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2023
Profa. Dra. Lucia de Souza Dantas
O CAMPO DA ESTÉTICA MODERNA:
AÍSTHESIS | αἴσθησις
O sentimentos estéticos:
beleza, sublime, pitoresco e kitsch
A ideia de gosto em sua origem inclui a acepção do
gosto pela beleza, e abrange tanto a noção de prazer e
GOSTO satisfação, como também contém a ideia de gosto
como faculdade do sensível e da sensibilidade para a
BELEZA percepção, seja associada às sensações corporais
(visão, paladar, tato, audição) ou vinculada à
PRAZER sensibilidade de caráter intelectual (aspectos que
serão explorados largamente por Kant em sua
terceira crítica)
Do gosto “Quando, no curso dos séculos XVII e XVIII, começa-
como campo se a distinguir uma faculdade específica à qual são
atribuídos o julgamento do gozo da beleza, é
de precisamente o termo gosto, [...], que se impõe [...]”
◦ bom gosto
◦ padrão de gosto
◦ relativismo do gosto
No século XVIII, o juízo estético foi
No domínio
associado, ou até mesmo irmanado, à
da Estética
ideia simples de gosto, e o juízo
enquanto
estético passou a ser chamado muitas
disciplina
vezes simplesmente por juízo do
acadêmica
gosto.
[...] o sentido que permite perceber e distinguir
A ideia de gosto os sabores; [...] isto é, o mesmo que “sabor”; o
associada ao gozo, o prazer, o sentimento de íntima
satisfação (quando dizermos, por exemplo,
sensível ou à que fazemos algo “com gosto”); e, a partir desse
capacidade de sentidos mais concretos, uma série de outros
acessar o sensível sentidos, mas “subjetivos”: o modo pessoal de
ver as coisas, preferencias, inclinação, senso
se encontra na estético, elegância, estilo, refinamento,
própria etimologia faculdade de julgar e avaliar os valores
estéticos na arte; complexo de inclinações
da palavra ‘gosto’. estéticas que caracterizam uma época.
Claudio Oliveira
esclarece que o (OLIVEIRA in: AGAMBEN, O Gosto, Belo
termo apresenta: Horizonte: Autêntica, 1979/2017, N.T.: p.11).
Destacam-se 4 filósofos, que foram fundamentais
para desenhar a Estética Moderna, a saber:
BURKE: HUME:
➢ Edmund Burke • do padrão de • do relativismo
(1729-1797) gosto e o “bom do gosto
gosto”
➢ David Hume
(1711-1776)
BAUMGARTEN: KANT:
➢ Alexander Baumgarten • do conceito de • do gosto como
➢ (1714-1762) estético juízo estético
[aísthesis] (sensível)
➢ Immanuel Kant
(1724-1804)
1
O PROBLEMA DO GOSTO
NOS INGLESES
Edmund Burke (1719-1797)
As reflexões Introdução ao gosto, 1759 in: Uma investigação sobre a
origem de nossas ideias do sublime e do belo,1759
sobre o David Hume (1711-1776)
gosto na O padrão do Gosto [On taste], 1757 in: Ensaios morais,
políticos e literários
padrão de gosto
relativismo do gosto
Burke
Introdução ao gosto,
1759 in: Uma
investigação sobre a
origem de nossas
ideias do sublime e do
(Burke) on the sublime and beautiful,
por Thomas Cornell,1785.
A philosophical enquiry into the origin of our
ideas of the sublime and beautiful, 1757
belo,1759
O problema do gosto é
exclusivo sobre arte em Burke
Gosto é exclusivo à fruição da arte e portanto, o juízo crítico do gosto
é um juízo crítico da arte e da arquitetura em Burke. Pois Burke
entende que a ideia de gosto é correlata exclusivamente às
impressões diante das obras de arte, o que faz com que seus
escritos tenham uma ressonância grande acerca das idiossincrasias
da fruição da arte em particular, e por conseguinte, acerca da
recepção e análise das obras arte propriamente ditas.
