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CULTURA GREGA

SANTO, JOSÉ TRINDADE.


ANTES DE SÓCRATES:
INTRODUÇÃO AO ESTUDO
DA FILOSOFIA GREGA.
LISBOA: GRADIVA, 1985
1.1 O PAPEL DA MEMÓRIA NA GRÉCIA ANTIGA.

• Na Introdução ao pensamento Antes de Sócrates, José Trindade Santos começa


a Introdução começa a sua introdução com uma exortação de Karl Popper sobre
a possibilidade ou não do “mundo das ideias”. Popper mando-nos fazer os
seguintes exercícios de pensamento: 1) - Imagina um conflito nuclear onde
todas máquinas, artefactos e conhecimento subjectivos são destruídos ficando
as bibliotecas, após muitos sofrimento o mundo tal como conhecimentos
poderia aparecer de novo. 2) – Agora imagina que máquinas, artefactos,
conhecientos subjectivo e bibliotecas foram destruídas – sem o poder desta dos
livros e desssas ideias nelas contida levará milénio a construção da civilização:
prova segundo Karl Popper a existência autonoma de ideias. As estas duas
experiências Trindade acrescenta outra: 3) Agora imagina a Humanidade
atravessado por uma afasia colectiva (esquecimento), privado de entender
qualquer linguagem escrita, mas a estruturas da sociedade e da tecnologia
permaneceram intactas.
• Nesse caso se o homem não encontrar uma estratégia de reter a informação,
todo o património cultural e civilização cairá em ruinas: O que demonstra
mais uma vez que é preciso conversar as ideias e da sua importância na
construção da humanidade.
• A primeira estratégia da humanidade para conservar as ideias era por meio da
memória. Hoje não damos conta disso porque a escrita e a as palavras poupa-
nos do exercício de conservar a memória cultural.
• Acredita Platão que existe dois tipos de memória: 1) memória interior
(espontânea) na qual o Eu através da alma “psyché” recupera um saber eterno
nela presente e; 2) memória exterior ou adquirida através de “sinais externos”
que poderá se fixar nas linguagem escrita. Mas está de revelar a essência do
saber autêntico presente na psyché, posta que o material que nela é composta
é rudimentar. O esforço da Filosofia é não deixar que a verdade da alma se vê
enredado em metáforas, mas poder assim traduzi-las em conceitos. De certa
forma a escrita vêm subverter a mémoria, fazendo nela esquecer pelos sinais a
essência do que a memória é capaz de traduzir. A escrita não é mau, ele é
também um esforço de conservar a memória colectiva ou individual. Ou ainda
de exercitar o entusiamo como na poesia.
• A anamnese como memória interior é para Platão um método,
teoria e processo de aquisição de saber interior: É um
episthemé, uma ciência que não pode basear em crenças
divinatórias ou opiniões, na medida que as suas características
correspondentes são proposições (logoi) aceites com
segurança (universalidade e necessidade das matemáticas ou
dos eidos) Exemplo: “a figura é o limite do sólido”. A teoria
das ideias Platónicas seguem no Ménon, Fédon, Fedro e
República (livro X) este sentido. Os dialógos socráticos e
diálogos críticos de Platão vêm na contramão da opinião dos
sábios (sophoi) com o saber tradicional atribuidas a figuras de
fixação de memória ou da recente escrita nas figuras
helénicas formadoras da opinião como Homero, Hesíodo,
Epicarmo, Heráclito, Parménides e os tragediográfos.
1.2 O MILAGRE DA ESCRITA NA GRÉCIA
ANTIGA.

• Até os meados do século IV a.C a Grécia vive imersa na oralidade e na


fixação da memória através de Homero e Hesíodo. Até o século IV a.C
Homero é o formador cultural da civilização helénica
• Mas quem é Homero? Esta é a que nos chamamos de questão homérica.
Devemos perguntar onde começou esta oralidade e este discursos
presente nas poesias de Homero e Hesíodo. A cultura, a identidade de
grupo, a memória e a educação grega na falta da escrita subsiste no tempo
e informa o pensamento do homem helénico graças a sua fixação oral de
um caudal de experiências econónicas, sociais, militares, religiosas que
estimulará primeiramente antes do século IV a.C a produção intelectual na
poesia épica, na didáctica, lírica,dramática e nos filosófos pré-socraticos
nos aforismo. A poesia épica destinava antes a ser memorizada e a inspirar
as práticas quotidianas e a reflexão.
• A corte com tradição de oralidade e memorização começa a
manifestar em Platão através, ainda dos dialógos que não
inspira esta reprodução mimética da realidade, mas conduz
a uma investigação a fim de “atingir”. De certa forma
Sócrates através de colocação de problemas manda
questionar esta recepção acrítica da tradição e estes sophos
que nada perguntavam sobre “o que é”. A invenção da
escrita significa corte com todo um período de
memorização. Mas esta revolução da escrita não é uma
total, na medida que ainda no período da implementação da
democracia em Atenas, das Guerras Pérsicas ainda a
sociedade, as instituições, a formação do cidadão grego e do
jovem ateniense se inscrevia esta tradição homérica,
sobretudo nas figuras dos rapsodos e aedos.
• A escrita que os Gregos receberam dos Fenícios doravante será o
instrumento supletivo da memória, pois os documentos e tradição oral
como identidade cultural da comunidade serão traduzidos nas palavras. A
palavra escrita invade todos os campos da actividade social e espicassa a
produção intelectual e a reflexão. O dialecto dos gregos sob a forma de
escrita produz um pensamento novo, cria leitores e interlocução, cria novas
formas de pensar. As informações acumuladas produzem uma linhagem de
intelectuais que emergem do anónimato de todos os campos da vida
cultural: das ciências da natureza, da política, da ética, da medicia, das
matemáticas, da cosmologia, da epopeia, da lírica, da tragédia, da comédia,
da poesia didáctica, da história, sempre no uso deste instrumento novo- a
palavra. Tudo pode ter começado com a introdução da escrita no primeiro
quartel do século VIII (720 a.C)- data que se atribui a composição por
escrito dos Poemas de Homero. A revolução da escrita é acompanhada com
a revolução do podemos chamar de Iluminismo grego enquanto
emergência do saber como problemática autónoma, mas ainda reveladora
dos laços com a tradição; essecialmente nos primeiros filosófos.
1.3. O POEMAS HOMÉRICOS E O SEU PAPEL NA FORMAÇÃO
DA IDENTIDADE CULTURAL GREGA.

