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INSTITUTO SÃO TOMÁS DE AQUINO

MAURÍCIO SANGALETTI

O SAGRADO E O PROFANO
MIRCEA ELIADE

BELO HORIZONTE
2019
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1. FICHAMENTO
1.1 Introdução
 (p.15) Sucesso de Rudolf Otto: “em vez de estudar as ideias de Deus e de
religião, [...] aplicara-se na análise das modalidades da experiência
religiosa”
 (p.15) “Volveu-se sobretudo para o lado irracional, pois tinha lido
Lutero e compreendera o que quer dizer, para um crente, o Deus
vivo”
 (p.15) “Poder terrível, manifestado na cólera divina”
 (p.16) “Descobre o sentimento de pavor diante do sagrado, diante
desse mysterium tremendum”
 (p.16) “encontra o temor religioso diante do mysterium fascinans”
 (p.16) “Otto designa todas essas experiências como numinosas [...]
porque elas são provocadas pela revelação de um aspecto do poder
divino”
 (p.16) “o numinoso singulariza-se como qualquer coisa de ganz
andere, radical e totalmente diferente: não se assemelha a nada de
humano ou cósmico”
 (p.16) Ganz andere: “o homem tem o sentimento de sua profunda
nulidade, o sentimento de não ser mais que criatura”
 (p.16) “É certo que a linguagem exprime ingenuamente o
tremendum, ou a majestas, ou o mysterium fascinans mediante
termos tomados de empréstimo ao domínio natural ou à vida
espiritual profana do homem”
 (p.16) “a linguagem apenas pode sugerir tudo o que
ultrapassa a experiência natural do homem mediante
termos tirados dessa mesma experiência natural”
 (p.17) “Não é a relação entre os elementos não-racionais e racionais da
religião que nos interessa, mas sim o sagrado na sua totalidade”
 (p.17) “A primeira definição que se pode dar ao sagrado é que ele se opõe
ao profano”

1.2 Quando o sagrado se manifesta


 (p.17) “O homem toma conhecimento do sagrado porque este se manifesta,
se mostra como algo absolutamente diferente do profano”
 (p.17) “A fim de indicarmos o ato da manifestação do sagrado, propusemos
o termo hierofania [...] exprime apenas [...] que algo sagrado se nos revela”
 (p.17) “A história das religiões [...] é constituída por um número
considerável de hierofania”
 (p.17) “A partir da mais elementar hierofania – por exemplo, a
manifestação do sagrado num objeto qualquer, uma pedra ou uma
árvore – e até a hierofania suprema, que é, para um cristão, a
encarnação de Deus em Jesus Cristo”
 (p.17) Hierofania: “manifestação de algo ‘de ordem diferente’ – de uma
realidade que não pertence ao nosso mundo – em objetos que fazem parte
integrante do nosso mundo natural, profano”
 (p.17-18) Homem ocidental moderno: “difícil para ele aceitar que, para
certos seres humanos, o sagrado possa manifestar-se em pedras e árvores,
por exemplo”
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 (p.18) “não se trata da veneração da pedra como pedra, de um culto


da árvore como árvore. A pedra sagrada, a árvore sagrada não são
adoradas como pedra ou como árvore, mas justamente porque são
hierofanias, porque revelam algo que já não é nem pedra, nem
árvore, mas o sagrado, o ganz andere”
 (p.18) Paradoxo da hierofania: “Manifestado o sagrado, um objeto
qualquer torna-se outra coisa e, contudo, continua a ser ele mesmo, porque
continua a participar do meio cósmico envolvente”
 (p.18) “O cosmos, na sua totalidade, pode tornar-se uma hierofania”
 (p.18) “O homem das sociedades arcaicas tem a tendência para viver o
mais possível no sagrado ou muito perto dos objetos consagrados” porque
“o sagrado equivale ao poder e, em última análise, à realidade por
excelência”
 (p.18) “a oposição sagrado/profano traduz-se muitas vezes como uma
oposição entre real e irreal ou pseudo-real”
 (p.19) Por isso “o homem religioso se esforça por manter-se o máximo de
tempo possível num universo sagrado”
 (p.19) “A dessacralização caracteriza a experiência total do homem não-
religioso das sociedades modernas, o qual, por essa razão, sente uma
dificuldade cada vez maior em reencontrar as dimensões existenciais do
homem religioso das sociedades arcaicas”

