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Com o objetivo de evitar a repetição destas locuções, serão identificadas apenas por metodologia ativa e
por metodologia participativa.
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da realidade, a prática social que se tem e que se quer ter, os vínculos entre educação e
sociedade, entre educação e política dentre outros aspectos. Presentemente, dentre
outras, estas duas pedagogias condividem a aspiração pelo novo (a metodologia
participativa).
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afirmar também, de que há antinomias que se fazem presentes entre a nascente
metodologia participativa e a centenária metodologia ativa. Esta, fundada na Biologia e
na Psicologia, a qual se fizera rainha da Educação, até poucas décadas atrás, realizava a
autonomização do aluno, do professor e da escola em relação à dimensão sócio-
histórica, ainda que as duas ciências da educação mencionadas tenham trazido
contribuições.
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também não pode ser entendida como reunião de métodos e técnicas de ensino, os quais
se refeririam à Didática teórica, cujos critérios passariam pelos “[...] objetivos, natureza
do conteúdo, nível do aluno e natureza da aprendizagem [...]” (MARTINS, 1991, p. 46).
Ainda para a mesma: “O método constitui o elemento unificador e sistematizador do
processo de ensino, determinando o tipo de relação a ser estabelecida entre professor e
alunos [...]” (1991, p. 40).
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métodos e técnicas de ensino, tecnologias educativas, avaliação, faixa etária do
educando, nível de escolaridade, projeto político-pedagógico da escola, conhecimentos
que o aluno possui, sua realidade sociocultural, sua pertença a grupos e classes sociais,
além de outras dimensões societárias em que se sustenta uma dada sociedade. Dessa
forma, a metodologia de ensino guarda em si uma orientação filosófica fundada em
concepções de homem, de mundo, de sociedade, de história, de existência, de educação
entre outros aspectos. Mesmo que tais concepções não sejam expressas, elas orientam a
ação educativa e o processo pedagógico, uma vez que o professor as leva consigo para a
sala de aula, mesmo que não as tenha objetivado.
Sob essa orientação, não haveria uma metodologia de ensino unitária, separada
ou desvinculada de concepções epistemológicas e de “[...] uma visão de mundo, pois as
práticas científicas e pedagógicas são aspectos de uma totalidade maior: a prática
social” (MANFREDI, 1993, p. 4). Esta autora também argumenta que
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Firmado nessa postura, distinguem-se duas fontes correlatas que aparelham
a metodologia. A 1ª é de ordem concepcional: visões de homem, de sociedade, de
existência, de mundo, de história, de educação etc, que envolvem necessariamente
projetos políticos; e a 2ª é de ordem operacional, e tem em vista a ação, as práticas
pedagógicas. De tais dimensões, não se isentam os professores e alunos, posto que elas
se fazem necessariamente presentes no processo educativo-escolar, por exemplo, pela
concepção de aluno ou de professor que é veiculada também operacionalmente:
O tema dessa seção reporta-se à atividade, a qual pode ser compreendida por
diferentes acepções relacionadas à ação, ao ato, à operação, à prática, à produção ou
mesmo à realização. Segundo Ferrater Mora (1982, p. 39), “O vocábulo ‘ação’ é um
bom exemplo desse tipo de vocábulos com tantos e tão diversos sentidos que é pouco
recomendável usá-los fora do contexto ou sem especificar seu emprego”. O antônimo de
atividade, mais próximo do campo pedagógico e didático, pode ou deve ser referido à
passividade, à inatividade, à inação.
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No âmbito teórico-educacional escolanovista, a atividade é um conceito-chave
de muita importância, uma vez que ela é promotora de experiência, de aprendizagem.
