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Buscar Recursos e Fazer Mudanças:

Metáfora: O álbum das decisões

Era uma vez... Um empresário que tem um álbum onde anota as decisões mais importantes de sua
vida. Cada vez que sente dificuldade em tomar novas decisões, o empresário folheia o álbum. Folheá-
lo ajudava-o a ter inspiração e a lembrar-se do fez, de qual método usou e do que eliminou.

Folheando o álbum, nota que, no momento em que tomou a decisão ele não sabia, nem podia saber,
quais tinham sido suas conseqüências, mas sentia que aquela era a decisão certa para ele naquele
momento. Folheia o álbum das decisões para entender como pôde ter previsto, ou antecipado com
razoável probabilidade, que suas expectativas teriam se realizado. Só hoje conhece as conseqüências
da decisão então tomada, conseqüência que, naquele momento, não podia conhecer, pois estava
vivendo aquela situação: logo, não podia saber aquele futuro, que agora é o seu presente.

Folheia o álbum para indagar quais recursos utilizaram, quais pensamentos pensou, quais sensações e
emoções provaram. Folheando o álbum das decisões percebe que alguns elementos se repetem. Teve
sempre idéias claras sobre o que desejava alcançar a curto e a longos prazos. Recolheu informações
suficientes, avaliou-as, imaginou cenários diversos, calculou o risco e confiou no resultado.

O último ingrediente que se repete é que, uma vez tomada a decisão, segue em frente, sem olhar mais
para trás.

1
Solidariedade e Colaboração:
Metáfora: Inferno e Paraíso

Era uma vez... Dante que passeava com Virgílio para conhecer novos territórios e explorar
terras escondidas. Um dia, enquanto aproximavam-se de certo lugar, sentem um
maravilhoso perfume de guisado, contrastante, no entanto, com lamentações de sofrimento,
gritos de raiva e urros de desespero. Dante, chocado por tal contraste, direciona a Virgilio
um olhar interrogativo, que permanece sem resposta. Quando, pouco depois, chegam a
uma clareira, vêem, ao centro, uma grande panela, cheia de um convidado guisado, tendo
em torno pessoas com colheres dotadas de longuíssimos cabos, com as quais tentam levar
o alimento às suas bocas. Mas não consegue, o cabo é comprido demais, a comida cai no
chão fazendo com que permaneçam com fome, Virgílio informa Dante: “Esse é o inferno”.

Passado certo tempo, os dois continuam a explorar o território, quando eis que sentem
novamente o apetitoso perfume de guisado.
Dessa vez, porém, acompanhado por gritos de alegria, por expressões de prazer e por
vozes repletas de gratidão e satisfação. Quando chegam à clareira, vêem uma grande
panela que contém o guisado, e as colheres com os cabos longuíssimos à disposição das
pessoas que devem comer. A diferença consiste no fato que cada uma dá comida na boca
da outra, com recíproca satisfação.

“Esse é o paraíso” informa Virgílio.

2
Dificuldade expressão:
Metáfora: O pavão tímido

Era uma vez... Um tímido pavão, mas tão tímido que só abria sua cauda escondido, para
evitar que alguém o visse. Um dia, esse pavão, certo de que ninguém o estava olhando,
sente a necessidade de esticar suas plumas, e faz com a cauda um belíssimo círculo. Mas
ele não estava sozinho. Próximo dali, havia um grupo de naturalistas, que ficam fascinados
pela beleza, harmonia e variedade das cores de suas plumas.
Aproxima-se para parabenizá-lo, mas o pavão, intimidado, escapa.
Eles o alcançam e o asseguram que desejam somente mostrar sua admiração. O pavão não
consegue acreditar. Por demais vezes um grupo de artificiais o tinha criticado quando fazia
seu círculo com a cauda, gesto para ele natural. Os artificiais pensavam que queria se
exibir, ostentando a vivacidade de suas cores, a expressividade de suas plumas, a amplidão
de seu círculo.

O pavão agora compreende que os artificiais não são capazes de intuir a naturalidade de
seu gesto, sabem intuir somente a ostentação.

3
Dificuldade de Mudar / Resistência
Metáfora: A estrada interrompida

Era uma vez... Um jovem que todos os dias percorrem a mesma estrada para ir de sua casa
à escola. Alegra-se sempre, em ver as mesmas vitrines, em cumprimentar os mesmos
comerciantes e em poder contar com seus passos e com o tempo necessário para ir de um
lugar ao outro.

Um dia enquanto percorre, como de costume, a mesma estrada, nota um cartaz que diz:
“Estamos trabalhando, proibida a entrada a estranhos.” “O que quer dizer proibida a
entrada? Eu tenho que passar por aqui de qualquer jeito se quiser chegar pontualmente à
escola”, diz o jovem ao mestre de obras, que lhe responde: “Sinto muito, mas essa estrada
não está sendo usada, pois nesse estado é muito perigosa. Está cheia de buracos, estamos
consertando.” O jovem insiste, mas acaba desistindo ao perceber que o mestre de obras é
irremovível em não deixá-lo passar.

O jovem se vê assim forçado a mudar seu caminho, não pode fazer de outro jeito. Mas não
tem a menor idéia de qual seria a melhor alternativa. Deverá proceder por tentativas. Pega,
ao acaso, a primeira estrada à direita. E enquanto prossegue a passos rápidos, para
recuperar o tempo perdido, percebe que essa estrada tem um perfume que a outra não
tinha. Olha em torno e vê que está tudo repleto de verde, de árvores e de flores nas
varandas. Jamais teria pensado que mudar de caminho o faria descobrir os perfumes das
estradas.

No dia seguinte, constata com alegria que a estrada ainda está interditada e decide dobrar à
esquerda, onde encontra cada casa pintada de cores diferentes, vermelho-tijolo, amarelo-
solar, verde-esperança. Tem a sensação de atravessar o arco-íris. Após algum tempo,
extasiado com a visão de tantas cores, vê uma casa absolutamente particular. Suas paredes
brilham como espelhos, refletindo o que há a sua volta: são paredes que mudam
continuamente, conforme a variação das luzes e das sombras entre o céu e a terra.

No terceiro dia, muda de novo seu caminho, curioso em descobrir o que o novo percurso lhe
reserva. Essa é a estrada da música. Parece que todos os músicos da cidade veio se
encontrar ali. De cada janela sai uma música diferente, que acompanha seus passos,
convidando-o a andar adágio, devagar, lentíssimo, lento, mas não muito, andante, alegre.

Então, o jovem sente-se agradecido ao conserto da rua, que o forçou a mudar de caminho,
dando-lhe a possibilidade de descobrir belas surpresas pelas estradas da própria cidade.
Para isso, é suficiente a simples mudança de percurso.

4
Para Quem Deseja Soluções Prontas:
Metáfora: O filhote que não sabia pedir
Era uma vez... Um filhote que não sabe o que fazer para obter o que deseja. Ninguém o
ensinou. Frequentemente deseja algo que não consegue alcançar. Em seu coração, tem
certeza de que, em algum lugar, a solução existe. Decide, então, partir para procurar por ela
no bosque dos sábios conselheiros.

Seu primeiro encontro é com um cão, ao qual pergunta: “Como fazer para obter tudo o que
eu desejo?” Faça como eu, latindo verás que os outros se assustam, e fazem o que desejas.
“Pode ser que funcione”, reflete o filhote, “com quem se deixa assustar, mas desse jeito é
barulhento demais, talvez exista um outro modo”.

Prosseguindo, encontra uma serpente que, ao ouvir a pergunta, responde: “É simples, basta
dar uma pequena mordida, e estarás livre de qualquer obstáculo.” “Isso pode ser útil,
quando eu quiser me liberar definitivamente de quem me cria obstáculos, mas é um pouco
drástico demais”, pensa o filhote.

Encontra uma sereia que lhe diz: “Canta, e com o teu belo canto, enfeitice todos e assim
conseguirás facilmente obter o que queres”.
Técnica sedutora reflete o filhote, poderia funcionar com ingênuos e boçais. Mas eu mesmo
estou tão atordoado que, em vez de seduzir-lhe, os faria escapar.

Encontra a coruja, que começa a dar uma aula sobre a arte da negociação e sobre a
necessidade de considerar as razões de ambos os lados. A coruja envereda tanto por
detalhes, que o filhote se atormenta, deixando de ouvir seus preciosos conselhos.

Encontra uma graça, que sugere: “Pegue o que te serve e fuja o mais rápido que puderes,
sem deixar que te peguem.” “Parece “um pouco arriscado”, reflete o filhote,” “além do mais,
não gostaria de ter que fugir após ter pego o que desejo, pois significaria achar que não
tenho direito àquilo”.

Ele vai, então, até o leão, que declara, com voz autoritária, que a solução é simples: “Basta
decretar uma lei, e todos serão obrigados a obedecer-te.” “Seria fácil”, pensa o filhote, “para
o rei da floresta, mas eu que não sou rei posso ditar leis somente para mim mesmo e não
para os outros”.

Encontra uma toupeira, que o tranquiliza porque não vê o problema, aliás, para ela o
problema não existe. O encontro com a toupeira o faz crer que talvez essa seja a solução:
Acreditar que os problemas não existam e não ver o que for a seus olhos, invisível.

O filhote sente-se desanimado: cada um lhe propôs suas soluções, mas ninguém
respondeu, verdadeiramente, à sua questão. Imersos nesses pensamentos, encontra uma
gaivota que voa livre e leve, confiando no vento que a conduz onde quiser ir. O filhote está
fascinado com a confiança que a gaivota demonstra em relação àquilo que é,aos seus
olhos, invisível: e, quando a gaivota pousou, o filhote vai ao seu encontro para perguntar
também a ela como faz para obter o que quer. A gaivota medita por um instante e responde:
“Para obter o que quero, sobretudo me dedico muito, procuro no fundo do meu coração a
minha vontade, confiando naquilo que posso fazer”.
Mas a coisa mais importante que aprendi, acrescenta a gaivota, “foi deixar os outros livres
de responder com um sim ou com um não.” Faço as perguntar, sem nunca transformá-las
em pedidos ou pretensões. Sei que posso convidar outros para voar comigo, mas não posso
obrigá-los.

5
A Dificuldade
Metáfora: A pirâmide do sucesso:

Era uma vez... Um jovem que quer escalar uma montanha. Sabe que a viagem pode ser
longa, e para partir com muito peso leva consigo o mínimo indispensável. Durante a longa
viagem encontra diversas dificuldades, sabendo que deve superá-las, se quiser alcançar
sua meta. Para o jovem, superar as dificuldades significa aprender algo novo; assim, cada
vez que supera uma dificuldade, para lembrar-se do que aprendeu, coloca uma pedra na
mochila.

Quando, finalmente, chega ao alto da montanha, esvazia a mochila e usando as pedras


recolhidas durante a difícil subida faz uma pirâmide que intitula: “A pirâmide do sucesso”.

Sucesso obtido graças à superação das dificuldades.

