência dos fatos naturais da vida.
Então nasce o chamado
c) Tal como na montagem de um quadro com pe-
ças soltas e sem sentido, os sonhos são ilógicos. Herdeiro das superfícies e das profundezas então
d) Os adultos não encaram com seriedade os so- Desponta o sol
nhos das crianças, mesmo quando esses são
coerentes. E não estremunha aterrado o mundo?

e) Sendo incapaz de recordar os sonhos, a mente Assim à idade da razão


humana inventa histórias fantasiosas.
Vazei os olhos cegos dos arúspices e,

Fazendo rasos seus templos devolutos,


Questão 105 - (IBMEC SP Insper)
Desde então eu designo no universo vão
O excerto a seguir faz parte de um anúncio publicitá-
rio de uma edição especial da revista Superinteres- As coisas e as palavras plenas.
sante, que abordava o tema “A ciência dos clones”.

Com elas

Recôndito e radiante ao sopro dos tempos

Falo e digo

Dito e decoro

O caos arreganhado a receber-me incontinente.

(Antônio Cícero)
A organização sintática de uma das frases que estão

www.PROJETOREDACAO.com.br - 217
Vocabulário: duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminha-
do o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Or-
Arúspice: Sacerdote romano que fazia presságios dinariamente andavam pouco, mas como haviam
consultando as entranhas das vítimas repousado bastante na areia do rio seco, a viagem
progredira bem três léguas. Fazia horas que procura-
vam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu
Nos versos, a postura assumida pelo eu lírico em re- longe, através dos galhos pelados da caatinga rala.
lação ao mundo revela Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com
o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de
folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a
a) confiança no poder da palavra, capaz de orga- tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cin-
nizar o caos do universo em que o eu lírico se turão, a espingarda de pederneira no ombro. O meni-
insere. no mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.

b) aceitação de seu anonimato, visto que seus dons Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumi-
não estão ao alcance de serem compreendidos ram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sen-
no universo. tou-se no chão.

c) sentimento de inferioridade diante da incerteza − Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.


de poder nomear os acontecimentos do univer-
so. Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha
da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou acuado,
d) insegurança em relação à tarefa a que se sente depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano
destinado: organizar o caos do universo. ainda lhe deu algumas pancadas e esperou que ele
se levantasse. Como isso não acontecesse, espiou os
e) revolta por perceber sua própria incapacidade quatro cantos, zangado, praguejando baixo.
de alterar o mundo à sua volta.
A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso
salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O
vôo negro dos urubus fazia círculos em redor dos bi-
TEXTO: 65 - Comuns às questões: 107, 108 chos moribundos.
Texto 01 − Anda, excomungado.

O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou ma-


tá-lo.

Tinha o coração grosso, queria responsabilizar al-


guém por sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um
fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o.
Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado,
mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava che-
gar, não sabia onde.

RAMOS, G. Vidas secas. São Paulo: Record, 1997, p. 9.

Questão 107 - (IFGO)


SALGADO, S. Retrato de menina sem-terra à margem da Sobre os textos 01 e 02, analise os enunciados a se-
rodovia estadual PR-158, que liga Laranjeiras do Sul guir:
a
Chopinzinho, no Paraná. Terra. São Paulo: Compa-
nhia das Letras, 1997, p.99.
I. A foto Retrato de menina sem-terra e o romance
Vidas secas estabelecem um diálogo temático.

Texto 02 II. O fotógrafo interpreta o mundo e o recorta com


seu olhar. O narrador procede de forma seme-
lhante ao recriar o real.
Na planície avermelhada os juazeiros alargavam III. A ênfase da 2ª fase do Modernismo desloca-se
218 - www.PROJETOREDACAO.com.br
para a linguagem, que deve ser seca, econômi- Questão 109 - (IFGO)
ca, concisa, como em G. Ramos.
Observe o trecho:
IV. As crianças “sem nome” do livro Vidas secas e
Retrato de menina sem-terra, podem represen-
tar milhares de crianças sem posses.
Em que estariam pensando?, zumbiu sinhá Vitória.
V. Não podemos associar os textos, pois a fotogra-
fia refere-se a coisas do mundo real e a literatu-
ra, a fatos que existem exclusivamente no texto. Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma obje-
ção. Com relação às escolhas lexicais, pode-se dizer
que o uso dos verbos “zumbir” e “rosnar”, tiveram
Pode-se afirmar que: determinado propósito. Nessa passagem, tais verbos
serviram para demonstrar:

a) Apenas as afirmações III e IV estão corretas.


a) a pobreza de vocabulário das personagens.
b) Apenas as afirmações III, IV e V estão corretas.
b) a animalização das personagens.
c) Apenas as afirmações I, II e III estão corretas.
c) a ignorância das personagens.
d) Apenas as afirmações I, II e IV estão corretas.
d) a comunicação fluente das personagens.
e) Apenas as afirmações III e V estão corretas.
e) a subjetividade da linguagem das personagens.

Questão 108 - (IFGO)


TEXTO: 66 - Comuns às questões: 110, 111, 112,
Observe o trecho: 113
TEXTO 1
Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia
pendurada numa correia presa ao cinturão, a espin-
garda de pederneira no ombro. Escher, o gênio da arte matemática

Quanto às escolhas linguísticas, percebe-se que Gra- Com a ajuda da geometria, nada é o que aparenta
ciliano Ramos utiliza-se de palavras ligadas ao sertão ser no trabalho surpreendente do artista holandês.
nordestino. Tais escolhas, no trecho, têm como pro-
pósito principal:
1
Você já deve ter visto pelo menos uma das gra-
vuras do artista gráfico holandês M. C. 2 Escher. Elas
a) revelar a riqueza da linguagem advinda do ser- já foram reproduzidas não só em dezenas de livros de
tão pelos vocábulos utilizados. arte, mas também na 3 forma de pôsteres, postais,
jogos, CD-ROMs, camisetas e até gravatas. Caso não
b) contrapor a língua padrão, de maior prestígio se 4 lembre, então você não viu nenhuma. Olhar para
social, com outras variedades linguísticas. as intrigantes imagens criadas por 5 Escher é uma ex-
periência inesquecível. Tudo o que nelas está repre-
c) privilegiar a norma popular da língua portugue- sentado nunca é 6 exatamente o que parece ser. Há,
sa. em todas elas, sempre uma surpresa visual espera 7
d) mostrar a incapacidade de Fabiano de se comu- do espectador. Isso porque, para ele, o desenho era
nicar de forma inteligível. pura ilusão. A realidade pouco 8 interessava. Antes,
preferia o contrário: criar mundos impossíveis que
e) conferir verossimilhança ao texto, em consonân- apenas parecessem 9 reais. Eis porque acabou se
cia com a caracterização da personagem e do tornando uma espécie de mágico das artes gráficas.
ambiente em que vive.

10
Seus desenhos, porém, não nasciam de passes
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de mágica, nem somente de sua 11 apurada técnica Xilogravura: ‘Céu e Água I’, de 1938.
de gravador. Sua obra está apoiada em conceitos ma-
temáticos, extraídos 12 especialmente do campo da Foto: The M.C. Escher Company B.V. Baarn,The Nether-
geometria. Essa era a fonte de seus efeitos surpreen- lands.
dentes. 13 Foi com base nesses princípios que Escher
subverteu a noção da perspectiva clássica 14 para
obter suas figuras impossíveis de existir no espaço VEJASP. Xilogravura ‘Céu e Água’. Disponível em:
“real”. Aliás, desde o começo, 15 fascinou-o essa con- http://vejasp.abril.com.br/atracao/maurits-cornelis-
dição essencial do desenho, que é a representação -escher. Acesso em 09/05/2013.
tridimensional dos 16 objetos na inevitável bidimen-
sionalidade do papel. Brincou com isso o mais que
pôde. 17 Também ___ matemática na divisão regular
da superfície usada por Escher para criar, de 18 ma- TEXTO 2
neira perfeita, suas famosas séries de metamorfoses,
onde formas geométricas 19 abstratas ganham vida e
vão, aos poucos, se transformando em aves, peixes,
Arte estimula o aprendizado de matemática
répteis e até 20 seres humanos.

1
Resolver operações matemáticas foi difícil para
21
Foi essa proximidade com a ciência que deixou
muitos dos gênios da ciência, e 2 continua pouco
os críticos de arte da época de cabelo 22 em pé. Afi-
atraente para muitos alunos em salas de aula. Mui-
nal, como classificar o trabalho de Escher? Era “artís-
ta gente pensa em 3 vincular matemática com a arte
tico” o que ele fazia ou 23 puramente “racional”? Na
para tornar o aprendizado mais estimulante.
dúvida, preferiram silenciar sobre sua obra durante
vários anos 24 Enquanto isso, o artista foi ganhando a
admiração de matemáticos, físicos, cristalógrafos e 25
eruditos em geral. Mas essa é outra faceta surpreen- 4
O professor Luiz Barco, da Escola de Comunica-
dente de Escher ções e Artes, da Universidade de São 5 Paulo (USP)
é um deles. “Há mais matemática nos livros de Ma-
chado de Assis, nos 6 poemas de Cecília Meireles e
Fernando Pessoa do que na maioria dos livros didáti-
26
Embora seus trabalhos tivessem forte conteú-
cos de 7 matemática”. Para ele, a matemática captura
do matemático, ele era leigo no assunto. 27 ____ bem
__ lógica do raciocínio, assim como 8 acontece com o
da verdade, Escher sequer foi um bom aluno. Ele
imaginário na literatura, com a harmonia na música,
mesmo admitiu mais tarde 28 que jamais ganhou, ao
na escultura, na 9 pintura, nas artes em geral.
menos, um “regular” em matemática. Conta-se até
que H.M.S. 29 Coxeter, um dos papas da geometria
moderna, entusiasmado com os desenhos do 30 artis-
ta, convidou-o a participar de uma de suas aulas. Ve- 10
Para o pesquisador Antônio Conde, do Instituto
xame total. Para decepção do 31 catedrático, Escher de Matemática e Computação da 11 USP/São Carlos,
não sabia do que ele estava falando, mesmo quando a convivência entre arte e matemática aumentaria a
discorria 32 sobre teorias que o artista aplicava intuiti- capacidade de 12 absorção dos estudantes. “O lado
vamente em suas gravuras. estético da matemática é muito forte, a 13 demons-
tração de um teorema é uma obra de arte”, conclui.
GALILEU. Escher, o gênio da matemática. Disponível
em: <http://galileu.globo.com/edic/88/conhecimen-
to2.htm> Acesso em 05/05/2013.
14
O holandês Maurits Cornelis Escher é, prova-
velmente, um dos maiores 15 representantes dessa
ligação, produzindo obras de arte geometricamente
16
estruturadas. Ele provou, na prática, que é possível
olhar __ formas espaciais do 17 ponto de vista mate-
mático, ou sob o seu aspecto estético, utilizando-as
para se 18 expressar plasticamente.

19
“Olhando os enigmas que nos rodeiam e ponde-
rando e analisando as minhas 20 observações, entro
em contato com o mundo da matemática”, dizia Es-
cher, que 21 morreu em 1972.

220 - www.PROJETOREDACAO.com.br
CIÊNCIA E CULTURA. Arte estimula o aprendiza- 26 numa sexta potenciação
do de matemática. Disponível em: <http://
cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pi- 27 traçando
d=S0009-67252003000100017&script=sci_arttext>.
Acesso em 05/05/2013. 28 ao sabor do momento

29 e da paixão

TEXTO 3 30 retas, curvas, círculos e linhas senoidais

31 nos jardins da quarta dimensão.

Poesia Matemática 32 Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas eucli-


diana
Millôr Fernandes
33 e os exegetas do Universo Finito.

34 Romperam convenções newtonianas e pitagóri-


1 Às folhas tantas cas.

2 do livro matemático 35 E enfim resolveram se casar

3 um Quociente apaixonou-se 36 constituir um lar,

4 um dia 37 mais que um lar,

5 doidamente 38 um perpendicular.

6 por uma Incógnita. 39 Convidaram para padrinhos

7 Olhou-a com seu olhar inumerável 40 o Poliedro e a Bissetriz.

8 e viu-a do ápice __ base 41 E fizeram planos, equações e diagramas para o


futuro
9 uma figura ímpar;
42 sonhando com uma felicidade
10 olhos romboides, boca trapezoide,
43 integral e diferencial.
11 corpo retangular, seios esferoides.
44 E se casaram e tiveram uma secante e três cones
12 Fez de sua uma vida
45 muito engraçadinhos.
13 paralela à dela
46 E foram felizes
14 até que se encontraram
47 até aquele dia
15 no infinito.
48 em que tudo vira afinal
16 “Quem és tu?”, indagou ele
49 monotonia.
17 em ânsia radical.
50 Foi então que surgiu
18 “Sou a soma do quadrado dos catetos.
51 O Máximo Divisor Comum
19 Mas pode me chamar de Hipotenusa.”
52 frequentador de círculos concêntricos,
20 E de falarem descobriram que eram
53 viciosos.
21 (o que em aritmética corresponde
54 Ofereceu-lhe, a ela,
22 a almas irmãs)
55 uma grandeza absoluta
23 primos entre si.
56 e reduziu-a a um denominador comum.
24 E assim se amaram
57 Ele, Quociente, percebeu
25 ao quadrado da velocidade da luz

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58 que com ela não formava mais um todo,

59 uma unidade. I. O fato de Escher não ter sido um bom aluno


mostra que ele não tinha aptidão para desenvol-
60 Era o triângulo, ver raciocínios abstratos.
61 tanto chamado amoroso. II. A ligação entre os conceitos matemáticos de-
senvolvidos na obra de M. C. Escher é de ordem
62 Desse problema ela era uma fração, puramente do acaso, haja vista sua comprovada
63 a mais ordinária. dificuldade para entender a matemática ensina-
da na escola.
64 Mas foi então que Einstein descobriu a Relativi-
dade III. A habilidade de calcular usando números e sím-
bolos expressa uma das maneiras de demons-
65 e tudo que era espúrio passou a ser trar a aquisição de conceitos matemáticos, mas
não a única maneira.
66 moralidade
IV. A obra de Escher surpreende inclusive os mais
67 como aliás em qualquer renomados catedráticos da matemática por sua
inovadora maneira de transformar em arte abs-
68 sociedade trações matemáticas pensadas habitualmente
apenas nos tradicionais ambientes de ensino.
RELEITURAS. Poesia matemática. Disponível em: <
http://www.releituras.com/millor_poesia.asp>.
Acesso em 09/05/2013.
Dentre as afirmativas acima, quais estão corretas?

Questão 110 - (IME RJ)


a) As afirmativas II, III e IV.
Assinale a alternativa cuja afirmação é incoerente
quanto às mensagens dos textos e da xilogravura b) As afirmativas III e IV somente.
apresentados.
c) As afirmativas I, II e III.

d) A afirmativa III somente.


a) A xilogravura “Céu e Água” ilustra muito do que
está dito no texto 1. e) A afirmativa IV somente.

b) A xilogravura “Céu e Água” e a Poesia Matemá-


tica fazem abstrações relacionadas à geometria.
Questão 112 - (IME RJ)
c) O fato de M. C. Escher e Millôr Fernandes pro-
duzirem arte relacionada a conceitos matemáti- Assinale a alternativa que contém uma inferência
cos permite inferências como as dos professores alheia ao movimento argumentativo do texto 2.
Luiz Barco e Antônio Conde apresentadas no
texto 2
a) A dificuldade que alguns gênios da ciência apre-
d) A Poesia Matemática de Millôr Fernandes revela sentam para resolver operações matemáticas
sua habilidade para operar números e símbolos pode ser um sinal de que o ensino de matemáti-
matemáticos usados na demonstração de um ca deveria ser feito também mostrando a lógica
teorema, por exemplo. em outras áreas do saber.
e) O raciocínio lógico pode ser revelado tanto na b) Em geral, o ensino de matemática nas escolas
capacidade de fazer inferências harmoniosas costuma ser pouco atraente.
nas artes em geral quanto na habilidade de-
monstrada na abstração do cálculo. c) As formas espaciais podem ser consideradas
uma expressão plástica da matemática que, des-
se modo, deixaria de ser percebida como uma
linguagem somente traduzível em números.
Questão 111 - (IME RJ)
d) A literatura, a música e as artes plásticas não ab-
Leia atentamente as assertivas a seguir, todas rela-
dicam da lógica como comumente se acredita.
cionadas aos textos 1,2 e 3.

222 - www.PROJETOREDACAO.com.br
e) Se não fosse possível perceber a matemática atitude exterior harmonizando-se com o meio é me-
que atravessa o trabalho de M. C. Escher, todo o lhor, porém. Qualquer situação topa intimamente in-
valor de sua obra se perderia. cólume, dentro de sua concepção de vida, o homem
de personalidade. E o único caminho de aquisição
desta é a experiência, a santa experiência. Tomaz Be-
cket, por exemplo, foi um homem admirável. De per-
Questão 113 - (IME RJ) sonalidade vária. Unus et multiplex, como o Estado...
Leia atentamente as assertivas a seguir, todas refe- Quando chanceler de Henrique II, um dos melhores
rentes ao texto 3 desta prova. Plantageneta, era o braço direito do soberano. Mais
guerreiro do que padre, muito mais realista do que
católico. Depois, eis a reviravolta que as circunstân-
I. A partir de conceitos matemáticos construiu-se cias lhe impuseram: feito Arcebispo de Canterbury,
uma narrativa poética em terceira pessoa cujo pelo próprio Rei, nosso homem trocou a fanfarroni-
tema é a traição numa relação amorosa. ce pela santidade e a igreja da Inglaterra começou a
invectivar os desmandos reais. Coitado, bajuladores
II. O adjetivo ordinária (V. 63) está carregado de repelentes o mataram. Que tal?
um tom moralizante e deixa entrever um juízo
de valor relativo ao comportamento feminino — Tenho água pelas barbas... afinal, ressalta de suas
no relacionamento entre a Hipotenusa e o Quo- bonitas explicações, a identidade entre o jequitibá e
ciente. o caniço.

III. É coerente com o tom moralizante da Poesia Hermano olhou-me surpreso, quando terminei a fra-
Matemática associar o nome dado ao elemen- se. E começou assoviar, emudecendo a questão. Per-
to masculino da relação amorosa narrada, Quo- cebi que não voltaria mais ao assunto. E que o asso-
ciente, ao adjetivo consciente, isto é, aquele que vio era uma loa de protesto pela minha obtusidade.
faz uso da razão.
Hermano, orgulhoso por índole e porque pode, não
IV. A quebra de paradigmas científicos requerida conseguindo a compreensão aspirada, toma habi-
pela Teoria da Relatividade einsteiniana é asso- tualmente essa atitude sonora de desprezo.
ciada, à quebra de paradigmas morais nas socie-
O orgulho é uma das melhores virtudes de Hermano.
dades modernas.
Vem de sua auto-suficiência. Talvez orgulho seja mes-
mo o pseudônimo de auto-suficiência, reconhecida e
supervalorizada.
Dentre as afirmativas acima
Ele me disse, certa vez, que “eliminaram de sua vida
as preocupações de ordem financeira”.

a) apenas a I e a II estão corretas. Inteligente, simpático, e com rara capacidade de


agradar, não lhe escasseiam os amigos, nem as ad-
b) apenas a II e a III estão corretas. miradoras. Sabe sempre o que quer e o melhor meio
de abocanhá-lo. Elaborou um código moral para seu
c) apenas a III está correta. uso, fazendo-se, nesse sentido, o legislador de si
d) apenas a III e a IV estão corretas. mesmo. Relega, portanto, as normas estranhas e não
difunde as suas.
e) todas estão corretas.
Dotado assim, o nosso Hermano é naturalmente or-
gulhoso.

TEXTO: 67 - Comuns às questões: 114, 115 (LEÃO, Ursulino. Maya. 2. ed. Goiânia: Oriente, 1975. p. 40-42.)

— Não, realmente não. A personalidade, no meu


conceito, compara-se ao jequitibá que acolhe, de
Questão 114 - (PUC GO)
igual modo, a brisa e o vendaval, o sol e a chuva: con-
formista é o caniço, dobrando-se ao temporal e todo Nas primeiras linhas do texto, comparou-se a perso-
colunar quando há canícula... Minha comédia no bar nalidade a um jequitibá e o conformismo a um cani-
me adestrou para enfrentar, sem assombros, uma si- ço. Assinale a alternativa que mostra corretamente
tuação em que calhe o poeta ou um pobre reacioná- a base conceitual que possibilitou essa comparação:
rio... A um primo qualquer, em quem reconhecemos
personalidade, cabe, perfeitamente, exprobar o erro,
ou o que julga errado, sem – eis o “quid” de impor-
tância – externar rancor, nem se escandalizar. A sua a) a possibilidade de produção de sombra do jequi-
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tibá e a limitada opacidade do caniço. pável, sua forma de ganhar o pão, o vinho e coisinhas
mais, seja transmutando essas realidades da imagi-
b) a variedade de usos da madeira do jequitibá e a nação em peças escritas, seja ministrando-as a dis-
restrita utilidade da madeira do caniço. cípulos indefesos. Aqueles, enfim, os empíricos, que
são capazes de tirar ovos de uma cartola, e trevas,
c) a rigidez do jequitibá em contraposição à flexibi- para atravessá-las com raios de luz.
lidade do caniço.
(SANT’ANNA, Sérgio. Breve história do espírito.
d) a multiplicidade de cores do jequitibá em oposi- São Paulo: Companhia das Letras. 1991. p. 63.)
ção à monocromia do caniço.

Questão 116 - (PUC GO)


Questão 115 - (PUC GO)
A situação embaraçosa experimentada pelo persona-
Considerando-se as ponderações do narrador no gem no recorte da narrativa de Sérgio Sant’Anna, ain-
fragmento do romance Maya acerca da personalida- da que breve, é suficiente para ilustrar o clima vivido
de, metaforizada no jequitibá, em oposição ao con- por ele ao longo de todo o texto.
formismo, metaforizado no caniço, assinale a alter-
nativa correta: Partindo da afirmativa acima, assinale a alternativa
que melhor configura a sensação de desconforto do
personagem em questão:
a) Ele ressalta a flexibilidade do caniço, elogiando
a sua capacidade de se adaptar a qualquer si-
tuação, ao contrário do jequitibá que é intransi- a) Ele quis somente se apresentar bem diante do
gente, tal qual a personalidade humana que não público, mas sentiu-se constrangido pelo fato
muda com o tempo. que lhe ocorrera no momento de começar seu
discurso.
b) Ele se refere, metaforicamente, ao fato de o je-
quitibá ser uma árvore frondosa e acolher a to- b) Ele pôs-se a refletir consigo mesmo, questionan-
dos enquanto que o caniço (cana fina) não pos- do a própria identidade, ante aquela situação,
suir a capacidade de acolher ninguém em sua sentindo que o julgavam, com desconfiança e
sombra insignificante. indiferença.
c) O narrador trata, figurativamente, a personalida- c) Ele teve um desconforto momentâneo, se re-
de como um traço inerente a cada ser humano, compôs, uma vez que, afinal, precisava ganhar o
servindo-se do jequitibá para simbolizar cons- pão, o vinho e outras coisas.
tância e coerência, e do caniço, como símbolo da
personalidade volúvel e inconstante. d) Ele teve uma quase vertigem, motivada pela ti-
midez e pelo fato que lhe ocorrera diante dos
d) O narrador apenas se refere a jequitibá e cani- alunos, ávidos pelo seu discurso.
ço como elementos da natureza que simbolizam
personalidades diferentes que se complemen-
tam, sem qualquer oposição entre elas.
TEXTO: 69 - Comum à questão: 117
Há um rio que atravessa a casa. Esse rio, dizem,
TEXTO: 68 - Comum à questão: 116 é o tempo. E as lembranças são peixes nadando ao
invés da corrente. Acredito, sim, por educação. Mas
E agora, diante de outro espelho, o do banheiro não creio. Minhas lembranças são aves. A haver inun-
dos professores, ele respirava fundo, na esperança de dação é de céu, repleção de nuvem. Vos guio por essa
que o ar purificasse suas veias, eliminando a sensa- nuvem, minha lembrança.
ção de vertigem e o resto todo. Mas a preocupação
com a queda tornava-a ainda mais iminente e ele A casa, aquela casa nossa, era morada mais da
pensou em sair dali de fininho, pegar o carro e ir en- noite que do dia. Estranho, dirão. Noite e dia não são
fiar-se na cama. metades, folha e verso? Como podiam o claro e o es-
curo repartir-se em desigual? Explico. Bastava que a
Mas lhe faltava a audácia para fugir. Porque, de um voz de minha mãe em canto se escutasse para que,
lado, havia os alunos já aguardando na sala e, do ou- no mais lúcido meio-dia, se fechasse a noite. Lá fora,
tro, um chefe de departamento que o encarava com a chuva sonhava, tamborileira. E nós éramos meni-
a desconfiança dos acadêmicos diante dos empíricos, nos para sempre.
para se aplicar um rótulo bonitinho àqueles que fa-
zem da imaginação e da fantasia uma realidade pal- Certa vez, porém, de nossa mãe escutámos o
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pranto. Era um choro delgadinho, um fio de água, um Quando os pomos preclaros se oferecem.
chilrear de morcego. Mão em mão, ficámos à porta
do quarto dela. Nossos olhos boquiabertos. Ela só (Nem podemos chamá-la primavera,
suspirou:
Verão, outono, inverno, coisas que
— Vosso pai já não é meu.
Profundamente, Herói, desconhecemos...)
(COUTO, Mia. O fio das missangas.
São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 25.) Esta é outra estação, é quando os frutos

Apodrecem e com eles quem os come.

Eis a quinta estação, quando um mês tomba,


Questão 117 - (PUC GO)
O décimo-terceiro, o Mais-Que-Agosto,
Assinale a alternativa correta, com base no fragmen-
to da narrativa de Mia Couto: Como este dia é mais que sexta-feira

E a Hora mais que sexta e roxa.


a) Narra o estado de consciência do filho, indiferen- [...]
te ao fato de descobrir que o pai estava morto,
como, aliás, é comum nos dias atuais, em se tra- Nox ruit, Aenea, tudo se acumula
tando da juventude, com seus novos valores.
Contra nós, no horizonte. As velas que ontem
b) Narra o estado de consciência do filho, profun-
damente angustiado, ao ver materializada a Acendemos ou brancas enfunamos
ação do tempo, no desespero quase silencioso
de sua mãe, tomada da sensação mais profunda O vento apaga e empurra para o abismo.
de perda e saudade, ao apresentar aos filhos o
[...]
pai morto.
Em cemitérios amorosos, eu,
c) Apresenta um episódio familiar carregado de es-
panto e fantasia, diante do desaparecimento do Pigmálion, talharei a nova estátua:
pai, misturando dia, noite, claro, escuro, nuvem,
lembrança, chuva. Estátua de marfim, cândida estátua,

d) Apresenta um episódio familiar cheio de espanto Mulher primeira, fêmea de ar, de terra,
e mistério, misturando dia, noite, claro, escuro,
nuvem, lembrança, chuva, diante do desespero De água, de fogo – Hephaistos, sobe, ajuda-me
de uma mãe que ao dizer: “Vosso pai já não é
meu”, não esclarece se ele sumiu ou morreu. A compor essa estátua; fácil corpo,

Difícil Face, Santa Face – falta

O sopro acendedor de tua esperta


TEXTO: 70 - Comum à questão: 118
Inspiração... [...]
O Homem e sua Hora
[...]
(Fragmentos)
Pronta esta estátua, agora, os deuses e eu

Miramos o milagre: branca estátua


...Et in saecula saeculorum: mas
De leite, gala, Galateia, límpida
Que século, este século – que ano
Contrafacção de canto e eternidade...
Mais-que-bissexto, este –
[...]

[...] Tomba a noite,


Ai, estações –
Mas pronta é nossa estátua, armada e tão
Esta estação não é das chuvas, quando
Plácida, prestes, pura quanto Pallas
Os frutos se preparam, nem das secas,
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Bordando seus bordados sem brandir 98.)

Égide aterradora. Parte, estátua.

Na terra cor de carne as vias fremem Questão 118 - (PUC GO)


Duras de sangue e seixos – vai aos homens A linguagem poética de Mário Faustino é elaborada
teorizando sobre a poesia dentro do próprio poema,
Ensinar-lhes a mágica olvidada: como a de João Cabral e Drummond. Seu estilo é con-
ciso, enxuto, sua linguagem poética é bem elaborada,
Ensinar-lhes a ver a coisa, a coisa,
disciplinada e dona de um ritmo preciso. Nos versos
Não o que gira em torno dela, [...] do livro O Homem e sua Hora estão presentes temas
do tempo (efêmero e eterno), do tempo que destrói
[...] e esgota a existência da solidão, da angústia e dos
(des)limites entre o mundo físico e o metafísico, en-
Vai, estátua, levar ao dicionário tre o real e o imaginário, a realidade e o sonho. Re-
flita sobre o texto e analise os itens abaixo quanto à
A paz entre palavras conflagradas. sua correção:
Ensina cada infante a discursar

Exata, ardente, claramente: nomes I. Determinados trechos são herméticos, difíceis


de compreender, pois exigem do leitor conheci-
Em paz com suas coisas, verbos em
mentos sobre mitologia, literatura bíblica e gre-
Paz com o baile das coisas, oradores co-latina.

Em paz com seus ouvintes, alvas páginas II. Trata-se de um longo diálogo do poeta com o
mundo, sugerindo mais do que afirmando, tra-
Em paz com os planos atros do universo – duzindo a consciência de um estado em crise e
angústia.
[...]
III. Os versos constituem uma cadeia sintática des-
Retorna a mim, que passarei mil anos contínua e inconclusa, que instaura no texto um
pensamento fragmentário, tornando o tom am-
A contemplar-te, ouvir-te, cogitar-te. bíguo e confuso cada vez mais marcante no poe-
ma.
Vênus fará de teu marfim fecunda

Carne que tomarei por fêmea, carne


De acordo com os itens analisados, marque a alterna-
Feita de verbo, cara carne, mãe
tiva que contém todas as proposições corretas:
De Paphos, filho nosso, que outra ilha

Fundará, consagrada a tua música,


a) I e II
Teu pensamento, paisagem tua.
b) I e III
Ilha sonora e redolente, cheia
c) II e III
De pios templos, cujos sacerdotes
d) I , II e III
Repetirão a cada aurora (hrodo,

TEXTO: 71 - Comum à questão: 119


Hrododáktulos Eos, brododáktulos!)
Visita ao Passado
Que Santo, Santo, Santo é o Ser Humano

– Flecha partindo atrás de flecha eterna –


Ouvi dizer que os tabuleiros onde desciam as naus
Agora e sempre, sempre, nunc et semper... vão ser contaminados. Antes que viesse a ordem,
fui lá dar uma última olhada. Quando crianças eu e
(FAUSTINO, Mário. O homem e sua hora e outros Rudêncio brincávamos lá com outros garotos apesar
poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 92- de ser um lugar mais ou menos amaldiçoado já na-
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quele tempo. Hoje quase ninguém se aventura por b) “[...] Saí cedo, antes que o sol esquentasse, le-
aqueles lados por causa do matagal que tomou conta vando bodoque e lança e o caderno de desenho,
de tudo. Da última vez que estive lá com mamãe à se vão mesmo contaminar o lugar quero guar-
procura de ervas, faz uns dois anos, voltamos com as dar uma lembrança dele como é agora. Não está
pernas lanhadas e com os pés castigados por espi- proibido visitar os tabuleiros nem fazer dese-
nhos cabeça-de-boi e ramos secos de malícia. nhos do que existe lá, pelo menos que eu saiba.”

Saí cedo, antes que o sol esquentasse, levando bodo- c) “[...] Estão construindo um conjunto de ranchos
que e lança e o caderno de desenho, se vão mesmo comunais naquela zona, há muito trabalhador
contaminar o lugar quero guardar uma lembrança estranho tirando bambu, amassando barro, fin-
dele como é agora. Não está proibido visitar os ta- cando estacas por toda parte, e eu não queria
buleiros nem fazer desenhos do que existe lá, pelo correr o risco de ser notado por algum olheiro
menos que eu saiba. Em todo caso, escondi preca- disfarçado entre eles.”
vidamente o caderno debaixo da túnica, e dei umas
voltas manhosas antes de pegar a estrada certa. Es- d) “[...] Mas vou guardar o caderno bem guardado.
tão construindo um conjunto de ranchos comunais Se o lugar vai mesmo ser contaminado, pode ser
naquela zona, há muito trabalhador estranho tirando que um dia, daqui a muitos anos, alguém o en-
bambu, amassando barro, fincando estacas por toda contre e fique sabendo como eram os tabuleiros
parte, e eu não queria correr o risco de ser notado onde baixavam as naus celestes, e até decifre a
por algum olheiro disfarçado entre eles. inscrição.”

Felizmente ninguém se interessou por mim, e eu


passei boa parte do dia zanzando pelos tabuleiros,
fazendo rascunhos, copiando inscrições, ponderando TEXTO: 72 - Comum à questão: 120
sobre a finalidade daquelas construções, as paredes
Superman: 75 anos
feitas de um material duro como pedra, as pistas di-
vididas em grandes quadrados do mesmo tamanho,
parece que do mesmo material das paredes, a torre
circular erguida numa extremidade do campo. 1
Não era um pássaro nem um avião. O verdadeiro
Superman era um pacato contador passando 2 férias
[...] num resort* ao norte de Nova York.
Fiz várias páginas de desenhos do caminho de lajes,
dos nichos, da torre e da inscrição que existe numa
placa de ferro embutida num pilar de pedra na entra-
da dos tabuleiros. Pena que ninguém aqui conheça a
língua da inscrição. Mas vou guardar o caderno bem
3
Joe Shuster, um dos criadores do personagem, jun-
guardado. Se o lugar vai mesmo ser contaminado, to com Jerry Siegel, descansava na colônia 4 de fé-
pode ser que um dia, daqui a muitos anos, alguém rias quando encontrou Stanley Weiss, jovem de rosto
o encontre e fique sabendo como eram os tabulei- quadrado e porte atlético, que ele 5 julgou ser a en-
ros onde baixavam as naus celestes e até decifre a carnação do herói. Lá mesmo, pediu para desenhar
inscrição. o moço que serviria de modelo 6 para os quadrinhos
dali em diante. Só neste ano, esses desenhos estão
(VEIGA, José J. Os pecados da tribo. vindo à tona nos E.U.A., 7 como parte das atividades
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 29-31.) comemorativas dos 75 anos do personagem.

Questão 119 - (PUC GO) 8


Embora tenha mantido a aparência de rapagão
musculoso, Superman não foi o mesmo ao longo 9
No recorte de “Visita ao Passado”, capítulo do ro- dos anos. Nos gibis, oscilou entre mais e menos sara-
mance Os Pecados da Tribo, de José J. Veiga, vê-se, do. Na TV, já foi mais rechonchudo, até 10 reencarnar
com naturalidade, a coexistência da realidade e da como o púbere*Tom Welling, da série de TV “Small-
fantasia. Assinale o trecho destacado abaixo que me- ville”.
lhor ilustra essa afirmação:

11
“Desde pequeno eu sabia que Superman não exis-
a) “[...] Antes que viesse a ordem, fui lá dar uma tia. Mas também sabia que meu pai era o 12 verdadei-
última olhada. Quando crianças eu e Rudêncio ro Superman”, brincou David Weiss, filho do modelo
brincávamos lá com outros garotos apesar de ser do herói, em entrevista à Folha 13 de São Paulo. Weiss
um lugar mais ou menos amaldiçoado já naquele cresceu comparando o rosto do pai ao desenho pen-
tempo.” durado na sala de casa. 14 Mas logo Joe Shuster, que
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foi seu principal desenhista, acabaria cedendo espa- Não era um pássaro nem um avião. (Ref. 1)
ço para novos 15 cartunistas, que adaptaram a figura
aos fatos correntes. A primeira frase do texto remete às perguntas feitas
por personagens que observavam intrigados o voo
do Super-homem em suas muitas histórias: É um
pássaro? É um avião? Não! É o Superhomem!
16
“Essa mudança é o segredo do Superman. Cada
época precisa de um herói só seu, e ele sempre 17 pa-
receu ser o cara certo”, diz Larry Tye, considerado o
maior estudioso do personagem. “Nos 18 anos 1930, Essa primeira frase configura um recurso da lingua-
ele tiraria a América da Grande Depressão. Nos anos gem conhecido como:
1940, era duro com os nazistas. 19 Nos anos 1950,
lutou contra a onda vermelha do comunismo.”E foi
mudando de cara de acordo 20 com a função. a) ironia

b) designação
21
Invenção dos judeus Jerry Siegel e Joe Shuster, Su- c) verossimilhança
perman também é visto como um paralelo 22 da his-
tória de Moisés, a criança exilada que cresce numa d) intertextualidade
terra estrangeira e depois se apresenta 23 como um
salvador. A aparência é um misto do também perso-
nagem bíblico Sansão, do 24 deus grego Hércules e de
acrobatas de circo. Mas há quem atribua, até hoje, TEXTO: 73 - Comuns às questões: 121, 122, 123,
a dualidade do 25 personagem, que se alterna entre 124, 125
o nerd* indefeso, tímido e de vista fraca (como Joe
Shuster) e 26 um super-herói possante, à origem ju- DIÁLOGO DA RELATIVA GRANDEZA
daica dos seus criadores.

Sentado no monte de lenha, as pernas abertas, os co-


27
“É o estereótipo judeu do homem fraco, tímido e tovelos nos joelhos, Doril examinava um louva-deus
intelectual que depois se revela um grande 28 herói”, pousado nas costas da mão. Ele queria que o bichi-
diz Harry Brod, autor do e-book Superman Is Jewish? nho voasse, ou pulasse, mas o bichinho estava mui-
(Superman é judeu?), lançado 29 nos E.U.A. em no- to à vontade, vai ver que dormindo – ou pensando?
vembro passado. “Ele é a versão moderna de Moisés: Doril tocava-o com a unha do dedo menor e ele nem
um bebê de Krypton 30 enviado à Terra, que desenvol- nada, não dava confiança, parece que nem sentia; se
ve superpoderes para salvar o seu povo.” Doril não visse o leve pulsar de fole do pescoço – e só
olhando bem é que se via – era capaz de dizer que o
pobrezinho estava morto, ou então que era um grilo
de brinquedo, desses que as moças pregam no vesti-
31
Segundo Brod, a analogia é tão nítida que os na- do para enfeitar.
zistas chegaram a discutir a suposta relação 32 em
revistas de circulação interna do regime. Mas, para Entretido com o louva-deus Doril não viu Diana che-
ele, Hollywood e o tempo suavizaram o 33 paralelo, gar comendo um marmelo, fruta azeda e enjoada
transformando Superman numa releitura de Jesus que só serve para ranger os dentes. Ela parou perto
Cristo. “Sua figura foi se tornando 34 mais cristã com do monte de lenha e ficou descascando o marmelo
o tempo”, diz Brod. ”Não importa a religião. A ideia com os dentes mas sem jogar a casca fora, não queria
de um fracote que se torna 35 um herói não deixa de perder nada. Quando ela já tinha comido um bom
ser uma fantasia universal.” pedaço da parte de cima e nada de Doril ligar, ela cus-
piu fora um pedaço de miolo com semente e falou:
Silas Martí Adaptado de folha.uol.com.br, 03/03/20 3.
– Está direitinho um macaco em galho de pau.

Doril olhou só com os olhos e revidou:


* resort − hotel com área de recreação
– Macaco é quem fala. Está até comendo banana.
* púbere − adolescente
– Marmelo é banana, besta?
* nerd − pessoa muito estudiosa
– Não é mais serve.

Ficaram calados, cada um pensando por seu lado.


Questão 120 - (UERJ) Diana cuspiu mais um caroço.
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– Sabe aquele livro de história que o Mirto ganhou? que quem manda elas olha para nós como Doril es-
tava olhando para o louva-deus? Será que somos pe-
– Que Mirto, seu. É Milllton. Mania! quenos para ele como um gafanhoto é pequeno para
nós, ou menores ainda? De que tamanho, comparan-
– Mas sabe? Eu vou ganhar um igual. Tia Jura vai min- do – do de formiga? De piolho de galinha? Qual será
dar. o nosso tamanho mesmo, verdadeiro?
– Não é mindar. É me-dar. Mas não é vantagem. Doril pensou, comparando as coisas em volta. Seria
– Não é vantagem? É muita vantagem. engraçado se as pessoas fossem criaturinhas miudi-
nhas, vivendo num mundo miudinho, alumiado por
– Você já não leu o de Milton? um sol do tamanho de uma rodela de confete.

– Li mas quero ter. Pra guardar e ler de novo. Diana lambendo os dedos e enxugando no vestido.
Qual seria o tamanho certo dela? Um palmo de ca-
– Vantagem é ganhar outro. Diferente. beça, um palmo de peito, palmo e meio de barriga,
palmo e meio até o joelho, palmo e meio até o pé...
– Deferente eu não quero. Pode não ser bom. uns seis palmos e meio. Palmo de quem? Gafanhoto
pode ter seis palmos e meio também – mas de gafa-
– Como foi que você disse? Diz de novo?
nhoto. Formiga pode ter seis palmos e meio – de for-
– Já disse uma vez, chega. miga. E os bichinhos que existem mas a gente não vê,
de tão pequenos? Se tem bichos que a gente não vê,
– Você disse deferente. não pode ter bichos que esses que a gente não vê não
veem? Onde é que o tamanho dos bichos começa, e
– Foi não. onde acaba? Qual é o maior, e qual o menor? Bonito
se nós também somos invisíveis para outros bichos
– Foi. Eu ouvi. muito grandes, tão grandes que os nossos olhos não
abarcam? E se a Terra é um bicho grandegrandegran-
– Foi não.
degrande e nós somos pulgas dele? Mas não pode!
– Foi. Como é que vamos ser invisíveis, se qualquer pessoa
tem mais de um metro de tamanho?
– Foi não.
Doril olhou o muro, os cafezeiros, as bananeiras, tudo
– Foooi. bem maior do que ele, uma bananeira deve ter mais
de dois metros...
Continuariam até um se cansar e tapar os ouvidos
para ficar com a última palavra se Diana não tivesse a
habilidade de se retirar logo que percebeu a dízima.
Com pedacinho final do marmelo entre os dedos, ela Aí ele notou que o louva-deus não estava mais na
chegou-se mais perto do irmão e disse: mão. Procurou por perto e achou-o pousado num
pau de lenha, numa ponta coberta de musgo. Do-
– Gi! Matando louva-deus! Olhe o castigo! ril levantou o pau devagarinho, olhou-o de perto e
achou que a camada de musgo lembrava um mati-
– Eu estou matando, estou? nho fechado, com certeza cheio de
– Está judiando. Ele morre. – Quando é que você vai deixar esse bichinho sosse-
gado? Tamanho homem!
– Eu estou judiando?
Doril largou o pau devagarinho no monte, limpou as
– Amolar um bicho tão pequenininho é o mesmo que mãos na roupa
judiar.
– Você não sabe qual é o meu tamanho.
Doril não disse mais nada, qualquer coisa que ele dis-
sesse ela aproveitaria para outra acusação. Era difícil Ela olhou-o desconfiada, com medo de dizer uma coi-
tapar a boca de Diana, ô menina renitente. Ele pre- sa e cair em alguma armadilha. Doril estava sempre
feriu continuar olhando o louva-deus. Soprou-o de arranjando novidades para atrapalhá-la.
leve, ele encolheu-se e vergou o corpo para o lado do
sopro, corno faz uma pessoa na ventania. O louva- – Você nem sabe qual é o seu tamanho – insistiu ele.
-deus estava no meio de uma tempestade de vento,
dessas que derrubam árvores e arrancam telhados e – Então não sei? Já medi e marquei com um carvão
podem até levantar urna pessoa do chão. Doril era a atrás da porta da sala. Pode olhar lá, se quiser.
força que mandava a tempestade e que podia pará-
Ele sorriu da esperada ingenuidade.
-la quando quisesse. Então ele era Deus? Será que as
nossas tempestades também são brincadeira? Será
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– Isso não quer dizer nada. Você não sabe o tamanho quer dia caía.
da marca.
– Ah, não pode, Doril. Comparar jaca com cajá?
– Sei. Mamãe mediu com a fita de costura. Diz que
tem um metro e vinte e tantos. – Mas é porque você não sabe que cajá não é cajá.

– Em metro de anão. Ou metro invisível. – O que é então?

Ela olhou-o assustada, desconfiada; e não achando o – É bago de arroz.


que responder, desconversou:
Diana olhou em volta aflita, procurando uma prova
– Ih, Doril! Você está bobo hoje! de que Doril estava errado.

– Boba é você, que não sabe de nada. – E coqueiro o que é?

Ela esperou, ele explicou: – Coqueiro é pé de salsa.

– Você não sabe que nós somos invisíveis, de tão pe- – E eu?
quenos?
– Você é formiga de dois pés.
– Sei disso não. Invisível é micuim, que a gente sente
mas não vê. – Se eu sou formiga como é que eu pulo rego d´água?

– Pois é. Nós somos como micuins. – Que rego d´água?

Diana olhou depressa para ela mesma, depois para – Esse nosso aí.
Doril. Doril sacudiu a cabeça, sorrindo.
– Como é que eu vejo eu, vejo você, vejo minha mãe? – Aquilo não é rego d´água. É risquinho no chão, da
– E você pensa que micuim não vê micuim? grossura de um fio de linha.

Diana franziu a testa, pensando. Doril tinha cada – E... E aquele morro lá longe?
ideia. – Não é morro. Você pensa que é morro porque você
[...] é formiga. Aquilo é um montinho de terra que cabe
num carrinho de mão.
– Não pode, Doril. A gente é grande. Olha aí, você é
quase da altura desse monte de lenha. Diana olhou-se de alto a baixo, achou-se grande para
ser formiga.
– Está vendo como você não sabe nada? Isso não é
um monte de lenha. É um monte de pauzinhos me- – Onde você aprendeu isso?
nores do que pau de fósforo. Ela precisava da garantia de uma autoridade para
– Ora sebo, Doril. Pau de fósforo é deste tamanho aceitar a nova ideia.
– ela mostrou dois dedinhos separados, dando tama- – Em parte nenhuma. Eu descobri.
nho que ela imaginava.
Diana deu um riso de zombaria, como quem começa
– Isso que você está mostrando não é tamanho de a entender. Tudo aquilo era invenção dele, coisa sem
pau de fósforo. Pau de fósforo é quase do seu tama- pé nem cabeça. Como a história de recado por pen-
nho. samento.
Diana ficou pensativa, triste por ter diminuído de A mãe chamou da janela. Doril desceu do monte de
tamanho de repente. Doril aproveitou para ensinar lenha, um pau resvalou e feriu-o no tornozelo. Ele ia
mais. xingar mas lembrou que pau de fósforo não machu-
– Como você é tapada, Diana. Tudo no mundo é mui- ca. A mãe chamou de novo, ele saiu correndo e gri-
to pequeno. O mundo é muito pequeno. – Olhou em tou para trás:
volta procurando uma ilustração. – Está vendo aque- – Quem chegar por último é filho de lesma.
la jaca? Sabe o tamanho dela?
Diana correu também, mais para não ficar sozinha do
– Sei sim. Regula com uma melancia. que para competir. Pularam uma bacia velha, simples
– Pronto. Não sabe. É do tamanho de cajá. tampa de cerveja emborcada no chão. Pularam o fio
de linha que Diana tinha pensado que era um rego
Diana olhou a jaca já madura em ponto de cair, qual- d´água. Doril tropeçou num balde furado (isto é, um
230 - www.PROJETOREDACAO.com.br
dedal com alça), subiu de um fôlego os dentes do Questão 123 - (UFG GO)
pente que servia de escada para a varanda, e entrou
no caixotinho de giz onde eles moravam. A mãe uma Uma das barreiras ao livre comércio está relacionada
formiguinha severa de pano amarrado na cabeça es- à falta de homogeneidade nos padrões de medida.
tava esperando na porta com uma colher e um vidro Em que trecho do texto, transcrito a seguir, a relativi-
de xarope nas mãos, a colher uma simples casquinha dade da padronização é constatada?
de arroz. Doril abriu a boca, fechou os olhos e engo-
liu, o borrifo de xarope desceu queimando a garganta
de formiga. a) “Ele queria que o bichinho voasse, ou pulasse.”
VEIGA, J. J. Melhores contos J. J. Veiga. Seleção de J. Ade- b) “Doril tocava-o com a unha do dedo menor.”
raldo
Castello. 4. ed. São Paulo: Global, 2000. p. 97-102. c) “Já tinha comido um bom pedaço da parte de
cima.”

d) “Macaco é quem fala. Está até comendo bana-


Questão 121 - (UFG GO) na.”
A trama do conto “Diálogo da relativa grandeza”, de e) “Em metro de anão. Ou metro invisível.”
J. J.Veiga, é construída com base em

Questão 124 - (UFG GO)


a) mudanças do comportamento das crianças fren-
te às coisas do mundo. Leia o texto abaixo e o relacione ao texto (Diálogo da
relativa grandeza).
b) imitações das brincadeiras de crianças campesi-
nas, mas que predominam nos meios urbanos.

c) críticas à supremacia da imaginação das narrati-


vas fantásticas.

d) comparações entre coisas de diferentes dimen-


sões, mas que apresentam alguma semelhança.

e) desqualificações da utilidade atribuída aos obje-


tos da natureza.

Questão 122 - (UFG GO)


O trecho “Foi não. / Foi. Eu ouvi. / Foi não. / Foi. / Foi
não. Foooi. / Continuariam até um se cansar e tapar
os ouvidos para ficar com a última palavra se Diana
não tivesse a habilidade de se retirar logo que perce-
beu a dízima” descreve uma particularidade do diá-
logo infantil. Nesse jogo discursivo, vence aquele que
Disponível em: <http://educacaoepraxis.blogspot.com>.
Acesso em: 24 set. 2013.

a) constrói imagens fantasiosas e impossíveis de


contraposição.
As reflexões de Mafalda (texto acima) e de Doril (tex-
b) deixa de refutar os argumentos de seu interlocu- to Diálogo da relativa grandeza) têm o mesmo funda-
tor e bloqueia o canal de entendimento. mento, pois ambos sugerem que a

c) demonstra maturidade e reverte a discussão em


seu favor.
a) realidade é construída com base em ideias origi-
d) aceita as evidências e reconhece a derrota de nais.
seu ponto de vista.
b) beleza das coisas é definida por seus traços ca-
e) apresenta argumentos lógicos e desqualificado- racterísticos.
res de seu interlocutor.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 231
c) perspectiva estabelece o modo de representa- Questão 126 - (UFG GO)
ção do mundo.
Leia o fragmento a seguir.
d) amizade entre crianças é mediada por fantasias
comuns.

e) ciência afasta o homem da realidade retratada. Eu era ainda muito criança, mas sabia uma infinidade
de coisas que os adultos ignoravam. [...]

A estrada é cheia de armadilhas, de alçapões, de


Questão 125 - (UFG GO) mundéus perigosos, para não falar em desvios ten-
tadores, mas eu podia percorrê-la na ida e na volta
Leia o texto abaixo e o relacione ao texto (Diálogo da de olhos fechados sem cometer o mais leve deslize.
relativa grandeza). Era por isso que eu não gostava de viajar acompa-
nhado, a preocupação de salvar outros do desastre
tirava-me o prazer da caminhada, mas desde criança
eu era perseguido pela insistência dos que precisa-
vam viajar e tinham medo do caminho, parecia que
ninguém sabia dar um passo sem ser orientado por
mim, chegavam a fazer romaria lá em casa, aborre-
ciam minha mãe com pedidos de interferência; e
como eu não podia negar nada a minha mãe eu esta-
va sempre na estrada acompanhando uns e outros.

[…]
Disponível em: <http://www.google.com.br/pintores-sur- VEIGA, José J. Fronteira. In: Melhores contos J. J. Veiga.
realistas>. Acesso em: 26 set. 2013. Seleção de J. Aderaldo Castello. 4. ed. São Paulo:
Global, 2000. p. 37.

As telas (texto acima) são obras do artista russo Vla-


dimir Kush, pintor contemporâneo que prefere defi- No conto “Fronteira”, há a inversão dos papéis comu-
nir sua arte como realismo metafórico. Comparando mente atribuídos ao adulto e à criança. Nessa inver-
a composição das imagens ao texto Diálogo da relati- são, a imagem da criança é construída por meio da
va grandeza, conclui-se que o trecho do conto que os
aproxima é o seguinte:

a) metáfora de um saber excepcional, manifesto


no poder de ajudar os adultos a realizar suas
a) “Sentado no monte de lenha, as pernas abertas, travessias.
os cotovelos nos joelhos, Doril examinava um
louva-deus pousado nas costas da mão.” b) alegoria de um anjo guardião das passagens se-
cretas, conhecidas apenas pelos iniciados nos
b) “Ela parou perto do monte de lenha e ficou des- mistérios da magia.
cascando o marmelo com os dentes mas sem
jogar a casca fora, não queria perder nada.” c) paráfrase do mito dos profetas messiânicos, que
conduzem os viajantes por espaços insólitos.
c) “Se tem bichos que a gente não vê, não pode ter
bichos que esses que a gente não vê não veem? d) hipérbole da capacidade imaginativa na infân-
Onde é que o tamanho dos bichos começa, e cia, que transforma estradas comuns em traves-
onde acaba? Qual é o maior, e qual o menor?” sias perigosas.
d) “Doril olhou o muro, os cafezeiros, as bananei- e) estilização das parábolas bíblicas, explícita nos
ras, tudo bem maior do que ele, uma bananeira ensinamentos adquiridos ao longo da existên-
deve ter mais de dois metros.” cia.
e) “Doril tropeçou num balde furado (isto é, um
dedal com alça), subiu de um fôlego os dentes
do pente que servia de escada para a varanda,
e entrou no caixotinho de giz onde eles mora-
vam.”

232 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 127 - (UFG GO)
Leia o trecho a seguir.

VIANNA

(Bem sério, mas neutro, autoritário) – E aqui, antes


de continuar este espetáculo, é necessário que fa-
çamos uma advertência a todos e a cada um. Neste
momento, achamos fundamental que cada um tome Elenco: Jim Carrey, Kate Winslet, Kirsten Dunst, Mark
uma posição definida. Sem que cada um tome uma Ruffalo, Elijah Wood, Tom Wilkinson,Thomas Jay
posição definida, não é possível continuarmos. É fun- Ryan e Jane Adams.
damental que cada um tome uma posição, seja para
a esquerda, seja para a direita. Admitimos mesmo
que alguns tomem uma posição neutra, fiquem de
braços cruzados. Mas é preciso que cada um, uma
1
Resenha: Joel (Jim Carrey) fica 2 atordoado ao des-
vez tomada sua posição, fique nela! Porque senão, cobrir que sua 3 garota, Clementine (Kate Winslet), 4
companheiros, as cadeiras do teatro rangem muito e apagou da mente as lembranças 5 de seu tumultuado
ninguém ouve nada. relacionamento. 6 Desesperado, ele 7 contrata o in-
ventor do processo, 8 Dr. Howard Mierzwiak (Tom 9
FERNANDES, Millôr; RANGEL, Flávio. Liberdade, liberda- Wilkinson), para fazer o mesmo 10 tratamento. Mas,
de. Porto Alegre: LP&M Pocket, 2013. p. 31. quando suas lembranças de Clementine 11 começam
a se desfazer, Joel repentinamente descobre o 12
quanto ainda a ama.
Na fala transcrita, há um sentido político associado 13
Do mesmo diretor de “Quero ser John Malkovich”
ao contexto dos primeiros anos do regime militar no (Charlie 14 Kauffman), “Brilho Eterno de Uma Mente
Brasil. Sem Lembranças” 15 ficou marcado pela originalidade
e criatividade de seu 16 roteiro. Ilustrando esta infor-
Esse sentido se expressa no emprego mação, há o jogo temporal no 17 qual passado e pre-
sente são postos durante o filme. Porém, 18 sua histó-
ria é bem simples: trata-se das dificuldades 19 ligadas
a) da expressão “posição neutra”, para satirizar a a todos os relacionamentos. O mais-do-mesmo roti-
ideologia do partido Aliança Renovadora Nacio- neiro 20 e os obstáculos amorosos são a base para a
nal. impulsiva 21 decisão de Clementine – estrelada por
ninguém menos 22 que Kate Winslet – que decide er-
b) das expressões “posição definida” e “de braços radicar da sua vida o 23 seu relacionamento com Joel
cruzados”, para criticar a extinção dos partidos Barish, personagem interpretado 24 por Jim Carrey.
políticos.
25
Entramos, então, no universo de memórias do ca-
c) da ordem “fique nela!”, que denuncia o poder sal, em 26 que Joel faz de tudo para mantê-las em seus
de repressão dos anos de chumbo do governo devidos lugares 27 – uma verdadeira batalha contra o
militar. processo de exclusão 28 das memórias de Clementine.

d) da rubrica “Bem sério, mas neutro, autoritário”, 29


Brilho Eterno mostra aos seus espectadores a im-
que ironiza a direção dada ao país pelo presi- portância 30 dos acontecimentos bons ou ruins nas
dente Garrastazu Médici. nossas vidas. Lembrar- 31 se de alguém é tê-lo vivo
dentro de nós e, por pior 32 que sejam algumas lem-
e) dos termos “esquerda” e “direita”, para cobrar branças, são estas que nos levam 33 ao nível seguinte;
uma posição da sociedade diante da restrição sem a queda não saberíamos como 34 acertar o pró-
das liberdades individuais. ximo passo.
35
Com um ótimo aproveitamento da situação de es-
tar dentro 36 de uma lembrança, este filme é dotado
TEXTO: 74 - Comum à questão: 128 de cenas incríveis, 37 frases inteligentes, diálogos to-
cantes e a capacidade de 38 dar, a quem vê, um sor-
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças
riso de satisfação e um belo assunto 39 para pensar.
Lançamento: 2004
Disponível em: <http://www.huntersculture.com.
br/2012/12>.
Acesso em: 10 set. 2013. (Adaptado).
www.PROJETOREDACAO.com.br - 233
(Ficções do interlúdio. Poesias de Álvaro de Campos,
1995.)
Questão 128 - (UFG GO)
Qual a grande descoberta de Joel ao começar o trata-
mento com o Dr. Howard Mierzwiak? É correto afirmar que o poema apresenta um tom de

a) A originalidade da experiência. a) indignação, e o eu lírico mostra-se inconformado


diante da ambição dos navegadores portugue-
b) O amor por Clementine. ses, simbolizados pelos faróis distantes.
c) O universo de memórias do casal. b) desdém, e o eu lírico expressa seu desprezo pe-
las pessoas que nunca vacilam, têm sempre cer-
d) O jogo temporal passado e presente. teza, a qual é simbolizada pelos faróis distantes.
e) A impulsividade da decisão de Clementine. c) melancolia, e o eu lírico parece encontrar-se de-
siludido diante do caráter incerto da vida, simbo-
lizado pelos faróis distantes.
Questão 129 - (UFSCar SP) d) confiança, e o eu lírico sente-se tranquilo diante
Leia o poema de Fernando Pessoa. da natureza, simbolizada pelos faróis distantes.

e) esperança, e o eu lírico emprega um discurso afi-


nado com a crença ingênua em um futuro me-
Faróis distantes, lhor, o qual é simbolizado pelos faróis distantes.

De luz subitamente tão acesa,

De noite e ausência tão rapidamente volvida, TEXTO: 75 - Comum à questão: 130


Na noite, no convés, que consequências aflitas! Considere a passagem do artigo Os operários da mú-
sica livre, de Ronaldo Evangelista.
Mágoa última dos despedidos,

Ficção de pensar…
Desde o final do século 20, toda a engrenagem indus-
trial do mercado musical passa por intensas transfor-
mações, como o surgimento e disseminação de novas
Faróis distantes… tecnologias, em grande parte gratuitas, como os ar-
Incerteza da vida… quivos MP3s, as redes de compartilhamento destes
arquivos, mecanismos torrents, sites de armazena-
Voltou crescendo a luz acesa avançadamente, mento de conteúdo, ferramentas de publicação on-li-
ne — tudo à disposição de quem quisesse dividir com
No acaso do olhar perdido… os outros suas canções e discos favoritos. A era pósin-
dustrial atingiu toda a indústria do entretenimento,
mas o braço da música foi quem mais sofreu, espe-
cialmente as grandes gravadoras multinacionais, as
Faróis distantes… chamadas majors, que sofreram um declínio em to-
A vida de nada serve… das as etapas de seu antigo negócio, ao mesmo tem-
po em que rapidamente se aperfeiçoavam ferramen-
Pensar na vida de nada serve… tas baratas e caseiras de produção que diminuíam a
distância entre amadores e profissionais.
Pensar de pensar na vida de nada serve…

Vamos para longe e a luz que vem grande


A era digital é também chamada de pós-industrial
[vem menos grande. porque confronta o modelo de produção que domi-
nava até o final do século 20. Esse modelo industrial
é baseado na repetição, em formatar e embalar. Por
trás disso, a ideia é obter a máxima produção — o
Faróis distantes…
que, para produtos em geral, funciona muito bem.
Quando esses parâmetros são aplicados à arte, a
234 - www.PROJETOREDACAO.com.br
venda do produto (por exemplo, o disco) depende do Estamos em plena quaresma.
conteúdo (a canção). A canção que vai resultar nessa
“produção máxima” é buscada por meio de um equi- A população paulista azafama-se a preparar-se para
líbrio entre criatividade e uma fórmula de sucesso a lavagem geral das consciências nas águas lustrais
que desperte o interesse do público. Como estudos do confessionário e do jejum.
ainda não conseguiram decifrar como direcionar a
criatividade de uma maneira que certamente des- A cambuquira* e o bacalhau afidalgam-se no mer-
pertará esse interesse (e maximizará a produção), a cado.
opção normalmente costuma ser pela solução mais A carne, mísera condenada pelos santos concílios,
simples. fica reduzida aos pouquíssimos dentes acatólicos da
população, e desce quase a zero na pauta dos preços.

“Cada um tem descoberto suas fórmulas e possibili- O que não sobe nem desce na escala dos fatos nor-
dades, pois tudo tende a ser cada vez menos homo- mais é a vilania, a usura, o egoísmo, a estatística dos
gêneo”, opina o baiano Lucas Santtana, que realizou crimes e o montão de fatos vergonhosos, perversos,
seus discos recentes às próprias custas.“Claro que ruins e feios que precedem todas as contrições ofi-
ainda existe uma distância em relação aos artistas ciais do confessionário, e que depois delas continuam
chamados mainstream”, continua. “Mas você muda com imperturbável regularidade.
o tamanho da escala e já está tudo igual em termos É o caso de desejar-se mais obras e menos palavras.
de business. A pergunta é se essa geração faz uma
música para esse grande mercado ou se ela está for- E se não, de que é que serve o jejum, as macerações,
mando um novo público. Outra pergunta é se o gran- o arrependimento, a contrição e quejandas religiosi-
de mercado na verdade não passa de uma imposição dades?
de uma máfia que dita o que vai ser popular.”
O que é a religião sem o aperfeiçoamento moral da
(Galileu, março de 2013. Adaptado.) consciência?

O que vale a perturbação das funções gastronômicas


do estômago sem consciência livre, ilustrada, hones-
Questão 130 - (UNESP SP) ta e virtuosa?
No primeiro parágrafo, o termo tudo, por sua relação Seja como for, o fato é que a quaresma toma as ré-
sintática e semântica com a sequência que o prece- deas do governo social, e tudo entristece, e tudo es-
de, representa fria com o exercício de seus místicos preceitos de si-
lêncio e meditação.

De que é que vale a meditação por ofício, a medita-


a) uma forte redundância devida a um lapso do es-
ção hipócrita e obrigada, que consiste unicamente na
critor.
aparência?
b) a negação do que foi dito pelos termos antes
Pois o que é que constitui a virtude? É a forma ou é o
enumerados.
fundo? É a intenção do ato, ou sua feição ostensiva?
c) uma circunstância de tempo acrescentada à
Neste sentido, aconselhamos aos bons leitores que
enumeração.
comutem sem o menor escrúpulo os jejuns, as con-
d) o elemento que encerra uma enumeração, resu- fissões e rezas em boas e santas ações, em esmolas
mindo-a. aos pobres.

e) toda a engrenagem tradicional do mercado mu- (Ângelo Agostini, Américo de Campos e Antônio Manoel
sical. dos Reis.
Cabrião, 10.03.1867. Adaptado.)

* Iguaria constituída de brotos de abóbora guisados,


TEXTO: 76 - Comuns às questões: 131, 132 geralmente servida como acompanhamento de assa-
dos.
Leia o fragmento de um texto publicado em 1867 no
semanário Cabrião.
Questão 131 - (UNESP SP)
São Paulo, 10 de março de 1867. Segundo os autores, os pecados declarados no con-
fessionário

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Sim, as cousas são sempre as mesmas na corrente

a) representam uma autorização para voltar a pe- Que no-las leva e traz, num círculo fatal;
car.
O que varia é o espírito que as sente
b) não tornam a ser cometidos pelos crentes.
Que é imperceptivelmente desigual,
c) deixam de ser pecados nas próximas vezes.
10 Que sempre as vive diferentemente,
d) não são tão graves que mereçam confissão.
E, assim, a vida é sempre inédita, afinal...
e) voltam a ser cometidos como sempre.

Estado de alma em fuga pelas horas,


Questão 132 - (UNESP SP)
Tons esquivos e trêmulos, nuanças
Pois o que é que constitui a virtude? É a forma ou é o
fundo? É a intenção do ato, ou sua feição ostensiva? Suscetíveis, sutis, que fogem no Íris

15 Da sensibilidade furta-cor...

Marque a alternativa cuja passagem responde à E a nossa alma é a expressão fugitiva das cousas
questão levantada pelos autores no trecho em des-
E a vida somos nós, que sempre somos outros!...
taque.
Homem inquieto e vão que não repousas!

Para e escuta:
a) A carne [...] desce quase a zero na pauta dos pre-
ços. 20 Se as cousas têm espírito, nós somos
b) [...] tudo esfria com o exercício de seus místicos Esse espírito efêmero das cousas,
preceitos de silêncio e meditação.
Volúvel e diverso,
c) A população paulista azafama-se a preparar-se
para a lavagem geral das consciências [...]. Variando, instante a instante, intimamente,
d) É o caso de desejar-se mais obras e menos E eternamente,
palavras.
25 Dentro da indiferença do Universo!...
e) [...] a quaresma toma as rédeas do governo so-
cial [...]. (Luz mediterrânea, 1965.)

TEXTO: 77 - Comuns às questões: 133, 134 Questão 133 - (UNESP SP)

Considere o poema de Raul de Leoni (1895-1926). Uma leitura atenta do poema permite concluir que
seu título representa

A alma das cousas somos nós...


a) a negação dos argumentos defendidos pelo eu
lírico.
Dentro do eterno giro universal b) confirmação do estado de alma disfórico do eu
lírico.
Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente,
c) a síntese das ideias desenvolvidas pelo eu lírico.
Mas, se nesse vaivém tudo parece igual
d) o reconhecimento da supremacia do homem no
Nada mais, na verdade, mundo.
05 Nunca mais se repete exatamente... e) uma afirmação prévia da incapacidade do ho-
mem.

236 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 134 - (UNESP SP) podia ter vaidade. Procurar o cirurgião, nem pensar!
Mas o mundo mudou. Ainda bem. Envelhecer com
No último verso do poema, o eu lírico conclui que dignidade não é necessariamente despencar! Afinal
de contas, cuidar da própria aparência é um dos pou-
cos gestos de liberdade que ainda restam a cada ser
a) os espíritos mostram-se insensíveis ao volúvel humano.
Universo. (Walcyr Carrasco. Veja SP, 28.01.2009. Adaptado.)
b) o Universo acompanha de perto a alma ou espí-
rito.
Questão 135 - (Unicastelo SP)
c) o Universo é indiferente à relação entre o espíri-
to e as coisas. Para contestar o conselho dado pela amiga, o narra-
dor argumenta que
d) a variação das coisas é indiferente ao espírito
que as sente.

e) as coisas têm espírito, mas o Universo não tem. a) desejava mudar a situação, pois se ressentia dos
comentários pejorativos que os conhecidos fa-
ziam sobre sua aparência.
TEXTO: 78 - Comum à questão: 135 b) chegou à conclusão de que é necessário acom-
Fiz plástica! panhar a moda para sentir-se aceito e fazer par-
te da sociedade.

c) confiava plenamente nas habilidades médicas e


Durante anos meu rosto foi redondo como o de um no bom senso de seu amigo cirurgião, por isso
porquinho. Quando emagreci, a pele da papada caiu. se submeteu à cirurgia.
Fiquei semelhante a um pelicano.
d) resolveu assumir a própria vaidade, já que
– A única solução é plástica – sugeriu um amigo. atualmente são raras as oportunidades que os
indivíduos têm de exercer sua liberdade.
Reagi. Sempre fui contra. Muita gente exagera nas
intervenções e fica com cara de pequinês. E mais: e) ponderou que fazer plástica implica riscos, por
plástica exige anestesia, cuidados médicos, repouso. isso tentou primeiramente fazer uma dieta radi-
Fazê-la não pode ser uma decisão frívola. Mas, cada cal e que demandasse pouco tempo.
vez que eu via minha pele dependurada, me irrita-
va. Procurei um amigo de vinte anos, Rogério, cuja
biografia conheço bem. Não é um cirurgião da moda
TEXTO: 79 - Comum à questão: 136
– possui um trabalho sério na reconstituição de quei-
mados. Fiz a consulta. Leia o poema de Ferreira Gullar.
– Quero dar uma melhorada – confessei. – Mas sem
repuxar a ponto de me transformar em chinês.
Digo sim
Ele me acalmou.
Poderia dizer
– Tiro o papo e dou uma leve esticada na parte de
baixo do rosto. Com anestesia local. que a vida é bela, e muito,

Dez dias depois retirei os pontos. Faz pouco mais de e que a revolução caminha com pés de flor
um mês e ninguém diz que fiz plástica! Só as orelhas
continuam meio adormecidas por causa da aneste- nos campos de meu país,
sia. Garante o médico que daqui a semanas voltam
ao normal. com pés de borracha

Não me tornei um jovenzinho, mas estou me sentin- nas grandes cidades brasileiras
do melhor! Mais... apresentável! Uma amiga acon- e que meu coração
selhou:
é um sol de esperanças entre pulmões
– Não conte que fez plástica.
e nuvens.
Por que não? Sou de um tempo em que homem não
www.PROJETOREDACAO.com.br - 237
Poderia dizer que meu povo

é uma festa só na voz a) a aceitação da vida e de seus contrastes e o com-


prometimento com o que essa realidade apre-
de Clara Nunes senta.
no rodar b) a evasão para um universo fictício onde os pro-
blemas sociais e a solidão não existam para o
das cabrochas no carnaval indivíduo.
da Avenida c) a necessidade de mascarar a realidade para que
Mas não. O poeta mente os cidadãos construam uma sociedade igualitá-
ria.

d) o resgate de ideais de épocas passadas quando


A vida nós a amassamos em sangue o Brasil ainda não era uma pátria desigual.

e samba e) a crença na euforia e na oposição ao engajamen-


to pessoal, o que nos levará a modificar a pá-
enquanto gira inteira a noite tria.,

sobre a pátria desigual. A vida

nós a fazemos nossa Questão 137 - (UNIVAG MT)


alegre e triste, cantando

em meio à fome

e dizendo sim

– em meio à violência e à solidão dizendo

sim –

pelo espanto da beleza

pela flama de Tereza

pelo meu filho perdido

neste vasto continente

por Vianinha ferido (Adão Iturrusgarai. Folha de S.Paulo, 12.07.2013.)


pelo nosso irmão caído

pelo amor e o que ele nega Os quadrinhos que compõem a tirinha são
pelo que dá e que cega

pelo que virá enfim, a) dissertativos, pois o leitor recebe informações


precisas sobre a velocidade dos seres apresen-
não digo que a vida é bela tados.
tampouco me nego a ela: b) descritivos, visto que há uma sequência de
ações que leva as personagens a uma interação
– digo sim.
mútua.
(Apud Beth Brait. Ferreira Gullar (Literatura Comenta-
c) descritivos, pois aos elementos comparados são
da),1988.)
atribuídas características que os especificam.

d) narrativos, visto que a linguagem verbal comple-


Questão 136 - (Unicastelo SP) menta a linguagem não verbal, dando sentido
ao texto.
Nesse poema, ao dizer sim, o eu lírico propõe
238 - www.PROJETOREDACAO.com.br
e) narrativos, porque o intuito da tirinha é provo-
car o riso, conduzindo o leitor ao anticlímax.
a) a qualidade do atendimento é o atrativo primor-
dial dos planos de saúde, no entanto parte dos
brasileiros não tem poder aquisitivo para arcar
TEXTO: 80 - Comum à questão: 138 com esse benefício.
Plano de saúde é o 3.º desejo, diz pesquisa b) a pesquisa realizada nas capitais do país com-
provou que, independentemente da faixa etária,
ter um plano de saúde é a terceira expectativa
dos brasileiros.
Ter um plano de saúde é o terceiro maior desejo dos
brasileiros, depois da casa própria e da educação, se- c) o motivo substancial que leva os brasileiros a
gundo pesquisa realizada pelo Datafolha, a pedido desejarem um plano de saúde é não depender
do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). das unidades públicas, pois elas situam-se em
bairros distantes.

d) a maioria da população brasileira possui plano


A qualidade do atendimento foi apontada como a
de saúde, mas o primeiro objetivo dos cidadãos
principal razão para desejar ter um plano de saúde
é ter a tranquilidade de morar em casa própria.
por 47% dos entrevistados. Para 39%, a saúde públi-
ca é precária e não se quer depender do SUS. A segu- e) a conclusão de um curso superior é a segunda
rança de ter o plano para se sentir tranquilo em caso expectativa dos brasileiros, pois os entrevista-
de doença foi lembrada por 18%. dos poupam para investir em sua formação aca-
dêmica.

Para Luiz Augusto Carneiro, superintendente-executi-


vo do IESS, os resultados indicam crescimento da saú- Questão 139 - (UNIVAG MT)
de suplementar no Brasil nos próximos anos.
Leia o soneto Fanatismo, da poeta portuguesa Flor-
bela Espanca.
“Menos de 25% da população brasileira contava com
esse benefício no fim do ano passado”, diz.
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida

Meus olhos andam cegos de te ver!


“Existe o potencial de crescimento, mas a mais médio
prazo o que deve ocorrer é o contrário porque infeliz- Não és sequer razão do meu viver,
mente o aumento de custo é muito alto, de 15% ao
ano.” [...] Pois que tu és já toda a minha vida!

“O custo é elevado e o produto para quem não o Não vejo nada assim enlouquecida...
tem ainda é caro. Os planos grandes não conseguem
atender, por exemplo, em algumas áreas do país, nos Passo no mundo, meu Amor, a ler
prazos mínimos de agendamento de consultas e exa-
mes”, afirma. No misterioso livro do teu ser

A mesma história tantas vezes lida!

“Por isso, a tendência é de os planos se concentrarem


nas regiões metropolitanas”, acrescenta. O Datafo- “Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”
lha entrevistou 3,32 mil pessoas, entre beneficiários
e não beneficiários, em oito regiões metropolitanas. Quando me dizem isto, toda a graça
(Folha de S.Paulo, 05.08.2013.) Duma boca divina fala em mim!

Questão 138 - (UNIVAG MT) E, olhos postos em ti, vivo de rastros:


Pela leitura do texto, é correto afirmar que “Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
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Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...” conferências têm 21 lugar a cada quatro anos, nos três
níveis de governo, cada 22 uma delas com um número
(Sonetos, 1997.) expressivo de representantes, 23 com a mesma distri-
buição proporcional dos conselhos. O 24 objetivo das
conferências é avaliar a situação de saúde e 25 propor
A temática desse poema pode ser relacionada ao diretrizes para as políticas, contribuindo assim para
26
a inclusão de temas importantes na agenda públi-
ca. Entre 27 outros mecanismos democráticos, o orça-
mento 28 participativo, adotado por vários estados e
a) Modernismo, pois se notam experimentações municípios, é 29 também uma inovação.
linguísticas que objetivam dar uma linguagem
rebuscada e hermética ao texto. Cesar G. Victora et al. Veja Online, 09/05/2011. Adapta-
do.
b) Classicismo, uma vez que a presença de seres da
mitologia clássica é evidente na descrição que o
eu lírico faz de si mesmo.
Questão 140 - (USP Faculdade de Saúde Pública SP)
c) Barroco, visto que o eu lírico condena o fanatis-
mo atrelado a crenças e a misticismos conside- Tendo em vista o contexto, a ocorrência da expressão
rados irracionais. “desde a sua origem” (ref. 2) produz

d) Romantismo, visto que o eu lírico despreza a


contenção dos sentimentos e expressa suas
a) contradição.
emoções de forma exacerbada.
b) ambivalência.
e) Arcadismo, pois o eu lírico e o ser amado inse-
rem-se em um ambiente campestre em que os c) incoerência.
elementos da natureza são descritos detalhada-
mente. d) arcaísmo.

e) redundância.

TEXTO: 81 - Comuns às questões: 140, 141


Condições de saúde e inovações nas políticas de Questão 141 - (USP Faculdade de Saúde Pública SP)
saúde no Brasil: o caminho a percorrer
Preservando-se o sentido do contexto e observando-
-se a correção gramatical, evita-se a ambiguidade, no
período em que aparece o gerúndio “estabelecendo”
Participação social (Ref. 16), substituindo-se essa forma verbal por
1
Intensa participação social foi a “pedra 2 fundamen-
tal” do SUS desde a sua origem, com a 3 articulação
de movimentos sociais, nos anos 1970 e 1980, 4 que a) as quais estabelecem.
resultou na reforma do setor de saúde. A participa-
ção 5 social na saúde foi institucionalizada pela Cons- b) nos quais se estabelece.
tituição de 6 1988 e, posteriormente, regulamentada
pela Legislação dos 7 anos 1990, que estabeleceu c) o que estabelece.
conselhos e conferências de 8 saúde nos três níveis
d) em detrimento dos quais se estabelece.
de governo: o Brasil possui atualmente 9 um conselho
nacional, 27 conselhos estaduais e mais de 10 5.500 e) em prol dos quais se estabelece.
conselhos municipais de saúde. Essas organizações
11
são instâncias permanentes, responsáveis pela
formulação 12 de estratégias de saúde, pelo contro-
le da prática de 13 políticas e pela análise de planos, TEXTO: 82 - Comuns às questões: 142, 143, 144
programas e relatórios de 14 gestão submetidos à sua
apreciação pelos respectivos níveis 15 de governo. Há A construção do campo da saúde do trabalhador:
forte interação entre conselhos, gestores e 16 formula- percurso e dilemas
dores de políticas, estabelecendo um processo 17 de-
cisório complexo e inovador. Todos os conselhos são
18
compostos por representantes de usuários (50%), 1
Ao longo das duas últimas décadas, acompanhan-
de 19 trabalhadores do setor de saúde (25%), dos ges- do 2 o processo de democratização do País, vem to-
tores e 20 provedores de serviços de saúde (25%). As
240 - www.PROJETOREDACAO.com.br
mando corpo 3 uma série de práticas no âmbito da Questão 142 - (USP Faculdade de Saúde Pública SP)
Saúde Pública, bem 4 como em determinados setores
sindicais e acadêmicos, que 5 configuram o campo Formas verbais ou expressões características, de
que passou a denominar-se Saúde do 6 Trabalhador. forte presença no texto, como “ao longo das” (Ref.
Alguns estudos relatam parte desse percurso 7 (Dias, 1), “acompanhando” (Ref. 1), “vem tomando corpo”
1994; Lacaz, 1994), sistematizam experiências 8 ino- (Ref. 2), “passou a denominar-se” (Ref. 5), “cada vez
vadoras (Costa et al., 1989; Pimenta e Capistrano, mais” (Ref. 13) etc. demarcam, principalmente, o in-
1988) 9 ou apontam as diferenças conceituais e teó- teresse do autor pelo que ele próprio chama de
rico-10 metodológicas que o distinguem da Medicina
do Trabalho e 11 da Saúde Ocupacional (Tambellini,
1986; Mendes e Dias, 12 1991). a) “experiências inovadoras” (Refs. 7-8).

b) “temas, estudos, abordagens” (Refs. 13-14).


13
No entanto, cada vez mais, têm surgido temas, 14 c) “variedade de estudos” (Ref. 18).
estudos, abordagens que, embora afetos à relação 15
trabalho-saúde, apenas correspondem parcialmen- d) “precisão conceitual” (Ref. 19).
te ao que 16 se entende por Saúde do Trabalhador. É
uma área passível 17 de abrigar diferentes aproxima- e) “dimensão processual” (Refs. 41-42).
ções e de incluir uma 18 variedade de estudos e prá-
ticas de indiscutível valor, 19 mesmo na ausência de
uma adequada precisão conceitual 20 sobre o caráter
da associação entre o trabalho e o processo 21 saú- Questão 143 - (USP Faculdade de Saúde Pública SP)
de-doença. Pode-se dizer que existe uma “zona de 22
Considere o principal objetivo do texto e os que, se-
empatia”, para a qual confluem diversos estudos 23
gundo seus autores, foram visados por
disciplinares. Essas contribuições esclarecem deter-
minadas 24 questões de interesse, como alguns riscos
ocupacionais em 25 locais de trabalho ou em setores
de uma categoria 26 profissional, sem pretender dar I. “Dias, 1994” e “Lacaz, 1994” (Ref. 7);
resposta ao campo como27 tal. Trata-se de uma am-
pla produção que evitamos 28 particularizar, mas se II. “Costa et al., 1989” e “Pimenta e Capistrano,
estende pelos Departamentos de 1988” (Refs. 8-9);
29
Medicina Preventiva/Social, por Instituições de III. “Tambellini, 1986; Mendes e Dias, 1991” (Refs.
Saúde 30 Pública/Saúde Coletiva e outras Faculdades 11-12).
de diversas 31 áreas de conhecimento.

É correto afirmar que o objetivo principal do texto se


32
Torna-se desejável, entretanto, delimitar o arca-
33 assemelha ao que foi visado, sobretudo, pelos auto-
bouço específico, um núcleo epistemológico que, sem res indicados em
34
rigidez, defina os conceitos fundamentais da área,
tanto do
35
ponto de vista teórico, como nas suas implicações a) I, apenas.
para o 36 desenvolvimento de estudos/pesquisas e o b) II, apenas.
direcionamento 37 da prática, à luz do processo eco-
nômico, social e político do 38 País. Demarcar dife- c) III, apenas.
renças não significa desconhecer ou 39 desmerecer
a importância dos investimentos realizados 40 para d) I e II, apenas.
enfrentar situações ou analisar questões específicas
da 41 relação trabalho-saúde. Clarificar, porém, a di- e) I, II e III.
mensão 42 processual da construção do campo pode
“interfertilizar” 43 toda essa “zona de empatia”.

Carlos Minayo-Gomez e Sonia Maria da Fonseca Thedim- Questão 144 - (USP Faculdade de Saúde Pública SP)
-Costa.
No conjunto do texto, a expressão que serve para
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 13 (Supl. 2): 21- qualificar, de modo mais apropriado, a natureza da
32, 1997. Adaptado. investigação que ele próprio empreende é

www.PROJETOREDACAO.com.br - 241
a) “percurso” (Ref. 6). a aula com as perguntas escritas em pedaços de pa-
pel que sub-repticiamente examinam, esperando a
b) “aproximações” (Ref. 17). sua vez, e sem prestar atenção à discussão em que
seus colegas estão envolvidos naquele momento.
c) “zona de empatia” (Refs. 21-22).

d) “epistemológico” (Ref. 33).


Algo aconteceu entre o primeiro ano primário e o úl-
e) “prática” (Ref. 37). timo ano secundário, e não foi apenas a puberdade.
Eu diria que é, em parte, a pressão dos pares para
não se sobressair (exceto nos esportes); em parte, o
TEXTO: 83 - Comum à questão: 145 fato de a sociedade ensinar gratificações a curto pra-
zo; em parte, a impressão de que a ciência e a mate-
Focalize a passagem de um livro do astrônomo, es- mática não vão dar a ninguém um carro esporte; em
critor e divulgador científico Carl Sagan (1934-1996) parte, que tão pouco seja esperado dos estudantes;
e uma tira de Adão Iturrusgarai publicada no jornal e, em parte, que haja poucas recompensas ou mode-
Folha de S.Paulo. los de papéis para uma discussão inteligente sobre
ciência e tecnologia — ou até para o aprendizado em
si mesmo. Os poucos que continuam interessados são
difamados como nerds, geeks ou grinds.*
Não existem perguntas imbecis
* Gírias norte-americanas para designar pessoas cha-
tas, desinteressantes, esquisitas e, nesse caso, estu-
À exceção das crianças (que não sabem o suficiente dantes muito aplicados.
para deixar de fazer as perguntas importantes), (Carl Sagan. O mundo assombrado pelos demônios,
poucos de nós passam muito tempo pensando por 1997.)
que a Natureza é como é; de onde veio o Cosmos, ou
se ele sempre existiu; se o tempo vai um dia voltar
atrás, e os efeitos vão preceder as causas; ou se há
limites elementares para o que os humanos podem Mundo Monstro
conhecer. Há até crianças, e eu conheci algumas
delas, que desejam saber como é um buraco negro;
qual é o menor pedaço de matéria; por que nos
lembramos do passado, mas não do futuro; e por que
há um Universo.

(Adão Iturrusgarai. www.folha.com.br)


De vez em quando, tenho a sorte de lecionar num
jardim de infância ou numa classe do primeiro ano
primário. Muitas dessas crianças são cientistas natos
Questão 145 - (UNESP SP)
— embora tenham mais desenvolvido o lado da ad-
miração que o do ceticismo. São curiosas, intelectual- No excerto apresentado, Carl Sagan, tomando por
mente vigorosas. Perguntas provocadoras e perspica- base sua época e seu país e referindo-se a crianças
zes saem delas aos borbotões. Demonstram enorme dos primeiros anos escolares e a estudantes do úl-
entusiasmo. Sempre recebo uma série de perguntas timo ano do ensino médio, detecta uma diferença
encadeadas. Elas nunca ouviram falar da noção de significativa quanto à vontade e à satisfação de fazer
“perguntas imbecis”. perguntas ao professor. Indique essa diferença.

Mas, quando falo a estudantes do último ano do se- TEXTO: 84 - Comum à questão: 146
cundário, encontro algo diferente. Eles memorizam
os “ fatos”. Porém, de modo geral, a alegria da des- Ensino superior e os serviços de saúde no Brasil
coberta, a vida por trás desses fatos, se extinguiu em
suas mentes. Perderam grande parte da admiração e
ganharam muito pouco ceticismo. Ficam preocupa-
dos com a possibilidade de fazer perguntas “imbecis”;
1
Até meados do século XX, não existia sistema de 2
estão dispostos a aceitar respostas inadequadas; não saúde no Brasil. Pacientes ricos eram tratados em 3
fazem perguntas encadeadas; a sala fica inundada instituições privadas, pagando diretamente suas des-
de olhares de esguelha para verificar, a cada segun- pesas; 4 e os trabalhadores tinham acesso a clínicas
do, se eles têm a aprovação de seus pares. Vêm para e hospitais dos 5 sindicatos. Nas áreas urbanas, os
242 - www.PROJETOREDACAO.com.br
pobres precisavam 6 procurar ajuda nas superlotadas b) considerou-se positivamente o impacto do SUS
instituições filantrópicas 7 ou públicas que aceitavam aos vinte anos de funcionamento.
indivíduos em estado de 8 indigência. Nas áreas ru-
rais, camponeses e meeiros tinham 9 de confiar em c) tal foi o impacto positivo da fundação do SUS,
curandeiros ou cuidadores leigos não 10 treinados após duas décadas de sua fundação.
para suas necessidades de saúde. No auge da 11 re-
democratização do país, a Constituição de 1988 de- d) de modo que foi positivo o impacto da atuação
clarou 12 que a saúde era um direito do cidadão e um do SUS, em decorrência de vinte anos de sua ins-
dever do 13 Estado. Posteriormente, foi organizado o talação.
Sistema Único de 14 Saúde, ou SUS, com os princípios e) essa atuação respondeu pelo impacto positivo
da universalidade, 15 integralidade assistencial, pro- do SUS, decorridos vinte anos de sua criação.
moção da saúde e 16 participação da comunidade,
com fundos públicos para 17 prestação de cuidados
de saúde gratuitos para os cidadãos 18 brasileiros.
Questão 147 - (ACAFE SC)
Jovens estão consumindo mais álcool
19
O SUS tem duas linhas principais de atuação: o 20
Programa Saúde da Família, que presta cuidados pri-
mários 21 de saúde em 5.295 municípios; e uma rede
de clínicas e 22 hospitais públicos ou contratados pelo O álcool é a droga mais usada entre jovens com me-
SUS, que presta 23 atendimento secundário e terciá- nos de 18 anos. Estudo feito pela Universidade Fede-
rio em todo o país. Junto 24 com intervenções de saú- ral de São Paulo (Unifesp) mostrou que cerca de 40%
de pública, que começaram na 25 década de 1970 e dos 5.200 estudantes entrevistados haviam bebido
que, mais recentemente, implementaram 26 políticas no mês anterior à pesquisa. Destes, 46% afirmaram
sociais relacionadas ao emprego e à transferência 27 que o primeiro consumo de álcool ocorreu em casa.
condicional de renda, considera-se que foi positivo o Já o I Levantamento Nacional sobre Uso de Álcool,
28
impacto do SUS depois de vinte anos. Tabaco e Outras Drogas verificou que 80% dos 18 mil
universitários entrevistados, menores de 18 anos,
já consumiram algum tipo de bebida alcoólica. Mas
qual será a explicação para um consumo tão alto en-
29
Nas últimas três décadas, a mortalidade infantil 30 tre os adolescentes?
diminuiu em cerca de 6,3% ao ano e a expectativa de
vida 31 aumentou em 10,6 anos. A mortalidade por
doenças 32 infecciosas diminuiu de 23% do total de
óbitos em 1970 33 para menos de 4% em 2007. Apesar O psicólogo especializado no Tratamento e Preven-
de tais conquistas, é 34 preciso que sejam reconheci- ção ao Uso Abusivo de Álcool e Drogas, Rodrigo Gar-
dos os sérios problemas que 35 envolvem a igualdade cez, acredita que, diante de um número cada vez
de oportunidades, qualidade e 36 eficiência. Insufi- maior de drogas ilegais que surgem no mercado,
ciência de investimentos, corrupção e a má 37 gestão como crack, cocaína e maconha, o uso do álcool aca-
decorrente da burocracia governamental estão 38 en- ba sendo encarado pelas pessoas como algo menos
tre esses problemas. O principal determinante da bai- perigoso. “A bebida é uma droga socialmente aceita,
xa 39 qualidade dos cuidados prestados pela rede SUS e a cultura da ‘cervejinha’ no fim de semana faz parte
é a 40 limitação dos recursos humanos, a qual, no en- da sociedade brasileira. Muitas famílias ainda consi-
tanto, é de 41 ordem qualitativa, não quantitativa. (...) deram essa droga menos nociva e, por esse motivo,
na maioria das vezes, a iniciação ao álcool ocorre no
Naomar Almeida-Filho. www.abc.org.br. 09/05/2011. ambiente familiar”, alerta o especialista.
Adaptado.

Outro fator que colabora com o consumo de bebidas


Questão 146 - (USP Faculdade de Saúde Pública SP) alcoólicas pelos adolescentes é a vontade de ser acei-
to em seu grupo de amigos e ter uma boa imagem
Para sanar problemas presentes na estrutura lógi- com os colegas. O uso do álcool, em muitos casos,
ca do segundo parágrafo do texto (Refs. 19-28), é representa uma espécie de ritual de passagem da
adequado substituir-se o trecho “considera-se que infância para a vida adulta ou mesmo um ritual de
foi positivo o impacto do SUS depois de vinte anos” pertencimento a um grupo. “Quando uma família
(Refs. 27-28) por: permite que nos encontros familiares o menino ou
a menina tome alguma bebida alcoólica, esse jovem
entende que os pais não o veem como criança e que
a) julgou-se oportuno positivar o impacto do SUS agora ele faz parte do mundo adulto ou daquela roda
vinte anos mais tarde. de amigos”, explica Rodrigo Garcez.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 243
Disponível em: http://www.personare.com.br/jovens-
-m962.
Acesso em 21/10/2013. Adaptado. O Pnud calculou também um ranking com base nas
desigualdades internas em saúde, educação e renda.
Nesse caso, mesmo Noruega e Austrália, 1º e 2º co-
locados, perdem pontos, embora mantendo, ainda,
Com base no texto, o consumo de bebidas alcoólicas suas posições. Já os Estados Unidos despencam do
entre os jovens é favorecido porque o álcool: 3º lugar para o 16º. O Brasil fica 12 posições abaixo,
passando ao 97º lugar.

a) é uma droga mais barata do que outras drogas


ilícitas e é usada no ritual de acasalamento. Como ocorrera após a divulgação do IDH de 2011
(Radis 112), o governo brasileiro criticou os resulta-
b) é uma droga combatida pelas instituições reli- dos do relatório do Pnud. Segundo os ministros da
giosas, e por isso é consumida apenas no am- Educação, Aloizio Mercadante, e do Desenvolvimento
biente familiar. Social e Combate à Fome, Tereza Campello, o docu-
c) faz parte de um modelo cultural importado e mento é elogioso aos avanços brasileiros; no entan-
agrega uma imagem positiva. to, são necessários ajustes, informou o Portal do MEC
(14/3).
d) é considerado menos nocivo do que outras dro-
gas e representa um ritual de passagem para a
vida adulta. Os ministros apontaram que, em Educação, os dados
utilizados são de 2005 e oriundos de fontes não re-
conhecidas pelas agências estatísticas nacionais. De
TEXTO: 85 - Comum à questão: 148 acordo com os ministros, o relatório do Pnud não in-
cluiu nos cálculos 4,6 milhões de crianças de 5 anos
IDH 2013: Brasil mantém posição matriculadas na pré-escola, bem como nas classes
de alfabetização, nem considerou a jornada escolar
atual de nove anos. “Se fizéssemos só esta correção,
subiríamos 20 posições”, ressaltou Mercadante.
O Brasil está no grupo dos países com índice de desen-
volvimento humano (IDH) elevado, indicou a edição Disponível em: http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/con-
de 2013 do Relatório de Desenvolvimento Humano teudo/idh-
do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi- 2013-brasil-mantem-posicao. Acesso em:
mento (Pnud) - há, ainda, os índices muito elevado, 22/10/2013. Adaptado.
médio e baixo. De acordo com o levantamento, divul-
gado em 14/3, o país ocupa o 85º lugar no ranking
de 187 nações avaliadas, mesma posição registrada
em 2011. Numa escala de 0 a 1, quanto mais o IDH se Questão 148 - (ACAFE SC)
aproxima de 1, maior é o desenvolvimento humano
- avaliado a partir dos níveis de expectativa de vida, De acordo com o texto, é correto o que se afirma em:
acesso à educação e renda da população. Os dados
são referentes a 2012. O índice brasileiro foi de 0,730
(em 2011 foi de 0,728). A média da América Latina a) De acordo com os ministros da Educação, Aloi-
foi de 0,741, informou a Folha de S. Paulo (14/3). O zio Mercadante, e do Desenvolvimento Social e
país com melhor classificação no continente foi o Chi- Combate à Fome, Tereza Campello, o relatório
le (0,819), na 40ª posição, informou o site da revista do Pnud de 2011 está correto, mas o de 2012
Carta Capital (14/3). precisa ser ajustado.

b) O Brasil melhorou significativamente seu IDH


em 2012 em comparação com o IDH no ano an-
O Brasil está entre os 15 países que mais reduziram o terior.
déficit do IDH entre 1990 e 2012, melhorando o índice
em 24% - o maior avanço entre os países da América c) Apesar de o Brasil ainda estar abaixo do IDH mé-
do Sul. O destaque deveu-se ao foco na redução das dio da América Latina, foi o país que mais se de-
desigualdades e da pobreza e à política estrutural de senvolveu na América do Sul no período de 1990
longo prazo adotada no país, segundo o Pnud. O re- a 2012.
latório aponta, ainda, que o grupo das três principais
nações em desenvolvimento (Brasil, China e Índia) d) Se as crianças matriculadas na pré-escola fos-
está remodelando a dinâmica mundial no contexto sem consideradas alfabetizadas, a posição do
amplo do desenvolvimento humano. Brasil melhoraria 20 posições no IDH mundial.
244 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 86 - Comum à questão: 149 Questão 149 - (Anhembi Morumbi SP)
Leia o texto publicado em 1995, na Revista de Saúde De acordo com as informações do texto, é correto
Pública. afirmar que

A história mostra-nos que há séculos o homem tem a) o Brasil se ressente da falta de uma medicina po-
procurado alternativas para eliminar seus males físi- pular de conotações mágico-religiosas.
cos, de forma empírica ou intuitiva. A partir da déca-
da de 1970 começou-se a questionar a definição de b) africanos e, sobretudo, indígenas ofereceram al-
saúde vigente e, consequentemente, aumentou tam- ternativas para tratamento de saúde no Brasil.
bém a conscientização da importância da natureza
no equilíbrio do homem, já utilizada há muito pelos c) a extensão geográfica do Brasil influi negativa-
orientais, estimulando a busca de alternativas man- mente na utilização de plantas medicinais.
tenedoras de saúde e prevenção das doenças. d) a procura de alternativas para tratamento de
saúde, no Brasil, data da década de 1970.

No Brasil, muito se recebeu de influência dos africa- e) as forças religiosas constituem, hoje, resíduos de
nos e principalmente do indígena da terra. Muitas uma mentalidade atrasada e bárbara, no país.
plantas, além de serem usadas como medicinais, fa-
zem parte dos ritos afro-brasileiros e, para grande
parte da população, têm poderes mágicos. TEXTO: 87 - Comuns às questões: 150, 151
Texto 1
Em um país como o nosso, com imensa extensão
geográfica, em espaços de grandes diversidades e
peculiaridades e, em diferentes circunstâncias e com
diversas concepções, opiniões e valores sobre a me-
dicina popular, usa-se um conjunto de técnicas, co-
nhecimentos e práticas, que são incorporadas e res-
peitadas no cotidiano, cristalizadas nos hábitos, nas
tradições e nos costumes. Sem que se preste atenção,
elas se repetem diariamente no meio em que vive-
mos.
(GALVÃO, J. Folha de São Paulo, 5-06-2013, caderno opi-
nião, p.2)
Curandeiros, médiuns, raizeiros, parteiras e a popula-
ção em geral utilizam ervas medicinais em um verda-
deiro sincretismo de concepções. Dessa forma, é pos-
sível admitir a existência, no Brasil, de uma medicina Texto 2
popular de conotações mágico-religiosas, presa a um
universo sacralizado controlador das forças sobrena-
turais, de certa forma responsáveis pelo aparecimen- O fosso e a fossa
to e cura das doenças do corpo e do espírito. Assim,
também as rezas, entre os ritos religiosos e mágicos,
se sobressaem na defesa dos problemas de saúde.
Apesar de ter passado por vários episódios de saúde,
desde o sarampo da infância a múltiplas complica-
ções do ofício de viver, falar sobre medicina é teme-
Atualmente, as forças religiosas voltam a interessar ridade e pretensão. Mas vamos lá. A crônica fica va-
os estudiosos do Brasil, já não como resíduos de uma lendo como um depoimento pessoal, testemunho de
mentalidade atrasada e bárbara, mas como estímu- alguém que, com certo exagero, é obrigado a apelar
los poderosos à vida em comum, saídas grupais do para a classe médica na condição ambígua de pacien-
desespero e da opressão. te, ou seja, dotado de pouca saúde e muita paciência.
(www.scielo.br. Adaptado.)

A primeira e mais dramática constatação é a dicoto-


mia entre a ciência e a prática, o lado conceitual e o
www.PROJETOREDACAO.com.br - 245
operacional. No primeiro, os avanços foram e conti- mo governos de países desenvolvidos em men-
nuam notáveis. Laboratórios, institutos de pesquisa, talidade e pecúnia investem no setor e os resul-
até mesmo governos de países desenvolvidos em tados (...) revelam-se maravilhosos”.
mentalidade e pecúnia investem no setor e os resul-
tados – pelo menos aos olhos de um leigo—revelam- b) “Para ficarmos no exemplo brasileiro, temos
-se maravilhosos. Aplicando uma escala geométrica duas tenazes que nos rebaixam a níveis dos
às pesquisas e descobertas, podemos suspeitar que mais infames em termos de atendimento clínico
um dia será descoberto o elixir não apenas da longa e hospitalar”.
vida, mas de toda a vida. Na parte operacional, con-
tudo, a escala geométrica também funciona, mas na c) “A primeira e mais dramática constatação é a di-
contramão. Os serviços médicos ampliam progressi- cotomia entre a ciência e a prática, o lado con-
vamente o fosso que os separam do progresso cien- ceitual e o operacional”.
tífico e tecnológico. d) “Nunca é demais lembrar que a maioria das
queixas no Procon é relativa aos planos de saú-
de”.
Para ficarmos no exemplo brasileiro, temos duas te-
nazes que nos rebaixam a níveis dos mais infames em
termos de atendimento clínico e hospitalar. Na inicia-
TEXTO: 88 - Comum à questão: 152
tiva privada, a população de renda média para cima
foi forçada a cair na arapuca dos planos assistenciais, Considere as obras literárias O alienista, de Machado de
que só raramente funcionam, até mesmo em casos Assis, e Sagarana, de João Guimarães Rosa.
de medicina massiva, como partos, pequenas cirur-
gias, exames de rotina etc. Nunca é demais lembrar
que a maioria das queixas no Procon é relativa aos
planos de saúde. Questão 152 - (FCM MG)
“Dois dias depois o barbeiro era recolhido à Casa Ver-
de. – Preso por ter cão, preso por não ter cão! excla-
Pior mesmo é a medicina estatal. Não é à toa que, mou o infeliz.”
nas campanhas eleitorais, tanto o governo como a
oposição admitem a falência hospitalar. (ASSIS, Machado de. O alienista. S.P.: Ática, 2004, p.44.)

(CONY, C.H. Folha de São Paulo, 07/05/2013, Caderno A,


p.2.)
A frase do barbeiro Porfírio justifica-se porque ele

Questão 150 - (FCM MG)


a) havia sido amigo confidente do alienista e tra-
No texto 1, ao criticar as condições precárias dos ser- mado o plano de recolher à Casa Verde todas
viços públicos de saúde, o humorista realça as pessoas que demonstrassem um certo dese-
quilíbrio da mente, o que acabou resultando em
sua internação.

a) a substituição do silêncio pelo clamor. b) tinha instigado as pessoas de Itaguaí a derruba-


rem o governo, mas disso se arrependeu a tem-
b) o recurso da eutanásia em vez da assistência. po de impedir que os políticos expulsassem o
doutor Simão Bacamarte daquela comunidade.
c) o entrave burocrático em lugar de ações efeti-
vas. c) tinha em mente dois princípios políticos que se
adequavam às medidas terapêuticas do médico,
d) a predominância da corrupção sobre a honesti-
entretanto as consequências da inadaptação en-
dade.
tre teoria e prática o levaram a perder sua liber-
dade.

Questão 151 - (FCM MG) d) havia sido trancafiado no hospício em razão de


ter encabeçado uma rebelião, mas, ao recusar-
A crítica do cronista é mais contundente em: -se a liderar um segundo levante, foi considera-
do pelo médico digno de nova internação.

a) “Laboratórios, institutos de pesquisa, até mes-

246 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 89 - Comuns às questões: 153, 154 Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, coçar as pi-
saduras, engolir soluços, gemer baixinho e embalar-
Um cinturão -me com os gemidos. Antes de adormecer, cansado,
vi meu pai dirigir-se à rede, afastar as varandas, sen-
tar-se e logo se levantar, agarrando uma tira de sola,
As minhas primeiras relações com a justiça foram do- o maldito cinturão, que desprendera a fivela quando
lorosas e deixaram-me funda impressão. Eu devia ter se deitara. Resmungou e entrou a passear agitado.
quatro ou cinco anos, por aí, e figurei na qualidade Tive a impressão de que ia falar-me: baixou a cabe-
de réu. Certamente já me haviam feito representar ça, a cara enrugada serenou, os olhos esmoreceram,
esse papel, mas ninguém me dera a entender que se procuravam o refúgio onde me batia, aniquilado.
tratava de julgamento. Batiam-me porque podiam
bater-me, e isto era natural. [...]
Pareceu-me que a figura imponente minguava – e
minha desgraça diminuiu. Se meu pai se tivesse che-
Meu pai dormia na rede, armada na sala enorme. gado a mim, eu o teria recebido sem o arrepio que
Tudo é nebuloso. Paredes extraordinariamente afas- a presença dele sempre me deu. Não se aproximou:
tadas, rede infinita, os armadores longe, e meu pai conservou-se longe, rondando, inquieto. Depois se
acordando, levantando-se de mau humor, batendo afastou.
com os chinelos no chão, a cara enferrujada. Natural-
mente não me lembro da ferrugem, das rugas, da voz
áspera, do tempo que ele consumiu rosnando uma Sozinho, vi-o de novo cruel e forte, soprando, espu-
exigência. Sei que estava bastante zangado, e isto me mando. E ali permaneci, miúdo, insignificante, tão
trouxe a covardia habitual. [...] insignificante e miúdo como as aranhas que traba-
lhavam na telha negra.

Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa, fui


encolher- me num canto, para lá dos caixões verdes. Foi esse o primeiro contato que tive com a justiça.
Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me:
pela porta da frente chegaria ao açude, pela do cor- (Graciliano Ramos. In Moriconi, Ítalo (organizador).
redor acharia o pé de turco. Devo ter pensado nisso, Os cem melhores contos brasileiros do século.
imóvel, atrás dos caixões. Só queria que minha mãe, Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda., 2001. Com
sinhá Leopoldina, Amaro e José Baía surgissem de re- cortes)
pente, me livrassem daquele perigo.

Questão 153 - (Fac. Direito de Sorocaba SP)


Ninguém veio, meu pai me descobriu acocorado e
sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me dali vio- A frase inicial do texto – “As minhas primeiras rela-
lentamente, reclamando um cinturão. Onde estava o ções com a justiça foram dolorosas e deixaram-me
cinturão? Eu não sabia, mas era difícil explicar-me: funda impressão.” – justifica-se no desenvolvimento
atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar do enredo, pois
com o motivo da raiva. Os modos brutais, coléricos,
atavam-me; os sons duros morriam, desprovidos de
significação. [...] a) narra-se que um homem agressivo maltratara
uma criança indefesa que escondera seu cintu-
rão.
O homem não me perguntava se eu tinha guardado
a miserável correia: ordenava que a entregasse ime- b) narra-se que, injustamente, uma criança acredi-
diatamente. Os seus gritos me entravam na cabeça, tava que o pai a agredia porque era mau, violen-
nunca ninguém esgoelou de semelhantemaneira. [...] to.

c) o personagem-narrador conta que, quando


criança, fora castigado injustamente pelo pai
Havia uma neblina, e não percebi direito os movi- opressor.
mentos de meu pai. Não o vi aproximar-se do tor-
no e pegar o chicote. A mão cabeluda prendeu-me, d) o personagem-narrador relata as surras que,
arrastou-me para o meio da sala, a folha de couro merecidamente, recebia do pai toda vez que se
fustigou-me as costas. [...] escondia dele.

e) o narrador explica, contando sua história, como


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e por que os pais podem castigar os filhos pe- Texto II
quenos.

É o sol, é o dia, é o sorriso sem jeito, é o calor, é o


Questão 154 - (Fac. Direito de Sorocaba SP) suor, é o

A dissolução da tensão dramática apresenta-se no amigo do peito, é o mergulho no mar, é unir, é ven-
trecho do texto: cer, é curtir

quem se ama, é o prazer. É a transa do corpo, é o


olhar, é o verão,
a) Pareceu-me que a figura imponente minguava –
e minha desgraça diminuiu. é a garra, é a força, coisa do coração. É um jeito bem
solto de
b) Foi esse o primeiro contato que tive com a justi-
ça. amar e de ser e de se dar pra valer. Coca-Cola é isso
aí!
c) Sozinho, vi-o de novo cruel e forte, soprando, es-
pumando. (MCCANN ERICKSON DO BRASIL, 2001.
Estudos Linguísticos XXXIII, p. 375-381, 2004.)
d) Não se aproximou: conservou-se longe, rondan-
do, inquieto. Depois se afastou.

e) Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir- Questão 155 - (Fac. Direito de Sorocaba SP)
-se à rede.
À relação que se pode estabelecer entre os textos I e
II dá-se o nome de

TEXTO: 90 - Comuns às questões: 155, 156


Texto I a) metáfora.

b) argumento.

É pau, é pedra, é o fim do caminho c) intertextualidade.

É um resto de toco, é um pouco sozinho d) paródia.

É um caco de vidro, é a vida, é o sol e) prosopopeia.

É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol

É peroba do campo, é o nó da madeira Questão 156 - (Fac. Direito de Sorocaba SP)


Caingá, candeia, é o Matita Pereira Na comparação entre os dois textos, pode-se afirmar
que o verbo “ser” apresenta-se com sujeito apenas
[...] em
É uma cobra, é um pau, é João, é José

É um espinho na mão, é um corte no pé a) Coca-Cola é isso aí!


É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã b) É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um belo horizonte, é uma febre terçã c) É um jeito bem solto de amar
São as águas de março fechando o verão d) É um espinho na mão, é um corte no pé
É a promessa de vida no teu coração e) São as águas de março fechando o verão
(TOM JOBIM, Águas de Março. http://www.jobim.com.
br.
Acessado em 10.10. 2013)

248 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 91 - Comum à questão: 157 b) reflete o desejo de documentar a sociedade bra-
sileira por meio de lentes mais realistas.
Leia o texto de Silas Martí.
c) colabora para promover a reflexão sobre a com-
plexidade da sociedade brasileira.
Para inglês ver d) descreve o cotidiano da elite, omitindo a situa-
ção de miséria de muitos brasileiros.
Fotografias de estrangeiros que retratam o “novo”
Brasil reforçam clichês surrados do país e) reproduz visões estereotipadas e, portanto, dis-
torcidas da realidade brasileira.

No novo Brasil, cabem todos os clichês do velho,


aquele “país tropical, bonito por natureza”, “terra TEXTO: 92 - Comum à questão: 158
boa e gostosa”, com coqueiros que dão coco e o Cris-
to de “braços abertos sobre a Guanabara”, a praia A Hora da Estrela é a próxima obra da coleção
indefectível onde uma arquetípica “morena vai sam-
bar, seu corpo balançar”.

É esse tipo de imagem – de belos corpos ardendo na Clarice Lispector não era de entrevistas. Na única te-
praia, favelas pacificadas ao som do batidão do funk levisionada, dada à TV Cultura no começo de 1977, a
e flagras de miséria estetizada – que predomina nos autora falou da novela que acabara de escrever: “A
ensaios recentes de fotógrafos estrangeiros, na ten- história de uma moça tão pobre que só comia cachor-
tativa de documentar o país em tempos de euforia. ro-quente. A história não é isso só, é de uma inocên-
cia pisada, de uma miséria anônima”.
David Alan Harvey, norte-americano que acaba de
lançar um ensaio sobre o Rio, diz que busca exagerar
mesmo todos os clichês que vê desfilar diante de sua
objetiva. A Hora da Estrela, lançado em outubro daquele ano,
pouco antes da morte da autora, ainda não tinha
“Não me preocupo com clichês, já que eles são todos nome. “Tem 13 títulos diferentes”, disse ela, sobre a
verdadeiros”, diz Harvey. “Vejo o Rio como um gran- história da migrante que levava uma vida difícil no
de palco. Parece um anfiteatro em que as montanhas Rio de Janeiro.
descem suaves até o mar e todo o drama humano de
ricos e pobres se encontra na praia.”

Na opinião de Boris Kossoy, fotógrafo e professor da A novela virou o filme de 1985, dirigido por Suzana
USP, exemplos desse fotojornalismo um tanto edul- Amaral e incluído no quarto volume da Coleção Folha
corado* atestam o surgimento do que ele chama de Grandes Livros no Cinema, que vai às bancas no pró-
“documentação produzida”. “São imagens encena- ximo domingo (1º de setembro).
das e preparadas de coisas já cansadas”, diz Kossoy.
“O interesse documental que havia em décadas pas-
sadas foi se desviando nos últimos tempos para uma Marcélia Cartaxo – melhor atriz nos festivais de Ber-
produção de forte cunho estético, que pode virar pro- lim e Brasília por esse papel – faz Macabéa, datiló-
paganda falsa.” grafa alagoana que sonha em ser estrela de cinema.
O filme também ganhou um prêmio da crítica do fes-
(Folha de S.Paulo, 25.08.2013. Adaptado.) tival alemão, dado à diretora Suzana Amaral.

*edulcorado: tornado doce ao paladar, manso, suave José Dumont faz o papel de Olímpico, namorado que
troca Macabéa pela amiga e rival Glória (Tamara Ta-
xman), que, à certa altura, diz: “Você é muito desbo-
Questão 157 - (FAMECA SP) tada, Macabéa!”. Fernanda Montenegro é Madame
Carlota, cartomante que prevê um futuro brilhante
Na opinião de Boris Kossoy, o fotojornalismo de forte para a protagonista, apesar do seu presente de invi-
cunho estético que se tem realizado ultimamente sibilidade.

a) mostra a sociedade por ângulos diversos, enfati- “Eu senti na pele o que é ser Macabéa em um am-
zando a diversidade cultural brasileira. biente urbano estranho”, disse a diretora sobre o

www.PROJETOREDACAO.com.br - 249
tempo em que estudou cinema em Nova York. Pelo Vejo aqui pela sua ficha que o senhor está conosco
longa, seu primeiro, venceu como melhor diretora em há vinte e oito anos. Sempre na seção de entorte de
Brasília e Havana. fresos. O senhor nunca falhou no serviço, nunca ti-
rou férias e já recebeu várias vezes nosso prêmio de
(Folha de S.Paulo, 25.08.2013. Adaptado.) produção.

Questão 158 - (FAMECA SP) – Sim, senhor.


Um dos objetivos centrais do texto é – O senhor começou na seção de entorte de fresos
como faxineiro, depois passou a assistente de entor-
tador, depois entortador, e hoje é o chefe de entorte.
Me diga uma coisa, o senhor nunca se sentiu atraído
a) relatar as dificuldades enfrentadas ao se adap-
para outra função, além do entorte de fresos? Nunca
tar um livro para o cinema.
achou que entortar não era bem sua vocação?
b) apresentar uma análise do foco narrativo de A
Hora da Estrela.
– Nunca, não senhor.
c) comentar as principais influências sobre a ficção
de Clarice Lispector. – Pois veja só! O computador nos revela que a sua
verdadeira vocação não é o entorte de fresos e sim o
d) fazer publicidade da Coleção Folha Grandes Li-
bistoque de tronas! O senhor é um bistocador de tro-
vros no Cinema.
nas nato, segundo o computador. Não é fantástico?
e) avaliar até que ponto o enredo do filme A Hora E ainda tem gente que critica a tecnologia. O senhor
da Estrela é fiel ao do livro. era um homem deslocado no entorte de fresos e não
sabia. Se não fosse o teste, nunca ficaria sabendo.
Claro que essa situação vai ser corrigida. O senhor, a
partir deste minuto, deixa de entortar.
TEXTO: 93 - Comum à questão: 159
Aptidão
– Sim, senhor.
– Bom dia, Senhor Pacheco. Sente-se, por favor. Te-
mos uma ótima notícia. – Só tem uma coisa, Senhor Pacheco. Nossa firma
não trabalha com tronas. Pensando bem, ninguém
Como o senhor deve saber, contratamos uma firma trabalha com tronas, hoje em dia.
de psicomputocratas para fazer testes de aptidão
nos dez mil empregados desta firma. Precisamos nos
atualizar. Acompanhar os tempos.
– Olha, tanto faz. Eu estou perfeitamente satisfeito
no entorte e faltam só vinte anos pra me aposentar...

– Sim, senhor. – Então a firma gasta um dinheirão para descobrir a


sua verdadeira vocação e o senhor quer jogá-la fora?
– Os dez mil testes foram submetidos a um computa- Reconheço que o senhor tem sido um chefe de en-
dor, e os resultados estão aqui. O senhor é o primeiro torte perfeito. Aliás, o computador não descobriu
a ser chamado porque o computador nos forneceu ninguém com aptidão para o entorte. Vai ser um
os resultados em rigorosa ordem alfabética. problema substituí-lo. Mas não podemos contestar a
tecnologia. O senhor está despedido. Por favor, man-
de entrar o seguinte e passe bem.
– Mas o meu nome começa com P. (VERÍSSIMO, Luís Fernando. O nariz e outras crônicas.
São Paulo: Ática, 2003. Adaptado)
– Hum, sim, deixa ver. Pacheco. Sim, sim. Deve ser
por ordem alfabética do primeiro nome, então. Este
computador é de última geração. Nunca erra. Como
é seu primeiro nome? Questão 159 - (FATEC SP)
Assinale a alternativa em que a afirmação sobre o
texto está corretamente associada ao trecho selecio-
– Xisto. nado.
– Bom, isso não tem importância. Vamos adiante.
250 - www.PROJETOREDACAO.com.br
a) O Senhor Pacheco ascendeu na empresa traba-
lhando no mesmo departamento:
O cientista político Renato Lessa utiliza a imagem
– Os dez mil testes foram submetidos a um com- do naufrágio como metáfora do humano, em nos-
putador, e os resultados estão aqui. sos tempos. Proponho acrescentar a esta, a metá-
fora do atropelamento, que expressa perfeitamente
b) O computador organizou os dados alfabéticos a relação do sujeito contemporâneo com o tempo.
de forma rápida e acurada: Não por acaso a palavra já está incorporada ao uso
cotidiano da linguagem para expressar os efeitos da
Este computador é de última geração. Nunca pressa sobre a subjetividade. Dizemos, com frequên-
erra. cia, que fomos atropelados pelos acontecimentos –
c) O chefe não é pessoa criteriosa, pois considera o mas quais acontecimentos têm poder de atropelar o
computador infalível: sujeito? Aqueles em direção aos quais ele se precipi-
ta, com medo de ser deixado para trás. Deixamo-nos
Vai ser um problema substituí-lo. Mas não pode- atropelar, em nossa sociedade competitiva, porque
mos contestar a tecnologia. medimos o valor do tempo pelo dinheiro que ele
pode nos render.
d) O Senhor Pacheco sempre omitiu o desejo de
mudar para outra seção: (www.mariaritakehl.psc.br. Adaptado.)

O senhor era um homem deslocado no entorte


de fresos e não sabia.
Questão 160 - (FMJ SP)
e) O patrão não sabe aferir a dedicação do funcio-
nário à empresa: No início do texto, a autora faz breves considerações
sobre a delicadeza e o ser humano. Segundo ela,
Reconheço que o senhor tem sido um chefe de
entorte perfeito.
a) para o homem cultivar a sua delicadeza, é preci-
so um esforço de voltar-se para si e se conhecer.
TEXTO: 94 - Comum à questão: 160
b) é preciso que haja, no ambiente social, meios
Considere o texto de Maria Rita Kehl. para que a delicadeza humana possa existir.

c) o homem é essencialmente delicado, bastando


a ele tomar cuidado para preservar essa quali-
Por que escolhi a delicadeza como parte essencial da dade.
condição humana? Por não ser uma qualidade intrín-
seca do humano. Isso é justamente o que a faz neces- d) diferentes dos homens, naturalmente delicados,
sária. A delicadeza não é causa de nossa humanida- os animais são intrinsecamente indelicados.
de, é efeito dela. Não é meio, é finalidade. O homem
não é necessariamente delicado – daí a urgência de e) a delicadeza é desnecessária nos ambientes so-
se preservar, na vida social, as condições para a vi- ciais, por causa da urgência dos seres humanos.
gência de alguma delicadeza.

TEXTO: 95 - Comum à questão: 161


Erramos ao chamar os atos que nos repugnam de de-
Avanço da ciência
sumanos. O homem, não o animal, usa de violência
contra seu semelhante. O homem inventou o prazer
da crueldade: o animal só mata para sobreviver. O
homem destrói o que ama – pessoas, coisas, lugares, (1) Numa importantíssima realização científica, pes-
lembranças. Se perguntarem a um homem por que quisadores sul-coreanos conseguiram produzir com
razão ele se permitiu abusar de seu semelhante in- eficiência 11 linhagens de células-tronco embrio-
defeso, ele dirá: eu fiz porque nada me impediu de nárias humanas através de clonagem. O grupo que
fazer. O abuso da força é um gozo ao qual poucos re- exerceu a façanha é o mesmo que, no ano passado,
nunciam. Além disso, o homem é capaz de indiferen- anunciou a primeira clonagem de embrião humano.
ça, essa forma silenciosa e obscena de brutalidade. Naquela ocasião, precisaram de 242 óvulos para de-
O homem atropela o que é mais frágil que ele – por rivar uma linhagem de células. Desta vez, de 185 oó-
pressa, avidez, sofreguidão, rivalidade – sem perce- citos, produziram 11 cepas.
ber que com isso atropela também a si mesmo.
(2) O feito sul-coreano tem dois impactos diretos.
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Em primeiro lugar, mostra que é factível produzir Questão 161 - (FPS PE)
células-tronco embrionárias sob medida. Se um dia
surgirem terapias a partir dessas células, – perspec- O texto, na sua dimensão global, se configura como
tiva ainda distante –, será possível criar linhagens um texto em que o autor:
imunologicamente compatíveis com cada paciente,
eliminando assim o problema da rejeição. Alguns
argumentavam que a individualização seria imprati- 1) informa: “pesquisadores... conseguiram produ-
cável e que teríamos de nos contentar com algumas zir com eficiência 11 linhagens de células-tron-
linhagens específicas, que talvez não dessem conta co”.
de suprir toda a variedade genética da população.
2) adverte: “países como o Brasil (...) podem já es-
(3) O experimento também é importante porque ofe- tar ficando para trás”.
rece a cientistas de todo o mundo uma receita para
produzir cepas de células-tronco que padeçam de 3) argumenta: “a pesquisa nos força a reavaliar
doenças genéticas, e isso pode revelar-se fundamen- certos critérios éticos e até algumas leis”.
tal para que se compreenda a evolução da moléstia
em nível celular. 4) levanta hipóteses: “talvez tenhamos a chance
de acompanhar (...) o surgimento dos primeiros
(4) Clonando células de pessoas portadoras de doen- erros na divisão celular”.
ças com forte componente genético, como os sul-co-
reanos fizeram em duas das linhagens, talvez tenha- 5) estabelece leis: “a lei da Biossegurança (...) ad-
mos a chance de acompanhar “ab ovo” o surgimento mite a utilização de embriões que sobraram de
dos primeiros erros na divisão celular. Não só enten- tratamentos de fertilidade”.
deríamos melhor a patologia, como estaríamos aptos
a detectá-la mais precocemente – o que pode fazer
toda a diferença.
Estão corretas:
(5) Indiretamente, a pesquisa nos força a reavaliar
certos critérios éticos e até algumas leis. Entre as
medidas usadas pelos cientistas para aumentar a efi- a) 1, 2, 3 e 4, apenas.
ciência, está a utilização de óvulos frescos (e não so-
bras congeladas de tratamentos de fertilidade) e de b) 1, 2, 4 e 5, apenas.
mulheres jovens. A pergunta que se coloca é se é éti-
co pedir a voluntárias que se submetam aos procedi- c) 3 e 4, apenas.
mentos necessários para doar oócitos, que envolvem
um risco pequeno mas não neglicenciável, uma vez d) 1 e 5, apenas.
que não haverá benefício direto para elas nem para
e) 1, 2, 3, 4 e 5.
pacientes que hoje sofrem de moléstias incuráveis.

(6) O experimento coreano também mostra que paí-


ses como o Brasil, que acaba de liberar até certo pon- TEXTO: 96 - Comuns às questões: 162, 163
to a pesquisa com células embrionárias humanas,
podem já estar ficando para trás. Com efeito, a lei A humanização da medicina no Brasil: reflexões
da Biossegurança, aprovada neste ano, admite a uti-
lização de embriões que sobraram de tratamentos de
fertilidade, sem, contudo, permitir a clonagem tera-
pêutica (produção de embriões especificamente para (1) O caráter multifatorial da saúde expressa o quan-
pesquisa e terapia). Se a principal linha de investiga- to ainda pode ser feito na redução das doenças mar-
ção médica seguir para a confecção e o acompanha- cadas pelo contexto social, além de promover-se o
mento de cepas patológicas, os cientistas brasileiros bem-estar físico e mental da população brasileira.
já estão de mãos amarradas pela nova lei. A sociedade, em especial a comunidade científica,
deve lutar arduamente pela universalização deste
(7) E, nesse campo, a regulação parece ser o principal novo conceito de saúde, buscando sempre defender
diferencial entre países. Essa é provavelmente a úni- a necessidade de construção de uma sociedade mais
ca área da ciência na qual os EUA, devido ao funda- igualitária e aliar os ideais políticos com a promoção
mentalismo de seus dirigentes, não exercem lideran- da saúde.
ça. A Coreia do Sul soube aproveitar a oportunidade
e se firma como potência da clonagem. (2) A Saúde Pública brasileira evoluiu muito nos últi-
mos anos, quando muitas questões sociais e estrutu-
(Folha de São Paulo. São Paulo. 21/05/2005, p. A2. Adap- rais foram adicionadas ao seu contexto. As Conferên-
tado). cias Nacionais de Saúde, os Conselhos Municipais, a
descentralização das ações e a universalização dos
252 - www.PROJETOREDACAO.com.br
direitos representam excelentes conquistas do Siste- c) predominarem políticas públicas de medicina
ma Único de Saúde (SUS). Não obstante, o momento preventiva, capazes de reduzirem as doenças
atual revela ainda a precariedade de investimentos marcadas pelo contexto social.
em políticas intersetoriais.
d) houver uma cultura de corresponsabilidade,
(3) A estrutura do SUS ainda é centrada principalmen- que veja a saúde como um direito social que in-
te no modelo assistencial, e o Ministério da Saúde é clui governo e sociedade.
organizado segundo a lógica hospitalar. É necessário
redefinir prioridades e um modelo que preconize um e) o currículo dos cursos de medicina no Brasil for
contrato global – com metas de desempenho e qua- adaptado à necessidade de práticas terapêuti-
lidade definidas pela população. cas de prevenção.

