INSTITUTO CATÓLICO DE ESTUDOS SUPERIORES DO PIAUI – ICESPI
Licenciatura Plena em Filosofia
Filosofia Contemporânea Isac Wanderson, Lucas Eduardo, Lucas Pontes, Luiz Felipe e Marcos Antônio.
(páginas 56-64) A grande novidade de Fichte consistiu na transformação do Eu
penso kantiano em Eu puro, entendido como intuição pura, que se 1.2. O idealismo fichteano como explicitação do “fundamento” do auto põe (se autocria) e, auto pondo-se, cria toda a realidade; criticismo kantiano Fichte insistiu várias vezes em dizer que o seu sistema nada mais era do que a filosofia kantiana exposta com procedimento diferente do O encontro com o pensamento de Kant revolucionou o pensamento e de Kant. Entretanto, Kant não se reconheceu na Fichte “doutrina da a vida de Fichte; ciência” de Fichte. E tinha razão: ao pôr o Eu como princípio “Abracei uma moral mais elevada e, ao invés de me ocupar com as primeiro e dele deduzir a realidade, Fichte criava o idealismo. coisas externas, ocupo-me mais comigo mesmo, o que me deu uma paz que ainda não conhecia: até imerso em situação econômica 1.3. A “doutrina da ciência” e a estrutura do idealismo fichteano precária, vivi os dias mais belos de minha vida (...). Agora estou 1.3.1. O princípio primeiro do idealismo fichteano: o Eu põe-se a si absolutamente convencido de que nossa vontade é livre (...) e que o mesmo fim da nossa vida não é ser feliz, mas merecer a felicidade.” E Na filosofia aristotélica, o princípio incondicionado da ciência era o ainda: “Vivo os dias mais felizes que me lembro de ter vivido” (...). princípio de não-contradição. Na filosofia moderna wolffiana e para (p. 57) o próprio Kant, era o princípio de identidade A = A; Para Fichte este princípio deriva ainda de outro princípio, de “Depois que li a Crítica da razão prática, parece-me viver em natureza inteiramente peculiar; mundo novo.” (...). (p. 57) A ligação lógica não pode ser posta senão pelo Eu que pensa, o qual, pensando a ligação de A com A, põe, além da ligação lógica, Fichte também estava convencido de que o discurso de Kant não era também o A; conclusivo; O princípio originário só pode ser então o próprio Eu. E o Eu não é Kant forneceu todos os dados para construir o sistema, mas não o posto por algo diferente, mas se auto põe; construiu. O que Fichte pretendia era construir esse sistema: trata-se O princípio primeiro “constrói-se a si mesmo”; da chamada “doutrina da ciência”; Fichte diz que o ser não é conceito originário, mas “derivado”, “deduzido”, ou seja, produto do agir; O Eu é condição incondicionada, que não é fato, e sim ato, atividade A antítese entre eu e não-eu e a limitação recíproca explicam tanto a originária; atividade cognoscitiva como a atividade moral: 1) a atividade “A Inteligência (...), segundo o idealismo, é por si mesma ativa e cognoscitiva funda-se no aspecto pelo qual o eu é determinado pelo absoluta, não passiva. E não passiva porque, segundo os postulados não-eu; 2) já a atividade prática se funda no aspecto pelo qual o eu idealistas, ela é o princípio primeiro e supremo, ao qual nada determina o não-eu. precede do qual possa derivar-lhe caráter de passividade”; (p. 61) Para o idealismo, a Inteligência é agir e absolutamente nada mais. 1.3.4. Explicação idealista da atividade cognoscitiva Fichte procura resolver o problema retomando de Kant a figura 1.3.2. O segundo princípio do idealismo fichteano: o Eu opõe a si teórica da “imaginação produtiva” e transformando-a de modo muito um não-eu engenhoso; O Eu opõe a si um não-eu; Em Kant, a imaginação produtiva determinava a priori a forma pura Tomemos a proposição “não-A não é = A”. Ela pressupõe a oposição do tempo, fornecendo os “esquemas” as categorias; de não-A e a posição de A. Mas ambos nada mais são do que atos do Em Fichte, a imaginação produtiva torna-se criadora “inconsciente” Eu e, ademais, pressupõem a identidade do Eu. Assim, é o Eu que, dos objetos. A imaginação produtiva, portanto, é a atividade infinita assim como se põe a si mesmo, opõe algo a si; do Eu que, delimitando-se continuamente, produz aquilo que O Eu coloca-se a si mesmo não como algo estático, mas como algo constitui a matéria do nosso conhecimento. E precisamente por se dinâmico (como ação): põe-se como poente e o pôr-se como poente tratar de produção inconsciente é que o produto nos aparece como comporta necessariamente aposição de alguma outra coisa, ou seja, “diferente” de nós; aposição de outro algo e, portanto, a posição de um não-eu; Adquirimos consciência do fato dê que tudo deriva do Eu e, em O não-eu não está fora do Eu, mas sim no seu interior, já que nada é nossa autoconsciência, nos aproximamos sempre mais da pensável fora do Eu. Portanto, o Eu ilimitado opõe a si um não-eu “autoconsciência pura”. ilimitado. Assim, se o primeiro momento é o da liberdade, o segundo momento, que é o da oposição, é o momento da 1.3.5. Explicação idealista da atividade moral necessidade. O não-eu age sobre o Eu como uma espécie de “impacto” ou “esforço” (Anstoss), que suscita “contra impacto” ou “contra 1.3.3. O terceiro princípio do idealismo fichteano: a limitação esforço”. No agir prático, o objeto se apresenta ao homem como recíproca e a oposição, no Eu, do eu limitado ao não-eu limitado obstáculo a superar; O terceiro princípio representa o momento da “síntese”; O não-eu torna-se o instrumento através do qual o Eu se realiza a produção do não-eu não pode surgir senão como limite ou como moralmente; determinação do Eu; O não-eu torna-se momento necessário para a realização da “O Eu opõe no Eu um não-eu divisível ao Eu divisível”; liberdade do Eu. Ser livre significa tornar-se livre. E tornar-se livre Fichte identifica esse terceiro momento com a kantiana “síntese a significa afastar incessantemente os limites opostos pelo não-eu ao priori”; Eu empírico; Dos três princípios examinados, por exemplo, podem-se “deduzir” O Eu põe o não-eu para poder se realizar como liberdade; as três categorias da qualidade: 1) afirmação (primeiro princípio); A infinitude do Eu é infinito pôr um não-eu para superá-lo ao 2) negação (segundo princípio); 3) limitação (terceiro princípio); infinito; A verdadeira perfeição é infinito tender à perfeição como superação progressiva da limitação; Fichte considera ter demonstrado definitivamente aquela superioridade da razão prática sobre a razão pura, que Kant já intuira. Deus não é substância ou realidade em si mesma, mas sim essa “ordem moral” do mundo; é o “dever ser” e, portanto, a Ideia. A verdadeira religião consiste na ação moral.