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HZ379A - Oficinas de leitura e escrita em Humanidades

Prof. Bernardo Fonseca Machado


Luana Rodrigues de Moraes
RA 243538

28/09/2022
FICHAMENTO 1 - Fichamento sintético

Referência bibliográfica:
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras. 1995.
(Capítulos 1, “Fronteiras da Europa”, p. 29 a 40 e Capítulo 5, “O Homem Cordial”, p. 139 a
152)

1 - Título: Capítulo 1 - FRONTEIRAS DA EUROPA

2 - Objetivo
O objetivo deste capítulo é analisar as particularidades da Europa ibérica e o modo
como se manifestou sua organização em contraste com a Europa protestante para explicar a
falta de coesão social no Brasil.

3 - Objetos
- Sociedade fronteiriça ibérica
- A herança cultural ibérica no Brasil
- Cultura da personalidade
- “(...) o traço mais decisivo na evolução da gente hispânica, desde tempos
imemoriais” (HOLANDA, 1995, p. 32)
- Falta de coesão na vida social
- Frouxidão institucional no Brasil

3.1 - Perguntas
- 1 - Até onde temos podido representar aquelas formas de convívio, instituições e
ideias de que somos herdeiros [os brasileiros de herança europeia ibérica]? (ibidem)
- 2 - Até que ponto poderá alcançar êxito a tentativa de trabalhar frutos no Brasil?
(ibidem)
- 3 - “Quais os fundamentos em que se assentam de preferência as formas de vida social
nessa região indecisa entre Europa e a África, que se estende dos Pireneus a
Gibraltar?” (ibidem, p. 32).
- 4 - “Como explicar muitas daquelas formas, sem recorrer a indicações mais ou menos
vagas e que jamais nos conduziriam a uma estrita objetividade?” (ibidem, p. 32)
- 5 - O sucesso da transformação súbita causada pela união em Estados Modernos é
razão para a persistência de hábitos de vida tradicionais dos povos ibéricos e, por
conseguinte, de sua originalidade? (ibidem)

4 - Metodologia
- “Materialismo histórico é sua linha interpretativa” (CÂNDIDO, idem, p. 11).
Encontra-se na conclusão do primeiro capítulo uma aplicação dessa lógica:
A experiência e a tradição ensinam que toda cultura só absorve,
assimila e elabora em geral os traços de outras culturas, quando estes
encontram uma possibilidade de ajuste aos seus quadros de vida.
(ibidem, p. 40)

- Análise simbólica e documental: “(...) a própria ânsia exibicionita dos brasões, a


profusão de nobiliários e livros de linhagem constituem, em verdade, uma das faces da
incoercível tendência para o nivelamento das classes” (ibidem, p. 37)
- “O círculo de virtudes capitais para a gente ibérica relaciona-se de
modo direto com o sentimento da própria dignidade de cada
indivíduo.”
- Pesquisa bibliográfica e literária: cita Gil Vicente, Dante, Alberto Sampaio, Francisco
Rodrigues Lobo.

5 - Argumentos
- Originalidade nacional de espanhóis e portugueses está no valor que atribuem à pessoa
(ibidem)
- “Cada qual é filho de si mesmo, de seu esforço próprio e de suas virtudes”
(ibidem, p. 32)
- Sobranceria, atitude de superação promovida por poetas, moralistas e governos, resulta
em tibieza da hierarquia ibérica.
- Essa tibieza de hierarquias, ou frouxidão de estrutura, gerou nas nações
hispânicas, em Portugal e no Brasil episódios de elementos anárquicos.
- “Os decretos dos governos nasceram em primeiro lugar da
necessidade de se conterem e de se refrearem as paixões
particulares momentâneas.” (ibidem, p. 33)
- A falta de coesão social não é um fenômeno moderno
- Prestígio pessoal manteve-se mesmo sem que houvesse nome herdado:
- “E a verdade é que, bem antes de triunfarem no mundo as
chamadas ideias revolucionárias, portugueses e espanhóis
parecem ter sentido vivamente a irracionalidade específica, a
injustiça social de certos privilégios, sobretudo dos privilégios
hereditários.” (ibidem, p. 35)
- Nobreza nunca foi uma aristocracia fechada
- Instituição do amádigo: vilãos educavam os filhos dos nobres em troca
de privilégios e isenções
- As doutrinas de responsabilidade social não favorecem a associação entre os
homens
- A falta de racionalização da vida gera governos como força
unificadora: isso, nos tempos modernos, encontrou formas nas
ditaduras militares (ibidem).
- Trabalho manual e mecânico é inimigo da personalidade
- não há moral de trabalho como em outros povos
- fracas ideias de solidariedade são consequência
- Obediência como virtude suprema
- “único princípio político verdadeiramente forte” (ibidem, p. 39)
- “As ditaduras e o Santo Ofício parecem constituir formas tão típicas de seu
caráter como a inclinação à anarquia e à desordem” (ibidem, p. 39)
- jesuítas como representação “melhor do que ninguém” (ibidem, p. 39) da
disciplina pela obediência

6 - Conclusões
- Para o autor, brasileiros são muito parecidos aos povos ibéricos:
- “Nem o contato e a mistura com raças indígenas ou adventícias fizeram-nos
tão diferentes dos nossos avós de além-mar (...)” (ibidem, p. 40).
- o que responde a primeira pergunta: brasileiros de herança europeia ibérica
reproduzem as formas de convívio, instituições e ideias de que são herdeiros

- Seguir o princípio organizador mais forte, apontado pelo autor como a disciplina pela
obediência, caducou-se no Brasil, e por isso a instabilidade da vida social é tão forte.