(4) Outro desafio para o século XXI é a necessidade


de humanização da saúde. A adaptação do currículo
médico à visão moderna de saúde – através das no- Questão 163 - (FPS PE)
vas diretrizes curriculares dos cursos de medicina no
Analisando a sequência do texto, podemos perceber
Brasil – representa uma importante conquista. Além
que o autor, em sua argumentação:
da diversificação dos cenários de aprendizagem, a
consolidação definitiva desse novo olhar para a saú-
de exige também o incentivo cada vez maior de pro-
jetos na área de medicina preventiva. a) aprova o modo de estruturação do Sistema Úni-
co de Saúde, a seu ver, orientado por metas não
(5) Importa salientar ainda a necessidade de maiores imediatistas e abrangentes.
investimentos em políticas de gestão participativa
em saúde. A exigibilidade do direito à saúde requer b) duvida da relevância de maiores investimentos
que a população se aproprie de informações sobre os nas universidades federais, como espaços que
princípios e diretrizes do SUS. Os espaços comparti- estimulam as ações de voluntários.
lhados de controle social deverão assumir o desafio
de formação de uma cultura de corresponsabilidade, c) reforça a concepção, vigente em alguns domí-
pautada na concepção da saúde como bem público, nios, de uma medicina centralizada e exercida
direito social, e dever do Estado, incluindo governo e prioritariamente como dever do Estado.
sociedade. (...)
d) admite perspectivas contrárias para a situação
(6) As iniciativas voluntárias – pautadas em valores analisada; o conectivo ‘não obstante’, no final do
de humanização e solidariedade – promovem espa- 2º. parágrafo, marca essa oposição.
ços compartilhados de atuação e englobam outros
setores do governo comprometidos com a produção e) se apoia na constatação de que o Ministério da
de saúde (ex. as universidades federais). Tais iniciati- Saúde tem de redefinir suas prioridades e seus
vas constituem exemplos de práticas de articulação modelos de gestão.
intersetorial, fundamentais para a efetiva inclusão
social da população brasileira.
TEXTO: 97 - Comum à questão: 164
(Israel de L. M. Ferreira; Tiago P. Tabosa e Silva. Dis-
ponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?scrip- A área de saúde
t=sci_arttext&pid=S0104-
42302007000300013. Acesso em 01/10/2013.
Adaptado).
(1) Enquanto houver problemas de saúde, viroses,
bactérias, as profissões voltadas para a área da saúde
estarão em evidência, como é o caso da medicina, da
Questão 162 - (FPS PE) biomedicina, da farmacologia, da fisioterapia, consi-
deradas profissões tradicionais.
Para o autor, a “humanização da medicina”, como
apontado no texto, acontece se: (2) É claro que essas são profissões de relevante im-
portância, não somente pelos atendimentos clínicos,
laboratoriais, mas também em razão da sua extensão
a) a estrutura do SUS redefinir prioridades e adotar na área da pesquisa, como temos visto: um campo
um modelo centrado na lógica hospitalar. em crescimento.

b) acontecer a diversificação dos cenários de (3) Segundo Marco Antônio Zonta, professor univer-
aprendizagem organizados nas instituições fe- sitário e sócio de laboratório, “áreas relacionadas à
derais de ensino. pesquisa do genoma humano, ao estudo e à mani-

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pulação de células-tronco, diagnóstico clínico, assim e) no último parágrafo: há pronomes e formas ver-
como a aplicação de novas técnicas e tratamentos, bais que comprovam esse empenho de intera-
certamente serão campos em destaque”. ção.

(4) Realmente, pesquisas recentes têm mostrado que


esses estudos estão em evidência, sendo que para os
de células-tronco já existem laboratórios americanos TEXTO: 98 - Comum à questão: 165
recrutando pessoas para se aplicar aos estudos. No
Brasil, as pesquisas científicas foram liberadas atra- O estresse nosso de cada dia
vés de votação pelo Supremo Tribunal Federal (STF),
sem nenhuma restrição, como previsto na Lei de
Biossegurança. Trânsito caótico, pressão no trabalho, conflitos fa-
miliares, imprevistos, rotina corrida. Junto a esses
(5) O que vemos são profissionais se engajando em
problemas vêm também as noites mal dormidas,
prol de estudos que visem garantir a saúde, a rege-
tensões pelo corpo, distração e irritabilidade. Todos
neração de células a partir das células-tronco, o que
esses fatores podem acarretar estresse, que é consi-
proporcionará a cura de várias doenças, problemas
derado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) o
de paralisias, problemas de medula óssea, dentre
Mal do Século, atingindo em torno de 9 a cada 10 in-
outros, de forma que o ajuntamento desses conhe-
divíduos atualmente. De acordo com especialistas, é
cimentos influencie no dia a dia dos seres humanos.
preciso encontrar uma forma de aliviar esses efeitos,
(6) Podemos ver, ainda, os cursos de hiperespeciali- para evitar prejuízos maiores na saúde física e mental
zação, voltados para a obstetrícia – estudo da repro- das pessoas.
dução, gestação e nascimento; quiropraxia – voltada
“Nos dias de hoje é bastante difícil fugir de situações
para o sistema músculo/esquelético; e gerontologia
conflitantes, mas as dificuldades e preocupações não
– que trata do envelhecimento humano, regulamen-
podem interferir no nosso bem-estar. É preciso saber
tados pelo Ministério da Educação e Cultura, estando
lidar com o estresse de alguma forma, pois ele é um
cada vez mais em evidência, devido às necessidades
fator de risco para inúmeras doenças que afetam o
da população e ao alto índice de procura.
coração, o cérebro e os sistemas imunológico e gas-
(7) Portanto, se você se identifica com essa área e trointestinal”, alerta a cardiologista Sylvia Andrade. O
pretende ser um profissional que busca contribuir estresse também está relacionado à memória, à tris-
com a qualidade da saúde dos seres humanos, pre- teza e, em alguns casos, pode desencadear doenças
pare-se muito bem, invista na sua carreira de estu- mentais, como depressão e síndrome do pânico.
dante, seja dedicado, pois vale persistir, tentar e lutar
Além de, quase sempre, causar danos à saúde, o es-
para atingir o seu sonho.
tresse pode prejudicar o convívio social do indivíduo.
(Jussara de Barros. http.//www.brasilescola.com./ “A tendência é a pessoa ficar irritadiça, nervosa, e
educacao/ com isso se afastar dos amigos, dos familiares”, ex-
area-saude.htm. Acesso em 14/10/2013. Adaptado). plica Sylvia. A orientação da médica é encontrar uma
atividade que proporcione momentos relaxantes.
“Seja uma viagem com a família, um passeio, uma
atividade manual ou um exercício físico, o ideal é
Questão 164 - (FPS PE) achar o que faz relaxar, desopilar”, diz. “Há estudos
que comprovam que um animal de estimação pode
No desenvolvimento do tema, o autor do texto assu- ajudar muito no alívio do estresse e até de sintomas
me uma posição abertamente interativa, em relação de depressão”, conclui.
a seus interlocutores:
De fato, o estresse, cada vez mais comum entre os
habitantes das grandes cidades, pode causar sérios
problemas na saúde física e mental das pessoas.
a) no parágrafo inicial: os profissionais da saúde
são explicitamente convocados. (Revista Veja, Edição 2338, 11/09/2013. Adaptado).
b) no terceiro parágrafo: onde consta que profes-
sores universitários e sócios de laboratório são
ouvidos. Questão 165 - (FPS PE)
c) no quarto parágrafo: os pesquisadores brasilei- Do ponto de vista linguístico-textual, para entender-
ros são, sem nenhuma restrição, referidos. mos bem o parágrafo inicial do texto, é fundamental:
d) no sexto parágrafo: pela voz dos regulamentos
expedidos pelo Ministério da Educação e Cultura.

254 - www.PROJETOREDACAO.com.br
a) saber que se trata de um parágrafo eminente- Questão 166 - (Mackenzie SP)
mente narrativo-expositivo.
Considere as seguintes afirmações sobre os textos:
b) saber o nome da classe gramatical a que perten-
ce cada uma das palavras presentes no parágra-
fo.
I. O texto literário e a fotografia jornalística, que
c) conhecer a instituição denominada como Orga- retrata a mendicância na cidade de São Paulo,
nização Mundial da Saúde (OMS). pretendem fazer uma descrição objetiva da rea-
lidade cotidiana.
d) identificar que referências são retomadas pelas
expressões “esses fatores” e “esses efeitos”. II. O texto literário e a fotografia jornalística, que
tem em primeiro plano o corpo de um mendigo
e) discernir entre o que constitui saúde física e o dormindo na rua, tratam de uma parcela do ser
que constitui saúde mental. humano de forma zoomorfizada.

III. O texto literário e a fotografia jornalística, que


concede destaque a um homem desprovido de
TEXTO: 99 - Comum à questão: 166 moradia, retratam o choque social de modo des-
comprometido.
Texto I

Assinale a alternativa correta.


Capítulo III
1
O zunzum chegava ao seu apogeu. A fábrica de
massas italianas, ali 2 mesmo da vizinhança, come- a) Estão corretas as alternativas I e II.
çou a trabalhar, engrossando o barulho 3 com o seu
arfar monótono de máquina a vapor. As corridas até b) Estão corretas as alternativas I e III.
à 4 venda reproduziam-se, transformando-se num
verminar constante 5 de formigueiro assanhado. Ago- c) Estão corretas as alternativas II e III.
ra, no lugar das bicas apinhavamse 6 latas de todos
d) Todas as alternativas estão corretas.
os feitios, sobressaindo as de querosene com um 7
braço de madeira em cima; sentia-se o trapejar da e) Nenhuma das alternativas está correta.
água caindo na 8 folha. Algumas lavadeiras enchiam
já as suas tinas; outras estendiam 9 nos coradouros
a roupa que ficara de molho. Principiava o trabalho.
10
Rompiam das gargantas os fados portugueses e as TEXTO: 100 - Comum à questão: 167
modinhas 11 brasileiras. Um carroção de lixo entrou
com grande barulho de rodas 12 na pedra, seguido de o assassino era o escriba
uma algazarra medonha algaraviada pelo 13 carrocei-
ro contra o burro.

Aluísio Azevedo, O Cortiço, 1890 01 Meu professor de análise sintática era o tipo do
sujeito

02 inexistente.
Texto II
03 Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida,
regular

04 como um paradigma da 1ª conjugação.

05 Entre uma oração subordinada e um adjunto ad-


verbial, ele

06 não tinha dúvidas: sempre achava um jeito assin-


dético de

07 nos torturar com um aposto.

08 Casou com uma regência.


Zaga Brandão, 1992 09 Foi infeliz.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 255
10 Era possessivo como um pronome. condenou à ignorância a contribuição cultural, social,
política e econômica que os negros e os índios, em
11 E ela era bitransitiva. suas respectivas conjunturas, legaram ao Brasil.
12 Tentou ir para os EUA.

13 Não deu. (...)


14 Acharam um artigo indefinido em sua bagagem. Legados à condição de mão-de-obra barata e servil,
presos em suas senzalas e aldeias, negros e índios
15 A interjeição do bigode declinava partículas ex- sempre caminharam pelos recônditos da História,
pletivas, paralelo às transformações sociais, econômicas e po-
16 conectivos e agentes da passiva, o tempo todo. líticas que aconteciam no Brasil litorâneo. Brasil esse
forjado pelos grandes ciclos econômicos e transfor-
17 Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça. mações políticas diversas. O que esse Brasil não assu-
me (porque no fundo ele sabe) é que o grande cons-
Paulo Leminski, Caprichos e Relaxos, 1983 trutor da sociedade brasileira sempre foram seus
inúmeros coadjuvantes, forjando uma nação a partir
da resistência, dos sincretismos e da miscigenação.
Questão 167 - (Mackenzie SP)
Sobre o texto de Paulo Leminski todas as alternativas Octávio Ianni dizia que a cada época histórica o Brasil
estão corretas, EXCETO debruça-se sobre a questão nacional. Essa preocupa-
ção resulta do fato de que nossos intérpretes sempre
sentem a necessidade de problematizar a formação
a) a terminologia sintática e morfológica, que em da sociedade brasileira, justamente para poder en-
um primeiro momento é motivo de estranha- tender o presente e compreender nossa verdadeira
mento, concede o efeito de humor ao poema. identidade nacional. Na maioria das vezes, a emprei-
tada torna-se difícil, pois estes se deparam com a
b) o eu-lírico demonstra por meio da composição questão da diversidade cultural no caminho. É como
de texto pessoal e confessional o seu desconhe- se a problemática acerca da identidade nacional fos-
cimento gramatical. se representada por um enorme “quebra-cabeças”,
um mosaico no qual, na medida em que fôssemos
c) nos primeiros sete versos o eu-lírico apresenta juntando as peças, novas lacunas surgiriam, impedin-
seu professor, que, por meio de suas ações e do uma percepção clara do problema, mas ao mes-
funções, é caracterizado como um torturador. mo tempo dando uma dimensão múltipla do tema.

d) entre os versos 8 e 16 o leitor toma consciência


de todos os fracassos que compuseram a vida
do professor. Neste sentido, surge uma questão importante: a for-
mação do povo brasileiro está atrelada incondicio-
e) o texto é estruturado em forma de narrativa po- nalmente à tensa relação entre a classe dominante e
licial, mas em função de sua organização gráfica, a classe subalterna. Legados à condição de força de
métrica e rítmica é considerado um poema. trabalho escrava, negros e índios resistiam aos des-
mandos dos patrões, em certos momentos, a partir
do enfrentamento, mas a estratégia adotada, mes-
mo que inconscientemente, era sempre silenciosa. A
TEXTO: 101 - Comuns às questões: 168, 169 contribuição desses povos está nos costumes, comi-
das típicas, modos de vestir, sotaques, práticas cultu-
POR QUE ESTUDAR A CULTURA INDÍGENA E AFRO-
rais únicas, sincretismo religioso, peças preciosas do
-BRASILEIRA?
grande mosaico em que se tornou o Brasil.

Os currículos escolares, tradicionalmente, sempre


Os “esquecidos da história” (...) adotaram, incons-
trabalham a História Geral e a História do Brasil, a
cientemente, a estratégia da memória, passando de
partir de uma postura eurocêntrica, tendendo a olhar
geração em geração suas culturas, seu capital simbó-
os povos indígenas e afros sempre com um esgar de
lico próprio, onde não precisam de registros impres-
olhos que deflagram um descaso com a riqueza e a
sos para se fazer entender. Não precisam da legitimi-
complexidade dessas culturas. Historicamente, pas-
dade da elite, bastam ser “lembrados pelos pares”.
samos a interpretar a História Oficial de nosso país a
Isso já é suficiente para que se forje uma grande na-
partir do ponto de vista da classe dominante, o que
ção!
256 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Estudar a “História da cultura afro-brasileira e indíge- a) Para reforçar como os estudos acerca dos ne-
na” requer revisar aquilo que já se falou sobre negros gros e dos índios vêm se dando no Brasil e esta-
e índios, buscando considerar a contribuição destes belecer um contraponto com a visão que deve
na formação da sociedade brasileira. Tudo que for ser construída, o autor faz uso de advérbios que
estranho aos nossos olhos tem que ser investigado a expressam ideia de tempo, a exemplo de ‘tradi-
fundo. No final, outra visão será construída. cionalmente’, ‘sempre’ e ‘historicamente’.

b) A repetição do vocábulo ‘Brasil’, no segundo pa-


rágrafo, prejudica a qualidade do texto. A fim de
O importante é que essa nova visão não se constitua evitar esse prejuízo, o autor poderia ter empre-
como verdade absoluta, mas que se constitua como gado a técnica da substituição, por meio de ter-
ferramenta para seguirmos em frente, em busca de mos como ‘país’ e ‘nação’, sem, com isso, gerar
novas respostas e desarmados de qualquer tipo de alteração semântica.
preconceito e estranhamento. Lembremos que o
mosaico nunca se completa, o “quebra-cabeças” que c) No terceiro parágrafo, ao fazer uma citação in-
não se soluciona justamente por compreender sua direta de Octávio Ianni, Khemersom Macedo
própria complexidade. Afinal de contas, não é assim obtém uma referência intertextual explícita para
que a ciência sempre agiu? sustentar sua ideia. Dessa forma, contudo, com-
prometeu a coerência do texto, já que não há
Khemerson de Melo Macedo - Coordenador Geral dados acerca do perfil de Ianni.
de Projetos do NCPAM, finalista em Ciências Sociais
pela UFAM. Disponível em: http://www.ncpam.com. d) No quarto parágrafo, a expressão ‘peças precio-
br. Acesso em: 24ago.2013. sas’ foi empregada para substituir os seguintes
referentes: ‘povos’, ‘costumes’, ‘comidas típicas’,
‘modos de vestir’, ‘sotaques’, ‘práticas culturais
únicas’ e ‘sincretismo religioso’. Nesse caso, a
Questão 168 - (IFPE) relação semântica estabelecida é de sinonímia.
Pelas características globais que o texto apresenta, e) Em praticamente todos os parágrafos, o autor
verifica-se que ele remete a ‘índios’ e ‘afros’, seja por repetição li-
teral dos vocábulos, seja por substituição. Essa
estratégia garante a unidade temática do texto,
a) é um exemplar do gênero notícia, por isso foi apesar de gerar danos à progressão textual.
escrito na 3ª pessoa, há neutralidade do autor
quanto à temática abordada e a linguagem em-
pregada é clara e objetiva. TEXTO: 102 - Comuns às questões: 170, 171
b) é facilmente reconhecido como reportagem, o 1
No ano de 1485, foi convocada uma junta de sábios
que justifica o aprofundamento acerca do fato com o 2 propósito de elaborar a codificação da nova
tratado. Nesse caso, prevalecem sequências ti- navegação científica, de 3 forma a ser mais bem en-
pológicas narrativas e expositivas. tendida e praticada pelos homens do mar. 4 Uma das
c) está voltado à indicação de procedimentos que decisões parece ter sido obrigar os pilotos a ler o livro
devem ser seguidos no estudo das culturas indí- De 5 Sphaera, de Sacrobosco, para aprender a teoria
gena e afro-brasileira. Sendo assim, enquadra- da esfera celeste. 6 Portanto, não foi acidental o fato
-se no tipo textual injuntivo. de surgirem, no final do século 7 XV, almanaques náu-
ticos e manuais de pilotagem, elaborados em 8 Por-
d) é predominantemente argumentativo, tendo tugal. Infelizmente, ao que tudo indica, todos eles se
em vista o perfil crítico adotado por Khemerson perderam 9 com o passar dos anos, porquanto os dois
Macedo ao abordar o estudo das culturas afro- mais antigos conhecidos, 10 e preservados até hoje,
-brasileira e indígena nas escolas. são o Regimento de Munich, publicado em 11 1509,
e o de Évora, datado de 1517. Dom João II, hábil po-
e) tem como predominantes sequências tipológi- lítico, soube 12 transferir o conhecimento científico
cas descritivas, pois o autor busca caracterizar e técnico restrito a um pequeno 13 círculo de sábios
os diversos aspectos culturais dos negros e indí- para empreendimentos econômicos e sociais mais
genas na história nacional. 14
amplos, por meio de expedientes administrativos,
educacionais 15 e financeiros. Destarte, mais bem
preparados, os portugueses 16 conseguiram superar
o terrível obstáculo da fúria oceânica do cabo 17 das
Questão 169 - (IFPE) Tormentas, dobrando-o em 1488 com a expedição
Com base no material linguístico do texto, avalie os de Bartolomeu 18 Dias. Doravante, para os lusitanos,
comentários a seguir e indique a alternativa correta. aquele seria o cabo da Boa 19 Esperança.
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Shozo Motoyama, em Prelúdio para uma história: 1
POUCO tempo depois eu iria viver uma das expe-
ciência e tecnologia no Brasil riências mais 2 fantásticas da minha vida. Tudo come-
çou com aquela máquina 3 fotográfica, marca Agfa,
em forma de caixotinho. Gerson não deixava 4 que
ninguém pusesse a mão nela, a não ser quando ele
Questão 170 - (Mackenzie SP) próprio queria 5 ser fotografado. Então contava seis
passos e ia postar-se diante 6 da máquina, enquanto
Pode-se afirmar que no texto:
alguém, a seu pedido, de costas para o sol, 7 com o
cuidado de quem segura um alçapão com passarinho
dentro, 8 apenas apertava o botão. Quase sempre
a) apresentam-se informações que objetivam, em aparecia na foto, além do 9 fotografado, a sombra
sua essência, explicar ao leitor elementos de um comprida de quem batia a chapa.
processo histórico.

b) contrói-se uma intriga por meio do encadea-


mento de incidentes que revelam a natureza
10
As câmeras fotográficas eram verdadeira preciosi-
narrativa da construção textual. dade, e quem 11 tinha uma, como o Gerson, desperta-
va inveja em todo mundo.
c) são elencados diferentes aspectos de persona-
gens reais da História, o que confere ao trecho o
caráter de uma biografia. 12
Um dia ele me disse que ia fazer uma experiência.
d) há indicação minuciosa de características de um Mandou 13 que eu ficasse junto ao muro branco do
único elemento específico, considerado em seus quintal, como se estivesse 14 conversando com al-
traços predominantes. guém. Depois de bater a foto, fez com que eu 15 pas-
sasse para o lugar desse alguém, e sem rodar o filme
e) há diferentes sucessões de confrontos de ideias, tornou 16 a fotografar. Revelada a foto, veio me mos-
que, por meio de analogias e antíteses, confe- trar o resultado, me 17 enchendo de assombro: um re-
rem ao trecho o caráter de polêmica. trato em que eu aparecia duas vezes, 18 como se fosse
outra pessoa, conversando comigo mesmo! Tenho 19
até hoje essa foto, que deu margem a tantas fanta-
sias, quando eu 20 era menino: ficava a contemplá-la,
Questão 171 - (Mackenzie SP) fascinado, pensando como seria 21 bom se realmente
existisse uma pessoa igual a mim.
Assinale a alternativa correta.
Fernando Sabino, O menino no espelho, 1982

a) pilotagem (ref. 07) possui duas grafias possíveis:


a própria pilotagem e sua variante “pilotajem”. Questão 172 - (Mackenzie SP)
b) parece (ref. 04) tem a função de modalizar a afir- Sobre o fragmento de Fernando Sabino, todas as al-
mação imediatamente posterior, para que esta ternativas estão corretas, EXCETO em
não assuma valor de verdade inquestionável.

c) restrito (ref. 12) denota o mesmo tipo de carac-


terização que o adjetivo amplos (ref. 14), empre- a) As câmeras fotográficas eram verdadeira pre-
gado nesse período. ciosidade, e quem tinha uma, como o Gerson,
despertava inveja em todo mundo (refs. 10 e 11)
d) O pronome o (ref. 17) refere-se cataforicamente pode-se inferir que a família descrita possui uma
ao navegador Bartolomeu Dias. condição social da média para superior.
e) lusitanos (ref. 18) refere-se exclusivamente ao b) ficava a contemplá-la, fascinado, pensando
pequeno círculo de sábios a que o texto faz refe- como seria bom se realmente existisse uma pes-
rência. soa igual a mim (refs. 20 e 21) percebe-se a tris-
teza emocional e a ausência de relacionamentos
pessoais do narrador.
TEXTO: 103 - Comum à questão: 172
c) Tenho até hoje essa foto, que deu margem a tan-
O menino no espelho tas fantasias, quando eu era menino (refs. 18 a
20) constata-se a importância dessa experiência
vivenciada pelo narrador personagem.

258 - www.PROJETOREDACAO.com.br
d) Gerson não deixava que ninguém pusesse a mão E a mudança demográfica em curso é um novo fator
nela, a não ser quando ele próprio queria ser fo- de pressão sobre gastos da previdência e de saúde.
tografado (refs. 3 a 5) compreende-se a impor-
tância que a personagem Gerson dá à sua má-
quina da marca Agfa.
Assim, é provável que a manutenção da estabilidade
e) POUCO tempo depois eu iria viver uma das expe- econômica com crescimento e inclusão social exija
riências mais fantásticas da minha vida (refs. 1 um ajuste do nosso pacto social, como, por exemplo
e 2) entende-se que o narrador personagem re- , uma reforma da previdência, redefinição da regra
memora uma das várias aventuras de sua vida. atual de reajuste do salário mínimo e de alguns pro-
gramas sociais (seguro desemprego e abono salarial).

TEXTO: 104 - Comuns às questões: 173, 174, 175


Sem esses ajustes, será difícil aumentar o investi-
Considere os textos adaptados sobre o aniversário de mento público, reduzir a carga tributária e manter as
25 anos de nossa Constituição, publicados na Folha conquistas sociais da Constituição cidadã no século
de S.Paulo [5 out.2013]. 21.

Texto 1 Texto 2

Custo alto do novo pacto social tira competitividade Constituição mudou muito, mas não no essencial,
do país diz pesquisa

DE SÃO PAULO

MANSUETO ALMEIDA

Especial para a Folha Apesar de ter sido muito reformada – foram 80


emendas em 25 anos –, os “princípios fundamentais”
da Constituição de 1988 sofreram poucas alterações.
O que muda bastante, cerca de 70% dos acréscimos
A Constituição Federal da República Federativa do ou remodelações, são os dispositivos que tratam de
Brasil de 1988, a chamada Constituição cidadã, está políticas públicas sociais.
completando vinte e cinco anos. Essa nova Constitui-
ção trouxe vários avanços, em especial na área social.

São normas importantes, mas que, pela própria na-


tureza, nem precisavam estar na Carta Magna. Pode-
O regime de universalização de atendimento aos riam existir como lei convencional.
idosos e inválidos do meio rural, o estabelecimento
do piso de um salário mínimo para as aposentado- [...]
rias, a universalização do sistema público de saúde, a
garantia de acesso à educação pública e gratuita e a
montagem de uma ampla rede de assistência social
são exemplos do novo pacto social estabelecido na “Em 1988, a Constituição virou um estuário de de-
Constituição de 1988. mandas sociais. É por isso que nasceu grande”, diz
Couto. “Muitas vezes isso é criticado. Mas na com-
paração internacional, as constituições que mais du-
ram são as grandes. Ados EUA, enxuta e duradoura,
[...] é exceção”.
Um agravante do nosso pacto social é que, apesar da
queda da desigualdade de renda e da pobreza desde
a estabilização da economia, em 1994, o nosso gasto Para ele, as emendas são frequentes justamente pelo
social ainda é pouco distributivo, ou seja , gastamos fato de algumas políticas sociais terem sido constitu-
muito para ter uma redução pequena na desigualda- cionalizadas. As alterações ocorrem, diz, por uma ne-
de de renda. cessidade lógica: para implementar ou atualizar seus
programas, os governantes sempre terão que mexer
na Constituição.

www.PROJETOREDACAO.com.br - 259
O aspecto danoso, diz, está na consequência dessa tituição.
necessidade: “Para mexer na Constituição, o pre-
sidente terá que ter uma maioria muito grande no e) meramente informar sobre o tempo de existên-
Congresso.Opreço disso é que acaba sendo alto, com cia da Constituição Federal da República Federa-
a divisão da administração entre os partidos”. tiva do Brasil.

Texto 3 Questão 175 - (PUC SP)


De acordo com o texto 3, a partir de 1988, após, por-
tanto, a promulgação da Constituição,

a) a assiduidade escolar foi incrementada; a morte


de crianças aumentou; a expectativa de vida di-
minuiu.

b) os alunos passaram a frequentar de modo mais


significativo a escola; a mortalidade das crianças
ao nascer diminuiu; a probabilidade de vida di-
minuiu.

c) a frequência escolar aumentou; a mortalidade


Questão 173 - (PUC SP) infantil diminuiu; a esperança de vida ao nascer
aumentou.
Os textos 1 e 2 assinalam
d) a frequência à escola diminuiu; a esperança de
vida ao nascer aumentou; a esperança de sobre-
vivência abrandou.
a) a necessidade de rever a Constituição em todos
os seus aspectos. e) a frequência escolar foi incrementada; a morte
de crianças quase acabou; a expectativa de mor-
b) a marca registrada da Constituição: a atenção te diminuiu.
com o social.

c) o necessário reajuste do salário mínimo.


TEXTO: 105 - Comum à questão: 176
d) a Constituição de 1988 como atual e completa.
Considere o trecho abaixo.
e) a inevitável reforma da previdência.

Servidores da Funai morreram ao tentar contato com


Questão 174 - (PUC SP) índios isolados na Amazônia
Em relação ao propósito comunicativo, o texto 1 se
propõe a
A imensidão do Brasil revela que existem regiões que
não foram desbravadas e que mantêm até hoje po-
vos que habitavam o solo nacional, antes da chega-
a) predominantemente defender a ideia de reali- da das caravelas de Pedro Álvares Cabral. Na Terra
zar alguns reparos na Constituição para manu- Indígena Vale do Javari, na fronteira do Brasil com o
tenção dos êxitos, ampliação do investimento Peru e Colômbia, por exemplo, existem entre 2 mil e
público e diminuição dos tributos. 3 mil índios que nunca tiveram contato com homens
de outras etnias. O vale tem 8,5 milhões de hectares,
b) exclusivamente relatar que há 25 anos a Consti-
sendo considerado o maior mosaico visual de refe-
tuição foi promulgada.
rências indígenas isoladas do mundo.
c) obviamente contestar o valor da Carta Magna,
daí a necessidade de realizar inúmeros ajustes
para corrigir tantos problemas. Nos últimos 15 anos, nove servidores da Fundação
Nacional do Índio (Funai) morreram tentando conta-
d) simplesmente descrever para que serve a Cons-
to com tribos isoladas na região. Atualmente, a luta
260 - www.PROJETOREDACAO.com.br
que ocorre diariamente é para preservar o direito dos
índios de permanecer no isolamento. A região tem
mais de dez mil índios contatados e 16 referências de
índios isolados, sendo nove confirmadas.

Segundo o coordenador regional da Funai, Bruno Pe-


reira, a política de acabar com os contatos com gru-
pos isolados partiu da experiência de indigenistas,
funaianos e sertanistas, que, ao longo de 120 anos O Governo pretende, com a campanha acima,
de indigenismo de Estado, comprovaram que a apro-
ximação era feita sem o cuidado devido e somente
os índios se prejudicavam. O principal dano eram
a) criticar as pessoas que dirigem embriagadas.
as doenças contagiosas, que quase levaram etnias
à extinção, como aconteceu com os matis, também b) fazer propaganda das medidas socioeducativas
chamados de matsés, etnia reduzida a menos da me- criadas pelo governo.
tade, em apenas dois anos.
c) conclamar o povo brasileiro contra as pessoas
que dirigem mal.
O último grupo contatado foi da etnia korubo, em d) expor aos leitores sobre as penalidades decor-
2003. Atualmente, o grupo de korubos tem 29 índios. rentes de se dirigir inadequadamente.
Conhecidos como caceteiros da Amazônia, eles ma-
taram alguns madeireiros que invadiram a mata, em e) convencer os leitores a se envolverem em uma
busca de madeira, e que queriam expulsar os índios campanha a favor da vida.
do próprio território. Três índios korubos morreram
no confronto, o que fez com que eles se aproximas-
sem de algumas comunidades na região de Atalaia
do Norte, a 1 138 quilômetros de Manaus. A Funai foi TEXTO: 106 - Comum à questão: 178
acionada para tentar acabar com o confronto.
Leia o texto abaixo.
(www.acritica.uol.com.br. Adaptado.)

Questão 176 - (UEA AM)


De acordo com o texto, é correto afirmar que

a) o grupo indígena de korubo atacou violentamen-


te comunidades da região de Atalaia do Norte.

b) no século passado, o Vale do Javari era o maior


mosaico visual de referências indígenas. Pegamos os nossos 24.253 km de fronteiras e os esti-
camos em uma linha reta. Assim, fica possível enten-
c) 120 anos de indigenismo de Estado indicam que der o que acontece em cada canto desse Brasilzão:
a melhor política é acabar com isolamentos. ______ invasões de terra, ______ de drogas e cená-
rios de tirar o fôlego.
d) doenças contagiosas quase levaram à extinção
algumas etnias, como a dos matis ou matsés. (http://super.abril.com.br. Adaptado.)

e) a luta na região, envolvendo tribos indígenas


isoladas, continua sendo de combater o isola-
mento. Questão 178 - (UNIFESP SP)
De acordo com o texto, é correto afirmar que

Questão 177 - (UNIFOR CE)


a) problemas contrastam com belos cenários nas
fronteiras do Brasil, cuja maior parte está em terra.

www.PROJETOREDACAO.com.br - 261
b) problemas se sobrepõem a cenários de grande João Cabral não se curou da dor de cabeça, mas va-
beleza nas fronteiras do Brasil, cuja maior parte leu.
está em mar.
(Ruy Castro. Folha de S.Paulo, 17.08.2013. Adaptado.)
c) belos cenários estimulam grandes problemas
nas fronteiras do Brasil, cuja maior parte está
em terra.
Questão 179 - (UNIFESP SP)
d) problemas e lugares exóticos se equilibram nas
fronteiras do Brasil, as quais também estão em As informações do texto permitem afirmar que
equilíbrio em extensão.

e) belos cenários convivem com a gravidade dos


a) a edição artesanal, como a praticada por João
problemas nas fronteiras do Brasil, cuja maior
Cabral de Melo Neto, permitiu que a cultura na-
parte está em mar.
cional fosse enriquecida com obras de expressi-
vos escritores.

TEXTO: 107 - Comum à questão: 179 b) as edições artesanais, como as de João Cabral de
Melo Neto, raramente se destinam à produção
Poetas e tipógrafos de obras literárias para pessoas dos círculos ínti-
mos de convivência dos autores.

c) a edição artesanal é uma realidade específica


Vice-cônsul do Brasil em Barcelona em 1947, o poeta do Brasil, retratando a dificuldade que autores
João Cabral de Melo Neto foi a um médico por causa como Vinícius de Moraes e Guimarães Rosa tive-
de sua crônica dor de cabeça. Ele lhe receitou exercí- ram para publicar suas obras.
cios físicos, para “canalizar a tensão”. João Cabral se-
guiu o conselho. Comprou uma prensa manual e pas- d) a venda de uma edição artesanal se dá com um gran-
sou a produzir à mão, domesticamente, os próprios de volume de livros, razão pela qual desperta grande
livros e os dos amigos. E, com tal “ginástica poética”, interesse comercial e cultural dos editores no Brasil.
como a chamava, tornou-se essa ave rara e fascinan-
te: um editor artesanal. e) os livreiros normalmente têm pouco interesse
por livros artesanais, como os de Manuel Ban-
deira e Cecília Meireles, por considerarem-nos
uma forma menor de expressão artística.
Um livro recém-lançado, “Editores Artesanais Brasi-
leiros”, de Gisela Creni, conta a história de João Ca-
bral e de outros sonhadores que, desde os anos 50,
enriqueceram a cultura brasileira a partir de seu TEXTO: 108 - Comuns às questões: 180, 181
quarto dos fundos ou de um galpão no quintal.
O texto seguinte foi extraído do livro de memórias
do escritor e jornalista carioca, que nasceu em 1926,
Carlos Heitor Cony. Um livro de memórias é “relato
O editor artesanal dispõe de uma minitipografia e faz que alguém faz, frequentemente, na forma de obra
tudo: escolhe a tipologia, compõe o texto, diagrama- literária, a partir de acontecimentos históricos dos
-o, produz as ilustrações, tira provas, revisa, compra quais participou ou foi testemunha, ou que estão
o papel e imprime – em folhas soltas, não costuradas fundamentados em sua vida particular”. Não deve
– 100 ou 200 lindos exemplares de um livrinho que, ser confundido com autobiografia.
se não fosse por ele, nunca seria publicado. Daí, dis-
tribui-os aos subscritores (amigos que se comprome-
teram a comprar um exemplar). O resto, dá ao autor.
O suor e a lágrima
Os livreiros não querem nem saber.

1
Fazia calor no Rio, quarenta graus e 2 qualquer coisa,
Foi assim que nasceram, em pequenos livros, poemas
quase quarenta e um. No dia 3 seguinte, os jornais
de – acredite ou não – João Cabral, Manuel Bandeira,
diriam que fora o dia 4 mais quente deste verão que
Drummond, Cecília Meireles, Joaquim Cardozo, Vini-
inaugura o 5 século e o milênio. Cheguei ao Santos
cius de Moraes, Lêdo Ivo, Paulo Mendes Campos, Jor- 6
Dumont, o voo estava atrasado, decidi 7 engraxar
ge de Lima e até o conto “Com o Vaqueiro Mariano”
os sapatos. Pelo menos aqui no Rio 8 são raros esses
(1952), de GuimarãesRosa. E de Donne, Baudelaire,
engraxates, só existem nos 9 aeroportos e em poucos
Lautréamont, Rimbaud, Mallarmé, Keats, Rilke, Eliot,
lugares avulsos.
Lorca, Cummings e outros, traduzidos por amor.
262 - www.PROJETOREDACAO.com.br
10
Sentei-me naquela espécie de cadeira 11 canônica, ( ) Com o troco generoso deixado para o engraxate,
de coro de abadia pobre, que 12 também pode pare- o cronista quis disfarçar um preconceito que o
cer o trono de um rei 13 desolado de um reino deso- dominava naquele momento.
lante.
( ) A culpa que o cronista experimenta é tão grande
que extrapola aquele incidente pequeno da lim-
peza do sapato.
14
O engraxate era gordo e estava com 15 calor — o
que me pareceu óbvio. Elogiou 16 meu sapato, cro- ( ) O espanto do engraxate ao receber a gorjeta
mo italiano, fabricante 17 ilustre, os Rossetti. Uso-o aceita a seguinte leitura: os fregueses habituais
pouco, em parte 18 para poupá-lo, em parte porque não eram tão generosos.
quando 19 posso estou sempre de tênis.
( ) O dinheiro estava para o sentimento de culpa do
cronista assim como os votos de felicidade esta-
vam para o sentimento de gratidão que o engra-
20
Ofereceu-me o jornal que eu já havia 21 lido e co- xate experimentava.
meçou seu ofício. Meio careca, o 22 suor encharcou-
-lhe a testa e a calva. Pegou 23 aquele paninho que
dá brilho final nos 24 sapatos e com ele enxugou o
próprio suor, 25 que era abundante. Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequên-
cia.

26
Com o mesmo pano, executou com 27 maestria
aqueles movimentos rápidos em 28 torno da biquei- a) F, V, V, V.
ra, mas a todo o instante o 29 usava para enxugar-se
— caso contrário, o 30 suor inundaria o meu cromo b) V, F, F, F.
italiano. c) F, V, F, V.

d) V, F, V, F.
31
E foi assim que a testa e a calva do valente fi-
32

lho do povo ficaram manchadas de 33 graxa e o meu


sapato adquiriu um brilho de 34 espelho, à custa do Questão 181 - (UECE)
suor alheio. Nunca tive 35 sapatos tão brilhantes, tão
dignamente 36 suados. No seguinte enunciado — “Cheguei ao Santos Du-
mont, o voo estava atrasado, decidi engraxar os sa-
patos” (Refs. 5-7) — a relação entre as orações está
implícita. Marque a única alternativa que explicita o
37
Na hora de pagar, alegando não ter nota 38 menor,
sentido que esse enunciado tem no texto.
deixei-lhe um troco generoso. Ele me 39 olhou espan-
tado, retribuiu a gorjeta me 40 desejando em dobro
tudo o que eu viesse a 41 precisar no resto dos meus
dias. a) Quando cheguei ao Santos Dumont, o voo es-
tava atrasado; mesmo assim, decidi engraxar os
sapatos.
42
Saí daquela cadeira com um baita 43 sentimento de b) Quando cheguei, havia engraxate no Santos Du-
culpa. Que diabo, meus 44 sapatos não estavam tão mont porque o voo estava atrasado; então, deci-
sujos assim, por 45 míseros tostões fizera um filho do di engraxar os sapatos.
povo suar 46 para ganhar seu pão. Olhei meus sapatos
e 47 tive vergonha daquele brilho humano 48 salgado c) Cheguei ao Santos Dummont quando o voo es-
como lágrimas. tava atrasado, porém decidi engraxar os sapa-
tos.
CONY, Carlos Heitor. In: Eu aos pedaços: memórias.
São Paulo: Leya, 2010. p. 114-115. d) Cheguei ao Santos Dumont, mas o voo estava
atrasado, por isso decidi engraxar os sapatos.

Questão 180 - (UECE)


TEXTO: 109 - Comuns às questões: 182, 183
Abaixo estão algumas assertivas sobre os dois últi-
mos parágrafos do texto (refs. 37-48). Escreva V para 1
Para avaliarmos o significado contemporâneo da
a assertiva verdadeira e F para a assertiva falsa. 2
indústria cultural e dos meios de comunicação de
www.PROJETOREDACAO.com.br - 263
massa 3 que a produzem, convém lembrarmos, bre- Questão 182 - (UEFS BA)
vemente, 4 o que se convencionou chamar de a con-
dição 5 pós- moderna, isto é, a existência social e cul- Segundo Marilena Chauí, alicerçando-se na condição
tural sob 6 a economia neoliberal. pós-moderna, a indústria cultural contemporânea

7
A dimensão econômica e social da nova forma do a) apoia-se em experiências inconstantes e tran-
8
capital é inseparável de uma transformação sem 9 sitórias, marcadas por instantaneidades super-
precedentes na experiência do espaço e do tempo, ficiais, que cerceiam a capacidade humana de
10
designada por David Harvey como a “compressão transformação.
11
espaço-temporal”. A fragmentação e a globaliza-
ção da 12 produção econômica engendram dois fe- b) gera equívocos entre o que é real e o que é vir-
nômenos 13 contrários e simultâneos: de um lado, a tual, comprometendo o poder de observação
fragmentação 14 e dispersão espacial e temporal e, em relação às práticas neoliberais que a alicer-
de outro, sob os 15 efeitos das tecnologias eletrôni- çam.
cas e de informação, a 16 compressão do espaço — c) é fruto de experiências socioeconômicas em
tudo se passa aqui, sem 17 distâncias, diferenças nem que as relações humanas e o respeito ao próxi-
fronteiras — e a compressão 18 do tempo — tudo se mo ficam sempre em segundo plano, diante da
passa agora, sem passado e sem 19 futuro. Em outras valorização do que é imediato e superficial.
palavras, fragmentação e dispersão 20 do espaço e
do tempo condicionam sua reunificação 21 sob um d) é um fenômeno social sem precedentes, carac-
espaço indiferenciado (um espaço plano de 22 ima- terizado pela falta de profundidade política e
gens fugazes) e um tempo efêmero desprovido de 23 ideológica, resultante da desvalorização tempo-
profundidade. A profundidade do tempo e seu poder -espacial.
24
diferenciador desaparecem sob o poder do instan-
tâneo. 25 Por seu turno, a profundidade de campo, e) valoriza a economia neoliberal por meio da ex-
que define o 26 espaço da percepção, desaparece sob periência de fragmentação dos valores e concei-
o poder de uma 27 localidade sem lugar e das tecno- tos que permeiam a pós-modernidade.
logias de sobrevoo. 28 Vivemos sob o signo da tele-
presença e da 29 teleobservação, que impossibilitam
diferenciar entre a 30 aparência e o sentido, o virtual
e o real, pois tudo nos é 31 imediatamente dado sob Questão 183 - (UEFS BA)
a forma da transparência 32 temporal e espacial das
Sobre o texto, está correta a análise que se faz do
aparências, apresentadas como 33 evidências.
fragmento transcrito em

34
Volátil e efêmera, hoje nossa experiência 35 des-
a) “o que se convencionou chamar de a condição
conhece qualquer sentido de continuidade e se 36
pós-moderna” (Refs. 4-5) refere-se à ideologia
esgota num presente sentido como instante fugaz.
atual que surgiu da valorização socioeconômica
Ao 37 perdermos a diferenciação temporal, não só
da mass media.
rumamos 38 para o que Virilio chama de “memória
imediata”, ou 39 ausência da profundidade do pas- b) “A fragmentação e a globalização da produção
sado, mas também 40 perdemos a profundidade do econômica engendram dois fenômenos contrá-
futuro como possibilidade 41 inscrita na ação humana rios e simultâneos” (Refs.. 11-13) trata da análi-
enquanto poder para determinar 42 o indeterminado se de um fenômeno tecnológico que se constrói
e para ultrapassar situações dadas, 43 compreenden- a partir de atitudes éticas paradoxais do ser hu-
do e transformando o sentido delas. Em 44 outras pa- mano.
lavras, perdemos o sentido da cultura como 45 ação
histórica. c) “tudo se passa agora, sem passado e sem futu-
ro.” (Refs.. 18-19) apresenta a constatação de
Chauí, Marilena. Cultura e democracia. Crítica y emanci- um fenômeno existencial, que decorre da com-
pación: pressão temporal praticada pelas tecnologias
Revista latinoamericana de Ciencias Sociales. Dispo- eletrônicas e da informação.
nível em:<http:// bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/
libros/secret/CyE/cye3S2a.pdf>. Acesso em: 19 out. d) “A profundidade do tempo e seu poder diferen-
2013. Adaptado. ciador desaparecem sob o poder do instantâ-
neo.” (Refs.. 23-24) evidencia uma denúncia do
comportamento ético da indústria cultural e dos
meios de comunicação de massa, que manipu-
lam o tempo a favor de seus interesses.
264 - www.PROJETOREDACAO.com.br
e) “Em outras palavras, perdemos o sentido da cul- Ternura
tura como ação histórica.” (Refs.. 43-45) faz um
resumo do contexto pós-moderno, que apresen-
ta uma nova forma de experiência existencial,
marcada pela valorização do futuro em detri- 1 Eu te peço perdão por te amar de repente
mento do passado. 2 Embora o meu amor seja uma velha canção nos
teus

[ouvidos.
Questão 184 - (UEFS BA)

3 Das horas que passei à sombra dos teus gestos

4 Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos

5 Das noites que vivi acalentado

6 Pela graça indizível dos teus passos eternamente


fugindo

7 Trago a doçura dos que aceitam melancolicamen-


te.

8 E posso te dizer que o grande afeto que te deixo


DESCULPE-ME, preciso disso... Disponível em: <http://
pedlowski. 9 Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascina-
blogspot.com.br/2012/01/o-mundo-vive-uma-crise- ção das
de-inseguranca.html>. Acesso em: 20 out. 2013.
Adaptado. [promessas

A análise do cartum, devidamente contextualizada, 10 Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
permite inferir que
11 É um sossego, uma unção, um transbordamento
de

a) a desigualdade social é fruto de interesses eco- [carícias


nômicos de valorização do espaço urbano em
detrimento das áreas rurais.

b) as prioridades da classe alta nem sempre con- 12 E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
templam as necessidades básicas da camada so-
1 3 E deixes que as mãos cálidas da noite encon-
cial menos favorecida.
trem sem
c) a produção em massa de biocombustíveis repre-
[fatalidade o olhar extático aurora.
senta um desrespeito à sobrevivência humana
por seu impacto nos preços mundiais dos ali- MORAES, Vinícius de. Ternura. Antologia poética.
mentos. 16. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978. p. 76.
d) a fome é um fato social específico de alguns paí-
ses e só será mitigada depois que as nações de-
senvolvidas possibilitarem a equidade social. II.

e) a crise de alimentos, na atualidade, é resultante Amar e ser amado


de uma economia neoliberal, que não se preo-
cupa com a falta de desenvolvimento tecnológi-
co em alguns países.
1 Amar e ser amado! Com que anelo

2 Com quanto ardor este adorado sonho


TEXTO: 110 - Comum à questão: 185
3 Acalentei em meu delírio ardente
I.
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4 Por essas doces noites de desvelo!

5 Ser amado por ti, o teu alento TEXTO: 111 - Comum à questão: 186
6 A bafejar-me a abrasadora frente! Leia o texto a seguir, uma tirinha com dois persona-
gens – Grump e um observador.
7 Em teus olhos mirar meu pensamento,

8 Sentir em mim tu’alma, ter só vida

9 P’ra tão puro e celeste sentimento:

10 Ver nossas vidas quais dois mansos rios,

11 Juntos, juntos perderem-se no oceano —,

12 Beijar teus dedos em delírio insano

13 Nossas almas unidas, nosso alento,

14 Confundido também, amante — amado —

15 Como um anjo feliz... que pensamento!?

ALVES, Castro. Amar sem ser amado.


Disponível em:<http://www.jornaldepoesia.jor.br/
calves15.html#amar>.
Acesso em: 16 out. 2013.

(Intercâmbio Antropológico – Peralá!! 21 fev. 2013.


Questão 185 - (UEFS BA) Disponível em: <http://www.orlandeli.com.br/prin-
cipalw.htm>.
Comparando os aspectos temáticos do texto “Ternu- Acesso em: 27 maio 2013.)
ra”, de Vinícius de Moraes, com os de “Amar e ser
amado”, de Castro Alves, é correto afirmar:

Questão 186 - (UEL PR)


a) O conceito de amor, nos dois poemas, por faze- Com relação à tirinha, considere as afirmativas a seguir.
rem parte de contextos históricos diferentes, é
variável, como se observa no poema de Vinícius
de Moraes, que revela uma crítica à postura me-
lancólica e idealizadora presente no de Castro I. Inicialmente, Grump concordou com que o ob-
Alves. servador desempenhasse a função de observar
o comportamento de certos indivíduos; no en-
b) O poema de Castro Alves constrói a figura do ser tanto, nos dois últimos quadrinhos, Grump mu-
amado a partir da proposta ideológica do Ro- dou de ideia.
mantismo, já o de Vinícius de Moraes descons-
trói a imagem da mulher idealizada e pura. II. Inicialmente, Grump concordou com que o ob-
servador desempenhasse a função de observar
c) O amor, no primeiro texto, de caráter prosaico, o comportamento de certos indivíduos; porém
é descontruído pela experiência concreta, ao ainda não havia percebido que ele próprio era
contrário do amor recatado apresentando no um exemplo de indivíduo “com capacidade inte-
segundo. lectual inferior à dos moluscos”.

d) Os versos de Vinícius de Moraes explicitam uma III. Com base na tira, pode-se inferir que Grump se
valorização do amor, presente também no poe- considerava um indivíduo com capacidade supe-
ma de Castro Alves, resgatando, assim, caracte- rior à dos moluscos, por isso não entendeu que
rísticas do Romantismo. ele era o observado.

e) Os dois poemas, por meio de vocativos, dialo- IV. A capacidade intelectual dos moluscos constitui
gam com a pessoa amada, colocando-a na con- parâmetro para o estabelecimento da compa-
dição de um ser inatingível e platônico. ração entre os elementos observados: Grump e
moluscos.
266 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Assinale a alternativa correta. (Adaptado de: Rodrigo Garcia, Secretário de Estado de
Desenvolvimento Social (São Paulo-SP).)

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.


Questão 187 - (UEL PR)
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
Acerca dos dois textos, assinale a alternativa correta.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.


a) Ambos os textos são descritivos, pois se preo-
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. cupam em caracterizar os aspectos positivos e
negativos do programa “Bolsa anticrack” para
determinados segmentos da sociedade.
TEXTO: 112 - Comum à questão: 187 b) Não há uma relação de intertextualidade entre
Leia os textos a seguir, publicados no site do jornal os textos A e B, porque o Secretário de Estado
Folha de S. Paulo, em um mês de 2013. discorda, de forma veemente, do leitor adoles-
cente.

c) O texto A suscitou uma resposta do Secretário


(A) Bolsa anticrack de Desenvolvimento baseada na contra-argu-
mentação e na defesa do trabalho da secretaria
Com grande espanto e indignação li a manchete “Go- que coordena.
verno de SP exclui menor de idade da ’bolsa anticra-
ck”’ (“Cotidiano”, 10/5). Segundo a reportagem, os d) O texto B, para ser plenamente compreendido,
menores de idade – que somam 38% dos usuários independe do texto A, já que se trata de produ-
– não serão beneficiados pela bolsa anticrack, por- tores de texto diferentes, com ideias opostas.
que o Estado diz que não há clínicas especializadas
no atendimento a adolescentes. Isso mostra que o e) O objetivo do gênero textual em questão é dar
Estado não está voltado para todos. Os jovens – que voz às opiniões dos leitores, desde que elas cor-
possuem mais chances de serem recuperados do roborem a opinião do jornal.
mundo das drogas, pois ainda têm uma longa vida
pela frente – são ignorados pelo Estado. Os adoles-
centes merecem uma atenção maior, merecem mais TEXTO: 113 - Comum à questão: 188
uma chance. O ideal seria investir em campanhas
educativas voltadas aos jovens e no fortalecimento Leia o trecho da crônica a seguir.
do atendimento ambulatorial, onde o paciente é tra-
tado sem a obrigação de ser internado.

(Adaptado de: Jean-Pierre Mickael K. Fleury, 14 anos (São 1


Depois entrou em casa: entrou e parece 1 que não
Paulo-SP).) gostou ou não entendeu. Foi perguntando onde
é que ficava 2 o elevador. E sabendo que não havia
elevador, indagou como é que se ia para cima. Nós
explicamos que não 3 havia lá em cima. Ele ficou
(B) Bolsa anticrack completamente perplexo e quis saber onde é que o
povo morava. E não acreditou 4 direito quando lhe
Em referência à carta “Bolsa anticrack” (Painel do
afirmamos que não havia mais povo, só nós. Calou-
Leitor, 12/5), o Estado possui, sim, atendimento a
-se, percorreu o resto da casa e as 5 dependências,
crianças e adolescentes com problemas de depen-
se aprovou, não disse. Mas, à porta da sala de jantar,
dência química. Mas esse serviço é distinto do que
inesperadamente, deu com o quintal. 6 Perguntou se
é oferecido a adultos dentro do Programa Estadual
era o Russell. Perguntou se tinha escorrega, se tinha
de Enfrentamento ao Crack, agora denominado de
gangorra. Perguntou onde é que estavam 7 “os ou-
Programa Recomeço, porque segue o que determina
tros meninos”. Claro que achava singular e até meio
o Estatuto da Criança e do Adolescente. Para estes
suspeito aquela porção de terra e árvores sem 8 nin-
casos, conforme o ECA, não é permitido, no mesmo
guém dentro.
espaço, atender adultos e adolescentes. É impor-
tante ressaltar que o Cartão Recomeço é mais uma
das ações do Programa Recomeço, e não a única. O
atendimento a crianças e adolescentes é prestado 9
Todas essas observações, fê-las ainda do degrau da
nos acolhimentos. A dependência química é tratada sala. Afinal, estirou tentativamente a ponta do pé, ta-
pelos profissionais nesses equipamentos sociais. teou 10 o chão, resolveu explorar aquela floresta vir-
www.PROJETOREDACAO.com.br - 267
gem. Sacudia os galhos baixos das fruteiras, arranca- TEXTO: 114 - Comum à questão: 189
va folhas que 11 mastigava um pouco, depois cuspia.
Rodeou o poço, devagarinho, sem saber o que havia Leia o trecho a seguir.
por trás daquele 12 muro redondo e branco, cober-
to de madeira. Enfim, chegou debaixo da goiabeira
grande, onde se via uma 13 goiaba madura, enorme. – Sou playboy! – dizia Pardalzinho a todos que co-
Declarou então que queria comer aquela pêra. Lem- mentavam sua nova indumentária. Tatuou no braço
brei-me do Padre Cardim – não 14 era o Padre Car- um enorme dragão soltando labaredas amarelas e
dim? – que definia goiabas como “espécie de peros, vermelhas pelo focinho, o cabelo ligeiramente cres-
pequenos no tamanho” –, onde se vê 15 que os clás- po foi encaracolado por Mosca. Sentia-se agora defi-
sicos e as crianças acabam sempre se encontrando. nitivamente rico, pois se vestia como eles. O cocota
Decerto porque uns e outros vão apanhar a 16 verda- pediu a Mosca que comprasse uma bicicleta Caloi 10
de nas suas fontes naturais. para que pudesse ir à praia todas as manhãs. Rico
(QUEIROZ, R. Conversa de menino. São Paulo: Global, também anda de bicicleta. Iria frequentar a praia do
2004. p.114-115. Pepino assim que aprendesse o palavreado deles.
(Coleção Melhores Crônicas).) Na moral, na moral, na vida tudo é uma questão de
linguagem. Alguns bandidos tentaram fazer chaco-
ta do seu novo visual. O traficante meteu a mão no
revólver dizendo que não tinha cara de palhaço. Até
Questão 188 - (UEL PR) mesmo Miúdo prendeu o riso quando o viu dentro
daquela roupa de garotão da Zona Sul.
Com base no texto, atribua V (verdadeiro) ou F (falso)
às afirmativas a seguir. (LINS, P. Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Le-
tras, 2009. p.261.)

( ) Em “Mas, à porta da sala de jantar, inesperada-


mente, deu com o quintal”, há uma expressão Questão 189 - (UEL PR)
informal que revela o modo de o narrador adul-
to se distanciar da perspectiva do menino. A partir da leitura desse trecho, considere as afirma-
tivas a seguir.
( ) Em “Todas essas observações, fê-las ainda do
degrau da sala”, há o emprego de linguagem for-
mal exemplificada pelo uso da ênclise.
I. Pardalzinho, apesar de ter dinheiro e roupas de
( ) Em “Enfim, chegou debaixo da goiabeira gran- ricos e sentir-se como rico, ainda precisava ade-
de, onde se via uma goiaba madura, enorme”, quar sua linguagem ao padrão desejado.
as perspectivas do narrador adulto e do meni-
no aproximam-se por meio do uso do pronome II. Roupas, dinheiro, tatuagem e cabelo encaraco-
“se”. lado eram suficientes para Pardalzinho sentir-se
incluído no “mundo dos ricos”.
( ) Em “Decerto porque uns e outros vão apanhar a
verdade nas suas fontes naturais”, há a formula- III. Pardalzinho sentia-se como palhaço, mas não
ção de uma reflexão do narrador adulto motiva- admitia que rissem dele.
da por observações do comportamento geral de IV. Pardalzinho tatuou o dragão soltando labaredas
crianças. amarelas e vermelhas pelo focinho e encaraco-
lou os cabelos porque achou que, assim, ficaria
parecido com os ricos.
Assinale a alternativa que contém, de cima para bai-
xo, a sequência correta.
Assinale a alternativa correta.

a) V, V, F, F.

b) V, F, V, F. a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

c) V, F, F, V. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

d) F, V, F, V. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

e) F, F, V, V. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

268 - www.PROJETOREDACAO.com.br
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. arrancado suas asas). Em outras aves e mamíferos,
no entanto, o canto deve ser executado na frente dos
indivíduos para que eles possam aprendê-lo. Somen-
te ouvindo um canto é que os indivíduos poderão ob-
TEXTO: 115 - Comuns às questões: 190, 191, 192 ter a informação que lhes permitirá reproduzi-lo. Em
outras palavras (...), não existe informação latente
A comunicação simbólica como herança
que possa pular gerações.

Nós já sugerimos que nossa capacidade de se comu-


Isso não acontece com a transmissão através do siste-
nicar por meio de símbolos está na raiz de muitas das
ma simbólico. Seres humanos podem transmitir uma
coisas que nos tornam tão diferentes de outros ani-
canção ou dança uns para os outros mesmo que se-
mais. Os seres humanos têm um método único de
jam desafinados ou tenham dois pés esquerdos. Não
transmitir e adquirir informação. O que queremos
é preciso cantar uma nota ou dar um passo de dan-
agora é examinar o sistema de comunicação simbóli-
ça, pois podemos transmitir a informação necessária
ca de um ponto de vista mais focal, o do sistema que
para a reprodução de uma canção ou de uma dança
fornece uma quarta dimensão à hereditariedade e à
usando discos ou filmes, ou mesmo com instruções
evolução. Queremos tentar caracterizar esse sistema
escritas ou orais. Não é preciso agir de imediato em
especial de herança da mesma forma como fizemos
cima de informações simbólicas para que elas sejam
com os sistemas genético, epigenético e comporta-
transmitidas. Ainda que a cultura capaz de interpre-
mental e ver o quanto ele é similar a cada um desses
tá-las permaneça intacta, elas podem permanecer
sistemas.
latentes por gerações. As informações para construir
o Terceiro Templo têm sido transmitidas entre os ju-
deus por quase 2 mil anos, mas o templo ainda não
Existe pelo menos uma semelhança superficial entre foi construído. E a receita da sopa da vovó pode ser
a maneira como transmitimos informação através passada entre várias gerações de uma família até que
da fala e a maneira como os animais usam seus di- alguém resolva preparar a sopa de novo.
versos cantos e chamados, então será que o sistema
simbólico funciona da mesma maneira que o sistema
de herança comportamental? Ou será mais parecido
Os sistemas genético e simbólico são parecidos por-
com o sistema genético? O DNA é chamado de “lin-
que ambos podem transmitir informação latente,
guagem da vida”, e dizemos que nossas característi-
mas o sistema simbólico pode fazer muito mais do
cas estão “escritas nos genes”, portanto deve haver
que isso. Como símbolos são convenções comparti-
semelhanças óbvias entre os dois sistemas. Quais
lhadas – signos socialmente pactuados –, eles podem
são elas? Que traços o sistema simbólico compartilha
ser mudados e traduzidos em outras convenções
com outros sistemas de transmissão de informação,
correspondentes. Teoricamente, seu potencial de
e o que o torna tão diferente e especial?
tradução é ilimitado. Uma instrução em inglês que
seja dada em letras romanas também pode ser dada
em código Morse, num semáforo ou em código biná-
Existe uma propriedade importante compartilhada rio de computador. Os símbolos podem até mesmo
pelos sistemas genético e simbólico, mas que está ser “traduzidos” entre sistemas: a idéia de Jesus na
ausente na herança comportamental. Símbolos e cruz pode ser expressa em linguagem, em imagens,
genes podem transmitir informação latente, ao pas- na dança e em mímica. “Perigo” pode ser expresso
so que a informação precisa ser usada antes de ser por uma palavra, uma imagem, um assobio. Uma his-
transmitida ou adquirida por meios comportamen- tória pode ser transmitida oralmente depois de ser
tais. É fácil ver isso se pensarmos como um canto ou decorada; pode ser transmitida também por meio
uma dança são transmitidos. Consideremos três ca- de uma canção ou pantomima; pode ser transmitida
sos: transmissão através do sistema genético, trans- por escrito; e, hoje em dia, pode ser transmitida tam-
missão através do sistema comportamental e trans- bém através de filmes, TV e jogos de computador.
missão através do sistema simbólico. Para o exemplo Assim, embora a informação simbólica seja como a
genético, podemos usar as moscas-das-frutas do informação genética no sentido de que é codificada
gênero Drosophila, que têm cantos e danças muito e traduzível, o potencial de tradução da informação
bonitos. As canções são entoadas pelos machos, que simbólica é muito maior que o da informação no sis-
produzem-nas vibrando as asas (...) Cada espécie tema genético. Já que podemos “traduzir” símbolos
tem cantos e danças característicos, que permitem às de uma forma para outra e separar e combinar di-
moscas identificarem a própria espécie. Esses cantos ferentes formas e níveis seguindo princípios gerais
e danças são inatos e sabe-se um bocado sobre sua de coerência, é enorme a quantidade de informação
genética, mas o ponto importante é que eles serão simbólica que pode ser gerada.
herdados mesmo que os pais nunca cheguem a exe-
cutá-los (talvez porque um cientista malvado tenha
www.PROJETOREDACAO.com.br - 269
(...) [Porém], a informação simbólica é muitas vezes mitir uma canção ou dança uns para os outros
transmitida de adultos para crianças com quem eles mesmo que sejam desafinados ou tenham dois
não têm parentesco (como na escola), de crianças pés esquerdos.
a adultos e entre indivíduos da mesma faixa etária.
Nesse ponto, o sistema simbólico se parece com o e) Existe pelo menos uma semelhança superficial
sistema comportamental de outros animais. Mas há entre a maneira como transmitimos informa-
uma diferença significativa: instruções ativas são im- ção através da fala e a maneira como os animais
portantes nos sistemas de transmissão simbólica. Em usam seus diversos cantos e chamados, então
outros animais, o aprendizado social em geral não será que o sistema simbólico funciona da mes-
envolve ensinamento intencional, mas para os huma- ma maneira que o sistema de herança compor-
nos este é essencial, pois é o próprio sistema simbó- tamental?
lico, e não apenas a cultura local que ele produz, que
precisa ser culturalmente adquirido. Por exemplo,
embora as pessoas discutam o papel do aprendizado
Questão 191 - (UEPA)
e o tipo de aprendizado envolvido, ninguém duvida
de que é necessário muito aprendizado para uma Leia as afirmativas a seguir:
criança compreender e usar a linguagem. A neces-
sidade de aprendizado e instrução é vista ainda com
mais clareza em outros tipos de sistema simbólico:
nos ensinam o sistema simbólico da leitura, nos en- I. O papel e o tipo de aprendizado envolvidos não
sinam o sistema simbólico da matemática, nos ensi- são muito importantes para uma criança com-
nam como entender e participar dos rituais da nossa preender e usar a linguagem.
cultura. O arcabouço necessário para a interpretação
das informações simbólicas precisa ser aprendido. II. A troca de informação ocorre por meio de he-
rança simbólica.
(Fonte: http://textosparareflexao.blogspot.
com/2010/08/ritmo-ancestral.html. III. A comunicação, como sistema de herança, so-
A comunicação simbólica como sistema de herança. mente faz parte da comunicação humana.
Acessado em 12/09/2013)

A alternativa que contém todas as afirmativas corre-


tas é:
Questão 190 - (UEPA)
Segundo o texto, a educação é o centro do desenvol-
vimento humano. Assim sendo, assinale a alternativa a) I
correta que comprova esta afirmativa.
b) II

c) I e II
a) Cada espécie tem cantos e danças caracterís-
ticos, que permitem às moscas identificarem d) I e III
a própria espécie. Esses cantos e danças são
inatos, e sabe-se um bocado sobre sua gené- e) II e III
tica, mas o ponto importante é que eles serão
herdados mesmo que os pais nunca cheguem a
executá-los (talvez porque um cientista malvado
tenha arrancado suas asas). Questão 192 - (UEPA)

b) Os sistemas genético e simbólico são parecidos O texto apresenta quatro sistemas de herança que
porque ambos podem transmitir informação la- desempenham um papel na evolução: a genética; a
tente, mas o sistema simbólico pode fazer muito epigenética; a comportamental e a simbólica. Dentre
mais do que isso. esses quatro sistemas, dois deles, o comportamental
e o simbólico, desenvolvem transmissão de:
c) A necessidade de aprendizado e instrução é vis-
ta ainda com mais clareza em outros tipos de sis-
tema simbólico: nos ensinam o sistema simbóli- a) características celulares e tecnológicas para
co da leitura, nos ensinam o sistema simbólico meios de comunicação.
da matemática, nos ensinam como entender e
participar dos rituais da nossa cultura. b) seleção natural de conhecimentos e comunica-
ção por meio de fontes inovadoras.
d) Isso não acontece com a transmissão através do
sistema simbólico. Seres humanos podem trans-
270 - www.PROJETOREDACAO.com.br
c) variações genéticas e seus processos de comuni- poder que as redes sociais têm e o efeito que elas
cação e de outras formas de evolução. podem causar na vida das pessoas! Todos os twitts
e compartilhamentos, que começaram nas redes so-
d) linguagem e de outras formas de comunicação. ciais, se transformaram em uma grande multidão nas
ruas protestando por melhorias em todo o país!
e) dimensões para comunicações específicas, de-
sempenhando o papel evolutivo de comunica-
ção ente seres naturais.
Um levantamento da agência digital Today mostrou
que os protestos geraram 548.944 publicações nas
principais redes sociais. O Twitter foi o meio mais
TEXTO: 116 - Comuns às questões: 193, 194 utilizado pelas pessoas, com 88% (cerca de 483.839
posts). No Facebook foram 60 mil postagens. O Goo-
Saimos do Facebook
gle+ e blogs correspondeu aos 2% restantes.

Desde a semana passada, quando os governadores


As hashtags mais utilizadas foram: #vemprarua;
de São Paulo e Rio de Janeiro anunciaram o aumento
#ogiganteacordou; #protestosp; #mudabrasil; #sem-
de R$ 0,20 na passagem de ônibus, a população bra-
violencia; #democracianaotemfronteiras; #change-
sileira vem desencadeando uma das maiores revoltas
brazil. Esses números correspondem apenas à segun-
públicas que o país já viu em mais de duas décadas!
da-feira dia 17/06/13, mas já podemos ter uma ideia
de como essas manifestações estão mobilizando os
brasileiros nas redes sociais.
É claro que o aumento de tarifa foi apenas a gota
d’água que fez toda essa revolta transbordar pela
maioria das grandes cidades do país. E, na minha opi-
Brasileiros de pelo menos 13 países se organizaram
nião, a população está corretíssima em protestar!
pelo Facebook para promover uma série de protes-
tos em solidariedade aos manifestantes brasileiros.
Foram realizados protestos em países como: França,
O Brasil tem hoje a 6ª maior economia do mundo, Espanha, Reino Unido, Alemanha, Itália, Portugal,
mas também é um dos países mais corruptos e bu- Holanda, Irlanda, Bélgica, Estados Unidos, Canadá,
rocráticos do mundo! A grande maioria das decisões Argentina e México. Pelo número de participantes
que são tomadas pelos nossos governantes dificil- confirmados no Facebook, os dois maiores protestos
mente favorece ou melhora a vida dos trabalhadores foram realizados na Alemanha e na Irlanda.
e cidadãos de bem.

No Brasil, o grupo “Anonymous” assumiu um tipo de


Quase R$ 30 bilhões de reais já foram gastos na pre- liderança ideológica no Facebook durante essas ma-
paração para a Copa do Mundo de 2014, segundo nifestações que acontecem pelo Brasil. Prova disso é
o governo federal, e por causa disso, a inflação só a fanpage principal do grupo no Facebook que teve
aumenta! Enquanto isso, o Brasil continua a investir uma guinada explosiva nos últimos dias. O cresci-
pouco na educação e menos ainda na saúde pública. mento semanal de curtidas, segundo as estatísticas
E, agora, querem enfiar “guela abaixo” do povo bra- da própria página, pulou de 7.000 por semana para
sileiro mais um aumento no valor de um transporte cerca de 130 mil. Eram 400 mil fãs na semana pas-
público extremamente precário e ineficiente. sada e hoje já são quase 850 mil fãs. Eles englobam
a manifestação pela redução da tarifa do transporte
público, criticam a corrupção, os erros de governo e
injustiças no país.
Mas o que o Facebook e as redes sociais têm a ver
com isso?

Praticamente TUDO! Manifestações organizadas pelas redes sociais ainda


são algo muito novo no Brasil e com dinâmicas bem
diferentes de qualquer outro tipo de manifestação
A maior parte da comunicação entre as pessoas que que já aconteceu aqui. Os governantes que quiserem
estão participando das manifestações está sendo atuar de forma realmente democrática vão ter que
feita online através do Facebook, bem como de ou- estudar as redes para poder dar uma resposta à altu-
tras redes sociais também, como o Twitter, YouTube ra dessa nova realidade brasileira, em vez de ficarem
e o Google+. Realmente nós podemos comprovar o só tentando “localizar as lideranças” do movimento.
Enfim… é em momentos como esse que as relações
www.PROJETOREDACAO.com.br - 271
entre as redes sociais e as ruas se estreitam. Milha- Questão 194 - (UEPA)
res de pessoas estão nas ruas relatando, pelas redes
sociais, o calor da mobilização social. Mas também “O Brasil tem hoje a 6ª maior economia do mundo,
há outras centenas de milhares de pessoas que estão mas também é um dos países mais corruptos e bu-
nas redes interagindo, compartilhando e se posicio- rocráticos do mundo! A grande maioria das decisões
nando a favor do movimento, o que aumenta ainda que são tomadas pelos nossos governantes dificil-
mais a mobilização social, para além das ruas! mente favorece ou melhora a vida dos trabalhado-
res e cidadãos de bem.” Conforme o trecho, as ideias
apresentadas permitem concluir que a economia
mundial está:
E é nessa interação entre as redes sociais e as ruas
que, principalmente, o Facebook ganha um papel de
destaque.
a) melhorando, mesmo no Brasil, apesar da cor-
(Fonte: http://www.felipe-moreira.com/manifestacoes- rupção e da burocracia.
-no-brasil-x-facebook/)
b) piorando, mesmo no Brasil, por causa da corrup-
ção e da burocracia.

Questão 193 - (UEPA) c) melhorando, inclusive no Brasil, mesmo com a


corrupção e a burocracia.
Observe a charge abaixo e o trecho que segue.
d) estabilizando, mesmo no Brasil, devido à corrup-
ção e à burocracia.
Quase R$30 bilhões de reais já foram gastos na pre- e) melhorando, inclusive no Brasil, porque há cor-
paração para a Copa do Mundo de 2014, segundo rupção e há burocracia.
o governo federal, e por causa disso, a inflação só
aumenta! Enquanto isso, o Brasil continua a investir
pouco na educação e menos ainda na saúde pública”
Questão 195 - (UEPA)
Assinale a alternativa em que as frases retiradas do
conto O Rebelde comunicam uma visão negativa da
Cabanagem.

a) Desde então as minhas relações com o velho do


outro mundo sofreram uma modificação consi-
derável. Comecei por minha vez a ter-lhe medo.

(Fonte: http://genildoronchi.blogspot.com.br/. Acessado b) – Paxiúba – respondeu o mulato, contendo-se a


em 14/09/13) custo – quando a gente chega à idade que te-
nho, não teme insultos, nem ameaças, tratando-
-se de cumprir um dever. Ser brasileiro não é ser
assassino, caboclo!
Sobre as informações contidas na charge e no trecho
acima, é correto afirmar que: c) Os cabanos demoraram-se ainda algumas horas
no sítio. Depois de terem carregado as canoas
de cacau, fumo, aguardente e tudo quanto pu-
a) há má administração dos recursos públicos, em deram haver às mãos, despediramse calorosa-
especial na área de educação e saúde. mente de Paulo da Rocha.

b) não há falta de investimentos principalmente d) Paulo da Rocha dissertou longamente sobre as


nas áreas da saúde e da educação. causas da cabanagem, a miséria originária das
populações inferiores, a escravidão dos índios, a
c) predomina a venda e expansão de empresas pú-
blicas governamentais. crueldade dos brancos, os inqualificáveis abusos
com que esmagam o pobre tapuio, a longa pa-
d) há comprometimento dos governantes com a ciência deste.
totalidade do povo brasileiro.
e) Franqueza, franqueza, não confiávamos muito
e) não prevalece o aumento exacerbado da infla- no velho do outro mundo, apesar do que tinha
ção no Brasil. feito por nós.
272 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 117 - Comum à questão: 196 Marque com V ou com F, conforme sejam verdadei-
ras ou falsas as afirmativas.
1
Em texto publicado no fim de maio, no The New 2
York Times, Gary Gutting, professor de filosofia da Está de acordo com o pensamento de Gary Gutting o
3
Universidade de Notre-Dame, argumenta que os que se afirma em
cursos 4 superiores deveriam deixar de centrar-se na
transmissão 5 de conhecimento por si e engajar os es-
tudantes em 6 “exercícios intelectuais”. O autor cita o
( ) O ensino superior deve objetivar tão somente a
exemplo de seu 7 próprio curso, no qual explora com
absorção de ideias complexas para garantir um
os estudantes obras 8 de Platão, Calvino e Nabokov.
bom desempenho dos estudantes nos exames.
O objetivo é simplesmente 9 colocar os pupilos em
contato com grandes textos. O 10 que se ganha não é ( ) O ensino distante da base cultural dos indiví-
verniz cultural, mas o prazer de 11 explorar caminhos duos dificulta o desenvolvimento de certas ca-
intelectuais e estéticos, de ampliar 12 a visão do mun- pacidades necessárias ao exercício profissional.
do e da natureza humana.
( ) A exigência de profissionais criativos vincula-se
às necessidades específicas da área de gestão de
empresas.
13
Para o filósofo, a educação universitária pode ser 14
o espaço do explorador. O ensino, para ele, não de- ( ) A formação de profissionais competentes nas
veria 15 ser avaliado pela quantidade de informações universidades prescinde da transmissão de co-
transmitidas 16 e assimiladas, mas pela possibilidade nhecimentos sofisticados.
de estimular uma 17 atitude de abertura a novos co-
nhecimentos e pela 18 capacidade de assimilar novas ( ) A leitura crítica do mundo é uma aquisição de-
ideias provocadas nos 19 estudantes. O conhecimento corrente do contato frequente do indivíduo com
que vem do uso e da prática 20 é o produto final de a realidade estética.
uma semente plantada na escola.

A alternativa que contém a sequência correta, de


21
Naturalmente, as sociedades necessitam de 22 pro- cima para baixo, é a
fissionais tecnicamente qualificados, capazes de 23
preencher as vagas nas empresas e desempenhar
suas 24 tarefas. Profissões, como a medicina, a ad-
ministração, 25 a engenharia e a advocacia, exigem o 01. V F F F V
domínio de grandes 26 corpos de conhecimento. En-
02. V F V V F
tretanto o simples domínio 27 desse saber não torna
o detentor capaz de exercer uma 28 profissão. Em- 03. F V V V F
presas e outras organizações exigem cada 29 vez mais
de seus funcionários a capacidade de entender 30 o 04. V V V F V
mundo ao redor, de pensar criativamente, de criar e
de 31 agir com autonomia. 05. F V F F V

32
É a nossa base cultural, a permear a literatura, a TEXTO: 118 - Comum à questão: 197
33
música, o cinema e o teatro, que contém os ele-
mentos 34 para desenvolver essas capacidades. São
1
O pobre é pop. A periferia é o centro do mundo.
nossas 35 viagens intelectuais pelo mundo das artes E 2 a música popular brasileira nunca mereceu tanto
a nos 36 permitir escapar das convenções, olhar além ser 3 chamada assim — embora esteja cada vez mais
dos 37 lugares-comuns, fazer conexões, pensar fora distante 4 de um certo totem conhecido como MPB.
do 38 convencional e buscar novas ideias. Quem não
tem a 39 oportunidade de mergulhar no amálgama
cultural tem 40 menores chances de desenvolver tais 5
A expansão da classe média tem impacto evidente
capacidades. 6
sobre os padrões de consumo no Brasil, inclusive
cultural. 7 Mas o protagonismo das classes C, D e E
WOOD JR., Thomaz. A educação pela arte. Carta Capital.
nos novos 8 fluxos de produção e circulação de músi-
São Paulo: Confiança, n. 756, p. 48, 10 jul. 2013.
ca não é efeito 9 colateral de um aumento da renda
Adaptado.
familiar, simplesmente.

Questão 196 - (UNEB BA)


www.PROJETOREDACAO.com.br - 273
10
A periferia (cultural, social ou econômica) do Brasil Questão 197 - (UNEB BA)
11
cansou de esperar o seu lugar ao sol. E tomou pra
si o Na ótica do autor,
12
direito de dizer e fazer o que quer, do jeito que
pode,
01. o “pobre-star” deve ser visto sob uma perspecti-
13
sabe e gosta. va antropológica.

02. a produção cultural da periferia é pouco com-


preendida por aqueles que a olham de forma
14
É uma mudança de paradigmas. Um processo 15 convencional.
cumulativo, iniciado ainda nos idos dos anos 90 [do 16
século passado], que se acentua e ganha relevo, 17 so- 03. a cultura da periferia ainda tenta hoje transpor
bretudo na última década. Uma força irrefreável, que barreiras para a sua inserção na vida cultural
18
arde em fogo brando. Ainda que só deixe a sombra brasileira.
da 19 invisibilidade (para ocupar espaços de validação
pública, 20 como já foi a dita grande mídia) quando 04. os diferentes gêneros musicais cultivados pela
o caldo já ferve 21 há tanto, que só lhe resta entrar periferia vêm, cada vez mais, fazendo frente às
em erupção. Por seus 22 próprios méritos. E, não raro, demandas políticas do país.
seus próprios meios. 05. a aceitação da produção cultural da periferia pe-
las classes A e B decorre fundamentalmente da
redução da desigualdade social.
23
Foi o que se deu, em boa medida, com fenôme-
nos 24 da “periferia do bom gosto” como o sertanejo
(no Brasil 25 Central), o axé (na Bahia), o rap (em São
Questão 198 - (UNEB BA)
Paulo), o funk 26 carioca (no Rio de Janeiro), o pagode
(em São Paulo), o 27 forró (no Ceará) e, mais recente- Perpetuum mobile
mente, o tecnobrega 28 (no Pará).
estive na antemanhã inacontecida

de jovens mãos deslumbradas


29
Em comum, uma música de “gosto duvidoso”, que
30
geralmente destoa da chamada “linha evolutiva da carregando sol
MPB”. 31 E que, na sua incontinência habitual, se alas-
tra pelo 32 país — com ou sem o suporte das grandes e passei
corporações 33 da indústria fonográfica e da mídia.

atravessei a plenoite decifrada


34
É a emergência do pobre-star. Que viceja pelos 35 monótonas luas transcorridas
grotões, nos quatro cantos do país, como sintoma de
36
que as coisas (há tempos...) já não estão mais tão nos meus olhos
“sob 37 controle”, como se supõe que um dia estive-
ram, do ponto 38 de vista da agenda estética da elite e segui
cultural.

cheguei ao amor culminante


41
O espanto com que o tecnobrega foi recebido no 40
mundo que cessa
Sudeste, há pouco mais de um ano, como algo 42 “es-
quisito”, que “brotou do nada”, ilustra bem a crônica no intérmino minuto
43
da vida na bolha de um mundo globalizado que,
em 44 certos segmentos da sociedade brasileira, ain- e parti
da não 45 voltou o olhar (e a escuta) para além do
próprio umbigo.

VALE, Israel do.Tecnobrega, ditadura da felicidade e a alcancei a absoluz


erupção onde o tempo intranspõe
do pobre-star. CULT, São Paulo: Bregantini, n. 183, p.
35, set. 2013. e a alma DEUS solve

e vou
274 - www.PROJETOREDACAO.com.br
PARENTE, Helena Cunha . Perpetuum mobile. Além É CORRETO o que se afirma apenas em:
de estar
: antologia poética. Rio de Janeiro: Imago, 2000. p.
32.
a) I.

b) II.
Assinale com V as afirmativas verdadeiras e com F,
as falsas. c) III.

No texto, o sujeito poético d) IV e V.

e) I, II e IV.

( ) experimenta sensações antitéticas no fluir da


existência.
Questão 200 - (UNIFOR CE)
( ) anseia por fincar raízes, a fim de restaurar o seu
Texto I
equilíbrio.
Peixinho sem água, floresta sem mata
( ) representa o ser humano em sua eterna mutabi-
lidade. É o planeta assim sem você

( ) transpõe os limites da realidade imediata. Rios poluídos, indústria do inimigo

( ) busca desvendar o mistério da morte. É o planeta assim sem você

http://mataatlantica-pangea.blogspot.com. br/2009/10/
parodia-meio-ambiente_02.html
A alternativa que contém a sequência correta, de
cima para baixo, é a
Texto II

01. V V V V V Avião sem asa

02. V V F F V Fogueira sem brasa


Sou eu assim, sem você
03. F V F V F
Futebol sem bola
04. F F V V V
Piu-Piu sem Frajola
05. V F V V F
Sou eu assim, sem você

(Claudinho e Buchecha)
Questão 199 - (UNIFOR CE)
Analise as afirmativas a seguir sobre os textos da
questão anterior. Os textos I e II apresentam intertextualidade, que,
para Julia Kristeva, é um conjunto de enunciados,
tomados de outros textos, que se cruzam e se rela-
cionam. Dessa forma, pode-se dizer que o tipo de
I. Os textos focalizam o mesmo tema de forma intertextualidade do texto I em relação ao texto II é
irônica.

II. O texto I visa, principalmente, informar, o texto


II visa criticar. a) epígrafe, pois o texto I recorre a trecho do texto
III. Os textos mobilizam o lúdico, dada à valorização II para introduzir o seu texto.
de dados técnicos. b) citação, porque há transcrição de um trecho do
IV. Os textos, prioritariamente, têm a função social texto II ao longo do texto I.
de alertar as pessoas.
c) paródia, pois a voz do texto II é retomada no tex-
V. Os textos têm a função pedagógica de alertar to I para transformar seu sentido, levando a uma
sobre os exageros do uso da tecnologia. reflexão crítica.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 275
d) paráfrase, porque apesar das mudanças das pa- a) ler ou não ler romances é para ele um critério de
lavras no texto I, a ideia do texto II é confirmada identificação de inteligência ou não.
pelo novo texto.
b) ter o hábito de ler, em geral, pode ser melhor do
e) alusão, porque faz referência, de modo implíci- que o de não ler.
to, ao texto II para servir de termo de compara-
ção. c) exigir dos outros que eles sejam parecidos com
ele mostra o grau de inteligência das pessoas.

d) ler ficção literária melhora a teoria da mente,


Questão 201 - (UNIFOR CE) confirmado por meio de pesquisa.
Qual romance você está lendo? e) reconhecer o que os outros pensam e sabem,
porém dialogar e negociar soluções racionais
são difíceis.
Sempre pensei que fosse sábio desconfiar de quem
não lê literatura. Ler ou não ler romances é para mim
um critério. Quer saber se tal político merece seu Questão 202 - (UNIFOR CE)
voto? Verifique se ele lê literatura. Quer escolher um
psicanalista ou um psicoterapeuta? Mesma sugestão.

E, cuidado, o hábito de ler, em geral, pode ser melhor


do que o de não ler, mas não me basta: o critério que
vale para mim é ler especificamente literatura - fic-
ção literária.

Você dirá que estou apenas exigindo dos outros que


eles sejam parecidos comigo. E eu teria que concor-
dar, salvo que acabo de aprender que minha confian- Em relação à tirinha, é possível inferir sobre o progra-
ça nos leitores de ficção literária é justificada. ma Reality Show que
Algo que eu acreditava intuitivamente foi confirma-
do em pesquisa que acaba de ser publicada pela re-
vista “Science” (migre.me/gkK9J), “Reading Literary I. o programa inspira e educa, servindo como la-
Fiction Improves Theory of Mind” (ler ficção literária boratório de comportamento social.
melhora a teoria da mente), de David C. Kidd e Ema-
nuele Castano. II. um tipo de programa que tem como objetivo
uma reflexão cultural e não depende de truques.
Uma explicação. Na expressão “teoria da mente”,
“teoria” significa “visão” (esse é o sentido originário III. um produto de cultura massificada, tendo como
da palavra). Em psicologia, a “teoria da mente” é nos- sinônimo o mau gosto.
sa capacidade de enxergar os outros e de lhes atri-
buir de maneira correta crenças, ideias, intenções, IV. um símbolo da perda de qualidade do conteúdo
afetos e sentimentos. televisivo na sociedade pós-moderna.

A teoria da mente emocional é a capacidade de reco-


nhecer o que os outros sentem e, portanto, de expe-
É CORRETO apenas o que se afirma em
rimentar empatia e compaixão por eles; a teoria da
mente cognitiva é a capacidade de reconhecer o que
os outros pensam e sabem e, portanto, de dialogar e
de negociar soluções racionais. Obviamente, enxer- a) I, II e IV
gar o que os outros sentem e pensam é uma condi-
ção para ter uma vida social ativa e interessante. b) I, III e IV.

(Contardo Calligaris, Folha de S. Paulo, 17/10/2013) c) II e III.

d) II e IV.

De acordo com Contardo Calligaris, a confiança que e) III e IV.


ele deposita nas pessoas que leem, especificamente,
literatura – ficção literária se justifica porque

276 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 119 - Comum à questão: 203 Procurando dar maior expressividade ao texto, seu
autor

a) serve-se do procedimento textual da sinonímia.

b) recorre à reiteração de vocábulos homônimos.

c) explora o caráter polissêmico das palavras.

d) mescla as linguagens científica e jornalística.

e) emprega vocábulos iguais na forma, mas de sen-


tidos contrários.

TEXTO: 120 - Comum à questão: 205


A sensível

Foi então que ela atravessou uma crise que nada pa-
Questão 203 - (FUVEST SP) recia ter a ver com sua vida: uma crise de profunda
piedade. A cabeça tão limitada, tão bem penteada,
No texto, empregam-se, de modo mais evidente, mal podia suportar perdoar tanto. Não podia olhar o
dois recursos de intertextualidade: um, o próprio au- rosto de um tenor enquanto este cantava alegre – vi-
tor o torna explícito; o outro encontra-se em um dos rava para o lado o rosto magoado, insuportável, por
trechos citados abaixo. Indique-o. piedade, não suportando a glória do cantor. Na rua
de repente comprimia o peito com as mãos enluva-
das – assaltada de perdão. Sofria sem recompensa,
a) “Você é um horror!” sem mesmo a simpatia por si própria.

b) “E você, bêbado.”

c) “Ilusão sua: amanhã, de ressaca, vai olhar no es- Essa mesma senhora, que sofreu de sensibilidade
pelho e ver o alcoólatra machista de sempre.” como de doença, escolheu um domingo em que o ma-
rido viajava para procurar a bordadeira. Era mais um
d) “Vai repetir o porre até perder os amigos, o em- passeio que uma necessidade. Isso ela sempre soube-
prego, a família e o autorrespeito.” ra: passear. Como se ainda fosse a menina que pas-
seia na calçada. Sobretudo passeava muito quando
e) “Perco a piada, mas não perco a ferroada!” “sentia” que o marido a enganava. Assim foi procu-
rar a bordadeira, no domingo de manhã. Desceu uma
rua cheia de lama, de galinhas e de crianças nuas –
aonde fora se meter! A bordadeira, na casa cheia de
Questão 204 - (FUVEST SP) filhos com cara de fome, o marido tuberculoso – a
Leia o seguinte texto, que faz parte de um anúncio de bordadeira recusou- se a bordar a toalha porque não
um produto alimentício: gostava de fazer ponto de cruz! Saiu afrontada e per-
plexa. “Sentia-se” tão suja pelo calor da manhã, e um
de seus prazeres era pensar que sempre, desde pe-
quena, fora muito limpa. Em casa almoçou sozinha,
EM RESPEITO A SUA NATUREZA, SÓ TRABALHAMOS deitou-se no quarto meio escurecido, cheia de sen-
COM O MELHOR DA NATUREZA timentos maduros e sem amargura. Oh pelo menos
uma vez não “sentia” nada. Senão talvez a perplexi-
dade diante da liberdade da bordadeira pobre. Senão
talvez um sentimento de espera. A liberdade.
Selecionamos só o que a natureza tem de melhor
para levar até a sua casa. Porque faz parte da natu- (Clarice Lispector. Os melhores contos de Clarice Lispec-
reza dos nossos consumidores querer produtos sabo- tor, 1996.)
rosos, nutritivos e, acima de tudo, confiáveis.

www.destakjornal.com.br, 13/05/2013. Adaptado.


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Questão 205 - (UNIFESP SP) convencional e ciosa de seus hamburguers e simila-
res. Além disso, a vizinhança da Pinel deixava as pes-
O emprego do adjetivo “sensível” como substantivo, soas sempre de sobreaviso, ao menor sinal de um
no título do texto, revela a intenção de comportamento mais inusitado.

Com a sacola no ombro, ele foi se afastando como


o sanduíche numa das mãos e o ovo na outra, e es-
a) ironizar a ideia de sentimento, então destituído perou até encontrar-se a uma distância razoável do
de subjetividades e ambiguidades na expressão trailer para oferecer, despistadamente, o seu chee-
da senhora. seburger a um dos inúmeros gatos esquálidos que
b) priorizar os aspectos relacionados aos senti- frequentavam o campus. E, mesmo na situação afliti-
mentos, como conteúdo temático do conto e va em que se encontrava, não pôde deixar de pensar
expressão do que vive a senhora. que o acaso, do qual acabara de ser instrumento, go-
vernava o destino dos seres, como aquele gato, que,
c) explorar a ideia de liberdade em uma narrativa de repente, via cair diante de sua boca uma refeição
em que o efeito de objetividade limita a expres- requintada. Tal pensamento fez-lhe bem, mas logo
são dos sentimentos da senhora. o peso da realidade recaiu sobre ele, a realidade da
aula que tinha de dar, regida pelas mesmas leis: as
d) traduzir a expressão comedida da senhora ante do acaso.
a vida e os sentimentos mais intensos, como na
relação com a bordadeira. [...]

e) dar relevância aos aspectos subjetivos das rela- (SANT’ANNA, Sérgio. Breve história do espírito.
ções humanas, pondo em sintonia os pontos de São Paulo, Companhia das Letras, 1991. p. 63-64.
vista da senhora e da bordadeira. Adaptada.)

Questão 206 - (PUC GO) Considere o texto, fragmento do conto “A Aula”, de


Sérgio Sant’Anna, atentando-se para o dilema do per-
Pois fora certamente num acesso de empirismo ab- sonagem em questão, o professor que se dirigia ao
soluto e radical que, no meio do caminho entre o campus de uma universidade para ministrar sua aula.
estacionamento e a escola, ele parara num trailer e Esse dilema ilustra a fragilidade e a insegurança do
comprara um ovo. ser humano diante dos seus grandes desafios. Com
base nessas afirmações, marque a alternativa corre-
Algo, no entanto, se podia dizer tanto a seu favor ta:
como contra: ele não parara ali para comprar o ovo e
sim para beber uma coca-cola. E foi só quando viu o
homem do trailer preparar para alguém um sanduí-
che que levava, entre outras coisas, um ovo frito, que a) Trata-se de um dilema simples, uma vez que o
sentiu o impulso de comprar um ovo fresco. Embora professor apenas tem dificuldade para realizar
sua cabeça não estivesse batendo bem (ou talvez por uma operação comercial, pois tem de adquirir
isso mesmo), ele intuía que talvez se encontrasse aí um sanduíche completo, quando queria tão so-
o elo perdido, a chave que lhe permitiria penetrar as mente um ovo.
trevas, à procura do qual se atormentara enquanto
b) Trata-se de um dilema preocupante, pois o
dirigia como um zumbi de casa até à escola. E não
personagem tenta se fazer entender, mas o
era um ovo, literalmente, um embrião? E não era dis-
atendente do trailer se mostra muito mais in-
so que precisava: um embrião que fizesse germinar a
teressado em servir aos estudantes que ali se
aula e o curso?
encontravam.
A negociação, porém, fora algo penosa. O homem do
c) Todo o dilema do professor está concentrado no
trailer lhe dissera que os ovos não estavam à venda
ovo que ele tenta comprar a todo custo, a partir
separadamente dos sanduíches. E ele, por sua vez,
do qual sua aula já estava planejada, abordando
fizera ver ao sujeito que estava disposto a pagar pelo
teorias da fundação do mundo.
ovo o preço de um sanduíche. Ao que o homem re-
trucara que, vendendo um ovo isoladamente, acaba- d) O ovo lhe chamou a atenção como símbolo que
ria desfalcando outro sanduíche, prejudicando outro remete ao princípio, à mutabilidade das coisas,
freguês. Ao que ele contra-argumentara que não ti- o que o fez acreditar que ele pudesse sugerir-lhe
nha problema, compraria um sanduíche, só que ao algum tema para a aula que teria de ministrar e
invés de ter um ovo dentro, queria o ovo fora, o que para a qual não se sentia preparado.
acabou prevalecendo, sob os olhares desconfiados
de outros fregueses, a maioria de estudantes, gente
278 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 121 - Comum à questão: 207 litorânea, com o descobrimento do ouro das Gerais
(...) E mesmo essa emigração faz-se largamente a
Vamos aos poucos nos esquecendo deles, dos nossos despeito de ferozes obstruções artificialmente insti-
mortos, enquanto afundam na terra ou são queima- tuídas pelo governo; os estrangeiros, então, estavam
dos, ou mesmo atirados com pesos ao mar. Somem decididamente excluídos delas (apenas eram tolera-
da nossa vista e transferimos às ogivas de concreto, dos – mal tolerados – os súditos das nações amigas:
aos mármores de suas lápides, aos emblemas de pe- ingleses e holandeses), bem assim como os monges;
dra ou dispostos na grama – crucifixos de madeira, considerados piores contraventores das determina-
hexágonos orientais, olhos de peixe, asas de falcão, ções régias, os padres sem emprego, os negociantes
dedos em figa – o que seria puro desespero. Cons- estalajadeiros, todos os indivíduos enfim que pudes-
truímos marcos e monumentos, pequenos oratórios à sem não ir exclusivamente a serviço da insaciável avi-
beira das estradas, cidadelas em miniatura para ten- dez da metrópole.
tar esquecê-los. Fico pensando se cada casebre não
será no fundo uma lápide antecipada, e se jamais Em 1720 pretendeu-se mesmo fazer uso de um der-
um único tijolo foi assentado com propósito diferente radeiro recurso, o da proibição de passagens para o
deste – se tudo o que pareceria uso prático, abrigo Brasil. Só as pessoas investidas de cargo público po-
contra as intempéries, interioridade aconchegante, deriam embarcar com destino à colônia. Não acom-
não seria já a pedra da morte futura, que rugia de panhariam esses funcionários mais do que os cria-
perto. Túmulos pavimentam o esquecimento, permi- dos indispensáveis. Dentre os eclesiásticos podiam
tindo à vida que faça o que tem de fazer, seguir sem vir os bispos e missionários, bem como os religiosos
os mortos (o que nos incluirá a todos). que já tivessem professado no Brasil e precisassem
regressar aos seus conventos. Finalmente seria dada
(Nuno Ramos. Ó, 2008.) a licença excepcionalmente a particulares que con-
seguissem justificar a alegação de terem negócios
importantes, e comprometendo-se a voltar dentro de
prazo certo.
Questão 207 - (Centro Universitário São Camilo SP)
(Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil)
A frase que expressa o ponto de vista do texto a res-
peito da morte e dos mortos é:

Questão 208 - (ESPM SP)


a) O esforço contínuo para esquecermos os mortos Do texto, pode-se afirmar que a política de coloniza-
baseia-se numa esperança de jamais morrer. ção:
b) As construções tumulares são tentativas dos vi-
vos para esquecerem os mortos.
a) orientava-se sobretudo por estímulos concedi-
c) Os objetos que simbolizam a morte são meca- dos à vinda de comerciantes estrangeiros dos
nismos para que os mortos nos esqueçam. países amigos.
d) Os ritos funerários são cerimônias para que os b) procurava atender às necessidades e priorida-
mortos fiquem em paz. des estabelecidas pela coroa portuguesa.
e) Os túmulos e as lápides são construções que ga- c) buscava distinguir entre os padres de maus cos-
rantem aos corpos um aconchego após a morte. tumes e o clero engajado na prestação de servi-
ços políticos.

d) obedecia a critérios casuísticos e demonstrava


TEXTO: 122 - Comuns às questões: 208, 209, 210, repugnância pelos forasteiros, sobretudo ingle-
211 ses e holandeses..

e) tinha como único alvo assentar aqui o conjun-


to de instituições e grupos sociais existentes na
metrópole.

Questão 209 - (ESPM SP)


A proibição que se pretendeu impor em 1720 isenta-
No terceiro século do domínio português é que temos va apenas:
um afluxo maior de imigrantes para além da faixa
www.PROJETOREDACAO.com.br - 279
a) funcionários públicos, monges e comerciantes TEXTO: 123 - Comum à questão: 212
estalajadeiros.
Se as pessoas estivessem mais atentas para o foco
b) detentores de cargos públicos, ingleses e mem- das preocupações dos governantes das três maiores
bros do clero atuantes na colônia. potências globais, certamente não teriam alimenta-
do a esperança de grande empenho de americanos,
c) eclesiásticos com tarefas na colônia, funcioná- chineses e alemães em assumir compromissos firmes
rios públicos graduados e particulares com seus durante a Rio+20 para evitar o ecossuicídio do pla-
criados. neta em data incerta, lá pelos anos 2052… Vamos
pensar um pouco: Obama, Hu Jintao e Angela Merkel
d) autoridades públicas e seus acompanhantes,
estão envolvidos até a medula nos problemas da
padres sem emprego e alguns negociantes de
transição do poder cuja definição se dará antes do
peso.
fim do ano. Seus governos enfrentam o desafio (cada
e) representantes da coroa, bispos e missionários e um em sua própria dimensão) de lidar com a desace-
comerciantes sob a condição de voltar. leração econômica e as consequências do desconten-
tamento popular com as atuais lideranças.

(Antônio Delfim Netto. Crescer, incluir e esperar.


Questão 210 - (ESPM SP) Carta Capital, 27.06.2012. Adaptado.)

As medidas em relação ao clero:


Questão 212 - (Fac. Cultura Inglesa SP)
a) não discriminavam seus integrantes conforme Uma conclusão coerente com as informações apre-
as posições ocupadas na hierarquia eclesiástica. sentadas é:
b) distinguiam os padres que transgrediam as de-
terminações da coroa daqueles que estavam de-
sempregados. a) É perigoso, portanto, deixar que esses líderes se
responsabilizem pela produção de energia lim-
c) privilegiavam os ocupantes de posições episco- pa, pois administram mal a economia de seus
pais e aqueles dedicados ao trabalho realizado países.
no Brasil.
b) É evidente, portanto, que esses líderes apoiarão
d) estabeleciam divisão nítida entre os quadros do de forma mais intensa as políticas que incenti-
clero secular e os integrantes das ordens religio- vem a produção de energia limpa em seus paí-
sas. ses.
e) davam prioridade àqueles padres que tivessem c) É inadequado, portanto, pensar que esses líde-
negócios na colônia e que tivessem um nível ra- res deixarão de lado compromissos para que a
zoável de renda. produção de energia limpa seja uma realidade
global.

d) É desejável, portanto, que esses líderes se dedi-


Questão 211 - (ESPM SP) quem aos seus governos e deixem que os outros
países decidam sobre a produção de energia
A corrida para o interior do país por causa do ouro limpa.
se fez:
e) É ilusão, portanto, esperar que esses líderes as-
sumam compromissos que estejam totalmente
a) com apoio político da coroa portuguesa. voltados à produção de energia limpa.

b) por pressão dos ingleses e holandeses.

c) mesmo com os obstáculos impostos pelo gover- TEXTO: 124 - Comuns às questões: 213, 214
no.
Leia o poema de Manoel de Barros.
d) com os estrangeiros a serviço da metrópole.

e) com a ajuda de monges e padres desemprega-


dos. O que não sei fazer desmancho em frases.

280 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Eu fiz o nada aparecer. E depois de já muito ter chovido,

Quando a erva alastrar com o olvido 3,

(Represente que o homem é um poço escuro.

Aqui de cima não se vê nada. Ainda, amigo, o mesmo meu olhar

Mas quando se chega ao fundo do poço já se pode Há-de ir humilde, atravessando o mar,
ver

o nada.)
Envolver-te de preito 4 enternecido,

Como o de um pobre cão agradecido.


Perder o nada é um empobrecimento.
(Clepsidra, 1987.)
(Livro sobre nada, 2002.)

1
cômoro: elevação de terreno não muito alta.
Questão 213 - (Fac. Cultura Inglesa SP) 2
inumar: enterrar.
Analisando-se a conceituação de “nada”, conclui-se
que o eu lírico confere a esse termo uma significação
3
olvido: esquecimento.
4
preito: tributo, homenagem.

a) positiva, distanciada do senso comum.

b) pejorativa, explorada conotativamente. Questão 215 - (Fac. Cultura Inglesa SP)

c) irônica, bastante próxima do humor. O eu lírico sugere que

d) distorcida, forjada numa ambiguidade.

e) contraditória, baseada em sua literalidade. a) a morte contribuirá para o seu rápido esqueci-
mento.

b) o sentimento de amizade se manterá após sua


Questão 214 - (Fac. Cultura Inglesa SP) morte.

No poema, o poço é uma metáfora que remete c) a humildade é resultado do orgulho arrefecido.

d) a amizade inevitavelmente será esquecida.

a) à impossibilidade do autoconhecimento. e) a humildade impedirá de evitar o esquecimento.

b) ao homem sombrio e sem esperanças.

c) à imutabilidade da consciência humana. Questão 216 - (Fac. Cultura Inglesa SP)


d) à insignificância da vida coletiva. Uma das ideias presentes no texto diz respeito

e) ao íntimo da existência humana.

a) à relação vida-morte.

TEXTO: 125 - Comuns às questões: 215, 216 b) ao medo pelo desconhecido.

Leia os versos de Camilo Pessanha. c) à busca pela solidão.

d) à hipocrisia das relações humanas.

De sob o cômoro 1 quadrangular e) ao desencanto pelo próximo.

Da terra fresca que me há-de inumar 2,

www.PROJETOREDACAO.com.br - 281
Questão 217 - (IBMEC SP Insper) os exploradores portugueses jamais sabiam com cer-
teza em que ponto do oceano seus navios realmente
se achavam. E isso dá uma ideia de quão arriscada
era a aventura marítima.

(BUENO, Eduardo. Brasil: Terra à vista.


Porto Alegre: L & PM, 2003. p. 37-38.)

Assinale a alternativa que contém a única pergunta a


que o texto NÃO oferece indícios de resposta.

(José Paulo Paes, A poesia está morta mas juro que não a) É correto afirmar que as cartas de marear torna-
fui eu. ram-se mais precisas à medida que a superfície
São Paulo: Duas Cidades, 1998) curva da Terra foi corretamente representada
num mapa plano?

b) Quais os parâmetros que se observam para me-


A respeito da referência intertextual presente no dir latitude e longitude?
poema, é correto afirmar que
c) Uma vez que se tratava de aventuras arriscadas,
por que os navegadores dos séculos XV e XVI
aventuravam-se nos mares?
a) os advérbios “aqui” e “lá”, diferentemente do
que ocorre nos versos originais de Gonçalves d) É possível fazer a suposição de que algumas via-
Dias, apontam para um espaço geográfico idea- gens marítimas nos séculos XV e XVI tiveram fins
lizado. trágicos?
b) José Paulo Paes ironiza a tese da unificação da e) Embora não navegassem às cegas, podese afir-
língua portuguesa arduamente defendida por mar que nem sempre os exploradores marítimos
Gonçalves Dias, no final do século XIX. dos séculos XV e XVI atingiam seus objetivos?
c) ao transcrever os versos da “Canção do Exílio”
em seu poema, José Paulo Paes reproduz, com
fidelidade, o sentimento de patriotismo expres- Questão 219 - (IFSP)
so por Gonçalves Dias.
Leia o soneto do escritor barroco Gregório de Matos.
d) a disposição gráfica dos versos simula um deba-
te entre os poetas José Paulo Paes e Gonçalves
Dias, no qual o escritor romântico tem a palavra
final. Descrição da Cidade de Sergipe d’El-Rei

e) na releitura proposta por José Paulo Paes, as


aves podem simbolizar os falantes do portu-
Três dúzias de casebres remendados,
guês, e os gorjeios, as variantes regionais.
Seis becos, de mentrastos1 entupidos,

Quinze soldados, rotos e despidos,


Questão 218 - (IFRS)
Doze porcos na praça bem criados.
Apesar de medirem a latitude com razoável precisão,
os navegadores dos séculos XV e XVI não sabiam cal-
cular a longitude, ou seja, a posição em que os navios
se encontram na direção lesteoeste. Além disso, as Dois conventos, seis frades, três letrados,
chamadas cartas de marear, embora registrassem os
pontos de referência da costa, em geral eram bastan- Um juiz, com bigodes, sem ouvidos,
te precárias, não só por serem as novas regiões qua-
se desconhecidas, mas porque, na época, ainda não Três presos de piolhos carcomidos,
se sabia corretamente como representar a superfície Por comer dois meirinhos esfaimados.
curva da Terra em um mapa plano e unidimensional.
Embora não se possa dizer que navegassem às cegas,
282 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Dois conventos, seis frades, três letrados, publicitários.

Um juiz, com bigodes, sem ouvidos, Eles colocaram frases engraçadinhas nos 250 paco-
tes de balas que Thiago vende diariamente para ver o
Três presos de piolhos carcomidos, que aconteceria com as vendas.
Por comer dois meirinhos esfaimados. Silva, que levava seis horas para vender as bali-
nhas, gastou metade do tempo após usar nas emba-
lagens frases como “Vendo essas balas porque não
O feijão, que só faz ventosidade4 posso vender a minha sogra” ou “Balas mágicas: você
compra e a minha vida fica mais doce”.
Farinha de pipoca, pão que greta,
“Queríamos testar o poder das palavras para mu-
De Sergipe d’El-Rei esta é a cidade. dar a vida de uma pessoa”, conta um dos publicitá-
rios do “Candy Project” (Projeto Doce), Will Ferrari
(DIMAS, Antônio. Gregório de Matos. Júnior, 27.
São Paulo: Nova Cultural, 1988.)
A vida de Silva não mudou, mas o vendedor gostou
da ideia e pretende fazer cópias das frases divertidas,
pois o humor, segredo dos publicitários, é um velho
1
mentrasto: tipo de erva conhecido de Thiago nas vendas. “Já chego sorrindo
e dando bom dia, dou algumas balinhas de cortesia”,
2
baeta: tecido felpudo
conta.
3
chita: tecido de algodão de pouco valor
No mesmo ponto há sete anos, Silva conhece os
4
ventosidade: que provoca flatulência clientes por nome e diz que “já fez até amizades”. De
tão comunicativo, já recebeu propostas de trabalho
de clientes.

Pela leitura do soneto, é correto afirmar que o poeta Voltar a estudar está nos seus planos, pois deixou
a escola no 8o ano. Mas agora o que ele quer são
novas frases para aumentar as vendas.
a) critica veladamente o governo português por ter “Vamos continuar alimentando o Silva com novas
escolhido essa cidade para ser a sede adminis- frases”, conta Alexandre Freire, 24, que também par-
trativa da colônia. ticipou do projeto.
b) escreve esse poema para expor as angústias vi- (Sabine Righetti, Folha de S. Paulo, 12.04.2013. Adapta-
vidas durante o período em que cumpria a pri- do)
meira ordem de desterro.

c) comenta a elegância e a sensualidade das da-


mas, visto que sempre apreciou as mulheres Questão 220 - (IFSP)
brasileiras.
De acordo com o conteúdo do texto, é correto afir-
d) lamenta a inexistência de instituições religiosas, mar que
pois elas organizariam moralmente a cidade.

e) descreve as condições do local, mostrando que


os habitantes vivem rusticamente e com poucos a) Thiago vende balas nos semáforos do bairro do
recursos. Butantã para economizar dinheiro e concluir o
terceiro grau.

b) o ambulante aumentou seus rendimentos, pois


TEXTO: 126 - Comum à questão: 220 passou a receber verba extra dos publicitários
que criaram o projeto.
Slogan publicitário turbina lucro de vendedor de
bala em semáforo c) o contato com os publicitários foi fundamental
para que Thiago começasse a usar o humor na
hora de abordar os clientes.
O ambulante Thiago M. Silva, 29, vendedor de d) o objetivo do projeto era observar se palavras e
balas em um semáforo no bairro paulistano do Bu- frases bem-humoradas podem interferir positi-
tantã, resolveu participar de um experimento de dois vamente no comportamento das pessoas.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 283
e) o rapaz reduziu à metade o tempo que gastava 26
Aqui é que começa a genialidade de Chaplin.
para vender as balas e, apesar de autônomo, Descendo até o público, não só não se vulgarizou,
cumpre horário comercial. 27
mas ao contrário ganhou maior força de emoção
e de poesia. A sua originalidade extremou-se. Ele 28
soube isolar em seus dados pessoais, em sua inteli-
gência e em sua sensibilidade de exceção, os 29 ele-
TEXTO: 127 - Comuns às questões: 221, 222 mentos de irredutível humanidade. Como se diz em
linguagem matemática, pôs em evidência o fator 30
Não há hoje no mundo, em qualquer domínio
1
comum de todas as expressões humanas. O olhar de
de atividade artística, um artista cuja arte contenha
Carlito, no filme O Circo, para a brioche do menino 31
2
maior universalidade que a de Charles Chaplin. A
faz rir a criançada como um gesto de gulodice engra-
razão vem de que o tipo de Carlito é uma dessas 3
çada. Para um adulto pode sugerir da maneira mais
criações que, salvo idiossincrasias muito raras, inte- 32
dramática todas as categorias do desejo. A sua arte
ressam e agradam a toda a gente. Como os heróis 4
simplificou-se ao mesmo tempo que seaprofundou
das lendas populares ou as personagens das velhas 33
e alargou. Cada espectador pode encontrar nela o
farsas de mamulengo.
que procura: o riso, a crítica, o lirismo ou ainda o 34
5
Carlito é popular no sentido mais alto da palavra. contrário de tudo isso.
Não saiu completo e definitivo da cabeça de 6 Cha- 35
Essas reflexões me acudiram ao espírito ao ler
plin: foi uma criação em que o artista procedeu por
umas linhas da entrevista fornecida a Florent Fels 36
uma sucessão de tentativas e erradas.
pelo pintor Pascin, búlgaro naturalizado americano.
Chaplin observava sobre o público o efeito de
7 Pascin não gosta de Carlito e explicou que uma fita
cada detalhe.
37
de Carlito nos Estados Unidos tem uma significa-
ção muito diversa da que lhe dão fora de lá. Nos 38
8
Um dos traços mais característicos da pessoa fí- Estados Unidos Carlito é o sujeito que não sabe fazer
sica de Carlito foi achado casual. Chaplin certa 9 vez as coisas como todo mundo, que não sabe viver 39
lembrou-se de arremedar a marcha desgovernada de como os outros, não se acomoda em meio algum, –
um tabético. O público riu: estava fixado o 10 andar em suma um inadaptável. O espectador americano
habitual de Carlito. 40
ri satisfeito de se sentir tão diferente daquele so-
nhador ridículo. É isto que faz o sucesso de Chaplin
O vestuário da personagem –fraquezinho hu-
11
nos 41 Estados Unidos. Carlito com as suas lamentá-
morístico, calças lambazonas, botinas 12 escarrapa- veis aventuras constitui ali uma lição de moral para 42
chadas, cartolinha – também se fixou pelo consenso educação da mocidade no sentido de preparar uma
do público. geração de homens hábeis, práticos e bem 43 quais-
quer!
Certa vez que Carlito trocou por outras as boti-
13

nas escarrapachadas e a clássica cartolinha, o 14 pú- 44


Por mais ao par que se esteja do caráter prá-
blico não achou graça: estava desapontado. Chaplin tico do americano, do seu critério de sucesso para
eliminou imediatamente a variante. Sentiu com o 15 45
julgamento das ações humanas, do seu gosto pela
público que ela destruía a unidade física do tipo. Po- estandardização, não deixa de surpreender aquela 46
dia ser jocosa também, mas não era mais Carlito. interpretação moralista dos filmes de Chaplin. Bem
examinadas as coisas, não havia motivo para 47 sur-
16
Note-se que essa indumentária, que vem dos presa. A interpretação cabe perfeitamente dentro
primeiros filmes do artista, não contém nadade 17 es- do tipo e mais: o americano bem verdadeiramente 48
pecialmente extravagante. Agrada por não sei quê de americano, o que veda a entrada do seu território a
elegante que há no seu ridículo de miséria. 18 Pode-se doentes e estropiados, o que propõe o pacto contra
dizer que Carlito possui o dandismo do grotesco. 49
a guerra e ao mesmo tempo assalta a Nicarágua,
19
Não será exagero afirmar que toda a humanida- não poderia sentir de outro modo.
de viva colaborou nas salas de cinema para a 20 rea- 50
Não importa, não será menos legítima a con-
lização da personagem de Carlito, como ela aparece cepção contrária, tanto é verdade que tudo cabe na
nessas estupendas obras-primas de 21 humourque 51
humanidade vasta de Carlito. Em vez de um fraco,
são O Garoto, Ombro Arma, Em Busca do Ouro e O de um pulha, de um inadaptável, posso eu interpre-
Circo. tar 52 Carlito como um herói. Carlito passa por todas
22
Isto por si só atestaria em Chaplin um extraor- as misérias sem lágrimas nem queixas. Não é força
dinário dom de discernimento psicológico. Não 23 isto? 53 Não perde a bondade apesar de todas as ex-
obstante, se não houvesse nele profundidade de periências, e no meio das maiores privações acha um
pensamento, lirismo, ternura, seria levado por esse jeito 54 de amparar a outras criaturas em aperto. Isso
24
processo de criação à vulgaridade dos artistas me- é pulhice?
díocres que condescendem com o fácil gosto do 25 Aceita com estoicismo as piores situações, dor-
55
público. me onde é possível ou não dorme, come sola de 56
284 - www.PROJETOREDACAO.com.br
sapato cozida como se se tratasse de alguma língua Questão 221 - (ITA SP)
do Rio Grande. É um inadaptável?
Considerando que o título pode antecipar para o
57
Sem dúvida não sabe se adaptar às condições leitor o tema central do texto, assinale a opção que
de sucesso na vida. Mas haverá sucesso que 58 valha apresenta o título mais adequado.
a força de ânimo do sujeito sem nada neste mundo,
sem dinheiro, sem amores, sem teto, quando 59 ele
pode agitar a bengalinha como Carlito com um gesto
de quem vai tirar a felicidade do nada? Quando 60 um a) A representatividade de Carlito em O Circo.
ajuntamento se forma nos filmes, os transeuntes vão b) O heroísmo de Carlito.
parando e acercando-se do grupo com um ar 61 de
curiosidade interesseira. Todos têm uma fisionomia c) As representações da vida real por Chaplin.
preocupada. Carlito é o único que está certo do ,62
prazer ingênuo de olhar. d) A recepção dos filmes de Chaplin.
63
Neste sentido Carlito é um verdadeiro profes- e) A dualidade no personagem Carlito.
sor de heroísmo. Quem vive na solidão das grandes
64
cidades não pode deixar de sentir intensamente o
influxo da sua lição, e uma simpatia enorme nos 65
prende ao boêmio nos seus gestos de aceitação tão Questão 222 - (ITA SP)
simples.
De acordo com Bandeira,
66
Nada mais heróico, mais comovente do que a
saída de Carlito no fim de O Circo. Partida a 67 compa-
nhia, em cuja troupe seguia a menina que ele ajudara a) Carlito é essencialmente triste, apesar de não
a casar com outro, Carlito por alguns 68 momentos se demonstrar.
senta no círculo que ficou como último vestígio do
picadeiro, refletindo sobre os dias de 69 barriga cheia b) o público se identifica com Carlito, porque ele
e relativa felicidade sentimental que acabava de des- representa um tipo universal de simplicidade.
frutar. Agora está de novo sem nada e 70 inteiramente
só. Mas os minutos de fraqueza duram pouco. Carlito c) Carlito faz sucesso nos Estados Unidos, porque é
levanta-se, dá um puxão na 71 casaquinha para recu- sonhador como os americanos.
perar a linha, faz um molinete com a bengalinha e
sai campo afora sem olhar para 72 trás. Não tem um d) Carlito representa o lado heroico do ser huma-
vintém, não tem uma afeição, não tem onde dormir no, embora isso não seja explicitado em seus fil-
nem o que comer. No entanto vai 73 como um con- mes.
quistador pisando em terra nova. Parece que o Uni- e) Carlito representa o lado debochado e despoja-
verso é dele. E não tenham dúvida: o 74 Universo é do do ser humano, daí seu grande sucesso.
dele.
75
Com efeito, Carlito é poeta.
TEXTO: 128 - Comuns às questões: 223, 224
(Em: Crônicas da Província do Brasil. 1937.)
1
A cultura não existe em seres humanos genéricos,
idiossincrasia (Ref. 3): maneira de ser e de agir pró-
em situações 2abstratas, mas em homens e mulhe-
pria de cada pessoa.
res concretos, pertencentes a este 3ou àquele povo,
mamulengo (Ref. 4): fantoche, boneco usado à mão a esta ou àquela classe, em determinado território,
em peças de teatro popular ou infantil.
4
num regime político A ou B, dentro desta ou daquela
realidade 5econômica.
tabético (Ref. 9): que tem andar desgovernado, sem
muita firmeza.
6
Somente se poderá conceituar cultura como
autorrealização da 7pessoa humana no seu mundo,
dandismo (Ref. 18): relativo ao indivíduo que se veste numa interação dialética entre os 8dois, sempre em
e se comporta com elegância. dimensão social. Algo que não se cristaliza apenas
9
no plano do conhecimento teórico, mas também no
pulhice (Ref. 54): safadeza, canalhice. da sensibilidade, 10da ação e da comunicação.
estoicismo (Ref. 55): resignação com dignidade dian- 11
Na verdade, o ser humano não se caracteriza,
te do sofrimento, da adversidade, do infortúnio. exclusivamente, 12como conhecedor de dados e infor-
mações culturais. Ele é também 13e principalmente
molinete (Ref. 71): movimento giratório que se faz um agente de cultura, ainda que, muitas vezes, não
com a espada ou outro objeto semelhante. 14
tenha consciência disso. E agente cultural de ativi-
www.PROJETOREDACAO.com.br - 285
dade incessante, 15seja caçando, para matar a fome, central, caracterizando-se, portanto, por uma
seja recorrendo a divindades, em 16oração, seja orde- linguagem que reforça seu aspecto teórico.
nhando vacas, seja operando computadores.

Aldo Vannucchi, Cultura Brasileira, Ed. Loyola, p. 21


Questão 225 - (PUC MG)
“Recriamos a língua na medida em que somos ca-
Questão 223 - (Mackenzie SP) pazes de produzir um pensamento novo, um pensa-
mento nosso. O idioma, afinal, o que é senão o ovo
No texto, o 1º parágrafo e os demais estabelecem das galinhas de ouro?
respectivamente uma relação de:
Estamos, sim, amando o indomesticável, aderindo ao
invisível, procurando os outros tempos deste tempo.
Precisamos, sim, de senso incomum. Pois, das leis
a) um posicionamento teórico e seus desdobra- da língua, alguém sabe as certezas delas? Ponho as
mentos para maior esclarecimento do que se minhas irreticências. Veja-se, num sumário exemplo,
afirma. perguntas que se podem colocar à língua:
b) uma premissa e em seguida posicionamentos Se pode dizer de um careca que tenha couro cabe-
contraditórios que a fortalecem do ponto de vis- ludo?
ta teórico.
No caso de alguém dormir com homem de raça bran-
c) uma declaração sintética e diferentes argumen- ca é então que se aplica a expressão: passar a noite
tos que a atenuam, pois expõem considerações em branco?
complementares.
A diferença entre um ás no volante ou um asno vo-
d) uma causa e as correspondentes definições que lante é apenas de ordem fonética?
justificam a escolha do autor pelo que declara.
O mato desconhecido é que é o anonimato?
e) uma apresentação de um objeto de discurso e
suas derivações temáticas essencialmente para- O pequeno viaduto é um abreviaduto? [...]”
doxais que justificam o posicionamento do au-
tor. (COUTO, Mia. Perguntas à língua portuguesa. Dis-
ponível em: http://ciberduvidas.sapo.pt/antologia.
php?rid=118.
Acesso: 7 de março de 2007).
Questão 224 - (Mackenzie SP)
Pode-se afirmar corretamente que o texto:
Mia Couto é um importante escritor da literatura
moçambicana. No trecho em análise, seus questio-
namentos à língua portuguesa
a) relata uma sequência de mudanças progressivas
de estado que vão ocorrendo com o objeto da
narrativa ficcional, em uma relação de anteriori-
dade e posterioridade. a) valorizam ambiguidades e jogos de palavras,
produzindo efeitos de humor.
b) apresenta declarações que objetivam caracteri-
zar o tema central em um recorte temporal an- b) buscam resgatar os valores do idioma tradicio-
terior ao de sua narração, em uma abordagem nal, falado antigamente.
de caráter histórico.
c) ironizam, de modo implícito, as regras gramati-
c) seleciona um tema específico e o aborda por cais ensinadas nas escolas.
meio de conceitos abstratos e exemplificações
com o objetivo de introduzir uma explanação de d) manifestam-se contra o uso português como lín-
natureza teórica. gua oficial de Moçambique.

d) destaca especificamente valores conotativos dos


termos empregados em sua estrutura, com uma
linguagem de alto valor expressivo que contribui TEXTO: 129 - Comum à questão: 226
para um texto essencialmente figurativo.
O FASCÍNIO DO ÃO
e) explora um jogo intertextual em que se elabo-
ra uma imagem caricatural e paradoxal do tema Roberto Pompeu de Toledo
286 - www.PROJETOREDACAO.com.br
1º § O novo estádio do Corinthians, em São Paulo, ro: é Engenhão. No caso do eventual e futuro estádio
em tese destinado à abertura da Copa do Mundo de do Corinthians, o apelido de ltaquerão prova que o
2014, é por enquanto um rasgo de imaginação sobre ão sobrevive mesmo à moda recente de chamar es-
um terreno baldio, mas já tem nome de guerra. O lei- tádio de “arena” (Arena da Baixada, Arena Barueri).
tor adivinha qual é? Aí vai uma pista: o local escolhi- E no entanto...
do é o bairro de Itaquera. Agora ficou fácil. O nome
é Itaquerão, claro. Antes, os estádios precisavam ao 5º § No entanto, o inho é que melhor caracterizaria
menos ser construídos, para receber o enobrecimen- o brasileiro. Sérgio Buarque de Holanda escreveu, no
to do “ão” na última sílaba do apelido. Não mais. Não clássico Raízes do Brasil (um pouco de erudição faz
se sabe sequer quem vai pagar a conta do estádio, ou bem, especialmente ao autor, que se convence de
suposto estádio, do Corinthians, nem existe projeto estar falando coisa séria): “A terminação inho, aposta
definido. Mas o nome já lhe foi pespegado. às palavras, serve para nos familiarizar mais com as
pessoas ou os objetos e, ao mesmo tempo, para lhes
2º § O uso do aumentativo para designar estádios de dar relevo. É a maneira de fazê-los mais acessíveis
futebol começou com a inauguração, em 1965, do aos sentidos e também de aproximá-los do coração”.
Mineirão, em Belo Horizonte – oficialmente Estádio A passagem está no famoso capítulo do “homem cor-
Magalhães Pinto, mas desde o primeiro momento, dial”, isto é, o homem regido pelo coração, que seria
e para sempre, Mineirão. Fazia sentido. O majesto- o brasileiro.
so Mineirão, com capacidade para 130000 pessoas,
nascia como o segundo estádio brasileiro, só atrás 6º § [...] Somos a terra do jeitinho, do favorzinho e do
do Maracanã, “o maior do mundo”. Dali em diante, a probleminha, invocados sobretudo quando o jeito é
moda pegou, e a febre de construção de estádios que complicado, o favor é grande e o problema insolúvel.
assolou o país, a partir do “milagre brasileiro” [...], Por esse caminho, para melhor se aninhar no coração
espalhou ãos pelo país afora. dos brasileiros, o Mineirão deveria ser Mineirinho, o
Castelão, Castelinho e o Batistão, Batistinha. Ocorre
3º § Era uma questão de honra, para os governadores, que estádios pertencem a outra esfera. Não foram
construir estádios na capital do estado. A exemplo do feitos para cativar, mas para impressionar. Não pe-
caso mineiro, o governador que iniciasse as obras ga- dem carinho, mas reverência, a si mesmos e a seus
nhava, por direito divino, o mimo de ter o nome em- criadores. Cumprem no Brasil o que há de mais próxi-
prestado ao do colosso. Mas as homenagens devidas mo ao papel das catedrais e das pirâmides, em outras
ao governador, à cidade, ao estado e ao estádio não épocas e lugares. Mesmo no caso de uma entidade
estariam completas se ao nome não se juntasse um que é puro espírito, como o propalado estádio do
apelido em que se engatasse um ão. Seguiu-se uma Corinthians, o brasileiro é levado a considerar uma
floração da qual constaram, entre outros, o Batistão indelicadeza não chamá-lo de ão.
de Aracaju (Estádio Lourival Batista, 1969), o Caste-
lão de Fortaleza (Estádio Plácido Castelo, 1973), o Al- (Veja, 9 mar. 2011, p. 102.)
bertão de Teresina (Estádio Alberto Silva, 1976) e o
Castelão de São Luís (Estádio João Castelo, 1982). Os
estádios, assim como o próprio campeonato brasilei-
Questão 226 - (PUC MG)
ro de futebol, que chegou a abrigar quarenta clubes,
em 1973, para agradar ao maior número de praças Assinale a alternativa que traz consideração analítica
possível, integravam a estratégia panem et circenses adequada sobre o texto.
do regime. Sendo que, no caso dos estádios, o circen-
ses incluía um ão que convenientemente espelhava a
grandeza da Pátria Grande concebida para embalar a
fantasia dos brasileiros. a) O objetivo central do texto é criticar o apreço
dos brasileiros pelo futebol, o que se manifesta
4º § Tal era sua força que o ão se disseminou por ci- sobretudo pela forma de referência aos está-
dades do interior. Em Presidente Prudente, interior dios.
de São Paulo, surgiu o Prudentão (1982), um entre
muitos exemplos. Com o fim do regime militar, ou, b) O autor traz pistas de que o uso do aumentativo
antes, com o fim domilagre econômico e de sua con- para os nomes dos estádios funcionaria como
trapartida de Pátria Grande, transcorreram mais de uma espécie de metonímia dos seus criadores.
duas décadas de seca na construção de estádios.
Mesmo porque, nos centros mais óbvios, ou mais c) A explicação que o autor apresenta, no primeiro
vistosos, sob o ponto de vista político, já tinham sido período do 6º parágrafo, para o uso do diminu-
todos construídos. Mas não desapareceu a memória tivo exemplifica a função do “-inho” descrita por
do ão. Quando, para os Jogos Pan-Americanos, em Sérgio Buarque de Holanda.
2007, foi inaugurado no Rio de Janeiro o Estádio João d) A ironia se manifesta fundamentalmente na crí-
Havelange, que apelido ganhou? O leitor não adivi- tica ao resultado semântico que o “ão” imprime
nha? Pista: fica no bairro de Engenho de Dentro. Cla- ao substantivo ao qual se acopla.
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TEXTO: 130 - Comum à questão: 227 Tendo em conta as afirmativas acima, assinale a al-
ternativa CORRETA.
Considere a tabela e o gráfico a seguir, que tratam
dos óbitos, no Brasil, segundo as causas mais co-
muns. Examine-os atentamente.
a) Apenas II e III são verdadeiras.

b) Apenas I e II são verdadeiras.