6
Direcionando Problemas e Não Vendo o Risco:
Metáfora: A liberação da Planta
Era uma vez... Um jardineiro que foi convidado a cuidar de uma árvore abandonada. O
jardineiro percebe que a primeira coisa a fazer é liberá-la da invasão dos ramos de
espinhos, de heras e de tudo mais que recobriu o tronco e os ramos. Com calma e
dedicação, libera a árvore de tudo aquilo que a estava sufocando.

Assim que essa primeira operação foi terminada, o jardineiro percebeu que a planta, com
exagerada generosidade, hospedava muitos parasitas. Libera a planta da parasitas, tira os
bichinhos pequenos e grandes que a incomodavam, aproveitando-se dela; libera-a,
ajudando-a a respirar.

Somente após ter liberado a planta da parasitas, começa a podar seus ramos secos. O
jardineiro toma o cuidado de cortar somente os secos e de proteger os que têm seiva e
brotos. Enquanto poda, dá uma forma à árvore, para transformá-la naquilo que ela pode se
tornar.

Terminado o trabalho, cuida das raízes. Remexe a terra em volta da árvore para dar-lhe um
pouco mais de oxigênio, tira as pedras que pesavam sobre as raízes, certificando-se de que
tenham a possibilidade de ir bem a fundo, pegar o alimento do qual necessitam.

Agora chega o momento de adubar e regar. O jardineiro é um especialista e sabe dar a dose
certa de adubo e de água, nem demais nem de menos. Após ter liberado a árvore daquilo
que dificultava seu crescimento, deixa-a livre para desenvolver suas potencialidades. Ele
responsabiliza-se pelo prosseguimento de seus cuidados, para que a árvore não seja
novamente invadida por ramos espinhosos nem por parasitas, e para que os ramos secos
não chupem a seiva vital. Continua a regá-la e adubá-la, para permitir-lhe dar seus melhores
frutos.

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Apego, Resolvendo Problemas dos Outros:
Metáfora: A mochila que pesa demais
Era uma vez... Uma cidade onde cada habitante recebe uma mochila proporcional à sua
idade e às suas características físicas, nem grande nem pequena demais.

De fato, na mochila são colocadas somente as coisas que a pessoa consegue levar consigo,
de modo que não seja nem leve nem pesada demais. Isso requer duas operações: uma, por
parte do revisor de mochilas, que atribui mochilas adequadas às características das
pessoas; a outra, de cada habitante, que é encarregado de manter o peso justo, eliminando
o que deixa a mochila pesada demais.

Cada morador da cidade tem liberdade para regular o peso de sua mochila. Alguns o fazem
todos os dias, no final do dia, sistematicamente, retiram aquilo que não pretendem levar
consigo no dia seguinte. Outros o fazem semanalmente; outros uma vez por mês. Alguns o
fazem quando aparece algo que merece ser inserido na mochila.
Nessa ocasião, esvaziam-na selecionando as coisas velhas a serem eliminadas, para dar
espaço ao novo.

Na cidade, mora um jovem que, não satisfeito com a capacidade de sua mochila, deseja
receber outra maior, para não ter que jogar fora suas coisas. Ele é um grandalhão que se
sente muito forte, logo, capaz e maduro para ter uma mochila maior e mais pesada. Tem as
costas largas.

Decidi, então, ir ver o revisor das mochilas, para pedir-lhe uma maior.
O revisor é absolutamente contrário e de diversas maneiras tenta opor-se ao pedido, ou
melhor, à exigência do jovem, cedendo enfim à sua insistência. Por acaso, ele tinha
terminado de fazer, há pouco, uma mochila para um gigante; então, irritado, diz ao jovem
para pegá-la e desaparecer de sua vista.

O jovem fica satisfeito por ter obtido o que queria. Agora, finalmente, não será mais obrigado
a eliminar o que, ao contrário, deseja conservar. No início, é tudo simples. A mochila é
grande, há muito espaço e ele continua a por coisas, sem nada eliminar.

Com o passar do tempo, a mochila fica cheia, tornando-se cada vez mais pesada; cada vez
mais pesada até mesmo para ele que tem as costas largas. Isso significa que não pode sair
de casa, que já não pode fazer o que antes o agradava: sair para passear ao ar livre, visitar
amigos, ir ao cinema. Tudo lhe pesa, até as coisas mais simples. Está imobilizado pelo peso
daquilo que leva consigo.

Num dia de primavera, encontrando-se o jovem, como sempre, forçado a estar em casa,
abre a janela e é inundado por um regenerador perfume de ar fresco, ouve conversas
alegres de pessoas que se cumprimentam, comentando a chegada da bela estação.

Ele sente o despertar dos sentidos e uma angustiante saudade de coisas pequenas e
simples: sentir o ar fresco, caminhar livremente, encontrar amigos, assistir ao despertar das
plantas que pareciam mortas, colherem os primeiros brotos presenteados pela natureza.

Imediatamente compreende o que deve fazer. Tira a mochila e a esvazia, vendo quantas
coisas inúteis conservou, quanta coisa manteve por ciúme, considerando-as preciosos dons,
que, ao contrário transformam-se em pesos insustentáveis.

Percebe que encheu a mochila de promessas não mantidas, de esperanças frustradas, de


obrigações não cumpridas, de ressentimentos por culpas não cometidas e por dores do

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passado já solucionadas. Livra-se de todos aqueles pesos inúteis, e volta ao revisor das
mochilas para restituir a mochila do gigante e levar a outra, mais indicada ao seu caso.

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Medo sem Justificativa Baseado no que é Real:
Metáfora: A montanha inexplorada
Era uma vez... Um rei que parte em visita a uma cidade que se encontra aos pés de uma
imensa montanha. O rei, comentando esse dado, diz: “Que pessoas de sorte! Imagino os
belos passeios que fazem nessa bela montanha.” Os súditos o olham perplexo e dizem:
“Mas senhor, existe um velho edital, já não nos lembramos mais de qual rei, que nos impede
de subir na montanha. Sempre fomos súditos fiéis, nunca ousamos desobedecer”.

O jovem rei cala-se, pois não sabe o que responder. Mas que compreender; logo volta à sua
corte e, entre velhos papéis, descobre que um ancestral seu tinha proibido aos habitantes
daquela cidade penetrar na floresta por um motivo: na cidade situada no outro lado da
montanha, naquele período, havia uma epidemia de cólera. O rei daquela época queria com
tal drástica proibição, evitar que seu povo corresse o menor risco de contágio.

Agora que a peste já não existe há anos, aquele edital pode ser modificado. Além disso, o
jovem rei compreende que privados por tantos anos de colocar os pés na montanha, aos
habitantes da cidade não será suficiente cancelar a proibição.

Ele percebe que deve ajudar a população a reaproximar-se gradualmente da montanha,


aprendendo também a defender-se de seus perigos.

O jovem rei retorna à cidade com um novo edital, no qual informa aos moradores que, dali
em diante, cada cidadão poderá explorar a montanha. Acrescenta que cada um, ao longo de
sua vida, terá que fazer ao menos uma viagem à montanha. Sendo, porém, necessário
respeitar algumas condições e seguir algumas regras.

Inicialmente, serão os idosos da cidade a organizar a primeira viagem.


Será o grupo dos mais velhos a abrir o primeiro caminho. Devem ser eles a abrir a primeira
passagem e a traçar o primeiro percurso. Quando chegarem ao ponto mais distante
alcançável com suas próprias forças, chamarão seus filhos como substitutos.

Estes, com suas forças, poderão ir além, procedendo à procura do caminho para chegar ao
outro lado da montanha. Mas, eles também, quando suas forças chegarem ao limite, podem
interromper seu esforço e parar num local onde será construída uma cabana, onde deverão
deixar cobertas e alimentos, instalando um abrigo restaurador para quem até ali chegar.

Poderá ser o ponto de largada para os jovens que, seguindo o traçado feito por seus avós e
pais, poderão decidir se continuam a exploração da montanha até o pico, cada um
construindo um novo caminho, cada um seguindo seu próprio percurso. Não significa que
todos chegarão ao pico da montanha, mas é certo que quem chegar até lá o terá feito
motivado por sua própria vontade e acompanhado por sua determinação.

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O que é curável ou não em um relacionamento:
Metáfora: O Jardineiro e o Mato
Era uma vez... Um competente jardineiro, que ama muito seu jardim, dedicando-lhe os
cuidados necessários. Mesmo assim, apesar de seus cuidados, no seu jardim também
cresce mato. Ele, com muita paciência, sempre que preciso, arranca o mato, esperando ter
extirpado também a sua raiz. Mas o mato volta a crescer.

Nas primeiras vezes, fica muito mal-humorado, achando que seus cuidados deveriam
eliminar o mato para sempre e que esplêndidas flores e rosas perfumadas devem tomar o
lugar da urtiga e das ervas daninhas. Cada vez que extirpa uma delas, ilude-se de que será
a última, que, de agora em diante, nunca mais brotará nenhuma erva ruim, porque ele é um
jardineiro competente. Mas, apesar de todos seus esforços e empenho, de vez em quando,
o mato ressurge.

Por sua experiência, o jardineiro entende que a erva ruim não depende de seus cuidados,
mas da natureza do terreno. Uma vez que toma consciência disso, não fica mais irado.
Porém, continua a tomar cuidado e a extirpar as ervas ruins, assim que as vê brotar, para
não permiti-las expandir e contaminar o resto do jardim.

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Relações Difíceis (Profissional):
Metáfora: O advogado Dell’Angelo
Era uma vez... Um prefeito que deseja implantar algumas inovações em sua cidade. Decide
contar com a colaboração de um diretor artístico, de um analista e de um crítico de arte.
Todos três reconhecidos e estimados por seu profissionalismo. Mas, quando os três
começam a trabalhar juntos, não se dão bem: brigam e não produzem resultados.

O mais insatisfeito é o criativo, que se sente freado pelas interferências dos outros dois.
Está tão frustrado que decide comunicar ao prefeito sua intenção de se demitir. O prefeito
sente-se contrariado, pois sabe que esse diretor artístico é o melhor em seu ramo; logo,
quer entender o que não está funcionando bem. Pede ao criativo que participe ao menos de
uma outra reunião, na qual estará presente como observador o advogado Dell’Angelo. O
papel desse advogado é observar como trabalham os três profissionais e entender o que
não está dando certo.

O diretor artístico e os outros colaboradores aceitam a presença do advogado Dell’Angelo, o


qual em pouco tempo entende por que aquele profissional encontra-se insatisfeito. Assim
que ele lança uma idéia, ou o analista ou o crítico a massacram, dizem que não vai
funcionar, que não é boa, que custaria muito, que não é muito original e fazem perguntas
não pertinente; ou seja, intervenções e comentários negativos.
Típicas frases-killer, que sufocariam qualquer idéia criativa.

Tendo descoberto isso, o advogado Dell’Angelo lhe propões que deixem o diretor artístico
completar seus pensamentos, ou melhor, que eles o ajudem a desenvolvê-lo e ampliá-lo. O
que requer muito esforço, tanto do analista, como o crítico, os quais, no entanto, graças à
presença do advogado Dell’Angelo, conseguem frear seus impulsos e consentir ao criativo
expressar completamente suas idéias.

