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TÓPICOS SOBRE A PSICOLOGIA DE SKINNER

1. Quem foi Skinner? Burrhus Frederic Skinner nasceu em Susquehanna, Pensilvânia, 20 de Março de
1904 e faleceu em Cambridge, 18 de Agosto de 1990. Foi um autor e psicólogo estadunidense. Foi o
fundador do chamado Behaviorismo Radical.

2. Uma pergunta fundamental para o Behaviorismo de Skinner é: Porque as pessoas fazem o que fazem,
porque se comportam como se comportam? E as pessoas fazem o que fazem e continuam a fazer ou não
dependendo dos efeitos, das conseqüências dos comportamentos delas no ambiente.

3. O objeto de estudo não é, pois, o comportamento em si, como produto do desejo ou da vontade. Para
Skinner existe uma regularidade, uma ordenação no comportamento. Há um senso de ordem senão seria
impossível a convivência humana. O comportamento não é casual nem caótico, nem expressão de uma
força interna interior. Mas está relacionado a aspectos do ambiente que a pesquisa pode explicar.

4. Por isto Skinner dá ênfase às conseqüências do comportamento que selecionam as ações e as ações
selecionadas pelas conseqüências tornam-se mais prováveis de serem repetidas ou não dependendo das
conseqüências que elas produzem no ambiente.

5. Como a ênfase é nas conseqüências do comportamento o modelo dele é chamado modelo de seleção
pelas conseqüências. Então a determinação do comportamento neste modelo se dá por 3 níveis ou 3
forças de avaliação ou seleção:

5.1 Filogenia: atua no cérebro.


5.2 Ontogenia: responsável pelos repertórios individuais.
5.3 Cultura: molda os comportamentos pelas conseqüências que produz neles.

6. Toda ação é ação em contexto. Não tem explicação em si. Só pode ser explicada em interação. É
interativa.

7. Qual o papel da liberdade e da vontade humana? O homem é produto destas três forças de seleção e
variação, mas cada indivíduo é único, tem uma história única. Mesmos gêmeos são diferentes. Por isto
não nega a individualidade construída na história, mas sim a individualidade a priori. O homem é um
todo que se comporta, que interage com o ambiente. O homem não tem um corpo com uma vontade
dentro dele, mas um corpo que é uma vontade. O homem é construído pela cultura. Somos um eu em
construção. O homem nasce organismo, mas interage (ontogenia) com o ambiente e vai se tornando uma
pessoa, personalidade. Não é a personalidade que determina os comportamentos. Ela é produto da história
individual de cada um.

8. Não podemos deixar a cultura ao acaso, pois vai determinar o homem e é determinada pelo próprio
homem. O homem é construído pela cultura. Por isto é imprescindível para Skinner o planejamento
cultural. Será que estamos satisfeitos com os homens que temos?

9. Precisamos ser mais eficientes em lidar com o comportamento. Por que há pouca eficiência? Porque há
uma concepção errada de comportamento humano devido a uma tradição judaico cristão ocidental que
nos faz acreditar que somos seres com vontade própria. Esta tradição nos faz acreditar que há um eu
iniciador porque não nos vemos aprendendo, não vemos a produção do comportamento, vemos o produto.
Não percebemos a evolução.

10. Em decorrência destas idéias, as idéias de Skinner são até hoje rejeitadas. Foi chamado de controlador
de comportamento, de manipulador do comportamento sem que a pessoa controlada saiba. Mas é o
contrário o objetivo de Skinner. Propõe que todas as pessoas saibam que elas são controladas. Enquanto
não souber que sou controlado não posso criar contra controles. Skinner teme muito o fato de rejeitarmos
a noção de controle, pois se eu não o percebo não crio contra controles. Se me conscientizo que há
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controles posso fazer alguma coisa em relação a isto. Não existe liberdade de controle. Acreditar nisto é
uma forma de se enganar e enganar o outro, é uma forma de esconder os controles mais sutis. Vamos
perder medo de controle porque assim podemos ter formas de controle mais eficazes. Só estudando e
fazendo propostas de mudanças de controles teremos controles eficientes e não simulados.