Por esse motivo, convém elucidar o significado de experiência, porque é no interior das
suas diferentes acepções, no decorrer da época moderna, que se expressam os primeiros
indícios da metodologia ativa. E um dos indiciários é Montaigne (1533-1592), que
defende a atenção do preceptor à inteligência da criança, cabendo-lhe também
incentivá-la a realizar escolhas e a exercitar o discernimento. Também ressalta que se
deve respeitar o ritmo de aprendizagem da criança, além do que esta revela uma
atividade que o preceptor deve respeitar. Em suas palavras: “É bom que [o preceptor]
faça trotar essa inteligência [a da criança] à sua frente para lhe apreciar o
desenvolvimento e ver até que ponto deve moderar o próprio andar, pois em não
sabendo regular a nossa marcha tudo estragamos” (MONTAIGNE, 1972, p. 81). A ação
da criança antecede ação do preceptor.
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“Tudo é certo em saindo das mãos do Autor das coisas, tudo degenera nas mãos do
homem” (grifo do autor).
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aprende de observações dispersas [...]” (HERBART, 2003, p. 12). Sustentava então que
é pela repetição de um mesmo ensaio, por muitas vezes, que se pode chegar a algum
resultado (cf. CIVAROLO, 2008). À Pedagogia cabia construir os seus próprios
conceitos, o que promoveria sua autonomia, sua orientação e sua cientificização; para
isso, ela deveria se fundar em ciências afins. A busca por constituí-la como ciência,
“Seria seguramente melhor se [...] se concentrasse tão rigorosamente quanto possível
nos seus próprios conceitos e cultivasse mais um pensamento independente” (Ibidem, p.
13). É com essa disposição que a Pedagogia passa a ganhar foros de cientificidade, ao
assumir-se como Ciência da Educação, em particular no decorrer da segunda metade do
século XIX (VAN ZANTEN, 2011), quando já tinha por concorrente a Psicologia da
Educação nascente.
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humanidade’, a coeducação; eram também concebidas como inovadoras e
experimentais, e tinham como perspectiva finalidades educacionais que viessem a
superar as escolas tradicionais.
Os autores aqui reunidos publicaram obras entre 1890 e 1931, as quais serão
privilegiadas em vista das referidas categorias. Sinoticamente, e em ordem cronológica,
eis os autores, suas obras e as respectivas datas de publicação:
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Adolphe Ferrière A lei biogenética e a escola ativa 1910
John Dewey Democracia e Educação 1916
John Dewey A Filosofia em Reconstrução 1919
Adolphe Ferrière A escola ativa 1922
Edouard Claparède A educação funcional 1931
Elaborado pelo autor
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quais se tornam imediatamente objetos da mente. Nomeia as primeiras como ‘relações
externas’, e as segundas por ‘relações interiores’; porém, entre elas se realiza uma
associação coesa, posto que “[...] as causas e os objetos de nosso pensamento são uma
coisa só; e somos, até aqui, o que os evolucionistas materialistas desejam que sejam
inteiramente, isto é, simples resultados e criaturas de nosso ambiente e nada mais” (p.
487).
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Esta foi traduzida e publicada no Brasil (JAMES, 1917), sob o título, Palestras Pedagógicas (1917).
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O prefácio à mesma é ilustrativo quanto à sua pretensão pedagógica: “Meu
principal desejo tem sido fazer com que os professores concebam e, se possível,
reproduzam solidariamente em sua imaginação, a vida mental de seu aluno como uma
espécie de unidade ativa que ele próprio percebe” (JAMES, 1899, p. IV). Relacionada a
esta, sustenta o vínculo ao evolucionismo, associado à adaptação e à experiência:
“Nenhuma impressão sem expressão, tal é, pois, o primeiro ponto do nosso conceito
evolucionista sobre esse instrumento de adaptação que é o nosso espírito” (JAMES,
1917, p. 23).
Um outro co-fundador da metodologia ativa, que viveu entre 1879 e 1960, foi
Adolphe Ferrière (1929). Em obra publicada em 1910, A lei biogenética e a escola
activa, é de parecer que a vida é um impulso contínuo e permanente, apesar de ser
irregular em sua intensidade. A “[...] criança é um ser activo. Seu elemento vital é o
movimento, é a atividade. A atividade física foi sempre a condição necessária de
existência do homem. [...]” (p. 34-35). A “[...] criança se interessa pela própria atividade
na medida da utilidade que della se deriva” (1929, p. 35-36).