Quando ele termina sua exposição, está pronto para ouvir o analista.
Agora é sua vez de fazer uma análise correta da praticidade da proposta, prever tempos e
custos, dificuldades e riscos. Enquanto o analista exprime suas idéias, é o crítico a interferir,
fazendo suas afiadas observações. Mesmo sendo suas intenções positivas, o advogado
Dell’Angelo compreende que o momento é inoportuno. Logo, pede-lhe que ajude o analista
a fazer uma análise geral e não detalhada da questão. Somente quando o analista completa
sua análise do aspecto prático da proposta, encontrando-se então o trabalho num bom nível
de definição, o crítico pode interferir com suas contribuições positivas e concretas.

Graças ao método sugerido pelo advogado Dell’Angelo, os três assistentes do prefeito


compreendem que o melhor modo para trabalharem juntos é dividir ente si as
responsabilidades pelas várias fases do trabalho, de modo a consentir que um cada dê o
melhor de si, sem inoportunas interferências dos outros. Que seja o criativo o primeiro a
exprimir suas idéias, somente após tê-las elaborado, poderá intervir o analista para a análise
das possibilidades de realização prática. Depois que o trabalho tiver chegado a uma boa
fase de definição, poderá intervir o crítico de arte, para dar suas contribuições positivas.
Este método de trabalho permite que o grupo de assistentes do prefeito produza os
resultados esperados, trazendo muitas inovações à cidade, com grande satisfação não só
do prefeito, mas também dos cidadãos.

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Comodismo; anular-se:
Metáfora: O pombo na gaiola
Era uma vez... Um príncipe que, fascinado pela beleza de um pombo branco, manda fazer
para ele uma confortável e espaçosa gaiola. E convida o pombo a viver ali. O pombo,
honrado com o convite, aceita. A gaiola tem tudo aquilo que ele poderia desejar. Viver nessa
gaiola significa que não deve fazer nada para prover àquilo de que necessita, pois tudo lhe é
regularmente fornecido.

Com o passar do tempo, o pombo sente crescer em si uma estranha inquietação, que não
consegue decifrar. Sente falta do céu aberto, dos raios de sol e da chuva sobre suas
plumas: de vez em quando, gostaria de poder esticar as asas e voar, extasiando-se à vista
das coisas do alto, provar vertigens, gostaria de sentir o esforço e o empenho necessários
para alcançar o que se deseja.

Ao contrário, desde que se encontra nessa gaiola, tudo lhe é oferecido gratuitamente.
“Gratuitamente?” pergunta a si mesmo. Não. O que recebe tem um preço muito alto: a
liberdade.

Quando descobre que nesses anos confundiu segurança com dependência, gratidão com
complacência, livre escolha com obrigação, compreende que chegou o momento de deixar a
gaiola, mesmo tão confortável, e recomeçar a voar com suas próprias asas.

Mas não sabe como. Não sabe se deve pedir permissão ao príncipe, teme que lhe diga não.
Não sabe se corromper quem, às vezes, vem visitá-lo, não sabe se esperar sentado por um
milagre.

Tomado por esses pensamentos, apóia-se nas barras da gaiola descobrindo que a mesma
encontrava-se aberta. Observa atentamente, poderia tratar-se de uma armadilha. Quanto
mais observa, mais percebe que a gaiola sempre esteve assim. Ele pensava estar fechado
numa gaiola, mas a porta sempre esteve aberta, para consentir-lhe escolher ficar ou ir
embora. Depende só e exclusivamente dele mesmo.

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Limites Possíveis:
Metáfora: A torre dos próprios limites

Era uma vez... Uma princesa que, mesmo sabendo que se tornaria rainha, não sabe direito
que tipo de rainha quer ser. Sua mão é somente uma rainha do campo, enquanto a princesa
possui aspirações diferentes. Sente-se importante. Acha que sabe fazer tudo o que quer e
que pode tudo. Mas todas às vezes colidem com seus próprios limites. Fato que não lhe
agrada. Prefere pensar em infinitas possibilidades. Afinal de contas, é uma princesa.
Entretanto, não consegue fazer tudo o que quer.

Logo, decide visitar o velho sábio, em buscar de conselhos. E o sábio lhe responde que para
descobrir suas verdadeiras possibilidades tem que antes conhecer seus limites, e para
conhecê-los tem que ir visitar a torre dos limites. A princesa está disposta a tudo, e de bom
grado enfrenta a longa viagem até a torre dos imites.

No primeiro andar, a princesa entra num quarto que contém alimentos quentes e frios,
roupas leves e invernais, redes, camas e montes de palha. A visão desses simples objetos a

faz considerar que a primeira limitação é dada pelas necessidades do corpo: ela precisa
comer beber, repousar e cobrir-se. É um corpo que sofre a fome e a sede, o calor e o frio, o
cansaço e o sono. A visita a esse andar a faz compreender que deve respeitar as exigências
do corpo, dando-lhe o que o mantém é consentindo-lhe permanecer vital pelo tempo
possível.

Terminada a visita ao primeiro andar, dirige-se ao segundo, onde encontra um quarto cheio
de instrumentos que servem para amplificar poder dos órgãos de sentidos: desde simples
óculos a binóculos, microscópios, telescópios, radar; do simples cone acústico ao telefone,
rádio e televisão. Passeiam fascinada ao descobrir quais e quantos instrumentos podem
usar para enxergar melhor, de perto ou de longe, para poder ouvir e escutar melhor.
Descobre que seus sentidos são limitados, parciais, subjetivos. A visita a esse andar torna-a
consciente dos limites de suas percepções, fazendo-a compreender a importância de mudar
a perspectiva e a utilidade de ter tantos instrumentos à disposição. “Ainda bem que
existem”, e reflete, percebendo a necessidade de bem usá-los quando deles necessitar para
expandir as próprias limitadas percepções.

Concluída a visita ao segundo andar, à princesa sobe ao terceiro, onde encontra diversos
meios de locomoção: patins, triciclos, bicicletas, motocicletas e motos, automóveis, trens,
barcas, transatlânticos, avies e mísseis. Seu pensamento vai à velocidade de seus passos,
perguntando a si mesma quantos dias, talvez anos, demoraria se quisesse ir a pé ao outro
lado do mundo, e quantas poucas horas de avião ser-lhe-iam suficientes. Pensa na ajuda
dada ao gênero humano por essas máquinas, com as quais é possível locomover-se
rapidamente e com pouco esforço. Óbvio que, no entanto, é necessário sabê-las guiar,
manobrar e possuir carteira de habilitação: é bem diferente guiar um meio de transportes
que tem rodas apoiadas sobre a terá, outro que toca a superfície da água ou ainda outro
que confia na força dos ventos. A visita a esse andar a faz compreender suas limitações no
que concerne à necessária competência para usar do melhor modo, os diversos meios de
transporte e de locomoção.

Concluída a visita ao terceiro andar, a princesa está pronta para transferir-se ao quarto
andar, onde encontra muitos utensílios, alguns de uso familiar e quotidiano, outros que

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nunca tinham visto, dos quais ignorava a existência. Vêem primeiras as ferramentas de uso
comum, descobrindo uma variedade incrível de tesouras: para cortar unhas, podar ramos
secos, encurtar asas, trinchar frangos, desbastar cabelos, cortar papel ou esmerilhar vidros.
Instrumentos simples e refinados, de uso quotidiano ou profissional. Mais uma vez a
princesa faz as contas de quantos instrumentos não conhece e quantos não sabem usar,
mesmo sabendo que poderia aprendê-los a usá-los. A visita a esse andar a faz
compreender a importância de conhecer e usar o utensílio certo, no modo certo.

Terminada a visita ao quarto andar, chega ao quinto, onde recebida por uma livraria que
cobre cada parede. Sua primeira reação é de estupefação. Nunca tinha visto tantos livros
juntos. Superado o susto, emerge a curiosidade que a leva a ler os títulos. Os livros estão
expostos por gêneros: literatura, prosa, poesia, ciências naturais, sociais e assim por diante.
Descobre que alguns são familiares e, entre esses, percebe livros já vistos, lidos ou
folheados, e outros completamente novos para ela. Descobre assim uma outra limitação,
não somente de seu saber, mas também da sua curiosidade, da sua propensão a um saber
universal. Compreende que se interessa por apenas certo gênero de estudos ou de leituras,
enquanto outros lhe são indiferentes. Recebe tal constatação como uma limitação e também
como uma escolha. Já que não pode aprofundar tudo, nem interessar-se por tudo, aceita a
liberdade de escolha. Ela entende também os limites de seu conhecimento e a importância
do estudo da História da Geografia. A História para não repetir erros passados. A Geografia
para conhecer a existência, e assim, aceitar as diferenças culturais, religiosas, étnicas e
lingüísticas dos diversos povos. A visita a esse andar a faz perceber que ela é o livro que leu
e que se tornarão os livros que lerá.

Concluída a visita ao quinto andar, está pronto para ir ao sexto andar, onde se encontram
expostos diversos uniformes profissionais. Há o jaleco da doutora, com o estetoscópio para
escutar o batimento do amor; o chapéu da cozinheira, para cozinhar alimentos que nutrem a
alma; o avental da costureira, para costurar roupas na medida dos desejos. Em seguida,
percebe uniformes que acha que nunca vai querer vestir: nunca desejou tornar-se
contrabandista, nem traficante de drogas. Dá voltas, lentamente, pelo quarto, para identificar
o que gostaria de se tornar, qual profissão lhe agradaria exercitar e quais decididamente
eliminaria. A visita a esse andar a faz compreender os limites dos papéis que pode
desempenhar. Atualmente, veste a camisa de princesa, e quando se tornar rainha terá que
mudar seu guarda roupa e vestir vestido reais, adequado ao seu novo status e àquilo que
ela quer ser.

Terminada a visita ao sexto andar, eis que chega ao último andar, repleto de fotos de
lugares jamais visitados, de situações não vivenciadas, de experiências não realizadas.
Visitar esse andar a faz compreender a importância do conhecimento direto, do aprendizado
baseado na experiência. Saberá o que significa ser rainha somente quando for de verdade,
quando a experiência concreta ensinar-lhe. Somente então descobrirá os limites e as
oportunidades oferecidas por ter se tornado rainha.

15
O Sofrimento como aprendizado:
Metáfora: O príncipe com mentalidade de escravo
Era uma vez... Um príncipe que não tem vontade de estudar, nem de ler um livro ou fazer
uma viagem. Seus pais procuram estimulá-lo de muitos modos, mas ele não reage. Está
satisfeito com o que não tem e não possui nenhuma curiosidade, nenhum impulso a buscar
algo que possa perturbar seu estático equilíbrio.

