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FACULDADE DE SÃO BENTO DO RIO DE JANEIRO

Bacharelado em Filosofia – 2023.1


Prof.: D. Tomás Peres, OSB – Metafísica I
Aluno.: Gabriel Henrique Teixeira Caldas

Fichamento

METAFÍSICA. In: FERRATER MORA, José. Dicionário de Filosofia. Tomo III. 2ª ed. São
Paulo: Edições Loyola, 2004, p. 1943-1950

 Dado por Andrônico de Rodes, o nome Metafísica designa-se aos livros de Aristóteles,
chamados por ele de Filosofia Primeira e que foram colocados após os oito livros de
Física, ou seja, aquilo que está após a Física.
 O objeto da Filosofia Primeira, a Metafísica, é a busca pelo saber daquilo que está para
além dos estudos da Física.
 Para Aristóteles, a Metafísica é a única ciência que estuda o ente enquanto ente, “os
primeiros princípios e as causas mais elevadas”, diferente das ciências particulares que
só se debruçam em alguma parte do ente em questão.
 Alguns problemas relativos ao objeto de estudos da Metafísica. Como ela se ocupa do
ser enquanto ser, de algo superior na ordem do que é, esse “ser superior” pode ser
compreendido de outras duas formas: estudo formal (formalidades ou Ontologia), ou
estudo da substância separada e imóvel (primeiro motor).
 Segundo os escolásticos, sobretudo para Santo Tomás, a prima philosophia é a ciência
da verdade, origem de toda verdade, pois “pertence ao primeiro princípio pelo qual todas
as coisas são”.
 Tratando a Metafísica do ser, “que é convertível com a verdade”, e sendo Deus a origem
de toda verdade, o Aquinate dirá que Deus é também objeto dessa ciência.
 Assim, a Metafísica não trata apenas do “ser mais real”, mas também do “ente em
comum e do primeiro ente, separado da matéria”.
 Temos ainda dois modos de considerar a Metafísica: o primeiro com um conteúdo
teológico, dado pela revelação e não propriamente pela própria Metafísica; e ainda a
ciência do ente (ens), como aquele que cai primeiramente sob o entendimento;
 Segundo S. Tomás, há entre a Teologia e Filosofia uma espécie de acordo fundamental,
onde a Filosofia permanece sendo subordinada à revelação, mantendo ainda sua “razão
própria”.
 Estudando ainda a natureza da Metafísica, Tomás diz ainda que, “alguns objetos de
ciência independentes da matéria em seu ser, pois ou existem sempre sem matéria (como
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Deus e as substâncias espirituais) ou se acham às vezes na matéria e às vezes não (por


exemplo, a substância, a qualidade, a potência, a atualidade, a pluralidade, a unidade
etc.). Esses objetos são tratados pela ciência divina que tem também o nome de
Metafísica, isto é, para além da física, pois, dado que temos necessariamente de proceder
dos objetos sensíveis aos suprassensíveis, temos de ocupar-nos dela depois da física”.
As outras ciências supondo a Metafísica, faz dela a filosofia primeira.
 Já para Duns Scot, assimilando-se com Avicena, a Metafísica é como uma preliminar
da Teologia, pois, sendo aquela uma ciência do ser, esta já se detém ao conhecimento
do ser infinito.
 Como uma espécie de síntese sobre a Metafísica vista pelos escolásticos, Suaréz indica
que a noção dessa ciência não é tão ampla como alguns pensam. Com isso ele traz seis
analises acerca dessa concepção escolástica. A primeira delas é o ente como objeto da
Metafísica, este, é “considerado na maior abstração possível, na medida em que encerra
não só a soma de entes reais, substanciais e acidentais, como também na medida em que
compreende os entes de razão”; A segunda, traz seu objeto como “ente real em toda a
sua extensão”, não incluindo os entes de razão, pois estes possuem uma falta de entidade
e realidade; A terceira opinião diz ser Deus, supremo ser real, o único objeto da
Metafísica; Se ocupar da substância ou do ente imaterial, é a quarta opinião; O próximo
ponto de vista, diz respeito à doutrina que trata o objeto dessa ciência como o ente
classificado nas dez categorias de Aristóteles (substância, quantidade, qualidade,
relação, lugar, tempo, posição, posse, ação e paixão), “quer as substâncias imateriais
finitas e seus acidentes se incluam nas categorias e se exclua do objeto da Metafísica,
embora não totalmente o ser sumo, quer só se mostre como objeto do saber metafísico
o ente divino nos dez predicamentos; Enfim, há ainda o posicionamento, no qual o
objeto metafísico seja a substância enquanto ela mesma, “substância enquanto
substância”, ou seja, “na medida em que abstrai do material e do imaterial, do finito e
do infinito.
 Dessa forma, a ciência metafisica, conforme Aristoteles e Tomás, é a compreensão do
ente enquanto ente real, “sob espécie de mera abstração total, mas concebido como o
ser que” ultrapassa todo gênero.
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 Assim, Suárez entende-a como ciência primaria na ordem do saber e última na ordem
da aprendizagem.
 A Metafísica na modernidade rompe, muitas vezes, com toda tradição vista antes, não
sendo considerada, em geral, como ciência e sem possibilidades de ser e, diversos
pensadores irão dissertar acerca disso.
 Francis Bacon conceitua-a como “ciência das causas formais e finais”, contrapondo-se
à física que trata de causas materiais e eficientes.
 Já para René Descartes, “a Metafísica é uma prima philosophia que aborda questões
como ‘a existência de Deus e a distinção real entre a alma e o corpo do homem’”.
 Na época moderna, portanto, ela só se torna possível de ser considerada como ciência
quando está apoiada em uma verdade inquestionável, por onde se pode chegar “as
verdades eternas”. Dessa maneira, continua sendo uma ciência do transcendente, se
apoiando “na absoluta imediaticidade e imanência do eu pensante”.
 Contudo, muitos outros pensadores recusaram o conhecimento metafísico e de toda
realidade que fosse transcendente.
 “não há metafísica, porque não há objeto de que essa pretensa ciência possa ocupar-se”.
 Por outro lado, desde alguns escolásticos até Suárez, Fonseca e outros, procurou-se, de
certa forma, trazer uma “formalização” da Metafísica. Com isso, buscou-se “abordar as
questões metafísicas como questões acerca de conceitos básicos tratados formalmente”.
Essa busca tornou-se ainda mais latente durante o séc. XVII e início do XVIII.
 Ainda nesse período, outros pensadores ousaram a estudar a Metafísica e tentar
correlacioná-la e distingui-las com outras ciências. Como exemplo, com a Lógica e a
Ontologia. Segundo Johannes Clauberg, tanto a Metafísica quanto a Lógica, são
consideradas como “disciplinae primae”, porém, se distanciam por conta de seus
objetos de estudo. Enquanto a Metafísica “sabe tudo”, a Lógica “Não sabe nada”; Já a
Ontologia, também pode ser comparada e é conhecida como philosophia prima,
ocupando do ente geral.
 “Metafísica como Ontologia não era ciência de nenhum ente determinado, mas podia
dividir-se em certos ramos (como a Teologia, a Cosmologia e a Psicologia racionais)
que se ocupavam de entes determinados, embora num sentido muito geral e como
princípio de estudo desses entes; isto é, num sentido metafísico”.
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 Com relação à Metafísica e à Filosofia, desenvolveu-se duas questões acerca da àquela