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(Ibidem, p. 50). Observe-se, como em W. James, o vínculo à teoria comportamentalista,
da qual John Broadus Watson (1878-1958), contemporâneo de Dewey, é considerado
fundador. Mais adiante, refere-se à reciprocidade entre a adaptação e o meio:
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A título de apontar aproximações entre Jean Piaget (1896-1980) e John Dewey (18852-1959, observe-se
a identidade de posições entre eles: “É necessário distinguirmos adaptação-estado e adaptação-processo.
No estado, nada é claro. Com o seguimento do processo as coisas começam a deslindar-se: há adaptação a
partir do momento em que o organismo se transforma em função do meio, e que esta variação tenha por
consequência um aumento das trocas entre o meio e o organismo que sejam favoráveis à sua conservação
(1970, p. 17-18). [...] Se chamarmos acomodação ao resultado das pressões exercidas pelo meio, podemos
então dizer que a adaptação é um equilíbrio entre a assimilação e a acomodação (Ibidem, p. 19).
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Adolphe Ferrière (1879-1960), em Escola ativa, outra obra, publicada em 1922, realça o parentesco
entre a educação, a filosofia e a biologia, à qual dá primazia: “[...] se a educação é, pelos fins que
persegue, a neta da filosofia, é, pelos meios que emprega, filha da biologia, no amplo sentido do termo, a
saber: ciência da vida do corpo e ciência da vida do espírito” (FERRIÈRE, 1932, p. 30).
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da criança, o seu interesse em atingir um fim, como alavanca da atividade que se deseja
despertar nela” (1950, p. 1; cf. também p. 31-32). No entanto, esclarece o mesmo a
antecedência da necessidade ao interesse: “Educação funcional é a que assenta na
necessidade: [...]. A necessidade, o interesse resultante da necessidade – aí está o fator
que, de uma reação, fará um ato verdadeiro” (Claparède, 1950, p.143).
“É ativa uma reação que satisfaz uma necessidade, produzida por um desejo
cujo ponto de partida está no indivíduo que age, por um móvel interno do agente. Neste
sentido, atividade se opõe a coerção, a obediência, a repugnância ou indiferença” (Idem,
p. 150). A essa concepção interliga a escola ativa, sobre a qual sustenta que seu
princípio “[...] deriva muito naturalmente da lei fundamental da atividade dos
organismos, que é a lei da necessidade, ou do interesse: a atividade é sempre suscitada
por uma necessidade. Um ato que não seja direta ou indiretamente ligado a uma
necessidade é uma coisa contra a natureza” (CLAPARÈDE, 1950, p. 145). “Suprima-se
a necessidade prévia, e está suprimida a causa do ato” (Idem, p. 145).
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mesmo. Tal posição está filiada ao funcionalismo, uma orientação que concebe a
percepção e a consciência como funções em resposta à necessidade. Por sua vez, a
atividade é geradora de experiência6, a qual faz com que se realizem as relações entre a
adaptação do organismo e o meio, os quais atuam de um modo recíproco.
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Ressalve-se que o termo experiência apresenta referências somente a citações de William James e John
Dewey.
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Em referência à dimensão pedagógica relativa à participação, cf. FERREIRA, 2000; ENFOQUE
PARTICIPATIVO NO TRABALHO COM GRUPOS s/d; DAVID, 1998; KEMMIS; WILKINSON,
2002; KUMMER, 2007; em relação ao compartilhamento, cf. LERNER, s/d; em relação à dimensão
colaborativa, cf. DAMIANI, 2008; VEIGA, 2008; PINTO; LEITE, 2014; COLLAZOS; GUERRERO;
VERGARA, s/d; PROGRAMA DE DESARROLLO DE HABILIDADES DOCENTES, s/d;
COLLAZOS; GUERRERO; VERGARA, s/d; FRUTOS, 2010; e em relação à cooperação, cf.