11. Liberdade é do fazer e não do querer.

12. Como a psicologia vai enfrentar o desafio dos controles do comportamento? Não de forma destrutiva
que inviabiliza a vida das próximas gerações.

13. Como controlar o comportamento? Não de forma assertiva (=punitiva), pois gera ansiedades e o
controle é rejeitado. No caso da avaliação, a maioria dos alunos estudam controlados por nota. No
entanto deveria ser a aprendizagem a controladora e não a nota. O aluno deveria estudar para aprender e
não pela nota.

14. Alguns livros fundamentais para entender Skinner:


1) Mito da liberdade (tradução ruim – revendo conceito de liberdade e não que ela não existe – dirigido
para o público não especialista. Leitura mais fácil.)
2) Sobre ciência e comportamento humano (a bíblia da análise do comportamento, primeiro livro do
Skinner, o projeto dele)
3) Sobre o Behaviorismo: escreveu este livro em 1970
4) O Comportamento verbal: livro que Skinner considera como o mais importante dele. Difícil de ler.
5) Tecnologia de ensino: sobre professores, sobre a escola
6) Os pensadores: Skinner

15. Skinner tem influências de Francis Bacon, Bertrand Russel, Ernest Mach, Freud (apesar de Skinner
criticá-lo ele também o elogiou por achar que foi um grande observador do comportamento), Proust
( aprendeu através dele a auto observação).... E outras influências, o que explica a complexidade de seu
pensamento.

16. Por que há tanta rejeição ao pensamento de Skinner?


- O seu pensamento foi confundido com o behaviorismo de Watson que reduziu o homem somente ao
observável através da psicologia S-R (estímulo-resposta). Para Skinner o homem não é um autômato. É
um ser em constante construção. Produz comportamento, modifica-o e é pelo mundo modificado. Não
olha só para os estímulos e respostas e sim para o conjunto de respostas e ações, suas conseqüências, e
que ocorrem no contexto. Olha para o mundo pela lente das contingências do reforçamento.

18. Se estuda o comportamento dos ratos foi para demonstrar um princípio aplicável a qualquer ser
vivente: nós somos sensíveis ao reforçamento, às conseqüências do nosso comportamento. Porém a prova
do reforçamento positivo obteve com experiências com seres humanos, pois os homens não são ratos. São
seres complexos, fruto das 3 determinações: filogênese, ontogênese e cultura. O reforçamento positivo
aumenta a probabilidade da ação que o precedeu. Skinner é contra o reforço punitivo, pois gera
conseqüências emocionais colaterais, ansiedades, descargas de adrenalina (será que a evasão escolar não é
conseqüência do reforço punitivo?). Infelizmente é usado freqüentemente na educação. Além disso, o que
é reforçador para um não pode ser para outro. Por exemplo, apertar a bochecha pode ser agradável para
um e não ser para outro. Somos sensíveis ao reforçamento positivo e é isto que nos move. O homem é
movido pela satisfação, pelo prazer, pelas conseqüências de suas ações. Exemplo: se uma pessoa pede
água e a recebe e mata a sua sede, tenderá a pedir água de novo, pois o seu comportamento foi reforçado
positivamente.

19. Porém, nem tudo que é reforçador positivo é prazeiroso. Por exemplo, no caso do salário do mês.
Aceitamos muitas vezes um trabalho desagradável por conta do reforço positivo do salário ainda que seja
desagradável.
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20. A avaliação na escola é eminentemente punitiva. Para Skinner não pode ser punitiva (aversiva): para
ele a avaliação tem o propósito de verificar se aquilo que ensinei eu ensinei de fato. É mais uma etapa. O
aluno que aprende tem ritmo individual e a avaliação deve ser contínua. Para Skinner a avaliação perde o
seu caráter ideológico de poder, pois não avalia somente o observável, mas o todo. Propõe para a
avaliação a maior amostra de repertórios comportamentais: não só o escrito, mas tarefas que o aluno faz,
materiais que traz para a aula, as suas idéias e suas concepções. Contra uma escola que é muito verbal,
Skinner propõe outras formas de medir o conhecimento. Analisa os eventos encobertos: pensamento,
emoções,....Como o professor poderia agir perante um erro? Poderia perguntar: você errou esta questão
não? O que você pensou quando respondeu desta forma?

