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Cultura: o mundo humano

 Adaptar-se significa estar recluso a uma posição específica; é conformar-se (aceitar e


ocupar a forma), submeter-se, por isso, ao ter de buscar tudo que precisamos, romper a
acomodação e enfrentar a realidade passa a ser uma questão de necessidade, não de
liberdade. Que ferramenta temos? Não é a racionalidade, pois não basta pensar para que as
coisas aconteçam. Nossa interferência no mundo se dá pela ação transformadora consciente,
ou seja, uma capacidade de agir intencionalmente em busca de uma mudança no ambiente
que nos favoreça. A isso se chama trabalho ou práxis e seu fruto chama-se cultura: o conjunto
dos resultados da ação do humano sobre o mundo por intermédio do trabalho. Assim, nenhum
ser humano é desprovido de cultura, pois nela somos socialmente formados: o homem não
nasce humano mas torna-se humano na vida social e histórica da cultura, um processo de
humanização. Começa a cultura, começa o homem; começa o homem, começa a cultura. Os
resultados são de duas ordens: as idéias e as coisas, ambas duplas e a partir de necessidades
diversas: os produtos materiais têm uma idealização (é preciso pensá-las antes) e os produtos
ideais tem uma materialidade (partem da realidade). Porque nos são úteis, as chamamos bens,
é necessário reproduzi-los e, para isso, criamos outros bens: há então bens de consumo e
bens de produção. O mais importante bem de produção é o Humano e, nele, a Cultura, que,
por não ter transmissão genética (não se nasce sabendo), precisa ser recriada e superada.
Outro bem de produção básico é o conhecimento (o entendimento, averiguação e interpretação
sobre a realidade) e a educação é o veículo que o transporta.

Conhecimentos e valores: Fronteiras da não-neutralidade.

Manter-se vivo é intenção de todo ser vivo, mas, para o ser humano, só sobreviver com
base nos conhecimentos é
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como os valores, que dão sentido (significado e direção) e estabelecem uma ordem e um
posicionamento no mundo. Constituem uma moldura que abrange uma visão de mundo
(compreensão da realidade), uma informação (que dê forma aos conhecimentos) e conceitos
(entendimentos). Entretanto, valores, conhecimentos e conceitos (e pré-conceitos) devem
mudar porque ser humano é ser capaz de ser diferente. O significado dessas referências não é
do mesmo modo para todos, sempre, pois é moldado pela cultura, pela sociedade e pela
história dessa cultura, ou seja, todo símbolo (conhecimentos e valores) é relativo e não pode
ser examinado por si só. Embora a individualidade gere um ponto de vista particular sobre isso
tudo, a construção é coletiva, o que implica em uma vida política onde se negocia, produz e
conquista significado. Por isso a produção dos valores não é neutra, dependente do poder de
quem possui. A posição de predominância social significa, então, ter seus valores e
conhecimentos difundidos e aceitos pela maioria como se fossem próprios ou universais, seja
por imposição ou convencimento. O canal de conservação e inovação são as instituições
sociais, os responsáveis pelos processos educativos da longa infância humana. A educação
assim, além de ser basal, divide-se em vivencial/espontânea (vivendo e aprendendo) e
intencional/propositada (deliberada, em locais determinados com instrumentos específicos).
Por isso, os processos pedagógicos não são neutros, envolvidos que estão na conservação ou
na inovação do grupo. Ver além do próprio grupo, história, visão, conceito, significa uma visão
de alteridade que permite identificar no outro (e em nós mesmos) o caráter múltiplo da
Humanidade. É superar a obsessão evolucionista de que o passado é sinônimo de atraso, a
verdade uma conquista inevitável e a ciência a redenção da humanidade.... Não há um produto
acabado, mas por construir. 

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