Tabela 1 – Número absoluto (N) e proporção* (%) de
óbitos segundo causas básicas – 2009 c) Apenas I e III são verdadeiras.

d) Todas são verdadeiras.

Questão 228 - (PUC MG)


I. A mídia leva a transformações na sociedade tan-
CAUSA ÓBITOS (N) % to quanto a sociedade leva a transformações na
Doenças crônicas não
742.779 72,4 mídia.
transmissíveis
* Cardiovasculares 319.066 31,3 II. “Tostines vende mais porque é fresquinho; ou é
* Neoplasias 168.562 16,2 fresquinho porque vende mais?”
* Doenças respiratórias 59.721 5,8
* Diabetes mellitus 51.828 5,2 III. As coisas não andam porque ninguém confia no
Gráfico 1 —doenças
* Outras Óbitoscrônicas
por 100.000 habitantes
143.602 14,1 segundo governo. E porque ninguém confia no governo
causas básicas as coisas não andam.

“Círculo vicioso é a sucessão de períodos em que a


troca entre causa e consequência resulta em conti-
nuação ininterrupta do enunciado. Para que se efe-
tive o círculo, é preciso que a causa de um período
passe a ser a consequência no outro, e vice-versa.”

(Revista Língua Portuguesa, n. 95, set. 2013, p. 65.)

Tendo em conta as três frases acima e a descrição de


Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/portal- círculo vicioso, pode-se dizer que tal situação está ca-
saude racterizada em:
/noticia/2884/162/taxade- mortalidade-por-doen-
cas-croni-cas-cai-26.html>.
Acesso em: 28 ago. 2013.
a) I e III, apenas.

b) I e II, apenas.
Questão 227 - (PUC MG) c) II e III, apenas.
I. No último ano do levantamento, diabetes e d) I, II e III.
doenças respiratórias são responsáveis, em con-
junto, por mais de cem mil óbitos.

II. A tabela mostra que cerca de três em cada dez TEXTO: 131 - Comum à questão: 229
óbitos no Brasil em 2009 se deveram a doenças
cardiovasculares. Considere o soneto abaixo, do poeta português Ce-
sário Verde.
III. Durante a última década do século XX e a pri-
meira do século XXI, o câncer matou quatro ve-
zes mais que o diabetes.
“Heroísmos”

288 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Eu temo muito o mar, o mar enorme, c) satirizar e desprezar o mar enquanto símbolo do
heroísmo nacional.
Solene, enraivecido, turbulento,
d) manifestar temor e respeito pela imensidão dos
Erguido em vagalhões, rugindo ao vento; oceanos.
O mar sublime, o mar que nunca dorme.

Questão 230 - (PUC MG)


Eu temo o largo mar, rebelde, informe, “Exortação” [Trecho]
De vítimas famélico, sedento,

E creio ouvir em cada seu lamento Ribeiro Couto e Manuel Bandeira,


Os ruídos dum túmulo disforme. poetas do Brasil,

do Brasil, nosso irmão,


Contudo, num barquinho transparente, disseram:
No seu dorso feroz vou blasonar, “ – É preciso criar a poesia brasileira,
Tufada a vela e n’água quase assente, de versos quentes, fortes, como o Brasil,

sem macaquear a literatura lusíada”.


E ouvindo muito ao perto o seu bramar, Angola grita pela minha voz,
Eu rindo, sem cuidados, simplesmente, Pedindo a seus filhos nova poesia!
Escarro, com desdém, no grande mar!

(In: SERRÃO, Joel [Org.]. Cesário Verde: obra completa. [...]


Lisboa: Livros Horizonte, 1992. p. 58.)
Angola, grande promessa do futuro,

forte realidade do presente,


Glossário
inspira novos ideais
famélico: faminto.
encerra ricos motivos
blasonar: expressar-se de modo falso e/ou exagera-
do.

tufada: estufada. É preciso inventar a poesia de Angola!


assente: firmado. (GOMES, Maurício. In: MACÊDO, Tania; CHAVES, Rita.
Literaturas de língua portuguesa: marcos e marcas.
bramar: gritar, produzir grande ruído. Angola, 2007, p. 61.)

Questão 229 - (PUC MG) No poema, a literatura brasileira é vista como uma
referência para a literatura angolana. Segundo o tex-
Considerando-se a importância do mar no contexto to, isso ocorre devido:
histórico de Portugal, no poema de Cesário Verde, a
atitude do eu lírico demonstra uma intenção de

a) à autonomia da poesia brasileira em relação à


poesia de Portugal.
a) exaltar e celebrar os grandes feitos do passado
da nação lusitana. b) à indicação de semelhanças culturais e históri-
cas entre os dois países.
b) questionar os atos heroicos dos primeiros con-
quistadores portugueses. c) ao caráter político da literatura de resistência
www.PROJETOREDACAO.com.br - 289
produzida no Brasil.

d) à capacidade de constante reinvenção dos poe-


tas brasileiros.

TEXTO: 132 - Comum à questão: 231


Comparação entre números de citações por artigos científicos na área
de Medicina produzidos por quatro países.
(Disponível em: <http://clubedamafalda.blogspot.com.br/>.
Acesso em: 22 mar. 2014.)

Questão 232 - (PUC MG)


Assinale a alternativa que apresenta conclusão CORRETA a que o leitor
pode chegar a partir da leitura da tirinha.

a) O pai está entediado por causa das muitas perguntas e reflexões


da filha.

(Disponível em: <http://cienciabrasil.blogspot.com.br/>. b) Trabalhadores de certas categorias profissionais faltam muito ao


Acesso em: 25 fev. 2014.) trabalho.

c) O texto traz evidência de que o pai está sendo insincero.

d) A ingenuidade da criança surpreende o pai, que acreditava que


Questão 231 - (PUC MG) suas explicações haviam sido compreendidas.

I. Durante a maior parte do tempo a que se refere o gráfico, os qua-


tro países aí representados mantêm suas posições hierárquicas
inalteradas, competindo de perto, por um lado, Brasil e Espanha e,
por outro, Estados Unidos e Dinamarca. TEXTO: 134 - Comum à questão: 233
II. Em 2008, os valores de citação por artigo para o Brasil, a Espanha, O PEIXE NEMO E O MAIS MÉDICOS
a Dinamarca e os Estados Unidos foram, respectivamente, de 3, 4,
5,5 e 9. Rogério Cezar de Cerqueira Leite

III. Estados Unidos e Dinamarca apresentam idênticos índices de ci-


tação por artigo científico em Medicina nos anos de 1996, 1999,
2000 e 2004. 1º § A indústria farmacêutica apresenta uma característica peculiar. Ela
vende para um, o doente, que é quem paga, mas quem escolhe o medi-
camento é outro, o médico.

Considerando as afirmativas acima, são INCORRETAS: 2º § Essa condição fez com que a indústria farmacêutica internacional
desenvolvesse uma estratégia “sui generis” que, não obstante, imita um
comportamento comum entre animais inferiores, a simbiose.

a) I e II, apenas. 3º § Observo em meu aquário o peixe-palhaço percola Nemo colher um


vôngole e levá-lo à boca de “sua” anêmona, antes mesmo que ele pró-
b) I e III, apenas. prio se alimente. Em troca, recebe da anêmona – um animal com tentá-
culos venenosos – proteção contra eventuais predadores. Essa troca de
c) II e III, apenas. favores chamamos simbiose.

d) I, II e III. 4º § A promoção de medicamentos se faz de porta em porta, nos consul-


tórios médicos. Todo mundo sabe que os inúmeros congressos médicos
nos mais pitorescos locais do mundo, de Paris a Cancun, são patrocina-
dos pelas empresas produtoras de medicamentos, inclusive com passa-
gens e estadia pagas.
TEXTO: 133 - Comum à questão: 232
5º § O que não era percebido até recentemente é a importância e o vo-
lume de recursos repassados diretamente a médicos como remuneração
pela promoção de medicamentos. Pois bem, embora sejam esses recur-
sos diminutos em comparação com os gastos globais dessas empresas
com propaganda, em que se incluem as conferências técnico-turísticas,
elas ultrapassam só nos Estados Unidos uma centena de milhões de dó-
lares por ano.

6º § E onde fica a ética? E o ensinamento de Hipócrates? A prática quoti-


diana e a necessidade de sobrevivência geram padrões de comportamen-
to que, por sua vez, estabelecem dogmas, tabus, que enfim são incorpo-
rados como princípios éticos à cultura de cada sociedade.

290 - www.PROJETOREDACAO.com.br
7º § Aos poucos, os médicos acabam por sepultar sua própria percepção para baixo. Assane passou as palmas das mãos pelas
dos conflitos de interesse que regem essa maléfica simbiose. Três empre-
sas multinacionais do setor farmacêutico foram há pouco multadas e 18 desempregadas coxas. Tinha sido apenas há dias que
de seus funcionários presos na China por adotarem essa prática. lhe abriram a porta da prisão. Ainda nem sabia bem
se arrastar de mão pelo chão. Por isso as sacudia,
8º § Recentemente, o médico britânico e Nobel de medicina Richard J.
Roberts acusou as farmacêuticas de evitar a cura em prol da dependên- limpando essas mãos que ele sempre aplicara nos
cia, um fato já conhecido. Se você cura o doente, você deixa de faturar. documentos.
Se você simplesmente o mantém vivo, você fatura indefinidamente. Uma
estratégia também adotada por animais parasitas. Quantas corporações
médicas denunciaram essa condição maléfica?

9º § Médicos e suas associações já se opuseram, se não publicamente, Com base no trecho e em seu contexto, leia as se-
pelo menos nos bastidores, a iniciativas positivas do Estado. Isso ocor- guintes afirmativas.
reu com a instalação do SUS e com as poucas iniciativas de produção
de medicamentos em laboratórios estatais. Agora acontece com o pro-
grama Mais Médicos, que, para as condições atuais da saúde no Brasil,
é imprescindível. Tudo que pareça interferir com a tradicional simbiose
médicoprodutoras de medicamentos, mesmo que tangencialmente, pas- I. As obras de Mia Couto exploram, de modo geral,
sa a ser hostilizado.
o mundo simbólico moçambicano, a guerra e as
10º § Quantos dos médicos que se declaram contra o programa repudia- tensas relações entre o africano e o europeu.
ram ofertas de passagens e estadias em gostosas conferências? Quantos
colocam o interesse da sociedade brasileira acima dos seus próprios e de II. O trabalho com a linguagem literária torna-se
sua corporação?
evidente a partir da criação de novos vocábulos
(Extraído de: Folha de S.Paulo, 19 nov. 2013.) e da utilização de outros com diferentes senti-
dos.

III. Para narrar a violência sofrida pelo personagem,


Questão 233 - (PUC MG) o autor vale-se de eufemismos como “sujado
por mil bocas”, “as pernas se exilaram daquele
O texto tem como objetivo central: sofrimento”, “perdeu o sentimento da cintura”.

a) Denunciar relações de compadrio entre a indús- A(s) afi rmativa(s) correta(s) é/são
tria farmacêutica e a classe médica brasileira.

b) Posicionar-se favoravelmente ao programa Mais


Médicos e a outras iniciativas do Estado Brasilei- a) I, apenas.
ro.
b) II, apenas.
c) Cobrar da classe médica coerência e ética.
c) I e III, apenas.
d) Condenar certa atitude corporativista no seio da
classe médica. d) II e III, apenas.

e) I, II e III.

Questão 234 - (PUC RS)


Leia o trecho extraído do romance Terra Sonâmbula, Questão 235 - (PUC RS)
de Mia Couto.
Leia o trecho a seguir, retirado da obra São Bernardo,
de Graciliano Ramos.

De imediato, centenas de pessoas se lançaram em


todo tipo de embarcações, das pequenas às mais mí-
nimas, para assaltarem o navio malfragado, a fi m de Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca,
se servirem das ditas xicalamidades. [...] Desde en- naturalmente, e levei-a para além do ponto em que
tão, a situação só piorou pois, consoante o secretá- estava no tempo de Salustiano Padilha. Houve re-
rio do administrador, a população não se comporta clamações. [...] Como a justiça era cara, não foram
civilmente na presença da fome. Muita gente insistia à justiça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra
agora em voltar ao tal navio pois lá sobrava comida do Fidélis, paralítico de um braço, e a dos Gama, que
que daria para salvar fi lhos, mães e uma africanida- pandegavam no Recife, estudando direito. Respeitei
de de parentes. [...] Assame foi preso, sujado por mil o engenho do Dr. Magalhães, juiz. Violências miúdas
bocas. Na prisão lhe bateram, chambocado nas cos- passaram despercebidas. As questões mais sérias
tas até que as pernas se exilaram daquele sofrimento foram ganhas no foro, graças às chicanas de João
que lhe era infl igido. Perdeu o sentimento da cintura Nogueira. [...] Enquanto estive esburacando São Ber-
nardo, tudo andou bem; mas quando varei quatro ou
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cinco propriedades, caiu-me em cima uma nuvem de Questão 236 - (PUC RS)
maribondos. Perdi dois caboclos e levei um tiro de
emboscada. Ferimento leve, tenho a cicatriz no om- Leia o trecho da obra Cães de Província.
bro. Exasperado, mandei mais cem mil-réis a Costa
Brito e procurei João Nogueira e Gondim:

– Desorientem essas cavalgaduras. Olhem que estou Qorpo-Santo ia perguntar afinal por que o amigo es-
fazendo obra pública e não cobro imposto. É uma tava assim tão misterioso e abalado – intimamente
vergonha. O município devia auxiliar-me. Fale com o já sabia –, mas naquele momento passava pela ou-
prefeito, dr. Nogueira. Veja se ele me arranja umas tra calçada um vereador da Câmara, a quem Eusébio
barricas de cimento para os mata-burros. saudou largamente, tirando o chapéu quase até o
chão, enquanto o vereador apenas levou dois dedos
Não recebi o cimento, mas construí os mata-bur- displicentes à aba da cartola.
ros. Como os meus planos eram volumosos e ado-
tei processos irregulares, as pessoas comodistas – Você não devia ser tão abaixado para esta gente
julgaram-me doido e deixaram-me em paz. Tive por – Qorpo-Santo exclamou, já esquecido das inquieta-
esse tempo a visita do governador do Estado. [...] O ções de Eusébio –. Um dia ainda vou escrever uma
governador gostou do pomar, das galinhas Orping- comédia desancando essa gente de cérebro de gali-
ton, do algodão e da mamona, achou conveniente nha, você vai ver, tenho até o nome na minha cabe-
o gado limosino, pediu-me fotografias e perguntou ça. – Calou-se depois em respeito à angústia do bom
onde fi cava a escola. Respondi que não fi cava em Eusébio, que não se envergonhava de ter Qorpo-San-
parte nenhuma. No almoço, que teve champanhe, o to a seu lado, quando toda esta maléfi ca cidade o
dr. Magalhães gemeu um discurso. S. Ex.ª tornou a indigitava de maluco. Maluco é a senhora sua madre,
falar na escola. Tive vontade de dar uns apartes, mas Qorpo-Santo dizia entredentes, quando ouvia os risi-
contive-me. Escola! Que me importava que os outros nhos abafados das raparigas e dos senhores graves.
soubessem ler ou fossem analfabetos? [...] De repen-
te supus que a escola poderia trazer a benevolência
do governador para certos favores que eu tencionava
solicitar. Com base no trecho e em seu contexto, analise as
seguintes afirmativas.
– Pois sim senhor. Quando V. Ex.ª vier aqui outra vez,
encontrará essa gente aprendendo cartilha.

I. Cães da província é de autoria do escritor gaú-


cho Charles Kiefer.
Todas as afi rmativas estão corretamente associadas
ao texto, EXCETO: II. Numa simples cena de cumprimento, o trecho
evidencia a diferença de comportamento entre
o povo e o político, mostrando um certo entu-
siasmo desmedido do primeiro e uma frieza pro-
a) O personagem narra suas pequenas e grandes tocolar do segundo.
transgressões sem a menor indicação de crise
de consciência, fato reforçado pela utilização de III. Cães da província traz, ainda antes da fama, um
advérbios como “naturalmente”. personagem histórico, Qorpo-Santo, dramatur-
go gaúcho, autor de obras como Mateus e Ma-
b) Por conta da expansão de suas terras, o narra- teusa e As relações naturais.
dor confessa ter invadido toda e qualquer área
limítrofe, pouco se importando com a condição
social de seus vizinhos.
A(s) afi rmativa(s) correta(s) é/são
c) O narrador promete a construção de uma escola
não por acreditar na importância da educação
para a comunidade, mas para talvez conseguir
outros benefícios para ele mesmo. a) I, apenas.

d) O comentário “que teve champanhe” indica um b) II, apenas.


tratamento distintivo promovido no almoço em
questão, sugerindo bajulação em torno do go- c) I e III, apenas.
vernador. d) II e III, apenas.
e) Parte do sucesso nas transgressões à lei afi rma- e) I, II e III.
das pelo narrador deve-se a sua grande ousadia,
o que lhe garantia uma imagem de “doido”.
292 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 237 - (PUC RS) I. Os versos abordam uma temática prosaica, de
aparente simplicidade, muito presente na totali-
Leia o poema “Elegia de agosto”, de Manuel Bandei- dade da obra de Manuel Bandeira.
ra.
II. Uma certa melancolia, associada ao sentimento
de conformismo diante da realidade, é perceptí-
vel ao longo do poema.
A nação elegeu-o seu Presidente
III. O poema apresenta um traço narrativo, trazen-
Certo de que jamais ele a decepcionaria. do, inclusive, uma fala registrada em discurso
De fato, direto.

Durante seis meses, IV. As marcas de oralidade e a presença de adjeti-


vos evidenciam o lirismo exacerbado que carac-
O eleito governou com honestidade, teriza o sentimento de mundo do poeta.

Com desvelo,

Com bravura. A(s) afi rmativa(s) correta(s) é/são

Mas um dia,

De repente, a) I, apenas.

Lhe deu a louca b) II, apenas.

E ele renunciou c) I e III, apenas.

d) II e III, apenas.

Renunciou sem ouvir ninguém. e) I, II e III.

Renunciou sacrificando o seu país e os seus amigos.

Renunciou carismaticamente, falando nos pobres e TEXTO: 135 - Comum à questão: 238

humildes que é tão difícil ajudar. Álbum de colégio

Explicou: “Não nasci presidente.

Nasci com a minha consciência. 1


Um antigo colega criou e organizou um site sobre
2
nossos anos de colégio, que já vão longe. Visitei
Quero ficar em paz com a minha consciência.” ontem 3 as páginas virtuais de uma experiência real,
vivida 4 longamente numa velha escola, sólida tanto
na construção 5 como no ensino. A pesquisa do meu
colega é 6 bastante rica: documenta com detalhes
Agora vai viajar.
pessoas e espaços 7 que nos foram muito familia-
Vai viajar longamente no exterior. res. Detive-me logo 8 na sequência dos professores,
como se de novo estivesse 9 a ouvir suas vozes e a ver
Está em paz com a sua consciência. seus gestos, projetados 10 do tablado em que ficava a
mesa, junto ao 11 quadro-negro.
Ouviram bem?

12
Dona Alzira, de matemática. Óculos grossos, de 13
ESTÁ EM PAZ COM A SUA CONSCIÊNCIA aro escuro, contrastando com a pele clara. Paciente,
14
repetia o que fosse necessário de uma lição de ál-
gebra 15 ou geometria. Eu me divertia com as pala-
vras novas, 16 que logo transformava em apelidos dos
E que se danem os pobres e humildes que é tão difícil
colegas: 17 Maria Clara ficou sendo a Hipotenusa, por
ajudar. ser comprida 18 e magra, e o Zé Roberto passou a ser
Cateto, por 19 conta do nariz comprido. As palavras
prestam-se a associações 20 estranhas, talvez arbi-
trárias. O frequente 21 vestido de folhas vermelhas de
Com base no poema, afirma-se:
www.PROJETOREDACAO.com.br - 293
Dona Alzira me parecia 22 bandeira vistosa das mi- tado 70 tanto quanto possível. Regulava-se o compri-
nhas dificuldades com as 23 equações e os teoremas. mento 71 das saias, que algumas colegas enrolavam
sorrateiramente 72 na cintura. Afinal, a moda era a
míni... 73 Discos recém-lançados de Roberto Carlos e
dos 74 Beatles animavam o intervalo maior, colocados
24
Dava-me melhor em Português. Não tanto com a 25 na vitrola 75 reivindicada e conseguida pelo centro es-
Gramática das regras severas e nomenclatura difícil, tudantil.76 77 Volta e meia aparecia um jornalzinho
26
mas com os textos bonitos que nos levavam para dos estudantes, 78 de corpo editorial instável e de vida
fora 27 da escola, na viagem da imaginação. Descobri curta.
com 28 seu Alex, professor grandalhão de voz grave e
dicção 29 perfeita, o encantamento de versos ou fra-
ses em 30 prosa ditos com muita expressão, valoriza-
dos em cada 31 sílaba. E me iniciei em alguns autores 79
Como esquecer, ainda, as figuras dos nossos ins-
que acabaram 32 ficando, como Fernando Pessoa. petores 80 de alunos? Seu Alípio, baixinho e bravo,
vociferando 81 por nada; dona Gladyr, apelidada de
Arco-íris 82 por conta das roupas multicoloridas; dona
Gervásia, a 83 mais velha funcionária da escola, con-
33
A História, ao que me lembro, dividia-se em Geral, tadora de 84 “causos”; Albertina, moça vigilante e de
34
da América e do Brasil. Tive mais de um professor, poucas palavras, 85 encarregada do portão de entra-
o 35 mais entusiasmado e entusiasmante era o seu da das meninas. 86 Na cantina, os três irmãos proprie-
Euclides, 36 quase nunca imparcial, admirador dos tários (“os três mosqueteiros 87 ou os três patetas?”,
gregos, não tanto 37 dos romanos, capaz de descre- brincávamos) atendiam 88 a todos com desenvoltura
ver as viagens marítimas 38 dos portugueses e espa- e bom humor. E, por todo 89 lado, as criaturas mais
nhóis como se fosse um tripulante. 39 Não deixava de antigas e veneráveis: os 90 flamboyants copados, os
admirar Napoleão, acentuando 40 a incomensurável plátanos, as duas figueiras. 91 Provavelmente ainda
diferença entre o tio e o sobrinho. Na 41 História do todas vivas, florescendo.
Brasil, enfatizava as insurreições populares 42 e cen-
surava o Estado Novo.
92
De clique em clique armou-se na tela do monitor, 93
em grande angular, a imagem da preciosa e velha 94
43
Clicando aqui e ali (quem diria que havíamos de biblioteca da escola. Sim, tinha bibliotecária: uma 95
44
conhecer e usar esse tal de computador?) chego senhora idosa e prestativa, sempre perfumada, rigo-
a outros 45 mestres, a outras aulas inesquecíveis. As rosa 96 na disciplina: dona Augusta, de hábitos e gos-
meninas 46 torciam o nariz nas de Química: o profes- to 97 conservadores. Na “sua” biblioteca não entrava
sor fazianos 47 usar o laboratório e praticar reações “esse 98 tal de Sartre, francês ateu e comunista que
(com sulfato? 48 com sulfeto?) que não cheiravam desencaminha 99 a juventude”. Recomendava-nos
nada bem. As mais 49 frágeis simulavam desmaios... Coelho 100 Netto e Olavo Bilac, Machado de Assis e
Havia as salas-ambiente, 50 destinadas e aparelhadas Euclides da 101 Cunha, e parava por aí: nenhum entu-
para disciplinas específicas. 51 Na de Geografia, gran- siasmo pelos 102 modernos. Mas lá estavam Bandeira,
des mapas, projetor 52 de slides, maquetes e figuras Drummond, 103 Clarice, Graciliano, Guimarães Rosa,
em alto relevo; na de 53 Biologia, acreditem: um es- que íamos descobrindo 104 aos poucos. A biblioteca
queleto completo, de verdade, 54 apelidado de Toni- tinha algumas preciosidades 105 do século XIX, enca-
nho (dizia-se que de um indigente, 55 morto há várias dernadas e dispostas 106 nas prateleiras mais altas.
décadas); na de Física, armários 56 com instrumentos
que lembravam ilustrações de 57 Da Vinci. O professor
Geraldo não era exatamente 58 uma grande vocação
de pedagogo: com ele a Física ficava 59 mais difícil do 107
Ah, a educação física... Luxos dos luxos: um ginásio
que já é. Dividia o curso em três 60 partes: Cinemática, 108
de esportes, com boa quadra e pequena arquiban-
Estática e Dinâmica, mas não sobrava 61 quase nada cada, 109 e um campo gramado de futebol, com traves
de nenhuma. Como ficava ao lado 62 da sala de Mú- 110
oficiais e rede, instalada apenas nos jogos impor-
sica, distraía-nos o piano de Dona 63 Mariinha, que tantes. 111 Lembro-me quando a seleção da escola
punha seus alunos para cantar peças do 64 folclore recebeu 112 o time do Seminário Presbiteriano, uns
nacional, das cirandas e emboladas do nordeste 65 às jovens educadíssimos, 113 diante dos quais parecía-
danças gauchescas. mos uns trogloditas. 114 Pois nos deram uma goleada,
com todo o respeito. 115 Nosso comentário ressentido:
− Mas também esses 116 caras vivem concentrados...
66
E havia, é claro, os pátios de recreio, movimentados
67
nos intervalos. A moralidade da época recomenda-
va 68 dois pátios: um para os meninos, outro para as 69 Velha escola. Por ironia, a tecnologia moderna 118
117

meninas. As turmas eram mistas, mas o convívio evi- me leva ao passado e materializa reminiscências que

294 - www.PROJETOREDACAO.com.br
119
pareciam condenadas à pura e desmaiada memó- TEXTO: 136 - Comum à questão: 239
ria. 120 Ao som das músicas daquela época, as jovens
colegas 121 continuam moças e bonitas, e os rapazes Fora os fantasmas que me acompanham e me
1

ensaiam 122 seus flertes... Palavras antigas. Mas está


2
fazem refletir sobre o sentido da vida, vivo eu, nes-
tudo 123 lá: no site do colégio, aberto à participação te 3apartamento, com uma gatinha siamesa. Que é
de moços 124 e velhos, história organizada de uma dé- linda, 4não preciso dizer, mas, além disso, é especial:
cada perdida 125 no século XX. Lembrei-me agora de quase 5nunca mia e, quando soa a campainha da por-
uma cena do filme 126 Sociedade dos poetas mortos. ta, se arranca. 6Nem eu sei onde ela se esconde.
O professor leva 127 seus corados alunos a um saguão
da escola, onde 128 estão fotos amareladas de alunos Ela é, portanto, muito diferente do gatinho que,
7

de outrora, que já 129 nem estão neste mundo. Aos


8
antes dela, me fazia companhia e que se foi. Morreu
moços atentos àquelas 130 imagens pergunta o pro- de 9velho, já que nunca havia adoecido durante seus
fessor: − Sabe o que dizem 131 esses jovens das fotos? 16 anos 10de vida. Quando adoeceu, foi para morrer.
Dizem: carpe diem, em latim. 132 Ou: aproveita bem Não preciso 11dizer que fiquei traumatizado e não
o dia que passa. quis mais saber de 12outro gato. Amigas e amigos me
ofereceram um substituto 13para o meu gatinho, e eu
(Rinaldo Antero da Cruz, inédito) respondia que amigo não 14se substitui.

Os anos se passaram, a dor foi se apagando, até


15

que um belo dia, minha amiga Adriana Calcanhoto


16

Questão 238 - (PUCCamp SP) chegou 17aqui em casa com um presente para mim:
era uma 18gatinha siamesa. Faltou-me coragem para
A História, ao que me lembro, dividia-se em Geral, dizer não, 19mesmo porque a bichinha me encantou à
da América e do Brasil. Tive mais de um professor, o primeira vista. 20Manteve-se arredia por algum tem-
mais entusiasmado e entusiasmante era o seu Eucli- po, mas logo me aceitou 21e nos tornamos amigos.
des, quase nunca imparcial, admirador dos gregos,
não tanto dos romanos, capaz de descrever as via- Hoje me sinto praticamente lisonjeado pelo fato
22

gens marítimas dos portugueses e espanhóis como se 23


de que, por medo ou desconfiança, enquanto ela
fosse um tripulante. Não deixava de admirar Napo- foge de 24todo mundo, me busca pela casa, sobe em
leão, acentuando a incomensurável diferença entre minhas pernas 25e ali se deita, isso sem falar que, to-
o tio e o sobrinho. Na História do Brasil, enfatizava das as noites, 26dorme em minha cama.
as insurreições populares e censurava o Estado Novo.
Confia em mim, sabe que gosto dela e que pode
27

contar comigo para o que der e vier. Essa confiança


28

de 29um bicho que não fala a minha língua, que não


Em seu contexto, o que acima se transcreve legitima sabe 30quem sou eu, mas só o que sou dentro desta
o seguinte comentário: casa, me 31alegra.

E às vezes, olhando-a dormir na poltrona da sala,


32
33
lembro que para ela a morte não existe, como existe
a) A frase inicial sinaliza que o parágrafo vai prio- para 34nós, gente. Ela é mortal, mas não sabe, logo é
rizar a História como tema e reconstruí-la, em imortal. A 35morte, no caso dela, é apenas um aciden-
detalhes, do âmbito mais amplo até o mais res- te como outro 36qualquer, dormir, comer, brincar, cor-
trito. rer; só existirá quando 37acontecer, sem que ela saiba
b) A expressão ao que me lembro constitui recurso o que está acontecendo.
do autor para prevenir alguma crítica acerca de (GULLAR, Ferreira. Folha de S.Paulo,
possível erro de informação. E10 ilustrada, 9 de março de 2014)
c) Em o mais entusiasmado e entusiasmante, os
diferentes sufixos que formam adjetivos expres-
sam exatamente a mesma ideia, tendo sido em- Questão 239 - (PUCCamp SP)
pregados, em conjunto, para reforçar o sentido
pela repetição. Nesse texto, Ferreira Gullar
d) Está explícita no fragmento a ideia de que um
tripulante é capaz de descrever uma viagem ma-
rítima da maneira mais minuciosa e cativante. a) relata, com a seriedade própria de uma biogra-
fia, sua história pessoal, quando deplora com
e) O segmento acentuando a incomensurável dife- sutileza e sensibilidade o fato de viver só, deter-
rença entre o tio e o sobrinho exprime ideia de minante de sua rotina de conviver com fantas-
causa. mas e refletir sobre a vida.

www.PROJETOREDACAO.com.br - 295
b) aborda o fato comum de conviver com bicho lambuzemos um pouco, ou até bastante. Nessa nova
de estimação, descrevendo, com delicadeza de configuração, parece necessário resgatarmos alguns
poeta, os hábitos da gata siamesa, responsá- 13
conceitos, para que o nosso tempo não seja devo-
veis definitivos pelo fato de consentir, depois de rado por banalidades como se fosse matéria ordiná-
anos, com a substituição do gatinho que tivera ria. E talvez o 14 mais urgente desses conceitos seja
anteriormente. mesmo o da urgência.

c) vale-se de linguagem bem-humorada para con-


fessar que, ao aceitar a gata como presente,
se esquivou ao constrangimento de negar uma
15
Estamos vivendo como se tudo fosse urgente. Ur-
oferta da amiga, situação desconfortável poten- gente o suficiente para acessar alguém. E para exi-
cializada pelo fato de ela ser, como ele, pessoa gir desse 16 alguém uma resposta imediata. Como
famosa. se o tempo do “outro” fosse, por direito, também
o “meu” tempo. E até como 17 se o corpo do outro
d) comenta, em linguagem que reproduz a sim- fosse o meu corpo, já que posso invadi-lo, simbolica-
plicidade da vida cotidiana, a relação exclusiva mente, a qualquer momento. Como se os 18 limites
que tem com a gatinha, circunstância em que se entre os corpos tivessem ficado tão fluidos e inde-
mostra vaidoso pela própria habilidade de fazer finidos quanto a comunicação ampliada e potencia-
amigos, sejam animais ou não. lizada 19 pela tecnologia. Esse se apossar do tempo/
corpo do outro pode ser compreendido como uma
e) fala de uma situação miúda da vida – a atenção violência. Mas até 20 certo ponto consensual, na me-
que dá ao repouso da gata siamesa na poltrona dida em que este que é alcançado se abre/oferece
da sala –, ocasião em que ele, se comportando para ser invadido. Torna-se, ao se 21 colocar no modo
como se estivesse sendo instigado pelos seus “online”, um corpo/tempo à disposição. Mas exige o
fantasmas, dá à cena um sentido peculiar. mesmo do outro – e retribui a possessão. Olho 22 por
olho, dente por dente. Tempo por tempo.

TEXTO: 137 - Comum à questão: 240


23
Como muitos, tenho tentado descobrir qual é a mi-
É urgente recuperar o sentido de urgência nha medida e quais são os meus limites nessa nova
24
configuração. Descobri logo que, para mim, o celu-
Eliane Brum
lar é insuportável. Não é possível ser alcançada por
qualquer um, 25 a qualquer hora, em qualquer lugar.
Estou lendo um livro e, de repente, o mundo me in-
01
Dias atrás, Gabriel Prehn Britto, do blog Gabriel vade, em geral com 26 irrelevâncias, quando não com
quer viajar, tuitou a seguinte frase: “Precisamos re- telemarketing. Estou escrevendo e alguém liga para
definir, com 02 urgência, o significado de URGENTE” me perguntar algo que poderia 27 ter descoberto sozi-
(Caixa alta, na internet, é grito). “Parece que as pes- nho no Google, mas achou mais fácil me ligar, já que
soas perderam a noção do 03 sentido da palavra”, bastava apertar uma tecla do próprio celular.
comentou, quando perguntei por que tinha postado
esse protesto/desabafo no Twitter. “Urgente 04 não
é mais urgente. Não tem mais significado nenhum.” 28
Bani do meu mundo os celulares, fechei essa jane-
Ele se referia tanto ao urgente usado para anunciar
la no meu corpo. Descobri que, ao não me colocar
notícias 05 nada urgentes nos sites e nas redes sociais,
24 horas 29 disponível, as pessoas se sentiam pes-
quanto ao urgente que invade nosso cotidiano, na
soalmente rejeitadas. Mas não apenas isso: elas se
forma de demanda 06 tanto da vida pessoal quanto
sentiam lesadas no seu 30 suposto direito a tomar o
da profissional. Depois disso, Gabriel passou a postar
meu tempo na hora que bem entendessem, com ou
uns “tuítes” provocativos, do tipo: 07 “Urgente! Acor-
sem necessidade, como se não 31 devesse existir ne-
dei” ou “Urgente: hoje é sexta-feira”.
nhum limite ao seu desejo. Algumas se declararam
ofendidas. Percebi também que, em geral, as 32 pes-
soas sentem não só uma obrigação de estar disponí-
08
A provocação é muito precisa. Se há algo que se veis, mas também um gozo. Talvez mais gozo do que
perdeu nessa época em que a tecnologia tornou pos- 33
obrigação. É o que explica a cena corriqueira de
sível a 09 todos alcançarem todos, a qualquer tempo, ver as pessoas atendendo o celular nos lugares mais
é o conceito de urgência. Vivemos ao mesmo tem- absurdos 34 (inclusive no banheiro...). É o gozo de se
po o privilégio e a 10 maldição de experimentarmos considerar imprescindível.
uma transformação radical e muito, muito rápida em
nosso ser/estar no mundo, com 11 grande impacto na
nossa relação com todos os outros. Como tudo o que 35
Bem, eu não sou imprescindível a todo mundo e
é novo, é previsível que nos atrapalhemos. 12 E nos
296 - www.PROJETOREDACAO.com.br
tenho certeza de que os dias nascem e morrem sem 1
Eu morava no 111. Ele, no 211. Vivia eu, portanto,
mim. As 36 emergências reais são poucas, ainda bem, sob as suas pantufas. Ele, 2 sobre o meu lustre. O meu
e para estas há forma de me encontrar. Logo, posso apartamento não era de todo ruim. Tinha, todavia,
ficar sem celular. 37 Mas tive de me esforçar para que um 3 defeito lamentável: eu escutava tudo o que se
as pessoas entendessem que não é uma rejeição ou passava no de cima.
uma modalidade de 38 misantropia, apenas uma es-
colha. Para mim, é uma maneira de definir as fron-
4
Aquilo me irritava profundamente. Mediante des-
teiras simbólicas do meu corpo, de 39 territorializar o pertador, eu acordava, 5 invariavelmente, às seis e
que sou eu e o que é o outro, e de estabelecer limites meia. Nesta hora, sempre, escutava-o no banho. Às
– o que me parece fundamental em qualquer 40 vida. seis e 6 quarenta, enquanto me barbeava, a chaleira
dele apitava, ouvia os seus passos na 7 cozinha e o
tilintar da xícara, pires e talheres. Logo após, eu per-
manecia cinco minutos 8 sem ouvi-lo, posto que era
41
A grande perda é que, ao se considerar tudo urgen- a minha vez de tomar banho e, então, só escutava
te, nada mais é urgente. Perde-se o sentido do que é o meu 9 chuveiro. Às seis e cinquenta, porém, en-
42
prioritário em todas as dimensões do cotidiano. E quanto preparava meu suco de laranja, 10 escutava-o
viver é, de certo modo, um constante interrogar-se excretar, com fortes ruídos, aquilo que, na véspera,
sobre o que é 43 importante para cada um. Ou, dito muito comera e bebera. 11 Dois ou três minutos mais,
de outro modo, uma constante interrogação sobre vinha o som da descarga. Às sete em ponto, à terceira
para quem e para o quê damos 44 nosso tempo, já ou à 12 quarta badalada do meu velho carrilhão, ele
que tempo não é dinheiro, mas algo tremendamente abria e fechava a porta. Um minuto após, 13 através
mais valioso. Como disse o professor Antonio 45 Can- da janela, eu o via, sempre vestindo cinza, gordalhu-
dido, “tempo é o tecido das nossas vidas”. 46 Viver no fo, passos lentos, dobrar a 14 esquina em direção ao
tempo do outro – de todos e de qualquer um – é uma Centro.
tragédia contemporânea.
HAMMS, Jair Francisco. O detetive de Florianópolis.
Disponível em: <http://epoca.globo.com/colunas-e-blo- Florianópolis: UFSC, 2013, p. 188.
gs/eliane-brum/>.
Acesso em: 25 mar. 14. (Adaptado)

Questão 241 - (UDESC SC)


Questão 240 - (UCS RS) Analise as proposições em relação à crônica O excre-
tar lá de cima, Jair Francisco Hamms, e ao texto, e
Com a expressão tragédia contemporânea (Ref. 46), assinale (V) para verdadeira e (F) para falsa.
a autora sintetiza

( ) Ao final da crônica o morador do 111 procura


a) o preenchimento dos vazios existenciais pela pelo detetive Tive, para que as relações com o
tecnologia e suas ferramentas de acesso ao vizinho sejam amenizadas.
mundo e à vida das pessoas.
( ) Da leitura do período “Um minuto após, atra-
b) o fato de que a tecnologia desencadeia uma li- vés da janela, eu o via, sempre vestindo cinza,
mitação em termos de possibilidade de domínio gordalhufo, passos lentos, dobrar a esquina em
do tempo e do espaço. direção ao Centro” (Refs. 12 a 14) infere-se que
o narrador, às sete horas, espionava seu vizinho
c) a ideia de que há uma nova configuração de e, logo após, seguia-o até o trabalho.
sociedade onde tudo é urgente e de que não é
possível lidar com essa urgência no dia a dia. ( ) Em “ouvia os seus passos na cozinha e o tilintar
da xícara” (Refs. 6 e 7) o termo destacado é uma
d) a contradição entre a possibilidade de acesso ao onomatopeia.
mundo e aos outros a qualquer tempo e a vulne-
rabilidade de ser dominado por isso. ( ) Em “Às seis e quarenta, enquanto me barbeava,
a chaleira” (Refs. 5 e 6) a oração destacada clas-
e) o sentimento de posse que as pessoas desenvol- sifica-se como subordinada adverbial temporal.
vem com relação ao controle das suas ações na
vida cotidiana e profissional. ( ) Nesta crônica o narrador propõe uma nova for-
ma de conviver com nossos vizinhos: mudar
nossos hábitos para mantermos uma convivên-
cia harmoniosa.
TEXTO: 138 - Comum à questão: 241
O excretar lá de cima
www.PROJETOREDACAO.com.br - 297
Assinale a alternativa correta, de cima para baixo. minência adquirida pelo boleiro 80 em detrimento do
sportsman, ele encarnava a 81 mudança destinada a
apagar os últimos 82 vestígios da marca refinada, es-
nobe e 83 excludente que a juventude privilegiada 84
a) F – V – V – F – F procurara atribuir à prática do esporte inglês, 85 subs-
b) F – F – V – V – V tituindo-a gradativamente por uma feição 86 mais
popular do jogo, por uma dimensão mais 87 nacional
c) F – F – V – V – F do futebol, por uma identidade mais 88 ambígua do
atleta.
d) V – V – V – F – F

e) V – F – V – V – F
89
RISCOS SIMBÓLICOS
90
A realização da Copa do Brasil em 1950 91 viria a
TEXTO: 139 - Comuns às questões: 242, 243 se constituir, neste sentido, em uma 92 rara oportu-
nidade. No dia da decisão contra o 93 Uruguai sobre-
O texto (subdividido em seções) faz uma reflexão so- veio o inesperado revés. Foi, 94 então, que os torce-
bre a maneira como se comporta, em determinado dores descobriram os riscos 95 simbólicos envolvidos
momento, a sociedade brasileira, que, mais cedo ou na tarefa de reimaginar a 96 nação dentro das quatro
mais tarde, teria que integrar negros e mulatos. linhas do campo. As 97 reportagens da crônica espor-
tiva elegiam o 98 goleiro Barbosa e o defensor Bigode
como 99 bodes expiatórios, exprimindo a vontade de
José Paulo Florenzano
100
“descarregar nas costas” dos referidos 101 jogado-
res os “prejuízos” acarretados pela 102 derrota. Uma
chibata moral, eis a sentença 103 proferida no tribunal
dos brancos.
FUTEBOL E RACISMO: O MITO 50 DA DEMOCRACIA
49

EM CAMPO
51
A história do futebol brasileiro contém, ao 52 longo
104
A REVOLTA DA CHIBATA
de quase um século, registros de e 53 pisódios marca-
dos pelo racismo. Eis o 54 paradoxo: se de um lado a
105
Nos anos 1970, por não atender às 106 expectativas
atividade 55 futebolística era depreciada aos olhos da normativas suscitadas pelo 107 estereótipo do “bom
56
“boa sociedade” enquanto profissão destinada a 57 negro”, Paulo César Lima 108 foi classificado como “jo-
pobres, negros e marginais, de outro ela se 58 achava gador-problema”. 109 Responsabilizado pelo fracasso
investida do poder de representar e 59 projetar a na- do Brasil na 110 Copa da Alemanha, pleiteava o direi-
ção em escala mundial. to de voltar 111 a vestir a camisa verde e amarela. O
rumor de 112 que o banimento tinha o respaldo de
um 113 ministro de Estado, não o surpreendia: “Se for,
114
mais uma vez vou ter a certeza de que sou um 115
60
VÍNCULO MENOS ASSIMÉTRICO ENTRE 61 NEGROS negro que incomoda muita gente”. E 116 acrescentava:
E BRANCOS “Não vou ser um negro tímido, 117 quieto, com medo
e temor das pessoas”. Dessa 118 maneira, nas páginas
62
O trem do futebol descortinava perspectivas 63 de O Estado de S. Paulo, 119 Paulo César esboçava a
promissoras no terreno das relações sociais. 64 Mas revolta da chibata no 120 futebol brasileiro. Enquan-
embora transportasse ricos e pobres,65 negros e to Barbosa e Bigode, 121 sem alternativa, suportaram
brancos, ele o fazia alocando os66 diversos grupos com dignidade o 122 linchamento moral na derrota de
em vagões separados. 67 Enquanto a juventude privi- 1950, Paulo 123 César contra-atacava os que preten-
legiada agia de 68 modo a reforçar as divisões internas diam
da 69 composição, a mocidade alegre dos subúrbios 70
buscava franquear a passagem a fim de 71 enriquecer 124
condená-lo pelo insucesso de 1974, reeditando
a experiência da viagem. Caberia, 72 nesse sentido, 125
as acusações de “covarde” e de “mercenário” – 126
um papel de destaque aos 73 jogadores que logravam as mesmas dirigidas a Leônidas no passado. 127 Paulo
transitar entre os 74 diversos compartimentos. César, no entanto, assumia, sem 128 ambiguidades, as
cores e as causas defendidas 129 pela esquadra dos
pretos em todas as esferas 130 da vida social. “Sinto na
pele esse racismo 131 subjacente”, revelou certa vez à
75
LEÔNIDAS DA SILVA: IDENTIDADE AMBÍGUA 76 DO imprensa 132 francesa: “Isto é, ninguém ousa pronun-
ATLETA ciar a 133 palavra racismo. Mas posso garantir que ele
77
Seria nesta conjuntura adversa que 78 Leônidas da
134
existe, mesmo na Seleção Brasileira”. Sua 135 ou-
Silva pegaria o bonde da história. 79 Símbolo da proe- sadia consistiu em pronunciar a palavra 136 interdita

298 - www.PROJETOREDACAO.com.br
no espaço simbólico utilizado pelo 137 discurso oficial 1
Na nossa vida de todo dia, estamos 2 sempre em
para reafirmar o mito da 138 democracia racial. contato com outras pessoas. 3 Esse contato frequen-
te acontece a partir das 4 afinidades e das semelhan-
José Paulo Florenzano é professor de Antropologia ças, mas inclui 5 também as relações de diferença en-
da PUC-SP e autor do livro tre o que 6 pertence ao “eu” e o que diz respeito ao 7
“A Democracia Corinthiana” (2009). Texto adaptado. “outro”. Para se referir a essas relações, 8 costuma-se
utilizar uma noção importante: 9 alteridade.
10
A palavra alteridade, ao pé da letra, 11 significa “na-
Questão 242 - (UECE) tureza do que é outro”. Para 12 entender melhor seu
significado, podemos 13 opô-la a expressões como
Na primeira parte do texto, o autor fala em paradoxo
“identidade” e 14 “subjetividade”. As relações de alte-
(Ref. 54), palavra que pode ser entendida como uma
ridade 15 dizem respeito às diferenças que perpassam
contradição entre opiniões divergentes de uma mes- 16
o nosso cotidiano, e que podem se 17 manifestar
ma pessoa; entre opinião e comportamento ou entre
nas divergências de opinião em 18 um debate, na di-
os termos de uma proposição. Assinale a opção que
versidade de preferências 19 que define as comuni-
expressa corretamente, no texto, os elementos que
dades nas redes sociais, 20 ou podem estar presentes
formam o paradoxo.
em questões bem 21 mais complicadas, como as dife-
renças de 22 nacionalidade, de raça, de religião, de 23
gênero ou de classe social, que motivam 24 conflitos
a) O racismo das classes mais altas e a prática do dos mais diversos.
futebol por negros e pobres.
25
Perceber as relações de alteridade entre 26 várias
b) O futebol, por um lado, profissão de negros e pessoas nos leva não apenas a 27 identificar os tra-
pobres e, por outro, profissão de marginais. ços dessas diferenças – de 28 nacionalidade, de cor
da pele, de sotaque –, 29 mas a considerar como se
c) O futebol, considerado profissão dos marginali- produzem, 30 socialmente, tanto a diferença quanto a
zados, mas com a responsabilidade de represen- 31
identidade. É preciso compreender que o 32 “eu” e
tar o país. o “outro” não são entidades fixas e 33 isoladas, mas se
constituem na relação: nós 34 só nos tornamos quem
d) Entidade conhecida como boa sociedade e a se- somos a partir da 35 visão do outro, assim como o ou-
gregação que ela impunha aos negros. tro só se 36 torna diferente de nós porque projetamos
37
sobre ele um olhar que o diferencia. Ainda 38 que,
muitas vezes, seja difícil perceber, 39 nessa jornada
Questão 243 - (UECE) ocorre um processo contínuo 40 de diferenciação: eu
sou desse jeito, e não 41 daquele outro; eu gosto des-
Na segunda seção, o enunciador, para representar a sas coisas, e não 42 dessas outras.
difícil relação entre negros e brancos, mediada pelo
futebol, lança mão de uma imagem, o trem. Assinale
43
Um processo semelhante acontece com as 44 iden-
a opção que reúne somente expressões que reme- tidades coletivas (sejam elas nacionais, 45 étnicas, se-
tem, direta ou indiretamente, a trem. xuais, religiosas ou outras). Elas 46 não são “essências”,
mas sim construídas 47 histórica e socialmente: o “ser
brasileiro” não 48 significa somente “ter nascido no
Brasil”, 49 mas sim fazer parte de uma identidade que
a) Perspectivas promissoras, vagões, primeira clas- 50
se transforma com o passar do tempo. Dizer 51 “sou
se, passagem, viagem, compartimentos. brasileiro” significa dizer, 52 implicitamente, “não sou
argentino”, “não 53 sou chinês”, “não sou moçambi-
b) Transportasse, vagões, primeira classe, passa- cano”. 54 Identificar-se com um grupo é diferenciar-
gem, viagem, compartimentos. -se 55 de outro, estabelecer fronteiras entre “nós” e 56
“eles”, em um processo que é permeado não 57 ape-
c) Relações sociais, transportasse, vagões, compo-
nas por escolhas, mas também por 58 tentativas de
sição, passagem, viagem.
fixar as identidades, dizendo –59 muitas vezes implici-
d) Terreno, transportasse, vagões, primeira classe, tamente – que ser de um 60 jeito é normal, mais cor-
passagem, viagem. reto ou melhor. Fixar 61 uma determinada identidade
como a norma 62 é uma das formas privilegiadas de
63
hierarquização das identidades e das 64 diferenças.
Normalizar significa eleger – 65 arbitrariamente - uma
TEXTO: 140 - Comum à questão: 244 identidade específica 66 como o parâmetro em rela-
ção ao qual as 67 outras identidades são avaliadas e 68
Comunicação e alteridade hierarquizadas. Normalizar significa atribuir a 69 essa
identidade todas as características positivas 70 possí-

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veis, em relação às quais as 71 outras identidades só TEXTO: 141 - Comuns às questões: 245, 246
podem ser avaliadas 72 de forma negativa.
Barcos de Papel
73
O processo de produção das identidades e 74 das
diferenças envolve muitos conflitos. Esse 75 processo
não é ingênuo, mas sim permeado 76 por relações de
poder.
77
Quando a chuva cessava e um vento fino
78
Franzia a tarde úmida e lavada

Ficha técnica do texto “Comunicação e alteridade”:


79
Eu saía a brincar pelas calçadas

Associação Imagem Comunitária Concepção: Beatriz Bre-


80
Nos meus tempos felizes de menino.
tas,
Samuel Andrade e Victor Guimarães Redação: Victor
Guimarães 81
Fazia de papel, toda uma armada
82
E, estendendo meu braço pequenino
Questão 244 - (UECE) 83
Eu soltava os barquinhos sem destino
No dia 18 de maio do ano em curso, um domingo, 84
Ao longo das sarjetas, na enxurrada...
ocorreu grave acidente com um ônibus da empresa
Princesa dos Inhamuns, que saíra do município de
Boa Viagem, no interior do Ceará. Morreram em tor-
no de vinte pessoas. No dia seguinte, foram posta-
85
Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
dos na Internet comentários como os que seguem: 86
Que não são barcos de ouro os meus ideais
1) A notícia boa é que esse povinho não virá poluir
meu RGS; 2) Não sabia que havia ônibus no Ceará. 87
São barcos de papel, são como aqueles:
Tá evoluindo. Kkkkkk; 3) Com todo o respeito, mas...
20 eleitores do PT a menos; 4) Será que o acidente
poderia ter sido evitado se as pessoas (cearenses)
tivessem sentado uma de cada lado? Vai ver o peso 88
Perfeitamente, exatamente iguais!
da cabeça chata fez o ônibus tombar… eu tinha 2 Kg
de mandioca para dar a esse povo… o que eu faço
89
Que os meus barquinhos, lá se foram eles!
agora? 90
Foram-se embora e não voltaram mais.

(Guilherme de Almeida. In Acaso.)


Abaixo há quatro assertivas a respeito dos comen-
tários destacados acima, as quais são apoiadas nas
ideias do texto 1. Assinale a alternativa INCORRETA. Questão 245 - (UECE)
O poema de Guilherme de Almeida, “Barcos de Pa-
pel”, estrutura-se binariamente. Assinale a opção
a) O olhar que os comentaristas (os eus) lançaram
cujo dualismo NÃO se encontra no poema.
sobre as vítimas do acidente (os outros) refle-
tem desprezo, desrespeito, escárnio, aviltamen-
to, desconsideração.
a) Passado e presente.
b) Os comentários são decorrentes do desconheci-
mento da realidade do Nordeste e do nordesti- b) Infância e maturidade.
no e não do preconceito.
c) Nascimento e morte.
c) Os comentários não podem ser entendidos
como simples brincadeira, como uma gozação d) Ilusão e desengano.
ingênua e sem consequências, mas como um in-
dício de hierarquização a partir dos parâmetros
dos comentaristas.
Questão 246 - (UECE)
d) Os comentários revelam um jogo de poder: o eu
deseja que o outro se conserve hierarquicamen- Em relação às ideias do poema, escreva V para o que
te no lugar de sempre, certamente com medo for verdadeiro e F para o que for falso.
de que ele lhe usurpe o poder.
300 - www.PROJETOREDACAO.com.br
( ) Nas duas primeiras estrofes do poema, a voz
que se ouve é a do menino. Nas duas últimas, a
voz do adulto.

( ) Na primeira estrofe, o vocábulo “chuva” deve 91 Qualquer que seja a chuva desses campos
ser lido como uma metáfora para pranto.
92 devemos esperar pelos estios;
( ) Nos dois primeiros versos, o poeta trabalhou as
percepções tátil, visual, olfativa e auditiva. 93 e ao chegar os serões e os fiéis enganos

( ) No sintagma “vento fino”, há uma combinação 94 amar os sonhos que restarem frios.
inusitada entre o substantivo “vento” e o adje-
tivo “fino”. Essa combinação substitui o clichê
“vento frio”. As duas expressões se misturam 95 Porém se não surgir o que sonhamos
em nossa mente, levando-nos a sentir com mais
intensidade o que diz o texto. 96 e os ninhos imortais forem vazios,

97 há de haver pelo menos por ali

Está correta, de cima para baixo, a sequência seguinte: 98 os pássaros que nós idealizamos.

a) F, V, F, V. 99 Feliz de quem com cânticos se esconde

b) V, F, V, F. 100 e julga tê-los em seus próprios bicos,

c) F, F, V, V. 101 e ao bico alheio em cânticos responde.

d) V, F, F, V.

102 E vendo em torno as mais terríveis cenas,

TEXTO: 142 - Comum à questão: 247 103 possa mirar-se as asas depenadas

Jorge de Lima (*1893, em União-AL †1953, no Rio 104 e contentar-se com as secretas penas.
de Janeiro), poeta, mas também médico e pintor,
compôs seus primeiros poemas sob a égide passa- (LIMA, Jorge de. In: Invenção de Orfeu.
dista. Em 1925, no entanto, adere ao Modernismo, Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1967. p. 57-58.)
publicando um folheto intitulado O mundo do me-
nino impossível, onde reúne alguns de seus poemas
livres. O ano de 1928 foi o de Essa negra Fulô, talvez Questão 247 - (UECE)
sua obra mais lida. O ano de 1935 é marcado por sua
conversão ao Catolicismo. Passa, a partir de então, a Assinale a opção que traz um comentário INCORRE-
construir uma obra marcada por uma temática cris- TO sobre o texto.
tã de sentido bíblico e apocalíptico. Em 1952, lança
Invenção de Orfeu, um longo poema hermético divi-
dido em 10 partes ou cantos, como Os Lusíadas, de
Camões, por meio do qual o poeta, segundo suas a) Nos dois primeiros versos, o vocábulo “chuva”
palavras, queria modernizar a epopeia clássica. São se opõe ao vocábulo “estios”. Os dois são meta-
ainda palavras de Jorge de Lima: “A ideia central des- fóricos: o primeiro significa tempos difíceis, e o
se poema [Invenção de Orfeu] é a epopeia do poeta segundo, tempos amenos.
olhado como herói diante das vicissitudes do mun-
b) Os pássaros que aparecem a partir do oitavo
do através do tempo e do espaço. O que atravessa o
verso (linha 98) devem ser entendidos como
poema de ponta a ponta é o drama da Queda. Sem
animais terrenos que indicam a materialidade
a Queda não haveria história, não haveria Epopeia.
da vida.
O poeta é o seu herói”. O texto que vem a seguir foi
extraído desse grande poema intitulado Invenção de c) Os vocábulos “serões” e “enganos” no terceiro
Orfeu. verso (linha 93) apontam para a velhice, quando
os sonhos permanecem, mesmo sem a expecta-
(Observação: Orfeu, personagem da mitologia gre-
tiva de realização.
ga, é considerado o músico por excelência, o músico
e o poeta. Tocava lira e cítara, da qual teria sido o d) O poema constitui uma alegoria do desejo hu-
inventor.)
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mano de libertar-se das contingências terrenas do soneto, uma forma poética fixa, muito co-
e atingir o plano da divindade. mum em movimentos como o Barroco, Arcadis-
mo e Romantismo.

c) Representa a dificuldade do homem moderno


Questão 248 - (UFAL) em se estabelecer enquanto uma unidade e o
consequente estado de depressão que esse fato
Onde nasci, morri acarreta, evidenciado nos dois primeiros versos.
Onde morri, existo d) Dialoga, por meio de versos como “E das peles
que visto/ muitas há que não vi”, com a hetero-
E das peles que visto
nímia de Fernando Pessoa, fenômeno pelo qual
muitas há que não vi. o poeta português se multiplicava em outros
poetas, cada um com personalidade diversa da
dos outros.

Sem mim como sem ti e) Oferece uma visão poética das dificuldades de
entendimento entre variantes da língua portu-
posso durar. Desisto guesa, uma vez que Drummond é brasileiro e
Fernando Pessoa, português.
de tudo quanto é misto

e que odiei ou senti.


TEXTO: 143 - Comum à questão: 249
Você não entende nada
Nem Fausto nem Mefisto,
Caetano Veloso
à deusa que se ri

deste nosso oaristo,


Quando eu chego em casa nada me consola

Você está sempre aflita


eis-me a dizer: assisto
Lágrimas nos olhos, de cortar cebola
além, nenhum, aqui
Você é tão bonita
mas não sou eu, nem isto.
Você traz a coca-cola eu tomo
ANDRADE, Carlos Drummond de. Sonetilho do Falso Fer-
nando Pessoa. Você bota a mesa, eu como, eu como
In Claro Enigma. ed. 10. Rio de Janeiro: Record,
2001. Eu co mo, eu como, eu como

Você não está entendendo

O poema acima integra o livro Claro Enigma, de 1951, Quase nada do que eu digo
obra em que Carlos Drummond de Andrade opera
uma mudança de direção em relação à sua trajetória Eu quero ir-me embora
poética anterior, mais ligada ao engajamento social,
como se evidencia num livro como A Rosa do Povo. Eu quero é dar o fora
Diante disso, as escolhas linguísticas feitas pelo autor E quero que você venha comigo
confere ao texto:
E quero que você venha comigo

Eu me sento, eu fumo, eu como, eu não aguento


a) Elabora uma rede intertextual com a obra de
Fernando Pessoa, poeta representante da se- Você está tão curtida
gunda geração romântica brasileira, ao fazer
referência à “falsidade” da poesia, evidente no Eu quero tocar fogo neste apartamento
último verso.
Você não acredita
b) Nega a estética do Modernismo, movimento a
que se pode associar Drummond, ao fazer uso Traz meu café com suita eu tomo
302 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Bota a sobremesa eu como, eu como que o seu cavalo mudou de morada? Tem cabimento
isso?
Eu como, eu como, eu como
Tubi pensou, quis se entusiasmar mas ficou na dú-
Você tem que saber que eu quero correr mundo vida, perguntou se o Mangarito quando nasceu do
outro lado nasceu pequeninho, se precisava mamar
Correr perigo de novo, se nasceu sabendo marchar ou se tinha es-
Eu quero é ir-me embora quecido, se ia ter saudade do Amanhece e dele, Tubi.
Belmiro ia ouvindo e respondendo de maneira a sos-
Eu quero dar o fora segar o menino e fazê-lo esquecer o choro.

E quero que você venha comigo – Então quer dizer que de verdade ninguém morre –
disse Tubi afinal.
E quero que você venha comigo
– É isso mesmo. Vejo que você já entendeu.
E quero que você venha comigo
VEIGA, José J. Na estrada do amanhece. In: ______.
E quero que você venha comigo Melhores contos J. J. Veiga. Seleção de J. Aderaldo
Castello.
E quero que você venha comigo São Paulo: Global, 2000. p.154.
Disponível em: <http://letras.mus.br/caetano-velo-
so/44792/>.
Acesso em: 12 mar. 2014. No trecho transcrito, as explicações da personagem
Belmiro ao menino Tubi exprimem um questiona-
mento sobre os limites entre o mundo real e o imagi-
nado, o qual se evidencia por meio da
Questão 249 - (UFG GO)
O verso que remete à reação provocada pelo ácido
propenilsulfênico é: a) equivalência entre pessoas e bichos, visível no
trecho “quando dizemos que uma pessoa, ou
um bicho, morreu...”
a) “Eu quero tocar fogo neste apartamento”. b) conclusão acerca do caráter ilusório da vida, ex-
b) “Você traz a coca-cola eu tomo”. plícita na frase “ — Então quer dizer que de ver-
dade ninguém morre.”
c) “Lágrimas nos olhos, de cortar cebola”.
c) hipótese de superação da morte pela fé, expres-
d) “Traz meu café com suita eu tomo”. sa no enunciado “Você entendendo isso vai ver
que quando Mangarito morria de cá nascia de
e) “Bota a sobremesa eu como, eu como”. lá”.

d) relativização do conceito de realidade, sintetiza-


da na sentença “Mas quem é que sabe qual é o
Questão 250 - (UFG GO) lado dos vivos e qual o dos mortos?”
Leia o trecho a seguir. e) explicação sobre o destino dos mortos, presente
na frase “E você vai chorar só porque o seu cava-
lo mudou de morada?”
[…] Quando dizemos que uma pessoa, ou um bicho,
morreu, o que aconteceu foi que mudou de mora-
da. É assim, ó – e riscou uma linha no chão com um Questão 251 - (UFG GO)
graveto. – Esta linha é a divisa. De um lado os que a
gente diz que morreram, de outro os que estão vivos. Leia os excertos a seguir.
Quando a pessoa, ou o bicho, passa de um lado para
o outro, dizemos que morreu. Mas quem é que sabe
qual é o lado dos vivos e qual o dos mortos? Para nós,
que estamos do lado de cá, é o lado de lá; mas para OS VEÍCULOS E A SOLIDÃO
eles deve ser o lado de cá. Quando uma pessoa atra-
vessa a linha, morre de um lado mas nasce de outro.
Você entendendo isso vai ver que quando Mangarito […]
morria de cá nascia de lá. E você vai chorar só por-
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5. O caminhão Questão 252 - (UFG GO)
Leia o trecho a seguir.
Caminhão é Goiás andando.

Arroz, feijão, peixe, minério, algodão. Restrições à parte, eu gostava do curso. Não: eu ado-
rava o curso. Não era o mesmo que estudar o Ma-
Gente, romaria. Gente, mercadoria. nifesto, longe disso, mas falava em coisas objetivas,
palpáveis, úteis: geradores, acumuladores, dínamos,
motores. Trabalhar com eletricidade era ingressar no
6. O automóvel terreno confortador da lógica científica, da precisão
tecnológica: faça isso e acontecerá aquilo – sempre,
sempre, sempre. Nenhuma margem para dúvida, ali:
o polo positivo era positivo, o negativo era o negati-
A paisagem morreu. É só a máquina. vo, e estávamos conversados. Nada de dialética, nada
de uma coisa virar o seu contrário, nada de mentiras
A máquina minha. Ela eu. progressistas e verdades reacionárias, nada de crítica
e autocrítica. Um alívio, portanto, ainda que inevita-
Meu corpo. Meu automóvel.
velmente acompanhado de uma pesada culpa.
[...]
SCLIAR. Moacyr. Eu vos abraço, milhões.
GARCIA, José Godoy. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 220.
Poesias. Brasília: Thesaurus, 1999. p. 252.

No trecho transcrito, ao comparar o modo de pensar


REIFICAÇÃO (re:i.fi.ca.ção) [e-i] sf.1. Fil. Processo em o mundo da física e o das ciências políticas, o narra-
que uma realidade humana ou social perde ou pare- dor protagonista do romance Eu vos abraço, milhões
ce perder seu dinamismo e passa a apresentar a fixi- evidencia uma mudança central na sua forma de
dez de um ser inorgânico, com perda de autonomia pensar, a qual se manifesta no fato de que
e, no caso do homem, de autoconsciência.

VERBETE. Disponível em:


a) o conhecimento de eletricidade na física é dinâ-
<http://aulete.uol.com.br/reifica %C3%A7%-
mico e por isso se opõe à ideologia marxista do
C3%A3o#ixzz2uGqw0Imo>.
manifesto citado pelo narrador.
Acesso em: 17 mar. 2014.
b) os fenômenos físicos, como a acumulação e dis-
tribuição de energia elétrica, são mais importan-
O poema de José Godoy Garcia critica o modo como tes do que os fenômenos políticos.
se processa o desenvolvimento econômico no esta-
c) a contraposição entre verdades e mentiras,
do de Goiás. Considerando as imagens presentes no
exemplificada pela carga positiva e negativa dos
poema e o conceito explicitado pelo verbete transcri-
geradores de eletricidade, inexiste no pensa-
to, essa crítica evidencia a
mento dialético.

d) os conhecimentos da física analisam os fenôme-


a) uniformização da paisagem como resultado da nos elétricos de forma absoluta e por isso são
falta de dinamismo das comunidades rurais. mais adequados ao modo de vida do protagonis-
ta.
b) presença da religiosidade no campo como res-
ponsável pela falta de autonomia dos trabalha- e) a objetividade dos métodos do estudo de eletri-
dores rurais. cidade contrasta com a multiplicidade de análi-
ses possíveis para os fenômenos políticos.
c) perda de identidade das comunidades rurais em
decorrência da expansão do agronegócio.

d) especialização da mão de obra em função do de- Questão 253 - (UFT TO)


senvolvimento econômico no campo.
Leia o fragmento de texto a seguir.
e) substituição do trabalho braçal por máquinas
como consequência do avanço tecnológico na
zona rural.
304 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Se me perguntassem sobre Ofélia e seus pais, teria Questão 254 - (UFU MG)
respondido com o decoro da honestidade: mal os co-
nheci. Diante do mesmo júri ao qual responderia: mal Mas, de supetão, uma espécie de frango esquisito,
me conheço – e para cada cara de jurado diria com meio carijó, meio marrom, pulou no chão do terreiro
o mesmo límpido olhar de quem se hipnotizou para e correu atrás da garnisé branquinha, que, espaven-
a obediência: mal vos conheço. Mas às vezes acordo tada, fugiu. O galo pedrês investiu, de porrete. Em-
do longo sono e volto-me com docilidade para o deli- pavesado e batendo o monco, o peru grugulejou. A
cado abismo da desordem. galinha choca saltou à frente das suas treze familiazi-
nhas. E, aí, por causa do bico adunco, da extrema ele-
Estou tentando falar sobre aquela família que sumiu gância e do exagero das garras, notei que o tal frango
há anos sem deixar traços em mim, e de quem me fi- era mesmo um gavião. Não fugiu: deitou-se de cos-
cara apenas uma imagem esverdeada pela distância. tas, apoiado na cauda dobrada, e estendeu as patas,
Meu inesperado consentimento em saber foi hoje em guarda, grasnando ameaças com muitos erres.
provocado pelo fato de ter aparecido em casa um
pinto. Veio trazido por mão que queria ter o gosto Para assustá-lo, o galo separou as penas do pescoço
de me dar coisa nascida. Ao desengradarmos o pinto, das do corpo, fazendo uma garbosa gola; avançou e
sua graça pegou-nos em flagrante. Amanhã é Natal, saltou, como um combatente malaio, e lascou duas
mas o momento de silêncio que espero o ano inteiro cacetadas, de sanco e esporão. Aí o gavião fez mais
veio um dia antes de Cristo nascer. Coisa piando por barulho, com o que o galo retrocedeu. E o gavião
si própria desperta a suavíssima curiosidade que jun- aproveitou a folga para voar para a cerca, enquanto
to de uma manjedoura é adoração. Ora, disse meu o peru grugulejava outra vez, com vários engasgos.
marido, e essa agora. Sentira-se grande demais. Su-
jos, de boca aberta, os meninos se aproximaram. Eu, ¾ Nunca pensei que um gavião pudesse ser tão co-
um pouco ousada, fiquei feliz. O pinto, esse piava. varde e idiota...
Mas Natal é amanhã, disse acanhado o menino mais ¾ eu disse.
velho. Sorríamos desamparados, curiosos.
Maria Irma riu.
LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. In:
Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. ¾ Mas este não é gavião do campo! É manso. É dos
pp. 63-64 (fragmento). meninos do Norberto... Vem aqui no galinheiro, só
porque gosta de confusão e algazarra. Nem come
pinto, corre de qualquer galinha...
De acordo com a leitura do fragmento, é CORRETO ¾ Claro! Gavião civilizado...
afirmar.
¾ U’lala... Perdeu duas penas...

O sorriso de Maria Irma era quase irônico. Não me


a) A personagem narradora usa a fragilidade de um zanguei, mas também não gostei.
animal recém-nascido como metáfora para a co-
memoração do nascimento de Cristo. ROSA, Guimarães. Minha gente. In: Sagarana.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 241-242.
b) O espanto da família diante do presente inusita- (fragmento)
do revela a falta de amor entre pais e filhos, os
quais não sabem lidar com a fragilidade da vida.

c) A personagem narradora, representada pela No trecho acima, a briga entre as aves remete ao se-
mãe, é incapaz de se envolver emocionalmente guinte tema desenvolvido no conto Minha Gente:
com familiares e animais, motivo pelo qual rece-
beu um presente inesperado.

d) A personagem narradora estabelece uma apro- a) A humilhação da mulher em uma sociedade ma-
ximação entre curiosidade e adoração. Para ela, chista, não lhe restando mais do que obedecer
o surgimento de um pinto e o nascimento de aos homens, o que pode ser exemplificado pela
Cristo provocam impressões semelhantes diante prima Maria Irma, que se submete aos desejos
do mistério da vida. dos homens da casa.

e) A pequena vida pulsante do animal desperta na b) A frivolidade dos amores do narrador, que, mes-
mulher sentimentos desagradáveis e assustado- mo apaixonado por sua prima, em alguns mo-
res, dos quais procura se resguardar, para que mentos percebe-lhe modos bastante desagradá-
sua fragilidade emocional não seja exposta. veis, motivo pelo qual, ao final, a troca por outra
mulher.

www.PROJETOREDACAO.com.br - 305
c) A violência nas sociedades rurais, especialmente qual todas as pessoas vivem juntas e em harmonia
o assassinato de Bento Porfírio, testemunhado e têm 21 oportunidades iguais. É um ideal pelo qual
pelo narrador e considerado um fato corriqueiro eu espero viver e alcançar. Mas, se preciso for, é um
pela prima Maria Irma, o que o leva a afastar-se ideal pelo 22 qual estou disposto a morrer”.
da região.
23
Por que a vida e a saga de Mandela fundam uma es-
d) O contraste entre o narrador e “suas gentes” do perança no futuro da humanidade e de nossa 24 civi-
sertao, uma vez que suas habilidades de homem lização? Porque chegamos ao núcleo central de uma
da cidade não lhe garantem conhecimentos su- conjunção de crises que pode ameaçar o nosso 25 fu-
ficientes para compreender e se situar naquela turo como espécie humana. [...] Isso quer dizer que
sociedade de feição rural. a crença persistente no mundo inteiro, também no
26
Brasil, de que o crescimento econômico material
nos deveria trazer desenvolvimento social, cultural e
27
espiritual é uma ilusão. Estamos vivendo tempos
TEXTO: 144 - Comum à questão: 255 de barbárie e sem esperança. [...]
O significado de Mandela para o futuro ameaçado da 28
Acrescento a opinião do conhecido filósofo e cien-
humanidade tista político, Norberto Bobbio, que, como 29 Mande-
la, acreditava nos direitos humanos e na democra-
Leonardo Boff
cia como valores para equacionar o problema da 30
violência entre os estados e para uma convivência
pacífica. Em sua última entrevista declarou: “Não sa-
1
Nelson Mandela, com sua morte, mergulhou no beria 31 dizer como será o Terceiro Milênio. Minhas
inconsciente coletivo da humanidade para nunca 2 certezas caem, e somente um enorme ponto de in-
mais sair de lá porque se transformou num arquétipo terrogação 32 agita a minha cabeça: será o milênio da
universal do injustiçado que não guardou rancor, que guerra de extermínio ou o da concórdia entre os se-
3
soube perdoar, reconciliar polos antagônicos e nos res humanos? 33 Não tenho condições de responder
transmitir uma inarredável esperança de que o ser a esta indagação”.
4
humano ainda pode ter jeito. Depois de passar 27
anos de reclusão e eleito presidente da África do Sul
34
Em face destes cenários sombrios, Mandela res-
em 5 1994, se propôs e realizou o grande desafio de ponderia seguramente, fundado em sua experiência
transformar uma sociedade estruturada na suprema
35
política: Sim, é possível que o ser humano se recon-
injustiça 6 do apartheid, que desumanizava as gran- cilie consigo mesmo, que sobreponha sua dimensão
des maiorias negras do país, condenando-as a não de 36 sapiens àquela de demens e inaugure uma nova
pessoas, numa 7 sociedade única, unida, sem discri- forma de estar juntos, na mesma casa.
minações, democrática e livre. 37
Talvez valham as palavras de seu grande amigo, o
8
E o conseguiu ao escolher o caminho da virtude, do arcebispo Desmond Tutu, que coordenou o 38 proces-
perdão e da reconciliação. Perdoar não é 9 esquecer. so de Verdade e Reconciliação: “Tendo encarado a
As chagas estão aí, muitas delas ainda abertas. Per- besta do passado olho no olho, tendo pedido e 39 re-
doar é não permitir que a amargura e o espírito 10 cebido perdão e tendo feito correções, viremos ago-
de vingança tenham a última palavra e determinem ra a página — não para esquecer esse passado, mas
o rumo da vida. Perdoar é libertar as pessoas das 11
40
para não deixar que nos aprisione para sempre.
amarras do passado, é virar a página e começar a es- Avancemos em direção a um futuro glorioso de uma
crever outra a quatro mãos, de negros e de brancos. nova 41 sociedade em que as pessoas valham não em
A 12 reconciliação só é possível e real quando há a ad- razão de irrelevâncias biológicas ou de outros estra-
missão completa dos crimes por parte de seus auto- nhos 42 atributos, mas porque são pessoas de valor
res e o 13 pleno conhecimento dos atos por parte das infinito [...]”.
vítimas. A pena dos criminosos é a condenação moral 43
Essa lição de esperança nos deixa Mandela: nós
diante de 14 toda a sociedade. Uma solução dessas,
ainda viveremos se, sem discriminações, pusermos 44
seguramente originalíssima, pressupõe um conceito
em prática de fato o ubuntu.
alheio à nossa 15 cultura individualista: o ubuntu, que
quer dizer: “eu só posso ser eu através de você e com (Disponível em: <http://leonardoboff.wordpress.
você”. Portanto, 16 sem um laço permanente que liga com/2013/
todos com todos, a sociedade estará, como na nossa, 12/07/o-significado-de-mandela-para-o-futuro-a-
sob risco de 17 dilaceração e de conflitos sem fim. meacado-dahumanidade/>,
acesso em: 10 mar. 2014. Adaptado.)
18
Deverá figurar nos manuais escolares de todo o
mundo esta afirmação humaníssima de Mandela: 19
“Eu lutei contra a dominação dos brancos e lutei con-
tra a dominação dos negros. Eu cultivei a esperança Questão 255 - (UNIMONTES MG)
do 20 ideal de uma sociedade democrática e livre, na
306 - www.PROJETOREDACAO.com.br
O trecho “[...] sem um laço permanente que liga do 18 ar mata ou fere de maneira invisível os habitan-
todos com todos, a sociedade estará, como na nos- tes das cidades em que o nível de poluição supera o
sa, sob risco de dilaceração e de conflitos sem fim.” mínimo 19 tolerável.
(Refs. 16-17) pressupõe
20
Não adianta, agora, culpar o governo do PT ou a
suposta herança maldita legada pelo PSDB, ou os 21
crimes praticados pela ditadura militar ou a turbulên-
a) a virtude social. cia que precedeu o golpe de 1964. O país foi sendo
22
construído de maneira torta, irresponsável, sem o
b) o desprendimento por parte dos brancos. mais leve sinal de planejamento, de preparação para
c) a fraternidade social. o 23 futuro.

d) o perdão por parte dos negros.


24
Acumularam-se violências em todas as áreas de
vida. A explosão no consumo de drogas exacerbou,
25
por sua vez, a violência da criminalidade comum.
Não há “coitadinhos” nessa história. Há delinquentes
TEXTO: 145 - Comum à questão: 256 e 26 vítimas e há a incompetência do poder público.

Não éramos cordiais? 27


É como escreveu, para Carta Capital, esse impecá-
vel humanista chamado Luiz Gonzaga Belluzzo: 28 “O
Clóvis Rossi descumprimento do dever de punir pelo ente público
termina por solapar a solidariedade que cimenta a 29
vida civilizada, lançando a sociedade no desamparo e
O nível impressionante de violência no cotidiano está na violência sem quartel.”
cada vez mais próximo de uma barbárie intolerável 30
Antes que o desamparo e a violência sem quar-
tel se tornem completamente descontrolados, seria
31
desejável o surgimento de lideranças capazes de
1
A morte do cinegrafista Santiago Andrade não confi- pensar na coisa pública em vez de se dedicarem a
gura um atentado à liberdade de imprensa, ao 2 con- seus 32 interesses pessoais, mesmo os legítimos. Al-
trário do que tantos apregoam. É muito pior que isso: guém precisa aparecer com um projeto de país, em
é um atentado ao convívio civilizado entre 3 brasilei- vez de 33 projetos de poder. Não é por acaso que 60%
ros, um degrau a mais na escalada impressionante de dos brasileiros querem mudanças, ainda que não as
violência que está empurrando o país para um 4 teor definam 34 claramente. A encruzilhada agora é entre
ainda mais exacerbado de barbárie. O incidente com ideias e rojões.
o cinegrafista é parte de uma coreografia de 5 violên-
cia crescente que se dá por onde quer que se olhe. (Folha de S. Paulo, A18 mundo,
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014.)
6
Nunca se matou com tanta facilidade em assaltos.
Nunca se apertou o gatilho com tanta facilidade. É 7
até curioso que as estatísticas policiais no Estado de
Questão 256 - (UNIMONTES MG)
São Paulo apontem uma redução no número de 8 ho-
micídios dolosos, como se fosse um avanço, quando O conceito de violência que o locutor nos fornece
aumenta o número de vítimas de latrocínio, que não
9
passa de homicídio precedido de roubo.
10
De fato, em 2013, o número de latrocínios (379) foi a) abrange, de forma mais ampla, as condições ge-
o mais alto em nove anos, com aumento de 10% 11 rais de vida dos cidadãos.
em relação aos 344 casos do ano anterior. Mas a vio-
lência não é um fenômeno restrito à criminalidade. A b) é manipulado para que entendamos que as si-
12
polícia age muitas vezes com uma violência despro- tuações de barbárie que vivemos são de respon-
porcional. A vida nas cidades e, cada vez mais, no 13 sabilidade da polícia.
interior é de uma violência inacreditável. O trânsito é
uma violência contra a mente humana. O transporte c) é redutor, pois só contempla os modos de vida
14
público violenta dia após dia. Não é um atentado nas grandes cidades.
aos direitos humanos perder às vezes três horas en- d) é baseado em estudos e pesquisas acadêmicas
tre ir e 15 voltar do trabalho? realizados por ele.
16
A saúde é uma violência contra o usuário. A edu-
cação violenta, pela sua baixa qualidade, o natural 17
anseio de ascensão social. A existência de moradias Questão 257 - (UNIMONTES MG)
em zonas de risco é outra violência. A contaminação
www.PROJETOREDACAO.com.br - 307
Leia atentamente os versos extraídos do poema “O na- c) Os textos utilizam a imagem da bandeira do Bra-
vio negreiro”, de Castro Alves, e o fragmento do “Hino sil para representar a relação do eu lírico com a
à Bandeira do Brasil”, cuja letra é de Olavo Bilac. pátria.

d) Os versos expressam o patriotismo exaltado,


evidente a partir da metáfora da bandeira nacio-
Auriverde pendão de minha terra, nal.
Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do céu encerra Questão 258 - (UNIMONTES MG)


E as promessas divinas da esperança... Sobre o filme A Cor Púrpura, de Spielberg, NÃO é cor-
reto afirmar:
Tu que, da liberdade após a guerra,

Foste hasteado dos heróis na lança,


a) A cor púrpura, que aparece em alguns momen-
Antes te houvessem roto na batalha,
tos do filme, explora, metaforicamente, a condi-
Que servires a um povo de mortalha!... ção sexual, étnica e sensível da protagonista.

(ALVES, 2007, p. 17.) b) A exploração da mulher negra é denunciada sob


diferentes ângulos e graus, revelando a cruelda-
de das sociedades segregacionistas.

Salve lindo pendão da esperança! c) As cenas desenrolam-se em espaços livres, com


predomínio de cores claras, para enfatizar a re-
Salve símbolo augusto da paz lação estreita entre homens e natureza.
Tua nobre presença à lembrança d) O filme explora a cor, as tomadas de cena e os
recuos e aproximação de câmara como recursos
A grandeza da Pátria nos traz. narrativos.
Em teu seio formoso retratas

Este céu de puríssimo azul,


TEXTO: 146 - Comum à questão: 259
A verdura sem par destas matas,
Leia o excerto poético a seguir.
E o esplendor do Cruzeiro do Sul.

Contemplando o teu vulto sagrado,


Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Compreendemos o nosso dever,
Monstro de escuridão e rutilância,
E o Brasil por seus filhos amado,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
poderoso e feliz há de ser!
A influência má dos signos do zodíaco.
(Trecho do “Hino à Bandeira do Brasil”, letra de Olavo
Bilac.)
Profundissimamente hipocondríaco,

Este ambiente me causa repugnância...


Sobre os textos, cujos versos estão em destaque, é
INCORRETO afirmar: Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

Que se escapa da boca de um cardíaco.


a) A bandeira, nos dois textos, requisita imagens ANJOS, Augusto dos. Psicologia de um vencido.
da natureza brasileira que representam, meto- In: Eu e outros poemas.
nimicamente, a grandeza da pátria. 30. ed. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1965. p. 60.
b) Os versos enfatizam os aspectos descritivos e
heroicos que caracterizam o nacionalismo brasi-
leiro.
308 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 259 - (Unievangélica GO) É um mito brilhante e mudo

Em relação à sua existência, o sujeito poético sente- – O corpo morto de Deus


-se
Vivo e desnudo.

a) tranquilo e sortudo.
Este, que aqui aportou,
b) pessimista e enojado.
Foi por não ser existindo.
c) seguro e despreocupado.
Sem existir nos bastou.
d) capacitado e robusto.
Por não ter vindo foi vindo

E nos criou.
TEXTO: 147 - Comum à questão: 260

Assim a lenda se escorre

A entrar na realidade,

E a fecundá-la decorre.

Embaixo, a vida, metade

De nada morre.

PESSOA, Fernando. Ulisses. Disponível em: <http://www.


historia.com.pt/Mensagem/Brazao/ulisses.htm>.
YERKA, Jacek. Companhias aéreas de baixo custo. Acesso em: 25 mar. 2014. (Adaptado).
Disponível em: <http://taislc.blogspot.com.
br/2008/12/
jacek-yerk-e-sua-obra-surrealista.html>. Acesso em:
8 abr. 2014. Questão 261 - (Unievangélica GO)
Nota-se, no poema, que o sujeito lírico

Questão 260 - (UEG GO)


Entre a pintura apresentada e o enredo do conto “A a) duvida da existência do mito, além de julgá-lo
máquina extraviada”, de J. J. Veiga, estabelece-se irrelevante para a humanidade.
uma relação temática de
b) acredita na existência do mito, já que ele ajuda a
explicar a origem das coisas.

a) distanciamento c) reconhece o valor do mito quanto à possibilida-


de de ele oferecer explicações possíveis, embora
b) aproximação não absolutas.

c) separação d) discute o mito como uma realidade onírica cuja


configuração não mantém vínculos com a reali-
d) incompatibilidade dade concreta.

TEXTO: 148 - Comum à questão: 261 Questão 262 - (ENEM)


Ulisses Era um dos meus primeiros dias na sala de mú-
sica. A fim de descobrirmos o que deveríamos estar
fazendo ali, propus à classe um problema. Inocente-
O mito é o nada que é tudo. mente perguntei: — O que é música?

O mesmo sol que abre os céus Passamos dois dias inteiros tateando em busca de

www.PROJETOREDACAO.com.br - 309
uma definição. Descobrimos que tínhamos de rejei- pos. O gênero que encanta mais da metade do país é
tar todas as definições costumeiras porque elas não o sertanejo, seguido de longe pela MPB e pelo pago-
eram suficientemente abrangentes. de. Outros gêneros em ascensão, sobretudo entre as
classes C, D e E, são o funk e o religioso, em especial
O simples fato é que, à medida que a crescente o gospel. Rock e música eletrônica são músicas de
margem a que chamamos de vanguarda continua minoria.
suas exploração pelas fronteiras do som, qualquer
definição se torna difícil. Quando John Cage abre a É o que demonstra uma pesquisa pioneira feita
porta da sala de concerto e encoraja os ruídos da rua entre agosto de 2012 e agosto de 2013 pelo Institu-
a atravessar suas composições, ele ventila a arte da to Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope).
música com conceitos novos e aparentemente sem A pesquisa Tribos musicais – o comportamento dos
forma. ouvintes de rádio sob uma nova ótica faz um retrato
do ouvinte brasileiro e traz algumas novidades. Para
SCHAFER, R. M. O ouvido pensante. São Paulo: Unesp, quem pensava que a MPB e o samba ainda resistiam
1991 (adaptado). como baluartes da nacionalidade, uma má notícia:
os dois gêneros foram superados em popularidade.
O Brasil moderno não tem mais o perfil sonoro dos
A frase “Quando John Cage abre a porta da sala de anos 1970, que muitos gostariam que se eternizasse.
concerto e encoraja os ruídos da rua a atravessar A cara musical do país agora é outra.
suas composições”, na proposta de Schafer de for- GIRON, L. A. Época, n. 805, out. 2013 (fragmento).
mular uma nova conceituação de música, representa
a

O texto objetiva convencer o leitor de que a confi-


guração da preferência musical dos brasileiros não é
a) acessibilidade à sala de concerto como metáfo- mais a mesma da dos anos 1970. A estratégia de ar-
ra, num momento em que a arte deixou de ser gumentação para comprovar essa posição baseia-se
elitizada. no(a)
b) abertura da sala de concerto, que permitiu que
a música fosse ouvida do lado de fora do teatro.
a) apresentação dos resultados de uma pesquisa
c) postura inversa à música moderna, que desejava que retrata o quadro atual da preferência popu-
se enquadrar em uma concepção conformista. lar relativa à música brasileira.
d) intenção do compositor de que os sons extra- b) caracterização das opiniões relativas a determi-
musicais sejam parte integrante da música. nados gêneros, considerados os mais represen-
e) necessidade do artista contemporâneo de atrair tativos da brasilidade, como meros estereótipos.
maior público para o teatro. c) uso de estrangeirismos, como rock, funk e gos-
pel, para compor um estilo próximo ao leitor, em
sintonia com o ataque aos nacionalistas.
Questão 263 - (ENEM)
d) ironia com relação ao apego a opiniões supera-
O Brasil é sertanejo das, tomadas como expressão de conservadoris-
mo e anacronismo, com o uso das designações
“império” e “baluarte”.

Que tipo de música simboliza o Brasil? Eis uma e) contraposição a impressões fundadas em eli-
questão discutida há muito tempo, que desperta opi- tismo e preconceito, com a alusão a artistas de
niões extremadas. Há fundamentalistas que desejam renome para melhor demonstrar a consolidação
impor ao público um tipo de som nascido das raízes da mudança do gosto musical popular.
socioculturais do país. O samba. Outros, igualmente
nacionalistas, desprezam tudo aquilo que não tem
estilo. Sonham com o império da MPB de Chico Buar-
que e Caetano Veloso. Um terceiro grupo, formado Questão 264 - (UFPR)
por gente mais jovem, escuta e cultiva apenas a mú- Considere o seguinte trecho da peça Anjo negro, de
sica internacional, em todas as vertentes. E mais ou Nelson Rodrigues:
menos ignora o resto.

A realidade dos hábitos musicais do brasileiro


agora está claro, nada tem a ver com esses estereóti- ELIAS (apaixonadamente) – Quando ele era rapaz,
310 - www.PROJETOREDACAO.com.br
não bebia cachaça porque achava cachaça bebida de trecho citado, torna-se possível compreender a moti-
negro. Nunca se embriagou. E destruiu em si o dese- vação de algumas cenas constitutivas da trama. Con-
jo que sentia por mulatas e negras — ele que é tão siderando isso, assinale a alternativa correta.
sensual. A mim, nunca perdoou que eu fosse filho de
brancos e não de negros como ele. Quando fui morar
na casa de Ismael, ele já era rapaz, e eu, menino. Is-
mael me maltratava, me batia. Eu tinha medo dele; a) A cena inicial apresenta o velório do filho de Is-
(olhando em torno ou, antes, virando a cabeça de um mael e Virgínia, que morre em uma vingança per-
lado para outro, como se pudesse enxergar) e ainda petrada por Elias.
hoje tenho — medo — um medo de animal, de bicho! b) O envolvimento de Elias e Virgínia é motivado
VIRGÍNIA (levantando-se e apertando a cabeça de pelo ódio e pelo medo que ambos sentem em re-
Elias de encontro ao peito) – Eu gosto que você tenha lação a Ismael.
medo, que seja assim, fino de cintura... c) O cheiro de Ismael, sentido por Virgínia, é motiva-
ELIAS – Gosta, não gosta?... mesmo depois de cego... dor dos crimes que ela comete ao longo da peça.

VIRGÍNIA (mudando de tom) – Você ficou cego como? d) Elias mente ao explicar a causa da sua cegueira,
com a intenção de conquistar a cunhada.
ELIAS (num lamento) – Foi uma fatalidade; eu estava
doente dos olhos e Ismael, que me tratava, trocou os e) As ações de Ismael e de Virgínia os aproximam,
remédios. Em vez de um, pôs outro... Perdi as duas uma vez que ambos praticam crimes motivados
vistas... Mesmo depois de cego ele me atormentava. pelo preconceito racial.
Estudava muito para ser mais que os brancos, quis ser
médico — só por orgulho, tudo orgulho. O que ele
fez com São Jorge? Tirou da parede o quadro de São TEXTO: 149 - Comum à questão: 265
Jorge, atirou pela janela — porque era santo de pre-
to. Um dia, desapareceu de casa, depois de ter dito à Dez anos de Flip
mãe dele: ‘Sou negro por tua causa’. (doce, suplican-
te) Já ouviu o que eu disse. Agora responda — gosta
dele? (silêncio) Gosta?
Ao mesmo tempo, poucos eventos culturais des-
VIRGÍNIA (obcecada) – Ele trocou os remédios de pro- pertam reações tão contraditórias quanto a Flip (Fes-
pósito... Para cegar você!... (muda de tom) Se eu gos- ta Literária Internacional de Paraty), desde que, há
to dele? Não... não gosto... dez anos, ela fez de Paraty uma das capitais mundiais
da literatura. Recorrendo à polarização proposta por
ELIAS – Odeia? Umberto Eco décadas atrás, há os apocalípticos e os
integrados. Para os primeiros, a Flip é um show midiá-
VIRGÍNIA (incerta) – Odeio... tico patrocinado pelas grandes corporações da vida
editorial, uma prova de como o capitalismo compra e
ELIAS – Tem medo dele?
corrompe tudo – e podemos encontrar sinais de “apo-
VIRGÍNIA (incerta) – Medo? (mudando de tom, levan- calipse” até no insuspeito escritor Jonathan Franzen
ta-se, anda, enquanto Elias se desorienta, sem saber (capa da Time como “o romancista da América”). Em
em que direção virar-se). A transpiração dele está por sua palestra lembrou que, ao chegar a Paraty, encon-
toda a parte, apodrecendo nas paredes, no ar, nos trou placas enormes com propaganda de um cartão
lençóis, na cama, nos travesseiros, até na minha pele, de crédito e, sussurrou, conspirador, “isso já diz muita
nos meus seios (aperta a cabeça entre as mãos). E nos coisa”. Os americanos também adoram falar mal do
meus cabelos, meu Deus! dinheiro.

(cheira as mãos em concha, como se quisesse encon- Franzen é um realista de carteirinha. Mas outro
trar nelas o cheiro três vezes maldito.) grande escritor, este de vocação nefelibata, o espa-
nhol Enrique Vila-Matas, denuncia com uma certa
(RODRIGUES, Nelson. Anjo negro. Rio de Janeiro: volúpia a “extinção da literatura”, entregue hoje ao
Nova Fronteira, 2005. p. 28-30.) horror das leis do mercado. Bem, não tomemos ao
pé da letra a afirmação, uma licença poética transcen-
dente – segundo o clássico gosto ibérico, a realidade
é uma consequência do desejo, e não o contrário. A
A peça Anjo negro, escrita por Nelson Rodrigues em ideia apocalíptica pressupõe uma utopia poética, mas
1946, permaneceu sob interdição da censura por também política, redentora e pura, onde a arte, en-
dois anos, até estrear em abril de 1948. Integrante do fim, brilhará como um diamante intocado pelo mun-
grupo das peças míticas, a ação dramática apresenta do real.
um conflito ligado ao tema do preconceito racial. No

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Enquanto isso não acontece, os integrados leem Considere o poema de Luís Delfino (1834-1910) e a
livros, pedem autógrafos, lotam as tendas da Flip, be- reprodução de um mosaico da Catedral de Monreale.
bem cachaça, passeiam pela cidade histórica, conver-
sam fiado, odeiam alguns autores e amam outros; há
um clima de devoção e um culto das celebridades que
faz parte do pacote (a diária num hotel de Paraty du- Jesus Pantocrátor 1
rante a Flip é uma das mais caras do mundo).

(Adaptado de TEZZA, Cristovão. Dez anos de Flip. Gazeta Há na Itália, em Palermo, ou pouco ao pé, na igreja
do Povo, 30 jul. 2012.)
De Monreale, feita em mosaico, a divina

Figura de Jesus Pantocrátor: domina


Questão 265 - (UFPR)
Aquela face austera, aquele olhar troveja.
Em que alternativa o texto foi sintetizado adequada-
mente?

Não: aquela cabeça é de um Deus, não se inclina.


a) As contradições da Flip são explicitadas por al- À árida pupila a doce, a benfazeja
guns escritores, chamados de apocalípticos, que
adoram falar mal do dinheiro. Um deles é o insus- Lágrima falta, e o peito enorme não arqueja
peito Jonathan Franzen, conhecido como “o ro-
mancista da América”. Mas as diárias de um hotel À dor. Fê-lo tremendo a ficção bizantina2.
durante o evento são caríssimas.

b) A Flip desperta reações contraditórias. Para resol-


Este criou o inferno, e o espetáculo hediondo
ver isso, a organização deveria ter mais cuidado
na escolha dos patrocinadores, pois o capitalismo Que há nos frescos3 de Santo Stefano Rotondo4;
compra e corrompe tudo. Quem aponta isso é o
espanhol Enrique Vila-Matas, segundo o qual as Este do mundo antigo espedaçado assoma...
leis de mercado estão destruindo a literatura.

c) O público que frequenta a Flip não está interessa-


do nas polêmicas dos escritores convidados para Este não redimiu; não foi à Cruz: olhai-o:
o evento, sejam eles apocalípticos ou integrados,
segundo a polarização formulada por Umberto Tem o anátema5 à boca, às duas mãos o raio,
Eco. Quer aproveitar a festa: passear, conversar, E em vez do espinho à fronte as três coroas de Roma.
conseguir autógrafos, tirar o maior proveito pos-
sível do alto preço pago pela hospedagem. (Luís Delfino. Rosas negras, 1938.)
d) Segundo Umberto Eco, há os apocalípticos e os
integrados. Na Flip, os dois grupos têm reações
contraditórias: os primeiros falam mal do dinhei-
ro, os outros gastam sem reclamar. Mas para am-
bos o evento pode ser definido como um show (1) Pantocrátor: que tudo rege, que governa tudo.
para a promoção e divulgação internacional de
(2) Bizantina: referente ao Império Romano do Orien-
autores e obras de interesse das grandes corpo-
te (330-1453 d.C.) e às manifestações culturais desse
rações editoriais.
império.
e) Desde sua criação, a Flip provoca reações con-
(3) Fresco: o mesmo que afresco, pintura mural que
traditórias: de um lado há os que consideram o
resulta da aplicação de cores diluídas em água sobre
evento um espetáculo em que predominam os
um revestimento ainda fresco de argamassa, para fa-
interesses das grandes editoras; de outro os que
cilitar a absorção da tinta.
curtem o evento sem maiores questionamentos.
A partir da dicotomia proposta por Umberto Eco, (4) Santo Stefano Rotondo: igreja erigida por volta de
os primeiros seriam os apocalípticos e os últimos 460 d.C., em Roma, em homenagem a Santo Estêvão
os integrados. (Stefano, em italiano), mártir do cristianismo.

(5) Anátema: reprovação enérgica, sentença de mal-


dição que expulsa da Igreja, excomunhão.
TEXTO: 150 - Comum à questão: 266
312 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Figura de Cristo Pantocrátor (2) O articulista lembra que a Chrysler lança-
rá o Dodge Durango SUV, que nos Estados Uni-
dos custa 54 mil reais, no Salão do Automóvel
de São Paulo por 190 mil reais. “Um professor
de escola primária do Bronx pode comprar um
Durango. Ok, não um zero quilômetro, mas um
de dois ou três anos, absolutamente bem con-
servado”, exemplifica, para mostrar que o carro
supostamente não vale o quanto custa no País.

(3) O autor salienta que o alto custo ocorre


por conta da taxação de 50% em produtos im-
portados e da ingenuidade do consumidor que
acredita que um Cherokee tem o mesmo valor
(Catedral de Monreale, Itália.) que um BMW X5 só porque tem o mesmo pre-
ço. “Desculpem, ‘Brazukas’, mas não há nenhum
status em um Toyota Corolla, Honda Civic, Jeep
Questão 266 - (UNESP SP) Grand ou Dodge Durango. Não sejam enganados
pelo preço de etiqueta. Vocês definitivamente
Segundo um dos dogmas da doutrina cristã, Jesus estão sendo roubados.”
Cristo nos resgatou e nos reconciliou com Deus por
meio de seu sacrifício na cruz. Aponte o verso do (4) E conclui o artigo: “Pensando dessa ma-
poema que nega explicitamente esse dogma para a neira, imagine que um amigo americano contas-
imagem de Cristo Pantocrátor. se que acabou de comprar um par de Havaianas
de 150 dólares. Você diria que ele pagou de-
mais. É claro que esses chinelos são sexy e chic,
mas não valem 150 dólares. Quando o assunto é
a) Não: aquela cabeça é de um Deus, não se incli- carro e seu status no Brasil, as camadas mais al-
na. tas estão servindo Pitu e 51 em suas caipirinhas
e pensando que é bebida de alta qualidade.”
b) Aquela face austera, aquele olhar troveja.
Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/socieda-
c) Este não redimiu; não foi à Cruz: olhai-o: de/articulista-da-
forbes-ironiza-o-status-que-o-brasileiro-da-para-
d) Figura de Jesus Pantocrátor: domina
-oautomovel. (Adaptado)
e) Este do mundo antigo espedaçado assoma...

Questão 267 - (UPE)


TEXTO: 151 - Comum à questão: 267 Também sobre as estratégias utilizadas na constru-
Articulista da Forbes ironiza o status que o brasileiro ção e organização do texto, analise as proposições a
dá para o automóvel seguir.

(1) Até a americana revista Forbes anda I. A intertextualidade explícita é recurso fundamen-
rindo da obsessão do brasileiro em encarar o tal na construção do Texto, o qual cita, do início
automóvel como símbolo de status. No último ao fim, um artigo publicado na revista Forbes.
sábado, o blog do colaborador Kenneth Rapoza,
II. O uso de aspas é recorrente no Texto, a fim de
especialista nos chamados Bric´s (Brasil, Rús-
ironizar o ponto de vista defendido no artigo da
sia, Índia e China), trouxe um artigo intitulado
revista Forbes.
“O Jeep Grand Cherokee de ridículos 80 mil dó-
lares do Brasil”. A tese do artigo: os brasileiros III. A tese defendida no artigo da revista Forbes é
confundem qualidade com preço alto e se dis- sustentada no Texto pela apresentação de vários
põem a pagar 189 mil reais (89.500 dólares) por argumentos, dos quais muitos são diferentes
um carro desses que, nos Estados Unidos, é só dos que se encontravam no artigo.
mais um carro comum. Por esse preço, ironiza
Rapoza, “seria possível comprar três Grand Che- IV. O fato de o automóvel ser símbolo de status no
rokees se esses brasileiros vivessem em Miami Brasil é evocado, logo no início do Texto, como
junto de seus amigos.” conhecimento prévio e aparentemente consen-
sual.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 313
V. Por constituir um resumo de um texto prévio, constituir o 37 desenvolvimento humano em várias di-
não se pode dizer qual o posicionamento do Tex- mensões 38 simultâneas e interativas? Ou seja, unifi-
to em relação ao tema que aborda. cando os 39 desafios econômicos, sociais, políticos, 40
ecológicos, culturais e coparticipativos, 41 direciona-
dos por princípios éticos e por razões de 42 sustenta-
bilidade? Mais que uma utopia, é o que 43 se discute,
Estão CORRETAS, apenas, se estuda e se propõe no Centro 44 Internacional de
Desenvolvimento, fundado por 45 um brasileiro exila-
do, Josué de Castro, um 46 pioneiro da luta contra a
a) I e II. fome e as desigualdades, 47 na Universidade de Paris
VIII. Ou ficamos com o 49 discurso radical da pós-mo-
b) I e IV. dernidade, enunciando 50 que a história não tem nem
terá rumos? E viva o 51 niilismo! Mas isto não seria
c) II e V. uma sentença de 52 morte?
d) III e IV. Malaquias B. Filho e Luciano V. Batista. Transição alimen-
tar/ nutricional
e) I, III e V.
ou mutação antropológica? Adaptado. http://cien-
ciaecultura.bvs.br/scielo

TEXTO: 152 - Comuns às questões: 268, 269


Desnaturação da vida Questão 268 - (USP Faculdade de Saúde Pública SP)
“Já se questiona: o homem ainda é naturalmente hu-
mano”? (Refs. 29-30). Entre os trechos abaixo, aque-
Na realidade, a transição alimentar/nutricional, 2
1 le em que mais diretamente se expressa o argumen-
depois de grandes conquistas, está se 3 encaminhan- to que fundamenta a formulação da pergunta acima
do para uma vertente perigosa: a 4 desnaturação dos citada é
alimentos, a desnaturação da 5 1vida humana e dos
biomas em seu conjunto, o 6 confronto com a natu-
reza, como uma guerra não 7 declarada: os ganhos
a) “As automações, os servomecanismos entraram,
da tecnologia a serviço dos 8 mercados. Assim, 80% a
visceralmente, em nosso corpos”. (Refs. 19-20)
90% dos alimentos, 9 antes de entrar em nossas bo-
cas, passa pela 10 boca das máquinas. (...) b) “próprio metabolismo, agora quase restrito às
atividades vegetativas”. (Refs. 21-22)
Com a modernização tecnológica, o trabalho
11
12
muscular foi sendo substituído gradualmente e 13 c) “a obsolescência programada pelos modismos
com grandes vantagens, em termos de 14 produtivi- do mercado está levando a um impasse ambien-
dade e redução de custos, seja na 15 agropecuária tal”. (Refs. 22-24)
seja em várias outras atividades 16 produtivas. Re-
sultado: liberados do trabalho físico, 17 praticamente d) “seriam necessários três planetas Terra para
nos alimentamos para atender 18 pouco mais que o atender a efetiva demanda de matériasprimas”.
metabolismo basal. (...) (Refs. 27-29)

As automações, os servomecanismos entraram,


19
e) “Para onde caminha o conflito homemnature-
20
visceralmente, em nossos corpos, incluindo seu 21 za?” (Refs. 30-31)
próprio metabolismo, agora quase restrito às 22 ativi-
dades vegetativas. Por outra parte, a 23 obsolescência
programada pelos modismos do 24 mercado está le-
vando a um impasse ambiental: 25 assim, se o padrão Questão 269 - (USP Faculdade de Saúde Pública SP)
de consumo dos Estados 26 Unidos e Japão fossem
O trecho “Valerá a pena um projeto de civilização
espalhados por toda a 27 humanidade, seriam neces-
que deve constituir o desenvolvimento humano em
sários três planetas 28 Terra para atender a efetiva
várias dimensões simultâneas e interativas?” (Refs.
demanda de 29 matérias-primas. Já se questiona: o
35-38)
homem ainda 30 é naturalmente humano? Para onde
caminha o 31 conflito homem/natureza? Como se
projetam, 32 nesse cenário de imprevisões, as pers-
pectivas da 33 alimentação e da nutrição? Para onde a) reitera, explicitando-o e o reforçando, o conteú-
transitamos? 34 Para as fronteiras do sem fim e sem do das duas interrogações imediatamente ante-
direção de 35 um futuro sem valores referenciais? riores a ele.
Valerá a pena 36 um projeto de civilização que deve
314 - www.PROJETOREDACAO.com.br
b) configura-se como uma pergunta retórica, uma c) mantém a unidade nacional, a despeito de sua
vez que sua resposta já está dada na estrutura extensão continental.
do próprio texto.
d) extrai, paradoxalmente, de seus contrastes, o di-
c) constitui a antítese do que se expressa na inter- namismo que lhe é peculiar.
rogação que o sucede imediatamente.
e) pode ser uma das maiores economias mundiais,
d) tem sua mensagem desqualificada pelos pró- englobando tantos contrastes.
prios autores do texto, que o consideram mera
expressão de uma utopia.

e) expressa uma postulação humanística, já devi- Questão 271 - (USP Faculdade de Saúde Pública SP)
damente ultrapassada pela investigação científi-
ca desenvolvida na Universidade de Paris VIII. Pelo fato de conjugar a exposição da complexidade
dos problemas que determinam o campo da saúde
pública no Brasil a uma dimensão programática, o
texto constrói uma perspectiva que projeta
TEXTO: 153 - Comuns às questões: 270, 271
1
“O Brasil não é para principiantes”, disse Tom
2
Jobim, um dos compositores mais populares do 3 a) a urgência do combate às diferenças étnicas re-
século XX. Ao longo desta Série, os artigos 4 demons- gionais.
tram que a declaração do compositor 5 brasileiro pa-
rece, de fato, estar correta. Evidenciase 6 um progres- b) um impasse sem solução que se possa vislum-
so considerável em alguns aspectos 7 das condições brar.
de saúde da população e do 8 sistema de saúde, em c) a necessidade de agir ao arrepio da ordem insti-
franco contraste com a 9 estagnação ou mesmo de- tucional vigente.
terioração de outros 10 indicadores. Como uma das
dez maiores 11 economias globais, o Brasil ainda tem d) a exigência de aumento das verbas públicas para
um longo 12 caminho a percorrer até atingir os níveis a saúde.
de saúde 13 vigentes nas nações mais prósperas do
mundo. e) um desafio que é, em última análise, político.

Países de grande extensão tendem a ser 15 com-


14

plexos e difíceis de administrar. Com quase 16 200 mi-


lhões de habitantes, há diferenças 17 regionais mar- TEXTO: 154 - Comum à questão: 272
cantes no Brasil. Regiões mais ricas, 18 como o Sul e o
Sudeste (onde a expectativa de 19 vida é comparável O caminho para uma saúde de qualidade
àquela de países ricos), 20 convivem com as mais po-
bres, como o Norte, o 21 Nordeste e a fronteira do
Centro-Oeste, que se 22 expandem com rapidez. 1
A Constituição de 1988 definiu um conjunto 2 de
direitos à saúde para todos os brasileiros, sem 3 ex-
Cesar G. Victora et al. Condições de saúde e inovações plicitar como alcançá-los, a que custo e com 4 base
nas políticas de em que estratégia. O projeto do SUS patinou 5 entre
saúde no Brasil: o caminho a percorrer. Séries 90. 1988 e 1994, em grande medida, em função 6 da ins-
www.thelancet.com. 9 de maio de 2011. tabilidade econômica, da falta de uma 7 estratégia de
implementação e da incapacidade 8 do governo de
deliberar corretamente os primeiros 9 passos para o
Questão 270 - (USP Faculdade de Saúde Pública SP) funcionamento do sistema. A 10 situação melhorou a
partir de 1994. No rastro da 11 estabilização econô-
No contexto do excerto, a complexidade própria do mica, iniciaram-se estratégias 12 para implementar o
Brasil, sugerida pela conhecida frase de Tom Jobim ─ SUS. (...)
“O Brasil não é para principiantes” ─ remete mais di-
retamente à dificuldade de se entender como o País
13
Apesar de todas essas mudanças, a 14 população
brasileira continua tendo uma visão 15 pouco alenta-
dora das políticas de saúde no Brasil. 16 Em 2011, a
saúde era o maior problema na vida 17 de 52% dos
a) conjuga desde sempre (e atualmente) progresso brasileiros, não havendo outro 18 problema que o su-
e regressão. perasse. Entre dezembro de 19 2011 e março de 2012,
o percentual de aprovaçã o 20 da política de saúde
b) funciona surpreendentemente bem, apesar de implementada pelo atual 21 governo cresceu de 30%
suas disparidades regionais. para 34%, mas cerca de 22 63% dos brasileiros, de
www.PROJETOREDACAO.com.br - 315
acordo com uma pesquisa 23 CNI-Ibope, desaprova- como em 11 desenvolvimento.
vam a política de saúde do 24 governo.
Neumann et al., em estudo transversal realiza-
12
25
Por que os brasileiros avaliam mal as políticas
26
do no Município de São Paulo, Brasil, encontraram
13

governamentais de saúde? Porque o 27 tempo de es- 14


associações positivas e estatisticamente 15 signifi-
pera para o atendimento é muito 28 elevado e maior cantes entre maior risco cardiovascular e 16 padrões
entre os mais pobres e entre 29 aqueles situados nas de consumo de alimentos caracterizados, 17 entre
regiões onde os serviços de 30 saúde não estão bem outros, pela maior ingestão habitual de 18 açúcares,
organizados. Porque faltam 31 médicos e profissionais gorduras saturadas, sal de adição e 19 álcool.
de saúde para o 32 atendimento, especialmente nos
pequenos 33 municípios ou nas áreas de difícil acesso. Como apontaram Alves et al., Lenz et al. e Hu,
20

Porque 34 faltam medicamentos básicos nos serviços


21
em estudos epidemiológicos em que se pretende
de 35 saúde, levando os pacientes a comprar 36 medi-
22
investigar o papel da dieta no desenvolvimento
camentos por aconselhamento de amigos,37 parentes de 23 doenças crônicas, a avaliação dos padrões de
ou farmacêuticos, gastando boa parte de 38 sua renda
24
consumo de alimentos apresenta vantagens em 25
com isso. Porque a atenção básica não 39 tem aumen- relação ao procedimento tradicional que considera
tado na velocidade suficiente para 40 integrar os mais
26
apenas a ingestão dos nutrientes, isoladamente. 27
pobres aos serviços de saúde. Tal abordagem permite, com maior facilidade, 28 es-
tabelecer estratégias factíveis para a prevenção 29 ou
André Médici. Revista Época, 3 de junho de 2012. Adap- tratamento das doenças.
tado
Diversos fatores interferem nas opções 31 ali-
30

mentares de indivíduos ou populações, entre 32 eles,


os biológicos (sexo, idade, etnia), 33 socioeconômicos
Questão 272 - (USP Faculdade de Saúde Pública SP) (renda e escolaridade) e de 34 estilo de vida (tabagis-
mo, atividade física). Além 35 disso, como mostraram
Tanto no primeiro quanto no terceiro parágrafo do Levy-Costa et al. e Sichieri 36 et al., a disponibilidade
excerto revela-se que o texto tende a local/regional de alimentos 37 tem papel importante
na definição de tais padrões, 38 indicando que variá-
veis relacionadas 39 exclusivamente ao indivíduo não
a) ser prolífico na proposição de perguntas, e eco- são suficientes 40 para explicá-los.
nômico na formulação de respostas.
Assim, dentro desse contexto, o presente 42 es-
41

b) empregar vocábulos pertencentes à variedade tudo teve como objetivos descrever os padrões 43 de
popular da língua, mesclando-os ao jargão cien- consumo de alimentos mais frequentemente 44 en-
tífico que predomina no conjunto. contrados entre residentes no Município de 45 Ribei-
rão Preto, São Paulo, e identificar quais 46 fatores se
c) elencar com desenvoltura os problemas de que associam a eles (sociodemográficos, de 47 estilo de
trata, guardando-se, no entanto, de hierarquizá- vida e de saúde).
-los com clareza.
Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27(3):533-
d) ser enfático na formulação de sua tese central, 545, mar, 2011. Adaptado.
negligenciando, todavia, a exposição de elemen-
tos úteis para demonstrá-la.

e) privilegiar a argumentação baseada em concei- Questão 273 - (USP Faculdade de Saúde Pública SP)
tos de Sociologia e Política, quando seu tema
exigiria o primado de noções médicobiológicas. No terceiro parágrafo do excerto, o trecho “em es-
tudos epidemiológicos em que se pretende investi-
gar o papel da dieta no desenvolvimento de doenças
crônicas”
TEXTO: 155 - Comum à questão: 273
1
Sabe-se que dietas com alta densidade 2 ener-
gética, ricas em gorduras (particularmente as 3 de a) classifica os estudos publicados por Alves et al.,
origem animal) e pobres em fibras alimentares, 4 as- Lenz et al. e Hu, citados logo anteriormente.
sociadas à redução da atividade física, ao 5 tabagismo
b) enuncia um pré-requisito universal dos estu-
e ao consumo excessivo de álcool 6 podem explicar
dos epidemiológicos aplicados a populações de
parte substancial dos casos de 7 algumas doenças
composição heterogênea.
crônicas como, por exemplo, a 8 obesidade, as doen-
ças cardiovasculares, o 9 diabetes mellitus e a sín- c) ressalta a raridade dos bons estudos epidemio-
drome metabólica, tanto 10 em países desenvolvidos lógicos referentes à dieta alimentar.
316 - www.PROJETOREDACAO.com.br
d) denuncia o caráter pretensioso dos estudos 20
O medo, portanto, é positivo e é negativo. O
cujos resultados não são verificáveis por crité- fato é que quase nenhum vivente deixa de ter medo.
rios científicos. Os 21 corajosos, os intrépidos, assim mesmo guardam
algum medo. Conheci uma mulher que tinha medo
e) define a natureza e os objetivos das pesquisas de engravidar, 22 no entanto o seu maior desejo e
em cujo âmbito o artigo irá defender seu ponto ideal era engravidar. Mas é que ela achava que não
de vista. iria poder administrar a gravidez 23 e temia a ideia de
que não pudesse fazer cesariana e tivesse que sofrer
as dores do parto. Vejam vocês, nesse caso, 24 o con-
teúdo fantástico do medo: a mulher sabia que ter um
TEXTO: 156 - Comuns às questões: 274, 275, 276,
filho significava a sua ansiada felicidade. Mas tinha
277 como 25 oponente à felicidade justamente o medo.
Medo de ser feliz 26
Eu não tenho dúvida de que a posição mais im-
Paulo Sant’Ana portante na conduta humana é o medo. Chega a tal
ponto a 27 importância do medo na vida humana, que
há pessoas que vivem aterrorizadas com a possibili-
dade de virem a ter 28 medo de alguma coisa. Tanto
1
Confesso que sou quase escravo do medo. até, que o samba e a filosofia consagram a expres-
Quando vou ao dentista e fico por uma hora e meia são: “Medo de ser feliz”. E tanto isso 29 é verdade,
sofrendo um 2 tratamento de canal, sinto umas 40 que conheço inúmeras pessoas, entre elas eu, que
vezes ataque de medo pânico. E, no entanto, não me têm medo de vir a ganhar a Mega Sena. Não é uma
dói uma única vez durante 3 os 90 minutos. Ocorre 30
idiotice? Estudem bem a questão e verão que não.
então um fenômeno: com os 40 ataques de medo
que tenho, acabo sofrendo muito mais do 4 que se (Zero Hora, p. 59, 1 fev. 2012. – Texto adaptado.)
doesse o tratamento da minha dentista. Sei que ar-
risco ser chamado de idiota. Só não se agrava mais
essa 5 minha desvantagem pelo fato de que o medo
é intrínseco à conduta humana, é quase impossível
Questão 274 - (UCS RS)
viver sem medo de 6 qualquer coisa Com base no texto, é correto afirmar que
7
Sobre o medo, Shakespeare tem uma sentença
genial: “O covarde (pessimista) morre mil vezes antes
de 8 morrer”. É isto mesmo. Quando sinto medo do a) a palavra quase (Ref. 01) relativiza a ideia de su-
dentista, isso equivale exatamente à dor que sentiria jeição imposta pelo medo.
se o dentista 9 tocasse com o ferro no nervo do meu
dente. Ou seja, o medo é um sofrimento, uma dor. b) a dor que o autor sente tem relação de depen-
Pior, é uma dor que não10 acontece, mas sabem os dência com o tempo do tratamento dentário.
medrosos o quanto dói.
c) a quantificação do medo pânico (Ref. 02) é pro-
11
Quando me retorço na cadeira da dentista, ela porcional ao tipo de tratamento dentário.
me pergunta: “Está doendo?”. Eu respondo: “Não,
estou com 12 medo”. O que vem a ser a mesma coisa: d) a locução conjuntiva no entanto (Ref. 02) reforça
de que adianta não estar doendo se o medo é às ve- a ideia da natureza da dor física.
zes até pior que a dor?
e) a intensidade do sofrimento se dissipa em virtu-
13
E o pior é aquele medo que se tem de determi- de do tratamento.
nada coisa trágica que nos possa acontecer, ela aca-
ba não 14 acontecendo em meses ou anos, mas nós
sentimos tanto medo de que ela ocorreria, que esse Questão 275 - (UCS RS)
medo nos causa um 15 dano às vezes maior do que a
coisa trágica que temíamos. Com base no texto, é correto afirmar que
16
Eu sei que se afirma com razão que a maior
defesa do corpo humano é o medo. Muitas vezes,
se você não 17 tivesse medo de atravessar a rua, se- a) a relação de sentido estabelecida pelo conector
ria atropelado. Mas é que essa função protetiva do E (Ref. 02) é de adição.
medo humano tem a 18 concorrência do medo noci-
vo, como, por exemplo, o homem que tem medo de b) a palavra então (Ref. 03) estabelece a relação de
se submeter a uma cirurgia, não se 19 submete a ela e sentido de explicação.
por isso acaba morrendo por incúria.
c) a retirada da palavra muito (Ref. 03) implicaria

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a alteração do uso do conector de comparação geral de uma lastimável limitação de ideias, cheios
mais do que (Refs. 03 e 04). de fórmulas, de receitas, só capazes de colher 4 fatos
detalhados e impotentes para generalizar, curvados
d) o verbo arrisco (Ref. 04) poderia ser substituído aos fortes e às ideias vencedoras, e 5 antigas, adstri-
por prefiro, mantendo inalterado o sentido ori- tos a um infantil fetichismo do estilo e guiados por
ginal da frase. conceitos obsoletos e um pueril 6 e errôneo critério
de beleza. Se me esforço por fazê-lo literário é para
e) a palavra desvantagem (Ref. 05) sintetiza os te- que ele possa ser lido, pois 7 quero falar das minhas
mores do autor. dores e dos meus sofrimentos ao espírito geral e no
seu interesse, com 8 a linguagem acessível a ele. É
esse o meu propósito, o meu único propósito. Não
Questão 276 - (UCS RS) nego que para 9 isso tenha procurado modelos e nor-
mas. Procurei-os, confesso; e, agora mesmo, ao al-
Com base no texto, pode-se inferir que cance 10 das mãos, tenho os autores que mais amo.
(...) Confesso que os leio, que os estudo, que procu-
ro11 descobrir nos grandes romancistas o segredo de
fazer. Mas não é a ambição literária que me 12 move
a) os distintos agentes do medo são referidos como ao procurar esse dom misterioso para animar e fazer
indecifráveis. viver estas pálidas Recordações. 13 Com elas, queria
b) as situações mais temidas vêm a se efetivar, por modificar a opinião dos meus concidadãos, obrigá-
isso a angústia causada pelo medo. -los a pensar de outro modo, 14 a não se encherem
de hostilidade e má vontade quando encontrarem na
c) a conquista mais desejada pelo receoso é con- vida um rapaz como 15 eu e com os desejos que tinha
trolar seus instintos de autopreservação frente há dez anos passados. Tento mostrar que são legíti-
às adversidades. mos e, se não 16 merecedores de apoio, pelo menos
dignos de indiferença.
d) o temor inexplorado motiva as pessoas a aguar-
darem acontecimentos trágicos.
17
Entretanto, quantas dores, quantas angústias!
Vivo aqui só, isto é, sem relações intelectuais de 18
e) a superação do medo, não raro, traz como re- qualquer ordem. Cercam-me dois ou três bacharéis
compensa a realização de anseios. idiotas e um médico mezinheiro, repletos 19 de or-
gulho de suas cartas que sabe Deus como tiraram.
(...) Entretanto, se eu amanhã lhes fosse 20 falar neste
livro - que espanto! que sarcasmo! que crítica desa-
Questão 277 - (UCS RS) nimadora não fariam. Depois que 21 se foi o doutor
Graciliano, excepcionalmente simples e esquecido
Com base no texto, é correto afirmar que o autor, ao
de sua carta apergaminhada, 22 nada digo das minhas
expor seus medos, revela-se
leituras, não falo das minhas lucubrações intelectuais
a ninguém, e minha 23 mulher, quando me demoro
escrevendo pela noite afora, grita-me do quarto:
a) um homem obstinado pela dor.
- Vem dormir, Isaías! Deixa esse relatório para
24

b) uma pessoa diligente na análise dos dramas hu- amanhã!


manos.
25
De forma que não tenho por onde aferir se as
c) um paladino defensor dos covardes. minhas Recordações preenchem o fim a que as 26
destino; se a minha inabilidade literária está preju-
d) um preletor dos que buscam o bem-estar. dicando completamente o seu pensamento. 27 Que
tortura! E não é só isso: envergonho-me por esta ou
e) um crítico a desdenhar os aventureiros. aquela passagem em que me acho, em 28 que me dis-
po em frente de desconhecidos, como uma mulher
pública... Sofro assim de tantos 29 modos, por causa
TEXTO: 157 - Comum à questão: 278 desta obra, que julgo que esse mal-estar, com que às
vezes acordo, vem dela, 30 unicamente dela. Quero
Recordações do escrivão Isaías Caminha abandoná-la; mas não posso absolutamente. De ma-
nhã, ao almoço, na 31 coletoria, na botica, jantando,
banhando-me, só penso nela. À noite, quando todos
em casa se 32 vão recolhendo, insensivelmente apro-
Eu não sou literato, detesto com toda a paixão
‘1
ximo-me da mesa e escrevo furiosamente. Estou no
essa espécie de animal. O que observei neles, no 2 sexto 33 capítulo e ainda não me preocupei em fazê-la
tempo em que estive na redação do O Globo, foi o pública, anunciar e arranjar um bom recebimento 34
bastante para não os amar, nem os imitar. São em 3
318 - www.PROJETOREDACAO.com.br
dos detentores da opinião nacional. Que ela tenha a sucesso do filme O dia depois de amanhã (The day
sorte que merecer, mas que possa também, 35 ama- after tomorrow), faturando mais de meio bilhão 11 de
nhã ou daqui a séculos, despertar um escritor mais dólares, e seu cenário de uma idade do gelo ocorren-
hábil que a refaça e que diga o que não 36 pude nem do em uma semana, em vez de décadas 12 ou, melhor
soube dizer. ainda, centenas de anos, levantaram as sobrancelhas
de cientistas mais rígidos que 13 veem as distorções
37
(...) Imagino como um escritor hábil não saberia com desdém e esbugalharam os olhos dos especta-
dizer o que eu senti lá dentro. Eu que sofri 38 e pensei dores (a maioria) que 14 pouco ligam se a ciência está
não o sei narrar. Já por duas vezes, tentei escrever; certa ou errada. Afinal, cinema é diversão.
mas, relendo a página, achei-a 39 incolor, comum, e,
sobretudo, pouco expressiva do que eu de fato tinha 15
Até recentemente, defendia a posição mais rí-
sentido. gida, que filmes devem tentar ao máximo ser fiéis
à 16 ciência que retratam. Claro, isso sempre é bom.
LIMA BARRETO Recordações do escrivão Isaías Caminha. Mas não acredito mais que seja absolutamente 17 ne-
São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, cessário. Existe uma diferença crucial entre um filme
2010. comercial e um documentário científico. 18 Óbvio,
documentários devem retratar fielmente a ciência,
educando e divertindo a população, 19 mas filmes não
têm necessariamente um compromisso pedagógico.
Questão 278 - (UERJ)
As pessoas não vão ao 20 cinema para serem educa-
O personagem Isaías Caminha faz críticas àqueles das, ao menos como via de regra.
que ele denomina “literatos”. 21
Claro, filmes históricos ou mesmo aqueles fiéis
No primeiro parágrafo, podemos entender que os à ciência têm enorme valor cultural. Outros 22 edu-
chamados literatos são escritores com a caracterís- cam as emoções através da ficção. Mas, se existirem
tica de: exageros, eles não deverão ser 23 criticados como tal.
Fantasmas não existem, mas filmes de terror sim.
Pode-se argumentar que, 24 no caso de filmes que
versam sobre temas científicos, as pessoas vão ao ci-
a) carecer de bons leitores nema esperando uma 25 ciência crível. Isso pode ser
verdade, mas elas não deveriam basear suas conclu-
b) negar o talento individual sões no que diz 26 o filme. No mínimo, o cinema pode
c) repetir regras consagradas servir como mecanismo de alerta para questões cien-
tíficas 27 importantes: o aquecimento global, a inteli-
d) apresentar erros de escrita gência artificial, a engenharia genética, as guerras 28
nucleares, os riscos espaciais como cometas ou aste-
roides etc. Mas o conteúdo não deve ser 29 levado ao
pé da letra. A arte distorce para persuadir. E o cinema
TEXTO: 158 - Comuns às questões: 279, 280 moderno, com efeitos especiais 30 absolutamente es-
petaculares, distorce com enorme facilidade e poder
Ciência e Hollywood de persuasão.
31
O que os cientistas podem fazer, e isso está vi-
rando moda nas universidades norte-americanas, 32
1
Infelizmente, é verdade: explosões não fazem
é usar filmes nas salas de aula para educar seus alu-
barulho algum no espaço. Não me lembro de um 2 só
nos sobre o que é cientificamente correto 33 e o que
filme que tenha retratado isso direito. Pode ser que
é absurdo. Ou seja, usar o cinema como ferramenta
existam alguns, mas se existirem não 3 fizeram muito
pedagógica. Os alunos certamente 34 prestarão muita
sucesso. Sempre vemos explosões gigantescas, es-
atenção, muito mais do que em uma aula conven-
trondos fantásticos. Para existir 4 ruído é necessário
cional. Com isso, será possível 35 educar a população
um meio material que transporte as perturbações
para que, no futuro, um número cada vez maior de
que chamamos de ondas 5 sonoras. Na ausência de
pessoas possa discernir 36 o real do imaginário.
atmosfera, ou água, ou outro meio, as perturbações
não têm onde se 6 propagar. Para um produtor de ci- MARCELO GLEISER Adaptado de www1.folha.uol.com.br.
nema, a questão não passa pela ciência. Pelo menos
não como 7 prioridade. Seu interesse é tornar o filme
emocionante, e explosões têm justamente este pa-
pel; 8 roubar o som de uma grande espaçonave ex- Questão 279 - (UERJ)
plodindo torna a cena bem sem graça.
Ao longo do texto, o autor procura evitar generaliza-
9
Recentemente, o debate sobre as liberdades ções, admitindo, após algumas conclusões, a possibi-
científicas tomadas pelo cinema tem aquecido. O 10 lidade de exceções.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 319
Essa atitude do autor está exemplificada em: 13
Ao deparar com uma notícia escabrosa de 14 cor-
rupção, com um crime hediondo, com uma atitude
15
inverossímil, o cidadão tem de claramente ma-
nifestar 16 sua contrariedade. Mais que criticar ou
a) Sempre vemos explosões gigantescas, estron- censurar, é 17 necessário demonstrar com clareza a
dos fantásticos. (Ref. 3) indignação com 18 o fato. É por falta dessa posição
b) Recentemente, o debate sobre as liberdades firme que equipes não 19 melhoram seu desempe-
científicas tomadas pelo cinema tem aquecido. nho. Se houvesse a reação 20 correta e explícita, os
(Ref. 9) comportamentos mudariam, o 21 esforço para alcan-
çar os resultados seria maior e o 22 benefício coletivo
c) Óbvio, documentários devem retratar fielmente apareceria.
a ciência, educando e divertindo a população,
(Ref. 18)

d) As pessoas não vão ao cinema para serem edu-


23
Muitas vezes os competentes se calam para não
cadas, ao menos como via de regra. (Ref. 19-20)
24
constranger os incompetentes. Ledo engano. Só a
25
discordância pode mudar comportamentos. A le-
niência 26 sempre foi inimiga da boa performance. As
pessoas ficam 27 surpresas quando ouvem Neymar, o
Questão 280 - (UERJ) craque do Santos, 28 criticar a baixa dedicação de al-
guns companheiros de 29 time. Veem nisso uma falta
Mas, se existirem exageros, eles não deverão ser cri- de coleguismo. Nada disso. 30 É o mais puro e legí-
ticados como tal. (Refs. 22-23) timo desapontamento de quem se 31 esforça contra
quem não faz o mesmo. Na empresa a 32 situação é
parecida. Muitos se calam para não criar 33 mal-estar
Esta afirmação, embora pareça contraditória, sugere — às vezes, preferem deixar a companhia. 34 Melhor
um elemento fundamental para a compreensão do seria se demonstrassem sua indignação.
ponto de vista do autor.