ALCÁZAR, 2012; SANTANA, s/d; FONSECA, s/d.
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auxílio, colaboração, atuação juntamente com outros para um mesmo fim, contribuição
com o trabalho, com o esforço; sua derivação está ligada ao termo latino, opus, operis
(que significa obra, trabalho); é também prefixado pela preposição cum (com).
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“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em 02/02/2015).
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possível ou inevitável trânsito para a metodologia participativa. Diga-se então que o
novo vem se manifestando no interior do velho, ao modo de aspiração, de necessidade
ou mesmo de realização, desde o final dos anos de 1950 no Brasil. Perspectivando-se
pela participação, supõe-se que haja um lugar ou uma situação a mudar, a substituir ou a
remover (por exemplo, a metodologia de ensino ativa, ou a tradicional, fortalecida pela
hegemônica aula expositiva ainda vigente, inclusive através do contemporâneo
PowerPoint), para dar lugar a outra, mas sem deixar de colher os frutos encaminhados
teórica e praticamente pelas referidas metodologias.
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Cf. em particular, FREIRE, 1967; 1978; 1979; 1991; 1996; 2000; 2002.
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Cf. em particular SAVIANI, 1982; 1983; 1986b; 1986c; 1989.
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Cf. SANTOS, 1986; 1992.
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Cf. em particular GADOTTI, 1980; 1983; 1985.
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Cf. LIBÂNEO, 1985.
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Cf. BRANDÃO, 1984; BARBIER, 1985; THIOLLENT, 1985; Elliot, 1990; GRABAUSKA; BASTOS,
1998; KEMMIS; WILKINSON, 2002; MINAYO, 2013; CHIZZOTTI, 2014.
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setenta, e, finalmente, das propostas de democratização da escola, no bojo dos
movimentos sociais da segunda metade dos anos setenta e início da década de oitenta”.
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Pela ordem cronológica: o Nacional-Desenvolvimentismo desde os anos de 1950; a realização do
Concílio Vaticano II entre 1962 e 1965; a extinção da UNE em 27/10/1964; a Teologia da Libertação,
inaugurada na América Latina em 1965; a criação do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL)
em 1967; a Constituição Federal da República do Brasil em 24/01/1967; o Maio de 1968; a Reforma
Universitária de 1968; o Milagre Econômico entre 1968 e 1974 (quando o PIB oscilou entre 9,8% e
14,0%); a promulgação de uma Emenda Constitucional em 17/10/1969, que imporá uma nova
Constituição; a Reforma do Ensino pela Lei 5.692 de 1971; o advento da Nova República em 1985, a qual
culmina com a promulgação da Constituição da República Federal do Brasil em 05/10/1988.
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interesses das camadas populares, o planejamento participativo, a democracia
participativa, a aula participativa, os planos de ensino compartilhados, a busca pela
interdisciplinaridade como uma forma de promover a participação (FAZENDA, 1979)
etc.
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Divisar as diferentes Pedagogias referidas que tenham por foco a participação,
implicaria em localizar o tema em apreço em diferentes autores e obras 16, e aí examiná-
la conceitualmente. No entanto, dada a orientação quanto à dimensão desse capítulo,
será privilegiada a Pedagogia Histórico-Crítica (PHC), como uma modalidade de
metodologia de ensino participativa, cuja disseminação é muito significativa desde o seu
surgimento em 197917. Tendo em vista referenciar alguns aspectos que a envolvem,
ressaltam-se aqui quatro eixos correlatos: a) uma teoria de educação, cuja b) orientação
política se sustenta por conteúdos cognitivos, cuja centralidade c) do ponto de vista
metodológico, se inicia e finaliza na prática social, a qual atribui d) ao professor um
significativo lugar. Contudo, ressalve-se que tais eixos apresentam-se apenas como
exercício de sistematização, mas que confessa, desde já, risco de compartimentalização.
