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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MATO GROSSO do SUL.

Resumo sobre a o livro: A DOMINAÇÃO MASCULINA (Pierre Bourdieu, Tradução de Maria H.


Khuner. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012).

Este livro nos mostra como ocorre a dominação a partir da visão masculina, da qual domina
toda a ordem social, por meio de uma visão androcêntrica. Porém de modo pouco perceptível, pois
ocorre por meio de símbolos e significados. Pierre Bourdieu fez sua pesquisa observando os
comportamentos do qual passou na região da Argélia, mais precisamente a sociedade Cabila na
década de 60, analisando seus mecanismos históricos. Para explicar todo esse processo de
dominação ele faz uso de pares de palavras organizada de modos dicotômicos, palavras essas que
estão divididos em dois grupos: no primeiro estão tudo o que pertence ao mundo masculino e no
segundo aquilo que é pertencente ao feminino. Segue alguns exemplos: Homem\mulher –
alto\baixo – forte \fraco- seco\molhado – grande\ pequeno – penetrante\ penetrável – branco\ preto
– adulto\criança – público\privado – direito\esquerdo...

Este livro está dividido em três capítulos sendo que, no primeiro o autor vai dar enfoque, na
violência simbólica da qual é o eixo central da dominação, ocorre por meio da divisão e
diferenciação do corpo masculino e feminino bem como essa mesma diferenciação corre na divisão
do trabalho e da ordem social como um todo, sempre colocando o masculino em uma ordem
primeira. Se tornando uma verdadeira reação de poder, e que as mulheres interiorizam essa
dominação como algo natural, como um eterno modo de ser feminino, a submissão. Segundo
Bourdieu (2012, p. 34) a divisão dominante se da seguinte forma:

Inscrita nas coisas, a ordem masculina se inscreve também nos corpos através de injunções
tácitas, implícitas nas rotinas da divisão do trabalho ou dos rituais coletivos ou privados (basta
lembrarmos, por exemplo, as condutas de marginalização impostas às mulheres com sua
exclusão dos lugares masculinos. As regularidades de ordem física e de ordem social impõem
e inculcam as medidas que excluem as mulheres das tarefas mais nobres (conduzir a charrua
por exemplo), assimilando-lhes lugares inferiores (a parte baixa da estrada ou do tabule),
ensinando-lhes a postura correta do corpo (por exemplo, curvadas com os braços fechados
sobre o peito, diante de homens respeitáveis...

Essa forma de violência é exemplificada segundo Bourdieu (2012, p.46) ‘‘[...] como algo
oposto do real, de efetivo, a suposição é de que violência simbólica seria uma violência meramente
‘‘espiritual’’ e, indiscutivelmente, sem efeitos reais’’. Agindo sobre esses corpos dominados como
uma magia.

Em suas observações na sociedade Cabila, foi notado que a criança ao nascer é colocada
ao lado direito da mãe, ou seja ao lado masculino, ao menino os ritos de passagem sempre eram
de liberdade e virilidade, enquanto a menina é vinculado ao segregado como a virgindade, estar
pronta ao casamento, modo de vestir, ter o mover e o comportar correto do corpo, manter o olhar
inclinado para baixo, assumindo uma postura submissa... o autor deixa expresso em seu livro que
essas situações de submissões se aplicam as mulheres nos Estados Unidos, Europa...

Para Bourdieu (2012) esse processo de dominação é produto de agentes específicos entre
ação de violência física bem como simbólica juntamente com a ação das instituições, Igreja, Escola
e Estado, onde dominados tomam para si a ordem do dominador. Nesta conjuntura social a mulher
é meramente reduzida um objeto enquanto ao homem cabe um lugar de enaltecimento sujeito.

Da mesma forma o autor se utiliza dos estudos de Virginia Woolf em que a autora demonstra
que a dominação já está de modo interiorizado, pois de acordo com seus estudos na França as
mulheres preferem parceiros mais velhos e altos, pois quantos aos menores e mais novos traz a
elas o sentido de inferioridade. Nessa Seara de dominação, alguns símbolos como honra e
virilidade são conceito de ordem masculina que garantem aos homens o distanciamento do mundo
feminino, do qual eles tanto temem, em nome dessa virilidade por medo de ser exclusos do mundo
dos homens, acabam por seguir à risca todos os tipos de transgressões como: estupros coletivos,
visitas a bordeis, torturas, assassinatos, valentias e questões desta natureza, a fim de mostrar sua
bravura.

Já no capítulo II, o autor traz a questão comparativa onde a masculinidade é dada como
nobreza, ou seja, algo que esteja em destaque aos demais exaltando o masculino e provocando
um desligamento do o universo feminino, e nesta ordem já para além da Cabília, bem como em
praças, escolas, jogos e espaços e trabalho, trazendo inúmeros exemplos, mostrando que há uma
separação do menino do universo da menina nesse processo de jogo de dominação, pois a
sociedade está moldada em um mundo sexualmente hierarquizado, onde nesta ordem a mulher é
reservada a questões tratadas como naturais, não questionáveis, onde há dois polos: o dominante
e o dominado e neste jogo as mulheres ocupam a posição da renúncia e não do domínio.