ciência: Se a Metafísica é possível; e, de que ela se ocupa.
 Kant em embate com a filosofia de Hume “contra a pretensão de atingir um saber
racional e completo da realidade”, e o problema da possibilidade de uma Metafísica.
 “A Metafísica foi até agora ‘uma ciência racional especulativa completamente isolada’,
baseada unicamente nos conceitos e não ‘como a Matemática, na aplicação dos
conceitos à intuição’”.
 “Por outro lado, não é possível simplesmente aderir ao ceticismo; é preciso fundar a
Metafísica para que esta ‘chegue a transformar-se em ciência’, e para isso é necessário
procedera uma crítica das limitações da razão”.
 Dessa forma, Kant nega a Metafísica, não pelo simples fato de negar, mas para fundar
uma “nova versão”, demonstrando que não há possibilidade de juízos sintéticos a priori
em Metafísica. Assim, em à Razão Prática, Kant reconhece-a como uma realidade
moral.
 Para Comte, “a Metafísica é um modo de conhecer próprio de uma ‘época da
humanidade’ (...). essa negação da Metafísica implica às vezes a negação do próprio
saber filosófico”.
 O criticismo neokantiano, francês e o positivismo espiritualista, dão valor à Metafísica
a partir de um saber positivo, de dentro.
 Em Bergson, a “Metafísica não supõe a adesão ao conhecimento racional do inteligível;
supõe precisamente a negação ou limitação desse conhecimento e a possibilidade de
uma apreensão intuitiva e imediata do real, que a ciência decompõe e mecaniza”.
 Dilthey com outros autores, “tendem a transformar a Metafísica numa concepção de
mundo, ao mesmo tempo inevitável e indemonstrável”.
 Collingwood, inspirado por Dilthey, diz que “o único modo de abordar a questão da
possibilidade da Metafísica é observar que” ela “deve ter consciência de que é história”.
 Para outros, ainda, ela não é uma ciência primeira e do ente, mas um saber da realidade
radical.
 Em Heidegger, o conceito de ser se difere ao tradicional, “motivo pelo qual uma
introdução à Metafísica como introdução ao ser não é a mesma coisa que uma
introdução à ciência do ente enquanto tal”.
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 A Metafísica é considerada como pseudociência pelos marxistas, alguns pragmatistas,


neopositivistas e analistas.
 “a Metafísica surge unicamente como consequência das ilusões em que nos envolve a
linguagem. As proposições metafísicas não são nem verdadeiras nem falsas;
simplesmente carecem de sentido”. Sendo, pois, uma forma de abuso da linguagem,
segundo o posicionamento dos positivistas, inspirados por Hume.
 Charles Morris admite a Metafísica como uma forma de discurso, assemelhando-se ao
lógico e gramatical, porém, oponde a estes, possuidor de um tipo formativo. Mas, as
noções de falsidade de verdade não podem ser aplicadas, pois, “tem por finalidade
organizar o comportamento humano”.
 Alguns autores ainda, trouxeram distinções na própria Metafísica, como a especulativa
e crítica, estabelecida por N. Hartmann, onde aquela está “mais inclinada a edificar
sistemas do que a examinar os pressupostos e implicações dos conceitos usados”; e,
esta, “é fundamentalmente uma análise lógica”.
 Com a mesma intenção, P.F. Strawson distinguiu entre Metafísica revisionista, que
“visa erigir a melhor estrutura conceitual possível para a compreensão e explicação do
real e de suas diversas formas; e, Metafísica descritiva que, “descreve a estrutura efetiva
de nosso pensamento acerca do mundo”.
 Em suma, vimos uma variedade de visões acerca da Metafísica e, é quase obvio que não
há nada que possa ser chamado de Metafísica. Existem, pois, jeitos filosóficos de pensar
distintos, muitas vezes incompatíveis entre si. Parece razoável, portanto, abster-se de
discutir a legitimidade da Metafísica ou suprimir a palavra tanto quanto possível do
léxico filosófico. O importante não é se ela é chamada de Metafísica, mas o que é feito
filosoficamente.

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