O fragmento que melhor sintetiza o ponto de vista 35


É preciso gerar desconforto para criar prontidão
expresso pela frase citada é: e 36 atenção na equipe. O que recomendo, no en-
tanto, é 37 que a demonstração seja polida, calma,
sem gritos, mas 38 com muita consistência. O ato de
a) Até recentemente, defendia a posição mais rígi- se indignar deve ser 39 baseado em fatos e não so-
da, (Ref. 15) mente em opiniões. E ele 40 somente é para valer se
for consubstancial, do contrário 41 será considerado
b) filmes históricos ou mesmo aqueles fiéis à ciên- como um estertor, um chilique, e não 42 vai trazer o
cia têm enorme valor cultural. (Ref. 21) benefício comum. É esperançoso ver a 43 indignação
demonstrada, por exemplo, por vários de 44 nossos
c) A arte distorce para persuadir. (Ref. 29) juízes do Supremo Tribunal Federal. Indignar-se 45 é
um ato cidadão.
d) Os alunos certamente prestarão muita atenção,
(Ref. 33-34) CABRERA Luiz Carlos. O ato de se indignar. Você S/A,
São Paulo: Abril, ed. 173, p. 144, nov. 2012.

TEXTO: 159 - Comum à questão: 281


Questão 281 - (UNEB BA)
1
A sociedade ocidental, ao caminhar no sentido de
2
uma aquisição de práticas de comportamento que Considerando-se a estrutura do texto em estudo, há
fossem 3 politicamente corretas, acabou por inibir nexo no que se afirma em
— e às vezes 4 coibir — uma das mais importantes
reações do ser 5 humano: a sua capacidade de se in-
dignar. Diante de 6 uma injustiça, uma falha grave, um
desaforo, o ser 7 humano, pressionado pelo denomi- 01. A linguagem usada atende à utilização das pala-
nado controle do 8 temperamento, acaba por aneste- vras num contexto em que a metáfora é predo-
siar sua capacidade 9 de se indignar. Ao lidar com os minante.
fatos da vida e fazer 10 seus julgamentos, o cidadão
usa sua escala de valores, 11 e são eles que definem 02. O primeiro parágrafo apresenta o uso de traves-
sua inserção na sociedade. 12 Indignar-se com o ab- sões e de dois-pontos para destacar termos com
surdo é um valor. função explicativa.

320 - www.PROJETOREDACAO.com.br
03. Os parágrafos são organizados de forma tal, que ( ) O fato que serve de pretexto para a voz autoral
o último, se deslocado para o primeiro lugar — fazer a sua reflexão sobre a questão da saúde no
abertura do discurso —, não prejudica a lógica Brasil ocorre num tempo hipotético no passado.
do pensamento progressivo.
( ) As expressões “os médicos mais antigos que co-
04. A subjetividade do enunciador do discurso é ma- nheci” (Ref. 1) e “os seus alunos” (Ref. 4) cons-
nifestada tão somente no último parágrafo, ao tituem exemplos de complementos verbais nos
assumir uma postura de conselheiro comporta- respectivos contextos.
mental.
( ) O locutor, na frase “Habilitava, dessa forma, o
05. Os traços discursivos do texto são de um estilo conceituado mestre os seus alunos a tratarem a
em que se mesclam formalidade e informalida- ambos, o cliente abastado e o carente de recur-
de com termos de opinião, sinalizando o papel sos, talvez com a mesma eficiência, porém com
comunicativo do enunciador, a fim de influen- custo diferente.” (Refs. 3-5), não assume o seu
ciar o interlocutor. ponto de vista como inquestionável.

( ) Os termos “por outro lado” (Ref. 6) e “aliás”


(Ref. 8) constituem operadores de valor conces-
Questão 282 - (UNEB BA) sivo, nos seus respectivos contextos.
1
Contavam os médicos mais antigos que conheci que
Fernando São Paulo, afamado professor de terapêu-
tica da 2 Faculdade de Medicina da Bahia e autor do A alternativa que contém a sequência correta, de
importante dicionário “Linguagem Médica Popular cima para baixo, é a
no Brasil”, ao realizar suas 3 provas, exigia, nas res-
postas, que os alunos descrevessem o tratamento
para o rico e para o pobre. Habilitava, dessa 4 forma,
01. V F F V F
o conceituado mestre os seus alunos a tratarem a
ambos, o cliente abastado e o carente de recursos, 02. F V V V F
talvez com 5 a mesma eficiência, porém com custo
diferente. Era um exercício de humanidade prática, 03. F F V V V
que muito devia ajudar os 6 futuros médicos, mas
que, por outro lado, registra a cruel desigualdade 04. V F F V V
num setor que jamais devia ser desigual numa 7 civi-
lização que se respeita, numa pátria que se respeita, 05. V V F F F
e que é a saúde.

Questão 283 - (UNIFOR CE)


8
O professor Fernando São Paulo que, aliás, morreu
Chave mestra
pobre e esquecido, embora tenha havido, no cente-
nário de seu 9 nascimento, um notável esforço para
reabilitar a sua memória, viveu e lecionou Medicina
numa outra 10 época, na primeira metade do século Saio da adolescência
passado, que, hoje, parece outro mundo, tão distan-
te está dos costumes atuais. 11 Entretanto, no aspecto Com o cansaço das guerras mundiais.
da Medicina para o rico e da Medicina para o pobre,
não houve grandes mudanças. Vencedor nenhum

COSTA, Aramis Ribeiro. As cruéis desigualdades. A Tarde, Ou vários.


Salvador, 27 nov. 2012. Caderno Opinião. p. A 2.

Finda a dolorosa desordem


Indique V ou F, conforme sejam as afirmativas verda-
Da prepotência.
deiras ou falsas em relação ao texto.
Finda a arrogância de garota suicida

Fim do choro e do ranger de dentes.


( ) Há predominância de tempos verbais no passa-
do, os quais retratam o mundo narrado que ser-
ve de base ao comentário do enunciador.
Primeiras lições;
www.PROJETOREDACAO.com.br - 321
Ver e ouvir mais. o direito da coletividade, 20 já que, na prática, isso
significaria subtrair evidências de um 21 processo por
Almoçar com os pais, pois não podermos contar com o testemunho daquela 22
pessoa”, diz ela.
Aprendi a língua dos mortais.
Superinteressante, out./2012 (com adaptações).

‘Julgue a adequação de cada trecho apresentado nos


Como mortal itens seguintes para constituir o parágrafo introdutó-
Sobretudo rio do texto acima, atendendo à norma padrão e às
relações de coesão e coerência.
Viver.

(Rita Espeschit in Na ponta do lápis, ano VII –


número 17 – ago 2011, p.37 – CENPEC). I. Todos nós colecionamos algumas lembranças
ruins ao longo da vida. Isso é inevitável, mas, no
que depender de pesquisadores de várias par-
tes do mundo, vai deixar de ser. Eles estão traba-
Segundo o poema de Rita Espeschit, podemos afir- lhando em um projeto ambicioso: a criação de
mar que uma droga que apague memórias ruins, como as
sequelas de traumas.

II. Assim, você iria a um consultório médico e, sob


a) a consciência da morte é partilhada por todos, a supervisão de um terapeuta, relembraria um
sobretudo os leitores. fato desagradável. Ao mesmo tempo receberia
a injeção de uma droga inibidora de proteínas.
b) a adolescência não é tratada como uma passa-
E, como mágica, aquela memória desaparecia.
gem.
III. Os cientistas dizem que é preciso fazer mais tes-
c) o poema apresenta passagens entre estados de
tes para entender qual é o real efeito disso no
instabilidade e de estabilidade na vida.
cérebro — e saber quais são os possíveis efeitos
d) a vida não deve ser estado de alternância à per- colaterais, se existirem. Se caso fosse usada de
manência, ou vice-versa. forma descontrolada, a técnica poderia levar à
destruição de memórias saudáveis.
e) a leitura do poema será única para os leitores.

É adequado para constituir o 1.º parágrafo do texto o


Questão 284 - (ESCS DF) que está expresso
1
O estresse pós-traumático é caracterizado por 2 sin-
tomas como ansiedade e depressão e está relacio-
nado à 3 lembrança de algum evento traumático que a) no item I, apenas.
envolva ameaça à 4 vida ou à integridade física, como b) no item II, apenas.
assaltos, sequestros ou 5 acidentes graves. O proble-
ma afeta 6% da população mundial, 6 420 milhões de c) no item III, apenas.
pessoas. Um medicamento que fosse eficaz 7 contra
ele poderia melhorar a vida de muita gente. As 8 subs- d) nos itens I ou II.
tâncias capazes de apagar memórias ruins também 9
poderiam ser usadas para tratar dor crônica. Por ra- e) nos itens I ou III.
zões que a 10 ciência ainda não compreende comple-
tamente, em alguns 11 casos, mesmo depois de um
ferimento físico já ter sido curado, 12 alguns nervos TEXTO: 160 - Comum à questão: 285
ainda continuam transmitindo sinais de dor na 13
região, como se o corpo tivesse memorizado aquela Texto 1
dor. Em 14 suma, mexer com as memórias pode trazer
consequências 15 muito boas. Mas também pode ser
extremamente ruim. Para a 16 psiquiatra e bioeticista
carioca Marlene Braz, mudar ou apagar 17 memórias Sem firulas, sem floreios
poderia trazer consequências até para o sistema 18
jurídico. “Haveria uma tensão entre o direito indivi- Eliane Cantanhêde
dual de uma 19 pessoa — que decidiu esquecer — e Folha de S.Paulo, 23 nov. 2012
322 - www.PROJETOREDACAO.com.br
BRASÍLIA – Ao assumir a presidência do Supremo Tri- O artigo 5º da Constituição começa com o enun-
bunal Federal, num dia histórico, Joaquim Benedito ciado de uma verdade jurídica, mas uma inverdade
Barbosa elogiou a “trajetória vitoriosa de um povo material: “todos são iguais perante a lei”. Será ver-
que soube (...) entrar no seleto clube das nações res- dadeiro se o lermos como esperança de um vir a ser,
peitáveis”. compondo programa igualitário para todos os que
aqui vivem, com “inviolabilidade do direito à vida, à
Pois o país também se orgulha da trajetória vito- liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
riosa de um brasileiro negro, pobre e muito especial O artigo 5º é mais do que ordem jurídica – é uma
que entrou ontem no seleto clube de presidentes da “norma programática”, conforme ensinam os mes-
mais alta corte. tres. Retrata a esperança de aprimoramento das con-
dições sociais dos que vivem aqui, para alcançarem
Vale aí um reconhecimento a Lula: foi o primeiro realização plena.
operário presidente da República quem nomeou o
primeiro negro para o Supremo. O resultado dessa Nesse quadro a auspiciosa nomeação de um pre-
soma é que, apesar de ainda faltar muito, o Brasil se sidente negro para o STF (Supremo Tribunal Federal)
torna cada vez mais uma “nação respeitável”. é boa em si mesma, pelas qualidades que o minis-
tro Joaquim Barbosa já demonstrou no tratamento
Se a cerimônia foi emocionante, Joaquim foi sim- do direito e no trabalho que tem desenvolvido. É,
ples. Falou pouco, sem arroubos, afetação e provo- porém, ótima na simbologia das transformações
cações – muito menos para fora do Poder Judiciário sociais pelas quais estamos passando. Seu acesso à
– e terminou agradecendo aos amigos que vieram da presidência dá o indício fundamental: a substituição
França e dos Estados Unidos especialmente para ho- dos dirigentes do STF, segundo o tempo na mesma
menageá-lo. função permite, no restrito grupo de 11 magistrados,
Citou também um por um os muitos irmãos e dis- com revezamento de estilos, convicções emando.
pensou formalidades para se dirigir à dona Benedita, É evidente, porém , que o caso do ministro Bar-
umadas principais estrelas da festa. bosa acrescenta, além do toque da novidade, o
Simplesmente sorriu e agradeceu à “minha mãe- preenchimento de um lugar que, desde a criação da
zinha”. Soaria piegas se fosse qualquer outro,mas Constituição imperial, sob Pedro 1º, foi submetido a
combinou à perfeição com o espírito da solenidade e duas reservas específicas: só para homens e só para
com a origem do novo presidente do Supremo. brancos. A lei de então incluiu na capital brasileira
(o Rio de Janeiro) um “Supremo Tribunal de Justiça,
Joaquim, aliás, ensinou que os juízes não têmmais composto por 11 juízes letrados...”, sem fazer refe-
como se distanciar da sociedade e devem, sim, afas- rência à cor.
tarse das “múltiplas e nocivas influências” para ga-
rantir que a justiça seja feita: “Justiça que falha im- “Letrado” caiu em desuso, mas no começo do sé-
pacta diretamente a vida do cidadão”. culo 19 indicava o grande conhecedor do direito. A
exigência constitucional de hoje requer “notável sa-
Ao enfatizar o enorme “deficit de Justiça entre ber jurídico e reputação ilibada”, permitida a escolha
nós”, defendeu o “direito à igualdade” e um Judiciá- pelo presidente da República, sem distinção de sexo,
rio “sem firulas, sem floreios, sem rapapés”. com aprovação do candidato pelo Senado Federal.

Por falar nisso , o jovem Joaquim passou em todas É confortante ver a evolução, embora lenta. Nas
as provas do Instituto Rio Branco, mas foi reprova- dezenas de tribunais brasileiros, tanto na área federal
do na entrevista oral. Muito estranho. O Itamaraty quanto na estadual, o número de presidentes negros
perdeu um grande diplomata, o Judiciário ganhou é muito pequeno. Ainda predomina o sexo masculi-
um grande ministro. Votos para que seja um ótimo no, mas já se está no ritmo do equilíbrio entre ho-
presidente do Supremo. mens e mulheres. As antigas resistências à presença
feminina nos serviços da Justiça, que pareciam irre-
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ movíveis até a segunda metade do século 20, hoje
elianecantanhede são encaradas como passadismo pré-histórico.
/1189695- sem-firulas-sem-floreios.shtml. Acesso
em: 23 nov.2012. Nesse perfil histórico, o ingresso de Joaquim Bar-
bosa na Corte Suprema se fez credenciado por títulos
de pós-graduação no país e no exterior, tendo feito
carreira no Ministério Público Federal. É o 44º presi-
Texto 2 dente do STF, depois da proclamação da República,
sendo o oitavo mineiro a chegar ao cargo, conforme
Joaquim Barbosa: presidente
o decano do tribunal, ministro José Celso de Mello
Walter Ceneviva Filho, informou no discurso de saudação. A conduta
de Barbosa no processo do “mensalão” sugere que
Folha de S.Paulo, 13 out. 2012 está pronto para os embates da presidência. [...]
www.PROJETOREDACAO.com.br - 323
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ “A cidade em conjunto poderia ser explicada em dois
walterceneviva/ grandes arcos. Um antigo, irregular, atrabiliario, in-
1168667- joaquim-barbosa-presidente.shtml. Aces- corrigivel em todo, parte tradicional, parte iniciadora
so em: 26. nov.2012. Adaptado. da cidade centenaria, arco cujas extremidades tocam
as Roccas e o Baldo. A recta partida destes extremos
marca a verdadeira cidade de Natal. O outro arco,
parte moderna. Já racciocinado, um pouco mono-
Questão 285 - (Fac. Direito de Franca SP) tona pela sisudez geometrica do enxadrezado, terá
seus extremos tocando os dois do primeiro arco e
Segundo o quarto parágrafo do Texto 2, no início do
correndo de leste a sul emquanto o primeiro parte
século 19, para um juiz era requerido que fosse letra-
do norte ao oeste.”
do, isto é, que conhecesse exemplarmente o direito.
Atualmente, exige-se, CASCUDO, Câmara. Crônicas de origem: a cidade de Na-
tal nas
crônicas cascudianas dos anos 20. Natal: EDUFRN,
a) além de expressivo saber jurídico, reputação 2005. p. 142
exemplar.

b) mais do que saber da área jurídica, uma dissolu-


Na fotografia, considerando o contexto aludido, o
ta notabilidade
bonde representaria a parte da cidade que, segundo
c) além de distinção de sexo, reputação irrepreen- a crônica,
sível.

d) afora amplo conhecimento das diversas áreas


a) corresponde à verdadeira cidade de Natal.
do saber, notável reputação.
b) expande-se do norte ao oeste.
e) acima de completo conhecimento do direito, ilu-
sória reputação. c) define-se pela monotonia advinda do enxadre-
zado.

d) é o espaço iniciador da cidade.


Questão 286 - (UFRN)
Observe a fotografia de Natal das primeiras décadas
do século XX e leia o fragmento da crônica “O novo TEXTO: 161 - Comuns às questões: 287, 288, 289,
plano da cidade”, de Câmara Cascudo, datada de 30 290
de outubro de 1929.
Centenário da Guerra do Contestado é evocado na
Assembleia Legislativa

A Assembleia Legislativa lembrou na noite de on-


tem (16 de outubro) os 100 anos da Guerra do Con-
testado, conflito épico e marcante para a história
de Santa Catarina, iniciado em outubro de 1912. O
episódio mudou o cenário do estado depois de con-
flagrar uma área de aproximadamente 20 mil qui-
lômetros quadrados, banhando de sangue, durante
longos 46 meses, a região que vai do Planalto Catari-
nense (Curitibanos, Lages, Canoinhas e Porto União),
chegando ao Meio Oeste (passando por Caçador,
Joaçaba, até a região de Irani). Convocada pelo de-
putado Antonio Aguiar (PMDB), a sessão especial foi
aprovada pela Mesa da Assembleia em reverência a
Autor desconhecido. Disponível em <http://potiguarte. todos os que participaram do episódio.
blogspot.com
.br/2012/03/natal-saudades-de-um-tempo-vivido. Aguiar falou aos mais jovens, que talvez não fa-
html>. Acesso em: 12 jul. 2012. çam ideia da extensão daquele conflito. Para dar a di-
mensão do que foi, da sua amplitude, lembrou que,
“em sucessivos combates pereceram entre 5 mil e 8

324 - www.PROJETOREDACAO.com.br
mil integrantes das forças insurgentes da região, e vimento messiânico’; para políticos, uma tentativa
entre 800 e mil soldados, de guarnições do governo de desestabilização das oligarquias; para administra-
federal e dos estados. Foram destruídos, durante o dores públicos, aconteceu uma ‘questão de limites’;
período do Contestado, cerca de 9 mil casas e case- para militares, tratou-se de uma ‘campanha militar’;
bres em toda a região, incluindo povoados inteiros. para socialistas, aconteceu uma ‘luta pela terra’. En-
Morreram homens, mulheres, velhos e crianças”. tretanto, para historiadores regionais da atualidade,
a Guerra do Contestado foi tudo isso simultaneamen-
O parlamentar contextualizou a questão política te”. (Nilson Thomé)
dos limites de Santa Catarina e do Paraná, apenas um
dos componentes de deflagração de conflitos, numa Disponível em:< www.unc.br/index.php?...id...guerra-do-
esfera político-administrativa e ressaltou a importân- contestado....> Acesso em: 31/10/2012. Adaptado.
cia ainda maior do componente social. “Aquela gente
sofrida, então revoltada, começou a se organizar, in-
clusive com alguns fazendeiros que também tiveram
suas terras expropriadas. E ganhou força um terceiro Questão 287 - (ACAFE SC)
ingrediente para o conflito, que foi a questão religio-
Com base no texto, é correto o que se afirma em:
sa.”

O escritor Péricles Prade, membro da Academia
Catarinense de Letras e um dos homenageados da a) Na sessão da Assembleia Legislativa de Santa
noite, destacou o fundo de natureza messiânica na Catarina, o deputado estadual Péricles Prade
Guerra do Contestado. Segundo ele, por conta da preferiu ressaltar o componente político do con-
precariedade da medicina e do papel dos monges na flito entre posseiros e proprietários de terras,
promoção de curas, na salvação de doentes com re- em detrimento das questões sociais.
zas e no conhecimento de remédios naturais, feitos
com infusões, eles conquistavam fiéis e eram reco- b) Na Guerra do Contestado houve ao menos três
nhecidos como expoentes religiosos. componentes: disputa por terras, exclusão so-
cial e fanatismo religioso.
“Esta visão messiânica é também de natureza an-
tropológica, pois é marcante a posição do homem c) Fernando Tokarski, um dos sobreviventes da
que integra determinada comunidade. Dessa forma, Guerra do Contestado, mora em Canoinhas,
a sociologia também se faz importante com um fun- onde fundou um Museu sobre o conflito.
damento que se pode determinar econômico. Do
lado positivo, houve abertura para o progresso. Do d) As guarnições federais e estaduais foram lidera-
lado negativo, houve a dizimação de milhares de vi- das por comandantes messiânicos.
das. Hoje nada se comemora, tragédia não se come-
mora, evoca-se. Evoca-se a repercussão de um episó-
dio histórico”, finalizou.
Questão 288 - (ACAFE SC)
O conflito, que passou por muitos episódios, em
Assinale a pergunta que pode ser respondida com
que o sangue correu em vários rincões de Santa Ca-
base no texto.
tarina, acabou com os insurgentes derrotados, pela
exaustão e pela fome. Mas ainda assim pode ser con-
siderado responsável pela integração de Santa Cata-
rina, pois uma grande área do estado passou a ser a) Em que mês e ano acabou a Guerra do Contesta-
reconhecida como território catarinense, a ponto de do?
o Contestado ser uma grande marca do regionalismo
local. b) Quem propôs a sessão especial da Assembleia
Legislativa de Santa Catarina em referência a to-
O historiador e chefe de gabinete da prefeitura de dos os que participaram da Guerra do Contesta-
Canoinhas, Fernando Tokarski, estudioso da guerra, do?
fez um resgate histórico e citou o também historiador
da região do Contestado Nilson Thomé, para quem a c) Quem foram os principais líderes religiosos dos
Guerra do Contestado foi o evento bélico mais im- insurgentes da Guerra do Contestado?
portante da história de Santa Catarina, envolvendo
a população sertaneja de um lado, forças militares d) Por que as forças militares do governo tiveram
e nacionais do outro. “O evento, que aconteceu em dificuldades para vencer a Guerra do Contesta-
terras administradas por Santa Catarina e leste do do?
Rio do Peixe, é definido por estudiosos como ‘insur-
reição xucra’ ou ‘guerra civil’ para religiosos, ocorreu
uma ‘rebelião de fanáticos’; para sociólogos, houve Questão 289 - (ACAFE SC)
um ‘conflito social’; para antropólogos, foi um ‘mo-
www.PROJETOREDACAO.com.br - 325
De acordo com o texto, é possível afirmar que: Ferreira Gullar, que, no domingo, escreveu um artigo
defendendo o “modo correto” de usar a língua por-
tuguesa.
a) os custos da Guerra do Contestado foram finan- Longe de mim propor que o poeta, eu e o leitor
ciados, em boa parte, pelos grandes proprietá- comecemos a dizer “nós vai” ou “debateu sobre as
rios de terras da região. alternativas”, mas não dá para comparar violações
à norma culta com um erro conceitual como afirmar
b) para cada combatente das forças governamen- que tuberculose não é doença, para ficar nos exem-
tais morto na Guerra do Contestado foi destruí- plos de Gullar. Fazê-lo é passar com um “bulldozer”³
da uma casa ou casebre dos insurgentes em sobre o último meio século de pesquisas, em especial
toda a região do conflito. os trabalhos de Noam Chomsky, que conseguiram
c) a principal causa do conflito foi a disputa territo- elevar a linguística de uma disciplina entrincheirada
rial entre os estados do Paraná e Santa Catarina nos departamentos de humanidades a uma ciência
pelas terras produtoras de madeira. capaz de fazer previsões e articular-se com outras,
como psicologia, biologia, computação.
d) a Guerra do Contestado, que durou menos de
quatro anos, terminou em 1916. Chomsky mostra que a capacidade para a lingua-
gem é inata. É só lançar uma criança no meio de uma
comunidade que ela absorve o idioma local. O fenô-
meno das línguas crioulas revela que grupos expostos
Questão 290 - (ACAFE SC) a «pidgins» (jargões comerciais que misturam vários
idiomas, geralmente falados em portos) desenvol-
De acordo com o historiador Nilson Thomé, confor- vem, no espaço de uma geração, uma gramática
me se afirma no texto, a Guerra do Contestado: completa para essa nova linguagem. Mais do que de
facilidade para o aprendizado, estamos falando aqui
de uma gramática universal que vem como item de
a) serviu para definir que todas as terras situadas fábrica em cada ser humano. Foi a resposta que a
a leste do Rio do Peixe deveriam pertencer ao evolução deu ao problema da comunicação entre ca-
estado de Santa Catarina. çadores-coletores.

b) foi um grande evento bélico, cuja origem foi a Nesse contexto, o único critério para decidir entre
cessão de terras para uma empresa americana o linguisticamente certo e o errado é a compreen-
como pagamento pela construção da estrada de são da mensagem transmitida. Uma frase ambígua
ferro São Paulo - Rio Grande do Sul. é mais “errada” do que uma que fira as caprichosas
regras de colocação pronominal.
c) teve como principal motivação a cobiça pelas
terras do planalto catarinense e a exploração de Na verdade, as prescrições estilísticas que deco-
madeiras nobres da região. ramos na escola e que nos habituamos a chamar de
gramática são o que há de menos essencial e mais
d) foi um conflito motivado por múltiplos fatores aborrecido no fenômeno da linguagem. Estão para
de ordem social, religiosa, política, administrati- a linguística assim como a pesquisa da etiqueta está
va, militar e agrária. para o estudo da história.

(HÉLIO SCHWARTSMAN, Folha de S.Paulo, 27 de março


de 2012)
TEXTO: 162 - Comuns às questões: 291, 292, 293
A língua e o poeta
¹vênia = licença, permissão

²discrepar = divergir de opinião, discordar

³bulldozer = (inglês) escavadeira

Questão 291 - (ESPM SP)


De acordo com o 2o parágrafo, a linguística:

Hoje eu peço vênia¹ para discrepar2 do grande a) estabeleceu, dentro da área de humanidades,
326 - www.PROJETOREDACAO.com.br
uma linha de combate contra as violações à TEXTO: 163 - Comuns às questões: 294, 295
norma culta da língua portuguesa.
“O homem não pode abster-se da filosofia”, diz
b) foi pioneira na área de humanidades a desen- Jaspers com razão. “Ela está presente em todo lugar
volver pesquisas científicas sobre uma gramáti- e sempre. A única questão que se apresenta é saber
ca universal. se ela é consciente ou não, boa ou má, confusa ou
clara”. Na verdade, a pesquisa da verdade científica,
c) era uma disciplina que se defendia de ataques a que só interessa aliás a uma minoria, não exaure¹ em
suas teorias, tornando-se uma ciência articula- nada a natureza do homem, mesmo nessa minoria.
da com outras áreas científicas. Resta que o homem vive, toma partido, crê em mul-
tiplicidade de valores, hierarquiza-os e dá assim um
d) outrora restrita aos meios acadêmicos, ganhou
sentido à sua existência por opções que ultrapassam
“status” de ciência e enredou-se com outras
sem cessar as fronteiras do seu conhecimento efeti-
áreas do conhecimento.
vo. No homem que pensa, essa coordenação pode
e) destacou-se nos últimos cinquenta anos, fazen- ser raciocinada, no sentido de que, para fazer a sínte-
do previsões sobre os rumos da língua portu- se entre aquilo em que acredita e que sabe, só pode
guesa. utilizar uma reflexão, seja prolongando seu saber ou
opondo-se a ele em um esforço crítico para determi-
nar suas fronteiras atuais e legitimar a colocação dos
valores que o ultrapassam. Essa síntese raciocinada
Questão 292 - (ESPM SP) entre as crenças, quaisquer que sejam, e as condições
do saber, é o que nós chamamos de uma “sabedoria”
Segundo o texto, o autor: e tal nos parece o objeto da filosofia.

(Piaget, Jean. Sabedoria e Ilusões da Filosofia. Tradução


a) defende de forma incondicional, como Ferreira de Zilda
Gullar, o “modo correto” de usar a língua portu- Abujamra Daeir. S.Paulo. Difusão Europeia do Livro)
guesa.

b) considera que ambiguidade seria mais “errada” ¹exaurir = esgotar


do que um erro de próclise porque esta não
apresenta distorção na comunicação.

c) preconiza que uma frase com transgressões às Questão 294 - (ESPM SP)
“caprichosas regras de colocação pronominal”
prejudica o ato da fala. De acordo com o texto:
d) prega o caráter supérfluo e vão das prescrições
gramaticais, linguísticas e estilísticas.
a) A minoria que está interessada na verdade cien-
e) reclama da natureza complexa e enfadonha do tífica não se ocupa com o sentido da vida.
estudo da gramática nas escolas.
b) A busca da verdade filosófica esgota a natureza
de uma minoria da humanidade.

Questão 293 - (ESPM SP) c) O homem que vive, que toma partido, que crê
em multiplicidade de valores, não dispõe de
O autor lança mão de expressões com carga pejorati- tempo para a filosofia.
va ou irônica para referir-se à gramática, exceto em:
d) A reflexão amplia o saber, questiona o próprio
saber e justifica o que está fora do alcance do
saber.
a) “universal”
e) A crença nos valores e sua organização fazem
b) “caprichosas regras” parte da natureza humana para alcançar a ver-
c) “prescrições estilísticas” dade científica.

d) “decoramos”

e) “pesquisa da etiqueta” Questão 295 - (ESPM SP)


O propósito principal do texto é:

www.PROJETOREDACAO.com.br - 327
a) estabelecer um contraste entre o homem que c) a disputa entre as tribos gira invariavelmente
pensa e o homem que vive. em torno de alimentos.

b) criticar os conceitos filosóficos tradicionais. d) a competição entre os grupos humanos é condi-


cionada pela busca das recompensas.
c) elaborar nova síntese entre filosofia e ciência.
e) a competição entre os homens resulta, em últi-
d) teorizar a ciência e o existencialismo. ma análise, da evolução das espécies.
e) tecer considerações sobre o objeto da filosofia.

TEXTO: 165 - Comum à questão: 297


TEXTO: 164 - Comum à questão: 296 O primeiro réu que condenei, era um moço limpo,
acusado de haver furtado certa quantia, não grande,
antes pequena, com falsificação de um papel. Não
negou o fato, nem podia fazê-lo, contestou que lhe
coubesse a iniciativa ou inspiração do crime. Alguém,
que não citava, foi que lhe lembrou esse modo de
acudir a uma necessidade urgente; mas Deus, que via
os corações, daria ao criminoso verdadeiro o mere-
cido castigo. Disse isso sem ênfase, triste, a palavra
surda, os olhos mortos, com tal palidez que metia
pena; o promotor público achou nessa mesma cor do
gesto a confissão do crime. Ao contrário, o defensor
mostrou que o abatimento e a palidez significavam a
Não há morte. O encontro de duas expansões, lástima da inocência caluniada.
ou a expansão de duas formas, pode determinar a
(...)
supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não
há morte, há vida, porque a supressão de uma é a Um dos jurados do Conselho, cheio de corpo
condição da sobrevivência da outra e a destruição e ruivo, parecia mais que ninguém convencido do
não atinge o princípio universal e comum. Daí o ca- delito e do delinquente. O processo foi examinado,
ráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um os quesitos lidos, e as respostas dadas (onze votos
campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas contra um); só o jurado ruivo estava quieto. No fim,
apenas chegam para alimentar uma das tribos, que como os votos assegurassem a condenação, ficou sa-
assim adquire forças para transpor a montanha e ir tisfeito, disse que seria um ato de fraqueza, ou coisa
à outra vertente, onde há batatas em abundância; pior, a absolvição que lhe déssemos. Um dos jurados,
mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas certamente o que votara pela negativa, — proferiu
do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e algumas palavras de defesa do moço. O ruivo, — cha-
morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destrui- mava-se Lopes, — replicou com aborrecimento:
ção; a guerra é a conservação. Uma das tribos exter-
mina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da
vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas
e todos os demais efeitos das ações bélicas. (...) Ao — Como, senhor? Mas o crime do réu está mais que
vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas. provado.
— Deixemos de debate, disse eu, e todos concorda-
ram comigo.
(Machado de Assis, Quincas Borba) — Não estou debatendo, estou defendendo o meu
voto, continuou Lopes. O crime está mais que pro-
vado. O sujeito nega, porque todo o réu nega, mas o
certo é que ele cometeu a falsidade, e que falsidade!
Questão 296 - (ESPM SP) Tudo por uma miséria, duzentos mil-réis! Suje-se gor-
do! Quer sujar-se? Suje-se gordo!
Segundo o texto:
(www.releituras.com)

a) a concorrência entre os homens é regulada pela


sede inata de poder. Questão 297 - (Fac. Direito de Sorocaba SP)
b) a concorrência entre os povos é determinada De acordo com o texto, o réu fora preso acusado de
pela lógica da guerra. roubar uma quantia
328 - www.PROJETOREDACAO.com.br
a) irrisória. Não negou o fato, disse que agiu por a) [...] mas sabia que era doidice.
deliberação pessoal, mas orientado por alguém.
b) Cambembes podiam ter luxo?
b) grande. Negou o fato e disse que alguma pessoa,
por razões desconhecidas, queria incriminá-lo. c) Nem valia a pena trabalhar.

c) pequena. Não negou o fato, porém, disse que d) Arrepiou-se.


agiu seguindo orientações e não por deliberação
pessoal. e) [...] dormiriam bem debaixo de um pau.

d) vultosa. Negou o fato, disse que alguma pessoa


teve a iniciativa, mas preferia não revelar quem
TEXTO: 167 - Comum à questão: 299
era.
O labirinto dos manuais
e) ínfima. Não negou o fato, porém, disse que de-
veria ser libertado, pois o fruto do roubo era in-
significante.
Há alguns meses, troquei meu celular. Um mode-
lo lindo, pequeno, prático. Segundo a vendedora, era
capaz de tudo e mais um pouco. Fotografava, fazia ví-
TEXTO: 166 - Comum à questão: 298 deos, recebia e-mails e até servia para telefonar. Abri
Sinha Vitória desejava possuir uma cama igual à o manual, entusiasmado. “Agora eu aprendo”, decidi,
de seu Tomás da bolandeira. Doidice. Não dizia nada folheando as 49 páginas. Já na primeira, tentei execu-
para não contrariá-la, mas sabia que era doidice. tar as funções. Duas horas depois, eu estava prestes
Cambembes podiam ter luxo? E estavam ali de pas- a roer o aparelho. O manual tentava prever todas as
sagem. Qualquer dia o patrão os botaria fora, e eles possibilidades. Virou um labirinto de instruções!
ganhariam o mundo, sem rumo, nem teriam meio de Na semana seguinte, tentei baixar o som da
conduzir os cacarecos. Viviam de trouxa arrumada, campainha. Só aumentava. Buscava o vibracall, não
dormiriam bem debaixo de um pau. achava. Era só alguém me chamar e todo mundo em
Olhou a caatinga amarela, que o poente averme- torno saía correndo, pensando que era o alarme de
lhava. Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. incêndio! Quem me salvou foi um motorista de táxi.
Arrepiou-se. – Manual só confunde – disse didaticamente. – Dá
Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim, uma de curioso.
desde que ele se entendera. E antes de se entender, Insisti e finalmente descobri que estava no vibra-
antes de nascer, sucedera o mesmo – anos bons mis- call há meses! O único problema é que agora não
turados com anos ruins. A desgraça estava em cami- consigo botar a campainha de volta!
nho, talvez andasse perto. Nem valia a pena traba-
lhar. Atualmente, estou de computador novo. Fiz o que
toda pessoa minuciosa faria. Comprei um livro. Na
(Graciliano Ramos. Vidas Secas.) capa, a promessa: “Rápido e fácil” – um guia prático,
simples e colorido! Resolvi: “Vou seguir cada instru-
ção, página por página. Do que adianta ter um super-
Questão 298 - (Fac. de Ciências da Saúde de Barre- computador se não sei usá-lo?”. Quando cheguei à
tos SP) página 20, minha cabeça latejava. O livro tem 342!
Cada vez que olho, dá vontade de chorar! Não seria
O chamado discurso indireto livre é uma forma de melhor gastar o tempo relendo Guerra e Paz*?
expressão que, em vez de apresentar a personagem
em sua voz própria (discurso direto), ou de informar Tudo foi criado para simplificar. Mas até o micro-
objetivamente o leitor sobre o que ela teria dito -ondas ficou difícil. A não ser que eu queira fazer pi-
(discurso indireto), aproxima narrador e personagem, poca, que possui sua tecla própria. Mas não posso
dando-nos a impressão de que passam a falar em me alimentar só de pipoca! Ainda se emagrecesse...
uníssono. E o fax com secretária eletrônica? O anterior era sim-
ples. Eu apertava um botão e apagava as mensagens.
(Celso Cunha e Lindley Cintra. Nova Gramática do Portu- O atual exige que eu toque em um, depois em outro
guês para confirmar, e de novo no primeiro! Outro dia, a
Contemporâneo, 1985. Adaptado.) luzinha estava piscando. Tentei ouvir a mensagem.
A secretária disparou todas as mensagens, desde o
Uma passagem do texto que exemplifica a definição início do ano!
apresentada é:
Eu sei que para a garotada que está aí tudo parece
www.PROJETOREDACAO.com.br - 329
muito simples. Mas o mundo é para todos, não é? de calva; teria os seus cinquenta e cinco anos. Levan-
Talvez alguém dê aulas para entender manuais! Ou o tou-se com o passo vagaroso do costume, não aquele
jeito seria aprender só aquilo de que tenho realmen- vagar arrastado dos preguiçosos, mas um vagar cal-
te necessidade, e não usar todas as funções. É o que culado e deduzido, um silogismo completo, a premis-
a maioria das pessoas acaba fazendo! sa antes da consequência, a consequência antes da
conclusão. Um dever amaríssimo!
(Walcyr Carrasco, Veja SP, 19.09.2007. Adaptado)
Machado de Assis, Dom Casmurro.

* Livro do escritor russo Liev Tolstói. Com mais de mil


páginas e centenas de personagens, é considerada Questão 300 - (FGV )
uma das maiores obras da história da literatura.
Das afirmações abaixo sobre a expressão sublinhada
nos seguintes trechos destacados do texto, a única
que NÃO está correta é:
Questão 299 - (FATEC SP)
Pelos comentários feitos pelo narrador, pode-se con-
cluir corretamente que a) “imobilizava-lhe o pescoço”: é um pronome pes-
soal com valor possessivo.

b) “Um dever amaríssimo!”: trata-se de um super-


a) a leitura de obras-primas da literatura é ativi- lativo que enfatiza qualificação de sentido posi-
dade mais produtiva do que utilizar celulares e tivo.
computadores.
c) “era então moda”: assume valor temporal.
b) os manuais cujas diversas instruções os usuários
não conseguem compreender e pôr em prática d) “não as havendo”: pode ser substituída pela fra-
são improdutivos. se “quando não as havia”, sem prejuízo para o
sentido ou para a correção gramatical.
c) a vendedora foi convincente, pois o narrador
comprou o celular, embora duvidasse das qua- e) “servia a prolongar as frases”: é uma preposição
lidades prometidas pelo aparelho. que estabelece uma relação de finalidade.

d) o manual sobre computadores, ao contrário de


outros do gênero, cumpria a promessa assumida
nos dizeres impressos na capa.

e) os jovens deveriam ensinar computação aos


mais velhos, pois, dessa forma, estes últimos en-
tenderiam as funções básicas do equipamento.

TEXTO: 168 - Comum à questão: 300


CAPÍTULO IV / UM DEVER AMARÍSSIMO!

José Dias amava os superlativos. Era um modo


de dar feição monumental às ideias; não as haven-
do, servia a prolongar as frases. Levantou-se para ir
buscar o gamão, que estava no interior da casa. Cosi-
-me muito à parede, e vi-o passar com as suas calças
brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata de
mola. Foi dos últimos que usaram presilhas no Rio de
Janeiro, e talvez neste mundo. Trazia as calças curtas
para que lhe ficassem bem esticadas. A gravata de
cetim preto, com um aro de aço por dentro, imobi-
lizava-lhe o pescoço; era então moda. O rodaque de
chita, veste caseira e leve, parecia nele uma casaca
de cerimônia. Era magro, chupado, com um princípio
330 - www.PROJETOREDACAO.com.br
GABARITO QUESTÕES 17) Gab: B 34) Gab: B 51) Gab: A
MÉDIAS
1) Gab: D 18) Gab: B 35) Gab: E 52) Gab: B

2) Gab: A 19) Gab: C 36) Gab: A 53) Gab: D

3) Gab: D 20) Gab: D 37) Gab: A 54) Gab: A

4) Gab: 04 21) Gab: A 38) Gab: D 55) Gab: C

5) Gab: 05 22) Gab: C 39) Gab: A 56) Gab: D

6) Gab: A 23) Gab: C 40) Gab: D 57) Gab: E

7) Gab: D 24) Gab: E 41) Gab: A 58) Gab: C

8) Gab: C 25) Gab: C 42) Gab: C 59) Gab: E

9) Gab: A 26) Gab: A 43) Gab: B 60) Gab: E

10) Gab: C 27) Gab: E 44) Gab: A 61) Gab: A

11) Gab: A 28) Gab: C 45) Gab: B 62) Gab: C

12) Gab: B 29) Gab: B 46) Gab: C 63) Gab: B

13) Gab: D 30) Gab: D 47) Gab: D 64) Gab: B

14) Gab: B 31) Gab: B 48) Gab: A 65) Gab: B

15) Gab: A 32) Gab: D 49) Gab: E 66) Gab: A

16) Gab: A 33) Gab: D 50) Gab: C 67) Gab: B

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68) Gab: E 85) Gab: E 102) Gab: C 119) Gab: D

69) Gab: C 86) Gab: A 103) Gab: D 120) Gab: D

70) Gab: C 87) Gab: C 104) Gab: A 121) Gab: D

71) Gab: D 88) Gab: B 105) Gab: D 122) Gab: B

72) Gab: C 89) Gab: A 106) Gab: A 123) Gab: E

73) Gab: D 90) Gab: A 107) Gab: D 124) Gab: C

74) Gab: B 91) Gab: E 108) Gab: E 125) Gab: E

75) Gab: E 92) Gab: C 109) Gab: B 126) Gab: A

76) Gab: C 93) Gab: B 110) Gab: D 127) Gab: E

77) Gab: B 94) Gab: C 111) Gab: B 128) Gab: B

78) Gab: B 95) Gab: D 112) Gab: E 129) Gab: C

79) Gab: D 96) Gab: C 113) Gab: E 130) Gab: D

80) Gab: A 97) Gab: D 114) Gab: C 131) Gab: E

81) Gab: D 98) Gab: D 115) Gab: C 132) Gab: D

82) Gab: A 99) Gab: A 116) Gab: B 133) Gab: C

83) Gab: A 100) Gab: C 117) Gab: B 134) Gab: C

84) Gab: D 101) Gab: D 118) Gab: A 135) Gab: D

332 - www.PROJETOREDACAO.com.br
136) Gab: A e as poucas recompensas 161) Gab: A 178) Gab: A
reservada aos que se desta-
cam pela curiosidade, pela
inteligência e pelo aprendi-
137) Gab: C zado. 162) Gab: D 179) Gab: A

138) Gab: A 146) Gab: E 163) Gab: D 180) Gab: A

139) Gab: D 147) Gab: D 164) Gab: E 181) Gab: D

140) Gab: E 148) Gab: C 165) Gab: D 182) Gab: A

141) Gab: C 149) Gab: B 166) Gab: A 183) Gab: C

142) Gab: E 150) Gab: A 167) Gab: B 184) Gab: E

143) Gab: C 151) Gab: B 168) Gab: D 185) Gab: D

144) Gab: D 152) Gab: D 169) Gab: A 186) Gab: E

145) Gab: 153) Gab: C 170) Gab: A 187) Gab: C


Para Carl Sagan, a diferença
em questão – a diminuição
significativa da curiosidade 154) Gab: A 171) Gab: B 188) Gab: D
e da admiração diante do
conhecimento – não se ex-
plica somente pelo desen-
volvimento psicofísico que 155) Gab: C 172) Gab: B 189) Gab: B
leva da infância à adoles-
cência (“algo aconteceu...
e não foi apenas a puber- 173) Gab: B 190) Gab: C
156) Gab: A
dade”); ela se explica antes
por causas sociais. Destas,
ele menciona “a pressão
dos pares” para que os 157) Gab: E 174) Gab: A 191) Gab: B
estudantes não sobres-
saiam intelectualmente,
a expectativa socialmente
reforçada de “gratificações 158) Gab: D 175) Gab: C 192) Gab: D
a curto prazo”, o modesto
valor social (em termos fi-
nanceiros) que tem o saber 176) Gab: D 193) Gab: A
159) Gab: C
(“a ciência e a matemática
não vão dar a ninguém um
carro esporte”), a baixa ex-
pectativa a respeito do de- 160) Gab: B 177) Gab: E 194) Gab: C
sempenho dos estudantes
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195) Gab: B 212) Gab: E 229) Gab: C 246) Gab: C

196) Gab: 05 213) Gab: A 230) Gab: A 247) Gab: B

197) Gab: 02 214) Gab: E 231) Gab: C 248) Gab: D

198) Gab: 05 215) Gab: B 232) Gab: B 249) Gab: C

199) Gab: B 216) Gab: A 233) Gab: C 250) Gab: D

234) Gab: E 251) Gab: C


200) Gab: C 217) Gab: E

235) Gab: B 252) Gab: E


201) Gab: D 218) Gab: C

236) Gab: D 253) Gab: D


202) Gab: E 219) Gab: E

237) Gab: C 254) Gab: D


203) Gab: E 220) Gab: D

238) Gab: B 255) Gab: C


204) Gab: C 221) Gab: B

239) Gab: E 256) Gab: A


205) Gab: B 222) Gab: D

240) Gab: D 257) Gab: D


206) Gab: D 223) Gab: A

241) Gab: C 258) Gab: C


207) Gab: B 224) Gab: C

242) Gab: C 259) Gab: B


208) Gab: B 225) Gab: A

243) Gab: B 260) Gab: B


209) Gab: E 226) Gab: B

244) Gab: B 261) Gab: C


210) Gab: C 227) Gab: B

245) Gab: C 262) Gab: D


211) Gab: C 228) Gab: B

334 - www.PROJETOREDACAO.com.br
263) Gab: A 280) Gab: C 297) Gab: C

264) Gab: E 281) Gab: 05 298) Gab: B

265) Gab: E 282) Gab: 01 299) Gab: B

266) Gab: C 283) Gab: C 300) Gab: B

267) Gab: B 284) Gab: A

268) Gab: A 285) Gab: A

269) Gab: B 286) Gab: C

270) Gab: A 287) Gab: B

271) Gab: E 288) Gab: B

272) Gab: C 289) Gab: D

273) Gab: E 290) Gab: D

274) Gab: A 291) Gab: D

275) Gab: E 292) Gab: B

276) Gab: E 293) Gab: A

277) Gab: B 294) Gab: D

278) Gab: C 295) Gab: E

279) Gab: D 296) Gab: D

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QUESTÕES DIFÍCEIS Naquela manhã de sol, a tranquilidade da rica
cidadezinha californiana de Palo Alto foi subita-
mente quebrada por uma visão rara: policiais al-
TEXTO: 1 - Comum à questão: 1 gemando um estudante branco e conduzindo-o
firmemente ao banco de trás da viatura, sob o
Leia o seguinte texto: olhar assustado dos vizinhos. Aquele seria o pri-
meiro de nove jovens levados presos.

Israel, o bem e o mal


Nenhum dos nove tinha cometido crime algum
Denis Russo Burgierman
– eram estudantes saudáveis e comuns que ti-
nham se voluntariado para uma pena de duas
semanas numa prisão simulada, montada num
Enquanto o país fundado pelas vítimas do Ho- porão da Universidade Stanford, em troca de
locausto transformou-se em vilão, a pátria de US$ 15 por dia. Os guardas dessa prisão seriam
Hitler virou exemplo de fofura. Afinal, os is- 15 rapazes tão saudáveis e comuns quanto os
raelenses são bons ou maus? E os alemães? A prisioneiros, contratados pelo mesmo salário. O
resposta não está neles: está no ambiente. autor da pesquisa, o psicólogo Philip Zimbardo,
definiu por sorteio quem seria guarda e quem
seria prisioneiro. A partir daí, os prisioneiros
seriam tratados apenas por números, e foram
Se um viajante do tempo saísse de 1950 e viesse obrigados a referir-se aos guardas como ―se-
bater em 2014, e calhasse de lhe cair em mãos nhor oficial correcional‖. Nada de nomes.
a pesquisa da BBC que mede a popularidade
dos países, talvez achasse que os dados esta-
vam de cabeça para baixo. Segundo a pesquisa,
realizada com 25 mil pessoas de 24 países, a na- Apenas seis dias depois, o Stanford Prison Expe-
ção mais popular que existe, vista por 60% das riment teve que ser encerrado prematuramen-
pessoas como ―uma influência positiva‖ para o te, após vários prisioneiros sofrerem colapsos
planeta, é a Alemanha. Já os países mais malvis- nervosos. A convivência entre os dois grupos de
tos, considerados por mais da metade dos terrá- rapazes comuns tinha degringolado para a hosti-
queos como uma ―influência negativa‖, são Irã, lidade aberta. Os guardas abusaram de torturas,
Paquistão, Coreia do Norte e… Israel. humilhações e atos de crueldade gratuita. Já os
prisioneiros sentiam-se impotentes, deprimidos
e se tornaram dissimulados e amargos.
O viajante do tempo não entenderia nada. Os
alemães, portadores da mesma carga genética
da nação que elegeu e apoiou Hitler no mais Ao fim do experimento, havia desaparecido
horripilante projeto de genocídio industrial da qualquer sinal de empatia entre um lado e ou-
história, transformaram-se nos fofos do mun- tro. Um guarda resumiu como uns viam os ou-
do (e olha que a pesquisa foi realizada antes da tros: ―esqueci que os prisioneiros eram gente‖.
Copa de 2014). E Israel, fundado em 1948, em Esse fenômeno é conhecido pelos psicólogos
nome da liberdade, da justiça e da paz, pelas como ―desumanização‖. Segundo Zimbardo, a
próprias vítimas do nazismo, com amplo apoio desumanização desliga nosso senso moral. Em
dos progressistas, disputa, hoje, a lanterna da seu livro O Efeito Lúcifer, ele explica que, quan-
vilania global apenas com ditaduras fundamen- do isso acontece, pessoas comuns tornam-se ca-
talistas (e olha que a pesquisa foi realizada antes pazes de cometer atrocidades.
que bombardeios israelenses matassem crian-
ças palestinas brincando em Gaza).
Para que a desumanização ocorra, é importante
apagar a individualidade de quem está do ou-
Se as pessoas que vivem em Israel e na Ale- tro lado. É o que revelou um outro experimento
manha possuem os mesmos genes e as mes- clássico, realizado em 1963 por Stanley Milgram,
mas tradições de seus avós, que passaram pela na Universidade Yale. Nesse estudo, os sujeitos
guerra encarnando, respectivamente, ―o bem‖ de pesquisa tinham a tarefa de administrar cho-
e ―o mal‖, o que mudou em meros 70 anos? ques elétricos em voluntários vistos através de
Nosso viajante, se quisesse descobrir a resposta, um vidro (os voluntários na verdade eram ato-
poderia ajustar sua máquina do tempo para as res fingindo estrebuchar). Em alguns dos testes,
10 horas do dia 14 de agosto de 1971. uma pessoa na sala comentava de passagem

336 - www.PROJETOREDACAO.com.br
que os sujeitos tomando choques eram ―le- Texto II
gais‖. Em outros, o comentário era: ―eles pare-
cem animais‖. Embora os atores fingindo levar
choque fossem sempre os mesmos, os sujeitos
da pesquisa estavam muito mais dispostos a ele- O Bicho
trocutar o outro quando ele era descrito como Manuel Bandeira
―animal‖.

Vi ontem um bicho
É que o primeiro passo para a desumanização é
rotular o sujeito do outro lado. A partir do mo- Na imundície do pátio
mento em que acreditamos que o outro não é
um ser humano, mas um animal, tornamo-nos Catando comida entre os detritos.
capazes de basicamente tudo. Um ambiente
onde há uma grande desigualdade de poder –
como uma prisão – é o lugar perfeito para que
Quando achava alguma coisa,
ocorra rotulagem e, portanto, desumanização. É
exatamente o que existe hoje no Oriente Médio, Não examinava nem cheirava:
onde, na prática, todo um povo (os palestinos)
virou prisioneiro de um país (Israel). Engolia com voracidade.

O que as pesquisas mostram é que, nessas si- O bicho não era um cão,
tuações, não adianta procurar culpados. Não in-
teressa saber quem começou a briga ou quem Não era um gato,
tem mais razão – o que interessa é o ambiente.
Enquanto os dois povos se relacionarem como Não era um rato.
se estivessem numa prisão, é inevitável que um
não enxergue a humanidade do outro. Os mais
poderosos tendem a perder a compaixão pelo O bicho, meu Deus, era um homem.
outro lado, e acabam achando normal ser bru-
tal. Os menos poderosos tendem a acreditar BANDEIRA, Manuel. Meus poemas preferidos. Coor-
que seus rivais são todos maus e precisam ser denação:
destruídos. A única solução para uma situação André Seffrin. 10ª ed. São Paulo: Global, 2014.
assim é mudar o ambiente. Foi o que a Alema- p. 122.
nha fez nas últimas três décadas, quando uma
sociedade tolerante, igualitária e largamente
desmilitarizada foi instituída.
Questão 01 - (UFJF MG)

O texto I faz referência a um experimento co-


Nós humanos fomos geneticamente programa- nhecido como ―Stanford Prison Experiment‖
dos para acreditar que há pessoas boas e más, e (Experimento Prisional de Stanford). Faça um
que um abismo separa umas das outras. A rea- resumo desse experimento, apontando os resul-
lidade é que o mal mora em cada um de nós. O tados da pesquisa.
primeiro passo para liberá-lo é acreditar que os
inimigos são animais — ou algum outro rótulo,
como ―reacionários‖, ―comunistas‖, ―petra-
TEXTO: 2 - Comum à questão: 2
lhas‖, ―tucanalhas‖, ―macacos‖, ―argenti-
nos‖, ―feminazis‖, ―falocratas‖, ―talibikers‖, Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpi-
―burgueses‖, ―evangélicos‖, ―judeus‖, ―ter- tos? Um estilo tão empeçado¹, um estilo tão dificul-
roristas‖. toso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado
toda a arte e a toda a natureza? Boa razão é também
essa. O estilo há de ser muito fácil e muito natural.
Isso dito, nosso viajante do tempo, depois de Por isso Cristo comparou o pregar ao semear, porque
ter presenciado a carnificina da Segunda Guerra o semear é uma arte que tem mais de natureza que
Mundial, talvez se assustasse ao ver o tom de- de arte (...) Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas,
sumanizador dos comentários no Facebook de como os pregadores fazem o sermão em xadrez de
2014. palavras. Se uma parte está branco, da outra há de
estar negro (...) Como hão de ser as palavras? Como
www.PROJETOREDACAO.com.br - 337
as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito
claras. Assim há de ser o estilo da pregação, muito
distinto e muito claro. Questão 03 - (USP Faculdade de Saúde Pública SP)

(Sermão da Sexagésima, Pe. Antonio Vieira) O trecho inicial do texto – “No plano coletivo, o pro-
cesso saúde-doença é mais do que a soma das con-
¹empeçado: com obstáculo, com empeci-lho. dições orgânicas de cada indivíduo que integra um
grupo ou população” – encerra um raciocínio similar
ao que ocorre na frase:
Questão 02 - (ESPM SP)

Assinale a incorreta sobre o texto de Padre Vieira: a) Somar é melhor que dividir.

b) O aumento quantitativo produz mudança quali-


a) vale-se do estilo conceptista do Barroco, voltan- tativa.
do-se para a argumentação e raciocínio lógicos. c) O todo é maior que a soma de suas partes.
b) ataca duramente os pregadores cultistas, devido d) Quem pode o mais pode o menos.
ao estilo pomposo, de difícil acesso, e aos exage-
ros da ornamentação. e) Menos com menos dá mais.
c) critica o sermão que está preocupado com a
suntuosidade linguística e estilística.
TEXTO: 4 - Comum à questão: 4
d) defende a pregação que tenha naturalidade, cla-
reza e distinção. Focalize a passagem de um livro do astrônomo, es-
critor e divulgador científico Carl Sagan (1934-1996)
e) mostra que, seguindo o exemplo de Cristo, pre- e uma tira de Adão Iturrusgarai publicada no jornal
gar e semear afetam o estilo, porque ambas são Folha de S.Paulo.
práticas da natureza.

Não existem perguntas imbecis


TEXTO: 3 - Comum à questão: 3
1
No plano coletivo, o processo saúde-doença é mais 2
do que a soma das condições orgânicas de cada indi- À exceção das crianças (que não sabem o suficiente
víduo 3 que integra um grupo ou população. Embora para deixar de fazer as perguntas importantes),
a situação de 4 saúde de uma comunidade seja geral- poucos de nós passam muito tempo pensando por
mente representada 5 por indicadores quantitativos, que a Natureza é como é; de onde veio o Cosmos, ou
aspectos e dimensões 6 qualitativas também podem se ele sempre existiu; se o tempo vai um dia voltar
ser usadas para caracterizá-la. 7 Medidas demográ- atrás, e os efeitos vão preceder as causas; ou se há
ficas e epidemiológicas, indicadores 8 relativos a óbi- limites elementares para o que os humanos podem
tos, doenças, serviços de saúde, riscos de 9 adoecer conhecer. Há até crianças, e eu conheci algumas
e morrer e às condições de vida são exemplos de 10 delas, que desejam saber como é um buraco negro;
alguns indicadores que podem ser empregados. Nes- qual é o menor pedaço de matéria; por que nos
se 11 plano, saúde-doença é considerada expressão de lembramos do passado, mas não do futuro; e por que
um 12 processo social mais amplo que resulta de uma há um Universo.
complexa 13 trama de fatores e relações, representa-
das por 14 determinantes mais próximos e mais dis-
tantes do 15 fenômeno, conforme o nível de análise:
De vez em quando, tenho a sorte de lecionar num
familiar, domiciliar, 16 por microárea, bairro, municí-
jardim de infância ou numa classe do primeiro ano
pio, região, país e continente.
primário. Muitas dessas crianças são cientistas natos
Paulo Capel Narvai e Paulo Frazão. Práticas de Saúde — embora tenham mais desenvolvido o lado da ad-
Pública. miração que o do ceticismo. São curiosas, intelectual-
In: Aristides Almeida Rocha e Chester Luiz Galvão mente vigorosas. Perguntas provocadoras e perspica-
Cesar. zes saem delas aos borbotões. Demonstram enorme
entusiasmo. Sempre recebo uma série de perguntas
Saúde Pública. 1ª ed. São Paulo: Atheneu, 2008, V. 1, p. encadeadas. Elas nunca ouviram falar da noção de
269-295. “perguntas imbecis”.

338 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Mas, quando falo a estudantes do último ano do se-
cundário, encontro algo diferente. Eles memorizam
os “ fatos”. Porém, de modo geral, a alegria da des-
coberta, a vida por trás desses fatos, se extinguiu em
suas mentes. Perderam grande parte da admiração e
ganharam muito pouco ceticismo. Ficam preocupa-
dos com a possibilidade de fazer perguntas “imbecis”;
estão dispostos a aceitar respostas inadequadas; não
fazem perguntas encadeadas; a sala fica inundada
de olhares de esguelha para verificar, a cada segun-
do, se eles têm a aprovação de seus pares. Vêm para
a aula com as perguntas escritas em pedaços de pa-
pel que sub-repticiamente examinam, esperando a
sua vez, e sem prestar atenção à discussão em que
seus colegas estão envolvidos naquele momento.

Algo aconteceu entre o primeiro ano primário e o úl-


timo ano secundário, e não foi apenas a puberdade.
Eu diria que é, em parte, a pressão dos pares para
não se sobressair (exceto nos esportes); em parte, o Questão 05 - (FUVEST SP)
fato de a sociedade ensinar gratificações a curto pra-
zo; em parte, a impressão de que a ciência e a mate- A tirinha tematiza questões de gênero (masculino e
mática não vão dar a ninguém um carro esporte; em feminino), com base na oposição entre
parte, que tão pouco seja esperado dos estudantes;
e, em parte, que haja poucas recompensas ou mode-
los de papéis para uma discussão inteligente sobre
ciência e tecnologia — ou até para o aprendizado em a) permanência e transitoriedade.
si mesmo. Os poucos que continuam interessados são
b) sinceridade e hipocrisia.
difamados como nerds, geeks ou grinds.*
c) complacência e intolerância.
* Gírias norte-americanas para designar pessoas cha-
tas, desinteressantes, esquisitas e, nesse caso, estu- d) compromisso e omissão.
dantes muito aplicados.
e) ousadia e recato
(Carl Sagan. O mundo assombrado pelos demônios,
1997.)

TEXTO: 6 - Comum à questão: 6


Mundo Monstro Vamos aos poucos nos esquecendo deles, dos nossos
mortos, enquanto afundam na terra ou são queima-
dos, ou mesmo atirados com pesos ao mar. Somem
da nossa vista e transferimos às ogivas de concreto,
aos mármores de suas lápides, aos emblemas de pe-
dra ou dispostos na grama – crucifixos de madeira,
hexágonos orientais, olhos de peixe, asas de falcão,
(Adão Iturrusgarai. www.folha.com.br) dedos em figa – o que seria puro desespero. Cons-
truímos marcos e monumentos, pequenos oratórios à
beira das estradas, cidadelas em miniatura para ten-
tar esquecê-los. Fico pensando se cada casebre não
Questão 04 - (UNESP SP) será no fundo uma lápide antecipada, e se jamais
um único tijolo foi assentado com propósito diferente
Estabeleça a relação que há entre o que é comuni- deste – se tudo o que pareceria uso prático, abrigo
cado, com humor bastante inteligente, pela tira de contra as intempéries, interioridade aconchegante,
Adão Iturrusgarai e a preocupação que, no terceiro não seria já a pedra da morte futura, que rugia de
parágrafo, Sagan detecta nos estudantes do ensino perto. Túmulos pavimentam o esquecimento, permi-
médio norte-americano. tindo à vida que faça o que tem de fazer, seguir sem
os mortos (o que nos incluirá a todos).

TEXTO: 5 - Comum à questão: 5 (Nuno Ramos. Ó, 2008.)


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Questão 06 - (Centro Universitário São Camilo SP) chamejante. Me perco em Apollinaire. Adeus,
Maiakovski.
O período que começa com ‒ Fico pensando se cada
casebre não será ‒ constitui, em sua relação com o São todos meus irmãos, não são jornais
parágrafo inteiro,
nem deslizar de lancha entre camélias:

é toda a minha vida que joguei.


a) uma condição que torna impossível o raciocínio
em desenvolvimento sobre as construções e o
esquecimento dos mortos.
Estes poemas são meus. É minha terra
b) uma ressalva que completa a argumentação a
respeito da memória dos mortos e o desespero. e é ainda mais do que ela. É qualquer homem

c) um desvio no sentido do texto que ameniza o ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna


significado construído a respeito do esqueci- em qualquer estalagem, se ainda as há.
mento dos mortos.
– Há mortos? há mercados? há doenças?
d) uma conjectura que torna concreta e prática a
interdependência, até então abstrata e teórica, É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras,
entre os ritos funerários e o esquecimento.
por que falsa mesquinhez me rasgaria?
e) uma hipótese que radicaliza as demais afirma-
ções sobre a relação entre as construções e a Que se depositem os beijos na face branca, nas prin-
morte. cipiantes rugas.

O beijo ainda é um sinal, perdido embora,

TEXTO: 7 - Comum à questão: 7 da ausência de comércio,

Consideração do poema boiando em tempos sujos.

(...)

Não rimarei a palavra sono Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo.

com a incorrespondente palavra outono.

Rimarei com a palavra carne Questão 07 - (FGV )

ou qualquer outra, que todas me convêm. Considere as seguintes afirmações:

As palavras não nascem amarradas,

elas saltam, se beijam, se dissolvem, I. A liberdade com que o poeta compõe o poema
tem, como contrapartida, a seriedade com que
no céu livre por vezes um desenho, considera sua atividade.
são puras, largas, autênticas, indevassáveis. II. O poeta se abre para o mundo exterior, mas con-
tinua a examinar a si mesmo, de modo atento e
exigente.
Uma pedra no meio do caminho III. O foco na subjetividade do poeta desdobra-se
ou apenas um rastro, não importa. em uma poesia de vocação coletiva, com alcan-
ce social e tendências anticapitalistas.
Estes poetas são meus. De todo o orgulho,

de toda a precisão se incorporam


É compatível com o teor deste poema e do livro no
ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius qual ele se insere o que se afirma em

sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo.

Que Neruda me dê sua gravata a) I, apenas.

340 - www.PROJETOREDACAO.com.br
b) I e II, apenas. dão a ser seguido pelos ouvintes.

c) I e III, apenas. c) considera que os indivíduos são incapazes de


vislumbrar o que lhes aguarda no futuro.
d) II e III, apenas.
d) evidencia a necessidade de as pessoas refleti-
e) I, II e III. rem sobre a brevidade de nossa existência ter-
rena.

e) determina que as igrejas são os únicos locais


TEXTO: 8 - Comum à questão: 8 onde os fiéis devem prestar devoção a Deus.
O texto a seguir constitui um trecho do Sermão de
Quarta-Feira de Cinzas, escrito por padre Antônio
Vieira, e proferido em Roma no ano de 1672. TEXTO: 9 - Comum à questão: 9

Considere a charge a seguir. Examine-a atentamente.


Duas coisas prega hoje a Igreja a todos os mortais:
ambas grandes, ambas tristes, ambas temerosas,
ambas certas. Mas uma de tal maneira certa, e evi-
dente, que não é necessário entendimento para crer;
outra de tal maneira certa, e dificultosa, que nenhum
entendimento basta para a alcançar. Uma é presente,
outra futura: mas a futura veem-na os olhos, a pre-
sente não a alcança o entendimento.

E que duas coisas enigmáticas são estas? Pulvis


es, et in pulverem reverteris. Sois pó, e em pó vos ha-
veis de converter. Sois pó, é a presente; em pó vos
haveis de converter, é a futura. O pó futuro; o pó em
que nos havemos de converter, veem-no os olhos; o
pó presente, o pó que somos, nem os olhos o veem,
nem o entendimento o alcança.

De vinte e quatro horas que tem o dia, por que


se não dará uma hora à triste alma? Esta é a melhor
devoção e a mais agradável a Deus que podeis fazer
nesta Quaresma. Tomar uma hora cada dia, em que Disponível em: <http://www2.uol.com.br/angeli/char-
só por só com Deus e conosco, cuidemos na nossa geangeli/chargeangeli.htm>.
morte e na nossa vida. Acesso em: 29 ago. 2013.

E porque espero da vossa piedade e do vosso juízo


que aceitareis este bom conselho, quero acabar, dei-
Questão 09 - (PUC MG)
xando-vos quatro pontos de consideração: Primeiro,
quanto tenho vivido? Segundo, como vivi? Terceiro, Assinale a afirmativa CORRETA.
quanto posso viver? Quarto, como é bem que viva?

(MENDES, João S. J. Padre Antônio Vieira.


Editorial Verbo, 1972. Adaptado) a) O título do texto sugere tratar-se de dúvidas co-
muns a todos os adolescentes, o que é ratificado
pela imagem.
Questão 08 - (IFSP) b) A charge tem como objetivo criticar a condição
em que se encontram os adolescentes brasilei-
De acordo com o conteúdo do texto, conclui-se cor-
ros.
retamente que Vieira
c) Há uma discrepância em termos de registro no
que se refere às duas partes de que se compõe a
a) critica alguns dogmas defendidos pela Igreja, resposta.
como a crença na imortalidade da alma.
d) A primeira parte do diálogo sinaliza uma insatis-
b) reverencia a si mesmo como o exemplo de reti- fação dos três jovens quanto à fase da vida em
que encontram.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 341
TEXTO: 10 - Comum à questão: 10 biótica tanto no comportamento do peixe-pa-
lhaço quanto no programa Mais Médicos.
O PEIXE NEMO E O MAIS MÉDICOS

Rogério Cezar de Cerqueira Leite b) Sugere-se que certos médicos e peixes-palhaço


têm uma conduta questionável.

c) Critica-se o corporativismo da classe médica e a


1º § A indústria farmacêutica apresenta uma característica peculiar. Ela
vende para um, o doente, que é quem paga, mas quem escolhe o medi- ética do lucro a todo custo por parte da indústria
camento é outro, o médico. farmacêutica.
2º § Essa condição fez com que a indústria farmacêutica internacional
desenvolvesse uma estratégia “sui generis” que, não obstante, imita um
d) Contrapõe-se a proposta do programa Mais Mé-
comportamento comum entre animais inferiores, a simbiose. dicos a uma certa atitude simbiótica por parte
da classe médica.
3º § Observo em meu aquário o peixe-palhaço percola Nemo colher um
vôngole e levá-lo à boca de “sua” anêmona, antes mesmo que ele pró-
prio se alimente. Em troca, recebe da anêmona – um animal com tentá-
culos venenosos – proteção contra eventuais predadores. Essa troca de
favores chamamos simbiose. Questão 11 - (PUC RJ)
4º § A promoção de medicamentos se faz de porta em porta, nos consul- Vai passar
tórios médicos. Todo mundo sabe que os inúmeros congressos médicos
nos mais pitorescos locais do mundo, de Paris a Cancun, são patrocina-
dos pelas empresas produtoras de medicamentos, inclusive com passa-
gens e estadia pagas.
1 Vai passar
5º § O que não era percebido até recentemente é a importância e o vo-
lume de recursos repassados diretamente a médicos como remuneração
pela promoção de medicamentos. Pois bem, embora sejam esses recur- 2 Nessa avenida um samba popular
sos diminutos em comparação com os gastos globais dessas empresas
com propaganda, em que se incluem as conferências técnico-turísticas, 3 Cada paralelepípedo
elas ultrapassam só nos Estados Unidos uma centena de milhões de dó-
lares por ano.
4 Da velha cidade
6º § E onde fica a ética? E o ensinamento de Hipócrates? A prática quoti-
diana e a necessidade de sobrevivência geram padrões de comportamen- 5 Essa noite vai
to que, por sua vez, estabelecem dogmas, tabus, que enfim são incorpo-
rados como princípios éticos à cultura de cada sociedade.
6 Se arrepiar
7º § Aos poucos, os médicos acabam por sepultar sua própria percepção
dos conflitos de interesse que regem essa maléfica simbiose. Três empre- 7 Ao lembrar
sas multinacionais do setor farmacêutico foram há pouco multadas e 18
de seus funcionários presos na China por adotarem essa prática. 8 Que aqui passaram sambas imortais
8º § Recentemente, o médico britânico e Nobel de medicina Richard J.
Roberts acusou as farmacêuticas de evitar a cura em prol da dependên- 9 Que aqui sangraram pelos nossos pés
cia, um fato já conhecido. Se você cura o doente, você deixa de faturar.
Se você simplesmente o mantém vivo, você fatura indefinidamente. Uma 10 Que aqui sambaram nossos ancestrais
estratégia também adotada por animais parasitas. Quantas corporações
médicas denunciaram essa condição maléfica?

9º § Médicos e suas associações já se opuseram, se não publicamente,


pelo menos nos bastidores, a iniciativas positivas do Estado. Isso ocor- 11 Num tempo
reu com a instalação do SUS e com as poucas iniciativas de produção
de medicamentos em laboratórios estatais. Agora acontece com o pro-
grama Mais Médicos, que, para as condições atuais da saúde no Brasil,
12 Página infeliz da nossa história
é imprescindível. Tudo que pareça interferir com a tradicional simbiose
médicoprodutoras de medicamentos, mesmo que tangencialmente, pas- 13 Passagem desbotada na memória
sa a ser hostilizado.
14 Das nossas novas gerações
10º § Quantos dos médicos que se declaram contra o programa repudia-
ram ofertas de passagens e estadias em gostosas conferências? Quantos
colocam o interesse da sociedade brasileira acima dos seus próprios e de 15 Dormia
sua corporação?
16 A nossa pátria mãe tão distraída
(Extraído de: Folha de S.Paulo, 19 nov. 2013.)
17 Sem perceber que era subtraída

18 Em tenebrosas transações
Questão 10 - (PUC MG)

Quanto ao título, tendo em conta sua relação com o


texto, é CORRETO afirmar: 19 Seus filhos

20 Erravam cegos pelo continente


a) Insinua-se que há presença de uma atitude sim- 21 Levavam pedras feito penitentes
342 - www.PROJETOREDACAO.com.br
22 Erguendo estranhas catedrais TEXTO: 11 - Comum à questão: 12

23 E um dia, afinal Álbum de colégio

24 Tinham direito a uma alegria fugaz

25 Uma ofegante epidemia 1


Um antigo colega criou e organizou um site sobre
2
nossos anos de colégio, que já vão longe. Visitei
26 Que se chamava carnaval ontem 3 as páginas virtuais de uma experiência real,
vivida 4 longamente numa velha escola, sólida tanto
27 O carnaval, o carnaval na construção 5 como no ensino. A pesquisa do meu
28 (Vai passar) colega é 6 bastante rica: documenta com detalhes
pessoas e espaços 7 que nos foram muito familia-
29 Palmas pra ala dos barões famintos res. Detive-me logo 8 na sequência dos professores,
como se de novo estivesse 9 a ouvir suas vozes e a ver
30 O bloco dos napoleões retintos seus gestos, projetados 10 do tablado em que ficava a
mesa, junto ao 11 quadro-negro.
31 E os pigmeus do bulevar

32 Meu Deus, vem olhar


12
Dona Alzira, de matemática. Óculos grossos, de 13
33 Vem ver de perto uma cidade a cantar aro escuro, contrastando com a pele clara. Paciente,
14
repetia o que fosse necessário de uma lição de ál-
34 A evolução da liberdade
gebra 15 ou geometria. Eu me divertia com as pala-
35 Até o dia clarear vras novas, 16 que logo transformava em apelidos dos
colegas: 17 Maria Clara ficou sendo a Hipotenusa, por
ser comprida 18 e magra, e o Zé Roberto passou a ser
Cateto, por 19 conta do nariz comprido. As palavras
36 Ai, que vida boa, olerê prestam-se a associações 20 estranhas, talvez arbi-
trárias. O frequente 21 vestido de folhas vermelhas de
37 Ai, que vida boa, olará Dona Alzira me parecia 22 bandeira vistosa das mi-
nhas dificuldades com as 23 equações e os teoremas.
38 O estandarte do sanatório geral vai passar

39 Ai, que vida boa, olerê


24
Dava-me melhor em Português. Não tanto com a 25
40 Ai, que vida boa, olará
Gramática das regras severas e nomenclatura difícil,
41 O estandarte do sanatório geral
26
mas com os textos bonitos que nos levavam para
fora 27 da escola, na viagem da imaginação. Descobri
42 Vai passar com 28 seu Alex, professor grandalhão de voz grave e
dicção 29 perfeita, o encantamento de versos ou fra-
BUARQUE, Chico e HIME, Francis. Chico Buarque, ses em 30 prosa ditos com muita expressão, valoriza-
letra e música. São Paulo: Companhia das Letras, dos em cada 31 sílaba. E me iniciei em alguns autores
1989, p.221. que acabaram 32 ficando, como Fernando Pessoa.

Uma das características mais notáveis que pode ser 33


A História, ao que me lembro, dividia-se em Geral,
observada na criação artística (pintura, literatura, 34
da América e do Brasil. Tive mais de um professor,
música, teatro, cinema etc) é o seu caráter histórico, o 35 mais entusiasmado e entusiasmante era o seu
ou seja, a sua capacidade de lançar um olhar crítico Euclides, 36 quase nunca imparcial, admirador dos
sobre determinada época e lugar. Tal característica gregos, não tanto 37 dos romanos, capaz de descre-
não exclui outro aspecto importante da arte como ver as viagens marítimas 38 dos portugueses e espa-
um todo, a possibilidade de sua constante ressigni- nhóis como se fosse um tripulante. 39 Não deixava de
ficação, ou seja, a capacidade de se manter viva e admirar Napoleão, acentuando 40 a incomensurável
atual. Chico Buarque e Francis Hime compuseram Vai diferença entre o tio e o sobrinho. Na 41 História do
passar em 1984, período significativo da história re- Brasil, enfatizava as insurreições populares 42 e cen-
cente do Brasil. Discuta, utilizando argumentos pró- surava o Estado Novo.
prios, os aspectos que aproximam e distanciam do
momento atual a temática da canção da época em
que a música foi feita.
43
Clicando aqui e ali (quem diria que havíamos de
44
conhecer e usar esse tal de computador?) chego
www.PROJETOREDACAO.com.br - 343
a outros 45 mestres, a outras aulas inesquecíveis. As rosa 96 na disciplina: dona Augusta, de hábitos e gos-
meninas 46 torciam o nariz nas de Química: o profes- to 97 conservadores. Na “sua” biblioteca não entrava
sor fazianos 47 usar o laboratório e praticar reações “esse 98 tal de Sartre, francês ateu e comunista que
(com sulfato? 48 com sulfeto?) que não cheiravam desencaminha 99 a juventude”. Recomendava-nos
nada bem. As mais 49 frágeis simulavam desmaios... Coelho 100 Netto e Olavo Bilac, Machado de Assis e
Havia as salas-ambiente, 50 destinadas e aparelhadas Euclides da 101 Cunha, e parava por aí: nenhum entu-
para disciplinas específicas. 51 Na de Geografia, gran- siasmo pelos 102 modernos. Mas lá estavam Bandeira,
des mapas, projetor 52 de slides, maquetes e figuras Drummond, 103 Clarice, Graciliano, Guimarães Rosa,
em alto relevo; na de 53 Biologia, acreditem: um es- que íamos descobrindo 104 aos poucos. A biblioteca
queleto completo, de verdade, 54 apelidado de Toni- tinha algumas preciosidades 105 do século XIX, enca-
nho (dizia-se que de um indigente, 55 morto há várias dernadas e dispostas 106 nas prateleiras mais altas.
décadas); na de Física, armários 56 com instrumentos
que lembravam ilustrações de 57 Da Vinci. O professor
Geraldo não era exatamente 58 uma grande vocação
de pedagogo: com ele a Física ficava 59 mais difícil do
107
Ah, a educação física... Luxos dos luxos: um ginásio
que já é. Dividia o curso em três 60 partes: Cinemática,
108
de esportes, com boa quadra e pequena arquiban-
Estática e Dinâmica, mas não sobrava 61 quase nada cada, 109 e um campo gramado de futebol, com traves
de nenhuma. Como ficava ao lado 62 da sala de Mú-
110
oficiais e rede, instalada apenas nos jogos impor-
sica, distraía-nos o piano de Dona 63 Mariinha, que tantes. 111 Lembro-me quando a seleção da escola
punha seus alunos para cantar peças do 64 folclore recebeu 112 o time do Seminário Presbiteriano, uns
nacional, das cirandas e emboladas do nordeste 65 às jovens educadíssimos, 113 diante dos quais parecía-
danças gauchescas. mos uns trogloditas. 114 Pois nos deram uma goleada,
com todo o respeito. 115 Nosso comentário ressentido:
− Mas também esses 116 caras vivem concentrados...
66
E havia, é claro, os pátios de recreio, movimentados
67
nos intervalos. A moralidade da época recomenda-
va 68 dois pátios: um para os meninos, outro para as 69
117
Velha escola. Por ironia, a tecnologia moderna 118
meninas. As turmas eram mistas, mas o convívio evi- me leva ao passado e materializa reminiscências que
tado 70 tanto quanto possível. Regulava-se o compri-
119
pareciam condenadas à pura e desmaiada memó-
mento 71 das saias, que algumas colegas enrolavam ria. 120 Ao som das músicas daquela época, as jovens
sorrateiramente 72 na cintura. Afinal, a moda era a colegas 121 continuam moças e bonitas, e os rapazes
míni... 73 Discos recém-lançados de Roberto Carlos e ensaiam 122 seus flertes... Palavras antigas. Mas está
dos 74 Beatles animavam o intervalo maior, colocados tudo 123 lá: no site do colégio, aberto à participação
na vitrola 75 reivindicada e conseguida pelo centro es- de moços 124 e velhos, história organizada de uma dé-
tudantil.76 77 Volta e meia aparecia um jornalzinho cada perdida 125 no século XX. Lembrei-me agora de
dos estudantes, 78 de corpo editorial instável e de vida uma cena do filme 126 Sociedade dos poetas mortos.
curta. O professor leva 127 seus corados alunos a um saguão
da escola, onde 128 estão fotos amareladas de alunos
de outrora, que já 129 nem estão neste mundo. Aos
moços atentos àquelas 130 imagens pergunta o pro-
79
Como esquecer, ainda, as figuras dos nossos ins- fessor: − Sabe o que dizem 131 esses jovens das fotos?
petores 80 de alunos? Seu Alípio, baixinho e bravo, Dizem: carpe diem, em latim. 132 Ou: aproveita bem
vociferando 81 por nada; dona Gladyr, apelidada de o dia que passa.
Arco-íris 82 por conta das roupas multicoloridas; dona
Gervásia, a 83 mais velha funcionária da escola, con- (Rinaldo Antero da Cruz, inédito)
tadora de 84 “causos”; Albertina, moça vigilante e de
poucas palavras, 85 encarregada do portão de entra-
da das meninas. 86 Na cantina, os três irmãos proprie- Questão 12 - (PUCCamp SP)
tários (“os três mosqueteiros 87 ou os três patetas?”,
brincávamos) atendiam 88 a todos com desenvoltura As palavras prestam-se a associações estranhas, tal-
e bom humor. E, por todo 89 lado, as criaturas mais vez arbitrárias.
antigas e veneráveis: os 90 flamboyants copados, os
plátanos, as duas figueiras. 91 Provavelmente ainda A frase acima (Refs. 19 e 20) pode justificar a seguin-
todas vivas, florescendo. te compreensão do autor:

92
De clique em clique armou-se na tela do monitor, 93 a) é inadequado o nome Hipotenusa, dado à cole-
em grande angular, a imagem da preciosa e velha 94 ga Maria Clara, porque ele próprio não conse-
biblioteca da escola. Sim, tinha bibliotecária: uma 95 gue levantar nenhuma hipótese sugestiva dessa
senhora idosa e prestativa, sempre perfumada, rigo- nomeação.
344 - www.PROJETOREDACAO.com.br
b) é injusto o apelido Cateto, porque para alguns foram pesados em uma balança de precisão, co-
não seria razoável falar de “nariz comprido” no locados em cima da placa de vidro, 10 gramas de
caso do Zé Roberto, por essa se tratar de uma cada, tudo misturado com uma espátula. A água
avaliação subjetiva. de um conta-gotas pingou em cima. Foram 2 go-
tas.
c) é efetivamente pouco elegante se apropriar de
palavras novas para apelidar colegas. c) Primeiro peguei 10 gramas das substâncias em
pó, que estavam em frascos, uma amarela (A)
d) é razoável que, às vezes, certas formas de no- outra branca (B) e coloquei ambas em uma placa
meação sejam difamatórias, principalmente no de vidro, onde misturei com uma espátula, com 2
caso de apelidos, quando se dá uma designação gotas de água em cima. Saiu uma fumaça branca
estranha ou pouco comum a alguém que já tem e ficou alaranjada. Conclusão: a mistura das subs-
nome próprio. tâncias esquentaram.
e) é possível o entendimento de que a relação d) Sobre uma placa de vidro foram colocados 10 gra-
vestido/ bandeira seja produto somente da sua mas de cada uma das substâncias A (amarela) e
própria visão, admitindo-se como estranho ou B (branca), em pó, que foram depois misturadas
inexistente qualquer vínculo lógico entre eles. com uma espátula. Com o auxílio de um conta-
-gotas, foram acrescentadas 2 gotas d’água. Ob-
servou-se então o aquecimento da mistura, que,
Questão 13 - (UFPR) além disso, tornou-se alaranjada e desprendeu
uma fumaça branca.
Ao realizar um experimento no laboratório da escola,
um estudante fez as seguintes anotações: e) De um frasco com um pó branco e outro amarelo
foram subtraídas 10 gramas dos mesmos e colo-
cados ambos em uma placa de vidro. A mistura
então desprendeu uma fumaça branca, a tempe-
· 2 frascos com substâncias em pó, uma amarela, ou- ratura da mesma se elevou tornando-se alaran-
tra branca. jada. Isso aconteceu após as substâncias serem
misturadas entre si e com 2 gotas de água respec-
· 10 gramas de cada uma, usando uma balança de pre- tivamente.
cisão.

· Colocadas em uma placa de vidro e misturadas com


uma espátula. TEXTO: 12 - Comum à questão: 14

· Água em cima da mistura, com um conta-gotas: 2 Quando o falante de uma língua depara um conjun-
gotas. to de duas palavras, intuitivamente é levado a sentir
entre elas uma relação sintática, mesmo que estejam
· A mistura ficou alaranjada, esquentou e soltou uma fora de um contexto mais esclarecedor.
fumaça branca.

Assim, além de captar o sentido básico das duas pa-


Ao fazer o relatório do experimento, o estudante teve lavras, o receptor atribui-lhes uma gramática – for-
várias dúvidas em relação à redação e escreveu cinco mas e conexões. Isso acontece porque ele traz regis-
versões, reproduzidas nas alternativas a seguir. Assi- trada em sua mente toda a sintaxe, todos os padrões
nale a que faz um relato de forma objetiva, correta e conexionais possíveis em sua língua, o que o torna
em linguagem adequada a um relatório. capaz de reconhecê-los e identificá-los. As duas pala-
vras não estão, para ele, apenas dispostas em ordem
linear: estão organizadas em uma ordem estrutural.
a) Usando uma placa de vidro. Sobre a mesma, pin-
guei 2 gotas de água em cima. Antes tirei dos fras-
cos contendo as substâncias e misturei 10 gramas A diferença entre ordem estrutural e ordem linear
do pó A (amarelo) e 10 do pó B (branco) com uma torna- se clara se elas não coincidem, como nesta fra-
espátula. Depois observei que a mistura ficou ala- se que um aluno criou em aula de redação, quando
ranjada, esquentou e saiu uma fumaça branca. todos deviam compor um texto para outdoor, sobre
Foi isso que eu fiz e observei. uma fotografia da célebre cabra de Picasso: “Beba
leite de cabra em pó!”. Como todos rissem, o autor da
b) A mistura em cima da placa de vidro esquentou,
frase emendou: “Beba leite em pó de cabra!”.
mudou de cor e soltou uma fumaça branca. Isso
aconteceu depois que os pós branco e amarelo

www.PROJETOREDACAO.com.br - 345
Pior a emenda do que o soneto., queixar”.

(Flávia de Barros Carone. Morfossintaxe, 1986. Adapta- Millôr Fernandes, Millôr definitivo: a bíblia do caos.
do.)

a) Para produzir o efeito de humor que o caracteri-


Questão 14 - (UNIFESP SP) za, esse texto emprega o recurso da ambiguida-
de? Justifique sua resposta.
De acordo com o texto, a ordem estrutural diz respei-
to à macroestrutura da frase e a ordem linear à ma- b) Reescreva a segunda parte do texto (de “Mas”
nifestação concreta, palavra após palavra, dos cons- até “queixar”), pondo no plural a palavra “cida-
tituintes da oração. Assinale a alternativa em que, dão” e fazendo as modificações necessárias.
no par de palavras em destaque, em texto de Pau-
lo Cesarino Costa, publicado na Folha de S.Paulo de
02.08.2012, há coincidência entre essas duas ordens.
Questão 16 - (FUVEST SP)

Leia o texto.
a) Exceto pelo fato de que dividirão, com outras de-
zenas de esportes, as atenções de TVs e rádios,
portais de internet, jornais e revistas nos próxi- Na mídia em geral, nos discursos, em mensagens
mos dias numa rara disputa, de onde sairão dois publicitárias, na fala de diferentes atores sociais, en-
retratos do Brasil. fim, nos diversos contextos em que a comunicação
b) Nas paredes do Instituto Moreira Salles, pode-se se faz presente, deparamo-nos repetidas vezes com
ver diferentes concepções de fotojornalismo: da a palavra cidadania. Esse largo uso, porém, não tor-
beleza pouco comprometida com a veracidade na seu significado evidente. Ao contrário, o fato de
de Jean Manzon à objetividade das imagens de admitir vários empregos deprecia seu valor concei-
guerra de Luciano Carneiro. tual, isto é, sua capacidade de nos fazer compreender
certa ordem de eventos. Assim, pode-se dizer que,
c) Num mundo cada vez mais dominado pela re- contemporaneamente, a palavra cidadania atende
produção eletrônica e imagética dos aconteci- bastante bem a um dos usos possíveis da linguagem,
mentos, há uma interessante oportunidade de a comunicação, mas caminha em sentido inverso
resgatar o momento em que a imagem começou quando se trata da cognição, do uso cognitivo da lin-
a questionar o poder da palavra. guagem. Por que, então, a palavra cidadania é cons-
tantemente evocada, se o seu significado é tão pouco
d) A revista O Cruzeiro seguia a cartilha da revista esclarecido?
norteamericana Life, que preconizava “um novo
jornalismo, no qual as imagens formam o texto Maria Alice Rezende de Carvalho, Cidadania e direitos.
e as palavras ilustram as imagens”.

e) Serão 11 estrelas na tela, mas os ministros do


STF e suas capas negras pouco têm a ver com os a) Segundo o texto, em que consistem o uso co-
11 amarelinhos de Mano Menezes na busca do municativo e o “uso cognitivo” da linguagem?
ouro olímpico. Explique resumidamente.

b) Responda sucintamente a pergunta que encerra


o texto: “Por que, então, a palavra cidadania é
Questão 15 - (FUVEST SP) constantemente evocada, se o seu significado é
tão pouco esclarecido?”
Leia o texto.

TEXTO: 13 - Comum à questão: 17


Ditadura / Democracia
Recordações do escrivão Isaías Caminha

A diferença entre uma democracia e um país to-


talitário é que numa democracia todo mundo recla-
‘1
Eu não sou literato, detesto com toda a paixão
ma, ninguém vive satisfeito. Mas se você perguntar essa espécie de animal. O que observei neles, no 2
a qualquer cidadão de uma ditadura o que acha do tempo em que estive na redação do O Globo, foi o
seu país, ele responde sem hesitação: “Não posso me bastante para não os amar, nem os imitar. São em 3

346 - www.PROJETOREDACAO.com.br
geral de uma lastimável limitação de ideias, cheios dos detentores da opinião nacional. Que ela tenha a
de fórmulas, de receitas, só capazes de colher 4 fatos sorte que merecer, mas que possa também, 35 ama-
detalhados e impotentes para generalizar, curvados nhã ou daqui a séculos, despertar um escritor mais
aos fortes e às ideias vencedoras, e 5 antigas, adstri- hábil que a refaça e que diga o que não 36 pude nem
tos a um infantil fetichismo do estilo e guiados por soube dizer.
conceitos obsoletos e um pueril 6 e errôneo critério
de beleza. Se me esforço por fazê-lo literário é para
37
(...) Imagino como um escritor hábil não saberia
que ele possa ser lido, pois 7 quero falar das minhas dizer o que eu senti lá dentro. Eu que sofri 38 e pensei
dores e dos meus sofrimentos ao espírito geral e no não o sei narrar. Já por duas vezes, tentei escrever;
seu interesse, com 8 a linguagem acessível a ele. É mas, relendo a página, achei-a 39 incolor, comum, e,
esse o meu propósito, o meu único propósito. Não sobretudo, pouco expressiva do que eu de fato tinha
nego que para 9 isso tenha procurado modelos e nor- sentido.
mas. Procurei-os, confesso; e, agora mesmo, ao al-
cance 10 das mãos, tenho os autores que mais amo. LIMA BARRETO Recordações do escrivão Isaías Caminha.
(...) Confesso que os leio, que os estudo, que procu- São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras,
ro11 descobrir nos grandes romancistas o segredo de 2010.
fazer. Mas não é a ambição literária que me 12 move
ao procurar esse dom misterioso para animar e fazer
viver estas pálidas Recordações. 13 Com elas, queria Questão 17 - (UERJ)
modificar a opinião dos meus concidadãos, obrigá-
-los a pensar de outro modo, 14 a não se encherem só capazes de colher fatos detalhados e impotentes
de hostilidade e má vontade quando encontrarem na para generalizar, (Refs. 3-4)
vida um rapaz como 15 eu e com os desejos que tinha
há dez anos passados. Tento mostrar que são legíti-
mos e, se não 16 merecedores de apoio, pelo menos
Esse trecho se refere à utilização do seguinte método
dignos de indiferença.
de argumentação:
17
Entretanto, quantas dores, quantas angústias!
Vivo aqui só, isto é, sem relações intelectuais de 18
qualquer ordem. Cercam-me dois ou três bacharéis a) indutivo
idiotas e um médico mezinheiro, repletos 19 de or-
gulho de suas cartas que sabe Deus como tiraram. b) dedutivo
(...) Entretanto, se eu amanhã lhes fosse 20 falar neste
livro - que espanto! que sarcasmo! que crítica desa- c) dialético
nimadora não fariam. Depois que 21 se foi o doutor
Graciliano, excepcionalmente simples e esquecido d) silogístico
de sua carta apergaminhada, 22 nada digo das minhas
leituras, não falo das minhas lucubrações intelectuais
a ninguém, e minha 23 mulher, quando me demoro TEXTO: 14 - Comum à questão: 18
escrevendo pela noite afora, grita-me do quarto:
Ciência e Hollywood
- Vem dormir, Isaías! Deixa esse relatório para
24

amanhã!
25
De forma que não tenho por onde aferir se as 1
Infelizmente, é verdade: explosões não fazem
minhas Recordações preenchem o fim a que as 26 barulho algum no espaço. Não me lembro de um 2 só
destino; se a minha inabilidade literária está preju- filme que tenha retratado isso direito. Pode ser que
dicando completamente o seu pensamento. 27 Que existam alguns, mas se existirem não 3 fizeram muito
tortura! E não é só isso: envergonho-me por esta ou sucesso. Sempre vemos explosões gigantescas, es-
aquela passagem em que me acho, em 28 que me dis- trondos fantásticos. Para existir 4 ruído é necessário
po em frente de desconhecidos, como uma mulher um meio material que transporte as perturbações
pública... Sofro assim de tantos 29 modos, por causa que chamamos de ondas 5 sonoras. Na ausência de
desta obra, que julgo que esse mal-estar, com que às atmosfera, ou água, ou outro meio, as perturbações
vezes acordo, vem dela, 30 unicamente dela. Quero não têm onde se 6 propagar. Para um produtor de ci-
abandoná-la; mas não posso absolutamente. De ma- nema, a questão não passa pela ciência. Pelo menos
nhã, ao almoço, na 31 coletoria, na botica, jantando, não como 7 prioridade. Seu interesse é tornar o filme
banhando-me, só penso nela. À noite, quando todos emocionante, e explosões têm justamente este pa-
em casa se 32 vão recolhendo, insensivelmente apro- pel; 8 roubar o som de uma grande espaçonave ex-
ximo-me da mesa e escrevo furiosamente. Estou no plodindo torna a cena bem sem graça.
sexto 33 capítulo e ainda não me preocupei em fazê-la
pública, anunciar e arranjar um bom recebimento 34 9
Recentemente, o debate sobre as liberdades

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científicas tomadas pelo cinema tem aquecido. O 10 tos contrários ao ponto de vista defendido, para, em
sucesso do filme O dia depois de amanhã (The day seguida, negá-los ou reduzir sua importância.
after tomorrow), faturando mais de meio bilhão 11 de
dólares, e seu cenário de uma idade do gelo ocorren-
do em uma semana, em vez de décadas 12 ou, melhor
ainda, centenas de anos, levantaram as sobrancelhas O fragmento do texto que exemplifica essa estratégia
de cientistas mais rígidos que 13 veem as distorções é:
com desdém e esbugalharam os olhos dos especta-
dores (a maioria) que 14 pouco ligam se a ciência está
certa ou errada. Afinal, cinema é diversão. a) Infelizmente, é verdade: explosões não fazem
barulho algum no espaço. (Ref. 1)
15
Até recentemente, defendia a posição mais rí-
gida, que filmes devem tentar ao máximo ser fiéis b) Pode ser que existam alguns, mas se existirem
à 16 ciência que retratam. Claro, isso sempre é bom. não fizeram muito sucesso. (Refs. 2-3)
Mas não acredito mais que seja absolutamente 17 ne-
cessário. Existe uma diferença crucial entre um filme c) Para um produtor de cinema, a questão não pas-
comercial e um documentário científico. 18 Óbvio, sa pela ciência. (Refs. 6)
documentários devem retratar fielmente a ciência,
educando e divertindo a população, 19 mas filmes não d) Mas o conteúdo não deve ser levado ao pé da
têm necessariamente um compromisso pedagógico. letra. (Refs. 28-29)
As pessoas não vão ao 20 cinema para serem educa-
das, ao menos como via de regra.
TEXTO: 15 - Comum à questão: 19
21
Claro, filmes históricos ou mesmo aqueles fiéis
à ciência têm enorme valor cultural. Outros 22 edu- A língua e o poeta
cam as emoções através da ficção. Mas, se existirem
exageros, eles não deverão ser 23 criticados como tal.
Fantasmas não existem, mas filmes de terror sim.
Pode-se argumentar que, 24 no caso de filmes que
versam sobre temas científicos, as pessoas vão ao ci-
nema esperando uma 25 ciência crível. Isso pode ser
verdade, mas elas não deveriam basear suas conclu-
sões no que diz 26 o filme. No mínimo, o cinema pode
servir como mecanismo de alerta para questões cien-
tíficas 27 importantes: o aquecimento global, a inteli-
gência artificial, a engenharia genética, as guerras 28
nucleares, os riscos espaciais como cometas ou aste-
roides etc. Mas o conteúdo não deve ser 29 levado ao Hoje eu peço vênia¹ para discrepar2 do grande
pé da letra. A arte distorce para persuadir. E o cinema Ferreira Gullar, que, no domingo, escreveu um artigo
moderno, com efeitos especiais 30 absolutamente es- defendendo o “modo correto” de usar a língua por-
petaculares, distorce com enorme facilidade e poder tuguesa.
de persuasão.
Longe de mim propor que o poeta, eu e o leitor
O que os cientistas podem fazer, e isso está vi-
31
comecemos a dizer “nós vai” ou “debateu sobre as
rando moda nas universidades norte-americanas, 32 alternativas”, mas não dá para comparar violações
é usar filmes nas salas de aula para educar seus alu- à norma culta com um erro conceitual como afirmar
nos sobre o que é cientificamente correto 33 e o que que tuberculose não é doença, para ficar nos exem-
é absurdo. Ou seja, usar o cinema como ferramenta plos de Gullar. Fazê-lo é passar com um “bulldozer”³
pedagógica. Os alunos certamente 34 prestarão muita sobre o último meio século de pesquisas, em especial
atenção, muito mais do que em uma aula conven- os trabalhos de Noam Chomsky, que conseguiram
cional. Com isso, será possível 35 educar a população elevar a linguística de uma disciplina entrincheirada
para que, no futuro, um número cada vez maior de nos departamentos de humanidades a uma ciência
pessoas possa discernir 36 o real do imaginário. capaz de fazer previsões e articular-se com outras,
como psicologia, biologia, computação.
MARCELO GLEISER Adaptado de www1.folha.uol.com.br.
Chomsky mostra que a capacidade para a lingua-
gem é inata. É só lançar uma criança no meio de uma
Questão 18 - (UERJ) comunidade que ela absorve o idioma local. O fenô-
meno das línguas crioulas revela que grupos expostos
Na construção argumentativa, uma estratégia co- a «pidgins» (jargões comerciais que misturam vários
mum é aquela em que se reconhecem dados ou fa- idiomas, geralmente falados em portos) desenvol-

348 - www.PROJETOREDACAO.com.br
vem, no espaço de uma geração, uma gramática Assim lhe chamo, porque resume o universo, e o universo é o ho-
completa para essa nova linguagem. Mais do que de mem. Vais entendendo?
— Pouco; mas, ainda assim, como é que a morte de sua avó...
facilidade para o aprendizado, estamos falando aqui — Não há morte. O encontro de ditas expansões, ou a expansão
de uma gramática universal que vem como item de de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas,
fábrica em cada ser humano. Foi a resposta que a rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma
evolução deu ao problema da comunicação entre ca- é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atin-
çadores-coletores. ge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e
benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos
Nesse contexto, o único critério para decidir entre famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tri-
bos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à
o linguisticamente certo e o errado é a compreen-
outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas
são da mensagem transmitida. Uma frase ambígua tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nu-
é mais “errada” do que uma que fira as caprichosas trir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é
regras de colocação pronominal. a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina
a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos,
Na verdade, as prescrições estilísticas que deco- aclamações, recompensas públicas e todos demais efeitos das
ramos na escola e que nos habituamos a chamar de ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não
chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemo-
gramática são o que há de menos essencial e mais
ra e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional
aborrecido no fenômeno da linguagem. Estão para de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a
a linguística assim como a pesquisa da etiqueta está destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.
para o estudo da história. (ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Quincas Borba.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 648-649.)
(HÉLIO SCHWARTSMAN, Folha de S.Paulo, 27 de março
de 2012)

Questão 20 - (IBMEC SP Insper)


¹vênia = licença, permissão As imagens abaixo fazem parte do game “Filosofigh-
ters”. Inspirado em jogos de lutas, ele propõe uma
²discrepar = divergir de opinião, discordar batalha verbal entre importantes filósofos. Nele os
³bulldozer = (inglês) escavadeira argumentos dos pensadores valem como golpes, con-
forme se verifica na ilustração abaixo.

Questão 19 - (ESPM SP)

O autor utiliza aspas nas expressões “modo correto”


e “bulldozer” por tratar-se respectivamente de:

a) jargão utilizado na área linguística e palavra es-


trangeira.

b) expressão já empregada em ocasião anterior e


metáfora

c) título de artigo e citação.

d) citação e expressão metafórica.

e) citação e palavra estrangeira.

TEXTO: 16 - Comum à questão: 20 :


— Mas que Humanitas é esse?
— Humanitas é o princípio. Há nas coisas todas certa substância
recôndita e idêntica, um princípio único, universal, eterno, co-
mum, indivisível e indestrutível, — ou, para usar a linguagem do
grande Camões:
Uma verdade que nas coisas anda,
Que mora no visíbil e invisíbil.
Pois essa sustância ou verdade, esse princípio indestrutível é que
é Humanitas.

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amigos que cobrem sua presença e te estimulem a
participar de treinos e competições.

>> Para aderir aos treinos monitorados à distância,


você precisa conhecer bem seu nível técnico e físico
e ter passado da primeira fase. É necessário ter con-
quistado uma base razoável, que te permita ter boa
percepção do seu corpo e ritmo.

(“Tão longe, tão perto”, seção TREINAMENTO, de Maria


Clara
Vergueiro. In: GO OUTSIDE, agosto de 2012. p.51)

Questão 21 - (PUCCamp SP)

Afirma-se corretamente:

a) Ainda que apresente orientações para a execu-


(Adaptado: http://super.abril.com.br/blogs/newsgames/ ção ou o aperfeiçoamento de determinada tare-
tag/filosofighters/) fa, o trecho transcrito se afasta do que se espera
de um manual ao introduzir o tipo de subtítulo
que se tem acima.

Relacione as teorias dos pensadores citados ao excer- b) “Manual” supõe diálogo entre uma pessoa ex-
to de Machado de Assis. Por defender posição simi- periente em determinada prática e um jovem
lar, infere-se que, no jogo, o “filósofo” Quincas Borba iniciante, situação didática que, em modalidade
NÃO poderia ser adversário de oral, ou até em escrita formal, aceita como cor-
reta a variação do emprego de você e te notada
no trecho.
a) Aristóteles, pois ao definir a paz como “destruição” e a guerra c) Expressões enérgicas como faça, prefira, você
como “conservação”, Quincas Borba recupera a ideia de que
“o homem é livre só dentro de regras”.
precisa, É necessário são típicas de textos de
b) Jean Paul-Sartre, pois, assim como o filósofo existencialista, autoajuda, inconvenientes, porém, aos padrões
o mentor do Humanitismo mostra que a necessidade de ali- de um manual, em que deve prevalecer o tom
mentação determina a obediência ou a violação às regras. amistoso característico das formas de aconse-
c) Hobbes, pois a tese do Humanitismo reafirma a ideologia do lhamento.
autor de “Leviatã”, entendendo que o estado natural é o con-
flito. d) No contexto desse manual, especialmente ob-
d) Rousseau, pois defende os mesmos princípios do filósofo ilu-
servado o trecho prefira assessorias esportivas
minista, mostrando que, embora pareça ser uma solução, a
guerra traz grandes prejuízos à humanidade. próximas, desaprova-se o fato de alguém ser ex-
e) nenhum dos pensadores citados, pois Quincas tremamente social e precisa[r] de estímulo para
Borba, ao contrário deles, prevê um destino pro- treinar.
missor para a humanidade.
e) O segmento precisa de estímulo para treinar ex-
pressa uma dedução que se obtém a partir da
hipótese se você é um ser extremamente social,
TEXTO: 17 - Comum à questão: 21 esta motivada pela específica situação do inter-
locutor: aluno distante.
Manual do aluno distante

Tudo o que você precisa saber antes de aderir ao trei-


namento à distância TEXTO: 18 - Comum à questão: 22

Texto I

>>Faça uma autoanálise honesta: se você é um ser


extremamente social e precisa de estímulo para trei-
nar, prefira assessorias esportivas próximas, com ‘Stamos em pleno mar... Doudo no espaço

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Brinca o luar — dourada borboleta; Questão 22 - (Mackenzie SP)

E as vagas após ele correm... cansam O crítico Alfredo Bosi, ao referir-se ao poeta Castro
Alves, afirma: “A palavra do poeta baiano seria, no
Como turba de infantes inquieta. contexto em que se inseriu, uma palavra aberta.” To-
das as alternativas abaixo justificam a expressão usa-
da pelo crítico, EXCETO:
‘Stamos em pleno mar... Do firmamento

Os astros saltam como espumas de ouro... a) diferentemente dos poetas da segunda geração
O mar em troca acende as ardentias, romântica, voltados para o culto do eu, Castro
Alves tematizou questões sociais.
— Constelações do líquido tesouro...
b) o poeta produziu poesia altissonante, com forte
[...] apelo ao enunciatário, dando destaque à função
conativa da linguagem.
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
c) usou imagens da natureza que expressam o sen-
Que música suave ao longe soa! tido de amplidão, vastos horizontes, adequadas
à temática desenvolvida pelo poeta.
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
d) o tom grandiloquente de seus versos apoia-se
Pelas vagas sem fim boiando à toa! em linguagem mais coloquial, com vocabulário
de uso corriqueiro, sintaxe simples, em busca de
Castro Alves, “O navio negreiro”
uma comunicação fácil e imediata com os leito-
res.

e) como representante da terceira geração român-


tica, a chamada “geração condoreira”, criou um
Texto II eu poético que representa o porta-voz das mul-
tidões, clamando por ideais liberais e abolicio-
nistas.
E ri-se a orquestra irônica, estridente...

E da ronda fantástica a serpente TEXTO: 19 - Comum à questão: 23


Faz doudas espirais ... Informações necessárias à leitura do texto
Se o velho arqueja, se no chão resvala,

5 Ouvem-se gritos... o chicote estala. A bagaceira, obra de José Américo de Almeida, publi-
cada em 1928, é a precursora do moderno romance
E voam mais e mais... brasileiro do Nordeste.

O romance passa-se entre 1898 e 1915, dois períodos


de seca. Valentim Pereira, sua filha Soledade e o afi-
Presa nos elos de uma só cadeia,
lhado Pirunga abandonam a fazenda do Bondó, na
A multidão faminta cambaleia, zona do sertão. Encaminham-se para as regiões dos
engenhos, no brejo, onde encontram acolhida no en-
E chora e dança ali! genho Marzagão, de propriedade de Dagoberto Mar-
çau, cuja mulher, uma retirante, falecera por ocasião
10 Um de raiva delira, outro enlouquece, do nascimento do único filho, Lúcio. Passando as fé-
rias no engenho, Lúcio conhece Soledade e por ela se
Outro, que martírios embrutece, apaixona.
Cantando, geme e ri! A história vai muito além, mas essas informações são
suficientes para o entendimento do texto desta pro-
Castro Alves, “O navio negreiro”
va, extraído do primeiro capítulo.

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TEXTO 91
— Milonga, olha aqui!
46
A mata fronteira, o padrão majestoso, 47 estava ace- 92
E, enquanto a retirante segurava o copo 93 com os
sa numa cor de incêndio. dedos mirrados, interpelou, indicando 94 um rapaz
que a acompanhava:
48
Havia uma semana, surdira um toque 49 estranho
na monotonia da verdura. Dir-se-ia 50 um ramo ama- 95
— São irmãos?
relido à torreira da estação.
96
Senhor não; mas, é como se fosse — 97 respondeu o
mais velho que procurava 98 esconder a cara na barba
intonsa.
51
Dominava ainda a esmeralda tropical. Mas, 52 com
pouco, emergira o mesmo matiz em 53 outro trecho 99
Seguiram caminho.
vizinho, como um efeito de luz, 54 um beijo fulguran-
te do sol em árvore favorita. 55 E, logo, o pau d’arco
100
— Manuel Broca! Ma-nuel!
assoberbou a flora, como 56 um banho de ouro na fo-
lhagem.
101
Chegou o feitor. E Dagoberto, apontando o

Nessa manhã luminosa a mata 58 resplandecia com


57
102
grupo que se distanciava:
uma orgia de desabrocho 59 em sua pompa auriverde. 103
— Arranche aquela gente.
60
Sem a percepção da paisagem, com a sensibili-
61
104
E entrou a ir e vir, em longos passos 105 frouxos,
dade obtusa e entorpecida aos 62 primores da natu- no seu hábito de marchar para um 106 ponto que lhe
reza, Dagoberto 63 inquietava-se, pela primeira vez, estava mais na imaginação do 107 que no espaço.
perante o ouro que 64 frondejava. Parecia-lhe que o
sol tinha 65 baixado sobre a selva fulva. José Américo de Almeida. A Bagaceira. pág. 7-9.
66
Era, talvez, a cor que lhe suscitara o 67
interesse
chambão. As pétalas áureas...
Questão 23 - (UECE)
68
E semicerrou, novamente, os olhos 69 descuriosos.
Atente ao trecho que vai da Ref. 46 à Ref. 65 e ao que
se diz sobre ele.
70
Senão quando, foi despertado por uma voz 71 su-
mida que o sobressaltou. Não notara o 72 acesso de
outro grupo de retirantes. I. Infere-se que o “toque estranho” (Refs. 48-49)
quebrou a monotonia da paisagem toda verde.
73
Importunavam-no os intrusos, 74 cortando-lhe o fio
dos cálculos da colheita ou de alguma 75 cisma tran- II. A expressão “o mesmo matiz” (Ref. 52) refere-se,
sitória. indiretamente, a “cor de incêndio” (Ref. 47) e a
“toque estranho” (Refs. 48-49), como também a
76
Pediam-lhe uma pousada. “pau d’arco” (Ref. 55) e a “o ouro que frondeja-
va” (Refs. 63-64).
77
Ele abanou a cabeça negativamente.
III. A comparação que encerra o segundo parágrafo
78
E os ádvenas quedaram-se esmorecidos 79 pelo re- aproxima, para efeito expressivo, o matiz amare-
pouso momentâneo. lo que se espalha pela paisagem de “um beijo do
80
Saiu para enxotá-los [...] sol”.

81
E esbravejou:
82
— O que já disse está dito!! Está correto o que se afirma em

83
Nisto, desmontou-se uma rapariga e, com 84 a vozi-
ta soprara: a) I e III somente.
— Se o senhor pudesse mandar
85 86
alcançar-me um b) I, II e III.
pouco d’água...
c) II e III somente.
87
Ele examinou-a através das pestanas 88 cerdosas e
ficou com a fisionomia suspensa, 89 como quem re- d) I e II somente.
constitui uma visão ou evoca 90 um fato.

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TEXTO: 20 - Comum à questão: 24 Figura ES.2 Principais áreas de atuação do Brasil em
arranjos de cooperação com a África, 2009.
BRASIL E ÁFRICA SUBSAARIANA: PARCERIA SUL-SUL
PARA O CRESCIMENTO

1
Atualmente, Brasil e África vêm restabelecendo
ligações que poderão ter efeitos importantes sobre
2
a prosperidade e o desenvolvimento de ambos. Na
última década, a África tornou-se 3 um continente
de 3 oportunidades, com tendências econômicas po-
sitivas e uma melhor governança.
4
O crescimento de alguns países africanos, sua
resistência às crises globais recentes e a 5 implemen-
tação de reformas de políticas que fortaleceram os
mercados e a governança democrática vêm 6 expan-
dindo o comércio e o investimento na região. Apesar
dessa tendência positiva, muitos países 7 africanos
ainda enfrentam enormes gargalos de infraestrutura,
são vulneráveis à mudança do clima e 8 apresentam
capacidade institucional deficiente. Consequente- 27
No que se refere à diplomacia, o Brasil mantém
mente, a ajuda para o desenvolvimento 9 continua
atualmente 37 embaixadas na África, comparado a
sendo uma das principais fontes de apoio ao desen- 28
17 em 2002, um incremento correspondido pelo
volvimento em vários países do continente, de 10
aumento do número de embaixadas africanas no
modo que a transferência e a troca de conhecimento
Brasil: 29 desde 2003, 17 embaixadas foram abertas
ainda são necessidades prementes.
em Brasília, somando-se às 16 já existentes, o que re-
11
A partir do final século XX, a África se tornou um
presenta a 30 maior concentração de embaixadas no
dos principais temas da agenda externa do Brasil, 12
Hemisfério Sul.
que tem demonstrado um interesse cada vez maior
em apoiar e participar do desenvolvimento de um 13 31
Os países da África Subsaariana solicitam coo-
continente que se encontra em rápida transforma-
peração com o Brasil em cinco áreas principais: 32
ção. A intensificação do engajamento do Brasil com a
agricultura tropical; medicina tropical; ensino técnico
14
África não somente demonstra a ambição geopolí-
(em apoio ao setor industrial); energia; e proteção 33
tica e o interesse econômico do Brasil: os fortes laços
social (figura ES.2). (Áreas de interesse relativamen-
15
históricos e a afinidade com a África diferenciam o
te menor incluem ensino superior, esportes e ação 34
Brasil dos demais membros originais do BRICs [grupo
afirmativa.).
16
formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia e Chi- 35
No que se refere à agricultura, a Empresa de
na e que incluiu depois a África do Sul].
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), em parceria com
17
O crescimento econômico do Brasil, sua atua- 36
várias outras instituições brasileiras de pesquisa,
ção crescente no cenário mundial, o sucesso 18 al-
atua com parceiros locais na implementação de
cançado com a redução da desigualdade social e a
projetos 37 modelo em agricultura com o objetivo de
experiência de desenvolvimento oferecem lições 19
reproduzir o sucesso alcançado no cerrado brasileiro
importantes para os países africanos que, dessa for-
– semelhante 38 a alguns solos africanos − e aprimorar
ma, buscam cada vez mais a cooperação, assistên-
o desenvolvimento agrícola e o agronegócio na Áfri-
cia 20 técnica e investimentos do Brasil. Ao mesmo
ca.
tempo, multinacionais brasileiras, organizações não 39
Investimentos do setor privado brasileiro na
21
governamentais e diversos grupos sociais passa-
África tiveram início nos anos 1980 e chegaram a
ram a incluir a África em seus planos. Em outras pa-
tal 40 ponto que atualmente as empresas brasileiras
lavras, a 22 nova África coincide com o Brasil global.
atuam em quase todas as regiões do continente, com
23
Complementando as fortes ligações históricas e 41
atividades concentradas nas áreas de infraestrutu-
culturais, a tecnologia brasileira parece ser de fácil
ra, energia e mineração. A presença do Brasil chama
24
adaptabilidade a muitos países africanos em razão
a 42 atenção devido à forma como as empresas bra-
das semelhanças geofísicas de solo e de clima. O 25
sileiras realizam seus negócios; elas tendem a con-
sucesso recente do Brasil no plano social e econô-
tratar mão 43 de obra local para seus projetos, favo-
mico atraiu a atenção de muitos países de língua 26
recendo o desenvolvimento de capacidades locais,
portuguesa com os quais o país possui ligações his-
o que acaba por 44 elevar a qualidade dos serviços
tóricas.
e produtos. Dado o ambiente de negócios favorável
aos investimentos 45 brasileiros na África, a Agência

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Brasileira de Exportação vem fomentando a presen- TEXTO: 21 - Comum à questão: 25
ça de pequenas e 46 médias empresas no continente,
por meio de feiras de negócios, por exemplo. As Sotaques no papel
tendências analisadas em 47 estudos internacionais
Feitos sem pretensão científica, “dicionários” infor-
indicam que o Brasil e a África desenvolvem, em con- mais
junto, um modelo de relações 48 Sul-Sul que pode aju- exploram as falas típicas de estados brasileiros
dar a reunir os dois lados do Atlântico.
49
Embora as relações entre o Brasil e a África te-
nham se intensificado muito na última década, ainda
50
existem desafios consideráveis. Em particular, exis-
1
Em suas viagens para casa, de Brasília ao Piauí, o
te um desconhecimento nos dois lados do Atlântico. jornalista Paulo José Cunha, de 57 2 anos, gosta de
A 51 maioria dos brasileiros possui conhecimento li- puxar uma cadeira e ouvir as histórias de dona Yara,
mitado e normalmente desatualizado sobre a África; sua mãe. Desses 3 momentos familiares, o professor
as 52 poucas informações que têm, muitas vezes, se da Universidade Federal de Brasília (UnB) coletou
grande 4 parte dos verbetes e expressões tipicamente
limitam a Angola, Moçambique e, às vezes, à África
piauienses que deram origem à Grande 5 Enciclopé-
do Sul. 53 A burocracia de ambos os lados atrasa o
dia Internacional de Piauiês
comércio marítimo que chega a levar 80 dias, em vez
de 10. O 54 Banco Mundial poderia contribuir para a
superação desses obstáculos, de modo a favorecer
a ampliação do 55 relacionamento entre a África e o 6
O cirurgião vascular paraibano Antonio Soares da
Brasil e trazer benefícios adicionais para todos. Fonseca Jr., de 61 anos, autor do 7 Dicionário do
BANCO MUNDIAL/IPEA. Ponte sobre o Atlântico. Brasil e Português Nordestino, conta que primeiro escolhia
África Subsaariana: parceria Sul-Sul para o aleatoriamente algum 8 destino entre Rio Grande do
crescimento. Norte e Sergipe. Depois de pegar um avião de São
Brasília: [s.n.], 2011. p. 1-8. (Adaptado). Paulo, 9 sentava na primeira mesa de boteco da re-
gião e chamava o primeiro que passava para 10 divi-
dir uma cerveja. Aí era ligar o gravador e registrar o
Questão 24 - (UEG GO) papo carregado de expressões, 11 como o substantivo
“lapada” (pancada), o verbo “cascavilhar” (procurar
São ideias presentes no texto: minuciosamente), a 12 profissão “capagato” (técnico
agrícola) e a aprendiz de interjeição “pronto” (“quan-
do olhei, 13 pronto!, tudo havia acabado”).
a) a presença de empresas privadas brasileiras no
continente africano tem sido positiva apenas do
ponto de vista econômico, pois a mão de obra 14
É nesse ambiente informal de pesquisa empírica
utilizada é estrangeira, o que não favorece o de- que a maioria dos dicionários 15 regionais é concebi-
senvolvimento local nem a melhoria de qualida- da. Sem o peso da responsabilidade de seguir as me-
de de produtos e serviços. todologias exigidas 16 pela academia, esses trabalhos
são marcados pela despretensão e pelo bom humor.
b) apesar do crescimento das parcerias em diver-
sos setores – agricultura, saúde, educação etc. 17
[...]
−, as relações diplomáticas entre Brasil e África
têm diminuído nos últimos dez anos, o que se 18
De tão encantado com o falar do catarinense, o
reflete na diminuição do número de embaixadas comerciante, taxista e escritor Isaque 19 de Borba
africanas no Brasil. Corrêa, de 47 anos, é um autodidata em linguística.
Nada parecido com o Isaque 20 que em 1981 lançou o
c) devido ao desenvolvimento que a África vem Dicionário do Papa-Siri, com expressões típicas da re-
tendo na última década, o que é tendência po- gião de 21 Camboriú e do Vale do Itajaí. Ele conta que
sitiva, o continente não mais necessita de ajuda tinha vergonha de dizer que estava montando 22 um
para seu desenvolvimento e tem se tornado um livro naqueles moldes. Hoje, termos como “dialetolo-
parceiro igualitário do Brasil, principalmente no gia” (estudo dos traços linguísticos 23 dos dialetos) e
que diz respeito às parcerias econômicas. “idiotismos” (traços que mais caracterizam uma lín-
gua em relação a outras 24 que lhe são cognatas) são
d) um dos setores que mais apresentam acordos rotina na vida do autor que, em 2000, lançou uma
de cooperação entre Brasil e África atualmente obra “mais 25 evoluída”, segundo sua avaliação: o Di-
é o da agricultura, o que se explica por certa se- cionário Catarinense
melhança entre os solos africanos e os brasilei-
ros, especialmente o cerrado. 26
[...]
27
O trabalho desenvolvido pelos apaixonados por re-

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gionalismos é visto com ressalvas 28 pelos lexicógrafos substantivo e porque não existe uma classe dos
profissionais. Mesmo o termo “dicionário” para iden- “aprendizes de interjeição”.
tificar as obras é 29 contestado, por exemplo, pelo le-
xicógrafo Francisco da Silva Borba, organizador do 30 04. O título Grande Enciclopédia Internacional de
Dicionário Unesp do Português Contemporâneo, que Piauiês (Refs. 4-5), dado ao dicionário elaborado
reúne cerca de 60 mil verbetes. por Paulo José Cunha, revela ao leitor a grande
abrangência e seriedade do trabalho dos lexicó-
31
– Esses trabalhos são, na verdade, vocabulários. grafos amadores.
É o recolhimento de palavras de 32 determinada re-
gião – explica. 08. O emprego dos termos informais “boteco” (Ref.
9) e “papo” (Ref. 10), que destoa um pouco do
33
[...] restante do texto, marcado pelo uso da varie-
dade culta escrita, pode ser explicado em parte
como reflexo do próprio assunto tratado, a in-
formalidade com que Antonio Soares da Fonse-
34
– Eles podem, assim, induzir a erro e oficializar ver- ca Jr. colhe dados para seu dicionário.
sões equivocadas – analisa o 35 lexicógrafo Francisco
Filipak, autor do Dicionário Sociolinguístico do Para- 16. O adjetivo “diletantes” (Ref. 43) funciona no tex-
ná [...]. to como sinônimo de “profissionais” (Ref. 28),
uma vez que o texto aproxima o trabalho dos
autores diletantes, “apaixonados por regionalis-
36
Diferentemente dos demais vocabulários regio- mos”, ao dos lexicógrafos profissionais.
nais, o de Filipak é concebido como um 37 dicionário, 32. As expressões “de fato” (Ref. 37), “à risca” (Ref.
de fato. Após 30 anos de pesquisa, catalogação e se- 38), “grandes dicionários do país” (Ref. 39) e “ri-
leção, ele reuniu os 6 mil 38 verbetes que compõem o gor metodológico” (Ref. 41), assim como a infor-
estudo de 400 páginas. Seguindo à risca a metodolo- mação de que o dicionário de Filipak consumiu
gia dos 39 grandes dicionários do país, Filipak incluiu “30 anos de pesquisa, catalogação e seleção”
todas as designações de cada verbete, citando 40 (linha 37), servem ao mesmo fim argumentati-
suas variações vocabulares típicas só daquela região. vo, que é dar ao leitor uma impressão de solidez
Hoje, com 83 anos, diz desconhecer 41 outro dicioná- científica dessa obra.
rio regional que tenha se guiado pelo mesmo rigor
metodológico.
42
[...] TEXTO: 22 - Comum à questão: 26
43
Mesmo sendo de autores diletantes, os dicionários Leia o seguinte texto, presente na obra Eles eram
regionais são valorizados pelos 44 pesquisadores que muitos cavalos, de Luiz Ruffato.
formulam obras consagradas. Todos constam das
prateleiras das 45 equipes que atualizam os maiores
dicionários da língua.
13. Natureza-morta
BONINO, Rachel. Sotaques no papel. Língua Portuguesa,
ano II, n. 27, p. 18-21. [Adaptado]
A tia girou a chave, empurrou a porta, Ê!, algo a em-
perrava, estranhou. O corpo no ombro direito, a custo
Questão 25 - (UFSC) cedeu, pororoca estraçalhando, arrastando, O quê?
Em algazarra, as crianças, às suas costas, espiavam-
Assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S) com rela- -na, assustadiças, curiosas. Pela fresta, antecipou-se
ção aos fatos de linguagem do texto. a manhã frágil iluminando o quadro de avisos – fel-
tro verde colado sobre uma placa de cortiça – agora
ponte em diagonal ligando o rodapé à maçaneta, ga-
01. O uso das aspas em “dicionários” (subtítulo), ratujas e desenhos ainda assentados com tachinhas.
“dialetologia” (Ref. 22) e “idiotismos” (Ref. 23)
serve para indicar ironia, discordância da auto-
ra em relação ao valor que outros atribuem aos No corredor, onde desaguavam as três salas-de-aula,
termos. gizes esmigalhados, rastros de cola colorida, massi-
nhas-de-modelar esmagadas, folhas de papel sulfite
02. A classificação elaborada por Antonio Soares da estragadas, uma lousa no chão vomitada, trabalhi-
Fonseca Jr. (Refs. 11 e 12), além de informal, é nhos rasgados, pincéis embebidos de fezes que ris-
equivocada, porque o termo “lapada” seria mais caram abstrações nas paredes brancas, pichações
bem enquadrado como verbo do que como
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ininteligíveis, uma garrafa de coca-cola cheia de mijo, televisão? Televisão...televisão é pra poucos, pra
um cachimbo improvisado de crack – a capa de uma uns. (“Fran”)
caneta bic espetada lateralmente num frasco de
Yakult. Ao fundo, a fechadura arrombada, cacos do d) Desci do norte de pau-de-arara. Se o senhor
vidro do basculante, do barro do filtro d’água, marcas soubesse o que era aquilo... Um caminhão ve-
de chutes nas laterais do fogão, panelas e talheres lho, lonado, umas tábuas atravessadas na carro-
amassados. Em correria, gritos atravessam as telhas ceria servindo de assento, a matula no bornal,
francesas, olhos mendigam explicações. rapadura, farinha dias e dias de viagem, meu
deus do céu! Mas posso reclamar não. São Pau-
lo, uma mãe pra mim. Logo que cheguei arrumei
serviço, fui trabalhar de faxineiro numa autope-
Puxada, empurrada, vozes choramingas, “A hortinha, ças em Santo André. (“Táxi”)
a hortinha...”, conduziram a tia ao quintal: à sua fren-
te, fuçadas as leiras, legumes e verduras repisados,
arrancados, enterrados, brotos de cenoura, beterra-
bas, alfaces, couves, tomates, tanto carinho desper- Questão 27 - (UNIFOR CE)
diçado, nunca mais vingariam, as crianças caminhan-
do, com cuidado, por entre os pequenos cadáveres “ No princípio eram as trevas
verdes, olhos baços, e ela, até onde a vista alcança, e o silêncio absoluto.
observa as escandalosas casas de tijolos à mostra, es-
queletos de colunas, lajes por acabar, pipas singran- E veio o primeiro verso:
do o céu cinza, fedor de esgoto, um comichão na pál-
pebra superior esquerda e a solidão e o desespero. Fiat lux!”.