1 - Título: Capítulo 5 - HOMEM CORDIAL

2 - Objetivos
O objetivo neste capítulo é contrastar valores cordiais e virtudes antifamiliares para
entender a formação de um indivíduo brasileiro que não se atrela ao tecido social
completamente.

3 - Objetos
- O homem cordial
- O Estado e a ordem familiar
- Crises:
- “a crise que acompanhou a transição do trabalho industrial” (ibidem, p. 142)
- “a crise de adaptação dos indivíduos ao mecanismo social” (ibidem, p. 144)
- Sistemas de produção
- Patrimonialismo/funcionalismo patrimonial
- O funcionário patrimonial vs. o puro burocrata
- Valores cordiais e virtudes antifamiliares
- Aversão aos ritualismos

4 - Perguntas
- Como o processo de formação do Estado brasileiro formou um cidadão que é o
homem cordial? Quem é o cidadão brasileiro?
- Como se manifestou no Brasil a transição de governança patriarcal familiar para a
Estatal burocrática?
- “O estudo dessas crises [que acompanham o processo que suplanta lei
particular por lei geral] constitui um dos temas fundamentais da história
social” (ibidem, p. 142)

5 - Metodologia
- Faz um intertexto com Antígona, a peça de Sófocles, para expressar a oposição entre
ordem familiar e Estado.
- Parece subverter a linha metodológica materialista anunciada na introdução de
Antonio Cândido e revista no capítulo 1, ao dizer que a transformação do indivíduo
em cidadão significa abolir a ordem familiar por uma transcendência, uma prevalência
do abstrato sobre o corpóreo (ibidem, p. 141).
- Essa linha metodológica parece restaurar-se quando Holanda menciona o sistema de
produção e a separação das classes produtoras que geram um sentimento de
irresponsabilidade dos que dirigem pelas vidas dos trabalhadores manuais (ibidem, p.
142).
- Um trecho revela um princípio evolucionista de teoria social:
- A formação e evolução da sociedade segundo conceitos atuais é precária onde
a ideia de família ainda é forte (ibidem, p. 144).
- Pesquisa bibliográfica: “sociólogo norte-americano” (ibidem, p. 142), “teorias
modernas” (ibidem, p. 143), “pedagogia científica da atualidade” (p. 143), Capistrano
de Abreu, Joaquim Nabuco, Max Weber (definição de ‘burocrata’), Friedrich
Nietzsche.
- Apoio na linguística: cita fenômenos linguísticos, como os diminutivos e a omissão do
nome da família no tratamento social.
- Arquivos históricos: cita dados e relatos de figuras religiosas, padre Fernão Cardim
em Pernambuco (“pernambucanas quinhentistas”) e Auguste de Saint-Hilaire em São
Paulo (1822).

5 - Argumentos
- Há uma oposição entre círculo familiar e Estado.
- “Pertencem a ordens diferentes em essência” (HOLANDA, 1995, p. 141) e o
Estado nasce da transgressão da ordem doméstica e familiar (ibidem, p. 141).
- O sistema moderno industrial estimulou antagonismos de classe (ibidem, p. 142)
- O novo regime facilita ao capitalista explorar o trabalho de seus empregados a
troco de salários mínimos e separa empregador e empregado. (ibidem, p. 142)
- A ordem familiar tradicional tende a desaparecer
- A formação e evolução da sociedade segundo conceitos atuais é precária onde
a ideia de família ainda é forte (ibidem, p. 144).
- vínculos familiares estreitos impõem limitações à vida individual (ibidem, p.
144)
- Em outras épocas, a paisagem doméstica contribuía para geração de virtudes,
prosperidade social e ordem entre cidadãos (ibidem, p. 145)
- No Brasil, há um predomínio constante do particular sobre o impessoal na gestão do
sistema administrativo (ibidem, p. 146)
- normas antiparticularistas não se sobrepõem aos “efeitos decisivos da
supremacia incontestável, absorvente do núcleo familiar” (ibidem, p. 146).
- No Brasil, o culto sem rigor e que dispensava diligência corrompeu o sentimento
religioso (ibidem, p. 150). Essa religiosidade transigente se confunde e perde força
política.
- “Não admira pois, que nossa República tenha sido feita pelos positivistas, ou
agnósticos, e nossa Independência fosse obra de maçons (ibidem, p. 150).

6 - Conclusões
- O desenvolvimento da urbanização no Brasil acarretou em um desequilíbrio
social (ibidem, p. 145), em parte por ser um lugar de preponderância de um tipo
primitivo de família patriarcal.
- O homem cordial, isto é, o indivíduo brasileiro comum para o autor, mantém sua
individualidade em detrimento do social.
- A vida social é uma forma de abater um medo existencial de lidar consigo
mesmo.
- O caráter intimista das relações é muito importante e se mostra na adoração
religiosa católica a santa Teresinha e ao Menino Jesus.
- “o próprio Deus é um amigo familiar, doméstico e próximo” (ibidem, p.
149).
- “Revela-se um decisivo triunfo do espírito sobre a vida” (ibidem, p. 147).
- A exaltação dos valores cordiais e a aversão ao ritualismo encontram espaço
no comportamento social como consequência do meio - visão determinista do
autor
- terreno de eleição
- terra remissa e algo melancólica
- A personalidade do brasileiro assimila uma diversidade de influências porque sua
vida íntima não se incorpora de forma coesa ou disciplinada o suficiente ao tecido
social (ibidem, p. 151).

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