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Resumo
Introdução
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conhecimento (episteme) e da técnica (tekhne) grega, que eram em princípio
indissociáveis. No mito, a possibilidade de manipulação do fogo divino é símbolo do
início do processo técnico, entende Hans. A manipulação do fogo, pelos mortais, é a
aurora da tekhne. De acordo com esse processo técnico, afirma Hans, “não estamos mais
nas origens e sim, ao contrário, no fim. No fim de uma hýbris, de uma
‘sobrenaturalização’ de uma natureza dada” (JONAS, 2006, p. 334).
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expandir a compreensão daquilo que parece ter-se tornado o destino inexorável da
humanidade, do planeta e, cada vez mais, estendendo-se para além dele: a técnica.
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origem grega aquilo que “compromete” alguma coisa, e que, por sua vez, atende ao que
Aristóteles uma vez chamou de “causa eficiente”.
O jogo conjunto dos quatro modos de ocasionar deixa vir à presença (an-
wesen) o que ainda não se apresenta. Por isso, seus modos são dominados por um levar,
que leva à luz aquilo que se apresenta. “Platão nos diz o que é este levar numa
proposição do Banquete (205b): Todo ocasionar para algo que, a partir de uma não-
presença sempre transborda e se antecipa numa presença, é poiésis, produzir (Her-vor-
bringen). (HEIDEGGER, 2007, p. 279). A poiésis, o produzir em sentido grego, não é
uma mera operação manual como se imagina, pois, tal como a Phýsis, que no mais alto
sentido, é um produzir de si mesmo, se diferencia somente uma vez que, no caso da
poiésis, esse produzir se dá a partir de um outro, como por exemplo de um artesão ou
um artista. Em vista disso, Heidegger acredita que “os modos de ocasionar, as quatro
causas, atuam, desse modo, no seio do produzir. Por meio dele surge, cada vez, em seu
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parecer, tanto o que cresce na natureza quanto o que é feito pelo artesão e pela arte”
(HEIDEGGER, 2007, p. 279).
Heidegger acredita que tal como a técnica antiga, a técnica moderna repousa
também sobre um desabrigar e, somente a partir desse traço fundamental, mostrar-se-á a
nós a novidade (neuartige) da técnica moderna (HEIDEGGER, 2007, p. 381). Todavia,
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atualmente, de forma costumeira e não originária como vimos, trata-se a técnica como
um meio, um instrumento. Por essa costumeira via, diz Heidegger:
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de turismo encomendou (bestellt) para poderem visitar este local” (HEIDEGGER, 2007,
p. 382), e poderem calcular o lucro máximo com o mínimo de despesas possíveis.
quem possui quer mais ainda. A riqueza acaba por já não ter outro
objeto senão a si própria; feita para satisfazer as necessidades da vida,
simples meio de subsistência, torna-se seu próprio fim, coloca-se
como necessidade universal, insaciável, ilimitada, que nada poderá
jamais saciar (VERNANT, 2009, p. 89).
Nas traduções dos textos antigos aos quais este trabalho recorre, Jaa
Torrano opta em traduzir hýbris por “soberbia”. Sob essa nova perspectiva do termo,
temos mais deflagrado uma disposição subjugadora para com um outro que é posto em
um plano de inferioridade e que estará supostamente a serviço deste que é tomado pela
soberbia. Esta funesta relação condizente com esse “soberbo pensar”, aos olhos dos
antigos gregos, é notadamente exposta na seguinte passagem: “pilhas de mortos, até a
terceira geração, sem voz falarão aos olhos dos mortais que mortal não deve ter soberbo
pensar. A soberbia, ao florescer, produz a espiga de erronia, cuja safra toda será de
lágrimas” (ÉSQUILO, Os persas, 818-822).
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Já em Hesíodo, em Os trabalhos e os dias, a hýbris aparece em oposição à
dike (justiça), figura do divino. Para o poeta, a justiça se sobrepõe ao excesso da hýbris.