Carlos Vasconcelos

Questão 26 - (UEMG)

A cena descrita na passagem compõe um quadro de De acordo com a intertextualidade presente nesse
miséria e solidão, recorrente nas narrativas de Eles poema, o título mais apropriado para lhe dar seria:
eram muitos cavalos. Esse mesmo quadro pode ser
identificado no trecho:
a) Apocalipse.

a) À mesa minúscula, com a ponta da faca raspa a b) Êxodo.


geleia de morango que resta no fundo do pote
c) Levítico.
e cobre a superfície irregular de uma bolacha
cream cracker. Leva-a à boca. Arremessa lon- d) Gênesis.
ge a bolacha, a faca e o pote vazio, que rola no
carpete sem se quebrar. Merda! Merda! Merda! e) Deuteronômio.
Levanta-se, corre para a sacada. Lágrimas azuis
ameaçam arruinar seu dia Calma Fran, calma!
calam-se escorregando pela garganta Calma,
meu bem, calma. O telefone vai tocar, Fran, já TEXTO: 23 - Comum à questão: 28
já. (“Fran”)
Considere a letra de uma guarânia dos compositores
b) Ontem, quando avisado que seu Aprígio tinha sertanejos Goiá (Gerson Coutinho da Silva, 1935-
passado desta, murcho e sozinho desfiou as 1981) e Belmonte (Pascoal Zanetti Todarelli, 1937-
ruas pobres do Jardim Varginha, garrafa de ca- 1972).
chaça debaixo do sovaco. Houve quem tenha
visto seus passos cambaleantes empurrarem-no
ao encontro da noite áspera, mas só a manhã Saudade de minha terra
surpreendeu o índio esticado sob a marquise de
uma loja de material de construção na Avenida
Santo Amaro, abraçado a um casco branco vazio,
a tudo alheio, a tudo. (“Um índio”) De que me adianta viver na cidade,

c) (...) outros tempos esteve ligada à rede Globo, Se a felicidade não me acompanhar?
papéis secundários em novelas, pontas em es-
peciais, aparições rápidas em programas domi- Adeus, paulistinha do meu coração,
nicais, vilã, ingênua. Chegou a, na rua, ser apon-
Lá pro meu sertão eu quero voltar;
tada, cutucada, mexida, apalpada, você não é da
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Ver a madrugada, quando a passarada, O inhambu piando no escurecer,

Fazendo alvorada, começa a cantar. A lua prateada, clareando a estrada,

Com satisfação, arreio o burrão, A relva molhada desde o anoitecer.

Cortando o estradão, saio a galopar; Eu preciso ir, pra ver tudo ali,

E vou escutando o gado berrando, Foi lá que nasci, lá quero morrer.

Sabiá cantando no jequitibá. (Goiá em duas vozes – o compositor interpreta suas mú-
sicas.
Discos Chororó. CD nº 10548, s/d.)
Por Nossa Senhora, meu sertão querido,

Vivo arrependido por ter te deixado. Questão 28 - (UNESP SP)


Nesta nova vida, aqui da cidade, Aponte um elemento presente no início da última
estrofe que reforça o dado de que o eu lírico se ex-
De tanta saudade eu tenho chorado; pressa numa época anterior à atual. Justifique sua
Aqui tem alguém, diz que me quer bem, resposta.

Mas não me convém, eu tenho pensado,

E fico com pena, mas esta morena Questão 29 - (UFMG)

Não sabe o sistema em que fui criado. Leia estes textos.

Tô aqui cantando, de longe escutando,

Alguém está chorando com o rádio ligado. Texto 1

Que saudade imensa, do campo e do mato, Antes, minha mãe, com muito afago, fatiava o to-
mate em cruz, adivinhando os gomos que os olhos
Do manso regato que corta as campinas. não desvendavam, mas a imaginação alcançava. Isso,
depois de banhá-los em água pura e enxugá-los em
Ia aos domingos passear de canoa pano de prato alvejado, puxando seu brilho para o
lado do sol. Cortados em cruzes eles se transfigura-
Na linda lagoa de águas cristalinas; vam em pequenas embarcações ancoradas na baía
da travessa. E barqueiros eram as sementes, vestidas
Que doces lembranças daquelas festanças,
em resina de limo e brilho. Pousado sobre a língua,
Onde tinha danças e lindas meninas! o pequeno barco suscitava um gosto de palavra por
dizer-se. Há, sim, outras palavras mais doces que o
Eu vivo hoje em dia, sem ter alegria, açúcar.

O mundo judia, mas também ensina. QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Vermelho amargo.
São Paulo: Cosac Naify, 2011. p. 14-
Estou contrariado, mas não derrotado,

Eu sou bem guiado pelas mãos divinas.


Texto 2

Pra minha mãezinha, já telegrafei,


Três. Um tomate se fazia suficiente, agora, para duas
Que já me cansei de tanto sofrer. refeições. Uma metade ela cortava – com seu resto
de fúria – para compor os três impérios do almoço:
Nesta madrugada, estarei de partida um prato do pai, um prato do filho e mais um para
seu espírito santificado pelo ciúme. A outra metade
Pra terra querida que me viu nascer;
do bendito fruto ela preservava para repetir o mes-
Já ouço sonhando o galo cantando, mo ritual no jantar. Dividido por três, um terço do
tomate era destinado ao meu rosário de pesares.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 357
QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Vermelho amargo. O romanceiro amazônico, de uma substância poéti-
São Paulo: Cosac Naify, 2011. p. 64. ca fabulosa, com o mato cheio de ruídos, misturado
com a pulsação das florestas insones, não podia se
acomodar num perímetro de composições medidas.
Os moldes métricos fracionados serviam para dar
1. Considerando o enredo da obra Vermelho amar- expressão às coisas do universo clássico. Mas defor-
go, DISCUTA como se confrontam as imagens da mam ou são insuficientes para refletir com sensibili-
mãe e da madrasta na perspectiva do narrador. dade um mundo misterioso e obscuro em vivências
2. IDENTIFIQUE elementos do texto 2 por meio pré-lógicas. Precisava-se, por isso, romper com as
dos quais o autor aproxima sua prosa da poesia. limitações da processualística do verso, ensaiar qual-
quer coisa em novas escolas de formas (à maneira da
vida vegetal, espontânea), em linguagem solta, em
moldes rítmicos diferentes.
Questão 30 - (UFMG)
BOPP, Raul. Vida e morte da antropofagia. Rio de Janeiro:
Leia estes textos de Raul Bopp. J. Olympio, 1977. p. 12.

Texto 1 1. RELACIONE os dois textos com base na temática


abordada em cada um deles.

2. EXPLICITE, sob o ponto de vista formal, como o


Vou me estirar neste paturá* texto 1 corresponde aos comentários feitos pelo
autor no texto 2.
para ouvir barulhos de beira de mato

e sentir a noite toda habitada de estrelas


Questão 31 - (UFMG)

Leia este texto.


Quem sabe uma delas

com seus fios de prata


Texto 1
viu o rasto luminoso da filha da rainha Luzia?

Linguagem politicamente correta


Dissolvem-se rumores distantes

num fundo de floresta anônima


Era o ano de 1971. Eu fora convidado a fazer uma
conferência no Union Theological Seminary de Nova
Sinto bater em cadência York. Na minha fala, usei a palavra “homem” com o
sentido universal de “todos os seres humanos”, in-
a pulsação da terra cluindo não só os homens, que a palavra nomeava
claramente, como também as mulheres, que a pa-
lavra deixava na sombra. Era assim que se falava no
Brasil.
Silêncios imensos se respondem...

BOPP, Raul. Cobra Norato. Poesia completa. Rio de Janei-


ro: J. Olympio; Depois da conferência, fui jantar no apartamento do
São Paulo: Edusp, 1998. p. 169. presidente. Sua esposa, delicada, mas firmemente,
deu-me a devida reprimenda.

* paturá: lugar de descanso na floresta


“Não é politicamente correto usar a palavra “ho-
mem” para significar também as mulheres. [...] Esse
jeito de falar não foi inventado pelas mulheres. Foi
Texto 2
inventado pelos homens, numa sociedade em que
eles tinham a força e a última palavra. É sempre as-

358 - www.PROJETOREDACAO.com.br
sim: quem tem força tem a última palavra...” ALVES, Rubem. Linguagem politicamente correta. Folha
de S. Paulo,
São Paulo, 16 mar. 2012. Cotidiano, p.C2. Disponível
em:
O que aprendi com aquela mulher naquele jantar é <http://escreverdireitooab.blogspot.com/2010/08/
que as palavras não são inocentes. Elas são armas linguagempoliticamente-
que os poderosos usam para ferir e dominar os fra- correta.html>. Acesso em: 10 mai. 2012.
cos.

[...]
1. Em seu texto, Rubem Alves apresenta uma tese
que se origina de um fato. IDENTIFIQUE essa
A regra fundamental da linguagem politicamente tese e ESPECIFIQUE as críticas por ele feitas nes-
correta é a seguinte: nunca use uma palavra que se texto.
humilhe, discrimine ou zombe de alguém. Encontre
uma forma alternativa de dizer a mesma coisa.
Leia o texto 2.


Não se deve dizer “Ele é aleijado”, “Ele é cego”, “Ele
é deficiente”, etc. O ponto crucial é o verbo “ser”. O TEXTO 2
verbo ser torna a deficiência de uma pessoa parte da
sua própria essência. [...] A linguagem politicamente
correta, ao contrário, separa a pessoa da sua defi-
ciência.

[...] Por exemplo: “Rubem Alves é velho”. Inaceitável.


Porque chamar alguém de velho é ofendê-lo – muito
embora eu não saiba quem foi que decretou que ve-
lhice é ofensa. (O título do livro do Hemingway deve-
ria ser mudado para “O idoso e o mar”?).

As salas de espera dos aeroportos são lugares onde


se pratica a linguagem politicamente correta o tem-
po todo. Aí, então, na hora em que se convocam os
“portadores de necessidades especiais” para embar-
car – sendo as necessidades especiais cadeiras de
roda, bengalas, crianças de colo –, convocam-se tam-
bém os velhos, eu inclusive. 2. Com base em sua leitura, ESTABELEÇA uma re-
lação entre a proposta apresentada no texto 2,
relativamente às personagens de Monteiro Lo-
bato, e uma opinião explicitada por Rubem Al-
Mas, sem saber que palavra ou expressão usar para
ves no texto 1.
se referir aos velhos sem ofendê-los, houve alguém
que concluiu que o caminho mais certo seria chamar
os velhos pelo seu contrário. Assim, em vez de con-
vocar velhos ou idosos pelos alto-falantes, a voz con- Leia o texto a seguir.
voca os cidadãos da “melhor idade”.

TEXTO 3
A linguagem politicamente correta pode se transfor-
mar em ridículo. Chamar velhice de “melhor idade”
só pode ser gozação. É claro que a “melhor idade” é
a juventude.

Quero, então, fazer uma sugestão que agradará aos


velhos. A voz chama para embarcar os cidadãos da
‘idade é terna’. Não é bonito ligar a velhice à ternura?
www.PROJETOREDACAO.com.br - 359
Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/recla- Não são estas as venturosas praias da Arcádia, onde
mes-do-estadao/ o som das águas inspirava a harmonia dos versos.
2010/08/21/boa-aparencia/>. Acesso em: 14 Turva, e feia, a corrente destes ribeiros, primeiro
jun. 2012. que arrebate as ideias de um poeta, deixa ponderar
a ambiciosa fadiga de minerar a terra, que lhes tem
pervertido as cores.
3. O texto 3 é um anúncio publicado no jornal Es- A desconsolação de não poder substabelecer aqui as
tado de São Paulo em 8 de setembro de 1950. delícias do Tejo, do Lima e do Mondego me fez en-
Na atualidade, a leitura desse texto causa estra- torpecer o engenho dentro do meu berço, mas nada
nheza. Com base no tema tratado no texto 1, bastou para [eu] deixar de confessar a seu respeito a
IDENTIFIQUE um problema presente na compo- maior paixão.
sição do texto desse anúncio e JUSTIFIQUE sua
resposta. COSTA, Cláudio Manuel da. Prólogo ao leitor. Obras. In:
Proen ça Filho , D. (org.).
A poesia dos inconfidentes. Poesia completa de
Cláudio Manuel da Costa,
TEXTO: 24 - Comum à questão: 32 Tomás Antonio Gonzaga e Alvarenga Peixoto. Rio de
PORTÃO Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 47.

46 O portão fica bocejando, aberto Texto 2

47 para os alunos retardatários.

48 Não há pressa em viver Dentro dele [Cláudio Manuel da Costa] persistiria,


até o fim da vida, nos sentimentos, nos costumes e
49 nem nas ladeiras duras de subir, nos escritos, a dolorosa divisão entre dois mundos,
em quase tudo irreconciliáveis: o mundo rude dos
50 quanto mais para estudar a insípida cartilha. sertões e o mundo mais polido das vilas e cidades; o
mundo acanhado das colônias ultramarinas e o mun-
51 Mas se o pai do menino é da oposição, do mais culto dos centros urbanos do Reino.
52 à ilustríssima autoridade municipal, MELLO E SOUZA, Laura de. Cláudio Manuel da Costa. São
Paulo:
53 prima por sua vez da sacratíssima
Companhia das Letras, 2011. p. 35.
54 autoridade nacional,

55 ah, isso não: o vagabundo


1. EXPLICITE a comparação, feita no texto 1, en-
56 ficará mofando lá fora tre os rios de Minas Gerais e os rios de Portugal
(Tejo, Lima e Mondego).
57 e leva no boletim uma galáxia de zeros.
2. RELACIONE os dois textos a partir das palavras
“engenho”, no texto 1, e “escritos”, no texto 2.

58 A gente aprende muito no portão

59 fechado. Questão 33 - (ENEM)

ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Para Carr, internet atua no comércio da distração
Carlos Drummond de Andrade: Poesia e Prosa.
Editora Nova Aguilar:1988. p. 506-507. Autor de “A Geração Superficial” analisa a influência
da tecnologia na mente

Questão 32 - (UFMG)
O jornalista americano Nicholas Carr acredita que
Leia os textos. a internet não estimula a inteligência de ninguém.
O autor explica descobertas científicas sobre o fun-
cionamento do cérebro humano e teoriza sobre a in-
fluência da internet em nossa forma de pensar.
Texto 1

360 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Para ele, a rede torna o raciocínio de quem nave- comprimem o tempo e quase eliminam a distância,
ga mais raso, além de fragmentar a atenção de seus a crescente financeirização da riqueza e outras ca-
usuários. racterísticas atuais da expansão capitalista, nos mar-
cos da denominada “produção flexível”, viabilizam a
constituição de um espaço mundial de acumulação
(SANTOS, 1999; VELTZ, 1996; ALONSO, 2000; 15MAT-
Mais: Carr afirma que há empresas obtendo lucro TOS, 2004). Constituiu-se um território em rede, radi-
com a recente fragilidade de nossa atenção. “Quanto calmente distinto do anterior, onde cidades, polos e
mais tempo passamos on-line e quanto mais rápido regiões transformaram-se em pontos e nós dos fluxos
passamos de uma informação para a outra, mais di- de uma rede imensa e articulada, que se superpõem
nheiro as empresas de internet fazem”, avalia. às fronteiras entre diversos países, transformando-
-os em espaços nacionais da economia internacional,
em que grandes empresas valorizam seus capitais em
“Essas empresas estão no comércio da distração um número crescente de áreas e atividades, 20produ-
e são experts em nos manter cada vez mais famintos zindo rápidas mudanças na divisão territorial do tra-
por informação fragmentada em partes pequenas. É balho.
claro que elas têm interesse em nos estimular e tirar
vantagem da nossa compulsão por tecnologia.” Como os fluxos internacionais já não se dirigem
preferencialmente para onde os recursos (e princi-
ROXO, E. Folha de S. Paulo. 18 fev. 2012 (adaptado) palmente o trabalho) são mais baratos, mas para os
países mais ricos e para os grandes polos urbanos,
produz-se um movimento de diferenciação e homo-
geneização que torna o território cada vez mais ho-
A crítica do jornalista norte-americano que justifica o mogêneo 25em grande escala e fracionado em peque-
título do texto é a de que a internet na escala. A hierarquização espacial associada a essa
dinâmica (que integra determinadas áreas e segmen-
tos da população enquanto exclui outros) também é
a) mantém os usuários cada vez menos preocupa- acentuada, na medida em que as articulações entre
dos com a qualidade da informação. os diversos pontos e nós do sistema global tendem a
se tornar mais relevantes para o seu desenvolvimen-
b) torna o raciocínio de quem navega mais raso, to que as antigas relações com suas 30periferias regio-
além de fragmentar a atenção de seus usuários. nais ou nacionais.

c) desestimula a inteligência, de acordo com des- Além disso, com a configuração de uma nova ar-
cobertas científicas sobre o cérebro. quitetura produtiva que supõe dispersão e articula-
ção desses nós em um número crescente de lugares
d) influencia nossa forma de pensar com a superfi- e cujas principais atividades requerem a existência
cialidade dos meios eletrônicos. de um múltiplo conjunto de centralidades para ma-
nejar e materializar o seu desenvolvimento em esca-
e) garante a empresas a obtenção de mais lucro la planetária, a 35globalização vem contribuindo para
com a recente fragilidade de nossa atenção. revitalizar o papel e o crescimento das grandes aglo-
merações metropolitanas. [...]

CARVALHO, Inaiá Maria Moreira de. A crise social das


TEXTO: 25 - Comum à questão: 34
regiões metropolitanas
1
Para compreender a dinâmica urbana do Brasil
brasileiras. In: FELDMAN, Sarah; FERNANDES, Ana. (Org.).
de hoje é indispensável analisar a crise social que
O urbano e o regional no
se abate sobre as nossas cidades, com suas mudan-
ças, conflitos e contradições. Como uma contribui- Brasil contemporâneo: mutações, tensões, desafios. Sal-
ção a essa análise, o presente texto procura discutir vador: EDUFBA, 2007. p. 115-116.
como as transformações associadas à globalização e
à 5reestruturação produtiva implementada desde a
última década de 90 têm impactado sobre as princi-
pais regiões metropolitanas brasileiras, afetando as Questão 34 - (UFBA)
condições de vida da população.
Com base na leitura do texto, é correto afirmar:
Dando início a essa discussão, vale ressaltar como
a dinâmica da globalização vem produzindo mudan-
ças bastante significativas em termos socioeconômi-
01. A crise social que afeta as grandes cidades brasi-
cos e 10espaciais. Como diversos autores têm assina-
leiras apresenta características semelhantes às dos
lado, o desenvolvimento espetacular de técnicas que
centros urbanos emergentes do Período Colonial.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 361
02. Os efeitos da globalização são frágeis e pouco Matara-lhe a inocência, destruíra-lhe a virgindade
perceptíveis no contexto brasileiro. do sentimento, viciara-lhe o coração, sensualizara-
-lhe os sentidos, desvirtuara-lhe a educação, e já lhe
04. O ideal expansionista de mercado dirigia-se, no atirava o nome e o crédito aos insultos das murmura-
passado, sobretudo a locais de mão de obra de ções e da maledicência.
pouco custo.
A influência da mucama escrava produzia seus na-
08. A dinâmica socioeconômica que se processa nas turais resultados. A árvore da escravidão envenenava
metrópoles apresenta-se marcada por dois mo- com seus frutos a filha dos senhores.
vimentos: de homogeneização e de diferencia-
ção. A vítima era por sua vez algoz.

16. Os espaços aparecem, na atualidade, como pon- ______. ______. p. 151.


tos que se articulam numa rede restrita a cada
território.

32. Os problemas sociais dos centros urbanos bra- III.


sileiros requerem uma análise que os enquadre
no cenário da globalização. [...] Aqui, destaca-se a atuação socializadora da
mulher negra servindo de “mãe-preta” no seio da fa-
mília colonial e o tráfico de influências exercido pelo
escravo ladino (aquele que logo aprendia a falar por-
Questão 35 - (UFBA) tuguês) sobre um número maior de ouvintes. Subja-
cente a esse processo, o desempenho sócio-religioso
I. de uma geração de sacerdotisas negras que sobrevi-
veu a toda a sorte de perseguições e preconceitos.
Mas que é na realidade o negro escravo feiticeiro?
Em que consiste a sua faculdade de fazer mal impu- [...]
nemente? Qual é a fonte de sua força, da sua influên-
cia ativa e funesta? [...] Na inevitabilidade desse processo de influências
culturais recíprocas e em resistência a ele, o negro
[...] terminou impondo, de forma mais ou menos subli-
minar, alguns dos mais significativos valores do seu
O feiticeiro não é mais nem menos do que um patrimônio cultural na construção da sociedade na-
propinador de venenos vegetais. [...] cional emergente no Brasil. [...]
[...] É evidente o impacto da herança africana nas
Herbolários tremendos, os escravos feiticeiros mais conhecidas manifestações culturais que foram
têm escondidos no bosque, e sempre à mão, e sem- legitimadas como autenticamente brasileiras e são
pre certos de serem achados, os punhais invisíveis, utilizadas para projetar a imagem do Brasil no exte-
os tiros sem estrépito, os venenos ignorados, com rior, seja no samba, na capoeira, no traje da baiana,
que estragam a saúde, ou apagam a vida daqueles na cozinha à base de dendê, no Candomblé com suas
de quem se querem vingar, ou a quem se resolvem danças e seus ritos. Além disso, a herança africana
a matar. no Brasil tem sido fonte valiosa de criação artística
e literária na promoção internacional de escritores,
MACEDO, Joaquim Manuel de. As vítimas algozes: compositores, artistas plásticos, bailarinos, cineas-
tas, fotógrafos, não só de nacionalidade brasileira.
quadros da escravidão. 4. ed. São Paulo: Zouk, 2005. p.
62. CASTRO, Yeda Passos de. Dimensão dos aportes africanos
no Brasil. In:

BACELAR, Jeferson; PEREIRA, Cláudio. (Org.). Vivaldo da


II. Costa Lima:

A escrava já tinha feito da menina inocente, don- intérprete do Afro-Brasil. Salvador: EDUFBA: CEAO, 2007.
zela maliciosa e sabida de mais do que para sua glória p. 126-127.
podia ignorar ainda por alguns anos.

Da donzela maliciosa fizera depois moça hipócrita


e falaz. Os fragmentos apresentados avaliam a influência
africana na formação da sociedade brasileira.
Da moça hipócrita acabara por fazer indômita na-
moradeira.

362 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Tomando-os como ponto de referência, é correto vestes coloridas resguardam esperanças
15

afirmar:
aguardam a luta

Arma-se a grande derrubada branca


01. O ponto de vista do enunciador a propósito do
Pai-Raiol, no fragmento I, tem alcance restrito à a luta é tramada na língua dos Orixás
personagem referida no texto.
“é aminhã, aminhã”
02. O fragmento II põe em relevo a figura da mulher
negra, considerada a partir de um ponto de vista
20
Malês
antagônico ao sustentado por Yeda Castro, no bantus
fragmento III.
geges
04. Os fragmentos I e II, quando discutem a condi-
ção dos negros na sociedade colonial brasileira, nagôs
identificam-se ao destacarem os efeitos da es-
cravidão. “é aminhã, Luiza Mahin falô”

08. O perfil do escravo construído no fragmento I ALVES, Miriam. Mahin amanhã. In: Quilombhoje (Org.).
adequa-se àquele mostrado no fragmento III. Cadernos

16. O fragmento III, ao discutir a contribuição afri- negros: os melhores poemas. São Paulo: Quilombhoje,
cana para a formação da sociedade brasileira, 1998. p. 104.
dá validade aos pontos de vista enunciados nos
fragmentos I e II.

32. A religião, nos três fragmentos, é valorizada pe- Tendo em vista a temática da obra Cadernos Negros
los benefícios espirituais que produz. — os melhores poemas, pode-se afirmar que, nesse
texto, o sujeito poético

Questão 36 - (UFBA)
01. deixa evidenciada a ideia de que fronteiras étni-
MAHIN AMANHÃ cas e linguísticas dificultam o intercâmbio cultu-
ral entre africanos e afrodescendentes.

02. imagina uma possível união dos negros perten-


Ouve-se nos cantos a conspiração centes a grupos étnicos culturais diferentes na
luta pela defesa da cidadania.
vozes baixas sussurram frases precisas
04. revê criticamente o registro oficial de um fato
escorre nos becos a lâmina das adagas histórico, que envolve a memória dos negros no
Multidão tropeça nas pedras Brasil.

5
Revolta 08. retém imagens auditivas e visuais que recom-
põem o passado transfigurado por meio de uma
há revoada de pássaros representação linguística criativa.

sussurro, sussurro: 16. utiliza o verso “a luta é tramada na língua dos


Orixás” (v. 18) para ressaltar que a cultura e a
“é amanhã, é amanhã. religiosidade africanas transitam no espaço do
sagrado e do não sagrado.
Mahin falou, é amanhã”
32. apresenta imagens e pensamentos inseridos
A cidade toda se prepara
10
numa trama épica em que os protagonistas lem-
bram um passado de glórias.
Malês
64. considera a Revolta dos Malês como um mo-
bantus mento em que grupos negros reagem contra o
geges sistema opressor.

nagôs
Questão 37 - (UFBA)
www.PROJETOREDACAO.com.br - 363
I. Régua e compasso
5
Quem sabe de mim sou eu
1
Alguns anos vivi em Itabira. Aquele abraço!

Principalmente nasci em Itabira. Pra você que me esqueceu

Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Ruuummm!

Noventa por cento de ferro nas calçadas. Aquele abraço!


5
Oitenta por cento de ferro nas almas. 10
Alô Rio de Janeiro

E esse alheamento do que na vida é porosidade e co- Aquele abraço!


municação.
Todo o povo brasileiro

Aquele abraço!
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
GIL, Gilberto. Aquele abraço. Disponível em: <http://
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres letras.terra.
e sem horizontes.
com.br/gilberto-gil/16138/7>. Acesso em: 23 ago.
2011. Fragmento.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,


10
é doce herança itabirana. Leia o poema de Carlos Drummond de Andrade e o
fragmento da canção “Aquele abraço”, de Gilberto
Gil, e teça um comentário sobre a presença da terra
natal na configuração da vida de cada sujeito lírico.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofere-
ço:

este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; Questão 38 - (UFBA)


esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil; I.
este couro de anta, estendido no sofá da sala de vi-
sitas;
O mundo não é o que existe, mas o que acontece
15
este orgulho, esta cabeça baixa...
Dito de Tizangara
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.

Hoje sou funcionário público


II.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
— Vou lá fora pendurar os ossos.
Mas como dói!
Meu pai sempre anunciava a decisão, já no virar
ANDRADE, Carlos Drummond de. Confidência do da porta. Falava como se estivesse sozinho. Era as-
Itabirano. In: MORICONI, Italo (Org.). sim há muitos anos. Como lhe doessem os ossos e
sofresse de grandes cansaços, ele, antes de deitar, se
Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio libertava do esqueleto para melhor dormir.
de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 97-98.
Assim fora, desde há quase uma vida. Nas poucas
noites que partilháramos, tudo se repetia: jantáva-
II. mos em silêncio, conforme sua interdição. Dava mau
azar alguém falar durante a refeição. Se escutavam
Meu caminho pelo mundo apenas os dedos emagrecendo a farinha, molhando
e remolhando a ufa no caril de peixe seco. E ouviam-
Eu mesmo traço -se os mastigares, em flagrante de maxilas. Depois
do jantar, ele se erguia e proclamava a sua intenção
A Bahia já me deu de se desossar. Entrava no escuro e só regressava
364 - www.PROJETOREDACAO.com.br
de manhã, recomposto como orvalho em folha da — Clu.
madrugada. Nunca testemunhei com medo de que
notasse meus desconfios. Assim, tinha por certo ser — Clube.
15

mais uma de suas muitas mentiras. Já antes ele nos


estranhava com seus devaneios. Vivia à razão de ju- Francisca tirou um slide de fora da série. A palavra
ras. de duas letras mas grande na parede. Vários campo-
neses leram juntos:
Ele não se desfazia, quando lhe pedíamos contas.
Respondia devolvendo pergunta: — Eu.

— O nosso corpo é feito de quê? De carne, san- Outro slide e disseram:


gue, águas contidas? — Re.
20

Não, segundo ele, o corpo era feito de tempo. — Pensem em classe e clamor — disse Francisca
Acabado o tempo que nos é devido, termina tam- enquanto colocava o slide com o pronome e o verbo.
bém o corpo. Depois de tudo, sobra o quê? Os ossos.
O não-tempo, nossa mineral essência. Se de alguma — Eu re — disse um camponês.
coisa temos que tratar bem é do esqueleto, nossa tí-
mida e oculta eternidade. — Eu remo! — disse outro.

COUTO, Mia. O último voo do flamingo. São Paulo: Com- — Eu clamo — disse outro.
25

panhia das Letras, 2005. p. 131-132.


— Eu sei professora, eu sei dona Francisca. Eu RE-
CLAMO!

O último voo do flamingo retrata a realidade da Mesmo agora, já habituado a assistir e a ensinar
fictícia Tizangara, onde acontecimentos extraordiná- ele próprio, Nando sentia os olhos cheios d’água,
rios têm lugar. quando diante de um camponês uma coisa ou uma
ação virava palavra. A criança tantas vezes vai fazer
a coisa a comando da palavra. 30Para aqueles campo-
neses tudo já existia menos a palavra.
A partir do pensamento “O mundo não é o que
existe, mas o que acontece” — um dito de Tizangara — De — disse um camponês.
que abre o capítulo inicial do romance de onde foi
extraído o fragmento em análise —, comente o tom — Cla — disseram todos.
de comicidade e o universo mágico que envolvem a
trama desse romance da literatura moçambicana. — Ra — disse um camponês.

— DECLARAÇÃO! — disse outro.

Questão 39 - (UFBA) CALLADO, Antônio. QUARUP. 1. ed. especial. Rio de Ja-


neiro: Nova Fronteira, 2006. p. 355-357.
Só muito mais tarde é que Nando localizou no dia
da lição do cla, cle, cli o princípio da diluição da noz
de egoísmo que no seu peito era a pequena mas por-
O fragmento transcrito, contextualizado no romance
tentosa usina de atrair Francisca. No momento foi as-
Quarup, evidencia a palavra enquanto arma ideoló-
sim feito uma vertigem. A salinha escura. O projetor
gica transformadora da realidade brasileira.
jorrando luz na parede caiada, na mão de Francisca
5
que mudava um slide, no cabelo de Francisca. A luz
do projetor de volta da parede acendendo a cara dos
camponeses. Repetindo por fora o trabalho de escul- Apoiando-se em elementos da narrativa, explique
tura que a palavra fazia por dentro. como isso é trabalhado na obra.
— Cla — disse o camponês.

— Classe clamor — disse Francisca. Questão 40 - (UFBA)


10
— Cle. Em 20 de junho de 1969, a chegada do homem à
Lua.
— Clemência.
Numa festa na Embaixada dos Estados Unidos, as
— Cli. pessoas conversam sobre a conquista norte-america-
na:
— Clima.

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JOHN: — Adeus Sputniks e Gagarins. Este é o me-
lhor programa de TV que eu já vi. Custou apenas cen-
to e oitenta milhões de dólares. TEXTO: 26 - Comum à questão: 41

EMBAIXADOR ELBRICK: — Você é o homem mais TEXTO I


cínico...

JOHN: — Os Estados Unidos demonstrando po-


der. É um ato político, nada mais.
1
Eu estava deitado num velho sofá amplo. Lá fora, a
chuva caía com redobrado rigor e ventava fortemen-
EMBAIXADOR ELBRICK: — Está errado, John. É te. 2A nossa casa frágil parecia que, de um momento
uma grande vitória para o mundo todo. para outro, ia ser arrasada. Minha mãe ia e vinha de
um quarto 3próximo; removia baús, arcas; cosia, fu-
JOHN: — É uma cortina de fumaça para a surra ticava. Eu devaneava e ia-lhe vendo o perfil esquáli-
que estamos levando no Vietnam. Na minha opinião, do, o corpo magro, 4premido de trabalhos, as faces
Senhor, essa história de conquistar a lua é o cúmulo cavadas com os malares salientes, tendo pela pele
do mau gosto. parda manchas escuras, 5como se fossem de fumaça
entranhada. De quando em quando, ela lançava-me
Em outra cena: os seus olhos aveludados, 6redondos, passivamente
bons, onde havia raias de temor ao encarar-me. Su-
FERNANDO: — Bom, vamos deixar a Lua e voltar pus que adivinhava os perigos que 7eu tinha de pas-
para a Terra. A situação está muito ruim. Estamos sar; sofrimentos e dores que a educação e inteligên-
completando seis meses de imprensa censurada, a cia, qualidades a mais na minha frágil 8consistência
direita se instalou no poder e não dá nenhum sinal de social, haviam de atrair fatalmente. Não sei que de
que vai sair. Nós queremos saber, Artur, o que é que raro, excepcional e delicado, e ao mesmo 9tempo pe-
você pretende fazer a respeito. rigoso, ela via em mim, para me deitar aqueles olha-
ARTUR: — Eu? res de amor e espanto, de piedade e orgulho.

CÉSAR: — É, você. Eu e Fernando vamos pra luta LIMA BARRETO. Recordações do escrivão Isaías Caminha.
armada. A gente quer saber se você também vai. Rio de Janeiro; Belo Horizonte: Livraria Garnier,
1989. p.26-27.
ARTUR: — Vocês tão brincando...

CÉSAR: — Não, estamos falando sério.

ARTUR: — Quantos tiros você já deu na vida, Cé-


sar? Responde. Quantos tiros você já deu? Já matou TEXTO II
algum passarinho?

CÉSAR: — Posso aprender. TEIA de aranha, galho seco da roseira,


ARTUR: — Você é seminarista. Você está queren- quem sou?
do me dizer agora que vai enfrentar os militares de
arma na mão? Se você quer se suicidar, é melhor se Luz calçada em alpargatas de prata
suicidar, é melhor se jogar pela janela. É mais fácil.
rapta as flores da fronha,
O QUE é isso, companheiro? Filme: longa metragem. Bra-
sil, 1997. quem sou?

Drama. Roteiro de Leopoldo Serran, baseado em livro Pássaro que mora na neblina
homônimo
destila seu canto de água limpa
de Fernando Gabeira. Produção: Luiz Carlos Barreto Pro-
duções. – longe, sozinho –

me diga quem sou.

O compromisso social do artista tem sido objeto ROQUETTE-PINTO, Claudia. Corola. São Paulo: Ateliê Edi-
de debates na sociedade contemporânea. torial, 2000. p. 67.

Com base no fragmento, contextualizado na obra,


discuta como tal compromisso se manifesta no filme
“O que é isso, companheiro?”, de Luiz Carlos Barreto.

366 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 41 - (UFF RJ) A flor e a náusea

No texto I, as ações e a caracterização da persona- Carlos Drummond de Andrade


gem da mãe são apresentadas de acordo com a visão
do narrador. Para isso contribuem não só a narração
em 1a pessoa, mas também o emprego abundante
de verbos e adjetivos. [...]

a) Comente o efeito criado pela sequência de ver- Uma flor nasceu na rua!
bos em relação ao comportamento da persona- Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do trá-
gem, na seguinte passagem: fego.

Uma flor ainda desbotada


“Minha mãe ia e vinha de um quarto próximo; ilude a polícia, rompe o asfalto.
removia baús, arcas; cosia, futicava.” (refs. 2-3)
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
b) Explique, na passagem a seguir, a relação entre
a escolha dos adjetivos e locuções adjetivas e a garanto que uma flor nasceu.
caracterização dos sentimentos experimentados
pela mãe em relação ao filho. (1,0 ponto)

Sua cor não se percebe.

“Não sei que de raro, excepcional e delicado, e Suas pétalas não se abrem.
ao mesmo tempo perigoso, ela via em mim, para
me deitar aqueles olhares de amor e espanto, Seu nome não está nos livros.
de piedade e orgulho.” (linhas 8-9)
É feia. Mas é realmente uma flor.

TEXTO: 27 - Comum à questão: 42


Sento-me no chão da capital do país às cinco horas
Texto 1 da tarde

A taça florida e lentamente passo a mão nessa forma insegura.


Câmara Cascudo
Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-
-se.

Natal é uma cidade sem flores. Falta dagua. Terra de Pequenos pontos brancos movem-se no mar, gali-
taboleiro muito mais para mangaba que para flor. Bri- nhas em pânico.
za quente do mar. Sopro do rio salgado. Lagôas no
meio da cidade que infiltravam salôbridades. Não ha É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo
flores. Melhor é dizer que já não ha. Lembro-me de e o ódio.
Natal cheia de jardins. Uma quase obrigação de cul-
ANDRADE, Carlos Drummond de. A flor e a náusea. In:
tivar os palmos de terrinha que se estendiam depois
_____. Nova
do portão. Era um encanto andar em certas ruas. As
cercas vestidas de jasmim branco davam vontade de reunião: 23 livros de poesia. v. 1. Rio de Janeiro: Bestbol-
fazer soneto. [...] so, 2009. p. 143-144.
CASCUDO, Luís da Câmara. A taça florida. In: ARRAIS,

Raimundo (Org.). Crônicas de origem: a cidade do Natal


nas crônicas

cascudianas dos anos 20. Natal, RN: EDUFRN, 2005. p.


119-121.

Texto 2

www.PROJETOREDACAO.com.br - 367
Texto 3 tanto conservador em seus hábitos, não é pessoa fá-
cil de persuadir.[...]

(GELHARDTD, Dinaê. Astro-Signos: Leão.s.n. Editora Eko,


Cartão-postal da cidade do Natal s.n., p.10-11)

A diversidade linguística não se manifesta apenas nas


diferenças regionais e sociais de expressão, mas tam-
bém em cada falante, em diferentes momentos de
sua vida e de seu cotidiano. Do ponto de vista for-
mal, a variedade da linguagem não se estabelece por
acaso ou simplesmente por força da nossa vontade
individual. Ao contrário, ela nasce e faz sentido no in-
terior das inúmeras atividades verbais de nosso con-
texto sociocultural. Desta forma, avalie as afirmativas
com relação ao texto de Dinaê Gelhardtd.

I. O texto tem a intenção de seduzir o leitor.

II. O texto pode ser encontrado em livros de autoa-


Questão 42 - (UFRN) juda.
Nos textos 1, 2 e 3, o espaço urbano é focalizado sob III. O texto pode ser encontrado nas programações
diferentes olhares. A partir da leitura de cada um dos de rádio.
textos, é correto afirmar que
IV. O texto explica a importância da personalidade
dos nascidos sob o signo de leão.
a) a crônica aborda o cotidiano da cidade construí- V. O texto apresenta verdades comprovadas cienti-
do pela memória a partir da relação entre épo- ficamente.
cas distintas.

b) o poema retrata subjetivamente o cotidiano da


cidade a partir de um olhar imparcial sobre sua Marque a opção correta:
realidade.

c) o poema e o cartão-postal apresentam um olhar


fidedigno acerca do cotidiano bucólico da cida- a) Apenas itens I, II, e III são verdadeiros.
de.
b) Apenas itens I e II são verdadeiros.
d) a crônica e o cartão-postal mostram imagens
c) Apenas itens II, III e V são verdadeiros.
idealizadas do cotidiano da cidade construídas
pela memória. d) Apenas item II é verdadeiro.

e) Apenas item III é verdadeiro.


Questão 43 - (UNIFOR CE)

[...] o caminho de Leão está dentro dele mesmo, em- Questão 44 - (UNIFOR CE)
bora os frutos de sua busca possam ser aclamados
pelo mundo todo. A descoberta mais importante é O QUE FAZ VOCÊ FELIZ?
que “algo” dentro dele é capaz de oferecer imagens
criativas através de seu espírito e de suas mãos. [...]
Em Leão, predomina o fogo, elemento de forma va-
riável que traz luz à escuridão. Isto equivale a dizer Sentado na frente da televisão, a propaganda do
que é ativo, com forte personalidade e inerente ins- hipermercado me interpela: “O que faz você feliz?”.
tabilidade, entusiasta, alegre, ardente, criativo, vigo- Ouço o poema de Arnaldo Antunes, declamado em
roso, confiante em si mesmo, destemido, combativo sua voz grave, enquanto acompanho com olhar sur-
e aventureiro. E ainda consegue rápidos resultados preso o brilho da felicidade publicitária, invadindo a
através de sua perseverança e determinação. Um sala, meu coração e minha mente. O desejo de pos-

368 - www.PROJETOREDACAO.com.br
suir aquela felicidade instala-se e eu sou capaz de e) G-20 promete apoio a bancos durante crise in-
responder que tudo aquilo que ali se diz me faz feliz. ternacional
[...]

É assim que a vida se apresenta no mundo em


que as coisas de hoje já se tornaram obsoletas TEXTO: 28 - Comuns às questões: 46, 47
amanhã, assim como a felicidade de ter agora o
último modelo de celular, o tênis da hora ou a roupa Versos de Natal
da moda transforma-se em insatisfação garantida
no instante em que ter deixou de ser desejo para se
materializar na coisa desejada. [...] É o círculo vicioso Espelho, amigo verdadeiro,
por onde escorre a vida em suaves prestações. [...]
Somos consumidos pelo consumo e, vez ou outra, lá Tu refletes as minhas rugas,
no fundo, uma voz nos interpela: é isso que me faz
feliz? É para isso que vivo? Os meus cabelos brancos,

Ricardo Fiegenbaum. O que faz você feliz? Revista Os meus olhos míopes e cansados.
Mundo Jovem, ano 47, nº 401, out.2009.
Espelho, amigo verdadeiro,

Mestre do realismo exato e minucioso,


Segundo o texto, pode-se deduzir que:
Obrigado, obrigado!

a) Na concepção do autor, no círculo vicioso em


Mas se fosses mágico,
que somos consumidos pelo consumo, uma voz
nos diz: é isso que me faz feliz. Penetrarias até o fundo desse homem triste,
b) O autor defende a ideia de consumir, pois lem- Descobririas o menino que sustenta esse homem,
bra que as coisas mais simples dão valor à vida e
trazem felicidade. O menino que não quer morrer,
c) O poder de ter o último modelo de celular, de Que não morrerá senão comigo,
tênis ou roupa da moda transforma-se em satis-
fação, pois o desejo se materializou. O menino que todos os anos de véspera do Natal

d) A propaganda citada no texto está ligada ao Pensa ainda em pôr seus chinelinhos atrás da porta.
ideal de consumo e para isso associa a imagem
de ser feliz às coisas simples da vida. (Manuel Bandeira)

e) A vida é mais leve quando se compra e paga-se


em suaves prestações.

Questão 45 - (ESPM RS)

Das manchetes abaixo, sem contextualização, uma


apresenta duplo sentido. Assinale-a:

a) Manifestantes protestam contra a corrupção


nas ruas de Porto Alegre

b) Ministro dos Esportes se defende de acusação


de desvio de verba Questão 46 - (ESPM RS)
c) Brasil participa da abertura dos Jogos Pan-Ame- Depreende-se do texto que:
ricanos com 270 atletas

d) Analistas reconhecem que a desaceleração da


economia é maior que o esperado a) à medida que envelhecemos, tornamo-nos cé-
ticos e irônicos em face dos ideais que outrora
www.PROJETOREDACAO.com.br - 369
buscamos. Questão 48 - (FGV )

b) a maturidade liberta-nos das sensações de so- Diferentemente do que ocorria na referida seção da
nho experimentadas na infância. revista Manchete e ocorre também no texto acima,
nos quais o assunto é a poesia, a maioria das crônicas
c) só o ocultismo poderia desvendar nossos senti- de Rubem Braga baseava-se no seguinte tema:
mentos internos e profundos.

d) a chegada à velhice é sempre um retorno ao


mundo de fantasias da criança. a) fatos pitorescos da História do Brasil.

e) as emoções passadas podem sobreviver aos b) episódios extraídos da vida cotidiana.


desgastes do tempo e persistir dentro de nós.
c) críticas à prática da corrupção na sociedade bra-
sileira.

Questão 47 - (ESPM RS) d) relatos do anedotário brasileiro.

As duas estrofes apresentam, respectivamente, e) especulações filosóficas sobre a fugacidade da


ideias de: vida.

a) comparação e recordação; causalidade e tem- TEXTO: 30 - Comum à questão: 49


poralidade.
OS CAVALINHOS CORRENDO...
b) realidade e exterioridade; imaginação e interio-
ridade.

c) imaginação e introspecção; consecutividade e


1
- Eu não queria que terminasse assim.
extrospecção. 2
Ouvi muitas vezes a frequentadores de cinema
d) temporalidade e causalidade; introspecção e esse comentário ao filme a que acabavam de 3assis-
realidade. tir. A fita lhes agradara até certo trecho, ia tudo muito
bem... mas findava de um jeito que 4desiludira o es-
e) fidelidade e crítica; sonho e ingenuidade. pectador. E, mais poderosa que tudo, erguia-se, dura
e inflexível, a sua inconformação:
5
- Eu não queria que terminasse assim.
TEXTO: 29 - Comum à questão: 48
6
Isto me ocorre a propósito de um poema - o
“A poesia é necessária” “Rondó dos Cavalinhos”, de Manuel Bandeira. 7Tam-
bém na poesia, que é vida, e vida funda, há da parte
do leitor o direito de querer torcer a direção 8das coi-
Título de uma antiga seção do velho [Rubem] Bra- sas, para ajeitá-las ao mundo particular da sua sen-
ga na Manchete. Pois eu vou mais longe ainda do que sibilidade. O leitor de poesia pode muito 9bem não
ele. Eu acho que todos deveriam fazer versos. Ainda querer que o poema tenha acabado assim... E pode
que saiam maus, não tem importância. É preferível, até não querer que o poeta haja sentido 10ou pensa-
para a alma humana, fazer maus versos a não fazer do assim como pensou ou sentiu.
nenhum. O exercício da arte poética representaria, 11
Este último caso é o meu em relação àquele
no caso, como que um esforço de autossuperação. poema de Bandeira. Uns versos batizados “Rondó
É fato consabido que esse refinamento do estilo
12
dos Cavalinhos” e que principiam desta maneira:
acaba trazendo necessariamente o refinamento da 13
“Os cavalinhos correndo”...
alma.
14
- que lembrança viriam suscitar em mim? A de
Sim, todos devem fazer versos. Contanto que não uma corrida de pequenos cavalos, ou mesmo de 15ca-
venham mostrar-me. valos grandes liricamente reduzidos a cavalinhos?
Mário Quintana. Na volta da esquina. Porto Alegre: Glo- Não. O que esses versos num momento me 16trou-
bo, 1979. xeram aos olhos foram os cavalinhos do carrossel,
aqueles cavalinhos de pau, firmemente presos, 17e
em que, no entanto, a gente realizava as mais prodi-
giosas viagens, imensas viagens circulares 18obrigadas

370 - www.PROJETOREDACAO.com.br
a música de harmônica, e com paisagens humanas IV. O fato de o autor declarar que fazia “fantásticas
– pessoas que em redor nos fitavam, 19encantadas, viagens” em “cavalinhos de pau, firmemente
talvez invejosas. presos” justifica o uso do conectivo “no entan-
to” (ref. 17).
Ora, a imaginação, escanchada nesses cavali-
20

nhos da meninice não quis mais apear-se, não ouviu


21
o apito que anunciava o fim da corrida. A corrida
era longa, muito longa, sem fim: “Os cavalinhos 22cor- Está de acordo com o que diz o texto apenas o que
rendo”... E, ao passo que o mundo se enchia desse se afirma em
lirismo infantil, a gente grande, os homens 23feitos
e práticos, alheios a cavalinhos, comiam, grosseiros
como cavalões: “E nós, cavalões, comendo”... a) I e II.
Ora, Manuel Bandeira, o suposto dono do poe-
14
b) II e III.
ma, disse-me que este nada tem que ver com os 25ca-
valinhos de carrossel; refere-se aos cavalos do Jóquei c) II e IV.
Clube. Os versos foram escritos após um 26almoço de
despedida a Alfonso Reyes no restaurante do hipó- d) I e IV.
dromo da Gávea. Enquanto se 27banqueteavam, os
cavalões assistiam à corrida dos cavalos de carne e e) I, III e IV.
osso, a alguma distância. 28Naturalmente a distância,
aliada à ternura pelos bichos que se matavam para
gozo ou proveito dos 29homens, apequenava-os poe- Questão 50 - (FGV )
ticamente em cavalinhos. E, vendo aquilo, Bandeira
teria começado a 30ver também o mundo correr, gi- Leia atentamente este breve texto de Millôr Fernan-
rar, como giravam os animais na pista. des, constituído de um título e de apenas duas frases:
Assim, ou mais ou menos assim, se formou o
31

poema na fantasia de Bandeira. São estes os seus


32
cavalinhos. Reflexão Pós-Muro

Assim como assim, se há um poema carregado


33 Derrubar os heróis é fácil. Difícil é destruir os pedes-
de sugestões líricas bastantes para lhe 34assegurarem tais.
grande colaboração leitores, será esse “Rondó dos
Cavalinhos”.

Aurélio Buarque de Holanda. http://www. Academia.org. A correta leitura desse texto permite afirmar que,
br/abl . Adaptado.

a) a partir de um determinado fato histórico, o au-


Questão 49 - (FGV ) tor transmite uma mensagem em tom prover-
bial.
Considere as seguintes afirmações sobre essa crôni-
ca. b) se os verbos “derrubar” e “destruir” trocarem
de posição nas frases, o texto passará a consti-
tuir um paradoxo.

I. O início do poema de Bandeira, devido ao seu c) com base na observação do cotidiano, o autor
teor de lirismo, agradara ao autor da crônica, afirma que a queda dos mitos traz como conse-
mas seu final o frustrara. quência o fim das ideias que os acompanham.

II. No trecho “a imaginação (...) não ouviu o apito d) por não haver relação de sentido entre o título e
que anunciava o fim da corrida” (ref. 20 e 21), as duas frases seguintes, o texto pode ser consi-
por meio da personificação, o cronista afirma derado um exemplo de nonsense.
que não quis ouvir a explicação contida no ante-
penúltimo parágrafo. e) ao contrário do que ocorre com a palavra “he-
róis”, o termo “pedestais” deve ser entendido
III. Na expressão “suposto dono do poema”, o autor apenas em seu sentido literal.
do texto insinua que Manuel Bandeira poderia
não ser o verdadeiro autor de “Rondó dos cava-
linhos”.
TEXTO: 31 - Comum à questão: 51

www.PROJETOREDACAO.com.br - 371
Leia o seguinte texto sobre a ópera O Guarani, de b) a figuração de uma gênese do Brasil, que con-
Carlos Gomes: juga elementos históricos, ficcionais e mitológi-
cos.

c) o texto inaugural do Indianismo, estética funda-


Desde a chegada à Europa, Carlos Gomes idealizava dora de uma sensibilidade autenticamente na-
o projeto de uma obra de maior vulto1, que precisaria cional.
ser enviada ao Brasil como contrapartida pela bolsa
recebida do governo. A essa altura, seus biógrafos d) as matrizes da arte operística, constituídas elas
relatam2 que, com saudades do Brasil, Gomes pas- próprias de materiais épicos, líricos e dramáti-
seava sozinho pela Piazza del Duomo, quando ouviu cos.
o anúncio de um vendedor ambulante: “Il Guarany,
Storia del Selvaggi del Brasile”. Tomado de susto pela e) a tradição operística brasileira, que já durante o
coincidência, conta-se que comprou ali mesmo a tra- Arcadismo mineiro produzira óperas de enredo
dução do livro de Alencar, certo de que aquele era indianistas.
um sinal: sua nova obra deveria se voltar às origens.
A narrativa serve bem à construção dos mitos em
torno do compositor, mas o fato é que não há regis- TEXTO: 32 - Comum à questão: 52
tro oficial algum3 do episódio, pelo contrário: cartas
e documentos mostram que, ao partir para a Itália, Sua excelência
Carlos Gomes já pensava em “O Guarani” como tema
para uma nova obra. Se ele comprou uma versão ita-
liana do romance foi apenas para facilitar o trabalho
do libretista Antonio Scalvini. [O ministro] vinha absorvido e tangido por uma
chusma de sentimentos atinentes a si mesmo que
O romance de José de Alencar tinha todos os in- quase lhe falavam a um tempo na consciência: orgu-
gredientes de um bom libreto: o triângulo amoroso, lho, força, valor, satisfação própria etc. etc.
a luta entre o bem e o mal e cenas dramáticas e vi-
sualmente fortes. Não havia um negativo, não havia nele uma dú-
vida; todo ele estava embriagado de certeza de seu
No dia 2 de dezembro de 1870, o escritor José de valor intrínseco, das suas qualidades extraordinárias
Alencar caminhou pelas ruas do Rio de Janeiro até o e excepcionais de condutor dos povos. A respeito-
Teatro Lírico a fim de acompanhar a estreia brasileira sa atitude de todos e a deferência universal que o
da ópera baseada em seu romance mais famoso, pu- cercavam, reafirmadas tão eloquentemente naquele
blicado em 1857. Ao fim do espetáculo, a intensa ova- banquete, eram nada mais, nada menos que o sinal
ção não foi suficiente para fazer o escritor esquecer da convicção dos povos de ser ele o resumo do país,
algumas restrições com relação à adaptação. Anos vendo nele o solucionador das suas dificuldades pre-
depois, em suas memórias, ele se resignaria: “Des- sentes e o agente eficaz do seu futuro e constante
culpo-lhe, porém, por tudo, porque daqui a tempos4, progresso.
talvez por causa das suas espontâneas e inspiradas
melodias, não poucos hão de ler esse livro5, senão Na sua ação repousavam as pequenas esperanças
relê-lo – e maior favor não pode merecer um autor”. dos humildes e as desmarcadas ambições dos ricos.
Alencar não estava errado. A ópera não apenas aju-
Era tal o seu inebriamento que chegou a esquecer
dou a manter viva a fama do romance como se tor-
as coisas feias do seu ofício... Ele se julgava, e só o
nou símbolo máximo da obra de seu compositor.
que lhe parecia grande entrava nesse julgamento.
Coleção Folha Grandes Óperas. São Paulo: Moderna,
As obscuras determinações das coisas, acertada-
2011. Adaptado.
mente, haviam-no erguido até ali, e mais alto levá-
-lo-iam, visto que, só ele, ele só e unicamente, seria
capaz de fazer o país chegar ao destino que os ante-
Questão 51 - (FGV ) cedentes dele impunham.

Voltar “às origens”, sublinhado no texto, tendo como (Lima Barreto. Os bruzundangas. Porto Alegre: L&PM,
base o romance O Guarani, de José de Alencar, signi- 1998, pp. 15-6)
fica, para Carlos Gomes, retomar

Questão 52 - (FGV )
a) o livro que dá início à história do romance brasi-
leiro, inaugurando a prosa de ficção em nossas Na frase – A respeitosa atitude de todos e a deferência
Letras. universal que o cercavam… –, a palavra destacada pode
ser substituída, sem prejuízo do sentido original, por
372 - www.PROJETOREDACAO.com.br
a) constrição. TEXTO: 34 - Comum à questão: 54

b) consideração. Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora,


1

todas as manhãs, uma xícara de café bem grosso,


c) distância. à moda da Ritinha, e tragava dois dedos de parati
“pra cortar a friagem”.
d) discriminação.
Uma transformação, lenta e profunda, operava-
5
e) defesa. -se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o
corpo e alando-lhe os sentidos, num trabalho mis-
terioso e surdo de crisálida. A sua energia afrouxa-
TEXTO: 33 - Comum à questão: 53 va lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso.
A vida americana e a 10natureza do Brasil patentea-
Leia o seguinte trecho de uma entrevista concedida vam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que
pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos
Barbosa: de ambição, para idealizar felicidades novas, picantes
e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e fran-
co, mais amigo de gastar que 15de guardar; adquiria
desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se pre-
Entrevistador: – O protagonismo do STF dos últi-
guiçoso, resignando-se, vencido, às imposições do
mos tempos tem usurpado as funções do Congresso?
sol e do calor, muralha de fogo com que o espírito
Entrevistado: – Temos uma Constituição muito eternamente revoltado do último tamoio entrinchei-
boa, mas excessivamente detalhista, com um nú- rou a pátria contra os conquistadores 20aventureiros.
mero imenso de dispositivos e, por isso, suscetível
E assim, pouco a pouco, se foram reformando to-
a fomentar interpretações e toda sorte de litígios.
dos os seus hábitos singelos de aldeão português: e
Também temos um sistema de jurisdição constitucio-
Jerônimo abrasileirou-se. (...)
nal, talvez único no mundo, com um rol enorme de
agentes e instituições dotadas da prerrogativa ou de E o curioso é que, quanto mais ia ele caindo nos
competência para trazer questões ao Supremo. É um 25
usos e costumes brasileiros, tanto mais os seus sen-
leque considerável de interesses, de visões, que aca- tidos se apuravam, posto que em detrimento das
ba causando a intervenção do STF nas mais diversas suas forças físicas. Tinha agora o ouvido menos gros-
questões, nas mais diferentes áreas, inclusive dando seiro para a música, compreendia até as intenções
margem a esse tipo de acusação. Nossas decisões poéticas dos sertanejos, quando cantam à viola os
não deveriam passar de duzentas, trezentas por ano. seus 30amores infelizes; seus olhos, dantes só volta-
Hoje, são analisados cinquenta mil, sessenta mil pro- dos para a esperança de tornar à terra, agora, como
cessos. É uma insanidade. os olhos de um marujo, que se habituaram aos lar-
gos horizontes de céu e mar, já se não revoltavam
Veja, 15/06/2011.
com a turbulenta luz, selvagem e alegre, do Brasil, e
abriam-se amplamente 35defronte dos maravilhosos
despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras sem
Questão 53 - (FUVEST SP) fim, donde, de espaço a espaço, surge um monarca
gigante, que o sol veste de ouro e ricas pedrarias re-
No trecho “dotadas da prerrogativa ou de competên- fulgentes e as nuvens toucam de alvos turbantes de
cia”, a presença de artigo antes do primeiro substan- cambraia, num luxo oriental de arábicos 40príncipes
tivo e a sua ausência antes do segundo fazem que o voluptuosos.
sentido de cada um desses substantivos seja, respec-
tivamente, Aluísio Azevedo, O cortiço.

a) figurado e próprio. Questão 54 - (FUVEST SP)

b) abstrato e concreto. Um traço cultural que decorre da presença da escra-


vidão no Brasil e que está implícito nas considerações
c) específico e genérico. do narrador do excerto é a
d) técnico e comum.

e) lato e estrito. a) desvalorização da mestiçagem brasileira.

b) promoção da música a emblema da nação.

www.PROJETOREDACAO.com.br - 373
c) desconsideração do valor do trabalho. ta de que a locomotiva que conduz apresenta sérias
avarias. O maquinista tem de assumir ou não o risco
d) crença na existência de um caráter nacional bra- do acidente regenerador. A assombrar o planejamen-
sileiro. to do futuro livro, o descarrilamento estético pode re-
vigorar a obra literária à beira da insipidez. Tramas e
e) tendência ao antilusitanismo. personagens criados em obras anteriores morrem no
desastre anunciado, que gera a fagulha propulsora
da criação ousada, cuja escrita será um risco. Em vir-
Questão 55 - (IBMEC SP Insper) tude do ramerrame em que a locomotiva vinha sendo
conduzida, os olhos do leitor crítico, já tomados pela
malícia, serão surpreendidos. O julgamento sairá es-
tampado nos jornais.

(SANTIAGO, Silviano. O Estado de São Paulo,


17/08/2011)

No texto acima, o autor recorre à alegoria para argu-


mentar

a) que os escritores devem evitar a ousadia para


(Folha de São Paulo, 03/08/2011) garantir aprovação.

b) a favor da necessidade de se programar uma li-


teratura moderna e globalizada.
Considerando-se os elementos verbais e visuais da
charge, conclui-se que o humor decorre do(a) c) contra o mercado editorial contemporâneo que
não dá espaço aos jovens escritores.

d) a favor da criação de um movimento literário


a) crítica despropositada feita a um livro conside- que despreze planejamento.
rado um clássico da literatura universal.
e) que transcender velhos clichês literários e ino-
b) duplo sentido que a palavra “barata” adquire no var envolve riscos.
contexto do último quadrinho da tirinha.

c) ambiguidade do substantivo “impressão”, pre-


sente no segundo quadrinho. TEXTO: 35 - Comum à questão: 57

d) explícita referência intertextual que ocorre no 1


[...] E tenho encontrado homens bons de ser-
primeiro quadrinho da tira. viço que você nem acredita. Altair mesmo foi um
desses. Quando começou a trabalhar comigo não co-
e) traço caricatural das personagens que as aproxi- nhecia nem um parafuso da Mercedinha, que era o
ma do conteúdo do livro mencionado. caminhão que a gente usava lá na Rio-Bahia. E ele,
com aquele jeito de ficar rindo e passando o pente
no cabelo, foi aprendendo, aprendendo, que no fim
Questão 56 - (IBMEC SP Insper)
5
conhecia o carro igual a mim. E dava tão certo a gen-
te trabalhar um com o outro que, quando um carro
Se apresentar problema mecânico, trem de ferro des- enguiçava, eu mandava o motorista ir trabalhar num
carrila. O desastre é escândalo e noticiado em todos dos nossos, e nós dois resolvíamos o caso num ins-
os meios de comunicação de massa. Em fins de julho, tante. A gente trabalhava junto sem um atrapalhar o
na China, dois vagões de um trem saíram do trilho e que o outro estava fazendo. Até no escuro, sem luz,
despencaram lá do alto do viaduto. 32 pessoas mor- a gente trabalhava. Passamos muito tempo juntos
tas. Semelhante à escultura de José Resende, a foto e fizemos muita coisa que ele estava lembrando lá
do acidente é trágica e bela. No entanto, desacredi- na casa dele. Como aquele 10negócio da dona Olga,
tou em parte um bem montado programa de moder- e que eu estava achando que não era coisa para ele
nização do país asiático. ficar falando ali na frente da mulher dele. E falando
como se a coisa fosse só comigo e que, na verdade,
Quando a obra de artista ambicioso vem bambolean- havia sido ele quem ficara como se fosse o dono da
do na bitola estreita da mesmice, ele deve dar-se con- casa da dona Olga. Fora ele quem, no fim, tomara

374 - www.PROJETOREDACAO.com.br
conta e quem ficara mandando, e até dizendo quanto Fui recebido por todos com evidente indelicadeza.
1

a gente tinha que pagar. E tudo tinha sido ideia dele. A explicação de que me apaixonara não foi suficiente.
Silvana seria, apenas, o nome de uma mulher?
FRANCA JUNIOR, Oswaldo. Jorge, um brasileiro.
10ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, pp. Não me recordo bem como parei nesse lugar. Pa-
85/86. rece que, no fim da primavera (ou era no começo?),
quando abandonei meu sexto filho, fascinou-me o
som de uma música 5profana. Segui a melodia até
à beira do rio, tendo, na ocasião, me impressionado
Questão 57 - (UDESC SC) com o curso natural de uma folha amarela.
Analise as proposições, tendo como base a obra Jor- Sobre a folha, coloquei o pé esquerdo. Ele dimi-
ge, um brasileiro e o texto. nuiu, ela cresceu.

Os reflexos das águas quase me cegaram e o ver-


I. Da leitura da obra e do texto, depreende-se que de da paisagem, que me cobria os olhos, soluçava a
a dona Olga a quem o excerto faz referência é a ponto de fazer as minhas mãos e as do balseiro tre-
patroa de Jorge e de Altair, ambos motoristas de merem.
caminhão. 10
A sensação era de que navegávamos.
II. Da leitura da obra e do texto, depreende-se que, PRADE, Péricles. No país dos silvanos. In: Ao som do
ao enunciar “lá na Rio-Bahia” (ref. 1), o narra- realejo. p. 15.
dor está se referindo à construção da estrada
do trecho entre Rio e Bahia, como já ocorrera
na construção de outros trechos de estradas em
que eles trabalharam. Questão 58 - (UDESC SC)

III. Da leitura da obra e do texto, depreende-se que Analise as proposições a respeito da obra Ao som do
em “E tudo tinha sido ideia dele” (ref. 10), o ter- realejo e do seu autor, Pericles Prade.
mo destacado se refere às trapaças de dinheiro
que os caminhoneiros costumavam fazer à dona
Olga.
I. Péricles Prade, por meio de suas produções lite-
IV. A palavra “você” (ref. 1) dirigida a um interlo- rárias, procura desmontar o convencional e tra-
cutor, o uso frequente do “a gente”, do “que”, zer a alegoria, o encantamento, despertando no
do “e” no início das orações, juntamente com a leitor o fantástico, ou seja, o não comum.
disposição das frases, entre outras marcas, con-
ferem à linguagem empregada no texto um tom II. O autor procura mostrar, por meio da sua litera-
de conversa. tura fantástica, situações e vivências estranhas,
às vezes também ligadas ao ocultismo.

III. No nível da linguagem pode-se perceber em


Assinale a alternativa correta. Péricles Prade a não preocupação com a revalo-
rização das palavras, embora explore os limites
dos seus significados trabalhando com o uso da
denotação.
a) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
IV. A obra apresenta um viés caricato que acaba por
b) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras. desconfigurar a doçura e a magia verbal que a
linguagem metafórica é capaz de proporcionar
c) Somente a afirmativa IV e verdadeira. ao leitor.
d) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.

e) Todas as afirmativas são verdadeiras. Assinale a alternativa correta.

TEXTO: 36 - Comum à questão: 58 a) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras.


No país dos silvanos b) Somente a afirmativa II e verdadeira.

c) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras.

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d) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras. 20
[toda.
21
Durante muitos anos minha repugnância por
e) Todas as afirmativas são verdadeiras. 22
[esta fruta
23
trazendo a recordação permanente do castigo.
24
Sentia, sem definir, a recreação dos que
TEXTO: 37 - Comum à questão: 59
25
[ficaram de fora,
26
assistentes, acusadores.
1. Cora Coralina começou a escrever em 1965, aos 72 27
Nada mais aprazível no tempo, do que
anos de idade. Dentre suas obras, encontra-se Crian- 28
[presenciar a criança indefesa
ça no meu tempo, composta de poemas que falam 29
espernear numa coça de chineladas.
sobre a vida das crianças de antigamente. (O texto 1 30
“É pra seu bem”, diziam, “doutra vez não pedi
deste exame, “Sequência”, é um dos poemas dessa 31
[fruita na rua”.
obra.) (Cora Coralina. Melhores poemas. p. 158.)
Nesse livro, Cora Coralina revela o tratamento que
os adultos davam às crianças. Os pequenos não rece-
biam carinho, eram relegados a uma posição inferior Questão 59 - (UECE)
à dos adultos, ridicularizados, desestimulados e até
A expressão no tempo (verso 18, ref. 27-28) refere-se
mal alimentados, mesmo nas famílias de posses. Ela,
ao
inclusive, conclui um outro poema do mesmo livro
com os seguintes versos:
a) tempo de maneira geral, sem distinção.
b) tempo em que o eu lírico era criança.
Digo sempre: ”Jovens, agradeçam a Deus todos os
c) tempo do leitor — tempo que cada leitor atuali-
dias
za.
Terem nascido nestes tempos novos...”
d) passado como um todo.
2. Por serem muito longos, alguns versos do poema
“Sequência”, de Cora Coralina, ultrapassam o espaço Questão 60 - (UEL PR)
de uma linha. Quando isso acontece, usa-se colchete
( [ ). É o caso do verso 2, que ocupa as linhas 2 e 3. Leia o fragmento da crônica “Saudade”, de Rachel
Assim sendo, o texto apresenta um maior número de de Queiroz:
linhas (31) do que de versos (20).

A mocidade já é de si uma etapa infeliz. Coração in-


quieto que não sabe o que quer, ou quer demais.
Qual será, nesta vida, o jovem satisfeito? Um jovem
TEXTO pode nos fazer confidências de exaltação, de em-
briaguez; de felicidade, nunca. Mocidade é a quadra
SEQUÊNCIAS dramática por excelência, o período dos conflitos,
dos ajustamentos penosos, dos desajustamentos trá-
1
Eu era pequena. A cozinheira Lizarda gicos. [...] Não sei mesmo como, entre as inúmeras
2
tinha nos levado ao mercado, minha mentiras do mundo, se consegue manter essa men-
3
[irmã, eu. tira maior de todas: a suposta felicidade dos moços.
4
Passava um homem com um abacate Por mim, sempre tive pena deles, da sua angústia e
5
[na mão e eu inconsciente: do seu desamparo. Enquanto esta idade a que che-
6
“Ome, me dá esse abacate...” gamos, você e eu, é o tempo da estabilidade e das
7
O homem me entregou a fruta batalhas ganhas. Já pouco se exige, já pouco se espe-
8
[madura. ra. E mesmo quando se exige muito, só se espera o
9
Minha irmã, de pronto: “vou contar pra mãe possível. Se as surpresas são poucas, poucos também
10
[que ocê pediu abacate na rua”. os desenganos.
11
Eu voltava trocando as pernas bambas. (QUEIROZ, Rachel de. melhores crônicas. São Paulo: Glo-
12
Meus medos crescidos, enormes... bal, 2004. p.118.)
13
A denúncia confirmada, o auto, a
14
[comprovação do delito.
15
O impulso materno... consequência obscura
16
[da escravidão passada, A revista Veja, em sua edição de 6 de março de 2002,
17
o ranço dos castigos corporais. trouxe uma reportagem sobre cirurgia plástica. Um
18
Eu, aos gritos, esperneando. fórum foi promovido pela Veja On-line sobre o assun-
19
O abacate esmagado, pisado, me sujando to em questão. Leia o depoimento de uma internauta
sobre sua experiência com a cirurgia plástica:
376 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Preço da felicidade Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Tenho 20 anos e, aos 18, fiz plástica para redução Rega o sangue das mães:
dos seios. Ninguém achava nada anormal, mas eu Outras, moças... mas nuas, espantadas,
me sentia péssima, não podendo usar certas roupas. No turbilhão de espectros arrastadas,
Além disso, estando em plena flor da idade, meus Em ânsia e mágoa vãs.
seios já eram flácidos. Eu achava que nunca teria co- (Castro Alves)
ragem de me despir para ninguém. Tinha vergonha
até da minha ginecologista. Então, no final de 2000,
fiz a cirurgia. Fiquei muito feliz com o resultado. Ago-
ra uso tops, camisetas cavadas etc. Nenhuma cicatriz TEXTO 2
ficou, mas o problema é que a sensibilidade nas glân- “7”
dulas mamárias foi afetada. Não sinto estímulos no Eu não sou eu nem sou o outro,
bico dos seios. No começo, foi difícil aceitar isso, mas Sou qualquer coisa de intermédio:
percebi que é muito melhor estar assim, com algo Pilar da ponte de tédio
que posso resolver tendo conversas com meu par- Que vai de mim para o Outro.
ceiro, do que me manter com auto-estima em baixa. (Mário de Sá-Carneiro)
Paguei um preço pela cirurgia, mas ganhei em felici-
dade. Internauta não quis se identificar.

TEXTO 3
“Os arredores florem”
Com base no depoimento da internauta, explique a Os arredores florem:
seguinte afirmação da cronista: “Mocidade é a qua-
figos, nervos, libélulas
dra dramática por excelência, o período dos confli-
a criarem nas águas
tos, dos ajustamentos penosos, dos desajustamentos
os brevíssimos movimentos.
trágicos”.
(Paulo Roberto Sodré)

Questão 61 - (UEL PR)


a) Escolha um dos textos acima (“O navio negrei-
Leia o fragmento extraído do romance O outro pé da ro”; “7”; “Os arredores florem”), indique e expli-
sereia, do escritor moçambicano Mia Couto. que a ocorrência de um dos seguintes aspectos:
som (aliteração, assonância, paronomásia, etc.),
sentido (metáfora, alegoria, ironia, etc.), ritmo
(rima, métrica, tonicidade, etc.) ou representa-
Nesses últimos dias, Mwadia fechava-se no sótão e
ção (imagem, descrição, comparação, etc.).
espreitava a velha documentação colonial. Agora, ela
b) Nos três versos iniciais do trecho de “O navio
sabia: um livro é uma canoa. Esse era o barco que lhe
negreiro” (TEXTO 1), o sujeito do enunciado é
faltava em Antigamente.
“o sangue das mães”. Reescreva, em prosa, es-
(COUTO, Mia. O outro pé da sereia. São Paulo: Cia das ses versos, iniciando o período com “O sangue
Letras, 2006, p.238.) das mães”, fazendo as adaptações que o texto
requer e mantendo o sentido do texto original.

a) Explique, com base na obra, a metáfora “Um li-


vro é uma canoa”.

b) Explique, em termos gramaticais e semânticos,


por que “Antigamente” está grafado com a ini-
cial maiúscula no texto.

Questão 62 - (UFES)

Leia os textos abaixo e faça o que se pede:

TEXTO 1
“O navio negreiro”

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TEXTO: 38 - Comum à questão: 63 Procura um apoio, mas não encontra. A tontura é de-
mais. Cai no chão, sobre a calçada […]

[…]

“Que tombo, gurizinho. Não chora, não chora, deixa


eu ver.”

[…]

“Deixa a vó ver. Não é nada.”

[...]

“Porque tem o sangue bom e o sangue ruim, sabia? O


sangue ruim é esse sangue escuro que tá saindo aí, é
sangue sujo, ele corre por fora, assim, perto da pele,
entendeu?” […] “O sangue bom é diferente, é bem
clarinho, quase rosa, e ele passa nas veias bem gros-
sas, no fundo, por dentro da carne da gente, assim.”

[…]

Quanto mais pensa nisso, menos intenso é seu mal-


-estar diante dos machucados. Em sua imaginação há
uma imagem elaborada de todas as veias e artérias
percorrendo seu interior como uma rede de encana-
mento […]. Passa o dedo no sangue da perna e de-
pois une as pontas do indicador e do polegar, sentin-
do como colam uma na outra.

GALERA, Daniel. Mãos de Cavalo. São Paulo: Companhia


BEHR, Nicolas. Restos vitais. Disponível em: <http:// das Letras, 2009. p. 17; 18-19.
www.

nicolasbehr.com.br/>. Acesso em: 28 set. 2011. [Adapta-


do]. Mãos de Cavalo, de Daniel Galera, narra várias situa-
ções de queda, estabelecendo uma relação entre dor
física e sofrimento psicológico. Nos trechos transcri-
tos, essa relação ocorre em diálogo com um conheci-
Questão 63 - (UFG GO) mento biológico, a qual evidencia a associação entre
Os versos “sirva o poema simples/ ou com ilusões”
resumem a temática do texto. Essa temática e o re-
curso utilizado para expressá-la são, respectivamen- a) a tontura sentida pela personagem, em decor-
te, rência da perda de sangue na queda, e a experi-
mentação do prazer de não se abalar diante das
situações difíceis impostas pela vida.
a) singularidade – paráfrase. b) o calibre da veia do garoto e a superação dos
seus problemas físicos; o calibre da artéria, com
b) carnavalização – ironia.
maior pressão sanguínea, e os impasses psicoló-
c) musicalidade – metrificação. gicos da personagem.

d) erotização – paródia. c) o sangue pobre em HbO2 e sua capacidade de


coagulação, indicada por sua viscosidade, e a
e) poeticidade – metalinguagem. absorção das experiências positivas e negativas
relacionadas às quedas vividas pela persona-
gem.
Questão 64 - (UFG GO) d) o sangue pobre em HbO2 e o sofrimento físi-
co que precisa ser superado; o sangue rico em
Leia os trechos a seguir. HbO2, que circula pelas artérias, e o necessário
aprendizado psicológico.
378 - www.PROJETOREDACAO.com.br
e) a intensidade da perda de sangue pobre em
HbO2 e a alteração do fluxo sanguíneo, decor-
rente da intensa atividade física, e a aprendiza- Alguém que queira se hospedar no Villa Sart, um
gem do prazer causado pela superação de um pequeno hotel na cidade de Danzig, às margens do
problema. mar Báltico, na Polônia, pode fazer a reserva de um
quarto duplo por 95 euros por noite. Se preferir, o vi-
sitante pode se instalar no mesmo cômodo pagando
com seis unidades de outra moeda, a bitcoin. Outros
Questão 65 - (UFG GO) 700 estabelecimentos, como restaurantes, livrarias e
lojas de roupas, em diferentes países (nenhum de-
Há diversas possibilidades de compreensão do fenô- les no Brasil, ao menos por enquanto), começaram
meno fantástico em Literatura. Tzvetan Todorov, em a trabalhar da mesma forma recentemente: aceitam
seu livro Introdução à literatura fantástica, afirma: moedas locais e bitcoins.
“Há um fenômeno estranho que se pode explicar de
duas maneiras, por meio de causas naturais e sobre- Bitcoins não existem no mundo real: são moedas
naturais. A possibilidade de se hesitar entre os dois virtuais que permitem que pagamentos sejam feitos
criou o efeito fantástico.” sem a intermediação de instituições financeiras. A di-
ferença para outros sistemas semelhantes, como o
TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. PayPal, é que as bitcoins podem ser geradas na in-
São Paulo: Perspectiva, 1992. p. 31. ternet. Qualquer um que instalar um programa de
computador chamado de minerador consegue emiti-
-las. Ou seja, cria-se dinheiro a partir do nada. Como
Nos contos de Murilo Rubião, o efeito fantástico, tal a emissão é muito lenta – pode levar mais de três
como afirma Todorov, efetiva-se por meses para criar uma única unidade – e até pouco
tempo atrás quase nenhum estabelecimento aceita-
va esse tipo de pagamento, a moeda era vista como
mais um daqueles passatempos esquisitos dos nerds.
a) empregar as experiências incomuns das perso-
nagens e o tempo da narrativa para criticar a A questão é que, agora, as bitcoins se tornaram
realidade política de sua época. uma febre na internet. Por razões inexplicáveis, mais
consumidores e lojas passaram a usá-las, e a moe-
b) indeterminar o desfecho, permitindo ao leitor da valorizou de forma impressionante. No começo
uma interpretação excêntrica da história narra- de 2010, uma unidade de bitcoin valia menos de 1
da. centavo de dólar. Hoje, na média do mês de agosto,
é negociada por cerca de 10 dólares – uma alta de
c) ampliar a fronteira da realidade, introduzindo
200 000%.
elementos extraordinários no cotidiano narra-
do. Existem 7 milhões de bitcoins em circulação, que
movimentam quase 70 milhões de dólares. É muito
d) construir um horizonte maravilhoso entre ficção
pouco perto dos trilhões de dólares que circulam
e realidade, sugerindo uma deturpação dos fa-
pelo sistema financeiro mundial, mas o que chama
tos históricos.
a atenção é a euforia em torno da moeda virtual. Na
e) explorar situações absurdas que estabelecem esperança de que a valorização continue, milhares de
uma distorção entre o espaço da narrativa e as investidores têm comprado bitcoins para tentar re-
ações das personagens. vendê-las no futuro com lucro. Parte dessas compras
é feita em casas de câmbio virtuais, que vêm sendo
criadas para trocar dólares, euros e até reais por bi-
tcoins. “Há espaço para esse mercado crescer muito
TEXTO: 39 - Comuns às questões: 66, 67, 68 mais. Essas moedas podem valorizar mais de mil ve-
zes”, disse à EXAME Adam Stradling, consultor ameri-
Texto 1 cano que trabalhou cinco anos em Wall Street antes
de fundar a Trade Hill, uma dessas casas de câmbio.

O problema óbvio desse sistema é que ele não


A MOEDA QUE SUBIU 200 000%
é regulado. As bitcoins não estão atreladas ao siste-
ma financeiro de nenhum país nem são fiscalizadas
por bancos centrais. Elas começaram a ser criadas
Essa foi a valorização da bitcoin, uma moeda virtual em 2009, depois que um programador japonês cha-
que pode ser emitida por qualquer pessoa que tenha mado Satoshi Nakamoto publicou uma tese em que
um computador ligado à internet. A questão é: dá apresentava a ideia de um sistema monetário virtual
para confiar num sistema desses? global. Saíram desse trabalho as coordenadas para
que fosse criado o programa que emite bitcoins pela
www.PROJETOREDACAO.com.br - 379
internet. Senadores americanos chamaram a moeda Texto 2
de “uma forma on-line de lavar dinheiro”.

O maior risco é o de as pessoas simplesmente


pararem de usar bitcoins e voltarem a pagar com
dólares, euros ou reais. O valor de qualquer moeda
depende da confiança de consumidores, empresá-
rios e investidores. “Nada garante que os usuários de
hoje manterão o interesse pela moeda no futuro”, diz
John Robb, ex-analista da consultoria especializada
em internet Forrester Research, que estuda o siste-
ma das bitcoins desde sua criação. Uma mudança de
comportamento poderia fazer com que as bitcoins vi-
rassem pó em pouco tempo. Além disso, começam a
pipocar denúncias de crimes associados ao uso desse
sistema de pagamento. Em junho, um usuário veio a
público denunciar o roubo de bitcoins de sua cartei-
ra virtual, um sistema de armazenamento da moeda
virtual que funciona de maneira parecida com a dos
bancos na internet. Também há casos de cambistas
que simplesmente sumiram com as bitcoins de seus
clientes.

Por enquanto, as fraudes são isoladas e, por isso,


o clima geral em relação às bitcoins é de boa von- Disponível em: <www.googleimagens.kranik.com>. Aces-
tade. “A bitcoin é mais uma forma de pagamento, e so em: 4 out. 2011.
também tem sido um ótimo investimento”, diz Ar-
tur Szumski, dono do hotel Villa Sart, na Polônia. Os
entusiastas dizem que a maior vantagem da moeda
virtual é o fato de ela ser imune à inflação. Como Texto 3
não pertence a países, não sofre com as decisões de
governos que podem desvalorizá-la, como vem ocor-
rendo com o dólar. Fora isso, o algoritmo de Naka- Sinopse
moto controla a quantidade e o ritmo com que a
moeda pode ser gerada na internet – sabe-se que a O filme O homem que copiava narra a história de An-
oferta total de bitcoins nunca poderá ultrapassar 21 dré (Lázaro Ramos), um jovem, que trabalha na fo-
milhões de unidades. A questão é saber até quando tocopiadora da Papelaria Gomide, em Porto Alegre,
o otimismo vai durar. mora com a mãe e tem uma vida comum, vivendo
praticamente de casa para o trabalho e fazendo sem-
FAUST, André. Exame. São Paulo: Abril, set. 2011. p. 174- pre as mesmas coisas. Um dia, André se apaixona
176. [Adaptado]. por Sílvia (Leandra Leal), uma vizinha, e, decidido a
conhecê-la melhor, André descobre que ela trabalha
em uma loja de roupas. Para conseguir se aproximar
dela, tenta de todas as formas conseguir 38 reais
para comprar um suposto presente para a mãe dele.
Conta, então, com a ajuda de Cardoso (Pedro Cardo-
so), empregado de uma oficina, que faz qualquer coi-
sa por dinheiro, e conta também com Marinês (Luana
Piovani), uma jovem esperta. Cardoso tem a ideia de
copiar notas de 50 reais com a nova máquina de fazer
cópias coloridas que chega na papelaria. André pas-
sa a fazer cópias de dinheiro e consegue os 38 reais.
Cardoso quer mais. Insiste. André não resiste e copia
mais e mais, sem conseguir parar.

Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/

homem-que-copiava>. Acesso em: 4 out. 2011. [Adapta-


do].

380 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 66 - (UFG GO) Considerando o exposto, responda:

Moedas estão relacionadas a determinados merca-


dos.
a) Por que a descrição dos espaços contribui com a
não linearidade do tempo na narrativa?

a) Considerando-se a zona coberta pelo euro e a b) Em qual momento da narrativa o protagonista


abrangência monetária da bitcoin, explique por reúne os fragmentos de memória que lhe per-
que o Euro e a bitcoin extrapolam a ideia de que mitem ressignificar a sua vida adulta?
uma moeda representa uma nação.

b) Comprove a extrapolação da abrangência da bit-


coin em relação às moedas tradicionais, citando Questão 70 - (UFG GO)
uma transação comercial descrita no texto.
Leia o trecho a seguir.

Questão 67 - (UFG GO)


Urgia encontrar solução para o meu desespero.
A produção de moedas obedece a sistemas específi- Pensando bem, concluí que somente a morte poria
cos de gerenciamento. termo ao meu desconsolo.

[...]

a) Explique como a bitcoin se diferencia das moe- Uma frase que escutara por acaso, na rua, trouxe-
das do mundo real, quanto ao seu modo de -me nova esperança de romper em definitivo com a
emissão e quanto ao seu modo de gerencia- vida. Ouvira de um homem triste que ser funcionário
mento. público era suicidar-se aos poucos.

b) Senadores americanos chamaram a bitcoin de Não me encontrava em condições de determinar


“uma forma on-line de lavar dinheiro”. Conside- qual a forma de suicídio que melhor me convinha: se
rando-se as regras do mundo financeiro, expli- lenta ou rápida. Por isso empreguei-me numa Secre-
que o sentido da expressão lavagem de dinhei- taria de Estado.
ro.
RUBIÃO, Murilo. O ex-mágico da taberna Minhota. In:
______.

Questão 68 - (UFG GO) Obra completa. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
p. 23; 24.
A pergunta “Dá para confiar num sistema desses?”
define a linha argumentativa do Texto 1.

O trecho transcrito do conto “O ex-mágico da Ta-


berna Minhota” explicita um momento de crise do
a) Para desenvolver essa linha argumentativa, o protagonista, que procura na morte a solução de seu
autor questiona uma característica fundamental conflito existencial.
das moedas. Que característica é essa?

b) Nas conclusões, o autor reafirma sua opinião a


respeito da euforia provocada pela bitcoin. Que Considerando a relação desse fragmento com o enre-
opinião é essa e que frase do texto a explicita? do do conto, responda:

Questão 69 - (UFG GO) a) O cotidiano de funcionário público ocasiona a


morte de qual capacidade do protagonista?
O romance Mãos de Cavalo, de Daniel Galera, tem
na fragmentação da narrativa um dos seus principais b) Que dilema típico do homem contemporâneo é
recursos estilísticos. Essa fragmentação é explorada tema central desse conto?
tanto na representação do tempo quanto na do es-
paço.
Questão 71 - (UFG GO)

Leia o poema de Luís Araujo Pereira e o trecho de


www.PROJETOREDACAO.com.br - 381
Uma noite em cinco atos, de Alberto Martins, apre- Rápido, Álvares, antes que eu também
sentados a seguir. seja conjurado pela morte!

MARTINS, Alberto. Uma noite em cinco atos. São


Paulo: Editora 34, 2009. p. 95; 97.
azul

Entre o poema e o fragmento transcritos se estabele-


a vida é muito rápida ce um diálogo que torna possível ler a fala de Zé Pau-
lo como um desdobramento da expressão/reflexão
do eu lírico do poema.
tudo – até o raio

tudo – até o vento Considerando tal diálogo, responda:


tudo – até o Boeing

a) Que tema está presente tanto no poema “azul”


tudo afinal é tão rápido quanto nas falas de Zé Paulo?

que a gente mal aspira b) No que difere a angústia sentida pelo eu lírico,
explicitada na terceira estrofe do poema, da-
o alento do dia quela expressa na última fala da personagem Zé
Paulo?
aqui no Leblon

PEREIRA, Luís Araujo. Minigrafias. Goiânia: Câ-


none, 2009. p. 127. Questão 72 - (UFG GO)

No romance Mãos de Cavalo, de Daniel Galera, Her-


mano pratica escalada, esporte que o possibilita fugir
ZÉ PAULO de si mesmo e de suas inseguranças pessoais. As per-
sonagens que se relacionam com essa prática espor-
É isso que são os túneis, as pontes, as esquinas... tiva são, respectivamente,
Lugares onde o tempo muda de corpo... Quando
você está no alto de uma ponte, tanto faz se você a
atravessou daqui pra lá ou de lá pra cá. O importan-
te, quando você está no alto de uma ponte, é estar... a) Adri e Bonobo.
(escolhe as palavras com cuidado) precisamente... no
alto da ponte. É o momento mais difícil... É como... b) Uruguaio e Bonobo.
respirar na ponta de uma agulha... como cavar um c) Pedreiro e Renan.
túnel: você o atravessa ao mesmo tempo em que o
constrói... d) Renan e Adri.
[…] e) Bonobo e Naiara.

ZÉ PAULO Questão 73 - (UFG GO)


…eu também estou morto, Álvares! Eu também Leia o trecho.
passei a fronteira não faz muito tempo. Ainda exis-
te quem trata comigo como se eu estivesse vivo,
por isso ainda guardo minhas memórias, conheço a
cidade e sei andar pelas ruas...Mas precisamos agir Ridículo. Você é ridículo... Todo esse drama, todo
rápido! esse gigantismo patético tipo século XX... Vocês são
muito piores do que nós: mais nefastos, mais cínicos,
[…] mais pretensiosos do que foram o nosso spleen e as
nossas ilusões fin-de-siècle...

MARTINS, Alberto. Uma noite em cinco atos. São Paulo:


ZÉ PAULO Editora 34, 2009. p. 89.

382 - www.PROJETOREDACAO.com.br
seu desempenho, 18e pelo tom resmungado da voz,
de que estava fora de controle. É pena. Fosse delibe-
A fala da personagem Álvares, na peça Uma noite em rada, e interpretada com 19arte, sua versão do hino
cinco atos, de Alberto Martins, é representativa de teria dois altos destinos. Primeiro, iria se revestir do
um contraste que permeia toda a obra e se explicita caráter de uma variação, 20interessante por ser uma
na oposição entre espécie de comentário à composição tal qual a co-
nhecemos. Não seria uma 21variante tão bela como
a Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional
a) a visão provinciana e a cosmopolita. Brasileiro, de Gottschalk, mas teria 22seus encantos.
Segundo, assumiria a feição de uma leitura crítica do
b) o pensamento conservador e o progressista. hino. Serviria para mostrar, com a 23insistente troca
de palavras e de versos, como a letra é difícil, e ex-
c) as vanguardas surrealistas e as futuristas. trairia um efeito cômico – deliberadamente 24cômico
– das confusões que pode causar na mente de quem
d) a arte clássica e a contemporânea. a entoa.
e) os ideais românticos e os modernos. 25
O inglês Lewis Carroll (1832-1898), autor de
Alice no País das Maravilhas, criador do Chapeleiro
26
Maluco e da festa de desaniversário, levou seu gos-
TEXTO: 40 - Comum à questão: 74 to pelo absurdo para a criação de um poema feito
de 27palavras inventadas que se alternam com outras
IMPÁVIDA CLAVA FORTE existentes, e cuja bonita sonoridade contrasta com o
28
enigma de um significado impossível de ser alcança-
Roberto Pompeu de Toledo do. O poema chama-se Jabberwocky, e jabberwocky,
em 29inglês, passou a significar um texto brincalhão,
composto em linguagem inventada, mas parecen-
do real, 30sonora e sem sentido. Uma tradução do
1
Quem não conhecia a cantora Vanusa, ou não
Jabberwocky para o português, do poeta Augusto de
se lembrava dela, agora já a conhece e tem motivos
Campos, 31começa assim: “Era briluz. As lesmolisas
2
para dela não mais se esquecer. Ela fez seu triunfal
touvas / Roldavam e relviam nos gramilvos. / Esta-
ingresso, ou retorno, à fama com uma interpretação
vam mimsicais as 32pintalouvas / E os momirratos da-
do 3Hino Nacional que circula amplamente na inter-
vam grilvos”.
net. Para os poucos que ainda não viram o vídeo, fei-
to durante 4uma cerimônia na Assembléia Legislativa 33
Não. Não é que o Hino Nacional seja exatamen-
paulista, a cantora, cuja voz arrastada, de tonalida- te um jabberwocky. Não há nele palavras inventadas.
des 5sonambúlicas, já fazia suspeitar de algo errado 34
Mas a combinação dos raios fúlgidos com o penhor
desde o início, a certa altura se atrapalha de vez e dessa igualdade, do impávido colosso com o florão
faz a 6melodia descasar-se sem remédio da letra, e da 35América e do lábaro estrelado com a clava forte
a letra por sua vez livrar-se da sequência em que foi tem tudo para produzir um efeito jabberwocky para
composta, 7a terra mais garrida estranhando-se com a 36multidão de brasileiros com ouvidos destreinados
o sol do Novo Mundo, o gigante pela própria nature- para os preciosismos parnasianos. A presença de pa-
za irrompendo 8em lugar que nunca antes frequen- lavras 37familiares no meio de outras estranhas, como
tara. O braço forte ganhou reforços, e virou braços no jabberwocky, confere a certeza de que caminha-
fortes. O berço 9esplêndido transmudou-se em verso mos num 38terreno conhecido – no nosso caso, a lín-
esplêndido. E, na mais estonteante estocada na es- gua portuguesa; no do jabberwocky original, a língua
tabilidade das 10estrofes, entoou: “És belo és forte és inglesa. Ao 39mesmo tempo, o inalcançável significa-
risonho límpido se em teu formoso risonho e límpi- do das palavras nos transfere para um universo em
do a imagem do 11Cruzeiro” – assim mesmo, não só que a realidade se 40perde numa nebulosa onírica. Já
deslocando ou pulando palavras, como terminando houve, e ainda deve haver, movimentos para mudar
abruptamente na 12palavra “Cruzeiro”, desprovida do a letra do Hino 41Nacional. Não, por favor, não – seria
socorro do “resplandece”. uma pena. Seu caráter jabberwocky lhe cai bem. Se
à sonoridade das 42palavras se contrapõe um miste-
13
A performance de Vanusa passa de computador
rioso significado, tanto melhor: o hino fica instigan-
a computador para fazer rir. Este artigo tem por 14ob-
te como encantamento de 43fada, e impõe respeito
jetivo defendê-la. Que atire a primeira pedra quem
como reza em latim. Vanusa devia aproveitar a ex-
nunca confundiu os versos de ida (“Ouviram do 15Ipi-
periência e a reconquistada fama 44para aprimorar
ranga” etc.) com os da volta (“Deitado eternamente
uma versão cara limpa, sem voz arrastada nem tons
em berço esplêndido”). Que só continue a ridiculari-
sonambúlicos, de sua interpretação. Ela 45explicita
zar 16a cantora quem nunca removeu os raios fúlgi-
como nenhuma outra o charme jabberwocky da letra
dos para o lugar do raio vívido, ou vice-versa. Vanusa
de Osório Duque Estrada.
disse que 17estava sob efeito de remédios, daí seus
atropelos. Não há dúvida, pelo andar hesitante de
www.PROJETOREDACAO.com.br - 383
VEJA, 23 de setembro de 2009, p. 150. e não de imediato daquilo que está sendo proposto,
“tomar” e “roubar” talvez queiram dizer estar pron-
tos a captar, capturar, se apropriar daquilo que está
escondido nas entrelinhas de um texto. É assim que a
Questão 74 - (UFPA) leitura se torna criativa e produtiva, pela descoberta
O enunciado em que se apresenta uma relação de dos sentidos do texto e a atribuição de outros. Do
condicionalidade entre as ideias expressas é contrário, ela se torna apenas o ato de assistir a um
desfile de letras, palavras e frases vazias, diante de
olhos tão passivos quanto sonolentos.

a) “Quem não conhecia a cantora Vanusa, ou não O mundo simbólico se amplia diariamente. A maior
se lembrava dela, agora já a conhece e tem mo- parte dos fenômenos, sejam de natureza política,
tivos para dela não mais esquecer.” (ref. 01 - 02) econômica, social ou cultural, fazem parte de um
registro contínuo do homem. Também a reinven-
b) “Fosse deliberada, e interpretada com arte, sua ção da realidade por meio dos textos literários, que
versão do hino teria dois altos destinos.” (ref. 18 constroem uma nova linguagem, nos dá a dimensão
- 19) de emoções, sentimentos, críticas e vivências do ho-
mem, na sua busca de sentido para a existência.
c) “Primeiro, iria se revestir do caráter de uma va-
riação, interessante por ser uma espécie de co- Nos contos, crônicas, romances, poemas, nos mais
mentário à composição tal qual a conhecemos.” variados textos criados, há sempre um universo inte-
(ref. 19 - 20) rior e exterior de pessoas que vivem ou viveram num
determinado tempo e espaço. Ler os textos escritos
d) “Não seria uma variante tão bela como a Grande e as diversas linguagens inerentes ao ser humano é
Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasilei- ampliar o nosso próprio mundo simbólico, é desen-
ro, de Gottschalk, mas teria seus encantos.” (ref. volver nossa capacidade de comunicar e criticar, en-
20 - 22) fim, é um ato contínuo de recriação e invenção.
e) “Vanusa devia aproveitar a experiência e a re- (Carla Caruso. Texto disponível em: http://educacao.uol.
conquistada fama para aprimorar uma versão com.br/portugues/
cara limpa, sem voz arrastada nem tons sonam-
búlicos, de sua interpretação.” (ref. 43 - 44) leitura-por-que-ler-e-fundamenta. jhtm. Acesso em
05/11/2011. Adaptado).

TEXTO: 41 - Comum à questão: 75


Questão 75 - (UFPE)
Por que ler é fundamental?
Comparando as ideias defendidas no texto com
aquelas defendidas no texto, podemos afirmar que
elas convergem:
Afinal por que se afirma que é tão importante ler?
Para responder a essa questão, vamos lembrar que o
texto - seja de que natureza for - está sempre pronto
a ser compreendido, decifrado e interpretado. O pro- 00. na consideração de que, fora do âmbito escolar,
cesso da leitura exige um esforço que garante uma a atividade da leitura empobrece, ou tem seus
compreensão ampliada do mundo, de nós mesmos e propósitos desvirtuados.
da nossa relação com o mundo.
01. no entendimento de que a atividade da leitura,
Na Roma antiga, o verbo “ler” - do latim legere - além vista globalmente, excede a simples decifração
de ler, também podia significar “colher”, “recolher”, de um código.
“espiar”, “reconhecer traços”, “tomar”, “roubar”.
Para os romanos, então, ler era muito mais do que 02. na compreensão de que a leitura se realiza na
simplesmente reconhecer as palavras e frases dos parceria, na cooperação que se instaura entre
outdoors de uma avenida, dos índices de desempre- dois ou mais sujeitos.
gos noticiados nos jornais, do discurso político de um
candidato à presidência da República, de um poema 03. na percepção de que o ato de ler é motivado por
ou de um conto, de um romance ou de um filme. uma grande diversidade de propósitos, todos
eles válidos, todos eles legítimos.
Ler é compreender os discursos, mas também é
completá-los, descobrindo o que neles não está cla- 04. na concepção de que a leitura não existe sem a
ramente dito. Talvez “recolher” seja buscar as pistas escrita, e de que a escrita não existe sem o con-
que o texto tem, “espiar” seja distanciar-se um pouco curso da oralidade.

384 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 42 - Comum à questão: 76 O levantamento pode ser um esforço hercúleo,
mas não escapa das críticas dos especialistas. Ronal-
Crack avança na classe média e entra na agenda política do Laranjeira, psiquiatra da Associação Brasileira de
Psiquiatria, diz que o governo deveria substituir pes-
quisas por ações. “Há doze anos, a comunidade cien-
Devastador como nenhuma outra droga no Brasil, tífica aponta que o crack é uma droga diferente. Para
ele se espalha pelo país e demanda ações mais con- que gastar dinheiro com um grande levantamento
tundentes das autoridades quando o que precisamos é de ação e de propostas?”,
questiona. O governo contra-ataca. Lembra que, em
A tragédia do crack não é nova para o Brasil. Há maio, lançou o Plano Integrado para Enfrentamento
anos, o país convive com o drama de violência e do Crack e outras drogas, com investimento estima-
morte. Novo e oportuno, contudo, é o fato de a elite do em 410 milhões de reais em pesquisa, prevenção,
política do país, enfim, reconhecer a emergência do combate e tratamento.
problema. No último dia 31, em seu primeiro discur-
so como presidente eleita, Dilma Rousseff disse que Droga nefasta – “Comparado a outras drogas, o
o governo não deveria descansar enquanto “reinar crack é sem dúvida a mais nefasta, porque produz
o crack e as cracolândias”. Poderia ter falado gene- rapidamente a dependência: sob a compulsão pela
ricamente “drogas”, mas referiu-se especificamente substância, o usuário desenvolve comportamentos
ao “crack”. Não foi à toa. Estima-se que no mínimo de risco, que podem chegar à atividade criminosa e
600.000 pessoas sejam dependentes da droga no à prostituição”, diz Solange Nappo, da Unifesp. Pablo
país - variante devastadora da cocaína que, como ne- Roig, psiquiatra e dono de uma clínica de tratamento
nhuma outra, mata 30% de seus usuários no prazo de dependentes químicos, acrescenta que a depen-
máximo de cinco anos. dência chega a tal ponto que “o usuário perde a ca-
pacidade de decidir se usará ou não a droga”.
A praga do crack nasceu e grassou entre os mise-
ráveis, a tal ponto que “cracolândia” virou sinônimo A mancha do crack se espalha entre usuários de
de “local onde pobres consomem sua droga”. É mais drogas devido a uma combinação de acesso econô-
do que tempo de rever esse conceito. Pesquisa da mico e potência química. Jairo Werner, psiquiatra da
Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo divul- Universidade Federal Fluminense e da Universidade
gada em 2009 constatou que o crack avança rapida- Estadual do Rio de Janeiro, chama a atenção para a
mente entre os mais abastados: o crescimento entre relação “custo-efeito” da droga. “A relação entre pre-
pessoas com renda superior a vinte salários mínimos ço e efeito faz do crack uma droga muito popular, de
foi de 139,5%. Além dos números, os dramas pes- fácil acesso”, diz. Ele explica ainda que os trafican-
soais confirmam que a química do crack corrói toda a tes desenvolveram uma verdadeira estratégia para
sociedade. Nas clínicas particulares, que custam aos ampliar o mercado da droga: a “venda casada”, de
viciados que tentam se livrar da cruz alucinógena mi- maconha mais crack. “No primeiro momento, a ma-
lhares de reais ao mês, multiplicam-se universitários, conha dá um relaxamento e o efeito do crack é miti-
empresários, professores, militares. [...] gado. Depois, o usuário resolve experimentar o crack
puro e sente um efeito muito mais poderoso.”
O crack se espraia pelas classes sociais e pelas
paragens brasileiras. “Antes, São Paulo era o reduto. Começam, então, as mudanças de comporta-
Falava-se do assunto como um fenômeno paulistano. mento. Além de graves consequências para a saúde,
Agora, ele chega com força em outras cidades e esta- a droga provoca no dependente atitudes violentas.
dos”, diz Dartiu Xavier, coordenador do Programa de “Ele fica alterado, inquieto, irritado e, em geral, passa
Orientação e Atendimento a Dependentes da Univer- a se envolver com a criminalidade como nenhum ou-
sidade Federal de São Paulo (Unifesp). [...] tro usuário de drogas”, diz Laranjeira, da Associação
Brasileira de Psiquiatria. [...]
Embora tardias, duas pesquisas em andamento
na esfera do governo federal explicitam a preocu- http://veja.abril.com.br/noticia/saude/crack-avanca-na-
pação das autoridades com a questão. Uma, a cargo -classe-media-e-entra-na-agenda-politica
do Ministério da Saúde, vai traçar o perfil do usuá-
rio de crack. Outra, nas mãos da Secretaria Nacional
Antidrogas (Senad), pretende determinar padrões de Questão 76 - (UFT TO)
consumo, barreiras para o tratamento e histórico so-
cial e médico de 22.000 usuários - que farão testes Assinale a alternativa em que o termo em negrito, ao
de HIV, hepatites (B e C) e tuberculose. Paulina Duar- ser substituído, altera o sentido.
te, secretária adjunta da Senad e responsável técnica
pelo estudo, acredita que será a maior pesquisa já
realizada no mundo sobre o crack. “Um estudo dessa a) ‘A praga do crack nasceu e grassou entre os mi-
magnitude vai produzir um banco de dados gigantes- seráveis, a tal ponto que “cracolândia” virou si-
co”, diz. nônimo de “local onde pobres consomem sua

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droga”’. (2° parágrafo) = propagou-se. — A sua ética manda também no meu corpo? Se
b) ‘O crack se espraia pelas classes sociais e pelas pago, se quero, é porque quero fazer do meu corpo
paragens brasileiras’. (3° parágrafo) = alastra aquilo que desejo. E se acabou.
c) ‘O levantamento pode ser um esforço hercúleo,
mas não escapa das críticas dos especialistas.’ — Olha, a gente vai ficar o dia inteiro nesta dis-
(5° parágrafo) = árduo. cussão boba. E não tenho tempo a perder. Por que o
d) “‘Comparado a outras drogas, o crack é sem dú- senhor quer cortar um pedaço do cérebro?
vida a mais nefasta, porque produz rapidamente
— Quero eliminar a minha memória.
a dependência: sob a compulsão [...]’” (6° pará-
grafo) = trágica. — Para quê?
e) “‘No primeiro momento, a maconha dá um rela-
xamento e o efeito do crack é mitigado. [...]’” (7° — Gozado, as pessoas só sabem perguntar: o quê?
parágrafo) = potencializado. por quê? para quê? Falei com dezenas de pessoas e
todos me perguntaram: por quê? Não podem aceitar
pura e simplesmente alguém que deseja eliminar a
memória.
TEXTO: 43 - Comum à questão: 77
— Já que o senhor veio a mim para fazer esta ope-
Considere a passagem de um conto de Ignácio de
ração, tenho ao menos o direito dessa infor-
Loyola Brandão (1936-) e parte de um artigo de Ber-
mação.
nardo Jefferson de Oliveira.
— Não quero mais me lembrar de nada. Só isso.
As coisas passaram, passaram. Fim!
O homem que queria eliminar a memória
— Não é tão simples assim. Na vida diária, o se-
nhor precisa da memória. Para lembrar pequenas
coisas. Ou grandes. Compromissos, encontros, coisas
(...) a pagar, etc.

Estava na sala diante do doutor. Uma sala branca, — É tudo isso que vou eliminar. Marco numa
anônima. Por que são sempre assim, derrotando a agenda, olho ali e pronto.
gente logo de entrada?
— Não dá para fazer isso, de qualquer modo. A
O médico: medicina não está tão adiantada assim.

— Sim? — Em lugar nenhum posso eliminar a minha me-


mória?
— Quero me operar. Quero que o senhor tire um
pedaço do meu cérebro. — Que eu saiba não.

— Um pedaço do cérebro? Por que vou tirar um — Seria muito melhor para os homens. O dia a
pedaço do seu cérebro? dia. O dia de hoje para a frente. Entende o que eu
quero dizer? Nenhuma lembrança ruim ou boa, ne-
— Porque eu quero. nhuma neurose. O passado fechado, encerrado. De-
finitivamente bloqueado. Não seria engraçado? Não
— Sim, mas precisa me explicar. Justificar. se lembrar sequer do que se tomou no café da ma-
— Não basta eu querer? nhã? E para que quero me lembrar do que tomei no
café da manhã?
— Claro que não.
(Ignácio de Loyola Brandão. Cadeiras proibidas: contos.
— Não sou dono do meu corpo? Rio de Janeiro: Codecri, 1984, p. 32-34.)

— Em termos.

— Como em termos? Os avanços da genética nos filmes

— Bem, o senhor é e não é. Há certas coisas que


o senhor está impedido de fazer. Ou melhor; eu é que
estou impedido de fazer no senhor. Uma boa forma de se pensar as possibilidades
e riscos no avanço das ciências é se aventurar nas
— Quem impede? ficções literárias e cinematográficas. Enquanto os
cientistas devem zelar para não fazer especulações
— A ética, a lei. infundadas, os autores de ficção tratam de dar asas à

386 - www.PROJETOREDACAO.com.br
imaginação e projetar em histórias emocionantes as identidade biológica, inválida para aquela atividade,
possíveis aplicações da ciência e alguns de seus efei- tinha que ser ocultada todo o tempo e com muita
tos inesperados. astúcia, pois a manutenção da ordem social se
baseava em constantes escaneamentos genéticos.
A possibilidade de recriação da vida humana ou As situações enfrentadas pelo personagem nos
do controle que poderíamos ter sobre seus corpos e levam a compartilhar sua percepção de injustiça, e
destinos são alguns dos grandes temas que há muito torcer pela subversão ao sistema.
tempo vêm sendo explorados. O que seria de nossa
vida se soubéssemos como prolongá-la indefinida- (Bernardo Jefferson de Oliveira. Os avanços da genética
mente? Como ficariam nossos corpos se pudéssemos nos filmes.
transformá-los à vontade ou se conseguíssemos fa-
bricar seres para nos substituírem nas tarefas duras pré-Univesp, edição 6, 15.11.2010: www.univesp.ensino-
e chatas? Não seria uma maravilha se pudéssemos superior.sp.gov)
implantar ou fazer um download de memórias e co-
nhecimentos que nos dispensassem de ter que apren-
der “na marra”, com muito estudo e algumas expe- Questão 77 - (UNESP SP)
riências ruins? Que tal poder escolher e reconfigurar
nossas características e as das pessoas com quem No primeiro parágrafo e em outras passagens do ar-
convivemos? tigo, Bernardo Jefferson de Oliveira destaca que os
literatos e os cineastas desfrutam de uma liberdade
Nosso imaginário é povoado por robôs, clones, que os cientistas não têm ante suas próprias desco-
artifícios fantásticos, instrumentos poderosos e tec- bertas científicas. Que liberdade é essa?
nologias sofisticadas que aparecem sob variadas
formas nos enredos de diversos filmes. Metrópolis,
Frankenstein, Blade Runner, Inteligência Artificial, Eu
Robô e Matrix são alguns que se tornaram clássicos, TEXTO: 44 - Comum à questão: 78
pois foram marcantes para gerações e continuam
sendo referidos e revisitados. De maneira geral, re- Um livro para um tempo de múltiplas vozes
tratam como boas ideias podem ter desdobramen-
tos imprevistos e indesejáveis. É o que acontece, por
exemplo, nas narrativas utópicas que descrevem so- 1
Livros foram, até hoje, a forma mais eficaz que a
ciedades ideais, mas que se revelam sombrias e nada humanidade encontrou para absorver, armazenar e
atraentes quando conhecidas de perto, como nos fil- transmitir conhecimento. Eles se tornaram, ao longo
mes 1984 ou Brazil. da história, um meio de mitigar os limites de memó-
ria, inteligência e imaginação de cada um dos nossos
Isto obviamente não invalida, nem deveria deses-
cérebros. Lineares como o passar do tempo. Portá-
timular, os avanços do conhecimento. Pelo contrário!
teis como nossas roupas. Íntimos como o pensamen-
Juntamente com as dúvidas que essas histórias lan-
to. Houve quem quisesse queimá-los em nome de
çam sobre nossas certezas e expectativas, elas susci-
crenças políticas ou religiosas, quem quisesse trans-
tam interrogações e recolocam questões fundamen-
formá-los em tecnologia obsoleta e mesmo quem
tais. Se a engenharia genética pode fazer as pessoas
tentasse proclamar sua irrelevância no frenético
melhores, mais saudáveis, mais desejáveis, por que
mundo moderno. Mas os livros resistiram a todo tipo
não seguir em frente? Quais seriam as implicações
de ameaça e intempérie. Nunca se publicou tanto
dessa seleção artificial?
como hoje, nunca se venderam tantos livros.
Assistir e conversar sobre o filme GATTACA é uma
boa forma de entrar nessa discussão. O nome da
produção e do local onde se passa vem das letras com 2
Eis, então, que a tão festejada revolução digital,
que representamos as sequências do DNA (G, A, T, depois de abalar os negócios da música, das ima-
C). Mais precisamente, as iniciais das bases químicas gens e – naturalmente – das notícias, se abate sobre
dessas moléculas: Guanina, Adenina, Timina e o universo dos livros. Sim, é verdade que um tablet
Citosina. O filme retrata uma sociedade organizada como o iPad não tem aquele delicioso cheiro de pa-
e estratificada de forma racional, tomando como pel. Mas, se você tiver as mesmas limitações oculares
base o levantamento genético dos indivíduos. que o autor deste texto, sentirá o indescritível prazer
Aparentemente, uma forma de se aproveitar melhor, de aumentar o tamanho da letra para tornar a leitura
e para o bem comum, as características e o potencial mais confortável. Ou de comprar um livro digital sem
de cada um. Acontece que um jovem, inconformado sair de casa e, em questão de minutos, ler o maior
com o destino que seus genes “defeituosos” lhe poema do século XX, The Waste Land, de T. S. Eliot,
reservara, falseia sua identidade genética para ao mesmo tempo em que escolhe se prefere ouvi-lo
assumir a profissão com que sempre sonhara, a de recitado pelo próprio autor ou por alguma dentre as
espaçonauta. Boa parte da trama e do suspense outras tantas interpretações disponíveis. E no futuro
do filme advém do fato de que sua verdadeira
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ainda haverá, no novo formato, dezenas de compen- de do livro, é desenvolvido por meio de vocabu-
sações de outra natureza para a falta do cheiro do lário relacionado ao campo semântico “tempo”,
papel. Pelo menos é essa a promessa trazida por algo como se pode ver em palavras como “hoje” (1º
tão intangível quanto o conteúdo dos livros – mas, ao parágrafo), “então” (2º parágrafo), “futuro” (2º
contrário dele, dinâmico e cambiante: os programas parágrafo).
de computador.
V. A promessa a que se refere o fragmento “É essa
a promessa” (2º parágrafo) é ler o maior poema
do século XX, The Waste Land, de T. S. Eliot.
Estaríamos, então, prestes a testemunhar a lenta
3

derrocada dos livros impressos, derrubados gradual-


mente pelos softwares interativos para as tabuletas
digitais? Difícil fazer previsões. O tempo continuará Estão CORRETAS
linear. O pensamento, talvez não. Mas as palavras
continuarão sendo escritas e lidas, provavelmen-
te, umas após as outras – recurso de que nem Eliot a) I, II e III.
conseguiu se desfazer para fazer ecoar as múltiplas
vozes de seu poema. Rupturas serão a província de b) I, II e IV.
criadores geniais como ele ou dos programadores
que tornaram sua obra-prima mais acessível às novas c) I, III e IV.
gerações, por meio dessa nova forma de absorver, ar-
mazenar e transmitir conhecimento. Tomara que ela d) I, III e V.
perdure tanto quanto o livro.
e) II, IV e V.
GUROVITZ, Helio.

Carta do Diretor de Redação. Revista Época. Disponível


Questão 79 - (IBMEC SP Insper)
em:
Leia o texto abaixo.
http://cbld.com.br/blog/2011/07/um-livropara-um-tem-
po-de-

multiplas-vozes/Acesso em 22 de jul. 2011. (com adapta- De Binóculo


ções)
Abaixando o copázio

empunhando o espadim
Questão 78 - (UPE)
levantando o corpanzil
Sobre os recursos lexicais e gramaticais que promo-
vem a coesão e a coerência do texto, analise as afir- indiferente ao poviléu
mativas a seguir:
o homenzarrão abriu a bocarra

fitando admirado
I. No fragmento “Lineares como o passar do tem-
po. Portáteis como nossas roupas. Íntimos como a naviarra do capitorra
o pensamento.” (1º parágrafo), o paralelismo fa-
vorece não só a progressão e continuidade do (Carlos Saldanha, In: 26 poetas hoje, RJ: Aeropla-
texto mas também garante qualidade estética à no, 2001)
linguagem.

II. O recurso da repetição da palavra “livro”, ao lon-


A partir da associação de texto e contexto, a alterna-
go dos três parágrafos, é responsável por tornar
tiva que melhor explica o título do poema é:
o texto circular, isto é, suas ideias avançam em
ritmo lento.

III. O fato de o fragmento “absorver, armazenar e a) Todos os verbos presentes nos versos estão no
transmitir conhecimento” aparecer no início do gerúndio para criar a sensação de prolongamen-
1º parágrafo e no final do 3º evidencia um pro- to e dilatação, características do instrumento
cesso coesivo eficiente que fecha a ideia princi- mencionado no título.
pal defendida ao longo do texto.
b) A presença de aumentativos é um recurso que
IV. Um conceito que perpassa o texto, a historicida-
388 - www.PROJETOREDACAO.com.br
procura simular o efeito das imagens veiculadas a) mostra que inexistem critérios para definir graus
por meio das lentes de um binóculo. de superioridade entre linguagens.

c) A legitimação poética traz um efeito paradoxal, b) defende que as aulas de Português sejam aboli-
já que o binóculo se opõe à constante presença das nas escolas.
de substantivos no diminutivo.
c) compara a normatividade das gramáticas à obje-
d) Os versos desse poema valorizam um padrão tividade da ciência.
linguístico erudito que amplifica a arte poética,
metaforicamente representada pelo instrumen- d) julga igualmente válidas todas as variedades da
to óptico. língua portuguesa.

e) A flexão dos substantivos sugere um procedi- e) ironiza pessoas que corrigem formas condená-
mento antitético promovido pelo jogo equilibra- veis de linguagem.
do de oposições entre o aumentativo e o dimi-
nutivo, como se o poeta buscasse o foco em um
binóculo. TEXTO: 45 - Comum à questão: 81

A lógica do humor
Questão 80 - (IBMEC SP Insper)

Leia o texto abaixo. Piada racista termina com polícia em casa de shows.
É engraçado gozar de minorias? Até onde se pode
chegar para fazer os outros rirem? Aliás, do que ri-
Da fala ao grunhido mos?

De um modo geral, achamos graça quando percebe-


mos um choque entre dois códigos de regras ou de
Outro dia, ouvi um professor de português afirmar contextos, todos consistentes, mas incompatíveis en-
que, em matéria de idioma, não existe certo nem er- tre si. Um exemplo: “O masoquista é a pessoa que
rado, ou seja, tudo está certo. Tanto faz dizer “nós gosta de um banho frio pelas manhãs e, por isso,
vamos” como “nós vai”. toma uma ducha quente”.

Ouço isso e penso: que sujeito bacana, tão modesto Cometo agora a heresia de explicar a piada. Aqui,
que é capaz de sugerir que seu saber de nada vale. o fato de o sujeito da anedota ser um masoquista
Mas logo me indago: será que ele pensa isso mesmo subverte a lógica normal: ele faz o contrário do que
ou está posando de bacana, de avançadinho? (...) gosta, porque gosta de sofrer. É claro que a lógica
normal não coexiste com seu reverso, daí a graça da
A conclusão inevitável é que o professor deveria mu- pilhéria. Uma variante no mesmo padrão é: “O sádico
dar de profissão porque, se acredita que as regras é a pessoa que é gentil com o masoquista”.
não valem, não há o que ensinar.
Essa “gramática” dá conta da estrutura intelectual
Mas esse vale-tudo é só no campo do idioma, não das piadas, mas há também dinâmicas emocionais.
se adota nos demais campos do conhecimento. Não
vejo um professor de medicina afirmando que a tu- Kant, na “Crítica do Juízo”, diz que o riso é o resultado
berculose não é doença, mas um modo diferente de da “súbita transformação de uma expectativa tensa
saúde, e que o melhor para o pulmão é fumar cha- em nada”. Rimos porque nos sentimos aliviados. Tor-
rutos. na-se plausível rir de desgraças alheias. Em alemão,
há até uma palavra para isso: “Schadenfreude”, que
É verdade que ninguém morre por falar errado, mas, é o sentimento de alegria provocado pelo sofrimen-
certamente, dizendo «nós vai» e desconhecendo as to de terceiros. Não necessariamente estamos felizes
normas da língua, nunca entrará para a universidade, pelo infortúnio do outro, mas sentimo-nos aliviados
como entrou o nosso professor. com o fato de não sermos nós a vítima.
(Ferreira Gullar, Folha de S. Paulo, 25/03/2012) Mais ou menos na mesma linha vai o filósofo francês
Henri Bergson. Em “O Riso”, ele observa que muitas
piadas exigem “uma anestesia momentânea do cora-
Ao se manifestar quanto ao que seja “correto” ou “in- ção”. Ou seja, pelo menos as partes mais primitivas
correto” no uso da língua portuguesa, o autor de nosso eu acham graça em troçar dos outros. Daí
os inevitáveis choques entre humor e adequação so-
cial.

www.PROJETOREDACAO.com.br - 389
Como não podemos dispensar o riso nem o combate <http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/fer-
à discriminação, o conflito é inevitável. Resta torcer reira_gullar2_formigueiiro.html>.
para que seja autolimitado. Não deixaremos de rir de Acesso em: 30 abr. 2012.
piadas racistas, mas não podemos esquecer que elas
colocam um problema moral.