Seus pais, preocupados, interrogam-se sobre o que podem ter errado em sua educação.
Quando o príncipe era pequeno, tentou protegê-lo de qualquer tipo de dor, qualquer
sofrimento. Queriam que fosse feliz e que conhecesse somente o bom e o belo. Esforçaram-
se em satisfazer todos os seus caprichos, em dar-lhe, mesmo antes que ele pedisse todas
as mais bonitas e melhores coisas existentes, evitando que conhecesse a dor da privação.

Foi essa falta de tensão entre o que podia e não podia fazer, entre o queria e devia fazer o
que privou o príncipe daquela energia nutrida pela insatisfação do estado presente, que
força a explorar novos modos de superar as privações.

Foi o excesso de atenção por parte do rei e da rainha que criaram no príncipe uma
mentalidade de escravo: escravo da própria ignorância, da própria preguiça e da própria
complacência em ser ignorante e preguiçoso.

16
Generosidade x egoísmo:
Metáfora: Os “quentes e macios”

Era uma vez... Uma cidade na quais todos os habitantes vivem felizes e contentes. Nessa
cidade, como em muitas outras, existe uma tradição: cada recém nascido recebe de
presente uma caixa de “quentes e macios”. Isso é suficiente a fazer crescer crianças fortes,
sãs e bonitas, por dentro e por fora. Os “quentes e macios” têm um segredo que as crianças
aprendem cedo a descobrir. Se não conservados para si mesmos, acabam logo; se, ao
contrário, são presenteados a outros, a caixa estará sempre cheia.

É um círculo virtuoso: quanto mais você der, mais deles recebe e mais cresce forte e são
por dentro e por fora.
E já que todos estão felizes, a bruxa da cidade não consegue vender suas poções de “frios
e ásperos”. Mas não desiste e quer encontrar uma solução. Lança uma campanha
publicitária, na qual anuncia que seus “frios e ásperos” são os únicos que duram ao longo do
tempo, porque construídos com material artificial, enquanto os “quentes e macios” duram
menos porque são naturais. Os seus valem mais, pois são feitos de plásticos valiosos, logo,
muito caros; enquanto os “quentes e macios” porque naturais, são custam nada, logo, não
valem nada. Alguns garotos deixam-se condicionar pela publicidade dos “frios e ásperos” e
alguns pais desatentos correm a comprá-los, só para satisfazer o pedido dos filhos. E a
bruxa começa a ganhar cada vez mais.

Até um dia em que chega à cidade uma nova professora primária. Ela adora ficar no pátio
da escola brincando com as crianças. É muito hábil em distinguir um “quente e macio” e,
com muita paciência, ensina às crianças o autêntico valor dos “quentes e macios” e a não
deixar-se enganar pela publicidade dos “fios e ásperos”. Ensina às crianças que existe um
modo certo de reconhecer um autêntico “quente e macio”: é o único que pode ser doado
com o coração quente e com mãos abertas. Um “frio e áspero”, ao contrário, é oferecido
com a distante distração de um coração vazio e de mãos contraídas. A partir daquele
momento, as crianças tornam-se especialistas em reconhecer os “quentes e macios” e não
querem mais aceitar os “frios e ásperos”.

17
Respeito:
Metáfora: O mago disfarçado de mendigo
Era uma vez... Um mago que quer descobrir a autêntica generosidade dos habitantes de
sua cidade. Todos sabem que o mago adora disfarçar-se e que um dia ou outro se
apresentará em suas casas, mas não sabem nem como nem quando. E cada um que
manter sua boa imagine, para receber em troca algum benefício.

Um dia, o mago vestido como um mendigo bate à porta de uma casa.


O senhor que abre o reconhece e quando o mendigo lhe pede comida, ele lhe oferece uma
refeição extraordinária, com as melhores comidas preparadas para a ocasião. O mendigo
aproveita aquela ótima comida.
Num determinado momento, deixa cair o pão no chão e o anfitrião precipita-se em recolhê-
lo. Enquanto está abaixado, o mendigo golpeia-o na cabeça e desaparece. O anfitrião,
surpreendido e irritado, comenta: “Era realmente um mendigo, e, além disso, também
ingrato. Fui generoso, recebendo em troca um golpe na cabeça”.

Passam-se alguns dias e o mago, ainda vestido de mendigo, bate à porta de outra casa.
Imediatamente, aporta lhe é aberta e ele é convidado a acomodar-se nasala de almoço,
onde estavam para servir a refeição. A mesa está bem posta, com uma toalha de linho,
bordada com fios de ouro, e a comida é servida em pratos de prata. Aqui também o
mendigo, após ter comigo e bebido, deixa cair um pedaço de pão. O dono da casa se
apressa em recolhê-lo e o mendigo dá um golpe na cabeça e desaparece. Esse senhor
também fica irado com o comportamento do mendigo, que não soube bem avaliar sua
acolhida.

Passam-se alguns dias o mago, sempre vestido de mendigo, bate numa terceira casa.
Alguém lá de dentro lhe diz para entrar, a porta está aberta. Pede comida, e a pessoa
ocupada diz que pode servir-se sozinho, que abra a dispensa e peque o que desejar. O
mendigo come e o dono da casa continua a fazer as suas coisas. Acabando de comer, o
mendigo deixa cair o pão. O senhor nem percebe. Então o mendigo chama a sua atenção
para o fato. O anfitrião comenta: “Sinto muito por você”. É importante tratar com respeito o
alimento, mesmo se esse lhe foi doado. “De qualquer jeito, se você quiser pode recolhê-lo,
pois o chão está limpo”.

O mago, após ter transformado o pedaço de pão em ouro, desaparece.

18
Colaboração:
Metáfora: O pó mágico do cozinheiro
Era uma vez... Um cozinheiro que roda pelas cidades da região, ensinando receitas de
pratos saborosos. É um cozinheiro famoso por um pó mágico que torna seus pratos
deliciosos. Casa cidade espera com agitação e curiosidade a sua chegada, certos de
aprender algo novo.
Na verdade, o cozinheiro é muito criativo, e sabe usar bem os recursos de cada lugar. Nas
cidades de pescadores, ensina a pescar e a cozinhar o peixe; nas cidades de caçadores, a
caçar e cozinhar carne; nas cidades de agricultores, a cultivar a terra e a cozinhar verduras.

Um dia, chega numa cidade muito pobre, onde decide ensinar a receita d uma sopa de
legumes. Dirige-se à praça principal da cidade levando sua grande panela, onde põe água,
um pouco de sal e o seu pó de ouro, ingrediente mágico que torna seus pratos deliciosos.

Passado algum tempo, prova e diz que faltava cebola. Imediatamente, alguém que o ouviu
corre em casa para pegar a cebola. Assim que chega de volta, o cozinheiro pega a cebola e
a pões na panela.
Um pouco depois, volta a provar e diz: “Hum... agora falta uma batata”. Quem ouviu corre
para pegar uma batata que ele põe na panela. Um pouco depois, prova de novo e diz:
”Hum... faltava uma cenoura” e quem o ouve sente-se feliz em contribuir com uma cenoura.
Assim, uma coisa por vez, percebe que falta um pimentão, uma abobrinha, um pouco de
cheiro-verde, um dente de alho, e assim por diante, até quando se sente satisfeito com o
sabor da sopa. Está mesmo uma delícia. Os moradores provam e casa um diz nunca ter
comido um minestrone assim tão bom, tudo mérito do pó mágico do cozinheiro.

Ele, ao contrário, sabe que o mérito não é dele, mas esse é o segredo.

19
Para ser feliz:
Metáfora: A torta da felicidade

Era uma vez... Uma velha cozinheira-doceira que, após ter conquistado a medalha de
bronze e de prata, quer ganhar a medalha de ouro.
Quer preparar a torta da felicidade.

Vão até a terra de a esperança pegar raízes da árvore da coragem, sementes da árvore da
vontade e folhas da árvore da perseverança.
Quando volta para sua casa, deposita as sementes no pilão da paciência, onde as amassa
com o azeite da sorte. Quando estão bem mostrados, joga tudo na panela da confiança,

Cozinhando-os no calor do amor, adicionando de vez entoando algumas gotas de extrato de


benevolência, de óleo essencial do perdão, uma pitada de imprevisto, um aroma de oração.
Quando tudo está cozido, no forno do destino, coloca-a nas diferentes fôrmas da autonomia:
Fôrmas em formato de coração, estrela, meia-lua; borrifando-as com um véu de alegria.
Deixa que a massa se resfrie no vento da aceitação.

Trata-se de uma torta que deve ser servida à temperatura do tempo da oportunidade,
acompanhada por uma infusão de doces lágrimas do bom fim.

20
Auto Estima e Individualidade:
Metáfora: O jovem na floresta
Era uma vez... Um jovem que está tomando banho num lago situado em meio a um bosque.
Quando sai da água, não encontra mais suas roupas. Logo, é forçado a andar nu pelo
bosque. Chegando a um determinado local, sente uma estranha sensação, como se o
estivessem espiando. Olhando bem à sua volta, nota a presença de criaturas com o corpo
recoberto de pêlos: olham fixamente para ele com um ar misto de decepção e desprezo. O
jovem pergunta: “Quem são vocês, porque me olham assim?” Uma das.
Criaturas do grupo, presumivelmente o chefe, diz: “Somos da tribo dos certos e estamos
muito preocupados com o seu aspecto”. Notamos que você não tem pêlos na barriga, sé
tem alguns chumaços aqui ou lá, você deve ser um ingênuo que deixa dominar pelos outros.
E isso não está direito. “Venha conosco, fique conosco e lhe ensinaremos a recobrir seu
corpo com os pêlos necessários a defender-se de qualquer injustiça.”

O jovem reflete o tempo necessário a compreender que ter um pouco de pêlo na barriga o
ajudaria a ser um pouco mais seguro de si, a defender-se melhor de certas acusações ou
pedidos injustificados. O que não o agrada é ter que cobrir todo seu corpo de pêlos. Parece-
lhe um exagero. Agradece-lhes pelo oferecimento e segue seu caminho.

Após ter caminhado um pouco no bosque, eis que novamente sente aquela estranha
sensação, semelhante à precedente. Olha bem à sua volta e dessa vez vê-se circundado
por criaturas com o corpo completamente recoberto por escamas. O líder dirige-se a ele
com comiseração, dizendo: “Como você consegue viver com o corpo assim tão exposto”?
Venha viver conosco e lhe ensinaremos a recobrir seu corpo com um belo escudo que
protege e defende. Venha viver conosco porque somos o povo da certeza. Só nós lhe
damos a certeza das coisas que devem e não devem ser feitas. “O jovem reflete o bastante
para considerar que”. De vez em quando, uma bela couraça poderia defendê-lo de ataques
imprevistos, ofertas gratuitas, maldades inesperadas; que uma bela certeza a protegeria das
ambigüidades e das imprecisões. Em seguida, pensa que com seu corpo recoberto por
escamas tornar-se-ia muito rígido, duro demais, e disso ele não gostaria, além do mais,
conquistando a certeza, perderia o sabor do imprevisto, da surpresa. O ideal seria poder
contar com uma bela couraça quando necessária sem, no entanto, ter que viver
constrangido dentro de um rígido escudo. Agradece-os pela oferta e segue pelo seu
caminho.