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A PHC, como teoria da educação, parte da afirmação dialética das relações
entre educação, sociedade e escola, à qual cabe a potencialidade, dentre outras, de visar
a transformação da sociedade. Em um escrito de 1979, apontava D. Saviani (1980, p.
187) que era necessário “[...] avançar em direção a uma teoria da educação que dê conta
do mecanismo contraditório em que funcionam a educação e a escola na sociedade
capitalista. Captando essas contradições é que será possível ver quais as possibilidades
de articular a escola com os movimentos concretos tendentes a transformar a
sociedade”. Em outra obra esclarece Saviani: “A fundamentação teórica da pedagogia
histórico-crítica nos aspectos filosóficos, históricos, econômicos e político-sociais
propõe-se explicitamente a seguir as trilhas abertas pelas agudas investigações
desenvolvidas por Marx sobre as condições históricas de produção da existência
humana que resultaram na forma da sociedade atual dominada pelo capital” (2007, p.
422).
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escola, advoga que “[...] o domínio da cultura constitui instrumento indispensável para a
participação política das massas (Idem, 1982, p. 32).
Noutro artigo, Dermeval Saviani (1986c), argumenta, a nível conclusivo, que
dois aspectos são correlatos quanto ao encaminhamento da educação para a participação
no processo político: “[1°] a universalização da escola fundamental de modo a
possibilitar a todos o acesso ao saber sistematizado enquanto instrumento para o
exercício da cidadania e [2°] a efetiva participação da população, politicamente
organizada, na definição dos rumos que a sociedade, em geral, e a escola, em particular,
devem tomar” (Idem, 1986c, p. 139). E complementa: “[...] trata-se de articular o
trabalho desenvolvido nas escolas com o processo de democratização da sociedade [...]”
(Idem, 1983, p. 82), sendo que cabe à escola, uma instância de prática social, também
contribuir, desde que se compreenda “[...] a questão da democracia relativamente à
natureza própria do trabalho pedagógico” (Idem, 1983, p. 82).
Argumenta que os conteúdos culturais a serem veiculados pela escola devem se
converter em “[...] instrumentos através dos quais ele [o proletariado] possa se organizar
para se libertar dessa exploração (Idem, 1981, p. 32). “A dimensão política da educação
envolve, por sua vez, a apropriação dos instrumentos culturais que serão acionados na
luta contra os antagônicos” (Idem, 1983, p. 88), o que envolve a dimensão pedagógica
da política. Se “[...] os membros das camadas populares não dominam os conteúdos
culturais, eles não podem fazer valer os seus interesses, porque ficam desarmados contra
os dominadores, que se servem exatamente desses para a sua dominação” (Idem, 1982,
p. 32). Considera seu norteamento como ‘pedagogia revolucionária’, que “[...] não é
outra coisa senão aquela pedagogia empenhada decididamente em colocar a educação a
serviço da referida transformação das relações de produção” (Idem, 1983, p. 79).
A tônica de seu posicionamento se revela em torno do “[...] lutar
concretamente contra a recomposição desses mecanismos de hegemonia, no sentido de
abrir espaço para as forças emergentes da sociedade, para as forças populares, para que
a escola se insira no processo mais amplo de construção de uma nova sociedade” (Idem,
1982, p. 61). “Para se chegar lá, porém, é necessário, através da prática social,
transformar as relações de produção que impedem a construção de uma sociedade
igualitária” (Idem, 1983, p. 79). Nesse sentido, não exime a escola de sua dimensão
participativa na política: “É preciso considerar que a existência de uma relação interna,
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isto é, toda prática educativa, enquanto tal, possui uma dimensão política assim como
toda prática política possui, em si mesma, uma dimensão educativa” (Idem, 1983, p.
88).
