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Estética e Arte

Praia, 18 de Outubro de 2016

Prof. Dr. Mário César Barreto Moraes


O conceito de Estética
A Estética e a disciplina ou a ciência da
sensibilidade. Marcuse em Eros e Civilização
(1966) afirma que o termo “estético” foi
sempre situado no campo das faculdades
inferiores, derivado do facto de ser
considerado pela tradição de irrealista, pois
aithésis, queria dizer “ o que pertencia aos
sentidos.”
Foi no século XVIII que a Estética surgiu como
disciplina filosófica e como teoria do Belo e da
Arte, pelo pensador Alexander Baumgarten
que restitui o significado para “ pertinente a
beleza e à arte” (Marcuse; 1966: 162).
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O TERMO ESTÉTICA
A palavra estética não aparece pela primeira vez com Baumgarten, mas
origina nos gregos.

A palavra estética nos gregos tem a mesma raíz de anesthesia - que


significa o que nos deixa sem sentido. Portanto a palavra grega esthésia
significa onde os sentidos percepciona, ou seja o que está ligado a
sensação.

A questão estética está ligada ao significado que se dá aonde o sentido


dirrecciona e de como o pensamento se forma. A sensação é uma
componente da faculdade humana que nos gregos está relacionado com
algo ilusória, com a variedade, porque tem como medium os sentidos e
nãoDr. Mário
Prof. o logos
César Barreto Moraes
HERÁCLITO DE ÉFESO
– 500 A. C - ?

Os pré-socráticos exortavam um
conhecimento pela ordem da razão, tal
como Heraclito já nos seus fragmentos
dizia que “Logos é o ser do mundo” que
portanto são “más testemunhas para os
homens os olhos e os ouvidos”

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PARMÊNIDES DE ELÉIA – 510- 470 A.C

«(…) Bicéfalos; pois a incapacidade lhes guia no


peito a mente errante; eles são levados, surdos e
cegos a um tempo, totalmente confundidos –
multidões sem discernimento, persuadidas de que
ser e não ser são a mesma coisa…»

“O ente é; pois é ser e nada não é”.


“de um só caminho se pode falar: do que é..”. O
caminho do conhecimento ou verdade (aletheia) é do
logos e não do doxa, pois esta é a vida do não ser.
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ESTÉTICA COM BAUMGARTEN
O mundo fala grego e fala de pressupostos que afirma a razão em
detrimento da sensação. A história da Estética é a história da sua
repressão pela razão como faculdade superior.

É Baumgarten que restitui a Estética a sua dignidade, dizendo que o


que a sensibilidade reconhece como verdadeiro, a estética representa
como tal, mesmo que a razão diga o contrário: a sua falsidade.

A lógica da estética é a lógica da sensibilidade, pois o seu objectivo é


a perfeição do conhecimento sensitivo.
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A ESTÉTICA, “A CIÊNCIA DA ARTE” OU “ CIÊNCIA DA
SENSIBILIDADE”.

• Desta forma a partir do século XVIII com Baumgarten (1735) a


Estética passa a designar como disciplina filosófica que debruça
não só sobre o belo, sobre o fenómenos artísticos e o juízo de
gosto.
• Estética passa a ser o estudo das questões filosóficas que
suscitam as artes, tanto do ponto de vista da criação como da
contemplação e do gozo; é o estudo sistemático do belo e das
diferentes formas de arte ou ainda reflexão sobre a sensibilidade
artística.
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ESTÉTICA NO ROMÂNTISMO E ILUMINISMO
A religião deixa de ser o centro dos ethos e do espírito de
um povo passa a arte a exercer um papel unificador.
Schiller nas Cartas da Educação Estética do Homem
editadas em 1793 como primeiro programa de uma
crítica estética da modernidade considera:
“No lugar da religião deve ser a arte que pode ser activa
enquanto poder unificador, porque ela é entendida como
“uma forma de transmissão” que intervém nas relações
intersubjectivas dos homens. Schiller entende a arte como
uma razão comunicacional que irá realizar no “Estado
estético do futuro” (Habermas,1995:51)
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«Os Estéticos clássicos e idealistas como Schiller, Herder, Hegel e
Novalis vão propor uma Estética que liberta da sensibilidade e
reconcilia com a razão. Esta unidade é a gratificação de todo o
espírito (A propósito ver Hegel: Estética, 1920).

Antes em Kant a Estética aparece como símbolo da moralidade,


devido a sua autonomia, a chamada de “intencionalidade sem
intento” que visa o Belo, o reino da liberdade e da verdadeira
universalidade.»