21. Ensinar é possibilitar condições facilitadoras para ter reforçamento positivo. O errar pode ser
importante para o educador, mas para o aluno é extremamente aversivo. O ensino com muita tentativa e
muito erro gera conseqüências aversivas. A nossa tradição judaico-cristã valoriza a dor para o mérito. O
aprender tem que ser suave, gostoso e agradável.

22. A aprendizagem deve ser realizada de forma gradual e em condições adequadas. Por que aprender
apenas em 1 ano? Deve se dividir o curso em pequenas unidades das mais simples as mais complexas. Só
passe para o seguinte se atingir os objetivos dos anteriores. A passagem é natural quando se atinge os
100% por cento. A questão da nota: se passou tem que ter nota dez pois o objetivo não é classificar mas
ensinar.

23. No que diz respeito aos objetivos: diga o que você espera dos alunos. O aluno deve saber o que se
espera dele. Aulas expositivas: de vez em quando. O aluno deve trabalhar a maior parte do tempo com
material cuidadosamente planejado pelo professor. O aluno aprende melhor quando ele mesmo faz. Mas
precisa ouvir o professor que deve estar sempre disponível, sempre presente.

Referências bibliográficas
1. B. F. Skinner. Sobre o Behaviorismo
2. Puc Minas – Palestra com a professora Sandra Bernardes
http://200.244.52.177/embratel/main/mediaview/freetextsearch/new_search;jsessionid=097E2C80C1AC84324CB4
7DF9D94D6640
3. http://cafesfilosoficos.wordpress.com/2009/08/02/colecao-grandes-educadores-skinner/

TRECHOS DE LIVRO DE B. F. SKINNER


BEHAVIORISMO: SUA APLICAÇÃO

Uma área de aplicação dos conceitos apresentados tem sido a Educação (veja capítulo 17). São conhecidos os
métodos de ensino programado, o controle e a organização das situações de aprendizagem, bem como a elaboração
de uma tecnologia de ensino.
Entretanto, outras áreas também têm recebido a contribuição das técnicas e conceitos desenvolvidos pelo
Behaviorismo, como a de treinamento de empresas, a clínica psicológica, o trabalho educativo de crianças
excepcionais, a publicidade e outras mais. No Brasil, talvez a área clínica seja, hoje, a que mais utiliza os conheci -
mentos do Behaviorismo. Na verdade, a Análise Experimental do Comportamento pode nos auxiliar a descrever
nossos comportamentos em qualquer situação, ajudando-nos a modificá-los.

O EU E OS OUTROS

A (...) Numa análise comportamental, um pessoa é um organismo, um membro da espécie humana que
adquiriu um repertório de comportamento. (...) Uma pessoa não é um agente que origine; é um lugar, um ponto em
que múltiplas condições genéticas e ambientais se reúnem num efeito conjunto. Como tal, ela permanece
indiscutivelmente única. Ninguém mais (a menos que tenha um gêmeo idêntico) possui sua dotação genética e, sem
exceção, ninguém mais tem sua história pessoal. Daí se segue que ninguém mais se comportará precisamente da
mesma maneira.
(...) Uma pessoa controla outra no sentido de que se controla a si mesma. Ela não o faz modificando sentimentos ou
estados mentais. Dizia-se que os deuses gregos mudavam o comportamento infundindo em homens e mulheres
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estados mentais como orgulho, confusão mental ou coragem, mas, desde então, ninguém mais teve êxito nisso.
Uma pessoa modifica o comportamento de outra mudando o mundo em que esta vive.
(...) As pessoas aprendem a controlar os outros com muita facilidade. Um bebê, por exemplo, desenvolve certos
métodos de controlar os pais quando se comporta de maneiras que levam a certos tipos de ação. As crianças
adquirem técnicas de controlar seus companheiros e se tornam hábeis nisso muito antes de conseguirem controlar-
se a si mesmas. A primeira educação que recebem no sentido de modificar seus próprios sentimentos ou estados
introspectivamente observados pelo exercício da força de vontade ou pela alteração dos estados emotivos e
motivacionais não é muito eficaz. O autocontrole que começa a ser ensinado sob a forma de provérbios, máximas e
procedimentos empíricas é uma questão de mudar o ambiente. O controle de outras pessoas aprendido desde muito
cedo vem por fim a ser usado no autocontrole e, eventualmente, uma tecnologia comportamental bem desenvolvida
conduz a um autocontrole capaz.