A teoria do gosto
de Burke abrange ➢ SENSIBILIDADE (ESTÉTICO)
do gosto:
*Em Burke, imaginação carrega a ideia de fantasia enquanto faculdade criativa, que propicia novas associações
de sensações e ideias rumo ao novo. (Cf. BURKE, 1759/2012, p.34).
[...] no que diz respeito à imaginação, o
princípio do gosto é o mesmo para todos os homens:
não há diferença nem quanto a maneira como são
afetados, nem quanto a origem da impressão;
Gosto é uma contudo, no que tange ao grau, existe uma diferença
gosto à crítica
de arte MAU GOSTO
• Falta de sensibilidade
• Ignorância
• Preconceito
• Defeito do juízo
◦ Logo, é possível inferir que Burke inaugura
uma crítica de arte pautada na impressão
O início da sensível e guiada pelo gosto subjetivo do
crítica de arte crítico, que teria uma sensibilidade nata e
mais aguçada para julgar as qualidades
‘estéticas’ (sensíveis) das obras de arte.
SENTIMENTOS
ESTÉTICOS EM BURKE:
DO BELO E DO SUBLIME
“Por beleza entendo aquelas qualidades dos
Tudo que seja de algum modo capaz de incitar as ideias de dor e de perigo, isto é, tudo que seja
de alguma maneira terrível ou relacionado a objetos terríveis ou atua de um modo análogo ao
terror constitui uma fonte do sublime, isto é, produz a mais forte emoção de que o espírito é
capaz. (BURKE, 1759/2013, p.59, grifo do autor).
O papel das As paixões relativas à autopreservação derivam da
dor e perigo; elas são meramente dolorosas quando
paixões nos
suas causas afetam-nos de modo imediato; são
âmbitos da arte e deliciosas, quando temos uma ideia de dor e de
perigo, sem que a elas estejamos realmente
do gosto, no expostos; não chamei esse deleite de prazer, porque
“Uma outra fonte do sublime é a infinitude, que poderia pertencer mais exatamente à
causa anteriormente mencionada. A infinitude tem uma tendência a encher o espírito
daquela espécie de horror deleitoso, que é o efeito mais natural e o teste mais infalível
sublime.” (BURKE, 1759/2013, p.97).
“Todas as privações em geral são grandiosas, porque são todas terríveis: vazio, trevas,
solidão e silêncio.” (Ibidem, p.96, grifos do autor).
PIRANESI, Giovanni
Battista
Prisioneiros numa
Plataforma em contrução,
1749-60, Gravura em
metal, estado do artista,
Metropolitan Museum of
Art, New York
Giovanni Battista Piranesi, Os prisioneiros - placas 4 e 7, c. 1760, Gravura em metal, 545 x 415 mm
◦ Outro ponto importante do conceito de sublime em
Burke que é resgatado das ideias gregas e
David Hume
(1711-1776)
O padrão do Gosto
[On taste], 1757 in:
Ensaios morais,
políticos e literários*
Hume relativiza completamente o juízo de gosto, e a própria
noção de um possível juízo de beleza, de natureza geral. Por
isso, ele tornou-se voz ressoante para a reivindicação da
libertação das amarras das regras do gosto, estabelecidas
O CULTIVO DO GOSTO
2
ESTÉTICA NA ALEMANHA
O Nascimento da Estética na Alemanha
O Contexto da fundação da disciplina Estética [Aisthesis], no âmbito geral da Filosofia,
como campo de estudo específico sobre o sensível, sobre o belo e sobre arte.