• 1.3.1 Aedos e rapsodos como registradores da memória cultural.


• A Ilíada relata a luta dos gregos com a Tróia. E começa com o sonho
de Agaménnon, príncipe dos Aqueus que se arma de comandantes
leais e do astucioso Ulisses, rei da Ítaca para depois virem de lá
cobertos de glória: - Assim começa a narração épica da Ilíada até o
canto II onde Homero terá invocar as Musas, filhas da memória para
poder contar os feitos valorosos dos heróis, semi-deuses, deuses e
humanos.
• Assim a função do poemas que circulam ao longo de
muitos anos na memória colectiva é de “fixar
imperecívelmente um património comum, de que o
poeta é o guradião”. O poeta é o responsável pela
memória colectiva que condensa nos cantos do
poema, celebrando os feitos antigos e futuros atravês
da declamação. Durante muitos séculos rapsodos
(declamadores profissionais nas épocas festivas)
repitirãos as passagens dos poemas ao público grego
recorrendo também ao auxilio da memória (Musas-
deusa) para poder contar acontecimentos não
presenciados.
• Mas terá Homero existido? Será um epónimo de uma
comunidade de poetas. Será Homero autor de dois poemas
Íliadas e Odisseia? Há uma tese que defende que a génese
dos peoemas orais fazem parte de um ciclo de cantos dos
tempos das gerações de bardos que foram reproduzindo e
ampliando. No século VIII a. C uma comunidade adoptou o
seu nome e devotaram á empresa de lançar por escrito a
Ilíada e a Odisseia. A Íliada é preparado de tal forma que o
clímaxe do heró Ulissses reconhecer Penélope e a
carfinacina dos pretendentes seja o ponto central da narrativa
épica, sem respeitar a ordem cronológica. Mas não é só ideal
heróico que os homéricos condesam,também está presente
nelas um ideal ético-político, como ideal de vida dos gregos –
a qual não deve ser perdido de vista e nem ser questionada.
• Os poemas informam sobre a condutas dos homens
e dos guerreiros e dos valores que identificam a
comunidade. Por exemplo no canto I da Ilíada, o
Agamémnon não aceita a proposta de troca do filha
do Sacerdote de Crises. Crises pede auxilio a Apolo
e este envia uma pestes sobre o Aqueus postado na
Tróia. Mesmo assim, Agamémnon recusa o que lhe
parece uma desonra, e até com a exortação de
Aquiles o mais ilustre chefe de Aqueus, na qual
entra em conflito. O conflito agora é entre o
guerreiro de mais poder contra o de mais valor.
• Os poemas homéricos constitui uma enciclopédia prática na
medida que ensina certas artes e modos de agir na prática. Por
exemplo na Íliada Homero ensina como fazer um desembarco
e descreve o procedimento de um sacrifício:

Porém, chegou a Crisa Ulisses, transportando uma sagrada


hecatombe.
Quando entraram no porto de águas profundas,
Recolheram as velas e colocaram-nas na negra nave,
Puseram o mastro junto do seu cavalete, fazendo-o descer com
cabos,
E rapidamente remaram em direcção ao ancoradoiro (...)
(Ilíada I 430-439)
.
Ou:

(Crises) orando, assim falou e Febo Apolo ouviu-o


Porém, logo que rezou, espalharam grãos de
cevada
E, puxando primeiro as cabeças das vitimadas para
trás, degloram-se e esfolaram-nas.
(Ilíada I 458-474)
Há uma intenção didáctica presente no poema homérica, no
.sentido de transmitira as aprendizagens e manter fixo os
conhecimentos acumulados de geração e geração e também há
uma uma intenção de descrever a sociedade e exortar a
coragem nas guerras. Na Ilíada são descritos não só as
sagrentas batalhas, mas também com que virtude deve ter um
guerreiro:

Não é coisa torpe morrer por aquele que defende a sua pátria.
A mulher e os filhos ficam são e salvos para o futuro; a casa e
a herança intactas, se, porventura, os Aqueus se forem
embora, para a querida terra da sua pátria, juntamente com
as naus?
(Ilíada XV 494-499)
• Era necessário esse ideal guerreiro, numa Grécia subsumida nas guerras
médicas e peloponesas. O ideal da educação homéricpiratas saciaram a
sua fome de riqueza r instala fará com que:

Os príncipes-aram-se como prósperos terratenetes.


Da guerra ficou a recordação e o impulso irado
sempre que a propriedade era ameaçado ou a honra
poluída: o que é, aliás, equivalente. O estreito
código guerreiro travestiu-se em cuidado moral com
a integridade da família da família, ao mesmo tempo
que se acentua o tom reflexivo sobre a perecibilidade
da condição humana. (Trindade, 1992:48)

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