Encontrando-se em pleno bosque, já pela terceira vez, sente a mesma estranha sensação, e
pela terceira vez olha bem à sua volta. Nota que dessa vez são criaturas com grandes asas,
que o olham com compaixão e escárnio. E lhe dizem: “Você nos dá pena, forçado a
caminhar com suas pernas, em vez de voar como nós. Se você se unir à nós descobrirás
que somos o povo da verdade. Somente nós a conhecemos e a ensinamos.”

Disso ele gostaria: sempre desejou voar bem alto e sempre desejou conhecer a verdade.
Mas logo reflete e compreende que cada um só pode voar com suas próprias asas e não
com aquelas dos outros. Ele sabe também que a verdade encontra-se escondida no
coração de cada pessoa. Dessa vez, também agradece pelo convite e prossegue pela sua
estrada.

Entretanto assim cada vez mais no bosque; explorando territórios internos inexplorados,
quanto mais prossegue, mais é capaz de ver as coisas que antes não percebia. Agradece
quem lhe levou embora as roupas porque o fez conhecer aquelas estranhas criaturas e seu
modo de recobrir o corpo. Agora, finalmente, experimenta uma sensação de leveza e
autenticidade. No início da viagem não sabia exatamente o que procurava, mas agora
finalmente entendeu.

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Prosseguindo, sente que o ar torna-se mais fresco, e percebe claramente os odores típicos
dos lugares próximos à água. Vê ao longe um laguinho. Aproxima-se lentamente para
refrescar-se um pouco, inclinando-se. O lago reflete a sua imagem. Após tanto olhar em
torno, pode finalmente olhar a si mesmo, notando que em frente a si está a mais bela
pessoa que ele possa jamais ter visto, mesmo se seu corpo não é certo; não é coberto de
plumas, como o povo que acredita conhecer a verdade; não é coberto de escamas, como o
povo que acredita possuir certeza.

Tudo isso lhe permite aceitar que em seu corpo existe somente um pouco de justiça, um
pouco de verdade e um pouco de certeza. Mas, sobretudo, nele existe a consciência do que
é adequado, funcional e oportuno; nele existe o sentido da medida e da elegância. Agora
sabe quais são as roupas mais adequadas, aquelas que o protegem sem constrangimentos,
que podem torná-lo belo sem esconder suas fraquezas, que o consentem expandir suas
possibilidades, sem pretender demais.

22
O que realmente quero:
Metáfora: O Censo
Era uma vez... Um rei que chama os melhores pesquisadores, pois deseja fazer um censo
dos recursos humanos de seu país. Os consultores gastam muitas horas até encontrar um
acordo sobre quais os temas mais importantes a serem considerados, e, quando o
encontram, levam ao rei um esboço do questionário a ser proposto a todos os habitantes do
reino.

O questionário é dividido em cinco partes. A primeira explora as características relativas ao


registro civil: a população é dividida por gênero, idade e características físicas. É importante
saber se são mulheres ou homens, crianças ou adultos, d sã constituição ou com alguma
deficiência, pessoas pequenas ou gigantes. De modo que o rei possa se orientar em
decisões do tipo: criar creches ou asilos para idosos, escolas primárias ou universidades.

A segunda parte do questionário explora as redes familiares e sociais. Cada um faz parte de
uma família, de um grupo de parentes, amigos, conhecidos e associados. É importante
saber se um indivíduo vive sozinho e isolado ou se é circundado pelo afeto e amparo de
parentes e amigos. Assim o rei pode decidir o que é melhor: construir mini apartamentos ou
grandes condomínios, centros sociais ou clubes privados.

A terceira parte explora o mundo profissional, ou seja, as várias atividades que cada cidadão
exerce; pois é importante saber quantas categorias profissionais estão presentes no reino,
saber se completou o ensino médio, se são bacharéis, se possuem alguma especialização;
quais os cargos mais numerosos em seu reino se existem mais camponeses ou pedreiros,
mais médicos ou feiticeiros, mais astrônomos ou astrólogos. Assim, o rei pode decidir se
promoverá escolas de formação para engenheiros ou assistentes sociais, para
farmacêuticos ou vendedores de ervas medicinais.

A quarta parte do questionário prevê a identificação das ordens religiosas presentes no


reino. É importante saber se os habitantes do reino acreditam num único deus ou em muitos
deuses diferente. É importante conhecer o grau de espiritualidade e os valores dos
habitantes do reino para que o rei saiba se devem construir catedrais ou mesquitas, kibutz
ou conventos, ashram ou monastérios.

“E a quinta parte?” Pergunta o rei. “A quinta parte é aquela que poderia ajudar os habitantes
do reino a descobrir seus segredos, aqueles segredos formados por desejos ocultos, por
sonhos na gaveta, por projetos que ainda não se realizaram”. A quinta parte do questionário
deveria ajudar a conhecer melhor algum aspecto interior ocultado, há muito tempo, assim
mesmo e aos outros. Assim, o rei poderia ajudar o povo a realizar seus sonhos.

23
Insistência, não desistir na primeira dificuldade:
Metáfora: O camponês e o poço

Era uma vez... Um camponês que necessita de água para irrigar seus campos. Logo, decide escavar até
a encontrar. No primeiro dia, escava por volta de cinco metros, mas não encontra água. No dia
seguinte, desiludido pelo cansaço do dia anterior, escava num outro ponto do seu jardim por volta de
dois metros. Mas por ali também não sai água. No terceiro dia, cada vez mais frustrado pelo resultado
dos dias anteriores, escava num terceiro ponto por uns 15 metros e também dessa vez não encontra
água. No dia seguinte, enquanto se prepara para começar a escavar em um outro canto do jardim, um
amigo o faz notar que ele teria mais probabilidades de encontrar água aprofundando um buraco já
cavado do que escavando todo dia um novo buraco em luares diferentes.

24
Relacionamentos (saber entender os outros):
Metáfora: O jardineiro, a princesa e o porco-espinho.
Era uma vez... Uma jovem que não sabe bem o que fazer quando crescer. Roda o mundo
em busca de inspiração. Em seu peregrinar, encontra muitos personagens, alguns
simpáticos, outros antipáticos, mas somente três lhe servem de estímulos para úteis
reflexos.

O primeiro é um jardineiro que fala com as plantas. Curiosa com tal comportamento bizarro,
pergunta-lhe o motivo e ele responde que fala com as plantas quando suas atitudes podem
a elas resultar incompreensíveis. As plantas são sensíveis não só ao calor e ao frio, à chuva
e ao vento, como também a seu humor.

Fala com elas, quando quer que saibam que se um dia descuida-se um pouco delas, não é
porque não as ame mais, mas talvez porque dormiu mal, porque está com dor de cabeça,
ou encontra-se muito ocupado em alguma outra atividade urgente.

Fala com elas também porque deseja que saibam que, se às vezes as trata mal ou estimula,
é porque tem certeza de que possuem todo o poder da semente para dar os melhores
frutos, os mesmos pelos quais nasceram e cresceram.

A jovem gosta desse modo de falar com as plantas e acha que também o adotará quando
um involuntário descuido ou um excessivo estímulo puderem danificar a relação, sendo mal
interpretados ou quando quiser colar a fratura entre suas intenções e seus comportamentos.

A segunda personagem que estimula suas reflexões é uma belíssima princesa que se
lamenta, dizendo coisas horríveis de si mesma. A jovem está perplexa porque nota que a
princesa tem tudo: é bela, jovem, rica, saudável e até mesmo princesa.

O que lhe falta? Por que se lamenta? A princesa reconhece que a jovem tem razão,
pedindo-lhe que não leve muito a sério suas lamentações. No fundo de seu coração, sabe
que se tornará rainha. Porém, certas vezes, precisa lamentar-se, sente realmente tal
necessidade, como de um ritual supersticioso.

A jovem não compreende então a princesa lhe explica: “Quando estou com pressa sem
saber esperar, quando estou com medo que não aconteça o que desejo, então me lamento
para lembrar de empenhar-me.” “A lamentação serve como estímulo a dar o melhor de mim
mesmo, de modo a empenhar-me para merecer o que obtenho e para assegurar-me
alcançar o que realmente mereço”.

Tal resposta agrada à jovem. É bom pensar que a lamentação possa servir a reconhecer
que não estou fazendo o que eu poderia fazer, para dar mais consistência àquilo que
realmente quero. Acha que ela também. Quando não sabe bem o que fazer, se concederá a
lamentação para aumentar o empenho e a determinação no que diz respeito à direção certa.

O terceiro personagem que desperta sua curiosidade é um pequeno animal preto e


espinhoso, que a olha com dois olhozinhos maliciosos, escapando para se esconder. A
jovem o segue e quando o pega em suas mãos se fere. Ainda não disse nada e o porco-
espinho se desculpa, dizendo que não era sua intenção: infelizmente reage assim quando
percebe o menor perigo. É um condicionamento mais forte do que ele mesmo. Mas está
freqüentando uma escola para aprender a amansar seus espinhos, de modo a defender-se
sem machucar.

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Até mesmo essa simples arte de autodefesa que não pretende provocar danos e, sobretudo,
o imediato pedido de desculpas por ter machucado, mesmo se de maneira involuntária,
agradam à jovem que encontra a terceira inspiração que buscava.

26
Ninguém me entende, auto percepção:
Metáfora: O golfinho do novo aquário

Era uma vez... Um golfinho habituado a exibir-se nos aquários mais famosos. Diverte-se
muito durante os espetáculos: agradam-lhe os aplausos dos expectadores e os peixes que o
instrutor lhe dá quando realiza um triplo salto ou quando dá vários no ar, com leveza de uma
bailarina em suas pontas.

Um dia esse golfinho é transferido para outro aquário: ele continua a fazer suas exibições
assim como está acostumado, mas nesse novo aquário não recebe nem aplausos dos
expectadores, nem peixes do treinador. Ao contrário, percebe que o público se irrita
incomodado, e que o treinador o desaprova. Mas não entende por quê.

Sua primeira reação é de ressentimento sobre o aquário precedente, no qual tudo ia bem;
julga incompetente e sem gosto os expectadores, e pouco generoso o treinador. Continua a
realizar seus números, esperando conseguir, cedo ou tarde, mudar a reação do público e do
treinador.

Um dia, após um espetacular salto triplo, olha à sua volta para recolher olhares de
admiração percebendo, ao contrário, que tinha molhado o público. Agora, o golfinho
compreende: não tinha percebido que esse aquário era menor que o precedente, e que com
seus números molhava os expectadores. Agora, o golfinho sabe o que fazer para obter
aplausos e peixes. Basta exibir-se sem molhar os expectadores.

