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O que é metafísica?

A palavra metafísica possui origem grega e significa: meta: depois de, além de e
física/physis: natureza ou físico, e trata-se de um ramo da filosofia que se ocupa em
estudar a essência do mundo. Pode ser definida como o estudo do ser ou da realidade, e
se destina a buscar respostas para perguntas complexas como: O que é realidade? O que
é a vida? O que é natural? O que é sobre-natural? O que nos faz essencialmente
humanos?

William James conceituou metafísica como sendo “apenas um esforço


extraordinariamente obstinado para pensar com clareza”. Trata-se de uma visão
simplista e equivocada de pessoas que só conseguem perceber a vida por meio de
dimensões práticas. Os homens em geral sentem-se mais à vontade quando pensam
sobre como fazer uma coisa ou outra, do que pensar no motivo pelo qual estão fazendo.
É por isso que a política, a engenharia e a indústria são consideradas mais naturais pelos
homens do que a filosofia, por exemplos. A metafísica não está interessada, de maneira
nenhuma, por esse “comos” da vida humanas, mas sim pelos “porquês”, por aquelas
questões que uma pessoa pode passar a vida inteira para formular, sem muitas vezes
encontrar uma resposta satisfatória.

Para se formular um pensamento metafísico é preciso pensar, sem estar baseado em


dogmas ou de forma superficial, nos básicos e intrigantes problemas da existência dos
homens. São problemas básicos por serem fundamentais para a vida humana e porque
muitos aspectos da vida dependem deles. Tomemos como exemplo a religião, ,ela não é
metafísica, porém quando nos questionamos sobre o motivo das crenças e das práticas
religiosas e sua influencia no viver diário, passamos a pensar metafisicamente.

Sob o título de “a Metafísica” Aristóteles escreveu uma de suas principais obras e o


primeiro grande trabalho com relação ao que vem a ser metafísica. O objeto de estudo
dessa obra não é ser algum, mas o estudo do ser enquanto ser.

A metafísica (do grego antigo μετα [metà] = depois de, além de; e Φυσις [physis] =
natureza ou física) é uma das disciplinas fundamentais da filosofia. Os sistemas
metafísicos, em sua forma clássica, tratam de problemas centrais da filosofia teórica:
são tentativas de descrever os fundamentos, as condições, as leis, a estrutura básica, as
causas ou princípios primeiros, bem como o sentido e a finalidade da realidade como
um todo, isto é, dos seres em geral.

Concretamente, isso significa que a metafísica clássica ocupa-se das "questões últimas"
da filosofia, tais como: há um sentido último para a existência do mundo? A
organização do mundo é necessariamente essa com que deparamos, ou seriam possíveis
outros mundos? Existe um Deus? Se existe, como podemos conhecê-lo? Existe algo
como um "espírito"? Há uma diferença fundamental entre mente e matéria? Os seres
humanos são dotados de almas imortais? São dotados de livre-arbítrio? Tudo está em
permanente mudança, ou há coisas e relações que, a despeito de todas as mudanças
aparentes, permanecem sempre idênticas?
Em sua concepção clássica, os objetos da metafísica não são coisas acessíveis à
investigação empírica; ao contrário, são realidades transcendentes que só podem ser
descobertas pelas luzes da razão. Essa pretensão de estabelecer teses gerais que não se
curvam à orientação da experiência foi repetidas vezes criticada - as críticas sistemáticas
aos projetos metafísicos tradicionais tornaram-se parte importante de várias correntes e
escolas filosóficas, especialmente nos séculos XIX e XX, e atualmente podem ser vistas
como um traço importante da concepção de mundo moderna.

O saber é o estudo do ser ou da realidade. Ocupa-se em procurar responder perguntas


tais como: O que é real (veja realidade)? O que é natural (veja naturalismo)? O que é
sobrenatural (veja milagre)? O ramo central da metafísica é a ontologia, que investiga
em quais categorias as coisas estão no mundo e quais as relações dessas coisas entre si.
A metafísica também tenta esclarecer as noções de como as pessoas entendem o mundo,
incluindo a existência e a natureza do relacionamento entre objetos e suas propriedades,
espaço, tempo, causalidade, e possibilidade.

Origem da palavra "metafísica"

"Metafísica" é o título de uma obra de Aristóteles composta por quatorze livros sobre
filosofia geral. Uma hipótese bastante difundida atribui ao peripatético Andrônico de
Rodes (século I a.C.) a iniciativa de chamar esse conjunto de escritos de "Metafísica".
Ao realizar a primeira compilação e sistematização dos escritos de Aristóteles,
Andrônico o elencou depois dos oito livros que tratavam da Física, e os chamou de tà
metà tà physiká, ou seja, "os livros que estão após (os livros da) física". Desse modo, o
título faria referência, sobretudo, à posição daqueles quatorze livros na classificação das
obras de Aristóteles realizada por Andrônico.

