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Prolegômenos à Metafísica

Por: William Lopes Fernandes RA: 8134556


Introdução histórica
A metafísica deve o seu nome a Andrônico de Rodes (célebre
comentador de Aristóteles), que deu este título aos livros de Aristóteles
que se seguiram ao tratado sobre a natureza e que, precisamente por
isso, receberam o nome metaphysica, do grego metá (depois, além) e
phýsis (natureza), ou seja, “o que vem depois da natureza. O nome, de
acordo com a intenção do comentarista, indicava uma mera disposição
dos livros; mas, ao mesmo tempo, expressou amplamente seu objeto.
Aristóteles, de fato, expôs nos catorze livros de sua Metafísica uma
parte muito importante da filosofia, que chamou de “Filosofia Primeira”.
Introdução histórica
Tal primeira filosofia é chamada por Aristóteles de verdadeira
sabedoria e é a mais importante, a mais divina na medida em que
considera os “primeiros princípios” e as causas supremas que são as
coisas mais importantes que podem ser conhecidas, assim como os
“universais” mais importantes. Mas o que são essas coisas mais
importantes? O que podemos saber que são considerados na
Metafísica? Aristóteles observa que é a mesma ciência da verdade, a
ciência do motor supremo e a ciência que considera o ente como ente e
o que pertence ao ente mesmo como tal.
Introdução histórica
Segue-se daí que a Metafísica, para a mente de Aristóteles, é a ciência
que considera o ente como ente e, portanto, os princípios inteligíveis da
mesma natureza sensível: a substância e o acidente, o ato e a potência,
as causas das mutações, entre os quais está Deus como o motor
imóvel. Depois de Aristóteles, os escolásticos entenderam a metafísica
no mesmo sentido, de tal forma que o objeto dessa ciência filosófica
seria o ens sub ratione entis, i. e., as coisas consideradas como entes
no terceiro grau de abstração.
Investigação das condições da Metafísica
A ) O ente como sub rationem entis objeto próprio do intelecto:
Na opinião de Escoto, é necessário observar que o objeto primário e
próprio do intelecto é o ente em geral, se se quer salvaguardar a
possibilidade da metafísica; para Caetano (célebre tomista), por outro
lado, o primeiro conhecido do nosso intelecto é o ente concretizado na
quididade sensível. Mas deve-se ter em mente que este não é um
conhecimento diferente (real ou virtual) da “res sensibile”, mas antes
um conhecimento confuso das “quidditas rei sensibilis”: visto que
nosso conhecimento começa com os sentidos e nossa inteligência
começa na ordem sensível, vamos ascendendo às ordens superiores
de conhecimento até chegar ao próprio Deus.
Investigação das condições da Metafísica
B ) Outra condição de possibilidade da Metafísica é a contração do
apelidado ens commune (que não é o objeto próprio e adequado do
intelecto), que pode ser unívoca, equívoca ou analógica para ente
categorial (substância e os acidentes) e o ente transcategorial (ente
finito e ente infinito; ser necessário e ser contingente; o ente enquanto
uno e o ente enquanto verdadeiro, etc.) que servem como ponte para a
ascensão da Metafísica (via ascensus) como ciência do ente em geral
e das realidades suprassensíveis, como Deus e as substâncias
separadas.
Investigação das condições da Metafísica
Mas por que tais meios servem como pontes para a Metafísica
como ciência da razão especulativa?
Nossos conceitos são formados na dependência da experiência
sensível, representando imediatamente quididades ou essências
materiais. Mas nenhum conceito da quididade material, como tal, é
aplicável a Deus, porque Ele não está incluído entre as coisas
materiais. Assim, a menos que possamos formar um conceito que não
se restrinja à talidade material, que seja comum ao ente finito e infinito,
ao ente material e imaterial, não podemos alcançar um verdadeiro
conhecimento de Deus por meios de conceitos distintos ou adequados.