27
Adaptar-se sem perder a essência:
Metáfora: O porco espinho que queria ter amigos
Era uma vez... Um porco-espinho por não conseguir ter amigos, pois, cada vez que um
animal da floresta se aproximava, ele se assusta e se defende com suas agulhas bem
pontudas. Ele acha que não pode fazer nada, que essa é sua natureza e seu destino, até
que um dia, enquanto passeava no bosque, vê um porco-espinho que brincava com outro
animal. A essa altura, pensa que, se é possível para um outro porco-espinho, pode ser
possível para ele também. A dúvida provoca o desejo de tentar.

Decide, então, passear pelo bosque aprendendo como fazem os outros animais a dominar
seus instintos.

Primeiramente, encontra um cachorro que está acompanhando seu dono à caça. O porco-
espinho chama-o e pergunta como aprendeu a dominar seus instintos. O cão reflete um
pouco e diz: “foi meu dono que, com muita paciência, me ensinou. De qualquer modo, eu
também quis aprender porque compreendi que traria muitas vantagens” diz, lambendo-se os
bigodes. ”Quais?”, pergunta o porco-espinho. “A vantagem mais relevante é viver com ele:
nutre-me, leva-me à caça, deixa-me brincar, faz-me companhia e me acaricia. É muito
melhor estar com ele do que levar uma vida errante.” O porco-espinho compreende e
agradece ao cão, que core batendo o rabo, em direção a seu dono.

Um pouco depois o porco-espinho encontra um gato caçando ratos. Chama-o para


perguntar a ele como aprendeu a dominar seus instintos. O gato, sem ter que refletir,
responde imediatamente: “porque convém.” “Em que sentido?” Pergunta o porco-espinho.
“Veja bem”, diz o gato com ar taciturno, “convém por simples oportunismo. É você quem
decide quando convém mostrar aos outros seres domesticado, de confiança, enquanto, na
verdade, você sabe que mantém dentro de você mesmo um espírito absolutamente livre,
que ninguém jamais poderá domesticar completamente. Essa é a vantagem, aliás, é o único
modo de conquistar-se a liberdade, a liberdade dos próprios instintos”.

O porco-espinho começa a crer que não só é possível, mas que talvez seja até mesmo
vantajoso, como disseram anteriormente o cão e o gato. Mas ainda quer uma outra prova.

Continua a caminhar no bosque, quando encontra um camaleão. A ele também faz a


mesma pergunta. “Como aprendeu a dominar seus instintos?” E o camaleão responde: “Eu
não aprendi a dominar meus instintos, aprendi a utilizá-los para defender-me.” “O que quer
dizer isso?” Pergunta o porco-espinho. “Quer dizer que aprendi a confiar no meu instinto: é,
de fato, o meu instinto que me avisa se existe uma situação de perigo, se tenho que escapar
rapidamente, ou se posso defender-me ou se devo atacar, se devo esconder-me ou se
posso mostrar-me.” “Mas de que jeito avisa?” Pergunta o porco-espinho. “Não sei direito”,
diz o camaleão. “O que posso dizer é que, a certo momento, percebo algo, como uma
espécie de coceira”. A essa altura, paro e observo atentamente à minha volta, para entender
a origem da coceira. Nesse momento, uso meus instintos, bem alertados, assim como meus
conhecimentos acumulados com a experiência, decidindo em seguida qual a reação mais
apropriada para livrar-me da coceira. Reajo “só instantaneamente, e, até agora, sempre
encontrei respostas diferentes para cada diferente situação”.

28
Ser criativo apesar das limitações:
Metáfora: O rei que se julgava mal
Era uma vez... Um historiador que quer conhecer um rei que ostenta ser muito mau para
perguntar-lhe sobre o que baseia essa sua convicção. O historiador percebe, de fato, uma
diferença entre o que o rei acredita ser e os resultados que obtém de seu povo. O
historiador percebe, de fato, uma diferença entre o que o rei acredita ser e os resultados que
obtém de seu povo. O rei ostenta suas maldades começando a dizer que sempre concedeu
bem poucos privilégios a seus súditos; devem merecer o que têm.

O estudioso compreende por que seu povo tornou-se esperto na arte da agricultura, da
caça e da pesca. Foi graças à suas restrições que, exercitando sua inventiva, encontraram
uma estratégia para sobreviver, tornando-se, assim, com o tempo, espertos. O rei que se
gaba de ser mau está perplexo, pois nunca tinha levado em conta tal consideração.

Retoma a palavra e sempre com tom de ostentação acrescente: “Tirei do meu povo a
liberdade de expressar abertamente suas idéias, não quero saber de contestações.” Ao que
o historiador adiciona que agora compreende porque em seu país existam tantos poetas. O
fato de não poder exprimir abertamente suas idéias desenvolveu neles a capacidade de
expressá-las indiretamente, utilizando formas artísticas alusivas, evocativas, não
simplesmente descritivas e de banal condescendência.
Limitando sua liberdade de palavra, o rei estimulou-os a encontrar modos criativos de
expressão. O rei que se considera mal está cada vez mais perplexo. Não tinha considerado
que poderia estimular a criatividade através da restrição da liberdade de expressão.

Agora, está pronto para fornecer uma outra demonstração da sua maldade, sublinhando que
impôs leis bastante severas, muito restritivas dos comportamentos sociais, nos aspectos da
convivência civil, leis que todos respeitam por temos das punições.

“Muito bem” diz o historiador, “assim fizeste compreender a teus súditos que a virtude não é
nada além do domínio de si mesmo. A costumas teus súditos a serem virtuosos, e a cuidar
que os outros também o sejam. Só assim conseguiste obter um povo pacífico que não
exprime violência, mas dá prioridade ao respeito das normas civis”.

A essa altura, o rei que considera mal está muito perplexo, e pergunta ao historiador: “Mas
então não são as intenções que contam, contam somente as conseqüências?” o historiador
reflete longamente e responde: “Depende”.

29
Ver o que está evidente:
Metáfora: A princesa apaixonada

Era uma vez... Uma princesa apaixonada pelo seu príncipe azul que, no entanto, tem pouco
tempo para dedicar-lhe. É muito ocupado com reuniões da corte, com a caça à raposa, com
viagens pelos reinos próximos. Quando a princesa lhe pergunta quando podem ficar juntos,
ele suspira e em voz baixa diz que infelizmente não pode fazer planos precisos, porque está
muito ocupado com os deves da corte. A princesa é compreensiva e confiante. Basta-lhe
que, de vez em quando, o príncipe lhe direcione o olhar ou lhe prometa uma visita futura.

No entanto, o tempo passa e as amigas da princesa se casam com seus príncipes azuis,
têm filhos e crescem experimentando as diferenças das várias fases da vida e das relações.
A princesa, ao contrário sente que permanece jovem: sua ingenuidade a mantém uma
eterna adolescente, à espera que a promessa de seu príncipe se transforme em
compromisso.

Um dia no tédio de uma manhã cinzenta, olha-se no espelho e não se reconhece. Vê-se de
frente a uma velha enrugada, de cabelos brancos. Olham-se atenciosamente nos olhos,
para verificar se é ela mesma, para ver se sobram traços da bela princesa que era. Olhando
profundamente nos olhos, vê que sobrou somente o olhar da ilusão, que muitos anos a
impediu de ver aquilo que era evidente.

30
Medo do novo
Metáfora: A ilha das gaivotas
Era uma vez... Uma ilha em meio ao mar, habitada por gaivotas, lagartos e figos-da-índia.
Um dia, uma das gaivotas sente a vontade de visitar outras ilhas. Quando manifesta esse
desejo aos amigos, é olhada com surpresa: ninguém nunca deixou a ilha, logo, ela também
não poderá deixá-la. “Mas por quê?” Pergunta curiosa e perplexa a jovem gaivota. “Porque
essa é a tradição”. Ninguém nunca deixou a ilha. É inútil discutir, sempre fizeram assim,
essa é a regra. É uma regra para proteger as gaivotas que, como você, se ilude sobre
encontrar sabe-se lá o que em outro lugar. “Todas as ilhas são iguais.”

A gaivota diz que o que a motiva é só o desejo de conhecer outras ilhas, outras tradições,
outras culturas. E as outras respondem que tudo aquilo que lhe serve conhecer está à sua
disposição na ilha, não existe nada de novo em nenhum outro lugar. Nas outras ilhas,
encontraria as mesmas coisas que existem nessa ilha.

A jovem tem dúvidas, mas não sabe se estima e respeita a tradição à qual pertence, ou se
segue o seu destino, que lhe sugere ir embora, explorar novas ilhas.

Um dia, enquanto medita sobre o que fazer, vê uma gaivota que se repousa na praia.
Reconhece logo que é estrangeira. Aproxima-se para perguntar-lhe de onde vem. A
estrangeira lhe conta que fez uma longa viagem, que vem de uma ilha muito distante, rica
em palmeiras e iguanas. A gaivota diz nunca ter visto nem uma palmeira nem um iguana.

A estrangeira propõe: “Então vá visitá-la. Vale a pena porque existem centenas de tipos de
palmeiras, cada característica diferente”. A gaivota conta que a tradição da sua ilha proíbe
que seus habitantes viagem. A estrangeira comenta: “Sabia que existia uma ilha onde as
gaivotas eram proibidas de se deslocar, todos a descreviam como uma ilha árida, seca, com
gaivotas que voam baixo.”

A jovem gaivota fica chocada com essa descrição da sua ilha. Olha à sua volta e vê pedras,
alguns cactos com figo da índia e alguns lagartos preguiçosos. “Mas as outras ilhas não são
como essa?” Pergunta à estrangeira. “Ah não!” Afirma, “casa ilha é diferente”. Existem ilhas
perfumadas de lentisco; outras, de limão. Existem ilhas habitadas por silenciosos crocodilos;
outras, por numerosas cigarras. Cada ilha é diferente e cada ilha tem suas características,
que a torna inconfundível. Algumas ilhas são reconhecíveis pelo perfume; outras, pelas
cores ou pelos sons. Cada uma tem sua beleza e sua unicidade.

“São perigosas, cheias de armadilhas e de animais ferozes?” Pergunta com curiosa


existência a gaivota. “Ah sim!” a estrangeira pisca o olho, “claro, pode-se encontrar algum
perigo, mas também se aprende a superá-los”. Aprende-se a diferenciar os animais
realmente perigosos daqueles que parece tal somente para defender-se; a distinguir as
correntes que transportam peixe bom daquelas que só arrastam sacos plásticos. A
experiência é tudo, tudo pode ensinar-lhe como melhorar a sua capacidade de observar as
correntes do mar, os sinais que anunciam uma tempestade, um animal que tenta conquistar
sua confiança para depois atacar. “Todas essas experiências não só o ajudam a crescer,
como também o ajudam a voar mais alto”.

Agora, a jovem gaivota compreende: não lhe interessa mais perguntara a si mesma se é o
caso de respeitar ou rebelar-se à tradição da ilha. O que mais importa é respeitar sua
vontade de conhecer, sua necessidade de expandir a própria experiência, sua necessidade
de ser livre para escolher voar bem alto.

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Metáfora: Soluções

A metáfora cria hipótese e sugere soluções. Muitas vezes, não se limita a apresentar uma
só opção para não dar a impressão de uma ordem, nem duas para não criar o dilema da
alternativa, mas pelo menos três, número que sugere a impressão de poder escolher.