O trabalho classificatório, no entanto, parece ter atendido a critérios temáticos. Os livros


que compõem a Metafísica de Aristóteles tratam de questões mais gerais e mais
abstratas que os da física, e de seres que transcendem o mundo empírico. Em vez de
empregar o termo "metafísica", Aristóteles usava geralmente a expressão "filosofia
primeira" ou "teologia" (por contraste com "filosofia segunda" ou "física") para fazer
referência a esses assuntos. No entanto, a palavra "metafísica" acabou por se impor
como denominação da ciência que, em conformidade com a filosofia primeira de
Aristóteles, ocupa-se das realidades que estão além das realidades físicas.[1]

História da metafísica

No tratado de Aristóteles sobre metafísica, percebe-se certa ambiguidade quanto à


delimitação do objeto da disciplina. Em certos trechos, ele afirma que o propósito da
disciplina é investigar as causas primeiras de todas as coisas, em especial, de Deus
como primeiro motor do universo. Nesse aspecto, a filosofia primeira ou metafísica
seria uma das disciplinas compartimentalizadas - como a biologia, a psicologia e a física
– com um campo de investigação próprio e objetos específicos. No entanto, em outros
momentos, Aristóteles diz que a metafísica é a ciência do "ser enquanto ser", em outras
palavras, seria a ciência que investiga a realidade em seus traços mais abrangentes e
universais. Nessa concepção, a disciplina deixa de ser uma disciplina
compartimentalizada, e passa a ser considerada como uma forma de investigação
extremamente geral, cujo principal intuito é investigar os objetos em sua condição
simples e fundamental de entidade. Segundo Aristóteles, uma das principais funções da
filosofia primeira seria a de identificar as categorias a que as coisas pertencem e
estabelecer as relações entre essas categorias. Por categorias, ele se referia a conceitos
generalíssimos, tais como os de substância, unidade, identidade, etc. Acima das
categorias, não é mais possível classificar uma entidade.[2]

Essa dupla compreensão do que seria o objetivo da metafísica manteve-se durante a


Idade Média. Os filósofos e teólogos medievais também consideravam como
"metafísicas" tanto as investigações sobre a natureza de Deus e de suas relações com o
mundo, como as pesquisas sobre as características mais abrangentes da realidade.

Uma alteração significativa ocorreu na Idade Moderna por obra dos filósofos
racionalistas. Temas que para a tradição aristotélica seriam próprios de outros campos
de pesquisa, foram reunidos pelos racionalistas sob o termo "metafísica": entre as novas
frentes de investigação metafísica estariam a discussão sobre as relações entre a mente e
o corpo e sobre as origens e fundamentos da realidade física. No quadro geral esboçado
pelos racionalistas, a investigação do ser enquanto ser constituiria a chamada metafísica
geral. Mas, além dessa abordagem generalíssima das características dos entes, os
racionalistas inauguraram subdivisões na disciplina conforme os seus novos interesses e
problemas. Desse modo, no âmbito da chamada metafísica especial teríamos as
seguintes subdivisões: a teologia racional, que trata do Ser divino e de suas relações
com os demais seres; a cosmologia racional, que trata dos princípios fundamentais da
constituição do cosmos (a natureza da matéria, do vácuo, etc.); e a psicologia racional,
que trata da substância espiritual e de suas relações com a matéria.

A Metafísica em Platão

As Idéias

O sistema metafísico de Platão centraliza-se e culmina no mundo divino das idéias; e


estas contrapõe-se a matéria obscura e incriada. Entre as idéias e a matéria estão o
Demiurgo e as almas, através de que desce das idéias à matéria aquilo de racionalidade
que nesta matéria aparece.

O divino platônico é representado pelo mundo das idéias e especialmente pela idéia do
Bem, que está no vértice. A existência desse mundo ideal seria provada pela
necessidade de estabelecer uma base ontológica, um objeto adequado ao conhecimento
conceptual. Esse conhecimento, aliás, se impõe ao lado e acima do conhecimento
sensível, para poder explicar verdadeiramente o conhecimento humano na sua efetiva
realidade. E, em geral, o mundo ideal é provado pela necessidade de justificar os
valores, o dever ser, de que este nosso mundo imperfeito participa e a que aspira.