Das prerrogativas e ofícios da Metafísica
Entraremos agora em questões que têm a ver com o que chamo de
subordinacionismo aristotélico (que é comum a todos os aristotélicos e
também a Escoto e Sto. Tomás). Ora, como apontar que todas as
ciências estão subordinadas à Metafísica? E ainda, que esta
ciência é a supervisora e guia de todas as outras?
Das prerrogativas e ofícios da Metafísica
A metafísica como ciência universal: considerando que é a ciência
mais alta (em termos de abstração) de todas, o cargo de diretor lhe
corresponde, pois seu objeto deve ser considerado em toda a sua
universalidade e pureza inteligível, e justamente por isso está presente
em todos os lugares, e consequentemente os postulados da metafísica
serão universalmente válidos para tudo o que existe ou pode existir de
alguma forma: é válido em todos os mundos possíveis.
Das prerrogativas e ofícios da Metafísica
A metafísica como ciência “regens”: a metafísica, como governante,
pode e deve intervir nos problemas de todas as outras ciências,
sobretudo quando vão em direções contrárias aos seus princípios mais
universais e necessários, princípios aos quais todas as ciências se
subordinam e tomam por fundamento. E esse direito se justifica em
virtude da própria extensão universal de seu objeto formal, bem como
de seu grau de abstração superior ao de todas as ciências: que
corresponde precisamente extrair o ente enquanto ente.
Das prerrogativas e ofícios da Metafísica
A metafísica como ciência pela qual todas as outras se
subordinam numa relação de dependência: a subordinação das
demais ciências em relação à Metafísica se deve ao grau máximo de
abstração desta última, que representa o grau mais alto que a
inteligência humana pode alcançar, e dado que quanto mais universal
é um princípio, maior sua extensão em relação nas partes inferiores, o
alcance do objeto da Metafísica (o ente como ente) estende-se de certo
modo ao objeto de todas as outras ciências, na medida exata em que o
ser (como transcendental do ente) contém a razão objetual de todas as
modalidades pelos quais as outras ciências podem escrutinar.
Introdução teórica à noção de ente comum:
Qual é o objeto formal da Metafísica? Antes de respondermos é
necessário ponderar sobre outras questões: qual o objeto de uma
ciência? A que damos o nome de objeto material e objeto formal de
uma ciência? Conferimos o nome de objeto, em geral, a tudo que cai
sob a ação dos sentidos ou que é o termo de qualquer uma de nossas
potências, e chamamos o objeto de uma ciência a tudo o que a mesma
considera, examina ou estuda, o qual, considerado em si mesmo, é
aquilo que constitui seu objeto material; enquanto que aquela razão
especial, do ponto de vista especificante do estudo daquela ciência,
é o que constitui o objeto formal da mesma.
Introdução teórica à noção de ente comum:
O objeto material, explicam os escolásticos, é dito assim por analogia
em relação à matéria, que é indiferente para várias formas; do mesmo
modo, o objeto material é indiferente para várias ciências. Escoto cita
como exemplo o homem, que pode ser objeto da Metafísica enquanto é
ente; da Física enquanto consta de um corpo natural; da Moral
enquanto é ordenado ao bem, etc. O objeto formal também se diz por
analogia com a forma, como co-princípio específico da matéria; é,
portanto, a razão e a formalidade do objeto material que faz a ciência
tender a uma consideração especial e determinada dele.
Introdução teórica à noção de ente comum:
A metafísica, como toda ciência, é especificada por seu objeto formal. Seu
objeto material são todas as coisas que existem, ou seja, que são (entes);
o objeto formal “quod” é o ente como ente, ou seja, o ente imaterial (
separado de qualquer matéria); o objeto formal “quo” é o terceiro ou mais
alto grau de inteligibilidade (abstração e imaterialidade) mais comum do
ente enquanto ente.