As soluções apresentadas na metáfora não são ordens, melhor que isso, pertence ao
campo das sugestões. O objetivo nunca é servir um peixe pescado, limpo e cozido, mas
ensinar a pescar. Será sempre e somente o próprio sujeito a encontrar a solução certa e
adequada ao seu sistema de personalidade, segundo seus valores, seus tempos e o que
considera ser suas conveniências.

É nossa tarefa criar hipotéticas soluções, enquanto a do sujeito é selecionar as que lhe são
adequadas, que talvez nem estejam entre as que foram propostas pela história. Porém, a
história ativou um pensamento autônomo, pôs em movimento um processo exploratório de
procura por uma solução, deu a permissão de pensar que existem soluções, e de procurá-
las.
As soluções propostas pela metáfora estimulam uma maior flexibilidade perceptiva, emotiva,
comportamental, cognitiva, relacional e funcional; ao mesmo tempo, não expandem
necessariamente todas essas flexibilidades, mas somente aquela ou aquelas da qual o
sujeito carece. Os exercícios de flexibilidade treinam a pensar em termos de reformas, de
utilização do que temos a disposição, sem pretender o que no memento não está disponível:
são exercícios de criatividade e liberdade mental.

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Metáfora: Os sete curandeiros
Era uma vez... Um rei que tem uma profunda ferida que não consegue curar. Os médicos da
corte não conseguem encontrar a medicação correta, então a rainha decide chamar os
melhores curandeiros do mundo.

O primeiro curandeiro vem do Japão, e lhe é suficiente uma olhada para entender que a
ferida é profunda somente porque é velha, sem nunca ter sido curada, o curandeiro japonês
prepara um chá, que tem o poder de purificar o organismo de todos os depósitos que
poluíram a mente e o coração, e ajuda a esquecer o que merece ser esquecido.

O segundo curandeiro é um índio da América, concorda com o diagnóstico do japonês e faz


o rei fumar o cachimbo da paz. O rei precisa fazer as pazes consigo mesmo, pelo que não
fez e devia, queria e podia ter feito. O índio americano convida-o a liberar-se dos remorsos
por culpas não cometidas e dos rancores por raivas não expressas e a perdoar os outros.

O terceiro curandeiro vem da Europa e considera que o rei deve se recordar de coisas boas
e belas. O rei as ignorou por tempo demais, concentrando-se em sua dor. O curandeiro
europeu presenteia-lhe com reproduções de obras de arte disseminadas pela Europa,
sublinhando que essas obras não só embelezaram a vida das pessoas, mas também
ensinaram o valor da estética enquanto ética.

O quarto curandeiro vem da Austrália e leva consigo uma pedra vermelha que contém todas
as energias da terra e ensina o valor e o respeito pela natureza. A terra é de fato uma fonte
de energia natural e ensina a importância da solidez, da estabilidade, da consciência, da
necessidade de manter os pés no chão.

O quinto curandeiro vem do Tibet e o presenteia com essa mandala ensina o rei a ter a dose
certa de paciência e compaixão; a paciência que é particularmente útil quando deve afrontar
temas e situações difíceis e talvez um pouco tediosas. Com o mandala, o rei descobre
aquela útil compaixão, quando se encontra próximo a pessoas que sofrem. Seu sofrimento é
uma lição de piedade e de compreensão do sofrimento que existe em cada um de nós.

O sexto curandeiro vem da África e entende que o rei, visto que a ferida, graças às
intervenções precedentes, está cicatrizando, precisa recuperar um pouco das energias.
Prepara uma compressa de ervas medicinais capazes de dar a força, a persistência e a
vontade de que o rei necessita e que acompanhar os momentos mais importantes de sua
vida, para enfrentar suas obrigações com renovado vigor.

O sétimo curandeiro vem da China e o presenteia com o mapa dos territórios jamais
explorados. É um mapa muito articulado, enquanto consente ao rei não só ver onde se
localizam as armadilhas e obstáculos que pode encontrar, mas também os vales, rios e
pontes que pode atravessar para ir além, a outros lugares.

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Respeitar limites:
Metáfora: O rei na cidade da hospedagem
Era uma vez... Um rei que ama visitar seus principados. Um dia, chega num lugar chamado
“a cidade da hospedagem”, onde ninguém o reconhece, logo, é tratado como uma pessoa
normal.

Se quiser entrar numa loja, deve respeitar o horário de abertura, sem pretender que seja
aberto a seu agrado; se há pessoas à sua frente, deve respeitar a fila. E, quando procura
algo que não encontra, é convidado a ir procurá-lo em outra loja, como fazem todos os
cidadãos da cidade.

Isso não agrada o rei, mas, sendo inteligente, compreende que nesse principado não possui
os poderes conferidos ao rei, e não pode transformar as coisas para torná-las como
agradam a ele. Sente-se também curioso com o particular modo de relacionamento que
adotaram na cidade da hospedagem. Cada casa tem na porta o horário de visitas. E cada
casa exibe um horário bem articulado e diferenciado.

A casa na qual vive crianças recebe crianças à tarde e adultos à noite.


A casa habitada por jovens noivos mostra muitos horários para coetâneos e poucos para
idosos. A casa habitada por idosos tem muitos horários para todos: crianças, jovens, adultos
e idosos.

O rei tem dificuldade em compreender os critérios adotados para diferenciar os horários de


visita nas respectivas famílias. Informa-se para saber quem decide esses horários e vem, a
saber, que se trata do juiz de paz. Logo, decide ir visitá-lo. Descobre que ele também tem
um horário de visitas e, quando pode entrar, pergunta-lhe quais os critérios adotados e por
que existem tantas diferenças nos horários de visitas. O juiz de paz responde: “é muito
simples”. É indispensável que os pares estejam com seus pares, que os jovens estejam com
seus coetâneos para ter a possibilidade de confrontar-se, trocar idéias, que se distanciem se
seus pais e comecem a pensar com suas próprias cabeças. Que crianças brinquem com
crianças por certo período e depois tenham o conforto do jantar com seus pais e depois vão
dormir cedo, numa casa silenciosa. E as pessoas idosas devem ter tanto a possibilidade de
serem deixadas em sua solidão repletas de coces lembranças, como a de estar em
companhia dos filhos e netos que tornam seus dias mais alegres.

O rei compreende a sabedoria que existe no que diz o juiz de paz, mas ainda tem uma outra
pergunta: “Como fazem para decidir? É o juiz que decide sozinho ou são as famílias que
decidem e comunicam suas decisões a ele? Como decidem?” Então o juiz sorri docemente
e observa: “Como você deve ter percebido, a nossa é a cidade da hospedagem. É um dom
no qual prevalece a reciprocidade, no qual dar e receber faz parte de uma troca de amor.
Cada um conhece essa regra e sabe que existem precisos limites a serem respeitados em
dar e em receber hospedagem”.

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Metáfora: A Lenda das Areias
Vindo desde as suas origens em distantes montanhas, após passar por inúmeros acidentes
de terreno nas regiões campestres, um rio finalmente alcançou as areias do deserto. E do
mesmo modo como vencera as outras barreiras, o rio tentou atravessar esta de agora, mas
se deu conta de que suas águas mal tocavam a areia nela desapareciam.

Estava convicto, no entanto, de que fazia parte de seu destino cruzar aquele deserto,
embora não visse como fazê-lo.
Então uma voz misteriosa, saída do próprio deserto arenoso, sussurrou: - O vento cruza o
deserto, o mesmo pode fazer o rio.
O rio objetou estar se arremessando contra as areias, sendo assim absorvido, enquanto que
o vento podia voar, conseguindo dessa maneira atravessar o deserto.

Arrojando-se com violência como vem fazendo não conseguirá cruzá-lo. Assim
desaparecerá ou se transformará num pântano. Deve permitir que o vento o conduza a seu
destino.
- Mas como isso pode acontecer?
- Consentindo em ser absorvido pelo vento.
Tal sugestão não era aceitável para o rio. Afinal de contas, ele nunca fora absorvido
até então. Não desejava perder a sua individualidade. Uma vez a tendo perdido, como se
poderá saber se a recuperaria mais tarde?

- O vento desempenha essa função – disseram as areias.


- eleva a água, a conduz sobre o deserto e depois a deixa cair.
Caindo na forma de chuva, a água novamente se converte num rio.
- Como posso saber que isto é verdade?
- Pois assim é, e se não acredita, não se tornará outra coisa senão um pântano, e
ainda isto levaria muitos e muitos anos; e um pântano não é certamente a mesma coisa que
um rio.
- Mas não posso continuar sendo o mesmo rio que sou agora?
- Você não pode, em caso algum, permanecer assim – retrucou a voz. – Sua parte
essencial é transportada e forma um rio novamente. Você é chamado assim ainda hoje por
não saber qual a sua parte essencial.
Ao ouvir tais palavras, certos ecos começaram a ressoar nos pensamentos mais
profundos do rio. Recordou vagamente um estágio em que ele, ou uma parte dele, não
sabia qual, fora transportada nos braços do vento. Também se lembrou, ou lhe pareceu
assim, de que era isso o que devia fazer, conquanto não fosse a coisa mais natural.
E o rio elevou então seus vapores nos acolhedores braços do vento, que suave e
facilmente o conduziu para o alto e para bem longe, deixando-o cair suavemente tão logo
tinham alcançado o topo de uma montanha, milhas e milhas mais distantes.
E porque tivera suas dúvidas, o rio pôde recordar e gravar com mais firmeza em sua mente
os detalhes daquela sua experiência. E ponderou: - Sim, agora conheço a minha verdadeira
identidade.
O rio estava fazendo seu aprendizado, mas as areias sussurraram:
- Nós temos o conhecimento porque vemos essa operação ocorrer dia após dia, e
porque nós, as areias, nos estendem por todo o caminho que vai desde as margens do rio
até a montanha.
E é por isso que se diz que o caminho pelo qual o Rio da Vida tem de seguir sua
travessia está escrito nas Areias.