Todavia, a política e a educação “[...] não são outra coisa senão modalidades
específicas de uma mesma prática: a prática social” (Idem, 1983, p. 89). “[...] a prática
política se apóia na verdade do poder; a prática educativa no poder da verdade” (Idem,
1983, p. 91). Em suma, ambas cumprem funções específicas, porém articuladas entre si,
mas sem se confundir com o politicismo pedagógico (que diluiria a educação na
política) ou com o pedagogismo político (que diluiria a política na educação) (Idem,
1983, p. 88).
Assumindo que educação e política são inseparáveis, distingue que “[...] são
práticas distintas, mas que ao mesmo tempo não são outra coisa senão modalidades
específicas de uma mesma prática: a prática social. Integram, assim, um mesmo
conjunto, uma mesma totalidade” (Idem, 1983, p. 89). E ainda, “Em relação à opção
política assumida por nós, é bom lembrar que na pedagogia histórico-crítica a questão
educacional é sempre referida ao problema do desenvolvimento social e das classes”
(Idem, 1986a, p. 22). Trata-se de fortalecer as camadas populares para que elas possam
se fazer valer através da assimilação de conteúdos, os quais lhes permitem “[...] se
organizar para se libertar dessa exploração (Idem, 1981, p. 32).
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“[...] implicam uma autonomização da pedagogia em relação à sociedade” (Idem, 1983,
p. 73).
A PHC, como metodologia de ensino participativa, se estrutura desde a
perspectiva teórico-educativa, fundada em concepções críticas à sociedade vigente, mas
que aspiram por uma outra sociedade, estabelecendo-se relações entre a concepção de
educação e de política, a concepção dos conteúdos cognitivos como alicerce
fundamental, a historicidade da escola, da educação e da pedagogia. Em suas
entrelinhas, também estão postas, como decorrência, concepções de homem, de
existência, de história etc.
Considerando que a educação seja mediação no seio da prática social global,
“[...] resulta inevitável concluir que o critério para se aferir o grau de democratização
atingido no interior das escolas deve ser buscado na prática social” (Idem, 1983, p. 80).
Os passos 1° e 5°, elos inicial e final da metodologia de ensino histórico-crítica, são
diferenciados qualitativamente, porém apresentam vínculos para o favorecimento da
participação. Tais conceitos, no entanto, já se encontram expressos em obra anterior:
“[...] a educação supõe a heterogeneidade (diferença) no ponto de partida e a
homogeneidade (igualdade) no ponto de chegada” (Idem, 1980, p. 14).
Compreende-se então que a prática social (1° passo) une professor e aluno,
constituindo-se como base de apoio para a constituição da problematização (2° passo);
professor e aluno compartilham da mesma prática social, o que lhes faculta a sintonia
em torno da unidade cultural-social que cimenta a vida social. A mesma prática social
pode ser compreendida como aquela que põe em sintonia a escola e a sociedade, a
escola e a cultura, a escola e a cidadania, a escola e o trabalho. A prática social que se
tem (1° passo), bem como a prática social que se aspira (5º passo), constituem-se
através de três elos intermediários: problematização (2° passo), instrumentação (3°
passo) e catarse (4° passo).
Através de tais passos, a prática social (5° passo) que deles resultam, não é a
mesma, posto que qualitativamente é diferenciada da prática social (1° passo), posto que
ela é enriquecida pela mediação da ação pedagógica. O ponto de partida, portanto, é a
prática social que passa pela problematização (2° passo). Significa esta
etimologicamente ‘lançamento diante de’ ‘lançar diante de’; problema é ‘algo lançado
diante de’. Ou seja, problematizar envolve interrogar, expressar dúvidas, expressar as
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cirscuntâncias que envolvem um dado conteúdo, questionar, revelar possíveis
controvérsias a respeito do mesmo, contrapor o conhecimento já conquistado diante dos
problemas a serem explicados. A problematização promove a busca de respostas, que se
realizam pela apropriação de conteúdos cognitivos (3° passo, denominado por
instrumentação), o que significa esclarecimento de ordem científica e de ordem cultural
em relação a uma visão crítica da realidade, que propugna pela elaboração de um modo
superior ao vigente.
