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RATIO FORMATIONIS

MINÚSCULO RESUMO E COMENTÁRIO AO ANEXO III- MATURIDADE


AFETIVA E PSICOSSEXUAL

Frei Daniel da Silva Vieira

7 MIN DE APRESENTAÇÃO

“Amemos com todo o coração”1. Amar é um olhar como Cristo amou e ter relações
com o amor que nos ama, porque “a castidade brota do amor por Cristo” 2. Ademais, somos
chamados a preocupação maior de “pertencer-lhe totalmente”, corpo e alma são, assim,
chamados à glorificação.

I. 1. Considerações preliminares

1. A cultura contemporânea passa por um “acento hedonista” da sexualidade, ou seja, a


trata como algo puramente reduzido ao sexo, prazer. Contudo, a sexualidade-
afetividade vai além do biológico. Ela adentra o mundo das relações afetivas na
construção da maturidade3.

A Ordem possui uma compreensão positiva da sexualidade, por isso, supera os desvios
do psicologismo e do espiritualismo. O psicologismo ao reduzir o mistério do amor às
teorias psicológicas retira a possibilidade dele se manifestar também como modalidade
evangélica de doação, e o espiritualismo por sustentar um mundo espiritual superior a
dimensão humana e não a harmonizar os dois meandros de uma mesma realidade já
presente na perfeita humanidade de Cristo.
2. Nas diversas culturas a sexualidade-afetividade ainda é tratada como tabu sustentados
por estruturas religiosas restritivas, contudo em outras, é tratado abertamente.
3. O perfil psicoafetivo do frade menor capuchinho é conformar os sentimentos aos
de Cristo com a ajuda do Espírito Santo. Ocorre, de fato, uma maturação para viver
a vida consagrada de forma positiva e autêntica.
Poder transformador do amor que se manifesta como:
o Canalização da energia sexual;
1
RNB 23,69.
2
Const. 170, 1.
3
Amoris Laetitia, n. 151.
o Reconhecimento e modelação das emoções e impulsos;
o Acolhimento e elaboração dos limites e feridas do estilo de vida que
escolhemos viver.

A humanidade de Jesus é a chave da nossa humanidade, ou seja, contemplando o


Cristo Homem, interpretamos o homem enquanto homem e nos tornamos, por
consequência, mais homens.

I. 2. Deus é um mistério de Amor

4. Deus é amor e Deus ama. A Santíssima Trindade é relação de amor livre e gratuito que
se expande como dom. Deus não quis se apropriar desse amor, ou seja, de si mesmo,
mas dar-se como bem, o Sumo Bem. Exemplo maior disso é visto no Evento da
Encarnação onde, “por meio do Filho, o mundo se preenche de Deus: o Criador, em
seu fazer-se criatura, transforma a história em amor”4.
É preciso, portanto, sofrer a passagem do nosso amor possessivo ao amor oblativo 5
por meio do modelo da Santíssima Trindade.
5. “Em Jesus, Deus assume a natureza humana, inclusive a nossa realidade afetivo-
sexual”6. “Jesus nos amou com coração humano”7. Se admirou, teve compaixão,
preferiu os pequenos, respeitou as mulheres, viveu a amizade, compartilhou a sua
intimidade com os discípulos, enfim, optou por uma vida em castidade.
Em Jesus há em toda a sua vida, mas especificamente na sua morte na Cruz uma
ligação entre o eixo vertical (amor absoluto por Deus, a si mesmo) e o horizontal
(transformação de amor incondicionado por amor que se doa a cada ser humano).
6. Eucaristia. Jesus se entrega e nós, conformados a Ele, oferecemos a nossa vida de
forma total e gratuita.
7. Espírito Santo. É Ele a seiva que nos dá a capacidade de desejar amar como também
de sermos amados, nos orientando sempre a buscar o bem.

4
RF 4, p. 134.
5
Deus Caritas est, n. 7.
6
RF 5, p. 135.
7
Idem.
I. 3. Capazes de um amor sempre maior

8. Desejamos, e isso é normal, a ter intimidade e se relacionar, de viver a solidão e de se


encontrar, de sermos conhecidos como somos e amados de modo incondicional.
9. A sexualidade é um dom. Reflete a nossa capacidade de amar e de ter relações sadias,
de criar espaços de empatia, de ternura e também altruísmo (conceber o outro com
alguém que faz parte da minha história e, por isso, ele também é importante),
transformando o amor egoísta e possessivo como doação aos próximos.
10. A linguagem do corpo. O corpo demonstra na exterioridade aquilo que interiormente
cultivamos. Nesse sentido, é expressão da nossa capacidade sensorial, ao que deve ser
cuidado, pois também é expressão de quem somos.
O tato é analisado dentre todos os outros sentidos porque é “um elemento essencial na
construção das relações humanas”8. Por meio deste sentido, Jesus realizou grandes
curas e Francisco curou suas próprias feridas como fora o caso do leproso.
11. A memória. As recordações afetivas do passado ora são positivas (afetos sadios) ora
negativas (feridas). É preciso reconhecer o passado como parte constitutiva da nossa
história. As feridas, contudo, devem sofrer uma integração para tornarem-se maduros
os seus atores. Por fim, a fecundidade da consagração dependerá de uma madura
orientação dessas feridas no decurso do caminho de descoberta da própria pessoa ou
tornará a vida um peso incalculável na vida de consagração pessoal e também na vida
fraterna se não a assumir e tratá-la.
12. A renúncia. Enxergar a ferida em ótica positiva para poder chegar a um nível alto ou,
infelizmente, permanecer no meio do caminho.
O amor, o mesmo que se doa, necessita de disciplina e purificação para abrir-se a
enormidade do amor como dom, prevendo, assim, uma incompletude infinita em
Deus.

“O amor, além da criatividade, precisa de disciplina e de purificação; se estas faltam, uma


vida espiritual fecunda se torna impossível. Existem espaços afetivos que só Deus pode
preencher. O coração humano jamais se sacia completamente” (Ratio, anexo iii, n. 12, p. 137).

8
RF 10, p. 136.

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