(Hélio Schwartsman, Folha de São Paulo,


16/03/2012)
Texto 2

Questão 81 - (IBMEC SP Insper)


Nasce o poema
O período “Como não podemos dispensar o riso nem
o combate à discriminação, o conflito é inevitável.”,
está adequadamente parafraseado em Ferreira Gullar

a) Outrossim, o conflito é inevitável; não podemos Não vou discutir se o que escrevo, como poeta, é
dispensar o riso nem o combate à discrimina- bom ou ruim. Uma coisa, porém, é verdade: parto
ção. sempre de algo, para mim inesperado, a que chamo
b) O conflito, no entanto, é inevitável, não poden- de espanto. E é isso que me dá prazer, me faz criar o
do dispensar o riso nem o combate à discrimina- poema.
ção. E, por isso mesmo, também, copiar não tem graça.
c) Conquanto não possamos dispensar o riso nem Um dos poemas mais inesperados que escrevi foi “O
o combate à discriminação, o conflito é inevitá- Formigueiro”, no comecinho do movimento da poe-
vel. sia concreta.

d) A menos que não possamos dispensar o riso É que, após os últimos poemas de “A Luta Corporal”
nem o combate à discriminação, o conflito será (1953), entrei num impasse, porque, inadvertida-
inevitável. mente, implodira minha linguagem poética. Não po-
dia voltar atrás nem seguir em frente.
e) O conflito é inevitável, porquanto não podemos
dispensar o riso nem o combate à discrimina- Foi quando, instigado por três jovens poetas paulis-
ção. tas, tentei reconstruir o poema. Havíamos optado
por trocar o discurso pela sintaxe visual.

Já em alguns poemas de “A Luta Corporal”, havia


TEXTO: 46 - Comum à questão: 82 explorado a materialidade da palavra escrita, perce-
bendo o branco da página como parte da linguagem,
Texto 1 como o seu contrário, o silêncio.

Por isso, diferentemente dos paulistas – que explora-


vam o grafismo dos vocábulos, desintegrando-os em
O Formigueiro letras –, eu desejava expor o “cerne claro” da palavra,
materializado no branco da página.

Daí por que, nesse poema, busquei um modo de gra-


Ferreira Gullar far as palavras, não mais como uma sucessão de le-
tras, e sim como construção aberta, deixando à mos-
tra seu núcleo de silêncio.

Mas não podia grafá-las pondo as letras numa or-


dem arbitrária. Por isso, tive de descobrir um meio
de superar o arbitrário, de criar uma determinação
necessária.

Ocorre, porém, que essas eram questões latentes em


mim, mas era necessário surgir a motivação poética
para pô-las em prática.
Disponível em:
390 - www.PROJETOREDACAO.com.br
E isso surgiu das próprias letras, que, de repente, me pressão vocabular. O livro-poema é que me levou a
pareceram formigas, o que me levou a uma lembran- fazer os poemas espaciais, manuseáveis, e finalmen-
ça mágica, de minha infância, em nossa casa, em São te o poema-enterrado, de que o leitor participa, cor-
Luís do Maranhão. poralmente, entrando no poema.

A casa tinha um amplo quintal, em que surgiu, certa GULLAR, Ferreira. Folha de S. Paulo, São Paulo, 29 jan.
manhã, um formigueiro: eram formigas ruivas que 2012. p. E10. Ilustrada.
brotavam de dentro da terra.

Eu ouvira dizer que “onde tem formiga tem dinheiro


enterrado” e convenci minhas irmãs a cavarem comi- Questão 82 - (UFG GO)
go o chão do quintal de onde brotavam as formigas.
E cavamos a tarde inteira à procura do tesouro que A disposição gráfica do Texto 1 remete à arquitetura
não aparecia, até que caiu uma tempestade e pôs fim de um formigueiro, e, como tal, esse texto foi elabo-
à nossa busca. rado a partir de um núcleo. Segundo a descrição feita
por Ferreira Gullar no Texto 2, qual é a base desse
Foi essa lembrança que abriu o caminho para o poe- núcleo e como ele se constitui?
ma, mas não sabia como realizá-lo. Basicamente, eu
tinha as letras, que me lembravam formigas, mas isso
era apenas o pretexto-tema para explorar a lingua- Questão 83 - (UFJF MG)
gem em sua ambiguidade de som e silêncio, matéria
e significado. Que fazer então? Leia os fragmentos abaixo para responder à questão.
Como encontrei a solução, não me lembro, mas sei
que não surgiu pronta, e sim como possibilidades a
explorar. A – “O que penso eu do mundo?

Tinha a palavra “formiga”, que era o elemento cer- Sei lá o que penso do mundo!
ne. Experimentei desintegrá-la numa explosão que
dispersou as letras até o limite da página e depois Se eu adoecesse pensaria nisso.”
a reconstruí numa nova ordem: já não era a palavra
(PESSOA, Fernando. O eu profundo e outros eus. Rio
“formiga”, e sim um signo inventado. Foi então que
de Janeiro: Nova Fronteira, [s/a], p. 139.)
pensei em grafar as palavras numa ordem outra e
que nos permitisse lê-las.

Em seguida, surgiu a ideia mais importante para a in- B – “Tenho medo de pensar
venção do poema: constituir um núcleo, formado por
uma série de frases dispostas de tal modo que as le- (...)
tras de certas palavras servissem para formar outras.
Nasceu o núcleo do poema, a metáfora gráfica de um O meu mistério eu avivo
formigueiro.
Se me perco a meditar.”
Ele surgiu da conjugação das seguintes frases: “A for-
miga trabalha na treva a terra cega traça o mapa do (PESSOA, Fernando. O eu profundo e outros eus. Rio
ouro maldita urbe”. de Janeiro: Nova Fronteira, [s/a], p. 90.)

Construído esse núcleo, o poema nasceu dele, pa-


lavra por palavra, sendo que cada palavra ocupava
Pode-se dizer que a questão central nos dois frag-
uma página inteira e suas letras obedeciam à posição
mentos gira em torno da ação de pensar. Ao com-
que ocupavam no núcleo. Desse modo, a forma das
parar os dois fragmentos, explique a diferença de
palavras nada tinha da escrita comum. Não era ar-
concepção da ação de pensar entre o fragmento A e
bitrária porque determinada pela posição que cada
o fragmento B.
letra ocupava no núcleo.

“O Formigueiro” foi, na verdade, o primeiro livro-


-poema que inventei, muito embora, ao fazê-lo, não TEXTO: 47 - Comum à questão: 84
tivesse consciência disso.
SONHO DE HERÓI
Chamaria de livro-poema um tipo de criação poéti-
ca em que a integração do poema no livro é de tal
ordem que se torna impossível dissociá-los. Nos li-
vros-poemas posteriores, essa integração é maior, Com um galho de bambu verde
porque as páginas são cortadas para acentuar a ex-
www.PROJETOREDACAO.com.br - 391
e dois ramos de palmeira e) uma queda vagarosa e constante.

eu hei de fazer um dia o meu cavalo – com asas!

Questão 85 - (FAMECA SP)

Subirei nele, com o vento, lá bem alto,

de carreira,

por sobre o arvoredo e as casas.

Voarei, roçando o mato,

as copas em flor das árvores,

como se cruzasse o mar...

e até sobre o mar de fato

passarei nas nuvens pálidas

muito acima das montanhas, das cidades, das ca- Examinando-se a reprodução do quadro de Daumier,
choeiras, pintor francês do século XIX, conclui-se que ele re-
produz o ideário da época, visto que
mais alto que a chuva, no ar!

a) a pintura procurava, tal como a literatura, defen-


E irei até às estrelas, der a soberania e os valores das elites sociais.

ilhas dos rios de além, b) a pintura e a literatura tinham função combativa


e levavam à reflexão sobre as condições sociais.
ilhas de pedras divinas,
c) os tipos retratados tanto na pintura como na
de ribeiras diamantinas literatura mostram indivíduos voltados a senti-
mentos de caráter intimista.
com palmas, conchas, coquinhos nas suas praias
também... d) a ênfase a problemas místicos, distantes da rea-
lidade objetiva, era o foco dos pintores e dos es-
critores.
praias de pérola e de ouro, e) a descrição das personagens retratadas revela
onde nunca foi ninguém... uma preocupação metafísica e transcendental
de pintores e escritores.
(Murilo Araújo)

Questão 86 - (FGV )
Questão 84 - (ESPM RJ)
Este texto foi extraído de um conto de Monteiro Lo-
Na sequência dos versos, percebe-se que o sonho do bato, cujo personagem principal enlouquece, quan-
herói é: do vê seu cafezal inteiramente destruído pela geada.

a) um mergulho nos abismos marinhos. E a geada veio! Não geadinha mansa de todos os
anos, mas calamitosa, geada cíclica, trazida em on-
b) uma viagem em torno do planeta Terra. das do Sul.

c) uma lenta ascensão e uma rápida queda. O sol da tarde, mortiço, dera uma luz sem lumino-
sidade, e raios sem calor nenhum. Sol boreal, tiritan-
d) uma constante e progressiva escalada. te. E a noite caíra sem preâmbulos.

392 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Deitei-me cedo, batendo o queixo, e na cama, era o dia; e o do rei, a quem ia servir, e sobre os dois
apesar de enleado em dois cobertores, permaneci en- o seu, na língua dos novos irmãos.
tanguido uma boa hora antes que ferrasse no sono.
Acordou-me o sino da fazenda, pela madrugada. Sen- (José de Alencar. Iracema. São Paulo: Moderna, 1993. p.
tindo-me enregelado, com os pés a doerem, ergui-me 83)
para um exercício violento. Fui para o terreiro.

O relento estava de cortar as carnes – mas que


maravilhoso espetáculo! Brancuras por toda a parte. Questão 87 - (PUCCamp SP)
Chão, árvores, gramados e pastos eram, de ponta a As expressões sagrado lenho e negras vestes cono-
ponta, um só atoalhado branco. As árvores imóveis, tam um contexto que contrasta fortemente com o
inteiriçadas de frio, pareciam emersas dum banho de que sugere a expressão
cal. Rebrilhos de gelo pelo chão. Águas envidradas.
As roupas dos varais, tesas, como endurecidas em
goma forte. As palhas do terreiro, os sabugos de ao
pé do cocho, a telha dos muros, o topo dos moirões, a) terra selvagem.
a vara das cercas, o rebordo das tábuas – tudo pol-
vilhado de brancuras, lactescente, como chovido por b) plantar a cruz.
um suco de farinha. Maravilhoso quadro! Invariável
c) recebeu com o batismo.
que é a nossa paisagem, sempre nos mansos tons do
ano inteiro, encantava sobremodo vê-la súbito mu- d) um só deus.
dar, vestir-se dum esplendoroso véu de noiva – noiva
da morte, ai!... e) o chefe branco.
Monteiro Lobato, O drama da geada, in Negrinha. São
Paulo: Brasiliense, 1951.
TEXTO: 49 - Comum à questão: 88

Considere a produção abaixo, da escritora e cartu-


a) Em outra passagem do conto, o narrador afirma: nista argentina Maitena Burundarena, publicada na
“Só então me acudiu que o belo espetáculo que obra Mulheres alteradas 1.
eu até ali só encarara pelo prisma estético tinha
um reverso trágico: a morte do heroico fazen-
deiro”.
O filho, sua mãe e a surra, década a década.
O que o narrador chama de “prisma estético”
pode ser identificado no excerto aqui reprodu-
zido? Justifique sua resposta.

b) Tendo em vista as variedades linguísticas da lín-


gua portuguesa, justifica-se o emprego, no tex-
to, de expressões como “geadinha mansa”, “ba-
tendo o queixo” e “ferrasse no sono”? Explique.

c) As frases nominais podem ser usadas nas des-


crições esquemáticas. Esse tipo de recurso foi
usado no texto? Justifique sua resposta.

TEXTO: 48 - Comum à questão: 87

Muitos guerreiros de sua raça acompanharam o


chefe branco, para fundar com ele a mairi dos cris-
tãos. Veio também um sacerdote de sua religião, de
negras vestes, para plantar a cruz na terra selvagem.

Poti foi o primeiro que ajoelhou aos pés do sagra-


do lenho; não sofria ele que nada mais o separasse
de seu irmão branco. Deviam ter ambos um só deus,
como tinham um só coração.
(Rio de Janeiro: Rocco, 2003. p. 61)
Ele recebeu com o batismo o nome do santo, cujo

www.PROJETOREDACAO.com.br - 393
Questão 88 - (PUCCamp SP) afirmar:

Considere as afirmações que seguem.

a) em certas tribos, “tribo” foi empregada na mes-


ma acepção vista e exemplificada neste item do
I. No quadrinho 1960, há emprego de linguagem verbete de dicionário: “grupo social autônomo
informal, bastante adequada à cena retratada. que apresenta certa homogeneidade (física, lin-
guística, cultural etc.), ger. composto de famílias
II. No quadrinho 1990, há discordância entre a pes- ligadas a uma origem comum Ex.: as t. dos go-
soa verbal usada e o pronome pessoal oblíquo dos”.
empregado, desarmonia inadequada se for con-
siderado o padrão culto escrito. b) a palavra mito foi empregada na mesma acep-
ção vista e exemplificada neste item do verbete
III. Transformando a oração Embora eu seja seu fi- de dicionário: “representação idealizada do es-
lho, no quadrinho 1970, em oração reduzida, a tado da humanidade, no passado ou no futuro.
formulação Sendo eu seu filho mantém a corre- Ex.: m. do Eldorado”.
ção e o sentido originais.
c) o conhecimento do que se lê neste item do ver-
IV. No quadrinho 1950, Vai ver só exprime, em lin- bete do dicionário - “I. Média (Rubrica: história)
guagem coloquial, uma advertência, que o con- período da história mundial, esp. europeia, que,
texto não permite confundir com nenhum tipo por convenção, se estende da queda do Império
de ameaça. Romano, no sV, até a queda de Constantinopla
(1453)” - é condição necessária para a com-
preensão do que seria uma espécie de Idade
Está correto o que se afirma SOMENTE em Média.

d) substituindo o destacado em um período som-


brio no qual nada teria ocorrido de relevante no
mundo por “cujas as realizações não atingiriam
relevância no mundo”, o sentido e a correção
a) I e II. originais estarão preservados.
b) II e III. e) o segmento o que só confirmaria que nada teria
ocorrido de relevante mesmo constitui avaliação
c) I, III e IV.
do autor sobre a irrelevância cultural da febre da
d) I, II e IV. discoteca nos anos 70.

e) II, III e IV.


TEXTO: 51 - Comum à questão: 90

TEXTO: 50 - Comum à questão: 89 Viagem na família

Persiste entre certas tribos o mito de que os anos 70


foram uma espécie de Idade Média da música popu-
No deserto de Itabira
lar, um período sombrio no qual nada teria ocorrido
de relevante no mundo, a não ser a febre da discote- a sombra de meu pai
ca - o que só confirmaria que nada teria ocorrido de
relevante mesmo. Não adianta confrontar os detra- tomou-me pela mão.
tores dessa “década perdida” com as melhores fases
de Marvin Gaye, Pink Floyd e David Bowie ou ainda Tanto tempo perdido.
com a emergência dos Sex Pistols, dos Ramones, do
Clash e dos demais punks. Porém nada dizia.

(Arthur Dapieve. Eles são a fonte. Música. Não era dia nem noite.
In BRAVO!, set 2011. p. 31) Suspiro? Voo de pássaro?

Porém nada dizia.


Questão 89 - (PUCCamp SP)

Considerado o primeiro período do texto, é correto Longamente caminhamos.


394 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Aqui havia uma casa. Que cruel, obscuro instinto

A montanha era maior. movia sua mão pálida

Tantos mortos amontoados, sutilmente nos empurrando

o tempo roendo os mortos. pelo tempo e pelos lugares

E nas casas em ruína, defendidos?

desprezo frio, umidade. Olhei-o nos olhos brancos.

Porém nada dizia.

Gritei-lhe: Fala! Minha voz

A rua que atravessava vibrou no ar um momento,

a cavalo, de galope. bateu nas pedras. A sombra

Seu relógio. Sua roupa. prosseguia devagar

Seus papéis de circunstância. aquela viagem patética

Suas histórias de amor. através do reino perdido.

Há um abrir de baús Porém nada dizia.

e de lembranças violentas.

Porém nada dizia. Vi mágoa, incompreensão

e mais de uma velha revolta

No deserto de Itabira a dividir-nos no escuro.

as coisas voltam a existir, A mão que não quis beijar,

irrespiráveis e súbitas. o prato que me negaram,

O mercado de desejos recusa em pedir perdão.

expõe seus tristes tesouros: Orgulho. Terror noturno.

meu anseio de fugir; Porém nada dizia.

mulheres nuas; remorso;

Porém nada dizia. Fala fala fala fala.

Puxava pelo casaco

Pisando livros e cartas, que se desfazia em barro.

viajamos na família. Pelas mãos, pelas botinas

Casamentos; hipotecas; prendia a sombra severa

os primos tuberculosos; e a sombra se desprendia

a tia louca; minha avó sem fuga nem reação.

traída com as escravas, Porém ficava calada.

rangendo sedas na alcova.

Porém nada dizia. E eram distintos silêncios

www.PROJETOREDACAO.com.br - 395
que se entranhavam no seu. Questão 91 - (IFPE)

Era meu avô já surdo Mulher proletária

querendo escutar as aves Jorge de Lima

pintadas no céu da igreja;

a minha falta de amigos; Mulher proletária — única fábrica

a sua falta de beijos; que o operário tem, (fabrica filhos)

eram nossas difíceis vidas tu

e uma grande separação na tua superprodução de máquina humana

na pequena área do quarto. forneces anjos para o Senhor Jesus,

forneces braços para o senhor burguês.

A pequena área da vida

me aperta contra seu vulto, Mulher proletária,

o operário, teu proprietário


e nesse abraço diáfano
há de ver, há de ver:
é como se eu me queimasse
a tua produção,
todo, de pungente amor.
a tua superprodução,
Só hoje nos conhecermos!
ao contrário das máquinas burguesas
Óculos, memórias, retratos
salvar o teu proprietário.
fluem no rio do sangue.
(In: Poesia completa. 2.ed. Rio de Janeiro, Nova Frontei-
As águas já não permitem ra, 1980. v.1)
distinguir seu rosto longe,

para lá de setenta anos... Jorge de Lima é um poeta representativo da segun-


da geração modernista. Analise as proposições abai-
Senti que me perdoava
xo acerca dos recursos expressivos que constroem a
porém nada dizia. imagem da “mulher proletária”.

As águas cobrem o bigode, I. As metáforas “fábrica” e “máquina humana”


são, de certo modo, desveladas pela construção
a família, Itabira, tudo. parentética “fabrica filhos”.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. II. Os dois últimos versos na primeira estrofe cons-
Rio de Janeiro: Nova Aguilar,1979, pp. 154-5. tituem eufemismos das ideias de mortalidade e
de trabalho infantil.

III. O trocadilho entre “prole” e “proletária” assi-


Questão 90 - (PUC RJ) nala a função social da mulher no contexto do
poema.
Determine e discuta o sentido de viagem presente no
poema de Carlos Drummond de Andrade, transcre- IV. A gradação na segunda estrofe aponta para a
vendo exemplos que justifiquem a sua resposta. submissão da mulher e para a salvação do ho-
mem operário.

V. Os últimos versos do poema sugerem que o tra-


balho da mulher pode levar sua família à ascen-
são social.
396 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Estão corretas, apenas: Língua Portuguesa. Ano 7, n.78, abril de 2012. p.17.

a) I, II e V O Bradesco respondeu com um poema a uma soli-


citação feita em versos por um cliente, em fevereiro.
b) II, III e IV Ao pedir um cartão, o correntista Mauro Júnior, de
Cidade de Deus (RJ), teve o estalo de chamar aten-
c) I, II e III ção no Facebook. Tábata Cury, da equipe de mídias
d) II e V sociais do banco, não só respondeu, como o fez na
mesma moeda.
e) I e IV
Sempre haverá o mal-humorado que questiona
a autenticidade de tamanha veia criativa. Mas uma
ação de marketing evitaria tal conjunto de rimas po-
Questão 92 - (UFU MG) bres, com desigualdade no tamanho dos versos e
estrofes rimadinhas, uso de adjetivos manipulativos
Banco troca poemas com cliente (“Bradesco querido”), de clichês rococós (“a bradar”,
“findou meu sorrir”) e equalizações frágeis de advér-
bios e adjetivos (usar “pessoalmente” para rimar).
Suspeita de que criatividade foi jogada de marketing Não, os versos foram espontâneos. Ou o marketing
não se sustenta bancário teria de ler mais poesia antes de criar uma
ação. Ninguém deixaria de comentar o caso, mas tor-
naria a coisa toda de fato memorável.

Com base no texto, faça o que se pede.

a) Explique por que, segundo o autor da matéria,


a “suspeita de que criatividade foi jogada de
marketing não se sustenta”.

b) No texto acima, há várias marcas de intertextua-


lidade. Identifique e explique duas dessas mar-
cas.

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TEXTO: 52 - Comum à questão: 93 Amou daquela vez como se fosse a última /

Beijou sua mulher como se fosse a última

E cada filho seu como se fosse o único /

E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina / Ergueu


no

patamar quatro paredes sólidas

Tijolo com tijolo num desenho mágico / Seus olhos

embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado /

Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago / Dan-


çou e

gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado /


MORAES,Vinicius de. Poética (I). Disponível em: <http://
www.google.com.br/ E flutuou no ar como se fosse um pássaro
search?num=107hl=p-
t-BR&site=imghp&tbm=isch&source=hp&q=poe- E se acabou no chão feito um pacote flácido / Ago-
ma+sobre+ nizou
o+fazer+m%C3%A9dico&oq=poema+sobre+o+fa- no meio do passeio público
zer+m%C3%A9dico&gs_l=
img.12...3844.15250.0.17734.26.10.0.16.16.0.468. Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
3092.22j
6j1.9.0...0.0.HfVOFqw1ZmI&biw=830&bih=505&- Amou daquela vez como se fosse o último /
sei=WmjtT6T9JqLb0QG6r_H1DQ>.
Acesso em: 29 jun. 2012. Beijou sua mulher como se fosse a única

E cada filho seu como se fosse o pródigo /

Questão 93 - (Unifacs BA) E atravessou a rua com seu passo bêbado

No texto, o verso que permite duplicidade de leitura Subiu a construção como se fosse sólido/
é o transcrito em
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas

Tijolo com tijolo num desenho lógico /


01. “De dia tardo” (v. 2).
Seus olhos embotados de cimento e tráfego.
02. “De noite ardo” (v. 4).
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe /
03. “A oeste a morte” (v. 5).
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo.
04. “Do sul cativo” (v. 7).
Bebeu e soluçou como se fosse máquina / Dançou e
05. “Ando onde há espaço” (v. 12).
gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música /


TEXTO: 53 - Comum à questão: 94
E flutuou no ar como se fosse sábado
Texto I – Construção
E se acabou no chão feito um pacote tímido / Ago-
nizou

398 - www.PROJETOREDACAO.com.br
no meio do passeio náufrago Queria querer gritar /

Morreu na contramão atrapalhando o público Setecentas mil vezes

Amou daquela vez como se fosse máquina / Beijou Como são lindos / Como são
sua
lindos os burgueses
mulher como se fosse lógico.
E os japoneses / Mas tudo é
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas / Sentou
muito mais...
pra descansar como se fosse um pássaro
Será que nunca faremos /
E flutuou no ar como se fosse um príncipe /
Senão confirmar
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
A incompetência / Da
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
América católica
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
Que sempre precisará / De
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir,
ridículos tiranos
Por me deixar respirar, por me deixar existir, / Deus
lhe Será, será, que será? / Que

pague será, que será?

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir Será que esta / Minha

Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir estúpida retórica

Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair, / Terá que soar / Terá que se

Deus lhe pague ouvir

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir Por mais mil anos...

E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir Enquanto os homens

E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir, / exercem / Seus podres
Deus
poderes
lhe pague.
Índios e padres e bichas /
(Chico Buarque)
Negros e mulheres

E adolescentes / Fazem o
Texto II – Podres Poderes
carnaval...

Queria querer cantar /


Enquanto os homens
Afinado com eles
exercem / Seus podres
Silenciar em respeito / Ao
poderes
seu transe num êxtase
Motos e fuscas avançam /
Ser indecente / Mas tudo é
Os sinais vermelhos
muito mau...
E perdem os verdes / Somos
Ou então cada paisano / E
uns boçais...
cada capataz

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Com sua burrice fará / se ouvir

Jorrar sangue demais Por mais zil anos...

Nos pantanais, nas cidades / Ou então cada paisano / E

Caatingas e nos gerais cada capataz

Será que apenas / Os Com sua burrice fará /

hermetismos pascoais Jorrar sangue demais

E os tons, os mil tons / Seus Nos pantanais, nas cidades

sons e seus dons geniais / Caatingas e nos gerais...

Nos salvam, nos salvarão / Será que apenas / Os

Dessas trevas e nada mais... hermetismos pascoais

Enquanto os homens E os tons, os mil tons /

exercem / Seus podres Seus sons e seus dons

poderes geniais

Morrer e matar de fome / Nos salvam, nos salvarão /

De raiva e de sede Dessas trevas e nada

São tantas vezes / Gestos mais...

naturais... Enquanto os homens /

Eu quero aproximar / O Exercem seus podres

meu cantar vagabundo poderes

Daqueles que velam / Pela Morrer e matar de fome /

alegria do mundo De raiva e de sede

Indo e mais fundo / Tins e São tantas vezes / Gestos

bens e tais... naturais

Será que nunca faremos / Eu quero aproximar / O

Senão confirmar meu cantar vagabundo

Na incompetência / Da Daqueles que velam / Pela

América católica alegria do mundo...

Que sempre precisará / De Indo mais fundo / Tins e

ridículos tiranos bens e tais!

Será, será, que será? / Indo mais fundo / Tins e

Que será, que será? bens e tais!

Será que essa / Minha Indo mais fundo / Tins e

estúpida retórica bens e tais!

Terá que soar / Terá que (Caetano Veloso)

400 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 94 - (UEPA) a) O modo como as investigações para esclarecer
o assassinato de Armindo são conduzidas em A
Observa-se, no Texto I, que o autor retrata: Confissão exemplifica bem a noção de violência
simbólica.

b) A atitude do Lopo em relação a Casimiro, após
I. A vida do trabalhador sendo banal, sofrida, sem receber a sentença da justiça, é um caso típico
rumo, sem motivação quando é relacionada ao de violência simbólica.
sistema capitalista, é a negação social que os
operários sofrem e que promove comportamen- c) O fato de o Pe. Artur, - que ouvira Reinaldo em
tos de acordo com critérios e padrões impostos confissão à época do assassinato de Armindo,-
a eles. não ter revelado à polícia que fora ele, Reinaldo,
e não Bernardo o assassino, é uma forma de vio-
II. O fim da ética cultural, pois os EUA passam a lência simbólica.
interferir na sociedade brasileira e mundial, im-
pondo, de certa forma, seus ideais capitalistas, d) O Garrinchas, que costuma agredir fisicamente
na tentativa de degradar ou controlar a classe quem não lhe dá esmolas, pratica o tipo de vio-
operária por meio de condutas de intimidação e lência que se opõe conceitualmente à violência
manipulação explícitas. simbólica.
III. A vida de um cidadão trabalhador, não neces- e) Sentir-se diminuído por não saber ler, é o tipo
sariamente da construção civil, que vive em de consequência da violência simbólica que des-
função de sua força de trabalho: uma troca, qualifica o analfabeto, vivenciado por Fabiano e
na realidade, com os empresários, que deixam Sinhà Vitória. A grande admiração que os dois
transparecer o poder de seu discurso dominante têm por seu Tomás da Bolandeira, por exemplo,
sobre o proletariado. reside, em boa parte, no fato de este último do-
minar a linguagem.
IV. A atual indiferença social quanto aos problemas
alheios, configurada no momento em que o tra-
balhador cai da construção na rua e atrapalha o
tráfego, assim como o menino, drogado ou não, Questão 96 - (UFMG)
que pede moedas nas esquinas das ruas.
Leia estes poemas:
V. O canteiro de obras como um lugar inseguro,
pois sua infraestrutura é inadequada, igualmen-
te às ruas de Belém, que não oferecem seguran-
POEMA 1
ça à população, o que evidencia a discriminação
do governo em relação aos operários em geral.

Lar doce lar

De acordo com as afirmativas acima, a alternativa


correta é:
Minha pátria é minha infância:
Por isso vivo no exílio
a) I, II e III CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo:
b) I, III e V Brasiliense, 1985. p. 63.

c) II, III e V

d) II, III e IV POEMA 2

e) I, III e IV
Recuperação da adolescência

Questão 95 - (UEPA)
é sempre mais difícil
Com base no texto, analise os comentários contidos
nas opções e assinale aquele que estiver correto. ancorar um navio no espaço

CESAR, Ana Cristina. A teus pés. São Paulo: Brasilien-


se, 1987. p. 57.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 401
RELACIONE os dois poemas, analisando a concepção, substantivo.
expressa em cada um, sobre diferentes fases da vida.
**frincha: fenda.

***epíteto: adjetivo ou qualificativo que se junta a


Questão 97 - (FGV ) um nome para dar-lhe uma designação particu-
lar.
Leia o seguinte texto, no qual o crítico Augusto Meyer
comenta um dos contos de Machado de Assis dedica-
dos à “psicologia da criação”.
a) Apesar de predominar no texto a linguagem de-
notativa, já que ele se insere no gênero ensaís-
tico, é possível apontar palavras ou expressões
1Em “O Cônego ou Metafísica do Estilo”, deu-nos usadas conotativamente. Cite dois exemplos.
Machado de Assis a própria imagem dinâmica do Justifique sua escolha.
2
esforço criador, num de seus momentos de crise. O
cônego, ao redigir o sermão, depois do primeiro 3im- b) As orações reduzidas “ao redigir o sermão” (ref.
pulso bem-sucedido, em que a fluência do discurso 2) e “a espairecer do esforço” (ref. 10 e 11) ex-
vai puxando a pena, de súbito sente que um 4adjetivo primem o mesmo tipo de circunstância? Justifi-
não acode ao apelo do substantivo. Desfeita a ilusão que sua resposta.
da espontaneidade, hesita, duvida, pois já 5não sabe
como reatar o fio da frase. Há só uma Sílvia* para c) Explique o que o crítico pretendeu dizer com a
aquele Sílvio*, mas o namoro ficou sem 6resposta última frase de seu comentário sobre o conto
e a palavrinha esquiva tomou a forma de um ponto machadiano.
de interrogação. O autor convida o leitor a 7enfiar-se
na pele do cônego, para poder acompanhar as coi-
sas por dentro. A nossa torre de observação é 8um Questão 98 - (FUVEST SP)
poço, aquele poço de mina que liga o inconsciente ao
consciente. Descobrimos então um “burburinho 9de O olho é o senhor da astronomia, autor da cosmogra-
ideias”, e Sílvio, às cotoveladas no meio da multidão fia, conselheiro e corretor de todas as artes humanas
de candidatas, segue à procura do amor 10predesti- (...). É o príncipe das matemáticas; suas disciplinas
nado. Aborrecido, enfim, com a demora, o cônego são intimamente certas; determinou as altitudes e
se levanta e vai à janela, a espairecer do 11esforço. dimensões das estrelas; descobriu os elementos e
Esquece por momentos a ansiosa busca. “Mas Sílvio seus níveis; permitiu o anúncio de acontecimentos
e Sílvia é que se lembram de si”, acode 12Machado. futuros, graças ao curso dos astros; engendrou a ar-
“Enquanto o cônego cuida em coisas estranhas, eles quitetura, a perspectiva, a divina pintura (...). O en-
prosseguem em busca um do outro, sem 13que ele genho humano lhe deve a descoberta do fogo, que
saiba nem suspeite nada”. oferece ao olhar o que as trevas haviam roubado.
14E desdobram então à delícia do leitor aqueles Leonardo da Vinci, Tratado da pintura.
dois ou três parágrafos, uma frincha** entreaberta
para 15o subconsciente, em que sentimos perpassar
num vislumbre a elaboração automática do estilo,
quando a 16intuição, enlaçada à enunciação, ines- Considere as afirmações abaixo:
peradamente desabrocha na consciência da frase
articulada – flor 17do epíteto***. Na ilusão do autor,
tudo parece uma dádiva imprevista, uma generosa I. O excerto de Leonardo da Vinci é um exemplo
oferta do 18subconsciente, (...). Mas a verdade é que do humanismo renascentista que valoriza o ra-
os grandes achados, como prêmio bem-merecido, cionalismo como instrumento de investigação
apenas cabem 19aos que não desfalecem na busca dos fenômenos naturais e a aplicação da pers-
e são dignos de conquistá-los. Sílvio merecia Sílvia. pectiva em suas representações pictóricas.
Nesta humilde glosa 20machadiana, o enlace de Sílvio
e Sílvia simboliza o harmonioso compromisso entre II. Num olho humano com visão perfeita, o crista-
esforço e vocação, 21disciplina e poesia. lino focaliza exatamente sobre a retina um feixe
de luz vindo de um objeto. Quando o cristalino
Augusto Meyer, A forma secreta. 4. ed., Rio de Ja- está em sua forma mais alongada, é possível fo-
neiro: calizar o feixe de luz vindo de um objeto distan-
Francisco Alves, 1965. te. Quando o cristalino encontra-se em sua for-
ma mais arredondada, é possível a focalização
de objetos cada vez mais próximos do olho, até
* Sílvia e Sílvio: nomes próprios que, no conto, per- uma distância mínima.
sonificam, respectivamente, um adjetivo e um
402 - www.PROJETOREDACAO.com.br
III. Um dos problemas de visão humana é a miopia. II. A partir do cartaz acima, é possível inferir a as-
No olho míope, a imagem de um objeto distante sociação entre a extração de diamantes na Áfri-
formase depois da retina. Para corrigir tal defei- ca e o comércio internacional de armas, que
to, utilizase uma lente divergente. abastece grupos rivais envolvidos nas guerras
civis desse continente.

III. O cartaz denuncia a vinculação dos países afri-


Está correto o que se afirma em canos islâmicos com o terrorismo internacional
e o seu financiamento por meio do lucrativo co-
mércio mundial de diamantes e pedras precio-
a) I, apenas. sas.

b) I e II, apenas.

c) I e III, apenas. Está correto o que se afirma apenas em

d) II e III, apenas.

e) I, II e III. a) I e II.

b) I e III.

Questão 99 - (FUVEST SP) c) II.

Q. 08 d) II e III.

e) III.

Questão 100 - (UEG GO)

Leia o trecho abaixo.

Muitas vezes, à mesa, depois de Baco ter bebido,


o rosado Amor envolveu-o em seus braços delicados,
segurou firme os cornos do deus e quando o vinho
tornou pesadas as asas agitadas de Cupido, obrigou-
-o à imobilidade no lugar que escolheu. Então agita
rápido suas asas úmidas, mas as gotas que o Amor
esparge fazem seu mau efeito. O vinho dispõe os âni-
mos e torna-os propícios aos ardores amorosos; as
Atualmente, grandes jazidas de diamantes, localiza- preocupações desaparecem e afogam-se nas múlti-
das em diversos países africanos, abastecem o luxuo- plas libações.
so mercado mundial de joias. O diamante é uma for-
ma cristalina do carbono elementar constituída por OVÍDIO. A Arte de Amar. São Paulo: Martin Claret,
uma estrutura tridimensional rígida e com ligações 2003. p. 32-33.
covalentes. É um mineral precioso devido a sua dure-
za, durabilidade, transparência, alto índice de refra-
ção e raridade. No trecho selecionado, o escritor romano Ovídio des-
creve os benefícios do vinho para as relações amo-
rosas, demonstrando alguns valores cultuados pela
Analise as afirmações abaixo: sociedade romana e que são destacados em sua lite-
ratura. Esses valores são:

I. O diamante e a grafite são formas alotrópicas


de carbono com propriedades físicas e químicas a) o hermetismo e a cupidez
muito similares. Apesar disso, o diamante é uma b) o estoicismo e a frugalidade
das pedras preciosas mais valiosas existentes e,
a grafite, não. c) o hedonismo e a prodigalidade
www.PROJETOREDACAO.com.br - 403
d) o existencialismo e a sensatez do ensino da língua?

Questão 101 - (FUVEST SP) Questão 103 - (UFBA)

É correto afirmar que os textos “a” e “b”, a seguir, I.


podem ser entendidos de maneira diferente da que
pretendiam seus redatores? Justifique sua resposta Sob as apreensões de uma crise social iminen-
separadamente para cada um dos textos. te, infalível, que a todos há de custar direta ou in-
diretamente onerosos sacrifícios, o povo brasileiro,
e particularmente os lavradores, esperam ansiosos,
entre receios por certo justificáveis e clamores que
Texto a: Alguns sonhos não mudam. Quer dizer, só de se explicam sem desar, o pronunciamento legal e de-
tamanho. (Propaganda de uma instituição bancária) cisivo da solução do problema da emancipação dos
escravos.
Texto b: A chuva tirou tudo o que eles tinham. Agora
vamos dar o mínimo que eles precisam. (Campanha [...]
feita por estabelecimentos comerciais em prol de ví-
timas de enchente) Ninguém se iluda, ninguém se deixe iludir. Não
há combinação de interesses, não há partido político,
não há governo, por mais forte que se presuma, que
possa impedir o proceloso acontecimento.
Questão 102 - (FUVEST SP)
[...]
Leia o texto a seguir e responda ao que se pede.
A voz de Deus, o brado do século da liberdade, a
opinião do mundo, o pronunciamento dos governos,
Tem-se discutido muito sobre as funções essen- o espírito e a matéria, a ideia e a força querem, exi-
ciais da linguagem humana e a hierarquia natural gem, e em caso extremo hão de impor a emancipa-
que há entre elas. É fácil observar, por exemplo, que ção dos escravos.
é pela posse e pelo uso da linguagem, falando oral- MACEDO, Joaquim Manuel de. As vítimas algozes: qua-
mente ao próximo ou mentalmente a nós mesmos, dros da escravidão.
que conseguimos organizar o nosso pensamento e 4. ed. São Paulo: Zouk, 2005. p. 7 e 8.
torná-lo articulado, concatenado e nítido; é assim
que, nas crianças, a partir do momento em que, rigo-
rosamente, adquirem o manejo da língua dos adul-
tos e deixam para trás o balbucio e a expressão frag- II.
mentada e difusa, surge um novo e repentino vigor
de raciocínio, que não só decorre do desenvolvimento
do cérebro, mas também da circunstância de que o
indivíduo dispõe agora da língua materna, a serviço
de todo o seu trabalho de atividade mental. Se se ini-
cia e desenvolve o estudo metódico dos caracteres
e aplicações desse novo e preciso instrumento, vai,
concomitantemente, aperfeiçoando-se a capacida-
de de pensar, da mesma sorte que se aperfeiçoa o
operário com o domínio e o conhecimento seguro das Mané galinha: [...] Você é uma criança!
ferramentas da sua profissão. E é este, e não outro,
Menino: — Que criança? Eu fumo, cheiro, já matei,
antes de tudo, o essencial proveito de tal ensino.
já roubei [...] Eu sou sujeito homem.
J. Mattoso Câmara Jr., Manual de expressão oral e
escrita. Adaptado.
CIDADE de Deus (2002). Direção: Fernando Mei-
relles. Intérpretes: Matheus Nachtergaele e um gru-
a) Transcreva o trecho em que o autor trata da re- po de atores, em sua maioria, amadores, moradores
lação da linguagem com o pensamento. da comunidade retratada no filme. Roteiro: Bráulio
Mantovani.
b) Transcreva o trecho em que o autor trata da re-
lação da linguagem com a fisiologia.

c) Segundo o autor, qual é o “essencial proveito” Os fragmentos transcritos dizem respeito à visão fic-

404 - www.PROJETOREDACAO.com.br
cional da existência de afrodescendentes no Brasil, ADONIAS FILHO. O largo da Palma: novelas.
em momentos históricos distintos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 17; p. 31 e
32.

Teça um comentário sobre as representações do ne-


gro brasileiro de ontem e de hoje, focalizadas nas Considerando os fragmentos transcritos e a leitura
duas obras e identificadas por I e II. da obra, faça um resumo sobre as personagens Célia
e Eliane, explicitando semelhanças e diferenças entre
as personagens e entre as situações por elas vividas
nas respectivas narrativas.
Questão 104 - (UFBA)

I.
Questão 105 - (UFBA)
Falará com a mãe, à noite seguinte, pouco antes
de sair para encontrar-se com o rapaz. E se a mãe Leslie acenou para um camponês.
perguntar quem é ele e o que faz, como responderá?
Dir-lhe-á que não sabe sequer o nome porque não – Lázaro, venha cá.
houve tempo para maior aproximação. Confessará,
porém, o detalhe: “Ele é mudo.” Inútil discutir, pro- – Sim, seu Lelo – disse Lázaro.
curar explicar, tentar justificar-se frente ao espanto
da mãe. Sabe que ela não compreenderá, ninguém – Conta aqui ao padre Nando, lá do mosteiro, como
entenderá, o sobrado inteiro a dizer que tem um pa- é que te trataram na polícia.
rafuso a menos. Uma doida, apenas uma doida se – Ah, eu guardei a cara do sargento que me cuspiu
deixaria seduzir e fascinar por um mudo! Deitada, em cima. Aquele eu corto de peixeira um dia. Os que
com os olhos fechados, espera que a noite passe de- me bateram ainda vai. Mas foi por nada, seu padre.
pressa e ainda mais depressa o dia seguinte. Eu sou homem temente a Deus e nunca tinha tido
Venderá os pãezinhos de queijo com maior alegria conhecimento de polícia. Mas o sargento me cuspiu.
porque deve ser mesmo amor o que sente no cora- Feito eu fosse uma poça d’água na rua que a gente
ção. (A moça dos pãezinhos de queijo) cospe assim de desafogo, pra ver se acerta. Eu corto
ele, seu padre.

– Você não deve lutar com as mesmas armas – disse


II. Nando. – Lute pelos seus direitos mas perdoe quem
lhe ofendeu pessoalmente. Impaciente, vermelho,
O pacote com farelos de milho. Voam os pombos pronunciando os nomes de qualquer jeito Leslie de-
quando Eliane, aproximando-se, abre o pacote com monstrava conhecimento íntimo da situação.
as mãos trêmulas. O sol anuncia dia claro na manhã
de junho. Tamanho o nervosismo que rasga o pacote – Conta aqui ao padre Nando, Nequinho – disse
e, lançando os farelos no pátio da Igreja da Palma, Leslie – a história da desonra de tua filha pelo capa-
vê que os pombos retornam para apanhá-los. Bom, taz.
como seria bom se fosse um pombo! Não ter que
falar, esconderse como uma ladra, não depender de – Eu conto mas Jesus Cristo já me falou. Já me
ninguém. Não ter principalmente qualquer consciên- esclareceu para corrigir os malfeitos. Bença, padre.
cia e muito menos buscar explicação para as coisas – Deus te abençoe – disse Nando. – Desgraçaram
da vida. E, sobretudo, de sua vida de mulher. Comer tua menina?
os farelos de milho no passeio, voar acima das ruas e
da multidão, abrigar-se nas árvores e nos beirais. [...] – Quase na cara da gente. Aquele porco. Não tinha
dez braças da casa de farinha. Houve até quem escu-
[...] tou um grito da menina antes dele tapar a boca dela.
Anda, apressando-se, como a fugir. Não percebe os Grito pertinho. E depois a gente ainda ouvia o galope
que passam porque nada realmente importa a não do cavalo dele quando Maria do Egito já estava na
ser o encontro com Odilon. E a verdade é que, antes porta de casa toda molhada de lágrima e com o san-
de transpor a porta da casa, ali no Bângala, deteve-se guinho ainda quente no vestido dela.
frente ao espelho, no quarto, mas não teve coragem Nando fez o sinal da cruz, num momento de ge-
de olhar-se. Pareceu-lhe que, vendo-se naquele es- nuíno horror.
pelho, faltaria a coragem para o encontro. E por isso,
apenas por isso, ganhara a rua com rapidez. (O largo – Que Deus perdoe este monstro. Você deu parte
de Branco) dele, Nequinho?

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– Deu – disse Leslie – mas ainda não aconteceu Cancioneiro, 150
coisa nenhuma. O capataz é o braço direito do se-
nhor de engenho, que deve ter achado a história
compreensível, até corriqueira. [...]
Não sei se é sonho, se realidade,
CALLADO, Antonio. Quarup. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2006. p. 38-39. Se uma mistura de sonho e vida,

Aquela terra de suavidade

Com base no fragmento transcrito e na leitura da Que na ilha extrema do sul se olvida.
obra, destaque e comente dois aspectos da realidade É a que ansiamos. Ali, ali
social presentes na narrativa ficcional.
A vida é jovem e o amor sorri.

TEXTO: 54 - Comuns às questões: 106, 107


Talvez palmares inexistentes,
Considere o soneto do livro Poemas e Canções, do
parnasiano brasileiro Vicente de Carvalho (1866- Áleas longínquas sem poder ser,
1924) e um poema de Cancioneiro, do modernista
português Fernando Pessoa (1888-1935). Sombra ou sossego deem aos crentes

De que essa terra se pode ter.

Velho Tema – 1 Felizes, nós? Ah, talvez, talvez,

Naquela terra, daquela vez.

Só a leve esperança, em toda a vida,

Disfarça a pena de viver, mais nada; Mas já sonhada se desvirtua,

Nem é mais a existência, resumida, Só de pensá-la cansou pensar,

Que uma grande esperança malograda. Sob os palmares, à luz da lua,

Sente-se o frio de haver luar.

O eterno sonho da alma desterrada, Ah, nessa terra também, também

Sonho que a traz ansiosa e embevecida, O mal não cessa, não dura o bem.

É uma hora feliz, sempre adiada

E que não chega nunca em toda a vida. Não é com ilhas do fim do mundo,

Nem com palmares de sonho ou não,

Essa felicidade que supomos, Que cura a alma seu mal profundo,

Árvore milagrosa, que sonhamos Que o bem nos entra no coração.

Toda arreada de dourados pomos, É em nós que é tudo. É ali, ali,

Que a vida é jovem e o amor sorri.

Existe, sim: mas nós não a alcançamos (30.08.1933)

Porque está sempre apenas onde a pomos (Fernando Pessoa. Obra poética. Rio de Janeiro:
Aguilar Editora, 1965.)
E nunca a pomos onde nós estamos.

(Vicente de Carvalho. Poemas e Canções. 5 ed. São


Paulo: Questão 106 - (UNESP SP)
Monteiro Lobato & C. – Editores, 1923.)
A felicidade existe? – Como encontrar a felicidade?
406 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Estabeleça um paralelo entre as respostas que cada lembranças. A África acolherá esses pássaros que
um dos poemas apresenta a estas duas questões. abandonam o sertão. Se ficam aqui, morrem de fome
e de sede. Voam num comprido manto, estendido no
céu. Nós ficaremos, chupando a última gota d’água
das pedras, lendo no sol, todos os dias, nossa sen-
Questão 107 - (UNESP SP) tença.
Os dois poemas se identificam por empregar mais de BRITO, Ronaldo Correia de. Livro dos homens.
uma vez a palavra sonho com significado equivalen- São Paulo: Cosac Naify, 2005. p. 20.
te. O que querem dizer ambos os eus-líricos com essa
palavra no contexto dos poemas?

Eufrásia Meneses é a personagem central do conto


homônimo, que integra o Livro dos homens, de Ro-
Questão 108 - (UFU MG) naldo Correia de Brito. No fragmento do conto,
Olho para a rua. Da minha janela vejo um bom pe-
daço da rua, terminando nuns prédios altos com um
morro atrás, uma rua não muito movimentada mas a) qual a correspondência entre o estado existen-
também não totalmente morta, e hoje, que é sába- cial de Eufrásia e as aves de arribação?
do, mais movimentada que nas outras noites. A cal-
çada está cheia de carros, muito mais carros na calça- b) tendo em vista a imagem “lendo o sol”, qual é a
da que na rua propriamente dita, e entre dois carros sentença a que Eufrásia diz estar condenada?
estacionados vejo um casal abraçado bem apertado,
se beijando, na verdade estão praticamente trepan-
do em via pública, é claro que não têm para onde ir,
ele deve ser auxiliar de escritório, mora com a mãe Questão 110 - (UFU MG)
em Del Castilho, não pode levar a mulher para lá [...] O PULSO
e ela deve ser balconista das Lojas Americanas, mora
numa vaga aqui mesmo em Copacabana, num ter-
ceiro andar da Barata Ribeiro [...]. De modo que não
tem saída, tem que ser ali mesmo, na rua [...]. Quem O pulso ainda pulsa
tiver olhos que veja. O pior cego é o que não quer ver.
O pulso ainda pulsa

BRITTO, Paulo Henriques. Um criminoso. In: Paraí-


sos artificiais. Peste bubônica câncer pneumonia

Raiva rubéola tuberculose anemia

Com base no trecho acima, responda as questões a Rancor cisticircose caxumba difteria
seguir.
Encefalite faringite gripe leucemia

a) De que modo o narrador-personagem do conto


O pulso ainda pulsa
Um criminoso se relaciona com a cidade e como
esta relação interfere na descrição de seu com- O pulso ainda pulsa
portamento?

b) Como este trecho problematiza a questão do es-


paço público e do espaço privado na contempo- Hepatite escarlatina estupidez paralisia
raneidade?
Toxoplasmose sarampo esquizofrenia

Úlcera trombose coqueluche hipocondria


Questão 109 - (UFG GO)
Sífilis ciúmes asma cleptomania
Leia o fragmento apresentado a seguir.

O corpo ainda é pouco


Uma revoada de aves de arribação me acorda das
O corpo ainda é pouco
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Reumatismo raquitismo cistite disritmia Questão 111 - (PUCCamp SP)

Hérnia pediculose tétano hipocrisia No fragmento acima,

Brucelose febre tifóide arteriosclerose miopia

Catapora culpa cárie câimbra lepra afasia a) detalhe do espaço indica que a composição da
personagem alia a percepção do narrador e
aquilo que o homem vê refletido diante dele.
O pulso ainda pulsa b) o narrador atém-se à descrição objetiva do exte-
rior da personagem, feita passo a passo, não se
O corpo ainda é pouco permitindo fazer comentários de qualquer tipo.
Arnaldo ANTUNES, Tony BELLOTTO, Marcelo FRO- c) as ações da personagem são apresentadas na
MER, In: Titãs, Õ Blésq Blom, 1989. ordem em que ela as rememora, sem que seja
seguida a ordem cronológica dos fatos.

Tendo em vista o texto acima dos Titãs, d) os traços que configuram a personagem apare-
cem isolados em trechos descritivos, isto é, to-
talmente descolados das ações praticadas.

a) explique por que a utilização de elementos for- e) há elementos que comprovam ser o narrador
mais da poesia tradicional, tais como rimas e es- uma personagem que, ao lado de Henri - de
trofes simétricas, provocam um efeito surpreen- quem, até então, só conhecia o nome - observa
dente no texto; detalhadamente sua movimentação.

b) Na canção acima, a saúde (ou a falta dela) serve


de pretexto para o questionamento da socieda-
de. Discorra sobre, no mínimo, três problemas Questão 112 - (UFBA)
sociais do Brasil metaforizados pelos males e (Voz de Alex, personagem principal e narrador)
doenças citados em “O Pulso”.

Em seu sono, não viu os “heróis empregados”


TEXTO: 55 - Comum à questão: 111 perder seu emprego.
Considere o texto apresentado abaixo. A oficina de conserto de TV onde eu trabalhava
fechou. Fui o último a sair e apaguei a luz. [...]

01
Simples, sóbrio, tranquilo; olhos de um homem ho- As coisas começaram a melhorar. Fazendo parte
nesto; 02 boca de um homem sensível, um intelectual de uma equipe eficaz, comecei cedo a praticar a reu-
talvez; educado, 03 respeitável e pontual. No quadra- nificação, a embelezar a paisagem com antenas para-
do do espelho sua mão surgiu, 04 longa, branca, forte bólicas.
e meticulosamente limpa, acariciando 05 sua barba Os ventos da mudança pairavam sobre as ruínas
negra. Virando um pouco a cabeça, por um efeito 06 de nossa República. No verão, Berlim era o lugar mais
óptico, os fios de barba brilhavam como se tivessem bonito do mundo. Nós estávamos no centro do mun-
luz 07 própria; isso ele fez, várias vezes, ficando qua- do, onde as coisas finalmente estavam acontecendo e
se de perfil, 08 tendo que esquinar bem os olhos até nós íamos no embalo.
que eles começassem a 09 doer. Henri olhou então sua
cabeça lisa como um ovo. Sua 10 calvície sempre lhe Lara: — Pena ela (a mãe) estar perdendo tudo
dava um aperto no coração, que ele 11 amenizava di- isso.
zendo para si mesmo que sua cabeça alta (era 12 enor-
me a distância entre as orelhas e a ponta do crânio) Alex: — Talvez seja melhor assim... Tudo aquilo
13
significava inteligência e que o fato de ser calvo ja- em que ela acreditava evaporou em meses.
mais tivera 14 efeito negativo sobre o seu trabalho, o
que era uma absoluta 15 verdade. O futuro estava em nossas mãos, incerto, mas
promissor.
(Rubem Fonseca. “Henri”, In 64 contos de Rubem Fonse-
ca. ADEUS, Lenin. Direção: Wolfgang Becker. Produção: Ste-
São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 46) fan Arndt. Intérpretes:

Daniel Brühl, Katrin Gass, Chulpan Khamatoya e outros.


408 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Roteiro: Bernd

Lichtenberg. Música: Yann Tiessen. Berlim: Bavaria Film


International,

c. 2003. 1 DVD (117 min), Widescreen, color. Produzido


por LK-TEL vídeo.

Em “Adeus, Lenin”, Wolfgang Becker focaliza a queda


do muro de Berlim e as mudanças que ocorrem na O ideograma de kawa, “rio”, em japonês,
Alemanha Oriental. A mãe de Alex, o jovem persona-
gem principal da narrativa, fica em coma por oito me- pictograma de um fluxo de água corrente,
ses, durante os quais Berlim Oriental se transforma,
em consequência dos ventos que sopram do oeste. sempre me pareceu representar (na
Observa-se que, nas duas Alemanhas, a liberdade
individual sofre pressões. vertical) o esquema do haikai, o sangue dos

três versos escorrendo na parede da

· Com base no fragmento, contextualizado no fil- página...


me, e na afirmativa em negrito, explique como
esses acontecimentos repercutem na sociedade
do país unificado. a) Justifique, do ponto de vista linguístico-literário, a
representação gráfica dos termos “Capital Fedei-
ral”, “Na Bahia ten”, “Amazona-s” e “Cergipe”.
Questão 113 - (UFES) b) Além das palavras e imagens acima, considere os
Os livros Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald TEXTOS 1, 2, 3 e 4 a seguir para indicar semelhan-
de Andrade (1927), de Oswald de Andrade, e Distraí- ças e diferenças entre os supracitados livros.
dos venceremos (1987), de Paulo Leminski, trazem
imagens que revelam aspectos das poéticas de ambos
os autores. TEXTO 1

“Brinquedo”

Roda roda São Paulo

Mando tiro tiro lá

Da minha janela eu avistava

Uma cidade pequena

Pouca gente passava

Nas ruas. Era uma pena

[OBS.: entre os ramos de café, pode-se ler [...]

“CAPITAL FEDEIRAL, NA BAHIA TEN, Os bondes da Light bateram

FERNAMBUCO, VENTO ZUL, SECCA DO CEARÁ, Telefones na ciranda

AMAZONA-S, LÁ NO PIAUHI, CERGIPE”, etc.] Os automóveis correram

Em redor da varanda

Roda roda São Paulo

www.PROJETOREDACAO.com.br - 409
Mando tiro tiro lá (Distraídos venceremos)

[...]

Depois entrou no brinquedo TEXTO: 56 - Comum à questão: 114

Um menino grandão Art. 167. Do ciúme.

Foi o primeiro arranha-céu O ciúme é uma espécie de temor que se relaciona


ao desejo de conservar a posse de algum bem; e não
Que rodou no meu céu provém tanto da força das razões que fazem julgar
que se pode perdê-lo como da grande estima que se
(Primeiro caderno do aluno lhe concede, a qual leva a examinar até os menores
de poesia Oswald de Andrade) motivos de suspeita e a tomá-los por razões forte-
mente consideráveis.

Art. 168. Em que essa paixão pode ser honesta.


TEXTO 2
E, porque se deve ter mais cuidado em conservar os
o amor, esse sufoco, bens que são muito grandes do que os que são me-
nores, essa paixão pode ser justa e honesta em certas
agora há pouco era muito, ocasiões. Assim, por exemplo, um capitão que guarda
uma praça de grande importância tem o direito de ser
agora, apenas um sopro cioso, isto é, de desconfiar de todos os meios pelos
quais seria possível surpreendê-la (...).

Art. 169. Em que é censurável.


ah, troço de louco,
Mas rimos de um avarento quando é ciumento de seu
corações trocando rosas,
tesouro, isto é, quando o come com os olhos e não se
e socos afasta dele com medo de que lho roubem; pois não
vale a pena guardar o dinheiro com tanto zelo. E des-
preza-se um homem que sente ciúme de sua mulher,
porque isso testemunha que não a ama seriamente e
TEXTO 3 que alimenta má opinião de si ou dela: digo que não
a ama seriamente; pois, se nutrisse um verdadeiro
“ARTE DO CHÁ” amor por ela, não teria a menor inclinação para dela
desconfiar; mas não é a ela propriamente ama, mas
ainda ontem
somente o bem que imagina consistir em sua posse
convidei um amigo exclusiva; e não temeria perder este bem, caso não
julgasse que é indigno dele ou então que sua mulher
para ficar em silêncio é infiel. Além disso, esta paixão relaciona-se apenas
a suspeitas e desconfianças, pois não é propriamen-
comigo te ser ciumento esforçar-se por evitar qualquer mal,
quando se tem justo motivo de receá-lo.


ele veio
Art. 182. Da inveja.
meio a esmo
O que se chama comumente inveja é um vício que
praticamente não disse nada consiste numa perversidade de natureza que leva cer-
ta gente a se desgostar com o bem que vê acontecer
e ficou por isso mesmo
aos outros homens; mas sirvo-me aqui dessa palavra
para significar uma paixão que nem sempre é vicio-
sa. A inveja portanto, enquanto é uma paixão, é uma
TEXTO 4 espécie de tristeza mesclada de ódio que nasce do
fato de se ver acontecer o bem àqueles que julgamos
tarde de vento indignos dele: o que só podemos pensar com razão
apenas dos bens de fortuna; pois, quanto aos da alma
até as árvores ou mesmo do corpo, na medida em que os temos de
querem vir para dentro nascença, é suficiente para sermos dignos deles têlos
recebido de Deus, antes de estarmos capacitados a
410 - www.PROJETOREDACAO.com.br
cometer qualquer mal. 5 e quanto nela passei.

Art. 183. Como pode ser justa ou injusta.

Mas quando a fortuna envia bens a alguém que ver- 6 Ali, o rio corrente
dadeiramente não os merece, e quando a inveja não
é provocada em nós senão porque, amando natural- 7 de meus olhos foi manado;
mente a justiça, ficamos desgostosos pelo fato de ela
não ser observada na distribuição desses bens, é um 8 e, tudo bem comparado,
zelo que pode ser desculpável, mormente quando o 9 Babilônia ao mal presente,
bem que invejamos a outros é de tal natureza que
pode converter-se em mal nas mãos deles; como é o 10 Sião ao tempo passado.
caso de algum cargo ou serviço em cujo exercício eles
possam comportar-se mal, e desejamos para nós o
mesmo bem e somos impedidos de tê-lo, porque ou-
tros menos dignos o possuem, isso torna essa paixão […]
mais violenta, e ela não deixa de ser desculpável, des-
de que o ódio nela contido se relacione apenas com
a má distribuição do bem que se inveja e não com as 11 Mas ó tu, terra de Glória,
pessoas que o possuem ou o distribuem. Mas há pou-
cas que sejam tão justas e tão generosas a ponto de 12 se eu nunca vi tua essência,
não alimentar ódio por aqueles que os impedem de
adquirir um bem que não é comunicável a muitos, e 13 como me lembras na ausência?
que haviam desejado para eles próprios, embora os
que o adquiriram sejam tanto ou mais dignos. E o 14 Não me lembras na memória
que é ordinariamente mais invejado é a glória; pois,
15 senão na reminiscência.
embora a dos outros não impeça que a ela possamos
aspirar, ela torna, todavia, o seu acesso mais difícil e
encarece o seu preço.
“Sôbolos rios que vão”, Luís de Camões
DESCARTES, René. As paixões da alma. Coleção Os
pensadores. (poeta do Classicismo português)
São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 291-296.

Questão 114 - (PUC RJ)


Texto II
a) Tanto o ciúme quanto a inveja são definidos no
texto como paixões que dizem respeito a bens. O
que distingue tais paixões no que tange a esse as-
pecto particular?
1
De uma vez calhou lermos Sôbolos rios que vão. Con-
tava-se aí da 2Babilônia e da Jerusalém celeste. […] A
b) Com base no texto, diga qual a relação entre o Jerusalém é nossa, mas 3construímo-la tão longe, tão
ciúme e o juízo que o ciumento faz de si mesmo. dentro da nossa violenta inquietação, 4que só a sua
miragem nos visita de quando em quando, à hora das
c) Aponte uma virtude humana que, de acordo com 5
raízes e das sombras.
o autor do texto, é capaz de fazer frente à inveja.
Aparição, Vergílio Ferreira

(escritor português contemporâneo)


TEXTO: 57 - Comuns às questões: 115, 116

Texto I
Observações:

Sôbolos = sobre os
1 Sôbolos rios que vão
Sião = Jerusalém
2 por Babilônia, me achei,

3 onde sentado chorei

4 as lembranças de Sião
www.PROJETOREDACAO.com.br - 411
Questão 115 - (Mackenzie SP) TEXTO: 58 - Comum à questão: 117

Considerando a leitura dos dois textos, assinale a al- TEXTO I


ternativa correta a respeito do texto I.

Trinta anos na estrada


a) A constatação de um mal presente (verso 09) e a
idealização do tempo passado (verso 10), identi-
ficado à terra de Glória (verso 11), são índices do
neoplatonismo camoniano. Uma Viagem pelas referências econômicas de “Bye
Bye Brasil”, o Filme e a canção
b) O texto nega uma visão espiritualista de mundo,
na medida em que o poeta afirma nunca ter vis- ________________
to a essência (verso 12) da terra santa.

c) Os versos ironizam a idealização de Babilônia · No dia em que completa três anos, “Negócios&Cia”
(verso 02), considerada pelo poeta como terra pede licença e reverencia os mestres Cacá Diegues,
de Glória (verso 11). Roberto Menescal e Chico Buarque. De carona na Ca-
d) O eu lírico canta as glórias de Portugal, terra tão ravana Rolidei, passeia pelas transformações socioe-
abençoada quanto a Jerusalém celeste (ref. 02). conômicas expressas em “Bye Bye Brasil”, o filme e a
canção que estão fazendo 30 anos neste 2009. Chico
e) A idealização da terra santa tem como causa a não lembra; Cacá, sim. Viu o filme duas vezes antes
relação especular entre os rios da Babilônia (ver- de pôr a letra na música de Menescal. Recheou o tex-
sos 01 e 02) e o rio corrente (verso 06) dos olhos to com referências á economia. Estão lá o embrião
do poeta. da globalização e a opção nacional pelo transporte
rodoviário; o emprego fácil de baixa qualificação e a
telecomunicação restrita; a industrialização do Brasil
grande e a massificação da TV. Um detalhe: a usina
Questão 116 - (Mackenzie SP) no mar, como muita gente pensa, não era o comple-
xo nuclear de Angra, mas Jari, no Pará, Chico garante.
Considerando a leitura dos dois textos, assinale a al- “Foi um Filme muito premonitório, que nasceu em
ternativa correta. 1972, numa viagem a Alagoas”, diz Cacá. Ele voltara
de filmagens em união dos Palmares e avistou uma
luz azulada. Parecia um disco voador, mas era uma TV
a) O texto II é paródia do texto I, traço estilístico instalada pelo prefeito em plena praça. “Ali, tive o in-
que define sua contemporaneidade. sight de que algo importante estava acontecendo no
Brasil. Minha motivação foi antropológica, mas hoje
b) O texto II dessacraliza o sentido da idealidade percebo que aquilo era o início da globalização. O Bra-
ao concebê-la como construção humana e não sil passou por uma modernização intensa. Para o bem
divina, como prova o trecho A Jerusalém é nos- e para o mal”, completo o cineasta. É prova de que ci-
sa, mas construímo-la tão longe, tão dentro da nema e música dão economia. Ou música e economia
nossa violenta inquietação (refs. 02 e 03). é que dão cinema?

c) Embora escritos em épocas diferentes, I e II con- Flávia Oliveira. O Globo, Caderno Economia, 22 de
vergem num ponto: ambos concebem a cidade agosto de 2009. Adaptação.
de Jerusalém como a pátria dos portugueses,
por suas características geográficas e históricas.

d) O texto II vale-se de linguagem metafórica – A articulista Flávia Oliveira associa, no Texto Trinta
hora das raízes e das sombras (refs. 04 e 05) – anos na estrada, a canção Bye Bye Brasil de Chico
recurso literário ausente no texto I. Buarque e Roberto Menescal às injunções socioeco-
nômicas vividas pelo Brasil e pelo mundo nas últimas
e) Em II, o narrador critica o descaso da humani- três décadas.
dade para com o passado cultural, concebido
atualmente como miragem e sombras (refs. 04
e 05).

412 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO II Eu vou me mandar de trenó

30 Pra Rua do Sol , Maceió

Bye, Bye Brasil Peguei uma doença em Ilhéus

Mas já tô quase bom

1 Oi,coração Em março vou pro Ceará

Não dá pra falar muito não Com a bênção do meu orixá

Espera passar o avião 35 Eu acho bauxita por lá

Assim que o inverno passar Meu amor

5 Eu acho que vou te buscar

Aqui tá fazendo calor Bye bye, Brasil

Deu pane no ventilador A última ficha caiu

Já tem fliperama em Macau Eu penso em vocês night and day

Tomei a costeira em Belém do Pará 40 Explica que tá tudo okay

10 Puseram uma usina no mar Eu só ando dentro da lei

Talvez fique ruim pra pescar Eu quero voltar, podes crer

Meu amor Eu vi um Brasil na tevê

Peguei uma doença em Belém

No Tocantins 45 Agora já tá tudo bem

O chefe dos parintintins Mas a ligação tá no fim

15 Vidrou na minha calça Lee Tem um japonês trás de mim

Eu vi uns patins pra você Aquela aquarela mudou

Eu vi um Brasil na tevê No Tabariz

Capaz de cair um toró 50 O som é que nem os Bee Gees

Estou me sentindo tão só Dancei com uma dona infeliz

20 Oh, tenha dó de mim Que tem um tufão nos quadris

Pintou uma chance legal Tem um japonês trás de mim

Um lance na capital Eu vou dar um pulo em Manaus

Nem tem que ter ginasial 55 Aqui tá quarenta e dois graus

Meu amor O sol nunca mais vai se pôr

Eu tenho saudades da nossa canção

25 Baby, bye bye Saudades de roça e sertão

Abraços na mãe e no pai Bom mesmo é ter um caminhão

Eu acho que vou desligar 60 Meu amor

As fichas já vão terminar Na estrada peguei uma cor

www.PROJETOREDACAO.com.br - 413
Capaz de cair um toró Meu amor (Texto II, versos 10-12):

Estou me sentindo um jiló

Eu tesão é no mar

65 Assim que o inverno passar

Bateu uma saudade de ti

Tô afim de encarar um siri

Com a bênção de Nosso Senhor

O sol nunca mais vai se pôr.

Roberto Menescal e Chico Buarque


A fábrica de celulose e a termelétrica do Projeto Jari
(PA), sonho do americano Daniel Ludwing, vieram
pelo mar do Japão para a Amazônia (foto), em 1978.
Questão 117 - (UFF RJ) O complexo exigia forte infraestrutura e era visto
como um elefante branco. Em 2000, foi comprado
Destacam-se da canção Bye, Bye, Brasil (Texto II) cinco por Sergio Amoroso, do Grupo Orsa. Desde então,
(5) passagens que refletem transformações socioeco- recebeu aporte de US$ 200 milhões. “Em 70/80 de-
nômicas ocorridas no Brasil nos últimos trinta anos: senvolvimento era derrubar floresta. Hoje é preser-
var”, diz empresário. Ele planeja a segunda fábrica
de celulose (1,2 milhão de toneladas), mas também
1 Já tem fliperama em Macau (v. 8) manejo florestal, cultivo do curauá e geração de cré-
ditos de carbono.
Vidrou na minha calça Lee (v. 15)

Aponte uma (1) característica linguístico-discursiva


2 Pintou um chance legal que diferencie estes dois gêneros textuais de que se
vale a articulista: tópico explicativo e canção.
Um lance na capital

Nem tem que ter ginasial (v. 21-23)


Questão 118 - (UFF RJ)

FOI MUDANDO, MUDANDO


3 As fichas já vão terminar (v. 28)

1 Tempos e tempos passaram


4 Eu vi um Brasil na tevê (v. 43)
por sobre teu ser.

Da era cristã de 1500


5 Eu tenho saudades da nossa canção
até estes tempos severos de hoje,
Saudades de roça e sertão
5 quem foi que formou de novo teu ventre,
Bom mesmo é ter um caminhão ( v.57-59)
teus olhos, tua alma?

Te vendo, medito: foi negro, foi índio ou foi cris-


a) Dentre as cinco (5) passagens transcritas acima, tão?
escolha duas (2) e comente os aspectos socioeco-
nômico-culturais em cada uma delas retratados. Os modos de rir, o jeito de andar,

b) A articulista, Flávia Oliveira, apresenta um tópi- pele,


co explicativo para relacionar as transformações
socioeconômicas com as referências construídas 10 gozo,
nos versos da canção Bye,Bye,Brasil: Puseram coração ...
uma usina no mar/Talvez fique ruim pra pescar/
414 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Negro, índio ou cristão? frases feitas

Quem foi que te deu esta sabedoria,

mais dengo e alvura, letras feias

15 cabelo escorrido, tristeza do mundo,

desgosto da vida, orgulho de branco, algemas, linhas lindas


resgates, alforrias?

Foi negro, foi índio ou foi cristão?


a pele queima
Quem foi que mudou teu leite,

teu sangue, teus pés,


as palavras esquecidas
20 teu modo de amar,

teus santos, teus ódios,


formas formigas
teu fogo,

teu suor,
todas as palavras da tribo
tua espuma

25 tua saliva, teus abraços, teus suspiros, tuas


comidas, por elas

tua língua?

Te vendo, medito: foi negro, foi índio ou foi cris- trocou a vida
tão?

Jorge de Lima, Obra poética.


dias luzes madrugadas

a) Transcreva o refrão do poema e explique o seu


sentido, tendo em vista uma temática caracterís- hoje
tica do movimento modernista.

b) Caracterize o interlocutor do eu lírico no texto, quando volta para casa


justificando sua resposta.

c) O texto aborda as mudanças históricas que ocor-


rem no tempo. Transcreva integralmente os dois página em branco e em brasa
versos que delimitam o tempo da mudança.

asa lá se vai
Questão 119 - (UFU MG)

Ao pé da pena
dá de cara com nada

todo sujo de tinta


com tudo dentro

o escriba volta para casa


sai

cabeça cheia de frases alheias


www.PROJETOREDACAO.com.br - 415
(Paulo Leminski. La vie en close) vem em momentos literários distintos.

b) Considerando a relação dos poetas com as pala-


vras, explique o sentido das imagens “asa”, “se-
pulcro” e “boêmios”.
Inania Verba*

Questão 120 - (UFBA)


O pensamento ferve, e é um turbilhão de lava: “No território urbano, o corpo dos sujeitos e o cor-
po da cidade formam um, estando o corpo do sujeito
atado ao corpo da cidade” (Texto I, l. 16-17)
A forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve…

Relacionando esse fragmento — destacado do Texto


E a Palavra pesada abafa a Idéia leve, I — com o conteúdo dos textos II e III, identifique as
proposições que exemplificam a afirmação nele con-
tida.

Que, perfume e clarão, refulgia e voava.


01. “O melhor o tempo esconde, longe, muito longe/
Mas bem dentro aqui, quando o bonde dava a
(Olavo Bilac) volta ali/[...]/Nunca me esqueci onde o impera-
dor fez xixi” (Texto II, v. 1-4)

02. “Cana doce Santo Amaro, gosto muito raro/Trago


* Palavras ocas, inúteis. em mim por ti, e uma estrela sempre a luzir” (Tex-
to II, v. 5-6)

04. “Rua da Matriz ao Conde no trole ou no bonde/


Maria
Tudo é bom de vê, seu Popó do Maculelê” (Texto
II, v. 9-10)

08. “Mas aquela curva aberta, aquela coisa certa/Não


dá prá entender o Apolo e o rio Subaé” (Texto II, v.
Um beijo longo, longo, longo, agora lembro 11-12)

Raros momentos de prazer 16. “Pena de Pavão de Krishna, maravilha, vixe Maria/
Mãe de Deus, será que esses olhos são meus?”
Que eu gravo agora nessa fita demo-tape (Texto II, v. 13-14)
Que é pra ninguém esquecer 32. “Os letreiros a te colorir/Embaraçam a minha vi-
são/Eu te vi suspirar de aflição/E sair da sessão,
frouxa de rir” (Texto III, v. 7-10)
A vontade de falar tudo isso pra você 64. “Já te vejo brincando, gostando de ser/Tua som-
bra a se multiplicar/Nos teus olhos também pos-
Já virou mais uma página
so ver/As vitrines te vendo passar” (Texto III, v.
Palavras são como os boêmios 11-14)

Gostam de sair à noite


TEXTO: 59 - Comum à questão: 121

(Wilson Sideral) No final de dezembro de 2007, ladrões furtaram do


Museu de Arte de São Paulo (MASP) uma tela de Pi-
casso (Retrato de Suzanne Bloch) e uma tela de Porti-
nari (O lavrador de café).
a) Relacione os títulos “Ao pé da pena” e “Inania
verba” com seus respectivos textos e explique
esses títulos, lembrando que os poetas escre-

416 - www.PROJETOREDACAO.com.br
b)

O cartunista Chico Caruso se apropria do fato e cria


interferências nos quadros originais, apresentando
múltiplas possibilidades de leituras críticas sobre o
furto.

c)
Questão 121 - (UFF RJ)

Em cinco dias subseqüentes, o cartunista constrói si-


tuações discursivas que marcam o início do furto e a
recuperação dos quadros.

Nos diálogos construídos pelo chargista, no encadea-


mento da situação do furto, a fala do lavrador vem,
na maioria das opções, encaminhada por expressões
de polidez.

Assinale a opção em que, diferentemente das demais,


a fala do lavrador busca provocar, de forma direta,
uma ação definida da personagem “Dona Suzanne”.
d)

a)

e)

www.PROJETOREDACAO.com.br - 417
Questão 122 - (FUVEST SP) rodas para o trabalho ou a escola, através de um siste-
ma batizado de Velib. A população parisiense faz uma
Examine a tirinha e responda ao que se pede. espécie de aluguel de bicicleta por um dia, uma se-
mana ou um mês para circular nos cerca de 400 quilô-
metros de ciclovias, que estão integrados aos outros
transportes públicos. “É extraordinário. Não é poluen-
te, estimula a saúde com a prática de exercícios físicos
e é amigável ao bolso do mais pobre”, comentou o
governador fluminense, que pretende implantar um
modelo similar em algumas cidades do seu Estado.
A óbvia preocupação com a possibilidade de roubos
não incomoda Cabral. “As bicicletas terão aparelhos
de GPS”, explicou, referindo-se à tecnologia de locali-
zação por satélite.

Quino, Mafalda 2. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

a) O sentido do texto se faz com base na polissemia


de uma palavra. Identifique essa palavra e expli-
que por que a indicou.

b) A tirinha visa produzir não só efeito humorístico


mas também efeito crítico. Você concorda com
essa afirmação? Justifique sua resposta.

Questão 123 - (UFF RJ)

Os gêneros textuais materializam os papéis sociais


que desempenhamos em diversas situações de co-
municação.

A seguir, um mesmo fato – o governador Sérgio Cabral


se encanta com as ciclovias de Paris – gerou diferen- a) A notícia geralmente apresenta o fato sem uma
tes comentários em gêneros textuais também distin- posição crítica evidente. No entanto, há uma pas-
tos: a notícia na revista Isto é, a charge e a carta de sagem em que o jornalista interfere na notícia, de
leitor no jornal O Globo . forma direta, ressaltando um ponto de vista crí-
tico em função da diferença entre a realidade de
Paris e a do Rio de Janeiro.
A febre das CICLOVIAS Transcreva a frase que confirma essa afirmativa.

b) Identifique um aspecto da crítica feita por Chico


Caruso na charge, por meio da intertextualidade
Governador Sérgio Cabral se encanta com
com a fotografia do governador Sérgio Cabral em
modelo parisiense e planeja adotá-lo no Rio Paris.

FRANCISCO ALVES FILHO

Bastaram algumas pedaladas em Paris para o gover-


nador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), confir-
mar que as bicicletas já utilizadas por muitos cariocas
podem ser uma boa alternativa de transporte público.
Por lá, diariamente, 160 mil franceses vão sobre duas
418 - www.PROJETOREDACAO.com.br
que não me contas, como se tua vida e tua morte

nada tivessem a ver comigo, não fossem da conta

de quem te pôs neste mundo e tenta agora

conter o pranto por te ter posto neste mundo

para tão cedo e, antes de mim, dele partires?

O que olhas, que não me explicas, a mim que tentava


c) Transcreva, da carta do leitor a seguir, um exem-
plo em que o locutor se inclui discursivamente na explicar-te até o inexplicável, e se tens a boca
situação apresentada.
entreaberta como a querer falar de alguma coisa,

de algum espanto,

e, curvado sobre teu corpo, eu colo o ouvido

à tua boca, e nada ouço, e nada dizes?

Apalpo-te. Sinto o gelo em tua testa. Olho-te

nos olhos que talvez percorram as paisagens de um


mundo

que aos poucos devassas, ou de um relance apenas

Bicicletas de Paris devassaste, e é um segredo, e não me contas.

· Engraçada a foto do governador do Rio andando SOUSA, Afonso Felix de. Nova antologia
de braços abertos numa bicicleta. Se fosse aqui
poética. Goiânia: Cegraf/UFG, 1991. p. 161.
no Rio, provavelmente acharíamos que ele esta-
va sendo assaltado. Os cariocas não andam mais
de braços abertos, mas de braços para o alto, pe-
dindo a Deus que nos proteja. Será que o ilustre In extremis
governante e sua comitiva aceitariam fazer um
passeio ciclístico por algumas ruas de São Cristó- Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia
vão, Tijuca e Centro? Acredito que ele chegaria ao
fim do percurso sem o terno, o relógio e, princi- Assim! de um sol assim!
palmente, sem a bicicleta. Será que o Rio merece
Tu, desgrenhada e fria,
isso? Antes das bicicletas, queremos ter mais se-
gurança. Fria! postos nos meus os teus olhos molhados,
LIANE GOUVEA E apertando nos teus os meus dedos gelados...
(por e-mail, 20/05), Rio. E um dia assim! de um sol assim! E assim a esfera
d) Justifique o emprego do pronome demonstrativo Toda azul, no esplendor do fim da primavera!
na frase “Será que o Rio merece isso?”, levando-
-se em conta a coesão textual. Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!

Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento

Questão 124 - (UFG GO) Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo...

À beira de teu corpo [...]

Eu, com o frio a crescer no coração, – tão cheio

II De ti, até no horror do derradeiro anseio!

Com teus olhos que já não me fitam, o que vês Tu, vendo retorcer-se amarguradamente,
www.PROJETOREDACAO.com.br - 419
A boca que beijava a tua boca ardente, Solemnia verba

A boca que foi tua!

BILAC, Olavo. Melhores poemas. Seleção Marisa Disse ao meu coração: Olha por quantos

Lajolo. São Paulo: Global, 2003. p. 91. Caminhos vãos andamos! Considera

Agora, desta altura fria e austera,

Em ambos os textos, o eu lírico dirige-se a uma se- Os ermos que regaram nossos prantos...
gunda pessoa do discurso em um momento extremo.

Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!


a) Explicite quem é essa segunda pessoa e em que
momento o eu lírico encontra-se. E noite, onde foi luz de primavera!

b) Qual a atitude do eu lírico de cada poema em re- Olha a teus pés o mundo e desespera
lação à circunstância poetizada?
Semeador de sombras e quebrantos! –

Porém o coração, feito valente


TEXTO: 60 - Comum à questão: 125INSTRUÇÃO: Con-
sidere a fala de personagem de uma peça de Millôr Na escola da tortura repetida,
Fernandes (1923-) e num soneto de Antero de Quen- E no uso do penar tornado crente,
tal (1842-1891).

Respondeu: Desta altura vejo o Amor!


Atriz
Viver não foi em vão, se é isto a vida,
(Rindo forçosamente depois que os atores saem.)
Nem foi demais o desengano e a dor.

(Antero de Quental. Os sonetos completos de Antero de


Tem gente que continua achando que a vida é Quental.
uma piada. Ainda bem que tem gente que pensa que
a vida é uma piada. Pior é a gente que pensa que o Porto: Livraria Portuense de Lopes, 1886. p. 119; primei-
homem é o rei da criação. Rei da criação, eu, hein? ra edição,
Um assassino nato, usufruidor da miséria geral – se
você come, alguém está deixando de comer, a comida disponível na internet em: http://purl.pt/122/1/P160.
não dá para todos, não – de que é que ele se ri? De html)
que se ri a hiena? Se não for atropelado ficará no de-
semprego, se não ficar desempregado vai pegar um
enfisema, será abandonado pela mulher que ama –
Questão 125 - (UNESP SP)
mas ama, hein? – , arrebentado pelos filhos – pelos
pais, se for filho –, mordido de cobra ou ficará impo- Os dois textos apresentados se identificam por ex-
tente. E se escapar de tudo ficará velho, senil, baban- pressar, sob pontos de vista distintos, a decepção e o
do num asilo. Piada, é? Pode ser que haja vida inteli- pessimismo do homem com relação à vida e ao mun-
gente em outro planeta, neste, positivamente, não. O do. Diferenciam-se, todavia, na atitude final que apre-
homem é o câncer da Terra. Estou me repetindo? Pois sentam ante essa decepção. Releia-os, atentamente,
é: corrompe a natureza, fura túneis, empesta o ar, e explique essa diferença de atitude.
emporcalha as águas, apodrece tudo onde pisa. Fique
tranqüilo, amigo: o desaparecimento do ser humano
não fará a mínima diferença à economia do cosmos.
TEXTO: 61 - Comum à questão: 126
(Millôr Fernandes. Computa, computador, computa.
A retirada da Laguna
3. ed. Rio de Janeiro: Nórdica, 1972. p. 85.)

Formação de um corpo de exército incumbido de


420 - www.PROJETOREDACAO.com.br
atuar, pelo norte, no alto Paraguai – Distâncias e pessoal, suscitara na América do Sul, mal amparado
dificuldades de organização. no vão pretexto de manter o equilíbrio internacional,
o Brasil, obrigado a defender sua honra e seus direi-
tos, dispôs-se resolutamente à luta. A fim de enfren-
tar o inimigo nos pontos onde fosse possível fazê-lo,
Para dar uma idéia aproximada dos lugares onde ocorreu naturalmente a todos o projeto de invadir o
ocorreram, em 1867, os acontecimentos relatados a Paraguai pelo norte; projetou-se uma expedição des-
seguir, é necessário lembrar que a República do Pa- te lado.
raguai, o Estado mais central da América do Sul, após
invadir e atacar simultaneamente o Império do Brasil Infelizmente, este projeto de ação diversionária
e a República Argentina em fins de 1864, encontra- não foi realizado nas proporções que sua importân-
va-se, decorridos dois anos, reduzida a defender seu cia requeria, com o agravante de que os contingentes
território, invadido ao sul pelas forças conjuntas das acessórios com os quais se contara para aumentar
duas potências aliadas, às quais se unira um peque- o corpo de exército expedicionário, durante a longa
no contingente de tropas fornecido pela República do marcha através das províncias de São Paulo e de Mi-
Uruguai. nas Gerais, falharam em grande parte ou desapare-
ceram devido a uma epidemia cruel de varíola, bem
Do lado sul, o caudaloso Paraguai, um dos afluen- como às deserções que ela motivou. O avanço foi
tes do rio da Prata, oferecia um acesso mais fácil até lento: causas variadas, e sobretudo a dificuldade de
a fortaleza de Humaitá,1 que se transformara, graças fornecimento de víveres, provocaram a demora.
à sua posição especial, na chave de todo o país, ad-
quirindo, nesta guerra encarniçada, a importância de Só em julho pôde a força expedicionária organi-
Sebastopol na campanha da Criméia.2 zar-se em Uberaba4, no alto Paraná (a partida do Rio
de Janeiro ocorrera em abril); contava então com um
Do lado da província brasileira de Mato Grosso, efetivo de cerca de 3 mil homens, graças ao reforço
ao norte, as operações eram infinitamente mais di- de alguns batalhões que o coronel José Antônio da
fíceis, não apenas porque milhares de quilômetros a Fonseca Galvão havia trazido de Ouro Preto.5
separam do litoral do Atlântico, onde se concentram
praticamente todos os recursos do Império do Brasil, Não sendo esta força suficiente para tomar a ofen-
como também por causa das cheias do rio Paraguai, siva, o comandante-em-chefe, Manoel Pedro Drago,
cuja porção setentrional, ao atravessar regiões planas conduziu-a para a capital de Mato Grosso, onde espe-
e baixas, transborda anualmente e inunda grandes rava aumentá-la ainda mais. Com esse intuito, o cor-
extensões de terra. po expedicionário avançou para o noroeste e atingiu
as margens do rio Paranaíba, quando lhe chegaram
O plano de ataque mais natural, portanto, con- então despachos ministeriais com a ordem expressa
sistia em subir o rio Paraguai, a partir da República de marchar diretamente para o distrito de Miranda,
Argentina, até o centro da República do Paraguai, e ocupado pelo inimigo.
em descê-lo, pelo lado brasileiro, a partir da capital de
Mato Grosso, Cuiabá, que os paraguaios não haviam No ponto onde estávamos, esta ordem tinha como
ocupado. conseqüência necessária obrigar-nos a descer de vol-
ta até o rio Coxim6 e em seguida contornar a serra de
Esta combinação de dois esforços simultâneos Maracaju pela base ocidental, invadida anualmente
teria sem dúvida impedido a guerra de se arrastar pelas águas do caudaloso Paraguai. A expedição esta-
por cinco anos consecutivos, mas sua realização era va condenada a atravessar uma vasta região infectada
extraordinariamente difícil, em razão das enormes pelas febres palustres.
distâncias que teriam de ser percorridas: para se ter
uma idéia, basta relancear os olhos para o mapa da A força chegou ao Coxim7 no dia 20 de dezembro,
América do Sul e para o interior em grande parte de- sob o comando do coronel Galvão, recém-nomeado
sabitado do Império do Brasil. comandante-em-chefe e promovido, pouco depois,
ao posto de brigadeiro.
No momento em que começa esta narrativa, a
atenção geral das potências aliadas estava, pois, vol- Destituído de qualquer valor estratégico, o acam-
tada quase exclusivamente para o sul, onde se reali- pamento de Coxim encontrava-se pelo menos a uma
zavam operações de guerra em torno de Curupaiti e altitude que lhe garantia a salubridade. Contudo,
Humaitá. O plano primitivo fora praticamente aban- quando a enchente tomou os arredores e o isolou, a
donado, ou, pelo menos, outra função não teria senão tropa sofreu ali cruéis privações, inclusive fome.
submeter às mais terríveis provações um pequeno
corpo de exército quase perdido nos vastos espaços Após longas hesitações, foi necessário, enfim,
desertos do Brasil. aventurarmo-nos pelos pântanos pestilentos situados
ao pé da serra; a coluna ficou exposta inicialmente às
Em 1865, no início da guerra que o presidente do febres, e uma das primeiras vítimas foi seu infeliz che-
Paraguai, López,3 sem outro motivo que a ambição fe, que expirou às margens do rio Negro; em seguida,

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arrastou-se depois penosamente até o povoado de do corpo de exército de que fez parte não era nem
Miranda.8 podia ser o de vencer a guerra como um todo. Com
base nestes comentários, explique em que consistia
Ali, uma epidemia climatérica de um novo tipo, a essa “ação diversionária”.
paralisia reflexa,9 continuou a dizimar a tropa.

Quase dois anos haviam decorrido desde nossa


partida do Rio de Janeiro. Descrevêramos lentamente TEXTO: 62 - Comum à questão: 127TEXTO A
um imenso circuito de 2112 quilômetros; um terço de
nossos homens perecera. HAMLET (1948)

(VISCONDE DE TAUNAY (Alfredo d’Escragnolle-Taunay). A


retirada da

Laguna – Episódio da guerra do Paraguai. Tradução de


Sergio Medeiros.
Direção: Laurence Olivier
São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 35 a 41.)
Roteiro: Laurence Olivier

Produção: Laurence Olivier, Reginald Beck, Anthony


NOTAS DA EDIÇÃO ADOTADA
Bushell
(1) Humaitá e Curupaiti, situadas às margens do rio
Música original: William Walton
Paraguai, constituíam o mais forte obstáculo fluvial no
caminho da esquadra brasileira para atingir Assunção Fotografia: Desmond Dickinson
a partir de Corrientes, na Argentina. Este complexo de
empecilhos fluviais foi vencido em 15 de fevereiro de Edição: Helga Cranston
1868. (Nota do tradutor) (2) Sebastopol, um impor-
tante porto militar da Ucrânia, resistiu por onze me- Design de produção: Roger K. Furse
ses, em 1854, ao ataque da França, Inglaterra e Tur-
quia, durante a guerra da Criméia, que opôs os três Direção de arte: Carmen Dillon
países citados à Rússia czarista. (Nota do tradutor)
Figurino: Roger K. Furse, Elizabeth Hennings
(3) Francisco Solano López (1826-1870) era filho do
ditador Carlos Antonio López, que governou o Para- Efeitos especiais: Henry Harris, Paul Sheriff, Jack Whi-
guai entre 1840 e 1862. Foi educado no Paraguai e na tehead
Europa, e, ao retornar a seu país, passou a colaborar
com o pai, tornando-se logo ministro da Guerra e da País: UK
Marinha. Subiu ao poder em 1862. Em 1870, foi mor-
to por tropas brasileiras. (Nota do tradutor) (4) A 594 Gênero: Drama, Romance, Crime
quilômetros do litoral do Atlântico. (Nota original do
autor) (5) Capital da província de Minas Gerais. (Nota
original do autor) (6) Coxim é também o nome dado Sinopse
ao ponto de confluência dos rios Taquari e Coxim.
(Nota do tradutor) (7) 18° 33’ 58” lat. S. – 32° 37’ 18” O príncipe Hamlet, filho do rei da Dinamarca, sente-se
long. da ilha de Fer (astrônomos portugueses). (Nota deprimido quando perde o pai. Seu tio, Claudius, ca-
original do autor) (8) A 396 quilômetros ao sul do Co- sa-se logo a seguir com sua mãe, a rainha Gertrude, e
xim. Essas duas localidades pertencem à província de se torna o novo rei.
Mato Grosso e estão a cerca de 1522 quilômetros do
litoral. (Nota original do autor) (9) Este mal, de natu- Pouco tempo depois, Hamlet se depara com o fan-
reza palustre, é conhecido no Brasil sob o nome de tasma do pai, que lhe revela ter sido assassinado por
beribéri. (Nota original do autor) Claudius e lhe pede vingança. Atormentado com tanta
tristeza, é ainda alvo de membros da família que ten-
tam convencê-lo de que está ficando louco.
Questão 126 - (UNESP SP) Paralelamente, ele se sente apaixonado pela jovem
Ophelia, filha de Polonius, conselheiro de Claudius
No texto original de A retirada da Laguna, escrito e Gertrude, e irmã mais nova de seu grande amigo,
em francês, Taunay utilizou, no oitavo parágrafo, a Laertes. Ao tomar conhecimento do romance, Polo-
expressão “projet de diversion”, que a tradução ado- nius tenta intrigá-lo com o fim de fazer com que o
tada transpõe como “projeto de ação diversionária”, príncipe deixe de fazer a corte à sua filha.
enquanto outros tradutores preferem “projeto de di-
versão”. O texto de Taunay deixa claro que o objetivo Quando Hamlet procura a mãe para falar de suas
422 - www.PROJETOREDACAO.com.br
suspeitas, segundo as quais Claudius teria assassina- Ou bramir, ou lutar contra o federalismo?
do seu pai, ele termina matando acidentalmente Po-
lonius, que a tudo escutava às escondidas. A infeliz Morrer, dormir... dormir... ser deposto... mais nada.
morte do conselheiro de Claudius dá a este o pretexto
para afastá-lo do reino. Hamlet é, então, enviado para Oh, a deposição é o patamar da escada...
a Inglaterra. Ao mesmo tempo, Laertes regressa do Ser deposto: Rolar por este abismo, às tontas...
exterior, onde estudava, quando toma conhecimento
da morte do pai e da doença da irmã que, não supor- (depois de longa meditação)
tando o fato de seu pai ter sido morto pelo seu grande
amor, vive mergulhada numa profunda tristeza e so- E o câmbio? E o Vitorino? E o Tribunal de Contas
frendo de desmaios.
(outra meditação)
Ao retornar à Dinamarca, Hamlet se depara com o fu-
neral de Ophelia. Aproveitando-se da situação, o rei Morrer, dormir... dormir? Sonhar talvez, que sonho?
Claudius convence Laertes a convidar Hamlet para
Que sonho? A reeleição?
uma exibição, onde os dois lutariam com espadas. Por
orientação do rei, Laertes prepara sua espada com ve- [...]
neno em sua extremidade.
(cai numa reflexão profunda)
No dia combinado, com a Corte reunida, inicia-se a
luta. Após alguns passos, Laertes fere Hamlet no om- Mas, enfim, para que ser novamente eleito?
bro com sua espada envenenada. Enraivecido, este
consegue igualmente ferir seu oponente com a mes- Se não fosse o terror... Se não fosse o respeito
ma espada. Nesse instante, a rainha Gertrude grita
que fora envenenada. Ela tinha inadvertidamente be- Que a morte inspira, e o horror desse sono profun-
bido um vinho com veneno, preparado por Claudius do...
para Hamlet, caso este saísse com vida da luta.
Ah! quem suportaria os flagelos do mundo!
Embora ferido, Hamlet, suspeitando de traição, orde-
[...]
na que todas as portas sejam fechadas. Laertes, en-
tão, diz ser ele o traidor e que Hamlet não tem mais O comércio que morre; a indústria que adormece; A
que meia hora de vida, já que não há nenhum tipo de míngua da lavoura; o déficit que cresce Horrivel-
medicamento que possa curá-lo. Em seguida, pedin- mente, como a estéril tiririca;
do perdão a Hamlet, morre com suas últimas palavras
acusando o rei Claudius de ser o responsável por toda [...]
essa tragédia. Hamlet, então, vira-se para o tio e crava
a espada envenenada no coração do rei, cumprindo, – Oh, quem resistiria a tanto, da alma forte, Se não
assim, a promessa de vingança feita ao pai. A seguir, fosse o terror do ostracismo e da morte?
chama seu amigo Horatio, que assistira a tudo, e lhe
pede que conte sua história para todo o mundo. (Pausa)

Disponível em: <www.65anosdecinema.pro.br/ O ostracismo... região triste e desconhecida Donde


Hamlet.htm>. Acesso em: 5 mai. 2009. nenhum viajor voltou jamais à vida...

Ah! eis o que perturba... Ah! eis o que entibia Cora-


gem maior e maior energia!
TEXTO B
(entra Ofélia)
Hamlet
(voltando-se para ela)
(Uma sala do palácio do Itamarati. Hamleto entra va-
garosamente e para no meio da sala. Apóia o queixo [...]
na palma da mão esquerda, metida na abotoadura
Hamleto
da sobrecasaca, e balança uma perna meditabunda-
mente.) Não te dei nada!
Hamleto (monologando) Ofélia
Ser ou não ser... Minh’alma eis o fatal problema. Que Deu! Deu-me elasticidade, Com que me transformei
numa lei de borracha!
deves tu fazer nesta angústia suprema. Alma forte?
Que estica à proporção que o câmbio escarrapacha!
Cair, degringolar no abismo?

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Meu Senhor! A que mais devo este prodígio, Senão ao
seu amor, senão ao meu prestígio?

Hamleto

Dize, Constituição, és tu Republicana?

Ofélia

Meu Senhor.

Hamleto

Dize mais! És norte-americana?

Ofélia

Príncipe...

[...]

Hamleto
Disponível em: <www.faccar.com.br/desletras/
Sou Vice-Presidente? hist/2005>. Acesso em: 5 mai. 2009.
Sou Presidente? Sou Ditador? Sou cacique?

Oh! que paralisada a minha língua fique Questão 127 - (UFG GO)
Se te minto! Não sou mais do que um homem! Pode-se afirmar que Olavo Bilac compara o ato de go-
vernar uma república com a tragédia de Hamlet. Com
Parte! base no texto B, explique o dilema vivido por Hamle-
to.
Que é de teu pai?

Ofélia

Não sei.
TEXTO: 63 - Comum à questão: 128A juventude em
Hamleto
rede
Devia acompanhar-te.
Anna Paula Buchalla
A lei neste país, não pode andar sozinha...

Parte para Chicago! A tua dor é a minha: 1


Como pensam e se comportam os adolescentes
É a dor que anda a chiar em toda a vida humana de hoje: filhos da revolução tecnológica, eles vivem
2
3
no mundo digital, são pragmáticos, pouco 4idealistas
Parte para a imortal nação americana! e estão mais desorientados do que 5nunca.
Parte para Chicago! 6
VEJA foi a campo tentar descobrir como os 7ado-
lescentes atuais poderiam ser identificados se 8toma-
[...] dos como um todo. Sim, é uma 9generalização, e como
toda generalização, deve 10ser olhada com cuidado.
BILAC, Olavo. Hamlet. In: M. Melhores poemas. Seleção
Mas quem sabe ela possa 11subsidiar pais angustia-
de Marisa Lajolo. 4. ed. São Paulo: Global, 2003. p.
dos (e irritados) com moças 12e rapazes para quem,
126-131.
de uma hora para outra, eles, 13antes tão adorados, se
tornaram “ridículos”. (...) 14Eis algumas conclusões: os
meninos e meninas 15que nasceram a partir de 1990
não almejam fazer 16nenhum tipo de revolução – nem
sexual nem 17política, como sonhavam os jovens dos
TEXTO C anos 60 e 1870. Mudar o mundo não é com eles. O
que 19querem mesmo é ganhar um bom dinheiro com
20
seu trabalho. São também mais conservadores em
21
relação aos valores familiares (embora os pais, 22ló-
424 - www.PROJETOREDACAO.com.br
gico, sejam “ridículos”), de acordo com o maior 23es- do centro pedagógico do 83Colégio Porto Seguro. Ex-
tudo de hábitos e atitudes da população 24adolescen- põem-se tanto a ponto 84de já terem sido chamados
te brasileira, conduzido pela empresa de 25consultoria de a geração look at 85me (“olhe para mim”). “Esse
Research International. Fruto da 26revolução tecnoló- fato, para além dos 86problemas circunstanciais que
gica e da globalização, eles 27formam, ainda, a gera- pode acarretar, 87dificulta o desenvolvimento da ca-
ção do “tudo-ao-mesmo–28tempo-e-agora” (uma das pacidade de 88autorreflexão e introspecção, o que é
inúmeras expressões 29com as quais os especialistas essencial 89para o crescimento”, diz a psicóloga Ceres
tentam defini-los). Alves 90de Araujo.
30
São capazes de realizar várias atividades ao 31mes- Excerto do texto da Revista Veja, 18/02/2009, p. 84-
mo tempo (as de estudo, nem sempre a 32contento), 90.
porque celular, iPod, computador e 33videogame pra-
ticamente viraram uma extensão do 34corpo e dos
sentidos. É, enfim, uma juventude que 35vive em rede,
com tudo de bom e de ruim que isso 36significa. Afir- Questão 128 - (UEM PR)
ma Felipe Mendes, diretor-geral da 37Research Inter- Assinale o que for correto a respeito dos trechos reti-
national: “O que preocupa nesta 38geração é que eles rados do texto.
são concretos em relação a 39dinheiro e trabalho, mas
muito básicos em seus 40sonhos e impessoais e vir-
tuais nos prazeres que 41deveriam ser reais”.
01. No trecho “...estão mais desorientados do que
O fato de estarem sempre conectados os leva
42
nunca.” (refs. 4-5), há o pressuposto de que, antes
43
a ter interesse por mais assuntos e a ser mais bem da revolução tecnológica, os adolescentes tam-
44
informados de maneira geral. O lado ruim é que bém eram desorientados.
45
raramente tentam aprofundar-se em algum tema.
46
Mudam de opinião com rapidez e frequência 47pro- 02. O excerto “Mais do que ocorria nas gerações de
porcionais ao liga-desliga do computador. 48Mais jovens anteriores, suas decisões costumam estar
do que ocorria nas gerações de jovens 49anteriores, envoltas em interrogações...” (refs. 48-50) denota
suas decisões costumam estar envoltas 50em inter- que a juventude é uma fase conflituosa, indepen-
rogações, como se a vida fosse um eterno 51teste de dentemente da época.
múltipla escolha. Plugados ao mundo, aos 52sites de
relacionamentos como Orkut e aos 53serviços de men- 04. O enunciado “São também mais conservadores
sagens instantâneas, eles movem–se 54em rede e es- em relação aos valores familiares...” (refs. 20-21)
tão menos divididos em tribos. E é 55justamente isso corrobora o enunciado “...embora os pais, lógico,
que os faz menos preconceituosos 56com as diferen- sejam ‘ridículos’...” (refs. 21-22).
ças: 44% dos participantes da 57pesquisa da Research
08. O enunciado “Lá estão também fotos da família,
International têm amigos 58próximos com uma orien-
dos amigos, do namorado, da ‘ficante’...” (refs.
tação sexual diferente da 59sua. É um dos melhores
78-80) é um exemplo do excesso de exposição
aspectos do lado bom.
dos adolescentes em sites de relacionamentos.
O frenesi da era digital ajuda a empurrar 61esses
60
16. O enunciado “Mudar o mundo não é com eles.”
adolescentes a trocar de amores, amizades, 62cursos
(ref. 18) revela uma diferença comportamental
e aspirações como quem troca de tênis. “É 63uma su-
entre os jovens dos anos 60 e 70 e os meninos e
cessão de reinícios, com finais rápidos e 64indolores”,
as meninas que nasceram a partir da década de
define o sociólogo polonês Zygmunt 65Bauman. Mas,
1990.
como não é possível recusar 66sempre a vivência da
dor, a contrapartida pode ser 67o aumento da ansieda-
de em relação a 68relacionamentos pessoais e opções
profissionais. 69“Você quer tudo e, ao mesmo tempo, Questão 129 - (UFBA)
não sabe o 70que quer”, diz Marcela Lucato, de 16
anos. A 71frase resume bem o porquê de eles nunca se Leia, com atenção, os fragmentos a seguir:
72
mostrarem completamente satisfeitos.

(...) O excesso de excesso de exposição dos


73
74
adolescentes em sites de relacionamentos é, sim, I.
75
motivo de preocupação. A agenda trancada a 76cha-
[...] Os condenados, que logo estrebuchariam na
ve do passado deu lugar a trocas de mensagens
forca da Piedade, respondiam por aquele medo e pela
77
apaixonadas ou comentários sobre a vida própria 78e
insegurança de todos. D. Fernando José de Portugal
alheia para todo mundo ler. Lá estão também 79fotos
e Castro, no governo da Bahia, podia compadecer-se
da família, dos amigos, do namorado, da 80“ficante” e
dos ladrões e assassinos, mas não perdoava os inimi-
por aí vai. “A privacidade não existe 81mais para eles”,
gos do Rei. E pensar que ele, Valentim dos Anjos, mu-
diz Claudia Xavier da Costa 82Souza, coordenadora
www.PROJETOREDACAO.com.br - 425
lato e pequeno negociante sem importância, escapa- nou visíveis duas cicatrizes, sulcando paralelas cada
ra por milagre de envolver-se na conspiração! um dos pulsos. Seus dedos haviam pago caro — du-
rante anos se moveram lentos, em arco de tartaruga.
[...]
— Me amarraram nessa árvore. Me prenderam
[...] Trinta e tantos homens implicados na rebe- com cordas, deitaram sal nas feridas.
lião, ao que se dizia, estavam nas grades de D. Fernan-
do José e dali apenas sairiam para o degredo na África — Quem?
ou a morte na forca.
— Esses que vocês querem ajudar agora.
ADONIAS FILHO. O largo da Palma:
Os argumentos de Sulplício eram por mim co-
novelas. 2. ed. Rio de Janeiro: nhecidos. Quando chegaram os da Revolução eles
disseram que íamos ficar donos e mandantes. Todos
Bertrand Brasil, 2006. p. 90-91. se contentaram. Minha mãe, muito ela se contentou.
Sulplício, porém, se encheu de medo. Matar o patrão?
II. Mais difícil é matar o escravo que vive dentro de nós.
— Então? Acorda, cabra safado! Acorda, peste or- Agora, nem patrão nem escravo.
dinário, cadê essa valentia de bandido? Acorda, ordi- — Só mudámos de patrão.
nário!
COUTO, M. O último vôo do flamingo. São
Filomeno quis mexer o tronco para virar-se na di-
reção do homem, mas não conseguiu mover-se, ha- Paulo: Companhia das Letras. 2005. p. 137.
viam-no deitado de lado e uma corda ligava a amarra
dos pés à das mãos, pelas costas.

— Não precisa se virar para falar, fique quieto aí Os fragmentos transcritos retratam situações de po-
mesmo! — gritou o homem, dando-lhe outro ponta- der mostradas em obras distintas.
pé.
Com base no contexto de cada uma das obras, faça
— Que foi que teve? um breve comentário sobre tais situações.

— Tu não tem nada de perguntar nada, cachorro!

Desferiu novo pontapé, desta vez com muito mais for- TEXTO: 64 - Comum à questão: 130
ça do que os anteriores, Filomeno teve um acesso de
tosse. A arte de ser feliz

— Qual dos dois é o chefe desse contrabando? — Cecília Meirelles


perguntou outro homem, que Filomeno não podia ver. 01
Houve um tempo em que minha janela se abria
— Deve ser este daqui — respondeu o que dava sobre uma cidade que parecia ser feita de 02giz. Perto
os pontapés. — É o mais velho. da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era
uma época de estiagem, de terra 03 esfarelada, e o jar-
— É, eu sou o chefe, o chefe sou eu! — gritou Fi- dim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um
lomeno, percebendo que também falavam em Caruá. pobre com um balde, e, em 04silêncio, ia atirando com
— Ele nem sabe nada do que eu estou trazendo, isso a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era
é um menino que eu tratei para cuidar das mulas. uma rega: era uma 05espécie de aspersão ritual, para
que o jardim não morresse. E eu olhava para as plan-
— É, deve ser mesmo, o chefe é ele — disse o tas, para o 06homem, para as gotas de água que caíam
segundo homem. — Então mate este daqui, só preci- de seus dedos magros e meu coração ficava 07comple-
samos levar um conosco para ser interrogado, já esta- tamente feliz. Às vezes abro a janela e encontro o jas-
mos atrasados. mineiro em flor. Outras vezes encontro 08nuvens es-
pessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais
RIBEIRO, J. U. Viva o povo brasileiro. Rio de que pulam pelo muro. Gatos que 09abrem e fecham
Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 551-552. os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas,
duas a duas, como refletidas 10no espelho do ar. Ma-
rimbondos que sempre me parecem personagens de
Lope de Vega. Ás vezes, 11um galo canta. Às vezes, um
III. avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo
o seu destino. E 12eu me sinto completamente feliz.
Espreitámos, em vão. As mãos estavam vazias. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
Mas ele, com frio gesto, arregaçou as mangas e tor- que estão 13 diante de cada janela, uns dizem que es-
426 - www.PROJETOREDACAO.com.br
sas coisas não existem, outros que só existem diante um dedo acusador: já corre na imprensa mexicana o
das 14minhas janelas, e outros, finalmente, que é pre- rumor de um epicentro da gripe situado numa gigan-
ciso aprender a olhar, para poder vê-las assim. tesca filial da Smithfield.

http://www.alb.com.br/revistas Como se observa, os contágios são muito mais


complicados que entrar um vírus presumivelmente
mortal nos pulmões de um cidadão apanhado na teia
dos interesses materiais e da falta de escrúpulos das
Questão 130 - (UFPA) grandes empresas. A primeira morte, há longo tempo,
Considerando-se o emprego da linguagem conotati- foi a da honradez. Mas poderá, realmente, pedir-se
va, é possível afirmar que, no trecho honradez a uma transnacional? Quem nos acode?

Adaptado de http://caderno.josesaramago.
org/2009/04/29/gripe-suina/.
“Mas, quando falo dessas pequenas felicidades cer-
tas, que estão diante de cada janela, uns dizem que
essas coisas não existem, outros que só existem dian- Relacione este comentário jornalístico de José Mi-
te das minhas janelas, e outros, finalmente, que é guel Saramago a sua narrativa Ensaio sobre a ceguei-
preciso aprender a olhar, para poder vê- las assim.” ra, destacando:

a palavra em destaque significa a) o fenômeno “ecológico” a que se referem os dois


textos;

a) olhos. b) a visão crítica do autor sobre o problema político


decorrente do aparecimento deste fenômeno.
b) sonhos.

c) casas.
Questão 132 - (UFU MG)
d) jardins.
Leia os textos seguintes e responda ao que se pede.
e) pensamentos.

Texto 1
Questão 131 - (UFU MG)

Sobre o recente surto de gripe “suína”, amplamente


divulgado na imprensa, disse o escritor José Miguel Nana para Glaura
Saramago:

Dorme como quem


Uma comissão convocada pelo Pew Research porque nunca nascida
Center publicou um relatório sobre a produção ani-
mal em granjas industriais onde chama a atenção dormisse no hiato
para o grave perigo que representa o aparecimento
de novos vírus, nestes ambientes, que seriam respon- entre a morte e a vida.
sáveis por este progressivo deterioramento da saúde
pública mundial.

Qualquer melhoria na ecologia deste novo agente Dorme como quem


patogénico teria que enfrentar-se ao monstruoso po-
der dos grandes conglomerados empresariais avícolas nem os olhos abrisse
e ganadeiros, como o Smithfield Farms. Neste senti- por saber desde sempre
do, a comissão falou de uma obstrução sistemática
das suas investigações por parte das grandes empre- quanto o mundo é triste.
sas, incluídas umas nada recatadas ameaças de supri-
mir o financiamento dos investigadores e dos meios
de comunicação que cooperam com a comissão. Isso
não quer dizer que não venha a encontrar-se nunca Dorme como quem

www.PROJETOREDACAO.com.br - 427
cedo achasse abrigo sileiro são em maior número do que as que os por-
tugueses vão ter que fazer. Portugal a rigor só vai ter
que nos meus desabrigos duas modificações: vão deixar de usar as consoantes
mudas e eliminar o “h” inicial em palavras como úmi-
dormirei contigo. do. O Brasil fez mais cedências.
José Paulo Paes. Prosas seguidas de odes mínimas O GLOBO: Por que se criaram tantos acentos?

BECHARA: As primeiras tentativas de reforma ortográ-


fica datam de 1886 em Portugal, e no Brasil de 1906.
Uma época em que a rede escolar era muito mais frá-
Texto 2 gil do que hoje. Era necessária uma reforma em que
a maneira de grafar as palavras ajudasse as pessoas
a pronunciá-las corretamente. O sistema educacio-
nal ainda era precário, tanto em Portugal quanto no
Ó águas dos meus olhos desgraçados, Brasil. Hoje, com a rede escolar, com o rádio, com a
televisão, é diferente. Esses meios de comunicação
Parai que não se abranda o meu tormento:
ajudam mais na difusão da pronúncia correta do que
De que serve o lamento a ortografia. Basta ver que há casos em que as pes-
soas pronunciam a palavra de um jeito diferente do
Se Glaura já não vive? Ai, duros Fados! indicado pela grafia.

Ai, míseros cuidados! O GLOBO: A Academia Brasileira de Letras pensa em


apresentar essas propostas?
Manuel Inácio da Silva Alvarenga. Glaura
BECHARA: A ABL não pode, nesse momento. Mas se o
impasse continuar, quem sabe? Minha opinião é que
as academias do Brasil e de Portugal deveriam se reu-
a) Discorra sobre o tema comum aos dois textos, nir, juntamente com os outros países, para mudar a
mostrando como o sujeito-lírico se manifesta em filosofia da reforma.
cada um.

b) Cite duas marcas textuais do texto 2 que deno-


tam a postura adotada pelo sujeito-lírico no trata-
mento do tema.

Questão 133 - (UFF RJ)

Leia atentamente a entrevista do acadêmico Evanildo


Bechara e o artigo “Nó górdio é a vaidade e a peque-
nez” da escritora Ângela Dutra de Menezes e reflita
sobre seus diferentes pontos de vista.

· Um dos maiores conhecedores da língua portu-


guesa, o acadêmico Evanildo Bechara critica o acordo
ortográfico de 1990, que, em sua opinião, não simpli- “As mudanças foram muito modestas” Evanildo Bechara
fica suficientemente as regras de emprego do hífen, e (fragmento)
ainda admite um número excessivo de casos de acen-
tuação. Para Bechara, a Academia Brasileira de Letras Globo, Prosa & Verso, setembro de 2007
e os países lusófonos deveriam se unir para alterar “a
filosofia” da reforma ortográfica.

O GLOBO: Qual sua opinião geral sobre o Acordo Or-


tográfico de 1990?

EVANILDO BECHARA: As mudanças foram muito mo-


destas para conseguirmos uma unificação do sistema
gráfico em Portugal e no Brasil. Não há grandes re-
voluções nas alterações que se vão fazer. Esse é um
ponto. O outro é que as modificações no sistema bra-
428 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO II mentando a nossa triste vocação para o nada. Afinal,
deve pensar quem nos cerca com um esgar de des-
prezo, quem é esta pobre gente que não se entende
nem na língua em que fala?
Nó górdio é a vaidade e a pequenez
“Nó górdio é a vaidade e a pequenez” Ângela

Dutra de Menezes(fragmento)
· Recebi a notícia de que o meu livro “O português
que nos pariu” é best-seller em Portugal. “Top ten”, O Globo, Prosa &Verso, setembro de 2007
explicou-me, via e-mail, a Editora Civilização, da cida-
de do Porto.

Feliz? Nem tanto. O livro que está sendo vendido a) Transcreva de cada texto da página anterior duas
no além-mar, descumprindo um pedido meu, foi “tra- afirmativas que apresentam, de forma clara, pon-
duzido” para o, digamos, lusitano. A descortesia dos tos de vista diferentes quanto ao acordo ortográ-
editores esconde mais do que apenas desrespeito ao fico e sua implantação.
meu texto e às minhas convicções. A atitude autori-
tária prova que velejamos a anos-Iuz do acordo orto- Na reportagem “A riqueza da língua” da revista
gráfico que, teoricamente, está prestes a desencantar. VEJA de 12/9/07, o músico Tony Beloto também
Não desencantará. A língua é o mais forte signo de reflete sobre a questão do acordo ortográfico.
uma nacionalidade. Abrir mão de suas características
significa, mesmo que simbolicamente, render-se. b) MINHA PÁTRIA, MINHA LÍNGUA

Mas render-se a quê? A quem? Afinal, todos falamos “Creio que a unificação do português tem um sen-
português. As diferentes versões do nosso idioma não tido político positivo.
anulam a realidade de sua unidade. Negar isto é ne- Aumenta o conceito da língua como nação. A
gar a belissima história das navegações portuguesas adaptação talvez seja difícil.
e assumir uma atitude tímida diante do maravilhoso
mundo novo. Quem acredita que os falantes de um Mas a língua é um organismo vivo e vai seguir em
português são incapazes de ler ou entender outro, frente.
além de se desmerecer intelectualmente, demonstra
medo de perder a sua identidade, a sua História, o seu No meu trabalho de compositor, a ortografia re-
passado, o respeito próprio. percute pouco. Nas letras

de rock, a gente trabalha com a informalidade,


com a fala da rua.”

Tony Belloto,

músico da banda Titãs, autor de

Bellini e a Esfinge e apresentador

do programa Afinando a Língua

Qual a importância que Tony Belloto dá ao acordo


ortográfico? Justifique sua resposta.

Questão 134 - (UFBA)


Acredito que leio e, desde criança, leio os autores Deixei o gravador reproduzir suas tão recentes
portugueses no “original”. Hoje, faço o mesmo com palavras que até pareciam eco. Ele se ouviu, maravi-
escritores angolanos e moçambicanos e, se tropeço lhado, acenando a cabeça em constante anuência. No
em uma palavra, enriqueço o meu vocabulário com fim, reforçou ordem com ordem:
leve toque no teclado do computador: um dicionário
eletrônico esclarece a minha dúvida. Acredito que — E não quero esse italiano a escutar as palavras.
nós, brasileiros, somos perfeitamente decodificáveis Ouviu? Ainda não confio cento por cento nesse fida-
pelos consumidores lusos, sem que alguém, pater- mãe.
nalisticamente, precise se intrometer para avisar que
o escritor quis dizer isto ou aquilo. Ou assumimos as — Mas pai, esse italiano nos está ajudar.
diferenças que nos aproximam ou continuaremos ali-
— A ajudar?
www.PROJETOREDACAO.com.br - 429
— Ele e os outros. Nos ajudam a construir a paz. repetição dos termos “o meu filho” e “piercing”
no segundo e terceiro quadrinhos.
— Nisso se engana. Não é a paz que lhe interessa.
Eles se preocupam é com a ordem, o regime desse b) No quarto quadrinho, o conectivo “mas” estabe-
mundo. lece uma relação de complementação entre as
idéias anteriores e as que serão apresentadas em
— Ora, pai... seguida.
— O problema deles é manter a ordem que lhes c) O uso das reticências em vários quadrinhos suge-
faz serem patrões. Essa ordem é uma doença em nos- re que a mãe não concordou integralmente com
sa história. o uso do piercing pelo filho.
Dessa doença, segundo ele, se refazia em nós d) A relação entre imagem e palavra, no penúltimo
essa divisão de existências: uns moleques dos patrões quadrinho, concentra a idéia central de toda a
e outros moleques dos moleques. A aposta dos po- tira.
derosos — os de fora e os de dentro — era uma só:
provar que só colonizados podíamos ser governados.

COUTO, Mia. O último voo do flamingo. São Questão 136 - (UFT TO)

Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 188. Leia o texto abaixo, retirado da Revista CULT (março
2006).

O fragmento transcrito é representativo da linha te-


mática de “O último vôo do flamingo”, em que o nar-
rador-tradutor personagem discute com o pai — Sul-
plício — “as coisas da terra”.

Baseando-se no contexto da obra, comente o ponto


de vista de cada uma das duas personagens, explici-
tando as diferenças que as separam no que tange à
política.

TEXTO: 65 - Comum à questão: 135

Considere as afirmações abaixo:

I. Sinais de pontuação marcam, por vezes, elipses,


Disponível em: <http: www2.uol.com.br> Acesso em: 22 como é o caso, por exemplo, em “Aos 80, Cony
abr. 2008. fala de literatura, política e, pela primeira vez, de
uma dor que não será indenizada”.

II. O dito popular “com a pulga atrás da orelha”, ao


Questão 135 - (UEG GO)
fazer uso metafórico dos itens lexicais pulga e
Sobre a organização textual da tira acima, é CORRETO orelha, remete à idéia de cólera.
afirmar:
III. No enunciado “Ele nos ajuda nisso como poucos”
a) Há um problema de coesão textual devido à não (linha 6), ele nos remete a Cony e nisso recobra a
citação do político britânico.
430 - www.PROJETOREDACAO.com.br
IV. O texto estabelece um paralelo entre crônica e É dor que desatina sem doer.
notícia, relacionando, a estas, respectivamente,
as noções de mundo ficcional e mundo real, e de Luís Vaz de Camões
entendimento reflexivo e entendimento superfi-
cial. O amor é o fogo que arde sem se ver.

V. A idéia de “conspiração tácita de inconformados É ferida que dói e não se sente.


passivos”, (linha 16) no contexto apresentado, É um contentamento descontente.
remete-nos a movimentos de protestos iniciados
após o golpe de 1964. É dor que desatina sem doer.

Ainda que eu falasse a língua dos homens.


Assinale a alternativa CORRETA: E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada
seria.

Legião Urbana, Monte Caste-


a) Apenas II está incorreta. lo
b) Apenas I, III e V estão corretas. Os versos de Monte Castelo retomam três fon-
c) Apenas II e V estão incorretas. tes distintas que remetem ao local de resistência
(título da canção), à necessidade imperiosa do
d) Todas as afirmações estão corretas. sentimento fraterno (Apóstolo Paulo) e ao cará-
ter contemplativo e dócil da vivência amorosa
(Camões).

Questão 137 - (UFF RJ) b) Quando nasci, um anjo torto

A modernidade tem-se utilizado de meios expressio- desses que vivem na sombra


nais que dialogam com diversas linguagens, produzin-
do pela intertextualidade novos sentidos e novos diá- Disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
logos. Por exemplo, a pintura de Portinari é retomada
pelo grafite, deslocando a realidade do trabalhador Carlos Drummond de Andrade, Poema das
rural para a cidade. sete faces

Quando nasci um anjo esbelto

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Adélia Prado, Com licença poética

Os versos de Adélia Prado retomam a imagem do


“anjo”, reproduzindo o caráter de aceitação do
papel da mulher no contexto social.

c) Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores

Nossos bosques têm mais vida,


Identifique o comentário pertinente sobre a ressig-
Nossa vida mais amores.
nificação promovida pela intertextualidade dos frag-
mentos que se seguem. Gonçalves Dias
a) Amor é fogo que arde sem se ver. Nossas várzeas têm mais flores
É ferida que dói e não se sente. nossas flores mais pesticidas.
É um contentamento descontente. Só se banham em nossos rios
www.PROJETOREDACAO.com.br - 431
Desinformados e suicidas. crita

Luiz FernandoVeríssimo da Novel Cidade de Brasília com a data de 21 de abril


de 1960.
O fragmento retomado por Veríssimo – versos de
Canção do Exílio – situa a realidade em que se in- Por Darcy Ribeiro
sere, sob o ponto de vista crítico, confrontando-se
à visão ufanista do Romantismo. O fragmento da carta de Darcy Ribeiro retoma o
estilo detalhista e inventivo de Pero Vaz de Cami-
d) Conselho se fosse bom, as pessoas nha, ao construir a imagem do Brasil segundo o
olhar europeu.
não dariam, venderiam.

Vá dormir que a dor passa.


TEXTO: 66 - Comum à questão: 138
Quem espera sempre alcança.
Admirável Chip Novo
Provérbios e ditos populares.
(Pitty)
Ouça um bom conselho

Que eu lhe dou de graça


Pane no sistema, alguém me desconfigurou
Inútil dormir que a dor não passa
Aonde estão meus olhos de robô?
Espere sentado
Eu não sabia, eu não tinha percebido
Ou você se cansa
Eu sempre achei que era vivo
Está provado, quem espera nunca alcança.
Parafuso e fluido em lugar de articulação
Chico Buarque, Bom conselho
Até achava que aqui batia um coração
O fragmento de Bom conselho reforça pela lin-
guagem poética o caráter moralista e educativo Nada é orgânico, é tudo programado
desses provérbios.
E eu achando que tinha me libertado,
e) A feição deles é serem pardos, maneira
Mas lá vêm eles novamente e eu sei o que vão fazer:
d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes,
Reinstalar o sistema
bem feitos. Andam nus, sem nenhuma

cobertura, nem estimam nenhuma cousa


Pense, fale, compre, beba
cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão
Leia, vote, não se esqueça
acerca disso com tanta inocência como
Use, seja, ouça, diga
também em mostrar o rosto.
Tenha, more, gaste e viva
Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha a el-rei
d. Manuel

Senhor: Pense, fale, compre, beba

Escrevo esta carta para vos dar conta dos suces- Leia, vote, não se esqueça
sos da terra de Vera Cruz desde o dia de seu acha-
mento até a construção desta Brasília onde agora Use, seja, ouça, diga...
me encontro. Eu a tenho, Senhor, por derradei-
ro feito e última louçania da gente de cepa e me
empenharei em bem descrevê-la, nada pondo ou Não senhor, Sim senhor, Não senhor, Sim senhor
tirando para aformosear nem para enfear, mas só
praticando do que vi, ouvi ou me pareceu.

Segunda Carta de Pero Vaz de Caminha, a El Rei, es- Mas lá vêm eles novamente e eu sei o que vão fazer:

432 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Reinstalar o sistema Na atrapalhação da hora da morte

(Disponível em: http://www.letras.mus.br. Acesso Gritar abraçado com as ondas.


em: 08 ago.2006.)
E, pior, alguém ouvir:

“O oceano é a única sepultura digna de


Questão 138 - (UFV MG)
um almirante batavo.”
Releia o texto e responda:
MENDES, Murilo. História do Brasil. Rio de Janeiro: Nova
a) Identifique a metáfora estabelecida na música Fronteira, 1991. p.25.
“Admirável chip novo”.

b) Cite três marcas lingüísticas que indiquem tal pro-


cesso metafórico. REDIJA um texto, explicando a diferença de tratamen-
to dado à lenda no trecho de João Ribeiro e no poema
c) Os verbos “Pense, fale, compre, beba”, na terceira de Murilo Mendes.
estrofe, estão empregados no modo imperativo.

Justifique esse uso.