Em retorno à prática social, para a qual a escola se dirige ao final do trabalho
pedagógico, assiste-se à possibilidade de uma nova interlocução do educando para com
a realidade em que se encontra. Uma escola assentada na contextualização e em seu
entorno, em vista de suas relações com a sociedade que inerentemente internaliza, não
se põe senão em sintonia para com a prática social. O 4° passo é denominado por
catarse (elaboração-transformação da estrutura em superestretura na consciência do
homens” (1983, p. 81; sobre esse 4° passo, esclarece em outro lugar que se trata de “[...]
viabilizar sua incorporação como elementos integrantes da própria vida dos alunos [...]”
(2007, p. 422).
Dessa forma, o saber escolar adquirido no interior de uma modalidade de
prática social, como é o da escola, tem como interlocutor as demais práticas sociais,
estando a sugerir que as transformações históricas se servem também dos escolarizados.
Por isso, o saber escolar é concebido como instrumento indispensável, e não como um
instrumento entre outros. “Os métodos que preconizo mantêm continuamente presente a
vinculação entre educação e sociedade” (Idem, 1983, p. 73), um dos eixos da teoria
pedagógica em pauta; esta deriva “[...] de uma concepção que articula educação e
sociedade e parte da consideração de que a sociedade em que vivemos é dividida em
classes com interesses opostos” (Idem, 1983, p. 79). Ou seja, estão no palco os
interesses populares, que se farão oponentes aos interesses dominantes. Tais passos,
como se observa, envolvem intersubjetividade, mas também participação que passa pela
colaboração, pela cooperação, pelo compartilhamento.
Por outro lado, “[...] serão os métodos que estimularão a atividade e a iniciativa
dos alunos sem abrir mão, porém, da iniciativa do professor; favorecendo o diálogo dos
alunos entre si e com o professor mas sem deixar de valorizar o diálogo com a cultura
acumulada historicamente; levarão em conta os interesses dos alunos, os ritmos de
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aprendizagem e o desenvolvimento psicológico mas sem perder de vista a
sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeitos do
processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos” (1983, p. 72-73). Pela
escola, “[...] as novas gerações entram em contato com as antigas e absorvem suas
experiências e seus valores historicamente necessários, ‘amadurecendo’ e
desenvolvendo uma personalidade própria, histórica e culturalmente superior”
(GRAMSCI, 1999, Caderno 10, XVI, § 44, p. 399).
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Em síntese, a tarefa das críticas ao vigente pedagogicamente supôs estabelecer
uma tensão entre o que vigia e o que deveria viger, mas também instaurar a
possibilidade de superar os limites que o vigente estabelecera (ainda permanece?). Esse
é o caso da metodologia participativa, cujos fundamentos de cunho aspirativo se
manifestaram na educação brasileira desde os finais dos anos de 1950, quando se
confrontou com a metodologia ativa elaborada em outro tempo e espaço, com
fundamentos autonômicos em relação ao fenômeno educacional, compreendendo-o sob
o manto da Biologia primeiramente e, de modo derivado, ao da Psicologia.
CONCEITOS-CHAVE
M. TRADICIONAL M. ATIVA M. PARTICIPATIVA
Fonte: Humanismo Tradicional Fonte: Biologia e Psicologia Fonte: Prática social pela dialetização entre educação e sociedade
Centração no ensino/transmissão de Centração na aprendizagem Centração no ensino-aprendizagem através da prática social e de
conteúdos sua problematização
Centralidade do professor: Centralidade do aluno: puerocêntrico Centralidade no diálogo/intersubjetividade/reciprocidade: dimensão
magistrocêntrico sócio-histórica (sociocêntrico) Interlocução/problematização/...