1.3 Dois modos de ser no mundo


 (p.19) “Pode-se medir o precipício que separa as duas modalidades de
experiência – sagrada e profana – lendo-se as descrições concernentes ao
espaço sagrado e à consciência ritual da morada humana, ou as diversas
experiências religiosas do Templo, ou às relações do homem religioso com
a Natureza e o mundo dos utensílios, ou à consagração da própria vida
humana, à sacralidade de que podem ser carregadas suas funções vitais”
 (p.20) “O Sagrado e o profano constituem duas modalidades de ser no
Mundo, duas situações existenciais assumidas pelo homem ao longo da
sua história”
 (p.20) “Os modos de ser sagrado e profano dependem das diferentes
posições que o homem conquistou no Cosmos e, consequentemente,
interessam [...] a todo investigador desejoso de conhecer as dimensões
possíveis da existência humana”
 (p.21) “Os processos da etnologia cultural e da história das religiões
mostraram que [...] as reações do homem diante da Natureza são
condicionadas muitas vezes pela cultura – portanto, em última instância,
pela história”, logo, não há uma “reação uniforme do espírito humano
diante dos fenômenos naturais”

1.4 O sagrado e a história


 (p.22) "Há [...] uma diferença de experiência religiosa que se explica pelas
diferenças de economia, de cultura e organização social – numa palavra,
pela história”
 (p.22) “entre os caçadores nômades e os agricultores sedentários, há uma
similitude de comportamentos [...]: tantos uns como outros vivem num
Cosmos sacralizado”
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 (p.22) “Basta comparar suas situações existenciais às de um homem


das sociedades modernas, vivendo num Cosmos dessacralizado,
para imediatamente nos darmos conta de tudo o que separa este
último dos outros”

2. SÍNTESE
Para Mircea Eliade, Rudolf Otto explicitou o sagrado de modo limitado ao apresentar
a relação entre os aspectos de irracionalidade e racionalidade que estão presentes no
mesmo. Mircea Eliade se propõe a uma abordagem totalizante do sagrado. Essa será
conduzida a partir do binômio sagrado-profano que se manifesta no mundo; são duas
formas de ser do Mundo, tratando-se de duas posturas assumidas pelo homem ao longo
da história. Ora, o sagrado se opõe ao profano. Aquele é reconhecido porque se manifesta
(hierofania) como dissemelhante desse. As religiões, tanto as mais recentes quanto as
mais antigas, são marcadas por múltiplas hierofanias. Essas são diversificadas. Desde
uma pedra, uma árvore e até Jesus Cristo são exemplos de hierofanias. Este último, para
o Cristão, representa um grau de hierofania muito mais elevado do que as demais
exemplificações. Não é a pedra enquanto pedra que é venerada, mas sim aquilo que há
nela enquanto elemento do sagrado. Mas há um paradoxo, pois a pedra, por exemplo, na
hierofania torna-se algo diferente e, não obstante, continua sendo aquilo que era, dado
que está inserida em um meio cósmico. Todo o cosmos pode vir a ser uma hierofania.

A posição alcançada pelo homem na sua história no cosmos constitui os diversos


modos de ser do sagrado e do profano: a história condiciona as reações do homem frente
a natureza. Contudo, há um dado que é fundamental mesmo na diversidade da história: a
vivência em um cosmos habitado pelo sagrado que se manifesta em diversas hierofanias
que fazem sentido ao momento da vida do homem que as experienciam. As sociedades
arcaicas viviam próximas do sagrado. Isso em consequência de seu caráter de poder e de
realidade por excelência. O profano é a representação do irreal. O que caracteriza as
sociedades modernas é a dessacralização. Sendo essas sociedades separadas em
consequência disso. O homem moderno sente cada vez mais dificuldade em reencontrar
os laços da sacralização das sociedades primitivas na sua existência. A expressão da
distinção entre a vivencia do homem arcaico e do homem moderno quanto ao sagrado e
o profano reside na forma da existência de ambos.

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