Trazendo também a questão das cores imbricadas no universo de meninos e meninas onde
carregam consigo significados, assim como os diferentes pesos que se dá a uma mesma profissão,
quando ela é exercida por um homem ou por uma mulher, exemplo disso a culinária. Mulheres
reduzidas a objetos simbólicos, exigindo sempre padrões, sedução, agradar, vítimas de Sexismo
ou assédio sexual e necessitando de um protetor para impor respeito. Para Bourdieu (2012) os
espaços sérios são reservados ao homem assim como a política e já para as mulheres os espaços
reservados são aqueles configurados com fúteis, infantis, cegos e tontos...

O capitulo III traz concepções pautadas na permanência e mudanças, onde serão explanados
temas, como casamento enquanto contrato social, amor como dominação, e o papel das instituições
como família, escola e igreja na manutenção desse dinamismo dominante, bem como
homossexualidade e a importância dos movimentos feministas para impulsionar os direitos da
mulher e engajar um outro modo de ser neste contexto. Sendo assim, observa a relação de
dominação social mensuradas na questão do corpo, onde já é necessário separar o menino da
mãe, da divisão sexual do trabalho, mesmo a escola desprendida dos laços emanados da igreja
continua a transmitir os trios do patriarcado (homem\ mulher - adulto\criança), também nesta
contenda está inserida a família patriarcal como modelo de ordem social e moral dando manutenção
a esse processo de regras. E essa dominação se insere em uma ordem da heteronormativa que é
uma questão construída socialmente e dominante, ou seja, uma ordem que se inserem homens e
mulheres a partir de regras do pensamento masculino.

Quanto aos fatores de mudança social da mulher são impulsionados graças aos movimentos
feministas trazendo seus efeitos sendo eles: mulheres tendo acesso aos estudos, trabalho
assalariado, distanciamento do trabalho doméstico, métodos anticonceptivos, adiamento do
casamento, direito ao divórcio. Vale ressaltar que a tecnologia assim como os movimentos
contribuíram para que as mulheres ocupassem espaços de poder, contudo devemos relembrar que
é esse mesmo espaço torna lugar de dominação e ainda assim continuam sendo excluídas de
cargos de hierarquia, como na economia na finança e na política...
O autor vai tratar também da economia dos meios simbólicos e estratégias de reprodução,
a família burguesa tem sua manutenção por meio do Capital simbólico, ocorrendo pelo casamento
pois dá o poder dos bens ao outro, nesta Seara que serão abordadas a importância de algumas
cerimônias, bem inclusive aniversário, falar da importância que tem a refeição no ambiente familiar
bem como todo o ambiente que envolve o espaço doméstico, lugar privado que cabe a
subalternização da mulher. Fica expresso neste capítulo a questão do Comércio simbólico que é
tratado no corpo do homem e o que é ornamentado no corpo da mulher.
O amor é algo discutido aqui como ferramenta de dominação, principalmente quando ele é
dado como algo marcado pelo destino. Adivinha quem será o dominado? Se você logo pensou na
mulher, acertou, pois, a mulher assume o lugar da renúncia. Mulheres sendo mostradas como
perversas em nome do amor, Eva, Cleópatra... que levam homens a perdição, tudo isso é
orquestrado por essa mesma ordem...
Bourdieu vai tocar na questão da hierarquia do gênero, se a ordem é heterossexual então a
homossexualidade pode ser considerada ao olhar de uma ótica androcêntrica como uma
subversão, que afronta o conservadorismo que está a milênios de anos construídos, gays e lésbicas
são duplamente dominados, primeiro pela dominação masculina e em seguida pela subversão
heteronormativa, logo o autor não poderia deixar de falar do gênero para além do dualismo
masculino e feminino, trazendo luz para comunidade de gays e lésbicas onde abordam a questão
de opressão que passam da invisibilidade para visibilidade.
Então pude concluir que neste sentido, Bourdieu (2012) vai pontuar o modo operante da dominação
masculina que se constitui no meio social, no qual a família, a igreja, a escola e o Estado, têm sua
participação efetiva nesta construção, também chama atenção de como o feminismo é importante para
desmistificar essa construção. Para tanto, o autor acredita que somente uma ação política é capaz de criar
mecanismos para essa desconstrução e cabe a essas instituições fazê-lo.

BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 11. Ed. Tradução de Maria H. Khuner. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.

Por: Kátia Celene de Paula.


Resumo a ser apresentado na aula do Curso de Mestrado em Educação UEMS, na disciplina de
Tópicos I, 2º bloco, ministrada pelo professor Doutor Diogo da Silva Roiz. (2022).

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