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ARTE

PRINCIPAIS
ELEMENTOS DA
ESTÉTICA
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ATITUDE ESTÉTICA
• Para evitar as cristalizações e dominio do mundo empirico sobre a Razão
humana a atitude estética é a predisposição para ver o mundo com outros olhos:
os olhos de ver os objectos de modo crítico, despriveligiando sempre o banal à
favor de uma atitude criadora, activa de um sujeito ou espectador que rompe
com as convenções e hábitos ligados a um objecto.
• A atitude estética é sempre a criação do novo.
• A atitude estética, criadora, neste sentido, é trágica. A personalidade criadora
pela arte reproduz e transmite nas fórmulas de entusiasmo, êxtase, vibração e
sonho. As artes na música, pintura, arquitectura, poesia são formas de criar a
essência para perpetuar os efémeros momentos de delícia segundo Válery.
• Serve as formas de expressão da atitude estética como forma de dissipação dos
símbolos, das generalidades que disfarçam a realidade verdadeira (Bergson).
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JUÍZO ESTÉTICO
• O juízo de gosto não é um juízo de conhecimento, portanto, não é
lógico, é, sim estético, pois o seu fundamento não é objectivo, mas o
subjectivo. São juízos ao que referem ao belo como empíricos e ao
referirem aos objectos no juízo dão assentimento lógico; mesmo se
as representações fossem racionais no juízo seriam sempre
considerados juízos estéticos (Kant: 1992).
• Este juízo estético sobre a beleza não mescla com o interesse, pois,
se trata de um juízo puro.
• O juízo de gosto é a faculdade de julgamento de um objecto
representando-o sem interesse (Kant: 1992)
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EDUCAÇÃO ESTÉTICA:
• O Belo não se imita, ela se inventa (Dufrenne; 1967). O espectador atento ao Belo
deve ser dócil, gosto formado, atento ao objecto que se proponha a percepção.
Neste sentido o Belo requer faculdades apuradas e não só a pré-disposição
cognitiva. O Belo não requer a direcção da lógica da verdade, nem da vontade
como usual, nem a afectividade como agradável ou amável. Requer a
universalidade do objecto experimentado pelo sentimento - experiência dada a
todos de forma universal.
• A crítica na óptica de Gillo Dorfles sugere validade universal pela “interpretação”
não como criação, nem percepção, mais especialização específica. A obra de arte
é acompanhada sempre por um elemento interpretativo que permite-nos “fazer
nossa” e unir qualquer obra no tempo e no espaço, ao estético que cria e
interpreta a nossa maneira estética: eis a universalidade (Dorfles, 1979).
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PRAZER ESTÉTICO
 O prazer estético é sensível porque “a sensação é o começo da arte”. O prazer é afectivo, pois
estimula, como diz Delacroix, os sentidos fazendo a condição sine qua non para o objecto belo
(Delacroix, 1927). O prazer formal reúne sobre uma ordem construtiva estética de uma unidade
numa variedade, inteligibilidade, clareza, subordinação monárquica e simétrica.
• Um prazer estético deve acompanhar um arranjo de ideias, palavras, sentido, vida e significação,
afim de produzir o gosto. É o que pensa Henri Delacroix (1927):
• “Existem obras bem feitas e agradáveis, mas vazias. Inversamente, existem obras carregadas de
belas intenções mas não chegam a expressão adequada. Sabemos que Degas se queixava a
Mallarmé e de quanto lhe custava ser bem sucedido nos seus sonetos, “contudo acrescentava
ele, tenho tantas ideias!” “Mas Degas, respondeu Marllarmé, não é com ideias que se fazem
versos, é com palavras”.
• O prazer estético pelo lado do entendimento compraze com as ideias; no lado formal compraze
com a ordem harmónico e unitário; no lado dos afectos precisa dos sentimentos excitados por
um residiumm de sentimento.
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ARTE
A
OBRA
DE ARTE

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“(…) Uma obra de arte é um objecto
A produzido por um autor que organiza
um trama de efeitos comunicativos de
OBRA DE maneira que o possível gozador possa
ARTE compreender (através de um jogo de
respostas à configuração de efeitos
sentida como estímulo pela sensibilidade
e pela inteligência) a obra mesma, a
forma originária imaginada pelo autor.”
(Eco; 1971)
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A “obra de arte é um objecto produzido
A por um autor” que na perspectiva de
Kant distingue da natureza, “como fazer
OBRA DE (facere)” e do agir, actuar (agere), A
ARTE natureza e arte distinguem-se por um
ser (effectus) e outro por obra (opus).
Para Kant é de direito chamar obra
somente a produção mediante a
liberdade ou arbítrio, onde se põe a
razão como fundamento das acções.
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A Eco, em que a arte é um jogo em que
ARTE cada gozador tem “concreta situação
existencial”, “sensibilidade condicionada”
por “cultura”, “gostos”, “propensões” e
“preconceitos pessoais”: uma perspectiva
própria – o que neste sentido não
contradiz Kant quanto à liberdade de
arbítrio que a obra acarreta.