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Metáfora: A Fiandeira Fátima e a Tenda
Uma vez, numa cidade do mais longínquo Ocidente, vivia uma moça chamada
Fátima. Era filha de um próspero tecelão que certo dia lhe disse:
- Filha, faremos uma viagem, pois tenho negócios a tratar nas ilhas do Mediterrâneo.
Talvez lá você encontre algum moço atraente, de boa posição social e com quem poderá
casar-se.
Iniciaram então a viagem, indo de ilha em ilha, o pai tratando de seus assuntos e
Fátima sonhando com o homem que poderia vir a ser seu marido. Mas um dia, quando se
dirigiam a Creta, armou-se uma tempestade e o barco naufragou. Semi-inconsciente, Fátima
foi arrojada pelas ondas a uma praia próxima de Alexandria. Como seu pai morrera, ela
estava agora inteiramente desamparada.
Só conseguia se lembras vagamente do que fora sua vida até a dura experiência do
naufrágio, e de ter estado prestes a morrer afogada. Sentia-se exausta e aturdida.
Enquanto vagava pela praia, uma família de tecelões a encontrou. Apesar de serem
muitos pobres, levaram-na para a sua pequena casa e lhe ensinaram seu ofício. Desse
modo, ela iniciou uma segunda vida e durante dois anos voltou a ser feliz, resignando-se
com sua sorte. Mas um dia, estando na praia, um grupo de mercadores de escravos
desembarcou e a levou junto com outros cativos.
Embora se lamentasse bastante, Fátima não despertou qualquer compaixão nos
traficantes, que a levaram a Istambul, onde a venderam como escrava.
Pela segunda vez, o mundo de sonhos e esperanças da jovem ruíra.mas quis a sorte
que no mercado houvesse poucos compradores na ocasião. Um deles era um homem que
estava atrás de escravos para trabalharem em sua serraria, onde se fabricavam mastros de
embarcações. Ao perceber o ar desolado e o abatimento de Fátima decidiu comprá-la,
pensando que assim, pelo menos, poderia oferecer-lhe uma vida um pouco melhor do que a
jovem teria se fosse adquirida por outro comprador.
Ele levou a Fátima para sua casa, com a intenção de fazer dela uma criada para sua
esposa. Mas ao chegar em casa, soube que perdera todo o seu dinheiro num carregamento
que fora roubado por piratas. Não podia agora arcar com os gastos tidos com os
trabalhadores e assim, ele, Fátima e sua mulher se viram sozinhos para levar a cabo a
pesada tarefa de fabricar mastros.
Grata a seu empregador por tê-la resgatado, Fátima passou a trabalhar no afinco e
tão bem, que ele lhe deu liberdade e a fez seu ajudante de maior confiança. E foi assim que
ela chegou a se sentir relativamente feliz em sua terceira profissão.
Certo dia seu patrão lhe disse:
- Fátima, quero que vá a Java, como minha representante, com um carregamento de
mastros. Certifique-se de estar vendendo-os bem.
Ela partiu então. Mas quando o barco estava na altura da costa chinesa foi
alcançado por um tufão. E uma vez mais, Fátima se viu lançada como náufraga a uma praia
de um país desconhecido. E outra vez chorou amargamente, por sentir que nada em sua
vida acontecia de acordo com suas esperanças.
Sempre que algo parecia caminhar bem, um incidente ocorria e tudo ia por água abaixo.
- Por que será – ela exclamou pela terceira vez – que sempre que tento fazer alguma
coisa, ela fracassa? Por que têm de ocorrer tantas desgraças comigo? – Mas não obtiveram
resposta a suas indagações interiores. E assim teve de levantar-se da areia e caminhar pela
praia.
Aconteceu, no entanto, que ninguém na China jamais ouvira falar de Fátima, nem
sabia de seus problemas. Mas corria uma lenda de que ali chegaria um dia certa mulher
estrangeira, capaz de confeccionar uma tenda especial para o imperador. E já que até então
não havia ninguém na China apta a tal serviço, todos esperavam o cumprimento daquela
predição com a mais viva ansiedade.
Para assegurar-se de que a estrangeira ao chegar não passasse despercebida, ou
fosse confundida com outra pessoa, os sucessivos imperadores chineses costumavam

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enviar arautos uma vez por ano a todas as cidades aldeias do país, solicitando que cada
mulher estrangeira recém-chegada fosse logo encaminhada à Corte.
Justamente numa dessas ocasiões é que Fátima, muito cansada, chegou a uma
cidade costeira da China. As pessoas do lugar falaram com ela por meio de um intérprete,
explicando-lhe então que tinha de ir ver o imperador.
- Senhora – disse o rei, quando Fátima foi conduzida à sua presença, no palácio -,
sabeis fabricar uma tenda?
- Creio que sim, alteza.
E pediu que lhe trouxessem cordas, mas não às havia ali.
Então se lembrando de seus tempos de fiandeira, recolheu linho e confeccionou as cordas.
Depois pediu uma tela forte, mas os chineses não dispunham do tipo de que ela
necessitava. Apelando então à sua experiência junto aos tecelões de Alexandria, fabricou
uma tela resistente para a confecção de barracas. Logo viu que precisava de estacas para
suporte da tenda, mas também não as encontrou na China. Então Fátima, recordando-se de
como fora instruída a respeito pelo fabricante de mastros em Istambul, fez com muita
habilidade uns suportes sólidos. Quando estes ficaram prontos, ela puxou de novo pela
memória, buscando lembrar-se de todas as tendas que havia visto em suas viagens. E vai
daí que a tenda real ficou pronta.
Quando tal maravilha foi anunciada ao Imperador da China, este ofereceu a Fátima
como recompensa dar-lhe o que ela mais almejasse. Então Fátima escolheu estabelecer-se
na China, onde depois se casou com um famoso príncipe. Rodeada de seus filhos e do
carinho do marido, viveu muito feliz até o fim de seus dias.
Foi através dessas aventuras que Fátima compreendeu que o que lhe parecera no
momento uma experiência algo desagradável, tornara-se parte essencial na elaboração de
sua felicidade.

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Na Rua dos Perfumistas

Um varredor, enquanto caminhava pela rua onde havia muitas perfumarias, caiu de
repente ao solo como morto. Transeuntes procuraram reanimá-lo com deliciosos aromas,
mas só conseguiram fazê-lo piorar.
Por fim apareceu ali um ex-varredor, que compreendeu logo a situação. Manteve sob
as narinas do homem caído algo de muito sujo e o varredor logo se recuperou, exclamando:
- Isto sim é que é perfume!
Devem todos preparar-se para a fase de transição em que não haverá nenhuma das
coisas a que estão acostumados. Após a morte, vossa identidade deverá responder a
estímulos dobre os quais tendes oportunidade de indagar aqui.
Se permanecerem aferrados às poucas coisas que lhes são familiares, isto só os fará
infelizes, como o varredor sobre o qual o aroma do perfume não fez efeito, na rua dos
perfumistas.

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Aproveitar a Vida:
Metáfora: O Morango
Uma manhã um monge estava colhendo frutos em uma floresta quando viu um tigre. Não
querendo se tornar o café da manhã do tigre, o monge correu. Infelizmente, o tigre correu
atrás. Depois de correr com muito esforço através da floresta densa, o monge, de repente,
saiu da floresta e viu-se balançando na beira de um penhasco. Como o tigre estava quase o
alcançando, o monge não teve outra escolha se não agarrar um cipó dependurado na beira
do penhasco e pular. O cipó agüentou!

Na metade da descida do penhasco, o monge viu outro tigre esperando embaixo! À medida
que ele balançava no cipó tentando decidir o que fazer, um pequeno camundongo saiu de
um buraco na parede do penhasco e começou a mordiscar o cipó. Nesse momento de crise,
o monge derepente notou um pé de morango em uma fenda do penhasco e nele estava o
maior e mais bonito morango que ele já tinha visto. Momentaneamente, ignorando a sua
situação difícil, o monge esticou o braço, arrancou o morando e deu uma mordida. De
repente, todos os seus medos foramesquecidos, pois o monge não pode sentir nada, mas
apenas o intenso sabor do gosto da fruta mais doce e suculenta que ele já tinha comigo.

Então, logo que o camundongo terminou de roer o cipó. Ele caiu, mas achou uma pequena
saliência para agarrar-se. E ficou ali pendurado por um tempo tão longo que ambos ostigres
ficaram entediados e foram embora. Muito lentamente, o monge conseguiu escalar o
penhasco, atravessou a floresta e voltou para a sua aldeia.

Enquanto caminhava, o monge pensou consigo mesmo: “Aprendi uma importante lição hoje:
A vida é preciosa e o tempo é curto. Com freqüência gasto meu tempo preocupando-me
sobre o que aconteceu comigo no passado (o tigre no topo do penhasco), com o que poderá
acontecer comigo no futuro (o tigre no fundo do penhasco) e com as picuinhas e
aborrecimentos do dia a dia (o camundongo). Com toda essa preocupação, às vezes não
veio as bonitas dádivas que a vida tem para oferecer (o morango). Meu medo me impede de
ver e apreciar esses presentes. Assim, não só deveríamos desejar muitos morangos
(presentes) em nossas vidas, mas também ter a sabedoria de reconhecê-los, apanhá-los,
saboreá-los e curtir cada e todas as preciosas medidas”.
Pergunta-guia: Qual você pensa ser a moral dessa estória? Poderia haver mais uma
moral? Existem circunstâncias na sua vida que o lembram dessa estória?

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Zona de Conforto
Metáfora: As duas Sementes
Na primavera, uma jovem senhora semeou o seu jardim. Duas sementes acabaram sendo
enterradas, uma ao lado da outra. A primeira semente disse para a segunda: “Pensa como
será divertido, vamos crescer, nossas raízes irão fundo no solo e, quando elas estiverem
fortes, vamos brotar da terra e nos tornar lindas flores para todo mundo ver e admirar”!

A segunda semente ouviu, mas estava preocupada. “Isso parece legal”, ela disse, “mas a
terra está fria? Estou com medo de estender minhas raízes nela. E se alguma coisa der
errado e eu não me tornar bonita? Então a senhora pode não gostar de mim; estou com
medo”.

A primeira semente, no entanto, não estava intimidada. Empurrou suas raízes para baixo na
terra e começou a crescer. Quando suas raízes estavam fortes o sufuciente, ela emergiu do
solo como uma linda flor. A senhora inclinou-se cuidadosamente para ela e orgulhosamente,
mostrou a flor perfumada para todos os seus amigos. Mas enquanto isso a outra semente
permanecia dormente. “Vamos lá”, a for dizia todo o dia para a sua amiga, “está quente e
maravilhoso aqui em cima, no sol!”

A segunda semente estava muito impressionada, mas permanecia amedrontada e com


insegurança empurrou uma raiz no solo. “Ai”, ela disse. Essa terra está ainda muito fria e
dura para mim. Eu não gosto dela. Prefiro ficar aqui na minha própria concha onde estou
segura e confortável. “Há muito tempo para me tornar uma flor”. Nada do que a primeira
semente dissesse mudava a mente da segunda.

Então, um dia, quando a senhora estava fora, um pássaro faminto voou no jardim, ciscando
o solo, procurando algo para comer. A segunda semente que estava logo abaixo da
superfície, com muito medo de ser comida. Mas aquele era o seu dia de sorte. Um gato
pulou no peitoril da janela e espantou o pássaro. A semente suspirou de alívio! E, “neste
momento, tomou uma importante decisão: é uma tolice desperdiçar meu curto tempo aqui
na terra”, disse. “Vou seguir as minhas esperanças e sonhos de mudança em vez de meus
medos”. Então, sem outro pensamento, a segunda semente começou a espalhar as suas
raízes e também cresceu e se tornou uma linda flor.

Perguntas-guia: Você segue seus sonhos e esperanças ou segue seus medos?


Você já esteve em uma experiência em que teve que enfrentar seus medos para crescer?

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