Todo o problema metafísico é dividido em dois problemas fundamentais: O


que é “ens commune” (ente comum) e quais são suas consequências? Se
dá o trânsito das coisas empíricas consideradas como entes para algum
ente que seja simplesmente ente (Deus)? O que é o ente? Qual sua
relação com as coisas empíricas?
Introdução teórica à noção de ente comum:
Todo o problema metafísico é dividido em dois problemas fundamentais:
O que é “ens commune” (ente comum) e quais são suas
consequências? Se dá o trânsito das coisas empíricas consideradas
como entes para algum ente que seja simplesmente ente (Deus)? O
que é o ente? Qual sua relação com as coisas empíricas?
Introdução teórica à noção de ente comum:
A metafísica, portanto, abrange dois tratados que respondem às
seguintes perguntas:
Tractatus primus: De todas as coisas consideradas entes: do
ente em geral; e é a Metafísica.
Tractatus secundus: Daquele ente que é simples e absolutamente
ente e é a causa do ente em comum (Deus); e é a chamada Teologia
Natural.
Noções fundamentais: o nome ente
“Ens”, em latim, é o particípio do verbo “esse” (ser) e significa o que
tem que ser, da mesma forma como aluno é quem estuda, o amante é
quem ama, etc. A explicação do significado pode ser feita como para
qualquer particípio presente: aluno, por exemplo, pode significar o
mesmo exercício o mesmo ato de estudar (aquele que estuda aqui e
agora) a condição, ou seja, alguma situação derivada de um exercício
normal: estudante é aquele que tem a profissão de estudar (embora não
necessariamente estude no aqui e agora).
Noções fundamentais: o nome ente
O ente tomado como particípio indica o ato de ser, ou seja, o “esse”
(existir) tal como se exerce e atualmente se possui.
O ente tomado como nome indica a coisa em relação ao ser; então, o
ente tomado nominalmente é dito algo que tem que ser ou aquilo, ou
seja, a essência, que se refere ao ser, assim como aluno é aquele
(essência) que tem a função de estudar e a ela se refere.
Noções fundamentais: o nome ente
Ente é algo concreto, o plexo da essência e do ser, se o ente é tomado
como particípio, o ser é notado e a essência é conotada; se tomado
nominalmente, a essência é notada e o ser é conotado. Portanto, o
ente como nome significa a essência (id quod, aquilo que) e
consignifica o ser, ou seja, o que é.
Noções fundamentais: o nome ente
No entanto, essa correlação (com significado de implicação) de
essência e ser pode ser dupla:
Primeiro: se a correlação é simplesmente entendida (pensada apenas
por simples apreensão), temos um conceito ou a noção pura de ser.
Essa noção é obtida abstraindo das coisas existentes e sensíveis;
entretanto, é uma abstração formal, não total, e consiste em: as coisas
são ou existem; o intelecto é abstrai das coisas o próprio “ser ou
existência” que é a “forma” de ser (o exercício ou o ato de ser) e forma
o conceito, que se expressa por meio de um substantivo particípio, ou
seja, pelo nome: ente.
Noções fundamentais: o nome ente
Segundo: se há uma correlação (com significado) ao afirmar o ser (de
algo), então há o juízo: Ponce é, Ponce é branco, Ponce é homem, o
homem é animal, a virtude é amável, etc. Como pode ser visto nos
exemplos, o verbo cópula “é” significa simultaneamente muitas coisas
e uma coisa.
Disto segue-se que: o exercício do ser, no juízo expresso, é real ou
possível; de onde o ente, igualmente, pode ser real ou possível. A
cópula “é”, ou seja, o julgamento pode significar o exercício real ou
possível do ente; no entanto, é sempre chamado de possível por causa
de sua relação com o real, que indica um ente concretamente
existente “extra mentis”.
Da natureza do “ens commune”:
Pelo que dissemos, a noção de ente comum é:
Comuníssima, porque é predicada de todas as coisas, tudo o que tem ser
(se algo tem ser, é ente). Tudo o que pode ser atribuído ao ente é chamado
de seus inferiores, v. g., ente-corpo, ente-vivente, ente-animal, ente-
espírito.

Assim como é muito comum, também é muito simples porque está em seu
nível mais alto de abstração e não requer nenhuma determinação. Devido
à sua absoluta simplicidade, o ente não pode ser definido, pois a definição
exige uma composição de um gênero próximo e uma diferença específica,
como, por exemplo, na definição de homem, “animal” é o gênero próximo e
“racional”. é a diferença específica.
Da natureza do “ens commune”:
Visto que abrange todos os gêneros e todas as
diferenças específicas, a noção de ente é
transcendental; pois a noção transcendental é o que inclui
em todas as coisas, em todos os gêneros e em todas as
diferenças; todas as coisas transcende porque em todas as
coisas é; é predicado de todas as coisas e todas são
suas inferiores. A noção de ente é, portanto, muito
comum, muito geral, muito simples e transcendental.
REFERÊNCIAS
CONTIERO, Tiago Tadeu; KRASTAVOV, Stefan Vasilev. CRC, Claretino
– Batatais, 2023
ARISTÓTELES. Metafísica. Ensaio introdutório, texto grego com
tradução e comentário de Giovanni Reale. Trad. Marcelo Perine. São
Paulo: Loyola, 2002. V.I.
CAMPOS, Sávio Laet de Barros . Ente, Substância, Essência e Ser
conforme Tomás de Aquino. Disponível em:
https://www.filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Substancia.pdf.
Acesso em: 30 de out de 2023

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