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FACULDADE DE SÃO BENTO DO RIO DE JANEIRO

Bacharelado em Filosofia – 2023.1


Prof.: D. Tomás Peres, OSB – Metafísica I
Aluno.: Gabriel Henrique Teixeira Caldas

Resenha crítica do artigo:


As quatro causas na filosofia da natureza de Aristóteles

Referência: ANGIONI, Lucas. As quatro causas na filosofia da natureza de Aristóteles.


Anais da Filosofia Clássica, Rio de Janeiro, v. 10, dez. 2011.

Resenha

O artigo “As quatro causas da filosofia da natureza de Aristóteles”, escrito por


Lucas Angioni, trata-se de uma argumentação onde é explorada a Teoria das quatro
causas em Aristóteles. O autor expõe que as quatro causas – material, formal, eficiente e
final – operam de maneira complementar e se relacionam em uma espécie de esquema
triádico para explicar por que um dado atributo ocorre em um dado subjacente.

No primeiro ponto, o autor trará a estrutura triádica da causalidade aristotélica,


perguntando-se se haveria um conceito comum de “causa”. Assim, é exposto que para
Aristóteles, as causas são causas de alguma coisa para alguma outra coisa, ou seja, a
causa é sempre um terceiro item que faz alguma propriedade estar presente em alguma
coisa subjacente, de acordo com uma estrutura triádica que é bem entendida na estrutura
de um “silogismo de primeira figura.” Essa “alguma coisa subjacente” refere-se a algo
que é afetado pela causa, como o exemplo dado pelo próprio autor, no processo de
esculpimento de uma estátua, ela é a “coisa subjacente” que é afetada pelas quatro
causas – Formal (forma ou figura); Material (bronze, madeira mármore etc.); Eficiente
(o escultor responsável); e, Final (a finalidade para que ela está sendo feita). Em suma,
fica clara a importância da estrutura triádica para a teoria das quatro causas aristotélica
para explicar a causalidade das coisas.

Seguindo adiante, Angioni argumentará sobre o compatibilismo, perguntando-se


se “pode haver causas de vários tipos para a mesma coisa” e suas implicações diante da
Teoria das quatro causas. Diante disso, ele argumenta que a melhor forma de perguntar
sobre a causa de algo. Contudo, isso traz certas consequências sobre a questão, como o
pode haver mais de uma causa “da mesma coisa”? O autor defenderá que a resposta
para essa pergunta dependerá do explanandum, ou seja, daquilo que se quer explicar, e
do devido atributo a ser explicado. Assim, é apresentado dois modos de entender a
pergunta exposta: no sentido de ser “a mesma estátua”, sem especificação do atributo a
ser explicado, onde pode haver diversas causas de diferentes tipos para a mesma coisa;
ou no sentido de “o mesmo atributo presente na mesma estátua”, onde só pode haver
uma única causa de cada tipo para explicar o mesmo atributo na mesma coisa. Em
síntese, a possibilidade do compatibilismo na teoria Aristotélica é possível, pois cada
tipo de causa é uma forma de olhar, um aspecto diferente da coisa. Essas, no entanto,
não são excludentes entre si, uma coisa pode haver causas distintas – material, formal,
eficiente e final. Contudo, parece haver controvérsias sobre isso, onde outros filósofos
dizem que as causas são como que rivais entre si, sendo impossível uma comunhão
entre elas em uma mesma coisa.

Nesta terceira seção, dando como que continuidade ao assunto anterior, é


explorada a questão se cada causa seria completa em si mesma sem interferência com
nenhuma outra. Em face do exposto, o autor argumenta que isso não pode ser
compatível com a teoria aristotélica, pois todas as quatro causas são estritamente
necessárias para a explicação da causalidade, podendo ser concebidas como condição
necessária sine qua non. Ele ainda sugere que as quatro causas são subordinadas entre
si, como que uma hierarquia, onde uma delas – causa formal - fornece explicações mais
completas, que envolvem e fundamentam as explicações subordinadas. Sendo assim,
todas as quatro causas são condições para uma explicação mais completa da
causalidade, e que elas não competem entre si, pelo contrário, se complementam.

Dando prosseguimento à temática da subordinação das causas, Angioni aborda a


assimetria entre a forma e a matéria, sugerindo que aquela é responsável pela realização
plena da causa final, dando forma à matéria, enquanto, a matéria é responsável apenas
por determinar a forma mais adequada para a realização do causa final. Fazendo uso do
exemplo da estátua, o autor se perguntará o porquê ela é feita de tal material e não de
outro. A explicação para isso estará na finalidade da estátua e o que quer se alcançar
com ela, ou seja, o uso de determinada matéria irá definir a forma. Mais adiante, o foco
será dado à forma, o motivo pelo qual a estátua tem tal forma. Mas, não é a figura da
estátua que vai dizer para que fim ela foi construída, “a causa formal da estátua não
explica por que se decidiu, em última instancia, que tal estátua deveria passar a existir”
(ANGIONI, 2011, p. 13). Pelo contrário, a finalidade da estátua é o que determina a
forma adequada para a sua realização. Assim, apresenta o autor, segundo o pensamento
aristotélico, a primazia da causa final entre as causas, contrapondo o que fora dito na
seção anterior, onde seria a causa formal a primazia, utilizando de exemplos concretos
para tal, “propriedades da estátua que poderiam ser bem explicadas pela causa material
podem ser ainda mais explicadas pela causa formal” (ANGIONI, 2011, p. 14). E esse
mesmo assunto e explanação será dada na seção seguinte.
Por fim, o trecho VI, apresenta a incompatibilidade da subordinação das causas
em todos os casos, nem todas as realidades podem ser abraçadas por essa aplicação.
Apresentando exemplos da estátua e dos olhos azuis, o autor discorrer dizendo que, no
caso da estátua, não será todo atributo dela que será explicado pelas quatro causas.
Assim, se valendo dos entes naturais também.

Apreciação crítica
O texto do Profº. Lucas Angioni, traz uma certa novidade com sua temática, essa
que não vemos sendo muito exploradas no meio acadêmico. Sendo assim, a obra em
questão traz uma enorme relevância para o assunto das quatro causas aristotélicas, pois
ajudam a esclarecer e a compreender como que elas se relacionam e se aplicam na
Cosmologia.
Com os objetivos apresentados em seu resumo, Angioni cumpre-os bem ao
longo de sua obra. Vale ressaltar ainda que alguns aspectos poderiam ser melhorados,
como a exposição de exemplos mais claros de como que as quatro causas se relacionam
e subordinam, uma melhor elucidação da estrutura triádica apresentada na página 3, e
sobretudo, uma definição clara do termo explanandum, que foi utilizado, mas sem uma
conceituação, tendo que ser buscado em outras fontes.
Em síntese, embora a obra apresentada aborde de forma satisfatória a teoria das
quatro causas em Aristóteles e sua aplicação na Filosofia da Natureza, algumas questões
foram deixadas de lado e de elucidação. Com essas, o texto se tornaria ainda mais rico e
de certa forma, um pouco mais acessível para aqueles que tem um primeiro contato com
essa área filosófica.

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