Do professor ao aluno Do aluno ao professor Professor Aluno
Heteroeducação Autoeducação Sócioeducação
O professor é ensinante O aluno é auto-aprendente Professor e aluno, sujeitos que compartilham a mesma prática
social, porém diferenciados inicialmente, mas com potencialidade
para a igualdade ao final do processo pedagógico
Fundação na organização lógica, no Fundação na dimensão biológica, que Fundação na prática social (organização sócio-histórica)
raciocínio lógico sustenta a dimensão psicológica
Passividade Atividade (a criança é ação/ impulso) Participação/compartilhamento/colaboração/cooperação
Diretividade/obediência/coerção Não diretividade/não intervenção Interdependência/correlação/reciprocidade/mutualidade/intercâmbio
Autoridade/disciplina/coerção/ Liberdade/interesse/necessidade Prática social-problematização-prática social
imposição
Aluno como receptor de conteúdos Aluno como sujeito de necessidade, Aluno como sujeito de esclarecimento científico fundado na
(concepção bancária) interesse, desejo: busca de conteúdos problematização da prática social/Conteúdos com ênfase na
por ele, pelo seu esforço inserção sócio-política; conteúdos representam a construção da
unidade cultural/clima cultural
Aluno como recipiente/depositário Aluno como sujeito de Aluno como sujeito participativo/inerente ao sujeito humano
iniciativa/criatividade
Disciplina/coerção/obediência Espontaneidade do aluno Provocação, desafio ao aluno, estimulação, incitamento
Motivo (ou móbil/móvel/causa) Motivo (móbil) intrínseco Motivo (móbil) social
extrínseco
Igualdade de condições entre alunos; os Diferenças e potencialidades Socialização do saber sistematizado
alunos são concebidos como iguais com individuais/individualidade/ritmos de
ritmos de aprendizagem uniformes entre aprendizagem diversos
eles
Escola, preparação para a vida Escola, lugar de vida Escola, formação para a construção de outra sociedade
Memorização de conteúdos Aprendizagem decorrente da Problematização dos conteúdos/instrumentação/catarse vinculados à
experiência, resultante da liberdade/ prática social
necessidade/interesse/desejo/utilidad
e
Formação pela disciplina (exterior – de Formação pela disciplina interior (de Formação em vista de outra sociedade
fora para dentro) dentro para fora)
Reprodução/perpetuação da sociedade Eficiência social Superação da sociedade capitalista
Intelectualismo Socialização Transformação social
Aprendizagem através do formalismo Aprendizagem pela experiência Aprendizagem pela consciência crítica/educação e política
metodológico
Elaboração do autor
28
A centração no ensino ou na aprendizagem não significa a mesma coisa. O
aluno sofre uma dicotomia, seja como objeto do ensino (tradicional), do qual
simplesmente decorreria a aprendizagem; seja como sujeito (aluno) que promove a sua
própria aprendizagem (ativa). Por sua vez, o ensino-aprendizagem constitui-se, segundo
a perspectiva participativa, interligado e interdependente, não havendo privilégio ao
papel do professor ou ao do aluno, uma vez que a prática social se põe como elo que
assume a prerrogativa de prover e suster o processo de ensino-aprendizagem. Ou seja,
ensinar e aprender envolvem as condições sócio-históricas, até o reencaminhamento à
prática social ao final do processo pedagógico.
29
reflexo da fração da sociedade civil da qual a criança participa, das relações sociais tais
como elas se entrelaçam na família, na vizinhança [...]”. Mais adiante afirma: “A
consciência individual da esmagadora maioria das crianças reflete relações civis e
culturais diversas e antagônicas às que são refletidas pelos programas escolares [...]”
(Ibidem, p. 131). O professor deve ser “[...] consciente dos contrastes entre o tipo de
sociedade e de cultura que ele representa e o tipo de sociedade e de cultura representado
pelos alunos; sendo também consciente de sua tarefa, que consiste em acelerar e em
disciplinar a formação da criança conforme o tipo superior em luta com o tipo inferior”
(Ibidem).
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