A QUESTÃO DO CONTROLE

Uma análise científica do comportamento deve, creio eu, supor que o comportamento de uma pessoa é
controlado mais por sua história genética e ambiental do que pela própria pessoa enquanto agente criador,
iniciador; todavia, nenhum outro aspecto da posição behaviorista suscitou objeções mais violentas. Não podemos
evidentemente provar que o comportamento humano como um todo seja inteiramente determinado, mas a
proposição torna-se mais plausível à medida que os fatos se acumulam e creio que chegamos a um ponto em que
suas implicações devem ser consideradas a sério.
Subestimamos amiúde o fato de que o comportamento humano é também uma forma de controle. Que um
organismo deva agir para controlar o mundo a seu redor é uma característica da vida, tanto quanto a respiração ou a
reprodução. Uma pessoa age sobre o meio e aquilo que obtém é essencial para a sua sobrevivência e para a
sobrevivência da espécie. A Ciência e a Tecnologia são simplesmente manifestações desse traço essencial do
comportamento humano. A compreensão, a previsão e a explicação, bem como as aplicações tec nológicas,
exemplificam o controle da natureza. Elas não expressam uma "atitude de dominação" ou "uma filosofia de
controle". São os resultados inevitáveis de certos processos de comportamento.
Sem dúvida cometemos erros. Descobrimos, talvez rápido demais, meios cada vez mais eficazes de
controlar nosso mundo, e nem sempre os usamos sensatamente, mas não podemos deixar de controlar a natureza,
assim como não podemos deixar de respirar ou de digerir o que comemos. O controle não é uma fase passageira.
Nenhum místico ou asceta deixou jamais de controlar o mundo em seu redor; controla-o para controlar-se a si
mesmo. Não podemos escolher um gênero de vida no qual não haja controle. Podemos tão-só mudar as condições
controladoras.
Contracontrole

Órgãos ou instituições organizados, tais como governos, religiões e sistemas econômicos e, em grau menor,
educadores e psicoterapeutas, exercem um controle poderoso e muitas vezes molesto. Tal controle é exercido de
maneiras que reforçam de forma muito eficaz aqueles que o exercem e, infelizmente, isto via de regra significa
maneiras que são ou imediatamente adversativas para aqueles que sejam controlados ou os exploram a longo prazo.
Os que são assim controlados passam a agir. Escapam ao controlador — pondo-se fora de seu alcance, se
for uma pessoa; desertando de um governo; apostasiando de uma religião; demitindo-se ou mandriando — ou então
atacam a fim de enfraquecer ou destruir o poder controlador, como numa revolução, numa reforma, numa greve ou
num protesto estudantil. Em outras palavras, eles se opõem ao controle com contracontrole.

B. F. Skinner. Sobre o Behaviorismo.


Trad. Maria da Penha Villalobos. São Paulo, Cultrix/Editora da Universidade de São Paulo, 1982. p. 145-164.

ENDEREÇO DE SITE COM LIVROS INTEIROS DE SKINNER

http://livrosdehumanas.org//?s=skinner

Neste site estão disponíveis os seguintes livros:


a) Walden II – Uma sociedade do futuro
b) Sobre o Behaviorismo
c) Ciência e Comportamento humano
d) O comportamento Verbal

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