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A Servidão Voluntária e a Vida Política Nacional.

La Boetie mostra através do discurso da Servidão Voluntária que na psicologia


do poder, servimos de maneira voluntária, deixando ser dominados. A verdade
dói, somos escravos modernos: nossas casas são senzalas; nossa demissão,
alforria; nossos salários, meio de subsistência. Desesperador, mas constatar
isso talvez seja o primeiro passo. Vivemos para servir, fomos condicionados a
isso, adquirimos reflexos de submissão. Dia e noite nos dizem que a ordem é
nossa maior bênção, que a obediência é nossa maior virtude.

Nos submetemos aos nossos governantes e políticos. Se compreendêssemos


que os estados e governos são mais vulneráveis do que as pessoas imaginam
e podem entrar em colapso em um instante: assim que o consentimento dos
governados é retirado.

O que o texto diz sobre ambos?

Para entender a reflexão de La Boétie sobre as causas de servidão voluntária,


aplicadas à vida política brasileira atual, sendo pela sua estrutura da
dominação, encantamento e o costume.

De acordo com o artigo 1º, parágrafo único, da Constituição Federal, todo


poder emana do povo e em nome dele será exercido por seus representantes.

Nota se então que a população é quem possui o verdadeiro poder para eleger
seus representantes por meio do processo eleitoral, porém não tem
consciência desse poder.

Um exemplo dessa falta de conscientização é o chamado voto de cabresto ou


compra de votos por meio de cestas básicas, promessas de emprego, etc. O
exercício do voto não pode ser coagido, porém a população humilde acredita
que deve cumprir com a promessa de votar em determinado candidato em
troca de auxílio material.

A compra de votos, prática ilícita, exemplifica a estrutura de dominação,


existente no processo eleitoral brasileiro, em que os detentores do poder usam
a população carente como massa de manobra para obter a eleição de seus
representantes.
A estratégia de encantamento, por meio de campanhas eleitorais com
dispêndio de recursos públicos e disseminação de fake news, também fazem
parte do processo eleitoral brasileiro. A imagem leva às pessoas a escolherem
seus representantes sem questionar seus verdadeiros interesses e plataformas
políticas.

Por fim, o costume, faz com que as pessoas acreditem não ser possível mudar
a estrutura do sistema político brasileiro, pois as coisas sempre ocorreram
dessa forma. A conformidade com o estado de coisas atual faz com que as
pessoas não participem e não cobrem seus representantes para mudar a
realidade do nosso país.

Temos o habito de não questionar e apenas aceitar, muitos vivem na


ignorância porque é mais cômodo viver submisso do que lutar para ser
dominante e mudar as coisas. Enquanto esse pensamento ainda existir nada
vai mudar no nosso cenário político. E portanto entender que a servidão
voluntária:

É o próprio povo que se escraviza e se suicida quando, podendo


escolher entre ser submisso ou ser livre, renuncia à liberdade e aceita
o jugo; quando consente com seu sofrimento, ou melhor, o procura.
— Étienne de La Boétie.

Portanto, conclui-se que as ideias de La Boétie possuem plena aplicação no


cenário político atual.

O paradoxo da servidão voluntária, que implica também, que tenhamos uma


firme e inegociável posição contra a servidão voluntária e que isso não seja um
ideal ou utopia, mas sim o nosso compromisso de todos os dias.

Mesmo que os homens estejam habituados com o modelo de servidão


voluntária, pode se retomar esta sociedade sem divisão, sem servidão
voluntária, que não é apenas uma sociedade imaginária, mas uma forma de
vida real se retomada. Ou seja o homem não estaria destinado a ser
dominante/dominado, não consideraria honroso derramar sangue e a vida pela
vaidade de um.
Referências

Formada em Bacharel em Ciências e Humanidades e Técnica em Gestão


Pública com foco em políticas culturais. Paula. Servidão voluntária. Do que
trata este discurso?. Arte Ref, 12 Abril. 2018. Disponível em:

< https://arteref.com/filosofia/do-que-trata-o-discurso-da-servidao-voluntaria/>.

Acesso em: 21 Agosto. 2022.

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