Deste modo, o homem deve possuir uma relação de comedimento em relação aos seus
atos. Por essa via caminha a fábula dirigida ao seu irmão Perses:
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Dentre os physikoi, é reconhecido que Heráclito conclamava a todos o empenho
da homologia, como busca humana sobre si-mesmo. A investigação sobre o lugar do
humano (ethos) no universo (cosmo) seria, segundo o efésio, o fundamento da
philosophía. Procurar, investigar e amar a sabedoria, resumem-se decerto a essência do
filosofo. No entanto, nos cabe aqui ressaltar, aquilo o que Heráclito entende como
hýbris e isso se dá justamente em oposição à pratica da filosofia. “ Seja ‘para cima’ ou
‘para baixo’, é necessário não errar a media; é preciso não inflar a hýbris (CX): os
homens não devem ser nem mais nem menos do que “amantes da sabedoria”. Isso
significa: nem além nem aquém da homologia, nem deuses, nem ignorantes,
respectivamente. ” (A.COSTA. Heráclito: Fragmentos Contextualizados. p.253). A
homologia, termo principal da filosofia de Heráclito, pode ser entendido como uma co-
incidência de logos. O logos particular incide sobre o logos comum e vice versa, não de
forma instrumental e categórica mas de maneira interdependente casuística.
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LOGOS, Linguagem Articulada.
Sendo assim, “fazer” uma experiência não se exprime num operar ou produzir,
mas sem em atravessar, sofrer, receber.
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pensamento, um critério: mais! Essa “não-relação”, esse afastamento do homem
moderno proporcionou que o mesmo fosse o senhor do próprio destino? De toda
maneira, até aqui, as tragédias de Ésquilo e o poemas de Hesíodo nos mostraram que
aqueles que são tomados pela hýbris, ou seja, aqueles que não reconhecem o seu devido
lugar no universo, “colherão lágrimas” por ultrapassarem o que é justo (dike), pois
queriam mais do que “pertence” à parte humana. Exceder a própria condição e cogitar o
impossível. Não é justamente o que se entende como heroísmo? A técnica é em sua
origem a fagulha divina, a explicação do prodigioso engenho humano. Ela é a
possibilidade heroica de escapar da própria condição de criatura do mundo e virar o
criador de uma obra de arte. Presente nas narrativas da gênese do homem, a técnica era
como uma astúcia para que o homem desprovido de maiores capacidades pudesse então
sobreviver. Mas, se a técnica não um instrumentum o que ela é? Um modo de pensar
próprio do homem? De certo uma coisa, o pensar técnico moderno, aquele que
transforma a um só modo a natureza, não é ainda a totalidade do pensar. A técnica e sua
imanente ambiguidade parece estar de mãos dadas com a própria ambiguidade que o
homem é, ou então, a própria ambiguidade que a linguagem comporta; pois até então,
onde vi homem vi também a técnica. O homem está longe de poder domina-la e suas
mãos. Mas suas mãos parecem já o convidar a manipular as coisas do mundo.
Precisamos falar mais sobre a técnica, e esse é o intuito deste trabalho.
Sumário
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1. Introdução: Prometeu e a “aurora da técnica”.
2. Capítulo I: Heidegger e a questão da técnica.
3. Capítulo II: Homero, Hesíodo, Ésquilo e a Hybris
4. Capítulo III: Heráclito, Platão, Aristóteles e a Hybris.
5. Conclusão.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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CHIARELLO, Maurício. A fascinação da compulsão tecnológica: sobre a
racionalidade cientifica em Hans Jonas. SCIENTIAE STUDIA, São Paulo, v.13, 2015.
HESÍODO, Os Trabalhos e os Dias. Trad. Mary de Camargo Neves Lafer. São Paulo:
Iluminuras, 1991.
HOMERO. Ilíada. Trad. Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
VERNANT, Jean Pierre Vernant. As Origens do Pensamento Grego. Trad. Ísis Borges
B. da Fonseca. Ed. Rio de Janeiro: Difel, 2009.
BIBLIOGRAFIA
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ARISTÓTELES. Trad. Gerd Bornheim. São Paulo: Abril cultural, 1981. Coleção Os
Pensadores.
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