Visto serem as idéias conceitos personalizados, transferidos da ordem lógica à


ontológica, terão consequentemente as características dos próprios conceitos:
transcenderão a experiência, serão universais, imutáveis. Além disso, as idéias terão
aquela mesma ordem lógica dos conceitos, que se obtém mediante a divisão e a
classificação, isto é, são ordenadas em sistema hierárquico, estando no vértice a idéia do
Bem, que é papel da dialética (lógica real, ontológica) esclarecer. Como a
multiplicidade dos indivíduos é unificada nas idéias respectivas, assim a multiplicidade
das idéias é unificada na idéia do Bem. Logo, a idéia do Bem, no sistema platônico, é a
realidade suprema, donde dependem todas as demais idéias, e todos os valores (éticos,
lógicos e estéticos) que se manifestam no mundo sensível; é o ser sem o qual não se
explica o vir-a-ser. Portanto, deveria representar o verdadeiro Deus platônico. No
entanto, para ser verdadeiramente tal, falta-lhe a personalidade e a atividade criadora.
Desta personalidade e atividade criadora - ou, melhor, ordenadora - é, pelo contrário,
dotado o Demiurgo o qual, embora superior à matéria, é inferior às idéias, de cujo
modelo se serve para ordenar a matéria e transformar o caos em cosmos.

As Almas

A alma, assim como o Demiurgo, desempenha papel de mediador entre as idéias e a


matéria, à qual comunica o movimento e a vida, a ordem e a harmonia, em dependência
de uma ação do Demiurgo sobre a alma. Assim, deveria ser, tanto no homem como nos
outros seres, porquanto Platão é um pampsiquista, quer dizer, anima toda a realidade.
Ele, todavia, dá à alma humana um lugar e um tratamento à parte, de superioridade, em
vista dos seus impelentes interesses morais e ascéticos, religiosos e místicos. Assim é
que considera ele a alma humana como um ser eterno (coeterno às idéias, ao Demiurgo
e à matéria), de natureza espiritual, inteligível, caído no mundo material como que por
uma espécie de queda original, de um mal radical. Deve portanto, a alma humana,
libertar-se do corpo, como de um cárcere; esta libertação, durante a vida terrena, começa
e progride mediante a filosofia, que é separação espiritual da alma do corpo, e se realiza
com a morte, separando-se, então, na realidade, a alma do corpo.

A faculdade principal, essencial da alma é a de conhecer o mundo ideal, transcendental:


contemplação em que se realiza a natureza humana, e da qual depende totalmente a ação
moral. Entretanto, sendo que a alma racional é, de fato, unida a um corpo, dotado de
atividade sensitiva e vegetativa, deve existir um princípio de uma e outra. Segundo
Platão, tais funções seriam desempenhadas por outras duas almas - ou partes da alma: a
irascível (ímpeto), que residiria no peito, e a concupiscível (apetite), que residiria no
abdome - assim como a alma racional residiria na cabeça. Naturalmente a alma sensitiva
e a vegetativa são subordinadas à alma racional.

Logo, segundo Platão, a união da alma espiritual com o corpo é extrínseca, até violenta.
A alma não encontra no corpo o seu complemento, o seu instrumento adequado. Mas a
alma está no corpo como num cárcere, o intelecto é impedido pelo sentido da visão das
idéias, que devem ser trabalhosamente relembradas. E diga-se o mesmo da vontade a
respeito das tendências. E, apenas mediante uma disciplina ascética do corpo, que o
mortifica inteiramente, e mediante a morte libertadora, que desvencilha para sempre a
alma do corpo, o homem realiza a sua verdadeira natureza: a contemplação intuitiva do
mundo ideal.

O Mundo

O mundo material, o cosmos platônico, resulta da síntese de dois princípios opostos, as


idéias e a matéria. O Demiurgo plasma o caos da matéria no modelo das idéias eternas,
introduzindo no caos a alma, princípio de movimento e de ordem. O mundo, pois, está
entre o ser (idéia) e o não-ser (matéria), e é o devir ordenado, como o adequado
conhecimento sensível está entre o saber e o não-saber, e é a opinião verdadeira.
Conforme a cosmologia pampsiquista platônica, haveria, antes de tudo, uma alma do
mundo e, depois, partes da alma, dependentes e inferiores, a saber, as almas dos astros,
dos homens, etc.

O dualismo dos elementos constitutivos do mundo material resulta do ser e do não-ser,


da ordem e da desordem, do bem e do mal, que aparecem no mundo. Da idéia - ser,
verdade, bondade, beleza - depende tudo quanto há de positivo, de racional no vir-a-ser
da experiência. Da matéria - indeterminada, informe, mutável, irracional, passiva,
espacial - depende, ao contrário, tudo que há de negativo na experiência.

Consoante a astronomia platônica, o mundo, o universo sensível, são esféricos. A terra


está no centro, em forma de esfera e, ao redor, os astros, as estrelas e os planetas,
cravados em esferas ou anéis rodantes, transparentes, explicando-se deste modo o
movimento circular deles.

No seu conjunto, o mundo físico percorre uma grande evolução, um ciclo de dez mil
anos, não no sentido do progresso, mas no da decadência, terminados os quais, chegado
o grande ano do mundo, tudo recomeça de novo. É a clássica concepção grega do eterno
retorno, conexa ao clássico dualismo grego, que domina também a grande concepção
platônica.

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