Satisfação
Do gosto Sensibilidade
ao juízo gosto
estético:
Beleza
Deleite
Correlações entre o juízo do gosto e o juízo perceptivo
Baumgarten: Kant:
Do conhecimento do sensível O juízo do gosto é imediato
Os tipos
de beleza Nada significam Com conceito: ideia
Carrega ideia de
Juízo desinteressada,
perfeição, tem tema,
sem finalidade, sem
objeto determinado e,
conceito
por isso, não é universal
◦ As belezas livres nada significam, nada
representam, pois não se refeririam a nenhum
objeto ou conceito, por isso, seriam fruto de um
‘juízo desinteressado’, sem finalidade e sem
OS DOIS conceito, por isso são livres.
◦ (KANT, 1790/2002, p.75).
TIPOS DE ◦ Há duas espécies de beleza: a beleza livre
BELEZA EM [pulchritudo vaga] e a beleza
simplesmente aderente [pulchritudo
KANT: adhaerens]. A primeira não pressupõe nenhum
conceito do que o objeto deva ser; a segunda
Quando uma obra de arte se submente as Pode-se ter uma obra de bom gosto, sem,
regras de gosto, é justamente quando ela entretanto, ser obra de gênio. Diz-se de certos
perde sua capacidade de ser uma obra de produtos, dos quais se esperaria que devessem
arte. Tal entendimento abre um caminho pelo menos em parte mostrar-se como arte
importante para a concepção de arte como
lócus da liberdade e da singularidade. Logo, bela, que eles são sem espírito, embora no que
sob a égide de uma dada liberdade do concerne ao gosto não se encontre neles nada
gênio, a norma na arte está em tensão de censurável. Uma poesia pode ser
produtiva, i.e., o gênio transcende a verdadeiramente graciosa e elegante, mas é
norma, cria a própria regra, que é a sem espírito. Um discurso festivo é profundo e
condição para que haja a obra original, ou, no requintado, mas sem espírito [...]
vocabulário kantiano a bela arte, isso a
desobriga de seguir o gosto (KANT, 1790/2002, p. 159).
Conclusões O julgamento sobre o belo, próprio de cada um, subjetivo e particular,
é ao mesmo tempo um julgamento universal e objetivo, porque seria
um do tipo juízo transcendental, isto é, seria um juízo operado pelas
Sublime
como
Natureza
Gaspar David
Friedrich (1774-
1840)
The Grosse Gehege
near Dresden,
c.1832
Gelmäldegalerie,
Dresden
◦ AGAMBEN, Giorgio. Gosto. Tradução de Cláudio Oliveira. Belo horizonte: Autêntica. (Coleção
Filô/Agamben), 2017.
◦ BAUMGARTEN, A. G. Estética: a lógica da arte e do poema. Trad. Miriam Sutter Medeiros. Rio de
Janeiro: Vozes, 1993.
◦ BURKE, Edmund. Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias so sublime e
REFERÊNCIAS
do belo. 2. ed. Tradução de Enid Abreu. Campinas: Ed. da Unicamp, 2013.
◦ GADAMER, Hans-Georg. A atualidade do belo: a arte como jogo e símbolo. Tradução de Celeste Aida
AS: OBRAS
◦ GADAMER, Hans-Georg. Hermenêutica da Obra de Arte. Seleção e tradução de Marco Antonio
Casanova. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
CITADAS ◦ HUME, David. Do Padrão do Gosto (Ensaios morais, políticos e literários). Tradução de João Paulo
Gomes Monteiro e Armando Mora D’Oliveira In: BERKELEY e HUME. 5. ed. São Paulo: Nova Cultural,
pp.261 -271. (Os Pensadores), 1992.
◦ KANT, Emmanuel. Crítica da Faculdade de julgar. Trad. Fernando Costa Mattos. Petrópolis: Vozes,
2016.
◦ SOUZA DANTAS, Lucia F. N. de. Contribuições da filosofia de Charles S. Peirce para uma
investigação acerca de questões de fenomenologia e ontologia das obras de arte. Tese
(Doutorado em Filosofia) - PUC-SP, 309p. 2019.