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A O homem ao contemplar a arte e ao
ARTE produzi-lo, somos nós próprios
obras de arte. Afirma Nietzsche que
nós somos “imagens e projecções
artísticas”. Nós somos a significação
da obra de arte. A arte é para nós,
tal como somos para a arte. A arte
é vida.
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Aspectos:
 o autor que cria, segundo a sua significação e
Características intenção e o fruidor (contemplador) que
interpreta a obra de mil maneiras, segundo o
da OBRA DE contexto, psicologia, educação, vivência, gosto e
sociedade, fazendo a concretização espiritual do
ARTE objecto artísticos.
 As características dos fruidores
(contempladores) que são próprias da sua
psicologia, fisiologia, ambiente, sensibilidade,
contingências imediatas e históricas, também
são as que concorrem para a significação da obra
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de arte.
A OBRA Oscar Wilde afirma que “toda a
DE ARTE arte é absolutamente inútil” e
Hebert Marcuse (1965) confirma
como que “a própria ligação da arte à
emancipação forma opõe-se a negação da
servidão humana na arte” ou
segundo Kant uma
“intencionalidade sem fim”.
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A arte livre é a sensibilização do
A OBRA nisto consiste a liberdade, pois, funde-se
inteligível e inteligibilização do sensível. E

DE ARTE o mundo da necessidade com o da


liberdade, dentro dos conceitos
como kantianos.
emancipação • “A arte é despertar e liberdade”, pensa
assim Delacroix, dentro de uma forma
feliz tanto para o criador como para o
contemplador

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A arte é fuga, é evasão, é busca do “mundo onde se dá a
ilusão do poder. Ela é na construção da sua liberdade e
A OBRA prazer, fazendo um mundo sólido onde todo a idealidade
se torna objectividade. É uma fuga ao verdadeiro belo e

DE ARTE bom que embrenhas nas concavidades do espírito que o


ama. Na fuga ela dobra os mundos das cristalizações do

como
quotidiano a busca de outro, que mais perfeito, a forma
deste corroído, por isso, imaginário, mas um objectivo
humano que só o prazer da sabedoria e o prazer da
emancipação permanência o equipara (DELACROIX, 1927). A artísta é
Philopulcrum (amante do belo). A sua intenção é
compensar as insatisfações da vida, criando uma
realidade distinta que pode substituir a realidade que a
sua finitude corrompe.

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A arte é uma contraponto que confia a uma matéria
A OBRA estável o que no tempo e na memória nos escapa: o
registo da nossa impressão, angústias, tristezas,
DE ARTE alegrias, revelações, ódios, miséria, sentimentos e
várias percepções como ideais mais nobres como a
como justiça, o amor, a veerdade, a harmonia. E isto é
confiado a uma matéria estável imperecível no tempo
emancipação e rememorável. O artista faz entrar o mundo visível o
mundo invisível das emoções, do coração e da
inteligência. O artista dá a imagem do segredo sob a
expressão, encarnando e exprimindo nas coisas visíveis
e palavras, gestos, intenções que oferecemos sob a
forma de poesia, pintura, escultura, arquitectura e
outras
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 A estética como sendo aquilo que os sentidos
são direccionados dependerá do tempo, da
Estética época e do espaço no qual a sensação se põe e
de como causa a representação do pensamento.
e o  Nas diferentes civilizações a interpretação do
espaço real difere pois o modo de direccionado o
aparelho sensatório e de como esta sensação
visual do produz a este homem uma visão do mundo.
 a estética e a expressão que possibilita a
mundo formação da consciência do homem no universo
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conclusão
Para finalizar relembramos que:
“é original o artista que consegue captar [...] o que
surge de substancialmente novo em sua época, o
artista que é capaz de elaborar uma forma
organicamente adequada ao novo conteúdo, por ele
gerada como forma nova.” Cabe, então, à arte a
representação “do desenvolvimento da humanidade".
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