TEXTO: 67 - Comum à questão: 140

A Daslu e o shopping-bunker
Questão 139 - (UFMG)

Leia este trecho:


A nova Daslu é o assunto preferido
“Por esse tempo, partiu do Tejo para socorrer a colô-
nia a esquadra de D. Antônio de Oquendo, que che- das conversas em São Paulo. Os ricos se
gou à Bahia em julho de 1631 e partiu em setembro
para desembarcar tropas de reforço ao Norte de Per- entusiasmam com a criação de um local
nambuco, mais ou menos na altura do cabo de San- tão exclusivo e cheio de roupas e objetos
to Agostinho; intento que não logrou realizar porque
alguns dias depois, ainda nos mares da Bahia, a 12 5 sofisticados e internacionais. Os pequeno-
de setembro, travou renhida luta com a esquadra ho-
landesa de Adrião Pater. A frota espanhola era de cin- burgueses praguejam contra a iniciativa,
qüenta e três navios; a do almirante batavo, apenas
de dezesseis; a ação foi terrível, o ataque à capitânia indignados com tanta ostentação.
fez com que na luta atracassem cinco naus de uma e
Antes instalada num conjunto de casas
outra parte, que ficaram jungidas, lavradas de incên-
dio. na Vila Nova Conceição, região de
Adrião Pater, não querendo salvar a vida entregando- 10 classe alta, a loja que vende as grifes mais
-se aos espanhóis, deixou-se morrer, e os navios se-
pararam-se, ficando a batalha indecisa. Uma lenda de famosas e caras do mundo passará agora
origem portuguesa ou espanhola se formou que atri-
buiu a Pater o derradeiro gesto de enrolar-se na ban- a funcionar num prédio monumental
deira da pátria e atirar-se às ondas dizendo: ‘O oceano
é o único túmulo digno de um almirante batavo’.” construído no bairro “nouveau riche” da

RIBEIRO, João. História do Brasil. Rio de Janeiro: Edições Vila Olímpia e ao lado do infelizmente pú-
de Ouro, 1967. p.150-1.
15 trido e mal cheiroso rio Pinheiros.

A imprensa aproveita a mudança da


Leia, agora, este poema:
Daslu para discorrer sobre as vantagens

de uma vida luxuosa e exibir fotos exclusivas


O HERÓI E A FRASE
do interior da megaloja de quatro
Como é que poderia
20 andares e seus salões labirínticos, onde
Aquele almirante holandês
www.PROJETOREDACAO.com.br - 433
praticamente não há corredores, pois, 55 calças Dolce & Gabbana na loja.

como diz a dona da loja, a idéia é que o Tais fatores, digamos assim, sinistros

consumidor se sinta em sua casa. da realidade brasileira é que impulsionam

Estranha casa, deve-se dizer. Para em- o pioneirismo da nova Daslu. Sim, a loja é

25 trar nela é preciso fazer uma carteira de uma empreitada verdadeiramente inédi-

sócio, depois de deixar o carro num esta- 60 ta. A Daslu, que desenvolveu no Brasil

cionamento que custa R$ 30,00 (a primei- um certo tipo de atendimento exclusivo e

ra hora). Obviamente, tudo isso tem por personalizado para ricos, agora introduz,

objetivo selecionar os consumidores e inti- pela primeira vez no mundo, o modelo do

30 midar os pouco afortunados – os mesmos shopping-bunker.

que, ao se aventurar na antiga loja, recla- 65 Todos sabem como os shopping centers

mavam da indiferença das vendedoras, as floresceram em São Paulo e nas capitais

dasluzetes, muito mais solícitas com brasileiras, tanto pelas facilidades que

aqueles que elas já conheciam ou que de- propiciam para a gente que vive nos cen-

31 monstravam de cara seu poder de compra. tros urbanos congestionados e tumultua-

As complicações na portaria visam 70 dos, quanto pela segurança. Ao longo dos

também, embora não se diga com clareza, anos, eles foram surgindo aqui e ali, alte-

a proteger o local e dar segurança aos mi- rando a sociabilidade e a paisagem das ci-

lionários de todo o país que certamente fa- dades. Acabaram se transformando em

40 rão da nova Daslu um de seus “points” uma espécie de praça (fechada), onde as

durante a estada em São Paulo, como já 75 classes alta e média podiam circular com

ocorria com a antiga casa. A segurança é tranqüilidade, sem serem importunadas

um item cada vez mais prioritário nos ne- pela visão e a presença dos numerosos po-

gócios hoje em dia – antes mesmo da inau- bres e miseráveis, que, por sua vez, ocu-

45 guração, a loja teve um de seus caminhões param as praças públicas (abertas), como

de mudança roubado. 80 a da República e a da Sé, em São Paulo.

As formalidades na entrada levam Dentro dos shoppings, os brasileiros so-

ainda em conta a privacidade do local de nhamos um mundo de riqueza, organiza-

quase 20 mil metros quadrados, não mui- ção, limpeza, segurança, facilidades e so-

50 to longe da favela Coliseu (sic). A reporta- bretudo de distinção que lá fora, nas ruas,

gem de um site calculou, por falar nisso, 85 está agora longe de existir.

que a soma da renda mensal de todas as Mas talvez os shoppings, mesmo os

famílias da favela (R$ 10.725, segundo o mais sofisticados, como o Iguatemi, te-

IBGE) daria para comprar apenas duas nham se tornado democráticos demais

434 - www.PROJETOREDACAO.com.br
para o gosto da classe alta paulista. A Questão 141 - (Mackenzie SP)

90 cada pequeno entusiasmo econômico, logo O tema, do modo como é tratado, revela que o poeta
assim entende “poesia”:
a alvoroçada classe média da cidade resol-
a) um “sinal de menos”, isto é, busca incansável de
vê se intrometer aos bandos nas searas uma original síntese expressiva, em oposição a
discursos redundantes.
exclusivas dos muito ricos. [...]
b) uma “máquina de emocionar” que produz um
(http://wwwl.folha.uol.com.br, por Alcino Leite Neto. jogo de regularidades estéticas perfeitas.
Consulta em 08/07/2005.)
c) a “técnica de fazer versos simétricos, melodio-
sos”, porém inúteis.
Questão 140 - (ITA SP) d) o “nada que é tudo”: a expressão passional do
A denominação “shopping-bunker” é apropriada pelo mundo onírico.
fato de a loja e) a “exata expressão da alma”: única forma artística
a) possuir salões labirínticos, onde praticamente para a revelação dos estados anímicos.
não há corredores.

b) funcionar num prédio monumental, construído TEXTO: 69 - Comum à questão: 142


num bairro “nouveau riche”.
01
O dr. Cláudio encetou uma série de preleções aos
c) contar com formalidades de acesso, que envol- sábados, à 02imitação das que fazia às quintas Aristar-
vem carteira de sócio. co sobre lugares-comuns de 03moralidade. O doutor
d) ser o assunto preferido das conversas em São narrava-nos a vida. 04Falava uma vez sobre educação.
Paulo.
05
Discutiu a questão do internato. Divergia do parecer
vulgar, que 06o condena. 07É
uma organização
e) proteger os consumidores, dando-lhes seguran-
ça. imperfeita, aprendizagem de
corrupção, 08ocasião de contato com indivíduos
de toda origem? O mestre é a 09tirania, a injustiça, o
TEXTO: 68 - Comum à questão: 141 terror? O merecimento não tem cotação ...? 10Tanto
melhor, é a escola da sociedade.
Digitações
Adaptado de Raul Pompéia, O Ateneu: crônica de sauda-
des

A poética é uma máquina

Há um código central Obs.: encetar = começar

Em que se digita ANULA preleção = palestra com finalidade educativa

É a máquina do nada
Questão 142 - (Mackenzie SP)
Que anda ao contrário
Considerados o fragmento e a perspectiva adotada na
Da sua meta obra, assinale a alternativa correta.
A repetição é a morte a) A personagem dr. Cláudio faz um contraponto à
Noutro código lateral personagem Aristarco: o primeiro representa os
vícios que o realismo do escritor exige que sejam
Digita-se ENTRA denunciados; o segundo, o ideal de comporta-
mento que defende na obra.
E os cupins invadem o quarto
b) A expressão Tanto melhor expressa uma apre-
Sebastião Uchoa Leite ciação do dr. Cláudio que estaria coerentemente
apoiada na seguinte crença: a escola deve ilustrar
o espírito, não temperar o caráter.
www.PROJETOREDACAO.com.br - 435
c) A vivência no internato construído pelo escritor O poeta Paulo Leminski neste poema usa de procedi-
abstrai qualquer traço de darwinismo, presença mento redundante em sua obra.
que poderia ser esperada pelo contexto de pro-
dução da obra. Assinale a alternativa que identifica esse procedimen-
to:
d) As frases interrogativas expressam uma visão que
coincide com a do narrador, e a valorização das a) intertextualidade.
circunstâncias adversas sugere que o dr. Cláudio
está fundamentado no mecanismo de seleção na- b) ironia.
tural. c) crítica à sociedade de massa.
e) Fugindo às idéias deterministas, o relato das tra- d) fuga à realidade.
jetórias de jovens confinados no Ateneu por des-
vios de conduta trata exatamente da força das e) desejo de viver intensamente.
entidades educacionais contra a negatividade do
meio social.

Questão 145 - (UFSC)

Questão 143 - (PUC MG) TEXTO 3

No conto “Missa do galo”, escrito por Julieta de Go-


doy Ladeira, encontramos a seguinte epígrafe, extraí-
da do original de Machado de Assis: 1 “Meu povo trocou cauim por cachaça [...] E

assim roubaram a alma do nosso povo. E

“Boa Conceição! Chamavam-lhe ‘a santa’, e fazia jus sem sua alma, sem seu riso, sem sua terra,
ao título, tão facilmente suportava os esquecimen-
índio morreu. [...] Quando homem branco
tos do marido.”
5 veio, disse que índios falavam com espíritos

maus e índio deixou de escutar a voz de dentro.”


Pode-se dizer que essa epígrafe só NÃO apontaria, no
conto de Julieta de Godoy Ladeira, para: ZOTZ, Werner. Apenas um curumim. 20 ed. Rio de
Janeiro: Editorial Nórdica, 1995, p. 21, 27, 38.
a) o traço parafrásico que o narrador do novo conto
daria ao original.

b) o tom irônico com que teria sido tomado o texto Com base no TEXTO 3 e na obra de Werner Zotz, é
machadiano. CORRETO afirmar que:
c) a perspectiva feminina, que mudaria a proposta 01. na obra, há dois narradores (o pajé e o curu-
de leitura do texto de partida. mim). No excerto, aparece a voz do pajé que faz
uma reflexão a respeito da aculturação de seu
d) a apropriação paródica, que reverteria a leitura
povo.
do conto de Machado.
02. o trecho faz uma crítica à destituição da cultura
indígena, que pode ser representada pela troca
Questão 144 - (PUC PR) de “cauim por cachaça” (linha 1).

Leia o poema: 04. o narrador afirma que roubaram a alma do seu


povo, como metáfora para explicar a perda de
podem ficar com a realidade identidade do povo indígena.

esse baixo astral 08. a frase “E assim roubaram a alma do nosso povo”
(linhas 1-2) pode ser reescrita, mantendo o signi-
em que tudo entra pelo cano ficado, da seguinte forma: “E entretanto eles rou-
baram a alma do nosso povo”.

16. em “meu povo” (linha 1) e “nosso povo” (linha 2),


eu quero viver de verdade os dois pronomes são de primeira pessoa e fazem
eu fico com o cinema americano referência aos indígenas.

436 - www.PROJETOREDACAO.com.br
32. a forma “Quando homem branco veio” (linhas carnecia.
4-5) pode ser substituída por “Enquanto homem
branco veio”, sem perda de valor semântico, já 16. nas expressões Do alto (linha 1) e no alto (linha 2)
que as duas expressões são marcadores tempo- as palavras sublinhadas apresentam contração de
rais de ação ocorrida no passado. preposição com artigo, relacionam-se à palavra
alto e significam, respectivamente, procedência e
64. em “Quando homem branco veio, disse que ín- localização.
dios falavam com espíritos maus e índio deixou
de escutar a voz de dentro” (linhas 4-7), os verbos 32. o socorro que os caboclos tinham aguardado veio
destacados indicam, respectivamente, uma ação do alto, na forma de um avião.
concluída e uma ação habitual no passado.

Questão 147 - (UFBA)

I.
TEXTO: 70 - Comum à questão: 146TEXTO 4
Plácido Rodrigues, o padrinho de Cândida,
conseguira vencer a justíssima repugnância, tal-
vez a instintiva ou providencial obstinação da afi-
1 “Do alto tinham aguardado o socorro, lhada, trazendo-lhe de presente para sua muca-
ma a crioula Lucinda, que sabia pentear e fazer
o do exército encantado, e no alto voava o bonecas.
instrumento da morte. Entre o vôo Depois da ama, mulher livre, a mucama,
crioula escrava!...
espantado dos urubus, inclinavam-se as
Cândida tinha perdido a companhia da mu-
5 asas do aparelho que Setembrino de lher que era nobre, porque era livre, e o serviço
Carvalho tinha mandado para localizar de braços animados por coração cheio de amor
generoso, que é somente grande, quando a liber-
redutos. O avião ia e vinha, subia, baixava, dade exclui toda imposição de deveres forçados
por vontade absoluta de senhor.
girava. Ria-se das pedradas, dos tiros, dos
E em substituição da companheira livre, ami-
insultos. Navegava acima das espadas ga, e devotada, recebeu alegre a crioula quase de
sua idade, a mulher escrava, uma filha da mãe
10 eriçadas e do fogo dos fuzis, um poder que fera, uma vítima da opressão social, uma onda
envenenada desse oceano de vícios obrigados,
tinha saído das mãos dos homens para
de perversão lógica, de imoralidade congênita, de
aniquilar os homens.” influência corruptora e falaz, desse monstro de-
sumanizador de criaturas humanas, que se chama
SCHÜLER, Donaldo. Império caboclo. 2 ed. Florianó- escravidão.
polis: EdUFSC; Porto Alegre: Movimento, 2004, p.
210-211. MACEDO, Joaquim Manuel de. As vítimas-algozes:
quadros da escravidão. 4 ed. São Paulo: Zouk, 2005.
p. 127.

Questão 146 - (UFSC)

A partir do TEXTO 4 e da obra de Schüler é CORRETO II.


afirmar que:
Dafé abraçou a cabeça do avô, encostou-a no
01. Setembrino “ria-se das pedradas, dos tiros, dos peito e chorou sem fazer barulho, para que ele
insultos” (linhas 8-9). não levantasse os olhos e visse suas lágrimas.
Disse que não havia ninguém que pudesse que-
02. o exército encantado (linha 2) é uma alusão ao rer mais bem a alguém do que ela a ele, porque
exército de São Sebastião, que retornaria para para ela não era somente avô, era pai, professor,
salvar os caboclos. companheiro, amigo, tudo no mundo. Avô me-
lhor do que ele, pai melhor, nada melhor podia
04. o uso do avião é um dos indícios do poder que o haver e, se ela saísse pelo mundo algum dia, nun-
exército tinha em suas mãos. ca ia esquecê-lo, nem deixar de honrar seu nome
e memória, nem deixar de vir vê-lo todas as vezes
08. ria-se, no contexto, pode significar: zombava, es-
www.PROJETOREDACAO.com.br - 437
em que pudesse, nem deixar de lhe querer tanto ram irremediavelmente unidos em torno de um
bem que também lhe dava gastura no coração e o objetivo: recolher as assinaturas necessárias para
queixo tremia da afeição que queria transbordar mexer no Código Penal Brasileiro (...)”
do peito.
IV. “Com elas (as assinaturas), o casal pode criar um
RIBEIRO, João Ubaldo. Viva o povo brasileiro. Rio de projeto de emenda popular à Constituição brasi-
Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 379. leira (...) O projeto ainda vai ser debatido e vo-
tado. Mas, se for aprovado como está hoje, vai
alterar vários itens do Código Penal.”
III. V. “Durante a década de 90, uma série de crimes so-
freu aumento de pena sem que isso resultasse em
[...] Pese a muitas consciências instaladas em diminuição da violência, diz o ministro da Justiça,
maus hábitos ou em maus princípios, a razão por Márcio Thomaz Bastos.”
que me ofereci para defender dois réus indefesos
e a razão por que estou aqui como governador
das ilhas é uma e a mesma: porque eu, e muita
gente comigo, entendo que chegou a altura de a) Conforme o período II, contestação e gentileza se
Portugal ser, não apenas um país colonizador, excluem mutuamente.
mas também um país civilizador. [...] Estes dois
réus que aqui estão hoje são –– porque assim o b) O único operador que sinaliza oposição é o MAS.
quisemos, assim o definimos e assim o proclama-
mos ao mundo –– cidadãos portugueses. É verda- c) Nos períodos de I a V há uma relação de oposição
de que são negros e nem português falam, mas marcada por diferentes tipos de operadores lin-
são tão portugueses como eu ou qualquer um de güísticos.
nós –– os da metrópole –– nesta sala. [...] d) De acordo com o período I, das quatro atividades
TAVARES, Miguel Sousa. Equador. Rio de Janeiro: realizadas pela menina a menos importante era o
Nova Fronteira, 2004. p. 367. estudo.

e) No período II, temos o uso inadequado da vírgula


após a palavra mãe.

Os textos de onde foram extraídos os fragmentos


transcritos discutem, em contextos sócio-históricos Questão 149 - (UNIFAP AP)
distintos, a condição do negro. Observe os textos abaixo:
Com base na leitura das obras, analise os pontos de
vista que se manifestam em cada um desses fragmen-
tos. Texto I

Questão 148 - (UEPB) OS DIFERENTES NÍVEIS DE LINGUAGEM


Após analisar os períodos abaixo, retirados da repor-
tagem “Eles querem justiça” – Época, 27/02/2006,
assinale a alternativa que contém uma declaração Você já deve ter observado que a língua portuguesa
verdadeira: não é falada do mesmo modo em todas as regiões do
país, não é falada do mesmo modo por todas as clas-
ses sociais e, além disso, passou por muitas alterações
no decorrer do tempo. Ou seja, o português, como
I. “Com a curiosidade natural da idade, diz a mãe, qualquer outra língua, não é estático e imutável. As-
(Gabriela Prado Maia, 14 anos) freqüentava aula sim sendo, podemos dizer que uma língua não é uma
de surf, dança do ventre e cavaquinho sem des- unidade homogênea e uniforme. Ela poderia ser defi-
cuidar dos estudos. nida como um conjunto de variedades.
II. “Gabriela era contestadora mesmo que gentil, diz Essa diversidade na utilização do idioma, que impli-
a mãe, Cleyde. cou o surgimento de diversos níveis de linguagem, é
III. “A morte da menina abalou a cidade (Rio de Ja- conseqüência de inúmeros fatores, como o nível so-
neiro)(...) Desde o crime, Carlos e Cleyde pararam ciocultural. Pessoas que não freqüentaram sequer a
de trabalhar. Apesar de divorciados, os dois fica- escola primária utilizam o idioma de modo diferente

438 - www.PROJETOREDACAO.com.br
daquelas que tiveram um contato maior com a escola
e com a leitura. Ainda no plano social, é importante
observarmos as diferenças na utilização da língua em Qual argumento, presente no texto I, confirma as afir-
função da situação de uso. Falamos de um modo mais mações presentes no texto II? Justifique.
informal quando estamos entre amigos, por exemplo,
e de um modo mais formal quando estamos no am-
biente de trabalho. Assim, as condições sociais são de- Questão 150 - (UNIFAP AP)
terminantes no modo de falar das pessoas, gerando o
que podemos chamar de variações socioculturais. Leia os textos a seguir:
Um outro fator determinante na utilização do idioma
é a localização geográfica. Nas diversas regiões do
Brasil, observamos diferenças no modo de pronunciar Soneto de Separação
as palavras, ou seja, há diferentes sotaques: o sota-
que mineiro, o gaúcho, o nordestino etc. Também no (Vinicius de Moraes)
vocabulário observam-se diferenças entre regiões e
também na fala de quem mora na capital e de quem
vive na zona rural. De repente do riso fez-se o pranto
Além desses fatores, é importante destacar também Silencioso e branco como a bruma
as variações que a língua sofre no decorrer do tempo,
ou seja, a variação histórica. Por exemplo, o vocabu- E das bocas unidas fez-se a espuma
lário muda: muitas palavras usadas freqüentemente
no século XIX caíram em desuso nos séculos XX e XXI. E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
Por outro lado, novas palavras e expressões surgiram
no século em decorrência de diversos fatores, como
o desenvolvimento tecnológico. Palavras como avião,
De repente da calma fez-se o vento
satélite espacial, computador e televisão certamente
não faziam parte da conversa das pessoas no século Que dos olhos desfez o pressentimento
XIX.
E do momento imóvel fez-se o drama.
(Moysés, Carlos Alberto. Língua Portuguesa: atividades
de leitura e produção de textos. SP: Saraiva, 2005.) De repente da calma fez-se o vento

Texto II Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento


JOGOS DE ANATOMIA E do momento imóvel fez-se o drama.

Você já operou as amígdalas? Se não o fez, não es- De repente, não mais que de repente
tranhe se o médico tentar lhe tirar a tonsila palatina.
O ato cirúrgico continua o mesmo, mas o nome do Fez-se de triste o que se fez amante
órgão mudou. Como, aliás, mudarão muitos mais. A
terminologia anatômica em rigor desde 2001, quando E de sozinho o que se fez contente.
a Sociedade Brasileira de Anatomia traduziu a versão
em latim da Nomina Anatômica, ganhará adendos de
países como o Brasil num congresso internacional na Fez-se do amigo próximo o distante
África do Sul.
Fez-se da vida uma aventura errante
A Comissão Brasileira de Terminologia Anatômica da
SBA começa no início do ano a reunir as contribuições De repente, não mais que de repente.
do país a novas mudanças dos órgãos humanos. A
previsão é que, em 2007, surja nova leva de batismos
para órgãos velhos conhecidos, que, em seguida, ga-
nharão equivalentes em português.

(Revista Língua. Ano I, Número 2, 2005) Soneto

(Camões)
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Alma minha gentil, que te partiste Revista IstoÉ, n.º 1882, 9 de novembro de 2005, p. 42.

Tão cedo desta vida, descontente,

Repousa lá no Céu, eternamente, a) Com os dois primeiros dados percentuais do qua-


dro acima, construa um único período compos-
E viva eu cá na terra sempre triste. to, empregando elementos coesivos que man-
tenham a coerência entre as duas informações
fornecidas. Faça as alterações necessárias para
Se lá no assento etéreo onde subiste, atender à norma padrão.

Memória desta vida se consente, b) Aponte a relação assumida pelas orações do pe-
ríodo composto que você construiu.
Não te esqueças daquele amor ardente
Leia com atenção o fragmento abaixo:
Que já nos olhos meus tão puro vistes.

A moda da mulher loura, limitada às classes al-


E se vires que pode merecer-te tas, terá sido antes a repercussão de influências
exteriores do que a expressão de genuíno gosto
Alguma cousa a dor que me ficou nacional. Com relação ao Brasil, que o diga o di-
tado: ‘Branca para casar; mulata para f..., negra
Da mágoa, sem remédio, de perder-te, para trabalhar’; ditado em que se sente, ao lado
do convencionalismo social da superioridade
da mulher branca e da inferioridade da preta, a
Roga a Deus, que teus anos encurtou, preferência sexual pela mulata. Aliás o nosso li-
rismo amoroso não revela outra tendência senão
Que tão cedo de cá me leve a ver-te, a glorificação da mulata, da cabocla, da morena
celebrada pela beleza dos olhos, pela alvura dos
Quão cedo de meus olhos te levou. seus dentes, pelos seus dengues, quindins e em-
belegos muito mais do que as ‘virgens pálidas’ e
as ‘louras donzelas’. Estas surgem num ou noutro
soneto, numa ou noutra modinha do século XVI
O Soneto de Separação e Soneto relacionam situações
ou XIX. Mas sem o relevo das outras.
conflituosas do eu-lírico a uma separação. Comente
sobre a separação nos dois textos, evidenciando ele- Gilberto Freyre. Casa-grande & Senzala apud
mentos convergentes e divergentes nos dois textos. Stélio Marras. O fado tropical de Gilberto Freyre.
In: Revista Cult, março de 2000, p. 42.

*embelego: ligação amorosa irregular; caso.


Questão 151 - (UEM PR)
c) Comparando-se os dados da pesquisa com o di-
Observe o quadro abaixo, resultante da pesquisa “O
tado do texto de Gilberto Freyre, é possível infe-
Brasil mostra a sua cara”, que revela o perfil do verda-
rir que, em ambos, há sinais de preconceito em
deiro brasileiro:
relação à escolha da mulher para o matrimônio?
Explique.

declaram − se mais int eressados em


95 %
participar da vida em comunidade;
citam trabalho social como sonho e TEXTO: 71 - Comum à questão: 152
4%
projeto de vida;
Texto 2
concordam que o individualismo e o
78 %
egoísmo cresceram nos últimos anos;
condenam pequenas transgressões, como
bater o cartão de ponto para um colega, FADO TROPICAL
60%
comprar produtos piratas ou falar ao
celular no trânsito; Chico Buarque e Ruy Guerra
não se incomodam em comprar coisas no
6% Oh, musa do meu fado
comércio informal ou pirataria;
acham que as mulheres hoje tem mais
94% Oh, minha mãe gentil
iniciativa na hora da conquista e da paquera;
7 % querem casar com moças mais recatadas

440 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Te deixo consternado

No primeiro abril Questão 152 - (UEM PR)

Mas não sê tão ingrata No texto 2, há vários elementos empregados para es-
tabelecer contrastes entre as culturas portuguesa e
Não esquece quem te amou
5
brasileira, exceto em
E em tua densa mata a) “Sardinhas, mandioca” (linha 27).
Se perdeu e se encontrou b) “Alecrins no canavial” (linha 20).
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal c) “Um vinho tropical” (linha 22).
10
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal d) “Licores na moringa” (linha 21).

e) “Uma boa dose de lirismo” (linha 13).


“Sabe, no fundo eu sou um sentimental

Todos nós herdamos no sangue lusitano Questão 153 - (UFG GO)


Uma boa dose de lirismo QUESTÃO RELACIONADA À OBRA BEIRA-MAR, DE PE-
DRO NAVA.
(além da sífilis, é claro)
Todos os trechos a seguir revelam a sensibilidade de
15
Mesmo quando as minhas mãos estão Pedro Nava em explorar fonemas, dos quais obtém
Ocupadas em torturar, esganar, trucidar resultados significativos, como se vê nos trechos que
se seguem, EXCETO:
Meu coração fecha aos olhos e
a) “O Deolindo conferiu, teve nada para dizer mas
sinceramente chora...” surripiou-me a oportunidade de ver o diretor -
ele mesmo levando-os à assinatura sempre tra-
çada num cursivo inglês com finos e grossos pre-
ciosos.”
Com avencas na caatinga
b) “Chamavamo-la Farfalla, Farfalleta, inspirados
20
Alecrins no canavial naquela semelhança e na do seu jeito esquivo de
borboleta.”
Licores na moringa
c) “Matei uma de minhas fomes e agradeci cha-
Um vinho tropical
mando-a de minha Irmã Borboleta - dizendo na
E a linda mulata sua língua - Schwester, Schmetterling. À palavra
movediça e adejante, suas maçãs pegaram fogo.”
Com rendas do Alentejo
d) “E precisa? descrever o vôo das andorinhas se
25
De quem numa bravata seu desenho sinuoso já está no nome do passa-
rinho, nome inspirado nas qualidades do adejo
Arrebato um beijo (...) - como acontece em todas as línguas - não vê?
Olha hirondelle, golondrina, rondinela, swallow,
Schwalbe...”
Sardinhas, mandioca

Num suave azulejo Questão 154 - (UFG GO)


E o rio Amazonas Leia a tira abaixo:
30
Que corre Trás-os-Montes

E numa pororoca

Deságua no Tejo (...)

Revista Cult, março de 2000, p. 39.

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Questão 155 - (UFG GO)

A construção do sentido na expressão “Veneza brasi-


leira” faz-se com base na

a) transposição de fatos históricos comuns entre de-


terminados lugares.

b) comparação entre o ambiente e as pessoas que


ali habitam.

c) similaridade entre aspectos característicos de di-


ferentes lugares.

d) relação entre questões de política partidária e di-


versidade cultural.

e) proximidade entre o produto e o lugar em que é


produzido.

Questão 156 - (ITA SP)


ANGELI. Chiclete com Banana. Folha de

S. Paulo. São Paulo, 2 ago. 2004, Ilustrada.

A tira tem como um de seus objetivos a expressão do


humor. O plano narrativo descreve as situações que
justificam a atitude do personagem em relação à ge-
ração que marcou os anos 1960, da qual ele fez parte.

a) Explique, recorrendo à seqüência dos quadros, (Folha de S. Paulo,


como o autor define os comportamentos dessa 1o/10/2001.)
geração.
a) O que há de engraçado nesse diálogo?
b) O último quadro da tira retrata uma indisposição
b) Qual a marca lingüística que permite o efeito cô-
do interlocutor em dar continuidade ao assunto
mico?
iniciado pelo locutor. Analise como se dá a ruptu-
ra na interação entre os dois personagens e, ten-
do como referência os quadros anteriores, justifi-
que por que isso ocorre. TEXTO: 73 - Comum à questão: 157

Os livros viraram o objeto de decoração da moda


nas casas dos endinheirados. Se eles não têm familia-
TEXTO: 72 - Comum à questão: 155 ridade com a leitura, arquitetos e decoradores vão
ao campo.
Maracatu acelerado na Veneza brasileira
Esses profissionais aconselham a compra de cole-
ções completas de obras de literatura, filosofia e his-
Troca-troca na ponta da corrida eleitoral da Veneza tória para decorar as salas. Livros de auto-ajuda, só
brasileira. no quarto.

Pela primeira vez o atual prefeito da cidade e candi- Parte das peças deve ser garimpada em sebos, para
dato à reeleição [...] assume a liderança da disputa. transmitir a idéia de conhecimento sólido, erudição.
Entre as posições básicas para demonstrar inteligên-
ISTOÉ, São Paulo, 28 set. 2004, p. 8, Suplemento Elei- cia já na mesinha de centro, está o “ambiente moder-
ções. no”, cuja composição exige livros alegres e coloridos,
de artistas como Miro, Picasso, Mondrian. Acredita-se
que eles dão vivacidade ao espaço. Paloma Cotes

442 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 157 - (Mackenzie SP)

De acordo com o texto, é correto afirmar que:

a) usar livros como objeto de decoração sempre foi


moda entre os endinheirados.

b) expressões como idéia de conhecimento sólido e


inteligência na mesinha de centro são índices da
ironia da autora no tratamento do tema.

c) os arquitetos e os decoradores freqüentemente


promovem a familiarização de pessoas endinhei-
radas e incultas com os livros.
DALÍ, Salvador. A persistência da memória (Os relógios
d) a nova tendência em decoração incentiva a leitu-
ra a erudição entre as famílias abastadas. ou As horas derretidas).

e) artistas como Miro, Picasso e Mondrian são uti- 1931. Óleo sobre tela. The Museum of Modern Art, NY.
lizados em decoração para desenvolver o gosto
pela arte moderna.
O RELÓGIO

Questão 158 - (UFRN) Carlos Drummond de Andrade

Os quadrinhos reproduzidos a seguir e o conto “Ape-


nas uma ponte”, de Carrascoza, apresentam o mes- Nenhum igual àquele.
mo tema. No entanto, esses textos diferenciam-se no
que diz respeito à reflexão possível de ser abstraída A hora no bolso do colete é furtiva,
de cada um deles.
a hora na parede da sala é calma,

a hora na incidência da luz é silenciosa.

Mas a hora no relógio da Matriz é grave

como a consciência.

E repete. Repete.

Impossível dormir, se não a escuto.

Ficar acordado, sem sua batida.

Existir, se ela emudece.

HARPER, B. et al. “Cuidado, escola!”: desigualdade, Cada hora é fixada no ar, na alma,
domesticação e algumas saídas. 35 ed.São Paulo:
Brasiliense, 1994. p.46. continua soando na surdez.

Onde não há mais ninguém, ela chega

Explique em que consiste essa diferenciação estabe- e avisa


lecendo um paralelo entre os textos referidos sob,
varando o pedregal da noite.
pelo menos, dois aspectos em que eles se contra-
põem. Som para ser ouvido no longilonge

do tempo da vida.
Questão 159 - (UFG GO) Imenso
Compare a reprodução do quadro de Salvador Dalí no pulso
com o poema de Carlos Drummond de Andrade.
este relógio vai comigo.

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Antologia poética. 51.ed. Rio de parte dos jovens brasileiros somente ganham essa
autonomia quando podem estudar em outro país. Lá
Janeiro: Record, 2002. p. 344. fora, trabalhar como baby-sitter e regar plantas para
complementar a renda é algo absolutamente normal.

É normal no Brasil ver jovens entediados cla-


A figura do relógio é um núcleo de convergência te- mando por autonomia sentados no sofá em frente à
mática tanto no quadro como no poema. Tendo em televisão. Mas como alguém pode ser independente
vista essa relação, explique o que o relógio simboliza sem ralar um pouco pela própria grana e pelo próprio
no quadro de Dali e no poema de Drummond. futuro?

(Fernanda C. Massaroto. Revista Superinteressante, agos-


TEXTO: 74 - Comum à questão: 160 to de 2001, p.106.)

[...]
Em diversos países, sair de casa jovem é um rito de passagem Questão 160 - (USS RJ)
natural para a vida adulta. Uma espécie de serviço militar obriga-
tório para deixar de lado a dependência doméstica e provar que é O texto nos revela que:
possível se virar sozinho. Nos Estados Unidos, alguns estudantes
preferem morar em alojamentos universitários mesmo quando a a) são diversas as razões e conseqüências pelas
casa dos pais está localizada na mesma cidade. Além de [isto] ser quais muitos jovens brasileiros não conquistam
encarado como uma forma de aproveitar ainda mais os anos de
universidade, há uma certa pressão familiar para que os filhos cor- cedo a autonomia.
tem logo o cordão umbilical com os pais.
b) os pais são os verdadeiros responsáveis pela não-
Nos países de cultura latina, a situação é outra. -emancipação dos jovens brasileiros.
Uma pesquisa publicada em 1996 na Espanha reve-
lou que, apesar da taxa de desemprego ser o dobro c) os jovens brasileiros vivem entediados por falta
da taxa alemã, boa parte dos jovens desempregados de oportunidade de realização pessoal.
espanhóis viviam melhor do que os sem trabalho da d) a classe média no Brasil é preconceituosa, por
Alemanha porque viviam com os pais. isso seus filhos trabalham no exterior.
No Brasil, as condições econômicas tornam o ato e) nos EUA, jovens estudantes deixam mais cedo o
de sair de casa um privilégio. Mas é claro que essa não lar quando os pais moram perto da universidade.
é a única razão para ver tantos jovens de classe média
– muitos deles com mais de 30 anos – protegidos no
ninho dos pais. Além das diferenças culturais, há uma
certa mentalidade que não estimula a autonomia Questão 161 - (ITA SP)
dos jovens no país. Talvez o traço mais visível dessa
mentalidade seja a resistência que os jovens brasilei- Leia o texto abaixo e assinale a alternativa correta:
ros têm para aceitar trabalhos considerados “menos
nobres”. É incrível como, por aqui, tarefas como tra-
balhar em fast-foods, servir mesas em restaurantes e Sonolento leitor, o jogo do Brasil já aconteceu. Como
carregar malas em hotéis são vistas com menosprezo. estou escrevendo ontem, não faço idéia do que ocor-
Os pais também são culpados disso. Preferem ver os reu. Porém, tentei adivinhar a atuação dos jogadores.
filhos fazendo nada sob suas asas a tê-los exercendo Cabe ao leitor avaliar minha avaliação e darme a nota
uma atividade “não tão nobre” como primeiro em- final.
prego. Em vez de se orgulharem de vê-los batalhando
seu espaço no mercado de trabalho, ficam preocupa- (TORERO, José Roberto. Folha de S. Paulo, 13/06/2002,
dos com o que as outras famílias vão pensar – como A-1)
se eles não fossem capazes de sustentar sua prole.

É bem provável que esse comportamento típico


da classe média brasileira seja uma herança da velha Com o uso do advérbio em “Como estou escrevendo
mentalidade da casa grande nas antigas fazendas, ontem...”, o autor:
quando as famílias abastadas preparavam os seus fi-
lhos para se tornarem bacharéis e deixavam para os a) marcou que a leitura do texto acontece simulta-
escravos todas as outras tarefas. Sem a dis- neamente ao processo de produção do texto.
posição para ganhar dinheiro antes de receber um
b) adequou esse elemento à forma verbal composta
diploma, perde-se a oportunidade de desenvolver o
de auxiliar + gerúndio, para guiar a interpretação
espírito empreendedor e de ganhar auto-suficiência
do leitor.
para realizar tarefas domésticas. Ironicamente, boa

444 - www.PROJETOREDACAO.com.br
c) não observou a regra gramatical que impede o aprendizado da gramática.
uso do verbo no presente com aspecto durativo
juntamente com um marcador de passado. e) O conhecimento gramatical não garante que as
pessoas se expressem com clareza.
d) sinalizou explicitamente que a produção e a leitu-
ra do texto acontecem em momentos distintos.

e) lançou mão de um recurso que, embora grama- TEXTO: 76 - Comum à questão: 163
ticalmente incorreto, coloca o leitor e o produtor
do texto em momentos distintos: passado e pre- Gosto de sentir a minha língua roçar
sente, respectivamente. A língua de Luís de Camões

Gosto de ser e de estar


TEXTO: 75 - Comum à questão: 162 E quero me dedicar
(...) A criar confusões de prosódia
As angústias dos brasileiros em relação ao português E uma profusão de paródias
são de duas ordens. Para uma parte da população,
a que não teve acesso a uma boa escola e, mesmo Que encurtem dores
assim, conseguiu galgar posições, o problema é so-
bretudo com a gramática. É esse o público que con- E furtem cores como camaleões
some avidamente os fascículos e livros do professor
Pasquale, em que as regras básicas do idioma são Gosto do Pessoa na pessoa
apresentadas de forma clara e bem-humorada. Para
Da rosa no Rosa
o segmento que teve oportunidade de estudar em
bons colégios, a principal dificuldade é com clareza. E sei que a poesia está para a prosa
É para satisfazer a essa demanda que um novo tipo
de profissional surgiu: o professor de português es- Assim como o amor está para a amizade
pecializado em adestrar funcionários de empresas.
Antigamente, os cursos dados no escritório eram de E quem há de negar que esta lhe é superior?
gramática básica e se destinavam principalmente a
secretárias. De uns tempos para cá, eles passaram a E deixa os portugais morrerem à míngua
atender primordialmente gente de nível superior. Em
“Minha pátria é minha língua”
geral, os professores que atuam em firmas são aca-
dêmicos que fazem esse tipo de trabalho esporadica- Fala, Mangueira!
mente para ganhar um dinheiro extra. “É fascinante,
porque deixamos de viver a teoria para enfrentar a Flor do Lácio, Sambódromo
língua do mundo real”, diz Antônio Suárez Abreu, li-
vre-docente pela Universidade de São Paulo (...) Lusamérica, latim em pó.

JOÃO GABRIEL DE LIMA. Falar e escrever, eis a questão. O que quer


Veja, 7/11/2001, n. 1725)
O que pode

Esta língua?
Questão 162 - (ITA SP)
(...)
Aponte a alternativa que contém uma inferência que
NÃO pode ser feita com base nas idéias explicitadas
no texto.
Questão 163 - (ITA SP)
a) Freqüentemente, uma boa escola é uma espécie
A idéia central é que:
de passaporte para a ascensão.
a) a língua portuguesa está repleta de dificuldades,
b) O conjunto que abrange “gente de nível superior”
principalmente prosódias e paródias, para os fa-
não contém o subconjunto “secretárias”.
lantes brasileiros.
c) No âmbito da Universidade, os estudos da língua
b) autores de língua portuguesa, como Fernando
estão prioritariamente voltados para a prática lin-
Pessoa, Guimarães Rosa e Camões, têm estilos
güística.
diferentes.
d) A escola de qualidade inferior não favorece o
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c) a pátria dos falantes é a língua, superando as marcha contraída, se desordena em turbulências.
fronteiras geopolíticas. Ainda não abaixaram as cabeças, e o trote é duro, sob
vez de aguilhoadas e gritos.
d) na língua portuguesa, é fundamental a associação
de palavras para criar efeitos sonoros. — Mais depressa, é para esmoer?! — ralha o Ma-
jor. — Boiada boa!...
e) a escola de samba Mangueira é uma legítima re-
presentante dos falantes da língua portuguesa. Galhudos, gaiolos, estrelos, espácios, combucos,
cubetos, lobunos, lompardos, caldeiros, cambraias,
chamurros, churriados, corombos, cornetos, bocal-
vos, borralhos, chumbados, chitados, vareiros, silvei-
Questão 164 - (ITA SP) ros... E os tocos da testa do mocho macheado, e as
Leia o texto abaixo. armas antigas do boi cornalão...

— P’ra trás, boi-vaca!

BoIeiros sob medida — Repele Juca... Viu a brabeza dos olhos? Vai com
sangue no cangote...
Ciência e futebol é uma tabelinha raramente esbo-
çada no Brasil. A academia não costuma eleger os — Só ruindade e mais ruindade, de em-desde o
gramados como objeto de estudo e o mundo dos bo- redemunho da testa até na volta da pá! Este eu não
leiros tampouco tem o hábito de, digamos, dar bola vou perder de olho, que ele é boi espirrador...
para o que os pesquisadores dizem sobre o esporte Apuram o passo, por entre campinas ricas, onde
mais popular do planeta. Numa situação privilegiada pastam ou ruminam outros mil e mais bois. Mas os
nos dois campos, tanto na ciência quanto no futebol, vaqueiros não esmorecem nos eias e cantigas, porque
Turíbio Leite de Barros, diretor do centro de Medicina a boiada ainda tem passagens inquietantes: alarga-
da Atividade Física e do Esporte da Universidade Fe- -se e recomprime-se, sem motivo, e mesmo dentro
deral de São Paulo (Cemafe/Unifesp) e fisiologista da da multidão movediça há giros estranhos, que não os
equipe do São Paulo Futebol Clube há 15 anos, produ- deslocamentos normais do gado em marcha – quando
ziu um estudo que traça o perfil do futebol praticado sempre alguns disputam a colocação na vanguarda,
hoje no Brasil do ponto de vista das exigências físicas outros procuram o centro, e muitos se deixam levar,
a que os jogadores de cada posição do time são sub- empurrados, sobrenadando quase, com os mais fra-
metidos numa partida. cos rolando para os lados e os mais pesados tardando
(MARCOS PIVETTA. Pesquisa. FAPESP, maio de 2002, p. para trás, no coice da procissão.
42) — Eh, boi lá!... Eh-ê-ê-eh, boi!... Tou! Tou! Tou...

As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das va-


a) O texto contém termos do universo do futebol, cas e touros, batendo com as caudas, mugindo no
como, por exemplo, “tabelinha”, uma jogada rá- meio, na massa embolada, com atritos de couros,
pida e entrosada normalmente entre dois jogado- estralos de guampas, estrondos e baques, e o berro
res. Retire do texto outras duas expressões que, queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com
embora caracterizem esse universo, também as- muita tristeza, saudade dos campos, querência dos
sumem outro sentido. Explique esse sentido. pastos de lá do sertão...

b) O título pode ser considerado ambíguo devido “Um boi preto, um boi pintado,
à expressão “sob medida”. Aponte dois sentidos cada um tem sua cor.
possíveis para a expressão, relacionando-os ao
conteúdo do texto. Cada coração um jeito

de mostrar o seu amor.”


TEXTO: 77 - Comum à questão: 165 Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando...
Dança doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito...
O Burrinho Pedrês Vai, vem, volta, vem na vara, vai não volta, vai varan-
do...

[...] “Todo passarinh’ do mato

Nenhum perigo, por ora, com os dois lados da tem seu pio diferente.
estrada tapados pelas cercas. Mas o gado gordo, na Cantiga de amor doído
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não carece ter rompante...”. Questão 166 - (Mackenzie SP)

Pouco a pouco, porém, os rostos se desempanam e os De acordo com o texto, é correto afirmar que,
homens tomam gesto de repouso nas selas, satisfei-
tos. Que de trinta, trezentos ou três mil, só está quase a) em todo o Brasil, as palavras xará e tocaio são
pronta a boiada quando as alimárias se aglutinam em utilizadas com o mesmo sentido, isto é, com o
bicho inteiro — centopeia —, mesmo prestes assim significado de “pessoa que tem o mesmo nome”.
para surpresas más.
b) quando se casavam, os romanos modificavam
(João Guimarães Rosa, O burrinho pedrês. In: Sagarana) seus nomes originais para Caio ou Caia, confor-
me o sexo.

c) entre os latinos, havia a palavra xará , que, com


Questão 165 - (UNESP SP) o surgimento da tradição de chamar os noivos
de Caio ou Caia, passou a contar com o sinônimo
O estilo narrativo de Guimarães Rosa, como o próprio tocaio.
Graciliano lembra em seu artigo, é caracterizado, en-
tre outros aspectos, pelo alto índice de musicalidade, d) nas cerimônias religiosas, Onde fores chamado
pelo recurso a procedimentos rítmicos e rímicos ca- Caio, ali eu serei Caia era uma promessa da noiva
racterísticos da poesia, como por exemplo no nono latina dirigida à comitiva nupcial.
parágrafo, que pode ser lido como uma seqüência de
16 versos de cinco sílabas ( As ancas balançam,/e as e) no tupi, a expressão Se rera, aquele que tem o
vagas de dorsos,/das vacas e touros,/ batendo com mesmo nome, apareceu antes de Sa rara.
as caudas,/etc.) ou de 8 versos de onze sílabas ( As
ancas balançam, e as vagas de dorsos,/das vacas e
touros, batendo com as caudas,/etc.). TEXTO: 79 - Comum à questão: 167

Você quer um som de cinema e uma imagem de alta


Depois de observar atentamente este comentário e resolução na sala da sua casa, mas não tem idéia com
os exemplos, quem falar, onde procurar ou quanto vai gastar? Mui-
tos já viram esse filme, mas poucos sabem como ele
termina. O desfecho dessa misteriosa trama é muito
mais simples do que parece. Você vai acompanhar a
a) Indique, no trecho de O Burrinho Pedrês, outro partir dessa semana, na revista Época, uma série que
parágrafo que possa ser integralmente lido sob a vai mostrar tudo que você sempre quis saber sobre
forma de versos regulares; Home Theater mas não tinha pra quem perguntar.
Sem mistério, sem drama. E com muita ação, fantasia,
b) Estabeleça, com base em sua leitura, o número romance... Enfim, um final feliz para as suas dúvidas
de sílabas de cada verso e o número de versos mais clássicas.
que tal parágrafo contém.
Revista Época

TEXTO: 78 - Comum à questão: 166


Questão 167 - (Mackenzie SP)
Se, pela pronúncia, você está desconfiado de que a
nossa palavra xará surgiu de alguma expressão indí- O texto:
gena, acertou. “Ela tem origem em sa rara, um deriva-
do de se rera, que significa aquele que tem o mesmo a) esclarece dúvidas do leitor sobre aquisição e uso
nome, em tupi”, diz o etimologista Cláudio Moreno. de um eletrodoméstico.
No sul do Brasil, usa-se também a palavra tocaio com
o mesmo significado. Vem do espanhol tocayo que, b) promove apenas a série informativa a ser publi-
por sua vez, tem origem na frase ritual latina que a cada pela revista.
noiva dizia ao noivo quando a comitiva nupcial vinha c) divulga um produto eletrônico novo e desconhe-
buscá-la em casa: “Ubi’tu Caius, ibi ego Caia” (Onde cido no mercado nacional.
fores chamado Caio, ali eu serei Caia). Por transmitir
a idéia de que a noiva, ao se casar, passava a ter o d) ressalta, simultaneamente, os predicados de
mesmo nome do noivo, a palavra passou a ser usada dois produtos.
como sinônimo de xará.
e) sugere, em linguagem científica, a excelência da
Adaptado de Rodrigo Cavalcante série a ser publicada.

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TEXTO: 80 - Comum à questão: 168 vernas mais profundas da nossa ancestralidade, nos
subterrâneos da nossa aventura, escondem-se dela-
O MELHOR DE CALVIN / Bill Walterson tores e terroristas, carcereiros e torturadores, cas-
sandras* e patriotas, usurpadores e fanáticos, pre-
dadores e corruptos, seqüestradores e sociopatas. As
guerras são a hora da sua plena liberação.

*Cassandra era uma profetiza troiana que anunciava


desgraças e era desacreditada por todos.

(Rodolfo Konder, “Folha de S.Paulo”, 07.04.2003.)

Os dois textos foram escritos com o emprego de lin-


guagem figurada. Para efetivamente compreendê-
-los, é necessário “decodificar” as figuras que são,
nesse caso, metáforas. Depois de fazer isso, explique:

a) Qual o sentido da frase: “A economia argentina


está respirando sem aparelhos.”

b) Qual a tese defendida pelo autor no segundo


texto?

TEXTO: 81 - Comum à questão: 170


Questão 168 - (Mackenzie SP)
Nós também já fomos
O texto permite afirmar que:

a) o menino, contradizendo seu novo lema, se en-


tristece com o julgamento feito pelo tigre. Como disse o famoso pensador Alfred E. Neu-
mann, o mal da nova geração é que não pertencemos
b) o menino, antes mesmo de optar pelo lema que mais a ela. Grande e triste verdade, que sou obrigado,
comunica ao tigre, levava uma vida despreocu- mais uma vez, a reconhecer. Sempre foi assim, infor-
pada. mam-nos almanaques e obras de divulgação. Prati-
camente desde que o homem aprendeu a escrever,
c) a frustração experimentada pelo menino o leva- algum mais velho anota comentários desalentados
va à preocupação, que o incomodava. sobre a juventude. Deste jeito não dá, reclamam in-
variavelmente; deste jeito o mundo vai acabar, com
d) o menino grita, no terceiro quadrinho, para enfa- essa dissolução de costumes, esse desapego aos va-
tizar seu estado de preocupação. lores mais básicos, essa permanente afronta ao esta-
belecido e sedimentado através de longa experiência.
e) o menino, antes de se decidir por sua nova pos-
“A juventude é valiosa demais para ser desperdiçada
tura em face da vida, se preocupava com tudo.
com os jovens”, resmungou Bernard Shaw e resmun-
gamos nós, coroas despeitados.

Questão 169 - (UNESP SP) Às vezes é difícil crer que já fomos assim. Não,
nunca fomos assim, hoje em dia é muito diferente.
A economia argentina já está respirando sem apare- E, por outro lado, quase não dá para acreditar que os
lhos. Um dado eloqüente dessa recuperação: o Bra- portadores de certas cataduras assustadoras ou re-
sil aumentou em 100% suas exportações para lá em pelentes, que vemos na rua ou na televisão, já foram
março, em comparação com o mesmo período do bebês, talvez rechonchudos, fofinhos e todos os ad-
ano passado. jetivos dengosos que costumamos usar em relação a
bebês. Não, não, esse canalha aí nunca foi neném, já
(Revista “Veja”, 02.04.2003.) apareceu com esse aspecto, essa cara untuosa e ma-
lévola de quem está permanentemente aplicando um
golpe no semelhante.
Nas tempestades de areia do nosso destino, nas ca- Mas fomos, já fomos nenéns e, ai de nós, já fomos
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adolescentes. Penso nisto enquanto procuro conter se enquadra em nenhum desses códigos de velho. Ou-
as nênias de horror que me tumultuam o peito fati- tra passa a sanduíches e cata meticulosamente qual-
gado, ao encontrar de manhã a pia da cozinha cheia quer prato de natureza diversa, enquanto se queixa
de garrafas de água e cubas de gelo vazias, portas de da algozaria do destino, que a submete a um regime
armários abertas, tênis e camisetas jogadas pelo chão inaceitável para qualquer pessoa normal – y compris
e outros vestígios que a adolescência deixa em seu coisas borrachudas, coisas meladas, coisas dessa cor,
rastro, como bem poderão testemunhar pais de ado- coisas daqueloutra, coisas secas, coisas branquelas e
lescentes e de ex-adolescentes. Conheço vários pais muitas outras coisas por nós imemorizáveis. Outra só
que rogam praga – aqui se faz, aqui se paga; quando come o que, a cada dia, lhe ditam entidades para nós
doer no bolso deles, aí é que eles vão ver; deixa ele misteriosas, cuja única coerência é rejeitar tudo o que
casar com uma megera, que ele vai ver o que é bom na semana passada era uma delícia.
para a tosse, e assim por diante.
Isso nos preocupava, porque tornava impossível
Não adianta nada, é claro. As pragas podem até organizar uma mesa de almoço ou jantar. Éramos
colar, mas não têm efeito retroativo e talvez já nem obrigados a conceber e preparar um menu para cada
estejamos neste vale de lágrimas, quando se concre- um, com os naturais transtornos acarretados para a
tizarem. Mas quiçá encontremos algum consolo e es- administração do lar e a economia doméstica. Meu
perança, ao contribuir para o acúmulo e intercâmbio filho, entretanto, me abriu horizontes. Da mesma for-
das descobertas mais relevantes, a respeito dos ado- ma que deixar tudo ligado e comprar novo aparelho
lescentes. Pai de dois e, atualmente, anfitrião de mais de som para substituir aquele em que derramaram
dois, creio que posso oferecer algumas achegas, fruto sorvete é a solução, contratar um bufê para cada um
de observação científica e de experiência duramen- é o caminho mais indicado. Faz-se apenas uma pe-
te vivenciada. Mártir da ciência e do conhecimento, quena despesa, que não é nada diante dos ganhos de
menciono algumas, despretensiosamente e sem or- tranqüilidade e paz obtidos.
dem de importância.
E eles pagam mico. Todos eles pagam mico por
A primeira é que eles são surdos. Estou convicto nossa causa. Em meu caso pessoal, devo evitar, por
de que o sentido da audição só completa seu apara- exemplo, dançar. Se eu dançar em público e na pre-
to com a maturidade. Antes, precisa de considerável sença deles, é um mico impiedoso. Isso se estende a
estímulo para funcionar. É imperioso ter compreen- muitas atividades que me são vedadas e das quais te-
são para com o fato inescapável de que, para que eles nho que manter um rol atualizado. Outro dia, à saída
possam entender o que se fala na TV, necessitam de de um restaurante, resolvi cantarolar, de mãos dadas
um volume suficiente para abafar três trios elétricos. com minha filha mais nova. Ela deu uma corridinha,
Do contrário, não entendem nada e, muito justamen- se afastando de mim em grande embaraço. Inadver-
te, se revoltam. Como lemos nos jornais que os ado- tidamente, eu a tinha feito pagar um mico indelével,
lescentes revoltados esquartejam pais e avós, entram que até agora a traumatiza e, sem dúvida, a seguirá
para seitas orientais que preceituam a abstenção de pela vida afora.
banhos ou erigem Átila como modelo, cabe nos resig-
narmos e nos refugiarmos num quarto acusticamen- Não, nunca fomos assim, no nosso tempo era di-
te isolado. Penso nisso e baixo a mira do rifle que já ferente. Faço um exame de consciência, para confir-
endereçava às caixas de som do home theater de um mar esta impressão. Bem, e o dia em que resolvi botar
brioso adolescente, nosso vizinho, que no momento ácido sulfúrico nas verrugas que me faziam pagar os
espalha seu som por toda a Zona Sul do Rio de Janei- piores micos, assim esburacando por contato a casa
ro. toda, de sofás a estatuetas? E o dia em que, treinando
para lançador de facas, transformei a porta do meu
Apagar luzes e aparelhos elétricos em geral é ab- quarto numa peneira? E como me considerava o mais
solutamente estrangeiro à adolescência. Quando re- infeliz dos homens, por ser forçado a tomar sopa em
clamei a meu filho de 17 anos, ele me apontou uma jantares de cerimônia? É, melhor não mexer nessas
solução óbvia, que minha obtusidade anciã não me coisas. Aqui se faz, aqui se paga, pensando bem.
deixava perceber.
(RIBEIRO, João Ubaldo. Nós também já fomos. O Globo,
– A luz é só pagar – disse ele. – E, os aparelhos, é Rio de Janeiro, 17 jan 1999. c. 1 , p. 6.)
só comprar novos.
Vocabulário:
Perfeitamente, como não me havia ocorrido isso
antes? Nem cheguei a abordar o problema, tornado Algozaria – Ação própria do algoz; crueldade.
bastante flagrante com a presença de outros jovens
aqui em casa. Trata-se da circunstância de que um não Catadura – Semblante, aspecto, aparência.
come carnes (inclusive de peixe), embora se indigne, Nênia – Canto fúnebre; canção plangente, melancó-
quando chamado de vegetariano. Não é vegetariano, lica.
até porque detesta verdura e sua dieta de farofa com
lingüiça, feijão e arroz é absolutamente pessoal, não Y compris (francês) – Incluindo.
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Home theater (inglês) – Disposição de aparelho sono- tolerância e pela insinceridade recíprocas.
ro que dá aos ouvintes sensação de som ao vivo.
c) a inconseqüência dos diálogos, já que a um e a
outro interessa apenas a reiteração de seus pon-
tos de vista.

d) o equívoco do adulto, que trata o velho sem con-


Questão 170 - (EFOA MG) siderar as diferenças entre a condição deste e a
de um amigo mais próximo.
Como lemos nos jornais que os adolescentes revol-
tados esquartejam pais e avós, entram para seitas e) a insinceridade das opiniões do adulto, nas quais
orientais que preceituam a abstenção de banhos ou se manifestam sua divergência e sua impaciência.
erigem Átila como modelo, cabe nos resignarmos e
nos refugiarmos num quarto acusticamente isolado.”
(§ 5)
TEXTO: 96 - Comuns às questões: 172, 194

Antônio. Assim se chamava meu pai, vindo de Pi-


A escolha do nome Átila é muito significativa para o racicaba, cidade do interior de São Paulo. (...) Foi saco
sentido que o autor dá a seu texto. Isto ocorre porque de pancada quando pequeno, pois meu avô paterno
tal nome está associado à idéia de: levava ao exagero a filosofia do “quem dá o pão dá o
ensino”. No entanto nunca se referiu de maneira ran-
a) perseverança. corosa a esses castigos, nem achou necessário desfor-
b) erotismo. rar-se em mim do tanto que havia apanhado. Quando
as coisas não lhe agradavam, preferia gargalhar num
c) inteligência. jeito muito seu, que lembrava bola de pingue-pongue
descendo lentamente uma escada. Duas vezes ape-
d) vandalismo. nas botou de lado esse tipo de reação.

e) coragem. (Mário Lago, Na rolança do tempo)

Questão 171 - (FUVEST SP) Questão 172 - (FUVEST SP)

A característica da relação do adulto com o velho é Considere as seguintes afirmações:


a falta de reciprocidade que se pode traduzir numa
tolerância sem o calor da sinceridade. Não se discute
com o velho, não se confrontam opiniões com as dele,
negando-lhe a oportunidade de desenvolver o que só I) A frase “quem dá o pão dá o ensino” é a que apre-
se permite aos amigos: a alteridade, a contradição, o senta marcas mais visíveis do gênero narrativo, ao
afrontamento e mesmo o conflito. Quantas relações qual pertence o texto.
humanas são pobres e banais porque deixamos que II) Em “nem achou necessário” expressa-se juízo
o outro se expresse de modo repetitivo e porque nos subjetivo do narrador.
desviamos das áreas de atrito, dos pontos vitais, de
tudo o que em nosso confronto pudesse causar o III) A expressão “duas vezes apenas”, na última frase,
crescimento e a dor! Se a tolerância com os velhos aponta para exceções que confirmam a validade
é entendida assim, como uma abdicação do diálogo, de uma regra habitual, formulada na frase ante-
melhor seria dar-lhe o nome de banimento ou discri- rior.
minação.

(Ecléa Bosi, Memória e sociedade – Lembranças de ve-
lhos) Em relação ao texto, está correto somente o que se
afirma em:

a) I.
Na avaliação da autora, o que habitualmente caracte-
riza a relação do adulto com o velho é: b) II.

a) o desinteresse do adulto pelo confronto de idéias, c) III.


expressando uma tolerância que atua como dis-
criminação do velho. d) I e II.

b) uma sucessão de conflitos, motivada pela baixa e) II e III.


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Questão 173 - (ITA SP) Cajuína

Assinale a interpretação sugerida pelo seguinte tre- Existirmos, a que será que se destina?
cho publicitário:
Pois quando tu me deste a rosa pequenina

vi que és um homem lindo e que se acaso a sina


Fotografe os bons momentos agora, porque depois
vem o casamento. do menino infeliz não se nos ilumina

Tampouco turva-se a lágrima nordestina

a) O casamento não merece fotografias. Apenas a matéria-vida era tão fina

b) A felicidade após o casamento dispensa fotogra- e éramos olharmo-nos intacta a retina


fias.
A Cajuína, cristalina em Teresina
c) Os compromissos assumidos no casamento limi-
tam os momentos dignos de fotografia. (Caetano Veloso).

d) O casamento é uma segunda etapa da vida que


também deve ser registrada. Na letra desta canção o autor questiona:
e) O casamento é uma cerimônia que exige fotogra- a) a vida nordestina.
fias exclusivas.
b) a razão de viver.

c) a descoberta do amor.
Questão 174 - (ITA SP)
d) o sofrimento sem razão.
Leia o seguinte trecho com atenção:
e) a lembrança da infância.

Iniciamos a jornada, uma jornada sentimental, se-


guindo as regras estabelecidas. Os cavalos pisavam TEXTO: 83 - Comum à questão: 176
tão macio, tão macio que parecia estarem calçados de
sapatilhas. A rigor não pisavam. Faziam cafuné com as LUZ DO SOL
patas delicadas ao longo do caminho.

(OLIVEIRA, Raymundo Farias de. “Na madrugada do si-


lêncio”. Luz do sol,

Linguagem Viva, nº 142. São Paulo, jun. 2001, p. 2.) Que a folha traga e traduz

Em verde novo, em folha, em graça,

O confronto das frases “Os cavalos pisavam” e “A rigor Em vida, em força e em luz
não pisavam” concretiza:
Céu azul,
a) um desmentido.
Que vem até aonde os pés tocam a terra
b) uma indecisão.
E a terra expira e exala seus azuis.
c) uma ironia.

d) uma contradição.
Reza, reza o rio,
e) um reforço
Córrego pro rio,

O rio pro mar.


Questão 175 - (ITA SP)
Reza a correnteza,
Leia o texto abaixo:
Roça a beira,

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Doura a areia. ve ciclo da fantasia do samba logo se segue a arden-
te realidade do futebol? Desmontaram o palanque
por onde desfilou a elite do samba? E daí? Lá está o
Maracanã, rampas gigantescas, assentos interminá-
Marcha o homem sobre o chão, veis, tudo pronto para o grande desfile de angústias
Leva no coração uma ferida acesa. e paixões que precedem a glória de um chute. Agora
mesmo, alguém me veio dizer, contente, que a grama
Dono do sim e do não está uma beleza, de área a área, e que, com as últimas
chuvas, o verde rebentou verdíssimo.
Diante da visão da infinita beleza
Salgueiro, Fluminense, Mangueira, Flamengo,
Finda por ferir com a mão essa delicadeza, Império, Botafogo - milagrosa alternação de emoções
na vida de uma cidade; passos e passes de uma gente
A coisa mais querida: que curtiu seu amor ao mesmo tempo no contratem-
po de um tamborim e no instante infinito de um gol.
A glória da vida.
Mal se foi o Salgueiro, já vem chegando o Flamen-
go, preto e vermelho, apontando, ardente, na boca do
(Caetano Veloso) túnel que se abre para a multidão em delírio.

Couro de gato, bola de couro, quicando e repican-


do pela glória de uma cidade que não tem por que
chorar tristezas.

Questão 176 - (UNIRIO RJ) Rio.” Armando Nogueira

No verso “Que a folha traga e traduz”, os vocábulos


sublinhados correspondem, semanticamente, a:
Questão 177 - (UNIRIO RJ)
a) absorve e transforma
A idéia expressa pela oração destacada em “Chego do
b) interage e insere mato vendo tanta gente de cara triste pelas ruas, tan-
to silêncio de derrota dentro e fora das casas”, é de:
c) engloba e exala
a) explicação
d) dissipa e reflete
b) conclusão
e) dizima e capta
c) adição

d) alternância
TEXTO: 84 - Comum à questão: 177
e) oposição
A Alma Esférica do Carioca

TEXTO: 85 - Comum à questão: 178


“Chego do mato vendo tanta gente de cara triste
pelas ruas, tanto silêncio de derrota dentro e fora das Vandalismo
casas, como se o gosto da vida se tivesse encerrado,
de vez, com as cinzas do finado carnaval dos últimos
dias.
Meu coração tem catedrais imensas,
Imperdoável melancolia de quem sabe, e sabe
Templos de priscas e longínquas datas,
muito bem, que esta deliciosa cidade não é samba,
apenas; que o Rio, alma do Brasil, afina também seus Onde um nume de amor, em serenatas,
melhores sentimentos populares por outra paixão
não menos respeitável – o futebol. Canta a aleluia virginal das crenças.

Esse abençoado binômio, carnaval-futebol, é que


explica e eterniza a alma esférica da gente mais alegre
de nosso alegre País. Na ogiva fúlgida e nas colunatas

Por que, então, chorar a festa passada se ao bre- Vertem lustrais irradiações intensas

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Cintilações de lâmpadas suspensas a) Recompor sua experiência vivida;

E as ametistas e os florões e as pratas. b) Desligar a adolescência da velhice;

Como os velhos Templários medievais c) Separar sua vida presente da dos amigos que per-
deu;
Entrei um dia nessas catedrais
d) Unir sua vida presente à dos amigos perdidos;
E nesses templos claros e risonhos...
e) Ignorar que o passado e o presente se somam.

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,


TEXTO: 87 - Comum à questão: 180
No desespero dos iconoclastas
Outro dia, falando na vida do caboclo nordestino, eu disse aqui que ele
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos! não era infeliz. Ou não se sente infeliz, o que dá no mesmo. Mas
é preciso compreender quanto varia o conceito de felicidade entre
Augusto dos Anjos o homem urbano e essa nossa variedade de brasileiro rural. Para
o homem da cidade, ser feliz se traduz em “ter coisas”: ter apar-
tamento, rádio, geladeira, televisão, bicicleta, automóvel. Quanto
mais engenhocas mecânicas possuir, mais feliz se presume. Para
isso se escraviza, trabalha dia e noite e se gaba de bem sucedido. O
Questão 178 - (UNIRIO RJ) homem daqui, seu conceito de felicidade é muito mais subjetivo:
ser feliz não é ter coisas; ser feliz é ser livre, não precisar de tra-
O quarto verso da primeira estrofe e o segundo da balhar. E, mormente, não trabalhar obrigado. Trabalhar à vontade
segunda estrofe marcam-se, respectivamente, por do corpo, quando há necessidade inadiável. Tipicamente, os três
imagens: dias de jornal por semana que o morador deve a fazenda, segundo
o costume, são chamados “a sujeição”. O melhor patrão do mundo
não é o que paga mais, é o que não exige sujeição. E a situação de
a) olfativas e auditivas meeiro é considerada ideal, não porque permita um maior desa-
fogo econômico – o que nem sempre acontece – mas sim porque
b) cromáticas e visuais meeiro não é sujeito.

c) olfativas e cromáticas (Rached de Queiroz. Cem crônicas escolhidas. Rio de Ja-


neiro: J. Olympio Editora, 1989. p. 216)
d) auditivas e visuais

e) visuais e cromáticas

Questão 180 - (UNIFOR CE)


TEXTO: 98 - Comuns às questões: 179, 196
“O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na
É correto afirmar que o texto é parte:
velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que
foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é di- a) de um discurso argumentativo, em que se pro-
ferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se põe convencer o leitor da melhor maneira de
mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e essa considerar-se feliz.
lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à
pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva b) de uma discussão que se faz em torno das rela-
o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não agüen-
ta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia
ções de trabalho, especialmente aquelas em que
enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não os patrões respeitam a vontade e o lazer do tra-
a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os balhador.
antigos foram estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às
amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase c) de uma crônica, em que aparece um ponto de
todas crêem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, vista pessoal a respeito do que alguns entendem
mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários,
e tal freqüência é cansativa.” por felicidade.

(Machado de Assis – Dom Casmurro. Rio: Aguilar, d) de uma narrativa em que se expõem as condi-
1959) ções específicas de trabalho na zona rural, em
confronto com o trabalho mais livre, nas áreas
urbanizadas.

Questão 179 - (UNIMAR SP) e) do depoimento de um trabalhador nordestino,


com sua visão das condições de trabalho e de
O narrador-personagem expressa no texto o desejo como sentir-se feliz com a vida que tem.
de:

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TEXTO: 97 - Comuns às questões: 181, 189, 195 colher uma alternativa menor, conquistar o mundo.
É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, como cidadãos Não sei se é verdade, mas fiquei pensando no que
eleitores e normalmente por via partidária, escolher os nossos re-
isto significa para os escritores de hoje e daqui. Em
presentantes no governo. Mas é igualmente verdade que a possibi-
lidade de ação democrática começa e acaba aí. primeiro lugar, claro, leva a pensar na enorme impor-
tância que tinha a literatura nos séculos XVIII e XIX, e
O eleitor poderá tirar do poder um governo que não apenas na França, onde, anos depois de Napoleão
não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, mas o seu Bonaparte, um Vitor Hugo empolgaria multidões e fa-
voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer ria história não com batalhões e canhões mas com a
efeito visível sobre a única real força que governa o força da palavra escrita, e não só em conclamações e
mundo e, portanto, o seu país e a sua pessoa. panfletos mas, muitas vezes, na forma de ficção. Não
sei se devemos invejar uma época em que reputações
Refiro-me, obviamente, ao poder econômico, em literárias e reputações guerreiras se equivaliam dessa
particular à parte dele sempre em aumento, gerida maneira, e em que até a imaginação tinha tanto po-
pelas empresas multinacionais de acordo com estra- der. Mas acho que podemos invejar, pelo menos um
tégias de domínio que nada têm que ver com aquele pouco, o que a literatura tinha então e parece ter per-
bem comum a que, por definição, a democracia aspi- dido: relevância. Se Napoleão pensava que podia ser
ra. tão relevante escrevendo romances quanto coman-
dando exércitos, e se Vitor Hugo podia morrer como
Todos sabemos que é assim e, contudo, por uma um dos homens mais relevantes do seu tempo sem
espécie de automatismo verbal e mental que não nos nunca ter trocado a palavra e a imaginação por armas,
deixa ver a nudez crua dos fatos, continuamos a fa- então uma pergunta que nenhum escritor daquele
lar de democracia como se se tratasse de algo vivo e tempo se fazia é essa que nos fazemos o tempo todo:
atuante, quando dela pouco mais nos resta que um para o que serve a literatura, de que adianta a palavra
conjunto de forças ritualizadas, os inócuos passes e os impressa, onde está a nossa relevância? Gostávamos
gestos de uma espécie de missa laica. de pensar que era através dos seus escritores e inte-
lectuais que o mundo se pensava e se entendia, e a
(José Saramago – Trecho do discurso pronunciado no
experiência humana era racionalizada. O estado irra-
“Fórum de Porto Alegre”, realizado em janeiro de
cional do mundo neste começo de século é a medida
2002)
do fracasso desta missão, ou desta ilusão.

Questão 181 - (UNIFOR CE)

O texto:
Questão 182 - (UNIFOR CE)
a) descreve uma situação política para a qual se exi-
Está correta a seguinte afirmação a respeito do texto:
ge mudança.
a) o autor coloca em dúvida a importância que a His-
b) relata fatos vinculados à política partidária.
tória atribui tanto às guerras quanto à literatura.
c) tece comentários a respeito da postura do elei-
b) a época atual não oferece representantes dignos
tor.
do valor e da capacidade literária dos escritores
d) disserta sobre a ausência da verdadeira ação de- de séculos passados.
mocrática.
c) criações literárias são capazes de mobilizar o
e) argumenta a respeito da nulidade do voto como mundo, tanto quanto a guerra.
fator de progresso.
d) na França dos séculos XVIII e XIX obtinham mais
prestígio aqueles que se dedicavam às guerras do
que à literatura.
TEXTO: 99 - Comuns às questões: 182, 197
e) Vitor Hugo consolidou seu valor literário com
Não faz muito, li um artigo sobre as pretensões li- suas obras de fundo histórico, como as guerras
terárias de Napoleão Bonaparte. Aparentemente, Na- napoleônicas.
poleão era um escritor frustrado. Tinha escrito contos
e poemas na juventude, escreveu muito sobre política
e estratégia militar e sonhava em escrever um grande
TEXTO: 90 - Comum à questão: 183
romance. Acreditava-se, mesmo, que Napoleão con-
siderava a literatura sua verdadeira vocação, e que foi Não faz muito, li um artigo sobre as pretensões li-
sua incapacidade de escrever um grande romance e terárias de Napoleão Bonaparte. Aparentemente, Na-
conquistar uma reputação literária que o levou a es-
454 - www.PROJETOREDACAO.com.br
poleão era um escritor frustrado. Tinha escrito contos TEXTO: 91 - Comum à questão: 184
e poemas na juventude, escreveu muito sobre política
e estratégia militar e sonhava em escrever um grande Gostava de jipe, não de automóvel, e dirigia com extrema
romance. Acreditava-se, mesmo, que Napoleão con- cautela. Evitava o centro urbano, e quando tinha de ir
siderava a literatura sua verdadeira vocação, e que foi até lá, descrevia longas voltas e terminava a pé, para
sua incapacidade de escrever um grande romance e não se expor ao tráfego desembestado das ruas prin-
conquistar uma reputação literária que o levou a es- cipais. Os filhos riam, pondo em dúvida sua capacida-
colher uma alternativa menor, conquistar o mundo. de no volante. Mas todos arrebentavam a máquina,
ao usá-la, e ele tinha como pequena glória nunca ter
Não sei se é verdade, mas fiquei pensando no que dado uma batida.
isto significa para os escritores de hoje e daqui. Em
primeiro lugar, claro, leva a pensar na enorme impor- Como pequena glória. Porque as maiores eram as
tância que tinha a literatura nos séculos XVIII e XIX, e que lhe vinham do sítio. Possuíra fazenda, agora tinha
não apenas na França, onde, anos depois de Napoleão sítio. E ficava feliz quando o jipe tropicador o levava
Bonaparte, um Vitor Hugo empolgaria multidões e fa- para a modesta pasárgada. Esquecendo-se da idade,
ria história não com batalhões e canhões mas com a punha exagero de moço – trinta anos depois – em ca-
força da palavra escrita, e não só em conclamações e pinar, plantar, podar; se chovia, plantava mentalmen-
panfletos mas, muitas vezes, na forma de ficção. Não te. Orgulhava-se de produzir não só frutas tropicais
sei se devemos invejar uma época em que reputações como subtropicais. Um cruzamento de espécies, de-
literárias e reputações guerreiras se equivaliam dessa terminando novo sabor, nova forma ou colorido, era
maneira, e em que até a imaginação tinha tanto po- uma festa para ele. O sítio confinava com uma fazen-
der. Mas acho que podemos invejar, pelo menos um da; matava saudades do antigo latifúndio ouvindo, à
pouco, o que a literatura tinha então e parece ter per- distância, o vozeio dos vaqueiros, o urro do jumento,
dido: relevância. Se Napoleão pensava que podia ser pontual como um relógio.
tão relevante escrevendo romances quanto coman-
dando exércitos, e se Vitor Hugo podia morrer como Bacharel? Sim, fizera o curso de Direito, tirara di-
um dos homens mais relevantes do seu tempo sem ploma, se necessário lutava contra empresas podero-
nunca ter trocado a palavra e a imaginação por armas, sas, e vencia, sem ligar muito a isso. Guardava os li-
então uma pergunta que nenhum escritor daquele vros essenciais ao exercício da profissão, só esses, no
tempo se fazia é essa que nos fazemos o tempo todo: pequeno armário envidraçado. Sua consulta constan-
para o que serve a literatura, de que adianta a palavra te era às sementes, à terra, ao tempo; nem se lem-
impressa, onde está a nossa relevância? Gostávamos brava mais de que, na mocidade, cultivara as letras,
de pensar que era através dos seus escritores e inte- escrevera poemas em prosa neo-simbolistas, induzira
lectuais que o mundo se pensava e se entendia, e a o irmão menor a seguir o ofício de juntar palavras.
experiência humana era racionalizada. O estado irra- Em 1959 bateu um recorde negativo, escrevendo só
cional do mundo neste começo de século é a medida quatro cartas, profissionais e concisas.
do fracasso desta missão, ou desta ilusão. Anos e anos escoados na cidadezinha natal, entre
problemas pequenos e grandes que nunca se resol-
viam. [...] Mudou de terra e de vida.

Carlos Drummond de Andrade


Questão 183 - (UNIFOR CE)

O texto explora como idéia central:


Questão 184 - (UNIFOR CE)
a) o humor encerrado num diálogo, em que um dos
interlocutores é um motorista de táxi. Está implícito no texto um conflito entre:

b) a questão da renovação da linguagem, em decor- a) grandes latifundiários e pequenos proprietários


rência de preferências populares. rurais.

c) o fato de os brasileiros preferirem o produto im- b) pessoas mais velhas e jovens, devido a seus hábi-
portado ao nacional. tos.

d) a impropriedade do emprego de determinadas c) moradores da cidade e trabalhadores do campo.


expressões. d) irmãos de idades e tendências diferentes.
e) o caso de palavras que soam melhor em portu- e) formação de nível superior e trabalho braçal.
guês do que no original.

TEXTO: 92 - Comum à questão: 185


www.PROJETOREDACAO.com.br - 455
Há em nosso povo duas constantes que nos indu- TEXTO: 93 - Comuns às questões: 186, 187
zem a sustentar que o Brasil é o único país brasileiro
de todo o mundo. Brasileiro até demais. Constituindo A palavra autoritária exige de nós o reconhecimento
as colunas da brasilidade, as duas constantes, como e a assimilação. Nós já a encontramos unida à autori-
todos sabem, são: 1) a capacidade de dar um jeito; 2) dade. Ela ressoa numa alta esfera, e não na esfera do
a capacidade de adiar. contato familiar. Sua linguagem é a linguagem espe-
cial. Ela pode tornar-se objeto de profanação. Aproxi-
A primeira é ainda escassamente conhecida e, ma-se do tabu, nome que não se pode tomar em vão.
muito menos, compreendida, no estrangeiro; a se-
gunda, no entanto, já anda divulgada no exterior, sem Mikhail Bakhtin
que o corpo diplomático contribua direta ou sistema-
ticamente para isso…

Aquilo que Oscar Wilde e Mark Twain diziam ape-


nas por humorismo (nunca se fazer amanhã aquilo Questão 186 - (Mackenzie SP)
que se pode fazer depois de amanhã) não é no Brasil
propriamente uma norma de conduta, uma diretriz
de base. Não, é mais, é bem mais forte do que um
É correto afirmar:
princípio voluntarioso; é um instinto inelutável, uma a) o aposto de tabu nega a idéia de proibição.
força espontânea da estranha e surpreendente raça
brasileira. b) o sentido de exigir contradiz o sentido de palavra
autoritária.
Adiamos por força de um verdadeiro e inevitável
estímulo, se me permitem, psicossomático. Trata-se c) alta esfera e palavra autoritária estão no mesmo
de um reflexo condicionado, pelo qual, proposto um nível de significação.
problema a um brasileiro, ele reage instantaneamen-
te com as palavras: daqui a pouco, logo à tarde, só à d) o contato familiar implica o uso informal da pala-
noite, amanhã, segunda-feira. vra autoritária.

Sim, adiamos, uma vez que há um incoercível e) em vão expressa o modo como palavras-tabu de-
destino nacional, do mesmo modo que, por força do vem ser proferidas.
destino, o francês poupa dinheiro, o inglês confia no
Time, o português espera o retorno de Dom Sebas-
tião, o alemão trabalha com furor disciplinado, o es-
Questão 187 - (Mackenzie SP)
panhol se excita diante da morte, o japonês esconde
o pensamento e o americano usa gravatas insuportá-
veis. É correto afirmar:
O brasileiro adia; logo existe. a) o uso do presente verbal é recurso utilizado para
restringir as idéias a algo questionável.

b) está corretamente grafado, como objeto, o vocá-


bulo “advinhar”.

Questão 185 - (UNIFOR CE) c) substituindo-se ela por “elas” em Ela pode tor-
nar-se, a forma verbal correta é “podem torna-
O texto: rem-se”.
a) analisa paralelamente dois traços do comporta- d) em Nós já a encontramos, o pronome oblíquo
mento brasileiro. refere-se a assimilação.
b) encara a conduta do brasileiro como a do ho- e) em Ela pode tornar-se objeto de profanação, a
mem do amanhã. expressão pode tornar-se denota possibilidade
futura.
c) censura a prática do adiamento característica do
brasileiro.

d) ratifica um julgamento aplicável também a ou- Questão 188 - (Mackenzie SP)


tros povos.
Texto I
e) apresenta justificativas para a tendência do bra-
sileiro ao adiamento. Quem somos nós, quem é cada um de nós senão
uma combinatória de experiências, de informações,
de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enci-
456 - www.PROJETOREDACAO.com.br
clopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, Todos sabemos que é assim e, contudo, por uma
uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser con- espécie de automatismo verbal e mental que não nos
tinuamente remexido e reordenado de todas as ma- deixa ver a nudez crua dos fatos, continuamos a fa-
neiras possíveis. lar de democracia como se se tratasse de algo vivo e
atuante, quando dela pouco mais nos resta que um
Ítalo Calvino conjunto de forças ritualizadas, os inócuos passes e os
gestos de uma espécie de missa laica.
Texto II
(José Saramago – Trecho do discurso pronunciado no
Não há a possibilidade de existir um homem livre de “Fórum de Porto Alegre”, realizado em janeiro de
todas as coerções sociais. Isso não ocorre nem mes- 2002)
mo no interior do ser humano. Sabemos que as nor-
mas sociais impõem até que desejos são admissíveis
e que desejos são inadmissíveis.
Questão 189 - (UNIFOR CE)
José Luiz Fiorin
O terceiro parágrafo do texto:
Texto III
a) apresenta contra-argumentos em relação ao que
O inferno são os outros. se expôs no primeiro.
Jean Paul Sartre b) explicita o que se deve entender por “única real
força que governa o mundo”.

c) instruiu o eleitor em relação à escolha acertada


Sobre os textos I, II e III é correto afirmar: dos governantes.

d) valoriza as estratégias de domínio utilizadas pelas


a) apenas III apresenta caráter generalizador. multinacionais.

b) apenas II concebe o homem como dependente e) contrapõe-se ao poder econômico enquanto pro-
dos outros. motor do bem comum.

c) I, II e III concebem o homem como sujeito não-


-centrado em si mesmo. TEXTO: 95 - Comum à questão: 190
d) I, II e III constroem a ilusão da soberania do ho- Prezado Cliente
mem.
Primeiramente queremos parabenizá-lo pela ex-
e) III diverge de I e II, no que diz respeito à consti- celente aquisição. Nossos produtos são fabricados
tuição do homem. através das técnicas mais modernas mundialmente
conhecidas e, certamente, proporcionar-lhe-ão um
grande auxílio no preparo de seus alimentos e que,
TEXTO: 97 - Comuns às questões: 181, 189, 195 pela sua beleza e resistência, dar-lhe-ão um enorme
prazer.
É verdade que podemos votar, é verdade que podemos,
como cidadãos eleitores e normalmente por via par- IMPORTANTE: Não deixe de ler atentamente as
tidária, escolher os nossos representantes no gover- instruções do folheto anexo e, particularmente com
no. Mas é igualmente verdade que a possibilidade de a chaleira, pedimos seguir estas instruções:
ação democrática começa e acaba aí.

O eleitor poderá tirar do poder um governo que


não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, mas o seu 1 Para servir, remova o apito.
voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer 2 Centralize bem a chaleira sobre a chama para
efeito visível sobre a única real força que governa o evitar que os componentes de baquelite sejam
mundo e, portanto, o seu país e a sua pessoa. danificados.
Refiro-me, obviamente, ao poder econômico, em 3 Para o bom funcionamento do apito, encha a
particular à parte dele sempre em aumento, gerida chaleira somente até a altura do bico.
pelas empresas multinacionais de acordo com estra-
tégias de domínio que nada têm que ver com aquele 4 Devido ao alto índice de cloro adicionado na
bem comum a que, por definição, a democracia aspi- água potável, o que pode ocasionar manchas no
ra. interior da chaleira, recomendamos secar a peça
www.PROJETOREDACAO.com.br - 457
também internamente, após o uso. com que chore.

5 Ao primeiro sinal de apito, desligue a chama do Questão 192 - (PUC SP)


fogão, para evitar um superaquecimento da cha-
leira e conseqüente danificação dos componen- Célia A. Passoni, na apresentação de Onze Contos
tes. de Machado de Assis, assim afirma: (...) um jovem
aprendiz de escritório, ao querer escapar à sedução
Agradecemos pela sua preferência. de uma mulher, refugia-se no sonho/realidade, e sen-
te-se envolvido pelo elemento-objeto de sua obses-
Tramontina Farroupilha S.A. Ind. Met. são. Existe um beijo, situado entre o devaneio e o real
e que constitui a lembrança mais concreta do episó-
dio. No entanto, o concreto se dissolve nas lembran-
Quando substituímos uma construção verbal por ças. O tempo passou, o adolescente tornou-se adulto
uma construção nominal equivalente, empregamos e a lembrança tem o poder de tornar nebulosos até
a nominalização. Por exemplo, quando substituímos os fatos mais palpáveis.
“Ele conseguiu ser nomeado” por “Ele conseguiu a A partir do trecho citado, é possível depreender que
nomeação”. se trata do conto:

Questão 190 - (PUC SP) a) “A cartomante”, narrativa tradicional que revela


Se o autor tivesse optado pela ordem cronológica, para um caso banal de adultério, um triângulo amoro-
organizar as instruções a respeito da utilização do so que compreende mulher-marido-amante.
produto, elas se apresentariam na seguinte ordem: b) “Missa do galo”, cuja grande atração sobre o lei-
a) 5 - 4 - 1 - 2 - 3 tor reside na ambigüidade da narração em pri-
meira pessoa, mais sugerindo do que explican-
b) 5 - 4 - 2 - 3 - 1 do.

c) 4 - 5 - 2 - 3 - 1 c) “Uns braços”, narrativa em que sedução e cum-


plicidade armam situação que ressalta o desejo
d) 3 - 5 - 2 - 1 - 4 adolescente voltado para o sensual e efetivado
entre sonho e realidade.
e) 3 - 2 - 5 - 1 – 4
d) “A causa secreta”, em que o autor revela, através
do estudo de uma personagem, o ápice do pra-
zer que é conseguido na contemplação da des-
Questão 191 - (PUC SP)
graça alheia.
Segismundo Spina, na apresentação da peça A Farsa
e) “Um homem célebre”, conto em que a persona-
de Inês Pereira, de Gil Vicente, assim se expressa: (...)
gem não se satisfaz com a perfeição que atingiu,
escrita quando o autor atingia o clímax de sua car-
pois aspirando a algo mais elevado, busca aquilo
reira dramática, foi representada pela primeira vez,
que não consegue alcançar.
perante o rei D.João III, no seu convento de Tomar,
em 1523. Como é do conhecimento geral, o seu ar-
gumento consiste na demonstração de um refrão po-
pular (...), proposto ao Poeta por certos detratores, Questão 193 - (PUC SP)
“homens de bom saber”, que duvidavam da autenti-
cidade de suas representações. Assim, o refrão, ver- A negra de sandália sem meia principiou a segunda
dadeiro argumento da farsa e que aparece na fala da volta do terço.
personagem, é:
- Ave Maria, cheia de graça, o Senhor...
a) Marido cuco me levais e mais duas lousas; pois
assim se fazem as cousas. Carrocinhas de padeiro derrapavam nos paralele-
pípedos da Rua Souza Lima. Passavam cestas
b) Asno que me leve quero, não cavalo valentão. para a feira do Largo do Arouche. Garoava na
madrugada roxa.
c) (Quero) antes lebre que leão; antes lavrador que
Nero. - ... da nossa morte. Amém. Padre Nosso que estais
no Céu...
d) Mais mansa, assim Deus te faça santa.
O soldado espiou da porta. Seu Chiarini começou a
e) Mais quero eu quem me adore que quem faça roncar muito forte. Um bocejo. Dois bocejos.
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Três. Quatro. d) a gargalhada de seu pai e a queda da bola de pin-
gue-pongue, com base no mesmo efeito cômico
- ... de todo o mal. Amém. que ambas provocam.
A Aída levantou-se e foi espantar as moscas do rosto e) a gargalhada de seu pai e a queda da bola de pin-
do anjinho. gue-pongue, com base em impressões de ritmo e
de andamento.
Cinco. Seis.

O violão e a flauta recolhendo de farra emudeceram


respeitosamente na calçada. TEXTO: 97 - Comuns às questões: 181, 189, 195
É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, como cidadãos
eleitores e normalmente por via partidária, escolher os nossos re-
Em relação à linguagem verbal do texto acima, extraí- presentantes no governo. Mas é igualmente verdade que a possibi-
do de “O monstro de rodas”, de Antônio de Alcântara lidade de ação democrática começa e acaba aí.
Machado, pode-se dizer que há aproveitamento de
O eleitor poderá tirar do poder um governo que
recursos da linguagem cinematográfica. Tal aprovei-
não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, mas o seu
tamento se verifica através de:
voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer
a) largo uso de elipses verbais. efeito visível sobre a única real força que governa o
mundo e, portanto, o seu país e a sua pessoa.
b) pontuação mais afetiva do que lógica.
Refiro-me, obviamente, ao poder econômico, em
c) justaposição linear dos planos e sintaxe regida particular à parte dele sempre em aumento, gerida
pela continuidade. pelas empresas multinacionais de acordo com estra-
tégias de domínio que nada têm que ver com aquele
d) jogo de espaço e tempo das frases nominais. bem comum a que, por definição, a democracia aspi-
ra.
e) choque de planos independentes e sintaxe mar-
cada pela descontinuidade. Todos sabemos que é assim e, contudo, por uma
espécie de automatismo verbal e mental que não nos
deixa ver a nudez crua dos fatos, continuamos a fa-
lar de democracia como se se tratasse de algo vivo e
TEXTO: 96 - Comuns às questões: 172, 194
atuante, quando dela pouco mais nos resta que um
Antônio. Assim se chamava meu pai, vindo de Pi- conjunto de forças ritualizadas, os inócuos passes e os
racicaba, cidade do interior de São Paulo. (...) Foi saco gestos de uma espécie de missa laica.
de pancada quando pequeno, pois meu avô paterno
(José Saramago – Trecho do discurso pronunciado no
levava ao exagero a filosofia do “quem dá o pão dá o
“Fórum de Porto Alegre”, realizado em janeiro de
ensino”. No entanto nunca se referiu de maneira ran-
2002)
corosa a esses castigos, nem achou necessário desfor-
rar-se em mim do tanto que havia apanhado. Quando
as coisas não lhe agradavam, preferia gargalhar num
jeito muito seu, que lembrava bola de pingue-pongue Questão 195 - (UNIFOR CE)
descendo lentamente uma escada. Duas vezes ape-
nas botou de lado esse tipo de reação. Observe as afirmativas que seguem.

(Mário Lago, Na rolança do tempo)


I) Ao votar, o cidadão duvida de que está escolhen-
do aquele que melhor o representará no exercício
Questão 194 - (FUVEST SP) do governo.
O autor estabelece uma comparação entre: II) O voto identifica-se como a prova pela qual o lei-
tor demonstra conhecer a única real força que go-
a) seu pai e seu avô, distinguindo o modo pelo qual verna o mundo.
cada um extravasava a euforia.
III) O ato de eliminar e substituir um governante,
b) seu pai e seu avô, buscando neles traços comuns conforme lhe agrade ou não, enquadra-se entre
de temperamento e de personalidade. as possibilidades do eleitor.
c) a gargalhada de seu pai e a queda da bola de pin-
gue-pongue, com base nos estímulos visuais pro-
vocados por ambas. Está de acordo com o texto o que se afirma SOMENTE
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em: TEXTO: 99 - Comuns às questões: 182, 197

a) I Não faz muito, li um artigo sobre as pretensões li-


terárias de Napoleão Bonaparte. Aparentemente, Na-
b) II poleão era um escritor frustrado. Tinha escrito contos
e poemas na juventude, escreveu muito sobre política
c) III e estratégia militar e sonhava em escrever um grande
d) I e II romance. Acreditava-se, mesmo, que Napoleão con-
siderava a literatura sua verdadeira vocação, e que foi
e) II e III sua incapacidade de escrever um grande romance e
conquistar uma reputação literária que o levou a es-
colher uma alternativa menor, conquistar o mundo.

TEXTO: 98 - Comuns às questões: 179, 196 Não sei se é verdade, mas fiquei pensando no que
isto significa para os escritores de hoje e daqui. Em
“O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, primeiro lugar, claro, leva a pensar na enorme impor-
e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, tância que tinha a literatura nos séculos XVIII e XIX, e
não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em não apenas na França, onde, anos depois de Napoleão
tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se Bonaparte, um Vitor Hugo empolgaria multidões e fa-
só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se ria história não com batalhões e canhões mas com a
mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu força da palavra escrita, e não só em conclamações e
mesmo, e essa lacuna é tudo. O que aqui está é, mal panfletos mas, muitas vezes, na forma de ficção. Não
comparando, semelhante à pintura que se põe na sei se devemos invejar uma época em que reputações
barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábi- literárias e reputações guerreiras se equivaliam dessa
to externo, como se diz nas autópsias; o interno não maneira, e em que até a imaginação tinha tanto po-
agüenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos der. Mas acho que podemos invejar, pelo menos um
de idade poderia enganar os estranhos, como todos pouco, o que a literatura tinha então e parece ter per-
os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que dido: relevância. Se Napoleão pensava que podia ser
me restam são de data recente; todos os antigos fo- tão relevante escrevendo romances quanto coman-
ram estudar a geologia dos campos-santos. Quanto dando exércitos, e se Vitor Hugo podia morrer como
às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de um dos homens mais relevantes do seu tempo sem
menos, e quase todas crêem na mocidade. Duas ou nunca ter trocado a palavra e a imaginação por armas,
três fariam crer nela aos outros, mas a língua que fa- então uma pergunta que nenhum escritor daquele
lam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal tempo se fazia é essa que nos fazemos o tempo todo:
freqüência é cansativa.” para o que serve a literatura, de que adianta a palavra
impressa, onde está a nossa relevância? Gostávamos
(Machado de Assis – Dom Casmurro. Rio: Aguilar,
de pensar que era através dos seus escritores e inte-
1959)
lectuais que o mundo se pensava e se entendia, e a
experiência humana era racionalizada. O estado irra-
cional do mundo neste começo de século é a medida
Questão 196 - (UNIMAR SP) do fracasso desta missão, ou desta ilusão.

No texto, o narrador expressa:

a) A impossibilidade de se esconder a própria velhi-


ce;
Questão 197 - (UNIFOR CE)
b) A possibilidade de enganar-se a si mesmo através
de documentos falsos; O texto apresenta como idéia central:

c) A impossibilidade de se enganar os amigos pin- a) o pouco valor e a inação da literatura na atualida-


tando os cabelos e a barba e usando documentos de.
falsos;
b) a reconhecida glória literária de Vitor Hugo.
d) A capacidade de falsear a idade sem uso de docu-
c) a origem do ímpeto guerreiro de Napoleão Bo-
mentos;
naparte.
e) A capacidade de enganar estranhos que são fal-
d) a importância da produção artística nos séculos
sos.
XVIII e XIX.

e) o desenvolvimento e o papel da literatura no sé-


culo XXI.
460 - www.PROJETOREDACAO.com.br
TEXTO: 100 - Comum à questão: 198 salários de base de todos. É preciso fazê-lo com viés
para eliminar as diferenças por cor, deixando apenas
Um viés do bem aquelas ligadas à qualificação e às aptidões pessoais.
Há formas menos conflituosas e mais inteligentes de
ação afirmativa que as cotas.
Toda vez que trato das desigualdades duráveis do Nenhuma política econômica pode romper o sutil
Brasil, recebo manifestações de uma minoria que se bloqueio do “perfil adequado” ao acesso dos negros
manifesta contra a idéia de que existe racismo no Bra- aos melhores cargos e funções oferecidos no merca-
sil e que ele seja a fonte principal das enormes distân- do. Só um viés a favor fará com que um negro ou uma
cias sociais que separam os brasileiros na base e no negra, com igual ou melhor qualificação que seus
topo da ordem social e de sua persistência. concorrentes brancos a um cargo de gerência, não
Tenho falado muito das duas faces da realidade ouça mais a resposta “você se saiu muito bem, mas
social brasileira: a luminosa, marcada por mudanças não tem exatamente o perfil de que nossa empresa
positivas e avanços inegáveis em nossa realidade eco- está precisando”.
nômica, social e política, e a dolorosa, definida pela Fernando Henrique Cardoso fez um gesto inédito
persistência da pobreza, da desigualdade, da corrup- da história da Presidência brasileira: assumiu o reco-
ção e de outras mazelas. Elas estão claramente cor- nhecimento coletivo da existência do racismo no do-
relacionadas, da seguinte maneira: há limites para o cumento que o Brasil apresenta à Conferência Mun-
progresso adicional significativo na redução da po- dial contra o Racismo. Foi o primeiro passo de uma
breza e da desigualdade, se não houver um claro re- longa caminhada. Ele ainda pode dar o próximo, antes
direcionamento das ações públicas e privadas. Mais de terminar seu governo, adotando iniciativas pionei-
ainda, se não houver um claro viés racial, a favor dos ras de ação afirmativa.
negros, o combate à pobreza pode não contribuir
para uma redução significativa das desigualdades. (Sérgio Abranches – Revista Veja – 05/09/2001)
A desigualdade é alta e durável no Brasil porque
ela tem cor. A cor determina uma diferenciação en-
tre brasileiros que se justapõem à estratificação so- Questão 198 - (UNIFOA MG)
cial, seja por classes, seja por ocupações. Nas classes
mais altas quase não há negros. No proletariado de O “viés do bem” a que o autor se refere pode ser en-
menor qualificação, os negros predominam. Os de tendido como:
maior qualificação são majoritariamente brancos. Se,
para simplificar, dividirmos os grupos ocupacionais no a) Um redirecionamento da ação de instituições pú-
Brasil em três, no mais baixo, estão 19% dos brancos blicas e privadas para uma posição de real favo-
e 30% dos negros. No intermediário se concentram recimento dos negros, possibilitando que eles te-
49% dos brancos e 59% dos negros. No mais alto, en- nham acesso à educação, à renda e aos melhores
contram-se 32% dos brancos e 11% dos negros. Cla- empregos.
ro, existem muitos brancos muito pobres, mas são a b) Uma ação específica do governo para eliminar o
parcela minoritária. A maioria dos mais pobres é de racismo e melhorar a distribuição de renda entre
negros e, principalmente, negras, vítimas de dupla os brancos.
discriminação, pela cor e pelo gênero.
c) Uma nova política econômica que permita que os
O que a maioria não reconhece é a existência negros, assim como os brancos, tenham acesso
desse componente puramente racial da desigualda- às melhores oportunidades no mercado de traba-
de. Dentro de cada grupo social ou ocupacional, os lho.
brancos têm, na média, situação bem melhor que os
negros. Nelson do Vale Silva deu os números em um d) Uma política que favoreça o acesso dos profissio-
estudo recente. Um trabalhador manual rural branco nais mais aptos e bem qualificados aos melhores
tem um salário médio que é o dobro daquele pago a cargos e salários.
um trabalhador manual rural negro. Ambos são traba-
lhadores – manuais – rurais, mas um é branco e o ou- e) Uma ação específica para eliminar a estratificação
tro negro. Essa única diferença está associada a uma social, seja por classes ou por ocupações, reduzin-
distância salarial de 100%. do, assim, as desigualdades.

Sem ação específica para eliminar o racismo não


se conseguirá mais do que melhorar a distribuição
de renda entre os brancos, que não é tão escanda- TEXTO: 101 - Comuns às questões: 199, 200, 201
losamente desigual como é entre brancos e negros.
Examine as capas de revista abaixo:
As barreiras são raciais, não são econômicas. Para su-
perá-las não basta aumentar o emprego e elevar os

www.PROJETOREDACAO.com.br - 461
mo fato de modos distintos, considere os itens abaixo:

a) Explique a relação existente entre a imagem e o


título O império vulnerável, presentes na capa da
revista Veja.

b) Nas expressões nominais, as posições de núcleo


(substantivo) e de modificador (adjetivo) têm re-
lação com aquilo que se quer focalizar. Reescreva
a manchete da revista Veja invertendo essas po-
sições sintáticas, ou seja, transforme o núcleo em
modificador e o modificador em núcleo.

Questão 200 - (UFG GO)

Leia as frases abaixo, presentes, respectivamente, no


subtítulo e na legenda da capa de ISTOÉ:

1. Saddam Hussein é suspeito de ter fornecido apoio


logístico.

2. Saddam Hussein, o pai de todas as encrencas de


Tio Sam.

a) Comparando as duas frases acima, é possível per-


ceber uma contradição gerada pelo uso de alguns
vocábulos. Explique-a.

b) Reescreva as frases em um só período de modo a


eliminar a contradição.

Questão 201 - (UFG GO)

A manchete estampada na capa da revista Época indi-


ca um propósito militar.

De acordo com o sentido gerado pela interação que


se estabelece entre o verbal (palavra) e o não-verbal
(imagem), nesse tipo de publicação, amplie a man-
chete Guerra contra o terror, acrescentando o que se
pede:

a) Na primeira versão, uma expressão nominal que


possa estar subentendida.

As capas das três revistas semanais de maior circula- b) Na segunda versão, uma expressão nominal e
ção no país tratam dos atentados ocorridos nos EUA, uma expressão verbal que possam estar suben-
em 11 de setembro de 2001. tendidas.

c) Explicação de como é possível recuperar os ele-


mentos lingüísticos que se encontram subenten-
Questão 199 - (UFG GO) didos.

Diante do impacto dos incidentes e de suas conseqü-


ências, a imprensa construiu a notícia de diferentes
maneiras. Questão 202 - (UFG GO)

Tendo em vista essa possibilidade de abordar o mes- Leia o trecho abaixo, retirado de um artigo de Con-
tardo Calligaris, intitulado “Guerra contra quem?” e
462 - www.PROJETOREDACAO.com.br
publicado na Folha de S. Paulo, de 27 set. 200l: nenhuma coisa cobrir nem mostrar suas vergonhas; e
estão acerca disso com tanta inocência como têm em
mostrar o rosto. […] Porém a terra em si é de muito
bons ares, […]. E em tal maneira é graciosa que, que-
No processo de descolonização desde o fim da Segun- rendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das
da Guerra Mundial, o mundo islâmico parece nunca águas que tem.”
ter conseguido (ou quase) produzir uma democracia.

Isso não constituiria um problema se a exploração


colonial não tivesse difundido (inevitavelmente e a Assinale a opção FALSA.
contragosto) as duas modalidades principais da es-
perança ocidental: o sonho liberal e o sonho socialis- De acordo com o aspecto trabalhado nos textos, po-
ta, exigências de um pouco de igualdade e de justi- demos afirmar que a natureza,
ça. Ora, na descolonização, ambos os sonhos foram
frustrados. A esperança liberal não conseguiu impor a) no texto I, se apresenta ligada ao urbanismo e
democracias políticas. E a esperança de democracia acolhedora.
social ruiu junto com o bloco socialista.
b) nos textos II e III, mostra-se hospitaleira.
Quase todos os países islâmicos, uma vez descoloni-
zados, voltaram a formas tradicionais de dominação. c) nos textos IV e VI, mostra-se integrada com o ser
selvagem, habitante natural da terra.
Para que isso fosse possível, seria melhor que as es-
peranças sociais e políticas veiculadas pelo Ocidente d) no texto V, provê o sustento do eu-lírico.
fossem esquecidas — seria melhor, digo, para as eli- e) no texto VI, prenuncia a possibilidade de explora-
tes no poder. Aos que não têm nada e precisam viver ção da terra.
de sonhos (os deserdados) é proposta, então, a antiga
esperança religiosa.

TEXTO: 102 - Comum à questão: 204


A leitura do fragmento permite entrever as seguintes
opiniões ou encadeamentos argumentativos:

1. No processo de descolonização, o mundo islâmi-


co nunca produziu uma democracia.

2. A exploração colonial difundiu duas modalidades


de esperança ocidental: o sonho liberal e o sonho
socialista.

3. Esses dois sonhos foram frustrados por razões di-


versas.

4. Após a descolonização, os países islâmicos retor-


naram a formas tradicionais de dominação, com o
apoio das elites no poder.

5. Aos pobres e oprimidos é oferecida, então, a anti-


ga esperança religiosa. Viajar virou sinônimo de relaxar. Principalmente
quando você tem à sua disposição uma poltrona de
design ergonômico com maior capacidade para recli-
nar e 132 cm de espaço entre a sua poltrona e a da
Com base na leitura do trecho e do esquema argu- frente. Além disso, você conta com mais de 300 salas
mentativo apresentados anteriormente, redija uma VIP em aeroportos no mundo todo e pode acumular e
frase que expresse a oposição básica que fundamenta utilizar pontos no seu programa de milhagens voando
o argumento principal do autor. com qualquer linha aérea da aliança oneworld. Busi-
ness Intercontinental da Iberia. Sorria.

Questão 203 - (CEFET RJ)

“A feição deles é serem pardos, maneira de averme-


lhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos.
Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estima

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Questão 204 - (FUVEST SP) Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! mi-
nha amada; de mim existem apenas meus olhos rece-
Neste anúncio, a imagem fotográfica associa-se mais bendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glória e me
diretamente à palavra sorria e à expressão: faz magnífico.
a) “mais de 300 salas VIP”. Rubem Braga
b) “acumular e utilizar pontos”.

c) “Mais espaço entre as poltronas”. Questão 206 - (UNIRIO RJ)


d) “aeroportos no mundo todo”. O texto tece considerações, em cada parágrafo, sobre
o pavão, o artista e o amor e estabelece relações en-
e) “programa de milhagens”. tre eles.

Questão 205 - (ITA SP) Qual a característica comum existente entre:


Leia o texto seguinte: a) o pavão e o artista?

b) o amor em relação ao “eu” e o pavão?


A aposentada A. S., 68, tomou na semana pas-
sada uma decisão macabra em relação ao seu futuro.
Ela pegou o dinheiro de sua aposentadoria (um salá- Em cada parágrafo estabelece-se relação entre ele-
rio-mínimo) e comprou um caixão. mentos e efeito por eles produzido. Identifique-os.
A. mora com a irmã, M. F., 70, que também é c) 1 o parágrafo?
aposentada. Elas não têm parentes.
d) 2 o parágrafo?
A. diz que está investindo no futuro. Sua irmã a
apóia. A. também comprou a mortalha – roupa que
quer usar quando morrer. O caixão fica guardado na
sala da casa. Questão 207 - (UNIMAR SP)

(Aposentada compra caixão para o futuro. Folha de S. Assinale a alternativa que contenha a mesma figura
Paulo, 22/8/1992, adaptado.) de pensamento existente no período abaixo:

a) Localize um trecho que revela ironia. “Uns querem o mal, e fazem-nos o bem. Outros nos
almejam o bem, e trazem o mal.” ( Rui Barbosa)
b) Explique como se dá esse efeito de ironia.
a) “Gente inimiga era tanta, tantas bandeiras no
céu, que o sol, baixando atrás delas, como que se
escureceu.” ( J. Budin)
TEXTO: 103 - Comum à questão: 206
b) “ Sabei, cristãos, sabei, príncipes, sabei, ministros,
O pavão que se vos há de pedir estreita conta do que fizes-
tes, mas muito mais do que deixastes de fazer”. (
Padre Antônio Vieira)
E considerei a glória de um pavão ostentando o c) “O aroma nupcial dos jasmins delirantes, diluindo
esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas an- um cheiro acre de resinas, espiritualizava e ador-
dei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas mecia o ar meigo e silencioso...” ( Raul de Leoni)
não existem na pena do pavão. Não há pigmentos.
O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz d) “O chefe do governo, timoneiro seguro, vai con-
fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco- duzindo a nau do Estado, através de escolhos no
-íris de plumas. mar encapelado de política.” ( Vitório Bergo).
Eu considerei que este é o luxo do grande artista, e) “Este mundo não é pátria nossa, é desterro, não
atingir o máximo de matizes com o mínimo de ele- é morada, é estalagem; não é porto, é mar por
mentos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu gran- onde navegamos.” ( Padre Bernardes).
de mistério é a simplicidade.

464 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 208 - (UNICAMP SP) tor. Duro, triste, real.” (Laércio Zanini, Garça, SP)

Na coluna “De zero a dez”, de Rubem Tavares, publi-


cada na revista Business Travell, 34, no primeiro se-
mestre de 2000, p.13, encontram-se, entre outras, as a) O texto usa, em relação às mulheres, um termo
seguintes notas, parcialmente adaptadas: fortemente conotado, e lhes atribui um compor-
tamento que as desqualifica. Transcreva uma
frase em que o termo ocorre, associado à descri-
ção de comportamentos que desqualificariam as
“Para os lunáticos que insistem em soltar balões de mulheres. Sublinhe o termo em questão na sua
grande porte, causando incêndios e sérios riscos à frase.
segurança dos vôos: segundo o Controle de Tráfego
Aéreo, em 1998 foram registradas 99 ocorrências em b) Quais os traços de caráter das mulheres em rela-
Guarulhos. Em todo o ano passado foram registradas ção aos quais os homens deveriam se precaver,
33 ocorrências e, neste ano, só no período de janeiro segundo o autor dessa carta?
a abril, já foram 31. As autoridades deveriam enqua-
drar os responsáveis por crime inafiançável e tranca- c) A quem se refere o autor da carta, na frase “o
fiá-los em presídios por longos anos.” homem não aprende”?

“Não seria o caso de a Prefeitura pagar por cada nova TEXTO: 104 - Comum à questão: 210
pichação feita na cidade? É claro que sim. Se todos
entrassem com uma ação simultaneamente, com O século 12 foi um dos mais dinâmicos e criativos
certeza o prefeito encontraria novas atribuições para da história do Ocidente. Ao longo dele a população
a Guarda Municipal. Vide sugestão na nota anterior européia passou de 4,5 milhões de habitantes para
que também poderia ser aplicada nestes casos. “ quase 6 milhões (cifras expressivas para a época), sur-
giram dezenas de novas cidades, a produção agrícola
e artesanal cresceu muito, foram adotadas e desen-
volvidas diversas inovações científicas e técnicas, re-
a) Qual é a conclusão implícita na seqüência “neste cuperaram-se e revalorizaram-se variados elementos
ano, só no período de janeiro a abril, já foram literários, filosóficos e artísticos da cultura greco-lati-
31”, que se encontra na primeira nota?  na (daí se falar em Renascimento do século 12), nas-
ceram as universidades, depois de longa gestação as
b) Explicite a sugestão dada no final da segunda línguas vernáculas consolidaram-se e – sem contradi-
nota. ção com o elemento anterior – o latim conheceu uma
qualidade literária somente igualada muitos séculos
antes, na época de Cícero e Virgílio. E, já se propôs
Questão 209 - (UNICAMP SP) mesmo, “o amor foi uma invenção do século 12”.

O texto abaixo foi publicado na seção “Cartas do lei- Na verdade, essa definição de um estudioso de
tor” da Folha de S. Paulo de 30/08/2000. Referida a fins do século 19 estava muito baseada nas semelhan-
um crime que teve repercussão na imprensa escrita ças que via entre o amor romântico de sua própria
e falada, esta carta dá uma notável demonstração de época e as características do amor do século 12. Este,
machismo e desprezo pelas mulheres. para os dias de hoje, parece bem diferente do sen-
timento que se tende a considerar terreno, carnal,
igualitário. Ele resultava das especulações e experiên-
cias da corrente mística do cristianismo e das conven-
“A recente morte violenta de uma jornalista choca a ções e práticas da vassalagem nas cortes feudais.
todos porque, nesse fato, o assassino foge ao perfil
comum de tais tipos, mas certas situações que le- Hilário Franco Júnior
vam a isso estão aí, nos círculos milionários, meios
artísticos, esportivos e de poder. Tudo porque o ho-
mem não aprende. Há milênios, gosta de passar aos Questão 210 - (Mackenzie SP)
demais uma imagem de eterna juventude e virilida-
de, posando com fêmeas muito mais jovens. Fingem Assinale a afirmação correta, considerando o primei-
acreditar que elas estão aí por amá-los. São poucas ro parágrafo.
vezes atraídas pelo seu intelecto, e muitas pela fama,
poder e dinheiro. A durabilidade de tais ligações, no a) A afirmação inicial sobre o século 12 exige que os
geral, termina quando tal fêmea atinge seu objetivo. dados da frase seguinte se restrinjam a aspectos
Pior ainda, quando essa fêmea mostra também inte- científicos e técnicos da época.
lecto e capacidade de sobrevivência sem seu prote-
b) O segundo período (linhas de 2 a 19) justifica a
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afirmação feita acerca do século 12 na frase ini-
cial do texto.
Ao assumir o governo de Minas, em 83, Tan-
c) O terceiro período (linhas 19 a 21) apresenta credo Neves herdou de seu antecessor, Francelino
uma idéia que contraria o fato de o século 12 ser Pereira, um decreto que proibia o corte de madeira na
considerado um dos mais dinâmicos e criativos mata, nos arredores de Ouro Preto.
da história do Ocidente.
O objetivo do decreto era preservar a .imagem
d) Cícero e Virgílio foram citados como comprova- histórica. da cidade. Mas os moradores pobres da
ção da importância das universidades no século região protestavam, porque ainda utilizavam fogões
12. a lenha para cozinhar. Tancredo revogou o decreto,
para a ira dos ambientalistas. E justificou-se:
e) A frase (daí se falar em Renascimento do século
12), linhas 12 e 13, indica a causa da citada recu- - Cassei o decreto para garantir o seu objetivo de
peração e revalorização de elementos da cultura manter inalterado o cenário histórico!
greco-latina.
Diante da surpresa dos ambientalistas, passou a
explicar:

Questão 211 - (Mackenzie SP) - No século 18 não havia fogão a gás, só havia
fogão a lenha, concordam?
Assinale a alternativa correta em relação aos frag-
mentos I e II. Todos concordaram. Matreiro, Tancredo arrema-
tou:

- Então hoje nós temos é que cortar. Há muito


I) O pranto da moça redobrou tanto que senti menos fogão a lenha e muito mais mata naquela re-
meus olhos molhados e fugi. Vim para perto de gião do que antes!
uma janela. Pobre criatura!
Folha de S. Paulo
II) A imagem de Capitu ia comigo, e a minha ima-
ginação, assim como lhe atribuíra lágrimas, há (Matreiro = muito experiente, sabido, malicioso)
pouco, assim lhe encheu a boca de riso agora;
(...)
Questão 212 - (Mackenzie SP)

As tochas acesas, tão lúgubres na ocasião, tinham-me Assinale a alternativa INCORRETA.


ares de um lustre nupcial.
a) A atitude do governador Tancredo Neves é
exemplo de ação motivada por interesses ime-
diatistas.
a) Em I, a expressão Pobre criatura! presentifica a
emoção do passado. b) A atitude dos ambientalistas impunha restrições
à vida de algumas pessoas da cidade.
b) Em I, alude-se ironicamente à condição socioe-
conômica da personagem. c) O decreto de Francelino Pereira pressupunha
que preservar o ambiente era mantê-lo intocá-
c) Em II, na ocasião marca a proximidade entre o vel.
acontecimento e o ato de narrar.
d) A atitude dos ambientalistas e de Tancredo Ne-
d) Em II, lúgubres e lustre nupcial apresentam re- ves revela o desejo de tornar disponíveis os re-
corrência de vogais abertas que enfatiza a triste- cursos naturais às futuras gerações.
za.
e) O protesto dos moradores pobres mostra que
e) Em II, a evocação de lustre nupcial opõe-se a projetos de preservação às vezes excluem o ho-
imagem de Capitu. mem do meio ambiente.

TEXTO: 105 - Comum à questão: 212 TEXTO: 106 - Comum à questão: 213

CONTRAPONTO QUAIS SÃO, MESMO, OS AFLUENTES DO AMAZO-


NAS?
Ecologia mineira
466 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Há pouco tempo faleceu um dos melhores pro- Questão 213 - (FURG RS)
fessores que tive, Alfredo Steinbruch, que lecionava
física no Julinho. Lembro muito bem a primeira aula Assinale a alternativa cujo teor é INCOMPATÍVEL com
que nos deu, e que foi cercada da maior expectativa: as idéias veiculadas pela crônica.
como tinha fama de ralador, todos nós estávamos an-
siosos. O professor Alfredo entrou na sala, foi direto a) No texto, é criticado o ensino que visa, basica-
para o quadro e escreveu: Calor ® dilatação. Assim mente, ao acúmulo de informações memoriza-
mesmo: calor – flechinha – dilatação. E todos nós das.
imediatamente copiamos: calor – flechinha – dilata- b) Entre outras idéias, o texto aponta o computador
ção. como o grande mestre do futuro, ao qual caberá
Ele pousou o giz, olhou-nos e fez uma pergunta a intransferível tarefa de educar gerações.
que nos deixou a todos perplexos. Perguntou por que c) O texto é portador da idéia de que o ensino des-
havíamos copiado aquilo. vinculado da realidade e das vivências do apren-
Ninguém soube responder. O professor então diz, não cumpre seu real objetivo.
passou o resto da aula explicando: é mais importante d) Numa perspectiva otimista e confiante, o comen-
entender do que copiar. tário de Scliar faz referência a um futuro em que
Não sei como será a escola no futuro, mas de uma inovações metodológicas tornarão o ensino mais
coisa estou seguro: a regra do professor Steinbruch produtivo e eficaz.
será mais válida do que nunca. Durante muito tem- e) Segundo o texto, é essencial que a educação con-
po, ensino foi sinônimo de informação: nomes, datas, temple globalmente o ser, isto é, que o conceba
batalhas, lugares. Coisas que os alunos copiavam, ou como alguém dotado de inteligência e afetivida-
liam nos livros, e memorizavam de.
– porque aquilo caía no exame. Nada mais para-
digmático a esse respeito do que a lista de afluentes
do Amazonas. Trata-se de um rio longo, e portanto Questão 214 - (FUVEST SP)
cheio de afluentes. Era preciso recitá-los de memó-
ria, os da margem esquerda e os da margem direita. O caso triste, e digno da memória
Nós nunca tínhamos ido à Amazônia, nunca tínhamos
visto os rios da região, mas sabíamos seus nomes. Por Que do sepulcro os homens desenterra,
que é um mistério que nunca esclareci.
Aconteceu da mísera e mesquinha
Informação memorizada é algo que, daqui em
Que depois de ser morta foi rainha.
diante, ficará cada vez mais por conta do compu-
tador. Não é preciso lembrar, é preciso saber como
acessar. A memória do computa-dor nos dará todo
tipo de informações. Para o correto entendimento destes versos de Ca-
mões, é necessário saber que o sujeito do verbo de-
O que o computador não nos ensinará é como en- senterra é:
tender as coisas. E também não nos ensinará o valor
das emoções. Nesse binômio, entendimento e emo- a) os homens (por licença poética).
ção, está o objetivo maior da educação. Exemplar, a
esse respeito, é o ensino da literatura. A pergunta b) ele (oculto).
que, em geral, se faz a respeito de um texto é: o que
quis o autor dizer com isso? Pergunta difícil, para a c) o primeiro que.
qual o próprio escritor muitas vezes não tem respos-
d) o caso triste.
ta. Eu perguntaria ao leitor, em primeiro lugar: o que
sentiste lendo esse texto? Em que ele aumentou a e) sepulcro.
tua compreensão do mundo, da vida?

No futuro, os escolares saberão dos afluentes do


Amazonas não recitando os nomes, mas indo até lá, TEXTO: 107 - Comum à questão: 215
conhecendo como é o lugar, como vivem os habitan-
tes da região. E aí os nomes surgirão naturalmente. A A psicologia evolucionista aprontou mais uma:
propósito, como se chamam os afluentes da margem “descobriu” que mulheres preferem homens mais
direita? másculos quando estão na fase fértil do ciclo mens-
trual.
(Zero Hora, 26 set. 1999. Revista ZH)
A pesquisa foi realizada pela Escola de Psicologia
da Universidade de Saint Andrews , na Escócia (Rei-
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no Unido). É um gênero de investigação que anda na pula” como “cimeira” foi apenas um detalhe.
moda e acende polêmicas onde aparece. Os adeptos
da psicologia evolucionista acham que as escolhas e b) Discordância com a tradução dada para “reunião
comportamentos humanos são ditados pelos genes, de cúpula”, já que ela foi realizada no Brasil.
antes de mais nada.
c) Afirmação de que a tradução deveria ter sido feita
Dito de outro modo: As pessoas agiriam, ainda por tradurores brasileiros.
hoje, de acordo com o que foi mais vantajoso para a
espécie no passado remoto, ou para a sobrevivência d) Concordância com a tradução dada à “reunião de
dos indivíduos. Entre outras coisas, esses darwinistas cúpula”, porém sugestão para o uso de palavras,
extremados acreditam que machos têm razões bioló- como “a parte mais elevada; cume; cimo; cimeira;
gicas para ser mais promíscuos. ( ... ) topo” no lugar de “cimeira”.

(Marcelo Leite. Ciclo menstrual pode alterar esco- e) Afirmação de que os participantes da reunião es-
lha sexual, Folha de São Paulo, Caderno Ciência. queceram-se que estavam no Brasil.
14/6/1999.)

TEXTO: 108 - Comum à questão: 217

Em visita ao Rio para participar do 6º Congresso da


Questão 215 - (ITA SP) Associação Internacional de Lusitanistas, como re-
presentante do governo português, o maior escritor
Pode-se afirmar que o texto traz uma posição: da atualidade, Nobel da Literatura de 1998, é um
homem cansado. Mas de um cansaço peculiar: “can-
a) Favorável aos princípios da psicologia evolucionis- saço metafísico”, diria um heterônimo de Fernando
ta. Pessoa, uma de suas afinidades eletivas. Entrevistá-lo
é se equilibrar com dificuldade no dorso de um tigre.
b) Favorável aos princípios da psicologia evolucionis- Respostas encrespadas, consultas intermináveis ao
ta., mas não favorável aos cientístitas evolucionis- relógio, muxoxos impacientes.
tas extremados.
Visível e justificável é esse enfado. Ser “que já tradu-
c) De descrença nos princípios da psicologia evolu- ziu o divino para o homem das ruas”, como dele já se
cionista. falou, Saramago se impacienta com jornalistas que
tomam por profano quem é um monstro sagrado,
d) De desqualificação apenas dos seguidores extre- título que, em sua modéstia, prontamente recusaria.
mados dos princípios darwinistas. O fato é que a visibilidade cintilante do Nobel o tor-
e) Favorável aos pincípios evolucionistas , mas de nou presa fácil das canetas afoitas dos especialistas
desqualificação dos seguidores dos princípios em generalidades. Como aquele que, em Frankfurt,
darwinistas. lhe disparou a segunda pergunta da rodada intermi-
nável de indagações, no anúncio de sua escolha para
o Prêmio: “O que o sr. vai fazer com o dinheiro?” O
escritor português está saturado do jornalismo de
Questão 216 - (ITA SP) mercado, da rapinagem midiática e da degradação
intelectual da imprensa.
E vai começar a “Cimeira”. Derivada de “cima” (“a
parte mais elevada; cume, cimo, cimeira, topo”), a (Cláudio Cordovil. “Já é hora de inventar outro mito”, diz
palavra é comuníssima em Portugal para denominar Saramago, O Estado de São Paulo, Caderno Cultura,
reuniões de cúpula. O nome foi dado por tradutoras 15/8/1999)
portuguesas presentes à reunião do Grupo do Rio no
Panamá, em que se decidiu convocar a iminente reu-
nião. Esqueceram-se de um detalhe: a reunião é no
Brasil. É isso.

(Pasquale Cipro Neto. Folha de São Paulo, Caderno Coti- Questão 217 - (ITA SP)
diano. 24/6/1999) No texto, há a seguinte afirmação: “[Entrevistar Sara-
mago] é se equilibrar com dificuldades no dorso de
um tigre.” NÃO se depreende de tal afirmação que o
Pode-se afirmar que há no texto: escritor:

a) É hábil nas respotas. Nem sempre fáceis de serem


compreendidas pelos jornalistas.
a) Afirmação de que a tradução para “reunião de cú-
468 - www.PROJETOREDACAO.com.br
b) Impacienta-se com os jornalistas. Desde que se Questão 219 - (PUC MG)
tornou “presa fácil das canetas afoitas dos espe-
cialistas em generalidades”. Dois traços típicos da personalidade de Jorge são a
obstinação e o temperamento impulsivo. Todos os
c) Tem um raciocínio agudo que nem sempre é fácil trechos, retirados de Jorge, um brasileiro, revelam
de ser acompanhado pelos jornalistas que o en- tais características, EXCETO:
trevistam.

d) Irrita-se com a preocupação mercadológica atual


da mídia. a) “E eu, então, saí para a rua e vou dizer para você
que nunca trabalhei tanto para colocar cinco car-
e) Impacienta-se com o excesso de zelo commum ros em condições de funcionar. No fim parecia
nas perguntas dos jornalistas. que nós estávamos na base da briga. E eu ia fa-
zendo a coisa mais por raiva. Até uma junta que
estourava e que eu ia procurar, não encontrava.”
Questão 218 - (PUC MG) b) “E me lembro que eu olhava para fora, no es-
curo, e forçava a vontade, dizendo que ia trazer
Examine com atenção os enunciados abaixo, citados aqueles caminhões até Belo Horizonte no prazo
pela revista VEJA (22/12/99), e, em seguida, assina- certo nem que tivesse que puxar um por um no
le a alternativa que apresenta consideração INADE- ombro.”
QUADA sobre eles.
c) “E aquele farol ali atrás batendo no retrovisor e
refletindo nos meus olhos, e eu xinguei a Sandra.
I) “O que se deve fazer quando um concorrente está Ela disse que eu não podia falar assim com ela.
se afogando? Pegar uma mangueira e jogar água Falei que podia e que falava a qualquer hora. Ela
em sua boca.” (Ray Kroc, fundador da rede McDo- disse, então, para eu não xingar. Tornei a xingar,
nald’s) e bati com a mão no assento. E tornei a bater, e
joguei a Kombi para junto do meio-fio e mandei
II) “É um pequeno passo para o homem, mas um que ela descesse.”
grande salto para a humanidade.” (Neil Arms-
trong, o primeiro astronauta a pisar na superfície d) “E continuou a desfazer e a gente não estava der-
da Lua, em 1969) rapando. Isso eu tenho certeza, porque de tanto
andar em carro grande sei exatamente a hora em
III) “Saio da vida para entrar na História.” (Getúlio que ele vai querer começar uma derrapagem.”
Vargas, na cartatestamento encontrada ao lado
de seu corpo, em 1954) e) “Enfiei o pé na mesa com aquela botina de couro
cru que a gente usava, e que tinha o solado de
pneu. (...) A mesa rodou e foi bater nas outras
que estavam do lado. O pires e mais uma gar-
a) Pode-se dizer que os termos grifados no enuncia- rafa de cerveja que estava em cima caíram, e o
do I não são utilizados no sentido literal. Jocimar ficou com as pernas meio abertas e sem
mesa na frente (...)”
b) Do enunciado II, pode-se dizer que a mesma rela-
ção estabelecida entre passo e homem é sugerida
entre salto e humanidade; nos dois casos, a rela-
ção tem como referência a ação de chegar até a TEXTO: 109 - Comum à questão: 220
Lua.
“Nós passamos ótimos momentos juntos”
c) Do enunciado III, pode-se concluir que Getúlio
Vargas acreditava que sua morte seria importante Bill Clinton, presidente dos EUA, sobre seu cão labra-
para o destino da nação. dor, Buddy

d) A primeira parte do enunciado I parece ser a res-


posta a uma pergunta com a qual se quisesse ve- “Nós nos entendemos muito bem”
rificar a opinião de Ray Kroc sobre as regras de
convivência entre empresários. Clinton, sobre sua sogra, Dorothy Rodham
e) Todos os enunciados utilizam a mesma estratégia
textual, ou seja, partem de um exemplo particular
para a generalização. “Como de tudo. Menos carne”

Anthony Hopkins, ator que interpreta no cinema o

www.PROJETOREDACAO.com.br - 469
canibal Dr. Lecter guagem de criança. Não. Por quê? Essa linguagem de
caipira ou de criança vai ensinar mal. É uma aberra-
ção, uma estorinha trazer “nós vai” e cortar os verbos
infinitivos: “passeá”, “falá”. Isso é incongruente com a
“É difícil pensar e escrever com tanto cabelo” civilização. Quando se diz que os Estados Unidos são
Pamela Anderson, atriz, desmentindo os comentários educated people, educated country, quer dizer que é
de que estaria escrevendo um povo educado, é um povo bem-formado. Ao pas-
so que aqui, no Brasil, educado é somente o fulano
uma autobiografia que come bonito com garfo e faca.”

(Napoleão Mendes de Almeida, ISTOÉ, 24/01/90).

“Com os pequenos o governo age como um leão.


Com os grandes mia como
Questão 221 - (PUC MG)
um gato”
Embora considere a existência de diferenças lingüísti-
José Genoíno, deputado, criticando o governo na cas, o gramático Napoleão Mendes de Almeida tolera
questão do MST SOMENTE as variações lingüísticas decorrentes do
uso da língua:
(IS-
TOÉ/1598-17/5/2000, p. 30.) a) por pessoas de sexo diferente.

b) na produção de textos falados e escritos.

Questão 220 - (PUC MG) c) por faixas etárias distintas.

Assinale a alternativa INCORRETA. d) em situações informais.

a) A forma como foram destacadas as falas de Clin- e) em regiões geográficas.


ton indica que se pretende que elas sejam, de
algum modo, relacionadas pelo leitor.

b) As falas selecionadas para a página da revista Questão 222 - (PUC MG)


chamam o leitor para a percepção do humor ou Todos os versos, retirados de “Morte e vida severina”,
da ironia. estão corretamente interpretados, EXCETO:
c) As informações abaixo de cada fala são impres- a) “Não é cova grande,/é cova medida,/é a terra
cindíveis ao entendimento das mesmas, pois re- que querias/ver dividida.” – alusão à luta dos la-
metem ao contexto de produção. vradores pela reforma agrária.
d) O referente de os pequenos, na fala atribuída b) “(...) somente ali à distância/aquele bueiro de
a Genoíno, encontra-se na explicação que vem usina;/somente naquela várzea/um bangüê ve-
abaixo dela, o que não ocorre com o referente lho em ruína.” – referência à decadência dos en-
de os grandes, o qual não pode ser ativado pelo genhos de açúcar.
leitor.
c) “Somos muitos Severinos/iguais em tudo na vida
e) É possível pensar que a fala atribuída a Pamela (...)” – referência ao anonimato do nordestino
Anderson deve ser interpretada como evidência pobre.
de que inteligência e mulher são coisas vistas
como incompatíveis. d) “Só os roçados da morte/compensam aqui culti-
var,/e cultivá-los é fácil (...)” – alusão ao alto índi-
ce de mortalidade no sertão nordestino.
TEXTO: 110 - Comum à questão: 221 e) “Cedo aprenderá a caçar:/ primeiro, com as ga-
Há um conceito de educação e tal conceito não admite linhas,/ que é catando pelo chão/ tudo o que
distinção entre falar e escrever, a não ser na liberdade cheira a comida (...)” – visão otimista do futuro
entre amigos, numa reunião muito íntima, aí saem as nordestino.
piadas que não se podem ouvir em família. E saem
também os erros. Não há em país realmente civiliza-
do uma distinção formal, oficial, entre língua falada e TEXTO: 111 - Comum à questão: 223
língua escrita. Revista nenhuma inglesa ou americana
tem inglês com linguagem de caipira, inglês com lin- Texto 1
470 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Cidade prevista crição de não ostentar força e ostentando. Os grilos
ainda não faziam mal, são uns (palavrão)! O palácio
Guardei-me para a epopéia que jamais escreverei. dava idéia duma fortaleza enfeitada; entrar lá dentro,
Poetas de Minas Gerais e bardos do AIto-Araguaia, eu!
vagos cantores tupis, recolhei meu pobre acervo,
alongai meu sentimento. O que eu escrevi não con- (Mário de Andrade, Primeiro de maio”, Contos novos)
ta. O que desejei é tudo. Retomai minhas palavras,
meus bens, minha inquietação, fazei o canto ardoro-
so, cheio de antigo mistério mas límpido e resplen-
dente. Cantai esse verso puro, que se ouvirá no Ama-
zonas, na choça do sertanejo e no subúrbio carioca, Questão 223 - (FATEC SP)
no mato, na vila X, no colégio, na oficina, território
de homens livres que será nosso país e será pátria Os Textos 1 e II apresentam recursos expressivos que
de todos. podem ser interpretados em função do contexto da
enunciação. Desse ponto de vista, observe as seguin-
Irmãos, cantai esse mundo que não verei, mas tes afirmações:
virá um dia, dentro em mil anos, talvez mais. não te-
nho pressa. Um mundo enfim ordenado, uma pátria I) “Uma cidade sem portas” e “um país sem frontei-
sem fronteiras, sem leis e regulamentos, uma terra ras”, do Texto I, expressam o desejo de uma orga-
sem bandeiras, sem igrejas nem quartéis, sem dor, nização social em que não há medo de invasões
sem febre, sem ouro, um jeito só de viver, mas nesse de nenhuma espécie e um mundo internacionali-
jeito a variedade, a multiplicidade toda que há dentro zado, que supera o conceito de país-nação.
de cada um. Uma cidade sem portas, de casas sem
armadilha, um país de riso e glória como nunca hou- II) “Um país sem fronteira”, do Texto 1, indica um
ve nenhum. Este país não é meu nem vosso ainda, mundo livre, e nesse sentido significa o oposto da
poetas. Mas ele será um dia o país de todo homem. imagem “fortaleza enfeitada”, do Texto II.

(Carlos Drummond de Andrade, de A rosa do povo) III) A imagem da terra “sem igrejas nem quartéis”, no
Texto 1, sugere que o sujeito lírico atribui a essas
instituições a defesa de interesses que são de to-
dos os homens.

IV) As expressões “fagulhava de gente nas sacadas”


Texto II e operários endomingados”, do Texto II, indicam
“[...] Não eram bem treze horas e já o 35 desem- que há muitas pessoas na sacada do Palácio das
bocava no parque Pedro II outra vez, à vista do Palá- Indústrias e que os operários não surgem ali em
cio das Indústrias. Estava inquieto mas modorrento, sua espontaneidade cotidiana.
que diabo de sol pesado que acaba com a gente, era São corretas apenas as afirmações:
por causa do sol. Não podia mais se recusar o estado
de infelicidade, a solidão enorme, sentida com vigor. a) I e IV.
Por sinal que o parque já se mexia bem agitado. De-
zenas de operários, se via, eram operários endomin- b) II, III e IV.
gados, vagueavam por ali, indecisos, ar de quem não
quer. Então nas proximidades do palácio, os grupos c) I, II, III.
se apinhavam, conversando baixo, com melancolia
d) I e III.
de conspiração. Polícias por todo lado.
e) II e lV.
O 35 topou com o 486, grilo quase amigo, que po-
liciava na Estação da Luz. O 486 achara jeito de não
trabalhar aquele dia porque se pensava anarquista,
mas no fundo era covarde. Conversaram um pouco Questão 224 - (FUVEST SP)
[...]. Pararam bem na frente do Palácio das Indústrias
que fagulhava de gente nas sacadas, se via que não Existe, hoje, uma percepção disseminada pela intelec-
eram operários, decerto os deputados trabalhistas, tualidade e por boa parte da opinião pública mundial
havia até moças, se via que eram distintas, todos de uma grande e acelerada mudança operando em
olhando para o lado do parque onde eles estavam. várias dimensões da sociedade moderno-contempo-
rânea. Não há, certamente, consenso sobre esse fe-
Foi uma nova sensação tão desagradável que ele nômeno, variando definições, terminologia e, sobre-
deu de andar quase fugindo, polícias, centenas de po- tudo, avaliações positivas, negativas ou matizadas. De
lícias, moderou o passo como quem passeia. Nas ruas qualquer modo, há uma tendência maciça para reco-
que davam pro parque tinha cavalarias aos grupos, nhecer o caráter ampliado das mudanças econômicas
cinco, seis, escondidos na esquina, querendo a dis-
www.PROJETOREDACAO.com.br - 471
e tecnológicas que afetariam, com maior ou menor Questão 225 - (FUVEST SP)
impacto, todas as sociedades do planeta, justificando
o termo globalização mesmo quando se critica a sua A conjunção mas, que aparece no início do primeiro
possível banalização como instrumento de conheci- terceto, é usada para:
mento.
a) apresentar uma síntese das idéias contidas nos
(Gilberto Velho, Revista de Cultura Brasileira, 03/98, nº1) quartetos, que funcionam como tese e antítese.

b) opor à satisfação expressa nos quartetos a insa-


tisfação trazida por uma idéia incompleta e pelo
Em relação às mudanças econômicas e tecnológicas conformismo.
mencionadas no texto, é correto afirmar que:
c) substituir o conectivo e, assumindo valor aditivo,
a) a avaliação delas comporta posicionamentos tan- já que não há oposição entre os quartetos e os
to opostos quanto intermediários. tercetos.

b) há um acordo quanto à nomenclatura usada, em- d) iniciar um pensamento conclusivo, podendo ser
bora essas mudanças sejam definidas de muitas substituído pelo conectivo portanto.
maneiras.
e) introduzir uma ressalva em relação às idéias que
c) a intelectualidade reconhece seu ritmo intenso, foram expressas nos quartetos.
mas o faz de um modo disfarçado.

d) a falta de entendimento sobre sua natureza é cau-


sa da vulgarização do termo globalização. Questão 226 - (UNP RN)

e) se justifica o uso do termo globalização, uma vez Texto: Luísa


que tais mudanças funcionam como instrumento
de conhecimento.
Rua

TEXTO: 112 - Comum à questão: 225 espada nua

Transforma-se o amador na cousa amada, bóia no céu

por virtude do muito imaginar; imensa e amarela

não tenho, logo, mais que desejar, tão redonda, a lua

pois em mim tenho a parte desejada. como flutua

Se nela está minh’alma transformada, vem navegando o azul do firmamento

que mais deseja o corpo de alcançar? e, no silêncio, lento

Em si somente pode descansar, um trovador cheio de estrelas

pois consigo tal alma está liada. escuta, agora, a canção que eu fiz

Mas esta linda e pura semidéia, pra te esquecer, Luísa

que, como um acidente em seu sujeito, eu sou apenas um pobre amador apaixonado

assi co a alma minha se conforma, um aprendiz do teu amor

está no pensamento como idéia: acorda, amor

e o vivo e puro amor de que sou feito, que eu sei que embaixo deste neve mora um coração.

como a matéria simples busca a forma.

(Camões, ed. A.J. da Costa Pimpão) Vem cá, Luísa

me dá tua mão

o teu desejo é sempre o meu desejo


472 - www.PROJETOREDACAO.com.br
vem, me exorciza d) As frustrações caminham rápidas como as tem-
pestades das matas devastadoras.
me dá tua boca

e a rosa louca vem me dar um beijo


TEXTO: 113 - Comum à questão: 228
e um raio de sol nos teus cabelos
AO CONDE DE ERICEYRA D. LUIZ DE MENEZES
como um brilhante que partindo a luz
PEDINDO LOUVORES AO POETA NÃO LHE
explode em sete cores
ACHANDO ELLE PRESTIMO ALGUM.
revelando, então, os sete mil amores

que eu guardei somente pra te dar


Um soneto começo em vosso gado;
Luísa ...
Contemos esta regra por primeira,
Antônio Carlos Jobim
Já lá vão duas, e esta é a terceira,

Já este quartetinho está no cabo.


Indique a opção que apresenta uma afirmação cor-
reta:

a) Antônio Carlos Jobim revela grandes influências Na quinta torce agora a porca o rabo:
da literatura ocidental em seus versos, já que os
mesmos são inspirados na produção poética gre- A sexta vá também desta maneira,
co-parnasiana.
Na sétima entro já com grã canseira,
b) Esta é uma composição escrita nos moldes camo-
nianos de Os Lusíadas, que descreve a paisagem, E saio dos quartetos muito brabo.
a fauna e flora, os costumes e tradições do india-
nismo.
Agora nos tercetos que direi?
c) O autor, Antônio Carlos Jobim, sofre a forte in-
fluência poética de Lord Byron e Musset, que Direi, que vós, Senhor, a mim me honrais,
também é conhecida como influência da Geração
de Orpheu. Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei.

d) O lirismo amoroso constitui a fonte de todo o li-


rismo europeu e, conseqüentemente, brasileiro,
percebendo-se a sua influência ainda hoje, como Nesta vida um soneto já ditei,
vemos nesta canção de Antônio Carlos Jobim.
Se desta agora escapo, nunca mais;

Louvado seja Deus, que acabei.


Questão 227 - (UNP RN)

“Como foi amplamente comentado, o filme brasilei-


in: MATOS, Gregório de. Obra Poética. 2ª ed.
ro Central do Brasil certamente seria agraciado com
vários prêmios.” Identifique a circunstância expressa Rio de Janeiro: Record, 1990, vol. 1. p. 129-30)
na oração grifada e, em seguida, aponte a alternativa
que tenha essa mesma característica.

a) Como não tivesse condições necessárias para


competir, participou, com muita insegurança, das
atividades esportivas. O SONETO

b) Como ele mesmo afirmou, viveu sempre trope-


çando nos embrulho da vida.
Era magro, feio, merecia o superlativo: era magér-
c) Como as leis eram taxativas naquele vilarejo, to- rimo e feiíssimo. Usava óculos, fumava de piteira, a
dos os moradores tentavam um meio de obediên- voz rachada, andava mal vestido, mas tinha – milagre
cia às normas morais. jamais explicado – um carrinho inglês que sempre es-

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tava de bateria arriada e precisava ser empurrado. Questão 229 - (FUVEST SP)

Trabalhava num vespertino, seu texto era barro- A Casa não passava, bem dizer, de uma casarancho.
co, cobria festividades cívicas e religiosas. Era – se- A rebaixa – um alpendre cercado -; o rancho de car-
gundo o meu pai – uma boa alma, embora fosse ruim ros-de-boi; outros ranchos; outras casinhas; outros
de corpo. Um dia, me levou para um canto da redação rústicos pavilhões.
e recitou-me um soneto de sua lavra, os olhos faiscan-
do de lascívia contrariada. A apresentação de elementos descritivos estáticos,
por meio de frases nominais, ocorre também em:
Esqueci o soneto minutos depois. Guardei por
uns tempos o final, aquilo que os parnasianos chama- a) Convidei-o silenciosamente olhando uma janela
por onde se viam, sobre livros de escrituração, as
vam de “chave de ouro”. Transcrito em papel talvez suíças brancas e os óculos de seu Ribeiro.
não impressione.
b) E mestre Caetano gemendo no catre, recebia to-
Dito por ele, num canto empoeirado da redação, das as semanas um dinheirão de Madalena.
com sua voz rachada, a piteira nas mãos trêmulas, era
uma apoteose da dor: “Passei bem junto a ela. E de- Visitas, remédios de farmácia, galinhas.
certo ela nem soube que eu passei tão perto e nem
c) E tu falavas de um amor celeste,
suspeita que eu segui chorando!” O verso quebrado e
a exclamação final faziam parte da poética e das reda- De um anjo, que depois se fez esposa...
ções daquele tempo.
d) Pera aquele fogo ardente,
Chamava-se Cardim. Domingos da Silva Cardim
se não me engano. Casara-se com uma viúva tão feia que nom temeste vivendo.
e magra como ele, também boníssima alma. Não ti- e) Projetava-se nela a imagem de mulher poderosa
nham filhos. e humilde ao mesmo tempo.
Por isso ou aquilo, Cardim apaixonava-se com fre-
qüência e, quanto menos correspondido, mais apai-
xonado ficava. Deve ter feito outros sonetos, circulou Questão 230 - (FUVEST SP)
pela redação um poema pornográfico e anônimo que
desde o redator-chefe até o contínuo que ia buscar Olhava mais era para Mãe. Drelina era bonita, a Chi-
café na esquina atribuíram ao estro do Cardim. ca, Tomezinho. Sorriu para Tio Terêz: - “Tio Terêz, o
senhor parece com Pai...” Todos choravam. O dou-
Cardim morreu como um passarinho – naquele tor limpou a goela, disse: - “Não sei, quando eu tiro
tempo era comum esse tipo de morte. O tempo pas- esses óculos, tão fortes, até meus olhos se enchem
sou, esqueci dele, mas nunca esqueci aquele final de d’água...” Miguilim entregou a ele os óculos outra vez.
lascívia contrariada. Outro dia, bestamente, depois de Um soluçozinho veio. Dito e a Cuca Pingo-de-Ouro. E
um dia inglório e triste, cara mais uma vez quebrada, o Pai. Sempre alegre, Miguilim... Sempre alegre, Mi-
me surpreendi recitando em causa própria: e ela nem guilim... Nem sabia o que era alegria e tristeza. Mãe o
soube que eu passei tão perto e nem suspeita que eu beijava. A Rosa punha-lhe doces-de-leite nas algibei-
segui chorando! ras, para a viagem. Papaco-o-Paco falava, alto, falava.
in: CONY, Carlos Heitor. Folha de S. Paulo
Cad. 1. p. 2 – Opinião, 6/7/97
Neste trecho de Campo Geral, de Guimarães Rosa, as
expressões grifadas pelo autor retomam, ao final da
narrativa,
Questão 228 - (UNESP SP)
a) os versos sertanejos cantados pelo vaqueiro Sa-
Cony, cita, no quarto parágrafo da crônica, um trecho lúz, em seu desejo de consolar Miguilim.
do soneto de Cardim, mas sob forma de prosa.
b) a mensagem inicial de Tio Terêz, unindo, assim, o
Leia novamente o mencionado parágrafo e, a seguir, princípio e o fim da história.
a) Transcreva, sob forma de versos, o trecho citado c) as lições de conformidade e alegria de Mãitina a
pelo cronista e diga a que parte do soneto origi- Miguilim, enraizadas no catolicismo popular.
nal deveria pertencer;
d) a derradeira lição da sabedoria do Dito, reforçada
b) Interprete, tomando como referência o conteú- depois por seu Aristeu.
do desses versos, a expressão “lascívia contraria-
da”, que Cony emprega duas vezes em sua crôni- e) o ensinamento do Grivo, cuja pobreza extrema
ca. era, no entanto, fonte de doçura e alegria.

474 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 231 - (FUVEST SP) - Dize que levas somente

Assinale a alternativa em que o termo sombra tem o coisas de não:


mesmo sentido presente no trecho “Que a sombra do
escritor me perdoe.” fome, sede, privação.”

a) A sombra da alegria não lhe ocultava a preocupa-


ção.
As “coisas de sim” estão, correspondentemente, em:
b) Sentiu invadi-lo a sombra do passado.
a) sociedade – repleção - carência
c) Quem a vê e ouve, hoje, não a conhece, é uma
sombra do que foi. b) fartura – carência – vacuidade

d) Recebeu-me de boa sombra, fazendo as honras c) repleção – carência – sociedade


da casa. d) satisfação – sociedade – fartura
e) Das profundezas desse Reino, sobe a sombra ao e) vacuidade – fartura – repleção
meu encalço.

TEXTO: 120 - Comuns às questões: 234, 242, 243


Questão 232 - (FUVEST SP)
Neste momento, o bordado está pousado em
Quando eu estava na escola médica de Boston, tive cima do console e o interrompi para escrever, substi-
a sorte de fazer parte de um pequeno grupo de es- tuindo a tessitura dos pontos pela das palavras, o que
tudantes que se reuniu informalmente com um céle- me parece um exercício bem mais difícil.
bre cardiologista, homem na casa dos oitenta anos.
Num dado momento, um dos estudantes comentou Os pontos que vou fazendo exigem de mim uma
com certa apreensão que as doenças cardíacas eram habilidade e um adestramento que já não tenho. Es-
a causa número um de morte dos Estados Unidos. O forço-me e vou conseguindo vencer minhas deficiên-
velho professor pensou sobre isso por alguns instan- cias. As palavras, porém são mais difíceis de adestrar e
tes e depois replicou: “O que é que você preferia ter vêm carregadas de uma vida que se foi desenrolando
como causa número um de morte?” dentro e fora de mim, todos esses anos. São teimosas,
ambíguas e ferem. Minha luta com elas é uma luta ex-
[David Ehrenfeld, A Arrogância do Humanismo] tenuante. Assim, nesse momento, enceto duas lutas:
A réplica do sutil professor ao estudante sugere que: com as linhas e com as palavras, mas tenho a certeza
que, desta vez, estou querendo chegar a um resultado
a) a especialização do saber aprimora a visão de semelhante e descobrir ao fim do bordado e ao fim
conjunto. desse texto, algo de delicado, recôndito e impercep-
tível sobre o meu próprio destino e sobre o destino
b) o avanço tecnológico nem sempre implica huma- dos seres que me rodeiam. Ontem, quando entrei no
nização. armarinho para escolher as linhas, vi-me cercada de
pessoas com quem não convivia há muito tempo, ou
c) a fixação no poder da ciência faz esquecer seus convinha muito pouco, de cuja existência tinha es-
limites. quecido. Mulheres de meia-idade que compravam lãs
para bordar tapeçarias, selecionando animadamente
d) a modernização apressada costuma abrigar a re- e com grande competência os novelos, comparando
cuos. as cores com os riscos trazidos, contando os pontos
e) a pesquisa perseverante contorna os maiores na etamine, medindo o tamanho do bastidor. Incor-
obstáculos. porei-me a elas e comecei a escolher, com grande
acuidade, as tonalidades das minhas meadas de linha
mercerizada. Pareciam pequenas abelhas alegres (...),
levando a sério as suas tarefas. (...) Naquelas mulhe-
Questão 233 - (FUVEST SP) res havia alguma coisa preservada, sua capacidade
de bordar dava-lhes uma dignidade e um aval. Não
“- Finado Severino, queria que me discriminassem, conversei com elas de
igual para igual, mostrando-lhes os pontos que minha
quando passarem em Jordão
pequena mão infantil executara.
e os demônios te atacarem
(JARDIM, Rachel. O penhoar chinês. 4 ed. Rio de Janeiro:
perguntando o que é que levas… José Olympio, 1990.)

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Questão 234 - (INTEGRADO RJ) tido dentro do aparelho do Estado órgãos incumbidos
de fazer uma reforma agrária, para atender a uma de-
Os Nesse texto que você acaba de ler, estabelece-se manda da sociedade.
uma relação entre bordar e escrever, ações que se de-
senvolvem no esforço da tessitura. Desconfio, no entanto, que na condução da po-
lítica agrária dos governos brasileiros dos últimos 50
Assinale a opção em que o comparativo “bem mais anos tem havido políticos distribuindo diplomas de
difícil”, aplicado ao tecido do texto, justifica-se com benemérito para muitos Joães Romões.
maior prioridade.
(KONDER, Leandro in O Globo, 21/7/96 - com adapta-
a) As palavras são como os pontos do bordado: exi- ções)
gem adestramento de quem vai usá-las.

b) Palavras e pontos sujeitam-se docilmente ao to-


que do artista.

c) Palavras têm vida própria e exigem sensibilidade Questão 235 - (UNIFICADO RJ)
para se deixarem usar.
Leandro Konder compara nossa sociedade atual
d) Palavras são prenhes de significado e, portanto, àquela apresentada em “O Cortiço” no século XIX.
podem independer de quem as emprega. Após leitura atenta do trecho, marque V para o que
for verdadeiro e F para o que for falso em relação ao
e) Palavras são, por vezes, ambíguas, o que não que é dito no texto I.
ocorre com os pontos do bordado.

( ) A mesma agregação social observada em O Cor-


TEXTO: 115 - Comum à questão: 235 tiço se repete nas favelas urbanas.

“O Cortiço” fez grande sucesso e até hoje ( ) Os políticos estimulam a criação de cortiços
é lido com o gosto por aqueles que chegam volunta- como garantia de dominação dos mais fracos.
riamente às suas páginas. Apesar da distância de mais
de um século que nos separa do mundo descrito por ( ) A pobreza dos menos favorecidos é motivo de
Aluísio de Azevedo, temos a impressão de que o Bra- pilhéria para os mais abastados.
sil, em alguns aspectos, continua sendo um imenso
cortiço, cuja população sobrevive com dificuldade e é ( ) Não se observa o engajamento do povo nas
observada com olhar divertido pelos vozinhos privile- questões que são de seu próprio interesse.
giados do sobrado. ( ) Os detentores do poder abraçam as causas po-
Também a figura de João Romão continua pulares como resposta às próprias vocações de-
tendo, desgraçadamente, alguma atualidade. Quan- mocráticas.
do algum egresso do universo popular consegue en-
riquecer (às custas de expedientes sórdidos), rompe
com os vínculos que teve em sua origem e trata de se A seqüência correta é:
deixar cooptar - gostosamente - pelos barões.
a) V - V - F - F - V.
O mais grave, porém, é o que se passa com as
variantes do movimento abolicionista. Ao longo da b) V - F - F - V - V.
nossa História, os movimentos comprometidos com
as causas populares se ressentem da falta de um c) F - V - V - F - F
apoio organizado por parte das massas. Assim como
d) F - F - V - V - F.
o movimento abolicionista não conseguia se apoiar
na mobilização dos grandes interessados na abolição e) F - F - F - V - F.
(os escravos) e era levado a buscar aliados nas áreas
mais convenientes com os privilégios estabelecidos,
os atuais movimentos empenhados em prover mu-
danças democratizadoras são levados a se aliar com TEXTO: 116 - Comum à questão: 236
forças de escassa (ou nenhuma) vocação democráti-
ca. Um exemplo claro de poder diluídor do coservado- Tomava café, quando um empregado subiu para
rismo sobre as iniciativas voltadas para reformas que dizer que lá embaixo estava um senhor, acompanha-
correspondem aos interesses das camadas mais des- dos de duas praças, e que desejava falar ao dono da
favorecidas da população se acha na história da luta casa.
pela reforma agrária. Há cerca de meio século, temos
- Vou já, respondeu este. E acrescentou para Bo-
476 - www.PROJETOREDACAO.com.br
telho: - São eles! a outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada
para eles, sem pestanejar.
- Deve ser, confirmou o velho.
Os policiais, vendo que ela se não despachava,
E desceram logo. desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguen-
do-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto,
- Quem me procura?... exclamou João Romão e antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um
com disfarce, chegando ao armazém. só golpe certeiro e fundo rasgara e ventre de lado a
Um homem alto, com ar de estróina, adiantou-se lado.
e entregou-lhe uma folha de papel. E depois emborcou para a frente, rugindo e esfo-
João Romão, um pouco trêmulo, abiu-a defronte cinhando moribunda numa lameira de sangue.
dos olhos e leu-a demoradamente. Um silêncio for- João Romão fugira até ao canto mais escuro do
mou-se em torno dele: os caixeiros pararam em meio armazém, tapando o rosto com as mãos.
do serviço, intimidados por aquela cena em que en-
trava a políticia. Nesse momento parava à porta da rua uma car-
ruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vi-
- Está aqui com efeito.. disse afinal o negociante. nha, de casaca, trazer-lhe respeitosamente o diploma
Pensei que fosse livre... de sócio benemérito.
- É minha escrava, afirmou o outro. Quer entre- Ele mandou que os conduzissem para a sala de
gar-ma?... visitas.
- Mas imediatamente. (Aluísio de Azevedo. O Cortiço.)
- Onde está ela?

- Deve estar lá dentro. Tenha a bondade de en- Questão 236 - (UNIFICADO RJ)
trar...
Após uma leitura do texto II, percebe-se que o perso-
O sujeito fez sinal aos dois urbanos que o acom- nagem Bertoleza é:
panharam logo, e encaminharam-se todos para o in-
terior da casa. Botelho, à frente deles, ensinava-lhes a) audaz e persuasivo.
o caminho. João Romão ia atrás, pálido, com as mãos
cruzadas nas costas. b) perspicaz e resoluto.

Atravessaram o armazém, depois um pequeno c) sagaz e dissimulado.


corredor que dava para um pátio calçado, chegaram
finalmente à cozinha. Bertoleza, que havia já feito su- d) impassível e tinhoso.
bir o jantar dos caixeiros, estava de cócoras, no chão,
escamando peixe, para a ceia do seu homem, quando e) loquaz e intempestivo.
viu parar defronte dela aquele grupo sinistro.

Reconheceu logo o filho mais velho do seu primi-


TEXTO: 117 - Comum à questão: 237
tivo senhor, e um calafrio percorreu-lhe o corpo. Num Quando estou, quando estou apaixonado
relance de grande perigo compreendeu a situação; tão fora de mim eu vivo
adivinhou tudo com a lucidez de quem se vê perdido que nem sei se vivo ou morto
para sempre: adivinhou que tinha sido enganada; que quando estou apaixonado.
a sua carta de alforria era uma mentira, o que o seu
Não pode a fera comigo
amante, não tendo coragem para matá-la restituia-a
quando estou, quando estou apaixonado,
ao cativeiro. mas me derrota a formiga
se é que estou apaixonado.
Seu primeiro impulso foi de fugir. Mal, porém,
circunvagou os olhos em torno de si, procurando es- Estarei, quem, e entende, apaixonado
capula, o senhor adiantou-se dela e segurou-lhe o neste arco de danação?
ombro. Ou é a morta paixão
que em deixa, que me deixa neste estado?
- É esta! Disse aos soldados que, com um gesto, (Carlos Drummond de Andrade)
intimaram a desgraçada a segui-los. -Prendam-na! É
escrava minha!

A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de Questão 237 - (UNIFICADO RJ)


peixe, com uma das mãos espalmada no chão e com
Feita a análise do eu-lírico do poema (texto III), só
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NÃO é válido afirmar que ele: aos aposentos. De repente, os aposentados saíram da
toca e estão na rua, pacientes em fila ou irados aos
a) perde a noção de si mesmo quando se encontra magotes.
apaixonado.
Mas aquela fila não podia ser de aposentados.
b) perdendo seu senso crítico, fica impossibilitado Tinha uma moça de short e pernas fortes de atleta.
de fazer uma auto-análise. E muitos jovens. E vários “boys”. Um pequeno inte-
resse, receber um dinheirinho, ou uma pequena obri-
c) lamenta seu estado deplorável e o associa à per- gação, pagar um conta, junto na fila aquele pessoal
da do sentimento amoroso. todo. Misterioso caminho, esse, que aproxima as pes-
d) apresenta uma valentia inconstante quando em soas por um instante e depois as separa. Há de ver
estado de enlevo. que ali estavam lado a lado duas almas que se procu-
ram e, distraídas, disso não se deram conta. O acaso,
e) na incerteza de estar apaixonado, sente-se domi- o destino, quanta coisa passa por uma cabeça vadia!
nado pelos estados de angústia e dúvida. Ou por um frívolo coração.

Otto Lara Resende

TEXTO: 118 - Comum à questão: 238 (Folha de S. Paulo, 23.01.92)

A rua, a fila, o acaso

Eu ia dando a minha voltinha num silêncio interior de paz. Questão 238 - (PUC RJ)
Está difícil flanar nas ruas de hoje. Muito barulho, car-
ros voando ou atravancando a calçada, anda sobre- O texto só NÃO apresenta:
carregado o ar que respiramos. Mas há sempre o que a) imagens flagradas ao longo de um percurso.
ver, se levamos olhos desprevenidos, de simpatia. Me
lembrei do tempo em que o pai-de-família saía depois b) sentimentos variados diante de flashes diários.
do jantar pra fazer o quilo. A expressão tem a ver com
o mistério da nossa usina interior. c) reações pessimistas ante a realidade.

Com o perdão da palavra, tem a ver com as nossas d) divagações sobre cenas cotidianas.
tripas. Hoje é o cooper que traz um afã de competi-
ção. Cronometrado e exibido, tira o fôlego e impede e) percepções fugazes de um cenário urbano.
a conversinha mole. É mais uma fábrica de ansiedade
nesta época que fabrica estresse. Pois eu ia andando
pra clarear as idéias, ou pra pensar em nada. Nessa TEXTO: 119 - Comum à questão: 239
hora de entrega e de inocência é que acontece a ilu-
minação. A luzinha do entendimento acende onde As margens da alegria, de Guimarães Rosa.
quer.

Sem nenhum objetivo, ia eu bem satisfeitinho na


minha disponibilidade. Aberto a qualquer convite, “Esta é a história. Ia um menino, com os Tios,
podia comprar um bombom, ou uma flor. Ou uma passar dias no lugar onde se construía a grande cida-
dessas canetinhas que acertam comigo e, bem ordi- de. Era uma viagem inventada no feliz; para ele, pro-
nária, me traz um estremecimento de colegial. A gen- duzia-se em caso de sonho. Saíam ainda com o escu-
te sabe que o endereço da felicidade é no passado e ro, o ar fino de cheiros desconhecidos. A Mãe e o Pai
é mentira. Mas é bom que exista, a felicidade. Nem vinham trazê-lo ao aeroporto. A Tio e o Tio tomavam
que seja um momentinho só. Tão rico que dá pra ir conta dele, justinhamente. Sorria-se, saudava-se, to-
vivendo. E se renova com qualquer surpresa boba. En- dos se ouviam e falavam. O avião era da Companhia,
contrar por exemplo na banca uma revista fútil e dar especial, de quatro lugares. Respondiam-lhe a todas
com a foto daquela moça bonita. Olhar seus olhos e as perguntas, até o piloto conversou com ele. O vôo
entendê-los, olhos adentro. ia ser pouco mais de duas horas. O menino fremia
no acorçôo, alegre de se rir para si, confortavelzinho,
A vida é um mundo de possibilidades. Atração e com um jeito de folha a cair. A vida podia às vezes
repulsa, afinidades. Convergência e divergência. Nes- raiar numa verdade extraordinária. Mesmo o afivela-
sa altura, as minhas pernas tinham me levado pro rem-lhe o cinto de segurança virava forte afago, de
mundo da Lua. Quando dei comigo de volta, estava proteção, e logo novo senso de esperança: ao não-sa-
espiando uma fila que coleava pela calçada. Curioso: bido, ao mais. Assim um crescer e desconter-se – cer-
etimologicamente, aposentado é quem se recolhe to como o ato de respirar – o de fugir para o espaço

478 - www.PROJETOREDACAO.com.br
em branco. O Menino.” gum rio, que proíbe o imaginar. Ou talvez não tenha
sido numa fazenda, nem no indescoberto rumo, nem
tão longe? Não é possível saber-se, nunca mais.”
Questão 239 - (PUC RJ)

Sobre o primeiro parágrafo e sua relação com os de- TRECHO 2:


mais parágrafos do conto As margens da alegria, de
Guimarães Rosa, só é possível afirmar: “Nunca mais soube nada do Moço, nem quem
era, vindo junto comigo. Reparei em meu pai, que
a) A frase introdutória do conto, associada ao tre- tinha bigodes. Meu pai estava dando ordens a dois
cho “Era uma viagem inventada no feliz; para homens, que era para levantarem o muro novo, no
ele produzia-se em caso de sonho”, sugere uma quintal. Minha Mãe me beijou, queria saber notícias
história de encantamento, o que se confirma no de muita gente, olhava se eu não rasgara minha rou-
decorrer da narrativa. pa, se tinha ainda no pescoço, sem perder nenhum,
os santos de todas as medalhinhas.
b) O narrativa transcorre em uma viagem de avião,
o que contribui de forma sutil para descaracteri- E eu precisei de fazer alguma coisa, de mim, cho-
zar o encantamento proposto inicialmente. rei e gritei, a eles dois: - “Vocês não sabem de nada,
de nada, ouviram?! Você já se esqueceram de tudo o
c) A alegria presente no parágrafo inicial vai, aos que, algum dia, sabiam!…”
poucos, diluindo-se na tensão com a perda, a
tristeza, a morte. E eles abaixaram as cabeças, figuro que estremece-
ram.
d) A alegria apresentada no parágrafo inicial é rati-
ficada pelo título do conto, As margens da ale- Porque eu desconheci meus Pais – eram-me tão es-
gria, que evidencia o domínio desta sensação. tranhos; jamais poderia verdadeiramente conhecê-
-los, eu; eu?”
e) Toda a sensação de alegria se perde ao longo do
texto para a sensação radicalmente oposta de
tristeza.
Os trechos em destaques só Não revelam que no con-
to “Nenhum, nenhuma”.
Questão 240 - (PUC RJ) a) o enredo se constrói no campo indefinido da me-
mória.
O título “A terceira margem do rio” remete:
b) o espaço é indefinido no início da narrativa.
a) à lógica de que se reveste a narrativa pela rela-
ção número de margens/rio. c) o tempo é indefinido no decorrer da narrativa.
b) ao equilíbrio que compõe a vida do narrador a d) o protagonista percebe a si mesmo indefinido ao
partir da viagem do pai. final da narrativa.
c) à ausência de um lugar determinado na vida do e) o narrador se desloca da indefinição para a defi-
narrador a partir da vida errante do pai. nição no transcorrer da narrativa.
d) à intenção do autor de fazer um texto de desven-
damento através das palavras do pai.
TEXTO: 120 - Comuns às questões: 234, 242, 243
e) à ordenação que determina a vida familiar, ten-
do em vista o numeral ordinal ‘terceira’. Neste momento, o bordado está pousado em
cima do console e o interrompi para escrever, substi-
tuindo a tessitura dos pontos pela das palavras, o que
me parece um exercício bem mais difícil.
Questão 241 - (PUC RJ)
Os pontos que vou fazendo exigem de mim uma
TRECHO 1: habilidade e um adestramento que já não tenho. Es-
“Dentro da casa-de-fazenda, achada, ao acaso de forço-me e vou conseguindo vencer minhas deficiên-
outras várias e recomeçadas distâncias, passaram-se cias. As palavras, porém são mais difíceis de adestrar e
e passam-se, na retentiva da gente, irreversos gran- vêm carregadas de uma vida que se foi desenrolando
des fatos – reflexos, relâmpagos, lampejos – pesados dentro e fora de mim, todos esses anos. São teimosas,
em obscuridade. A mansão, estranha, fugindo, atrás ambíguas e ferem. Minha luta com elas é uma luta ex-
de serras e serras, sempre, e à beira da mata de al- tenuante. Assim, nesse momento, enceto duas lutas:

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com as linhas e com as palavras, mas tenho a certeza d) as palavras, assim como os pontos do bordado,
que, desta vez, estou querendo chegar a um resultado escondem a inexorabilidade do destino.
semelhante e descobrir ao fim do bordado e ao fim
desse texto, algo de delicado, recôndito e impercep- e) as palavras, mais que os pontos do bordado, es-
tível sobre o meu próprio destino e sobre o destino condem o traçado imperceptível da obra.
dos seres que me rodeiam. Ontem, quando entrei no
armarinho para escolher as linhas, vi-me cercada de
pessoas com quem não convivia há muito tempo, ou TEXTO: 121 - Comum à questão: 244
convinha muito pouco, de cuja existência tinha es-
quecido. Mulheres de meia-idade que compravam lãs DETERMINISMOS
para bordar tapeçarias, selecionando animadamente
e com grande competência os novelos, comparando
as cores com os riscos trazidos, contando os pontos
na etamine, medindo o tamanho do bastidor. Incor- Acho que o caráter de um povo decorre de sua
porei-me a elas e comecei a escolher, com grande língua, e não o contrário. O constante mau humor
acuidade, as tonalidades das minhas meadas de linha do francês, por exemplo, é uma exigência fonética: a
mercerizada. Pareciam pequenas abelhas alegres (...), língua francesa soa melhor quando exprime alguma
levando a sério as suas tarefas. (...) Naquelas mulhe- indisposição com o mundo ou com um semelhante.
res havia alguma coisa preservada, sua capacidade Certos sons, em francês, só são perfeitamente atin-
de bordar dava-lhes uma dignidade e um aval. Não gidos num determinado grau de irritação. O que, à
queria que me discriminassem, conversei com elas de primeira vista, parece uma insanável assincronia en-
igual para igual, mostrando-lhes os pontos que minha tre o francês e o seu fígado ou o seu destino pessoal
pequena mão infantil executara. não passa de um determinismo da pronúncia. Não se
pode esperar do francês o gesto largo e generoso de
(JARDIM, Rachel. O penhoar chinês. 4 ed. Rio de Janeiro: um povo com amplas vogais, como o Italiano. O que
José Olympio, 1990.) se ouve é uma enganosa amargura, fruto das con-
soantes construtivas.

A mania dos alemães de dominar o mundo talvez


venha do caráter predatório da sua língua, sempre
atrás de maneiras de combinar mais e mais significa-
Questão 242 - (INTEGRADO RJ) dos numa só palavra. Há quem diga que o ideal ale-
Com “Esforço-me e vou conseguindo vencer minhas mão é reduzir tudo o que precisa ser dito a uma in-
deficiências”, a autora se refere: terminável fileira de sílabas, a uma palavra única que
cincundaria o globo e tornaria todas as outras línguas
a) ao esforço para suplantar a inibição que as pala- obsoletas.
vras lhe causam.
Já escrevi que Portugal colonizou a África e o Bra-
b) ao esforço que lhe custa o tecido do texto. sil porque o português falado lá se tornara tão difícil
de dizer que precisava de ar. Foi a falta de ar que im-
c) à deficiência visual que lhe dificulta tecer o borda- peliu as caravelas. O português falado na África e no
do. Brasil é justamente o português de Portugal com mais
espaço. O mesmo aconteceu com o inglês americano
d) à sua própria dificuldade enquanto tecalã. e australiano em relação ao inglês inglês. Este teria,
com o tempo, se tornado incompreensível para seus
e) às muitas deficiências gramaticais que necessita próprios usuários, se não tivesse adquirido dois gran-
vencer. des continentes, onde pôde respirar e se espraiar.

Mas se faz bem à língua o espaço maior pode


Questão 243 - (INTEGRADO RJ) prejudicar o caráter. Em Portugal ele dizem “ao” onde
nós dizemos “ão” e por isso a nossa “corrupção” pa-
Pode-se depreender da leitura do 7° período que: rece maior, tem a força descritiva de um superlativo.
É como se existisse a palavra “corrupcinha”, mas. de
a) o bordado, tanto quanto o texto tecido, permite tão pouco adequada aos nossos hábitos, se tivesse
o resgate de algo adormecido na memória. perdido no tempo, substituída para sempre pelo seu
oposto. Nosso português liberado pelo nosso tama-
b) os pontos do bordado, mais que as palavras, nho nos compeliria só aos grandes pecados. A culpa
contribuem para avivar, na memória, algo re- não é nossa, é dos nossos superlativos. Ditongo nasal
côndito. é destino.
c) os pontos do bordado, menos que as palavras, (Adaptado - VERÍSSIMO, L.F., In Jornal do Brasil, 8/7/95.)
mostram a delicada tessitura da obra.
480 - www.PROJETOREDACAO.com.br
Questão 244 - (UNIFICADO RJ) difícil de governar.” (Cap.11)

Leia as afirmações abaixo, acerca do Texto I, e classifi-


que cada uma delas como verdadeira (V) ou (F) falsa.
“CONHECI que Madalena era boa em demasia,

mas não conheci tudo de uma vez. Ela se revelou


( ) O aspecto volitivo de um povo é fator determi-
nante na formação de seu caráter. pouco a pouco, e nunca se revelou inteiramente.

( ) O temperamento do povo francês se coaduna A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida
com a oclusão constatada na passagem de ar na
emissão dos fonemas consonantais daquela lín- agreste, que me deu uma alma agreste.” (Cap.19)
gua.

( ) A irradiação da língua a outros continentes foi A propósito dos trechos mencionados, é possível
condição fundamental à sobrevivência de idio- considerar que:
mas colonizadores.
a) indicam o único objetivo de Paulo Honório que é
( ) A amplitude espacial pode ser encarada como possuir as terras de S. Bernardo.
fator prejudicial, pois induz a digressões no cam-
po da integridade moral. b) representam meros marcadores temporais, já
que, nesse romance, o tempo não tem impor-
tância na técnica narrativa.
A seqüência correta é: c) indicam mudanças de acontecimentos narrati-
a) V – V – V – F vos, os quais se colocam como pilares estrutura-
dores do romance.
b) V – V – F – F
d) focalizam a preocupação do narrador-persona-
c) F – V – V – V gem, que é dissociar os níveis de propriedade -
terra e mulher.
d) F – F – V – V
e) constituem eventos narrativos cuja função é
e) F – F – F – V apresentar Paulo Honório como herói cruel e, ao
mesmo tempo, vitorioso.

Questão 245 - (PUC SP)


Questão 246 - (PUC SP)
Os trechos abaixo foram extraídos de diferentes ca-
pítulos da obra São Bernardo, de Graciliano Ramos. A coletânea abaixo é composta por fragmentos das
obras, Dom Casmurro, de Machado de Assis, e São
Bernardo, de Graciliano Ramos. Leia cada fragmento,
atentamente, para responder a questão.
“RESOLVI estabelecer-me aqui na minha

terra, município de Viçosa, Alagoas, e logo


“Outra idéia; não, – um sentimento cruel
planeei adquirir a propriedade S. Bernardo,
e desconhecido, o puro ciúme, leitor das
onde trabalhei, no eito, com salário de cinco
tostões.” (Cap.4) minhas entranhas. Tal foi o que me mordeu,

ao repetir comigo as palavras de José Dias:

“AMANHECI um dia pensando em casar. ‘Algum peralta da vizinhança.’

Foi uma idéia que me veio sem que nenhum Em verdade, nunca pensara em tal desastre.

rabo de saia a provocasse. Não me ocupo Vivia tão nela, dela e para ela, que a intervenção de
um peralta
com amores, devem ter notado, e sempre
era como uma vocação
me pareceu que mulher é um bicho esquisito,
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sem realidade; nunca me acudiu que havia E se eu soubesse que ela me traía? Ah! Se eu sou-
besse que ela me traía, matava-a, abria-lhe a veia do
peraltas na vizinhança, vária idade e feitio, pescoço, devagar, para o sangue correr um dia intei-
ro.” (Cap. 28)
grandes passeadores das tardes.” (Cap. 62)
Graciliano Ramos

(...) “Os braços merecem um período.


Os trechos mencionados falam dos ciúmes de Ben-
(...) Eram os mais belos da noite, a ponto to por Capitu e dos de Paulo Honório por Madalena.
que me encheram de desvanecimento. Considerando os romances e, tanto os fragmentos
como referência, pode-se afirmar que:
Conversava mal com as outras pessoas, só
a) os dois narradores - Bento e Paulo Honório - são
para vê-los, por mais que eles se protagonistas de fatos ocorridos no passado e
contam histórias que se distanciam no tempo.
entrelaçassem aos das casacas alheias. Já não Este distanciamento temporal reduz o ciúme e
provoca, nas narrativas, um retorno ao final ro-
foi assim no segundo baile; nesse, quando vi mântico.
que os homens não se fartavam de olhar para b) o motivo “ciúme”, gerado pelos adultérios de
Capitu e Madalena, define-se não só pelas con-
eles, de os buscar, quase de os pedir, e que
dições sociais da época, mas também pelas in-
roçavam por eles as mangas pretas, fiquei tencionalidades dos narradores de manipularem
os fatos e apresentarem os mesmos de forma
vexado e aborrecido.” (Cap. 105) acessível ao leitor.

Machado de Assis c) os ciúmes de Bento e Paulo Honório surpreen-


dem o leitor, já que são poucos os índices que
convergem para o drama do ciúme, dado o cará-
ter pouco amoroso que envolve as personagens,
“Madalena calou-se, deu as costas e começou a no interior dessas narrativas realista e modernis-
subir a ladeiras. Acompanhei-a embuchado. De re- ta, respectivamente.
pente voltou-se e, com voz rouca, uma chama nos
olhos azuis, que estavam quase pretos: d) o leitor, em “Dom Casmurro”, embalado pela
ambigüidade do narrar, permanece na incerteza
– Mas é uma crueldade. Para que fez aquilo? do que aconteceu e do que foi deturpado pelo
ciúme, em “São Bernardo”,... todavia, o enuncia-
Perdi os estribos:
do e a enunciação permitem que ele perceba o
– Fiz aquilo porque achei que devia fazer aquilo. acontecido e o deturpado.
E não estou habituado a justificar-me, está ouvin-
e) o motivo “ciúme” tem pouca importância nas
do? Era o que faltava. Grande acontecimento, três
tramas, não se ligando a elas de forma coesa,
ou quatro muxicões num cobra. Que diabo tem você
porque, nesses romances, o objetivo de cada
com o Marciano para estar tão parida por ele?” (Cap.
personagem-narrador era, respectivamente,
21)
atar as duas pontas da vida e apossar-se das ter-
ras de S. Bernardo.

“‘O SENHOR conhece a mulher que possui.’

Que frase!

Padilha sabia alguma coisa. Saberia? Ou teria falado


à toa?

Conjecturas. O que eu desejava era ter uma certeza


e acabar depressa com aquilo. Sim ou não. (...)

Se eu tivesse uma prova de que Madalena era ino-


cente, dar-lhe-ia uma vida como ela nem imaginava.
(...)

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Questão 247 - (UNICAMP SP) do fogo, depois me deitei, numa grande rede bran-
ca - foi um carinho ao longo de todos os músculos
Para entender a tira abaixo, é necessário dar-se conta cansados. E então ele me deu um pedaço de peixe
de que a pergunta de Helga pode ter duas interpre- moqueado e meia caneca de cachaça. Que prazer em
tações. comer aquele peixe, que calor bom em tomar aquela
cachaça e ficar algum tempo a conversar, entre grilos
e vozes distantes de animais noturnos.

Seria possível deixar essa eterna inquietação das


madrugadas urbanas, inaugurar de repente uma vida
de acordar bem cedo? Outro dia vi uma linda mulher,
e senti um entusiasmo grande, uma vontade de co-
nhecer mais aquela bela estrangeira: conversamos
muito, essa primeira conversa longa em que a gente
a) No contexto, como deve ser interpretada a fala vai jogando um baralho meio marcado, e anda de-
de Helga? vagar, como a patrulha que faz um reconhecimento.
Mas para quê, essa eterna curiosidade, essa fome de
b) Como Hagar interpretou a fala de Helga? outros corpos e outras almas?

c) Explique por que o comportamento lingüístico Mas para instaurar uma vida mais simples e sá-
de Hagar não corresponde ao de um falante co- bia, então seria preciso ganhar a vida de outro jeito,
mum. não assim, nesse comércio de pequenas pilhas de
palavras, esse ofício absurdo e vão de dizer coisas,
dizer coisas... Seria preciso fazer algo de sólido e de
singelo; tirar areia do rio, cortar lenha, lavrar a terra,
TEXTO: 122 - Comum à questão: 248 algo de útil e concreto, que me fatigasse o corpo, mas
UM SONHO DE SIMPLICIDADE deixasse a alma sossegada e limpa.

Todo mundo, com certeza, tem de repente um


sonho assim. É apenas um instante. O telefone toca.
Então, de repente, no meio dessa desarruma- Um momento! Tiramos um lápis do bolso para to-
ção feroz da vida urbana, dá na gente um sonho de mar nota de um nome, um número... Para que tomar
simplicidade. Será um sonho vão? Detenho-me um nota? Não precisamos tomar nota de nada, precisa-
instante, entre duas providências a tomar, para me mos apenas viver - sem nome, nem número, fortes,
fazer essa pergunta. Por que fumar tantos cigarros? doces, distraídos, bons, como os bois, as mangueiras
Eles não me dão prazer algum; apenas me fazem fal- e o ribeirão.
ta. São uma necessidade que inventei. Por que beber
uísque, por que procurar a voz de mulher na penum- (BRAGA, Rubem. In: 200 crônicas escolhidas, 3 ed. Rio
bra ou os amigos no bar para dizer coisas vãs, brilhar de Janeiro: Record, 1979. p.262-3.)
um pouco, saber intrigas?

Uma vez, entrando numa loja para comprar uma Questão 248 - (USS RJ)
gravata, tive de repente um ataque de pudor, me sur-
preendendo assim, a escolher um pano colorido para Através das interrogações em torno das quais o autor
amarrar ao pescoço. desenvolve a sua crônica, é possível concluir-se que
ele:
A vida bem poderia ser mais simples. Precisamos
de uma casa, comida simples, mulher, quê mais? Que a) está cheio de dúvidas.
se possa andar limpo e não ter fome, nem sede, nem
frio. Para que beber tanta coisa gelada? Antes eu to- b) não vê sentido nos seus hábitos sofisticados.
mava a água fresca da talha, e a água era boa. E quan-
do precisava de um pouco de evasão, meu trago de c) não tem resposta para muitas questões.
cachaça.
d) não sabe a razão dos próprios atos.
Que restaurante ou boate me deu o prazer que
e) demonstra ser muito curioso.
tive na choupana daquele velho caboclo do Acre? A
gente tinha ido pescar no rio, de noite. Puxamos a
rede afundando os pés na lama, na noite escura, e
isso era bom. Quando ficamos bem cansados, meio
molhados, com frio, subimos a barraca, no meio do
mato e, chegamos à choça de um velho seringueiro.
Ele acendeu um fogo, esquentamos um pouco junto
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GABARITO QUESTÕES to de declínio da ditadura militar, ou seja, anunciava
metaforicamente o fim do autoritarismo e a esperan-
DIFÍCEIS ça da abertura democrática, num contexto histórico
muito diferente do atual. A canção, datada de 1984,
1) Gab:
tematiza a presença do povo nas ruas, reivindicando
O experimento consistiu em uma prisão simulada seus direitos e propondo mudanças, aspecto que se
com a participação de 24 jovens estudantes que se aproxima dos movimentos sociais vividos recente-
voluntariaram para cumprir uma pena de duas se- mente.
manas na situação de guardas ou de prisioneiros.
Apenas seis dias depois o experimento precisou ser
encerrado porque a convivência entre os grupos se 12) Gab: E
tornou extremamente hostil, constatando-se um
processo de desumanização.

13) Gab: D
2) Gab: E

14) Gab: E
3) Gab: C

15) Gab:
4) Gab: a) O trecho que apresenta duplo sentido é “Não
posso me queixar”, que pode ser entendido de
No terceiro parágrafo, Sagan nota, entre os estudan- duas formas: “não tenho de que me queixar, es-
tes do final do curso secundário, a preocupação com tou satisfeito”, ou “não tenho permissão para
a “aprovação de seu pares” e, portanto, com o temor me queixar, pois posso ser punido caso me ma-
de incidir em algo que o grupo condene. Na tirinha nifeste”.
apresentada, o estudante Yuri sofre “bullying” por
confessar um projeto de um futuro que seus colegas b) Mas se você perguntar a quaisquer cidadãos
consideram risível por sua audácia aparentemente de uma ditadura o que acham de seu país, eles
irrealista (mas que, em se tratando de Yuri Gagarin, respondem, sem hesitação: Não podemos nos
o primeiro cosmonauta, revelou-se o contrário disso. queixar.

5) Gab: A 16) Gab:

a) No texto transcrito, a distinção entre o uso co-


municativo e o uso cognitivo da linguagem de-
6) Gab: E ve-se a que, para o primeiro, o que importa é
o efeito da mensagem sobre o receptor, e não
a transmissão de um conteúdo inteligível. Con-
7) Gab: E trariamente, para que o “emprego cognitivo” da
linguagem se efetive, é essencial que a mensa-
gem tenha um conteúdo determinado e inteligí-
vel.
8) Gab: D
b) Nos contextos em que costuma ser emprega-
da, a palavra cidadania, embora seu significado
não seja “evidente”, como afirma o texto, tem
9) Gab: C sempre sentido positivo: cidadania – suben-
tende-se – é algo a ser defendido, ampliado,
seu valor deve ser comunicado aos jovens etc.
10) Gab: D Portanto, é a própria indefinição semântica
que torna a palavra útil em discursos que
visam a finalidades políticas, pois seu efeito
será sempre despertar uma reação de adesão
11) Gab: no receptor, embora seja uma adesão a algo
pouco preciso e determinado.
A música de Chico e Francis foi composta no momen-
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17) Gab: A e a mãe, mediada pelo fruto, mostra-se repleta
de significados positivos – “água pura”, “pano
alvejado” – denotando o prazer de estar com
essa personagem. Em contrapartida, no texto 2,
18) Gab: B retirado do final do romance / novela, o tomate
reproduz o suplício do narrador – “meu rosário
de pesares”, “resto de fúria” – por ter que convi-
19) Gab: E ver com a madrasta, com quem não tem relação
aprazível.

2. O início do parágrafo do texto 2 já apresenta


20) Gab: C um período que foge à regularidade sintática de
um texto em prosa. A palavra “Três”, isolada de
seu contexto, induz a um tipo de texto que se
distancia de um tradicional em prosa. Ao longo
21) Gab: E
do parágrafo, o uso reiterado de linguagem me-
tafórica – “três impérios do almoço”, “meu ro-
sário de pesares” – diluem, no texto, o caráter
22) Gab: D essencialmente de prosa, acrescentando a ele
aspectos de poesia. O trecho, como a obra de
Bartolomeu Campos de Queirós, reitera o quan-
to o livro Vermelho amargo funde os elementos,
23) Gab: B constituindo o que se chama de prosa poética.

24) Gab: D 30) Gab:

1. O texto 2 pode ser entendido como apreciação


25) Gab: 04 do texto 1, ao tratar da paisagem amazônica e
seus predicados míticos e geográficos. Ambos
confluem para a percepção artística da Flores-
26) Gab: B ta Amazônica, seja na relação forma / conteúdo
proposta no texto 2, seja por meio da sensibili-
dade e da espontaneidade poética do texto 1.

27) Gab: D 2. À noção de ruptura com os padrões rígidos,


corresponde, no texto 1, a utilização de versos
livres e a estrofação irregular, alterando versos
longos e curtos (redondilhas menores). Interes-
28) Gab: sante notar também a presença de regionalismo
(paturá) e o tom coloquial, prosaico, da lingua-
No início da última estrofe, o eu lírico menciona o gem poética. Além disso, as alterações nasais da
fato de ter enviado telegrama a sua mãe, referindo- 3ª estrofe e as aliterações em S e T da 4ª e da 5ª
-se a uma modalidade de comunicação rápida, hoje estrofe sugerem a sonoridade da floresta ou a
de pouco uso, substituída pelo telefone e, mais re- “pulsação da floresta”, referida no texto 2.
centemente, pelas diversas possibilidades oferecidas
pela internet. Tratando-se, porém, de uma imigrante
de modesta condição econômica, é de julgar que o
telefone e a internet não estivessem à sua disposi- 31) Gab:
ção e que o telégrafo fosse a forma mais expedida de
comunicação de que pudesse servir-se. Nesse caso, 1. Rubem Alves defende a tese de que a lingua-
a referência ao telegrama não implicaria que “o eu lí- gem politicamente correta pode se transformar
rico se expressa numa época anterior à atual”, como em “ridículo”, devido a seus excessos. Tomando
considera a Banca Examinadora. como mote a conferência ministrada por ele em
Nova York, o autor postula que a regra funda-
mental dessa linguagem é nunca usar um termo
que humilhe, discrimine ou zombe de alguém,
29) Gab: já que as palavras seriam armas nada inocen-
tes, capazes de ferir ou dominar as pessoas sem
1. Para o narrador, o tomate figura como um elo que se perceba. dessa forma, para Rubem Alves,
sintético entre as figuras opostas da mãe e da deve-se encontrar – ainda que esta ação pareça
madrasta. No texto 1, a relação entre o locutor
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sem sentido – uma forma alternativa de dizer a dos “centros urbanos do Reino”, aos quais se re-
mesma coisa a fim de não se causar efeitos inde- fere Laura de Mello e Souza ao tratar da obra do
sejáveis na comunicação. Ao criticar os excessos poeta árcade – lhe fez “entorpecer o engenho”
do “politicamente correto”, o autor questiona, dentro de seu berço, a Colônia. Ou seja, Cláudio
por exemplo, a validade de, em tal linguagem, Manoel aponta que seu distanciamento da Me-
tentar-se separar a pessoa de sua deficiência, trópole (por extensão, da verdadeira Arcádia) e
assim como o caráter ofensivo que os termos de todo o “mundo mais polido” e “mais culto”
relativos à velhice parecem assumir. que a Europa lhe representava trouxe certo de-
sânimo, certo enfraquecimento a seus escritos,
2. O texto 2 apresenta, de forma bem-humorada a seus talentos, a suas habilidades artísticas e
e crítica, possíveis mudanças a serem feitas nas inventivas, a sua produção literária, portanto,
personagens da série Sítio do Picapau Amarelo a seu “engenho”. Essa constatação pode ser re-
em sua adaptação para a TV, a fim de adequá-las lacionada ao texto 2, quando Laura de Mello e
aos parâmetros do “politicamente correto”. As Souza diz que, no poeta árcade, persistiria até o
absurdas e excessivas propostas de mudança do fim de sua vida, em seus sentimentos, costumes
diretor em questão – como escolher a Angélica e “escritos” (portanto, em sua produção, em sua
para o papel da Tia Nastácia a fim de amenizar obra, em seu “engenho”), a dolorosa divisão dos
as tensões raciais presentes no papel da empre- dois mundos, quase irreconciliáveis: a Colônia e
gada doméstica negra, ou colocar uma prótese a Metrópole, Minas Gerais e Portugal.
no Saci para demonstrar a inclusão dos deficien-
tes físicos – podem ser relacionados com a opi-
nião de Rubem Alves, contida no texto 1, de que
o “politicamente correto” pode se transformar 33) Gab: E
em “ridículo” devido a seus exageros.

3. A leitura do anúncio publicado em 1950 causa


estranheza nos dias atuais por apresentar a “boa 34) Gab: 44
aparência” como pré-requisito básico à vaga de
emprego de office-boy. Levando em conta o
tema tratado no texto 1 – a crescente exigência 35) Gab: 06
social do “politicamente correto” -, mencionar a
“boa aparência” como fator imprescindível aos
concorrentes à vaga seria um problema à com-
posição contemporânea desse texto, já que tal 36) Gab: 94
exigência revela, de forma clara, o preconceito
sofrido pelas pessoas que não se enquadram
no pretenso padrão de beleza estabelecido pela 37) Gab:
sociedade. Nos dias de hoje, portanto, requisi-
tar “boa aparência” a um candidato a essa vaga A temática dos dois textos é a relação do sujeito
de emprego seria inaceitável, tendo em vista os poético com a terra natal.
preceitos do “politicamente correto”.
No poema “Confidência do Itabirano”, o sujeito
poético apresenta Itabira como um espaço real e ex-
perimentado; lá ele viveu e assimilou suas caracterís-
32) Gab: ticas: sensibilidade, “a vontade de amar”. Há também
no poema a ideia de que o sujeito lírico permanece
1. Cláudio Manoel da Costa, em seu “Prólogo ao
ligado a sua origem: tempo e espaço aparecem como
leitor”, compara os rios de Minas Gerais e os de
já distantes, por isso, “como dói”, mas, em compen-
Portugal, de forma a enaltecer esses último e a
sação, ganhou um mundo maior. Trouxe prendas ma-
depreciar os de terras brasileiras. O poeta se diz
teriais e imateriais.
desconsolado por não poder encontrar, em ter-
ras mineiras, substituição à altura para as “delí- No fragmento da canção de Gilberto Gil, há o
cias” dos rios Tejo, Lima e Mondego. Já os rios de mesmo sentimento de orgulho de sua origem, no en-
Minas não se comparam, segundo o poeta, às tanto sem especificações. Há apenas a ideia de que o
“venturosas praias da Arcádia”, pois a corrente seu aprendizado para o mundo foi adquirido na sua
desses é “turva, e feia”, e tem as cores macula- terra natal – “A Bahia já me deu régua e compasso”,
das pela mineração. já formou a sua cultura, o seu jeito de ser, a sua me-
dida de homem.
2. No texto 1, Cláudio Manoel da Costa diz que a
tristeza de não ter encontrado um substituto à
altura dos prazeres que lhe proporcionavam os
rios Tejo, Lima e Mondego – símbolos elevados
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38) Gab: 40) Gab:

Os acontecimentos extraordinários fazem parte · O filme toma por objeto a realidade da ditadura
do cotidiano de Tizangara, constituindo uma identi- militar que se instalou no Brasil a partir do golpe
dade ameaçada pelo colonizador. A narrativa revela de 1964.
diferentes vozes portadoras de discursos que mos-
tram a necessidade de se resgatar uma sabedoria, · O filme denuncia a repressão, a censura à im-
uma cultura e um conhecimento formadores de um prensa, a tortura nos porões da ditadura, o clima
povo. Assim, a obra apresenta não só o cômico, haja de delação premiada, a falta de liberdade.
vista o episódio dos pênis decepados, como também
o realismo mágico (vejam-se, por exemplo, o “pen- · O filme também enfoca:
durar os ossos”, referido no fragmento, as “visitas” o cerceamento do direito de ir e vir;
de Hortênsia — a morta em forma de louva-deus — e
a existência da velha Temporina) para traduzir as três o conflito entre os interesses coletivos e indivi-
vilas: Tizangara – terra, Tizangara – céu e Tizangara duais;
– água.
a crítica ao intervencionismo do governo ameri-
O romance cria um universo de ficção diferente cano no mundo.
do tradicional. Nele, convivem a magia, o sobrena-
tural, as histórias e os mitos, produzindo um mundo
que se constitui a partir dos fatos e das narrativas.
41) Gab:
As personagens demonstram e constatam que a
cultura moçambicana lida com valores, comporta- a) Segundo o narrador, a mãe apresentava aflição
mentos e situações que são diferentes daqueles ca- e nervosismo diante dos perigos que ele havia
racterísticos das tradições nacionalistas ocidentais. de passar. A sequência de verbos ajuda a con-
cretizar a imagem aflita e ansiosa da mãe, que
Assim sendo, conclui-se que o misterioso e o inu- se movimenta de um lado para o outro (ir e vir)
sitado também fazem parte do mundo e da cultura e realiza várias ações (remover, coser, futicar).
moçambicana.
b) O período destacado é marcado pelo uso de vá-
rios adjetivos e locuções adjetivas, que retratam
as contradições, as variações e as ambiguidades
39) Gab: do sentimento materno. Exemplos: “raro”, “ex-
cepcional” e “delicado”/ “perigoso”, “de amor e
O fragmento, contextualizado na obra, apresenta espanto”/ “de piedade e orgulho”.
o processo de alfabetização implementado por Fran-
cisca e Nando, como uma tentativa de fazer com que
os camponeses adquiram sua cidadania, tornando-
-se conscientes da condição de explorados, sem se 42) Gab: A
deixarem manipular como eleitores. Nas aulas, era
aplicada a pedagogia de Paulo Freire, uma proposta
para alfabetização de adultos com o propósito de fa-
43) Gab: E
vorecer a construção de uma consciência do mundo,
através da análise dos significados dos temas e pala-
vras mais relevantes da vida dos alunos, dentro do
seu universo vocabular e da comunidade onde eles 44) Gab: D
viviam.

O romance tematiza aspectos de um Brasil distan-


te das grandes cidades, no qual índios e camponeses 45) Gab: A
são explorados e utilizados por pessoas inescrupulo-
sas que tiram proveito da situação. No entanto, Nan-
do e Francisca têm o projeto de promover alguma al-
46) Gab: E
teração no estado de coisas e veem, na alfabetização
dos camponeses, uma via de mudanças, já que, atra-
vés do domínio da leitura, eles poderiam reivindicar
seus direitos e reagir à opressão e à exploração. 47) Gab: B

48) Gab: B

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49) Gab: C inquieto, se “não sabe o que quer, ou quer demais”.
Há várias pistas no relato da internauta que apontam
para essa situação de inquietude: cirurgias plásticas
aos 18 anos, porque se sentia mal com o próprio
50) Gab: A corpo, por exemplo. No mesmo relato, é apresenta-
da a consequência de uma cirurgia plástica: a perda
de sensibilidade nos mamilos. Dessa forma, para se
51) Gab: B resolver um problema estético, um outro foi gerado.
Agora, para resolver esse segundo problema, uma
nova situação de conflito aparece, e há a necessi-
dade de um novo “ajustamento penoso”. Em toda
52) Gab: B “conquista” descrita pela internauta sempre há um
elemento negativo: “... mas eu me sentia péssima”,
“meus seios já eram flácidos”, “...nunca teria cora-
53) Gab: C gem de me despir”, “... mas o problema é que a sen-
sibilidade...”, “não sinto estímulos no bico dos seios”,
“no começo foi difícil aceitar”, “paguei um preço pela
cirurgia”. Essa instabilidade na vida dessa moça só
54) Gab: C cessará, segundo a visão da cronista, na madura ida-
de, com a estabilidade de seus desejos.

Além disso, a beleza é efêmera, e a felicidade propos-


55) Gab: B ta por Rachel é duradoura, portanto esta não pode
estar fundada naquela. Assim, o que se percebe na
vida dessa moça, a despeito de ter dito que ganhou
56) Gab: E a felicidade, são momentos de alegria ou, como afir-
mou Rachel, apenas “confidências de exaltação”, não
de felicidade.

57) Gab: D
61) Gab:

58) Gab: C a) “Um livro é uma canoa”. O candidato não deve-


-se prender apenas a sentidos generalizantes da
metáfora, tais como “a canoa representa o meio
pelo qual se pode ir de um lado a outro, isto é,
59) Gab: B um meio de transporte; e, neste sentido, um li-
vro é o instrumento por meio do qual uma pes-
soa ou um grupo pode, a partir de seu próprio
60) Gab: espaço, expandir o conhecimento de mundos,
Os dois textos tratam de felicidade. Contudo, focali- descobrir e compreender outros mundos, alar-
zam aspectos diferentes que levam à felicidade. Para gar a imaginação etc. O que se espera do candi-
Rachel, a felicidade é alcançada com a vivência, com dato é a compreensão da metáfora no contexto
a maturidade, com a experiência de vida. Em outras de O outro pé da sereia, expressando significa-
palavras, felicidade para a cronista está associada dos específicos. O ponto a que se quer chegar
à estabilidade emocional do indivíduo. A felicidade é a identidade nacional moçambicana, de tão
para a internauta é obtida ainda na mocidade. Ela difícil estabelecimento e/ou compreensão, devi-
alega inclusive que alcançou sua felicidade por meio do a diversos fatores culturais. A tradição oral,
das cirurgias plásticas, obtendo, assim, a aparência representada pela personagem Dona Constança
física desejada. (a mãe), é responsável pela construção parcial
desta identidade, a qual deve ser complemen-
É necessário perceber, porém, que o conceito de feli- tada pela leitura das diversas manifestações de
cidade da cronista nega que a internauta tenha atin- “letramento” (“velhos documentos”, “os pa-
gido a alegada felicidade, uma vez que ela só ocorre péis”, os livros da “biblioteca que Jesustino tinha
com a estabilidade emocional, que é obtida somen- herdado”, “a velha documentação colonial”).
te na maturidade e não ocorre na mocidade, que é Ao letramento deve-se acrescentar a tradição
considerada uma “quadra dramática por excelência, oral, ou, nas palavras de Mwadia (a filha), a
o período dos conflitos, dos ajustamentos penosos, parte “que lhe faltava”. Desta forma, “canoa” é
dos desajustamentos trágicos”. uma metáfora de possibilidades de leitura e/ou
letramento a partir das quais o indivíduo vê o
Com isso, não pode haver felicidade se o coração está seu mundo de uma maneira mais crítica, refle-
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xiva, mais autônoma: “Agora, ela sabia: um livro transportados no navio. O esquema da rima se
é uma canoa. Esse era o barco que lhe faltava faz em AABCCB, sendo decassílabos os versos
em Antigamente”. Portanto, em O outro pé da 1, 2, 4 e 5, e hexassílabos (ou decassílabos que-
sereia, a somar-se à importância da tradição brados) os versos 3 e 6. A combinação desses
oral no estabelecimento identitário, a leitura de versos de 10 e 6 sílabas pode querer indicar o
variado material escrito (letramento) funciona balouço do navio. Tal estrofe de seis versos se
estrategicamente como tentativa de encontrar a chama sextilha.
plenitude da identidade nacional moçambicana
e/ou africana. Em “7”, sobressai a metáfora acerca da consti-
tuição da subjetividade, que envolve o “eu”, o
b) “Antigamente”, fora do contexto do romance, é “outro” e o “Outro”. O sujeito talvez não seja
um advérbio de tempo. No texto, ele se transfor- nenhuma dessas “misteriosas” instâncias, mas o
ma, gramaticalmente, em substantivo próprio, “intermédio”, daí a figura da “ponte”, que faria
designando o nome da vila (daí estar escrito a travessia entre elas. Tal ponte, contudo, é “de
com a inicial maiúscula): trata-se do nome com tédio”, elemento característico da poética do
o qual os personagens Mwadia e Zero Madzero escritor português, que se suicidou ainda bem
batizaram a aldeia de Moçambique onde eles jovem. Chama bastante a atenção o registro di-
moram, um lugar agreste e afastado da civiliza- ferenciado entre “outro” e “Outro”, indicando,
ção. portanto, sentidos diferentes: este segundo, gra-
fado com letra maiúscula, insinua uma dimen-
Espera-se que o candidato demonstre a com- são metafísica, enigmática (inscrita no título: um
preensão das várias possibilidades do sentido número, o 7) de toda alteridade. A rima entre
conotativo do termo Antigamente. Vejamos “outro” e “Outro” acentua simultaneamente a
apenas algumas delas. No plano estrutural da semelhança e a diversidade entre tais palavras.
obra, “Antigamente” sugere o início do período
colonial português em Moçambique, e mais es- Em “Os arredores florem”, destaque-se a delica-
pecificamente a 1560, funcionando como forma da imagem construída pelo poema, que capta os
de estruturação da narrativa em capítulos que “brevíssimos movimentos” de elementos da na-
alternam os elementos de um tempo passado tureza, como numa dança silenciosa. Quanto ao
(1560-61) e os elementos do tempo presente da ritmo, os três versos iniciais possuem seis sílabas
diegese (2002). Antigamente representa um es- poéticas, e o quarto se estende em oito sílabas:
paço ficcional de escapismo; um espaço de fuga a tonicidade de cada verso (4/6; 1/3/6; 3/6; 3/8)
de um tempo marcado pela guerra civil moçam- reforça o movimento representado. Percebe-se
bicana. Para o narrador, inclusive, Antigamen- a sutileza das rimas internas dos versos iniciais
te é o espaço figurado para se perder “a conta (arredOres / flOrem; nErvos / libÉlulas; criArem
ao tempo”, do “exílio de tudo”, “desistência de / Águas) e as aliterações no verso final, em /v/,
todos”. Para Mwadia, personagem mais cons- /s/ e /m/. O poema se mostra como se fosse
ciente, Antigamente é o “refúgio para escapar um flagrante fotográfico de uma cena, embora
à guerra”, o “exílio que só se encontra quando silenciosa, em que a vida se impõe – em que a
todos de nós se esquecem”, o lugar onde ela vida está a florir.
se “esquecia de ter nome, ter rosto, ter idade”.
Nas palavras do narrador, “não era, contudo, b) Seguem-se quatro opções de resposta:
nome de terra. Era um nome para uma sau-
dade”, quando as “rezas subiam” e as “chuvas 1. O sangue das mães rega as bocas pretas
desciam”. Em outros termos, Antigamente é o das magras crianças suspensas às tetas das ne-
lugar do retorno à ordenação da vida dos per- gras mulheres.
sonagens, à antiga ordem pré-guerra, quando o 2. O sangue das mães, negras mulheres,
mundo parecia obedecer a certas harmonias. rega as bocas pretas das magras crianças sus-
pensas às suas tetas (delas).

62) Gab: 3. O sangue das mães negras mulheres, que


suspendem às (suas) tetas magras crianças, re-
a) Há múltiplas possibilidades de respostas. ga-lhes as bocas pretas.

Em “O navio negreiro”, impacta não só a descri- 4. O sangue das mães negras mulheres, que
ção triste e forte da cena, em que as crianças suspendem magras crianças às tetas, rega-lhes
– magras – mamam sangue nas tetas das mães, as bocas pretas.
mas também o quadro seguinte, em que outras
mulheres se arrastam, melancólicas, em meio a
“fantasmas”, que, na verdade, são elas mesmas 63) Gab: E
e, possivelmente, o conjunto de negros escravos
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64) Gab: D qualquer momento. Ele resume essa dúvida uti-
lizando a seguinte frase: “A questão é saber até
quando o otimismo vai durar”.
65) Gab: C

69) Gab:
66) Gab: a) Porque cada espaço descrito representa, aleato-
riamente, uma fase da vida do protagonista.
a) O euro e a bitcoin extrapolam a ideia de que
uma moeda representa uma nação porque o b) Quando o protagonista retorna ao bairro da Es-
euro cobre uma zona integrada por dezessete planada, onde viveu sua infância.
nações europeias e a bitcoin nem mesmo tem
uma zona de abrangência delimitada. A bitcoin é
aceita por estabelecimentos comerciais localiza-
dos em diferentes partes do mundo e nem mes- 70) Gab:
mo está vinculada a uma nação ou a um grupo
de nações. a) A morte de sua capacidade de fazer mágica.

b) Alguém que queira se hospedar no Villa Sart, um b) A impotência do homem para realizar os seus
pequeno hotel na cidade de Danzig, às margens ideais no mundo em que vive.
do mar Báltico, na Polônia, pode fazer a reserva
de um quarto duplo por 95 euros por noite. Se
preferir, o visitante pode se instalar no mesmo 71) Gab:
cômodo pagando com seis unidades de outra
moeda, a bitcoin. a) O tempo célere/rápido/urgente.

b) No poema, a angústia decorre da falta de tempo


para apreciar a vida; na fala da personagem Zé
67) Gab: Paulo, a angústia decorre da consciência da ine-
vitabilidade da morte.
a) Quanto ao modo de emissão, a bitcoin pode ser
emitida por qualquer pessoa que tenha instala-
do em seu computador um aplicativo chamado
“minerador” enquanto as moedas do mundo 72) Gab: D
real são emitidas por um órgão oficial creden-
ciado. E, quanto ao gerenciamento, a bitcoin
não é controlada por instituições financeiras de
73) Gab: E
nenhum país, já as moedas do mundo real são
gerenciadas e fiscalizadas por bancos centrais.

b) A expressão “lavagem de dinheiro” é um recur- 74) Gab: B


so metafórico usado para designar transações
financeiras que objetivam tornar lícitos bens e
moedas obtidos a partir de transações ilegais. A
bitcoin favorece a lavagem de dinheiro, pois sua 75) Gab: FVVVF
origem não é regulada por um órgão oficial nem
está sujeita à fiscalização, logo, a bitcoin funcio-
na como uma estratégia de “limpeza” de dinhei-
76) Gab: E
ro “sujo”.

77) Gab:
68) Gab:
Segundo Bernardo Jefferson de Oliveira, os literatos
a) O autor questiona a confiabilidade ou a credibi-
e os cineastas não têm compromisso com a realidade
lidade da bitcoin perante o mercado financeiro.
em suas obras, nem precisam basear suas histórias
b) O autor reafirma sua dúvida quanto à duração em elementos do mundo concreto, podendo ultra-
do otimismo das pessoas em relação à bitcoin, passar os limites da imaginação. Os cientistas, por
sugerindo que, apesar de ter vantagens em rela- outro lado, enfrentam aspectos éticos como interdi-
ção a outras moedas, a bitcoin apresenta riscos, ção a sua subjetividade.
logo, a euforia dos investidores pode acabar a
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Para o autor, na literatura e no cinema pode-se “dar b) A incorporação dessas expressões pode ser jus-
asas à imaginação e projetar em histórias emocio- tificada quanto às variedades linguísticas regio-
nantes as possíveis aplicações da ciência e alguns de nal, social e estilística: Monteiro Lobato foi um
seus feitos inesperados”, enquanto na ciência deve- escritor regionalista, por isso usava expressões
-se “zelar para não fazer especulações infundadas”. típicas da variedade regional em seus contos; o
meio social retratado no texto justifica o uso da
variedade popular; literariamente falando, essas
expressões contribuem para dar uma “cor local”,
78) Gab: C para tornar a narrativa mais verossímil.
c) Sim, em várias passagens do texto, o autor valeu-se das fra-
ses sem verbo, constituídas de estruturas sintéticas, para dar
79) Gab: B maior agilidade à descrição e para valorizar o aspecto visual
e estético da paisagem.
Logo no início, ele usa, por exemplo, “Sol boreal, tiritante”.
No último parágrafo, há um longo trecho inteiramente com-
80) Gab: C posto de frases nominais:
“Rebrilhos de gelo pelo chão. Águas envidradas.
As roupas dos varais, tesas, como endurecidas
em goma forte. As palhas do terreiro, os sabu-
81) Gab: E
gos de ao pé do cocho, a telha dos muros, o topo
dos moirões, a vara das cercas, o rebordo das
tábuas – tudo polvilhado de brancuras, lactes-
82) Gab: cente, como chovido por um suco de farinha.
Maravilhoso quadro!”
O núcleo do poema surgiu da conjugação das frases:
“A formiga trabalha na treva a terra cega traça o mapa
do ouro maldita urbe”. Esse núcleo é constituído pela
disposição de uma série de frases, de tal modo que 87) Gab: A
as letras de certas palavras servem para formar ou-
tras, e as letras lembram formigas trabalhando.
88) Gab: A

83) Gab:
89) Gab: E
No fragmento A, a ação de pensar tem a concepção
de “avaliar”, “julgar” o mundo, sendo considerada
desnecessária e/ou sem importância. No fragmento
B, por outro lado, “pensar” significa “ meditar” ou “ 90) Gab:
refletir”.
O sentido da viagem no poema de Drummond é me-
tafórico e abstrato, ou seja, o eu poético viaja com
a sombra do pai pelas reminiscências, lembranças
84) Gab: D e aspectos que caracterizam a memória familiar. Al-
guns dos inúmeros exemplos que justificam essa afir-
mação são: “Longamente caminhamos. / Aqui havia
85) Gab: B uma casa. / A montanha era maior. / Tantos mortos
amontoados, / o tempo roendo os mortos.” ; “Há um
abrir de baús / e de lembranças violentas.” ; “Pisando
livros e cartas, / viajamos na família. / Casamentos;
86) Gab: hipotecas; / os primos tuberculosos; / a tia louca; mi-
nha avó / traída com as escravas, / rangendo sedas
a) Sim. Ao descrever a paisagem coberta pela geada, o narra-
dor adota um” prisma estético”, isto é, um ponto de vista,
na alcova.”
uma perspectiva estética, uma vez que ele procura descrever
os aspectos responsáveis pela beleza do cenário.
São exemplos desse ponto de vista (“prisma”) descritivo as
seguintes expressões: 91) Gab: C
“que maravilhoso espetáculo!, Brancuras por
toda a parte.”; “Rebrilhos de gelo pelo chão.
Águas envidradas.”; “Maravilhoso quadro!”; “es- 92) Gab:
plendoroso véu de noiva”.
a) De acordo com o texto, se a troca de poemas en-
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tre cliente e banco fosse uma jogada de marke- 96) Gab:
ting, não haveria rimas pobres, desigualdade no
tamanho dos versos, uso de adjetivos manipula- A leitura analítica dos poema “Lar doce lar”, de caca-
tivos, clichês rococós e equalizações frágeis de so, e “Recuperação da adolescência”, de Ana Cristina
advérbios e adjetivos. Se fosse uma jogada de César, revela dois poetas retomando circunstâncias
marketing, os poemas seriam mais bem elabo- existenciais. Cada um recupera uma fase da vida e
rados. Por esse motivo, tal suspeita não se sus- expressa um sentimento relativo ao tempo passado.
tenta. Cacaso revê a infância como uma pátria perdida, irre-
cuperável, daí a associação com a ideia de exílio. Ana
b) As marcas de intertextualidade presentes no Cristina resgata a adolescência como tempo heróico,
texto poderão ser identificadas: repleto de desafios, que convidava a fazer sempre o
que seria mais difícil. Em comum, os poemas trazem
I) na própria resposta do banco a Mauro Jú- essa questão existencial supostamente contraposta a
nior, uma vez que tal resposta implica re- uma vida adulta pouco satisfatória.
missão ao poema feito por esse cliente;

II) no próprio texto que comenta a troca de


poemas, uma vez que faz remissão a tais 97) Gab:
poemas;
a) 1) “O autor convida o leitor a enfiar-se na pele
III) na análise feita dos versos, uma vez que do cônego” : a expressão “pele do cônego” foi
cita trechos dos poemas: (“Bradesco que- usada em sentido figurado, uma vez que se refe-
rido”), (“a bradar”, “findou meu sorrir”), re a um ser abstrato, ou seja, uma personagem.
(“pessoalmente”). Neste terceiro caso, o
candidato poderá considerar cada um dos 2) ”quando a intuição, enlaçada à enunciação,
trechos citados dos poemas uma marca de inesperadamente desabrocha na consciência da
intertextualidade; frase articulada”: o verbo “desabrocha”, em seu
sentido próprio, aplica-se a seres concretos e
IV) no texto de Mauro Júnior, visto que o gê- não a abstratos como ocorre na frase.
nero poema aproxima-se do gênero textual
prece (oração), devido à formulação de um Obs.1) Há outras possibilidades de respostas,
pedido de caráter cerimonioso e uma cons- como, por exemplo:
tante referência a Deus;
“às cotoveladas no meio da multidão de can-
V) no poema escrito por Tábata Cury, uma vez didatas”, “uma frincha entreaberta para o sub-
que o gênero textual poema aproxima-se consciente”, “flor do epíteto” etc.
do gênero correspondência, comumente
utilizado por agências bancárias, devido à b) Não. A primeira traduz uma circunstância de
utilização de frases como: “à sua agência tempo, pois indica o momento em que o cône-
deve ir pessoalmente”, “seu cartão chegará go não consegue escrever o adjetivo adequado
em até 7 dias úteis” ou “Agradecemos a sua à frase. Já a segunda expressa a finalidade de a
compreensão”; personagem ter-se levantado.

VI) no uso de palavras e ou expressões utili- c) O crítico pretendeu dizer que a arte literária re-
zadas frequentemente em textos de cir- sulta da união entre esforço e criatividade, entre
culação nacional, tais como: “jogada de inspiração e trabalho.
marketing”, “o fez na mesma moeda”, “veia
criativa”.
98) Gab: B

93) Gab: 02
99) Gab: C

94) Gab: E
100) Gab: C

95) Gab: E
101) Gab:

Os dois enunciados podem ser entendidos dife-

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rentemente do que pretenderam seus redatores. Na segunda obra, uma narrativa fílmica — Cidade
de Deus — locada numa “favela” carioca, evidencia-
No texto a, além de se interpretar que alguns so- -se que a abolição da escravatura exigida pelo “brado
nhos permanecem essencialmente iguais (apenas do século da liberdade”, pela “opinião do mundo” e
seu tamanho é alterado), também se pode entender pelo “pronunciamento dos governos” não emanci-
que alguns sofrem alterações substanciais (não mu- pou de fato os negros e seus descendentes, não os
dam só de tamanho, são alterados completamente). inseriu na sociedade brasileira. No filme, uma comu-
O mecanismo sintático que explica a dupla possibili- nidade também de afrodescendentes vive num espa-
dade semântica é a elipse: é possível presumir, depois ço pervertido pelas drogas, pelas condições sociais
da vírgula, tanto “mudam” quanto “não mudam”. de descaso do poder governamental. Há, pois, um
espaço de violência, de ameaça à sociedade como
No texto b, o sujeito elíptico da locução verbal um todo, mas, tanto quanto em “As vítimas algozes”,
“vamos dar” (“nós”) tem dupla referência. Por um consequente da segregação, do tratamento a que o
lado, o pronome pode ter sentido inclusivo e se re- negro tem sido submetido ao longo de sua vida no
ferir ao leitor e aos estabelecimentos comerciais. Brasil. Assim, desde cedo, as crianças e os jovens são
Nesse caso, o enunciado é lido como uma exortação, cooptados pelo tráfico, tornando-se também “víti-
uma convocação para que o leitor participe das doa- mas algozes” (vide trajetória de Zé Pequeno).
ções junto dos comerciantes. Por outro, o valor se-
mântico do pronome “nós” pode ser o de exclusão,
e sua referência seriam apenas os comerciantes que
promovem a campanha. O enunciado, então, é visto 104) Gab:
como mero anúncio de que tão somente os estabe-
lecimentos comerciais fariam doações às vítimas de Célia mora com a mãe no Largo da Palma e aí
enchentes. mesmo possui a Casa dos Pãezinhos de Queijo. Co-
nhece Gustavo nesse espaço e o fato de ele ser mudo
Outra leitura possível do texto b diz respeito ao não impede a relação amorosa entre os dois. O amor
duplo sentido do termo “mínimo”: ele pode ser tra- entre eles consegue vencer todas as barreiras (a re-
duzido por “aquilo que é necessário” ou por “a me- sistência e desaprovação dos pais) e operar um “mi-
nor quantidade possível”. lagre”: a recuperação da fala de Gustavo.

Eliane, como Célia, é também uma jovem pobre.


Contudo, enquanto esta é movida pelo amor, aquela
102) Gab: casa-se com Odilon por gratidão. Isso e o fato de o
médico dedicar-se inteiramente a seus doentes, des-
a) “é pela posse e pelo uso da linguagem, falando ligando-se das outras coisas, fazem Eliane romper o
oralmente ao próximo ou mentalmente a nós casamento. Constrói uma relação com Geraldo e, de-
mesmos, que conseguimos organizar o nosso pois de alguns anos, é abandonada.
pensamento e torná-lo articulado, concatenado
e nítido”. Nesse momento é que descobre o verdadeiro sen-
tido do amor de Odilon. Percebe-se, então, que, em
b) “... surge um novo e repentino vigor de raciocí- ambas as narrativas, as personagens femininas expe-
nio, que não só decorre do desenvolvimento do rimentam o sentimento amoroso de formas diferen-
cérebro, mas também da circunstância de que o tes, mas o amor se torna vitorioso na vida das duas.
indivíduo dispõe agora da língua materna...”

c) Para o autor, o “essencial proveito” do ensino


da língua é o aperfeiçoamento da capacidade de 105) Gab:
pensar, que se dá à medida que se inicia e se
desenvolve o estudo metódico dos caracteres e No fragmento, podem-se destacar os seguintes
aplicações do preciso instrumento que é a lin- aspectos da realidade social presentes na narrativa:
guagem.
― a situação do trabalhador rural, vítima da pobreza,
da exploração através do trabalho e da violência de
quem tem o poder;
103) Gab:
― o desrespeito à mulher, à família dos menos favo-
Na primeira obra, há a representação ficcional do recidos. A mulher é estuprada e a aplicabilidade da
negro ainda no período da escravidão, final do sécu- lei para punir o contraventor é impedida por quem
lo XIX (segunda metade). Aí, tem-se o elemento de tem o poder;
etnia africana tratado como ser inferior, vítima da es-
cravidão, segregado, vivendo em condições subuma- ― a situação dos índios, vítimas da ação dos missio-
nas, por isso revoltado, violento. Uma ameaça para a nários (ameaça à preservação da cultura indígena) e
sociedade. as contradições do SPI. A narrativa evidencia a obs-
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tinação de Fontoura, à frente do Posto Capitão Vas- em seu apartamento, ele não se aproxima do
concelos, na defesa da criação do Parque do Xingu e exterior, mas somente observa-o, com seu olhar
a sua luta para proteger os índios e preservar a sua voyeur. Em seu solipsismo, o personagem afas-
cultura. Já o diretor do SPI, Ramiro Castanho, vê a ta-se do outro e o vê como algo que o pode afe-
vida dos índios como “vida de bicho” e a cultura indí- tar, enterrando-se em sua solidão. Se o homem
gena como sinônimo de atraso. Ramiro, na verdade, moderno via na cidade o espaço para configurar
usa o cargo para defender interesses pessoais. a sua nova identidade cosmopolita, o homem
contemporâneo tranca-se no apartamento para
fugir do outro e ratificar sua solidão. Nesse ra-
ciocínio, o outro é somente objeto de observa-
106) Gab: ção e especulação, mas jamais se chega a uma
É possível afirmar que, no poema de Vicente de Car- aproximação e possível relação.
valho, o eu lírico supõe a existência da felicidade num b) Apropriados por poucos, em sua superdimen-
plano sonhado, intangível: para o parnasiano, a boa são os espaços da grande cidade não acolhem
fortuna “Existe sim: mas nós não a alcançamos”, pois aqueles que não são privilegiados. Assim, a
é exterior ao homem, o que faz do estar vivo uma questão do privado e público se torna ambígua,
“grande esperança malograda”, frustrada. Nesse na contemporaneidade. O fato de viver na mul-
caso, encontrar a felicidade não é possível, por mais tidão, leva ao anonimato, o que instiga o desejo
que sua busca disfarce “a pena de viver”. da exposição como, por exemplo, os programas
Já o “Cancioneiro, 150”, de Fernando Pessoa, tam- reality-shows que tanto sucesso fazem hoje. As
bém aborda a ventura perfeita; no entanto, o ato fronteiras do público e do privado se esvaem e o
de idealizá-la não se torna um instrumento suficien- voyeurismo, prática da modernidade, remete à
te para alcançar a felicidade ou mesmo atenuar os necessidade de viver a vida do outro, em face do
males da vida (“Não é com ilhas do fim do mundo, esvaziamento da própria existência, o que pode
/ Nem com palmares de sonho ou não / Que cura a ser visto no personagem que narra o conto, vol-
alma seu mal profundo, / Que o bem nos entra no tado para a janela de seu quarto, imerso na ativi-
coração”), já que também na “terra da suavidade […] dade de observar o espetáculo da vida, sem, no
O mal não cessa, não dura o bem”. O contentamen- entanto, participar dela.
to, não sendo utópico, pode tornar-se acessível, uma
vez que estaria “em nós” — “É ali, ali / Que a vida é
jovem e o amor sorri”. 109) Gab:

a) As aves correspondem ao desejo/à vontade de


Eufrásia ir-se embora do sertão.
107) Gab:
OU
No poema de Vicente de Carvalho, o “sonho” é
“uma hora feliz”, cuja condição de adiamento suces- É que a vontade de Eufrásia de ir-se embora do
sivo (“sempre adiada”) o torna irrealizável, mas não sertão compara-se ao movimento migratório
inexistente. No de Fernando Pessoa, o “sonho” se as- das aves de arribação.
socia a um lugar onde “a vida é jovem e o amor sor-
ri”; o fato de tal lugar poder ser real ou não (“Não sei b) O sol provoca a seca e a fome, que são a senten-
se é sonho, se realidade”) torna incerta a afirmação ça a que Eufrásia está condenada.
categórica de sua existência. Assim, nos dois casos a
palavra sonho se associa à possibilidade da felicida- OU
de humana. Convém acrescentar que a afirmação de
que a alma humana é movida pelo desejo de reali- A seca e a forme provocadas pelo sol senten-
zação dessa possibilidade é expressa nos dois textos ciam Eufrásia ao desalento e à solidão pela falta
por intermédio da mesma imagem da ansiedade: no de saída/de alternativa.
de Vicente de Carvalho, a esperança de realização do
sonho traz a alma “ansiosa”, enquanto no de Fernan-
do Pessoa a felicidade “é o que ansiamos” todos. 110) Gab:

a) Ao longo do desenvolvimento das formas poé-


ticas, o uso de rimas e de simetria estrófica foi
108) Gab: um artifício técnico tradicionalmente associado
a) A cidade surge para o personagem de “Um cri- ao padrão da beleza clássica, com suas noções
minoso” como um lugar exterior, ameaçador, de ordem, harmonia e equilíbrio. Entretanto,
cheio de perigos dos quais ele precisa se defen- nestes textos, a regularidade da forma contrasta
der em sua solidão armada. Por isso, trancado com o tema desconfortável e angustiante da en-

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fermidade. O efeito surpreendente deste desen- língua portuguesa. “Fedeiral” sugere um odor
contro entre forma e conteúdo é especialmente desagradável, de nojo, de emporcalhamento éti-
notável quando ambos os textos apresentam co e moral em que supostamente estaria então
rimas com os nomes de doenças (“reumatismo/ envolvido o governo central. Em Amazona-s, a
raquitismo”, “pneumonia/difteria”, dentre ou- segmentação demonstra como se relacionam as
tros exemplos possíveis). A surpresa se estabele- unidades e organizam os sentidos – o olhar, nesse
ce por causa desta conjugação inusitada entre o caso, é observador e descritivo. Veja-se que Ama-
harmônico e o desarmônico, o lúdico e o tétrico, zonas, para um brasileiro, referencia, de pronto,
o caricato e o macabro. Rio Amazonas ou Estado do Amazonas. Segmen-
tada a unidade, no entanto, os sentidos podem
b) Na canção, as doenças são múltiplas e repre- ser estes: amazona é mulher guerreira, corajosa;
sentam um conjunto perverso de vários males é mulher que monta a cavalo.
que assolam o Brasil. Há doenças que se rela-
cionam ao problema da fome e da miséria social Outro aspecto é que o _V, assim demarcado em
(raquitismo, cárie), doenças que representam Amazona-s, sugere mudança de sentido. “Na
o problema do descaso do Estado com a saúde Bahia ten” e “Cergipe” fazem parte de um jogo
pública (raiva, tuberculose) e doenças relacio- de outra ordem. Algumas letras, ora ganham sig-
nadas à questão do baixo índice educacional do nificado, ora o perdem, conforme seja o contexto
país (cisticercose, tétano, sarampo). Há ainda em que aparecem. Usar “n” ou “m”, no final de
as doenças psíquicas ou psicossomáticas repre- palavra, é convenção: a substituição de um pelo
sentativas dos problemas da vida estressante e outro não implica mudança de sentido, tampouco
solitária das grandes cidades (encefalite, farin- de som. Do mesmo modo, pode-se afirmar com
gite, cleptomania). Finalmente, ainda se podem relação a Cergipe: Cergipe ou Sergipe, Ceará ou
apontar os males morais e emocionais (rancor, Seará. Em todos esses exemplos, o humor pro-
ciúmes, estupidez, hipocrisia) de uma sociedade vém de uma brincadeira, que sugere, no entanto,
marcada pela competitividade e pelo individua- uma atmosfera de insatisfação com as formas de
lismo exacerbado. linguagem vigentes, com seus limites, com a fra-
gilidade das convenções. Reforce-se, ainda, que o
sujeito lírico se disfarça de criança, daí os cons-
tantes e inventivos “erros” de ordem gramatical.
111) Gab: A
b) Espera-se que o candidato explore, em ambas as
imagens, o diálogo que estabelecem com a tradi-
112) Gab: ção cultural: em Oswald, nos ramos de café que
representam parcialmente alguns estados da Re-
As transformações vivenciadas pela sociedade alemã pública, podemos ver uma alusão à imagem re-
pós-queda do Muro de Berlim repercutem tanto na corrente nos cadernos distribuídos pelo governo
paisagem da cidade, através de antenas parabólicas aos estudantes das escolas públicas e, ainda, um
e anúncios de marcas que são ícones do capitalismo, deboche em relação a alguns dos símbolos mais
tais como Coca-Cola e Burger King, como, de maneira caros à brasilidade; em Leminski, uma releitura
mais profunda, na subjetividade do indivíduo (a subs- do ideograma, atribuindo-lhe um novo sentido a
tituição de referenciais ideológicos do comunismo partir da metáfora do “sangue dos três versos”.
por referenciais capitalistas). A relação com o tempo, Assim, o candidato poderá acrescentar às possi-
a fixidez no trabalho, os valores de companheirismo e bilidades semânticas das imagens aspectos pro-
assistencialismo da antiga república são varridos pelo venientes da análise dos textos: a voz do folclore
novo modo de vida do capitalismo hegemônico em e das brincadeiras infantis relida pelo discurso
que os valores estão a serviço da produção e da mo- urbano-industrial em “Brinquedo”, de Oswald de
dernização. Andrade; valores da cultura romântica e da orien-
tal, relidos pelo sujeito lírico contemporâneo nos
Nesse novo mundo unificado, tudo que parecia fixo poemas de Paulo Leminski. Em ambos os livros,
e perene torna-se perecível, como ilustra a cena em destaca-se a presença do humor e da irreverên-
que a estátua de Lênin é transportada. Em meio a essa cia. No caso do Primeiro Caderno, há marcas esté-
transformação e a esse conflito de valores, o filme re- ticas e históricas que o localizam com precisão em
trata indivíduos pressionados pelo mundo capitalista. nosso Modernismo (ver, por exemplo, a referên-
cias aos “bondes da Light”); no caso de Distraídos
venceremos, além da declarada herança oriental,
há marcas ideológicas que identificam um com-
113) Gab:
portamento crítico quanto a valores e instituições
a) Os modos de representar graficamente Capi- conservadores (ver, por exemplo, texto 2: “cora-
tal Fedeiral, Amazona-V, Na Bahia ten e Cergipe ções trocando rosas, / e socos”).
revelam um jogo divertido com as palavras da
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114) Gab: gêneros textuais diferentes: o tópico explicativo
e a canção Bye Bye, Brasil. O tópico explicativo se
a) De acordo com o texto, o ciúme e a inveja tomam constrói com características da narração, desta-
bens por objeto – bens próprios no primeiro caso cando a transformação socioeconômica em um
e de outrem no segundo. Enquanto o ciúme é texto informativo, com base em dados, cifras e
definido como uma paixão que envolve o temor datas; já a canção se limita a citar um fato e sua
de perder a posse de um bem, a inveja liga-se a consequência utilizando-se de recursos poéticos
um sentimento de desgosto de ver acontecer um como versos, rima e ritmo.
bem a alguém julgado indigno do mesmo.

b) De acordo com o texto, o ciúme pode se dever


à má opinião que o ciumento faz de si próprio, 118) Gab:
à sua propensão a considerar-se indigno do bem
que teme perder. a) “Te vendo, medito: foi negro, foi índio ou foi cris-
tão?” (Serão aceitas também as formas abrevia-
c) Para o autor do texto, a generosidade e o senso das:
de justiça são virtudes capazes de fazer frente à
inveja. “Negro, índio ou cristão?” [verso 12] e “Foi negro,
foi índio ou foi cristão?” [verso 17]) O eu lírico
questiona no refrão quem ou o quê seria respon-
sável pelo ser que se formou e desenvolveu entre
115) Gab: A 1500 e o presente do narrador.

Percebe-se também uma referência ao retorno às


raízes culturais e à miscigenação.
116) Gab: B
b) Trata-se de um ser que tem existência desde a
“era cristã de 1500” até o presente da elocução
117) Gab: do eu-lírico (“estes tempos severos de hoje”), o
que exclui a possibilidade de ser uma pessoa indi-
a) COMENTÁRIO DA PASSAGEM NÚMERO: 1 vidual. Serão aceitas respostas que contemplem
entes genéricos, como: o Brasil, o povo brasileiro
A globalização criou novos procedimentos de im- etc. Com a devida justificativa.
portação e exportação de produtos, criando no-
vos hábitos de consumo até então impensáveis c) “Da era cristã de 1500
(fliperama, calça Lee, patins, sandálias havaianas).
Até estes tempos severos de hoje,”
COMENTÁRIO DA PASSAGEM NÚMERO: 2

Observa-se, nesse segmento, parafraseando Flá-


via Oliveira, a ideologia do “emprego fácil de bai- 119) Gab:
xa qualificação”. a) O candidato deverá responder a todos os
COMENTÁRIO DA PASSAGEM NÚMERO: 3 itens, em norma culta, com coerência, correção e
clareza.
O setor de comunicação de telefonia sofreu pro-
fundas alterações desde o processo de privatiza- Interpretação do título “Ao pé da pena” apontan-
ção até a adoção da telefonia móvel. Hoje, a ficha do a ambiguidade da palavra pena: o ato de es-
telefônica parece ser um objeto do passado. crever e o instrumento da escrita, bem como a
angústia e o sofrimento do poeta.
COMENTÁRIO DA PASSAGEM NÚMERO: 4
O candidato deverá relacionar o texto ao seu res-
Percebe-se no fragmento uma visão das diferen- pectivo momento literário: Pós-Modernismo ou
ças regionais do Brasil, reunificadas, agora pela Contemporaneidade.
mídia, antecipando um processo de massificação.
Interpretação do poema “Inania Verba” apontan-
COMENTÁRIO DA PASSAGEM NÚMERO: 5 do o uso do vocabulário culto, erudito, elitizado e
a luta que o poeta trava com as palavras no fazer
Percebem-se, no fragmento, movimentos migra- poético, pois essas acabam sendo insuficientes,
tórios caracterizados pelo transporte rodoviário, impróprias, inatingíveis e fugidias.
descaracterizando, de certa forma, os habitos ru-
rais. O candidato deverá relacionar o texto “Inania Ver-
ba” ao momento literário do Parnasianismo.
b) A matéria publicada em O Globo se vale de dois
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b) O candidato deverá explicar o sentido da A situação de violência indiscriminada no Rio de
palavra “asa”, associando-a a palavras que sem- Janeiro em contrapartida com uma atitude tran-
pre emigram do seu meio, ou seja, as palavras qüila expressa na foto.
voam, libertam-se, soltam-se, evanescem-se e se
vão. c) Os cariocas não andam mais de braços abertos,
mas de braços para o alto, pedindo a Deus que
O candidato deverá associar a imagem de “sepul- nos proteja. Ou: Antes das bicicletas, queremos
cro” ao aprisionamento de ideias, uma vez que ter mais segurança.
escrever é sepultar para sempre uma ideia, sen-
timentos e emoções. d) O pronome “isso” aponta e resume a crítica que o
locutor faz à atitude do governador em sugerir o
Para a palavra “boêmios”, o candidato deverá ex- uso de bicicletas no Rio, ignorando a situação de
pressar o descompromisso das palavras, boêmias intranqüilidade provocada pela violência.
e irresponsáveis em sua busca pela liberdade e
aventura.
124) Gab:

120) Gab: 99 a) Em “À beira de teu corpo”, de Afonso Felix de Sou-


sa, a segunda pessoa do discurso é o filho morto
e o eu lírico encontra-se diante do corpo dele. Já
em “In extremis”, de Olavo Bilac, a segunda pes-
121) Gab: D soa é a mulher amada e o eu lírico encontra-se à
beira da morte.

b) No primeiro poema, a atitude do eu lírico diante


122) Gab: do filho morto é de incompreensão. No segundo
a) Trata-se da palavra veículo, que pode significar (1) poema, a atitude do eu lírico em relação à própria
“qualquer meio usado para transportar ou condu- morte é de não aceitação.
zir pessoas, animais ou coisas, de um lugar para
outro” ou (2) “qualquer coisa capaz de transmitir,
propagar, difundir algo”. Na expressão “veículo de 125) Gab:
cultura” o sentido de veículo é, claramente, (2).
O humor da tirinha está em que Mafalda toma a No primeiro texto, Millôr Fernandes expressa uma ati-
palavra no seu sentido (1). tude niilista, pois conclui que a espécie humana, ex-
tremamente agressiva, canalha e miserável, “não fará
b) O sentido crítico depreensível da tirinha provém a mínima diferença à economia do cosmos” quando
da associação entre os ruídos emanados do tele desaparecer. No segundo texto, Antero de Quental
visor, que sugerem o conteúdo violento e “ape- exprime uma postura orientada pela esperança, pois
lativo” da programação, e a idéia de cultura, não acredita que a dor constante da vida e a devastação
no sentido antropológico da palavra (“conjunto gerada pelo homem são compensadas pela perspecti-
de padrões de comportamento, crenças, conheci- va final da existência, da qual se divisa o grande ideal
mentos, costumes etc. que distinguem um grupo do Amor.
social”), mas como sinônimo de “ilustração”, “ca-
bedal de conhecimentos”. Longe de ser “veículo
de cultura”, a televisão seria – sugere a tirinha –
um veículo de barbárie. 126) Gab:

A ação diversionária correspondia ao “projeto de in-


vadir o Paraguai pelo norte”. Isso seria o contra - pon-
123) Gab: to do ataque aliado ao exército paraguaio em outra
frente, subindo o rio Paraguai, a partir da República
a) A óbvia preocupação com a possibilidade de rou- Argentina, até o centro da República do Paraguai. Ha-
bos não incomoda Cabral. veria, assim, a convergência de esforços simultâneos
para vencer o Paraguai. Um diversionário, para des-
b) Entre outras possibilidades: viar a atenção, auxiliando, assim, o outro, que levaria,
A diferença do clima entre Paris e Rio de Janeiro, se fosse realmente efetivado, à vitória mais rápida.
visível nas marcas de suor no rosto do Cristo;

A situação inesperada de o Cristo (símbolo da ci- 127) Gab:


dade) estar andando de bicicleta;
Hamleto vive o dilema de governar um país republica-
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no e não acreditar na república e seu sistema. Está di- 1. Identificar a manipulação de informações que
vidido entre lutar contra o federalismo, a Constituição impedem sobretudo o cidadão comum de ter
Republicana, o modelo econômico norte-americano acesso ás informações corretas acerca dos acon-
ou defender os princípios republicanos. Expressa no tecimentos que afetam sua vida.
poema a consciência de que, se não agir conforme
as leis republicanas, pode ser deposto. Assim, o di- 2. Identificar a suprema dos interesses econômi-
lema é instaurado, e Hamleto não sabe mais se é um cos e políticos em detrimento das questões so-
“Presidente”, um “Ditador” ou um “cacique”. Pode ciais, humanas.
desistir da Presidência, e “morrer, dormir... dormir...
ser deposto... mais nada.”, ou lutar para ser re-eleito, 3. Identificar a omissão dos responsáveis pelas
e “Cair, degringolar no abismo”, e se submeter às leis grandes tragédias sociais.
da República.

132) Gab:
128) Gab: 27 a) O candidato deverá mencionar o tema da morte
comum aos dois textos e explicar, de modo com-
pleto, como o sujeito-lírico se manifesta nos dois
129) Gab: textos. Assim sendo, o aluno deverá responder
que no primeiro texto o poeta é contido e trata
O texto de Adonias Filho, que tem como pano de fun- a morte com eufemismo, usando o verbo dormir
do a revolta dos Alfaiates, ilustra a força e a prepo- para exprimi-la. a contenção está também quan-
tência do governo da Bahia, implacável frente aos ad- do o sujeito-lírico argumenta que a vida é mes-
versários políticos. Na narrativa, evidencia-se o poder mo triste, que Glaura permaneceu no sono, uma
opressor do governo que promove o enforcamento, vez que nasceu. Por fim, a morte é vista como
em praça pública, de alguns insurretos, para que sir- aconchego e recolhimento, mas sem o transbor-
vam de exemplo a outros que alimentem o desejo de damento dos românticos e pré- românticos. A
libertação. Do mesmo modo, o fragmento extraído do cantiga de ninar encerra o tratamento eufêmico
romance “Viva o Povo Brasileiro”, de João Ubaldo Ri- da morte. No segundo poema, o sujeito-Lírico
beiro, expõe a crueldade da polícia do governo contra manifesta seus sentimentos de forma transborda-
aqueles comprometidos com Antônio Conselheiro. da, pois fala das lágrimas e do lamento incessan-
Em “O Último Vôo do Flamingo”, o fragmento mos- te desde a morte da amada. Para o sujeito-lírico,
tra que a sonhada independência de Moçambique, nada vai trazer a amada de volta nem abrandar
Tizangara, não trouxe harmonia com o mundo para seu tormento eterno.
as vítimas da colonização. A violência e os interesses
internos e externos continuam a marcar aquela socie- b) O candidato deverá mencionar e explicar duas
dade no pós-guerra do país. A personagem — vítima marcas textuais de derramamento lírico no se-
da violência de um grupo que está em posição domi- gundo texto tais como: “O”, “Ai”; adjetivos: “des-
nante — pontua que, para haver mudança, os indiví- graçados”, “duros”, “míseros”; interrogação, ex-
duos precisam “matar” as conseqüências dos desas- clamações, versos mais longos.
tres, da opressão e da violência na sua subjetividade.
Confirma-se, nos três episódios, a lógica do poder es-
tabelecido, cruel, e muitas vezes injusta, diante dos 133) Gab:
mais fracos.
a) TEXTO I “As mudanças foram muito modestas”,
Evanildo Bechara
130) Gab: A 1. Era necessário uma reforma em que a manei-
ra de grafar as palavras ajudasse as pessoas a
pronunciá-las corretamente.
131) Gab:
2. Hoje com a rede escolar, com o rádio, com a
a) 1.Identificar o “fenômeno ecológico” como sendo televisão é diferente. Esses meios de comuni-
a causa para p surgimento de novos vírus e novas cação ajudam mais na difusão da pronúncia
epidemias que vitimam as pessoas. correta do que a ortografia.

2. Fazer referência á gripe suína (H1N1) e à ce- 3. Basta ver que há casos em que as pessoas
gueira “branca” como sendo metáforas da aliena- pronunciam a palavra de um jeito diferente
ção e do caos social. do indicado pela grafia.

b) O candidato deverá: TEXTO 2 “Nó górdio é a vaidade e a pequenez”,

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Ângela Dutra de Menezes 137) Gab: C

1. As diferentes versões do nosso idioma não


anulam a realidade de sua unidade.
138) Gab:
2. Ou assumimos as diferenças que nos aproxi-
mam ou continuaremos alimentando nossa
triste vocação para o nada.
139) Gab:
3. Acredito que leio e, desde criança, leio os au-
tores portugueses no “original”. Hoje, faço o
mesmo com escritores angolanos e moçam- 140) Gab: E
bicanos e, se tropeço em uma palavra, enri-
queço o meu vocabulário com leve toque no
teclado do computador: um dicionário ele-
trônico esclarece minha dúvida. 141) Gab: A

b) Tony Beloto reconhece a importância de mudan-


ças na ortografia por entender que a língua é um
organismo vivo. Quanto ao seu trabalho, tais mu- 142) Gab: D
danças não interferem, sobretudo porque ele tra-
balha com a reprodução da fala.
143) Gab: A

134) Gab:
144) Gab: B
Na narrativa, o pai do narrador-tradutor personagem,
Sulplício, é o guardião dos valores ancestrais de Tizan-
gara (território imaginário) que se afasta da família
por muitos anos e regressa na esperança de reencon- 145) Gab: 87
trar a vida, a identidade de uma nação em ruínas no
pósguerra; enquanto o filho é testemunha e tradutor
do desaparecimento da nação e é também aquele
que crê na possibilidade de construir uma nova pátria 146) Gab: 30
e acredita na colaboração do estrangeiro para atingir
tal fim. O pai discorda do filho por achar que este tei-
ma em “servir aos mesmos que o haviam arruinado” 147) Gab:
(p. 135), além de julgá-lo imaturo para entender o
processo histórico colonial em que ele vive. As três narrativas sustentam um ponto de vista que
denuncia a escravidão, embora cada uma o faça atra-
O candidato deve apontar que vés de estratégias distintas.
· Sulplício possui um ponto de vista mais realista Em Equador, mostra-se a condição desumana dos tra-
quanto às conseqüências da colonização; balhadores negros transplantados para São Tomé e
Príncipe que os escraviza, apesar de serem, por lei,
· ele, devido à sua experiência de vi da, não acredi-
cidadãos portugueses.
ta na “boa intenção” de quem pertence à cultura
tradicional colonialista, possui vínculo com a Eu- Luís Bernardo assume a defesa dos dois réus por con-
ropa e é herdeiro de empresa colonial; sidera-los cidadãos como quaisquer outros.
· o narrador-tradutor confia na relação com os eu- Em Viva o Povo Brasileiro, a personagem Dafé é apre-
ropeus no processo pós-colonial e acredita que, sentada como um ser humano movido por princípios
finda a guerra, é possível construir a paz com a morais elevados, num momento em que toda a sua
participação deles. afetividade se manifesta em carinho pelo seu avô.
Nego Leléu representa o negro liberto que busca me-
canismos para vencer as dificuldades que a vida lhe
135) Gab: C apresenta. Torna-se comerciante e adota Dafé como
neta, educando-a e transformando-a no sentido de
seu viver. Assim, através dele, na obra, enxerga-se a
possibilidade de o negro sair da condição de escravo
136) Gab: A e alcançar uma função no mundo do trabalho livre.
Finalmente, em As Vítimas Algozes, contrastando com
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o ponto de vista sobre o negro dominante nas duas dronização da moda.
primeiras obras, o escravo é apresentado como um
ser aviltado pela condição desumana da escravidão, OU
que o torna cruel, perigoso, incapaz de sentimentos
positivos. Lucinda é a vítima da escravidão que cor- O autor condena o fato de a geração hippie se ape-
rompe, perverte Cândida, destruindo-lhe a inocência gar excessivamente a comportamentos radicais
e a pureza. Assim, o negro escravizado constitui uma (irreverentes) como expressão de liberdade. Isso
ameaça aos senhores e isso só será findo com a aboli- pode ser ilustrado pelo exagero de tempo para a
ção da escravidão. Essa é a tese do autor. execução dos solos de guitarra, pela preocupação
com o lado intelectual em situações inadequadas,
pela padronização da moda.

148) Gab: C b) A quebra na interação entre os dois personagens


ocorre pelo fato de que o interlocutor rompe com
a idéia mística apresentada pela hippie, consta-
tando que ela apresentava um problema físico.
149) Gab:
OU

O interlocutor não dá seqüência ao tema místico,


150) Gab: esotérico iniciado pela hippie, mudando o tema
do plano transcendental para o plano físico.

OU
151) Gab:
No último quadro, o interlocutor recusa a propos-
ta de prosseguir com o assunto esotérico, místico
152) Gab: E e apresenta uma afirmação sobre a aparência físi-
ca do locutor, desqualificando-o.

153) Gab: E
155) Gab: C

154) Gab:
156) Gab:
a) O autor define os comportamentos da geração
hippie como sendo repulsivos, insuportáveis, in- a) O fato de Hagar ter entendido “problemas em
toleráveis, em virtude do exagero das atitudes casa” como se fossem “problemas conjugais”.
contrárias à ordem estabelecida. Isso pode ser b) A polissemia da expressão “problemas em casa”,
ilustrado pelo culto excessivo ao rock, à liberdade pois abre-se a possibilidade para se entender
sexual, às roupas extravagantes para marcar sua “casa” como “casamento” e não apenas como um
rebeldia diante do tradicional. “lugar destinado à habitação”.
OU

O autor define os comportamentos da geração 157) Gab: B


hippie como sendo repulsivos, insuportáveis, in-
toleráveis, em virtude do exagero das atitudes
contrárias à ordem estabelecida. Isso pode ser
ilustrado pelo culto excessivo ao rock, à liberdade 158) Gab:
sexual, às roupas extravagantes para marcar sua
rebeldia diante do tradicional. No conto, percebemos que ensinar não é apenas pas-
sar conteúdo de forma que só o professor sabe e fala
OU e os alunos escutam passivamente, sem participar do
aprendizado.
O autor mostra-se saturado com o culto excessivo
da geração hippie ao rock, à liberdade sexual, às Nos quadrinhos, a idéia é contrária, mostra-se a figu-
roupas extravagantes para marcar rebeldia dessa ra de um professor conteudista, que não está preo-
geração diante do tradicional. Isso pode ser ilus- cupado com o aluno, mas que quer apenas terminar
trado pelo exagero de tempo para a execução dos a matéria.
solos de guitarra, pela preocupação com o lado
intelectual em situações inadequadas, pela pa- No conto, o professor aprende com o aluno e o vê
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crescer, apesar das dificuldades. Nos quadrinhos, o 162) Gab: C
professor não aprende com o aluno e também não vê
o resultado de seu trabalho.
163) Gab: C

159) Gab:

A resposta deve contemplar a relação solicitada, con- 164) Gab:


siderando que
a) “Dar bola” é uma expressão que o uso coloquial
No quadro de Dali, os relógios podem simbolizar, por consagrou, com o sentido de “dar importância”,
exemplo: “importar-se” com algo.

•A falta de sentido do tempo, visto que há três re- A expressão “campos” significa também “âmbito”
lógios marcando horas distintas e um relógio fe- e, nessa acepção, tem largo emprego; a Física,
chado. a Sociologia, a Medicina dão também à palavra
”campo” significações próprias, pertinentes a es-
• O sentimento de decomposição da vida. sas esferas do saber.

•A transitoriedade, a efemeridade e a brevidade da


vida.
b) “Sob medida” encerra tanto a noção de exatidão,
• A impossibilidade de realizar os sentidos da existên- justeza, como a de algo construído a priori , pre-
cia. viamente destinado a determinada função ou fi-
nalidade. No texto, pode-se entender tanto que
•A dissolução do tempo, considerado como elemen- os “boleiros” são objeto de mensuração, de estu-
to organizador. do científico, como também que estejam sendo
“fabricados”, “produzidos” pela medicina esporti-
• A falta de significado da passagem linear do tempo.
va, em função das posições táticas que desempe-
• A representação de um mundo sem interferência do
nham nas partidas.
tempo.

165) Gab:
No poema de Drummond, os relógios (por metoní- a) O terceiro parágrafo pode ser escandido seja em
mia, “hora”) podem simbolizar, por exemplo: versos redondilhos menores (cinco sílabas mé-
•O ritmo lento da vida na província como organiza- tricas), seja em hendecassílabos (onze sílabas),
ção do sentido da existência e da memória. que se formam da junção de dois pentassílabos.
O penúltimo parágrafo do texto (“Boi bem bra-
• A organização do sentido da existência. vo…”) pode ser escandido seja em versos trissi-
lábicos, seja em redondilhos maiores (sete síla-
• A permanência da memória ao longo da vida. bas).
• O tempo como elemento para dar sentido à vida. b) O terceiro parágrafo contém catorze versos pen-
tassilábicos ou sete hendecassilábicos. O penúl-
•A possibilidade de o tempo produzir múltiplos sig- timo parágrafo contém doze versos trissilábicos
nificados. ou seis heptassilábicos.
•A presença do tempo como fragmentação da exis-
tência.
166) Gab: E
• O tempo como marcação da vida do eu lírico.

167) Gab: D
160) Gab: A

168) Gab:E
161) Gab: D

169) Gab:
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a) A frase indica que a economia argentina conse-
guiu vencer a situação gravíssima em que se en-
contrava. 182) Gab: C

b) A tese defendida por Rodolfo Konder é a de que


“há um chacal adormecido em cada homem” (na
expressão de Charles Darwin), isto é, a maldade 183) Gab: B
é inerente ao homem, tornando-o capaz de pro-
duzir tragédias e sofrimentos, como a guerra. Os
delatores, torturadores, fanáticos, predadores 184) Gab: B
etc., apontados pelo autor, são os representan-
tes da metáfora dessa maldade.

Conforme o autor, a guerra é o momento em que 185) Gab: B


as figuras socialmente patológicas têm a chan-
ce de se manifestarem livremente. Em situações
normais da vida, habitualmente, ficam escondi-
186) Gab: C
das, ocultas.

187) Gab: E
170) Gab: D

188) Gab: C
171) Gab: A

189) Gab: B
172) Gab: E

190) Gab: E
173) Gab: C

191) Gab: B
174) Gab: E

192) Gab: C
175) Gab: B

193) Gab: E
176) Gab: A

194) Gab: E
177) Gab: C

195) Gab: C
178) Gab: D

196) Gab:A
179) Gab:A

197) Gab:A
180) Gab: C

198) Gab:A
181) Gab: D

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199) Gab: c) Aos indivíduos do sexo masculino.

200) Gab:
210) Gab–1: B
201) Gab: Gab–2: D

Gab–3: A

202) Gab: Gab–4: E

Gab–5: A

203) Gab: B Gab–6: E

204) Gab: C 211) Gab: A

205) Gab: 212) Gab: D

a) “A. diz que está investindo no futuro.”

b) A ironia consiste na idéia de que, com o salário- 213) Gab:B


-mínimo que existe no Brasil, a única perspectiva
de futuro é a morte, isto é, a ausência de futuro.
214) Gab: C

206) Gab:

a) a simplicidade / o esplendor / o luxo 215) Gab: C

b) a glória / a magnitude / o reflexo (da luz)

c) elementos: água e luz efeito: arco-íris de plumas 216) Gab: B

d) elementos: água e luz efeito: máximo de matizes


217) Gab: D

207) Gab: C
218) Gab: E

208) Gab:

a) Que em 2000 haverá mais ocorrências do que 219) Gab: D


em 1999.

b) Que as pichações sejam enquadradas como cri-


220) Gab: D
mes inafiançáveis e que os pichadores sejam
trancafiados em presídios por longos anos.

221) Gab: D
209) Gab:

a) …quando tal fêmea atinge seu objetivo. 222) Gab: E


b) Fingidas (fingem amor), aproveitadoras, não
confiáveis.
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223) Gab:A 235) Gab: D

224) Gab: A 236) Gab: B

225) Gab: E 237) Gab: B

226) Gab: D 238) Gab: C

227) Gab: B 239) Gab:C

228) Gab: 240) Gab: C


a) “Passei bem junto a ela. E decerto

Ela nem soube que eu passei tão perto 241) Gab: E


E nem suspeita que eu segui chorando!”

Esse trecho deveria pertencer ao último terceto 242) Gab: D


do soneto, segundo indicação do próprio narra-
dor: “Guardei por uns tempos o final, aquilo que
os parnasianos chamavam de ‘chave de ouro’”.
243) Gab:A
b) A expressão “lascívia contrariada” alude aos
desejos reprimidos do poeta Domingos da Silva
Cardim. Tratase de uma alusão de tonalidade hu-
244) Gab: C
morística, com a qual o narrador insinua que os
apetites sexuais da personagem nunca se consu-
maram no plano físico. Seu coração volúvel e sua
fealdade acabaram por condená-lo a viver sem a 245) Gab: C
plena satisfação dos sentidos.

246) Gab: D
229) Gab: B

247) Gab:

a) Pelo contexto, a fala de Helga deve ser interpre-


230) Gab: D tada como “Você que café?”

b) Hagar interpretou a fala de Helga da seguinte


forma: “Isto é café?”
231) Gab: E
c) Para um falante comum, seria altamente im-
provável interpretar, em situações normais, que
Helga estivesse perguntando se aquilo era café.
232) Gab: C
Ele, por conhecimento pragmático, diria apenas
“sim” ou “não”. Hagar, ao responder “Sim… acho
que é”, quebra a lógica do cotidiano e, com isso,
233) Gab: D obtém o efeito de humor.

234) Gab: C 248) Gab: B


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